A Memória Como Prática

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Arquiteto da Memória

Uma Memória de Crateús

Introdução:

A construção de uma memória segue muitas trilhas, algumas vezes obedecendo

as margens que o tempo lhe ofereceu, outras vezes rompendo os limites e ocupando

vastos territórios. A memória de Crateús poderia ser comparada ao movimento das

águas que transforma a terra em água, o sertão em mar! como afirmam os geólogos ou prognostica a sabedoria popular. "o entanto, assim como a ação humana interfere de

diversas formas nos transbordamentos, uma s#rie de estrat#gias concorrem para que

determinadas práticas, alguns acontecimentos, lugares e pessoas produzam marcas econsolidem s$mbolos e significados que transcendem determinadas fronteiras, limites e

espaços.

Crateús está situada no sertão do Ceará a %&& 'm de (ortaleza) seu nome temraiz ind$gena *+rat# coisa seca) -u lugar muito seco e esta tamb#m associada a

tribo +aratiu ou +arati que foi antigo habitante da região./ 0ara muitos que tiveram

oportunidade de acompanhar pela imprensa os embates entre 1gre2a Católica e 3stado,especialmente nas d#cadas de /45& e /46&, a cidade traz embutida em seu nome o do

 bispo, 7om Antonio (ragoso.0ara mim, entretanto, são lembranças que não vieram inicialmente pela

imprensa, mas por caminhos familiares) eram os idos de /46/ e meu pai, fora convidado para defender um dos padres da diocese de Crateús, que acabava de ser preso, e acusado

de subversivo. 0assei então muitas vezes a ouvir histórias sobre o padre preso de

Crateús, e tamb#m o bispo chamado 7om (ragoso. 7escriç8es do 2ulgamento, de visitasa prisão onde o padre 9eraldo de :liveira ;ima estava preso e fora torturado. 3ram

descriç8es impressionistas, que me dei<avam indignado e revoltado contra a

arbitrariedade do regime militar e a inoper=ncia da 2ustiça, que nos meus vinte anosdese2ava>lhe 2usta e reta. 0assaram>se os anos, e aquelas memórias ficaram depositadas

nas reminisc?ncias dos tempos da ditadura. Algumas vezes eram atualizadas por algum

comentário avulso ou mesmo quando lia not$cias na imprensa ou artigos referentes a1gre2a 0opular.

 "o final da d#cada de /44& iniciei um pro2eto para estudar a história da atuação

de padres estrangeiros no "ordeste, principalmente na área rural, no per$odo de

/45&@/46&. Bealizei diversas entrevistas, e uma passagem no relato da história de vidado padre franc?s avier 9illes de Daupeu quando da sua chegada em Eão ;u$s em

/45%, provocou um impacto imediato em minhas lembranças de Crateús@7om (ragoso.

 "arrava avier uma das suas primeiras entrevista com o bispo au<iliar de Eão ;u$s, quena #poca era 7om (ragoso.

“Quando cheguei no Maranhão em fevereiro de 1963, mergulhei na realidade social do Brasil. Foi difícil inicialmente. om Fragoso, era !is"o au#iliar de $ão %uís,

e na o"ortunidade em &ue nos rece!eu fe' o seguinte coment(rio) “*avier, n+s "edimosum "adre "ara o mundo o"er(rio. ínhamos necessidade de um "adre &ue viesse domundo o"er(rio. u não vens do mundo o"er(rio, tu não conheces o mundo o"er(rio. -recis(vamos de um "adre maranhense, mas não temos, e tu não sa!es nada do Maranhão. /m seguida a"resentou0me a uma moa, &ue estava ao nosso lado e disse)“/st(s vendo essa moa, ela fa' "arte de uma "e&uena e&ui"e de 2ovens tra!alhadoras. /las vão te ensinar tua tarefa sacerdotal, tua "rofissão de "adre. Foi dessa e&ui"e

/ Fhom#, -olanda G. Crateús. Hm povo, uma 1gre2a. Eão 0auloI 3diç8es ;oJola, /44K. 0ag. %. 0ro2eto de 0esquisa 9uerreiros do Al#m Dar! com apoio do C"0q.*/446>/444

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com"osta de oito moas, &ue comecei a entrar no mundo o"er(rio dos !airros de $ão %uís./ntrevista com om *avier 4iles de Mau"eu, fev. 19953

Após ouvir esse relato de avier, o con2unto de signos que constituia um quadro

de impress8es, imagens, significados difusos e impressionistas de Crateús e seu bispo,

foi refeitos de forma abrupta e incontrolável. 3m fração de segundos, tomei consci?nciaque constru$ra quase que inconsciente uma id#ia rom=ntica de Crateús. Bevisitando o

 passado, me dava conta que absorvera atrav#s dos relatos paternos, uma representação

qui<otesca daquele bispo que enfrentava o regime militar a partir de um lugar que era

descrito como mais um sertão. Das, deveria tamb#m reconhecer que esta forma derecepção, estava associada a uma visão simplista das práticas sociais. "esse sentido,

aquele relato de memória de avier descortinava um outro 7om (ragoso.

1mediatamente senti>me confuso, sem saber e<atamente o que pensar. 0assado e presente emitiam signos distintos. Das, por outro lado, a narrativa não dei<ava dúvidas.

Hm religioso nordestino, mesmo que ocupando uma posição superior L bispo au<iliar L 

recebia um religioso estrangeiro, afirmando que toda sua formação nos Eeminários da(rança de nada valiam para atuar no Grasil. Eeria então necessário um novo per$odo de

aprendizagem, onde os professores seriam uma equipe de 2ovens trabalhadoras. A

 proposta apresentada a avier apontava para novas relaç8es de poder e saber. Hm padrefranc?s ia aprender seu of$cio com trabalhadoras, ou se2a, a formação intelectual e todo

um con2unto de e<peri?ncias trazidas da 3uropa pouco valiam. Eignificava umainversão do discurso e da prática colonialista que se instalou quase que de forma natural

na cultura do Grasil. Má de se considerar ainda, não era fortu$to que avier ao narrar suahistória de vida atrav#s de um relato oral de memória, recriasse o diálogo que se

estabeleceu no seu primeiro encontro com o bispo au<iliar de Eão ;u$s, e, mesmo

 passados mais de trinta anos, ainda reavalia esse encontro como um momento dificil.Após todo um per$odo de pesquisa acerca da história de vida de padres que

vieram de outros pa$ses atuar no "ordeste do Grasil, nas d#cadas de /45& e /46&,

comecei a perceber como, em face da estrutura hierárquica e centralizadora da 1gre2aCatólica, os bispos tinham um papel muito importante na escolha dos padres e na

direção que era dado ao trabalho eclesiástico e pastoral em cada diocese. Apresentei

então um novo pro2eto ao C"0q para estudar a atuação de bispos e religiosas no "ordeste no per$odo do Begime Dilitar.K Atrav#s deste pro2eto, iniciei os contactos para

entrevistar diversos bispos e, entre eles, 7om Antonio (ragoso. (ui encontrá>lo em Noão

0essoa, onde mora após aposentar>se da diocese de Crateús em /446.

Conversar com 7om (ragoso, ouvindo sua história de vida, perguntando>lhesobre determinados acontecimentos, esclarecendo certos detalhes, foi, em parte,

 peregrinar pelos sert8es da 0ara$ba onde nasceu e viveu at# os onze anos e do Ceará,

e<ercendo seu bispado por mais de trinta anos. (ilho de pais agricultores, > Nos# (ragosoda Costa e Daria Nos# Gatista, que tamb#m trabalhava na roça quando a necessidade se

apresentava >, eram muito pobres, e viveram intensamente a e<peri?ncia da seca, da

fome, em condiç8es dific$limas de sobreviv?ncia. 1nacreditável pensar, que um casal de

agricultores tão pobres, incapazes mesmo de via2ar do sertão da 0ara$ba L Fei<eira L  para visitar o filho em Noão 0essoa, onde Antonio (ragoso, a partir dos onze anos

ingressara no seminário, foi capaz de proporcionar aos seus sete filhos uma educação

universitária. Ao mesmo tempo, conhecendo um pouco da sua história familiar, podemos estabelecer algumas associaç8es entre um homem e<tremamente suave, de

% avier 9illes de Daupeou não era bispo O #poca.

K Caminhos da Besist?ncia CatólicaI Ação de (reiras e Gispos do "ordeste durante o Begime Dilitar.

Apoio C"0q.

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fala delicada e ao mesmo tempo de uma postura firme e intransigente na defesa dos

mais pobres.

Rastreando Sinais:

A história de vida de 7om Antonio (ragoso, em alguns aspectos # muitosemelhante a de muitas crianças e adolescentes nordestinas, que muito cedo eram

atra$das para os Eeminários Católicos como forma de terem uma educação escolar que

seus pais não estavam em condiç8es de lhes proporcionar P. "o entanto, mesmo essa não

foi uma e<peri?ncia fácil para 7om (ragoso que como ele próprio narra ... chegandono semin(rio, meu "ai não tinha nada... todos os seminaristas eram filhinhos de "a"ai,todos os seminaristas usavam !atinas, eram "adre'inhos. / eu tinha &ue tra!alhar como "orteiro. ra!alhei dois anos no semin(rio de $ão Francisco. ra!alhava muito, "ara levar todos os recados e tra'er, ir 7 rua e voltar e tinha &ue dar conta das mesmasli8es &ue os outros davam, tendo todo tem"o livre, mas fi' o curso5. Após esse

 per$odo o seminário consegue que uma fam$lia próspera de Noão 0essoa o adotasse, oque veio a tornar as coisas um pouco mais fáceis.

7om (ragoso ordena>se 0adre em /4KK, aos K anos de idade e em /4P6 #

sagrado Gispo assumindo a função de Gispo Au<iliar de Eão ;u$s do Daranhão onde permanece at# agosto de /45K. "os sete anos em Eão ;u$s não tem plena autonomia,

 pois percebe que deve agir em sintonia com o Arcebispo 7om 7elgadoI    /ntão, nessatransião l(, eu não "ude ter um "ro2eto "r+"rio. ão era o "astor de uma :gre2a. /raa2udante do "astor dessa :gre2a. / como a2udante, &uestão de lealdade, eu tinha &ue fa'er unidade com ele. /ntão, não ia acentuar minhas discord;ncias, "or&ue não era o "astor. <chava desonesto isso. /ntão, fi&uei assim com ele esse tem"o. =omo vig(rioca"itular "assei um ano. ão "odia renovar nada. ada se muda, durante a vac;nciade l(. /ntão, eu não "odia mudar nada, at> ir "ara uma diocese onde, foi em =rate?s,onde eu "ude ser o "astor. <í, fa'er 2unto com o "ovo o meu "ro2eto.@ 

3mbora afirme seu cuidado em não aprofundar discord=ncias com o arcebispo7om 7elgado, o bispo au<iliar será conhecido por sua postura em favor dos

trabalhadores e trabalhadoras, e seu trabalho 2unto a Nuventude :perária Católica

*N:C.Q

 3m meados de /45% 7om 7elgado se transfere para (ortaleza. 7om (ragoso #considerado o sucessor natural, inclusive por indicação de 7om 7elgado. Como na

hierarquia eclesiástica, quando o bispo principal se afasta, a figura do bispo au<iliar 

desaparece, 7om (ragoso # indicado pelo cabido, como vigário e<tra. A espera pela

nomeação do novo arcebispo, será de um ano. 0ara muitos a indicação de 7om Dottaem 2ulho de /45K, em lugar de 7om (ragoso, seria resultado da pressão dos militares. :

0adre avier em sua entrevista, faz o seguinte comentárioI  /m 196A, om Fragoso foidenunciado "or um "adre do Maranhão, como su!versivo, como comunista. Foi entãotransferido "ara “o fim do mundo, "ara =rate?s, no interior do =ear(. natural teria sido ele se tornar o arce!is"o de $ão %uís no lugar de om elgado &ue fora "ara Fortale'a. /ntrevista com om *avier 4iles de Mau"eu, fev. 1995

Hm outro fato, que pode ter concorrido ainda mais para que os militaresfortalecessem a construção do estigma de 7om (ragoso como religioso comunista está

relacionado a prisão de uma militante de esquerda que havia trabalhado na N:C em Eão

P Nos# (ragoso e Daria Nos# Gatista Costa tiveram seis filhos homens e uma mulher. Fodos os seis filhos

ingressaram no seminário, e tr?s vieram a tornar>se 0adre.5 3ntrevista com 7om Antonio (ragoso em Eetembro@7ezembro && para o 0ro2eto Caminhos da

Besist?ncia CatólicaI Ação de (reiras e Gispos do "ordeste durante o Begime Dilitar.6 3ntrevista com 7om Antonio (ragoso em Eetembro@7ezembro && para o 0ro2eto Caminhos da

Besist?ncia CatólicaI Ação de (reiras e Gispos do "ordeste durante o Begime Dilitar.Q DainRaring, Ecott. 1gre2a Católica e 0ol$tica no Grasil. /4/5>/4QP. Eão 0aulo) 3ditora Grasiliense,

/4Q4. 0ag. /5&.

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;u$s. 3m seu poder foram encontradas duas cartas enviadas por 7om (ragoso. 3sta

not$cia foi publicada na imprensa com o seguinte destaqueI “ 4eneral ominguesmandou "render om Fragoso. Como encontrava>se na oportunidade numa reunião

dos bispos do "ordeste em :linda, 0ernambuco, estes imediatamente se solidarizaram

com 7om (ragoso e rechaçaram as acusaç8es de bispo comunista veiculada na1mprensa, como fizeram saber ao general que iriam todos presos em solidariedade, caso

a ameaça se materializasse4.

0ossivelmente, se os militares tiveram algum poder de influ?ncia na decisão da

1gre2a de nomear 7om Antonio (ragoso para uma diocese rec#m criada no sertão doCeará, pensando que com isso iriam condená>lo ao esquecimento e ao sil?ncio,

cometeram um enorme erro de avaliação. Crateús de alguma forma representou uma

volta as ra$zes, daquele que fora criado em Fei<eiras, sertão da 0ara$ba, numa fam$lia deagricultores sem terra. 3mbora tenha sa$do aos // anos para iniciar sua formação e

nunca mais tenha voltado a morar com a fam$lia, 2amais perdeu seus laços e

compromissos.

“Ser Comunista” – Território do Discurso:

3m quase todas as publicaç8es que tratam do tema da 1gre2a 0opular, daBeligiosidade 0opular, das C3GE entre outros temas relacionados a Feologia da

;ibertação as atividades desenvolvidas pelo bispo de Crateús # alvo de refer?ncias.Ecott DainRaring em 1gre2a Católica e 0ol$tica no Grasil) Fhomas Gruneau em Fhe

0olitical Fransformation of the Grazilian Catholic Church) Dárcio Doreira Alves em :Cristo do 0ovo) 3mmanuel +adt em Catholic Badicals in Grasil) Fhomas 9. Eanders em

Catholicismo and 7evelopmentI the Catholic ;eft in Grazil) Melena Ealen *org. A

1gre2a dos :primidos. Grasil Mo2e. ". %) Genedito Eantos et alli em A Beligião do 0ovo.0oder$amos relacionar ainda dezenas de t$tulos em que as práticas eclesiais e pastorais

da 1gre2a de Crateús foram alvo de estudo, refle<ão e análise. Das, o fato desta diocese

tornar>se bastante conhecida mesmo não estando localizada em algum centro urbano demaior destaque pode ser atribu$da a um con2unto de fatoresI a a con2untura do regime

militar institu$a como de e<tremo perigo as práticas sociais religiosas ou laicas de apoio

e organização das camadas populares do meio rural, e por essa razão a diocese eraconstantemente alvo de cr$ticas de representantes do regime) bos grupos pol$ticos e

mesmo parcela da sociedade civil descontentes com a linha pastoral que a 1gre2a de

Crateús assume a partir do seu primeiro bispo, divulga amplamente na 1mprensa suas

cr$ticas, denunciando>a de comunista e de traidor dos ideais cristãos entre outrasacusaç8es )c a ampla rede de comunicação e apoio que tem a 1gre2a Católica dentro e

fora do Grasil) d o bispo ter tido sempre a preocupação em documentar e publicar todo

o trabalho diocesano desenvolvido em cada uma das paróquias da diocese.3mbora após o golpe de /45K at# final da d#cada de /46& ha2a enorme

dificuldade em publicar no Grasil, mesmo em editoras católicas, o trabalho

desenvolvido em Crateús, este será publicado em outros pa$ses como 3spanha, 0ortugal,

(rança e Alemanha. 3m 0ortugal, quando de uma viagem a Boma em 2ulho de /46,7om (ragoso permaneceu dois dias em ;isboa. "essa oportunidade reuniu>se com os

militantes do Dovimento do "inho, do qual # tamb#m assistente. 3ste movimento que

trabalha com os marginais na luta por sua libertação e evangelização no sentido de que participem na construção de uma sociedade radicalmente nova, tem desenvolvido suas

atividades na (rança, Grasil e 0ortugal. : resultado dessa reunião, em que o bispo

e<plicou detalhadamente as atividades do "inho em Crateús e fez uma análise da

4 3ntrevista com 7om Antonio (ragoso em Eetembro@7ezembro && para o 0ro2eto Caminhos da

Besist?ncia CatólicaI Ação de (reiras e Gispos do "ordeste durante o Begime Dilitar.

K

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situação do Grasil, foi depois transformado em livro./&  3m /46% # publicado na

3spanha, um outro livro de sua autoria 3l 3vagelio de la 3speranza. Belaciona suasrefle<8es teológicas O e<peri?ncia de bispo que faz uma opção pelo trabalho 2unto aos

trabalhadores e trabalhadoras pobres da sua diocese, 7om (ragoso procura demarcar 

vários campos teóricos em que constrói e define a sua orientação pastoral. "essesentido, não se furta de definir sua visão cristã de conceitos mar<istas como revolução,

liberdade, luta de classes, viol?ncia ou mesmo e<press8es como a religião # o ópio do

 povo!. :bserva então queI ...  %a revoluci+n, "ara los o"resores, es muchas veces un

 gol"e de estado, es un gol"e de las fuer'as armadas, &ue sustituCe dr(sticamente unaoligar&uía "or otra oligar&uía. -ara los o"rimidos, la revoluci+n es una ru"tura, unadenuncia organi'ada de todas las formas de o"resi+n, de todas las estructuras deo"resi+n, e al mismo tiem"o la construcci+n de una sociedad nueva en la &ue "artici"en todos los hom!res, "or el hecho de ser hom!res, con su dignidad humana, enla sociali'aci+n de las o"ortunidades.11  :bserva>se como na análise do termo

revolução estabelece uma distinção de significados deste conceito) para os opressoresseria a disputa entre oligarquias pela manutenção dos privil#gios, enquanto para os

oprimidos a possibilidade da construção de uma nova sociedade. Das esse caminho de

construção deveria ocorrer sem o uso da viol?ncia como e<p8e ao comentar acerca daluta de classesI Quede claro &ue la motivaci+n "rofunda no es el odio contra las

 "ersonas, sino el amor a la "ersona de los o"rimidos C a la "ersona de los o"resores C,al mismo tiem"o, el odio contra las formas de o"resi+n encarnadas em los mismoso"resores. /sta lucha de clases "arece ser uma acci+n necessaria, "ara &ue sea efica'la es"eran'a de la li!eraci+n, "ara &ue no sea s+lo uma uto"ia. o creo en la eficacia "olitica de la lucha armada de los o"rimidos "ara vencer C su"rimir la violenciaesta!lecida o la violencia de re"resi+n. %a violencia "rovoca la violencia, como unanueva reacci+n em cadena. %a lucha de clases de ti"o evang>lico hunde sus raíces enla fe en todo hom!re, en la certe'a de &ue todo hom!re es ca"a' de resurrecci+n, se esamado en la 2usticia C en la verdad.1D 3sse pequenos fragmentos possibilitam ilustrar como opera>se a união entre conceitos mar<istas e os princ$pios fundamentais do

cristianismo e como esta articulação de alguma forma define a linha pastoral da diocese

de Crateús. Ao mesmo tempo deve>se, considerar que 7om (ragoso representa umacerta linha de pensamento entre o clero considerado progressista do "ordeste, mas que

tamb#m tem suas próprias diverg?ncias internas. : princ$pio da não viol?ncia por 

e<emplo, o apro<ima bastante de 7om M#lder, de quem sempre foi grande amigo, mas,

não havia em 7om M#lder uma clareza conceitual e uma articulação entre cristianismo econceitos mar<istas como as que estabelece 7om (ragoso. A articulação entre os

 princ$pios cristãos e o mar<ismo, transforma>se num movimento que propaga>se pela

Am#rica ;atina em grupos como $acerdotes "ara el ercer Mundo na <rgentina, em1966, rgani'aão acional "ara a :ntegraão $ocial :$ no -eru, em 1965, o gru"o 4olconda na =olEm!ia, tam!>m em 1965 ao mesmo tem"o &ue um n?merocada ve' maior de cristãos comeou a se envolver ativamente nas lutas "o"ulares.

 /sses ?ltimos reinter"retavam o /vangelho 7 lu' dessa "r(tica e, algumas ve'es,desco!riam no mar#ismo uma chave "ara a com"reensão da realidade social, eorienta8es so!re como mud(0la.13

0or outro lado, há de considerar>se que todo esses posicionamentos teóricos,apresentados no 3l 3vangelio 7e ;a 3speranza se constituiriam para muitos defensores

/& (ragoso, Antonio. ;ibertar o 0ovo L diálogo com Antonio (ragoso *bispo. Gase) ;isboa, /46%.// (ragoso, Antonio. 3l 3vangelio de la 3speranza. Dadrid) 3diones Eigueme, /46%. 0ag. 56./ (ragoso, Antonio. 3l 3vangelio de la 3speranza. Dadrid) 3diones Eigueme, /46%. 0ag. 5P./% ;oRJ, Dichael. A guerra dos deuses. Beligião e pol$tica na Am#rica ;atina.@ Dichael ;SRJ)tradução

Tera ;úcia Dello NoscelJne. L 0etrópolis, BNI Tozes, &&&. 0ag. 65.

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do regime militar em suficientes sinais de mais uma prova do conhecido esquerdismo

do bispo de Crateús. 0ara reforçar a visão destes representantes do regime, asconsideraç8es escritas pelo bispo acerca da afirmação mar<ista de que a religião # o

ópio do povo!, seria uma evid?ncia irrefutável da sua opção comunistaI Gn mensa2eevang>lico, uma "redicaci+n,uma cate&uesis &ue nos di2ese &ue el cielo s+lo vienedes"u>s, &ue este mundo es s+lo un valle de l(grimas, &ue tenemos &ue tomar nuestracru' "or&ue no haC ahora ninguna ooutra salida, &ue la felicidad s+lo se da des"u>s,&ue la alegria s+lo se tendr( des"u>s, &ue la 2usticia s+lo e#istir( des"u>s, &ue la

li!ertad s+lo se o!tendr( des"u>s, &ue nada de eso se reali'a ahora) un mensa2e "resentado de esse modo sería verdaderamente um o"io del "ue!lo. <dormeceria en "ue!lo su ca"acidad de lucha, confirmaría la "asividad del "ue!lo.1A

Eer ou não ser comunista, ser e não ser comunista institu$ram um dos campos demaior conflito entre a 1gre2a Católica e o 3stado durante o per$odo do regime militar no

Grasil. Costuma>se com muita facilidade, atribuir a opção de um 1gre2a dos 0obres que

foi sendo constru$da por uma parcela significativa de religiosos e religiosas, comoresultado de diretrizes que viriam dos grandes centros de decisão como Taticano 11,

Dedellin, 0uebla./P  "o entanto dever$amos romper com esta visão mecanicista e pensar 

tamb#m que esses grandes encontros apontaram na direção do muito que vinha sendo praticado no cotidiano das dioceses e paróquias. Duitos relatos de história de vida de

 padres 2á apontam nessa direção como os do próprio 7om (ragoso ou do 0adre avier 9illes, que afirmaI /m!ora as =/Bs tenham sido oficialmente reconhecidas a "artir de Medellin, foi nessa e#"eriHncia em utoia, "elo menos no Maranhão, &ue teve inícioeste ti"o de tra!alho de !ase da igre2a. Mais ou menos na mesma >"oca, em uma outraregião do /stado, tinha iniciado um tra!alho semelhante, com a missão canadense,es"ecialmente com chamado Monsenhor =am!ron. /sse ti"o de tra!alho das =/B$  surgiram em diversas "artes da <m>rica %atina, dentro de um movimento maior derenovaão da :gre2a entre a d>cada de cin&uenta e sessenta./ntrevista com om *avier 4iles de Mau"eu, fev. 1995.16 

  "o entanto, no Grasil de maneira geral e mais especificamente no "ordeste, o

trabalho desenvolvido pela 1gre2a 2unto aos trabalhadores rurais e mesmo urbanos no

inicio da d#cada de /45&, era uma forma de buscar neutralizar a influ?ncia comunista oudas esquerdas em geral. Após o golpe de /45K, a situação altera>se radicalmente, pois o

clima de repressão que se instala, ao mesmo tempo que reprime crescentemente as

organizaç8es de esquerda, pro$be qualquer movimento de apoio e solidariedade as lutas

e movimentos populares. :s setores da 1gre2a que sempre trabalharam nessa direção emesmo outros que aderem a essa linha, passam a ser rotulados de comunistas. Ee

estabelece então uma verdadeira batalha discursiva, de acusação e defesa, entre a 1gre2a

e o regime, onde a 1mprensa se transforma no palco privilegiado dessa disputa. Duitasdessas acusaç8es algumas vezes antecipam pris8es, torturas, assassinatos e e<puls8es de

 padres quando de outras nacionalidades) outras vezes as medidas repressivas são

 primeiro implementadas para depois serem formalizadas as acusaç8es./6  Crateús não

esteve fora do alvo dos aparelhos de repressão, e um dos seus padres 9eraldo de:liveira foi preso, torturado e mantido incomunicável durante // dias em Becife) um

segundo, 0adre Nos# 0edandola, foi tamb#m seqUestrado, encarcerado e depois e<pulso

do 0a$s, sem direito a defesa./Q 

/K (ragoso, Antonio. 3l 3vangelio de la 3speranza. Dadrid) 3diones Eigueme, /46%. 0ag 66./P ;oRJ, Dichael. A guerra dos deuses. Beligião e pol$tica na Am#rica ;atina.@ Dichael ;SRJ)traduçãoTera ;úcia Dello NoscelJne. L 0etrópolis, BNI Tozes, &&&. 0ag. 6&@6/./5 /6 Alves, Dárcio Doreira. : Cristo do 0ovo. Bio de Naneiro) 3ditora Eabiá, /45Q./Q (ragoso, Antonio. 3l 3vangelio de la 3speranza. Dadrid) 3diones Eigueme, /46%. 0ag. QP.

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7om (ragoso viverá de forma muito aguda no ano de /454 a e<peri?ncia de ser 

estigmatizado como comunista. : Tigário 9eral da 7iocese, Donsenhor Nos# DariaDoreira do Gonfim realiza a revelia do bispo que encontrava>se em viagem e das

 próprias comunidades, uma reforma no cemit#rio. 3ste episódio a primeira vista banal,

se transformará em assunto nacional, comentado na revista T3NA, e nos 2ornais 3stadode Eão 0aulo, (olha de Eão 0aulo, Correio da Danhã, Nornal do Grasil, Correio do

Ceará, 7iário de 0ernambuco, entre outros, ao pro2etar um conflito entre o denominado

clero progressista e o clero tradicional. 3ste choque culminará com a destituição do

Donsenhor do cargo de Tigário 9eral. "o entanto, em face dos seus P anos de trabalho pastoral, al#m dos laços familiares na cidade de Crateús, a crise gera uma mobilização

de parte da cidade contra a atitude do bispo. : vereador e presidente da C=mara, "onato

Gonfim, faz aprovar uma moção declarando o bispo Vpersona non grataW. 1mediatamentea Arquidiocese de (ortaleza distribui nota afirmando que “os vereadores serãoconsiderados tam!>m "ersona non gratas ante a :gre2a =at+lica./4  Ao analisar as

diversas mat#rias publicadas na 1mprensa, poderemos diferenciar aquelas que sãonitidamente contra o clero progressista, e nesse aspecto recorrem algumas vezes ao

artif$cio de utilizar>se de falas ou e<pressão de terceiros, acusando o bispo de não

e<ercer o seu of$cio de religioso e de fazer pol$tica e ser contra o regimeI vereador  onato Bonfim &ue re&uereu fosse o Bis"o considerado "ersona non grata, alinhou as

 seguintes ra'8es "ara a sua iniciativa) om <ntEnio Batista Fragoso disse &ue “=u!adeve ser um e#em"lo "ara a <m>rica %atina e convidou o "ovo de =rate?s “atransformar a diocese numa "e&uena ilha de =u!a. isse numa conferHncia em$o!ral &ue “&uisera ter a coragem de =he 4uevara "ara lutar "elos o"rimidos.=onsiderou a Ievoluão de maro uma “revoluão'inha as"eada. <firmou numaconferHncia em eresina &ue “=rate?s > uma terra de analfa!etos, onde não se lH 2ornais nem se toma conhecimento do &ue ocorre no resto do Brasil. isse num "rograma de televisão em $ão -aulo &ue o mar#ismo > aceit(vel como m>todo. emconcitado o "ovo a “não ter medo do /#>rcito, da -olícia e do o"s. & 0ara que se2a poss$vel avaliar a gravidade dessas acusaç8es no conte<to de um regime autoritário e

repressivo, ou mesmo para compreender o significado dos discursos e das práticas de

um per$odo, # necessário procurar situá>las no con2unto maior das redes sociais, pol$ticas e culturais. 7essa forma, ocorre algumas vezes que uma declaração, uma

e<pressão ou mesmo uma fala que se pretende favorável, pode transformar>se em mais

um argumento para os adversários. "essa mesma mat#ria do Nornal do Grasil, há uma

transcrição de uma declaração de um porta>voz de 7om Antonio Gatista (ragoso emque este teria afirmado queI o Bis"o foi considerado "ersona non grata "or&ue “vemmostrando &ue 2( se deve dar consciHncia ao faminto de &ue Hle "assa fome e &ue devee#igir dos &ue governam condi8es mínimas de segurana, tra!alho e conforto. D1 3ssacurta declaração, que ho2e pode ser lida como uma afirmação trivial, na #poca era

motivo para os setores contrários a 1gre2a 0opular, apontarem um desvirtuamento da

 prática religiosa, e ind$cios de incitamento das camadas populares contra o regime, e

 por e<tensão uma grande ameaça a ordem e a segurança nacional.7om (ragoso não era comunista, afinal, al#m dos diversos desmentidos pessoais

a que foi instado pelas circunst=ncias a fazer, nunca se provou que tivesse qualquer 

filiação ao partido comunista, que inclusive na #poca era clandestino. Duito mais queisto, suas declaraç8es e escritos apontavam constantemente na direção contrária ao

materialismo histórico que fundamentava a teoria e a prática comunista. Acredita como

/4 Correio da Danhã. Bio de Naneiro. /Q>&P>/454.& Nornal do Grasil. Bio de Naneiro. &>&P>/454./ Nornal do Grasil. Bio de Naneiro. &>&P>/454.

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homem de f#, inspirado nos evangelhos que a salvação # para todos.  Das 7om

(ragoso era comunista, fazia constantes afirmaç8es de simpatia as propostas decomunistas como Che 9uevara, e o regime pol$tico de Cuba. Dantinha relaç8es de

amizade dentro e fora da 1gre2a com pessoas tamb#m suspeitas de serem comunistas.

3m seus escritos # poss$vel identificar e<press8es e conceitos do universo da teoriamar<ista. 3stes são os argumentos constante dos seus adversários durante o per$odo do

regime militar) afinal, os discursos e as práticas que apontavam na direção da

organização e fortalecimento dos movimentos populares eram considerados comunistas.

Arquiteto da Memória:

Ao entrevistar o bispo de Crateús, ao longo de vários dias, totalizando mais de

/ horas, descobre>se um religioso que tem uma memória muito organizada. 3m que as palavras, as lembranças, as refle<8es ditas de forma muito delicada se associam a uma

maneira firme e positiva de se e<pressar, e que resultam provavelmente de longos

 per$odos de meditação. Falvez as dezenas e mesmo centenas de entrevistas concedidasao longo da vida, sobre os mais diversos acontecimentos e temas da 1gre2a e sobretudo

da prática pastoral em Crateús, tenham concorrido para desenvolver essa capacidade de

narrar, em que lembranças, sonhos e refle<8es se pro2etam em um amplo mosaicomultifacetado. 3m alguns momentos temos a impressão que estamos ouvindo a leitura

de um livro de algu#m que escreveu antecipadamente suas próprias histórias. Das nãofoi apenas a sua memória pessoal que 7om (ragoso teve o cuidado de organizar. :u,

deva>se considerar que essa memória pessoal encontra>se tão, organizada porquesempre foi uma preocupação e mesmo uma pol$tica da 7iocese de Crateús, documentar 

encontros, acontecimentos, práticas, refle<8es, pro2etos, caminhos e descaminhos.

3m grandes livros encadernados, que t?m o tamanho de uma folha de papelof$cio, são encontrados em páginas cuidadosamente datilografadas, uma detalhada

descrição das visitas pastorais periódicas realizados pelo bispo a cada uma das dez

 paróquias L 1pueiras, 0oranga, Famboril, "ovo :riente, 1ndepend?ncia, "ovas Bussas,Fauá,, 0arambu, Donsenhor Fabosa e Eenhor do Gonfim > que formam a diocese de

Crateús. 3stas visitas duram em m#dia de dois a cinco dias, e são descritas pelo bispo

em tom bastante pessoal, intimista o que torna a leitura agradável. Hm $ndiceremissivo, na contracapa, com o nome da paróquia, a data e a página, facilita

enormemente a consulta. :s relatos escritos algumas vezes em forma de crXnica, outras

em tom de relatório, mas todos oferecendo muitos detalhes, como nome das pessoas

envolvidas nas diversas práticas pastorais das comunidades, debates realizados,refle<8es, problemas, enfim um minucioso retrato escrito das atividades realizadas

como tamb#m os encaminhamentos e pro2etos. Como a diocese tem uma linha pastoral

voltada para o cotidiano das comunidades, os problemas das condiç8es de vida etrabalho são bastante debatidos, avaliados e os diversos posicionamentos e propostas de

 pessoas e grupos, descritos. 3stas encadernaç8es, organizadas sob o t$tulo de Tisitas

0astorais, devem ser acompanhadas por um trabalho de registro dos acontecimentos de

cada paróquia, em que o padre # o responsável por descrever a memória da*scomunidade*s da sua paróquia. 3ste outro livro de registro da memória das atividades

da paróquia # denominado de ;ivro de Fombo.

Hm pequeno fragmento, do que o bispo denomina crXnica de uma visita pastoral, a2uda>nos a ilustrar o enorme trabalho desse artesão da memóriaI

Jisita 7 Quiterian+"olis

 (ragoso, Antonio. 3l 3vangelio de la 3speranza. Dadrid) 3diones Eigueme, /46%. 0ag. 5P. ;a lucha de

clases de tipo evang#lico hunde sus ra$ces em la fe en todo hombre, en la certeza de que todo hombre es

capaz de resurrección, si es amado en la 2usticia J en la verdad.

Q

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Quiterian+"olis > municí"io novo. =hamava0se antes $anta Quit>ria e, de"ois,Jila =outinho. /st( incluído na (rea da -ar+&uia da “$enhora $antana &ue co!redois Municí"ios) :nde"endHncia e Quiterian+"olis. Funciona como uma Krea -astoral autEnoma, animada "elo -e. Maurí'io =remaschi, cedido 7 iocese de =rate?s "ela iocese de Bergamo :t(lia, "ela :r. Maria <lice de liveira e $ilva e "ela :rmã $alete,am!as das “Mission(rias iocesanas.

 < iocese decidiu não criar, de comeo, a -ar+&uia de Quiterian+"olis, "araevitar tentativas ha!ituais de mani"ulaão "olítica &ue dificultariam a li!erdade da

 <ão -astoral. < animaão "astoral do Municí"io, acom"anhada de constanterefle#ão, oferece condi8es de uma decisão de futuro.

 esta visita "astoral, "edi ao -e. Maurí'io &ue iniciasse um %ivro de om!o,resgatando a mem+ria do &ue acontece e recolhendo dados "ara a hist+ria.

 /sta crEnica, &ue escrevi, limitada e incom"leta, dese2a a2udar o conte?do do“%ivro de om!o.

=heguei a Quiterian+"olis, no dia 11 de agosto, 7 noite. /stava se reali'ando anovena da -adroeira, ossa $enhora da =onceião. < igre2a estava !em cheia. -or isto se decidiu &ue, a "artir de amanhã, ser( cele!rada no "(tio e#terno da igre2a. eusimar, da =oordenaão iocesana de -astoral, me disse &ue este ano a Festa tem odu"lo de gente, com"arando com a Festa de 1955. -e. Maurí'io me di'ia &ue não h(

uma grande tradião da Festa da -adroeira, mas &ue a "artici"aão est( crescendo.1D.L5 -elas horas da manhã, a Banda de M?sica tocou a “alvorada,

des"ertando o "ovo. $eguiu0se a oraão comunit(ria. /, "elas 5 horas, -e. Maurí'io "residiu a /ucaristia, na &ual crianas rece!eram "ela "rimeira ve' a comunhão.

 -elas 1L horas, no $alão -aro&uial, reuniu0se a =oordenaão "essoas maisres"ons(veis "elo acom"anhamento, na cidade e no interior. am!>m estava "resente Fr. 4erardo Fa!ert, irmão'inho do /vangelho, &ue reside na Barra dos Iicardo eanima cerca de D de'enas de =omunidades &ue estão no Municí"io de Quiterian+"olis. < :r. lga MeCer, da “Fraternidade /s"erana e $ecret(ria iocesana de -astoral,tam!>m "artici"ou.

 < reunião, &ue se e#tendeu at> 7 tarde, teve a "auta seguinte)

1°    <s alegrias &ue tivemos da ?ltima reunião "ara c(.D°    estemunhos dos "resentes &ue "artici"aram, em =rate?s, do A°   /ncontro

 iocesano das =/Bs, 6 a 5 de agosto.3°    Ievisão dos com"romissos assumidos desde o ?ltimo encontro.A°    -revisão dos "assos de futuro.D3

A construção da memória, que se materializa nesses relatos em forma de diário,de crXnica, de relatório em um misto de estilos, possibilita recuperar a dimensão

memorialista, de algu#m que está tamb#m preocupado em transmitir as geraç8es

futuras, ensinamentos, raz8es e estrat#gias na escolha de determinadas decis8es, como

ao afirmar queI < iocese decidiu não criar, de comeo, a -ar+&uia de Quiterian+"olis, "ara evitar tentativas ha!ituais de mani"ulaão "olítica &ue dificultariam a li!erdadeda <ão -astoral . : estilo de diário em um misto de crXnica se revela em passagens

quando registra queI -elas horas da manhã, a Banda de M?sica tocou a “alvorada,des"ertando o "ovo. Ná na transcrição da pauta, em que não inclu$mos o detalhamento

de cada um dos quatro itens L que consta do te<to original > manifesta>se a dimensão de

relatório.3ssa pol$tica de documentação, de registro estimula a refletir acerca das muitas

raz8es poss$veis de serem relacionadas a este operar da memória que o bispo de Crateús

realiza. 3m uma sociedade, sem tradição de pol$ticas de construção e preservação de

% 7iocese de Crateús. 0asta "o. &/. Tisitas 0astorais. ;ivro 111. 0ag. /PK.

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acervos, a iniciativa de 7om (ragoso, afirma>se como um pro2eto surpreendente.

Fransforma a sua vocação memorialista em uma pol$tica da 7iocese, e atrav#s dessa postura, opera a passagem de artesão a arquiteto. "ão constrói apenas e unicamente um

diário pessoal e particular, mas estimula as próprias paróquias a organizarem o seu

;ivro de Fombo. : seu te<to das visitas pastorais, irá tamb#m constituir>se emdocumento de memória a ser ane<ado aos ;ivros de Fombo, como a dar e<emplo e

comprometer os padres das 0aróquias na construção das suas próprias memórias.

Ao completar /5 anos como bispo de Crateús, 7om (ragoso publica pela

ediç8es ;oJola, o livro : Bosto de uma 1gre2a!, onde apresenta a história de suacaminhada nesta diocese. Afirma que o livro representa a sua visão, o seu olhar e que

não # a história que o con2unto da diocese elaborou!, embora a história da 7iocese

tenha sido vivenciada coletivamente.K  : livro # dividido em tr?s partesI Hmacaminhada de /5 anos) 3nsaio de 1nterpretação e 7epoimentos.

Ao descrever a caminhada, ao mesmo tempo que reconstroi a memória de

diversos acontecimentos, realiza tamb#m uma cartografia da diocese) das atividadesdesenvolvidas pelos padres e grupos de leigos no momento da chegada em /45K, da

situação de cada paróquia que fora na #poca visitada. Eão apresentadas em seguida as

 propostas, as discuss8es, as refle<8es que foram encaminhadas coletivamente no sentidode buscar transformar a 1gre2a de Crateús em um servio evang>lico do "ovo,

 servidora e "o!reD. "a primeira parte, desenvolve uma reconstrução de memórias desde o momento

da chegada, relatando em detalhes a festa como foi recebido e suas primeirasdiscord=ncias com o tipo de recepção organizado, com o palácio constru$do para sua

moradia e sobretudo a aus?ncia quase completa do povo no coquetel que lhe foi

oferecido.5 3m seguida, descreve o diálogo que estabeleceu com cada padre na visita as paróquiasI “< minha conversa inicial com os "adres, em cada uma das 1L "ar+&uias, foi sa!er &ual era a "astoral &ue fa'iam, como estava a cate&uese, a liturgia, a "r(ticadas massas nas ca"elas e na sede, se havia aão cat+lica es"eciali'ada, &ue es"eravameles do !is"o.D@  Hma segunda atitude que o bispo demonstra interesse em rememorar e

registrar no livro, ocorreu alguns dias após sua chegada a cidade, quando foi a rádio e

afirmou a necessidade dos trabalhadores que viviam ma2oritariamente no meio rural, procurarem se sindicalizar. 1mediatamente recebeu a visita de um proprietário que lhe

 perguntaI “se n+s colocarmos "ara fora das terras os tra!alhadores "or causa daagitaão dos sindicatos, o sr. terra "ara oferecer a elesN D5 Famb#m durante um 2antar 

no ;ions Clube de Crateús irá reafirmar sua posição pastoral de privilegiar aconscientização do povo do campo! e a2udar o cumprimento da leiI que se

organizassem nos Eindicatos de Frabalhadores Burais. : orador lionista e<clamouI“$indicatos IuraisN Mas isto > su!versãoO4 Conclui então 7om (ragoso que seu pro2eto de sociedade não coincidia com os da elite de Crateús, e que essas diverg?ncias

 poderiam ser motivo de tens8es e conflitos no futuro.

3sta primeira parte, dividida em & tópicos, apresenta>se tamb#m como o

histórico de pro2etos e aç8es desenvolvidos nesse per$odo, al#m de um detalhamento daestrat#gia e das táticas propostas para que se2a alcançado em Crateús “uma :gre2a dos "o!res, com"rometida com a li!ertaão do "ovo.3L "a segunda parte, são descritas as

linhas teóricas e teológicas que fundamentam o pro2eto de transformar a 1gre2a de

K (ragoso, Antonio Gatista. : Bosto de uma 1gre2a. Eão 0aulo) ediç8es ;oJola, /4Q.0ag. //.P (ragoso, Antonio Gatista. : Bosto de uma 1gre2a. Eão 0aulo) ediç8es ;oJola, /4Q.0ag. P/.5 (ragoso, Antonio Gatista. : Bosto de uma 1gre2a. Eão 0aulo) ediç8es ;oJola, /4Q.0ag. /5@/6.6 (ragoso, Antonio Gatista. : Bosto de uma 1gre2a. Eão 0aulo) ediç8es ;oJola, /4Q.0ag /4.Q (ragoso, Antonio Gatista. : Bosto de uma 1gre2a. Eão 0aulo) ediç8es ;oJola, /4Q.0ag /.4 (ragoso, Antonio Gatista. : Bosto de uma 1gre2a. Eão 0aulo) ediç8es ;oJola, /4Q.0ag /.%& (ragoso, Antonio Gatista. : Bosto de uma 1gre2a. Eão 0aulo) ediç8es ;oJola, /4Q.0ag P.

/&

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Crateús, considerada por 7om (ragoso ainda predominantemente tradicional,

conservadora, moderada em um 1gre2a 0opular. 3ntende esta 1gre2a como “a :gre2a doso"rimidos, dos "e&uenos, dos "o!res, dos fracos, reunidos nos seus es"aos de !ase&ue chamamos =omunidades /clesiais de Base. <ssim no interior da grande :gre2a0 -ovo, est( emergindo a :gre2a -o"ular.31 3screvendo uma conclusão nessa segunda parte 7om (ragoso reafirma seu compromisso maior com a memória ao convocar todos

“os irmãos !is"os, "adres e leigos &ue me lHem, se tiverem "aciHncia de ir at> o fim, um "edido, um a"elo fraterno. -onham no "a"el a sua e#"eriHncia, o seu testemunho. 3D

3stabelece uma cruzada a favor do registro, da documentação, da memória, da história.0ode>se imaginar, que receia que todo o enorme trabalho realizado nas diversas

comunidades, as e<peri?ncias, os impasses, as vitórias e derrotas, o que se aprendeu

 perca>se irremediavelmente no tempo. 3 toda essa sabedoria acumulada possivelmentetamb#m em outras dioceses pode está sendo perdida. (ortalecer essas memórias

transformando>as em documento escrito, # tamb#m uma maneira de fortalecer e

articular de maneira mais efetiva a 1gre2a 0opular e seu clero. "a terceira parte, # apresentada uma s#rie de depoimentos de 0adres, Beligiosas,

3studantes Nesu$tas que trabalham ou passaram alguns dias nas comunidades das

diversas paróquias. A partir de um pedido do Gispo, procuram responder a perguntaI“:gre2a de =rate?s, &ue di'es de ti mesmaN As respostas em formas de depoimentos,

relatos de e<peri?ncias, refle<8es, cr$ticas revelam ao leitor os desafios e as dificuldadesem desenvolver um trabalho coletivo, procurando construir uma outra relação entre

religioso*s e religiosa*a e as pessoas das diversas classes, das diversas comunidades,sobretudo quando se prioriza os mais pobres. 3ntre os depoimentos, não há nenhum que

se manifeste contra o pro2eto previamente escolhido e desenvolvido. A partir deste

 ponto, os te<tos revelam conquistas e tamb#m dificuldades e mesmo cr$ticas a algumas práticas.

: livro representa a produção da imagem@memória de uma e<peri?ncia de 1gre2a

0opular, em que seu bispo aparece como autor e ator bastante consciente do seu pro2eto.A reconstrução que realiza, das lembranças do momento da chegada, e os choques com

as elites locais e estaduais se transformam no livro numa declaração de princ$pios que

irá informar as prática pastoral, cateqU#tica e litúrgica posteriores. As refle<8es teóricasda segunda parte revelam os princ$pios em que se fundamentam os caminhos

escolhidos, sobretudo porque se alicerçam a partir do trabalho das Comunidades

3clesiais de Gase. Com isso o relato produz uma representação que alia de forma

 bastante consciente as linhas básicas do pro2eto de 1gre2a 0opular e ;ibertadora a suafundamentação teórica, ou se2a tudo que está sendo proposto e desenvolvido de forma

coletiva com a participação popular está respaldado em rigorosas refle<8es teológicas,

sociais, pol$ticas, culturais e econXmicas. 3 por fim o livro procura construir umaimagem de e<erc$cio da democracia ao dar voz aos diversos atores, que atuam como

intercessores%%. 7essa maneira alguns colaboradores, podem tamb#m construir sua

representação da 1gre2a 0opular da 7iocese de Crateús e algumas vezes apresentar 

cr$ticas, ao modelo institu$do na diocese a partir de /45K.3m /44& este arquiteto da memória, inicia um novo pro2eto de história com

vistas aos %& anos de caminhada da diocese, que seria comemorada em /44K. 7om

(ragoso, em /44P completaria 6P anos, e nesse momento deveria aposentar>se. Hma das preocupaç8es centrais, naquele momento era com a orientação pastoral do futuro

sucessor.%K A iniciativa de mais um livro, de alguma forma revela que a medida que

%/ (ragoso, Antonio Gatista. : Bosto de uma 1gre2a. Eão 0aulo) ediç8es ;oJola, /4Q.0ag PQ.% (ragoso, Antonio Gatista. : Bosto de uma 1gre2a. Eão 0aulo) ediç8es ;oJola, /4Q.0ag 46.%% 7eleuze, 9illes. Conversaç8es. Fradução 0eter 0ál 0elbart. Eão 0aulo) 3ditora %K, &&&.%K Fhom#, -olanda G. Crateús, um povo, uma 1gre2a. Eão 0aulo) 3diç8es ;oJola, /44K. 0ag. /%K.

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apro<ima>se a aposentadoria, dese2a>se registrar, construir uma história  guardar amem+ria do caminho "ercorrido, contada "or a&ueles mesmos &ue o "ercorreram !.%P

Convida então, uma amiga, -olanda G. Fhom#, para e<ecutar o pro2eto. 3sta via2a para

Crateús onde permanece dois meses, conversando com o povo, ouvindo sua história e

transcrevendo o mais fielmente poss$vel os relatos gravados. (oram então realizadas“trinta e seis entrevistas, trHs das &uais com gru"os36 .

: livro # dividido em cinco partesI 1> Hm pouco de Mistória) 11> Eituação e

Caminhada do 0ovo) 111> A 1gre2a de Bosto "ovo) 1T> 1tinerários) T> Conclus8esI (orças

e (ragilidades. "a primeira parte, # apresentado um relato dos antecedentes históricosda cidade de Crateús desde as lutas dos ind$genas na região contra os colonizadores, a

criação da Tila em /Q%, com o nome de 0rincesa 1sabel) com a república seu nome

muda para Crateús. 3m /4// passa de Tila a Cidade, e em /45% # transformada em7iocese. "a segunda parte, basicamente atrav#s dos relatos orais transcritos, são

abordados os principais problemas vivenciados pelo povo. A questão dos conflitos de

terra, o regime de trabalho, o sindicato, a Comissão 0astoral da Ferra, a 1ndústria daEeca, algumas vitórias nas diversas lutas empreendidas. "os diversos temas abordados

manifesta>se uma constante presença da 1gre2a, atrav#s dos diversos grupos pastorais.

 "a terceira parte procura apresentar, como a 1gre2a de Crateús construiu seu caminho equais seus principais pro2etos. :s relatos são reconstruç8es de como os pro2etos foram

vivenciados pelas pessoas entrevistadas. "esse aspecto, a orientação adotada peladiocese foi uma frustação para muitos que esperavam, que esta assumisse um papel

civilizador, cuidando de escolas, fundando seminários e outras obras nessa perspectiva.Das o caminho escolhido, como relata uma entrevistada foi “:ncentivar o "ovo a ser agente de sua "r+"ria hist+ria. /ssa verdadeira revoluão afastou muita gente,escandali'ada de ver a :gre2a com um discurso "olítico, falando de reforma agr(ria,dos sem0terra, do "ovo sofrido, das in2ustias.3@  Hm dos pro2etos que passou a ter um

grande significado para 7iocese foram as Comunidades 3clesiais de Gase. 3stas por 

volta de /44&, estariam em torno de setecentas.%Q 3ste número denota de certa formacomo a prática pastoral estava bastante articulada com um movimento de mobilização

 popular. Hm outro trabalho desenvolvido, foi o dos pro2etos comunitários. A 7iocese

realizava pequenos empr#stimos para que fossem desenvolvidos pro2etos como hortascomunitárias, bodegas, grupos de crochezeiras, de depósitos para armazenar a produção.

At# /44/ trinta e um pro2etos haviam recebido apoio.%4 "o entanto, haviam os mais

 pobres ainda, que as C3Gs com suas reuni8es, sua leitura da b$blia, suas

responsabilidades partilhadas não conseguiam alcançar. Eurgiu então a 1rmandade doEervo Eofredor, *1EE: a partir do trabalho de um 0adre suiço (reddJ +unz *conhecido

 popularmente como Alfredinho que chegou em /45Q a Crateús. "arra este que um

certo dia foi chamado para atender Antonieta, uma prostituta que estava morrendo detuberculoseI Ji então a"arecer no seu rosto, como um refle#o da "resena de =risto,uma e#"ressão de "a' e alegria. /la morreu &uin'e dias de"ois. <rrancaram a "orta de seu case!re "ara "Er o cor"o em cima. Gm mHs de"ois, com!inado com o !is"o,

aluguei “o case!re da finada, e fui viver na 'ona.../ l( desco!ri um verdadeiro santu(rio de eusOAL  3ste trabalho 2unto aos mais pobres foi sendo ampliado e

adquirindo uma din=mica própria.  7essa forma, criou>se uma organização que tem

a2udado na integração dos miseráveis, que são então reconhecidos como pessoas, como

%P Fhom#, -olanda G. Crateús, um povo, uma 1gre2a. Eão 0aulo) 3diç8es ;oJola, /44K. 0ag. /P.%5 Fhom#, -olanda G. Crateús, um povo, uma 1gre2a. Eão 0aulo) 3diç8es ;oJola, /44K. 0ag. /5.%6 Fhom#, -olanda G. Crateús, um povo, uma 1gre2a. Eão 0aulo) 3diç8es ;oJola, /44K. 0ag. /P.%Q Fhom#, -olanda G. Crateús, um povo, uma 1gre2a. Eão 0aulo) 3diç8es ;oJola, /44K. 0ag. /%P.%4 Fhom#, -olanda G. Crateús, um povo, uma 1gre2a. Eão 0aulo) 3diç8es ;oJola, /44K. 0ag. /KK.K& Fhom#, -olanda G. Crateús, um povo, uma 1gre2a. Eão 0aulo) 3diç8es ;oJola, /44K. 0ag. /PK.

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irmãos. Jiviam na rua, sem a"oio, a!andonados. /ncontram um lugar na :rmandade.A1

 "o entanto, nem todos fazem uma avaliação positiva da 1rmandade do Eervo Eofredor, pois alegam que esta não integra a dimensão pol$tica, e que sua resist?ncia # apenas

religiosa, 2á que suas armas são a oração, o 2e2um e a não>viol?ncia. Apesar de contar 

com o apoio do bispo, a publicação das discord=ncias, de alguma maneira, reveladissenç8es, que muitas vezes as memórias oficiais tendem a silenciar.

A quarta parte são relatos de homens e mulhres, religiosos*as ou não, que

descrevem em algumas páginas um pouco da sua história de vida e como se enga2aram

no trabalho pastoral em Crateús. :s relatos recriam acontecimentos e e<peri?ncias quesurpreendem pela força e intensidade como foram vivenciados, e ao mesmo tempo

 pro2etam inúmeras interrogaç8es acerca do que foi silenciado, em face daquilo que seus

narradores privilegiaram revelar. Ao final, dessa parte são transcritos trechos de poemasde cantadores populares em que são reproduzidos, como numa crXnica do cotidiano

diversos desafios da vida e do trabalho I$enhor !ondoso e 2usto, grava em nossa mem+riaão dada ao es&uecimento, no ho2e como outrora, < "(gina escrita em sangue, na dor deste momento... os se2a testemunha, mesmo havendo !om tem"o, e &ue s+ a união dos "o!res na 2ustia

 Far( vir nova era, sem seca e sem co!ia.AD

0ara o poeta popular, o esquecimento # um grande perigo. Desmo os momentosmais dif$ceis e tudo o que se fez para enfrentá>lo parece que # apagado, quando volta o

 bom tempo. 3 nesse momento solicita a intervenção divina, para que a memória não

se2a ameaçada pelo esquecimento. "as conclus8es a autora se prop8e a comentar, tanto o que considera os aspectos

fortes como as fragilidades. 0ara esta a força está associada a radicalidade de um pro2eto

de 1gre2a popular e libertadora, que busca atrav#s de um esforço constante de e<erc$ciodemocrático estabelecer uma coer?ncia entre as palavras e os atos. Ao mesmo tempo

destaca a diversidade na unidade como condição deste e<erc$cio democrático.

0or outro lado, as fragilidades decorreriam de vários fatores. 0rimeiro, oquestionamento se a maioria do povo está identificado com o pro2eto de pastoral de

libertação) como essa 1gre2a, tão voltada para o meio rural responderá as quest8es do

meio urbano) o conflito entre a linha da 7iocese e a de Boma) a questão da sucessão do

 bispo, que se coloca a partir de /44P) e tamb#m a escassez de pessoas, leigos ereligiosos para realizarem o enorme trabalho que se coloca a cada dia.

: livro Crateús, Hm povo, uma 1gre2a, procura reafirmar as linhas fundamentais

do trabalho desenvolvido na 7iocese, destacar a ampla participação popular e pro2etar as inquietaç8es que colocavam>se naquele momento, /44&, quanto a futura

aposentadoria do bispo. 3m outros termos, buscava>se organizar e sistematizar uma

história, reafirmar caminhos, destacar o enraizamento popular, produzir uma memória,

uma identidade. 3sta quiçá poderia constituir>se num sinal, numa marca, numarefer?ncia para enfrentar o futuro, o desconhecido, a possibilidade de ruptura.

a!endo a "ossa #istória:

Ao completar P anos, o bispo que 2á havia garantido a memória das práticas

cotidianas atrav#s dos livros das Tisitas 0astorais, tinha documentado e preservado os

0lanos 7iocesanos de 0astoral */45P>/46K, e tamb#m a partir /46K iniciado a publicação do boletim 0astoral, em /4Q4, passava a editar os CadernosI (azendo a

K/ Fhom#, -olanda G. Crateús, um povo, uma 1gre2a. Eão 0aulo) 3diç8es ;oJola, /44K. 0ag. /PP.K Fhom#, -olanda G. Crateús, um povo, uma 1gre2a. Eão 0aulo) 3diç8es ;oJola, /44K. 0ag. /46.

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 "ossa Mistória. 3stes simbolizavam mais um movimento de combate pela memória,

como declara na apresentação, que se transforma no VseloW dos /6 cadernos publicadosI urante D anos, a :gre2a de =rate?s caminha "or estes $ert8es de =rate?s e dos :nhamuns. odos n+s, com"anheiros de caminhos, tra'emos conosco, na mem+ria e nocoraão, as manhãs alegres e criativas e as noites de escuridão. =aminhamos 2untos,num grande mutirão de Fraternidade e de /#"eriHncia de eus, F<P/M$ $$< :$RI:<. Muitos di'em &ue somos “um "ovo sem mem+ria. -ara guardar viva, ho2ee amanhã, a nossa mem+ria, decidimos escrever estes =</I$. 

 "essa cruzada pela memória, o adversário não estava no presente, ameaçandodestruir toda a caminhada da 7iocese, como foram os anos de perseguiç8es, pris8es,

torturas, e<puls8es de padres na primeira metade da d#cada de /46&. "aquele per$odo, a

7iocese não se dei<ou paralisar pelo impacto da viol?ncia das medidas repressivas.Duitos intelectuais, religiosos ou não foram convidados para visitas de trabalho,

ministrando cursos, acompanhando reuni8es e encontros, assessorando criticamente a

caminhada da diocese. 3ra a dificil história do presente, sendo ob2eto de refle<ão edebates constantes com uma rede ampla de interlocutores. Nos# Comblin, esteve no final

de /46/, numa visita de tr?s dias a Crateús, participando de um 3ncontro da 7iocese.

Euas refle<8es naquele momento, revelam o clima de tensão internos vividos por religiosos e leigos em face das press8es do regime, que prendera dois padres da diocese,

9eraldo de :liveira ;ima e Nos# 0ed=ndola, sendo este último e<pulso, al#m da perseguição e prisão de l$deres sindicais que trabalhavam 2unto com a 1gre2a. 3screvia

Comblin, em /46/, sobre as dificuldades e os riscos de que era alvo a 1gre2a deCrateúsI  iante dos novos acontecimentos, uma reformulaão de certos as"ectos da "astoral diocesana "arece inevit(vel, em!ora se2a difícil fi#ar o momento maiso"ortuno.K% 3m outros termos, apontava Comblin para necessidade de se tirar liç8es dase<peri?ncias vivenciadas e procurar redirecionar o trabalho pastoral. 3ra necessário

aprender com o que de novo acontecia, e a partir dele procurar estabelecer outros

caminhos, outras estrat#gias. 0ara este a repressão de que era alvo a 7iocese advinhadas  "osi8es "rof>ticas assumidas coletivamente ou assumidas "or diversosmovimentos, ou assumidas em nome da diocese "elo !is"o diocesano. AA :u se2a, a

7iocese deveria entender que o caminho então escolhido, a tornava o centro dasatenç8es do regime, e que suas práticas eram consideradas uma ameaça a ordem e a

segurança nacional. 3sta forma de encaminhar a refle<ão apontava no sentido, de trazer 

 para a própria 1gre2a de Crateús a consci?ncia de que era em razão das escolhas

 pastorais realizadas coletivamente, que o confronto apresentava>se com o regime e decerta forma isolava>a em relação a outras dioceses do GrasilI  /m relaão 7s demaisdioceses do Brasil, a diocese de =rate?s a"arece relativamente isolada numa "osiãode “"onta "rof>tica. /ssa "osião e esse isolamento tornavam inevit(vel uma situaãode re"ressão &ue 2( comeou a se manifestar. ão se "ode "rever &ue a re"ressão "ossadiminuir. <tualmente não h( fatores novos &ue "ermitiriam diminuir a "ressão so!re a :gre2a desde o momento em &ue esta tome "osi8es de defesa , de re"resentaão ou de

conscienti'aão das classes "o"ulares.A

 A análise de Comblin quanto a repressão, nãocriava qualquer e<pectativa de que esta viesse a diminuir. 0elo contrário, admitia que ao

se escolher um trabalho de defesa, organização e conscientização das classe populares, a

repressão do regime funcionava como algo determinista, inevitável. 3 a sugestão ou a

K% Caderno &%. Coleção (azendo a "ossa Mistória. Festemunho de Amigos 11. &%. Nos# Comblin L

Clodovis Goff. 7iocese de Crateús. /4Q4. 0ag. P.KK Caderno &%. Coleção (azendo a "ossa Mistória. Festemunho de Amigos 11. Nos# Comblin L Clodovis

Goff. 7iocese de Crateús. /4Q4. 0ag. P.KP Caderno &%. Coleção (azendo a "ossa Mistória. Festemunho de Amigos 11. Nos# Comblin L Clodovis

Goff. 7iocese de Crateús. /4Q4. 0ag. 5.

/K

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 proposta que apresenta resumia>se em uma palavraI aguentar. Fundamentalmente, nãoh( acordo "ossível. $+ o tem"o dir( &uem ter( mais fora de resistHncia e maisca"acidade de aguentar. A6  Acreditava então que o desafio era resistir, sem alimentar 

muitas esperanças de que com isto se alcançaria a vitória necessariamente. 3ssas

refle<8es são fragmentos de um te<to de /& páginas redigido por Comblin em forma decarta, a pedido de 7om (ragoso, como s$ntese e análise do 3ncontro que acabara de

 participar. Atendendo a solicitação do bispo, mas prevendo que toda correspond?ncia

 para 7iocese de Crateús era intereceptada pela pol$cia, envia a carta ao bispo au<iliar de

(ortaleza, para que este faça chegar as mãos de 7om (ragoso. Acreditava Comblin que por ser o bispo au<iliar um religioso alheio aos conflitos, sua correspond?ncia não seria

controlada. "o entanto, falhou em sua avaliação e a pol$cia, reteve a carta e fez uma

cópia. 3m março de /46, ao retornar de ;ovaina aonde ia todos os anos, durantealguns meses ministrar alguns cursos # impedido de desembarcar em Becife. 3nviado

ao Bio de Naneiro, no mesmo avião que viera da 3uropa, # interrogado por um militar 

que lhe apresenta uma cópia da carta enviada a 7om (ragoso. "o interrogatório que #submetido no Aeroporto do 9aleão, antes de ser embarcado de volta a 3uropa # acusado

de ter ligação com o bispo de Crateús, de fazer uso de uma terminologia mar<ista e

 portanto de ser comunista. 3sses são os argumentos básicos para e<pulsão. "o Caderno &% publicado em /4Q4, consta al#m da carta de Comblin que nos

referimos acima, uma carta L de uma página > que enviara de Boma aos com data desetembro de /46, onde descreve sucintamente como ocorreu o episódio da sua

e<pulsão do Grasil. Hm segundo, te<to que comp8e o Caderno &%, # do teólogoClodovis Goff, que descreve uma perman?ncia de duas semanas em Crateús em /4Q/,

na sua segunda viagem a diocese. : te<to de 6 páginas # publicado com o t$tulo Hma

1gre2a 0opular L 1mpress8es de uma visita pela 1gre2a de Crateús L C3. As fontes a querecorre para escrever este trabalho sobre a diocese, são os documentos produzidos pela

 própria 1gre2a em que muitos problemas são abordados, como tamb#m a participação

em encontros com a Coordenação 0astoral da 7iocese e da 0astoral da 0aróquia de1pueiras. 0ara este teólogo da Feologia da ;ibertação, a "ro!lem(tica de uma :gre2acomo a de =rate?s e#ige refle#ão e refle#ão rigorosa. A@   :s desafios encontrados o

fazem apontar para necessidade de se aprender a teologizar com a comunidade e não oteólogo o fazer por ela. Eobretudo, porque a funão teol+gica estaria ho2e sendo vista e sentida como uma funão indis"ens(vel 7 organicidade de uma :gre2a.A5 A leitura do

Caderno % al#m de uma preocupação com a memória, uma perspectiva de ampliação da

refle<ão teológica da prática pastoral desenvolvida. : convite ao teólogo Clodovis Goff,como tamb#m a Comblin e a muitos outros, demonstra uma prática voltada para ampliar 

o debate religioso) possibilitar aos agentes, diálogos e confrontos de id#ias com pessoas

de outras regi8es e por e<tensão transformar a e<peri?ncia histórica de Crateús em maisuma refer?ncia nos debates acerca da 1gre2a 0opular tanto a n$vel nacional como

internacional.

Hm outro teólogo que produziu um te<to para os Cadernos foi o (rei Carlos

Daesters. "o final de /46&, foi convidado pela diocese para participar do 3ncontro de0astoral da 7iocese de Crateús, e os debates e refle<8es que essa e<peri?ncia lhe

 provocaram foram transformados num te<to de 4& páginas publicado no Caderno &.

0ercebe>se que o te<to tem um caráter de relatório, de crXnica, mas tamb#m de análise e

K5 Caderno &%. Coleção (azendo a "ossa Mistória. Festemunho de Amigos 11. Nos# Comblin L Clodovis

Goff. 7iocese de Crateús. /4Q4. 0ag. 5K6 Caderno &%. Coleção (azendo a "ossa Mistória. Festemunho de Amigos 11. Nos# Comblin L Clodovis

Goff. 7iocese de Crateús. /4Q4. 0ag. K&.KQ Caderno &%. Coleção (azendo a "ossa Mistória. Festemunho de Amigos 11. Nos# Comblin L Clodovis

Goff. 7iocese de Crateús. /4Q4. 0ag. K/.

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observara Comblin em /46/, mas buscar na história os elementos para enfrentar o

futuro, acreditando que a vitória diante deste não dependeria dos advinhos, mas darememoraçãoI =ertamente, os advinhos &ue interrogavam o tem"o "ara sa!er o &ue eleocultava em seu seio não o e#"erimentavam nem como va'io nem como homogHneo.Quem tem em mente esse fato, "oder( talve' ter uma id>ia como o tem"o "assado >vivido na rememoraão) nem como va'io nem como homogHneo. $a!e0se &ue era "roi!ido aos 2udeus investigar o futuro. <o contr(rio, o ora e a "rece se ensinam narememoraão. -ara os discí"ulos, a rememoraão desencatava o futuro, ao &ual 

 sucum!iam os &ue interrogavam os advinhos.3  3m Crateús a história enquantorememoração a partir do con2unto infindável e comple<o de e<peri?ncias e quest8es

colocadas pelo presente, seria o território onde dever>se>ia buscar os sinais para os

desafios pro2etados pelo futuro.: Caderno &/, que teve como t$tulo P anos Caminhada e de certa forma abre a

coleção, o autor do te<to, 0e 3li#sio dos Eantos irá pontuar de forma cronológica os

momentos considerados fundamentais da história da diocese. Apresenta um quadrosucinto dos impasses, pro2etos, realizaç8es e questionamentos presentes na caminhada

da 7iocese desde /45K.

: Caderno &K que tem como t$tulo 0artilhando a 3<peri?ncia, encontramosrelatos de mulheres e homens que narram sua história de participação nas atividades

desenvolvidas na diocese. Ao trazer o relato dos trabalhadores e trabalhadorasenga2ados nos diversas pastorais, atividades e pro2etos das paróquias da 7iocese, os

Cadernos abrem um espaço para que uma memória popular se faça presente na produção dessa história.

:s Cadernos foram publicados at# o ano de /446, quando 7om (ragoso

entregou a 7iocese ao seu sucessor. 3stes trataram da história da caminhada emalgumas 0aróquias, a 0astoral da Nuventude, o Cáritas, a 1rmandade do Eervo Eofredor,

o D3G>Crateús, uma 0esquisa realizada pelo 1nstituto de 3studos da Beligião entre

outros temas. 3m &&/ foi publicado o Caderno A (undação dos Eindicatos da Begiãode Crateús, com o apoio da Comissão 0astoral da Ferra.

7estacar$amos, ainda, para efeito de análise desse artigo, o Caderno &5, que se

constitui numa pesquisa realizada pelo 1nstituto de 3studos da Beligião, como parte do pro2eto de comemoração dos P anos da diocese. "a introdução # apresentado como

ob2etivo da pesquisa, avaliar o pro2eto de 1gre2a 0opular e ;ibertadora, estruturada a

 partir das C3Gs, que a 7iocese de Crateús se propros realizar. (undamentalmente a

 pesquisa se propunha responder as seguintes perguntasI &ue ti"o de igre2a est(resultando de todo este esforoN /m &ue medida est( sendo reali'ado o -ro2eto de setornar :gre2a -o"ular e %i!ertadoraN< avaliaão "astoral teve como o!2etivosconsolidar os "ontos ganhos, corrigir falhas, refletir so!re as dificuldadesencontradas.A

0ara e<ecutar a pesquisa o 1E3B trabalhou em tr?s linhasI 0rimeiro realizou um

mapeamento da diocese, atrav#s de um questionário enviado a todas as comunidades,

 paróquias e setores da diocese. A segunda etapa foi uma análise da documentaçãoescrita da diocese e a terceira parte foi uma análise de relatórios solicitados as

comunidades de base. : caderno produzido pelo 1E3B, # uma publicação detalhada,

tanto com informaç8es estat$sticas como tamb#m com análise destes dados, assim comoanálise da documentação escrita e tamb#m dos relatórios enviados pelas comunidades.

 "o entanto, preocupado em transformar o resultado da pesquisa publicado no Caderno

P% Gen2amin, Zalter. :bras 3scolhidas.Tolume / Dagia e F#cnica. Arte e 0ol$tica. 3nsaios sobre literatura

e história da cultura. Eão 0aulo) editora Grasiliense, /4QP. 0ag. %.PK Caderno &5 > Coleção (azendo a "ossa Mistória. Avaliação 0astoral da 7iocese de Crateús.1nstituto de

3studos da Beligião. 7iocese de Crateús. /4Q4.

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&5 em um te<to que possibilitasse um diálogo mais pró<imo com as comunidades, foi

constitu$da uma equipe encarregada de reler todo o material produzido pelo 1E3B,resumi>lo para em seguida possibilitar uma amplo debate em toda 7iocese no sentido de

reavaliar a caminhada.PP

: convite ao 1E3B para realizar a pesquisa em toda 7iocese, reflete mais umesforço de avaliação no sentido de rever práticas e encaminhamentos passados, na

tentativa de no futuro poder alcançar melhores formas de atuar para construção de uma

1gre2a 0opular e ;ibertadora.

Ao lado dessa preparação para o futuro, há um constante combate com o passadoque tamb#m # presente, representado por valores e práticas de um catolicismo

tradicional muito arraigado em parcelas significativas da população.

3ssa disputa entre a orientação pastoral que se instala com a posse do bispo em/45K e o catolicismo que fora sempre praticado na região, # transformado em narrativa

no te<to de Ageu Eiqueira Fenório, trabalhador rural da comunidade de Donte Eião,

0aróquia de 0arambu, militante sindical, publicado no Caderno &K, da Coleção (azendo "ossa MistóriaI  /u era um de uma descendHncia muito tradicional, meu "ai umreligioso tradicional &ue tam!>m não aceitava muito o novo modelo da igre2a, e&uando meu irmão 4eraldo e eu, rece!emos o convite "ara "artici"ar de um encontroda "ar+&uia, das comunidades, as recomenda8es > &ue n+s teríamos &ue ter muito

cuidado, &ue a&uele sistema era muito "erigoso, &ue a gente fosse muito mais como umes"ião do &ue como "artici"ante, e realmente a gente &ue > 2ovem &ue não tem muita segurana, de"ende muito do "ai, a gente "assou "or essa fase e daí foi &uando fomosa!rindo mais o olho, foi vendo a necessidade &ue tinha uma nova igre2a, de uma nova "artici"aão do "ovo, 2unto as comunidades eclesiais de !ase, 2unto as decis8es da "ar+&uia, da diocese, aí a gente viu &ue não era a&uele !icho "a"ão &ue se fa'ia... 6 

 "esse relato, Ageu ao relembrar o medo e o perigo representado pela nova orientação

 pastoral da igre2a de Crateús, traz a tona a ponta de um iceberg de uma batalha

silenciosa e quase sempre invis$vel, principalmente entre os segmentos populares e a pastoral diocesana. 7iferente da classe m#dia que com muito mas facilidade e<punha

suas cr$ticas a orientação oficial estabelecida pelo bispo, as camadas populares nem

sempre dei<avam claras suas discord=ncias.3sse confronto não era apenas com os fi#is, mas com amplos setores da própria

igre2a, que se sentiam ameaçados com a estrat#gia implementada pela diocese, de

desclerizar a prática religiosa, ou se2aI "ara &ue o "adre dei#asse de ser o cl>rigo &uedomina, "ara ser o irmão e amigo &ue caminha com o seu "ovo a servio dele. @  Comorelata 7om (ragoso, as dificuldades de conseguir religiosos e religiosas para virem

a2udar no trabalho pastoral tornou>se muito grande, em razão da not$cia que se espalhou

de que o !is"o estava mudando, estava fa'endo diferente, &ue a&uilo não era a :gre2ados ante"assados, a :gre2a dos mission(rios, a :gre2a dos santos, não era essa. :sso não "odia ser de acordo... a :gre2a não "odia... a :gre2a não "odia estar de acordo comisso.5 A oposição, a cr$tica dentro da própria 1gre2a no Grasil a este pro2eto revelam o

 perigo que se avizinha com a mudança no poder de direção da diocese. Finha a 1gre2ade Crateús, que lutara durante trinta anos para se afirmar, para manter viva seu pro2eto,

que enfrentar>se com o tempo humano, com o indissociável movimento do passado,

PP Caderno &6. L Coleção (azendo a "ossa Mistória. P anos de Caminhada. 7iocese de Crateús. /4Q4.

0ag. &K.P5 Caderno &K. L Coleção (azendo a "ossa Mistória. 0artilhando a 3<peri?ncia. 7iocese de Crateús. /4Q4.

0ag. &4@/&.P6 3ntrevista com 7om Antonio (ragoso, para o 0ro2eto Mistória da Besist?ncia Católica no "ordeste, em

Eetembro de &&. *Apoio C"0q.PQ 3ntrevista com 7om Antonio (ragoso, para o 0ro2eto Mistória da Besist?ncia Católica no "ordeste, em

Eetembro de &&. *Apoio C"0q.

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 presente e futuro que os rituais de passagem estabelecem, em que a história # ameaçada

 pela memória, enquanto possibilidade de transformar>se apenas em lembrança.A 7iocese de Crateús, que atravessara tantos momentos de crise, em face do

desafio que se colocara, na construção de uma 1gre2a que entendia como 0opular e

;ibertadora, pro2eta na história enquanto produção de conhecimento, análises erefle<8es sobre o passado, a trincheira privilegiada para o combate pelo futuro, que se

avizinhava com a aposentadoria de 7om (ragoso.

$ro%& Dr& Antonio Torres Montene'ro& (U$)*