A Mercadorização do Esporte
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Ricardo Ribeiro
A MERCADORIZAÇÃO DO ESPORTE PELA MÍDIA:
TRANSFORMAÇÃO DE ESPECTADORES EM CONSUMIDORES
Ricardo Ribeiro
A MERCADORIZAÇÃO DO ESPORTE PELA MÍDIA:
TRANSFORMAÇÃO DE ESPECTADORES EM CONSUMIDORES
são paulo - 2011
editora
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP
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Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro poderá ser copiada ou reproduzida por qualquer meio impresso, eletrônico ou que venha a ser criado, sem o prévio e expresso consentimento do autor.
Impresso no Brasil. Printed in Brazil.
© Editora Lexia Ltda, 2011. São Paulo, SPCNPJ 11.605.752/0001-00
www.editoralexia.com
editora
Editores-responsáveisFabio Aguiar
Alexandra Aguiar
Projeto gráficoFabio Aguiar
Diagramação e capaEquipe Lexia
Revisão Bianca Briones
R484m
Ribeiro, RicardoA mercadorização do esporte pela mídia transforma-ção de espectadores em consumidores: natureza e descrição do objetivo / Ricardo Ribeiro. – São Paulo: Lexia, 2011.
92 p. ISBN 978-85-63557-48-3
Inclui Bibliografia 1. Esporte – Mídia. 2. Indústria cultura - Televisão. I Título
CDD 796.01
RESUMO
Este livro se propõe a investigar as relações entre
mídia e esporte na transformação de espectadores em
consumidores, enfocando os processos de utilização
do esporte como produto e analisando historicamente
a Indústria Cultural. Apresento também estudos sobre a
televisão como principal ferramenta indutora de alie-
nação social.
Palavras – chave: esporte, mídia, indústria cultu-
ral, televisão.
SUMÁRIO
1 - Introdução
2 - Mídia, indústria cultural e esporte
3 - Televisão e mercadorização
4 - A industrialização da cultura
5 - Publicidade e consumo
6 - Esporte e mídia
7 - Esporte mercadorizado: relações entre
mídia e sociedade consumidora
8 - Esporte e espetáculo
9 - Marketing esportivo: ferramenta
de indução ao consumo
10 - Educação física e esporte
mercadorizado
11 - Considerações finais
12 - Referências bibliográficas
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1 - INTRODUÇÃO
Este livro trata da questão da mercadorização do
esporte e de como a mídia transforma simples espec-
tadores em consumidores, sendo este esporte visto por
nós como um subproduto da Indústria Cultural. Eviden-
cio a televisão como expoente máximo da mídia, pois
através das lentes das câmeras e das novas tecnologias,
um novo cenário esportivo é montado para atender os
interesses capitalistas.
Explicito aqui, um quadro teórico acerca dos
elementos que constituem a mídia, trazendo à tona,
questões sobre os processos de transformação do
esporte em espetáculo e da manutenção da ordem
social por subsequente Também me utilizando deste
esporte como mercadoria, traço um paralelo com ou-
10
tros elementos, não menos importantes, da Indústria
do entretenimento.
Para tanto, busquei na Indústria Cultural, subsí-
dios que me dessem um melhor entendimento dessas
relações da mídia com o esporte, propiciando a esse
estudo um outro modo de olhar o panorama esportivo
que não o do senso comum. Trabalho com questões
relacionadas às ciências sociais e filosóficas para que
dessa forma, este sirva de base para novas concepções
acerca do esporte midiático.
Evidencio a importância da Educação Física e
de seus respectivos profissionais neste dado contexto,
apresentando conceitos de autores como Mauro Betti,
para a diminuição da alienação causada pela mídia, e
a atuação dos educadores no mesmo sentido, da não
alienação. E, é com esta mesma ideia que julgo ser
de grande importância este estudo para a área acadê-
mica, para que os professores saibam lidar com esta
questão do consumo desenfreado, fazendo com que
os alunos não sejam meros consumidores do que a
mídia apresenta, mas que saibam, através da reflexão
transformarem e julgarem de forma crítica as informa-
ções por ela apresentadas.
Entendo ser de grande relevância social a
preocupação com os processos de mercadorização
11
do esporte pela mídia, pois será uma grande cola-
boração para que a Educação Física compreenda as
relações das diferentes classes sociais, que por seus
interesses antagônicos, estabelecem uma relação
desigual de domínio e dominação. Já que o binômio
Esporte – Educação Física já está engendrado em
nosso cotidiano, é de grande importância entender-
mos os processos de transformação do esporte pela
mídia, pois nossa função enquanto educadores é
de sermos mediadores e interventores da realidade
social acerca do trato com o esporte e o consumo
desenfreado pela população.
Pretendo com este estudo, contribuir signifi-
cativamente para que os professores de Educação
Física e os educadores, em geral, possam, a partir
dessas reflexões, construírem socialmente novos va-
lores para que o esporte seja encarado como palco
das transformações e práticas sociais. Desta forma,
espero que este livro possa servir de elemento de
ligação entre realidade social e indivíduo, fazendo
com que este não seja mais um mero reprodutor de
uma sociedade hierarquizada.
A realização deste estudo se deu basicamente
através de revisões bibliográficas, sendo necessário re-
visar livros que trouxessem informações acerca da In-
12
dústria Cultural, essencial para compreendermos o tex-
to como um todo. Foram encontrados diversos livros,
contendo textos de Adorno e Horkheimer, precursores
e expressão Indústria Cultural. Consequentemente, na
primeira parte deste texto, estes dois autores foram os
principais por mim utilizados, assim como também fora
utilizado o autor Ellis Cashmore, que em seu livro nos
trouxe informações a respeito do surgimento da televi-
são, do rádio e até mesmo do marketing, complemen-
tando assim, a parte referente à Indústria Cultural.
Ao entrar no problema de pesquisa, já tinha a
ideia dos autores que iria usar essencialmente, que se
concretizou com as revisões dos livros de Mauro Betti
e de Valter Bracht, com seus respectivos livros: A ja-
nela de vidro e Sociologia crítica do esporte, além de
Marcelo Proni com sua tese de Doutorado que também
me deu bastante subsídio. O estudo se deu basicamen-
te através de revisões bibliográficas e algumas poucas
pesquisas foram realizadas na internet no intuito de se
conseguir números relevantes, que apontassem para a
elevação do consumo dos produtos, quando estes são
associados aos esportes.
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2 - MÍDIA, INDÚSTRIA CULTURAL E ESPORTE
“O princípio do fetichismo da
mercadoria, a dominação da socieda-
de por ”coisas suprassensíveis embora
sensíveis”, se realiza completamente
no espetáculo, no qual o mundo sen-
sível é substituído por uma seleção de
imagens que existe acima dele, e que
ao mesmo tempo se fez reconhecer
com sensível por natureza”
(DEBORD, 1997, p. 56).
Na primeira parte deste estudo, irei discutir
sobre mídia, Indústria Cultural e esporte, abordan-
do alguns fatores que estão diretamente relacionados
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a este assunto, como por exemplo, a sociedade de
consumo, bem como seus produtos em massa. Temos
basicamente como referência, as obras de Adorno e
Horkheimer, pois os mesmos foram os primeiros a
evidenciarem este “fenômeno”.
E, em se falando da mídia, é importante dar
uma maior significação a ela. É importante mostrar a
história do seu surgimento, bem como as primeiras
idealizações e concretizações de se inserir comer-
ciais no intuito de seus anunciantes conquistarem
maiores compradores.
Mas o que seria a mídia? Segundo Gastaldo
(2001), mídia é derivada do latim, que significa meio ou,
no senso-comum, pode se entender como os “meios de
comunicação de massa”, ou, “mass media”, que possi-
bilita a veiculação de seus produtos massificados, não
considerando a individualidade do público.
O autor ainda afirma que, a mídia não pode
ser reduzida a apenas essa dimensão tecnológica.
Deve se considerar duas outras dimensões. Uma
social, que manifesta estruturalmente em sua insti-
tucionalização, a tecnologia da veiculação de pro-
dutos, e é dependente de estruturas sociais como
a indústria, o governo e até universidades. A outra
dimensão, trata dos “bens” que ela produz e ven-
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de, por preços exorbitantes, como “mercadorias”,
assim como uma indústria qualquer, só que a dife-
rença está nos chamados “bens culturais”. E o pro-
duto a ser “vendido” é o público atraído pelos bens
culturais, à chamada “audiência”. Assim, Adorno e
Horkheimer, cunharam a expressão “Indústria Cul-
tural” (id, 2001).
Cashmore (1998) em seus estudos sobre Ador-
no define de maneira sintetizada, que na Indústria
Cultural, os produtos eram “feitos sob medida para
o consumo das massas”, ou seja, tudo tinha de ser
feito de maneira harmoniosa de um modo falso e
forçado para que fossem facilmente consumíveis.
Revela que as definições de cultura, nestes termos,
transformam consumidores em objetos e não sujei-
tos que criam algo de maneira espontânea. Define,
desta forma, que as populações se tornam cada vez
mais homogêneas, mais conformistas, obedecendo
e talvez até inconscientemente, auxiliando no cres-
cimento da Indústria Cultural.
Sabendo da abrangência que a televisão, o rádio
e a mídia impressa têm, podemos constatar facilmen-
te, a sua importante função social, pois são os maiores
instrumentos de comunicação do país. De acordo com
Sissors e Bumba (2001), a mídia se divide nas seguin-
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tes classes: mídia de massa, mídia convencional, mídia
não convencional e mídia interativa.
Seguindo as definições dos autores, a mídia
de massa, como jornais, revistas, rádio e televisão, é
especialmente apropriada para distribuir publicidade,
assim como o entretenimento e conteúdo educacional
a um público genérico disperso (ou massa), e a mídia
convencional, que inclui ainda o outdoor se refere à
mídia de massa ou a mídia que convencionalmente
tem sido usada para alcançar o público de massa. A
televisão a cabo, mesmo relativamente recente, é en-
carada como meio convencional por ter se tornado
tão popular.
Ainda seguindo essas definições, temos a mídia
não convencional, que engendra quase todo modo ino-
vador de se transmitir mensagens publicitárias aos con-
sumidores e a mídia interativa, como a combinação de
revistas e promoções de venda são exemplos desse tipo
de mídia.
A unificação das diferentes tecnologias de in-
formação e comunicação em sistemas integrados de
grande capacidade (das redes de comunicação aos
softwares da informática) se ajusta bem à economia
de mercado e a sua forma oligopolista de organiza-
ção. As grandes empresas do ramo, os conglomera-
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dos dos ditos multimídia (televisão, cinema, impren-
sa, editoras) concorrem pelo domínio das novas tec-
nologias, capazes tanto de prestar serviços (correio
eletrônico, vídeo, texto) como assegurar produtos
tradicionais (filmes, programas de tevê, jornal, rádio,
livros, discos) e controlar atividades publicitárias
(SODRÉ,1994).
Segundo o autor, tudo indica que a distribui-
ção a cabo (ou cabo distribuição como define o pró-
prio autor) e outras novas tecnologias poderão acar-
retar a queda de antigos impérios das comunicações
e o advento de novas dinastias, mais adequadas a
uma era de afrouxamento do controle estrito dos ca-
nais por parte do Estado (logo, de segmentação dos
públicos e especialização dos consumidores).
O ser humano vive numa sociedade condi-
cionado às exigências atribuídas pelos meios de co-
municação, assim a mídia é utilizada com fins de
formação de “ideias”, produzidas de modo a induzir
ou orientar o espectador, às vezes para algo positivo
como campanhas de saúde e etc., ou às vezes para
alienações como a exaltação do consumismo e o fe-
tichismo mercadológico. Tanto na mídia jornalística
impressa quanto na televisionada, a palavra de ordem
é predominantemente a do capital. Ou seja, passa
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para o cidadão comum a vontade da classe alta,
seja no modo de despolitizar o assalariado, seja
por estimular o consumo, fetichizar certos produ-
tos e modos de vida, sempre formando na mente
do cidadão comum um modelo de vida que não é
o seu e provavelmente nunca poderá ser.
A mídia como é hoje tem a função princi-
pal de alienar o povo, desligá-lo de sua vida dar-lhe
ideias inalcançáveis, ou seja, servir o capital, e se-
gundo Sodré,
do ponto de vista de uma
estratégia política global, os meios
de informação funcionam como
dispositivos de mobilização e inte-
gração das populações – portanto,
como um tipo de administração
ou gestão da vida social – e não
como mediações explicitamente
políticas, ou pedagógicos (forma-
dores, aptos à suscitar a compre-
ensão e a descoberta) dentro do
modelo democrático tradicional.
Entretanto, os mass-media são
dissimuladamente político-peda-
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gógicos. Neles, política e pedagogia
disfarçam-se com uma roupagem es-
tética (1994, p. 27).
Quando o tema “A mercadorização do esporte
pela mídia” foi por mim pensado, tinha em mente dis-
correr sobre a alienação popular para o consumo de-
senfreado. Revisões literárias fizeram com que eu ve-
rificasse a grande necessidade de se falar da televisão,
como o principal indutor das opiniões populares.