A Miragem Mexicana 2170

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    Comunidades indgenas, entre as mais afetadas pela pobreza absoluta. No Mxico, ela

    aumentou para 51,3% na ltima dcada, quando caram fortemente os salrios

    Outras Palavras

    A miragem mexicana

    Elogio a modelo liberal mexicano ideolgico e cego. Resultados

    sociais e econmicos so muito piores que no Brasil

    intervencionista

    [Este

    o

    blog

    dosite

    Outras Palavras em CartaCapital.Aquivoc v o site completo]

    Poucas pessoas inteligentes fora da Inglaterra ainda prestam ateno nas

    notcias da monarquia inglesa e da sua famlia real, em pleno sculo XXI. Mas o

    mesmo no se pode dizer da City, centro financeiro de Londres, e dos seus dois

    principais rgos de imprensa e divulgao o Financial Times,e o The Economist

    que seguem tendo importncia decisiva na formao das opinies e dos

    consensos ideolgicos entre as elites liberais e conservadoras do mundo. A

    escolha dos seus temas e o uso de sua linguagem nunca casual. Como no caso

    recente do seu entusiasmo pelo Mxico e seu modelo de desenvolvimento liberal

    e seu ataque, cada vez mais estridente, ao intervencionismo da economia

    brasileira. Uma tomada de posio compreensvel do ponto de vista ideolgico,mas que no vem sendo confirmada pelos fatos.

    por Jos Lus Fiori publicado 03/05/2014 15:09

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    Em 1994, o Mxico assinou o Tratado de Livre Comercio da Amrica do Norte

    (Nafta), junto com os EUA e Canad. Nos ltimos 20 anos, tem sido

    absolutamente fiel ao livre-cambismo, incluindo sua adeso a Aliana do Pacfico,

    e inciativa norte-americana da Parceria Trans-Pacfica TPP. Por outro lado,

    nesse mesmo perodo, o Mxico praticou uma poltica macroeconmica e

    financeira rigorosamente ortodoxa em particular na ltima dcada mantendo

    inflao baixa, cambio flexvel, taxas de juros moderadas e amplo acesso ao

    crdito. Mesmo assim, depois de duas dcadas, o balano dessa experincia

    ultraliberal deixa muito a desejar1.

    Como era de prever o comercio exterior do pas cresceu significativamente no

    perodo e passou em termos absolutos de 60 bilhes de dlares, em 1994,

    para US$ 400 bi, em 2013. Mas nesse mesmo perodo, a economia mexicana teveum crescimento mdio anual pfio, de 2,6%, sendo o crescimento per capita de

    apenas 1,2%. O emprego industrial cresceu de forma setorial e vegetativa, e

    mesmo nas maquiladoras, foi de apenas 20% algo em torno de 700 mil novos

    postos de trabalho. A participao dos salrios permaneceu em trono de 29% da

    renda nacional, e a pobreza absoluta da populao mexicana aumentou

    significativamente. Por fim, ao contrrio do que havia sido previsto, a economia

    mexicana no se integrou nas cadeias globais de produo. A produtividade

    mdia da economia praticamente s cresceu de forma segmentada e vegetativa, e

    o investimento direto estrangeiro (o principal prmio anunciado em troca da

    abertura da economia) no teve nenhuma alterao significativa.

    Esse balano fica ainda mais decepcionante quando se compara o desempenho do

    modelo mexicano, com o modelo intervencionista da economia brasileira, no

    perodo entre 2003 e 2012. Segundo dados publicados pelo Banco Mundial2, e

    pelos Ministrios do Trabalho dos dois pases, os nmeros e as diferenas sorealmente chocantes. Nesse perodo, a crescimento mdio anual do PIB brasileiro,

    foi de 4,21%; o do Mxico, de 2,92%. O crescimento total a economia brasileira

    foi de 42,17%; o do Mxico, de 29,29%. As exportaes brasileiras cresceram a

    uma taxa anual de 6,59%; as do Mxico, a uma taxa de 5,35%. O crescimento

    total das exportaes brasileiras foi de 65,95%; o do Mxico, de 53,35%. As

    importaes brasileiras cresceram a uma taxa mdia anual de 17,33%; as do

    Mxico, a 6,75%. O crescimento total das importaes no Brasil foi de 173,32%;

    no Mxico, de apenas 67,54%.

    Por outro lado, a renda per capita brasileira cresceu a uma taxa anual de 2,84% e

    a do Mxico, 1,42%. O crescimento total da renda no Brasil foi de 28,4%, e no

    Mxico foi de 14,26%. E a participao dos salrios na renda chegou a 45% , no

    Brasil, contra 29% no Mxico. Nesse mesmo perodo, o Brasil criou 16 milhes de

    novos empregos formais, e o Mxico 3,5 milhes; e a pobreza absoluta foi

    reduzida a 15,9%, no Brasil, e aumentou para 51,3%, no Mxico. Por fim,

    (pasme-se), entre 2002 e 2012, o investimento direto estrangeiro cresceu, no

    Brasil, de US$ 16,59 bilhes, para US$ 76,11 bilhes de dlares. No Mxico, caiu

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    de US$ 23,932 bilhes, em 2002, para U$ 15,455 bilhes, em 2012! S para

    encerrar a comparao, em 2103 a economia brasileira cresceu 2,3%, (uma das

    maiores taxas entre as grandes economias do mundo), enquanto a economia

    mexicana cresceu 1,1%.

    Fluxos de Investimento Direto Externo (em dlares)

    Clique para ver maior. Fonte: International Monetary Fund. Disponvel em:

    http://data.worldbank.org/indicator/BX.KLT.DINV.CD.WD/countries

    /BR-MX?display=graph em 27/04/2014

    Isto posto, o elogio do Mxico deve ser considerado um caso de m f,

    fundamentalismo ideolgico, ou estratgia internacional? As trs coisas ao mesmo

    tempo. Mas o que importa o que dizem os nmeros, e a concluso uma s: na

    ltima dcada, o modelo mexicano de abertura liberal, integrao com os EUA, e

    livre comrcio teve um desempenho extraordinariamente pior do que o modelo

    intervencionista, heterodoxo e fechado (segundo Financial Times e The

    Economist) da economia brasileira, junto com seu projeto de integrao doMercosul.

    Jos Lus Fiori professor titular de Economia Poltica Internacional da UFRJ,

    Coordenador do Grupo de Pesquisa do CNPQ/UFRJ, O poder Global e a

    Geopoltica do Capitalismo,www.poderglobal.net. O ltimo livro publicado pelo

    autor, O Poder Global, editora Boitempo, pode ser encontrado em nossa loja

    virtual. O acervo de seus textos publicados no Outras Palavras, podem ser

    lidos aqui. 1Vide artigo do ex-ministro de relaes exteriores do Mxico, Jorge

    Castaeda: NAFTAs mixed record, publicado no numero da Revista Foreign

    Affairs,. de janeiro/fevereiro de 2014.

    2 www.data.worldbank.org

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