A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total...

343
UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO DOUTORADO EM ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR ALUNOS DO ENSINO MÉDIO INTEGRADO AO TÉCNICO DE MECÂNICA VALÉRIA GUIMARÃES MOREIRA Orientadora: Profª. Drª. Celi Aparecida Espasandin Lopes Tese apresentada ao Doutorado em Ensino de Ciências e Matemática, da Universidade Cruzeiro do Sul, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Doutora em Ensino de Ciências e Matemática. SÃO PAULO 2014

Transcript of A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total...

Page 1: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

DOUTORADO EM ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA

A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR ALUNOS DO ENSINO MÉDIO INTEGRADO AO TÉCNICO DE

MECÂNICA

VALÉRIA GUIMARÃES MOREIRA

Orientadora: Profª. Drª. Celi Aparecida Espasandin Lopes

Tese apresentada ao Doutorado em Ensino de Ciências e Matemática, da Universidade Cruzeiro do Sul, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Doutora em Ensino de Ciências e Matemática.

SÃO PAULO 2014

Page 2: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL DA

UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL

M839m

Moreira, Valéria Guimarães. A mobilização do conhecimento matemático por alunos do

ensino médio integrado ao técnico de mecânica / Valéria Guimarães Moreira. -- São Paulo; SP: [s.n], 2014.

344 p. : il. ; 30 cm. Orientadora: Celi Aparecida Espasandin Lopes. Tese (doutorado) - Programa de Pós-Graduação em Ensino de

Ciências e Matemática, Universidade Cruzeiro do Sul. 1. Educação matemática 2. Formação de professores -

Matemática 3. Processo de ensino – aprendizagem 4. Matemática – Ensino médio 5. Pesquisa qualitativa. I. Lopes, Celi Aparecida Espasandin. II. Universidade Cruzeiro do Sul. Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática. III. Título.

CDU: 51:371.13(043.2)

Page 3: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR ALUNOS DO ENSINO MÉDIO INTEGRADO AO TÉCNICO DE

MECÂNICA

Valéria Guimarães Moreira Tese de doutorado defendida e aprovada pela Banca Examinadora em 28/11/2014.

BANCA EXAMINADORA:

Profª. Drª. Celi Aparecida Espasandin Lopes

Universidade Cruzeiro do Sul Presidente

Profª. Drª. Edda Curi Universidade Cruzeiro do Sul

Profª. Drª. Cintia Aparecida Bento dos Santos

Universidade Cruzeiro do Sul

Profª. Drª. Márcia Maria Fusaro Pinto

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Prof. Dr. Alex Jordane de Oliveira Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo

Page 4: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

AGRADECIMENTOS

A Deus, por nunca ter me deixado nos momentos difíceis e por ter me

permitido chegar até aqui.

Aos professores da UNICSUL, pelas contribuições para minha formação como

Doutora, de maneira especial a minha orientadora, Celi Espasandin Lopes,

pelas contribuições a este trabalho.

Aos professores da banca examinadora, de modo especial aos professores

Márcia Maria Fusaro Pinto e Alex Jordane, pelas importantes contribuições a

este trabalho.

Ao CEFET-MG, pela oportunidade oferecida para minha qualificação

profissional e pelo apoio durante toda minha trajetória do doutorado.

À coordenação do curso técnico de Mecânica Industrial do CEFET-MG pela

abertura e apoio dado para a realização desta pesquisa, de modo especial aos

professores e alunos que colaboraram para a realização dela.

Aos colegas do doutorado, de modo especial ao grupo do CEFET-MG com

quem iniciei essa trajetória: Adelson, Erica, Fernanda, Heloisa, Humberto,

Juarez, Marcos, Maria Luisa, Rogério, Rosiane e Sidney.

Aos revisores deste texto.

A todos que, de alguma forma, colaboraram para a realização deste trabalho,

em especial meus familiares, meu marido e meus amigos.

Page 5: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

Mesmo com tantos motivos

Pra deixar tudo como está

Nem desistir, nem tentar

Agora tanto faz

Estamos indo

De volta pra casa...

Renato Russo

Page 6: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

MOREIRA, Valéria Guimarães. A mobilização do conhecimento matemático por alunos do ensino médio integrado ao técnico de mecânica. 2014. 344 f. Tese (Doutorado em Ensino de Ciências e Matemática)-Universidade Cruzeiro do Sul, São Paulo, 2014.

RESUMO

Este texto apresenta uma pesquisa de doutorado cujos objetivos foram: verificar

quais conhecimentos matemáticos são mobilizados no cotidiano de aulas de

diversas disciplinas do curso técnico de mecânica integrado ao médio; e como esses

conhecimentos matemáticos e experiências escolares durante o curso técnico se

articulam e são redimensionados pelos alunos na comunidade local de prática

profissional a que pertencem. O referencial teórico que dá suporte à pesquisa

baseia-se principalmente na Teoria de Aprendizagem Situada apresentada

inicialmente por Lave e Wenger (1991), tendo como principais conceitos, para este

trabalho, o entendimento acerca de uma comunidade de prática e da participação

periférica legítima nesse contexto. Também o entendimento sobre uma comunidade

local de prática profissional trabalhado por Jordane (2013) se fez importante para

conhecer o contexto em que se passa essa pesquisa e responder às perguntas

formuladas. Como metodologia, foi proposto um trabalho de pesquisa qualitativa que

utilizou como técnicas para construção dos dados: observação em sala de aula de

seis disciplinas específicas do curso técnico de mecânica, questionário e entrevista a

um pequeno grupo de alunos. Foi então construída a triangulação dos dados para

sua organização e análise. Verificou-se que muitos e diferentes conhecimentos

matemáticos perpassam as disciplinas técnicas observadas, de forma explícita ou

não, muitas vezes carregados de características próprias do contexto profissional

onde são trabalhados. De maneira especial, observaram-se momentos em que esse

conhecimento matemático foi redimensionado pelos alunos, com orientação explícita

ou não do professor, de modo a repensá-lo com uma forma própria, como parte na

prática nesse contexto, revelando assim a construção de um conhecimento

matemático situado. Essa pesquisa traz importantes reflexões para o professor de

matemática que atua em escolas de ensino profissional, professores da área técnica

de mecânica e pesquisadores da área de ensino técnico e profissional.

Palavras-chave: Ensino médio, Aprendizagem matemática, Comunidades de

prática.

Page 7: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

MOREIRA, Valéria Guimarães. The mobilization of mathematical knowledge by students of high school integrated with technical course of mechanics. 2014. 344 f. Tese (Doutorado em Ensino de Ciências e Matemática)-Universidade Cruzeiro do Sul, São Paulo, 2014.

ABSTRACT

This text presents a Doctor’s degree research whose objective was to assess that

mathematical knowledge is mobilized in daily classes from several subjects in the

technical course of Mechanics integrated with high school and, how this

mathematical knowledge and school experiences undergone during the technical

course are articulated and redimensioned by the students in the local community of

professional practice where they belong. The theoretic foundation that supports this

research is mainly based on the Situated Learning Theory initially presented by Lave

and Wenger (1991), being the understanding about a community of practice and the

legitimate peripheral participation in that context the main concepts presented in this

work. The understanding about a local community of professional practice, presented

by Jordane (2013), had an important role to know the context in which this research

was conducted and to answer the questions proposed. Qualitative research was the

work method of choice which used as techniques for data building: classroom

observation of six specific subjects from the technical course of mechanics, a

questionnaire and an interview with a small group of students. Then, triangulation

was built for data organization and analysis. It was found that many and diverse

types of mathematical knowledge roam about the technical subjects under

observation, either explicitly or not, being many times full with characteristics typical

from the professional context where they are used. With particular attention, we

found moments when this mathematical knowledge was redimensioned by the

students, either by specific order from the teacher or not, as to be rethought on their

own way, as a practical part in that context, thus revealing the construction of

situated mathematical knowledge. This research brings relevant reflections for

teachers of mathematics who work in vocational schools, teachers from the technical

area of mechanics and researchers in technical and vocational education.

Keywords: High school, Learning of mathematics, Communities of practice.

Page 8: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 FOTO DA SALA DE AULA DE DTM ................................................... 64 FIGURA 2 FOTO DO MATERIAL UTILIZADO PELOS ALUNOS NAS AULAS DE

DTM ..................................................................................................... 66 FIGURA 3 ATIVIDADE TRÊS VISTAS E PERSPECTIVA DA APOSTILA DE DTM ............................................................................................................. 69 FIGURA 4 EXPLICAÇÃO DA APOSTILA SOBRE PERSPECTIVA ISOMÉTRICA . ............................................................................................................. 71 FIGURA 5 FOTO DA RESOLUÇÃO DE UM ALUNO DA ATIVIDADE FEITA NA

APOSTILA ........................................................................................... 72 FIGURA 6 FOTO DA ATIVIDADE EXPOSTA NO QUADRO PELA

PROFESSORA .................................................................................... 73 FIGURA 7 FOTOS DA ATIVIDADE RESOLVIDA POR UM ALUNO, CROQUI E

DESENHO EXATO .............................................................................. 74 FIGURA 8 FOTOS DA ATIVIDADE RESOLVIDA POR UM ALUNO, CROQUI E

DESENHO EXATO .............................................................................. 74 FIGURA 9 FOTO DOS CROQUIS DA PERSPECTIVA ISOMÉTRICA FEITA POR

UM ALUNO .......................................................................................... 76 FIGURA 10 FOTO DO DESENHO CONSTRUÍDO PELA PROFESSORA NO

QUADRO PARA EXPLICAÇÃO DA ATIVIDADE ............................... 76 FIGURA 11 ATIVIDADE DA AULA PERSPECTIVAS ISOMÉTRICAS EM CURVAS ............................................................................................................. 78 FIGURA 12 EXPOSIÇÃO DA APOSTILA SOBRE TRAÇADOS DE CURVAS ...... 79 FIGURA 13 FOTO DA CONSTRUÇÃO DO TRAÇADO FEITO PELA

PROFESSORA NO QUADRO ............................................................. 80 FIGURA 14 FOTOS EXPLICAÇÃO DAS DUAS ATIVIDADES REALIZADAS NO

QUADRO PELA PROFESSORA ......................................................... 81 FIGURA 15 FOTOS EXPLICAÇÃO DAS DUAS ATIVIDADES REALIZADAS NO

QUADRO PELA PROFESSORA ......................................................... 81 FIGURA 16 FOTO RESOLUÇÃO DAS DUAS ATIVIDADES REALIZADAS POR

UM ALUNO EM FOLHA A3 ................................................................. 81

Page 9: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

FIGURA 17 FOTO DA SALA DE AULA DE METRO I ............................................ 86 FIGURA 18 REPRODUÇÃO DA TABELA CONSTRUÍDA PELA PROFESSORA

NO QUADRO PARA A ATIVIDADE PROPOSTA ............................... 91 FIGURA 19 FOTOS DOS PAQUÍMETROS UTILIZADOS EM SALA DA AULA .... 92 FIGURA 20 FOTOS DOS PAQUÍMETROS UTILIZADOS EM SALA DA AULA .... 92 FIGURA 21 FOTO DOS RELÓGIOS COMPARADORES APRESENTADOS PELA

PROFESSORA EM SALA PARA OS ALUNOS .................................. 97 FIGURAS 22 OTOS DE CONJUNTOS DE BLOCO PADRÃO APRESENTADOS

PELA PROFESSORA EM SALA PARA OS ALUNOS ....................... 97 FIGURAS 23 FOTOS DE CONJUNTOS DE BLOCO PADRÃO APRESENTADOS

PELA PROFESSORA EM SALA PARA OS ALUNOS ....................... 97 FIGURA 24 FOTO DE UM CONJUNTO DE PESO PADRÃO APRESENTADO

PELA PROFESSORA EM SALA PARA OS ALUNOS ....................... 98 FIGURA 25 FOTO DO GONIÔMETRO APRESENTADO PELA PROFESSORA EM

SALA ................................................................................................. 100 FIGURA 26 REPRODUÇÃO FEITA PELA PESQUISADORA DA IMAGEM DA

ATIVIDADE NO QUADRO ................................................................. 101 FIGURA 27 REPRODUÇÃO FEITA PELA PESQUISADORA DA IMAGEM DA

ATIVIDADE 1 ..................................................................................... 101 FIGURA 28 REPRODUÇÃO FEITA PELA PESQUISADORA DA IMAGEM DA

ATIVIDADE 2 ..................................................................................... 102 FIGURA 29 REPRODUÇÃO FEITA PELA PESQUISADORA DA IMAGEM DA

RESOLUÇÃO DA ATIVIDADE 1 ....................................................... 103 FIGURA 30 REPRODUÇÃO FEITA PELA PESQUISADORA DA IMAGEM DA RESOLUÇÃO DA ATIVIDADE 2 ....................................................... 104 FIGURA 31 REPRODUÇÃO FEITA PELA PESQUISADORA DA IMAGEM DA

PROFESSORA NO QUADRO ........................................................... 114 FIGURA 32 REPRODUÇÃO FEITA PELA PESQUISADORA DA IMAGEM DA

PROFESSORA NO QUADRO ........................................................... 115 FIGURA 33 REPRODUÇÃO FEITA PELA PESQUISADORA DA IMAGEM DA

PROFESSORA NO QUADRO ........................................................... 116

Page 10: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

FIGURA 34 FOTO DA RESOLUÇÃO DO EXERCÍCIO PELA PROFESSORA NO QUADRO ........................................................................................... 118

FIGURA 35 REPRODUÇÃO FEITA PELA PESQUISADORA DA IMAGEM DA

ATIVIDADE FEITA NO QUADRO PELO PROFESSOR ................... 124 FIGURA 36 PÁGINA 5 DO CATÁLOGO DA GOODYEAR: CÁLCULO DE UMA

TRANSMISSÃO ................................................................................. 127 FIGURA 37 PÁGINA 9 DO CATÁLOGO DA GOODYEAR: FATORES DE

SERVIÇO ........................................................................................... 129 FIGURA 38 PÁGINAS 10 E 11 DO CATÁLOGO DA GOODYEAR: FATORES DE

SERVIÇO ........................................................................................... 130 FIGURA 39 PÁGINAS 10 E 11 DO CATÁLOGO DA GOODYEAR: FATORES DE

SERVIÇO ........................................................................................... 130 FIGURA 40 REPRODUÇÃO FEITA PELA PESQUISADORA DA IMAGEM FEITA

PELO PROFESSOR NO QUADRO ................................................... 131 FIGURA 41 PÁGINA 12 DO CATÁLOGO DA GOODYEAR: DETERMINAÇÃO DO

PERFIL DA CORREIA ....................................................................... 131 FIGURA 42 PÁGINA 28 DO CATÁLOGO DA GOODYEAR: DIMENSÕES

NOMINAIS DAS CORREIAS ............................................................. 132 FIGURA 43 REPRODUÇÃO FEITA PELA PESQUISADORA DA IMAGEM FEITA

PELO PROFESSOR NO QUADRO ................................................... 133 FIGURA 44 PÁGINA 32 DO CATÁLOGO DA GOODYEAR: SEÇÃO

TRANSVERSAL DAS POLIAS.......................................................... 134 FIGURA 45 PÁGINA 33 DO CATÁLOGO DA GOODYEAR: DIMENSÕES

PADRÃO DOS CANAIS E DIÂMETROS RECOMENDADOS .......... 134 FIGURA 46 PÁGINAS 22 E 23 DO CATÁLOGO DA GOODYEAR: DESIGNAÇÃO

E COMPRIMENTOS DATUM ............................................................ 136 FIGURA 47 PÁGINAS 22 E 23 DO CATÁLOGO DA GOODYEAR: DESIGNAÇÃO

E COMPRIMENTOS DATUM ............................................................ 136 FIGURA 48 REPRODUÇÃO FEITA PELA PESQUISADORA DA IMAGEM FEITA

PELO PROFESSOR NO QUADRO ................................................... 138 FIGURA 49 REPRODUÇÃO FEITA PELA PESQUISADORA DA IMAGEM FEITA

PELO PROFESSOR NO QUADRO ................................................... 142 FIGURA 50 FOTO DA SALA DE AULA DE COH ................................................. 147

Page 11: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

FIGURA 51 FOTOS DA SALA DE AULA DE CALD ............................................ 155 FIGURA 52 FOTO DO MODELO DA PEÇA, CUJA CONSTRUÇÃO FOI

OBJETIVO DA DISCIPLINA CALD ................................................... 157 FIGURA 53 FOTO DAS FERRAMENTAS UTILIZADAS NA SEGUNDA AULA

OBSERVADA .................................................................................... 162 FIGURA 54 FOTO DOS ALUNOS OBSERVANDO A MEDIDA NO CINTEL ....... 164 FIGURA 55 FOTO DA PEÇA 4, COM A CURVA APONTADA POR UM ALUNO169 FIGURA 56 FOTO DE ALUNOS CORTANDO AS PEÇAS NA GUILHOTINA ..... 170 FIGURA 57 FOTOS DOS ALUNOS CORTANDO AS PEÇAS NA TESOURA

MANUAL ............................................................................................ 171 FIGURA 58 FOTOS DOS ALUNOS CORTANDO AS PEÇAS NA TESOURA

MANUAL ............................................................................................ 171 FIGURA 59 FOTOS DOS ALUNOS CORTANDO AS PEÇAS NA TESOURA

MANUAL ............................................................................................ 171 FIGURA 60 FOTO DOS ALUNOS TRABALHANDO EMPENHADOS NA

EXECUÇÃO DA TAREFA ................................................................. 172 FIGURA 61 FOTO DE UM ALUNO PASSANDO UMA PEÇA NA MÁQUINA

CALANDRA ....................................................................................... 172 FIGURA 62 FOTO DAS PEÇAS EM FORMATO CILÍNDRICO QUE ORIGINARÃO

A PEÇA FINAL DA DISCIPLINA ....................................................... 173 FIGURA 63 FOTO DOS ALUNOS TRAÇANDO A PEÇA NA CHAPA DE METAL ... ........................................................................................................... 176 FIGURA 64 IMAGEM DA METADE DA PEÇA 5, 8A PÁGINA DO APÊNDICE D 177 FIGURA 65 FOTO DE UM ALUNO USANDO A MÁQUINA DOBRADEIRA PARA

DOBRAR A PEÇA NAS LINHAS ANTERIORMENTE INDICADAS (FIGURA 64) ...................................................................................... 178

FIGURA 66 FOTO DE UM ALUNO MEDINDO O ÂNGULO DE INCLINAÇÃO DA

PEÇA ................................................................................................. 178 FIGURA 67 FOTO DA METADE DA PEÇA 5 AO TERMINAR DE SER DOBRADA . ........................................................................................................... 179 FIGURA 68 FOTO DA UNIÃO DAS DUAS METADES DA PEÇA 5 .................... 179 FIGURA 69 FOTO DOS ALUNOS DOS TRÊS GRUPOS REUNIDOS MONTANDO

SUAS PEÇAS FINAIS ....................................................................... 180

Page 12: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

FIGURA 70 FOTO DE UM GRUPO MONTANDO SUA PEÇA FINAL .................. 181 FIGURA 71 FOTO DA PEÇA FINAL DE UM GRUPO JÁ MONTADA E SOLDADA . ........................................................................................................... 181

Page 13: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 TRIANGULAÇÃO DOS DADOS CONSTRUÍDOS NA PESQUISA A RESPEITO DAS EXPERIÊNCIAS DOS ALUNOS COM A MATEMÁTICA NAS DISCIPLINAS TÉCNICAS ................................ 222

TABELA 2 TRIANGULAÇÃO DOS DADOS CONSTRUÍDOS NA PESQUISA A

RESPEITO DAS EXPERIÊNCIAS DOS ALUNOS COM AS CARACTERÍSTICAS DA COMUNIDADE LOCAL DE PRÁTICA PROFISSIONAL DO CURSO TÉCNICO DE MECÂNICA ................. 226

Page 14: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO: TRAJETÓRIA, CONTEXTO E PROBLEMÁTICA .......................... 17

Trajetória de Pesquisa e Profissional ................................................... 17

Os Cenários Educacionais da Experiência na Rede Federal: Minhas Reflexões e Indagações ......................................................................... 19

Objetivo da Pesquisa ............................................................................. 22

CAPÍTULO 1: REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................ 29

1.1 Teoria Social de Aprendizagem Situada em Comunidade de Prática 29

1.2 Comunidade Local de Prática Profissional .......................................... 38

1.3 Discussões e Pesquisas de Mobilização da Cultura Matemática em Práticas Situadas .................................................................................... 42

1.4 Algumas Investigações Matemáticas Desse Contexto de Pesquisa . 46

CAPÍTULO 2: METODOLOGIA ................................................................................ 55

2.1 A Pesquisa .............................................................................................. 55

2.2 A Pesquisa no Curso Técnico de Mecânica ......................................... 56

2.3 A Análise dos Dados Construídos ........................................................ 59

2.4 A Escolha das Disciplinas Observadas na Pesquisa .......................... 61

CAPÍTULO 3: APRESENTAÇÃO DA CONSTRUÇÃO DOS DADOS A PARTIR DA

OBSERVAÇÃO DA SALA DE AULA ....................................................................... 63

3.1 Desenho Técnico Mecânico (DTM) ....................................................... 63

3.1.1 Dinâmica das Aulas Observadas .......................................................... 66

3.1.2 Episódio: Três Vistas ............................................................................. 68

3.1.3 Episódio: Perspectiva Isométrica ......................................................... 70

3.1.4 Episódio: Perspectivas Isométrica e Cavaleira ................................... 75

3.1.5 Episódio: Perspectivas Isométricas com Curvas ................................ 77

3.1.6 Discussão e Análise Inicial da Disciplina DTM .................................... 81

3.2 Metrologia I (METRO I) ........................................................................... 85

3.2.1 Primeira aula observada: apresentação da disciplina ........................ 88

Page 15: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

3.2.2 Segunda Aula Observada: Paquímetro ................................................ 91

3.2.3 Terceira Aula Observada: Relógio Comparador e Blocos Padrão ..... 97

3.2.4 Quarta Aula Observada: Atividades ................................................... 102

3.2.5 Discussão e Análise Inicial da Disciplina Metro I .............................. 106

3.3 Mecânica Técnica e Resistência dos Materiais (MTRM) ................... 110

3.3.1 Episódio da Aula de Estática .............................................................. 112

3.3.2 Discussão e Análise Inicial da Disciplina MTRM ............................... 118

3.4 Elementos de Máquinas (ELM) ............................................................ 121

3.4.1 As Aulas Observadas ........................................................................... 123

3.4.1.1 Episódio: Transmissão de Correias ................................................... 123

3.5 Comandos Óleos Hidráulicos (COH) .................................................. 146

3.5.1 Episódio: Linha de Pressão, Linha de Retorno e Linha de Sucção de Bombas Hidráulicas ............................................................................. 149

3.5.2 Discussão e Análise Inicial da Disciplina COH .................................. 151

3.6 Caldeiraria (CALD) ................................................................................ 154

3.6.1.1 A atividade desenvolvida ao longo das aulas.................................... 157

3.6.1.2 Episódios da Primeira Aula Acompanhada ....................................... 158

3.6.1.3 Episódios da Segunda Aula Acompanhada ....................................... 161

3.6.1.4 Episódios da Terceira Aula Acompanhada ........................................ 170

3.6.1.5 Episódios da Quarta Aula Acompanhada .......................................... 176

3.6.1.6 Episódios da Quinta Aula Acompanhada .......................................... 180

3.6.2 Discussão e Análise Inicial da Disciplina CALD ................................ 181

CAPÍTULO 4: O QUESTIONÁRIO E A ENTREVISTA ........................................... 187

4.1 A Construção do Questionário ............................................................ 188

4.1.1 Primeira Questão .................................................................................. 189

4.1.2 Segunda Questão ................................................................................. 190

4.1.3 Terceira Questão .................................................................................. 192

4.2 Respostas Apresentadas ao Questionário ........................................ 194

4.3 A Entrevista .......................................................................................... 196

4.3.1 Apresentação e Discussão Acerca das Respostas Dadas à Primeira Questão ................................................................................................. 197

4.3.2 Apresentação e Discussão Acerca das Respostas dadas à Segunda Questão ................................................................................................. 202

Page 16: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

4.3.3 Apresentação e Discussão Acerca das Respostas Dadas à Terceira Questão ................................................................................................. 209

4.4 Discussão e Análise Inicial das Respostas dos Questionários Discutidas na Entrevista ...................................................................... 217

CAPÍTULO 5: ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA ......................................... 221

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 231

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 237

APÊNDICE A .......................................................................................................... 241

APÊNDICE B .......................................................................................................... 299

APÊNDICE C .......................................................................................................... 307

APÊNDICE D .......................................................................................................... 311

APÊNDICE E .......................................................................................................... 319

APÊNDICE F ........................................................................................................... 322

Page 17: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para
Page 18: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

17

INTRODUÇÃO: TRAJETÓRIA, CONTEXTO E PROBLEMÁTICA

Trajetória de Pesquisa e Profissional

Sou graduada em Matemática, mestre em Educação pela UFMG e atuo

como professora de matemática desde 2001. Ao longo da minha formação

acadêmica, sempre me interessei e participei de pesquisas voltadas para o ensino

de matemática em escolas de ensino integrado, médio e técnico.

O meu primeiro contato com a pesquisa na área de Educação foi durante

minha graduação de Licenciatura em Matemática, quando participei de um grupo de

pesquisa, com mais três colegas, em um projeto de Iniciação Científica.1 O objetivo

inicial do projeto era investigar o processo de transição, pelo qual passam os alunos,

do Cálculo para a Análise Real. Porém, nosso grupo se envolveu na

problematização da aprendizagem da Matemática, desenvolvendo uma atitude de

reflexão sobre o processo de transição da escola básica para a universidade, o que

mudou o foco da pesquisa, e passamos a refletir sobre a reconstrução dos conceitos

matemáticos apresentados na universidade.

Nosso referencial teórico foram pesquisas na área de Psicologia da

Educação, de modo especial fundamentamo-nos em Vinner (1991) e Tall e Vinner

(1981). Essas pesquisas ressaltam que as formas de pensamento e argumentação

requeridas pela matemática avançada contrastam com as usadas na matemática

elementar e no cotidiano. Sobre a prática docente, tais pesquisas chamam a

atenção para o fato de que, quando no contexto da matemática avançada, os

professores comumente apresentam os conceitos a partir de definições formais,

1 O título desse projeto de Iniciação Científica da graduação era “Investigando a Transição da

Matemática na Escola Elementar para a Universidade”. Participaram dessa pesquisa os seguintes

alunos da graduação: André dos Santos Almeida, Rodrigo Tomás Nogueira Cardoso, Valeska

Braga Sampaio, Valéria Guimarães Moreira; sob a orientação dos seguintes professores do

Departamento de Matemática da UFMG: Antônio Zumpano Pereira dos Santos, Hamilto Prado

Bueno e Márcia Maria Fusaro Pinto. Ele foi desenvolvido ao longo de dois anos (agosto/1999 a

julho/2001) e parcialmente financiado pelo CNPq.

Page 19: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

18

desconsiderando que o aluno inicia a universidade com várias experiências e ideias

prévias relacionadas à noção que está sendo trabalhada.

A partir da minha experiência nesse grupo e das reflexões construídas com

meu grupo de iniciação científica na graduação, elaborei meu projeto de pesquisa

para o mestrado em Educação,2 que iniciei logo após o final de minha graduação.

Este foi da área de educação matemática, desenvolvido em escolas técnicas, pois

os alunos oriundos de cursos técnicos entrevistados durante a pesquisa de iniciação

científica foram os que mais nos chamaram a atenção, por apresentarem uma vasta

imagem conceitual sobre alguns tópicos da matemática elementar pesquisados.

Durante o mestrado, passei a ter contato maior com leituras da Educação

ligadas à área das Ciências Sociais que lidavam com as questões da prática e da

cultura dos alunos e sua influência na aprendizagem e, então, distanciei-me das

leituras na área da Psicologia da Educação. Comecei a pensar a prática dos alunos

dos cursos técnicos integrados ao médio com a matemática em variadas disciplinas.

A teoria da “Aprendizagem Situada” desenvolvida por Lave e Wenger (1991)

e o conceito de “Comunidades de Prática”, construído por esses pesquisadores e

pesquisado também por Winbourne e Watson (1998), tornaram-se meus principais

referenciais teóricos durante a pesquisa de mestrado, que investigou como as

experiências de alunos do Ensino Médio Técnico, que hoje equivale ao curso

integrado, em diversas disciplinas, contribuem para a construção do conceito

matemático de reta tangente, conceito este escolhido a partir dos resultados da

pesquisa da graduação. Pela análise dos dados coletados, percebemos3 que cada

contexto escolar investigado (disciplina cursada pelos alunos na qual o conceito de

reta tangente era trabalhado) pode ser pensado como constituindo uma comunidade

local de prática distinta; e que os aspectos do conceito de reta tangente construídos

pelos alunos em cada uma dessas práticas se relacionam com características de

onde foram produzidas.

2 Mestrado em Educação pela UFMG desenvolvido ao longo de 2002 e 2004, cujo título da pesquisa

é: Comunidades de prática da matemática no Ensino Médio técnico. 3 Uso o plural porque considero que o trabalho dessa pesquisa não é somente meu, mas meu em

parceria com minha orientadora de Mestrado da UFMG, professora Márcia Maria Fusaro Pinto.

Page 20: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

19

Investigar os alunos nas distintas práticas da matemática nestas disciplinas

no ensino médio integrado ao técnico explicitou inúmeros aspectos associados às

práticas de trabalho dos cursos técnicos pesquisados que contribuem para a

construção do conhecimento escolar dos alunos em relação à Matemática.

Essas duas experiências me tornaram uma profissional atenta às questões

da aprendizagem escolar e sempre em contato com a leitura de pesquisa em

Educação Matemática.

Os Cenários Educacionais da Experiência na Rede Federal: Minhas Reflexões e Indagações

Além de minha experiência na pesquisa, destaco minha experiência de 12

anos como professora de matemática. De 2001 a 2006, passei pelas redes estadual,

municipal, particular e federal (como substituta) em Belo Horizonte, lecionando

Matemática nos ensinos fundamental e médio.

Desde 2006, trabalho como professora efetiva na rede de escolas federais

de educação técnica e tecnológica, onde atuei em três escolas: antigo CEFET de

Januária (hoje Instituto Federal de Educação Tecnológica do Norte de Minas Gerais,

IFNMG – campus Januária); Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas

Gerais, campus Nepomuceno; e atualmente na mesma instituição no campus de

Belo Horizonte, onde trabalho desde julho de 2010. Nas três instituições, atuei como

professora de matemática do ensino médio integrado, porém, na primeira, também

como professora na graduação de licenciatura em matemática. Nessas escolas,

vivenciei diferentes cenários de educação.

Recém-chegada ao antigo CEFET de Januária em 2006, as discussões que

aconteciam nas muitas reuniões que se davam entre professores, direção e técnicos

em assuntos educacionais lembravam sempre de um processo recente pelo qual a

escola passou em 2002: de transformação de Escola Agrotécnica4 em Centro

Federal de Educação Tecnológica. Muitas das reflexões expostas nesses encontros

remetiam direta ou indiretamente às implicações dessa “nova instituição” na

organização do ensino técnico. 4 Ano de criação da Escola Agrotécnica Federal de Januária: dezembro de 1960.

Page 21: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

20

Nesse sentido, destaco a nova organização do currículo escolar para o

ensino médio e técnico segundo competências preestabelecidas que fossem

avaliadas em uma listagem de habilidades que o aluno deveria alcançar.5

Porém a instituição ainda precisava avançar em alguns aspectos da nova

forma de organização da educação profissional no Brasil, como, por exemplo, ofertar

o ensino técnico integrado ao ensino médio.

Ao contrário, a escola ainda ofertava a educação de nível técnico

desarticulado do ensino médio, ou seja, matrículas distintas na mesma instituição

(concomitância interna), ou entre instituições distintas (concomitância externa), ou

ainda após a conclusão do ensino médio (sequencial). Isso acontecia mesmo com

todos os incentivos do governo Lula, após o Decreto nº 5.154, em 2004, ainda em

vigor, o que resultou na opção pela modalidade integrada, por parte da maioria das

escolas federais de educação técnica. Mas o CEFET de Januária optava por não

aderir a essa proposta por diversos motivos internos políticos e pedagógicos, o que

causava insatisfação à maioria dos docentes.

Já em 2007, essa instituição se encontrava diante de uma nova proposta de

transformação do governo federal, quando, com o Decreto nº 6.095, ela se vê

estimulada a se integrar com outras instituições de educação tecnológica para

constituir um Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia – IFET; este,

posteriormente, em 2008, com a promulgação da Lei nº 11.892, passou a Instituto

Federal de Educação Tecnológica – IF.

Nesse momento, então, a escola se unifica com a Escola Agrotécnica

Federal de Salinas e junto de seus campi,6 contemplados no plano de expansão da

rede federal para a educação profissional que começava a ser implantado,

constroem o projeto que os transformará, em 2009, em Instituto Federal do Norte de

Minas Gerais.

Para consolidação desse projeto, várias discussões se deram ao longo de

2007 para que a escola pudesse contemplar os requisitos para transformação em

5 Ver: BRASIL, MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio, 1999. 6 São 5 novos campi nas seguintes cidades: Almenara, Araçuaí, Arinos, Montes Claros e Pirapora.

Page 22: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

21

Instituto expostos no decreto citado; entre elas a construção de um novo plano

acadêmico com um projeto de PDI integrado, cujo objetivo, entre outros, é ministrar

educação profissional técnica de nível médio, prioritariamente em cursos e

programas integrados ao ensino regular (Decreto nº 6.095, inciso I, § 2º).

Como professora que sempre ressaltou os problemas educacionais dos

cursos acarretados pela desarticulação existente na escola entre o ensino regular e

o técnico, experiência oriunda de minhas discussões de pesquisa durante o

mestrado, designaram-me para o grupo de trabalho que construiria a nova proposta

de ensino técnico na modalidade integrada. Isso se deu com várias reuniões e com

a participação dos professores do ensino técnico e regular que ajudaram na

construção de uma proposta de currículo integrado. Nessas discussões, refletia

sempre sobre minhas impressões do mestrado, onde na maioria das vezes os

professores desconsideram os conceitos construídos nas disciplinas técnicas

durante a aula de matemática e também o inverso. Portanto, procurei discutir com os

professores das disciplinas técnicas a melhor maneira de integrar o curso de forma

que o conteúdo ministrado em uma disciplina complementasse o de outra. Procurei

considerar também a realidade regional dos alunos, estes, em sua maioria, oriundos

de áreas rurais. A escola inicia então o ano de 2008 com oferta de ensino médio

integrado ao técnico e irá, gradativamente, terminar sua oferta de ensino médio em

concomitância interna e externa ao técnico.

Em de maio de 2008, mudei de instituição e passei a lecionar no CEFET-

MG, em um campus que iniciava seu funcionamento naquele ano, Nepomuceno.

Passei a enfrentar, então, as questões relativas a iniciar o funcionamento de uma

escola e construir, junto aos demais professores, a identidade desta, inserida numa

realidade desconhecida para muitos deles: educação profissional técnica integrada

ao ensino médio, escola inserida em uma cidade do interior, construção de todos os

processos de funcionamento da escola, educação pública etc. Por ser uma das

poucas professoras com as experiências citadas, designaram-me coordenadora das

disciplinas do ensino médio, e me dediquei muito na constituição dos primeiros anos

da escola.

Além de todos os enfrentamentos colocados nessa nova organização na

qual eu estava inserida e participava intensamente, uma nova discussão me era

Page 23: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

22

apresentada, cheia de indagações que nem eu, nem o meu grupo, conseguíamos

responder. Estávamos inseridos em um campus de uma instituição que negava a

proposta do governo federal de transformação em instituto federal aqui já

mencionada. Essa posição acompanhava uma proposta anterior da instituição, de

transformação em universidade tecnológica. Diante desse novo cenário, há muitas

indagações sobre como se organizará o ensino médio integrado e qual sua

importância dentro da Universidade Tecnológica.

Com a mudança para o campus I (Belo Horizonte), percebo nas reuniões de

minha coordenação que essas mesmas indagações continuam acontecendo e

perturbam, de maneira especial, o quadro docente do ensino técnico integrado da

escola, que acredita na formação de qualidade ofertada aos alunos do ensino médio

integrado. A discussão que se intensifica está direcionada a pensar essa modalidade

de ensino em que leciono no contexto da educação técnica verticalizada (ensino

médio técnico – ensino superior), proposta atual do CEFET-MG.

Objetivo da Pesquisa

A partir da minha experiência como professora em três diferentes realidades

de localização e organização de escolas de ensino médio integrado ao técnico,

propus desenvolver uma pesquisa de doutorado investigando: a aprendizagem

matemática por alunos inseridos nesse contexto; e a sala de aula de disciplinas

técnicas específicas do curso selecionado em suas abordagens e aplicações de

conceitos e práticas com a matemática.

Meu trabalho de pesquisa de mestrado investigou como o tratamento de um

mesmo conceito matemático em disciplinas distintas contribui para que os alunos

participem de experiências diferentes com a matemática e construam aspectos

diversos desse conceito relacionados a cada prática que vivenciaram.

A partir desse trabalho, passo a pensar a sala de aula de cada disciplina

técnica observada, e também a sala de aula de matemática, como comunidades

locais de prática da matemática distintas.

Acredito que esta proposta contribui para que percebamos a sala de aula com

um novo olhar. Contribui para entendê-la como constituída de relações entre os

Page 24: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

23

alunos, entre alunos e professores, entre esses e a prática da disciplina e, talvez, o

mundo que os cerca. Como proposto por Lave (1996, p. 150), procuramos perceber

“a prática social da aprendizagem como um fenômeno social fundamental em

relação com quais práticas de ensino são constituídas”.7

A partir desse trabalho, passo a acreditar que as disciplinas escolares

envolvidas na pesquisa realizada possuem aspectos que por vezes as distanciam de

se constituírem como comunidades de prática segundo a teoria de aprendizagem

situada. Porém, talvez pudéssemos pensá-las como comunidades locais distintas de

prática da matemática. Por meio da participação nas distintas práticas da

matemática presentes nessas comunidades, os alunos constroem seu conhecimento

escolar em relação à Matemática.

Repensando a pesquisa do mestrado e algumas indagações refletidas que

seguiram meu trabalho ao longo desses anos no ambiente da escola técnica,

proponho para uma nova pesquisa, em nível de doutorado, discutir a matemática

que é mobilizada nesse ambiente e como essas diferentes experiências com a

matemática nesse contexto se articulam e são redimensionados pelos alunos;

conhecimento esse que está intrinsecamente ligado às características da

comunidade de prática a que o aluno passa temporariamente a pertencer.

Para isso, ao observarmos os alunos, os professores e as aulas nas

disciplinas técnicas escolhidas para a pesquisa, será importante termos atenção a

todas as características que cercam a aprendizagem nesse contexto profissional.

Nele,

o diálogo, a observação, as histórias contatas e as conversas entre as pessoas são elementos que implicam diretamente os comportamentos de aprendizagem dos membros em comunidades de prática, carregando influências ambientais e socioculturais. [...] Nesse sentido, a participação e interação das pessoas nas atividades coletivas também adquirem importância [...], a partir da interação social e do pertencimento a comunidade de prática. (GUDOLLE et al., 2012, p.18)

Ao observarmos o conhecimento matemático mobilizado nas aulas das

disciplinas técnicas, perceberemos que, na prática dessas aulas, os alunos

mobilizam seus conhecimentos matemáticos já adquiridos anteriormente em outros 7 “[...] the social practice of learning as the fundamental social phenomenon in relation with wich

practices of teaching are constituted.”

Page 25: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

24

contextos para realizar as tarefas da aula. Porém, muitas vezes, esses alunos

também adquirem o conhecimento matemático mobilizado no decorrer dessas aulas,

conhecimento esse ainda não apropriado por eles.

A ação de aquisição de conhecimento matemático, aqui expressa, está ligada

ao termo apropriação, apropriação de conhecimento matemático em práticas sociais,

como exposto por Smolka (2000). Para a autora, a apropriação de conhecimento

“está relacionada a diferentes modos de participação nas práticas sociais, diferentes

possibilidades de produção de sentido” (ibidem, p. 33). Apropriação é, desse modo,

uma categoria essencialmente relacional.

Essa pesquisa é, então, norteada pelo objetivo de responder às seguintes

questões:

QUE CONHECIMENTOS MATEMÁTICOS SÃO MOBILIZADOS NO

COTIDIANO DE AULAS DE DIVERSAS DISCIPLINAS NO CURSO TÉCNICO DE

MECÂNICA INTEGRADO AO MÉDIO?

COMO ESSES CONHECIMENTOS MATEMÁTICOS E EXPERIÊNCIAS

ESCOLARES DURANTE O CURSO TÉCNICO SE ARTICULAM E SÃO

REDIMENSIONADOS PELOS ALUNOS NA COMUNIDADE LOCAL DE PRÁTICA

PROFISSIONAL A QUE PERTENCEM?

O Cenário da Escola Técnica

Para responder às perguntas propostas, optamos por realizar a pesquisa no

Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG). Isso por se

tratar de uma escola que oferece educação técnica, contexto dessa pesquisa, e

também pelo fato de a autora residir em Belo Horizonte e trabalhar nessa escola.

Portanto, acreditamos que isso facilitaria o acesso à escola, aos documentos sobre

seu funcionamento e estruturação dos cursos, bem como todo o desenvolvimento da

pesquisa.

O CEFET-MG é uma escola federal de educação tecnológica que oferece

cursos técnicos de nível médio em várias modalidades (integrado ao médio, regular

e proeja, concomitante ao médio, subsequente ao médio, entre outros), cursos de

Page 26: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

25

graduação, pós-graduação e extensão. Ele possui campus em 9 cidades de Minas

Gerais,8 sendo que sua diretoria-geral se encontra no Campus I, em Belo Horizonte.

Essa escola possui mais de 100 anos de tradição como escola de educação

técnica. Foi criada em 23 de setembro de 1909, na ocasião como Escola de

Aprendizes Artífices de Minas Gerais. Ao longo desses anos, ampliou cada vez mais

sua oferta de educação tecnológica em vários níveis de ensino. Hoje, pleiteia junto

ao governo federal sua transformação em Universidade Tecnológica.

O CEFET-MG oferece atualmente 71 cursos, todos gratuitos, dos quais 34

são de ensino técnico, 15 de graduação, 15 especializações e sete mestrados.9

Em 2013, o CEFET-MG oferecia em seus dois campi (I e II) de Belo Horizonte

14 cursos técnicos. São eles: Edificações, Eletromecânica, Eletrônica, Eletrotécnica,

Equipamentos Biomédicos, Hospedagem, Estradas, Informática, Mecânica,

Mecatrônica, Meio Ambiente, Química, Rede de Computadores e Transportes e

Trânsito. Como pode ser observado, a maior parte deles pertence à área de exatas,

ou seja, abordam e dependem de vários conceitos da matemática em suas

disciplinas técnicas específicas.

Para iniciar a coleta de dados para essa pesquisa era preciso primeiramente

escolher em qual curso técnico ela aconteceria e quais de suas disciplinas seriam

observadas.

Para essa escolha, foram consultados, num primeiro momento, alguns

professores de matemática da coordenação de matemática, que reúne os

professores que lecionam no ensino de nível médio. Esses indicaram o curso técnico

de mecânica como sendo um dos que mais abordam conceitos matemáticos em

suas disciplinas técnicas. Outros cursos também foram indicados, mas o curso

técnico de mecânica pareceu-nos abordar mais conceitos matemáticos distintos em

suas disciplinas específicas.

8 Belo Horizonte, Leopoldina, Araxá, Divinópolis, Timóteo, Varginha, Nepomuceno, Curvelo e

Contagem. 9 Dados de 2009.

Page 27: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

26

Segundo o plano do Curso de Educação Profissional Técnica em Mecânica

Industrial/CEFET-MG,10 o aluno formado pela instituição tem formação e capacitação

para atuar em empresas como técnico nas seguintes áreas:11

• projetos de construção, montagem, manutenção e reparo de equipamentos

mecânicos;

• aperfeiçoamento de máquinas-ferramentas, motores, veículos, aeronaves e

embarcações;

• preparo de orçamento de materiais e de mão de obra necessários à execução de

projetos;

• aplicação de normas de organização e métodos, visando à racionalização do

trabalho.

Além disso, esses alunos também estão habilitados a supervisionar o

controle de equipamentos mecânicos, materiais e produtos nos locais de produção

ou em laboratórios especializados. Empregam instrumentos de precisão para aferir

as condições de produção e providenciar a correção de possíveis falhas. Podem,

ainda, prestar assistência técnica à compra, venda e utilização de máquinas e de

outros equipamentos especializados.

Nesse cenário, desenvolvemos a pesquisa proposta.

O Texto Desta Tese

O texto desta tese está assim organizado:

Nesta introdução, apresentamos a autora dessa pesquisa em sua trajetória

acadêmica e profissional, o objetivo da pesquisa e o contexto em que foi realizada.

10 Esse é o nome completo do curso aprovado EPTT (Educação Profissional Técnica e Tecnológica).

Porém, para o texto desta tese, usaremos apenas Curso Técnico de Mecânica para nos referirmos

a ele. 11 Objetivos constam na apresentação do curso no site da Instituição. Disponível em:

<http://www.cefetmg.br/site/edu_profissional/aux/cursos/mecanica.html>. Acesso em: 04 jun. 2013.

Page 28: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

27

No capítulo 1 deste texto, expomos o referencial teórico que dá suporte a

essa pesquisa. Ele se baseia principalmente na Teoria de Aprendizagem Situada,

apresentada inicialmente por Lave e Wenger (1991), mas também em discussões a

respeito desses mesmos autores em anos posteriores, e ainda discussões de outros

autores. Temos como um dos principais conceitos apresentados o entendimento

acerca de uma comunidade de prática e da participação periférica legítima nesse

contexto.

Ainda nesse capítulo, apresentamos algumas outras pesquisas

correlacionadas a essa, em especial a pesquisa de doutorado de Jordane (2013),

que traz o entendimento acerca de uma comunidade local de prática profissional,

conceito esse importante para conhecermos o contexto em que se passa essa

pesquisa e respondermos às perguntas propostas.

No capítulo 2, apresentamos a metodologia proposta para esse trabalho,

que descreve as etapas da pesquisa. Desenvolvemos uma pesquisa qualitativa, que

utiliza como técnicas para construção dos dados: observação em sala de aula

acompanhada de gravações de voz e/ou vídeo e construção de um caderno de

campo, questionário e entrevista a um pequeno número de alunos selecionados. A

partir desses dados, propusemos a triangulação para sua organização e análise.

No capítulo 3, apresentamos os dados construídos a partir da observação da

sala de aula de seis disciplinas técnicas: Desenho Técnico Mecânico, Metrologia I,

Mecânica Técnica e Resistência de Materiais, Elementos de Máquinas, Comandos

Óleos-Hidráulicos e Caldeiraria. Essa primeira exposição dos dados traz alguns

episódios de aula descritos de forma linear temporal dos fatos com alguns

comentários que assinalam o início de uma análise destes.

No decorrer desse capítulo, ao final da exposição de cada disciplina, foi

apresentada uma primeira e breve discussão dos dados e organização segundo dois

critérios: experiências dos alunos na aula de cada disciplina observada com o

conhecimento matemático e experiências dos alunos na aula em cada disciplina

observada com as características de uma comunidade local de prática.

O capítulo 4 apresenta o questionário aplicado a um grupo de alunos, sua

construção e seu objetivo, e a entrevista que o segue. A entrevista é parte dos

Page 29: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

28

dados dessa pesquisa e se baseia na discussão das questões respondidas pelos

alunos no questionário. Foram expostos trechos da entrevista que acreditamos

contribuírem para responder às questões propostas para a pesquisa, bem como

algumas primeiras e breves discussões a respeito desses trechos. Os dados da

entrevista também foram organizados ao final, segundo os dois critérios já citados,

expostos no capítulo 3.

O capítulo 5 apresenta a análise dos dados construídos nessa pesquisa.

Para auxiliar essa análise, foi construída uma triangulação dos dados construídos

divididos em três grupos: as experiências dos alunos na exposição das aulas

observadas (com relação à Matemática e com relação à comunidade de prática

desse contexto), os documentos escritos utilizados em sala de aula nas observações

e as discussões da entrevista.

Acreditamos que essa organização dos dados auxiliou nas discussões que

desenvolvemos nesse capítulo acerca das duas perguntas propostas nessa

pesquisa.

No capítulo, 6 expusemos a conclusão deste trabalho e as contribuições que

ele oferece aos profissionais da área e possibilidades para pesquisas futuras.

Page 30: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

29

CAPÍTULO 1: REFERENCIAL TEÓRICO

Neste capítulo apresentamos o referencial teórico que norteará essa

pesquisa. Assumiremos essa base teórica para voltar o nosso olhar para as salas de

aula observadas bem como analisar os dados construídos a fim de responder às

questões propostas nesta pesquisa.

1.1 Teoria Social de Aprendizagem Situada em Comunidade de Prática

Lave e Wenger (1991) desenvolveram uma teoria de aprendizagem

observando comunidades de trabalhadores onde o saber era socialmente

compartilhado e a aprendizagem situada, o que acontece exclusivamente no interior

dessa comunidade profissional.

Nessa perspectiva teórica, os autores discutem que a aprendizagem é

situada e que situar significa localizar os pensamentos e ações dos aprendizes no

tempo e espaço onde ocorrem, não podendo ser generalizado para outros contextos

sociais. Reforça-se assim

a necessidade de localizar onde ocorre a aprendizagem, contextualizando-a e situando-a, apresentando suas peculiaridades sociais, históricas, culturais, econômicas e políticas, de modo que as circunstâncias analisadas sejam delimitadas com o objetivo de não descolar o processo de aprendizagem do lócus em que ocorre. Afinal, “o significado não existe dentro de nós nem no mundo exterior, mas na relação dinâmica da vivência no mundo (WENGER, 2008, p. 54)12”.

Esse aspecto da dimensão da aprendizagem como prática social implica que

a aprendizagem nessa teoria é vista como indissociável do contexto de sua

aquisição, não podendo assim ser deslocado para outro contexto. Na perspectiva de

Lave e Wenger (1991) a aprendizagem não apenas se situa na prática, como, mais

que isso, ela é parte integrante dessa prática social.

A partir de então, um dos conceitos que fundamenta essa teoria de

aprendizagem situada é a “participação periférica legítima”. Segundo Adler (1998),

“participação periférica legítima” conceitua a ligação entre o indivíduo e a

12 Tradução de GUDOLLE et al., 2012, p. 17.

Page 31: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

30

comunidade de prática na qual ele está inserido, as pessoas adquirem

conhecimento através de sua participação numa prática.

Para explicar o que vem a ser “participação periférica legítima”, Lave e

Wenger (1991) discutem as relações entre velhos e novos participantes da

comunidade, suas atividades, identidades, materiais utilizados, enfim, as relações

presentes na comunidade que se constituem em função de uma determinada

prática.

Dando suporte ao conceito de participação periférica legítima (entendido

pelos autores como o “conhecimento”) está o conceito de comunidades de prática

(visto como a “localização”):

Uma comunidade de prática é um conjunto de relações entre pessoas, atividade e mundo, acima do tempo e em relação com outras comunidades de prática tangenciais e sobrepostas. A comunidade de prática é uma condição intrínseca para a existência de conhecimento, não menos porque ela supre o suporte interpretativo necessário para fazer sentido de sua herança. Assim, participação na prática cultural em que existe algum conhecimento é um princípio de aprendizagem epistemológico. (LAVE; WENGER, 1991, p. 98)13

Logo, a participação periférica legítima é para esses autores um processo

pelo qual os aprendizes recém-chegados se tornam parte de uma comunidade de

prática. Esse processo envolve de forma especial as intenções dessas pessoas de

aprender nesse processo, logo, a aprendizagem torna-se o processo pelo qual

esses aprendizes periféricos desejam tornar-se participantes completos dessa

prática social.

A participação periférica legítima discute a localização dos participantes de

uma comunidade de prática na prática social dessa comunidade, caracterizada por:

locais e perspectivas de mudança, trajetória de aprendizagem dos participantes,

desenvolvimento de identidades como forma de associação.

13 “A community of practice is a set of relations among persons, activity, and world, over time and in

relation with other tangential and overlapping communities of practice. A community of practice is

an intrinsic condition for the existence of knowledge, not least because it provides the interpretive

support necessary for making sense of its heritage. Thus, participation in the cultural practice in

which any knowledge exists is an epistemological principle of learning.”

Page 32: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

31

Para Barato (2011), em comunidades de prática do mundo do trabalho, o

aprendiz participa da confecção de produtos e realização de serviços desde o

momento que integra a comunidade. Essa participação é, além de operacional e

produtiva, social, pois o indivíduo torna-se aí participante da comunidade.

Segundo o autor, as oportunidades de aprendizagem em comunidades de

prática surgem da relação dos aprendizes com o mestre, bem como entre

aprendizes, em especial com aprendizes mais experientes, já que o relacionamento

entre mestre e aprendiz pode se dar, muitas vezes, de forma não satisfatória. A

troca de conhecimento entre os aprendizes sugere, segundo Gudolle et al. (2012),

engajamento na prática e é uma condição para uma efetiva aprendizagem. São

estas relações que determinam a aprendizagem nesses contextos, as relações

sociais de aprendizes com a comunidade mudam através de seu envolvimento direto

nas atividades; no processo, o entendimento dos aprendizes e habilidades de

conhecedor se desenvolvem (LAVE; WENGER, 1991, p. 94).14

Lave e Wenger (1991) explicam que o início desse processo de mudança na

comunidade de prática ocorre pelo modo como se dá a aprendizagem nesses

contextos, que supostamente acontece por observação e imitação através da

participação. A participação é um jeito de aprender a cultura da prática na qual os

aprendizes estão inseridos. Gradualmente, eles constroem uma concepção do que

constitui a comunidade de prática. As relações que se dão entre os novos membros

e velhos membros da comunidade, e também com o mestre, contribuem para a

circulação do conhecimento que caracteriza o processo de aprendizagem aí

existente. É como se os aprendizes seguissem um movimento da periferia para o

centro da comunidade à medida que adquirem conhecimento. Mas não

necessariamente o aprendiz deve atingir o centro da aprendizagem, deixando de ser

um participante periférico e tornando-se um participante pleno. Existe sim um

movimento da periferia para o centro, para a participação plena, reconhecido pelo

discurso e pelo conhecimento adquirido pelos aprendizes na participação na

comunidade.

14 “The social relations of apprentices within a community change through their direct involvement in

activities; in the process, the apprentices’ understanding and knowledgeable skills develop.”

Page 33: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

32

Esse conhecimento construído no compartilhamento de ideias dos membros

do grupo para a resolução das tarefas. Na aprendizagem pela participação, o

aprendiz se envolve plenamente na prática da comunidade, tornando-se um membro

reconhecido, capaz de realizar novas tarefas e dominar novos entendimentos.

Aprender situacionalmente exige contínua negociação de significados. Nesse sentido, o aprendiz não é um observador naquilo que está sendo feito, nem um receptor de informações fornecidas pelo mestre. Ele é um ator que participa da produção da obra. Ao fazer parcela do trabalho que lhe cabe, ele projeta entendimentos do trabalho, e tais entendimentos têm os significados negociados em práticas sociais no interior da comunidade. (BARATO, 2011, p. 26)

Gudolle et al. (2012) ressaltam que, após um longo período de periferalidade

legitimada, os aprendizes entendem finalmente com plenitude como se dá a prática

da comunidade a que pertencem, sendo assim capazes de identificar os seguintes

aspectos:

quais são as pessoas envolvidas, o que elas fazem, como é a rotina delas, como conversam, como trabalham e conduzem a vida, como as pessoas que não são parte da comunidade de prática interagem com os membros da comunidade, o que os outros aprendizes estão fazendo e o que um aprendiz precisa aprender para se tornar um participante pleno. (GUDOLLE et al., 2012, p. 24)

A aprendizagem na prática, segundo Wenger (2008), envolve três processos

para a comunidade envolvida: as formas desenvolvidas pelos participantes de

engajamento mútuo na comunidade, compreensão do seu grupo e sintonia com os

demais participantes, desenvolvimento por parte dos aprendizes do repertório, estilo

e discurso próprio da comunidade. Portanto, na comunidade de prática, os

participantes aprendem à medida que desenvolvem sua prática e sua habilidade de

negociação de significado.

Lave e Wenger (1991) ressaltam que essa teoria não é um modelo

educacional de aprendizagem. Na verdade essa teoria é, como sugerem, uma

perspectiva para entender a aprendizagem dentro de um contexto de comunidades

de prática. Seus estudos aconteceram em grupos sociais como grupos de parteiras,

alfaiates, marinheiros e açougueiros de supermercado, todos profissionais que

aprenderam seu ofício fora da educação formal.

Para os autores, existe aprendizagem através da participação periférica

legítima, independente se o contexto onde ela se desenvolve é um contexto

Page 34: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

33

intencional de educação ou não. Mais que isso, a instrução intencional que muitas

vezes é realizada no ambiente escolar, ou outros contextos, nem sempre

corresponde ao processo de aprendizagem.

Porém, Lave (1996) começa a apresentar possibilidades de estudo em um

ambiente de educação formal. A autora considera que, seja qual for o contexto –

escolar ou não – “aprendizagem é um aspecto de mudança da participação em

comunidades de prática”15 (ibidem, p. 150) que os indivíduos participam ao longo do

tempo, seja ela escolar ou não. Para a autora, essa visão pode “ajudar a demonstrar

o que significa ver a aprendizagem como uma prática social, e a prática social da

aprendizagem como um fenômeno social fundamental em relação com as quais

práticas de ensino são constituídas”16 (ibidem, p. 150).

Para Lave (1996), aprendizagem é uma atividade evolutiva de pertença, de

se tornar membro. Aprender é uma atividade ligada à ideia de comunidade, em que

se compartilham regras e linguagens; nela os membros adquirem uma identidade

coletiva. As questões sobre as regras e linguagens, na maior parte das vezes

compartilhada pelos mestres com os aprendizes, tem mais a ver com o movimento

da periferalidade na participação dos aprendizes na comunidade do que

simplesmente a transmissão de conteúdo.

Lave (1997) relata duas de suas pesquisas em comunidades de prática

distintas e contrasta as características dessas comunidades com características de

uma sala de aula em instituições escolares. A partir de tais pesquisas, Lave mostra

como a prática influencia na aprendizagem de uma comunidade.

Wenger (2008) amplia a visão apresentada por Lave para o ambiente

escolar. Segundo esse autor, todos nós pertencemos a várias comunidades de

prática ao longo dos anos e elas mudam o curso de nossas vidas. As comunidades

de prática estão em todo lugar17 (WENGER, 2008, p. 6). No ambiente escolar

também existem várias comunidades de prática, e o aprendizado que é mais 15 “(...) learning is an aspect of changing participation in changing ‘communities of practice’ (...)” 16 “(...) help to demonstrate what it means to view ‘learning’ as social practice, and the social practice

of learning as the fundamental social phenomenon in relation with wich practices of teaching are

constituted.” 17 “(…) communities of practice are everywhere” (WENGER, 2008, p. 6).

Page 35: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

34

transformador na vida dos alunos é o aprendizado oriundo da participação nessas

comunidades de prática.

Winbourne e Watson (1998), referenciados na teoria de Lave, realçam

alguns pontos18 para caracterizar uma comunidade de prática e repensá-la no

espaço escolar.

1. os participantes criam e encontram sua identidade através de sua participação numa determinada prática;

2. os participantes são posicionados como aprendizes, segundo a estrutura social da comunidade;

3. há um propósito partilhado pelos membros da comunidade;

4. comportamentos, linguagens, hábitos, valores e ferramentas usadas são partilhados pelos membros da comunidade;

5. a prática é constituída pelos participantes;

6. todos participantes se vêem engajados nas atividades da comunidade. (WINBOURNE; WATSON, 1998, p. 94)

Os autores observam que as quatro primeiras características citadas

adequam-se ao contexto escolar; porém, chamam a atenção para o fato de que as

duas últimas são menos óbvias de serem alcançadas. Já no contexto da educação

profissional, mais precisamente no ambiente das disciplinas técnicas, os dois últimos

itens são mais presentes, mas não por todos os participantes.

Frade (2003) reflete sobre três pontos importantes ao associar a teoria de

comunidade de prática à educação escolar regular. Em primeiro, o conceito de

aprendizagem em tal teoria corresponde às mudanças de atitudes do indivíduo em

relação a sua interação com os demais participantes da prática. Em segundo, essa

teoria é desenvolvida a partir de comunidades de prática profissionais. Frade

ressalta, então, a dificuldade de se pensar na sala de aula da educação regular

como uma comunidade com estas características e propõe voltar seu olhar para a

18 “1. participants, through their participation in the practice, create and find their identity within that

practice (and so continue the process of creating and finding their more public identity); 2. there has

to be some social structure which allows participants to be positioned on an apprentice/master

scale; 3. the community has a purpose; 4. there are shared ways of behaving, language, habits,

values, and tool-use; 5. the practice is constituted by the participants; 6. all participants see

themselves as engaged essentially in the same activity”. Tradução de MOREIRA, p. 21, 2004.

Page 36: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

35

prática (ou práticas) que ocorrem na educação formal. Em terceiro, o foco da teoria

está baseado numa aprendizagem desvinculada do ensino intencional, o que não se

verifica na aprendizagem escolar.

A autora compartilha a ideia de que a sala de aula é uma comunidade que

desenvolve uma prática própria, mas alerta para o fato de que isso não significa que

a sala de aula seja uma comunidade de prática em termos da teoria exposta:

(...) é evidente que uma sala de aula é uma comunidade e não um mero agregado de pessoas definido por algumas características. Salas de aula são, supostamente, formadas com o objetivo de se formar um propósito ou empreendimento comum: uma interação entre ensino e aprendizagem. Ou ainda, como diz Wenger (1998), para sustentar lugares de identidades que proporcionem possíveis trajetórias. Também é evidente que professores e alunos compartilham alguma prática social nesses espaços, ainda que seja difícil descrever precisamente todas as suas características e os fatores externos que a afetam. O que não é tão evidente é o quanto a sala de aula pode ser vista como uma comunidade de prática em termos das ideias de Lave e Wenger (WATSON, 1998; BOALER, 2000b). (FRADE, 2003, p. 74)

A releitura da teoria de Lave e Wenger (1991) para o contexto escolar ainda

está em discussão. Como já foi dito, tal teoria se refere à aprendizagem em

comunidades de prática; já a escola, apesar de ser uma comunidade e de possuir

alguma prática, não necessariamente responde a todas as características de

comunidades de prática nos termos da teoria de Lave e Wenger (1991).

Acreditamos, porém, que o ambiente da educação profissional tenha características

que propiciem uma melhor aproximação ao seu contexto escolar da teoria de

aprendizagem situada em comunidades de prática.

Em Moreira (2004), discutimos que a pesquisa de Lave origina-se da

observação de comunidades de aprendizes de alfaiate, grupo de vigilantes do peso

e outras práticas nas quais o conhecimento aprendido está em estado de mudança:

as pessoas aprendem participando na ação, usando as ferramentas e linguagens da

prática, dando-se, assim, a mudança de “iniciantes para especialistas, da periferia

para o centro da ação”19 (WATSON, 1998, p. 2). Segundo Watson (1998), é esta

mudança de ação dos aprendizes dentro da prática e o “estado de mudança” do

conhecimento dos aprendizes que caracterizam a aprendizagem em comunidades

de prática.

19 “(...) novice to expert, from the periphery to the centre of the action.”

Page 37: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

36

Porém, na aprendizagem escolar, o ensino explícito – a aprendizagem, por

exemplo, da matemática – toma lugar e, para Watson, numa situação como esta, o

conhecimento não é visto como “estado de mudança”. Isso porque só o fato de o

aluno ter adquirido conhecimento não muda necessariamente sua posição – de

aprendiz para especialista – dentro da prática escolar. Ou seja, o aluno continua

sendo aluno, durante toda a prática escolar. Na sala de aula, a noção de “estado de

mudança” não se restringe a adquirir conhecimento, mas deverá compreender todas

as ações, pensamentos, sentimentos e aspectos envolvidos dentro dela.

Já na educação profissional, o “estado de mudança” se faz mais presente

que no ambiente escolar regular. Ao final do curso, os alunos deixam sim de serem

alunos e se tornam especialistas, eles se tornam técnicos e possuem o

conhecimento necessário para ingressar no mercado de trabalho em sua área de

especialista, eles se tornam membros legítimos da comunidade de técnicos de sua

formação.

Também em Moreira (2004) relatamos que Watson (1998) aponta que a

existência de uma comunidade de prática implica, necessariamente, a existência de

conhecimento. Mas não um conhecimento abstrato como o apresentado em salas de

aula de matemática, por exemplo, em que os alunos carregam a ilusão de que há

uma aplicação, uma utilização prática para esse conhecimento no mundo, fora

daquela comunidade escolar em que ele está inserido. Lave parece não acreditar na

existência deste conhecimento abstrato, e sim de um conhecimento que surge de

uma prática dentro da comunidade que o produz.

Mas o conhecimento matemático mobilizado e gerado dentro do ambiente

das disciplinas técnicas na educação profissional não é um conhecimento abstrato,

ele revela uma matemática aplicada, que possui uma utilização na prática do técnico

em formação, o que aproxima ainda mais esse contexto das discussões de Lave.

Winbourne e Watson (1998) propõem olhar para a sala de aula de

matemática, disciplina regular da educação formal, como uma comunidade local de

prática. Local em relação ao tempo e espaço delimitados, em relação à prática

escolar das salas de aula e em relação aos membros participantes dessa prática.

Page 38: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

37

Dentro dessa perspectiva, os autores sugerem caracterizar salas de aula

como comunidades locais de prática a partir dos seguintes aspectos20 relatados em

Moreira (2004):

1. Os alunos se vêem como que atuando matematicamente, e para estes alunos, faz sentido perceber o “tornar-se matemático” como parte essencial de quem eles são na aula;

2. Através das atividades e papéis assumidos há reconhecimento público das competências em desenvolvimento na aula;

3. Aprendizes se vêem trabalhando propositalmente juntos para alcançar um entendimento comum.

4. Há modos compartilhados de comportamentos, linguagens, hábitos, valores, e uso de ferramentas;

5. A aula é essencialmente constituída pela participação ativa de estudantes e professores;

6. Aprendizes e professores poderiam, por momentos, perceberem-se como que engajados na mesma atividade. (WINBOURNE; WATSON, 1998, p. 103)

Através dessa caracterização, os autores consideram possível pensar na

sala de aula como uma comunidade de prática. Eles sugerem que a aprendizagem

matemática poderia ser mais bem-sucedida se construída em termos de sua noção

de comunidade local de prática.

Em Moreira (2004) pensamos a matemática presente no contexto da

educação profissional a partir dessa definição. Talvez possamos pensar a sala de

aula de cada disciplina técnica de um curso específico da educação profissional

como uma comunidade local de prática, como definido por Winbourne e Watson

(1998), já que, apesar de elas se aproximarem bem das características de uma

comunidade de prática, elas se fazem presentes em um ambiente de educação

20 “1. pupils see themselves as functioning mathematically and, for these pupils, it makes sense for

them to see their ‘being mathematical’ as an essential part of who they are within the lesson; 2.

through the activities and roles assumed there is public recognition of developing competence

within the lesson; 3. learners see themselves as working purposefully together towards the

achievement of a common understanding; 4. there are shared ways of behaving, language, habits,

values, and tool-use; 5. the lesson is essentially constituted by the active participation of the

students and teacher; 6. Learners and teachers could, for a while, see themselves as engaged in

the same activity”. Tradução de MOREIRA, p. 25, 2004.

Page 39: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

38

formal escolar, que, por sua vez, possui características que o distanciam das

pesquisas de Lave e outros autores na aprendizagem situada.

1.2 Comunidade Local de Prática Profissional

Entre as pesquisas publicadas estudadas para esta tese, uma em especial

trouxe contribuições importantes para o entendimento deste estudo por meio do que

venha a constituir uma comunidade local de prática profissional, entendimento esse

assumido para o trabalho desta tese. Relato a seguir essa pesquisa que partedas

discussões da teoria desenvolvida por Lave e Wenger (1991) e do conceito de

comunidade local de prática de Winbourne e Watson (1998).

Jordane (2013) desenvolve sua pesquisa de doutorado com o objetivo de

entender e explicar como as características das comunidades de prática contribuem

(ou podem contribuir) para a construção do currículo integrado no Curso Técnico de

Edificações na modalidade de Educação de Jovens e Adultos do Ifes – campus

Vitória (ibidem, 2013, p. 22).

Com esse objetivo, o autor perpassa algumas etapas de pesquisa: analisa

as noções de currículo integrado na história da educação profissional, de modo

especial as referentes à EJA; identifica as características de comunidades de prática

presentes nas ações cotidianas dos professores do curso técnico escolhido para a

pesquisa; relaciona essas características com as possibilidades de uma efetiva

integração do currículo; apresenta as possibilidades para a construção de currículo

integrado na modalidade EJA dos cursos técnicos integrados à educação básica.

O autor desenvolve uma discussão sobre currículo integrado apoiado em

diversos autores e suas discussões sobre a educação profissional no Brasil ao logo

da história. Essa discussão foca-se principalmente no dualismo escola básica x

escola profissional, que aponta para a formação integrada como princípio educativo

importante para superação desse dualismo. O currículo integrado, nesse contexto, é

uma importante arma para superar esse dualismo, porém, mesmo as escolas de

ensino profissionalizante, não constroem realmente um currículo integrado para sua

realidade, seja da EJA ou não, muitas vezes ainda apoiada em uma visão dualista

do ensino.

Page 40: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

39

Com o propósito de construir uma proposta de currículo integrado que

supere tanto o caráter dualista da educação profissional, quanto o caráter

excludente presente na EJA, Jordane (2013) busca um caminho para olhar a

aprendizagem como um fenômeno social e coletivo e traz a discussão das

comunidades de prática da teoria de aprendizagem situada desenvolvida por Lave e

Wenger (1991), que apresentamos neste capítulo.

No desenvolvimento para a noção de prática em uma comunidade, Jordane

(2013) destaca sete pontos apontados por Wenger (2008); são eles: significado,

comunidade, aprendizagem, limites, conhecimento na prática, identidade e

educação.

O significado não é algo que pertence ao indivíduo, mas se concebe na sua

dinâmica com o mundo, processo denominado negociação de significado. A

negociação de significado, por sua vez, envolve os processos de participação e

reificação, que são distintos, mas complementares, logo não podem ser

considerados de forma isolada. A participação envolve as ações do indivíduo por

inteiro e suas relações sociais: fazer, falar, pensar, sentir, pertencer. A reificação dá

forma às nossas experiências por abstrações, instrumentos, histórias e conceitos

adquiridos. Por meio do processo de reificação, damos significado às experiências

vividas no processo de participação.

Comunidade envolve engajamento mútuo, empreendimento comum e

repertório compartilhado. A comunidade de prática forma um contexto privilegiado

para a negociação de significados, mas envolve tanto processos harmônicos e

colaborativos, como não.

A aprendizagem significativa se dá no interior da comunidade de prática de

forma compartilhada, mas é, ao mesmo tempo, o que origina a comunidade. Ela

inclui formas evolutivas de engajamento mútuo, compreensão e ajuste do

empreendimento e desenvolvimento de seus repertórios, estilos e discursos.

Cada comunidade de prática desenvolve seus limites com o mundo e

demais comunidades de práticas tangenciais e sobrepostas a elas, mas sempre

estabelecendo uma conexão entre elas e seus participantes. As formas de

Page 41: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

40

estabelecer essas conexões e transpor os limites da comunidade são três: práticas

limites, sobreposições e práticas periféricas.

O conhecimento é produzido socialmente e na prática pela participação

periférica na comunidade, participação essa que envolve engajamento mútuo,

empreendimento comum e repertório compartilhado. Essas habilidades do

participante periférico formam o conjunto de competências e experiências importante

para a evolução da prática e aprendizagem dos indivíduos.

O desenvolvimento da identidade de uma pessoa está diretamente ligado à

comunidade de prática da qual ela participa (JORDANE, 2013, p. 114). Nossa

identidade se constitui pelas formas de pertença a uma comunidade, desenvolvidas

num processo denominado identificação.

A educação é, além de formativa, transformadora, nessa perspectiva. Ela

envolve diretamente a formação da identidade da pessoa, que se constitui e se

modifica ao longo da vida. Destaca que a educação dá suporte à formação de

comunidades de aprendizagem, em que seus participantes possam engajar-se,

exercitar a imaginação e alinhar-se.

Frente aos pontos destacados, o autor define, de forma simplificada, que

uma comunidade de prática é formada por pessoas que estão envolvidas em um

processo de aprendizagem coletivo, em um domínio compartilhado por algum tipo de

esforço humano (JORDANE, 2013, p. 116).

Inicia, a partir de então, uma discussão em relação ao ambiente escolar a

partir de pesquisas que aproximam a sala de aula de matemática de uma

comunidade de prática. Apoiado em Wenger (2008), ele destaca que não existe uma

forma preestabelecida que constitua o que pode vir a ser uma comunidade de

prática ou não. O ambiente da sala de aula pode constituir uma comunidade de

prática, como também os ambientes e espaços escolares externos a ela. A

comunidade de prática se constitui naturalmente por pontos, destacados por

Jordane (2013), como a comunhão de interesses, das práticas, dos artefatos, das

rotinas, das crenças, dos rituais, das convenções, dos símbolos, das histórias e

estórias.

Page 42: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

41

Sugere então pensar para além de uma sala de aula de matemática da

educação básica, considerando a partir de então a sala de aula de matemática em

um curso profissionalizante.

Dessa forma, há que se pensar em uma transposição de uma comunidade de prática local em ambientes da matemática escolar,21 para uma comunidade de prática local em ambientes de formação profissional. Nesse novo ambiente a matemática se insere como um subambiente o qual pode contribuir, ou não, para a constituição de uma comunidade local de prática profissional. (JORDANE, 2013, p. 119)

O autor destaca que a intenção de pertencer àquela comunidade de prática

está muito mais presente na educação profissional que na educação básica regular,

pois, de certa forma, os alunos optam por fazer aquele curso técnico e almejam

aquela profissão. Porém, por diversos fatores, essa escolha pode vir a ser uma

escolha influenciada também, e não totalmente voluntária. Mesmo assim, o

engajamento no contexto da educação profissional, sua identificação com o grupo, a

intenção de tornar-se um profissional da área, aproxima a sala de aula de um curso

técnico de forma muito mais intensa de uma comunidade de prática como descrita

na teoria de aprendizagem situada, do que no ambiente escolar de formação geral,

como já discutimos anteriormente.

Dessa forma, o trabalho de cada disciplina, incluindo a Matemática, pode se constituir, assim, como uma comunidade de prática local, mas não implica diretamente a efetivação de uma comunidade local de prática profissional. Cada uma dessas comunidades locais de prática é delimitada por suas características próprias: suas formas de engajamento mútuo, de acordo com a perspectiva metodológica de cada professor; seus empreendimentos comuns, que muitas vezes se traduzem na aprendizagem dos conteúdos específicos a cada comunidade; e suas experiências compartilhadas, envolvendo as ferramentas, linguagens, estratégias, entre outras já discutidas. É importante, neste momento, refletir sobre as formas como esses limites podem ser transpostos, ou como essas práticas podem ser transmitidas de uma comunidade para outra. O processo de transmissão de práticas de uma comunidade de prática local para outra pode, dessa forma, favorecer à constituição de uma única comunidade local de prática profissional, permeada por diversos subambientes específicos de cada disciplina. (JORDANE, 2013, p. 121)

O entendimento apresentado na pesquisa de Jordane (2013) para as

comunidades locais de prática profissional traz contribuições para minha pesquisa

de doutorado, no sentido que abre a possibilidade da compreensão do contexto

21 O autor utiliza, nessa discussão, o conceito de comunidade local de prática desenvolvido por

Winbourne e Watson (1998), como também comunidade local de prática da matemática

desenvolvido por Moreira (2004).

Page 43: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

42

desta pesquisa, o Curso Técnico Integrado de Mecânica Industrial, como uma

comunidade local de prática profissional que perpassa várias outras comunidades

locais de prática que constituem suas disciplinas, sejam elas de formação geral ou

específica. A partir da leitura do trabalho de Jordane (2013), foco meu olhar para

entender as disciplinas específicas do curso técnico pesquisado como comunidades

locais de prática que mobilizam o conhecimento matemático e como elas contribuem

para a aprendizagem matemática dos alunos participantes dessa comunidade local

de prática profissional, matemática essa imbuída de características próprias desse

grupo profissional.

1.3 Discussões e Pesquisas de Mobilização da Cultura Matemática em Práticas Situadas

Miguel e Vilela (2008) apresentam uma discussão de mobilização de cultura

matemática em práticas escolares sob o olhar de várias perspectivas teóricas, entre

elas as perspectivas neovigotskianas contemporâneas, em que se inclui a teoria de

aprendizagem situada de Lave e as discussões da etnomatemática que apresentam

uma origem social e situada para a aprendizagem.

Os autores abrem a discussão relatando a dificuldade de se identificar a

mobilização de cultura matemática em práticas escolares. Para eles, identificar tal

mobilização depende de vários condicionantes sociais nem sempre identificáveis:

(...) aqueles relacionados aos sujeitos diretamente envolvidos nessas práticas (professores e estudantes); à natureza, características e singularidades do objeto cultural (as matemáticas) que está sendo por elas mobilizado; às características comuns e singulares das instituições escolares e dos contextos geopolíticos em que tais práticas se realizam (os sistemas educacionais dos diferentes países); às naturezas diversificadas dessas práticas (que se manifestam nas atividades escolares consideradas matemáticas); etc. (MIGUEL; VILELA, 2008, p. 98)

Nessa perspectiva teórica, o conhecimento se coloca como situado,

pertencente à prática em que é produzido. Miguel e Vilela (2008) discutem então a

dificuldade de lidar com um conhecimento produzido numa prática (escolar ou não)

no ambiente de uma prática distinta. Os autores discutem diversas pesquisas que

relatam a dificuldade dos alunos de lidar com o conhecimento matemático produzido

na aula de matemática em práticas não escolares de mobilização da cultura

Page 44: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

43

matemática que requerem o uso de conceitos matemáticos e/ou envolvem diversos

cálculos.

Na perspectiva de Lave (1996), não há transferência de conhecimento. O

conhecimento é situado e depende do contexto social onde é produzido, porém

essas diferentes práticas em que o conhecimento é produzido não são

incomunicáveis, elas muitas vezes se tangenciam ou se sobrepõem. Para a

etnomatemática, também discutida por Miguel e Vilela (2008), mas não referencial

desta tese, os diferentes conhecimentos produzidos por culturas distintas não são

transferíveis, porém também não são incomunicáveis.

Miguel e Vilela (2008) sugerem, então, tomar conceitos do autor Wittgenstein

para discutir a mobilização de cultura matemática em ambientes escolares na

concepção de aprendizagem situada de Lave.

Na perspectiva filosófica de Wittegenstein, o conhecimento está

intrinsecamente associado à realidade, e realidade não é algo abstrato, mas está

inseparável dos jogos de linguagem e de sua prática:

(...) nosso conhecimento não consiste num espelhamento imediato das coisas externas, mas na construção de “narrativas” e “interpretações” que são, por sua vez, sistemas de símbolos que ordenam e categorizam a experiência. (SILVA FILHO, 2003, p. 2) ver (MIGUEL; VILELA, 2008, p. 109).

Os autores acreditam que as discussões de Wittegenstein sobre os jogos de

linguagem que perpassam uma realidade contribuem para compreender como o

conhecimento matemático produzido em diferentes comunidades de prática na

perspectiva de Lave, ou produzido em diferentes culturas matemáticas (para esta

pesquisa, culturas matemáticas de grupos profissionais) na perspectiva da

etnomatemática, são organizados e evocados em diferentes realidades.

Para Wittgenstein, a estrutura da linguagem estrutura a realidade. Nessa concepção, as matemáticas, como parte dos repertórios gramaticais de diferentes comunidades de prática, indicariam as condições de sentido ou, como diz Barton (1998, p. 13-14), os sistemas de comunicação e significados dessas diferentes comunidades, ou seja, aquilo que lhes é inteligível. Por um lado, os jogos de linguagem organizariam as experiências; por outro, nesses diferentes jogos, estaria expresso o que é significativo em diferentes formas de vida: “o que existe” está expresso na linguagem. (MIGUEL; VILELA, 2008, p. 109)

Page 45: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

44

Os autores explicam que uma palavra, por exemplo, possui significado

apenas nos jogos de linguagem da realidade onde foram produzidas. Uma mesma

palavra pode possuir significados distintos em práticas distintas. A imagem que

fazemos dela está relacionada a uma situação determinada. Portanto, entender o

significado de uma palavra está relacionado ao seu uso, a sua aplicação em uma

realidade.

Refletindo sobre esta pesquisa que se constitui, os alunos do ensino médio

integrado ao técnico participam de diferentes experiências com a matemática em

disciplinas distintas da de Matemática regular, disciplinas essas que estão

relacionadas à prática cultural do técnico que se forma e à comunidade de prática a

que pertencem. Essa discussão nos ajuda a refletir sobre como essas diferentes

experiências com o conhecimento matemático se articulam e são redimensionadas

pelos alunos na realidade da prática que executam.

O sucesso desse aluno na participação na comunidade de prática a que

pertence depende, entre outros fatores, de conhecer o jogo de linguagem dessa

realidade, próprias dos membros dessa comunidade, dessa cultura profissional.

Além da linguagem própria da comunidade de prática do curso técnico a que

pertencem, os alunos deparam-se também com a matemática presente em várias

disciplinas por eles cursadas. Viali e Silva (2007) entendem a matemática do ensino

médio como uma linguagem, linguagem essa que começa a ser construída ainda no

ensino fundamental.

Para que os alunos possam trabalhar com habilidade com a matemática é

necessário, segundo Viali e Silva (2007), que os alunos desenvolvam a linguagem

matemática de forma tão natural quanto a cotidiana. Porém, a linguagem

matemática não é natural como a língua materna, ela é construída pelo aluno em

suas experiências com ela. Mas ela também não é uma linguagem individual, ela é

universal e precisa ser adquirida. A partir dela o aluno pode interpretar, explicar e

analisar o mundo em que vive.

Dominar a linguagem matemática é essencial para mobilizar os

conhecimentos matemáticos que integram as disciplinas técnicas dos alunos de uma

escola profissional. Nesse contexto, os alunos não apenas mobilizam, mas também,

Page 46: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

45

muitas vezes, adquirem conhecimento matemático, como podemos ver neste trecho

dos PCN+ citado por Viali e Silva (2007).

Aprender Matemática de uma forma contextualizada, integrada e relacionada a outros conhecimentos traz em si o desenvolvimento de competências e habilidades que são essencialmente formadoras, à medida que instrumentalizam e estruturam o pensamento do aluno, capacitando-o para compreender e interpretar situações, se apropriar de linguagens específicas, argumentar, analisar e avaliar, tirar conclusões próprias, tomar decisões, generalizar, e para muitas outras ações necessárias à sua formação. (PCN+, 2002, p. 111)

Portanto, ao refletir sobre as discussões de Wittgenstein para a perspectiva

de aprendizagem de Lave, os autores Miguel e Vilela (2008) passam a refletir sobre

as matemáticas (no plural) envolvidas no processo de mobilização de cultura

matemática por diferentes comunidades constituídas com base em vínculos

profissionais, bem como outras comunidades que mobilizam o conhecimento

matemático.

Apesar de os estudos em comunidades de prática de Lave e demais estudos

de diferentes culturas matemáticas discutidos por esses autores terem sido

desenvolvidos em contextos de práticas não escolares, essas perspectivas

colaboram para compreender o ambiente escolar numa perspectiva social situada,

que outras teorias educacionais não contribuem.

O ambiente das disciplinas técnicas cursadas pelos alunos de um

determinado curso técnico se aproxima muito do ambiente dos grupos de cultura

profissional pesquisados por Lave e outros autores em muitos momentos, como

também não deixa de possuir características marcantes do ambiente escolar.

Porém, acredito que olhar para os alunos que integram um curso técnico

como constituintes de uma comunidade de prática de estudantes desse determinado

curso contribui para entender o conhecimento por eles mobilizado e adquirido em

relação à matemática em suas práticas de aprendizes da profissão. Nessa

perspectiva, fala-se em mobilização e aquisição do conhecimento matemático, pois

se acredita que, na participação das práticas (teóricas ou não) das diferentes

disciplinas técnicas do curso técnico de que são membros, os alunos não só

mobilizam o conhecimento matemático requerido em diferentes momentos dessa

Page 47: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

46

prática, mas também adquirem um conhecimento em relação à matemática, que é

próprio das experiências que vivenciam nessa comunidade.

Diversos pesquisadores em educação matemática discutem investigações

em ambientes escolares e profissionais sob o olhar da teoria de aprendizagem

situada desenvolvida por Lave, como também sob outras perspectivas de diferentes

culturas matemáticas.

1.4 Algumas Investigações Matemáticas Desse Contexto de Pesquisa

Akil et al. (2010) investigou práticas e saberes matemáticos de trabalhadores

das redes de distribuição e de transmissão de energia elétrica do Rio de Janeiro, na

perspectiva da etnomatemática, durante uma pesquisa de mestrado. O autor relata a

mobilização e aquisição de conhecimento matemático por esses trabalhadores, em

funções de eletromecânica e elétrica, durante um curso oferecido pela empresa.

O autor destaca que é no confronto entre a teoria, o conhecimento de

domínio do professor-engenheiro, e a prática, conhecimento de domínio do aluno-

trabalhador, que ambos tornam-se construtores do saber que incorpora a

experiência ao conhecimento formal.

Barato (2011), pesquisador autônomo, relata duas situações, nas quais

trabalhadores do ramo da construção civil possuem conhecimentos próprios

adquiridos em sua prática e experiência ao longo dos anos de trabalho. Nesses

casos, os trabalhadores não tiveram instrução formal, eles aprenderam fazendo.

Para discutir essas situações, o autor apresentou a teoria de aprendizagem situada

de Lave e Wenger (1991), sugerindo que esses trabalhadores aprendem seus

ofícios em comunidades de prática.

Ele relata também a aquisição de conhecimento de um ramo profissional por

aprendizes em um curso técnico da área de saúde e também de cursos de

cabeleireiro, na sua experiência como professor do SENAC-SP.

Em suas discussões, ele ressalta o dualismo teoria e prática em escolas de

educação profissional. Ressalta que, nessas instituições, as aulas teóricas devem

integrar-se ao máximo às aulas práticas, o conhecimento deve ser gerado

Page 48: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

47

reproduzindo a prática da profissão pretendida durante todas as aulas, e não em

momentos isolados do curso. Assim, as instituições promovem ambientes capazes

de facilitar a aprendizagem por meio de participação dos alunos aprendizes em

comunidades de prática da profissão.

Gudolle et al. (2012) observaram, durante uma pesquisa em um restaurante,

três grupos de trabalho: garçons, atendentes de bar e da cozinha. Após uma longa e

detalhada discussão da teoria de aprendizagem situada apresentada por Lave e

Wenger (1991), os autores expõem suas observações sobre esses três grupos de

profissionais. Como os profissionais novatos adquirem a prática do seu grupo pela

participação, e também a atitude de alguns novatos com experiências na

participação em outros grupos anteriores. Cada um desses grupos desenvolve

linguagens, formas de comunicação e práticas peculiares.

Soares (2009) propõe, com seu trabalho de pesquisa de doutorado, uma

perspectiva para ajudar a compreender o que motiva a adoção da lógica

transmissiva da forma tradicional de ensinar. Apresenta uma série de críticas e

resultados negativos do ensino tradicional.

Apoiando-se em alguns autores, e inclusive Lave (2002),22 interpreta a

impossibilidade da transferência de aprendizagem obtida em práticas em meios

sociais diferentes, tanto da escola para práticas situadas não escolares, como

também inversamente. E conclui que de modo especial os estudantes de camadas

desprivilegiadas da população são afetados por esses e tantos outros problemas

citados das práticas escolares tradicionais.

22 LAVE, J. Do lado de fora do supermercado. In: FERREIRA, M. K. I. Idéias matemáticas de povos

culturalmente distintos, 2002. p. 68-95. Ver Soares (2009).

Page 49: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

48

Continuando, Soares (2009) apresenta as discussões de Gottschalk (2008)23

e Wittgenstein (1987, 1999)24 que nos leva a entender a matemática como um dos

jogos de linguagem inerentes às nossas formas de vida, já que, considerando a

produção de significados diferentes conforme diferentes práticas, não haveria como

estabelecer um processo de construção dos conceitos matemáticos comum a todos

os indivíduos. A exposição de um indivíduo a diferentes práticas forma uma rede de

significados atribuídos a um mesmo conceito e esses significados sempre se

atualizam a cada nova prática. O papel do professor seria o de ensinar significados

pelos seus diferentes usos em diferentes contextos linguísticos (diferentes práticas).

Nessa discussão, a sala de aula é vista como local de mobilização de

práticas escolares situadas e local privilegiado de aprendizagens, discussão oriunda

a partir do conceito de aprendizagem situada apresentada por Lave e Wenger

(1991). Em consequência, a interpretação dos processos de ensino e de

aprendizagem já não recai sobre o objeto do conhecimento, ou sobre o sujeito que

aprende, mas sobre as práticas em que esse conhecimento é utilizado.

Aprendizagem nessa perspectiva tem uma concepção de aprender a participar, ou a

fazer parte de um grupo, ou de uma comunidade de prática, conceito esse explorado

em meu trabalho de mestrado como já mencionado.

Soares (2009) destaca a partir de então a modelagem matemática como um

campo da educação matemática que estabelece um diálogo entre o conhecimento

matemático formal e suas aplicações.

Coloca, então, em cena a etnomatemática por considerá-la uma corrente

próxima das práticas sociais e por ela verificar as matemáticas produzidas em tais

práticas. A partir da reflexão de suas bases teóricas, conclui que é necessário

examinar a relação entre um paradigma compartilhado e valorizado socialmente e a

cultura localizada nas comunidades dos alunos que frequentam as escolas.

23 GOTTSCHALK, Cristiane M.C. Ensino de Matemática em Debate: sobre práticas escolares e seus

fundamentos. Caderno CEDES, v. 28, n. 74, p. 75-96, 2008. Ver Soares (2009). 24 WITTGENSTEIN, L. Observaciones sobre los fundamentos de la matemática. Madri: Alianza, 1987.

WITTGENSTEIN, L. Investigações Filosóficas. Trad. José Carlos Bruni. Rio de Janeiro: Nova

Cultura, 1999 (Coleção Os Pensadores). Ver Soares (2009).

Page 50: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

49

Para caracterizar melhor o público a que se dirige sua pesquisa, alunos das

escolas pertencentes às classes sociais mais desfavorecidas, Soares (2009)

apresenta uma discussão histórica no mundo e atual no Brasil das classes sociais e

suas desigualdades. Coloca então à educação matemática o desafio de definir seu

papel junto a esse público, assumindo as dificuldades decorrentes do quadro de

desigualdades apresentado.

Portanto, o autor deseja compreender como se forjam as práticas do que

chamamos ensino tradicional.

A proposta de modelagem apresentada de incorporar aspectos locais da

realidade vai ao encontro da ideia da aprendizagem situada de se considerar que há

elementos locais que interferem nos processos de mobilização do conhecimento

matemático. A etnomatemática também representa esse movimento de dialogar com

a realidade local.

Para definir suas questões de investigação, Soares assume que as práticas

de mobilização do conhecimento matemático são situadas porque reconhece que

uma quantidade inumerável de fatores interfere em cada sala de aula. No entanto,

as diferenças entre os ambientes não são somente aleatórias ou circunstanciais, são

também correlatos com a condição de classe dos alunos, as desigualdades são

reproduzidas no sistema escolar.

É posto então o desafio de desenvolver uma proposta teórica e mostrar sua

efetividade em situações concretas geradas pela pesquisa na sala de aula, além de

mostrar possibilidades de generalização do uso da mesma ferramenta em outros

ambientes.

Sua metodologia favorece a aproximação do ambiente de trabalho dos

professores permitindo uma percepção desse ambiente a partir de seu interior,

promovendo um compartilhamento das condições de trabalho ali existentes no

cotidiano e gerando condições de interferência, uma metodologia de pesquisa, que

na literatura de língua inglesa é chamada de coteaching.

Page 51: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

50

Durante a análise, Soares (2009) retoma os principais autores discutidos no

início do trabalho e o debate da aprendizagem situada, modelagem matemática e

etnomatemática. Retoma então as questões propostas, a metodologia escolhida

para o trabalho e os episódios analisados.

Conclui que a fertilização dos ambientes escolares ocorridos nessa pesquisa

resultou de uma constante negociação entre os professores na dimensão

fenomenológica do tempo, ou seja, no momento em que a realidade de cada sala de

aula ia se apresentando e desafiando os professores a se posicionarem. Essa

fertilização, calcada na aceitação das diferenças e na coletivização das

contribuições individuais, possibilitou que os alunos enfrentassem processos

alienantes seja contestando essa alienação, seja mudando de atitude e assumindo o

controle de seu trabalho.

Em outra pesquisa de doutorado, Pamplona (2009) discute a aprendizagem

e o ensino de Estatística na formação do professor de Matemática, com o intuito de

responder à seguinte questão de pesquisa: Quais práticas os professores

formadores citaram, desenvolveram ou valorizaram no sentido de evidenciar e

fortalecer os nexos entre as práticas de formação estatística e aquelas de formação

pedagógica? (ibidem, 2009, p. 233)

O autor discute questões acerca do que venha a ser um professor de

estatística e ressalta a necessidade de ligar o conhecimento do conteúdo com uma

formação pedagógica adequada. Discute também questões ligadas a teoria de

aprendizagem situada de Lave e Wenger (1991) sobre quais práticas com a

estatística os professores desejam que os alunos participem, e como esses

professores desenvolvem a participação de seus alunos.

Os sujeitos da pesquisa são um pequeno grupo de professores que ensinam

estatística, do qual, através de narrativas biográficas, busca-se revelar suas práticas,

trajetórias e modos de ensinar estatística.

Pelas narrativas de cada professor durante as entrevista, Pamplona (2009)

percebeu que eles resgatavam em sua memória as lembranças do grupo a que

pertenciam, que o autor identifica com a comunidade de prática dos professores que

ensinam estatística, então usa a teoria de aprendizagem situada de Lave e Wenger

Page 52: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

51

(1991) como instrumento de análise para responder a questão proposta; o ponto de

partida para a análise passa a ser a prática social desenvolvida historicamente.

Dessa proposta teórica, o autor fundamenta-se em três aspectos para seus

estudos: o caráter cotidiano da prática, a natureza dialética dos conceitos e o

conteúdo.

A pesquisa foi realizada com professores de matemática que ensinam

estatística para licenciandos em matemática, por isso foi importante a interlocução

entre a formação estatística e a formação pedagógica presente nessa comunidade

de prática, ressaltada nessa pesquisa.

Uma pesquisa que apresentou uma investigação muito próxima desta tese

no que diz respeito ao conhecimento matemático das disciplinas específicas do

curso técnico de mecânica foi a investigação de mestrado de Bolsan (2003). Seu

objetivo principal é construir uma proposta pedagógica que ligue a matemática

acadêmica e a matemática utilizada na prática do profissional de mecânica.

Para isso, o autor desenvolve a pesquisa investigando como se dá a

construção do conhecimento matemático envolvido em um curso profissionalizante

de mecânica industrial, por alunos que cursam o técnico de nível básico, em nível de

ensino fundamental, com maioria de alunos já trabalhadores da área. Sua busca é

por uma forma de harmonizar a matemática aprendida academicamente e a

matemática necessária para o trabalho desenvolvido pelos alunos em sua prática

(BOLSAN, 2003, p. 9).

Portanto, o fenômeno de interesse da pesquisa é o ensino de matemática na

escola profissionalizante de mecânica, que vai ao encontro de minha pesquisa, que

relato nesta tese, pois ela também ocorreu investigando a construção do

conhecimento matemático por alunos do Curso Técnico Integrado de Mecânica

Industrial.

A discussão inicial de Bolsan (2003) se dá em torno das seguintes

perguntas: O que é mecânica? O que é um mecânico industrial? O que é um técnico

em mecânica? Relato rapidamente suas discussões.

Page 53: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

52

Mecânica é um ramo da física que estuda o movimento e suas causas, uma

atividade relacionada a máquinas, motores e mecanismos. A indústria conjuga

trabalho e capital para transformar a matéria-prima em bens de produção e

consumo. Para desempenhar sua função, a indústria se utiliza de processos

mecânicos, por isso, mecânica industrial.

O mecânico industrial é um profissional da mecânica especializado em

trabalhar na indústria, com diferentes especializações: torneiro mecânico, mecânico

ferramenteiro, mecânico de manutenção, entre outros.

O técnico em mecânica é um profissional, de ensino médio, que domina as

diversas áreas de conhecimento, ou especializações, em uma oficina mecânica, ou

indústria. Possui alta qualificação no mercado, estando logo abaixo da posição do

engenheiro.

O mercado de trabalho hoje exige cada vez mais conhecimento do

profissional. Entre eles o autor destaca a lógica de raciocínio, transferência de

conhecimento de uma área para outra, saber se comunicar e trabalhar em equipe,

todas elas competências de natureza matemática.

A pesquisa se desenvolve em quatro momentos: observação das aulas de

matemática e outras disciplinas práticas do curso de mecânica; observação dos

alunos que já estagiam ou trabalham na área em seus ambientes de trabalho;

observação da aplicação da matemática nas aulas práticas dos alunos; observação

dos ex-alunos da escola profissionalizante em seu início de carreira na indústria.

Ao acompanhar as aulas, foi possível constatar que, por dia, esses alunos devem absorver uma quantidade muito grande de informações e, dentre elas, informações sobre nomes de ferramentas, máquinas e os elementos que as constituem, além das demais informações que fazem parte do vocabulário técnico desses profissionais. Antes de se executar uma operação nova, são passadas as devidas informações teóricas e práticas, além das normas de segurança. Junto à parte teórica, aparecem os diversos tipos de cálculos e de objetos matemáticos que devem ser assimilados para que a prática se realize. (BOLSAN, 2003, p. 82)

Como metodologia, usa o ensino-aprendizagem de matemática através da

Resolução de Problemas para tornar possível a ligação da matemática acadêmica

com a matemática da prática em oficina.

Page 54: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

53

O autor, então, expõe uma longa parte teórica de conhecimentos de

mecânica, enfatizando a matemática que dá suporte e se integra a esse

conhecimento. Pelas observações realizadas, constata que os alunos não estão

preparados para fazer a ligação entre a matemática acadêmica e a matemática da

prática na oficina, ligação essa muito importante e necessária para esse profissional.

Daí então propõe e aplica atividades aos alunos praticadas no ambiente das oficinas

mecânicas, elaboradas de modo a mobilizar um vasto conhecimento matemático.

A partir dos resultados dessa pesquisa, o autor compreende a necessidade

de se tomar uma nova postura frente ao conteúdo matemático presente em escolas

profissionalizantes de Mecânica Industrial, mas que podem ser compreendidas

assim em diferentes cursos profissionalizantes.

Acreditamos que, cada conceito ou conteúdo matemático retomado pelo professor deve ser feito sob um enfoque diferente daquele que, em geral, foi feito no Ensino Fundamental. As oportunidades de usar e melhorar conhecimentos, vistos no Ensino Fundamental pelos alunos, ao estabelecer conexões com a prática em mecânica, devem ser muito bem aproveitadas. Queremos que o aluno tenha oportunidade de ver essa matemática para que possa aplica-la, na prática, com segurança. (BOLSAN, 2003, p. 213)

Page 55: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para
Page 56: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

55

CAPÍTULO 2: METODOLOGIA

Expusemos e fundamentamos neste capítulo nossas opções metodológicas.

Nele descrevemos o contexto e os sujeitos de pesquisa, os instrumentos utilizados

para construção dos dados e a opção metodológica para apresentação e análise

desses dados que nos permitiram responder às questões de pesquisa proposta.

2.1 A Pesquisa

A pesquisa foi conduzida ao longo de três anos, prevendo momentos

distintos em seu desenvolvimento: estudo de literatura de pesquisa; seleção da

escola onde a pesquisa será conduzida; seleção do curso técnico e das disciplinas a

serem observadas; observação e filmagem ou gravação das aulas e construção de

um caderno de campo; aplicação de um questionário aos alunos; seleção dos alunos

e condução de entrevistas em grupo a respeito das respostas dadas ao questionário;

análise das aulas e das entrevistas; redação da tese.

A opção metodológica adotada para a pesquisa é fundamentada em leituras

das disciplinas ofertadas no doutorado para essa orientação e também leituras

posteriores escolhidas conjuntamente com a orientação, baseando-se em: Allevato

(2008), Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (1998), Goldenberg (2004), Moreira

(2004), Borba et al. (2004), Oliveira (2010).

Para Goldenberg (2004, p. 14), em uma pesquisa qualitativa, a preocupação

é “com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma

organização, de uma instituição, de uma trajetória, etc.”.

Logo, entendemos que uma abordagem qualitativa faz-se necessária para

responder às questões de pesquisa expostas nos objetivos deste trabalho:

• Que conhecimentos matemáticos são mobilizados no cotidiano de aulas de

diversas disciplinas no curso técnico de Mecânica integrado ao médio?

Page 57: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

56

• Como esses conhecimentos matemáticos e experiências escolares durante o curso

técnico se articulam e são redimensionados pelos alunos na comunidade local de

prática profissional a que pertencem?

A perspectiva adotada para responder às questões de pesquisa é a da

aprendizagem situada em comunidades de prática, como exposto no capítulo

anterior. Nessa perspectiva, propusemo-nos a investigar a aprendizagem

matemática de um grupo de prática social, o dos alunos do ensino médio integrado

ao curso técnico de mecânica, no contexto das pesquisas qualitativas da área de

ensino de matemática.

Dessa forma, o foco do nosso olhar nessa pesquisa é o conhecimento

matemático construído nas aulas técnicas do curso técnico de mecânica e as

características desse ambiente que contribuem para articular e redimensionar esse

conhecimento matemático que perpassa o curso observado que entendemos como

uma comunidade local de prática profissional do curso técnico de mecânica.

2.2 A Pesquisa no Curso Técnico de Mecânica

Para iniciar a pesquisa, o coordenador do curso técnico de Mecânica do

CEFET-MG, campus I, Belo Horizonte, foi contactado pela doutoranda e, nesse

primeiro contato, mostrou a organização do curso técnico de Mecânica integrado ao

médio da escola. Relatou as disciplinas específicas da coordenação cursadas pelos

alunos, como também fez uma breve exposição das que, na sua visão, mais

abordavam conceitos matemáticos ao longo de suas aulas. Nesse primeiro encontro,

o coordenador se apresentou bastante disponível e aberto para que a pesquisa se

realizasse em sua coordenação, fornecendo os documentos com as matrizes

curriculares do Curso de Educação Profissional Técnica em Mecânica Industrial do

CEFET-MG, bem como os planos de curso de cada disciplina.

O conteúdo desses documentos foi lido e analisado de forma mais detalhada

posteriormente a esse primeiro contato com o coordenador do curso.

Page 58: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

57

Na primeira semana de aula do ano letivo de 2013,25 o coordenador do

curso técnico de Mecânica foi novamente procurado para oficializar o início da coleta

de dados dessa pesquisa nas aulas de algumas disciplinas, e, na ocasião, foi

relatado de maneira rápida, para seu conhecimento, como se daria o

desenvolvimento da pesquisa.

Para essa pesquisa, como já vínhamos fazendo, preferimos chamar essa

etapa de construção dos dados, em vez de coleta de dados, visto acreditarmos que

os dados são construídos para a pesquisa e não coletados, já que esses dados são

impregnados pela visão de pesquisa da pesquisadora e pelos referenciais

estudados.

Em um primeiro momento, foram observadas as salas de aula de distintas

disciplinas selecionadas previamente entre as específicas da carga horária dos

alunos do curso técnico de Mecânica, durante seu trabalho com abordagem de

conceitos matemáticos.

Logo, a observação em sala de aula foi a primeira técnica de pesquisa

utilizada para a construção dos dados. Segundo Oliveira (2010), há três razões para

utilizar a observação como ferramenta de pesquisa em uma abordagem qualitativa:

1. Possibilitar-nos ver o comportamento dos participantes em uma nova luz e descobrir novos aspectos do contexto;

2. Utilização em conjunto com outros métodos de coleta de dados, providenciando evidências adicionais para triangulação e estudo da pesquisa;

3. É um método particular apropriado para pesquisa em sala de aula. (OLIVEIRA, 2010, p. 23)

Para essa observação, a pesquisadora se propôs a ser uma observadora

não participante, não interferir na aula acompanhada. Porém, não há como não

interferir de modo algum na aula acompanhada, acreditamos que a presença de

uma pessoa estranha àquele ambiente já altere o andamento da aula observada,

seja essa pessoa aluno ou professor. Além disso, em alguns momentos, os sujeitos

25 O início do ano letivo de 2013 no CEFET-MG se deu em maio de 2013, pois a escola passou por

um longo período de greve em 2012, o que acarretou atraso no calendário escolar.

Page 59: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

58

observados, alunos e professor, promoviam interações com a pesquisadora, as

quais não era possível evitarmos.

Durante as aulas das disciplinas técnicas acompanhadas, algumas foram

filmadas, em outras foi usado somente o gravador e em outra nenhum desses,

conforme combinado com o professor no início da observação. Em todas foi

construído um caderno de anotações de campo durante as observações, para uma

análise paralela e também posterior à coleta. Nele eram registradas as exposições

das aulas no quadro pelo professor, os diálogos possíveis de serem anotados e as

impressões da pesquisadora sobre toda a observação.

Os dados construídos por essa fase de observação foram organizados em

dois grupos de dados a serem analisados. Os dados da observação gerados pela

condução da aula pelo professor (exposição no quadro, diálogos, práticas etc.) e os

dados dos materiais impressos oficiais da disciplina (ementas, apostilas, listas de

atividades etc.).

Posteriormente às observações das aulas, um questionário foi aplicado para

um grupo de alunos do terceiro ano do ensino médio, investigando aspectos

relativos aos conceitos matemáticos mais observados ou que se destacaram nas

aulas acompanhadas. Optamos por esse grupo, pois os alunos do terceiro ano, no

momento do questionário, já tinham participado de todas as disciplinas observadas.

A opção pelo uso do questionário como técnica de pesquisa a ser utilizada

foi exclusivamente para orientar uma posterior entrevista a ser conduzida com esse

mesmo grupo de alunos a respeito das respostas dadas às questões construídas. A

entrevista então conduzida foi a terceira etapa da construção dos dados a serem

analisados.

Do grupo de alunos que respondeu ao questionário, os que se dispuseram

participaram de uma entrevista em grupo clínica semiestruturada a partir das

questões já respondidas no questionário. A opção por esse formato deu-se por

acreditarmos que, para essa faixa etária, o fato de a entrevista ser em grupo

contribui para que os alunos exponham sem receios seus pensamentos e, por ser

semiestruturada, permite não só conduzir a entrevista a partir das respostas

Page 60: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

59

recebidas às questões primeiramente propostas, mas também inserir novas

perguntas a partir das discussões apresentadas.

Após a realização da entrevista, iniciamos a análise qualitativa dos dados

desta, buscando uma interlocução com os dados coletados durante as aulas

observadas.

2.3 A Análise dos Dados Construídos

Os dados foram expostos nos capítulos 3 e 4 que seguem. No capítulo 3,

expusemos os dados construídos pela observação de sala de aula segundo os dois

aspectos, sem separação entre eles: os aspectos gerados pela condução da aula

pelo professor (exposição no quadro, diálogos, práticas, etc.) e os dos materiais

impressos oficiais da disciplina (ementas, apostilas, listas de atividades etc.). Para

isso, foram expostas as características observadas e os episódios de aula que a

pesquisadora julgou serem mais importantes e que contribuiriam para responder às

perguntas propostas.

No capítulo 4, expusemos a construção e a aplicação do questionário aos

alunos, a condução da entrevista que o segue com a exposição e comentários a

respeito dos diálogos da entrevista julgados importantes para o objetivo dessa

pesquisa. Além disso, relatamos sobre o grupo de alunos que participou dessa fase

da pesquisa.

Ao final de ambos os capítulos, foram resumidas em cada fase,

separadamente, as experiências que a pesquisadora julgou mais importantes dos

alunos do curso técnico de Mecânica, sujeitos dessa pesquisa, com o conhecimento

matemático que perpassa as disciplinas técnicas de Mecânica observadas, pois

julgamos que essas informações auxiliarão para responder à primeira pergunta

exposta nos objetivos. Foram resumidas também as experiências desses alunos

com as características nelas presentes relativas à comunidade local de prática da

disciplina observada, para então, após identificarmos que cada uma delas se trata

de uma comunidade local de prática, respondermos à segunda pergunta dos

objetivos, que é identificar como esse conhecimento matemático é articulado e

redimensionado pelos alunos na comunidade pesquisada.

Page 61: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

60

A análise dos dados construídos nessa pesquisa foi exposta no capítulo 5.

Num primeiro momento, os dados foram organizados em dois grandes grupos, já

assinalados nos capítulos anteriores 3 e 4. O primeiro, relativo às experiências dos

alunos com o conteúdo matemático, e o segundo, às experiências dos alunos com

as características da comunidade local de prática profissional do curso técnico de

Mecânica. Em cada um desses grupos, propusemo-nos a fazer uma triangulação

dos dados construídos pela observação das aulas no que diz respeito aos aspectos

gerados pela condução da aula pelo professor (exposição no quadro, diálogos,

práticas etc.), aos materiais impressos oficiais da disciplina (ementas, apostilas,

listas de atividades etc.) e os dados construídos pela entrevista. Para construir a

triangulação dos dados, baseamo-nos nos estudos de Azevedo et al. (2013) e

Mathison (1988).

A triangulação é uma estratégia metodológica que nos permite olhar para os

dados construídos na pesquisa a partir de fontes variadas, no nosso caso, da

observação das aulas, dos materiais impressos das disciplinas e da entrevista

conduzida a partir do questionário aplicado. “A triangulação de dados significa

coletar dados em diferentes períodos e de fontes distintas de modo a obter uma

descrição mais rica e detalhada dos fenômenos” (AZEVEDO et al., 2013, p. 4).

Segundo esses autores

Um conjunto de diferentes perspectivas metodológicas, aliados a materiais empíricos diversificados e à participação de múltiplos investigadores num só estudo deve ser visto como um processo que acrescenta rigor, riqueza, e profundidade às pesquisas no campo das ciências sociais. [...] A triangulação ou estratégia multimétodo oferece um poderoso paradigma alternativo podendo fornecer resultados de pesquisa mais informativos, completos, equilibrados e úteis. (AZEVEDO et al., 2013, p. 12)

Portanto, utilizamos a triangulação como estratégia metodológica para

conduzir a análise dos dados construídos por diversos métodos em nossa pesquisa,

podendo cruzar assim as informações construídas em cada fase da pesquisa e

contribuir para a validação das informações que responderam às questões

propostas no objetivo dessa pesquisa.

Acreditamos que essa pesquisa apresenta também traços de outros estudos

metodológicos, como o estudo de caso, uma vez que a pesquisa é conduzida com

um grupo específico de alunos pertencentes a uma comunidade local de prática

Page 62: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

61

profissional; a análise de conteúdo, uma vez que discutimos os episódios de aula e

diálogos da entrevista transcritos para esse trabalho; e a análise documental, uma

vez que discutimos as ementas das disciplinas e os materiais impressos utilizados

em sala.

Porém, nenhuma dessas opções metodológicas é o foco principal dessa

pesquisa. Logo, a triangulação dos dados construídos por diferentes enfoques nos

pareceu ser a opção metodológica mais adequada para construir a análise dos

dados exposta no capítulo 5.

A primeira triangulação construída, os conhecimentos matemáticos

observados, contribuiu para responder à primeira pergunta dos objetivos, que é

identificar quais conhecimentos matemáticos são mobilizados nas aulas das

disciplinas observadas.

A segunda triangulação construída, as experiências escolares específicas do

curso técnico de Mecânica, contribuiu para entender esse grupo observado como

uma comunidade local de prática profissional segundo a perspectiva construída por

Jordane (2013), para então responder à segunda pergunta, que é discutir como

esses conhecimentos matemáticos observados se articulam e são redimensionados

nessa comunidade local de prática profissional observada.

A redação da tese se deu concomitantemente a todas as etapas da

pesquisa, ao longo desses quase três anos.

2.4 A Escolha das Disciplinas Observadas na Pesquisa

No próximo capítulo, como já anunciado, exporemos os dados construídos a

partir das disciplinas específicas do curso técnico de mecânica do CEFET-MG

escolhidas para essa pesquisa. A escolha das disciplinas observadas se deu em um

primeiro momento pela indicação do coordenador do curso e também pela leitura

das ementas das disciplinas ofertadas.

Posteriormente a essa primeira escolha, os professores que as lecionavam

durante o ano letivo de 2013 foram procurados para uma breve conversa com a

doutoranda e então interrogados sobre o uso ou abordagem de conceitos

Page 63: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

62

matemáticos durante suas aulas. Os professores que relataram que em sua

disciplina abordavam conceitos matemáticos durante sua prática26 foram então

convidados para participar da pesquisa, ou seja, perguntados se autorizavam a

observação, gravação e filmagem de algumas de suas aulas.

As disciplinas em que a primeira escolha foi verificada e cada professor que

as lecionava autorizou a pesquisa foram as selecionadas. São elas as seguintes:

26 Aqui chamamos de prática da disciplina tanto as aulas teóricas quanto as práticas de trabalho das

aulas.

Page 64: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

63

CAPÍTULO 3: APRESENTAÇÃO DA CONSTRUÇÃO DOS DADOS A PARTIR DA OBSERVAÇÃO DA SALA DE AULA

Relatamos neste capítulo as observações da pesquisadora de cada

disciplina acompanhada, bem como alguns episódios e uma primeira análise a partir

da observação de cada disciplina. Essa primeira análise das observações e

episódios descritos busca um diálogo com o referencial teórico estudado e aponta

caminhos para responder às questões propostas no objetivo desta pesquisa de

doutorado.

3.1 Desenho Técnico Mecânico (DTM)

A disciplina DTM27 é uma das disciplinas específicas de conhecimento

técnico dos alunos do Curso Técnico de Mecânica cursada no primeiro ano do

ensino médio. É uma disciplina anual e suas aulas acontecem uma vez por semana.

As aulas acontecem em uma sala específica da disciplina onde as carteiras

são pranchetas próprias para desenho técnico todas enfileiradas em direção ao

quadro branco, como uma sala de aula tradicional. Essa sala se encontra em uma

área da escola designada como Galpão da Mecânica,28 onde se encontram também

outros laboratórios específicos das disciplinas desse departamento.

Para cursarem essa disciplina os alunos são divididos em dois grupos em

que cada metade tem aula simultaneamente em duas salas distintas geminadas,

cada grupo com um professor diferente. Cada turma tem em torno de 20 alunos.

Foram observadas as aulas de metade da turma de MEC1A.29

27 Sigla utilizada pelo CEFET-MG para designar a disciplina Desenho Técnico Mecânico. 28 Uma grande ala do CEFET-MG específica do Departamento de Engenharia de Materiais

(Graduação e Cursos Técnicos de Mecânica, Mecatrônica e Eletromecânica), onde se encontram

os laboratórios de aula de grande parte de suas disciplinas específicas. Mas não é um galpão

físico, mas sim parte do prédio de aula do Campus I. 29 O CEFET-MG recebe anualmente duas turmas de Mecânica e a escolha entre acompanhar a turma

MEC1A e não MEC1B se deu somente pela preferência de horário da doutoranda que observaria

Page 65: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

64

FIGURA 1 – FOTO DA SALA DE AULA DE DTM30

As aulas acompanhadas foram lecionadas pela professora substituta

P(DTM),31 que possui graduação em Desenho Industrial e mestrado em Engenharia

de Materiais.

Todos os alunos recebem duas apostilas para cursarem essa disciplina,

redigidas por dois professores efetivos do CEFET-MG.32 A professora usa a apostila

em todas as aulas; porém, algumas vezes, durante as aulas acompanhadas, a

professora trouxe materiais complementares ou redigiu matéria ou exercícios

complementares no quadro. Além disso, o conteúdo não é dado seguindo a ordem

da apostila, ela designa o conteúdo de cada aula.

as aulas. Assim também ocorreu na escolha pelas turmas MEC2A e MEC3A também observada na

pesquisa e que aparecerão no decorrer desse texto. 30 Esta, e todas as demais fotos de salas de aula desta tese, foram feitas pela pesquisadora durante a

observação. 31 Sigla utilizada pela pesquisadora para designar a professora da disciplina de Desenho Técnico

Mecânico. 32 SILVA, E. R.; OLIVEIRA, J. E. O. Desenho Técnico Mecânico: Módulo I 1a Parte (e também 2a

Parte). Belo Horizonte: CEFET-MG, 2010. Todas as figuras referentes à apostila no item 3.1 têm a

1ª parte dessa apostila como fonte.

Page 66: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

65

O objetivo dessa disciplina segundo seu plano de curso33 é oferecer aos

alunos competências e habilidades, observando o aspecto de desenhos mecânicos,

para:

1. Empregar os fundamentos de geometria descritiva para representação de pontos, segmentos de reta e sólidos.

2. Desenhar peças simples segundo as normas de projeção ortogonal à mão livre e com o emprego de instrumentos.

3. Escrever utilizando caligrafia técnica. Desenhar à mão livre e com instrumentos: perspectiva isométrica e cavaleira a partir de partes de projeções ortogonais.

4. Traçar formatos e legenda normalizados.

5. Aplicar desenho geométrico em projeções ortogonais de peças.

6. Determinar verdadeira grandeza de arestas e de superfícies.

7. Determinar interseção de superfícies.

8. Desenhar peças conforme projeção ortogonal em até seis vistas.

9. Desenhar peças aplicando secções. Indicar cotas e acabamentos conforme convenções normalizadas.

10. Desenhar peças aplicando vistas auxiliares.

Observando a ementa, percebe-se que a disciplina deve abordar conteúdos

matemáticos ligados a Geometria Plana e Espacial, Escala, Unidades de Medida,

Construções Geométricas de Régua e Compasso. Ela deve trazer também

características importantes na formação técnica desse profissional ligadas a

linguagens e atitudes de membros dessa comunidade, o que é percebido quando se

usam termos como peças, emprego de instrumentos, caligrafia técnica, formatos e

legendas normalizados.

Foram observadas cinco aulas dessa disciplina, com duração de 3

horas/aula, 2 horas e 30 minutos. Elas foram apenas gravadas, a professora não

autorizou a filmagem das aulas; apenas em alguns momentos, autorizou a filmagem

dos alunos, enquanto faziam atividades, mas pediu para ela não ser filmada nesses

momentos. Porém autorizou que as aulas fossem fotografadas a qualquer momento,

quando necessário. Em todas as aulas foram feitas anotações de campo pela

33 O plano de curso de cada disciplina (versão 2012) consta no apêndice A.

Page 67: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

66

pesquisadora. Apesar de a professora ter autorizado a pesquisa, pareceu muito

incomodada com a presença da pesquisadora.

3.1.1 Dinâmica das Aulas Observadas

Em todas as aulas observadas, os alunos chegam à sala e cada um assenta

em frente a uma prancheta. A professora inicia a aula exatamente no horário, sem

atrasos, e não deixa que entrem atrasados. Por ser uma disciplina de primeiro ano, a

professora colabora muito dando instruções de organização em sala; além de não

aceitar atraso na chegada, também não aceita conversa em sala ou que saiam sem

pedir-lhe. Ela sempre fala com voz baixa, o que faz com que fiquem ainda mais em

silêncio para conseguirem escutá-la.

Ao assentar em seus lugares, os alunos já organizam seus materiais para

aula, que ficam guardados em uma grande pasta própria para matérias de aula de

desenho técnico. Cada aluno limpa sua prancheta com flanela e álcool, como

também seus materiais de desenho, como esquadros, régua, régua T, compasso,

lapiseiras e canetas; e também suas mãos. Tudo isso para que as folhas de

desenho, em geral folhas A3, não se sujem. A folha também é presa à mesa

(prancheta) com fita crepe para não sair da posição enquanto fazem o desenho.

FIGURA 2 – FOTO DO MATERIAL UTILIZADO PELOS ALUNOS NAS AULAS DE DTM

Page 68: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

67

A professora realça a importância de trabalharem em sala como na indústria,

logo os desenhos, para reproduzirem os projetos de desenho industrial em um

ambiente de trabalho, serão feitos com muito capricho e limpeza seguindo as

normas técnicas para o formato do papel, margem, caligrafia técnica, legenda,

traços, posição das mãos e da lapiseira e como dobrá-los corretamente ao final.

Todas essas instruções foram dadas na primeira aula da disciplina, mas são

repetidas em muitas outras posteriormente. Muitas vezes a professora traz relatos

do trabalho na indústria para exemplificar a atividade que estão fazendo.

Na primeira parte da aula, o conteúdo do dia é dado no quadro pela

professora, às vezes de forma teórica e às vezes de forma prática, fazendo algum

desenho. Em seguida passa alguma atividade para ver se entenderam, corrige e

depois passa mais algumas que devem ser entregues no final da aula ou na aula

seguinte. Há determinados traçados de desenho que a professora prefere, em vez

de ensinar no quadro, chamar todos os alunos em pequenos grupos em sua mesa e

ensiná-los traçando em uma folha A4.

Ensina o uso da escala no desenho e exige que sempre a anotem na

legenda. Em geral é usado o milímetro na disciplina, como acontece em todo

restante do Curso Técnico de Mecânica.

Em todas as aulas os alunos desenham, com uso de instrumentos de

desenho técnico, peças mecânicas. Aprendem a primeiro desenhar um croqui à mão

livre em folha a parte, que é uma espécie de rascunho do desenho a ser feito, para

depois desenharem o desenho correto, com as medidas corretas, usando as

construções geométricas ensinadas e os instrumentos de desenho, em folha A3,

com margem e legenda padrão para todas as aulas.

Quando os alunos estão fazendo atividade, a professora sempre auxilia nas

dúvidas. Quando algum aluno apresenta muita dificuldade, ela faz várias

intervenções para ajudá-lo a entender e visualizar a figura, inclusive às vezes usa

blocos de isopor que traz para aula e os corta com o uso de uma gilete no formato

da peça tridimensional para ajudar o aluno que apresenta dificuldade a visualizar a

peça mecânica.

Page 69: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

68

Como estamos descrevendo, a dinâmica das aulas apresenta uma

professora preocupada com o comportamento disciplinar dos alunos em sala e bem

didática e organizada para apresentar seu conteúdo, características essas que

auxiliam na formação de alunos de primeiro ano, aprendizes iniciantes ainda nessa

comunidade de alunos do Curso Técnico de Mecânica.

Atitudes como essas tornam as aulas mais tranquilas, pois em geral alunos

de primeiro ano são bem agitados; e ao mesmo tempo ajudam os alunos a

acompanharem bem a disciplina que apresenta a eles um primeiro contato com o

contexto do curso técnico, que muitas vezes traz muitas dificuldades aos alunos de

primeiro ano.

Ao mesmo tempo, a professora sai desse mundo escolar, didático e

disciplinar, e faz muitas exigências do mundo do trabalho, trazendo constantemente

exemplos da indústria, quando explica alguns traçados e exigindo uma apresentação

da tarefa como do ambiente da indústria, reproduzindo com eles o trabalho do

desenho industrial para projetos de mecânica industrial. Assim, os alunos já

começam a ser inseridos no contexto de trabalho do Técnico em Mecânica,

adquirindo linguagens e atitudes comuns desse grupo.

3.1.2 Episódio: Três Vistas

Em duas das aulas do início da observação, o conteúdo trabalhado foi a

representação de peças mecânicas, peças essas tridimensionais, em três vistas

(frontal, lateral e superior), designações essas que não constam na apostila, mas

estão presentes na fala da professora.

A atividade inicial, em uma dessas aulas, era desenhar a peça a seguir

nessas três vistas:

Page 70: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

69

FIGURA 3 – ATIVIDADE TRÊS VISTAS E PERSPECTIVA DA APOSTILA DE DTM

A professora dá as instruções de como deve ser feito e os alunos passam a

aula nessa atividade. Como essa não é a primeira aula do conteúdo, a professora

não se demora nas instruções do desenho, pois os alunos já aprenderam a

reconhecer as três vistas de uma peça. Mesmo assim, muitos têm dificuldade, às

vezes pedem ajuda a professora, às vezes aos colegas que estão conseguindo

fazer.

Para fazerem o desenho, medem todos os lados da peça e seus ângulos,

apesar de as medidas estarem descritas no desenho, eles devem conferi-las.

Desenham seus croquis primeiramente das três vistas num caderno ou folha

de rascunho e ali anotam as medidas, usando o milímetro para medidas lineares e o

grau para medidas angulares. Para saberem como é cada vista, precisam observar

o desenho e seus traçados, é um trabalho muito mais de observação que técnico.

Daí então, começam o desenho geométrico na folha A3, sobre a prancheta.

Para traçarem a peça, utilizam várias instruções de traçados geométricos com régua

e compasso, como traçar retas paralelas e perpendiculares e traçar ângulos. A

maioria desses alunos nunca trabalhou com esses instrumentos e tem muita

dificuldade.

Page 71: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

70

Eles usam basicamente o jogo de esquadros, tanto para fazer as retas

quanto os ângulos, que são de 90º e de 45º e constam nos ângulos dos esquadros.

A régua T, presa à mesa, é fundamental para apoiar e deslizar os esquadros.

Os desenhos das três vistas devem estar situados de forma centralizada na

folha A3. Para isso os croquis ajudam a eles calcularem mais ou menos a distância

que devem situar cada peça. Ao começar o desenho de uma vista, eles também

devem marcar uma linha pontilhada que deverá dividir o desenho da peça. Essa

linha pontilhada ajuda na simetria do desenho, já que as peças dessa primeira

apostila são simétricas, conceito estudado nas primeiras aulas da disciplina.

O conteúdo é muitas vezes dado de forma prática, a professora demonstra

como fazer e eles reproduzem, sem fazer menção a geometria utilizada. Apesar

disso, acreditamos que nesse momento muitos conteúdos de geometria plana são

revisados e desenvolvidos, como também de visualização de figuras espaciais. Esse

conhecimento adquirido desenvolve a visão geométrica desses alunos que são

mobilizados posteriormente em aulas de matemática e também outras disciplinas

técnicas, como a Caldeiraria, disciplina de terceiro ano que será aqui apresentada.

Mesmo a professora não explicitando as construções geométricas

envolvidas nessa e nas demais aulas, a apostila traz várias construções com régua

e compasso,34 porém não foi observada menção a essa parte da apostila em

nenhuma aula observada. Perguntada, a professora diz que essa parte é para

consulta dos alunos.

Ao final da aula, cada aluno entrega o rascunho com os croquis das três

vistas e o desenho na folha A3 que é chamado de desenho exato, sendo a folha

dobrada como ensinado pela professora para não amassar nem sujar.

3.1.3 Episódio: Perspectiva Isométrica

Na aula que segue, a professora ensina aos alunos sobre perspectiva

isométrica. Ela inicia a aula construindo com os alunos, passo a passo no quadro, as

34 Ver Apêndice B, páginas 39 a 48 da apostila, contendo construções de régua e compasso do

Desenho Geométrico.

Page 72: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

71

fases da execução do desenho em perspectiva isométrica de uma peça composta

por três superfícies planas (suas três vistas), que está exposta na apostila, figura 4.

FIGURA 4 – EXPLICAÇÃO DA APOSTILA SOBRE PERSPECTIVA ISOMÉTRICA

A apostila não define o que é perspectiva isométrica, também não define

nenhum outro conteúdo. Ela deixa subtendida no passo a passo da construção o

que é desenhar uma peça em perspectiva isométrica.

Também em sala a professora não define, ela já começa a aula desenhando

passo a passo a peça no quadro com os instrumentos de desenho, bem devagar,

para que os alunos entendam como fazer. É um conhecimento prático, aprendem

fazendo junto. Os alunos vão fazendo a construção junto com a professora.

Ao terminar a professora então pede que façam sozinhos na apostila o

exercício da página 10. Para isso ela dá uma explicação rápida que deixa claro o

entendimento da construção em perspectiva isométrica. A seguir expomos a

explicação da professora e a resolução de um dos alunos na apostila.

Page 73: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

72

P(DTM): Então vamos fazer uma figura em perspectiva isométrica. Olha,

completem da página dez, tá. Aí é uma aí. Pra copiar tá gente. Olha só, essa é uma

peça só. Que que ele tá fazendo aqui ó, ele tá mostrando de um dos lados, como

chegar, nessa peça final. Primeiro ele desenha um cubo, depois desenha, desenha

uma caixa, depois faz um corte, depois o outro corte. Eu quero todos, pode ser na

apostila ou no caderno tá.

FIGURA 5 – FOTO DA RESOLUÇÃO DE UM ALUNO DA ATIVIDADE FEITA NA APOSTILA

A aprendizagem da perspectiva isométrica se dá nessa aula através da

prática, os alunos aprendem fazendo, primeiro com a professora e depois sozinhos.

Todas as explicações são procedimentos práticos de como fazer. Não apenas nessa

aula, mas, em todas as outras acompanhadas, o conhecimento foi apresentado

através de uma prática, de um procedimento. Mesmo a apostila expõe o conteúdo

dessa maneira.

Isso revela um conhecimento gerado na prática. A prática revela o

significado, na prática se dá a aprendizagem, o que aproxima a dinâmica da

disciplina de como se dá a aprendizagem em uma comunidade de prática segundo a

Teoria de Lave e Wenger (1991).

Durante o procedimento para construir o desenho da peça em perspectiva

isométrica, os alunos mobilizam conhecimentos matemáticos de retas paralelas,

Page 74: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

73

retas perpendiculares, ângulos e visão de figuras espaciais. Esse conhecimento é

gerado em uma prática do aluno técnico do Curso de Mecânica, comunidade a que

esses alunos começam a pertencer adquirindo um jeito próprio de conceber

conhecimento através de um procedimento prático.

Na sequência dessa aula, fazem mais uma atividade de desenho na

perspectiva isométrica, porém uma atividade passada pela professora no quadro

que os alunos deveriam fazer um croqui em uma folha a parte e depois o desenho

exato na folha A3 para entregar ambos; e ainda marcou uma atividade da apostila

para fazerem em casa.

A seguir está a atividade do quadro.

FIGURA 6 – FOTO DA ATIVIDADE EXPOSTA NO QUADRO PELA PROFESSORA

A professora pede para primeiro fazerem o croqui e depois o desenho exato

na perspectiva isométrica na folha A3. Para o desenho exato ela explica como

começarem na folha A3, como centralizarem a figura para o desenho se apresentar

como um projeto. Os alunos já fazem, sem orientação explícita, a legenda, escala e

margem, prática já incorporada na aula. Abaixo o croqui e o desenho exato de um

aluno.

Page 75: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

74

FIGURAS 7 e 8 – FOTOS DA ATIVIDADE RESOLVIDA POR UM ALUNO, CROQUI E DESENHO EXATO

Podemos observar que, tanto no desenho da professora no quadro, quanto

no desenho do aluno na folha, as medidas estão expressas em milímetro. Essa

unidade de medida é característica do curso técnico de mecânica. Desde o primeiro

ano eles já trabalham nas disciplinas técnicas prioritariamente com o milímetro e,

pouco a pouco, essa prática do uso constante e prioritário dessa unidade de medida

linear se torna incorporada a prática desses alunos, característica essa da

comunidade de prática profissional dos alunos do técnico de mecânica.

Após a atividade, a professora entrega os exercícios da aula anterior. Os

alunos ficam muito insatisfeitos com a nota, sua correção é muito minuciosa. O

traçado da lapiseira deve ser limpo e nítido, a folha não pode estar manchada de

borracha ou pelos instrumentos de desenho sujos, e o desenho e suas medidas

devem estar corretos.

Muitos alunos perdem ponto por suas medidas não estarem muito exatas,

pois isso é importante para a disciplina, segundo a professora:

P(DTM): 60mm é diferente de 62 ou 58. 1mm faz muita diferença não só

para o desenho, mas também para a confecção das peças mecânicas.

Com essa fala podemos perceber a importância com a precisão nas

medidas que essa disciplina apresenta aos alunos e como isso se faz importante

também nas demais disciplinas do Curso Técnico de Mecânica. Nesse momento,

primeiro ano, os alunos têm muita dificuldade com essa exatidão e erram muito as

medidas. Porém iremos notar posteriormente, ao acompanhar as disciplinas de

Page 76: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

75

terceiro ano, que esse rigor com as medidas é tratado por eles de forma

inconsciente, eles lidam com essa exatidão das medidas com muita habilidade e

sem sofrimento, esse rigor já será pouco a pouco incorporado à sua prática nas

disciplinas técnicas, e acreditamos também refletirá no comportamento nas

disciplinas regulares do ensino médio.

Isso faz com que os alunos se tornem cada vez mais habilidosos em

trabalhar medidas geométricas e angulares, conhecimento matemático esse que é

mobilizado constantemente durante o curso técnico.

3.1.4 Episódio: Perspectivas Isométrica e Cavaleira

Nessa aula, a professora inicia relembrando com os alunos a diferença entre

essas duas perspectivas, isométrica e cavaleira, conteúdo que ela já havia ensinado

em aulas anteriores, mais no início do semestre. Note que ela não segue a ordem da

apostila, como já comentado, e ela também retorna constantemente aos conteúdos.

Nessa aula não há exposição de conteúdo no quadro, a professora passa a

atividade da apostila e os alunos passam toda a aula construindo os três desenhos

pedidos, croqui no rascunho e exato em folha A3, para ser entregue ao final da aula.

Algumas vezes os alunos vão à carteira da professora, outras, ela vai à

carteira deles, para tirar dúvidas. Dois desenhos deveriam ser feitos em perspectiva

isométrica e um em perspectiva cavaleira, este último os alunos não conseguiram

fazer em sala e ficou para casa. Abaixo a foto da apostila de um aluno com os

croquis dos dois desenhos em perspectiva isométrica, os dois primeiros da página

da apostila.

Page 77: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

76

FIGURA 9 – FOTO DOS CROQUIS DA PERSPECTIVA ISOMÉTRICA FEITA POR UM ALUNO

Uma parte do desenho em especial gerou muita dúvida, a professora fez no

quadro e ajudou muito individualmente os alunos; trata-se do prisma de base

triangular presente em ambos os desenhos, mas em especial do segundo, pois

quanto ao primeiro os estudantes entenderam rápido que poderiam desenhar o

prisma retangular e parti-lo ao meio. Já o segundo, a professora fez no quadro

explicando como seria.

FIGURA 10 – FOTO DO DESENHO CONSTRUÍDO PELA PROFESSORA NO QUADRO PARA EXPLICAÇÃO DA ATIVIDADE

Page 78: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

77

Essa dificuldade pode se dar por esses alunos serem do primeiro ano e

ainda não terem estudado geometria espacial em matemática. Prismas simples,

como o cubo e o paralelepípedo, são bem conhecidos, porém o prisma de base

triangular talvez não seja fácil para eles construírem.

Porém chamou atenção o fato de que durante toda a aula a professora

chamou a figura de pirâmide e não de prisma de base triangular. Um equívoco não

percebido por nenhum aluno, pois, como mencionado, ainda não estudaram essa

figura pelo nome, próprio do conteúdo de geometria espacial, apenas conhecem do

dia a dia e exercícios simples de geometria plana.

É bom relembrar que já havíamos relatado que a professora nunca

menciona os procedimentos de desenho geométrico, apenas constrói e os alunos

repetem o procedimento, ela ensina como fazer, mas não menciona nenhum

conceito matemático de geometria. E nessa aula menciona um conceito equivocado.

O fato de as disciplinas técnicas do Curso de Mecânica, que exigem

frequentemente conhecimentos de matemática, serem lecionadas por professores

engenheiros às vezes faz com que evoquem equivocadamente alguns conceitos ou

simplesmente os ignore, não os mencionando, pois não possuem formação nem

conhecimento para trabalharem a matemática em suas salas de aula.

3.1.5 Episódio: Perspectivas Isométricas com Curvas

Na última aula acompanhada, a professora mostra como traçar curvas em

objetos em perspectiva. Os alunos farão dois desenhos, um primeiro em conjunto

com a professora e um segundo sozinhos, que estão expostos na figura 11.

Page 79: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

78

FIGURA 11 – ATIVIDADE DA AULA PERSPECTIVAS ISOMÉTRICAS EM CURVAS

Para iniciar o desenho da peça 1, a professora explica que, para desenhar a

circunferência, ou curva, como às vezes nomeia, superior da peça, na perspectiva

isométrica, os alunos irão fazer esse círculo aparecer como uma elipse no desenho:

P(DTM): Então agora a gente tem que fazer a isométrica desse, dessa peça

que eu desenhei. Antes da gente começar, vocês já me falaram nas últimas aulas

que quando a gente tem um círculo numa peça igual a essa; essa aqui eu tenho um

círculo completo, um furo, certo? Vocês já me falaram que esse círculo vira uma

elipse, não é isso?

(Um aluno faz uma pergunta e a professora repete a pergunta alto para

todos escutarem e responde).

P(DTM): Se tem alguma posição que a gente coloca a peça pra fazer a

perspectiva e que fica um círculo mesmo, que não vira uma elipse. Na isométrica

não tem jeito, que na isométrica a gente só tem uma linha paralela, então qualquer

Page 80: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

79

posição que colocar, ele vai virar uma elipse. Mas na cavaleira, quando eu coloco,

eu posso colocar uma face paralela, se eu colocar o furo, a curva, paralela por cima

então vai virar um círculo certo.

Então inicia o desenho da peça fazendo sua vista superior, para ensiná-los a

desenhar o cilindro da peça, seguindo o passo a passo da página 53 da apostila.

FIGURA 12 – EXPOSIÇÃO DA APOSTILA SOBRE TRAÇADOS DE CURVAS

A construção é feita bem devagar no quadro, explicando passo a passo,

porém, como nas aulas anteriores, de forma prática, ensinando como fazer, ela vai

fazendo no quadro e os alunos em sua folha. Como os alunos estão fazendo o

desenho exato na folha A3 a professora faz muito devagar, para que todos

acompanhem a construção e a façam junto com ela.

Page 81: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

80

FIGURA 13 – FOTO DA CONSTRUÇÃO DO TRAÇADO FEITO PELA PROFESSORA NO QUADRO

Para traçar essa elipse, o procedimento é na verdade traçar quatro pedaços

de um quarto de círculos, dois maiores e dois menores (tamanho do raio). Para isso,

primeiramente, deve-se encontrar os centros desses círculos traçando essas retas

que unem dois dos vértices opostos do quadrado da face superior do cubo com o

ponto médio dos lados do quadrado não congruentes ao vértice. Os dois vértices do

círculo serão os centros dos círculos maiores e os dois pontos de encontro das retas

serão os centros dos círculos menores. As quatro partes de círculo são traçadas

com compasso com extremidades nos pontos médios dos lados do quadrado.

Os alunos devem ser cuidadosos nos desenhos, pois a união dessas curvas

deve ser perfeita. Se o aluno fizer as medidas corretamente, a elipse se unirá

perfeitamente e isso será muito avaliado no desenho, segundo a professora.

Esses alunos, por cursarem ainda o primeiro ano do ensino médio, não

possuem conhecimento matemático algum sobre a elipse. Apenas aprendem a

traçá-la com procedimentos de régua e compasso sem conhecer suas propriedades

matemáticas. Porém nesse procedimento mobilizam conhecimentos sobre o

quadrilátero e suas partes (vértices, lados, ângulos), ponto médio, circunferência,

além de precisarem estar muito atentos às medidas que fizerem, pois um milímetro

que errarem no traçado das retas suporte do desenho implicará erro ao final, quando

traçarem a elipse, e precisarão começar o desenho novamente.

Logo após ensinar esse procedimento, a professora constrói a primeira peça

no quadro, devagar, passo a passo. Juntamente os alunos fazem, na folha A3, o

Page 82: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

81

desenho exato para entregar. Após terminar os alunos fazem o segundo sozinhos e

entregam a folha com as duas peças.

FIGURAS 14 e 15 – FOTOS EXPLICAÇÃO DAS DUAS ATIVIDADES REALIZADAS NO QUADRO PELA PROFESSORA

A seguir o exercício entregue por um aluno.

FIGURA 16 – FOTO RESOLUÇÃO DAS DUAS ATIVIDADES REALIZADAS POR UM ALUNO EM FOLHA A3

3.1.6 Discussão e Análise Inicial da Disciplina DTM

Na disciplina de Desenho Técnico Mecânico, há mobilização de

conhecimento matemático durante as atividades desenvolvidas. Não há uma

menção explícita sobre esse conhecimento matemático, como vimos, as construções

de desenho geométrico do apêndice A, bem como os conceitos de geometria plana

Page 83: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

82

presentes nessas construções geométricas, não são expostas explicitamente em

sala de aula. Os alunos, com orientação da professora, realizam as atividades

utilizando essas construções geométricas e o conteúdo de geometria plana que

oriunda essas construções. Reproduzindo apenas a tarefa efetuada pela professora,

parecem aprender apenas “como fazer”, sem se atentar para a matemática aí

mobilizada. Observando as instruções da apostila da disciplina expostas ao leitor,

vemos que esta também não traz conceitos matemáticos, nem longas exposições do

conteúdo, ela nos parece ser redigida também nesse formato “como fazer” e, apesar

da parte que apresenta os conceitos básicos de geometria plana e construções

geométricas, em geral não destaca explicitamente a matemática envolvida nas

atividades.

Essa ação reproduz o modo de trabalho comum nas indústrias onde o

profissional técnico aprende a executar o trabalho mecânico, mesmo sem um apoio

teórico anterior, eles executam a tarefa apenas observando e reproduzindo “como

fazer” a atividade.

Mesmo assim, acreditamos que diversos conhecimentos matemáticos de

geometria plana, como também outros conceitos, são mobilizados durante a

realização dos desenhos técnicos; alguns conhecimentos já adquiridos

anteriormente e utilizados para efetuarem a tarefa, outros, mobilizados para a

realização dos desenhos e adquiridos pelos alunos durante a tarefa, mesmo que

ligados a uma atividade prática, sem formalização.

A seguir tentamos resumir as principais características observadas nessa

disciplina. O item 1 contribui para identificarmos que conhecimentos matemáticos

observamos sendo mobilizados nessa disciplina. O item 2 contribui para

entendermos essa disciplina como uma comunidade local de prática, e a partir de

então discutirmos como observamos acontecer a articulação desse conhecimento

matemático com as características próprias dessa comunidade de prática e o

redimensionamento de alguns desses conhecimentos de forma própria nessa

comunidade.

1) Experiências dos alunos na aula de DTM com o conhecimento matemático.

a) A Matemática não é explicitada.

Page 84: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

83

b) A Matemática é aplicada nas atividades como uma ferramenta.

c) A disciplina permite o uso de calculadora.

d) As atividades envolvem unidades de medida linear e angular.

e) A unidade de medida linear principal das atividades é o milímetro.

f) As atividades envolvem o conteúdo de escala, geometria plana (retas

paralelas, perpendiculares, ângulos, arcos, círculo, circunferência, quadrilátero,

ponto médio, etc.), construções geométricas, objetos tridimensionais, figuras da

geometria espacial (prismas, pirâmide, cilindro, etc.), visão espacial (tridimensional),

simetria, etc.

g) Alguns traçados são executados de forma prática, própria da área, distinta da

forma como executada em aulas de matemática. Exemplo: o traçado de curvas.

2) Experiências dos alunos na aula de DTM com as características de uma

comunidade local de prática.

a) É uma disciplina de 1° Ano e a professora percebe os alunos como muito

periféricos nessa comunidade, necessitados de muitas informações e instruções

bem detalhadas.

b) A disciplina apresenta apostila de conteúdo e essa é usada nas aulas

observadas.

c) Os alunos são subdivididos em dois grupos, diminuindo, assim, o número de

alunos que participam da disciplina em sala.

d) O ambiente de sala de aula reproduz um ambiente de trabalho de um técnico

em desenho mecânico.

e) Os alunos fazem uso de instrumentos próprios para os desenhos mecânicos

(instrumentos de construções geométricas de régua e compasso, entre outros).

f) Os alunos não usam jaleco próprio do curso e sim o uniforme escolar regular.

Page 85: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

84

g) A disciplina é lecionada por uma professora com formação técnica e

engenheira.

h) A professora exige rigor com os desenhos realizados nas atividades dos

alunos.

i) A professora usa termos de linguagem próprios dessa área profissional e os

alunos, gradativamente, começam a repeti-los.

j) A professora apresenta aos alunos exemplos e relatos de experiência dessa

área profissional na indústria.

k) Percebem-se, durante a execução das atividades, interações entre os alunos,

e entre os alunos e a professora.

l) O conhecimento gerado se nos apresenta como um conhecimento prático,

pelo qual a professora expõe a execução da atividade e o aluno aprende

observando e reproduzindo; algumas vezes simultaneamente, outras, não. Não é

observada a presença de muitas definições ou exposição de conteúdos.

m) É exigido um croqui dos desenhos, uma prévia, antes do trabalho exato que é

realizado com muito capricho e rigor, com características de um desenho exigido de

um profissional de desenho técnico mecânico (limpeza, exatidão, legenda, escala,

margem, etc.).

n) A correção das atividades por parte da professora é minuciosa e rigorosa.

Os momentos mais marcantes em que observamos a articulação e o

redimensionamento do conhecimento matemático na comunidade local de prática da

disciplina DTM foram quatro.

Primeiramente, o uso do milímetro como unidade de medida linear

preferencial para o trabalho na disciplina. Essa é uma característica do trabalho do

técnico de mecânica que redimensiona o modo de pensar a medida linear dos

alunos, que em geral acontece com a utilização do metro ou centímetro, para um

uso preferencial e quase constante do milímetro. Na leitura das disciplinas que

Page 86: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

85

seguem neste capítulo exporemos que esse uso constante e preferencial do

milímetro perpassa também as demais disciplinas observadas.

Segundo, o rigor exigido com a exatidão das medidas construídas nos

desenhos. Isso fica claro na fala da professora quando explica aos alunos que um

milímetro a mais ou a menos altera o desenho, fazendo sim muita diferença. Para o

trabalho do desenhista técnico em mecânica, erros como esses alteram as peças

projetadas e podem inutilizar seu uso. Logo, redimensionar o pensamento para uma

exigência de operar medidas com maior precisão é uma característica requerida a

esse grupo.

Terceiro, pensar os procedimentos de desenho geométrico com régua e

compasso numa perspectiva de conhecimento procedimental sem se atentar aos

conceitos de geometria plana que perpassam essas construções. Podemos

entender, assim, que esse grupo vai redimensionar seu pensamento para uma

matemática aplicada, procedimental.

Quarto, o procedimento conduzido pela professora para a construção de

uma elipse. Esse se dá como a junção de quatro arcos de círculos de raios com dois

tamanhos distintos, como foi descrito no texto. Esse é um procedimento prático

característico dessa comunidade, um redimensionamento do conhecimento

matemático para a prática desse profissional.

3.2 Metrologia I (METRO I)

A disciplina METRO I35 é parte das específicas do Curso Técnico de

Mecânica cursada pelos alunos do primeiro ano do ensino médio. É uma disciplina

designada pela instituição como monotécnica, ou seja, acontece em um bimestre do

ano letivo com duração de aproximadamente 2 meses (40 horas/aula). Ela acontece

no Galpão da Mecânica em um laboratório específico para essa disciplina.

35 Sigla utilizada pelo CEFET-MG para designar a disciplina Metrologia I.

Page 87: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

86

FIGURA 17 – FOTO DA SALA DE AULA DE METRO I

Para cursarem a disciplina os alunos são divididos em quatro grupos, de 10

a 15 alunos, que cursam essa disciplina em momentos distintos do ano letivo,

durante os quatro bimestres, no mesmo horário de aula.

A professora P(METRO I)36 que lecionava a disciplina no ano de 2013 na

turma de MEC1A, observada nesta pesquisa, possui graduação em Engenharia

Mecânica e mestrado em Metrologia. É uma professora efetiva que leciona há 32

anos no CEFET-MG, em especial nessa disciplina ou outras dessa área.

O laboratório onde acontecem as aulas da disciplina é uma grande sala com

teto bem alto como as demais do Galpão da Mecânica, onde em grande parte do

espaço encontram-se as máquinas e os instrumentos utilizados pelos alunos para as

aulas práticas dessa disciplina nos cursos técnicos e de graduação. Em uma parte

no canto do laboratório há uma pequena sala de aula com quadro branco e

aproximadamente 15 carteiras, onde acontecem as aulas teóricas sempre para 36 Sigla utilizada pela pesquisadora para designar a professora de METRO I.

Page 88: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

87

pequenos grupos de alunos, em sua maioria com os alunos assentados em uma

grande roda de frente para o quadro.

O barulho de máquinas nesse ambiente é bem alto, sempre há mais de uma

sala com máquinas ligadas. Porém essa sala é toda fechada para o ambiente

externo e climatizada para não danificar alguns instrumentos que ela possui

guardados para uso ou conhecimento dos alunos.

Para as aulas nesse ambiente, os alunos usam um jaleco escuro, específico

do seu curso, pois na maioria das vezes se sujam nas aulas práticas, que são a

maioria nessa disciplina.

Para essa disciplina, os alunos não recebem apostila. Existe uma apostila da

disciplina que fica guardada em um armário na sala para uso dos alunos nesse

ambiente. Porém, é pouco utilizada. Na maioria das vezes, a professora explica a

matéria oralmente ou utiliza o quadro e, posteriormente, repassa aos alunos, por e-

mail, um material de consulta da disciplina com os conceitos trabalhados em sala.

Esse material é algumas vezes produzido pela professora, em outras, utiliza

materiais disponíveis para consulta pública, como as apostilas do técnico do

telecurso.

O objetivo dessa disciplina, segundo seu plano de curso, é oferecer

competências e habilidades aos alunos para:

1. Empregar corretamente a terminologia adequada em metrologia.

2. Converter medidas do sistema métrico para o sistema inglês ou vice-versa.

3. Identificar as características metrológicas dos instrumentos.

4. Régua graduada, metro e trena, características, aplicação e conservação.

5. Executar medições utilizando paquímetros com resoluções de 0.05mm, 0.02mm 1/128” e 0.001”.

6. Medir peças utilizando micrômetros externos e internos com resolução de 0.01mm; 0.001mm e 0.005mm.

7. Conhecer a técnica de utilização e característica de montagem dos blocos padrão. Utilizar e medir com relógio comparador adequadamente.

8. Medir ângulo em peças utilizando o transferidor, o esquadro ou o goniômetro e mesa seno.

Page 89: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

88

Observando a ementa, percebe-se que a disciplina deve abordar conteúdos

matemáticos ligados a sistemas de medida linear, angular e de peso. Trabalha com

diferentes unidades de medida, algumas muito pequenas, e faz uso de diferentes

equipamentos e técnicas para executar as medições. Ela deve trazer também, como

DTM, características importantes na formação técnica desse profissional ligada a

linguagens e atitudes de membros dessa comunidade, o que é percebido quando

usa termos como terminologia adequada em metrologia, peças, montagem, emprego

de instrumentos e equipamentos.

Essa disciplina é um primeiro estudo dos alunos na área de Metrologia. No

segundo ano do ensino médio integrado, eles cursam a disciplina Metrologia II, que

é uma continuação desta.

Foram descritas quatro aulas das cinco observadas dessa disciplina com um

grupo composto de 13 alunos e uma aluna. Cada aula possui 4 horas/aula, ou seja,

tem duração de 3horas e 20minutos.

As aulas não foram filmadas nem gravadas a pedido da professora

P(METRO I), que justificou não se sentir à vontade com gravações. Autorizou

somente que eu fizesse as anotações de campo no caderno. Porém se colocou

muito colaborativa com a pesquisa, explicando todas as etapas de sua aula e

discutindo suas impressões de aprendizagem matemática em cada uma delas.

Também forneceu todo material utilizado por ela e repassado aos alunos. Na última

aula observada da disciplina, a professora autorizou a filmagem do trabalho prático

final desenvolvido pelos alunos.

3.2.1 Primeira aula observada: apresentação da disciplina

Essa foi a primeira aula da disciplina com esse grupo, segundo grupo do ano

letivo a cursar a disciplina. Após dividir quais alunos realmente cursariam a disciplina

nesse bimestre e quais alunos ficariam para os próximos bimestres, a professora

inicia a aula promovendo uma dinâmica de apresentação de todos, inclusive da

pesquisadora e sua pesquisa, explicando sua presença nas aulas que seguirão, e

situando os alunos sobre o que é um curso de Metrologia.

Page 90: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

89

Segundo a professora, em Metrologia I é estudada a metrologia básica:

medição linear e angular e os instrumentos básicos para essa medição. Segundo ela

metrologia é medição em qualquer área da medição, e citou várias áreas.

Classificou-a então em três grupos: metrologia legal (coisas do dia a dia),

metrologia científica (padrões das unidades, Inmetro...) e metrologia industrial

(metrologia da área de mecânicas e outras).

Pede, então, que os alunos escrevam uma redação com o tema “metrologia

no meu cotidiano”, e tragam na próxima aula para entregar.

Explica sobre o material que utilizará nas aulas e que eles podem encontrar

na internet um material oficial da área que se chama Vocabulário Internacional da

Metrologia.

O que mais chamou atenção nessa aula é que a professora discute com os

alunos e com a pesquisadora que observa as aulas que, do seu ponto de vista, os

alunos aprendem nas aulas de matemática (convencionais) coisas complicadas de

metrologia, como transformação de medidas, mas não têm noção de coisas básicas

e muito importantes na prática, como estimar medidas. Portanto, explica que em

todas as aulas exigirá que os alunos estimem as medidas solicitadas (lineares ou de

peso) antes de aferirem e as anotem primeiramente. Enfatiza inclusive que os

alunos que se esquecerem de fazer essa estimativa perderão ponto no exercício,

porém ganharão sempre que o fizerem, mesmo que estimarem muito errado. Em

uma conversa com a pesquisadora, posterior à aula, a professora deixa claro que,

com essa atitude de forçarem que os alunos estimem medidas durante todo o curso,

ela pretende desenvolver essa competência nos alunos de conseguirem estimar

bem medidas lineares e de peso (as estudadas em METRO I).

Inicia então o assunto “escala”: Escala é um conjunto de traços

acompanhados por marcações orientadas. Essa definição é ditada pela professora

para anotação dos alunos, mas não é discutida. Parece-nos a descrição da régua,

que, após essa definição, a professora nomeia de escala, e diz que o instrumento

básico de escala é a régua. Explica que uma régua não precisa necessariamente de

possuir subdivisões de medida; quando assim possui, é chamada escala.

Realmente, como relataremos mais adiante no texto, essa se torna uma linguagem

Page 91: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

90

comum dessa comunidade de alunos, pois, em disciplinas observadas no terceiro

ano, veremos que os alunos sempre se referiam ao instrumento como escala,

também os professores, sem essa explicação ser explícita novamente, quase nunca

se referiam ao instrumento como régua. Constatamos nesse momento uma

ausência excessiva de conceito para lidar com o tema escala.

A partir daí a professora explica aos alunos que, em geral, os mecânicos

trabalham com as medidas em milímetro ou micrômetro. Inclusive exemplifica

segmentos citando que as costureiras trabalham em geral com centímetro e os

engenheiros com o metro. Nesse momento ela apresenta aos alunos outra

característica da comunidade a que eles começam a pertencer, e, como citado

anteriormente, também se pode perceber em disciplinas do segundo e terceiro ano

que eles trabalham quase sempre com essas duas unidades de medida e já o fazem

naturalmente, principalmente no terceiro ano. E então os ensina a trabalhar com

essas duas unidades com algumas atividades simples de transformação de

medidas.

Após esse momento, inicia uma longa discussão explicando aos alunos o

que é o VDE (Valor da Divisão da Escala) e como encontrá-lo dada uma escala. De

maneira informal, designa-o como o tamanho entre um traço e outro da escala.

Então distribui aos alunos várias escalas, algumas com mais de um VDE e eles

fazem um exercício prático de encontrar o VDE de várias escalas distintas, trocando-

as entre si.

Outro conceito apresentado é a faixa de medição, designado pela professora

como o tanto que se pode medir com sua escala; por exemplo, considerando-se

uma régua de 30cm, que os alunos têm em mãos, no momento da explicação, a

professora menciona que essa escala tem faixa de medição de 300mm. Observe

que ela já usa as medidas em milímetro naturalmente, sem nenhuma explicação

formal. Isso vai se tornando uma prática comum nessa disciplina e é observado

também entre alunos do segundo e terceiro anos, em outras disciplinas observadas,

como já citamos em DTM.

A professora, então, introduz outra unidade de medida muito encontrada na

prática de mecânicos, a polegada. Isso porque alguns instrumentos e máquinas, em

Page 92: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

91

sua maioria importados, trazem essa unidade em seus manuais ou no próprio

instrumento. Então, explica o que a unidade representa e como transformar uma

medida de polegada para milímetro.

Esse foi o último conceito apresentado nessa aula. Todos eles parecem ser

base na formação dessa comunidade, pois se tornam orientações de uma prática

comum em várias disciplinas dos anos seguintes do curso. Constituem parte da

prática de trabalho dessa comunidade e de sua linguagem comum que começa a ser

apresentada ao grupo, já que esses alunos estão em seu primeiro semestre do

curso.

Para terminar a aula, a professora propõe uma atividade interessante para

ajudar a desenvolver a percepção de medida linear desses alunos e a praticar

alguns dos conceitos dados nessa aula.

Nessa atividade, cada aluno tem em mãos uma escala de 300mm (régua de

30cm). Assentados em círculo, ela distribui algumas chapas de ferro com espessura

não muito fina. Os alunos têm que pegar algumas dessas chapas, trocarem entre si,

e preencherem um quadro, como o abaixo, sobre cada uma.

Medida estimada Medida em mm Mediada em polegada

Largura

Altura

Comprimento

FIGURA 18 – REPRODUÇÃO DA TABELA CONSTRUÍDA PELA PROFESSORA NO QUADRO PARA A ATIVIDADE PROPOSTA

3.2.2 Segunda Aula Observada: Paquímetro

A professora distribui para os alunos vários paquímetros de dois modelos

diferentes e o define com essas palavras: paquímetro é a junção de duas escalas,

uma denominada principal e outra auxiliar (ou nônio). Mais uma vez a ausência do

conceito e uma descrição que pouco descreve o instrumento.

Page 93: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

92

Então explica aos alunos que o paquímetro é um instrumento melhor que a

escala, com uma precisão melhor, mais próxima do real. Explica o nome e a

utilidade de cada parte do paquímetro e também como usá-lo para fazer medidas

externas, internas e de profundidade. Mostrou também que há paquímetros

diferentes, do tipo quadridimensional ou não.

FIGURAS 19 e 20 – FOTOS DOS PAQUÍMETROS UTILIZADOS EM SALA DA AULA

Após esse primeiro momento, definiu “resolução do instrumento” como

sendo a menor medida que se pode medir com o paquímetro (definição da

professora). É a menor variação que se pode ler no instrumento. Utiliza então o

quadro para explicar como ler essa medida, como encontrar a resolução do

paquímetro. Em um momento, chama atenção dos alunos e da pesquisadora, que

depois vai mostrar, na teoria, uma fórmula matemática para encontrar a resolução

do paquímetro, nesse momento explica somente de maneira prática, designação

dela, como ler a resolução do instrumento.

Todos os alunos têm um paquímetro em mãos e consultam a resolução

destes, alguns são de resolução 0,02mm e outros de 0,05mm. Em seguida a

professora faz algumas atividades rápidas orais e chama dois alunos para encontrar

as soluções, utilizando o quadro para os cálculos e a ajuda oral dos colegas, no

intuito de verificar se eles entenderam.

A professora então apresenta uma característica da metrologia que usa os

números de forma diferente da matemática, e nesse momento chama atenção da

pesquisadora. Ela então anota no quadro: 0,1 ≠ 0,10. Ela então explica aos alunos e

à pesquisadora que, diferente da matemática, um instrumento que tem resolução 0,1

é diferente de um instrumento que tem resolução 0,10; no primeiro não é possível ler

Page 94: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

93

a segunda casa no instrumento, e no segundo, sim. E dá o exemplo: se um

instrumento tem resolução r = 0,02mm, é possível com ele ler as medidas 29,50mm,

28,32mm, 28,64mm; note: 29,50mm e não 29,5mm, pois devido a resolução ter a

segunda casa, é preciso anotá-la.

Então chama a atenção para o fato de que em metrologia 28 é diferente de

28,00, pois, segundo fala da professora, o zero depois da vírgula tem muito valor

nessa área de conhecimento, ele representa uma medida que se lê no instrumento,

já em matemática ele não tem valor. Na verdade, a professora pretende que os

alunos estejam atentos para o significado que o zero representa após a vírgula em

sua disciplina, representando uma casa decimal com significado para as atividades.

Após essa observação, a professora relembra o que é polegada, ensinada

na aula anterior. Em voz alta, com os alunos prestando atenção, diz à pesquisadora

que não ensina seus alunos a transformarem polegada em centímetros (a relação

entre essas medidas), porque senão eles não leem o paquímetro em polegadas,

apenas em centímetro, e ela considera importante eles aprenderem a ler em

polegada, pois é uma medida muito usada na prática.

P(METRO I): Eu não ensino eles a transformar polegada em centímetro, a

relação, porque senão os alunos não leem o paquímetro em polegada, leem em

centímetros, e a polegada é muito usada na prática, eles precisam aprender.

Os alunos apresentaram dificuldade em encontrar a resolução do

instrumento em polegada, segundo a professora isso sempre acontece. Um aluno

exclamou: Com fração é mais difícil.

Abaixo apresentamos os cálculos feitos no quadro pela professora, como

exemplo, para encontrar a resolução de um instrumento dado, em que ela usa duas

resoluções possíveis, sem definir por enquanto a segunda, o que fará

posteriormente:

Page 95: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

94

A professora faz, então, mais algumas atividades no quadro, resolvendo com

os alunos e, ao final, sorteia dois alunos para irem ao quadro resolverem, sozinhos,

duas atividades com polegada, com a condição de que, se acertarem por completo,

toda a turma ganharia ponto extra. Ambos acertam as contas, mas não ganham

ponto extra, pois esquecem algumas vezes a unidade de polegada (ʺ), e outras

usam a notação errada matematicamente ao montar a conta da fração. Ao concluir,

a professora pede à pesquisadora para confirmar suas correções com os alunos,

querendo dar a credibilidade de um matemático em suas correções.

A professora pede para repetirem o exercício com o paquímetro em mãos de

0,02mm trabalhando com decimal nesse momento. Após a correção, um aluno

dialoga com a professora:

Aluno37: Professora, nesse caso com a fração é mais fácil.

P(METRO I): Mas você terá que usar o instrumento decimal e terá que trabalhar com

decimal, então é melhor aprender a usar de uma vez.

Nesse momento, um aluno relatou que encontrou mais dificuldade para

efetuar contas com os números em decimal que em fração, porém a professora quer

que eles saibam trabalhar das duas maneiras e então propõe que façam os dois e,

em ambos os momentos, não lhes permite usar calculadora, para forçá-los a treinar

contas nas duas notações, como podemos observar na fala seguinte que dirige à

pesquisadora, em voz alta, compartilhando a observação feita com os alunos:

37 Nos diálogos apresentados nessa tese onde não foi possível identificar qual aluno participava identificaremos apenas com a palavra aluno, nos diálogos que for possível identificaremos o aluno com uma sigla.

Page 96: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

95

P(METRO I): Não deixo eles usarem calculadora não, pois se eles estivessem na

oficina eles não teriam como pegar o instrumento depois pegar a calculadora, na

prática não dá, eles têm que ter mais agilidade.

Ela faz referência à prática do técnico em mecânica e vai contribuindo para

mostrá-los como agir com os cálculos matemáticos na prática de trabalho, que tem

características próprias, como a agilidade requerida para trabalhar nos instrumentos

com as duas notações, decimal e fração. Porém, a calculadora será uma ferramenta

de cálculo frequente em quase todas as disciplinas específicas do técnico.

Encerra essa discussão se dirigindo à pesquisadora com a seguinte fala: Tá

vendo, matemática aqui é só umas continhas. Nessa fala ela parece dizer à

pesquisadora que ela sabe que busca observar o trabalho dos alunos com o

conhecimento matemático nessa disciplina, que o que existe de matemática nessa

disciplina é resolver contas consideradas simples de fração ou decimal, em seu

ponto de vista. Não observa que o trabalho dos alunos, em todo tempo, com

unidades de medidas, requer um conhecimento matemático que, por vezes, eles

evocam de momentos anteriores de suas aulas de matemática do ensino

fundamental, por vezes, adquirem na prática da disciplina.

Então apresenta no quadro a fórmula que ela chama de fórmula matemática

para encontrar a resolução do instrumento paquímetro, anotada como abaixo:

A professora então desenha um paquímetro no quadro e pede aos alunos

que encontrem sua resolução na forma prática e teórica. Ao terminarem, sorteia dois

alunos para irem ao quadro, como da vez anterior, valendo ponto extra para a turma,

cada um resolvendo de uma forma. Segue a resolução feita no quadro:

Page 97: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

96

A professora encerra então a matéria passando no quadro um exercício para

fazerem em casa que ela olhará no caderno no início da próxima aula. Segue o

exercício:

1 Fazer um esboço desenhado a mão do paquímetro e escrever suas partes.

2 Criar um paquímetro (suas escalas) em que sua resolução seja 0,025mm.

Na segunda atividade, a professora pede que construam o caminho inverso

das atividades da aula, ela já deu a resolução e pede um paquímetro que origina

esse resultado. Um aluno entende a atividade e exclama em voz alta:

Aluno: Para achar r igual a 0,025 milímetros é só fazer o contrário!

A professora concorda com um sorriso e encerra a aula com uma

brincadeira, segundo ela, mas na verdade é uma atividade para estimular os alunos

a terem uma boa noção de medidas lineares; como comentou na primeira aula, ela

sempre faz isso ao longo do curso. Ela divide os alunos em duplas e a disputa entre

eles consiste em: cada aluno tem papel e caneta em mãos e disputa com seu

companheiro da dupla; a dupla escolhe três coisas quaisquer na sala (laboratório de

metrologia) para estimar sua medida linear, cada um faz sua estimativa e anota no

papel sem que o outro veja; ao final medem com a escala e quem mais se aproximar

em cada uma das três medidas ganha um ponto; vence quem fez mais pontos.

Enquanto os alunos fazem o jogo proposto, a professora dialoga longamente

com a pesquisadora sobre como ela considera importante estimulá-los a estimar

medidas, ter uma boa noção, olhar e saber aproximadamente quanto mede. Ela

opina dizendo que o professor de matemática, principalmente do ensino

Page 98: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

97

fundamental, deveria estimular seus alunos em suas aulas a terem uma noção

prática das medidas: métrica, angular e de peso. Essa opinião é muito interessante,

concordo que existe essa falha nas aulas de matemática. Logo, essa disciplina

auxilia para que esses alunos adquiram um conhecimento matemático que é próprio

dessa comunidade, já que é pouco ou nada trabalhado na disciplina de matemática

regular.

3.2.3 Terceira Aula Observada: Relógio Comparador e Blocos Padrão

O primeiro tema abordado na aula foi relógio comparador e bloco padrão,

que a professora define oralmente para os alunos, como exposto abaixo, e mostra

alguns instrumentos, ensinando a utilizá-los.

Relógio Comparador: medidor de deslocamento.

FIGURA 21 – FOTO DOS RELÓGIOS COMPARADORES APRESENTADOS PELA PROFESSORA EM SALA PARA OS ALUNOS Bloco Padrão: padrões de referência na metrologia.

FIGURAS 22 e 23 – FOTOS DE CONJUNTOS DE BLOCO PADRÃO APRESENTADOS PELA PROFESSORA EM SALA PARA OS ALUNOS

Page 99: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

98

Após mostrá-los aos alunos, a professora põe sobre a bancada vários pesos

semelhantes a pesos usados em balanças de feira e os chama de medida

materializada. Pega, como exemplo, um peso de 1kg e, em seguida, um de 500gr.

Explica que pesos como estes são usados, por exemplo, como referência para

balanças de dois pratos ou para calibrar balanças diversas, e esclarece que calibrar

é levantar erros de um instrumento.

FIGURA 24 – FOTO DE UM CONJUNTO DE PESO PADRÃO APRESENTADO PELA PROFESSORA EM SALA PARA OS ALUNOS

Ela toma então novamente as caixas com conjuntos de blocos padrão e diz

que eles são usados de forma semelhante, porém na área de comprimento. Ela

explica que eles são muito mais precisos que uma escala (régua) e são usados para

calibrar o paquímetro, entre outras funções. Eles são cortados a laser, medidos por

comprimento de onda e apresentam erros muito pequenos como 10-5, 10-6 ou 10-7.

Eles são constituídos de um material que resiste ao ambiente, mesmo assim a sala

tem que ser climatizada para o meio não danificá-los. Os blocos são referências de

comprimento.

A professora demonstra que, para se obter uma medida diferente da dos

blocos do conjunto, os alunos devem unir dois ou mais blocos, e então mostra como

fazê-lo. Em seguida, faz uma nova dinâmica com os alunos. No jogo proposto, a

professora fala uma medida e os alunos devem obtê-la unindo o menor número

possível de blocos padrão; se conseguirem, ganham ponto extra, se a professora

conseguir com menos blocos, não pontuam.

Após o jogo, a professora mostra que, na sala, há uma mesa de medição

conhecida comercialmente como “desempeno”. Ela é um plano de referência para

Page 100: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

99

fazer medições com vários instrumentos, pois não possui nenhuma rugosidade e

nenhuma inclinação.

Em seguida, mostra vários modelos de relógio comparador, usados para

medir inclinação. Os modelos mostrados são todos mecânicos, mas explica que

existem modelos elétricos também. Então ensina aos alunos como utilizar os

modelos mostrados. Um dos modelos, para o qual ela chama mais atenção, mede

deslocamento de até 10mm, pois, ao empurrar 10mm, seu relógio gira 360.

Outro instrumento que há no laboratório é a cremalheira, instrumento que

transforma um movimento linear em deslocamento angular. A professora o cita

rapidamente.

Ela então passa duas atividades no quadro e divide a turma em dois grupos.

Eles fazem as atividades de forma alternada. A professora tira dúvidas dos grupos

ao longo da atividade e ao final corrige com todos. Abaixo as atividades como

anotado no quadro pela professora.

Atividade 1: O grupo recebe dois relógios comparadores (RC1 e RC2), um relógio

apalpador (RA) e um relógio motor tensional (RMT). Para cada um dos quatro, o

grupo deve encontrar sua faixa de medição (FM) e seu valor de divisão da escala

(VDE) e preencher a tabela abaixo anotada no quadro:

RC1 RC2 RA RMT

FM

VDE

Atividade 2: A professora anota duas medidas no quadro, 30,842mm e 58,984mm, e

os alunos devem montar essas medidas unindo os blocos padrão de um conjunto

dado para usarem.

Para falar de medição angular, a professora distribui aos alunos a apostila,

usada apenas em sala, e pede para abrirem na página do conteúdo. Mostra, então,

pelas figuras da apostila dois instrumentos de medição angular, os esquadros e o

Page 101: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

100

goniômetro, um tipo de transferidor que se difere dos simples, utilizados em aulas de

matemáticas, por obter medidas em nônio. Ela explica então um pouco sobre o

goniômetro e mostra um desenhado na apostila, quando acontece o diálogo abaixo:

P(METRO I): De zero grau a noventa graus ele tem noventa divisões. Então cada

divisão mede... (interrompe)

Alunos respondem: Um.

P(METRO I): Um o quê?

Alunos: Um grau.

No diálogo acima a professora, exige que falem a unidade medida. Alunos

do primeiro ano ainda não têm esse costume e, constantemente, esquecem-se de

dizer ou de escrever a unidade de medida que está sendo utilizada, mas são

cobrados a respeito disso a todo o momento nessa disciplina. Isso vai tornando-os

membros dessa comunidade de alunos em que, no terceiro ano, não se observa

mais essa falha na sua maioria.

A professora também apresenta o instrumento físico e faz algumas

atividades com os alunos.

FIGURA 25 – FOTO DO GONIÔMETRO APRESENTADO PELA PROFESSORA EM SALA

Page 102: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

101

Ela faz uma atividade com os alunos desenhando no quadro parte de um goniômetro

e encontra sua resolução, como exposto na figura 26.

FIGURA 26 – REPRODUÇÃO FEITA PELA PESQUISADORA DA IMAGEM DA ATIVIDADE NO QUADRO

Após esse exemplo, ela então desenha vários outros goniômetros no

quadro, marca neles algumas medidas e pede para os alunos lerem essas medidas.

Em seguida, pede para fazerem uma leitura silenciosa de duas páginas da apostila

sobre medição angular. Então, ela mostra aos alunos dois instrumentos de

transformar medição angular em medição linear. Primeiro, a régua seno — segundo

ela pouco usada na indústria —, que em geral mede até 100mm. Ela explica que a

mesa seno é menos utilizada por medir 200mm, é maior — também há uma na sala

e seu uso será visto depois. Segundo, o cilindro padrão, bem usado na indústria.

Para encerrar a aula, passa duas atividades para fazerem em casa:

Atividade 1: Usando a figura abaixo, escrever M em função de , a e r (raio do

cilindro).

FIGURA 27 – REPRODUÇÃO FEITA PELA PESQUISADORA DA IMAGEM DA ATIVIDADE 1

Page 103: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

102

Atividade 2: Usando a figura abaixo, primeiro escrever em função de M1 e r1

e depois em função de M2 e r2.

FIGURA 28 – REPRODUÇÃO FEITA PELA PESQUISADORA DA IMAGEM DA ATIVIDADE 2

Percebam que é um exercício similar a alguns de geometria plana em

matemática para encontrar equações algébricas que expressam uma medida em

função de outras. A professora diz à pesquisadora que os alunos farão, depois,

atividades práticas em metrologia, que essa competência é importante, e ressalta

também que esses alunos de primeiro ano possuem muita dificuldade em fazer

essas atividades.

3.2.4 Quarta Aula Observada: Atividades

A aula inicia com a professora dialogando com os alunos sobre a resolução

do exercício da aula anterior. Nenhum aluno conseguiu resolvê-los, alguns

resolveram em parte. A professora se chateia, fala com a pesquisadora que é

sempre assim, todas as turmas têm dificuldade nessa parte, em resolver essas

atividades. Respondo então a ela que são alunos de primeiro ano, que estudaram

pouca trigonometria no ensino fundamental e que alguns conteúdos requeridos

nessa atividade são específicos de trigonometria do primeiro ano que eles ainda não

estudaram e será dada apenas no último bimestre. Além disso, escrever equações

algébricas que relacionam medidas é muito mais trabalhado no ensino médio que no

Page 104: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

103

ensino fundamental, e com o tempo os estudantes vão ganhando habilidade nessas

atividades. Mas ela não concorda muito, acha que eles deveriam sim dar conta de

resolvê-los se passaram para o CEFET-MG, que é uma escola que exige muito

conhecimento para aprovação de sua entrada.

Observem a resolução das atividades feita pela professora passo a passo no

quadro, explicando cada etapa aos alunos:

Resolução da Atividade 1:

FIGURA 29 – REPRODUÇÃO FEITA PELA PESQUISADORA DA IMAGEM DA RESOLUÇÃO DA ATIVIDADE 1

M = a + x + r

tg =

x =

M = a + r +

Resolução da Atividade 2: A professora modifica o desenho proposto na aula

anterior e isso provoca muita discussão na sala de aula. Mas ela não se incomoda,

diz que ficará mais fácil para a resolução e não alterará o resultado.

Page 105: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

104

FIGURA 30 – REPRODUÇÃO FEITA PELA PESQUISADORA DA IMAGEM DA RESOLUÇÃO DA ATIVIDADE 2

O primeiro exercício usa conceitos de geometria plana e trigonometria já

adquiridos pelos alunos no ensino fundamental. Portanto, eles acompanham com

tranquilidade, apresentando pequenas dúvidas.

Já o segundo exige mais destreza em lidar com os conhecimentos de

geometria plana, inclusive a professora desenha os círculos separados, diferente da

aula anterior, para entenderem melhor a resolução, e diz a eles que isso não altera o

resultado. Observe-se que ele apresenta uma complexidade maior e que usa

inclusive o conceito de arco seno, conceito esse que os alunos não conhecem, pois

não é parte do conteúdo de trigonometria do ensino fundamental. Interrogada, a

pesquisadora relata isso para a professora, que diz desconhecer isso, mas diz aos

alunos que isso é fácil entender, e explica na prática da metrologia como usarão o

arco seno. Usarão sempre que precisarão fazer a etapa contrária de calcular seno,

quando eles têm o valor do seno e precisam encontrar o ângulo cujo seno é aquele

valor. Ou seja, o uso prático do conceito. Não é apresentada uma explicação

Page 106: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

105

conceitual. Ensina então como fazê-lo com o uso de uma calculadora, pois é o que

precisarão na prática.

A aplicação na prática de conceitos matemáticos ainda não estudados

formalmente vai ao encontro das propostas de Jean Lave e Etienne Wenger para

comunidades de prática, na medida em que os alunos adquirem conhecimento

fazendo, desenvolvendo a prática, na interação com o mestre, a professora, e os

demais aprendizes, os alunos.

Após a discussão do exercício, a professora explica que essa e a próxima

aula serão para fazerem três práticas que serão as avaliações finais da disciplina. A

teoria já foi encerrada. Para isso, divide os alunos em três grupos para revezarem-se

nas três práticas. Paralelamente deverão construir individualmente um relatório da

prática e cada aluno deverá entregar o seu, ela então escolherá um do grupo para

ser corrigido e sua nota valerá para todo o grupo, ou seja, todos do grupo deverão

entregar bons relatórios e um colega fiscalizará o outro. Esse relatório deve ser

manuscrito, não pode ser digitalizado. Anota no quadro, então, o roteiro do relatório:

1) NOMES:

2) TURMA:

3) DATA:

4) TÍTULO:

5) MENSURANDO: (Explica que esse é o objeto de medição, aquilo que se está

medindo. Deve ser apresentado o valor do estimado e um desenho desse ).

A professora esclarece que o desenho é muito importante para eles ao longo

de todo o curso, pois o desenho é a linguagem do técnico em mecânica (fala da

professora). Essa é uma característica dessa comunidade que está sendo

apresentada nesse momento e que se tornará comum ao longo de todo o curso.

6) INSTRUMENTOS UTILIZADOS: (Faixa de medição FM e resolução r)

7) DADOS OBTIDOS E CÁLCULOS:

Page 107: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

106

8) CONCLUSÃO:

9) ASSINATURA:

As três práticas são: uma utilizando a mesa seno, outra, o cilindro padrão, e

outra, o goniômetro. Na explicação da professora sobre as práticas e a execução

pelos alunos foi permitida a filmagem.

3.2.5 Discussão e Análise Inicial da Disciplina Metro I

Na disciplina de Metrologia I há mobilização de conhecimento matemático

durante as atividades desenvolvidas. Nessa disciplina os alunos adquirem uma boa

percepção de medidas lineares, angulares e de peso; adquirem destreza para lidar

com diferentes unidades de medida, como o metro e a polegada; operam com

números fracionários e decimais de até três casas; mobilizam conhecimentos de

geometria plana e trigonometria para resolver atividades propostas, inclusive alguns

conhecimentos, como arco seno, ainda não apresentados a esses alunos de

primeiro ano na disciplina de matemática.

O uso de conhecimento matemático ainda não apresentado anteriormente

para resolver uma atividade proposta, bem como a mobilização de conhecimento

matemático, adquirido anteriormente, para resolver a atividade nesse novo contexto,

condiz perfeitamente com o aprender situacionalmente,38 que exige contínua

negociação de significado. Aqui, os alunos não aprendem incorporando saberes

previamente preparados e oferecidos em unidades didáticas progressivas (BARATO,

2011, p. 26), mas, como em contextos de comunidades de prática, os alunos

mobilizam e adquirem conhecimento matemático ao executar uma tarefa proposta

que reproduz o trabalho do técnico de mecânica. Para resolver a situação proposta,

o conhecimento matemático surge como uma prática, o aluno “aprende a fazer” para

resolver a situação proposta.

Como na disciplina anterior apresentada, DTM, tentamos resumir as

principais características observadas nessa disciplina, METRO I. O item 1 contribui

para identificarmos que conhecimentos matemáticos observamos sendo mobilizados

38 Termo utilizado por Barato (2011) ligado à aprendizagem situada.

Page 108: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

107

nessa disciplina. O item 2 contribui para entendermos essa disciplina como uma

comunidade local de prática, e a partir de então discutirmos como observamos

acontecer a articulação desse conhecimento matemático com as características

próprias dessa comunidade de prática e o redimensionamento de alguns desses

conhecimentos de forma própria nessa comunidade.

1) Experiências dos alunos na aula de METRO I com o conhecimento

matemático.

a) A Matemática é explicitada muitas vezes.

b) A Matemática é aplicada nas atividades como uma ferramenta e relacionada

algumas vezes a simples cálculos.

c) A disciplina não permite o uso de calculadora em geral, mas houve momentos

necessários.

d) Atenção à notação da unidade de medida de valores dados.

e) As atividades envolvem unidades de medida linear, angular e de peso; bem

como transformações entre elas (polegada-cm).

f) A unidade de medida linear principal das atividades é o milímetro.

g) Atenção à exatidão dos valores e às casas decimais; desenvolvem-se

atividades com pequenos valores.

h) As atividades envolvem o conteúdo de escala, metrologia básica, estimação

de medidas, fórmulas matemáticas, resolução de equações, cálculos com números

decimais e fracionários, geometria plana, trigonometria (conceitos inclusive ainda

não estudados como arco seno).

i) Nomeia régua como escala.

j) Há resolução de listas de exercícios.

2) Experiências dos alunos na aula de METRO I com características de uma

comunidade local de prática.

Page 109: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

108

a) É uma disciplina de 1° Ano e a professora percebe os alunos como muito

periféricos nessa comunidade, necessitados de muitas informações e instruções

bem detalhadas no que se refere ao conteúdo técnico, porém não ao que se refere

ao conteúdo matemático.

b) A disciplina não apresenta apostila de conteúdo. Nas aulas é exposto o

conteúdo e passado exercícios e atividades. É fornecido um material complementar

para consulta em casa.

c) Os alunos são subdivididos em grupos menores, diminuindo assim o número

de alunos que participam da disciplina em sala. Além disso, esses subgrupos são

ainda subdivididos para atividades em sala.

d) O ambiente de sala de aula reproduz um ambiente de trabalho de um técnico

em metrologia.

e) Os alunos fazem uso de instrumentos como régua (escala), paquímetro,

relógio comparador, blocos padrão, esquadro, goniômetro, mesa seno, etc.

f) Os alunos usam jaleco próprio do curso durante as aulas.

g) A disciplina é lecionada por uma professora engenheira.

h) A professora exige rigor com os valores encontrados e a notação matemática

das atividades.

i) A professora usa termos de linguagem próprios dessa área profissional e os

alunos, gradativamente, começam a repeti-los.

j) A professora apresenta aos alunos exemplos e relatos de experiência dessa

área profissional na indústria.

k) Percebem-se, durante a execução das atividades, interações entre os alunos,

e entre os alunos e a professora.

l) O conhecimento gerado se nos apresenta como um conhecimento prático,

pelo qual a professora expõe a execução da atividade e o aluno aprende

Page 110: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

109

observando e reproduzindo; algumas vezes simultaneamente, outras, não. Porém,

também é observada a presença de muitas definições ou exposição de conteúdos.

m) É exigida a construção de relatório das práticas realizadas.

Os momentos mais marcantes em que observamos a articulação e

redimensionamento do conhecimento matemático na comunidade local de prática da

disciplina METRO I foram cinco.

O primeiro, é que os alunos são estimulados a redimensionar seu

pensamento em relação a medidas (linear, angular e de peso) para uma

característica da comunidade local de prática dessa disciplina que é a prática de

fazer boas estimações para medidas. Em geral, em aulas regulares de matemática,

os alunos não desenvolvem essa habilidade, mas para o técnico ela se apresenta

como importante.

Segundo, o uso de milímetro como unidade de medida linear preferencial e

constante na disciplina, como na disciplina de DTM já relatada.

Terceiro, a definição apresentada para escala. A definição nos parece uma

descrição do instrumento de trabalho, a régua (mesmo instrumento utilizado na

Matemática em geometria), tanto que a partir de então a régua é nomeada como

escala e assim é chamada durante o trabalho nessa disciplina, e também em outras

observadas que descreveremos posteriormente. Na prática dessa e também de

outras disciplinas dessa comunidade profissional, os alunos redimensionam seu

conhecimento em relação à escala para um conhecimento prático de fazer medidas,

como as orientadas por uma régua.

Um quarto momento foi a explicação sobre a resolução dos instrumentos

utilizados em METRO I. Nesse momento a professora chama atenção dos alunos,

como exposto, para o fato de que, para essa área do conhecimento da mecânica,

0,1 é diferente de 0,10. Isso porque o valor atribuído para a casa decimal representa

uma posição que o instrumento permite leitura. Logo, é exigido dos alunos nessa

prática redimensionarem seu conhecimento matemático a respeito da notação dos

números decimais e os valores agregados que, nessa comunidade local de prática,

possuem uma perspectiva de trabalho diferente do uso convencional na matemática.

Page 111: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

110

Em quinto, o uso do arco seno, conhecimento ainda não adquirido pelos

alunos nas aulas de matemática, na resolução de algumas atividades da disciplina.

Nesse momento, os alunos redimensionam seu conhecimento matemático para um

procedimento a ser adquirido, pois o entendimento do conceito não é requerido para

resolver a prática, e sim para saber fazer, o que revela a necessidade apenas de

uma matemática procedimental, uma matemática aplicada, para resolver o problema

proposto.

3.3 Mecânica Técnica e Resistência dos Materiais (MTRM)

A disciplina MTRM39 é uma das disciplinas específicas de conhecimento

técnico dos alunos do Curso Técnico de Mecânica cursada no segundo ano do

ensino médio. É uma disciplina anual e suas aulas acontecem uma vez por semana.

As aulas acontecem na sala convencional dos alunos, onde também

acontecem as aulas das disciplinas regulares, fora do Galpão da Mecânica. A turma

não é dividida, todos os 33 alunos da turma de segundo ano MEC2A, 30 alunos e 3

alunas, assistem à aula juntos. Como o próprio ambiente sugere, as aulas são como

aulas convencionais, em sua maioria, teóricas e com exercícios de aprendizagem.

Foram acompanhadas cinco aulas da disciplina.

A professora da disciplina, P(MTRM),40 possui graduação e mestrado em

Engenharia Mecânica e doutorado em Soldagem. É professora efetiva no CEFET-

MG desde 2002.

Ela não adota nenhum livro didático ou apostila na disciplina, mas indicou um

livro41 para consulta dos alunos; esse está disponível na biblioteca e também para

download na internet. Alguns alunos o levam para sala para os auxiliarem durante a

resolução dos exercícios. A professora sempre passa a matéria no quadro, explica e

traz exercícios para aprendizagem do conteúdo que é passado no quadro ou

39 Sigla utilizada pelo CEFET-MG para designar a disciplina Mecânica Técnica e Resistência dos

Materiais. 40 Sigla utilizada pela pesquisadora para designar a professora de MTRM. 41 MELCONIAN, Sarkis. Mecânica técnica e resistência dos materiais. 18. ed. São Paulo: Érica, 2008.

356p.

Page 112: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

111

entregue em folhas de exercícios. Ela já traz as aulas preparadas em um caderno

muito bem organizado, onde utiliza inclusive canetas de cores distintas para

destacar partes dos desenhos que constrói.

Possui uma dinâmica de aula bem parecida com a de aulas regulares

convencionais. Sua matéria é muito organizada no quadro; segundo fala da

professora, isso facilita os alunos a entenderem o conteúdo, pois é uma disciplina

muito difícil, que envolve muitos conceitos de física e matemática. Ela fica bem à

vontade com minha presença em sala e sempre que mobiliza algum conceito

explícito de matemática chama minha atenção. Também costuma me situar do

assunto antes do início da aula e comentar o trabalhado ao final.

O objetivo dessa disciplina, segundo seu plano de curso, é oferecer aos

alunos competências e habilidades para:

1. Localizar o centro de gravidade de figuras planas simples (triângulo, quadrado, círculos, retângulos, etc.) e figuras compostas (perfis I, H, C, U, etc.).

2. Calcular momento de inércia axial de figuras simples e compostas.

3. Aplicar diagramas de corpo livre para determinação de forças externas e internas de acordo com as condições de equilíbrio de forças que atuam em uma estrutura.

4. Estudar o comportamento dos materiais quando submetidos à ação de forças de tração ou compressão através do diagrama de tensão/de formação.

5. Determinar tensões admissíveis.

6. Calcular tensões máximas de tração/compressão e/ou cisalhamento atuante em peças.

7. Dimensionar peças submetidas à tração/compressão e cisalhamento.

8. Dimensionar cordões de solda, para juntas soldadas.

9. Associar/identificar o comportamento dos materiais quando submetidos à ação de forças de tração ou compressão através do diagrama de tensão/de formação.

10. Determinar momento torçor atuante em peças sujeitas à torção.

11. Calcular tensão de cisalhamento devido à torção.

12. Dimensionar eixos submetidos à torção.

13. Dimensionar chavetas.

Page 113: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

112

14. Desenvolver fórmulas e desenhar gráficos de esforço cortante e momento fletor.

15. Dimensionar vigas e eixos sujeitos à flexão.

A ementa dessa disciplina indica que devem ser abordados ao longo das

aulas conteúdos matemáticos ligados a Geometria Plana, fórmulas matemáticas

variadas em geral ligadas a conceitos de física e estudo de gráficos. Como as

disciplinas expostas anteriormente, ela deve apresentar características importantes

na formação técnica desse profissional, exposta no amplo conteúdo técnico da área

nessa ementa.

Foram observadas cinco aulas dessa disciplina, sendo duas inteiramente de

resolução de listas de exercícios. Para essa exposição, será apresentada apenas

parte do episódio do conteúdo de Estática que teve duração de dois dias de aulas,

segunda e terceira aula acompanhadas. Cada aula de MTRM possui duração de 3

horas/aula, ou seja, 2 horas e 30 minutos.

Todas as aulas foram gravadas e, paralelo à observação da pesquisadora,

foi construído um caderno de campo com as observações de aula e exposição do

conteúdo pela professora no quadro.

3.3.1 Episódio da Aula de Estática

Na segunda aula acompanhada, o conteúdo ministrado foi Estática,

conteúdo que também integra a disciplina de Física.

Antecedendo o momento em que a professora explicaria sobre a resultante

de duas forças, ela primeiramente relembrou no quadro as relações trigonométricas

no triângulo retângulo e a lei dos senos no triângulo qualquer. Após passar a regra

de forma simples no quadro como descrito a seguir,42 ela leu com os alunos, como

que explicando rapidamente:

42 Anotação da pesquisadora em seu caderno de campo.

Page 114: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

113

Relações trigonométricas no triângulo retângulo

00011

senα =

cosα =

tgα =

Lei dos senos de um triângulo qualquer

Teorema: “Os lados de um triângulo são proporcionais aos senos dos ângulos

opostos.”

Nesse momento, os alunos comentam muito a trigonometria em sala, uns

falam que é muito difícil, uns comentam que lembram bem, e outros, que não

lembram. Esse conteúdo foi apresentado a eles na aula da disciplina de Matemática

no ano letivo anterior, primeiro ano do ensino médio, no quarto bimestre. Logo, há

poucos meses.

Apesar de apresentar essa revisão de trigonometria, a professora deixa claro

que não é objetivo da disciplina resolver os exercícios usando a lei dos senos, mas

usando somente os conceitos de estática da física. Observe-se sua fala antes de

introduzir a lei dos senos:

Page 115: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

114

P(MTRM): Agora olha só gente, na hora da gente tá falando aqui de estática, a

gente vai tentar fazer tudo usando a física, né. Mas a gente pode também fazer os

exercícios usando só a matemática, não precisa da física. Mas isso não é muito

interessante pra gente aqui não, porque eu não quero só a resposta, eu quero o

entendimento daquelas forças, como é que aquilo aconteceu, as forças estavam

sendo distribuídas, não é assim? Mas quando a gente vai trabalhar, se eu quiser

trabalhar o exercício da estática só matematicamente, existe algumas regrinhas,

algumas leis né, que permite a gente fazer o exercício sem a física. Mas que não é o

nosso interesse aqui, mas de qualquer forma eu vou colocar aqui pra vocês a lei dos

senos.

(...)

P(MTRM): Naquele exemplo que eu dei, aquele lindo exercício, eu vou fazer de

acordo com a física, depois eu vou pensar também como é que faria de acordo com

a matemática, aí a gente fica sabe, sem raciocínio (risos). Brincadeira tá P43!

Em seguida a professora diz que, dando prosseguimento ao conteúdo de

estática, ela vai ensinar a resolver exercício de resultante de duas forças utilizando

física e matemática, mas que eles podem resolver usando só matemática, com lei

dos senos. E continua no quadro como a seguir.

Resultante de duas forças

FIGURA 31 – REPRODUÇÃO FEITA PELA PESQUISADORA DA IMAGEM DA PROFESSORA NO QUADRO

43 Usamos P para nos referirmos à pesquisadora.

Page 116: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

115

“Estabelece que duas forças atuando num corpo podem ser substituídas por

uma única força, chamada de resultante, obtida traçando a diagonal do

paralelogramo que tem por lados as duas forças dadas.”

Nesse momento houve discussão em sala, principalmente entre os alunos,

com poucas interações com a professora, que prosseguiu rapidamente com o

restante da exposição do conteúdo. A pesquisadora identificou, atentando-se às

conversas dos alunos, que eles perceberam que essa fórmula exposta corresponde

à lei dos cossenos para um triângulo qualquer. Porém a professora não faz essa

identificação com a trigonometria em nenhum momento. Ela ignora as discussões

dos alunos e prossegue com a solução do exercício como exposto a seguir.

Solução (1)44

FIGURA 32 – REPRODUÇÃO FEITA PELA PESQUISADORA DA IMAGEM DA PROFESSORA NO QUADRO

Construção do diagrama de corpo livre

(pode também ser chamado de diagrama de forças)

44 Apêndice C- Exercício 1.

Page 117: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

116

FIGURA 33 – REPRODUÇÃO FEITA PELA PESQUISADORA DA IMAGEM DA PROFESSORA NO QUADRO

Cálculo das Forças

Ao explicar o exercício anterior pela resultante de duas forças, ou seja,

usando a física na linguagem da professora, ela menciona que seriam mais simples

os cálculos utilizando a lei dos senos, mas ela não irá ensinar. Ela deixa entender

que se eles aprenderem sozinhos como fazer, podem até usar, mas ela não irá

ensinar porque quer que eles resolvam usando a resultante de duas forças.

P(MTRM): Lembrando que a gente tem a técnica da lei dos senos, não é assim?

Precisava de fazer nada disso! Mas essa eu não vou ensinar não, essa vocês vão

ter que aprender. (murmúrio dos alunos) Uai! Porque aí é só matemática, eu não

preciso de matemática.

Page 118: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

117

Em seguida, prossegue com a resolução do exercício:

No restante da aula, resolvem o restante dos exercícios da folha do

apêndice C, utilizando as anotações em seu caderno de aula ou o livro indicado na

disciplina, que alguns buscam na biblioteca.

Ao final da aula, em conversa com a professora, ela diz à pesquisadora que

não ensina os alunos a resolverem os exercícios utilizando a lei dos senos porque,

apesar de ser uma resolução mais simples e rápida, é muito difícil para os alunos

visualizarem e entenderem a resolução, eles não conseguiriam. E afirma:

Trigonometria é muito difícil para eles.

Pela observação dos alunos em sala, percebemos que eles não apresentam

muita dificuldade em lidar com o conhecimento matemático de trigonometria

mobilizado nas aulas. Acreditamos que essa insegurança seja maior pela

Page 119: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

118

professora, ou que seus objetivos sejam realmente lidar com os conhecimentos de

física preferencialmente aos de matemática, por razões outras não explicitadas.

Na aula seguinte, a professora resolveu um dos exercícios da lista dessa

turma utilizando a lei dos senos,45 já que alguns alunos a utilizaram na resolução.

Abaixo a resolução da professora no quadro.

FIGURA 34 – FOTO DA RESOLUÇÃO DO EXERCÍCIO PELA PROFESSORA NO QUADRO

3.3.2 Discussão e Análise Inicial da Disciplina MTRM

Na disciplina de Metrologia I, há mobilização de conhecimento matemático

durante as atividades desenvolvidas. Nas aulas acompanhadas, as atividades

propostas mobilizaram conhecimentos de trigonometria, tais como: relações

trigonométricas no triângulo retângulo, lei dos senos, lei dos cossenos, esta última

não explicitamente. Por serem alunos do segundo ano, eles já estudaram esse

conteúdo na disciplina de matemática no ano anterior, primeiro ano, no último

bimestre.

Para utilizar tais conhecimentos nas atividades propostas, a professora

revisava resumidamente o conteúdo primeiramente em sala. Ela parecia acreditar

45 Apêndice C - Exercício 6.

Page 120: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

119

que os alunos não conseguiriam aplicar tais conhecimentos, adquiridos

anteriormente, nas atividades dessa disciplina. Mas observamos que eles

conseguiam aplicar, mesmo sem orientação da professora, como quando

resolveram alguns exercícios utilizando a lei dos senos, ou quando perceberam que

a fórmula para a resultante de duas forças apresentada pela professora no quadro

correspondia à lei dos cossenos em um triângulo qualquer.

Como nas disciplinas expostas anteriormente, resumimos as principais

características observadas na disciplina MTRM. Como nas demais, o item 1 contribui

para identificarmos que conhecimentos matemáticos observamos sendo mobilizados

nessa disciplina e o item 2 contribui para entendermos essa disciplina como uma

comunidade local de prática, e a partir de então, discutirmos como observamos

acontecer a articulação desse conhecimento matemático com as características

próprias dessa comunidade de prática e o redimensionamento de alguns desses

conhecimentos de forma própria nessa comunidade.

1) Experiências dos alunos na aula de MTRM com o conhecimento matemático.

a) A Matemática é explicitada muitas vezes.

b) A Matemática é aplicada nas atividades como uma ferramenta e relacionada

algumas vezes a simples cálculos sem raciocínio.

c) A disciplina permite o uso de calculadora.

d) Atenção à notação da unidade de medida de valores dados.

e) As atividades envolvem unidades de medida linear, angular e de força.

f) O milímetro é muito usado como unidade de medida linear nas atividades da

lista de exercício anexa a essa tese.

g) Atenção à exatidão dos valores e às casas decimais; desenvolvem-se

atividades com pequenos valores.

h) As atividades observadas no episódio exposto envolvem o conteúdo de

trigonometria principalmente (relações trigonométricas no triângulo retângulo, lei dos

Page 121: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

120

senos e lei dos cossenos), aplicação de fórmulas matemáticas e resolução de

equações, cálculos com números decimais.

i) Há resolução de listas de exercícios.

j) A disciplina aborda conceitos diversos de física.

2) Experiências dos alunos na aula de MTRM com características de uma

comunidade local de prática.

a) É uma disciplina de 2° Ano e a professora percebe os alunos como muito

periféricos nessa comunidade, necessitados de muitas informações e instruções

bem detalhadas no que se refere ao conteúdo técnico e ao conteúdo matemático.

b) A disciplina não apresenta apostila de conteúdo. Nas aulas é exposto o

conteúdo e são passados exercícios e atividades. É indicado um livro para consulta

complementar.

c) Os alunos não são subdivididos em grupo para cursarem a disciplina, as

aulas acontecem com a turma completa.

d) O ambiente de sala de aula não reproduz um ambiente de trabalho, é uma

sala de aula escolar convencional.

e) Os alunos não usam jaleco próprio do curso e sim o uniforme escolar regular.

f) A disciplina é lecionada por uma professora engenheira.

g) A professora exige rigor com os valores encontrados e a notação matemática

das atividades.

h) A professora usa termos de linguagem próprios dessa área profissional e os

alunos, gradativamente, começam a repeti-los.

i) A professora apresenta aos alunos exemplos e relatos de experiência dessa

área profissional na indústria.

j) Percebem-se, durante a execução das atividades, poucas interações entre os

alunos, e entre os alunos e a professora.

Page 122: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

121

k) O conhecimento gerado se nos apresenta como um conhecimento prático,

pelo qual a professora expõe a execução da atividade e o aluno aprende

observando e reproduzindo; algumas vezes simultaneamente, outras, não. Porém,

também é observada a presença de muitas definições ou exposição de conteúdos.

l) A resolução e os resultados encontrados são definidos e interpretados a partir

do objetivo da disciplina.

Na disciplina MTRM, o momento em que observamos a articulação e

redimensionamento do conhecimento matemático na comunidade local de prática

dessa disciplina foi quando a professora utiliza a lei dos cossenos como uma fórmula

pronta para aplicação em um problema de resultante de duas forças. A professora

percebe aquela fórmula matemática como uma fórmula para resolver aquele tipo de

questão proposta e então os alunos, mesmo identificando a lei dos cossenos para

um triângulo qualquer presente na situação problema exposta, são ignorados pela

professora e tendem a redimensionar seu pensamento matemático da questão para

simplesmente aplicar a fórmula em problemas como esses; o que expõe os alunos a

redimensionarem seu pensamento para uma matemática aplicada ou mais que isso,

procedimental.

3.4 Elementos de Máquinas (ELM)

A disciplina ELM46 é uma das disciplinas específicas de conhecimento

técnico dos alunos do Curso Técnico de Mecânica cursada no terceiro ano do ensino

médio. É uma disciplina anual e suas aulas acontecem uma vez por semana.

As aulas acontecem na sala convencional dos alunos, onde também

acontecem as aulas das disciplinas regulares, fora do Galpão da Mecânica. A turma

não é dividida, todos os alunos da turma de terceiro ano MEC3A assistem à aula

juntos, 34 alunos, sendo desses cinco alunas. Como o próprio ambiente sugere, as

aulas são como aulas convencionais, em sua maioria teóricas e com exercícios de

aprendizagem. Foram acompanhadas seis aulas da disciplina.

46 Sigla utilizada pelo CEFET-MG para designar a disciplina Elementos de Máquinas.

Page 123: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

122

O professor da disciplina, P(ELM),47 possui curso técnico de mecânica e

graduação em Matemática. É um professor substituto no CEFET-MG e esse é o final

do seu segundo ano de contrato. Cabe ressaltar que é professor na rede SENAC há

30 anos nessa área de conhecimento, a mecânica.

Possui uma dinâmica de aula bem parecida com a de aulas do ensino

regular. Apresenta a matéria de forma organizada no quadro. Ele parece ficar à

vontade com minha presença em sala e faz alguns comentários sobre o conteúdo

comigo antes e após a explicação do conteúdo, parece preocupado em me situar do

assunto para que eu possa acompanhar bem as aulas.

Todos os alunos receberam no início do ano letivo uma apostila da disciplina

organizada por seis professores efetivos da área de mecânica.48 O professor a usa

como material de apoio em alguns momentos da aula, mas também passa a matéria

no quadro, explica, traz para os alunos pequenas apostilas xerocadas ou guias de

máquinas e empresas, e utiliza exercícios, para aprendizagem do conteúdo, que são

passados no quadro ou entregues em folhas de exercícios. Ele prepara suas aulas

anteriormente em um caderno e passa toda a matéria no quadro antes de iniciar a

explicação.

Os objetivos da disciplina, segundo seu plano de curso, são:

1. Identificar os principais tipos de órgãos de máquinas, suas aplicações e montagens.

2. Analisar pela cinemática os sistemas mecânicos.

3. Dimensionar alguns órgãos de máquinas quanto as suas aplicações.

4. Especificar cabos de aço e rolamentos.

A ementa dessa disciplina não indica a abordagem de conteúdos

matemáticos, somente de física. Mas, como as disciplinas expostas anteriormente,

ela deve apresentar características importantes na formação técnica desse

profissional, exposta no conteúdo técnico da área, ligado principalmente ao

funcionamento de máquinas nos quatro itens da ementa.

47 Sigla utilizada pela pesquisadora para designar o professor de ELM. 48 SILVA, E. R. et al. Elementos de máquinas. Belo Horizonte: CEFET-MG, 2011.

Page 124: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

123

Foram observadas seis aulas dessa disciplina, todas gravadas e, paralelo à

observação da pesquisadora, foi construído um caderno de campo com as

observações de aula e exposição do conteúdo pelo professor no quadro. Cada aula

possui duração de 2 horas/aula, ou seja, 1 hora e 40 minutos.

3.4.1 As Aulas Observadas

Nas três primeiras aulas acompanhadas, os conteúdos trabalhados em sala

de aula são assuntos ligados à disciplina de física, mas que indiretamente trabalham

matemática em suas equações, tais como: rodas de atrito, reação nos apoios.

Também se revisam assuntos passados em alguns momentos dessas aulas.

Nessas aulas, os conceitos de física estão mais presentes que os de

matemática. Porém a matemática está presente nas equações trabalhadas, nas

muitas operações, quase sempre utilizando três casas decimais, nas diferentes

unidades de medida e unidades de física presentes nas situações apresentadas.

Os alunos não apresentam dificuldades nas resoluções e operações dos

problemas apresentados. Por serem alunos do terceiro ano, já trabalham com

tranquilidade com a física e a matemática em suas aulas das disciplinas técnicas.

Trabalham com tranquilidade também com números em diferentes casas decimais e

unidades de medida, suas operações são sempre realizadas com ajuda da

calculadora científica que todos possuem e já sabem trabalhar bem no terceiro ano

do curso.

Para esse texto apresentaremos o episódio das quarta e quinta aulas

acompanhadas cujo conteúdo trabalhado foi “transmissão de correias”.

3.4.1.1 Episódio: Transmissão de Correias

O professor inicia a aula explicando aos alunos sobre polias e correias. Para

isso ele pede aos alunos que abram a Apostila de Elementos de Máquinas e vai

lendo e explicando aos alunos uma síntese do conteúdo da aula presente nessa

apostila. Ao decorrer da explicação, ele contextualiza muito o trabalho na indústria,

como acontece na prática, e os alunos fazem muitas perguntas.

Page 125: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

124

A partir desse momento, o professor apresenta a parte de cálculos do

conteúdo usando um exemplo para ser resolvido junto dos alunos. Para isso, utiliza

o catálogo de correias do fabricante Goodyear e explica que cada fabricante

apresenta seu catálogo com as suas informações e os alunos devem usá-las

apoiadas nelas. Para essas aulas, todos os alunos receberam o catálogo completo

da Goodyear49 xerocado. Ele será utilizado nas aulas e também poderá ser

consultado pelos alunos durante a avaliação do conteúdo.

O motor que será trabalhado na aula já estava desenhado no quadro com

seus dados e a pergunta a ser respondida antes do início da aula. A situação

problema com correias mecânicas, como exposto no quadro pelo professor, está

descrito a seguir:

Fabricante: Goodyear

Especificar o tipo e o número de correias referentes ao projeto abaixo:

FIGURA 35 – REPRODUÇÃO FEITA PELA PESQUISADORA DA IMAGEM DA ATIVIDADE FEITA NO QUADRO PELO PROFESSOR

Dados:

Nm = 3cv

Nm = 1140rpm

de1 = 85mm

49 Cálculos e Recomendações para Correias de Transmissão de Potência em “V”. Goodyear. 34p. As

figuras do item 3.4 têm esse catálogo da Goodyear como fonte.

Page 126: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

125

De2 = 940mm

Trabalho pesado

C = 878mm

O professor inicia explicando o desenho do motor acima: motor, ligado a

polia 1, utilizando uma correia trapezoidal. Os alunos parecem entender bem o

desenho acima. A linguagem transmitida pelo desenho já é conhecida deles de

aulas anteriores nessa disciplina e também de disciplinas cursadas em anos

anteriores.

Para resolver a situação acima, o professor indica onde os passos da

resolução que ele utilizará encontram-se na apostila. Ele lê com os alunos os dados

do problema explicando rapidamente cada um:

P(ELM): Nesse caso específico, eu vou especificar essa correia trapezoidal, nós

temos aqui uma seção AA, então ela vai ser aqui uma correia trapezoidal (procura a

seção na apostila), ok? Agora, podem ser duas correias, podem ser três correias,

mas pode ser uma correia, tá bom? Nós vamos especificar quantas correias são, e

nós vamos especificar o tipo da polia, em termos geométricos, não em termos de

diâmetro externo, ok? Lá embaixo na mecânica50 é muito comum você, a polia

menor do motor, ela ser ranhurada, os canais encaixados, e a polia maior, ela não é

ranhurada, até por questão de custo tá, porque as polias, lógico, da máquina, o

objetivo é você reduzir a rotação, tá certo? Como ele é muito grande em termo de

diâmetro o custo fica muito grande pro cê ranhura ele lá, tá. E você coloca na chapa

mesmo plana (...). Então vamos lá! Aqui temos aqui a potência do motor é três cv, a

rotação do motor é mil cento e quarenta, diâmetro externo oitenta e cinco milímetros,

diâmetro externo dois novecentos e quarenta. O trabalho que esse tipo de máquina

vai exercer é um trabalho pesado. Porque mostrar pros cês aqui a máquina? Daqui

pra frente, o que que a máquina vai exercer? É um trabalho pesado? Ela tá presente

num ambiente úmido, cheio de pó, enfim, aquele, aquela betoneira, vocês conhecem

betoneira? (alguns respondem) Quem não conhece betoneira? Aquela maquininha

que os pedreiros geralmente usam, empresa de engenharia usa né, joga lá o, fazer

50 Refere-se às salas das aulas práticas no Galpão da Mecânica.

Page 127: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

126

massa, fica rodando né (alguns alunos falam junto); aquilo então é uma betoneira

né, que cai cimento, o concreto na realidade né. A betoneira é aquele misturador de

concreto, ok? Vamos imaginar que isso seja um trabalho pesado, exemplo, pode ser

outros tipos de máquinas também. (mais alguns exemplos) A máquina aqui vamos

considerar que seja um trabalho pesado.

Aluno: Professor, mas tem alguma coisa pra definir isso? Como eu vou saber

quando é um trabalho pesado quando não é?

P(ELM): Tem, o catálogo tem especificando.

Aluno: Porque tem que considerar essa informação?

P(ELM): Porque os fatores de segurança que tem aqui, é conforme os trabalhos

serão exercidos, tá. Moçada, a distância entre centros é oito sete oito, mas veja

bem, essa distância de centros ela pode ser corrigida de acordo com os fabricantes

da correia, porque você não compra, por exemplo, exemplo bem prático assim, eu

não posso chegar na loja de ferramentas e falar eu quero uma broca de três vírgula

oito. De repente tem lá uma de quatro milímetros, ou três vírgula sete. Mas

exatamente três vírgula oito milímetros não tem, tá certo? Então você não pode

aquilo que você quer de ferramenta, você tem que adequar ao mercado. Mas o que

o mercado te oferece? Ah, tem três vírgula nove e quatro, três vírgula oito não tem,

tá certo? A não que meu projeto vai ser nesse furo; então muda o projeto. Enfim,

essa distância aqui de oito sete oito ela deverá ser corrigida, porque o tamanho da

correia, o comprimento dela, (...), aquela distância de centros ali ó C, ela terá que

ser corrigida. Máquina que tem motores, ela tem uma regulagem de altura. Então o

motor por exemplo não é fixo. (...) Então veja bem, agora, vamos direto pro

fabricante da Goodyear.

Percebam na fala do professor uma constante contextualização com o

mercado de trabalho. Isso acontece durante toda a aula, na resolução de todos os

passos que discutiremos a seguir. Nesses momentos os alunos participam

intensamente, fazendo perguntas e também dialogando com o professor e os

demais alunos. Essa contextualização contribui para familiarizá-los com a linguagem

e prática dos profissionais da mecânica. Além disso, ocorre nessa disciplina diversas

vezes, como no diálogo transcrito, a necessidade de adequar os valores

Page 128: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

127

encontrados a oferta no mercado. Essa situação também está presente em outras

disciplinas do curso.

É importante notar que no terceiro ano os alunos já caminham bem para o

centro da comunidade profissional a que pertencem e entendem muito melhor que

alunos dos anos anteriores os exemplos dados pelo professor, linguajares próprios

da área utilizados em sua explicação, a figura do motor no quadro e os dados

informados, como siglas e unidades de medida. Mesmo assim, o professor chama

atenção para o índice de simbologia utilizado pelo fabricante da Goodyear e para as

fórmulas básicas apresentadas no catálogo.

FIGURA 36 – PÁGINA 5 DO CATÁLOGO DA GOODYEAR: CÁLCULO DE UMA TRANSMISSÃO

Page 129: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

128

Exporemos a seguir cada passo da resolução como anotado pelo professor

no quadro. Cada passo da resolução foi resolvido de modo devagar pelo professor,

paralelo a suas explicações, juntamente com os alunos. Para isso eles utilizam o

catálogo da Goodyear, para consulta de informações de dados, e calculadora, para

os cálculos. O catálogo da Goodyear traz a explicação de cada um desses passos e

o professor orienta para que os alunos o consultem se tiverem dúvidas

posteriormente a aula. Durante toda a resolução dos sete passos que

apresentaremos, os alunos participam bastante.

A seguir, o 1º passo como apresentado pelo professor no quadro.

1º Passo: Determinar a Potência de Projeto (Pp)

a) Fator de serviço (Fs)

Tabela 1 – p. 9

Fs = 1,4 (Trabalho Pesado)

b) Pp = N(CV) · 0,986 · Fs

Pp = 3 · 0,986 · 1,4 Pp = 4,144 hp

A fórmula para o cálculo da potência de projeto, como também as demais

fórmulas utilizadas nos passos que seguem, é apresentada no quadro pelo professor

durante a resolução. Nenhum aluno questiona ou pergunta o porquê das fórmulas,

apenas as utilizam. Não existe preocupação nessa disciplina em memorizá-las, pois

estão descritas no catálogo da Goodyear, que poderá ser consultado na avaliação.

Para encontrar o fator de serviço na letra “a” do primeiro passo, os alunos

consultam a tabela a seguir. Leitura e entendimento de tabelas é uma competência

muito utilizada nessa aula. Os alunos não apresentam dificuldades, parece ser uma

prática comum da área profissional.

Page 130: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

129

FIGURA 37 – PÁGINA 9 DO CATÁLOGO DA GOODYEAR: FATORES DE SERVIÇO

O professor apresenta nesse momento também mais duas tabelas presentes

no catálogo que trazem mais detalhes em relação ao tipo de projeto a ser executado

e contextualiza os tipos de projetos que podem precisar utilizá-las, dando alguns

exemplos de projetos de indústrias específicas. Explica várias situações dessas

tabelas.

Page 131: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

130

FIGURAS 38 e 39 – PÁGINAS 10 E 11 DO CATÁLOGO DA GOODYEAR: FATORES DE SERVIÇO

Na letra “b”, o cálculo da potência de projeto é o valor da potência exigida

vezes o fator de serviço. Porém, o fabricante da Goodyear a utiliza em hp e os

dados foram fornecidos em cv. A operação N(CV) 0,986 é para transformar a unidade

em hp.

Como já mencionado, a disciplina trabalha com diferentes unidades de

medida e exige dos alunos atenção para utilizá-las corretamente e transformá-las

quando necessário.

A seguir, o 2º passo como apresentado pelo professor no quadro.

2º Passo: Determinar o perfil da correia

tabela 5 – p. 12

Page 132: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

131

FIGURA 40 – REPRODUÇÃO FEITA PELA PESQUISADORA DA IMAGEM FEITA PELO PROFESSOR NO QUADRO

O professor constrói o ponto no gráfico acima que determinará o perfil da

correia. O valor da abscissa é a potência de projeto em hp calculada no primeiro

passo e a ordenada é a rotação do motor fornecida nos dados do exemplo. O perfil

da correia é determinado analisando onde se encontra esse ponto de coordenadas

na tabela abaixo do catálogo da Goodyear.

FIGURA 41 – PÁGINA 12 DO CATÁLOGO DA GOODYEAR: DETERMINAÇÃO DO PERFIL DA CORREIA

Os alunos analisam a tabela e concluem rapidamente que a correia é do tipo

A, então completam as informações no desenho do quadro. A polia possui de 3 a 5

polegadas de diâmetro primitivo ou diâmetro datum. Buscam-se também mais

informações sobre as dimensões da correia em outra tabela do catálogo exposta

abaixo.

Page 133: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

132

FIGURA 42 – PÁGINA 28 DO CATÁLOGO DA GOODYEAR: DIMENSÕES NOMINAIS DAS CORREIAS

Mais uma vez os alunos fazem análise de informações contidas em gráficos

e tabelas. Essa competência é bem exigida deles no decorrer do curso, logo, já no

terceiro ano, não apresentam dificuldades.

A seguir o 3º e 4º passo como expostos pelo professor.

3º Passo: Relação de Transmissão (RT)

RT = 11,06

Esse passo foi resolvido rapidamente com poucas discussões efetuando apenas o

cálculo, pela relação dada pelo professor para transmissão.

4º Passo: Escolha dos diâmetros primitivos

a) Tabela 21 (p. 33)

Page 134: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

133

Perfil A

FIGURA 43 – REPRODUÇÃO FEITA PELA PESQUISADORA DA IMAGEM FEITA PELO PROFESSOR NO QUADRO

Polia 1

dp1 = de1 – 2b dp1 = 78,4mm (3,087”)

Dp2 = De2 – 2b Dp2 = 933,4mm (36,748”)

Para calcular o valor dos diâmetros primitivos (ou datum) no quarto passo, o

professor primeiramente explica a figura 44 a seguir, presente no catálogo, enquanto

monta um esquema parecido como mostrado no desenho da figura 43.

Page 135: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

134

FIGURA 44 – PÁGINA 32 DO CATÁLOGO DA GOODYEAR: SEÇÃO TRANSVERSAL DAS POLIAS

Posteriormente, ele utiliza a tabela mostrada na figura 45 para conhecer o

valor de “b”, que é 3,3. Daí então, efetua os cálculos dos diâmetros primitivos. Mais

uma vez os alunos utilizam gráficos e tabelas, efetuam cálculos com algarismos em

diferentes casas decimais e utilizam diferentes unidades de medida para o

entendimento completo da resolução. Exemplo disso é transformarem, ao final dos

cálculos, o valor em milímetro para polegada, já que necessitarão, no próximo

passo, desse resultado.

FIGURA 45 – PÁGINA 33 DO CATÁLOGO DA GOODYEAR: DIMENSÕES PADRÃO DOS CANAIS E DIÂMETROS RECOMENDADOS

A seguir o 5º passo como exposto pelo professor.

Page 136: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

135

5º Passo: Velocidade Periférica (pés/min)

V1 = 0,262 · dp1 (polegadas) · N

V1 = 0,262 · 3,087 · 1140 V1 = 922,03 pés/min

Recomendação do fabricante: V1 6000 pés/min

A partir da fórmula dada pelo professor para o cálculo da velocidade

periférica, resolve-se conjuntamente, fazendo as contas na calculadora. Ao final dos

cálculos, o professor destaca que os alunos devem ter atenção para o valor

encontrado, pois, segundo recomendações do fabricante, Goodyear, a velocidade

deve ser menor que 6000 pés/min, informação essa fornecida no catálogo. Então

discute com os alunos as possíveis alterações que podem ser feitas no projeto, caso

a velocidade encontrada não satisfaça a recomendação.

Essa é mais uma competência trabalhada nessa discussão, de estar atento

e interpretar o resultado obtido após aplicação da fórmula.

A seguir o 6º passo como exposto pelo professor.

6º Passo: Determinação da distância entre centros e comprimento da correia

a) LD = 2·C + 1,57·(Dp2 + dp1) +

LD = 2·878 + 1,57·(933,4 + 78,4) +

LD = 3552,677mm

LD= 139,87” (calculado)

O professor calcula o comprimento datum da correia LD em milímetro e, ao

final, transforma em polegada. Mas, ao início do exercício, comenta com os alunos

que eles podem resolver diretamente em polegada, utilizando os resultados do

quarto passo para Dp2 e dp1 em polegada, e transformando o valor fornecido nos

dados para C em polegadas ao dividir 878 por 25,4.

Page 137: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

136

b) Corrigindo o valor da distância entre centros (C)

i) Tabela 13 (p. 22 e 23)

Comprimento datum = 137,3” (adequando ao fabricante)

nº de série A-136

Nesse item o professor volta a explicar que o LD encontrado no item anterior

é o calculado. Os alunos devem procurar na tabela 13 do catálogo o valor do

comprimento datum adequado ao fabricante.

FIGURA 46 e 47 – PÁGINAS 22 E 23 DO CATÁLOGO DA GOODYEAR: DESIGNAÇÃO E COMPRIMENTOS DATUM

Ao consultar a tabela, e após uma longa discussão sobre essa análise, o

professor especifica que o melhor valor é o da correia de número de série A-136,

cujo valor é o mais próximo do calculado. Essa é a correia que eles deveriam

procurar no mercado para executarem esse projeto. A partir desses dois valores, o

comprimento datum calculado e o tabelado, o professor explica que eles devem

recalcular o valor C da distância entre centros dos eixos de transmissão, que ele

chama de C1, valor de C corrigido. É bom lembrar que o professor já havia

Page 138: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

137

anunciado antes de iniciar o primeiro passo, quando ainda explicava os passos, que

essa correção do valor de C seria necessária.

ii) C1 valor de C corrigido

C1 = C51 –

C1 = 34,567” –

C1= 33,282” = 845,36mm

Percebam que o professor fez os cálculos primeiramente em polegada, para

ao final transformar em milímetros, diferente da letra “a” deste passo.

A seguir o 7º passo como exposto pelo professor.

7º Passo:

Hp classificado (Hpcla)

Hp efetivo (Hpef)

Nº de correias

a) Fator de correção do ângulo de abraçamento (FAC)

51 Explica após dúvida de alunos anotando no canto do quadro. Essa dúvida já apareceu

anteriormente nessa mesma aula.

Page 139: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

138

FIGURA 48 – REPRODUÇÃO FEITA PELA PESQUISADORA DA IMAGEM FEITA PELO PROFESSOR NO QUADRO

I) AC =

AC =

AC = 119,3º

II) Tabela 7 – p.13

AC 120º FAC = 0,82

b) Fator de correção do comprimento (FLD)

comprimento tabelado

LD = 137,3” (Ref.A – 136)

Tabela 8 – p. 13

Para LD = 144 FLD = 1,14

c) Hp básico por correia (Hpb)

i) Tabela 9 – p. 14

Diâmetro datum (dp1) = 3,087”

Page 140: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

139

d datum 3

d externo 3,25

n(RPM) 1140

tabela _ 1100 – 1,23

1140 f(x)

tabela _ 1200 1,31

Interpolação:

nHp(b)

x0: 1100 __ 1,23 : f(x0)

x1: 1140 __ f(x)

x2: 1200 __ 1,31 : f(x1)

hpHpb = 1,262 hp

Obs.: Interpolação pelo diâmetro Datum (Ex)

Perfil D p. 20 – tabela 12

Diâm. Datum – 13,2”

Page 141: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

140

Tabela:

x0 x1

diâm. Datum 13” 13,2” 13,50”

400 rpm 13,82 (f(x0)) f(x) 14,73 (f(x1))

hp

d) Hp adicional (HpAD)

Relação de transmissão

RT = 11,06

Perfil A tabela 9A – p. 15

RPM __ HpAD

1100 __ 0,29

1140 __ f(x)

1200 __ 0,31

f(x) = 0,298 HpAD = 0,298 hp

e) Hp classificado (Hpcla)

Hpcla = Hpb + HpAD

Hpcla =1,262 + 0,298

Hpcla = 1,56 hp

Page 142: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

141

f) Hp efetivo (Hpef)

Hpef = Hpcla · FAC · FLD

Hpef = 1,56 · 0,82 · 1,14

Hpef = 1,46 hp

g) Nº de Correias

Especificação: 3 correias Multi “v” 3T-A-136 Goodyear

Para resolver o 7º passo, passo final da resolução desse exercício, foram

necessárias várias etapas. Na resolução destas, além das competências

matemáticas já desenvolvidas, tais como interpretação de tabelas e gráficos,

resolução de equações, operações com diferentes casas decimais e unidades de

medida, foi necessário fazer interpolação matemática.

O professor ensinou como fazer uma interpolação matemática durante o

próprio exercício, na prática, resolvendo o exemplo, e os alunos parecem ter

acompanhado bem. Mesmo assim, após o item c, onde resolveu a primeira

interpolação matemática do 7º passo, o professor faz uma pausa antes de passar

para o item “d” e resolve mais um exemplo de interpolação matemática, procurando

ajudar os alunos que apresentaram dúvidas.

Ao final, o professor interpreta o resultado obtido e especifica a correia

necessária para o projeto proposto, como pedido no exercício.

Terminada a explicação desse exercício, exemplo e conteúdo da matéria de

correias, o professor passa no quadro mais um desenho, de um motor com seus

Page 143: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

142

dados informados, para que os alunos resolvam, como o anterior, os 7 passos, em

casa, consultando o exemplo do caderno e o manual da Goodyear. Na aula seguinte

o professor corrige cada passo no quadro, devagar, com o auxílio dos alunos. Esse

exercício está exposto abaixo:

Motor:

Gaiola de Esquilo (alta potência de arranque)

FIGURA 49 – REPRODUÇÃO FEITA PELA PESQUISADORA DA IMAGEM FEITA PELO PROFESSOR NO QUADRO

Dados:

N = 7cv

Nm = 300 rpm

de1 = 250mm

De2 = 375mm

C = 1000mm

Trituradores de cilindros, de bolas, de mandíbulas.

3.4.2 Discussão e Análise Inicial da Disciplina ELM

Page 144: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

143

Na disciplina de Elementos de Máquinas há mobilização de conhecimento

matemático durante as atividades desenvolvidas, podendo ser observado ao longo

da resolução dos sete passos da atividade utilizada para expor o conteúdo de

transmissão de correias.

Todo o conhecimento matemático mobilizado nas aulas esteve

contextualizado com o conhecimento do técnico de mecânica em todos os passos

da resolução.

Como na disciplina de Metrologia I com relação ao conteúdo de arco seno, o

professor também fez um uso prático para a resolução da atividade do conteúdo de

interpolação matemática, conteúdo esse ainda não apresentado aos alunos em anos

anteriores na disciplina de Matemática regular. Também nessa disciplina, esse

conhecimento matemático foi apresentado como ferramenta prática para resolver a

tarefa, os alunos aprenderam “a fazer” seguindo o exemplo dado pelo professor no

quadro.

Como nas disciplinas expostas anteriormente, resumimos as principais

características observadas na disciplina ELM. Como nas demais, o item 1 contribui

para identificarmos que conhecimentos matemáticos observamos sendo mobilizados

nessa disciplina e o item 2 contribui para entendermos essa disciplina como uma

comunidade local de prática, e a partir de então discutirmos como observamos

acontecer a articulação desse conhecimento matemático com as características

próprias dessa comunidade de prática e o redimensionamento de alguns desses

conhecimentos de forma própria nessa comunidade.

1) Experiências dos alunos na aula de ELM com o conhecimento matemático.

a) A Matemática não é explicitada durante as aulas, apesar de o professor ter

formação em Matemática.

b) A Matemática é aplicada nas atividades como uma ferramenta.

c) A disciplina permite o uso de calculadora.

d) Atenção à notação da unidade de medida de valores dados.

Page 145: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

144

e) As atividades envolvem diferentes unidades de medida e siglas da área

técnica, bem como transformação de medidas.

f) O milímetro é usado como unidade de medida linear ao longo de toda a

atividade.

g) Atenção à exatidão dos valores e às casas decimais; desenvolvem-se

atividades com pequenos valores.

h) As atividades observadas no episódio exposto envolvem conteúdos

matemáticos como aplicação de fórmulas matemáticas e resolução de equações em

situações problema, cálculos com números decimais, consulta de dados em tabelas

e gráficos com variadas apresentações, interpolação matemática de valores (pré-

cálculo), cálculos em figuras geométricas planas de ângulos, diâmetros, etc.

i) Há resolução de exercícios propostos.

j) A disciplina aborda conceitos diversos de física.

2) Experiências dos alunos na aula de ELM com características de uma

comunidade local de prática.

a) É uma disciplina de 3° Ano e o professor percebe os alunos como mais

experientes nessa comunidade, já imbuídos de vários conhecimentos prévios,

matemáticos e técnicos, necessários nessa disciplina, mas ainda periféricos no que

diz respeito a informações técnicas específicas dessa disciplina.

b) A disciplina apresenta apostila de conteúdo, como também fornece outros

materiais complementares.

c) Os alunos não são subdivididos em grupo para cursarem a disciplina, as

aulas acontecem com a turma completa.

d) O ambiente de sala de aula não reproduz um ambiente de trabalho, é uma

sala de aula escolar convencional.

e) Os alunos não usam jaleco próprio do curso, e sim o uniforme escolar regular.

Page 146: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

145

f) A disciplina é lecionada por um professor com formação técnica e em

Matemática.

g) O professor exige rigor com os valores encontrados e a notação matemática e

técnica das atividades.

h) O professor usa termos de linguagem próprios dessa área profissional e os

alunos, gradativamente, começam a repeti-los, bem como já fazem uso de diversos

deles.

i) É utilizado no episódio exposto um material de consulta próprio da área, o

manual da Goodyear.

j) O professor apresenta aos alunos exemplos e relatos de experiência dessa

área profissional na indústria e os alunos interagem bem com o professor durante

esses relatos.

k) Há interações entre os alunos e entre os alunos e o professor durante as

aulas observadas.

l) O conhecimento gerado nos apresenta como um conhecimento prático, no

qual o professor expõe a execução da atividade, em 7 passos no caso do episódio

exposto, e o aluno aprende observando e reproduzindo.

m) A resolução com 7 passos e os resultados encontrados a cada um deles são

definidos e interpretados a partir do objetivo da atividade.

Na disciplina ELM, observamos a articulação e redimensionamento do

conhecimento matemático na comunidade local de prática dessa disciplina no

decorrer de toda a resolução da atividade exposta em 7 passos. Isso porque, para

resolver cada passo da situação problema proposta, os alunos trabalhavam com

variadas unidades e valores por vezes com muitas casas decimais, o que parecia

exigir rigor na exatidão do resultado. Porém o valor realmente utilizado como

resultado encontrado naquele passo era por vezes um valor aproximado do

encontrado nas operações, na verdade era utilizado o valor presente na tabela

comercializada pelo fabricante das peças que estavam sendo utilizadas, no caso a

empresa Goodyear. Essa situação expõe um redimensionamento da interpretação

Page 147: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

146

dos resultados obtidos em cada passo atribuindo-se valor a outro resultado a partir

da consulta de tabela e gráficos fornecidos para o mercado por esse fabricante.

Outro momento é equivalente a um já discutido em METRO I em relação ao

conceito de arco seno. Nessa disciplina os alunos precisaram resolver uma

interpolação matemática, apesar de esse conhecimento ainda não ter sido adquirido

pelos alunos nas aulas de matemática. Nesse momento, observamos mais uma vez

que os alunos redimensionam seu conhecimento matemático para um procedimento

a ser adquirido, pois o entendimento do conceito não é requerido para resolver a

prática e sim saber fazer, o que revela a necessidade apenas de uma matemática

procedimental, uma matemática aplicada, para resolver o problema proposto.

3.5 Comandos Óleos Hidráulicos (COH)

A disciplina COH52 é parte das específicas do Curso Técnico de Mecânica

cursada pelos alunos do terceiro ano do ensino médio. É uma disciplina designada

pela instituição como monotécnica, ou seja, acontece em um bimestre do ano letivo

com duração de aproximadamente 2 meses (40 horas/aula). Ela acontece no Galpão

da Mecânica em um laboratório específico para essa disciplina.

Para cursarem a disciplina, os alunos são divididos em três grupos de,

aproximadamente, 12 alunos cada, e revezam essa e mais duas outras

monotécnicas,53 durante três bimestres do ano letivo, no mesmo horário de aula.

O professor P(COH)54 que lecionava a disciplina no ano de 2013 na turma

de MEC3A, observada nessa pesquisa, possui graduação em Engenharia Mecânica

e mestrado em Engenharia da Energia. É um professor substituto, ou seja,

contratado temporariamente pela instituição, e está em seu segundo ano

trabalhando no CEFET-MG.

O laboratório onde acontecem as aulas da disciplina é uma grande sala com

teto bem alto como as demais do Galpão da Mecânica, onde, em grande parte do 52 Sigla utilizada pelo CEFET-MG para designar a disciplina de Comandos Óleos Hidráulicos. 53 Revezam-se nesse horário de aula Comandos Óleos Hidráulicos (COH), Comandos Pneumáticos

(CP) e Usinagem Assistida por Computador (CNC). 54 Sigla utilizada pela pesquisadora para designar o professor da disciplina COH.

Page 148: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

147

espaço, encontram-se as máquinas utilizadas pelos alunos para as aulas práticas

dessa disciplina nos cursos técnicos e na graduação. Em uma parte, no canto do

laboratório, há uma pequena sala de aula com quadro branco e, aproximadamente,

15 carteiras, onde acontecem as aulas teóricas sempre para pequenos grupos de

alunos.

FIGURA 50 – FOTO DA SALA DE AULA DE COH

Para as aulas nesses ambientes, os alunos usam um jaleco escuro

específico do seu curso, pois, na maioria das vezes, sujam-se nas aulas práticas,

que são a maioria nessa disciplina.

Para essa disciplina, os alunos receberam duas apostilas. A antiga utilizada

pelo curso de COH em 2011 e 2012, e a nova, revisada e complementada para o

ano de 2013.55 Isso porque, apesar de a de 2013 ser mais abrangente, havia alguns

exemplos e observações no conteúdo da antiga que a nova não manteve e que

55 REIS, M. N. E.; SOARES, C. B. Óleo-Hidráulica. Belo Horizonte: CEFET-MG, 2011. (outra, 2013).

Page 149: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

148

eram interesse do professor utilizar nas aulas. Portanto, em geral, os alunos

levavam as duas para a aula.

O objetivo dessa disciplina, segundo seu plano de curso, é oferecer

competências e habilidades aos alunos para:

1. Conhecer os elementos do sistema de geração de energia Óleo Hidráulica.

2. Identificar os componentes utilizados no processo Óleo Hidráulico.

3. Ler e interpretar circuitos Óleo Hidráulicos. Projetar circuitos Óleo Hidráulicos.

4. Montar circuitos Óleo Hidráulicos.

5. Aplicar normas de segurança e higiene do trabalho e de gestão pela qualidade no âmbito da hidráulica.

A ementa não indica qualquer aplicação de conteúdos matemáticos, parece

indicar apenas algumas aplicações de conceitos da física. Toda ela é

especificamente da área de hidráulica, trazendo conteúdos específicos da formação

técnica desse profissional ligada a linguagens e atitudes de membros dessa

comunidade.

Foram observadas duas aulas dessa disciplina, cada aula possuindo 4

horas/aula, ou seja, com duração de 3 horas e 20 minutos. Essas aulas foram

gravadas e, paralelo à observação da pesquisadora, foi construído um caderno de

campo com as observações de aula e exposição do conteúdo pelo professor no

quadro.

Traremos para essa pesquisa um episódio retirado da primeira aula

observada, que foi, como designado pelo professor P(COH), totalmente teórica.

Essa aula aconteceu com exposição no quadro e de resolução e correção de

exercícios e exposição do conteúdo. Na segunda aula, aqui não relatada, os alunos

realizaram uma atividade prática da área de hidráulica utilizando algumas máquinas

e equipamentos desse laboratório e produziram um relatório sobre a prática que foi

entregue ao final da aula.

Page 150: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

149

3.5.1 Episódio: Linha de Pressão, Linha de Retorno e Linha de Sucção de Bombas Hidráulicas

Essa aula observada foi, como designado pelo professor P(COH), totalmente

teórica. A aula aconteceu no quadro com alguns momentos de resolução e correção

de exercícios e outros de exposição do conteúdo.

A aula inicia-se com o professor corrigindo exercícios (situações problemas),

passados no quadro na aula anterior, para que os alunos resolvessem em casa.

Para a correção, o professor reescreve a questão-problema no quadro e a corrige

por completo, desenvolvendo todos os cálculos.

São três questões-problema: uma de linha de pressão, outra de linha de

retorno e outra de linha de sucção de bombas hidráulicas. Nos três exercícios, os

alunos devem, ao final, interpretar os resultados numéricos obtidos e decidir qual

medida de tubo hidráulico utilizar entre as existentes no comércio. Ou seja, é uma

questão-problema que reproduz a prática de trabalho deles como técnico.

Acompanhemos o primeiro exercício para exemplificar a tarefa dos alunos

nessa atividade, exposto como anotado pelo professor no quadro:

1a Questão-problema proposta pelo professor:

Linha de Pressão:

Calcular o diâmetro interno Q = 80/pm. Considerando a vs = 1m/s; vp = 4,5m/s e a vr

= 3m/s.

Resolução feita pelo professor no quadro:

(fórmula já apresentada aos alunos na aula anterior)

Q = l/min (vazão); = mm (diâmetro interno); V = m/s (velocidade)

Após o final do exercício, os alunos deveriam observar a medida obtida na

resolução para o diâmetro do tubo a ser utilizado, 19,4mm, e decidir qual deveria ser

Page 151: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

150

a medida utilizada na situação real para o tubo, pois não existe no comércio tudo

com essa medida obtida.

Para a tomada de decisão, o professor apresentou aos alunos uma tabela,

trazida para a aula por ele, que contém as medidas de tubulação comercial. As mais

próximas são (25 x 19) e (30 x 21). A primeira medida representa o diâmetro externo

do tubo, e a segunda, o diâmetro interno ( ) calculado no exercício.

Em problemas similares em aulas de matemática do ensino médio, a opção

correta seria decidir pela medida que segue a encontrada, ou seja, 30 x 21, pois

21mm é a menor medida após 19,4mm. Porém, na situação real de trabalho, o

técnico deve observar a velocidade na pressão suportada pelo tubo, que, na tabela,

traz a informação de 3 a 6m/s para a menor, ou seja, suporta a vp de 4,5m/s indicada

no enunciado do exercício. Portanto, o técnico deve optar pela tubulação de 25 x 19

que é mais barata no comércio, diminuindo o preço da obra. Mesmo o diâmetro de

19mm sendo menor que o encontrado, a velocidade dentro do tubo aumentará, mas

ele suportará a pressão.

Questionado pelos alunos sobre o que seria mais aconselhado optar, quanto

à medida do tubo, caso houvesse verba, o professor responde que não faz diferença

na qualidade da obra. Portanto, é sempre mais aconselhável optar pelo mais barato

quando possível.

Nas duas questões-problemas que seguem a descrita acima, os alunos

tomaram decisões semelhantes a essa na escolha da tubulação para a atividade

proposta.

A aula continua com apresentação de teoria da disciplina e proposta de

exercícios ao final sobre o conteúdo apresentado na aula.

No episódio descrito, os alunos se deparam com uma situação problema na

qual, após utilizarem uma fórmula matemática desenvolvida para resolverem a

questão proposta, eles precisam tomar uma decisão com base no resultado

numérico obtido. É uma questão-problema bem similar a muitas propostas em aulas

de matemática.

Page 152: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

151

Porém o raciocínio orientado pelo professor para a tomada de decisão não é

similar ao raciocínio que um professor de matemática faria com seus alunos em uma

situação parecida com essa.

Como descrito no episódio, em uma aula de matemática seria mais comum a

indicação do uso do maior tubo, como pensaram alguns alunos ser mais adequado.

Porém, na prática de trabalho do técnico, existem outras questões a serem

analisadas que não apenas o resultado numérico da questão. Como no caso

mencionado pelo professor, é sempre preferível optar pelo mais barato, se há

condições para efetuar, com qualidade, a obra.

Esse episódio já contribui para indicar que existe um uso próprio da

matemática por esse grupo cultural de técnicos em mecânica. O uso da matemática

na prática própria dessa disciplina envolve conhecimentos distintos dos da aula de

matemática do ensino médio, conhecimentos esses que são próprios dessa

comunidade à qual os alunos começam a pertencer e se constituem integrantes ao

longo desses três anos escolares.

Acreditamos que o modo próprio de os alunos técnicos em mecânica

interpretarem os resultados numéricos da resolução de uma questão-problema do

contexto da disciplina de COH colabora na construção de um conhecimento

matemático que é próprio da comunidade de prática desses alunos.

3.5.2 Discussão e Análise Inicial da Disciplina COH

Na disciplina de Comandos Óleos Hidráulicos, há mobilização de

conhecimento matemático durante as atividades desenvolvidas. Os alunos se

deparam com resolução de problemas propostos, em que precisam aplicar fórmulas

adequadas à situação proposta, porém a interpretação final do resultado encontrado

nem sempre condiz com o modo como essa interpretação costuma ser feita em

aulas de ensino regular de matemática.

Como nas disciplinas expostas anteriormente, resumimos as principais

características observadas na disciplina COH. Como nas demais, o item 1 contribui

para identificarmos que conhecimentos matemáticos observamos sendo mobilizados

nessa disciplina, e o item 2 contribui para entendermos essa disciplina como uma

Page 153: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

152

comunidade local de prática, e a partir de então discutirmos como observamos

acontecer a articulação desse conhecimento matemático com as características

próprias dessa comunidade de prática e o redimensionamento desse conhecimento

de forma própria nessa comunidade.

1) Experiências dos alunos na aula de COH com o conhecimento matemático.

a) A Matemática não é explicitada durante as aulas e atividades.

b) A Matemática é aplicada nas atividades de cálculo.

c) A disciplina permite o uso de calculadora.

d) Atenção à notação da unidade de medida de valores dados.

e) As atividades envolvem diferentes unidades de medida, bem como

transformações entre elas.

f) A unidade de medida linear principal das atividades é o milímetro.

g) Atenção à exatidão dos valores e às casas decimais; desenvolvem-se

atividades com pequenos valores.

h) As atividades envolvem o conteúdo de cálculos numéricos e resolução de

problemas.

i) Há resolução de listas de exercícios.

2) Experiências dos alunos na aula de COH com características de uma

comunidade local de prática.

a) É uma disciplina de 3° Ano e o professor percebe os alunos como mais

experientes nessa comunidade, já imbuídos de vários conhecimentos prévios, em

geral conhecimentos da área técnica de mecânica, necessários nessa disciplina,

mas ainda periféricos no que diz respeito a informações técnicas específicas dessa

disciplina.

b) A disciplina apresenta apostila do conteúdo e essa é usada em sala pelo

professor.

Page 154: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

153

c) Os alunos são subdivididos em grupos menores, diminuindo assim o número

de alunos que participam da disciplina em sala. Além disso, esses subgrupos são

ainda subdivididos para atividades em sala.

d) O ambiente de sala de aula reproduz um ambiente de trabalho de um técnico

da área de hidráulica.

e) Os alunos fazem uso de instrumentos, ferramentas e máquinas dessa área de

trabalho em grande parte do curso segundo o professor.

f) Os alunos usam jaleco próprio do curso durante as aulas.

g) A disciplina é lecionada por um professor engenheiro.

h) O professor exige rigor com os valores encontrados, mas na prática esses

são arredondados para outros valores, segundo a interpretação da questão

problema dada e segundo a oferta de mercadorias no comércio.

i) O professor usa termos de linguagem próprios dessa área profissional e os

alunos, gradativamente, começam a repeti-los, bem como já fazem uso de diversos

deles.

j) O professor apresenta aos alunos exemplos e relatos de experiência dessa

área profissional na indústria e os alunos interagem bastante com o professor

durante esses relatos, mostrando-se bem interessados e já conhecedores de

algumas situações citadas.

k) Há, no decorrer das aulas, interações entre os alunos e entre os alunos e o

professor.

l) O conhecimento gerado se nos apresenta como um conhecimento prático, em

que há poucas exposições de conteúdos teóricos, as resoluções das situações-

problemas são que transmitem o conhecimento.

m) É exigida a construção de relatório das práticas realizadas.

Na disciplina COH, observamos a articulação e redimensionamento do

conhecimento matemático na comunidade local de prática dessa disciplina na

Page 155: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

154

interpretação do problema proposto de linha de pressão no episódio descrito. Essa

situação expôs um redimensionamento da interpretação do resultado obtido na

resolução do problema, atribuindo-se um valor a partir da consulta do tamanho das

peças fornecidas pelo mercado, semelhante à situação descrita na disciplina de

DTM. Porém, para a disciplina de COH, outros fatores influenciaram na escolha do

tamanho a ser comprado, como citado o custo baixo para a obra, a partir de uma

interpretação dos tamanhos possíveis que não alterariam ou danificariam o trabalho

a ser realizado.

3.6 Caldeiraria (CALD)

A disciplina CALD56 é parte das específicas do Curso Técnico de Mecânica

cursada pelos alunos do terceiro ano do ensino médio. É uma disciplina designada

pela instituição como monotécnica, ou seja, acontece em um bimestre do ano letivo

com duração de pouco mais de 2 meses (40 horas/aula). Ela acontece no Galpão da

Mecânica em um laboratório específico para essa disciplina.

Para cursarem a disciplina os alunos são divididos em três grupos de

aproximadamente 12 alunos,57 sendo o grupo observado contendo 9 meninos e 3

meninas, e revezam essa e mais duas outras monotécnicas58 durante três bimestres

do ano letivo no mesmo horário de aula.

O professor P(CALD)59 que lecionava a disciplina no ano de 2013 na turma

de MEC3A, observada nessa pesquisa, possui graduação em Engenharia Mecânica,

especialização em Engenharia Metalúrgica e mestrado em Engenharia de Materiais.

É um professor efetivo há 31 anos no CEFET-MG, onde já leciona essa disciplina há

muitos anos.

O laboratório onde acontecem as aulas da disciplina é uma grande sala com

teto bem alto, como as demais do Galpão da Mecânica, onde em grande parte do

56 Sigla utilizada pelo CEFET-MG para designar a disciplina Caldeiraria. 57 Mesmo grupo da disciplina COH. 58 Revezam-se nesse horário de aula Manutenção de Motores Endotérmicos (MME) e Manufatura

Assistida por Computador (CAD/CAM). 59 Sigla utilizada pela pesquisadora para designar o professor da disciplina CALD.

Page 156: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

155

espaço encontram-se as máquinas utilizadas pelos alunos para as aulas práticas

dessa disciplina nos cursos técnicos e de graduação. Em uma parte no canto do

laboratório, há uma pequena sala de aula com quadro branco e aproximadamente

15 carteiras, onde acontecem as aulas teóricas sempre para pequenos grupos de

alunos. Esse laboratório é de uso exclusivo dessa disciplina e de responsabilidade

desse professor.

FIGURA 51 – FOTOS DA SALA DE AULA DE CALD

Para as aulas nesses ambientes, os alunos usam, como em outras já

relatadas, um jaleco escuro específico do seu curso, pois na maioria das vezes se

sujam nas aulas práticas, que são a maior parte nessa disciplina.

Para essa disciplina, os alunos receberam uma apostila60 escrita pelo

próprio professor P(CALD) da disciplina. A versão utilizada no ano de 2013 era de

2011. Os alunos a utilizavam em todas as aulas.

O objetivo dessa disciplina, segundo seu plano de curso, é oferecer

competências e habilidades aos alunos para:

1. Conhecer os princípios da Caldeiraria.

2. Identificar e selecionar os materiais conformáveis plasticamente, utilizados em Caldeiraria.

3. Seguir regras de higiene e segurança no trabalho de Caldeiraria.

4. Calcular corretamente o perímetro de figuras geométricas e circunferências.

5. Identificar e manusear corretamente os tipos de ferramentas utilizadas em Caldeiraria.

60 SALES, V. Caldeiraria. Belo Horizonte: CEFET-MG, 2011.

Page 157: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

156

6. Conhecer os princípios de funcionamento das máquinas operatrizes do setor.

7. Planificar peças cilíndricas.

8. Planificar peças prismáticas, cônicas, esféricas e planas.

9. Identificar as etapas de fabricação das peças.

10. Traçar e montar peças planificadas em chapas.

11. Operar corretamente os equipamentos de montagem usados em

Caldeiraria.

A ementa indica que a disciplina deve abordar conteúdos matemáticos

ligados a conceitos diversos da Geometria Plana e Espacial. Ela deve trazer também

características importantes na formação técnica desse profissional ligadas a

linguagens e atitudes de membros dessa comunidade, o que é percebido quando

usa termos como materiais, segurança no trabalho, funcionamento de máquinas,

ferramentas, fabricação de peças, montagem, etc.

Foram observadas 6 aulas61 dessa disciplina, cada aula com 4 horas/aula,

ou seja, duração de 3 horas e 20 minutos.

Todas as aulas foram filmadas, e na primeira também foi utilizado um

gravador que circulava próximo aos grupos. Durante todas as aulas, tanto o

professor quanto os alunos ficaram à vontade com minha presença, com a filmagem

das aulas e minhas anotações durante o processo. Em muitos momentos buscaram

contribuir com meu trabalho e pareciam gostar de participarem, professor e alunos,

da pesquisa que desenvolvia.62

3.6.1 As Aulas Observadas

As atividades de todas as aulas dessa disciplina têm como objetivo construir

uma peça mecânica proposta na primeira aula que ficará pronta na última. A cada

aula os alunos fazem parte da construção a ser desenvolvida. A figura 52 apresenta

61 Seis aulas consecutivas a partir da segunda aula do curso, a primeira não foi acompanhada. 62 Os alunos dessa turma haviam sido alunos da doutoranda no primeiro ano do ensino médio por um

período de 3 meses.

Page 158: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

157

uma foto do modelo dessa peça exposto em sala pelo professor e construído por

alunos de uma turma anterior.

FIGURA 52 – FOTO DO MODELO DA PEÇA, CUJA CONSTRUÇÃO FOI OBJETIVO DA DISCIPLINA CALD

Descreveremos todas as aulas observadas na disciplina de CALD, relatando

com mais detalhes os principais episódios de aula que contribuem para esta

pesquisa.

3.6.1.1 A atividade desenvolvida ao longo das aulas

Como exposto pelo professor em sala de aula e também relatado na apostila

utilizada na disciplina, a caldeiraria é um setor da indústria de estruturas metálicas

que produz peças de chapas em formato espacial (SALES, 2011, p. 5). Na

disciplina, os alunos utilizam o aço, que é o material mais usado nesse setor.

Antes de dar início à montagem da estrutura que é o produto final dessa

disciplina, os alunos desenvolvem um trabalho de cálculo do dimensionamento das

peças planificadas que formarão a estrutura.

O procedimento, orientado pela apostila da disciplina que os alunos

utilizaram para a planificação do sólido geométrico, que eles construíram, trata-se

de, segundo Sales, procedimentos geométricos utilizando um modelo matemático.

Tal modelo permite que sejam preparados aplicativos para cálculos precisos

dispensando programas de alto custo financeiro que exigem sacrifício para

empresas de menor porte (SALES, 2011, p. 4).

Page 159: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

158

Na primeira aula acompanhada, os alunos passaram todo o horário fazendo

os cálculos da planificação da estrutura que foi construída ao longo das aulas. Para

orientar esse trabalho, os alunos se agruparam em 3 grupos de 4 alunos cada, que

foram escolhidos na aula anterior para serem os grupos de trabalho em todas as

aulas. Cada grupo recebeu a tarefa da disciplina63 em uma folha trazida pelo

professor.

Cada cálculo da planificação das peças da estrutura que os alunos

efetuaram na tarefa era orientado pelas páginas na apostila onde encontrariam o

conteúdo, as fórmulas matemáticas e exemplos com outras peças.

O professor colocou-se à disposição para resolver dúvidas, caso algum

grupo precisasse, porém ele quase não foi solicitado. Em virtude do modo como a

tarefa foi montada, os alunos desenvolveram-na nessa aula sem dúvidas, utilizando

a ajuda dos colegas do próprio grupo, às vezes de outro grupo também, e utilizando

em toda a tarefa o auxílio de calculadora científica para efetuar os cálculos que

necessitavam de muita precisão; em alguns momentos era solicitada inclusive uma

precisão de 10 casas decimais.

O professor inicia a aula seguinte corrigindo os resultados de cada grupo,

alguns inclusive encontraram resultados errados e tiveram que refazer a atividade.

Após esse momento, os alunos começam a montagem das peças em seu grupo a

partir das medidas encontradas, prática feita nas bancadas com auxílio de

ferramentas e máquinas, e permanecem efetuando cada etapa até montar a

estrutura final na última aula.

3.6.1.2 Episódios da Primeira Aula Acompanhada

Essa aula foi bem cansativa, os alunos passaram as 4 horas/aulas fazendo

os cálculos em suas calculadoras científicas da planificação da estrutura a ser

montada. Mas ficaram tranquilos todo o tempo, empenhados, não pareciam se

incomodar.

63 Essa tarefa era de formar a mesma estrutura geométrica para cada grupo, figura 52, porém com

dimensões distintas. Como exemplo, no apêndice D, a tarefa do grupo 1, com suas anotações,

após efetuarem seus cálculos da planificação da estrutura.

Page 160: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

159

Os grupos trabalhavam assim: todos faziam todos os cálculos e iam

comparando os resultados, assim cada um já ia montando seu relatório final da

disciplina, que era a descrição de cada aula, e também comparava seus resultados,

o que diminuía a possibilidade de erros. No relatório que os alunos montavam para o

professor, nessa aula não precisavam apresentar os cálculos feitos, somente os

resultados. Mas nem todos fizeram tudo.

Em um momento no início da aula, o grupo 164 pede auxílio do professor,

pois tinha dúvidas para iniciar as tarefas. Em meio à explicação do professor, houve

o diálogo:

P(CALD): Nós vamos só fazer os cálculos e preencher...

MA: Primeira coisa é pra fazer isso.

P(CALD): É. Agora, depois de tudo calculado nós vamos passar para a prática. Aí

nós vamos, o que, tudo, tudo o que vocês calcularem aqui, nós vamos colocar na

prática lá.

MA: Ah tá.

P(CALD): Ok?

JP: E planificação é um… um retângulo, no caso aqui?

P(CALD): Um retângulo. Igual tá aqui.

Nas observações para efetuar as tarefas, havia duas sobre o uso de casas decimais:

5) Todos os cálculos devem ser realizados sem nenhum arredondamento (usar

todos os dígitos disponíveis na calculadora).

6) Depois de realizados os cálculos lançar as cotas nos desenhos fornecidos com

apenas uma casa decimal. Critério de arredondamento: casa decimal seguinte maior

ou igual a 5, arredondar para cima. Se for menor que 5, arredondar para baixo.

64 Grupo 1: JP, MC, MA, MB.

Page 161: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

160

Portanto os alunos utilizavam muitas casas decimais em seus cálculos,

efetuando assim longos cálculos, por vezes, cansativos. Em certo momento, um

aluno exclama em voz alta, dirigindo-se à pesquisadora que observava:65

Aluno: Isso aqui é pura matemática fessora!

P:66 Por quê?

Aluno: Só cálculo! Trabalha com 10 casas decimais! Que isso! É pura matemática!

Nesse momento o aluno queria chamar minha atenção, pois sabia que eu

buscava na pesquisa observá-los trabalhando matemática nas disciplinas técnicas.

E pensou aquele momento ser o principal para minhas observações, pois passaram

toda a aula fazendo cálculos com muitos números e utilizando fórmulas matemáticas

(da geometria, trigonometria, exponencial, etc.). Esse momento revela uma visão de

que para eles tudo que é fazer conta é Matemática!

A todo o momento os alunos se preocupavam com a precisão de seus

cálculos. Outra preocupação constante era com o uso correto de unidades de

medida. A todos os resultados obtidos registravam sua unidade de medida e faziam

as conversões quando necessário. Observemos o episódio no grupo 1:

MA: Não tem nada de milímetro aqui...

JP: Isso é milímetro MA. A gente tá usando milímetro. A densidade tá em decímetro

a gente tem que converter.

MA: Não tô entendendo.

JP: Isso aqui é milímetro não é?

MA: É.

65 Diálogo anotado no caderno de campo. 66 Sigla utilizada no texto para designar a pesquisadora.

Page 162: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

161

JP: Só que o volume é em milímetro cúbico. Se o volume tá em milímetro cúbico, pra

você multiplicar pela densidade, você tem que converter pra decímetro cúbico

também, ela tá em decímetro não é?

MA: Huhun. Entendi.

JP: Entendeu mesmo?

MA: Entendi.

Apesar de muitos cálculos, os alunos estavam atentos ao que estavam

calculando, ou seja, faziam as contas pensando no que estavam calculando.

Observe-se este episódio do grupo 1:

MA: Me empresta aí MB (refere-se à calculadora). Você tá fazendo as contas? Você

já achou a rg já?

MB: Já, mas tá um valor muito esquisito.

MA: Xo vê.

MB: 420. Nunca vi isso não. O raio dá maior que (pausa), o diâmetro!

MA: (vai conferindo e resmungando suas contas)

3.6.1.3 Episódios da Segunda67 Aula Acompanhada

O professor já entrega no início da aula, para cada um dos três grupos, uma

chapa de aço cortada retangular onde as equipes marcariam e cortariam cada uma

das peças cujas medidas já foram calculadas pelos grupos na primeira aula

relatada.68 Um destes69 coloca sua chapa em uma das bancadas preparadas por

67 Houve uma aula anterior a essa, porém não foram feitos registros. A máquina necessária para

iniciar a prática não funcionou e alguns alunos ficaram terminando os cálculos da aula passada, o

professor conferiu os resultados e depois os dispensou. 68 Ver peças expostas na atividade dos alunos no apêndice D. 69 Grupo 3: MF, IG, GT e LC.

Page 163: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

162

eles (limpeza, instrumentos a ser utilizados, etc.), com orientação do professor, e o

professor reúne os doze alunos ao redor dessa bancada para explicar como farão a

primeira parte desse trabalho, a atividade daquela aula.70

Os instrumentos de trabalho, ferramentas utilizadas nessa aula, podem ser

observados na figura 53, e são: chapa de aço cortada em forma retangular, cintel

graduado, cintel simples, régua (de 50cm e 30cm de metal), pulsador (utilizado para

marcar um ponto na chapa de aço), martelo, marcador (uma espécie de lápis de

ferro para riscar a chapa de aço), compasso (de ferro para riscar a chapa de aço).

FIGURA 53 – FOTO DAS FERRAMENTAS UTILIZADAS NA SEGUNDA AULA OBSERVADA

A primeira tarefa realizada pelo professor com a observação de todos os

alunos é riscar um retângulo para traçar posteriormente nele as peças 1, 3 e 4.71

O retângulo do grupo 3 que estava na bancada foi riscado com as medidas

720mm (medida com sobra orientada pelo professor) por 263,1mm (exatamente a

medida encontrada pelo grupo, para facilitar um trabalho posterior).

70 Há apenas duas bancadas e poucos instrumentos, então trabalham no máximo dois grupos

concomitantes e o terceiro aguarda um terminar para começar sua atividade. 71 Ver 7a página do apêndice D.

Page 164: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

163

Acompanhemos o traçado desse retângulo:

P(CALD): Então eu vou traça essa primeira linha aqui ó (aponta para o desenho do

grupo, maior lado do retângulo da chapa) e vocês vão ver como fazer o traçado sem

ajuda de ninguém. Mais ou menos a cinco milímetros da margem, vocês vão ver que

eu não vou medir, vocês vão segurar o riscador de modo que ele encoste a ponta na

escala (professor tomba o riscador encostado na chapa de aço e o encosta na

régua, que no curso técnico de mecânico é comumente designado escala). Ela tem

que ficar inclinada senão não vai encostar a ponta aqui. Para facilitar o movimento

com o indicador ele deve ficar um pouco inclinado também (inclina o dedo). Você vai

riscar daqui pra cá (uma ponta a outra da chapa) (...). Então, meio centímetro, aqui

no olho mesmo, cinco milímetros da margem, e, a gente faz o corte, um corte só,

quer dizer não faz o corte, faz o traço, um risco só, e, olha aí, pra mudar de posição,

não tire a ponta do riscador do lugar. Pronto (termina o traço). O primeiro risco já tá

aqui. Tem que ser um risco, um traçado forte, pra não ficar invisível depois. E, feito

isso, agora nós vamos traçar, essa perpendicular aqui ó (mostra no desenho do

grupo). Como a gente vai fazer esse traçado perpendicular? Também mais ou

menos cinco milímetros da margem. Como que vai ser feito? O traçado

perpendicular, qual a maneira correta?

Aluno: Com o cintel.

P(CALD): Tá, com o cintel. Então, a gente vem aqui ó (coloca o pulsador em uma

extremidade do risco traçado), dá uma pulsionada certinha em cima da linha aqui ó,

uma batidinha leve (bate o pulsador com o martelo), olha aí, ficou fora. Quando é

uma batidinha leve tem como a gente corrigir. E então, agora eu vou fazer a

correção aqui ó (bate o pulsador com o martelo novamente). E agora eu vou

pulsionar com vontade (bate forte). O pulsionado tem que ficar batido bem forte pelo

seguinte, ele vai servir de base para colocar a ponta do cintel, a ponta do compasso,

e, agora nós vamos traçar, a partir desse ponto, nós vamos pegar, utilizar o sistema

chamado três quatro cinco, o que que é o três quatro cinco?

Aluno: (...) o triângulo de Pitágoras (...)

P(CALD): é, os três lados do triângulo de Pitágoras. Três o cateto oposto, quatro o

cateto adjacente e cinco a hipotenusa. E esse é o processo utilizado normalmente

Page 165: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

164

na indústria. E peças de caldeiraria praticamente não tem como colocar um

esquadro, são peça muito grandes lá, e, então, não dá pra colocar um esquadro, e,

eu não tenho como garantir que essa linha que eu tracei aqui seja paralela, paralela

certinha com a superfície da chapa. E, então, eles usam o método três quatro cinco.

Então, três quatro cinco o que que é? Nós vamos pegar uma unidade, de

preferência aproveitar o máximo aqui da chapa, então, o máximo aqui... (mede com

uma régua o comprimento no lado onde traçará a perpendicular, menor lado do

retângulo) deu aqui 270 (mm), 270 tá no limite da chapa, precisamos colocar 240,

240 dividido por três...

Aluno: oitenta

(...)

P(CALD): Então, podia colocar um valor qualquer, mas eu prefiro usar assim um

número redondo pra ficar mais fácil. Três vezes oitenta, quatro vezes oitenta e cinco

vezes oitenta (apontando cada lado de um triângulo imaginário onde os catetos

estão nos lados da chapa retangular). Ok? Quanto maior ficar mais preciso vai ficar

o perpendicularismo que a gente vai traçar (se refere aos lados do triângulo). Então

eu vou colocar aqui 240 e vocês vão, conferir aí (no cintel graduado). Aqui é

igualzinho o paquímetro. Esse cintel aqui é uma raridade. É muito raro encontrar um

cintel com escala. (...) (Passa para os alunos olharem e conferirem a medida no

cintel, imagem abaixo).

FIGURA 54 – FOTO DOS ALUNOS OBSERVANDO A MEDIDA NO CINTEL

Page 166: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

165

P(CALD): Então, a gente vem aqui ó, e põe essa ponta fixa no puncionado, e a

gente traça o raio aqui (Faz um marcar tamanho 240 no menor lado do retângulo).

Agora, vocês mesmos vão colocar aqui, foi três vezes oitenta, quatro vezes oitenta.

(...) (alunos colocar a medida de 320 no cintel graduado). Então a gente vem aqui,

faz a mesma coisa, traça aqui o cateto adjacente (medida do segundo lado do

triângulo, apoiado no maior lado do retângulo da chapa). E pode colocar aqui de

uma vez o cinco vezes oitenta. E aqui ó, a gente vem aqui e punciona certinho com

a linha onde cruzou a linha com o raio aqui.

Aluno X: Mas professor você não sabe se você fez essa linha certa.

P(CALD): Sei sim. Eu não sei se eu fiz ela certa como?

Aluno X: Se ela tá assim (aponta mostrando que pode estar torta em relação ao lado

do retângulo da chapa, pois a margem foi no olho).

Aluno Y: Você não sabe se ela tá totalmente paralela.

P(CALD): Não importa.

Aluno Y: Ah não?!

P(CALD): Ela tá, quer ver, vão vê aqui, uma batidinha leve... (Alunos ficam

murmurando, alguns não entenderam que não importa que ela não esteja paralela

com o lado da chapa pois formarão um novo retângulo traçado na chapa e esse terá

os ângulos retos, os alunos que entenderam tentar explicar para os que não

entenderam, mas nem todos entendem). Então chega aqui ó, vem no puncionado

aqui em cima e vem do lado de cá e cruza a linha aqui (para o traçado da

hipotenusa a marca do tamanho de 400 cruza a marca de 240 a partir da de 320),

agora aqui a gente não punciona. Aqui o que que vamos fazer? Exatamente onde

cruzou a linha, nós vamos colocar a ponta do riscador (marcador, lápis). Encosta a

escala e do lado de cá (vértice dos catetos) divide o puncionado ao meio. E depois

em seguida, tá dividido ao meio, a gente vem aqui e dá um risco atravessando a

chapa. Então olha aí, certinho onde cruzou a linha, dividiu o puncionado ao meio, e

essa linha aqui está perpendicular com a de cá (primeira traçada).

Alunos: Ah!

Page 167: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

166

P(CALD): Certo?

Aluno: Certo.

P(CALD): Agora o passo seguinte. (O comprimento maior do retângulo desse grupo

3 é 708,2. Ele explica que deixará uma pequena margem de cada lado. E explica

que colocará 720 em vez de 708,2 para deixar uma margem no desenho. Do outro

lado coloca certo 263,1 para dar suporte às peças que serão traçadas. Após, acaba

de desenhar o retângulo com essas medidas num processo parecido com o de

desenho geométrico. Vai explicando e pedindo os alunos do grupo para executarem,

alguns têm medo de errar, mas acabam todos ajudando, até alunos de outros

grupos que estavam só observando por enquanto).

O professor utiliza uma prática comum de trabalhadores da indústria que é

utilizar o triângulo de lados 3, 4 e 5 unidades de medida para traçar duas retas

perpendiculares, que são os catetos do triângulo. Essa prática acaba se tornando

uma prática comum de alunos desse curso quando se deparam em situações como

essas. Notem que ele utiliza uma unidade de medida qualquer, no caso, 80mm. Isso

amplia a visão dos alunos de unidade de medida, desvinculando uma ideia comum

entre alunos regular de utilizar sempre medidas padrão (1cm, 1mm, 1m, etc.).

Em um primeiro momento alguns alunos não visualizam todo o processo,

pensando que, pelo fato de a primeira linha, cateto do triângulo, ter sido traçada livre

na chapa, então não será necessariamente paralela ao lado da chapa, e isso vai

influenciar na construção do triângulo e na exatidão do ângulo reto. Alguns só

conseguem perceber o processo no final do traçado da segunda linha. Então

entendem que as duas retas traçadas são perpendiculares e sua posição na chapa

não importa, pois a margem não precisa ser de medida constante, pois ela será

descartada ao final, quando cortarem as peças.

Esse episódio revela um trabalho com uma matemática ligada ao ambiente

de trabalho da indústria que influencia na formação do conhecimento matemático

dos alunos que participam dessa disciplina.

Após os alunos terminarem de traçar o retângulo na chapa de aço, o

professor retorna à bancada e continua a explicação aos 12 alunos da continuação

Page 168: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

167

da tarefa. A partir desse momento, ele irá explicar como traçar as 15 retas paralelas

no centro do retângulo,72 dividindo assim o retângulo em 16 partes de mesma

largura.

O professor inicia a tarefa perguntando aos alunos como traçariam essas

retas. Vários sugerem dividir a medida por 16 para saber a largura de cada parte e

então ir traçando cada perpendicular, uma a uma. Então o professor intervém:

P(CALD): Ó, tem um jeito mais fácil. O jeito mais fácil é o seguinte, eu coloquei 16

divisões não foi à toa. É pelo seguinte...

Aluno: Hum, dividir ao meio...

P(CALD): Sempre tem que ser número par viu. E, ou 16, ou 14, ou 18, 20, o que for.

E, por causa disso aqui ó (aponta para o desenho da atividade, favorece centralizar

a peça 4) tem que ser um múltiplo de 4. Então, ou 12, ou 16, ou 20, assim por

diante. Mas... então o que a gente vai fazer aqui, primeira coisa a gente vai pegar o

compasso e traça aqui, aqui, acha o centro, de cá (vai mostrando com a mão o

movimento do compasso de achar o centro entre dois vértices de cada menor dos

lados do retângulo, processo em desenho geométrico de traçar a mediatriz) e traça

uma linha dividindo os dois.

Aluno: Aí vai dividir no meio.

P(CALD): Depois torna a dividir, 4 né. Torna a dividir, 8. E torna a dividir, 16.

Aluno: Isso.

P(CALD): Aí você não precisa ficar medindo, porque se você for medir, é um

milímetro aqui (aponta para uma primeira divisão), outro milímetro de cá, outro aqui,

outro aqui, chega no final, soma os erros, dá um erro desse tamanho (abre as mãos

para mostrar ser grande). Então pra evitar isso a gente faz assim. Essa primeira

divisão aqui fica muito grande no compasso. Então vocês vão pegar e fazer a

72 Ver 7a página do apêndice D.

Page 169: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

168

primeira divisão aqui (usa o cintel simples), depois faz as outras divisões com o

compasso. E...

Aluno: Mas como você acha esse tamanho, na tora isso aí? (Refere-se à abertura do

cintel, que na verdade é qualquer, desde que maior que a metade, esse aluno não

deve conhecer ou se lembrar desse traçado de desenho geométrico).

P(CALD): Passo da metade aqui (traça), vão ver se passou (olha), passou...

Aluna A: Mas ele tá medindo.

Aluno B: O tempo todo.

P(CALD): Ó, ó aqui (vai traçando e aponta no final para o encontro dos dois traços),

ó o meio.

Aluno: Oh (aponta também), bonitão.

O professor repete o procedimento do outro lado do retângulo, e há muito

murmúrio entre os alunos, uns explicando aos outros o procedimento, que no

encontro dos dois traços é o meio, que é só abrir maior que a metade em qualquer

medida o compasso, etc. O professor explica então o procedimento de traçar a reta

unindo os pontos de encontro e dividindo ao meio o retângulo. Esse procedimento

será repetido pelos alunos até fazerem as 16 divisões do retângulo, e dura em torno

de 30 minutos.

Observa-se que os alunos não conhecem, ou não lembram, esse

procedimento em desenho geométrico. Muitos podem não ter trabalhado com os

materiais de desenho em aulas de matemática, procedimento não comum hoje em

dia. Porém todos cursaram a disciplina de Desenho Técnico Mecânico no primeiro

ano do ensino médio, disciplina essa que ensina vários procedimentos de desenho

geométrico.

Apenas um aluno dominava bem o trabalho com materiais de desenho

geométrico, pois havia feito um curso na UFMG que ensinou isso e outros tópicos

matemáticos, quando foi medalhista da OBMEP.

Page 170: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

169

De qualquer maneira, essa disciplina contribui para a aquisição de conceitos

matemáticos à medida que aumenta a percepção geométrica e relembra conceitos

de geometria plana numa prática de trabalho.

Mais à frente na atividade, quando os alunos já haviam traçado as 15 retas

paralelas ao maior lado do retângulo, dividindo-o em 16 partes; quando já

terminavam de traçar as 3 retas perpendiculares a essa que dividiam o retângulo

como na 7a página do anexo D, em peças 1, 3 e duas partes da 4; alguns alunos

começaram a discutir uma próxima tarefa.

Eles discutiam como traçar a curva que aparecia na primeira parte da peça

4, na parte superior do retângulo, como foto da figura 55:

FIGURA 55 – FOTO DA PEÇA 4, COM A CURVA APONTADA POR UM ALUNO

Alguns sugeriram traçar a curva com compasso, outros medir o ângulo de

inclinação de cada pequeno traço entre as 16 divisões. Um aluno apenas teve a

percepção correta do procedimento a ser realizado e explica aos demais:

Aluno JP: Você faz todas essas medidas aqui na vertical (vai apontando

como na foto acima), você faz todas essas medidas pra achar as retas (retas que

ligam as partes superiores e formam a curva), aí você constrói essa curva

entendeu? (Desliza o dedo sobre a curva). Quanto mais você calculasse essas tiras

aqui, mais sua curva ia ficar, ficar, mais curva, igual uma curva.

Esse aluno percebe que a curva na verdade é uma união de pequenas retas

e que quanto mais se dividisse o retângulo, menores seriam essas retas que formam

a curva e, assim, ela se pareceria ainda mais com uma curva perfeita. Essa é uma

Page 171: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

170

ideia que se aproxima bem da ideia de limites, conteúdo já estudado por esses

alunos por serem de curso técnico no segundo ano do ensino médio. Outra

característica que é específica dos conhecimentos matemáticos dessa comunidade

de alunos.

Ainda nessa aula foram utilizados outros procedimentos de desenho

geométrico com régua e compasso para traçar as peças73 1, 3 e terminar a 4 no

retângulo.

3.6.1.4 Episódios da Terceira Aula Acompanhada

Os grupos que não terminaram na aula passada de traçar as peças,

conforme a 7a página do apêndice D, iniciaram essa aula terminando de fazê-lo. O

grupo que já havia terminado foi para uma grande máquina chamada guilhotina para

cortar as peças, como foto da figura 56:

FIGURA 56 – FOTO DE ALUNOS CORTANDO AS PEÇAS NA GUILHOTINA

Ao terminarem de realizar os maiores cortes, faziam os menores cortes,

curvas, em outra máquina chamada tesoura manual:

73 Ver apêndice D.

Page 172: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

171

FIGURAS 57, 58 e 59 – FOTOS DOS ALUNOS CORTANDO AS PEÇAS NA TESOURA MANUAL

Para executarem as tarefas da aula, o professor explicava e executava em

parte junto com o primeiro grupo e os demais alunos observavam para executarem

depois.

Todos os alunos participavam da aula com muito empenho e dedicação.

Eram cuidadosos para cortarem corretamente sobre as retas as peças;

Page 173: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

172

principalmente as pequenas retas que formavam as curvas, estas eram cortadas de

forma manual, pois essas eles tinham mais dificuldade para acertar.

FIGURA 60 – FOTO DOS ALUNOS TRABALHANDO EMPENHADOS NA EXECUÇÃO DA TAREFA

Após cortarem cada peça, passavam-na em uma máquina chamada

calandra, composta de rolos que comprimiam as peças, e então iam alisando-as e

encurvando-as para ficarem cilindras e lisas, ação essa designada pelo professor

como calandrar.

FIGURA 61 – FOTO DE UM ALUNO PASSANDO UMA PEÇA NA MÁQUINA CALANDRA

No final desse processo, alguns reparos eram feitos com a mão mesmo,

usando a força, ou com ajuda de um martelo, para acertarem o formato cilíndrico

das peças, ou seja, para elas fecharem completamente obtendo o seguinte

resultado:

Page 174: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

173

FIGURA 62 – FOTO DAS PEÇAS EM FORMATO CILÍNDRICO QUE ORIGINARÃO A PEÇA FINAL DA DISCIPLINA

Quando o primeiro grupo concluiu essa parte das peças 1, 3 e 4, os demais

grupos ainda estavam desenhando-as, nem haviam começado a cortá-las, pois só

observavam durante a explicação do professor.

Como esse grupo (grupo 1) terminou muito antes dos demais, ficaram

ociosos e começaram a discutir como traçariam em uma nova chapa de aço as

peças 2 e 5 (8a página, apêndice D). Depois dispersaram, mas dois continuaram a

discussão. Acompanhemos esse diálogo no episódio abaixo:

MG: Isso aqui é um círculo fraga.

MA: É o que?

MG: É uma circunferência.

MA: Isso.

MG: Então isso aqui é o raio, o centro da circunferência é aqui ó...

MA: Então!

MG: Então você só coloca o cintel aqui...

MA: Então, o que que eu falei... (risos)

Page 175: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

174

MG: Você falou que tinha que achar o centro...

MA: Então!

MG: Já tá pronto!

MA: Cadê?

MG: Olha o centro aqui ó, essa parte...

MA: Não mais, tá medido aí?

MG: Tá uê!

MA: Tá não.

MG: Tá medido aqui ó.

MA: Mas aí não tá no centro. Até aqui ó é Rg...

MG: Tem altura não?

MA: Deu 420 daqui até o raio, vai, é, é o diâmetro quer dizer, não, é raio, raio,

(silêncio), raio.

MG: Aí depois a gente acha o raio menor, que é esse aqui né...

MA: Esse é o ângulo.

MG: O ângulo, que aí a gente acha o raio, aí divide isso aqui por dois...

(...) (Apenas murmúrios, risos e dispersam, depois continuam).

P: E a debaixo? (Referindo-me à peça 5).

MA: E a debaixo? Explica a debaixo aí...

MG: A debaixo?

MA: Como que vamos fazer a debaixo?

MG: Vão com calma! Não sei também não!

Page 176: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

175

(silêncio, olham para a figura)

MA: Tem um C aqui ó. Pega aqui e faz as divisões do...

MG: (murmúrios apontando para a figura)

MA: Pega, aqui tem a reta ó, tem é uma reta de um pra outro, se quer ver faz,

debaixo aqui, vai ligando, sei lá.

MG: Nem sei...

MA: Mas aqui é fácil, é igual a gente fez no outro.

MG: Esse eu não sei fazer não.

(longo silêncio enquanto olham para a figura)

MA: Sei lá.

(A pesquisadora tentou dar algumas sugestões, instigá-los a não desistirem,

olharem as medidas calculadas, mas eles se cansam e desistem).

Apesar de não terem tido uma boa ideia para a construção da segunda

peça, pensaram corretamente na construção da primeira, e identificaram conceitos

geométricos importantes para a construção da segunda.

Nesse episódio percebemos o quanto é importante a visão geométrica e o

domínio de conceitos em geometria plana. Mas o esforço de pensarem a tarefa

antes da explicação do professor demonstra certo domínio na visão geométrica

plana e interesse em resolver sozinhos o problema, autonomia de trabalho.

Para a construção dessas peças é, sem dúvida, essencial o domínio da

geometria plana, de uma boa visão plana e espacial das figuras. Domínio esse que é

adquirido pelos alunos dessa comunidade nas práticas ao longo das disciplinas

ofertadas, como essa em análise.

Após um tempo, vendo que esse grupo estava ocioso, o professor entrega a

eles uma nova chapa de aço e inicia a explicação construindo com eles as próximas

Page 177: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

176

peças, 2 e 5, mesmo sem a observação dos demais que se encontravam em tarefas

anteriores. Para sua construção, utilizaram muito o maior cintel (graduado) como

compasso e régua, eram construções comuns de régua e compasso, porém o

professor não chama atenção para esse fato, fazendo relação com a matemática,

são construções da indústria e ele ensina-as para os alunos sem identificar os

conceitos geométricos, apenas como tarefas de trabalho a serem reproduzidas.

Apesar disso, os alunos não parecem decorar o procedimento, mas parecem

entender a construção realizada pelo professor, antecipando muitas vezes suas

ações e exclamando e relatando a construção da peça.

Essa seria talvez uma consequência de um diálogo mental dos alunos entre

a disciplina e os conceitos matemáticos evocados durante o traçado da peça.

FIGURA 63 – FOTO DOS ALUNOS TRAÇANDO A PEÇA NA CHAPA DE METAL

3.6.1.5 Episódios da Quarta Aula Acompanhada

No início dessa aula, o grupo 1 já havia traçado e cortado as peças 2 e 5,

sendo que eram duas peças iguais da 5.74 Portanto, o professor iniciou com esse

grupo a próxima etapa de montagem da peça que construíam.

Nesta etapa, o professor ensina o grupo a dobrar a peça 5, figura 64, em

cada uma das linhas 0, 1, 2, 1, 0.

74 Ver 8a página do apêndice D.

Page 178: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

177

FIGURA 64 – IMAGEM DA METADE DA PEÇA 5, 8a PÁGINA DO APÊNDICE D

Para dobrar essas linhas, os alunos utilizaram uma máquina chamada

“Dobradeira de Chapas”. Eles colocavam a chapa na máquina e a dobravam

exatamente sobre a linha. Posteriormente dobrariam também as três abas na parte

inferior da peça. Depois de dobrarem as duas peças 5, elas encaixariam e formariam

um suporte para as demais peças cilíndricas, ou seja, a boca dessa peça seria um

polígono de 16 lados congruentes em que se encaixaria perfeitamente um cilindro;

posteriormente essa figura será visualizada.

Cada uma dessas linhas (0, 1, 2, 1, 0) é dobrada em um ângulo

determinado, que é 22,5 (360 16), com exceção da linha 0 central, que é 11,5,

pois da junção dos dois lados formar-se-á 22,5. Para medir o ângulo, eles primeiro

a dobram na Dobradeira no olho e depois medem com o transferidor, quando falta

ou passa pouco, vão acertando com a mão. O transferidor é parecido com o usado

nas aulas de matemática.

Page 179: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

178

FIGURA 65 – FOTO DE UM ALUNO USANDO A MÁQUINA DOBRADEIRA PARA DOBRAR A PEÇA NAS LINHAS ANTERIORMENTE INDICADAS (FIGURA 64)

FIGURA 66 – FOTO DE UM ALUNO MEDINDO O ÂNGULO DE INCLINAÇÃO DA PEÇA

Page 180: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

179

FIGURA 67 – FOTO DA METADE DA PEÇA 5 AO TERMINAR DE SER DOBRADA

FIGURA 68 – FOTO DA UNIÃO DAS DUAS METADES DA PEÇA 5

Para dobrar as linhas dessa peça, os alunos tiveram muita dificuldade.

Muitas das vezes, ao dobrar uma linha, entortavam a peça ou tiravam alguma das

linhas já dobradas do ângulo. Ao final, precisaram fazer vários acertos com a mão

ou utilizando o martelo para dobrarem ou desdobrarem algumas partes. Durante

todo o tempo paravam e mediam e remediam os ângulos das dobras.

Nessa fase os alunos já começam a trabalhar bem sua visão espacial de

sólidos geométricos, pois montavam a peça sempre tendo em mente o sólido

resultante que buscavam. E mais uma vez trabalhavam com materiais de desenho

geométrico, dessa vez o transferidor, medindo ângulos internos de sólido

geométrico.

Page 181: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

180

3.6.1.6 Episódios da Quinta Aula Acompanhada

Nessa aula todos os grupos já têm suas peças prontas. O professor então

solda cada peça em sua junção, fechando as partes de cilindro que as peças

formaram mais a peça 5, que é um sólido de suporte, fechando-as em sua junção.

Ele mesmo as solda para os alunos, pois esses grupos de alunos ainda não fizeram

a disciplina monotécnica de Soldagem. Quando o grupo que cursa a disciplina já a

fez, o professor deixa soldá-las, porém não desconta ponto quando furam a peça

com a solda, pois essa não é a tarefa avaliada nesse curso.

Após soldá-las, o grupo deve montar a peça mecânica final resultante da

junção de todas e levá-las para que o professor as solde como montaram. Nesse

momento, o professor não corrigiu se o grupo montou errado, solda como levaram.

Assim, avalia a montagem do grupo.

Para uma montagem correta, os alunos têm que visualizar a peça

geométrica espacial final e executarem um encaixe perfeito, trabalhando, assim, sua

percepção geométrica espacial.

Todos se alegram muito em ver o resultado após trabalharem todas as aulas

em sua execução!

FIGURA 69 – FOTO DOS ALUNOS DOS TRÊS GRUPOS REUNIDOS MONTANDO SUAS PEÇAS FINAIS

Page 182: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

181

FIGURA 70 – FOTO DE UM GRUPO MONTANDO SUA PEÇA FINAL

FIGURA 71 – FOTO DA PEÇA FINAL DE UM GRUPO JÁ MONTADA E SOLDADA

3.6.2 Discussão e Análise Inicial da Disciplina CALD

Na disciplina de Caldeiraria, há mobilização de conhecimento matemático

durante as atividades desenvolvidas. Ao realizar as muitas tarefas para montar a

peça final, os alunos mobilizaram diversos conhecimentos de cálculos; trabalharam

com diferentes unidades de medida, em especial o milímetro; mobilizaram

conhecimentos de desenho geométrico; geometria plana e geometria espacial, entre

outros conhecimentos matemáticos.

Essa disciplina pareceu-nos mobilizar conhecimentos mais diversificados de

matemática, todos em tarefas práticas que reproduziam o trabalho do técnico em

mecânica na indústria.

Finalmente, para essa última disciplina observada, CALD, resumimos no

item 1 as características que contribuem para identificarmos que conhecimentos

matemáticos observamos serem mobilizados nessa disciplina, e no item 2, as que

Page 183: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

182

contribuem para entendermos essa disciplina como uma comunidade local de

prática, e a partir de então discutirmos a seguir como observamos acontecer a

articulação desse conhecimento matemático com as características próprias dessa

comunidade de prática e o redimensionamento desse conhecimento de forma

própria nessa comunidade.

1) Experiências dos Alunos na Aula de CALD com o conhecimento matemático.

a) A Matemática não é explicitada durante as aulas e atividades.

b) A Matemática é aplicada em muitas atividades da prática de trabalho da

disciplina.

c) A disciplina permite o uso de calculadora.

d) Atenção à notação da unidade de medida de valores dados.

e) As atividades envolvem diferentes unidades de medida linear e angular, bem

como transformações entre elas.

f) A unidade de medida linear principal das atividades é o milímetro, e este é

usado automaticamente pelo professor e alunos sem orientações preliminares na

disciplina.

g) Atenção à exatidão dos valores e às casas decimais; desenvolvem-se

atividades com pequenos valores e muitas casas decimais e critérios de

arredondamento.

h) As atividades envolvem conteúdos matemáticos como construções

geométricas, cálculos matemáticos diversos durante a planificação de um objeto

tridimensional, resolução e problemas e aplicação de fórmulas matemáticas (da

geometria plana e espacial, com exponenciais, radiciação, etc.), conceitos diversos

da geometria plana (retas paralelas e perpendiculares, triângulo retângulo,

circunferência e seu centro, raio e diâmetro, etc.), ângulos, geometria espacial

(prisma, cilindro e visão de figuras tridimensionais quaisquer).

2) Experiências dos alunos na aula de COH com características de uma

comunidade local de prática.

Page 184: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

183

a) É uma disciplina de 3° Ano e o professor percebe os alunos como mais

experientes nessa comunidade, já imbuídos de vários conhecimentos prévios, da

área técnica de mecânica e conceitos de matemática, necessários nessa disciplina,

mas ainda periféricos no que diz respeito a informações técnicas específicas dessa

disciplina.

b) A disciplina apresenta apostila do conteúdo e essa é usada em sala pelo

professor, como também um material complementar com a atividade de construção

de uma peça que é o objetivo da disciplina.

c) Os alunos são subdivididos em grupos menores, diminuindo, assim, o número

de alunos que participam da disciplina em sala. Além disso, esses subgrupos são

ainda subdivididos para atividades em sala.

d) O ambiente de sala de aula reproduz um ambiente de trabalho de um técnico

em caldeiraria.

e) Os alunos fazem uso de instrumentos, ferramentas e máquinas dessa área de

trabalho: régua (escala), chapa de aço, cintel graduado, cintel simples, pulsador,

martelo, marcador, compasso, guilhotina, calandra, dobradeira de chapas, solda.

f) Os alunos usam jaleco próprio do curso durante as aulas.

g) A disciplina é lecionada por um professor engenheiro.

h) O professor exige rigor e exatidão com os valores encontrados.

i) O professor usa termos de linguagem próprios dessa área profissional e os

alunos, gradativamente, começam a repeti-los, bem como já fazem uso de diversos

deles.

j) O professor apresenta aos alunos exemplos e relatos de experiência dessa

área profissional na indústria e os alunos interagem bem com o professor durante

esses relatos, mostrando-se bem interessados e já conhecedores de algumas

situações citadas.

k) Há, no decorrer de todas as aulas, em todos os momentos observados,

interações entre os alunos e/ou entre os alunos e o professor.

Page 185: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

184

l) O conhecimento gerado se nos apresenta como um conhecimento prático, em

que não há exposições de conteúdos teóricos, a situação de trabalho na prática de

aula desenvolvida é que transmite o conhecimento.

m) É exigido, antes do trabalho prático, o cálculo com os valores de todas as

peças, ângulos e cortes durante a planificação da peça tridimensional a ser

construída. Antes de toda a prática também é solicitada a limpeza do ambiente.

n) É exigida a construção de relatório da prática realizada para a construção da

peça solicitada.

o) Os alunos trabalham com muita autonomia, dedicação e entusiasmo durante

as aulas.

Os momentos mais marcantes que observamos a articulação e

redimensionamento do conhecimento matemático na comunidade local de prática da

disciplina CALD foram cinco.

Primeiro, como destacado nas disciplinas DTM e METRO I, mas também

observado de forma mais sutil nas demais disciplinas acompanhadas, o milímetro é

usado como unidade de medida linear preferencial para o trabalho na disciplina

CALD. Como já relatado, destacamos que essa é uma característica do trabalho do

técnico de mecânica que redimensiona o modo de pensar a medida linear dos

alunos, que em geral acontece com a utilização do metro ou centímetro, para um

uso preferencial e quase constante do milímetro. Nessa disciplina os alunos já

relatam as medidas lineares utilizando o milímetro de forma familiar e instantânea,

sem necessitar de orientação do professor para isso.

Segundo o rigor exigido com a exatidão das medidas calculadas na

planificação, o que fica claro na instrução da apostila que solicita que os cálculos

sejam feitos sem arredondamento, utilizando todas as casas decimais encontradas

na calculadora. Como destacado em outras disciplinas, no trabalho do técnico em

mecânica, erros de cálculos das dimensões das peças em um projeto de trabalho

alteram as peças projetadas e podem inutilizar seu uso. Logo, redimensionar o

pensamento para uma exigência de operar medidas com maior precisão é uma

característica requerida a esse grupo. Porém, vale destacar que, no momento de

Page 186: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

185

executar na prática o projeto, todos os valores encontrados foram arredondados

para uma casa decimal, já que o trabalho foi todo manual e não era possível um

corte com melhor precisão. A preocupação de não errar os cálculos das medidas

dos projetos pode ser observada também nos momentos em que os alunos

conferem os resultados encontrados uns dos outros na primeira aula relatada.

Terceiro, como em DTM, durante muitas das etapas da construção da peça

final dessa disciplina, os procedimentos de desenho geométrico com régua e

compasso aconteceram numa perspectiva de conhecimento procedimental sem se

atentar aos conceitos de geometria plana que perpassam essas construções. Mais

que isso, era quase imperceptível que o trabalho executado era de construção

geométrica com régua e compasso, já que não há menção a isso e até os materiais

utilizados recebem muitas vezes outro nome. Podemos entender assim que esse

grupo vai redimensionar seu pensamento para uma matemática aplicada,

procedimental.

Quarto, como acontecido na disciplina METRO I, também em CALD o

instrumento régua, utilizado comumente na disciplina de Matemática, é nomeado

como escala. Vale destacar que, no caso dessa disciplina, não há instrução para

isso, o professor e os alunos já o fazem desde o início da disciplina revelando ser

uma prática que perpassou o curso e já está incorporada pelo grupo. Parece-nos

então que os alunos redimensionam seu conhecimento em relação à escala para um

conhecimento prático de fazer medidas, como as orientadas por uma régua.

Em quinto, queremos destacar os procedimentos relatados próprios de um

técnico em mecânica como, por exemplo, a construção de um triângulo de lados 3, 4

e 5 para obter um ângulo reto. Práticas como essa conduzem os alunos a

redimensionar seu pensamento matemático, no caso a respeito de um conceito de

geometria plana, para um pensamento prático utilizado por profissionais da área na

execução do trabalho.

Assim apresentamos os dados construídos pela observação em sala de aula

das seis disciplinas acompanhadas na pesquisa. No próximo capítulo

apresentaremos a segunda parte da construção dos dados, realizada a partir do

questionário e entrevista aplicada a um pequeno grupo de alunos do terceiro ano.

Page 187: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para
Page 188: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

187

CAPÍTULO 4: O QUESTIONÁRIO E A ENTREVISTA

Após a observação das aulas, inicia-se uma segunda fase da construção

dos dados, que será exposta neste capítulo: a construção e aplicação de um

questionário e a condução de uma entrevista.

O questionário foi construído explorando alguns conceitos matemáticos

abordados nas aulas acompanhadas expostas no capítulo anterior. O objetivo do

questionário é ser aplicado a um grupo de alunos convidados do terceiro ano do

ensino médio integrado ao técnico de mecânica, para servir de base e orientação

para uma entrevista posterior à aplicação do questionário a esse mesmo grupo de

alunos. A entrevista foi planejada para ser semi-estruturada e realizada em grupos

de seis alunos cada.

O grupo escolhido foi de 12 alunos que cursaram a disciplina de COH e

CALD, escolhidos durante a observação das aulas, como também em ELM faziam

parte da turma observada. Esse grupo foi escolhido, pois, por serem alunos de

terceiro ano, haviam vivenciado todas as experiências com o conhecimento

matemático, observadas nas disciplinas na primeira fase da construção dos dados.

Além disso, esse grupo de 12 alunos já havia participado da pesquisa em três

momentos distintos, como já citado, durante as disciplinas COH, CALD e ELM, logo,

estavam mais disponíveis e à vontade para participarem dessa fase de construção

dos dados.

Ao serem convidados, todos os doze alunos se colocaram à disposição, num

primeiro momento, para responderem ao questionário e participarem da entrevista, e

esta foi agendada em dia e horário de preferência desses alunos.

A seguir descrevemos a construção do questionário usado como técnica de

construção dos dados nesta pesquisa, de modo especial para dar suporte à

entrevista que o segue. Ele é composto de questões que exploram conceitos

matemáticos em enunciados contextualizados com algumas situações parecidas

com as observadas nas disciplinas técnicas de mecânica, acompanhadas nesta

Page 189: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

188

pesquisa. As respostas dadas a esse questionário serão mais bem analisadas e

discutidas durante a entrevista.

4.1 A Construção do Questionário

O questionário que agora será apresentado foi construído e aplicado com o

objetivo de investigar alguns dos conceitos mais marcantes da comunidade de

prática profissional dos alunos do técnico de mecânica que desejamos caracterizar

em seu trabalho com a matemática em algumas de suas disciplinas técnicas.

As questões reproduzem algumas das situações marcantes do trabalho com

a matemática, nessas disciplinas observadas, que se repetiram de modo especial

em uma ou em mais disciplinas.

Foram selecionados três grandes temas da matemática retirados das

observações das aulas, e desses compusemos três questões para o questionário.

Seguem os três temas:

Resolução de problemas com tomadas de decisão após valor numérico

encontrado: essa foi uma característica marcante da disciplina de COH, mas que se

repete em meio a outras situações em mais disciplinas.

Unidades de medida, construções geométricas e aplicação de conceitos da

geometria plana: o uso de unidades de medida inicia-se na disciplina de METRO I e

parece se tornar uma característica marcante dessa comunidade de alunos ao longo

dos três anos do ensino médio, pois pôde ser observada também nas demais

disciplinas acompanhadas; os demais temas de geometria plana foram observados

de forma mais marcante nas disciplinas de DTM e CALD, mas perpassam várias

disciplinas técnicas do curso.

Elaboração e aplicação de uma fórmula matemática para resolver uma

situação problema de mecânica: perpassam várias disciplinas cursadas pelos alunos

ao longo do curso, tendo sido observadas, de modo especial, nas disciplinas MTRM

e ELM.

Page 190: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

189

4.1.1 Primeira Questão

Calcular o valor aproximado do diâmetro de uma tubulação cilíndrica, sabendo-se que, pela mesma, escoa água a uma velocidade de 6m/s. A tubulação está conectada a um tanque com volume de 12.000 litros e leva 1 hora para enchê-lo totalmente. Considere a vazão = velocidade x área (área da

seção reta circular da tubulação) e use = 3. Apresente todos os cálculos

passo a passo.

Abaixo estão listadas algumas medidas de diâmetro de tubulações desse tipo que estão disponíveis no mercado. Considerando o valor calculado acima, selecione a medida que deve preferencialmente ser adquirida para satisfazer as condições descritas no problema. Justifique a resposta selecionada.

a) 20mm

b) 25mm

c) 30mm

d) 35mm

Essa questão foi construída a partir da teoria e de problemas resolvidos em

sala na disciplina de COH, como também tendo como referência o texto base de

uma questão modelo extraída da internet75 com algumas adaptações da

pesquisadora.

O objetivo foi evocar a situação descrita no episódio apresentado na

disciplina de COH, em que os alunos têm um problema físico de vazão volumétrica

que lida com conceitos matemáticos de volume de tubulações cilíndricas. Porém, ao

encontrar o resultado numérico para o problema, o aluno deve tomar uma decisão a

partir da interpretação desse resultado, levando em consideração o contexto da

situação-problema apresentada.

75 Disponível em: <wp.ufpel.edu.br/mlaura/files/2013/08/Exer8_20131.docx >. Acesso em: 26 out.

2013.

Page 191: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

190

No episódio da disciplina de COH, observamos que a tomada de decisão

evocava uma interpretação que era própria do técnico de mecânica, e parecia se

diferenciar de problemas similares apresentados na disciplina de matemática

regular.

Buscamos, assim, com essa questão, verificar qual identidade desse aluno

será evocada para selecionar a melhor tubulação a ser adquirida e posteriormente,

durante as entrevistas, discutir essas opções. A discussão durante as entrevistas

pode indicar como se caracteriza essa comunidade de alunos do curso técnico em

mecânica integrado em relação à situação problema descrita e como lidam com a

matemática evocada das aulas regulares nesses momentos.

4.1.2 Segunda Questão

A imagem abaixo reproduz uma peça mecânica em tamanho real. Observe-a e resolva as questões que seguem.

a) Faça um esboço do desenho da peça com a imagem de sua vista superior.

b) Estime e anote no desenho todas as medidas lineares e angulares da peça: comprimento dos lados, raios dos círculos, ângulos de abertura.

c) Se essa peça fosse construída de ferro, quanto você estima que seria seu peso?

Page 192: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

191

d) Descreva o procedimento passo a passo para traçar seu esboço utilizando os materiais de desenho geométrico régua e compasso.

A imagem escolhida para essa questão foi selecionada de uma pesquisa de

imagens na internet76 e sua escolha se deu por apresentar medidas lineares e

angulares e partes circulares.

Na letra “a” da questão buscou-se evocar o trabalho de esboçar figuras

geométricas espaciais em um plano, prática muito presente na disciplina de DTM,

mas também observada na disciplina de CALD e também presente em outros

momentos do curso técnico de mecânica.

No cabeçalho da questão foi fornecida a informação de que a imagem da

peça apresentada reproduzia o seu tamanho real. Na letra “b” da questão pede-se

que, pela observação da imagem, o aluno estime as medidas lineares e angulares

envolvidas na figura, não será permitido o uso de régua ou outro material de

desenho geométrico na resolução. Deseja-se verificar se a prática iniciada na

disciplina de METRO I tornou-se uma característica desse grupo de alunos, ou seja,

se eles são capazes de estimar com proximidade as medidas lineares e angulares

dessa peça. Verifique que não foi informado nada sobre qual unidade de medida

utilizar. Deseja-se, assim, verificar se usarão uma unidade de medida e se ela será

comum entre todos do grupo. Lembramos que na disciplina de DTM a professora

introduz a prática do técnico de mecânica que é utilizar preferencialmente as

medidas em mm, o que foi verificado nas demais disciplinas.

A letra “c” dá prosseguimento à investigação da letra “b”, porém deseja

verificar se eles são capazes de estimar medidas de peso e qual unidade de medida

será utilizada.

Na letra “d” da questão busca-se verificar se os alunos são capazes de

descrever o procedimento de traçar a figura esboçada utilizando régua e compasso,

procedimento esse observado nas aulas de DTM e CALD.

76 Disponível em: <http://criacad.blogspot.com.br/2009/12/outras-pecas-mecanicas.html>. Acesso em:

29 out. 2013.

Page 193: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

192

A aplicação de outros conceitos de geometria plana poderá ser observada

ao longo do exercício, como também acontece em diversas disciplinas. Por exemplo,

ao estimar as medidas dos ângulos internos do losango, que é base do esboço da

peça, observar-se-á se os alunos evocaram o conceito de igualdade dos ângulos

opostos do losango e soma dos quatro ângulos 360º.

A discussão dessa questão durante a entrevista poderá evidenciar diversas

características dessa comunidade de prática dos alunos do curso técnico de

mecânica.

4.1.3 Terceira Questão

Durante a observação das aulas de MTRM e ELM presenciou-se em

diversos momentos a resolução de problemas dessas disciplinas utilizando

conceitos de matemática para os cálculos na mecânica. Essa é uma característica

também observada em outras disciplinas, porém foram bem evidenciadas nessas

duas disciplinas.

A trigonometria e a geometria são duas áreas de matemática utilizadas nos

cálculos em algumas das aulas observadas nessas duas disciplinas, abordando por

vezes diferentes conhecimentos da área e por vezes os mesmos. Portanto

escolhemos esse tema para a terceira questão proposta.

Observemos a questão que segue abaixo, que tem como tema da Mecânica

o cálculo do comprimento de uma correia, em que utilizamos a imagem e

explicações de um blog de engenharia:77

77 Disponível em: <http://www.blogdaengenharia.com/wp-

content/uploads/2013/05/PoliaseCorreias.pdf>. Acesso em: 29 out. 2013.

Page 194: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

193

A figura abaixo representa uma correia representada em um projeto de mecânica industrial.

Calcule o comprimento L da correia em função dos elementos fornecidos na figura.

A questão proposta tem como objetivo que os alunos encontrem uma

fórmula matemática para o cálculo do comprimento da correia, fórmula essa utilizada

nas aulas desse tópico em ELM.

Para encontrar essa fórmula os alunos precisam entender a figura plana

envolvida na correia, que é composta por duas partes do comprimento de dois

círculos com raios distintos e os catetos correspondentes de dois triângulos

congruentes.

Page 195: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

194

Para construir a fórmula o aluno precisa resolver um cálculo com uso do

teorema de Pitágoras e encontrar parte do comprimento da circunferência em função

do ângulo dado, como exposto abaixo:

Observem que os conhecimentos requeridos para encontrar a fórmula L para

o comprimento da correia são conceitos matemáticos conhecidos previamente pelos

alunos em aulas de matemática do ensino fundamental e revistos no ensino médio

em alguns momentos.

Fórmulas como essas apareceram por diversos momentos em algumas das

disciplinas observadas, em especial MTRM e ELM. Em alguns momentos, o

professor construía a fórmula com os alunos e em outros ela era simplesmente dada

e se requeria dos alunos que aplicassem em situações problema.

Através dessa questão, esperamos observar o trabalho dos alunos com

conceitos matemáticos envolvidos em uma situação de mecânica, como evocam

esses conceitos nesse momento e qual a linguagem que será predominante durante

a entrevista ao discutirem a questão.

4.2 Respostas Apresentadas ao Questionário

A aplicação do questionário e a entrevista em grupo aconteceram após o

término da observação das aulas, durante o quarto bimestre do mesmo ano letivo,

em uma sala reservada no CEFET-MG, fora do horário de aula dos alunos que

participaram.

Page 196: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

195

O questionário foi respondido individualmente, sem consulta a nenhum

material didático e com uso de calculadora. O tempo de duração da aplicação do

questionário foi de, aproximadamente, uma hora.

Dos doze alunos convidados e confirmados para essa fase da coleta de

dados, apenas oito compareceram no horário de responder ao questionário. E dos

que responderam ao questionário, apenas cinco alunos compareceram no horário da

entrevista em grupo: GC, LA, IP, JP e MF. Como o questionário é apenas uma

ferramenta suporte para a entrevista, atentar-nos-emos apenas às respostas desses

cinco alunos ao questionário.

Acreditamos que houve poucos alunos que participaram, porque eles

começavam a já não mais participarem das aulas nesse quarto bimestre. Após o

Enem, muitos que passaram no vestibular foram dispensados das aulas do quarto

bimestre que iniciava, pois a escola apresentava atraso no calendário escolar e

optou por antecipar a conclusão do ensino médio desses alunos, para assim

fazerem a matrícula nas universidades. Talvez por isso, desinteressaram-se em

desenvolver outras atividades na escola. E também pela euforia do final de ano e

conclusão do ensino médio, não mais se atentaram às atividades.

Apresentaremos a seguir uma rápida exposição das respostas dadas por

esses cinco alunos ao questionário. Não será uma exposição prolongada, pois as

respostas serão mais bem discutidas em conjunto com os alunos durante as

entrevistas. Interessa-nos analisar, para melhor responder às questões de pesquisa,

apenas as falas dos alunos durante a entrevista.

1a Questão:

Um aluno errou transformação de unidade de medida e encontrou um valor muito

disperso. Quatro alunos encontraram valor entre 25mm e 30mm, sendo que um

marcou 25mm e três marcaram 30mm.

2a Questão:

Letra “a”: Todos cinco desenharam a vista superior de forma considerada correta.

Page 197: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

196

Letra “b”: Nas medidas lineares, três fizeram uma boa estimativa, e dois, não,

estimaram cerca do dobro a mais. Porém apenas dois anotaram a estimativa angular

e esta estava próxima da realidade.

Letra “c”: Apenas um estimou um peso muito discrepante, os demais quatro estavam

próximos. Todos fizeram algum tipo de cálculo, sendo que todos se lembraram do

peso específico do ferro, que é aproximadamente 7,86kg/dm3, e usaram para

responder a pergunta.

Letra “d”: Apenas um aluno deixou em branco, os demais quatro alunos

responderam, porém nenhum detalhou exatamente o trabalho com régua e

compasso, fizeram-no de forma geral, sem muitos detalhes.

3a Questão

Três alunos deixaram em branco. Um aluno anotou a fórmula lembrada da aula de

ELM. E um aluno fez usando conceitos da geometria plana.

4.3 A Entrevista

A entrevista aconteceu em uma sala reservada no CEFET-MG, com duração

de aproximadamente 40 minutos. Para sua realização, a pesquisadora e os cinco

alunos entrevistados, GC, LA, IP, JP e MF,78 assentaram-se ao redor de uma grande

mesa oval. A entrevista foi filmada, com autorização dos alunos e responsáveis,79 a

fim de que a pesquisadora, ao transcrever as falas dos alunos, melhor reconhecesse

quem fala em cada transcrição. Todos os alunos receberam seus questionários,80

para assim acompanharem a entrevista, que foi conduzida discutindo as suas

respostas a ele.

78 Siglas utilizadas pela pesquisadora para designar os cinco alunos entrevistados, sendo duas

meninas, IP e LA, e três meninos, GC, JP e MF. 79 Apêndice E – Carta de autorização requisitando assinatura dos pais para os alunos participarem da

pesquisa e também da entrevista. 80 Apêndice F – Cópias dos cinco questionários respondidos pelos alunos entrevistados.

Page 198: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

197

4.3.1 Apresentação e Discussão Acerca das Respostas Dadas à Primeira Questão

Para a primeira questão, todos encontraram uma resposta próxima a 27mm

para a medida do diâmetro da tubulação, resposta esperada correta, com exceção

do aluno MF que encontrou uma medida bem discrepante dos demais.

A pesquisadora, P,81 inicia então a entrevista, interrogando a esse aluno,

MF, sobre como aconteceu seus cálculos para que o resultado encontrado fosse tão

discrepante. Acompanhemos um trecho de sua explicação à pesquisadora:

MF: Não, primeiro eu fiz, fiz a, eu acho que errei foi na hora de converter valor, de

decímetro para milímetro..., aqui, por exemplo, usei a vazão, que é volume sobre o

tempo né, pra pegar, pra descobrir a área né. Você viu né, vazão é igual à

velocidade vezes a área. Aí, fazendo, fiz, encontrei a vazão decímetros cúbico por

segundo, só que eu acho que foi na hora de transformar pra milímetro cúbico, então

a resposta aqui é em milímetro né, diâmetro em milímetro, acho que eu errei, eu

errei. Então deu esse valor aqui 333.333,33mm3. Aí achei no final uma área de

55,5mm2, aí joguei na fórmula da área, achei 8,6.

(...)

P: Você transformou suas medidas todas primeiro, para depois fazer os cálculos.

MF: É. Acho que eu errei foi aqui. Eu não sabia converter direito.

Observemos que o aluno MF justifica seu erro como sendo na “conversão de

unidades de medida”. Essa é uma competência matemática muito requerida aos

alunos ao longo do curso técnico de mecânica, como observamos em algumas das

disciplinas acompanhadas. Outros alunos também relataram seus cálculos.

A pesquisadora então os questiona sobre o porquê da preocupação em

encontrar a resposta em milímetro, apesar de que essa questão trazia as

alternativas nessa unidade de medida linear.

81 Sigla utilizada para a fala da pesquisadora na entrevista.

Page 199: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

198

P: Por que milímetro, por conta das alternativas que vocês estavam...

GC: (muitas falas juntas) É também, acho que, é o que a gente mais utiliza também.

JP: Eu fiz em metro. Depois no final que eu converti.

(Nesse momento houve muitas falas dos alunos juntas).

Observemos que o aluno deixa claro que não foi apenas pelo fato de as

alternativas estarem em milímetro, mas também porque essa é a unidade de medida

linear que mais utilizam nas disciplinas.

No terceiro ano do ensino médio, como observamos nas disciplinas desse

nível de ensino, os alunos já usam, sem orientação prévia do professor, o milímetro

como medida linear preferencial para os problemas e atividades apresentados.

Assim, eles resolvem os cálculos, utilizam a unidade de medida, em geral a que

acreditam facilitar os cálculos, e, quando não é o milímetro, convertem ao final.

O aluno MF, que errou os cálculos nessa questão, procurou converter para

milímetro desde o início da sua resolução. Acompanhemos mais um trecho das

explicações desse aluno sobre sua resolução.

P: Você já estava tentando mudar pra milímetro desde o início? (para MF)

MF: É, antes de começar a calcular, é...

P: Fazer as contas.

MF: É, da área mesmo. Aí foi aí que eu errei. Aí como tem cúbico, quadrado, eu não

sei como é que converte.

P: Mas você acha que errou porque você tentou passar pra milímetro primeiro, aí foi

muita conta, pois o decímetro e o metro já davam pra aproveitar, ou porque você

tem mais dificuldade pra transformar medida no geral?

Page 200: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

199

MF: É, mais dificuldade pra transformar mesmo, é porque é milímetro cúbico, eu

tenho mais dificuldade mesmo.

P: E como é que você fez ao longo desses três anos que vocês fizeram muita

conversão?

MF: Muita conversão né! Mas aí a gente vai...

(todos falam juntos)

MF: ... decorando né...

LA: ... igual MTF (Máquinas Térmicas e de Fluxo), eu decorava já, eu fazia mecânico

já porque a gente via tanto, pelo menos eu né, MTF já era mecânico já né... (LA faz

sinal de contas mecânicas com a mão e IP e GC concordam com sua fala).

JP: Eu sempre tentei evitar de fazer mecânico, mas eu sou assim né, é o meu jeito,

então eu sempre tentei evitar essas coisas mecânicas, que isso eu acho que a gente

esquece, a gente, é, aí a gente não consegue agir numa situação diferente. Então

eu tento entender o porquê da conversão.

MF: Tem algumas situações que são fáceis... um metro é igual a mil milímetros,

essas coisas são fáceis...

LA: Porque é mais usual.

MF: É, é mais usual. Mas, agora você pedir pra transformar...

P: Mas o decorar que você estava falando, quer dizer que você fez tanto...

LA: Isso.

Acompanhando o trecho relatado acima, podemos perceber que a

competência de “transformação de unidades de medida” é tão requisitada como

ferramenta para resolver as atividades das disciplinas específicas do curso técnico

de mecânica que os alunos adquirem estratégias para efetuarem essas

transformações de forma prática, mecânica, como dito por eles. Mas alguns, ainda

Page 201: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

200

sim, apresentam dificuldade em lidar com esse conhecimento. Talvez alguns tenham

sucesso nas disciplinas, pois consigam realizar a tarefa solicitada nas aulas; porém

resolvem seguindo a prática de situações anteriores similares, e não por terem

realmente adquirido essa competência matemática.

Acompanhemos o prosseguimento do trecho apresentado da entrevista,

onde relatam estratégias usadas no caso de dúvidas com a transformação de

medidas.

P: Mas o decorar que você estava falando, quer dizer que você fez tanto...

LA: Isso.

P: ... que aquilo ficou mecânico, né?

IP: ... não só isso, tem muito assunto que você usa tanto que se você faz você olha,

opa! Tem alguma coisa errada. (Demais alunos concordam).

P: Vocês usam bem essa prática que ela falou de olhar o resultado final se mais ou

menos está dentro? (Todos concordam e falam muito).

LA: No técnico é o que mais rolava. (...) Eu não esqueço a primeira aula que a gente

teve (aponta para os demais alunos), com o P1,82 que ele falou da potência de uma

Ferrari.

JP: Isso.

IP: Foi isso.

LA: Aí ele falou assim, que às vezes a gente tem um resultado tão absurdo e, a

gente tende a confiar tanto nos nossos cálculos que a gente acha que tá certo, a

gente não pára pra poder pensar, se aquilo é possível ou não, se aquilo é cabível

nas condições que eu tenho, entendeu? E a gente, pelo menos eu comecei a olhar

muito o resultado, de acordo com o que eu tinha.

82 P1 é a sigla usada pela pesquisadora para substituir o nome do professor mencionado pelos

alunos.

Page 202: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

201

JP: E isso serve pra tudo, aqui ó (folheia a atividade), peso, pra tudo eu acho...

A ação relatada, nesse trecho da entrevista, de estarem atentos ao resultado

encontrado em uma situação problema, de conferirem o resultado ao término da

atividade é uma prática comum desse grupo de alunos, aqui explicitada, mas já

relatada anteriormente na observação das aulas.

Essa parece ser uma característica que esses alunos adquirem ao longo dos

três anos do ensino médio integrado ao técnico, pelo incentivo dos professores das

disciplinas técnicas e, também, por eles mesmos, que desenvolvem essa estratégia

como auxílio para evitarem erros numéricos devido aos muitos cálculos que efetuam

no curso.

Na segunda parte dessa questão, os alunos deveriam optar pela melhor

medida para a tubulação encontrada no mercado. O valor aproximado da tubulação

é 27,2mm. Como essa medida não é oferecida no mercado, os alunos devem optar

pela melhor medida. Na situação da disciplina COH, em um problema próximo a

esse, foi observado que o melhor seria optar pela medida inferior, pois mesmo

aumentando a pressão na tubulação, as demais informações dadas na questão

problema da disciplina garantiam que a tubulação resistia ao aumento de pressão e,

então, seria a melhor opção, por ser a mais barata no mercado, diminuindo o custo

da obra.

No questionário, dos quatro alunos que encontraram valor próximo a esse,

três optaram pela alternativa 30mm e apenas um por 25mm. Acompanhemos um

trecho do questionamento feito pela pesquisadora, aos alunos, sobre suas

respostas.

GC: Eu escolhi o valor superior mais próximo do resultado.

IP: Eu não pensei no valor superior, eu pensei no valor mais próximo. E aí o meu

tinha dado 27,27 está mais próximo de 25 do que de 30, aí eu escolhi 25.

P: Você optou pelo mais próximo e vocês três pelo superior mais próximo. Por que o

superior mais próximo?

Page 203: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

202

GC: Porque se fosse inferior, ele não ia atender a demanda.

JP: Porque se fosse inferior, a velocidade ia aumentar. Se a velocidade aumentar,

pode estourar a tubulação, ou termos outros problemas de vazão.

Observem que três dos alunos optaram pelo superior mais próximo, pois

levaram em consideração que a velocidade do fluido da tubulação iria aumentar. Ou

seja, contextualizaram a questão com a situação de trabalho do técnico de

mecânica, na área óleo-hidráulica. Questionados pela pesquisadora se a tubulação

não resistiria a esse aumento de pressão, como na situação presenciada em COH,

os alunos disseram que isso varia com o problema, nesse não há informações sobre

isso, logo, a opção mais prudente é a maior, 30mm, para evitar o aumento da

pressão. Essa, com certeza, suportaria a vazão encontrada.

A resposta dada a questão por esses três alunos é coerente com sua

formação de técnico. A questão problema é resolvida usando ferramentas

matemáticas, porém a interpretação do resultado levou em consideração a situação

de trabalho da prática envolvida.

4.3.2 Apresentação e Discussão Acerca das Respostas dadas à Segunda Questão

A alternativa “a” da questão não gerou uma discussão muito prolongada.

Todos fizeram bons desenhos para o esboço da peça proposta, alguns inclusive

muito caprichados; eles disseram achar importante fazer um bom desenho para

entender a peça, procuram fazer o desenho o mais caprichado possível, expondo

todas as medidas, pois assim visualizam melhor a tarefa que precisam desenvolver.

Na alternativa “b”, todos anotaram a estimativa das medidas lineares da

peça, três delas muito boas, as outras duas dispersaram um pouco. Mas apenas

dois anotaram as estimativas angulares, ambas corretas. Na entrevista, os alunos

que não anotaram as medidas angulares justificaram que foi distração, pois, ao

lerem o enunciado, não perceberam que foi solicitado, mas todos sabiam fazer.

Page 204: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

203

Interrogados pela pesquisadora sobre a prática de estimar medidas lineares,

e também angulares, os alunos afirmaram que não praticaram muito atividades de

estimar medidas na disciplina de METRO I, como observado nas aulas pela

pesquisadora, pois tiveram outro professor que não exigiu muito isso. Mesmo assim,

afirmaram que essa habilidade de estimar medidas de peças foi desenvolvida ao

longo do curso. Em vários momentos, em disciplinas diversas, eles disseram que

precisam fazer isso, estimar medidas, de forma explícita ou não, por vezes até de

forma não consciente, para desenvolver algumas tarefas do curso. Questionados

pela pesquisadora, os alunos entrevistados disseram considerar importante

conseguir estimar boas medidas para ser um bom técnico.

É interessante notar que, para as medidas lineares, estimadas para a peça,

todos usaram o milímetro como unidade de medida, porém o enunciado do exercício

não solicitava nenhuma unidade específica a ser usada. Os alunos disseram, na

entrevista, que isso é inconsciente para eles, quando pensam em uma medida no

contexto do técnico já pensam em milímetro, que acham difícil pensar ou expressar

em centímetro ou metro de tão acostumados que já estão com aquela medida. E

justificam:

LA: cm e m é coisa de costureira e pedreiro. Nós mexemos com números pequenos,

muito pequenos, precisamos do milímetro.

Note-se que, nesse comentário da aluna LA, ela faz alusão a uma fala,

também observada pela pesquisadora, da professora da disciplina de METRO I, na

primeira aula, quando introduz aos alunos que a medida característica de trabalho

do mecânico industrial é o milímetro e o micrômetro. Parece-nos, sobre essa fala da

aluna LA, que esse discurso, acompanhado de exemplos de outros profissionais, é

repetido para eles por professores da área do técnico. Pelo discurso dos professores

e, principalmente, pela prática das disciplinas, que faz uso constante dessa unidade

de medida, os alunos chegam ao final do curso com essa característica, o uso

prioritário do milímetro como unidade de medida linear, incorporada à sua prática,

como técnicos em mecânica industrial.

Page 205: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

204

A pesquisadora então questionou os alunos sobre como é, então, na

disciplina de Matemática, lidar com centímetro ou metro. Disseram que tudo bem,

trabalham também com outras medidas, mas o pensamento deles é sempre primeiro

em milímetro, principalmente quando estão no contexto do técnico.

Na letra “c” dessa questão, quase todos os alunos efetuaram cálculos pra

encontrarem sua resposta, sendo que quatro delas forneceram boas estimativas

para o peso da peça. Como o objetivo da questão era apenas estimar uma medida

para o peso da peça, a pesquisadora inicia a discussão interrogando-os sobre se

algum deles, antes de efetuar os cálculos, pensou em um peso possível. Poucos

pensaram nesse peso estimado antes de pensar como calculá-lo. LA o fez ao iniciar

o exercício e assim justificou:

LA: A gente teve um trabalho de fundição, esse, esse, que é o desenho de uma

peça que a gente ia fundir. E aí, quando eu fiz, eu não tinha nada sobre o desenho,

tipo assim, um peso próximo, e eu fiquei pensando muito, muito tempo se era

possível que aquele peso fosse real. E aí nesse desenho eu também fiz a mesma

coisa, fiquei pensando um peso que seria possível pra uma dimensão desse

tamanho.

Alguns dos alunos relataram que pensaram num peso possível durante a

resolução da questão por cálculos, observando se os resultados estavam coerentes

e também se o resultado final correspondia a um peso possível para aquela peça.

O cálculo efetuado pelos alunos foi, a partir dos valores lineares estimados

para as medidas, encontrar o volume da peça e multiplicar pelo peso específico do

ferro, que lembravam o valor próximo, que é 7,86kg/dm3. Acompanhemos o diálogo

em que explicam essa resolução, e explicitam como estavam atentos aos cálculos,

pensando se o valor encontrado era coerente e também, por intervenção da

pesquisadora, explicam como sabiam o valor do peso específico do ferro, sem o

consultarem.

Page 206: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

205

JP: Eu tentei, eu tentei lembrar, eu tentei fazer isso com o volume, ver se o volume

que eu ia calcular tava fazendo sentido, e pra densidade, eu tava tentando lembrar a

densidade, eu tentei pensar num bloquinho de 10mm por 10mm...

LA: 10 por 10.

JP: 10 por 10 por 10 (gesticulando com as mãos a visão de um cubo), quanto que

seria mais ou menos pra tentar ver lá.

P: Peso padrão.

JP: Peso específico. É, tentar ver se o peso específico padrão tava certo, eu

lembrava desse trabalho de fundição, de densidade do ferro... (LA e IP começam um

diálogo junto da fala de JP).

LA: ... eu pensei, eu imaginei eu pegando a peça (gesticula tirando com uma mão

um peso da mesa), é, eu pensei que fosse uma peça mesmo, sei lá, num

laboratório, sei lá, uma coisa aleatória, tipo num, aquele lugar lá gente, usinagem,

(...) a gente num pega, eu fiquei imaginando a gente pegando essa, de ferro assim.

(diálogo entre as duas, LA e IP).

(...)

(Os três que apresentaram cálculos mais coerentes, LA, IP, e JP, começaram a

explicá-los).

LA: Eu, a gente no caso, tentei transformar isso em peça geométrica né, aí o que eu

fiz, eu tentei imaginar isso como se fosse dois triângulos, aí calculei a área de um

triângulo, depois do outro, somei e multipliquei pela espessura; aí ficou a peça

inteiriça, aí a gente retira o que não tem material, aí eu calculei o volume dos dois

furinhos e esse.

P: Então você fez mesmo o cálculo de quanto seria o volume da peça. E você fez o

que com isso?

LA: Aí eu multipliquei pelo peso específico do material, do ferro.

P: E você sabia esse peso específico decorado?

Page 207: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

206

LA: Assim, eu tentei lembrar...

P: E aí, de onde ele saiu?

LA: É porque, então, a gente fez o trabalho em fundição, e eu lembrava mais ou

menos também, mas eu nem sei se é 7,2 não.

P: Bom, porque mais ou menos é isso mesmo, entendeu, aí eu fiquei assim, será

que vocês sabem ou consultaram na internet, vocês sabem mesmo?

LA: Não, não, o meu nem acessa (mostra o celular), é porque a gente lembrava

mesmo.

P: E só do ferro? Ou de outros também?

LA: É.

P: Porque o do ferro vocês trabalharam.

LA: Isso.

(Os outros alunos também explicam de forma parecida com LA).

Um dos alunos, MF, explicou que não calculou o volume, lembrou apenas do

peso específico do ferro. Pensando nisso, estimou o volume da peça, no olho

mesmo, segundo o aluno, e, apenas visualizando a peça, estimou o seu peso, sem

cálculos, e encontrou um peso até próximo, não tanto quanto os três que calcularam,

mas próximo. Ele assim comenta sobre sua estratégia de resolução:

MF: O professor de física falava muito isso, não sei se era o P2, se era o P3,83 falava

de noção espacial, a gente tem que ter. Era o P2. A gente tem ter uma boa noção de

distância, de peso, eu não muito, se você pegar, uma caneta assim (pega a caneta

da mesa), saber ah, quanto que isso, quantas gramas que tem, eu não tenho,

entendeu? Por isso que eu chutei um quilo e meio.

83 A pesquisadora utiliza P2 e P3 para substituir no texto os nomes de professores citados pelos

alunos na entrevista.

Page 208: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

207

Ainda nesse item da questão, a pesquisadora interroga-os se existia um motivo pelo

qual utilizaram o grama para unidade de medida de peso na resposta à questão,

sendo que o aluno que encontrou medida muito maior utilizou o quilo.

P: E a medida? Uns anotaram em gramas, outros em quilo...

IP: O meu eu fiz como se fosse quilo, mas a resposta eu anotei em gramas.

P: Por quê?

IP: Porque sei lá, eu achei mais fácil... (muitos falam juntos).

JP: É mais fácil, quem for trabalhar, é mais fácil de visualizar. 508g, ah, beleza! Você

tem que pensar na pessoa que vai ler também.

P: Em grama é mais fácil você estimar a medida, isso?

JP: Depende...

MF: Se fosse 32kg...

JP: É, aí seria mais fácil quilo do que grama. Melhor pra pessoa ler, do que...

MF: É.

P: Então, o que seria mais fácil para um leitor.

MF: Isso.

Pela discussão, parece-nos que há um consenso que, para quem lê o texto,

para esse leitor melhor visualizar esse peso no pensamento, é melhor utilizar

gramas para medidas menores e quilo para maiores. Vejam que há uma

preocupação com quem irá utilizar o resultado, como se estivessem prestando um

trabalho para outra pessoa, fornecendo uma informação. O pensamento parece ser

construído para uma situação de trabalho para o técnico.

Page 209: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

208

Na letra “d” dessa questão, um aluno deixou-a em branco e os quatro

demais escreveram os procedimentos com informações muito gerais, sem detalhar

construções geométricas de régua e compasso.

Interrogados sobre por que não detalharam, citando essas construções

geométricas de régua e compasso, os alunos não discutiram muito o fato, como se

fosse isso mesmo que tinham a responder no item. Mesmo conduzidos por

perguntas da pesquisadora, não perceberam que podiam ser mais precisos na

descrição das etapas com régua e compasso. Pareceram descrever o trabalho

prático, o uso prático dessas construções nas atividades das disciplinas que as

requisitaram.

Apesar de não apresentarem detalhadamente as etapas de desenho,

disseram achar importante ter os instrumentos para fazer os desenhos, alguns

explicitaram se incomodar de fazer desenhos a mão livre, gostam de ter a régua e

outros instrumentos para auxiliarem no desenho e o fazer com mais precisão, como

também o disseram no item “a” dessa questão. Um esboço apenas para executar

um trabalho incomoda muito alguns desses alunos, como exposto no diálogo a

seguir:

GC: Se tiver algum recurso, eu prefiro pra fazer o desenho.

JP: Eu tento também, se tiver algum recurso, eu utilizo também.

MF: Até pra fazer um desenho assim, eu gosto de usar régua. (Refere-se ao esboço

da peça solicitado no item “a” da questão 2).

JP: É eu também, se tiver, eu tenho dificuldade, eu confio muito mais num desenho

correto do que...

MF: É, muitas vezes na aula de desenho técnico o fessor falava: faça o desenho a

mão livre. Né, não de régua nem compasso. Assim, mas ah, eu não consigo, eu

tenho que usar uma régua, eu tenho que usar um compasso, só esse desenho aqui

eu tive que fazer ele umas cinco vezes viu...

Page 210: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

209

(...)

P: Pra vocês duas (refere-se às alunas LA e IP, que discutiam entre si), tranquilo um

esboço, só...

LA: Sabe porque, de verdade, não tem necessidade, não é bonito...

GC: É a mensagem que tem que passar...

LA: Tem que passar a leitura, entendeu, eu aprendi assim.

JP: Mas a cabeça que você tem ali na hora de ver é totalmente diferente, se é uma

coisa bem feita...

LA: Porque no meu desenho eu consigo enxergar perfeitamente, entendeu.

JP: Mas não é só eu que tenho que enxergar...

Essa resposta dos alunos a esse item “d” e sua impressão de que o texto

seria como escreveram são coerentes com a prática nas atividades das disciplinas

observadas que requisitaram conhecimentos matemáticos de construção geométrica

com régua e compasso. Em DTM e CALD, não foi explicitado essas construções, o

professor apenas ensinava como fazer o traçado e os alunos seguiam essas etapas

de construção. Assim também muitas vezes acontece na indústria, os profissionais

apenas seguem as instruções de “como fazer”. As descrições no texto apresentado

pelos alunos à questão são coerentes com a prática nas aulas das disciplinas

observadas.

4.3.3 Apresentação e Discussão Acerca das Respostas Dadas à Terceira Questão

Na terceira questão, apenas um aluno resolveu com o procedimento correto,

e esse usou conhecimentos de geometria plana. Questionados pela pesquisadora,

os outros quatro alunos alegaram não terem resolvido o exercício por não se

lembrarem da fórmula. Como exposto anteriormente, questões como essa, nas

disciplinas técnicas, são resolvidas em sala de aula utilizando uma fórmula,

Page 211: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

210

matemática, já fornecida pelo professor para encontrar o resultado, não explicitando,

em sala de aula, nas disciplinas técnicas, os conhecimentos de geometria plana, já

adquiridos anteriormente pelos alunos, que resolvem questões com etapas similares

a de um problema de aulas da disciplina Matemática.

Como comumente acontece nas disciplinas técnicas, os demais quatro

alunos não resolveram, pois, estando a questão contextualizada de forma similar a

questões resolvidas no técnico, acreditaram só ser possível resolver pela fórmula

fornecida nesse contexto, e não tentaram visualizar e construir uma resolução

utilizando os conhecimentos já adquiridos de matemática.

IP: Eu deixei em branco mais porque, primeiro tinha que lembrar fórmula, depois

tinha que pensar, aí ah não.

P: Então você acha que precisa de uma fórmula para fazer essa aí?

MF: Ah eu nem sei, na verdade eu acho que não ia precisar de fórmula não...

IP: Na verdade eu nem cheguei a ler bem a questão em si, eu li aqui embaixo e aí

eu pensei nó, eu nem lembro como calcula e já começou a outra aula, aí...

(...)

MF: É, eu também, se fosse pra, quando eu vi o desenho assim, igual a gente tá

tendo a matéria agora de elementos, vê esse negócio aqui, eu pensei que ia pedir

tipo, eu não tinha lido essa linha aqui não, pensei que ia pedir a relação de uma pra

outra, né...

Como os alunos remetiam-se na discussão apenas ao contexto da disciplina

de ELM, sem construírem uma resolução com seus conhecimentos de matemática, a

pesquisadora inicia um diálogo induzindo os alunos a pensarem em como

resolveriam a questão mobilizando seus conhecimentos de geometria plana. O aluno

JP, que resolveu a questão, auxilia em alguns momentos.

Page 212: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

211

P: Porque vocês fizeram no início do curso exercícios mais simples também como

este. (Refere-se à disciplina de ELM).

MF: É.

P: Que são puramente um exercício de geometria.

MF: É, que relaciona desse pra esse, desse raio pra esse raio, esse negócio.

P: Que na verdade só lida com matemática.

MF: É. Agora na hora de pedir o valor mesmo que percorreu... (balança a cabeça

sinalizando não).

P: Então vamos lá. Onde está a correia?

MF: (vai apontando acompanhando o desenho e outros alunos também) Essa aqui...

P: Então o que seria para calcular?

MF: (Aponta o trecho reto da correia).

P: Essas duas partes retas, e o que mais?

MF: E metade do... (apontando para o círculo).

JP: Metade não.

GC: Não é a metade.

P: É a metade certinha?

MF: Ah, não é a metade, é uma parte, essa parte aqui... (apontando no desenho).

GC: Parte que está em contato com a polia.

MF: É.

P: E qual é a parte que está em contato? Da onde a onde? Começando onde?

LA: Começando aqui ó, não? (LA aponta no desenho e ao mesmo tempo outros

alunos respondem também).

Page 213: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

212

P: Está vendo, tá um pouquinho maior viu? (Dirige-se a MF, a respeito da polia

maior).

MF: É, esse ângulo aqui...

LA: O alfa.

JP: Teta um e dois.

P: Teta um e o teta dois, não é?

LA: Isso.

P: E aí? O que que seria necessário calcular?

GC: É, teria que calcular essa parte... (vai olhando o desenho e girando a folha para

visualizar melhor).

P: O comprimento dessa parte que aí o desenho chamou de que?

(alunos respondem)

P: v, isso aí! São duas partes do mesmo tamanho?

MF: É.

P: Os dois vês?

MF: São. Esse v é igual esse aqui.

P: Hum. Isso. (...)

Vários alunos murmuram ao mesmo tempo, vão olhando a folha e

imaginando a resolução, com exceção do JP que fez corretamente e aguardava os

demais entenderem a resolução, com poucas intervenções, enquanto a

pesquisadora conduzia a resolução oralmente. Primeiro eles percebem que

utilizando o triângulo retângulo, já desenhado na figura, eles conseguem calcular o

“v”, falam todos ao mesmo tempo a resolução que imaginam e vão completando as

falas uns dos outros. Nesse momento, JP auxilia os colegas e vai conduzindo a

Page 214: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

213

discussão junto da pesquisadora. Todos participam e vão construindo juntos a

resolução.

P: Aí achava o v tranquilo. E como é que ia achar aquele pedaço lá de

circunferência, que na verdade não tem metade da circunferência, é só o pedaço do

teta um e o pedaço do teta dois.

Os alunos vão murmurando, buscando a resolução, e JP intervém e explica

a resolução, passo a passo, aos colegas, que então percebem que precisam apenas

de usar uma matemática simples para os cálculos, já conhecida e de domínio deles.

Após todos entenderem a resolução da terceira questão, a pesquisadora os

questiona:

P: Vocês concordam comigo que uma questão como essa podia cair, por exemplo,

num Enem?

(Todos concordam).

P: É uma questão simples de geometria básica. (Todos vão falando ao mesmo

tempo). O que vocês precisam saber aí? (Todos vão falando muito ao mesmo tempo

e a pesquisadora resumindo as falas). Triângulo retângulo ou teorema de Pitágoras

ou a relação do seno e cosseno, não é? Duas coisas simples de ensino

fundamental.

MF: No ensino médio a gente também mexeu com isso, mexe ainda, na matemática,

só que é geometria e eu sei lá...

P: Mas comprimento de circunferência e o teorema de Pitágoras...

(Alunos falam juntos: básico ou fácil).

P: Não é básico e todo mundo sabe?

(Alunos concordam e falam muito nesse momento).

Page 215: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

214

P: E talvez, muita coisa na mecânica, será que não resolve com uma matemática

básica e aí, por conta disso, sei lá, na mecânica você fica tentando lembrar uma

fórmula ao invés de tentar fazer.

LA e IP: Humrum.

MF: É isso mesmo! Eu tento lembrar mais a fórmula do que tentar pensar

matematicamente né.

IP: Parece um desespero se eu não tiver, é...

LA: A fórmula.

IP: É! Ai meu Deus, não faz isso... Ai! Não consegue!

(Todos vão falando ao mesmo tempo do desespero quando não lembram alguma

fórmula).

P: Por que isso? Vocês acham que isso é uma prática do técnico em mecânica, não

pensar matematicamente?

LA: Ah, é meio geral isso sim...

IP: Igual, o JP falou que ele pensa, mas eu acho que...

LA: É pessoal.

IP: É um dos únicos que pensa, entendeu, tipo ele e mais um que eu poderia te falar

assim...

(...)

IP: Se eu tivesse numa situação de trabalho, vou ser sincera, eu acho que eu ia

primeiro procurar a fórmula, se eu não tivesse como, a fórmula, aí é que eu ia tentar

resolver.

Page 216: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

215

Perceba-se, nesse diálogo, que mais uma vez os alunos explicitam o

constante uso de aplicação de fórmula, em situações-problema do técnico, não se

atentando a uma possível resolução através de seus conhecimentos de matemática.

A dificuldade em mobilizar um conhecimento de um contexto em outro é

explicitado pela teoria de aprendizagem situada em comunidades de prática

discutida no capítulo 1 do referencial teórico.

Em situações de prova, como o Enem, mesmo questões contextualizadas,

os alunos sabem que se trata de uma prova de matemática, e então mobilizam

esses conhecimentos para resolver a questão. Porém, na questão proposta no

questionário, os alunos sabem que as disciplinas observadas pela pesquisadora

foram as disciplinas técnicas. Mesmo tendo conhecimento de se tratar de uma

pesquisadora professora de matemática e de ali investigar conhecimentos de

matemática, os alunos associaram a questão à disciplina ELM, observada pela

pesquisadora na sala em que assistiam à aula, e de lá buscaram ferramentas para

resolver os exercícios. Mostra-se, assim, a dificuldade existente de mobilizar

conhecimentos de um contexto em outro, apesar de eles, muitas vezes, possuírem

intercessão.

A pesquisadora encerra a entrevista questionando aos alunos como lidam

com situações em que precisam mobilizar conhecimentos de matemática no

contexto das disciplinas do curso técnico de mecânica.

P: E aí JP, como é isso pra você? Você trabalha com a matemática e trabalha com a

mecânica, as duas juntas, tranquilo?

JP: Minha vida inteira, eu acho, eu sempre procurei um método próprio de criar as

coisas e de aprender. Sempre notei que isso funciona muito melhor, eu acho, isso é

muito, isso é muito comum, vejo isso sempre na escola, assim, e até eu fiz um

trabalho na iniciação científica sobre metodologia de ensino. Então, eu fiquei doido.

E inclusive meu projeto era pra eu elaborar equipamento pra ensino de mecânica.

Eu deixei de elaborar o equipamento pra estudar mais sobre metodologia de ensino

do que o próprio equipamento, sabe? Eu acho que isso, isso e o que mais faz falta

Page 217: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

216

nas pessoas e na escola. É, acho que isso é um trabalho muito interessante porque

isso faz falta em todo mundo, de tentar ver as coisas de outra forma, de tentar usar

todo o conhecimento em busca de alguma coisa.

(...)

JP: E às vezes as pessoas ficam muito presas àquela prova, àquilo ali, a fazer

aquele exercício daquela forma, mas não consegue variar, não consegue aplicar. E

eu procuro sempre, eu sou orgulhoso, sempre conseguir do meu jeito fazer uma

coisa, procuro ajuda sim, mas tento agregar junto, tento acertar alguma coisa.

(...)

P: E aí, vocês tentam buscar a matemática quando vocês estão resolvendo

situações da mecânica? Como é lidar com a matemática nas disciplinas específicas

da mecânica?

JP: Eu sempre gostei muito de matemática, sempre fui muito revoltado porque eu

vim de escola pública e lá não gostavam muito de ensinar realmente o porquê das

coisas. Então eu sempre busquei por conta própria estudar matemática, aí eu, meio

que desenvolvi isso, procurar entender as coisas. Então eu, do meu jeito fazia isso,

física e matemática, e a química. Eu tento fazer isso. Isso foi uma coisa natural

minha.

P: E vocês quatro?

GC: Eu, como eu posso dizer isso, não, a matemática é uma parte da mecânica, se

conseguirmos chegar nessa parte...

IP: Eu acho que depois que a gente veio pro técnico tal, a gente ficou mais limitado

mesmo, por exemplo, antes a gente fazia, pelo menos eu, fazíamos mais conta a

mão, tentar pensar, agora aqui não, mesmo calculadora e tal, mais jogar na fórmula,

fazer rápido, ganhar tempo, ter resultado...

MF: É, é mais...

LA: É bem isso mesmo!!! (risos)

Page 218: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

217

P: Por quê?

IP: Bem, não sei, eu acho que, olha é o seguinte, aqui a matéria é dada de uma

forma muito rápida, pelo menos eu acho. Um capítulo é dado numa aula. É sempre

assim, uma coisa rápida porque quando chegar no terceiro ano você tem mais

técnico do que médio, então você não pode ficar preso nisso. Então nossa grade é

assim, é rápido, é enxuto. Então acaba que a gente tenta é jogar na fórmula, ir bem

na prova e pronto, porque não tem como, se a gente pensar essa fórmula é por

causa disso não sei o que lá, às vezes cai a ficha de uma coisa muito tempo depois,

igual ontem mesmo em matemática, uma coisa que era básica foi me cair a ficha

essa semana.

O aluno JP, é um exemplo de que é possível encontrar alunos que

mobilizem com facilidade seus conhecimentos em diferentes áreas, em especial

aqui, os conhecimentos de matemática na disciplina de mecânica.

Mas, tanto nas respostas dadas ao questionário, quanto nos diálogos

explicitados na entrevista e na observação de sala de aula, podemos perceber que

os alunos, mesmo implicitamente, mobilizam conhecimentos matemáticos em

diversas situações do contexto do curso técnico de mecânica industrial do CEFET-

MG. Nas situações em que mobilizam conhecimento matemático, também adquirem

conhecimento, seja por ser um conteúdo novo, ainda não apresentado a eles, seja

por o adquirirem de um novo jeito, redimensionado, impregnado de características

próprias da prática do contexto profissional do técnico em mecânica.

4.4 Discussão e Análise Inicial das Respostas dos Questionários Discutidas na Entrevista

Os alunos se mostraram bem à vontade durante toda a entrevista.

Apresentaram um discurso muito próximo uns dos outros e uma fala impregnada de

características que podemos associar a algumas de suas experiências específicas

ao longo do curso técnico de mecânica.

Page 219: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

218

1) Características expostas na entrevista ligadas a experiências dos alunos com

o conhecimento matemático.

a) Os alunos evocaram diversos conteúdos matemáticos explorados em cada

uma das questões do questionário, tais como: resolução de problemas; resolução de

equações, fórmulas matemáticas e cálculos matemáticos envolvendo números

decimais e fracionários, exponenciais, radiciação, etc.; conceitos diversos de

geometria plana e espacial; medidas linear, angular e de peso; construções

geométricas com régua e compasso; trigonometria básica.

b) O milímetro foi usado prioritariamente como unidade de medida linear

principal, sendo algo automático segundo eles nas atividades.

c) A interpretação dos resultados obtidos na questão 1, diferente do esperado,

foi baseada principalmente na própria interpretação dos alunos da questão.

d) Os alunos chamaram atenção para o intenso trabalho durante o curso técnico

com conversão de medidas e atenção necessária para utilizá-las corretamente.

e) Desenvolveram bons desenhos geométricos, com capricho. Alguns sentiram

necessidade do uso de instrumentos para desenvolverem um desenho expositivo

ainda melhor.

f) Demonstraram atenção às medidas lineares solicitadas e fizeram boas

estimativas, mas não apresentaram atenção às medidas angulares.

g) Fizeram boas estimativas de peso, mas apresentaram cálculos para melhor

encontrá-los.

h) Sentiam necessidade de fórmulas matemáticas prontas para resolver as

questões que envolviam cálculos.

2) Características expostas na entrevista ligadas a experiências dos alunos com

a comunidade de prática profissional do Curso Técnico de Mecânica.

Page 220: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

219

a) Os alunos utilizaram constantemente, durante a entrevista, termos de

linguagem próprios desse grupo profissional.

b) Em diversos momentos, fizeram algumas discussões acerca do mercado de

trabalho do técnico da área de mecânica ou deram alguns exemplos do trabalho do

técnico na indústria.

c) Desenvolveram, em alguns momentos, discussões muito coerentes com a

formação recebida nas disciplinas técnicas observadas.

d) Tiveram dificuldade em relatar matematicamente as construções com régua e

compasso, pareceram relatar apenas a prática, “como fazer” os desenhos,

traduzindo mais enfaticamente um conhecimento prático da atividade.

e) Na maior parte das respostas dadas ao questionário, pensaram no contexto

das disciplinas técnicas para resolvê-las e não em seu conhecimento matemático.

f) Apresentaram dificuldade de mobilizar conhecimento do contexto matemático

para o técnico, com exceção de um aluno.

g) Explicitaram que desenvolveram no curso técnico a prática de sempre conferir

os resultados encontrados e interpretá-los segundo o contexto.

Durante a entrevista, podemos reconhecer, em algumas discussões

expostas nesse texto, a articulação e o redimensionamento do conhecimento

matemático na comunidade local de prática profissional do curso técnico de

mecânica em relação a práticas já identificadas anteriormente em uma ou mais

disciplinas observadas.

São elas: o uso do milímetro como unidade de medida linear nas atividades;

a atenção ao resultado encontrado nas situações problema, conferindo os resultados

obtidos e interpretando-os segundo a situação apresentada; a capacidade de fazer

boas estimativas para diversas medidas que trabalham na prática; o

desenvolvimento do trabalho de construções geometrias centrado numa prática de

trabalho de “como fazer”, revelando uma matemática procedimental; a aplicação

constante de fórmulas no desenvolvimento das questões, revelando uma

matemática aplicada.

Page 221: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para
Page 222: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

221

CAPÍTULO 5: ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA

Neste capítulo buscamos reapresentar os dados construídos na observação

de aulas e na entrevista de modo a melhor analisar as informações coletadas à luz

da teoria de pesquisa exposta no capítulo 1.

Propomos analisar os dados coletados buscando responder as questões

propostas no objetivo desta pesquisa, expostas na introdução e no capítulo 2 de

metodologia.

Num primeiro momento, discutiremos a primeira questão do objetivo desta

pesquisa: QUE CONHECIMENTOS MATEMÁTICOS SÃO MOBILIZADOS NO

COTIDIANO DE AULAS DE DIVERSAS DISCIPLINAS NO CURSO TÉCNICO DE

MECÂNICA INTEGRADO AO MÉDIO?

Em todas as disciplinas observadas, houve mobilização de conhecimento

matemático no decorrer das aulas para desenvolver a prática ou a teoria daquela

disciplina. Em alguns momentos, o conhecimento era apresentado de forma explícita

pelo professor, evocando um conhecimento já conhecido pelos alunos para então

fazer uso dele em sua disciplina, ou até mesmo revisado no quadro para depois

fazer sua aplicação; em outros momentos, ele aparecia de forma implícita nas

atividades da disciplina, sem se fazer menção explícita de sua presença na

atividade.

Esse conhecimento matemático presente nessas aulas era, às vezes,

percebido pelo aluno, às vezes, não.

Em alguns momentos, o aluno já possuía aquele conhecimento matemático

necessário para desenvolver a atividade de técnico de mecânica proposta na

disciplina, apenas evocando esse conhecimento anteriormente adquirido em aulas

de matemática, ou mesmo em outra disciplina técnica; em outros momentos era

como se adquirissem naquele instante o conhecimento matemático requerido, ou por

não o evocarem de experiências anteriores para aquele contexto, ou mesmo por ser

um conhecimento matemático novo, ainda não estudado por esses alunos.

Page 223: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

222

Como proposto no capítulo de Metodologia, capítulo 2, buscaremos

sintetizar no Quadro 1 as experiências dos alunos com a Matemática observadas

nas aulas técnicas acompanhadas e expostas no capítulo 3. Nesse quadro,

buscaremos uma triangulação dessas experiências dos alunos com a Matemática

trazidas pelas exposições de aula por meio do professor, com as experiências

expostas nos documentos escritos (ementas das disciplinas, apostilas e atividades

propostas) e também nas discussões da entrevista exposta no capítulo 4. Para cada

experiência observada na exposição das aulas, marcaremos se elas também

aparecem nos documentos escritos e/ou nas discussões durante a entrevista.

TABELA 1 – TRIANGULAÇÃO DOS DADOS CONSTRUÍDOS NA PESQUISA A RESPEITO DAS EXPERIÊNCIAS DOS ALUNOS COM A MATEMÁTICA NAS DISCIPLINAS TÉCNICAS

Experiências dos Alunos com a Matemática durante

a exposição das aulas observadas, ou em parte

delas

Documentos

Escritos

Discussões

da

Entrevista

A Matemática é usada como ferramenta a ser

aplicada em diversos contextos.

X X

Os conteúdos matemáticos abordados, em geral,

não são explicitados.

X X

As disciplinas permitem constante uso de

calculadora.

X X

Os alunos desenvolvem em algumas disciplinas

várias atividades de aprendizagem, exercícios.

X X

Trabalha com números muito exatos, muitas casas

decimais; o erro deve ser mínimo.

X X

Os alunos desenvolvem cálculos envolvendo

números na forma decimal e fracionária.

X X

Trabalham metrologia básica, medição linear,

angular e de peso, e a estimação dessas medidas.

X X

Page 224: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

223

Uso de diferentes unidades de medida, como

também saber efetuar transformações de uma

unidade de medida para outra.

X X

É exigida atenção para notação correta de unidades

de medida dos valores trabalhados.

X X

O milímetro é a unidade de medida linear mais

usada.

X X

Resolução de equações e aplicação de fórmulas

matemáticas.

X X

A Matemática é, por vezes, percebida como

aplicação de fórmulas ou resolução de cálculos ou

equações, sem raciocínio.

X

Resolução de situações-problema. X X

Construções geométricas com régua e compasso. X X

Conceitos diversos de Geometria Plana: retas

paralelas e perpendiculares, ponto médio, ângulos,

círculo, circunferência (raio e diâmetro),

quadriláteros, elipse, simetria, etc.

X X

Conceitos diversos de Geometria Espacial: visão de

objetos tridimensionais, figuras específicas (prismas,

pirâmide, cilindro, etc.).

X X

Uso de escala. X

Nomeiam o instrumento régua como escala.

Trigonometria. X X

Consulta de dados em tabelas e/ou gráficos com X

Page 225: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

224

variadas apresentações.

Abordagem de conceitos matemáticos ainda não

estudados (arco seno, interpolação).

X

Abordagem de conceitos de física. X

Alguns desses conhecimentos matemáticos, observados nas disciplinas

acompanhadas, estão carregados de características do contexto a que pertencem

esses alunos. Em todas as disciplinas observadas, essas características próprias do

curso técnico de mecânica se fizeram presentes, de alguma forma, caracterizando

que o contexto histórico e social do curso técnico em mecânica possui uma prática

comum que perpassa todas as disciplinas observadas.

Existe uma linguagem própria do profissional técnico em mecânica, que

perpassa todas as disciplinas. Está explícita nas falas dos professores, mestres

dessa comunidade, e com o passar do tempo, do primeiro ao terceiro ano, vão

ganhando cada vez mais presença nas falas dos alunos. Observamos isso

acontecendo sutilmente nas disciplinas do primeiro ano, porém, no terceiro ano, a

linguagem utilizada em sala já é bem próxima de um profissional técnico em

mecânica.

O uso de símbolos, como os próprios dos desenhos mecânicos, e o uso do

milímetro como unidade de medida linear fazem-se presentes desde o primeiro ano

e são incorporados como prática comum que acontece automaticamente, quando já

estão no terceiro ano.

Os instrumentos utilizados pelos alunos durante as práticas vão se tornando

familiares. Instrumentos simples como a régua, muito utilizada, é apresentada

nomeada como escala em METRO I; já no terceiro ano, por exemplo, em CALD, é

designada como escala desde o primeiro dia, sem nenhuma explicação explícita em

sala; essa designação já foi incorporada por eles na prática do técnico. Mas vale

ressaltar que, como alunos do ensino médio regular, nomeiam-na régua em

disciplinas regulares.

Page 226: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

225

Ao utilizar instrumentos de maior porte, como as máquinas utilizadas nas

práticas de algumas dessas disciplinas, durante o primeiro ano os alunos

apresentam muito receio e sempre aguardam a orientação do professor. Já no

terceiro ano, mostram-se muito mais familiares e já os manuseiam, mesmo antes da

orientação da prática.

Observamos regras, papéis, procedimentos, regulamentos, contratos,

relações, entendimentos, visões de mundo e crenças compartilhadas, em alguns

momentos com maior ou menor intensidade, que se fazem presentes desde o

primeiro ano e vão se tornando parte inseparável da prática e comportamento

desses alunos nas disciplinas específicas do técnico, como se começassem na

periferia e, no decorrer dos três anos do curso, movimentassem em direção ao

centro dessa prática, característica muito próxima do que apresentamos na revisão

teórica como “participação periférica legítima”.

Observamos que o conhecimento matemático próprio dessa comunidade de

alunos vai tomando significado para o estudante técnico de mecânica, por meio da

sua participação na prática e atividades de cada disciplina. Complementar a esse

processo acontece a reificação desse novo significado do conhecimento matemático

mobilizado no contexto em que é produzido, dando assim forma a essa experiência;

ou seja, pela reificação, segundo Wenger (1998), essas experiências vivenciadas

pelos alunos produzem objetos de conhecimento repletos das características desse

contexto profissional escolar.

No contexto de disciplinas técnicas, como as observadas, a prática é parte

inseparável da comunidade. Seja a prática nos laboratórios, reproduzindo o trabalho

do técnico em mecânica na indústria, seja nas aulas teóricas em sala de aula,

reproduzindo um conhecimento próprio desse profissional contextualizado

constantemente com o trabalho do técnico. Nessa prática, o conhecimento

matemático mobilizado, necessário para sua realização, torna-se uma ferramenta

importante, impregnada de características próprias desse contexto.

Podemos notar a formação de uma identidade própria desses alunos ao

longo de sua participação nas disciplinas técnicas no decorrer dos três anos. Essa

identidade está mais explícita nas atitudes e comportamentos observados dos

Page 227: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

226

alunos nas disciplinas de terceiro ano, bem como em suas falas na entrevista em

grupo. É claro que alguns alunos se mostram mais envolvidos que outros, mas todos

constroem uma identidade com seu grupo no decorrer do curso. Essa identidade

revela a aprendizagem desses alunos ao longo do seu processo de formação como

técnicos de mecânica.

Se construirmos a ideia proposta por Jordane (2013) de reconhecer cada

disciplina técnica como uma comunidade local de prática, percebemos que é da

participação nessas diferentes comunidades e do compartilhar do conhecimento

adquirido na prática de cada uma delas, que se forma a identidade do aluno

pertencente à comunidade local de prática profissional do técnico em mecânica.

Podemos perceber também, em alguns momentos de forma mais ou menos

intensa, que os aprendizes, alunos desse curso, desenvolvem uma habilidade de se

engajar com os outros aprendizes, ao longo dos três anos. No terceiro ano, a

interação dos alunos nas práticas e na produção de conhecimento acontece de

forma muito mais intensa e eles trabalham em grupo de forma muito mais

colaborativa, habilidade essa que adquirem no decorrer do curso, mas que já é

incentivada pelos professores desde o primeiro ano.

A seguir expomos no Quadro 2 as experiências dos alunos observadas na

exposição das aulas acompanhadas ligadas à comunidade de prática profissional do

Curso Técnico de Mecânica. Estas serão relacionadas aos demais dados coletados,

documentos escritos e entrevista aos alunos, porém, muitas delas não são

pertinentes aos demais dados coletados, por isso estão em branco, por não se

aplicarem ou por não a termos observado.

TABELA 2 – TRIANGULAÇÃO DOS DADOS CONSTRUÍDOS NA PESQUISA A RESPEITO DAS EXPERIÊNCIAS DOS ALUNOS COM AS CARACTERÍSTICAS DA COMUNIDADE LOCAL DE PRÁTICA PROFISSIONAL DO CURSO TÉCNICO DE MECÂNICA

Experiências dos alunos com a comunidade de

prática profissional do Técnico de Mecânica durante

a exposição das aulas das disciplinas observadas,

ou em algumas delas

Documentos

Escritos

Discussões

da

Entrevista

Page 228: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

227

Ambiente de sala de aula próprio da disciplina,

reproduzindo ambiente de trabalho da área na

indústria.

Número de alunos reduzido para cursar a disciplina.

Professor com formação técnica ou engenheiro.

Disciplina apresenta apostila ou outro material

impresso da área para auxiliar nas aulas.

Uso de jaleco próprio do curso como vestiário próprio

da disciplina.

Uso de materiais de desenho geométrico,

ferramentas, equipamentos e máquinas presentes

nos ambientes de trabalho na indústria.

X X

Uso de termos de linguagem e atitudes familiares a

um técnico em mecânica da área da disciplina.

X X

Relatos e exemplo do trabalho do técnico de

mecânica na indústria.

X X

Disciplina ou aula específica apresenta um objetivo,

um trabalho a ser executado.

X X

Presença de interações aluno-aluno e/ou

aluno/professor.

X

Professor considera as diferentes posições de

periferalidade dos alunos como distintas no 1°, 2° e

3° ano do curso.

X

Em geral não há muitas definições na exposição do

conteúdo, o conhecimento é prático, o professor

ensina “como fazer” o procedimento ou cálculo e os

X X

Page 229: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

228

alunos repetem como demonstrado.

Professor executa a tarefa devagar, passo a passo,

para ser acompanhado pelos alunos que a executam

também simultaneamente ou posteriormente.

Simbologia própria da área técnica. X X

Rigor e precisão nos cálculos, desenhos ou tarefas

executadas.

X X

Limpeza do material e ambiente de trabalho exigida. X

Usa-se fazer um rascunho antes do trabalho exato

(como os croquis de DTM e planificação de CALD)

X X

Interpretação dos resultados encontrados segundo a

interpretação da área técnica.

X X

Conferência dos cálculos e valores dos resultados

encontrados.

X

Construção de relatórios das práticas e/ou atividades

desenvolvidas.

X

Alunos são observados trabalhando com autonomia,

empenho e dedicação.

X

Com esse quadro e as características discutidas, podemos entender o

contexto observado nessa pesquisa como uma comunidade local de prática

profissional do curso técnico de mecânica, a partir das discussões desenvolvidas por

Jordane (2013).

A partir desse entendimento, propomo-nos a responder a segunda pergunta

sugerida no objetivo desta pesquisa: COMO ESSES CONHECIMENTOS

MATEMÁTICOS E EXPERIÊNCIAS ESCOLARES DURANTE O CURSO TÉCNICO

SE ARTICULAM E SÃO REDIMENSIONADOS PELOS ALUNOS NA COMUNIDADE

LOCAL DE PRÁTICA PROFISSIONAL A QUE PERTENCEM?

Page 230: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

229

Nos capítulos 3 e 4, em que expomos os dados construídos nesta pesquisa,

identificamos que os alunos observados possuíam, muitas vezes, um modo

particular de lidar com o conhecimento matemático que é próprio dos participantes

da comunidade local de prática profissional do curso técnico de mecânica que

caracterizamos ao longo deste texto.

Muitas das práticas próprias das disciplinas observadas, ou próprias do

curso técnico de mecânica como um todo, levam os alunos a articularem o

conhecimento matemático que perpassa essas práticas que estão desenvolvendo e,

assim, redimensionarem seu conhecimento matemático de forma a repensá-lo a

partir de então, nesse contexto, como requerido para desenvolver o trabalho

característico desse profissional de mecânica.

As discussões apresentadas ao final da exposição de cada disciplina no

capítulo 3 e ao final da entrevista no capítulo 4 expõem várias situações em que

identificamos que os alunos articularam o conhecimento matemático à prática da

atividade proposta no curso técnico, e redimensionaram esse conhecimento

matemático para um conhecimento situado, próprio dessa comunidade de alunos.

Podemos relembrar algumas delas, por exemplo, a forma de lidar com a

unidade de medida linear milímetro. Podemos perceber que ao longo do curso os

alunos redimensionam seu pensamento para o contexto dessa comunidade de

forma a pensarem as medidas lineares utilizadas nas práticas das disciplinas

sempre primeiramente em milímetro. Como relatado por uma aluna na entrevista,

isso acontece de forma instantânea, já pensam em milímetro quando pensam em

uma medida linear, porém os alunos revelam na entrevista que esse é um

conhecimento situado, esse redimensionamento acontece na comunidade local de

prática profissional do curso técnico de mecânica, especificamente no contexto

técnico, profissional, pois, ao serem interrogados como acontece nas aulas

regulares de Matemática, eles dizem lidar mesmo é com o centímetro ou metro.

Outros momentos observados em mais de uma disciplina é o

redimensionamento do conhecimento matemático pelos alunos ao interpretarem os

resultados obtidos em uma situação-problema de forma própria do contexto

profissional ali apresentada, ou o modo como lidam com o instrumento régua

Page 231: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

230

nomeando-o como escala, o que leva esses alunos a redimensionarem o conceito

que possuem a respeito de escala trabalhado na disciplina de Matemática para uma

orientação específica de medida no contexto técnico em que estão inseridos.

Alguns conhecimentos também específicos de determinadas disciplinas, por

exemplo, o modo como redimensionam seu pensamento matemático sobre as

decimais para agregar um valor posicional para as casas decimais em metrologia

associado ao uso de alguns instrumentos. Nesse momento o zero ao final à direita

do número nas casas decimais, como em 0,100, passa a ter valor e necessita ser

anotado.

Além desses, outros foram citados ao longo dos capítulos 3 e 4. Vale

destacarmos nesse momento que esse redimensionamento revela um conhecimento

situado. A partir das necessidades próprias das práticas de trabalho da comunidade

local de prática profissional do curso técnico de mecânica, esses alunos articulam o

conhecimento matemático que perpassa essas práticas às características do

trabalho do profissional para o qual estão sendo formados, e então redimensionam

esse conhecimento.

Esse conhecimento matemático redimensionado nessa comunidade passa a

ser usado pelos alunos de forma própria, de modo que alunos do terceiro ano, mais

experientes nessa comunidade, já utilizam esse conhecimento matemático

redimensionado como próprio deles, sem necessidade de uma instrução do mestre,

no caso o professor, ou de orientações em apostilas. Esse conhecimento

redimensionado perpassa as práticas dessa comunidade e se torna parte dela

sempre que os alunos se sentem inseridos em uma situação dessa comunidade

profissional.

No próximo capítulo apresentaremos as considerações finais desta

pesquisa, concluindo assim este trabalho.

Page 232: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

231

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para apresentar nossas considerações finais para esta pesquisa,

retomaremos primeiramente as questões que nortearam o objetivo deste trabalho:

QUE CONHECIMENTOS MATEMÁTICOS SÃO MOBILIZADOS NO

COTIDIANO DE AULAS DE DIVERSAS DISCIPLINAS NO CURSO TÉCNICO DE

MECÂNICA INTEGRADO AO MÉDIO? COMO ESSES CONHECIMENTOS

MATEMÁTICOS E EXPERIÊNCIAS ESCOLARES DURANTE O CURSO TÉCNICO

SE ARTICULAM E SÃO REDIMENSIONADOS PELOS ALUNOS NA COMUNIDADE

LOCAL DE PRÁTICA PROFISSIONAL A QUE PERTENCEM?

A partir das discussões que apresentamos ao longo deste texto,

consideramos que as disciplinas observadas contribuem para a mobilização de

conhecimentos matemáticos dos alunos do curso técnico de Mecânica, uma vez que

as práticas dessas disciplinas lidam com esse conhecimento, de forma explícita ou

não.

Esses alunos vivenciam experiências com o conhecimento matemático,

muitas vezes repleto de características que são próprias da comunidade local de

prática profissional do técnico em mecânica industrial do CEFET-MG. Isso porque,

conforme observamos, as experiências dos alunos nas disciplinas específicas do

curso técnico muitas vezes se articulam e se moldam ao conhecimento matemático

desses alunos, adquiridos ao longo do ensino médio integrado ao técnico, e os

diferencia dos conhecimentos matemáticos de alunos de outros cursos técnicos ou

que cursam apenas o ensino médio.

A partir dessa articulação, o conhecimento matemático muitas vezes é

redimensionado pelos alunos na comunidade local de prática profissional a que

pertencem, revelando, assim, a construção de um conhecimento matemático

situado.

Logo, esta pesquisa nos indica que existe um uso próprio da matemática por

esse grupo cultural de técnicos em mecânica. O uso da matemática na prática

própria dessas disciplinas envolve conhecimentos distintos dos da aula de

Page 233: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

232

matemática do ensino médio, conhecimentos esses que são redimensionados nessa

comunidade que os alunos começam a pertencer e se constituem integrantes ao

longo desses três anos escolares.

No final do curso, observando como os alunos do terceiro ano lidavam com

as disciplinas e também nas discussões da entrevista, percebemos que esses

alunos possuem uma identidade e um modo de lidar com o conhecimento, em

especial o matemático observado, que é próprio dos alunos desse curso. Possuem

características particulares, como usar o milímetro para medidas lineares, estimar

bem medidas lineares, de peso e angulares, interpretar os resultados na resolução

de problemas, trabalhar com diferentes unidades de medida e números com

diferentes casas decimais, lidar com conhecimento de geometria plana e espacial,

uma visão ampliada das figuras geométricas, usar com facilidade informações

apresentadas em gráficos e tabelas, aplicar diferentes conhecimentos matemáticos

ao contexto da mecânica. Essas características são próprias dos alunos que

estudaram nos três anos desse curso, algumas são particulares deles, outras

apenas mais intensas por fazerem parte de suas experiências no curso.

A educação formal, contexto desta pesquisa, é a educação em uma escola

profissionalizante. Nesse contexto, os problemas apontados por Frade (2003) de

caracterizar a sala de aula de matemática como uma comunidade de prática são

relativizados nas disciplinas técnicas. Apesar de ainda sim estarmos em um contexto

escolar com características que o distanciam das comunidades de prática

apresentadas por Jean Lave e Etienne Wenger, como nossa observação do

conhecimento matemático está direcionado para o mobilizado nas disciplinas

específicas do curso técnico, esse contexto revela-se muito mais próximo que o das

aulas da disciplina de Matemática do curso regular.

Podemos perceber que existe uma mudança nas atitudes dos alunos em

relação ao conhecimento produzido ao longo do curso. Essa é sim uma comunidade

de aprendizes de uma prática profissional e o conhecimento matemático aí

mobilizado possui esse fim; porém a aprendizagem aqui produzida não é

desvinculada do ensino intencional, as disciplinas fazem parte de uma educação

formal e são avaliadas como tais.

Page 234: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

233

Jordane (2013) também apresenta algumas dificuldades de caracterizar a

sala de aula de matemática como uma comunidade de prática, a partir de suas

observações e estudos da literatura de pesquisa.

Entre essas dificuldades, ele cita o engajamento dos participantes em uma

mesma atividade, que pouco acontece no cotidiano das aulas de matemática de

ensino regular. Porém para as disciplinas observadas específicas do curso técnico,

esse engajamento é muito maior que no ensino regular. Por exemplo, nas aulas de

caldeiraria, os alunos se mostraram muito engajados e empenhados a trabalharem

juntos para a construção da peça proposta na disciplina. Existe, em disciplinas como

essas, uma motivação muito grande, pois elas reproduzem uma ação de trabalho do

profissional que eles almejam se tornar. De qualquer modo, não podemos nos iludir,

pois, apesar do entusiasmo apresentado pelos alunos em atividades como essas,

existe ali um sistema escolar e uma pressão implícita para efetuarem a tarefa a fim

de serem aprovados na disciplina. Além disso, nem todos os alunos desejam

realmente se tornarem técnicos em mecânica ou alcançarem alguma formação da

área.

Outro aspecto, ligado ao anterior, é que a participação dos alunos não é

voluntária, para serem estudantes nessa escola, nesse curso, precisam cursar e

serem aprovados nessa disciplina. Existe um grau de voluntariedade quando nos

atentamos ao fato de que grande parte desses alunos almejaram estudar nessa

escola, nesse curso técnico, e que essa foi uma escolha. Mas nem todos partilham

desse ideal.

Nas aulas da disciplina matemática, Jordane (2013) atenta ao fato de que

raramente os alunos almejam se tornar matemáticos. Porém, em nosso contexto das

disciplinas que formam o curso técnico, existe sim o desejo de se formarem técnico

em mecânica para a maioria deles, mesmo que nem todos almejem trabalhar

realmente na indústria como técnicos de mecânica. Mas para muitos deles, essa

será uma formação inicial na área para uma posterior formação na graduação

próxima ao técnico.

Page 235: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

234

Frente a muitas discussões, não é possível caracterizar uma disciplina, ou

um curso, no ambiente escolar, como uma comunidade de prática segundo as

discussões teóricas formuladas por Jean Lave e Etienne Wenger.

Pareceu-nos pertinente, pela observação das disciplinas escolhidas para a

pesquisa e pela discussão realizada na entrevista com alguns desses alunos,

caracterizar esse contexto observado como uma comunidade local de prática

profissional, como sugerido por Jordane (2013), bem como caracterizar cada

disciplina técnica como uma comunidade local de prática, e, por que não, em alguns

momentos, uma comunidade local de prática da matemática, em virtude do

conhecimento matemático nela mobilizado.

A partir de então nos propomos a pensar como o conhecimento matemático

mobilizado nessa comunidade local de prática profissional era articulado e

redimensionado pelos alunos.

Percebemos, então, várias situações em que os alunos, conduzidos pelas

práticas de trabalho das disciplinas, articulavam esse conhecimento matemático à

prática do profissional de mecânica que estava adquirindo, e redimensionavam esse

conhecimento matemático com características próprias do profissional dessa

comunidade. Mesmo que, num primeiro momento, esse redimensionamento fosse

conduzido pelos professores ou materiais escritos de apoio das disciplinas, ao longo

do curso percebemos que esses conhecimentos se tornaram situados e próprios da

prática desses alunos como membros dessa comunidade.

Esperamos que as discussões desenvolvidas por esta pesquisa possam

contribuir no modo como professores de Matemática e professores da área técnica

de Mecânica lidam com o conhecimento matemático dos seus alunos do curso

técnico de Mecânica, atentos para o fato que esses estão impregnados de

características próprias das experiências que vivenciam ao longo dos três anos do

curso integrado.

Mais que os profissionais próprios desse curso, professores em geral, que

trabalham nas disciplinas regulares e técnicas de um curso técnico integrado ao

ensino médio, devem estar atentos para as possíveis articulações pelos alunos e

Page 236: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

235

redimensionamentos de seus conhecimentos pela participação na comunidade

profissional a que pertencem e suas práticas de ensino.

Para além desta pesquisa, seria interessante observar como os alunos do

curso técnico de mecânica lidam com esses conhecimentos matemáticos que são

redimensionados no curso técnico nas aulas regulares de Matemática. Realmente

eles separam totalmente os contextos, não evocando imagens em relação a esse

conhecimento de um contexto para o outro?

Ao final do terceiro ano percebemos que esses conhecimentos

redimensionados pelos alunos se tornam parte de sua prática como alunos, como

esses alunos lidam com esses conhecimentos matemáticos redimensionados fora

do contexto técnico? Eles não levariam parte das características desse novo

conhecimento construído no curso técnico para a aula de Matemática?

Nesta pesquisa, propusemo-nos atentar para o conhecimento matemático

nas aulas das disciplinas específicas de um curso técnico integrado ao médio.

Acreditamos que observar o trabalho dos alunos com o conhecimento matemático

nas disciplinas técnicas em paralelo com a disciplina regular de Matemática

ampliaria este trabalho e traria novas contribuições para professores e

pesquisadores.

Page 237: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para
Page 238: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

237

REFERÊNCIAS

ADLER, J. Lights and limits: Recontextualising Lave and Wenger to theorise knowledge of teaching and of learning school mathematics. In: WATSON, A. (Ed.). Situated cognition and the learning of mathematics. Oxford: Centre for Mathematics Education Research, University of Oxford Department of Educational Studies, 1998. Chapter 11, p. 161-177.

AKIL, Celso Voto. et al. Práticas e saberes de trabalhadores: investigação na perspectiva da etnomatemática. Revista Electrónica de Investigación em Educación em Ciencias, v. 5, n. 1, p. 19-26, 2010.

ALLEVATO, Norma S. G. O modelo de Romberg e o percurso metodológico de uma pesquisa qualitativa em educação matemática. Bolema, Rio Claro (SP), v. 21, n. 29, p. 175-197, 2008.

ALVES-MAZZOTTI, A. J.; GEWANDSZNAJDER, F. (Ed.). O método nas ciências naturais e sociais: pesquisa qualitativa e quantitativa. São Paulo: Pioneira, 1998.

AZEVEDO, C. E. F. et al. A estratégia de triangulação: objetivos, possibilidades, limitações e proximidades com o pragmatismo. In: ENCONTRO DE ENSINO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE, 4., 2013, Brasília. Anais... Brasília/DF: Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Administração, 3-5 nov. 2013. BARATO, Jarbas Novelino. Saber do trabalho, aprendizagem situada e ensino técnico. Boletim Técnico do Senac: a Revista da Educação Profissional, v. 37, n. 3, p. 19-29, 2011.

BOLSAN, Wagner José. A matemática nos cursos profissionalizantes de mecânica. 2003. 222 f. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática)-Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2003.

BORBA, M. de C. et al. Pesquisa qualitativa em educação matemática. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. 120 p.

BRASIL. Ministério da Educação. Vários textos: Decreto nº 5.154, de 23 de julho de 2004./ Decreto nº 6.095, de 24 de abril de 2007./ Lei nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008./ PARECER CNE/CEB Nº39/2004./ Educação Profissional Técnica de Nível Médio Integrada ao Ensino Médio. Documento Base. Brasília: SETEC, dezembro de 2007./ Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio. Brasília: SETEC, 1999./ PCN + Ensino Médio. Brasília: SETEC, 2002.

FRADE, C. de C. Componentes tácitos e explícitos do conhecimento matemático de áreas e medidas. 2003. 241 f. Tese (Doutorado em Educação)– Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. 2003.

Page 239: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

238

GOLDENBERG, M. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em ciências sociais. 8. ed. Rio de Janeiro: Record, 2004. 107 p.

GUDOLLE, Lucas Socoloski. et al. Aprendizagem situada, participação e legitimidade nas práticas de trabalho. Revista de Administração Mackenzie, v. 13, n. 1, p. 14-39, 2012.

JORDANE, Alex. Constituição de comunidades locais de prática profissional: contribuições para a construção de um currículo integrado no curso técnico na modalidade de EJA. 2013. 221 f. Tese (Doutorado em Educação)–Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Educação, 2013.

LAVE, J.; WENGER, E. Situated learning: legitimate peripheral participation. 10. ed. United States of America: Cambridge University Press, 1991. 138 p.

______. Teaching, as learning pratice. Mind, Culture, and Activity, v. 3, n. 3, p. 149-160, 1996.

______. The culture of acquisition and the practice of understanding. In: KIRSHNER, D.; WHITSON, J. A. (Ed.). Situated cognition: social, semiotic, and psychological perspectives. Mahwah, New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates, Publishers, 1997. Chapter 2, p. 17-35.

MATHISON, Sandra. Why triangulate? Educational Researcher, p. 13-17, mar. 1988.

MIGUEL, Antonio; VILELA, Denise Silva. Práticas escolares de mobilização de cultura matemática. Caderno Cedes, v. 28, n. 74, p. 97-120, 2008.

MOREIRA, Valéria Guimarães. Comunidades de prática da matemática no ensino médio técnico. 2004. 140 f. Dissertação (Mestrado em Educação)– Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. 2004.

OLIVEIRA, Almir Almeida de. Observação e entrevista em pesquisa qualitativa. Revista FACEVV, n. 4, p. 22-27, jan./jun. 2010.

PAMPLONA, Admur Severino. A formação estatística e pedagógica do professor de matemática em comunidades de prática. 2009. 267 f. Tese (Doutorado em Educação)–Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2009.

SMOLKA, Ana Luiza Bustamante. O (im)próprio e o (im)pertinente na apropriação das práticas sociais. Caderno Cedes, n. 50, p. 26-40, 2000.

SOARES, Eduardo Sarquis. Reprodução e produção das condições sociais em aulas de matemática: uma perspectiva trilhada na sala de aula. 2009. 187 f. Tese (Doutorado em Educação)-Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009.

Page 240: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

239

TALL, D.; VINNER, S. Concept image and concept definition in mathematics with particular reference to limits and continuity. Educational Studies in Mathematics, n. 12, p. 151-169, 1981.

VIALI, Lorí; SILVA, Mercedes Matte da. A linguagem matemática como dificuldade para alunos do ensino médio. In: ENEM - ENCONTRO NACIONAL DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, 9., 2007, Belo Horizonte (MG). Anais... Belo Horizonte (MG), 18-21 jul. 2007.

VINNER, S. The role of definitions in teaching and learning mathematics. In: TALL, D. (Ed.). Advanced mathematical thinking. Dordrecht: Kluwer, 1991. Cap. 5, p. 65-81.

WATSON, A. Why Situated cognition is na Issue for mathematics education. In: ______. (Ed.). Situated cognition and the learning of mathematics. Oxford: Centre for Mathematics Education Research, University of Oxford Department of Educational Studies, 1998. Introduction , p. 1-9.

WENGER, Etienne. Communities of practice: learning, meaning and identity. 18. ed. New York: Cambridge University Press, 2008. 318 p.

WINBOURNE, P.; WATSON, A. Participating in learning mathematics through shared local practices in classrooms. In: WATSON, A. (Ed.). Situated cognition and the learning of mathematics. Oxford: Centre for Mathematics Education Research, University of Oxford Department of Educational Studies, 1998. Chapter 7, p. 93-104.

Page 241: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para
Page 242: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

241

APÊNDICE A – PLANOS DE CURSO DE 2012 DAS SEIS DISCIPLINAS DO CEFET-MG OBSERVADAS DURANTE A PESQUISA PARA A CONSTRUÇÃO DOS DADOS

I.1) Desenho Técnico Mecânico (DTM)

Histórico de Alterações

Rev Data Emissão Motivo da Revisão

00 22/05/2012 Emissão Inicial

I – Identificação

1.1 – Coordenação: Curso Técnico de Mecânica Campus: I Unidade: Belo

Horizonte

1.2 - Eixo Tecnológico: Controle e Processos Industriais Curso: Técnico de

Mecânica

Forma de oferta/Modalidades: Integrado, concomitante /subseqüente, PROEJA Séries: 1ª/1ª/2ª

1.3 – Disciplina: Desenho Técnico Mecânico

Infraestrutura: Laboratório de projetos mecânicos e desenho

CH. Anual: 120 Horas/Aulas Aulas semanais: 03 h/aulas

II – Ementa Contida no Projeto de Curso

Page 243: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

242

Empregar os fundamentos de geometria descritiva para representação de pontos,

segmentos de reta e de sólidos. Desenhar peças simples segundo as normas de projeção

ortogonal à mão livre e com o emprego de instrumentos. Escrever utilizando caligrafia

técnica. Desenhar à mão livre e com instrumentos: perspectiva isométrica e cavaleira a partir

de partes de projeções ortogonais. Traçar formatos e legenda normalizados. Aplicar

desenho geométrico em projeções ortogonais de peças. Determinar verdadeira grandeza de

arestas e de superfícies. Determinar interseção de superfícies. Desenhar peças conforme

projeção ortogonal em até seis vistas. Desenhar peças aplicando secções. Indicar cotas e

acabamentos conforme convenções normalizadas. Desenhar peças aplicando vistas

auxiliares.

III - Interface com outras Disciplinas e Áreas de Conhecimento

O aluno devidamente matriculado na disciplina deve possuir conhecimento prévio ou estar

adquirindo de forma concomitante, os seguintes conteúdos/atividades ou disciplinas:

3.1. Pré Requisitos

Nível educacional fundamental completo de acordo com a legislação

brasileira LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9394/1996;

Disciplinas pertencentes à matriz curricular vigente para a série ou módulo

de ensino anterior a qual o aluno se encontra matriculado, excetuando as

disciplinas pendentes em número previsto pelas normas acadêmicas.

Nota: Adota-se como conceito de pré-requisito a disciplina/atividade ou o conjunto de

disciplinas com conteúdo programático em que o aluno deve ter obtido aprovação para

matricular-se em uma disciplina.

3.2. Co Requisitos

Disciplinas pertencentes à matriz curricular vigente para a série ou módulo

de ensino a qual o aluno se encontra matriculado.

Nota: Adota-se como conceito de Co-Requisito, a disciplina/atividade ou conjunto de

disciplinas cujo conteúdo programático deve ser ministrado concomitantemente ao de outra

disciplina/atividade, por ser indispensável para o seu entendimento e compreensão.

Page 244: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

243

IV – Objetivos

Esta disciplina compõe o núcleo de disciplinas de formação profissional específica

do curso de formação profissionalizante de acordo com as matrizes curriculares em

vigor.

A disciplina deve propiciar ao aluno a aquisição de competências e habilidades

gerais observando o aspecto de realização de desenhos mecânicos, cujos principais

objetivos são:

1. Empregar os fundamentos de geometria descritiva para representação de pontos,

segmentos de reta e de sólidos.

2. Desenhar peças simples segundo as normas de projeção ortogonal à mão livre e

com o emprego de instrumentos.

3. Escrever utilizando caligrafia técnica. Desenhar à mão livre e com instrumentos:

perspectiva isométrica e cavaleira a partir de partes de projeções ortogonais.

4. Traçar formatos e legenda normalizados.

5. Aplicar desenho geométrico em projeções ortogonais de peças.

6. Determinar verdadeira grandeza de arestas e de superfícies.

7. Determinar interseção de superfícies.

8. Desenhar peças conforme projeção ortogonal em até seis vistas.

9. Desenhar peças aplicando secções. Indicar cotas e acabamentos conforme

convenções normalizadas.

10. Desenhar peças aplicando vistas auxiliares.

V – Unidades de Ensino e Conteúdos Programáticos

Page 245: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

244

1. INTRODUÇÃO AO DESENHO TÉCNICO 03 aulas

1.1. Tipos de Desenho Técnico

1.2. Aplicação e importância

2. INSTRUMENTOS PARA DESENHO 03 aulas

2.1. Tipos

2.2. Utilização

3. CALIGRAFIA TÉCNICA 06 aulas

3.1. Traçado e proporções

4. NORMAS DE DESENHO TÉCNICO MECÂNICO 06 aulas

4.1. Convenções

4.2. Linhas

4.2.1. Tipos e espessura

4.2.2. Aplicações

4.2.3. Cotagem

4.4. Rupturas (convenções)

4.5. Sinais convencionais (supressão de vistas)

4.6. Indicação da natureza das superfícies

4.7. Indicação de tolerância de trabalho

4.8. Representação de roscas

Page 246: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

245

5. ESCALAS 03 aulas

5.1. Natural

5.2. Ampliação

5.3. Redução

5.4. Escalímetro

5.5. Indicação de escala

6. FUNDAMENTOS DO MÉTODO PROJETIVO 09 aulas

6.1. Planos de projeção

6.2. Projeções do ponto

6.3. Projeções do segmento de reta

6.4. Projeções da figura plana

6.5. Projeções do sólido

7. NOÇÕES DE GEOMETRIA DESCRITIVA 15 aulas

7.1. Projeção em três planos

7.2. Projeção do segmento

7.3. Projeção em seis planos

7.4. Projeção de peças

7.5. Verdadeiras grandezas

7.6. Método de rebatimento

7.7. Método de rotação

Page 247: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

246

7.8. Perspectiva cavaleira

7.9. Perspectiva cavaleira

7.10. Interseção de superfícies

7.11. Planificação.

8. TRÊS VISTAS – EM ESBOÇO 09 aulas

8.1. Projeção ortogonal em três vistas

8.2. Linhas básicas para Desenho Técnico

8.3. Traçado e proporções do esboço

8.4. Determinação da terceira projeção

9. TRÊS VISTAS – DESENHO RIGOROSO 15 aulas

9.1. Linhas aplicadas ao traçado rigoroso

92. Desenho geométrico, aplicado no desenho de três vistas.

9.2.1. Divisão e representação de ângulos

9.2.2. Circunferência e polígono

9.2.3. Concordância e tangencias

10. PERSPECTIVAS TRAÇADAS À MÃO LIVRE 12 aulas

10.1. Perspectiva isométrica

10.2. Perspectiva cavaleira

11. PERSPECTIVA TRAÇADA COM INSTRUMENTOS 12 aulas

Page 248: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

247

11.1. Perspectiva isométrica

11.2. Traçado da circunferência

11.3. Perspectiva cavaleira

11.4. Traçado da circunferência em perspectiva cavaleira

Page 249: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

248

12. SECÇÕES 15 aulas

12.1. Hachuras

12.2. Corte total

12.3. Meio-corte

12.4. Corte em desvio

12.5. Corte rebatido

12.6. Corte parcial

12.7. Secções na vista

12.8. Secções fora da vista

12.9. Indicação do corte

12.10.Omissão de corte

12.11. Cotagem em corte

13. VISTAS ESPECIAIS 12 aulas

13.1. Vistas auxiliares inclinadas

13.2. Considerações particulares

13.3. Indicação das vistas especiais

13.4. Vistas auxiliares simplificadas

13.4.1. Peças típicas

13.5. Casos especiais de projeção

13.5.1. Vistas parciais

13.5.2. Corte de vistas especiais

Page 250: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

249

13.6. Vistas interrompidas

13.7. Meia-vista

V I – Metodologia

A disciplina em questão deve ser desenvolvida de forma eficaz, dentro dos padrões

estabelecidos pelos objetivos e metas propostas neste documento. Para isso o

profissional da educação que ministra este conteúdo poderá utilizar combinadamente;

Aulas expositivas dialogadas, com ou sem auxílio de mídias eletrônicas;

Estudo de peças-modelo;

Trabalhos de campo;

VII – Avaliação

O profissional de ensino deve atender às normas acadêmicas em vigor,

distribuindo a pontuação durante o período de desenvolvimento do conteúdo. O

professor deverá evitar a concentração de pontos em uma única avaliação escrita,

e sim, distribuir a pontuação em outras formas avaliativas. Assim, as atividades

avaliativas nesta cadeira, apóiam na avaliação relativa aos seguintes componentes

de trabalho:

Avaliação escrita – peso 1

Desenhos à mão livre e na prancheta – peso 1

Exercícios, questionários e relatórios – peso 1

Atividades em sala – peso 1

Page 251: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

250

VIII – Bibliografia de uso didático

IX – Bibliografia Específica

X – Bibliografia Complementar

XI – Elaboração, verificação e aprovação

SILVA, Ernane R.; OLIVEIRA, José E. Desenho mecânico módulo I: 1ª parte. Belo

Horizonte: Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET/MG), 2011.

84p.

SILVA, Ernane R.; OLIVEIRA, José E. Desenho mecânico módulo I: 2ª parte. Belo

Horizonte: Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET/MG), 2010.

106p.

CASILLAS, A. L. Formulário Técnico. 3. ed. São Paulo: Mestre Jou, 1981. 636 p.

BOREL, Claude et al. Matemática Prática para Mecânicos. São Paulo: Hemus, 1980.

267 p.

WITTE, Horst. Máquinas Ferramentas. São Paulo: Hemus, 1998. 395 p.

DINO, Ferraresi. Fundamentos da Usinagem dos Metais. São Paulo: Edgard Blucher,

1970. 751 p.

ROUILLER, Robert. Formulário do Mecânico. São Paulo: Hemus, 1982. 175 p.

FELKERC, C. A. Matemática para Oficina: tradução de Luís L. Delpy. São Paulo: LEP,

1964.

MACHADO, A. R.; SILVA, M. B. Usinagem dos metais. Uberlândia: Universidade

Federal de Uberlândia, 1998. 172p.

Page 252: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

251

EQUIPE ELABORADORA:

Profa. Camila Gonçalves Castro

Prof. Claudinei Alfredo do Nascimento

Profa. Daniela Casagrande Matos

Profa Jalmira Regina Fiuza de Souza

APROVADO EM: _____ / _____ / ____

DE ACORDO (carimbo e assinatura)

Coordenador de Curso N.A.E. - Núcleo de Apoio ao Ensino

Anselmo Paulo Pires Jussara Biagini

I.2) Metrologia I (METRO I)

Page 253: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

252

Histórico de Alterações

Rev Data Emissão Motivo da Revisão

00 22/05/2012 Emissão Inicial

I – Identificação

1.2 – Coordenação: Curso Técnico de Mecânica Campus: I Unidade: Belo Horizonte

1.2 - Eixo Tecnológico: Controle e Processos Industriais Curso: Técnico

de Mecânica

Forma de oferta/Modalidades: Integrado, concomitante /subseqüente, PROEJA Séries: 1ª/1ª/2ª

1.3 – Disciplina: Metrologia I

Infraestrutura: Laboratório de metrologia

CH. Anual: 40 Horas/Aulas Aulas semanais: 04 h/aulas

II – Ementa Contida no Projeto de Curso

Empregar corretamente a terminologia adequada em metrologia. Converter medidas do

sistema métrico para o sistema inglês ou vice-versa. Identificar as características

metrológicas dos instrumentos. Régua graduada, metro e trena, características, aplicação

e conservação. Executar medições utilizando paquímetros com resoluções de 0.05 mm,

0.02 mm 1/128” e 0.001”. Medir peças utilizando micrômetros externos e internos com

resolução de 0.01 mm; 0.001 mm e 0.005 mm. Conhecer a técnica de utilização e

característica de montagem dos blocos padrão. Utilizar e medir com relógio comparador

Page 254: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

253

adequadamente. Medir ângulo em peças utilizando o transferidor, o esquadro ou o

goniômetro e mesa seno.

III - Interface com outras Disciplinas e Áreas de Conhecimento:

IV – Objetivos

Esta disciplina compõe o núcleo de disciplinas de formação profissional específica

do curso de formação profissionalizante de acordo com as matrizes curriculares em

vigor.

O aluno devidamente matriculado na disciplina deve possuir conhecimento prévio ou estar

adquirindo de forma concomitante, os seguintes conteúdos/atividades ou disciplinas:

3.1. Pré Requisitos

Nível educacional fundamental completo de acordo com a legislação

brasileira LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9394/1996;

Nota: Adota-se como conceito de pré-requisito a disciplina/atividade ou o conjunto de

disciplinas com conteúdo programático em que o aluno deve ter obtido aprovação para

matricular-se em uma disciplina.

3.2. Co Requisitos

Disciplinas pertencentes à matriz curricular vigente para a série ou módulo

de ensino a qual o aluno se encontra matriculado.

Nota: Adota-se como conceito de Co-Requisito, a disciplina/atividade ou conjunto de

disciplinas cujo conteúdo programático deve ser ministrado concomitantemente ao de

outra disciplina/atividade, por ser indispensável para o seu entendimento e compreensão.

Page 255: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

254

A disciplina deve propiciar ao aluno a aquisição de competências e habilidades

gerais observando o aspecto de realização de etapas na área de controle

dimensional cujos principais objetivos são:

9. Empregar corretamente a terminologia adequada em metrologia.

10. Converter medidas do sistema métrico para o sistema inglês ou vice-versa.

11. Identificar as características metrológicas dos instrumentos.

12. Régua graduada, metro e trena, características, aplicação e conservação.

13. Executar medições utilizando paquímetros com resoluções de 0.05 mm, 0.02 mm

1/128” e 0.001”.

14. Medir peças utilizando micrômetros externos e internos com resolução de 0.01 mm;

0.001 mm e 0.005 mm.

15. Conhecer a técnica de utilização e característica de montagem dos blocos padrão.

Utilizar e medir com relógio comparador adequadamente.

16. Medir ângulo em peças utilizando o transferidor, o esquadro ou o goniômetro e

mesa seno.

V – Unidades de Ensino e Conteúdos Programáticos

1 . INTRODUÇÃO 04 h/aulas

1.1. A importância da Metrologia

1.2. Metrologia em nosso cotidiano

1.3. Fontes de erro, erros de medição e exatidão das medidas

2 . CONCEITOS FUNDAMENTAIS 02 h/aulas

2.1. Divisão de escala

Page 256: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

255

2.2. Resolução

2.3. Faixa de medição

3 . SISTEMAS DE UNIDADES 04 h/aulas

3.1. Sistema internacional

3.2. Sistema inglês

3.3. Conversão de unidades

4 . RÉGUA GRADUADA, METRO E TRENA 02 h/aulas

4.1. Características, aplicações e conservação

5 . PAQUÍMETROS 08 h/aulas

5.1. Nomenclatura das partes principais

5.2. Tipos, características e aplicação

5.3. Técnica de utilização e erros

5.4. Cuidados no manuseio e conservação

5.5. Paquímetro: Resolução de 0,05 mm e 0,02 mm

5.5.1. Princípio do Nônio

5.5.2. Prática de medição e leitura

5.6. Paquímetro: Resolução de 1/128” e 0,001”

5.6.1. Princípio do Nônio

5.6.2. Prática de medição e leitura

6 . MICRÔMETROS, CARACTERÍSTICAS E APLICAÇÕES 08 h/aulas

Page 257: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

256

6.1. Nomenclaturas das partes principais

6.2. Tipos

6.3. Técnica de utilização (ajuste do zero) e erros

6.4. Cuidados no manuseio e conservação

6.5. Micrômetro externo

6.5.1. Resolução de 0.01 mm e 0.001 mm

6.5.2. Prática de medição e leitura

7 . BLOCOS PADRÃO 02 h/aulas

7.1. Materiais

7.2. Classificação de blocos padrão

7.3. Jogos, técnica de empilhamento e conservação

8 . RELÓGIO COMPARADOR 02 h/aulas

8.1. Aplicações

8.2. Nomenclatura das partes principais

8.3. Princípios de funcionamento

8.4. Técnica de utilização e medição.

9 . MEDIÇÃO ANGULAR 10 h/aulas

9.1. Esquadro

9.2. Transferidor

9.3. Goniômetro

Page 258: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

257

9.4. Mesa seno / régua seno

9.5. Cilindro padrão

9.6. Cuidados no manuseio e conservação dos instrumentos

9.7. Prática de medição e leitura

V I – Metodologia

A disciplina em questão deve ser desenvolvida de forma eficaz, dentro dos padrões

estabelecidos pelos objetivos e metas propostas neste documento. Para isso o profissional

da educação que ministra este conteúdo poderá utilizar combinadamente;

Aulas expositivas dialogadas, com ou sem auxílio de mídias eletrônicas;

Discussão e estudos de casos;

Demonstrações práticas;

Seminários temáticos;

Exercícios práticos em grupo ou individuais

VII – Avaliação

O profissional de ensino deve atender às normas acadêmicas em vigor,

distribuindo a pontuação durante o período de desenvolvimento do conteúdo. O

professor deverá evitar a concentração de pontos em uma única avaliação escrita, e

sim, distribuir a pontuação em outras formas avaliativas. Assim, as atividades

avaliativas nesta cadeira, apóiam na avaliação relativa aos seguintes componentes

de trabalho:

Avaliação escrita – peso 1

Page 259: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

258

Exercícios, questionários e relatórios – peso 1

Trabalho prático – peso 1

Trabalho em grupo – peso 1

Atividades em sala, participação assiduidade e comprometimento – peso 1

VIII – Bibliografia de uso didático

IX – Bibliografia Específica

X – Bibliografia Complementar

XI – Elaboração, verificação e aprovação

EQUIPE ELABORADORA:

ANJOS. J. F. Metrologia: Módulo I. Belo Horizonte: Centro Federal de Educação

Tecnológica de Minas Gerais (CEFET/MG), 2011. 51p.

INMETRO. Vocabulário internacional de termos fundamentais e gerais de metrologia.

Metrologia – telecurso 2000 – curso profissionalizante.

Vocabulário Internacional de Metrologia – VIM.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, NBR 6388. Relógios comparadores com leitura de 0.01 mm.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, NBR 6393. Paquímetros com leitura de 0.1 mm e 0.05 mm.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, NBR 6670/1981. Micrômetros externos com leitura de 0,01 mm.

Page 260: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

259

Prof. José Martins da Silva

Prof. João Trajano da Silva Neto

Profa. Laura Gomes Rosa

APROVADO EM: _____ / _____ / ____

DE ACORDO (carimbo e assinatura)

Coordenador de Curso N.A.E. - Núcleo de Apoio ao Ensino

Anselmo Paulo Pires Jussara Biagini

I.3) Mecânica Técnica e Resistência de Materiais (MTRM)

Histórico de Alterações

Rev Data Emissão Motivo da Revisão

00 22/05/2012 Emissão Inicial

I – Identificação

1.3 – Coordenação: Curso Técnico de Mecânica Campus: I Unidade: Belo Horizonte

1.2 - Eixo Tecnológico: Controle e Processos Industriais Curso: Técnico

Page 261: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

260

de Mecânica

Forma de oferta/Modalidades: Integrado, concomitante /subseqüente, PROEJA Séries: 2ª/1ª/4ª

1.3 – Disciplina: Mecânica Técnica e Resistência dos Materiais

Infraestrutura: Sala de aula

CH. Anual: 120 Horas/Aulas Aulas semanais: 03 h/aulas

II – Ementa Contida no Projeto de Curso

Localizar o centro de gravidade de figuras planas simples (triângulos, quadrados, círculos,

retângulos, etc.) e figuras compostas (perfis I, H, C, U, etc.). Calcular momento de inércia

axial de figuras simples e compostas. Aplicar diagramas de corpo livre para determinação

de forças externas e internas de acordo com as condições de equilíbrio de forças que

atuam em uma estrutura. Estudar o comportamento dos materiais quando submetidos à

ação de forças de tração ou compressão através do diagrama de tensão/deformação.

Determinar tensões admissíveis. Calcular tensões máximas de tração/compressão e/ou

cisalhamento atuante em peças. Dimensionar peças submetidas à tração/compressão e

cisalhamento. Dimensionar cordões de solda, para juntas soldadas. Associar/identificar o

comportamento dos materiais quando submetidos à ação de momento torçor, quando

comparados ao mesmo material quando submetido à ação de tração. Determinar momento

torçor atuante em peças sujeitas à torção. Calcular tensão de cisalhamento devido à

torção. Dimensionar eixos submetidos à torção. Dimensionar chavetas. Desenvolver

fórmulas e desenhar gráficos de esforço cortante e momento fletor. Dimensionar vigas e

eixos sujeitos à flexão.

III - Interface com outras Disciplinas e Áreas de Conhecimento

Page 262: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

261

O aluno devidamente matriculado na disciplina deve possuir conhecimento prévio ou estar

adquirindo de forma concomitante, os seguintes conteúdos/atividades ou disciplinas:

3.1. Pré Requisitos

Nível educacional fundamental completo de acordo com a legislação

brasileira LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9394/1996;

Disciplinas pertencentes à matriz curricular vigente para a série ou módulo

de ensino anterior a qual o aluno se encontra matriculado, excetuando as

disciplinas pendentes em número previsto pelas normas acadêmicas.

Nota: Adota-se como conceito de pré-requisito a disciplina/atividade ou o conjunto de

disciplinas com conteúdo programático em que o aluno deve ter obtido aprovação para

matricular-se em uma disciplina.

Page 263: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

262

IV – Objetivos

Esta disciplina compõe o núcleo de disciplinas de formação profissional específica

do curso de formação profissionalizante de acordo com as matrizes curriculares em

vigor.

A disciplina deve propiciar ao aluno a aquisição de competências e habilidades

gerais observando o aspecto de realização de etapas para elaboração de

pesquisas científicas, cujos principais objetivos são:

1. Localizar o centro de gravidade de figuras planas simples (triângulos, quadrados,

círculos, retângulos, etc.) e figuras compostas (perfis I, H, C, U, etc.).

2. Calcular momento de inércia axial de figuras simples e compostas.

3. Aplicar diagramas de corpo livre para determinação de forças externas e internas de

acordo com as condições de equilíbrio de forças que atuam em uma estrutura.

4. Estudar o comportamento dos materiais quando submetidos à ação de forças de tração

ou compressão através do diagrama de tensão/deformação.

5. Determinar tensões admissíveis.

6. Calcular tensões máximas de tração/compressão e/ou cisalhamento atuante em peças.

3.2. Co Requisitos

Disciplinas pertencentes à matriz curricular vigente para a série ou módulo

de ensino a qual o aluno se encontra matriculado.

Nota: Adota-se como conceito de Co-Requisito, a disciplina/atividade ou conjunto de

disciplinas cujo conteúdo programático deve ser ministrado concomitantemente ao de

outra disciplina/atividade, por ser indispensável para o seu entendimento e compreensão.

Page 264: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

263

7. Dimensionar peças submetidas à tração/compressão e cisalhamento.

8. Dimensionar cordões de solda, para juntas soldadas.

9. Associar/identificar o comportamento dos materiais quando submetidos à ação de

momento torçor, quando comparados ao mesmo material quando submetido à ação de

tração.

10. Determinar momento torçor atuante em peças sujeitas à torção.

11. Calcular tensão de cisalhamento devido à torção.

12. Dimensionar eixos submetidos à torção.

13. Dimensionar chavetas.

14. Desenvolver fórmulas e desenhar gráficos de esforço cortante e momento fletor.

15. Dimensionar vigas e eixos sujeitos à flexão.

V – Unidades de Ensino e Conteúdos Programáticos

1 - CENTRO DE GRAVIDADE 12 h/aulas

1.1 - Definição

1.2 - Determinação do centro de gravidade

1.3 - Centro de gravidade de superfícies planas simples

1.4 - Formulário

1.5 - Centro de gravidade de superfícies planas compostas

2 - MOMENTO DE INÉRCIA 12 h/aulas

2.1 - Definição

2.2 - Formulário

Page 265: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

264

2.3 - Momento de inércia axial

2.4 - Momento de inércia de superfícies planas simples

2.5 - Teorema dos eixos paralelos (teorema de Steiner)

2.6 - Momento de inércia de superfícies plana composta.

2.7 - Momento de inércia polar

3 - ESTÁTICA 20 h/aulas

3.1 - Definição

3.2 - Princípios

3.3 - Método dos polígonos

3.4 - Método das projeções

3.5 - Método dos momentos

3.6 - Estruturas lineares isostáticas

3.6.1 – Cargas Concentradas

3.6.2 – Cargas Distribuídas

3.6.3 – Reações nos Apoios

3.7 - Resolução de treliças pelo método dos nós.

4 - TRAÇÃO E COMPRESSÃO 16 h/aulas

4.1 - Definição

4.2 - Tensão de tração e/ou compressão

4.3 - Deformação linear

Page 266: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

265

4.4 - Diagrama de força x deformação

4.5 - Diagrama de tensão x deformação específica

4.6 - Lei de Hooke e módulo de elasticidade

4.7 - Tensão admissível

4.8 - Dimensionamento

5 - CISALHAMENTO 12 h/aulas

5.1 - Definição

5.2 - Tensão de cisalhamento

5.3 - Tensão admissível

5.4 - Dimensionamento

5.4.1 – Juntas rebitadas

5.4.2 – Juntas soldadas

6 - TORÇÃO SIMPLES 12 h/aulas

6.1 - Definição

6.2 - Momento torçor

6.3 - Tensão cisalhamento devido à torção

6.4 - Ângulo de deformação por torção

6.5 – Ângulo de distorção por torção

6.6 – Tensão admissível à torção

6.6 - Dimensionamento

Page 267: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

266

7 - CHAVETAS 04 h/aulas

7.1 - Tipos

7.2 - Aplicações

7.3 - Materiais

7.4 - Tabelas de padronização

7.5 - Tensões atuantes (compressão e cisalhamento)

7.6 - Dimensionamento

8 - ESFORÇO CORTANTE E MOMENTO FLETOR 16 h/aulas

8.1 - Definição

8.2 - Aplicação

8.3 - Tipos de vigas

8.4 - Apoios

8.5 - Carregamentos

8.6 - Cálculos e diagramas de esforço cortante

8.7 - Cálculos e diagramas de momento fletor

9 - FLEXÃO PURA 16 h/aulas

9.1 - Definição

9.2 - Efeito do carregamento

9.3 - Fibras tracionadas e fibras comprimidas

9.4 - Eixo ou linha neutra

Page 268: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

267

9.5 - Módulo de rigidez a flexão para seção transversal simétrica

9.6 - Tensão de flexão

9.7 - Influência do esforço cortante

9.8 - Tensão de cisalhamento provocada esforço cortante

9.9 - Dimensionamento

V I – Metodologia

A disciplina em questão deve ser desenvolvida de forma eficaz, dentro dos padrões

estabelecidos pelos objetivos e metas propostas neste documento. Para isso o profissional

da educação que ministra este conteúdo poderá utilizar combinadamente;

Aulas expositivas dialogadas, com ou sem auxílio de mídias eletrônicas;

Seminários temáticos;

Exercícios em grupo ou individuais.

VII – Avaliação

O profissional de ensino deve atender às normas acadêmicas em vigor, distribuindo

a pontuação durante o período de desenvolvimento do conteúdo. O professor

deverá evitar a concentração de pontos em uma única avaliação escrita, e sim,

distribuir a pontuação em outras formas avaliativas. Assim, as atividades

avaliativas nesta cadeira, apóiam na avaliação relativa aos seguintes componentes

de trabalho:

Avaliação escrita – peso 1

Page 269: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

268

Exercícios e questionários – peso 1

Estudos dirigidos – peso 1

Trabalho em grupo ou individual– peso 1

Atividades em sala, participação assiduidade e comprometimento – peso 1

VIII – Bibliografia de uso didático

IX – Bibliografia Específica

X – Bibliografia Complementar

XI – Elaboração, verificação e aprovação

EQUIPE ELABORADORA:

Prof. André Aleixo Manzela

Prof. Gilberto Marques Pereira.

MELCONIAN, Sarkis. Mecânica Técnica e Resistência dos Materiais. 18. ed. São

Paulo: Érica, 2008. 356p. ISBN: 8571946663.ISBN-13: 9788571946668.

TIMOSHENKO, S.; YOUNG, D. H. Mecânica Técnica – Estática. Rio de Janeiro: LTC,

1982. v. 1.

SOUZA, Hiran R. de. Resistência dos Materiais. São Paulo: Protec, 1985.

Page 270: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

269

APROVADO EM: _____ / _____ / ____

DE ACORDO (carimbo e assinatura)

Coordenador de Curso / Área N.A.E. - Núcleo de Apoio ao Ensino

Anselmo Paulo Pires Jussara Biagini

I.4) Elementos de Máquinas (ELM)

Histórico de Alterações

Rev Data Emissão Motivo da Revisão

00 22/05/2012 Emissão Inicial

I – Identificação

1.4 – Coordenação: Curso Técnico de Mecânica Campus: I Unidade: Belo Horizonte

1.2 - Eixo Tecnológico: Controle e Processos Industriais Curso: Técnico

Page 271: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

270

de Mecânica

Forma de oferta/Modalidades: Integrado, concomitante /subseqüente, PROEJA Séries: 3ª/2ª/4ª

1.3 – Disciplina: Elementos de Máquinas

Infraestrutura: Sala de aula

CH. Anual: 80 Horas/Aulas Aulas semanais: 02 h/aulas

II – Ementa Contida no Projeto de Curso

Identificar os principais tipos de órgãos de máquinas, suas aplicações e montagens.

Analisar pela cinemática os sistemas mecânicos. Dimensionar alguns órgãos de máquinas

quanto as suas aplicações. Especificar cabos de aço e rolamentos.

III - Interface com outras Disciplinas e Áreas de Conhecimento:

Page 272: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

271

IV – Objetivos

Esta disciplina compõe o núcleo de disciplinas de formação profissional específica

do curso de formação profissionalizante de acordo com as matrizes curriculares em

vigor.

O aluno devidamente matriculado na disciplina deve possuir conhecimento prévio ou estar

adquirindo de forma concomitante, os seguintes conteúdos/atividades ou disciplinas:

3.1. Pré Requisitos

Nível educacional fundamental completo de acordo com a legislação

brasileira LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9394/1996;

Disciplinas pertencentes à matriz curricular vigente para a série ou módulo

de ensino anterior a qual o aluno se encontra matriculado, excetuando as

disciplinas pendentes em número previsto pelas normas acadêmicas.

Nota: Adota-se como conceito de pré-requisito a disciplina/atividade ou o conjunto de

disciplinas com conteúdo programático em que o aluno deve ter obtido aprovação para

matricular-se em uma disciplina.

3.2. Co Requisitos

Disciplinas pertencentes à matriz curricular vigente para a série ou módulo

de ensino a qual o aluno se encontra matriculado.

Nota: Adota-se como conceito de Co-Requisito, a disciplina/atividade ou conjunto de

disciplinas cujo conteúdo programático deve ser ministrado concomitantemente ao de

outra disciplina/atividade, por ser indispensável para o seu entendimento e compreensão.

Page 273: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

272

A disciplina deve propiciar ao aluno a aquisição de competências e habilidades

gerais observando o aspecto de realização de etapas para elaboração de

pesquisas científicas, cujos principais objetivos são:

16. Identificar os principais tipos de órgãos de máquinas, suas aplicações e montagens.

17. Analisar pela cinemática os sistemas mecânicos.

18. Dimensionar alguns órgãos de máquinas quanto as suas aplicações.

19. Especificar cabos de aço e rolamentos.

Page 274: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

273

V – Unidades de Ensino e Conteúdos Programáticos1. ESTUDO CINEMÁTICO 14 h/aulas

1.1. Redutor

1.1.1. Trem simples

1.1.2. Trem composto

1.1.3. Relação de transmissão

1.1.4. Rendimento

1.1.5. Cálculo do momento torçor atuante

1.1.6. Cálculo da potência

1.2. Rodas de atrito cilíndricas planas

1.2.1. Esforços atuantes

1.1.2. Reações nos mancais

1.3. Rodas cônicas

1.3.1. Relação de transmissão

1.3.2. Esforços atuantes

1.4. Rodas com eixos ortogonais

1.4.1. Relação de transmissão

1.4.2. Cálculo do momento torçor atuante

2. TRANSMISSÃO POR CORREIAS

10 h/aulas

2.1. Aplicações, tipos, montagens e materiais

Page 275: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

274

2.2. Estudo cinemático

2.3. Esforços atuantes

2.4. Dimensionamento de correias planas

2.5. Dimensionamento de correias trapezoidais

2.6. Catálogos de correias trapezoidais (especificações do fabricante)

Page 276: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

275

3. CABOS DE AÇO 06

h/aulas

3.1. Composição quanto ao:

- número de pernas

- número de arames por perna

- tipo de alma

3.2. Aplicações

3.3. Dimensionamento

3.4. Especificações, catálogos e tabelas (do fabricante)

4. ROLAMENTOS

06 h/aulas

4.1. Tipos de carga atuante

4.2. Tipos de rolamentos

4.3. Critérios de seleção do tipo de rolamento

4.4. Vida nominal de um rolamento

4.5. Seleção do tamanho

4.6. Especificações, catálogos e tabelas (do fabricante)

5. ENGRENAGENS CILÍNDRICAS DE DENTES RETOS 12

h/aulas

5.1. Definição, aplicação e montagem

Page 277: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

276

5.2. Elementos componentes do sistema Modular

5.3. Relação das velocidades (estudo cinemático)

5.4. Interferência

5.5. Ângulo de pressão

5.6. Dimensionamento pela resistência

5.6.1. Carregamento estático (equação não corrigida de Lewis)

5.6.2. Carregamento dinâmico (equação corrigida de Lewis)

6. ENGRENAGENS CILÍNDRICAS DE DENTES HELICOIDAIS

12 h/aulas

6.1. Definição, princípio de funcionamento e aplicação

6.2. Vantagens e desvantagens (em relação as de dentes retos)

6.3. Montagem

6.3.1. Eixos paralelos

Escolha do ângulo de inclinação da hélice

6.3.2. Eixos cruzados

Ângulo entre eixos

Cálculo do ângulo de inclinação da hélice

6.4. Elementos componentes

6.5. Estudo cinemático

6.6. Rendimento

Eixos paralelos

Page 278: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

277

Eixos cruzados

6.7. Esforços atuantes

6.8. Dimensionamento

6.8.1. Cálculo do módulo normal

6.8.2. Relação de recobrimento

6.8.3. Número de dentes virtual

Page 279: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

278

7. ENGRENAGENS CÔNICAS DE DENTES RETOS 08

h/aulas

7.1. Aplicação, princípio de funcionamento e montagem

7.2. Características básicas

7.3. Elementos componentes

7.4. Cálculo dos elementos componentes

7.5. Interferência

7.6. Engrenagem fictícia – Número virtual de dentes

7.7. Relações de rotações

7.8. Dimensionamento pela resistência

7.9. Conversão de módulo médio para módulo real

7.10. Forças atuantes nas engrenagens cônicas

8. SEM-FIM E COROA 12

h/aulas

8.1. Aplicação, princípio de funcionamento e montagem

8.2. Vantagens e desvantagens

8.3. Materiais usados no sem-fim e coroa

8.4. Elementos componentes

8.5. Ângulo da hélice

8.6. Reversibilidade

8.7. Número de dentes da coroa e entrada do sem-fim

Page 280: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

279

8.8. Interferência

8.9. Cálculo do comprimento da parte roscada do parafuso

8.10. Estudo cinemático

8.11. Rendimento

8.12. Dimensionamento

- cálculo do módulo normal (equação de Lewis)

- verificação ao desgaste (pela coroa) e dissipação de calor.

V I – Metodologia

A disciplina em questão deve ser desenvolvida de forma eficaz, dentro dos padrões

estabelecidos pelos objetivos e metas propostas neste documento. Para isso o profissional

da educação que ministra este conteúdo poderá utilizar combinadamente;

Aulas expositivas dialogadas, com ou sem auxílio de mídias eletrônicas;

Seminários temáticos;

Exercícios em grupo ou individuais.

VII – Avaliação

O profissional de ensino deve atender às normas acadêmicas em vigor, distribuindo

a pontuação durante o período de desenvolvimento do conteúdo. O professor

deverá evitar a concentração de pontos em uma única avaliação escrita, e sim,

distribuir a pontuação em outras formas avaliativas. Assim, as atividades

avaliativas nesta cadeira, apóiam na avaliação relativa aos seguintes componentes

de trabalho:

Page 281: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

280

Avaliação escrita – peso 1

Exercícios e questionários – peso 1

Estudos dirigidos – peso 1

Trabalho em grupo ou individual– peso 1

Relatórios Técnicos – peso 1

Atividades em sala, participação assiduidade e comprometimento – peso 1

VIII – Bibliografia de uso didático

IX – Bibliografia Específica

X – Bibliografia Complementar

SILVA, Ernane R.; OLIVEIRA, José E. Elementos de Máquinas. Belo Horizonte: Centro

Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET/MG), 2011. 55p.

HALL, Jr. Allens; HOLOWENKO, Alfredo R.; LAUGHLIN, Herman. Elementos Orgânicos de Máquinas. 2. ed. São Paulo: Macgraw-Hill do Brasil, 1977.

PIRES E ALBUQUERQUE, Olavo A. L. Dinâmica das Máquinas. São Paulo: Macgraw-Hill

do Brasil, 1977.

Page 282: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

281

XI – Elaboração, verificação e aprovação

EQUIPE ELABORADORA:

Prof. Antônio Romero de Paula

Prof. Leandro Cristino de Oliveira Pereira

APROVADO EM: _____ / _____ / ____

DE ACORDO (carimbo e assinatura)

Coordenador de Curso / Área N.A.E. - Núcleo de Apoio ao Ensino

Anselmo Paulo Pires Jussara Biagini

PROVENÇA, Francisco. Mecânica Aplicada. São Paulo: Escola Pro-Tec, 1978. 2 v.

NEMANN, Gustavo. Elementos de Máquinas. São Paulo: Editora Edgard Blucher Ltda,

1974, 3 volumes.

SKF. Catálogo de Rolamentos.

ORION GATES. Catálogo de Correias.

CIMAF. Catálogo de Cabos de Aço.

Page 283: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

282

I.5) Comandos Óleos-Hidráulicos

Histórico de Alterações

Rev Data Emissão

Motivo da Revisão

00 22/05/2012 Emissão Inicial

I – Identificação

1.5 – Coordenação: Curso Técnico de Mecânica Campus: I Unidade: Belo Horizonte

1.2 - Eixo Tecnológico: Controle e Processos Industriais Curso: Técnico

de Mecânica

Forma de oferta/Modalidades: Integrado, concomitante /subseqüente, PROEJA Séries: 3ª/2ª/4ª

1.3 – Disciplina: Comandos Óleos-Hidráulicos

Infraestrutura: Laboratório de hidráulica

CH. Anual: 40 Horas/Aulas Aulas semanais: 04 h/aulas

II – Ementa Contida no Projeto de Curso

Conhecer os elementos do sistema de geração de energia Óleo Hidráulica. Identificar os

componentes utilizados no processo Óleo Hidráulicos. Ler e interpretar circuitos Óleo

Hidráulicos. Projetar circuitos Óleo Hidráulicos. Montar circuitos Óleo Hidráulicos. Aplicar

Page 284: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

283

normas de segurança e higiene do Trabalho e de gestão pela qualidade no âmbito da

hidráulica.

III - Interface com outras Disciplinas e Áreas de Conhecimento:

IV – Objetivos

O aluno devidamente matriculado na disciplina deve possuir conhecimento prévio ou estar

adquirindo de forma concomitante, os seguintes conteúdos/atividades ou disciplinas:

3.1. Pré Requisitos

Nível educacional fundamental completo de acordo com a legislação

brasileira LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9394/1996;

Disciplinas pertencentes à matriz curricular vigente para a série ou módulo

de ensino anterior a qual o aluno se encontra matriculado, excetuando as

disciplinas pendentes em número previsto pelas normas acadêmicas.

Nota: Adota-se como conceito de pré-requisito a disciplina/atividade ou o conjunto de

disciplinas com conteúdo programático em que o aluno deve ter obtido aprovação para

matricular-se em uma disciplina.

3.2. Co Requisitos

Disciplinas pertencentes à matriz curricular vigente para a série ou módulo

de ensino a qual o aluno se encontra matriculado.

Nota: Adota-se como conceito de Co-Requisito, a disciplina/atividade ou conjunto de

disciplinas cujo conteúdo programático deve ser ministrado concomitantemente ao de outra

disciplina/atividade, por ser indispensável para o seu entendimento e compreensão.

Page 285: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

284

Esta disciplina compõe o núcleo de disciplinas de formação profissional específica

do curso de formação profissionalizante de acordo com as matrizes curriculares

em vigor.

A disciplina deve propiciar ao aluno a aquisição de competências e habilidades

gerais observando o aspecto de realização de etapas na área de hidráulica cujos

principais objetivos são:

6. Conhecer os elementos do sistema de geração de energia Óleo Hidráulica.

7. Identificar os componentes utilizados no processo Óleo Hidráulicos.

8. Ler e interpretar circuitos Óleo Hidráulicos. Projetar circuitos Óleo Hidráulicos.

9. Montar circuitos Óleo Hidráulicos.

10. Aplicar normas de segurança e higiene do Trabalho e de gestão pela qualidade no

âmbito da hidráulica.

V – Unidades de Ensino e Conteúdos Programáticos

1. IMPORTÂNCIA DA ÓLEO HIDRÁULICA 04 aulas

1.1. Vantagens e limitações da Óleo Hidráulica.

1.2. Grupos construtivos do sistema Óleo Hidráulico (geração de energia fluida,

distribuição/controle e transformação de energia).

2. COMPONENTES ÓLEO HIDRÁULICOS E SUA SIMBOLOGIA. 04 aulas

2.1. Elementos componentes do sistema de geração de energia fluida.

2.2. Elementos componentes de distribuição e controle de vazão, pressão e

direção.

2.3. Elementos componentes do sistema de transformação de energia óleo

Page 286: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

285

hidráulica em mecânica.

3. CIRCUITOS ÓLEO HIDRÁULICOS FUNDAMENTAIS. 08 aulas

3.1. Com regulagem de velocidade.

3.2. Com bombas em paralelo.

3.3. Com regulagens de pressão diferentes.

3.4. Com acumuladores.

3.5. Regenerativos.

3.6. Utilizando válvulas de seqüência e redutoras de pressão.

4. PROJETO DE UM SISTEMA ÓLEO HIDRÁULICO. 12 aulas

4.1. Especificar o atuador conforme fabricante.

4.2. Especificar a bomba conforme fabricante.

4.3. Especificar motor elétrico conforme fabricante.

4.4. Dimensionar reservatório, filtros, tubulações, válvulas e acessórios conforme

fabricante.

4.5. Desenhar o circuito conforme simbologia normalizada.

5. ANÁLISE DE CIRCUITOS ÓLEO HIDRÁULICOS. 12 aulas

5.1. Circuito Fundamental de óleo-hidráulica

5.2. Circuito de Perda de Carga

5.3. Circuito de Pressão e Força

Page 287: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

286

V I – Metodologia

A disciplina em questão deve ser desenvolvida de forma eficaz, dentro dos padrões

estabelecidos pelos objetivos e metas propostas neste documento. Para isso o profissional

da educação que ministra este conteúdo poderá utilizar combinadamente;

Aulas expositivas dialogadas, com ou sem auxílio de mídias eletrônicas;

Discussão e estudos de casos;

Demonstrações práticas;

Seminários temáticos;

Exercícios práticos em grupo ou individuais

VII – Avaliação

O profissional de ensino deve atender às normas acadêmicas em vigor,

distribuindo a pontuação durante o período de desenvolvimento do conteúdo. O

professor deverá evitar a concentração de pontos em uma única avaliação escrita, e

sim, distribuir a pontuação em outras formas avaliativas. Assim, as atividades

avaliativas nesta cadeira, apóiam na avaliação relativa aos seguintes componentes

de trabalho:

Avaliação escrita – peso 1

Seminários – peso 1

Exercícios, questionários e relatórios – peso 1

Trabalho prático – peso 1

Trabalho em grupo – peso 1

Page 288: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

287

Atividades em sala, participação assiduidade e comprometimento – peso 1

VIII – Bibliografia de uso didático

IX – Bibliografia Específica

X – Bibliografia Complementar

SOARES, Cleide B.; REIS, M. N. E. Óleo Hidráulica. Belo Horizonte: Centro Federal de

Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET/MG), 2011. 76 p.

PARKER HANNIFIN Co. Tecnologia Hidráulica Industrial. São Paulo: Centro Didático de

Automação Parker Hannifin – Divisão Schrader Bellows.

SCHMITT. A. Treinamento Hidráulico: Curso THR. São Paulo: Rexroth Hidráulica Ltda.,

1985.

PALMIERI, A. C. Manual de Hidráulica Básica. 6. ed. São Paulo: RACINE, 1987.

Page 289: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

288

XI – Elaboração, verificação e aprovação

EQUIPE ELABORADORA:

Profa. Cleide Barbosa Soares.

Prof. Ezequiel de Souza Costa Júnior.

Prof. Humberto Barros de Oliveira.

Profa. Mara Nilza Estanislau Reis

APROVADO EM: _____ / _____ / ____

VICKERS, Manual de Hidráulica Industrial. 9. ed. São Paulo, 1986.

DRAPINSK, J.. Hidráulica e Pneumática Industrial e Móvel. São Paulo: MacGraw Hill do

Brasil, 1977. 287p.

FIALHO, Arivelto Bustamente, Automação Hidráulica: Projetos, Dimensionamento e

Análise de Circuitos. 2. ed. São Paulo: Érica, 2004. 288 p. ISBN: 8571948925 .ISBN-13: 9788571948921

FESTO DIDACTIC. Introdução à Hidráulica. São Paulo, 1995.

FESTO DIDACTIC. Técnicas, Aplicação e Montagem de Comandos Hidráulicos. São

Paulo: 1995.

NORMAS - ISO 1219 e DIN 24300

FESTO DIDATIC. Fluidsim 3.6, 2009

Page 290: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

289

DE ACORDO (carimbo e assinatura)

Coordenador de Curso N.A.E. - Núcleo de Apoio ao Ensino

Anselmo Paulo Pires (SIAPE 0392347) Jussara Biagini (SIAPE

I.6) Caldeiraria (CALD)

Histórico de Alterações

Rev Data Emissão Motivo da Revisão

00 22/05/2012 Emissão Inicial

I – Identificação

1.6 – Coordenação: Curso Técnico de Mecânica Campus: I Unidade: Belo Horizonte

1.2 - Eixo Tecnológico: Controle e Processos Industriais Curso: Técnico

de Mecânica

Forma de oferta/Modalidades: Integrado, concomitante /subseqüente, PROEJA Séries: 3ª/1ª/4ª

1.3 – Disciplina: Caldeiraria

Page 291: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

290

Infraestrutura: Laboratório de processos de fabricação de caldeiraria

CH. Anual: 40 Horas/Aulas Aulas semanais: 04 h/aulas

II – Ementa Contida no Projeto de Curso

Conhecer os princípios da Caldeiraria. Identificar e selecionar os materiais conformáveis

plasticamente, utilizados em Caldeiraria. Seguir regras de higiene e segurança no trabalho

de Caldeiraria. Calcular corretamente o perímetro de figuras geométricas e

circunferências. Identificar e manusear corretamente os tipos de ferramentas utilizadas em

Caldeiraria. Conhecer os princípios de funcionamento das máquinas operatrizes do setor.

Planificar peças cilíndricas. Planificar peças prismáticas, cônicas, esféricas e planas.

Identificar as etapas de fabricação das peças. Traçar e montar peças planificadas em

chapas. Operar corretamente os equipamentos de montagem usados em Caldeiraria.

III - Interface com outras Disciplinas e Áreas de Conhecimento:

Page 292: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

291

O aluno devidamente matriculado na disciplina deve possuir conhecimento prévio ou estar

adquirindo de forma concomitante, os seguintes conteúdos/atividades ou disciplinas:

3.1. Pré Requisitos

Nível educacional fundamental completo de acordo com a legislação

brasileira LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9394/1996;

Disciplinas pertencentes à matriz curricular vigente para a série ou módulo

de ensino anterior a qual o aluno se encontra matriculado, excetuando as

disciplinas pendentes em número previsto pelas normas acadêmicas.

3.2. Co Requisitos

Disciplinas pertencentes à matriz curricular vigente para a série ou módulo

de ensino a qual o aluno se encontra matriculado.

Nota: Adota-se como conceito de pré-requisito a disciplina/atividade ou o conjunto de

disciplinas com conteúdo programático em que o aluno deve ter obtido aprovação para

matricular-se em uma disciplina.

Page 293: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

292

IV – Objetivos

Esta disciplina compõe o núcleo de disciplinas de formação profissional específica

do curso de formação profissionalizante de acordo com as matrizes curriculares em

vigor.

A disciplina deve propiciar ao aluno a aquisição de competências e habilidades

gerais observando o aspecto de realização de etapas de fabricação em caldeiraria

cujos principais objetivos são:

1. Conhecer os princípios da Caldeiraria.

11. Identificar e selecionar os materiais conformáveis plasticamente, utilizados em

Caldeiraria.

12. Seguir regras de higiene e segurança no trabalho de Caldeiraria.

13. Calcular corretamente o perímetro de figuras geométricas e circunferências.

14. Identificar e manusear corretamente os tipos de ferramentas utilizadas em

Caldeiraria.

15. Conhecer os princípios de funcionamento das máquinas operatrizes do setor.

16. Planificar peças cilíndricas.

17. Planificar peças prismáticas, cônicas, esféricas e planas.

18. Identificar as etapas de fabricação das peças.

19. Traçar e montar peças planificadas em chapas.

20. Operar corretamente os equipamentos de montagem usados em Caldeiraria.

V – Unidades de Ensino e Conteúdos Programáticos

Page 294: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

293

1 - CONCEITOS BÁSICOS. 02 aulas

1.1 - Definição de Caldeiraria.

1.2 - Materiais conformáveis plasticamente.

2 - HIGIENE E SEGURANÇA NO TRABALHO. 02 aulas

3 - CÁLCULO DE PERÍMETROS 06 aulas

3.1 - Cálculo de Raio médio (Rm, rm) e Diâmetro médio (Dm, dm).

3.2 - Linha neutra (Ln, ln) e raio neutro (Rn, rn).

3.3 - Perímetro de figuras geométricas.

3.4 - Perímetro da circunferência.

3.5 - Perímetro da semi-circunferência.

3.6 - Perímetro do arco de circunferência.

4 - DIVISÃO DA CIRCUNFERÊNCIA 02 aulas

4.1 - Processo geométrico.

4.2 - Processo geral.

5 - FERRAMENTAS 02 aulas

5.1 - Tipos e aplicações.

6 - MÁQUINAS 02 aulas

6.1 - Tipos e aplicações.

Page 295: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

294

7 - DESENVOLVIMENTO DE CORPOS SIMPLES 06 aulas

7.1 - Peças cilíndricas.

7.2 - Peças cônicas.

7.3 - Peças dobradas.

8 - DESENVOLVIMENTO DE DERIVAÇÕES 06 aulas

8.1 - Curvas tubulares.

8.2 - Desvio de dutos.

8.3 - Bifurcações.

9 - DESENVOLVIMENTO DE TRANSIÇÕES 06 aulas

9.1 - Coifas concêntricas.

9.2 - Coifas excêntricas.

10 - DESENVOLVIMENTO DE INTERSEÇÕES 06 aulas

10.1 - Interseções tubulares ortogonais.

10.2 - Interseções tubulares oblíquas.

V I – Metodologia

A disciplina em questão deve ser desenvolvida de forma eficaz, dentro dos padrões

estabelecidos pelos objetivos e metas propostas neste documento. Para isso o

profissional da educação que ministra este conteúdo poderá utilizar combinadamente;

Page 296: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

295

Aulas expositivas dialogadas, com ou sem auxílio de mídias eletrônicas;

Debates em sala;

Discussão e estudos de casos;

Trabalhos de campo;

Seminários temáticos;

Exercícios práticos em grupo ou individuais

VII – Avaliação

O profissional de ensino deve atender às normas acadêmicas em vigor,

distribuindo a pontuação durante o período de desenvolvimento do conteúdo. O

professor deverá evitar a concentração de pontos em uma única avaliação escrita,

e sim, distribuir a pontuação em outras formas avaliativas. Assim, as atividades

avaliativas nesta cadeira, apóiam na avaliação relativa aos seguintes

componentes de trabalho:

Avaliação escrita – peso 1

Seminários – peso 1

Exercícios, questionários e relatórios – peso 1

Trabalho prático – peso 1

Trabalho em grupo – peso 1

Atividades em sala, participação assiduidade e comprometimento – peso 1

VIII – Bibliografia de uso didático

Page 297: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

296

I X – Bibliografia Específica

X– Bibliografia Complementar

XI – Elaboração, verificação e aprovação

EQUIPE ELABORADORA:

Prof. Valmir Sales

Prof. Pedro Eustáquio de Oliveira Freitas

APROVADO EM: _____ / _____ / ____

SALES, Valmir. Caldeiraria. Belo Horizonte: Centro Federal de Educação

Tecnológica de Minas Gerais (CEFET/MG), 2004. 139 p.

ARAÚJO, Etevaldo C. Curso Técnico de Caldeiraria. 2. ed. São Paulo: Hemus,

1994. 156 p. ISBN: 8528901017 . ISBN-13: 9788528901016.

CHIAVERINI, Vicente. Tecnologia Mecânica. 2. ed. São Paulo: McGraw-IIill,

1986. 266 p. ISBN: 0074500899. ISBN-13: 9780074500897.

PROVENZA, Francesco. Desenhista de Máquinas. São Paulo: PROTEC, 1997.

ISBN: 8560311017. ISBN-13: 9788560311019.

SPRINGER, Karl B. Funilaria Industrial. São Paulo: Mestre Jou, 1968.

Page 298: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

297

DE ACORDO (carimbo e assinatura)

Coordenador de Curso N.A.E. - Núcleo de Apoio ao Ensino

Anselmo Paulo Pires (SIAPE 0392347) Jussara Biagini (SIAPE

Page 299: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para
Page 300: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

299

APÊNDICE B – CONSTRUÇÕES GEOMÉTRICAS DE RÉGUA E COMPASSO DAS PÁGINAS 39 A 48 DA APOSTILA DA DISCIPLINA DE DESENHO TÉCNICO MECÂNICO (DTM)

Page 301: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

300

Page 302: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

301

Page 303: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

302

Page 304: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

303

Page 305: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

304

Page 306: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

305

Page 307: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para
Page 308: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

307

APÊNDICE C – EXERCÍCIO ENTREGUE AOS ALUNOS DURANTE A AULA DE ESTÁTICA DA DISCIPLINA DE MECÂNICA TÉCNICA E RESISTÊNCIA DE MATERIAIS (MTRM)

Page 309: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

308

Page 310: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

309

Page 311: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para
Page 312: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

311

APÊNDICE D – ATIVIDADE DE CALDEIRARIA REALIZADA PELO GRUPO 1: JP, MC, MA, MB

Page 313: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

312

Page 314: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

313

Page 315: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

314

Page 316: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

315

Page 317: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

316

Page 318: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

317

Page 319: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

318

Page 320: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

319

APÊNDICE E – CARTA DIRIGIDA AOS PAIS DE TODOS OS ALUNOS DAS TURMAS QUE PARTICIPARAM DA PESQUISA NO PERÍODO DE OBSERVAÇÃO DAS AULAS: MEC1A, MEC2A E MEC3A

CARTA – APRESENTAÇÃO E AUTORIZAÇÃO

Valéria Guimarães Moreira , __ de _______ de 2013.

Escrevo esta carta com o intuito de apresentar minha pesquisa de doutorado junto

aos alunos do Curso Técnico de Mecânica Integrado ao Médio do CEFET-MG.

Sou professora de Matemática do quadro efetivo do CEFET-MG e desenvolvo uma

pesquisa de doutorado na Universidade Cruzeiro do Sul de São Paulo (UNICSUL).

O título do meu projeto de pesquisa é “ENSINO MÉDIO INTEGRADO AO TÉCNICO:

DIFERENTES PRÁTICAS DA MATEMÁTICA CONTRIBUINDO NA CONSTRUÇÃO

DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO DOS ALUNOS”.

Em minha pesquisa observo como os alunos trabalham com os conceitos de

Matemática nas aulas das disciplinas técnicas do Curso de Mecânica, e como essas

práticas contribuem para formar o conhecimento de matemática desse grupo de

alunos.

Para alcançar os objetivos da pesquisa, acompanharei a aula de algumas disciplinas

técnicas de que os alunos dos três anos do ensino médio participam. Durante

minhas observações, farei anotações da aula, tanto das ações e falas do professor

da disciplina, quanto dos alunos. Para potencializar minhas anotações, as aulas

serão filmadas para meu uso apenas, no sentido de, após as observações, voltar em

alguns trechos da aula que precisarem ser melhores descritos. As imagens não

serão divulgadas.

Page 321: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

320

Algumas fotografias do ambiente de sala de aula serão feitas no sentido de ilustrar,

no texto da tese a ser escrito, o ambiente em que cada disciplina é desenvolvida.

Após essa fase de observações, os alunos envolvidos na pesquisa serão

convidados a responderem um questionário e participarem de entrevistas em grupo

de alunos com o intuito de conhecer como eles articulam seu conhecimento

matemático para a prática das disciplinas técnicas.

Trechos das respostas dadas a esse questionário e trechos das falas dos alunos nas

entrevistas serão divulgados no texto da tese, porém a identidade de cada aluno

envolvido nesses trechos será preservada, ou seja, não será divulgada.

Para tanto, solicito que os alunos (no caso dos maiores de 18 anos) ou seus

responsáveis (no caso dos menores de 18 anos) autorizem sua participação na

pesquisa em andamento aqui apresentada.

AUTORIZAÇÃO

Eu,____________________________________,RG:___________________,

responsável pelo(a) aluno(a) ______________________________________ da

turma _________________, autorizo a Professora Valéria Guimarães Moreira a

coletar informações durante as aulas e entrevistas para o desenvolvimento do

Projeto de Pesquisa apresentado acima, desenvolvido no Programa de Doutorado

em Ensino de Ciências e Matemática da Universidade Cruzeiro do Sul, garantindo a

preservação da imagem e da identificação de meu filho(a) de acordo com o código

de ética de pesquisa científica.

Page 322: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

321

Desde já, agradeço a colaboração com essa pesquisa que trará benefícios ao

ensino nessa instituição.

______________________________

Valéria Guimarães Moreira

Page 323: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para
Page 324: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

323

APÊNDICE F – CÓPIAS DOS QUESTIONÁRIOS RESPONDIDOS PELOS 5 ALUNOS QUE PARTICIPARAM DAS ENTREVISTAS

a) Questionário do aluno GC

Page 325: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

324

Page 326: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

325

Page 327: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

326

Page 328: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

327

b) Questionário do aluno JP

Page 329: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

328

Page 330: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

329

Page 331: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

330

Page 332: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

331

c) Questionário do aluno MF

Page 333: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

332

Page 334: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

333

Page 335: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

334

Page 336: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

335

d) Questionário da aluna IP

Page 337: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

336

Page 338: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

337

Page 339: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

338

Page 340: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

339

e) Questionário da aluna LA

Page 341: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

340

Page 342: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

341

Page 343: A MOBILIZAÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO POR … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrÔnico, para

342