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Resenha do texto a moda de Georg Simmel

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A MODA Georg Simmel

A MODAGeorg SimmelEm toda ao, mesmo na mais completa e fecunda, sentimos algo que ainda no conseguiu totalmente se expressar.Lidar com o mundo = tenso + desejoAbre um dualismo que no pode ser descrito, mas sim intudo mediante as singularidades das contradies.A base fisiolgica do ser humano gera necessidades difceis de serem satisfeitas.Enquanto seres psquicos seguimos tendncias:Geral tranquilidade do esprito reproduz Particular leva ao movimento diferena pelo individualismoQuando imitamos, no apenas impelimos a exigncia de uma energia produtiva para o outro, mas, ao mesmo tempo, tambm a responsabilidade por essa ao; assim, o indivduo se livra do tormento da escolha, fazendo-a aparecer como um produto do grupo, como um recipiente de contedos sociais.Ultrapassar esse estgio conseguir que o futuro, e no apenas o dado, o passado, a tradio, determine o pensar, o agir e o sentir o ser humano teleolgico est no plo oposto do ser humano que imita.Simmel fala da imitao como uma tendncia fundamental do ser humano.As condies de existncia da moda como um fenmeno corrente na histria de nossa espcie esto aqui circunscritas. Imitao de um modelo dado, a moda satisfaz uma necessidade de apoio social, ela leva o singular via seguida por todos, ela indica uma universalidade que reduz o comportamento de cada um a mero exemplo. Ela tambm satisfaz, no entanto, a necessidade de distino, a tendncia diferenciao, variao, ao destaque. E ela consegue isso, por um lado, atravs da mudana de contedos que imprime moda de hoje sua marca individual em relao moda de ontem e de amanh, mas por outro lado, ainda mais energicamente, pelo fato de as modas serem modas de classe, de as modas das camadas mais altas se distinguirem daquelas das mais baixas e serem abandonadas no momento em que essas comeam a se apropriar daquelas.Tem-se uma moda contraditria1 imitao = desejo de apoio/reconhecimento social2 diferena = individualidade proposta pela classe para destacar-se

Promove a diviso de classes

A moda , como eu dizia, um produto da diviso de classes e se comporta como inmeras outras configuraes, sobretudo a honra, cuja dupla funo reunir um crculo isolando-o ao mesmo tempo dos outros.Assim, a moda significa, por um lado, a unio com os pares, a unidade de um crculo definido por ela e, consequentemente, a unio desse grupo contra as camadas inferiores, a caracterizao destas como excludas.A prova mais clara de que a moda , ento, um mero produto de necessidades sociais ou tambm de necessidades psicolgicas formais est no fato de que quase nunca podemos descobrir uma finalidade material, esttica ou outra que explique suas criaes.Se nossas roupas, por exemplo, so de modo geral adaptadas s nossas necessidades, no possvel encontrar o menor rastro de finalidade nas decises com as quais a moda as conforma; se as saias sero largas ou apertadas, os penteados para cima ou abertos para os lados, as gravatas coloridas ou pretas. Assim, as coisas feias e repulsivas so, muitas vezes, modernas como se a moda quisesse mostrar com isso que ns, por sua causa, aceitamos o mais horrvel; exatamente o acaso com que ordena uma vez o que conveniente, outra o que confuso, outra ainda aquilo que esttica e praticamente incuo revela sua total indiferena em relao s normas objetivas da vida, por isso somos remetidos a outras motivaes, a saber, s tipicamente sociais, como as nicas que restam.

Liga-se assim a economia Ao contrrio dessa origem pessoal, a inveno da moda no presente est cada vez mais ligada situao objetiva do trabalho na economia. No o caso de um artigo produzido em algum lugar virar moda e sim da produo de artigos com a finalidade de se tornar moda. Em determinados intervalos de tempo, exige-se a priori uma nova moda e, por isso, h criadores e indstrias que trabalham exclusivamente na execuo dessa tarefa.Cria sua demanda de produo e comrcio ao instigar a vida psquica do consumidor a destacar-se do grupo.Isso exprime-se em sua posio social de cargo pago na indstria.A moda , em sua essncia mais ntima, supra-individual, e esse carter se imprime tambm em seus contedos: a prova decisiva disso que a criao de modas se converteu em uma profisso paga, em uma posio nas grandes empresas que se diferenciou tanto da personalidade que a ocupa como qualquer outro cargo de seu titular subjetivo.Por isso, a soberania da moda mais insuportvel nos domnios em que apenas as decises objetivas tm valor: religiosidade, interesses cientficos, socialismo e individualismo tornaram-se de certo coisas da moda.Age como mecanismo de dominao demarcando a diferena.Se as formas sociais, as roupas, os juzos estticos e todo o estilo que o ser humano utiliza para se expressar so mantidos em constante mutao pela moda, esta, ou seja, a nova moda, s diz respeito s classes altas. To logo as classes baixas comeam a se inclinar para ela, ultrapassando as fronteiras demarcadas pelas classes altas e quebrando a homogeneidade de seu pertencimento a simbolizado, as classes altas se afastam e adotam uma nova moda que as distingue, por sua vez, das grandes massas, relanando o jogo novamente.Ademais, a moda de preferncia importada de fora e mais apreciada no interior de um crculo quando no nasce de si mesmo;s vezes, parece que os elementos sociais, como os eixos oculares, convergem melhor a um ponto que no est muito prximo.Geral x coletivoexatamente como as modas em Paris so muitas vezes produzidas com a inteno de se tornarem moda em outros lugares. Mesmo em Paris, a moda apresenta seus elementos dualistas no mximo de sua tenso e de sua reconciliao. O individualismo a adaptao quilo que veste bem muito maior do que na Alemanha, mas mantm firmemente certos limites amplos de um estilo geral, da moda vigente, de modo que o aspecto singular no saia jamais fora do universal, mas dele se destaque.Fim da moda!?Se faltar apenas uma dessas tendncias sociais que tm de se conjugar para sua formao, a saber, a necessidade de unio, por um lado, e de separao, por outro, a moda no acontece, seu imprio tem fim.So exatamente essas diferenciaes que mantm a coeso das fraes de grupos interessados na separao; o andar, o tempo, o ritmo dos gestos so sem dvida determinados essencialmente pelas roupas, pois pessoas vestidas igualmente se comportam relativamente da mesma maneira.A mudana da moda mostra a medida de embotamento dos excitantes nervosos; quanto mais nervosa uma poca, tanto mais rpidas so as mudanas da moda, pois a necessidade de excitantes diferenciais, um dos principais vetores de toda moda, anda junto com a diminuio das energias nervosas.Perda da individualidadeO traje de luto, especialmente o feminino, pertence igualmente a esses fenmenos negativos da moda. Excluso ou evidncia e unio ou igualdade aparecem aqui tambm.Valor social da moda pela diferenaO simbolismo da roupa preta coloca a pessoa de luto parte da agitao colorida dos outros, como se ela pertencesse, por sua ligao com os mortos, em certa medida, ao reino dos no-vivos. Na medida em que isso igual para todos, as pessoas de luto formam uma comunidade ideal ao se separarem do mundo daqueles que esto, por assim dizer, completamente vivos. Mas como essa comunidade no de natureza social apenas igualdade e no unidade falta ento a possibilidade de uma moda.Moda gera invejaSe todos a tem a moda morreA essncia da moda consiste em que apenas uma parte do grupo a exera e que a coletividade se encontre a caminho. Assim que se impe totalmente, ou seja, uma vez que aquilo que apenas poucos faziam anteriormente praticado realmente por todos, sem exceo, como o caso de certos elementos do vesturio e do trato social, ento no mais moda. Qualquer crescimento a leva em direo a seu fim, exatamente por anular a diferena.

Ela pertence, portanto, a um tipo de fenmeno cuja inteno de expanso cada vez mais ilimitada e realizao cada vez mais completa mas que alcanando esse objetivo absoluto cai em autocontradio e destruio.Por isso, a moda se torna permanente.Ritmo moderno acelerado fortalece os desgnios da modaO especfico tempo impaciente da vida moderna significa no apenas o anseio por mudanas rpidas nos contedos qualitativos da vida, mas a fora da atrao formal das fronteiras, dos comeos e dos fins, das idas e das vindas.De outro modo, o que quer que seja de novo que se espalhe na prtica da vida no ser designado como moda se acreditamos em sua persistncia e em sua legitimidade objetiva; s o chamar assim quem estiver convencido de que seu desaparecimento ser to rpido quanto sua apario.Moda inspira invejaPor isso, o estado de esprito que a pessoa na moda encontra uma mistura aparentemente agradvel de aprovao e inveja.O comportamento dos proletrios que podem dar uma olhada na cidadela dos ricos , aqui, um exemplo instrutivo; a base desse comportamento que um contedo que dado a ver se torna fonte de prazer simplesmente por ser o que , independente de sua realidade vinculada a um ter subjetivo o que, de alguma forma, comparvel obra de arte cujo benefcio em satisfao no depende tambm de quem a possui.

A diferena proposta pela moda eleva a estima e esprito A moda eleva a pessoa insignificante na medida em que a faz o representante de uma coletividade, a materializao especial de um esprito universal.Porm fazem que o bobo a siga e se marque pelos excessos e extravagncias.Exemplo de Bismarck e outros lideres que como tal acreditavam que deveriam seguir o grupo (e no o contrrio)a moda pode exercer uma fora de atrao especial sobre naturezas sensveis que no se adaptam facilmente robusta realidade.A pessoa intencionalmente no-moderna toma exatamente o mesmo contedo que o bobo da moda, s que o molda com outra categoria, o bobo com a do exagero, o no-moderno com a da negao. Pode at se tornar moda em vastos crculos dentro de uma ampla sociedade vestir-se de maneira no-moderna essa uma das complicaes sociopsicolgicas mais curiosas: que, primeiro, o impulso por distino individual se satisfaa com uma simples inverso da imitao social e, segundo, que tire sua fora do apoio de um crculo igualmente caracterizado; se constitussemos uma associao de anti-associacionistas, teramos um fenmeno no mais impossvel logicamente nem, em termos psicolgicos, mais verossmil que o anterior.tendenciosa no-modernidade indica o quanto as formas fundamentais da essncia humana esto prontas a acolher contedos totalmente contrrios e a mostrar sua fora e seu estmulo na negao disso mesmo a que, antes, pareciam ligados irrevogavelmenteModa como mecanismo de fuga para expresso da individualidadeExemplo da contradio da moda manifesta na Alemanha e Itlia nos sc. XIV e XV onde na 1 h individualismo mas em espao para a mulher que abusa da moda, e na segunda, como as oportunidades eram semelhantes para abastados, no h grandes destaques da moda.No h nenhuma necessidade de confirmar sua individualidade nesse domnio e de adquirir uma certa excelncia, porque o impulso que a se expressa encontra satisfao suficiente em outros domnios.recusa s mudanas em domnios externos, indiferena em relao moda da aparncia externa, um trao especificamente masculino no porque o homem mais homogneo, mas justamente porque, na verdade, um ser mais plural e, por isso, pode dispensar essas mudanas externas.a forma da variabilidade, com a qual se oferece s pessoas, , sob todas as condies, o oposto da constncia no sentimento do eu e este contraste exatamente que obriga esse sentimento a tomar conscincia de sua relativa durao; somente nessa durao a variabilidade pode mostrar aqueles contedos finalmente como variabilidade e desdobrar seu estmulo. esse significado da moda que justamente tomado por pessoas finas e originais, na medida em que utilizam a moda como uma espcie de mscara. A cega obedincia s normas da generalidade em tudo o que exterior lhes serve justamente como meio consciente e deliberado para conservar o sentimento pessoal e o gosto que querem ter inteiramente para si, tanto que evitam deix-los manifestar-se para no serem acessveis a todos.Se na sociedade, em sentido estrito, a banalidade de bom tom, ento, isso no apenas consequncia de uma ateno recproca que passa por falta de tato quando algum se faz notar com uma manifestao individual e original que no pode ser imitada pelos outros, mas tambm por causa do sentimento de vergonha que, de alguma maneira, forma o castigo infligido pelo prprio indivduo por seu destaque em relao ao tom e s atividades comuns e acessveis a todos. A moda, ento, por sua estrutura interna peculiar, permite um destaque que sempre sentido como adequado.Por mais extravagante que seja uma manifestao ou exteriorizao, to logo se transforma em moda, fica protegida dos penosos reflexos que, em geral, o indivduo sente quando objeto da ateno dos outros. Todas as aes de massa so caracterizadas pela perda do sentimento de vergonha.Oferece liberdade internaA moda tambm uma das formas pelas quais os seres humanos, ao abandonarem a exterioridade escravido coletiva, procuram salvar da melhor maneira a liberdade interna.Ela d ao ser humano um esquema que lhe permite atestar inequivocamente sua ligao com a universalidade, sua obedincia s normas que vm de seu tempo, de sua classe, de seu crculo mais estreito, um esquema com o qual compra a liberdade que a vida proporciona, podendo, ento, de novo, concentrar-se cada vez mais naquilo que lhe mais ntimo e essencial.Moda como rito de passagemos jovens mostram s vezes uma extravagncia repentina na maneira de se apresentar, um interesse sbito, sem fundamento objetivo, que domina toda a esfera de sua conscincia e desaparece no menos irracionalmente. Pode-se chamar isso de moda pessoal, caso limite da moda social.Um certo estgio intermedirio entre a moda individual e a moda pessoal se realiza dentro de crculos muito estreitos.O fenmeno que se manifesta aqui como caricatura pode, em pequena proporo, ser observado em toda parte na relao dos seres humanos com os objetos. S os grandes homens, em funo da profundidade e fora superiores de seu eu, respeitam a individualidade prpria das coisas.Vimos que a moda, por assim dizer, traz s diversas dimenses da vida uma coincidncia original por ser uma configurao complexa em que todas as tendncias principais e opostas da alma esto representadas.Por um lado, as massas inferiores so mais difceis de serem movimentadas, e se desenvolvem de modo mais lento. Por outro, so exatamente as classes mais altas as reconhecidas como conservadoras, e mesmo arcaizantes: elas temem, muitas vezes, o movimento e a mudana, no porque o contedo lhes seja antiptico ou nocivo, mas porque mudana simplesmente, e porque, para elas, qualquer modificao do todo, que em sua atual constituio lhes garante uma posio mais favorvel, vista como suspeita e perigosa; a elas, nenhuma mudana pode trazer mais poder e, por isso, s podem ter medo e, portanto, nada esperar das transformaes.A verdadeira variabilidade da vida histrica est nas classes mdias, e por essa razo a histria dos movimentos sociais e culturais ganharam um outro tempo desde que o tiers tat tomou a direo. Assim, a moda essa forma de mudana e contraposio da vida tornou-se, desde ento, mais ampla e mais animada; a mudana frequente da moda tambm uma submisso considervel do indivduo e, nessa medida, um dos complementos exigidos pela liberdade social e poltica desenvolvida.Classes e indivduos que so pressionados para mudanas contnuas, porque a rapidez de seu desenvolvimento lhes garante uma vantagem sobre os outros, reencontram na moda o tempo de seus prprios movimentos anmicos.Acima de tudo, a ascenso econmica das camadas inferiores, no ritmo das grandes cidades, s pode favorecer a rpida mudana da moda, porque esta permite s classes mais baixas imitar bem mais rpido as altas, e por isso o processo, caracterizado acima, em que cada camada superior abandona a moda no momento em que as inferiores dela se apoderam, adquire uma amplitude e uma vivacidade surpreendentes. Isso influi consideravelmente sobre o contedo da moda.Um crculo peculiar tem origem aqui: quanto mais rpido a moda muda, tanto mais baratas tm de ser as coisas; e quanto mais baratas ficam, tanto mais elas convidam os consumidores e os produtos mudana rpida da moda.Para resumir tudo, podemos concluir que a atrao peculiarmente picante e excitante da moda reside no contraste entre a vasta expanso que tudo abarca e sua efemeridade rpida e fundamental, sem esquecer o direito infidelidade.A moda, portanto, revela-se apenas como uma configurao singular, fortemente caracterizada, entre muitas outras, em que a finalidade social, assim como a individual objetivaram s correntes opostas da vida os mesmos direitos.