A Mulheer Na Epoca de Franco

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    A mulher na Espanha de Franco: uma leitura de El prncipe destronado,

    de Miguel Delibes.

    The woman in Francos Spain: a reading of El prncipe destronado, de Miguel

    Delibes.

    Isabela Maria de Abreu1

    Resumo:O romance El prncipe destronado, do escritor espanhol Miguel Delibes, oferece ao

    leitor ricos elementos para analisar a mulher e a famlia na sociedade espanhola, durante o

    governo do ditador Francisco Franco (1939-1975), apesar da censura que impedia o autor de

    mostrar a sua viso de mundo e expressar os seus pontos de vista.

    Palavras-Chave: literatura espanhola ps-guerra sociedade espanhola mulher famlia

    Abstract: The novel El prncipe destronado, of the Spanish writer Miguel Delibes, provides the

    reader with rich information to analyze the women and the family in Spanish society, during the

    government of dictator Francisco Franco (1939-1975), despite the censorship that prevented

    the author to show his world view and express his points of view.

    Keyword: spanish literature post-civil war spanish society women - family

    O panorama literrio espanhol dos anos que correspondem guerra

    civil (1936-1939) e ao perodo franquista de ps-guerra (1939-1975) remete o

    leitor a tempos de medo e censura. A expresso literria durante a guerra teve

    uma postura militante e panfletria, revelando o compromisso moral e poltico

    de escritores que, servindo a uma doutrina ideolgica e a uma causa poltica,

    tanto em relao aos nacionalistas como aos republicanos, divulgavam os seus

    dogmas, exaltavam ou rejeitavam a guerra ou, ainda, tentavam explic-la.

    O processo de recuperao cultural, aps a guerra, pelos moldes do

    general Francisco Franco provocaram prejuzos irreparveis para a Espanha.Como elementos configuradores desta crise destacam-se a medida do governo

    de isolar culturalmente o pas, a fim de se evitar toda e qualquer influncia

    perniciosa, e a perseguio aos artistas que, atingidos diretamente pela

    represso e pela censura, morreram ou seguiram o caminho do exlio.

    1 Professora de espanhol do Colgio Pedro II, no Rio de Janeiro, mestra em Literaturas

    Hispnicas e especialista em Lngua Espanhola e Literaturas Hispnicas, est cursando odoutorado em Literatura Comparada, na subrea de Literatura Espanhola, na UFF.

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    No incio do perodo de ps-guerra, isto , na dcada de 40, a literatura

    comeou a mostrar uma lenta recuperao, sobressaindo duas vertentes:

    enquanto uma se definiu pela produo de biografias de personagens

    relevantes para a histria oficial, a outra enveredou por uma literatura

    pessimista, evasiva e subjetiva, pelo desejo de esquecer a tragdia ou, talvez,

    pelo medo das conseqncias que poderiam resultar de uma crtica, explcita

    ou no.

    A partir dos anos 50, um grupo de jovens de faixa etria aproximada

    passou a publicar os seus trabalhos em revistas universitrias. O denominador

    comum destes escritores era o fato de terem vivido a guerra quando crianas.

    Ao contrrio de outros artistas, levavam para a sua obra o drama vivenciado, aexperincia desconcertante de ter passado a infncia em meio a perdas

    materiais e afetivas e privados intelectualmente.

    Carmen Laforet que j havia publicado anteriormente , Carmen

    Martn Gaite, Juan Goytisolo, Luis Martn Santos, alm dos contistas Jess

    Fernndez Santos, Josefina Rodrguez e Medardo Fraile, so alguns dos

    nomes que compem essa gerao conhecida como de los nios de la

    guerra. A crtica que se ocupou deste perodo literrio coincide em considerarque estes jovens chegaram com uma intensa liberdade interior e com uma

    clara vontade de renovar e explorar novos caminhos.

    A represso intelectual e a dificuldade de acesso aos meios de

    transmisso da cultura eram, pelo menos para alguns, um grande incentivo.

    Sujeitos a sanes, os escritores eram obrigados a obedecer s regras

    impostas, o que estimulou a sua imaginao e a sua habilidade artstica,

    levando-os a criar meios para vencer os obstculos da censura.Neste contexto literrio, ressaltamos a produo do escritor Miguel

    Delibes. Nascido em Valladolid, no dia 12 de outubro de 1920, e falecido

    recentemente, em 12 de maro de 2010, este romancista no se enquadra

    cronologicamente na gerao de 1950, embora dialogue com ela em aspectos

    mais profundos: sua obra interessa fundamentalmente por trabalhar temas

    como a opresso, a liberdade, a morte, a religio, a justia, a tolerncia e a

    solidariedade, o que revela a sua grande preocupao com o homem.

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    Apesar da diversidade temtica, em sua obra prevalece uma particular

    inquietao existencial entrevista por um enfoque sempre realista ao tratar do

    homem e da sociedade, isto , os problemas da formao do homem e a

    influncia das circunstncias pessoais sobre a sua atitude diante da vida. Ou

    com as palavras do prprio Delibes:

    Yo traslado a mis personajes los problemas y lasangustias que me atosigan, o los expongo por sus bocas.En definitiva, uno, si es sincero, se desdobla en ellos.Para m, en el novelista, sobre el sentido de observacin,debe prevalecer la facultad de desdoblamiento: yo soyas, pero pude ser de otra manera. E imaginar cmohubiera actuado de haber nacido en otro medio o en otra

    circunstancia. (ALONSO DE LOS ROS, 1971, p. 58)

    Delibes desponta como escritor apenas em 1948, quando ganha o

    Prmio Nadal pelo seu primeiro romance La sombra del ciprs es alargada.

    Durante as duas dcadas seguintes, ele publica as seguintes obras, nem todas

    romances: An es de da (1949), El camino (1950), Mi idolatrado hijo Sis

    (1953), Diario de un cazador(1955), Diario de un emigrante(1958), La hoja

    roja(1959),Las ratas(1962),Cinco horas con Mario(1966), Parbola de un

    nufrago (1969) e, em 1973, El prncipe destronado. Desde os anos 40,

    entre romances, contos, livros sobre viagem e caa, vai somando os mritos de

    mais de meio sculo de produo at receber, em 1999, o Premio Nacional de

    Narrativa, por El hereje, obra de 1998.

    No processo de envolvimento do leitor com o mundo ficcional de Miguel

    Delibes, cresce a percepo de que dos dilogos entre os personagens

    ressoam dados sociais e culturais, sugerindo um intertexto histrico. Detalhes

    sutis, breves comentrios e at mesmo o silncio brotam de uma leitura maisatenta e nos remetem a um momento sombrio da histria recente da Espanha,

    mais precisamente o perodo posterior guerra civil.

    Dessa forma, um romance que a princpio poderia ser resumido como o

    simples relato de um dia na vida de um menino de trs anos, suas peripcias e

    descobertas, e cujo tema seria a tentativa dessa criana de recuperar a

    ateno familiar quando deixa de ser o caula, passando a ser simplesmente o

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    quinto filho, ganhou outra dimenso ao surpreender-nos com o complexo

    contexto vislumbrado em suas entrelinhas.

    A maneira discreta, porm contundente, de abordar e questionar temas

    polmicos em sua obra nos estimulou a analisar os aspectos que so

    claramente tocados ao longo do romance e a investigar os que no esto

    explcitos, aquilo que apenas sugerido, a fim de descobrir, no mundo familiar,

    a ponte criada pelo autor entre fico e histria.

    A partir da fico, Delibes prope ao leitor a reflexo sobre temas

    como: as relaes sociais, a condio da mulher, a educao dos filhos, a

    moral das aparncias, as relaes de poder, a liberdade de opinio, a censura,

    os tabus sociais, a religio, o sexo, o medo, questes, enfim, que abarcam ombito social, cultural, poltico e ideolgico, exploradas atravs das tenses,

    dos conflitos e dos desequilbrios que compem esse ncleo familiar,

    microcosmo da sociedade espanhola.

    Embora s tenha sido publicado em 1973, o manuscrito de El prncipe

    destronadodata de 15 de maro a 21 de abril de 1964 e a ao da narrativa

    transcorre em um perodo prximo, exatamente no dia 3 de dezembro de 1963.

    O argumento o relato do decorrer de um dia da vida de Quico, o protagonista,um menino de 3 anos que, fazendo jus ao ttulo, tenta recuperar a ateno

    perdida aps o nascimento da irmzinha e de como os fatos desse dia e o

    contato com aqueles com quem convive os pais, Pablo e Merche; os irmos,

    Pablo, Marcos, Merche, Juan e Cris, em ordem cronolgica decrescente; e as

    empregadas, Vtora e Domi repercutem em sua interioridade.

    A justificativa do ttulo surge na voz de dois personagens. Tia Cuqui,

    irm de Pablo, e Emilio, o mdico das crianas, tentam, em diferentesepisdios, convencer a me de Quico que o sentimento de abandono e

    sofrimento causado pelo fato de um dia a criana ser el benjamn, o centro das

    atenes, e no dia seguinte, apenas mais um na famlia pode causar-lhe alguns

    complexos. Tia Cuqui argumenta: Hasta ayer dueo de la casa; hoy, nadie

    (DELIBES, 1999, p. 88). A opinio do mdico ainda mais incisiva porque

    representa a voz da cincia: Eso no es una invencin. Esa teora no es una

    formulacin caprichosa. El nio que durante aos ha sido eje, al dejar de serlo

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    se defiende; no se resigna; trata de llamar la atencin sobre s. (ibid., p. 137)

    El prncipe destronadonos permite uma leitura amena e agradvel,

    apesar da seriedade e da importncia do seu contedo. um livro envolvente

    que mostra, em meio a um delicado humor, as dificuldades de ser criana

    neste mundo feito, pensado e comandado pelos adultos. So essas mesmas

    crianas que, apesar da sua inocncia e imaturidade, mostram ao leitor o

    mundo injusto, incoerente e arbitrrio em que vivem.

    Definidos em seu aspecto externo pelo narrador, os personagens

    desse romance tm a sua personalidade revelada ao leitor atravs do seu

    prprio discurso. O autor criou na fico personagens com fala e pensamento

    que correspondem aos de uma pessoa real da faixa etria e, sobretudo, dascamadas scio-culturais em que esto inseridos. So seres simples, que

    reconhecemos no nosso dia-a-dia e a partir dos quais vemos brotar questes

    pessoais, existenciais, sociais e inclusive, ideolgicas. Conforme o prprio

    Delibes comenta, o principal dever do romancista

    Crear tipos vivos [...]. Unos personajes que vivan deverdad pueden hacer verosmil un absurdo argumento,relegar, hasta diluir su importancia, la arquitectura

    novelesca y hacer del estilo un vehculo expositivo cuyaexistencia apenas se perciba. Poner en pie unospersonajes de carne y hueso e infundirles aliento a lolargo de doscientas pginas es, creo yo, la operacin msimportante de cuantas el novelista realiza. (VILANOVA inMiguel Delibes. El escritor, la obra y el lector. 1991, p.131)

    Neste sentido, preciso pensar a relao entre fico e leitor,

    potencializada pelo escritor ao dar voz ao personagem, aproximando o leitor

    dos acontecimentos narrados. O autor os concebe em sua totalidade,revelando a personalidade, o carter e a viso de mundo de cada um deles.

    Conforme avanamos a leitura, os personagens vo tomando forma e ns,

    leitores, vamos conhecendo-os essencialmente por seus atos e pelo que

    dizem.

    Delibes d voz aos personagens para que eles mesmos se mostrem.

    Essa estratgia no permite uma posio passiva a quem l. A obra nos

    envolve, pois o texto inquieta, levando-nos a repensar as vises de mundo e as

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    atitudes dos personagens. A reflexo e a valorizao ficam por conta do leitor,

    pois o autor em momento algum emite sua opinio sobre os comportamentos

    dos personagens. No julgar nem condenar, apenas observar e narrar: assim

    Delibes aprendeu no jornalismo, a sua escola de narrador.

    Fundamentados nos princpios da verossimilhana e da veracidade,

    ficcionistas e historiadores, respectivamente, pinam certos elementos para

    representar a realidade. Enquanto leitores do discurso ficcional ou

    historiogrfico, no podemos crer ingenuamente no acaso ou na imparcialidade

    quanto seleo de temas, construo de personagens e descrio de cenas

    ou fatos. Todo recorte da realidade traz em si uma intencionalidade, pressupe

    o silenciamento de vozes, a ocultao de fatos, o preenchimento de lacunas ereflete, portanto, uma viso de mundo que o escritor de fico ou o historiador

    querem revelar. rico Verssimo observa, pela boca de um dos seus

    personagens, que

    Ainda quando um escritor quer ser imparcial eabsolutamente objetivo, na simples escolha dos temas,das personagens, na pura disposio das cenas eles estdando a sua opinio sobre a vida, o mundo, os homens.(apudCHAVES, 1991, p. 43)

    So esses dados que nos sustentam na afirmao de que Miguel

    Delibes recupera o aspecto scio-cultural e, portanto, histrico, no romance em

    questo. Observamos esta contextualizao nas entrelinhas da criao

    literria, no somente como referncia ou mero pano de fundo, seno como

    elemento motivador das relaes sociais, condicionador da existncia e da

    conduta dos personagens na fico. Segundo Antnio Cndido, s podemos

    entender a obrafundindo texto e contexto numa interpretao dialticantegra, em que tanto o velho ponto de vista que explicavapelos fatores externos, quanto o outro, norteado pelaconvico de que a estrutura virtualmenteindependente, se combinam com momentos necessriosdo processo interpretativo. Sabemos, ainda, que oexterno, (no caso, o social) importa, no como causa,nem como significado, mas como elemento quedesempenha um certo papel na constituio da estrutura,

    tornando-se, portanto, interno. (CANDIDO, 1985, p. 4)

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    Como j dissemos, nesse romance, o dilogo entre fico e histria

    criado a partir da representao de uma famlia espanhola, cujo cotidiano

    corresponde dcada de 60, momento que ainda evoca o perodo da guerra

    civil e no qual a sociedade ainda vive sob o comando e o rigor do general

    Francisco Franco.

    Conforme foram desaparecendo as penrias da imediata ps-guerra, o

    pas comeou a sofrer uma tmida abertura econmica e cultural. No final da

    dcada de 50 e ao longo dos anos 60, a indstria, estagnada durante a guerra

    civil, retomou o seu desenvolvimento e o governo comeou a estreitar laos

    com os Estados Unidos, em uma relao que influenciou, tambm, o aspectocultural. Finalmente, o sacrifcio e a economia comearam a dar passagem a

    uma incipiente prosperidade e ao consumo.

    Na narrativa, o autor vai-nos situando temporalmente ao selecionar

    passagens do dia de uma famlia que configuram o marco scio-cultural que

    acabamos de mencionar. Entre os irmos mais novos, por exemplo, a

    revistinha La Conquista del Oeste explcita referncia expanso dos

    Estados Unidos , lida, relida e dramatizada, durante o dia, por Juan, oquarto dos seis filhos. Merche, mais nova apenas que Pablo, dana ao som do

    twiste do rock que tocam em sua vitrola, evidenciando, em primeiro lugar, a

    influncia cultural norte-americana naquele perodo e, em segundo, a entrada

    de aparelhos eletrnicos no pas.

    Em 1952, fundada a Televisin Espaola. Na fico, Quico e Juan

    pedem me que os deixe ir ao apartamento da Ta Cuqui, irm de Pablo, o

    pai, para assistir, pela televiso, ao desenho animado Conejo y Porky(DELIBES, 1999, p. 153), pois a famlia ainda no havia adquirido a sua. Na

    vida real, a expanso deste meio de comunicao tomou conta de todo o pas,

    embora lentamente. Enquanto isso, como tambm nem todos podiam compr-

    la, foram colocadas em bares ou em teleclubs onde as pessoas assistiam,

    principalmente, aos filmes americanos, s transmisses esportivas e aos seus

    cantores favoritos.

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    Em Crnica sentimental de Espaa, Manuel Vzquez Montalbn

    comenta que o neoliberalismo que sucedeu autarquia, em 1958, foi

    responsvel por essa invaso cultural (VZQUEZ MONTALBN, 1998,p. 179).

    Na prtica, isto significou o fim da recesso, o relativo crescimento do pas e a

    conseqente transformao do perfil do povo espanhol em uma sociedade de

    consumo. Turismo, moda, gastronomia, televiso e indstria automobilstica

    tornaram-se os novos focos de ateno e de investimento do pas nos felices

    sesenta (ibid., p. 175), refletindo o momento em que o comportamento e os

    bens de consumo norte-americanos comearam a ser difundidos por toda a

    Espanha.

    Este avano, fascinante para os jovens, contido, no entanto, pelaresistncia de alguns grupos extremamente conservadores. O mundo

    aparentemente harmonioso, em que florescia o crescimento econmico e as

    mudanas comeavam a surgir, contrastava com uma sociedade que ainda

    estava presa s rgidas normas de conduta de Franco. Os anos 60, na

    Espanha, foram palco de uma simbiose entre a opresso de um sistema

    poltico autoritrio, a sujeio aos dogmas catlicos e os esparsos ventos que

    traziam um pouco das mudanas do mundo nessa dcada e o modo de vidaamericano.

    Na vida pessoal e familiar, revelavam-se as contradies que vinham

    desenvolvendo-se entre os costumes particulares e a ideologia oficial,

    principalmente nas classes urbanas mdia e alta. Neste sentido, parece-nos

    fundamental retroceder s dcadas anteriores, quando esses conflitos sociais

    se manifestaram, e esclarecer as circunstncias em que ocorreram.

    Na dcada de 30, as reformas introduzidas pelos republicanosinfluenciaram decisivamente o statusda mulher na sociedade, dando-lhe direito

    ao voto, legalizando o casamento civil e o divrcio, instaurando direitos

    trabalhistas iguais e uma legislao que amparava as mes trabalhadoras,

    enfim, resolues que tornavam a participao da mulher mais ativa em todas

    as esferas da sociedade. O avano era to significativo que, em 1936, foi

    criado um grupo chamado Mujeres Libres, uma organizao exclusivamente

    feminina que mantinha vnculos com o movimento anarquista.

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    Contudo, a reao contra esses progressos no tardou a chegar. O

    retrocesso j se fazia notar durante a guerra, mas se radicalizou no regime

    franquista, recuperando valores tradicionais e retrgrados. Com a queda da

    Repblica, as mulheres que se destacavam publicamente por sua ao

    progressista foram obrigadas a se exilar ou desapareceram nas prises.

    Responsvel pela orientao da mulher, a Seccin Femenina da

    Falange grupo poltico resultado da unificao em 1937 de vrias

    organizaes fascistas e nacionalistas que apoiaram Franco havia mobilizado

    as espanholas para o trabalho social durante a guerra civil. Sob o controle

    rigoroso de Pilar Primo de Rivera e sempre de acordo com os preceitos

    catlicos, essa instituio defendia arbitrariamente que o lugar mais apropriadopara a mulher era a casa.

    O regime autoritrio implantado com a vitria de Franco, em 1939,

    manifestou desde o incio a sua poltica reacionria em relao mulher.

    Perdidos todos os direitos civis, no podia sequer herdar a herana do marido

    caso ficasse viva; ela seria passada diretamente aos filhos homens ou ao

    parente homem mais prximo. A partir de ento, o casamento civil e o divrcio

    foram anulados com ao retroativa e o aborto legalizado foi proibido.Carmen Martn Gaite (MARTN GAITE, 1996, p. 91) destaca o abismo

    que separou a vida familiar anterior guerra, tranqila e sem normas rgidas,

    opondo a liberdade disciplina e censura impostas em todos os lares a partir

    de 1939, quando Franco assumiu o poder. Neste mesmo ano, entrou em vigor

    uma lei que proibia as escolas mistas, reduzindo o contato entre meninos e

    meninas praticamente famlia. No de se estranhar, portanto, anos mais

    tarde, os desencontros, os desentendimentos e o mtuo desconhecimentodecorrentes desse afastamento.

    De acordo com documentos da poca, o maior sonho da mulher era o

    de se casar e o seu grande desejo, ser subserviente a um homem. Quando

    trabalhava era por necessidade, pois trabalhar fora era um risco para o pudor

    feminino. Sempre que questionadas alegavam que to logo encontrassem o

    Prncipe Azul deixariam o emprego para seguir la verdadera carrera de la

    mujer (ibid., p. 48). Em 1944, a revista Medinapublicou o seguinte texto:

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    La vida de toda mujer, a pesar de cuanto ella quierasimular o disimular , no es ms que un continuo deseode encontrar a quien someterse. La dependenciavoluntaria, la ofrenda de todos los minutos, de todos los

    deseos e ilusiones es lo ms hermoso, porque es laabsorcin de todos los malos grmenes vanidad,egosmo, frivolidad por el amor. (apud MARTN GAITE,1996, p. 45)

    Trazer de volta a mulher ao lar, resgat-la das garras do capitalismo

    industrial para voltar a ser a dona da casa era o que pretendia o Estado. A fim

    de preparar as moas para o casamento, eram obrigatrias as seguintes

    disciplinas nos colgios: Religio, Cozinha, Formao familiar e social,

    Conhecimentos prticos, Corte e Costura, Floricultura, Cincia domstica,

    Puericultura, Canto e Economia domstica, com os seus respectivos contedos

    que contribuiriam para a formao da esposa ideal. Nenhuma espanhola

    escapava da influncia e do poder da Seccin Femenina, exercido pelo Servio

    Social, cuja participao era requisito bsico, a partir de 1945, para que

    futuramente pudesse trabalhar, estudar, tirar passaporte ou participar de

    qualquer atividade cultural.

    No que diz respeito ao futuro da mulher, ela podia decidir entre casar-

    se e a vocao de ser freira. A opo por ser simplesmente solteira era

    marcada pelo preconceito. Algumas mulheres chegavam a ter nvel superior,

    mas o destino de todas elas era casar-se. Porm, muitas no se casavam

    tambm, no porque fossem contrrias idia, mas devido escassez de

    homens, vtimas da guerra.

    Benevolncia, doura, suavidade, amabilidade, otimismo e bondade

    deveriam ser as caractersticas da mulher espanhola, muy mujer (ibid., p.27)em sua essncia, como se costumava dizer no final da dcada de 40. Caso a

    personalidade da moa desencontrasse desses itens que acabamos de citar,

    ela estaria, portanto, fadada a vestir santos. Para que fosse escolhida por um

    homem, por exemplo, ela deveria ter determinadas qualidades, como ser

    Modesta, trabajadora y capaz de dirigir una casa. Quesepa lavar, cocinar, recibir y despedir a las visitas, tratarcon la servidumbre y los vecinos, sacrificada, afable,

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    delicada y de buen conformar. (OTERO apudESCABIAS,1998, p. 44)

    Em El prncipe destronado, o ponto de vista machista e cerceador de

    Pablo, o marido, assim como o de seu pai, a quem ele se refere

    constantemente, para enfatizar as suas idias, encontram respaldo em

    documentos oficiais da poca, isto , nas cartilhas franquistas sobre o

    comportamento da mulher. Assim, em relao ao marido, o documento do

    jesuta Vicente Lousa, intitulado El marido y t,sugere:

    No haga la mujer gala de sus conocimientos si es queposee una formacin intelectual mejor que la del esposo.

    Al hombre le gusta sentirse siempre superior... Sinteligente. Hazle sentir como tu dueo, hazle sentir seorde todo, entonces no te lo har sentir l a ti. (apudESCABIAS, 1998, p. 43)

    Importa esclarecer que Merche, a me, a dona-de-casa e a esposa

    dedicada aos filhos, aos afazeres domsticos e ao marido, de acordo com as

    regras sociais vigentes na poca em que a histria relatada. No entanto, ela

    contraria o ideal machista de Pablo: uma mujer [que] no tenga la pretensin de

    que piensa e com limitado campo de atuao: la mujer, en la cocina

    (DELIBES, 1999, p. 76).

    Nos anos 60, em plena represso franquista, as normas eram seguidas

    ao p da letra. A fim de remediar o estrago demogrfico causado pela guerra

    na opinio dos militares, o nmero de mortos foi de aproximadamente 500 mil;

    para os republicanos, 1 milho , Governo e Igreja estavam empenhados em

    reforar o vnculo matrimonial. Franco incentivava inclusive financeiramente as

    famlias numerosas. Desta forma, enquanto em toda a Europa, a mulhercontinuava sua corrida pela igualdade com o homem, na Espanha ela estava

    reclusa entre as quatro paredes, dotada da sublime misso de cuidar do

    marido e da numerosa famlia, pois outra de suas obrigaes era a de repovoar

    o pas:

    Quien voluntariamente tenga menos de tres hijos y suconciencia no le recrimine [...] ser responsable de undelito contra la ciudadana y el patriotismo. (OTERO apud

    ESCABIAS, 1998, p. 44)

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    Notamos que, apesar das desavenas afetivas entre o casal Pablo e

    Merche, ela no deixa de cumprir o dever de esposa: acaba de nascer Cris, a

    sexta filha. Dita a cartilha franquista que

    un imperdonable error la negacin al esposo del dbitoconyugal. La mujer no debe, bajo ningn pretexto, negar asu marido lo que le pertenece [...] (apud ESCABIAS,1998, p. 43)

    Merche um personagem paradoxal: uma pessoa que

    aparentemente est conformada com a sua situao conjugal pois, a princpio,

    continua a rezar pela cartilha da boa e exemplar esposa. o que acusamosquando a mecnica bata de flores rosas y verdes (ibid., p. 12) passa a ser os

    prpados azules, labios rojos e dientes blanqusimos (ibid., p. 59), para

    receber o marido que chega para almoar. Uma vez mais, entram em cena as

    normas conjugais ditando que a esposa deveria passar o dia cuidando da casa

    e dos filhos e, como em um passe de mgica, embora esgotada no final da

    jornada, transforma-se em uma mulher impecvel, bem humorada, disposta e

    sedutora para receber o marido que chegava do trabalho, conforme lemos a

    seguir:

    El mal humor, los quehaceres desagradables, el desalioy la casa revuelta se dejan para cuando el esposo estausente del hogar. Hay que evitar que l os veaenfundadas en esa vieja bata que usis para la limpieza,calzadas con unas zapatillas deterioradas, greudas y malaseadas. [...] Es preciso hacerle olvidar su fatiga, sudisgusto y su enfado, mostrndose cariosa,interesndose por sus asuntos y rodendole de

    atenciones que... le hacen deseable el hogar y lacompaera que as sabe ensuavecer su vida. (MARADEL PILAR MORALES apud MARTN GAITE, 1996, p.120)

    No entanto, em outra passagem, nos deparamos com a verdadeira

    Merche, a qual, embora continue representando o papel da esposa e da me

    perfeita, evidencia em sua fala a realidade: a da insatisfao. Exausta e

    estressada em meio a tantas obrigaes, ela desabafa: Estoy aburrida de

    nios! No puedo ms! (DELIBES, 1999, p. 54).

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    A relao de Pablo e Merche, pais de Quico, extremamente porosa e,

    conseqentemente, o dilogo entre eles serve apenas para reiterar os seus

    indissolveis pontos de vista e como ponte para a constante agresso entre

    ambos, tornando visvel para o leitor que o conflito ntimo reflete um choque de

    mentalidades. Pablo, o pai, se mantm imvel em sua postura conservadora e

    autoritria, tpica de uma sociedade paternalista: precisa de algum que pense

    como ele e esteja sob seu comando. Mam se contrape como um

    personagem pacifista que tenta argumentar defensivamente para mostrar-lhe

    que no o dono da verdade.

    O autor cria a partir de Pablo e Merche os paradigmas de dois modos

    de ver a Espanha, duas ideologias: o conservador e o progressista, oconvencional e o liberal, los buenos e los malos, as duas Espanhas de

    Franco. Delibes aproveita a discusso familiar e, mais especificamente,

    matrimonial, como pretexto para discutir uma questo social e ideolgica: o

    confronto entre os dois segmentos que deram origem guerra civil espanhola.

    A obra passa a ser ento um romance de crtica social clara, onde a estrutura

    familiar e o sistema social espanhol dos anos 60 ficam expostos.

    Podemos afirmar que os ideais de Franco se atualizam em Pablo, opai, na crena obstinada em seus dogmas religiosos, morais e ideolgicos. O

    choque entre os personagens no se reduz ao mbito individual. Delibes

    transita do familiar para o coletivo; do pessoal ele atinge o social. A tirania do

    sistema se reflete no cidado e por extenso s relaes familiares: os filhos

    obedecem aos pais; a mulher, ao marido; e todos obedecem ao Caudillo,

    Franco. ele, o pai, quem tem o poder decisrio na casa, decide o que os

    filhos e a esposa fazem e tem a pretenso de decidir tambm o que devempensar. Da mesma forma como o generalsimo conduz o pensamento e as

    aes do povo espanhol, Pablo quer control-los em sua ditadura familiar:

    Ideas? [...]; sus ideas sern las mas, creo yo. (ibid., p. 68)

    O pai a figura do poder, do patriarca, e tal qual um ditador mantm-se

    distante de todos, transformando-se em um ser autoritrio para a esposa e

    para o filho mais velho, devido a sua incapacidade de considerar a opinio de

    ambos, e em um mito para os filhos mais novos, pois, por no terem uma

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    percepo mais ampla da realidade, vem-no como um homem muito corajoso,

    que lutou na guerra do lado dos bons e matou os maus para defender o pas.

    Assim como Franco se ergueu e tomou o poder em meio ao clima de

    instabilidade que reinava no pas, Pablo, ao sentir-se afrontado na discusso

    familiar, lana mo da represso, tentando impedir que os demais se

    expressem. No entanto, isso s serve para demonstrar a fragilidade do seu

    poder e o medo de ter questionada a sua viso de mundo. O exerccio de sua

    autoridade se sustenta, neste caso, pela violncia explcita os pratos que

    voam e os palavres com os quais defende suas idias e, principalmente,

    atravs do seu discurso tido como nico e absoluto, impondo constantemente o

    silncio aos demais.A atitude apaziguadora de Merche revela ao leitor o seu desejo de

    esquecer as intrigas do passado e de apagar as diferenas que levaram o povo

    ao confronto. So suas as ideias que ela apresenta como sendo do filho: se

    me ocurre que a lo mejor Pablo piensa que es ms hermoso no prolongar por

    ms tiempo el estado de guerra. (ibid., p. 70). Entretanto, sob outro ponto de

    vista, sua postura pode tambm suscitar alguma dvida quanto sua posio

    ideolgica, podendo ser considerada como tpica do vencedor.J se disse que o desejo de paz no deve ignorar o passado, j que as

    relaes de hoje trazem os resqucios daquele perodo, ou seja, o passado

    deve ser visto como uma lio para se refletir e no para ser reproduzido.

    Aceitar o passado sem question-lo permitir a sua pemanncia no presente

    como um fantasma. A ausncia de dilogo entre as partes em

    desentendimento impede a transformao do passado em um aprendizado. O

    que falta, portanto, estabelecer com este passado uma relao positiva,resolver as pendncias para que no se corra o risco de v-lo repetir-se

    diariamente no prprio seio familiar.

    O plano ideolgico tanto ficcional como histrico do perodo em

    questo no visualiza a perspectiva de uma ao que leve mudana. A

    famlia/povo parece aceitar o discurso imposto pela figura onipotente do pai-

    marido/ditador que os envolve em um ambiente repressor e autoritrio. Carmen

    Martn Gaite corrobora esta afirmao ao dizer que, nos anos 50, conforme iam

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    desaparecendo as marcas externas da guerra, notava-se tambm uma

    mudana na mentalidade dos adolescentes, aquellos para quienes la mencin

    a la guerra civil empezaba ya a ser una aburrida monserga. (MARTN GAITE,

    1996,p. 14)

    Consideramos, no entanto, que a atitude de Merche, aparentemente

    conformada, visa fundamentalmente paz familiar e corresponde s

    circunstncias scio-culturais em que est inserida. Por mais que discorde do

    marido, h um muro social que os separa e que no lhe permite a contestao.

    Se de certa forma ela se comporta com alguma apatia, isto se deve ordem

    estabelecida e conscincia de sua impotncia para solucionar a crise que

    provm da ditadura da palavra de Pablo.O que se repete h sculos pode no ser bom ou correto, porm os

    adultos parecem estar mais confusos e perdidos que os prprios jovens e

    preferem tampar os ouvidos ou eliminar o outro ao invs de refletir. Em El

    prncipe destronado, a insegurana de Merche a respeito do presente e do

    futuro tamanha que o prprio filho indaga: T no ests segura de nada,

    verdad mam? (DELIBES, 1999, p. 157). No ltimo captulo, mais

    especificamente nas ltimas linhas, este questionamento afirmado na voz daprpria personagem:

    Lo malo es luego [...], el da que falta Mam o se dancuenta de que Mam siente los mismos temores quesienten ellos. Y lo peor es que eso ya no tiene remedio.(ibid., p. 169)

    Essa instabilidade abrange o aspecto poltico, mas domina sobretudo a

    relao matrimonial. A opo por evitar o confronto definitivo com o marido se

    deve tambm presso social que a mulher sofria no plano pessoal. Consta

    em documentos da poca que a censura oficial no permitia reclamaes

    conjugais e cabia mulher

    guardar las apariencias para no dar al traste con laestabilidad de las instituciones intocables. Si el maridoengaaba a la mujer, con tal de que lo hiciera sindemasiado escndalo y de tapadillo, lo mejor era hacercomo si nada, que no se enterara nadie, para que loshijos pudieran seguir viendo a sus padres aliados a loesencial, en la tarea de sacarlos adelante a ellos, de

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    ensearles a amar la Espaa nueva, de prohibirles cosas.El padre junto a la madre como un bloque indestructibleante el cual se estrellaba cualquier actitud que no fuera ladel respeto. (MARTN GAITE, 1996, p. 21)

    No se pode negar, entretanto, que ao longo do romance, Mam vai

    crescendo como personagem e como sujeito, e desponta como a possibilidade

    de equilbrio nesse universo familiar, recusando-se a assimilar o radicalismo do

    marido e tentando evitar que o filho tambm se submeta ao seu discurso

    absolutista. Ela pensa e no mais repete os conceitos que lhe foram impostos.

    O avental florido que at ento s colocava ordem na casa comea a britar a

    inrcia da sua vida. Ao defender as suas opinies e tomar atitudes, ela exclui apossibilidade de anulao, salva-se da frustrao e deixa entrever uma

    mudana de mam mulher Merche.

    Bibliografia

    ALONSO DE LOS ROS, Csar. Conversaciones con Miguel Delibes.

    Novelas y cuentos. Madrid: E.M.E.S.A., 1971.

    DELIBES, Miguel. El prncipe destronado. 25. ed. Barcelona: Destino, 1999.

    CNDIDO, Antonio. Literatura e sociedade. 7. ed. So Paulo: Companhia

    Editora Nacional, 1985.

    CHAVES, Flvio Loureiro. Histria e literatura. Porto Alegre: Editora da

    Universidade (UFRGS), 1991.

    ESCABIAS, Juana. Sumisas e ignorantes. Qu difcil ser mujer! In: Tiempo

    de hoy.n 832. Espaa: abril, 1998. p. 42-43.

    MARTN GAITE, Carmen. Usos amorosos de la postguerra espaola. 3. ed.

    Barcelona: Anagrama, 1996.

    Miguel Delibes. El escritor, la obra y el lector. Actas del V Congreso de

    Literatura Espaola Contempornea.Universidad de Mlaga, 1991. Barcelona:

    Anthropos, 1992.

    VZQUEZ MONTALBN, Manuel. Crnica sentimental de Espaa.

    Barcelona: Grijalbo, 1998.