DIA DEL PADRE. Eres un padre MACHISTA o un padre IGUALITARIO?
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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Salto - SP – 17 a 19/06/2016
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A mulher e a mídia na Amazônia: uma análise de enquadramento do gênero feminino
nos jornais impressos de Parintins1
Yasmin Ribeiro Gatto CARDOSO
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Rafael Bellan Rodrigues de SOUZA3
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho – Unesp, campus Bauru, SP
RESUMO
Este artigo é resultado de uma pesquisa monográfica do curso de graduação em
Comunicação Social – Jornalismo que teve como objetivo principal analisar e caracterizar
como a mulher é retratada na mídia da cidade de Parintins (AM)4 a partir do enquadramento
feito pelos jornais impressos. A análise foi feita nas notícias dos dois principais jornais da
cidade, o Jornal Novo Horizonte e Repórter Parintins.
PALAVRAS-CHAVE: Enquadramento jornalístico; Gênero Feminino; Jornais impressos;
Jornalismo local;
Introdução
Muito se ouve falar sobre a luta que as mulheres têm travado ao longo dos tempos
para conquistar seu espaço dentro da sociedade. Desde o surgimento do feminismo na
virada do século XVIII para o século XIX (MIGUEL, 2014) existe uma intensa reflexão e
um combate sobre o vínculo existente da submissão da mulher na esfera doméstica à sua
exclusão da esfera pública.
O discurso jornalístico tem apresentado as lutas feministas como algo “superado”
uma vez que as mulheres obtiveram algumas conquistas importantes como o acesso à
1 Trabalho apresentado no DT 1 – Jornalismo do XXI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste
realizado de 17 a 19 de junho de 2016.
2 Mestranda do Curso de Comunicação Midiática da FAAC – Unesp (Bauru), email: [email protected].
3 Orientador do trabalho. Pós-doutorando na ECA – USP. Professor doutor do curso de Comunicação Social/Jornalismo da
UFAM, e-mail: [email protected];
4 Parintins: Município do interior do Estado do Amazonas com aproximadamente 100.000 habitantes, localizado a 420
quilômetros da capital do Estado (Manaus).
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educação, direitos políticos e, sobretudo, uma presença maior dentro do mercado de
trabalho (MIGUEL, 2014).
Mas é importante dizer que mesmo as mulheres tendo alcançado essas conquistas
importantes, elas ainda são submetidas a constrangimentos dos quais os homens não são
como, por exemplo, a masculinidade do homem nunca é posta em pauta para conseguir
determinado emprego. Por isso, os meios de comunicação exercem papel importante ao
noticiar sobre a mulher, pois podem contribuir para a quebra de certos pensamentos ou
colaborar para a perpetuação de discursos machistas.
A mulher também é vítima constante da violência social trazida em letras de música,
propagandas de cerveja, carro, que trazem a figura feminina como o atrativo para os
comerciais. Isso acontece no Brasil de maneira comum e no município de Parintins, cidade
que é palco do Festival Folclórico do Boi-Bumbá5, a figura feminina também é colocada em
evidência.
São as mulheres “mais bonitas” da cidade que entram na arena para competir entre
si durante os três dias de Festival. Cunhã poranga, porta estandarte, rainha do folclore e
sinhazinha representam a matriz indígena e europeia do município. Mas não é só durante o
Festival Folclórico que existe disputa entre as “meninas mais bonitas da Ilha”, no Carnaval,
na exposição agropecuária, nas festas estudantis, nas feiras, nas festas juninas, as mulheres
parintinenses estão disputando um troféu de beleza.
E é com base nos textos noticiados que falam sobre mulher, nas fotografias e na
maneira que foi feito o enquadramento das matérias, que se analisou a caraterização
feminina nos jornais impressos semanais da cidade de Parintins, respondendo a pergunta-
problema: qual o destaque que as mulheres estão tendo na mídia e de que forma esse recorte
representa a figura feminina?
O enquadramento, teoria jornalística utilizada, permitiu que se visse a forma que os
jornais tratam as mulheres, quais os destaques dados a elas e o que é excluído. Portanto,
este artigo é resultado final de uma pesquisa monográfica para a conclusão do curso de
graduação em Comunicação Social – Jornalismo e teve como objetivo principal analisar e
caracterizar como a mulher é retratada na mídia parintinense a partir do enquadramento
(recorte) feito pelos dois maiores jornais impressos da cidade – Jornal Novo Horizonte e
Jornal Repórter Parintins.
5 Evento que acontece no último final de semana do mês de Junho em Parintins desde o ano de 1965, com a
disputa entre o boi Garantido e o boi Caprichoso.
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A pesquisa foi feita com base em 19 conteúdos jornalísticos, entre eles notícias,
editoriais e imagens. Esses materiais jornalísticos foram retirados de edições
correspondentes aos meses de fevereiro a junho do ano de 2013 dos dois maiores jornais de
circulação e também os mais antigos de Parintins. Neste artigo, apresentamos somente 4
conteúdos dos 19 utilizados na monografia para exemplificar os resultados encontrados.
Objetivos e Metodologia
O objetivo geral da pesquisa foi analisar e caracterizar como a mulher é retratada na
mídia parintinense a partir do enquadramento e como objetivos secundários também se
pretendeu investigar se a mulher é caracterizada como um produto reificado (coisificação);
analisar a existência da mulher como um espetáculo/fetiche; avaliar se os jornais
parintinenses estão dando suporte para a manutenção do discurso machista da cidade e, por
fim, identificar qual a relação entre o gênero e a ideia hegemônica de mulher.
Os objetivos foram alcançados, podendo assim inferir que os dois maiores jornais
impressos da cidade de Parintins dão manutenção para a perpetuação do discurso
hegemônico de gênero e que a sociedade ainda tem uma visão patriarcal da mulher, onde
ela é sempre posta no papel de mãe, esposa e responsável pelas atividades domésticas.
Os jornais locais também colocam a mulher como um objeto, um produto a ser
vendido e de forma espetacular, evidenciando as características da “beleza feminina”. O
discurso ideológico de uma sociedade que preza pela “moral” e pelos “bons costumes” é
determinante para que os jornalistas continuem a reproduzir a ideia hegemônica de figura
feminina.
O método utilizado para se fazer as análises de modo geral foi o dialético por se
entender que a questão da opressão feminina não está separada do todo social, ou seja, os
objetos e os fenômenos estão relacionados de forma orgânica dependendo mutuamente um
do outro.
Deste modo, o método dialético parte do entendimento que nenhum objeto ou
fenômeno pode ser analisado sem levar em consideração o todo, pois se as análises são
feitas de forma separada fica parecendo que determinado objeto está fora do contexto, isto
é, fica parecendo um caso isolado e, para ser mais precisa, fica parecendo algo fora da
história. Portanto, se analisa o objeto (mulher) relacionado com a história e com a realidade
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social no qual ele se encontra inserido, levando em consideração a construção desse objeto
ao longo do tempo por meio da história.
Descrição do corpus
Jornal Repórter Parintins
O Jornal Repórter Parintins é um semanário que existe na cidade desde abril de
2010, o jornal nasceu com a finalidade de oferecer aos leitores do município uma prática
jornalística que busca ir além dos fatos do cotidiano. Vale dizer que mesmo com a
dificuldade da rotina da produção jornalística, o Repórter Parintins não deixou de circular
na cidade.
Segundo informações contidas dentro do histórico deste veículo de comunicação,o
mercado para o jornalismo impresso consiste em um novo modo de trabalho e o diferencial
do RP está na equipe de profissionais que o formam. Este semanário possui além do jornal
impresso, um site www.reporterparintins.com.brque também é uma ferramenta de
divulgação das notícias produzidas pela equipe.
No início do jornal, o site teve mais de dois milhões de acessos em menos de um
ano, com uma média diária de seis a onze mil visitas. “Foi preciso mergulhar no campo da
internet para oferecer produtos que atendam aos leitores e internautas, sem deixar de lado o
tradicionalismo do jornalismo impresso, que resiste ao tempo e ao espaço” (REPÓRTER
PARINTINS).
Jornal Novo Horizonte
O Jornal Novo Horizonte, é um semanário impresso do Sistema Alvorada de
Comunicação. Ele é o primeiro e mais antigo jornal da cidade, faz parte do grupo Alvorada
que possui jornal impresso, radiofônico e televisivo. Vale destacar que o veículo foi
fundado visando divulgar atividades da diocese de Parintins e de algumas outras cidades
vizinhas. Silva (2011) traz uma contribuição nesse sentido afirmando que o Sistema
(...) congrega três canais de rádio em Ondas Médias, Ondas
Tropicais e Frequência Modulada. Dispõe ainda da concessão de
dois canais de TV: Rede Vida, canal 4 e Canção Nova canal 9, das
quais é retransmissora e onde possui também um telejornal
chamado Jornal Alvorada, exibindo diariamente de segunda a sexta-
feira às 12h30min. E, aderindo às novas tecnologias, o sistema criou
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o website www.alvoradaparintins.com.br, inaugurado no dia 26 de
agosto de 2009 (SILVA, 2011, p.39).
A primeira edição do jornal foi lançada no ano de 1994 com um formato diferente
de hoje, somente no ano de 2006 é que ele foi adaptado ao modelo dos dias atuais.
Atualmente o NH, como também é conhecido, contêm 12 páginas, tendo somente a capa e a
contracapa coloridas, o restante das páginas é em preto e branco. Nas folhas estão
distribuídas as diversas editorias e os respectivos conteúdos jornalísticos e informações de
cunho cristão católico. Na editoria Educação e Saúde, o jornal doa um espaço, que é fixo
para acadêmicos da Ufam, UEA e especialistas da área da saúde. A Revista Rádio Alvorada
40 Anos (2007) diz que o jornal Novo Horizonte teve início para cumprir uma missão que é
informar, entreter e evangelizar como imprensa escrita.
Análise
Jornal Repórter Parintins – Edição 1
A edição 136 traz uma matéria intitulada: “Rayssa Muniz, nova estrela azul”, a
matéria trata sobre o novo item feminino do Boi-bumbá Caprichoso. Um dos trechos da
matéria traz o relato de Rayssa que diz “É um sonho porque desde criança toda
parintinense sonha em ser porta-estandarte. Sempre fui Caprichoso e será uma honra
representar a minha nação, destacou a nova porta-estandarte” (Edição 136, 2013, p. 8,
grifos nossos) A matéria também evidencia essa mesma fala por meio do recurso gráfico
“olho”. No olho da matéria está escrito “É um sonho realizado e será uma honra representar
minha nação”.
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Imagem 1- Jornal Repórter Parintins (Edição 136)
O Jornal reproduz a fala da brincante como algo universal, confirmando assim que
toda parintinense sonha em ser item sem levar em consideração opiniões opostas. Será
mesmo que toda parintinense tem por objetivo de vida ser item de boi?
Essa afirmação limita muito as vontades e os desejos da mulher que vive na cidade,
sem levar em conta que as meninas que ocupam esses cargos fazem parte da elite
econômica parintinense enquanto as mulheres de nível social mais baixo não conseguem
ocupar qualquer lugar de destaque no Boi. Então, há a reprodução de um discurso
ideológico dominante parintinense. Dantas (2008, p.95) afirma
(...) a ideologia chega assim a exercer plenamente os seus efeitos, na
medida em que já não é mais sequer percebida como ideologia;
enraizada na produção desejante dos indivíduos socialmente
determinados, nos processos produtivos e reprodutivos da sociedade
(...), a ideologia reúne as condições necessárias para dominar a
linguagem, o imaginário, o pensamento, a cultura e a comunicação
social em toda a sua extensão.
A ideologia tem que ir contra a sua própria existência, fazendo com que não seja
percebida entre a população como ideologia. Neste caso, tornou-se tão natural pensar que
todas as meninas de Parintins querem ser item que esta afirmação não é contestada nem
mesmo por aquelas que não têm a mínima condição de chegar até esse posto.
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Outra observação a se fazer é em relação ao enquadramento dado a essa notícia, o
repórter evidencia a vontade de Rayssa em ser item desde criança e ressalta a realização de
um sonho. Ao longo da matéria ele problematiza o fato da escolha ter sido feita de forma
rápida, mas exclui explicações mais detalhadas que ficaram conhecidas apenas nos
bastidores do boi-bumbá Caprichoso. Isto é, a matéria ao evidenciar apenas alguns aspectos
dentro desse critério de seleção da nova item faz com que os leitores entendam e acreditem
que todo o processo é um verdadeiro conto de fadas onde tudo é maravilhoso e onde sonhos
são realizados.
O enquadramento permite que o jornalista selecione somente os fatos que ele quer
destacar, mas também permite a ele ocultar diversas informações. E o modo como o texto é
montado também diz muito sobre os destaques que o repórter quer dar ao assunto. Por
exemplo, a frase escolhida para o “olho” da matéria evidencia a felicidade de Rayssa e o
quanto a jovem, assim como todas as parintinenses, esperava por ocupar o cargo de porta-
estandarte desde criança.
Jornal Repórter Parintins – Edição 2
Na edição do dia 21 de abril o jornal Repórter Parintins apresenta um editorial
intitulado: “Prática de aborto ilegal deve ser repudiada”. O editorial trata sobre um aborto
que foi realizado no ano de 2010 por duas técnicas de enfermagem, umas das mulheres era
mãe da jovem que fez o aborto. Segundo o relato da jovem o aborto foi forçado pela mãe
dela. Mas o que está em questão nessa análise não é o fato em si, mas o modo como o
jornalista publicou o acontecimento. Vale destacar umas partes do texto para que a análise
se torne mais clara.
O fato que ficou para a história de Parintins aconteceu com a
condenação das técnicas de enfermagem (...) por prática de aborto
ilegal. A decisão da justiça mostra para a sociedade que tal prática é
condenável, antiético e vai de encontro com a cultura de nossa
sociedade, cuja maioria é Cristã. Afinal tirar a vida de um feto,
mesmo em fase embrionária, da maneira como foi realizado por tais
profissionais, é inadmissível e deve ser repudiada pela sociedade
que lutam pela moral e pelos bons costumes. A legislação
brasileira só permite a prática de aborto em caso de incesto,
estupro e anomalia (...). Desta maneira, a sociedade como um todo
precisa se conscientizar que a vida começa a partir da fecundação
do óvulo com o sêmen, logo já é um ser vivo dotado de sistema
nervoso, capaz de sentir as mesmas sensações que nós sentimos (...). Tanto o homem quanto a mulher devem assumir a
responsabilidade quanto o planejamento familiar, a fim de
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impedir o aborto ilícito, além da monstruosidade que se pratica (...) (Edição 146, 2013, p.2, grifos nossos).
Vários pontos são passíveis de análise nesse texto, o autor do texto coloca que esta é
uma sociedade que luta pela moral e pelos bons costumes, mas a pergunta é: que moral e
que bons costumes são esses? Quem dita as regras do que se pode ou não fazer? Mais uma
vez se pode perceber de forma clara a ideologia capitalista sendo reproduzida por este
veículo de informação.
Além dessa imposição do aborto enquanto prática criminosa, ilegal e, sobretudo,
imoral, o jornalista comete uma série de erros ao afirmar sobre a fecundação. Outro fato é a
questão do planejamento familiar que no município de Parintins não funciona, pois o
sistema de saúde é precário, a distribuição intensa de camisinhas só acontece nos períodos
festivos, nem todas as mulheres tem acesso ao anticoncepcional, ou seja, uma série de
situações que não são expostas pelo autor do editorial. Não se defende aqui a isenção de
responsabilidade dos pais de um bebê, mas é muito fácil condenar a prática do aborto
quando não se conhece a realidade em que se encontra a mãe do bebê que na maioria das
vezes é sempre colocada como uma criminosa.
Jornal Novo Horizonte – Edição 1
Na edição de número 982 o Jornal Novo Horizonte traz uma matéria intitulada
“Ufam e Seas realizam capacitação de combate à violência contra a mulher”. A notícia trata
basicamente sobre o evento, programação e palestrantes. Vale dizer que o espaço destinado
à essa notícia é pequeno. A jornalista ao retratar o evento destaca uma parte importante
sobre a realidade deste tipo de violência em Parintins. Acompanhe um trecho:
Todos os dias a delegacia especializada em Parintins registra casos
de agressão contra o sexo feminino, a maioria cometida por
parceiros ou ex companheiros que não aceitam o fim do
relacionamento. Por diversas motivações e implicações, em muitos
casos a mulher desiste de dar prosseguimento à denúncia o que
motiva a repetição dessas agressões contra a mulher. Porém o
esclarecimento tem sido importante para que cada vez mais
mulheres façam a denúncia na delegacia e os agressores sejam
punidos (Edição 982, 2013, p.9).
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O enquadramento dado a essa matéria problematiza, mesmo que de maneira sucinta
os casos de violência existentes em Parintins. Ao afirmar que a maior parte dos casos de
violência parte de ex-companheiros por não aceitarem o fim do relacionamento reforça a
ideia da noção de propriedade do homem sobre a mulher. O recorte do acontecimento que a
autora escolhe para o leitor entender o que acontece diariamente em Parintins tende a fazê-
lo refletir sobre a violência contra mulher. A jornalista também não coloca a mulher
somente como uma vítima, mas como um ser ativo que a partir do momento que tem
esclarecimento sobre a realidade ela começa a denunciar os agressores, fazendo assim com
que eles sejam penalizados.
Jornal Novo Horizonte - Edição 2
O material jornalístico analisado é referente ao Dia das Mães. O NH não trouxe
nenhuma matéria sobre a data comemorativa, apenas publicou uma nota que diz:
Oi Mãe! Quero hoje dedicar um especial para todas as mães que
fizeram e ainda fazem o papel de principal “esteio” da família,
em uma sociedade em que cada vez menos se dar valor a união
conjugal e o matrimonio, sempre cabe a elas o desafio de dar
carinho, amor e suor em dobro na falta de um pai. Quero
também expressar minha alegria em observar na cidade o papel do
“pai-mãe”, são homens que não tem emprego e que se dedicam
a criação das crianças, enquanto a mamãe está trabalhando, ou
ainda adolescente que assumiu a grande responsabilidade de criar
um filho, e não tiveram apoio da namorada que se tornou mãe, pois
isso também existe em Parintins (...) (Edição 983, 2013, p.2, grifos
nossos).
Primeiramente, o jornalista coloca a mulher que é mãe como a responsável pelo
esteio de uma família mesmo em uma sociedade que não valoriza o casamento. Além de
colocar a figura feminina como o centro da família, na hora em que ele fala “suor em
dobro” ele reafirma que a mulher tem que trabalhar dentro e fora de casa quando falta um
pai o que não acontece quando ele fala do papel do “pai-mãe”.
Quando ele trata sobre esta função, ou seja, quando os papéis sociais se invertem ele
coloca o homem como desempregado que assume os serviços de casa enquanto a mulher
trabalha. Por que o homem não pode trabalhar e cuidar de uma criança? Será que essa dupla
função só cabe à mulher “multifuncional” tão difundida nos dias atuais como a verdadeira
mulher?
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Outro ponto que merece destaque é a visão de família que o jornalista tem e deste
modo transmite para os leitores. Para ele, a figura de mãe vem acompanha da figura do pai
e vice-versa. Mas deve-se levar em consideração que já existem diversos tipos de família
onde uma criança pode ser criada por dois homens, por duas mulheres sem necessariamente
precisar ter a figura materna ou paterna como esteio, e é justamente isso que o repórter
afirma ao longo desta nota.
E mais, o repórter ainda coloca a figura feminina como a base para a formação de
uma família. A estrutura familiar não deve se basear somente no papel de mãe (mulher).
Um casal de homossexuais masculinos que adota uma criança, por exemplo, não vai ter a
figura feminina para assumir o papel de mãe e isso não impede que a relação estabelecida
deixe de ser considerada uma família. O mesmo acontece com casais de mulheres que não
vai ter a figura de um homem presente para representar qualquer coisa, o que não diminui
em nada o núcleo familiar.
Deste modo, percebe-se que dentro de um pequeno texto, neste caso, uma nota, o
jornalista consegue transmitir ao leitor uma visão ainda deturpada sobre a função da mulher
na sociedade e sobre o que é família. A ideologia dominante está sendo reproduzida pelo
veículo de comunicação sem ao menos os leitores se darem conta disso. Isto é, a ideologia
cumpre seu papel e o jornalismo deixa de cumprir sua função social que é possibilitar aos
leitores certo conhecimento de mundo, possibilitando certa quebra dos discursos
hegemônicos e machistas.
Resultados da Pesquisa
Com base nos materiais jornalísticos, pode-se inferir que a mídia parintinense
reproduz o discurso hegemônico da sociedade, em que a mulher é posta como o sexo
inferior ao masculino, merecendo destaque em assuntos relacionados somente à beleza,
corpo e maternidade. A ideologia sobre a figura feminina continua sendo reproduzida, mas
os veículos locais têm suas particularidades ao noticiar. Sob a ótica desses veículos, a
mulher é caracterizada/ enquadrada da seguinte maneira:
1. Mulher como produto e espetáculo
Nos dois jornais é perceptível que a mulher parintinense é colocada como um
produto e também como espetáculo. Nas notícias referentes ao Boi-Bumbá, ao Carnaval e à
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disputa da Musa da Copa Alvorada os jornalistas procuram evidenciar aspectos
relacionados à beleza da mulher parintinense, são as mulheres mais belas da Ilha que
conseguem alcançar o posto de item de boi, de vencedora da disputa da copa ou de musa do
Carnaval. Dentro do município existe uma cultura muito forte nas festas de desfiles onde a
disputa é somente entre meninas.
A mulher como espetáculo também se faz presentes nos jornais, o discurso local traz
sempre a mulher sensual, vestida com roupas alusivas às disputas, esbanjando charme para
o público, seja ele o público leitor ou o público que participa de qualquer festividade local.
A mídia transforma as notícias em espetáculo, transformando também o objeto noticiado
em espetáculo. Neste caso, a mulher, que vem sendo colocada como um produto/espetáculo
com o objetivo de vender mais jornal ou de atrair maior público como colocado pelos
próprios jornalistas parintinenses.
2. Mulher mãe, doméstica e esposa
Outra categoria comum à figura feminina de Parintins é a mulher mãe, doméstica e
esposa. Ao ser noticiada, a mulher ideal é colocada somente quando contempla essas três
funções. A mulher para se tornar realmente “mulher” aos olhos da ideologia parintinense
ela tem que ser mãe, ser casada e exercer funções do lar, que são atividades que cabem a ela
segundo o discurso dos próprios jornais.
Ainda há a questão da mãe solteira, colocada nos veículos como a grande culpada
pela reprodução das mazelas sociais, além de colocar a mulher enquanto mãe, ela ainda tem
que assumir a papel de esposa, pois em Parintins não se concebe ideia de família para além
da figura do pai, mãe e filhos. Esse pensamento nos leva a outro fator passível de reflexão,
os jornais parintinenses são preconceituosos. Não aceitam a ideia de família a não ser esse
citado acima. Também é comum nos textos noticiados a repulsa a tudo que vai de encontro
com a “moral e com os bons costumes da sociedade cristã parintinense”, reproduzindo o
mesmo discurso da sociedade patriarcal onde a família segue um modelo.
3. “Nova Mulher” multifuncional
Outro discurso presente na mídia parintinense é da mulher que assume dupla jornada
laboral, exercendo trabalho doméstico e fora de casa, mas que ainda assim não perde os
requisitos básicos que são: paciência, intuição, sensibilidade, ouvir, ter capacidade de cuidar
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de pessoas, etc. Deste modo, a mulher ideal é aquela explorada que além de trabalhar para
garantir o sustento dos filhos sempre junto ao pai, também tem que dar conta das atividades
domésticas, pois é somente deste modo que ela vai consegui ser verdadeiramente uma
mulher completa. Outra vez os discursos jornalísticos dão suporte para a reprodução da
ideologia capitalista beneficiando o sistema, pois quando a mulher trabalha dentro e fora de
casa o Estado fica isento de cumprir algumas de suas funções.
4. Mulher que sofre violência doméstica
Outro assunto que merece destaque nos jornais de Parintins é sobre a violência
contra a mulher, nas matérias as jornalistas conseguem trazer informações importantes e
esclarecem para o público sobre esta violência, mais especificamente sobre a Lei Maria Da
Penha. São os únicos materiais jornalísticos analisados que não inferiorizam a mulher, nem
a colocaram como um modelo ideal o que rompe um pouco com o discurso hegemônico
sobre a figura feminina.
Mas vale dizer também que os casos de violência doméstica em Parintins são muito
altos, quase 300 casos por mês segundo a pesquisa realizada pela Ufam6 no ano passado. E
durante a investigação só se teve três materiais relacionados a esta temática, sendo que os
jornais em análise contemplaram os meses de fevereiro a maio, ou seja, em quatro meses de
publicações semanais os informativos impressos pouco noticiaram e quando fizeram a
divulgação o espaço cedido foi curto e com pouco destaque.
Considerações Finais
Sabe-se que as notícias não são espelhos da realidade, elas vão sempre refratar o
acontecimento, ou seja, ao construir uma notícia o jornalista coloca toda subjetividade dele
no texto. As experiências de mundo, as crenças, o modo de o repórter observar as relações
sociais também vão estar postas naquele acontecimento, sempre relacionando o momento
presente do fato com toda a estrutura social em que está posta. Isto é, ao construir uma
notícia o jornalista vai levar em consideração toda carga ideológica apreendida por ele, seja
na escola, na igreja, na própria mídia e ao longo da vida.
6 Esta pesquisa realizada no ano de 2013 pelo programa “As Amazonas em Foco” da UFAM constatou que
existem mais de 300 casos por mês registrados na Delegacia Especializada de Polícia Civil no município.
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Por fim, a questão da mulher está relacionada com o todo social. Primeiramente para
se analisar questões referentes à figura feminina deve-se enxergar a origem da opressão e
perceber que os discursos difundidos pela mídia ou por qualquer outro aparelho privado de
hegemonia está fundamentado em questões ideológicas muito bem articuladas que visam
reproduzir a ordem do capital de forma incessante.
Por isso não se pode pensar que a verdadeira liberdade da mulher vai ser alcançada
quando elas atingirem o mesmo patamar profissional dos homens porque eles também são
explorados na ordem econômica vigente. A questão não se encerra a nível econômico,
porque as mulheres independentes economicamente também sofrem alguns impactos
simplesmente por serem mulheres.
Nem se pode pensar que é por meio da “igualdade” estabelecida entre homens e
mulheres que elas vão deixar de ser oprimidas, pois esse discurso de “igualdade” já existe e
tampouco modifica a vida delas.
A sociedade capitalista prega esse discurso de igualdade para fazer com que os
indivíduos continuem a acreditar que é possível alcançá-la no modo de produção em que se
vive. Mas, na realidade, enquanto houver o sistema do capital gerando desigualdade,
desagregando e desunindo, esse discurso de igualdade entre homens e mulheres vai
continuar no campo da abstração, pois não existe igualdade em um mundo desigual e divido
em classes.
Portanto, a questão da liberdade da mulher não pode ser pensada de forma isolada
do todo social, as lutas devem partir visando à liberdade humana por meio do rompimento
com o sistema que, enquanto metabolismo social, gera e potencializa as opressões.
REFERÊNCIAS
CARVALHO, Carlos Alberto. Sobre limites e possibilidades do conceito de
enquadramento jornalístico. Contemporânea, vol7, nº2. Dez, 2009.
DANTAS, Rodrigo. Ideologia, Hegemonia e Contra Hegemonia_ In: Comunicação e
contra-hegemonia: processos culturais e comunicacionais de contestação, pressão e
resistência – Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2008.
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MIGUEL, Luis Felipe. Feminismo e política: uma introdução/ Luis Felipe Miguel, Flavia
Biroli – 1ed. São Paulo: Boitempo, 2014.
SILVA, Maria Tereza Almeida. Narrativa Jornalística: uma análise do caso João Pontes
no jornal Novo Horizonte. Parintins, 2011.
SITE REPÓRTER PARINTINS. Disponível em: http://reporterparintins.com.br/?q=276-
lista-7564-Equipe