A NARRATIVA WEBJORNALÍSTICA -...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA | FACULDADE DE COMUNICAO
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM COMUNICAO
E CULTURA CONTEMPORNEAS
A NARRATIVA WEBJORNALSTICA
UM ESTUDO SOBRE MODELOS DE COMPOSIO NO CIBERESPAO
BEATRIZ RIBAS
PROF. DR. ELIAS MACHADO
ORIENTADOR DA DISSERTAO DE MESTRADO
SALVADOR | BAHIA | DEZEMBRO 2005
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B E A T R I Z R I B A S
A NARRATIVA WEBJORNALSTICA
UM ESTUDO SOBRE MODELOS DE COMPOSIO NO CIBERESPAO
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-graduao em
Comunicao e Cultura Contemporneas, da Faculdade de Comunicao, da
Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para a
obteno do grau de Mestre.
Orientador: Prof. Dr. Elias Machado
SALVADOR | BAHIA | DEZEMBRO 2005
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RIBAS, BEATRIZ M.
A Narrativa Webjornalstica: Um estudo sobre modelos de composio no ciberespao /
Beatriz Muniz Ribas Salvador: B M Ribas, 2005
205f.
Orientador: Prof. Dr. Elias Machado Gonalves
Dissertao (Mestrado) - Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Comunicao,
Comunicao e Cultura Contemporneas, rea de Concentrao em Cibercultura, 2005
1. Internet 2. Webjornalismo
3. Linguagem 4. Ciberespao
I. UFBA FACOM II. Ttulo (srie)
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T E R M O D E A P R O V A O
B E A T R I Z R I B A S
A NARRATIVA WEBJORNALSTICA
UM ESTUDO SOBRE MODELOS DE COMPOSIO NO CIBERESPAO
Dissertao aprovada como requisito parcial para a obteno do grau de mestre em
Comunicao e Cultura Contemporneas, rea de concentrao em Cibercultura.
Universidade Federal da Bahia UFBA, pela seguinte banca examinadora:
Doutor Elias Machado Gonalves orientador ____________________________
Universidade Federal da Bahia UFBA
Doutor Javier Daz Noci examinador externo ___________________________
Universidad del Pas Vasco
Doutor Marcos Silva Palacios examinador interno ________________________
Universidade Federal da Bahia UFBA
Salvador, 13 de dezembro de 2005
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Dedico este trabalho aos meus pais, Pedro e Denise,
o princpio de tudo, a maior das referncias,
o que me conduz e me faz persistir
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Aos meus pais, Pedro e Denise, pela minha vida inteira, por estarem sempre ao meu
lado, pela segurana, apoio, incentivo, torcida. Por agentarem as minhas crises, pelo
conforto nos momentos difceis, pelo amor incondicional. Pai, obrigada pelas aulas de
matemtica, como aquelas que me dava quando eu era criana para que eu passasse nas
provas do colgio. Me, obrigada por sempre perguntar se tudo vai bem, por ser minha
companheira de todas as horas, minha aliada, minha melhor amiga.
Ao meu irmo, Gustavo, por torcer pelo meu sucesso, por me dar conselhos e se
preocupar comigo, por parecer meu irmo mais velho, pelas brincadeiras quando ramos
crianas e pelo que se tornou: um grande amigo no qual posso confiar os meus segredos,
minhas angustias e compartilhar minhas alegrias.
Ao meu orientador, Elias Machado, por acreditar no meu trabalho, por me
proporcionar oportunidades, por incentivar o meu crescimento, por confiar e investir em
mim. Por sua competncia e integridade moral, por me ensinar que pesquisa se constri
com muito trabalho e dedicao, porque atencioso, generoso, responsvel, interessado,
firme, um grande educador.
A Marcos Palacios, pela ateno que me deu durante o curso de mestrado, por ter
me ensinado a lidar com os alunos durante o tirocnio docente, por ter me deixado
participar de todas as etapas do processo, por se interessar pelas minhas idias. Porque
gentil, delicado, engraado e est sempre disposto a ajudar.
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A Luciana Mielniczuk e Suzana Barbosa, pelo privilgio de t-las como amigas,
pelos conselhos e ensinamentos, pelos exemplos de como se deve agir, porque quando
estavam longe, estavam perto como sempre, porque me compreendem, se parecem comigo,
tm sempre palavras de incentivo, me ajudam a perseverar, so fiis, grandes profissionais,
amigas para a vida inteira.
A Tattiana Teixeira, por confiar no meu trabalho, pelos conselhos, palavras
carinhosas, pela ateno, pelas risadas noturnas que arrancou, via MSN, do meio da nuvem
de preocupao que sobrevoava minha cabea.
A Leila Nogueira e Carla Schwingel, por me ouvirem e por compartilharem comigo
suas experincias, me fazendo sentir mais normal diante da loucura da concluso da
dissertao.
Aos colegas do GJOL, pelas enriquecedoras discusses, pela competncia e
instigante produo que guiou o meu trabalho.
Aos queridos e para sempre amigos do peito Jamil Marques, Alice Vargas,
Margarete Souza, Maria Carla Palma, Miguel Pedro, Luciano Gusmo, Sheila Pestana, Gal.
Aos colegas do curso de mestrado.
Ao PSCOM, aos professores do programa, a Faculdade de Comunicao, a
Universidade Federal da Bahia, ao CNPq.
Ao professor Javier Daz Noci, por ter aceitado participar da avaliao deste
trabalho.
A todas as pessoas que torceram por mim, me incentivaram, me agentaram, e que
estiveram, de alguma maneira, envolvidas com os anos em que estive mestranda.
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We return to the inclusive form of the icon
Marshall McLuhan (1964)
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Nesta dissertao de mestrado tratamos da construo da narrativa webjornalstica,
observando em especial as caractersticas da notcia, da reportagem, da entrevista, com
destaque para a infografia. Nestas estruturas narrativas potencialmente multimiditicas e
multilineares podem ser agregados diferentes formatos na constituio de unidades
informativas interativas. Nosso objetivo consiste na anlise das especificidades da
composio dos gneros jornalsticos que mais se destacam na web, visando a empreender
um estudo sobre a narrativa no webjornalismo. Para compreender o desenvolvimento da
narrativa na web enquanto estrutura composta que mantm a coerncia na narrao dos
fatos sem se limitar apenas ao texto na representao dos acontecimentos, propomos uma
classificao de modelos narrativos webjornalsticos baseada nos conceitos da Geometria,
quais sejam, Plano, Poligonal, Polidrico e Esfrico.
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The present work concerns journalistic narrative on the web, with special reference
to the news, the report and the interview, but giving prominence to infographics as a genre.
Within these narrative structures with great potential to be multimedia and multilinear,
different formats can be added in the construction of interactive informative units. The aim
of this work is the analysis of the features of the most important journalistic genres on the
web, with the aim of studying the webjournalistic narrative. To understand the development
of narrative on the web as a complex structure that supports the storytelling coherence
beyond the limit of text, we propose a webjournalistic narrative model based on geometric
concepts: Flat, Polygonal, Polyhedral and Spherical.
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Tabela-resumo 1 As fases da pesquisa ..... 19
Tabela-resumo 2 Corpus da pesquisa ........... 20
Tabela-resumo 3 Nmero de produtos analisados em cada um dos sete
webjornais ............................................................. 21
Tabela-resumo 4 Tipos de narrativa na web 46
Tabela-resumo 5 Caractersticas das geraes do webjornalismo ....................... 48
Tabela-resumo 6 Estruturas narrativas bsicas do webjornalismo audiovisual ... 52
Tabela-resumo 7 Caractersticas e elementos dos Modelos Narrativos ............... 80
Tabela-resumo 8 Tipos de reportagem na Web .................................................... 89
Tabela-resumo 9 Correspondncia entre as classificaes ................................... 93
Tabela-resumo 10 Tipos de infografia na Web .................................................... 101
Tabela-resumo 11 Tipos de notcia na Web ......................................................... 116
Tabela-resumo 12 A evoluo da forma da notcia na web ................................. 116
Tabela-resumo 13 Tipos de entrevista na Web .................................................... 122
Tabela-resumo 14 A opinio jornalstica na Web ................................................ 125
Tabela-resumo 15 Tipos de infografia multimdia ............................................... 134
Tabela-resumo 16 Estados de infografia multimdia ........................................... 135
Tabela-resumo 17 Categorias de infografia multimdia ....................................... 135
Tabela-resumo 18 Tipos de infografia na Web .................................................... 141
Tabela-resumo 19 Evoluo de modelos de composio de gneros
jornalsticos na Web ................................................................. 149
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Figura 1 Relao de semelhana entre os elementos ............................................ 29
Figura 2 Estrutura axial unilinear .......................................................................... 42
Figura 3 Estrutura axial multilinear ...................................................................... 42
Figura 4 Estrutura arbrea ..................................................................................... 43
Figura 5 Estrutura paralela .................................................................................... 43
Figura 6 Estrutura reticular ................................................................................... 43
Figura 7 Combinao da autora baseada em Salaverra (2005) ............................ 46
Figura 8 Combinao da autora baseada em Salaverra (2005) ............................ 46
Figura 9 Edio do JB Online em 07.12.1996 ...................................................... 54
Figura 10 Edio do NetEstado em 09.12.1995 .................................................... 55
Figura 11 Pgina de notcias da edio do JB Online em 07.12.1996 .................. 57
Figura 12 Viso em perspectiva dos nveis de informao no Modelo Plano ...... 58
Figura 13 Edio do The New York Times on The Web em 12.11.1996 ... 59
Figura 14 Pgina de notcia da edio do NYTimes.com em 17.03.1996 ............. 60
Figura 15 Representaes de regies poligonais .................................................. 61
Figura 16 Edio de O Estado de S. Paulo em 10.10.1997 .................................. 62
Figura 17 Pgina da editoria Geral da edio de O Estado de S. Paulo em
10.10.1997 ............................................................................................. 63
Figura 18 Pgina de notcia da edio de O Estado de S. Paulo em 10.10.1997.. 64
Figura 19 Pginas das editorias Internacional e Economia de O Estado de
S. Paulo em 10.10.1997 ......................................................................... 65
Figura 20 Edio do MSNBC em 21.05.1997 ....................................................... 67
Figura 21 Os cinco poliedros regulares, acima, o nmero de faces ...................... 68
Figura 22 Os cinco modelos narrativos polidricos .............................................. 69
Figura 23 Edio do El Mundo na web em 07.12.2000 ........................................ 71
Figura 24 Grfico interativo do El Mundo na web em 07.12.2000 ...................... 72
Figura 25 Reportagem multimdia do MSNBC em 16.09.2001 ............................ 74
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Figura 26 Edio do BBC News, seo In Depth, em 19.08.2005 ........................ 78
Figura 27 Reportagem em profundidade do BBC News em 25.09.2005 .............. 91
Figura 28 Infografia sobre o momento do parto, El Mundo, 01.04.2003 ............. 99
Figura 29 O sistema faz perguntas ao usurio e mostra detalhes do parto de
acordo com suas caractersticas ............................................................. 99
Figura 30 Reportagem multimdia publicada em O Estado de S. Paulo em
24.05.2005 ................................................................................................................. 120
Figura 31 Infografia sobre o Euro da seo grficos interactivos do El Mundo,
em 30/08/2001............................................................................................................ 132
Figura 32 Complexo infogrfico sobre a boda real da seo Especiales do El
Mundo, em 2004 ....................................................................................................... 132
Figura 33 Estrutura de produo de infografia ..................................................... 138
Figura 34 Infografia transposta do impresso em O Estado de S. Paulo em
13.11.2005 ................................................................................................................. 141
Figura 35 Infografia transposta do impresso publicada no JB Online em
05.06.2005 ................................................................................................................. 142
Figura 36 Infografia animada seqencial publicada pelo El Mundo em
07.11.2001 ................................................................................................................. 143
Figura 37 Infografia multimdia integrada publicada pelo El Mundo em
19.03.2004 ................................................................................................................. 144
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Anexo 1 Infografia do El Mundo que permite um passeio virtual pela Catedral
de la Almudena, em Madri, publicada em maio de 2004 .......................................... 169
Anexo 1 David cumple 500 aos, El Mundo......................................................... 170
Anexo 1 El Nacimiento de Darth Vader, El Mundo... 171
Anexo 1 Grfico interativo do El Mundo publicado em 29.03.2004.................. 172
Anexo 2 Reportagem em profundidade BBC News em 27.09.2000 ...................... 173
Anexo 2 Reportagem em profundidade BBC News em 02.11.2005 ...................... 174
Anexo 2 Reportagem multimdia publicada pelo El Mundo em 2005 ................... 175
Anexo 2 Reportagem multimdia publicada pelo El Mundo em 2005 ................... 176
Anexo 2 Entrevista da seo Encuentros Digitales do El Mundo em 10.10.2005 177
Anexo 2 Blogs dos jornalistas Antnio Granado e Ricardo Noblat, em
02.11.2005 ................................................................................................................. 178
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Dedicatria ................................................................................................................ iv
Agradecimentos ......................................................................................................... v
Epgrafe ..................................................................................................................... vii
Resumo ...................................................................................................................... viii
Abstract ..................................................................................................................... ix
Lista de tabelas-resumo ............................................................................................. x
Lista de figuras .......................................................................................................... xi
Relao de anexos ..................................................................................................... xiii
Introduo ..................................................................................................... 1 1. O espao de composio de narrativas .................................................................. 3
2. Objetivos e hipteses ............................................................................................ 7
3. O problema ........................................................................................................... 9
4. Referencial terico ................................................................................................ 10
5. Delimitao do objeto ........................................................................................... 14
6. Metodologia .......................................................................................................... 16
7. Estrutura da dissertao ......................................................................................... 21
Captulo 1 - A evoluo das formas narrativas no webjornalismo .......... 25 1.1 A narrativa na web e suas estratgias para a produo de notcias ..................... 27
1.2 A reconfigurao da narrativa na web ................................................................ 28
1.3 As funes e os tipos ........................................................................................... 31
1.4 Os gneros webjornalsticos ................................................................................ 35
1.5 Os tipos de narrativa no webjornalismo .............................................................. 41
Captulo 2 - Estudo tipolgico dos modelos narrativos webjornalsticos 48 2.1 Modelo Plano ...................................................................................................... 53
2.2 Modelo Poligonal ................................................................................................ 61
2.3 Modelo Polidrico ............................................................................................... 68
2.31 Modelo Tetradrico ..................................................................................... 70
2.32 Modelo Hexadrico ..................................................................................... 72
2.33 Modelo Octadrico ...................................................................................... 76
2.34 Modelos dodecadrico e icosadrico .......................................................... 78
2.4 Modelo Esfrico .................................................................................................. 79
2.5 Caractersticas e elementos simples e complexos ............................................... 80
Captulo 3 Elementos para um estudo da narrativa webjornalstica ... 83 3.1 A arquitetura da narrativa multilinear, multimiditica e interativa ..................... 85
3.2 As estruturas narrativas da reportagem na web ................................................... 89
3.3 A organizao modular da informao webjornalstica ...................................... 94
3.4 Relaes entre os nveis de interatividade e a composio da narrativa ............. 96
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Captulo 4 A retrica da narrativa jornalstica na web ........................ 103 4.1 O contexto digital e os gneros dialgicos .......................................................... 104
4.2 As bases de dados e o espao retrico moderno ................................................. 110
4.3 A notcia .............................................................................................................. 115
4.4 A reportagem ...................................................................................................... 118 4.5 A entrevista ........................................................................................................ 121
4.6 A opinio e os blogs jornalsticos ....................................................................... 123
Captulo 5 Um caso especfico: a infografia multimdia ........................ 128 5.1 O gnero jornalstico infografia e sua redefinio na web ............................... 129 5.2 Estudo tipolgico da infografia multimdia ........................................................ 133 5.3 Variveis na produo de infografias .................................................................. 136
5.4 Classificao de infografias multimdia .............................................................. 139
Concluses ..................................................................................................... 146
Referncias bibliogrficas .......................................................................... 157
Anexos ........................................................................................................... 169 Anexo 1 ..................................................................................................................... 169
Anexo 2 ..................................................................................................................... 173
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A Web utilizada pela primeira vez para a publicao de notcias, em novembro de
1993 (CARLSON, 2003:49). O primeiro website jornalstico foi lanado pela Escola de
Jornalismo e Comunicao da Universidade da Flrida. Em janeiro de 1994, o Palo Alto
Weekly, na Califrnia, tornou-se o primeiro jornal a publicar notcias regularmente na Web
(CARLSON, 2003:50). At esta data, as notcias chegavam aos computadores por meio de
redes de dados como CompuServe e BBS, em iniciativas como as do pioneiro New York
Times, em meados dos anos 70; e do Columbus Dispatch, nos anos 80. No Brasil, em maio
de 1995, o Jornal do Brasil lana sua verso Web (MACHADO e PALACIOS, 1996;
MACHADO, 2000; MOHERDAUI, 2000).
Em 1996, os professores da Faculdade de Comunicao da Universidade Federal da
Bahia, Elias Machado e Marcos Palacios, publicam o Manual de Jornalismo na Internet1,
propondo uma definio de jornalismo digital como adaptao de uma modalidade
especfica de conhecimento da realidade a um novo suporte comunicacional, a tecnologia
digital de transmisso de informaes2.
Numa definio sumria o jornalismo digital envolve toda a produo
discursiva que recorte a realidade pelo vis da singularidade dos eventos e
que tenha como suporte de circulao a Internet, as demais redes
telemticas ou qualquer outro tipo de tecnologia que transmita sinais
numricos. A diferena do material jornalstico em relao aos demais
1 http://www.facom.ufba.br/jol/fontes_manuais.htm 2 Em 1994, Javier Daz Noci apresenta El nuevo peridico electrnico: redefinicin del mensaje tradicional
como producto interactivo y multimedia, por ocasio do evento IX Jornadas internacionales de ciencias de la
informacin, na Universidade de Navarra, em Pamplona.
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servios informativos, como o viva-voz, oferecidos aos usurios destas
redes, no advm do suporte, mas sim do tipo de tratamento dispensado aos
dados (MACHADO e PALACIOS, 1996).
O trabalho pioneiro no campo do jornalismo nas redes telemticas, entre as
pesquisas brasileiras, diferencia os conceitos de online e digital, optando pelo segundo para
designar a nova modalidade de jornalismo. O estudo introdutrio oferece um panorama do
jornalismo digital, no Brasil e no mundo, destaca modificaes genricas no campo da
comunicao e mais especficas, como a conjugao de trs elementos: a massividade, a
interatividade e a personalizao. Tratando de especificidades e particularidades de
publicaes brasileiras e internacionais, os pesquisadores descrevem modelos de jornalismo
personalizado, pesquisa, produo e disponibilizao de jornais digitais.
Assim como o jornalismo impresso est para a prtica em papel, o telejornalismo
est para o jornalismo praticado em televiso, o radiojornalismo est para a prtica em
rdio, o webjornalismo est para a modalidade Web de fazer jornalismo. Este conceito
discutido por Canavilhas (2001), Mielniczuk (2003), Porto Alegre (2004) e Nogueira
(2005) buscando um consenso que ainda inexiste no campo.
Termos como jornalismo eletrnico, jornalismo digital, ciberjornalismo, jornalismo
on-line e webjornalismo so encontrados em diversos autores que discutem o jornalismo
nas redes telemticas. Um exemplo recente Salaverra (2005:21), que opta pelo termo
ciberjornalismo e considera que este designa a especialidade de jornalismo que utiliza o
ciberespao para investigar, produzir e, sobretudo, difundir contedos jornalsticos.
Mielniczuk (2003) sistematiza estes conceitos em sua tese de doutorado,
contribuindo para uma melhor compreenso de suas definies. Jornalismo eletrnico
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aquele que utiliza de equipamentos e recursos eletrnicos; jornalismo digital ou multimdia
indica aquele que emprega tecnologia digital, que engloba todo e qualquer procedimento
que implique no tratamento de dados em forma de bits; ciberjornalismo aquele que
envolve tecnologias que utilizam o ciberespao; jornalismo online (em ingls) ou on-line
(em portugus) desenvolvido utilizando tecnologias de transmisso de dados em rede e
em tempo real; e por fim, webjornalismo diz respeito utilizao de uma parte especfica
da Internet, que a Web.
Nesta dissertao de mestrado, optamos pela utilizao do termo webjornalismo,
seguindo os mesmos caminhos percorridos por Canavilhas (2001), Mielniczuk (2003),
Porto Alegre (2004) e Nogueira (2005). Trataremos do jornalismo apurado, sistematizado,
produzido, composto e circulado na Web. Nosso interesse mais especfico volta-se para a
narrativa webjornalstica, observando modelos de composio no ciberespao.
1. O espao de composio de narrativas
No Ciberespao, traduzido pela Web, a comunicao pode acontecer em vrias
dimenses, a informao pode ser apresentada em diferentes formatos, o armazenamento e
a recuperao de dados podem ser potencializados e dinamizados, a autoria pode ser
ampliada. Este novo lugar para a informao jornalstica permite a tele-ao3, a
3 Teleaction (tele-ao) um conceito desenvolvido por Lev Manovich em The Language of New Media
(2001:161). uma representao cultural que muda o posicionamento do usurio no novo ambiente,
aumentando a complexidade do sistema. Para constituir-se como nova forma cultural, no basta a nova mdia
permitir ao usurio seguir os links passando por diferentes informaes, ou se comunicar em tempo real com
outros usurios atravs de um chat. O usurio precisa tele-agir, realizar uma ao fsica ao interagir com o
sistema. As tecnologias de representao devem ser utilizadas para possibilitar ao, que significa permitir ao
usurio manipular a realidade atravs das representaes.
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sincronicidade, intensifica a interatividade, o dilogo. Enquanto espao modular
(MANOVICH, 2001), constitui-se como suporte para modelos diferenciados de narrativa,
compostos, polifnicos, complexos.
A composio de narrativas na Web se d no mbito da interface. Sem a
compreenso de suas funes no podemos falar dos processos que envolvem a
apresentao da informao em um espao que demanda do usurio habilidades mais
complexas que a de leitor, espectador, ouvinte. O jornalismo deixa de ser apenas lido,
ouvido, visto, para ser acessado. No mbito da produo, mudam a linguagem, as
referncias, a organizao discursiva, as representaes. No mbito do acesso, mudam o
uso, a operao, os estmulos e as relaes.
De acordo com Scolari (2004), a interface um conceito guarda-chuva, adaptvel a
qualquer situao ou processo onde se verifique intercmbio ou transferncia de
informao. um conjunto de processos, regras e convenes que permitem a comunicao
entre o homem e as mquinas digitais. Se apresenta como uma espcie de gramtica da
interao entre homem e computador (Scolari, 2004). Hoje, a Web a interface padro do
ciberespao, e como tal intermedia o acesso dos usurios aos seus objetos, processos, aes
e relaes.
Citando Pierre Lvy (1993), Scolari (2001:69) considera que tudo o que traduo,
transformao, transferncia, pertence ordem da interface. Com as interfaces
alfanumricas a mquina suplantava seus limites expressivos contando verbalmente o que
estava fazendo. As interfaces grficas cobriram este nvel com um estrato visual formado
por janelas e cones onde se move um cursor.
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Vivemos em uma sociedade de monitores interativos, de superfcies que
operam como janelas abertas a mundos que nos convidam a entrar neles (...)
A interface pode tambm ser vista como uma superfcie de contato, de
traduo, de articulao entre dois espaos, entre duas espcies ou ordens
diferentes da realidade onde se produz o passo de um cdigo a outro, do
analgico ao digital, do mecnico ao humano (LVY, 1993:181).
Scolari (2004:104-105) indica a existncia de uma gramtica da interao, alm de
duas j existentes no suporte impresso: a textual e a grfica. As duas ltimas configuram a
mise en page, impondo a maneira de ler, modelando a compreenso, controlando a
interpretao. A gramtica da interao inclui botes e cones para a navegao
hipertextual, dispositivos para a personalizao da interface, mecanismos de feedback,
seqncias operativas e todas as aes que o usurio deve executar para obter um resultado
predeterminado, impondo no s a maneira de ler, mas sobretudo, o modo de fazer.
Segundo o autor, a confluncia dessas trs gramticas delimita o territrio dentro do qual o
usurio utilizar seus recursos perceptivos, semiticos e cognitivos. A partir de uma
gramtica da interao, o usurio reconhece, explora e decifra o ambiente no qual passa a
estar inserido, conseguindo se relacionar com os objetos de um novo ambiente de maneira
natural.
Uma nova esttica no supe necessariamente inovao, mas reconfigurao,
atravs da associao de linguagens j conhecidas. Em concordncia com Manovich
(2001:227), consideramos que diferentes composies para os mesmos elementos geram
narrativas diversas e novas experincias para o usurio, na medida em que
The database becomes the center of the creative process in the computer
age. Historically, the artist made a unique work within a particular medium.
Therefore the interface and the work were the same; in other words, the
level of an interface did not exist. With new media, the content of the work
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and the interface are separated. It is therefore possible to create different
interfaces to the same material. These interfaces may present different
versions of the same work. (...) This is one of the ways in which the
principle of variability of new media manifests itself But now we can give
this principle a new formulation. The new media object consists of one or
more interfaces to a database of multimedia material. If only one interface
is constructed, the result will be similar to a traditional art object, but this is
an exception rather than the norm (MANOVICH, 2001: 227)4.
No mbito do webjornalismo de terceira gerao5, Machado (2004a) introduz a
questo do uso de bancos de dados no processo de produo jornalstica enquanto aspecto
determinante de uma nova configurao de suas estruturas narrativas (MANOVICH, 2001;
MACHADO, 2004a, 2004b). Em seguida, Barbosa (2004a, 2004b, 2004c) postula que
podemos estar diante de uma quarta gerao do webjornalismo, considerando que as bases
de dados possuem potencial para iluminar o caminho no sentido de gerar uma nova
metfora para esta forma de jornalismo, para alm da conhecida metfora do impresso ou
broadsheet metaphor.
4 As bases de dados tornam-se o centro do processo criativo na era do computador. Historicamente, o artista
produzia um trabalho nico em um meio particular. Logo, a interface e a obra eram a mesma coisa; em outras
palavras, o nvel da interface no existia. Com a Nova Mdia, o contedo da obra e a interface so separados.
Isso torna possvel a criao de diferentes interfaces para um mesmo material. Essas interfaces podem
apresentar diferentes verses de um mesmo trabalho. (...) Essa uma das maneiras atravs da qual o princpio
da variabilidade da Nova Mdia se manifesta. Por hora, podemos dar a esse princpio uma nova formulao. O
objeto da Nova Mdia consiste em uma ou mais interfaces para um banco de dados de material multimdia. Se
apenas uma interface construda, o resultado ser similar a uma obra tradicional, mas isso uma exceo
mais que a norma [Todas as tradues realizadas nesta dissertao so de responsabilidade da autora e sero
referenciadas pela notao (T.A.) Traduo da Autora]. 5 A tese doutoral Jornalismo na Web: uma contribuio para o estudo do formato da notcia na escrita
hipertextual (MIELNICZUK, Luciana, 2003) prope que a trajetria dos produtos jornalsticos desenvolvidos
para a Web passa por trs momentos: produtos de primeira gerao ou fase de transposio; produtos de
segunda gerao ou fase de metfora; e produtos de terceira gerao ou fase do Webjornalismo. Na fase
transpositiva, a disponibilizao de informaes jornalsticas na Web fica restrita possibilidade de ocupar
um espao, sem explora-lo enquanto um meio que apresenta caractersticas especficas. Na fase metafrica, o
jornal impresso funciona como uma referncia para a elaborao das interfaces dos produtos e comeam a
ocorrer experincias na tentativa de explorar as caractersticas oferecidas pela rede. O Webjornalismo de
terceira gerao descrito pela autora como sites jornalsticos que extrapolam a idia de uma verso para
Web de um jornal impresso j existente.
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(...) A adoo de sistemas de bases de dados proporciona maneiras
diferenciadas para o tratamento da informao jornalstica, seja do ponto de
vista da coleta/apurao, da organizao/construo das narrativas, da
publicao dos contedos, como tambm quanto ao armazenamento e
recuperao das informaes (BARBOSA, 2004a).
Ao longo desta dissertao, utilizamos dois conceitos diferentes, porm comumente
aplicados como sinnimos: banco de dados e base de dados. Raymond Colle (2002:29)
faz uma distino enriquecedora entre os dois conceitos, que nos cabe esclarecer neste
momento inicial: 1) banco de dados o conjunto de informaes, o contedo armazenado
em uma base de dados; 2) e base de dados a estrutura lgico-matemtica que permite o
armazenamento e a estruturao dos conjuntos, de modo que os dados so independentes e
podem ser modificados, representados ou consultados de diversas maneiras.
Em associao aos elementos constituintes do meio, a narrativa na Web assume
duas funes, e o ato de narrar torna-se dependente delas: 1) organizar e tornar facilmente
acessveis os dados na tela, tornando-se desta maneira a mediadora entre computador,
usurio e produtor (JOHNSON, 2001; SCOLARI, 2004), e 2) criar ambientes diferenciados
para as relaes entre os dados, permitindo experincias distintas e possibilitando a
identificao de diferentes tipos de produtos e de estratgias comunicacionais.
2. Objetivos e hipteses
2.1 Objetivo Principal
Identificar elementos e caractersticas da narrativa webjornalstica que permitam discutir
particularidades de uma retrica adaptada ao ciberespao.
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2.2 Objetivos Derivados
a) Contribuir com elementos para compreender a narrativa webjornalstica;
b) Observar a evoluo da construo da narrativa webjornalstica nos diferentes momentos
de desenvolvimento do jornalismo na Web, descrevendo particularidades de modelos
narrativos;
c) Observar o desenvolvimento dos gneros jornalsticos na Web, quais sejam, notcia,
reportagem, entrevista e infografia, buscando elementos que contribuam para uma
discusso acerca da narrativa webjornalstica;
d) Destacar a infografia como o gnero jornalstico em reconfigurao na Web, que
contribui mais significativamente para a compreenso do que pode vir a ser uma esttica
webjornalstica.
2.3 Hipteses
a) A composio da narrativa jornalstica na Web pode ser ilustrada por conceitos da
geometria, quais sejam, plano, poligonal, polidrico e esfrico, demonstrando as fases
evolutivas do webjornalismo;
b) A narrativa na Web composta pelos elementos da narrativa tradicional em associao
aos elementos, s caractersticas e aos princpios do meio;
c) Entre os gneros jornalsticos estudados, a reportagem e a infografia so os que
apresentam mais avanos na Web no que se refere ao potencial de utilizao dos recursos
do meio;
d) A infografia multimdia o gnero jornalstico que mais se destaca na criao de
espaos retricos mais adequados ao ambiente multilinear, multimiditico e interativo,
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destacando-se pela capacidade de integrao de formatos diferenciados de contedo e de
articulao visual da narrativa.
3. O problema
Narrar significa contar, expor um fato real ou imaginrio atravs da escrita ou
oralmente, ou por imagens6. A narrativa tem sido, nas ltimas dcadas, material de anlise
da rea de pesquisa conhecida por Narratologia. Este campo ocupa-se do estudo das mais
diversas prticas narrativas: de textos literrios a textos de imprensa, do cinema histria
em quadrinhos (BARTHES, 1976; METZ, 1977; TODOROV, 1979; CHARAUDEAU,
1992; RICOEUR, 1994; GENETTE, 1995; BAL, 1999). Com o computador, a Internet e o
surgimento da World Wide Web, o ato de narrar incorpora caractersticas de uma nova
esttica, exigindo do produtor e do usurio novas posturas diante de um novo suporte
(BOLTER, 1991; LANDOW, 1992, 1997).
Na Web, narrar significa interconectar dados atravs do hipertexto, em um ambiente
onde a narrativa tradicional linear uma entre as muitas trajetrias possveis
(MANOVICH, 2001:227). A narrativa na Web composta pelos elementos da narrativa
tradicional7 (texto, histria e fbula), em associao aos elementos - lexia, interface, banco
de dados (LANDOW, 1997; MANOVICH, 2001; JOHNSON, 2001), s caractersticas
6 Definio do Dicionrio Houaiss da Lngua Portuguesa. 7 Segundo Mieke Bal (1999), as caractersticas da narrativa tradicional so: 1) conter narrador e ator, 2)
possuir trs camadas: texto, histria e fbula, 3) ter seu contedo composto por uma srie de eventos
conectados, causados ou experienciados pelos atores, apresentada de maneiras especficas
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hipertextualidade, interatividade, multimidialidade, memria, personalizao e atualizao
contnua (PALACIOS, 2002; DAZ NOCI, 2002; MACHADO e PALACIOS, 2003;
SALAVERRA, 2005) e aos princpios do meio - representao numrica, modularidade,
automao, variabilidade e transcodificao (MANOVICH, 2001). Essa associao no se
d necessariamente entre todos esses elementos, caractersticas e princpios ao mesmo
tempo, em todos os produtos, podendo variar de acordo com o tipo de narrativa.
Neste contexto, colocamos a questo que orienta esta pesquisa: quais so os
elementos e as caractersticas especficas da narrativa webjornalstica que permitem discutir
particularidades de uma retrica adaptada ao ciberespao?
Ao optarmos por identificar caractersticas especficas da narrativa webjornalstica,
pretendemos analis-las no mbito dos gneros jornalsticos reconfigurados no suporte
Web, descrevendo modelos possveis de composio do discurso em um ambiente
diferenciado dos tradicionais.
4. Referencial terico
A narrativa na Web constitui objeto de estudo de autores do campo da comunicao,
seja no mbito do jornalismo ou das teorias literrias, no universo da cibercultura e da arte
interativa.
Jay David Bolter, em Writing Space The Computer, Hypertext, and the History of
Writing (1991), trata da escrita eletrnica que incorpora o radical e o tradicional:
produzida mecnica e precisamente como a impressa; orgnica e evolucionria como a
manuscrita; visualmente ecltica como os hierglifos e as pinturas. Repensando o livro
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em sua forma impressa, Bolter (1991) aborda a escrita eletrnica como uma de suas
especializaes. O novo espao para a escrita oferece uma superfcie para organizar,
representar e gravar texto, fluido, interativo e permite que se estabeleam novas relaes
entre escritor e leitor.
Janet Murray (1997) discute o futuro da narrativa no ciberespao questionando-se
sobre a possibilidade da composio coerente de narrativas no espao digital, utilizando os
recursos oferecidos pelo meio. Procurando o potencial especfico do ciberespao para a
construo da narrativa, Murray utiliza a metfora do Holodeck, no filme Star Trek, para
referir-se a uma tecnologia sonhada, mas no realizada, para a representao da literatura.
Como um novo Shakespeare comporia Hamlet para o Holodeck? Para Murray, o
computador camalenico, incorporando o mundo e o transformando. Em sua busca pela
coerncia literria no ciberespao, a autora entra nas discusses sobre autoria, participao
do usurio na construo da obra, imerso e interao.
Propondo discusses em torno da imerso e da interatividade na literatura e na
mdia eletrnica, Marie-Laure Ryan repensa em seu livro Narrative as Virtual Reality
(2001), a textualidade, a narratividade, a teoria literria e o processamento cognitivo dos
textos luz dos novos modos de construo artstica do mundo, possibilitados pelo
desenvolvimento da tecnologia eletrnica. O virtual como uma iluso explica porque, nas
poticas contemporneas, o conceito de imerso tende a ser visto como uma atitude
passiva. Uma das metas do livro reabilitar a esttica imersiva do desprezo da teoria ps-
moderna. Na fenomenologia da leitura, imerso a experincia atravs da qual o mundo
ficcional adquire a presena de uma realidade povoada por seres humanos com linguagem
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independente e autnoma. O referencial terico da autora mostra que, longe de promover a
passividade, imerso necessita de um engajamento ativo com o texto e demanda ao no
ato de imaginar.
Ryan (2001) examina a mudana metafrica que marca a transio dos ideais
artsticos imersivos para os ideais interativos, considerando discusses como: a relao
entre interatividade, suporte eletrnico, ergodic design (um conceito proposto por Espen
Aarseth (1997) que envolve as alteraes no texto, a cada leitura, fazendo o leitor encontrar
seqncias diferentes de sinais durante diferentes sees de leitura); as propriedades do
meio eletrnico e sua explorao na criao de novas interfaces entre o texto e o leitor; os
vrios tipos e funes da interatividade.
Segundo Lev Manovich, em The Language of New Media (2001), a palavra
narrativa, adaptada para o mundo da Nova Mdia, est normalmente associada ao conceito
de interatividade. A narrativa interativa constituda por um nmero de registros de bancos
de dados conectados de modo que so possibilitadas mais de uma trajetria, definida a
partir de combinaes pr-programadas. A narrativa interativa montada pelo usurio a
partir de dados pr-conectados pelo criador e pode ser entendida como uma soma de
mltiplas trajetrias atravessando um banco de dados (MANOVICH, 2001:227).
Manovich (2001) analisa o que torna um meio novo e indica cinco princpios do
que ele considera a Nova mdia: representao numrica, modularidade, automao,
variabilidade e transcodificao. Estes princpios que diferenciam a velha da nova mdia,
contribuem significativamente para a configurao da narrativa na Web. Os sistemas que
contm essa narrativa so programveis a partir do princpio de representao numrica. O
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princpio da modularidade confere a narrativa o que Manovich (2001:30) chama de
estrutura fractal da nova mdia, permitindo a associao entre narrativas em um mesmo
ambiente. O princpio da automao configura e reconfigura a narrativa a partir de
algoritmos e templates, sem que a interveno do produtor seja necessria, basta que seja
programada. O princpio da variabilidade possibilita que sejam criadas diferentes verses
ou interfaces para a narrativa a partir de um mesmo banco e dados. E por fim, o princpio
da transcodificao faz com que toda a informao seja visualizada, acessada e manipulada
atravs do computador, e estabelea dilogo entre dados e dados, dados e usurios,
configurando um ambiente interativo.
Mark Meadows apresenta os estgios da interao em Pause and Effect (2003).
Atravs da narrativa o usurio interage com a mensagem em quatro estgios: 1)
Observao, 2) Explorao, 3) Modificao, 4) Mudana Recproca (Meadows, 2003: 121).
Esta evoluo de aes no uso da narrativa supe que na Web ela seja necessariamente
visual, em uma primeira instncia, quando o usurio precisa saber onde as coisas esto e o
que elas fazem. A interseo entre estas aes significativa para a narrativa interativa, j
que sua composio baseia-se na idia de que existe um nmero de eventos dispostos
graficamente que devem ser acessados ordenadamente.
Composition is the factor that allows a reader to feel as if he or she has
changed and been changed. This is a difficult item to understand because
graphical composition has traditionally been thought of as a fixed thing. (...)
A composition can be thought of as a kind of plot. It determines the events
of a visual story over a space of time that uses points of view (MEADOWS,
2003: 121)8.
8 Composio o fator que permite ao leitor sentir-se como se ele ou ela tivesse mudado algo ou sido
mudado. Este um item difcil de se entender porque a composio grfica tem sido pensada tradicionalmente
como algo fixo. (...) Uma composio pode ser pensada como um tipo de enredo. Ela determina os eventos de
uma histria visual em um espao de tempo que utiliza pontos de vista (T.A.).
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No mbito do jornalismo, Javier Daz Noci (2002, 2003) e Ramn Salaverra (2003,
2005) analisam conceitos e caractersticas do meio na composio do discurso jornalstico
nas redes telemticas. Apresentam particularidades dos gneros e tcnicas de redao que
aproveitam as especificidades do ambiente hipertextual, multimdia e interativo. Em
conjunto, no Manual de Redaccin Ciberperiodstica (2003), renem trabalhos de diversos
autores que tratam de assuntos como as caractersticas da comunicao digital, o uso do
hipertexto no jornalismo, a arquitetura da informao, a interatividade, o estilo no
ciberespao, os gneros informativos, interpretativos, dialgicos e argumentativos neste
ambiente.
Outros autores importantes tambm contriburam para a construo do referencial
terico desta pesquisa, tais quais: Daniel Morgaine (1971); Antony Smith (1980); Tom
Koch (1991); Jay David Bolter (1991, 1999, 2003), Roger Fidler (1997); John Pavlik
(2001), Roland De Wolk (2001); Jim Hall (2002), Antnio Fidalgo (2003, 2004); David
Carlson (2003); Carlos Scolari (2004), entre outros que sero devidamente referidos ao
longo do trabalho. De fundamental importncia tambm a produo dos integrantes do
Grupo de Pesquisa em Jornalismo On-line9, da FACOM/UFBA, do qual a autora desta
dissertao faz parte desde 2000.
5. Delimitao do objeto
O objeto de estudo desta pesquisa a narrativa webjornalstica. Nosso interesse
volta-se para a identificao e anlise de caractersticas especficas de sua composio
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enquanto estrutura potencialmente multilinear que pode agregar diferentes formatos, na
constituio de unidades informativas interativas. A partir das caractersticas encontradas
na anlise de produtos jornalsticos na Web, definimos parmetros que nos permitem
descrever particularidades de modelos narrativos e assim procuramos contribuir com
elementos para compreender as especificidades da narrativa no webjornalismo.
Nosso universo de estudo envolve casos voltados para a realidade do mercado, entre
os quais visualizamos a configurao da informao jornalstica no perodo de 1996 e 2005.
Observando o desenvolvimento do jornalismo praticado na Web, caracterizamos as pocas
e inserimos as geraes do Webjornalismo (MIELNICZUK, 2003) neste contexto. O
corpus emprico da pesquisa composto pelos seguintes produtos do mercado: O Estado de
S. Paulo edio digital10
, Portal Estado11
, JB Online12
, El Mundo13
, The New York Times
On The Web14
, MSNBC15
, BBC News16
.
Nossa escolha justifica-se por dois fatores: 1) aps anlise preliminar, no perodo
inicial desta pesquisa, durante o ano de 2004, observou-se que estes produtos vm
incorporando ao jornalismo os recursos do meio de maneira significativa, constituindo-se
enquanto bons exemplos de produtos que apresentam contedo produzido para a Web; 2)
dentro do pressuposto de que sejam bons exemplos, escolhemos amostras de pases
9 http://www.facom.ufba.br/jol 10 http://www.estado.com.br 11 http://www.estadao.com.br 12 http://www.jb.com.br 13 http://www.elmundo.es 14 http://www.nytimes.com 15 http://www.msnbc.msn.com 16 http://news.bbc.co.uk
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diferentes que nos permitissem retratar vises globais e locais do jornalismo das redes
telemticas.
Certamente, esta apenas uma amostra do que vem sendo desenvolvido pelas
empresas jornalsticas na Web. Consideramos pertinente a escolha por razes de
proximidade entre estes plos de produo webjornalstica (Brasil, Espanha, Estados
Unidos e Inglaterra) no que diz respeito explorao do potencial do meio para o fazer
jornalstico. Alm disso, os pases citados apresentam bibliografia especializada mais
consolidada.
6. Metodologia
A presente pesquisa insere-se no mbito dos estudos exploratrios (YIN, 2005),
uma vez que, ao propor enfocar a construo da narrativa webjornalstica, tem como
propsito apontar e explorar caractersticas e modelos de composio no ciberespao,
indicando elementos especficos que contribuam para a compreenso das particularidades
da narrativa no webjornalismo. Como modelo metodolgico e operativo adotamos o
mtodo do Estudo de Caso como Ilustrao (MACHADO e PALACIOS, 2005).
Para alcanar os objetivos estabelecidos, percorremos trs etapas: 1) reviso
preliminar da bibliografia, acompanhada da anlise da produo das organizaes
jornalsticas relacionadas ao objeto de estudo; 2) delimitao do objeto com formulao das
hipteses de trabalho e 3) elaborao de categorias de anlise, processamento do material
coletado e definio conceitual sobre as particularidades do objeto pesquisado.
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A pesquisa bibliogrfica, aliada s anlises de produtos das organizaes
jornalsticas nos permitiram, no final de 2003, elaborar o projeto de pesquisa para o
ingresso, em janeiro de 2004, no Programa de Ps-graduao em Comunicao e Cultura
Contemporneas da Faculdade de Comunicao da UFBA. A partir do projeto, fizemos
uma anlise preliminar do objeto, que se desenvolveu durante os dois semestres de 2004,
alm de empreendermos a reviso de bibliografia internacional e nacional e a produo do
GJOL, acompanhada de um mapeamento do campo para a escolha definitiva das
organizaes jornalsticas utilizadas no estudo de casos. O contato com a bibliografia das
disciplinas do curso permitiu, com o orientador, ajustar o projeto e seguir para a segunda
fase da pesquisa: delimitar o objeto de estudo e definir as hipteses de trabalho.
Nesta segunda fase, desenvolvida desde o final de 2004 at maio de 2005,
consideramos aspectos relevantes para a compreenso do objeto estudado e procuramos
identificar regularidades ou descontinuidades em relao a hipteses j levantadas por
membros do GJOL (MACHADO, 2000; SILVA JR, 2000; BARBOSA, 2002;
MIELNICZUK, 2003; PORTO ALEGRE, 2004; NOGUEIRA, 2005; MOHERDAUI,
2005) que julgssemos relevantes para a construo de novas hipteses de trabalho.
Levantadas as hipteses, selecionamos as organizaes jornalsticas para o
desenvolvimento do estudo de casos. Em concordncia com a justificativa apresentada no
tpico anterior, os critrios bsicos para a delimitao do objeto dos estudos de casos
foram: 1) originalidade; 2) representatividade e 3) diversidade. Estes trs critrios
justificam-se, de acordo com Machado e Palacios (2005), pois, ao longo do tempo
verificamos que quanto mais original for a organizao, mais adequada ser para os
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propsitos do pesquisador; quanto mais representativa de uma tendncia mais chances ter
de ser includa e quanto mais distante estiver das tendncias dominantes levantadas melhor
porque serve como contraprova (MACHADO e PALACIOS, 2005).
As observaes e as anlises se deram tomando como objetos de estudo exemplos
de produtos e iniciativas na Web cujos perfis esto sintonizados com o corpus emprico da
pesquisa: produtos digitais de empresas informativas consolidadas que possuem um
histrico de utilizao dos recursos do meio para a produo de um jornalismo digital,
mltiplo e dialgico.
Na segunda fase ainda, definimos o procedimento do estudo de casos, o que em
nossa pesquisa configura-se como Estudo de Caso como Ilustrao (MACHADO e
PALACIOS, 2005). Desta maneira, procuramos identificar conceitos e variveis que podem
ser estudados quantitativamente, procedimento que, em concordncia com Machado e
Palacios (2005), permite que a realidade do conceito uma abstrao que por definio
descreve, mas no representa realidade alguma seja contrastada com a realidade
diversificada dos objetos estudados nos casos, possibilitando que, quando for necessrio, o
conceito posto prova seja reformulado para incorporar os aspectos at ento
desconsiderados (MACHADO e PALACIOS, 2005).
Aps reviso bibliogrfica, anlise da produo relacionada ao objeto de estudo,
delimitao do objeto, levantamento das hipteses de trabalho e definio do procedimento
do estudo de casos, passamos terceira e ltima fase da pesquisa: elaborao de categorias
de anlise, processamento do material coletado e definio conceitual sobre as
particularidades do objeto pesquisado. Como nossa preocupao primordialmente terica,
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a terceira fase desempenhou funo central para alcanar os objetivos propostos. O
procedimento utilizado passou por trs etapas: 1) reviso e crtica da literatura; 2) descrio
de realidades e 3) criao de conceitos e categorias de anlise. Fundamentadas em nosso
referencial terico, estas trs etapas serviram para sistematizar as informaes adquiridas na
coleta de dados. A tabela abaixo mostra as fases da pesquisa desenvolvidas no perodo de
janeiro de 2004 a outubro de 2005.
Tabela-resumo 1 As fases da pesquisa
FASES /
TEMPO JAN/2004 DEZ/2004 JAN/2005 MAI/2005 JUN/2005 OUT/2005
1 FASE
2 FASE
3 FASE
Tendo em vista os estgios de desenvolvimento do webjornalismo descritos por
autores do campo (PAVLIK, 2001; JIMNEZ GUERRERO e HUERTA, 2002;
MIELNICZUK, 2003), utilizamos a classificao de Mielniczuk (2003) para situar os
momentos pelos quais passou nosso corpus emprico no perodo entre 1996 e 2005, mesmo
que a classificao da autora no seja baseada no tempo. Para o acesso as edies antigas
dos produtos, utilizamos uma biblioteca on-line, o Internet Archive17
, que rene um
histrico de mais de 10 bilhes de publicaes para a Web, produzidas em todo o mundo, a
partir de 1996. Por este motivo, optamos analisar as publicaes neste perodo de tempo.
17 http://www.archive.org - Universal access to human knowledge O Internet Archive uma organizao
pblica, sem fins lucrativos, localizada nos EUA, criada em 1996 para oferecer acesso gratuito e permanente a
qualquer material no formato digital existente na Web.
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O Internet Archive funciona como um museu de websites, de produes
jornalsticas ou no. Recebendo colaboraes de organizaes como American Library of
Congress, Smithsonian Institution, Alexa Internet, University of California, o Internet
Archive disponibiliza a ferramenta WayBack Machine18
, que permite consulta s
publicaes completas, desde 1996, atravs da URL de qualquer website, ativo ou no.
Desde 1996, quando foi criado, o Internet Archive grava e armazena websites, reunindo
uma coleo permanente de material digital, com 100 terabytes de dados armazenados em
um volume de 10 terabytes de informaes arquivadas por ms.
Alguns produtos tm no Internet Archive o primeiro registro na Web em 1997 ou
1998, ou ainda, como o El Mundo, no ano 2000. Sabemos que as primeiras edies Web do
Jornal do Brasil e do jornal O Estado de SP, por exemplo, datam de 1995. Na ferramenta
que utilizamos, s dispomos das edies destes produtos, respectivamente, a partir de
1996 e 1997. A tabela abaixo, mostra os anos das publicaes que sero analisados a partir
da ferramenta.
Tabela-resumo 2 Corpus da pesquisa
Corpus / Ano 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
O Estado de SP
Portal Estado
JB Online
The NY Times
MSNBC
BBC News
El Mundo
18 http://www.archive.org/Web/Web.php - Surf the Web as it was A ferramenta permite que faam-se
referncias (links) a sites arquivados pelo Internet Archive, estejam eles ativos ou j extintos.
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Nosso levantamento exploratrio abrange os gneros jornalsticos na Web. Entre os
produtos que compem o corpus da pesquisa, selecionamos cem (100) unidades de cada
gnero jornalstico, quais sejam, notcia, reportagem, entrevista e infografia, de cada
publicao. A definio do nmero de unidades analisadas em cada publicao foi
aleatria. Dada a impossibilidade de analisar todas as edies entre 1996 e 2005, dos sete
webjornais, optamos por definir um nmero absoluto para observar sempre a mesma
quantidade em cada publicao.
Tabela-resumo 3 Nmero de produtos analisados em cada um dos sete webjornais
PRODUTOS
NOTCIAS REPORTAGENS ENTREVISTAS INFOGRAFIAS
UNIDADES
100 100 100 100
Os gneros de opinio so tratados, nesta dissertao, como um fenmeno que
comea a ser estudado no campo e que encontra relao com o surgimento dos blogs
jornalsticos. Como h, desde o incio da pesquisa, a constatao de que no existe um
formato que se diferencie significativamente dos tradicionais, no incluiremos os gneros
de opinio no universo do qual deriva a classificao de modelos narrativos
webjornalsticos.
7. Estrutura da Dissertao
Esta dissertao apresenta cinco captulos, alm da introduo e das concluses.
Com o objetivo de identificar elementos e caractersticas da narrativa webjornalstica que
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permitam discutir particularidades de uma retrica adaptada ao ciberespao, analisamos os
gneros jornalsticos na Web. No perodo de 1996 a 2005, observamos a evoluo das
formas narrativas no webjornalismo e, baseados nisto, elaboramos uma tipologia de
modelos narrativos.
O primeiro captulo, intitulado A Evoluo das Formas Narrativas no
Webjornalismo, aborda as estratgias da narrativa na Web para a produo jornalstica,
delimitando caractersticas da reconfigurao da narrativa no ciberespao. Estabelecemos
relaes entre os elementos da narrativa tradicional e os elementos do meio. Tratamos de
suas funes e tipos, e apresentamos os gneros webjornalsticos a partir da classificao de
Daz Noci e Salaverra (2003) e Salaverra (2005).
No segundo captulo, apresentamos uma tipologia de modelos narrativos
webjornalsticos, inspirada em Fidalgo (2004), que utiliza conceitos da geometria para
ilustrar cinco modelos narrativos para o jornalismo na Web, quais sejam: Plano, Poligonal,
Polidrico e Esfrico. A delimitao dos modelos nos permitiu observar caractersticas
simples e complexas na evoluo do webjornalismo que, cumulativamente, vm
transformando esta modalidade.
O terceiro captulo apresenta elementos para um estudo da narrativa webjornalstica
multilinear, multimiditica e interativa. Aborda a questo da arquitetura da informao e
suas diferentes instncias, a partir das formulaes de Machado (2004c), que
complexificam a noo de esquema estrutural de contedos. Neste captulo, observamos
ainda a organizao modular da informao jornalstica, as estruturas narrativas da
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reportagem na Web e as relaes entre os nveis de interatividade e a composio da
narrativa.
No captulo intitulado A Retrica da Narrativa Jornalstica na Web, apresentamos
os gneros jornalsticos em um novo contexto. A partir dos gneros que mais se destacam
na Web, a notcia, a reportagem, a entrevista e a infografia, observando tambm a opinio e
o fenmeno dos blogs jornalsticos, reunimos aspectos que podem contribuir para uma
reflexo mais aprofundada, em um momento posterior, sobre o que viria a ser uma teoria
esttica do webjornalismo.
No quinto e ltimo captulo, cujo ttulo Um Caso Especfico: A Infografia
Multimdia, destacamos o gnero jornalstico que, na Web, se destaca pela capacidade de
integrao de formatos diferenciados de contedo e de articulao visual da narrativa. A
infografia apresenta caractersticas de uma nova retrica, que podem contribuir para que o
webjornalismo desenvolva uma esttica prpria.
As concluses do trabalho contextualizam o momento em que esta dissertao se
realiza, revisam os principais aspectos estudados durante a pesquisa, apresentam
sistematicamente as hipteses que se confirmaram e as que no se confirmaram, e os
argumentos sobre alcance ou no dos objetivos propostos. A partir de nossas anlises,
apontam ainda perspectivas para um cenrio mais consolidado do webjornalismo que, em
continuidade produo de pesquisadores do campo (MORGAINE, 1971; SMITH, 1980;
KOCH, 1991; BOLTER, 1991; DAZ NOCI, 1994; MACHADO e PALACIOS, 1996;
FIDLER, 1997; PALACIOS, 1999; BOLTER e GRUSIN, 1999; MACHADO, 2000;
PAVLIK, 2001; DAZ NOCI, 2002; DAZ NOCI e SALAVERRA, 2003; MACHADO,
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2003; MIELNICZUK, 2003; BARBOSA, 2004; PORTO ALEGRE, 2004; SALAVERRA,
2005; NOGUEIRA, 2005; BARBOSA et al, 2005), indicam que este fenmeno deve ser
situado como um complexo de continuidades, rupturas e potencializaes, frente ao modelo
tradicional da prtica jornalstica.
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A Evoluo das Formas Narrativas no Webjornalismo
John Pavlik, em Journalism and New Media (2001), identifica trs estgios de
evoluo no jornalismo digital: o primeiro, caracterizado pela transposio do contedo
impresso para a Internet; o segundo, pela agregao de recursos e criao de contedos
originais; e o terceiro, que segundo ele, est comeando a emergir, marcado por um
produto totalmente exclusivo para a Internet.
Em Peridicos Online (2002), Jimnez Guerrero e Huerta indicam que a imprensa
digital tem sua evoluo marcada por quatro fases: na primeira, se reproduz o contedo das
edies impressas de forma seqencial e sem imagens, e nas redaes jornalsticas no
existem recursos dedicados exclusivamente edio digital. Na segunda fase, se introduz o
hipertexto e se incorporam elementos audiovisuais como imagens e udio, caracterizando
uma fase em que a configurao fsica de um jornal eletrnico comea a separar-se do
impresso. A terceira fase marcada pela incrementao dos contedos multimdia,
oferecimento de servios orientados ao entretenimento, criao de comunidades, e incio do
oferecimento de comrcio eletrnico. A quarta fase caracteriza-se pelo desenvolvimento de
contedo exclusivo para a Web, incorporando elementos interativos (chats, enquetes...),
reservando profissionais exclusivamente para o trabalho da edio digital.
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Para Mielniczuk (2003:31), a indicao de fases de desenvolvimento do
webjornalismo1 em alguns autores do campo no se trata de uma diviso estanque no
tempo e tais categorias tambm no so excludentes entre si, ou seja, em um mesmo
perodo de tempo, podemos encontrar publicaes jornalsticas para a Web que se
enquadram em diferentes geraes e, em uma mesma publicao, podemos encontrar
aspectos que remetem a estgios distintos.
Em sua tese doutoral Jornalismo na Web: uma contribuio para o estudo do
formato da notcia na escrita hipertextual (Mielniczuk, 2003), a autora prope que a
trajetria dos produtos jornalsticos desenvolvidos para a Web passa por trs momentos:
produtos de primeira gerao ou fase de transposio; produtos de segunda gerao ou fase
de metfora; e produtos de terceira gerao ou fase do webjornalismo.
Na fase transpositiva, a disponibilizao de informaes jornalsticas na Web fica
restrita possibilidade de ocupar um espao, sem explor-lo enquanto um meio que
apresenta caractersticas especficas. Na fase metafrica, o jornal impresso funciona como
uma referncia para a elaborao das interfaces dos produtos e comeam a ocorrer
experincias na tentativa de explorar as caractersticas oferecidas pela Internet. O
webjornalismo de terceira gerao descrito pela autora como sites jornalsticos que
extrapolam a idia de uma verso para Web de um jornal impresso j existente
(MIELNICZUK, 2003:36).
1 Embora utilizem a denominao jornalismo digital, os autores citados referem-se ao jornalismo
desenvolvido para a Web. Como tratamos na introduo deste trabalho, ainda inexiste no campo um
consenso sobre a nomenclatura para esta modalidade de jornalismo. Nossa opo pela utilizao do termo
webjornalismo est de acordo com Canavilhas (2001), Mielniczuk (2003), Porto Alegre (2004) e Nogueira
(2005).
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Neste primeiro captulo, apresentamos as transformaes das formas narrativas no
webjornalismo, observando as estratgias da narrativa na Web para a produo jornalstica,
para que no segundo captulo possamos classificar modelos narrativos webjornalsticos, a
partir da identificao de diferentes formas de composio da informao jornalstica neste
ambiente. Para uma melhor compreenso da tipologia, necessrio, antes, definir o
conceito de narrativa na Web e identificar as estratgias utilizadas para a produo dos
gneros jornalsticos.
1.1 A narrativa na Web e suas estratgias para a produo de notcias
Pretendemos explorar o potencial da narrativa na Web, no contexto do
webjornalismo, identificando suas caractersticas na composio de diferentes produtos e
analisando algumas de suas estratgias para a produo de uma nova modalidade de
jornalismo.
Interconectar dados atravs do hipertexto, em um ambiente composto pelos
elementos da narrativa tradicional, em associao aos elementos, caractersticas e princpios
do meio, constitui o ato de narrar na Web. Neste ambiente, a narrativa assume duas
funes: 1) organizar e tornar facilmente acessveis os dados na tela, tornando-se desta
maneira a mediadora entre computador, usurio e produtor (JOHNSON, 2001; SCOLARI,
2004), e 2) criar ambientes diferenciados para as relaes entre os dados, permitindo
experincias distintas e possibilitando a identificao de diferentes tipos de produtos e de
estratgias comunicacionais.
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1.2 A reconfigurao da narrativa na Web
O texto narrativo tradicional definido por Mieke Bal (1999) como um texto onde
um agente relata, conta uma histria em um meio particular atravs da linguagem, da
imagem, do som ou da combinao deles. A histria uma fbula apresentada de
determinada maneira. A fbula, por sua vez, constitui-se como uma srie de eventos lgica
e cronologicamente relacionados entre si, causados ou experienciados por atores (BAL,
1999:5). Estes trs elementos bsicos da narrativa transpostos para a Web ou para um
sistema interativo so reconfigurados e potencializados pela associao aos elementos,
caractersticas e princpios do meio.
Consideramos a lexia, a interface e o banco de dados elementos bsicos do meio,
sem os quais os sistemas interativos no podem operar. A lexia, enquanto unidade mnima
de informao, pode conter a linguagem, a imagem, o som ou a combinao deles. Um
conjunto de lexias interconectadas forma a interface, que permite traduo e interao entre
o usurio e o computador e varia de acordo com as diferentes configuraes dos dados
armazenados por um banco. O banco de dados, por sua vez, rene registros, ou eventos, que
podem ser recuperados e relacionados de diversas maneiras, simples ou complexas,
seqencial ou fragmentada, linear ou multilinear, acessados pelo usurio.
Percebe-se que uma relao de semelhana pode ser estabelecida entre os elementos
da narrativa tradicional e os elementos do meio.
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Figura 1 Relao de semelhana entre os elementos
A relao de semelhana se d na medida em que consideramos que os tipos de
elementos so componentes de narrativas, e como na narratologia (BAL, 1999), o texto a
unidade mnima da narrativa, na teoria do hipertexto (LANDOW, 1997), a lexia a unidade
mnima da narrativa. A histria, uma fbula apresentada de certa maneira (BAL, 1999),
assemelha-se interface enquanto maneira atravs da qual apresenta-se a informao ao
usurio (JOHNSON, 2001; SCOLARI, 2004). A interface muda de acordo com o contedo,
o contexto, o produtor, ou o acesso pelo usurio. Assim tambm muda a histria e apresenta
a fbula de diferentes formas. A fbula, que se constitui como uma srie de eventos lgica e
cronologicamente relacionados entre si, causados ou experienciados por atores (BAL,
1999), uma estrutura que contm elementos e estabelece relaes entre eles, sejam de
natureza causal ou temporal. o espao onde se desenvolve a ao propriamente dita. Da
mesma forma, o banco de dados constitui-se como uma estrutura que contm elementos, ou
registros, e estabelece relaes entre eles traduzidas pela organizao das interfaces e pela
ordem de acesso do usurio (MANOVICH, 2001). o espao que prov a interface de
elementos para o desenvolvimento da ao.
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As caractersticas do meio2 determinam como funcionam as relaes entre os
elementos da narrativa tradicional e os elementos da narrativa hipertextual. O ambiente
interativo hipertextual demanda certos tipos de relaes entre produtor, interface e usurio
com os dados, que mudam a cada acesso ou a cada reconfigurao da interface. A
recuperao de memria ou a customizao do contedo tambm transformam a produo e
o acesso informao. A atualizao contnua gera outro tipo de material e a
multimidialidade converge formatos das mdias tradicionais em um s meio.
As potencialidades proporcionadas pelas caractersticas do meio do forma
narrativa na Web, fazem-na funcionar ao clique do usurio, conferem-lhe autonomia nos
limites das interfaces e das relaes entre os registros disponveis nos bancos de dados.
Como veremos mais adiante, a hipertextualidade e a interatividade exercem papis
fundamentais na composio da narrativa na Web.
Os princpios identificados por Manovich (2001), que diferenciam a velha da nova
mdia, contribuem significativamente para a configurao da narrativa na Web:
representao numrica, modularidade, automao, variabilidade e transcodificao. Estes
princpios transformam a narrativa que se torna programvel, fractal, automtica, varivel a
partir de uma fonte comum, visualizada, acessada e manipulada atravs do computador,
configurando um ambiente interativo.
2 Vrios autores definem as caractersticas do meio, quais sejam hipertextualidade, interatividade,
multimidialidade, personalizao, memria e atualizao contnua, no sendo necessrio neste momento
aprofundar aspectos de uma a uma. Para retomar os conceitos ver: MACHADO e PALACIOS, 2003;
MIELNICZUK, 2003.
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Neste contexto, a narrativa na Web definida por ns como: estrutura que incorpora
os elementos da narrativa tradicional em associao aos elementos, caractersticas e
princpios do meio, para desempenhar duas funes: 1) organizar e tornar facilmente
acessveis os dados na tela, tornando-se desta maneira a mediadora entre computador,
usurio e produtor (JOHNSON, 2001; SCOLARI, 2004), e 2) criar ambientes diferenciados
para as relaes entre os dados, permitindo experincias distintas e possibilitando a
identificao de diferentes tipos de produtos e de estratgias comunicacionais.
1.3 As funes e os tipos
Atravs da narrativa, o usurio interage com a mensagem em quatro estgios: 1)
Observao, 2) Explorao, 3) Modificao, 4) Mudana Recproca (MEADOWS,
2003:121). Esta evoluo de aes no uso da narrativa supe que na Web ela seja
necessariamente visual, em uma primeira instncia, quando o usurio precisa saber onde as
coisas esto e o que elas fazem. De acordo com Meadows (2003), o usurio interage com a
narrativa a partir de duas vises, uma macroscpica e outra microscpica, sendo a primeira
a que permite que o primeiro estgio da interao ocorra, e a segunda, o restante. A
observao caracterizada por Meadows (2003) como uma acomodao do usurio no
ambiente, quando, numa viso macroscpica, ele se acostuma com o entorno da informao
e com a maneira como ela est organizada. A explorao encorajada pela viso
microscpica, em um segundo momento, apresentando informao por subdivises, o que
convida o usurio a criar um mapa cognitivo que o inclina a explorar os caminhos
disponveis.
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A modificao o terceiro estgio da interao e est envolvido diretamente com o
processo de resposta (feedback). Se o usurio percebe que uma ao sua efetuou qualquer
tipo de mudana no sistema, percepo esta obtida por uma resposta, ele estar aberto a
realizar outras aes. Desta maneira, cria-se um ciclo onde o usurio interfere no ambiente,
o ambiente muda, ele obtm uma resposta, percebe a mudana e interfere novamente, e
assim por diante, chegando ao quarto estgio da interao denominado por Meadows
(2003:121) de mudana recproca.
Os quatro estgios da interao so um resultado da ao do usurio no ambiente
interativo e originam o que Meadows (2003:121) considera as trs formas principais de
interao: 1) adquirir informao, 2) descobrir informao adicional e 3) facilitar a
distribuio da informao entre mltiplos usurios. So estas trs formas de interao as
responsveis pelas mudanas de postura do usurio em relao ao meio e aos seus produtos.
De acordo com Meadows (2003), toda narrativa interativa funciona mediante pelo menos
uma destas trs formas.
Manovich (2001) considera que a narrativa interativa constituda pelos links entre
os registros de uma base de dados de maneira que mais de uma trajetria seja possibilitada
ao usurio. Esta assertiva indissocivel da hipertextualidade, j que o link o recurso
tcnico que potencializa o funcionamento do hipertexto (MIELNICZUK e PALACIOS,
2001). Sendo assim, podemos dizer que toda narrativa na Web interativa (MANOVICH,
2001; MEADOWS, 2003), e, considerando o fato de ser o link o operacionalizador das
escolhas e transies entre produtor, interface e usurio, toda narrativa na Web
hipertextual. Desta maneira, interatividade e hipertextualidade so as duas caractersticas do
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meio, entre todas as outras, responsveis pela funo narrativa de organizar e tornar
facilmente acessveis os dados na tela.
A segunda funo da narrativa na Web consiste em criar ambientes diferenciados
para as relaes entre os dados. Desta funo derivam os tipos de narrativas que permitem
ao usurio ter experincias distintas e possibilitam a identificao de diferentes tipos de
produtos e de estratgias comunicacionais. Essa criao de ambientes diferenciados
depende da complexidade dos conceitos de narrativa tradicional e do grau de imerso ou
conectividade do usurio no ambiente interativo (RYAN, 2001:256).
Marie-Laure Ryan (2001) define trs tipos de narrativas tradicionais (seqencial,
causal e dramtica) e depois analisa suas estruturas em sistemas interativos. A autora
considera que a arquitetura de seu sistema de links da narrativa interativa reconfigura e
potencializa o conceito de narrativa.
A narrativa seqencial uma representao de eventos fsicos ou mentais
envolvendo participantes diretos ou indiretos, ordenada por uma seqncia temporal (The
king died, then the queen died (RYAN, 2001:244)). A narrativa causal uma interpretao
de eventos que invoca causalidade (The king died, then the queen died of grief (RYAN,
2001:244)). A narrativa dramtica uma estrutura semntica que necessita de requisitos
formais, como tema evidente, foco, desenvolvimento controlado por uma trajetria que vai
do equilbrio crise at uma nova forma de equilbrio, da ascenso queda em tenso. Esta
ltima corresponde ao conceito aristotlico de enredo (RYAN, 2001:245). Quanto maior
for a complexidade da definio de narrativa, nos diferentes contextos, maiores sero as
demandas relativas composio interativa do produtor da informao.
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Ryan (2001) considera que a narrativa seqencial corresponde a produtos como o
dirio pessoal e a crnica, configurados como uma lista de eventos que podem ser escritos
com um deslocamento temporal mnimo, respeitando a seqncia de seus acontecimentos.
Em um sistema hipertextual, a narrativa seqencial criada pela interlinkagem de uma
coleo de lexias que se referem aos mesmos sujeitos e representam os eventos na ordem
dos acontecimentos.
A narrativa causal concebida como uma retrospectiva: o narrador une eventos em
uma cadeia causal que leva a uma conseqncia especfica. Em um sistema interativo,
narrativas causais so encontradas em jogos de aventura. A interatividade permite descobrir
o plano do sistema e ir superando barreiras que levam a determinados caminhos.
A narrativa dramtica envolve o usurio em uma experincia de natureza evasiva e
varivel. Dependendo do gnero do trabalho, ela pode ser definida de vrias maneiras:
comdia, suspense, auto-conhecimento, descoberta, empatia etc. A narrativa dramtica
controla emoes e reaes a partir de um mundo planejado. A implementao de uma
narrativa dramtica em um ambiente interativo requer uma coordenao das aes do
usurio em concordncia com os objetivos do sistema.
Os ambientes diferenciados onde se do as relaes entre os dados dependem, alm
dos tipos de narrativas, do grau de imerso ou de conectividade do usurio no ambiente
interativo. Ryan (2001) define trs tipos de imerso (temporal, espacial e emocional), que
so formas de envolvimento com as narrativas.
A imerso temporal envolve as respostas do usurio em relao ao enredo e suas
seqncias. A imerso espacial envolve o usurio com o cenrio e o entorno da informao.
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A imerso emocional envolve o usurio com as personagens e a tenso estabelecida pelo
enredo. A depender da composio das estruturas narrativas, o sistema estabelece diferentes
relaes entre os dados que demandam do usurio determinadas aes e colaboram para
que a narrativa atinja seus objetivos, que podem ser informar, entreter ou prestar servios.
No contexto desta dissertao, ao analisarmos a narrativa webjornalstica, os tipos de
narrativas variam de acordo com os gneros.
1.4 Os gneros webjornalsticos
Javier Daz Noci e Ramn Salaverra (2003) classificam os gneros
ciberperiodsticos3 em informativos, interpretativos, dialgicos e argumentativos.
Salaverra (2005) identifica nove gneros ciberperiodsticos a considerar: notcia, crnica,
entrevista, chat, frum de discusso, enquete, reportagem, coluna, infografia. O autor alerta
para a dificuldade relacionada transposio de gneros clssicos dos meios impressos e
audiovisuais para o que chama de cibermedios modernos. Lo que aparenta ser una simples
perpetuacin de gneros clsicos esconde en realidad su profunda, aunque a menudo casi
inadvertida, transmutacin (SALAVERRA, 2005:141).
Em primeiro lugar, a hipertextualidade, em segundo, a multimidialidade, e em
terceiro e ltimo lugar, a interatividade, promovem transformaes nas definies dos
gneros jornalsticos e na criao, para alm dos clssicos gneros informativos,
interpretativos e argumentativos: os gneros dialgicos (SALAVERRA, 2005:143).
3 Salaverra (2005:21) considera que o ciberjornalismo a especialidade de jornalismo que se utiliza do
ciberespao para investigar, produzir e, sobretudo, difundir contedos jornalsticos. um novo jornalismo,
em suma. (T.A.)
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Esta tendencia a la difuminacin e hibridacin de los gneros no anula su
identidad, slo la modifica. Los gneros ciberperiodsticos siguen
cumpliendo las funciones tradicionales de todo gnero literario o
periodstico: es decir, sirven de modelos de enunciacin para el escritor y de
horizonte de expectativas para el lector. (...) De hecho, los lectores de los
cibermedios aprenden a consumir estos nuevos medios gracias en gran
medida a su experiencia previa en el consumo de otros medios clsicos, en
los que resulta imprescindible el papel de los gneros como recurso para la
correcta interpretacin. (...) El conocimiento de los gneros periodsticos
clsicos, en suma, no slo facilita el estabelecimiento de nuevos modelos de
produccin editorial en los cibermedios; desde el punto de vista de los
receptores, tambin permite que el pblico aprenda a leer los cibermedios
(SALAVERRA, 2005:143).
Os gneros dialgicos so formatos baseados na interao, instantnea ou diferida,
entre mltiplas pessoas que estabelecem dilogo atravs da palavra escrita, da palavra oral,
da linguagem gestual ou da iconografia, convertendo a Internet em uma plataforma de
debates (LOPEZ e BOLAOS, 2003). Entrevistas, chats, fruns de discusso e enquetes
so classificados como gneros dialgicos (SALAVERRA, 2005; LOPEZ e BOLAOS,
2003). Em concordncia com Irene Machado (2001), consideramos que chats, fruns de
discusso e enquetes so gneros digitais: formas comunicativas processadas digitalmente
ou pela via on-line, pela conexo e estrutura de redes de computadores. Deixaremos esta
discusso para o quarto captulo, que abordar, em um de seus tpicos, o contexto digital e
os gneros dialgicos.
Para analisar os elementos da narrativa webjornalstica, tomamos as definies dos
gneros ciberjornalsticos apresentadas por Ramn Salaverra (2005).
Notcia
Gnero chave do ciberjornalismo com potencial documental multiplicado pela
possibilidade de linkar-se a documentos preexistentes, como sites externos publicao ou
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informaes publicadas anteriormente pelo prprio produto. Uma notcia de ltima hora
pode ser rapidamente publicada no contexto informativo sem que seja necessrio incluir
todas as referncias do texto principal. Caso seja oportuna, a incluso de comentrios dos
usurios pode complementar a notcia. No interior da narrativa, udio, vdeo e imagem
podem informar o ocorrido. O ttulo um link e o ponto de partida da narrativa. No corpo
da notcia, alm da data da publicao, para cada incluso entram horas e minutos. Cinco
tipos de cibernotcias so classificados por Salaverra (2005:115) flashes informativos,
notcias simples, notcias com documentao, notcias com anlise e notcias com
comentrios.
Crnica
Textos de urgncia, de ltima hora, como as notcias, narrados de minuto em
minuto. Gnero que mantm em sua verso ciber a combinao tradicional de informao
e interpretao, complementando, acompanhando ou ilustrando gneros mais
marcadamente informativos como a notcia. No cibermeio, Salaverra (2005:151) indica
que a crnica possui duas modalidades: ao vivo e de ltima hora. O conceito de crnica
varia da Espanha para o Brasil. Jos Marques de Melo (1985) classifica o jornalismo em
dois gneros: o informativo e o opinativo. Este ltimo apresentado como editorial,
comentrio, artigo, resenha, coluna, crnica, caricatura e carta.
Essa distino entre a categoria informativa corresponde a um artifcio
profissional e tambm poltico. Profissional no sentido contemporneo,
significando o limite em que o jornalista se move, circulando entre o dever
de informar (registrando honestamente o que observa) e o poder de opinar,
que constitui uma concesso que lhe facultada ou no pela instituio em
que atua (MARQUES DE MELO, 1985:23-24).
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Entrevista
Mantm as caractersticas do gnero clssico, consistindo em um interrogatrio em
que o jornalista formula perguntas e o entrevistado reponde. Pode ter carter totalmente
multimdia, proporcionando ao usurio ouvir a voz do entrevistado ou v-lo no momento
que a entrevista se d. Atravs da hipertextualidade, disponibiliza informao
complementar ao que o entrevistado diz, produzindo contexto. Alm disso, pode dividir-se