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A NOVA HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA

A NOVA HISTORIOGRAFIA BRASILEIRAMargareth RagoHISTORIOGRAFIA DCADAS DE 60 E 70.A complexidade do universo social brasileiro aparece quando se tenta mapear a produo cultural brasileira e quando se procura visualizar as tendncias ideolgicas, polticas e intelectuais que tm marcado o pensamento social do Pas.Em relao produo historiogrfica mais recente, vale considerar que, a despeito da violenta represso cultural imposta pela ditadura militar ao longo dos anos 60 e, especialmente, durante a primeira metade dos anos 70, esta dcada irrompeu trazendo uma grande expanso dos estudos histricos, das pesquisas e publicaes de livros, artigos e revistas impulsionada pela criao de inmeros cursos de ps-graduao no Pas, pelo prprio crescimento do mercado editorial e, no menos, pela intensa presso da resistncia poltica organizada, formal ou informalmente. MULHERES, NEGROS E OPERRIOS.Novos grupos sociais, tnicos e sexuais passaram a participar da vida pblica, trazendo suas questes e reivindicaes e, ao mesmo tempo, ampliando as formas culturais e estticas de consumo. As mulheres entraram agressivamente no mercado, participando de cursos nas universidades, nas escolas e em outras instituies, enquanto o movimento feminista levou grande nmero s praas pblicas, exigindo novos direitos sociais e sexuais. Os negros tambm colocaram suas demandas na agncia pblica, enquanto o movimento operrio se reorganizava nos grandes centros industriais e propunha a criao de um importante partido poltico de massas; os jovens, entre os quais muitos estudantes, passaram a compor um continente poltico expressivo.

Influncias historiogrficasDe modo geral, a produo acadmica procura acompanhar e atualizar-se com os desenvolvimentos tericos e temticos que se produzem no exterior, em especial, na Frana, Inglaterra, Itlia e nos Estados Unidos, de onde vm nossas principais referncias tericas, metodolgicas e temticas. Contudo, tambm fica clara a importncia de trabalhar as especificidades locais das experincias histricas tal qual se constituem o Pas.A renovao marxista e a historiografia da revoluo.A exploso de uma expressiva produo historiogrfica brasileira ocorre, ainda num momento em que se tornam visveis os sinais de esgotamento do marxismo como modelo privilegiado de interpretao do passado. Das primeiras anlises marxistas que procuram definir, inicialmente de maneira bastante mecanicista, posteriormente de modo mais sofisticado, as estruturas socioeconmicas e os modos de produo existentes no Pas passou-se, nos anos 70, a discutir o universo mental e as ideologias presentes nas anlises histricas da realidade brasileira. CARLOS GUILHERME MOTA IDEOLOGIA DA CULTURA BRASILEIRA (1933-1974).

Este ensaio expe os fundamentos ideolgicos em que se apoia boa parte das interpretaes do Brasil, identificando como um de seus alicerces a viso senhorial da sociedade, que celebra a conciliao, a "cordialidade" e o carter pretensamente incruento de nossa histria.Enquanto desvela o iderio conservador, direita e esquerda, o autor analisa as vertentes de constituio de um pensamento verdadeiramente crtico, partindo de Mrio de Andrade e Caio Prado Jr. at chegar a textos exemplares de Florestan Fernandes, Antonio Candido, Raymundo Faoro, Ferreira Gullar e Roberto Schwarz, entre outros. Assim, oferece ao mesmo tempo uma excelente introduo histria do pensamento brasileiro no sculo XX e uma viso contundente das ideologias que encobrem as lutas sociais e tm contribudo para perpetuar as enormes desigualdades do pas.Fernando novaes Portugal e brasil nos quadros do antigo regime colonial.

Novais declarado discpulo de Caio Prado Jnior, e como este, segue o modelo de historiografia marxista. Em sua pesquisa de doutorado publicada em 1978, considera que o que justifica o nascimento e o funcionamento do sistema colonial o acumulo primitivo de capital atravs do comrcio dos produtos agrcolas coloniais e da venda para as Colnias dos produtos manufaturados da Metrpole, sendo que este sistema entre em crise com o surgimento de novas tecnologias da Revoluo Industrial, passando do que Marx chama de Capitalismo Comercial para o Capitalismo Industrial.

O silncio dos vencidos Edgar de decca (1981).

Essa obra questiona a historiografia sobre a Revoluo de 1930. Resgata a memria dos vencidos, do proletariado brasileiro, das propostas revolucionrias esquecidas dos anos 1920. Mesmo que localizado num campo historiogrfico de inspirao gramsciana, o estudo aponta para os posteriores desdobramentos conceituais realizados em nossa historiografia, a partir da incorporao da anlise arqueo-genealgica do discurso proposto por Foucault e Walter Benjamin. A histria social e a emergncia do sujeito.Grandes mudanas ocorreram na produo historiogrfica brasileira a partir dos anos de 1980, quando Thompson publicou obras que traziam no s um novo conceito de classes sociais, mas toda uma nfase nos aspectos culturais e subjetivos antes ignorados. Ao lado de outros conhecidos historiadores marxistas reunidos em torno das propostas da Social History anglo-americana, o historiador ingls refora a ruptura com a produo marxista anterior e realiza uma instigante renovao conceitual no interior deste campo epistemolgico: num primeiro momento, ao denunciar o estruturalismo da produo marxista anterior, predominante nos anos 60 e 70, em que os sujeitos quase no aparecem, ou aparecem apenas determinados, sem ao, inertes e sem rosto, definidos por sua insero na infraestrutura socioeconmica. Reivindicando a presena ativa dos sujeitos polticos, a ao social e a interferncia criativa dos agentes histricos, o historiador ingls afirma que as classes se fazem tanto quanto so feitas e, por seu lado, contribui para a crtica do sujeito universal, tal qual construda pela produo historiogrfica. A formao da classe operria inglesa

A obra foi publicada inicialmente na dcada de 60 e foi traduzido na dcada de 80 para o pblico brasileiro, logrando um grande sucesso na academia. A revoluo thompsoniana se faz sentir na maneira pela qual o historiador ingls prope uma inverso na leitura dos processos histricos, a exemplo da Revoluo Industrial, vista com efeito mas do que um ponto de partida. A Instituio Imaginria da Sociedade - Cornelius Castoriadis.

Cornelius Castoridisfoi um filsofo, economista e psicanalista francs, de origem grega, defensor do conceito de autonomia poltica, fazendo crtica da burocracia de Estado, aponta para os limites do conceito de ideologia e prope o de imaginrio social. Em 1949, fundou, com Claude Lefort, o grupo Socialismo ou barbrie, que deu origem revista homnima, que circulou 1967. Obras brasileiras influenciadas pela histria social inglesa.De modo geral, esses trabalhos analisam a condio operria no cotidiano da vida social, dentro e fora dos muros da fbrica, percebendo os mecanismos de controle e disciplinarizao dos trabalhadores, que se difundem nas primeiras dcadas do sculo, num momento de intensa industrializao e urbanizao das cidades. Contudo, enquanto os estudos de Boris Fausto (Trabalho urbano e conflito industrial) e Francisco Hardman (Nem ptria, nem patro), atentam para as tendncias polticas que dominam o movimento operrio, como os anarquistas, socialistas e posteriormente os comunistas, destacando sua importncia na formao da classe operria no pas, os estudos de Chaloub e Decca buscam os trabalhadores fora do campo da militncia, dando maior nfase s formas cotidianas da vida social. Obras brasileiras influenciadas pela histria social inglesa.

Desafiando a tradio de uma histria do movimento operrio escrita por intelectuais e lideranas ligadas ao Partido Comunista, Margareth Rago traz cena a militncia anarquista, que at ento havia sido desqualificada, atirada para o lugar de momento romntico, inconsciente e inconsequente. Apoiado em rigorosa pesquisa e em fontes, em grande medida ainda inditas, o livro esclarece que o anarquismo foi fundamental para a formao da classe operria brasileira e para a elaborao de uma cultura operria, prpria e distinta daquela encarnada por seus patres. Alm disso, a autora rompe com a verso masculina e masculinizante da histria da classe e do movimento operrio. Ressalta a importncia da presena feminina na nascente classe operria brasileira, dos fins do sculo XIX aos anos trinta do sculo XX, e o papel que o discurso anarquista exerceu ao instaurar os primeiros questionamentos das hierarquias entre os gneros, e ao afirmar o direito feminino ao trabalho fora do lar.Obras brasileiras influenciadas pela histria social inglesa.

Este e um estudo sobre o cotidiano operrio fora dos locais de trabalho na cidade de So Paulo, que, nas dcadas de vinte e trinta um dos centros industriais mais importantes do pais, torna-se um dos centros industriais mais importantes do pas. Pretende contribuir para o conhecimento das condies concretas de existncia dos trabalhadores fora da esfera da produo num perodo e local determinados. Por outro lado, busca apreender como a vida operria em vrios de seus aspectos se constituiu a partir da pratica de diferentes agentes histricos e grupos sociais,s na capital do Estado. Desde o aparecimento do operariado como fora social importante em so Paulo, nos findo sculo XIX, sua presena fora dos ambientes de trabalho foi objeto de preocupao crescente no interior de uma sociedade onde a ordem urbano industrial se acentuava. Empenhos repressivos ou mais persuasivos dos setores dominantes em relao ao viver operrio sempre se alternaram desde as primeiras dcadas do crescimento industrial. e urbano da cidade.Obras brasileiras influenciadas pela histria social inglesa.

Trabalho, Lar e Botequim tenta reconstruir o cotidiano da classe trabalhadora carioca, no incio do sculo XX. Uma poca em que o Rio de Janeiro passava por um perodo de transformao econmica, pois saa do sistema escravocrata e entrava na ordem capitalista; mas foi uma poca em que tambm passava por mudanas estruturais, como a reforma urbana instaurada pelo governo de Pereira Passos. Atravs de 140 processos criminais de homicdios, jornais da poca, livros de literatura e outros trabalhos j realizados sobre este assunto, Chalhoub mergulha nos aspectos mais ntimos da vida desses indivduos. O livro retrata as camadas populares e o seu cotidiano. Eles so nomeados, no so considerados apenas como um massa de manobra. Cada um tem sua histria que vai sendo recriada por Chalhoub. A Era Pereira Passos que serve de pano de fundo para a histria, de uma contradio imensa. Tentava-se de diversas maneiras transformar o Rio de Janeiro em uma cidade moderna, um exemplo para todo o pas de civilizao e progresso. Mas, ao mesmo tempo em que essas mudanas trouxeram euforia para uns, trouxeram enormes tristezas para outros, principalmente, a classe mais humilde da sociedade.Incluso de outros sujeitos sociais.Progressivamente, outros sujeitos sociais foram includos nos estudos histricos, eliminando-se a hierarquia dos temas e as problematizaes privilegiadas. Mulheres, negros, escravos, homossexuais, prisioneiros, loucos e crianas constituram uma ampla gama de excludos, que reclamaram seu lugar na histria. Nesse contextos, outra importante fonte de renovao veio da redescoberta da Escola dos Annales, obscurecida pela produo marxista desde o final dos anos 60, e da Nova Histria, que encanta com seus novos temas e abordagens, sobretudo ao longo dos anos 80. Dos instintos aos sentimentos, do medo ao amor, do cheiro s lgrimas, entre a mentalidade e a sensibilidade, pensadas nas mltiplas temporalidades existentes na longa durao, os novos temas revelam um vasto campo de pesquisas inexploradas. Ao contrrio das mudanas revolucionrias, da ansiosa busca marxista da luta de classes e da Revoluo, passa-se paulatinamente a olhar para as permanncias estruturais, para as continuidades existentes ao longo dos processos temporais, o que ajuda, em certa medida, a explicar as falncias das propostas formadoras. Duvida-se crescentemente da possibilidade de um conhecimento objetivo, enquanto a dimens~~ao subjetiva e o campo simblico passam a ser avidamente interrogados. Em busca da diferena.Embora os prprios temas e conceitos com que operavam os pesquisadores de filiao marxista tenham sofrido uma grande renovao, a abertura dos historiadores para os novos temas, objetos e atores que pressionam pelo direito histria, resulta em importantes deslocamentos tericos e impe a busca de novos conceitos e formas de pensamento que dem conta de pensar diferentemente o campo histrico. Nesse movimento, percebe-se que vrios temas pesquisados como a histria do cotidiano, dos sentimentos e dos afetos, da criana e da famlia, da priso e de outras instituies, do corpo e da sexualidade no so totalmente novos, no entanto, passam a ser renovados atravs das questes colocadas e das novas interpretaes a que so submetidos. A contribuio de michel Foucault e Walter benjamin.

Influncias de outras disciplinas.Nesse momento, nos damos conta de que o historiador trabalha primeiramente com a produo dos discursos, com interpretaes, com mscaras sobre mscaras e que a busca da objetividade e de uma suposta essncia natural mais uma iluso antropolgica. No mais fatos, no mais os objetos e os sujeitos no ponto de partida, mas os discursos e as prticas instituintes produtoras de real, como afirma Paul Veyne. No apenas a histria da razo, mas a da loucura, no apenas a histria social dos prisioneiros, mas as formas pelas quais a priso emerge como forma punitiva considerada verdadeira, necessrias e universal; no a histria da sexualidade ao longo da histria, mas a de uma problemtica relao com o sexo, marcada pela emergncia de um dispositivo da sexualidade no mundo vitoriano, regulando e normatizando os indivduos e seus comportamentos: no objetos prontos e acabados evoluindo ao longo da histria do progresso e da razo nas prticas discursivas e no-discursivas constituidoras e instituintes. Influncias de michel Foucault no brasil.

Influncias de michel Foucault na histria.

Esta obra um estudo sobre o hospcio Juquery e a psiquiatria paulista do final do sculo XIX at a dcada de 1930. A autora estabelece as relaes com a problemtica urbana, percebendo as prticas psiquitricas concretas e cotidianas no mago da relao asilar, enquanto instrumento disciplinante.Influncias de michel Foucault na histria. No final do sculo XIX e incio do XX, cabia medicina social um lugar de destaque na tarefa de organizar o caos urbano, do qual a prostituio fazia parte. Meretrizes e doutores um estudo sobre os textos mdicos produzidos no Rio de Janeiro entre 1840 e 1980, revelando a implcita necessidade de se enquadrar em padres burgueses os comportamentos sociais, afetivos e sexuais dos indivduos que habitavam a cidade. Esta transformao do corpo, do desejo e do prazer em objetivos, marcou o incio da constituio de uma cincia sexual, que hoje se encarrega de impor os controvertidos limites da sexualidade sadia.

Durval muniz e a inveno do nordeste.

A inveno do Nordeste e outras artes, apresenta o nascimento dessa importante regio brasileira, como configurao discursiva e poltica, associada questo da seca, tal como foi formulada pelas elites regionais. Para alm dos estudos sobre as relaes de poder constitutivas instauradores dos parmetros geogrficos, histricos e regionais que difundem e cristalizam, no Pas, a imagem do Nordeste como lugar do atraso rural, do calor abafado e da violncia. Discusses sobre gnero. A entrada massiva das mulheres no mercado de trabalho e a crescente presso do movimento feminista afetam profundamente os estudos histricos tambm no Brasil. Contudo, a visibilidade que ganham as mulheres como agentes histricos, a partir dos anos 70, com o trabalho de Heleicth Saffioti, Mito e realidade: a mulheres na sociedade de classes, ocorre inicialmente a partir do padro masculino da histria social, extremamente preocupada com a denuncia das formas da explorao capitalista. Em outros termos, isto significa dizer que houve uma acentuada preocupao em criticar as formas de opresso patronal sobre os trabalhadores, o que resultou em grande parte no reforo da vitimizao da mulher. Discusses sobre gnero.

No livro Quotidiano e Poder Maria Odila Leite da Silva Dias, busca um novo enfoque para entender a sociedade paulista do sculo XIX. Demonstrando assim que h muitas histrias nas entrelinhas da histria oficial, a qual tende a revelar e perpetuar a verso dos vencedores. O seu objeto de estudo os papis sociais das mulheres revela mincias muitas vezes despercebidas pelos historiadores do perodo, que aspiram abarcar o todo e tendem inevitavelmente para as generalizaes, repetindo as verdades prescritas sem procurar de fato entender a enorme diversidade dos acontecimentos. Quotidiano e poder faz parte de um grupo de trabalhos que enxergam a histria como uma construo de vrios sujeitos. Ao l-lo percebemos como essas mulheres estavam presente ativamente no cotidiano dessa sociedade, apreendemos suas vidas, suas artimanhas, seu labor, suas dificuldades dirias, seu respeito ou rechao as convenes.

Outros temas ligados aos estudos de gnero. Esse quadro da participao das mulheres ampliou-se consideravelmente com a exploso dos temas femininos da Nouvelle Histoire, como bruxaria, prostituio, loucura, aborto parto, maternidade, sade, sexualidade, a histria das emoes e dos sentimentos. Referenciada pela histria das mentalidades, Laura de Melo e Souza escreveu O diabo e a Terra de Santa Cruz: Feitiaria e Religiosidade popular no Brasil, no qual analisa os casos de feitiaria condenados pela Inquisio no Brasil colonial. Ronaldo Vainfas, em Trpicos dos pecados: Moral, sexualidade e Inquisio no Brasil, tematiza brilhantemente a histria da sexualidade brasileira, mostrando a perseguio da Inquisio s prticas sexuais consideradas condenveis, enquanto Lgia Bellini, em A coisa obscura: Mulher, sodomia e Inquisio no Brasil Colonial, privilegia as prticas sexuais das mulheres como alvo de investimento do poder religioso.

Outros temas ligados aos estudos de gnero. Maria Izilda Matos e Fernando Faria estudaram as composies musicais de Lupicnio Rodrigues a partir da categoria do gnero, descortinando as formas de construo cultural das referncias identitrias da feminilidade e da masculinidade, nas dcadas de 1940 e 1950, dominantes at recentemente. A partir da anlise das letras de msicas produzidas pelo famoso compositor gacho, podem ser visualizadas no apenas as experincias femininas, mas tambm seu universo de relaes com o mundo masculino, numa proposta bastante enriquecedora e inovadora.

Cultura urbana e histria cultural.Os historiadores abrem, ainda, as portas das cidades para suas pesquisas. Dos estranhamento provocado pelo surgimento das grandes metrpoles europeias, representadas a partir da metfora do monstro, nos incios do sculo XIX, passa-se a discutir os debates em torno das formas de espacializao e planejamento urbano. Iniciando-se pelos estudos que problematizam o nascimento da questo urbana na Europa, novos estudos descobrem as cidades brasileiras, seja a partir da noo de disciplinarizao de Foucault, seja a partir da anlise da constituio da sensibilidade moderna, apresentada por Benjamin, ao visitar a Paris de Baudelaire. A arquitetura fsica politizada como arquitetura da vigilncia, ao mesmo tempo em que se registra a emergncia da sensibilidade moderna, atenta para os novos cdigos de sociabilidade que se constituem nas grandes cidades. Cultura urbana e histria cultural.Foram vrios os estudos que centraram sua ateno nos fenmenos da urbanizao em So Paulo, no Rio de Janeiro e em muitas outras cidades do Pas, entre Porto Alegre, Recife e Belm do Par. Quase todos esses trabalhos privilegiaram as primeiras dcadas do sculo, momento de intensa modernizao e urbanizao das cidades, de investimento industrial e de fomento da imigrao europeia, especialmente no Centro-Sul e Regio Sudeste. Os passeios, as modas, os novos perfis urbanos, as novas tecnologias, as solues urbansticas, a vida do submundo, a sade pblica e as questes da higiene compuseram um amplo leque de possibilidades temticas. Cultura urbana e histria cultural.

Orfeu, heri da mitologia grega, era louvado como o celebrante da msica, da exaltao e do xtase coletivo. Neste estudo sobre o impacto das novas tecnologias nos processos de metropolizao, Nicolau Sevcenko usa as imagens dos rituais rficos como um emblema. O cenrio a cidade de So Paulo nos anos 20, quando passava pelo boom de crescimento e urbanizao que a transformaria numa metrpole moderna. O frmito das tecnologias mecnicas de acelerao se transpe para os corpos e as mentes por meio de celebraes fsicas, cvicas e mticas no espao pblico. O pano de fundo: a Primeira Guerra, as tenses revolucionrias, a exploso da Arte Moderna e o delrio frentico do jazz. Os personagens: a populao de um experimento social em escala gigantesca, na busca de uma identidade utpica.Cultura urbana e histria cultural.

A amplamente discutida crise dos paradigmas explicativos da realidade deste fim de sculo colocou em evidncia a assim chamada "nova histria cultural", que possui um vasto campo de aplicao nos estudos relacionados s representaes sociais da cidade. Ao se compreender o fenmeno urbano como uma acumulao de bens culturais, o livro busca desenvolver estratgias metodolgicas e tericas que nos permitam uma "leitura da cidade" , desse modo alcanando o "real" atravs do sistema historicamente construdo de idias e imagens da representao coletiva que chamamos "imaginrio". A construo de uma forma de acesso ao urbano atravs da viso literria que nos mostra como idias e imagens so reapropriadas em tempos e espaos diferentes. De Paris a Porto Alegre, passando pelo Rio de Janeiro, as especificidades do local se articulam com a ressemantizao do mito da modernidade urbana.

Cultura urbana e histria cultural.

Tomando como ponto de partida a cidade do Rio de Janeiro e a demolio de seus cortios, passando pelas polmicas entre infeccionistas e contagionistas em torno da transmisso da febre amarela e pela resistncia das comunidades negras vacina antivarilica, Sidney Chaloub escreveu uma "histria na encruzilhada de muitas histrias".De forma apaixonante e extremamente bem-humorada, Cidade febril reinterpreta esses e outros conflitos luz da histria social. O resultado uma obra riqussima, que mapeia a formao das polticas de sade pblica no Brasil, as quais, longe de se limitarem ao sculo XIX, at hoje influem em nosso cotidiano com fora assustadora.Cultura urbana e histria cultural.O livro recupera imagens urbanas e paisagens sonoras, personagens da urbe e suas experincias cotidianas, a cidade do dia do trabalho e as vivncias bomias, cautelosamente desvendando a teia de relaes, representaes, tenses e disputas envolvidas nestes processos. Assim, reconstri rastros deixados pelos imigrantes e migrantes, recuperando mltiplas possibilidades, territrios, sonoridades, entoaes, sonhos e sensibilidades ocultados no passado. Neste desafio, o livro privilegia a trajetria e as canes de Adoniran Barbosa, procurando os vnculos do artista com as transformaes e as tenses no cotidiano urbano, restaurando emoes e sensibilidades presentes nas letras e nas entrelinhas das composies deste que reconhecido como a voz da cidade.

Histria e literatura.Euclides da Cunha e Lima Barreto so os escritores que Nicolau Sevcenko elege como referncia para traar um panorama dos cruzamentos entre histria, cincia e cultura no Brasil da passagem do sculo XIX ao XX, momento que marcou a entrada do pas na modernidade, aps a Abolio e o advento da Repblica. Num perodo - a Belle poque - de negao do passado escravista e de forte esprito cosmopolita, os dois autores vislumbravam na literatura um projeto de pas que levasse em conta as contradies histricas brasileiras. Sevcenko mostra que a permanncia das obras de Euclides e Lima se deve a esse sentimento de misso - animado por um impulso utilitrio de atuao pblica -, assim como inventividade da linguagem que desenvolveram.

Histria cultural: entre prticas e representaes. A determinao cultural dos agentes e das prticas sociais, para alm da econmica e poltica, revela-se na leitura que os historiadores passam a fazer das subjetividades, do imaginrio e do campo simblico. Roger Chartier (1988) sistematiza as inovaes trazidas por uma produo historiogrfica que assume sua ruptura com a crena no real e no social. Para alm da construo cultural de nossas referncias, enfatiza as prticas de leitura e apropriao da cultura, desancando os complexos movimentos da circularizao das ideias.

Influncias de roger chartier no brasil.

Se a Histria Cultural chamada de Nova Histria Cultural porque est dando a ver uma nova forma de a Histria trabalhar a cultura. No se trata de fazer uma Histria do Pensamento ou de uma Histria Intelectual, ou ainda mesmo de pensar uma Histria da Cultura nos velhos moldes, a estudar as grandes correntes de idias e seus nomes mais expressivos. Trata-se, antes de tudo, de pensar a cultura como um conjunto de significados partilhados e construdos pelos homens para explicar o mundo. A cultura ainda uma forma de expresso e traduo da realidade que e faz de forma simblica, ou seja, admite-se que os sentidos conferidos s palavras, s coisas, s aes e aos atores ociais se apresentam de forma cifrada, portanto, j um significado e uma apreciao valorativa.PRODUO CULTURAL DAS CAMADAS ELITISTAS BRASILEIRAS. No Brasil, o brasilianista Jeffrey Needell analisa a vida cultural das elites cariocas em Belle poque Tropical: Sociedade e cultura de elite no Rio de Janeiro na virada do sculo. Inovador quanto temtica, o livro desvenda as formas de sociabilidade, lazer e consumo de homens e mulheres das classes dominantes no sculo passado, dando especial nfase circulao das ideias, s reunies literrias e a outras formas de produo e consumo cultural.

Produo intelectual cearense. Fortaleza Belle poque, do historiador Sebastio Rogrio Ponte, analisa o processo de remodelao urbana e disciplinarizao social por que passou a capital cearense entre o final do sculo XIX e primeiras dcadas do sculo XX. Neste estudo inovador o autor mostra como essa ordenao scio-urbana constitui-se, na cidade, por meios de projetos de embelezamento espacial, campanhas de higienizao fsica e moral da populao, imposio de novos padres europeizados de condutas pblicas e privadas, asilamento de mendigos e doentes mentais, e prticas policiais de controle das camadas pobres. A obra contempla, ainda, a stira, o deboche e a irreverncia como formas de resistncia popular contra as cotidianas tentativas dos poderes e saberes locais em disciplinar a sociedade.

Histria, rdio e Bomia. O historiador Alcir Lenharo, por sua vez, parte, em sua ltima obra, em busca das sociabilidades nmades nas noites bomias do Rio de Janeiro, entre os anos 40 e 50, onde se reuniam cantores, msicos, artistas, intelectuais e polticos. Cantores do Rdio: A trajetria de Nora Ney e Jorge Goulart e o meio artstico de seu tempo, apresenta a histria do rdio brasileiro a partir da biografia desses dois grandes cantores, notveis no s pelo sucesso de seu trabalho, mas pela militncia poltica de esquerda.

Histria e msica.Hobsbawm analisa o jazz como criao revolucionria dos negros, uma raa submetida a certas circunstncias histricas - a escravido moderna. A msica vista neste contexto como elemento de resistncia, o que contribui na sua difuso. Num quadro mais amplo: a industrializao e as transformaes no padro de consumo de negros e brancos, a relao do jazz com a indstria de discos e espetculos, a popularizao e seus cultores. O autor evita e critica as duas principais tendncias dos intelectuais quando tratam do jazz: a de tentar impor os limites da sua autenticidade ou de reclamar para o jazz a respeitabilidade da msica erudita

Histria e msica.

A historiografia brasileira, ainda que de maneira tardia e tmida, tem penetrado cada vez mais neste territrio, contribuindo para ampliar estudos e reflexes situados na relao entre as sonoridades e a histria. Todavia no existem padres nem fronteiras definidas, uma vez que intil procurar pelo paradigma musical brasileiro, sobretudo em nossa cultura diversificada, na qual a tica de fundo emotivo sempre vence a razo pblica e no h regras que resistam uma boa imagem musical ou rtmica. Histria de Msica no Brasil revela alguns dos mais recentes estudos neste diversificado universo. Para isso so analisados diferentes pocas e lugares: da msica religiosa e dos grupos tnicos no perodo colonial da Corte Joanina; da misturada de gneros de polcas, valsas, tanguinhos, batuques e maxixes de Nazareth e Henrique Alves de Mesquita, aos choros e arranjos de Pixinguinha; dos sambas patrioteiros dos anos 1930-40 aos arranjos jazzificados das bandas que alegravam os sales de baile paulistanos dos anos ps-guerra; da desconhecida produo da indstria fonogrfica na So Paulo dos anos 1930, ao papel da radiofonia e dos cronistas na construo de uma narrativa historiogrfica consagrada, afinal, como histria da MPB.Histria e msica.O Brasil , sem dvida, uma das grandes usinas sonoras do planeta e um lugar privilegiado no apenas para ouvir msica, mas tambm para pensar a msica. Tem sido a intrprete de dilemas nacionais e veculo de utopias sociais; canta o futebol, o amor, a dor, um cantinho e um violo. Apoiado em bases tericas, Marcos Napolitano faz uma anlise histrica das diversas vertentes musicais e culturais que construram a msica popular brasileira, em suas diversas formas, gneros e estilos.

Histria oral e memria.

O autor se prope a compreender a construo social do significado atribudo ao velho, na era da globalizao, no como um pria social, mas destaca o velho na condio de cidado experientte, capaz de revelar aspectos que nem sempre so explicados pela mdia, intitulada ps-moderna, que comercializa a informao. O texto apresenta o velho como ser humano transparente e rico em experincias individuais e coletivas, reveladoras de aspectos substanciais da vida social, atravs da experincia cotidiana. O cotidiano aqui entendido como "espaos de lembranas", capazes de fazer velejar, o prprio autor do texto e os entrevistados, num barco carregado de memrias.Histria oral e memriaEste livro fornece dados para uma ampla reflexo terica e metodolgica sobre aspectos polmicos da histria oral, lugar de contato e intercmbio entre a histria e as demais cincias sociais e do comportamento, cuja peculiaridade reside na proximidade entre o historiador e os acontecimentos que analisa. As questes abordadas envolvem a definio e o status de histria oral, seus usos e suas possibilidades metodolgicas.

Histria oral e memria.

A presente obra estuda a cultura popular recente por meio do resgate da memria de trabalhadores e trabalhadoras idosos. O autor fez vrias entrevistas para compreender quais as histrias que a populao guarda na memria e acabou conhecendo um outro Vargas, uma outra viso da ditadura, da morte de Joo Pessoa, dos comcios e combates e, mais do que isso, uma nova maneira de construir a Histria.

A clssica historiografia brasileira.Algumas tendncias destacam-se: a busca de uma releitura dos historiadores clssicos, tendo em vista desconstruir seu discurso, e no aprender a realidade que supostamente descrevem. Hoje lemos Paulo Prado, Gilberto Freyre, Srgio Buarque de Holanda ou Caio Prado Jnior, considerado os inventores do Brasil, nos anos 30, menos para conhecer o passado do que para entender como foi interpretado. Como se lia; que verdades foram produzidas a respeito de nossa identidade; como se escreveu a histria da Nao; que mitos foram engendrados; que atores foram suprimidos; que verdades foram inventadas, a partir de determinados jogos de poder, e no revelados como essncias so algumas das perguntas correntes. A nova historiografia sobre o brasil republicano.

A nova historiografia sobre o brasil republicano. A obra traz tona a real participao dos Estados Unidos durante a ditadura militar no Brasil. Carlos Fico aponta o general brasileiro que era o contato entre o ento futuro presidente Castelo Branco e o governo de Washington para a entrega de armas, munies e combustvel durante o golpe de 64. O grande irmo relata episdios sombrios, lances de suborno e traz revelaes chocantes como a instalao de equipamento de deteco de exploses nucleares, sem o conhecimento do governo brasileiro, em base militar operada pelos EUA secretamente no Brasil.

Saldos, balanos e perspectivas. A incorporao da subjetividade, como dimenso a ser historicizada e incorporada pelo pesquisador, resulta de uma profunda desconfiana na existncia de uma realidade organizada, exterior, pronta para ser definitivamente decifrada. Trata-se agora de tematizar a mediao estabelecida entre o historiador e seu objeto, distinguindo ainda as formas de representao dos atores sociais e as do prprio estudioso. Nesta direo, mas do que a incluso dos oprimidos na grande narrativa, processa-se um deslocamento epistemolgico, a busca de novas linguagens e figuras que dem conta de captar as diferenas. Quebra-se a lgica da identidade, a figura do sujeito universal, as categorias abstratas e universalizantes que contavam a histria dos dominantes como se fora de todo um povo. Ao mesmo tempo, buscam-se novas formas narrativas, j que contedo e forma passam a adquirir status e relevo do mesmo nvel.