A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado...

51
UNISALESIANO Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium Curso de Psicologia Gisela Helmbrecht Reame Graziela Mara Zanchetta de Miranda A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE PSICODRAMÁTICA: A DIFERENÇA ENTRE A DEPENDÊNCIA E COMPULSÃO ALIMENTAR LINS-SP 2016

Transcript of A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado...

Page 1: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

UNISALESIANO

Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium

Curso de Psicologia

Gisela Helmbrecht Reame

Graziela Mara Zanchetta de Miranda

A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE

PSICODRAMÁTICA: A DIFERENÇA ENTRE A

DEPENDÊNCIA E COMPULSÃO ALIMENTAR

LINS-SP

2016

Page 2: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

GISELA HELMBRECHT REAME

GRAZIELA MARA ZANCHETTA DE MIRANDA

A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE PSICODRAMÁTICA: A

DIFERENÇA ENTRE A DEPENDÊNCIA E COMPULSÃO ALIMENTAR

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Examinadora do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, curso de Psicologia sob a orientação da Prof.ª Ma. Ana Elisa Silva Barbosa Carvalho e orientação técnica da Prof.ª Ma. Jovira Maria Sarraceni.

LINS-SP

2016

Page 3: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

Reame, Gisela Helmbrecht; Miranda, Graziela Mara Zanchetta

A obesidade sob a ótica da análise psicodramática: a diferença

entre a dependência e a compulsão alimentar / Gisela Helmbrecht Reame;

Graziela Mara Zanquetta de Miranda – – Lins, 2016.

40p. il. 31cm.

Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano

Auxilium – UniSALESIANO, Lins-SP, para graduação em Psicologia, 2016.

Orientadores: Ana Elisa Silva Barbosa Carvalho; Jovira Maria

Sarraceni;

1. Compulsão. 2. Dependência Alimentar. 3. Obesidade. 4. Psicodrama. 5. Vínculo. I Título.

CDU 159.9

R224o

Page 4: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde
Page 5: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

AGRADECIMENTOS

Agradeço a DEUS pelo dom da vida e força para superar os obstáculos da caminhada.

Ao meu marido Euclides Reame Junior que com todo seu amor e carinho, esteve

comigo nessa caminhada me apoiando e orientando quando necessário.

A minha família que mesmo distante esteve me apoiando ao meu pai (in memoriam)

que sabe a representação desta conquista.

A minha parceira Graziela pela confiança ao longo dessa caminhada, principalmente

pelo apoio quando precisei que Deus sempre a ilumine com muito amor e sabedoria.

A Universidade, a coordenadoria do curso de psicologia bem como todo corpo docente

que me deram a devida sabedoria e me lapidaram durante a formação e me ajudaram

a cultivar esse “amor” pela profissão.

E a todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação, o meu muito

obrigado.

Gisela Helmbrecht Reame

Agradeço a DEUS pelo dom da vida e pela oportunidade de estar aqui

completando mais um ciclo.

Agradeço a minha família, especialmente a minha mãe Maria Antonia, ao meu

esposo Luis Fernando a minha tia Marina e a minha avó Dulce que por muitas vezes,

com sabedoria e tranquilidade necessárias souberam dizer palavras de conforto e

orientação para seguir nessa caminhada sempre à frente e por inúmeras vezes

compreenderem a minha ausência em determinados momentos sem cobranças e sim

com muito amor.

Agradeço a Gisela parceira nessa caminhada, onde estabelecemos juntas o

empenho, carinho e dedicação, numa troca de experiências positivas, pois a parceria é

isso, acreditar, lutar, construir e permanecer juntas.

Agradeço também a Universidade através da coordenadora do curso de

psicologia, bem como o corpo docente que pode me proporcionar oportunidade de se

completar mais uma jornada e uma grande descoberta “o amor à psicologia”.

Graziela Mara Zanchetta de Miranda

Page 6: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

A nossa orientadora e mestre Ana Elisa,

Todo conhecimento começa com um sonho. O sonho de um belo trabalho, o

sonho de um ciclo que se completa, o sonho de orientar e ditar qual caminho se deve

trilhar, o sonho de se conhecer alguém, enfim o sonho e o sonhar. “Pois bem o sonho

nada mais é do que a aventura pelo mar desconhecido, em busca da terra sonhada.

Mas sonhar é coisa que não se ensina, brota das profundezas do corpo, como a

alegria brota das profundezas da terra” (Rubem Alves). E como aprendiz só podemos

então lhe dizer uma coisa. Conte-nos mestre os seus sonhos para que sonhemos

juntas.

Assim trilhamos e compartilhamos juntas deste seu sonho e chegamos até

aqui. Como já dizia Rubem Alves uma das funções mais importantes do educador é

encorajar o aluno a ter ousadia de trilhar caminhos desconhecidos.

Agradece-la pela oportunidade de partilhar deste sonho e trilhar um caminho na

busca do saber e compreender a importância da psicologia.

E dizer um até breve, pois “Um dia a gente chega, E no outro vai embora”

(Almir Sater).

Com carinho,

Gisela e Graziela

Aos professores mestres Jovira e Paulo,

Você pode sonhar, criar e construir a ideia mais maravilhosa do mundo, mas são

necessárias pessoas para tornar e sonho realidade. (Antoine de Saint-Exupéry)

Agradecemos por compartilhar deste sonho conosco.

Com carinho,

Gisela e Graziela

Page 7: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

RESUMO

A obesidade é uma patologia de difícil controle para o indivíduo e que no Brasil está se tornando um problema de saúde pública. Esta pesquisa tem por objetivo através do estudo de caso analisar qual mecanismo de compulsão ou dependência contribui para o vínculo com a comida e como podemos identifica-la utilizando a abordagem da análise psicodramática. Entende-se que permitirá uma melhor leitura das vivências do paciente durante o atendimento. Os alimentos podem ser usados inadequadamente diante dos impulsos e sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde recorre ao alimento na tentativa de anestesiar a ansiedade, o estresse e os desejos refreados, como um meio de escape e consolo, diante das frustrações. O indivíduo obeso tem dificuldade de olhar para sua própria imagem e ter noção da sua perturbação interior. E cada sujeito que busca auxílio deve ser entendido diante de sua história individual, para que as possibilidades de tratamento tenham maiores chances de sucesso, deste modo, seu diagnóstico deve ser diferencial. Torna-se importante a análise das circunstâncias de vida e dos fatores que influenciam nos motivos para o ganho ou não de peso. O interesse no objeto de estudo surgiu através da constatação de que uma parte da população está desenvolvendo um quadro de sobre peso e se não tiverem um cuidado para o de obesidade mórbida. Para o estudo de caso foi realizado uma análise documental de uma paciente atendida na abordagem fenomenológica-existencial, o que permitiu identificar através da análise psicodramática que mecanismo o de compulsão ou dependência fez com que esse indivíduo estabelecesse o vínculo com a comida. E através de um referencial bibliográfico analisar essa temática levando em conta todo o funcionamento que está presente no cotidiano do indivíduo obeso e a interferência nas diferentes atividades bem como em diferentes áreas da sua vida, essa pesquisa é relevante porque tem como objetivo auxiliar o psicólogo clínico na identificação entre a compulsão e dependência alimentar no atendimento ao indivíduo obeso.

Palavra-chave: Compulsão; Dependência Alimentar; Obesidade;

Psicodrama; Vínculo.

Page 8: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

ABSTRACT

Obesity is a pathology difficult to control for the individual and in Brazil is becoming a public health problem. This research aims to study case by case study which mechanism if compulsion or dependence contributes to the link with food and how we can identify it using the approach of psychodramatic analysis. It is understood that it will allow a better reading of the patient's experiences during the care. Food can be used inappropriately in the face of impulses and feelings. It can become a resource used by the person who has difficulty contacting and receiving their emotions, where he resorts to food in an attempt to anesthetize anxiety, stress and restrained desires as a means of escape and comfort, in the face of frustrations . The obese individual has difficulty looking at his own image and being aware of his inner disturbance. And every subject that seeks help must be understood before their individual history, so that the possibilities of treatment have a greater chance of success, so, their diagnosis must be differential. It is important to analyze the life circumstances and the factors that influence the reasons for the gain or not of weight. The interest in the object of study came about through the realization that a part of the population is developing an overweight and if they do not take care of that of morbid obesity. For the case study, a documentary analysis of a patient was carried out in the phenomenological-existential approach, which allowed to identify through the psychodramatic analysis that the mechanism of compulsion or dependence caused that individual to establish the bond with the food. And through a bibliographical reference analyze this theme taking into account all the functioning that is present in the everyday of the obese individual and the interference in the different activities as well as in different areas of his life, this research is relevant because it has as an objective to help the clinical psychologist In the identification between compulsion and food dependence in the care of the obese individual.

Keyword: Compulsion; Food Dependence; Obesity; Psychodrama; Bond.

Page 9: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

LISTA DE FIGURA

Figura 1: Estruturação do Núcleo do Eu ........................................................... 24

Figura 2 - Psiquismo Caótico e Indiferenciado – PCI ........................................ 26

Figura 3 - Psiquismo Organizado e Diferenciado (POD) .................................. 27

Figura 4 - Compulsão ....................................................................................... 30

Figura 5 - Dependências ................................................................................... 31

LISTA DE QUADRO

Quadro 1 - Classificação para os diferentes graus de obesidade em adultos. . 13

Quadro 2 - Classificação para a obesidade por grupos fatoriais....................... 14

Quadro 3 - Psiquismo Humano ......................................................................... 25

Quadro 4 - Relato compulsão ........................................................................... 35

Quadro 5 - Relato dependência ........................................................................ 37

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABESO - Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e síndrome

metabólica

AVC - Acidente Vascular Cerebral

CID - Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas

Relacionados à Saúde

DOT – Departamento de Orientação ao Trabalho

DSM – V Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorder, Five Edition

IMC - Índice de Massa Corporal

MI – Modelo Ingeridor

MD – Modelo Defecador

MS - Ministério da Saúde

MU – Modelo Urinador

OMS - Organização Mundial da Saúde

PCI – Psiquismo Caótico e Indiferenciado

POD – Psiquismo Organizado e Diferenciado

SNC – Sistema Nervoso Central

Page 10: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

TEN – Teatro Experimental do Negro

Page 11: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

Sumário

CAPÍTULO I - OBESIDADE ............................................................................. 11

1 BREVE HISTÓRICO ........................................................................... 11

2 DIAGNÓSTICO E CARACTERÍSTICAS ............................................. 12

3 TRATAMENTO .................................................................................... 14

3.1 Intervenções terapêuticas ...................................................................... 15

4 VISÃO PSICOLÓGICA OU ASPECTO PSICOLÓGICO ..................... 16

CAPÍTULO II – A ANÁLISE PSICODRAMÁTICA ............................................ 18

1 HISTÓRIA DO PSICODRAMA ............................................................... 18

2 PSICOTERAPIA ..................................................................................... 20

2.1 Psicoterapia em grupo na abordagem psicodramática .......................... 20

2.2 Psicoterapia Bipessoal ............................................................................ 21

3 MATRIZ DE IDENTIDADE: TEORIA DO DESENVOLVIMENTO ........... 22

4 TEORIA DO NÚCLEO DO EU ................................................................ 23

5 TEORIA DA PROGRAMAÇÃO CENESTÉSICA .................................... 25

6 PSICODINÂMICA DO VÍNCULO COMPENSATÓRIO........................... 28

7 COMPULSÃO ALIMENTAR ................................................................... 29

8 DEPENDÊNCIA ALIMENTAR ................................................................ 30

CAPÍTULO III – A PESQUISA .......................................................................... 32

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................... 32

1.1 Leitura Flutuante (Pré análise) ............................................................... 33

1.2 A Codificação .......................................................................................... 33

1.3 Análise qualitativa ................................................................................... 33

2 APRESENTAÇÃO DOS DADOS DA PESQUISA ...................................... 34

3 PARECER FINAL ................................................................................... 38

CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 40

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 41

Page 12: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

APÊNDICE ....................................................................................................... 45

ANEXO ............................................................................................................. 46

Page 13: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

8

INTRODUÇÃO

A obesidade é uma doença epidêmica e de grave problema de saúde

pública mundial e para o Ministério da Saúde causa prejuízos à saúde do

indivíduo. Atualmente a preocupação com o aumento de indivíduos que

apresentam excesso de peso bem como diferentes graus de obesidade é

assunto recorrente e preocupante na nossa sociedade.

O indivíduo obeso apresenta dificuldades de olhar para sua própria

imagem e identificar até que ponto está sendo prejudicado pela patologia, bem

como definir quem é obeso e quais seriam suas causas.

De acordo com Conejo (2009) os alimentos podem ser usados

inadequadamente diante dos impulsos e sentimentos. Pode se tornar um

recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e

acolher as suas emoções, a qual recorre ao alimento na tentativa de anestesiar

a ansiedade, o estresse e os desejos refreados, como um meio de escape e

consolo, diante das frustrações.

Assim, torna-se importante a análise das circunstâncias de vida e dos

fatores que influenciam nos motivos para o ganho ou não de peso. Surge

também à importância de verificação de quais fatores se classificam os

indivíduos portadores desta patologia. E dentre quais níveis de Índice de

Massa Corporal (IMC) este indivíduo enquadra-se, sendo este um dos

instrumentos utilizados para verificação e colaboração para o possível

tratamento adequado. É importante identificar que cada indivíduo que busca

auxílio deve ser entendido diante de sua história individual para que as

possibilidades de tratamento tenham maiores chances de sucesso. Deste

modo seu diagnóstico deve ser diferenciado.

O tratamento para tal patologia, deve incluir não somente uma, mas

várias ações como forma de auxílio ao indivíduo com sobrepeso ou obesidade.

Destaca-se a intervenção terapêutica, na abordagem da Análise

Psicodramática cuja origem é o Psicodrama. Este surgiu como método

terapêutico na década de 1920, ganhou espaço e passou a ser desenvolvido

em clínicas na década de 1970, como forma de psicoterapia utilizando-se da

dramatização. E surgindo como uma técnica a análise psicodramática,

Page 14: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

9

podendo ser de forma individual ou grupal, um instrumento que proporcionara

ao paciente um amplo conhecimento de si mesmo e possibilita novos estímulos

que diminuem suas áreas de conflito.

Teoria esta que foi desenvolvida pelo psiquiatra e professor Victor R. C.

S. Dias e torna possível ao terapeuta uma melhor compreensão do

desenvolvimento psicológico bem como o processamento das sessões de

psicopatologia psicodramática.

A partir da questão da possibilidade de identificação e compreensão do

funcionamento dos mecanismos de compulsão e dependência alimentar

levantou-se a seguinte hipótese que norteia o trabalho: quais mecanismos,

podem levar um indivíduo a desenvolver um quadro de sobrepeso ou

obesidade.

Para demonstrar na prática quais mecanismos foram identificados,

realizou-se a análise documental de um prontuário de uma paciente atendida

pelo serviço de clínica de psicologia do UniSALESIANO no período de agosto a

dezembro de 2015 e de fevereiro a março de 2016, utilizou-se da análise

temática qualitativa proposta por Bardin (2000), e que compreendeu identificar

através da análise psicodramática qual mecanismo, o de compulsão ou

dependência fez com o que o indivíduo estabelecesse esse vínculo com a

comida. Bem como através de um referencial bibliográfico analisar essa

temática ao considerar-se todo o funcionamento que está presente no cotidiano

do indivíduo obeso e a interferência nas diferentes atividades bem como em

diferentes áreas da sua vida. E como o terapeuta poderá qualificar e melhor

adaptar o atendimento ao indivíduo que procurar por auxílio.

O trabalho esta assim organizado: Capitulo I: descreve sobre a

Obesidade, seu breve histórico, passa pelo diagnóstico, tratamento e visão

psicológica ou aspecto psicológico. Capitulo II: descreve sobre a Análise

Psicodramática, passa pela história do psicodrama, psicoterapia e seus

subtipos, teoria da programação cenestésica, psicodinâmica, compulsão e

dependência alimentar. Capitulo III: descreve e analisa a pesquisa realizada no

Serviço de Psicologia do UniSALESIANO – Lins, e encerrando o trabalho

apresenta-se às considerações finais.

Page 15: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

10

O presente projeto foi submetido na Plataforma Brasil e aprovado pelo

Comitê de Ética do UniSALESIANO, e recebe o número do parecer 1.532.734

na data de 05/05/2016.

Page 16: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

11

CAPÍTULO I

OBESIDADE

1 BREVE HISTÓRICO

Não é de hoje que a preocupação com excesso de peso é tem de

discussões na nossa sociedade, várias interpretações quanto às condições de

se estar ou não obeso sofreram variações de acordo com a cultura que o

indivíduo se insere bem como com as classificações científicas vigentes.

(ALMEIDA, FERREIRA, 2005).

Desde séculos passados suscitou-se símbolos e/ ou representações

sobre as mais diversas formas, em que suas representações caracterizavam as

preocupações ou aclamações quanto às formas avantajadas.

Uma das primeiras representações da forma humana e representativa

dos termos estéticos e culturais foi a estatueta de Vênus de Wilendorf.

Pertencente ao período Paleolítico de 20.000 a 30.000 a.C., que representa

uma forma feminina bastante volumosa, com grandes seios e abdômen largos,

considerados sinal de fertilidade, bem estar e elevado status social para a

sociedade do referido período. (VIEIRA, 2014)

Tais admirações persistiram até o final do período Neolítico onde

etnias europeias como gregos, babilônicos e egípcios cultuavam a preferência

pelas mulheres com as mesmas características acima citadas.

Com o avançar das culturas e seus períodos a busca pelo

emagrecimento veio à tona, como as preocupações apresentadas por

Hipócrates.

De acordo com Senise (1976, p. 19);

Hipócrates, considerando o fundador da ciência médica, advertia a 400 a.C., para o perigo da alimentação exagerada, embora estivesse muito longe de suspeitar, na conduta dos obesos a existência de causas subjetivas.

As atitudes e preocupações em relação ao excesso de peso bem

como o excesso de gordura modificaram-se a partir do século XVIII, nos países

Page 17: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

12

considerados de primeiro mundo bem como nos países em desenvolvimento.

(ALMEIDA, FERREIRA, 2005).

Mediante a evolução das sociedades, bem como o perfil dos

indivíduos, a obesidade que não era considerada como um problema de saúde

passou a ser. (ALMEIDA, FERREIRA, 2005).

De acordo com Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e

síndrome metabólica (ABESO http://www.abeso.org.br) nos dias atuais as

proporções em que o indivíduo se encontra tanto por sobrepeso como por

obesidade, assume características alarmantes, independentes de classe social

e ou cultura que este encontra - se inserido, tornando-se prioridade mundial e

caso de Saúde Pública Mundial.

2 DIAGNÓSTICO E CARACTERÍSTICAS

As formas de classificação e condição de sobrepeso e obesidade

variaram conforme o tempo bem como seus valores culturais e científicos.

Para o Ministério da Saúde (MS) Obesidade é uma doença crônica

caracterizada pelo excesso de gordura corporal, que causa prejuízos à saúde

do indivíduo.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define sobrepeso como

excesso de peso corpóreo e obesidade como excesso de gordura no

organismo, levando-se em conta o Índice de Massa Corpórea (IMC).

Confirmou-se a preocupação que se instalava mundialmente.

De acordo com Almeida, Ferreira (2005, p. 185):

Hoje a obesidade é considerada epidêmica e grave problema de saúde pública mundial, que se sobrepôs aos antigos, como a desnutrição e doenças infectocontagiosas, inclusive como países emergentes como é o caso do Brasil.

A definição de quem é obeso ou não, não é tão simples, bem como

definir quais as causas da obesidade. Profissionais de todas as áreas utilizam-

se de instrumentos as quais os auxiliam quanto sua classificação e assim uma

possível identificação da presença da obesidade.

Considerado como instrumento simples de medida, o IMC também é

proposto pela OMS e o cálculo é realizado da seguinte maneira: “IMC = peso

Page 18: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

13

corpóreo em (kg) dividido pelo quadrado da estatura em (metros)” segundo

Almeida, Ferreira (2005, p. 187).

A classificação a seguir mostrou os diferentes graus de obesidade em

adultos.

Quadro 1 - Classificação para os diferentes graus de obesidade em adultos.

Classificação Índice de massa corpórea -

IMC (kg/m²)

Baixo peso Menor que 18,5 kg

Normal 18,5 – 24,9 kg

Sobrepeso Maior que 25 kg

Pré – obeso 25 – 29,9 kg

Obeso I 30 – 34,9 kg

Obeso II 35 – 39,9 kg

Obeso III ou Mórbido Maior que 40 kg

Fonte: Brasil; Cartilha Ministério da Saúde - Obesidade e Desnutrição, p. 4

Deve-se ter cautela quando da interpretação do IMC em certas populações e grupos étnicos, uma vez que a relação entre IMC e massa corpórea pode variar de acordo com a constituição corpórea. (ALMEIDA, FERREIRA 2005, p. 187).

Encontram-se divergências quanto a sua classificação de obesidade

ou sobrepeso, pois há diversidade de parâmetros utilizados para a referida

identificação, variando de acordo com o que o especialista identificar como

sendo o mais apropriado para tal verificação.

Há outra classificação para a obesidade, utilizado pela medicina e que

se subdividem em 2 grandes grupos fatoriais, Fatores Endógenos e Fatores

Exógenos. (DÂMASO, 2003).

Os fatores endógenos são motivados por alterações no nível

psicológico, fisiológico ou metabólico, assim compreendidos como alterações

por fatores internos. E fatores exógenos ocasionados por fatores externos

como excesso de ingestão calórica em relação a necessidades do organismo.

(MENEZES, 1998).

Page 19: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

14

Quadro 2 - Classificação para a obesidade por grupos fatoriais.

FATORES ENDOGENOS FATORES EXOGENOS

Genéticos Alimentação

Endócrinos

Psicogênicos Estresse

Medicamentosos

Neurológicos Inatividade física

Metabólicos

Fonte: DÂMASO; BOTERO; PRADO, 2003, p. 5.

Além das classificações acima, não devemos nos esquecer de que os

dados apresentados foram de suma importância para a verificação de

classificação do tipo de obesidade existente. E que não havendo o devido

cuidado este poderia evoluir para o quadro de obesidade mórbida.

A obesidade que atinge o IMC maior que 30 kg/m², tornou-se

considerável índice suficiente para que o indivíduo pudesse desenvolver

doenças não transmissíveis associadas como, hipertensão, diabetes,

dislipidemia, doenças cardíacas, acidente vascular cerebral (AVC), doenças

hepatobiliares, osteoartrite, doenças de pele, prejuízos respiratórios e até

mesmo câncer. (PERES, 2005).

Acima de 40 kg/m², tornam-se os casos considerados mais graves

podendo levar o indivíduo ao óbito. (PERES, 2005).

3 TRATAMENTO

As proporções encontradas frente à obesidade como caso de saúde

pública e as grandes implicações trazidas por essa doença elevaram os níveis

de cuidados a serem tomados como prioridade mundial.

Vieira (2014, p. 36) apresenta;

O tratamento da obesidade, perspectivando do ponto de vista multidisciplinar, deve contemplar vários componentes em função da severidade da doença e dos contextos de intervenção.

Lembrando que como a obesidade veio a ser classificada como

doença para a medicina, esta aparece na Classificação Estatística

Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID 10) 23.3, e

Page 20: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

15

assim não deve ser visualizada como uma das alternativas, para identificação

da patologia e sim de quando se atingiu a devida proporção da doença, para

poder auxiliar o indivíduo bem como evitar e prever as possíveis e futuras

causas.

Zanella (2005, p. 236) ressalta;

É importante que pessoas não-obesas, mas propensas ao ganho de peso e ao desenvolvimento futuro de doenças relacionadas à obesidade, sejam orientadas no sentido de adotar um estilo de vida saudável, incluindo modificações na dieta e pratica de atividade física.

Verificou-se que para o tratamento da obesidade, deve-se incluir não

somente um, mas vários quesitos bem como formas de auxilio ao indivíduo

com sobrepeso ou obeso. Bem como a lembrança de que os tratamentos não

são fáceis nem para a equipe, nem para o paciente tratado. (SEGAL, 1998).

As formas mais comuns de tratamentos utilizados podem ocorrer

através de ferramentas terapêuticas tais como: intervenções na dieta,

atividades físicas regulares, mudanças de hábitos, farmacoterapia,

intervenções terapêuticas, indicadas aos indivíduos com sobrepeso ou com

obesidade em níveis que atinjam o grau III, desde que nessa última situação

não comprometa a saúde elevando ao nível emergencial o qual aponte para o

risco de morte do indivíduo. (ZANELLA, 2005).

Em casos mais graves o mais indicado são as intervenções cirúrgicas,

através das cirurgias bariátricas, quando os indivíduos atingiram índice de IMC

maior que 40 kg/m², ou quando pacientes com IMC maior que 35 kg/m²,

apresentem problemas médicos graves associados, colocando em risco sua

vida. (ZANELLA, 2005).

3.1 Intervenções terapêuticas

Verificou-se que o trabalho consciente e decidido realizado com

psicoterapia permitirá a pessoa alcançar uma lucidez, cada vez maior, sobre o

seu quadro de obesidade e todas as alternativas que lhe dispõe para sair dele.

(CHIMICATI, MACIEL, 2001).

A obesidade reflete as dificuldades pelas quais o sujeito passou, pois

não pode ser escondida e revela-se escancaradamente o drama de seu dono.

Page 21: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

16

Assim a superação da obesidade passa, por uma capacidade de lidar com a

realidade social e com a presença inevitável de comida em encontros de

pessoas. (PINTO, 2005).

Emagrecer poderá, às vezes, parecer ameaçador. Essas ameaças tem

que ser compreendidas e trabalhadas dentro do contexto próprio de cada um.

Chimicati, Maciel (2001, p.101).

Cada ser é único, e cada obeso precisa se reconhecer e ser reconhecido

com seu valor. Assim de acordo com a abordagem do psicodrama, é a via de

acesso para trabalhar a espontaneidade e realizar uma ação de sua própria

história, possibilitando o seu reconhecimento. (PINTO, 2005).

Os pequenos sucessos de cada dia irão elevando a autoestima ao ponto

de torna-los cada vez mais motivados, a realmente mudar. (CHIMICATI,

MACIEL, 2001).

De acordo com Pinto (2005, p.129):

A superação de uma patologia multifatorial, como a obesidade, encontra terreno fértil na psicoterapia, diante da ação reparatória a sofrimentos emocionais complexos e, muitas vezes, de significados desconhecidos dos pacientes.

A psicoterapia irá promover um maior aprofundamento em direção a um

mais amplo conhecimento de si mesmo. (CHIMICATI, MACIEL, 2001).

Assim o objetivo da psicoterapia será de fortalecer esse paciente, para

que possa ampliar o espaço no mundo interno e assim substituir as defesas por

recursos mais adequados e saudáveis de sobrevivência emocional. (PINTO,

2005).

4 VISÃO PSICOLÓGICA OU ASPECTO PSICOLÓGICO

Não há clareza quanto à classificação da personalidade do obeso,

já que não existe um padrão que predisponha se determinado indivíduo

desenvolverá obesidade. Bem como rotular se deve haver transtorno

psiquiátrico ou não para referida classificação, pois em se tratando de

rotulações, os preconceitos e discriminações tornam-se regra. (SEGAL,

1998).

Page 22: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

17

A obesidade pode ser considerada uma doença, as quais suas

consequências serão comprometedoras tanto para a saúde física

quanto para saúde mental. (MOTTA, 2011).

Previsto no Diagnostic and Statistical Manual of Mental

Disordes, Five Edition (DSM-V), este distúrbio pode ser conhecido

como sintoma e ou manifestação da doença.

A complexidade na condição de obesidade do indivíduo reporta-se ao

elucidado por Matos (2005, p. 259): “A obesidade é uma doença orgânica,

crônica, de origem multifatorial, resultante da combinação de fatores genéticos,

ambientais, psicológicos e comportamentais”.

As diferentes características psicológicas, traços de personalidade e

padrões de comportamento alimentar, podem afetar os resultados do

tratamento, sendo necessária uma avaliação completa para definir qual o plano

de tratamento psicológico mais adequado a cada caso. (PINTO, 2005).

O corpo registra continuamente a história de vida do sujeito, portanto,

quando se investiga a obesidade, na realidade investiga-se a relação do

paciente com sua própria história. Onde a superação da obesidade passará

pela capacidade de se lidar com a realidade social e com a comida. (PINTO,

2005).

Page 23: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

18

CAPÍTULO II

A ANÁLISE PSICODRAMÁTICA

1 HISTÓRIA DO PSICODRAMA

O psicodrama surgiu como método terapêutico por meio dos estudos do

médico romeno Jacob Levy Moreno que teve como inspiração para o

desenvolvimento da teoria sua própria história pessoal. Nascido na Romênia

em uma família judia, quando tinha 5 anos mudou-se para Viena com sua

família onde concluiu seus estudos. Quando ainda criança pratica uma

brincadeira que se tornará sua inspiração para o psicodrama. A brincadeira se

baseava em ser Deus, na qual o Moreno assumiu o papel de Deus e seus

amigos os de anjos, e ao se personificar no papel o trono que foi criado em

uma pilha de cadeiras e sentado lá em cima os amigos pediram para que

voasse e ele acreditou que podia, mas acabou se machucando fraturando o

braço direito. Já adulto, Moreno desenvolveu um trabalho com crianças se

utilizando das improvisações com o intuito de instigar as crianças a rebelar-se

contra as regras do mundo adulto e estabelecerem suas próprias regras de

acordo com as necessidades infantis, este fato ele denominou como a

Revolução nos Jardins de Viena.

O dia 1º de abril de 1921 é considerado a data oficial do surgimento do

Psicodrama, pois nesse dia Moreno dirigiu um público numeroso no Komödien

Haus, onde tinha no palco como cenário somente um trono vermelho e uma

coroa dourada. As pessoas que atuaram como rei deveriam dizer o que fariam

para conduzir o país corretamente e o público fez o papel de jurado. Os que

atuaram como reis não foram aprovados e este fato lhe colocou em uma

situação delicada em Viena.

Em 1921, é criado o Teatro da Espontaneidade e marcado pelo caso

Bárbara e que após ele em 1923 o Teatro passa a ser Terapêutico, pois se

tratou do caso de uma atriz que no palco só personificava papeis dóceis, até

um dia que se casou com um de seus admiradores, passado um período de

convivência o marido se consulta com Moreno e lhe diz que a esposa na

Page 24: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

19

intimidade tem um comportamento totalmente diferente daquele demonstrado

no palco, era agressiva e com linguajar de baixo calão.

A partir desse relato, Moreno começava uma estratégia com Bárbara

onde ela passa a atuar em papeis que sua agressividade é manifestada, até o

momento em que o marido é incorporado na atuação e situações relacionadas

à vida doméstica do casal é ali interpretadas o que permitiu uma evolução no

tratamento onde as atenções foram sendo direcionadas para suas histórias

pessoais e permitiu-se que assim tivessem uma melhor compreensão do casal.

E com isso, o Psicodrama passa a ser considerado como técnica terapêutica.

Em 1925, Moreno se muda com sua família para os Estados Unidos

onde permaneceu até o seu falecimento em 1974. Neste país seu método

terapêutico foi acolhido através do Teatro Terapêutico permitindo que suas

ideias sobre Psicoterapia de Grupo fosse desenvolvida. Porém foi no ano 1950

na França, que com a intervenção psicanalítica, originou-se o Psicodrama

Psicanalítico. Moreno foi um grande estudioso e divulgador do seu método

criando também o Instituto Moreno de Nova York (BERMÚDEZ, 1970).

Motta (2010) reporta-nos a década de 70 quando o psicodrama chega

ao Brasil através do I Congresso Internacional Terapêuticas realizado na

cidade São Paulo. Jaime G. Rojaz Bermúdez, aluno de Moreno, trouxe esse

método para a América Latina. Na década de 50, o psicodrama começa ser

conhecido através do sociólogo Alberto Guerreiro Ramos (1915-1982) o qual

apresentou as ideias morenianas e começou aplicá-las nas favelas do Rio de

Janeiro devido a sua preocupação com a população negra e desempregada.

Também ministrou cursos de psicodrama e sociodrama, mas devido a

divergências com outros sociólogos dentro do Teatro Experimental do Negro

(TEN) foi um dos colaboradores fez com que esse movimento fosse

interrompido. Em Minas Gerais, através do psicólogo belgo-francês Pierre Weil

começa a se desenvolver o psicodrama com os trabalhadores do

Departamento de Orientação ao Trabalho do Banco de Lavoura de Minas

Gerais ((DOT) Banco Real). Com a ditadura todo esse trabalho de treinamento

e cursos foi queimado tendo como justificativa a mudança do DOT para São

Paulo. Devido a essa repressão os trabalhos psicodramáticos passaram a ser

desenvolvidos em clínicas.

Page 25: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

20

O Congresso de 1970 foi um personagem protagônico desde a sua constituição, ao reunir o movimento internacional do psicodrama ao das comunidades terapêuticas, mostrando as afinidades entre as duas propostas. O congresso com duplo tema tornou públicas novas possibilidades de trabalho na saúde e educação, acrescidas com novas propostas para psicoterapia e atendimentos psiquiátricos. (MOTTA, 2010, p.126)

2 PSICOTERAPIA

A psicoterapia é uma relação que ocorre entre o terapeuta e seu cliente,

mas essa relação só se estabelece quando o indivíduo entra em processo de

busca e o papel do terapeuta é de auxilia-lo no seu desenvolvimento

psicológico. Para isso é necessário estabelecer o vínculo, é ele que permitirá

que o terapeuta possa clarear e conscientizar para o indivíduo de sua angústia

e possibilitar que ocorra a sistematização do processo de busca. É uma técnica

que o tratamento pode ocorrer de forma individual e grupal (DIAS, 1994). Na

abordagem psicodramática qualquer uma das formas pode ser utilizada como

instrumento de assistência ao paciente, à dramatização.

Para Bermudez-Rojas (1970, p. 56), “o uso da dramatização como

instrumento é fundamental na terapia para alcançar os estados de

Espontaneidade e a Catarse de Integração como mecanismo básico de cura”.

Para Soeiro e Saad (1995), o psicodrama como sendo uma técnica de

ação permite ao terapeuta trabalhar com processos que iram excitar ou inibir o

indivíduo através SNC (Sistema Nervoso Central). Ao dramatizar o paciente

vivenciará novas experiências o que regulará suas fantasias, possibilitando que

novos estímulos diminuam suas áreas de conflitos.

2.1 Psicoterapia em grupo na abordagem psicodramática

De acordo com Dias (1987), nesta modalidade o paciente trabalha suas

vivências junto ao público e poderá lidar melhor com sua intimidade, nesta

modalidade tem as funções de diretor e ego-auxiliar e conduzirá o processo

terapêutico o benefício de trabalhar em grupo como o aquecimento se dá de

maneira mais rápida o que possibilita que o indivíduo vivencie de maneira mais

rápida seus sentimentos.

Page 26: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

21

De acordo com Gonçalves, Wolff e Almeida (1988), o grupo é constituído

pelos terapeutas que são o diretor e ego-auxiliar e o público que são os

pacientes, definem assim:

a) Diretor: é o terapeuta que conduzirá a sessão e tem como função

dirigir a cena, intervir junto ao protagonista e o grupo e analisar o

social. Cabe ao terapeuta a percepção do que mobiliza os

componentes do grupo e no momento oportuno dar à devolutiva;

b) Ego-auxiliar: é o terapeuta que encenará junto com o protagonista

sua presença na preparação do clima emotivo facilita para o mesmo

a catarse de integração1. E auxilia o diretor passando situações na

qual o mesmo não interagiu com o protagonista;

c) Público: são os demais participantes da sessão psicodramática, a

presença deles é importante porque irá funcionar como uma caixa de

ressonância, e com isso, tornam-se protagonistas coletivos.

Os autores salientam que na prática dessa modalidade o terapeuta que

exerce a função de diretor necessita ter um bom preparo e conhecimento

teórico das técnicas morenianas, além de um bom entrosamento com o ego-

auxiliar e boa percepção do público. Sua importância se dá pela boa

desenvoltura que terá com o grupo durante a sessão e por um bom manejo no

desenvolvimento psicológico.

2.2 Psicoterapia Bipessoal

De acordo com Dias (1987), nesta modalidade o processo

psicoterapêutico se dá somente entre o terapeuta e seu paciente e as

dramatizações são realizadas através de técnicas que se utilizam dos recursos

das almofadas ou blocos de espumas e o terapeuta assume o papel do

paciente onde o mesmo assume o papel de observador e assim pode ver suas

vivências e as figuras de mundo interno. Com a utilização desses recursos não

há necessidade do terapeuta contar com auxilio de outra pessoa para exercer

as funções de diretor e ego-auxiliar.

1 A catarse de integração está incluída no processo terapêutico e constitui o ápice de

um caminho, aonde gradativamente vai havendo a integração sistemática de vários conteúdos que vão sendo trabalhados. (GONÇALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988, p. 82)

Page 27: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

22

De acordo com Cervellini, Callas e Ferreira (2015), o terapeuta

psicodramatista irá proporcionar ao seu paciente a vivência afetivo-emocional

que permeiam suas relações interpessoais, pois ao utilizar ação permitirá que o

mesmo reflita e se transforme, pois agirá, sentirá e pensará através do seu

vivido.

3 MATRIZ DE IDENTIDADE: TEORIA DO DESENVOLVIMENTO

Moreno (2007), ao analisar o universo na qual a criança está inserida

constatou que a família é a placenta social da criança, o locus onde suas raízes

estão mergulhadas. Esse ambiente que irá proporcionar ao bebê a noção de

segurança, orientação e guia, sua comparação se dá no sentido de como a

placenta fornece alimento ao bebê na fase intrauterina, no social é a

comunicação entre o sistema social da mãe e a criança que irá lhe

proporcionar a construção da sua identidade.

Matriz de Identidade é, portanto, o lugar (locus) onde a criança se insere desde o nascimento, relacionando-se com objetos e pessoas dentro de um determinado clima. O desenvolvimento do recém-nascido dar-se-á nesse locus. (GONÇALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988, p. 60)

Batista (2009) conceitua matriz de identidade como o primeiro átomo

social do indivíduo, ou seja, a família nuclear. É neste ambiente que o sujeito

irá se diferenciar do mundo que o rodeia em seus primeiros anos de vida, é

através dessa relação com os papeis desempenhados por seus familiares que

em seu desenvolvimento o indivíduo irá se estruturar. Este convívio que a

criança tem em seu desenvolvimento com cada membro do seu átomo social

que lhe permite que assimile características boas ou ruins de sua identidade

influenciando na formação do seu próprio conceito de identidade. Este

ambiente não é estático é um ambiente aberto, pois é influenciado pelas

mudanças que ocorre tanto no seu meio social como cultural.

Segundo Batista (2009) o recurso da ação, no qual o indivíduo constrói

com objetos ou pessoas seu átomo familiar, o mesmo se coloca no lugar do

outro e passa ter acesso à sua construção pessoal a respeito daqueles que

compõem a sua família. O indivíduo ao representar a sua própria pessoa e

suas relações subjetivas, permitirá que sua percepção sobre os papéis

Page 28: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

23

representados modifique sua relação com os membros do seu átomo e amplie

sua percepção a partir de diferentes focos vividos.

4 TEORIA DO NÚCLEO DO EU

Conforme Soeiro (1995), Jaime Guilhermo Rojas Bermudez, foi o

idealizador da Teoria do Núcleo do Eu, nascido em 26/07/1926 na cidade de

Tunja na Colômbia. Mas escolheu Argentina para viver e onde também

concluiu seus estudos em medicina, e se especializando na área da psiquiatria.

Em 1957 iniciou suas atividades psicodramáticas, mas foi em 1962 em Nova

York que Bermudez conhece Moreno e recebe em 1963 o título de Diretor de

Psicodrama do “World Center for Psychodrama Sociometry and Group

Psychoterapy”. Fundou em seguida a “Associación Argentina de Psicodrama y

Psicoterapia de Grupo”. No período entre 1968 a 1970 viajou periodicamente

para São Paulo onde ministrou o curso de formação psicodramática a diversos

profissionais, tornando-se o maior divulgador do psicodrama na América Latina,

em 1973 funda a Federação Latino-Americano de Psicodrama.

Conforme Dias (1994), esta teoria desenvolvida por Bermudez tem como

seu objeto de estudo o sistema nervoso central (SNC). A criança ao nascer

ainda não está com o SNC completo e ao longo dos dois primeiros anos de

vida a atenção da criança está voltada primeiramente para suas sensações

viscerais (comer, defecar e urinar), que é o Sistema Nervoso Interoceptivo em

relação ao Sistema Nervoso Proprioceptivo e Exteroceptivo que é relacionado

aos órgãos dos sentidos, músculos e pele. Ao ter sua atenção voltada para as

suas sensações viscerais sua concentração estará voltada para o seu Mundo

Cenestésico, isso é importante porque é o que nos permite ter a noção de

existir e de estar vivo.

Segundo o mesmo autor é a partir dessa noção de existir que é a

primeira manifestação do psiquismo que denominará como Psiquismo Caótico

Indiferenciado (PCI), que permitirá uma compreensão das neuroses e psicoses,

pois neste estágio não se tem uma referência relacionada à emoção,

percepção ou explicação.

Page 29: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

24

Legenda:

MI = Modelo Ingeridor

MD = Modelo Defecador

MU = Modelo Urinador

Fonte: DIAS,1994, p.19

Ao estruturar o Núcleo do Eu, Bermudez divide o psiquismo humano em

três modelos psicológicos conforme o quadro 3: ingeridor, defecador e

urinador; e conforme Figura 1 delimitada as áreas em: mente, corpo e

ambiente.

MENTE CORPO

AMBIENTE

MI MD

MU

Figura 1: Estruturação do Núcleo do Eu

Page 30: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

25

Quadro 3 - Psiquismo Humano

MODELO

Ingeridor (MI) Defecador (MD) Urinador (MU)

Responsável pelos processos de incorporação, satisfação/insatisfação, dos conteúdos do mundo externo para o mundo interno.

Responsável pelos processos de criação, elaboração, expressão e comunicação dos conteúdos de mundo interno para o mundo externo.

Responsável pelos processos de planejamento/devaneios/fantasias; controle, decisão e execução de ações no mundo externo que gratifiquem desejos e necessidades internas.

ÁREA

Mente Corpo Ambiente

Responsável pelos processos do pensar (explicar, elaborar, deduzir, etc.).

Responsável pelos processos do sentir (emoções e sensações).

Responsável pelos processos de perceber: percepção tanto de si mesmo como do ambiente externo.

Fonte: DIAS,1994, p.18

Esses modelos são inatos e independe da vontade do indivíduo, pois

está relacionada às funções somáticas de comer, defecar e urinar e as

sensações cenestésicas vão existir e com isso, o modelo psicológico irá se

desenvolver. (DIAS, 1994)

5 TEORIA DA PROGRAMAÇÃO CENESTÉSICA

Esta teoria foi desenvolvida pelo psiquiatra e professor Victor R. C. S.

Dias, que ao participar ao longo da sua carreira de congressos e mesas-

redondas com outros profissionais identificou um tema que é um gerador de

polêmica que se trata das técnicas psicodramáticas. As controvérsias surgiram

quando se tentou explicar de forma científica o que é realizado durante a

sessão psicodramática e o processo da psicoterapia. Ao se falar sobre defesa

intrapsíquica, de relacional ou de simbiose, Dias identificou uma lacuna nas

técnicas psicodramáticas desenvolvidas por Moreno, pois a Teoria dos Papéis

e a Matriz de Identidade se mostraram insuficientes para o processo de

psicoterapia de longo prazo.

Page 31: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

26

Diante disso Dias (1994) tendo como referência a Teoria do Núcleo do

Eu de Bermúdez, a ampliação da Matriz de Identidade feita por Fonseca Filho e

a contribuição de outros estudiosos da área e de sua própria experiência como

professor, supervisor de psicodrama e de sua atuação clínica desenvolveu um

trabalho que globalizou o desenvolvimento psicológico e da psicopatologia, e

noções das teorias de comunicação e da cibernética, na qual nomeou como

Teoria da Programação Cenestésica. Quanto ao que permite abordar as

esferas intrapsíquicas Dias desenvolveu uma série de etapas que nomeou de

Análise Psicodramática. Ao reformular e desenvolver novos conceitos

possibilitou ao terapeuta psicodramático “uma melhor compreensão do

desenvolvimento psicológico, a psicopatologia o processamento das sessões e

da psicopatologia psicodramática”. (DIAS, 1994, p. 17)

Uma comparação que Dias (1994) faz para melhor compreensão dessa

teoria é relacionada a um computador. Refere que quando o compramos ele

não tem nossas informações, vindo somente com as configurações de fábrica e

conforme vamos utilizando ele vai se modificando com as informações e

programas que nos é importante, assim ele compara com o nosso cérebro.

Quando um indivíduo nasce seu psiquismo é praticamente virgem,

conforme a figura 2.

Fonte: DIAS,1994, p.20

Pois o que se encontra registrado além de sua carga genética, são suas

vivências intrauterinas e suas sensações internas viscerais, para esse

psiquismo Dias (1994) denominou como Psiquismo Caótico e Indiferenciado

(PCI), representado na Figura 2.

Figura 2 - Psiquismo Caótico e Indiferenciado – PCI

Page 32: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

27

O Psiquismo Caótico e Indiferenciado (PCI) é a sensação básica de

existir, pois ainda não há uma conscientização referente ao seu lugar no tempo

e espaço e nem sua identidade e sentimentos.

A comparação cibernética que faz está nesse momento do nascimento

em que o cérebro ainda não está totalmente desenvolvido e é nesse momento

que o recém-nascido começa a ter contato com seu mundo e o clima maternal

que estará recebendo ficará registrado no seu psiquismo.

As vivências e os climas afetivos que esse bebê receberá farão com

que esse PCI vá se estruturando e entre os dois anos e três anos de idade

esse PCI vá se transformar em Psiquismo Organizado e Diferenciado (POD),

representado na Figura 3. Esse psiquismo formado será permanente na vida

do indivíduo, assim como o computador depois ter os programas que atenda as

necessidades de cada indivíduo estará pronto para trabalhar (DIAS, 1994).

Legenda:

MI = Modelo Ingeridor MD = Modelo Defecador MU = Modelo Urinador POD = Psiquismo Organizado e Diferenciado

Fonte: (DIAS,1994, p.22)

MENTE CORPO

AMBIENTE

MI MD

MU

POD POD

POD

Figura 3 - Psiquismo Organizado e Diferenciado (POD)

Page 33: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

28

6 PSICODINÂMICA DO VÍNCULO COMPENSATÓRIO

Segundo Dias (1994;2008), vínculo compensatório é o relacionamento

que o indivíduo estabelece com pessoas ou com objetos delegando-lhe a essa

relação funções psicológicas de cuidado, proteção e orientação que nos dois

primeiros anos de vida deveria ter sido passado, mas que não foi. Assim sua

função é tamponar no psiquismo situações de desconforto que foram

vivenciadas pelo indivíduo no período em que era um bebê. O autor descreve

vínculo compensatório como um dos mecanismos de defesa do psiquismo e

que se apresenta de duas formas:

a) tampona o material cenestésico registrado na 1ª zona de exclusão do

psiquismo;

b) desloca a Angústia Patológica, que deixa de estar no mundo interno

para se localizar na relação com o objeto compensatório.

Com relação ao material cenestésico é uma sensação de vazio onde o

indivíduo projeta suas sensações de falta e incompletude, e fica na expectativa

de que alguém possa assumir a responsabilidade de preencher esse vazio da

função psicológica que não foi desenvolvida no seu desenvolvimento

cenestésico, ou seja, na estruturação dos modelos de Ingeridor, Defecador e

Urinador, esse fenômeno Dias (2008) chama de Função Delegada.

Neste conceito de função delegada o vínculo compensatório é de

dependência que pode ser direcionada para pessoas, coisas (bebida,

chocolate, cigarro, etc.), condutas (jogos, comprar, etc.) ou ideológicas. E

proporciona ao indivíduo a sensação de estar sendo cuidado, protegido e

orientado. É desta forma inconsciente que a pessoa busca algum traço da

personalidade que permitirá que se estabeleça alguma correspondência com

figura responsável pelo não preenchimento da função afetiva do período que

era bebê.

O que caracteriza o vínculo compensatório é o fato de que a pessoa, ao delegar determinada função para outra, tenta preencher suas faltas por meio do outro e não desenvolve o exercício de assumir para si a responsabilidade pela função que faltou. (DIAS, 2008, p.106)

Page 34: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

29

7 COMPULSÃO ALIMENTAR

De acordo com o dicionário On line (2016) compulsão é definida como:

Ação ou efeito de compelir. Exigência interna que faz com que o indivíduo seja

levado a realizar certa coisa, a agir de determinada forma etc.

Segundo Chimicati e Maciel, 2001, como a gordura é apenas um

sintoma físico de um distúrbio psicológico, a doença confere ao comedor

compulsivo traços que são criados por ele como mecanismos de defesa

neuróticos. Mecanismos neuróticos que servem para proteger de sofrimentos e

toda dor que esse quadro proporciona. “O ato de comer compulsivo é

acompanhado pela sensação de falta de controle sobre o próprio ato e também

dos sentimentos de culpa e vergonha.” (MOTTA, 2011, p.12).

De acordo com análise psicodramática, Dias (1996; 2006; 2008),

descreve a compulsão onde o indivíduo se utiliza do mecanismo de defesa

para justificar seu impulso, neste caso, a uma divisão interna diferente, pois, o

conjunto de crenças e verdades aceitas por ele é sempre questionada

internamente, e ele acaba por ficar sem um padrão de referência bem

estruturado na sua própria vida.

O ato compulsivo esconde sempre uma figura permissiva do mundo

interno do indivíduo, pois ocorre uma divisão interna no seu psiquismo,

apresentando um núcleo de censura e um núcleo de permissividade que não

se encontram, isto é, as ações não ocorrem no mesmo momento. A censura

consciente é uma figura do mundo interno (pai, mãe, avós, etc.), ou o próprio

bom senso do indivíduo, exemplo: quando se compromete a fazer regime ou

parar de beber, fumar ou tomar drogas. Apresentando-se assim convencido e

descontente com sua situação, porém sem nenhuma intenção de quebrar esse

compromisso. Já a figura permissiva é sempre uma figura de mundo interno do

indivíduo, encontra-se encoberta e representa uma aliança de cumplicidade

com ele próprio, assim ele é todo permissão, exemplo: quando come o bolo,

toma drogas, fuma o cigarro, ou toma aquela cerveja. Não existindo censura,

tudo lhe é permitido. Fica assim demostrado que nunca acontece um encontro

entre a censura e a permissividade no mundo interno, pois, quando uma surge

à outra se ausenta e vice versa.

Page 35: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

30

A angústia no caso da compulsão são descargas de seus conflitos

internos na quais não se relacionam com o objeto compulsivo, assim seu lado

de censura é consciente torna-se impotente e demonstra o lado permissivo

como material depositado na zona de PCI, o qual comanda sua ação,

demonstrado na Figura 4.

v

Fonte: DIAS,1996

8 DEPENDÊNCIA ALIMENTAR

Segundo dicionário On line (2016) dependência é definida como:

Sujeição; condição de quem é dependente, da pessoa que não se consegue

desligar de um hábito, especialmente de um vício: dependência física.

De acordo com Chimicati, Maciel (2001), a dependência considerada

como um estado de dependência tem como característica psíquica o

pensamento. Assim o indivíduo com pensamento fixo, geralmente inconsciente,

coloca-se em situação de repetição criando-se um vínculo de dependência com

a comida.

De acordo com análise psicodramática, para Dias (1996; 2006; 2008), a

dependência é um vínculo compensatório que ocorre de forma imediata,

porque sente satisfação e tende a se iludir, achando que a função específica foi

Vínculo

Compensatório

Comida, Bebida, Cigarro,

Etc.

Comida, Bebida, Cigarro,

Etc.

Comida, Bebida, Cigarro,

Etc.

Delega a

Função

Vínculo

Compensatório

Vínculo

Compensatório

Figura 4 - Compulsão

Page 36: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

31

cumprida, e passa a sensação de segurança, pois não há o rompimento da

ligação a não ser através da decisão do indivíduo de rompê-la. O

desencadeante da angústia é próprio objeto da dependência o qual exerce uma

função. Assim não existe um desejo o que existe é a consciência que esse

vício traz para o indivíduo. Na Figura 5 essa representação se dá na função

delegada podendo ser pelo comprometimento de qualquer um dos modelos de

funcionamento: ingeridor, defecador e urinador.

Fonte: DIAS,1996, p.71

Vínculo

Compensatório

Comida, Bebida, Cigarro,

Etc.

Comida, Bebida, Cigarro,

Etc.

Comida, Bebida, Cigarro,

Etc.

POD

(Censura)

Zona de

PCI

Figura 5 - Dependências

Page 37: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

32

CAPÍTULO III

A PESQUISA

1 INTRODUÇÃO

Comer é uma necessidade básica para a manutenção do corpo, mas

vem de encontro com o aspecto emocional, quando o ato de comer torna-se

patologia e esta vem a desencadear a obesidade. Diante de tal situação a

análise psicodramática nos apresenta uma possibilidade de identificação do

quadro, o qual pode ocorrer por dependência ou compulsão alimentar. Assim,

após análise do caso clínico proposto, o terapeuta terá condições de identificar

se o vínculo estabelecido com a comida foi por compulsão ou dependência.

Para Dias (2006;2008), a dependência é um vínculo compensatório que ocorre

de forma imediata, porque sente satisfação e tende a se iludir, achando que a

função específica foi cumprida, e passa a sensação de segurança, pois não há

o rompimento da ligação a não ser através da decisão do indivíduo de rompê-

la. Para compulsão o indivíduo se utiliza do mecanismo de defesa para

justificar seu impulso, neste caso, a uma divisão interna diferente, pois, o

conjunto de crenças e verdades aceitas por ele é sempre questionada

internamente, e ele acaba por ficar sem um padrão de referência bem

estruturado na sua própria vida.

O projeto foi submetido na Plataforma Brasil e aprovado pelo Comitê de

Ética do UniSALESIANO, apresentando o número do parecer 1.532.734 na

data de 05/05/2016.

Para análise das informações foi utilizado o método da análise temática

segundo modelo proposto por Bardin (2000). Que consiste nas seguintes

etapas:

1 – Leitura flutuante (pré-análise);

2 – Análise Temática;

3 – Levantamento dos resultados.

A análise documental foi realizada no Serviço de Psicologia do Centro

Universitário Católico Salesiano Auxilium de Lins com base no relato de um

Page 38: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

33

único paciente, onde se analisou o prontuário do mesmo, autorizado durante a

triagem, na qual, foi assinado o termo de consentimento, permitindo que suas

informações fossem utilizadas. Os riscos são mínimos, pois, poderá haver a

não concordância em manter os documentos à disposição da clínica. Para

minimizar riscos e manter o sigilo, foi realizada apenas na análise documental.

A análise correspondeu ao período de atendimento psicoterápico de

agosto a dezembro de 2015 e de fevereiro a março de 2016, onde diante da

queixa da paciente em relação à obesidade e da observação do terapeuta que

utilizou da abordagem fenomenológica-existencial para o atendimento pode-se

identificar através da análise psicodramática se a paciente apresentou um

quadro de compulsão ou dependência em relação à comida.

1.1 Leitura Flutuante (Pré análise)

A análise ocorreu entre os dias 25 e 26 de agosto de 2016 no período da

tarde na sala de supervisão do Serviço de Psicologia do Centro Universitário

Católico Salesiano Auxilium de Lins, onde se deu a leitura dos relatos que

totalizaram em oito sessões nas quais, vinte e dois recortes do discurso foram

selecionados para devida fundamentação.

1.2 A Codificação

Em seguida foi realizada a unidade de registro por meio da codificação

para a escolha dos recortes a serem selecionados. Essa codificação foi

proporcionada através de consulta no dicionário analógico para referenciação

das palavras identificadas. Assim, em cada recorte procurou-se identificar a

palavra que fizesse referência ao objeto de estudo, após pesquisa dos

sinônimos das palavras identificadas para a adaptação e diferenciação entre o

discurso do paciente e do terapeuta.

1.3 Análise qualitativa

Page 39: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

34

O estudo de caso tendo por relato o discurso apresentado na

abordagem fenomenológica-existencial nos proporcionou de maneira intuitiva

que realizasse um possível psicodiagnóstico dentro da análise psicodramática.

Tendo como referencial teórico Dias (1994, 2006 e 2016) que em suas

obras traz a psicodinâmica dos modelos de ingeridor, defecador e urinador que

compreende o desenvolvimento do indivíduo do período de 0 a 3 anos e os

climas afetivos que proporcionam a percepção em relação ao seu meio.

2 APRESENTAÇÃO DOS DADOS DA PESQUISA

Através dos relatos analisados foram selecionados vinte e dois recortes

do discurso, na qual através da utilização do método de análise temática de

Bardin (2000) e utilizando-se o referencial teórico do Dias (1996; 2006; 2008)

nos possibilitou identificar e diferenciar a relação entre compulsão e

dependência. Os relatos que representam a compulsão seguem demonstrados

no quadro 4 e os relatos que representam a dependência no quadro 5.

Assim nos relatos grifo nosso: 3 – “Comprou grandes quantidades de

comida de baixa qualidade nutricional e grandes proporções de gordura e

decidiu que iria se encher de tanto comer.”; 4 – “Comeu uma quantidade

assustadora de comida de maneira que não fazia há muito tempo e passou

muito mal tanto físico quanto psicologicamente.” e 6 – “Quando sente-se

ansiosa ou impaciente acaba comendo sem necessidade.” Dias (1996)

identifica que a compulsão é onde o indivíduo que se utiliza do mecanismo de

defesa para justificar seu impulso, a compulsividade é acompanhado pela

sensação de falta de controle sobre ação e a dualidade dos sentimentos de

culpa e vergonha. Entende-se que a paciente não menciona culpa após o ato

de comer.

E nos relatos grifo nosso: 5 – “Disse que sente-se muito mal por fazer

isto consigo mesma.” e 7 – “Após comer relatou sentir-se uma idiota, pois notou

que não precisava daquele doce ou comer aquela quantidade.” De acordo com

Dias (2008) pode-se identificar que há uma possibilidade de divisão interna no

seu psiquismo, apresentando um núcleo de censura e um núcleo de

permissividade que não se encontram, isto é, as ações não ocorrem no mesmo

Page 40: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

35

momento. Ficando claro que ocorre a censura, evidenciando a permissividade

onde tudo lhe é permitido.

Já nos relatos grifo nosso: 1 – “Relata sofrer crises de ansiedade

enormes e comer até passar mal para amenizar suas frustrações.” e 2 – “Sofre

por ansiedade e sobrepeso.” Segundo Dias (2006) na compulsão, há

descargas de conflitos internos, evidenciando que a ação não se relaciona com

o objeto compulsivo. Desta forma o lado de censura é consciente e torna-se

impotente, permitindo que seu lado permissivo se sobressaia. Entende-se que

a paciente apresenta este lado permissivo. O ato de comer a confere alívio

para suas frustações.

Quadro 4 - Relato compulsão

Ordem Relatos do documento Codificação

1 Relata sofrer crises de ansiedade enormes e comer até passar mal para amenizar suas frustrações.

Conflito/ período de desordem que vai além da norma e ingerir gerando incomodo para acalmar sua insatisfação.

2 Sofre por ansiedade e sobrepeso.

Sente dor moral pela expectativa de um acontecimento e peso excessivo.

3

Comprou grandes quantidades de comida de baixa qualidade nutricional e grandes proporções de gordura e decidiu que iria se encher de tanto comer.

Adquiriu excessivas porções de alimento de baixo valor nutricional e rico em gordura e resolveu de tal maneira se abarrotar de comer.

4

Comeu uma quantidade assustadora de comida de maneira que não fazia há muito tempo e passou muito mal tanto físico quanto psicologicamente.

Ingeriu uma quantia aterradora de alimento de um jeito exagerado e ficou indisposta de tal maneira no físico como psicologicamente.

5 Disse que sente-se muito mal por fazer isto consigo mesma.

Fala que compreende o dano que faz a si mesma

6 Quando sente-se ansiosa ou impaciente Percebe-se inquieta

Page 41: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

36

acaba comendo sem necessidade. ou nervosa e conclui ingerir o alimento sem conseguir evitar.

7 Após comer relatou sentir-se uma idiota, pois notou que não precisava daquele doce ou comer aquela quantidade.

Depois de ingerir o doce notou que jamais necessitava engolir bruscamente a porção.

A dependência é um vínculo compensatório que ocorre de forma

imediata, pois há uma sensação de vazio onde o indivíduo projeta suas

sensações de falta e incompletude, e fica na expectativa de que alguém possa

assumir a responsabilidade de preencher esse vazio da função psicológica que

não foi desenvolvida no seu material cenestésico como demonstrado nos

relatos grifo nosso: 8 – “Desde a sua infância não teve ajuda dos pais para

nada e que sempre viu seu pai, hoje falecido, agredir sua mãe.”; 13 – “Sua mãe

viajou e por estar sozinha em casa teve uma séria crise de ansiedade e

compulsão.”; 14 – “Não compreende porque não tem controle sobre a vontade

de comer e disse perceber o mal que faz para si comendo dessa forma.”; 15 –

“Quando a mãe esta em casa a educa de maneira a não permitir que ela coma

de forma exagerada.”; 19 – “Que sozinha não esta conseguindo lidar mais com

situação de comer e depois se arrepender, mas que é muito difícil.” e 22 – “Que

come mesmo sem sentir fome, mas que come, pois sabe que mesmo

passando mal é a forma que encontrou de estar viva no dia seguinte.”. De

acordo com Dias (1996), o indivíduo sente a satisfação e tende a se iludir,

achando que a função específica foi cumprida, e passa a sensação de

segurança, pois não há o rompimento da ligação a não ser através da decisão

do indivíduo de rompê-la como no relato 10 – “Diz não ter perspectiva de nada

e por isso sua ansiedade e vontade de comer só aumenta. Pede por ajuda.”

Compreende-se que a paciente está pedindo ajuda.

Nos relatos grifo nosso: 9 – “Não consegue manter uma alimentação

saudável por mais de quatro dias. Isso é frustrante relata.”; 11 – “Fato de não

se sentir mais independente como antes à coloca pra baixo, deixando-a mal e

insatisfeita.” ;12 – “Relatando que durante duas semanas conseguiu segurar

suas crises de ansiedade.”; 16 – “Sua única forma de passar o tempo e aliviar o

estresse é comer.”; 17 – “Que surtou e atacou a comida, pois come porque e a

Page 42: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

37

única coisa que lhe da prazer.”; 18 – “Que lhe é muito difícil lidar com seus

sentimentos, pois depois que come arrepende-se e fica uns dois dias pior

ainda.” e 21 – “Sente muita dor e sofrimento e que não consegue mesmo falar

não.” Entende-se que não existe um desejo o que existe é a consciência que

esse vício traz para ela. Em situações onde a angústia se manifesta, esta age

mecanicamente deslocando seu pensamento fixo para o objeto, que lhe

proporciona a segurança, causando assim a situação de repetição fazendo

com que o vínculo com a comida seja acionado. De acordo com Dias (2006)

neste caso apresenta-se como fator desencadeante da angústia o próprio

objeto da dependência (comida), o qual lhe exerce uma função.

Quadro 5 - Relato dependência

Ordem Relatos do documento Codificação

8 Desde a sua infância não teve ajuda dos pais para nada e que sempre viu

seu pai, hoje falecido, agredir sua mãe.

Desde a infância não teve assistência dos pais para o vazio e que sempre viu seu protetor (genitor), já falecido

agredir sua mãe.

9

Não consegue manter uma alimentação saudável por mais de quatro dias. Isso

é frustrante relata.

Oposição a obter uma alimentação saudável e isso

é decepcionante.

10

Diz não ter perspectiva de nada e por isso sua ansiedade e vontade de comer

só aumenta. Pede por ajuda.

Oposição ao ponto de vista e ao vazio/ inútil e por isso sua

dor moral pela expectativa de um acontecimento como

a ingestão só aumenta e solicita por auxilio.

11 Fato de não se sentir mais

independente como antes à coloca pra baixo, deixando-a mal e insatisfeita.

Negação em se perceber como antes e sente-se

inferior, deixando-a machucada e descontente.

12 Relatando que durante duas semanas

conseguiu segurar suas crises de ansiedade.

Relatando que durante duas semanas obteve segurar o período de desordem de

desespero.

13 Sua mãe viajou e por estar sozinha em casa teve uma séria crise de ansiedade

e compulsão.

Sua mãe viajou e como ficou solitária em casa houve uma

sucessão de conflito entre impaciência e a compulsão.

14

Não compreende porque não tem controle sobre a vontade de comer e disse perceber o mal que faz para si

comendo dessa forma.

Não entende porque não possui autocontrole no

desejo de comer e fala notar o dano que faz a si mesma

Page 43: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

38

se alimentando desse jeito.

15 Quando a mãe esta em casa a educa

de maneira a não permitir que ela coma de forma exagerada.

Se a mãe esta em casa instrui de modo a jamais admitir que se alimente

excessivamente.

16 Sua única forma de passar o tempo e

aliviar o estresse é comer.

Sua maneira de correr o tempo e se tranquilizar da

pressão é comer.

17 Que surtou e atacou a comida, pois

come porque e a única coisa que lhe da prazer.

Gerou o assalto ao alimento, alimentar é o incomparável

acontecimento de satisfação.

18

Que lhe é muito difícil lidar com seus sentimentos, pois depois que come

arrepende-se e fica uns dois dias pior ainda.

É demasiado custoso lidar com o entusiasmo, pois após se alimentar fica magoada.

19 Que sozinha não esta conseguindo lidar mais com situação de comer e depois se arrepender, mas que é muito difícil.

Desamparada nunca alcança o esforço com a condição de

alimentar e depois se magoar.

20 Não consegue falar não por ela e muito menos para falar não para as pessoas.

Nunca obteve de dizer sua contestação para ela e

sobremaneira se contestar com as pessoas.

21 Sente muita dor e sofrimento e que não

consegue mesmo falar não

Tem excessiva mágoa e nunca consegue expressar

sua negação.

22

Que come mesmo sem sentir fome, mas que come, pois sabe que mesmo passando mal é a forma que encontrou

de estar viva no dia seguinte.

Compreende que ingere o alimento sem fome, e essa indisposição ruim é a forma que encontrou de estar viva

no dia seguinte.

3 PARECER FINAL

Neste estudo de caso a paciente em questão abandonou o atendimento.

E não apresentou questionar seu vínculo com a comida nem tão pouco se

arrepender dos atos praticados, apresentando características de dependência

em relação à comida. Assim, a paciente não apresentou disponibilidade para

questionar sua relação com a comida. Entende-se que a paciente buscou na

relação com a terapeuta que esta assumisse o papel de responsável e a

orientasse através de uma relação complementar patológica, onde a paciente a

solicitava para cuidar de seus interesses. Compreende-se que era uma

Page 44: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

39

projeção da paciente em relação a sua mãe, a qual delegava a ela o cuidado

da sua alimentação e a responsabilidade por fazê-la parar de comer.

Page 45: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

40

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dados do estudo apontam que há uma diferenciação entre

compulsão e dependência e o terapeuta que se utilizar da análise

psicodramática como abordagem terapêutica terá formas diferentes de atuação

perante o indivíduo que apresentar o quadro de obesidade. Como o paciente é

um ser único só é possível identificar seu comprometimento após a escuta e

aplicação das técnicas dos espelhos, que permitirá ao terapeuta junto ao

paciente clarificar sua demanda e com isso, identificar em qual área durante

seu processo de desenvolvimento cenestésico ficou tamponado. Podemos

entender que a proposta apresentada por Dias identifica a compulsão como um

funcionamento de divisão interna, na qual, uma das partes se torna um agente

de censura e cobrança fazendo com que depois de um ato impulsivo

consciente aciona seu mecanismo de defesa, promovendo-lhe um sentimento

de culpa de arrependimento em relação ao objeto compulsivo.

Na dependência fica demonstrado que a um vínculo compensatório do

indivíduo com relação ao próprio objeto, que lhe proporciona uma satisfação

imediata o induz para que sua função específica seja cumprida transmitindo-lhe

uma sensação de segurança, com isso, torna-se difícil para o indivíduo se

identificar como dependente do objeto e romper com esse vínculo. Identificou-

se após análise da paciente, a mesma apresenta um quadro de dependência

em relação à comida, o que torna difícil o controle emocional no ato de comer,

pois o objeto tampona a falta deixada durante o seu desenvolvimento

cenestésico.

Page 46: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

41

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, B; FERREIRA, S.R.G. Epidemiologia. In: CLAUDINO, A. M., ZANELLA, M. T (org). Guia de Transtornos Alimentares e Obesidade. (orgs). Barueri: Manole, 2005. p.185-189. BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Universidade da UFPR, 2000.

BATISTA, M.A. Valorização dos avós na matriz de identidade. Rev. bras. psicodrama vol.17 no.1, São Paulo, 2009, p. 13-19. BERMÚDEZ-ROJAS, J. G. Introdução ao Psicodrama. Tradução Dr. José Manoel D’Alessandro. São Paulo: Mestre Jou, 1970. BRASIL. Ministério da Saúde. Obesidade e Desnutrição - Disponível em:<bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/obesidade_desnutricao.pdf> acesso em 05.05.2016. CERVELLINI,N.H.;CALLAS, D.G.;FERREIRA, S.M.P. Grupo autodirigido: uma estratégia para o desenvolvimento do papel de diretor e ego-auxiliar. Rev. bras. psicodrama vol.23 no.1, São Paulo, 2015, p. 33-41 Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/psicodrama/v23n1/n1a05.pdf> Acesso em 09.05.2016 CHIMICATI, E. M.; MACIEL, S. F. Obesidade uma doença do afeto. Belo Horizonte: Health, 2001. p.46-104. CLAUDINO, A. M., ZANELLA, M. T. Guia de Transtornos Alimentares e Obesidade. (OrgS). Barueri: Manole, 2005. CONEJO, P. S. Homem e obesidade – excessos e faltas: corpos que contam histórias. 2009. Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica) – Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, São Paulo. Disponível em:< http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-17122009-093542/pt-br.php>. Acesso em 14 dez. 2015. DÂMASO, A. Obesidade. IN. DÂMASO, A.; GUERRA, R. L. F.; BOTERO, J. P.; PRADO, W. L. do, Etiologia da Obesidade. São Paulo: Medsi, 2003. p. 3–15.

Page 47: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

42

DIAS, R. C. S. V. Análise Psicodramática: teoria da programação cenestésica. São Paulo: Ágora, 1994. ________________ Sonhos e Psicodrama Interno na Análise Psicodramática. São Paulo: Ágora, 1996. ________________ Psicopatologia e Psicodinâmica na Análise Psicodramática vol. I. São Paulo: Ágora, 2006. _________________ Psicopatologia e Psicodinâmica na Análise Psicodramática vol. II. São Paulo: Ágora, 2008. __________________ Psicopatologia e Psicodinâmica na Análise Psicodramática vol. V. São Paulo: Ágora, 2016. DICIONÁRIO ON LINE. Disponível em: <https://www.dicio.com.br/>. Acesso em: 01.10.2016. DIRETRIZES BRASILEIRAS de obesidade 2009/2010/ ABESO - Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. - 3. ed. - Itapevi, SP : AC Farmacêutica, 2009. Disponível em:<http://www.abeso.org.br/pdf/diretrizes_brasileiras_obesidade_2009_2010_1.pdf>. Acesso em 05.05.2016. GOLÇALVES, S.C.; WOLFF, R.J.; ALMEIDA, C.W. Lições de psicodrama: introdução ao pensamento de J. L. Moreno. São Paulo: Ágora, 1988. GUIMARÃES, L. A. História do Psicodrama Da evolução do criador à evolução da criação. Disponível em: <http://www.asbap.com.br/producao/historia_psicodrama.pdf> Acesso em: 28.04.2016. LOLLI, M. S. A. Obesidade como sintoma: uma leitura psicanalítica. São Paulo: Vetor, 1999. MATOS, M. I. R. Terapia Comportamental. In: CLAUDINO, A. M., ZANELLA, M. T (org). Guia de Transtornos Alimentares e Obesidade. (orgs). Barueri: Manole, 2005. p.259-260. MENEZES, O. A. Obesidade motivações inconscientes. São Paulo: Paulus, 1998.

Page 48: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

43

MORENO, J. L. Psicodrama. Tradução Álvaro Cabral. 11. ed. São Paulo: Cultrix, 2007. MOTTA, E. F. O Peso da Obesidade: O excesso de peso como sintoma. Disponível em:< https://psicologado.com/abordagens/psicanalise/o-peso-da-obesidade-o-excesso-de-peso-como-sintoma> acesso em 12.05.2016. MOTTA, J. M. C. 1970: o Congresso que redefiniu o campo do psicodrama brasileiro. Rev. bras. psicodrama vol.18 no.2, São Paulo, 2010, p. 119-128. PERES, R. B. Prejuízos à saúde impostos pela obesidade. In: CLAUDINO, A. M., ZANELLA, M. T (org). Guia de Transtornos Alimentares e Obesidade. (orgs). Barueri: Manole, 2005. p.211-213. PINTO, A. C. B. Refeição Psicodramática: a obesidade em cena – a psicoterapia psicodramática na superação da obesidade. IN: FLEURY, H. J.; MARRA, M. M. (OrgS). Intervenções grupais na saúde. São Paulo: Ágora, 2005. p. 111–129. SADOCK, B. J. Compêndio de Psiquiatria: ciências do comportamento e psiquiatria clínica. Tradução Claudia Dornelles ... (et al.). 9.ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. SEGAL, A. Obesidade não tem cura, mas tem tratamento. São Paulo: Lemos, 1998. SENISE, N. Dr. A obesidade um problema psicológico. São Paulo: Edibolso, 1976. SOEIRO, A. C; SAAD. C. A. Psicodrama e psicoterapia. 2. ed. São Paulo: Ágora, 1995. VIEIRA, F. E. M. Da Ação à Emoção: O Psicodrama no tratamento da obesidade. Estudo da eficácia e do processo terapêutico. 2014. Tese (Doutorado em Psicologia) – Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação – Universidade do Porto, Porto Portugal. 2014. p. 29–90. Disponível em: <https://repositorio-aberto.up.pt/handle/10216/78301>. Acesso em: 14 jan. 2016.

Page 49: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

44

VIGITEL 2014. Disponível em: <http://www.abeso.org.br/uploads/downloads/72/553a243c4b9f3.pdf>. Acesso em: 08 março 2016. ZANELLA, M. T. Tratamento. In: CLAUDINO, A. M., ZANELLA, M. T (org). Guia de Transtornos Alimentares e Obesidade. (orgs). Barueri: Manole, 2005. p.235-241.

Page 50: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

45

APÊNDICE

Page 51: A OBESIDADE SOB A ÓTICA DA ANÁLISE … · sentimentos. Podendo se tornar um recurso utilizado pela pessoa que tem dificuldade de entrar em contato e acolher as suas emoções, onde

46

ANEXO