A Ordem dos Cavaleiros Maçons Elus Coën do Universo

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A Ordem dos Cavaleiros Maçons Elus Coën do Universo Jetro A exemplo de todos os grupamentos ocultistas do século XVIII, a sociedade iniciática, mística e secreta fundada por Martines de Pasquallys tomou, desde sua constituição, a forma de um rito maçônico. A Franco-Maçonaria, muito florescente nessa época, compreendia duas seções distintas, mas intimamente ligadas: A maçonaria simbólica e a maçonaria escocesa. A primeira (Freemasonry), chega à França, importada da Inglaterra, em torno de 1730 e compreendia apenas três graus: Aprendiz, Companheiro e Mestre. Pela cor dos seus colares os chamavam comumente de graus azuis. Nomeavam de Lojas as suas assembléias. Na França, eram observados fielmente os usos de seus irmãos ingleses: professavam um humanitarismo e tinha por programa oficial a educação social dos maçons, que aprendiam a praticar a igualdade e a fraternidade. A segunda, chamada maçonaria escocesa, mas nascida na França quinze anos mais tarde, cultivava o que chamavam Altos Graus, cujos titulares se reuniam em seus Capítulos ou Conselhos. Os graus escoceses, acessíveis apenas aos detentores dos graus azuis, foram organizados em vários ritos, diferentes entre si, que eram, entretanto, variantes de alguns tipos fundamentais, como ritos templários, ritos alquímicos, ritos filosóficos, ritos egípcios e outros. Cada rito se propunha a ser uma escola iniciática dentro de uma sistemática própria, com fins determinados. Assim, tínhamos a maçonaria dita “inglesa” com três graus azuis e a maçonaria dita “escocesa” que, além dos três graus azuis, comportava uma série de graus superiores ao grau de mestre. É dentro dessa paisagem que aparece Martinez de Pasquallys e constitui em 21 de março de 1767 (equinócio de primavera), em Paris, o “Tribunal Soberano”, órgão supremo da “Ordem dos Cavaleiros Maçons Elus Coën do Universo” dando assim nascimento oficial da dita ordem. Esta Ordem foi estruturada como um rito maçônico escocês, como estava em moda na época, cujos graus azuis eram similares aos demais ritos, sendo que os altos graus formavam a ordem propriamente dita, de cunho iniciático, sacerdotal e teúrgico. A hierarquia iniciática da Ordem dos Elus Coën era, segundo os estatutos de 1767, a seguinte: Pórtico: 1. Aprendiz 2. Companheiro 3. Mestre Particular – Mestre Perfeito Eleito Templo: 1. Aprendiz Coën 2. Companheiro Coën 3. Mestre Coën Santuário: 4. Grande Arquiteto 5. Cavaleiro do Oriente 6. Comendador do Oriente 7. Réau – Croix

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A Ordem dos Cavaleiros Maçons Elus Coën do Universo Jetro

A exemplo de todos os grupamentos ocultistas do século XVIII, a sociedade

iniciática, mística e secreta fundada por Martines de Pasquallys tomou, desde sua constituição, a forma de um rito maçônico. A Franco-Maçonaria, muito florescente nessa época, compreendia duas seções distintas, mas intimamente ligadas: A maçonaria simbólica e a maçonaria escocesa.

A primeira (Freemasonry), chega à França, importada da Inglaterra, em torno de

1730 e compreendia apenas três graus: Aprendiz, Companheiro e Mestre. Pela cor dos seus colares os chamavam comumente de graus azuis. Nomeavam de Lojas as suas assembléias. Na França, eram observados fielmente os usos de seus irmãos ingleses: professavam um humanitarismo e tinha por programa oficial a educação social dos maçons, que aprendiam a praticar a igualdade e a fraternidade.

A segunda, chamada maçonaria escocesa, mas nascida na França quinze anos

mais tarde, cultivava o que chamavam Altos Graus, cujos titulares se reuniam em seus Capítulos ou Conselhos. Os graus escoceses, acessíveis apenas aos detentores dos graus azuis, foram organizados em vários ritos, diferentes entre si, que eram, entretanto, variantes de alguns tipos fundamentais, como ritos templários, ritos alquímicos, ritos filosóficos, ritos egípcios e outros. Cada rito se propunha a ser uma escola iniciática dentro de uma sistemática própria, com fins determinados.

Assim, tínhamos a maçonaria dita “inglesa” com três graus azuis e a maçonaria dita

“escocesa” que, além dos três graus azuis, comportava uma série de graus superiores ao grau de mestre.

É dentro dessa paisagem que aparece Martinez de Pasquallys e constitui em 21 de

março de 1767 (equinócio de primavera), em Paris, o “Tribunal Soberano”, órgão supremo da “Ordem dos Cavaleiros Maçons Elus Coën do Universo” dando assim nascimento oficial da dita ordem. Esta Ordem foi estruturada como um rito maçônico escocês, como estava em moda na época, cujos graus azuis eram similares aos demais ritos, sendo que os altos graus formavam a ordem propriamente dita, de cunho iniciático, sacerdotal e teúrgico.

A hierarquia iniciática da Ordem dos Elus Coën era, segundo os estatutos de 1767, a seguinte:

Pórtico: 1. Aprendiz 2. Companheiro 3. Mestre Particular – Mestre Perfeito Eleito

Templo: 1. Aprendiz Coën 2. Companheiro Coën 3. Mestre Coën

Santuário: 4. Grande Arquiteto 5. Cavaleiro do Oriente 6. Comendador do Oriente 7. Réau – Croix

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Assim, a Ordem é dividida em três classes. Primeiramente uma classe introdutória, simbólica e maçônica. Após, uma classe em que se estuda a natureza divina, espiritual, humana e corporal, a doutrina da queda adâmica, seu estado atual e possibilidade de reintegração. Finalmente, uma classe em que se adentra aos estudos e práticas do culto teúrgico.

Para o Tribunal Soberano, nessa ocasião, ele nomeia Bacon de La Chevalerie seu

Substituto Universal e Jean Baptiste de Willermoz como Inspetor Geral para o Oriente de Lyon. Em 1770, a Ordem tinha mais de uma centena de irmãos e Lojas afiliadas em Avignon, Bordeaux, Eu, Foix, La Rochelle, Libourne, Lyon, Metz, Montpellier, Paris e Versailles.

Os Elus Coën recrutavam seus membros entre os maçons detentores do grau de

mestre, maçons dos altos graus de outros regimes, ou excepcionalmente, diretamente dentre os profanos, como foi o caso de Louis-Claude de Saint-Martin.

Título oficial da escola: Ordre des Chevaliers Maçons Élus-Coën de l’Universe (Ordem dos Cavaleiros Maçons Sacerdotes Eleitos do Universo). Cavaleiros: Um singular regime de maçonaria escocesa que reivindica uma herança cavalheiresca, no sentido de cavaleiro espiritual, em combate, em continuidade simbólica das ordens militares da idade média e da Ordem do Templo. O cavaleiro maçon, segundo Martines, se investe das forças do bem, nos combates contra as forças das trevas. Maçon: no significado de homem verdadeiro, tal como o Eterno emanou e que, através da Ordem, aprende o caminho da regeneração e da Reintegração. O construtor, não de templos apócrifos, mas do Templo Universal. Élus: eleitos, em alusão à eleição dos mestres maçons para a vingança da morte do mestre Hiram, caçando seus assassinos. Martines transpõe esta simbologia da vingança de Hiram no sentido do combate dos inimigos de Deus. Coën: expressão bíblica, Kohanin Halevim, do livro do Deuteronômio, designa os Sacerdotes propriamente ditos da tribo de Levi. Em nome do povo hebreu, o Kohen exerce um culto múltiplo – sacrifício, dom, homenagem, ação de graças, comunhão, expiação, purificação e bênção. Os Elus-Coën de Martines são sacerdotes também, mas sua eleição não é humana, não vem da raça ou da tribo, ela vem do desejo do homem e da graça de Deus. Nas palavras do próprio Martines de Pasqually: “Ele opera virtualmente para a purificação da forma (quer dizer, dos envelopes de matéria passiva, o corpo) e sobre o ser espiritual menor (quer dizer, o próprio homem, enquanto emanado de Deus), o que o torna suscetível de tornar-se receptáculo da potência divina e das ações espirituais dos chefes regionários celestes e terrestres (anjos)...” Do Universo: Os Elus Coën celebram um culto de natureza teúrgica, um trabalho divino, travando uma estreita relação entre o homem, o universo (com seus seres que o habitam) e Deus. A Ordem inteira forma, sobre a superfície da terra uma circunferência particular que é o receptáculo das ações espirituais celestes. Martinez de Pasquallys, passou para o oriente eterno em 20 de setembro de 1774, porém antes, ele designa para ser seu sucessor, seu cunhado, Armand Caignet de

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Lestére. Este vem a falecer em 1778, tendo transmitido seus poderes a Sebastien de Las Casas. Aos poucos, sem a presença do mestre, a Ordem entra em decadência. Lentamente os Templos foram sendo postos em adormecimento, até que em 1782, por ocasião do Convento de Wilemsbad, a ordem foi proclamada extinta como rito maçônico. Mas os Elus Coën continuaram a propagar a doutrina da Ordem, seja individualmente, de boca-a-ouvido, seja coletivamente, na clandestinidade, através grupamentos secretos, que tinham o nome de Areópagos Cabalísticos, compostos invariavelmente de nove membros. Ao longo do século 19, ensinamento oculto de Martinez de Pasquallys foi transmitido, por um lado pelos Elus Coëns, cujo um dos últimos representantes diretos foi o irmão Destigny, falecido em 1768, que transmite seu legado ao irmão Villareal, que o mantém até 1900. Por outro lado, a iniciação Coën se perpetua na classe secreta criada por Jean Baptiste de Wllermoz e reservada apenas a alguns membros escolhidos entre os Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa – C.B.C.S., do Rito Escocês Retificado, aquela dos Cavaleiros Professos e Grandes Professos. A transmissão da Ordem dos Elus Coën chega até os dias de hoje por duas vias: uma, através dos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa, a outra, através dos Elus Coën individuais, via Edouard Blitz, Charles Detré e Jean Bricaud. Ambas se reúnem em Georges Bogé de Lagréze - Micael, que transmite a Robert Ambelaim, que reativa a Ordem em 1943. Após 1945, a Ordem dos Cavaleiros Maçons Elus Coën do Universo, tendo retomado força e vigor, sua iniciação passa a ser transmitida, não como rito maçônico, mas como “ordem interior” na Ordem Martinista dos Elus-Cohen, sendo restrita somente a alguns martinistas selecionados, já detentores do grau de Superior Incógnito. Em 28 de outubro de 1962, é firmado um “Protocolo de União das Ordens Martinistas”, no qual fica estabelecida uma unificação da “Ordem Martinista” (fundada por Papus, cujo Grão-Mestre é Phillipe Encause, filho de Papus), a “Ordem Martinista de Lyon” (cujo Grão-Mestre é Henry Dupont) e a “Ordem Martinista dos Elus-Cohen” (cujo Grão-Mestre é Robert Ambelaim). Nessa oportunidade ficou estabelecido a existência de um “Circulo exterior”, chamado “Ordem de Saint-Martin” e um “Círculo interior”, chamado de “Ordem dos Elus Cohen”. Phillipe Encausse e Robert Ambelaim ficaram respectivamente como chefes do círculo exterior e do círculo interior. Em 1967, Robert Ambelaim se demissiona do posto de Soberano Grande Comendador da Ordem dos Elus-Cohen em favor de Ivan Mosca, residente em Roma. Em 6 de fevereiro de 1975, uma carta circular da Câmara de Direção da Ordem Martinista dá autonomia administrativa plena a todos os grupamentos Martinistas estrangeiros espalhados pela superfície da terra. Desta forma, as diversas delegações da Ordem Martinista nos mais diversos países tornam-se Ordens independentes. Atualmente, a Ordem dos Cavaleiros Maçons Elus Coën do Universo é mantida como ordem interna, reservada e secreta, em algumas das várias “Ordens Martinistas” existentes no mundo, ou ainda, como rito maçônico independente, como é o caso da Ordem dos Cavaleiros Maçons Elus Cohen do Universo dirigida por Ivan Mosca na Itália.