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Pelotas - RS, 06 a 08 de julho de 2016 SBSP - Sociedade Brasileira de Sistemas de Produção A ORGANIZAÇÃO SÓCIO-FINANCEIRA NA AGRICULTURA FAMILIAR: UM ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE ERVAL SECO - REGIÃO NORTE DO RS Pâmela Linke Acadêmica de Graduação do Curso de Zootecnia, Universidade Federal de Santa Maria - Campus de Palmeira das Missões, Rio Grande do Sul. E-mail: [email protected] Rosani Spanevello Núcleo de Pesquisa e Extensão em Agronegócios; Docente do Programa de Pós-Graduação em Agronegócios (PPGAGR/UFSM), Campus Palmeira das Missões/RS. Rio Grande do Sul. E-mail: [email protected] Tanice Andreatta Núcleo de Pesquisa e Extensão em Agronegócios; Docente do Programa de Pós-Graduação em Agronegócios (PPGAGR/UFSM), Campus Palmeira das Missões/RS. E-mail: [email protected]; Adriano Lago Núcleo de Pesquisa e Extensão em Agronegócios; Docente do Programa de Pós-Graduação em Agronegócios (PPGAGR/UFSM), Campus Palmeira das Missões/RS. E-mail: [email protected]; Luciana Fagundes Christofari Núcleo de Pesquisa e Extensão em Agronegócios; Docente do Programa de Pós-Graduação em Agronegócios (PPGAGR/UFSM), Campus Palmeira das Missões/RS. E-mail: [email protected] Grupo de Pesquisa: Fundamentos teórico-metodológicos da abordagem sistêmica na agricultura Resumo: O objetivo deste artigo é identificar as mudanças observadas em uma unidade de produção agropecuária (UPA), no município de Erval Seco, região Norte do Rio Grande do Sul. De maneira mais específica, através de um estudo de caso, analisam-se os sistemas de produção e a organização sócio-financeira da referida UPA. A coleta de dados ocorreu entre os meses de setembro e outubro de 2015, através de um roteiro de pesquisa semiestruturado, que continha questões abertas e fechadas. Os resultados demonstram que o agricultor adquiriu a propriedade e foi aumentando a área com o passar do tempo. Quanto à mão de obra, a propriedade conta com mão de obra familiar dos pais e um dos filhos para produzir grãos, leite, suínos e fruticultura. Entre os sistemas de produção, o suíno é o que apresenta maior rentabilidade, seguido do leite. Como conclusão, verifica-se que a total da renda agrícola gerada serve para manter a família não sendo muito superior a ponto de permitir maiores investimentos com o objetivo de melhorar as condições produtivas da propriedade no médio ou longo prazo. Palavras-chave: agricultura familiar, valor agregado, renda agrícola, nível de reprodução. THE PARTNER FINANCIAL ORGANIZATION IN FAMILY AGRICULTURE: A CASE STUDY IN THE MUNICIPALITY OF ERVAL SECO - NORTH OF RS.

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SBSP - Sociedade Brasileira de Sistemas de Produção

A ORGANIZAÇÃO SÓCIO-FINANCEIRA NA AGRICULTURA FAMILIAR: UM

ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE ERVAL SECO - REGIÃO NORTE DO RS

Pâmela Linke

Acadêmica de Graduação do Curso de Zootecnia, Universidade Federal de Santa Maria - Campus de Palmeira

das Missões, Rio Grande do Sul. E-mail: [email protected]

Rosani Spanevello

Núcleo de Pesquisa e Extensão em Agronegócios; Docente do Programa de Pós-Graduação em Agronegócios

(PPGAGR/UFSM), Campus Palmeira das Missões/RS. Rio Grande do Sul. E-mail: [email protected]

Tanice Andreatta

Núcleo de Pesquisa e Extensão em Agronegócios; Docente do Programa de Pós-Graduação em Agronegócios

(PPGAGR/UFSM), Campus Palmeira das Missões/RS. E-mail: [email protected];

Adriano Lago

Núcleo de Pesquisa e Extensão em Agronegócios; Docente do Programa de Pós-Graduação em Agronegócios

(PPGAGR/UFSM), Campus Palmeira das Missões/RS. E-mail: [email protected];

Luciana Fagundes Christofari

Núcleo de Pesquisa e Extensão em Agronegócios; Docente do Programa de Pós-Graduação em Agronegócios

(PPGAGR/UFSM), Campus Palmeira das Missões/RS. E-mail: [email protected]

Grupo de Pesquisa: Fundamentos teórico-metodológicos da abordagem sistêmica na

agricultura

Resumo: O objetivo deste artigo é identificar as mudanças observadas em uma unidade de

produção agropecuária (UPA), no município de Erval Seco, região Norte do Rio Grande do

Sul. De maneira mais específica, através de um estudo de caso, analisam-se os sistemas de

produção e a organização sócio-financeira da referida UPA. A coleta de dados ocorreu entre

os meses de setembro e outubro de 2015, através de um roteiro de pesquisa semiestruturado,

que continha questões abertas e fechadas. Os resultados demonstram que o agricultor adquiriu

a propriedade e foi aumentando a área com o passar do tempo. Quanto à mão de obra, a

propriedade conta com mão de obra familiar dos pais e um dos filhos para produzir grãos,

leite, suínos e fruticultura. Entre os sistemas de produção, o suíno é o que apresenta maior

rentabilidade, seguido do leite. Como conclusão, verifica-se que a total da renda agrícola

gerada serve para manter a família não sendo muito superior a ponto de permitir maiores

investimentos com o objetivo de melhorar as condições produtivas da propriedade no médio

ou longo prazo.

Palavras-chave: agricultura familiar, valor agregado, renda agrícola, nível de reprodução.

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CASE STUDY IN THE MUNICIPALITY OF ERVAL SECO - NORTH OF RS.

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Abstract: The objective of this article is to identify the changes observed in an agricultural

production unit (UPA) in the municipality of Erval Seco, North Rio Grande do Sul region.

More specifically, through a case study, the system is analyzed production and social and

financial organization that UPA. The results show that the farmer acquired the property and

was increasing the area over time. About the manpower, the property counts with familiar

manpower of the parents and one of the sons to produce grains, milk, fruticulture and

pigs. Between production systems, the swine is the one with greater yield, followed milk.

Concluding, it is verified that the total rural income serves to mantein the family, not being to

much higher to the point of allow bigger investments with the objective of improve the

productive conditions of the property in the mid or long term.

Key words: family agriculture, value added, farm income, reproduction level.

1. Introdução

A compreensão das condições de existência e as particularidades da evolução das sociedades

agrárias e de suas respectivas formas de agricultura, tanto em sua expressão mais local, quanto em

sua expressão regional e nacional e, indiretamente, das dinâmicas agrícolas e agrárias próprias à

agricultura vêm sendo, há muito tempo, um enorme desafio para as diferentes áreas do

conhecimento envolvidas com a promoção e a ação em prol do desenvolvimento rural

(MAZOYER; MIGUEL, 2009).

Este desafio também é recorrente na agricultura brasileira, especialmente na região sul do

país, em que se desenvolveu um perfil de produção diversificado composto por grãos, pecuária de

leite, aves, suínos, produção de frutíferas (tais como uva e frutas cítricas) e pecuária de corte por

uma categoria social conhecida como agricultor familiar. Especialmente nas regiões centro e norte

do Rio Grande do Sul, onde esse agricultor familiar está mais presente, a dinâmica agrária passou

de um sistema colonial de produção, marcado pela força de mão de obra familiar e escassos

recursos tecnológicos para um patamar de produção moderno com clara dependência de insumos

facilitadores do trabalho como maquinário, comunicação, crédito rural, mão de obra especializada

tanto para tocar as atividades de campo como para gerir os negócios, dependência do mercado para

comercialização, dos fatores climáticos, entre outros. Esta nova dinâmica da agricultura, segundo

Schneider (2003), serve para nos mostrar que, apesar da agricultura ocupar um lugar de destaque no

espaço rural, cuja importância varia segundo as regiões e os ecossistemas naturais, não se pode,

contudo, imaginar que ela própria não tenha sido modificada no período recente.

Lima et al. (2005) reforça que esta nova forma de fazer a agricultura trouxe outras demandas

aos agricultores, entre as quais a necessidade das propriedades se reproduzirem como forma de

produção economicamente viável. Para isto acontecer, segundo os autores, as propriedades e seus

gestores precisariam trocar as bases materiais e gerenciais de funcionamento, integrando-se cada

vez mais ao circuito financeiro e material.

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Com isso, torna-se necessário aplicar a gestão financeira e material da propriedade como

forma de garantir a viabilidade socioeconômica destas propriedades no tempo. No entanto, segundo

Lima et al (2005), a aplicabilidade dessa gestão está associada à racionalidade administrativa do

agricultor familiar, considerando a realidade (presente e passada) da propriedade, a realidade do

próprio agricultor ou como ele se vê sobre a realidade em que ele atua e suas percepções sobre o

futuro da propriedade e das atividades desenvolvidas nela associada a organização sócio-financeira

da mesma.

Este trabalho tem como pano de fundo as discussões relacionadas à forma como os

agricultores familiares têm trabalhado a gestão sócio-financeira das suas unidades de produção

agropecuárias. Nesse contexto, o objetivo deste artigo é identificar as mudanças observadas em uma

unidade de produção agropecuária (UPA), no município de Erval Seco, região Norte do Rio Grande

do Sul. De maneira mais específica, através de um estudo de caso, são analisados os sistemas de

produção e a organização sócio-financeira da referida UPA.

Em termos estruturais, o artigo apresenta introdução, em que consta o objetivo do trabalho,

seguido da revisão bibliográfica contendo a definição de agricultura familiar e abordagem

sistêmica, dos procedimentos metodológicos, resultados, conclusão e referências bibliográficas.

2. Revisão Bibliográfica

2.1 Agricultura familiar

Segundo a Lei nº 11.326/2006, são definidos como familiares os agricultores que

apresentam as seguintes características: não tenha área maior do que 4 (quatro) módulos fiscais;

utilize predominantemente mão de obra da própria família; tenha renda familiar predominantemente

originada de atividades econômicas vinculadas ao próprio estabelecimento; dirija seu

estabelecimento ou empreendimento com sua família. A Lei também considera como agricultores

familiares os silvicultores, aquicultores, extrativistas e pescadores que também atendam aos

princípios legais acima citados.

A partir do conceito normativo destacado acima, reforça-se que a agricultura familiar

apresenta uma representatividade numérica expressiva no Brasil e tem uma importante contribuição

na produção de alimentos, sendo que boa parte desta produção de alimentos é direcionada ao

atendimento da população brasileira. No Censo Agropecuário de 2006, foram identificados

4.366.267 estabelecimentos da agricultura familiar, o que representa 84,36% dos estabelecimentos

brasileiros, ocupando uma área de 80,10 milhões de hectares, ou seja, 24% da área ocupada pelos

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estabelecimentos agropecuários brasileiros. A área média dos estabelecimentos familiares era de

18,34 hectares (IBGE, 2006).

Ainda, conforme dados do IBGE (2006), apesar de possuírem apenas 24,3% de terras para

produção, os agricultores familiares são responsáveis por 83% da produção nacional de mandioca,

69,6% da produção de feijão, 45,5% do milho, 38% do café, 33% do arroz, 58% do leite, 59% do

plantel de suínos, 51% do plantel de aves, 30% dos bovinos, 21% da produção do trigo e, por fim, a

soja com menor participação (14%). Considerando a realidade do Rio Grande do Sul, cerca de

378.546 (85,7%) são familiares, com renda média mensal de R$ 22.038,00, e contribuindo com

quase a metade (46,6%) da renda agropecuária do estado (SPANEVELLO et al. 2014).

Além da contribuição na produção de alimentos, a agricultura familiar é importante para a

manutenção das relações sociais no campo, tais como as estruturas sociais das comunidades

(igrejas, escolas) e a própria continuidade das propriedades e das famílias através do processo de

sucessão geracional, em que os pais assumem o lugar dos filhos na manutenção dos negócios

agrícolas (SPANEVELLO, 2008).

2.2 Abordagem Sistêmica e suas contribuições para análise de Unidades de Produção

A realidade agrária em que estão inseridas as unidades de produção familiares tende a

ser distinta em decorrência das condições edafoclimáticas, econômicas, produtivas e

socioculturais. Estas diferenciações são marcadas pelas diferenciações sociais entre os

agricultores, quanto à mão de obra familiar, quanto à possibilidade de contratação e às

perspectivas sucessórias das novas gerações em manter-se na atividade, além das

diferenciações econômicas quanto ao tamanho da área, grau de tecnificação, capacidade de

investimentos, condições produtivas do solo, distância dos mercados, acesso a informações

técnicas atualizadas, entre outros. Conforme Miguel (2014), as propriedades ou unidade de

produção agrícola (UPAs) são formatadas pelos agricultores e produtores rurais, que

organizam suas atividades produtivas a partir de suas condições materiais e de seu legado

cultural, étnico e social. Nessa perspectiva, os agricultores tentam garantir a sobrevivência

desta geração e da próxima (WAGNER et al. 2010).

Uma das formas de compreender e analisar essa diversidade de fatores que dificulta a

realidade das unidades de produção familiares é através da abordagem sistêmica. Esta

abordagem permite avançar sobre as análises mais complexas das unidades de produção e dos

agricultores para além da questão produtiva. Através dessa abordagem, busca-se compreender

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a diversidade de relações e interações que acontecem no interior da propriedade e o ambiente

externo. Segundo Miguel (2014, p. 3 - 4):

Com a abordagem sistêmica, incorpora-se a noção de que a UPA pode apresentar,

além da função de produção de produtos agrícolas, outras funções combinadas:

comercialização, serviços, conservação do espaço, etc. A gestão de uma UPA passa

a ser considerada como sendo a gestão coerente e articulada de atividades produtivas

de bens e de serviços agrícolas e não-agrícolas. De uma aproximação da UPA

centrada, em um primeiro momento, no estudo das atividades produtivas, chega-se

progressivamente a uma valorização do papel do agricultor/produtor rural e de sua

família como protagonista, idealizadora e gestora da UPA. A UPA pode ser definida

como sendo o “objeto” resultante da interação do sistema social com o sistema

natural. (...) Assim, a Unidade de Produção Agrícola pode ser concebida como um

sistema composto de um conjunto de elementos em interação (sistemas de cultivo

e/ou criação e/ou transformação), influenciado pelos objetivos do agricultor/produtor

rural e de sua família (sistema social), aberto e em interação com o meio externo

(econômico, físico e humano). A UPA é, portanto, um sistema dinâmico e aberto ao

ambiente externo (ambiental, econômico, social).

De acordo com Walliser (1977, apud Miguel, 2009) pode-se afirmar que a abordagem

sistêmica almeja alcançar os seguintes objetivos: restaurar uma abordagem mais sintética que

reconheça as propriedades de interação dinâmica entre os elementos de um conjunto/objeto;

permitir a organização do conhecimento de maneira a facilitar a concepção e o estudo de

conjuntos/objetos amplos e complexos; promover uma linguagem unitária que possa servir de

suporte à articulação e à integração de modelos teóricos e de preceitos metodológicos

dispersos em diversas disciplinas.

Com isso, pode-se dizer que a abordagem sistêmica vem a estabelecer uma visão ampla

de agrupamentos, vigorosamente elaborada e articulada em função de algum propósito

podendo perceber assim uma importância considerável das pesquisas cada vez mais

crescentes sobre o assunto, a fim de entender e melhorar sistemas do passado buscando

semelhanças e diferenças entre as formas de agricultura e, com isso, perceber através das

origens e transformações a crescente complexidade e diversidade do meio rural como um

todo.

Em termos metodológicos, Mazoyer e Miguel (2009) detalham, na Figura 1, a forma de

visualizar e compreender a abordagem sistêmica através da sua organização e relações

existentes dentro da Unidade de Produção Agrícola.

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Fonte: Miguel (2014).

Segundo os autores, a interação do agricultor (sistema social) com os sistemas de

produção, os quais compreendem a mão de obra disponível ou a força de trabalho existente na

propriedade (geralmente composta unicamente pelos membros da família), que se organiza

para conduzir os diversos sistemas de produção, tanto animal como vegetal incluindo também

a transformação de produtos primários destinados à produção de subsistência ou venda fora da

propriedade (Figura 1).

Por outro lado, a Figura mostra outro patamar de interação que está relacionado com o

agricultor/família e sistemas de produção com o meio externo. Essa interação está

diretamente associada às relações sociais da família para além da propriedade e também como

a necessidade de escoamento da produção interna para os mercados e agroindústrias, além da

interação com agentes bancários, de assistência técnica pública ou privada, entre outros. Em

síntese, a figura traduz a percepção de que a abordagem sistêmica permite analisar um

conjunto de fatores que afetam a propriedade e a família, sejam internos ou externos aos

mesmos.

3. Procedimentos metodológicos

A unidade de análise deste trabalho é uma propriedade familiar localizada no

município de Erva Seco, região Norte do Rio Grande do Sul. A propriedade possui 34

hectares, onde são produzidos suínos, mas também bovinos com aptidão para a produção de

leite; em termos de cultivos, ocorre a produção de grãos como soja, milho e trigo, além de

aveia, sorgo, destinados à produção animal e plantação de citrus (laranja).

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A coleta de dados ocorreu entre setembro e outubro de 2015, através de roteiro semi-

estruturado, realizado diretamente com os membros integrantes da família. Após a coleta de

dados, analisaram-se os mesmos com base na metodologia proposta por Lima et al. (2005).

Esta metodologia tem como foco trabalhar com o valor agregado gerado pela propriedade.

Segundo Lima et al. (2005), os rendimentos econômicos de uma unidade de produção são

medidos pelos custos que os agricultores possuem para tocar determinando sistema de

produção. A análise dos custos de produção, ou seja, saber qual é o valor ou tamanho destes

custos nos permite identificar a eficiência econômica da unidade de produção.

O cálculo do valor agregado proposto por Lima et al (2005) leva em consideração o

produto bruto (PB) gerado pela propriedade, ou seja, tudo o que o produtor produziu para

vender, sendo calculado pela quantidade vendida versus o preço de mercado; o consumo

intermediário (CI) é o que o produtor compra para tocar a safra de determinado sistema de

produção, como: sementes, fertilizantes, alimentação animal, entre outros. Em termos

representativos, a fórmula do valor agregado fica assim constituída: VA = PB – CI. Este

cálculo nos permite gerar o valor agregado bruto (VAB), que significa o resultado do produto

bruto subtraído do consumo intermediário. No entanto, é preciso considerar que os

agricultores ainda apresentam outros custos, como é o caso da depreciação. A depreciação

corresponde à fração do valor dos meios de produção adquiridos de outros agentes (máquinas,

equipamentos, instalações), que não são integralmente consumidos no decorrer de um ciclo de

produção, e devido a essas características, uma fração do valor desses bens é descontada, a

cada ano, do valor dos produtos, durante sua vida útil. A partir do VAB – D tem-se o valor

agregado líquido (VAL).

No entanto, o VAL ainda não representa a renda agrícola (RA). A renda agrícola,

segundo Lima et al. (2005), é o resultado econômico que avalia o ganho obtido pela unidade

de produção, através da atividade produtiva durante o ano. A renda agrícola pode ser

entendida como a parte que fica com o agricultor para remunerar o trabalho familiar e

reproduzir o núcleo família no curto prazo, bem como no médio e longo prazo. Conforme

Lima et al. (2005), para determinar a renda agrícola (RA), descontam-se do valor agregado

(VAL) líquido os valores pagos de arrendamento, impostos, empréstimos bancários,

pagamento de mão de obra, entre outros realizados pelo agricultor, chamados de distribuição

do valor agregado (DVA). A partir do VAL e do DVA chega-se a renda agrícola: RA = VAL

– DVA

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A renda agrícola ainda nos permite investigar o nível de reprodução simples do

agricultor e sua família. De acordo com Lima et al. (2005), a renda agrícola é a principal

fonte de renda advinda da produção agropecuária e o valor dessa renda pode significar a

manutenção dos agricultores na atividade e no meio rural. Ou seja, o nível de reprodução dos

produtores depende fundamentalmente do desempenho econômico e financeiro de suas

unidades de produção. Para Lima et al (2005), o nível de reprodução simples (NRS) é a renda

mínima necessária à reprodução do agricultor e sua família ao longo do tempo. Essa renda

deve permitir um nível mínimo de alimentação, habitação, saúde e educação. No caso da

agricultura familiar, o indicador normalmente utilizado é o custo de oportunidade do trabalho,

medido através do salário mínimo regional por Unidade de Trabalho Homem (SM x UTH)

(LIMA et al., 2005).

4. Resultados e discussão

4.1 Perfil do produtor e trajetória da unidade de produção

O núcleo familiar é composto pelo proprietário (52 anos), a esposa (de 49 anos) e três

filhos com idades de 24 anos, 20 anos e de 18 anos, respectivamente. O grau de escolaridade

do proprietário é ensino fundamental incompleto, da esposa primeiro grau completo; o

primeiro filho possui um curso Técnico Agropecuário e graduação em Engenharia Ambiental,

o segundo filho também é formado em Técnico Agropecuário, atualmente graduando em

Zootecnia e, o terceiro filho, este possui segundo grau completo.

Quanto à ocupação dos integrantes desse grupo familiar, o proprietário, a esposa e o

terceiro filho são agricultores, sendo que os mesmos dedicam tempo integral à propriedade, já

o primeiro e o segundo filho são estudantes e ajudam nas atividades eventualmente. Seguindo

a metodologia de Lima et al (2005), a unidade de trabalho homem (UTH) ou a força de

trabalho efetiva da propriedade é de 3,02 UTH.

Os membros da família são associados à Cooperativa de Crédito, Cooperativa

Agropecuária - CoperA1 e Sindicato dos trabalhadores Rurais, de Erval Seco. As atividades

produtivas agropecuárias são comerciais, integradas e para o próprio consumo.

O início da UPA data o ano de 1990, e as atividades da época eram o cultivo do fumo

e a produção de leite; mão de obra era realizada por apenas duas pessoas (produtor e sua

esposa). Conforme o mencionado acima, somente um dos filhos permaneceu na UPA, na

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profissão de agricultor. Em 2010, devido à escassez da mão de obra e a baixa rentabilidade, o

fumo foi extinto. A partir desse mesmo ano, foi introduzida a suinocultura, com a produção de

leitões até no máximo 25 kg, um sistema conhecido por “crechário”. A implantação desse

sistema ocorreu devido à baixa demanda de mão de obra que o mesmo exige.

De 1990 a 2011 a área explorada era de 19,1 hectares. Em 2011, a família adquiriu 14,

9 hectares de terra por intermédio do Crédito Fundiário, adquirindo 14,9 hectares. Do total de

34 hectares, 1 ha é destinado ao cultivo de citrus (laranja); 2 ha de sede; 10 ha de potreiro; 7

ha de mata nativo; 0,5 ha de área reflorestada; e os demais: 13,5 ha são utilizados para

produção de soja, milho, trigo, aveia e sorgo. Em resumo, os principais sistemas produtivos

são: suínos e a bovinocultura de leite, grãos, como soja, milho e trigo, além de aveia e sorgo,

destinados à produção animal e plantação de citrus (laranja).

4.2 Os sistemas de produção implementados e o produto bruto auferido na UPA

De acordo com o Guia Metodológico INCRA/FAO, o sistema de produção, em nível

de estabelecimento agropecuário, pode ser concebido como Na escala de um estabelecimento

agrícola, como uma combinação (no tempo e no espaço) dos recursos disponíveis para a

obtenção das produções vegetais e animais. Ele pode também ser concebido como uma

combinação mais ou menos coerente de diversos subsistemas produtivos (INCRA/FAO, 1995,

p.28).

Considerando a noção de sistema de produção, em uma perspectiva mais ampla, neste

item são discutidos os aspectos produtivos da unidade de produção estudada. As figuras 1 e 2

demonstram, de maneira sintética, as atividades animais e vegetais implementadas pelo

agricultor e sua família.

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Figura 1 - Fluxograma da produção animal

A suinocultura é baseada na criação de leitões recém-desmamados, estes dão entrada à

unidade de produção com peso de 6 a 8 Kg e a deixam com peso de 23 a 25 Kg, seguindo

para terminação em outra unidade de produção. Anualmente, é auferido a criação de 6 lotes,

cada lote possui aproximadamente 1.000 animais, preço médio de venda é R$7,00/animal e

gera uma receita de R$ 42.000,00 (Tabela 1). Esta etapa do ciclo produtivo tem duração de,

aproximadamente, 42 a 48 dias, quando o lote é destinado, então, aos terminadores finais. O

produtor tem o apoio da Aurora/CoperA1, responsável pelo suporte e acompanhamento por

veterinários, técnicos agrícolas e também com o fornecimento de ração e medicamentos.

Tabela 1: Sistemas de produção animal e o produto bruto gerado

Suinocultura

Nº Animais/Lote Lotes/Ano Valor de Venda

(R$/animal) Valor Total (R$)

1000 6 R$ 7,00 R$ 42.000,00

Subtotal

R$ 42.000,00

Bovinocultura De

Leite

Nº Vacas em

Lactação

Prod. Anual

(L)

Valor de Venda

(R$/L) Valor Total (R$)

14 56.900 R$ 0,89 R$ 50.641,00

Subtotal

R$ 50.641,00

Total

R$ 92.641,00

Fonte: Os autores (2016)

No que se refere à produção leiteira, verifica-se a existência de um rebanho composto

de um total de 41 animais; destes, 14 vacas em lactação, 5 vacas secas, 1 novilha, 11 terneiras

e 10 terneiros. A produção total de leite por ano de 56.900 litros e uma produtividade de 4.064

litros/vaca/ano. O leite produzido é vendido a uma empresa privada, a Lebate Alimentos, a

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um preço médio de R$ 0,89/litro. No total anual, são produzidos em torno de 56.900 Litros,

auferindo um produto bruto de R$ 50.641,00, no período em questão (Tabela 1).

Figura 2 - Fluxograma da produção vegetal

De acordo com a figura 2, percebe-se a existência de um conjunto de atividades

ligadas à produção vegetal, disponíveis para a comercialização, ou ainda, para consumo em

outras atividades na UPA. Neste contexto, destaca-se a produção de soja na última safra,

assim como a da laranja, da variedade valência, como as principais atividades vegetais

focadas na comercialização (Tabela 2).

Tabela 2: Sistema de produção vegetal e o produto bruto gerado

Produto Hectares Produção Quantidade

Produzida

Valor de Venda

(R$/sc)

Valor

Total (R$)

Soja (sc) 7 35,71 sc/ha 249,97 sc R$ 65,00 (SC) R$ 16.250,05

Laranja (kg) 1 8.000 kg/ha 8.000 kg R$ 0,85/kg R$ 6.800,00

Total R$ 23.050,05

Fonte: Os autores (2016)

4.3 Custos de Produção por sistema e a renda agrícola

Os custos dos sistemas de produção (suínos, leite, soja e laranja) são calculados através

do chamado consumo intermediário. Além destes, fazem parte as depreciações e outros custos

como Funrural e empréstimos, entre outros.

A seguir são apresentados os custos conforme cada sistema e a renda agrícola resultante

de cada um.

4.3.1 O consumo Intermediário e a renda gerada

Neste sistema, se tem como consumo intermediário os custos relativos à energia elétrica

e sanidade das instalações, à depreciação e outros custos (funrural e empréstimos realizados

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para aquisição de um crechário no valor de R$ 17.000,00 anuais), conforme Quadro 1 a

seguir. Trata-se de um sistema de produção em que o agricultor cria os leitões e entrega para

terminadores. A renda agrícola resultante deste sistema é de R$ 21.104,01.

Itens Descrição Valor (R$)

Produto Bruto I - Produto Bruto Animal – Suínos 42.000,00

Consumo Intermediário Sanidade das instalações

Energia elétrica

100,00

600,00

II – Valor Agregado Bruto

(PB - CI)

41.300,00

Depreciações

Depreciação das instalações

Depreciação de máquinas-equipamentos

1.755,19

444,80

IV – Total de Depreciações (D) 2.199,99

V- Valor Agregado Líquido

(VAB-D)

39.100,01

Distribuição do VAL Funrural (2,3%)

Empréstimos

966,00

17.000,00

VI- Total da divisão do Valor Agregado (DVA) 17.996,00

VII- Renda Agrícola (VAL – DVA) 21.104,01

Quadro 01: Custos e renda agrícola da produção de suínos Fonte: Os autores (2016)

4.3.2 Produção de leite e a renda gerada

Para a produção leiteira, são considerados como consumo intermediário os custos

relativos a medicamentos para os animais, a implementação de pastagens (trigo, aveia e

sorgo) e a produção de milho para elaboração de silagem, além da questão da depreciação e

outros gastos como o Funrural e pagamentos de parcelas relativas aos empréstimos bancários.

A fim de garantir esse nível de produção dos bovinos de leite, as necessidades

fisiológicas são supridas com a seguinte alimentação: pastagens cultivadas de trigo duplo

propósito e aveia, no inverno, e, no verão, pastagem de sorgo e silagem de milho.

O cultivo de sorgo na unidade de produção é destinado ao pastejo dos animais, que

tem início em outubro e acaba em maio. A pastagem ocupa uma área de quatro hectares, onde

a época de semeadura é setembro. Para o cultivo, é utilizado o plantio direto, com um tempo

gasto de cinco horas, este é terceirizado a um custo de 60,00/h. Quanto à adubação orgânica,

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tem-se um gasto aproximado de 16 horas, a qual é feita de forma mecanizada com o uso de

um trator e um espalhador de esterco, emprestado de um vizinho.

Na UPA também é cultivado trigo duplo propósito, variedade Tarumã, em 10 hectares.

É destinado para o pastejo dos animais e, ao final do ciclo do cultivo, é colhido para sementes

para o próximo plantio. O plantio é direto, feito no mês de abril, o pastejo ocorre entre os

meses de maio até outubro. São aplicados fungicidas da marca comercial Connect (na

dosagem de 200 ml/ha), fungicida Nativo com a dosagem de 80 ml/há e o herbicida Hussar na

dosagem de 150 ml/ha. Quanto à adubação orgânica, tem-se um gasto aproximado de 40

horas, sendo feita de forma mecanizada com o uso de um trator e um espalhador de esterco,

sendo este emprestado do vizinho.

O cultivo de aveia ocorre em quatro hectares e é destinado à pastagem dos bovinos de

leite. A semeadura é feita a partir de abril com 120 Kg/ha de sementes, sendo que o plantio é

terceirizado, com um tempo gasto de seis horas e um custo de R$60,00 por hora. Quanto à

adubação orgânica, tem-se um gasto aproximado de 20 horas e é feita de forma mecanizada

com o uso de um trator e um espalhador de esterco emprestado do vizinho, além da semente

que é comprada do mesmo. O pastejo ocorre entre os meses de maio e outubro.

O milho é cultivado em quatro hectares, é destinado para silagem e para alimentação

dos bovinos. A semeadura acontece no mês de setembro, plantio direto, com a colheita

realizada no mês de janeiro. São introduzidos 300kg/ha de NPK (9-36-12). A variedade de

semente utilizada na semeadura do milho é Agroeste/Sempre, com uma densidade de 6

sementes/metro. É gasto um tempo aproximado de cinco horas na atividade do plantio,

enquanto a colheita é terceirizada, com um total pago de 60,00/hora. São aplicados inseticidas

da marca comercial Turbo, na dosagem de 100ml/ha e herbicida Rondup na dosagem de 3l/ha.

A silagem produzida a partir do milho é para a alimentação dos animais durante todo o

ano. Sua colheita é feita em janeiro por uma ensiladeira, totalizando 5 horas, sendo que a

atividade é terceirizada e o pagamento é de R$ 65,00 para cada hora de serviço (conforme

Quadro 6). A silagem é ofertada durante todo o ano para os animais, e estes não recebem

nenhuma suplementação e nenhum tipo de concentrado.

A ordenha é mecanizada num galpão comum destinado apenas para esse fim e possui

um conjunto com três ordenhadeiras. Em média, 10 litros de leite por dia são designados para

o aleitamento de bezerras. Vale lembrar que o leite oriundo da ordenha é resfriado em tanque

de expansão.

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Quanto ao manejo sanitário, o controle de verminose é feito uma vez ao ano, o produto

utilizado é Ivomec, com dose de 1 ml para cada 50 kg de peso vivo. Já o controle de

carrapatos é feito a cada 60 dias, o produto utilizado é Bovitraz, sendo este pulverizado sobre

os animais. Quanto ao controle de aftosa, este é feito duas vezes ao ano, sendo utilizados 5 ml

da vacina por animal, além de outras vacinas para doenças contagiosas, e o controle de

mastite é feito diariamente com uso de produtos homeopáticos, sendo pulverizado sobre a

silagem, que é destinada à alimentação dos animais. Quando necessário, tem-se a

disponibilidade de um veterinário. São gastos com vermífugos R$ 450,00, com carrapaticidas

R$ 50,00, com medicamentos para mastite R$ 450,00 e com vacinas em geral R$ 800,00

Ainda, em relação aos outros custos da produção leiteira, pode-se acrescentar a

compra, via financiamento bancário, de animais e equipamentos como resfriador e gerador,

além de um trator que serve como suporte à produção de pastagens (além de ser usado para

produção de soja e laranja). Considerando que os financiamentos são parcelados em média de

7 anos, o agricultor apresenta no momento os seguintes custos com estes investimentos

(Quadro 2).

Objeto

financiado

Data do

financiamento

Período do

financiamento

Custo anual do

financiamento

Agente financiador

Vacas Abril/2015 7 anos R$3.000,00 Sicredi

Resfriador Abril/2015 7 anos R$3.000,00 Sicredi

Gerador Abril/2015 7 anos R$3.000,00 Sicredi

Trator1

2013 10 anos R$11.000,00 Banco do Brasil

1 O custo da parcela anual é dividido entre os três sistemas que utilizam este equipamento (leite, soja e laranja)

Quadro 02: Síntese dos custos de investimentos bancários. Fonte: Os autores (2016)

A seguir (Quadro 03), são apresentados os custos totais da atividade leiteira

(intermediários, depreciação e outros) e a renda agrícola do sistema, o qual representa um

valor de R$ 15.346,42.

Itens Descrição Valor (R$)

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Produto Bruto (PB) Produto Bruto Animal – Leite 50.641,00

I – PRODUTO BRUTO (PB) 50.641,00

Consumo

Intermediário

Combustível

Vermicida

Carrapaticida

Vacinas

Controle da mastite

Trigo

● Semente

● Fertilizantes

● Defensivos

● Serviços

Milho silagem

● Semente

● Fertilizantes

● Defensivos

● Produção silagem

Aveia

● Semente

● Fertilizantes

● Defensivos

● Serviços

Sorgo

● Semente

● Fertilizantes

● Defensivos

● Serviços

500,00

450,00

50,00

800,00

450,00

1.700,00

2.655,00

385,00

600,00

2.015,00

2.562,00

400,00

1.623,00

360,00

- - -

210,00

360,00

575,00

416,00

168,00

300,00

II – Total do Consumo Intermediário (CI) 16.579,00

III – Valor Agregado Bruto (PB - CI) 33.462,00

Depreciações

Depreciação das instalações

Depreciação de máquinas-equipamentos

1.153,27

3.130,90

IV – Total da Depreciação (D) 4.284,17

V- Valor Agregado Líquido VAL (VAB-D) 29.177,83

Distribuição do VAL Funrural (2,3%)

Empréstimos 1. 164,74

12.666,67

VI- Total da Distribuição do VAL (DVA) 13.831,41

VII- Renda Agrícola RA (VAL – DVA) 15.346,42

Quadro 03: Custos e renda agrícola da produção de leite Fonte: Os autores (2016)

4.3.3 Produção de Soja

Nesta propriedade, são cultivados sete hectares de soja, destinados basicamente à

comercialização. A semeadura é feita por meio de plantio direto, em novembro, e são

utilizados 60 Kg de sementes por hectare, com uma densidade de 13 sementes/metro/linear. A

semeadura é terceirizada, com um tempo gasto de 7 horas e o valor pago por hora é R$60,00.

A variedade de semente utilizada no plantio é Turbo e são utilizados um total de 200kg/ha de

NPK (5-20-20) na área. São aplicados inseticidas (Lanate) na dosagem de 1l/ha, fungicida

(Priori) na dosagem de 300 ml/há e herbicida (Rondup) na dosagem de 3l/ha. A colheita é

realizada ao final do mês de março, de forma mecanizada, e feita por terceiros, sendo

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cobrados 10% da produção e com um tempo gasto de 10 horas. O valor pago com o transporte

do produto é de R$1,00 por saca, totalizando R$250,00. O Quadro a seguir aponta os custos

desse sistema de produção, bem como a renda agrícola gerada, que é de R$ 2.629,56.

Itens Descrição Valor (R$)

Produto Bruto Produto Bruto Vegetal – Soja 16.250,00

I – Produto Bruto (PB) 16.250,00

Consumo

Intermediário

Fertilizantes

Sementes

Herbicidas

Inseticidas

Fungicidas

Pagamento de serviços

2.261,00

2.016,00

294,00

589,68

175,35

2.295,00

II – Total do Consumo Intermediário (CI) 7.631,03

III – Valor Agregado Bruto

(PB - CI)

8.618,97

Depreciações

Depreciação das instalações

Depreciação de máquinas-equipamentos

486,33

1.462,66

IV – Total das Depreciações (D) 1.948,99

V- Valor Agregado Líquido VAL (VAB-D) 6.669,98

Distribuição do VAL Funrural (2,3%)

Empréstimos

373,75

3.666,67

VI- Total de Distribuição do VAL (DVA) 4.040,42

VII- Renda Agrícola RA (VAL – DVA) 2.629,56

Quadro 04: Custos e renda agrícola da produção de soja Fonte: Os autores (2016)

4.3.4 Produção de Laranja

A colheita é feita de forma manual pelos integrantes da família, uma vez que é

distribuída no comércio semanalmente, com um gasto de combustível de aproximadamente

R$50,00 por safra. Quanto à adubação orgânica, esta é feita de forma mecanizada com o uso

de um trator e um espalhador de esterco emprestado de terceiros, com isso tem-se um gasto

aproximado de 4 horas e de cerca de R$80,00 de combustível. Trata-se de um sistema

implementado há pouco tempo e que ainda não está gerando a renda esperada pelo agricultor.

A renda agrícola gerada no momento é de R$ 1.530,00.

Itens Descrição Valor (R$)

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Produto Bruto Produto Bruto- laranjas 6.800,00

Produto Bruto (PB) 6.800,00

Consumo

Intermediário

Controle de Insetos

Combustível

20,00

130,00

II– Total Consumo Intermediário (CI) 150,00

III – Valor Agregado Bruto

(PB - CI)

6.650,00

Depreciações Depreciação de máquinas-equipamentos 1.316,23

IV – Total de Depreciações (D) 1.316,23

V- Valor Agregado Líquido VAL (VAB-D) 5.333,77

Distribuição do VAL Funrural (2,3%)

Empréstimos

156,40

3.666,67

VI- Total da Distribuição do Valor Agregado

(DVA)

3.803,52

VII- Renda Agrícola

RA = (VAL – DVA)

1.530,25

Quadro 05: Custos e renda agrícola da produção de laranja. Fonte: Os autores (2016)

4.4 Desempenho econômico geral da propriedade

A análise econômica geral da propriedade retrata a renda agrícola geral da propriedade

contabilizada a partir das análises econômicas individuais de cada sistema. No caso da

propriedade analisada, a renda agrícola total é de R$ 41.220,60.

Itens Total (R$)

Produto Bruto Vegetal 23.050,00

Produto Bruto Animal 92.641,00

Produto Bruto Total 115.691,00

Consumo Intermediário Vegetal 7.781,03

Consumo Intermediário Animal 17.279,00

Consumo Intermediário 25.060,03

Valor Agregado Bruto 90.630,97

Depreciação das instalações 3.394,79

Depreciação das Máquinas e Implementos 6.354,59

Total das Depreciações 9.749,38

Valor Agregado Líquido 80.881,59

Funrural (2.3%) 2.660,89

Empréstimos 37.000,00

Total da Distribuição do Valor Agregado 39.660,90

Renda Agrícola 41.220,69

Tabela 3 Desempenho econômico geral da propriedade. Fonte: Os autores (2016)

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Ao se realizar uma análise das rendas individuais, verifica-se que a renda da produção

de suínos é superior às demais; em segundo lugar destaca-se o leite. Em menor proporção,

tem-se a renda agrícola vinda da produção de soja, que representa 5,6%, e da fruticultura

baseada na produção de laranja, representando 1,4% da renda.

5. Análise do nível de Reprodução Simples (NRS)

O NRS é compreendido como a renda mínima necessária à reprodução do agricultor e

sua família ao longo do tempo. Para realizar este cálculo, usa-se o custo de oportunidade do

trabalho, medido através do salário mínimo regional por Unidade de Trabalho Homem (SM x

UTH) (LIMA et al., 2005).

Considerando que o salário mínimo regional gaúcho no momento da realização ou da

coleta de dados na propriedade era de R$ 1.006,88 e a unidade de trabalho homem (UTH) é

3,02, pode-se afirmar que a renda agrícola necessária para garantir a reprodução simples da

família é de R$ 36.474,44.

Como a renda agrícola anual da propriedade é de R$ 41.220,69 isso significa que a

família está acima da renda mínima necessária para manter-se e capitalizar-se, embora a

margem de renda não seja expressiva.

6. Considerações finais

A análise da organização social e financeira da propriedade mostra que o agricultor

tem dificuldade em tornar todos os sistemas de produção viáveis economicamente ou com

maiores rendimentos econômicos. Apesar do agricultor tem ampliado a área de terra, ter

acessado empréstimos bancários para melhorar as instalações para produção, comprar animais

e maquinário, ao se confrontar a renda agrícola com a renda necessária para promover a

reprodução simples, verifica-se que a renda gerada está bastante próxima da renda necessária.

Isso significa dizer que o agricultor precisa melhorar a gestão das suas atividades para poder

remunerar melhor a mão de obra familiar e realizar novos investimentos e melhorar a sua

capitalização.

Na gestão da organização produtiva e financeira, se verificou que o agricultor realiza

algumas ações que podem facilitar a diminuição dos custos de produção, especialmente os

intermediários ao realizar reaproveitamento de dejetos suínos como fertilizantes, sendo que

são aplicados ao solo com base na demanda total das plantas, fazendo com que a necessidade

de N-P-K seja menor nas culturas. No entanto, não há realização da análise do solo para

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possível correção, sendo que esta seria de fundamental importância para melhorar a

produtividade das culturas agrícolas. Ainda, no caso da produção leiteira, percebe-se um alto

valor gasto com a produção de matéria verde para alimentação do rebanho leiteiro, mas não

há fornecimento de concentrado, o qual aumentaria o potencial produtivo dos animais.

Também seria importante o investimento em material genético, a fim de aumentar a produção

e substituir animais com doenças e idade avançada. A produção leiteira mostra-se

interessante, pois, de certa forma, é uma renda fixa mensal e sofre pouca interferência do

clima.

A produção de soja equivale a apenas 5,6% da renda total, com elevados gastos com

aplicação de fertilizantes, produtos de controle de pragas e pagamento de serviços, sendo

assim, a cultura não apresenta eficácia e visa-se economicamente inviável nesta propriedade.

Segundo o agricultor, como planos futuros, tem em mente manter a produção e o

tamanho da Unidade Produtiva, porém gostaria de aumentar a produtividade com a adoção de

novas tecnologias, ou ainda, se tivesse condições financeiras e mão de obra suficiente,

investiria na criação de peixes. A permanência de apenas um filho na propriedade faz com

que maiores investimentos sejam inviáveis, devido a pouca mão de obra e ausência de

empregados contratados. Futuramente, as perspectivas em relação à família é que esta seja

agregada pela presença de netos, esperando-se que os filhos voltem para a propriedade para

dar sucessão ao que possuem hoje.

REFERÊNCIAS BIBLOGRÁFICAS

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INCRA/FAO, Brasília: 1999, 65 p.

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http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/agropecuaria/censoagro/default.shtm Acesso

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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11326.htm. Acesso em: 1 set.

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