A Origem da Gestão de Projectos

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A origem da Gestão de Projectos Versão 2.1, Janeiro de 2010 Luis Borges Gouveia, [email protected] A Gestão de Projectos é actualmente uma área de conhecimento que se traduz por um conjunto de competências específicas e que são muito pretendidas em profissionais, independentemente das suas origens de formação ou áreas de actuação. Com base no Guia de conhecimento sobre Gestão de Projectos, um projecto “é uma realização temporária com a finalidade de criar um produto ou serviço único(PMBOK, 1996). No contexto de uma organização que desenvolve a sua actividade, o trabalho pode ser realizado quer por via de operações, quer por projectos (sendo mesmo possível alguma sobreposição destes dois tipos distintos de organização do trabalho). Tanto os projectos como as operações partilham como características comuns, o facto de serem realizados por pessoas (recursos humanos); possuirem limitações quanto aos recursos (recursos não humanos ou simplesmente recursos) que podem utilizar; e terem de ser planeados, executados e controlados. A diferença essencial entre projectos e operações reside no facto de os projectos serem únicos e temporários. Por sua vez, a Gestão de Projectos pode ser entendida como “a aplicação de conhecimento, competências, ferramentas e técnicas a actividades de projecto de modo a satisfazer ou exceder as necessidades dos stakeholders e as expectativas do projecto” (PMBOK, 1996). A Gestão de Projectos envolve o equilíbrio entre solicitações contrárias, oriundas de três grupos de factores: (i) abrangência, tempo, custo e qualidade; (ii) stakeholdeders com diferentes necessidades e perspectivas; e (iii) requisitos identificados (necessidades) e requisitos não identificados (expectativas). A Gestão de Projectos, enquanto área de conhecimento, não é algo de novo. Existe desde a Antiguidade. A construção das pirâmides do Egipto (aproximadamente 2500 anos a.C.) ou a construção da Muralha da China (iníciada em 220 a.C. e concluída no séc XV) constituem bons exemplos, de tempos remotos. Nestes dois exemplos, planeando e executando a construção, com recurso à matemática e a arquitectos de modo a garantir a qualidade, e empregando a mão-de-obra, os responsáveis demonstraram conhecer muito bem os princípios envolvidos para se atingir o resultado de um esforço temporário e único. É curioso constactar que, ainda hoje, se admira e se discute, como foram afinal construídas quer as Pirâmides, quer a Muralha da China, existindo ainda poucas certezas acerca da materialização dos projectos envolvidos. Pirâmides de Gizé (Cairo, Egipto) A Muralha da China (China)

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Pequeno texto pedagógico (5 páginas) que introduz a Gestão de Projectos numa perspectiva histórica

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A origem da Gestão de Projectos Versão 2.1, Janeiro de 2010

Luis Borges Gouveia, [email protected]

A Gestão de Projectos é actualmente uma área de conhecimento que se traduz por um conjunto de competências específicas e que são muito pretendidas em profissionais, independentemente das suas origens de formação ou áreas de actuação. Com base no Guia de conhecimento sobre Gestão de Projectos, um projecto “é uma realização temporária com a finalidade de criar um produto ou serviço único” (PMBOK, 1996).

No contexto de uma organização que desenvolve a sua actividade, o trabalho pode ser realizado quer por via de operações, quer por projectos (sendo mesmo possível alguma sobreposição destes dois tipos distintos de organização do trabalho). Tanto os projectos como as operações partilham como características comuns, o facto de serem realizados por pessoas (recursos humanos); possuirem limitações quanto aos recursos (recursos não humanos ou simplesmente recursos) que podem utilizar; e terem de ser planeados, executados e controlados. A diferença essencial entre projectos e operações reside no facto de os projectos serem únicos e temporários.

Por sua vez, a Gestão de Projectos pode ser entendida como “a aplicação de conhecimento, competências, ferramentas e técnicas a actividades de projecto de modo a satisfazer ou exceder as necessidades dos stakeholders e as expectativas do projecto” (PMBOK, 1996). A Gestão de Projectos envolve o equilíbrio entre solicitações contrárias, oriundas de três grupos de factores: (i) abrangência, tempo, custo e qualidade; (ii) stakeholdeders com diferentes necessidades e perspectivas; e (iii) requisitos identificados (necessidades) e requisitos não identificados (expectativas).

A Gestão de Projectos, enquanto área de conhecimento, não é algo de novo. Existe desde a Antiguidade. A construção das pirâmides do Egipto (aproximadamente 2500 anos a.C.) ou a construção da Muralha da China (iníciada em 220 a.C. e concluída no séc XV) constituem bons exemplos, de tempos remotos. Nestes dois exemplos, planeando e executando a construção, com recurso à matemática e a arquitectos de modo a garantir a qualidade, e empregando a mão-de-obra, os responsáveis demonstraram conhecer muito bem os princípios envolvidos para se atingir o resultado de um esforço temporário e único. É curioso constactar que, ainda hoje, se admira e se discute, como foram afinal construídas quer as Pirâmides, quer a Muralha da China, existindo ainda poucas certezas acerca da materialização dos projectos envolvidos.

Pirâmides de Gizé (Cairo, Egipto) A Muralha da China (China)

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Estes dois exemplos são apenas uns entre os muitos possíveis de enunciar. Mais recentemente, também podemos encontrar outras obras monumentais resultantes de um projecto, como as que marcaram o século XIX: a Torre Eiffel, cuja construção durou apenas cerca de dois anos (1887-1889); e a Estátua da Liberdade, um projecto ousado, desenvolvido entre 1875-1886 (a estátua chegou aos Estados Unidos desmontada em 214 partes, vindo da França de navio e foi montada no local em que hoje se encontra, o porto de Nova Iorque).

A Torre Eiffel (Paris, França) A Estátua da Liberdade (Nova Iorque, EUA)

Frederick Winslow Taylor (1856-1915), muitas vezes designado como o responsável pela introdução da gestão científica, demonstrou que o trabalho pode ser analisado e aperfeiçoado a partir da sua divisão em pequenas partes para permitir melhor lidar com o todo. Henry Laurence Gantt (1861-1919), considerado, por sua vez, o precursor da gestão de projectos, estudou de forma detalhada a ordem das operações no trabalho. Os gráficos com barras de tarefas e marcos (as fases de realização intermédia de projecto) propõem são uma representação da sequência e duração de todas as tarefas envolvidas num projecto, com base numa escala de tempo. As diferentes tarefas são organizadas visualmente de acordo com a sua duração e data de realização.

Frederick Winslow Taylor Henry Laurence Gantt

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O gráfico de Gantt (também chamado gráfico de barras e, por vezes, cronograma) está muito divulgado e faz parte do conjunto básico das ferramentas presentes em muito do software especializado de gestão de projetos.

Estes dois autores – Taylor e Gantt – realizaram enormes contribuições e podem com toda a justiça serem considerados os precursores de ferramentas e técnicas modernas como a WBS (divisão do trabalho, “Work Breakdown Structure”), útil no planeamento e decomposição das tarefas a realizar e as técnicas associadas PERT (para controle de projecto, “Program Evaluation and Review Technique”) e CPM (método do caminho crítico, “Critical Path Method), úteis no acompanhamento e controle de projectos e na sua reprogramação.

WKS – Divisão do trabalho Gráfico Gantt PERT & CPM

De qualquer modo, o momento de maior importância para o desenvolvimento da gestão de projectos acontece com a Segunda Guerra Mundial. Por essa altura, a gestão de projectos começa a evoluir nos moldes da sua configuração actual e a ser encarada como uma disciplina com um corpo de saber próprio. Para isso, muito contribuiu o projecto Manhattan, de que resultou o desenvolvimento da bomba atómica, pelos norte-americanos. Este projecto, de grande dimensão e complexidade, envolveu mais de 100 mil pessoas, associadas em diversas unidades de investigação e desenvolvimento, distribuídas em treze locais diferentes e que ao longo de três anos, envolvendo desafios e obstáculos de grande complexidade, recursos económicos imensos e requisitos de segurança muito elevados – tudo numa iniciativa sem precedentes até ao momento – teve sucesso e cumpriu os objectivos inicialmente estabelecidos (com resultados assustadores que se conhecem...).

Executive Committee, Manhattan Project, 1942 Primeiro teste de uma bomba de fusão

Em 1969, durante a Guerra Fria, consequência da Segunda Guerra Mundial, os EUA disputaram a Corrida Espacial com a então URSS, para colocar o primeiro homem no solo da lua. O resultado (do lado norte-americano) foi o Projecto Apollo; iniciado com o, agora clássico, discurso do Presidente Kennedy que prometeu colocar um homem na Lua antes do final da década de 60 – objectivo cumprido que o próprio Kennedy não teve oportunidade de assistir.

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John F. Kennedy Módulo Lunar da Apolo 12 Tripulação da Soyuz 11 (URSS)

Coincidência ou não, foi no mesmo ano de 1969 que um grupo de profissionais de gestão de projetos se reunia para discutir as melhores práticas de sua profissão, acabando por fundar o Project Management Institute (PMI® – http://www.pmi.org), a mais influente organização mundial em gestão de projectos da actualidade.

Homepage da PMI

Logo da PMI

A Gestão de Projectos é actualmente uma das competências básicas de um profissional neste início de século. Os conceitos básicos associadas com um projecto e a sua gestão, a capacidade de entender e interpretar as diferentes ferramentas utilizadas para o seu planeamento, execução e controlo são essenciais para a actividade profissional de quem tem responsabilidades na criação e desenvolvimento de produtos ou serviços únicos e de carácter inovador.

Num esforço de normalização mais recente, a própria organização internacional de normalização (International Organization for Standardization – http://www.iso.org) está a trabalhar numa norma específica sobre Gestão de Projectos. Estes trabalhos iniciais propõe estabelecer uma base de nomenclatura e de conceitos o mais abrangente possível e que acaba por reconhecer o valor e a importância da Gestão de Projectos

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no contexto actual. Os trabalhos cuja comissão foi criada em 2007 prevêem para o ano de 2012 (Agosto), a disponibilização da norma de Gestão de Projectos ISO 21500.

Referências

Texto revisto e aumentado, adaptado de uma mensagem de André Luís Lima de Paula, [email protected].

PMBOK (1996). A Guide to the Project Management Body of Knowledge. Pmbok guide. Project Management Institute. Standards Committee.

Imagens retiradas da World Wide Web (Wikipedia), em Setembro de 2008.