A Outra História de Jesus Rebelde

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A Outra História de Jesus - o Rebelde A ideia deste texto, que ainda não sei se será um conto ou um romance, não é nova. Na verdade, sempre vi, mesmo quando moleque e adolescente católico, Jesus mais como um rebelde e revolucionário do que como profeta milagreiro ou filho único de Deus. Minhas primeiras noções de religião foram dadas por minha mãe, católica devota e convicta, mas de pensamento de centro-esquerda e livre o suficiente para discordar da igreja quando via seus erros e desmandos. Depois veio o Padre João Trinta, pároco em Cananéia, um holandês de dois metros e alguma coisa de altura e calçava 47. O companheiro João Trinta, que hoje está no Panteão Vermelho de nossa Latino-América foi o primeiro a me falar de Karl Marx e Friederich Engels, de Luta pela Terra e de como Jesus havia sido um revolucionário. Se hoje existe algum grau de consciência e de organização nas comunidades de Cananéia, deve-se à sua liderança no meio do povo caiçara. Depois veio a catequese, sempre sob a ótica da Teologia da Libertação, uma síntese de Marxismo e Cristianismo. Já em Guarulhos, militei na Pastoral da Juventude, participei de grupos de jovens, de encontrões desses grupos, toquei em missas e em bandas católicas (guitarra e violão), e mais uma vez tive a sorte de encontrar gente de pensamento libertário.

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Ficção sobre uma história alternativa de Jesus - Capítulo I

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A Outra Histria de Jesus - o Rebelde

A ideia deste texto, que ainda no sei se ser um conto ou um romance, no nova. Na verdade, sempre vi, mesmo quando moleque e adolescente catlico, Jesus mais como um rebelde e revolucionrio do que como profeta milagreiro ou filho nico de Deus. Minhas primeiras noes de religio foram dadas por minha me, catlica devota e convicta, mas de pensamento de centro-esquerda e livre o suficiente para discordar da igreja quando via seus erros e desmandos. Depois veio o Padre Joo Trinta, proco em Canania, um holands de dois metros e alguma coisa de altura e calava 47. O companheiro Joo Trinta, que hoje est no Panteo Vermelho de nossa Latino-Amrica foi o primeiro a me falar de Karl Marx e Friederich Engels, de Luta pela Terra e de como Jesus havia sido um revolucionrio. Se hoje existe algum grau de conscincia e de organizao nas comunidades de Canania, deve-se sua liderana no meio do povo caiara. Depois veio a catequese, sempre sob a tica da Teologia da Libertao, uma sntese de Marxismo e Cristianismo. J em Guarulhos, militei na Pastoral da Juventude, participei de grupos de jovens, de encontres desses grupos, toquei em missas e em bandas catlicas (guitarra e violo), e mais uma vez tive a sorte de encontrar gente de pensamento libertrio. Muitos destes so meus amigos at hoje, alguns, companheiros de luta por igualdade. Mas tambm, conforme evoluam as discusses dentro dos grupos e principalmente, com as autoridades locais da Igreja, a imagem que se formava em minha mente da igreja na prtica, contrastava com o clima de fraternidade e solidariedade dentro dos grupos. Chegamos a ser expulsos coletivamente da Catedral de Guarulhos, aonde nos reunamos por ordem do bispo. Mas no era apenas esse o contraste. As posies extremamente conservadoras do bispo local, que perseguia nosso grupo e os padres que nos apoiavam contrastavam tambm com o que eu lia na Bblia e com a imagem que eu sempre tive de Jesus.Aos poucos, me afastei da Igreja, adolescente e com os hormnios fervendo, conheci a militncia de esquerda fora do catolicismo, conheci o famoso SDR (para os leigos, Sexo, Drogas e Rock and Roll), andei muito de skate e principalmente, nunca abandonei a luta. Hoje me considero um pago (no falarei aqui sobre isso ou sobre meus motivos, quem quiser saber, me mande um e-mail ou me encontre nas redes sociais) e agnstico. No sou cristo mais, porm conheo razoavelmente a Bblia , o Coro, a Tor. E sou profundamente anti-religioso, no anti-religiosidade. Sou contra as religies enquanto instituies, sendo quase sempre instrumentos de poder poltico, social e econmico. Minha ideia, retomando o incio deste texto, passar uma ideia de um outro Jesus, o que poderia ter acontecido. um exerccio de livre pensamento sobre uma figura que no contexto do que acredito, histrica, e no religiosa. Vale lembrar que messias existiam aos montes naquela regio e naquela poca. O povo encontrava-se desesperado, e como sempre (a histria acontece em espirais), procurava consolo e fora na religio, sendo algumas seitas extremistas e fundamentalistas, assim como hoje. E assim como hoje, seus lderes-sacerdotes aproveitavam-se da credulidade popular, e assim como hoje, pipocavam profetas e messias, cada um se dizendo o nico a ter a Verdade Absoluta (como dizia Raul...). E se um certo revolucionrio fosse confundido com um messias ou profeta pelas massas?

Foi nos dias em que a esplendorosa Roma dominava quase todo o mundo conhecido. Seus tentculos iam de Sul a Norte, de Oeste a Leste. Centenas de povos caram sob o jugo imperialista latino, centenas de milhares escravizados ou tornados dceis cidados romanos, um eufemismo para servos. claro que entre os povos conquistados havia aqueles que tiraram proveito e enriqueciam com a anexao de seus territrios. Mas esses eram exatamente aqueles que tentariam se aproveitar do povo em qualquer situao, em uma nao soberana ou em servido a um imprio. Foi dentro deste contexto que nasceu um homem muito conhecido pela posteridade, mas do qual se contou uma histria totalmente diversa dos fatos. Este homem era o filho primognito de um carpinteiro, mas diziam as ms lnguas da poca que ele era filho de um soldado romano. As verses variavam desde que sua me havia sido estuprada pelo soldado at que ela tinha um romance secreto com ele. Verdade ou no, o fato que o respeitado e bem de vida carpinteiro Jos casou-se com Maria, cerca de vinte anos mais nova que ele, e que teve o primognito precocemente.J cedo, com cerca de quatro anos, a criana comeou a manifestar sua veia rebelde e de pouco respeito pela autoridade constituda. Um dia, ao ver ao longe passar um destacamento romano em direo ao vilarejo, o pequeno Jesus teve uma ideia que iniciaria sua longa peregrinao rumo ao martrio revolucionrio. Pegou razes de uma planta usada contra priso de ventre, esmagou-as e pingou o sumo na cisterna prxima estrada. Os romanos, cansados da marcha e sedentos, atiraram-se como camelos s bordas da cisterna. Alguns minutos depois, Vrios soldados remoam-se de caganeira, e ao longe, no vale, todas aas crianas da vila, convidadas por Jesus, retorciam-se de rir, alguns at engasgar. A sorte de Jesus e seus pequenos comparsas era que o comandante do destacamento no era homem dos mais inteligentes, e nem passou por sua cabea que a gua poderia ter sido envenenada propositalmente. Mas Jos descobriu. Vendo a movimentao da crianada, desconfiou que aprontavam algo e foi silenciosamente at eles. Quando chegou perto, Jesus estava justamente se gabando do feito. Jos pegou-o pela orelha e o puxou para sua casa. Nem preciso dizer que o jovem rebelde no pode sentar-se por uns bons dias. Outro problema de Jesus e seus amigos era o estado em que a estrada havia sido deixada pela grande caganeira romana. Parte do castigo foi a limpeza da fedorenta via.