A Palavra do Evangelho entre os Gentios - virtualebd.com.br · O mesmo que aconteceu no dia de...

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QD 07 - Área Especial 01 Cruzeiro Velho (61) 3964-8624 / 3233-2527 www.adcruz.org/ebd Presidente: Pastor João Adair Ferreira Dirigente e Consultor Doutrinário: Pastor Argileu Martins da Silva Superintendente: Presbítero Jorge Luiz Rodrigues Barbosa Lição 10 06 de Março de 2011 A Palavra do Evangelho entre os Gentios Texto Áureo "A este dão testemunho todos os profetas, de que todos os que nele creem receberão o perdão dos pecados pelo seu nome". At 10.43 Verdade Aplicada O evangelho constitui-se sobre a necessidade de perdão do homem, por isso não pode haver discriminação, pois todos pecaram. Objetivos da Lição Mostrar que o evangelho não é o patrimônio de nenhuma raça ou sistema religioso; Conhecer os recursos que Deus se utiliza para estabelecer o Seu reino entre diferentes culturas; Entender que devemos sempre estar abertos a obra missionária além da nossa cultura. Textos de Referência At 10.34 E, abrindo Pedro a boca, disse: Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas; At 10.35 Mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e faz o que é justo. At 10.36 A palavra que ele enviou aos filhos de Israel, anunciando a paz por Jesus Cristo (este é o Senhor de todos), At 10.37 Esta palavra, vós bem sabeis, veio por toda a Judéia, começando pela Galileia, depois do batismo que João pregou. Ajuda Versículos

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QD 07 - Área Especial 01 Cruzeiro Velho

(61) 3964-8624 / 3233-2527 www.adcruz.org/ebd

Presidente: Pastor João Adair Ferreira Dirigente e Consultor Doutrinário: Pastor Argileu Martins da Silva Superintendente: Presbítero Jorge Luiz Rodrigues Barbosa Lição 10 06 de Março de 2011

A Palavra do Evangelho entre os Gentios Texto Áureo "A este dão testemunho todos os profetas, de que todos os que nele creem receberão o perdão

dos pecados pelo seu nome". At 10.43 Verdade Aplicada O evangelho constitui-se sobre a necessidade de perdão do homem, por isso não pode haver

discriminação, pois todos pecaram. Objetivos da Lição ► Mostrar que o evangelho não é o patrimônio de nenhuma raça ou sistema religioso; ► Conhecer os recursos que Deus se utiliza para estabelecer o Seu reino entre diferentes culturas; ► Entender que devemos sempre estar abertos a obra missionária além da nossa cultura. Textos de Referência At 10.34 E, abrindo Pedro a boca, disse: Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas; At 10.35 Mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e faz o que é justo. At 10.36 A palavra que ele enviou aos filhos de Israel, anunciando a paz por Jesus Cristo (este é o Senhor de todos), At 10.37 Esta palavra, vós bem sabeis, veio por toda a Judéia, começando pela Galileia, depois do batismo que João pregou. Ajuda Versículos

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PEDRO NA CASA DE CORNÉLIO 1. Gentios. Os gentios, goiym, em hebraico, são todos os povos, exceto os judeus. Até a vinda de Jesus, a humanidade estava dividida em gentios: egípcios, assírios, caldeus, gregos, romanos e bárbaros; e judeus: os descendentes de Israel. Jesus derrubou esta parede de separação (Ef 2.13-18), formando um novo povo, a Igreja. Hoje, a humanidade está dividida em três grupos: judeu, gentio e Igreja (1 Co 10.32). A salvação dos gentios estava no plano estabelecido por Deus. Portanto, não foi uma improvisação de última hora feita por Jesus e seus apóstolos. A mensagem de Gênesis 12.3: "Em ti serão benditas todas as famílias da terra" era a promessa de Deus para salvar os povos (Gl 3.8). Isso está ainda mais claro no livro de Isaías: "As ilhas aguardarão a sua doutrina" (42.4). Ou: "E, no seu nome, os gentios esperarão", conforme a Septuaginta, citada em Mateus 12.21. Isso também é visto em Oséias 1.10; 2.23, citado por Paulo em Romanos 9.25,26. 2. Simão, o curtidor. Lucas mostra que Pedro ficou hospedado muitos dias na casa de seu xará "Simão, o curtidor" (At 9.43). Esta profissão era considerada impura pelos judeus, e até dava a permissão à mulher de pedir o divórcio ao marido, uma vez que ela não tinha esse direito na legislação judaica, exceto em casos extremos como esse. Isso mostra que Pedro já tinha uma visão muito além sobre essa questão. 3. A purificação. Deus se revelou a Cornélio, mandando-o que chamasse a Pedro. Apesar dessa visão preliminar, este apóstolo ainda precisava ouvir mais do Senhor, pois a barreira transcultural era muito forte, para ser quebrada momentaneamente. Por isso, a visão do lençol com toda a sorte de animais mostrava a Pedro que a mensagem do Evangelho devia ser levada aos gentios. Os judeus são escrupulosos ao extremo no kashrut (leis dietéticas judaicas observadas até hoje com relação aos alimentos considerados puros e impuros).

4. Pedro na casa de Cornélio. Pedro partiu com eles para Cesaréia, pois Cornélio já estava com seus familiares e amigos à sua espera, ávido pela Palavra de Deus. O apóstolo anunciou a Jesus e todos os presentes receberam o batismo no Espírito Santo, enquanto a mensagem era pregada. O mesmo que aconteceu no dia de Pentecoste e em Samaria, agora estava se sucedendo na casa de um gentio, confirmando, dessa forma, a manifestação divina, bem como a sua aprovação da visita do ex-pescador a casa do centurião. Esta passagem mostra como Deus trata o ser humano, independentemente de sua raça, posição social e nacionalidade. O Senhor busca os fiéis. O objetivo desse relato é mostrar que sempre esteve no plano divino salvar todos os homens (1 Tm 2.4). 5. O batismo no Espírito Santo. Se não fosse a descida do Espírito Santo, na casa de Cornélio, certamente Pedro estaria em dificuldades, para se justificar diante de seus com-panheiros, os demais apóstolos, sua visita a um gentio, sendo seu hóspede e sentando à mesa com ele, o que não era permitido aos judeus. Pedro contou toda a história de como o Senhor conduziu todo esse trabalho, mas parece que os apóstolos não estavam convencidos. Quando ele falou que todos os presentes na casa de Cornélio receberam o Espírito Santo, como eles no dia de Pentecoste, não tiveram mais dúvidas de que o Evangelho era também para os gentios (At 11.15-18). Jesus disse que "o campo é o mundo" (Mt 13.38); "Ninguém vem ao Pai senão por mim" (Jo 14.6). O apóstolo Paulo declara que a raça humana está condenada (Rm 3.23). Diante disso, concluímos que a evangelização não é uma alternativa, mas uma questão de vida ou morte. O campo não é a minha cidade e nem a sua, nem o meu Estado e muito menos o seu, e nem o nosso Brasil, mas o mundo!. Deus não faz acepção de pessoas. Por isso, ama todo o ser humano, sem se importar com a sua procedência racial: amarela, branca ou escura. O importante é que cada um reconheça a sua condição de pecador, aceite a Jesus como Salvador, e reserve, por este intermédio, a sua salvação eterna. Cornélio foi o primeiro gentio a se converter a Cristo. Enquanto Pedro, que visitou a casa deste general, por ordem divina, pregava-lhe o Evangelho, o Espírito Santo foi derramado profusamente sobre todos os que se encontravam naquela residência. Então o apóstolo entendeu que a salvação era para todos e não só para os judeus. 3. Desde aquele momento em que Cornélio, seus familiares, criados e amigos se converteram a Cristo, o Evangelho é pregado maciçamente a todos os povos. E o resultado está patente aos nossos olhos. Milhões de gentios têm aceitado a Jesus como Salvador de suas almas, como prova de que a salvação era para eles também.

O Derramamento em Cesaréia At 10 Introdução (At 10.1-33) A primeira igreja, fundada após o Pentecoste, era composta quase exclusivamente de judeus. Durante anos, nenhuma tentativa foi feita no sentido de evangelizar os gentios. Apesar do último mandamento de Cristo. Isto nos parece surpreendente! Mas, era difícil remover da mentalidade judaica certos preconceitos seculares. Somente o poder de Deus poderia

arrancar deles tais costumes. Antes da Grande Comissão ser efetuada pela igreja judaica e o Evangelho alcançar os gentios, algumas questões teriam de ser solucionadas. Será que judeus e gentios poderiam receber igual salvação, ficando em pé de igualdade? Os crentes judeus poderiam ter comunhão e convívio com os gentios? Os judeus os consideravam "impuros". Até da sua comida se recusavam participar. Isto por não ser preparada de acordo com a Lei de Moisés. Deus se pronunciou sobre estas dúvidas. Primeiro, providenciou um contato entre duas pessoas: Cornélio, um gentio interessado no Evangelho, e Pedro, o pregador judeu; e em ebdareiabranca com essa ajuda entramos no primeiro objetivo da lição que é: Mostrar que o evangelho não é o patrimônio de nenhuma raça ou sistema religioso. I ־ Cornélio, Oficial Romano (At 10.1-33) Cornélio era oficial romano, morador de Cesaréia, capital romana da Palestina. "Piedoso e temente a Deus, com toda a sua casa, o qual fazia muitas esmolas ao povo, e de contínuo orava a Deus". O texto dá a entender que Cornélio era um "prosélito da Porta". Convertido ao judaísmo sem, contudo, assumir todas as obrigações da Lei de Moisés, como é o caso dos "prosélitos da Retidão". Alguma preocupação o levou a orar (At 10.30). Com respeito a que orava? Ver At 11.14. A conclusão é que Cornélio ansiava por mais luz acerca do caminho da plena salvação. Algo que a sinagoga não poderia lhe oferecer. Preocupado, foi orar e como resposta recebeu a visita de um anjo. Não para pregar o Evangelho (isto não é atributo deles), mas para indicar onde procurar o mensageiro. 1. O pregador judeu. Cornélio já estava preparado. Ele seria o ponto de contato entre a Igreja e o mundo dos gentios. Deus, então, teria de moldar um pregador judeu para completar seu plano. Certa vez, Pedro sentiu-se inspirado a fazer uma viagem evangelística na Judéia. No decurso de seu ministério, seguido de notáveis milagres, chegou a Jope. Dispôs-se a passar muitos dias ali (At 9.32-43). Na ocasião, não sabia por que teria de ficar exatamente ali, mas Deus sabia. Pedro, como Cornélio, tinha um assunto que lhe preocupava. Fizera uma campanha bem sucedida entre os judeus da Judéia. Mas ainda não estava satisfeito. O Mestre o mandara pregar o Evangelho a todas as nações. Portanto, também aos gentios. Pedro desejava muito levar a mensagem para eles. No entanto, isto envolvia tremendas dificuldades para quem foi criado no judaísmo. Teria de se hospedar com gentios, alimentar-se com sua comida "imunda" e transgredir muitas leis cerimoniais de Moisés. Se ele se dispusesse a tanto, milhares de crentes judeus o considerariam um apóstata. Pedro esperava, enquanto preparavam sua comida (segundo a tradição judaica). Então, começou a orar sobre o assunto. Decerto, Deus já falava à sua consciência sobre a evangelização dos gentios. Na Bíblia, uma preocupação, uma oração e uma visão muitas vezes se acompanham (Dn 9.1-22). E Pedro teve uma visão. O lençol representava o mundo; os quatro cantos, os pontos cardeais de onde todas as raças (simbolizadas pelos animais) seriam recolhidas pela pregação de

Cristo. O apóstolo ficou perplexo sobre qual seria o significado da visão. Neste momento, chegam os homens pedindo-lhe que fosse pregar na casa de Cornélio, o gentio. O que Pedro aprendeu de tudo isto? Que chegou a hora marcada por Deus para os gentios entrarem na Igreja (At 10.17-20). Chegou, mediante a obra de Cristo, a época de não haver mais distinção entre judeus e gentios (At 10.28). Era da vontade de Deus que os crentes judeus entrassem nos lares dos gentios. Terem com eles plena comunhão, inclusive nas refeições em comum (At 10.27; 11.2,3). As leis mosaicas sobre alimentação haviam sido abolidas, e todas as que criavam barreiras entre judeus e gentios (Ef 2.13-16; At 15.1,10,11,24,28,29). II ־ A Pregação do Sermão (At 10.34-43) Pedro, chegando em Cesaréia, achou à sua espera uma congregação gentia. Era composta de Cornélio, seus parentes e amigos. Após as apresentações e explicações, Pedro iniciou sua mensagem. 1. A introdução. "E, abrindo Pedro a boca, disse: Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas; mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e obra o que é justo". Para alguns, estas palavras indicam que as opiniões religiosas não importam. As pessoas serão salvas, tendo uma vida de moralidade. Então, por que Deus enviou Pedro a casa do devoto e caridoso Cornélio? Para que, mediante as palavras, ele e sua casa pudessem receber a salvação? Pedro não se referiu à indiferença de Deus quanto ao que cremos, e sim, à nossa nacionalidade. 2. O Cristo que vivia. "A palavra que ele enviou aos filhos de Israel, anunciando a paz por Jesus Cristo (este é o Senhor de todos). Esta palavra, vós bem sabeis, veio por toda a Judéia, começando pela Galiléia, depois do batismo que João pregou". Estes homens não tiveram contato com ensinadores cristãos. Influenciados pelo judaísmo, naturalmente teriam aceitado a versão dos líderes judaicos com respeito ao Cristianismo. Ficariam, portanto, satisfeitos com a crença que tinham. Pedro, então, usou como ponto de partida os relatórios que por certo tinham ouvido. Explicou mais claramente a vida, morte e ministério de Cristo. Deus primeiro enviou a mensagem ao seu povo Israel. Sendo ele "Senhor de todos", a mensagem abrange os gentios também. 3. O Cristo que ministrava. Em poucas palavras, Pedro esboçou o poderoso ministério de Cristo: "Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com virtude; o qual andou fazendo bem, e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele". Jesus foi ungido com o Espírito. A palavra "ungido" vem do costume de ungir com óleo os líderes escolhidos por Deus. Era um símbolo dos poderes espirituais necessários para a sua obra. O óleo simboliza o Espírito Santo e fala de frutificação, utilidade, vida eterna e beleza. Foi assim o ministério de Cristo. Foi ungido com virtude. Cristo não apenas falava acerca de virtude espiritual. Manifestava-a também. Foi ungido para o serviço. Um dos títulos do Messias no Antigo Testamento era "Servo do Senhor" (Is 42.1; 52.13; 53.11; Lc 22.27; Rm 15.8). Foi ungido para destruir as obras do diabo: "... curando a todos os oprimidos do diabo..." Pedro nos avisa que "o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar". O Senhor Jesus, em seu ministério de três anos e meio, andava por toda a parte, destruindo e frustrando as obras do diabo (Lc 4. 18; 13.16; Hb 2.14,15; 1 Jo 3.8). 4. O Cristo que morreu. "E nós somos testemunhas de todas as coisas que fez, tanto na terra da Judéia como em Jerusalém: ao qual mataram, pendurando-o num madeiro". A palavra "madeiro" é sinônimo figurativo de "cruz". Tem relação com o conceito de Jesus suportar por

nós a maldição da Lei (ver Gl 3.13). O sermão de Pedro consistia em relatar a simples história da vida, morte e ressurreição de Cristo. Foi esta a característica da primeira mensagem cristã. Atualmente, o pregador muitas vezes considera a história de Cristo conhecida dos ouvintes. Quando o Evangelho era completa novidade, se fazia necessário primeiro contar os fatos como fundamento para a fé. 5. O Cristo que vive. "A este ressuscitou Deus ao terceiro dia, e fez que se manifestasse, não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus antes ordenara; a nós, que comemos e bebemos juntamente com ele, depois que ressuscitou dos mortos". Celso, antigo filósofo pagão que ata-cava o Cristianismo, perguntou por que o Cristo ressurreto não apresentou-se aos sacerdotes judeus e outros inimigos. Assim convenceria a todos da veracidade de suas afirmações sobre si mesmo. Um princípio de Deus ao lidar com o homem é não dar mais luz se ele não andar na que já recebeu: "Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tão pouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite" (Lc 16.31). Não podemos convencer a quem já resolveu não acreditar. Tal pessoa achará meios de "fugir" da mais clara evidência. "E nos mandou pregar ao povo, e testificar que ele é o que por Deus foi constituído juiz dos vivos e dos mortos". Estas palavras se referem à Grande Comissão (Mt 28.18-20; Mc 16.15,16). A autoridade de julgar vivos e mortos é entendida nas palavras: "É-me dado todo o poder no céu e na terra" (At 17.31). 6. O Cristo que salva. "A este dão testemunho todos os profetas, de que todos os que nele creem receberão o perdão dos pecados pelo seu nome". Este é o ponto alto do sermão. Com este texto Pedro declara o significado, na vida prática, da morte e ressurreição de Cristo. E explica aos gentios qual o benefício que lhes advém por meio dEle. Qual é uma das bênçãos mais marcantes da Nova Aliança? (Mt 26.28; Hb 8.12). III ־ O Efeito do Sermão (At 10.44-48) 1. O derramamento. "E, dizendo Pedro ainda estas palavras, caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra". Não houve tempo de chegar ao fim do sermão e fazer o apelo. Ao ouvirem as palavras "receberão o perdão dos pecados pelo seu nome", os ouvintes, com fome espiritual, creram de todo coração, alma e força (Rm 10.17). Como resultado, seus corações foram purificados pela fé (At 15.8,9) e receberam o batismo com o Espírito Santo. Este derramamento do Espírito marcou o nascimento da igreja gentílica. 2. A admiração. "E os fiéis que eram da circuncisão, todos quantos tinham vindo com Pedro, maravilharam-se de que o dom do Espírito Santo se derramasse também sobre os gentios". Os homens que acompanhavam Pedro eram seis crentes judeus (At 11.12). Com que propósito? Pedro sabia que seus patrícios, cheios de preconceitos, não creriam na conversão dos gentios sem as evidências mais claras. Pedro levou testemunhas, mais do que o mínimo legalmente exigido. O que convenceu tais pessoas, sem sombra de dúvida? "Porque os ouviam falar línguas, e magnificar a Deus". O comum era a pessoa crer, ser batizada na água e depois receber o Espírito Santo (At 8.14,15; 19.1-6). No caso de Cornélio, porém, a conversão e o recebimento do Espírito foram simultâneos. A explicação é que, se os gentios somente cressem e recebessem o perdão de Deus, os crentes judeus não teriam crido no testemunho deles. E não lhes concederiam o batismo. Não havia, no entanto, como negar a prova do falar em outras línguas. O "porquê" comprova a conexão inabalável entre o receber o Espírito Santo e o falar em outras línguas para os crentes primitivos. 3. O desafio. "Pode alguém porventura recusar a água, para que não sejam batizados estes, que também receberam como nós o Espírito Santo?" O apóstolo levanta o assunto como um

argumento irrecusável. Note as palavras "como nós" (11.15), que forçaram os crentes judeus à seguinte conclusão: no que dizia respeito à salvação eterna, Deus não fazia diferença entre judeus e gentios. 4. A ordem. "E mandou que fossem batizados em nome do Senhor". Este versículo mostra a importância do batismo em água. Isto se percebe pelo fato de que o batismo no Espírito Santo recebido pelos gentios não os deixou desobrigados quanto a esta ordenança. "Então rogaram-lhe que ficasse com eles por alguns dias". Queriam ouvir mais sobre o Evangelho. Beber profundamente da fonte de águas vivas aberta para suas almas. IV - Ensinamentos Práticos 1. O poder unificante da oração. Cornélio e Pedro estavam separados pela situação social, profissão, nacionalidade e distância física. Ambos, porém, oravam. Isto resultou num movimento espiritual que rompeu as barreiras entre judeus e gentios. A profunda oração penitente, vinda do nosso coração, sanarão as preocupações que perturbam a raça humana. Quando ficamos mais perto de Deus, ficamos mais perto uns dos outros. 2. "Deus não faz acepção de pessoas". "Deus mostrou-me que a nenhum homem chame comum ou imundo. Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas". Há pessoas de certas nações que consideram os habitantes de todas as outras um amontoado de raças inferiores. Outras, até crentes, pensam que seu pequeno grupo é a esfera limitada do favor de Deus. O racismo, ou preconceito racial, não pode ser adotado por crentes. Ninguém foi consultado, antes de nascer, quanto à raça à qual gostaria de pertencer. Portanto, não é base para alguém se orgulhar ou desprezar seu próximo. Deus "de um só fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra" (At 17.26). Nenhum cientista verá diferença entre amostras de sangue de pessoas de todas as raças. Cristo veio oferecer a salvação a todos aqueles que creem, independentemente de raça (Gl 3.28). A Igreja é uma fraternidade espiritual em que não se reconhecem distinções dessa natureza. Todos somos um em Cristo. O Senhor morreu por todos e haverá no Céu uma multidão incontável de todas as tribos, línguas, povos e nações. Em vista disto, não podemos empregar palavras zombeteiras para descrever membros de outras raças ou nações. Aqui no Brasil, quase todos somos imigrantes ou descendentes deles. 3. Os perigos da rotina. "Mas Pedro disse: De modo nenhum, Senhor, porque nunca comi cousa alguma comum e imunda". Embora o próprio Deus ordenasse, Pedro recusou, por nunca ter feito assim antes. A rotina e o costume na religião podem levar alguém a desobedecer o próprio Deus a quem adora. Existem bons costumes, firmados na prática do bem e aprendidos na Palavra de Deus. E nem todas as alterações e novidades são da parte de Deus. Hoje em dia, há o espírito de anarquia desejando acabar com tudo que há de nobre na civilização. Isso sob o pretexto de combater as injustiças sociais. Mesmo assim, qualquer apego ao passado que não permita a disseminação mais ampla e eficiente do Evangelho deve ser rejeitado. A diferença entre o sulco da rotina e a sepultura é questão apenas de profundidade.

4. Corações preparados. Deus preparou tanto Pedro quanto Cornélio para o maravilhoso derramamento que ocorreu na casa deste. Quando pregador e ouvintes chegam à casa de Deus de coração aberto, certamente o culto é uma bênção. 5. A mordomia cristã. Uma característica marcante de Cornélio: todos que estavam no seu serviço, lar ou exército tinham amizade com ele. Era "temente a Deus, com toda a sua casa". Preparando-se para a visita de Pedro, "os estava esperando, tendo já convidado os seus parentes e amigos mais íntimos". Sua comissão no exército era bênção para os soldados. Sua vivenda era bênção para os que trabalhavam ali. Todo crente deve empregar sua posição de autoridade, negócios, lar ou fazenda, não para a própria vantagem, mas para o bem dos que ali trabalham ou moram. 6. Devemos adorar o Criador, não a criatura. Quando Cornélio se prostrou diante de Pedro, para adorá-lo, o apóstolo levantou-o dizendo: "Levanta-te, que eu também sou homem". Pedro rejeitou o eclesiasticismo que coloca o ministro num pedestal, com vestimentas especiais, totalmente separado dos seres humanos comuns. Jesus sempre conversava de forma acessível com as pessoas entre as quais andava. O pregador deve encontrar-se com as pessoas em pé de igualdade, sem perder a dignidade espiritual de quem e dedica a Cristo. O profeta Ezequiel muitas vezes foi chamado "filho do homem". Assim, teria em mente que participava da natureza e tribulações dos seus companheiros de exílio. Pedro não aceitou a forma de respeito exagerado, dispensado a certos pregadores. Alguns ouvintes chegam ao ponto de abandonar o culto quando o famoso pregador, que esperavam, está em outro lugar. Em tais casos, pode-se dizer: "Retirem-se os que vieram adorar o Dr. X, fiquem os que vieram prestar culto a Deus!" (ver 1 Co 1.12-17; 3.1-18; 4.1-6). 7. Por que frequentamos a igreja? Nos países onde a igreja é um tipo de "cartório de registros" religioso, todos comparecem de colo, quando criancinha, de mãos dadas, como noivos, e num caixão. A verdadeira razão de irmos à igreja, porém, é a que Cornélio declarou: "Agora pois estamos todos presentes diante de Deus, para ouvir tudo quanto por Deus te é mandado" (At 10.33). 8. A bondade em ação. Pessoas devotas, chocadas com a maldade do mundo, se retiram a um lugar quieto para meditar sobre a prática do bem. Outras, são muito ativas nas ocupações mundanas durante a semana. Aos domingos, visitam a igreja para se sentir bem enquanto escutam o sermão. Outras, vendo realmente quais são as necessidades do mundo, falam acerca da prática da bondade. Tais pessoas devem seguir o exemplo do Mestre, "o qual andou fazendo o bem". Nossa fé seria mais forte, e nossa experiência espiritual mais profunda, se aliássemos a fé à compaixão e à prática do bem. Quando um pregador começa a praticar aquilo que os outros meramente dizem, logo começa o reavivamento! 9. Palavras de salvação. Se fosse possível ser justo a parte do sacrifício de Jesus, Cornélio seria um bom candidato. A Palavra de Deus, porém, classifica-o como pecador. Cornélio ouviu do anjo que necessitava de "palavras com que te salves, tu e toda a tua casa" (At 11.14). Naamã zombou da ideia de lavar sua lepra em água. Da mesma forma, existem os que zombam de uma mensagem para curar pecados. No entanto, as palavras são de vida ou morte quando é Deus quem as pronuncia. Pela Palavra de Deus começou a existir o Universo. Doentes foram curados e mortos ressuscitados. Pela Palavra de Deus, pecadores são purificados. E os que estão mortos nas suas transgressões ressuscitam.

Pedro testemunhou a conversão dos gentios na casa de Cornélio. Entendeu o que significava falar sobre crentes "regenerados", não de semente corruptível, mas da incorruptível, mediante a palavra de Deus que é viva e permanente (1 Pe 1.23). Bibliografia M. Pearlman

Testemunhando aos Gentios At 10.1-11.30

Samaria, como já foi observado (8.5) na lição anterior, era uma espécie de local intermediário entre os judeus e os gentios. A execução da comissão de Cristo envolvia em primeiro lugar a evangelização dos judeus em Jerusalém, em seguida a dos samaritanos, e finalmente a dos gentios. Mas todos os acontecimentos registrados neste capítulo tiveram lugar na Judéia. Assim, ainda nos encontramos na segunda parte de Atos 1.8. 1. As Visões (10.1-16) Duas visões estão registradas nesta seção: a de Cornélio em Cesaréia e a de Pedro em Jope. Nos dois casos, o indivíduo que teve a visão foi preparado para o contato com o outro homem. Deus estava operando nas duas pontas. a. Cornélio em Cesaréia (10.1-8). Cesaréia (1) era o principal porto da Palestina e a capital do governo romano ali. Herodes, o Grande, tinha construído no lugar da Torre de Strato uma magnífica cidade e um porto deslumbrante, protegido por um extenso quebra-mar. Apesar da sua importância, a cidade é mencionada no Novo Testamento somente no livro de Atos (quinze vezes). Cornélio era um nome muito comum no Império Romano. Isto se devia, em parte, ao fato de que, em 82 a.C, Cornélio Sulla libertara dez mil escravos e lhes dera o seu próprio nome. Este Cornélio era um centurião — lit, "chefe de cem homens", ou seja, um oficial que tinha cem soldados subordinados a si. Era um centurião da coorte(Parte de uma legião, entre os antigos romanos) chamada Italiana. Uma coorte normalmente consistia em seiscentos homens — a décima parte de uma legião que era de 6.000 homens. Quatro coisas são ditas a respeito de Cornélio. A primeira, que ele era piedoso (2). O adjetivo que significa "religioso" é encontrado (no NT) somente aqui, no versículo 7 e em 2 Pedro 2.9. Em segundo lugar, ele era temente a Deus, com toda a sua casa. Bruce diz que estas duas expressões, "embora não sejam especificamente termos técnicos... geralmente são usadas no livro de Atos para se referirem àqueles gentios que, embora não totalmente prosélitos... se relacionavam com a religião judaica, praticando a sua adoração monoteísta e sem imagens, freqüentando a sinagoga, respeitando o sábado e as leis sobre a comida, etc". Algumas vezes, fazia-se referência a essas pessoas como "prosélitos de portão". Mas em um artigo sobre "prosélitos e tementes a Deus", Kirsopp Lake insiste que a expressão "prosélito de portão" deve ser abandonada, por não ter validade histórica. As pessoas eram prosélitos ou não. Gloag concorda com isto, ao escrever. "O único proselitismo que os judeus parecem ter reconhecido era quando os gentios adotavam completamente a lei... pensamos, assim, que não havia, pelo menos na época dos apóstolos, uma classe como os "prosélitos de portão". Cornélio não era um prosélito, como mostram as palavras de Pedro no versículo 28. Um prosélito era considerado como pertencente à congregação dos judeus; este não era o caso de Cornélio.

A terceira coisa que se afirma sobre este homem é que ele fazia muitas esmolas ao povo, i.e., aos judeus. A quarta coisa é que, de contínuo, orava a Deus. Ele era um dedicado adorador do Deus verdadeiro. No entanto, não era um membro da comunidade judaica nem da igreja cristã. Certo dia, Cornélio estava orando (cf. 30) em sua casa, quase à hora nona do dia (três horas da tarde) — a hora da oferta do sacrifício da tarde no Templo, quando os judeus devotos e os tementes a Deus estariam envolvidos na oração (cf. 3.1). Ele viu... numa visão um anjo de Deus, que se dirigia para ele e chamava o seu nome: Cornélio! (3). O termo claramente é a tradução literal (NEB). Fixando os olhos nele — melhor "olhando fixamente para ele" (ASV) — ficou muito atemorizado (4). Esta é normalmente a reação daqueles que são confrontados por anjos, como observam as Escrituras. Mas o mensageiro celestial falou com palavras que eram ao mesmo tempo uma saudação e um conforto: As tuas orações e as tuas esmolas têm subido para memória diante de Deus. O nome memória — ou memorial — era dado "à porção da oferta de alimentos que o sacerdote deveria queimar sobre o altar, para que fosse uma oferta queimada de cheiro suave ao Senhor (Lv 2.2)". As orações e esmolas de Cornélio tinham sido como a sua oferta, e agradaram a Deus. O anjo instruiu Cornélio, dizendo: envia homens a Jope e manda chamar a Simão, que tem por sobrenome Pedro (5). Simão era, supostamente, o nome mais comum entre os judeus daquele tempo. Assim, este Simão precisava ser identificado pelo seu sobrenome, Pedro. Na verdade, ele estava hospedado na casa de Simão, um curtidor (6), o que tornava a identificação ainda mais necessária. A casa do curtidor ficava junto do mar. Provavelmente, havia duas razões para isto. Uma delas era a sua profissão, que envolvia a manipulação de animais mortos, o que o deixava impuro; assim era exigido que ele morasse fora da cidade. A outra razão era que o seu negócio provavelmente envolvia o uso de água do mar. Quando o anjo se retirou, Cornélio chamou dois dos seus criados (7) — uma única palavra em grego, que significa "aqueles que moram na casa" — e a um piedoso soldado dos que estavam ao seu serviço. A sua própria vida devota tinha influenciado até mesmo os seus criados e soldados. Ele contou a estes três homens de confiança sobre a sua visão, e então os enviou a Jope (8). Eles deveriam encontrar Simão Pedro e trazê-lo. b. Pedro em Jope (10.9-16). No dia seguinte — um dia depois que os mensageiros tinham deixado Cesaréia — eles... estando já perto da cidade (9), i.e., Jope. Era a hora sexta (o meio-dia) e subiu Pedro ao terraço para orar. Esta não era uma das horas regulares de oração. Mas as almas devotas podem perfeitamente estar envolvidas em orações privadas nessa hora (cf. Sl 55.17). Este tipo de oração é sempre apropriado. A distância entre Cesaréia e Jope era de 48 quilômetros. Houve consideráveis divergências de opinião relativas a quando os servos deixaram Cesaréia — se foi no mesmo dia da visão ou na manhã seguinte. Também houve discussões sobre o seu meio de transporte — se foi a pé ou a cavalo — e quanto tempo levaram para fazer a viagem. Os fatos declarados na narrativa são que eles chegaram a Jope aproximadamente ao meio-dia do dia seguinte (9), passaram a noite ali com Pedro e partiram "no dia seguinte" (23), e então, "no dia imediato" (24) chegaram de volta a Cesaréia — provavelmente no final da tarde. Um dia de viagem a pé normalmente corresponde a 32 quilômetros, assim, a melhor reconstrução parece ser a seguinte: Os criados de Cornélio saíram de Cesaréia na manhã seguinte ao dia da visão, viajaram 32 quilômetros, e pararam para passar a noite. No dia seguinte eles percorreram os 16 quilômetros que faltavam, chegando a Jope aproximadamente ao meio-dia. Depois de passar ali a noite, iniciaram a viagem de volta na manhã seguinte (o terceiro dia depois da visão). Tendo feito uma parada para dormir, eles percorreram os últimos 16 quilômetros no quarto dia. Isto está em perfeito

acordo com a afirmação que Cornélio faz a Pedro: "Há quatro dias... diante de mim se apresentou um varão com vestes resplandecentes" (30-31). Quando Pedro estava orando no terraço em Jope, tendo fome (10), quis comer. Enquanto lhe preparavam a refeição do meio-dia, sobreveio-lhe um arrebatamento de sentidos. A palavra grega que foi traduzida como "êxtase" por algumas versões significa literalmente "ficar fora de si". Neste transe Pedro viu o céu aberto (11) e a aparição de um grande lençol atado pelas quatro pontas, vindo para a terra. Nele havia de todos os animais quadrúpedes, répteis da terra e aves do céu (12) — "tudo o que caminha, ou rasteja ou voa" (NEB). Lumby observa: "Frequentemente, aceita-se o significado do lençol aberto como uma imagem de todo o mundo, e das quatro pontas como as direções nas quais o Evangelho deveria ser levado por todo o mundo". Uma voz lhe ordenou: Levanta-te, Pedro! Mata e come (13). Mas Pedro protestou veementemente: De modo nenhum, Senhor, porque nunca comi coisa alguma comum e imunda (14). O uso de comum (koinos) com o sentido de imunda é explicado assim por Lumby: "Todas as pessoas que não eram judias eram vistas como a ralé 'comum', excluída do concerto de Deus... assim, quaisquer costumes destas pessoas, diferentes daqueles do povo escolhido, eram chamados coisas 'comuns', e como essas coisas 'comuns' eram proibidas pela lei, todas as coisas ou ações proibidas ficaram conhecidas como sendo 'comuns'. As leis a respeito dos alimentos puros e impuros são encontradas no capítulo 11 de Levítico. Uma segunda vez, a voz falou. Desta vez, ela disse: Não faças tu comum ao que Deus purificou (15). O significado destas palavras é explicado da seguinte forma por Gloag: "Os judeus consideravam os animais impuros como uma imagem dos gentios, a quem eles chamavam de 'cães'. Mas agora Pedro aprendia que todos os homens estavam no mesmo patamar, aos olhos de Deus". Havia ainda outra implicação: "A diferença entre carnes puras e impuras, a qual correspondia a uma parte tão considerável da lei mosaica foi abolida; assim, uma das grandes barreiras de separação entre os judeus e os gentios foi removida". Isto era necessário tanto para a evangelização do mundo, como para a unidade da Igreja. E aconteceu isto por três vezes (16). Aparentemente, toda a cena se repetiu. Alexander comenta: "Esta repetição da revelação, sem dúvida exatamente da mesma forma, pode ter tido a intenção parcial de gravá-la na memória, mas principalmente de impedir a suspeita de que fosse um mero sonho ou imaginação". Esta seção (1-16) exemplifica a "preparação para a revelação". Se quisermos nos comunicar com o céu, devemos satisfazer as condições cumpridas tanto por Cornélio quanto por Pedro:

1. Eles eram homens devotos (1-4,9); 2. Eles deixavam tudo de lado para orar (9,30); 3. Eles esperavam em Deus até que o ouvissem (3-6,13-15,19-20).

2. Visitas (10.17-29) a. Os Criados em Jope (10.17-23a). Estando Pedro duvidando entre si (17), i.e., estava "perplexo" (ASV), quanto ao que seria aquela visão, os criados enviados por Cornélio pararam do lado de fora da porta da casa onde ele estava. Como eram gentios "impuros", eles não pensaram em entrar na casa, mas, chamando, perguntaram se Simão Pedro estava hospedado ali (18). Se a porta estivesse trancada, qualquer visitante teria de chamar do lado de fora. Na verdade, hoje é o costume em terras orientais chamar ao invés de bater.

E, pensando — um composto forte (somente aqui no NT), que significa "ponderando" — Pedro naquela visão, disse-lhe o Espírito que três varões o procuravam (19). Pedro recebeu a ordem de ir com eles, não duvidando (20). Duvidando é um verbo composto que significa "estar com a mente dividida ou hesitar". Aqui, não duvidando significa "sem hesitar" (RSV). Deus tinha enviado esses mensageiros, e Pedro devia ir com eles. De forma obediente, Pedro desceu e conversou com os homens (21). Eles lhe contaram sobre a visão de Cornélio, que tinha sido avisado (22) — ou "instruído, orientado" — a mandar buscar Pedro. O apóstolo, chamando-os para dentro, os recebeu em casa (23), apesar de serem gentios. A visão de Pedro já estava produzindo resultados. b. Pedro em Cesaréia (10.23b-29). No dia seguinte, o apóstolo partiu com os mensageiros de Cornélio. Felizmente para Pedro, foram com ele alguns irmãos de Jope. Quando fosse em breve desafiado por alguns da igreja de Jerusalém, ele precisaria do testemunho destes homens para explicar exatamente o que aconteceu na casa de Cornélio. Deste modo, a presença deles era providencial. No dia imediato (24) — o quarto dia desde que Cornélio teve a sua visão (ver os comentários sobre o v. 9) — o pequeno grupo chegou a Cesaréia. Além do soldado e dois criados de Cornélio, ali estavam Pedro e "seis irmãos" (cf. 11.12) que o acompanharam. E muito improvável que um grupo de dez homens tivesse ido a cavalo. Evidentemente, eles tinham ido a pé, como era o hábito naquela época. Assim, a viagem de 48 quilômetros lhes teria tomado pelo menos um dia e meio. Quando chegaram ao seu destino, eles descobriram que Cornélio os esperava. A palavra em grego sugere que "ele continuava esperando ansiosamente por eles". Sem dúvida, ele imaginara que os seus criados passariam a noite em Jope, e assim estariam chegando a Cesaréia logo depois do meio-dia do quarto dia. Além disso, ele tinha convidado os seus parentes e amigos mais íntimos. O fato de que Cornélio tivesse parentes em Cesaréia implica que ele vivera ali por um longo período, o que também se conclui da afirmação de que ele tinha "bom testemunho de toda a nação dos judeus" (22). O adjetivo íntimos significa literalmente "necessário". Somente aqui (no NT) significa "familiar". A ideia parece ser a de que os amigos que são tão íntimos e queridos de alguém são necessários. Cornélio obviamente era um homem que tinha um grande coração. Quando Pedro entrou, saiu Cornélio a recebê-lo e, prostrando-se a seus pés, o adorou (25). Lumby comenta: "Este ato de respeito do oficial romano demonstra fortemente o seu sentimento de que Pedro era um mensageiro de Deus. Tais atos não eram usuais entre os soldados romanos". Embora fosse comum no oriente que os homens se prostrassem aos pés dos seus superiores, "a ideia da prostração era estranha à mente ocidental, e esse costume não foi introduzido na corte imperial até o reinado de Diocleciano". Alexander diz: "Tendo sido ordenado por um anjo a mandar buscar o apóstolo, com uma promessa de comunicação divina com ele, não é de surpreender que Cornélio tivesse imaginado que ele fosse mais do que um simples homem". Mas Pedro o levantou, dizendo: Levanta-te, que eu também sou homem (26). Isto indica que Cornélio tentava dedicar-lhe adoração religiosa, ao que Pedro protestou. Da mesma maneira, um anjo recusou a adoração de João (Ap 19.10).

Enquanto conversavam, os dois homens entraram na casa. Pedro deve ter ficado surpreso ao ver os muitos que ali se haviam reunido para ouvi-lo (27). Ele os lembrou do fato de que não era lícito para um judeu associar-se com estrangeiros (28). Com um fino toque de cortesia, Pedro usou uma palavra rara, que significa literalmente "outra tribo" (somente aqui no NT). Graciosamente, ele evitou o termo ofensivo ethnoi, que usualmente transmite a ideia de "pagão". Pedro tinha sido obrigado a deixar de lado essa proibição judaica, pois, como disse, Deus mostrou-me que a nenhum homem chame comum ou imundo (cf. 15). Para nós, é impossível perceber a tremenda mudança que isto envolvia no pensamento de um judeu devoto daquela época. Toda a sua educação religiosa tinha ensinado que os israelitas eram o povo escolhido de Deus e que o restante da humanidade era impuro e excluído da aliança divina. Devido à visão no terraço em Jope, Pedro tinha vindo até estes gentios sem contradizer (29). Esta é uma única palavra em grego (somente aqui no NT), e significa literalmente "não se pronunciar contra", e assim "sem nem mesmo levantar qualquer objeção" (NASB). Pedro então perguntou por que razão tinham mandado chamá-lo. 3. Verificação (10.30-48) A última parte deste capítulo conta a história da verificação das visões que tiveram Pedro em Jope e Cornélio em Cesaréia. Por meio do derramamento do Espírito na casa de Cornélio, Deus provou a quem pudesse interessar que os gentios, assim como os judeus, podiam ser os destinatários da sua graça. a. Apresentação por Cornélio (10.30-33). Pedro foi apresentado à audiência por Cornélio, que relatou a sua visão como uma causa para a reunião. Ele disse: Há quatro dias estava eu em jejum até esta hora, orando em minha casa à hora nona. E eis que diante de mim se apresentou um varão com vestes resplandecentes (30-31). A palavra jejum não consta do melhor texto grego. Provavelmente, a melhor tradução para a primeira parte seja: "Faz, hoje, quatro dias que, por volta desta hora, estava eu observando em minha casa a hora nona de oração..." Isto parece indicar que Pedro e os seus companheiros chegaram à casa de Cornélio por volta das três horas da tarde, do quarto dia depois da visão. O relato de Cornélio de que um varão lhe apareceu não entra em conflito com a outra afirmação de que era "um anjo de Deus" (3). Era um anjo sob forma de homem, como também tinha acontecido no sepulcro vazio (Mt 28.5; Mc 16.5). Os versículos 31 e 32 são um eco dos versículos 4 a 6; Cornélio continuou expressando a sua gratidão pela vinda de Pedro e assegurou-lhe: estavam todos esperando para ouvir tudo quanto por Deus te é mandado (33). Pedro tinha um público receptiva pronto e desejoso para caminhar na luz. Este é o segredo dos resultados que tiveram lugar nesta reunião histórica na casa de Cornélio. b. A Pregação de Pedro (10.34-43). Tendo em vista a sua própria visão, assim como a que foi dada a Cornélio, Pedro foi forçado a concluir: Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas; mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e faz o que é justo (34-35). Cornélio era tão aceito perante Deus quanto qualquer descendente físico de Abraão.

Depois da sua apresentação, Pedro fez um breve resumo do ministério de Jesus (36-41). Foi quase um epítome(Resumo, abreviação) do Evangelho de Marcos, o que a Igreja Primitiva considerava conter na pregação de Pedro. O apóstolo começou fazendo referência à Palavra (logos) que chegou à nação de Israel por meio da pregação de Jesus (36). Era uma mensagem de paz, mas foi rejeitada. Pedro aproveita para enfatizar a divindade de Jesus: este é o Senhor de todos. Ele diz que os seus ouvintes conhecem esta palavra (rhema) (37). Uma vez que rhema às vezes é traduzida como "coisa" (5.32; Lc 2.15), a frase aqui pode ser traduzida como "aquilo que aconteceu". Cornélio e seus amigos, como a maioria do povo daquele país, sabiam do ministério de Jesus. Aquele ministério cobriu toda a Judéia — toda a Palestina. Assim, a Judéia assume o sentido mais amplo, como o país dos judeus. Começando pela Galiléia... — literalmente "tendo começado pela Galiléia", que assim está incluída na Judéia. O batismo que João pregou seria o batismo do arrependimento. É com o ministério de João Batista que começa o Evangelho de Marcos. Foi no batismo de Jesus por João (cf. Lc 4.1,14) que Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com virtude; o qual andou fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo (38). Isto resume uma grande parte do Evangelho de Marcos. Pedro afirma: Nós — ele e os seis companheiros de Jope — somos testemunhas de todas as coisas que fez, tanto na terra da Judéia [como o v. 37; algumas versões apresentam "dos judeus"] como em Jerusalém (39), na parte final do seu ministério. Foi ali que Ele foi pendurado num madeiro (crucificado). No terceiro dia Deus o ressuscitou e fez que se manifestasse (40) — tradução literal. Mas isto foi não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus antes ordenara; a nós que comemos e bebemos juntamente com ele, depois que ressuscitou dos mortos (41). Esta afirmação está perfeitamente de acordo com o que é encontrado nos Evangelhos. O Cristo ressurreto mandou que os discípulos fossem pregar ao povo (Mt 28.19) e testificar que Jesus Cristo é o que por Deus foi constituído juiz dos vivos e dos mortos (42). A observação final da mensagem de Pedro foi expressamente evangelizadora: A este dão testemunho todos os profetas, de que todos os que nele creem receberão o perdão dos pecados pelo seu nome (43). No texto grego, a frase todos os que nele creem é colocada no final, como uma ênfase. Este Evangelho de perdão dos pecados por meio da fé em Jesus Cisto é para todos aqueles que crerem, tanto judeus quanto gentios. c. O Derramamento do Espírito (10.44-48). Enquanto Pedro ainda pregava, o Espírito Santo caiu sobre os que estavam ouvindo a Palavra (44). Dizendo estas palavras provavelmente deve ser traduzido como "estava falando estas coisas" (rhemata). No Concilio em Jerusalém, Pedro comparou este "Pentecostes dos gentios" ao Pentecostes original do capítulo do livro de Atos. Ele disse: "E Deus, que conhece os corações, lhes deu testemunho, dando-lhes o Espírito Santo, assim como também a nós; e não fez diferença alguma entre eles e nós, purificando o seu coração pela fé" (15.8-9). Da mesma forma como Deus tinha purificado os corações dos 120 no cenáculo, quando eles foram cheios do Espírito (2.4), Ele também purificou os corações de Cornélio e seus amigos, quando o Espírito Santo

caiu sobre eles. Teólogos da Santidade interpretam esta experiência como sendo a santificação completa. Os judeus cristãos que tinham acompanhado Pedro a Cesaréia maravilharam-se — "ficaram fora de si com assombro" — de que o dom do Espírito Santo — genitivo de aposição, o dom que era o próprio Espírito Santo — se derramasse também sobre os gentios (45). Eles os ouviam falar em línguas (46), como tinham ouvido os 120 no Dia de Pentecostes. Apesar dos seus preconceitos judaicos, Pedro sentiu que Deus tinha aceitado plenamente estes gentios no Reino. Então, ele propôs que o batismo cristão lhes fosse ministrado (47). Cornélio e seus amigos foram batizados em nome do Senhor (48), i.e., em nome de Jesus. Esta fórmula era aparentemente usada na Igreja Primitiva, assim como a forma da trindade (Mt 28.19). A ênfase principal aqui está no fato de que era um batismo cristão. 4. Justificativa (11.1-18) O capítulo 10 apresenta a história da visita de Pedro à casa de Cornélio e o derramamento do Espírito de Deus sobre o grupo ali reunido. O capítulo 11 apresenta a justificativa de Pedro para a sua entrada na casa de um gentio, e a sua associação com os "pagãos". a. Pedro É Criticado (11.1-3). Os rumores do que havia acontecido em Cesaréia chegaram até os apóstolos e os irmãos que estavam na Judéia (1). Eles ouviram as espantosas notícias de que também os gentios tinham recebido a Palavra de Deus. Quando Pedro regressou a Jerusalém, os que eram da circuncisão (2) — os judeus cristãos que enfatizavam a constante observação à Lei — disputavam com ele. A sua queixa era: Entraste em casa de varões incircuncisos e comeste com eles (3). Para os judeus conservadores, os homens incircuncisos eram impuros, e o contato com eles poderia corromper uma pessoa. Mas a transgressão mais grave que Pedro havia cometido foi comer com eles. Isto era uma coisa que nenhum filho sério de Abraão poderia fazer. b. A Explicação de Pedro (11.4-18). Se um homem sabe que tem razão, a sua melhor defesa é uma explicação direta do que fez, e do porquê. Este foi o método seguido por Pedro. Ele começou a fazer-lhes uma exposição por ordem (4). Ele contou toda a história aos seus críticos. O fato de que aquilo que tinha acontecido é repetido aqui mostra a grande importância ligada a este evento significativo. Iniciara-se uma nova época — a da evangelização dos gentios. A narrativa dos versículos 5 a 10 é quase idêntica à de 10.9b-16, exceto pelo fato de que o relato de Pedro, aqui, narrado na primeira pessoa, é bem mais vivido. Por exemplo, ele diz sobre o vaso: descia do céu e vinha até junto de mim (5). Este é o tipo de toque adicional que poderíamos esperar que ele nos desse. Pedro contou o fato de que havia três varões (11) de Cesaréia que vieram à casa onde estava (cf; 10.7,17), e como o Espírito lhe disse que fosse com eles, nada duvidando (12). Foi o Espírito Santo que lhe disse que fosse com aqueles homens até à casa de Cornélio, de modo que ele não teve escolha. Se o povo quisesse criticá-lo por ter ido, teria que discutir com o Espírito sobre o assunto. Nada duvidando é a mesma coisa que "não duvidando" (10.20), mas o texto grego aqui apresenta a forma ativa do verbo; em 10.20, é a meia-passiva. A diferença foi bem explicada pela adoção de "sem hesitação" em 10.20 e "sem fazer diferença" aqui (RSV). Como uma razão

para esta modificação, Lumby sugere: "A visão não tinha lhe dado nenhuma ideia de que haveria uma viagem; agora [10.20] Pedro é informado dela, e assim também, quando chega ao final da viagem, o 'não hesitar' significa 'não fazer distinção entre os judeus e os outros homens'. Desse modo, a visão tornou-se compreensível, pouco a pouco, e a perplexidade foi removida". Não somente o Espírito lhe ordenou que fosse, mas também seis irmãos foram com ele (12). Em 10.23, não sabemos quantos, mas somente que "alguns irmãos" acompanharam Pedro. Pedro teria pensado que os judeus cristãos tradicionais de Jerusalém poderiam criticá-lo? Se isto aconteceu, ele teve muitas testemunhas para corroborar a história que estava contando. Talvez os seis homens tenham acrescentado o seu entusiasmado testemunho a respeito do maravilhoso derramamento do Espírito na casa de Cornélio. Pedro fez um adendo significativo ao relato de Cornélio a respeito da sua visão (cf. 10.32). Ele mencionou que o centurião havia dito que o anjo lhe ordenara que mandasse buscar a Pedro, o qual te dirá palavras com que te salves, tu e toda a tua casa (14). Adam Clarke interpreta isto como querendo dizer: "Ele anunciará a você toda a doutrina da salvação". O fato de que Pedro interpretou a sua missão como sendo a de dizer a Cornélio como ser salvo está evidente pelo seu discurso na casa do centurião (10.34-43). Ele apresentou os fundamentos elementares da experiência cristã pregando a crucificação, a ressurreição e o julgamento. As suas palavras finais foram: "A este dão testemunho todos os profetas, de que todos os que nele creem receberão o perdão dos pecados pelo seu nome" (10.43). O que Pedro estava pregando era o perdão através da fé em Jesus Cristo. Obviamente, ele entendia que era disto que Cornélio e seus amigos precisavam. Como podemos explicar, então, a afirmação: E, quando comecei a falar, caiu sobre eles o Espírito Santo, como também sobre nós ao princípio (15)? Isto é, as pessoas na casa de Cornélio tiveram a mesma experiência que os 120 discípulos no Dia de Pentecostes. Este pode ter sido o primeiro sermão de salvação que abriu os corações para o dom do Espírito Santo, mas certamente não foi o último. Talvez a explicação que está mais de acordo com as Escrituras seja: enquanto Pedro estava apenas começando o seu sermão (quando comecei a falar) os seus ouvintes creram, nos seus corações, em Jesus Cristo, e sentiram a conversão evangélica — como aconteceu com John Wesley quando estava em uma reunião em Aldersgate Street, na noite de 24 de maio de 1738. Então, como seus corações estavam completamente abertos para toda a vontade de Deus, aqueles ouvintes que tinham caminhado devotamente à luz do judaísmo (10.2) e agora aceitavam a Cristo foram subitamente cheios do Espírito Santo. Esta reconstrução do que aconteceu não ignora nem suprime quaisquer afirmações do relato bíblico. Pedro prosseguiu contando aos seus críticos em Jerusalém: E lembrei-me do dito do Senhor, quando disse: João certamente batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo (16). Esta é uma citação de 1.5. Nos Evangelhos, é João Batista que é mencionado como tendo dito estas palavras, mas o livro de Atos indica que Jesus as repetiu. Pedro concluiu a sua defesa fazendo uma pergunta que definitivamente silenciou os seus críticos. Ele disse: Portanto, se Deus lhes deu o mesmo dom que a nós, quando cremos no Senhor Jesus Cristo, quem era, então, eu, para que pudesse resistir a Deus? (17) Para isto, não havia uma resposta possível. Quando os judeus cristãos ouviram a conclusão de Pedro, apaziguaram-se e glorificaram a Deus, dizendo: Na verdade, até aos gentios deu Deus o arrependimento para a vida (18). Para eles, este era um fato surpreendente, que eles foram obrigados a aceitar. Algumas das implicações da salvação dos gentios seriam

discutidas mais tarde, no Concilio de Jerusalém (cap. 15), mas uma vitória importante foi conseguida aqui. Fonte: http://www.ebdareiabranca.com/Avivamento/AvivamentoLicao07.htm

Justificativa de Pedro 11:1. A história da conversão de Cornélio seria incompleta do ponto de vista de Lucas sem o acréscimo da quarta cena, na qual se descrevem os efeitos do incidente sobre a igreja. Lucas se ocupa com os apóstolos como líderes da igreja, e com os irmãos como seus membros comuns (1:15), e fala da igreja na Judéia (8:1; 9:31), que consistia do grupo em Jerusalém juntamente com os cristãos espalhados nas circunvizinhanças. A reação destes cristãos judaicos à resposta que os gentios deram ao evangelho seria da máxima importância para o futuro. 2-3. Foi, portanto, o "partido da circuncisão" que questionou Pedro acerca daquilo que acontecera, tão logo voltou a Jerusalém. Literalmente, a frase grega é os que eram da circuncisão, i. é, "os judeus de nascença" (NEB). Não há sugestão de que havia um "partido" distinto na igreja nesta etapa, especialmente antes de a questão da circuncisão ter surgido ao ponto de levar as pessoas a tomar partido quanto a ela. Mesmo assim, séculos de praxe(Aquilo que se pratica habitualmente; rotina, uso, prática, pragmática) judaica os levaram a criticar aquilo que, segundo os relatos, Pedro fizera, especialmente no tocante ao seu comer junto com os gentios. Embora os gentios houvessem sido convertidos, ainda existia o problema. Se os cristãos judaicos se sentiam obrigados pelas leis judaicas acerca do alimento, não poderia haver contato com cristãos gentios (nem contato com gentios não-cristãos) a não ser que os gentios fossem circuncidados e passassem eles mesmos a observar as leis judaicas acerca dos alimentos. Que este problema não era fruto da imaginação de Lucas vê-se pelo modo de o problema ainda estar vivo na ocasião do incidente relatado em Gálatas 2:11-14 (quando até mesmo Pedro voltou-se contra a sua praxe anterior). Por detrás do forte sentimento dos cristãos judaicos talvez tenha havido o medo de que, se cessassem de seguir a praxe do judaísmo, seriam atacados pelos seus compatriotas judeus, assim como aconteceu com Estevão e seus companheiros. A situação, portanto, é perfeitamente plausível, e não há razão para compartilhar do ceticismo de Dibelius (págs. 109-121) que contesta que o problema de comer juntamente com os gentios desempenhasse qualquer papel na história original. 4-17. A reação de Pedro diante da pergunta foi contar a história inteira por ordem (para esta frase final, cf. Lc 1:3), crendo que, depois de ela ser devidamente ouvida (ao invés dos relatórios fragmentários e possivelmente confusos que já haviam sido recebidos) forçosamente os interlocutores perceberiam que Deus levara Pedro a esta ação. Assim, a narrativa é repetida, com poucas diferenças significantes da narrativa anterior, a não ser que é abreviada, e contada na primeira pessoa do ponto de vista de Pedro. O relato naturalmente começa com a experiência do próprio Pedro, mais do que com aquela de Cornélio, e descreve como entrou em êxtase enquanto orava, e viu a visão do lençol que foi sendo baixado do céu, cheio de vários seres viventes (o relato aqui inclui "feras", i.é, animais selvagens, juntamente com os demais mencionados anteriormente). A narrativa da con-versação entre a voz celestial e Pedro é repetida sem variação significante. Imediatamente após o sonho, três homens chegaram para convidar Pedro a ir para Cesaréia, e Pedro ouviu uma mensagem do Espírito que o mandou acompanhá-los sem hesitar, ou "sem fazer distinção (ver 10:17-20), i.é, sem tratá-los diferentemente dos judeus. Juntamente com seus

seis amigos, portanto, foi para a casa daquele homem; o homem, naturalmente, é Cornélio, e seu nome não é mencionado, pois tanto os ouvintes de Pedro (que já sabiam algo acerca da história) quanto os leitores de Lucas saberiam a quem se referia. Devemos, portanto, discordar da declaração de Haenchen (pág. 355) de que a narrativa não faria sentido aos ouvintes de Pedro. Da mesma forma, não há motivos para ver quaisquer "autocontradições de vulto" entre os dois relatos. Haenchen vê semelhante contradição no fato de que, no v. 11, os seis cristãos judaicos de Jope já estão na casa de Simão, o curtidor na chegada dos mensageiros de Cornélio; o detalhe é, de qualquer forma, absurdamente trivial, mas nada no capítulo 10 comprova que os homens não estavam na casa naquela ocasião. No v. 13 Cornélio relata brevemente como vira o anjo, modo de narração que, mais uma vez, visa os leitores de Lucas, e não precisa significar que Pedro falou de modo ininteligível aos seus ouvintes. É somente aqui, porém, que ficamos sabendo que a mensagem angelical prometeu a Cornélio que ouviria uma mensagem que explica como ele poderia ser salvo, juntamente com os da sua casa (v. 14). Este pormenor explica as declarações de Cornélio em 10:22, 33. O anjo emprega a linguagem dos pregadores cristãos primitivos quando fala em ser salvo, mas esta fraseologia(Parte da gramática em que se estuda a construção da frase. Construção de frase peculiar a uma língua, ou a um escritor) já era conhecida no Antigo Testamento, e não causaria dificuldade alguma a judeus ou prosélitos. Outra dificuldade tem sido vista na declaração de Pedro de que o Espírito Santo caiu sobre os ouvintes quando comecei a falar, ao passo que no capítulo 10 já tinha pregado por algum tempo antes de qualquer coisa acon-tecer. Esta dificuldade, também, é só na aparência. A razão de ser da declaração de Pedro é que não tinha terminado o que queria dizer, e a força do verbo "começar" não pode ser levada muito longe no grego hebraizado. O comentário de Pedro ressalta que a experiência dos convertidos gentios fora a mesma que a daqueles que receberam originalmente o Espírito no principio, i.é, no dia de Pentecoste. É significativo que ele compara a experiência dos gentios com aquela do grupo no cenáculo, e não com aquela dos primeiros convertidos do judaísmo: nada há que possa sugerir uma posição de "cidadão de segunda classe" para os gentios. Além disto, Pedro vê na experiência dos gentios um cumprimento do dito de Jesus em 1:5, quando relembrou Seus discípulos de que, embora João batizara com água, eles seriam batizados com o Espírito Santo. Duas coisas se deduziram desta lembrança. A primeira foi que quando os gentios receberam o Espírito, foram batizados no Espírito, sendo que a experiência é idêntica àquela do Pentecoste, que foi o primeiro cumprimento da profecia de Jesus. Em segundo lugar, se os gentios já foram batizados no Espírito, então, muito mais, eram elegíveis para serem batizados com água. Esta dedução talvez não pareça imediatamente óbvia, sendo que a declaração no v. 16 (cf. 1:5) parece fazer um contraste entre o batismo com água e o batismo no Espírito; mas é provável que a expressão queira dizer: "João batizava (meramente) com água, mas vós sereis batizados (não somente com água mas também) com o Espírito Santo". A igreja, que batizava com água, era, portanto, compelida a batizar os gentios que creram; doutra forma, serviria como empecilho para a vontade de Deus ser cumprida. Emerge, incidentalmente, desta declaração que Pedro toma por certo que o Espírito é dado àqueles que creem no Senhor Jesus Cristo; o batismo com água é dado como resposta à confissão da fé e, embora o derramamento do Espírito fosse a evidência de que estava presente a fé, é provável que o batismo dos gentios incluísse a sua confissão de fé. 18. O argumento de Pedro comprovou-se convincente. Não somente foi silenciada a crítica que se iniciara, como também os ouvintes expressavam louvor a Deus por que concedera aos gentios, e não somente aos judeus, a oportunidade de se arrependerem dos seus pecados e, assim, de obterem a vida eterna (5:20; 13:46, 48). Esta oportunidade foi fornecida na prega-ção do evangelho.

O argumento de Pedro implicitamente asseverava que os gentios eram membros de pleno direito da igreja e, portanto, que a circuncisão e a guarda da lei eram desnecessárias para a salvação. Incluía, outrossim, a implicação mais lata de que a distinção judaica entre comidas e pessoas puras e impuras era obsoleta. Esta ideia, porém, seria como um abalo do mundo para os judeus, e não seria aceita sem muita perscrutação do coração e controvérsia. Lucas não aborda imediatamente este tema, e não sabemos até que ponto foram imediatamente percebidas as plenas implicações da ação de Pedro. Conforme demonstrará a seção seguinte de Atos, a iniciativa na missão aos gentios passou para a Antioquia, e não fica claro até que ponto a igreja em Jerusalém estava disposta a seguir nos passos de Pedro. Não devemos entender v. 18 no sentido de subentender que a igreja em Jerusalém imediatamente entrou zelosamente numa missão aos gentios; na realidade, parece nunca ter feito assim e, como resultado, perdeu sua importância no decorrer do tempo. Fonte: http://www.ebdareiabranca.com/Avivamento/AvivamentoLicao07ajuda1.htm

Pedro: Salvação para todos "Pois, se Deus lhes concedeu o mesmo dom que a nós nos outorgou quando cremos no Senhor Jesus, quem era eu para que pudesse resistir a Deus?" At 11:17. Lucas deixou Paulo em Tarso e por quase dois capítulos e meio tem o seu foco no ministério de Pedro. Há dois eventos que se destacam nessas passagens. Os milagres de Pedro compõem um dos eventos e o outro, a conversão de Cornélio. Observe que Lucas escreve duas histórias de conversão uma bem próxima da outra. Se você se lembrar quem era Pedro antes de se tornar um dos grandes líderes da igreja, não poderá deixar de admirá-lo por sua transformação. Temos de lembrar que ele era pescador, porém não um simples empregado. Era um dos donos da empresa de pesca do Sr. Zebedeu. A pesca na Galiléia era um negócio rentável. De lá, saíam peixes para todo o império, principalmente para a nobreza na Judéia e para outras importantes capitais. Pedro teve uma experiência marcante de conversão e de transformação. Antes, era oscilante e impulsivo; depois, em sua primeira carta, principalmente no capítulo 5, parece calmo e um líder de referência para outros novos pastores. No entanto, um aspecto de sua vida ainda persistia, mesmo depois de algum tempo: seu foco apenas no povo de Israel e na gente de sua raça, os judeus. Assim como Deus usou uma experiência dramática para a conversão de Saulo, Ele usou a conversão de uma outra pessoa, Cornélio, um não judeu para mudar a vida de Pedro. I - PEDRO FEZ MILAGRES (At 9:32-43) O ministério de Pedro era itinerante, pois o texto bíblico nos informa que ele passava por toda parte. Ele viajava não apenas para evangelizar, mas também para visitar os irmãos com o objetivo de encorajá-los e compartilhar a Palavra com eles, como quando visitou Lida, um dos distritos da Judéia. Os irmãos dali talvez tenham sido evangelizados no Pentecostes ou por Filipe em suas viagens missionárias regionais. Nessa cidade, vivia um homem chamado Enéas, que era paralítico há 8 anos. Perto dali, em Jope, uma cidade portuária, vivia uma mulher chamada Dorcas, uma discípula muito ativa que costurava para os pobres e veio a morrer. Pedro atuou realizando milagres na vida de Enéas e na vida de Dorcas, e deixa clara sua instrumentalidade e seu apostolado. Stott nos dá quatro razões (das quais três vamos comentar aqui) para crer que esses milagres autenticam o ministério de Pedro. 1. Pedro imitou a Jesus na maneira de fazer o milagre

Tanto na ordem que deu ao coxo para que se levantasse, como na maneira como falou com Dorcas, já falecida. Pedro realizou os milagres do mesmo modo que Jesus. Compare Mt 9:6 com At 9:34, e Mc 5:41 com At 9:40. 2. Pedro fez os milagres pelo poder de Jesus Ele não confiou em si mesmo para vencer a doença e a morte, mas fez no nome de Jesus e com oração. 3. Ambos resultaram na glória de Deus Muitos conheceram a Deus e glorificaram o Senhor pelo resultado dos milagres que foram operados pelo apóstolo. Pedro se colocou como instrumento de Deus, tendo Cristo como seu modelo de ação. Ao servir ao Senhor na igreja ou fora dela, o melhor caminho a seguir é imitar a Cristo. II - PEDRO FOI CHAMADO POR CORNÉLIO, O CENTURIÃO (At 10:1-8) Pedro estava em intensa atividade ministerial. Parou um pouco em Jope, na casa de um curtidor chamado Simão. Esse fato já nos desperta atenção, pois um judeu não ficaria num ambiente onde se lidam com animais mortos. Depois disso, temos no texto informações sobre Cornélio. Ele era um centurião, ou seja, comandante de cem homens, e era temente a Deus. Podemos deduzir que ele adotou algumas práticas judaicas, como o monoteísmo, porém, sem se tornar um convertido oficial ao judaísmo. Além do testemunho sobre a vida de Cornélio, temos também o testemunho sobre toda a sua família. E bom lembrar que nessa época havia um abismo muito grande entre judeus e não-judeus. Esse preconceito foi criado por uma distorção da doutrina da eleição por Israel, que não cumpriu a sua missão de ser instrumento de Deus para outras nações e se tornou exclusivista. Então, Deus planejou e deu uma visão a Cornélio, um gentio. Um anjo ordenou que ele mandasse buscar Pedro, um judeu. Sem hesitar, o centurião obedeceu e mandou dois empregados e um soldado piedoso até Pedro. Podemos ser surpreendidos com alguma situação em nossa vida, coisas que jamais imaginávamos acontecer conosco. Nessa hora, o melhor a fazer é orar e esperar para entender o que Deus quer de nós. III - PEDRO RECEBEU UMA VISÃO EXTRAORDINÁRIA (At 10:9-23a) O Deus que agiu de um lado agora age de outro, trabalhando na vida de Pedro. Este tinha subido ao terraço para orar e esperava por uma comida que estava sendo preparada para ele. Lá, teve uma visão: um grande lençol que descia do céu, baixado pelas quatro pontas, com toda a espécie de quadrúpedes, répteis e aves do céu. Apareciam juntas criaturas puras e impuras. Então, uma voz ordenou a Pedro que matasse e comesse daqueles animais. Pedro negou veementemente, como era característico de seu temperamento.

Contudo, a voz respondeu: "Ao que Deus purificou não consideres comum". A palavra traduzida por comum também pode ser traduzida por impuro. Isso se repetiu por três vezes. A visão deixou Pedro confuso e sem entender o que Deus realmente queria dele. Enquanto pensava e meditava a respeito da visão, os homens chegaram à sua procura. Logo o Espírito falou a Pedro que os acompanhasse porque eram enviados por Deus. A expressão nada duvidando pode também ser traduzida por sem fazer distinção, talvez se referindo ao preconceito que poderia atrapalhar Pedro nessa nova missão. O apóstolo se apresentou aos homens e aqui de novo temos uma nota a respeito de Cornélio. Era homem bem conceituado por toda a nação judaica e tinha recebido a mensagem de um anjo para que mandasse chamar Pedro. Não havia motivos para duvidar. Pedro tinha sua visão e o testemunho de que Deus falara com Cornélio também. Além disso, estava claro que Deus tinha um propósito que contrariava o sistema em que Pedro tinha sido educado e até sua crença por tanto tempo. IV - PEDRO PREGOU À FAMÍLIA DE CORNÉLIO (At 10:23b-48) No dia seguinte, Pedro e sua equipe, formada por ele, os três homens do centurião e mais alguns irmãos daquela região, partiram para Cesaréia, onde morava Cornélio. O tempo de viagem era de aproximadamente nove horas. Quando chegaram à casa do centurião, encontraram um grupo esperando Pedro, interessados no que ele tinha para dizer. Cornélio havia montado um grupo pequeno com sua família, amigos e familiares. O bom homem que não sabia muito sobre o evangelho prostrou-se aos pés de Pedro, que o corrigiu imediatamente e entrou em sua casa. As primeiras palavras do apóstolo mostraram claramente que tinha entendido a mensagem corretamente. Ele logo anunciou que era proibido ou era um tabu para um judeu entrar na casa de um gentio, mas que, por ordem de Deus, ele sabia que não deveria fazer essa distinção (v.28). Depois de perguntar a Cornélio a razão de sua chamada, Pedro pôde compreender melhor como Deus vinha trabalhando naquela missão, preparando o terreno de mais um coração que se abriria para a semente do evangelho. Cornélio estava tão aberto que prontamente reconheceu que estavam na presença do Senhor e que Pedro era o Seu mensageiro. Pedro iniciou seu sermão com a declaração de que Deus não faz acepção de pessoas. Ele foi além disso. Note bem: a questão de Pedro não era religião, mas sim nacionalidade. Cornélio deixou o panteísmo romano, abraçou o monoteísmo judaico, estendeu isso à sua vida, mas não poderia ser salvo sem ouvir a mensagem genuína da salvação pregada por Pedro. O sermão de Pedro pode ser resumido nos seguintes pontos: a. Jesus anunciou a salvação para Israel, mas é o Senhor de todos (v.36); b. Jesus cumpriu a profecia de Isaias 61; c. Jesus conviveu com Pedro e com os outros apóstolos; d. Jesus sofreu a maldição e a vergonha que não merecia - o fez por nós; e. Jesus ressuscitou e foi visto por muitos; f. Jesus formou discípulos para que o Evangelho fosse conhecido por todos. Ainda Pedro não havia acabado de pregar, assim como no dia de Pentecostes, o Espírito Santo veio sobre todos os que ouviam a palavra. Os irmãos que estavam com Pedro ficaram admirados com tudo o que acontecia. Após isso, Pedro os batizou e, como havia feito em outras visitas missionárias, gastou um tempo com os novos crentes.

Cornélio nos ensina que religiosidade e bom comportamento não constituem provas de Salvação. Apenas o crer em Cristo é suficiente. Além disso, a história de Pedro e Cornélio nos ensina a evangelizar todas as pessoas, independentemente de classe social, origem, raça ou credo. V - PEDRO JUSTIFICOU SUAS AÇÕES (At 11:1-18) Assim que a notícia chegou a Jerusalém, Pedro foi questionado sobre o que havia sucedido. Então, ele explicou tudo detalhadamente, como tinha acontecido (vs.4-18). Pedro narrou como Deus trabalhara concomitantemente nos dois lados, mostrando a ele e a Cornélio que deveriam se encontrar. Pedro manteve a ordem cronológica. Seu relato foi preciso e deu aos irmãos a chance de reviver a experiência com ele. Quatro pontos são marcantes na revisão que Pedro fez de sua história com os gentios. 1. A visão sobre a queda das barreiras raciais veio de Deus. Ela aconteceu três vezes e ensinou que não existiam pessoas puras ou impuras por causa de sua raça. 2. A ordem para seguir os servos de Cornélio também veio de Deus. 3. A ação preparatória de Deus. Assim que chegou ao seu destino, ele ouviu de Cornélio o porquê de ter sido chamado e como Deus preparou e também a Cornélio para o encontro. 4. Pedro ainda estava falando, quando o Espírito Santo veio sobre aquele povo E as semelhanças com o dia de Pentecostes foram muitas. Depois disso e da pergunta de Pedro em 11:17, os irmãos aceitaram as explicações e louvaram a Deus com Pedro. CONCLUINDO Lucas nos ensina, através dessa narrativa, principalmente que Deus quer alcançar os Seus, independentemente de raça ou costumes. O evangelho é suficiente para alcançar tanto opositores (Paulo) como simpatizantes (Cornélio). "Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego" (Rm 1:16). Isso nos diz algo para nossa prática evangelística. A igreja deve ter seu olho missionário perto e longe. Além disso, deve achar uma estratégia para testemunhar a pessoas, não importando o nível social, cultura ou procedência. Bibliografia A. S. Lima

CORNÉLIO A importância de sua conversão.

A Grande Comissão, conforme nos é dado no trecho de At 1:8, no sentido de que os discípulos deveriam evangelizar Jerusalém, Judéia, Samaria e então até os confins da terra, apresenta-nos o esboço geral da exposição do material histórico deste livro de Atos. Nos capítulos anteriores vimos como a igreja começou, cresceu, prosperou e foi então perseguida em Jerusalém, e como todas as cidades da região da Judéia ouviram o evangelho. O termo «Judéia», neste caso, evidentemente, tem por intuito incluir a totalidade da Palestina, pelo menos até onde está envolvido o alcance do ministério do evangelho. Poderíamos pensar quanto a essa designação, nas terras judaicas. Em seguida o evangelho foi a Samaria, onde habitava um povo de raça mista, mas cuja religião ainda era essencialmente judaica. No décimo capítulo do livro de Atos é que encontramos, pela primeira vez—uma missão oficial entre os gentios, embora seja possível, e até mesmo provável, que alguns puros gentios já se tivessem convertido a Cristo antes dessa ocasião. Parece perfeitamente claro, entretanto, que o autor sagrado considerava este episódio como representante do começo do avanço do evangelho em territórios puramente gentílicos. Paulo, de fato, foi o pioneiro das missões gentílicas. Ver 15:7. Pode-se perceber, por semelhante modo, que a visão que teve o centurião, segundo se lê em At 10:1 e ss, é descrita novamente, pelo próprio Cornélio, ao chegar Pedro em Cesaréia, em Atos 10:30 e ss. Tudo isso foi feito pelo autor sagrado a fim de enfatizar não somente como o evangelho penetrou entre os gentios, mas também a fim de vindicar esse avanço, visto que em seu tempo, embora não possamos entender bem tal sentimento, havia muito ressentimento, entre os crentes judeus, contra a evangelização de pagãos gentílicos puros, quando os mesmos eram admitidos com plenos direitos, na igreja cristã, através do rito inicial do batismo. Esse, de fato, foi um dos principais problemas com que a igreja primitiva se viu a braços, porquanto o núcleo original da igreja era judaica, e os seus membros, como é natural, trouxeram para a nova comunidade os seus preconceitos judaicos. Até mesmo o apóstolo Pedro teve de receber uma visão celestial, a fim de ficar plenamente convencido de que era próprio que se recebessem gentios convertidos, nas igrejas cristãs, com iguais privilégios oferecidos aos convertidos dentre o judaísmo. Cornélio. Era um centurião romano destacado para a Palestina, que se fixara em Cesaréia, com a «coorte» ou bando chamado Italiana, comandante de cem homens daquela divisão do exército romano. Era conhecido como homem temente a Deus, talvez por causa de suas vinculações com o judaísmo, do qual, provavelmente, se tornara prosélito. Também se tornou bem conhecido por suas esmolas e por suas orações, duas qualidades altamente recomendáveis na religião judaica. «Cornélio» era um nome comum no mundo romano, desde os tempos de Cornelius Sulla, no ano de 82 A.C., o qual deu liberdade a dez mil escravos e alistou-os oficialmente como cidadãos romanos, sob o nome familiar de gens Cornelia. Neste caso, o vocábulo «gens» diz respeito a um «clã» uma espécie de grupo distinto dentro da sociedade. Pessoas famosas desse clã incluíam Cipião Africano Maior, o conquistador de Hanibal, como também Cornélio Cipião, filho desse último, que destruiu Cartago, grande rival de Roma. Atos 10:2: piedoso e temente a Deus com toda a sua casa, e que fazia muitas esmolas ao povo e de contínuo orava a Deus. O Caráter Espiritual de Cornélio.

1. Ele «temia» a Deus, uma expressão veterotestamentária para indicar que ele observava sua fé religiosa através de meios judaicos, como ritos, cerimônias e a lei. Portanto, ele era uma espécie de prosélito de judaísmo. 2. Parece que não fora circuncidado, pelo que não estava inteiramente identificado com a maneira judaica de viver, embora estivesse muito mais do que apenas «atraído» por aquela fé. Pedro foi criticado por haver se associado a um grupo de gentios incircuncisos. (Ver At 11:3). 3. Os legalistas não eram capazes de aprovar a Cornélio, conforme ele estava, mesmo que fosse um autêntico convertido ao cristianismo. Seu ingresso na comunidade cristã provocou inúmeros problemas. Os decretos que figuram em Atos 15; baixados pelo Concilio de Jerusalém, tiveram por intuito solucionar tais problemas, mas o problema do legalismo na verdade nunca foi inteiramente solucionado no seio da igreja. Meramente assumiu formas diferentes, em várias espécies de sacramentalismo. Cornélio era homem com quem os judeus muito simpatizavam, pois não somente «temia» a Deus, mas também praticava a dádiva de esmolas, algo que os judeus religiosos reputavam como sinal de profunda piedade, conforme também se pensava entre os cristãos primitivos, de tal modo que nós, que damos pouca ênfase a essa parte prática, dificilmente podemos compreender. Além disso, Cornélio fazia essas esmolas «...ao povo...», frase que sem dúvida alguma indica a população judaica de Cesaréia. (No grego, «ó laos», os judeus, em contraste com «ta ethne», as nações gentílicas). Quanto a notas expositivas sobre a importância das «esmolas», como ato piedoso enfatizado tanto no judaísmo como no cristianismo primitivo, ver At 3:2. Cornélio orava, isto é, conservava o hábito ou costume da oração, o que provavelmente indica a observância das horas regulares de oração, designadas pelos líderes eclesiásticos do templo de Jerusalém e das sinagogas em geral. Quanto a notas expositivas sobre essa forma cerimonial de «oração», que também fazia parte preponderante na adoração judaica, At 3:1. Outrossim, Cornélio era homem pessoalmente piedoso, não sendo religioso apenas formal e publicamente. Por todos esses motivos era muito respeitado entre os judeus, mas o fato de que continuava incircunciso levava-o a ser classificado por eles como mero pagão. Ora, nenhum indivíduo dessa categoria poderia ser admitido na igreja cristã (segundo a opinião dos legalistas), sob a mera condição do batismo cristão, sem primeiramente submeter-se às leis judaicas que governavam a admissão de prosélitos gentios, cuja principal provisão era a circuncisão. A doação de esmolas e a oração eram dois dos pontos cardeais salientados pelos judeus, ao que o Senhor Jesus adicionou o jejum, no quadro que traçou diante dos fariseus, no trecho de Mt 6:1-18. Nesse centurião vemos a semelhança de um outro que amou ao povo de Israel, e que construiu para eles uma sinagoga, pagando as despesas do próprio bolso (ver Lc 7:5). Podemos supor com segurança, pois, que Cornélio era homem insatisfeito com os conceitos espirituais encontrados nas religiões pagãs, tendo buscado outra maneira de encontrar a verdade, havendo aceito temporariamente o judaísmo. Deus guiava-o o tempo todo, até que pôde conduzi-lo aos pés de Cristo, que é o alvo de todo o homem. Seriedade da busca espiritual de Cornélio Podemos ver que esse centurião era autêntico em sua busca por Deus no fato de que trouxe sua família para ouvir a Palavra de Deus, dos lábios de Simão Pedro. Em certo sentido, nenhum homem é uma ilha, porquanto sua vida afeta às vidas de todos quantos entram em contato com ele. De fato, se a vida de alguém não afeta àqueles que entram em contato com ele, podemos julgar que á energia de sua busca e expressão

espirituais é extremamente débil. Noutro sentido, todavia, todo indivíduo é uma ilha, porquanto a busca por Deus, por parte de cada um, é atribuição exclusiva de cada um, e ninguém pode fazer essa busca no lugar de outrem. Cornélio, ao encontrar alguma expressão religiosa melhor do que a sua, desejou que os seus familiares também a conhecessem. O fato de que ele tinha sua família em Cesaréia mostra-nos que, provavelmente, era residente permanente ali, por ser um soldado profissional, e que planejava permanecer nessa cidade por tempo considerável. E visto que já se demorara na cidade por algum tempo, viera a conhecer e a ser conhecido pelo povo da região, tendo ficado conhecido como homem sincero e piedoso, embora não estivesse oficialmente vinculado a qualquer sinagoga. Foi justamente um homem assim que o Espírito Santo resolveu usar como representante da introdução da igreja cristã em terreno puramente gentílico. Cornélio e sua família foram os primeiros gentios puros a serem aceitos como membros da igreja cristã, sob a condição única do batismo, sem ter havido a necessidade do rito essencialmente judaico da circuncisão. Assim sendo, ele não precisou de qualquer orientação judaica, sobre ás questões religiosas, para participar dos benefícios e privilégios da igreja cristã. Foi assim que a igreja deu mais um passo, em sua expansão e desenvolvimento, até que, finalmente, veio a tornar-se uma entidade totalmente separada do judaísmo. «Ele, Cornélio, criava a sua família em um ambiente religioso, como todo o homem de bem deve fazer». (John Gill em At 10:2). Podemos supor com segurança que Cornélio, além das orações ritualistas ordinárias, pedisse ao Senhor, em oração, para ser guiado a uma verdade maior, mais profunda, o que, na realidade, é tanto dever como privilégio de todos os homens. Talvez seja significativo, segundo nos sugere Matthew Henry (in loc), que quando a missão do evangelho, chegou aos gentios, e se tornou necessário um caso representativo de conversão, para ensinar uma lição, à igreja, sobre como seria a nova ordem de adoração, não foi convocado um filósofo grego para ser esse indivíduo, como também não foi chamado um sacerdote pagão, o qual estaria cego pelos seus preconceitos contra quaisquer reivindicações novas de verdade, e, sim, um soldado gentio, o qual seria pessoa mais ou menos livre de quaisquer preconceitos tolhedores. Bibliografia J. M. Bentes

O Evangelho entre os Gentios Cornélio chama a Pedro (At 10:1-8) A importância que Lucas atribui à história de Pedro e Cornélio (Um homem por nome Cornélio: Este é o nome de uma importante família romana a que pertenceram Cipião e Sula, embora este centurião talvez tivesse origem mais humilde. Sula havia libertado dez mil escravos em 82 a.C, e todos poderiam ter recebido o nome de Cornélio. Por esta altura seria um nome muito comum. Qualquer cidadão romano teria normalmente três nomes, o segundo dos quais poderia ser Cornélio. A forma abreviada de dar-se nome a um romano, sem o sobrenome, constituía prática antiga, que não se usava fora do exército, por volta da metade do primeiro século d.C. É certo que não se trata de coincidência o fato de as duas únicas pessoas que têm esse nome em Atos serem soldados (cp. 27:1), exatamente no período em que somente os soldados o teriam (veja Sherwin-White, p. 161). Pergunta Hamon: "Seria esse o tipo de pormenor que alguém teria inventado, imaginado ou adivinhado, ao escrever no segundo século d.C,

ou no fim do primeiro, quando tal costume já teria cessado havia algum tempo? " (p. 11).) pode ser avaliada pelo espaço que lhe foi dado. É história narrada com minúcias no capítulo 10, recontada no capítulo 11 e citada novamente no capítulo 15. A questão levantada é crucial. Por essa época o

evangelho já estava bem estabelecido em Jerusalém e estendia-se por todo o território judaico (9:31). Era apenas uma questão de tempo, portanto; os limites desse território um dia seriam

alcançados tanto geográfica quanto demograficamente, pois o problema da admissão dos gentios à igreja deveria ser resolvido. Precisava-se de um caso que servisse como teste — algo que viesse demonstrar com clareza qual era a vontade de Deus quanto aos gentios na igreja —

por isso o caso de Cornélio foi providencial. É claro que Lucas tinha a vantagem da visão retrospectiva. Lucas, mais do que qualquer outra pessoa da época, teria sido capaz de ver o

significado superior da admissão de Cornélio e seus amigos à igreja. É possível que, de início, esse acontecimento tenha sido considerado excepcional, com toda certeza não como um precedente mediante o qual se poderia estabelecer uma regra, e menos ainda como incentivo para

que os judeus crentes se lançassem à busca de outros gentios para a igreja. O próprio Lucas entendeu isto. A história que Lucas nos conta mostra-nos que ele não estava bem ciente de que

a permissão para admitir gentios continuaria a constituir disputa acirrada durante muitos anos ainda. No entanto, pela época do concilio de Jerusalém, o caso de Cornélio (se pudermos aceitar o relato do próprio Lucas) foi reconhecido como caso precedente pelos líderes da igreja,

de modo que a avaliação que Lucas fez da importância desse caso tinha base sólida. 10:1 A cena de abertura ocorre na Cesaréia (vv. 1-8). Esse lugar havia sido em certa época um

posto militar fenício denominado Straton, ou torre de Strato, mas Herodes o grande o reconstruiu, transformando-o em cidade apropriada a seus interesses: romana na obediência e

grega na cultura. Dotou-a de um porto artificial magnífico que, segundo Josefo, era maior do que Pireus, o porto de Atenas (Antiguidades, 15.331-341). Noutros aspectos era uma típica cidade greco-romana daqueles dias, dispondo de teatro, anfiteatro, hipódromo, e um templo dedicado a César. Como seria de esperar, havia mais gentios

do que judeus em Cesaréia, e estes constituíam minoria ínfima. O atrito entre judeus e gentios era endêmico (veja Josefo, Antiguidades 20.173-184; Guerras 2.266-270; 284s. e a disc. sobre

8:40; 9:30; 24:27). Cesaréia era odiada pelos judeus de modo geral por causa do caráter da cidade, e por ser o centro administrativo romano da província. Chamavam-na de "filha de Edom", e com frequência se referiam a ela como se não fizesse parte da Judéia. Sendo a capital,

era também o principal quartel de tropas da província; pela época da narrativa, esse forte abrigava a corte chamada italiana ("coorte" segundo os termos romanos), (para lembrar, como vimos em outra ajuda da ebdareiabranca, Como centurião, Cornélio tinha 100 homens sob seu comando, e tinha considerável peso sobre o soldado de infantaria e sobre a população local. Seis desses grupos de 100 homens formavam uma coorte. A coorte que Cornélio comandava era conhecida como italiana. Quando se reuniam dez

coortes, elas recebiam o nome de legião, com uma força de 6.000 homens.), (Corte chamada italiana: é tradução literal do grego. NIV diz: "O regimento italiano". Há evidências em documentos antigos da presença de uma corte italiana na Síria, na segunda metade do primeiro século d.C. (também no segundo século; veja BC, vol. 5, p. 441ss), estando esse fato em consonância com o texto que defrontamos: esta corte estaria em Cesaréia nesta era mais antiga. Certamente seria uma unidade auxiliar, visto que as legiões não ficavam estacionadas em províncias menores como a Judéia. Pode-se argumentar que a corte, ou apenas Cornélio, teria sido removido de uma legião para prestar serviços em outra na Cesaréia, ou que Cornélio era aposentado e morava nessa cidade. Tácito menciona uma "legião italiana" (História 1.59). Todavia, uma inscrição encontrada na Áustria menciona um oficial da segunda corte italiana do final do primeiro século. Esse texto descreve a corte como pertencendo à "divisão de

arqueiros do exército sírio", mas em vista de os legionários não serem arqueiros, isso significa que as cortes italianas

eram, na verdade, unidades auxiliares (veja ainda Sherwin-White, p. 160).)) da qual Cornélio era centurião. 10:2 Cornélio era homem piedoso e temente a Deus, isto é, via-se atraído pela religião

judaica sem, contudo, havê-la abraçado de modo integral, como o demonstram a observação de Pedro no v. 28 e os comentários de outros em 11:2ss. Entretanto, na prática de sua religião, que não era muito profunda, Cornélio era fiel. Diz ECA a seu respeito que dava esmolas ao povo (laos). Nos escritos de Lucas esta expressão genérica indica Israel, de modo que podemos

presumir que "o povo" a quem Cornélio dava esmolas eram os judeus. Estes acreditavam que

dar esmolas efetuava a expiação de pecados (cp. Siraque 3; 14, 30; 16:14; cp. também Tobias 14:10s; Siraque 29:12; 40:24), mas não devemos imaginar que Cornélio dava suas esmolas

tendo em mente este objetivo (veja os vv. 3-6, quanto à sua oração). Naturalmente (naquela sociedade) toda a sua casa, isto é, toda a sua família, inclusive seus empregados e servos

adotavam sua religião (veja a nota sobre 10:48). Esta referência à família de Cornélio e à

reputação que ele usufruía por causa de suas boas obras (v. 22) implica em que Cornélio se havia estabelecido em Cesaréia e ali estava durante algum tempo. Talvez teria sido ali onde

sentira-se atraído à adoração a Deus. 10:3-6 A história se inicia com uma nota sobre o culto. Era a "hora nona", hora regular de

oração para os judeus, e sem dúvida também para Cornélio. Já fomos informados de que orar era prática costumeira de Cornélio (v. 2), e todas as suas orações talvez se focalizassem numa única coisa (observe como a palavra orações do v. 4 torna-se "oração" no v. 31), a saber, para

que sua família se salvasse (cp. 11:14). O primeiro passo na direção de uma resposta a essa oração veio-lhe numa visão em que ele viu claramente... um anjo de Deus (v. 3; veja a disc.

sobre 9:10). Diz o grego que Cornélio viu um anjo "numa visão abertamente", isto é, não em estado de êxtase, como lemos depois ter acontecido a Pedro (v. 10), mas em estado de vigília.

Seja como for, podemos supor que essa foi uma experiência íntima — muito real — de Deus falando a Cornélio (quando lemos a respeito de anjos neste livro estamos bem próximos do pensamento de que se trata do Espírito Santo). Lucas nos relata a história (de forma dramática)

de como o anjo pronunciou o nome de Cornélio quase da mesma forma como o Senhor chamou a Paulo na estrada de Damasco, e Cornélio respondeu quase da mesma maneira: Que é, Senhor? (v. 4; cp. 9:4s.). É possível que a linguagem seja de Lucas, mas o autor quer que nós entendamos que Cornélio sentiu-se na presença de Deus (a expressão muito atemorizado, v. 4, é particularmente forte). Foi-lhe assegurado, entretanto, que suas orações e... esmolas têm subido para memória diante de Deus (v. 4; cp. Is 43:1). Esta linguagem é a do sacrifício, e

intenciona expressar o que diz a GNB: que Deus se agradara dele e o conduzira à salvação (cp.

Rm 2:6). Esta é uma história sobre a graça de Deus. Entretanto, Pedro também tinha um papel a desempenhar. 10:7-8 A chave desta história é a estrita obediência, seguindo passo a passo a orientação divina. Cornélio imediatamente chamou dois de seus criados e um piedoso soldado... [e] enviou-os a Jope (vv. 7, 8). Está bem claro que Cornélio não conhecia Pedro pessoalmente,

mas talvez lhe conhecesse o nome e a reputação; talvez soubesse que Pedro estava em Jope, e sentiu forte compulsão para mandar buscá-lo. Revela-se no v. 8 a confiança mútua existente entre o centurião e seus criados e o soldado, um homem piedoso: Cornélio lhes havia contado

tudo que acontecera. Precisavam percorrer cerca de 48 quilômetros. Devem ter ido a cavalo,

porque aparentemente chegaram a Jope logo depois do meio-dia do dia seguinte. A Visão de Pedro (At 10:9-23a) 10:9-16 Agora o cenário muda para Jope e para os eventos que ocorreram imediatamente antes da chegada dos homens de Cornélio. À hora sexta Pedro subiu ao terraço para orar (Subiu Pedro ao terraço para orar, quase à hora sexta: Quando tinham livre acesso ao templo, os judeus devotos se reuniam para oração, à hora dos sacrifícios da manhã e da tarde, a saber, ao nascer do sol, e no meio da tarde, havendo ainda, talvez, outra reunião de oração ao pôr-do-sol. Longe do templo, parece que a prática comumente adotada seria a observância da terceira, sexta e nona horas para a oração (cp. Sl 55:17; Dt 6:10). O costume da

oração três vezes por dia logo passou para a igreja (Didache 8.3).)— um lugar conveniente, longe das

atividades domésticas, usado com frequência para a oração (cp. 2 Rs 23:12; Ne 8:16; Jr 19:13; 32:29; Sf 1:5). Esses terraços eram nivelados, e a eles se tinha acesso mediante uma escada

externa. Normalmente Pedro almoçava antes de orar. Os judeus não começavam o dia com uma refeição, mas comiam mais tarde, ainda pela manhã (veja b. Shabbath 10a). Ao meio dia, portanto, Pedro estava faminto (tendo fome, quis comer, v. 10). Pedro orava enquanto o

almoço estava sendo preparado e assim sobreveio-lhe um arrebatamento de sentidos (grego ekstasis, v. 10; cp. 11:6; 22:7). O vocabulário diferente aponta para uma experiência diferente

da de Cornélio (cp. v. 3). É provável que Lucas estivesse dizendo que Pedro estava sonhando. Sem negar que Deus estava falando-lhe mediante um sonho, podemos ver que este fora condicionado pelas circunstâncias imediatas que o cercavam. Rackham sugere que Pedro já

deveria estar ponderando sobre a questão das relações judaico-gentílicas que o pressionavam desde sua visita a Jope, com todos os seus navios e indícios de lugares distantes (p. 150).

Acrescente-se a isso a fome, e a imagem do lençol descendo acima de sua cabeça, ou talvez as velas visíveis lá embaixo na enseada: ali estavam todos os ingredientes propícios para o sonho. E de fato, Pedro viu (lit., "ele vê", um emprego raro que Lucas faz do presente histórico, para

dar mais vida ao relato) o céu aberto e um vaso que descia, como um grande lençol atado pelas quatro pontas, e vindo para a terra (v. 11). Dentro do lençol estavam todos os animais quadrúpedes e répteis da terra e aves do céu (v. 12) — as três categorias de animais

vivos reconhecidos no Antigo Testamento (Gn 6:20; cp. Rm 1:23). Quando Pedro relatou sua história, mais tarde, acrescentou à sua classificação a de "feras" (11:6), que a palavra todos deste versículo já incluía. A questão digna de nota é que naquele lençol estavam criaturas de ambos os tipos, limpas e imundas, segundo a lei (Lv 11). Então veio o mandamento: Levanta-te, Pedro, mata (sacrificialmente, no grego é thyeiri) e come, não faças distinção entre as duas categorias. Pedro

ficou horrorizado, e algo do velho Pedro reapareceu na veemência de sua resposta: De modo nenhum, Senhor! (cp. Mt 16:22; 26:33; Jo 13:8), e acrescenta um protesto semelhante ao de

Ezequiel: Nunca comi coisa alguma comum e imunda (v. 15; cp. Ez 4:14; também Lv 10:10; 20:15; Dn 1:8-12; 2 Macabeus 6:18ss.). Estas palavras nos levam às de Jesus em Mc 7:15 e à inferência tirada pelo evangelista (tradicionalmente ligado a Pedro): "Ao dizer isto, Jesus

considerou puros todos os alimentos" (Mc 7:19) — inferência cuja origem pode ligar-se a esta experiência do terraço, visto que a voz dissera: Não faças comum ao que Deus purificou (v.

15; cp. 6:12ss). A visão repetiu-se duas vezes — Pedro a viu três vezes, ao todo — e a seguir despertou (cp. Jn 3:1).

Mas, que queria dizer essa visão? É evidente que se relacionava ao cancelamento das leis dietéticas judaicas. Se os judeus cristãos continuassem a viver segundo essas leis, isso em si

mesmo pouca importância teria, desde que Cristo é tudo em todos. Todavia, há grande importância se o fato de a obediência estrita às leis dietéticas judaicas começarem a prejudicar

as relações judaico-cristãs. Estando na casa de um gentio, um judeu jamais poderia ter certeza de que o alimento havia sido preparado segundo os ditames da lei (cp. Gl 9:4; Lv 17:10, 11, 14). Comer aquele alimento, portanto, era o mesmo que correr o risco de contaminar-se—risco

que muitos judeus (e judeus cristãos) não estavam dispostos a correr. Foi nesse contexto que a visão de Pedro teve sua aplicação imediata. É claro que a antipatia dos judeus contra os

gentios baseava-se em muito mais que simples preocupação a respeito de alimentos. Os próprios gentios eram considerados imundos (cp. Gl 2:15; veja a nota sobre o v. 28). Entretanto, se Pedro pudesse libertar-se de seus escrúpulos a respeito das leis dietéticas, ao

ponto de o apóstolo poder entrar na casa de um gentio, ele não estaria longe de poder aceitar os próprios gentios como sendo "limpos". 10:17-20 Pedro estava totalmente perplexo "tentando descobrir o que significava aquele sonho,

mas nesse instante os homens que Cornélio enviara chegaram à sua casa. No grego há uma

interjeição não traduzida em ECA nem em NIV ("olha!"), que dá a entender que Lucas via tudo isso como sendo providencial (v. 17). Conscientes das susceptibilidades dos judeus, os visi-

tantes permaneceram do lado de fora do portão que dava para a estrada, postado à frente da casa, e que dava acesso a um pequeno pátio interno. De onde estavam perguntaram a respeito de Pedro (v. 8). Assim foi que a visão começou a tornar-se explícita. O Espírito ensinou a Pedro

que seu sonho e aqueles visitantes de certo modo estavam interligados, e que ele deveria atendê-los sem hesitação, conforme suas necessidades, a saber, sem questionar a legalidade do

envolvimento. 10:21-23a Pedro obedeceu à orientação divina, como Cornélio também a havia acatado (v. 7).

Apresentou-se àqueles quatro homens, que lhe relataram sua missão (cp. Lucas 7:4s.). Descreveram seu patrão como sendo homem justo e temente a Deus, que tinha bom

testemunho de toda a nação dos judeus, a saber, de toda a comunidade judaica da Cesaréia, acrescentando que o anjo lhe havia ordenado que ouvisse o que Pedro tinha a dizer-lhe. Este detalhe não havia sido mencionado antes (11:14 acrescenta um pormenor para mostrar como

era importante que Cornélio ouvisse a Pedro). Conquanto fosse ele próprio um hóspede naquela casa, Pedro sentiu-se livre, aparentemente, para oferecer-lhes hospedagem até o dia seguinte.

Era mais fácil a um judeu receber gentios em sua casa do que permanecer na casa de um gentio. O fato é que esse ato de bondade talvez representasse grande avanço para Pedro. Pedro na Casa de Cornélio (At 10:23b-48) 10:23b-29 Cesaréia é, novamente, o palco onde se desenvolve o terceiro ato deste drama.

Parece que a viagem à capital levou quase dois dias (v. 30). Enquanto isso, tão certo estava Cornélio de que Pedro viria, e sabendo quanto tempo aproximadamente levaria para chegar, o centurião já estava pronto, esperando seu visitante, tendo convidado os seus parentes e

amigos mais íntimos (v. 24). É provável que Pedro lhes houvesse "contado tudo" que

acontecera (v. 8), e por isso os convidara para testemunhar os acontecimentos subsequentes. Cornélio se encontra com Pedro tendo o mesmo sentimento daquele outro centurião (Lc 7:6): ajoelhou-se humildemente diante do apóstolo. Com a mesma humildade, Pedro não aceita a

reverência que pertence a Deus somente (cp. 14:14s.; Lc 4:8; 8:41; Ap 19:10; 22:8s.). Aparentemente conversaram durante algum tempo antes de entrar na casa. Talvez tenha sido dessa maneira que Pedro soube quanto conheciam da história de Jesus, visto que o apóstolo

presumiu o conhecimento de alguns eventos da vida de Jesus ao pregar perante o grupo todo. Além do mais, o que Cornélio falara ao apóstolo, combinado com a recente experiência deste,

deve ter ajudado Pedro a enxergar qual seria o último passo que dele seria exigido segundo a visão: que ele se livrasse de seus escrúpulos concernentes aos gentios. Portanto, suas palavras iniciais ao pregar ali, àquelas pessoas, foram o anúncio de que Deus lhes havia mostrado: que ele, Pedro, não considerasse nenhum indivíduo como sendo comum ou imundo (v. 28), (Não é lícito a um judeu ajuntar-se, ou achegar-se a estrangeiros: A palavra traduzida por estrangeiro não é a comumente empregada para "gentio". Lucas usou aqui allophylos, que significa "alguém de raça diferente", que só se encontra aqui em todo o Novo Testamento. Para um judeu, significaria um modo bem mais delicado de referir-se a um gentio. É evidente que essa palavra é de Lucas, mas este poderia ter querido demonstrar com que gentileza Pedro tratou dessa situação. Em 11:3 não existe tal delicadeza. Na maior parte dos casos, a atitude dos judeus dos tempos pós-bíblicos era extremamente rude para com os não-judeus. Para os judeus, os gentios não tinham Deus, eram rejeitados pelo Senhor e entregues a toda forma de imundícia. Relacionar-se com eles significava contrair a imundícia deles (veja, p.e., Midrash Rabbah sobre Levítico 20; também Juvenal, Satires 14.103; Tácito, História 5.5). Alguns judeus admitiam que os gentios tivessem alguma participação limitada no reino de Deus, mas a maioria os considerava destituídos de toda esperança e destinados ao inferno. Vemos, então, como o ensino de Jesus deve ter-lhes parecido surpreendente nesse contexto cultural; o Senhor destruiu a expectativa popular ao incluir os gentios no reino, e ao excluir os judeus (descrentes) segundo Mt 8: lis.; Lc 13:29. Como aconteceu à maior parte dos ensinos

de Jesus, seus discípulos tiveram dificuldade em aceitar este fato). A passagem de 1 Pe 2:17 mostra-nos

que Pedro aprendeu muito bem esta lição. A seguir, Pedro faz uma pergunta que, estranhamente, não havia sido feita antes: "Por que razão mandaste chamar-me? " (v. 29). 10:30-33 Cornélio respondeu delineando os eventos dos últimos três dias, os quais ele via como

resposta à oração (v. 31). Os detalhes diferem ligeiramente dos versículos anteriores, mas por

nenhuma outra razão senão o apreço à variedade. Em essência, ambos os relatos dizem a mesma coisa. Cornélio salienta a bondade de Pedro em vir (lit, "bem fizeste em vir", que é uma expressão de agradecimento, cp. Fp 4:14; 2 Pe 1:19; 3 Jo 6), e encerra esse preâmbulo declarando que todos estavam prontos para ouvir tudo o que te foi ordenado pelo Senhor para que dissesse a eles (v. 33). Cornélio presumiu que Pedro, como ele próprio, estivesse sob

autoridade, de modo que o que Pedro lhe dissesse teria vindo por ordem de Deus. Já lhe fora dito que as palavras de Pedro o levariam à salvação (11:14). Portanto, a salvação de Cornélio estava na obediência. Observe a referência ao fato de estarem ali reunidos, todos presentes diante de Deus (v. 33). Em certo sentido, isto é verdade a respeito de qualquer situação desta

vida, mas de modo inigualável quando o evangelho está sendo pregado. Todos quantos se

reúnem em tais circunstâncias fazem bem em levar em consideração quem está ali acompanhando-os (cp. Mt 18:20). 10:34-35 Este sermão constitui o primeiro registro das Boas Novas ao mundo gentio. É preciso

presumir, evidentemente, que ali se encontravam quase que só pessoas devotas, "tão piedosas"

quanto o próprio Cornélio, as quais estavam portanto familiarizadas com as Escrituras judaicas. Presumimos, também, que aquele grupo conhecia um pouco da história de Jesus. Assim é que estavam todos mais ou menos preparados para a mensagem que ouviram, coisa não

muito típica do mundo gentílico em geral. Pedro pôde pregar-lhes como se pregasse a judeus; só quando chegarmos aos sermões de Paulo em Listra e Atenas é que vamos encontrar uma

forma distintiva de pregar aos gentios. Entretanto, aqui estão pessoas gentílicas, fato que traz uma nova e importante mudança na igreja. Noutros aspectos também este sermão demonstra um interesse peculiar. Tem sido observado com muita frequência que os versículos 37 a 40, que dão grande atenção à vida terrena de

Jesus, sendo um sermão singular dentre os demais sermões deste livro, poderiam ter constituído a base do evangelho de Marcos. Em vista da associação tradicional existente entre Pedro e Marcos, isto dificilmente poderia ser acidental. Além disso, há um evidente

desenvolvimento teológico, em comparação com os sermões anteriores de Pedro (2:14-39; 3:12-26). Este fato, aliado à circunstância que tudo se encaixa tão bem em sua experiência em Jope

e Cesaréia, dá-nos toda confiança de afirmar que temos nestes versículos uma indicação excelente do que foi que Pedro disse neste momento. Só podemos aventar hipóteses quanto à maneira de como Lucas teve acesso a este sermão, mas as evidências apontam com força para o

uso de alguma fonte. "Trata-se de um texto grego onde a gramática é a mais errada de todos os outros que Lucas escreveu. Não se consegue evitar a impressão de que Lucas, como de costume

fazia, deu ao texto sua forma final, conservando nele, entretanto, certos elementos mais antigos" (Hanson, p. 124). Lucas exprime o senso de oportunidade de Pedro mediante o emprego da expressão: Abrindo Pedro a boca, disse (v. 34; NIV traz: "começou a falar"), que muitas vezes marca uma ocasião

particularmente solene. Pedro pôs-se a comentar a mudança que ocorrera em seu próprio pensamento: Na verdade reconheço que Deus não faz acepção de pessoas (v. 34). A frase

"na verdade" expressa tanto sua surpresa diante da descoberta como sua compreensão do que

agora lhe é revelado. Não era coisa totalmente nova (cp. Dt 10:17; 2 Cr 19:7; Jo 34:19; Ml 2:9), mas tratava-se de uma verdade que os judeus em grande parte haviam perdido. Quanto a

Pedro, bateu-lhe como se fora uma nova descoberta essa doutrina da imparcialidade de Deus. Daí decorre que qualquer pessoa teria aceitação perante Deus, não por causa de sua nacionalidade, mas segundo sua adequada disposição de coração: mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e faz o que é justo (v. 35). Isto não significa que

nada mais é necessário. A ênfase em Jesus neste sermão dá-nos a certeza disto. Jesus é

essencial à nossa salvação. Pedro queria dizer, em suma, que se a atitude da pessoa estiver correta, em razão das Boas Novas, tal pessoa (qualquer pessoa) pode salvar-se, e que ninguém precisa perder-se. A seguir, sem mais delongas, Pedro entregou-lhes a palavra salvadora que

precisavam ouvir, e que motivava aquela reunião. 10:36-38 As Boas Novas tiveram início com Deus. As Boas Novas eram sua mensagem, que ele enviou aos filhos de Israel. Eram Boas Novas relacionadas à paz por Jesus Cristo (v. 36),

ou seja, Cristo foi o agente de Deus que trouxe a paz entre Deus e a humanidade (cp. 2 Co

5:18ss.). Paz aqui é sinônimo de salvação. A última parte do versículo 36 fica à parte, não ligada à sintaxe da sentença, como que entre parênteses, quase como se o pregador houvesse emitido

uma falsa impressão sobre Jesus. De fato Jesus foi o agente de Deus, não todavia como outros haviam sido. Diferentemente de qualquer outro, Jesus é o Senhor de todos (cp. Rm 14:9).

Fazia já muito tempo que Pedro considerava Jesus como "Senhor e Cristo", como em 2:36, e

para todos os propósitos e objetivos, atribuindo-lhe um lugar na Trindade. Entretanto, seus horizontes sempre haviam sido os de um judeu, e jamais havia pensado em Jesus senão como

Senhor e Cristo dos judeus. Durante todos aqueles anos, o Deus de Pedro havia sido demasiado pequeno. Agora ele conseguia ver seu erro. Este era um terreno novo para Pedro, mas no v. 37 o apóstolo voltou a um território mais bem conhecido (e até certo ponto, familiar também para Cornélio e seus amigos), a saber, Pedro voltava aos acontecimentos ocorridos em toda a Judéia, tomando-se Judéia em seu sentido

mais amplo, para abranger todo o território judaico (cp. Lc 1:5; 7:17; 23:5). Esta nota concernente à extensão geográfica do ministério de Jesus pode muito bem ser uma característica

de Lucas, assim como é o cuidado com que o autor separa o ministério do Senhor do de João Batista (em comparação com Marcos). Isto nos assegura que Jesus não é imaginado como

sucessor de João Batista. De modo muito genérico o esboço de Pedro sobre "o grande acontecimento"- iguala-se ao que encontramos em Marcos, a proclamação da palavra, começando pela Galiléia, depois do batismo que João pregou (v. 37; cp. "desde o batismo de

João", 1:22; cp. também Mc 1:4, 14ss.). O ministério de Jesus é descrito principalmente em termos de ele curar a todos os oprimidos do diabo — um tema de grande proeminência no

Evangelho de João (cp., p.e., Mc 1:23, 32, 39; quanto à construção gramatical em que se usa a oração reduzida de gerúndio "curando a todos os oprimidos do diabo"). É possível que Pedro tenha considerado esta cura superior às demais, de tal modo que se poderia presumir a

habilidade de Jesus para cuidar dos menos afortunados. Portanto, a única coisa que ele poderia afirmar a respeito de seu Mestre era que ele andou fazendo o bem (v. 38, grego euergetein; o

substantivo correspondente, euergetes, "benfeitor", era aplicado comumente no mundo antigo aos governantes). As boas obras de Jesus são atribuídas ao Espírito Santo com poder, com o qual Deus ungiu a Jesus de Nazaré (v. 38). Alguns interpretam esta expressão como

referindo-se à encarnação (cp. Lc 1:35), mas visto seguir-se à referência a João Batista, é melhor interpretá-la como relacionada ao batismo de Jesus. O próprio Senhor havia afirmado

que fora "ungido" com o Espírito ("me ungiu"), sem salientar quando (Lc 4:18). Todavia, o fato de ele ser ungido significava que Deus era com ele (v. 3 8). Esta última declaração parece

desenhar uma linha bem grossa entre Jesus como homem, e a fonte divina de seu poder. É

certo que nenhuma dúvida havia a respeito da humanidade de Jesus (cp. v. 38, "Jesus de Nazaré"). Tampouco havia alguma dúvida quanto a ser ele mais do que simples homem, visto haver recebido por direito os títulos divinos de o Senhor de todos (v. 36) e "juiz dos vivos e dos

mortos" (v. 42). A confirmação de que Jesus é apropriadamente chamado por esses títulos está em sua ressurreição. 10:39-41 Como no evangelho, Pedro traçou o ministério de Jesus a começar pela Galiléia até a

terra da Judéia, a saber, a Judéia no sentido estreito da província romana (cp. v. 36) e, finalmente, a Jerusalém, onde o Senhor morreu (v. 39). O papel desempenhado pelos apóstolos (o pronome nós de nosso texto) como testemunhas é mencionado de modo especial em relação

a esse ministério, não porque o ministério anterior não havia sido importante no testemunho deles, mas porque a morte e ressurreição de Cristo eram o ponto crucial da questão, sem as

quais não poderia haver Boas Novas. Encontramos de novo no v. 39 a expressão que notamos anteriormente, em 5:30: mataram a Jesus pendurando-o num madeiro. É possível que antes

Pedro houvesse usado essa expressão a fim de salientar perante os judeus todo o horror do ato

que praticaram. É claro que essa não foi sua intenção aqui, mas aquela expressão veio a tornar-se seu modo de declarar o que havia acontecido (cp. 1 Pe 2:24). Entretanto, ficamos

imaginando que ideia é que os romanos, para quem a crucificação era a mais vergonhosa das formas de morte, faziam das "Boas Novas" segundo as quais "o Senhor de todos" havia sido pregado numa cruz pelas suas próprias tropas. Só se podia crer nas afirmativas de Pedro a respeito de Jesus na base de que Deus o ressuscitou ao terceiro dia (v. 40). Esta é uma de

apenas duas referências fora dos evangelhos à ressurreição de Jesus como tendo ocorrido no

"terceiro dia". A outra encontra-se em 1 Co 15:4. Esta é uma expressão característica do Evangelho de Lucas, onde ela ocorre seis vezes. O versículo 40 apresenta um comentário extraordinário segundo o qual nada foi acidental, por obra do acaso, mas Deus...fez que se manifestasse — por apenas um punhado de pessoas — admite-se; todavia, eram as mais bem

qualificadas para serem suas testemunhas. Para isso mesmo foi que Deus antes ordenara tais pessoas (v. 41; cp. Jo 17:6ss.), e elas

convenceriam as demais. Em suas mentes não havia a menor sombra de dúvida de que Jesus

havia ressurgido, porque haviam comido e bebido com ele. Esta observação a respeito de as testemunhas haverem bebido com Jesus corrobora as informações dos evangelhos (Lc 24:30,

43; Jo 21:12, 15; mas veja Lc 22:18). 10:42-43 Por fim, Jesus atribuiu uma missão a suas testemunhas (os apóstolos). É a ocasião a

que se refere 1:4; Lucas repete aqui o verbo empregado lá, a fim de expressar de novo a urgência da ordem: Ele nos mandou pregar ao povo (v. 42). O povo (gr. laos) em geral

significa judeus, mas o objetivo de Jesus é que eles pregassem aos gentios também (cp. p.e., 1:8; Mt 28:19) e, nesse contexto (cp. v. 34), a esse termo é preciso que se dê esse significado mais amplo. A mensagem que os apóstolos deviam pregar... e testificar em parte era que

Jesus agora havia sido constituído juiz (v. 42). Paulo deveria dar testemunho dessa mesma

verdade em Atenas (17:31; cp. também 24:25; quanto ao regresso de Jesus). A ordem para que

se proclamasse a Jesus como juiz não se encontra em nenhum dos relatos sobre as palavras finais do Senhor; todavia, dada a natureza altamente condensada de todos estes relatos, esta parte da ordem não nos surpreende. Trata-se de uma ideia que obteve seu lugar no ensino do

próprio Jesus (cp. Lc 12:8s.; 19:11-27; Jo 5:22, 27), de modo que não devemos duvidar de que estivesse incluída em suas últimas "instruções" (1:2). A descrição de Jesus como juiz dos vivos e dos mortos (v. 42) é adendo ao pensamento do v. 36, em que ele é "o Senhor de todos",

e antecipa a ressurreição geral, quando haverá a "ressurreição tanto dos justos como dos injustos" (24:15). O critério tanto de julgamento como de salvação está indicado no v. 43: todos os que nele creem ("em ele" — é a ideia de entrega a Cristo, cp. 14:23; 19:4; 24:24; 26:18) receberão o perdão dos pecados; os que não creem — a implicação é clara — permanecerão

em seus pecados e enfrentarão o Senhor Jesus como Juiz (cp. Jo 8:21, 24). Observe-se o emprego do plural, "todos". Ao pensamento do senhorio universal de Cristo esse plural acrescenta a advertência de que somos todos — individual e coletivamente — responsáveis

perante o Senhor. A importância da fé em Cristo fica sublinhada pelo fato de Lucas colocar essas palavras no final do versículo (no grego, é posição de destaque). A expressão pelo seu nome (v.

43) faz-nos lembrar de novo do papel indispensável desempenhado por Cristo em nossa salvação — uma salvação que todos os profetas (aqui mencionados de modo coletivo, como

em 3:18) viram de antemão (v. 43). É evidente que os profetas haviam pregado que Deus seria

a Pessoa que haveria de salvar; todavia, o direito de exercer misericórdia e de perdoar livremente (Is 55:7) havia sido atribuído a Jesus, quando Deus o fez "Senhor e Cristo" (2:36).

Com tão elevada nota, embora sem intenção alguma, encerrou-se o sermão. 10:44 Dizendo Pedro ainda estas palavras (o verbo "comecei" de 11:15 pode significar

meramente que Pedro ainda não havia terminado), caiu o Espírito Santo sobre todos os que o ouviam. Uma comparação entre esta passagem com outras de Atos, nas quais se descreve a

vinda do Espírito Santo, revela-nos uma porção de diferenças (2:lss.; 8:14ss.; 9:17; 19:1 ss.). A vinda do Espírito não dependeu de confissão pública de pecados, nem do passar do tempo. Não se orou para que viesse; tampouco veio após o batismo com água, ou mediante a imposição de

mãos. O Espírito simplesmente veio enquanto estavam ouvindo, com corações receptivos, atentos ao que Pedro dizia. Quando o apóstolo mencionou o perdão de pecados para todos que

creem em Jesus (v. 43), todos creram. Com isto concorda a própria descrição que Pedro faz desse acontecimento (11:17), e com a resposta implícita à pergunta feita por Paulo em Gálatas 3:2: "Recebestes o Espírito pelas obras da lei, ou pela pregação da fé? " Em suma, a fé em Cristo é o

elemento essencial para que se receba o Espírito de Deus. 10:45-46a Os companheiros judeus cristãos de Pedro (e talvez o próprio Pedro) ficaram

espantados diante do que aconteceu (v. 45). Os judeus tinham um ditado segundo o qual o Espírito Santo jamais vinha a um gentio; no entanto, era inquestionável que Deus havia derramado o dom do Espírito Santo àqueles gentios (v. 45). O genitivo regido por "de" na frase "o dom do Espírito Santo" deve ser entendido como se fora um aposto — o dom era o próprio

Espírito, cuja presença se evidenciou pelo falar em línguas (v. 46), talvez como fenômeno de

êxtase, à semelhança de 1 Co 12-14 e noutras passagens. 10:46b-48 Ninguém poderia dizer, a partir de agora, que estes gentios eram "imundos ou

impuros" nem impedir que recebessem o rito da admissão à igreja, visto que acabavam de

receber o Espírito, exatamente da mesma maneira como os crentes judeus haviam recebido (no Pentecoste, cp. 11:15). A expressão também...como nós não significa que os dois eventos

foram iguais em todos os aspectos, mas que havia semelhanças suficientes para despertar a comparação. Assim foi que Pedro levantou a questão: Pode alguém recusar (gr. kolyein, "impedir") a água, para que não sejam batizados estes? (v. 47; veja sobre 8:36 quanto à

possibilidade de essa pergunta ter sido formulada com base numa liturgia batismal). No texto grego, a palavra água é regida do artigo, dando o sentido de "a água do batismo". Ninguém levantou objeções, pelo que Pedro ordenou que Cornélio e seus amigos fossem batizados em nome do Senhor (v. 48), (E mandou que fossem batizados: Quem recebeu esse batismo foi Cornélio e o grande grupo ("muitos que ali se haviam ajuntado", v. 27), incluindo, podemos fazer essa suposição, "toda a sua casa" (v. 2). Que a família toda e até mesmo os serviçais da casa (escravos, etc.) fossem batizados juntamente com o chefe da casa teria sido uma presunção natural naquela sociedade, como também um sinal de solidariedade familiar, além de demonstração da fé individual (cp. 16:15, 33; 18:8; 1 Co 1:16; 16:15; a solidariedade da família também poderia exercer efeitos nocivos, como em Tt 1:11). É preciso que se enfatize que, para fazermos parte do corpo de

Cristo, não interessa a ascendência física e tampouco a prática de um ritual (cp. p.e., Gl 3:11, 26).). Essa preposição é instrumental (gr. en). As pessoas deviam ser batizadas mediante uma fórmula que

empregava o nome do Senhor (cp. epi, "sobre", em 2:28 e eis, "em", de 8:16). Não ficamos

sabendo quem administrou o rito; aparentemente não foi o próprio Pedro. É possível que ele estivesse consciente do velho perigo de partidarismo que Paulo procurava evitar, não

batizando ele próprio os seus convertidos, pelo menos como regra geral (cp. 1 Coríntios 1:14-17). Nenhuma referência se fez à circuncisão (cp. 11:3), nem a quaisquer outras coisas que

representassem um adendo ao batismo. Pedro foi convidado a ficar na casa de Cornélio, e de 11:3 fica evidente que o apóstolo aceitou o convite (o grego diz "certos dias", não necessariamente alguns dias, como diz NIV). A aceitação da parte de Pedro da hospitalidade

gentílica deu expressão prática à verdade teológica que ele vinha pregando (vv. 34ss.). Pedro Explica Suas Ações (At 11:1-18) 11:1-3 A cena final desta história de uma conversão gentílica passase em Jerusalém, em que

Pedro defende-se quanto ao que havia feito. Além da questão fundamental com relação a se gentios deveriam ser recebidos ou não, havia outras questões práticas. Como poderiam os

judeus cristãos que ainda se consideravam ligados à lei manter comunhão com as pessoas alheias à lei? Com certeza todo o gentio que se tornasse cristão deveria submeter-se também à lei, não? Estas são algumas das muitas perguntas que teriam sido atiradas a Pedro pelos que eram da circuncisão (v. 2, lit.), que NIV traz "crentes circuncidados", isto é, judeus cristãos

(Subindo Pedro a Jerusalém: Não se declara aqui que Pedro teria sido convocado para ir a Jerusalém a fim de prestar contas de seus atos. Entretanto, o fato de ele ter levado consigo aqueles seis companheiros, que poderiam comprovar sua história (v. 12), pode sugerir que o apóstolo teria ido julgando que talvez precisasse defender-se. É provável que a fim de evitar a impressão de que ele fora intimado por outrem, o texto ocidental traz: "de modo que

Pedro, depois de algum tempo, desejou ir a Jerusalém".). É claro que de um ponto de vista estrito a igreja toda, nessa época, poderia ser descrita com essas palavras, visto não haver então cristãos que também não fossem judeus. Todavia, a narrativa de Lucas fora compilada numa época em que

"os que eram da circuncisão" haviam-se tornado um grupo mais ou menos distinto que desejava manter as tradições judaicas exemplificadas por esse rito (cp. Gl 2:12; Tt 1:10). Por isso é que

Lucas usa essa expressão como sendo significativa para seus leitores, embora ela tivesse origem nos eventos que estava descrevendo. É verdade, entretanto, que mesmo naquela época havia pessoas na igreja demasiadamente sensíveis às questões que Pedro levantava, sendo tal

expressão bem aplicada a tais crentes (cp. 15:5). A crítica deles centralizava-se no fato de Pedro ter-se hospedado na casa de um gentio. Isso teria sido uma séria quebra de costume eclesiástico; a frase em casa de homens incircuncisos (v. 3) revela um pouco da amargura

que tingira seus sentimentos. Estas palavras descrevem o tremendo desprezo que os judeus nutriam pelos gentios, visto que enfatizam sua exclusão da aliança. 11:4-17 A defesa de Pedro consistiu simplesmente na exposição por ordem (v. 4) do que havia

acontecido. É provável que a igreja só tinha ouvido a parte final, mas nada daquilo que induzira Pedro a pregar a Cornélio. A história aqui recontada é basicamente a mesma do capítulo anterior. Algumas pequeninas diferenças já foram observadas, na maior parte, na

discussão anterior. Este relato é mais breve do que o anterior, mas talvez seja mais vivido, como p.e., na descrição do lençol: descia do céu, e vinha até perto de mim (v. 5), isto é, de

Pedro, que fitou nele os olhos. Estes dois detalhes explicam por que Pedro sabia que o lençol

continha todo tipo de animais, inclusive alguns que pela lei não se podia comer. A história é narrada na primeira pessoa do singular, e do ponto de vista do próprio Pedro. Assim é que o

relato inicia-se com a visão que ele teve (vv. 5-10). Segundo as instruções do Espírito, Pedro deveria partir com os homens que na mesma hora pararam junto da casa (v. 11, eis uma

nota de tempo que não aparece no cap. 10); ECA corretamente retém o mesmo verbo de 10:20, que Pedro fosse sem hesitação, e nada duvidasse (v. 12). Todavia o melhor texto traz a palavra

aqui numa diferente forma, e diferente sentido (voz ativa em vez de voz média no particípio), o

que reflete a perspectiva alterada de Pedro. Originalmente, o Espírito o havia motivado a partir "sem hesitação"; agora, ele entende que o Espírito teria dito que deveria ir "sem fazer distinções" entre judeus e gentios. Pedro havia tomado consigo seis irmãos (v. 12; veja a disc.

sobre 10:23b); ao chegarem a Cesaréia entraram todos na casa "daquele homem", como diz o grego, bem traduzido por ECA. Por esta altura todas as pessoas (inclusive os leitores de Lucas) sabiam a quem Pedro se referia. Cornélio lhes havia dito como vira em pé um anjo em sua casa (lit, "o anjo" — aquele com o qual já estamos familiarizados) que o instruiu no sentido de

mandar buscar Pedro, mediante cujas palavras ele e toda a sua casa se salvariam (v. 14; veja a

disc. sobre 10:32). Pedro começou a pregar, e, enquanto pregava (veja a disc. sobre 10:44), o Espírito Santo caiu sobre o pequeno auditório, da mesma forma como caíra sobre os crentes judeus no princípio (v. 15), isto é, no dia de Pentecoste, quando foram batizados com o

Espírito (v. 16). A promessa de Jesus a esse respeito, mencionada novamente neste versículo, deve ser tomada no sentido de o batismo do Espírito ser concedido como adição ao batismo

com água, e não como seu substituto; assim foi que Pedro ordenou a ministração deste rito, já que Deus ministrara o outro. Quem era eu, perguntou Pedro, para que pudesse resistir a Deus? (v. 17, gr. kolyein, "impedir"). Esta linguagem pode ser um eco da liturgia batismal (veja

as disc. sobre 10:47). Também era usual nessa liturgia (ou pelo menos assim o supomos) que o candidato fizesse uma confissão de Jesus como Senhor, havendo talvez um indício disto na declaração quase confessional do versículo 17: nós, quando cremos no (epí) Senhor Jesus Cristo — as palavras que Cornélio e outros talvez tenham pronunciado. 11:18 À face desta evidência (e havia seis testemunhas que a comprovavam, v. 12), os críticos

de Pedro nada mais tinham que dizer. Aceitaram o que havia acontecido, concluindo com Pedro que até aos gentios Deus concedeu o arrependimento para a vida. Tanto o

arrependimento como o perdão (cp. 10:43) são dons de Deus, e ao concedê-los, o Senhor "não

faz acepção de pessoas" (não demonstra favoritismo, 10:34; cp. 20:21; 26:20). A história encerra-se de modo característico com expressões de louvor. Uma tradução bem fundamentada deste versículo traz o verbo glorificar no imperfeito, permitindo que façamos a

suposição de que aquela igreja judaica rendia glória a Deus como se isto fosse uma característica normal de sua vida, e que esse louvor não ocorreu nesse momento apenas.

Assim é que o autor do relato, prestes a passar para outros assuntos, delineia o estado geral das coisas que vai deixar para trás:

David J. Williams

CORNÉLIO

Cavalheiro, preparou o caminho para você e para mim Homem de inteira confiança, Cornélio era um oficial competente no exército romano estacionado em Cesaréia. Ele tinha responsabilidade, reconhecimento e mais dinheiro do que

a média das pessoas. É correto dizer que ele comandava respeito. Ele dispunha de considerável poder se resolvesse usá-lo. Cornélio estava longe do lar, mas estava acostumado a essa vida. Visto como os exércitos romanos ocupavam diversas nações, os soldados mudavam-se com frequência. Alguns oficiais eram cruéis e tacanhos; outros eram bondosos e justos. Cornélio enquadrava-se na segunda categoria. Embora fosse generoso com o povo da região que ele ocupava, sua filantropia não pode confundir-se com fraqueza. O amor que ele dedicava ao imperador e ao império chegava ao ponto mais alto. Se fosse preciso desembainhar a espada, Cornélio não hesitaria. Ele parece ser um homem bem-acabado e seguro. Não há sede de vingança mesquinha. Não há necessidade de exercer violência simplesmente para flexionar os músculos. Como centurião, Cornélio tinha 100 homens sob seu comando, e tinha considerável peso sobre o soldado de infantaria e sobre a população local. Seis desses grupos de 100 homens formavam uma coorte. A coorte que Cornélio comandava era conhecida como italiana. Quando se reuniam dez coortes, elas recebiam o nome de legião, com uma força de 6.000 homens. Os centuriões são mencionados no Novo Testamento sem nenhuma observação que os desmereça. O primeiro centurião mencionado vivia em Cafarnaum. Era de espírito magnânimo. Homem atencioso, ele amava a nação de Israel e fez grandes contribuições para a construção da sinagoga local. Convém que não percamos o significado deste fato. Cafarnaum ficava na Galiléia. Nesta região havia grande número de rebeldes e fanáticos. Frequentemente atacavam os soldados romanos e viviam de contínuo lutando por sua liberdade. Neste território tenso teria sido duplamente difícil relaxar ou ser bondoso. Não obstante, este soldado profissional esforçava-se por merecer o respeito. Os judeus que o conheciam não lhe poupavam elogios. Reco-mendaram-no a Jesus com insistência. Jesus respondeu ao apelo curando o servo do centurião que se achava às portas da morte. Este foi o primeiro gentio a entrar no ministério de Jesus Cristo (Lc 7:1-10). Mais tarde foi um centurião que esteve junto à cruz e disse: "Verdadeiramente este era Filho de Deus" (Mt 27:54b). Cornélio encaixava-se na mesma mistura que os outros nobres centuriões. Ele possuía devoção a Deus e não ocultava esse fato. Os que faziam parte de sua família comungavam de seu entusiasmo pelas coisas espirituais e eternas. Embora ele tivesse uma parcela saudável de energia humana, Cornélio percebeu que a vida é mais do que dinheiro, poder, servos e prestígio. Essas não eram qualidades que satisfizessem. Era necessário ter comunicação com o Pai Celestial para ser completo. Normalmente, o centurião vivia sob considerável tensão. Ele era o sustentáculo do exército romano. Se ele não funcionasse direito, a coorte e a legião eram inúteis. Na maioria dos casos ele fazia carreira militar. Membro da classe comum, o centurião médio havia-se distinguido e era notado por sua capacidade. Coragem era a mais proeminente qualidade. Se o país fosse atacado, esperava-se que o centurião defendesse seu terreno ou morresse lutando.

Os deveres específicos do centurião abrangiam três áreas. Ele era responsável pela disciplina de sua tropa. É por isso que o centurião tinha um ramo de videira como seu emblema. Quando necessário ele o usava em seus homens. Em circunstâncias normais, ele não somente batia em seus soldados mas podia executá-los. A segunda responsabilidade era manter as tropas em forma. Elas tinham de fazer exercícios regularmente. O centurião fazia inspeções regulares e tinha jurisdição final sobre os suprimentos. Sua mais importante função era exercida na própria batalha. Uma vez lá, ele era totalmente responsável pelo desempenho de seus homens. Foi na vida de um centurião amistoso que Deus resolveu agir misteriosamente. Deus estava eliminando o abismo que havia entre judeus e gentios. Ele queria demonstrar seu amor a ambos igualmente. Cornélio recebeu uma visão durante as primeiras horas da tarde. Um anjo de Deus assustou-o — soldado intimorato ou não. O centurião fixou os olhos no visitante. Sabia que não se tratava de um sonho. Ele estava bem acordado e gozava de boa saúde. Imediatamente Cornélio perguntou: "Que é Senhor?" (At 10:4b). Dois ingredientes são óbvios no homem: Ele é aberto, e está disposto. O homem é um aventureiro criativo. Muitos de nós provavelmente ainda estaríamos tomando aspirina e esperando que a visão desaparecesse. Cornélio, para sua total surpresa, espera que Deus faça coisas fora do comum. Desde o começo ele aceita este fato como uma mensagem da parte de Deus. Por certo Deus pode conceder visões hoje. Muitos de nós nunca teremos uma visão, mas o princípio da comunicação tem de permanecer vital. Deus pode falar-nos, tanto individual como coletivamente. Ele o tem feito de forma regular através da história. Talvez ela venha como uma "orientação" silenciosa; para outrem pode ser uma voz. Outra vezes é uma circunstância. Certamente ela vem através das Escrituras. Se crermos que Deus não comunicará, provavelmente teremos todos os nossos portões fechados de qualquer maneira. Os cristãos que creem que ela pode acontecer têm maior probabilidade de sentir uma orientação definida. O anjo anunciou a intenção de Deus de recompensar o serviço consagrado. Visto como as orações de Cornélio e suas esmolas visavam à honra de Deus, elas tinham sido aceitas. Em resposta, Deus conferiria algo especial ao seu servo. As esmolas parecem tocar um sino especial para Deus. Embora muitos de nós as tenhamos posto a cozinhar em fogo lento, a Bíblia trata-as com enorme calor. O Antigo Testamento traça diretrizes definidas para a ajuda aos pobres. A compaixão dos israelitas era bem conhecida e estava em nítido contraste com as nações circunvizinhas. Uma pessoa necessitada podia entrar em qualquer campo e comer o que desejasse se estivesse com fome (Dt 23:24, 25). Era proibido aos agricultores ceifar tudo quanto os campos produzissem — os cantos dos campos não eram ceifados, para que os necessitados pudessem segar e recolher alguma coisa (Lv 23:22). Um israelita não podia cobrar juros sobre o dinheiro emprestado a uma pessoa pobre (Lv 25:35, 36).

Quando Jesus principiou seu ministério, ele continuou a mesma atitude generosa. Disse aos fariseus que eles deviam esquecer-se da linguagem estrita da lei. Eles estariam em muito melhores condições se pudessem conservar o espírito da lei e ajudar os pobres (Lc 11:41). Jesus tinha pouca paciência com os teólogos de gabinete. Que mérito havia em guardar todas as festividades se realmente não se importavam com os pobres? Depois de proferir a parábola do rico insensato, Jesus disse aos discípulos que vendessem o que tinham e dessem esmolas (Lc 12:16 e ss.). Cornélio viu o ato de dar como algo que estava no coração do Deus amoroso. Cornélio provou que ele tinha cuidado e Deus resolveu apor seu selo de aprovação nesse gesto. Deus desejava explicar o evangelho de Jesus Cristo a um soldado gentio. Então, por que não o fazia ele mesmo? Por que o anjo do Senhor não anunciou as boas-novas a Cornélio? Em vez disso, o anjo explicou uma série de passos que Cornélio poderia dar para descobrir a verdade. Parece haver dois motivos por que Deus não lhe disse diretamente. Um é que ele escolheu pessoas para levar a sua Palavra. Somos, basicamente, as mãos, os pés e a voz de Deus neste mundo (Mt 28:19). O segundo motivo para proceder dessa maneira é conservar seus seguidores em unidade (Jo 17). Definitivamente, Deus não queria uma igreja judaica e uma igreja gentia. Era importante que se tornassem uma desde o princípio. As instruções dadas a Cornélio foram claras. Ele devia enviar mensageiros a Jope (hoje está anexada a Tel-Aviv). Lá eles encontrariam Simão Pedro. Simão estava hospedado na casa de Simão, o curtidor, localizada junto à praia. As instruções pareceram suficientes, de modo que o anjo se retirou. O centurião estava acostumado a receber e a dar ordens. Sem dizer uma palavra, pôs o plano em ação. Cornélio convocou dois servos e um soldado. Os três fariam a viagem de um dia em direção do sul e encontrariam o dinâmico apóstolo. O soldado que Cornélio escolheu para a viagem é descrito como um homem devoto ou piedoso. Existe algo de contagioso com respeito a este tipo de justiça. Ela não parece pretensiosa ou atravancada com pesos difíceis. A consagração deste trio parecia sincera e mais tarde teve de prová-lo que o era ainda mais. Até aqui esta reunião histórica movia-se como um piquenique em dia de verão. Tudo estava no lugar certo. Agora Deus tinha de fazer seu trabalho pelos lados de Jope. Para compreendermos o que estava para acontecer é preciso que avaliemos os antecedentes de Pedro. Sempre lhe fora ensinado que uma pessoa poderia chegar-se a Deus somente fazendo-se judia. Mas Cristo já tinha vindo, e Pedro estava encontrando dificuldade para separar as coisas. Tem um gentio de tornar-se judeu antes que possa tornar-se cristão? Até aqui somente os judeus gentios chegaram a ser batizados. O grupo de Cornélio estava a caminho para ajudar a clarear a mente de Pedro. Pelo menos no momento a questão parecia clara para Pedro. Naturalmente, é preciso que o indivíduo se torne judeu antes que possa fazer-se cristão. No esforço de Deus para abrir a mente de Pedro ele usou a mesma forma de comunicação que havia usado com Cornélio. Enquanto orava no eirado da casa, Pedro entrou em transe e teve uma visão (At 10:10-15).

Na visão, descia do céu um lençol branco. Era seguro misteriosamente nos quatro cantos. Dentro do lençol havia uma grande variedade de animais quadrúpedes, aves e répteis. Disse uma voz: "Pedro, mata e come". Pedro fez objeção, porque alguns dos animais não eram limpos. Então a voz disse: "Ao que Deus purificou não consideres comum." Pela terceira vez a voz falou e então o lençol foi recolhido ao céu. Até que ponto uma visão pode ser desnorteante? Pedro cofiou a barba, cocou a cabeça. Felizmente não lhe foi dado muito tempo para ponderar. Enquanto lutava para entender a visão, chegaram à porta da casa do curtidor os três mensageiros vindos de Cesaréia. O Espírito de Deus falou diretamente a Pedro. Ele devia ir com o trio visitante e nada de fazer perguntas. Tudo sairia bem. O valente apóstolo foi modelado no mesmo molde de Cornélio. Ele lançou-se diretamente ao portão e apresentou-se aos visitantes. Convidou-os a passar a noite com ele. No dia seguinte partiriam para onde quer que fosse. Deus não teve de dar a ordem a Pedro duas vezes. Na manhã seguinte Pedro reuniu alguns de seus amigos cristãos e ambos os grupos partiram juntos de Jope. Viajaram um dia todo e chegaram a Cesaréia. Que aventura! Deus havia traçado um plano e eles estavam ansiosos por segui-lo. Cornélio aguardava emocionado. Ele havia reunido os parentes e amigos íntimos. Podemos supor sem medo de errar que ele regularmente falava de Cristo com todos quantos conhecia. Ele pode ter tido em sua casa uma reunião de igreja sem igreja. Teria sido fascinante saber o que eles estudavam. Será que liam o Antigo Testamento? Oravam em ignorância e pediam a direção de Deus? Estavam meramente trocando opiniões e andando sem rumo? Fosse qual fosse o processo, a sinceridade deles era indiscutível. E como buscavam a Deus honestamente, o Senhor resolveu honrar essa busca. Quando Cornélio viu que Pedro se aproximava, correu para o apóstolo e caiu-lhe aos pés. É interessante notar como este oficial era humilde. Ele parecia ser uma definição viva da verdadeira mansidão. Cornélio tinha o poder de exigir e mandar. Também tinha a humildade para aceitar sugestões, servir e mostrar respeito a outros. Coragem e maleabilidade eram sua combinação áurea. A mansidão tem recebido um mau nome, mas realmente ela é uma qualidade heroica. Jesus Cristo disse-nos que os mansos herdarão a terra (Mt 5:5). Francamente, isto é embaraçoso para muitos de nós. Retratamo-nos como confiantes e decididos. A palavra manso soa como retirar-se covardemente. Jesus Cristo referiu-se a si mesmo como manso e humilde de coração (Mt 11:29). Não há necessidade de explicar em minúcias o que é a mansidão. É uma qualidade nobre que nos permite servir aos outros e aprender deles. Às vezes os cristãos, em sua avidez por comunicar a fé, perdem a humildade. Sentimo-nos tão orgulhosos por sermos filhos do Rei! Se não formos cuidadosos, tornamo-nos arrogantes em lugar de úteis. Cornélio tinha uma boa compreensão da Palavra e seu espírito. Ele não tinha de curvar-se ou mesmo cooperar — ele poderia ter exigido que as coisas fossem feitas do seu jeito, mas declinou de fazê-lo. Era isto que o fazia funcional nas mãos de Deus.

Pedro resistiu corretamente à adoração de Cornélio. Ninguém, melhor do que o apóstolo, sabia que ele era como as demais pessoas. Isto, contudo, não o diminui diante da atitude do oficial. Ele era grato e não orgulhoso demais para admiti-lo. Este encontro histórico precisa de uma pequena explicação. Ambos os homens não pareciam sentir-se muito à vontade. Pedro explicou como aconteceu de ele procurar um centurião gentio; para dizer a verdade, uma atitude muito irregular. Judeus e gentios normalmente não se misturavam bem. Cornélio esboçou seus antecedentes e descreveu a visão que teve três ou quatro dias antes. Pedro tinha vindo para ensinar a Cornélio, mas ele tinha uma surpresa guardada. O oficial romano estava prestes a dar um passo gigante que mudaria a vida do apóstolo. Pedro resumiu a situação imediatamente: "Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas" (At 10:34b). Isto pode parecer-nos uma lição fácil, mas em realidade foi uma verdadeira revelação. Mais tarde, no concilio de Jerusalém Pedro defenderia a imparcialidade de Deus (At 15), e mais tarde ainda ele teria de novo segundos pensamentos (Gl 2:11). Cristo havia criado reputação de imparcialidade. Ele deu assistência a pessoas de todos os caminhos e nacionalidades. Isto havia-se tornado parte de tal modo notável de seu estilo de vida que seus críticos zombavam dele. Quando os principais sacerdotes e escribas quiseram apanhar Jesus numa cilada, enviaram espias com perguntas ardilosas. Quando quiseram seduzi-lo, começaram com um elogio fingido: "Mestre, sabemos que falas e ensinas retamente, e não te deixas levar de respeitos humanos, porém ensinas o caminho de Deus segundo a verdade" (Lc 20:21). Sabiam que ele não respeitava pessoas favorecidas. Contudo, pensaram claramente que ele deveria fazê-lo. Pelo menos naquele momento a luz brilhou com todo esplendor sobre Pedro. Ele expôs o evangelho completo de Jesus Cristo ao gentio comandante romano. Pedro estava levando a cabo um serviço total para Deus que ele próprio não entendia inteiramente. Enquanto Pedro expunha o evangelho, o Espírito Santo caiu sobre Cornélio e sua família — indício claro de que eles criam sinceramente no que tinham ouvido. A evidência do Espírito era óbvia à medida que os gentios começaram a falar em línguas. Há certa justificativa para chamar este acontecimento de Pentecoste gentio. O que aconteceu aqui é semelhante ao que está registrado no capítulo 2 de Atos. O motivo parece bem planejado. Os gentios tinham de entrar para a igreja em pé de igualdade com os judeus. Se houvesse qualquer sugestão de que os gentios eram cristãos de segunda categoria, o dano seria enorme. Igualdade de condições era o único nível aceitável. Deus estava abrindo cuidadosamente o caminho de sua igreja. De imediato Pedro exigiu o batismo dos novos crentes. Exatamente como no Pentecoste, não houve período de espera entre a aceitação e o batismo. Embora hoje se ofereçam muitos argumentos a favor de um período de experiência anterior ao batismo, certamente tais argumentos não eram proeminentes no livro de Atos. Cornélio e seus amigos convidaram Pedro e seu grupo a permanecer com eles. Durante alguns dias continuaram com a troca de experiências e ensino da doutrina cristã.

As notícias se espalhavam como manteiga quente no pão. Logo os ouvidos estavam tinindo na Judéia e nem todos os comentários eram favoráveis. Alguns cristãos ficaram chocados, digamo-lo francamente. Como podia Pedro ter-se encontrado com gentios e ainda dizer-lhes que eram cristãos? Que tipo de decadência havia invadido a igreja? Era uma profanação transparente. Os judeus agora tinham contato social e comunhão com os pagãos; eles haviam barateado o evangelho tornando-o acessível a todos. Alguns cristãos nunca se recuperaram desse mal. Quando Pedro chegou a Jerusalém, explicou com todo o cuidado o que havia acontecido. Ele não queria mexerico para complicar os fatos. Lucas, autor do livro de Atos, que demonstrou o problema e seu progresso, a esta altura abandona o assunto (Atos 11:18). Mais tarde ele o discute de novo, retratando os profundos problemas resultantes da aceitação dos cristãos gentios, mas por ora o problema está solucionado. Felizmente para todos, o primeiro gentio convertido foi um homem da estatura de Cornélio. Provavelmente não fazia a mínima diferença se ele fosse soldado ou centurião; contudo, era terrivelmente importante que ele fosse um cavalheiro. Uma personalidade detestável como Simão o mago (At 8:9 e ss.) ou um casal de mentirosos como Ananias e Safira (At 5:1 e ss.) teriam comprovado ser desastroso. A despeito do que às vezes ouvimos, há pessoas que buscam a Deus. Seus motivos e vida podem não ser puros, mas seu desejo é real. Vemos em Cornélio este tipo de pessoa. Sua busca não era meramente intelectual. O centurião romano tinha um coração faminto de Deus. Algo sobre o que pensar 1. Estava você buscando a Deus quando se tornou cristão? Deus o encontrou quando você estava desinteressado? 2. Nós, cristãos, temos uma atitude aberta para com a direção de Deus em nossa vida? Somos criativos e aventurosos como o foi Cornélio? Somos inflexíveis e cuidadosos demais? 3. A esmola é proeminente entre seu grupo de amigos cristãos? Por que alguns são cheios de desconfiança na ajuda aos pobres? Qual a presente tendência entre os cristãos? 4. Deus fala às pessoas sem servir-se de outras pessoas? Acha que ele fala por meio da natureza? 5. Acharíamos difícil aceitar certos antecedentes étnicos e econômicos em nossos grupos cristãos? Explique. 6. Sua igreja batiza imediatamente ou adota um período de espera? Por quê? Bibliografia W. L. Coleman

Pedro e Cornélio At 10.1-11.18 A Visão de Cornélio (10:1-8) Lucas dá tanta importância à visita de Pedro à casa de Cornélio, que se detém nos detalhes mais minuciosos, e, em seguida, repete a história no capítulo 11. De fato, foi o acontecimento mais significativo que testemunhamos até agora. O curso futuro da igreja dependia da aceitação dos gentios na comunidade. Até aqui, os gentios que haviam entrado na comunidade eram os que já haviam aceitado o judaísmo e se tornado prosélitos (6:5). A sua admissão não causou nenhum problema em particular, porque eles haviam sido circuncidados.

A despeito do fato de que havia muitos gentios na região litorânea onde Pedro estava exercendo o seu ministério, ele havia estado interessado tão-somente em conseguir convertidos entre a população judaica da região. Agora chegara a hora quando a igreja precisava irromper através da maior de todas as barreiras. O evangelho precisava ser proclamado aos gentios, sem dar-se nenhuma atenção aos tabus judaicos, que restringiam a sua liberdade. Na ordem em que Atos foi escrito, a história de Pedro pregando o evangelho aos gentios precede a missão dos refugiados cristãos aos gentios em Antioquia (11:19 e ss.). Cadbury e Lake (op. cit. p. 112) pensam que a ordem foi alterada, e a história de Cornélio devia ser colocada depois do capítulo 12, onde ouvimos falar da fuga de Pedro da prisão. Williams (p. 133) concorda com Cadbury e Lake, e acrescenta que, quando Pedro fugiu e partiu "para outro lugar" (12: 17), essa alusão pode traduzir-se como Lida e Jope. Se pudéssemos substanciar a ordem cronológica, a missão de Pedro aos gentios seria contemporânea à mis-são em Antioquia. Lucas começa o capítulo 10 com uma apresentação da pessoa que desempenhou um papel importante em preparar o palco para derrubar as barreiras entre judeus e gentios. O seu nome era Cornélio. Somos informados de que ele era um centurião da coorte italiana. Um centurião era equivalente a um oficial, sem comissionamento, encarregado de cem homens. A coorte italiana, composta de cerca de seiscentos homens, representava um décimo de uma legião romana. Temos evidências de que uma coorte que trazia o nome de italiana estava baseada na Síria em 69 d.C, mas nenhuma evidência para demonstrar a presença de uma coorte como essa na Palestina durante o tempo deste incidente. Cornélio estava aquartelado em Cesaréia, que era o quartel-general do procurador da Judéia, Samária e Iduméia. Anteriormente, Cesaréia fora uma cidade grega, e se chamara Torre de Estrabo. Herodes, o Grande, fundou-a de novo em cerca de 12 a.C, e deu-lhe esse nome em honra a Augusto César. Cesaréia tinha uma população mista, de gentios e judeus. Frequentemente, os dois grupos expressavam francas hostilidades um contra o outro. Parece que Cornélio era judeu em todos os aspectos, exceto na circuncisão. Como muitos pagãos, ele se interessara na religião dos judeus, e seguia os atos de piedade que lhe eram permitidos no estado de incircuncisão em que se achava. Lucas nos diz que ele era piedoso e temente a Deus... que fazia muitas esmolas ao povo. Entendemos que povo (laos) se referia aos judeus, e não aos gentios. Cornélio também orava de continuo a Deus. Pode ser que a posição de Cornélio, no exército romano, o impedisse de professar uma dedicação franca ao judaísmo, e se circuncidar, ou pode ser que ele simplesmente se recusasse a circuncidar-se. Havia muitos pagãos que frequentavam as sinagogas judaicas e Adoravam a Deus, mas não se tornavam prosélitos simplesmente porque tinham medo do ritual da circuncisão. Cerca da hora nona do dia, Cornélio teve uma visão, em que viu um anjo de Deus vindo a ele. A hora nona (3 horas da tarde) era a hora do Tamid (sacrifício diário) da tarde, no Templo de Jerusalém. Desta forma, presumimos que, visto que ele não podia ir a Jerusalém para participar das orações na hora do Tamid, ele fazia a sua oração particular nesta hora judaica habitual. Na visão, o anjo chamou o centurião. Cornélio queria saber a razão para o aparecimento do anjo. Ficou sabendo que as suas orações haviam sido ouvidas por Deus. A natureza de suas orações, não sabemos. O anjo da visão requereu que Cornélio enviasse alguém para chamar Simão Pedro em Jope, onde ele estava hospedado, por um curtidor, em uma casa perto do mar. Depois da visão, Cornélio mandou chamar dois dos seus criados e um soldado devoto, e enviou-os a buscar Pedro.

A Visão de Pedro (10:9-16) Pouco antes da chegada dos mensageiros de Cornélio, no dia seguinte, Pedro subiu ao eirado da casa de Simão, o curtidor, para orar. Era cerca do meio-dia. Os judeus normalmente não observavam essa hora de oração. Pedro estava com fome, e orava enquanto o almoço estava sendo preparado embaixo. Não se passou muito tempo, e a sua oração transformou-se em uma sesta — que tão frequentemente acontece-nos em nossos períodos devocionais. Pedro, em uma visão, viu algo semelhante a um lençol sendo baixado à terra pelos quatro cantos. Nesse lençol havia toda sorte de animais, répteis e aves. Ele ouviu uma voz ordenando-lhe que matasse e comesse o que via naquele lençol. Em sua visão, Pedro recusou-se a fazê-lo, porque, naquela coleção de criaturas, muitas eram imundas, e, por isso, tabu para os judeus. A voz soou uma segunda vez, para declarar a Pedro que o que Deus purificara não era tabu. Pela segunda vez pode sugerir o segundo chamado de Deus a Jonas para ir a Nínive e pregar arrependimento para o seu povo (3-1)� Jonas havia tentado evadir-se de sua vocação, tomando um navio de Jope para Társis. Pedro, de igual maneira, percebia as implicações da visão, mas temia o risco que tal empreendimento acarretaria. Admiramo-nos de que Pedro tenha respondido como fez, à luz dos ensinos de Jesus em Marcos 7:1-23. Havia ele se esquecido que Jesus declarara todos os alimentos purificados? As leis alimentares sacerdotais, adotadas pelos judeus depois do exílio, contribuíram tremendamente para a natureza exclusiva da religião judaica. Os gentios que comiam alguns dos animais impuros relacionados em Levítico 11 não eram dignos de manter relações sociais com os judeus. A política separatista do judaísmo tornou-se tão severa, que óleo, pão, leite e carne não podiam ser comprados de gentios. Comer alimentos pagãos era uma abominação, mas comer na casa de um pagão era muito pior. Os Mensageiros de Cornélio Chegam (10:17-23a) Enquanto Pedro estava ainda refletindo na visão e tentando encontrar-lhe uma interpretação apropriada, a delegação de Cornélio chegou. No meio de sua ansiedade, uma revelação lhe veio, pelo Espírito, para descer e acompanhar aqueles homens sem discriminação. A nossa versão não dá a devida força à tradução do verso 20. Nada duvidando é um possível significado de mēden diakrinomenos, mas esta expressão significa, literalmente, "sem discriminação" É quase certo que Pedro, sem ter recebido a orientação do Espírito, teria permitido que o preconceito e o exclusivismo judaico o impedissem de se associar com Cornélio. Quando Pedro desceu, para encontrar-se com os mensageiros, perguntou-lhes o que desejavam. Eles imediatamente lhe contaram qual era a sua missão, e Pedro os convidou a entrar, e os hospedou. Esta é uma indicação de que a revelação concedida mediante a visão já estava causando efeitos sobre o apóstolo. Mesmo que não lhe acontecesse a visão, Pedro não estava em posição de dar uma resposta negativa aos homens que lhe haviam sido enviados da parte de Cornélio. Naquela hora, ele estava residindo na casa de um curtidor, que, de acordo com os padrões rígidos dos judeus, era impuro, visto que manejava peles de animais que eram impuros. No Mishnah ficamos sabendo que os curtumes precisavam localizar-se pelo menos a cinquenta côvados fora da cidade (Baba Bathra 2:9).

Pedro Parte Para Cesaréia (10:23b-33) No dia seguinte, Pedro dirigiu-se a Cesaréia com a delegação enviada por Cornélio, mas, para se proteger contra qualquer acusação que lhe pudesse ser feita posteriormente, ele levou consigo alguns membros da igreja em Jope. No capítulo 11, quando Pedro apresentou-se diante da igreja em Jerusalém, para responder por sua conduta, notamos, no seu discurso, que ele levou seis dos irmãos. Este era o número três vezes maior do que o mínimo de testemunhas necessárias em uma corte legal. Desta forma, é evidente que Pedro não se arriscou a respeito da aventura liberal em que estava se lançando. Jope ficava a cerca de quarenta e cinco quilômetros de Cesaréia, e a viagem levou, aproximadamente, dois dias. Cornélio esperava, indubitavelmente, uma resposta afirmativa, para o seu convite a Pedro, pois havia reunido os seus parentes e amigos mais íntimos, para esperar a chegada de Pedro. Cornélio ficou tão jubiloso quando Pedro chegou, que, prostrando-se a seus pés, o adorou. O apóstolo imediatamente fez Cornélio lembrar que ele também era homem, e o levantou. Lucas registra outra desaprovação de adoração em Atos (14:8 e ss.). Pedro entrou na casa de Cornélio, e sem detença contou, ao povo ali reunido, que o convite para visitá-los o colocara em uma posição precária. Fê-los lembrar o grande abismo que separava judeus e gentios. Associando-se com as pessoas que estavam na casa de Cornélio, aos olhos dos judeus, Pedro se tornava culpado de um ato profano. Na verdade, Cornélio era simpatizante do judaísmo, mas não fora ainda circuncidado. O ritual da circuncisão fazia a diferença, Pedro prosseguiu, dizendo que, enfrentando todos os perigos, ele viera. Havia feito isso por que havia recebido uma revelação de Deus, que cancelava a distinção entre puros e impuros. A pedido de Pedro, Cornélio contou-lhe por que o havia convidado. Resumiu a visão que tivera, e a sua ação subsequente, mandando buscar Pedro. Cornélio disse que ele e as outras pessoas presentes haviam-se reunido para ouvir de Pedro tudo o que Deus lhe havia mandado dizer. Pedro na Casa de Cornélio (10:34-43) Com a exceção dos primeiros dois versículos do discurso de Pedro, que são notas introdutórias, o grego é extremamente difícil de traduzir-se de forma que dê bom sentido. A versão da IBB venceu muitos dos problemas gramaticais da passagem, e nos deu uma tradução razoavelmente escorreita(sem defeito). Depois que Lucas recebeu este discurso da tradição, parece que o transcreveu como estava, sem tentar transformar a estrutura. Na sua introdução, Pedro sublinhou que, diante das circunstâncias, ele percebera que Deus não faz acepção de pessoas. A palavra traduzida como "acepção" (prosõpolemptes) significa, literalmente, "receber de acordo com a cara". Pedro queria dizer que Deus não tinha favoritos, e se preocupava com todos os que o temessem e fizessem o que era certo. A visita à casa de Cornélio preparou o campo para uma grande descoberta de Pedro. Ele aprendeu os fatos centrais e elementares acerca do significado universal de Cristo, que não percebera na companhia dos cristãos em Jerusalém. A graça de Deus era para todos. A camisa de força do legalismo judaico precisava ser rasgada, e as paredes do exclusivismo precisavam cair.

Através da determinação de um estranho em ouvir a mensagem cristã, Pedro estava sendo capaz de compreender que Deus não demonstrava parcialidade. Na história da Igreja, esta experiência tem sido repetida inúmeras vezes. Os que estão do lado de fora da fé têm levado muitos cristãos a perceberem melhor qual é a sua verdadeira missão na vida, muito mais do que todos os seus próprios pronunciamentos e palestras dentro da comunidade. O versículo 36 parte do pressuposto de que Cornélio já ouvira falar acerca da palavra que Deus enviara a Israel. Havia ele ouvido a pregação do evangelho antes desta vez? É possível que Filipe tivesse levado a efeito uma intensa missão em Cesaréia, antes da chegada de Pedro? Talvez Pedro quisesse dizer apenas que Cornélio pelo menos havia ouvido algo, de maneira genérica, acerca da fé cristã, antes da sua chegada. O padrão do discurso é muito semelhante aos discursos pronunciados aos judeus anteriormente. No entanto, não esperamos, no caso de Cornélio, um sermão como o que Paulo pregou aos gentios em Listra ou em Atenas (14:15-18; 17:22-31). Cornélio tinha muita familiaridade com o judaísmo, e podia ser abordado de maneira semelhante que os judeus. Os Gentios Recebem o Espírito Santo (10:44-48) Pedro, provavelmente, tinha muito mais a dizer, em seu sermão, mas foi interrompido por um dramático derramamento do Espírito de Deus, sobre as pessoas que estavam na casa de Cornélio. A experiência teve todas as aparências de ser outro Pentecostes. O fenômeno de falar em línguas foi uma manifestação externa de que esses gentios, individualmente, haviam recebido a aprovação divina. Os membros da igreja em Jope, que acompanhavam Pedro, mal podiam crer no que estava acontecendo. Aquilo ocorreu como uma surpresa para eles — o fato de que gentios podiam participar da graça de Deus. Sendo as condições como eram, isto é, confirmando o Espírito Santo que gentios sem nenhuma influência judaica eram convertidos ao evangelho, era impossível impedir que fossem batizados e se tornassem membros reconhecidos da comunidade cristã. A presença da ordem normal de coisas, que era fé, batismo e recepção do Espírito, foi indicação de que Deus havia autenticado e aceito aquele fato. O que Deus estava aprovando, a comunidade primitiva não podia desaprovar com razão. Consequentemente, Cornélio e seus parentes e vizinhos foram batizados em nome de Jesus Cristo. Pedro e a Igreja em Jerusalém (11:1-18) Se a igreja em Jerusalém achou necessário enviar Pedro e João, para investigar o trabalho evangelístico dos cristãos judeus helenistas em Samária, naturalmente era uma causa de alarme o que acontecera em Cesaréia. Havia um certo elemento, na igreja, que reagia violentamente contra qualquer coisa que sugerisse infração da lei judaica. Acusado de Associar-se com os Gentios (11:1-3) Notícias do que acontecera em Cesaréia chegaram aos ouvidos dos apóstolos e da igreja em Jerusalém. O texto Ocidental não é tão abrupto quanto o Alexandrino, em levar Pedro de volta a Jerusalém. De acordo com aquele texto, Pedro continuou a exortar os que se haviam convertido em Cesaréia; e então, no caminho de volta a Jerusalém, pregou em vários lugares. Aparentemente, o objetivo do texto Ocidental foi reescrever esta seção, de forma que a privação da autoridade de Pedro pudesse ser diluída.

Quando Pedro chegou a Jerusalém, um grupo cristão judaico ortodoxo atacou-o, por ter rompido a lei cerimonial de pureza. Lucas chama esse grupo da igreja de os que eram da circuncisão. Parece estranho que Lucas introduzisse aqui esse grupo. Com a exceção dos gentios que haviam entrado na comunidade em Cesaréia, todos os crentes eram da circuncisão. Provavelmente, o autor, como um prelúdio ao Concilio de Jerusalém desejasse chamar a nossa atenção para a existência de um grupo conservador da igreja, que era extremamente farisaico, em sua aparência. A acusação que é feita contra Pedro é que ele entrara na casa de um homem incircunciso e comera com ele. Parece que não houve oposição ao batismo dos gentios. Não obstante, a objeção estava implícita. Baseado na sua tradição legalista ferrenha, o partido da circuncisão não podia conceber a associação com um gentio, a não ser que ele fosse circuncidado. Essa tradição clamava que um gentio precisava primeiramente tornar-se judeu, antes de tornar-se cristão. Tudo isto soa-nos insignificante, não é? Não temos nós sido culpados da mesma coisa no passado, e até no presente? Sempre que nos recusamos a comungar com outras pessoas, porque elas não têm a mesma cor de pele que temos ou não pertencem à nossa denominação, isso não é discriminação? O verdadeiro teste da fé cristã é comunhão à mesa. Se não podemos ter relação social com uma pessoa, a despeito da sua raça, classe ou cor, perdemos de vista a intenção de Deus. Até nós, em termos cerimoniais, podemos estar inclinados a rejeitar algumas pessoas, da mesma forma como o fizeram os judaizantes. Eles fizeram, da circuncisão e do banho dos prosélitos, requisitos para a comunhão. Quando insistimos em concordância doutrinária acerca de assuntos, como certos pontos de vista acerca da Bíblia ou do reino ou de certas ordenanças da igreja, como teste de sanidade ou condição para a comunhão cristã, não estamos nós manifestando um espírito sectário aparentado ao dos judaizantes? Defesa de Seus Atos (11:4-18) A defesa de Pedro diante do partido da circuncisão foi de natureza um tanto apologética. Parece que a sua autoridade, como líder dos apóstolos, até então não fora desafiada. O que ele dizia era geralmente a palavra final. Agora ele precisava colocar-se na defensiva. Lucas o mostra no mesmo papel que ele desempenhou no Concilio de Jerusalém. Da mesma forma, Paulo dá a mesma opinião acerca de Pedro, em sua carta aos gálatas (2:11 e ss.). Quando Pedro chegou a Antioquia, comeu com os gentios, mas, depois que chegou uma delegação de Tiago, ele se absteve de fazê-lo, porque teve medo do partido da circuncisão. Pedro contou a sua história de forma condensada, acerca do que acontecera. Cornélio não foi mencionado, e Pedro não disse nada acerca da piedade do centurião. Parece que a sua causa teria um apoio muito maior, se ele tivesse se referido aos atos religiosos de Cornélio. Também notamos que Pedro omitiu as observações que fizera aos da casa de Cornélio. No derramamento do Espírito Santo, o apóstolo deixou de falar acerca da manifestação de línguas como evidência externa do Espírito. Contudo, ele tornou bem claro que a experiência do recebimento do Espírito pelos gentios fora semelhante à que eles haviam tido em Jerusalém. Através de toda a sua defesa, Pedro enfatizou a direção do Espírito Santo em tudo o que fizera. O que aconteceu em Cesaréia fora resultado da aprovação divina. O apóstolo não foi a Jerusalém sem as suas testemunhas. Levou consigo seis membros da igreja em Jope, que

haviam ido com ele a Cesaréia. Pedro devia ter previsto essa sorte de oposição, porque foi bem preparado. Era difícil qualquer pessoa discutir a resposta que Pedro deu. Pelo menos naquela hora, a defesa do apóstolo foi aceita. Deus concedeu também aos gentios o arrependimento para a vida. Não está inteiramente claro que os cristãos judeus em Jerusalém aceitaram este fato como uma ratificação total da admissão dos gentios na igreja. Muito provavelmente, eles consideraram o incidente como um caso isolado, e não a base para que eles abrissem mão da sua contenda de que os gentios precisavam submeter-se à circuncisão, a fim de entrar na igreja. Certamente esse não foi um caso padrão, que resolveu os futuros problemas de relacionamento com os gentios que iriam crer. Do que observamos posteriormente, o elemento conservador da igreja se tornou mais unido em sua oposição à aceitação de gentios que não haviam sido circuncidados. Bibliografia T. C. Smith Fonte: http://www.ebdareiabranca.com/2011/1trimestre/sumario.htm