A Paleografia na Pesquisa Histórica
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A PALEOGRAFIA NA PESQUISA HISTÓRICA
Jairo Braga Machado 1
Jairo Braga Machado começou sua apresentação cumprimentando os organizadores pela
organização de um evento que reúne tantos pesquisadores de variadas áreas do conhecimento. Em seguida
explicou que falaria de um tema surgido de suas observações ao receber pessoas no arquivo do IPHAN em
São João del Rei.
Exemplificou com uma aluna da USP que visitou a instituição há poucos dias, com o objetivo de fazer
um levantamento sobre a ocupação urbana da localidade. Foram-lhe indicados os inventários e explicado
que o acervo conta com documentos cartoriais emitidos a partir de 1715 e até o final do século XX. Dada a
dificuldade com a leitura dos documentos a aluna levantou a possibilidade de mudar o tema da pesquisa.
Entretanto, alertou o palestrante, sem que se possa inculpar os pesquisadores pelo fato, a realidade
é que muitos não se encontram preparados para lidar com os documentos por falta de domínio da leitura
paleográfica. Sendo assim, diante de um exemplar do final do século XVIII, o pesquisador constata que não
consegue ler o que ali está registrado. Nestas situações, Jairo Machado costuma fazer uma brincadeira com
o interlocutor, dizendo que o início do contato com o documento é como um namoro. No primeiro encontro
o pesquisador pode ficar vermelho e nervoso, mas ao longo do tempo vai se acalmando e adquirindo uma
certa intimidade.
Jairo Machado declarou não ser nenhum exagero afirmar que obrigatória e necessariamente a
história de Minas passa pela Comarca do Rio das Mortes e, naturalmente, por São João del Rei como cabeça
desta comarca. Acrescentou que grande parte da documentação encontra-se sob a guarda do Escritório
Técnico do IPHAN na cidade.
A PALEOGRAFIA NA PESQUISA HISTÓRICA
Jairo Braga Machado 2
Foi também, destacada a necessidade de questionar o documento. “Que trem é este aqui? Que
suporte documental é este? Que coisa é esta que está passando sob meus olhos? O que querem me
transmitir estes fragmentos da história?” Para o professor Jairo, este diálogo deveria iniciar-se lá no início do
processo, quando se decide com que tipo de fonte se pretende trabalhar. De forma que, ao escolher o
material, o estudante se prepare, buscando dominar as técnicas necessárias para tirar o melhor proveito das
fontes.
A paleografia, declarou Jairo Machado, é um dos grandes entraves para quem deseja trabalhar com
documentação antiga. E para demonstrar a importância da paleografia para a história, foram apresentadas
imagens de alguns documentos. Durante a passagem dos slides o palestrante pontuou a importância
estratégica de São João del Rei como passagem obrigatória para quem chega ou para quem sai das Minas.
Tratando do termo paleografia, foi explicado que o termo grego palaios significa antigo e graphien
significa escrita. Desta forma a paleografia envolve todos os sistemas de escrita antigos e os tipos de suporte
nas quais se inscrevem.
Dando prosseguimento o palestrante lembro que no caso específico da documentação cartorária sob
a guarda do arquivo do IPHAN em São João del Rei, a quase totalidade está em suporte papel, sendo
importante ressaltar que o papel do século XVIII é de excelente qualidade, muito superior aos congêneres
utilizados nos séculos XIX e XX.
A PALEOGRAFIA NA PESQUISA HISTÓRICA
Jairo Braga Machado 3
Foram também mencionados alguns elementos constitutivos da escrita, como a direção dos traços, a
forma das letras, as ligaduras e o peso que se imprime ao material utilizado para escrever. Ou, em termos
técnicos conforme mostrado em um slide: morfologia, ângulo, ductus, módulos, ligaduras e nexus. O
palestrante destacou que quanto maior o grau de formação acadêmica dos produtores dos antigos
documentos, mais fácil é a leitura.
ÂNGULO
É a relação entre posição
do instrumento com que
se escreve com a linha
imaginária da escrita.
Segundo o Ductus, a escrita pode ser: Assentada (também
chamada Redonda ou Textual) ou cursiva.
Ligaduras são pequenos traços que unem partes de letras
próximas.
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Jairo Braga Machado 4
Nexus: é a união de duas ou mais letras por superposição ou
inclinação de uma letra em outra.
A plateia que acompanhou a comunicação de Jairo
Braga Machado ficou sabendo que há casos em que
estudantes resolvem mudar de tema ou de metodologia de
pesquisa quando se deparam com a dificuldade de ler os
documentos com os quais planejou trabalhar.
Ao “conversar” com os documentos expostos na tela,
o palestrante chamou a atenção para as diferenças existentes
entre os vários escritos, levando a crer que os autores tinham
diferentes níveis de domínio da arte da escrita.
Ao encerrar, o palestrante reiterou que a história de
Minas passa obrigatoriamente por São João del Rei e que a
documentação da Comarca do Rio das Mortes que se
encontra sob a guarda do IPHAN está disponível para consulta
pelos interessados.
BIBLIOGRAFIA
ANDRADE, Maria Cecília Jurado de. Paleografia. In: Eni de Mesquita Samara (org). Paleografia,
Documentação e Metodologia Histórica. São Paulo: Humanitas, 2010.
MENDES, Ubirajara Dolácio. Noções de Paleografia. 2 ed., São Paulo: Arquivo Público do Estado de São
Paulo, 2008.