A Paleografia na Pesquisa Histórica

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A PALEOGRAFIA NA PESQUISA HISTÓRICA Jairo Braga Machado 1 Jairo Braga Machado começou sua apresentação cumprimentando os organizadores pela organização de um evento que reúne tantos pesquisadores de variadas áreas do conhecimento. Em seguida explicou que falaria de um tema surgido de suas observações ao receber pessoas no arquivo do IPHAN em São João del Rei. Exemplificou com uma aluna da USP que visitou a instituição há poucos dias, com o objetivo de fazer um levantamento sobre a ocupação urbana da localidade. Foram-lhe indicados os inventários e explicado que o acervo conta com documentos cartoriais emitidos a partir de 1715 e até o final do século XX. Dada a dificuldade com a leitura dos documentos a aluna levantou a possibilidade de mudar o tema da pesquisa. Entretanto, alertou o palestrante, sem que se possa inculpar os pesquisadores pelo fato, a realidade é que muitos não se encontram preparados para lidar com os documentos por falta de domínio da leitura paleográfica. Sendo assim, diante de um exemplar do final do século XVIII, o pesquisador constata que não consegue ler o que ali está registrado. Nestas situações, Jairo Machado costuma fazer uma brincadeira com o interlocutor, dizendo que o início do contato com o documento é como um namoro. No primeiro encontro o pesquisador pode ficar vermelho e nervoso, mas ao longo do tempo vai se acalmando e adquirindo uma certa intimidade. Jairo Machado declarou não ser nenhum exagero afirmar que obrigatória e necessariamente a história de Minas passa pela Comarca do Rio das Mortes e, naturalmente, por São João del Rei como cabeça desta comarca. Acrescentou que grande parte da documentação encontra-se sob a guarda do Escritório Técnico do IPHAN na cidade.

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Comunicação de Jairo Braga Machado sobre Leitura Documental, realizada no dia 29 de junho de 2012 em Conselheiro Lafaiete, por ocasião do 3º Encontro de Pesquisadores do Caminho Novo. Transcrição: Nilza Cantoni. Revisão: Joana Capella.

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A PALEOGRAFIA NA PESQUISA HISTÓRICA

Jairo Braga Machado 1

Jairo Braga Machado começou sua apresentação cumprimentando os organizadores pela

organização de um evento que reúne tantos pesquisadores de variadas áreas do conhecimento. Em seguida

explicou que falaria de um tema surgido de suas observações ao receber pessoas no arquivo do IPHAN em

São João del Rei.

Exemplificou com uma aluna da USP que visitou a instituição há poucos dias, com o objetivo de fazer

um levantamento sobre a ocupação urbana da localidade. Foram-lhe indicados os inventários e explicado

que o acervo conta com documentos cartoriais emitidos a partir de 1715 e até o final do século XX. Dada a

dificuldade com a leitura dos documentos a aluna levantou a possibilidade de mudar o tema da pesquisa.

Entretanto, alertou o palestrante, sem que se possa inculpar os pesquisadores pelo fato, a realidade

é que muitos não se encontram preparados para lidar com os documentos por falta de domínio da leitura

paleográfica. Sendo assim, diante de um exemplar do final do século XVIII, o pesquisador constata que não

consegue ler o que ali está registrado. Nestas situações, Jairo Machado costuma fazer uma brincadeira com

o interlocutor, dizendo que o início do contato com o documento é como um namoro. No primeiro encontro

o pesquisador pode ficar vermelho e nervoso, mas ao longo do tempo vai se acalmando e adquirindo uma

certa intimidade.

Jairo Machado declarou não ser nenhum exagero afirmar que obrigatória e necessariamente a

história de Minas passa pela Comarca do Rio das Mortes e, naturalmente, por São João del Rei como cabeça

desta comarca. Acrescentou que grande parte da documentação encontra-se sob a guarda do Escritório

Técnico do IPHAN na cidade.

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Foi também, destacada a necessidade de questionar o documento. “Que trem é este aqui? Que

suporte documental é este? Que coisa é esta que está passando sob meus olhos? O que querem me

transmitir estes fragmentos da história?” Para o professor Jairo, este diálogo deveria iniciar-se lá no início do

processo, quando se decide com que tipo de fonte se pretende trabalhar. De forma que, ao escolher o

material, o estudante se prepare, buscando dominar as técnicas necessárias para tirar o melhor proveito das

fontes.

A paleografia, declarou Jairo Machado, é um dos grandes entraves para quem deseja trabalhar com

documentação antiga. E para demonstrar a importância da paleografia para a história, foram apresentadas

imagens de alguns documentos. Durante a passagem dos slides o palestrante pontuou a importância

estratégica de São João del Rei como passagem obrigatória para quem chega ou para quem sai das Minas.

Tratando do termo paleografia, foi explicado que o termo grego palaios significa antigo e graphien

significa escrita. Desta forma a paleografia envolve todos os sistemas de escrita antigos e os tipos de suporte

nas quais se inscrevem.

Dando prosseguimento o palestrante lembro que no caso específico da documentação cartorária sob

a guarda do arquivo do IPHAN em São João del Rei, a quase totalidade está em suporte papel, sendo

importante ressaltar que o papel do século XVIII é de excelente qualidade, muito superior aos congêneres

utilizados nos séculos XIX e XX.

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Foram também mencionados alguns elementos constitutivos da escrita, como a direção dos traços, a

forma das letras, as ligaduras e o peso que se imprime ao material utilizado para escrever. Ou, em termos

técnicos conforme mostrado em um slide: morfologia, ângulo, ductus, módulos, ligaduras e nexus. O

palestrante destacou que quanto maior o grau de formação acadêmica dos produtores dos antigos

documentos, mais fácil é a leitura.

ÂNGULO

É a relação entre posição

do instrumento com que

se escreve com a linha

imaginária da escrita.

Segundo o Ductus, a escrita pode ser: Assentada (também

chamada Redonda ou Textual) ou cursiva.

Ligaduras são pequenos traços que unem partes de letras

próximas.

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Nexus: é a união de duas ou mais letras por superposição ou

inclinação de uma letra em outra.

A plateia que acompanhou a comunicação de Jairo

Braga Machado ficou sabendo que há casos em que

estudantes resolvem mudar de tema ou de metodologia de

pesquisa quando se deparam com a dificuldade de ler os

documentos com os quais planejou trabalhar.

Ao “conversar” com os documentos expostos na tela,

o palestrante chamou a atenção para as diferenças existentes

entre os vários escritos, levando a crer que os autores tinham

diferentes níveis de domínio da arte da escrita.

Ao encerrar, o palestrante reiterou que a história de

Minas passa obrigatoriamente por São João del Rei e que a

documentação da Comarca do Rio das Mortes que se

encontra sob a guarda do IPHAN está disponível para consulta

pelos interessados.

BIBLIOGRAFIA

ANDRADE, Maria Cecília Jurado de. Paleografia. In: Eni de Mesquita Samara (org). Paleografia,

Documentação e Metodologia Histórica. São Paulo: Humanitas, 2010.

MENDES, Ubirajara Dolácio. Noções de Paleografia. 2 ed., São Paulo: Arquivo Público do Estado de São

Paulo, 2008.