A participação na celebração eucarística.pdf

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A participação na celebração eucarística Na continuação do estudo sobre a Introdução Geral do Missal Romano, debruçar-nos- emos agora sobre a estrutura da Missa, de modo a compreender as atitudes a que somos chamados a cuidar e cultivar, assim como a variedade dos ministérios aqui presentes. A Missa inicia-se com a reunião do Povo de Deus para celebrar o mistério pascal de Cristo, ou seja, o mistério da Sua morte e ressurreição, onde cada um de nós é participante mediante o baptismo. De facto, a Igreja não faz apenas mera recordação de algo que aconteceu há muitos anos. Não. Ela celebra a presença de Cristo no meio do seu povo, na força do Espírito Santo, a qual acontece mediante várias expressões: 1. na assembleia que é congregada em seu nome; 2. na pessoa do ministro que preside; 3. na proclamação e escuta da Palavra de Deus; 4. e de forma especial sob as espécies eucarísticas, ou seja o Corpo e Sangue de Cristo. Desta realidade central emerge que a celebração da Missa se encontra disposta em duas partes, as quais constituem um só de acto de culto. A primeira parte – liturgia da Palavra – tem um carácter sobretudo instrutório, em que o próprio Deus, mediante a Sua Palavra, fala aos homens como amigos (cf. Ex 33, 11); na segunda parte – liturgia eucarística – recebe-se o alimento eucarístico, para que tenhamos a vida de Cristo em nós (cf. Jo 6, 53). Cada um de nós participa na celebração, não na medida em que faz muitas coisas, mas sobretudo na intenção de querer receber a graça de Deus. Este dinamismo interior, ou participação interna, requer a preparação individual prévia, de modo a nos dispor para ouvir, estudar e sentir o que é proclamado em cada oração. Esta atitude interior motiva a participação consciente, activa e frutuosa (cf. Sacrossantum Concilium 11) e previne o ritualismo de uma participação vazia e superficial. Assim, estar-se-á muito longe de se ser como a folhagem seca que se desprende e cai da árvore, por esta não ter vigor e seiva interior (cf. Miguel Nicolau,  Introdução à Sacrossant um Concilium, Apostolado de Oração, p. 33). O sacerdote ocupa o lugar de presidente da celebração, pois representa – torna presente –, o próprio Cristo. A ele compete dirigir as orações em nome de todos os presentes, ou seja, de todos aqueles a quem Cristo ama. Assim, quando o sacerdote diz “Oremos”, abarca todos: ele e todo o povo; e pela boca de um falam todos, confirmando no final com o Amén, palavra que marca a presença de toda a comunidade (cf. Manuel Lourenço,  Introdução à Instrução De musica sacra e t sacra litur gia , Nouvellae Olivarum, 1958, p. 16). A participação é ainda reforçada nas orações comunitárias, mediante os diálogos, aclamações, e demais orações ao longo da celebração, manifestando a comunhão do corpo; inclui-se aqui o acto penitencial, glória, profissão de fé, oração dos fiéis e Pai- nosso (cf. IGMR, 37). Especial lugar ocupa o canto, o qual é sinal da alegria do coração, como referia Santo Agostinho. Este canto deve ter em conta a índole dos povos, seja na sua cultura musical, seja nas suas reais capacidades. Esta Instrução recomenda que não falte o canto nas

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  • A participao na celebrao eucarstica

    Na continuao do estudo sobre a Introduo Geral do Missal Romano, debruar-nos-

    emos agora sobre a estrutura da Missa, de modo a compreender as atitudes a que somos

    chamados a cuidar e cultivar, assim como a variedade dos ministrios aqui presentes.

    A Missa inicia-se com a reunio do Povo de Deus para celebrar o mistrio pascal de

    Cristo, ou seja, o mistrio da Sua morte e ressurreio, onde cada um de ns

    participante mediante o baptismo. De facto, a Igreja no faz apenas mera recordao de

    algo que aconteceu h muitos anos. No. Ela celebra a presena de Cristo no meio do

    seu povo, na fora do Esprito Santo, a qual acontece mediante vrias expresses:

    1. na assembleia que congregada em seu nome; 2. na pessoa do ministro que preside; 3. na proclamao e escuta da Palavra de Deus; 4. e de forma especial sob as espcies eucarsticas, ou seja o Corpo e Sangue de

    Cristo.

    Desta realidade central emerge que a celebrao da Missa se encontra disposta em duas

    partes, as quais constituem um s de acto de culto. A primeira parte liturgia da Palavra

    tem um carcter sobretudo instrutrio, em que o prprio Deus, mediante a Sua Palavra,

    fala aos homens como amigos (cf. Ex 33, 11); na segunda parte liturgia eucarstica

    recebe-se o alimento eucarstico, para que tenhamos a vida de Cristo em ns (cf. Jo 6,

    53).

    Cada um de ns participa na celebrao, no na medida em que faz muitas coisas, mas

    sobretudo na inteno de querer receber a graa de Deus. Este dinamismo interior, ou

    participao interna, requer a preparao individual prvia, de modo a nos dispor para

    ouvir, estudar e sentir o que proclamado em cada orao. Esta atitude interior motiva a

    participao consciente, activa e frutuosa (cf. Sacrossantum Concilium 11) e previne o

    ritualismo de uma participao vazia e superficial. Assim, estar-se- muito longe de se

    ser como a folhagem seca que se desprende e cai da rvore, por esta no ter vigor e

    seiva interior (cf. Miguel Nicolau, Introduo Sacrossantum Concilium, Apostolado

    de Orao, p. 33).

    O sacerdote ocupa o lugar de presidente da celebrao, pois representa torna presente

    , o prprio Cristo. A ele compete dirigir as oraes em nome de todos os presentes, ou

    seja, de todos aqueles a quem Cristo ama. Assim, quando o sacerdote diz Oremos,

    abarca todos: ele e todo o povo; e pela boca de um falam todos, confirmando no final

    com o Amn, palavra que marca a presena de toda a comunidade (cf. Manuel Loureno,

    Introduo Instruo De musica sacra et sacra liturgia, Nouvellae Olivarum, 1958, p.

    16).

    A participao ainda reforada nas oraes comunitrias, mediante os dilogos,

    aclamaes, e demais oraes ao longo da celebrao, manifestando a comunho do

    corpo; inclui-se aqui o acto penitencial, glria, profisso de f, orao dos fiis e Pai-

    nosso (cf. IGMR, 37).

    Especial lugar ocupa o canto, o qual sinal da alegria do corao, como referia Santo

    Agostinho. Este canto deve ter em conta a ndole dos povos, seja na sua cultura musical,

    seja nas suas reais capacidades. Esta Instruo recomenda que no falte o canto nas

  • missas de preceito e solenidade, e coloca em lugar especial o canto gregoriano e a

    msica sacra, salvaguardando que toda a msica usada na liturgia deve corresponder ao

    esprito da aco litrgica e favorecer a participao de todos. Aqui o coro ocupa um

    lugar relevante pois contribui para esta meta. De facto, a participao de todos no canto

    importante meio para adquirir um esprito litrgico, como se nota no efeito muito

    impressionante quando todos participam. Acima de tudo, convm que os fiis rezem e

    cantem em unio de pensamento e sentimento, ou sejam que vivam no corao aquilo

    que proclamam com a boca. Obviamente necessrio que a msica seja adequada

    celebrao litrgica, evitando todo o gnero musical que possa remeter para ambientes

    teatrais ou profanos.

    A par do canto, a Instruo valoriza igualmente os momentos de silncio. Este deve ser

    guardado em sinal de interioridade, e sobretudo nos momentos seguintes: acto

    penitencial e depois do convite orao: oremos; a seguir s leituras ou homilia;

    depois da comunho, para louvor e aco de graas, embora neste ltimo momento

    tambm se possa entoar um cntico que favorea a interioridade.

    A participao dos fiis manifesta-se ainda pelos vrios gestos e posies do corpo ao

    longo da celebrao p, sentados e ajoelhados. Esta multiplicidade de gestos pretende

    levar cada um a compreender a verdadeira significao de cada um das partes da missa,

    sendo que a mesma atitude comum dos fieis na celebrao manifesta de forma mais

    visvel a unidade e comunho dos fiis.

    A participao acontece ainda de forma especial mediante o exerccio dos ministrios

    especficos, em que cada um deve fazer tudo e somente o que lhe compete, como j se

    referiu. Entre estes deve-se salientar o do sacerdote que preside celebrao e ao

    dicono a quem compete proclamar o evangelho, pregar, enunciar a orao dos fiis,

    preparar o altar e distribuir a eucaristia. Ainda se devem referir os ministrios laicais

    no-institudos como so o caso dos leitores, aclitos e ministros extraordinrios da

    comunho, que desempenham tarefas importantes no contexto da celebrao eucarstica.

    O cultivo da participao consciente na liturgia de extrema importncia para a vida

    crist, na medida em que o fiel revestido do amor de Cristo, e que So Francisco de

    Assis assim expressava: Oh! grandeza admirvel, oh! condescendncia assombrosa, oh!

    humildade sublime, oh! sublimidade humilde, que o Senhor de todo o universo, Deus e

    Filho de Deus, se humilhe a ponto de se esconder, para nossa salvao, nas aparncias

    de um bocado de po. () Em concluso: nada de vs mesmos retenhais para vs, a fim

    de que totalmente vos possua aquele que totalmente a vs se d.