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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X A PERCEPÇÃO DE ALUNAS E PROFESSORAS SOBRE OS MICRO MACHISMOS NO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DA UFPEL Ana Paula Timm Krolow 1 Marcio Silva Rodrigues 2 Resumo: O termo micro machismo combina dois elementos: machismo como atitude ou comportamento de quem crê que o homem é socialmente superior à mulher; e a perspectiva foucaultiana de “micro” poder, referente às práticas discursivas capilares, quase "invisíveis". Assim, entende-se micro machismos como práticas e discursos naturalizados, baseados nos valores históricos de uma sociedade patriarcal, e reproduzidas em um determinado ambiente, que contribuem para a perpetuação da dominação masculina. Este estudo dá continuidade na busca por verificar a ocorrência destas práticas e analisá-las dentro do curso de Administração da Universidade Federal de Pelotas, com a justificativa de promover o debate sobre gênero no curso, e contribuir para os estudos críticos de gênero na área e sua influência na administração e no ensino superior. Questionários com perguntas iniciais sobre o tema foram feitos com todas as alunas e professoras encontradas, e depois foram coletados relatos voluntários livres sobre situações de machismos, afim de exemplificar as experiências vividas ou observadas por elas. Apesar de interseccionadas, para fins de análise, as práticas foram descritas e agrupadas em três categorias: a objetificação, a masculinização e a deslegitimação da mulher. Palavras-chave: Estudos de Gênero. Micro Machismo. Curso de Administração. Universidade Federal de Pelotas 1. Introdução O trabalho tem como objetivo geral analisar a presença de práticas de micro machismos no curso de Administração da UFPEL. Unindo a descrição adotada de machismo “atitude ou comportamento de quem não admite igualdade de direitos para o homem e a mulher” (Ferreira, 2004, p. 457) e a noção de “micro” estabelecida por Foucault (1979), que remete às práticas discursivas capilares, quase “invisíveis”, formou-se o título do trabalho com a expressão “Micro Machismos”. Esta expressão reflete com precisão as práticas investigadas no objeto de estudo selecionado, ações e discursos naturalizados reproduzidos em um determinado ambiente e que contribuem para a perpetuação da desvalorização da mulher. (Louro, 1995; Scott, 1989) A escolha da universidade tem dois motivos principais: a premissa de que a universidade deve ser um ambiente democrático, plural e acolhedor; e também, mais precisamente o curso de Administração, por estar diretamente relacionado com a formação de profissionais atuantes no 1 Graduanda em Psicologia pela Universidade Católica de Pelotas (UCPEL) e graduada em Administração pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Pelotas, Brasil. 2 Doutor em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e professor na Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Pelotas, Brasil.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

A PERCEPÇÃO DE ALUNAS E PROFESSORAS SOBRE OS MICRO

MACHISMOS NO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DA UFPEL

Ana Paula Timm Krolow1

Marcio Silva Rodrigues2

Resumo: O termo micro machismo combina dois elementos: machismo como atitude ou

comportamento de quem crê que o homem é socialmente superior à mulher; e a perspectiva

foucaultiana de “micro” poder, referente às práticas discursivas capilares, quase "invisíveis". Assim,

entende-se micro machismos como práticas e discursos naturalizados, baseados nos valores

históricos de uma sociedade patriarcal, e reproduzidas em um determinado ambiente, que

contribuem para a perpetuação da dominação masculina. Este estudo dá continuidade na busca por

verificar a ocorrência destas práticas e analisá-las dentro do curso de Administração da

Universidade Federal de Pelotas, com a justificativa de promover o debate sobre gênero no curso, e

contribuir para os estudos críticos de gênero na área e sua influência na administração e no ensino

superior. Questionários com perguntas iniciais sobre o tema foram feitos com todas as alunas e

professoras encontradas, e depois foram coletados relatos voluntários livres sobre situações de

machismos, afim de exemplificar as experiências vividas ou observadas por elas. Apesar de

interseccionadas, para fins de análise, as práticas foram descritas e agrupadas em três categorias: a

objetificação, a masculinização e a deslegitimação da mulher.

Palavras-chave: Estudos de Gênero. Micro Machismo. Curso de Administração. Universidade

Federal de Pelotas

1. Introdução

O trabalho tem como objetivo geral analisar a presença de práticas de micro machismos no

curso de Administração da UFPEL. Unindo a descrição adotada de machismo – “atitude ou

comportamento de quem não admite igualdade de direitos para o homem e a mulher” (Ferreira,

2004, p. 457) – e a noção de “micro” estabelecida por Foucault (1979), que remete às práticas

discursivas capilares, quase “invisíveis”, formou-se o título do trabalho com a expressão “Micro

Machismos”. Esta expressão reflete com precisão as práticas investigadas no objeto de estudo

selecionado, ações e discursos naturalizados reproduzidos em um determinado ambiente e que

contribuem para a perpetuação da desvalorização da mulher. (Louro, 1995; Scott, 1989)

A escolha da universidade tem dois motivos principais: a premissa de que a universidade

deve ser um ambiente democrático, plural e acolhedor; e também, mais precisamente o curso de

Administração, por estar diretamente relacionado com a formação de profissionais atuantes no

1 Graduanda em Psicologia pela Universidade Católica de Pelotas (UCPEL) e graduada em Administração pela

Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Pelotas, Brasil. 2 Doutor em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e professor na Universidade Federal

de Pelotas (UFPEL), Pelotas, Brasil.

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mercado de trabalho e nas empresas, instituição que também tem grande influência no modo de

organização da sociedade como um todo.

Posto isso, a estrutura do trabalho consiste nessa primeira introdução sobre os objetivos do

estudo e justificativas pertinentes, em seguida um apanhado teórico sobre os temas abordados, uma

breve descrição da metodologia utilizada na pesquisa, seguido da análise dos dados coletados

juntamente com as alunas e professoras do curso, e, por fim, uma sessão dedicada às considerações

finais do trabalho realizado.

2. Alguns apontamentos teóricos

2.1 Gênero e Feminismo

As desigualdades de gênero que persistem em existir na sociedade são fruto de um processo

histórico de práticas assimétricas de poder. A cultura masculinizada, visivelmente transposta a

diversas esferas sociais, tem sua origem e perpetua-se através de uma sociedade patriarcal e de um

discurso machista. O patriarcado é considerado um dos mais antigos sistemas de opressão (Scott,

1989) e, em suma, pode ser definido como o modo de organização social onde há preponderância

masculina, quando a autoridade é exercida pelos homens, remetendo da figura do patriarca, cuja

função era ser o chefe da família.

Sob a ótica dos estudos feministas, gênero não é apenas uma diferenciação gramatical ou

essencialmente biológica, mas sim uma forma de “referir-se à organização social da relação entre os

sexos” (Scott, 1989) e, além disso, resultado da construção social das características atribuídas a

cada um, e da dicotomia inserida na relação entre eles. Em um texto que sistematiza os estudos de

gênero ao longo do tempo, Joan Scott (1989) insere-o como categoria de análise histórica, e explana

e critica os diversos estudos que buscavam analisar as desigualdades, no decorrer das fases do

feminismo.

O movimento feminista pode ser didaticamente dividido em três fases. Sobre a primeira

onda, pode-se dizer que representa o movimento sufragista pela igualdade de direitos civis, situado

principalmente na Inglaterra, França e Estados Unidos. Foi a fase responsável pela bandeira do

direito ao voto e pela denúncia das imposições por parte do patriarcado (Scott, 1989; Narvaz,

Koller, 2006). A segunda onda, década de 1960, é conhecida como “feminismo da igualdade”,

sendo uma fase marcada pelas problematizações envolvendo o “ser mulher”, apresentando a quebra

entre o sexo biológico e gênero, representada pela frase emblemática: “Ninguém nasce mulher,

torna-se” (Beauvoir, 1980, p. 9). Já a terceira onda feminista, pós década de 1980, recebe influência

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da crítica pós-modernista, e abre o debate do “feminismo da diferença” (Butler, 2003; Narvaz,

Koller, 2006; Louro, 1995). Nessa fase é evidenciado o quanto o discurso generalista é, na verdade,

excludente, ignorando os recortes de classe, raça, e outras especificidades envolvendo o feminino.

2.2 Estudos de Gênero e as Organizações

Conectando os estudos feministas de gênero com o campo dos estudos organizacionais, é

possível citar Simone de Beauvoir quando fala que

Economicamente, homens e mulheres constituem como que duas castas; em igualdade de

condições, os primeiros têm situações mais vantajosas, salários mais altos, maiores

possibilidades de êxito que suas concorrentes recém chegadas. Ocupam na indústria, na

política etc., maior número de lugares e os postos mais importantes. (BEAUVOIR, 1980,

p.14-15)

Passaram-se 67 anos desde a primeira publicação de O Segundo Sexo e, apesar de diversas

conquistas femininas a afirmação de Beauvoir ainda é verdadeira. Por mais que as mulheres tenham

se inserido no ambiente do trabalho, conquistado direitos trabalhistas, e a maioria das organizações

pregue o discurso da igualdade, ainda existem evidência claras de desigualdade na sua participação

(Cramer, Neto, Silva, 2002).

O relatório chamado “Women in business and management: gaining momentum”, publicado

pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 2015, mostra os resultados de estudos feitos

em empresas de 80 países. Segundo essa pesquisa, apenas 5% das empresas estudadas tem cargos

de alta gerência ocupados por mulheres, e 30% delas sequer tem alguma presença feminina nos seus

conselhos. Um outro relatório da OIT, realizado com empresas do Brasil, Argentina, Chile e

México aponta a diferença salarial entre homens e mulheres. De acordo com os dados, no Brasil

essa disparidade para quem trabalha 40 horas semanais é de 20,32%, ou seja, caso homens e

mulheres trabalhem iguais 365 dias por ano, elas recebem por apenas 291 deles (Abramo, 2015).

Esses números corroboram a ideia de que a precarização do trabalho atinge as mulheres em

maior grau do que aos homens. Hirata (2009) aborda a situação das mulheres no trabalho

assalariado contemporâneo, que conquistaram uma maior autonomia na vida pessoal devido a

inserção no mercado de trabalho, porém representam “uma minoria significativa de empregos

executivos e de profissões intelectuais superiores, embora sejam, ao mesmo tempo,

majoritariamente mais vulneráveis e menos legítimas que os homens no espaço profissional”

(Hirata, Kergoat, 2007, p. 29).

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Outro assunto debatido pela autora é a divisão sexual do trabalho, que analisa a distribuição

dos postos de trabalho entre homens e mulheres e a divisão desigual do trabalho doméstico (Hirata,

2009). Em relação ao trabalho doméstico, Hirata busca reconhecer na esfera pública o trabalho

realizado pelas mulheres na esfera privada, pois apesar de haver uma busca por um “modelo de

conciliação”, esse modelo falha quando, ao conseguir melhores posições no trabalho, a mulher é

forçada ao “abandono” das atividades familiares, repassando-as a outras mulheres. Já sobre a

distribuição dos postos de trabalho, a autora traz que há “uma designação prioritária dos homens à

esfera produtiva e das mulheres à esfera reprodutiva” (Hirata, 2009, p. 299) que ocasiona numa

apropriação masculina das funções de maior valor social, guiada por dois objetivos principais: “o

princípio da separação (existem trabalhos de homens e de mulheres) e o princípio hierárquico (um

trabalho de homem “vale” mais que um trabalho de mulher) (Hirata, 2009, p. 299).

A divisão sexual do trabalho reforça os espaços generificados, ou seja, ambientes

atravessados pelas relações e desigualdades de gênero (Cramer, Neto, Silva, 2002), dentre eles as

universidades. Scott (1989) defende que o gênero é construído e disseminado através do

patriarcado, porém não unicamente por ele, é também representado na economia, na organização

política, por exemplo, e também pode ser transposto para a universidade. Embora maioria no ensino

básico, as mulheres custaram a se inserir como professoras e ainda enfrentam inúmeras dificuldades

e resistências no ensino superior, como mostram diversos estudos realizados (Cramer, Neto, Silva,

2002; Furlin, 2015).

No ensino básico há uma relação da docência com uma relação de afeto, ou seja, são

atribuídas características maternais (Cramer, Neto, Silva, 2002; Louro, 1995). Já no ensino superior

o ato de ensinar está ligado a uma identificação profissional, tornando mais difícil para as mulheres

se inserirem em áreas tidas como masculinas. Observando a “identificação profissional” por outro

ponto de vista, ela pode ser considerada também como um “processo produtor de identidade para os

alunos” (Cramer, Neto, Silva, 2002, p. 26), influenciando nos valores desses alunos como

profissionais. Estas constatações justificam a escolha da universidade como objeto de estudo, posto

que além de local de trabalho, é também local de formação de sujeitos e profissionais, e,

especificamente o curso de Administração, com grande atuação nas organizações que perpetuam

estas condições de trabalho.

Tais segregações de gênero permanecem “naturais” mesmo após décadas de estudos

feministas desmistificando as diferenças biológicas e psíquicas e lutas dos movimentos sociais, e a

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explicação para isto está relacionada com outra característica que Joan Scott atribui ao conceito de

gênero, quando o classifica como uma forma primária de significar relações de poder (Scott, 1989).

2.3 Gênero e Poder

Joan Scott apresenta um ponto de vista essencial para compreender a dinâmica entre o

machismo e as relações de poder, e consequentemente as relações de trabalho, substituindo a noção

de poder como algo único e centralizado por “alguma coisa que esteja mais próxima do conceito

foucaultiano de poder” (Scott, 1989, p. 20), autor amplamente utilizado nos estudos de gênero.

Foucault (1979) com o conceito de microfísica do poder, contrasta as ideias tradicionais e a

concepção de que o poder está detido em uma estrutura central que o dissemina em direção única, e

defende que ele é descentralizado, dissipado em diversas direções, e inserido em todas as relações

de forma sutil, agindo como mecanismo de manutenção de uma rede, como um conjunto de práticas

sociais e discursos que, disciplinam os indivíduos e grupos, dando ênfase no modo como ocorre a

dominação e a subordinação (Louro, 1999). É desta forma que este conceito de poder desqualifica a

polarização que coloca em oposição do dominante e o dominado, ou o masculino e o feminino.

Através desta análise, é possível afirmar que o machismo é a prática, ou dispositivo

discursivo, que está incorporado em todas as dinâmicas e relações, que legitima a desvalorização da

mulher e torna “verdade” os valores que constroem e são construídos pela sociedade patriarcal.

Ainda sobre esta construção, Foucault ilustra:

A verdade é deste mundo; ela é produzida nele graças a múltiplas coerções e nele produz

efeitos regulamentados de poder. Cada sociedade tem seu regime de verdade, sua “política

geral” de verdade: isto é, os tipos de discurso que ela acolhe e faz funcionar como

verdadeiros; os mecanismos e as instâncias que permitem distinguir os enunciados

verdadeiros dos falsos, a maneira como se sanciona uns e outros; as técnicas e os

procedimentos que são valorizados para a obtenção da verdade; o estatuto daqueles que têm o

encargo de dizer o que funciona como verdadeiro. (FOUCAULT, 1979, p.12)

Outro aspecto abordado por Foucault é a ideia de que o poder não é apenas negativo e

coercitivo, mas também produtivo e positivo (Louro, 1995). Estas micro práticas não apenas coíbem

e proíbem, mas também acabam por produzir sujeitos, incitando comportamentos “aceitáveis”, e

diminuindo a força política individual. Considera-se, então, o machismo como uma construção

discursiva mantida por micro práticas, ou seja, ações corriqueiras ou quase imperceptíveis que, em

conjunto com outras, acabam formando uma relação de dominação. Esta dominação resulta em

ideias, discursos, comportamentos inseridos muito profundamente em toda a sociedade, incluindo

também a esfera econômica, as relações de trabalho, e as instituições educacionais.

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3. Metodologia

O estudo buscou verificar tanto a existência das práticas dos micro machismos quanto, se

existentes, descrevê-las, portanto optou-se por realizar um estudo com duas etapas, com a aplicação

de questionários e entrevistas posteriores. Os questionários foram necessários para obter um

panorama geral e facilitar a abordagem para a segunda etapa do trabalho. As questões inicialmente

feitas pretendiam exemplificar as práticas machistas mais comuns dentro das universidades, e foram

elaboradas com base nos conceitos de gênero de Scott (1995), de naturalização de Beauvoir (1980),

e nas práticas vividas em sala de aula pelos autores. No período estudado o curso de Administração

da UFPEL contava com um total de 490 alunos matriculados, entretanto algumas dificuldades como

ausência nas aulas ou recusa a responder impossibilitaram que todas as mulheres fossem acessadas,

resultando num total 98 alunas e 6 professoras respondendo aos questionários.

Também foi interesse do trabalho dar voz às mulheres, e assim descrever como ocorrem

estes micro machismos. Sendo assim, foram ouvidas 4 alunas e 2 professoras do curso, que

prestaram depoimentos voluntários relatando situações vividas ou presenciadas. As entrevistas não

continham um roteiro pré-determinado, pois a ideia era levantar manifestações espontâneas, que

retratassem as vivências sob a perspectiva de quem as vivenciou. Após o período de coleta de

dados, os resultados dos questionários foram tabulados, as entrevistas transcritas, e ambos

analisados e interpretados.

Afim de facilitar a análise dos dados, as informações reunidas foram organizadas e

agrupadas em três categorias de análise construídas para o estudo, sendo elas a objetificação,

deslegitimação e a masculinização da mulher. A teorização acerca destas categorias foi feita

juntamente com a descrição e reflexão dos dados obtidos. Em conjunto com as informações

levantadas, é importante ressaltar que os autores estão inseridos no ambiente do curso, sendo um

professor homem (observador das ocorrências) e uma aluna mulher, que além de observadora é

também, em alguns casos, vítima deste processo e, portanto, estes papeis ajudam a enriquecer as

informações coletadas.

4. Análise de Dados

O presente estudo trata-se de um trabalho essencialmente empírico, e se propõe a descrever

e analisar a ocorrência do fenômeno dos micro machismos, e não o fenômeno em si. Assim

justifica-se a ausência de um capítulo à parte de teorização das categorias, pois a mesma se dará ao

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longo da própria análise, tornando o trabalho mais fluido e colocando em evidência os dados

coletados.

Apesar de fortemente interseccionadas, as práticas presentes nos questionários e relatos

foram agrupadas em três categorias principais de práticas de micro machismos, buscando facilitar a

compreensão, sendo elas: a objetificação, a deslegitimação e a masculinização.

4.1 Objetificação

A objetificação da mulher consiste no ato sexista de tratar a mulher como um objeto,

podendo assim observá-la e julgá-la como bem entender, e está diretamente ligado ao estereótipo da

“mulher ideal” (Beauvoir, 1980) e à masculinização imposta nos ambientes generificados (Cramer,

Neto, Silva, 2002), abordados nas outras categorias. A prática foi investigada na primeira pergunta

do questionário e nas entrevistas.

Esta categoria procura explicitar situações onde as alunas e professoras possam ter se

sentido repreendidas quanto ao jeito de se portar e expressar – tanto verbalmente quanto em relação

as vestimentas, fortalecendo a ideia de que existe uma forma “correta” de o fazer. Feita a pergunta,

aproximadamente 62% das alunas e todas as professoras afirmaram terem sofrido olhares ou

comentários constrangedores. Em seguida foi indagado quem realizou tal ação ou comentário, e

pode-se concluir que as práticas são rotineiras entre os alunos do curso, pois 75% das alunas

afirmaram já ter sofrido algum tipo de repressão por alunos, e 45% por alunas. O depoimento da

Aluna 4 exemplifica a atitude em sala de aula por parte de colegas: “[...] lembro de uma vez que um

colega me falou que meu short estava muito curto, e eu não sei o que se passou na cabeça dele

para fazer um comentário desses”. Das 6 professoras participantes, 4 também afirmaram terem se

sentido constrangidas com comentários ou olhares dos alunos, e na sua fala a Professora 1 comenta

que busca se vestir da forma mais “séria” possível, afim de evitar estas situações.

Também é elevado o número de mulheres constrangidas por professores, pois cerca de 28%

das alunas e todas as 6 professoras marcaram esta opção. Em sua fala, a Aluna 3 relata uma

experiência própria, quando se incomodou com olhares de um professor durante uma aula. A aluna

vestia o uniforme de trabalho, e o professor a observava tão insistentemente que outros colegas

notaram. Ela ainda comentou que tentou amenizar a situação “[...] eu fechei (a camisa), puxei os

cabelos para frente, para dar uma disfarçada, e ele seguiu olhando”. A Aluna 2, que presenciou

este mesmo ato, falou que a situação é recorrente por parte desde professor, e ainda complementa

dizendo que se sente “abusada pela maneira como ele nos olha, como se a gente pudesse ser um

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objeto, sabe? É horrível! ”. Justamente pelas sucessivas repetições, cenas assim acabam se

naturalizando e passam a ser práticas comuns, como pode ser ilustrado na fala da Aluna 2: “[...] e

não é porque a gente não percebeu, é porque a gente aceita né, aquilo é natural pra gente já, então

a gente aceita e lembra só dos casos mais gritantes”. O depoimento da Professora 2 também aponta

que devido as diversas situações machistas vivenciadas, “é mais fácil lembrar das que machucaram

mais”.

4.2 Deslegitimação

Outro modo de desvalorizar a mulher é diminuir a sua importância, seja desconsiderando

suas opiniões, desmerecendo sua capacidade, ou até mesmo privando-a do seu espaço de fala. Esta

tende a ser a mais “sutil” das práticas abordadas no trabalho, devido ao seu grau de naturalização.

Hirata (2009) levanta o debate sobre o questionamento das competências profissionais das

mulheres, a autora traz que é socialmente aceito e naturalizado a ideia que “os homens possuem

qualificações, as mulheres apenas ‘qualidades’ consideradas naturais, inatas, na medida que não

foram adquiridas pela formação profissional” (Hirata, 2009, p. 32).

Esse questionamento dos conhecimentos das mulheres é fortemente presente na fala das

duas professoras entrevistadas, ambas sentiram a necessidade de “se provar” perante os colegas de

trabalho, e foram diretamente questionadas por alguns alunos. A Professora 1 comenta que logo ao

iniciar as atividades no curso foi chamada para substituir um professor em uma aula, e nesse

episódio um aluno “começou a fazer algumas perguntas sobre a matéria, não necessariamente

sobre aquela aula, mas como se quisesse mais ou menos testar a minha opinião, ou o meu

conhecimento [...]. Esse aluno abriu um livro na minha frente, começou a ler na minha frente e

fazer questionamentos”, ela ainda complementa dizendo: “Eu não sei se ele agiria da mesma forma

se fosse na aula de um professor homem ou antigo no curso”. Quando a professora em foi comentar

o episódio com outas colegas, ouviu que esse aluno já havia feito o mesmo com outras professoras,

mas nunca com professores. A Professora 2 relatou episódios de resistência ao tentar abordar

questões de gênero e diversidade nas aulas, chegando a ouvir que “esses assuntos não são ligados

às disciplinas do curso”.

Na pergunta do questionário referente à categoria, 50% das professoras e 31% das alunas

afirmaram terem se sentido humilhadas em sala de aula. A Aluna 1 conta que é vítima frequente de

ações deste tipo, e relata que os próprios colegas, homens e mulheres, já desconsideram suas

opiniões quando tenta argumentar com os professores. No depoimento desta aluna observa-se a

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atribuição dos espaços femininos e masculinos, mesmo dentro dos conteúdos acadêmicos. A aluna

conta que “em algo específico de alguma matéria, como marketing ou finanças, eles nos contestam

porque eles acham que uma mulher está falando não tem credibilidade, sabe? Então nem se

prestam a pesquisar, mas eles já vão lá e cortam o que tu está falando”. Beauvoir (1980) afirma

que a sociedade pode iludir-se que não existe mais hierarquia social entre os sexos, porém, a

determinadas inferioridades, principalmente a incapacidade profissional, atribui à natureza, as

causas biológicas. Atitudes como esta citada pela aluna reforçam a delimitação do papel das

mulheres tanto na sala de aula como na sociedade em geral, como consta na fala da Aluna 4, que

ouviu um professor comentar que “a faculdade está mal administrada porque tem mulheres

desempenhando esta atividade”.

Outra forma, ainda mais constrangedora, de expor esta suposta incapacidade feminina é

justamente, incitá-la ao mesmo tempo que incentiva o comportamento oposto, que enaltece a

“superioridade masculina”. A Aluna 2 menciona uma prática recorrente de um professor, que,

segundo ela, claramente faz perguntas mais difíceis direcionadas as mulheres, e sem dar o tempo

necessário de resposta fala “ah, se tu não sabes responder vou perguntar para o fulano”, dando a

chance dos alunos então responderem à pergunta.

4.3 Masculinização

É perceptível na sociedade que as profissões mais tradicionais, as que possuem um maior

prestígio, são profissões que tem origem masculina, e que até hoje são ocupadas

predominantemente por homens (Beauvor, 1980; Chies, 2010). Imputar às mulheres características

como a fragilidade, o cuidado, a responsabilidade pelo lar, por exemplo, e exclui-las de

determinadas profissões é consequência disso. Tudo isso está ligado idealização também da família,

onde a mulher é estigmatizada, e essa concepção costuma ser transposta as organizações (Fonseca,

2000).

Entretanto é preciso compreender que, assim como a feminilidade, a masculinidade é

socialmente construída, e embora afete diretamente os homens, “atinge também as mulheres,

sobretudo no trabalho [...], costumeiramente marcada pela diferença em relação ao homem” (Eccel,

Grisci, 2011, p. 62), e atuam como regime de verdade, produzindo e afetando os estilos de vida.

Essas noções do masculino se misturam com a concepção de trabalho, e impõe certas características

marcadas pelo paternalismo aos ambientes, e para sobreviverem nesse meio, as mulheres devem se

adaptar ao desafio de se aproximar do modelo masculino (Eccel, Grisci, 2011).

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No questionário realizado, 77% das alunas e 84% das professoras afirmaram já terem ouvido

algum comentário em sala de aula que promovesse o estereótipo machista da “mulher ideal”, sendo,

novamente, a maioria desses realizados por alunos (81%) e professores (66%) homens. É possível

identificar atribuição de papeis e comportamentos às mulheres também nos depoimentos. É

constante a atribuição do trabalho doméstico exclusivamente às mulheres, como sugere Hirata

(2009), e percebida na fala da Aluna 3, que relata que um professor instrui que as propagandas

relativas a produtos de limpeza devem ser direcionadas as mulheres, já que “os homens não chegam

nem perto disso, então não entendem”. A Aluna 2 expõe que em uma aula em que a turma

conversava bastante no geral, um professor se incomodou e pediu para duas alunas se retirarem da

sala, completando com a frase “vão para casa ver novela”, imprimindo a ideia de que o lugar das

alunas não é na sala de aula. A aluna complementa falando que “ele não diria isso se fossem

meninos”.

Uma outra face da masculinização é a, já citada, generificação do ambiente, ou seja,

dificuldades enfrentadas unicamente pelo fato de ser mulher, ou então comportamentos ligados a

masculinidade impostos como condição de aceitação. Ambas as professoras entrevistadas passaram

por situações constrangedoras envolvendo um mesmo fator: A gestação. A Professora 1 relata que

ao ser chamada na UFPEL estava grávida, e por diversos setores da universidade em que passou,

sentia-se pressionada, diz que: “é como se eu estivesse fazendo algo errado, sentia que me olhavam

e pensavam ‘entrando agora e já grávida?’”. Já a Professora 2 conta que teve dificuldades dentro

do próprio departamento, com mulheres ocupando os cargos superiores, de ter direito a licença

maternidade juntamente com o período de férias. As duas professoras também trouxeram em suas

falas o sentimento que, após o período de licença, deveriam trabalhar mais que os outros colegas,

como forma de compensação pelo afastamento. Ainda sobre a questão da licença maternidade, a

Aluna 1 presenciou um professor afirmar durante uma aula que o direito é um absurdo, e que “se a

tu tem filhos o problema é teu”, excluindo totalmente o papel do homem na criação dos filhos.

Através da análise dos dados, também fica clara a ideia passada no curso da figura de um

administrador “ideal”, como exemplifica a Aluna 3: “o perfil do administrador é óbvio, é um

homem de terno, gravata e pastinha na mão, esse é o cara que tem sucesso, o restante dos alunos

vão ser assistentes administrativos, auxiliares, e que se conformem com isso”. A mudança imposta

no comportamento das mulheres já começa dentro da universidade, como as roupas utilizadas na

apresentação de trabalhos, ou então quando são aconselhadas a “não dar ataques de mulherzinha

para ser minimamente respeitada”, como define a Aluna 2.

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5. Considerações Finais

O presente trabalho tinha como objetivo principal analisar a presença destes micro machismos

dentro do curso de Administração da UFPEL. Devido as vivências dos autores, a presença das

práticas machistas era um fato conhecido, entretanto, através da pesquisa, foi possível minimamente

desvendar as representações das relações de gênero construídas no espaço da universidade em

questão, cumprindo com o objetivo de proporcionar um conhecimento do tema que possibilite um

diálogo futuro no curso. Destrinchando este objetivo, pretendia também definir esta ideia de micro

machismo e o que representa, definir algumas práticas que constituem os micro machismos, e

verificando a percepção das alunas e professoras sobre o tema.

Através dos dados coletados por meio dos questionários e depoimentos, foi possível constatar

que as três práticas investigadas ocorrem no ambiente do curso, inclusive de maneiras não tão sutis.

Há exemplos de promoção da figura estereotipada da mulher ideal nos exemplos em sala de aula, de

constrangimentos sofridos por alunas e professoras quanto à forma de se expressar, direitos

conquistados (como a licença maternidade) aparentemente aceitos, entretanto informalmente

violados, ou então de situações em que tiveram suas habilidades e conhecimento questionados e

postos à prova. Esses e os demais exemplos levam a conclusão de que a diferenciação de gênero

está enraizada nos mais diversos ambientes, e a universidade, mais especificamente o curso de

Administração da UFPEL é um deles, se assimilando aos resultados encontrados em outros estudos

similares.

Duas características importantes foram ressaltadas pelo estudo. A primeira é que, embora a

maior parte das ações e comentários – especialmente os mais graves, sejam feitos por homens, há

também um reforço desse discurso por parte das mulheres, uma manutenção das estruturas vigentes,

o que comprova a noção de poder apresentada por Foucault (1979) da prática discursiva

descentralizada, que aplicada aos estudos de gênero, permite a compreensão do machismo como o

conjunto de discursos incorporado em todas as dinâmicas e relações. A segunda, consequência

direta da primeira, é que, ao disciplinar os indivíduos (Louro, 1995), esse discurso legitima as

práticas machistas no ambiente estudado, resultando na liberdade dos professores e alunos de

realizarem tais falas, e no sentimento de impotência das mulheres que são vítimas ou presenciam

esses momentos.

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The Perception of Female Students and Teachers about the Micro Sexisms in the

Administration Course at UFPEL

Astract: The term “micro sexism” combines two elements: sexism as attitude or behavior of who

believes that man are socially superior to woman; and the foucaultian perspective of micro power,

which refers to capillary discursive practices, almost “invisible”. Thus, it is possible to understand

micro sexisms as discourses and practices naturalized, based on the historical values of a patriarchal

society, and reproduced in a certain place, which contributes with the maintenance of male

dominance. This study keeps aiming to verify the occurrence of this behavior and analyze them

inside the Administration course in the Federal University of Pelotas, justified by the attempt to

promote the gender debate inside of it, and contribute to the critical gender studies and its influence

on management ground and higher education. Questionnaires with basic questions on the topic were

made with all female students and teachers reached, and then spontaneous narrative descriptions of

sexist situations were collected, in order to exemplify the experiences lived or seen by them.

Despite being intersected, for analytical purposes, the practices were grouped and described in three

categories: objectification, masculinization and delegitimation.

Keywords: Gender Studies. Micro Sexism. Administration Course. Federal University of Pelotas.