A PERSEPÇÃO DO DESENHO INFANTIL: Como pensar o desenho infantil?

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1 A PERSEPÇÃO DO DESENHO INFANTIL: Como pensar o desenho infantil? JULIAN SILVA COELHO Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo E-mail: [email protected]

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Sabe-se que desenhos, manchas e traçados são formas desenvolvidas pelo ser humano, para comunicarem-se uns com os outros.Para os pequeninos, a intenção de seus desenhos e rabiscos é a de transmitir algo, já que ao desenvolver suas capacidades, ele descobre nas tintas e lápis coloridos a possibilidade de demonstrar suas idéias bem como suas descobertas diárias.A idéia principal deste estudo é demonstrar como que grandes artistas como Kadinsky, Paul Klee e Pablo Picasso, abordam o pensamento infantil em relação a sua produção artística e o que isso representa aos olhos atentos e curiosos de uma criança, ao se deparar diante do mundo das cores, concretizando através de seus rabiscos e borrões seus pensamentos e seu universo interior. Este estudo foi elaborado através de pesquisa bibliográfica e desenvolvido com base em material publicado em livros e redes eletrônicas, isto é, material acessível ao público em geral. Julian Silva Coelho - Arte educador

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A PERSEPÇÃO DO DESENHO INFANTIL: Como pensar o desenho infantil?

JULIAN SILVA COELHO

Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo E-mail: [email protected]

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A PERSEPÇÃO DO DESENHO INFANTIL: Como pensar o desenho infantil?

JULIAN SILVA COELHO Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo

E-mail: [email protected]

INTRODUÇÃO

Sabe-se que desenhos, manchas e traçados são formas desenvolvidas pelo ser

humano, para comunicarem-se uns com os outros.

Para os pequeninos, a intenção de seus desenhos e rabiscos é a de transmitir algo, já

que ao desenvolver suas capacidades, ele descobre nas tintas e lápis coloridos a possibilidade

de demonstrar suas idéias bem como suas descobertas diárias.

A idéia principal deste estudo é demonstrar como que grandes artistas como Kadinsky,

Paul Klee e Pablo Picasso, abordam o pensamento infantil em relação a sua produção artística

e o que isso representa aos olhos atentos e curiosos de uma criança, ao se deparar diante do

mundo das cores, concretizando através de seus rabiscos e borrões seus pensamentos e seu

universo interior.

Este estudo foi elaborado através de pesquisa bibliográfica e desenvolvido com base em

material publicado em livros e redes eletrônicas, isto é, material acessível ao público em geral.

DESENVOLVIMENTO

1.1 Primeiros caminhos para pensar o desenho infantil: a contribuição dos artistas e

pesquisadores modernistas

Deixar expresso pensamentos, marcas e desejos, é buscado desde os primórdios, pois

nós, seres humanos, sempre buscamos deixar para os próximos a nossa história,

demonstrando nossos anseios e pensamentos.

A capacidade de desenhar faz parte do ser humano, contudo, como nenhuma pessoa

nasce sabendo falar, ler e escrever; o desenho também é uma capacidade que se estabelece a

partir de inúmeras experiências que esse indivíduo vivencia.

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Em uma breve pesquisa encontramos no mundo dos arte-educadores grandes nomes

que se aprofundaram na questão do desenho infantil, onde fala da criança artista e suas

descobertas, como Kandinsky, Klee e Picasso.

1.2 O pensamento de Kandisky e sua relação com a produção da criança

Segundo Coutinho1, Kandinsky usou desenhos infantis em sua pesquisa estética como

fonte para um vocabulário visual, tanto em relação a construção de imagens como nas soluções

espaciais. Para o artista os princípios estilísticos do grafismo da criança representavam a

possibilidade de uma linguagem visual universal.

Inicialmente, a percepção da criança, nada mais é do que constituída através de

manchas; manchas que de alguma forma irão traçar o caminho de suas linhas, e a partir dessas

linhas surgirá à representação em formas de sua idealização.

Certo é que para os pequeninos, nem sempre a intenção de seus desenhos e rabiscos é

a de transmitir algo, já que ao desenvolver suas capacidades, eles descobrem nas tintas e lápis

coloridos a possibilidade de demonstrar suas ideias e vivências.

Kandinsky se propôs a reproduzir experimentalmente o primeiro contato do ser humano

com um mundo do qual não se sabe nada, nem sequer se é habitável. É apenas algo diferente

de si: uma extensão ilimitada, ainda não organizada como espaço, cheia de coisas que ainda

não tem lugar, forma ou nome.

A partir do momento em que é oferecido uma folha de sulfite a criança, ela se depara

com um mundo em branco, aonde ela pode concretizar tudo o que tem em sua mente, tudo que

ela vê no seu cotidiano, como por exemplo o sol, que ela vê todo dia, variando assim o formato,

pois ela não tem concretizada sua forma, sendo muitas vezes desenhado com rosto, braços,

sorrindo, etc.

Assim também, pode se observar o desenho de sua casa; muitas vezes sendo

desenhada como um simples quadrado, pois mesmo conhecendo sua casa, ela não sabe como

representá-la nitidamente, esquecendo portas, telhados e janelas.

Com o passar dos anos, essas impressões infantis feitas através das tintas e lápis

começam a ser feitas com uma intenção, sendo que a criança passa a desejar que os outros a

compreenda, tendo alguma forma de aceitaçã

1 Considerações sobre a construção do ideário da Arte Infantil Rejane Galvão Coutinho

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Essa percepção de detalhes muitas vezes a criança começa a ter, olhando o desenho

de seus colegas, imitando-os; ou quando lhe é mostrado por um adulto orientador, sendo

demasiadamente importantes os laços afetivos e aceitação dos desenhos pelos adultos,

independente de suas preferências, para acolher e incentivar a percepção criativa dos

pequeninos.

“A composição que se baseia nessa harmonia é um acordo de formas coloridas e desenhadas que, como tais, têm uma existência independente, procedente da necessidade Interior, e constitui na comunidade que daí resulta, um todo chamado quadro.” (KANDINSKY, 1990, p. 104)

Kandinsky não se propõe demonstrar que da mesma forma que a criança vê o mundo e

assim o representa, o que seria insensato; o que se propõe é analisar, no comportamento da

criança, a origem, a estrutura primária da operação estética.

Ao trabalhar com diferentes linguagens da arte, as crianças acabam desconstruindo

seus “pré-conceitos”, principalmente em relação a estética.

Talvez essa seja uma questão fundamental a ser pensada, devido ao contexto em que

estamos inseridos, pois em nosso mundo atual, a estética, mais do que nunca esta

supervalorizada.

“A forma, no sentido estrito da palavra, não é mais nada que a delimitação de uma superfície por outra superfície. Essa é a definição de seu caráter exterior. Mas toda coisa exterior também encerra, necessariamente, um elemento interior (que aparece, segundo os casos, mais fraca ou mais fortemente). Portanto, cada forma também possui um conteúdo interior. A forma é a manifestação exterior desse conteúdo. Tal é a definição do seu caráter interior.”. (KANDINSKY, 1990, p. 76)

Por muitas vezes, as crianças precisam de alguém que lhes diga que eles já sabem,

mostrando-os que são capazes e que o que fazem é bom. Não precisam de parâmetros e

modelos para ser seguidos, sendo importante mostrar a variedade existente até mesmo entre

os desenhos de seus colegas, frisando assim, alternativas para criação de ordem artística, mas

não como padrões a serem seguidos. Despertando desta forma o senso crítico de apreciadores

da arte e não somente “copiadores” de formas prontas.

1.3 O pensamento de Picasso e sua relação com a produção da criança

Em um estudo prévio de Fineberg2 o artista relata sobre Picasso onde o mesmo diz:

“passei toda a minha vida para aprender a desenhar como crianças.” Por certo ponto de vista foi

2 FINEBERG, J. D. The innocent eye: children’s art and the modern artist. Princeton, NJ: Princeton

University Press, 1997

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realmente assim que aconteceu. Entretanto, quando conhecemos alguns dados da vida de

Picasso e o contexto em que a frase estava inserida o fato se amplia. O pai do artista era

professor de desenho e, segundo depoimentos do próprio Picasso e de sua mãe, Picasso

nunca desenhou como criança.

Desde muito cedo, com 6 ou 7 anos, ele aprendeu os códigos acadêmicos da

representação naturalista através do desenho incentivado por seu pai. Picasso certa vez teria

dito: “Quando eu era da idade destas crianças eu podia desenhar como Raphael. Precisei de

muitos anos para aprender a desenhar como estas crianças” (Fineberg 1997, p. 133).

Em seu trabalho, Picasso realmente buscou aprender com as crianças. Sua atitude em

relação aos desenhos infantis não era a de um colecionador, mas a de um observador de

processos. Ele valorizava, sobretudo, a inventividade da criança, sua liberdade de imaginação

em transformar objetos do cotidiano em materiais artísticos e em brincar com as convenções

estabelecidas de maneira “inocente”.

Segundo a leitura de Fineberg, o ‘estilo infantil’ só começou a aparecer nos trabalhos de

Picasso na segunda metade de sua carreira, quando ele passou a conviver mais assiduamente

com seus filhos pequenos. Foi, justamente neste período, que os trabalhos de Picasso se

tornaram mais leves, mais livres das convenções (1997, p. 120-137).

Na composição de pintura, a criança não tem uma noção do espaço, sendo que muitas

vezes ela pega lápis e tintas e começa a pintar de qualquer jeito (fora de linhas), pois ela não

tem uma percepção de espaço; sendo que só após orientações, consegue abrir em sua mente

um espaço de organização.

A percepção de uma criança que já tem idealizado em seus desenhos, sol, casinha,

passa a ser mudada a partir de um dia diferente (final de semana por exemplo), um passeio

onde o mesmo saia de sua rotina e passe a conhecer lugares diferentes, e partir desses lugares

a criança obtém em si uma outra percepção que em seguida em seus desenhos será

constatada.

A criança quer a vida de verdade, como ela lhe parece, envolta em brincadeiras, vestida com suas fantasias. (...) A criança é plena e transbordante de imagens que a afligem, das quais precisa se libertar para encontrar seu caminho no mundo. Desenhar é uma necessidade biológica para ela! Desenha como anda, como fala! Precisa expressar o que é visto, desejado, sonhado, o que é hostil e o que é amistoso, precisa transformar, exorcizar, prender. (KLEE, 2001, p.114)

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3 KLEE, Paul. Sobre Arte Moderna e Outros Ensaios, Rio de Janeiro, Zahar, 2001

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Portanto a manifestação artística da criança se dá em vários níveis a partir de suas

descobertas, das imagens vivenciadas, libertando-se assim dos tabus ditados pela sociedade

relativos à criação, pelo fazer e pela espera do tempo certo.

Olhando atentamente às cores, às linhas e às formas do mundo exterior, não apenas

pelo que ela vê, mas por tudo que ela convive, expandindo-se perante a vida.

A possibilidade de escolhas e decisões através dos desenhos ajuda as crianças a

lidarem com suas frustrações e demais sentimentos difíceis de ser administrados por suas

tenras idades. Contando com a ajuda da arte, conseguimos desenvolver um bom trabalho de

formação de um ser humano crítico, dono de suas idéias, formadores de opiniões, capaz de

buscar o melhor pra sua vida.

Considerações finais

Através de diferentes fontes de pesquisa, pode-se observar no transcorrer deste

trabalho, que o desenho da criança engloba suas capacidades e necessidades, sendo que o

desenho infantil passou a ser objeto de estudos e pesquisas de grandes artistas, que

conceituaram e avaliaram o desenvolvimento do grafismo infantil.

Desse modo, este trabalho buscou investigar como o desenho pode contribuir para a

construção do conhecimento na criança, contribuindo para o processo educativo da mesma,

buscando ainda enfatizar a importância das obras de Kandinsky, Paul Klee e Pablo Picasso.

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Referências Bibliográficas

COUTINHO, Rejane. Sylvio Rabello e o desenho infantil. São Paulo, 1998. Dissertação

(Mestrado) – Escola de Comunicações e Artes, USP.

FINEBERG, J. D. The innocent eye: children’s art and the modern artist. Princeton, NJ:

Princeton University Press, 1997.

http://www.anpap.org.br/anais/2008/artigos/129.pdf KANDINSKY, Wassily. Do espiritual na arte. São Paulo, Brasil, Martins Fontes, 1990.

KLEE, Paul. Sobre Arte Moderna e Outros Ensaios, Rio de Janeiro, Zahar, 2001.

KLEE, Paul. La Infancia en la Edad Adulta. Gran Canaria: CAAM, 2007, pp 33 a 69.