A Pesquisa Educacional - Bernard Charlot

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Revista Brasileira de Educação v. 11 n. 31 jan./abr. 2006 7 Introdução Quem atua no ensino de ciências da educação, na França, ou em uma estrutura de pós-graduação em educação, no Brasil, tem um problema de identidade profissional. Quando me perguntam sobre o que ensi- no, sobre o tema de minhas pesquisas, e respondo “ciências da educação”, ou me perguntam do que se trata (reação que predomina na França), ou acreditam que trabalho com formação de professores (reação que predomina no Brasil). Em suma, sou especialista de algo impreciso, sem fronteiras claras, e difícil de iden- tificar. O que, evidentemente, não é muito agradável do ponto de vista narcísico. Mas não sou o único nessa situação. Se pensar- mos no assunto, a ANPEd não é mais clara do que eu… Associação Nacional de Pós-Graduação e Pes- quisa em Educação. O que significa “em educação”? Será que guarda o mesmo sentido que “em sociolo- gia”, “em psicologia”, “em filosofia”, “em física”? Nesse caso, “em educação” remete a uma disciplina que chamaríamos educação. Ou será que significa “sobre educação”, “acerca da educação”, “a respeito da educação”? Nesse caso, “educação” remete-nos a um conjunto de situações, de práticas, de políticas li- gadas à educação no sentido amplo do termo. Assim, a ANPEd é uma associação que reúne pesquisadores de diferentes disciplinas, interessados na questão da educação. A questão-chave, portanto, é: são vocês, somos nós, pesquisadores debruçados em estudos em educação ou sobre educação? Podemos colocar essa questão de outras duas formas, ligadas ao próprio título desta conferência. Existe uma pesquisa educacional, específica, ori- ginal? Ou esse é o nome que damos a um conjunto de pesquisas de cunho psicológico, sociológico, peda- gógico, didático, que tratam da educação ou da for- mação? Existe uma área de saber chamada educação (ou ciências da educação, o nome pouco importa, o im- portante é que ela seja uma área de saber), ou será A pesquisa educacional entre conhecimentos, políticas e práticas: especificidades e desafios de uma área de saber * Bernard Charlot Universidade Paris 8, França e Organização da Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)-Brasil * Conferência de abertura da 28ª Reunião Anual da ANPEd, realizada em Caxambu (MG), de 16 a 19 outubro de 2005. Traduzida por Anna Carolina da Matta Machado.

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  • A pesquisa educacional entre conhecimentos, polticas e prticas

    Revista Brasileira de Educao v. 11 n. 31 jan./abr. 2006 7

    Introduo

    Quem atua no ensino de cincias da educao,

    na Frana, ou em uma estrutura de ps-graduao em

    educao, no Brasil, tem um problema de identidade

    profissional. Quando me perguntam sobre o que ensi-

    no, sobre o tema de minhas pesquisas, e respondo

    cincias da educao, ou me perguntam do que se

    trata (reao que predomina na Frana), ou acreditam

    que trabalho com formao de professores (reao que

    predomina no Brasil). Em suma, sou especialista de

    algo impreciso, sem fronteiras claras, e difcil de iden-

    tificar. O que, evidentemente, no muito agradvel

    do ponto de vista narcsico.

    Mas no sou o nico nessa situao. Se pensar-

    mos no assunto, a ANPEd no mais clara do que

    eu Associao Nacional de Ps-Graduao e Pes-

    quisa em Educao. O que significa em educao?

    Ser que guarda o mesmo sentido que em sociolo-

    gia, em psicologia, em filosofia, em fsica?

    Nesse caso, em educao remete a uma disciplina

    que chamaramos educao. Ou ser que significa

    sobre educao, acerca da educao, a respeito

    da educao? Nesse caso, educao remete-nos a

    um conjunto de situaes, de prticas, de polticas li-

    gadas educao no sentido amplo do termo. Assim,

    a ANPEd uma associao que rene pesquisadores

    de diferentes disciplinas, interessados na questo da

    educao. A questo-chave, portanto, : so vocs,

    somos ns, pesquisadores debruados em estudos em

    educao ou sobre educao?

    Podemos colocar essa questo de outras duas

    formas, ligadas ao prprio ttulo desta conferncia.

    Existe uma pesquisa educacional, especfica, ori-

    ginal? Ou esse o nome que damos a um conjunto de

    pesquisas de cunho psicolgico, sociolgico, peda-

    ggico, didtico, que tratam da educao ou da for-

    mao?

    Existe uma rea de saber chamada educao (ou

    cincias da educao, o nome pouco importa, o im-

    portante que ela seja uma rea de saber), ou ser

    A pesquisa educacional entre conhecimentos,

    polticas e prticas: especificidades e desafios

    de uma rea de saber*

    Bernard Charlot

    Universidade Paris 8, Frana e Organizao da Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura (UNESCO)-Brasil

    * Conferncia de abertura da 28 Reunio Anual da ANPEd,

    realizada em Caxambu (MG), de 16 a 19 outubro de 2005.

    Traduzida por Anna Carolina da Matta Machado.

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    Bernard Charlot

    Revista Brasileira de Educao v. 11 n. 31 jan./abr. 2006

    que a educao uma rea de prticas e de polticas

    sobre as quais diferentes cincias humanas e sociais

    produzem conhecimento?

    A maneira como respondemos a essa questo

    (porque, de fato, ela a mesma, mas em trs formas)

    , evidentemente, essencial para definir a pesquisa em

    educao ou sobre educao, sua especificidade, seus

    desafios, os elos entre os conhecimentos, prticas e

    polticas. Essa questo, portanto, ser o eixo princi-

    pal da minha conferncia.

    Eu a abordarei por meio de trs frentes sucessi-

    vas. Em primeiro lugar, como os prprios pesquisa-

    dores, na Frana e, acredito, no Brasil, respondem a

    essa questo? Em segundo lugar, quais so, atualmen-

    te, os diferentes tipos de discursos produzidos sobre

    a educao, e quais so suas caractersticas? Em ter-

    ceiro lugar, qual poderia ser a singularidade de uma

    disciplina original, que permanece em construo,

    denominada cincias da educao, ou educao, e o

    que podemos fazer, sobretudo quando temos a fora

    institucional e cientfica da ANPEd, para permitir o

    avano e valorizar a especificidade e a originalidade

    da pesquisa em educao?

    claro que, abordando trs temas dessa ampli-

    tude, no tenho a pretenso de esgotar o assunto.

    A especificidade da educao comocampo de conhecimento e de pesquisa:

    os pontos de vista dos professoresuniversitrios e pesquisadores

    Os universitrios que atuam nos departamentos,

    institutos, faculdades de cincias da educao, ou em

    cursos de ps-graduao em educao, no esto de

    acordo sobre a existncia de uma disciplina especfi-

    ca chamada cincias da educao ou educao. Na

    minha opinio, h trs posies possveis:

    1. Os departamentos, faculdades etc. so apenas

    espaos institucionais, nos quais colaboram especia-

    listas de diferentes reas. So locais onde encontramos

    socilogos, psiclogos, matemticos ou gegrafos que

    se interessam pelo ensino, pedagogos especializados

    em pedagogia (que no sabemos bem precisar o que

    , mas que parece estar ligada a questes prticas).

    Essas pessoas trabalham juntas, nos mesmos ambien-

    tes os departamentos de educao , pesquisam nas

    mesmas estruturas da ps-graduao, mas isso no

    quer dizer que existe uma disciplina, um campo de

    pesquisa especfico chamado educao ou cincias da

    educao. As cincias da educao possuem uma rea-

    lidade institucional, administrativa, organizacional,

    mas no tm existncia epistemolgica especfica.

    Fao pesquisa em sociologia da educao, meu cole-

    ga a faz em psicologia da educao, um outro em did-

    tica do ensino da matemtica, pertencemos a um de-

    partamento de educao, mesma ps-graduao, mas

    no existe pesquisa educacional, e sim uma pesquisa

    sociolgica, psicolgica, didtica etc. sobre temas li-

    gados educao. Por conseguinte, o problema da es-

    pecificidade da disciplina educao est resoluto, por

    no ser mais colocado.

    2. A idia de uma cultura comum. Um colega,

    Michel Bataille, explicou-me um dia, de modo inte-

    ressante, qual era, na sua opinio, a diferena entre

    ser psiclogo educacional em um departamento de

    psicologia e em um departamento de cincias da edu-

    cao. Quando trabalhamos em um departamento de

    psicologia, interessamo-nos prioritariamente pelo que

    publicado na rea de psicologia, o que inclui outros

    temas alm da educao. Ao passo que, quando so-

    mos psiclogos educacionais em um departamento de

    cincias da educao, interessamo-nos sobretudo por

    aquilo que se publica sobre educao, estando a in-

    cludas reas diferentes da psicologia. Assim, em um

    departamento, em uma ps-graduao, e, alm disso,

    nas cincias da educao, constri-se pouco a pou-

    co uma cultura comum, fortemente inter ou transdis-

    ciplinar.

    Essa cultura comum permite que as questes se-

    jam colocadas de outro modo, produz uma especifi-

    cidade das pesquisas desenvolvidas nas faculdades de

    educao. Isso me parece poder estabelecer o con-

    senso entre aqueles que do importncia ao fato de

    trabalhar no mesmo campo, a educao. Quer con-

    tinuemos a nos definir por uma disciplina de origem

    (sociologia, matemtica etc.), quer sonhemos com a

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    construo de uma disciplina especfica denominada

    educao, podemos concordar com essa idia de cul-

    tura comum e com o fato de que ela introduz uma

    certa especificidade nas pesquisas feitas na ps-gra-

    duao em educao. Com a condio, claro, de

    interessarmo-nos pelo que fazem nossos colegas, de

    ler o que eles produzem, de promover debates com

    eles, de ter projetos comuns. Quem aceita essa idia

    de cultura comum j introduz uma especificidade no

    campo da pesquisa educacional.

    Podemos estender essa idia, como fiz h dez

    anos, em meu livro sobre cincias da educao

    (Charlot, 1995). Essa cultura comum no se define

    somente pela ateno dedicada s pesquisas de ou-

    tras disciplinas sobre a educao, mas tambm por

    uma certa relao que se estabelece entre as prticas

    e as polticas no campo da educao.

    Quem socilogo de educao se define antes

    de tudo como socilogo, se interessa pela contribui-

    o que a educao pode dar estruturao do campo

    social. O que lhe interessa a construo do social e,

    se ele trabalha sobre a educao, para melhor com-

    preender essa construo. No fundo, a questo mes-

    ma da educao no o interessa de fato, o que chama

    a sua ateno so os seus efeitos sociais. Bourdieu

    um autor tpico desse caso: o que o interessa no a

    educao, mas a reproduo social.

    Ao contrrio, o pesquisador que se defina de

    educao, qualquer que seja sua origem acadmica,

    se interessa fundamentalmente pela questo da edu-

    cao; isso que o leva a dar importncia, de um lado,

    prpria educao, naquilo que ela tem de especfi-

    co, e, de outro lado, aos efeitos da pesquisa sobre a

    educao. Como conseqncia, ele no poder mais

    se desinteressar, se desligar das questes relativas aos

    fins (em que se incluem as questes polticas) e das

    questes relacionadas prtica. Os conhecimentos que

    ele produz so levados em considerao, interpela-

    dos, negados, ignorados pelos polticos e pelos prti-

    cos, e o pesquisador em educao no pode negligen-

    ciar a importncia disso. comum que o pesquisador,

    ao chegar aos resultados de uma pesquisa, se preocu-

    pe com a questo: o que eles faro com esses resul-

    tados?. Sem falar daquele que to prudente que j

    determina os resultados antes mesmo de comear sua

    pesquisa

    O que especfico da educao como rea de sa-

    ber o fato de ela ser uma rea na qual circulam, ao

    mesmo tempo, conhecimentos (por vezes de origens

    diversas), prticas e polticas. Delimita-se assim uma

    primeira definio da disciplina educao ou cincias

    da educao: um campo de saber fundamentalmente

    mestio, em que se cruzam, se interpelam e, por ve-

    zes, se fecundam, de um lado, conhecimentos, con-

    ceitos e mtodos originrios de campos disciplinares

    mltiplos, e, de outro lado, saberes, prticas, fins ti-

    cos e polticos. O que define a especificidade da disci-

    plina essa mestiagem, essa circulao.

    Portanto, por definio, uma disciplina episte-

    mologicamente fraca: mal definida, de fronteiras t-

    nues, de conceitos fluidos. Ela no tem e jamais ter

    a aparente pureza e clareza da sociologia ou da psico-

    logia. Quem desenvolve pesquisas na rea da educa-

    o sempre um pouco suspeito, e com freqncia

    obrigado a justificar-se, com relao a questes como:

    O que exatamente esta pesquisa? de psicologia,

    de sociologia, o qu?. Mas, tambm por definio,

    uma disciplina capaz de afrontar a complexidade e

    as contradies caractersticas da contemporaneida-

    de. Quem deseja estudar um fenmeno complexo no

    pode ter um discurso simples, unidimensional.

    Existem, alis, outras disciplinas mestias, nas

    quais se articulam conhecimentos oriundos de diver-

    sos campos, prticas, polticas: as cincias polticas,

    as cincias de administrao, o urbanismo e tam-

    bm a medicina, mas no percebemos isso to clara-

    mente. So disciplinas que possibilitam a insero da

    inteligibilidade e da racionalidade em campos prti-

    co-ticos complexos e, por atuarem nesses campos,

    que correm o risco de ser contaminadas pelo utilit-

    rio e pelo irracional. Mas quem nada arrisca, nada

    realiza.

    3. Poderamos deter-nos a uma definio susce-

    tvel de obter largo consenso entre pesquisadores que

    trabalham juntos em cursos de ps-graduao de edu-

    cao, e de reforar sua identidade comum. Tal defi-

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    Bernard Charlot

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    nio, alis, acarreta conseqncias concretas, modos

    de organizao e objetivos a serem alcanados.

    Algumas pessoas, entre as quais me incluo, se

    perguntam se no se pode ir alm da definio ante-

    rior, ir alm de um simples espao de circulao e

    mestiagem, e construir uma disciplina que tivesse

    uma especificidade mais forte, com seus prprios con-

    ceitos e, eventualmente, mtodos especficos de pes-

    quisa. A questo fica aberta, eu no tenho resposta

    para ela. Mas perteno ao grupo dos que tm vontade

    de reanimar nessa aposta, nesse desafio de uma espe-

    cificidade das cincias da educao, e que inscreve-

    ram essa aposta em suas pesquisas.

    Para refletir sobre isso, acredito que seja neces-

    srio comear por um inventrio dos tipos de discur-

    sos existentes sobre educao. Com efeito, jamais uma

    cincia surgiu em um espao vazio; uma cincia sem-

    pre se constri conquistando um espao no qual j

    havia um outro tipo de discurso (por exemplo, a so-

    ciologia ocupa um espao em que antes havia discur-

    sos filosficos, psicolgicos e polticos).

    A rea da educao: um espao saturadode discursos diversos e mltiplos

    Podemos identificar ao menos sete tipos de dis-

    curso sobre a educao, que vou apresentar a seguir,

    rapidamente claro, reunindo alguns entre eles.

    1. H discursos, de diferentes tipos, que negam

    o interesse ou a legitimidade de um discurso cientfi-

    co especfico sobre a educao.

    A. O discurso espontneo. Cada um tem uma

    experincia de educao, a sua ou a de seus filhos, e

    sabe, ou acha que sabe, alguma coisa. Mas no se

    pode confundir ter uma opinio (dizer o que acredita-

    mos, a partir de uma experincia pessoal) e produzir

    um saber (um discurso no qual a significao das pa-

    lavras controlada, no qual levamos em conta diver-

    sas formas de colocar o problema, vrios pontos de

    vista, no qual nos apoiamos em provas que podem

    ser verificadas por qualquer um). Quem deseja fazer

    pesquisa em educao deve sair da esfera da opinio

    e entrar no campo do conhecimento.

    Isso nem sempre fcil Quem orienta pesqui-

    sas de mestrado ou doutorado sabe que com freqn-

    cia os alunos desenvolvem uma pesquisa para mos-

    trar que.... Ou seja, mostrar coisas que eles j sabem

    de antemo... Pessoalmente, eu digo: Bem, vamos es-

    quecer tudo aquilo que intil. Vamos esquecer a jus-

    tificativa, uma vez que a justificativa de uma pesqui-

    sa sempre a construo do conhecimento; vamos

    esquecer os objetivos, porque o objetivo de uma pes-

    quisa sempre entender o que no sabemos. No quero

    as hipteses, sobretudo, porque com suas hipteses

    vocs j me do os resultados de suas pesquisas, an-

    tes mesmo de come-las. O que quero so duas coi-

    sas. Em primeiro lugar, o que vocs querem saber e

    que ningum ainda sabe, inclusive eu? Porque se al-

    gum j tem a resposta, no vale a pena fazer uma

    pesquisa. Quando sabemos aquilo que queremos co-

    nhecer, temos a base de um projeto de pesquisa. Pelo

    menos um ponto de partida, pois, na realidade, so

    necessrios cerca de seis meses de trabalho sobre uma

    dada problemtica para se definir uma questo de

    pesquisa. A segunda questo que coloco para os alu-

    nos que me apresentam um projeto de pesquisa :

    como, concretamente, vocs faro isso?

    Tudo isso pode ser escrito em uma pgina e meia.

    No so necessrias vinte pginas, cheias de termos

    complicados e tcnicos. Mas h de ser uma boa pgi-

    na e meia. Caso contrrio, quando no sabemos es-

    crever uma boa pgina e meia, somos obrigados a

    escrever vinte longas pginas... dessa forma que

    funciona, tanto na Frana como no Brasil, e preciso

    refletir sobre isso, porque esse momento de entrada

    na pesquisa importante.

    Um discurso cientfico sobre a educao no deve

    ser um discurso de opinio; ele no cientfico se no

    controla seus conceitos e no se apia em dados. A

    pesquisa em educao (ou sobre a educao) produz

    um saber, rigoroso como o todo saber cientfico. Po-

    demos sustentar, e eu particularmente o fao, que h

    diferentes formas de rigor. Essa idia parece-me im-

    portante para a convivncia, o trabalho conjunto, de-

    bates em um departamento de cincias da educao

    ou em uma ps-graduao em educao, em que ne-

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    cessrio aceitar a diversidade como riqueza, incluin-

    do-se a a diversidade epistemolgica e metodolgica.

    Mas, aps afirmar isso, preciso que cada forma de

    rigor obedea a regras e deva ser controlada por uma

    comunidade cientfica. No somos obrigados a fazer

    pesquisa com qui quadrados, nem a fazer pesquisa-

    ao. Mas, se optamos por fazer a primeira, h normas

    estatsticas a respeitar. E, se optamos por fazer a outra,

    tambm haver regras a respeitar, o que no consiste

    (como se supe com freqncia) em agir e dizer que

    fazemos pesquisa porque refletimos e escrevemos so-

    bre a ao que fazemos. Existem normas de produo

    cientfica. Elas so diversas em relao a alguns pon-

    tos, por vezes so at conflitantes, mas essas normas

    existem. Se no h regras, ou se no h uma comuni-

    dade para control-las, no h mais pesquisa, h uma

    conversa de botequim sobre a educao.

    B. O discurso do prtico, que acredita saber

    porque tem uma prtica. Ele ope sua prtica s teo-

    rias, com o argumento de que ele pode apresentar re-

    sultados enquanto o terico s pode falar. preciso

    sair dessa pseudo-oposio entre teoria e prtica, e da

    idia, a meu ver falsa, de um debate entre a teoria e

    a prtica. Na verdade, aquilo que o prtico ope

    teoria, no , como ele acredita, sua prtica, e sim seu

    discurso sobre sua prtica. Ora, esse discurso utiliza

    conceitos o mais das vezes no controlados, e fre-

    qentemente enraizados em uma teoria sem que ele o

    saiba. Por exemplo, a noo de carncias. O prtico

    diz que v carncias, ou deficincias, em sua clas-

    se, o que, por definio, impossvel, pois a carn-

    cia uma falta, uma ausncia, um no-ser que no

    podemos ver, mas somente identificar por uma com-

    parao, o que pressupe pensamento, uma interpre-

    tao do mundo. No que se considera confronto entre

    teoria e prtica, h, na verdade, dois discursos que se

    confrontam.

    Podemos interpelar o discurso do prtico do ponto

    de vista de seus conceitos. E podemos interpelar o

    discurso do terico do ponto de vista de seus dados, e

    da maior ou menor concordncia entre esses dados e

    as situaes reais nas quais os professores e profis-

    sionais trabalham. O prtico pode sempre contestar

    os dados do pesquisador, dizendo que eles no tm

    qualquer relao com as condies nas quais ele tra-

    balha, as condies nas quais trabalha um professor

    normal. O pesquisador deve prestar ateno, talvez

    mais do que j faz, ao professor normal. Se quere-

    mos mudar a educao no Brasil, preciso desvenci-

    lhar-se dessa idia, bem estranha quando pensamos

    sobre ela, de que para ser um bom profissional na

    rea da educao e do ensino necessrio ter quali-

    dades que so, na verdade, as de um santo ou de um

    militante. A situao normal se podemos dizer

    dessa forma do professor brasileiro trabalhar em

    uma escola pela manh e em outra tarde, receber

    salrios muito baixos e, com freqncia, mesmo ha-

    vendo excees, ter feito o vestibular para pedagogia

    porque era o mais fcil em determinada universida-

    de. essa a condio real do professor no Brasil, e,

    se queremos mudar a educao no Brasil, preciso

    sempre pensar nesse profissional real, e no no pro-

    fessor santo ou militante. Conseqentemente, o pes-

    quisador deve controlar com bastante cuidado os da-

    dos que utiliza, e sua relevncia em relao s

    condies de trabalho do docente real.

    preciso ter a coragem de dizer que a prtica

    no um argumento, e sim um elemento do debate

    que deve, ele prprio, ser analisado. preciso tam-

    bm ter a coragem de dizer que a recusa do pesquisa-

    dor ou do professor universitrio de confrontar as teo-

    rias que ele ensina com as situaes e prticas do

    professor ou do formador levanta suspeitas, srias,

    sobre o valor de suas teorias, incluindo-se a a ques-

    to do valor do ponto de vista da verdade. bvio

    que no possvel dar receitas, isto , modos de

    fazer que funcionam de imediato, que s precisam

    ser aplicados. A prtica sempre contextualizada, e

    uma receita nunca funciona. Entretanto, podemos e

    devemos definir tcnicas a partir dos conhecimentos

    que a pesquisa produz e que ensinamos. Ou seja,

    modos de fazer, procedimentos, cujos fundamentos e

    limites de validade foram explicitados. Devemos res-

    ponder questo como fazer? explicando que, mu-

    nidos dessas tcnicas, cada professor dever reinven-

    tar sua prtica no contexto em que atua.

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    Bernard Charlot

    Revista Brasileira de Educao v. 11 n. 31 jan./abr. 2006

    C. O discurso dos antipedagogos, que teve um

    certo sucesso na Europa, e, s vezes, mas isso est

    mudando, o discurso dos didatas de disciplinas, s

    vezes tambm o de alguns filsofos. Podemos resu-

    mi-los, de forma um pouco sumria, com o seguinte

    argumento: todo ser humano dotado de razo, e a

    educao um encontro entre a razo humana e os

    conhecimentos. O nico problema a ser resolvido

    permitir que cada um encontre o conhecimento. No

    h problema pedaggico nenhum. Pelo contrrio, a

    pedagogia perverte a juventude, ela inventa artifcios

    para aprender no prazer, ela afasta a juventude do es-

    foro e, portanto, ela a afasta do verdadeiro saber, pois

    no alcanamos o saber sem esforo, sem trabalho

    crtico.

    Essa objeo apresenta-se de forma democrtica

    (a razo universal, cada um tem o direito ao conhe-

    cimento), mas, na verdade, produz efeitos bastante

    elitistas: na realidade, se no acompanhamos, de uma

    forma ou de outra, o acesso dos jovens ao conheci-

    mento, a ele chegam aqueles que, de fato, recebem

    apoio na famlia ou nas escolas particulares. O erro

    dos que defendem essa posio acreditar que a sim-

    ples apresentao do conhecimento pe a intelign-

    cia em movimento. Ao passo que a questo funda-

    mental a ser resolvida por aquele que ensina saber

    como provocar uma mobilizao intelectual daquele

    que aprende. No direito, a Razo universal, mas, na

    verdade, ela no mobilizada espontaneamente, ime-

    diatamente e da mesma forma por cada indivduo que

    encontra uma oportunidade de aprender. O problema

    pedaggico fundamental est a: obter, de uma forma

    ou de outra, uma mobilizao intelectual do aluno.

    Da mesma maneira, durante muito tempo a did-

    tica (francfona e anglfona) sups estar j produzido

    o Eu epistmico. Ora, na realidade, se supe-se o Eu

    epistmico j produzido, no h mais dificuldade para

    ensinar. O problema fundamental , precisamente, pas-

    sar do Eu emprico ao Eu epistmico, ou seja, do indi-

    vduo preso no movimento da vida cotidiana ao indi-

    vduo intelectualmente mobilizado, atento ao saber.

    H dois ou trs anos, didatas franceses e canadenses,

    principalmente os que trabalham com matemtica e

    cincias, engajaram-se nessa reflexo, utilizando a

    noo de relao com o saber. Essa evoluo contri-

    bui, e contribuir, para reduzir as distncias entre pes-

    quisadores em educao e pesquisadores em didticas

    das disciplinas. Mas um movimento recente, por isso

    no sei se j produziu efeitos no Brasil.

    2. H um discurso que, ao contrrio, trata espe-

    cificamente da educao e pode ser confundido com

    o discurso das cincias da educao: o discurso pe-

    daggico.

    Podemos, claro, designar coisas diferentes com

    a palavra pedagogia, quando tratamos daquilo que a

    pedagogia deveria ser e poderia ser, daquilo que consi-

    deramos sua essncia. Mas quando consideramos aquilo

    que ela foi historicamente, o que so as pedagogias

    que surgem, com esse nome, em tal ou qual poca, nos

    damos conta de que elas tm uma caracterstica funda-

    mental: elas unem diretamente os fins e as prticas (ou

    tcnicas). H uma pedagogia tradicional (que no tem

    nada a ver com aquilo que recebe essa denominao e

    que menosprezado no Brasil...), uma pedagogia

    Montessori, uma pedagogia Freinet, uma pedagogia

    Paulo Freire etc. Cada uma um conjunto de fins liga-

    dos a uma concepo filosfica e muitas vezes polti-

    ca, da infncia e do homem, e traduzidos em prticas

    especficas. A pedagogia no fundamentalmente um

    campo de saberes, um campo de axiologia prtica,

    poderamos dizer, um campo de valores com os meios

    de coloc-los em ao, ou um campo de prticas orde-

    nadas para determinados fins. Nesse sentido, muito mais

    que conhecimentos, a pedagogia produz descries,

    relatrios de experincias, manifestos. Porque tem sem-

    pre um lado prtico e militante, ela objeto de experi-

    mentaes, de debates, de pesquisa-ao, e produz mais

    convices, instrumentos e inovaes do que conheci-

    mentos demonstrados. Afirmar isso no significa de-

    preciar a pedagogia; constatar que ela est centrada

    nas prticas e nos fins, e no elo entre os dois, e no nos

    saberes. O que no quer dizer que ela no sabe nada;

    ela pode veicular saberes obscuros, implcitos, ligados

    s prticas, interessantes para a pesquisa. Assim, as pe-

    dagogias novas foram construtivistas mais de meio

    sculo antes do surgimento do termo construtivista.

  • A pesquisa educacional entre conhecimentos, polticas e prticas

    Revista Brasileira de Educao v. 11 n. 31 jan./abr. 2006 13

    3. H os discursos que podemos denominar os

    discursos dos outros. So aqueles discursos sobre

    a educao produzidos por disciplinas de cincias

    humanas, principalmente a psicologia e a sociologia.

    Esses discursos dominaram por bastante tempo a rea

    da educao, e ainda hoje ocupam nela um espao

    significativo.

    Por exemplo, o discurso construtivista um

    discurso que se desenvolveu no campo da educao,

    mas que surgiu fora dele. Seus dois tericos so Piaget

    e Bachelard. Piaget, que podemos considerar um psi-

    clogo, mas que sobretudo bilogo e lgico (so os

    processos de assimilao e de acomodao, pensados

    com base num modelo biolgico, que constroem pou-

    co a pouco as estruturas lgicas da inteligncia).

    Bachelard, que um historiador das cincias e um

    epistemlogo que estudou a formao do pensamen-

    to cientfico. Nem Piaget nem Bachelard so pesqui-

    sadores em educao; seus projetos cientficos so

    outros. E Vygotsky era inicialmente um terico da li-

    teratura Em outras palavras, o discurso hoje domi-

    nante no campo da aprendizagem no vem da pesqui-

    sa em educao, mas de outros campos de pesquisa.

    Poderamos tambm considerar o discurso da

    sociologia da reproduo, que explicou a duas gera-

    es de professores que a escola contribui para a re-

    produo, de gerao em gerao, das desigualdades

    sociais. Isso significa (indo um pouco rpido, mas foi

    assim que o discurso foi interpretado) que ele expli-

    cou que os professores no servem para nada, ou ser-

    vem apenas para pouca coisa, nada podem, ou podem

    pouca coisa... Os professores gostaram bastante des-

    se discurso, por razes que no tenho tempo de anali-

    sar aqui, mas que, no fundo, tm a ver com o fato de

    que, se os alunos no aprendem, a culpa no dos

    professores, da sociedade. O interessante, alis,

    que essa idia no equivocada: quando o professor

    e o aluno fracassam, tambm uma falha da socieda-

    de. Mas no somente uma falha da sociedade...

    O discurso dos outros importante, preciso

    lev-lo em conta. Mas preciso tambm saber o que

    faz a pesquisa educacional para no apenas acompa-

    nhar esse discurso dos outros.

    4. Enfim, para atermo-nos aos grandes tipos de

    discurso, h os discursos polticos sobre educao.

    Eles so de vrios tipos. Vou abordar aqui os dois

    tipos principais.

    A. H um discurso militante, que com freqn-

    cia se apia na sociologia da reproduo e, atualmen-

    te, na crtica da globalizao neoliberal. Ele parte de

    fundamentos exatos: certo que as crianas so so-

    cialmente desiguais no que se refere escola, certo

    que o neoliberalismo considera a educao como uma

    mercadoria, e no como um direito. Mas esse discur-

    so poltico tende a ignorar as diferentes ordens e es-

    calas dos fenmenos. Ele tem a tendncia de utilizar

    explicaes amplas, macros, para dar conta de to-

    das as ordens de fenmenos, inclusive os fenmenos

    micros. Ento, no h mais pesquisa possvel, pois

    a resposta j est dada.

    Isso ocorre, por exemplo, com a idia de que, se

    as crianas so violentas na escola, em razo da po-

    breza. difcil negar que a violncia do bairro tenha

    efeitos sobre a escola. Mas ignora o fato de que exis-

    tem escolas pouco violentas em bairros violentos e o

    fato mais perturbador, de que entre as crianas po-

    bres s uma pequena minoria violenta. Em outras

    palavras, no suficiente considerar a pobreza para

    dar conta da violncia dentro da escola. preciso que

    haja pesquisa com dados, e os discursos polticos pr-

    construdos no so suficientes, inclusive quando so

    politicamente certos.

    H a um desafio que me parece particularmen-

    te importante para a pesquisa em educao no Bra-

    sil. Trata-se, ao mesmo tempo, de integrar pesqui-

    sa o fato de que a educao tem uma dimenso

    poltica, e no pode deixar de t-la, e de se recusar a

    reconhecer como pesquisa textos em que a anlise

    precisa de dados precisos substituda por discur-

    sos polticos muito genricos. inegvel que a glo-

    balizao neoliberal faz surtir efeitos sobre a situa-

    o da escola no Brasil. Da mesma forma, inegvel

    que as dificuldades que os alunos brasileiros encon-

    tram para aprender a ler no so os efeitos diretos da

    poltica do Banco Mundial e do Fundo Monetrio

    Internacional, e esto ligadas s prticas dos profes-

  • 14

    Bernard Charlot

    Revista Brasileira de Educao v. 11 n. 31 jan./abr. 2006

    sores. Articular as anlises macro e micro um

    desafio fundamental da pesquisa em educao, no

    mundo inteiro. Explicar diretamente o micro pelo

    macro, ou o macro pelo micro, um erro epis-

    temolgico e metodolgico, que deve ser tratado

    como tal, quaisquer que sejam as boas intenes

    polticas desse erro.

    B. H, igualmente, um discurso gerado por ins-

    tituies internacionais e que se difunde pouco a pou-

    co nos crculos dirigentes, em seguida junto aos jor-

    nalistas e, por meio deles, na opinio pblica. No

    mundo, a principal agncia de produo de discurso

    poltico sobre a educao , h 50 anos, a Organiza-

    o de Cooperao e Desenvolvimento Econmico

    (OCDE), e, em seu rastro, o Banco Mundial. A OCDE

    ocupa-se da educao desde o final da dcada de 1950

    (mais precisamente, depois do lanamento do Sputnik

    russo). Foi dela que surgiu a reforma da matemtica

    moderna. Foi dela que, ao longo dos anos de 1980,

    surgiu o discurso sobre a qualidade da educao.

    Foi dela que se originou a proeminncia atual da ques-

    to da avaliao. Ela construiu e divulgou, h mais

    de vinte anos, uma ideologia que se tornou dominan-

    te entre os polticos, em que as palavras-chave so

    qualidade, eficcia, avaliao. Trata-se de um

    discurso do domnio e da transparncia: saber tudo,

    controlar tudo, prever tudo, como o Panptico de

    Bentham e de Michel Foucault. Trata-se tambm, com

    freqncia, de um discurso que acredita que a inova-

    o , em si, um progresso.

    Esse discurso no automaticamente neoliberal.

    difcil sustentar que se possa ensinar sem prestar

    ateno qualidade e eficcia desse ensino. Pode-

    mos ser de esquerda e defender a idia de uma qua-

    lidade social da educao, como se diz no Brasil.

    Mas, se no acompanharmos de perto esse discurso,

    ele torna-se rapidamente neoliberal; basta supor, como

    faz o Banco Mundial, que s a privatizao do ensino

    e a constituio de um mercado da educao podem

    assegurar a qualidade e a eficcia da educao. Esse

    discurso perigoso, como podemos verificar hoje em

    dia no Brasil. Aqui houve uma boa escola pblica,

    que no mais existe h muito tempo. Depois que essa

    escola foi deixada de lado pelos poderes pblicos, sem

    os recursos e o apoio de que necessitava, o nvel de

    formao dos jovens brasileiros ficou melhor, graas

    ao mercado? No. O nvel de alguns melhorou, nas

    escolas privadas (no em todas, alis), e o nvel de

    outros, da maioria, foi abandonado. O discurso neoli-

    beral de certas organizaes internacionais ainda

    mais perigoso para o pesquisador quando vem acom-

    panhado por instrumentos de poder: a difuso de te-

    mas que, repetidos, se impem com uma pseudo-evi-

    dncia, a encomenda de pesquisas por instituies

    pblicas, as verbas e bolsas para equipes de pesqui-

    sadores.

    Essa a situao com que um jovem pesquisa-

    dor se depara quando se engaja em pesquisas em edu-

    cao. O campo da educao est saturado de discur-

    sos j instalados, j prontos. Qualquer que seja a

    questo, j h uma resposta, prtica ou poltica, j

    existem discursos tericos, poderes intelectuais cons-

    titudos, panelinhas tericas nas quais a defesa de con-

    ceitos mais ou menos se confunde com a conquista

    de postos e de poderes. Quando um campo est to

    saturado de respostas, difcil levantar questes de

    maneira nova; portanto, difcil fazer pesquisa.

    Em contrapartida, h uma presso, difusa, im-

    plcita, exercida sobre a escolha dos objetos de pes-

    quisa. Existe o que chamo de objetos sociomiditi-

    cos. So aqueles objetos que a opinio pblica e os

    polticos, e na sua esteira os jornalistas, questionam,

    sobre os quais a ateno se volta sem cessar, como se

    fossem questes importantes, que tm de ser resolvi-

    das (e a, o que faz a pesquisa?). Evidentemente,

    grande a tentao de tom-los como objetos de estu-

    do. Ainda mais porque so aqueles para os quais se

    encontra verba para pesquisa. Trata-se de objetos de

    discurso, socialmente relevantes, mas que no so,

    enquanto tais, objetos de pesquisa. Hoje em dia, os

    principais so: o fracasso escolar, a violncia na es-

    cola, a cidadania, a parceria educativa, a qualidade

    da educao, a avaliao, e ainda, sem nunca sair de

    moda, a formao de professores. Seria interessante

    fazer uma anlise de contedo, especialmente a partir

    dos ttulos dos projetos de pesquisa educacional fi-

  • A pesquisa educacional entre conhecimentos, polticas e prticas

    Revista Brasileira de Educao v. 11 n. 31 jan./abr. 2006 15

    nanciados pelos rgos cientficos e universitrios

    brasileiros, o Conselho Nacional de Desenvolvimen-

    to Cientfico e Tecnolgico (CNPq) sobretudo. Isso

    permitiria identificar os temas que so apoiados, va-

    lorizados, considerados prioritrios numa dada po-

    ca, e saber se trata-se de objetos cientficos ou so-

    ciomiditicos. Podemos fazer uma pesquisa partindo

    de temas sociomiditicos que no so apenas simples

    efeitos da moda, mas que remetem a problemas so-

    ciais fundamentais. Porm isso pressupe que se de-

    fina, a cada momento, um objeto de pesquisa, pois

    esses temas no so, e no podem ser, enquanto tais,

    objetos de pesquisa.

    O objeto da pesquisa assim definido pode ser pen-

    sado em relao a uma disciplina: filosofia, sociolo-

    gia, psicologia, histria etc., da educao, ou didtica

    desta ou daquela matria. Essas pesquisas, evidente-

    mente, tm seu lugar em uma ps-graduao em edu-

    cao. Tambm podem ser pesquisas de um tipo mais

    pedaggico, que investigam os vnculos entre fins e

    prticas, mais do que produzem conhecimento. Po-

    demos ir alm, e ter a ambio de construir uma dis-

    ciplina educao ou cincias da educao que te-

    nha uma especificidade e conceitos prprios? No se

    trata de construir a partir do nada. Hoje j existem

    muitas pesquisas em educao que no sabemos mui-

    to bem onde enquadrar. Mas elas continuam esparsas,

    justapostas, em vez de articuladas. No sabemos bem

    se se trata de objetos estranhos, misturados, fora dos

    padres, ou produtos de uma disciplina que ainda no

    existe...

    Em direo a uma disciplina especfica,denominada educao?

    O que foi dito anteriormente pretende possuir o

    estatuto da anlise, e baseia-se em dados. O que se-

    gue no pretende mais isso. Trata-se de convices,

    apostas, desafios, que repousam sobre posturas epis-

    temolgicas. Mas, precisamente, com apostas epis-

    temolgicas que se constri uma disciplina. Propo-

    nho aqui algumas delas, para um debate que

    permanece aberto.

    Quais especificidades?

    Em primeiro lugar, convm levar em considera-

    o o que h de mais especfico na educao. De mi-

    nha parte, proponho definir essa especificidade argu-

    mentando que, de um lado, a educao um triplo

    processo; e, de outro, que educar, educar-se, apren-

    der, ensinar, operam sempre numa tripla articulao.

    A educao um triplo processo de humaniza-

    o, socializao e entrada numa cultura, singulari-

    zao-subjetivao. Educa-se um ser humano, o mem-

    bro de uma sociedade e de uma cultura, um sujeito

    singular. Podemos prestar mais ateno a uma dimen-

    so do que a outra, mas, na realidade do processo edu-

    cacional, as trs permanecem indissociveis. Se que-

    remos educar um ser humano, no podemos deixar

    de educar, ao mesmo tempo, um membro de uma so-

    ciedade e de uma cultura e um sujeito singular. E,

    partindo da socializao ou da singularizao, pode-

    mos produzir enunciados anlogos.

    Em contrapartida, o ato de ensino-aprendizagem

    d-se em uma tripla articulao.

    o jovem que se educa, que aprende. Vamos

    considerar a vertente da aprendizagem, mas seria a

    mesma coisa com a vertente da educao. Se o jovem

    no se mobiliza intelectualmente, ele no aprende. O

    que quer que o professor faa, ele no pode aprender

    no lugar do aluno. Ou, se preferirmos: s o aluno pode

    fazer aquilo que produz conhecimento, e o professor

    s pode fazer alguma coisa para que o aluno o faa.

    Evidentemente, sempre com um coeficiente de incer-

    teza. Nesse sentido, o trabalho do professor no en-

    sinar, fazer algo para que o aluno aprenda. Com

    freqncia, esse algo consistir em ensinar; outras

    vezes, pode tomar uma outra forma.

    Entretanto, esses dois termos (educando, educa-

    dor) articulam-se com um terceiro: uma instituio (a

    escola, mas poderia tambm ser a famlia ou outra

    instituio). Trata-se de uma instituio social, sub-

    metida a polticas. Em outras palavras, preservando a

    vertente da aprendizagem escolar, a atividade do alu-

    no e a do professor operam em um quadro institucio-

    nal que define as condies materiais, financeiras,

  • 16

    Bernard Charlot

    Revista Brasileira de Educao v. 11 n. 31 jan./abr. 2006

    burocrticas etc. Essa instituio no pode produzir o

    conhecimento no aluno, contrariamente s vises de

    transparncia e de controle total daqueles que do tanta

    importncia avaliao que ela termina por prevale-

    cer sobre a prpria aprendizagem. A instituio pode

    apenas fazer algo que talvez modifique aquilo que o

    professor e o aluno fazem. Existe a uma articulao

    fundamental entre trs aes de fazer, na qual o

    poder poltico est do lado da instituio e o poder

    intelectual do lado do professor, mas na qual aquilo

    que produz, em ltima instncia, o sucesso ou o fra-

    casso do empreendimento est do lado do aluno.

    Eis a uma das chaves para compreender a con-

    dio do professor: ele deve fazer alguma coisa, e ele

    ser cobrado por aquilo que tiver feito, mas ele no

    pode produzir diretamente o resultado de sua ao. O

    que vai produzir ou no o conhecimento a atividade

    intelectual do aluno, e este tem a capacidade de blo-

    quear todo o processo.

    Eis a tambm uma chave para compreender as

    possibilidades e os limites das polticas educativas.

    Nenhuma reforma poltica, por si s, resolve um pro-

    blema educacional. Acreditar nisso pensar como o

    Banco Mundial e a OCDE: vou mandar fazer e ava-

    liar, para verificar se eles fazem. Isso nunca funcio-

    na. Quem empreende uma reforma poltica no campo

    da educao deve perguntar-se: Como que isso que

    estou fazendo vai modificar as prticas dos professo-

    res e as dos alunos?. Porque, se aquilo que se faz

    nada muda nessas prticas, ento no ter nenhum

    resultado. Seria interessante voltar a analisar, a partir

    dessa perspectiva, a reforma que substituiu a escola

    seriada pela escola ciclada. A escola em ciclos bem

    melhor que a escola seriada, mas com uma condio:

    que sejam implementadas prticas dos professores e

    dos alunos que correspondam ao projeto da escola em

    ciclos. Porque, se as prticas continuarem a ser as da

    escola seriada, a escola em ciclos no funcionar, e

    poder at mesmo ser pior.

    Toda cincia recorta seu objeto na complexida-

    de do real. A psicologia pode, seu direito, decidir

    interessar-se pela educao como processo de subje-

    tivao; a sociologia, como processo de socializao;

    a filosofia, como processo de humanizao. Se uma

    disciplina especfica educao chegar a existir, creio

    que ser tomando como objeto o triplo processo, ins-

    talando-se no corao do processo, recusando-se a

    deixar de fora seja a humanizao, seja a socializa-

    o, seja a singularizao.

    Da mesma forma, uma pesquisa pode interessar-

    se seja pela atividade de aprendizagem do aluno (as

    didticas), seja pela atividade do professor e por sua

    formao, seja pelas polticas da educao. Mas se

    uma disciplina especfica educao chegar a existir,

    creio que ser levando em conta as articulaes entre

    as trs formas de atividade: a do aluno, a do professor

    e a das polticas.

    Isso acarreta, no mnimo, duas conseqncias.

    Em primeiro lugar, isso significa dizer que uma

    disciplina especfica educao deve estar muito aten-

    ta s contradies, s tenses, s defasagens, hete-

    rogeneidade das lgicas. A educao um triplo pro-

    cesso, que opera em uma tripla articulao, o que,

    naturalmente, engendra tenses e modos de funcio-

    namento heterogneos. De minha parte, em minhas

    pesquisas, trabalhei muito as lgicas heterogneas;

    penso ter sido capaz de mostrar que o sentido que os

    alunos das classes populares do ao fato de irem

    escola e aprender muito diferente do sentido que

    isso faz para os professores. Mas esse apenas um

    exemplo; h muitos outros.

    A segunda conseqncia que necessrio, ao

    mesmo tempo, distinguir cuidadosamente os nveis

    de realidade analisados e identificar o modo como

    um nvel opera nos demais. Existe, ali tambm, acre-

    dito, uma especificidade de uma pesquisa em edu-

    cao. O que acontece numa sala de aula decorre de

    um certo nvel de realidade, do qual no podemos

    dar conta com conceitos como reproduo ou glo-

    balizao, que tm a ver com outro nvel da reali-

    dade. Mas no h como ignorar o fato de que a desi-

    gualdade social e o neoliberalismo igualmente

    produzem efeitos na sala de aula. Que efeitos, pro-

    duzidos de que maneira, atravs de quais mediaes?

    De modo inverso, a acumulao de estratgias indi-

    viduais produz efeitos coletivos. Quais, como? Es-

  • A pesquisa educacional entre conhecimentos, polticas e prticas

    Revista Brasileira de Educao v. 11 n. 31 jan./abr. 2006 17

    tas so, acredito, questes especficas, para uma dis-

    ciplina especfica.

    Como fazer, concretamente?

    Depois de definidas as particularidades de uma

    disciplina educao, resta uma questo: como fazer,

    concretamente, para, alm das pesquisas que levam

    em considerao essas especificidades, construir uma

    disciplina organizada, passvel de ser identificada? A

    questo no trivial, e ela tambm permanece aberta.

    Na minha opinio, preciso solucionar o problema

    dos pontos de partida e da memria. Vou explicar.

    Como avanam as cincias duras (fsica, qu-

    mica, biologia)? Elas avanam a partir de seus pon-

    tos de chegada: quando constroem um objeto novo, elas

    o abrem, o questionam para saber do que ele feito.

    Quando temos a molcula, vamos abri-la para encon-

    trar o tomo, em seguida abrimos este ltimo, etc. Quan-

    do temos um gene, o abrimos e trabalhamos o DNA.

    Essas cincias trabalham a partir de seu ponto de che-

    gada, por isso so consideradas cincias cumulativas.

    Mesmo quando esse trabalho sobre os pontos de che-

    gada leva redefinio dos pontos de partida, a pers-

    pectiva anterior permanece integrada como um caso

    particular da nova perspectiva (o universo de Newton

    um caso particular do universo de Einstein).

    As cincias do homem e da sociedade no avan-

    am segundo o mesmo modelo. Elas progridem a par-

    tir de seus pontos de partida. Quando h avano nessas

    cincias porque foi proposta uma outra forma de co-

    mear (e porque se prova que ela produz resultados).

    Foi assim que fizeram Durkheim, Freud, Marx, Pavlov,

    Braudel, Lvi-Strauss, Bourdieu, Garfinkel, Goffman,

    Lacan, Piaget, Vygotsky, enfim, todos os grandes no-

    mes das histria das cincias sociais e do homem.

    Por isso no h acumulao nessas cincias. Em

    compensao, elas tm uma memria. Durkheim no

    deixou de ser interessante e de nos ensinar coisas, ain-

    da que, hoje em dia, no faa tanto sentido se dizer

    um durkheimiano.

    Se aceitamos essa anlise, a conseqncia que

    uma disciplina educao no surgir como especfica,

    para alm de um grande nmero de pesquisas esparsas,

    a no ser que ela venha a definir alguns pontos de par-

    tida que a especifiquem. Levando em conta as anlises

    precedentes, esses pontos de partida devem expressar

    o cuidado com o triplo processo ou a tripla articulao

    que esbocei anteriormente. Acredito que a noo de

    relao com o saber um desses pontos de partida, e

    que seu sucesso reside no fato de que ela fornece um

    ponto de apoio para trabalhar aquilo que existe de es-

    pecfico na educao. Mas h, sem dvida, outros pon-

    tos de partida, ainda a serem identificados.

    Se concordamos com a anlise sobre o modo como

    as cincias humanas e sociais so construdas e vivem,

    igualmente necessrio trabalhar a questo da mem-

    ria. As cincias da educao na Frana, a pesquisa edu-

    cacional no Brasil, carecem de memria. A principal

    conseqncia disso que refazemos continuamente as

    mesmas teses, as mesmas dissertaes, sem sabermos

    o que foi produzido anteriormente. Fazemos uma tese

    que j foi feita h dez anos, no mesmo pas ou no exte-

    rior, e at mesmo, s vezes, uma tese que foi defendida

    uma semana antes, em outra universidade, sem que ti-

    vssemos conhecimento disso. Tambm nos esquece-

    mos dos debates que aconteceram em dcadas anterio-

    res, em proveito dos autores da moda. Nossa

    disciplina no tem uma memria suficiente, e isso freia

    o progresso da pesquisa em educao. De minha parte,

    defendo, h dez anos, a idia de definir uma frente da

    pesquisa, que seria tambm uma memria. O que sa-

    bemos que foi estabelecido? Sobre o que discutimos

    hoje em dia, o que questionamos, e quais as posies

    assumidas no debate? Que pesquisas j foram realiza-

    das sobre os temas que esto na moda (os objetos so-

    ciomiditicos), a partir de quais questes, com que da-

    dos, e quais os resultados? Quais foram as dissertaes

    de mestrado e as teses de doutorado defendidas nos

    ltimos anos, e que resultados foram estabelecidos? Que

    pesquisas esto atualmente em andamento, sobre que

    temas, onde? Para que progrida a pesquisa em educa-

    o no Brasil, para que ela se organize, ganhe visibili-

    dade, para que se definam, pouco a pouco, pontos de

    partida e pontos de apoio, existe um trabalho a ser

    feito. Quando um jovem pesquisador chega a um de-

  • 18

    Bernard Charlot

    Revista Brasileira de Educao v. 11 n. 31 jan./abr. 2006

    partamento de gentica, ele no vai dizer Vou estudar

    a reproduo das moscas; e, se o diz, responderemos

    a ele que isso foi feito h mais de um sculo, por

    Mendel. Mas ocorre com bastante freqncia na Fran-

    a, no Brasil e provavelmente em outros pases, um

    jovem pesquisador anunciar que vai resolver o proble-

    ma do fracasso escolar em seu mestrado

    Tornou-se urgente constituir um arquivo coleti-

    vo da pesquisa em educao e definir uma ou vrias

    frentes da pesquisa. Acredito que, no Brasil, esse

    um trabalho que deveria ser assumido pela ANPEd,

    talvez em parceria com o CNPq e com outras insti-

    tuies. A ANPEd tem hoje 28 anos. uma idade

    em que ainda temos a audcia e as ambies da ju-

    ventude, aliadas a uma certa maturidade prpria da

    idade adulta. , portanto, uma boa idade para lan-

    ar-se, de forma racional, em um empreendimento

    um tanto ou quanto ousado.

    Referncias bibliogrficas

    CHARLOT, Bernard. Les sciences de lducation; un enjeu, un

    dfi. Paris: ESF Editora, 1995.

    BERNARD CHARLOT professor emrito em cincias da

    educao da Universidade Paris 8, na Frana, e consultor da Or-

    ganizao da Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cul-

    tura (UNESCO) no Brasil. Publicou onze livros e organizou ou-

    tros cinco. O ltimo, Relao com o saber, formao dos profes-

    sores e globalizao: questes para a educao hoje, foi publica-

    do diretamente no Brasil, pela editora Artes Mdicas, em 2005.

    Realizou recentemente, para o governo de Sergipe, uma pesquisa

    intitulada Juventudes sergipanas, financiada pela UNESCO. E-

    mail: [email protected]

    Recebido em outubro de 2005

    Aprovado em dezembro de 2005

  • Resumos/Abstracts/Resumens

    Revista Brasileira de Educao v. 11 n. 31 jan./abr. 2006 195

    Resumos/Abstracts/Resumens

    Bernard Charlot

    A pesquisa educacional entreconhecimentos, polticas e prticas:

    especificidades e desafios de umarea de saberSer que pode ser definida e construda

    uma disciplina especfica, chamada edu-

    cao ou cincias da educao? O autor

    apresenta trs respostas possveis. Pri-

    meira: os departamentos de educao

    no passam de um agrupamento admi-

    nistrativo de matrias interessadas pela

    educao. Segunda: esse prprio agru-

    pamento gera uma especificidade das

    pesquisas, entre conhecimentos, polti-

    cas e prticas. A terceira resposta con-

    siste em apostar em uma disciplina es-

    pecfica. Nessa ltima perspectiva, so

    analisados sete tipos de discursos

    atuais sobre educao: espontneo, dos

    prticos, dos antipedagogos, da peda-

    gogia, das cincias humanas, dos mili-

    tantes e das instituies internacionais.

    Nesse campo j saturado de discursos,

    qual lugar para um discurso cientfico

    especfico? Para responder a essa per-

    gunta, o autor apresenta algumas pro-

    postas tericas e prticas.

    Palavras-chave: educao; cincias daeducao; pesquisa em educao

    Educational research amid

    knowledge, policies and practice:specificity and challenges of an areaof knowledge

    Is it possible to define and construct a

    specific discipline called education or

    science of education? The author

    presents three possible replies. First,

    departments of education are no more

    than mere administrative groupings of

    subjects interested in education.

    Second, this very grouping generates a

    specificity of research amid knowledge,

    policy and practice. The third reply

    consists of betting on a specific discipli-

    ne. In this last perspective, seven types

    of current discourse on education are

    analysed: spontaneous, practical,

    antipedagogic, pedagogic, human

    science, militant and of international

    institutions. In this field already

    saturated with discourses what space is

    there for a specific scientific discourse?

    In order to respond to this question, the

    author presents some theoretical and

    practical proposals.

    Key-words: education; science of

    education; educational research

    La pesquisa educacional entreconocimientos, polticas y prcticas:especificaciones y desafos de una

    rea del saberSer que puede ser definida y constru-

    da una disciplina especfica, llamada

    educacin o ciencias de la educacin?

    El autor presenta tres respuestas

    posibles: Primera: los departamentos

    de educacin no pasan de un

    agrupamiento administrativo de

    materias interesadas por la educacin.

    Segunda: ese propio agrupamiento

    genera una especificacin de las pes-

    quisas, entre conocimientos, polticas y

    prcticas. La tercera respuesta consiste

    en apostar en un mtodo especfico. En

    esta ltima perspectiva, son analizados

    siete tipos de discursos actuales sobre

    educacin: espontneo, los prcticos,

    los antipedaggicos, de pedagoga, de

    ciencias humanas, de militantes y de

    instituciones internacionales. En este

    campo ya saturado de discursos, cul

    es el lugar para un discurso cientfico

    especfico?. Para responder a esta

    pregunta, el autor presenta algunas

    propuestas tericas y prcticas.

    Palabras claves: educacin; ciencias de

    la educacin; pesquisa en educacin

    Nelson Pretto e Cludio da Costa Pinto

    Tecnologias e novas educaes

    O artigo analisa a sociedade contem-

    pornea, a partir das transformaes

    do mundo cientfico, tecnolgico, cul-

    tural, social e educacional, com o obje-

    tivo de fazer uma crtica a este. Consi-

    dera importante a re-aproximao

    entre a cultura e a educao, entendi-

    das no plural, e destas com as tecno-

    logias da informao e comunicao

    (TIC). Aborda os avanos das TIC e

    os movimentos de concentrao na

    propriedade dos meios de comunica-

    o de massa, faz a sua crtica, e apre-

    senta as propostas em andamento na

    Faculdade de Educao da UFBA para

    a formao de professores, conside-