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• POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA INDICADORES Produção crescente Polêmicas à parte, artigos de autores brasileiros em periódicos indexados representam 1,440/0 da ciência mundial CLAUDIA IZIQUE O vigor da atividade de pesquisa de um país é geralmente medido pelo número de artigos publicados por pesquisado- res em periódicos científicos interna- cionais indexados. Um dos indicadores consensualmente aceitos pela comunidade científica éo Science Citation Index (SCI) da base de dados do Institute for Scientific Information (ISI), divulgada pelo National Science Indicators. Esse indicador in- dexa mais de 5 mil periódicos, rigorosamente sele- cionados, referentes a 164 áreas do conhecimento. Pelo critério do ISI, a produção científica nacional vai muito bem. No ano passado, os pesquisadores bra- sileiros publicaram 10.555 artigos, número que re- presenta 1,44% da produção de seus pares em todo o mundo. Parece pouco, mas equivale a algo em torno de 40% dos artigos científicos publicados pelos lati- no-americanos no mesmo período .. A base de dados do ISI revela ainda que, a cada ano, o número de publicações brasileiras cresce em relação ao dos demais países. Em 1995, representava 0,83%. Passou a 1%, em 1997 e, em 2000, quando bateu no 1,33% do total de publicações, o Brasil já ocupava a nona posição no ranking dos 20 países que registra- vam maior crescimento no número de artigos publi- cados em periódicos indexados. Nessa lista, enca- beçada pela China, a Coréia do Sul- cujo modelo de desenvolvimento é considerado a antípoda do brasi- leiro no quesito inovação e patentes - estava em quar- to lugar. ''A produção científica quadruplicou dos anos 80 até hoje", resume Carlos Henrique de Brito Cruz, reitor da Universidade Estadual de Campinas e um estudioso da cienciometria, que tem como objeti- vo gerar informações e estimular discussões que con- tribuam para superar os desafios da ciência moderna. Noutro ranking do ISI para 2000, o da classifica- ção dos países por número de artigos publicados, o 18 • NOVEMBRO DE 2002 PESQUISA FAPESP 81 Brasil, na época com 9.511 artigos publicados, esta- va na 17 a posição. A China, com 24. 923 artigos pu- blicados, ficou em 9° lugar; e a Coréia do Sul, com 12.218, em 16°. Nessa lista, o campeão são os Es- tados Unidos, com uma performance espetacular: 243.269 artigos publicados em revistas indexadas. O segundo colocado, o Japão, publicou 68.047 artigos; e o terceiro, a Alemanha, 62.941. É interessante re- gistrar que, entre 1981 e 2000, o crescimento do nú- mero de artigos publicados por pesquisadores nor- te-americanos foi de 41,51 %, enquanto a variação porcentual das publicações do Japão e Alemanha au- mentaram, respectivamente, 153,29% e 91,57% no mesmo período. No caso brasileiro, essa variação foi de 403,49%; no da China, de 1.414,16%; e no da Coréia do Sul, de inacreditáveis 5.235,37%. Detalhe: em 1981, os pesquisadores brasileiros publicaram 1.889 artigos em periódicos indexados no ISI, con- tra apenas 229 artigos da Coréia do Sul e 1.646 arti- gos de pesquisadores chineses. Neste intervalo de 18 anos, portanto, enquanto o Brasil lentamente ga- nhava posição no ranking de produção científica, a China e a Coréia do Sul arrancavam. O desempenho da China, Coréia do Sul e do Brasil, aliás, tem preocupado bastante os indianos. A edição nv 419 da revista Nature, de 12 de setem- bro, comenta que Subbiah Arunachalam, um ana- lista da ciência da M.S. Swaminathan Research Foundation, em Chennai, na Índia, observou que, ao contrário dessas três nações, o número de arti- gos de pesquisadores de seu país publicados em re- vistas indexadas no ISI caiu de 14.983, em 1980, para 12.127, em 2000. A constatação, segundo a Na- ture, resultou num apelo emocionado de Aruna- chalam a seus pares: "Ou fazemos alguma coisa sé- ria, ou temo que nos tornaremos, em breve, um país com ciência de terceiro mundo".

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• POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

INDICADORES

Produção crescentePolêmicas à parte, artigos de autoresbrasileiros em periódicos indexadosjá representam 1,440/0 da ciência mundial

CLAUDIA IZIQUE

Ovigor da atividade de pesquisa de umpaís é geralmente medido pelo númerode artigos publicados por pesquisado-res em periódicos científicos interna-cionais indexados. Um dos indicadores

consensualmente aceitos pela comunidade científicaé o Science Citation Index (SCI) da base de dados doInstitute for Scientific Information (ISI), divulgadapelo National Science Indicators. Esse indicador in-dexa mais de 5 mil periódicos, rigorosamente sele-cionados, referentes a 164 áreas do conhecimento.Pelo critério do ISI, a produção científica nacionalvai muito bem. No ano passado, os pesquisadores bra-sileiros publicaram 10.555 artigos, número que re-presenta 1,44% da produção de seus pares em todo omundo. Parece pouco, mas equivale a algo em tornode 40% dos artigos científicos publicados pelos lati-no-americanos no mesmo período ..

A base de dados do ISI revela ainda que, a cada ano,o número de publicações brasileiras cresce em relaçãoao dos demais países. Em 1995, representava 0,83%.Passou a 1%, em 1997 e, em 2000, quando bateu no1,33% do total de publicações, o Brasil já ocupava anona posição no ranking dos 20 países que registra-vam maior crescimento no número de artigos publi-cados em periódicos indexados. Nessa lista, enca-beçada pela China, a Coréia do Sul- cujo modelo dedesenvolvimento é considerado a antípoda do brasi-leiro no quesito inovação e patentes - estava em quar-to lugar. ''A produção científica quadruplicou dosanos 80 até hoje", resume Carlos Henrique de BritoCruz, reitor da Universidade Estadual de Campinas eum estudioso da cienciometria, que tem como objeti-vo gerar informações e estimular discussões que con-tribuam para superar os desafios da ciência moderna.

Noutro ranking do ISI para 2000, o da classifica-ção dos países por número de artigos publicados, o

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Brasil, na época com 9.511 artigos publicados, esta-va na 17a posição. A China, com 24. 923 artigos pu-blicados, ficou em 9° lugar; e a Coréia do Sul, com12.218, em 16°. Nessa lista, o campeão são os Es-tados Unidos, com uma performance espetacular:243.269 artigos publicados em revistas indexadas. Osegundo colocado, o Japão, publicou 68.047 artigos;e o terceiro, a Alemanha, 62.941. É interessante re-gistrar que, entre 1981 e 2000, o crescimento do nú-mero de artigos publicados por pesquisadores nor-te-americanos foi de 41,51 %, enquanto a variaçãoporcentual das publicações do Japão e Alemanha au-mentaram, respectivamente, 153,29% e 91,57% nomesmo período. No caso brasileiro, essa variação foide 403,49%; no da China, de 1.414,16%; e no daCoréia do Sul, de inacreditáveis 5.235,37%. Detalhe:em 1981, os pesquisadores brasileiros publicaram1.889 artigos em periódicos indexados no ISI, con-tra apenas 229 artigos da Coréia do Sul e 1.646 arti-gos de pesquisadores chineses. Neste intervalo de 18anos, portanto, enquanto o Brasil lentamente ga-nhava posição no ranking de produção científica, aChina e a Coréia do Sul arrancavam.

O desempenho da China, Coréia do Sul e doBrasil, aliás, tem preocupado bastante os indianos.A edição nv 419 da revista Nature, de 12 de setem-bro, comenta que Subbiah Arunachalam, um ana-lista da ciência da M.S. Swaminathan ResearchFoundation, em Chennai, na Índia, observou que,ao contrário dessas três nações, o número de arti-gos de pesquisadores de seu país publicados em re-vistas indexadas no ISI caiu de 14.983, em 1980,para 12.127, em 2000. A constatação, segundo a Na-ture, resultou num apelo emocionado de Aruna-chalam a seus pares: "Ou fazemos alguma coisa sé-ria, ou temo que nos tornaremos, em breve, umpaís com ciência de terceiro mundo".

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I

Brasil: número de artigos publicados em periódicos científicos internacionaisI

Fator de impactn- O ISItambém classifica os ar-tigos científicos por áreade conhecimento. Tam-bém nesse quesito, a pro-dução brasileira merecedestaque. Entre 1981 e2000, o número de arti-gos publicados na áreade biologia e bioquími-ca, por exemplo, saltoude 192 para 816, puxan-do o porcentual de par-ticipação da produçãocientífica nacional nes-sas áreas de 0,47% para1,55% em relação ao res-to do mundo. Desempe-nho semelhante pode serobservado nas áreas deciências agrárias, imuno-logia, biologia molecularegenética,engenharia e fí-sica, entre outras.

Sabe-se que, quantomais um país publica,mais é citado. Portanto, uma outra for-ma de avaliar a performance de um paísno que se refere à produção científicaécontabilizar o número de citações deartigos nas diversas publicações, numperíodo de três anos, a partir de suapublicação. Essa medida é conhecidacomo fator de impacto. Brito Cruz e [a-queline Leta, do Departamento de Bio-química Médica da Universidade Fe-deral do Rio de Janeiro (UFRJ), fizeramas contas, utilizando os dados do Na-tional Science Citation Reports 1981 -2000, e observaram um aumento pro-gressivo do fator de impacto daspublicações brasileiras. Em 1981, regis-trava-se uma citação por artigo para oconjunto publicado naquele ano. Em1998, o fator de impacto saltou para1,9 citação por artigo, considerando ototal de artigos do período.

Brito e Iaqueline foram mais longe:decidiram comparar os fatores de im-pacto da produção brasileira com amédia mundial, em 1998. Utilizandocomo base informações das revistascadastradas no Journal of Citation Re-ports OCR), publicação anual do ISI,eles constataram que apenas as pu-blicações da área de física apresenta-vam fator de impacto superior à médiamundial (veja tabela 2). Mas tambémobservaram que o fator de impactodas publicações de algumas áreas, co-

América % do Brasil % do Brasilem relação à em relação

Latina América Latina ao mundo

5.672 429.463 33,30 0,446.187 440.062 35,32 0,506.471 448.785 34,11 OA99.845 448.939 35,02 0,516.915 480.973 33A5 OA87.430 498.666 33,38 0,507.797 497.337 32,38 0,518.051 515.441 34,41 0,548.818 538.983 34,86 0,579.622 554.229 36,95 0,64

10.208 567.578 38,27 0,6911.656 606.847 39,77 OJ611.847 598.625 37,90 OJ512.871 633.992 37,55 OJ614.499 665.590 37m 0,8315.953 674.195 37,97 0,9017.666 677.787 38,20 1,0019.323 702.521 40,96 1,1321.516 716.477 41,59 1,2522.589 714.171 42,10 1,33

734.248 1,44Autorizada em 3/8/2001

Ano

1981 1.8891982 2.1851983 2.2071984 2.2711985 2.3131986 2.4801987 2.5251988 2.7701989 3.0741990 3.5551991 3.9071992 4.6361993 4.4901994 4.8331995 5.5081996 6.0571997 6.7491998 7.9151999 8.9482000 9.5112001 10.555

l'0nte: 151, NSI __ Elaboraçã~ ~ --"

mo engenharia e ciências agrárias, esta-va muito próximo dessa média. Nãochega a ser coincidência o fato de que,no V Congresso Mundial de MecânicaComputacional, realizado em julho úl-timo, em Viena, o Brasil tenha ficadoem quarto lugar em número de con-tribuições, atrás dos Estados Unidos,Alemanha e Japão. Participavam docongresso 57 países.

Informação em Ciência da Saúde (Bi-reme), criaram o programa ScientificEletronic Library On-line (SciELO),uma biblioteca virtual que indexa 91publicações brasileiras.

Aartir da base de dados doSciELO, Meneghini refaz acontabilidade da produçãocientífica brasileira. Se oISI registrou cerca de

10 mil artigos científicos brasileiros em5 mil publicações, em 2001, o SciELOpublicou 5 mil artigos de 84 revistas na-cionais, no mesmo período; e se ape-nas 15 dessas revistas do Scielo estãoindexadas no ISI, a ciência publicadanas outras 69 revistas não está sendoconsiderada, constata. Portanto, aos10.555 mil artigos brasileiros indexa-dos pelo ISI, devem ser somados algoem torno de mais 3 mil contabilizadospelo SciEW, perfazendo um total de 13mil artigos em publicações internaci-onais e nacionais. Mas mesmo ampli-ando as bases de dados, os resultadospodem estar subestimados: o SciELOcobre apenas uma parte da literaturacientífica nacional, que, ao todo, devesomar 400 ou 500 revistas. "Há, de fato,uma ciência escondida", conclui.

Cabe aqui uma indagação: seria estaciência "escondida" de terceira catego-ria? Meneghini constatou que não. Ar-

Ciência escundida- A produção éien-tífica nacional, no entanto, é maior doque a indexada pelo ISI, que contabili-za os artigos publicados num universode cerca 5 mil publicações, das quaisapenas 15 são revistas brasileiras. "Acomparação do ISI é parcial, só pega aparte da produção brasileira que vaipara o mainstream", diz Rogério Mene-ghini, coordenador do Centro de Biolo-gia Molecular Estrutural (CBME), doLaboratório Nacional Luz Síncrotron(LNLS), outro estudioso do assunto,referindo-se à produção científicacom visibilidade internacional. Umaparcela dos artigos publicados porbrasileiros em revistas nacionais, elesublinha, não é computada. Foi exata-mente para incorporar às estatísticasaquela ciência que fica fora do circui-to das publicações mais prestigiadas,que ele e Abel Packer, diretor do Cen-tro Latino-Americano e do Caribe de

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gumenta: os índices de citação entre au-tores brasileiros é bastante significativoe os pesquisadores mantêm, por meio depublicações nacionais, intenso diálogo,sobretudo nas áreas de agricultura, vete-rinária, saúde pública e medicina tropi-cal. "Essas áreas tratam de problemaslocais que não interessam às publica-ções estrangeiras. Isso demonstra queessa ciência que não está internacional-mente visívelnão é lixo",avalia.A regravale mesmo para áreas como física,quí-mica ou biologia, onde há uma certatendência de menosprezar as publica-ções nacionais. "Existem artigos muitobons em revistas SciELO",ressalva.

Há outros indicadores que tambémcontribuem para a avaliação da pro-dução científica nacional. Um deles é abase de dados do Diretório de Grupo dePesquisa no Brasil, do Conselho Nacio-nal de Desenvolvimento Científico eTecnológico (CNPq), que cobre 80%das atividades de pesquisa no país. To-mando-se os dados do último censo -cujas informações foram coletadas en-tre março e julho deste ano - e conside-rando apenas a produção científica dosprofessoresdoutores, chega-se a um to-tal de 24.459 artigos publicados emrevistas técnico-científicas e periódicosespecializados em língua estrangeira,em 2001. Mais que o dobro do númerocontabilizado pelo ISIno mesmo perío-

do. Os artigos publicados por professo-res doutores em revistas técnico-cien-tíficas e periódicos especializados, decirculação nacional somam 22.571,quase cinco vezes maior que o númerode artigos publicados pelo SciELO.E onúmero de artigos publicados, tantoem português como em língua estran-geira, cresce sistematicamente desde1998. Essa evolução, aliás, é até maiorno caso dos artigos publicados em lín-gua estrangeira. Não há dupla conta-gem nos totais das publicações, excetono caso dos trabalhos em co-autoria,informa o CNPq.. O Diretório dos Grupos de Pesqui-sa do CNPq não estratifica ou qualificaos veículos onde os artigos foram publi-cados, o que impede uma avaliaçãoqua-litativa dessa produção. Mas os dadosreforçam a idéia de que a atividade cien-tífica no país cresce, sistematicamente,permitindo um intenso diálogo entrepesquisadores brasileiros e estrangeiros.

A atividade científica brasileira, noentanto, é localizada. Leopoldo de Meise Iaqueline Leta já tinham observado,em um estudo publicado em 1996,quecerca de 70% da produção científicabrasileira indexada nas bases do ISI ti-nha origem em instituições do Sudes-te, onde, aliás, se localiza a maior partedas universidades, programas de pós-graduação e pesquisadores. Os dados

do CNPq para 2002 reforçam esta ob-servação: 65% dos artigos publicadospor pesquisadores doutores em perió-dicos de circulação internacional e 55%dos que circularam em revistas brasi-leiras tiveram origem na região Sudes-te. O Sul vem em segundo lugar, com15% das publicações em periódicos in-ternacionais e 25% nos nacionais. Écer-to que o fenômeno da concentração dapesquisa não é exclusivamente brasilei-ro: nos Estados Unidos, cerca de 36% daprodução científica indexada nas basesdo ISI, em 1998, tinha tido origem naCalifómia, Nova York, Nova Iersey ouMassachusetts. Mas, no caso brasilei-ro, é interessante registrar que todas asregiões tiveram incremento no núme-ro de publicações indexadas na basedo ISI, entre 1985 e 1999, conformeconstataram Meneghini e IaquelineLeta, no capítulo Produção Científicados Indicadores de Ciência, Tecnologia eInovação em São Paulo - 2001, publica-do pela FAPESP.Os estados que maisse destacaram foram o Paraná (de 74publicações para 608), Santa Catarina(de 55 para 372) e Minas Gerais (de 189para 1.249).

Pesquisa qualificada - Os dados dabase do ISI indicam aumento absolutoe relativodo número de publicaçõesbra-sileiras em periódicos indexados e um

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Produção bibliográfica anual de pesquisadores doutores

Ano da Total de Artigos completos Trabalhos

produção autores publicados em periódicos completos

especializados publicados

I Iem anais

deCirculação Circulação eventos

nacional internacional

1988 27.893 22.083 19.550 31.241

1999 28.680 24.280 22.142 33.540

2000 28.275 24.936 23.511 37.885

2001 26.571 22.938 24.459 35.749

TOTAIS

Fonte: Diretório de Pesquisa do CNPq - Censo 2002

Livros ou capítulos

de livros publicados

pelo uso de parâmetros di-ferentes de consulta.

De fato. O Web af Sei-ence, utilizado como re-ferência pelos pesquisado-res da Unifesp, reúne todasas três bases de dados doISI, num total de mais de8 mil publicações. Já osdados do MCT foram co-letados junto ao SCI, com5 mil publicações rigorosa-mente selecionadas. E aseleção criteriosa é avalis-ta da qualidade dos arti-gos publicados. O SciELO,por exemplo, indexa ape-nas 91 das cerca de 500pulicações brasileiras. Ostítulos são selecionadosdepois de uma análise da

periodicidade, corpo editorial, critériostécnicos, entre outros. "Chegaremos a100 revistas que representam algo entre80% e 90% das citações de revistas na-cionais", diz Meneghini.

Mas a verdadeira controvérsia estána conclusão da pesquisa realizada porHelena Nader: uma das razões dessaqueda teria sido a redução do financia-mento do setor. "Não existe como a pes-quisa cair de um ano para outro", afir-mou Gil da Costa Marques, diretor doInstituto de Física da Universidade deSão Paulo (USP), à Agência USP. Qual-quer impacto de uma eventual inter-rupção do financiamento, ele continu-ou, só poderia ser sentido a longoprazo. Também falando à Agência USP,

Roberto Mendonça Faria,do Instituto de Física de SãoCarlos, lembrou que a pes-quisa brasileira sofreu, em1992 e 1993, um corte brus-co no financiamento. "Mes-mo assim não houve quedada participação do Brasil naprodução científica mun-dial", argumentou.

Para Brito Cruz, o finan-ciamento é apenas um doselementos responsáveis pe-la performance da produ-ção científica brasileira nosúltimos anos. "Esse cresci-mento é mais em funçãoda base acadêmica do quedo aumento dos recursospara o financiamento dapesquisa", conclui.

Resumos de trabalhos

publicados emOutras

publicações

biblio-

gráficasespecia-lizados

. rPeriódicos Anais deT

LivrosCapítulos

de livros eventos

12.343 3.831 65.0562.396

2.555

2.526

9.368

10.793

10.972

4.932

5.828

6.163

18.215 11.307

crescimento sistemático do fator de im-pacto desses artigos, entre 1995 e 200l.As informações do SciELO sugerem queessa atividade pode ser ainda maior e asdo Diretório de Pesquisa do CNPq dãoum quadro ainda mais otimista da ati-vidade científica no país.

Como explicar esse desempenho?"O crescimento da produção científicacresce junto com o número de pessoascapazes de fazer ciência", responde oreitor da Unicamp. De fato, entre 1993e 2002, o número de doutores no paíssaltou de 10.994 para 33.947 e o demestres, de 6.754 para 15.265, de acor-do com os dados do Diretório de Pes-quisa do CNPq. O interessante é que,nessa evolução, os doutores ampliarama sua participação no totalde pesquisadores brasilei-ros de 51% para 59,7%, e apresença dos mestres caiude 31,4% para 26,8%.

Polêmicas e controvérsias -Mas a avaliação do desem-penho das atividades cien-tíficas no país pode gerarpolêmicas. Helena Nader,pró-reitora de graduaçãoda Universidade Federal deSão Paulo (Unifesp), inquie-tou a comunidade científicaao divulgar, em agosto últi-mo, os resultados de seutrabalho sobre a produçãode artigos por pesquisa-dores brasileiros. O levan-tamento foi realizado em

parceria com Carl P. Dietrich, do De-partamento de Bioquímica, e Jair deJesus Mari, do Departamento de Psi-quiatria, ambos da Unifesp, com baseno banco de dados Web af Science,também do ISI, e em relatórios oficiaisdo Ministério da Ciência e Tecnologia(MCT). Eles constataram que, depoisde três décadas de crescimento contí-nuo, a participação do Brasil na produ-ção científica mundial caiu de 1,08%,em 2000, para 0,95%, no ano passado.Esses resultados contradizem as esta-tísticas do MCT segundo as quais aparticipação brasileira teria represen-tado, em 2001, 1,44% da produçãomundial. Essa diferença, segundo He-lena tem afirmado, pode ser explicada

Impacto médio das publicações brasileiras eFator de Impacto médio das revistas por área

ÁreaImpacto Brasil

1998Fator de Impacto

da Área .--JCiências agráriasCiências biológicasCiências biomédicasCiências humanasEngenhariasFísicaMatemáticaMedicinaQuímicaCiências da terra

0,55OJO1,110,220,491,600,361,041,030,79

OJ70,50lAO0,521,351,320,95

Fonte: Journal Citation Report e National Science Citation Reports 1981/2000Elaborado pelos autores: Carlos H. Brito Cruz e Jaqueline Leta

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