A prática budista muda o destino

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A prática budista muda o destino, os traumas e os sofrimentos em felicidade (publicado na Revista "Living Buddhism" (SGI-USA) de Março de 2.002) Por Jeanny Chen, Saratoga, California. Disponível em http://www.happyjeanny.com O que posso lembrar da minha infância em Taiwan, é que minha família estava constantemente mudando-se de uma cidade para outra para fugir dos credores e começar de novo. Como resultado dos reiterados fracassos nos negócios do meu pai, suas instalações e nossos pertences eram freqüentemente colocadas sob custódia legal por ordem dos tribunais. As vezes voltávamos para casa e encontrávamos a porta lacrada pela justiça, proibindo-nos a entrada. Antes de que pudéssemos encontrar uma forma de fugir dos credores, meus pais usualmente escondiam toda a família num quarto alugado, apagavam as luzes e nos mantinham quietos dia e noite. Até hoje, permanece tão vívida na minha memória a imagem dos credores batendo na porta ferozmente, exigindo-nos que abríssemos para que pudessem confiscar o que restava ou agindo violentamente contra nós. Minha mãe trabalhou tão duramente para manter o negócio do meu pai funcionando, que apenas aparecia em casa. Quando tinha treze anos, ela também foi presa durante um ano e meio: meu pai tinha usado seu nome para dirigir seu negocio falido e tinha soltado cheques sem fundos. Antes de eu nascer e durante minha vida, meu pai teve outra mulher. Era comum em Taiwan nessa época que os homens tivessem acompanhantes femininas fora do casamento. Meus irmãos e eu ficávamos a mercê da tirania desta mulher durante a ausência da minha mãe, especialmente quando esteve na prisão. Minha família deve ter mudado vinte vezes durante minha infância. Fui colocada em quatro lares substitutos durante a época do colégio. Tive que mudar de uma escola para outra muitas vezes. Nunca fiz grandes amizades. Sou a do meio entre oito irmãos, a mais insignificante e desprotegida. Era o patinho feio que sempre estava triste. Não odiava meus pais pelos seus fracassos, mas tinha uma enorme pergunta: Por quê eu? Por quê minha família? Os empregados do meu pai várias vezes malgastava substanciais quantias de dinheiro. Muitos dos seus clientes se declaravam em bancarrota por sua culpa. Quem era responsável por tal intrincada rede? Também me preocupava tremendamente não poder fazer nada para proteger minha mãe das relações do meu pai com suas amantes. Uma das minhas professoras primárias declarou que eu era muito cínica e ressentida, após eu ter escrito uma autobiografia de vinte páginas

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Fala sobre a prática Budista de Nitiren Daishonin

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A prática budista muda o destino, os traumas eos sofrimentos em felicidade

(publicado na Revista "Living Buddhism" (SGI-USA) de Março de 2.002)Por Jeanny Chen, Saratoga, California.

Disponível em http://www.happyjeanny.com

O que posso lembrar da minha infância em Taiwan, é que minha família estava constantemente mudando-se de uma cidade para outra para fugir dos credores e começar de novo. Como resultado dos reiterados fracassos nos negócios do meu pai, suas instalações e nossos pertences eram freqüentemente colocadas sob custódia legal por ordem dos tribunais. As vezes voltávamos para casa e encontrávamos a porta lacrada pela justiça, proibindo-nos a entrada.

Antes de que pudéssemos encontrar uma forma de fugir dos credores, meus pais usualmente escondiam toda a família num quarto alugado, apagavam as luzes e nos mantinham quietos dia e noite. Até hoje, permanece tão vívida na minha memória a imagem dos credores batendo na porta ferozmente, exigindo-nos que abríssemos para que pudessem confiscar o que restava ou agindo violentamente contra nós.

Minha mãe trabalhou tão duramente para manter o negócio do meu pai funcionando, que apenas aparecia em casa. Quando tinha treze anos, ela também foi presa durante um ano e meio: meu pai tinha usado seu nome para dirigir seu negocio falido e tinha soltado cheques sem fundos.Antes de eu nascer e durante minha vida, meu pai teve outra mulher.Era comum em Taiwan nessa época que os homens tivessem acompanhantes femininas fora do casamento. Meus irmãos e eu ficávamos a mercê da tirania desta mulher durante a ausência da minha mãe, especialmente quando esteve na prisão.

Minha família deve ter mudado vinte vezes durante minha infância. Fui colocada em quatro lares substitutos durante a época do colégio. Tive que mudar de uma escola para outra muitas vezes. Nunca fiz grandes amizades. Sou a do meio entre oito irmãos, a mais insignificante e desprotegida. Era o patinho feio que sempre estava triste. Não odiava meus pais pelos seus fracassos, mas tinha uma enorme pergunta: Por quê eu? Por quê minha família? Os empregados do meu pai várias vezes malgastava substanciais quantias de dinheiro. Muitos dos seus clientes se declaravam em bancarrota por sua culpa. Quem era responsável por tal intrincada rede? Também me preocupava tremendamente não poder fazer nada para proteger minha mãe das relações do meu pai com suas amantes.

Uma das minhas professoras primárias declarou que eu era muito cínica e ressentida, após eu ter escrito uma autobiografia de vinte páginas (outros estudantes entregaram uma ou duas páginas). Outra professora odiava minha cadavérica aparência. Comentou que eu não tinha nenhuma chance de progredir. Isso doía. Sei o motivo pelo qual meus professores me desprezavam: sob a sombra da minha situação familiar, tinha-me resignado ao meu destino ainda criança. Era pessimista, teimosa, taciturna, insensível, nervosa, irascível e ansiosa. Não tinha esperanças, coragem, sonhos e nem sequer lágrimas, se quisesse chorar. Não podia fazer nada além de seguir os altos e baixos da minha débil vida.

Estava pronta para aceitar o mínimo e o pior. Procurava respostas com adivinhos, só para descobrir mais razões para ser pessimista. Tentava fugir da realidade sonhando toda vez que podia.

Como resultado disso ia mal na escola. Finalmente pedi autorização para ausentar-me no meu primeiro ano universitário e fiquei em casa sem fazer nada. Não podia suportar como

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meus pais tinham que lidar com semelhante caos superando uma crise após outra sem fim. Isto afetou minha condição física, o que converteu-se na minha desculpa para suspender minha educação.

Apesar de tal miserável infância e adolescência, no meu último ano universitário tive a grandiosa boa sorte de conhecer Raymond, um homem incrível que logo converteu-se no meu amado marido. Proporcionou-me tão excepcional e pacífico abrigo, que fui capaz de deixar os problemas da minha própria família para trás por um tempo. Meu doce casamento, porém, não marcou o fim dos meus sofrimentos.

Raymond me amava e nutria com todo o amor, cuidado e atenção que eu pudesse desejar. Mas mesmo assim, bem lá dentro, era infeliz, cínica e cheia de ansiedade. Estava preparada para dar-me por vencida a qualquer momento. Não podia apreciar a beleza da vida ou da arte. Não tinha passatempos nem desenvolvia interesse por nada. Sentia-me triste porque meu esposo tinha casado com uma pessoa insuportavelmente insulsa. Meus pais continuaram lutando contra seu obstinado carma e meu coração não encontrava paz, por não ter a capacidade de ajudá-los. Não havia solução.

Não foi até pouco tempo atrás, depois de ter estado praticando o Budismo durante dez anos, que reparei no verdadeiro aspecto do meu carma de sofrimento. Nitiren Daishonin, citando o Sutra Hatsunaion-kyo, na sua "Carta de Sado" afirma:

"Os senhores de fé devota, desde que cometeram inumeráveis pecados formando vários maus carmas no passado, sofrerão pela retribuição de todas essas ações. Serão menosprezados, terão uma aparência feia, faltar-lhe-ão comida e roupa, em vão procurarão saúde, nascerão numa pobre e herética família ou sofrerão as perseguições de imperadores".

Ademais diz:

"É pelo benefício de abraçar a Lei que uma pessoa pode diminuir a retribuição de sofrimentos como um homem". (END, vol. 1, pág. 203)

Nitiren Daishonin me ensina que cada pessoa que encontro, tudo o que me acontece e as diferentes condições que rodeiam minha vida, são a exata manifestação do meu carma. De acordo com este ensinamento, tenho criado o carma negativo no passado, e o levarei existência após existência a não ser que o transforme mediante minha prática da Lei Mística. A mesma escritura deixa claro que tenho feito coisas similares a outras pessoas em existências anteriores, portanto todos os efeitos estavam chegando-me nesta existência. A causa mais séria que cometi foi minha passada calúnia à Lei Mística.

Superficialmente, sofri porque tinha nascido com um pai que não cumpria com minha mãe, e que negava-se a ser derrotado, mesmo quando nunca tinha sucesso na sua carreira. Sofria porque tinha uma mãe que, apesar da sua diligência e virtudes, estava firmemente presa pela união do seu destino com o do meu pai. Sofria porque meus irmãos e eu éramos maltratados por outra mulher, e assim sucessivamente.

O verdadeiro aspecto desses fenômenos, porém, é que eram meu próprio carma. Precisava que essas pessoas desempenhassem seus respectivos papéis no drama da minha vida. Este não tinha acabado, eu tinha sido incapaz de mudá-lo. Mesmo se pudesse mudar todo o elenco, os novos atores ainda atuariam de acordo com o que estava escrito no roteiro do meu carma. Minha vida ainda seria a mesma. Se tivesse um carma positivo, durante minha infância o drama do meu carma teria um elenco que levaria vidas amavelmente para prover-me de um ambiente feliz e confortável.

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Evidentemente, as pessoas na minha vida tinham seu próprio carma, mas eles não eram culpados pelo meu carma e meu destino. Nem sequer tinha que perdoá-los.

Eu era totalmente responsável por qualquer coisa pela que tivesse que passar.

Por aceitar a responsabilidade da minha própria vida, podia livremente transformá-la sem depender dos outros. Quando consegui ver a verdade fundamental deste fenômeno que me causava sofrimento, minha vida abriu-se. Meus amargos sentimentos de ser desafortunada, maltratada, inferior e de sentir-me presa, desapareceram.

Quando percebi isto, imediatamente fui recitar Daimoku na frente do Gohonzon. Dou valor a meus pais por suas vidas de incessante luta, já que serviram como um catalisador para manifestar meu carma negativo. Sou grata porque recitar Nam-myoho-rengue-kyo me põe no caminho correto e em perfeita harmonia com o ritmo do universo. De acordo com o que Daishonin escreve no Gosho "A Transformação do carma determinado":

"Devido ao fato de que até mesmo o carma determinado pode ser erradicado através do completo e genuíno arrependimento, é desnecessário dizer que o carma indeterminado pode também ser totalmente transformado". (END, vol. 1, pág. 215).

Desculpei-me perante o Gohonzon pelas minhas calúnias passadas e causas negativas e jurei não cometer nenhuma outra ofensa desde então. Em vez disso, me esforçaria em proteger a Lei Mística e criar causas positivas sob qualquer circunstância. Também orei para rodear-me de boas influências e afastar-me das más influências ou ainda melhor, trocá-las por boas.

Senti que orando sinceramente para erradicar meu carma, estava liberando meus pais da sua missão de mostrar o carma negativo da minha vida. Desde então, eles não tinham que sofrer pela parte do seu carma que estivesse ligada comigo.

Mediante minha fé, prática e estudo da Lei Mística tenho cumprido muitos objetivos e também tenho mudado meu carma. Como resultado disto, meu marido e eu podemos manter meus pais e dar-lhes uma vida confortável.Faz três anos, à idade de 72 anos, meu pai ainda era um lutador, mas seu tempo estava acabando-se. Estava tão profundamente assustado que começou a sofrer de insônia, e nem os remédios para dormir puderam ajudá-lo. Nunca antes tinha procurado ajuda religiosa, mas quando lhe fiz conhecer o Budismo de Nitiren Daishonin, imediatamente o abraçou.

Acredito que mudando meu próprio carma, fui capaz de ajudar meu pai a mudar o seu. Agora ele recita Nam-myoho-rengue-kyo e deixou completamente para trás seus pesares e dor. Desfruta sua vida como nunca antes. Minha mãe, duas irmãs e um irmão também estão orando Nam-myoho-rengue-kyo.

A escritura de Nitiren Daishonin "Wu-lung e I-lung" declara:

"O Sutra de Lótus é completamente diferente. Uma mão que o segura imediatamente atinge a iluminação, e uma boca que o recita instantaneamente entra no estado de Buda". (END, vol. 4, 295)

O que pode ser mais poderoso que usar o Sutra de Lótus para erradicar o carma da minha família?

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Quando comecei a compartilhar minha experiência com outros, descobri que para muitos, o sofrimento do seu carma freqüentemente convertia-se em traumas para toda a vida. Eram adictos, depressivos, ressentidos, estavam profundamente feridos e as vezes eram suicidas. Careciam de confiança e autoestima. Dói-me muitíssimo saber que as pessoas sofrem mais severamente do que posso imaginar e que não podem evitar anular-se a si mesmos.

Um dia, quando estava lendo o capítulo dez do Sutra de Lótus, "Mestre da Lei" (Hosshi), um parágrafo chamou minha atenção:

"O senhor [Rei da Medicina] deve entender que estas pessoas são grandes bodhisattvas que têm triunfado em obter o anuttara-samyak sambodhi (a suprema e perfeita iluminação). Compadecendo-se dos seres humanos, juraram nascer entre eles onde pudessem amplamente expor e fazer sobressair o Sutra de Lótus da maravilhosa Lei Mística. O quanto mais é verdade, então, para aqueles que abraçam o sutra inteiro e lhe brindam diversos tipos de oferendas!". (pág. 161)

Esta era a resposta documental que tinha andado procurando! Sentindo-me emocionada, recitei Daimoku durante três dias para entender completamente e absorver seu significado.

Compreendi que, como um dos Bodhisattvas da Terra, minha missão é propagar a Lei Mística durante os Últimos Dias da Lei e levar felicidade a todos os seres humanos. De acordo com o capítulo quinze do Sutra de Lótus "Emergindo da Terra", os Bodhisattvas da Terra tinham a sabedoria do Buda de incontáveis aeons, e todos foram ensinados e convertidos pelo Buda Sakyamuni antes da Cerimônia do Ar acontecer.

O segundo presidente da Soka Gakkai, Jossei Toda, explica que todos nós estávamos presentes na cerimônia. O Buda Sakyamuni nos confiou, junto a outros incontáveis Bodhisattvas da Terra, "aceitar, apoiar, ler, recitar e propagar amplamente a Lei Mística, fazer com que os seres humanos em todos os cantos a escutem e a entendam... e fazer que seus benefícios se difundam amplamente. Pela nossa benevolência para com todos os seres humanos, voluntariamente renunciamos ao benefício para nós e tomamos esta missão. Cada um de nós deliberadamente criamos nosso carma para nascer no mundo saha, num ambiente com as condições que escolhemos por própria vontade. Nascemos com nosso respectivo carma de sofrimento. Este sofrimento se converte no nosso ímpeto para procurar a solução. Sob tais circunstâncias, somos capazes de aproveitar nosso sofrimento e praticar a Lei Mística.

Graças a Nitiren Daishonin, ao presidente Ikeda e à Soka Gakkai, temos o Gohonzon e podemos seguir os ensinamentos corretos. Mediante nossa prática diligente dia a dia, polimos nossas vidas e fazemos emergir com sabedoria e energia vital, nosso estado de buda inerente. Como resultado, podemos superar as dificuldades, mudar nosso carma, mostrar a prova real, ser confiáveis e aprofundar nossa fé. Assim conseguimos ser capazes de demonstrar a grandiosidade da Lei Mística e propagá-la.

O ideograma chinês para a palavra missão significa "usar a própria vida".

Posso usar meu sofrimento físico ou mental na minha vida para transformar veneno em remédio e para compartilhar minha experiência incentivando outras pessoas. Posso devotar toda minha vida para criar meus filhos para que sejam líderes na sociedade.

Posso lançar-me para estabelecer uma carreira de sucesso para apoiar financeiramente a paz mundial. Posso contribuir com meu tempo, energia, corpo, cérebro, e até minhas

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posses pessoais, quando e quanto for necessário, ou ainda dedicar-me a uma prática sincera com o propósito de incluir uma prova real a mais na validade do Budismo de Nitiren Daishonin. Se tenho que fazer um caminho doloroso, caminhar um escarpado sendeiro ou uma rota excitante, é exatamente tal como minha missão de Bodhisattva da Terra está designada a revelar-se. É a nobre missão que assumi. É o propósito e o significado de usar minha vida em prol da Lei.

O Presidente Ikeda declara nas Seletas Preleções sobre o Gosho:

"O budista descobre a verdade na própria realidade; descobre a verdade fundamental observando constante e cuidadosamente o homem e as coisas ao seu redor. "O verdadeiro aspecto de todos os fenômenos" é, portanto uma filosofia que enxerga o aspecto real de cada realidade no universo, especialmente na vida humana". (vol. 1, pág. 20)

Não é verdade que todos meus anos de dificuldades foram parte essencial de ser um Bodhisattva da Terra? Não são todos os residuais aspectos negativos, efeitos da minha problemática vida, a qual todavia me afeta e me afunda muito após minhas circunstancias mudaram? Não estão também incluídas nesse mesmo pacote? Se continuo sofrendo as conseqüências do meu carma, uma vez que acordo à minha verdadeira entidade, continuo obstinada com o sofrimento e o perpetuo por minha própria escolha? Sou uma pessoa que aferra-se firmemente ao seu carma e seus traumas sem querer deixá-los ir?

No mesmo discurso o Presidente Ikeda diz:

Sem compreender a lei da gravidade, somente vemos uma maçã amadurecendo e caindo ao chão... Mas não pode aplicá-lo a nada, se primeiro não o identifica e o analisa. Também então, saber a respeito da lei da gravidade e não fazer nada com esse conhecimento pode ser um grande desperdiço. Somente quando traduzimos este conhecimento em algo de uso prático como criar um aeroplano, uma nave espacial ou algo mais de valor para o homem, podemos desfrutar os benefícios do conhecimento que temos adquirido da lei da gravidade". (pág. 21)

Depois de ler sua orientação, decidi recitar Daimoku e fazer emergir mais sabedoria para seguir sua orientação e cumpri-la cem por cento.

Se não fosse pelo meu sofrimento do passado, não teria a energia vital para descobrir a resposta aos meus infortúnios. Levou-me a abraçar profundamente a Lei Mística, o que é vital para desenvolver a capacidade de cumprir minha missão. Além das cicatrizes, meu sofrimento deixou alguns presentes também: permitiu forjar-me como uma pessoa resistente, madura, disciplinada e diligente com um coração bondoso. Todos os anos da minha estressante vida me deixaram o bem mais valioso e insubstituível: os atributos da criação de valor. O lótus cresce no pântano sem ser contaminado. A "Carta de Sado" também diz:

"Diz-se que se uma pessoa bate o ferro vermelho, isso fará uma boa espada. Da mesma maneira, uma pessoa pode testar sábios e santos denunciando-os". (END, vol. 1, págs. 200-201)

Outras pessoas podem ter tido vidas fáceis e confortáveis, mas sem o mesmo tipo de inapreciáveis experiências que agora eu entesouro. Não trocaria minha vida com ninguém. Tudo faz parte do trato que, tão benevolente e alegremente, reconheci e proclamei como

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meu durante a Cerimônia do Ar na presença do Buda Sakyamuni. Agora entendo totalmente a razão pela qual tinha que atravessar por todas essas adversidades.

Que afortunada sou por ter meu grandioso mestre, o Presidente Ikeda, para mostrar-me com seu exemplo como usar minha vida para criar imenso valor para o mundo inteiro! Quando penso na minha missão e no meu próprio destino ao qual aspiro agora reescrever, meu coração pulsa com grande excitação e se enche de imensurável apreço. Constantemente procuro as ilimitadas oportunidades que estão diante de mim para cumprir minha missão.

Desta maneira, o Budismo de Nitiren Daishonin, o Budismo da verdadeira causa, me ajudou a liberar-me dos meus apegos do passado. Sou tão feliz como posso ser. Cada momento é o momento perfeito para começar uma vida completamente nova. Para finalizar, gostaria citar o Presidente Ikeda nas Seletas Preleções do Gosho:

"Temos atravessado um interminável ciclo de vida e morte envolvidos em uma fundamental ignorância, como pessoas que andam tateando no seu caminho pela escuridão. Afortunadamente, nesta vida fomos capazes de encontrar a Lei Mística e conhecer o Buda Original do remoto passado... É a única oportunidade na vida para possibilitar-nos viver uma vida feliz e segura, livre e incorruptível, passeando num jardim de flores, sob o brilhante sol da Lei Mística e o céu cristalino da iluminação eterna". (pág. 59)

Obtendo um doutorado em"Felicidade para toda a vida" 

Por Jeanny Chen, Saratoga, California.Disponível em http://www.happyjeanny.com

Muitos de nós temos crescido enfrentando adversidades, sentindo-nos fracos, frustrados, cansados e derrotados. Com desespero, tentando lidar com nossas adversidades, percebemos que a base do nosso ser não tem sido solidamente construída. Isto nos leva a questionar-nos como fomos tratados e criados. Sentindo-nos infelizes pelo modo como nossas vidas se desenvolveram, podemos culpar um pobre meio ambiente ou o cuidado deficiente ao qual estivemos submetidos.

A mesma situação as vezes aplica-se aos membros da SGI. Recém ingressados, nos sentíamos como bebês na nossa prática budista. Alguns talvez não tiveram a oportunidade de ter sido alimentados com os nutrientes dos ensinamentos com a suficiente dedicação, ou de ser apoiados tanto como tivessem desejado pelos veteranos na fé. Quando não obtemos o tipo de resultados que ansiamos, tendemos a pôr a culpa nestas deficiências.

O Budismo nos ensina a assumir absoluta responsabilidade sobre nossas vidas em vez de reclamar ou culpar os outros. É verdade que quando éramos crianças, o desenvolvimento de nossas vidas estava à mercê dos adultos. Aparentemente, é culpa deles que não tenhamos sido nutridos de forma ótima. Desejamos que nos tivessem dotado com mais recursos ou que tivessem prestado mais atenção à nossa criação. O que foi, já foi. Ninguém pode regressar ao primeiro dia. Não podemos fazer nada para mudar nosso passado. Como adultos, não obstante, somos absolutamente capazes de auto-educar-nos da maneira como desejemos. Podemos esculpir e montar a coreografia das nossas vidas de forma ilimitada.

Temos o direito e o poder de dar-nos a oportunidade de recuperar o que perdemos enquanto crescíamos. Podemos sem dúvida transformar-nos e crescer maravilhosamente deste ponto em diante, à inteira satisfação do nosso coração.

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Somente em cinco anos, os bebês crescem e, de serem pessoas completamente ignorantes, novatas e incompetentes, passam a sentirem-se independentes. Mas eles não crescem simplesmente sozinhos. O mundo dos adultos tem investido uma enorme quantidade de amor, tempo, energia e material, organizando para as crianças um projeto de crescimento contínuo e são, tanto em mente como no corpo. Sua educação implica uma dedicação e um esforço tremendos. Nos países desenvolvidos, existe toda uma estrutura ao serviço da nutrição dos bebês: comida, roupa, móveis, brinquedos, transporte, entretenimento, educação e cuidado da saúde são focados e desenhados cuidadosamente. Provêm-se fundos para financiar isto e força de trabalho qualificada é também disposta para esse fim. 

Todos fomos, alguma vez, educados por adultos. Agora, como pessoas maiores é nossa vez de criar outros. Deste modo, a raça humana prospera e nossa herança é perpetuada. Quando se implementa corretamente, o resultado geral de um trabalho tão minucioso e profundo é bastante assombroso. Do mesmo modo, se queremos que nossas vidas floresçam e prosperem da erma e desagradável terra na qual parecemos estar enraizados, vale a pena considerar levar adiante um plano de desenvolvimento similar.

NUNCA É TARDE

Usando nossa sabedoria, maturidade, ideais, metas, energia vital e tudo o que temos aprendido através da nossa prática budista, podemos livremente desenhar e coordenar um programa de acordo às nossas necessidades. Com todos estes recursos nas nossas mãos, definitivamente devemos a nós mesmos uma segunda oportunidade. Precisamos entre dois e três anos para implementar nosso maravilhoso novo plano para mais uma vez desenvolver-nos e transformar-nos, mudar paradigmas e “presentear-nos” um novo nascimento. Não temos por quê começar de zero - como fazem os bebês – nem precisamos depender de terceiros. O melhor de tudo é que estamos abraçando a Lei Mística. Já possuímos a boa sorte mais grandiosa de todas!

As pessoas geralmente investem dois ou mais anos para obter um título.Ainda mais, injetam importantes quantidades de energia e dinheiro no seu projeto de vida. Esperam que seus títulos os elevem nas suas carreiras, suas vidas e seu status. Mas, de fato, garantem as conquistas acadêmicas a felicidade ou o sucesso como profissionais ou seres humanos?

O fato de ler volumes e volumes de livros, transforma o centro mais recôndito de nossas vidas? Depois de estudar para um título, somos capazes de transformar nosso conhecimento no tipo de sabedoria que percebe a verdade subjacente a todos os fenômenos que presenciamos? Ao enfrentar desafios, de forma pessoal ou no trabalho, fomos capacitados para extrair uma força invencível que nos permita lutar contra as vicissitudes da vida de maneira positiva, com otimismo e penetrante determinação? Os livros de texto, nos ensinam concretamente como transformar veneno em remédio? Temos aprendido a ativar a benevolência para sempre respeitar e considerar às outras pessoas, sabendo que a lâmpada que acendemos, simultaneamente ilumina nosso caminho? Poderíamos manifestar um grande estado de "absoluta liberdade" para livremente receber e usar os benefícios da Lei enquanto levamos adiante uma vida de verdadeira felicidade e realização espiritual? Já conhecemos a resposta.

Como seres humanos, é admirável e importante que invistamos uma certa quantidade de tempo, energia e dinheiro nos aspectos mundanos necessários para cumprir nossos sonhos e metas. Se aplicamos um enfoque semelhante no que diz respeito a forjar nossa fé, abraçando a Lei Mística com convicção, podemos manifestar o "supremo tesouro" originalmente inerente à nossa vida. Como o Presidente Ikeda expôs no seu "Preleção dos

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Capítulos Hoben e Juryo do Sutra de Lótus": “nós possuímos a coragem para enfrentar qualquer dificuldade, esperança sem limite, intensa paixão e sabedoria inextinguível".

O que promete Nitiren Daishonin àqueles que não só praticam seus ensinamentos mas que também empreendem a ação para propagar a Lei? Felicidade absoluta. Nitiren Daishonin declara:

“Não há maior felicidade que ter fé o Sutra de Lótus. Este nos promete ‘paz e segurança nesta vida e boas circunstâncias na próxima’”. (A felicidade neste mundo – END, vol. III, pág. 199)

Obviamente, se somos extremamente sérios com respeito à nossa felicidade absoluta, a solução última consiste em "obter um título  da Universidade Soka Gakkai do Budismo de Nitiren Daishonin". Este esforço nos permitirá transformar nossas vidas, elevar nossa condição de vida, incrementar nossa energia vital e acumular indestrutível boa sorte.

Emergiremos com imensa boa sorte e benevolência para praticar para nós mesmos e para outros. A "concentração de jóias incomparável" virá até nós sem havê-lo procurado, como promete o Sutra de Lótus.

O Presidente Ikeda assim o explica:

“Nós próprios podemos manifestar os três corpos eternamente inerentes, o vasto estado de vida do Buda. No entanto, é muito raro alcançar um estado assim, ainda que o busque conscientemente. É tão grandioso que só a idéia de atingi-lo quase nunca ocorre às pessoas. Por meio da palavra "fé",  de abraçar a Lei Mística fortemente, pode-se “atingir por si mesmo” o estado de Buda intrínseco. Conforme diz o sutra, “esta concentração de jóias incomparável veio a nós sem que a buscássemos” (Preleção dos Capítulos Hoben e Juryo, pág. 274)

Num discurso pronunciado no dia 3 de março de 2.002, o Presidente Ikeda falou sobre "a Universidade Soka Gakkai". Ele afirmou:

"A Soka Gakkai é um reino de fé. O mais importante é a fé e o caráter de cada um. Estamos estudando, se assim o quiserem ver, na ‘universidade do povo’ da Soka Gakkai. Esta Universidade Soka Gakkai é a melhor no mundo, onde aprendemos como viver como seres humanos".

A Universidade Soka Gakkai oferece durante todo o ano, e para toda a vida, modernos e atualizados cursos de capacitação para a verdadeira felicidade.

Mesmo requerendo do nosso esforço, suas aulas são gratuitas e nos permitem traçar nosso próprio programa de estudos, especialmente preparado para nosso ritmo, plano, ambição e motivação pessoal. Assistimos a reuniões de diálogo (palestra no Brasil) e atividades como o faríamos em aulas escolares; interagimos com nossos companheiros praticantes e veteranos na fé como o faríamos com companheiros de classe e professores; nosso estudo é similar ao trabalho realizado num curso. A quantidade de esforço que invistamos na nossa "lição de casa para" - recitar Daimoku e fazer nossa revolução humana - é a chave que determina nossa nota final.

No nosso esforço por obter o diploma, podemos dar-lhe a este, nosso exclusivo plano de estudos feito sob medida, um nome que nos entusiasme e nos comova. Deveríamos estar orgulhosos e inspirados por ele.

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Esse título particular deveria projetar nossa sinceridade e seriedade para ir à procura do “ouro". Deveria fazer-nos lembrar nossa determinação de realmente seguir em frente com esse plano de estudos, aconteça o que acontecer. Em vez de empreender a ação de modo caótico, ao estilo guerrilheiro, um nome de um título nos permitiria organizar nossos pensamentos, ações, planos e objetivos dispersos. Deveria conduzir-nos para um "plano mestre" bem elaborado, bem calculado, bem completo, e comprometido. Como numa fazenda, podemos cultivar nossos campos de ação: ajustar peso, medida, densidade e profundidade; irrigar de maneira racional e sistematicamente. Algo assim como "Surgir das Cinzas" ou "Transformar Rocas em Ouro."

Partir um palitinho com os dedos é algo muito fácil de fazer comparado com o fato de dobrar um molho de 20. Isto indica o insuperável poder de ‘20 palitinhos unidos’ oposto ao de ’20 palitinhos dispersos’ e mostra o quanto é importante que consolidemos todas nossas ações deste momento num plano vencedor bem integrado.

Baseados neste plano e enfoque cotidianos, podemos montar nosso programa sobre os pilares da fé, prática e estudo. Que escolhamos um programa de peso leve ou um de peso pesado depende do tamanho da nossa meta e de quão dispostos estamos a alcançar a próxima etapa da nossa vida, sem ter em conta a espera. Desejamos avançar tão rápido como possamos, escalar as empinadas montanhas tão verticalmente como for possível. A qualidade e quantidade de nossas causas decide se o gráfico do nosso desenvolvimento é assombrosamente vertical, monotonamente horizontal ou mortalmente plano. Se não estamos em ascensão, estamos de fato em retrocesso.

Em que cursos nos inscrevemos para construir nosso Doutorado? Além das corajosas atividades pelo Kossen-rufu e o profundo estudo do Budismo, poderíamos também incluir uma revolucionária campanha de Daimoku, uma total transformação interior, uma meticulosa revolução humana e uma erradicação do carma que dê nova forma à nossa vida. Poderíamos também incluir uma esplêndida criação de valor e um desenvolvimento pessoal de florescimento perene. O crescimento pode ter lugar nas áreas do caráter, da condição de vida, da saúde física e mental, da sabedoria e da capacidade. O objetivo é nos tornar pessoas capazes de lidar alegremente com cada acontecimento da vida, conduzir com sucesso qualquer tipo de relacionamento, construir uma carreira prometedora e contribuir ao bem-estar de outros e da sociedade. Tudo o que, de fato e em última instância, leva à paz do mundo. Vale a pena orar e pensar tudo muito bem. Depois escrevamos o plano mestre, mesmo se nos levar uma semana ou um mês queimando as pestanas e clarear a mente para poder traçá-lo. 

Uma vez que tenhamos definido a meta, selecionado a especialidade e o plano, estamos oficialmente na corrida. Alguns de nós podemos ter levado entre quatro e seis anos para obter um título universitário ou um doutorado. Se somos gênios do estudo, talvez temos podido poupar-nos um ano, ou dois. A maioria de nós, porém, avança degrau por degrau, um de cada vez. Portanto, é importante que estejamos preparados para sustentar nossa ambição até o fim, passo a passo, consistente e persistentemente.

Pensemos em todas as aulas às que assistimos quando íamos à escola, os livros de texto e material de referência que absorvemos, as notas que tomamos, os experimentos que realizamos, as tarefas que terminamos, os problemas que exercitamos, as provas que passamos e as atividades extracurriculares nas quais participamos. Não há atalhos trata-se de cultivar-nos como uma pessoa impulsionada pela auto-superação. A chave está em repetir constantemente a prática até dominar o conhecimento e melhorar nossas capacidades. Do mesmo modo, no nosso novo plano, deveríamos resolutamente fazer valer

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nossa fortaleza. Desta vez, podemos, com paciência e generosidade, dar-nos o tempo apropriado para encarar o processo completo e construir sobre uma base sólida.

Para a maior parte de nós, isto leva o mesmo de tempo que realizar o processo acadêmico. Mas é a profundidade do nosso compromisso com a ação o que diferencia os resultados "olímpicos" que obtemos.

Os chineses crescem num ambiente no qual nos ensinam a emular o espírito dos exaustivos esforços que possuíam os antigos eruditos chineses. De acordo com a lenda, havia um jovem erudito que era tão pobre que não tinha dinheiro para poder acender uma vela e assim poder seguir seus estudos durante a noite. Por isso, com o consentimento dos vizinhos, fez um buraco na parede divisória de ambas casas, podendo assim receber luz desse lugar. Na realidade, era afortunado por ter um vizinho tão benevolente. Para poder manter-se acordado, outro erudito costumava segurar um alfinete na sua mão enquanto estudava até tarde da noite. Deste modo, cada vez que sua cabeça cedesse, essa mão caía e machucava sua perna, levando-o a recuperar a atenção.

Mesmo que estas histórias não me impressionavam particularmente, o dedicado comportamento destes eruditos exerceu um sutil, implícito impacto em mim mesma e em alguns dos meus companheiros de classe. Como éramos preguiçosos, conseguíamos adaptar esta exaustiva forma de abordar o estudo para um ritmo mais cômodo. Deixávamos anotações e cartões nas paredes, espelhos, escrivaninhas, em todos os cantos das nossas casas, especialmente nos banheiros. Ainda depois da escola, não tínhamos como escapar. Ao encontrar-nos repetidamente de maneira inesperada com os cartões nos que tínhamos escrito frases motivadoras, vocabulário, equações, fórmulas e outras coisas, nos incentivava a estudar com mais afinco. Isto nos permitia e nos animava a lembrar, e a progredir.

A vida contemporânea é como viver no paraíso, comparado com o estilo de vida da antigüidade. Não só porque não precisamos lutar contra a mais áspera das realidades, mas também porque temos todo tipo de fascinantes aparelhos de grande potência e artefatos divertidamente convenientes, que ajudam a fomentar nosso aprendizado e desenvolvimento. Num sentido, nascemos num nível mais elevado. Mas com melhor carma e artefatos que nos poupam energia, deveria ser mais fácil sobressair.

Pode nos importar pouco como as antigas gerações esforçavam-se na sua luta para o desenvolvimento dentro de tão pobres condições. Mas, quem pode deixar de lado aquele espírito irredutível e suas corajosas ações?

Nitiren Daishonin nos ensina que as pessoas que praticam ensinos errôneos não podem manifestar o estado de Buda, mesmo se, ao focar-se completamente na sua prática, vivem asceticamente.

Numa tentativa por atingir a iluminação, existem monges que praticam uma tremenda auto-mortificação. Estas práticas implicam uma total abstinência de todas as coisas que dão prazer. Usam túnicas cheias de remendos, mendigam porta a porta, e fazem só uma refeição diária ao meio-dia, após o qual subsistem a força de água. Ficam reclusos no alto das montanhas ou no profundo dos bosques. Passam a noite nos campos abertos, ou até nos cemitérios, sempre sentados, nunca encostados, sequer dormindo. Levam seus pertences durante milhares de quilômetros, ajoelhando-se até tocar o chão com a testa a cada três passos durante toda a viagem, para adorar a estatua de Buda venerada em algum templo.

O simples fato de pensar como estes monges se disciplinavam e forçavam a si mesmos até o extremo, é suficiente para fazer-me sentir inimaginavelmente cômoda e satisfeita com a

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prática do Budismo de Nitiren. Quão afortunados somos por tê-lo encontrado! Podemos manifestar a iluminação nesta existência sempre que pratiquemos com seriedade e humanismo, com bom senso e razão.

Uma vez estabelecida a comparação, fica claro que na realidade não existem ascetas na nossa prática assídua do Budismo de Nitiren Daishonin. Sem medir o esforço extra que devamos fazer, impulsionar-nos a praticar "comprometendo" nosso tempo livre por uns poucos anos, nunca pode ser tão ruim como o que aqueles monges tiveram que passar. 

Esta é uma brilhante, alegre, iluminadora, saudável, encantadora, positiva, prometedora e preciosa prática. Existem todos tipos de razões para apreciá-la e entesourá-la, e para sentir-nos gratos e felizes.

Nitiren Daishonin e os três presidentes da Soka Gakkai dedicaram suas vidas a proteger a Lei e propagar os ensinos corretos. Os membros pioneiros atravessaram uma desafiante era de desenvolvimento, esforçando-se para propagar este Budismo.

À diferença daqueles que praticaram nos velhos tempos, temos a boa sorte de praticar no século XXI com todas as comodidades proporcionadas pela SGI e o meio ambiente. À luz destes fatos, não só temos a chave para a felicidade absoluta na palma das nossas mãos, como também corremos com todas as vantagens. Por que não aproveitamos esta oportunidade para renascer como "crianças de boa sorte" (fukushi, em japonês)

Avançar na vida, fortalecer-se e movimentar-nos... é nossa tarefa realmente tão árdua?

A História tem registrado que, em tempos de anarquia e desordem, aplicam-se severas disposições legais para garantir a paz e a estabilidade da nação. Do mesmo modo, quando alguém está gravemente doente, os médicos utilizam medicamentos muito fortes para obter a cura. Se sentimos que estamos num beco sem saída, temos realmente que esforçar-nos ao máximo e lutar com determinação e dedicação fora do comum para romper a barreira. Por isso, começando neste momento, demos o passo mais sábio. Matriculemo-nos na Universidade Soka Gakkai do Budismo de Nitiren Daishonin e especializemo-nos em "Felicidade para Toda a Vida". Realizando denodados esforços após esforços, comecemos por fortalecer incondicionalmente nossa fé, prática e estudo ao longo de dois ou três anos. Conscientemente determinados a avançar, quando tenhamos obtido nossos "Doutorados em Renascimento", teremos nos convertido em "mestres da felicidade", para nós mesmos e para os outros.

Então, a felicidade não será simplesmente uma atitude, um hábito ou um sentimento: será p

Coragem, Convicção e Esperança

Por Daisaku Ikeda

Todos, suponho, têm recordações  da mocidade. Com efeito, de outra forma, dificilmente se poderá  dizer Ter vivido ao menos seus anos de jovem. Eu, como todos os mais, tive meu quinhão.

Minha família era pobre, e meus quatro  irmãos mais velhos foram todos convocados pelo Exército e mandados para  a frente de batalha. Em conseqüência, eu não dispunha de 

Daisaku Ikeda é pacifista, escritor, filósofo, fotógrafo e poeta.  Também conhecido como "Embaixador da Paz", é presidente da

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dinheiro nem de tempo para freqüentar a escola da maneira normal. Em vez disso, trabalhava durante o dia e, com o dinheiro que conseguia,   freqüentei a escola comercial, e mais tarde o colégio à noite.

Minha saúde não era muito boa. Apesar  disso, tentei dar conta do recado o melhor possível. Houve  ocasiões em que, cuidando de pequenos encargos para a companhia onde trabalhava,  tinha de caminhar lentamente ao longo de Ginza puxando uma carreta grande. Outras  vezes, lembro-me de Ter apenas uma camisa de gola aberta para usar, mesmo  quando os ventos de outono começavam a soprar. Mas não sentia  vergonha ou constrangimento algum. Pelo contrário, via-me como personagem de   um drama -um jovem, sorrindo e lutando contra as durezas da vida, e chegava a orgulhar-me. Com efeito, estou certo de que as dificuldades que tive de enfrentar na época me ajudaram a construir os alicerces de meu  atual estilo de vida.

Soka Gakkai Internacional (SGI), uma ONG, com base budista,   filiada às Nações Unidas, que atua nas áreas da cultura, educação, paz, meio-ambiente, desarmamento nuclear e apoio a refugiados de guerra.

Na ocasião, tinha uma certa convicção...não, seria mais exato chamá-la  uma resolução. Acreditava que a juventude não era algo  para ser vivido em vão. Estava decidido que, mesmo pobre e surrado,  caminharia de cabeça erguida, aproveitando qualquer estímulo que pudesse  achar e viveria a vida o mais plenamente possível. Essa determinação, que serviu como apoio na época,  mantenho imutável hoje em dia. Pondo de lado todas as  considerações acerca de posição, riqueza e reputação, a vitória final reside em saber que se está fazendo o melhor   possível como ser humano, e essa é a maior vitória  de todas. Trata-se de algo que não pretendo esquecer até o término de mus dias.

Quando olho em retrospecto para os dias de minha  mocidade, há coisas que me fazem parar para refletir. Para começar,  gostaria que em minha adolescência e juventude tivesse estudado mais, particularmente as matérias fundamentais. Certamente eu percebia  como era importante a mocidade, e achava que estava lendo inúmeros livros.  Mas agora me arrependo de não Ter lido dez ou vinte vezes mais.  Também gostaria de ter-me exercitado mais e enrijecido meu corpo.

Com a ajuda de uma compreensão tardia, percebo  agora quão extremamente importante é o período da adolescência. Quem sabe não seria exagero dizer que todo o  restante da vida da pessoa é determinado pela maneira como passa os anos   da mocidade.

Os jovens se acham em pleno processo de  formação, mas por isso mesmo se acham não-acabados. São quantidades desconhecidas, plenas de possibilidades. Os jovens trazem consigo os  ventos da mudança e da reforma, e são possuidores de enorme e irreprimível vitalidade. Há pouca coisa capaz de igualar a  grandeza da mocidade. Mas se um jovem negligenciar na  construção e passar o tempo todo em bobagens, ou se for excessivamente cautelosa em  suas metas e permitir-se ficar fraco ou ineficiente, então é  culpado, poder-se-ia dizer, de suicídio espiritual. Nenhuma outra linha de  ação poderia ser mais superficial e inadequada.

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Temos de perceber que todo jovem que vive é  até certo ponto animado pelas paixões juvenis que lhe circulam pelas  veias. Se apenas direção e finalidade firmes puderem ser dadas a  essas paixões, então sem dúvida os jovens poderão  aprender a contribuir para o bem-estar da sociedade e a viver vidas realmente significativas. Muitos líderes de hoje, contudo, embora prontos  para criticar os moços, parecem dispensar escasso tempo para pensar em  seus próprios malogros e deficiências. Só pensam em sua própria fama e proveito, trabalham apenas por sua própria glória e progresso, e não entendem absolutamente os corações e mentes dos jovens.

Isto pode parecer uma afirmativa bastante  impertinente para se fazer. Mas gostaria de mencionar que, em um trabalho escrito há  dez anos, tive ensejo de observar o seguinte: "Não pode haver  dúvida quanto ao surto e queda da nação e a prosperidade e declínio da época serem em grande parte determinados pelo   grau de consciência própria de parte da juventude e da direção que ela segue. (...)

Há, contudo, um fato que nunca deve ser  esquecido: o de que sejam quais forem os esforços construtivos em que possamos  nos empenhar, eles devem ser invariavelmente buscados sob a  inspiração e orientação dos mais elevados ideais e dos mais capazes líderes. Sem tais ideais e sem líderes assim, a  paixão e a vitalidade da mocidade, independente da idade que se esteja vivendo, serão despendidas em atividade inútil. E se os jovens  forem induzidos a seguir falsos líderes e ideologias, então partirão para motins e destruição com a  violência de uma impetuosa torrente."

É direito de cada indivíduo buscar  sejam quais forem os ideais, filosofia e líderes que desejar. Fico  entristecido apenas pelo fato de que os homens hoje investidos em poder  político sejam incapazes de oferecer o quer que seja aos jovens. Parece-me que eles  precisam dedicar mais atenção e meditação sobre o  rumo a que estão levando o povo deste país. Não acredito que a   tendência dos acontecimentos mundiais permitirá ao  Japão prosseguir indefinidamente em seu presente estado de espírito de prosperidade pacífica porém irresponsável.

Baseado em minha própria experiência,  diria que as qualidades mais indispensáveis à juventude são  coragem, convicção e esperança. Ação corajosa   por parte dos moços é a fonte de que tudo mais é  criado. E é a convicção que orienta e apóia a coragem.  Encarando a sociedade de hoje, quantas inúmeras pessoas vemos  desprovidas de convicção! Uma vida dedicada exclusivamente a bajular  outros e a concordar com as opiniões deles é tão oca e sem  valor quanto espuma na crista de uma onda. A convicção  não conhece hesitação nem confusão de metas. E este gênero de convicção é algo que brota  naturalmente dos esforços concretos de uma pessoa para cumprir suas  responsabilidades e missão na vida. Finalmente, uma vida sem esperança, um  jovem que sente não ter futuro, é pouco mais do que um  cadáver vivente. Os maiores homens são aqueles cujos anos juvenis  estão cheios de sonhos e ideais, e que continuam no decurso de suas vidas a   perseguir tais sonhos e ideais.

Os jovens são o tesouro de uma  nação, a riqueza da era do porvir. Não há poder comparável  ao valor desse tesouro. Fazer qualquer coisa capaz de ameaçar o futuro  desses jovens, ou privá-los do seu vigor, equivale a lançar   nossos próprios tesouros ao mar. E os líderes que vão  realmente um passo

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adiante e mandam os jovens para o campo de batalha, onde preciosas  vidas são perdidas para sempre, por certo merecem ser chamados de os  homens mais perversos do mundo.

Tenho grande afeição pelos jovens, e  minha maior alegria é observá-los crescendo. A visão deles  amadurecendo em um ambiente de saber, paz e felicidade faz meu coração  dar pulos de alegria. É minha esperança atual poder passar o  resto da vida caminhando lado a lado com os jovens e respirar o ar que respiram.  E se puder, afinal, vê-los ascender à plataforma que  construirmos juntos e pairar no ar, um por um, pela causa da paz e do progresso cultural do   mundo, conhecerei a satisfação de minhas esperanças, a consecução de minha maior alegria.

arte integral da nossa vida cotidiana. E constituirá uma realidade concreta.

O amor libera, não encarceraPor Daisaku Ikeda

Para qualquer pessoa saudável, é muito natural apaixonar-se assim como é para as plantas florescer na primavera. Mesmo sendo livres para nos apaixonar ou para nos sentirmos atraídos por alguém e, embora a ninguém seja correto invadir os assuntos alheios, eu gostaria de explicar o quanto é importante não perder de vista o esforço pelo nosso desenvolvimento pessoal. Claro que no amor não há regras, assim como no matrimônio e ninguém tem o direito de restringir o outro de maneira alguma. Mas causa muita pena ver uma mulher envolvida em relações frívolas causadoras de sofrimentos e angústia, quando deveria ser plenamente satisfeita e feliz. 

Meu mestre dizia que quando uma mulher estabelece relações partindo de sua própria dignidade, todos os problemas se resolvem. Ao contrário, quando uma mulher adota uma atitude impensada, e toma o amor de maneira apressada, invariavelmente termina por lamentar-se e sofrer. Por suposto, isto não se aplica apenas às mulheres. 

Para mim, o amor deveria ser uma força para nos ajudar a expandir nossa vida e fazer emergir nosso potencial com nova vitalidade. Mas, ainda que isto seja o ideal, muito freqüentemente perdemos a objetividade ao nos apaixonar. No entanto, há perguntas que valem a pena fazer: "Essa pessoa me inspira desejos de trabalhar mais e melhor ou me distrai do que tenho que fazer? Sua presença me estimula a redobrar a dedicação a minhas atividades, a ser uma pessoa melhor? Ou esta pessoa se converteu no centro de minha vida e tende a obscurecer todo o resto?"

Daisaku Ikeda é pacifista, escritor, filósofo, fotógrafo e poeta.  Também conhecido como "Embaixador da Paz", é presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), uma ONG, com base budista,   filiada às Nações Unidas, que atua nas áreas da cultura, educação, paz, meio-ambiente, desarmamento nuclear e apoio a refugiados de guerra.

Se estão descuidando de sua missão na vida, se devido a uma relação sentimental esquecem o propósito de sua existência como sujeitos autônomos, temo que tenham tomado um caminho equivocado. Em uma

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relação saudável, cada membro do casal anima o outro a alcançar suas metas pessoais e ao mesmo tempo compartilham os mesmos sonhos e aspirações. Uma relação de amor deve ser motivo de inspiração, vitalidade e esperança. Em vez construir um relacionamento fechado, um mundo onde só há um lugar para dois, é muito mais saudável que cada um aprenda com as virtudes e qualidades do outro e mantenha o esforço de aprimorar-se e desenvolver-se a si mesmo. 

Antoine de Saint-Exupéry, autor de O Pequeno Príncipe, escreveu:" O amor não consiste em duas pessoas que olham uma para outra, mas sim em duas pessoas que olham juntas para a mesma direção." Mesmo que alguém use o amor como fuga, a euforia não durará por muito tempo. O choque com a realidade trará dores e tristezas. Dito de outra forma, não há como fugir de si mesmo. Quando uma mulher persiste em sua própria fragilidade interior, o sofrimento a perseguirá por onde quer que ela vá. É duro reconhecer, mas nenhum ser humano pode encontrar a felicidade se não começar por transformar o seu interior.

Além disso, a felicidade não é algo que alguém possa dar aos outros; não é algo que o ser querido venha a nos outorgar. Cada um tem que construí-la por seus próprios meios. E a única maneira de fazê-lo é desenvolvendo nossa personalidade e nossos valores como seres humanos, desdobrando-nos ao máximo em nosso potencial interior. Muitas vezes, em nome do amor, sacrificamos nosso próprio crescimento e nossas capacidades, porém, dessa forma, jamais haverá uma felicidade que resulte convincente e satisfatória.

Ainda que minhas palavras pareçam estritamente paternais, gostaria de dizer algo sobre as mulheres jovens que têm a tendência a ser vulneráveis à sedução de seu parceiro. Quando isso acontece, a mulher exibe um aturdimento, uma percepção distorcida das coisas, que a leva a se comportar como se houvesse perdido a faculdade de tomar decisões equilibradas e serenas. Como geralmente são as mulheres que saem mais feridas, creio que têm todo o direito do mundo de valorizar ainda mais sua dignidade e a buscar seu bem-estar de forma irrenunciável.

 Por essa razão, penso ser fundamental às mulheres jovens fortalecerem o respeito em direção a si mesmas e adquirirem uma sólida força interior. Quando uma mulher busca aprovação, constantemente, não faz nada mais do que degradar-se frente a si mesma e às demais pessoas. Se num contexto amoroso, não se sentem tratadas como pede seu coração, espero que atuem com coragem e dignidade: é melhor correr o risco de estar só por um tempo, antes de aceitar uma relação que as façam infelizes. 

O amor verdadeiro não nos torna dependentes das pessoas. Ele só pode ter lugar entre dois seres humanos fortes e seguros de sua individualidade. Quem possui uma visão egoísta e uma visão superficial da vida só poderá construir relações superficiais. Se querem experimentar o amor verdadeiro, não têm por que submeter-se ao que o outro deseja que façam ou fingir ser quem não são. O amor ideal só é possível entre duas pessoas sinceras, maduras e independentes.

Gratidão e objetivos comuns: os ingredientes para uma convivência feliz.

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Como deve comportar-se marido e mulher? Não é uma pergunta fácil de responder. Às vezes, as circunstâncias conspiram de um modo estranho. Vê-se casais que terminaram se divorciando por causa da riqueza ou de uma vida fácil. Ou ocorre também que um período assinalado por todo tipo de problemas- ao mesmo para quem vê de fora- resulta ser a época de maior felicidade para um casal e motivo do fortalecimento de sua união. 

Mas a diferença da atração, que muda com o vaivém das situações, do verdadeiro amor, concebido como um vínculo mais profundo que pode unir dois seres humanos, é algo que desenvolve a força de enfrentar tormentas. É claro que isto não significa que uma das partes deva ceder sempre às exigências do outro, ou que a felicidade de um possa construir-se às custas do companheiro.

Nem o marido deve ser o centro da relação nem tampouco deva ser a mulher. Em um matrimônio sólido não interessa se alguém ocupa o lugar de liderança, nem quem se sacrifica para que o outro logre o êxito ou a felicidade. Assim como uma bela canção é a fusão harmoniosa entre música e poesia, do mesmo modo a vida em comum requer igualdade entre marido e mulher para que ambos, juntos, possam interpretar a magnífica melodia da vida. 

Qual é a linda melodia que resulta na união entre dois companheiros de vida?

Essa é a pergunta... Perguntam-me quais são os principais ingredientes de uma convivência profunda e harmoniosa. Pois bem, remeto-me a minha experiência de vida: as coisas mais importantes são o agradecimento e a existência de um objetivo em comum.

Se me permitem uma comparação, as famílias de hoje em dia são como um avião em vôo, chacoalhando por causa dos ventos que mudam constantemente: os co-pilotos têm a responsabilidade de levar o avião ao destino, sem acidentes, para deixar a salvo sua perigosa carga. A estabilidade de um avião em vôo exige uma firme direção, uma propulsão potente e um esforço constante. E, como é evidente, para que um avião aterrize a salvo é indispensável que ambos co-pilotos mantenham a vista na mesma direção.

Este é um bom momento para contar uma história. Havia uma mulher que levava muito tempo prostrada na cama, com uma profunda depressão. Um médico conhecido da família, bom conhecedor da situação, aviou uma receita e entregou-a ao marido. Quando o homem leu as indicações, surpreendeu-se muitíssimo pois o doutor havia escrito: "Quando seu esposo lhe der o remédio, beba-o depois de dizer-lhe 'Obrigada', três vezes". Pareceu-lhe uma prescrição meio estranha, mas como estava sublinhada, antes de tomar o remédio agradeceu o marido, de forma especial, três vezes. Então ela se deu conta de que há muito tempo não usava essa palavra para seu companheiro. À medida que começou a pôr em prática esta "terapia do agradecimento", sua saúde e felicidade foram retornando pouco a pouco. Uma humilde expressão de gratidão torna uma pessoa bela, não só de coração mas também o seu aspecto físico. 

Nem há necessidade de esclarecer que esta lição também se aplica aos esposos! 

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Os ingleses têm um provérbio que encerra uma certa cota de sabedoria: "Abrir os olhos antes do matrimônio e semi cerrá-los depois de casar-se." Tanto o marido como a mulher devem esforçar-se para serem tolerantes, e para terem um coração magnânimo na hora de perdoar as faltas e erros menores que comete o companheiro. Quando alguém é julgado e criticado o tempo todo, custa muito ter desejos de mudança, mesmo sabendo que a crítica é pertinente. 

Há uma outra história que diz muito sobre o amor entre marido e mulher. Recomendo que leiam o conto "O Presente de Natal", de O. Henry. Nele o autor conta a história de Della e Jim, um casa jovem e pobre, que vivia em um quarto alugado, quase sem móveis. Era véspera de Natal, e ambos estavam pensando que presentes iam dar um ao outro, como mostra de seu amor. Ela queria presentear seu marido com uma corrente para prender ao relógio de ouro que herdou de seu avô e que lhe causava tanto orgulho. A corrente custava vinte e um dólares mas ela só tinha oitenta e sete centavos. A única coisa que podia vender eram seus cabelos castanhos, de brilho intenso e tão compridos que chegavam até os joelhos. Para Della, como para quase toda mulher, os cabelos são um atributo feminino muito apreciado. Mas fez o sacrifício de vendê-los a um fabricante de perucas e com o dinheiro comprou uma magnífica corrente de prata.

Chegou em casa com o coração na boca e aguardou, ansiosamente, o regresso do marido. Quando ele a viu, com uma expressão muito séria, lhe entregou o presente que lhe havia comprado: um par de lindos enfeites de tartarugas marinhas para adornar seus cabelos. Della, então, tratou de consolá-lo assegurando-lhe que eles cresceriam depressa enquanto lhe dava a corrente de prateada. Jim desmanchou-se no sofá e lhe disse, com uma risada: "Della, guardemos nossos presentes de Natal por um tempo. São belos demais para que o usemos agora. Vendi meu relógio para comprar-lhe os enfeites".

Nesta história, cômica e patética, os presentes são um símbolo do amor profundo que existe entre os dois. Cada um sacrificou algo muito querido para comprar para seu companheiro um presente apropriado. Mas ao trocar os pacotes, vêem que não há mais relógio ao qual pendurar a corrente, nem há mais cabelos castanhos para adorná-los com os enfeites. Ambos os presente tornaram-se inúteis para eles. Um casal jovem e moderno diria que se houvessem tomado a precaução de conversar de antemão sobre os presentes, haveriam se prevenido de um gasto inútil. Mas a história põe em relevo algo que transcende esse tipo de lógica calculista: ilustra a beleza do amor profundo entre dois seres que compartilham a vida.

O amor indestrutível irradia a beleza de um destino compartilhado.

O amor pode adotar um milhão de formas distintas. Às vezes, para quem olha de fora, o marido parece ser insuportavelmente autoritário e, no entanto, o casal se mantém unido com um grau de harmonia surpreendente. Em outros casamentos, a mulher sempre parece impor sua vontade, e não obstante, a convivência transcorre fluindo em clima de paz. Na realidade, as aparências externas não são importantes. Tenho sentido, sempre, que quando um casal compartilha durante um longo tempo as alegrias e os dissabores da vida, entre ambos se forma um vínculo muito profundo, que não pode ser cortado

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por forças externas. Não estou falando do amor direto e aberto que circula num casal jovem, mas de um sentimento muito vasto e profundo, arraigado em um destino compartilhado e construído a dois. 

Tenho visto este tipo de amor em uns vinte ou trinta casais mais velhos, e tenho sentido a atmosfera de indescritível plenitude e maturidade que estas pessoas irradiam ao seu redor. Nestes casais, não encontraremos as lamentações de certas pessoas idosas. E ainda que tenham tido uma vida difícil, em seu rosto não há indício, nem um tom de tristeza. O que transmitem é uma poderosa sensação de segurança de si mesmas e independência: a que colheram duas pessoas que conseguem atravessar juntas as horas mais difíceis da vida, agradecidas e conscientes do tempo lhes resta para seguir caminhando juntas. 

Em uma boa convivência, o apoio do companheiro se baseia na valorização, na confiança e no agradecimento ao invés dos inimigos maiores que atentam contra o desenvolvimento do ser querido: a queixa, o capricho, a crítica e o menosprezo. Qualquer mulher que se baseie numa fé firme e comprometida poderá desenvolver sua sabedoria inata e a manifestará com palavras positivas e calorosas. Se me permitem uma observação, os benefícios de um coração caloroso e encorajador só se têm a longo prazo, mas as conseqüências de uma atitude fria, ingrata ou queixosa sente-se imediatamente. 

Nitiren Daishonin disse que quando somos encorajados e elogiados, desejamos nos sacrificar ilimitadamente e não economizamos esforços para isso. Mas quando somos censurados, o ressentimento nos leva a causar a nossa própria ruína. Tal, disse Buda, é o valor das palavras de encorajamento.

A fé se traduz em um coração profundo e sábio, propenso a valorizar o esforço alheio e gerar boa vontade no ambiente ao seu redor. Esta sabedoria encontra expressão de maneiras concretas, e é a que nos conduz a mudar nosso enfoque quando estamos equivocados. Em suma, é o que determina uma diferença crucial para a convivência: a que há entre oferecer soluções e acrescentar problemas. Isso, falo como homem: quando o marido chega em casa extenuado e carregado de tensões, ao fim desta "guerra" que é luta pelo sustento, lhe asseguro que o que mais necessita é atenção, diálogo e encorajamento: estas são as coisas que permitem, no dia seguinte, seguir desdobrando-se em seu esforço e sua capacidade.

Ao mesmo tempo, quando os filhos retornam da escola, o que desejam receber é a ternura e a harmonia de sua mãe. Ao escutá-los e abraçá-los com paciência, ela consegue fazer com que sintam que "está tudo bem", ainda que o dia de aula tenha sido povoado de maus momentos e das dores de crescimento. `As vezes não saber detectar estas duas funções leva as mulheres a descuidos, assoberbadas que estão pelos atropelos da vida cotidiana. 

Eu entendo bem a situação: chegam extenuadas pelo dia de trabalho e apenas têm forças para lutar contra o seu próprio cansaço. Não lhes parece justo ter que atender, em primeiro lugar, os outros. O coração de esposa e de mãe se fecha, e isso produz um dano para toda a família, como uma instalação que fica sem um fio ligado à terra. Mas o amor é uma força muito

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poderosa que a mulher leva consigo. Quando as mulheres saem em busca desse coração e superam as tendências negativas, são elas mesmas as primeiras a se sentirem melhor e, quase de forma instantânea, a família parece voltar a resplandecer e a crescer em equilíbrio.

A mulher é, por natureza, protetora da vida e criadora de valores. Por isso protege e defende a paz e a harmonia, consciente do muito que está em jogo. Essa função harmonizadora é um fator primordial para edificar uma convivência frutífera e duradoura. É a chave do casamento e do lar.

A harmonia é felicidade em si mesma.

Se a felicidade é o sentimento a que todos aspiramos em nossa vida individual, então a harmonia é a forma que as pessoas têm de serem felizes quando estão juntas, sejam apenas duas ou uma grande multidão. É a capacidade de harmonizar os quatro estados baixos: Inferno, Fome, Animalidade e Ira. Quando nossa vida joga âncoras em qualquer uma dessas condições subjetivas, não só é impossível harmonizar, como também encontramos um certo gozo perverso no conflito e na desarmonia. Nossa consciência moral nos diz que deveríamos harmonizar, nosso coração nos adverte que estamos sofrendo, mas assim como em todo resto, nos estados baixos sentimos apego pela confrontação e pela discórdia.

Quando vivemos sem quebrar os limites que nos impõe nossa debilidade, atuamos e reproduzimos padrões de desarmonia., que não só se referem à conduta, como também às palavras que saem de nossa boca e aos pensamentos que povoam nossa mente.

Para criar harmonia não basta fazer uma declaração de vontade nem empreender um esforço intelectual. O desejo espontâneo e genuíno de harmonizar, de ser feliz com os outros, só é possível quando elevamos o estado de Vida. Neste desafio permanente, cada mulher faz emergir os recursos da Budicidade que leva consigo.

Na realidade, a harmonia entre os seres humanos não é um estado exterior nem é uma função das circunstâncias, senão o esforço que nasce em cada um de nós. Por isso, mais que a harmonia, o que conta é a capacidade de sua conquista que exige um trabalho permanente de autodisciplina e de estrita observação interior. A ausência de harmonia produz angústia e incerteza no coração da mulher. E sua causa fundamental é a ruptura entre o "eu" e o resto do mundo. Quando estes laços se quebram, o espírito cai até os estados mais baixos. As situações cotidianas se enchem de sofrimento e as relações se contaminam de inimizade. A harmonia, pelo contrário, produz uma alegria indescritível. O Sutra de Lótus elege uma imagem perfeita para descrever a harmonia, quando mencionamos a sincronia entre a dança e a música. Nenhum de nós existe só; todas as pessoas que nos rodeiam são parte de nós mesmos. Já que somos nós mesmos quem geramos e definimos nosso meio ambiente circundante, nosso coração "salta de júbilo", "nos colocamos de pé e nos lançamos a dançar", e assim "brincamos de felicidade".

 A verdadeira harmonia jaz dentro da mulher. Não é algo que devemos esperar dos outros nem que possa mandar que os outros a tenham. Por isso, o presidente Josei Toda dizia: "A chave da união harmoniosa jaz no espírito

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de levantar-se por decisão própria, sem depender de nada e nem de ninguém."

AmizadePor Daisaku Ikeda

No decorrer da vida, nós desfrutamos a companhia de diferentes tipos de amigos. Os amigos de nossa infância que nós podemos lembrar vagamente. Os amigos da escola primária. O ‘melhor’ amigo da adolescência. Colegas que encontrarmos no serviço. Amigos que compartilharmos bons momentos. Companheiros de farra. E na medida que envelhecemos, um amigo na qual podemos tomar um chá juntos enquanto conversamos.

Não importa em que estágio da vida ou que tipo de amizade. Esta é uma pura conexão entre duas pessoas, um elo de sinceridade mútua, imune aos cálculos de perdas e lucros.

Nas amizades da infância, a criança não é madura o suficiente para valorizar o outro indivíduo com profundidade. Mas, na adolescência aprendemos através do ato de se ter um amigo, acreditar nele e corresponder a sua confiança quer seja por um promessa, que temos a primeira experiência em desafiar a si mesmo e a prezar outras pessoas.

Mesmo entre os quase 6 bilhões de habitantes neste planeta, é muito raro encontrar amigos genuínos e incondicionais nas quais podemos expor o nosso ‘eu’ de modo integral e que serão capazes de nos compreender os nossos sentimentos e pensamentos sem a necessidade de palavras. Tal preciosa amizade pode ser mantida no decorrer de anos.

Daisaku Ikeda é pacifista, escritor, filósofo, fotógrafo e poeta.  Também conhecido como "Embaixador da Paz", é presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), uma ONG, com base budista,   filiada às Nações Unidas, que atua nas áreas da cultura, educação, paz, meio-ambiente, desarmamento nuclear e apoio a refugiados de guerra.

Eu sinto que é especialmente importante para as mulheres não cresceram longe de seus amigos próximos quando casam ou quando ocorrem grandes mudanças em suas vidas. A medida que envelhecerem, seus pais poderão falecer, poderá ocorrer um divórcio ou mesmo a morte do cônjuge. Este é o inevitável ritmo da vida. Os filhos se tornam independentes e deixam o lar. E no decorrer dos anos, o senso de isolamento na mulher pode aumentar.

Assim, eu penso que a chave para se viver uma vida plena reside no ato de termos ao menos um amigo verdadeiro na qual podemos conversar sobre tudo. Nós choramos por sua dor e dançamos com alegria por sua felicidade. E esta troca de emoções nos torna abertos para o mundo e outras pessoas. Ser uma pessoa de espírito generoso que respeita o caráter e personalidade daqueles ao seu redor – mesmo que estes sejam diferentes – é a base da amizade.

Especialmente valiosas são as amizades que transcendem as barreiras de raça, nacionalidade e outras barreiras. Eu me lembro claramente quando li o

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livro de Romain Rolland sobre a amizade de duas pessoas. Christophe e Olivier que tinham características contrastantes. Christophe era alemão, Olivier era francês. Enquanto Christophe era forte e cheio de vida, Olivier era fisicamente fraco mas de extrema sensibilidade. A medida que a amizade entre os dois crescia, os dois "se vislumbravam com o que descobriam no convívio mútuo. Havia tanto o que compartilhar…"

Christophe e Olivier debatiam vigorosamente sobre as diferenças entre seu povo, arte, liberdade e humanidade e no decorrer das conversas acabaram descobrindo um novo mundo. Algumas vezes, eles se exaltavam, nos momentos em que não conseguiam entender um ao outro, mas esta amizade foi capaz de sobreviver mesmo quando a França e a Alemanha estava prestes a entrar em guerra uma contra a outra.

Eu tenho a absoluta convicção de que quando construimos redes de amizade que atravessam as fronteiras nacionais, compreendendo que todos somos partes de família humana, nós seremos capazes de sobrepujar todas as barreiras étnicas e religiosas. Por fim, serão estes laços de amizade que irão criar um mundo pacífico.

Desta forma, como podemos dar início a este processo no âmbito pessoal ? Muito simples, basta nos munirmos de coragem, sermos capazes de abrir o coração e começarmos verdadeiros diálogos. Assim, novas e inesperadas amizades poderão surgir.

Fazer e desenvolver amizades depende de cada um, não de outra pessoa. Tudo provém da sua própria atitude e iniciativa. As relações humanas são como um espelho. Logo, se pensa de si mesmo: ‘Caso ele fosse um pouco mais gentil comigo, eu poderia me abrir com ele’, em compensação, a outra pessoa poderia pensar: ‘Caso ela fosse mais franca comigo, eu poderia ser mais gentil’.

Caso haja sinceridade por sua parte, naturalmente, estará cercado de bons amigos algum dia. As pessoas que não temem ser autênticas são capazes de fazer amigos de confiança. Um verdadeira amizade conecta indíviduos auto-confiantes que compartilham um laço em comum. Da mesma forma que um bambuzal, cada bambu se impõe ereto e independente em direção aos céus. Mas, abaixo do nível do solo, aonde ninguém observa, as suas raízes são todas entrelaçadas.

Em contrapartida, a amizade entre pessoas que isentas de uma clara direção na vida pode se tornar estagnada ou dependente. A amizade deve ser mais do que um simples elo com pessoas que passam a maior parte do tempo ao seu lado, o que lhe emprestam dinheiro ou simplesmente são gentis. A verdadeira amizade envolve um comprometimento real e nos impulsiona a cuidar da outra pessoa, mesmo que possamos arriscar o nosso próprio bem-estar em alguma ocasião.

É fácil se encontrar maus amigos que irão encorajar as nossas fraquezas. Em contraste, um bom amigo é realmente difícil de se encontrar. O sr. Makiguti, o professor primário que fundou a Soka Gakkai, dizia que a amizade pode ser dividida em três tipos. Por exemplo: um amigo precisa de dinheiro emprestado. O ato de emprestar o dinheiro é considerado um ato de pequeno bem, enquanto que, ajudá-lo a encontrar um emprego é classificado como um

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ato médio. Entretanto, caso seu amigo tenha o caráter de ser preguiçoso, então ajudá-lo desta forma somente irá perpetuar seus hábitos negativos.

Neste caso, a verdadeira amizade está em ajudar esta pessoa a mudar sua natureza preguiçosa que é a causa fundamental do seu sofrimento. Um verdadeiro amigo geralmente diz o que algumas vezes não queremos ouvir, mas que é de extrema necessidade para que possamos nos manter ‘na linha’ e que cresçamos integralmente como seres humanos.

Somente um verdadeiro amigo pode tornar nossas vidas duas ou três vezes mais rica. Uma pessoa com tal amigo nunca irá se sentir perdida.

Transformar Veneno em RemédioAssim como, do veneno da cobra, podemos fazer remédio, no Budismo podemos transformar nossos

sofrimentos em felicidade e  desenvolvimento:

Uma pessoa que está cheia de problemas pode seguir dois caminhos: se resignar ao seu sofrimento, ou lutar para obter o sucesso e ser feliz: a recitação do nam-myoho-rengue-kyo faz surgir uma energia vital

muito poderosa capaz de mudar o destino de uma pessoa e até de uma nação. Romper estas algemas cármicas exige coragem e determinação, para isso o praticante deve persistir cultivanando a

 

Fé, Prática e Estudo