A prática reflexiva no ofício do professor

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A Prática Reflexiva no Ofício do Professor Nesta bela obra, composta de uma introdução e dez capítulos; o autor aponta a prática reflexiva como ferramenta essencial para que o professor exerça de maneira consciente seu ofício, sua caminhada profissional. A partir do trabalho de Donald Schon, Perrenoud apresenta o paradigma reflexivo como um processo de mudança na maneira de agir do professor, reforçando seus vínculos com os alunos, sua maneira de enxergar a realidade, estabelecendo também o vínculo entre cotidiano e sala de aula, na resolução dos problemas do dia a dia. Segundo Perrenoud (2002), o profissional deve reunir competências, que não pode acontecer sem saberes abrangentes; saberes acadêmicos, saberes especializados e saberes oriundos da experiência. O profissional, atuando em qualquer área de sua escolha, nunca parte do nada. Sua partida exige mais que um repertório de receitas; exige um procedimento de resolução de problemas, uma forma de invenção. No cume do exercício de qualquer profissão, a figura do profissional reflexivo é condição imprescindível, pelo menos quando a consideramos sob o ângulo da especialização e da inteligência no trabalho. Principalmente no início da carreira, a reflexão deve ser um dos objetivos de qualquer profissional, principalmente o professor. Segundo Perrenoud (2002), a idéia de reflexão na ação e sobre a ação está ligada à nossa experiência do mundo, mesmo que não a enxergamos de maneira muito transparente. O autor nos mostra que a reflexão na ação é o modo de funcionamento de uma competência de alto nível, enquanto que a reflexão sobre a ação é uma fonte de auto-informação e de evolução das

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A Prática Reflexiva no Ofício do Professor

 Nesta bela obra, composta de uma introdução e dez capítulos; o autor aponta a prática reflexiva

como ferramenta essencial para que o professor exerça de maneira consciente seu ofício, sua

caminhada profissional.       

   A partir do trabalho de Donald Schon, Perrenoud apresenta o paradigma reflexivo como um

processo de mudança na maneira de agir do professor, reforçando seus vínculos com os alunos,

sua maneira de enxergar a realidade, estabelecendo também o vínculo entre cotidiano e sala de

aula, na resolução dos problemas do dia a dia.   

Segundo Perrenoud (2002), o profissional deve reunir competências, que não pode acontecer

sem saberes abrangentes; saberes acadêmicos, saberes especializados e saberes oriundos da

experiência. O profissional, atuando em qualquer área de sua escolha, nunca parte do nada. Sua

partida exige mais que um repertório de receitas; exige um procedimento de resolução de

problemas, uma forma de invenção.     

 No cume do exercício de qualquer profissão, a figura do profissional reflexivo é condição

imprescindível, pelo menos quando a consideramos sob o ângulo da especialização e da

inteligência no trabalho. Principalmente no início da carreira, a reflexão deve ser um dos objetivos

de qualquer profissional, principalmente o professor. 

Segundo Perrenoud (2002), a idéia de reflexão na ação e sobre a ação está ligada à nossa

experiência do mundo, mesmo que não a enxergamos de maneira muito transparente. O autor

nos mostra que a reflexão na ação é o modo de funcionamento de uma competência de alto nível,

enquanto que a reflexão sobre a ação é uma fonte de auto-informação e de evolução das

competências e dos saberes profissionais, por isso o professor deve refletir sobre tudo que

acontece na sala de aula, longe do calor da ação, pois, no fogo da ação pedagógica, temos

pouco tempo para meditar de maneira retrospectiva e prospectiva, onde refletimos sobre o que já

foi feito e sobre o que se vai construir o que leva o professor a reexaminar constantemente seus

objetivos, seus procedimentos, suas evidências e seus saberes. 

A idéia de que o professor precisa ser um pesquisador da própria prática, não é recente; é um

antigo estudo de Dewey e outros pedagogos. A idéia que através da pesquisa o professor

pesquisando sua própria prática, percorre novos caminhos, aprende com a experiência e leva em

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conta sua própria trajetória, a evolução que ele mesmo constrói em sala de aula, evidencia sua

importância, principalmente no início da carreira.

O professor interagindo com os alunos, construindo métodos que incentivem essa interação, se

depara com muitas surpresas e a certeza de que em sala de aula, no tetê à tetê diário, não existe

fórmulas mágicas, não existe certezas. Os desafios são inúmeros e diários, exigindo diálogo,

interação e respeito.

O autor coloca que a postura reflexiva, é uma ferramenta com a qual o professor desenvolve a

qualidade necessária à sua prática. Que uma postura reflexiva, não se aprende na escola em que

esse professor está se formando, ou se formou; é uma questão de hábitus. Um hábitus saudável

que junto com os saberes eruditos, que são transmitidos pela forma tradicional, nas instituições

de formação, deve estar aliada à prática. Assim como as ciências médicas, de engenharia e

outras áreas específicas, que estão alicerçadas na prática juntamente com a teoria, as escolas

que formam professores devem valorizar e estender seus estágios para que na prática o futuro

professor, desenvolva competências que não podem lhe ser ensinado através das teorias. Uma

excessiva preocupação em transmitir saberes, pode impedir que o professor desenvolva a prática

reflexiva. Uma das maneiras para que as escolas de formação desenvolvam no futuro professor a

prática da reflexão é através da pesquisa, pois, através dela, questionamentos são formulados,

construindo conceitos e hipóteses, sendo preciso que se considere todas as possibilidades de

aprendizagem, sem se concentrar em uma apenas. No modelo clássico, a teoria precede a ação,

no modelo reflexivo, teorias são desenvolvidas à partir da ação. O conhecimento erudito não é

desprezado, mas sim, confrontado com a realidade. A prática desmistifica a idéia de que se pode

resolver tudo apenas com a teoria. O confronto com a realidade, a resolução dos problemas que

surgem através desse confronto, vão delineando a construção de recursos teóricos e

metodológicos necessários para resolver os problemas do momento. O professor deve usar seu

dia a dia como laboratório vivo, através do qual ele aprenderá a enfrentar os desafios, buscar

solução para os mesmos e encontrar o equilíbrio necessário para não se deixar levar pelo

impulso, quando da necessidade de intervir em qualquer situação de desafio, dentro da sala de

aula.

A análise coletiva das práticas pedagógicas é apontada pelo autor como uma iniciação à prática

reflexiva, pois, através das discussões entre os envolvidos no trabalho escolar, numa visão de

todo, o professor iniciante não se sente isolado e juntamente com seus alunos irá construir

práticas adequadas à sua realidade dentro da sala de aula. O hábitus da reflexão sobre o trabalho

mostra que nem sempre o professor tem consciência de suas ações, sendo difícil mensurar o

caráter repetitivo de nossas ações e reações em situações de urgência ou de rotina.

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Segundo Dubet (1994), o ser humano é capaz de improvisar diante de situações inéditas e de

aprender com a experiência, para agir de forma mais eficaz quando surgem situações similares.

Numa relação subjetiva com seu aluno, a reflexão ajuda a afirmar a identidade de todos para

enfrentar a complexidade do mundo e da própria relação, sendo a reflexão um trabalho de

transformação para melhor viver consigo mesmo.

Sobre a prática reflexiva e envolvimento crítico, o autor revela que o trabalho reflexivo estabelece

novos elos entre profissão e a missão da escola, abandonando a idéia de que o professor é o

único “capitão” do barco, propondo uma visão de conjunto da problemática, unindo de modo mais

claro a postura reflexiva à posição dos professores na sociedade, dialogando com todos.

Segundo Perrenoud (2002), o bom senso leva-nos a crer que, se a sociedade muda, a escola tem

de evoluir junto com ela, antecipar e até aspirar transformações culturais.

Finalmente vincula o paradigma reflexivo, a razão pedagógica e análise do trabalho ligando a

prática reflexiva com a profissão do professor, que com o desenvolvimento de uma postura e de

práticas reflexivas mais amplas, constantes e instrumentalizadas; é a chave da profissionalização

do ofício e, portanto, uma condição para sair do impasse ao qual nos leva a maioria das reformas

escolares.

Segundo o autor, o paradigma reflexivo é um emblema da profissionalização, entendida como um

poder dos professores sobre seu trabalho e sua organização, um poder abertamente assumido,

com as correspondentes responsabilidades, não através de brigas, mas de negociação com os

envolvidos no processo educativo.