A preciosidade da provação

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Winslow, Octavius – 1808 -1878 A preciosidade da provação / Octavius Winslow Tradução , adaptação e edição por Silvio Dutra – Rio de Janeiro, 2017. 49p.; 14,8 x 21cm Título original: The preciousness of trial 1. Teologia. 2. Vida Cristã 2. Graça 3. Fé. 4. Alves, Silvio Dutra I. Título CDD 230

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"Para que a prova da vossa fé, mais preciosa do

que o ouro que perece, embora provado pelo

fogo, redunde para louvor, glória e honra na

revelação de Jesus Cristo." (1 Pedro 1: 7)

É à preciosidade da provação em geral,

incluindo a preciosidade da provação da fé em

particular, a que o apóstolo assim se refere.

Propomos, portanto, amplificar a verdade e

ilustrar no presente capítulo a preciosidade de

todas aquelas provações das quais, mais ou

menos, os santos de Deus são participantes.

Esta visão pode apresentar o sujeito da provação

em um ponto de luz mais reconfortante e

santificante do que o leitor tem sido

acostumado a contemplá-lo. Você pensou em

provação, antecipou a provação, encontrou a

provação, se encolheu da provação como o

paciente recua do bisturi do cirurgião,

esquecendo que essa mesma provação foi o

processo necessário pelo qual Deus estava

prestes a extrair por ela, algum grande bem em

sua experiência pessoal; e que, longe de ser

temida, deve ser acolhida como uma das coisas

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mais preciosas de Deus, as mais ricas bênçãos

da aliança eterna.

Os pontos que propomos para ilustrar são a

provação; a preciosidade da provação, e as

bênçãos que brotam da provação.

O termo é expressivo. Refere-se a um processo

pelo qual o caráter ou força de uma coisa é

testado. O engenheiro prova a base de seu arco,

o arquiteto prova a fundação de seu edifício, o

refinador prova a natureza de seu minério. A

palavra provação adquire assim, uma

importância significativa em relação a esse

processo disciplinar pelo qual Deus prova seu

povo.

A provação, então torna-se um elemento

necessário na educação e treinamento dos

filhos de Deus para o dever e serviço na terra, e

para gozo e glória no céu. Isente a Igreja de Deus

de provação, e ela é excluída de um processo

cujos resultados são incalculáveis em sua

experiência.

Ela tenderá a abrir este assunto com mais força,

se considerarmos quem o Senhor prova, no

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sentido em que o termo é empregado agora. Há

uma passagem no livro de Deus que contém,

como muitas frases breves de verdade

inspirada, e fornecerá a resposta à pergunta:

Quem o Senhor prova?

"O Senhor prova os justos". A fornalha em que

Deus coloca Seu povo, em outras palavras, o

processo de provação pelo qual Ele os prova, não

é a mesma pela qual o mundo ímpio é provado.

"O fogo em Sião e a sua fornalha em Jerusalém",

são apenas para Seus próprios eleitos. Ele tem o

cadinho para o ouro, e o cadinho para a terra; o

fogo do amor, e o fogo da ira, e em nada Ele mais

distinguirá Seu próprio povo dos ímpios; o ouro,

da "prata reprovada", do que na maneira pela

qual ambos são assim tratados. Ele prova os

justos porque são justos; ele castiga Seus filhos,

porque s são filhos; ele repreende, disciplina e

os aflige, porque os ama, tendo lhes "escolhido

na fornalha da aflição".

Que palavras tocantes de Cristo são estas; quem

pode lê-las sem emoção?

"A todos os que amo, repreendo e castigo".

Novamente: "porque o Senhor corrige a quem

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ama e açoita a todo filho a quem recebe". Assim,

é Seu próprio povo, Seus justos, Seus santos, em

quem Sua mão aflitiva é frequentemente mais

severa e pesadamente colocada. "O Senhor

prova o JUSTO."

Mas o que o Senhor prova? Não é a nossa

natureza caída que Ele prova, a existência de

cuja depravação é clara e inconfundível, pois

não precisa de nenhuma prova de que somos

pecadores, corruptos, e que "em nossa carne

não habita qualquer coisa boa". Mas o Senhor

prova Sua própria maravilhosa obra de graça na

alma. Ele prova tudo que é divino, bom, e santo

no regenerado. Ele prova seus princípios, Ele

prova seus motivos, Ele prova suas graças, Ele

prova o seu conhecimento, Ele prova a sua

experiência, Ele prova o Seu próprio trabalho.

Tomemos, por exemplo, algumas das graças

espirituais que Ele mais especialmente traz à

provação. Ele prova o amor do crente. "Você me

ama mais do que estes?" Muitas vezes essa é a

pergunta de sondagem de Jesus para Seus

discípulos. Ele testará a realidade, a sinceridade,

a força do nosso amor por Ele; se pode confiar

Nele quando o ferir, se agarrar a Ele quando se

afastar, obedecê-Lo quando Ele ordenar, se ele

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se achegará a Ele mais do que as tempestades

procuram afastá-lo da sua posição.

"Você pode renunciar a esta bênção? Você vai

realizar este serviço? Você é capaz de beber este

cálice, ou levar esta cruz por mim?"

É a linguagem significativa de muitas provações

com as quais o Senhor prova os justos. Você é

feliz, se seu amor suporta a prova de sua

sinceridade, e seu coração responde: "Sim,

Senhor, com o teu amor inspirando o meu amor,

a tua graça ajudando na minha enfermidade, a

tua força aperfeiçoada na minha fraqueza, eu

posso.

O Senhor também prova a paciência de Seu

povo. Não há, talvez, graça do Espírito, ou adorno

do caráter cristão mais negligenciado do que

isso, e ainda não há algo mais precioso e belo,

honrando a Deus. Para encontrar esta pérola

divina e rara devemos frequentemente passar

da superfície da sociedade e buscá-la; onde de

fato, a piedade e o gosto de poucos os conduzem

em meio a cenas de sofrimento, de dor, de

adversidade. Em algum apartamento isolado,

em algum leito de dor, sombreado pela pobreza

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e solidão, essa graça divina pode existir, e não

haver qualquer olho contemplando seu brilho

em meio à escuridão circundante, mas sim

Aquele cujos olhos "estão sobre os justos e os

ouvidos estão abertos ao seu clamor." Pode-se

ver o paciente, espírito calmo de um humilde

crente em Jesus, perseverando sem uma palavra

murmurante, caminhando sem um sentimento

rebelde; sofrendo sem um duro pensamento

daquele que o feriu com uma submissão calma,

e digna à divina disposição; à vontade de Deus. E

ainda, quem, em qualquer caminho que ande,

não encontra, em algumas circunstâncias de

sua história diária, a "necessidade de paciência?"

As circunstâncias difíceis da vida, a pesada cruz

diária, o contato constante com gostos

diferentes, mentes pouco convencionais,

corações incompreensíveis, os atrasos na

resposta à oração, a dor incessante, a cabeça

inquieta, o temperamento nervoso para o qual o

zumbido de uma mosca é uma agonia; acima de

tudo, os afastamentos de Deus, a permanência,

a suspensão da consolação do Espírito; todos

exigem o exercício daquela paciência com a qual

o crente possui a sua alma. Esta é a graça que o

Senhor prova! Ah! Quão pouco conhecemos a

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impaciência de nosso espírito, a petulância e a

insubmissão que não aguentam atraso, que se

agita contra o Senhor, e se revolta contra Suas

operações, até que o Senhor nos prove.

Mas, Ele prova a nossa paciência apenas para

aumentá-la. Humilhados sob a convicção de

quão rebelde é o nosso espírito, somos levados a

clamar poderosamente a Deus para nos dar esta

graça, mansamente suportar, sofrer

silenciosamente e alegremente fazer Sua

vontade.

"O Senhor dirija os vossos corações à paciência

de Cristo".

"Tendes necessidade de paciência, para que,

depois de ter feito a vontade de Deus, possais

receber a promessa".

Somos exortados a "deixar a paciência ter seu

trabalho perfeito, para que você possa ser

perfeito e íntegro, não faltando em nada".

"Aqui está a paciência dos santos."

Falei da provação da fé. Sem lembrar a linha de

pensamento já perseguida, pode-se brevemente

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afirmar que a fé, sendo a rainha das graças;

todas as demais são seus servos régios, e o

Senhor prova especialmente esta graça do

crente e, ao fazê-lo, indiretamente prova e assim

fortalece todas as graças cognatas da alma.

Assim, lemos:

"A provação de sua fé produz paciência".

E quais são os fins a serem cumpridos na

provação da fé?

O Senhor prova a nossa fé para testar sua

genuinidade, para promover sua pureza, para

revigorar seu poder, e assim, nos trazer a um

conhecimento mais íntimo de Si mesmo.

Nunca deveríamos provar a Deus, assim como

fizemos. Deveríamos nos contentar em viajar

por muitas etapas sem Ele. Sem qualquer senso

de dependência infantil, não há comunhão

sagrada; sem buscar Sua vontade, não há

qualquer prova de Seu amor, fidelidade e

sabedoria. Quão raramente o Senhor veria

nosso rosto erguido, nossas mãos estendidas, ou

ouvindo os suaves acentos de nossa voz, se

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permitisse que esta graça permanecesse lenta e

estagnada na alma.

Mas é "água viva" que Cristo depositou dentro do

regenerado, e a provação é necessária para

mantê-la pura, cintilante e ascendente.

Certifiquem-se disto, amados, de que o Senhor

exercita assim sua fé, somente para torná-lo um

possuidor mais rico desta mais enriquecedora

das suas graças, que é a fé. É um processo

bondoso de Jesus, pelo qual Ele procura o seu

maior bem. Quanto mais sua fé é provada, mais

ela lida com Deus, e viaja para Cristo; e é

impossível para você passar um minuto com

Deus, ou ter um vislumbre de Cristo, e não ser

sensata e incomensuravelmente um vencedor.

Quanto mais sua fé o conduz ao trono da graça,

mais preciosa será a oração. Quanto mais sua fé

lida com a expiação de Cristo, mais a glória de

Sua obra se desdobrará em sua mente. Quanto

mais sua fé se apodera das Divinas Promessas,

mais ela será confirmada na verdade da Palavra

de Deus. Assim, a fé tão sobrenatural e

maravilhosa é uma graça que transforma tudo o

que toca em ouro precioso, e confere ao crente

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provado, mas um feliz possuidor de, "maiores

riquezas do que os tesouros do Egito".

Mas, quem pode percorrer o círculo de todas as

provações a que os santos de Deus estão

sujeitos?

Quão grande é a sua variedade! Quão peculiar é

muitas vezes, o seu caráter! Cada filho de Deus

parece se mover em um sulco peculiar a si

mesmo, para girar ao redor do grande centro

em uma órbita própria. O Senhor nos trata como

indivíduos para que possamos ter relações

individuais com Ele, portanto entre o catálogo

das tribulações do cristão, aquelas de natureza

individual podem ter a precedência sobre todas

as demais. É uma grande misericórdia quando

podemos nos afastar da multidão e lidar com

Deus individualmente; quando podemos tomar

as preciosas promessas para nós mesmos;

quando podemos ir a Jesus com pecados,

fraquezas e dores individuais, sentindo que Sua

mão está estendida para nós, e todo o Seu

coração absorto em nós, como se fôssemos o

objeto solitário de Seu amor.

Ó, lide pessoalmente com Cristo, assim como

Ele trata pessoalmente com você. Seu convite é:

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"Venha a mim", e Ele quer que você venha, e

você não pode honrá-Lo mais, reconhecendo

Sua personalidade e Sua relação pessoal com

você, do que quando revelando suas

circunstâncias, fazendo confissão de pecado, e

apresentando desejos, fraquezas e tristezas

pessoais.

Mas além de pessoal, muitas vezes há provações

relativas, que muitos são chamados a

experimentar. É impossível não sentir no

coração, as circunstâncias daqueles a quem

estamos ligados por estreitos e ternos laços de

amor e amizade em uma medida própria. A

religião de Jesus é a religião da simpatia. Ensina-

nos a;

"chorar com os que choram e a regozijar-se com

os que se regozijam";

"carregar os fardos uns dos outros, e assim

cumprir a lei de Cristo".

E que exemplificação tão tocante desta nossa

religião fez o seu grande Autor, ao curvar-se

sobre o túmulo de Lázaro; como nos diz o

evangelista - "JESUS CHOROU"!

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Ele sofria de aflições próprias - oh, quão

amargas! Mas as enterrava profunda e

silenciosamente dentro de Seu peito, e parecia

sentir e chorar apenas pelas dores dos outros.

"Em todas as suas aflições ele foi afligido."

E assim, também muitas vezes é com o crente;

escondendo suas dores pessoais, suportando

em seu silêncio solitário e sem queixar de seu

próprio fardo, muitas vezes ele é encontrado,

por seu altruísmo e sensibilidade, sendo mais

profundamente afligido e oprimido pelas

tristezas e fardos dos outros.

"Quem é fraco, que eu não enfraqueça?", diz o

apóstolo Paulo.

Mas há provações espirituais peculiares aos

filhos de Deus. O mundo, como não pode

simpatizar com a alegria do crente, por isso não

pode participar da sua tristeza espiritual. O

Senhor julga os justos como justos. O que o

mundo conhece das provações que brotam da

habitação do pecado, das provações de Satanás,

das trevas espirituais, do conflito da

incredulidade, das enfermidades da oração, da

magreza da alma, do frio do amor, da dureza do

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coração, da tendência perpétua a uma recaída

espiritual?

Nada disto! Mas, tais são as tribulações da alma

de muitos santos de Deus, e estas constituem

suas provações mais dolorosas.

Mas, não é tanto sobre o fato dos provações do

cristão que nós nos demoraríamos na

exposição, como sobre um aspecto particular

daquelas provações que, especialmente no

processo real de provação, somos propensos a

esquecer, a saber, a sua preciosidade. O apóstolo

claramente insinua isto: "A provação de sua fé

sendo muito mais preciosa do que o ouro".

É à preciosidade da provação da fé, nem tanto à

preciosidade da própria fé, a que ele se refere,

apesar desta ser também preciosa. Busquemos

brevemente essa ideia e vejamos em que

sentido o filho de Deus pode contemplar suas

provações, como entre as coisas preciosas de

Deus.

A provação é preciosa, porque o que ela prova é

também precioso. A obra que Deus traz à prova

da aflição é digna de todas as dores que Ele usa

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para provar sua realidade, para promover sua

pureza e para avançar seu crescimento. Nada é

tão precioso, tão caro, tão indestrutível como a

obra do Espírito Santo na alma. Se, amados,

vocês tiverem um coração quebrantado pelo

pecado, se possuírem fé menor que um grão de

semente de mostarda, se houver no seu coração

uma centelha solitária de amor divino, ou bater

na sua alma um pulsar de vida espiritual; se, em

uma palavra, há o esboço da imagem moral

estabelecida de Deus, fraca e imperfeita, porém

nenhuma figura pode ilustrar sua beleza, nem

as palavras descrevem seu valor. Ela distingue

toda ideia em sua preciosidade intrínseca.

Agora, esta é a obra que o Senhor prova; esses

são os princípios divinos, as emoções sagradas,

os sentimentos celestiais que Ele traz à prova.

Ele prova, porque a provação vale a pena, e

assim a provação em si, se torna uma coisa

preciosa, porque tem a ver com um trabalho

precioso.

A provação também deriva um valor, de ser a

disciplina de um Pai amoroso. No momento em

que a fé pode ver a extração de qualquer gota da

maldição do cálice de tristeza, e rastrear em

seus ingredientes nada, senão os elementos de

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amor, sabedoria, bondade, fidelidade, justiça,

percebe-se o custo da disciplina. A própria vara

de correção é amada, porque é a vara daquele

que é "Amor".

O castigo é doce, porque é de um Pai, e o

verdadeiro crente exclama; "Meu Pai, por meio

disso, me ensina alguma lição saudável, para

inculcar alguma verdade divina, me repreender

por alguma loucura, me corrigir por algum

pecado, para restaurar meu coração e alma

errantes, afastar minhas afeições e simpatias

dos atrativos da terra, e atrair-me para mais

perto do Céu. Preciosa provação, que é o ditado

de uma sábia e santa disciplina, que deixa

vestígios da mão de um Pai, que é amorosa em

sua origem, em sua natureza, e em seus

resultados!"

A provação é preciosa, porque aumenta a

preciosidade de Cristo. É na adversidade que a

amizade humana é testada. Quando a explosão

invernal passa, quando a fortuna desaparece, a

saúde falha, a posição diminui, e a popularidade

e a influência diminuem, então os pássaros de

verão da amizade terrena expandem suas asas e

procuram um clima mais quente!

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O mesmo teste que comprova o vazio da afeição

e da inconstância do mundo confirma o crente

na realidade, no poder e na preciosidade da

amizade de Jesus. Para conhecermos

plenamente quem é Cristo, precisamos

conhecer algo da adversidade. Devemos ser

provados e oprimidos; devemos provar a

amargura da tristeza, sentir a pressão da

carência, pisar o caminho da solidão e, muitas

vezes, ser levados ao fim de nossas próprias

forças e da simpatia e conselho humanos. Jesus

brilha mais ao olho da fé, quando todas as coisas

são escuras e tristes. E quando outros se

retiraram de nossa presença, com sua paciência

esgotada, sua compaixão exausta, seu conselho

perplexo, talvez seu afeto resfriado e sua

amizade mudada, então Cristo se aproxima e

toma o lugar vago; senta ao nosso lado, fala de

paz ao nosso coração perturbado, acalma nossas

tristezas, guia a nossa provação e nos ordena:

"Não temas".

Amado leitor, quando Cristo apareceu mais

próximo e mais precioso para a sua alma?

Não foi nas épocas em que você teve mais

necessidade de Seus conselhos orientadores e

de Seu amor reconfortante?

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Na região da pecaminosidade de seu coração,

você aprendeu o valor, a integridade e a

preciosidade de Sua obra expiatória, de Sua

salvação consumada. Mas, a parte terna,

amorosa e simpática de Sua natureza, vocês

foram trazidos à experiência somente na escola

da provação santificada. Oh, quão precioso a

provação o fez! Em que intimidade sagrada e

estreita comunhão e proximidade consciente

tem trazido você; quando Ele se aproximou com

uma expressão tão benigna, com um olhar tão

vencedor, com influência e palavras tão

tranquilizadoras, e lhe disse que estava

familiarizado com a sua tristeza, entrou em sua

perda, sentiu todos os toques delicados de sua

dor, e então falou palavras de consolo ao seu

espírito, amarrou seu coração quebrado,

gentilmente o atraiu para uma doce, santa e

alegre submissão à Sua vontade e plena

justificação de Suas transações; Ele não

entronizou a Si mesmo sobre sua alma naquele

momento mais supremamente e firmemente

do que nunca?

Você já pensou que o conhecia, e o fez em algum

grau, mas agora, no fundo de sua tristeza

consagrada, uma tristeza na qual o Homem das

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dores e o Irmão nascido para a adversidade

consagrou todo o seu ser, você exclama;

"Antes te conhecia somente por ouvir, mas

agora os meus olhos te veem."

Perguntamos; não é a provação uma disciplina,

uma correção e uma escola preciosa, que o leva

mais plenamente à experiência sincera da

preciosidade do Salvador?

Não se rebelem, portanto contra o que lhes faz

conhecer melhor o seu melhor amigo, o seu

amado Irmão, o terno, simpatizante, Amado da

sua alma. Vocês conhecerão mais de Jesus em

uma provação santificada do que através de uma

biblioteca de volumes, ou ouvindo uma centena

de sermões.

É impossível contemplar os resultados

dispendiosos da provação, e não encontrar uma

evidência de sua preciosidade. A provação é um

processo frutífero; e, embora muitas vezes

dolorosas como as incisões da faca amputadora,

os resultados dessas incisões são saudáveis. A

provação santificada abre uma saída para a fuga

de muita enfermidade da alma. O mal

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profundamente arraigado, oculto e reprimido

há muito tempo, cuja existência foi como uma

aflição irritante, prejudicando toda a

constituição espiritual da alma, foi expulso por

esse processo, e surgiu um estado e uma ação

saudável. Que egoísmo, que carnalidade, que

rebelião, que mundanismo, que declinação

secreta, tem o bisturi de Deus trazido à luz,

revelando-os, mas para inspirar

autoaborrecimento, aversão ao pecado e

abandono do pecado; e tudo isso é o caro fruto

de uma aflição profundamente santificada!

A provação, também nos estimula a agarrar

Deus em oração. Nada provavelmente, em todos

os meios de graça do Senhor e dispensações da

providência nos leva assim à oração, incita-nos

a invocar o Senhor, como a pressão da aflição.

E tão alto privilégio é o acesso a Deus, tão doce

lugar é o trono da graça, tão grandes e santas as

bênçãos que brotam de uma espera de alma

sobre o Senhor, que deve ser uma disciplina

saudável que leva a tais resultados.

Oh, considerem-na como uma provação

preciosa, uma aflição de ouro que leva o seu

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coração a uma comunhão mais íntima com

Cristo! A voz do seu irmão mais velho pode,

como a de José soar dura e alarmantemente em

seu ouvido, enchendo-o de medo e

pressentimento, mas é a voz de seu Irmão, a "voz

do Amado", que fala apenas para despertá-lo

para uma abertura mais plena e confiante de

seu coração em oração. Oh, prova preciosa! Oh,

aflição enviada pelo céu! Que rompe as

barreiras, elimina as restrições, descongela os

engarrafamentos que interceptam e

interrompem minha comunhão com Deus e

com o Seu amado Filho, Cristo Jesus.

Nosso Pai Celestial ama ouvir a voz de Seus

filhos, mas quando há uma suspensão da

comunhão do coração, e os tons são silenciosos,

que eram usados para cair como música em Seu

ouvido, Ele envia um provação, e então nos

levantamos e nos entregamos à oração. Talvez,

seja uma perplexidade, e vamos a Ele para

conselho; ou é uma necessidade, e vamos a Ele

para o suprimento; ou é uma tristeza, e vamos a

Ele para nos acalmar; ou é um fardo, e nós

olhamos para Ele para suportá-lo; ou é uma

enfermidade, e nós recorremos a Ele para

receber graça; ou uma provação, e voamos para

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Ele em busca de apoio; ou é um pecado, e nós

recorremos a Ele por perdão; mas, seja qual for

a sua forma, ela tem uma voz: "Levanta-te e

invoca o teu Deus!"

E o próprio Deus nos move a isso.

Quanto também, a provação santificada

profundamente corrige nossos falsos conceitos.

Concebemos pensamentos obscuros sobre o

caráter de Deus, visões erradas de Suas

transações, interpretações cruas de Sua Palavra,

mas quando sob a mão de Deus, tudo isso é

corrigido A tempestade passageira varreu as

nuvens, limpou nosso intelecto, purificou nossa

atmosfera moral, um céu mais brilhante e mais

sereno nos sorriu, e nosso caminho se tornou

mais fácil e agradável. Vemos o caráter de Deus

e o nosso sob uma luz diferente; a sua tão

gloriosa, a nossa tão vil. Interpretamos Suas

relações de maneira diferente e mais favorável,

e começamos a aprender que não há nenhum

indivíduo que talvez, não tenha mais em seu

caráter para admirar e amar, do que censurar e

condenar; e que não há nenhum evento na

Divina Providência que não tenha uma lição de

verdade e uma mensagem de amor.

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(Nota do tradutor: Pura verdade. Atesto todas

essas palavras em minha própria experiência,

pois reconheço que todo o avanço que fiz no

crescimento da graça e no conhecimento de

Jesus, foi progressivamente aumentado à

medida que passei por essas provações

santificadas, tanto na Providência, quanto na

graça. Quão grande impulso espiritual eu tive,

depois de ter passado por uma internação

hospitalar de sessenta e dois dias consecutivos

num Hospital Público, numa enfermaria com

várias outras pessoas. Foi ali, que mais aprendi

de Deus do que nunca antes, e desde então, as

provações não têm cessado, mas é com uma fé

mais firme e tranquila que as tenho enfrentado,

vendo em tudo a mão do Senhor, não somente

controlando e dominando todas as

circunstâncias, como também consolando de

modo prático o meu espírito, para que esteja

firme, por estar sendo revestido com a graça de

Jesus.

Lembro-me perfeitamente do comando que o

Senhor me deu, quando estava extremamente

fragilizado e sendo atacado pelos dardos

inflamados do maligno, para que eu ficasse

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quieto. “Fique calado. O que você pode fazer

agora?”

Nada Senhor, foi a minha resposta. Sinto-me

mais impotente do que o pó, mas sei em quem

tenho crido, e que tudo podes fazer.” Não

somente me foi provido alívio para as minhas

dores, como tenho sido mudado desde então!”)

Estamos profundamente endividados com a

provação, e assim ela sustenta plenamente seu

caráter entre as coisas preciosas de Deus; como

autenticando o fato de nossa filiação divina.

Apague a provação santificada do catálogo das

operações do Senhor, e você cancelaria uma das

mais fortes evidências de sua adoção.

Que pai terreno não corrige a obstinação, a

vontade própria e a desobediência de seu filho?

E nosso Pai celestial, no exercício de uma

sabedoria e amor ainda maior, não empregará

uma disciplina santa e saudável para com os

Seus filhos?

Cada golpe de Sua vara é uma prova de Seu

amor, e toda correção de Sua mão é uma

evidência de nossa filiação. Quão terna e tocante

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é a admoestação: "Filho meu, não desprezes o

castigo do Senhor, nem desmaies quando és

repreendido por Ele. Por que o Senhor castiga a

quem ama e açoita a todo filho a quem recebe".

Assim então, nossas aflições e provações

santificadas estão entre as coisas escolhidas,

preciosas de Deus, porque são sinais e selos de

nossa graciosa adoção em Sua família.

Não se abata, crente, como se alguma coisa

estranha e desagradável tivesse acontecido com

você. Não interprete mal os tratos de Deus,

como se suas dores, dificuldades e provações

atuais fossem marcas de Seu desagrado e

evidências contra sua relação verdadeira e

divina.

Muitos do povo do Senhor que parecem isentos

das provações pelas quais os outros estão

severamente aflitos estão propensos a

argumentar a partir daí, contra o fato de serem

verdadeiros filhos de Deus. O mais verdadeiro é

que a religião de Jesus é a religião da cruz, e

nunca houve um verdadeiro cristão sem uma

cruz. No entanto, a penosa desconfiança

resultante da isenção das cruzes que os outros

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carregam, pode ser a cruz que o Senhor lhe

designa. A busca do coração e a oração, a

seriedade e a ansiedade, que essa convicção

produz, podem ser apenas a autodisciplina que

essas provações peculiares; da ausência da qual

infere ser um mal contra você são projetadas

para produzir um bom efeito. Deus pode

ricamente nos ensinar e santificar

profundamente pela ausência, como pela

presença de uma provação.

Mas ah! Não existem cruzes além do reverso das

circunstâncias, perda de saúde, afeição gelada,

amizade alterada, aflição de coração? Sim, leitor

amado; este corpo da nossa humilhação, o poder

do pecado que habita em nós, os assaltos de

Satanás, as seduções do mundo, os ferimentos

dos santos, os becos e desânimos espirituais, são

suficientes na ausência de toda provação

externa, para disciplinar o coração, humilhar a

alma, e manter o crente perto da cruz de Jesus.

Assim, não há crente sem provação, e nenhum

cristão está sem a cruz.

"Uma senhora de grande piedade queixava-se,

que enquanto na Escritura a cruz é falada em

toda parte como útil e necessária para os filhos

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de Deus, ela, por sua vez, deveria reconhecer

que até agora o Senhor nunca tinha considerado

a sua vida digna de uma, e isso muitas vezes

surgiu em seus pensamentos melancólicos e

dúvidas, se ela era uma de Seus filhos ou não.

Gotthold disse a ela; eu confesso que

reclamações como a sua não são comuns, na

medida em que poucos cristãos têm qualquer

motivo para lamentar a falta da Cruz, enquanto

outros, cuja parte dela é extremamente

pequena, no entanto imaginam que é tão grande

quanto eles são capazes de suportar, e em

particular, aqueles que ainda não estão

acostumados com ela são propensos a imaginar

que sua cruz é muito grande e pesado para ser

carregada.

Entretanto, para o seu caso, parece-me que você

está realmente levando uma cruz sem estar

consciente dela. Você está vexada com

pensamentos sombrios, porque não tem cruz.

Estes pensamentos sombrios, no entanto me

parecem serem eles próprios uma cruz

considerável, e também uma muito salutar, pois

eles não só mostram, mas nutrem e aumentam

o seu desejo de se assemelhar ao Senhor Jesus,

tomar a sua cruz e segui-Lo. Além disso, as

Page 29: A preciosidade da provação

29

palavras de nosso Salvador: "Quem não toma a

sua cruz e vem após mim, não pode ser meu

discípulo", não se refere apenas às dificuldades

comuns da vida humana, mas também e,

sobretudo tem a ver com a crucificação do velho

homem, de suas concupiscências e desejos

pecaminosos, de abnegação e subjugação da

vontade. Pelo resto, não podemos e não

devemos fazer cruzes para nós mesmos, pois

isso terminaria em hipocrisia.

O Senhor segura o cálice da aflição em Sua

própria mão, e o derrama quando e tanto quanto

Ele quiser. Que Ele vos poupou até agora, deve

ser reconhecido com humilde gratidão; Ele é o

Buscador de corações, e talvez soubesse que,

com a cruz, seu coração não teria sentido para

com Ele, como tem feito sem ela. Reconheça,

contudo que o drama de sua vida ainda não

tenha sido jogado até o fim, e que, você deve

saber que seu Deus gracioso ainda pode ter

alguma pequena cruz em reserva para você, a

ser imposta no devido tempo.

As tempestades mais ferozes vêm

frequentemente à noite dos melhores dias de

verão. Deve ser outro motivo de gratidão a Deus,

Page 30: A preciosidade da provação

30

que Ele lhe deu tempo para se preparar para

todas as emergências, e se vestir com a

armadura necessária para sua defesa." (extraído

de “Emblemas” - de Gotthold.)

Não é um menor resultado da provação

santificada, aumentando assim a sua

preciosidade; o conhecimento mais profundo

em que nos traz da Palavra de Deus?

Na provação voamos para as Escrituras como a

fonte infalível de orientação e conforto. Seja

qual for a natureza de nossa tristeza, ou a

singularidade de nosso caminho temos a

certeza de encontrar na Palavra de Deus, luz,

simpatia e alívio correspondente com ela. Deus

nos envia para esta escola de aflição para

aprender. Assim Ele lidou com Davi;

"Foi bom para mim que eu tenha sido afligido,

para que eu pudesse aprender os seus

estatutos."

A palavra de Deus em todos os momentos deve

ser o nosso estudo e prazer. "Que a palavra de

Cristo habite em vós ricamente em toda

sabedoria".

Page 31: A preciosidade da provação

31

Mas há, por meio de distrações externas e

conflitos internos, uma tendência a

negligenciar a Palavra, a perder o gosto por sua

doçura ou a desviar-se de suas repreensões fiéis.

E como um pai ou um professor, às vezes

emprega a vara para estimular seu aluno a

aprender, então nosso Pai Celestial, nosso

Divino Mestre, muitas vezes envia Sua vara de

correção para nos levar ao estudo da verdade;

então nós testificamos, "Foi bom para mim ter

sido afligido (castigado, repreendido), para que

eu pudesse aprender os seus estatutos".

E, com que maior clareza e beleza a Bíblia muitas

vezes, se desdobra para nós no tempo da

preciosa prova!

Nós entendemos as Escrituras agora, como

nunca fizemos antes. Podemos ter consultado

críticos e expositores, e por nossa própria

ingenuidade e habilidade termos nos esforçado

para penetrar os mistérios sagrados da Palavra,

e ainda, termos alcançado senão pouca

percepção da verdade, mas a vara da correção

provou ser nosso melhor expositor sob a

orientação do Espírito da verdade! "Então abriu-

lhes o entendimento, para que pudessem

entender as Escrituras".

Page 32: A preciosidade da provação

32

Provérbios sombrios, misteriosos e provadores,

tribulações que achávamos tão desagradáveis

foram os nossos melhores comentários sobre as

coisas profundas da Palavra. Que doçura em

nossa experiência pessoal, tem a amargura da

provação impartido a ela!

Não sabíamos que havia tanta doçura na Palavra,

até que encontramos tanta amargura no

mundo; nem tanta plenitude nas Escrituras até

que encontrarmos tanta vaidade na criatura.

Vemos a Bíblia agora, cheia de Jesus Cristo, Sua

revelação, Sua glória e doçura, Seu Alfa e

Omega, Seu princípio e Seu fim. Saciados com os

confortos da criatura, detestávamos o maná da

Palavra, e não tinha mais gosto o nosso alimento

espiritual, do que o mais insípido para o nosso

gosto natural.

Mas a provação doce, santificada e preciosa

levou-nos ao Livro da Palavra do próprio

provado, e nós "regozijamos-nos nele como

alguém que encontra grande despojo". Com o

salmista testemunhamos: "Quão doces são as

tuas palavras ao meu paladar, sim, mais doces

do que o mel à minha boca".

Page 33: A preciosidade da provação

33

"Este é o meu consolo na minha aflição; porque

a tua Palavra me consola."

Oh, bem-vinda, então, alegremente e

submissamente ó preciosa provação, que torna

mais preciosa em sua experiência a

preciosidade da Palavra de Deus!

O tempo da provação, muitas vezes nos coloca

em um exame mais aprofundado do nosso

progresso cristão e esperança.

Na estação do sol e da prosperidade do mundo,

deslizando sobre a corrente suave e calma,

quanto damos por certo quanto ao nosso

verdadeiro estado espiritual; nós julgamos bem

o nosso interior, porque tudo está sorrindo no

exterior. O mundo sorri, os amigos aprovam, os

ministros recomendam, o coração lisonjeia, e a

lâmpada do Senhor brilha ao redor de nós; mas

infelizmente, com que leves evidências de

conversão, com que marcas duvidosas da graça,

com que esperança esbelta do céu, estamos

então satisfeitos!

Quão superficial é o conhecimento de nós

mesmos, quão imperfeito é o nosso

conhecimento de Cristo. Mas, a provação vem

Page 34: A preciosidade da provação

34

com o disfarce de um inimigo, entretanto na

realidade é um amigo. E agora a primeira

explosão da adversidade dispersa a cobertura de

folha de figueira e destrói a bela parede forrada

que nossas próprias mãos construíram para

nossa beleza e defesa. O que pensávamos ser

substância, prova ser senão uma sombra, o que

imaginamos que era uma realidade, prova

apenas ser uma aparência. A fé que pensávamos

ser tão forte, o amor que achávamos tão

fervoroso, a graça que pensávamos ser tão real,

o crescimento que nós pensávamos ser tão

inconfundível; todos desaparecem diante das

operações, das sondagens, dos exames do

Buscador de corações no dia da angústia.

A provação nos trouxe ao nosso lugar certo; os

pés de Jesus. Lá, no espírito do autoexame, do

autoaborrecimento, da autorrenúncia fomos

levados a perguntar: "Esta evidência me servirá

quando eu chegar à morte? Será que este amor

dar-me-á ousadia no dia da provação? Esta fé me

apresentará irrepreensível diante do trono de

Deus e do Cordeiro?"

Abandonando assim as nossas vãs fantasias, os

nossos sonhos tolos, as nossas evidências

Page 35: A preciosidade da provação

35

duvidosas fomos capazes de tomar um renovado

apego a Cristo, de voar de novo à fonte do Seu

sangue e nos envolver mais intimamente

dentro da túnica de Sua justiça. Assim

esvaziado, humilhado aos Seus pés, nós O

louvamos e adoramos pela disciplina que

consumiu a escória, espalhou a palha, varreu

debaixo de nós a areia, e isso fortaleceu nossas

evidências, iluminou nossa esperança,

desdobrou o Espírito e entronizou o Redentor

mais vividamente e supremamente dentro de

nossa alma. Ó provação preciosa!

Como disciplina moral parece impossível

superar a preciosidade da provação. Nenhum

crente foi colocado em uma posição verdadeira

para a formação, desenvolvimento e

completude de seu caráter cristão, que não

tenha passado em algum grau, através desta

disciplina.

Não é mais essencial que o vaso do artesão seja

exposto ao calor do forno, a fim de conferir

transparência ao material, consolidação à sua

forma, e brilho e permanência às cores que seu

lápis traçou sobre ele, do que é para um "vaso de

Page 36: A preciosidade da provação

36

misericórdia a quem Deus preparou para a

glória", ser provado como pelo fogo.

Dessa disciplina moral não há exceção na

família de Deus. É uma observação do seráfico

Leighton - verdadeiro como é belo - que, "Deus

tinha um só Filho sem pecado, e nunca um sem

sofrimento".

Quão tocante e conclusivo é o argumento e o

apelo do apóstolo; ele mesmo purificado neste

cadinho e instruído nesta escola, " e já vos

esquecestes da exortação que vos admoesta

como a filhos: “Filho meu, não desprezes a

correção do Senhor, nem te desanimes quando

por ele és repreendido; pois o Senhor corrige ao

que ama, e açoita a todo o que recebe por filho. É

para disciplina que sofreis; Deus vos trata como

a filhos; pois qual é o filho a quem o pai não

corrija? Mas, se estais sem disciplina, da qual

todos se têm tornado participantes, sois então

bastardos, e não filhos. Além disto, tivemos

nossos pais segundo a carne, para nos

corrigirem, e os olhávamos com respeito; não

nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos

espíritos, e viveremos? Pois aqueles por pouco

tempo nos corrigiam como bem lhes parecia,

Page 37: A preciosidade da provação

37

mas este, para nosso proveito, para sermos

participantes da sua santidade. Na verdade,

nenhuma correção parece no momento ser

motivo de gozo, porém de tristeza; mas depois

produz um fruto pacífico de justiça nos que por

ele têm sido exercitados."

Assim está claro, que o castigo ou provação é

uma evidência e selo de adoção, e que sem ela

precisamos daquela disciplina espiritual, além

da qual não há simetria e completude

adequadas do caráter cristão. Quem não marcou

a diferença ampla e marcante no caráter e no

comportamento de uma criança treinada sob a

disciplina saudável de um pai, e uma criança

que cresceu sem essa disciplina, deixada para si

mesma?

A que diferença deve ser rastreada, senão à

influência formadora da disciplina em uma, e

toda a sua ausência na outra?

Há um desenvolvimento e força de caráter, uma

maturidade de mente e refinamento suave de

sentimento na criança assim educada, que você

o procura em vão na criança negligenciada.

"Um filho sábio ouve a instrução de seu pai."

Page 38: A preciosidade da provação

38

No hebraico esta passagem pode ser

literalmente traduzida, "Um filho sábio é o

castigo de seu pai". Sobre este texto, assim

tomado, com toda a probabilidade os judeus

fundaram seu provérbio, "Se você vir uma

criança sábia, certifique-se de que seu pai o

castigou."

Agora, quão gracioso e terno é nosso Pai

celestial em condescender assim, para tratar

conosco! Em tudo Ele sustentaria a relação que

tem conosco como um Pai. Não apenas nos

amando, pensando em nós, nos

proporcionando, guiando e guardando-nos,

mas também nos castigando. Ele assumiu um

cargo de pai, e o exercerá plena e fielmente,

ainda que possa usar o frequente e doloroso,

embora amoroso e justo, uso da vara. Oh,é para

que tenhamos certeza de que esta correção é um

novo selo de adoção! Quem não exclamaria

alegremente: "O cálice que meu Pai me deu, não

o beberei?"

E, no entanto pensamos que há um fim ainda

mais elevado alcançado pela provação preciosa,

tanto quanto esta autenticação de nossa adoção.

Referimo-nos à santidade Divina à qual somos

Page 39: A preciosidade da provação

39

chamados a ser coparticipantes. "Ele nos corrige

para o nosso lucro, para que possamos ser

participantes de sua santidade." Junto à sua

justificação, a santificação deve ser o grande

objetivo do crente; e tudo o que promove isto

deve ser precioso. Deus nos faria felizes, mas Ele

só pode nos fazer felizes, fazendo-nos santos.

Felicidade e santidade são verdades afins: são

termos relativos; elas são irmãs gêmeas. Deve

ser feliz aquele que é santo. O pecado é o pai de

toda a miséria; a santidade a raiz de toda a

felicidade. A santidade que Deus nos faria sentir

em simpatia, e nos tornaria participantes de Sua

própria santidade. Há muito que passa no

mundo religioso por santidade, que é espúrio

em sua natureza, e é repudiado por Deus. Não há

verdadeira santidade senão naquilo que nos

molda na imagem divina, aquilo que nos torna

semelhantes a Deus.

Não podemos possuir a santidade essencial de

Deus, mas podemos participar da Sua santidade

impartida. No mesmo sentido em que se diz que

somos "participantes da natureza divina" (2

Pedro 1: 4), somos "participantes da Divina

Santidade". Que retrato é um filho de Deus

Page 40: A preciosidade da provação

40

purificado, santificado e disciplinado por

provação!

Deus é o original divino; ele é a cópia humana.

Sobre esse coração suavizado, sobre aquele

espírito subjugado, sobre aquele abatido, o

santo Senhor Deus imprimiu, embutiu Sua

própria semelhança. E como o espelho polido

reflete a semelhança do homem que olha para

ele, assim faz o filho disciplinado de Deus; a

rudeza do carnal é eliminado pelo espiritual, a

escória do natural é separada do divino; sua

alma purificada reflete e brilha com a santidade

de Deus.

Oh, ser como Deus, exclamando com o salmista:

"Eu sei, ó Senhor, que os teus juízos são retos, e

que me afligiste com fidelidade". Quão terna,

suave e amorosamente seu Pai se dirige a você,

Seu filho provado; "Meu filho, não despreze o

castigo do Senhor".

Há rigor na disciplina? Há amor na vara.

Há amargura no cálice? Há doçura na borda. Há

agudeza no sofrimento? Há calma na relação

"meu filho". Isto nunca poderá ser esquecido na

Page 41: A preciosidade da provação

41

disciplina mais severa, ou na mais dolorosa

correção, que Ele é nosso Pai e nós Seus filhos.

"Não é Efraim para mim um filho precioso,

criança das minhas delícias? Porque depois que

falo contra ele, ainda me lembro dele

solicitamente; por isso se comovem por ele as

minhas entranhas; deveras me compadecerei

dele, diz o Senhor."

Deus nunca emprega uma repreensão sem um

consolo, ou a faca de poda sem o bálsamo.

Quantas vezes a misericórdia precede e prepara

a provação. Foi assim no caso de nossos

primeiros pais. Antes que Deus pronuncie a

terrível sentença, Ele sopra a graciosa

promessa.

A misericórdia escava o canal do juízo, prepara e

pavimenta o seu caminho. Assim, as correções,

repreensões e castigos de Deus são temperados

e suavizados; e como os castigos e repreensões

dos justos, são uma "bondade", e "um óleo

excelente, que não quebrará a cabeça"; assim, o

crente provado pode olhar para o rosto de seu

Pai e dizer; "Justo és, ó Senhor, ainda quando eu

pleiteio contigo; contudo pleitearei a minha

causa diante de ti." (Jeremias 12: 1).

Page 42: A preciosidade da provação

42

Como doce e ternamente Jesus misturou a

advertência com a consolação: "No mundo

tereis aflições, mas em mim tereis paz!"

Nosso Senhor, sábia e graciosamente

apresenta-nos o mundo como uma cena de

tristeza, provação e tribulação, mas a

contrapartida será que, em seu meio,

experimentaremos Sua presença, amor e graça

como nossa paz. Assim, a observação de um

curioso escritor é válida: "Os ramos da aflição

são feitos de muitos galhos afiados, mas são

todos cortadas da árvore da vida."

O crente nunca está tão perto do coração de

Cristo, dos confortos do Espírito e das alegrias

do Céu, como quando o dilúvio de águas escuras

está subindo e girando ao redor dele, erguendo-

o sobre suas crestas. Quanto mais alta a arca que

levava a Igreja dos antigos se elevava sobre o

dilúvio, mais perto ela se aproximava do céu.

Quando a terra recuou, o céu aproximou-se; e a

arca, flutuando sobre as águas subiu cada vez

mais alto. Não é assim com a alma crente,

quando inundações de grandes águas entram

nela?

Page 43: A preciosidade da provação

43

À medida que essas águas inundam e se elevam,

as loucuras pecaminosas, as vaidades

mundanas, as perseguições carnais, o orgulho,

o ego e a ignorância desaparecem e a alma se

aproxima do céu. Preciosa provação que enterra

a vaidade e a corrupção da terra, e revela a

alegria e glória do céu à alma! Assim do

comedor vem comida. A provação que parecia

tão ameaçadora trouxe tal misericórdia. A

nuvem que parecia carregada de eletricidade

esvazia um chuveiro frutífero. Oh, as estações

que nos provam são nossas épocas mais

espirituais e mais afetuosas a Cristo,

conformando-nos a Ele, e assim a provação

torna-se preciosa.

As estrelas brilham mais na noite mais escura;

tochas de fogo são boas para o aquecimento; as

uvas não chegam à prova até serem prensadas;

as especiarias cheiram mais docemente quando

prensadas; o ouro parece mais brilhante quando

é esfregado. Tal é a condição de todos os filhos

de Deus; são mais triunfantes quando mais

pisoteados, mais gloriosos quando mais

afligidos; muitas vezes mais no favor de Deus,

quando menos no do homem; como são suas

batalhas, assim são as suas vitórias; como suas

Page 44: A preciosidade da provação

44

tribulações, assim suas alegrias; eles vivem

melhor na fornalha da perseguição, de modo

que pesadas aflições são os melhores

benfeitores para as bênçãos celestiais, e quando

as aflições pendem mais pesadas, corrupções

pendem mais frouxas, e a graça que está

escondida na natureza, como a água doce nas

folhas da rosa, é então mais perfumada quando

o fogo da aflição é posto debaixo para destilá-lo

para fora." (Spencer.)

Filho favorecido de Deus, cuja disciplina do Pai

na providência e na graça traz tais bênçãos para

a alma! Provação preciosa que torna Jesus mais

precioso; o trono da graça mais precioso, a

disciplina da aliança mais preciosa, a santidade

mais preciosa, os santos de Deus mais preciosos,

a Palavra de Deus mais preciosa e a perspectiva

de voltar para casa na glória mais preciosa!

"Bem-aventurado o crente que, quanto mais

aflições o assaltam, mais estreitamente se

aproxima do Senhor, como o viajante alcançado

por uma tempestade que, quando a chuva ou a

neve cai sobre ele, furiosamente contra ele,

prende com mais firmeza o manto que o

envolve."

Page 45: A preciosidade da provação

45

Um tempo de provação é um tempo de

sensibilidade. Deus, muitas vezes a envia para

este fim. Não há nada no evangelho de Cristo

que proíba a emoção; não há nada na religião de

Jesus para esmagar a sensibilidade, mas tudo

para criá-la. O cristianismo é uma religião de

sentimento profundo e santificado. É a única

religião que apela completamente à nossa

natureza emocional, que toca as fontes

profundas e escondidas de nossa humanidade, e

nos diz que podemos chorar. Com as lágrimas de

Cristo em Betânia e com suas gotas de sangue

no Getsêmani diante de nós, certamente

poderemos expressar a mais profunda simpatia

pela adversidade dos outros, e poderemos

também entrar em profunda simpatia com a

nossa própria.

Chorai, pois amado! Nós não selaríamos aquelas

lágrimas. "Jesus chorou", e você também pode

chorar. "Nenhum castigo no presente é alegre,

mas doloroso." Portanto, não é pecado expressar

a emoção, e ter sensibilidade, regando o nosso

leito com lágrimas. Sem uma medida de

sofrimento nossa aflição não deixaria nenhum

vestígio de bem. Quando Deus fala, nós devemos

ouvir; quando Ele ferir, devemos sentir.

Page 46: A preciosidade da provação

46

Somente deixe o seu sofrimento ser moderado,

castigado e submisso, incorporando seu

sentimento e expressando sua intensidade na

linguagem e espírito do "Homem das Dores",

"Não a minha vontade, ó meu Pai, senão o tua

seja feita."

Que diremos então a estas coisas?

Não devemos contar entre as coisas preciosas

de Deus, como não menos preciosa, a provação

cuja disciplina nos remove o mal, e nos confere

tanto bem?

Quão pouco se deve saber experimentalmente

do Senhor Jesus; que profundidades havia em

Seu amor, que suavização em Sua simpatia, que

condescendência em Sua graça, que delicadeza

em Sua conduta, que beleza requintada em Suas

lágrimas, que segurança sob Suas asas

protetoras de águia, e o que repousa em Seu

coração amoroso, senão por meio da

adversidade.

A tua arca é lançada no meio das águas agitadas,

mas tu tens a Cristo a bordo do teu barco, e não

será naufragado. Ele pode parecer, como nos

Page 47: A preciosidade da provação

47

velhos tempos, "quando adormecido sobre um

travesseiro", ignorante e indiferente à

tempestade que se arrasta descontroladamente

ao seu redor, contudo o olho de Sua divindade

nunca adormece, e Ele no melhor momento se

levantará em majestade e poder, silenciará a

tempestade e ainda as ondas, e haverá paz. E

vocês contarão como sendo uma provação

preciosa que desperta em seu coração a

exclamação de adoração: "Que Homem é esse,

que até os ventos e o mar lhe obedecem?"

Sim, Cristo pisa o caminho límpido de sua

tristeza. Ele vem a você andando sobre o mar de

sua tribulação. Ele se aproxima para sufocar

seus medos, para acalmar sua mente, para lhe

dar paz. E, a não ser por essa alienação de seus

bens terrenos, esse sofrimento terrível, essa

terrível calamidade, essa doença devastadora,

essa languidez, esse sofrimento e essa

decadência, esses dias inquietos e noites de

vigília; ó, quantas visitas preciosas do Amado de

sua alma você teria perdido!

Fique quieto então; a provação trará um Jesus

precioso para você, e a presença, o amor, a

simpatia e a graça de Jesus iluminarão,

Page 48: A preciosidade da provação

48

acalmarão e adoçarão a sua provação. Logo

estaremos em casa, onde "Deus enxugará de

seus olhos todas as lágrimas, e não haverá mais

morte, nem tristeza, nem choro, nem haverá

mais dor".

A última verdade de Deus será vista, a última

lição de santidade será aprendida, a última

mancha de pecado será apagada, e não haverá

mais necessidade de disciplina, de tristeza, nem

da influência sagrada de provação preciosa; a

última brasa da fornalha será extinguida, a

última onda de tribulação morrerá na praia, e

estaremos para sempre com Jesus.

Até então, "entregue o seu caminho ao Senhor",

deixe suas preocupações em Suas mãos, "confie

nele e o mais ele fará", e suba do deserto a Seu

poderoso braço, e apoiado em Seu peito

amoroso, para sustentá-lo em fraqueza, para

aliviá-lo do sofrimento e trazê-lo para casa para

Si mesmo, onde os dias do seu luto serão

terminados, e "DEUS REMOVERÁ TODAS AS

LÁGRIMAS DE SEUS OLHOS".

"Quando aflições doloridas esmagam a alma,

E cada laço terreno é devastador,

Page 49: A preciosidade da provação

49

O coração deve unir-se somente a Deus:

Ele limpa a lágrima de todos os olhos.

Por noites de vigília, quando atormentado pela

dor,

Na cama de enfermidade você repousa,

Lembre-se de que seu Deus está próximo

Para limpar a lágrima de todos os olhos.

Alguns poucos anos, e tudo está acabado;

Suas dores passarão em breve;

Então incline-se na fé, no querido Filho de Deus,

Ele vai limpar a lágrima de todos os olhos.

Oh, nunca seja sua alma rebaixada,

Nem deixe seu coração desanimar,

Certifique-se de que Deus, cujo nome é Amor,

Vai limpar a lágrima de todos os olhos!"

Sra. Mackinlay