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    1/13histria da historiografia ouro preto nmero 03 setembro 2009 10-22

    ResumoO objetivo deste ensaio questionar se o que se chama presena das coisas, inclusive das coisas dopassado, pode ser realizada na linguagem, inclusive na linguagem dos historiadores. A primeira parteesboa o que significa presena (a existncia de objetos fsicos e eventos espao-temporalmentelocalizados). Aqui tambm se propem dois tipos ideais: culturas de sentido (nas quais a interpretaode significado de preocupao suprema, tanto que a coisidade das coisas frequentemente obscurecida),e culturas de presena (nas quais capturar a tangibilidade das coisas de extrema importncia). Noperodo moderno, passou-se a usar e interpretar a expresso lingustica tipicamente como o modo peloqual o sentido, mais do que a presena, expresso, criando-se assim, um lapso entre linguagem epresena. Desta forma, a parte II do ensaio explora possveis formas de se criar pontes entre esselapso. De particular interesse para os tericos da histria so as instncias nas quais as coisas podem sefazer presentes empregando-se o ditico, o potico, e o potencial encantatrio da expresso lingustica.Conclui-se o ensaio na parte III com uma reflexo sobre a ideia de Heidegger de que a linguagem a

    casa do Ser, agora interpretada como a ideia de que a linguagem pode ser o meio pelo qual a separao

    entre seres humanos e as coisas (fsicas) do seu ambiente pode ser superada.

    Palavras-chavePresena; Linguagem; Sentido.

    AbstractThe aim of this essay is to ask whether what it calls the presence of things, including things of the past,can be rendered in language, including the language of historians. In Part I the essay adumbrates whatit means by presence (the spatio-temporally located existence of physical objects and events). It alsoproposes two ideal types: meaning-cultures (in which the interpretation of meaning is of paramountconcern, so much so that the thinghood of things is often obscured), and presence-cultures (in whichcapturing the tangibility of things is of utmost importance). In the modern period, linguistic utterance hastypically come to be used for, and to be interpreted as, the way by which meaning rather than presence

    is expressed, thereby creating a gap between language and presence. Thus, in Part II the essay exploresways that this gap might be bridged. Of particular note for theorists of history are those instances inwhich things can be made present by employing the deictic, poetic, and incantatory potential of linguisticexpression. The essay concludes in Part III with a reflection on Heideggers idea that language is the

    house of Being, now interpreted as the idea that language can be the medium through which theseparation of humans and the (physical) things of their environment may be overcome.

    KeywordPresence; Language; Meaning.

    A presena realizada na linguagem:com ateno especial para a presena do passado*

    Presence achieved in language: with special attention given to thepresence of the pastHans Ulrich GumbrechtProfessorStanford [email protected] Serra MallStanford - CA94305United States of America

    Enviado em: 09/09/2009Autor convidado

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    * Este artigo foi originalmente publicado em ingls na History and Theory 45 (Outubro 2006), pp. 317-327.Traduo de Bruno Diniz e Juliana Jardim de Oliveira e Oliveira, com reviso tcnica de Valdei Araujo.

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    1 Estas premissas esto dispostas e discutidas mais detalhadamente em meu livro, Production ofPresence: What Meaning Cannot Convey (GUMBRECHT 2004 a); uma traduo alem foi publicadacom o ttulo Diesseits der Hermeneutik: Die Produktion von Prsenz (GUMBRECHT 2004 b). Em relao

    a esta reflexo sobre a presena nos debates filosficos de hoje, veja meu ensaio Diesseits desSinns: ber eine neue Sehnsucht nach Substantialitt,. (GUMBRECHT 2005). Nota do editor: H tambmtradues para o italiano e espanhol..2 Ver, principalmente, Jean-Luc Nancy, The Birth to Presence (NANCY 1993). Outros exemploscontemporneos desta tendncia so mencionados e discutidos em Gumbrecht, Production of Presence(GUMBRECHT 2004 a, p. 5764).

    Iniciarei discutindo a linguagem para em seguida tentar encontrar algo queno linguagem; depois pretendo retornar linguagem a partir da perspectivadaquilo que no linguagem. Aquilo que no linguagem o que chamo de

    presena. Desta forma, o ensaio partir da linguagem para a presena e depoispara a presena na linguagem.Este simples movimento de ida e volta est estruturado em trs partes. A

    primeira parte contm quatro premissas que nos levaro da linguagem para apresena1: (a) uma breve explanao do que critico na tradio hermenutica;(b) minha concepo de metafsica e de uma crtica da metafsica; (c) umaexposio sobre o uso que fao da palavra presena; e (d) a distinotipolgica que proponho entre cultura de presena e cultura de sentido. Asegunda parte da minha reflexo traar um caminho de retorno (ou umavariedade de caminhos de retorno) da presena para a linguagem, por meio de

    uma descrio de sete modos atravs dos quais a presena pode existir nalinguagem ou, em outras palavras, sete modos de se amalgamar presena elinguagem. A metfora do amlgama aponta para uma relao em princpiodifcil, e no natural, entre presena e linguagem. Estes modos so: linguagemcomo presena; presena no trabalho filolgico; linguagem que podedesencadear uma experincia esttica; a linguagem de experincia mstica; aabertura da linguagem para o mundo; literatura como epifania; e com umgrande grau de diferenciao, a presentificao do passado. Na terceira parteretrospectiva, questionarei se estes sete tipos de amlgama entre presena e

    linguagem tm nos levado a um horizonte de questionamentos e problemassimilares queles que Martin Heidegger buscou enderear quando, na fase tardiade sua filosofia, usava, com grande insistncia, a evocao metafrica dalinguagem como a casa do Ser.

    I

    Quando meus colegas, crticos e tericos da literatura, falam delinguagem, eles normalmente se referem a algo que requer interpretao,algo que nos convida a atribuir s palavras sentidos bem circunscritos. Assim

    como alguns outros crticos literrios e, acredito que ainda mais, alguns filsofosde minha gerao (entre os quais Jean-Luc Nancy possa ser o mais franco),2

    tambm me fartei deste caminho intelectual de mo nica, sustentado poruma certa compreenso restrita, mas totalizante, da Hermenutica. Eu tambmvivi por muito tempo a experincia do absolutismo de todas as variedades defilosofia do ps giro-lingustico como uma limitao intelectual e no encontrei

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    muito consolo no que quero caracterizar como o existencialismo lingusticoda desconstruo, isto , o contnuo lamento e a melancolia (nas suas infinitasvariaes) sobre a suposta incapacidade da linguagem de se referir s coisasdo mundo. Seria realmente a nica funo da literatura, em todas as suasformas e tons cultural e historicamente distintos, chamar a ateno dos seusleitores, repetidamente, para a impresso mais do que familiar (ao menos parans) de que a linguagem, como Paul de Man parecia reivindicar toda vez queescrevia sobre a alegoria da leitura, no pode referir?

    Convenientemente resumidos, estes so os principais sentimentos erazes que me levaram a fazer parte de outro movimento dentro das cinciashumanas, a qual tem a fama (provavelmente bem merecida) de estardesgastada. Estou me referindo crtica das metafsicas Ocidentais. Ao menosposso reivindicar que o modo que uso a palavra metafsica mais elementar

    que, e, portanto, diferente dos significados dominantes na filosofiacontempornea. Quando me refiro metafsica, busco ativar o sentido literalda palavra como algo alm do meramente fsico. Quero apontar para umestilo intelectual (que prevalece nas cincias humanas hoje) que permite apenasum gesto e um tipo de operao, a de ir alm do que considerado ser umasuperfcie meramente fsica. Trata-se, portanto, de encontrar acima ou abaixoda superfcie meramente fsica aquilo que supostamente o importante, ouseja, um significado (o qual, para sublinhar sua distncia dessa superfcie, normalmente chamado de profundo).

    O meu afastamento da metafsica considera e insiste na experincia quea nossa relao com as coisas (e especificamente com artefatos culturais)nunca apenas uma relao de atribuio de sentido. Enquanto usarmos apalavra coisas para nos referirmos ao que a tradio Cartesiana chama resextensae, tambm e sempre viveremos dentro e conscientes de uma relaoespacial com estas coisas. As coisas podem estar presentes ou ausentespara ns, e se elas esto presentes elas podem estar perto ou longe denossos corpos. Chamando-as de presentes, ento, no sentido original dolatim prae-esse, estaramos afirmando que as coisas esto em frente de

    ns, sendo assim tangveis. No h nenhuma implicao adicional que eu associecom este conceito.Contudo, baseado na observao histrica de que certas culturas como

    a nossa prpria cultura moderna (seja l o que for que chamamos demoderno) tm uma tendncia maior do que outras culturas de colocarentre parnteses a dimenso da presena e suas implicaes, eu proponhouma tipologia (no tradicional sentido Weberiano) que faa uma distino entreculturas de sentido e culturas de presena. Aqui esto algumas das distines(inevitavelmente e, sem nenhuma m conscincia, binrias) que proponhofazer.3 Primeiro, em uma cultura de sentido, a forma dominante deautorreferncia humana sempre corresponder ao delineamento bsico do que

    3 Para uma verso mais completa desta tipologia, veja Production of Presence (GUMBRECHT 2004 a,p. 78-86).

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    a cultura Ocidental chama de sujeito e subjetividade, isto , se referir a umobservador incorpreo que, a partir de uma posio de excentricidade vis--visdo mundo das coisas, atribuir significados a estas coisas. Uma cultura depresena, em contraste, integrar igualmente a existncia espiritual e fsica emsua autorreferncia humana (pense, por exemplo, na obsesso com aressurreio espiritual e corporal na Cristandade medieval). Segundo, seguedesta distino inicial que em culturas de presena os seres humanos seconsideram como parte do mundo de objetos ao invs de seremontologicamente separados dele (este pode ter sido o ponto de vista queHeidegger quis recuperar com seu conceito fundamental de ser-no-mundo).Terceiro, e em um nvel mais alto de complexidade, a existncia humana, emuma cultura de sentido, se revela e se realiza em contnuas e progressivastentativas de transformar o mundo (aes) que esto baseadas nas

    interpretaes das coisas e na projeo dos desejos humanos no futuro. Esteimpulso para a mudana e a transformao est ausente nas culturas depresena nas quais os seres humanos buscam apenas inscrever seucomportamento no que consideram ser estruturas e regras de uma determinadacosmologia (chamamos de rituais os quadros situacionais para que taistentativas correspondam a quadros cosmolgicos mais amplos).

    Uma funo desta tipologia ilustrar que, por um lado, a linguagem emculturas de sentido cobre todas as funes que a descendncia da filosofiamoderna de matriz europeia pressupe e aborda. Por outro lado, muito menos

    bvio quais papis a linguagem pode desempenhar em culturas de presena(ou, ainda, em um mundo visto a partir de uma perspectiva da cultura depresena). Os sete tipos de amlgama entre linguagem e presena que querodiscutir na segunda seo de meu texto pretendem dar uma respostamultifacetada a esta mesmapergunta.

    II

    O primeiro amlgama a linguagem, acima de todas a linguagem falada,

    como uma realidade fsica. Isto reala o que Hans Georg Gadamer afirmousobre o volume da linguagem, distinto do seu contedo proposicional ouilocucionrio (GADAMER 2000, p. 63). Como uma realidade fsica, a linguagemfalada no s toca e afeta nosso senso acstico, mas tambm nossos corposem sua totalidade. Assim percebemos a linguagem em seu modo menos invasivo isto , muito literalmente como o leve toque do som em nossa pele, atmesmo se no nos for possvel entender o que supostamente suas palavrassignificam. Tais percepes podem ser bem agradveis e at mesmo desejveis e neste sentido sabemos como algum pode captar certas qualidades dapoesia declamada, mesmo sem saber o idioma que est sendo usado. Quandoa realidade fsica da linguagem atinge uma forma, forma esta que precisa seralcanada devido ao seu status de objeto no tempo (in Zeitobjekt imeigentlichen Sinn de acordo com a terminologia de Husserl), dizemos queesta forma possui um ritmo um ritmo que podemos sentir e identificar

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    independentemente do significado que a linguagem carrega.4 A Linguagemcomo uma realidade fsica que tem forma, isto , a linguagem rtmica, satisfarum nmero de funes especficas. Ela pode coordenar os movimentos de

    corpos individuais; pode dar apoio performance da nossa memria (pensenaquelas rimas pelas quais ns aprendemos algumas regras bsicas de gramticalatina); e, ao supostamente reduzir o nvel de nossa vigilncia, ela pode ter(como Nietzsche afirmou) um efeito intoxicante. Certas culturas de presenaat mesmo atribuem uma funo encantatria para a linguagem rtmica, ouseja, a capacidade de fazer coisas ausentes tornarem-se presentes e coisaspresentes tornarem-se ausentes (esta era de fato a expectativa associada aosencantamentos medievais).5

    Um segundo tipo muito diferente de amlgama entre presena e linguagemest presente em algumasprticas bsicas de filologia (compreendida em suafuno original como curadora de textos). Recentemente, em um pequenolivro6, discuti que ao contrrio da imagem tradicional do fillogo as atividadesdos fillogos podem ser pr-conscientemente dirigidas por desejos muitoprimrios que podemos descrever como desejos de (completa) presena (euentendo que um desejo de presena completa um desejo sem a possibilidadede realizao o que o torna precisamente um desejo do ponto de vistaLacaniano). Colecionar fragmentos textuais, neste sentido, pressupe umprofundo desejo reprimido de, quase literalmente, comer restos de papirosantigos ou manuscritos medievais. O desejo de incorporar os textos em questo

    (de atu-los como um ator) poderia estar sob a paixo por produzir edieshistricas (em todos os seus diferentes estilos filolgicos) pense em um atoto simples quanto recitar um poema de Goethe e descobrir que ele s rimarse voc pronunci-lo com um sutilssimo acento frankfurtiano. medida quepreenchem as margens das pginas de manuscritos e impressos, oscomentrios eruditos, finalmente, podem se relacionar a um desejo fsico deplenitude e exuberncia. Seria provavelmente muito difcil (se no impossvel)desembaraar, em todos os detalhes, tais casos de entrelaamento entre desejosde presena e ambies acadmicas. Mas o que importa para mim neste

    contexto a intuio de que eles convergem, muito mais do que regularmenteimaginamos, em muitas formas do trabalho filolgico.Se seguirmos, como tendo a fazer considerando a atual cultura Ocidental,

    a sugesto de Niklas Luhmann para uma caracterizao de experincia esttica(Luhmann tentou descrever o que havia de especfico na comunicao dentro

    4 Esta descrio est baseada em meu ensaio Rhythm and Meaning, in Materialities of Communication,ed. Hans Ulrich Gumbrecht and K. Ludwig Pfeiffer (GUMBRECHT & PFEIFFER 1994, pp 170-186); averso original alem foi publicada in Materialitt der Kommunikation (GUMBRECHT & PFEIFFER 1988,pp 714-729).5 Veja minha anlise sobre alguns encantamentos em alto-alemo-antigo (The Charm of Charms) inA New History of German Literature, (GUMBRECHT 2004 c, pp 183-191).6 Hans Ulrich Gumbrecht, The Powers of Philology: Dynamics of Textual Scholarship (GUMBRECHT2003); a traduo alem foi publicada sob o ttulo Die Macht der Philologie: ber einen verborgenenImpuls im wissenschaftlichen Umgang mit Texten (GUMBRECHT 2003b).

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    do sistema da arte como um sistema social), ento qualquer tipo de linguagemque capaz de disparar uma experincia esttica aparecer como um terceirocaso de amlgama entre presena e linguagem. Para Luhmann, a comunicao

    no sistema da arte uma forma de comunicao na qual a percepo puramentesensria no apenas uma pressuposio, mas um contedo carregado, juntocom um sentido, pela linguagem. Esta descrio corresponde a uma experinciade poemas (ou de ritmos de prosa literria) que chama nossa ateno paraaspectos fsicos da linguagem (e suas possveis formas) que, contrariamente,tenderamos a colocar entre parnteses. Entretanto, contrrio a uma opinioh muito vigente (e ainda dominante) em estudos literrios, eu no acreditoque as diferentes dimenses da forma potica (como ritmo, rima, estanza, eassim por diante) funcionem de modo que sejam subordinados dimenso desentido (como sugere a assim chamada teoria da sobredeterminao poticadando contornos mais fortes s configuraes semnticas complexas). Antes,eu vejo formas poticas engajadas em uma oscilao com o significado, nosentido de que um leitor/ouvinte de poesia nunca consegue prestar atenocompleta a ambos os lados. Esta, a meu ver, a razo pela qual determinadaprescrio cultural argentina impede a dana do tango quando este possui letra.Para a coreografia do tango como uma dana, com sua assimetria entre ospassos masculinos e femininos, contra os quais a harmonia precisa ser alcanadaa todo o momento, demanda-se ateno completa msica queinevitavelmente seria reduzida pela interferncia de um texto que desviaria parte

    desta ateno.Meu quarto paradigma de amlgama a Experincia mstica e a linguagem

    do misticismo. Recorrendo constantemente a sua prpria incapacidade de tornarintensa a presena do divino, a linguagem mstica produz o efeito paradoxal deestimular imaginaes que parecem tornar esta mesma presena palpvel. Nadescrio de suas vises, Santa Teresa de vila, por exemplo, usa imagensaltamente erticas sob a condio permanente de um como se. O encontrocom Jesus, para ela, seria como se fosse penetrada por uma espada, e aomesmo tempo ela sentia como se um anjo estivesse emergindo do seu corpo.

    Porm, ao invs de tomar estas formas de expresso literalmente (literalmentecomo a descrio de uma experincia mstica que verdadeiramente excede oslimites da linguagem), uma viso tanto secular como analtica compreender aexperincia mstica em si mesma como um efeito de presena produzido pelalinguagem e por seus poderes inerentes de autopersuaso.

    H ainda outro modo de amlgama que pode ser descrito como linguagemque se abre para o mundo das coisas. Este inclui textos em que o paradigmasemitico de representao substitudo por uma atitude ditica em que aspalavras so experimentadas como apontando coisas, ao invs de substitu-

    las. Assim, os substantivos se transformam em nomes prprios porque parecemsaltar a dimenso sempre totalizante dos conceitos e se tornam, por algumtempo, individualmente ligados a objetos individuais. Os things-poems deFrancis Ponge usam e cultivam este potencial da linguagem. Recentemente tive

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    uma impresso semelhante ao ler o esboo autobiogrfico do grande fsicoErwin Schrdinger (SCHRDINGER 1992, p. 165187), cuja obsesso pelapreciso descritiva parece ter rejeitado o efeito de abstrao inerente a todos

    os conceitos. Portanto, no texto de Schrdinger os substantivos parecem ligadosa objetos individuais, funcionando como nomes prprios, produzindo umaimpresso textual estranhamente remanescente dos encantamentos medievais.Diferentemente, certas passagens nos romances de Louis-Ferdinand Clineparecem especificamente abertas ao mundo dos objetos. Aqui, o ritmo daprosa imita o ritmo dos movimentos ou dos eventos a serem evocados,estabelecendo uma relao analgica com estes movimentos e eventos quetambm contornam o princpio digital de representao. Se textos como ospoemas de Ponge ou o esboo autobiogrfico de Schrdinger parecerem sedirecionar para coisas no espao, os textos de Cline esto abertos a seremafetados por ou ressoarem com as coisas no tempo.

    Como familiar na tradio da Alta Modernidade do sculo XX(especialmente o trabalho de James Joyce), a literatura pode ser o lugar daepifania. Talvez uma descrio mais ctica preferisse tratar da capacidade daliteratura de produzir efeitos de epifania. A epifania o sexto modo, quaseintrusivo, de produzir presena na e pela linguagem. Em seu uso teolgico, oconceito de epifania se refere ao aparecimento de uma coisa, que requer espao,uma coisa que est tanto ausente quanto presente. Para uma concepo delinguagem que se concentra exclusivamente na dimenso do significado,

    epifanias e textos devem ser separados por uma relao heternoma. Mas,como tenho sugerido com esta srie de exemplos, se levarmos em conta afenomenologia da linguagem como uma realidade fsica e, com isto, o potencialde encantamento da linguagem, ento uma convergncia entre literatura eepifania parece ser muito menos estranha. Admitir que momentos de epifaniaocorrem, mas apenas sob as condies temporais especficas que Karl HeinzBohrer caracterizou como subitaneidade e partida irreversvel (BOHRER 1981e 1996), pode ser uma forma contempornea de mediao entre nosso desejode epifania e um ceticismo moderno de que este desejo no pode ser

    completamente satisfeito.Finalmente, a linguagem, sob determinadas (e variadas) condies, podetornar o passado tangivelmente presente.7 Mas o que significaria tornar opassado tangivelmente presente e ser que realmente precisaramos dalinguagem para fazer isso? Muitos objetos do passado nos so simplesmentetangveis no espao: pense em livros antigos, ferramentas, ou armas; penseem edifcios e at mesmo certas paisagens rurais ou urbanas que sabemosterem sido palco de eventos historicamente importantes, como os camposperto da cidade de Verdun no norte da Frana, que possuem ainda as cicatrizesdas trincheiras da Primeira Guerra Mundial, ou como a Place de la Bastille em

    7 A convergncia com a posio de Eelco Runia (para ns dois uma agradvel surpresa) muito bvianos pargrafos seguintes para uma discusso ponto-a-ponto. Veja: (RUNIA 2006).

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    8 Meu livro In 1926: Living at the Edge of Time (GUMBRECHT 1997), foi originalmente uma experinciaengendrada para explorar at que ponto a linguagem pode suprir este desejo (e no chegou longe obastante neste sentido).

    Paris (GUMBRECHT 2003c). Colecionar estes objetos e ir a estes lugares, comotantos de ns fazemos com considervel paixo, dificilmente nos ajudar aentender o passado. Isto apenas satisfaz um desejo de contato fsico com o

    passado que a cultura histrica contempornea retirou de seu cnone de prticaspertinentes.8 A presentificao do passado atravs de textos seria, ento, umexerccio no-acadmico reservado queles casos em que lugares e objetossemelhantes no estariam facilmente disponveis ou acessveis.

    Mas existe ainda outra pr-condio, menos patente, para a presentificaodo passado atravs dos textos que precisa ser mencionada. Sempre quetornamos presentes coisas, corpos ou sentimentos, ativamos e acentuamosaquela dimenso de experincia que, em minha tipologia introdutria bsica,chamo cultura de presena. Cultura de presena, como disse, diferente decultura de sentido porque no nos impe a obrigao e a expectativa constantesde que devemos transformar o mundo por meio de nossas aes. Ao contrrio,a cultura de presena nos assinala um lugar dentro de uma cosmologia estvel,insinuando que a passagem do tempo no ser vivenciada como produtora deuma distncia vis--vis com o passado. Se o tempo em culturas de presenano possui o efeito de ser um instrumento necessrio de mudana, ento apresentificao, ou seja, a evocao de um passado em sua materialidade nosparecer menos duvidosa; encontrar menos resistncia e ceticismo do que acultura histrica moderna nos ensinou a produzir.

    A histria da teologia da eucaristia um rico exemplo da mudana de

    atitude qual me refiro. Desde seus primrdios e ao longo da Idade Mdia, afuno deste sacramento era presentificar a ltima Ceia de Cristo com os seusapstolos e produzir, neste contexto especfico, a presena real de seu corpoe sangue. Receber a Comunho, comer o corpo de Cristo era, sob estascondies e ainda , sob as premissas, embora no nas palavras, da teologiacatlica nada menos que teofagia. Mas, com a progressiva substituio, nateologia da Reforma, da distino Aristotlica entre substncia (o corpo deCristo) e forma (po), pela distino que est implcita no conceito modernodo signo entre significante (po) e significado (o conceito do corpo de Cristo),

    o sacramento da eucaristia mudou de uma cena mgica de evocao do passado,para uma situao de comemorao uma situao de comemorao que,mais precisamente, implica um distanciamento histrico intransponvel entrepassado e presente. Pensar atravs deste contraste entre duas formasprofundamente diferentes de se relacionar com o passado leva a sugesto deuma distino terminolgica fundamental que s mencionarei de passagem.Talvez fosse til usar a palavra histria exclusivamente para uma relaocom o passado que segue a moderna suposio do tempo como um meionecessrio de mudana (e como meio de mudana, tambm um meio de

    distanciamento). Esta a razo por que eu falo de modos de presentificao

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    do passado e no de presentificao da histria porque, de acordo com aminha proposta terminolgica implcita, a presentificao da histria seria umoxmoro.

    Mas voltemos questo de como a linguagem pode tornar o passadopresente. A forma mais elementar de fazer isso se encontra, claro, emlinguagens que apontam (quase literalmente apontam, atravs de partculasditicas) para objetos e lugares que conferem uma presena material ao passadodentro do presente temporal. Na introduo da Histria da Revoluo Francesa,por exemplo, Jules Michelet aponta para a chave da Bastilha que na metadedo sculo XIX, ainda estava presente nos Arquivos daAssemble Nationale.9

    Os encantamentos so um gnero textual cuja forma se adapta presentificao de situaes inteiras do passado e dos eventos que delasemergem.10 Os encantamentos frequentemente projetam uma justaposioentre a narrativa de uma situao passada na qual um problema foi resolvido ea descrio de uma situao semelhante no presente em que o problemacorrespondente no foi ainda resolvido. Se pudermos assumir que a recitaoencantatria e rtmica de tais textos estabelece um presente para si mesmodentro do qual toda sequencialidade (narrativa) suspensa,3 ento, se tornaplausvel que a invocao da situao passada, com a sua soluo e a invocaode uma situao presente no resolvida se tornem uma coisa nica (o quetambm implica o fato de que a soluo passada ocupar o lugar de um futurono resolvido e aberto da situao presente).

    Um modo fronteirio de tornar o passado presente atravs da linguagem o contato fsico com papiros, manuscritos em pergaminho, ou livrosvisivelmente antigos fronteirio porque nestes casos o meio, e no alinguagem em si, que produz o efeito de presena. Eu suponho que isto acontececom grande intensidade sempre que o meio em questo estiver materialmentedanificado seja porque, em primeiro lugar, por exemplo, a parte que falta de umpapiro, ou seja, sua ausncia, ativa nossa imaginao, seja porque, segundo, orastro de um ato violento ou de uma deteriorao fsica completa(metaforicamente falando, sua cicatriz) pode disparar uma reao corprea

    no observador (GUMBRECHT 2003a, pp 9-23). A mesma gama de fenmenospoderia incluir todas as impresses produzidas pelos estilos e formas lingusticasque so percebidas como antiquadas sem serem to remotas que precisemde uma traduo formal para uma linguagem mais contempornea. A cadnciado verso alexandrino, forma predominante do drama francs do sculo XVII,por exemplo, pode tornar fisicamente presente uma dimenso especfica deum passado especfico, como acontece para os leitores contemporneos doalemo com as frases perfeitamente construdas e muitas vezes sintaticamenteexuberantes da prosa de Thomas Mann. Ningum poderia dizer o que o versoalexandrino ou o ritmo da prosa de Thomas Mann significam porque, em

    9 Veja minha anlise de alguns textos deste gnero em alto-alemo-antigo: the Charm of Charms,(GUMBRECHT 2004c, pp 183-191).10 Sobre esta funo da linguagem rtmica, (GUMBRECHT & PFEIFFER 1994, pp 170-186).

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    11 Para uma descrio mais detalhada deste ato, veja (GUMBRECHT 2003a, pp 54-67).

    realidade, eles no tm nenhum significado (as incontveis tentativas frustradasde se demonstrar isso nos fornecem evidncias substanciais). Mas no hdvidas de que eles so componentes materiais de ambientes passados da

    vida humana. Tais fenmenos s sero registrados como partes de um passadotornado presente se um ato de presentificao extremamente espontneoocorrer na psique do receptor.11 Precisamos registrar que certos tons ou certasformas no pertencem aos objetos de percepo comuns e cotidianos a queestamos expostos. Normalmente reagimos a tais momentos eliminando objetospercebidos a partir do horizonte do que consideramos pertinentes e merecedoresde nossa ateno. Contudo, se suspendemos esta reao, porque ocorreuum ato de presentificao.

    Isto no significa que no possamos tambm historicizar estas partesdo passado, alm de torn-las presentes para ns. Mas o que quer que se sigaaos atos de presentificao, no mais pertence presentificao material dopassado atravs da linguagem. Nem h nada de errado em se comparar certasformas de versos historicamente especficas a outras, ou tentar explicar porque determinada cadncia de prosa foi particularmente apreciada em umcontexto histrico especfico. Mas, atravs de tais operaes, ns certamentepassamos da presentificao do passado interpretao da histria. Isto fato para qualquer escrita convencional da histria, tanto narrativa quantosincrnica. O relato da histria ou a sua descrio pressupe que os elementosdo passado que estivessem presentes foram interpretados e simplesmente

    transformados em conceitos. Outro modo de fazer a mesma distino dizerque um uso analgico da linguagem (presentificao) foi substitudo por umuso digital (narrativa ou descrio). H razes para imaginar como historiadorese historigrafos do futuro possam permitir uma maior permeabilidade do usodigital da linguagem atravs da linguagem analgica.

    III

    Ao passar pelos sete modos de amlgama entre linguagem e presena

    conseguimos cobrir a distncia entre os dois extremos que o ttulo do ensaiotenta definir. Comeamos chamando ateno para a presena fsica dalinguagem, sempre dada, mas que foi, dentro da cultura moderna,sistematicamente omitida ou mesmo colocada entre parnteses; e chegamos afirmao de que a linguagem pode produzir epifanias nas quais o passado tornado presente. Isto traz tona situaes e realizaes excepcionais queprecisam ser foradas a partir de, e at mesmo contra o gro, (ou para ns) ofuncionamento normal da linguagem. Certamente, na crescente complexidadede nossos distintos paradigmas, as diferentes relaes entre linguagem epresena no obedecem ao modelo estrutural dos dois nveis metafsicos quedistinguem entre superfcie material e profundidade semntica, e entre primeiro

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    plano negligencivel e segundo plano significante. Mas, ento, qual poderiaser um modelo alternativo que nos permitisse pensar atravs do tempo aoinvs de pensar oscilaes harmoniosas entre linguagem e presena em suas

    variedades?Dado que acredito na convergncia entre o conceito de Heidegger deSer e a noo de presena que tenho usado aqui (GUMBRECHT 2004a, pp65-78), vejo a descrio da linguagem como a casa do Ser de formapromissora, mas que, quando efetivada, pode vir a ser diferente daquilo queHeidegger quis dizer com estas palavras. Quatro aspectos desta metfora meinteressam. Primeiro, contrrio compreenso atualmente dominante, querodestacar o fato de que, frequentemente, uma casa torna os seus habitantesmais invisveis do que visveis. Assim, a linguagem no atuaria como uma janela;a linguagem no primordialmente a expresso da presena, com a qual estalinguagem possa ser entrelaada. Contudo, em segundo lugar, ns consideramosa casa como sendo a promessa (se no a garantia) da proximidade daquelesque acreditamos nela residirem. Pense, por exemplo, na linguagem do misticismo.Ela pode no tornar o divino completamente presente, e certamente no uma expresso total do divino. Mas ao ler textos msticos alguns de ns nossentimos mais prximos do divino. Em terceiro, o que mais aprecio em relao metfora da linguagem como a casa de Ser a sua denotao espacial.Diferente do clssico paradigma hermenutico de expresso12 (com suaimplicao padro de que tudo que ser expressado deve ser puramente

    espiritual), o entendimento da linguagem como a casa do Ser (ou como acasa da presena) nos faz imaginar aquele que habita a casa como possuidorde volume e que compartilha, assim, o estatuto ontolgico das coisas.

    Porm, isto no implica que eu entenda o conceito Heideggeriano deSer como um retorno talvez ligeiramente envergonhado do Ding ansich [coisa em si]. Antes, eu acredito que o conceito de Ser aponta parauma relao entre as coisas e o Dasein, na qual o Dasein j no concebe asi mesmo como excntrico, como ontologicamente separado das coisas e desua dimenso material. Em vez de romper nossa concordncia com coisas,

    como o giro-lingustico nos sugeriu que fizssemos, a linguagem como acasa do Ser a linguagem em suas mltiplas e tensionadas convergnciascom a presena seria, finalmente, um meio em e atravs do qual poderamosesperar uma reconciliao (ou pelo menos uma reaproximao) entre o Daseine os objetos no mundo.

    de algum modo, realstico (ou simplesmente ilusrio) assumir que talreconciliao entre o Dasein e os objetos no mundo poderia algum diaacontecer? No me sinto confiante o bastante para responder a esta pergunta.Mas vale notar que na situao cultural contempornea estou longe de ser o

    12 Veja os esboos para uma histria deste paradigma em meu ensaio Ausdruck, in sthetischeGrundbegriffe, (GUMBRECHT 2000, pp 416-431).

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    13 Para vozes ressonantes, veja o nmero especial de 2005 da revista Merkur, dedicado a novasquestes intelectuais sobre Realidade.14 Para descries mais detalhadas sobre os efeitos existenciais das novas tecnologias de comunicao,veja meu ensaio Gators in the bayou: What Have We Lost in Disenchantment? (GUMBRECHT 2006).

    nico intelectual que se faz tal questionamento,13 uma pergunta que, apenasalguns anos atrs soava to profundamente ingnua que ningum se ousavaperguntar. O desejo de recuperar uma proximidade existencial a dimenso

    material das coisas pode muito bem ser uma reao ao nosso cotidianocontemporneo, que tem se transformado cada vez mais em uma das realidadesvirtuais predominantes (se no a nica), um cotidiano em que modernastecnologias de comunicao possibilitaram a onipresena e, eliminando assim,o espao de nossa existncia, um cotidiano no qual a presena real do mundose encolheu para uma presena na tela do qual o desenvolvimento da novaonda de reality shows apenas o sintoma mais tautolgico e hiperbolicamenteincorrigvel.14 Trata-se de um cotidiano em que uma conscincia histricaextremamente aguda estigmatizou como sendo ilusria a crena ou o desejode que o passado, pelo menos em alguns traos, poderia ser ou se tornarmaterialmente presente algum dia.

    Para aqueles dentre ns que acreditam que o giro-lingustico representaa sabedoria filosfica ltima, este desejo pela presena do mundo deve pareceruma aspirao contra o melhor insight filosfico. Mas a convico de que umdesejo no pode ser realizado no implica, obviamente, que este desejo irnecessariamente desaparecer, mais cedo ou mais tarde (e menos ainda significaque tal desejo seria insensato). O que poderia ento ser uma relao vivelcom a linguagem para aqueles que pensam que o que eu acredito no sejaplausvel, isto , que a linguagem pode se tornar (novamente?) o meio para

    uma proximidade com as coisas do mundo? A resposta que eles ainda podemusar a linguagem para apontar, e at mesmo elogiar, essas formas de experinciaque mantm vivo nosso desejo de presena.

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