A primeira dentre as dez runas é um desenho com traços ... · A primeira dentre as dez runas é...
Transcript of A primeira dentre as dez runas é um desenho com traços ... · A primeira dentre as dez runas é...
A primeira dentre as dez runas é um desenho com traços rústicos de uma pessoa levando uma das mãos ao peito, em
sinal de apresentação e/ou saudação. No século XI, nossas runas pré-históricas apareciam frequentemente em vitrais na entrada
das House of Night. Cedido pela Haus der Nacht, Frankfurt, Alemanha, 1085 d.C.
INTRODUÇÃO
Merry meet, novato. Seja bem-vindo a uma nova vida, um novo mundo e um novo ser. Bem-vindo à
House of Night! Nas páginas do Manual do Novato 101 você conhecerá a esplêndida história dos
vampiros, aprenderá as bases de vários Rituais Maiores e conhecerá algumas das muitas faces de Nyx. E,
como prêmio final, será oferecido a você o ponto de vista de um iniciante no milagre biológico que é a
Transformação.
Este não é um manual de regras. Colocando de modo direto e simples, você não é mais um
adolescente humano. É um novato, o que significa que, agora, você assume compromisso com um padrão
de comportamento mais elevado daquele de um jovem humano. Os calouros não roubam, não mentem e
não traem. Apesar de nós, vampiros mais velhos, compreendermos que todo jovem comete erros, se um
novato insistir em se comportar mal, o resultado pode ser a expulsão da House of Night. Confira o
capítulo chamado Biologia para mais informações sobre as consequências de não fazer parte de um coven
de vampiros. Procure o professor em sua nova sala para receber informativos específicos sobre os
horários das aulas na House of Night e listas de pontos facultativos, bem como o horário para se recolher
e o de funcionamento do refeitório.
EMBLEMAS DE CLASSE
Toda House of Night tem seu próprio uniforme, com as cores da escola e o estilo de vestimenta
determinado pelo Conselho de cada uma. Mas, qualquer que seja a House of Night que esteja
frequentando, há certas diretrizes básicas em todos os segmentos de nossa sociedade. Todas as escolas
seguem um modelo de educação secundária de quatro anos, com turmas de terceiranistas, quartanistas,
quintanistas e sextanistas, de acordo com a estrutura básica de calouros. Para que você possa circular com
mais facilidade por sua nova escola, é importante entender os emblemas de classe que diferenciam os
níveis dos novatos, bem como a simbologia indicando que um vampiro é um de seus professores. Estude
as seguintes insígnias e as explicações de cada símbolo para evitar dúvidas e constrangimentos quando
estiver interagindo com professores e novatos de turmas mais adiantadas.
Ruínas do século XIV do Tigh ne Nocht, perto de Aberfoyle, Escócia. Uma das House of Night de maior importância histórica, este castelo reuniu vampiros novatos da área atualmente conhecida como Reino Unido. Quando ocorreu a peste negra, os vampiros fugiram para salvar suas vidas, abandonando suas casas e se escondendo por quase um século. As placas de ferro com os emblemas de cada turma foram removidas das pedras angulares e preservadas, bem como os tapetes de parede e os manuscritos adornados.
TERCEIRANISTA
Descrição: Este emblema chama-se O Labirinto de Nyx. Consiste em um padrão de trilhas
espiraladas e delicadamente entrelaçadas, que circundam, em cintilantes fios prateados, o coração do
terceiranista. O Labirinto de Nyx simboliza a natureza cíclica da vida e a beleza de nossa crença, segundo
a qual, apesar de todos os corpos terem de morrer, a vida em si é eterna e sem fim.
Antigo marcador de dormitórios de recém-iniciados de Tigh ne Nocht, século XIV, Escócia. Todas as placas foram
gentilmente cedidas pelo Museu Tigh Dhu, em Edimburgo.
O Labirinto de Nyx. A insígnia de terceiranistas pouco foi alterada com o passar do tempo; o desenho sempre incorpora
energias reunidas das quatro direções em um ponto convergente. Uma simples espiral também tem sido usada
satisfatoriamente.
O Labirinto de Nyx. Estes desenhos foram oferecidos para este manual pela House of Night de Sydney, Austrália. Eles são
bordados nos uniformes escolares, frequentemente vistos em luvas de equitação, cachecóis, mantas casacos. Muitas outras
House of Night acabaram adotando sua série de emblemas.
QUARTANISTA
Descrição: Este emblema é representado pelas lindas asas douradas de Eros, filho de Nyx e
personificação do amor. O objetivo é nos lembrar da grande capacidade de amor de nossa deusa, bem
como de nosso contínuo movimento avante em nossos caminhos espirituais individuais.
Tigh ne Nocht, século XIV, Escócia, no Museu Tigh Dhu, Edimburgo.
As Asas de Eros. O desenho original permanece o mesmo, contudo, os entalhes originais feitos para as placas
designadas davam mais ênfase às asas em forma de coração, provavelmente devidos aos desafios inerentes ao material
trabalhado. Com o desenvolvimento de técnicas de bordado, as asas ficaram mais elaboradas e adicionou-se um espiral dentro
das curvas internas.
As Asas de Eros. Bordado digitalizado, 2010.
Com permissão da House of Night, Sydney, Austrália.
QUINTANISTA
Descrição: Este emblema apresenta a carruagem dourada de Nyx puxando um rastro de estrelas prateadas
cintilantes. A carruagem simboliza o novato, você, continuando a jornada de Nyx; as estrelas, a magia e o
esplendor dos dois anos que já se passaram.
Tigh ne Nocht, século XIV, Escócia, no Museu Tigh Dhu, Edimburgo.
A Carruagem de Nyx. Algumas mudanças interessantes aconteceram na evolução deste emblema. Ao longo dos anos, a
carruagem foi ficando mais ornamentada, possivelmente indicando a crença na estabilidade dos filhos de Nyx após a provação
que foram os anos da peste negra. A linguagem corporal, sugerindo uma viagem mais tranquila e com maior controle por parte
de nossa deusa, atualmente reflete serenidade, em oposição à fuga atribulada de séculos anteriores. Agora, as estrelas são
menos numerosas, limitadas a cinco: quatro anos como novato e o ansiado momento de proximidade de Nyx: a transformação
de vampiro adulto.
A Carruagem de Nyx. Bordado digitalizado, 2010.
Com permissão da House of Night, Sydney, Austrália.
SEXTANISTA
Descrição: Este é o mais provocante dos quatro emblemas. Intrincadas tramas tecidas com ouro e
prata dão vida às Três Moiras, que também são filhas de Nyx. Átropos, a terceira irmã, segura tesouras
que simbolizam o fim de seus anos na House of Night. Para muitos de vocês, isto implicará no começo de
uma longa vida de vampiro. Mas, para outros, estas mesmas tesouras se tornam o prenúncio de algo mais
sombrio.
Tigh ne Nocht, século XIV, Escócia, no Museu Tigh Dhu, Edimburgo.
As Três Moiras. Um novo desenho brotou de mais uma reviravolta na história: na imagem acima, as tesouras ficaram
mais sofisticadas e com aspecto bastante contemporâneo. Para sugerir o mistério das Moiras, suas figuras ficaram encobertas
em uma composição processional.
Apesar do desenho, uma realidade nua e crua aguarda todos os vampiros novatos, como sempre tem sido, antes mesmo
de se iniciar a contagem do tempo. Não sabemos por que um calouro passa pela transformação com sucesso enquanto outro
não tem a mesma sorte. Isso é ainda um mistério a ser revelado.
As Três Moiras. Bordado digitalizado, 2010.
Com permissão da House of Night, Sydney, Austrália.
SÍMBOLO DAS FILHAS DAS TREVAS
Descrição: Filhas e Filhos Negras é o nome de uma organização exclusiva da House of Night, composta
por nossos melhores e mais brilhantes calouros. A líder das Filhas das Trevas da sua escola está treinando
para se tornar Grande Sacerdotisa. O convite para fazer parte desta prestigiosa organização é uma grande
honra. O símbolo das Filhas Negras é a lua tripla, com a lua cheia no meio e duas luas crescentes de
costas uma para a outra. A líder das Filhas das Trevas usa um pingente de lua tripla desenhado em
granadas.
Tigh ne Nocht, século XIV, Escócia, no Museu Tigh Dhu, Edimburgo.
As Filhas Negras. Esta placa estava sobre uma lareira em um quartinho perto da cozinha do castelo. Presume-se que
esse era o local onde Filhos e Filhas das Trevas faziam suas cerimônias a cada lua cheia. Os pisos de pedra das ruínas têm vãos
onde ficavam as vigas que serviam de apoio para os pedestais das velas, quando faziam o traçado do círculo mágico.
Apesar de os símbolos das luas crescente e cheia também serem importantes para muitas outras crenças, foram os
vampiros que deram início à tradição. A lua crescente representa o novato; a lua cheia, o vampiro adulto; e o reflexo da lua
crescente é a jornada que o vampiro precisa percorrer para consumar seus melhores dons.
As Filhas das Trevas. Bordado digitalizado, 2010.
Com permissão da House of Night, Sydney, Austrália.
SÍMBOLO DOS PROFESSORES
Descrição: Seus professores usam um dos sinais de Nyx universalmente reconhecidos. Não importa o
país em que esteja, ou a House of Night em que resida, seus professores sempre exibirão orgulhosamente
este emblema. O símbolo é tão simples quanto belo – a silhueta esguia de nossa deusa com as mãos
levantadas, abarcando a lua crescente.
Tigh ne Nocht, século XIV, Escócia, no Museu Tigh Dhu, Edimburgo.
Nyx e Sua Crescente. A simplicidade da placa original deve-se a uma resposta física: o toque. Antes de entrar na sala de
aula, os vampiros adultos da Escócia tinham como tradição levantar o braço e passar os dedos ao redor da lua crescente e dos
braços externos do desenho, enquanto agradeciam a Nyx e pediam sua bênção.
Nyx e sua Lua Crescente. Bordado digitalizado, 2010.
Com permissão da House of Night, Sydney, Austrália.
PROGRAMAÇÃO LETIVA PARA NOVATOS
Esta programação varia de uma House of Night para outra, mas, caso você seja transferido com o
objetivo de desenvolver talentos e afinidades, não haverá penalidade.
Acreditamos que, independentemente de quando e se a transformação ocorrer, os novatos só têm a
ganhar com uma educação abrangente, dinâmica e desafiadora. Assumimos este compromisso muitas
centenas de anos atrás, quando novas posturas deram início ao movimento renascentista na Europa
Ocidental, posturas que seguem se expandindo no mundo atual. Assim, suas aulas refletirão este
princípio: a integração entre saúde corporal, mental e espiritual será enfatizada o tempo todo.
Na maioria das escolas, as aulas começam às 20h e seguem até às 3h, ou até mais tarde, dependendo
do interesse de cada um. Abaixo, uma programação escolar padrão com aulas diferentes para cada ano
letivo:
19h45 Assembleias, anúncios gerais
20h Sociologia, Arqueologia, Filosofia, História
21h Literatura e Poesia, Redação, Arte: 2-D e 3-D
22h Música, Percussão, Canto
23h Economia, Comércio, Matemática, Ciências da Computação
0h Almoço: comida orgânica, com uma variedade de produtos locais e queijos, além de vinho tinto
e branco
1h30 Línguas Estrangeiras, Ciência: Anatomia, Fisiologia, Botânica, Química, Física Quântica
2h30 Exercícios Físicos: Equitação, Esgrima, Pescaria Submarina (em House of Night litorâneas),
Yoga e/ou Tai Chi, Parkour (em House of Night urbanas), Dança Interpretativa, Treinamento de
Guerreiro*
As atividades extraclasse incluem (mas não se limitam) as seguintes:
Reuniões de Filhas e Filhos das Trevas, sessões de treinamento para sacerdotisa, acompanhamento
de guerreiros Filhos de Erebus, educação de felinos (inclusive alimentação, exercícios, escovação, várias
maneiras de brincar, projetos de jardinagem com erva-do-gato etc.).
Os centros de mídia da House of Night ficam abertos o tempo todo. Nós estimulamos os novatos a
aproveitarem ao máximo nossos centros de mídia e satisfazer toda e qualquer necessidade literária.
Os centros de informática da House of Night são de primeira linha. No momento, estamos
instalando estúdios 3-D, além de salas individuais com monitores para alunas e alunos.
Há laptops disponíveis para uso dentro e fora do campus.
Entretenimento: Todos os dormitórios têm aparelhos de televisão com tela widescreen, plenamente
equipados com tecnologia de ponta para transmissão e apreciação de filmes e videogames. Não vemos
necessidade de restringir essas opções, pois a maioria dos novatos considera nosso programa letivo tão
absorvente que pouco se interessam por passatempos passivos.
*Existe a possibilidade de um jovem novato exibir sinais precoces de espírito guerreiro. Nestes
casos, serão feitos todos os esforços para estimular tal desenvolvimento. Se, e quando sua transformação
ocorrer, ele poderá ser transportado para uma House of Night própria para treinamento de Filhos de
Erebus, o que será abordado mais adiante neste manual.
Anotações
Este livro pertence a:
Data de marcação:
Celular:
House of Night de residência:
Cidade, estado, país:
CEP:
Telefone:
Companheiro de quarto:
Data de marcação do companheiro de quarto:
Nome de um familiar do companheiro de quarto, se for o caso:
Mentor:
Celular do mentor:
Nome de um familiar do mentor:
Opcional Em caso de emergência, ligar para:
Números importantes:
Horário das aulas:
S:
T:
Q:
Q:
S:
Atividades extraclasse:
CAPÍTULO UM – BIOLOGIA VAMPÍRICA
Haus der Nacht, Frankfurt, Alemanha, 1085 d.C. A segunda dentre as dez runas
representa a convergência das energias da vida em um centro, mostrado
aqui como uma espiral interna.
Introdução: Muitos novatos têm medo deste capítulo. Vamos começar tentando tranquilizá-lo. Só
se pode vencer o medo por meio do conhecimento e da convicção. Este capítulo existe para educá-lo
sobre a fisiologia do que está acontecendo com você. Temos nossa deusa Nyx sempre pronta para
consolá-lo e lhe dar carinho. Tenha confiança, pois ela entenderá seus medos. Procurar a presença e o
conselho da deusa lhe será benéfico ainda por muito tempo depois de sua transformação, ou mesmo
depois de se juntar à deusa no Outro Mundo.
FISIOLOGIA: RECEBENDO A MARCA
A transformação em vampiro é um complexo evento fisiológico, que começa quando um jovem
adulto é Marcado, mais ou menos depois da puberdade, e quando o contorno cor de safira da lua crescente
de nossa deusa aparece na sua testa. O surgimento da Marca é sintoma de um evento biológico que se
deflagrou dentro do corpo. Se por um lado entendemos que esse evento se origina no DNA durante
oscilações desencadeadas pela puberdade, por outro não compreendemos por que apenas uma pequena
porcentagem de adolescentes recebem a Marca, nem por que uma porcentagem ainda menor dentre
aqueles que são Marcados consegue completar a transformação e se tornar vampiro de fato.
O que podemos lhe dizer, novato, é o que você deve esperar do seu corpo à medida que ele passa
pelas metamorfoses que culminarão na transformação em vampiro adulto, ou na sua morte.
House of Night canadense, 2004. A pose desta jovem ilustra bem as mudanças físicas que um novato pode esperar. Aqui, ela é
uma adolescente normal, três dias antes de ser Marcada por um Rastreador. Sua família a levou para a House of Night tão logo
se constatou que ela fora Marcada; depois, a jovem acabou encontrando esta fotografia em seu celular.
SINTOMAS INICIAIS
Você já passou pelo introito da Marcação. Sentiu algo parecido com um resfriado, tendo febre,
arrepios e tosse. A esta altura, seu corpo já começou a produzir uma essência invisível em suas glândulas
apócrinas, que despertam um hormônio de alarme que só está presente bem no começo desta sequência de
reações. Sem auxílio, você poderia morrer dentro de poucos dias. Felizmente, nossa deusa concedeu a
alguns dos vampiros, chamados Rastreadores, a habilidade de farejar os feromônios de alarme. Assim que
você chegou à presença do Rastreador, o feromônio de preservação, que só ele consegue liberar, começou
a agir em seus receptores de células T reguladoras que diminuem a degeneração do seu sistema capilar
pulmonar. A evidência externa desta reação fisiológica é a lua crescente que logo aparece em sua testa.
House of Night canadense, 2004. Seis semanas depois de Marcada, ela tirou uma foto parecida. Repare nas diferenças na cor
do olho, no tamanho dos cílios, na grossura das sobrancelhas e na textura da pele. Os cabelos ficam mais brilhantes, e muitas
vezes ganham reflexos em tons diferentes. A base das unhas mudou de formato. Sua tatuagem é suave e indistinta; ela
acompanhará suas mudanças, pois as tatuagens de lua crescente continuam a se desenvolver ao longo da existência de um
vampiro.
Mas, como o novato sabe muito bem, o feromônio de preservação do Rastreador apenas oferece um alívio
temporário para a reação potencialmente fatal que começa a ser dar em seu corpo, razão pela qual,
qualquer recém-Marcado, sem exceção, deve se dirigir imediatamente a uma House of Night, para que os
feromônios de defesa produzidos por todos os vampiros adultos banhem seus sistemas pulmonar e capilar,
minimizando o inevitável estrago que se dá em seu interior à medida que seu corpo tenta assimilar as
mudanças necessárias para que você se desenvolva e alcance, enfim, a fisiologia superior dos vampiros.
House of Night do Canadá, 2008. Apenas quatro anos mais tarde ela teve sua transformação finalizada. Sua tatuagem de lua
crescente ficou mais definida, seus olhos desenvolveram plenamente a cor e sua pele “brilha”. (É difícil fotografar vampiros à
luz do dia devido à mutação sofrida pelas células superficiais.) Suas unhas começaram a crescer de um jeito típico, com o
centro engrossando mais e mais rápido, resultando em pontas afiadas. Esta novata em particular tem afinidade com a terra, com
forte apoio de energias do meio ambiente e muito gosto pelos ritmos da vida. Interpretações de tatuagens em desenvolvimento
serão abordados em manuais posteriores.
SINTOMAS PERMANENTES
Com o passar dos anos na House of Night, e a contínua adaptação de seu corpo à nova fisiologia em
constante mutação, você primeiro notará que seus cabelos vão ficando mais grossos e compridos, sua
pele, mais lisa e clara, e suas unhas mais duras e longas*. Sua força aumentará, especialmente sendo você
um novato, bem como seu vigor e sua tolerância a mudanças de temperatura. Devido à crescente
temperatura corporal interna, os novatos ficam estéreis, e as novatas param de menstruar. Você também
sentirá uma mudança em seus dentes. Claro que vampiros não têm caninos de predadores, trata-se de um
mito ridículo, entretanto, seus dentes ficarão mais retos e mais fortes que os dos seres humanos. Você
também perceberá uma mudança na saliva. Muitos novatos relatam que, de repente, sentem um gosto
doce ou azedo na boca. Não se deixe abalar por isso. É uma reação perfeitamente normal ao
desenvolvimento de coagulantes e anticoagulantes em suas glândulas salivares**. Outro mito conhecido é
aquele que diz que vampiros não suportam a luz do sol. A verdade é que nossos corpos se tornam
hipersensíveis com a transformação, o que nos faz sentir um desconforto na pele e nos olhos quando
recebemos a luz direta do sol. Somos capazes de tolerar a luz do dia, apesar de preferirmos o véu mágico
da noite.
SINTOMAS PSICOLÓGICOS
Para entender plenamente por que você está passando por essas mudanças, é preciso compreender
que este tipo de transformação é biologicamente baseado em um sistema de sobrevivência do tipo
presa/predador. Mas isso não quer dizer que somos violentos, com impulsos incontroláveis e propósitos
maléficos. Significa apenas que nossa evolução se baseia em mudanças que promovem a sobrevivência
em um mundo em que os humanos estão em grande vantagem numérica sobre os vampiros. Em termos
psicológicos, o resultado é uma criatura intelectualmente mais concentrada. Por isso, não se surpreenda ao
notar que, quanto mais sua fisiologia de vampiro se desenvolve, mais facilidade tem para se dedicar ao
progresso acadêmico. Muitos novatos descobrem novos talentos e habilidades intelectuais, o que
frequentemente inclui aquilo que os humanos chamam de sexto sentido.
House of Night do Canadá, 2008. Uma fotografia à luz de velas e, outra, com a luz apagada.
Os predadores noturnos são dotados da mesma clareza de visão que os vampiros.
OBSERVAÇÕES ESPECIAIS
IMPRINT
Os novatos não têm permissão para se alimentar de sangue humano por via direta. Durante os
primeiros anos na House of Night, não será difícil impedir que isto aconteça. Em regra, seu desejo por
sangue só aumenta à medida que se aproxima a transformação. Entretanto, admitimos que alguns novatos
mantenham contato com humanos, o que pode levar a certas experimentações e, por conseguinte, a um
Imprint inadvertido entre calouro e ser humano. Não há como enfatizar suficientemente os perigos que
isso implica. Você não está preparado para a responsabilidade de um processo de conexão fisiológica tão
intrincado, pois há um fato inevitável: alguns de vocês morrerão.
Quando um vampiro morre, seu consorte*** humano sofre gravemente, muitas vezes chegando à
morte também. Mais informações sobre Imprint estarão disponíveis para os alunos de classes mais
avançadas.
O LAÇO DO GUERREIRO
Novatas também não têm permissão para aceitar o Juramento Solene de Guerreiro. Você terá acesso a
informações mais específicas sobre esse vínculo mágico à medida que for progredindo na House of Night
e se aproximando da possibilidade de completar a transformação. Na qualidade de terceiranista, é preciso
que você entenda que o laço entre um guerreiro jurado – que tem de ser um vampiro plenamente
transformado – e sua Grande Sacerdotisa é mais íntimo que um Imprint, e mais duradouro até mesmo do
que o relacionamento com um companheiro. Como esse laço é o resultado de uma jura baseada em
proteção, o espírito de um guerreiro jurado estará para sempre entrelaçado ao de sua Grande Sacerdotisa,
podendo, inclusive, desenvolver a habilidade de sentir o que ela sente. O juramento Solene do Guerreiro
deve ser tratado com grande respeito e formalidade. Jamais deve ser oferecido ou aceito irrefletidamente,
pois trata-se de um vínculo de transformação de vida.
França, Gruta de Gargas, 20.000 a.C.
Da Caverna das Mãos Mutiladas. Uma
artista e vampira da pré-história expressa o
laço com seu guerreiro. Usava-se muito,
como assinatura, os artistas soprarem tinta por
um tubo de junco para criar um negativo
das próprias mãos, método bem parecido
com o que as crianças usam na escola hoje em
dia. Seu guerreiro não tem o terceiro dedo
da mão esquerda, como era o caso de
muitas mãos nesta caverna. A razão disso
permanece um mistério.
MORTE
Novato, a verdade inelutável é que nem todos vocês completarão a transformação para vampiro
adulto. Entenda que, durante os anos que passar na House of Night, você presenciará a morte de alguns
colegas. Prepare-se. Se o corpo de um novato rejeita a transformação, nada pode ser feito para evitar a
morte. Mas você pode, contudo, honrar aqueles que não passaram pela transformação ao seguir em frente
e não permitir que esse inevitável desgosto influencie seu desenvolvimento. Saiba que Nyx receberá todos
os seus filhos de braços abertos em seus prados verdejantes, tenham completado a transformação ou não.
Abaixo você vê um gráfico antigo sobre o nosso adorado pentagrama, que elucida as implicações de
ser Marcado. Como já foi dito, os novatos precisam entrar para a House of Night para sobreviver, mas
alguns não chegam a tempo e morrem. Sir Richard levantou a hipótese de que outros não se desenvolvem
completamente e acabam falecendo. Contudo, os novatos remanescentes que chegam a completar a
transformação são envolvidos pelas energias da mistura de elementos e ganham a expectativa de uma vida
historicamente longa e abundante. Esta é uma versão simplista de uma complexa fusão entre a biologia e
a influência mágica de Nyx.
Gráfico de Sir Richard Bowman Cast de
Wales, 1738-1756, biólogo que reconheceu pela
primeira vez o efeito dos feremônios – chamados
de “influências” – necessários para a sobrevivência
do novato.
CONCLUSÃO
Desde que os vampiros existem, há
controvérsia sobre a transformação. Você
deve saber que alguns vampiros aderem à
filosofia que argumenta que a seleção de
novatos que completam a transformação é
um fato biológico completamente
aleatório. Eles sugerem que você faça
exercícios e se alimentem bem para que
seu corpo esteja o mais forte possível em
termos biológicos. Outros dentre vocês
serão encorajados por seus mentores e
professores a se concentrarem no
aprendizado dos rituais de Nyx e a ficarem
o mais perto possível da deusa. Segundo a
filosofia desses mentores e professores, é
possível que, em razão de Nyx nos
conceder o livre arbítrio e a capacidade de
escolher nosso caminho na vida, ela tem a
liberdade de escolher quais novatos
presenteará com a transformação e quais
deixará a cargo da natureza, para que os domine e destrua. Além do mais, muitos vampiros preferem não
debater o assunto. Seja qual for sua experiência, é importante entender e se concentrar nos fatos que
sabemos incontestáveis sobre a transformação.
África do Sul, Western Cape, 1200, 1000 a.C. Esta figura rupestre mostra a
comemoração de novatos se juntando a House of Night, quando suas reações biológicas,
vistas como um espiral os levam a um centro de aceitação de Nyx.
CAPÍTULO DOIS – RITUAIS
Haus der Nacht, Frankfurt, Alemanha, 1085 d.C. A terceira dentre as dez runas é uma ponte, às vezes indicando uma
troca (em termos atuais, uma “viagem de ida e volta”), outras, sugerindo um evento isolado que altera a vida de um modo
irreversível Uma ponte sempre indica uma escolha.
Introdução: Os rituais são o batimento cardíaco de uma sociedade vampírica. Por meio deles
exaltamos Nyx, e também assinalamos vários aspectos de nossas vidas. A sociedade vampírica tem
Rituais Maiores, que incluem, mas não se limitam a, fases da lua, mudanças de estação, limpezas e
proteções em grupo, morte de um familiar, o rompimento de um Imprint, a celebração de Samhain, Yule,
Beltane e Eostre.
Apesar de os rituais diferirem de acordo com os talentos, as preferências e as necessidades de cada
Grande Sacerdotisa, há alguns aspectos que nunca mudam. Por exemplo, um círculo sempre é traçado
antes de começar o ritual.
Ao traçar o círculo, a Grande Sacerdotisa sempre começara no leste e chamará o ar para si. Então,
ela se moverá no sentido horário ao redor do círculo, parando no sul para chamar o fogo, no oeste para a
água, no norte para a terra e, finalmente, em direção ao meio para chamar o espírito a fim de completar o
círculo.
Normalmente, velas são acesas em cada uma das cinco direções quando o elemento é chamado. As
cores usadas para as velas são: ar – amarelo; fogo – vermelho; água – azul; terra – verde; espírito –
púrpura.
Quando o ritual se completa, a Grande Sacerdotisa costuma fechar o círculo agradecendo a cada um
dos elementos, enquanto dá uma volta pelo círculo no sentido anti-horário, terminando onde começou, no
leste, com o elemento ar. Durante o ritual, é importante não se esquecer de manter a mente concentrada
em pensamentos positivos. Depois de finalizado, é preciso comer, beber e relaxar para se estabilizar. Note
que o sangue é muito usado nos rituais, mas raramente por novatos que ainda não sejam sextanistas.
Para começar a entender a importância do ritual, você precisa se familiarizar com as bases históricas
de cinco dos ritos mais sagrados. Então, novato, vire a página e deixe que o tempo pese sobre seus olhos.
Prepare-se para se espantar com algumas de nossas mais gloriosas Grandes Sacerdotisas, bem como os
rituais que elas inspiraram.
Calcutá, House of Night da Índia, 2001, onde novatos integram sua cultura à House of Night
ao decorar a mesa com os saris usados na primeira vez em que traçaram o círculo.
RITUAL DE INICIAÇÃO DAS FILHAS NEGRAS
Haus der Nacht, Frankfurt, Alemanha, 1085 d.C. A quarta dentre as dez runas e uma combinação de três luas crescentes
que formam uma figura alada, representando verdade e ausência de medo. Entretanto, assim como o ar, estas crenças são
transparentes para os demais, podendo ser por eles distorcidas se expostas inadvertidamente.
Elemento ar
As origens das Filhas Negras remontam ao ano 60 d.C., na Bretanha. Na época, a tribo celta mais
próspera era a dos Iceni, liderados pela corajosa rainha humana Boudicca, que não se curvou ao domínio
de Roma. Com o intuito de humilhar a rainha Iceni, o cobrador de impostos romano Catus Brutus fez a
rebelde Boudicca ser chicoteada em praça pública e forçou-a a assistir às suas duas filhas adolescentes,
Mirain e Una, serem brutalmente estupradas.
Apesar de ser humana, Boudicca demonstrou ter uma coragem digna de um vampiro Filho de
Erebus, ao vestir seu traje de guerra e convocar os celtas para lutar contra as poderosas legiões romanas.
Os livros de história relembram as efêmeras vitórias de seu exército, sua derrocada final e seu massacre
pelas mãos dos romanos, bem como o fato de a rainha Boudicca ter se suicidado pouco depois do
massacre de seu exército.
Mas a história dos humanos não faz menção ao que aconteceu com suas filhas... E é por isso,
novato, que a história dos vampiros relata o episódio.
Após a trágica batalha, as duas meninas foram Marcadas. Fracas e doentes por causa das Marcas
recentes, e longe da proteção dos vampiros, as bravas jovens partiram de sua terra desolada pela guerra
rumo às Terras Altas da Escócia e à House of Night da Ilha de Skye.
Lá, as irmãs sofreram tanto a perda da mãe que os vampiros tinham pouca esperança de que seus
corpos de calouras aceitassem a transformação. E, assim, o coven deixou as meninas à mercê de seu luto,
como se temessem que tamanha desdita fosse contagiosa.
Inteiramente sós e achando que a dor de seus corações jamais teria fim, as garotas não tinham
vontade de viver. Na calmaria que acompanha o fim de cada noite, elas foram até a beira do penhasco em
Neist Point, determinadas a pular para a morte, e reencontrar a mãe e rainha.
Então o ar se agitou.
Os últimos momentos de Una e Mirain. c. 1970. House of Night: Hall das Sacerdotisas,
Tulsa, Oklahoma. Gentilmente cedido pelo conselho dos Vampiros do Sudoeste, EUA.
Levada pela brisa salgada e atravessando a névoa turva da ilha, a voz de Nyx alcançou os ouvidos
de Mirain e Una. Logo antes do amanhecer, com a típica escuridão que precede as rosadas pontas dos
dedos da manhã que galgam o céu, a voz da deusa, cheia de amor maternal, envolveu-as com uma
afinidade elemental, oferecendo-lhes uma vida nova.
Ó, minhas filhas das trevas, vocês estão tomadas por tamanho desespero, que sinto profundo pesar!
Não desperdicem suas preciosas vidas! Sejam valentes e abracem este elemento e seu novo destino.
Saibam que estou sempre com vocês. Escutem seus corações, e hão de me ouvir na brisa que responde ao
seu chamado de pronto. Vejam com suas almas, e me enxergarão nos olhos umas das outras. Meu amor
por vocês é tão eterno quanto o ar que vocês respiram e cujo controle lhes concedo. Peço-lhe que optem
pela vida, pelo amor e pela felicidade. Deixem-me curar suas tristezas para que possam encontrar força
uma na outra, minhas lindas e corajosas filhas das trevas...
O elemento ar encheu as irmãs com o amor da deusa, e, enquanto Mirain e Una prestavam atenção
nas palavras de Nyx e aceitavam seu novo destino, sua compaixão curou as feridas nos corações das
irmãs. Lá, de frente para o mar e o amanhecer, pela primeira e única vez na história dos vampiros, novatas
Marcadas há apenas duas semanas passaram pela transformação.
Antes de deixarem o íngreme penhasco, as vampiras recém-transformadas fizeram um voto sagrado
de jamais permitir que outro novato entrasse em desespero devido à solidão que quase lhes custara suas
vidas.
Elas selaram o voto sagrado com o poder do vento.
Ofereceram a Nyx o voto sagrado.
Ataram o voto sagrado com as palavras: “As filhas das trevas escolhem a vida”.
E, assim, nasceram as Filhas das Trevas.
As legendárias tatuagens de Una e Mirain desenhadas a partir de antigos pergaminhos. Seus símbolos
demonstram profunda afinidade com o ar, e muitos se repetiram em outras Sacerdotisas depois de
desenvolvidos seus laços. (c. 1970). House of Night: Hall das Sacerdotisas, Tulsa, Oklahoma.
Gentilmente cedido pelo conselho dos Vampiros do Sudoeste, EUA.
RITUAL DE INICIAÇÃO DAS FILHAS NEGRAS
Elemento ar
Antes de traçar o círculo, a líder das Filhas Negras deve colocar, pessoalmente, uma mesinha feita
de madeira de abeto-branco, também conhecido como árvore do nascimento, no centro. Após, ela deve
dispor três vasilhas amarelas na mesa ao redor da vela púrpura do espírito, que sempre fica no centro do
círculo traçado. Deve encher uma vasilha com folhas secas de manjericão, outra com água salgada fresca,
e uma terceira com folhas secas de abeto-branco. Também é preciso encher o cálice ritual de hidromel*.
Sir Ronald Fleming, séc. IX d.C. Bruxelas, Bélgica. Cálice de
cristal forjado à mão.
Presenteado à House of Night para uso exclusivo das Filhas das Trevas,
nas cerimônias logo
após serem Marcadas, bem como quando se transformam durante a
adolescência.
Cedido pela Coleção Vampírica dos Flandres, Bélgica.
Depois, a líder das Flhas das Trevas deve decorar a mesa com componentes, de sua escolha, que
representem o elemento ar, além de símbolos de amizade. Por exemplo, ela pode escolher plumas, que
representam o ar, e fitas bem coloridas trançadas para representar o entrelaçamento das vidas dos amigos.
Quando a mesa estiver pronta, e o círculo tiver sido traçado pela líder das Filhas das Trevas, o
candidato à iniciação é chamado ao centro. A líder mergulha as pontas dos dedos na vasilha de água
salgada e borrifa ao redor do candidato, dizendo:
Em memória da Ilha de Skye, onde nasceram as Filhas das Trevas, eu uso a água salgada para
limpar o espaço ao redor de minha irmã candidata.
A líder retorna à mesa e, com a vela do espírito, acende a vasilha de manjericão seco. Depois que a
chama já estiver produzindo fumaça, ela apaga. Com gestos delicados, incita a brisa a levar a fumaça de
manjericão até a candidata, que deve aspirá-la profundamente. Enquanto a candidata é envolvida pela
fumaça, a líder continua:
O doce manjericão exorciza a negatividade. À medida que o ar a envolve com a fumaça do
manjericão, as energias negativas vão sendo banidas de sua vida.
Retornando à mesa, a líder acende as folhas secas de abeto-branco com a vela do espírito. Estas
também devem ser apagadas após produzir fumaça suficiente. Segurando a vasilha fumegante à sua
frente, a líder deve rodear a candidata três vezes, lentamente, dizendo:
Seja corajosa e aceite seu novo destino. Você sabe que Nyx está sempre com você. A partir de hoje,
saiba que suas irmãs, as Filhas Negras, também estarão sempre com você. Se tiver medo, chame uma
irmã pelo vento e será respondida. Se estiver só, procure uma irmã e saberá o que é amizade. Quando
você olhar nos olhos de outra Filha das Trevas, saberá que neles estarão refletidos o amor e a
compaixão de Nyx.
A líder retorna à mesa para pegar o cálice e oferecê-lo à candidata, dizendo:
Se você fizer o juramento desta irmandade, jamais estará sozinha de verdade. Qual a sua escolha,
novata?
A candidata deve, então, pegar o cálice, levantá-lo e proclamar alegremente:
Eu escolho a vida!
E, enquanto ela bebe profundamente do cálice, a líder e as testemunhas do ritual gritam:
Bem-vinda à nossa irmandade de vida, amor e felicidade! Bem-vinda, Filha das Trevas**!
A nova Filha Negra recebe a honra de ser aceita para fechar o círculo. Ao final, deve-se comer e
beber em celebração. Muitas líderes presenteiam o novo membro com algo que simboliza o nascimento
da Filha das Trevas como parte da irmandade.
*Hidromel era uma das bebidas favoritas dos antigos celtas. Ao usá-lo durante o Ritual de
Iniciação das Filhas das Trevas, você estará homenageando Mirain e Una. Note que algumas calouras
misturam sangue ao ritual de hidromel. A prática não é estimulada, a menos que alunas de turmas
adiantadas estejam passando pela iniciação.
**É claro que os novatos também são bem vindo as Filhas das Trevas, e são chamados de Filhos
das Trevas durante e após o ritual.
RITUAL DE PROTEÇÃO DE CLEÓPATRA
Elemento fogo
A história dos humanos oferece vasta documentação mostrando que Cleópatra foi a única faraó do
Egito e que também foi uma Grande Sacerdotisa Vampira. Historiadores humanos relatam que ela foi
Marcada quatro anos antes da morte do pai, Ptolomeu XII, em agosto de 51 a.C., e que completou a
transformação no dia em que ele foi sepultado.
Ptolomeu XII deixou seu vasto reino para o filho Ptolomeu XIII, mas decretou que ele deveria
governar junto com a irmã, Cleópatra, e que – de acordo com a antiga tradição egípcia – os dois deveriam
se casar.
Mas Cleópatra não era mais humana, e sábia demais para seguir cegamente uma tradição
abominável. Ela partiu da House of Night de Tebas retornando a Alexandria, apesar de não ter intenção
de se casar com o irmão. Dizem os textos humanos que ela usou Júlio César e o poder de Roma para banir
Ptolomeu – e, acabou se casando com Marco Antônio depois do assassinato de César. Também é narrado
como seu romance com Marco Antônio levou o Egito à derrota e resultou em sua morte. Novamente,
devemos consultar a história dos vampiros para saber a verdade.
Haus der Nacht, Frankfurt, Alemanha, 1085 d.C. A quinta
dentre as dez runas reflete a liberação da paixão, mas é temperada com
um alerta: se os motivos são puros, tudo estará bem. Mas, se tiverem
origem negativa, cuidado.
No Egito, Nyx é adorada como Nyx-Sekhmet, que se traduz literalmente como Deusa da Noite e do
Fogo. Antes mesmo de ser Marcada, Cleópatra oferecia incenso e óleos vegetais no Templo de Nyx-
Sekhmet, em Alexandria. Seus pergaminhos, preservados pela House of Night de Tebas, explicam, com
suas próprias palavras, como ela foi Marcada e como passou pela transformação naturalmente. Cleópatra
relata como sua dedicação a Nyx-Sekhmet se aprofundou durante quatro anos que levou para se
transformar, e que o Conselho Supremo declarou de imediato seu status de Grande Sacerdotisa. Ela
estava destinada a se tornar uma voz poderosa no Conselho Supremo dos Vampiros, mas a morte de seu
pai e sua decisão de deixar a sociedade dos vampiros para governar o Egito alteraram seu destino
irrevogavelmente.
As tatuagens de Cleópatra,
reproduzidas a partir de hieróglifos. A
tão mencionada víbora
era um símbolo de poder, podendo ser
vista no meio da tiara que envolve o
cabelo da Faraó.
Aqui, ela se volta para a parte interna
das costas da lua crescente.
Cerca de 1970, House of Night: Hall
das Sacerdotisas. Tulsa, Oklahoma.
Gentilmente cedido pelo conselho dos
Vampiros do Sudoeste, EUA.
Antes de encarar a nobreza egípcia, a recém-transformada Cleópatra se retirou para o deserto além-
Alexandria, onde passou três dias e três noites jejuando e rezando para Nyx-Sekhmet, rogando à deusa
que a ajudasse em sua determinação de governar o Egito, sem ser forçada a um abominável casamento
com o irmão. A deusa ficou tocada com o amor de Cleópatra pelo povo egípcio e atendeu às preces da
jovem vampira, presenteando-a com uma afinidade com o fogo tão poderosa que, quando ela emergiu do
deserto e entrou na cidade, o povo egípcio ficou perplexo ao vê-la.
O antigo historiado vampiro Seshat descreve a cena:
E eis que quando o sol se pôs no oeste, Cleópatra adentrou em Alexandria. A vampira
resplandecia. Seus grossos cabelos negros haviam adquirido um tom bronzeado e, assim dourados,
esvoaçavam pelos ombros lustrosos em resposta ao poder que lhe inflamava o corpo. Ela era uma deusa
dourada de fogo. Até seus olhos escuros haviam ganhado a cor do fogo, pois emanavam um etéreo brilho
cor de âmbar.
As pessoas gritaram que ela só podia ser a encarnação de Nyx-Sekhmet, mas Cleópatra não
reivindicou a divindade da deusa. Com a voz amplificada dez vezes, ela gritou: “Eu não sou Ela, mas fui
tocada por Sua chama e, se me aceitarem como sua verdadeira faraó, usarei o poder do fogo para
protegê-los até meu último suspiro!”
Os Alexandrinos, tanto os plebeus quanto a nobreza, curvaram-se voluntariamente diante de
Cleópatra, e baniram seu irmão quando ele tentou insistir que todos tinham que seguir a tradição
humana e promover seu casamento com a irmã.
No dia em que coroaram Cleópatra como rainha do Alto e do Baixo Egito, ela evocou o elemento, o
fogo, na frente de todos, e traçou um círculo de proteção ao redor da cidade de Alexandria, o que
garantiu a segurança de todos os moradores por duas décadas...
Cleópatra perto de
Alexandria.c. 1970. House of
Night: Hall das Sacerdotisas,
Tulsa, Oklahoma.
Gentilmente cedido pelo
conselho dos Vampiros do
Sudoeste, EUA
Ah, novato, posso imaginar sua confusão. Você está se perguntando por que o Ritual de Proteção de
Cleópatra é tão importante se durou apenas duas décadas. A resposta é que o que importa não é o ritual de
Cleópatra, mas a lição que foi aprendida por meio de sua deterioração.
Júlio César foi, de fato, aliado de Cleópatra e do Egito, o que faz todo sentindo, já que ele teve um
Imprint com ela durante sua primeira visita a Alexandria. A grande vampira faraó chegou até a visitar
César em Roma, e chorou muito a perda de seu consorte quando ele foi assassinado por seres humanos
sedentos por poder.
Marco Antônio também se aliou a Cleópatra após ter tido um Imprint com rls, tornando-se seu
segundo consorte. Foi esse Imprint e o desejo de Marco Antônio de renunciar à sua terra e viver ao lado
de Cleópatra que fez Roma se voltar contra o Egito.
Roma exigiu que o Imprint de Marco Antônio fosse rompido, e que ele retornasse para reassumir
seu cargo de comandante das legiões. Cleópatra se recusou a se separar dele, e disse: “Roma já me tirou
um consorte. Não levará mais um”.
A nobreza egípcia implorou que Cleópatra reconsiderasse, dizendo que o reino não tinha como
enfrentar o poder de Roma.
Cleópatra se recusou a ouvir.
O Conselho Supremo dos Vampiros, agindo de modo sem precedentes, se envolveu em uma
questão politica dos humanos. Eles se reuniram com Cleópatra, insistindo para que ela não se esquecesse
de que não era simplesmente uma vampira apaixonada por seu consorte humano. Ela era faraó do Egito e
responsável pela segurança da nação de humanos.
Cleópatra novamente se recusou a ouvir.
Suas criadas contaram aos plebeus que testemunharam Nyx-Sekhmet aparecendo para Cleópatra
nas chamas da lareira da faraó. A deusa tentava dizer a filha para ter juízo e tentava reconduzi-la ao
caminho certo.
Como você já sabe, caloura, o maior presente de nossa deusa a todas as suas filhas e todos os seus
filhos é o livre-arbítrio.
Cleópatra preferiu não ouvir.
Roma ficou contra o Egito e Cleópatra, paralisada de medo por seu consorte, abandonou seu povo e
o círculo de proteção ao redor de Alexandria. A flama antes pujante, foi reduzida então a cinzas inócuas.
A cidade foi invadida. Marco Antônio tentou conduzir o exército egípcio e cessar a destruição, mas o
medo que Cleópatra sentia por ele o fez perder seu espírito guerreiro, e no final, encontrar a morte quando
os egípcios eram escravizados.
Ao saber da morte de Marco Antônio, Cleópatra evocou seu elemento e o mandou libertá-la do
insuportável pesar e culpa que estava sentindo. Então, como uma serpente gigante, o fogo consumiu a
vampira, engolindo-a por inteiro.
Portanto, como você vê, novato, a importância do Ritual de Proteção não se encontra no círculo em
si, mas no vampiro que o projeta. Deixem a memória de Cleópatra guiá-los para as boas escolhas...
RITUAL DE PROTEÇÃO DO FOGO
Observação: Este ritual é usado para proteger a House of Night. Mas os novatos devem se lembrar
que um ritual de proteção pode ser usado para vários propósitos diferentes, desde algo amplo, como a
proteção de um campus ou de uma cidade, até alguma coisa mas específica, como a proteção de um
companheiro ou consorte.
Para desempenhar um autêntico ritual de proteção com ênfase no fogo, a sacerdotisa no comando da
cerimônia deve seguir o exemplo de Cleópatra e isolar-se para jejuar e rezar durante três dias antes da
noite do ritual. Não é preciso retirar-se para o deserto, mas deve ficar totalmente sozinha – e não falar
com ninguém, a não ser com Nyx. Durante esse tempo, a sacerdotisa deverá estabelecer seu Intento
Ritual. Isto quer dizer que precisa se concentrar no que ou quem deseja proteger, e por que considera o
ritual necessário. Lembre-se, calouro, de que dependerá da sacerdotisa o sucesso ou malogro da proteção.
Se seu intento for honrado e assim permanecer, o ritual será bem sucedido é algo que depende
inteiramente da força da sacerdotisa. Se houver o menor vestígio que seja de intenção desonrosa ou
egoísta, o ritual será tão ineficaz quanto combustível para quem quer apagar o fogo.
O Ritual de Proteção do Fogo começa exatamente ao anoitecer do terceiro dia de jejum da
sacerdotisa. O círculo já deve estar pronto para ela, com velas nos pontos de cada um dos cinco elementos
e testemunhas agrupadas ao redor. No meio, sobre uma mesa de ferro forjado, deverá haver um cálice
vermelho cheio de óleo precioso misturado com canela. Quando o sol tiver se posto, a sacerdotisa deve
adentrar o círculo sem falar. Ela deve ter em mãos fósforos de madeira* e um athame**
A sacerdotisa traça o círculo e depois dirige-se para pegar o cálice cheio de óleo. Segurando-o à sua
frente, ela deve começar pelo leste e caminhar ao redor do círculo no sentido horário, derramando o óleo
em sua mão direita e, com ela, borrifá-lo pelo círculo. Enquanto caminha, ela diz:
Eu evoco o elemento fogo para assistir, abençoar e guiar este ritual. Em honra do fogo, unjo o
círculo com óleo de canela derramado por minha própria mão, e proclamo meu intento de pedir a
proteção do elemento para esta House of Night. Para demonstrar a pureza de meu intento, proclamo
estas antigas verdades originalmente enunciadas muito tempo atrás, quando Cleópatra, outra filha de
Nyx, o evocou.
Em alto e bom som, a sacerdotisa deve clamar:
Saudações, caminhante de Nyx! Vinda da reclusão, em nada me equivoquei. Saudações, àquela
cujos dois olhos ardem em chamas! Não maculei as coisas da deusa, nem em pensamento, nem em gesto.
Saudações, eliminadora do falso discurso! Não me inflamei em cólera. Saudações, deusa que tudo vê,
provedora de suas filhas e filhos! Não pronunciei Seu nome em maldições.
As antigas proclamações cessam quando a sacerdotisa retorna ao centro do círculo. Ela acende o
óleo que restou no cálice e o levanta sobre a cabeça, dizendo:
Com puro intento ritualístico incluo o fogo nesta jura de proteção. Sua força está em mim, e
através de mim sua flama será duradoura, consumindo ferozmente qualquer um que deseje fazer mal a
esta House of Night.
Ainda segurando o cálice flamejante, a sacerdotisa pega seu athame e se aproxima da vela amarela,
que representa o fogo, na ponta leste do círculo. Passando a lâmina três vezes pela chama do cálice, ela
diz:
Sou una com a chama. Mesmo sob a plena luz do sol, adentro no fogo protetor, do fogo apareço, a
luz do sol não me perfurou, vós que sabeis que meu puro intento não me queimou. Vosso fogo manterá
esta House of Night em segurança, cortando como o punhal corta a cera qualquer um que ouse desafiar
este ritual.
Com o athame quente, a sacerdotisa cinzela então o nome de sua House of Night na vela amarela e
depois a coloca cuidadosamente no cálice, deixando que a chama a consuma. Enquanto a vela queima, a
sacerdotisa deve agradecer aos outros elementos e dispensá-los; as testemunhas também devem partir sem
alarde, deixando a sacerdotisa a sós com a vela ardente. Ela deve esperar até que a vela seja consumida e
a chama se extinga espontaneamente, para só então partir.
Este ritual é muito exaustivo para a sacerdotisa que o desempenha. Depois de realizá-lo, ela
precisará se reenergizar*** e se estabilizar.
*Isqueiros modernos jamais deverão ser usados para evocar a ajuda
do fogo em qualquer Ritual.
** Punhal de uso apenas ritualístico.
***Você saberá mais detalhes sobre como os vampiros se
reenergizam, caso se torne sextanista.
Punhal Cerimonial. 250-200 a.C.
Ouro 10 quilates. Da Coleção
de Fatima Bastet.
Galeria da Noite do Cairo, Egito
CIRCE, E O RITUAL DA LUA CHEIA
Haus der Nacht, Frankfurt, Alemanha, 1085 d.C. A sexta dentre
as dez runas é um desenho rudimentar de sete gotinhas de água caindo
juntas em curva. A runa da água representa fluidez, fluxo criativo,
soluções e conexão; seu lado negativo pode indicar instabilidade e loucura.
Elemento água
O Ritual da Lua Cheia é único com seu propósito. Trata-
se do único Ritual Maior que existe somente para permitir que
vampiros e novatos conheçam a beleza e o encanto de Nyx, ao
transcender os limites do mundo físico. Dentre todas as
belíssimas Grandes Sacerdotisas que já conduziram este ritual,
há uma vampira cuja memória se destaca em esplendor. O
texto a seguir é carinhosamente dedicado a ela.
Até o mês de agosto do ano 79 d.C., o Conselho
Supremo dos Vampiros ficava na adorável Ilha de Capri.
Muitas extraordinárias Grandes Sacerdotisas lá reinaram, mas a mais conhecida de nossas antigas
matriarcas é Circe, a quem Nyx concedeu o dom da afinidade com a água. Foi Circe quem teve um
Imprint com o famoso viajante Odisseu, e também foi quem inspirou a construção de Pompeia. Era dona
de tamanha beleza e sedução que os antigos operários fizeram Pompeia com a intenção de produzir “uma
joia bela o bastante aspirando adornar o seio de Circe”.
É claro que Circe não era só uma linda Grande Sacerdotisa. Ela seguia o caminho de Nyx e,
tamanha era sua devoção à deusa, que sabia encontrar o toque mágico de Nyx até nas coisas mais simples.
Os humanos a temiam e a chamavam de bruxa feiticeira, criando toda uma mitologia sobre sua
longa vida repleta de magia. Os vampiros a adoravam e diziam que ela era abençoada pela deusa. Quando
Circe fez a passagem para o Outro Mundo, dizem que o azul-esverdeado do Mediterrâneo que circunda
Capri ficou de luto, enegrecendo por três dias.
Dentre todos os talentos de Circe, os historiadores vampiros concordam que ela era uma grande
adepta do ritual conhecido como “trazer para baixo a lua cheia”. Sabemos que isso é verdade não apenas
devido à lenda vampírica. Os “vampiros” modernos de Circe realizando Rituais da Lua Cheia podem ser
encontrados ornando as paredes de vários museus, incluindo o Louvre, a National Portrait Gallery
britânica e o Museu de História Natural de Nova York.
Talvez uma das razões que explicam o fato de os rituais da lua serem tão extraordinários fosse ela
ser capaz de prever a data exata em que a lua cheia chegaria ao topo das Rochas Faraglioni, ao sul de
Capri. Sobre estes três blocos de rochas, Circe escreveu:
O mar azul-celeste reina supremo ao redor de minhas belas ilhas, acariciando as Faraglioni com
seu beijo salgado. Uma de minhas queridas rochas, com sua abertura no meio formando um túnel,
parece ter sido esculpida pela mão de Nyx. A outra brota orgulhosamente da costa, como uma sentinela
guerreira – sempre vigilante, sempre alerta. E quando nossa deusa, na forma de uma luz prateada
cintilante, é atraída para o meio delas, o resultado é pura magia...
Agora, novato, prepare-se para receber de presente uma joia preciosa. O texto a seguir foi traduzido
a partir do único ritual escrito à mão por Circe que restou de seu diário. Aqui, nas palavras da própria
Grande Sacerdotisa, já falecida há tanto tempo, é possível apreciar a magia de um Ritual da Lua Cheia de
Capri.
O RITUAL DA LUA CHEIA
Elemento água
Senti que o ar noturno vinha soprando algo diferente, mas só depois do anoitecer tive certeza
absoluta de que a lua tumescente ia chegar ao topo das Rochas Faraglioni esta mesma noite.
Como se espera de um evento que acontece no máximo duas vezes por ano, o Conselho Supremo
imediatamente espalhou a notícia, sinalizando com o farol de fogo do topo de nosso afloramento
pedregoso, convocando todos os vampiros das redondezas para comparecer a Capri.
Minhas sacerdotisas me prepararam, tomando o cuidado especial de ungir meu corpo com bons
óleos, delinear meus olhos com kohl* e me vestir com os mais esplêndido traje ritualístico – um vestido
apertado e tão macio que parecia que eu estava usando um traje de água transformada em pano pela
magia de Nyx.
As tatuagens de Circe, desenvolvidas ao
longo de séculos por sua liderança
filantrópica
por toda a costa de Amalfi. Observação:
Dentro de seu crescente, vê-se um náutilo
de concha alveolar, com um de seus
animais prediletos e uma forma viva de
nossa espiral. c. 1970. House of Night:
Hall das Sacerdotisas, Tulsa, Oklahoma.
Gentilmente cedido pelo Conselho dos
Vampiros do sudoeste, EUA.
Optei pela maior e mais linda concha que peguei na ultima lua cheia. Levantei-a com cuidado em
frente a mim, enquanto as sacerdotisas e os Filhos de Erebeus me acompanharam do castelo até a trilha
sinuosa que leva a uma praia ao sul. Enquanto caminhávamos, percebi que a luz de suas tochas refletia o
âmago rosado da concha, como se estivesse iluminando um segredo.
Eu poderia viver uma eternidade sem jamais me esquecer daquela noite tão alegre. Quando o
cálido mar, pleno de sal e vida, tocou meus pés descalços, achei que fosse desmaiar, tamanho prazer
senti.
Ah, deusa! Que bênção primorosa ser presenteada com a afinidade com água! Como sempre, louvo
seu nome!
Circe traz a lua para baixo. c. 1970. House of Night: Hall das
Sacerdotisas, Tulsa, Oklahoma. Gentilmente cedido pelo conselho
dos Vampiros do Sudoeste, EUA.
Não estivesse a lua cheia e luminosa entre minhas
amadas Faraglioni, eu poderia ficar lá por horas,
totalmente encantada pelo mar.
Mas a lua da deusa fez-me lembrar de meu
propósito e então, com a ajuda de quatro sacerdotisas
preferidas, acendi a vela de cada elemento, colocando-
as em pedaços de madeira trazida pelas águas com
furos feitos especialmente para esse fim. Quando meu
círculo estava completo, a música começou. Bateram
tambores, flautas cantaram e címbalos tremularam,
tornando audível a felicidade. Juntos elevaram suas
vozes em doce harmonia, e eu dancei, absorvida pelo
mar e pela luz prateada da lua. Quando a radiante
esfera atingiu o ponto mais alto no céu, levantei a
concha fazendo um sinal para que a música parasse.
Depois soltei na água as pequenas embarcações de
madeira com as velas, adentrando mais fundo no mar
com elas.
Como sempre, meu círculo permaneceu
completo. Meu elemento não me faltou. Por amor a
mim e em homenagem à deusa, as ondas e marés pararam, suspendendo os movimentos para que eu
ficasse no meio de um circulo mágico. Sorrindo, mergulhei a concha no mar e depois me virei para
encarar a multidão que se espalhara até onde a vista alcançava na praia e no litoral rochoso.
“Merry meet!”, gritei.
“Merry meet!”, eles responderam em brado jubiloso.
“Quando a lua está cheia, o véu entre o nosso mundo e a deusa – o conhecido e o desconhecido –
fica transparente. Em noites como esta, a magia está em ação! E agora devo encerrar este ritual de
mágico de consumação.”Pronunciei as palavras que tão bem conhecia como se tivessem sido escritas no
âmago de meu coração.
CIRCE. Bênção da Lua Cheia. Século VIII a.C. Papiro importado e
tinta. Cedido pela Casa di Notte de Napoles, Itália.
“O ritual desta noite ganha uma camada de mistério com o cintilante símbolo de Nyx ascenso entre
nossas amadas Faraglion. Portanto, esta noite, vampiros, regozijaremos com a benção adicional da
deusa. Qualquer tarefa terminada esta noite será abençoada... qualquer intento que decidirem expressar
esta noite será abençoado... qualquer separação realizada esta note será abençoada.”
“Saudações, Nyx!”, todos gritaram.
Virei-me de frente para a lua cheia, brilhando tanto que as Rochas Faraglioni fizeram sombras de
um profundo azul sobre as águas. Segurando a concha acima da cabeça, em uma posição que captava os
raios prateados para a água dentro dela, recitei a Benção da Lua Cheia para o meu povo:
“Acima de mim sinto teu amor
minha deusa
Plena da promessa de que através de ti
minha deusa
Todas as coisas amadureçam e se tornem realidade
minha deusa
Assim como a diáfana fronteira entre os mundos
minha deusa
É iluminada pela branca luz de teu sinal
minha deusa
Peço que desças um raiozinho de teu amor
minha deusa
Enchas este cálice que segue pelo março
minha deusa
Para que eu possa sobre mim derramá-lo
minha deusa
E leves teu toque gentil aos filhos da noite.”
Continuei segurando a concha acima da cabeça, de modo que não pude ver, mas senti o momento
exato em que a mão de Nyx tocou a água por causa do súbito calor que irradiou das palmas das minhas
mãos e dos ofegos de alegria cujos ecos reverberaram por toda praia.
“A lua cheia é abençoada à vista de todos; como a deusa quiser, assim será!”
Gritei as palavras ao derramar a água cheia de energia da deusa na cabeça e por meu corpo. A
água cobriu minha pele até me deixar brilhando com a luz prateada que refletiu a lua de tal maneira que
tive de fechar os olhos para que tanto brilho não me cegasse, e enquanto as sacerdotisas fechavam o
círculo, regozijei com os filhos de Nyx – da noite – com música e dança, com risos e louvores, e acima de
tudo, com amor... sempre amor...
Acima fotografia oferecida por
Sofia da Este, novata sextanista
que morava em Sorrento, Itália,
antes de ser Marcada. Já
transformada, ela voltou para
sua casa no litoral para realizar a
Bênção da Lua Cheia; olhe de
perto para ver o brilho da
concha iluminando a dança dos
vampiros.
LIBERTAÇÃO DE UM ESPÍRITO FAMILIAR
Haus der Nacht, Frankfurt, Alemanha, 7085d.C. A sétima dentre as dez
runas retrata as duas direções para onde cresce uma árvore: para cima
na superfície, em direção ao céu, e para baixo, expandindo-se na
escuridão, uma metáfora de como as maiores forças também são as
maiores fraquezas.
Elemento terra
A adorável cidade de Beregen, Noruega, foi fundada
em 1070 d.C. Pelo Guerreiro Filho de Erebus Olav Kyrre. A
cidade era próspera, repleta de mercadores e artesãos,
artistas e poetas. Em 1270, uma Grande Sacerdotisa
vampira, conhecida como Freya, estava em missão de
exploração à procura de um local para a nova House of
Night escandinava, que seria conhecida na época como
portão de entrada para os deslumbrantes fiordes da costa da
Noruega.
Freya ficou hipnotizada por Beregen, e se apaixonou
instantaneamente pelas montanhas fortes e majestosas que
se espalhavam ao seu redor, como se fossem um anfiteatro para o mar aberto. Na qualidade de Grande
Sacerdotisa que ganhara de Nyx a afinidade pela terra, Freya raramente se sentia segura perto de uma
massa de água muito grande, mas, no século XIII, a melhor forma de viajar e fazer comércio era por água,
de modo que Beregen pareceu a escolha perfeita para a nova escola.
Mas Freya era tão sábia quanto bela. Em vez de tomar uma decisão tão importante por impulso,
adentrou o coração das florestas norueguesas. Isolando-se de modo a estar cercada apenas pela natureza
selvagem, ela buscou seu centro, traçou um círculo sagrado e então rezou ardentemente para Nyx,
pedindo que a grande deusa lhe mandasse um sinal caso Beregen fosse mesmo a melhor escolha para a
nova House of Night. Imediatamente Freya ouviu a voz ecoando pelos ramos de pinheiros, dizendo:
Se meus filhos da floresta a aceitam, então você escolheu bem, filha.
Enquanto o eco sumia pelo mato adentro, dois gatos enormes saíram da floresta. Apesar de
raramente vistos e quase nunca domesticados, a Grande Sacerdotisa percebeu que os visitantes eram gatos
noruegueses – um casal – da floresta pertencente à lenda escandinava.
Não se sabe exatamente o que aconteceu entre Freya e os gatos, a quem ela deu os nomes de Kais e
Kaira, mas artistas e contadores de história recriaram, à exaustão, a dramática cena da esguia e graciosa
Grande Sacerdotisa surgindo da floresta ladeada por dois majestosos gatos. As mãos dela estavam
pousadas sobre as cabeças dos felinos. Houve gritaria entre a população humana local, que pensou que ela
enfeitiçara os animais, mas Freya riu e disse: “Fui eu a enfeitiçada por estas criaturas fascinantes e por sua
cidade encantadora!”
A história dos humanos relata a grande alegria de Freya, a beleza de sua tez dourada que combinava
tão bem com os gatos da floresta que a escolheram, e sua evidente ligação com a terra; tudo isso
conquistou o povo de lá. Os humanos de Beren conseguiram superar sua natureza supersticiosa e
aceitaram a nova House of Night, que foi construída com ajuda de artesãos locais em um ponto
espetacular da montanha com vista para a cidade. Freya e seus gatos da floresta ficaram tão populares
entre o povo, que a Grande Sacerdotisa tinha uma carruagem feita especialmente para os gatos, e era
comum vê-la pelas ruas estreitas e sinuosas da cidade ainda puxada por seus amados Kaia e Kaira.
Resposta à pergunta de Freya
c. 1970. House of Night: Hall
das Sacerdotisas, Tulsa,
Oklahoma.
Gentilmente cedido pelo
Conselho dos Vampiros do
Sudoeste, EUA.
Os dois gatos da floresta viveram inéditas cinco décadas, e morreram no mesmo período de uma
hora. Eles eram tão amados por todos na House of Night e na cidade que, depois de suas mortes, a Grande
Sacerdotisa permitiu (uma das poucas vezes nas histórias dos vampiros) que humanos sem Imprint com
vampiros participassem de um Ritual Maior, o Ritual da Libertação de um Espírito Familiar.
Calouro, se um gato o escolher como dele, você conhecerá a bênção que é o amor e a devoção de
um felino. Quando perder seu felino – já que todos terão de fazer a passagem para o Outro Mundo de
deusa bem antes de seus vampiros – prepare-se para o luto e saiba que, mesmo depois da morte, seu felino
continuará dedicado a você. Portanto, é importante despedir-se ritualisticamente do espírito de seu felino
para que ele possa estar livre para brincar como um filhote nos prados Nyx e não ficar preso neste mundo
solitário e incorpóreo, sem conseguir estar com você de verdade, e incapaz de deixar seu espírito partir.
O Ritual de Libertação de um Espírito Familiar é baseado na despedida de Freya a Kaia e Kaira. É
forte a influência do elemento terra, que é especialmente importante ao se libertar um espírito. O vampiro
deve estar firmemente estabelecido na terra, e os mortos devem ser guiados pelo espírito para que se
libertem completamente desta esfera.
Tatuagens de Freya a partir de descrições em
seus escritos. Estas são bastante diretas: flores,
vinhas,
árvores e pegadas de animais representam a
generosidade da terra. c. 1970. House of Night:
Hall das
Sacerdotisas, Tulsa, Oklahoma. Gentilmente
cedido pelo Conselho dos Vampiros do
Sudoeste, EUA.
Ritual de Libertação de um Espírito Familiar
Elemento terra
É melhor realizar este ritual em uma área o mais desprovida possível de humanos, e deve ocorrer no
espaço de três dias da morte do felino. Este é um dos poucos Rituais Maiores que não deve ser conduzido
por uma Grande Sacerdotisa, mas sim pelo vampiro que perdeu seu felino. Para honrar a ligação entre
gato e vampiro, todos que comparecerem ao ritual devem se banhar e vestir belos mantos antes de entrar
no círculo.
Na mesa, no meio do círculo, deve haver representações do gato: fotos, seu brinquedo favorito, uma
porção da comida que ele mais gostava, etc., bem como uma corda trançada com feno-de-cheiro e um
bastão defumador com sálvia branca. Dentro do círculo, na frente da vela, deve ser posta uma vasilha
verde cheia de nata de leite.
Após trançado o círculo, o vampiro que conduzirá o ritual deve acender a corda de feno-de-cheiro.
Caminhando no sentido horário ao redor da mesa, ele deve agitar a corda fumegante pelo ar dizendo:
“_____________ (o nome do gato), é com tanto amor quanto tristeza que o chamo pela última vez.”
O vampiro deve continuar chamando seu felino até sentir a presença de seu espírito. Então é
recomendável que faça uma pausa no ritual e tranquilize o espírito de seu gato, para que ele saiba que será
muito amado e que jamais será esquecido. Estas palavras devem ser muito particulares, exclusivas para
cada gato, e apesar de não serem uma parte previamente escrita do ritual de libertação, são necessárias e
importantes. Depois que o vampiro sentir que tranquilizou o espírito de seu gato, deve acender o
defumador dizendo:
Sou filho da deusa e, como tal, sei que quando uma criatura morre, a alma continua vivendo. Sei
que a morte é só um jeito de esquecer a dor e o sofrimento – sei que ela é um percurso de volta à Deusa
para se renovar e fortificar – para descansar e um dia poder voltar a este plano, pois assim dizem as
Grandes Sacerdotisas:
Buscando um novo corpo, que outra mãe possa lhe dar a luz
Para que com os membros mais fortes e a mente mais clara,
a velha alma possa retomar a estrada para a terra.
Mas, para que esta crença se torne realidade, você não pode ficar penando aqui. Você deve partir
deste plano para encontrar Nyx no Outro Mundo.
13000-12000 a.C. Serra da Capivara, Brasil. O laço
entre vampiro e animal familiar vem de tempos
ancestrais. Nesta pintura rupestre, um vampiro caça
com o agora extinto Smilodon populator, mais
conhecido como tigre-dentes-de-sabre.
O vampiro deve caminhar até a parte mais ao norte do círculo e parar com o defumador em frente à
vela verde da terra, inalando profundamente a sálvia purificadora, ele deve defumar a si mesmo dos pés à
cabeça, e depois usar defumador de sálvia como se fosse um bastão para traçar nosso sagrado
pentagrama* no ar, antes de recitar três vezes:
Pequeno amigo, eu te agradeço pelos anos de amor e alegria que me destes. Pequeno amigo, tua
memória estará para sempre em meu coração. Pequeno amigo, peço-lhe que esqueça agora de tua
concha vazia e não te preocupes comigo. Rogo, em nome de Nyx, que passes desta esfera, sigas em
frente, deites e regozijes nos prados da Deusa.
O vampiro precisa, então, derramar a vasilha de nata ao redor da vela da terra, dizendo: ”Com esta
oferenda para terra e com o amor é a plenitude de minhas lembranças, eu te liberto e digo merry meet,
merry part e merry meet outra vez!”.
O vampiro e os presentes devem visualizar uma porta brilhante, logo depois da parte mais ao norte
do círculo. Unidos em pensamento, todos precisam imaginar a porta brilhante se abrindo para revelar um
belo prado cheio de grama ondulando ao vento, e o pequeno e luminoso espírito do gato pulando
alegremente pela porta, que se fecha suavemente depois de sua passagem.
O ritual estará, enfim, completo. Normalmente, uma das pessoas mais próximas ao vampiro fechará
o círculo permitindo-lhe que passe estes momentos relembrando e vivendo seu luto...
D. E. ENGLAND. Farewell, Chenise. Começo da
primavera. 2006. Fotografia, 8X10. Tulsa, Oklahoma.
Com permissão da vampira. Observação da autora:
“Esta fotografia foi escolhida por transmitir esperança
– novos ramos da grama surgindo na neve”.
*Pentagrama é uma estrela de cinco pontas, sagrada para as filhas e filhos da deusa. Ao contrário
do que diz a visão equivocada dos humanos, o pentagrama não é um símbolo do mal. É simplesmente um
símbolo sagrado dos cinco elementos: a ponta superior representa o Espírito, e as outras quatro, o Ar, o
Fogo, a Água e a Terra. Nós usamos o pentagrama com a ponta do Espírito para cima, simbolizando o
aspecto eterno de nossas almas e a trilha que um dia nos levará na forma de espírito à nossa deusa.
A GRANDE SACERDOTISA E HÉRCULES: ROMPENDO UM IMPRINT
Haus der Nacht, Frankfurt, Alemanha, 1085 d.C. A oitava dentre as dez
runas representa todas as
energias e todas as direções: um fluxo simultâneo de conexão entre o que
pode ser vivenciado ou avaliado
no plano físico, e o que se qualifica por dentro: o espírito.
Elemento Espírito
As guerreiras amazonas da antiga Ásia Menor, na região geralmente conhecida como Turquia,
desconcertaram os humanos por milhares de anos. Mas não são um mistério para nós, novato, pois
sabemos exatamente quem eram, onde viviam e o que foi feito delas.
As amazonas eram um grupo de sacerdotisas vampiras que escolheram viver separadas de todos os
homens, até dos vampiros. Segundo os documentos do Conselho Supremo dos Vampiros, no século I
a.C., uma sacerdotisa chamada Hipólita os abordou com uma petição assinada por vinte e cinco vampiras,
pedindo permissão para se retirar da sociedade e fundar seu próprio coven – sem qualquer influência
masculina. O Conselho aceitou o pedido das sacerdotisas, e até ajudou Hipólita e suas mulheres a
estabelecer sua isolada comunidade pela costa do Mar Negro, no alto de uma montanha escarpada
conhecida como Amazonenses, no lugar onde fica a fonte de Thermodon.
Lá as sacerdotisas viviam em total liberdade. Continuaram fiéis em sua adoração a Nyx e, tirando
isto, não se reportavam a ninguém, a não ser Hipólita, a quem resolveram chamar de rainha, e não de
Grande Sacerdotisa. Eram amazonas experientes e guerreiras destemidas, que se dedicavam ao
treinamento nas artes do arco e flecha e no uso do letal machado de duas lâminas. Reza a lenda que
chegaram até a domar os majestosos tigres da Ásia Menor, que lhes eram tão devotos quanto nossos
felinos nos são hoje em dia.
Mas as amazonas, como acabaram ficando conhecidas, chamaram a atenção dos gregos helenitas.
Altamente patriarcais, os gregos não suportavam a ideia de mulheres vivendo sem os homens. Então, um
rei grego, Euristeu, mandou seu maior herói, Hércules, roubar de Hipólita sua armadura peitoral dourada.
Sabendo que a violação as faria pegar em armas para se defender, os gregos planejaram deixar as
amazonas desferirem o primeiro golpe, para então, exterminá-las em retaliação.
Novato, esta não foi a primeira nem a única vez que os humanos subestimaram os vampiros.
Hércules de fato rumou para Thermodon, mas ficou surpreso quando ele e seus homens foram recebidos
graciosamente pelas amazonas. Hipólita em pessoa mandou fazer um banquete para os convidados. As
vampiras dançaram, cantaram e celebraram em uma alegria incontida, intrigando Hércules e seus homens.
Eles jamais tinham visto mulheres tão poderosas, lindas e encantadoras. Nessa noite, Hércules convidou
Hipólita, a morena de cabelos negros, para beber de seu sangue, e foi quando a rainha amazona e o maior
dentre os heróis dos gregos tiveram seu Imprint. Saiba, novato, que as amazonas não odeiam os homens.
Elas apenas queriam viver livres – segundo seus próprios termos – jurando fidelidade apenas à rainha e a
Nyx. Elas optaram por ser suas próprias guerreiras, trabalhadoras, companheiras e parceiras.
Pelos dois meses seguintes, Hércules não saiu do lado de Hipólita. Durante o dia eles galopavam
pelos caminhos traiçoeiros da montanha e se equiparavam na arte do arco e flecha. A noite, amavam-se
por inteiro.
Mas sua alegria foi apenas temporária. Passados dois meses, Hércules revelou a Hipólita que, na
verdade, o rei o enviara para roubar sua armadura peitoral dourada e provocar uma guerra entre as
amazonas e a Grécia. Ao ouvir aquilo, Hipólita sorriu, foi até seu quarto, retornou com a armadura
peitoral dourada e a deu a Hércules, dizendo:
Você não pode roubar uma coisa que lhe foi entregue como um presente. Não haverá guerra, pois
este não seria o desejo de Nyx, e não seria bom para as minhas mulheres. Portanto leve este presente
para o seu rei, e siga com meu grande afeto por você, meu bravo e belo guerreiro grego.
Agora lembre-se, novato, Cleópatra já nos ensinou uma lição sobre os perigos de um vampiro se
apaixonar demais por seu consorte. Mas é preciso entender também que é igualmente destrutivo quando
um consorte fica obcecado por sua vampira.
Hércules respondeu que não voltaria para Euristeu. Na verdade, ele ficaria ao lado de Hipólita pelo
resto da vida.
A reação da rainha amazona foi de perplexidade e consternação. Mas ela não hesitou. Insistiu para
que Hércules retornasse ao seu mundo, que era o seu lugar, explicando-lhe que pensara que ele havia
entendido que a ligação entre eles era apenas temporária, que não podiam ficar juntos nessa vida, pois ela
e suas mulheres haviam jurado viver sem os homens.
c. 1970. Hipólita e a infinidade
de espírito. House of Night: Hall
das Sacerdotisas, Tulsa,
Oklahoma. Gentilmente cedido
pelo Conselho dos Vampiros do
Sudoeste, EUA.
A mitologia humana criou uma história sem pé nem cabeça, segundo a qual Hipólita teria rejeitado
seu herói, mas a história da sangrenta batalha entre as amazonas e os homens de Hércules e o relato de
que Hipólita e suas mulheres foram assassinadas é pura ficção. A verdade é que o grande herói grego teve
de ser amarrado por seus próprios homens, que o arrastaram do vilarejo da rainha amazona. Ele então
praguejou, jurando retornar para ter o amor de Hipólita outra vez.
Ela achou que sabia o que tinha que fazer, mas, antes de agir, isolou-se por três dias e três noites,
rezando para Nyx, que lhe apareceu em sonho no fim da terceira noite. A deusa simplesmente assentiu
uma vez e disse três palavras: “Sim, minha filha”.
A rainha voltou para suas mulheres, ciente de estar tomando o rumo certo. E explicou que
acreditava que os gregos não lhe dariam paz quando todos ficassem sabendo que ela rejeitara Hércules.
Portanto, teriam que abandonar a beleza de Thermodon e se transformar em espíritos. Se quisessem
continuar livres, teriam que desaparecer nas matas da Ásia Menor para nunca mais serem vistas por
nenhum humano ou vampiro.
Antes de partirem, Hipólita tinha que fazer duas coisas. Primeiro, mandou uma amazona cavalgar
até o Conselho Supremo para que a história fosse contada antes de ela romper qualquer tipo de contato
com a sociedade vampírica. Depois para garantir que Hércules jamais a seguisse por meio de seu laço de
sangue e conduzisse os gregos até elas, fez o Ritual de Rompimento de Imprint.
E, então, as amazonas desapareceram para sempre.
A mitologia humana diz que Hércules não sobreviveu muito tempo depois que Hipólita rompeu seu
Imprint. O mito relata que ele foi morto por um manto envenenado. Para os vampiros, o veneno estava em
sua própria mente, e o manto simbolizava sua incapacidade de dar liberdade a seu amor.
Se você tiver a sorte de completar a transformação e se tornar um vampiro, lembre-se de pensar
bem antes de escolher um consorte.
Este coração de cristal foi dado a Hipólita por Hércules
em sinal de sua adoração, e a House of Night a guardou em
segurança na Grécia por séculos a fio. Fotografia
gentilmente cedida pelo Museu de História
Antiga dos Vampiros da Grécia.
Hipólita. 1250 a.C. Busto de mármore, aprox.. 30.
Fotografia gentilmente cedida pelo Museu de
História Antiga dos Vampiros da Grécia.
Hipólita, com seu animal
familiar, Korku. c.
1970. House of Night: Hall
das Sacerdotisas, Tulsa,
Oklahoma. Gentilmente
cedido pelo conselho dos
Vampiros do Sudoeste, EUA.
Rompendo um Imprint
Elemento Espírito
Observação: Após cuidadosa consideração e extenso debate, o Conselho Supremo dos Vampiros,
liderados por Shekinah, decidiu tirar este ritual do Manual do Novato 101. Ao que parece, a inclusão
deste ritual levaria alguns novatos a acreditarem que poderiam se alimentar dos humanos sem medo do
Imprint, pois, se ele acontecesse, poderiam simplesmente apelar a este texto para desfazer tudo.
Calouro, Imprints podem ser tudo, menos simples. Apesar de ser raro que um novato consiga fazer
um, é possível acontecer, portanto, nunca é demais alertar seriamente pra o fato de que um Imprint é um
vínculo dilacerador de almas. Jamais deve ser feito apenas como experiência ou de forma irresponsável. É
um processo que muda irreversivelmente tanto o humano quanto o vampiro novato. Romper um Imprint é
uma experiência dolorosa e arrasadora.
Consortes humanos morreram quando a vampira com quem tiveram Imprint se feriu. Outros
também morreram em decorrência do rompimento intencional do Imprint por parte da vampira, como
evidenciado pelo exemplo histórico de Hipólita e Hércules.
É de uma crueldade indizível sujeitar um consorte ao Ritual de Rompimento de Imprint por razões
frívolas e o Conselho Supremo, nossa Grande Sacerdotisa Vampira e o Conselho em exercício na sua
House of Night não toleraram este tipo de barbaridade por parte de seus novatos. Sendo assim, os detalhes
deste perigoso ritual foram transferidos para o Manual do Novato 401, disponível apenas para os novatos
sextanistas que se encontram no fim de sua jornada na House of Night.
Como lição no que diz respeito às consequências, decidimos incluir neste manual a história de
Hipólita e Hércules, na qual o consorte morre depois que a vampira rompe propositalmente o Imprint.
Neste caso, a Grande Sacerdotisa amazona teve que desaparecer de nosso mundo, com seu povo,
deixando para trás somente lendas e mentiras de sua cultura brilhante e bravia.
Shekinah, a Árvore-Mãe. Azulejo comemorativo criado em algum
ponto do século VI para celebrar a transformação da nova sacerdotisa.
Fotografia gentilmente cedida dos arquivos de Shekinah, Tiberíades,
Israel.
Primeira experiência no círculo mágico:
Possível afinidade elementar?
Como você soube?
Meu primeiro animal familiar:
Professores vampiros e suas afinidades ou dons:
Grande Sacerdotisa de nossa House of Night:
Ar:
Fogo:
Água:
Terra:
Espírito:
Alguém especial nesta House of Night:
Forças que começo a perceber em mim:
CAPÍTULO TRÊS - ELEMENTOLOGIA DO POVO
DA NOITE
Haus der Nacht, Frankfurt, Alemanha, 1085 d.C. A nona dentre as dez runas representa o desvio de energias vitais do centro,
aqui retratado como uma espiral externa.
A maioria de vocês já está acostumada com o sistema humano de astrologia ocidental, segundo o
qual o destino de uma pessoa boa parte de sua personalidade. No ano de 200 d.C., o vampiro Ptolomeu
achou o sistema válido, apesar de ter observado que não era o signo sob o qual a pessoa nasce que trazia
informações sobre a sua personalidade, mas sim o elemento do sistema solar. Na época, ele procurou o
Conselho Supremo e levantou a seguinte hipótese:
Se humanos são afetados no nascimento pelo elemento de seu signo astrológico, parece lógico que
os vampiros sejam afetados de modo semelhante pelo signo sob o qual passaram pela transformação, já
que a transformação de um humano para vampiro é um verdadeiro renascimento.
O Conselho Supremo ficou intrigado com a teoria de Ptolomeu, e o encarregou de criar um novo
sistema de classificação para vampiros, baseando-se mais nos elementos do que nos signos solares
astrológicos.
Em 300 d.C., depois de um século de observação e pesquisa, Ptolomeu apresentou ao Conselho
Supremo dos Vampiros a elementologia do povo da noite, que determinava o elemento correspondente à
data de transformação do vampiro. Os atributos do elemento específico moldam e informam os traços
característicos do vampiro. Ptolomeu expandiu os quarto elementos do sistema humano de astrologia para
incluir o quinto elemento de nossa cultura: o espírito. Os poucos selecionados para completar a
transformação durante o que ele chamou de ascensão da fase do espírito são predominantemente
governados pelo espírito, mas com influência do elemento sobreposto.
A seguir, temos uma versão condensada do mapa elementológico do povo da noite criado por
Ptolomeu. Nele encontram-se as datas de influência de cada elemento, uma pequena lista das principais
características e símbolos da elementologia. Depois que você completar a transformação, as influências
de seu elemento devem ficar mais fortes. Por enquanto, novato, considere apenas o seguinte: sob qual
elemento você acredita que vai se transformar?
Ar Se sua transformação tiver ocorrido entre 1° de dezembro e 28 de fevereiro, você receberá a
influência do ar.
Um vampiro sob a influência do elemento ar tende a ser idealista e amante da liberdade; não se
prende a mesquinharias, tem grande habilidade para se comunicar e muito charme. É uma pessoa nobre e
altruísta.
Fogo Se sua transformação tiver ocorrido entre 1° de junho e 31 de agosto, você receberá a influência do
fogo.
Um vampiro sob a influência do elemento fogo tenderá a achar fácil o que se passa em seu interior.
São pessoas entusiasmadas e vibrantes, que precisam de reconhecimento e aprovação para se sentirem
satisfeitas.
Água Se sua transformação tiver ocorrido entre 1° de setembro e 30 de novembro, você receberá a
influência da água.
Um vampiro sob a influência do elemento água tenderá a se adaptar com facilidade às mudanças de
ambiente. São pessoas que resolvem tudo por meio do poder do compromisso emocional. Elas têm o dom
de canalizar energias e experiências negativas e transformá-las em atitudes positivas.
Terra Se sua transformação tiver ocorrido entre 1° de março e 31 de maio, você receberá a influência da
Terra.
Um vampiro sob a influência do elemento terra tende a ser sensual e costuma viver em busca de
prazer; são pessoas bem estruturadas e emocionalmente seguras, protetoras e criativas. Movidas a
objetivos, amam ver seus planos se realizarem.
Espírito Se sua transformação tiver ocorrido em algum dos seguintes dias, o espírito é sua maior influência,
mas você também sentirá a influência do elemento que se sobrepõe.
Os dias relacionados ao elemento espírito são:
FEVEREIRO 1, 2, 3
ABRIL 30
JUNHO 20, 21, 22
AGOSTO 1, 2
OUTUBRO 30, 31
MARÇO 20, 21, 22
MAIO 1, 2
JULHO 31
SETEMBRO 20, 21, 22
NOVEMBRO 1
O vampiro que se transforma durante os dias do elemento espírito tende a falar de modo
carismático, costuma ter segurança, grande intuição, talentos múltiplos e caráter intenso e vigoroso.
COMEMORAÇÕES
As datas citadas a seguir são comemoradas em todas as House of Night, pois vampiros viajam
muito para renovar velhos laços, aproveitar feriados e manter ligações próximas uns com os outros.
Muitas House of Night também têm seus eventos locais, portanto, por favor, informe-se para manter sua
agenda em dia.
PRIMORIS VAMPYRA. 1° DE JANEIRO (para terceiranistas): significa “primeiro
vampiro” e, por um dia, há uma troca de papéis em que os calouros mais novos e os mais velhos têm
direito aos privilégios de veteranos e professores, que por sua vez assumem os papeis dos calouros.
IMBOLIC. 2 DE FEVEREIRO
PLURIMOS DILIGO. 14 DE FEVEREIRO (para quartanistas): significa “mais
amado”, e todas as formas de carinho são profundamente demonstradas dentro de todas as House of
Night.
BOSTRE. 21 DE MARÇO
CARITASNIX. 30 DE MARÇO (para quintanistas): significa “Carruagem de Nyx”, e
geralmente consiste em uma competição de jogos antigos. Os jogos variam muito de uma House of Night
para outra, devido a questões de clima e geografia.
BELTANE. 30 DE ABRIL
SOLSTÍCIO DE VERÃO. 21 DE JUNHO
FAUTOR PER FORTUNA. 21 DE JULHO (para sextanistas): significa “favorecidos
pelo destino”, e consiste em uma benção formal para eles. Para este evento, convida-se a família humana
dos residentes da House of Night para que todos de unam a fim de mandar energias positivas para os
sextanistas, cujo dia da transformação se aproxima cada vez mais.
MABON. 21 DE SETEMBRO
SAMHAIN. 31 DE OUTUBRO
FERMINUS BELLUM. 23 DE NOVEMBRO: Momento de reconhecer nossa história
e dar graças a Nyx pelo fim das Guerras Vampíricas.
YULE, OU SOLSTÍCIO DE INVERNO. 21 DE DEZEMBRO
Capítulo Quatro - Breve introdução à história dos
vampiros
Haus der Nacht, Frankfur, Alemanha, 1085 d.C. A décima dentre as dez runas incorpora o sinal do animal familiar dentro da
mão de um vampiro. Além de representar uma companhia muito querida, a runa também é usada como representação daquilo
que é conhecido, íntimo e reconhecido.
Os vampiros sempre existiram. Nós começamos a caminhar sobre a terra desde que nela começou a
crescer grama, desde que o sol começou a brilhar e a lua entrou em sua órbita elíptica. Apesar de nossa
história escrita ser mais bem preservada e mais antiga que a dos humanos, só passamos a viver em
sociedade depois do século IX a.C. Foi então que uma peculiar Grande Sacerdotisa Vampira, chamada
Lilith, surgiu da fértil região conhecida como Mesopotâmia. Lilith foi agraciada por Nyx com dádivas
consideráveis, afinidade com o espírito, além do dom de profetizar o desenlace da vida eu qualquer
vampiro. Lançando mão de seus dons concedidos pela divindade, Lilith reuniu as Grandes Sacerdotisas
dos principais covens de vampiros, bem como seus consortes e guerreiros. Ela persuadiu suas irmãs e
irmãos a formarem o que chamou de Conselho Supremo dos Vampiros – um corpo governante que seria o
centro de todos os povos vampiros. Neste centro, como as sete líderes dos covens de vampiros mais
civilizados, ela se dedicou a estabelecer os padrões de nossa bela e peculiar sociedade na qual as mulheres
são consideradas sagradas. Também determinou o culto á deusa, e aos homens que são apreciados e
respeitados.
Artista desconhecido. Aquarela, 18x14. c. 1880-1890. A interpretação de
uma pele decorada de búfalo inclui o símbolo de Nyx e a lua crescente. EUA
Lilith e seu novo Conselho Supremo dos Vampiros debateram longamente sobre onde deveriam
estabelecer o lar do corpo governante. Eles sabiam que tinha de ser um espaço defensável de invasores e
da exploração humana, mas também deveria estar perto de alguma rota marítima importante, para facilitar
viagens e abastecimento. E, naturalmente, tinha de ser um lugar de beleza espetacular – um lugar calmo
que satisfizesse nosso amor nato pela terra e pela magia da natureza.
Lascaux, França 17.000-15.000 a.C., Arte do período Paleolítico
Superior confirma a existência pré-histórica de vampiros e rituais.
Enfim, no século VIII a.C., após muita procura, Lilith e o Conselho Supremo resolveram se
estabelecer na azulada ilha de Capri, ao largo da costa da Itália. Sem demora, os vampiros de proliferaram
por toda a costa amalfitana; fundaram e patrocinaram as lindas cidades de Pompeia e Herculano, que se
irmanavam em luz, magia e arte. As palavras da própria Lilith descreveram melhor nosso antigo lar:
A costa amalfitana é um labirinto tomado por flores cujas belas entradas são Pompeia e
Herculano, cidades-irmãs chamando a todos para entrar no labirinto com seu charme e beleza. Capri é o
tesouro que em seu âmago cintila.
Até 24 de agosto de 79 d.C., Capri, Pompeia e Herculano estavam unidas de corpo e alma. Nesse
dia, a tragédia se abateu tanto sobre os vampiros quanto sobre os humanos. A enorme e taciturna
montanha conhecida como Vesúvio entrou em erupção, consumindo Pompeia e Herculano, e matando
tantos consortes humanos que um inestimável número de vampiros também perdeu suas vidas tentando
salvá-los da morte que jorrava do céu.
A TRAGÉDIA DE POMPEIA
Observação: ”A Tragédia de Pompeia” foi inicialmente relatada de modo oral e transmitida de geração em
geração. A história foi afinal escrita em algum momento do século XVII, e recentemente traduzida para esta
edição do Manual do Novato.
Novatos, nós sinceramente esperamos que vocês não apenas sobrevivam, mas vicejem em todas as House of
Night, descobrindo forças internas das quais talvez jamais tenham se dado conta. Mesmo hoje em dia ainda há
muitos mistérios acerca dos poderes de nossa raça de vampiros, nossos limites ainda são desconhecidos. Esta
história não é tão antiga quanto nossa raça, mas ilustra os muitos dons que recebemos de Nyx, tratando-se
especialmente de uma lenda sobre a desvirtuação desses dons.
Em 58 d.C., Theodora e Antonia eram filhas de uma escrava Pompeia. Seu dono era um experiente mercador
de escravos. Brutus se considerava um connoisseur de mulheres, e havia amelheado uma fortuna com sua destreza.
Era famoso por sua perspicácia, e não hesitava em se valer dela para se aproveitar dos menos favorecidos.
Brutus gostava de viajar para Roma, Nápoles, Florença e cidades costeiras da região atrás das últimas
tendências em entretenimento. Treinava os escravos para encontrar os regalos populares, fossem gladiadores, chefs,
massagistas ou especialistas em prazer. Sempre sensível à demanda, Brutus fazia questão de prover sua clientela
com tudo do bom e do melhor que se pudesse imaginar – para quem pudesse pagar o preço. Ele havia se mudado
para Pompeia, famosa por seu amor à luxúria, visando o lucro entre os mais decadentes cidadãos locais.
Em meio a esses locais havia militares da reserva e na selva, e muitos aceitaram uma nova religião, o
mitraísmo, culto ao touro Mitra. Brutus enxergou oportunidades no local e se inscreveu como novo iniciado (afinal,
esses homens eram famosos por suas indulgências lascivas e pelo dinheiro que as governava). Nos livros humanos
de história da arte, aos quais esse culto reservado é retratado, aparece um touro branco sendo sangrado, o que é
interpretado como sacrifício. Essa concepção é equivocada.
Pergaminhos de vampiros de Capri indicam que esse touro despertava uma força ancestral e sombria. Os
membros usavam um punhal cuidadosamente entalhado para ferir o touro e beber seu sangue, ligando-se à sua
força como se fosse uma espécie de Imprint malévolo.
Pouco depois de se juntar ao culto, um homem se tornou um lutador temível na guerra, voltando para casa
com grandes honras, mas, com o passar do tempo, essa energia cruel só lhe trouxe tragédia e destruição. Brutus
ouvira dizer que esses membros dessa seita misteriosa se tornavam “melhores” em qualquer coisa que já fossem:
hostis, agressivos, carnais; mas ele ignorou estes alertas.
Esses homens eram fregueses perfeitos para um mercenário como Brutus. Ele entendia sua ânsia por
estímulos constantes, porque tinha também a mesma fome insaciável por tudo que era exótico e proibido. Usava
um punhal com prazer pelo puro potencial de marketing: o cabo do punhal talhado em formato de touro, ficava bem
à vista sobre o cinto da calça. Ele viu um enorme potencial em Theodora e Antonia. Se já era raro gêmeas
sobreviverem ao parto, era fenomenal que estas tivessem crescido e se transformado em duas belas moças. Pares
iguais de olhos negros como fuligem, cercados pela radiante pele cor de oliva e, debaixo deles narizes delicados,
lábios fartos e dentes brancos como pérolas. Corretamente instruídas, poderiam um dia faturar uma enorme quantia
de dinheiro.
Como nos tempos antigos não havia infância, o treinamento começou cedo. As meninas, com sua
graciosidade natural, já eram bem versadas nas artes antes de seus corpos começarem a amadurecer. A beleza delas
despertou em Brutus a ideia de um plano: vendê-las para os mitraístas por causa de seu sangue vigem e depois
continuar a alugá-las para outros fregueses, que ficassem intrigados com a ideia de desfrutar de uma jovem
previamente usada pelos temíveis guerreiros.
No contexto histórico, abusar de escravos era prática condenada, mas não impedida. As mulheres,
principalmente, podiam ser emprestadas, alugadas, trocadas ou vendidas. Brutus pretendia lucrar de todas as
maneiras possíveis. A medida que Theodora e Antonia cresciam e se transformavam em jovens mulheres, ele
começou a entrevistar prováveis fregueses entre os membros do culto a Mitra.
Durante os primeiros anos, Brutus manteve cautelosa distância das meninas; era bobagem entregar-se à
sedução com futuras mercadorias tão puras. Mas foi ficando cada vez mais difícil ignorar a beleza das gêmeas, que
aflorava mais e mais. A ideia de ficar ele mesmo com as lindas gêmeas começou a se formar em sua mente.
Mitras e o Sangue do Touro. Artista desconhecido. Constituição em grafite
de uma famosa estátua de mármore esculpida entre 300-400 d.C. Roma, Itália.
Ao contrário de Brutus, a amável comunidade adotou as meninas, e muitos acreditavam que elas
eram duas metades de um só ser. Elas nunca se distanciavam uma da outra, o que levava alguns a dizer
que só uma alma havia se partido no ventre da mãe. Theodora era cheia de fogo, sempre procurando e
questionando, enraivecia-se com rapidez, mas caia na gargalhada mais rápido ainda. Ela era a rainha dos
alojamentos de escravos com seu talento para contar histórias e interpretar personagens antes de
dormir. Nia, olhe só isso aqui!, ela gritava, e todos viravam o pescoço para ver sua nova façanha. Suas
paixões eram contagiosas. Ela era capaz de envolver a mais mal-humorada e irascível das pessoas em
jogos de infância há muitos esquecidos.
Antonia era seu oposto: calma, tranquila e gentil, sua natureza era cuidar e apoiar. Sua voz suave e
melodiosa prestava dolorosa doçura a qualquer canção. Ela não se escondia atrás de Theodora; fazia o
contraponto e a reverberava. Às vezes até entrava nas brincadeiras ou saía gritando: esperem por mim!,
tentando alcançar a irmã com passos trôpegos.
Alguém com uma personalidade assim parece fácil de usar, mas Antonia não era boba. O pessoal da
cozinha costumava mandá-la ao mercado pechinchar e escolher as melhores frutas, legumes e carnes. O
açougueiro, notório pão-duro, ansiava por suas visitas, mesmo que invariavelmente ela levasse a melhor.
Talvez fosse pelo seu costumeiro jeito de cumprimentá-lo: com respeito, gratidão e reconhecimento por
sua experiência. Ele voltava para casa sozinho toda noite, aquecido pelas palavras delas até a hora de
dormir.
Juntas, as duas se complementavam, em vez de competir. Sorrisos acompanhavam as meninas
quando elas iam cumprir suas tarefas nos alojamentos; seus cachos escuros e brilhantes quicavam
enquanto elas trocavam segredos e davam risadas. Mais olhares de aprovação se voltavam para elas, à
medida que amadureciam e viravam mulheres.
Putti servindo vinho. Século I d.C. Restauração de pintura a fresco. Segundo Estilo, Pompeia, Itália.
Acredita-se que seja um antigo retrato das gêmeas escravas, encontrado na Morada dos Querubins.
Ao contrário da maioria, têm cabelos pretos e estão totalmente vestidas, uma regra importa por Brutus
para manter a aura de mistério em torno das meninas.
Da Coleção de Pompeia, Hall da História, Veneza, Itália
Brutus começou a receber ofertas pelas gêmeas, mas rejeitou-as prontamente. Pela primeira vez em
sua carreira de mercador, viu-se sem resposta, apenas sentindo uma desconcertante e crescente obsessão
pelas duas, já que era um homem como qualquer outro. Até mesmo seus irmãos mitraístas, cujo o
interesse e amizade havia clivado, estavam questionando. Ele se pegou evitando responder.
Até que, em uma fatídica manhã, Brutus acordou com um grito vindo do alojamento dos escravos.
Antonia estava debruçada sobre a irmã, e a normalmente agitada Theodora estava caída no chão,
brilhando de tanto suar, pálida e inerte. A outra menina, tomada pela dor, disse a Brutus que acordara e se
deparara com um homem jovem com uma lua crescente cor de safira na testa debruçado sobre Theodora,
colocando a ponta do dedo na sua testa.
Pouco antes do amanhecer, Theodora fora Marcada.
Furioso, Brutus deixou o alojamento. Suas opções haviam se alterado súbita e drasticamente; agora
ele não tinha mais uma combinação perfeita de jovens prontas para casar. Ele estava prestes a perder uma
delas transformada em vampira, ou morta no decorrer do processo. Pior ainda, sua fantasia secreta estava
arruinada. Brutus bufou de ódio ao se dar conta disso.
Mas ele pensou mais além. Talvez pudesse tirar alguma vantagem disso. Ele fora paciente por todos
aqueles anos. Quem sabe pudesse usar a irmã Antonia para manipular Theodora, depois que ela fosse para
o Palácio dos Vampiros. Com a promoção adequada, ela poderia conseguir o dobro de clientes para
Antonia... Ou exigir que a irmã tomasse parte na coisa...
Horas depois, Brutus voltou a encontrar seus servos sentados ao lado de Antonia. Ela tinha uma
expressão vidrada e encarava o nada. Ele se aproximou para despertá-la de seu transe, mas, para sua
perplexidade, um escravo mais velho teve a ousadia de levantar a mão e exigir: Deixe-a. Por hora. Deixe-
a.
E, mais perplexo ainda com a apropria reação, ele obedeceu.
A separação das garotas gerou muitos comentários. Alguns se perguntaram quando Antonia iria se
transformar. Outros sugeriram que Theodora havia, na verdade, escapado ou tinha sido vendida a piratas
em segredo, ou que tudo não passava de uma farsa de Brutus para aumentar o valor das gêmeas.
Antonia simplesmente continuou deitada em seu quarto como se estivesse morta. Em determinado
momento, a cozinheira foi conferir a pulsação.
Antonia e Theodora. Século I d.C. restauração de afresco, Segundo Estilo. Pompeia, Itália.
Para promover as gêmeas, Brutus mandou furar uma orelha de cada – a esquerda de
Theodora e a direita de Antonia – não só pelo exotismo da coisa, mas também para identificá-las.
Da Coleção de Pompeia, Hall da História, Veneza, Itália.
No Palácio de Capri, os vampiros também estavam com problemas. Theodora, já reanimada pelos
feromônios, exigiu que sua irmã gêmea ficasse com ela na ilha. Mas fazia séculos que era proibida a
entrada de humanos no palácio, e por motivos pertinentes. Os vampiros costumavam ser vistos como uma
ameaça por seres humanos ignorantes e fanáticos do passado, que manipularam as massas para conseguir
a destruição das House of Night. Além disso, em tempos ancestrais, houve novatos que não se
controlaram e Imprints trágicos ocorreram. De modo que havia uma regra para os novatos, e Theodora
não era exceção. Isto a deixou terrivelmente deprimida; tanto que ela nem reparou os novos rostos ao seu
redor que a fitavam com compaixão. Se tivesse parado para observar algum deles, teria notado um rosto
em particular que a encarava com a concentração que só um vampiro pode ter. Ele não conseguia tirar os
olhos de Theodora.
Esse jovem vampiro,que havia ingressado recentemente aos filhos de Erebus, fora soldado romano
antes de sua transformação. Era conhecido por sua destreza na guerra. Uma batalha era particularmente
relembrada e comemorada: ele derrotara um líder celta, parece que um druida poderoso. Originalmente
um escravo sem nome, seu general permitira que ele adotasse o nome de seu inimigo executado. Drusus.
Drusus entrara em Capri como novato, mas não era um adolescente típico. Seus anos como escravo,
e depois com guerreiro, esculpiram seu corpo, transformando-o em arte. Após a transformação, seu físico
tornou-se como de um deus. Os braços e pernas musculosos brotavam de um tronco impecável, e os
ombros largos reforçavam a estrutura coroada por um caloroso sorriso; as sobrancelhas arqueadas
emolduravam os olhos cor de mar. Agora, Drusus estava passando por outra transformação, uma
novidade para ele, mas que todos nós conhecemos desde de sempre. Chamava-se amor à primeira vista.
Ele se retirou da cena dolorosa quando Theodora desmoronou em desespero diante de Héstia, a
Grande Sacerdotisa de Capri. Mas o jovem guerreiro tinha um plano. Naquela noite, um barco partiu de
Capri e um acordo comercial feito com Brutus (provavelmente por meio de algum tipo de persuasão
poderosa que talvez seja melhor deixar desconhecida) Antonia se mudou para uma residência pequena,
mas opulenta, em Pompeia, um apartamento que só podia ser de gente muito rica. Lá,Drusus se sentou e
segurou a mão da gêmea de Theodora. Ele se pegou olhando fixo nos olhos de Antonia – lindos e
emoldurados por grossos cílios enquanto lágrimas de gratidão se transformavam em gotas escorrendo por
seu rosto. Apesar de ela não lhe despertar desejo (como Theodora despertava), Drusus sabia que tinha que
proteger aquela humana a qualquer custo; ela era a outra metade de alguém que ele amava e era
necessária para que Theodora se sentisse completa.
Drusus fez uma promessa: ser o mensageiro oficial entre as duas até Theodora fazer sua
transformação, acreditando no fundo do seu coração que isso ocorreria. Ele retornou ao palácio com a
primeira mensagem de Antonia para Theodora.
Sua promessa ajudou as gêmeas a aguentar a separação. A possibilidade do reencontro entre as
duas, mesmo que demorasse anos, fazia Theodora manter a esperança. Ela se destacou nas aulas e
incorporou rituais. Antonia aceitou ajuda financeira de Drusus e abriu uma padaria na rua de um
açougueiro particularmente ébrio. Drusus, um homem de palavra, era visto com frequência indo e vindo
com presentes, pergaminhos e desenhos que uma irmã mandava para a outra, alguns dos quais
sobreviveram à passagem dos séculos. Ele continuou mantendo distância respeitosa de Theodora, mas sua
dedicação a ela era dolorosamente visível a todos, menos à própria Theodora. Até sua gêmea percebera a
ansiedade nos seus olhos quando ele apresentava uma carta de Capri e a segurava um pouquinho mais do
que o necessário, só para tocar em algo dela. A única sombra durante seus anos de espera era a ameaça
que Brutus representava.
Circulavam rumores sobre como a súbita perda de Theodora e Antonia inflamara seu notório gênio
ruim, mas as experiências com rituais Mitra o exacerbaram de modo caótico. Seus acessos de fúria
aconteciam do nada, seus empregados sofriam constantemente com a escalada da sua crueldade. As
pessoas o ouviam várias vezes murmurando, falando consigo mesmo e com as gêmeas ausentes. Os
escravos ficavam apavorados ao notar que aquilo era o indicativo de uma loucura galopante. Brutus
coagiu uma de suas escravas a tingir o cabelo, fazer as sobrancelhas e vestir as túnicas deixadas pelas
gêmeas. Ele caminhava a noite carregando as mantas que elas haviam deixado, abraçando-as, cheirando-
as. E, com a passagem do tempo, ele passou a tirar seu punhal da cintura e poli-lo com as mesmas mantas.
Brutus podia ser obcecado, mas não era idiota. Ele descobriu o paradeiro de Antonia e passou a
espionar. Via Drusus chegar e voltar para casa antes do amanhecer; e outras vezes o vampiro ficava no
apartamento até o dia seguinte. Brutus concluiu erroneamente que ele roubara Antonia para si, e ficou
louco só de pensar naquilo. Então resolveu que ia dar um jeito de retomar seus preciosos bens. Daria um
jeito de se vingar do guerreiro vampiro que as tomara dele.
Enquanto isso, Theodora surpreendia os veteranos de Capri com a rapidez com que aprendia e ainda
melhorava o que lhe ensinavam. A maior surpresa, entretanto, ocorreu na primeira vez em que ela traçou
um círculo mágico.
Enquanto conduzia a cerimônia, Héstia sentiu um surto de energia vindo de Nyx e olhou para os
lados, tentando identificar de onde vinha. Seus olhos pararam na jovem donzela que estava de pé, com os
olhos fechados, os braços tremendo ao sabor das ondas de energia que emanavam das pontas dos dedos.
Theodora lentamente se dirigiu ao meio do círculo, flutuante como se fosse um fantasma – o tecido de sua
túnica formava vagalhões extraordinariamente vagarosos, as pesadas tranças se desfizeram, formando
uma nuvem que lhe emoldurou o rosto. Os cílios grossos e negros repousaram nas maçãs do rosto quando
ela levantou o queixo e as mãos com a palma para cima, recebendo um dom invisível. Tudo no círculo
ficou mais lento; alguns presentes escreveram mais tarde que um pesado pente de ouro saiu de seu cabelo
e caiu lentamente no chão. ”Abençoada seja”, disse Theodora, dando voz à eterna promessa de Nyx.
Um elemento a reivindicara. Theodora fora escolhida para dar corpo ao elemento espírito.
O círculo foi encerrado, deixando Theodora acordada com a percepção renovada. A energia que ela
usara para explorar o mundo passou a se direcionar internamente, diminuindo-a, dando profundidade aos
pensamentos. El estava vendo o ambiente ao seu redor como muitos pintores tentam retratar em suas
telas, ou seja, quando os olhos conseguem enxergar três dimensões: além da aparência superficial,
a percepção do que cerca aquilo que vemos e a capacidade de transpassar o objeto ou o sujeito,
conhecendo-o por completo, conhecendo-o intimamente. Ela sabia... se concentrar. Observou suas mãos,
levantou-as em frente ao rosto e depois, ao olhar entre elas, deparou-se com um olhar firme de...
Drusus.
Drusus. Século I d.C. Afresco, Quarto Estilo. Palácio de Capri, Itália.
Pintura de desconhecido artista vampiro de Capri. Coleção de Pompeia,
Hall da História, Veneza, Itália.
Héstia escreveu sobre a profunda ligação entre eles, após o ato de reconhecimento de Theodora em
relação a ele naquela noite. Ignorando perguntas e comentários sobre sua demonstração de energia
durante o círculo, os olhos de Theodora se voltaram para Drusus quando ela entendeu enfim, o anseio no
rosto dele e se rendeu a sua força magnética. Eles se afastaram discretamente do povo e correram para a
praia da ilha. À medida que a água foi conduzindo os sons, muitos esticaram o pescoço para espiar e
sorrirem ao ouvir acidentalmente os momentos apaixonados que vieram a seguir. A partir desse momento,
eles quase nunca se separavam a não ser quando Drusus viajava a Pompeia por causa da troca de
mensagens entre as irmãs gêmeas.
Meses se transformaram em anos, e chegou o dia em que foi lançado um círculo mágico de
comemoração para pedir que Nyx abençoasse a vampira recém-transformada. Na reunião, Theodora
mergulhou no transe que produziu sua excepcional força no espírito. Desta vez, devido à finalização de
seu processo, o evento causou uma impressão muito mais forte. Todos ficaram de pé, mesmerizados
quando as velas flamejantes ficaram imóveis, enquanto partículas de pó flutuavam pelo ar. Mariposas
com asas congeladas em pleno voo projetaram sombras contra as paredes, e a fumaça suspensa
interrompeu sua languida ascensão flutuante, firmando uma teia transparente como gaze sobre todos.
Qualquer coisa que ela fitasse ficava imóvel.
O Transe de Theodora. Século I d.C. Afresco, Quarto Estilo. Palácio de Capri, Itália.
Os escritos de Héstia fazem menção a esse afresco pintado por um vampiro de Capri que testemunhou
o primeiro círculo de Theodora. Coleção de Pompeia, Hall da História, Veneza, Itália.
Quando o círculo foi encerrado, poucos repararam no rosto atormentado de Héstia, que depois
escreveu sobre sua preocupação ao ver uma pessoa tão inexperiente recebendo tanto poder. Naquela noite
de agosto, a Ilha de Capri comemorou a iniciação de Theodora e, com grande alegria, ela se preparou para
se reunir, enfim, com a irmã. No vigésimo terceiro dia eles partiram para encontrar Antonia.
Drusus se preparara para aquele momento. Ao amanhecer, quando o sol aqueceu o céu, ele se
ajoelhou diante de Theodora para se oferecer em Juramento Solene de Guerreiro. Dizem os relatos que
sua eloquência e sinceridade foram tão belas quanto a cena em si. Com um grito de alegria, Theodora
aceitou o juramento, e o Filho de Erebus tomou a jovem sacerdotisa em seus braços sob a aclamação dos
presentes.
O barco se aproximou do porto quando o sol ocidental lançou seu brilho dourado sobre a imagem
de Antonia. Ignorando o decoro, Theodora se jogou entre as velas do barco e pulou o vão entre o barco e
o deque, para se jogar sobre a sorridente irmã. As palavras escaparam tão rápidas e desajeitadas quanto as
lágrimas de alegria que caíram dos olhos delas. As gêmeas se abraçaram, e as duas metades voltaram a se
unir.
Naquela noite aconteceu a Vulcanália, Festival de Vulcano, o deus romano do fogo, e por todo país
as pessoas fizeram muitos planos. O povo amava a opulência e luxo; houve muitas festas, a mais notável
delas promovidas por Drusus em homenagem a Theodora e Antonia. Agora ele achava bem mais fácil
distingui-las. Vivendo à luz do dia,Antonia mudara: suas feições haviam se delineado e seu corpo tinha
uma fartura que não se via em jovens vampiras. Mesmo assim, ela era linda, o reflexo mortal das feições
quase atemporais de Theodora. Seus muitos amigos brindaram a elas várias vezes. Se Drusus tivesse se
entregado mais ao vinho que fluía à larga, não teria reparado na sombra que pairava sobre os portões do
saguão.
Brutus estava à espreita do outro lado dos muros, ouvindo as risadas e as histórias. Passaram-se
horas, sua tensão aumentou – tinha que se controlar para não derrubar o portão de ferro e retomar seus
bens. Como ele poderia destruir Drusus e recapturar suas escravas?
Imerso em sua sede de sangue, Brutus foi pego desprevenido quando alguém bateu com sua mão
em sem ombro. Trincando os dentes, Drusus voltou a usar seu poder de persuasão com o mercador, que
sumiu, furioso, por entre as sombras, segurando seu amado punhal e murmurando Mas elas são minhas,
MINHAS...
O sol matinal sangrou através da estranha névoa por toda a cidade. A maioria dos moradores
atribuiu aquilo a todas as festas e fogos da noite passada. A despedida das gêmeas à beira mar foi tão
difícil quanto antes: Theodora e Antonia derramaram lágrimas, mas também sorriram e trocaram
promessas. Seus dedos esguios emolduraram ternamente o rosto uma da outra e suas testas se tocaram;
cachos grossos e brilhantes se entremearam quando murmuraram entre si mais um segredo, como se
tivessem voltado a infância. Um último adeus e Theodora embarcou com Drusus acenando para Antonia
até não conseguir mais ver o véu vermelho com que a irmã acenava, despedindo-se também. Eles
entraram em seus alojamentos para dormir durante o retorno a Capri.
Horas depois, o mar ficou subitamente turbulento. Uma onda enorme içou o barco e o arremessou, a
embarcação bateu na água soltando um gemido. O céu começou a ficar matizado desde a praia. Podia-se
ouvir os gritos de uma frota próxima. Vieram, então outros vampiros partindo freneticamente em navios
pelas águas turbulentas em direção a Pompeia e Herculano. Héstia foi para o porto e explicou a visão que
tivera na noite anterior – perigo, calor, um cobertor de vapor e pó envolvendo a costa. Então ela parou e
apontou para o leste. Todos se viraram para ver a cena aterrorizante: o Vesúvio entrara em erupção, um
cogumelo negro de fumaça havia brotado e o fogo marcava o céu por várias milhas.
Muitos vampiros dormiram nas cidades vizinhas, os humanos já tinham começado seu dia. Todos
estavam correndo perigo. Theodora estava fora de si, querendo fazer a volta com o barco e tentando se
unir aos outros na missão de resgate. Enquanto todos corriam contra o tempo e as ondas batiam
furiosamente no barco, ela se agarrou aos corrimãos, com os cabelos e a túnica voando ao vento. Drusus
pegou remos extras e começou a remar com toda a força, acompanhado pelos demais remadores. Quanto
mais perto chegavam de Pompeia, mais pesada ficava a poeira e a quentura; barcos passavam por eles,
repletos de famílias humanas em fuga. Havia gente ferida, e os gritos de dor ecoavam pelas águas. Outros
tentavam fazer perguntas e engasgavam, os pulmões ardiam por causa dos gases.
Os vampiros foram informados sobre o que se passara: a terra tremeu e se contorceu naquela
cinzenta e estranha massa, rachando ânforas de vinho pelos pisos ladrilhados, que partiram braseiros
acesos e rapidamente geraram incêndios. O terror e a confusão generalizados – onde estão as crianças,
cavalos relinchando, o que fazer agora, não consigo respirar, não enxergo nada – resultaram em pânico, o
que libertou o lado primitivo do ser humano em luta pela sobrevivência. Os portões da cidade se
entupiram de carroças de animais e corpos, e começou a cair uma chuvarada ardida de pequenos pedaços
de pedras-pomes em brasa, o que gerou uma onda de pânico ainda maior entre a multidão. Alguns se
jogaram tropegamente nos barcos, outros morreram ao tropeçar e cais na fuga ou foram pisoteados pela
turba indiferente pelo desespero. Saqueadores se esconderam nas casas abandonadas. Um mesquinho
proprietário de escravos aproveitou a situação para fazer dinheiro, vendendo todos os escravos que tinha
para guardar as propriedades dos ricos. Os novos donos dos escravos fugiram, deixando-os para trás.
Theodora sabia que só podia ser uma pessoa.
A Ira de Vesúvio. Século I d.C. Afresco. Pompeia, Itália. A partir das lembranças de um vampiro
sobrevivente. Coleção de Pompeia, Hall da História, Veneza, Itália.
Os barcos finalmente ancoraram. Os vampiros rasgaram roupas de cama e as molharam no mar.
Depois, enrolaram-se nos panos para se proteger e abriram caminho com dificuldade em meio à multidão
que deixava a cidade.
Tudo estava coberto de poeira e bolinhas de chumbo do tamanho de grãos de arroz; o calor era
intenso. Os mais sábios haviam escapado, ao passo que outros espiavam pelas frestas das portas, com
medo de serem queimados pelas pedras-pomes em brasa. Uma criança berrava por perto em meio à densa
fumaça; ouvia-se soluços do interior de outra loja. Os vampiros se espalharam em busca de amigos e
vítimas. Theodora chamou Drusus para acompanhá-la até a padaria de Antonia. Logo se depararam com o
imóvel ainda de pé. Havia um corpo caído – o açougueiro, apunhalado com uma arma branca totalmente
cravada nas costas. Theodora ajoelhou-se e reconheceu o touro entalhado no cabo.
Brutus. Um pressentimento ruim lhe pesou os braços e pernas quando juntou as peças e se deu conta
do que havia acontecido. Ela disse a Drusus: Brutus deve ter vindo pegar Antonia e este homem morreu
tentando protegê-la... Brutus conseguiu o que queria, mas onde eles estão? O punhal, a gruta onde eles
fazem suas adorações fica na Morada dos Mistérios. Ele está com ela... ela está lá. Minha irmã está
presa em uma gruta com um louco. E ele jamais a deixará partir.
Theodora saiu da padaria em meio aos gritos de socorro de um bordel próximo. Outros vampiros
faziam de tudo para empurrar os humanos para o portão da cidade, quando o chão se elevou sob seus pés.
O vulcão expeliu uma nuvem ainda mais densa, que se espalhou pelas ruas. Outro imóvel emitiu um ruído
semelhante a um mugido, quando o teto desabou com aquele peso letal.
A gruta ficava a alguns quarteirões de distância. Eles jamais conseguiriam chegar lá; Antonia estava
condenada.
Vampiros sobreviventes ajudaram a registrar os eventos seguintes no diário de Héstia. Disseram que
Theodora fechou os olhos e parou, de cabeça baixa, no meio da rua, indiferente aos gritos de cuidado e à
própria pele chamuscando ao ser atingida pelos pedacinhos de chumbo. Ondas de poder começaram a
emanar dela quando abriu os braços vagarosamente, com as palmas viradas para o Vesúvio. Seus olhos se
abriram, sua concentração foi se voltando para o ar à sua frente, seguindo então pelas ruas acima,
atravessando a cidade, passando pelas montanhas e penetrando o coração do monstruoso vulcão.
Tudo o que havia no rastro de sua visão parou, imóvel, como estava, empacado na curva, ou caído,
ou tremendo. Ela empinou o queixo ligeiramente, os olhos vidrados, e a imobilidade se espalhou por toda
a cidade. Ela fechou os olhos e enrijeceu o corpo como as estátuas que marcavam as ruas. Em meio ao
silêncio, Drusus a ouviu sussurrar: Rápido.
Os vampiros atrás de Theodora pararam, perplexos, enquanto a onda que emanava dela avançava
pela cidade inteira, seus braços começaram a tremer devido ao esforço, e eles entenderam o que ela estava
oferecendo. Numa velocidade inumana, suas formas abriram buracos no ar carregado de cinzas, por trás
dos quais surgiram túneis ocos. Ninguém jamais tinha visto algo parecido antes, mas se adaptaram
imediatamente à estranha sensação e, à medida que apartavam a atmosfera, viram que se formava uma
trilha de fuga perfeita.
Drusus saiu pelas ruas arrasadas pulando corpos caídos, carroças quebradas e montes de tesouros,
até chegar ao seu destino. Forçando a porta, ele chamou Antonia, e uma voz frágil respondeu. Ele
atravessou o cenário desolado, achou uma porta escondida e desceu a escadaria sinuosa. Ao ver a cena no
subolo, levou um choque: Antonia, amarrada a um altar, com uma enorme estátua de um touro caída
sobre ela. Mas ainda estava viva.
Fazendo uma prece à deusa, Drusus puxou e empurrou a estátua, gentilmente tomando nos braços o
corpo ferido da gêmea de sua amada, e saiu cambaleando da caverna, saltando pelas ruas sombrias até
onde Theodora ficara.
Em frente à padaria, Theodora continuava de olhos fechados, olhando para dentro de si para
comandar as poderosas ondas e harmonizar os movimentos. Foi lá que Brutus a encontrou, exatamente
como esperava. Ela mordera a isca. Esta era a chance dele de recuperar a outra metade do par. O
açougueiro quase conseguira arruinar seu plano. Mas... agora! Tirando o punhal de junto do corpo, Brutus
sorriu. Theodora, você também é minha.
A corda pairou sobre sua cabeça e seus antebraços. Ele tentou puxar com força, mas, para sua
perplexidade, estava tão rígida quanto as colunas de mármore da cidade. Sem se deixar abalar, Brutus
passou sua mão por trás da cabeleira negra dela e levantou seu punhal. Minha. Minha...
Com um gesto hábil, abriu um buraco em seu pescoço e encaixou os lábios nele, enquanto Drusus
surgia de uma passagem empoeirada com Antonia.
Despertando de seu transe, Theodora abriu os olhos e se viu nos braços de Brutus, que a fitava com
olhos lascivos. Agora vocês duas serão minhas. Para sempre.
Chocada, Theodora viu que Drusus tinha nos braços o corpo ferido da irmã. Dentro dela algo se
rompeu, algo que ela não sabia que podia separá-la de seu ser. Em vez de lidar com Brutus e voltar a se
concentrar no espírito para proteger o povo em fuga, Theodora abandonou tudo. Jovem e inexperiente no
uso de seu dom, deixou-se consumir por uma onda de raiva que lhe turvou a vista. Theodora juntou
apressadamente todos os poderes antes direcionados ao vulcão. Trincando os dentes, rugiu para
Brutus: Nia, olhe para mim AGORA!. e atirou sua força vital com ódio e horror no homem que ousou ferir
sua irmã. Lenta e deliberadamente, Brutus foi levantado do chão e começou a girar cada vez mais rápido.
Depois, foi empurrado pela força invisível e voou para trás, sua cabeça se espatifou contra uma enorme
estátua de mármore, emitido um ruído de carne sendo esmagada. Seu corpo foi escorregando em
espasmos, deixando um rastro macabro até a base do monumento, onde caiu sentado junto à parede mais
abaixo. As cinzas voltaram a cair sobre Pompeia, imperativas, cobrindo Brutus imediatamente. E lá ele
permaneceu pela eternidade: pernas arreganhadas, boca aberta. O Vesúvio tomou a forma dele para si.
Theodora desmaiou na rua. A cratera sinistra explodiu lançando seu conteúdo para o céu. Tetos
caíram, paredes tombaram – o inferno começara.
Com o que restava de sua força de guerreiro, Drusus jogou o corpo dela sobre seu outro ombro. Ele
seguiu em direção ao portão da cidade, sentindo o calor dos pedaços de pedras-pomes que caíam
implacavelmente. Enfim apareceram mãos para ajudar, e eles alcançaram o barco. Os remadores
trabalhavam freneticamente para fugir da praia da morte, lutando por suas vidas, e os sobreviventes
exauridos seguiram para Capri.
Os vampiros no barco fizeram o melhor que podiam pelos três – os corpos foram lavados, e seus
olhos e bocas foram limpos. Ao tirar gentilmente a sujeira do rosto de Theodora, Héstia levou um susto,
depois piscou os olhos várias vezes. As tatuagens cor de safira de Theodora tinham desaparecido de sua
testa. Não havia explicação; até os mais experientes vampiros curandeiros desconheciam o que aquilo
queria dizer.
Entretando, os curandeiros reconheceram uma coisa:o caso de Antonia ultrapassava suas
possibiidades. Costas e costelas quebradas, quadris esmagados, e mais, as cinzas lhe tomaram os pulmões,
enfraquecendo seu corpo a cada minuto. Cada suspiro que dava evidenciava sua agonia; ela gemia,
inconsciente. Drusus perdeu a cabeça. Na esperança de revivificá-la, rasgou os próprios pulsos para forçá-
la a beber seu sangue. Ela despertou, mas o alívio foi breve.
Caída perto de Theodora, Antonia virou a cabeça e, com os olhos pesados, procurou a gêmia. Ela
gemeu, mas mesmo assim esticou o braço para entrelaçar seus dedos aos da irmã, e então voltou a cerrar
os olhos. Antonia sussurou: Espere... por mim.
Então, ficou imóvel.
Tomado pela dor e pelo medo, Drusus caiu de joelhos perante Héstia. Não! Isso não pode
acontecer, não posso perder Theodora também, não posso aguentar isso! Em Pompeia, ela desferiu seu
poder contra o mercador de escravos. Agora não está nem morta, nem viva! Como pode ser? Meu amor
não deixou marcas nela, e mesmo assim ela partiu; para onde?
Héstia sabia que Nyx tinha um enorme poder que era alimentado pelo mundo espiritual. Entretanto,
o mundo físico tinha suas próprias regras, e nem mesmo uma deusa podia ser capaz de comandá-las. A
transformação torna os vampiros quase atemporáis, mais nem por isso invisíveis.
Uma lição dolorosa.
Héstia pensou um pouco e depois balançou a cabeça, assentindo. Drusus, há um jeito, mas é algo
encoberto em mistério... inprevisível. Posso apenas tentar.
Os vampiros de Capri se reuniram ao redor de uma ampla mesa. De dentro de uma sacola muito
bem bordada, Héstia tirou dez pedras de mármore tão brancas que cintilavam. Cada uma delas tinha uma
runa talhada. Ela disse: Estas peças são antigas, e ninguém conhece ou entende o que querem dizer.
Reconhece-se que são de uma deusa, mas não são; elas vêm de uma profetisa que existiu muito tempo
antes de nossa hitória começar a ser registrada.
De olhos fechados, ela entrou em transe, levanou os braços, e seu corpo começou a balançar para a
frente e para trás. Ela falou numa lígua há muito esquecida, pedindo o reforço de forças sem nome.
E elas responderam. Uma voz de outro mundo brotou de seus lábios: Drusus, filho de Erebus,
guerreiro de Theodora, você deve abrir mão de si mesmo para encontrá-la. Precisa destruir a si mesmo
para salvá-la. Você precisa se entregar para que ela volte.
Héstia abriu os olhos e traçou um círculo na mesa em frente a Drusus, e depôs uma estrela dentro
dele. Pegou as pedras, levantando cada uma delas, permitindo que os fios prateados refletissem a luz das
velas, antes de retorná-las para dentro da sacola. E depois a segurou aberta para ele.
Drusus, permita que as pedras dentro da sacola encontrem sua mão enquanto você as tira. Coloque
cada pedra no meio de um dos arcos do círculo.
Ele seguiu as instruções, tirando uma por uma, deixando cinco pedras na sacola.
Agora, deixa que as pedras remanescentes o escolham também, e as coloque sobre a primeira série
de pedras, uma em cada ponta.
Mapa de Runas de Héstia. Século I d.C. palácio de Capri,
Itália.Cortesia do Museu de Literatura Vampírica, Londres,
Inglaterra.
Depois que as pedras foram correlacionadas,
Héstia as observou com cuidado e respirou fundo.
Drusus, só posso esperar que consigamos
entender as respostas às perguntas que fizemos às
forças superiores.
Ela apontou para uma runa de pedra que
tinha o desenho de uma árvore seca, que ficava
logo acima de outra com uma espiral que se
tornava mais grossa em direção ao centro.
A alma de Theodora foi fraturada,
ramificada. Suas energias mantêm sua vida acima
do chão, assim como a árvore, mas elas também
fluem para onde não enxergamos, levando-a para
as raízes de sua alma. Ela está próxima do reino
de Nyx, o Outro Mundo, mas não está inteira.
Apenas se fizer uma jornada em espírito será possível encontrar seus fragmentos e juntá-los.
Ela apontou outro par de pedras. E aqui está a ponte, para onde convergem as jornadas. Todos os
cruzamentos são desafios; por alguns só se passa uma vez, não há retorno. Aqui, estão combinados com
o espírito; eis onde a decisão será tomada. Héstia viu os perigos indicados nas outras três combinações e
seu posicionamento no círculo, mas parou nesse ponto.
Drusus era guerreiro de Theodora; então aquela era a tarefa dele.
Héstia encolheu os ombros. Drusus, este caminho você só pode seguir liberto das restrições do seu
corpo. O perigo é grande. Deixar seu corpo para viajar na energia de seu espírito é algo que ameaça
ambos os aspectos da vida: o visível e o invisível.
Ele balançou a cabeça. Tenho que ir. Vamos, mostre-me que caminho; a cada momento ela se
afasta mais de mim.
Lágrimas brotaram nos olhos de Héstia ao ver o desespero no rosto dele. Ela segurou sua mão e
disse: eu tenho um veneno. O excesso dele mata um vampiro, mas em doses pequenas e constantes, ele
manterá seu corpo em suspenso e libertará sua mente. É um risco terrível; eu terei de administrar cada
dose. Mas farei isso. Drusus, sinto que é um erro, mas farei isso.
Trouxeram-lhe a ampola e o corpo de Atonia foi carinhosamente carregado. Drusus a pôs em seu
lugar, ao lado de seu amor, segurando a mão de Theodora. Héstia desarrolhou a garrafa. Com o máximo
de cuidado, deixou uma gota diminuta escapar e cair entre os lábios dele.
De início, foi como se uma nova força estivesse explorando suas formas, ajustando-se a seus cantos
e fendas, testando a força e a flexibilidade de cada grupo muscular, enquanto o guerreiro tremia e se
retorcia. De repente, seu corpo ficou rígido, travado por um espasmo, enquanto seus lábios começaram a
florescer em cor de vasos de sangue, que estouraram e se espalharam por seu rosto. Os vampiros,
confusos, olharam para Héstia em busca de orientação. Ela pôs a mão sobre o coração dele e disse: Ele
está viajando. Vamos esperar.
Ela ficou ao lado dele, recusando ajuda para manter as doses de veneno. Às vezes os músculos de
Drusus começavam a tremer de repente, ou então ele gemia e murmurava frases ininteligíveis. Com a
passagem dos dias, seu rosto foi se transformando em uma careta de dor, com o maxilar trincado e os
lábios repuxados de agonia.
Após cinco dias, Héstia não aguentou mais. Mesmo exausta, reuniu os vampiros e traçou um círculo
ao redor dele, na esperança de conseguir transmitir a força que lhe restava para o guerreiro. Por um
momento, pareceu dar certo. Suas feições ficaram mais tranquilas; o cenho franzido pareceu mais
relaxado. Depois, Drusus abriu os olhos e começou a apalpar o próprio corpo a esmo, procurando sem
ver.
Não, Theodora, não faça a passagem! Não vá com ela! Eu estou aqui, você não me ouve?
Theodora!
Um grito primitivo irrompeu de dentro dele, fazendo-o levantar-se de uma vez só, como se um
enorme gancho o tivesse puxado pelo osso externo. Ele virou o rosto e se deu conta de onde estava.
Estendendo a mão para ela, ele disse: Héstia, me ajude...
Ela balançou a cabeça. Não posso fazer mais nada. Ela levantou a ampola: Seu corpo não tolera
mais nem uma dose disto.
E, para horror de Héstia, ele arrancou a ampola de sua mão. Antes que ela pudesse reagir, Drusus
virou a garrafa na boca. Sua cabeça caiu pra trás, os braços penderam do corpo e, com o sangue brotando
de sua pele, ele engasgou, dizendo: Theodora...
Então a força invisível o deixou, e os vampiros correram para perto. Héstia pôs a mão no peito dele
e teve certeza.
Drusus partira também.
Héstia virou-se para onde Theodora estava deitada e ofegou. Ela não estava mais apenas pálida,
estava quase transparente. À medida que a força vital se exauria de cada célula, o corpo dela liberou os
últimos traços de espírito que ainda estavam unidos a seu corpo nos últimos dias. A alma despedaçada de
sua jovem sacerdotisa havia partido para sempre.
O par jazia com as pontas dos dedos encostadas, como pinturas de mármore sobre um túmulo –
igualmente belos, igualmente frios. Os vampiros passaram os dedos carinhosamente na testa de cada um,
tocando o ponto onde antes brilhava uma lua crescente, depois, sobre os lábios calados para sempre e
descendo enfim até o meio do peito de cada um, onde antes batia um coração. De olhos fechados, os
vampiros levaram ao peito os punhos cerrados e disseram em uníssono “Merry meet outra vez”, rogando
que o casal voltasse a se encontrar.
O Ritual do Adeus dos vampiros, ainda que raro, é uma cerimônia de tocante beleza, imbuída da dor
brutal de uma perda. Qualquer um pode imaginar o que sentiram os vampiros de Capri durante a lua cheia
daquele mês. A dor que carregavam em si aumentou; as sombras prevaleceram e ninguém podia ignorar o
fato. Héstia arrancou as roupas e os cabelos de desespero, em público, fazendo a famosa declaração:
Como um vilão bêbado e obsceno, Vesúvio vomitou destruição sobre nossas amadas Pompeia e
Herculano. A beleza peculiar, a graça e o espírito dessas duas cidades mágicas jamais serão
reproduzidas. Não podemos ficar aqui em Capri, pois não aguentamos ficar perto de seus cadáveres
profanados. O Conselho Supremo dos Vampiros determina oficialmente que, a partir de agora, nosso lar
será em outra parte.
O palácio foi vendido.
A peregrinação teve início.
Você pode achar que, na situação de Theodora, teria tido força ou poder para fazer melhores
escolhas. Nenhum de nós sabe, novato, como seremos... até virmos a ser. Algumas coisas dependerão de
vocês, outras emanarão do amor da deusa, e o resto estará sujeito aos desdobramentos do tempo, de
acordo com as circunstâncias.
Mas saiba o seguinte: você foi escolhido, e tudo acontece por uma razão.
Quanto à jornada, os vampiros remanescentes de Capri se juntaram ao Conselho Supremo na busca
por um lar. Instalaram-se em Florença, iniciando uma efervescência artística que muitos ainda consideram
sem par em qualquer outro momento da história humana.
Capri: do Teto do Palácio. Século I d.C. Afresco.
Um estudo de despedida pintado
por Héstia antes do êxodo dos vampiros.
Mas, com o passar dos anos, o poder de Roma foi crescendo e se tornando mais intrusivo, e nossos
ancestrais começarem a procurar lugares mais remotos e aceitáveis.
Em abril de 421 d.C., a Grande Sacerdotisa TorcEllia viajava de Florença para o norte da Itália,
quando descobriu um assentamento curioso que fora construído por humanos na tentativa de escapar das
invasões bárbaras. Esse assentamento estava sendo construído sobre um sistema de ilhas feitas pelo
homem e cercadas por lagos. Torcellia sentiu uma familiaridade imediata com os humanos, bem como
com a ideia de construir um mundo protegido de forasteiros por uma fortaleza, e empregou a força e a
fortuna, o talento e a ingenuidade da sociedade vampírica na empreitada.
Os esforçados humanos aceitaram sua ajuda, tanto que, em 639 d.C., o último gesto da longa vida
de Torcellia foi entregar o Palazzo Ducale, hoje conhecido como Palácio do Doge, à nobreza humana que
lhe oferecera tanta gentileza e aceitação.
Bem de frente para o sombrio Mediterrâneo, situado de modo que Torcellia pudesse se sentar e
olhar de cima a cidade que viria a se chamar de Veneza, a Grande Sacerdotisa construiu uma fabulosa ilha
própria, onde decretou que o Conselho Supremo dos Vampiros havia finalmente encontrado seu lar fixo,
após séculos de inquietude e ânsia de ver o mar. Ela deu à ilha o nome de Clemente, em homenagem ao
guerreiro que se ligara a ela quatro séculos antes, logo depois que ela se transformou.
Hoje em dia, novato, nós temos o lar da Grande Sacerdotisa Vampira e nosso Conselho dirigente na
ilha de São Clemente, que adorna o Mediterrâneo como uma linda pérola logo após a costa de Veneza.
Existe mais, muito mais sobre nossa cultura nos corredores do Museu de História dos Vampiros de
São Clemente, que fica debaixo das salas do nosso Conselho Supremo. O mais sagrado de nossos
processos rituais, além de interpretações da evolução dos vampiros, encontram-se no santuário de Nyx,
outro ramo de estudo que você verá na House of Night.
À medida que o calouro estudar ao longo dos anos na House of Night, mais ficará sabendo sobre
nosso Conselho Supremo. No momento, é importante apenas entender que somos governados por nossa
benevolente Grande Sacerdotisa, que assumiu o poder com a força do voto de toda a sociedade vampírica.
Nossa Grande Sacerdotisa se reporta apenas ao Conselho Supremo dos Vampiros, que consiste em sete
Sacerdotisas, que foram escolhidas por sete distritos nacionais de vampiros e reverenciadas por sua
sabedoria e devoção a nossa deusa.
Ducado de ouro, Século XIV. Moeda comemorativa em reconhecimento à filantropia do Conselho Supremo dos Vampiros para com A cidade de Veneza.
Abençoada Seja. 2010. Um exemplo comum na ilha
de São Clemente é caminhar na névoa ao anoitecer.
Fotografia gentilmente cedida pelo Conselho
Supremo dos Vampiros. Veneza, Itália.
Essas oitos vampiras magnificentes são eternamente protegidas por nossos guerreiros, os Filhos de
Erebrus. Portanto, fique sossegado, novato, nossa Grande Sacerdotisa está instalada em nosso Conselho, e
tudo vai bem no mundo.
O Portal. 2010. Quando uma porta se fecha outra se abre;
novatos encontrarão iluminação
e poder em suas vidas por meio da orientação de Nyx. Fotografia
gentilmente cedida
pelo Conselho Supremo dos Vampiros. Veneza, Itália.
E EU COMEÇO...
Novato, este livro deve ser sua referência durante o seu primeiro ano na House of Night. Nós o incentivamos
a documentar seu crescimento físico, emocional e espiritual.
Esta página foi reservada para que você registre como vê o mundo neste momento. Agora é o seu começo na
senda de terceiranista.
Esta página lhe foi reservada para que registre como vê o sentido no deixar para trás o labirinto e entrar no
segundo ano na House of Night. As Asas de Eros o aguardam.
CAPÍTULO CINCO - PALAVRAS DE ESPERANÇA
DE COLEGAS NOVATOS
Haus Der Nacht. Frankfurt, Alemanha, 1085 d.C. Nyx existe em todas as estrelas e é refletida por
todos os ciclos da lua.
Apesar de talvez sentir medo e confusão, você está longe de ser o primeiro novato recém-marcado, algo
excitante e que transforma sua vida. Adolescentes humanos vêm sendo marcados há milhares de anos. Você não
está só. Quem já passou por isso entende seus medos. Eles gostariam de vê-lo firme e forte, jovem novato! As
seguintes citações são palavras de sabedoria de vampiros famosos de vários séculos, explicando como se sentiram
ao serem Marcados:
CHANDOS. c. 1589 d.C. Através de lentes infravermelhas, um vampiro
fotógrafo conseguiu capturar uma visão convincente da pintura original. As
tatuagens de Shakespeare acabam sendo apagadas depois por uma consorte
invejosa. A eliminação com pincel também faz recuar a linha do cabelo e o
envelheceu em relação à obra-prima original. A pintura alterada foi vendida
para a National Portrait Gallery de Londres, onde está hoje em exposição.
“Que esta verdade seja tornada ainda mais pura
pelo medo e pela dor, e mesmo assim,
se possível fosse, eu gritaria: ‘Dama Negra!
Marque-me outra vez... outra vez...’’’
– William Shakespeare
Dramaturgo
O pintor de Brygos, c. 470 a.C. O poeta segura uma harpa ao lado de uma
urna grega.
Do Museu Greco-Romano de História da Noite.
“Quando lembro-me desse momento,
não consigo seguir falando, pois eis que minha língua
se faz silente, e uma delicada flama me passa sob a pele de imediato;
e com meus olhos nada vejo, e meus ouvidos zunem,
e fico banhada em suor, em um tremor me percorre por inteiro.”
– Safo
poeta vampira laureada da Grécia Antiga
Roma, Itália. Século I a.C. Mármore. Cícero pediu que o escultor
o envelhecesse; diz-se que, ao
conhecê-lo pessoalmente, as pessoas costumavam considerar que
suas sofisticadas cartas pudessem
ser plágios, já que ele parecia muito jovem.
“Tenho Nyx como a guia mais certa e me submeto,
com implícita obediência, a Seus comandos sagrados.”
– Cícero
filósofo romano
Tibete. Século VIII. Seda bordada (thankga). Fotografia
gentilmente cedida pela House of Night da região do Himalaia,
Tibete.
“Naquele instante me tornei uma lótus em flor.
A água onde floresci era uma só lágrima de Nyx.”
– Green Tara
Grande Sacerdotisa tibetana
Salem, Massachusetts. Século XVII. Xilogravura. Gentilmente
cedida pela
Early American Literary Society, MA.
“Em meio a escuridão e decadência e medo,
minha Marca era um lindo farol de safira,
emprestando-me força levando-me rumo
à liberdade e rumo a Nyx.”
– Sarah Osborne
Marcada em 1692, quando foi presa durante o
Julgamento das Bruxas de Salem.
Shekinah. Sempre artista, Shekinah forjou sua própria máscara
mortuária ainda novata. Após completar a transformação, pôs o
molde no rosto e sentiu um calor estranho na testa. Ao tirar a
máscara, ficou embasbacada ao ver que sua lua crescente
recém-surgida estava gravada no gesso. Fotografia gentilmente
cedida pelo Hall de Grandes Sacerdotisas Vampiras, Veneza,
Itália.
“Se fiquei repleta de medo, incerteza e
apreensão no dia em que fui Marcada? É claro que sim.
Mas logo aprendi que o medo pode ser superado pela fé,
que a incerteza pode levar a novos começos, e que a apreensão
pode ser vencida pela convicção. Ser Marcada
tem relação direta com a magia das possibilidades...”
– Shekinah
Sacerdotisa Suprema dos Vampiros
O Soneto do Novato
Portanto, calouro, esperamos que a conclusão deste manual o deixe mais informado e, por
conseguinte, com mais convicção ao dar início a um novo caminho de vida na House of Night. Não se
esqueça de que você não está só, pois incontáveis novatos já percorreram a estrada que agora se abre à
sua frente. Procure seu mentor para conselhos e orientações, procure colegas novatos para ter companhia,
e procure Nyx quando precisar de consolo para as incertezas que surgirem.
Encerramos com uma prece poética, escrita em um estilo que se tornou conhecido, inclusive no
mundo humano, como soneto shakespeariano. Shakespeare já esteve na sua posição, encarando o abismo
de uma das maiores e mais mágicas aventuras da vida. Rogamos sempre que abençoados sejam...
O Soneto do Novato
Sê forte e são ao de Nyx bênçãos ganhar
Tens de ser firme ainda que o medo ameace
Seja em dias sombrios e noites de eterno durar
Que a deusa com amor tua trilha trace
Murmúrios não ouças; repila-os então
Orgulho não é a morte e não governa tua vida
Como pó ele é varrido se Nyx ouve tua aflição
Com o punhal da deusa, Átropos o trucida
A Morte não ouças; mas abraces a Esperança
Ela é irmã de Nyx, nossa matriarca
E saúdes a Alegria, que te dará segurança
É teu o nosso regozijo, ó tu que tens a Marca
Com esta prece enxoto tristeza, medo e rudez
Merry meet... merry part... e merry meet outra vez!
Essa versão e divulgação foi feita pelo Blog Livros On-line. O Blog Tentando Escapar só organizou em
forma de pdf para melhor visualização, não tirando em nenhum momento os créditos de quem
realmente o fez.
Autora do Blog: Karina. Colaboradores: Roselaine Janaina, Bruna Theodoro, Nábylla Castro e Manu Matos
Fonte original: http://bloglivroson-line.blogspot.com.br/2014/08/manual-do-novato-101.html
Link do Blog Livros On-Line: http://bloglivroson-line.blogspot.com.br/
Link do Blog Tentando Escapar: http://tentando-escapar.blogspot.com.br
TODA LEITURA DEVE SER COMPARTILHADA!!!
Viajar pela leitura
Viajar pela leitura
sem rumo, sem intenção.
Só para viver a aventura
que é ter um livro nas mãos.
É uma pena que só saiba disso
quem gosta de ler.
Experimente!
Assim sem compromisso,
você vai me entender.
Mergulhe de cabeça
na imaginação!
Clarice Pacheco