A primeira usina, os editais de compra, as pesquisas … de apoio... · existe na Espanha e em...

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tèchne | Edição 170 - Maio de 2011 p. 52 a 61 CAPA Força solar A primeira usina, os editais de compra, as pesquisas acadêmicas e a chegada de fabricantes aquecem a tecnologia fotovoltaica no País A Usina MPX Tauá utiliza módulos de 1,50 m x 0,99 m, pesando 18 kg cada. Eles foram trazidos do Japão pela fabricante Kyocera e, em funcionamento, com potência nominal de 1 MW, podem abastecer por mês 1.500 famílias da região. A obra recebeu aval da Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Ceará (Semace) e firmou parceria com os pesquisadores da Universidade Estadual do Ceará (Uece) Perfilados num terreno em Tauá, a 350 km de Fortaleza, 4.680 módulos fotovoltaicos começarão a captar luz solar e a produzir energia. A usina, concluída em maio, é uma iniciativa inédita no País colocada em ação pelo empresário Eike Batista, sócio majoritário do Grupo EBX. No total, foram investidos R$ 10 milhões, com apoio de US$ 700 mil do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Além de acrescentar 1 MW à rede elétrica, o sistema dará informações importantes aos pesquisadores sobre o potencial efetivo de exploração de energia fotovoltaica em território brasileiro. O que se sabe até então são informações documentadas na Europa, América do Norte e Ásia, que há 20 anos tiram o melhor proveito dessa energia limpa e renovável. Driblar essa falta de expertise foi, inclusive, um dos principais desafios do projeto em Tauá, como relata Lucio Coelho, gerente de negócios da MPX (leia a íntegra da entrevista a seguir). Essa experiência é importante também para se completar, no País, o leque das cinco possibilidades básicas de uso dessa tecnologia. "Já temos exemplos de

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tèchne | Edição 170 - Maio de 2011 p. 52 a 61

CAPA

Força solar

A primeira usina, os editais de compra, as pesquisas acadêmicas

e a chegada de fabricantes aquecem a tecnologia fotovoltaica no

País

A Usina MPX Tauá utiliza módulos de 1,50 m x 0,99 m, pesando 18 kg cada. Eles foram trazidos do

Japão pela fabricante Kyocera e, em funcionamento, com potência nominal de 1 MW, podem abastecer

por mês 1.500 famílias da região. A obra recebeu aval da Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Ceará

(Semace) e firmou parceria com os pesquisadores da Universidade Estadual do Ceará (Uece)

Perfilados num terreno em Tauá, a 350 km de Fortaleza, 4.680 módulos

fotovoltaicos começarão a captar luz solar e a produzir energia. A usina, concluída

em maio, é uma iniciativa inédita no País colocada em ação pelo empresário Eike

Batista, sócio majoritário do Grupo EBX. No total, foram investidos R$ 10 milhões,

com apoio de US$ 700 mil do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Além de acrescentar 1 MW à rede elétrica, o sistema dará informações importantes

aos pesquisadores sobre o potencial efetivo de exploração de energia fotovoltaica

em território brasileiro. O que se sabe até então são informações documentadas na

Europa, América do Norte e Ásia, que há 20 anos tiram o melhor proveito dessa

energia limpa e renovável. Driblar essa falta de expertise foi, inclusive, um dos

principais desafios do projeto em Tauá, como relata Lucio Coelho, gerente de

negócios da MPX (leia a íntegra da entrevista a seguir).

Essa experiência é importante também para se completar, no País, o leque das

cinco possibilidades básicas de uso dessa tecnologia. "Já temos exemplos de

sistema fotovoltaico de bombeamento, o isolado, o híbrido e de eficiência

energética", detalha Roberto Barbieri, responsável pelo Grupo Setorial de Sistemas

Fotovoltaicos da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee),

criado em setembro de 2010. "Todos, no entanto, estão num estágio muito

incipiente", completa Roberto Zilles, professor do Instituto de Eletrotécnica e

Energia da Universidade de São Paulo (IEE-USP). Ele há anos se dedica a pesquisar

o assunto e recentemente lidera o Projeto 120 Telhados Fotovoltaicos, que promove

a instalação desses sistemas na cobertura de casas de seis Estados brasileiros - Rio

de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Pará. "É

uma parceria entre universidades, centros de pesquisa e concessionárias de energia

elétrica para que possamos planejar a exploração dessa energia em larga escala em

telhados de consumidores residenciais", diz Zilles.

Os moradores deste condomínio vertical, no

vilarejo de Tuebingen, próximo a Stuttgart, na

Alemanha, chamaram os engenheiros da

empresa Sunways AG para projetar um sistema

de captação solar, que promovesse a eficiência

energética plena das unidades. Módulos

fotovoltaicos foram instalados na cobertura e na

fachada, em 2003, gerando 52.400 kW por ano.

Bem-sucedida, a proposta ainda conquistou o

prêmio Solar Prize da edição de 2009

Quando o prédio já construído recebe um

sistema de captação de energia solar, a obra

chama-se Building Integrated Photovoltaic

(BIPV). Será esse o preceito adotado no projeto

megawatt, na sede da Eletrosul, em

Florianópolis.

A especificação técnica para a planta solar na

cobertura do prédio é assinada pela Lahmeyer. O

projeto tem um investimento estimado em R$ 10

milhões e financiamento de R$ 2,8 milhões do

banco alemão KfW

Além de pesquisas, o mercado de energia fotovoltaica no Brasil urge por demanda

para deslanchar. E para isso acontecer, é preciso que engenheiros e arquitetos

conheçam o potencial da energia solar, o funcionamento de sua cadeia produtiva,

as oportunidades, os desafios e as tendências. Estando bem informados, os

profissionais poderão se animar a especificar uma planta de energia solar em seus

novos projetos, bem como notar a revolução comercial que essa energia promoverá

em breve, como acredita o Grupo.

Propostas arquitetônicas

O Genomic Center, projetado para ser o

laboratório da empresa farmacêutica Pfizer,

no complexo da Universidade de Granada, na

Espanha, dispõe de uma planta solar com 229

módulos fotovoltaicos. Os equipamentos

captam a luz solar e fornecem 19.300 Wp

(watt pico). Projeto dos arquitetos E.

Vallecillos e E. Rodríguez, concebido em 2010

A luz natural tão temida em instituição de arte,

por prejudicar a vida útil das obras, agora

começa a ser bem-vinda e bem-aproveitada. Em

Roma, na Itália, o museu de arte The Maxxi,

idealizado em 2010 pela arquiteta Zaha Hadid,

exibe um anexo assinado pelo escritório Rintala-

Eggertsson Architects com discretos 16 módulos

solares. O sistema tem capacidade para 716 kW

Legislação

Dois projetos relacionados ao assunto tramitam no Congresso Nacional. O PL

630/03 propõem um fundo para financiar pesquisas e fomentar a produção de

energia elétrica e térmica a partir das energias solar e eólica. Já o PLS 311/09

defende o Reinfa Regime Especial de Tributação para o Incentivo ao

Desenvolvimento e à Produção de Fontes Alternativas de Energia Elétrica

(Reinfa) e estabelece medidas de estímulo à produção e ao consumo de

energia limpa. A Abinee também começa a estudar parâmetros para sugerir

uma Norma Técnica Brasileira de sistemas fotovoltaicos.

Da descoberta à aplicação

Desvendado o efeito fotovoltaico no século 19 (confira a linha do tempo abaixo), os

cientistas logo se debruçaram em vários estudos a fim de se encontrar

semicondutores eficientes para produção de energia elétrica.

Dessas experiências, o silício foi o material que mais se destacou numa equação

que buscava boa performance energética e ótimo custo-benefício. O que não se

levava em conta na época, - mas hoje, já está em pauta - é o impacto ambiental

que a produção convencional desse material provoca no Planeta.

O silício é extraído do quartzo - mineral existente com fartura nas jazidas

brasileiras. "Ele quando reduzido por uma fonte de carbono (carvão vegetal ou

Coque) ganha o status de grau metalúrgico", detalha João Batista Ferreira Neto,

coordenador do Laboratório de Metalurgia e Materiais Cerâmicos do Instituto de

Pesquisas Tecnológicas (IPT), em São Paulo. Como ainda não há no Brasil indústria

com capacidade para encarar a segunda etapa de industrialização do material, lotes

desse silício embarcam em navios rumo à Ásia e à Europa, para passar por uma

"rota química", chamada de processo Siemens, na qual o mineral se purifica

alcançando o estágio de Silício Grau Solar (SiGS).

Linha do tempo

� O fenômeno físico que permite a conversão da luz em eletricidade foi

descoberto, em 1839, pelo físico francês Alexandre-Edmond Becquerel (1820-1891).

� Em 1873, Willoughby Smith (1828-1891) documentou o efeito fotovoltaico

em sólidos com o selênio. A primeira célula fotovoltaica com esse metal foi lançada quatro anos depois.

� O cientista Albert Einstein (1879-1955) ganhou seu primeiro Prêmio Nobel,

em 1921, graças aos estudos sobre o efeito fotovoltaico, junto à Teoria da Relatividade.

� Recorrendo às pesquisas de Jöns Jakob Berzelius (1779-1848), cientistas

testaram com sucesso módulos fotovoltaicos com silício em 1954, nos Laboratórios Bell, Estados Unidos.

� Em 1881, dois anos após a criação da lâmpada incandescente, Thomas Alva

Edison (1947-1931) patenteou um contador químico para medir com exatidão

a energia consumida, notando o potencial de vender a eletricidade como artigo de consumo.

� Em 1918, o cientista polonês Jan Czochralski (1885-1953) desvendou um método para a produção de silício monocristalino.

� Outra liga importante no efeito fotovoltaico de equipamentos robustos, o

cádmio-selênio, surge em 1932. Nove anos depois, ocorre a fabricação da primeira célula com essa composição.

� As primeiras células de germânio foram produzidas em laboratório em 1951.

� Em 1955, inicia-se a utilização de células solares em satélites com o

lançamento do Vanguard I, seguidos por Explorer III, Vanguard II e Sputnik

III.

� Na década de 1970, surgem nos EUA sistemas fotovoltaicos para aplicações em áreas rurais para bombeamento de água.

� Israel foi o primeiro país, em 1980, a estabelecer uma política pública de energia solar. Em 1983, a produção atingia 20 MW.

� Em 1984, pela primeira vez, um prédio residencial insere módulos

fotovoltaicos na cobertura. A obra em Huvudsta, na Suécia, feita logo após

um incêndio no sótão do edifício, sanou as más impressões deixadas no acidente.

� Em 1985, as células fotovoltaicas atingem maiores eficiências de conversão

e despontam as primeiras usinas solares na Europa e nos Estados Unidos.

� Em 1994, aconteceu a primeira Conferência Mundial Fotovoltaica, no

Hawaí.

� A capacidade instalada mundial de energia solar, em 2004, era de 2,6 GW, cerca de 15% da capacidade instalada de Itaipu (naquela época).

� Inaugurada, no dia 27 de março de 2007, a Central Solar Fotovoltaica de

Serpa (CSFS), em Brinches, Portugal. Segundo os últimos relatórios, produz 11 MW.

Fontes: livros - A História dos Medidores de Energia Elétrica e O Panorama do Setor de Energia no

Brasil. Sites - Photovoltaic Database (www.pvdatabase.org); América do Sol (www.americadosol.org);

Britannica (www.britannica.com); Albert Einstein (www.einstein-website.de).

Seis tendências

1) Para evitar no futuro a presença de obras

com sistema fotovoltaico subutilizado, devido

à construção de uma torre alta no seu

entorno "roubando sua luz", os especialistas

recomendam a elaboração de regras e

legislações, que podem ser chamadas de Lei do Direito ao Sol, como ocorre na Inglaterra.

2) A vida útil de uma placa fotovoltaica é de

20 a 25 anos. Apesar dessa longa duração, a

política de descarte para esses resíduos deve

ser prevista neste momento. Os fabricantes

podem, por exemplo, começar a investir em

centros voluntários de aproveitamento e

reciclagem dos módulos descartados, como já

existe na Espanha e em outros países. Saiba mais no site www.pvcycle.org.

3) A terceira geração de células fotovoltaicas

promete utilizar semicondutores que

dependam da junção p-n para separar

partículas carregadas por fotogestão. Esses

novos dispositivos incluem células fotoeletroquímicas e células de nanocristais.

4) Em breve, o mercado de trabalho vai

necessitar de profissionais para projetar os

sistemas de Net Metering. Por isso,

associações brasileiras como Associação

Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica

(Abinee) vão recomendar às academias a inclusão dessa disciplina na

formação de arquitetos e engenheiros. Na grade curricular de faculdades estrangeiras já consta a matéria "Building Integrated Photovoltaics".

5) Há apostas de investimento de energia heliotérmica. Nela, utilizam-se

concentradores solares para aquecer fluidos e gerar eletricidade. O princípio

de funcionamento de uma usina heliotérmica é similar ao de uma

WestendGate é uma torre empresarial

construída em 1976, em Frankfurt,

Alemanha. Notando que o consumo de

energia subia ano a ano, os

responsáveis pelo prédio, junto à

empresa Baumgartner GmbH e a

Sunways AG, assumiram uma

audaciosa intervenção: aplicar finas

camadas de silício amorfo sobre as

placas de vidro da fachada.

termelétrica, com a diferença de que o calor que alimenta as turbinas é gerado pela luz do sol.

6) Como já divulga o Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), nos

Estados Unidos, no futuro, além de usinas, empresários vão investir em

reatores solares, que transformam a luz do sol em combustível líquido

armazenável e transportável.

Diferença entre os dois tipos mais tradicionais de módulos fotovoltaicos

Silício Cristalino (c-SI)

imNele, as células de

silício e os outros

compósitos são

encapsulados para

garantir a proteção à

intempérie. Em geral, eles

são montados em perfis

de alumínio para oferecer

rigidez mecânica. Já a

fiação e os equipamentos

elétricos têm proteção

antitérmica para evitar

rompimentos diante das

mudanças bruscas de

temperatura.

Silício amorfo

hidrogenado (a-Si:H)

As células nesse modelo aparecem

em finas camadas de silício (0,5

μm de espessura), com uma

estrutura amorfa, o que diminui a

sua eficiência quando comparada

às células cristalinas. Para fabricá-

las, o semicondutor é depositado

sobre um substrato de vidro ou

inox em estado gasoso. Depois,

camadas condutoras transparentes

são adicionadas para transmitir a

corrente elétrica. Por fim, um laser

é usado pra dividir a superfície em

diversas células.

Entenda como funciona o fenômeno fotovoltaico

*Etil Vinil Acetato (EVA)

A matéria-prima então comprada no País por um

valor ínfimo torna-se um produto beneficiado

vendido no mercado por fornecedores estrangeiros

a preço de ouro. É justamente essa versão

aprimorada do silício a base para se confeccionar a

célula fotovoltaica - ela ao ser embutida nos

módulos solares fica responsável pela

transformação da luz solar em energia elétrica.

(Confira acima os dois tipos de silício mais usados

pelos fabricantes).

Complexa e onerosa, a industrialização na rota

química é também uma alta consumidora de

energia. Segundo Neto, em apenas uma etapa do

processo é necessário usar em média 200 kWh por

quilo de produção de silício. "Se a matriz energética

dessa produção usar carvão mineral ou petróleo (o

que é usual), a emissão de dióxido de carbono

passa a ser altíssima", completa ele. Cabe observar

que toda essa mobilização industrial para

confeccionar o SiGS vale a pena porque ao embutir

a célula solar no módulo fotovoltaico, forma-se um

equipamento com vida útil estimada entre 20 e 25

anos. "Imagine que durante esse período ele vai produzir milhares de kWh sem

provocar mais nenhum impacto para o meio ambiente", analisa o pesquisador do

IPT.

Com o cronograma das obras da

reforma em dia, o Mineirão (MG)

poderá ser o primeiro estádio da Copa

do Mundo de 2014 com sistema de

captação de energia solar. O vencedor

da licitação desse serviço poderá

instalar módulos fotovoltaicos com

capacidade inicial de 640 kW. O projeto

é conduzido pela Minas Arena,

Companhia Energética de Minas Gerais

(Cemig) e pelo arquiteto Bruno

Campos, sócio do escritório BCMF

Arquitetos

O que é Net Metering?

Uma política de incentivo que, quando implantada oficialmente para energia

fotovoltaica, permitirá que o dono do empreendimento residencial ou industrial com

sistema solar direcione a energia excedente para a companhia energética local em troca de descontos na conta mensal.

Esse novo modelo de negócio exige investimento e instalações de cabos e

equipamentos, como os medidores inteligentes, os smart meters, ou tarifadores

bidirecionais. Por meio deles, cada consumidor conseguirá saber exatamente seu

consumo por dia e mês, podendo ainda calcular e controlar os bônus que devem ser

encaminhados pela companhia. Haverá no futuro a chance desses consumidores

venderem essa energia à Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) ou

a leilões de energia, como já acontece com a fonte eólica. Quem investe numa

planta solar deve seguir algumas regras. Segundo a Agência Nacional de Energia

Elétrica (Aneel), a resolução normativa 390/2009 determina que os autoprodutores

de energia, com potência instalada de até 5 MW, registrem o sistema após a obra.

Instalações com potências acima desse valor precisam requerer pedido de autorização prévio à idealização do empreendimento.

Nos dois casos recomenda-se ainda comunicar a empresa de energia da região.

Documentar essa malha energética evitará acidentes, pois, antes de um serviço de

manutenção em determinados bairros, será necessário acionar todos esses

fornecedores para o desligamento total da rede. Do contrário, um funcionário da

companhia pode ser surpreendido com uma descarga elétrica fatal durante seu

serviço.

O registro dessas informações também favorece a atualização dos dados oficiais

dessa energia. Vários pesquisadores acreditam que existam 55 sistemas solares em

operação no País totalizando 350 kW, embora o site da Aneel informe apenas cinco

unidades registradas, totalizando 87 kW.

Notando que esse ponto do processo expõe a energia solar em polêmicas

discussões sobre sua relevância como fonte sustentável, vários fabricantes das

peças do sistema de energia solar na Alemanha, Portugal, Espanha, Japão e,

recentemente, no Brasil, investem na substituição da rota química pela rota

metalúrgica para produção de SiGS. Essa investida prevê, entre outros destaques,

uma produção "química" de silício grau solar tendo como prerrogativa um processo

com matrizes energéticas renováveis ou de baixo impacto ambiental. Neto e outros

pesquisadores do IPT lideram uma pesquisa do gênero, orçada em R$ 10 milhões,

patrocinada pelo Fundo Tecnológico do Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico e Social (BNDES), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e

Comércio Exterior e apoiada pela Companhia Ferroligas Minas Gerais (Minasgas).

Os resultados dessa incursão podem aparecer daqui a dois anos.

Soma-se a essa investida outra novidade. Começam a despontar no Brasil

empresas interessadas em criar uma linha nacional de produção e montagem dos

módulos de placas fotovoltaicas, prevendo, inclusive, a confecção de célula solar

com SiGS (ainda importado). "A partir de maio, as novas máquinas já começam as

operações para iniciarmos essa produção", conta Bruno Topel, da empresa

Tecnometal Energia Solar. Com isso, os engenheiros que forem projetar novas

usinas fotovoltaicas no País não mais irão depender exclusivamente de módulos

fotovoltaicos importados, o que onera o orçamento do projeto, inviabilizando a ação

do sistema em vários empreendimentos.

Estádios

Já despontam no calendário da construção civil do País obras com captação de

energia fotovoltaica em operação e muitas outras em projeto (veja infográfico). Aos

interessados em acompanhar os novos empreendimentos, recomenda-se atenção à

publicação de editais, referente à contratação de empresas chamadas integradoras.

Elas orientam nas especificações do sistema e instalam os modelos escolhidos. Em

maio de 2011, estão previstos dois editais.

O da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig Distribuição) é para as

instalações da cobertura do estádio da Copa 2014 Governador Magalhães Pinto,

conhecido como Mineirão, em Belo Horizonte. Já o da Companhia de Eletricidade do

Estado da Bahia (Coelba) diz respeito à cobertura do estádio esportivo de Pituaçu,

em Salvador, que conta com o apoio do Programa Energia do Governo Alemão

(GIZ) e a parceria do Instituto Ideal além da Universidade Federal de Santa

Catarina (UFSC). Em ambos os casos, o sistema ficará ligado diariamente. Assim

poderá fornecer energia para o estádio e ainda encaminhar o excedente para a

companhia de energia local. "É a política de Net Metering, que prevê permuta e

desconto na conta de luz do estádio com captação fotovoltaica", conta Ana

Christina Mascarenhas, assessora de Eficiência Energética da Coelba. "Dessa forma,

os estádios tornamse também usinas solares e ainda se enquadram nos programas

de compensação de eficiência enérgica", reflete Barbieri, que sugere estender a

investida para as ociosas coberturas de shoppings e de aeroportos.

Novos negócios

Lucio Coelho detalha o projeto da usina solar e adianta

outras iniciativas.

Quando a MPX começou a estudar

investimentos em uma usina solar?

A MPX investe no potencial da energia solar

desde 2008, quando iniciou as atividades de

pesquisa e desenvolvimento na área. A empresa estudava a implantação de uma unidade solar

fotovoltaica com geração de energia em escala

comercial, reforçando sua estratégia de diversificação da matriz energética e de

desenvolvimento de fontes alternativas.

Qual foi o primeiro passo para idealizar

esse projeto?

Visitamos usinas que são referência em diversos

países, principalmente na Alemanha e Espanha. Para a elaboração do projeto, contamos com a consultoria da

norte-americana Namasté Solar.

Quando começou a implantação da MPX Tauá?

O projeto da usina solar foi concebido e amadurecido pela equipe de pesquisa e desenvolvimento da MPX, que iniciou os estudos em

2008. A partir da decisão quanto à implantação da usina, em

setembro de 2010, a MPX Tauá começou a execução da obra.

Quais foram os desafios encontrados para concretizar MPX

Tauá?

Falta de experiência anterior no País na implantação de plantas de

geração de energia solar de porte comercial conectado à rede elétrica. Como não havia fornecedores de painéis solares

nacionais, precisamos importar. Conseguimos aproveitar a mão de

obra local para as atividades de preparação do terreno da usina e para a construção das edificações. Outro desafio continua a ser a

obtenção de condições de comercialização compatíveis com o

Lucio Coelho

é diretor da usina MPX Tauá

e gerente de

negócios da MPX

investimento necessário para viabilizar projetos de energia solar no Brasil.

Qual foi o investimento total na compra das placas fotovoltaicas importadas do Japão?

[A empresa não comenta o preço de aquisição dos equipamentos.]

O fato de as placas serem importadas onerou o orçamento

desse projeto?

[A empresa não comenta o preço de aquisição dos equipamentos.]

A energia de Tauá será vendida diretamente ao consumidor

ou a negociação envolve a venda dessa energia à

companhia de energia local?

A energia produzida será injetada na rede elétrica nacional pela

subestação de Tauá. Ainda não foram firmados contratos de venda de energia. [A construção da rede elétrica de 13.8 kV que ligará a

usina solar ao sistema da Companhia Energética do Ceará também

está em fase de finalização.]

Além da Usina Tauá, a MPX já faz estudo para outras

investidas em energia solar?

Além do projeto de ampliação de Tauá (a empresa tem licença

para expandir a planta a 5 MW e área para gerar 50 MW), a MPX estuda a possibilidade de implantar a primeira planta brasileira de

geração termossolar. Essa planta será localizada junto à usina

termelétrica MPX Pecém II (360 MW), que a empresa constrói nas proximidades do Porto do Pecém, também no Ceará. A unidade

será responsável por aquecer, por meio de energia solar

concentrada em painéis, a água de alimentação da caldeira da termelétrica MPX Pecém II e com isso aumentar a eficiência da

usina, reduzindo o consumo de carvão e as emissões de gases.

Outras demandas

A implantação de sistemas fotovoltaicos em casas localizadas em

área de difícil acesso à rede elétrica convencional também está em

expansão. Projetos do governo, como Minha Casa, Minha Vida e o

Programa Nacional de Universalização do Acesso da Energia

Elétrica, conhecido como Luz Para Todos, fazem uso dessa

proposta. Os dois modelos em prática são: o isolado, aquele que

prevê um poste com o módulo fotovoltaico, um inversor e uma

bateria. Ou, minirredes, quando as casas estão próximas uma das

outras. Essas residências podem consumir em média até 30 kWh,

o suficiente para o funcionamento de três lâmpadas fluorescentes

compactas, uma televisão de 20", antena parabólica, liquidificador,

DVD e microsystem. Todos que fazem parte desse programa

pagam conta de luz à concessionária local.

Já a opção de sistema fotovoltaico de bombeamento promete ficar

estável. Constituído por um gerador fotovoltaico, equipamentos de

condicionamento de potência e por um grupo motobomba, ele

auxilia pequenos produtores a transformar energia solar em

energia elétrica e esta em energia mecânica. É comum adotar esse

sistema em conjunto com geradores eólicos ou a diesel.

Módulos fotovoltaicos servem de beirais

quando posicionados na horizontal sob as

janelas da construção. Nesta casa de 280 m²

em Ile Saint-Germain, Paris, o arquiteto

Pascal Gontier agradou os donos da casa com

essa intervenção.

Segundo ele, os edifícios energeticamente

eficientes e modernos destacam-se não só

pelo conceito da integração de diferentes

tecnologias, mas, em especial, por trazerem novas oportunidades para

combinar função e design sofisticado. Como o projeto é recente, ainda não foi

informado seu potencial energético

Na Europa, América do Norte e Ásia, já é possível customizar a cor dos

módulos fotovoltaicos, que costumam ser fabricados em azul. Na exposição

Solar Decathlon Europe 2010, em Madrid, a Universidade de Stuttgart, na

Alemanha, expôs em um estande módulos com fundo em bronze e dourado.

Se os 3.700 módulos forem instalados numa construção, vão poder fornecer

10.600 kW hora por ano

A energia em números

O País, de acordo com a Aneel, possui 2.393 pontos de geração de energia produzindo 114.057.264 kW de potência, com previsão de

expansão de 47.353.754 kW. Dessa somatória, calcula-se uma

participação tímida da energia solar e de certa forma imprecisa devido à falta de registro de alguns autogeradores. Num gráfico

comparativo da agência, prevendo o funcionamento da Usina de

Tauá, com o pico de produção de 5 mil kW (estimativa prevista numa ampliação da usina), a energia solar com esforço atinge o

índice de 0,03%. Já as hidrelétricas detêm mais de 70% do

fornecimento, diante da tradição secular do País na exploração dos recursos hídricos.

Atenção ao cenário

O profissional interessado em trilhar negócio com a energia solar

deve ficar atento também às informações de algumas consultorias.

O MEX (Wilder Hill New Energy Global Innovation Index), índice

criado pela New Energy Finance para medir investimentos em

energia limpa, subiu mais de 12 pontos entre os dias 11 e 17 de

março. A data coincide com o momento em que aconteceu o

terremoto e a tsumani no Japão, que culminou com o vazamento

de material radioativo da usina de Fukushima dando início a uma

crise nuclear. Esse acidente, inclusive, colocou em "alerta máximo"

a importância de se pensar agora sobre os investimentos de

captação de energias renováveis e seguras. E nessa lista, a

energia solar aparece num iluminado destaque.

Juliana Tourrucôo

SITES SOBRE O ASSUNTO

Agência Internacional de Energia

www.iea.org

Agência Internacional de Energia

Renovável (Irena) www.irena.org

América do Sol www.americadosol.org

Associação de Indústrias Fotovoltaicas Europeias

www.epia.org

Associação de Indústrias Solares

da Alemanha (BSW) http://en.solarwirtschaft.de

Centro de Referência para energia Solar e Eólica Sérgio de

Salvo Brito

www.cresesb.cepel.br

Instituto de Energia Alternativa

e da Auto Sustentabilidade (Ideaas)

Rede de Políticas de

Energia Renovável para o século 21 (Ren21)

www.ren21.net

Rede Nacional de

Organizações para as

Energias Renováveis (Renove)

www.renove.org.br

Sociedade Internacional

de Energia Solar (Ises) www.ises.org

EMPRESAS DO SEGMENTO

BlueSol Energia Solar www.blue-sol.com

EBES www.ebes.com.br

FC-Solar www.fc-solar.com

www.ideaas.org

Núcleo Interdisciplinar de

Planejamento Energético, da

Universidade Estadual de Campinas (Nipe/Unicamp)

www.nipeunicamp.org.br/inovafv

Photovoltaics Projects

www.pvdatabase.org

Guascor www.guascor.com.br

Tecnometal www.tecnometal.com.br

Kyocera Solar do Brasil www.kyocerasolar.com.br