A primeira usina, os editais de compra, as pesquisas … de apoio... · existe na Espanha e em...
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tèchne | Edição 170 - Maio de 2011 p. 52 a 61
CAPA
Força solar
A primeira usina, os editais de compra, as pesquisas acadêmicas
e a chegada de fabricantes aquecem a tecnologia fotovoltaica no
País
A Usina MPX Tauá utiliza módulos de 1,50 m x 0,99 m, pesando 18 kg cada. Eles foram trazidos do
Japão pela fabricante Kyocera e, em funcionamento, com potência nominal de 1 MW, podem abastecer
por mês 1.500 famílias da região. A obra recebeu aval da Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Ceará
(Semace) e firmou parceria com os pesquisadores da Universidade Estadual do Ceará (Uece)
Perfilados num terreno em Tauá, a 350 km de Fortaleza, 4.680 módulos
fotovoltaicos começarão a captar luz solar e a produzir energia. A usina, concluída
em maio, é uma iniciativa inédita no País colocada em ação pelo empresário Eike
Batista, sócio majoritário do Grupo EBX. No total, foram investidos R$ 10 milhões,
com apoio de US$ 700 mil do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Além de acrescentar 1 MW à rede elétrica, o sistema dará informações importantes
aos pesquisadores sobre o potencial efetivo de exploração de energia fotovoltaica
em território brasileiro. O que se sabe até então são informações documentadas na
Europa, América do Norte e Ásia, que há 20 anos tiram o melhor proveito dessa
energia limpa e renovável. Driblar essa falta de expertise foi, inclusive, um dos
principais desafios do projeto em Tauá, como relata Lucio Coelho, gerente de
negócios da MPX (leia a íntegra da entrevista a seguir).
Essa experiência é importante também para se completar, no País, o leque das
cinco possibilidades básicas de uso dessa tecnologia. "Já temos exemplos de
sistema fotovoltaico de bombeamento, o isolado, o híbrido e de eficiência
energética", detalha Roberto Barbieri, responsável pelo Grupo Setorial de Sistemas
Fotovoltaicos da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee),
criado em setembro de 2010. "Todos, no entanto, estão num estágio muito
incipiente", completa Roberto Zilles, professor do Instituto de Eletrotécnica e
Energia da Universidade de São Paulo (IEE-USP). Ele há anos se dedica a pesquisar
o assunto e recentemente lidera o Projeto 120 Telhados Fotovoltaicos, que promove
a instalação desses sistemas na cobertura de casas de seis Estados brasileiros - Rio
de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Pará. "É
uma parceria entre universidades, centros de pesquisa e concessionárias de energia
elétrica para que possamos planejar a exploração dessa energia em larga escala em
telhados de consumidores residenciais", diz Zilles.
Os moradores deste condomínio vertical, no
vilarejo de Tuebingen, próximo a Stuttgart, na
Alemanha, chamaram os engenheiros da
empresa Sunways AG para projetar um sistema
de captação solar, que promovesse a eficiência
energética plena das unidades. Módulos
fotovoltaicos foram instalados na cobertura e na
fachada, em 2003, gerando 52.400 kW por ano.
Bem-sucedida, a proposta ainda conquistou o
prêmio Solar Prize da edição de 2009
Quando o prédio já construído recebe um
sistema de captação de energia solar, a obra
chama-se Building Integrated Photovoltaic
(BIPV). Será esse o preceito adotado no projeto
megawatt, na sede da Eletrosul, em
Florianópolis.
A especificação técnica para a planta solar na
cobertura do prédio é assinada pela Lahmeyer. O
projeto tem um investimento estimado em R$ 10
milhões e financiamento de R$ 2,8 milhões do
banco alemão KfW
Além de pesquisas, o mercado de energia fotovoltaica no Brasil urge por demanda
para deslanchar. E para isso acontecer, é preciso que engenheiros e arquitetos
conheçam o potencial da energia solar, o funcionamento de sua cadeia produtiva,
as oportunidades, os desafios e as tendências. Estando bem informados, os
profissionais poderão se animar a especificar uma planta de energia solar em seus
novos projetos, bem como notar a revolução comercial que essa energia promoverá
em breve, como acredita o Grupo.
Propostas arquitetônicas
O Genomic Center, projetado para ser o
laboratório da empresa farmacêutica Pfizer,
no complexo da Universidade de Granada, na
Espanha, dispõe de uma planta solar com 229
módulos fotovoltaicos. Os equipamentos
captam a luz solar e fornecem 19.300 Wp
(watt pico). Projeto dos arquitetos E.
Vallecillos e E. Rodríguez, concebido em 2010
A luz natural tão temida em instituição de arte,
por prejudicar a vida útil das obras, agora
começa a ser bem-vinda e bem-aproveitada. Em
Roma, na Itália, o museu de arte The Maxxi,
idealizado em 2010 pela arquiteta Zaha Hadid,
exibe um anexo assinado pelo escritório Rintala-
Eggertsson Architects com discretos 16 módulos
solares. O sistema tem capacidade para 716 kW
Legislação
Dois projetos relacionados ao assunto tramitam no Congresso Nacional. O PL
630/03 propõem um fundo para financiar pesquisas e fomentar a produção de
energia elétrica e térmica a partir das energias solar e eólica. Já o PLS 311/09
defende o Reinfa Regime Especial de Tributação para o Incentivo ao
Desenvolvimento e à Produção de Fontes Alternativas de Energia Elétrica
(Reinfa) e estabelece medidas de estímulo à produção e ao consumo de
energia limpa. A Abinee também começa a estudar parâmetros para sugerir
uma Norma Técnica Brasileira de sistemas fotovoltaicos.
Da descoberta à aplicação
Desvendado o efeito fotovoltaico no século 19 (confira a linha do tempo abaixo), os
cientistas logo se debruçaram em vários estudos a fim de se encontrar
semicondutores eficientes para produção de energia elétrica.
Dessas experiências, o silício foi o material que mais se destacou numa equação
que buscava boa performance energética e ótimo custo-benefício. O que não se
levava em conta na época, - mas hoje, já está em pauta - é o impacto ambiental
que a produção convencional desse material provoca no Planeta.
O silício é extraído do quartzo - mineral existente com fartura nas jazidas
brasileiras. "Ele quando reduzido por uma fonte de carbono (carvão vegetal ou
Coque) ganha o status de grau metalúrgico", detalha João Batista Ferreira Neto,
coordenador do Laboratório de Metalurgia e Materiais Cerâmicos do Instituto de
Pesquisas Tecnológicas (IPT), em São Paulo. Como ainda não há no Brasil indústria
com capacidade para encarar a segunda etapa de industrialização do material, lotes
desse silício embarcam em navios rumo à Ásia e à Europa, para passar por uma
"rota química", chamada de processo Siemens, na qual o mineral se purifica
alcançando o estágio de Silício Grau Solar (SiGS).
Linha do tempo
� O fenômeno físico que permite a conversão da luz em eletricidade foi
descoberto, em 1839, pelo físico francês Alexandre-Edmond Becquerel (1820-1891).
� Em 1873, Willoughby Smith (1828-1891) documentou o efeito fotovoltaico
em sólidos com o selênio. A primeira célula fotovoltaica com esse metal foi lançada quatro anos depois.
� O cientista Albert Einstein (1879-1955) ganhou seu primeiro Prêmio Nobel,
em 1921, graças aos estudos sobre o efeito fotovoltaico, junto à Teoria da Relatividade.
� Recorrendo às pesquisas de Jöns Jakob Berzelius (1779-1848), cientistas
testaram com sucesso módulos fotovoltaicos com silício em 1954, nos Laboratórios Bell, Estados Unidos.
� Em 1881, dois anos após a criação da lâmpada incandescente, Thomas Alva
Edison (1947-1931) patenteou um contador químico para medir com exatidão
a energia consumida, notando o potencial de vender a eletricidade como artigo de consumo.
� Em 1918, o cientista polonês Jan Czochralski (1885-1953) desvendou um método para a produção de silício monocristalino.
� Outra liga importante no efeito fotovoltaico de equipamentos robustos, o
cádmio-selênio, surge em 1932. Nove anos depois, ocorre a fabricação da primeira célula com essa composição.
� As primeiras células de germânio foram produzidas em laboratório em 1951.
� Em 1955, inicia-se a utilização de células solares em satélites com o
lançamento do Vanguard I, seguidos por Explorer III, Vanguard II e Sputnik
III.
� Na década de 1970, surgem nos EUA sistemas fotovoltaicos para aplicações em áreas rurais para bombeamento de água.
� Israel foi o primeiro país, em 1980, a estabelecer uma política pública de energia solar. Em 1983, a produção atingia 20 MW.
� Em 1984, pela primeira vez, um prédio residencial insere módulos
fotovoltaicos na cobertura. A obra em Huvudsta, na Suécia, feita logo após
um incêndio no sótão do edifício, sanou as más impressões deixadas no acidente.
� Em 1985, as células fotovoltaicas atingem maiores eficiências de conversão
e despontam as primeiras usinas solares na Europa e nos Estados Unidos.
� Em 1994, aconteceu a primeira Conferência Mundial Fotovoltaica, no
Hawaí.
� A capacidade instalada mundial de energia solar, em 2004, era de 2,6 GW, cerca de 15% da capacidade instalada de Itaipu (naquela época).
� Inaugurada, no dia 27 de março de 2007, a Central Solar Fotovoltaica de
Serpa (CSFS), em Brinches, Portugal. Segundo os últimos relatórios, produz 11 MW.
Fontes: livros - A História dos Medidores de Energia Elétrica e O Panorama do Setor de Energia no
Brasil. Sites - Photovoltaic Database (www.pvdatabase.org); América do Sol (www.americadosol.org);
Britannica (www.britannica.com); Albert Einstein (www.einstein-website.de).
Seis tendências
1) Para evitar no futuro a presença de obras
com sistema fotovoltaico subutilizado, devido
à construção de uma torre alta no seu
entorno "roubando sua luz", os especialistas
recomendam a elaboração de regras e
legislações, que podem ser chamadas de Lei do Direito ao Sol, como ocorre na Inglaterra.
2) A vida útil de uma placa fotovoltaica é de
20 a 25 anos. Apesar dessa longa duração, a
política de descarte para esses resíduos deve
ser prevista neste momento. Os fabricantes
podem, por exemplo, começar a investir em
centros voluntários de aproveitamento e
reciclagem dos módulos descartados, como já
existe na Espanha e em outros países. Saiba mais no site www.pvcycle.org.
3) A terceira geração de células fotovoltaicas
promete utilizar semicondutores que
dependam da junção p-n para separar
partículas carregadas por fotogestão. Esses
novos dispositivos incluem células fotoeletroquímicas e células de nanocristais.
4) Em breve, o mercado de trabalho vai
necessitar de profissionais para projetar os
sistemas de Net Metering. Por isso,
associações brasileiras como Associação
Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica
(Abinee) vão recomendar às academias a inclusão dessa disciplina na
formação de arquitetos e engenheiros. Na grade curricular de faculdades estrangeiras já consta a matéria "Building Integrated Photovoltaics".
5) Há apostas de investimento de energia heliotérmica. Nela, utilizam-se
concentradores solares para aquecer fluidos e gerar eletricidade. O princípio
de funcionamento de uma usina heliotérmica é similar ao de uma
WestendGate é uma torre empresarial
construída em 1976, em Frankfurt,
Alemanha. Notando que o consumo de
energia subia ano a ano, os
responsáveis pelo prédio, junto à
empresa Baumgartner GmbH e a
Sunways AG, assumiram uma
audaciosa intervenção: aplicar finas
camadas de silício amorfo sobre as
placas de vidro da fachada.
termelétrica, com a diferença de que o calor que alimenta as turbinas é gerado pela luz do sol.
6) Como já divulga o Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), nos
Estados Unidos, no futuro, além de usinas, empresários vão investir em
reatores solares, que transformam a luz do sol em combustível líquido
armazenável e transportável.
Diferença entre os dois tipos mais tradicionais de módulos fotovoltaicos
Silício Cristalino (c-SI)
imNele, as células de
silício e os outros
compósitos são
encapsulados para
garantir a proteção à
intempérie. Em geral, eles
são montados em perfis
de alumínio para oferecer
rigidez mecânica. Já a
fiação e os equipamentos
elétricos têm proteção
antitérmica para evitar
rompimentos diante das
mudanças bruscas de
temperatura.
Silício amorfo
hidrogenado (a-Si:H)
As células nesse modelo aparecem
em finas camadas de silício (0,5
μm de espessura), com uma
estrutura amorfa, o que diminui a
sua eficiência quando comparada
às células cristalinas. Para fabricá-
las, o semicondutor é depositado
sobre um substrato de vidro ou
inox em estado gasoso. Depois,
camadas condutoras transparentes
são adicionadas para transmitir a
corrente elétrica. Por fim, um laser
é usado pra dividir a superfície em
diversas células.
Entenda como funciona o fenômeno fotovoltaico
*Etil Vinil Acetato (EVA)
A matéria-prima então comprada no País por um
valor ínfimo torna-se um produto beneficiado
vendido no mercado por fornecedores estrangeiros
a preço de ouro. É justamente essa versão
aprimorada do silício a base para se confeccionar a
célula fotovoltaica - ela ao ser embutida nos
módulos solares fica responsável pela
transformação da luz solar em energia elétrica.
(Confira acima os dois tipos de silício mais usados
pelos fabricantes).
Complexa e onerosa, a industrialização na rota
química é também uma alta consumidora de
energia. Segundo Neto, em apenas uma etapa do
processo é necessário usar em média 200 kWh por
quilo de produção de silício. "Se a matriz energética
dessa produção usar carvão mineral ou petróleo (o
que é usual), a emissão de dióxido de carbono
passa a ser altíssima", completa ele. Cabe observar
que toda essa mobilização industrial para
confeccionar o SiGS vale a pena porque ao embutir
a célula solar no módulo fotovoltaico, forma-se um
equipamento com vida útil estimada entre 20 e 25
anos. "Imagine que durante esse período ele vai produzir milhares de kWh sem
provocar mais nenhum impacto para o meio ambiente", analisa o pesquisador do
IPT.
Com o cronograma das obras da
reforma em dia, o Mineirão (MG)
poderá ser o primeiro estádio da Copa
do Mundo de 2014 com sistema de
captação de energia solar. O vencedor
da licitação desse serviço poderá
instalar módulos fotovoltaicos com
capacidade inicial de 640 kW. O projeto
é conduzido pela Minas Arena,
Companhia Energética de Minas Gerais
(Cemig) e pelo arquiteto Bruno
Campos, sócio do escritório BCMF
Arquitetos
O que é Net Metering?
Uma política de incentivo que, quando implantada oficialmente para energia
fotovoltaica, permitirá que o dono do empreendimento residencial ou industrial com
sistema solar direcione a energia excedente para a companhia energética local em troca de descontos na conta mensal.
Esse novo modelo de negócio exige investimento e instalações de cabos e
equipamentos, como os medidores inteligentes, os smart meters, ou tarifadores
bidirecionais. Por meio deles, cada consumidor conseguirá saber exatamente seu
consumo por dia e mês, podendo ainda calcular e controlar os bônus que devem ser
encaminhados pela companhia. Haverá no futuro a chance desses consumidores
venderem essa energia à Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) ou
a leilões de energia, como já acontece com a fonte eólica. Quem investe numa
planta solar deve seguir algumas regras. Segundo a Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel), a resolução normativa 390/2009 determina que os autoprodutores
de energia, com potência instalada de até 5 MW, registrem o sistema após a obra.
Instalações com potências acima desse valor precisam requerer pedido de autorização prévio à idealização do empreendimento.
Nos dois casos recomenda-se ainda comunicar a empresa de energia da região.
Documentar essa malha energética evitará acidentes, pois, antes de um serviço de
manutenção em determinados bairros, será necessário acionar todos esses
fornecedores para o desligamento total da rede. Do contrário, um funcionário da
companhia pode ser surpreendido com uma descarga elétrica fatal durante seu
serviço.
O registro dessas informações também favorece a atualização dos dados oficiais
dessa energia. Vários pesquisadores acreditam que existam 55 sistemas solares em
operação no País totalizando 350 kW, embora o site da Aneel informe apenas cinco
unidades registradas, totalizando 87 kW.
Notando que esse ponto do processo expõe a energia solar em polêmicas
discussões sobre sua relevância como fonte sustentável, vários fabricantes das
peças do sistema de energia solar na Alemanha, Portugal, Espanha, Japão e,
recentemente, no Brasil, investem na substituição da rota química pela rota
metalúrgica para produção de SiGS. Essa investida prevê, entre outros destaques,
uma produção "química" de silício grau solar tendo como prerrogativa um processo
com matrizes energéticas renováveis ou de baixo impacto ambiental. Neto e outros
pesquisadores do IPT lideram uma pesquisa do gênero, orçada em R$ 10 milhões,
patrocinada pelo Fundo Tecnológico do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior e apoiada pela Companhia Ferroligas Minas Gerais (Minasgas).
Os resultados dessa incursão podem aparecer daqui a dois anos.
Soma-se a essa investida outra novidade. Começam a despontar no Brasil
empresas interessadas em criar uma linha nacional de produção e montagem dos
módulos de placas fotovoltaicas, prevendo, inclusive, a confecção de célula solar
com SiGS (ainda importado). "A partir de maio, as novas máquinas já começam as
operações para iniciarmos essa produção", conta Bruno Topel, da empresa
Tecnometal Energia Solar. Com isso, os engenheiros que forem projetar novas
usinas fotovoltaicas no País não mais irão depender exclusivamente de módulos
fotovoltaicos importados, o que onera o orçamento do projeto, inviabilizando a ação
do sistema em vários empreendimentos.
Estádios
Já despontam no calendário da construção civil do País obras com captação de
energia fotovoltaica em operação e muitas outras em projeto (veja infográfico). Aos
interessados em acompanhar os novos empreendimentos, recomenda-se atenção à
publicação de editais, referente à contratação de empresas chamadas integradoras.
Elas orientam nas especificações do sistema e instalam os modelos escolhidos. Em
maio de 2011, estão previstos dois editais.
O da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig Distribuição) é para as
instalações da cobertura do estádio da Copa 2014 Governador Magalhães Pinto,
conhecido como Mineirão, em Belo Horizonte. Já o da Companhia de Eletricidade do
Estado da Bahia (Coelba) diz respeito à cobertura do estádio esportivo de Pituaçu,
em Salvador, que conta com o apoio do Programa Energia do Governo Alemão
(GIZ) e a parceria do Instituto Ideal além da Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC). Em ambos os casos, o sistema ficará ligado diariamente. Assim
poderá fornecer energia para o estádio e ainda encaminhar o excedente para a
companhia de energia local. "É a política de Net Metering, que prevê permuta e
desconto na conta de luz do estádio com captação fotovoltaica", conta Ana
Christina Mascarenhas, assessora de Eficiência Energética da Coelba. "Dessa forma,
os estádios tornamse também usinas solares e ainda se enquadram nos programas
de compensação de eficiência enérgica", reflete Barbieri, que sugere estender a
investida para as ociosas coberturas de shoppings e de aeroportos.
Novos negócios
Lucio Coelho detalha o projeto da usina solar e adianta
outras iniciativas.
Quando a MPX começou a estudar
investimentos em uma usina solar?
A MPX investe no potencial da energia solar
desde 2008, quando iniciou as atividades de
pesquisa e desenvolvimento na área. A empresa estudava a implantação de uma unidade solar
fotovoltaica com geração de energia em escala
comercial, reforçando sua estratégia de diversificação da matriz energética e de
desenvolvimento de fontes alternativas.
Qual foi o primeiro passo para idealizar
esse projeto?
Visitamos usinas que são referência em diversos
países, principalmente na Alemanha e Espanha. Para a elaboração do projeto, contamos com a consultoria da
norte-americana Namasté Solar.
Quando começou a implantação da MPX Tauá?
O projeto da usina solar foi concebido e amadurecido pela equipe de pesquisa e desenvolvimento da MPX, que iniciou os estudos em
2008. A partir da decisão quanto à implantação da usina, em
setembro de 2010, a MPX Tauá começou a execução da obra.
Quais foram os desafios encontrados para concretizar MPX
Tauá?
Falta de experiência anterior no País na implantação de plantas de
geração de energia solar de porte comercial conectado à rede elétrica. Como não havia fornecedores de painéis solares
nacionais, precisamos importar. Conseguimos aproveitar a mão de
obra local para as atividades de preparação do terreno da usina e para a construção das edificações. Outro desafio continua a ser a
obtenção de condições de comercialização compatíveis com o
Lucio Coelho
é diretor da usina MPX Tauá
e gerente de
negócios da MPX
investimento necessário para viabilizar projetos de energia solar no Brasil.
Qual foi o investimento total na compra das placas fotovoltaicas importadas do Japão?
[A empresa não comenta o preço de aquisição dos equipamentos.]
O fato de as placas serem importadas onerou o orçamento
desse projeto?
[A empresa não comenta o preço de aquisição dos equipamentos.]
A energia de Tauá será vendida diretamente ao consumidor
ou a negociação envolve a venda dessa energia à
companhia de energia local?
A energia produzida será injetada na rede elétrica nacional pela
subestação de Tauá. Ainda não foram firmados contratos de venda de energia. [A construção da rede elétrica de 13.8 kV que ligará a
usina solar ao sistema da Companhia Energética do Ceará também
está em fase de finalização.]
Além da Usina Tauá, a MPX já faz estudo para outras
investidas em energia solar?
Além do projeto de ampliação de Tauá (a empresa tem licença
para expandir a planta a 5 MW e área para gerar 50 MW), a MPX estuda a possibilidade de implantar a primeira planta brasileira de
geração termossolar. Essa planta será localizada junto à usina
termelétrica MPX Pecém II (360 MW), que a empresa constrói nas proximidades do Porto do Pecém, também no Ceará. A unidade
será responsável por aquecer, por meio de energia solar
concentrada em painéis, a água de alimentação da caldeira da termelétrica MPX Pecém II e com isso aumentar a eficiência da
usina, reduzindo o consumo de carvão e as emissões de gases.
Outras demandas
A implantação de sistemas fotovoltaicos em casas localizadas em
área de difícil acesso à rede elétrica convencional também está em
expansão. Projetos do governo, como Minha Casa, Minha Vida e o
Programa Nacional de Universalização do Acesso da Energia
Elétrica, conhecido como Luz Para Todos, fazem uso dessa
proposta. Os dois modelos em prática são: o isolado, aquele que
prevê um poste com o módulo fotovoltaico, um inversor e uma
bateria. Ou, minirredes, quando as casas estão próximas uma das
outras. Essas residências podem consumir em média até 30 kWh,
o suficiente para o funcionamento de três lâmpadas fluorescentes
compactas, uma televisão de 20", antena parabólica, liquidificador,
DVD e microsystem. Todos que fazem parte desse programa
pagam conta de luz à concessionária local.
Já a opção de sistema fotovoltaico de bombeamento promete ficar
estável. Constituído por um gerador fotovoltaico, equipamentos de
condicionamento de potência e por um grupo motobomba, ele
auxilia pequenos produtores a transformar energia solar em
energia elétrica e esta em energia mecânica. É comum adotar esse
sistema em conjunto com geradores eólicos ou a diesel.
Módulos fotovoltaicos servem de beirais
quando posicionados na horizontal sob as
janelas da construção. Nesta casa de 280 m²
em Ile Saint-Germain, Paris, o arquiteto
Pascal Gontier agradou os donos da casa com
essa intervenção.
Segundo ele, os edifícios energeticamente
eficientes e modernos destacam-se não só
pelo conceito da integração de diferentes
tecnologias, mas, em especial, por trazerem novas oportunidades para
combinar função e design sofisticado. Como o projeto é recente, ainda não foi
informado seu potencial energético
Na Europa, América do Norte e Ásia, já é possível customizar a cor dos
módulos fotovoltaicos, que costumam ser fabricados em azul. Na exposição
Solar Decathlon Europe 2010, em Madrid, a Universidade de Stuttgart, na
Alemanha, expôs em um estande módulos com fundo em bronze e dourado.
Se os 3.700 módulos forem instalados numa construção, vão poder fornecer
10.600 kW hora por ano
A energia em números
O País, de acordo com a Aneel, possui 2.393 pontos de geração de energia produzindo 114.057.264 kW de potência, com previsão de
expansão de 47.353.754 kW. Dessa somatória, calcula-se uma
participação tímida da energia solar e de certa forma imprecisa devido à falta de registro de alguns autogeradores. Num gráfico
comparativo da agência, prevendo o funcionamento da Usina de
Tauá, com o pico de produção de 5 mil kW (estimativa prevista numa ampliação da usina), a energia solar com esforço atinge o
índice de 0,03%. Já as hidrelétricas detêm mais de 70% do
fornecimento, diante da tradição secular do País na exploração dos recursos hídricos.
Atenção ao cenário
O profissional interessado em trilhar negócio com a energia solar
deve ficar atento também às informações de algumas consultorias.
O MEX (Wilder Hill New Energy Global Innovation Index), índice
criado pela New Energy Finance para medir investimentos em
energia limpa, subiu mais de 12 pontos entre os dias 11 e 17 de
março. A data coincide com o momento em que aconteceu o
terremoto e a tsumani no Japão, que culminou com o vazamento
de material radioativo da usina de Fukushima dando início a uma
crise nuclear. Esse acidente, inclusive, colocou em "alerta máximo"
a importância de se pensar agora sobre os investimentos de
captação de energias renováveis e seguras. E nessa lista, a
energia solar aparece num iluminado destaque.
Juliana Tourrucôo
SITES SOBRE O ASSUNTO
Agência Internacional de Energia
www.iea.org
Agência Internacional de Energia
Renovável (Irena) www.irena.org
América do Sol www.americadosol.org
Associação de Indústrias Fotovoltaicas Europeias
www.epia.org
Associação de Indústrias Solares
da Alemanha (BSW) http://en.solarwirtschaft.de
Centro de Referência para energia Solar e Eólica Sérgio de
Salvo Brito
www.cresesb.cepel.br
Instituto de Energia Alternativa
e da Auto Sustentabilidade (Ideaas)
Rede de Políticas de
Energia Renovável para o século 21 (Ren21)
www.ren21.net
Rede Nacional de
Organizações para as
Energias Renováveis (Renove)
www.renove.org.br
Sociedade Internacional
de Energia Solar (Ises) www.ises.org
EMPRESAS DO SEGMENTO
BlueSol Energia Solar www.blue-sol.com
EBES www.ebes.com.br
FC-Solar www.fc-solar.com
www.ideaas.org
Núcleo Interdisciplinar de
Planejamento Energético, da
Universidade Estadual de Campinas (Nipe/Unicamp)
www.nipeunicamp.org.br/inovafv
Photovoltaics Projects
www.pvdatabase.org
Guascor www.guascor.com.br
Tecnometal www.tecnometal.com.br
Kyocera Solar do Brasil www.kyocerasolar.com.br