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A PRODUÇÃO DE BRIQUETES COMO INCENTIVO À SUSTENTABILIDADE - APLICABILIDADE DA LOGÍSTICA REVERSA EM MADEIREIRAS NO MUNICÍPIO DE TOMÉ-AÇU Beatriz Moreira Pancieri (PUCRIO) [email protected] Esse estudo garante importância significativa no que se refere à conscientização ambiental, bem como ao estudo para a possível implementação de projetos relacionados à Logística Reversa em madeireiras no município de Tomé-Açu. Considerando que a atividade ainda representa a maior parte da economia do local, é relevante a análise do aproveitamento dos resíduos oriundos do beneficiamento, tanto para a geração de renda quanto para a preservação do meio ambiente. A produção de briquetes é uma alternativa energética muito atrativa e com grande potencial de aceitação de mercado, dada a escassez dos recursos naturais geradores de energia. O artigo busca como resultado a análise do benefício do aproveitamento de serragem nas madeireiras para a produção de briquetes e de mostrar que a Logística Reversa deve estar ligada diretamente ao seu processo produtivo a fim de que se mantenham competitivas no mercado e promovam a sustentabilidade. Palavras-chaves: Biomassa, Logística Reversa, Setor Madeireiro. XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão. Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

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A PRODUÇÃO DE BRIQUETES COMO INCENTIVO À SUSTENTABILIDADE -

APLICABILIDADE DA LOGÍSTICA REVERSA EM MADEIREIRAS NO

MUNICÍPIO DE TOMÉ-AÇU

Beatriz Moreira Pancieri (PUCRIO) [email protected]

Esse estudo garante importância significativa no que se refere à conscientização ambiental, bem como ao estudo para a possível implementação de projetos relacionados à Logística Reversa em madeireiras no município de Tomé-Açu. Considerando que a atividade ainda representa a maior parte da economia do local, é relevante a análise do aproveitamento dos resíduos oriundos do beneficiamento, tanto para a geração de renda quanto para a preservação do meio ambiente. A produção de briquetes é uma alternativa energética muito atrativa e com grande potencial de aceitação de mercado, dada a escassez dos recursos naturais geradores de energia. O artigo busca como resultado a análise do benefício do aproveitamento de serragem nas madeireiras para a produção de briquetes e de mostrar que a Logística Reversa deve estar ligada diretamente ao seu processo produtivo a fim de que se mantenham competitivas no mercado e promovam a sustentabilidade. Palavras-chaves: Biomassa, Logística Reversa, Setor Madeireiro.

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1. Introdução O mundo é movido, predominantemente, pela tecnologia que, por sua vez, exige quase sempre a utilização de energia para mostrar sua eficácia. A crise energética é um tema sempre comentado e a busca por alternativas substitutivas é incessante. Quando se fala em energia, pode-se relacionar vários tipos de geração, tais como elétrica, eólica, nuclear e solar, e queima de combustíveis fósseis. Dentre os tipos mencionados, pode-se considerar que a última alternativa - queima de combustíveis fósseis - é utilizada em larga escala para as mais variadas finalidades.

Todavia, a escassez de recursos é uma realidade muito antiga que as pessoas passaram a atentar em um período relativamente recente. No que tange à geração de energia pela queima de combustíveis fósseis, essa preocupação torna-se mais relevante quando se observa a poluição ambiental, ocasionada por esse tipo de processamento, o que abre espaço para um mercado em ascensão: a geração de energia por meio de recursos renováveis.

Neste contexto, a produção de briquetes é uma alternativa energética muito atrativa e com grande potencial de aceitação de mercado, já que as empresas e os consumidores, em geral, dispensam significativa importância a produtos relacionados à preservação ambiental. O aproveitamento de resíduos orgânicos, dos mais variados tipos, e o consequente processamento destes – denominado briquetagem – traz ao mercado um produto que não agride o meio ambiente, que não necessita de um processo produtivo complexo, e que pode substituir outros tipos de combustíveis utilizados atualmente, como o carvão mineral e a lenha, por exemplo.

O município de Tomé-Açu, no interior do Estado do Pará, é considerado um pólo madeireiro, pela existência de um número representativo de empresas do setor (em torno de 28 empresas), e a madeira é um dos tipos de matéria-prima que podem ser utilizadas para a fabricação de briquetes. Portanto, a facilidade de acesso à matéria-prima, bem como a existência de mais de uma alternativa de escoamento do produto (rodoviária e fluvial), garantem ao município características preponderantes para a existência de uma fábrica do tipo.

A proibição da queima da serragem obrigou os madeireiros da região de Tomé-Açu a armazenarem este tipo de material a céu aberto e, pela inexistência de um projeto de destinação adequada aos resíduos, ou até mesmo pelo desconhecimento de alternativas, por restrição orçamentária para este tipo de investimento ou, ainda, pela despreocupação relacionada a este tipo de tratamento, a serragem representa um fator de risco para a população e o meio ambiente. O assoreamento de açudes e a geração de gases tóxicos, bem como a possibilidade de queima natural, decorrente da combustão gerada pelos gases que se formam pela putrefação do material – o que dificulta a visibilidade dos motoristas que acessam as rodovias e ruas principais – são exemplos de riscos que este tipo de material oferece.

Esse estudo garante importância significativa no que se refere à conscientização ambiental, bem como a possibilidade de implementação de projetos relacionados à Logística Reversa em madeireiras do município. Considerando que a atividade ainda representa a maior parte da economia do município, é relevante a análise do aproveitamento dos resíduos oriundos do beneficiamento da serragem, tanto para a geração de renda e, principalmente, de energia quanto para a preservação do meio ambiente.

2. Conceitos Básicos

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2.1 Biomassa A geração de energia pode ser considerada como um fator imprescindível para a existência de muitas empresas, mas a escassez de recursos e a poluição, causada pelos materiais utilizados comumente, colocam em risco a sua permanência como fontes principais. Para isto, a biomassa vem sendo estudada há décadas como uma possível fonte de energia. Hoje, isto é fato, mas o que se busca aprimorar é a oferta de fontes renováveis e cada vez mais eficientes. A Biomassa é definida claramente pela Diretiva Européia (2001, apud ALEGRIA, 2009), como a “fracção biodegradável de produtos provenientes da agricultura (incluindo substâncias vegetais e animais), da silvicultura e das indústrias conexas, bem como a fracção biodegradável de resíduos industriais urbanos”. O seminário promovido pela CNI – Confederação Nacional das Indústrias – sobre “A Energia da Biomassa, Desenvolvimento e Meio Ambiente” (1992), mostra que já existe um tempo relativo em que essa preocupação faz parte de debates em todo o mundo.

Entretanto, se numa hipótese-limite, dentro das restrições impostas pela técnica, toda área agriculturável da Terra fosse aproveitada para a produção de energia, não seria possível suprir mais do que 20 a 40% das necessidades atuais de energia da biomassa vegetal. Assim, a conclusão está em que não se pode depender de soluções gerais. A solução final será pela convergência de um grande número de fontes diversificadas de energia, aplicáveis local ou regionalmente (A Energia da Biomassa…, 1992, p.14).

Essa combinação de alternativas é que permite o equilíbrio dos recursos. No contexto da biomassa, o briquete se mostra uma fonte de energia com base forte, pois, além de ser vantajosa a sua utilização em termos de desempenho na queima, ele é um produto advindo do processo de reaproveitamento de resíduos orgânicos.

O pesquisador do LPF/Ibama garantiu que trinta quilos de briquetes seriam suficientes para iluminar com energia limpa, proveniente da biomassa, uma residência que consome 100 Kwh/mês de luz elétrica de fonte hidráulica. Isto significa que utilizando apenas 70% de lixo vegetal é possível produzir energia elétrica de baixo impacto ambiental – a mais barata fonte alternativa e a única armazenável – para iluminar os cerca de 40 milhões de domicílios brasileiros com 100 Kwh/mês (Ambiente Brasil, 2003).

É uma tendência mundial que as empresas comecem a substituir combustíveis não-renováveis e geradores de poluição por outras fontes renováveis e também eficientes. No Brasil, o Ministério de Minas e Energia (2008) divulgou em seu site um resumo ilustrativo da oferta interna de energia renovável no país, no ano de 2007, como pode ser visualizado na Figura 1.

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Fonte: Ministério de Minas e Energia (2008)

Figura 1. Oferta interna de energia renovável no Brasil no ano de 2007. Segundo Alegria (2009), a Europa lançou em 2006 um plano para 2020 de redução de compra de petróleo de 400MT/ano e emissão de gases que agravam o efeito estufa em 8%. Isso revela a proporção da preocupação mundial com o meio ambiente, pois não só as empresas, mas sim, um conglomerado de países busca meios de diminuir os impactos promovidos pelos mesmos.

2.2 Logística Reversa A preocupação ambiental é algo que deveria estar intrinsecamente ligado à política de atuação das empresas. Mas, infelizmente, muitas ainda não atentaram para o fato, o que obriga a implementação de leis cada vez mais rigorosas como medida de controle. Um bom exemplo sobre o tema é o de sacolas plásticas, comentado por Strauch et al (2008, p. 51). Se os custos para a reversão dos impactos causados pelo descarte inadequado deste tipo de produto, no meio ambiente, fossem repassados diretamente para os proprietários das empresas, certamente eles iriam propor a revisão de seus processos produtivos, buscando alternativas para a diminuição desse descarte ou, até mesmo, a fabricação de um produto ecologicamente correto, como o plástico biodegradável. Projetando essa mesma linha de raciocínio para outros tipos de empresas, é notável a influência deste tipo de atitude, tanto para a imagem perante os clientes quanto para a geração de um futuro seguro para as gerações seguintes, no que se refere à conscientização ambiental. A visão de que as empresas somente devem pensar em maiores índices de produção é totalmente defasada. O que deve-se fazer é agregar a obtenção de lucros cada vez maiores à concepção de produtos responsáveis sócio-ambientalmente. Conforme Biazzi e Santoro (2003) explicam, a logística reversa teve um significado, hoje considerado desatualizado, que expressa a relação da logística com a reciclagem, a redução de emissão, a substituição ou a reutilização de materiais e descarte. Porém, a visão atual sobre o tema contempla não somente esses aspectos, mas também a forma como as empresas planejam, executam e controlam o processo produtivo em termos de materiais secundários. As definições dadas a seguir são consideradas genéricas e atuais sobre a Logística Reversa.

Logística Reversa é o processo de planejamento, implementação, e controle eficiente e eficaz do fluxo de entrada e armazenagem de materiais secundários e informações relacionadas opostas à direção tradicional da cadeia de suprimentos com o propósito de recuperar ou descartar corretamente materiais” (FLEISHMANN 2001 apud BIAZZI E SANTORO, 2003, p. 3).

Logística Reversa é um termo bastante genérico. Em seu sentido mais amplo, significa todas as operações relacionadas com a reutilização de produtos e materiais. Logística Reversa se refere a todas as atividades de coletar, desmontar e processar produtos e/ou materiais e peças usados a fim de assegurar uma recuperação sustentável (amigável ao meu ambiente) (Daher et al, 2006, p. 59).

O tema ganha cada vez mais importância nas empresas e passou a ser mais cobrado pelos consumidores a partir do momento em que essa preocupação foi disseminada, ou seja, as empresas que se preocupam com o meio ambiente têm vantagens competitivas muito maiores do que aquelas que funcionam sob métodos antigos.

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Balducci (2008) explica com grande propriedade os fatores preponderantes para o desenvolvimento da Logística Reversa nas cadeias produtivas, e destaca os seguintes fatores: (a) Interesse econômico: relacionado à busca pela agregação de valor do produto na fase

pós-consumo ou o aproveitamento de materiais que podem ser destinados a outros processos produtivos, de forma a diminuir custos com tratamento e descarte;

(b) Competitividade: essa é a busca incessante pelas empresas para manterem-se firmes em um mercado com altos níveis de concorrência. A escassez de recursos e o distanciamento das fontes de matéria-prima obrigam aos setores de P&D ao estudo de alternativas que minimizem seus custos de produção, utilizando também materiais secundários e reaproveitados, sem influenciar negativamente na qualidade do produto;

(c) Imagem Corporativa e Responsabilidade Social: problemas relacionados à imagem da empresa ou à relação com os consumidores prejudicam o seu desempenho consideravelmente. Com base nisto, as empresas focam em projetos sócio-ambientais que possam beneficiar sua receita e seu relacionamento contínuo com o cliente, permitindo sua permanência no mercado;

(d) Obediência à Legislação: esse talvez seja o fator que mais influencia as empresas a mudarem seus conceitos e paradigmas. O não cumprimento das leis impostas pela Legislação Brasileira pode acarretar multas severas e até mesmo o fechamento de empresas que praticam atos ilícitos, em detrimento de maiores fatias de mercado.

Como se pode observar, a importância da Logística Reversa certamente não decairá, visto que os consumidores – parte fundamental das cadeias produtivas – estão, cada vez mais, tendo acesso aos seus direitos e preocupando-se com um futuro sócio-ambiental sustentável. 2.3 Setor Madeireiro O setor madeireiro é bastante criticado pelas consequências do desmatamento ao meio ambiente e seus reflexos sobre a sociedade. A Amazônia é foco de todas as atenções relacionadas à preservação ambiental, já que detém uma biodiversidade gigantesca e encantadora e, ao mesmo tempo, talvez seja o local onde a exploração da madeira no Brasil seja mais intensa, o que representa o setor forte da economia de muitas cidades da região. Araújo (2009) afirma que o setor madeireiro na Amazônia representa 3,5% do PIB brasileiro, 6% das exportações do ano de 2006, e gerou, em 2004, 232 mil empregos diretos e indiretos (que representa cerca de 61% da geração de empregos do setor no Brasil). Em termos econômicos, isso representou uma renda bruta de US$ 2,3 bilhões, divididos em 3.132 empresas e 82 pólos madeireiros espalhados pela região. Além disso, os dados do IBGE do ano de 2005 (apud ARAÚJO, 2009) constatam que o Pará encontra-se no topo da produção extrativa nacional de madeira, com cerca de 9,9 milhões de m3 produzidos. Isso mostra a representatividade do setor para a economia em âmbito regional e nacional. Considerando o fato de que o modo de extração e produção da madeira foi modificado para uma base sustentável, por meio da criação de projetos de manejo, atitudes relacionadas à melhoria de seus processos produtivos são sempre bem-vindas. Embora a crise global – financeira e habitacional – ter afetado as exportações de modo representativo, pode-se ainda considerar que a atividade madeireira ainda permanece como economia forte na região, sustentando a base de renda de muitos municípios e famílias. O município de Tomé-Açu, no interior do Estado do Pará, representa um exemplo de localidade em que a economia se baseia na extração da madeira e atividades agropecuárias. A Figura 2 mostra a localização do município.

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Segundo informações da Cortez (2009), o setor madeireiro começou a atuar fortemente em Tomé-Açu após o período da pimenta-do-reino, cultura agrária que exerceu forte influência na economia do local nos anos de 1950.

Quando saiu de cena a economia da pimenta-do-reino, que favoreceu a liberação de contingente populacional do campo para as cidades de Tomé-Açu e Quatro-Bocas bem como a conversão de lotes rurais em áreas urbanas, atividades como a madeireira e a agropecuária, atividades geralmente envolvidas em conflitos rurais, passaram a conduzir as dinâmicas de ocupação da região (CORTEZ, 2009).

Atualmente, existem 28 madeireiras em uma cidade com 48.522 habitantes. Isso mostra a representatividade do setor para a economia local. Fonte: SIPAM (2006).

Figura 2. Localização geográfica do município paraense – Tomé-Açu 3. A Produção de Briquetes como Incentivo à Sustentabilidade É importante implantar a cultura de aproveitamento dos resíduos nas empresas, de forma a diminuir o impacto ambiental que o descarte inadequado pode causar para o meio ambiente. Nas madeireiras, isso se refere à utilização da madeira de forma completa: a casca, o beneficiamento das toras (em forma de linhas, caibros, tábuas e ripas), os refugos (pedaços pequenos obtidos no corte de acordo com a bitola solicitada pelo cliente) e a serragem. Vale ressaltar que o processo anterior ao de beneficiamento – o projeto de manejo - também deve ser planejado e executado de forma responsável, para que a retirada de madeira ilegal não ocorra. Toda essa preocupação é importante para que se possa garantir um futuro ambientalmente sustentável e socialmente seguro. Como já citado, os briquetes representam uma alternativa para o aproveitamento dos resíduos das madeireiras, não só da serragem, mas também de refugos (pedaços menores sem fins de comercialização). De acordo com Abreu (2005), Infoener (2009), e o jornal O Liberal (2009), o briquete é definido como um produto obtido por meio da compactação de resíduos orgânicos a altas temperaturas e pressões, com ou sem adição de aglutinantes, com o objetivo de transformá-los em combustível sólido de baixa densidade. Os aglutinantes funcionam como uma espécie de “cola”, não permitindo que o produto se desfaça (exemplos de aglutinantes são as resinas e ceras). O briquete oriundo da serragem não necessita de aglutinantes, pela existência de uma substância na madeira que exerce essa função, que é a lignina. A Figura 3 mostra a imagem dos briquetes de madeira.

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Além de ser uma alternativa energética renovável, o briquete se caracteriza pelo alto poder calorífico de seu material, visto que a madeira compactada tem poder de queima exponencialmente maior, o que é ideal para a utilização nos mais variados tipos de empresas, como padarias, pizzarias, caldeiras, olarias etc. Fonte: BRINOP (2009).

Figura 3. Briquetes de madeira. O processo de briquetagem segue um fluxograma muito simples, necessitando de equipamentos que possibilitam a moagem, a secagem e a compactação do material. A Figura 4 mostra mais claramente esse processo.

Fonte: Extraído PolyChem (2007).

Figura 4. Fluxograma do processo de briquetagem De acordo com o fluxograma apresentado na Figura 4, o processo de briquetagem é composto por 7 (sete) etapas básicas:

(a) Estoque de Matéria-Prima: a matéria oriunda dos fornecedores é recolhida e estocada no pátio da fábrica, estando disponível para a etapa posterior;

(b) Silo úmido: equipamento responsável pela estocagem da matéria-prima ainda úmida, que será transportada para o moinho;

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(c) Moinho: é um triturador, utilizado para moer os pedaços de madeira maiores (refugos do beneficiamento da madeira) que são difíceis de serem separados da serragem no processo de coleta;

(d) Secador: equipamento com caldeira que emite o calor necessário para a secagem da madeira, oferecendo condições básicas para a sua transformação em briquetes;

(e) Silo Seco: equipamento responsável pela estocagem da serragem seca, que é transportada para a briquetadeira posteriormente;

(f) Briquetadeira: equipamento de produção propriamente dita do briquete. A madeira é compactada a altas temperaturas, de forma que plastifique a lignina e transforme o pó em um cilindro homogêneo.

(g) Embalagem: geralmente, os briquetes são embalados em sacos de ráfia, garantindo maior higiene no transporte e na estocagem do produto;

(h) Estoque de Produto Acabado: última etapa do processo produtivo, onde os briquetes já embalados ficam estocados para depois serem transportados aos clientes.

Pode-se perceber que a produção dos briquetes de madeira não tem muita complexidade, principalmente porque não necessita de muitos materiais para a produção (somente da madeira com umidade em concentração adequada). Em termos de estrutura, a montagem de uma fábrica de briquetes necessita, de acordo com Abreu (2005), dos seguintes investimentos: capital em torno de R$ 250.000,00; área disponível em torno de 4000m², uma briquetadeira (por extrusão, de prensa de pistão, ou peletizadora); dois silos (úmido e seco); um moinho (ou triturador); um secador; elementos de transporte (pá carregadeira, caminhão etc); e ter entre 7 (sete) a 10 (dez) funcionários. Em aspecto mais abrangente, pode-se enxergar o processo de produção da biomassa em forma de briquete desde sua origem: as florestas. Alegria (2009) ilustra esse ciclo, conforme mostrado na Figura 5.

Fonte: Alegria (2009). Figura 5. Ciclo de geração de energia renovável a partir da biomassa da madeira.

O ciclo inicia na existência das árvores na floresta que, pelo processo da fotossíntese, absorvem o gás carbônico (CO2) e emitem o oxigênio (O2) para a atmosfera. No beneficiamento das árvores as toras são serradas e produzem a serragem como resíduo. Quando a biomassa (no caso, o briquete) da madeira é incinerada, a queima absorve o

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oxigênio (O2) da atmosfera – processo natural para que a queima ocorra – e libera o gás carbônico (CO2) fechando todo o ciclo. É importante ressaltar que a emissão de gás carbônico pela biomassa é balanceada e não acarreta prejuízos ao meio ambiente. 3.1 Características Gerais dos Briquetes A matéria-prima (serragem) deve possuir características básicas para que o briquete tenha qualidade satisfatória, assim como o tipo de briquetadeira utilizada também influencia nas características físicas do produto. O pesquisador do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), o Sr. Paulo Barreto, comentou em artigo no jornal O Liberal (2009), que a madeira brasileira, especialmente a Amazônica, é muito desejada para a produção de energia por causa do poder calorífico superior ao das espécies de outros países, o que se torna uma vantagem competitiva relevante. Duas características muito importantes da serragem são a umidade e a granulometria. Naturalmente, o processo de corte da madeira nas serrarias utiliza a água para reduzir o atrito e evitar o desgaste mais rápido da lâmina de corte. Desta forma, a serragem logo quando obtida no processo produtivo já apresenta certo teor de umidade, que se agrava quando é exposta a intempéries (a céu aberto – forma de armazenagem do material no pátio da empresa). A granulometria pode ser controlada pelo moinho, que uniformiza a tamanho do material para a produção do briquete. Segundo Abreu (2005), a umidade ideal para a fabricação do briquete deve estar concentrada entre 8% a 15% e a granulometria, por sua vez, deve estar compreendida entre 5 e 10mm. Demais informações são apresentadas na Tabela 1, a seguir.

Fonte: Adaptado de Abreu (2005) e Infoener (2009). Tabela 1. Características físicas principais dos briquetes de madeira.

Comparado com a lenha, o briquete possui muitas vantagens, que estão resumidas no Quadro 1.

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Fonte: Abreu (2005) e Brinop (2009).

Quadro 1. Comparação entre o briquete e a lenha. A comparação entre os dois tipos de biomassa revela que, em todos os aspectos analisados, os briquetes se sobrepõem à lenha quanto aos benefícios e eficiência. Desta maneira, é notável a viabilidade da utilização deste tipo de produto pelas empresas que hoje dependem da lenha ou do carvão para a geração de energia como padarias, pizzarias ou quaisquer outras que utilizem caldeiras ou fornos em seus processos produtivos.

3.2 O Suprimento da Matéria-Prima O município de Tomé-Açu, no interior do Estado do Pará, é caracterizado pela presença de várias madeireiras, que começaram a atuar após a queda do período da pimenta-do-reino. Atualmente, existem cerca de 28 serrarias ativas e 4 inativas (que pararam de funcionar por motivo desconhecido), que podem ser consideradas como potenciais fornecedores da serragem. Apesar das serrarias inativas não produzirem mais um volume diário de serragem é importante lembrar que, durante o seu período de atuação, foram armazenadas grandes quantidades do material. Pelo fato da proibição de queima da serragem, muitas serrarias apresentam estoques bastante antigos deste tipo de material (em média, 9,5 anos). Para ilustrar a dimensão desse tipo de estocagem, as Figuras 6 e 7 mostram as imagens do estoque de mais ou menos 12 anos de produção de uma madeireira do município de Tomé-Açu.

Figura 6. Estocagem de serragem de cerca de 12 anos em madeireira do município de Tomé-Açu

Figura 7. Dimensão do estoque de serragem de cerca de 12 anos em madeireira do município de Tomé-Açu

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Isso mostra a abundância e a facilidade de acesso à matéria-prima para o abastecimento de uma fábrica de briquetes instalada no município. Segundo informações locais, em média, a produção diária do município é de 14,3 toneladas de serragem das madeireiras. Desta forma, se ratifica a necessidade de um projeto que promova a destinação correta destes resíduos, dado o grande volume produzido. 3.3 O Mercado Consumidor Potencial Os consumidores de briquete são basicamente todos do setor comercial e industrial que possuem caldeiras, fornos ou lareiras. A princípio nota-se um limitante, porém se analisados tais setores, percebe-se que a quantidade consumida é contínua e de larga escala. Os possíveis clientes são: cervejarias, pizzarias, hospitais, tinturarias, cerâmicas, laticínios, residências, destilarias, abatedouros, hotéis/motéis, cerealistas, panificadoras, churrascarias, indústrias de papel, indústria de refrigerantes, lavanderias, recauchutadoras, distribuidores de briquetes, metalúrgicas, indústrias de balas, fecularias, indústria de soja etc. A Tabela 2 mostra o consumo médio de briquetes e de lenha em alguns tipos de aplicações. Fonte: Nacbriquetes (2009).

Tabela 2. Consumo médio de briquetes e de lenha em alguns tipos de aplicações A Tabela 2 mostra que o consumo de briquetes, considerando a mesma necessidade de desempenho, é bem menor se comparado ao uso da lenha. Isso o torna bastante competitivo. Para dimensionar o consumo de potenciais clientes, a Infoener (2009) cita o exemplo de pizzarias e padarias na cidade de São Paulo. Existem cerca de 5.000 pizzarias e 8.000 padarias, das quais mais ou menos 70% utilizam fornos a lenha para a produção das pizzas e pães. Estabelecimentos destes tipos consomem o equivalente a 4 (quatro) toneladas de briquetes/mês. Ou seja, somente para que este número de empresas sejam abastecidos somente por briquetes, seriam necessárias 36.400 toneladas mensais ou 254.800 m³ de lenha (dada a proporção de 1 tonelada de briquete para 7 m³ de lenha). 4. Considerações Finais O consumo da biomassa no Brasil não é recente. Isso se deve ao fato do país ser detentor de uma diversidade e abundância de recursos naturais muito grande. A exploração desses recursos, consequentemente, gerou atraso econômico e tecnológico. Com a definição de novas técnicas de aproveitamento de resíduos e programas de utilização consciente dos recursos naturais (devido a sua escassez), a utilização da biomassa representa, hoje, uma oportunidade que se direciona a vários aspectos – econômicos (em nível micro e macroeconômico), ambientais e também estratégicos. A tendência mundial do deslocamento do consumo das fontes energéticas não-renováveis para a energia-renovável está definida. Precisa-se diminuir o consumo de combustíveis não-renováveis e poluidores e adotar o uso da biomassa. Um possível nicho de mercado a ser explorado pelo uso da biomassa são os consumidores domésticos, que vem cada vez mais

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dando atenção a produtos ecologicamente corretos e cobrando ações das empresas que não prejudiquem o equilíbrio ambiental. Neste contexto, o briquete se mostra como um forte aliado no combate à destinação inadequada de resíduos no meio ambiente, agregando maior valor ao estudo da Logística Reversa nas madeireiras. Talvez, a Logística Reversa não seja uma área em que os empresários das madeireiras tenham ainda enxergado as oportunidades existentes. Porém, esse é um tema que deve fazer parte da estrutura e do planejamento estratégico dessas empresas, pois as exportações, principalmente, aumentam quando é identificado esse tipo de preocupação ecológica. Além de garantir maior competitividade para as empresas, aumentar o espaço disponível para a ampliação da instalação (pela retirada da serragem que ocupa grande volume), o tratamento dos resíduos elimina um fator que os incomodou durante muito tempo – O que fazer com um estoque tão grande de serragem? Partindo do conceito de que os briquetes são produtos obtidos por meio do aproveitamento de resíduos orgânicos, é importante destacar a possibilidade de utilização de outros tipos de resíduos, como: caroço de açaí, casca de cupuaçu e cacau, fino de carvão vegetal, bagaço de cana, casca de arroz, casca de coco, de castanha de caju e do Pará, dendê, lixo urbano, entre outros. Esses tipos de resíduos, com exceção do bagaço de cana e da casca de arroz, podem ser encontrados facilmente no município de Tomé-Açu devido a sua característica agrícola e de pólo madeireiro. Nos casos de fino de carvão e lixo urbano é necessário o planejamento e a reestruturação da linha de produção, pois estes necessitam de aglutinantes, que executem o mesmo papel da lignina presente na madeira, além de máquinas específicas para a produção dos briquetes deste tipo de matéria-prima, que não estão contempladas neste estudo. Assim, fica evidente o potencial aumento do consumo de briquetes, principalmente norteados pelas mudanças de paradigmas dos consumidores brasileiros e diante da problemática de algumas biomassas diante da abundância de matéria-prima e dos benefícios que o briquete pode oferecer. Além disso, o mercado potencial consumidor dos briquetes abre espaço para a implantação de fábricas do tipo, dado o volume necessitado diariamente para a execução de seus processos produtivos. Referências Bibliográficas ABREU, PAULO H. F DE. Formas de Aproveitamento dos Resíduos de Madeira. Disponível em: <http://www.din.uem.br/~capizo/Graduacao/TCC/2005/Apresentacao/TG-EP-44-05-AP.pps>. Acesso em: 08 mai 2009.

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