À Professora Doutora Maria do Céu Taveira, pela orientaç

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i AGRADECIMENTOS Porque é o escuro que desvenda a luz das estrelas… À Professora Doutora Maria do Céu Taveira, pela orientação deste trabalho. Um sincero agradecimento pelo apoio e desafio rumo à concretização deste e de outros projectos. Às colegas de mestrado, em particular à Joaquina, à Manuela e à Margarida, pela partilha de bons e sábios momentos e de muitas e “longas” viagens. À Carla, amiga de sempre, pelo apoio e amizade e pela partilha de conhecimento. Ao Fernando, pelo amor, pela paciência e pela compreensão. À família, em particular aos pais, pelo apoio e encorajamento que sempre deram e continuam a dar à execução de projectos de vida. A eles dedico este trabalho. Braga, 2007 Marisa Simões Carvalho

Transcript of À Professora Doutora Maria do Céu Taveira, pela orientaç

  • i

    AGRADECIMENTOS

    Porque o escuro que desvenda a luz das estrelas

    Professora Doutora Maria do Cu Taveira, pela orientao deste trabalho.

    Um sincero agradecimento pelo apoio e desafio rumo concretizao deste e de

    outros projectos.

    s colegas de mestrado, em particular Joaquina, Manuela e Margarida,

    pela partilha de bons e sbios momentos e de muitas e longas viagens.

    Carla, amiga de sempre, pelo apoio e amizade e pela partilha de

    conhecimento.

    Ao Fernando, pelo amor, pela pacincia e pela compreenso.

    famlia, em particular aos pais, pelo apoio e encorajamento que sempre

    deram e continuam a dar execuo de projectos de vida. A eles dedico este

    trabalho.

    Braga, 2007

    Marisa Simes Carvalho

  • iii

    RESUMO

    PERSPECTIVAS SOBRE A INFLUNCIA PARENTAL NA EXECUO DE PLANOS DE CARREIRA NO

    ENSINO SECUNDRIO

    O presente estudo tem como objectivo avaliar o papel dos pais no desenvolvimento

    vocacional e execuo de planos de carreira dos seus filhos tal como perspectivado por

    pais, filhos, professores e profissionais de orientao. Este estudo prossegue investigao

    anterior sobre os modelos de interveno vocacional no Ensino Secundrio (Pinto, Taveira

    & Fernandes, 2003). Alm disso, enquadra-se na linha de investigao sobre a influncia

    parental no desenvolvimento vocacional (Gonalves, 1997, 2006; Pinto & Soares, 2001,

    2002; Soares, 1998; Whiston & Keller, 2004a; Young, 1994). A primeira parte da

    dissertao rev criticamente a investigao conceptual e emprica sobre o processo de

    tomada de deciso vocacional e, mais especificamente, a influncia da famlia no mesmo. A

    segunda parte diz respeito ao estudo emprico das concepes emergentes sobre o papel

    dos pais na execuo de planos de carreira dos seus filhos. Atravs do mtodo de grounded

    theory (cf. Strauss & Corbin, 1994, 1998) foram investigadas as perspectivas emergentes

    de um total de 119 participantes, a saber: 46 alunos, 16 pais, 34 professores e 23

    profissionais de orientao. O estudo analtico realizou-se com base nas respostas

    questo aberta Para promover e apoiar o desenvolvimento da carreira dos estudantes do

    10ano, enuncie o que, em seu entender, devem fazer os pais ou encarregados de

    educao?, parte integrante de um questionrio mais vasto desenvolvido por Pinto e

    colaboradores (Pinto, 2000). Procedeu-se codificao aberta das respostas, tendo

    emergido trs temas principais da influncia parental na carreira: (i) atitudes parentais,

    (ii) interaco familiar e (iii) actividades realizadas e promovidas pelos pais, temas estes

    que integram categorias e sub-categorias diversas. Assim, de um modo geral, os

    participantes evidenciam o reconhecimento do papel dos pais no desenvolvimento

    vocacional dos filhos, atravs de atitudes parentais mais ou menos directivas, especficas e

    intencionais, da interaco com os filhos, varivel em funo de padres relacionais e

    comunicacionais, e da concretizao de actividades tais como a colaborao com a escola,

    a promoo de oportunidades/experincias e o conhecimento do/a filho/a. Embora mais

    investigao seja necessria, os dados traduzem a necessidade da interveno vocacional

    se estender alm do sistema pessoal, contemplando assim os contextos de vida e o seu

    papel no desenvolvimento da carreira.

  • v

    ABSTRACT

    PERSPECTIVES OF THE PARENTAL INFLUENCE IN CAREER CHOICE IMPLEMENTATION IN

    HIGHSCHOOL

    The main goal of this study is to assess parents role in the vocational development

    and in the career choice implementation of children in highschool, in the perspective of

    parents, children and, also, teachers and career counselors. This study continues a

    previous investigation on models of vocational interventions in Portuguese Secondary

    Schools (Pinto, Taveira & Fernandes, 2003). Moreover, it follows the inquiry line on the

    parental influence in the children and adolescent vocational development (Gonalves,

    1997, 2006; Pinto & Soares, 2001, 2002; Soares, 1998; Whiston & Keller, 2004a; Young,

    1994). The first part of this dissertation revises in a critical way the conceptual and

    empirical investigation on the process of career decision making and, more precisely, the

    familys influence on it. The second part respects to the empirical study on the emerging

    concepts about parents role in the execution of career plans and decisions. Through the

    method of grounded theory (cf. Strauss & Corbin, 1994, 1998) were investigated the

    emerging perspectives of a total of 119 participants, they were: 46 pupils, 16 parents, 34

    teachers and 23 career counselors. The answers to the open question In your opinion,

    what can parents do to promote the career decision making and development of their 10th

    grade school children? was analysed, taking into consideration the children, parents,

    teachers and career counsellors perspectives. The results evidenced the emergence of the

    following themes of parental influences: (i) parental attitudes, (ii) family interaction and

    (iii) activities with and promoted by the parents. Each one of the referred themes is

    organized in categories and sub-categories, which varies according to the considered

    group. In general terms, the participants recognize the parents role on their children

    career decision making and development through parental attitudes more or less directed,

    specific and intentional, interaction with the students, which varies in function to

    relational and communication standards, and concreteness of activities such as

    collaborating with school, promoting opportunities and knowledge of the child. Although

    more research in this theme is needed, the results show the need of expanding vocational

    interventions through personal systems, observing the contexts of life and its role in the

    decision making and career development.

  • vii

    NDICE

    Lista de quadros e de figuras ix

    INTRODUO GERAL 1

    PARTE I. A EXECUO E O AJUSTAMENTO A PLANOS DE CARREIRA: A

    INFLUNCIA PARENTAL 9

    CAPTULO 1. A Execuo e o Ajustamento a Planos de Carreira na Teoria

    Vocacional 11

    1.1. As teorias de deciso e do desenvolvimento da carreira: contributos

    para o estudo da execuo e do ajustamento a planos de carreira 12

    1.1.1. Contributos dos modelos descritivos 17

    1.1.2. Contributos dos modelos prescritivos 29

    1.1.3. Sntese dos contributos para o estudo da execuo e do

    ajustamento a planos de carreira 31

    CAPTULO 2. Influncia Parental na Carreira 37

    2.1 Teorias e modelos explicativos 39

    2.1.1 Modelos estruturais 39

    2.1.2 Modelos psicodinmicos 40

    2.1.3 Modelos desenvolvimentistas 42

    2.1.4 Modelos contextualistas 46

    2.1.5 Modelos cognitivo-comportamentais 48

    2.2 Estudos empricos 50

    2.2.1 Valores 50

    2.2.2 Encorajamento parental 51

    2.2.3 Interaco pais-filhos 52

    2.2.4 Modelos de papis e figuras de identificao 52

    2.2.5 Comportamento intencional 53

    2.3 A influncia parental na tomada de deciso vocacional 55

  • viii

    PARTE II. MLTIPLAS PERSPECTIVAS SOBRE O PAPEL DOS PAIS NA

    EXECUO E AJUSTAMENTO A PLANOS DE CARREIRA: ESTUDO

    EMPRICO 61

    CAPTULO 3. Apresentao do Estudo Emprico 63

    3.1. Objectivos 63

    3.2. Mtodo 63

    3.2.1. Participantes 66

    3.2.2. Instrumentos 67

    3.3. Procedimentos 68

    CAPTULO 4. Resultados do Estudo Emprico 75

    4.1. Apresentao 75

    4.1.1.Perspectivas dos alunos 75

    4.1.2.Perspectivas dos pais 78

    4.1.3.Perspectivas dos professores 81

    4.1.4.Perspectivas dos profissionais de orientao 84

    4.1.5.Sntese 87

    4.2. Discusso e concluses 88

    CONCLUSO GERAL 98

    BIBLIOGRAFIA 105

    ANEXOS 119

  • ix

    Lista de quadros

    Quadro 1.1. Sntese do modelo proposto por Harren (1979, p. 121). 26

    Quadro 2.1. Conceitos principais da teoria da aco (adaptado de Young et al., 2002,

    p. 219). 47

    Quadro 2.2. Sntese das variveis vocacionais apresentadas nos estudos revistos

    por Whiston e Keller (2004a) a propsito da influncia da famlia no

    desenvolvimento vocacional. 56

    Quadro 3.1. Exemplo de ficha de anlise das respostas dos estudantes questo Para

    promover e apoiar o desenvolvimento da carreira desses estudantes,

    enuncie o que, em seu entender, devem fazer os pais ou encarregados de

    educao?. 70

    Quadro 3.2. Reorganizao dos dados por temas, categorias e sub-categorias. 72

    Quadro 3.3. Exemplo de grelha de categorizao. 73

    Quadro 3.4. Perspectiva dos alunos sobre a questo Para promover e apoiar o

    desenvolvimento da carreira desses estudantes, enuncie o que, em seu

    entender, devem fazer os pais ou encarregados de educao?: Grelha de

    categorizao e frequncias. 76

    Quadro 3.5. Perspectiva dos pais sobre a questo Para promover e apoiar o

    desenvolvimento da carreira desses estudantes, enuncie o que, em seu

    entender, devem fazer os pais ou encarregados de educao?: Grelha de

    categorizao e frequncias. 79

    Quadro 3.6. Perspectiva dos professores sobre a questo Para promover e apoiar o

    desenvolvimento da carreira desses estudantes, enuncie o que, em seu

    entender, devem fazer os pais ou encarregados de educao?: Grelha de

    categorizao e frequncias. 82

    Quadro 3.7. Perspectiva dos tcnicos de orientao sobre a questo Para promover

    e apoiar o desenvolvimento da carreira desses estudantes, enuncie o que, em

    seu entender, devem fazer os pais ou encarregados de educao?: Grelha de

    categorizao e frequncias. 85

    Quadro 3.8. Perspectiva dos participantes sobre a questo Para promover e apoiar

    o desenvolvimento da carreira desses estudantes, enuncie o que, em seu

    entender, devem fazer os pais ou encarregados de educao?: Grelha de

    categorizao e frequncias. 88

    Lista de figuras

    Figura 3.A. Diagrama resultante da codificao aberta. 71

  • INTRODUO GERAL

  • 3

    Changing ones mind will be an essential decision-making skill in the future. Keeping the

    mind open will be another. Positive uncertainty helps clients deal with ambiguity, accept

    inconsistency, and utilize the intuitive side of choosing.

    Gelatt, 1989, p. 252

    As palavras de Gelatt (1989) transpiram o contexto scio-histrico actual,

    caracterizado pela ambiguidade, complexidade e imprevisibilidade do mercado de

    trabalho. Ao longo das ltimas dcadas, o mundo tem sofrido mutaes que

    transformam necessariamente o modo como vivemos, compreendemos e

    perspectivamos o futuro. De facto, parece haver consenso quanto s caractersticas

    de incerteza e imprevisibilidade associadas ps-modernidade (Gelatt, 1989;

    Guindon & Richmond, 2005; Harrington & Harrigan, 2006; Mortimer, Zimmer-

    Gembeck, Holmes & Shanahan, 2002). A propsito, Guindon e Richmond (2005)

    acentuam a ambiguidade, mutabilidade, relativismo e interdependncia como

    caractersticas dominantes da poca de ps-modernidade, que a transformam num

    desafio constante para os indivduos.

    A inovao tecnolgica, a crescente complexidade do trabalho, as rpidas

    mudanas estruturais associadas s profisses, a expanso da educao de nvel

    superior e a bifurcao do carcter do trabalho em trabalhadores qualificados e

    no qualificados, tendem a estimular o desejo e a necessidade de progresso

    escolar ou de formao no mundo global. Alm disso, caractersticas como a

    polivalncia, a itinerncia e a flexibilidade tendem a contribuir para um aumento

    da complexidade e imprevisibilidade do trabalho (Crespo, Gonalves & Coimbra,

    2001; Mortimer et al., 2002). Mortimer e colaboradores (2002), num estudo

    qualitativo a propsito da escolha profissional, revelam que os indivduos

    associam o alargamento da idade de entrada no mercado de trabalho e a

    imprevisibilidade e complexidade do mesmo, ao adiar ou reformular de projectos

    de vida (profissional e pessoal). Isto eleva a meta dos indivduos e das sociedades

    ao nvel do desenvolvimento de competncias transversais necessrias

    adaptabilidade (Crespo et al., 2001; Gomes, 2003; Savickas, 1997). Deste ponto de

    vista, deixa de fazer sentido a clivagem entre desenvolvimento vocacional e outras

  • 4

    dimenses do desenvolvimento humano. O desenvolvimento vocacional, como a

    trajectria que cada sujeito constri nos quotidianos das suas vidas, pelos

    mltiplos papis em que cada histria se concretiza, poder ser considerado como

    a dimenso de sntese, de integrao de todas as dimenses da existncia (Campos,

    1980). Assim, contribuir para o estudo do desenvolvimento vocacional e, em

    particular, dos processos de tomada de deciso, conduz-nos por trajectos

    desenvolvimentistas, contextualistas e construtivistas (Guindon & Richmond,

    2005; Harrington & Harrigan, 2006).

    Com efeito, hoje entendemos o desenvolvimento vocacional como uma

    dimenso do desenvolvimento humano no circunscrito ao papel de trabalhador. O

    desenvolvimento vocacional poder definir-se como o itinerrio seguido pelo

    indivduo na sua realizao histrica, atravs de todas as posies que vai

    ocupando, nos diferentes papis em que tal histria se concretiza (Campos, 1989).

    Nesta perspectiva, importa tecer algumas consideraes sobre a noo de

    desenvolvimento vocacional privilegiada. Comecemos por contemplar a ideia

    subjacente afirmao que nos encaminha para uma concepo

    desenvolvimentista da carreira. Super (1990) esquematiza o desenvolvimento

    vocacional nas suas dimenses latitudinal e longitudinal, identificando um

    conjunto de papis e de fases que resultam em maturidade vocacional. A convico

    de que o desenvolvimento vocacional ocorre ao longo do ciclo de vida e se

    concretiza nos diferentes papis remete-nos para a viso contextualista da

    carreira. De facto, consensual o papel dos contextos no desenvolvimento

    humano. Retomando os trabalhos de Bronfenbrenner (1979), aludiramos

    concepo do desenvolvimento humano como fruto da ecologia na qual o indivduo

    co-constri histrias de vida. A famlia aparece, assim, como um dos contextos no

    qual o desenvolvimento humano e, em particular, o desenvolvimento vocacional

    ocorre. No podemos, evidentemente, circunscrever a ecologia humana ao

    contexto familiar, mas podemos conhecer o papel da famlia tomando em

    considerao dimenses meso, macro e cronossistmicas (Bronfenbrenner, 1979;

    Gonalves, 2006; Soares, 1998; Vondracek, Lerner & Schulenberg, 1986).

    O reconhecimento da influncia parental encontra-se de forma mais ou

    menos explcita nos diversos modelos conceptuais de carreira e confirma-se nos

    estudos empricos sobre o tema. Alm disso, pais e filhos reclamam este papel,

  • 5

    quando ouvidos nos domnios da investigao e da interveno (Pinto & Soares,

    2002). Por um lado, tm-se verificado esforos multissistmicos coerentes com

    este reconhecimento, nomeadamente por parte de pais e filhos, que anunciam o

    papel dos pais no desenvolvimento vocacional, de professores e tcnicos de

    orientao que tm procurado empreender esforos de promoo do

    envolvimento parental no processo de crescimento acadmico e vocacional dos

    filhos e da esfera poltica onde se tm evidenciado medidas de reforo deste

    envolvimento, o que, no seu conjunto, tende a traduzir a crena de que os pais tm

    um papel determinante na vida dos filhos. Por outro lado, a investigao tem

    trazido luz o consenso em torno da questo da influncia parental no

    desenvolvimento vocacional (Gonalves, 1997, 2006; Pinto & Soares, 2002; Soares,

    1998; Whiston & Keller, 2004a; Young, Valach, Ball, Paseluikho, Wong, et al., 2001;

    Young, Valach & Collin, 2002; Young, Marshall, Domene, Arato-Bolivar, Hayoun et

    al., 2005).

    Fica justificada, assim, a necessidade de investimento na temtica, quer do

    ponto de vista da investigao, quer do ponto de vista da interveno. Estes

    aspectos surgem reforados em alguns trabalhos, nos quais se evidencia, tambm,

    a necessidade de um quadro conceptual que contemple a complexidade do

    fenmeno (Blustein, 2004; Whiston & Keller, 2004ab). Assim, este trabalho

    pretende contribuir para o aprofundamento do estudo acerca do papel dos pais na

    promoo do desenvolvimento vocacional dos filhos e, especificamente, na

    execuo de planos de carreira.

    Reafirma-se que o desenvolvimento vocacional no se limita a uma escolha

    de vida previsvel e racional mas evolui como uma narrativa que se vai

    escrevendo e reescrevendo no itinerrio histrico social do indivduo, nas

    coordenadas de pequenos projectos viveis (Gonalves, 2000). Por isto, no

    quadro do grande projecto de vida (carreira), no podemos ignorar os

    pequenos projectos que tendem a aglutinar-se em torno de momentos de

    transio. Um destes momentos diz respeito transio do Ensino Bsico para o

    Ensino Secundrio, que se configura como um problema de carreira que conduz a

    um processo de tomada de deciso. So vrios os autores que se tm dedicado ao

    estudo da tomada de deciso de carreira, contribuindo para o desenvolvimento de

    diferentes modelos (cf. Jepsen & Diley, 1974; Phillips & Pazzienza, 1988). Neste

  • 6

    contexto so de referir os modelos apresentados por Tiedeman e colaboradores

    (1961; Tiedeman & OHara, 1963; Tiedeman & Miller-Tiedeman, 1984), por Harren

    (1979) e por Peterson, Sampson e Reardon (1991) dedicados explicao da fase

    de implementao de uma escolha de carreira.

    Nesta linha, o presente trabalho procura contribuir para o aprofundamento

    do estudo do papel dos pais no desenvolvimento vocacional e, especificamente, na

    execuo de planos de carreira. Para o efeito, incide na explorao das

    perspectivas dos estudantes e dos diferentes agentes educativos sobre os

    contributos dos pais e encarregados de educao na prossecuo de objectivos

    vocacionais. Este trabalho aparece acoplado a uma investigao de maior

    amplitude, que visa a construo de um modelo conceptual que sustente a

    interveno vocacional em fases de implementao de escolhas de carreira no

    Ensino Secundrio (Pinto, Taveira & Fernandes, 2003).

    Na Primeira Parte deste trabalho A Execuo e o Ajustamento a Planos de

    Carreira: A InflunciaParental procura-se dar conta das principais linhas de

    evoluo da temtica, em termos tericos e empricos.

    O Captulo 1 A Execuo e o Ajustamento a Planos de Carreira na Teoria

    Vocacional apresenta o conceito de tomada de deciso vocacional, de acordo com

    a sua evoluo histrica e com base nos modelos descritivos e preescritivos da

    tomada de deciso vocacional (cf. Jepsen & Diley, 1974). Identificada a execuo de

    planos de carreira como uma fase do processo de tomada de deciso, privilegiamos

    os modelos descritivos propostos por Tiedeman (1961) e por Harren (1979), na

    medida em que caracterizam essa mesma fase do processo de deciso numa

    perspectiva desenvolvimentista e construccionista da carreira. Conclumos este

    captulo com uma sntese do conceito de execuo ou implementao de planos de

    carreira luz de alguns contributos tericos e empricos da Psicologia Vocacional.

    O Captulo 2 A Influncia Parental na Carreira - incide na apresentao dos

    diferentes modelos tericos e estudos empricos sobre o papel e influncia dos pais

    no desenvolvimento da carreira dos seus filhos. No que diz respeito aos modelos

    tericos, daremos particular nfase queles que abordam explicitamente o

    fenmeno da influncia parental, como o caso do modelo de inspirao

    psicodinmica proposto por Anne Roe (Roe & Lunneborg, 1990), da teoria de

    Super (1990) acerca do desenvolvimento da carreira ao longo do ciclo de vida, da

  • 7

    teoria contextualista de Vondracek e colaboradores (1983, 1986, 1990, 2007) e do

    modelo de Young e colaboradores (2001/2002, 2002), que d nfase

    intencionalidade das aces dos pais no desenvolvimento da carreira dos seus

    filhos. Quanto aos estudos empricos, a investigao apresentada est organizada

    em duas grandes linhas: (i) uma relacionada com factores de oportunidade

    disponveis na famlia e que contribuem para o desenvolvimento do indivduo (e.g.,

    estatuto socio-econmico dos pais, meio tnico de origem e configurao familiar)

    e (ii) outra relacionada com os processos familiares designadamente prticas de

    socializao e relaes pais-filhos (e.g., valores, encorajamento parental, interaco

    pais/filhos, modelos de papis e figuras de identificao proporcionadas pelos pais

    e comportamento intencional) (cf. Schulenberg, Vondracek & Crouter, 1984). Por

    fim, apresenta-se uma sntese dos dados relativos ao processo de influncia

    parental na tomada de deciso vocacional dos filhos. Procura-se ressaltar os

    aspectos mais relevantes desta influncia na fase executria da deciso de carreira

    dos filhos.

    Na Segunda Parte do trabalho Mltiplas Perspectivas sobre o Papel dos

    Pais na Execuo e Ajustamento a Planos de Carreira: Estudo Emprico - descreve-

    se o estudo emprico, que tem por objectivo identificar as perpectivas de alunos e

    agentes educativos sobre o papel dos pais na execuo de planos de carreira no

    Ensino Secundrio.

    O Captulo 3 Apresentao do Estudo Emprico apresenta o estudo, com

    referncia aos objectivos, ao mtodo e aos procedimentos de observao,

    tratamento e anlise dos dados.

    O Captulo 4 Resultados do Estudo Emprico procede apresentao e

    discusso dos resultados de investigao. Apresentam-se e discutem-se os

    resultados do estudo qualitativo, baseado no mtodo de grounded theory.

    Finalmente, na Concluso Geral enunciam-se as ideias principais retiradas

    do estudo terico e emprico sobre a influncia parental na execuo de planos de

    carreira, refletem-se as limitaes do estudo e sugerem-se implicaes para a

    investigao e prtica no domnio da Psicologia Vocacional e, particularmente, da

    influncia parental no desenvolvimento da carreira de jovens.

  • PARTE I A EXECUO E O AJUSTAMENTO A PLANOS DE

    CARREIRA: A INFLUNCIA PARENTAL

  • 11

    CAPTULO 1

    A Execuo e o Ajustamento a Planos de Carreira na Teoria Vocacional

    A tomada de deciso vocacional constitui um tpico central na Psicologia

    Vocacional. At ao advento dos modelos desenvolvimentistas, a escolha vocacional

    foi perspectivada como um momento isolado. A partir da, passou a ser concebida

    como um processo enquadrado no desenvolvimento vocacional. Ao longo do

    desenvolvimento, existem fases propcias ocorrncia de transies vocacionais,

    com a consequente necessidade de fazer escolhas (Taveira, 2005). No quadro do

    Sistema Educativo Portugus, a concluso da escolaridade obrigatria suscita aos

    jovens um problema de carreira, inerente transio escolar/profissional, que

    implica uma escolha. A deciso vocacional , nesta linha de pensamento, entendida

    no quadro de um processo de desenvolvimento. Tiedeman (1961) considera que a

    anlise do desenvolvimento vocacional deve ser orientada em funo das vrias

    decises que a pessoa toma, medida que se desenvolve. este conjunto de

    decises que constitui, em si mesmo, o desenvolvimento vocacional.

    Confirmando o lugar central que o conceito de deciso ocupa na Psicologia

    Vocacional, destacaramos a diversidade de modelos de deciso que contribuem

    para a explicao do fenmeno (cf. Jepsen & Diley, 1974; Phillips & Pazienza,

    1988). De acordo com Jepsen e Diley (1974) os modelos de deciso de carreira

    podem dividir-se em dois grandes tipos: (i) modelos prescritivos, que prescrevem

    modos ideais de tomar decises, reportando para a racionalidade do decisor e do

    processo de deciso; (ii) modelos descritivos, que procuram descrever a forma

    como os indivduos tomam as decises. Estes ltimos distinguem diferentes fases

    do processo de tomada de deciso face a um problema de carreira, nomeadamente

    a fase de execuo ou implementao da escolha. Contudo, apesar do

    reconhecimento generalizado da importncia da implementao da escolha

    enquanto fase do processo de tomada de deciso, a investigao conceptual e

    emprica sobre o tema parece escassa (Phillips, 1992). So excepes os modelos

    de Tiedeman (1961; Tiedeman & OHara, 1963; Tiedeman & Miller-Tiedeman,

    1984), de Harren (1979) e de Peterson, Sampson e Reardon (1991), assim como

    alguns trabalhos empricos desenvolvidos por Lent e colaboradores (Lent, Brown,

    Talleyrand, McPartland, Davis, Chopra e colaboradores, 2002), Jome e Phillips

  • 12

    (2005) e Germeijs e Verschueren (2007). Podemos, ainda, entender como

    contributos para o estudo da execuo de planos de carreira, os trabalhos sobre o

    ajustamento e a adaptabilidade na carreira desenvolvidos por outros autores

    vocacionais (Blustein, Phillips, Jobin-Davis & Finkelberg, 1997; Dawis, 2005; Griffin

    & Hesketh, 2005; Lent, 2004ab; Myers & Cairo, 1992; Savickas, 1997; Silva, 2002;).

    Ao longo do presente captulo, discute-se a problemtica da tomada de

    deciso vocacional, dando particular destaque fase de execuo ou

    implementao da escolha. Assim, comearemos por apresentar o conceito de

    deciso vocacional, remetendo para a sua evoluo histrica. Sem perder de vista a

    perspectiva ecolgica, far-se- uma aproximao ao conceito de deciso no sentido

    da adaptabilidade vocacional (Guindon & Richmond, 2005; Mortimer et al., 2002;

    Savickas, 1997). Passaremos revista aos modelos de tomada de deciso vocacional,

    organizando-os de acordo com a proposta de Jepsen e Diley (1974) em modelos

    descritivos (e.g. Tiedeman & OHara, 1963; Harren, 1979; Peterson, Sampson &

    Reardon, 1991) e modelos prescritivos (e.g. Gelatt, 1989; Gati, 1986).

    . O enfoque ser colocado nos modelos descritivos de Tiedeman (1961;

    Tiedeman & OHara, 1963; Tiedeman & Miller-Tiedeman, 1984) e de Harren

    (1979), dada a referncia especial destes autores fase de implementao da

    escolha. Por fim, aprofundamos o conceito de implementao/execuo de planos

    de carreira, relacionado com o estudo em causa.

    1.1.As teorias de deciso e do desenvolvimento da carreira: contributos para o

    estudo da execuo e do ajustamento a planos de carreia

    Presentemente, o processo de deciso ou escolha vocacional constitui um

    tpico central da Psicologia Vocacional. Ainda que nem sempre tenha assumido um

    papel de destaque na explicao do desenvolvimento e do comportamento

    vocacionais, o processo de deciso vocacional tomado como um elemento central

    no domnio desde as suas origens (Santos, 2005).

    Classicamente, a interveno vocacional foi perspectivada como um

    processo de ajustamento entre as caractersticas individuais e o leque de

    oportunidades educacionais e profissionais. Relembremos como Frank Parsons,

  • 13

    cuja obra Choosing a Vocation normalmente apontada como um marco de

    referncia no mbito da Psicologia Vocacional, sintetizou processo de deciso

    vocacional (Parsons, 1909, in Campos, 1976). Este autor define a escolha

    vocacional em trs grandes factores: (i) man analysis, a compreenso que o

    sujeito tem de si e das suas capacidades, aptides, interesses, ambies, recursos e

    limitaes; (ii) job analysis, o conhecimento que o sujeito tem do meio; (iii) joint

    and cooperative comparison of these two sets os analysis, isto , o raciocnio que faz

    sobre as relaes entre os dois grupos de factores anteriores (Campos, 1976;

    Philips & Pazienza, 1988).

    Entre os continuadores da concepo parsoniana, aparecem duas

    tendncias: (i) os que privilegiam a primeira etapa do modelo anterior (man

    analysis), em geral psiclogos, aperfeioada com a criao de testes psicolgicos e

    com o aparecimento das teorias factoriais e, (ii) os que se centram na segunda fase

    do modelo (job analysis), geralmente docentes (Campos, 1976). Da evoluo do

    modelo parsoniano, resulta a abordagem designada por Trao-Factor, que durante

    dcadas foi a concepo dominante da Psicologia Vocacional. Neste quadro,

    prope-se a organizao do processo de interveno em trs grandes momentos,

    consubstanciados na recolha de informaes sobre as caractersticas pessoais do

    cliente, na interpretao da avaliao psicolgica realizada e na disponibilizao da

    informao vocacional em funo do perfil psicolgico avaliado. Percebe-se que,

    neste contexto, a autonomia de deciso do indivduo relativamente limitada,

    ficando o profissional responsvel pela indicao da via ou vias vocacionais

    adequadas ao sujeito. Alm disso, a escolha vocacional perspectivada como um

    acontecimento isolado, privilegiando-se o contedo em detrimento do processo de

    deciso (Santos, 2005).

    Todavia, a escolha vocacional comea, mais tarde, a ser lida pelos modelos

    desenvolvimentistas da carreira. Estes modelos sublinham que as escolhas no so

    repentinas e sem antecedentes e, por isso, no se circunscrevem a um momento

    pontual de deciso. O termo de referncia passa a ser a carreira, isto , a srie de

    profisses pr-profissionais, profissionais e ps-profissionais ocupadas por um

    indivduo durante toda a sua existncia (Campos, 1976, p.104).

    Do referido, advm que o conceito de deciso vocacional assume diferentes

    facetas em funo do quadro terico que lhe subjaz. Brda (2001) diferencia as

  • 14

    abordagens person-environment fit, sistmicas, desenvolvimentistas e

    construtivistas no modo como conceptualizam a deciso vocacional. No que diz

    respeito s abordagens person-environment fit, a deciso resultado de um

    problema de incongruncia, por isso, redunda na reposio da congruncia entre a

    pessoa e o meio. A deciso caracterizada e avaliada pelo seu contedo. A

    perspectiva sistmica-ecolgica entende a deciso como o processo ou actividade

    desenvolvimental da personalidade, inscrita na dinmica da relao com o meio

    (processo), quanto como modo de inflectir essa relao, dispondo dela (contedo)

    (Brda, 2001, p. 109). As abordagens desenvolvimentistas, destacando a dinmica

    de reciprocidade entre o meio e a pessoa, chamam a ateno para a importncia da

    deciso em termos pessoais e sociais. As abordagens construtivistas (em

    particular, o construccionismo social) advogam que a deciso de carreira est

    inscrita nos significados sociais e prescrita como aposta moral. Aqui o indivduo

    assume responsabilidade pelo seu futuro e, particularmente, pelos seus os

    projectos, num dilogo com os outros (Brda, 2001, p.110).

    Assim, o processo de deciso vocacional organiza-se em torno de trs

    abordagens distintas. A primeira enquadra o deciso vocacional num processo

    evolutivo que ocorre ao longo de vrios estdios de desenvolvimento (e.g. Harren,

    1979; Super, 1991; Tiedeman, 1961). A segunda analisa o modo como os

    indivduos fazem escolhas, partindo de diversos quadros tericos (e.g. Gellat,

    1989). A terceira e ltima abordagem centra-se nas variveis individuais que

    distinguem os decisores (e.g. Harren, 1979; Phillips, 1997).

    A concepo dominante de deciso de carreira parece organizar-se em

    torno de trs grandes temas. Por um lado, reala a ideia de emergncia da deciso

    em perodos de transio lacunares ou problemticos, contribuindo para a

    definio de uma trajectria pessoal. Por outro lado, destaca a importncia da

    seleco e do investimento em alternativas de aco. Por fim, atribui um papel de

    relevo considerao das realidades e estimao das probabilidades de um bom

    ajustamento (Brda, 2001). Jepsen e Dilley (1974) afirmam que enquadramento

    conceptual do processo de deciso pressupe a presena de um decisor, uma

    situao de deciso (expectativa social) e informao relevante. O decisor toma em

    linha de conta duas ou mais alternativas e analisa-as em termos de probabilidade

    (possibilidade de ocorrncia no futuro) e valor do resultado (importncia relativa

  • 15

    para o decisor). A informao organizada de acordo com uma determinada

    estratgia, tambm designada de regras ou critrios, que orienta a juno dos

    elementos acima indicados numa determinada ordem, de forma a que julgamentos

    claros possam resultar num dado investimento de carreira (p. 332).

    Percebe-se a utilidade que os modelos tradicionais tm na compreenso da

    tomada de deciso face a acontecimentos normativos, como alis o caso da

    transio considerada neste estudo (transio do Ensino Bsico para o Ensino

    Secundrio). Todavia, Phillips (1997) advoga uma perspectiva alternativa de

    tomada de deciso, que contrasta com o modelo tradicional do conceito. Ao

    contrrio da concepo do processo de deciso como um processo metdico,

    deliberado, independente e completo, no quadro do qual um desvio constitui um

    problema, Phillips (1997) apresenta uma definio alternativa do conceito,

    acentuando as variaes inerentes tomada de deciso, nem sempre com carcter

    de racionalidade. O decisor e os contextos de deciso assumem um papel agntico

    no sentido da adaptabilidade face a situaes de carreira onde incerteza e

    imprevisibilidade ditam a ordem, exigindo toda uma diversidade de estratgias de

    deciso mais ou menos racionais (e.g. intuitiva, expressiva, consultiva) (Phillips,

    1997).

    A escolha vocacional implica a inteno de escolher um determinado

    objectivo vocacional, que pressupe uma deciso e a ponderao de vrias

    alternativas, tendo em conta a considerao das possibilidades de sucesso em cada

    uma delas (Santos, 2005) num contexto varivel e imprevisvel. Brda (2001)

    aponta a deciso de carreira como um processo que parte de um problema de

    transio e que conduz considerao, explorao, valorao e seleco entre

    diversas alternativas, atravs de um procedimento, parcialmente sistemtico e

    consciente e, em grau varivel, racional, com vista ao compromisso com uma

    alternativa e vinculao do sujeito sua implementao.

    A evoluo conceptual da deciso evoca a progresso cronolgica das

    definies de orientao escolar e profissional (cf. Rodrguez Moreno, 1998).

    Ambas traduzem o reconhecimento da amplitude, complexidade e

    imprevisibilidade do conceito de carreira. Relembremos as ideias de deciso no

    quadro do desenvolvimento vocacional e da carreira, entendido este como o

    processo de aprendizagem e de mudana contnuos nas diferentes reas de vida, e

  • 16

    de orientao vocacional como o conjunto de intervenes ou prticas que so

    utilizadas para favorecer, de um modo explicitamente deliberado, os processos de

    aprendizagem e de trabalho dos indivduos ao longo das diferentes fases de vida

    (cf. Tiedeman, 1961; Rodrguez Moreno, 1998; Taveira, 2004, 2005). Daqui advm

    uma menor dedicao s teorias normativas do desenvolvimento e a consequente

    fidelizao de abordagens transculturais e construccionistas da carreira (cf.

    Guindon & Richmond, 2005; Kileen, 1996; Taveira, 2005; Vondracek, 2007).

    De facto, a tomada de deciso numa perspectiva de ciclo de vida e de papis

    de vida contempla um elevado nvel de incerteza e de complexidade, acentuado

    pela mutabilidade dos contextos social, tecnolgico e profissional, o que permite

    antever a importncia da adaptabilidade enquanto competncia crtica

    confrontao com as circunstncias de vida (Phillips, 1997; Savickas, 1997; Silva,

    2002). A noo de adaptabilidade traduz, nas palavras de Savickas (1997), a

    integrao das perspectivas diferenciais, fenomenolgicas, desenvolvimentais e

    contextualistas. A adaptabilidade refere-se capacidade do indivduo para mudar

    em funo das cirscunstncias, enquanto a adaptabilidade vocacional a

    disponibilidade do indivduo para resolver as tarefas inerentes preparao e

    participao no mercado de trabalho e para efectuar ajustamentos s mudanas

    neste mesmo contexto. (Savickas, 1997). Trata-se de uma noo que coordena

    acontecimentos normativos e no-normativos, num contexto scio-histrico

    determinado, e que supe resilincia, positividade e flexibilidade face a mudanas

    externas e internas. Isto implica a compreenso das competncias e estilos

    adaptativos, dos objectivos, funes e processos de adaptao e da situao

    histrica e cultural associada situao.

    No seguimento do referido, percebe-se a evoluo do conceito de deciso

    vocacional no sentido do reconhecimento de uma maior subjectividade inter-

    sistmica co-construda na dinmica agntica do sujeito e do meio, sendo que este

    tem caractersticas de maior imprevisibilidade. A propsito, Gelatt (1989) fala-nos

    da incerteza positiva como uma estratgia de tomada de deciso necessria ps-

    modernidade, no sentido em que permite aos indivduos lidar com a mudana e

    com a ambiguidade, aceitar a incerteza e a inconsistncia e utilizar a verso no

    racional e intuitiva do pensamento e da escolha. Acentuando a incerteza e a

    imprevisibilidade que caracterizam as vivncias actuais, o autor prescreve trs

  • 17

    linhas orientadoras tomada deciso: (i) trata os factos com imaginao mas no

    imagines os factos; (ii) conhece o que queres e em que acreditas mas no tenhas

    certezas; (iii) s racional, a no ser que exista uma boa razo para no o ser

    (Gelatt, 1989, p. 256). Assim, o autor considera que uma deciso de carreira inclui

    sempre um certo grau de incerteza positiva.

    1.1.1. Contributos dos modelos descritivos

    Em geral, os modelos descritivos procuram explicar o processo de tomada

    de deciso vocacional tal como ele ocorre, dando resposta questo Como so

    tomadas as decises de carreira?. Pode dizer-se que estudam o fenmeno

    natural pelo qual as pessoas decidem. Nesta linha, um modelo de deciso

    consiste numa descrio de um processo psicolgico no decurso do qual se

    organiza informao, se pondera sobre as alternativas existentes e se investe num

    curso de aco (Harren, 1979, p.119).

    Phillips e Pazienza (1988) destacam o modelo proposto por Tiedeman

    (1961; Tiedeman & OHara, 1963; Tiedeman & Miller-Tiedeman, 1984) como um

    modelo compreensivo que descreve o processo sequencial de tomada de deciso

    vocacional em dois estdios: a Antecipao e a Implementao. Com base nesta

    perspectiva, Harren (1979) prope um modelo sequencial organizado em quatro

    estdios: Conscincia, Planeamento, Compromisso e Implementao. Alm disso,

    identifica factores individuais e contextuais que influenciam o processo de tomada

    de deciso de carreira (Harren, 1979). Ambos modelos realam, assim, a

    implementao da escolha como parte integrante do processo de tomada de

    deciso, o qual lido no quadro do desenvolvimento vocacional. Tambm

    Peterson, Sampson e Reardon (1991) distinguem diferentes estdios do processo

    de tomada de deciso, entre os quais referem a execuo da escolha.

    Phillips e Pazienza (1988) apontam, ainda, outras propostas descritivas

    como modelos que procuram pormenorizar especificidades do processo de tomada

    de deciso (e.g. Hilton, 1962, Vroom, 1964, Fletcher, 1966 in Phillips & Pazienza,

    1988).

  • 18

    O modelo de Hilton (1962, in Jepsen & Diley, 1974) um modelo de tomada

    de deciso vocacional que se baseia nos mecanismos de processamento de

    informao. O autor apresenta os seguintes conceitos:

    (i) Premissas, que se definem como crenas ou expectativas acerca do

    self e do mundo (e.g. auto-percepes, atributos de papis

    ocupacionais, necessidades, percepes da estrutura social );

    (ii) Planos, que correspondem sequncia de aces associadas com a

    escolha de uma profisso;

    (iii) Dissonncia cognitiva, isto , o processo de testagem dos planos em

    funo das premissas;

    O processo de tomada de deciso inicia-se a partir de um input do ambiente

    que modifica os planos presentes do decisor. O decisor testa o input, de modo a

    verificar se provocou dissonncia, isto , se gerou inconsistncia entre os planos e

    as premissas. Caso ocorra dissonncia, o decisor explora informao relevante a

    outro plano de aco, testa-o e, caso passe o teste de dissonncia, escolhe-o.

    Na mesma linha, Peterson, Sampson e Reardon (1991) consideram que a

    tomada de deciso envolve um processo cclico de cinco fases: a Comunicao, a

    Anlise, a Sntese, a Avaliao e a Execuo. Alm disso, neste processo esto,

    tambm, implicadas metacognies (e.g. auto-verbalizaes, auto-conscincia,

    monitorizao e controlo) e disponibilidade de parte do indivduo (isto , a

    capacidade do indivduo para fazer escolhas de carreira apropriadas, tendo em

    conta a complexidade dos factores familiares, sociais, econmicos e

    organizacionais que influenciam o desenvolvimento individual). importante

    destacar aqui a noo de Execuo enquanto fase do processo de tomada de

    deciso. Os autores definem-na como a converso da cognio em aco, atravs da

    formulao e implementao de uma estratgia ou plano de aco, para o que

    contribuem as metacognies. Neste sentido, Perterson e colaboradores (1991)

    apresentam um modelo que nos auxilia na comprenso da execuo de planos de

    carreira, contudo, com um enfoque acentuado nos aspectos cognitivos do processo

    de tomada de deciso (Taveira, 2000).

    Vroom (1964, in Jepsen & Diley, 1974), pelo seu lado, d maior nfase aos

    aspectos motivacionais no processo de tomada de deciso, ao reconhecer o papel

    do indivduo no processamento dos acontecimentos exteriores e dos processos

  • 19

    psicolgicos como mediadores da previso e da avaliao na determinao da

    aco. O modelo que prope recorre aos conceitos de valncia (orientao afectiva

    do decisor para determinados resultados), de expectativa (grau em que o decisor

    acredita que os resultados so provveis) e de fora (factor cognitivo hipottico

    que controla o comportamento, ou seja, o produto da valncia e da expectativa).

    Assim, o compromisso e o investimento numa dada actividade dependem do valor,

    ou grau de satisfao obtida com a actividade, e da valncia, ou valor subjectivo

    atribudo a essa mesma actividade. De acordo com o mesmo autor, as pessoas

    desenvolvem tambm expectativas sobre o impacto de foras exteriores na tomada

    de deciso. Em consequncia, o envolvimento e a persistncia na concretizao de

    uma dada opo vocacional dependem da avaliao que o indivduo faz da relao

    entre as expectativas de resultado e o valor das oportunidades vocacionais. As

    noes desenvolvidas no mbito das perspectivas motivacionais expectativa x

    valor esto na base de modelos de tomada de deciso mais actuais que

    introduzem o conceito de auto-eficcia vocacional e adaptam os modelos de

    aprendizagem social de Bandura (1986) tomada de deciso (e.g., Lent, 2004a;

    Lent, Brown & Hackett, 2002).

    Krumboltz e colaboradores (e.g. Krumboltz & Nichols, 1990) aplicaram o

    modelo da aprendizagem social problemtica da tomada de deciso vocacional.

    De acordo com esta teoria, quatro tipos factores podem influenciar o modo como

    as pessoas lidam com as decises vocacionais: (i) equipamento de base da pessoa

    (legado gentico e aptides especficas), (ii) condies e acontecimentos do meio,

    (iii) experincias de aprendizagem instrumental, associativa e vicariante e (iv)

    competncias de execuo das tarefas (valores, padres de excelncia, hbitos de

    trabalho, processos cognitivos e perceptivos, sistemas mentais e respostas

    emocionais). O modelo reala o papel das experincias no desenvolvimento das

    preferncias e das competncias vocacionais. Conforme referido, os autores

    distinguem as experincias de aprendizagem directa e de aprendizagem vicariante.

    As primeiras incluem as experincias de aprendizagem instrumental, que ocorrem

    quando o indivduo reforado positivamente ou punido pela sua actuao, e as

    experincias de aprendizagem associativa, que acontecem quando os indivduos

    associam um estmulo emocional, positivo ou negativo, a um acontecimento ou

    actividade at a afectivamente neutra. As segundas dizem respeito aquisio e

  • 20

    exerccio de competncias atravs da observao de modelos de comportamento.

    De acordo com este modelo, a interaco entre as experincias de aprendizagem,

    as influncias do meio, as caractersticas genticas e as aptides especficas,

    determinam as competncias de resoluo das tarefas com que o indivduo se

    confronta. Mais especificamente, determinam a sua capacidade para clarificar

    valores pessoais, estabelecer objectivos, prever acontecimentos futuros, criar

    novas alternativas para a resoluo do problema, procurar e identificar fontes

    vlidas de informao e planear a aco (Taveira, 2000).

    Tambm Fletcher (1966, in Jepsen & Diley) advoga que os processos de

    tomada de deciso no so totalmente racionais. O autor afirma que o

    compromisso funo da oportunidade e da informao disponvel ao decisor.

    Alm disso, as formulaes sobre as decises de carreira so conceitos cerca do

    futuro que se baseiam nas experincias associadas a uma ou mais necessidades

    humanas.

    Janis e Mann (1977, in Taveira, 2000) evidenciam os processos emocionais

    implicados no processo de tomada de deciso. Os autores apontam que os

    indivduos experienciam conflito ou indeciso vocacional quando tm motivos

    simultneos para aceitar ou rejeitar um dado curso de aco. Quando as decises

    tm implicaes significativas para a vida da pessoa, a experincia de conflito pode

    provocar reaces emocionais de desconforto que afectam o processo de escolha

    vocacional. Com base nisto, descrevem cinco estratgias principais para lidar com

    o conflito: (i) aderncia sem conflito, (ii) mudana sem conflito, (iii) evitamento

    defensivo, (iv) hipervigilncia e (v) vigilncia. A estratgia definida em funo

    das crenas individuais cerca do risco associado deciso e do tempo que a

    pessoa dispe para concretizar a sua escolha, dos nveis de stress e do grau de

    indeciso e de certeza. Os autores definiram, ainda, sete critrios de diagnstico

    que permitem classificar os estilos de deciso vocacional descritos em funo de

    competncias vocacionais. Os critrios so (i) a discusso minuciosa de opes, (ii)

    a discusso aprofundada de objectivos, (iii) a avaliao cuidadosa das

    consequncias, (iv) a procura cuidada da informao, (v) assimilao no

    enviesada de informao nova, (vi) a reavaliao de alternativas e (vii) o

    planeamento da implementao da aco. Este modelo serviu de base ao

  • 21

    desenvolvimento de novas concepes sobre a tomada de deciso e est implcito

    em diversos modelos de interveno.

    Conforme tem sido enunciado, os modelos anteriores tendem a focalizar a

    sua ateno nas decises, no reflectindo completamente todos os factores ou

    processos envolvidos na tomada de deciso (Taveira, 2000). Por outro lado,

    Tiedeman (1961) e Harren (1979) vm enquadrar o processo de tomada de

    deciso no desenvolvimento vocacional e, neste sentido, contribuem para o

    esclarecimento do conceito numa perspectiva desenvolvimental. Pela importncia

    que assumem neste trabalho, nomeadamente pelo reconhecimento da fase da

    implementao da escolha, faz-se uma apresentao mais aprofundada destes dois

    modelos.

    Tiedeman e colaboradores (1961; Tiedeman & OHara, 1963; Tiedeman &

    Miller-Tiedeman, 1984) apresentam um modelo descritivo de deciso vocacional,

    designado de perspectiva individualista. Os autores comparam o desenvolvimento

    da carreira a uma expedio no oceano, procurando realar a capacidade agntica

    da pessoa para se adaptar ao meio, atravs de um processo dinmico de

    diferenciao e reintegrao sucessivas, com consequncias na identidade

    vocacional. Os autores definem o processo de carreira como um processo de

    crescimento e de mudana, que se define nas escolhas de carreira resultantes das

    oportunidades sociais e das caractersticas pessoais e da capacidade da pessoa se

    adaptar s circunstncias (Tiedeman & Miller-Tiedeman, 1984).

    Com base nos modelos tericos dominantes sua poca, Tiedeman e Miller-

    Tiedeman (1984), concebem o desenvolvimento vocacional, e mais

    especificamente a tomada de deciso, em funo de dois processos principais: a

    diferenciao e a (re)integrao. A diferenciao envolve a capacidade dos

    indivduos para distinguir as experincias. A integrao ou reintegrao

    correspondem ao processo pesssoal de reestruturao das experincias num todo

    significativo. O resultado destes dois processos a reestruturao hierrquica, ou

    seja, a construo de quadros de referncia mais complexos pela pessoa. O

    processo de tomada de deciso iniciado pela experincia de um problema

    vocacional e pelo reconhecimento da necessidade de tomar uma deciso. Assim,

    quando os indivduos no esto a ser desafiados, no sentem necessidade de

    activar os processos de diferenciao e de reintegrao no sentido da

  • 22

    reestruturao hierrquica. Quando, pelo contrrio, os indivduos so expostos a

    situaes desafiantes, tendem a pr em aco os processos descritos. o caso dos

    alunos portugueses que concluem o Ensino Bsico (escolaridade obrigatria) e se

    defrontam com a necessidade da escolha ou no do prosseguimento dos estudos.

    Trata-se de uma situao desafiante que conduz tomada de deciso.

    A deciso vocacional , assim, entendida como um processo dinmico que se

    desenvolve em dois estdios principais, cada um dos quais composto por sub-

    estdios: a Antecipao (explorao, cristalizao, escolha e clarificao) e a

    Implementao (induo, reformulao e integrao). O processo de tomada de

    deciso organiza-se, assim, em torno do comportamento anterior escolha e da

    aco instrumental subsequente deciso. Cada fase representa uma mudana

    discreta no estado psicolgico e no estado da deciso da pessoa. Os aspectos

    formais do problema esto presentes em todas as fases do processo, o que muda

    o carcter das consideraes sobre as opes em anlise. Importa reter que as

    mudanas no so instantneas nem irreversveis.

    A fase de Antecipao da escolha concebida como um processo de

    reestruturao hierrquica, de transformao contnua dos subsistemas do self e

    do meio, medida que ocorrem os movimentos para a fase de Implementao. Este

    perodo subdivide-se nos quatro sub-estdios seguintes: Explorao, Cristalizao,

    Escolha e Clarificao.

    O sub-estdio da Explorao ocorre quando os indivduos consideram

    diferentes alternativas e objectivos. Os objectivos relevantes so aqueles que

    podem ser concretizados nas oportunidades associadas com o problema. Alm

    disso, os objectivos disponveis so influenciados pela experincia individual

    anterior, pelo nvel de investimento na continuidade ou mudana do estado

    presente e da situao na qual o problema ocorre e pela ajuda que a pessoa

    procura ou obtm na resoluo do problema. As alternativas ou objectivos

    aparecem associados a um dado campo psicolgico, o qual constitui o contexto no

    qual a escolha ocorre. Durante este sub-estdio, as possibilidades so

    relativamente transitrias, altamente imaginadas e no necessariamente

    interrelacionadas. Formulam-se um conjunto de possibilidades e de consequncias

    desassociadas.

  • 23

    O sub-estdio de Cristalizao descreve as tentativas de clarificao da

    ordem e dos padres de objectivos e respectivos contextos. Os objectivos so

    comparados com base nas necessidades e custos, nas vantagens e desvantagens, e

    nas qualidades de exactido, inteligibilidade, complexidade e racionalidade. Pensar

    o problema permite tornar a soluo mais estvel, durvel e fivel. D-se um

    processo de avaliao, que origina valores que tendem a fixar a organizao ou a

    ordenar as consideraes relevantes em funo dos objectivos. A cristalizao

    corresponde estabilizao do pensamento, o que permite o investimento numa

    dada linha de opes. Ainda assim, este processo no necessariamente

    irreversvel, podendo verificar-se sequncias de tentativas de cristalizao, novas

    exploraes e recristalizaes.

    O sub-estdio da Escolha envolve o compromisso com um objectivo e

    respectivo contexto, o que orienta o indivduo para a aco. A escolha de um

    objectivo e do respectivo campo de aco orienta o sistema comportamental no

    sentido da resoluo do problema. Ainda assim, a opo varia no nvel de certeza e,

    consequentemente, na fora da motivao para a aco.

    O sub-estdio de Clarificao, resultante das dvidas emergentes no

    perodo que antecede a aco, envolve tentativas situadas de melhoria da auto-

    imagem da pessoa (em contexto). A dvida leva o indivduo a clarificar a sua

    posio anterior e a posicionar-se no futuro, o que permite melhorar a auto-

    imagem em contexto e dissipar as dvidas emergentes. Caso contrrio, o indivduo

    retoma fases anteriores do processo de tomada de deciso.

    Na sequncia do processo de Antecipao, o indivduo implementa a sua

    escolha. A fase de Implementao concretiza-se na confrontao com a realidade e,

    por conseguinte, supe interaco no sentido do equilbrio. Nesta fase, o indivduo

    passa pelos sub-estdios de Induo, Adaptao e Integrao.

    O sub-estdio de Induo acontece com a execuo do plano de aco, o que

    se faz na interaco do indivduo com o meio. Contudo, a implementao da

    escolha, resultado da adaptao do indivduo ao meio, difere do plano formulado. O

    indivduo torna-se parte da regio do sistema social no qual implementa o plano de

    aco, o que obriga adaptao e ao aperfeioamento desse mesmo plano.

    O sub-estdio de Adaptao resulta do feedback positivo que o grupo

    oferece ao indivduo, promovendo um forte sentido de identidade. Assim, o

  • 24

    indivduo sente-se integrado no grupo, experiencia um forte sentido de identidade

    e envolve-se activamente no desenvolvimento do grupo. Por conseguinte, actua

    simultaneamente no sentido dos objectivos do grupo e dos objectivos pessoais, por

    forma a conseguir consistncia entre ambos, o que se traduz na modificao dos

    objectivos e do campo do grupo.

    O sub-estdio de Integrao, ocorre quando o indivduo e o grupo procuram

    manter a organizao dominante atravs de uma atitude de colaborao. O

    indivduo sente-se satisfeito, pelo menos temporariamente, e o grupo considera-o

    bem sucedido. Esta fase tem, na sua essncia, a sntese dos movimentos de

    diferenciao e de integrao, o que resulta na consolidao da identidade. Ainda

    assim, a integrao corresponde a um estado que pode, a qualquer momento,

    modificar-se.

    Tiedeman e OHara (1963) consideram que o ciclo da Antecipao-

    Implementao se repete ao longo da vida, sempre que surge a necessidade de

    tomar uma deciso. O desenvolvimento de carreira no ocorre apenas no contexto

    de uma deciso mas de vrias. Alm disso, num dado momento da vida, os

    indivduos podem estar envolvidos em mais do que um processo de tomada de

    deciso numa rea do desenvolvimento ou em reas diferentes. As decises numa

    rea de vida afectam os processos de deciso nas restantes reas. Estas ideias, de

    acordo com Taveira (2000), so consistentes com a teoria e investigao da

    identidade sobre a simultaneidade do processo de identidade em diferentes

    domnios ou reas de contedo e com a noo de interdependncia de papis de

    vida de Super.

    Mais recentemente, este modelo foi desenvolvido, numa primeira fase, para

    um modelo de representao cbica e, posteriormente, para um modelo piramidal.

    No modelo cbico, o processo de deciso vocacional concebido como um

    processo proactivo constitudo pelas trs componentes seguintes:

    (i) Condies do problema: formao do problema, resoluo do

    problema, soluo do problema;

    (ii) Estados psicolgicos: explorao, clarificao e acomodao;

    (iii) Compreenso de si prprio: aprender sobre, realizar e realizar com

    conscincia;

  • 25

    Conforme apresentado, cada uma destas componentes integra um conjunto

    de dimenses que reflectem diferentes nveis de maturidade (Tiedeman & Miller-

    Tiedeman, 1984).

    Por sua vez, o modelo piramidal consiste numa hierarquia de estratgias de

    tomada de deciso, composta por quatro nveis:

    (i) Aprender acerca de;

    (ii) Resolver o problema;

    (iii) Utilizar as solues;

    (iv) Rever as solues (Tiedeman & Miller-Tiedeman, 1984).

    Conforme apresentado, o modelo proposto por Tiedeman e colaboradores

    (Tiedeman, 1961; Tiedeman & OHara, 1963; Tiedeman & OHara, 1984) assume

    particular relevo neste trabalho dadas as referncias fase de implementao luz

    de uma perspectiva desenvolvimentista e construccionista. Aquele autor refere-se

    tomada de deciso no quadro do desenvolvimento da carreira e da identidade.

    Assim, define o desenvolvimento vocacional como o processo de desenvolvimento

    pessoal visto em relao com a escolha, entrada e progresso nos percursos

    escolar e vocacional. Por conseguinte, o desenvolvimento vocacional faz-se por

    referncia a uma histria individual de decises assim como ao contexto scio-

    histrico em que aquela ocorre (Tiedeman, 1961). Tiedeman e OHara (1963)

    referem-se ao desenvolvimento da identidade em articulao com a carreira e

    identificam factores de ordem biolgica, social e cultural que esto na sua gnese.

    Alm disso, Tiedeman e colaboradores (1961; Tiedeman & OHara, 1963;

    Tiedeman & Miller-Tiedeman, 1984) realam a aco proactiva do sujeito no

    desenvolvimento da carreira, o que alis fica evidenciado nos seus modelos cbico

    e piramidal de tomada de deciso.

    No seguimento dos trabalhos de Tiedeman e colaboradores (Tiedeman,

    1961; Tiedeman & OHara, 1963), Harren (1979) prope outro modelo descritivo

    do processo psicolgico de tomada de deciso baseado na investigao com

    estudantes universitrios. Harren (1979) considera que a tomada de deciso se

    baseia num conjunto de quatro parmetros relacionados, a saber: (i) o processo de

    tomada de deciso, (ii) as caractersticas do indivduo, (iii) as tarefas

    desenvolvimentais e (iv) o tipo de deciso em causa (quadro 1.1.).

  • 26

    Quadro 1.1. Sntese do modelo proposto por Harren (1979, p. 121).

    PARMETROS CONSTRUCTOS PROCESSOS

    Processo

    Conhecimento

    Planeamento

    Compromisso

    Implementao

    Avaliao de si em situao;

    Explorao-Cristalizao;

    Integrao no auto-conceito;

    simplificao; planeamento da aco;

    Conformidade-Autonomia-

    Interdependncia; Antecipao de

    resultados (satisfao e sucesso);

    Caractersticas

    Auto-conceito Identidade

    Auto-estima

    Nvel de diferenciao e de integrao;

    Avaliao: nvel de satisfao com o

    self e de auto-confiana;

    Estilo Racional

    Intuitivo

    Dependente

    Deliberao objectiva e auto-avaliao;

    Auto-conhecimento emocional e

    fantasia;

    Negao da responsabilidade;

    Projeco nos outros; Percepo de

    opes limitadas;

    Tarefas

    Autonomia

    Maturidade interpessoal

    Sentido de inteno

    Necessidade limitada de apoio

    emocional; Instrumentalidade;

    Interdependncia cooperativa;

    Tolerncia; Confiana; Intimidade;

    Ajustamento; Planeamento do

    percurso educacional e do estilo de

    vida;

    Condies

    Avaliaes interpessoais

    Estados psicolgicos

    Feedback positivo e negativo dos

    outros;

    Nvel de ansiedade no decisor;

    Comportamentos defensivos de

    evitamento face a nveis elevados de

    ansiedade;

    Condies da tarefa Imanncia

    Alternativas

    Consequncias

    Quantidade de tempo disponvel antes

    da implementao;

    Nmero de alternativas disponveis;

    Efeitos positivos e negativos no self e

    nos outros;

    Condies do contexto Mutualidade

    Apoio

    Probabilidade

    Outro significativo como co-decisor;

    Apoio emocional e financeiro de

    outros;

    Deciso de outros necessria

    implementao;

  • 27

    O processo de tomada de deciso concebido como uma sequncia de

    quatro estdios: o Conhecimento, o Planeamento, o Compromisso e a

    Implementao. Em cada estdio, o sujeito orienta-se para problemas ou objectivos

    diversificados e envolve-se em diferentes comportamentos, com vista sua

    resoluo.

    A fase de Conhecimento, ocorre quando o indivduo faz uma avaliao de si

    na situao presente, cria a necessidade de explorao de opes e expande a sua

    perspectiva temporal. Aspectos especficos da avaliao de si na situao presente

    so a considerao das consequncias do curso da aco, o conhecimento do nvel

    actual de sucesso e de satisfao, tendo em conta as consequncias de decises

    anteriores, o nvel de auto-confiana na tomada de deciso e o nvel de presso

    exterior. Quando daqui resulta insatisfao e ansiedade, o indivduo reconhece a

    necessidade de explorar alternativas e faz-se a transio para o estdio seguinte.

    A fase de Planeamento implica a procura de informao sobre as opes

    profissionais e a integrao da informao obtida no auto-conceito. Faz-se um

    movimento de alternncia expanso-afunilamento dos processos de explorao e

    cristalizao, o que possibilita ao indivduo explorar as diferentes alternativas com

    base em critrios internos e, assim, fazer a transio para o compromisso com uma

    alternativa.

    A fase de Compromisso caracteriza-se, num primeiro momento, pelo

    investimento subjectivo e privado num domnio ou opo e, num segundo

    momento, pela obteno de feedback relativamente s opes em causa. Se o

    feedback positivo, o investimento aumenta, a deciso integrada no auto-

    conceito e o sujeito orienta-se para o futuro. A integrao do compromisso no

    auto-conceito, a reduo de dissonncia e de ansiedade antecipatria, atravs do

    reconhecimento das capacidades e dos recursos, e o planeamento da aco

    viabilizam a implementao da escolha.

    A fase de Implementao, acontece quando os indivduos se confrontam,

    reagem e so assimilados pelo novo contexto. O autor identifica trs solues de

    ajustamento ao contexto: (i) conformidade (necessidade de aprovao social), (ii)

    autonomia (afirmao de necessidades e objectivos pessoais) e (iii)

    interdependncia (considerao do self em situao e integrao de necessidades e

    de objectivos). Assim, tende a desenvolver-se um equilbrio dinmico entre o

  • 28

    sujeito e o meio que resulta em mudanas nas necessidades, objectivos e valores

    do indivduo, nos objectivos do grupo, na constituio e distribuio de poder no

    grupo e no exterior em aspectos que influenciam o grupo (Harren, 1979).

    A resoluo bem sucedida das tarefas de uma dada fase do processo de

    tomada de deciso facilita a progresso para as fases seguintes. O modelo concebe

    a possibilidade de bloqueamento num dado estdio ou a reciclagem ao longo dos

    diferentes estdios. Conforme referido anteriormente, as caractersticas, as tarefas

    e as condies inerentes ao processo de deciso so factores determinantes da

    evoluo ao longo do mesmo. As caractersticas individuais referem-se a traos de

    personalidade que determinam a percepo do sujeito acerca das tarefas e das

    condies e que, por isso, influenciam a evoluo no processo de tomada de

    deciso. Entre estas caractersticas destaca-se o auto-conceito (identidade e auto-

    estima) e os estilos de tomada de deciso (racional, intuitivo e dependente). H,

    tambm, a necessidade dos indivduos lidarem com trs tarefas desenvolvimentais

    principais: a autonomia, a maturidade interpessoal e a finalidade. Alm disso,

    factores psicolgicos e situacionais como a avaliao interpessoal, os estados

    psicolgicos, as condies da tarefa e as condies do contexto influenciam a

    tomada de deciso (Harren, 1979). O pressuposto fundamental deste modelo que

    a tomada de deciso, enquadrada no desenvolvimento vocacional, ocorre ao longo

    dos diferentes estdios, que dependem da interaco das caractersticas dos

    indivduos com o tipo de deciso em causa e com o contexto envolvente da

    situao de tomada de deciso.

    Com base nos parmetros relativos ao processo, caractersticas, tarefas e

    condies da tomada de deciso vocacional, Harren (1979) afirma que o decisor

    efectivo se caracteriza da seguinte forma: (i) auto-estima de nvel moderado a alto;

    (ii) auto-conceito realista, mas flexvel e aberto a novas experincias; (iii) auto-

    conceito altamente diferenciado (i.e. conscincia clara de interesses, valores,

    competncias, entre outros); (iv) auto-conceito integrado (i.e. identidade

    relativamente estvel, o que resulta em comportamentos intencionais e

    consistentes); (v) responsabilidade pela tomada de deciso; (vi) escolha suportada,

    fundamentalmente, por estilo racional de tomada de deciso; (vii) crescimento no

    sentido da resoluo das trs tarefas desenvolvimentais apresentadas pelo autor

  • 29

    (autonomia emocional e instrumental, relaes interpessoais maduras e sentido de

    inteno).

    O modelo descritivo proposto por Harren (1979) assume, assim, a

    interaco dinmica entre o sujeito e o meio no processo de tomada de deciso

    vocacional, situando-o no quadro do desenvolvimento da carreira. Alm disso,

    refere-se fase de implementao da escolha como uma tarefa significativa do

    processo de tomada de deciso.

    1.1.2. Contributos dos modelos prescritivos

    Os modelos prescritivos centram-se nas decises e na escolha vocacional,

    constituindo tentativas de ajuda aos indivduos na tomada de deciso com vista

    reduo de erros de escolha. Estes modelos procuram responder questo Como

    tomar melhores decises? e, neste sentido, prescrevem o caminho a seguir na

    tomada de deciso (Phillips & Pazienza, 1988; Jepsen & Dilley, 1974). O decisor

    comparado a um cientista, que procura a informao necessria ao processo de

    tomada de deciso e que a utiliza na definio de uma escolha susceptvel de uma

    implementao bem sucedida. Assim, estes modelos prescrevem estratgias de

    tomada de deciso baseados nos mtodos cientfico, estatstico/matemtico e

    econmico (cf. Jepsen & Dilley, 1974).

    Katz (1963, in Jepsen & Diley, 1974) apresenta um modelo de tomada de

    deciso que enfatiza a estrutura a usar na orientao escolar e profissional de

    acordo com o mtodo estatstico/matemtico. Este modelo distingue-se de outros

    por privilegiar a identificao e definio de valores na escolha vocacional. Os

    valores so entendidos como os objectivos ou estados desejados. O decisor

    desenvolve a sua lista de valores dominantes e hierarquiza-os de acordo com a

    magnitude de valor. em funo desta que faz a escolha.

    Assumindo que uma das funes do aconselhamento ajudar os alunos a

    fazer boas decises, Gelatt (1962, in Jepsen & Diley, 1974) considera que a

    deciso dever ser avaliada a partir do processo mais do que a partir do resultado.

    O autor define o processo de tomada de deciso em termos de ciclos sucessivos de

    decises experimentais-decises terminais. As decises experimentais ocorrem,

    por exemplo, quando o indivduo procura e processa diferentes tipos de

  • 30

    informao. As opes daqui resultantes culminam na tomada de uma deciso

    terminal. Esta, por sua vez, pode dar origem a um novo ciclo de decises

    experimentais, as quais podem conduzir modificao do resultado da deciso

    terminal. A tomada de deciso aparece, assim, descrita como um processo

    cognitivo, suportado pelo mtodo cientfico, que implica trs sistemas de avaliao:

    (i) sistema preditivo que inclui informao relativa s aces possveis, aos

    resultados possveis dessas aces e probabilidade dos resultados, (ii) sistema de

    valores que diz respeito a preferncias entre resultados provveis e (iii) sistema de

    deciso que se refere avaliao de prioridades ou de regras. Uma boa deciso

    inclui informao adequada e relevante dos diferentes sistemas. De acordo com

    este modelo, o indivduo necessita de explorar informao precisa e completa

    sobre cada um dos sistemas, para ser capaz de antecipar, de forma realista, os

    riscos da implementao de cada uma das opes em causa. Em termos gerais, a

    explorao das opes vocacionais deve ser realizada a partir de uma abordagem

    exaustiva da informao disponvel. Todavia, a teoria e a investigao contrariam

    esta ideia ao demonstrar que as pessoas tendem a ser parcimoniosas no processo

    de deciso, centrando-se em pequenas unidades de informao relacionadas com o

    problema (Taveira, 2000).

    Kaldor e Zytowski (1969, in Jepsen & Diley, 1974), a partir do modelo

    econmico, descrevem o processo de escolha vocacional em termos de inputs e

    outputs e oferecem estratgias detalhadas de avaliao dos valores dos mesmos. Os

    inputs incluem os recursos pessoais tais como caractersticas intelectuais e fsicas.

    Os outputs correspondem s consequncias enquanto funo dos inputs e das

    alternativas. A escolha cai sobre a opo com maior valor quando comparados os

    custos dos inputs e os ganhos em outputs. Neste sentido, a estratgia de tomada de

    deciso consiste na atribuio de valores para cada alternativa, tendo em conta os

    custos e os ganhos. De acordo com isto, elaboram-se grficos e determina-se a

    alternativa certa.

    Gati (1986) afirma que uma boa deciso se refere ao processo de escolha,

    enquanto um bom resultado corresponde desejabilidade do resultado da

    deciso tomada. O autor prope, assim, um modelo prescritivo, que designa de

    modelo de eliminao sequencial (Sequential Elimination Model) e cujas fases

    so: (i) identificar aspectos relevantes, (ii) hierarquizar as alternativas, tendo em

  • 31

    conta os aspectos considerados, (iii) identificar o nvel aceitvel de importncia

    das alternativas, tendo em conta o aspecto mais importante considerado, (iv)

    eliminar as alternativas cujas caractersticas se encontram fora do nvel aceitvel

    considerado, (v) verificar a extenso da lista de alternativas da resultantes.

    Conforme ficou claro, os modelos prescritivos, em maior ou menor grau,

    enfatizam a racionalidade do decisor e do processo de escolha, entendendo-se por

    racionalidade a anlise sistemtica das vrias alternativas de escolha disponveis e

    a poderao das mltiplas variveis, de forma a que a deciso tomada permita

    maximizar os interesses e os objectivos do decisor (Santos, 2005). Alm disso,

    estes modelos tendem a centrar-se na fase antecipatria da deciso.

    De acordo com o referido no ponto anterior, a propsito da evoluo do

    conceito de tomada de deciso vocacional, parece ser hoje admitido que, face

    diversidade de situaes de escolha e crescente imprevisibilidade das

    trajectrias vocacionais, os indivduos no se comportam necessariamente como

    prescrito por estes modelos (Gati, Krausz & Osipow, 1996; Gelatt, 1989; Phillips,

    1997). Ainda assim, pode dizer-se que os diferentes modelos de tomada de deciso

    so complementares, na medida em que seguem objectivos distintos. Por um lado,

    os modelos descritivos procuram elucidar o modo como os indivduos tomam

    efectivamente decises de carreira. Por outro lado, os modelos prescritivos

    aconselham modos ideias de tomada de deciso. Ambos apresentam contributos

    para compreenso da deciso vocacional. Especificamente, alguns modelos

    descritivos avanam no esclarecimento acerca da execuo de planos de carreira

    (e.g. Harren, 1979; Peterson, Sampson & Reardon, 1991; Tiedeman, 1961).

    1.1.3. Sntese dos contributos para o estudo da execuo e do ajustamento a

    planos de carreira

    Na abordagem das teorias da tomada de deciso, fica claro que qualquer

    deciso implica uma fase exploratria, durante a qual o indivduo identifica e avalia

    opes alternativas. A explorao anterior deciso , assim, entendida como uma

    fase importante do processo de deciso, na medida em que antecede o

    compromisso com uma dada opo e a resoluo da tarefa vocacional em questo

    (Taveira, 2000). Contudo, a definio do projecto vocacional no termina com a

  • 32

    tomada de deciso, exigindo a implementao das intenes. Vejamos o exemplo

    dos alunos portugueses que terminam o Ensino Bsico. A concretizao de

    qualquer projecto vocacional obriga sua formulao e implementao.

    Da anlise dos modelos de tomada de deciso, advm o carcter

    multidimensional do fenmeno, o que nos remete para as fases antecipatria e

    executiva dos planos de carreira nas suas dimenses cognitivo-informacional e

    afectivo-motivacionais (Paixo & Silva, 2001). Por conseguinte, no se pode

    ignorar a fase de Implementao, nomeadamente em termos de ajustamento ou

    adaptabilidade vocacionais. Com a implementao da escolha, as tarefas de

    planeamento esto terminadas e iniciam as tarefas de ajustamento s

    consequncias da escolha. A implementao acontece, assim, no momento em que

    as escolhas individuais e a realidade se confrontam (Phillips, 1992). No incio do

    Ensino Secundrio, por exemplo, os estudantes implementam os projectos

    vocacionais elaborados no final do Ensino Bsico.

    Todavia, apesar da diversidade de modelos tericos e estudos empricos

    sobre a tomada de deciso vocacional (cf. Jepsen & Diley, 1974; Rodrgues Moreno,

    1998; Phillips & Pazzienza, 1988), as referncias implementao da escolha so

    escassas. Jome e Phillips (2005) afirmam que muitas questes sobre a fase de

    implementao da escolha permanecem por estudar e realam a necessidade de se

    investir neste tema, tendo em conta o papel crtico que a implementao tem no

    desenvolvimento vocacional dos indivduos. Neste mbito, os autores realam a

    necessidade de se aprofundar o conhecimento sobre factores de ordem contextual

    e multicultural (e.g. a famlia).

    Os modelos de Tiedeman e colaboradores (1961; Tiedeman & OHara, 1963;

    Tiedeman & Miller-Tiedeman, 1984), de Harren (1979) e de Peterson, Sampson e

    Reardon (1991) concorrem, a par de estudos sobre o comportamento de

    implementao, sobre as diferenas individuais na implementao e sobre a

    utilidade da interveno em fase de implementao, para compreender o papel

    deste estdio no processo de tomada de deciso vocacional (Phillips, 1992).

    Como j foi referido, Tiedeman (1961; Tiedeman & OHara, 1963; Tiedeman

    & Miller-Tiedeman, 1984) apresenta a deciso vocacional como um processo

    dinmico que se desenvolve em dois estdios principais, cada um dos quais

    composto por sub estdios: a Antecipao (explorao, cristalizao, escolha e

  • 33

    clarificao) e a Implementao (induo, reformulao/adaptao e integrao).

    O processo de tomada de deciso organiza-se assim em torno do comportamento

    anterior escolha e da aco instrumental subsequente deciso. Enquanto na

    fase de Antecipao, o indivduo procura a resoluo do problema vocacional

    atravs da explorao, na fase de Implementao o indivduo j se comprometeu

    com uma soluo, procurando agi-la no sentido do ajustamento. Esta fase ocorre

    quando o indivduo pe em aco a sua escolha e se confronta com a realidade

    associada, concretizando-se em trs sub-estdios: a induo (entrada no novo

    contexto), a reformulao (adaptao e a progresso no novo contexto) e a

    integrao (aquisio de novas perspectivas).

    Harren (1979) concebe o processo de tomada de deciso como uma

    sequncia de quatro estdios: o Conhecimento, o Planeamento, o Compromisso e a

    Implementao. A Implementao definida como a fase na qual o sujeito contacta,

    reage e assimilado pelo e no contexto, podendo resultar em conformidade

    (necessidade de aprovao social), autonomia (afirmao de necessidades e

    objectivos pessoais) ou interdependncia (considerao do self em situao e

    interaco de necessidades e objectivos). O autor reala, ainda, a interaco das

    caractersticas individuais com o tipo de deciso em causa e com o contexto

    envolvente da situao de tomada de deciso, o que deve ser considerado na

    anlise da Implementao.

    Peterson, Sampson e Reardon (1991) propem um modelo onde identificam

    a Execuo como uma fase do processo de tomada de deciso. Os autores definem-

    na como a converso da cognio em aco atravs da formulao e

    implementao de uma estratgia ou plano de aco. Neste sentido, os autores

    apresentam um modelo que auxilia na compreenso da execuo de planos de

    carreira, contudo com enfoque nos aspectos racionais do processo de tomada de

    deciso.

    A concepo de implementao remete-nos para as noes de ajustamento

    e da adaptabilidade enquanto resultados esperados da aco (Dawis, 2005;

    Savickas, 1997; Skorikov, 2007). O ajustamento pode ser entendido como um

    constructo multidimensional que inclui, por um lado, baixos nveis de

    internalizao, tais como depresso, ansiedade, perturbaes emocionais e baixo

    auto-controlo, e, por outro lado, o bem-estar psicolgico associado a auto-estima,

  • 34

    auto-eficcia, adaptao social, auto-actualizao e satisfao (Skorikov, 2007).

    Lent (2004b) reala o bem-estar associado ao ajustamento, idenficando a sua

    multidimensionalidade temporal, contextual, cultural e referencial. De facto,

    esperado que o jovem que implementa o projecto de carreira delineado,

    desenvolva sentimentos de bem-estar e de satisfao com a mesma. Savickas

    (1997, 2002) prope a noo de adaptabilidade, acentuando a ideia da

    flexibilidade na interaco com o meio, definido, nos nossos dias, pela

    imprevisibilidade e complexidade. A adaptabilidade vocacional define-se, ento,

    como a disponibilidade e os recursos do indivduo para responder s tarefas do

    desenvolvimento vocacional, entre as quais incluiramos a tarefa de

    implementao (Tiedeman, 1961; Harren, 1979; Phillips, 1992). Assim, entre os

    vrios indicadores da qualidade da implementao da escolha de carreira

    sugeridos incluem-se a actualizao da escolha, a satisfao com a escolha, o

    ajustamento da opo realizada, a realizao na opo e a estabilidade da escolha

    (cf. Germeijs & Verschueren, 2007).

    A propsito da implementao de escolhas profissionais, Jome e Phillips

    (2005) realam o papel dos indivduos nesta tarefa. Os autores consideram que a

    implementao envolve dois processos: a Pesquisa e a Persuaso. A Pesquisa

    refere-se ao modo como os indivduos procuram ou criam oportunidades de

    carreira nos seus contextos. A Persuaso implica convencer os outros a permitir a

    concretizao das oportunidades desejadas. No seguimento do referido,

    identificam certos traos, comportamentos e factores contextuais que contribuem

    para processos de pesquisa e persuaso mais efectivos. Assim, os indivduos bem

    sucedidos nas tarefas de pesquisa e persuaso parecem ser responsveis e

    conscienciosos, sentem-se confortveis na interaco com os outros e revelam

    auto-confiana na implementao da escolha. medida que avanam no processo

    de implementao, investem em comportamentos de pesquisa, revelam slidas

    competncias orais e escritas e demonstram vontade na interaco interpessoal.

    Alm disso, o meio envolvente parece revelar-se apoiante, minimizando o valor de

    variveis demogrficas potencialmente constrangedoras.

    A proposta de Jome e Phillips (2005) revela os temas abordados a propsito

    da implementao das escolhas. Os estudos parecem incidir no comportamento e

    nas diferenas individuais associadas implementao da escolha e na utilidade do

  • 35

    aconselhamento nesta fase do processo de tomada de deciso. No que diz respeito

    ao comportamento de implementao, alguns estudos sugerem uma atitude

    metdica e sistemtica a par do uso de recursos e da avaliao lgica. Outros

    estudos contrapem a necessidade de se considerarem as diferenas individuais

    no comportamento de implementao (cf. Phillips, 1992, 1997). Por exemplo,

    alguns estudos identificam factores como a auto-estima, o locus de controlo, a

    inteno comportamental, as expectativas de auto-eficcia e as estratgias de

    coping como determinantes da variabilidade associada ao comportamento de

    implementao (Phillips, 1992). Tambm se tem verificado que a informao

    acerca do self e do mundo profissional assumem um papel crtico na transio

    escola-mercado de trabalho. Esta explorao prvia, no sendo preditiva dos

    resultados na entrevista de emprego, preditiva da disponibilidade e do

    desempenho na entrevista (cf. Phillips, 1992). Alm disso, vrios estudos apontam

    a qualidade do processo de tomada de deciso como determinante na

    implementao da escolha (Germeijs & Verschueren, 2007; Mortimer et al., 2002;

    Skorikov, 2007).

    Os estudos referem, ainda, recursos, fontes de suporte e obstculos ao

    processo de implementao da deciso. Os jovens tendem a indicar variados tipos

    de recursos e de obstculos ao processo de implementao, colocando nfase nas

    experincias e relaes mais informais tais como as experincias familiares

    (Mortimer et al., 2002). Lent e colaboradores (2002), num estudo de cariz

    qualitativo com estudantes universitrios, referem que, apesar da importncia de

    factores pessoais e de experincias vocacionais significativas na determinao da

    escolha, os factores contextuais (e.g. limitaes econmicas e apoio social)

    assumem maior relevo enquanto barreiras ou fontes de suporte implementao

    da escolha. A interveno, nesta fase do processo de tomada de deciso, tende a ser

    identificada como um recurso necessrio, podendo dirigir-se directamente aos

    indivduos ou indirectamente atravs de processos de consultadoria (Jome &

    Phillips, 2005; Mortimer et al., 2002; Phillips, 1992). Por conseguinte, analisar o

    processo de tomada de deciso, contemplando a execuo da escolha, numa

    perspectiva contextual e multicultural, parece constituir-se como um objectivo de

    investigao necessrio Psicologia Vocacional.

  • 37

    CAPTULO 2

    Influncia Parental na Carreira

    A importncia da famlia no desenvolvimento vocacional uma questo que

    parece no deixar dvidas aos tericos e investigadores da Psicologia Vocacional.

    De facto, as diferentes abordagens conceptuais da carreira apontam de forma mais

    ou menos explcita a influncia de factores contextuais no desenvolvimento

    vocacional (Brown, 2002; Soares, 1998). Super (1990), por exemplo, refere a

    importncia de factores como a classe social, a condio econmica e as relaes

    familiares na determinao da carreira. Este autor identifica explicitamente os

    contributos dos pais no desenvolvimento da carreira (Soares, 1998). Anne Roe (e.g.

    Roe & Lunneborg, 1990) problematizou a questo, avanando um modelo

    explicativo do papel dos pais no desenvolvimento vocacional. Bratcher (1982, in

    Whiston & Keller, 2004a), no quadro da perspectiva sistmica, vem chamar a

    ateno para a interaco familiar como determinante do comportamento

    vocacional. Mais recentemente, Vondracek, Lerner e Schulenberg (1986) e Young,

    Valach e Collin (2002) enunciam o papel dos contextos, em particular da famlia, no

    desenvolvimento de projectos de carreira. Ainda assim, no domnio da interveno

    na carreira, esta continua a guiar-se pela crena de que as decises dos indivduos

    resultam, fundamentalmente, de sonhos, paixes e talentos individuais (Blustein,

    2004). nesta linha que se reala a necessidade de um quadro terico explicativo

    das influncias familiares no desenvolvimento da carreira (Blustein, 2004;

    Hargrove, Creagh & Burgess, 2002; Whiston & Keller, 2004ab).

    As revises tericas realizadas por Schulenberg e colaboradores

    (Schulenberg, Vondracek & Crouter, 1984) e por Whiston e Keller (2004a)

    identificam contributos empricos ao estudo da temtica. O reconhecimento da

    influncia parental no desenvolvimento da carreira levou a que o tema se

    transformasse, mais recentemente, em rea especfica de investigao. Os estudos

    empricos sobre a influncia parental e familiar na carreira podem ser

    sistematizados, de acordo com a proposta de Schulenberg e colaboradores (1984;

    Pinto & Soares, 2001; Whiston & Keller, 2004a), em duas dimenses

    interdependentes: uma relacionada com factores de oportunidade disponveis na

    famlia e que contribuem para o desenvolvimento do indivduo (e.g., estatuto

  • 38

    socio-econmico dos pais, meio tnico de origem e configurao familiar) e outra

    relacionada com os processos familiares designadamente prticas de socializao e

    relaes pais-filhos (e.g., valores, encorajamento parental, interaco pais/filhos,

    modelos de papis e figuras de identificao proporcionadas pelos pais e

    comportamento intencional). O presente trabalho centra-se nas variveis

    processuais da influncia parental e familiar, mais do que nas variveis estruturais.

    inegvel o papel destas ltimas no desenvolvimento vocacional dos jovens, alis

    documentado em textos de referncia na rea (cf. Schulenberg et al., 1984; Pinto &

    Soares, 2001; Whiston & Keller, 2004a). Alm disso, reala-se o carcter de

    interdependncia entre variveis processuais e estruturais, referido por

    Schulenberg e colaboradores (1984). Contudo, afirma-se com Whiston e Keller

    (2004a) que, apesar da importncia que as variveis estruturais possam ter no

    desenvolvimento vocacional, os efeitos da famlia tendem a ser complexos e

    indirectos, exigindo-se o aprofundamento do estudo dos processos atravs dos

    quais a influncia familiar se exerce. Destaca-se, por isso, neste captulo,