À Professora Doutora Maria do Céu Taveira, pela orientaç
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AGRADECIMENTOS
Porque o escuro que desvenda a luz das estrelas
Professora Doutora Maria do Cu Taveira, pela orientao deste trabalho.
Um sincero agradecimento pelo apoio e desafio rumo concretizao deste e de
outros projectos.
s colegas de mestrado, em particular Joaquina, Manuela e Margarida,
pela partilha de bons e sbios momentos e de muitas e longas viagens.
Carla, amiga de sempre, pelo apoio e amizade e pela partilha de
conhecimento.
Ao Fernando, pelo amor, pela pacincia e pela compreenso.
famlia, em particular aos pais, pelo apoio e encorajamento que sempre
deram e continuam a dar execuo de projectos de vida. A eles dedico este
trabalho.
Braga, 2007
Marisa Simes Carvalho
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RESUMO
PERSPECTIVAS SOBRE A INFLUNCIA PARENTAL NA EXECUO DE PLANOS DE CARREIRA NO
ENSINO SECUNDRIO
O presente estudo tem como objectivo avaliar o papel dos pais no desenvolvimento
vocacional e execuo de planos de carreira dos seus filhos tal como perspectivado por
pais, filhos, professores e profissionais de orientao. Este estudo prossegue investigao
anterior sobre os modelos de interveno vocacional no Ensino Secundrio (Pinto, Taveira
& Fernandes, 2003). Alm disso, enquadra-se na linha de investigao sobre a influncia
parental no desenvolvimento vocacional (Gonalves, 1997, 2006; Pinto & Soares, 2001,
2002; Soares, 1998; Whiston & Keller, 2004a; Young, 1994). A primeira parte da
dissertao rev criticamente a investigao conceptual e emprica sobre o processo de
tomada de deciso vocacional e, mais especificamente, a influncia da famlia no mesmo. A
segunda parte diz respeito ao estudo emprico das concepes emergentes sobre o papel
dos pais na execuo de planos de carreira dos seus filhos. Atravs do mtodo de grounded
theory (cf. Strauss & Corbin, 1994, 1998) foram investigadas as perspectivas emergentes
de um total de 119 participantes, a saber: 46 alunos, 16 pais, 34 professores e 23
profissionais de orientao. O estudo analtico realizou-se com base nas respostas
questo aberta Para promover e apoiar o desenvolvimento da carreira dos estudantes do
10ano, enuncie o que, em seu entender, devem fazer os pais ou encarregados de
educao?, parte integrante de um questionrio mais vasto desenvolvido por Pinto e
colaboradores (Pinto, 2000). Procedeu-se codificao aberta das respostas, tendo
emergido trs temas principais da influncia parental na carreira: (i) atitudes parentais,
(ii) interaco familiar e (iii) actividades realizadas e promovidas pelos pais, temas estes
que integram categorias e sub-categorias diversas. Assim, de um modo geral, os
participantes evidenciam o reconhecimento do papel dos pais no desenvolvimento
vocacional dos filhos, atravs de atitudes parentais mais ou menos directivas, especficas e
intencionais, da interaco com os filhos, varivel em funo de padres relacionais e
comunicacionais, e da concretizao de actividades tais como a colaborao com a escola,
a promoo de oportunidades/experincias e o conhecimento do/a filho/a. Embora mais
investigao seja necessria, os dados traduzem a necessidade da interveno vocacional
se estender alm do sistema pessoal, contemplando assim os contextos de vida e o seu
papel no desenvolvimento da carreira.
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v
ABSTRACT
PERSPECTIVES OF THE PARENTAL INFLUENCE IN CAREER CHOICE IMPLEMENTATION IN
HIGHSCHOOL
The main goal of this study is to assess parents role in the vocational development
and in the career choice implementation of children in highschool, in the perspective of
parents, children and, also, teachers and career counselors. This study continues a
previous investigation on models of vocational interventions in Portuguese Secondary
Schools (Pinto, Taveira & Fernandes, 2003). Moreover, it follows the inquiry line on the
parental influence in the children and adolescent vocational development (Gonalves,
1997, 2006; Pinto & Soares, 2001, 2002; Soares, 1998; Whiston & Keller, 2004a; Young,
1994). The first part of this dissertation revises in a critical way the conceptual and
empirical investigation on the process of career decision making and, more precisely, the
familys influence on it. The second part respects to the empirical study on the emerging
concepts about parents role in the execution of career plans and decisions. Through the
method of grounded theory (cf. Strauss & Corbin, 1994, 1998) were investigated the
emerging perspectives of a total of 119 participants, they were: 46 pupils, 16 parents, 34
teachers and 23 career counselors. The answers to the open question In your opinion,
what can parents do to promote the career decision making and development of their 10th
grade school children? was analysed, taking into consideration the children, parents,
teachers and career counsellors perspectives. The results evidenced the emergence of the
following themes of parental influences: (i) parental attitudes, (ii) family interaction and
(iii) activities with and promoted by the parents. Each one of the referred themes is
organized in categories and sub-categories, which varies according to the considered
group. In general terms, the participants recognize the parents role on their children
career decision making and development through parental attitudes more or less directed,
specific and intentional, interaction with the students, which varies in function to
relational and communication standards, and concreteness of activities such as
collaborating with school, promoting opportunities and knowledge of the child. Although
more research in this theme is needed, the results show the need of expanding vocational
interventions through personal systems, observing the contexts of life and its role in the
decision making and career development.
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NDICE
Lista de quadros e de figuras ix
INTRODUO GERAL 1
PARTE I. A EXECUO E O AJUSTAMENTO A PLANOS DE CARREIRA: A
INFLUNCIA PARENTAL 9
CAPTULO 1. A Execuo e o Ajustamento a Planos de Carreira na Teoria
Vocacional 11
1.1. As teorias de deciso e do desenvolvimento da carreira: contributos
para o estudo da execuo e do ajustamento a planos de carreira 12
1.1.1. Contributos dos modelos descritivos 17
1.1.2. Contributos dos modelos prescritivos 29
1.1.3. Sntese dos contributos para o estudo da execuo e do
ajustamento a planos de carreira 31
CAPTULO 2. Influncia Parental na Carreira 37
2.1 Teorias e modelos explicativos 39
2.1.1 Modelos estruturais 39
2.1.2 Modelos psicodinmicos 40
2.1.3 Modelos desenvolvimentistas 42
2.1.4 Modelos contextualistas 46
2.1.5 Modelos cognitivo-comportamentais 48
2.2 Estudos empricos 50
2.2.1 Valores 50
2.2.2 Encorajamento parental 51
2.2.3 Interaco pais-filhos 52
2.2.4 Modelos de papis e figuras de identificao 52
2.2.5 Comportamento intencional 53
2.3 A influncia parental na tomada de deciso vocacional 55
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PARTE II. MLTIPLAS PERSPECTIVAS SOBRE O PAPEL DOS PAIS NA
EXECUO E AJUSTAMENTO A PLANOS DE CARREIRA: ESTUDO
EMPRICO 61
CAPTULO 3. Apresentao do Estudo Emprico 63
3.1. Objectivos 63
3.2. Mtodo 63
3.2.1. Participantes 66
3.2.2. Instrumentos 67
3.3. Procedimentos 68
CAPTULO 4. Resultados do Estudo Emprico 75
4.1. Apresentao 75
4.1.1.Perspectivas dos alunos 75
4.1.2.Perspectivas dos pais 78
4.1.3.Perspectivas dos professores 81
4.1.4.Perspectivas dos profissionais de orientao 84
4.1.5.Sntese 87
4.2. Discusso e concluses 88
CONCLUSO GERAL 98
BIBLIOGRAFIA 105
ANEXOS 119
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Lista de quadros
Quadro 1.1. Sntese do modelo proposto por Harren (1979, p. 121). 26
Quadro 2.1. Conceitos principais da teoria da aco (adaptado de Young et al., 2002,
p. 219). 47
Quadro 2.2. Sntese das variveis vocacionais apresentadas nos estudos revistos
por Whiston e Keller (2004a) a propsito da influncia da famlia no
desenvolvimento vocacional. 56
Quadro 3.1. Exemplo de ficha de anlise das respostas dos estudantes questo Para
promover e apoiar o desenvolvimento da carreira desses estudantes,
enuncie o que, em seu entender, devem fazer os pais ou encarregados de
educao?. 70
Quadro 3.2. Reorganizao dos dados por temas, categorias e sub-categorias. 72
Quadro 3.3. Exemplo de grelha de categorizao. 73
Quadro 3.4. Perspectiva dos alunos sobre a questo Para promover e apoiar o
desenvolvimento da carreira desses estudantes, enuncie o que, em seu
entender, devem fazer os pais ou encarregados de educao?: Grelha de
categorizao e frequncias. 76
Quadro 3.5. Perspectiva dos pais sobre a questo Para promover e apoiar o
desenvolvimento da carreira desses estudantes, enuncie o que, em seu
entender, devem fazer os pais ou encarregados de educao?: Grelha de
categorizao e frequncias. 79
Quadro 3.6. Perspectiva dos professores sobre a questo Para promover e apoiar o
desenvolvimento da carreira desses estudantes, enuncie o que, em seu
entender, devem fazer os pais ou encarregados de educao?: Grelha de
categorizao e frequncias. 82
Quadro 3.7. Perspectiva dos tcnicos de orientao sobre a questo Para promover
e apoiar o desenvolvimento da carreira desses estudantes, enuncie o que, em
seu entender, devem fazer os pais ou encarregados de educao?: Grelha de
categorizao e frequncias. 85
Quadro 3.8. Perspectiva dos participantes sobre a questo Para promover e apoiar
o desenvolvimento da carreira desses estudantes, enuncie o que, em seu
entender, devem fazer os pais ou encarregados de educao?: Grelha de
categorizao e frequncias. 88
Lista de figuras
Figura 3.A. Diagrama resultante da codificao aberta. 71
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INTRODUO GERAL
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Changing ones mind will be an essential decision-making skill in the future. Keeping the
mind open will be another. Positive uncertainty helps clients deal with ambiguity, accept
inconsistency, and utilize the intuitive side of choosing.
Gelatt, 1989, p. 252
As palavras de Gelatt (1989) transpiram o contexto scio-histrico actual,
caracterizado pela ambiguidade, complexidade e imprevisibilidade do mercado de
trabalho. Ao longo das ltimas dcadas, o mundo tem sofrido mutaes que
transformam necessariamente o modo como vivemos, compreendemos e
perspectivamos o futuro. De facto, parece haver consenso quanto s caractersticas
de incerteza e imprevisibilidade associadas ps-modernidade (Gelatt, 1989;
Guindon & Richmond, 2005; Harrington & Harrigan, 2006; Mortimer, Zimmer-
Gembeck, Holmes & Shanahan, 2002). A propsito, Guindon e Richmond (2005)
acentuam a ambiguidade, mutabilidade, relativismo e interdependncia como
caractersticas dominantes da poca de ps-modernidade, que a transformam num
desafio constante para os indivduos.
A inovao tecnolgica, a crescente complexidade do trabalho, as rpidas
mudanas estruturais associadas s profisses, a expanso da educao de nvel
superior e a bifurcao do carcter do trabalho em trabalhadores qualificados e
no qualificados, tendem a estimular o desejo e a necessidade de progresso
escolar ou de formao no mundo global. Alm disso, caractersticas como a
polivalncia, a itinerncia e a flexibilidade tendem a contribuir para um aumento
da complexidade e imprevisibilidade do trabalho (Crespo, Gonalves & Coimbra,
2001; Mortimer et al., 2002). Mortimer e colaboradores (2002), num estudo
qualitativo a propsito da escolha profissional, revelam que os indivduos
associam o alargamento da idade de entrada no mercado de trabalho e a
imprevisibilidade e complexidade do mesmo, ao adiar ou reformular de projectos
de vida (profissional e pessoal). Isto eleva a meta dos indivduos e das sociedades
ao nvel do desenvolvimento de competncias transversais necessrias
adaptabilidade (Crespo et al., 2001; Gomes, 2003; Savickas, 1997). Deste ponto de
vista, deixa de fazer sentido a clivagem entre desenvolvimento vocacional e outras
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dimenses do desenvolvimento humano. O desenvolvimento vocacional, como a
trajectria que cada sujeito constri nos quotidianos das suas vidas, pelos
mltiplos papis em que cada histria se concretiza, poder ser considerado como
a dimenso de sntese, de integrao de todas as dimenses da existncia (Campos,
1980). Assim, contribuir para o estudo do desenvolvimento vocacional e, em
particular, dos processos de tomada de deciso, conduz-nos por trajectos
desenvolvimentistas, contextualistas e construtivistas (Guindon & Richmond,
2005; Harrington & Harrigan, 2006).
Com efeito, hoje entendemos o desenvolvimento vocacional como uma
dimenso do desenvolvimento humano no circunscrito ao papel de trabalhador. O
desenvolvimento vocacional poder definir-se como o itinerrio seguido pelo
indivduo na sua realizao histrica, atravs de todas as posies que vai
ocupando, nos diferentes papis em que tal histria se concretiza (Campos, 1989).
Nesta perspectiva, importa tecer algumas consideraes sobre a noo de
desenvolvimento vocacional privilegiada. Comecemos por contemplar a ideia
subjacente afirmao que nos encaminha para uma concepo
desenvolvimentista da carreira. Super (1990) esquematiza o desenvolvimento
vocacional nas suas dimenses latitudinal e longitudinal, identificando um
conjunto de papis e de fases que resultam em maturidade vocacional. A convico
de que o desenvolvimento vocacional ocorre ao longo do ciclo de vida e se
concretiza nos diferentes papis remete-nos para a viso contextualista da
carreira. De facto, consensual o papel dos contextos no desenvolvimento
humano. Retomando os trabalhos de Bronfenbrenner (1979), aludiramos
concepo do desenvolvimento humano como fruto da ecologia na qual o indivduo
co-constri histrias de vida. A famlia aparece, assim, como um dos contextos no
qual o desenvolvimento humano e, em particular, o desenvolvimento vocacional
ocorre. No podemos, evidentemente, circunscrever a ecologia humana ao
contexto familiar, mas podemos conhecer o papel da famlia tomando em
considerao dimenses meso, macro e cronossistmicas (Bronfenbrenner, 1979;
Gonalves, 2006; Soares, 1998; Vondracek, Lerner & Schulenberg, 1986).
O reconhecimento da influncia parental encontra-se de forma mais ou
menos explcita nos diversos modelos conceptuais de carreira e confirma-se nos
estudos empricos sobre o tema. Alm disso, pais e filhos reclamam este papel,
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quando ouvidos nos domnios da investigao e da interveno (Pinto & Soares,
2002). Por um lado, tm-se verificado esforos multissistmicos coerentes com
este reconhecimento, nomeadamente por parte de pais e filhos, que anunciam o
papel dos pais no desenvolvimento vocacional, de professores e tcnicos de
orientao que tm procurado empreender esforos de promoo do
envolvimento parental no processo de crescimento acadmico e vocacional dos
filhos e da esfera poltica onde se tm evidenciado medidas de reforo deste
envolvimento, o que, no seu conjunto, tende a traduzir a crena de que os pais tm
um papel determinante na vida dos filhos. Por outro lado, a investigao tem
trazido luz o consenso em torno da questo da influncia parental no
desenvolvimento vocacional (Gonalves, 1997, 2006; Pinto & Soares, 2002; Soares,
1998; Whiston & Keller, 2004a; Young, Valach, Ball, Paseluikho, Wong, et al., 2001;
Young, Valach & Collin, 2002; Young, Marshall, Domene, Arato-Bolivar, Hayoun et
al., 2005).
Fica justificada, assim, a necessidade de investimento na temtica, quer do
ponto de vista da investigao, quer do ponto de vista da interveno. Estes
aspectos surgem reforados em alguns trabalhos, nos quais se evidencia, tambm,
a necessidade de um quadro conceptual que contemple a complexidade do
fenmeno (Blustein, 2004; Whiston & Keller, 2004ab). Assim, este trabalho
pretende contribuir para o aprofundamento do estudo acerca do papel dos pais na
promoo do desenvolvimento vocacional dos filhos e, especificamente, na
execuo de planos de carreira.
Reafirma-se que o desenvolvimento vocacional no se limita a uma escolha
de vida previsvel e racional mas evolui como uma narrativa que se vai
escrevendo e reescrevendo no itinerrio histrico social do indivduo, nas
coordenadas de pequenos projectos viveis (Gonalves, 2000). Por isto, no
quadro do grande projecto de vida (carreira), no podemos ignorar os
pequenos projectos que tendem a aglutinar-se em torno de momentos de
transio. Um destes momentos diz respeito transio do Ensino Bsico para o
Ensino Secundrio, que se configura como um problema de carreira que conduz a
um processo de tomada de deciso. So vrios os autores que se tm dedicado ao
estudo da tomada de deciso de carreira, contribuindo para o desenvolvimento de
diferentes modelos (cf. Jepsen & Diley, 1974; Phillips & Pazzienza, 1988). Neste
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contexto so de referir os modelos apresentados por Tiedeman e colaboradores
(1961; Tiedeman & OHara, 1963; Tiedeman & Miller-Tiedeman, 1984), por Harren
(1979) e por Peterson, Sampson e Reardon (1991) dedicados explicao da fase
de implementao de uma escolha de carreira.
Nesta linha, o presente trabalho procura contribuir para o aprofundamento
do estudo do papel dos pais no desenvolvimento vocacional e, especificamente, na
execuo de planos de carreira. Para o efeito, incide na explorao das
perspectivas dos estudantes e dos diferentes agentes educativos sobre os
contributos dos pais e encarregados de educao na prossecuo de objectivos
vocacionais. Este trabalho aparece acoplado a uma investigao de maior
amplitude, que visa a construo de um modelo conceptual que sustente a
interveno vocacional em fases de implementao de escolhas de carreira no
Ensino Secundrio (Pinto, Taveira & Fernandes, 2003).
Na Primeira Parte deste trabalho A Execuo e o Ajustamento a Planos de
Carreira: A InflunciaParental procura-se dar conta das principais linhas de
evoluo da temtica, em termos tericos e empricos.
O Captulo 1 A Execuo e o Ajustamento a Planos de Carreira na Teoria
Vocacional apresenta o conceito de tomada de deciso vocacional, de acordo com
a sua evoluo histrica e com base nos modelos descritivos e preescritivos da
tomada de deciso vocacional (cf. Jepsen & Diley, 1974). Identificada a execuo de
planos de carreira como uma fase do processo de tomada de deciso, privilegiamos
os modelos descritivos propostos por Tiedeman (1961) e por Harren (1979), na
medida em que caracterizam essa mesma fase do processo de deciso numa
perspectiva desenvolvimentista e construccionista da carreira. Conclumos este
captulo com uma sntese do conceito de execuo ou implementao de planos de
carreira luz de alguns contributos tericos e empricos da Psicologia Vocacional.
O Captulo 2 A Influncia Parental na Carreira - incide na apresentao dos
diferentes modelos tericos e estudos empricos sobre o papel e influncia dos pais
no desenvolvimento da carreira dos seus filhos. No que diz respeito aos modelos
tericos, daremos particular nfase queles que abordam explicitamente o
fenmeno da influncia parental, como o caso do modelo de inspirao
psicodinmica proposto por Anne Roe (Roe & Lunneborg, 1990), da teoria de
Super (1990) acerca do desenvolvimento da carreira ao longo do ciclo de vida, da
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teoria contextualista de Vondracek e colaboradores (1983, 1986, 1990, 2007) e do
modelo de Young e colaboradores (2001/2002, 2002), que d nfase
intencionalidade das aces dos pais no desenvolvimento da carreira dos seus
filhos. Quanto aos estudos empricos, a investigao apresentada est organizada
em duas grandes linhas: (i) uma relacionada com factores de oportunidade
disponveis na famlia e que contribuem para o desenvolvimento do indivduo (e.g.,
estatuto socio-econmico dos pais, meio tnico de origem e configurao familiar)
e (ii) outra relacionada com os processos familiares designadamente prticas de
socializao e relaes pais-filhos (e.g., valores, encorajamento parental, interaco
pais/filhos, modelos de papis e figuras de identificao proporcionadas pelos pais
e comportamento intencional) (cf. Schulenberg, Vondracek & Crouter, 1984). Por
fim, apresenta-se uma sntese dos dados relativos ao processo de influncia
parental na tomada de deciso vocacional dos filhos. Procura-se ressaltar os
aspectos mais relevantes desta influncia na fase executria da deciso de carreira
dos filhos.
Na Segunda Parte do trabalho Mltiplas Perspectivas sobre o Papel dos
Pais na Execuo e Ajustamento a Planos de Carreira: Estudo Emprico - descreve-
se o estudo emprico, que tem por objectivo identificar as perpectivas de alunos e
agentes educativos sobre o papel dos pais na execuo de planos de carreira no
Ensino Secundrio.
O Captulo 3 Apresentao do Estudo Emprico apresenta o estudo, com
referncia aos objectivos, ao mtodo e aos procedimentos de observao,
tratamento e anlise dos dados.
O Captulo 4 Resultados do Estudo Emprico procede apresentao e
discusso dos resultados de investigao. Apresentam-se e discutem-se os
resultados do estudo qualitativo, baseado no mtodo de grounded theory.
Finalmente, na Concluso Geral enunciam-se as ideias principais retiradas
do estudo terico e emprico sobre a influncia parental na execuo de planos de
carreira, refletem-se as limitaes do estudo e sugerem-se implicaes para a
investigao e prtica no domnio da Psicologia Vocacional e, particularmente, da
influncia parental no desenvolvimento da carreira de jovens.
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PARTE I A EXECUO E O AJUSTAMENTO A PLANOS DE
CARREIRA: A INFLUNCIA PARENTAL
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CAPTULO 1
A Execuo e o Ajustamento a Planos de Carreira na Teoria Vocacional
A tomada de deciso vocacional constitui um tpico central na Psicologia
Vocacional. At ao advento dos modelos desenvolvimentistas, a escolha vocacional
foi perspectivada como um momento isolado. A partir da, passou a ser concebida
como um processo enquadrado no desenvolvimento vocacional. Ao longo do
desenvolvimento, existem fases propcias ocorrncia de transies vocacionais,
com a consequente necessidade de fazer escolhas (Taveira, 2005). No quadro do
Sistema Educativo Portugus, a concluso da escolaridade obrigatria suscita aos
jovens um problema de carreira, inerente transio escolar/profissional, que
implica uma escolha. A deciso vocacional , nesta linha de pensamento, entendida
no quadro de um processo de desenvolvimento. Tiedeman (1961) considera que a
anlise do desenvolvimento vocacional deve ser orientada em funo das vrias
decises que a pessoa toma, medida que se desenvolve. este conjunto de
decises que constitui, em si mesmo, o desenvolvimento vocacional.
Confirmando o lugar central que o conceito de deciso ocupa na Psicologia
Vocacional, destacaramos a diversidade de modelos de deciso que contribuem
para a explicao do fenmeno (cf. Jepsen & Diley, 1974; Phillips & Pazienza,
1988). De acordo com Jepsen e Diley (1974) os modelos de deciso de carreira
podem dividir-se em dois grandes tipos: (i) modelos prescritivos, que prescrevem
modos ideais de tomar decises, reportando para a racionalidade do decisor e do
processo de deciso; (ii) modelos descritivos, que procuram descrever a forma
como os indivduos tomam as decises. Estes ltimos distinguem diferentes fases
do processo de tomada de deciso face a um problema de carreira, nomeadamente
a fase de execuo ou implementao da escolha. Contudo, apesar do
reconhecimento generalizado da importncia da implementao da escolha
enquanto fase do processo de tomada de deciso, a investigao conceptual e
emprica sobre o tema parece escassa (Phillips, 1992). So excepes os modelos
de Tiedeman (1961; Tiedeman & OHara, 1963; Tiedeman & Miller-Tiedeman,
1984), de Harren (1979) e de Peterson, Sampson e Reardon (1991), assim como
alguns trabalhos empricos desenvolvidos por Lent e colaboradores (Lent, Brown,
Talleyrand, McPartland, Davis, Chopra e colaboradores, 2002), Jome e Phillips
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(2005) e Germeijs e Verschueren (2007). Podemos, ainda, entender como
contributos para o estudo da execuo de planos de carreira, os trabalhos sobre o
ajustamento e a adaptabilidade na carreira desenvolvidos por outros autores
vocacionais (Blustein, Phillips, Jobin-Davis & Finkelberg, 1997; Dawis, 2005; Griffin
& Hesketh, 2005; Lent, 2004ab; Myers & Cairo, 1992; Savickas, 1997; Silva, 2002;).
Ao longo do presente captulo, discute-se a problemtica da tomada de
deciso vocacional, dando particular destaque fase de execuo ou
implementao da escolha. Assim, comearemos por apresentar o conceito de
deciso vocacional, remetendo para a sua evoluo histrica. Sem perder de vista a
perspectiva ecolgica, far-se- uma aproximao ao conceito de deciso no sentido
da adaptabilidade vocacional (Guindon & Richmond, 2005; Mortimer et al., 2002;
Savickas, 1997). Passaremos revista aos modelos de tomada de deciso vocacional,
organizando-os de acordo com a proposta de Jepsen e Diley (1974) em modelos
descritivos (e.g. Tiedeman & OHara, 1963; Harren, 1979; Peterson, Sampson &
Reardon, 1991) e modelos prescritivos (e.g. Gelatt, 1989; Gati, 1986).
. O enfoque ser colocado nos modelos descritivos de Tiedeman (1961;
Tiedeman & OHara, 1963; Tiedeman & Miller-Tiedeman, 1984) e de Harren
(1979), dada a referncia especial destes autores fase de implementao da
escolha. Por fim, aprofundamos o conceito de implementao/execuo de planos
de carreira, relacionado com o estudo em causa.
1.1.As teorias de deciso e do desenvolvimento da carreira: contributos para o
estudo da execuo e do ajustamento a planos de carreia
Presentemente, o processo de deciso ou escolha vocacional constitui um
tpico central da Psicologia Vocacional. Ainda que nem sempre tenha assumido um
papel de destaque na explicao do desenvolvimento e do comportamento
vocacionais, o processo de deciso vocacional tomado como um elemento central
no domnio desde as suas origens (Santos, 2005).
Classicamente, a interveno vocacional foi perspectivada como um
processo de ajustamento entre as caractersticas individuais e o leque de
oportunidades educacionais e profissionais. Relembremos como Frank Parsons,
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cuja obra Choosing a Vocation normalmente apontada como um marco de
referncia no mbito da Psicologia Vocacional, sintetizou processo de deciso
vocacional (Parsons, 1909, in Campos, 1976). Este autor define a escolha
vocacional em trs grandes factores: (i) man analysis, a compreenso que o
sujeito tem de si e das suas capacidades, aptides, interesses, ambies, recursos e
limitaes; (ii) job analysis, o conhecimento que o sujeito tem do meio; (iii) joint
and cooperative comparison of these two sets os analysis, isto , o raciocnio que faz
sobre as relaes entre os dois grupos de factores anteriores (Campos, 1976;
Philips & Pazienza, 1988).
Entre os continuadores da concepo parsoniana, aparecem duas
tendncias: (i) os que privilegiam a primeira etapa do modelo anterior (man
analysis), em geral psiclogos, aperfeioada com a criao de testes psicolgicos e
com o aparecimento das teorias factoriais e, (ii) os que se centram na segunda fase
do modelo (job analysis), geralmente docentes (Campos, 1976). Da evoluo do
modelo parsoniano, resulta a abordagem designada por Trao-Factor, que durante
dcadas foi a concepo dominante da Psicologia Vocacional. Neste quadro,
prope-se a organizao do processo de interveno em trs grandes momentos,
consubstanciados na recolha de informaes sobre as caractersticas pessoais do
cliente, na interpretao da avaliao psicolgica realizada e na disponibilizao da
informao vocacional em funo do perfil psicolgico avaliado. Percebe-se que,
neste contexto, a autonomia de deciso do indivduo relativamente limitada,
ficando o profissional responsvel pela indicao da via ou vias vocacionais
adequadas ao sujeito. Alm disso, a escolha vocacional perspectivada como um
acontecimento isolado, privilegiando-se o contedo em detrimento do processo de
deciso (Santos, 2005).
Todavia, a escolha vocacional comea, mais tarde, a ser lida pelos modelos
desenvolvimentistas da carreira. Estes modelos sublinham que as escolhas no so
repentinas e sem antecedentes e, por isso, no se circunscrevem a um momento
pontual de deciso. O termo de referncia passa a ser a carreira, isto , a srie de
profisses pr-profissionais, profissionais e ps-profissionais ocupadas por um
indivduo durante toda a sua existncia (Campos, 1976, p.104).
Do referido, advm que o conceito de deciso vocacional assume diferentes
facetas em funo do quadro terico que lhe subjaz. Brda (2001) diferencia as
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abordagens person-environment fit, sistmicas, desenvolvimentistas e
construtivistas no modo como conceptualizam a deciso vocacional. No que diz
respeito s abordagens person-environment fit, a deciso resultado de um
problema de incongruncia, por isso, redunda na reposio da congruncia entre a
pessoa e o meio. A deciso caracterizada e avaliada pelo seu contedo. A
perspectiva sistmica-ecolgica entende a deciso como o processo ou actividade
desenvolvimental da personalidade, inscrita na dinmica da relao com o meio
(processo), quanto como modo de inflectir essa relao, dispondo dela (contedo)
(Brda, 2001, p. 109). As abordagens desenvolvimentistas, destacando a dinmica
de reciprocidade entre o meio e a pessoa, chamam a ateno para a importncia da
deciso em termos pessoais e sociais. As abordagens construtivistas (em
particular, o construccionismo social) advogam que a deciso de carreira est
inscrita nos significados sociais e prescrita como aposta moral. Aqui o indivduo
assume responsabilidade pelo seu futuro e, particularmente, pelos seus os
projectos, num dilogo com os outros (Brda, 2001, p.110).
Assim, o processo de deciso vocacional organiza-se em torno de trs
abordagens distintas. A primeira enquadra o deciso vocacional num processo
evolutivo que ocorre ao longo de vrios estdios de desenvolvimento (e.g. Harren,
1979; Super, 1991; Tiedeman, 1961). A segunda analisa o modo como os
indivduos fazem escolhas, partindo de diversos quadros tericos (e.g. Gellat,
1989). A terceira e ltima abordagem centra-se nas variveis individuais que
distinguem os decisores (e.g. Harren, 1979; Phillips, 1997).
A concepo dominante de deciso de carreira parece organizar-se em
torno de trs grandes temas. Por um lado, reala a ideia de emergncia da deciso
em perodos de transio lacunares ou problemticos, contribuindo para a
definio de uma trajectria pessoal. Por outro lado, destaca a importncia da
seleco e do investimento em alternativas de aco. Por fim, atribui um papel de
relevo considerao das realidades e estimao das probabilidades de um bom
ajustamento (Brda, 2001). Jepsen e Dilley (1974) afirmam que enquadramento
conceptual do processo de deciso pressupe a presena de um decisor, uma
situao de deciso (expectativa social) e informao relevante. O decisor toma em
linha de conta duas ou mais alternativas e analisa-as em termos de probabilidade
(possibilidade de ocorrncia no futuro) e valor do resultado (importncia relativa
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15
para o decisor). A informao organizada de acordo com uma determinada
estratgia, tambm designada de regras ou critrios, que orienta a juno dos
elementos acima indicados numa determinada ordem, de forma a que julgamentos
claros possam resultar num dado investimento de carreira (p. 332).
Percebe-se a utilidade que os modelos tradicionais tm na compreenso da
tomada de deciso face a acontecimentos normativos, como alis o caso da
transio considerada neste estudo (transio do Ensino Bsico para o Ensino
Secundrio). Todavia, Phillips (1997) advoga uma perspectiva alternativa de
tomada de deciso, que contrasta com o modelo tradicional do conceito. Ao
contrrio da concepo do processo de deciso como um processo metdico,
deliberado, independente e completo, no quadro do qual um desvio constitui um
problema, Phillips (1997) apresenta uma definio alternativa do conceito,
acentuando as variaes inerentes tomada de deciso, nem sempre com carcter
de racionalidade. O decisor e os contextos de deciso assumem um papel agntico
no sentido da adaptabilidade face a situaes de carreira onde incerteza e
imprevisibilidade ditam a ordem, exigindo toda uma diversidade de estratgias de
deciso mais ou menos racionais (e.g. intuitiva, expressiva, consultiva) (Phillips,
1997).
A escolha vocacional implica a inteno de escolher um determinado
objectivo vocacional, que pressupe uma deciso e a ponderao de vrias
alternativas, tendo em conta a considerao das possibilidades de sucesso em cada
uma delas (Santos, 2005) num contexto varivel e imprevisvel. Brda (2001)
aponta a deciso de carreira como um processo que parte de um problema de
transio e que conduz considerao, explorao, valorao e seleco entre
diversas alternativas, atravs de um procedimento, parcialmente sistemtico e
consciente e, em grau varivel, racional, com vista ao compromisso com uma
alternativa e vinculao do sujeito sua implementao.
A evoluo conceptual da deciso evoca a progresso cronolgica das
definies de orientao escolar e profissional (cf. Rodrguez Moreno, 1998).
Ambas traduzem o reconhecimento da amplitude, complexidade e
imprevisibilidade do conceito de carreira. Relembremos as ideias de deciso no
quadro do desenvolvimento vocacional e da carreira, entendido este como o
processo de aprendizagem e de mudana contnuos nas diferentes reas de vida, e
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16
de orientao vocacional como o conjunto de intervenes ou prticas que so
utilizadas para favorecer, de um modo explicitamente deliberado, os processos de
aprendizagem e de trabalho dos indivduos ao longo das diferentes fases de vida
(cf. Tiedeman, 1961; Rodrguez Moreno, 1998; Taveira, 2004, 2005). Daqui advm
uma menor dedicao s teorias normativas do desenvolvimento e a consequente
fidelizao de abordagens transculturais e construccionistas da carreira (cf.
Guindon & Richmond, 2005; Kileen, 1996; Taveira, 2005; Vondracek, 2007).
De facto, a tomada de deciso numa perspectiva de ciclo de vida e de papis
de vida contempla um elevado nvel de incerteza e de complexidade, acentuado
pela mutabilidade dos contextos social, tecnolgico e profissional, o que permite
antever a importncia da adaptabilidade enquanto competncia crtica
confrontao com as circunstncias de vida (Phillips, 1997; Savickas, 1997; Silva,
2002). A noo de adaptabilidade traduz, nas palavras de Savickas (1997), a
integrao das perspectivas diferenciais, fenomenolgicas, desenvolvimentais e
contextualistas. A adaptabilidade refere-se capacidade do indivduo para mudar
em funo das cirscunstncias, enquanto a adaptabilidade vocacional a
disponibilidade do indivduo para resolver as tarefas inerentes preparao e
participao no mercado de trabalho e para efectuar ajustamentos s mudanas
neste mesmo contexto. (Savickas, 1997). Trata-se de uma noo que coordena
acontecimentos normativos e no-normativos, num contexto scio-histrico
determinado, e que supe resilincia, positividade e flexibilidade face a mudanas
externas e internas. Isto implica a compreenso das competncias e estilos
adaptativos, dos objectivos, funes e processos de adaptao e da situao
histrica e cultural associada situao.
No seguimento do referido, percebe-se a evoluo do conceito de deciso
vocacional no sentido do reconhecimento de uma maior subjectividade inter-
sistmica co-construda na dinmica agntica do sujeito e do meio, sendo que este
tem caractersticas de maior imprevisibilidade. A propsito, Gelatt (1989) fala-nos
da incerteza positiva como uma estratgia de tomada de deciso necessria ps-
modernidade, no sentido em que permite aos indivduos lidar com a mudana e
com a ambiguidade, aceitar a incerteza e a inconsistncia e utilizar a verso no
racional e intuitiva do pensamento e da escolha. Acentuando a incerteza e a
imprevisibilidade que caracterizam as vivncias actuais, o autor prescreve trs
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linhas orientadoras tomada deciso: (i) trata os factos com imaginao mas no
imagines os factos; (ii) conhece o que queres e em que acreditas mas no tenhas
certezas; (iii) s racional, a no ser que exista uma boa razo para no o ser
(Gelatt, 1989, p. 256). Assim, o autor considera que uma deciso de carreira inclui
sempre um certo grau de incerteza positiva.
1.1.1. Contributos dos modelos descritivos
Em geral, os modelos descritivos procuram explicar o processo de tomada
de deciso vocacional tal como ele ocorre, dando resposta questo Como so
tomadas as decises de carreira?. Pode dizer-se que estudam o fenmeno
natural pelo qual as pessoas decidem. Nesta linha, um modelo de deciso
consiste numa descrio de um processo psicolgico no decurso do qual se
organiza informao, se pondera sobre as alternativas existentes e se investe num
curso de aco (Harren, 1979, p.119).
Phillips e Pazienza (1988) destacam o modelo proposto por Tiedeman
(1961; Tiedeman & OHara, 1963; Tiedeman & Miller-Tiedeman, 1984) como um
modelo compreensivo que descreve o processo sequencial de tomada de deciso
vocacional em dois estdios: a Antecipao e a Implementao. Com base nesta
perspectiva, Harren (1979) prope um modelo sequencial organizado em quatro
estdios: Conscincia, Planeamento, Compromisso e Implementao. Alm disso,
identifica factores individuais e contextuais que influenciam o processo de tomada
de deciso de carreira (Harren, 1979). Ambos modelos realam, assim, a
implementao da escolha como parte integrante do processo de tomada de
deciso, o qual lido no quadro do desenvolvimento vocacional. Tambm
Peterson, Sampson e Reardon (1991) distinguem diferentes estdios do processo
de tomada de deciso, entre os quais referem a execuo da escolha.
Phillips e Pazienza (1988) apontam, ainda, outras propostas descritivas
como modelos que procuram pormenorizar especificidades do processo de tomada
de deciso (e.g. Hilton, 1962, Vroom, 1964, Fletcher, 1966 in Phillips & Pazienza,
1988).
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O modelo de Hilton (1962, in Jepsen & Diley, 1974) um modelo de tomada
de deciso vocacional que se baseia nos mecanismos de processamento de
informao. O autor apresenta os seguintes conceitos:
(i) Premissas, que se definem como crenas ou expectativas acerca do
self e do mundo (e.g. auto-percepes, atributos de papis
ocupacionais, necessidades, percepes da estrutura social );
(ii) Planos, que correspondem sequncia de aces associadas com a
escolha de uma profisso;
(iii) Dissonncia cognitiva, isto , o processo de testagem dos planos em
funo das premissas;
O processo de tomada de deciso inicia-se a partir de um input do ambiente
que modifica os planos presentes do decisor. O decisor testa o input, de modo a
verificar se provocou dissonncia, isto , se gerou inconsistncia entre os planos e
as premissas. Caso ocorra dissonncia, o decisor explora informao relevante a
outro plano de aco, testa-o e, caso passe o teste de dissonncia, escolhe-o.
Na mesma linha, Peterson, Sampson e Reardon (1991) consideram que a
tomada de deciso envolve um processo cclico de cinco fases: a Comunicao, a
Anlise, a Sntese, a Avaliao e a Execuo. Alm disso, neste processo esto,
tambm, implicadas metacognies (e.g. auto-verbalizaes, auto-conscincia,
monitorizao e controlo) e disponibilidade de parte do indivduo (isto , a
capacidade do indivduo para fazer escolhas de carreira apropriadas, tendo em
conta a complexidade dos factores familiares, sociais, econmicos e
organizacionais que influenciam o desenvolvimento individual). importante
destacar aqui a noo de Execuo enquanto fase do processo de tomada de
deciso. Os autores definem-na como a converso da cognio em aco, atravs da
formulao e implementao de uma estratgia ou plano de aco, para o que
contribuem as metacognies. Neste sentido, Perterson e colaboradores (1991)
apresentam um modelo que nos auxilia na comprenso da execuo de planos de
carreira, contudo, com um enfoque acentuado nos aspectos cognitivos do processo
de tomada de deciso (Taveira, 2000).
Vroom (1964, in Jepsen & Diley, 1974), pelo seu lado, d maior nfase aos
aspectos motivacionais no processo de tomada de deciso, ao reconhecer o papel
do indivduo no processamento dos acontecimentos exteriores e dos processos
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psicolgicos como mediadores da previso e da avaliao na determinao da
aco. O modelo que prope recorre aos conceitos de valncia (orientao afectiva
do decisor para determinados resultados), de expectativa (grau em que o decisor
acredita que os resultados so provveis) e de fora (factor cognitivo hipottico
que controla o comportamento, ou seja, o produto da valncia e da expectativa).
Assim, o compromisso e o investimento numa dada actividade dependem do valor,
ou grau de satisfao obtida com a actividade, e da valncia, ou valor subjectivo
atribudo a essa mesma actividade. De acordo com o mesmo autor, as pessoas
desenvolvem tambm expectativas sobre o impacto de foras exteriores na tomada
de deciso. Em consequncia, o envolvimento e a persistncia na concretizao de
uma dada opo vocacional dependem da avaliao que o indivduo faz da relao
entre as expectativas de resultado e o valor das oportunidades vocacionais. As
noes desenvolvidas no mbito das perspectivas motivacionais expectativa x
valor esto na base de modelos de tomada de deciso mais actuais que
introduzem o conceito de auto-eficcia vocacional e adaptam os modelos de
aprendizagem social de Bandura (1986) tomada de deciso (e.g., Lent, 2004a;
Lent, Brown & Hackett, 2002).
Krumboltz e colaboradores (e.g. Krumboltz & Nichols, 1990) aplicaram o
modelo da aprendizagem social problemtica da tomada de deciso vocacional.
De acordo com esta teoria, quatro tipos factores podem influenciar o modo como
as pessoas lidam com as decises vocacionais: (i) equipamento de base da pessoa
(legado gentico e aptides especficas), (ii) condies e acontecimentos do meio,
(iii) experincias de aprendizagem instrumental, associativa e vicariante e (iv)
competncias de execuo das tarefas (valores, padres de excelncia, hbitos de
trabalho, processos cognitivos e perceptivos, sistemas mentais e respostas
emocionais). O modelo reala o papel das experincias no desenvolvimento das
preferncias e das competncias vocacionais. Conforme referido, os autores
distinguem as experincias de aprendizagem directa e de aprendizagem vicariante.
As primeiras incluem as experincias de aprendizagem instrumental, que ocorrem
quando o indivduo reforado positivamente ou punido pela sua actuao, e as
experincias de aprendizagem associativa, que acontecem quando os indivduos
associam um estmulo emocional, positivo ou negativo, a um acontecimento ou
actividade at a afectivamente neutra. As segundas dizem respeito aquisio e
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exerccio de competncias atravs da observao de modelos de comportamento.
De acordo com este modelo, a interaco entre as experincias de aprendizagem,
as influncias do meio, as caractersticas genticas e as aptides especficas,
determinam as competncias de resoluo das tarefas com que o indivduo se
confronta. Mais especificamente, determinam a sua capacidade para clarificar
valores pessoais, estabelecer objectivos, prever acontecimentos futuros, criar
novas alternativas para a resoluo do problema, procurar e identificar fontes
vlidas de informao e planear a aco (Taveira, 2000).
Tambm Fletcher (1966, in Jepsen & Diley) advoga que os processos de
tomada de deciso no so totalmente racionais. O autor afirma que o
compromisso funo da oportunidade e da informao disponvel ao decisor.
Alm disso, as formulaes sobre as decises de carreira so conceitos cerca do
futuro que se baseiam nas experincias associadas a uma ou mais necessidades
humanas.
Janis e Mann (1977, in Taveira, 2000) evidenciam os processos emocionais
implicados no processo de tomada de deciso. Os autores apontam que os
indivduos experienciam conflito ou indeciso vocacional quando tm motivos
simultneos para aceitar ou rejeitar um dado curso de aco. Quando as decises
tm implicaes significativas para a vida da pessoa, a experincia de conflito pode
provocar reaces emocionais de desconforto que afectam o processo de escolha
vocacional. Com base nisto, descrevem cinco estratgias principais para lidar com
o conflito: (i) aderncia sem conflito, (ii) mudana sem conflito, (iii) evitamento
defensivo, (iv) hipervigilncia e (v) vigilncia. A estratgia definida em funo
das crenas individuais cerca do risco associado deciso e do tempo que a
pessoa dispe para concretizar a sua escolha, dos nveis de stress e do grau de
indeciso e de certeza. Os autores definiram, ainda, sete critrios de diagnstico
que permitem classificar os estilos de deciso vocacional descritos em funo de
competncias vocacionais. Os critrios so (i) a discusso minuciosa de opes, (ii)
a discusso aprofundada de objectivos, (iii) a avaliao cuidadosa das
consequncias, (iv) a procura cuidada da informao, (v) assimilao no
enviesada de informao nova, (vi) a reavaliao de alternativas e (vii) o
planeamento da implementao da aco. Este modelo serviu de base ao
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desenvolvimento de novas concepes sobre a tomada de deciso e est implcito
em diversos modelos de interveno.
Conforme tem sido enunciado, os modelos anteriores tendem a focalizar a
sua ateno nas decises, no reflectindo completamente todos os factores ou
processos envolvidos na tomada de deciso (Taveira, 2000). Por outro lado,
Tiedeman (1961) e Harren (1979) vm enquadrar o processo de tomada de
deciso no desenvolvimento vocacional e, neste sentido, contribuem para o
esclarecimento do conceito numa perspectiva desenvolvimental. Pela importncia
que assumem neste trabalho, nomeadamente pelo reconhecimento da fase da
implementao da escolha, faz-se uma apresentao mais aprofundada destes dois
modelos.
Tiedeman e colaboradores (1961; Tiedeman & OHara, 1963; Tiedeman &
Miller-Tiedeman, 1984) apresentam um modelo descritivo de deciso vocacional,
designado de perspectiva individualista. Os autores comparam o desenvolvimento
da carreira a uma expedio no oceano, procurando realar a capacidade agntica
da pessoa para se adaptar ao meio, atravs de um processo dinmico de
diferenciao e reintegrao sucessivas, com consequncias na identidade
vocacional. Os autores definem o processo de carreira como um processo de
crescimento e de mudana, que se define nas escolhas de carreira resultantes das
oportunidades sociais e das caractersticas pessoais e da capacidade da pessoa se
adaptar s circunstncias (Tiedeman & Miller-Tiedeman, 1984).
Com base nos modelos tericos dominantes sua poca, Tiedeman e Miller-
Tiedeman (1984), concebem o desenvolvimento vocacional, e mais
especificamente a tomada de deciso, em funo de dois processos principais: a
diferenciao e a (re)integrao. A diferenciao envolve a capacidade dos
indivduos para distinguir as experincias. A integrao ou reintegrao
correspondem ao processo pesssoal de reestruturao das experincias num todo
significativo. O resultado destes dois processos a reestruturao hierrquica, ou
seja, a construo de quadros de referncia mais complexos pela pessoa. O
processo de tomada de deciso iniciado pela experincia de um problema
vocacional e pelo reconhecimento da necessidade de tomar uma deciso. Assim,
quando os indivduos no esto a ser desafiados, no sentem necessidade de
activar os processos de diferenciao e de reintegrao no sentido da
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reestruturao hierrquica. Quando, pelo contrrio, os indivduos so expostos a
situaes desafiantes, tendem a pr em aco os processos descritos. o caso dos
alunos portugueses que concluem o Ensino Bsico (escolaridade obrigatria) e se
defrontam com a necessidade da escolha ou no do prosseguimento dos estudos.
Trata-se de uma situao desafiante que conduz tomada de deciso.
A deciso vocacional , assim, entendida como um processo dinmico que se
desenvolve em dois estdios principais, cada um dos quais composto por sub-
estdios: a Antecipao (explorao, cristalizao, escolha e clarificao) e a
Implementao (induo, reformulao e integrao). O processo de tomada de
deciso organiza-se, assim, em torno do comportamento anterior escolha e da
aco instrumental subsequente deciso. Cada fase representa uma mudana
discreta no estado psicolgico e no estado da deciso da pessoa. Os aspectos
formais do problema esto presentes em todas as fases do processo, o que muda
o carcter das consideraes sobre as opes em anlise. Importa reter que as
mudanas no so instantneas nem irreversveis.
A fase de Antecipao da escolha concebida como um processo de
reestruturao hierrquica, de transformao contnua dos subsistemas do self e
do meio, medida que ocorrem os movimentos para a fase de Implementao. Este
perodo subdivide-se nos quatro sub-estdios seguintes: Explorao, Cristalizao,
Escolha e Clarificao.
O sub-estdio da Explorao ocorre quando os indivduos consideram
diferentes alternativas e objectivos. Os objectivos relevantes so aqueles que
podem ser concretizados nas oportunidades associadas com o problema. Alm
disso, os objectivos disponveis so influenciados pela experincia individual
anterior, pelo nvel de investimento na continuidade ou mudana do estado
presente e da situao na qual o problema ocorre e pela ajuda que a pessoa
procura ou obtm na resoluo do problema. As alternativas ou objectivos
aparecem associados a um dado campo psicolgico, o qual constitui o contexto no
qual a escolha ocorre. Durante este sub-estdio, as possibilidades so
relativamente transitrias, altamente imaginadas e no necessariamente
interrelacionadas. Formulam-se um conjunto de possibilidades e de consequncias
desassociadas.
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O sub-estdio de Cristalizao descreve as tentativas de clarificao da
ordem e dos padres de objectivos e respectivos contextos. Os objectivos so
comparados com base nas necessidades e custos, nas vantagens e desvantagens, e
nas qualidades de exactido, inteligibilidade, complexidade e racionalidade. Pensar
o problema permite tornar a soluo mais estvel, durvel e fivel. D-se um
processo de avaliao, que origina valores que tendem a fixar a organizao ou a
ordenar as consideraes relevantes em funo dos objectivos. A cristalizao
corresponde estabilizao do pensamento, o que permite o investimento numa
dada linha de opes. Ainda assim, este processo no necessariamente
irreversvel, podendo verificar-se sequncias de tentativas de cristalizao, novas
exploraes e recristalizaes.
O sub-estdio da Escolha envolve o compromisso com um objectivo e
respectivo contexto, o que orienta o indivduo para a aco. A escolha de um
objectivo e do respectivo campo de aco orienta o sistema comportamental no
sentido da resoluo do problema. Ainda assim, a opo varia no nvel de certeza e,
consequentemente, na fora da motivao para a aco.
O sub-estdio de Clarificao, resultante das dvidas emergentes no
perodo que antecede a aco, envolve tentativas situadas de melhoria da auto-
imagem da pessoa (em contexto). A dvida leva o indivduo a clarificar a sua
posio anterior e a posicionar-se no futuro, o que permite melhorar a auto-
imagem em contexto e dissipar as dvidas emergentes. Caso contrrio, o indivduo
retoma fases anteriores do processo de tomada de deciso.
Na sequncia do processo de Antecipao, o indivduo implementa a sua
escolha. A fase de Implementao concretiza-se na confrontao com a realidade e,
por conseguinte, supe interaco no sentido do equilbrio. Nesta fase, o indivduo
passa pelos sub-estdios de Induo, Adaptao e Integrao.
O sub-estdio de Induo acontece com a execuo do plano de aco, o que
se faz na interaco do indivduo com o meio. Contudo, a implementao da
escolha, resultado da adaptao do indivduo ao meio, difere do plano formulado. O
indivduo torna-se parte da regio do sistema social no qual implementa o plano de
aco, o que obriga adaptao e ao aperfeioamento desse mesmo plano.
O sub-estdio de Adaptao resulta do feedback positivo que o grupo
oferece ao indivduo, promovendo um forte sentido de identidade. Assim, o
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24
indivduo sente-se integrado no grupo, experiencia um forte sentido de identidade
e envolve-se activamente no desenvolvimento do grupo. Por conseguinte, actua
simultaneamente no sentido dos objectivos do grupo e dos objectivos pessoais, por
forma a conseguir consistncia entre ambos, o que se traduz na modificao dos
objectivos e do campo do grupo.
O sub-estdio de Integrao, ocorre quando o indivduo e o grupo procuram
manter a organizao dominante atravs de uma atitude de colaborao. O
indivduo sente-se satisfeito, pelo menos temporariamente, e o grupo considera-o
bem sucedido. Esta fase tem, na sua essncia, a sntese dos movimentos de
diferenciao e de integrao, o que resulta na consolidao da identidade. Ainda
assim, a integrao corresponde a um estado que pode, a qualquer momento,
modificar-se.
Tiedeman e OHara (1963) consideram que o ciclo da Antecipao-
Implementao se repete ao longo da vida, sempre que surge a necessidade de
tomar uma deciso. O desenvolvimento de carreira no ocorre apenas no contexto
de uma deciso mas de vrias. Alm disso, num dado momento da vida, os
indivduos podem estar envolvidos em mais do que um processo de tomada de
deciso numa rea do desenvolvimento ou em reas diferentes. As decises numa
rea de vida afectam os processos de deciso nas restantes reas. Estas ideias, de
acordo com Taveira (2000), so consistentes com a teoria e investigao da
identidade sobre a simultaneidade do processo de identidade em diferentes
domnios ou reas de contedo e com a noo de interdependncia de papis de
vida de Super.
Mais recentemente, este modelo foi desenvolvido, numa primeira fase, para
um modelo de representao cbica e, posteriormente, para um modelo piramidal.
No modelo cbico, o processo de deciso vocacional concebido como um
processo proactivo constitudo pelas trs componentes seguintes:
(i) Condies do problema: formao do problema, resoluo do
problema, soluo do problema;
(ii) Estados psicolgicos: explorao, clarificao e acomodao;
(iii) Compreenso de si prprio: aprender sobre, realizar e realizar com
conscincia;
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Conforme apresentado, cada uma destas componentes integra um conjunto
de dimenses que reflectem diferentes nveis de maturidade (Tiedeman & Miller-
Tiedeman, 1984).
Por sua vez, o modelo piramidal consiste numa hierarquia de estratgias de
tomada de deciso, composta por quatro nveis:
(i) Aprender acerca de;
(ii) Resolver o problema;
(iii) Utilizar as solues;
(iv) Rever as solues (Tiedeman & Miller-Tiedeman, 1984).
Conforme apresentado, o modelo proposto por Tiedeman e colaboradores
(Tiedeman, 1961; Tiedeman & OHara, 1963; Tiedeman & OHara, 1984) assume
particular relevo neste trabalho dadas as referncias fase de implementao luz
de uma perspectiva desenvolvimentista e construccionista. Aquele autor refere-se
tomada de deciso no quadro do desenvolvimento da carreira e da identidade.
Assim, define o desenvolvimento vocacional como o processo de desenvolvimento
pessoal visto em relao com a escolha, entrada e progresso nos percursos
escolar e vocacional. Por conseguinte, o desenvolvimento vocacional faz-se por
referncia a uma histria individual de decises assim como ao contexto scio-
histrico em que aquela ocorre (Tiedeman, 1961). Tiedeman e OHara (1963)
referem-se ao desenvolvimento da identidade em articulao com a carreira e
identificam factores de ordem biolgica, social e cultural que esto na sua gnese.
Alm disso, Tiedeman e colaboradores (1961; Tiedeman & OHara, 1963;
Tiedeman & Miller-Tiedeman, 1984) realam a aco proactiva do sujeito no
desenvolvimento da carreira, o que alis fica evidenciado nos seus modelos cbico
e piramidal de tomada de deciso.
No seguimento dos trabalhos de Tiedeman e colaboradores (Tiedeman,
1961; Tiedeman & OHara, 1963), Harren (1979) prope outro modelo descritivo
do processo psicolgico de tomada de deciso baseado na investigao com
estudantes universitrios. Harren (1979) considera que a tomada de deciso se
baseia num conjunto de quatro parmetros relacionados, a saber: (i) o processo de
tomada de deciso, (ii) as caractersticas do indivduo, (iii) as tarefas
desenvolvimentais e (iv) o tipo de deciso em causa (quadro 1.1.).
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26
Quadro 1.1. Sntese do modelo proposto por Harren (1979, p. 121).
PARMETROS CONSTRUCTOS PROCESSOS
Processo
Conhecimento
Planeamento
Compromisso
Implementao
Avaliao de si em situao;
Explorao-Cristalizao;
Integrao no auto-conceito;
simplificao; planeamento da aco;
Conformidade-Autonomia-
Interdependncia; Antecipao de
resultados (satisfao e sucesso);
Caractersticas
Auto-conceito Identidade
Auto-estima
Nvel de diferenciao e de integrao;
Avaliao: nvel de satisfao com o
self e de auto-confiana;
Estilo Racional
Intuitivo
Dependente
Deliberao objectiva e auto-avaliao;
Auto-conhecimento emocional e
fantasia;
Negao da responsabilidade;
Projeco nos outros; Percepo de
opes limitadas;
Tarefas
Autonomia
Maturidade interpessoal
Sentido de inteno
Necessidade limitada de apoio
emocional; Instrumentalidade;
Interdependncia cooperativa;
Tolerncia; Confiana; Intimidade;
Ajustamento; Planeamento do
percurso educacional e do estilo de
vida;
Condies
Avaliaes interpessoais
Estados psicolgicos
Feedback positivo e negativo dos
outros;
Nvel de ansiedade no decisor;
Comportamentos defensivos de
evitamento face a nveis elevados de
ansiedade;
Condies da tarefa Imanncia
Alternativas
Consequncias
Quantidade de tempo disponvel antes
da implementao;
Nmero de alternativas disponveis;
Efeitos positivos e negativos no self e
nos outros;
Condies do contexto Mutualidade
Apoio
Probabilidade
Outro significativo como co-decisor;
Apoio emocional e financeiro de
outros;
Deciso de outros necessria
implementao;
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O processo de tomada de deciso concebido como uma sequncia de
quatro estdios: o Conhecimento, o Planeamento, o Compromisso e a
Implementao. Em cada estdio, o sujeito orienta-se para problemas ou objectivos
diversificados e envolve-se em diferentes comportamentos, com vista sua
resoluo.
A fase de Conhecimento, ocorre quando o indivduo faz uma avaliao de si
na situao presente, cria a necessidade de explorao de opes e expande a sua
perspectiva temporal. Aspectos especficos da avaliao de si na situao presente
so a considerao das consequncias do curso da aco, o conhecimento do nvel
actual de sucesso e de satisfao, tendo em conta as consequncias de decises
anteriores, o nvel de auto-confiana na tomada de deciso e o nvel de presso
exterior. Quando daqui resulta insatisfao e ansiedade, o indivduo reconhece a
necessidade de explorar alternativas e faz-se a transio para o estdio seguinte.
A fase de Planeamento implica a procura de informao sobre as opes
profissionais e a integrao da informao obtida no auto-conceito. Faz-se um
movimento de alternncia expanso-afunilamento dos processos de explorao e
cristalizao, o que possibilita ao indivduo explorar as diferentes alternativas com
base em critrios internos e, assim, fazer a transio para o compromisso com uma
alternativa.
A fase de Compromisso caracteriza-se, num primeiro momento, pelo
investimento subjectivo e privado num domnio ou opo e, num segundo
momento, pela obteno de feedback relativamente s opes em causa. Se o
feedback positivo, o investimento aumenta, a deciso integrada no auto-
conceito e o sujeito orienta-se para o futuro. A integrao do compromisso no
auto-conceito, a reduo de dissonncia e de ansiedade antecipatria, atravs do
reconhecimento das capacidades e dos recursos, e o planeamento da aco
viabilizam a implementao da escolha.
A fase de Implementao, acontece quando os indivduos se confrontam,
reagem e so assimilados pelo novo contexto. O autor identifica trs solues de
ajustamento ao contexto: (i) conformidade (necessidade de aprovao social), (ii)
autonomia (afirmao de necessidades e objectivos pessoais) e (iii)
interdependncia (considerao do self em situao e integrao de necessidades e
de objectivos). Assim, tende a desenvolver-se um equilbrio dinmico entre o
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28
sujeito e o meio que resulta em mudanas nas necessidades, objectivos e valores
do indivduo, nos objectivos do grupo, na constituio e distribuio de poder no
grupo e no exterior em aspectos que influenciam o grupo (Harren, 1979).
A resoluo bem sucedida das tarefas de uma dada fase do processo de
tomada de deciso facilita a progresso para as fases seguintes. O modelo concebe
a possibilidade de bloqueamento num dado estdio ou a reciclagem ao longo dos
diferentes estdios. Conforme referido anteriormente, as caractersticas, as tarefas
e as condies inerentes ao processo de deciso so factores determinantes da
evoluo ao longo do mesmo. As caractersticas individuais referem-se a traos de
personalidade que determinam a percepo do sujeito acerca das tarefas e das
condies e que, por isso, influenciam a evoluo no processo de tomada de
deciso. Entre estas caractersticas destaca-se o auto-conceito (identidade e auto-
estima) e os estilos de tomada de deciso (racional, intuitivo e dependente). H,
tambm, a necessidade dos indivduos lidarem com trs tarefas desenvolvimentais
principais: a autonomia, a maturidade interpessoal e a finalidade. Alm disso,
factores psicolgicos e situacionais como a avaliao interpessoal, os estados
psicolgicos, as condies da tarefa e as condies do contexto influenciam a
tomada de deciso (Harren, 1979). O pressuposto fundamental deste modelo que
a tomada de deciso, enquadrada no desenvolvimento vocacional, ocorre ao longo
dos diferentes estdios, que dependem da interaco das caractersticas dos
indivduos com o tipo de deciso em causa e com o contexto envolvente da
situao de tomada de deciso.
Com base nos parmetros relativos ao processo, caractersticas, tarefas e
condies da tomada de deciso vocacional, Harren (1979) afirma que o decisor
efectivo se caracteriza da seguinte forma: (i) auto-estima de nvel moderado a alto;
(ii) auto-conceito realista, mas flexvel e aberto a novas experincias; (iii) auto-
conceito altamente diferenciado (i.e. conscincia clara de interesses, valores,
competncias, entre outros); (iv) auto-conceito integrado (i.e. identidade
relativamente estvel, o que resulta em comportamentos intencionais e
consistentes); (v) responsabilidade pela tomada de deciso; (vi) escolha suportada,
fundamentalmente, por estilo racional de tomada de deciso; (vii) crescimento no
sentido da resoluo das trs tarefas desenvolvimentais apresentadas pelo autor
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(autonomia emocional e instrumental, relaes interpessoais maduras e sentido de
inteno).
O modelo descritivo proposto por Harren (1979) assume, assim, a
interaco dinmica entre o sujeito e o meio no processo de tomada de deciso
vocacional, situando-o no quadro do desenvolvimento da carreira. Alm disso,
refere-se fase de implementao da escolha como uma tarefa significativa do
processo de tomada de deciso.
1.1.2. Contributos dos modelos prescritivos
Os modelos prescritivos centram-se nas decises e na escolha vocacional,
constituindo tentativas de ajuda aos indivduos na tomada de deciso com vista
reduo de erros de escolha. Estes modelos procuram responder questo Como
tomar melhores decises? e, neste sentido, prescrevem o caminho a seguir na
tomada de deciso (Phillips & Pazienza, 1988; Jepsen & Dilley, 1974). O decisor
comparado a um cientista, que procura a informao necessria ao processo de
tomada de deciso e que a utiliza na definio de uma escolha susceptvel de uma
implementao bem sucedida. Assim, estes modelos prescrevem estratgias de
tomada de deciso baseados nos mtodos cientfico, estatstico/matemtico e
econmico (cf. Jepsen & Dilley, 1974).
Katz (1963, in Jepsen & Diley, 1974) apresenta um modelo de tomada de
deciso que enfatiza a estrutura a usar na orientao escolar e profissional de
acordo com o mtodo estatstico/matemtico. Este modelo distingue-se de outros
por privilegiar a identificao e definio de valores na escolha vocacional. Os
valores so entendidos como os objectivos ou estados desejados. O decisor
desenvolve a sua lista de valores dominantes e hierarquiza-os de acordo com a
magnitude de valor. em funo desta que faz a escolha.
Assumindo que uma das funes do aconselhamento ajudar os alunos a
fazer boas decises, Gelatt (1962, in Jepsen & Diley, 1974) considera que a
deciso dever ser avaliada a partir do processo mais do que a partir do resultado.
O autor define o processo de tomada de deciso em termos de ciclos sucessivos de
decises experimentais-decises terminais. As decises experimentais ocorrem,
por exemplo, quando o indivduo procura e processa diferentes tipos de
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informao. As opes daqui resultantes culminam na tomada de uma deciso
terminal. Esta, por sua vez, pode dar origem a um novo ciclo de decises
experimentais, as quais podem conduzir modificao do resultado da deciso
terminal. A tomada de deciso aparece, assim, descrita como um processo
cognitivo, suportado pelo mtodo cientfico, que implica trs sistemas de avaliao:
(i) sistema preditivo que inclui informao relativa s aces possveis, aos
resultados possveis dessas aces e probabilidade dos resultados, (ii) sistema de
valores que diz respeito a preferncias entre resultados provveis e (iii) sistema de
deciso que se refere avaliao de prioridades ou de regras. Uma boa deciso
inclui informao adequada e relevante dos diferentes sistemas. De acordo com
este modelo, o indivduo necessita de explorar informao precisa e completa
sobre cada um dos sistemas, para ser capaz de antecipar, de forma realista, os
riscos da implementao de cada uma das opes em causa. Em termos gerais, a
explorao das opes vocacionais deve ser realizada a partir de uma abordagem
exaustiva da informao disponvel. Todavia, a teoria e a investigao contrariam
esta ideia ao demonstrar que as pessoas tendem a ser parcimoniosas no processo
de deciso, centrando-se em pequenas unidades de informao relacionadas com o
problema (Taveira, 2000).
Kaldor e Zytowski (1969, in Jepsen & Diley, 1974), a partir do modelo
econmico, descrevem o processo de escolha vocacional em termos de inputs e
outputs e oferecem estratgias detalhadas de avaliao dos valores dos mesmos. Os
inputs incluem os recursos pessoais tais como caractersticas intelectuais e fsicas.
Os outputs correspondem s consequncias enquanto funo dos inputs e das
alternativas. A escolha cai sobre a opo com maior valor quando comparados os
custos dos inputs e os ganhos em outputs. Neste sentido, a estratgia de tomada de
deciso consiste na atribuio de valores para cada alternativa, tendo em conta os
custos e os ganhos. De acordo com isto, elaboram-se grficos e determina-se a
alternativa certa.
Gati (1986) afirma que uma boa deciso se refere ao processo de escolha,
enquanto um bom resultado corresponde desejabilidade do resultado da
deciso tomada. O autor prope, assim, um modelo prescritivo, que designa de
modelo de eliminao sequencial (Sequential Elimination Model) e cujas fases
so: (i) identificar aspectos relevantes, (ii) hierarquizar as alternativas, tendo em
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conta os aspectos considerados, (iii) identificar o nvel aceitvel de importncia
das alternativas, tendo em conta o aspecto mais importante considerado, (iv)
eliminar as alternativas cujas caractersticas se encontram fora do nvel aceitvel
considerado, (v) verificar a extenso da lista de alternativas da resultantes.
Conforme ficou claro, os modelos prescritivos, em maior ou menor grau,
enfatizam a racionalidade do decisor e do processo de escolha, entendendo-se por
racionalidade a anlise sistemtica das vrias alternativas de escolha disponveis e
a poderao das mltiplas variveis, de forma a que a deciso tomada permita
maximizar os interesses e os objectivos do decisor (Santos, 2005). Alm disso,
estes modelos tendem a centrar-se na fase antecipatria da deciso.
De acordo com o referido no ponto anterior, a propsito da evoluo do
conceito de tomada de deciso vocacional, parece ser hoje admitido que, face
diversidade de situaes de escolha e crescente imprevisibilidade das
trajectrias vocacionais, os indivduos no se comportam necessariamente como
prescrito por estes modelos (Gati, Krausz & Osipow, 1996; Gelatt, 1989; Phillips,
1997). Ainda assim, pode dizer-se que os diferentes modelos de tomada de deciso
so complementares, na medida em que seguem objectivos distintos. Por um lado,
os modelos descritivos procuram elucidar o modo como os indivduos tomam
efectivamente decises de carreira. Por outro lado, os modelos prescritivos
aconselham modos ideias de tomada de deciso. Ambos apresentam contributos
para compreenso da deciso vocacional. Especificamente, alguns modelos
descritivos avanam no esclarecimento acerca da execuo de planos de carreira
(e.g. Harren, 1979; Peterson, Sampson & Reardon, 1991; Tiedeman, 1961).
1.1.3. Sntese dos contributos para o estudo da execuo e do ajustamento a
planos de carreira
Na abordagem das teorias da tomada de deciso, fica claro que qualquer
deciso implica uma fase exploratria, durante a qual o indivduo identifica e avalia
opes alternativas. A explorao anterior deciso , assim, entendida como uma
fase importante do processo de deciso, na medida em que antecede o
compromisso com uma dada opo e a resoluo da tarefa vocacional em questo
(Taveira, 2000). Contudo, a definio do projecto vocacional no termina com a
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tomada de deciso, exigindo a implementao das intenes. Vejamos o exemplo
dos alunos portugueses que terminam o Ensino Bsico. A concretizao de
qualquer projecto vocacional obriga sua formulao e implementao.
Da anlise dos modelos de tomada de deciso, advm o carcter
multidimensional do fenmeno, o que nos remete para as fases antecipatria e
executiva dos planos de carreira nas suas dimenses cognitivo-informacional e
afectivo-motivacionais (Paixo & Silva, 2001). Por conseguinte, no se pode
ignorar a fase de Implementao, nomeadamente em termos de ajustamento ou
adaptabilidade vocacionais. Com a implementao da escolha, as tarefas de
planeamento esto terminadas e iniciam as tarefas de ajustamento s
consequncias da escolha. A implementao acontece, assim, no momento em que
as escolhas individuais e a realidade se confrontam (Phillips, 1992). No incio do
Ensino Secundrio, por exemplo, os estudantes implementam os projectos
vocacionais elaborados no final do Ensino Bsico.
Todavia, apesar da diversidade de modelos tericos e estudos empricos
sobre a tomada de deciso vocacional (cf. Jepsen & Diley, 1974; Rodrgues Moreno,
1998; Phillips & Pazzienza, 1988), as referncias implementao da escolha so
escassas. Jome e Phillips (2005) afirmam que muitas questes sobre a fase de
implementao da escolha permanecem por estudar e realam a necessidade de se
investir neste tema, tendo em conta o papel crtico que a implementao tem no
desenvolvimento vocacional dos indivduos. Neste mbito, os autores realam a
necessidade de se aprofundar o conhecimento sobre factores de ordem contextual
e multicultural (e.g. a famlia).
Os modelos de Tiedeman e colaboradores (1961; Tiedeman & OHara, 1963;
Tiedeman & Miller-Tiedeman, 1984), de Harren (1979) e de Peterson, Sampson e
Reardon (1991) concorrem, a par de estudos sobre o comportamento de
implementao, sobre as diferenas individuais na implementao e sobre a
utilidade da interveno em fase de implementao, para compreender o papel
deste estdio no processo de tomada de deciso vocacional (Phillips, 1992).
Como j foi referido, Tiedeman (1961; Tiedeman & OHara, 1963; Tiedeman
& Miller-Tiedeman, 1984) apresenta a deciso vocacional como um processo
dinmico que se desenvolve em dois estdios principais, cada um dos quais
composto por sub estdios: a Antecipao (explorao, cristalizao, escolha e
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33
clarificao) e a Implementao (induo, reformulao/adaptao e integrao).
O processo de tomada de deciso organiza-se assim em torno do comportamento
anterior escolha e da aco instrumental subsequente deciso. Enquanto na
fase de Antecipao, o indivduo procura a resoluo do problema vocacional
atravs da explorao, na fase de Implementao o indivduo j se comprometeu
com uma soluo, procurando agi-la no sentido do ajustamento. Esta fase ocorre
quando o indivduo pe em aco a sua escolha e se confronta com a realidade
associada, concretizando-se em trs sub-estdios: a induo (entrada no novo
contexto), a reformulao (adaptao e a progresso no novo contexto) e a
integrao (aquisio de novas perspectivas).
Harren (1979) concebe o processo de tomada de deciso como uma
sequncia de quatro estdios: o Conhecimento, o Planeamento, o Compromisso e a
Implementao. A Implementao definida como a fase na qual o sujeito contacta,
reage e assimilado pelo e no contexto, podendo resultar em conformidade
(necessidade de aprovao social), autonomia (afirmao de necessidades e
objectivos pessoais) ou interdependncia (considerao do self em situao e
interaco de necessidades e objectivos). O autor reala, ainda, a interaco das
caractersticas individuais com o tipo de deciso em causa e com o contexto
envolvente da situao de tomada de deciso, o que deve ser considerado na
anlise da Implementao.
Peterson, Sampson e Reardon (1991) propem um modelo onde identificam
a Execuo como uma fase do processo de tomada de deciso. Os autores definem-
na como a converso da cognio em aco atravs da formulao e
implementao de uma estratgia ou plano de aco. Neste sentido, os autores
apresentam um modelo que auxilia na compreenso da execuo de planos de
carreira, contudo com enfoque nos aspectos racionais do processo de tomada de
deciso.
A concepo de implementao remete-nos para as noes de ajustamento
e da adaptabilidade enquanto resultados esperados da aco (Dawis, 2005;
Savickas, 1997; Skorikov, 2007). O ajustamento pode ser entendido como um
constructo multidimensional que inclui, por um lado, baixos nveis de
internalizao, tais como depresso, ansiedade, perturbaes emocionais e baixo
auto-controlo, e, por outro lado, o bem-estar psicolgico associado a auto-estima,
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auto-eficcia, adaptao social, auto-actualizao e satisfao (Skorikov, 2007).
Lent (2004b) reala o bem-estar associado ao ajustamento, idenficando a sua
multidimensionalidade temporal, contextual, cultural e referencial. De facto,
esperado que o jovem que implementa o projecto de carreira delineado,
desenvolva sentimentos de bem-estar e de satisfao com a mesma. Savickas
(1997, 2002) prope a noo de adaptabilidade, acentuando a ideia da
flexibilidade na interaco com o meio, definido, nos nossos dias, pela
imprevisibilidade e complexidade. A adaptabilidade vocacional define-se, ento,
como a disponibilidade e os recursos do indivduo para responder s tarefas do
desenvolvimento vocacional, entre as quais incluiramos a tarefa de
implementao (Tiedeman, 1961; Harren, 1979; Phillips, 1992). Assim, entre os
vrios indicadores da qualidade da implementao da escolha de carreira
sugeridos incluem-se a actualizao da escolha, a satisfao com a escolha, o
ajustamento da opo realizada, a realizao na opo e a estabilidade da escolha
(cf. Germeijs & Verschueren, 2007).
A propsito da implementao de escolhas profissionais, Jome e Phillips
(2005) realam o papel dos indivduos nesta tarefa. Os autores consideram que a
implementao envolve dois processos: a Pesquisa e a Persuaso. A Pesquisa
refere-se ao modo como os indivduos procuram ou criam oportunidades de
carreira nos seus contextos. A Persuaso implica convencer os outros a permitir a
concretizao das oportunidades desejadas. No seguimento do referido,
identificam certos traos, comportamentos e factores contextuais que contribuem
para processos de pesquisa e persuaso mais efectivos. Assim, os indivduos bem
sucedidos nas tarefas de pesquisa e persuaso parecem ser responsveis e
conscienciosos, sentem-se confortveis na interaco com os outros e revelam
auto-confiana na implementao da escolha. medida que avanam no processo
de implementao, investem em comportamentos de pesquisa, revelam slidas
competncias orais e escritas e demonstram vontade na interaco interpessoal.
Alm disso, o meio envolvente parece revelar-se apoiante, minimizando o valor de
variveis demogrficas potencialmente constrangedoras.
A proposta de Jome e Phillips (2005) revela os temas abordados a propsito
da implementao das escolhas. Os estudos parecem incidir no comportamento e
nas diferenas individuais associadas implementao da escolha e na utilidade do
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aconselhamento nesta fase do processo de tomada de deciso. No que diz respeito
ao comportamento de implementao, alguns estudos sugerem uma atitude
metdica e sistemtica a par do uso de recursos e da avaliao lgica. Outros
estudos contrapem a necessidade de se considerarem as diferenas individuais
no comportamento de implementao (cf. Phillips, 1992, 1997). Por exemplo,
alguns estudos identificam factores como a auto-estima, o locus de controlo, a
inteno comportamental, as expectativas de auto-eficcia e as estratgias de
coping como determinantes da variabilidade associada ao comportamento de
implementao (Phillips, 1992). Tambm se tem verificado que a informao
acerca do self e do mundo profissional assumem um papel crtico na transio
escola-mercado de trabalho. Esta explorao prvia, no sendo preditiva dos
resultados na entrevista de emprego, preditiva da disponibilidade e do
desempenho na entrevista (cf. Phillips, 1992). Alm disso, vrios estudos apontam
a qualidade do processo de tomada de deciso como determinante na
implementao da escolha (Germeijs & Verschueren, 2007; Mortimer et al., 2002;
Skorikov, 2007).
Os estudos referem, ainda, recursos, fontes de suporte e obstculos ao
processo de implementao da deciso. Os jovens tendem a indicar variados tipos
de recursos e de obstculos ao processo de implementao, colocando nfase nas
experincias e relaes mais informais tais como as experincias familiares
(Mortimer et al., 2002). Lent e colaboradores (2002), num estudo de cariz
qualitativo com estudantes universitrios, referem que, apesar da importncia de
factores pessoais e de experincias vocacionais significativas na determinao da
escolha, os factores contextuais (e.g. limitaes econmicas e apoio social)
assumem maior relevo enquanto barreiras ou fontes de suporte implementao
da escolha. A interveno, nesta fase do processo de tomada de deciso, tende a ser
identificada como um recurso necessrio, podendo dirigir-se directamente aos
indivduos ou indirectamente atravs de processos de consultadoria (Jome &
Phillips, 2005; Mortimer et al., 2002; Phillips, 1992). Por conseguinte, analisar o
processo de tomada de deciso, contemplando a execuo da escolha, numa
perspectiva contextual e multicultural, parece constituir-se como um objectivo de
investigao necessrio Psicologia Vocacional.
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CAPTULO 2
Influncia Parental na Carreira
A importncia da famlia no desenvolvimento vocacional uma questo que
parece no deixar dvidas aos tericos e investigadores da Psicologia Vocacional.
De facto, as diferentes abordagens conceptuais da carreira apontam de forma mais
ou menos explcita a influncia de factores contextuais no desenvolvimento
vocacional (Brown, 2002; Soares, 1998). Super (1990), por exemplo, refere a
importncia de factores como a classe social, a condio econmica e as relaes
familiares na determinao da carreira. Este autor identifica explicitamente os
contributos dos pais no desenvolvimento da carreira (Soares, 1998). Anne Roe (e.g.
Roe & Lunneborg, 1990) problematizou a questo, avanando um modelo
explicativo do papel dos pais no desenvolvimento vocacional. Bratcher (1982, in
Whiston & Keller, 2004a), no quadro da perspectiva sistmica, vem chamar a
ateno para a interaco familiar como determinante do comportamento
vocacional. Mais recentemente, Vondracek, Lerner e Schulenberg (1986) e Young,
Valach e Collin (2002) enunciam o papel dos contextos, em particular da famlia, no
desenvolvimento de projectos de carreira. Ainda assim, no domnio da interveno
na carreira, esta continua a guiar-se pela crena de que as decises dos indivduos
resultam, fundamentalmente, de sonhos, paixes e talentos individuais (Blustein,
2004). nesta linha que se reala a necessidade de um quadro terico explicativo
das influncias familiares no desenvolvimento da carreira (Blustein, 2004;
Hargrove, Creagh & Burgess, 2002; Whiston & Keller, 2004ab).
As revises tericas realizadas por Schulenberg e colaboradores
(Schulenberg, Vondracek & Crouter, 1984) e por Whiston e Keller (2004a)
identificam contributos empricos ao estudo da temtica. O reconhecimento da
influncia parental no desenvolvimento da carreira levou a que o tema se
transformasse, mais recentemente, em rea especfica de investigao. Os estudos
empricos sobre a influncia parental e familiar na carreira podem ser
sistematizados, de acordo com a proposta de Schulenberg e colaboradores (1984;
Pinto & Soares, 2001; Whiston & Keller, 2004a), em duas dimenses
interdependentes: uma relacionada com factores de oportunidade disponveis na
famlia e que contribuem para o desenvolvimento do indivduo (e.g., estatuto
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socio-econmico dos pais, meio tnico de origem e configurao familiar) e outra
relacionada com os processos familiares designadamente prticas de socializao e
relaes pais-filhos (e.g., valores, encorajamento parental, interaco pais/filhos,
modelos de papis e figuras de identificao proporcionadas pelos pais e
comportamento intencional). O presente trabalho centra-se nas variveis
processuais da influncia parental e familiar, mais do que nas variveis estruturais.
inegvel o papel destas ltimas no desenvolvimento vocacional dos jovens, alis
documentado em textos de referncia na rea (cf. Schulenberg et al., 1984; Pinto &
Soares, 2001; Whiston & Keller, 2004a). Alm disso, reala-se o carcter de
interdependncia entre variveis processuais e estruturais, referido por
Schulenberg e colaboradores (1984). Contudo, afirma-se com Whiston e Keller
(2004a) que, apesar da importncia que as variveis estruturais possam ter no
desenvolvimento vocacional, os efeitos da famlia tendem a ser complexos e
indirectos, exigindo-se o aprofundamento do estudo dos processos atravs dos
quais a influncia familiar se exerce. Destaca-se, por isso, neste captulo,