A Punhalada

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[Livro] A Punhalada - Capítulo 1: O Primeiro Grito O dia estava marcado. Quinze de Abril de dois mil e onze. Após anos sem dar noticias, a franquia de mais sucesso entre os habitantes da mediana cidade de New Britain estava na sua estréia de meia-noite em todos os cinemas. Pânico quatro já mostrava ser um sucesso absoluto. Cartazes estavam espalhados pelas ruas, folhetos no chão, as pessoas estavam recebendo trotes de alguém com o aplicativo no celular com a voz do assassino ghostface, que perguntava qual era seu filme de terror favorito. Apesar de ser apenas uma franquia de filmes de terror, a cidade parecia estar parada para a estréia. Desde a noticia em que no ano passado, um casal de professores foi morto em sua própria casa por alguém que usava a mesma fantasia do assassino do filme, deixada completamente a vista na cena do crime. Desde aí, New Britain foi considerada a Woodsboro da vida real, e isso só fez a fama do filme aumentar

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cada vez mais. Se alguém passasse de carro nos arredores do cinema, poderia ver alguém vestido de ghostface perseguindo, com uma faca de borracha, alguma garota estúpida o bastante para ficar apavorada com aquilo. E assim estava Trish Peterson, a garota mais tímida do colégio New Britain High, que só aceitara ir à sessão de cinema porque todos de sua turma de português iam, e aquele era um momento para ela começar a socializar com as pessoas. Ela podia ser vista na fila de entrada do cinema Olympia, com seu suéter rosa, que não combinava com ela, levando em conta como ela era bonita. Seus cabelos, loiros e longos, balançavam com o vento frio da noite e seus lindos olhos, azuis e inocentes, transpareciam o medo que estava sentindo. Trish não era a garota mais popular do colégio, nem alguém excluído. Ela simplesmente colecionava suas amizades verdadeiras e passava despercebida, isso quando nenhum jogador de futebol notava

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que ela era a virgem mais bonita que já viram. Com os braços, ela se aquecia, e com os olhos, observava tudo ao seu redor. A noite parecia estar bem agitada, mais do que ela estava acostumada, e o fato de estar vendo um filme de terror só piorava as coisas. Quando lembrou dos assassinatos do ano passado, as coisas pioraram. Ela imaginou um louco entrando no cinema para matar alguém, só pra imitar a cena inicial do segundo filme da franquia Pânico, já que isso não impediu alguém, no filme, enlouquecer e matar um casal inocente sem motivo aparente. Quando seu celular tocou, ela estremeceu. Logo ignorou os gritos histéricos dos fãs desesperados e tirou o celular do bolso. Olhou no visor, era número restrito, e até ficou na dúvida se atendia ou não, mas preferiu achar que esse medo bobo iria atrapalhar mais as coisas. Apertou a tecla para atender e colocou o celular no ouvido direito, logo após pôr seu cabelo loiro atrás

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da orelha. - Alô – Ela disse quase num grito, mal conseguia ouvir a própria voz no meio da multidão histérica. - Qual é o seu filme de terror favorito? – Uma imitação barata de ghostface foi ouvida, estava na cara que era sua melhor amiga Ginger. - HÁ-HÁ-HÁ! Essa foi a pior imitação de ghostface da década, como você conseguiu

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fazer sua voz ficar

desse jeito,

Ginger? Ginger

gargalhou.

– Não sei, bem que a minha mãe disse que eu tinha que fazer aulas de canto. Mas enfim, onde você está? Trish olhou em volta, apesar de saber exatamente onde estava. Ela leu o banner brilhante da entrada do cinema, onde destacava “Pânico 4” e todas suas sessões. - Estou no Olympia, tem uma multidão aqui, completamente louca pra ver um cara mascarado correndo atrás de uma garota peituda que luta a perseguição toda, para, simplesmente, morrer segundos depois. Como se isso fosse legal... – Trish bufou. - Nossa, parece que você está com medo.

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Não tem nada demais em assistir um filme de terror, pensei que já tivesse superado isso. - É claro que estou com medo, houveram aqueles assassinatos ano passado que obviamente foram baseados nos filmes Pânico, sem falar que eu me conheço, sei o tipo de garota que sou. Não estou nas mortes iniciais, mas sei que não sobreviveria até o desfecho. Finalmente a fila começou a andar. As pessoas começaram a entrar, e os gritos só aumentaram. Trish olhou para o começo da fila e notou algumas pessoas conhecidas entrando, mas resolveu dar atenção para sua amiga Ginger no celular. - Trish, qual é? – Zombou Ginger – Você é a virgem, se você não fosse a protagonista, ninguém mais seria. E não se preocupe, prometo que você não vai morrer esta noite. - Me sentiria melhor se você estivesse aqui...

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- Eu sei, infelizmente tive que servir de babá para o Sr. Van Der Lance poder assistir este filme com a esposa... Droga! – Ginger parecia infeliz, obviamente queria estar na sessão de cinema para acalmar sua melhor amiga do que servir de babá por quarenta dólares pro professor que lhe repetiu de ano. - Ging, vou desligar! Está na hora de gritar. A gente se vê amanhã. Beijos. - Certo amiga. Bom filme – Ginger desligou, mas Trish continuou com o celular em seu ouvido por alguns segundos, apenas para ouvir o alerta no final da ligação. Colocou o celular no bolso e entregou seu ingresso para a moça da portaria. Quando entrou na sala de cinema, percebeu que quase nada estava diferente das ruas. Gente correndo pra lá e pra cá, dezenas de ghostfaces espalhados pela sala, pipoca sendo jogada nas pessoas e, por fim, gente gritando - de medo ou de ansiedade. Trish fitou a sala, tentando se convencer

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de que realmente foi uma boa idéia assistir a este filme. Ela andou devagar pelo corredor, desviando das pessoas que julgava serem malucas, até encontrar um lugar vazio, ao lado de uma garota altamente branca com cabelos longos e pretos, de fato, lindos.

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- Com licença? Tem alguém na cadeira ao lado? – Perguntou Trish, educadamente. A garota virou-se para ela, e logo percebeu de quem se tratava. Trish suspirou quando notou que estava falando com Amanda Rush, umas das pessoas que conseguia notá-la, mas fazia de sua vida um inferno. Amanda riu maliciosamente para Trish, daquele jeito que sempre fazia antes de cometer bullying. - Olha só quem chegou, pensei que odiasse filmes de terror... – Amanda olhou Trish de cima pra baixo – Ou que tinha um suéter mais bonitinho. - Amanda, deixe-a em paz – Sussurrou o garoto da cadeira ao lado, irmão mais jovem de Amanda, Brandon Rush. - Tudo bem, Brandon, pode deixar – Trish suspirou – Desculpe incomodá-la – Ela deu meia volta e decidiu procurar outra cadeira. - Cuidado, você pode ser assassinada antes dos créditos iniciais – Gritou

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Amanda, que foi mais uma vez repreendida pelo irmão ao lado. - O que foi? Ela é uma aberração. Olha, lá vem a Erin com a pipoca! Trish andou de cabeça baixa, procurando uma cadeira e acabou dando de encontro com Erin Delaware. -Oops, desculpe – Pediu Erin e continuou seu caminho. Por alguns segundos, Trish pensou como alguém tão legal como Erin podia ser a melhor amiga da egocêntrica Amanda. Ela lembrou da ultima feira cultural, quando Amanda fingiu um desmaio e acabou estragando o projeto de Trish que levou duas semanas para ficar pronto. Aquilo era pura maldade. Trish finalmente encontrou um assento vago e se acomodou, no momento em que a luz desligou e os trailers começaram. Os gritos conseguiram aumentar. O som parecia alto demais, Trish fez uma careta

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numa cena de susto e, por fim, o filme começou. Como já era de se esperar, começou com um telefone tocando. Era tão clichê, mas ao mesmo tempo era a marca registrada da série. Não podia haver assassinatos sem o telefonema inicial, a não ser que você estivesse num cinema. Não demorou muito pra primeira morte acontecer, e isso fez Trish fechar os olhos. E pra sua surpresa, a segunda acontecera segundos depois. Mais gritos se ouvia, as pessoas estavam frenéticas e Trish cada vez mais desconfortável com o banho de sangue bem a sua frente. Foi aí que o garoto da cadeira de trás resolveu pregar uma peça. Devagar, ele chegou no ouvido de Trish e gritou. Trish, por sua vez, deu um pulo, acompanhado de um grito mais que histérico. - Calminha aí, T – Disse Jake, o garoto da brincadeira – Foi só uma brincadeirinha – Ele estava gargalhando, assim como seu amigo Nick ao lado. - Seus idiotas! – Ela gritou.

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- Foi mal T, mas você na estréia de Pânico 4, é pedir por histeria – Disse Nick, enquanto gargalhava. - Vão pro inferno! – Trish saiu da sala e correu diretamente pro banheiro. Abriu a porta e deu de cara com as gêmeas Sarah e Samantha Richards. Com um susto, quase que outro grito saiu. - Ai meu Deus! Você enlouqueceu? – Samantha gritou, ela parecia mais histérica ainda que Trish. - Me desculpa... - Calma Manthy – Pediu sua irmã Sarah – Não vê que ela está apavorada? - Ela me assustou – Indagou Samantha. - Certo, vamos voltar pra sala. Desculpa Trish – Sarah segurou na mão de Samantha e ambas saíram. Trish, naquele momento, estava se odiando. Ela nunca havia visto virgem mais medrosa que ela, ou alguém tão problemática no quesito filmes de terror.

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Com a cabeça baixa, ela entrou numa das cabines e sentou-se, pensando que agora a lista dela estava completa, já que tinha acabado de sofrer bullying cinematográfico. Ela tentou trancar a porta, mas percebeu que a tranca estava quebrada, então segurou a porta com um dos pés, rezando para ninguém vê-la. Não demorou nem dois minutos ali dentro para fazer o que queria, mas ela continuou lá dentro, se sentindo a garota mais ridícula do mundo por estar com medo de um filme qualquer, por ser virgem, e por não ter um pingo de consciência fashion na hora de escolher um suéter. Ela suspirou com seus pensamentos a mil, e decidiu sair da cabine e lavar o rosto. Fitou- se no enorme espelho e depois abriu a torneira da pia grossa de mármore a sua frente. Com a mão direita, jogou a água que saia da torneira em seu rosto, com cuidado para não tocar no cabelo, foi quando ouviu um estrondo vindo de uma das cabines.

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Rapidamente olhou para trás, com um olhar sugestivo, lembrando que aquela era uma típica cena de filme de terror. Trish abaixou-se, com os joelhos no chão e a cabeça quase encostando no mesmo, só pra checar se tinha alguém na cabine ao lado. Nenhum pé foi visto, nenhum sinal de que tinha alguém ali dentro pôde ser notado. Em fração de segundos, a porta da cabine ao lado se abriu e lá de dentro, saiu um ghostface completamente fantasiado, com uma faca nas mãos. Com a mesma rapidez que tudo aconteceu, os gritos estrondosos de Trish dominaram o banheiro, antes dela se levantar e sair correndo pela porta. Mas, ele foi mais rápido, segurou pela parte de trás de sua blusa e a jogou no chão, ao lado dos produtos de limpeza. Logo, Trish pegou a vassoura ao seu lado e o acertou, disposta a quebrá-la em sua cabeça. Foi aí que ouviu a voz dele.

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- Não! Não! Espera aí, T, relaxa, sou eu! - Quem? - Jake – Ele tirou a máscara e sorriu para ela – Surpresa, Quase-Sidney. - Mas que diabos...! – Ela largou a vassoura só para dar socos no braço e no peito de Jake – Seu idiota! Estúpido! Imbecil! - Ai, ai! Isso dói, poxa, foi só uma brincadeirinha. - Vou embora daqui! – Trish saiu, bufando de tanta raiva. - Ow, ow, T, volta aqui! – Jake gritou, mas vendo que não surtiu efeito, foi atrás dela. Trish praticamente corria para fora do cinema, ignorando os gritos de Jake que já estava se sentindo um idiota por ter assustado a menina que gostava. Ele parou de correr atrás dela quando encontrou Nick, que logo perguntou o que estava acontecendo. - Nada, eu assustei Trish pra valer, tenho que ir atrás dela.

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- Cara, mas e o filme? - Dane-se, vou atrás dela. - Droga – Nick suspirou, derrotado – Eu te levo, vamos pro carro. Mas você fica me devendo essa. - Fechado – Jake saiu correndo, com o pensamento apenas em Trish. No estacionamento, os dois entraram no carro, Nick na direção e Jake ao seu lado, que tratou logo de tirar o celular do bolso e ligar para Trish. Nick saiu de lá em alta velocidade, como sempre fazia, mas isso já não estava mais incomodando Jake. - Cara, até entendo que ela é gostosa, mas não vale deixar a estréia de Pânico 4 pra ir atrás dela – Comentou Nick, com um olhar presunçoso pro amigo. - Eu fui um idiota, é isso que eu faço. Chamá-la pra sair e levá-la no melhor restaurante da cidade? Não, eu tinha que matá-la de medo, porque de alguma forma na minha cabeça doentia, só assim ela vai

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me notar. Isso é uma droga – Jake mal tirava os olhos do celular, estava tentando adivinhar os dois últimos números do celular de Trish, que esquecera. - Ta legal, entendi. Vá em frente, esfaqueie ela. Com certeza ela vai querer fazer sexo com você. - Engraçadinho... Droga! Não consigo lembrar dos últimos números! - Isso que dá ouvir ela dando o numero a uma amiga do que pedir – Nick apertou a

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buzina do carro quando percebeu que o carro da frente estava andando devagar demais – Sai da frente, anão de alto escola! – Ele gritou na janela. - Muito sutil – Comentou Jake, que parou de tentar adivinhar os últimos números de Trish quando seu celular começou a tocar. Era um numero restrito, ele estranhou – Essa parada de numero restrito é sinistra. - Não vai atender? Esse toque do Bom Jovi é irritante. - Alô? - Alô... – Uma voz sinistra sussurrou ao telefone. - Quem ta falando? - Depende, com quem gostaria de estar falando? - Há-ha! – Jake gargalhou – Entendi, quer saber também qual meu filme de terror favorito, certo? Nick olhou para ele, com duvida.

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- Quem é? – Perguntou. - Alguém que quer me assustar, tão clichê... Então, senhor “voz estranha”, acho que eu gosto mais de A casa de Cera, é um filme que coincide com seu gosto? - Como você quer morrer? - Aí depende, uma facada na barriga é sempre melhor que uma facada no pescoço, se é que você entende o que quero dizer... – Jake riu, e arrancou uma risada também de Nick. Eles estavam se divertindo, quem quer que fosse o idiota do telefone, tinha conseguido fazer com que Jake e Nick esquecessem um pouco Trish. Jake estava gostando, ele lembrou o quanto esperou receber um trote desse tipo, enquanto invejava as outras pessoas que tinham conseguido. Mas agora, era o momento dele, era como se fosse a vítima, a bola da vez. - Você gosta de assustar virgens indefesas em banheiros de cinema? – A voz foi curta

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e grossa. - O que você disse? – Jake não estava acreditando que a pessoa da voz sabia o que tinha acontecido no cinema, assim ele concluiu que era alguém conhecido, ou Trish. - Você tem cara de quem gosta de assustar garotas indefesas por quem você é apaixonado... - Ta legal. Trish, você me pegou, você conseguiu. Não estou mais gostando da brincadeira, e peço desculpas pelo que eu fiz, ta certo?

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- É a Trish? – Perguntou Nick, surpreso, já que não era de seu feitio fazer uma brincadeira dessas. Naquele momento, Jake colocou no viva-voz e Nick começou a prestar mais atenção. - Eu não sou Trish... – Disse a voz, num sussurro – Mas talvez você possa querer me chamar de anão de alto-escola, acho bastante sutil... Jake e Nick trocaram olhares duvidosos, que diziam “Como ele sabia que eles haviam falado isso agora a pouco?”. E por alguns segundos, eles ficaram em silencio. - O que aconteceu? – Perguntou a voz macabra – Ainda estão tentando descobrir os dois últimos números do celular da virgem? Um frio subiu nas espinhas de Jake e Nick. Quem quer que fosse ao celular, sabia demais, e sabia de coisas que alguém só saberia se estivesse dentro do carro. Jake olhou pro banco de trás, mas não viu ninguém.

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- Eu fiz uma pergunta, responda! – Gritou a voz no celular. - Olha aqui seu filho da mãe desgraçado, não sei como você ta fazendo isso, mas se quiser sua cara inteira pro dia de amanhã, você vai parar com essa palhaçada! – Jake desligou. Ele colocou o celular no seu colo e suspirou. Nick tentava guiar a direção, trocando alguns olhares entre a estrada e Jake, que parecia atordoado. Assim, o silêncio predominou por tempo demais, ou, tempo suficiente para o medo passar e eles perceberem que era apenas alguém querendo lhes assustar. - Isso foi estranho pra cacete, cara... – Comentou Nick. - Apenas... Dirija até em casa, quero ver se Trish já chegou lá... - Beleza... – Nick deu meia volta, ignorando as probabilidades de um possível acidente com a manobra.

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Só que mais uma vez, Jake não estava ligando. Sua cabeça estava recostada no banco do carro, criando várias hipóteses para a brincadeira, porque foi o trote mais sinistro que já recebera. Não demorou nem dez minutos para chegar à rua da casa de Jake e Trish. Eles eram vizinhos, por onze anos, o que fez a paixão de Jake só aumentar. Quando olhou a árvore no meio da casa deles dois, lembrou a posição das janelas, que ficam de frente para o quarto um do outro. Lembrou também do mico que pagara quando tinha quinze anos, quando Trish olhou pela sua janela e o viu tentando fazer musculação apenas de cueca, usando a versão de chumbo de uma estátua sua do ghostface. Nick parou o carro do outro lado da rua, e junto de Jake olhou a porta da casa de Trish.

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- Cara, eu sei o que você ta pensando. Já estava mais que na hora de você dizer tudo a ela. Tente explicar o porquê de ter sido um idiota por onze anos. - Cala a boca, Nick – Jake deu um meio sorriso – Eu vou. - Cara, to morrendo de fome, posso atacar sua geladeira? - Vá em frente – Jake jogou as chaves da casa para Nick, que as segurou num reflexo. Ele abriu a porta do carro e saiu, assim como Nick. Jake andou reto para a porta da casa de Trish enquanto Nick corria para a direita, afim de acabar com todo e qualquer sanduíche que estivesse na casa de Jake. - Fala pra ela sobre a punheta matinal! – gritou Nick, sem nem olhar para Jake. Jake deu outro meio sorriso, ainda se sentia tenso com a ligação, e estava tentando tomar coragem para bater na porta da casa da garota que gosta pela primeira vez

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e logo dizer o que sentia, além de pedir desculpas por tentar começar algo da maneira mais infantil e doentia que pensou. Ele subiu as pequenas escadas da varanda e deu dois passos até ficar perto o suficiente da porta. Suspirou, assim que bateu na porta. Nada aconteceu, nenhum barulho se ouviu. Mais uma vez ele bateu na grande porta marrom, e olhou para baixo, esperando Trish atendê-lo. Quando a porta se abriu, ele percebeu que não era Trish, e nem conseguiu disfarçar a decepção ao ver a mãe dela parada em sua frente. - Olá Jake – Ela disse, toda simpática. - Oi. Ahn... A Trish está? – Ele fez uma careta, sem saber por quê. - Ah, não. Ela foi com os amigos na estréia daquele filme... Como é mesmo? Facada 4... Ou algo assim... - Ah, sim, sei... Eu também estava lá, o problema é que... – Ele pensou nas

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palavras certas, depois continuou – Ela estava com muito medo, com aquela barulhada toda e acabou saindo correndo... Só queria ver se ela estava bem... - Oh, entendo. Ela é assim mesmo. Mas ainda não chegou, deve estar na casa da Ginger. Quer que eu avise que você veio? Jake colocou a mão na nuca e coçou, ele estava tentando não olhar nos olhos da Senhora Peterson, mas percebeu que assim seria pior. Colocou as mãos no bolso e a fitou. - Não, tudo bem, eu ligo pra ela. E aviso a Senhora depois, pode ser? - Claro, tudo bem. Boa noite – Ela sorriu e fechou a porta, assim que Jake respondeu seu “boa noite” e deu meia volta.

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Ele estava se odiando, e odiando o destino, que não fora bom nem quando ele arrumou coragem pra dizer tudo a ela depois de anos. Sem nem pensar, tirou o celular do bolso e discou o numero de Ginger, mas só o que ouviu foi o recado da secretária. - Ei, aqui é a Ginger. Você sabe o que fazer. Antes de ouvir o “bip”, ele desligou. Colocou o celular de volta no bolso e caminhou de cabeça baixa em direção a sua casa. Sentia-se derrotado. Parecia ter acabado com a última esperança de uma improvável aproximação. Um som vindo dos fundos da casa chamou sua atenção. O clima ficou tenso rapidamente. Sons estranhos vindos da escuridão nunca terminam de forma agradável, mas Jake decidiu ir checar. E se fosse a Trish? Era improvável, é claro. Mas o que poderia acontecer de ruim? Seu melhor amigo estava dentro de casa e, qualquer coisa, era só gritar que toda a vizinhança iria escutar.

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Determinado, ele foi até os fundos da casa. Olhou ao redor, não viu nada. A noite estava especialmente escura, a lua nova quase não iluminava nada. Ele clareou a sua volta com o celular. Tinha um vaso de planta quebrado em frente à porta dos fundos. Minha mãe vai me matar por isso, ele pensou. Jake abaixou e juntou com as mãos os cacos e terra, espalhados na entrada da porta. Colocou a “prova do crime” entre as plantas do jardim. Talvez sua mãe nem desse conta do que aconteceu. Outro som estranho o fez sair de seu devaneio. Mas dessa vez estava bem perto. Ele olhou ao redor, estava tenso. Encarou a escuridão atrás dele, como se fosse capaz de enxergar se a encarasse por tempo suficiente. Então virou para frente e tudo aconteceu muito rápido, algo pulou na frente dele. - Ai, meu Deus! Um gato? - Ele riu, aliviando a tensão, não conseguia acreditar que havia se assustado tanto. -

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Um maldito gato preto. Deve ser brincadeira comigo. Jake foi em direção a porta, ainda estava iluminando com o celular. Levantou uma das várias pedrinhas decorativas, e embaixo dela estava escondida uma chave reserva. Jake abriu a porta e acabou tomando outro susto. O telefone em sua mão começou a vibrar. Era uma mensagem. Ele abre para ver de quem é. Será que poderia ser da Trish? Ele esperava que sim. “Regra número 1: Não deixe a porta dos fundos aberta.” Antes que ele pudesse se mexer ou fazer qualquer coisa, sentiu a dor de uma faca passar pela sua garganta. Ghostface chegou por trás, passando pela porta ainda aberta. Jake cai do chão. - Socor... - Ele mal conseguiu dizer. Quando mais ele tentava, mas o corte se abria. Ele não conseguia pensar em mais nada neste momento. Só rezava para que alguém

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aparecesse e o ajudasse. Jake começou a se arrastar. Não estava pronto para morrer, queria usar cada resquício de força que ainda lhe restara. Ele olhou para trás, com uma

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expressão sofrida. Chorando, de forma muda. O assassino estava logo ao seu lado, o acompanhado lentamente. Suas mãos escorregavam em seu próprio sangue. Estava ficando cada vez mais difícil fazer alguma força. Ele então ouve um espirro. Levanta um pouco sua cabeça e vê Nick, preparando um sanduíche. Seus olhos enchem de lágrimas. Queria que o amigo pudesse vê-lo, queria avisá-lo sobre o perigo, mas era tarde demais. Ghostface agarra seus pés e o arrasta lentamente para fora das vistas, para a escuridão, onde seu destino final o aguarda. “Não coma o queijo, está estragado.” dizia o bilhete colado na geladeira. - Mas que droga...- Disparou Nick, com raiva de ter lido o aviso depois de ter colocado queijo em seu sanduíche. O telefone toca. - Alô-alô? - Ele falou, mas do outro lado só se ouvia uma respiração. – Casa do Jake.

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- Como você quer morrer? - Falou

a mesma voz assustadora de

antes. Nick rapidamente olhou

para a bina. Dizia ser do celular do

Jake.

- Ai meu Deus, Jake! - ele ri - Será que você ainda não aprendeu sobre brincar desse jeito? - Eu não sou o Jake. - Pára de ser burro, eu to vendo seu número pelo localizador de chamadas. Que foi? Está apaixonado por mim agora? – Nick riu. - O que você acha que eu quero? - Ah, me deixa adivinhar o que vai acontecer. É nessa parte que você fala que está do lado de fora da casa e me cortará em pedacinhos...? - Nick soltou uma risada, afiado.

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- Não! ...Eu estou dentro! Neste momento o ghostface chega por trás de Nick, mas ele se abaixa e a facada atinge o balcão da cozinha. Ele tenta correr, mas o assassino o agarra por trás e o joga em cima da mesa, derrubando várias coisas que estavam em cima dela. O assassino tenta dar-lhe uma facada, mas Nick chuta seu rosto. Sua máscara se vira um pouco para a esquerda. Enquanto o Ghostface a ajeita, Nick tenta sair pela porta principal, mas ela está trancada. Ele não tem outra opção a não ser subir as escadas. Ele entra na primeira porta. É o quarto do Jake. Entra debaixo da cama. Como estava em choque, demora para perceber que o telefone ainda estava em sua mão. Ele tenta discar para polícia, mas está tremendo muito. Então o telefone toca. Nick atende rapidamente, para não chamar a atenção do assassino. - Qual a primeira regra de um filme de terror? - Nick arregala os olhos, aterrorizado. Era o assassino. - Você sabe

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qual é, Nick? Ah, vamos lá. Achei que você fosse esperto. - Nick se encolhe ainda mais debaixo da cama. Um pequeno barulho surge no cômodo

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escuro. - Nunca...

Jamais... se esconda do

assassino. Então, o

colchão é jogado longe.

- Porque ele sempre te acha. - diz o assassino de forma cruel e pessoalmente. Ele enfia a faca por entre a cama, mas Nick consegue desviar. Ghostface tenta mais uma vez, mas Nick escapa de novo. Era difícil acertar uma facada em seu rosto. Pensando nisso, o assassino lhe dá uma facada na barriga. Nick grita de dor, tenta sair debaixo da cama, mas outra facada o acerta, agora no ombro. O assassino então pega nos cabelos de Nick, e o arrasta para fora da cama. - Mas... Você não é

real. - diz Nick

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chorando. E o

assassino lhe dá sua

facada final.

--

Já era madrugada, duas da manhã. Trish tinha acabado de voltar para casa com Ginger, após uma longa conversa sobre a noite. - Valeu por passar a noite comigo – Agradeceu Trish, bem em frente a porta de sua casa. - Ah, você sabe que pode sempre contar comigo – Ginger sorriu – Mas agora tenho que ir, está tarde, e preciso voltar antes que o Sr. Van Der Lance chegue e encontre seus filhos sozinhos – Ela fez uma careta, só de pensar na idéia. - Tudo bem, a gente se fala amanhã no colégio. Tchau – Trish lançou um sorriso para a amiga, antes de entrar em sua casa.

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- Pode deixar que eu me resolvo com o Jake amanhã – Gritou Ginger, da rua. - Eu sei – Trish deu um sorriso meio bobo e fechou a porta. Ela ligou a luz e se escorou na porta, de olhos fechados, repensando tudo o que tinha acontecido naquela noite. Estava se arrependendo amargamente de um dia ter achado Jake bonitinho. Mas quando lembrou desse dia, soltou mais um sorriso bobo. Quando olhou para o chão, viu pegadas de lama num formato estranho e manchas vermelhas perto das pegadas. Ela fez uma cara de nojo, não sabia o que era aquilo, mas resolveu seguir o rastro. As pegadas e, o que parecia ser sangue, tinha um rastro enorme que ia até os fundos do quintal. Trish olhou pela porta de vidro para a casa da árvore e tomou um susto. Jake estava pregado nela, pendurado como Jesus na cruz, completamente ensangüentado enquanto Nick estava embaixo da árvore, jogado no chão. No tronco, um recado

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escrito em sangue “As mortes iniciais”. Um grito bastou para despertar em Trish uma das coisas que ela mais temia, e seu desespero, que parecia não ter fim.

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[Livro] A Punhalada - Capítulo 2: Pânico Coletivo - A pergunta do dia é: Qual o seu filme de terror favorito? A policia e a comunidade de New Britain estão chocados com os crimes da noite passada, onde os adolescentes de dezessete anos, Nick Tavera e Jake Lindley, foram brutalmente assassinados e expostos como recado na casa vizinha, no mesmo dia da estréia do tão aguardado filme Pânico 4. Coincidência ou não, não é a primeira vez que um crime desta magnitude acontece. Ano passado, um casal de professores foi assassinado a facadas em sua residência, e a única pista deixada foi a mesma fantasia usada pelo assassino ghostface na série de filmes Pânico. Estamos aqui hoje com um ex-morador local que virou celebridade, Aaron Estwood, o que você acha dos crimes que têm acontecido em sua cidade natal? Sarah olhava para a televisão com repulsa, enquanto sua irmã Samantha ao lado estava parecendo interessada demais em

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tudo aquilo. Sarah achava que o programa daquela mulher estava fazendo o mesmo que Gale Weathers nos filmes pânico, usando a tragédia dos outros para obter fama. E Aaron era pior que ela. Desde que virara celebridade, deu as costas para sua cidade e seus amigos e agora fica dando entrevistas polemicas em programas sensacionalistas só para não sair dos holofotes. - Bom, Casey – Começou Aaron, e logo cruzou as pernas – Acho que o país todo está chocado. Eu mesmo sou um deles, conhecia esses garotos, eles eram duas séries abaixo da minha e eu realmente fiquei muito triste com tudo isso. Nem posso imaginar o que os moradores de lá estão passando... - Falso – Cuspiu Sarah. - Cala a boca, me deixa ouvir – Pediu Samantha. - Você acha que os assassinatos têm alguma relação com o filme? – Perguntou a entrevistadora a Aaron.

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Sarah podia ver a falsidade no rosto de Aaron, ela sabia que ele não estava nem aí pra quem morria ou deixava de morrer na cidade em que morara, mas continuou vendo-o na TV, só para ter mais certeza do ponto em que ele era capaz de chegar para aparecer. - Creio que não, Casey – Respondeu Aaron – Um filme é só um filme, creio que simplesmente algum doente, que tinha uma rincha com aqueles dois, decidiu usar sua mente perversa para o mal. - E você acha que podem acontecer outros assassinatos? - Eu espero que não. New Britain é uma linda cidade, não merece ser manchada com vários assassinatos. Falando nisso, estarei lá dia dezesseis, para divulgar meu novo livro chamado “As duas faces”, vou dar uma força para o pessoal de lá, claro, espero que todos possam ler o meu livro. A platéia gargalhou e Sarah se enojou. Naquele momento, o pai delas passou em frente à TV e a desligou.

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- Chega de noticias ruins, chega de Aaron Estwood – Disse ele e sentou-se a mesa da cozinha junto das filhas. - Pai, eu estava vendo! – Reclamou Samantha – E ele é um gato. - Não acredito que você gosta dele – Sibilou Sarah – Esse cara é nojento, você soube que ele limpou as mãos com álcool quando cumprimentou alguns moradores daqui? - Como se não fosse compreensível, tem gente aqui que é realmente nojenta – Samantha fez uma careta para demonstrar que apoiava Aaron mesmo assim. Levantou-se da mesa e deu a volta para beijar seu pai no rosto – Tchauzinho pai. Você não vem, maninha? Sarah fitava Samantha com discórdia e algo parecido com nojo, que demonstrava claramente que ela odiava a pessoa que a irmã tinha se tornado. E se isso fosse recente, até daria para fazer drama, mas Samantha era assim desde pequena,

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tecnicamente, desde que ela descobriu que podia ser amiga de Amanda Rush e isso lhe daria a imortalidade no colégio. - Claro, maninha. – Sarah levantou-se, beijou seu pai e saiu logo atrás de Samantha, que zombou do jeito de ser boa moça da irmã. Não demorou muito para as duas chegarem ao colégio, foram andando como sempre, já que moravam bem perto. De longe, já avistavam carros de repórteres ao redor do pátio do colégio, uma multidão estava formada. Mas chegando à porta, as coisas só pioraram. Elas passavam pelas pessoas, que estavam cochichando mentiras sobre como Jake e Nick morreram. Algumas diziam que haviam sido cortados em pedacinhos e outras que o assassino ligou antes para avisar que iria matá-los, Sarah e Samantha não podiam ter certeza de nada. Elas pararam para olhar o movimento, viram o Sr. Van Der Lance dando uma entrevista para a imprensa, assim como muitos outros alunos. De repente, Megan Bower chegou,

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tropeçando literalmente em Sarah e Samantha. - Olá siamesas, acham que estou bem para uma entrevista? – Megan fez uma pose, mexendo seus cabelos castanhos claros e tentando ser sexy e ao mesmo tempo chocada. - Megan, você não perde uma, né? – Disse Sarah, com a voz chata. - Meu amor, uma mulher como eu jamais perde uma. Já fui colocada para escanteio quando Amanda tirou minha popularidade, perdi o papel principal da peça da Rapunzel gótica e minha plástica não funcionou, sim, estou desesperada, mais, ainda assim, sou glamorosa e branca. Vocês têm inveja de mim porque andam com esse cabelo ruivo e com as roupas iguais, como se não bastasse serem gêmeas, agora se me dão licença, tenho uma fama a conseguir – Megan levantou o queixo, soberbamente e engraçada, e foi até a coletiva de reportagem, tentando ser entrevistada.

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- E você ainda reclama do jeito que eu sou... – Comentou Samantha, enquanto olhava com desprezo para Megan. - Sinistro... Logo atrás delas, Josh Sinclair e Kristen Daniels estavam chegando ao colégio, cheios

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de teorias sobre os assassinatos. Josh comentava que tudo tinha um motivo, que não era coincidência eles serem assassinados no dia da estréia do filme mais aguardado do ano, enquanto Kristen revezava entre ajeitar seus óculos fundo de garrafa e tossir. Os dois estavam frenéticos. Josh parecia desesperado, já que era o estranho do colégio e sabia que se houvessem mais mortes, ele não seria um dos sobreviventes. Kristen estava tranqüila, pensava em como isso poderia ajudar Amanda a esquecer dela por um tempo e parar de atormentá-la. Eles passaram por uma van de reportagem e Kristen olhou seu reflexo. Seu cabelo preto, altamente liso e longo parecia mais feio do que achara quando acordou. Seus olhos pretos e fundos ficavam maiores com aqueles óculos que ela era obrigada a usar, e sua roupa estava deixando claro que ela estava ali para liderar o clube de ciências. Ela parou de olhar para si mesma e decidiu

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prestar mais atenção em Josh, que não parava de falar. O rosto branco dele, já estava vermelho de tantas teorias que ele soltava. - Josh, espera um pouco. Nem tudo é um filme de terror... - Viu só? Ninguém acredita no garoto que sabe das coisas, ninguém acredita! Eu to dizendo, eles não foram mortos à toa, e quem não acreditar em mim vai ser o próximo! - Shhh! Fala baixo, quer que alguém pense que você é o assassino? – Repreendeu Kristen. - Ta, tudo bem, mas você precisa admitir que o recado deixado foi suspeito... - Josh, por favor. Eu sou feia, nerd, excluída, inteligente, séria e virgem, e não estou preocupada em morrer agora. Não se preocupe, se alguém tiver que ser o próximo, serei eu. Agora cala a boca e tenta não chamar atenção. Eles continuaram a andar, virando

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rapidamente seus rostos para as câmeras, para não correrem o risco de aparecer. Logo atrás deles, Amanda chegava com seu carro prata importado, logo de cara deixando todos babarem. Quando abriu a porta, o sol bateu em seus óculos escuros e de alguma forma isso a deixou mais radiante ainda. Enquanto andava, sua saia preta e curta balançava, assim como seus cabelos negros, lisos e compridos. Amanda sabia que era linda, e usava isso a seu favor. Ela desfilou até Erin, que estava escorada numa das árvores do pátio, olhando todo aquele movimento. - Buh! – Ela gritou, e Erin pulou. - Amanda! Que susto! - Relaxa – Sorriu Amanda, maliciosamente – Você só morre na metade do filme... - Não tem graça, Mandy. Duas pessoas morreram. A coisa ta pegando fogo, estão chamando todos os alunos para serem interrogados. Amanda suspirou, e posicionou-se ao lado

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de Erin na árvore. Ela olhou ao redor, era

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realmente como em um filme, mas ela não conseguia se incomodar com aquilo. Duas pessoas tinham morrido, e quando pensava nisso, um frio subia a sua espinha, mas ela não via motivo para todo aquele escândalo. - Ta legal, Erin. Onde está o Daniel? - Ele entrou, acabou de ser chamado pra depor – Erin cruzou os braços. - Não me diga que meu namorado é o suspeito só porque não estava ontem com a gente no cinema... Por favor... - Não, eles estão chamando todo mundo mesmo. Falaram seu nome ainda pouco, acho melhor você entrar... Amanda deu outro suspiro, só faltava essa, ela virar suspeita do assassinato de dois garotos que podiam matá-la com apenas um soco. - Ta legal, eu vou lá, depois a gente se vê, beleza? - Ok – Erin mandou beijos pra amiga, de

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longe. Amanda fez o mesmo, só que usou uma das mãos. Ela andou entre as pessoas, que circulavam entre si, quase não deixando caminho para passar. Quando entrou no colégio, percebeu que lá dentro não estava diferente, perguntou-se como não tinha idéia do numero de pessoas que estudavam em seu colégio. Andou até a diretoria, passando por Kristen, que já estava em seu armário, ao lado de Josh. - Gostei do cabelo, como você consegue reciclar pêlo de animal e transformar nisso? Achei digno – Zombou Amanda, e fechou o armário de Kristen. Kristen, por sua vez, ficou calada. Isso acontecia todos os dias, ela não via mais diferença entre ela zombar de seu cabelo ou filmá-la no banheiro e exibir nas telas espelhadas pelo colégio. Amanda viu uma fila, seu namorado Daniel estava escorado na parede, atrás de dois outros alunos que ela não conhecia. Amanda sorriu e quando Daniel a viu,

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demonstrou o alivio que sentiu. - Onde você estava? Chamaram seu nome duas vezes – Sussurrou Daniel. - Calma, amor. Estou aqui. O que eles estão falando lá dentro? - Você acha que eu sei? Ainda não entrei, só sei que eles acham que o assassino ou a assassina estuda neste colégio. - Por que você está sussurrando? Naquele momento, a porta da diretoria se abriu. Um policial de meia idade apareceu, ele não estava de uniforme, então Amanda presumiu que ele fosse um detetive. - Próximo – Ele disse, e olhou para Amanda – Amanda Rush?

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- Detetive Lionel? Ai meu Deus, eu não reconheci você! – Amanda deu um sorriso e foi cumprimentá-lo – Você ta muito bem, hein? Andou malhando? - Bom... – O detetive ficou sem graça, mas pareceu acreditar no elogio, que era tão falso que Amanda fez uma careta para Daniel, e isso provou que ela apenas estava sendo falsa e gentil, como sempre – Eu me exercito um pouco... - Percebi... – Amanda assentiu. - Chamamos seu nome agora a pouco. Venha, entre. Se livre logo disso. - Tudo bem – Amanda entrou, e sentiu um arrepio, sem saber por quê. Quando fitou a sala, viu o diretor em pé, perto a uma das janelas, e um policial sentado na cadeira dele, sério como ela nunca tinha visto. Atrás dele, um policial jovem que segurava em sua arma e parecia estar muito preocupado com sua postura.

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- Sente-se aqui, Amanda – Disse o detetive, apontando para a cadeira do outro lado da mesa do diretor. - Ta legal – Amanda sentou-se, e fitou o que parecia ser o delegado. - Você conhecia Jake Lindley e Nick Tavera? - Sim, éramos amigos, tínhamos aula de Espanhol juntos. - Muito próximos? – Perguntou o delegado, e cruzou as mãos na altura de seu nariz, fitando seriamente Amanda. Amanda também olhava para ele, sabendo que ele estava fazendo aquele olhar para intimidá-la, mas ela não caiu. Olhou seu nome escrito no peito, “Delegado Estwood”. Logo ela ligou o sobrenome a Aaron, o gostosinho da TV, como chama, e talvez eles fossem pai e filho. - Depende da profundidade da pergunta... – Respondeu ela, com um sorriso malicioso. - Você consegue pensar em alguém que

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tenha motivos para matá-los? - Nem imagino. Eles eram até legais, e todo mundo que conheço estava na estréia do filme ontem, então... Acho que quem os matou foi alguém de fora do colégio... - Sabia que eles foram encontrados sem suas colunas vertebrais, senhorita? - Não, eu... – Amanda fez uma careta, não sabia por que ele havia dito aquilo. - Muito bem, é só isso. Obrigado por cooperar conosco. Amanda não estava entendendo, seu rosto confuso demonstrava uma certa instabilidade. Ela imaginou os dois sem suas colunas vertebrais, e isso pareceu mais cruel do que

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pensava. Ela levantou-se e sem nem olhar para o delegado, saiu. Olhou para o detetive e sussurrou “que sinistro”, com o rosto já formal. O detetive prendeu um riso e abriu a porta para ela, que deu de cara com Daniel. - E aí? – Ele perguntou. - Sei lá, esse cara é muito estranho. - E você ta legal? -Eu? – Amanda olhou para ele, com um certo desprezo – Estou ótima. - Entendi. Não vou nem falar dessa sua saia curta... - O que foi? Não achou sexy? – Ela fez um bico. - Sexy e inapropriada. - Próximo! – Disse o detetive. - Foi papai quem comprou. Se quiser, tenta uma melhor, isso se o seu cartão de crédito tiver limite – Ela saiu andando. - E não ande assim! – Ordenou Daniel.

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Mas Amanda provocou, começou a andar rebolando ainda mais, com as mãos pra cima, com aquele andar de matar qualquer um. Daniel balançou a cabeça negativamente, se perguntando por que ele gostava dela, se a beleza já estava demonstrando não ser mais suficiente. - Uh, sou linda – Gritou Amanda, para provocar ainda mais. Ela estava rindo, vitoriosa, se achava tão legal, que as coisas que fazia eram mais legais ainda. - Vagabunda! – Disse Megan, que havia chegado praticamente do nada. - Eu diria que é bom te ver, mas não tenho tempo para falsidade – Amanda nem a olhou, apenas continuou andando, com um rosto de desprezo enquanto Megan a seguia. - Eu sei o que aconteceu! Eu estava lá, você é suspeita! – Disse Megan, quase que freneticamente. - O que? – Amanda fez uma careta, mas

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ainda não tinha dado a moral de olhar para Megan. - Você transou com Jake e ele está morto. Você transou com Nick e ele também está morto. O que você acha da teoria de Daniel Clark ser o próximo? - Acho que se você está certa, metade do colégio teria que morrer. Agora me deixe em paz.

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- Você sabe o que é Amanda! Eu vou te desmascarar na frente de todo mundo! E quando todo mundo vir à vadia que você é, eu vou ser a mais popular, porque foi assim que meu pai sempre quis, prefiro perder meus seios do que perder para rainha do baile de primavera de novo, você sabe... Fora o que Amanda estava prestando atenção, Megan tagarelou ainda mais em seu ouvido, mas Amanda parou de prestar atenção quando seus olhos se focaram na ultima pessoa que achou que veria naqueles corredores. Aaron Estwood. Os policiais da entrada impediram as pessoas de o cercarem, de pedirem autógrafos, ele só queria falar com o diretor e ir embora. - O-M-G – Disse Amanda. - Ai meu Deus, é Aaron Estwood! – gritou Megan. Amanda andou na direção dele, sorrindo, enquanto Megan ia atrás dela com passos pequenos e engraçados, desengonçada,

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mas ainda assim linda. Quando Aaron percebeu que Amanda Rush estava andando em sua direção, ele sorriu e olhou pro lado, não estava acreditando que chegou à uma hora na cidade e já deu de cara com ela. - Ora, ora, ora – Começou Amanda, num tom irônico – Se não é nossa celebridade local. Devo te chamar de anjo da morte, já que só aparece por aqui quando alguém morre? - Isso não! – gritou Megan ao lado, mas eles não ligaram para ela. - Amanda Rush... Não nos vemos desde... - Desde os quinze minutos no paraíso da festa de aniversário da Erin no oitavo ano? – Completou ela, com um sorriso e isso desencadeou várias lembranças daquela noite, quando o recém-musculoso Aaron teve sua primeira vez marcada pela garota mais desejada do colégio. - Vagabunda! Eu disse! – Gritou Megan,

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tentando chamar atenção, mas Aaron e Amanda estavam preocupados demais no jogo de olhares sedutores que jogavam um para o outro. - Foi uma das melhores, sabia? – Amanda sorria como se quisesse agarrá-lo ali mesmo. - E olha que eu não tive muito que aprender. Megan os olhava, com inveja. Cada vez que Aaron pronunciava uma palavra, ela olhava para ele, e assim que Amanda falava, ela virava pra ela. - Pena que estou apaixonada, se não eu te daria mais do mesmo, só que melhor. Adeus, celebridade – Amanda passou por ele, sorrindo soberbamente. Aaron ficou desconcertado, nunca pensou em levar um fora de Amanda, já que ela foi bastante fácil para ele anos atrás. Ele sorriu, mas estava sem graça.

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- Eu disse, ela é uma vadia! Não confie nela, eu sei que ela rouba os doces da máquina do refeitório. - E você quem é? - Megan Bower, Atriz, cantora, compositora, modelo e baby-sitter nos fins de semana, Ochonté – Megan estendeu a mão para Aaron, mas ele pareceu querer que alguém tirasse aquela louca da sua frente.

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- Ok, pai, eu vou tomar cuidado – Disse Erin ao celular. - Você está com o spray de pimenta que eu dei? - Claro, pai. Coloquei ele na minha bolsa. Não se preocupe. - Filha, tem um louco por ai que matou dois jogadores de futebol, você é pequena e indefesa, precisa se cuidar. Erin suspirou, ela odiava quando ele falava

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aquilo. - Tudo bem, pai, vou desligar, vou encontrar com as minhas amigas. - Tudo bem, querida. Amo você. - Também te amo... – Ela desligou e colocou o celular na bolsa. Não se passou nem cinco segundos e seu celular tocou de novo, mas era o barulho de uma nova mensagem de texto. Ela o retirou da bolsa e leu, era da Amanda. “Venha pro chafariz, a galera toda ta aqui, xoxo, Mandy”. Erin não entendeu, já que o chafariz era o local dos fracos, de acordo com Amanda, que escolheu a sombra da árvore do pátio como o point de todos eles. Sem nem ao menos responder, Erin colocou de volta o celular na bolsa e seguiu pro chafariz. Quase chegando, ela já podia ver que, realmente, toda a galera estava lá. Daniel estava sentado, com Amanda deitada em sua perna com as pernas esticadas. Encostado em Amanda, estava seu irmão

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mais novo Brandon, calmo, sério e fofo, assim como Erin sempre achou. Sarah e Samantha estavam bem ao lado, Samantha de pernas cruzadas enquanto Sarah estava sentada como alguém que estava meditando. Erin andou e sentou-se ao lado de Daniel, colocou sua bolsa ao seu lado e falou com Amanda: - Por que hoje você quis ficar no chafariz ao invés da árvore? Que eu me lembro isso é pros fracos. - Ué, você não assistiu os filmes Pânico? – Retrucou Amanda, olhando para suas mãos entrelaçadas nas de Daniel. - Claro que não. Eu mal vi o quatro ontem a noite, e isso porque você me obrigou.

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- Tem a cena clássica dos jovens no chafariz, conversando sobre as mortes, se perguntando quem vai ser o próximo... – Disse Brandon, olhando nos olhos de Erin, ainda fazendo careta pelo sol bater em seu rosto. - Acho que já chega de homenagens aos filmes de terror por esses dias. Ontem duas pessoas morreram, foram deixadas na casa da árvore da Trish e ela mal consegue ficar em casa – Disse Sarah. - Eu vi a Ginger e ela hoje no colégio, Trish estava chorando e Ginger a estava consolando... Achei sinistro... – Comentou Daniel. - O mais estranho... Foram os dois terem morrido daquele jeito... E serem os primeiros... – Brandon quase engasgou com as palavras. - Como assim? – Amanda levantou da perna de Daniel e olhou para o irmão. - A gente assiste filmes de terror, Mandy. E sabemos que em slashers, é sempre uma

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garota que morre no começo. Não faz sentido alguém começar uma série de assassinatos matando dois meninos. É óbvio que foram mortes isoladas. - Isso foi tão machista – Samantha deu sinal de vida lá atrás. - Ele tem razão – Concordou Sarah – É sempre uma garota bonita que morre no começo. Ela tem os peitos gigantes, sobe as escadas, atira coisas no assassino... Ou simplesmente vai checar que barulho estranho foi aquele no porão... Isso é tão óbvio como saber que Jason Voorhees é imortal. - Mas então, Maninha – Samantha deu um sorriso falso para a irmã, que retribuiu com uma careta – Se as mortes foram isoladas, porque estava escrito perto do cadáver deles “As mortes iniciais”? Isso quer dizer que vai haver mais, não é? - Pessoal, isso aqui não é um filme de terror – Disse Amanda, com indignação – Pelo amor de Deus, dois dos nossos amigos foram assassinados ontem, o doente que

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fez isso deixou uma mensagem e agora a cidade ta pirando. E tudo se resume a apenas isso. Ninguém mais vai morrer! Todos ficaram em silencio. As palavras de Amanda até que faziam sentido. Ela não queria ver ninguém desesperado, ou chorando, muito menos morto. O desespero pelo medo disso só iria aumentar. O Vento frio da manhã bateu em seus rostos e fez o cabelo de Amanda balançar enquanto ela fitava todos os seus amigos sem respostas para dar. - Falando nisso, Daniel, onde você estava ontem à noite? – Perguntou Samantha – Eu não vi você na estréia do filme. - Ta falando que eu sou o assassino? - Não, só disse que a desculpa de estar passando mal foi a pior inventada na história.

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- Gente, o que eu acabei de falar? – A voz de Amanda parecia chateada – Chega desse lance de assassinato, filmes de terror e de possíveis suspeitos. Vou embora daqui – Amanda levantou-se e saiu andando – Nem pense em vir atrás de mim, Daniel Madison Clark. - Você ouviu a garota, Daniel Madison Clark – Zombou Brandon. - Cala a boca! – Daniel jogou água nele, que se esquivou, rindo.

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- Vai ficar tudo bem Trish, eu prometo – Assegurou Ginger, ao celular. Trish estava sentada em sua cama, de frente para o guarda-roupa, sem coragem nem de olhar pela janela. Lágrimas escorriam de seus olhos, que tentava não fechar, pois toda vez que isso acontecia, ela via Nick e Jake mortos em sua casa da árvore.

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- Eu não consigo nem olhar na minha própria janela... - É assim mesmo, Trish, você passou por um grande trauma. Pode ter certeza, se muitas pessoas tivessem visto o que você viu, estariam até piores. Trish levantou-se da cama e assuou o nariz. Ela andou em passos curtos até a penteadeira de seu quarto. Fitou-se no espelho, seu rosto estava horrível, cheio de manchas vermelhas e seus olhos fundos pediam para dormir, mas ela sabia que iria ter pesadelos. - Eu sei... – Respondeu, num sussurro, estava fingindo que acreditava nas palavras de consolo da amiga. - Olha, os policiais não estão ai em frente a sua casa? Eles estão te vigiando, não vão deixar nenhum maluco entrar! Trish caminhou até sua janela e afastou a cortina pro lado, só para ver o carro amarelo queimado dos policiais em frente a sua casa. E ele estava lá, intacto. Ela

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podia ver um deles se mexendo lá dentro, estava segurando um copo de capuccino. - Sim, eles estão aqui... - Então, confie nisso. Isso vai acabar, eu prometo. - Ok... Vou confiar. Agora vou pro computador tentar me distrair um pouco, falo com você amanhã no colégio? - Claro. Tchau, se cuida, beijos – Ginger desligou. Trish abaixou o celular e segurou com a outra mão na cortina, só para olhar mais uma vez para os policiais dentro do carro. Quando se obrigou a se sentir segura com isso, saiu da janela e deu dois passos para o computador ao lado. Mexeu o mouse para o

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descanso de tela desaparecer e a primeira coisa que fez foi clicar encima de sua caixa de e-mail, um atalho estratégico na área de trabalho. Logo, o bate papo na pequena caixa ao lado abriu-se, era Josh Sinclair falando com ela, seu Nick colorido parecia gay e ao mesmo tempo puritano, sendo assim, um dos mais estranhos. Josh Sinclair diz: Hey Trish, como vc está? Trish <3 diz: Mais ou menos, obrigada por perguntar... Josh Sinclair diz: Sinto muito pelo que aconteceu. Sei que não sou muito de falar com vc, mas saiba que todos do New Britain High estamos com vc =) Trish <3 diz: Obrigada de novo, é bom saber disso. Josh Sinclair diz: Ah, vc vai superar isso rápido, vai ver. Vc é a garota mais bonita daquele colégio, a mais doce e a mais inteligente, gosto de vc, prometo que vou te matar tão rápido que não vai nem sentir a faca penetrando

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suas entranhas. Quando Trish leu, ela deu um pulo da cadeira. Sua respiração começou a ficar ofegante e seus olhos não saiam mais da mensagem que Josh mandara. Josh Sinclair diz: O que foi? Não gostou do meu roteiro? Ou você quer ser a loira peituda depenada do começo? Trish desesperou-se na mesma hora, e com apenas um grito alertou os policiais e sua família. [Livro] A Punhalada - Capítulo 3: Na Ponta da Faca Enquanto o pai de Amanda tagarelava sobre as histórias de quando conheceu sua linda esposa, Brandon tapava os ouvidos mentalmente, preferindo não ouvir novamente as histórias de um bêbado sobre como sua mãe era gostosa. Assim, na mesa de jantar da família Rush, não se ouvia o barulho dos talheres com tanta abobrinha sendo dita. A Sra. Rush olhava

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para o marido com os olhos brilhando, ela parecia gostar de como ele falava que ela era praticamente uma modelo comestível, nos anos noventa. Amanda, na ponta da grande mesa, revezava em brincar com sua salada e lançar olhares sedentos de ódio para o pai.

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Brandon trocou um olhar com Amanda quando o Sr. Rush chegou na parte em que pensava que a Sra. Rush era estéril. Brandon podia ver os olhos de Amanda se revirando, aquela cena estava se repetindo mais uma vez numa sexta-feira, era típico ver seu pai chegar bêbado desde que foi enganado por um pilantra e perdeu uma quantia considerável de dinheiro. Mas isso não era motivo suficiente para Amanda e Brandon aceitarem aquela situação, enquanto viam sua mãe despreocupada com aquilo, como uma vadia bipolar que adorava ser chamada de gostosa na frente dos filhos. - Amanda, diz pra eles que você ficou com o papel principal de novo na peça do colégio – Incentivou Brandon a trocar de assunto, e sussurrou apenas para Amanda um estímulo para ela ajudar aquele homem a parar de falar. - Isso é verdade filha? – Perguntou seu pai, após tomar um gole de sua taça de vinho.

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- Sim, é sim. É como uma Rapunzel gótica, escrita pelo Diretor da peça. - Que maravilha minha filha! – Seu pai quase gritou – De novo o papel principal? Você é mesmo a rainha daquele lugar, hein? Hahaha! Nós temos que comemorar! Querida, pegue aquela garrafa de vinho tinto na cozinha, precisamos celebrar! - Pai, você sabia que Brandon tirou “A” mais uma vez em 90% das matérias? – Disse Amanda, olhando para Brandon, só para não passar a vergonha de seu pai arrumar a desculpa da peça de teatro para beber. - Brandon é meu garoto, mas você! Você é a minha rainha! Querida, anda rápido! A Sra. Rush levantou-se da mesa, sem reclamar. Brandon olhou para Amanda, com aquele olhar que dizia “vai acontecer novo”. O que aconteceria de novo? Seu pai começaria a gritar, chamaria a atenção dos vizinhos e acabaria tratando alguém tão mal a ponto de subir as escadas e se

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trancar no quarto. Das ultimas duas vezes tinha sido Brandon, Amanda tinha levado um tapa no rosto antes disso. - Não quero comemorar! – Gritou Amanda, num impulso. Seu pai a olhou, ele não conseguia demonstrar nada a não ser a quantidade de álcool que tinha consumido. - Mas filha, que mal educada você! - Pelo menos

não estou

bêbada... Seu

pai gargalhou.

– Você é uma vadiazinha mesmo, hein? Amanda suspirou de raiva e rapidamente levantou-se da mesa, apesar de Brandon chamar seu nome e pedir calma. Ela não deu ouvidos. Encarando seu pai com raiva, saiu da mesa e subiu as escadas, bufando.

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Brandon, ainda sentado, suspirou, mas estava

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aliviado por aquilo ter terminado ali mesmo. - O que foi que eu disse? Ela deve estar estressada por causa do cabelo. Brandon levantou-se da mesa, sem ligar para o que o seu pai estava dizendo e foi atrás de Amanda. Subiu as escadas, e viu a porta do quarto da irmã se fechando com muita força. Devagar, ele aproximou-se da porta e bateu, olhando para o chão. Lá dentro, Amanda jogou-se em sua cama e colocou a joaninha de pelúcia em seu rosto, ela estava farta das bebedeiras do pai. - Mandy? – Chamou Brandon do outro lado. - Entra – Gritou ela, nunca voz cansada. Brandon abriu a porta com cuidado e olhou para a cama da irmã, que já estava sentando-se nela. Ela colocou a joaninha no seu colo e olhou para Brandon, que já perguntava se ela estava bem apenas com o olhar. Mas eles não disseram nada, só o que se ouvia era o barulho da porta

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abrindo-se lentamente, enquanto o rosto depressivo de Amanda ia se formando cada vez mais. Talvez ela quisesse fazer um drama para o irmão, mas pelo motivo certo. - Nem vou perguntar se você está bem – Disse Brandon, com um sorrisinho - Eu te conheço. Brandon saiu de perto da porta, mas a deixou aberta. Andou até a cama de Amanda, que se ajeitou para ele poder sentar. - Pensa pelo lado positivo, Mandy. Pelo menos ele quer comemorar o que acontece com você. Ele nem liga pra minha coleção de A’s. - Para B, você sabe que ele te ama. Você foi o único que teve um quarto só pra você nas férias do sétimo ano quando nosso primo Ellijah veio pra cá, eu que tive que dividir o quarto com ele, e olha que eu sou mulher. Brandon gargalhou. Ele lembrou disso, seu

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pai estava feliz demais por ele ter ganho um dos jogos em que participou e o deixou com o quarto só pra ele, mesmo arriscando que em primo não se deve confiar. - É... Acho que estamos no mesmo nível de miserabilidade... - Brandon... Eu sou uma vadia? - Bom – Ele suspirou – Todas as pessoas tem um lado mal e bonzinho, você só é mais direta com o malvado... - Droga – Amanda deu um suspiro de derrota e deitou-se na perna do irmão – Às vezes acho que só você gosta de mim nesse mundo, nem eu mesmo estou me gostando tanto... - Ah, pára vai... Não gosto de ver você assim. Prefiro mil vezes ouvir alguém te

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chamando de gostosa nos corredores do colégio... Amanda gargalhou, ela sempre soube que Brandon era o único que podia fazê-la sorrir de verdade. - Tive uma idéia! – Amanda deu um pulo – Ta a fim de agitar? - Agitar? – Brandon fez uma careta – Depende. - Pega seu casaco! Pronto pra uma noite de neon? – Amanda lançou um sorriso malicioso para o irmão, que já estava imaginando pra onde ela queria levá-lo.

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Uma música da Britney tocava ao fundo. Na pista, garotos sem camisa dançavam com cordões de neon enrolados no pescoço e as garotas nos pulsos. Estava tudo escuro, as pessoas só eram distinguidas pelo forte brilho de neon em seus corpos. Cada cor tinha um significado.

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Se alguém estivesse usando neon verde, estava disponível. Se estivesse usando azul, estava comprometido. E se tivesse usando o vermelho, estava afim de dar uma pulada de cerca. Na portaria, Erin e Samantha pegavam suas pulseiras. Erin pegou a azul, ela não estava comprometida, mas o que menos queria era que um cara suado cheio de brilho, estilo Kesha, desse encima dela só porque sua pulseira verde pareceu apitar para ele. Samantha, por outro lado, pegou a vermelha, ela estava completamente solteira, mas não estava afim de fazer a bozinha. Quando o cara da entrada estava colocando a pulseira em Samantha, ela lhe lançou um olhar sugestivo, mas ele fingiu nem ligar. Com um sorriso ela saiu da fila, dando vez a Erin. Quando entraram, Erin soltou um palavrão, ela não sabia se estava completamente ferrada por estar ali ou se finalmente ela encontrou um lugar onde podia se divertir.

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- Sarah não sabe o que perdeu, às vezes ela nem parece minha irmã gêmea. Trocou isso aqui pra fazer trabalho de química? Me poupe, vamos dançar! – Gritou Samantha, puxando Erin junto com ela. Erin não se intimidou. Se tinha uma coisa que ela não fazia muito, mas fazia bem, era dançar. Antes mesmo que Samantha pudesse suar, seu celular tocou. Ela parou, resmungando algo que Erin não conseguiu ouvir. Quando tirou o celular do bolso e olhou no visor, percebeu que se tratava de Sarah. - Mas que gêmea do mal! – Reclamou e apertou o botão para rejeitar a chamada. Lá fora, Amanda parou o carro do outro lado da rua em frente à boate. Brandon olhou pela janela, sua intuição estava certíssima. Falar em neon é o mesmo que falar na boate “Neon Trone”. - Bom, não foi exatamente uma surpresa – Comentou ele. - Não era pra ser, agora sai do carro –

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Amanda abriu a porta e saiu.

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Brandon continuou olhando para a porta da boate, que só fazia encher cada vez mais. Logo, ele abriu a porta e saiu, atravessou a rua junto de Amanda, rindo da corridinha brega da irmã.

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- Como assim não podem fazer nada? – Perguntou Ginger a um dos policiais, alterada. - Senhorita, entenda. Estamos vigiando a casa praticamente vinte e quatro horas, essa semana recebemos trinta ligações de pessoas dizendo que alguém com uma voz estranha os ligaram perguntando como elas queriam morrer. Esses trotes são comuns, ainda mais pela internet. Considerando que a pessoa que falou pelo computador com sua amiga era um conhecido, foi obviamente uma brincadeira. - A morte de Jake e Nick não foi só uma brincadeira! – Contra-atacou Ginger, ela odiava ver a amiga desesperada aquele jeito.

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Trish estava bem ao seu lado no sofá, sendo acariciada pelo seu pai. Seus olhos estavam vermelhos de tanto chorar, era a pior época de sua vida, tanto desespero que ela não sabia mais o que fazer. - Ginger, esquece, eles estão fazendo o que podem – Sussurrou Trish, numa voz de choro. - E se esse garoto for o assassino? – Indagou Ginger – Todo mundo sabe que ele é fanático por filmes de terror, além de ser um dos mais estranhos. - Senhorita Bolton, se você fosse uma assassina, ameaçaria uma possível vítima usando seu próprio Nick de bate papo? Ginger calou-se, seu rosto demonstrava a derrota. Ela se sentia péssima pelo policial ter argumentos melhores que os dela, e por ter fracassado na tentativa de fazer sua amiga sentir-se mais segura. Cruzou os braços e só de uma vez jogou-se no sofá, ela não acreditava que aquilo estava acontecendo.

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- Filha, vamos ficar o tempo todo aqui com você – Disse a Sra. Peterson, ao lado de seu marido. - Não vamos deixar você sozinha nem por um segundo, é o nosso trabalho - Disse o policial da esquerda que, até então, estava calado - Seja lá quem estiver querendo matá- la, vai ter que nos matar primeiro. - Eu vou dormir hoje aqui com você, T. Vai ter que me matar primeiro também... – Ginger fitou o policial, com um pouco de severidade. Depois voltou seu olhar para Trish – Só preciso avisar a minha mãe... - Vamos estar lá fora se precisarem... – Os policiais se retiraram. Ginger levantou-se do sofá, já tirando o celular do bolso. Trish colocou as duas mãos no rosto, estavam saindo mais lágrimas. Ao mesmo tempo em que ela queria sobreviver, ela queria que tudo aquilo acabasse. Só se passou um dia desde as mortes, mas foi o

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suficiente pra ela pirar completamente. Ginger apertou o botão discagem rápida enquanto caminhava para o corredor da cozinha. Colocou o celular no ouvido, na esperança de que sua mãe atendesse rápido, não queria deixar Trish sozinha nem um minuto. - Oi, nós somos os Bolton – Disse a mensagem na secretária eletrônica da casa de Ginger – Deixe sua mensagem após o Bip. - Que droga, mãe – Reclamou Ginger para si mesma e começou a deixar seu recado – Oi mãe, pai, ou quem estiver ouvindo. Liguei pra dizer que vou dormir na casa da Trish, ela está muito assustada e precisa de mim agora. Se quiser me ligar de volta quando ouvir isso, tudo bem. Beijos, amo vocês – Ela desligou. Caminhou devagar de volta para a sala enquanto colocava seu celular de volta no bolso, mas só viu o pai de Trish ali, colocando whisky num copo.

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- Onde a Trish foi? - Ela subiu com a mãe, estava indo dormir... – Disse ele, parecia estar com a voz rouca, talvez tivesse chorado. - Tudo bem, vou subir... – Ginger mal se mexeu e ouviu-o falando de novo. - Obrigado por apoiar a minha filha... E estar aqui por ela hoje... Ginger olhou para ele, que estava de costas para ela, no sofá. Na sua cabeça, era sua obrigação estar ali por Trish, e não só porque ela tinha certeza que a amiga faria o mesmo, mas também porque a ama, e nunca teve uma amiga daquele jeito. - É um prazer Sr. Peterson... Ele olhou para ela, e ela percebeu que seus olhos estavam realmente vermelhos. - Você não quer beber aqui comigo? Estou me sentindo meio sozinho... E perdido... Ginger fez uma careta, e não acreditou que o pai da melhor amiga estava dando encima

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dela, ou aquele era só um convite comum de embebedar uma garota de dezessete anos? - Boa noite Sr. Peterson... – Ginger subiu as escadas a sua frente, decidindo ignorar o acontecido. Quando entrou no quarto de Trish, a viu deitada em sua cama e sua mãe sentada ao seu lado, dizendo palavras de conforto. Ginger escorou-se na porta e ficou olhando aquela cena, não queria interromper, parecia ser uma coisa que Trish estava precisando. Ela olhou para Trish, ainda chorando, e nas voltas que a mão de sua mãe dava em seu rosto, e pensou que se fosse ela ali, aquilo já seria o suficiente para se sentir protegida. - Boa noite, querida, que Deus a proteja... – A Sra. Peterson deu um beijo na testa de sua filha, e isso a fez sorrir. Levantou-se da cama e saiu, dando um leve sorriso ao

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passar por Ginger. Ginger fechou a porta do quarto e dirigiu-se até a penteadeira de Trish, queria trocar de roupa se olhando no espelho. Ela pegou a mala preta a sua frente e de lá tirou sua roupa de dormir, uma camisa amarela grande que mais lhe parecia um vestido, aquele era seu pijama favorito. Rapidamente tirou a blusa e a calça comprida, ficando apenas com as roupas de baixo. - Acho que já estou me sentindo melhor – Murmurou Trish. - Eu disse – Ginger olhou pra ela pelo espelho – Comigo aqui, com seus pais no outro quarto e com os policiais lá fora, nenhum maluco vai conseguir te matar. Com o perdão da palavra, é claro. - Tem certeza que vai conseguir dormir nesse colchãozinho? - Acredite, já dormi em lugares muitos piores. Está perfeito. Não se preocupe comigo – Ginger tirou a presilha do cabelo e o deixou solto. Deu uma olhada nele e

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logo depois guardou as roupas que tirou dentro da mala. Caminhou até seu colchão, ao lado da cama de Trish, e colocou a mão no abajur. Antes de desligar a luz, queria desejar boa noite para a amiga. - Boa noite, T. Qualquer coisa estou aqui. - Eu sei... Quando a luz foi desligada, Ginger deitou-se no colchão e Trish virou-se para o outro lado da cama. Ambas de olhos abertos, pensando, mas logo se obrigaram a dormir.

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Um pesadelo bastou para Trish acordar assustada. Sem nenhum grito, seus olhos abriram rapidamente, e seu coração acelerado demonstrava o quanto o pesadelo de ter sido assassinada a deixou tensa. Ela pegou em seu pescoço, o suor escorria, estava completamente molhada encima da cama. Virou-se para o lado,

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onde Ginger estava dormindo, e sussurrou pelo nome da amiga, mas Ginger parecia ter sido nocauteada. Trish insistiu e até deu um empurrão na amiga, mas nada aconteceu, a não ser Ginger começar a roncar. Trish suspirou. Grande proteção essa que Ginger queria dar. Desembrulhou-se rapidamente e se arrastou no colchão para sair de cima da cama. Com as pernas pro lado de fora, esperou o nervoso passar, e o suor secar, para poder descer e comer alguma coisa, já que não fez isso desde que encontrara Jake e Nick mortos. Levantou-se de sua cama no momento em que sua respiração começou a ficar uniforme. Abriu a porta e, andando devagar, desceu as escadas. Estava tudo escuro, tudo desligado, ela tratou de acender todas as luzes no caminho para a cozinha. Foi só acender a luz da cozinha que notou seu gato branco chamado Pete encima da mesa, ele parecia estar

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tentando pular dali de cima, mas não conseguiu.

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- Own, Pete. Deixa que eu te coloco no chão – Ela carregou o gato e antes de deixá-lo no chão, fez carícias em seu pêlo. Pete, já no chão, correu até sua comida no canto da cozinha, que ficava bem perto de sua caixa de areia. Trish levantou-se do chão e abriu a geladeira, pensando apenas nos deliciosos sanduíches que seu pai preparara mais cedo, ou na coca-cola bem gelada que sua mãe não havia tomado. Estava perfeito, o sanduíche parecia mais delicioso ainda estando intacto daquele jeito. Trish não resistiu e acabou abocanhando-o ali mesmo, já que estava quase babando de tanta fome. Mas algo a interrompeu. Um toque de telefone. Como a casa estava em silêncio, o toque parecia ter ficado mais alto. Ela olhou devagar para cima da mesa no canto, onde o telefone estava. Uma ponta de medo lhe subiu, mas aquela altura ela já estava mais calma. Mesmo assim, foi difícil engolir o ultimo pedaço do sanduíche que estava comendo.

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Ela tirou os outros da geladeira e os levou até a mesa onde estava o telefone. Pegou o telefone e devagar foi colocando seu ouvido. - Alô? - Alô... – respondeu uma voz macabra. - Pra quem quer que esteja ligando, vou logo dizendo que estão todos dormindo, desculpe... - Mas você está acordada... - Quem fala? - Alguém que quer mandar outro recadinho. Espero que tenha gostado dos corpos que te deixei. O coração de Trish disparou, ela sabia o que aquilo significava. Não disse mais nenhuma palavra, apenas correu para a porta da cozinha e colocou a mão na maçaneta, mas parou quando a voz macabra começou a falar novamente. - Se eu fosse você eu não faria isso... Bem na minha frente estão seus pais amarrados, esperando pela primeira

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burrice do prodígio loiro que colocaram no mundo. Se avisar aos policiais, eles morrem. - O quê? – Trish começou a chorar. Olhou para o carro pela parte de vidro da porta e viu os dois policiais dormindo. - Eu quero brincar com você, se você acertar minhas perguntas, eu prometo não cortar sua garganta. Trish encolheu-se no canto da porta da cozinha, chorando. Ela não podia fazer nada a não ser o que o homem do telefone estava dizendo. - É bem fácil. Cite um filme de terror com Jessica Biel.

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- O que? Eu não sei... Por favor – Implorou Trish. - Anda, é só um jogo. Responde certo e você vive. É tão fácil... - O Massacre da Serra Elétrica! - Muito bem, você não é tão burra quanto parece. Próxima pergunta... Qual o nome da primeira atriz a ir pro saco em Pânico 4? - Lucy! Lucy Hale! – Gritou Trish, desesperada, ela só lembrava dessa morte do inicio. - Errado! – Gritou a voz e logo após deu uma gargalhada – A resposta certa é Senhae Grimes, Lucy Hale é a segunda. Que pena! - Por favor, não! – Gritou Trish. - Ultima pergunta, e o jogo termina. Trish levantou-se do chão e com passos realmente lentos e andou pela cozinha, observando tudo. Limpou as lágrimas que caíam de seus olhos e continuou na

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linha. - Você quer morrer devagar? – Trish não ouvia mais a voz, apenas o apito de final de ligação que soava ao telefone, mas ela não teve muito tempo para reagir. Ghostface apareceu com sua faca em mãos em frente a Trish, bem no corredor onde dava para a sala. Trish gritou e logo o telefone caiu de sua mão trêmula. Rapidamente, correu para a porta da cozinha, mas ela estava trancada, isso deu tempo suficiente ao assassino de chegar até ela e preparar uma punhalada. Trish desviou e ele acabou quebrando a vidraça da porta. Ela aproveitou para dar a volta na mesa e correr para a porta da frente, mas ela estava trancada. - Abre! Abre! Alguém me ajude! – Ela gritava, para chamar a atenção dos policiais. O escândalo estava formado. Trish gritava arduamente pra poder sair. Quando olhou para trás, percebeu o assassino correndo em sua direção. Ela foi até o vaso de flores encima da mesinha ao lado e correu pra

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sala. Jogou no assassino e acertou sua cabeça. Ele caiu. Trish correu por ele e subiu as escadas. Lá encima, Ginger estava chegando, atordoada. - O que está acontecendo? – Ela perguntou, foi quando viu ghostface subindo as escadas atrás de Trish. Outros gritos se formaram e na tentativa de fuga, Ginger caiu, atrapalhando também Trish. Mas rapidamente se levantaram e correram pro quarto. Tentaram fechar a porta, mas o assassino já tinha metido a mão para impedir isso. Com apenas um chute, ele conseguiu entrar e fez Trish cair pra trás, encima do criado mudo. Olhou para Ginger perto da janela, que estava apenas gritando desesperada. Chegou até ela e a puxou pelo cabelo. Num só movimento a jogou pela janela. Ginger caiu pelo

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telhado do andar de baixo e ainda tentou se segurar, mas acabou escorregando e caindo no chão. Ali, desmaiada, os policias que estavam tentando arrombar a porta da frente foram socorrê-la. Lá encima, Ghostface trancou a porta enquanto Trish se levantava do chão. Ele a puxou pelo cabelo e a jogou no espelho da penteadeira, quebrando-o completamente. Ela caiu no chão, mas ainda conseguiu se levantar, só que não foi mais rápida que ele. Ele a posicionou a sua frente e rasgou seu peito, com um corte horizontal. Ela gritou e o sangue se espalhou pelo quarto. Ele a jogou encima da cama de bruços, e apunhalou suas costas. A faca entrou quase que completamente. Mais uma vez foi puxada pelo cabelo, ele a jogou no chão, mas ela caiu de joelhos. Cometeu a besteira de olhar para o assassino e ele lhe fez outro corte horizontal, só que na boca, que foi completamente rasgada. O sangue escorria de Trish como se ela

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estivesse vomitando. Não conseguia mais falar, muito menos gritar. Ela estava morrendo devagar. Ainda de joelhos no chão, o assassino a esfaqueou nas costas duas vezes, e com um puxão na blusa deitou-a na cama. Ela ficara irreconhecível e a qualquer momento poderia morrer, mas não antes de receber a ultima punhalada no peito, perto ao pescoço, que foi rasgando seu tronco numa linha vertical até a virilha. Foi então, que ghostface ouviu um barulho na porta do quarto onde estava. Os dois policiais estavam tentando arrombá-la, mas parecia difícil. Ele pegou o corpo mutilado de Trish no colo e o jogou pela janela, logo depois pulou. Quando a porta foi arrombada, os dois policiais entraram com a arma apontada pra frente e observaram o quarto inteiro, que estava cheio de sangue. Um deles olhou embaixo da cama quando notou que nem Trish e nem o assassino estavam ali, mas não havia ninguém lá. O outro correu para a janela, mas também não notou

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sinal do assassino. Naquele momento, eles perceberam que era tarde demais. Ginger havia acabado de subir a escada, estava com a perna machucada. Entrou no quarto e notou o estrago feito, mas não viu a amiga. Só que não era preciso um corpo para ela saber o que tinha acontecido. Ela gritou, se perguntando por que tinha sido Trish e não ela.

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Na boate, Amanda dançava com um desconhecido descamisado. Brandon estava no balcão fora da pista, ao lado de Erin, que estava suada de tanto dançar. Brandon não entendia como Amanda podia ser daquele jeito, não sabia como ela conseguia dançar com um desconhecido e fazer disso a melhor coisa do mundo. - Samantha ta demorando no banheiro – Comentou Erin pra quebrar o gelo da falta de assunto.

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- Não se preocupe, Amanda dança pelas duas. E bebe também. - Também estou achando.

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Erin olhou para o lado, tímida, estava tentando não pensar em como Brandon era lindo. De alguma forma, ela imaginou que ele pudesse ler sua mente e tentou não pensar nisso, apesar de parecer ridículo até mesmo pra ela. Mas o que ela não sabia, era que Brandon já tinha notado isso, desde o dia em que Erin acidentalmente o viu só de toalha, quando foi fazer uma tarde de estudos na casa de Amanda. Ele notou o seu olhar e sentiu-se feliz, mas o medo da rejeição foi maior. - Você quer dançar? – Perguntou Erin, com coragem. - Não muito. - Oh, tudo bem... – Erin abaixou a cabeça. Brandon notou que ela ficara triste e começou a se sentir um idiota. Afinal, como ele podia recusar uma dança com a gata da Erin? - Quer saber, vamos dançar. Só não

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reclame se eu pisar no seu pé – Ele sorriu para ela, que retribuiu com seu sorriso brilhante. Brandon pegou em sua mão e a levou para perto de Amanda. Mas quando chegaram, uma musica romântica começou a tocar. - Mas que droga..? – Gritou Amanda, praticamente bêbada. A garrafa de vodka em sua mão não negava isso. Brandon e Erin fitaram-se com um sorriso bobo, ambos estavam percebendo o clima que estava rolando. Devagar, Brandon pegou na cintura de Erin, tentando ignorar os gritos histéricos de Amanda, que estava saindo da pista indignada. Erin colocou devagar a mão no ombro de Brandon e olhou para baixo, envergonhada. No alto, as mãos dos dois se juntaram e formaram a cena perfeita de dança romântica. - Ai! – Ela reclamou, quando Brandon pisou em seu pé. - Me desculpe, eu sou muito desajeitado pra isso.

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- Não, tudo bem. Foi apenas uma reação automática, vamos continuar – Ela sorriu. - Tudo bem... – Ele lançou o mesmo sorriso, mas parecia nervoso. Devagar, ela encostou-se em seu peito e ele colocou sua cabeça encima da dela. Erin sentiu-se protegida, mas ele não pôde deixar de pensar o quanto ela era gostosa. Erin tinha o tom de pele negro mais bonito que seus amigos já viram, e isso até causava inveja em alguns. Seus lábios eram carnudos e seu era corpo igual de uma modelo. Seu cabelo era perfeito, e para Brandon, também era cheiroso. Tinha cheiro de amêndoas, era bom. Foi então que se ouviu um grito vindo do balcão. Ambos olharam para lá e viram Amanda encima dele sem a blusa, deixando seu sutiã rosa a mostra. Ela estava de pernas abertas, em pé enquanto todos olhavam para ela.

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- Quem quer agitar? – Gritou ela e todos foram à loucura. Foi aí que um estrondo enorme se ouviu. Um carro invadiu as paredes da boate a toda velocidade e conseguiu bater algumas pessoas. As outras corriam desesperadas para se salvar, inclusive Brandon e Erin, que se abaixaram apesar de estarem um pouco longe de onde o carro invadiu. Quando Erin levantou sua cabeça e olhou para o carro já parado, percebeu que não era uma simples batida. O corpo de Trish estava amarrado no capô do carro, estava irreconhecível, Erin mal sabia distinguir quem era. E na vidraça da frente, estava escrito com sangue “A Virgem”. Quando as pessoas notaram, correram desesperadas para a saída. Os gritos estavam impossíveis, foi um pânico total dentro da boate. - Liga pra policia, Brandon. – Sussurrou Erin. - Cadê a Amanda? – Procurou Brandon

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entre a multidão, mas não conseguiu encontrá- la. Erin aproximou-se do carro onde Trish estava, sem medo, apesar do nojo ser imenso. Com passos lentos, chegou até o carro, enquanto Brandon ligava para a policia com seu celular. Erin fitou o corpo de Trish e uma lágrima desceu pelo seu rosto, mas ela estava prendendo o choro. Ela sabia o que aquilo significava, e sabia que não iria parar por aí. [Livro] A Punhalada - Capítulo 4: Quem Avisa Quer te Matar - Eu to mal, Manthy – Gaguejou Amanda, logo após um esguicho de vômito que soltou. Samantha tentava não olhar para o vômito, e não sabia como conciliar isso segurando os lindos cabelos pretos de Amanda, para não sujarem. Num dos becos ao lado do recém destruído “Neon Trone”, Sarah apareceu. Quando Samantha viu sua irmã, deu graças a Deus.

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- Ai meu Deus, Manthy, você ta legal? – Perguntou Sarah, logo depois olhou para Amanda – O que está acontecendo? - Ela bebeu demais, sabe, não é acostumada. - Não sou acostumada uma ova! Eu sou forte! – Gritou Amanda, e o esforço que fez causou mais uma série de vômito. - Tem muitos repórteres lá? – Perguntou Samantha. - Se com “muitos” você quer dizer o quarteirão todo, sim, milhares deles. Eu vi o noticiário, o corpo é de Trish Peterson.

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- Ai meu Deus... - Quem morreu? – Perguntou Amanda, já quase morta de tanto vomitar. - Eu vou levar Amanda para casa, Brandon e Erin estão dando depoimento a policia – Samantha olhou para Amanda, imaginando quando ela iria parar de passar mal. - Tudo bem, vou procurá-los, vou avisar que você se encarregou de Amanda. Se cuida. - Você também... – Samantha

observou a irmã saindo do

pequeno beco. Amanda levantou-

se e limpou o rosto, o cheiro estava

insuportável.

- Vem, eu te levo pra casa. Me dá suas chaves. - Estão no meu bolso... – Amanda virou-se e

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Samantha pegou as chaves. - Agora vamos, com cuidado – Ela estava ajudando Amanda a andar. Enquanto isso, Sarah caminhava entre a multidão tentando achar Brandon e Erin. Via repórteres gravando imagens ao vivo da boate. Deu graças a Deus do corpo de Trish já ter sido retirado dali. Mas o carro ainda estava, e o recado com o sangue dela também. Quando se distraiu olhando os destroços, acabou dando de encontro com Megan. - Ai! – Gritou Megan, daquele jeito estrondoso de sempre – Meu Deus! Você quer me matar? – A voz de Megan era tão alta que parecia até que ecoava. - Posso responder sinceramente? - Temos um serial killer nas mãos! Você não pode andar distraída por aí! - Enfim, você viu Brandon e Erin? - Estão naquele furgão – Megan apontou para cima dos ombros de Sarah – Eu

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tentei dizer que sentia muito, mas nem me ouviram. Sem falar que eu tenho uma noticia bombástica! Sarah olhou para trás e viu um paramédico enrolando uma faixa no braço de Brandon. Erin estava bem ao seu lado, com um cobertor por cima de si, tomando algo que parecia ser café. - É tudo primeira mão minha filha! Isso vai bombar no Twitter! – Continuou Megan, mas Sarah não estava prestando atenção. Quando olhou de volta para Megan que percebeu que ela ainda estava falando. - O que você disse? – Perguntou, fazendo uma careta. - Você sabia que a Senhorita Peterson estava amarrada no carro alugado de, ninguém

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mais ninguém menos, que Aaron Estwood? Hein? Sarah parecia surpresa. Com os olhos, demonstrava o que estava pensando. E o que estava pensando era que quem quer que estivesse matando as pessoas, escolheu uma ótima maneira de conseguir repercussão com os crimes. Usando o carro de uma celebridade para lançar seu alvo e dizer que não parou por aí. - Eu sei o que você está pensando! – Disse Megan, sorrindo. - O que? - Você está me achando super eficiente, não? – Megan colocou para trás sua franja e sorriu, estava se achando a única sobrevivente de um assassinato em massa. - Você não existe – Sarah deu as costas para Megan e começou a andar na direção da van. - Eu não transei com o repórter da CNN

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pra ser insultada por uma siamesa roqueira como você! – Gritou ela, e tomou um copo com água da mão de um homem que passava. Tomou um gole e cuspiu – Tem gosto de asfalto, some daqui! Na van, Erin olhou pra frente e viu Sarah chegando. Ela sussurrou um “graças a Deus” e levantou-se para abraçar a amiga. - Ai meu Deus, ainda bem que você chegou – Sussurrou Erin no ouvido de Sarah. - Você está bem? Se machucou? - Sim, estou bem... Não me machuquei não, Brandon sofreu alguns arranhões... Sarah olhou para ele bem atrás de Erin, com o braço enfaixado encima de sua perna, ele parecia estar sentindo dor, mas não queria demonstrar. Quando percebeu que Sarah estava olhando, tratou logo de falar alguma coisa. - Já sou crescidinho, sei me cuidar. Sarah e Erin sorriram, ele estava fofo mesmo se fazendo de forte.

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- Cadê Amanda e Samantha? – Perguntou Erin. - Manthy ficou de levá-la pra casa e eu fiquei encarregada de levar vocês. Bom, quando vocês estiverem prontos... Brandon se levantou e Erin virou-se para ele. Com o olhar, ele disse a ela que já estava na hora de ir. Os três andaram até o carro dos pais de Sarah, e entraram na parte de trás, exceto por Sarah que estava na direção. Erin deitou sua cabeça no peito de Brandon e começou a pensar na noite longa que haviam tido.

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O rosto de Amanda parecia não ter sentimentos. Ela encarava o caixão de Trish com uma orquídea nas mãos, enquanto as palavras do Padre faziam questão de permanecer

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em sua cabeça, fazendo-a pensar, fazendo a ficha cair. Alguém havia morrido, de novo, alguém que não queria ver Amanda ali se tivesse escolha. E pela primeira vez, Amanda se sentiu cruel. Só o que ela queria era voltar no tempo por um dia e demonstrar que, assim como todos os seres humanos, Trish era importante e não merecia morrer daquele jeito, muito menos uma morte brutal onde seria obrigado velar o corpo de caixão fechado. Amanda sentia-se falsa apenas por estar ali, e uma série de outros sentimentos ruins, sentindo algo que não sabia explicar. Talvez fosse apenas aquele mal estar de velório e enterro que ela costumava sentir, que começou quando sua tia Stephane faleceu nove anos atrás. Mas tinha outra coisa que não se encaixava, ela se sentia parte disso só por estar no mesmo lugar onde o corpo aparecera. Daniel estava bem ao seu lado, com as mãos no bolso do terno alugado, sem

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tirar os olhos da mãe de Trish que estava inconsolável bem a sua frente, do outro lado do caixão. Ele não estava ouvindo o que o Padre dizia, estava muito bem em suas condições de Ateu, mas o sofrimento da mãe de Trish era muito perturbador. Estavam praticamente todos ali. O Sr. Vander Lance segurava Ginger nos braços, que estava chorando como uma criança pela morte da amiga, um sofrimento que parecia não ter fim. Seu rosto ainda estava marcado com cortes de vidros e ali todos a estavam vendo como “a sobrevivente”, mas só Ginger sabia que não morreu porque o assassino quis assim. Kristen, bem atrás de Daniel e Amanda, cutucou Josh pra ele olhar para Ginger. Ele olhou para ela, e sentiu algo que não conseguia descrever. - Ela estava lá... – Sussurrou Kristen – E sobreviveu... As ultimas palavras do Padre foram ditas e

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o caixão começou a descer. As pessoas começaram a jogar as flores que estavam em suas mãos, enquanto o caixão com a foto preto e branco de Trish descia cada vez mais. Amanda foi uma das ultimas a jogar, ela estava concentrada em olhar o caixão descendo que acabou esquecendo que tinha que jogar sua orquídea. Quando jogou, Daniel chegou até ela e pediu pra eles irem embora. Amanda segurou na mão dele, que beijo sua costa, numa forma de carinho. - Anda, vamos logo... Eles dois começaram a andar pra longe dali, assim como todas as pessoas. Erin e Brandon chegaram até eles, assim como Sarah e Samantha. Os seis estavam andando em linha reta pelo cemitério, ambos de preto e com um rosto desagradável. - Ela não era minha amiga nem nada, mas... Isso é horrível... – Comentou Samantha. - Nem me fale, queria que essa sensação

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estranha fosse embora... – Comentou Daniel enquanto chutava a grama em que pisava. - Vocês acham... – Pensou Sarah, queria organizar bem as palavras – Acham que

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estamos seguros? - Quem pode afirmar? – Respondeu Erin, ela estava pensando naquilo desde o momento em que aconteceu, e tinha quase certeza que mais alguém iria morrer. - Mas e os recados com sangue? “As mortes iniciais”, “A virgem”? Seja lá quem for, está rotulando as vítimas... – Brandon hesitou, mas quando criou uma teoria, continuou – É praticamente um filme de terror de uma mente doentia... Amanda parou. Todos os outros continuaram a caminhar, estavam quase saindo do cemitério, mas algo a fez parar. Várias coisas estavam se passando na cabeça dela, e seu olhar não negava. Seus olhos encaravam o chão, mas moviam-se de um lado para um outro, era a mente de Amanda fazendo um jogo de dedução. Daniel olhou para trás e viu Amanda parada. Ele também parou e perguntou o que ela tinha.

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- E se for mesmo um serial killer...? Querendo matar mais pessoas e fazer do filme uma realidade... Isso quer dizer... – Amanda olhou para o rosto de cada um dos cinco, que agora olhavam para ela e prestavam atenção no que dizia – Que o assassino pode ser qualquer um de nós? Os seis trocaram olhares desconfiados entre si. Fazia bastante sentido, se realmente alguém estava tentando imitar os filmes. Tinha no mínimo um motivo, e um assassino, e ambos podiam ser aleatórios. Um sino tocou, a torre do relógio que ficava bem de fronte para o cemitério anunciava o meio dia. Todos olharam pra lá numa reação automática, o som do sino deixava tudo ainda mais macabro. - Bom, temos que ir – Disse Sarah – Nosso pai está esperando. Se cuidem. - Vocês também – Respondeu Erin. Sarah e Samantha fizeram tchau com as mãos e seguiram para o outro lado do

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cemitério. Daniel suspirou, e mentalmente começou a achar que o dia já estava longo demais. De repente, um barulho de carro se ouviu. Os quatro olharam para a porta do cemitério e avistaram um carro preto chegando em alta velocidade. Era estranho, o motorista parecia apressado. Foi aí que ele parou. De dentro do carro, saiu Aaron, todo de preto. - Claro... – Lamentou Amanda – Tinha que ser ele... Aaron praticamente correu na direção de Amanda, parecia que ele estava fugindo de alguém. Quando chegou, demonstrou no seu tom de voz que estava nervoso. - Amanda, preciso falar com você, agora. - Ow, cara, pega leve aí – Pediu Daniel.

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- Quem é esse? - Meu namorado. E não posso falar com você agora, minha cabeça está cheia... - É muito importante. Eu não pediria se não fosse... – Aaron lançou um olhar para Amanda, que ficou altamente curiosa com o que ele queria dizer. - Vejo vocês lá na frente? – Ela olhou para Daniel, mas estava falando com todos. Daniel assentiu e foi o primeiro a sair dali. Erin e Brandon foram depois, lançando um olhar de duvida para Amanda que retribuiu com outro olhar de duvida. - Não viu os noticiários? – Perguntou Aaron, num tom de acusação. - Não fale assim comigo! Eu estava lá quando aquele carro invadiu a boate com uma pessoa morta nele, enquanto você autografava fotos suas na sua suíte de luxo. Não dê uma de celebridade pra cima de mim. - Sabia que foi no meu carro alugado que puseram a garota morta?

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- Eu ouvi algo parecido... – Amanda cruzou os braços. - Sabia que no banco de trás tinha uma foto nossa, cravada com uma faca? – Aaron tirou a foto do bolso e colocou a frente do rosto de Amanda. Amanda puxou a foto de sua mão para olhar de perto, percebeu que quase todos estavam na foto. Era o aniversário de Erin, a galera estava curtindo na piscina, até que a mãe de Erin chegou com uma máquina e todos se juntaram para a foto. Amanda viu ela, Aaron, Brandon, Sarah, Erin, Nick e Trish ao fundo, sendo zoada com um chifre por Samantha. A marca da furada da faca estava encima da foto, quase tocando Amanda que era o destaque. - Ai meu Deus... – Ela sussurrou – Como você conseguiu isso? - Eu peguei enquanto um policial estava distraído. - Isso é... Significa...

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- Que alguém está tentando nos matar? Um por um? Isso aí. – Aaron puxou a foto das mãos de Amanda e colocou de volta em seu bolso. - E por que alguém faria isso? - Eu sei lá. Dois já foram, e agora você acabou de sair do enterro dessa tal de Tanya Parkerson. - Trish Peterson. - Exatamente! As pessoas estão morrendo aqui! – A voz de Aaron ficou grave, e possivelmente, mais tensa.

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- E por que você não vai embora, então? - A policia não deixa. Era pra eu estar em Hong Kong agora... - Eu tenho que ir... – Amanda olhou em seu relógio, eram meio dia e três – Tenho que estar em casa agora, tchau... – Ela começou a andar. - A gente se fala depois? – Gritou Aaron. - Claro – Ela respondeu, e continuou a andar até os portões do cemitério. Lá na frente, Daniel a estava esperando. Logo perguntou o que Aaron queria, mas Amanda preferiu guardar o segredo da foto para si mesma. - Nada demais, coisa de velhos amigos... Daniel beijou a testa de Amanda e a envolveu com seu braço direito. Bem juntinhos, eles caminharam até o carro.

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- O que você está fazendo? – Perguntou a

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Sra. Rush a Brandon. - Arrumando minha mochila... – Disse ele logo após colocar o livro de química. - As aulas não haviam sido suspensas? - Ainda não, hoje é o ultimo dia. Eles querem conversar com a gente sobre algumas coisas... – Brandon fechou o zíper de sua mochila e pendurou no seu ombro direito. - Estou pronta! – Gritou Amanda, assim que apareceu na cozinha. Ela deu um sorriso para a mãe e outro maior ainda para Brandon, que a olhava com duvidas. Até ontem no enterro de Trish, Amanda parecia cabisbaixa e triste pelos assassinatos, mas agora seu sorriso e sua maquiagem demonstravam que ela já estava com outro tipo de humor. - Ei, alguém está feliz hoje... – Comentou sua mãe. - Feliz até demais... – Completou Brandon.

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- O que foi? Não pode? É o ultimo dia de aula. Depois só vamos estudar, quando pegarem o desgraçado que está matando todo mundo. Vou ser positiva, agora que esses assassinatos afetaram a minha vida. - Ta legal, vamos lá – Brandon levantou da cadeira enquanto Amanda dava um beijo de despedida no rosto da mãe. - Vamos voltar cedo.

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- Tomem cuidado, amo vocês... Brandon abriu a porta e saiu, e antes que ela se fechasse Amanda a segurou. Os dois desceram as pequenas escadas. - Você vem comigo hoje ou vai passar no Starbucks primeiros? – Perguntou Amanda, antes de dobrar pra garagem – Eu deixo você dirigir... Brandon pensou na proposta. O que seria melhor? Dar uma volta no carro importado de Amanda e causar inveja ou comer besteira de manhã no Starbucks, já que o café da manhã de sua mãe é decadente? - Eu posso levar a gente até o Starbucks... - Quanta eficiência. Agora entra! Me deu vontade de comer batata frita – Amanda jogou as chaves para Brandon, que as agarrou com a mão em que não estava segurando a alça de sua mochila. Ela entrou no carro, no banco dos passageiros, sentindo-se estranha já que isso quase nunca aconteceu. Brandon sorriu com malicia quando olhou para as

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chaves e se imaginou dirigindo o carro de Amanda. Ele entrou no carro e com uma mão girou a chave, com a outra ligou o som. Estava tocando o rock de uma banda não muito conhecida, mas ele gostava, e aumentou o volume. Amanda olhou para ele, com um sorriso no rosto, pensando em como é fácil fazer um garoto de dezesseis anos feliz. Brandon começou a curtir a musica com a cabeça enquanto dava a partida. Colocou o cinto, mas ainda não tinha pisado no acelerador. - Você está se sentindo como num sonho, né? – Perguntou Amanda. - Ta brincando? Estou na Disneylândia! – Brandon pisou no acelerador e do seu lado, Amanda ria do comportamento do irmão. Quando chegaram ao colégio, perceberam que aquela aglomeração de repórteres já não podia mais ser vista, mas uma quantidade considerável de alunos estava no pátio. Alguns circulavam, outros

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estavam parados conversando, parecia que não estava tendo aula. Amanda avistou Erin, e o resto do pessoal, sentados embaixo da árvore e caminhou naquela direção, Brandon apenas a seguiu. Quando Daniel notou que ela estava chegando, levantou-se da grama, só para lhe dar um beijo e dizer “oi”. - Oi amor... – Disse Amanda, logo depois do beijo. Brandon sentou-se ao lado de Sarah na grama, que estava fazendo tranças no cabelo da irmã. - O que está acontecendo? Não ta tendo aula? – Perguntou Amanda. - Não – Respondeu Samantha, de imediato – Eles estão preparando o auditório para dar

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uma palestra, alguns professores não vieram. - Tudo certo pra hoje à noite, Mandy? – Perguntou Erin, ao lado. - Hoje à noite o quê? - O quê? – Erin fez uma cara de decepção – Não diga que você esqueceu que iria me ajudar no turno da noite hoje na lanchonete. É sexta-feira, fechamos tarde, e eu não quero ficar sozinha. - Nossa, esqueci completamente. Brandon, tudo bem se eu for? – Ela olhou para ele, sem graça, não queria ser a irmã vadia que rompeu um compromisso com seu irmão mais novo. - Tudo bem, eu faço a sessão de filmes sozinhos... Ou com nosso pai bêbado... – Brandon abaixou a cabeça. - Ah, não... – Amanda estava se sentindo mal – Se for assim eu desmarco com a Erin. - Não, tudo bem – Ele sorriu – Estou brincando, vou ver um filme, ver se passo

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algum trote, estudar sobre a segunda guerra e... - Ver um bom pornô... – Completou Daniel, brincando. A turma toda gargalhou, inclusive Brandon, era uma coisa que ele não gostaria de falar publicamente, mas até que fora engraçado. - Ok, então. Erin, tudo certo. - Ai meu Deus! – Erin levantou-se e foi até Amanda – Eu te amo! – Ela puxou o rosto de Amanda e lhe deu um beijo na bochecha. - Todos amam, querida – Retrucou Amanda, com um sorriso. - E eu vou fazer xixi – Erin saiu correndo pra dentro do colégio. Amanda sentou-se no chão ao lado de Daniel e ele pegou em sua mão, ficou entrelaçando seus dedos apoiados em sua perna. - Ela ainda trabalha no “Vulcanical’s”? –

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Perguntou Sarah, colocando a ultima trança da irmã – Terminei – Ela bateu em seus ombros. - Me deixa ver! – Pediu Samantha e Amanda tirou um espelho de sua bolsa. - Sim, ela trabalha. Trocou de turno com o garoto bonitinho e agora não agüenta ficar sozinha. – Respondeu Amanda. - Ficou perfeito! Valeu, maninha! Sarah sorriu, percebeu como era difícil ouvir boas palavras da irmã. Samantha não

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parava de se olhar no espelho, perguntava-se como tinha conseguido ficar ainda mais bonita, além de também se perguntar como ainda não havia experimentado aquilo antes. Amanda a observava com discórdia, tinha achado horrível, mas sabia que teria que dizer que adorou. De repente, o celular de Brandon tocou. Ele olhou para seu bolso e quando ia pegar, Sarah sentiu seu celular vibrar. Quando perceberam, o celular de todos estava tocando. Rapidamente tiraram de seus bolsos, fazia tempo que ninguém mandava uma mensagem de texto coletiva, e quando isso acontecia era uma noticia bombástica. Quando olharam em seus visores, perceberam que não era nada disso, e sim uma mensagem anônima. - Sorriam – Leu Sarah. - Vocês estão nas cenas leves do meu filme – Completou Daniel. Amanda levantou-se do chão e olhou em

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volta. Não tinha nada de anormal nas pessoas, ninguém estava com o celular em mãos ou falando, ou com uma câmera de vídeo, já que foi a primeira coisa que pensou. O pátio parecia o mais normal possível. Quem tiver mandado a mensagem, sabia que eles estavam ali, e sabia que estavam juntos.

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Aaron não sabia se sentia medo ou achava graça. Não sabia se estar ali assistindo Pânico 2 poderia ser engraçado ou irônico, nas condições em que se encontrava. Ele ainda não tinha sofrido um arranhão, recebido um só telefonema ou ter pelo menos visto algum corpo, mas sabia que seu carro não havia sido usado na cena do crime à toa. Da poltrona confortável que estava em frente à TV, ele assistia a cena em que Sarah Michelle Gellar era a próxima a morrer. Do seu lado, a gigantesca janela de vidro do hotel Hilton mostrava as luzes

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da cidade de New Britain e o céu escuro, que apesar de ser noite, mostrava que ia chover. Aaron tomou um gole de seu whisky e o deixou na mesinha ao lado, perdendo a cena em que o assassino se revelava. Foi quando o telefone tocou. Ele estranhou, já que não costumava dar seu numero a ninguém, muito menos quando estava só de passagem numa cidade. - Alô? – Ele disse quando atendeu. - Sr. Estwood, Tem uma garota aqui querendo falar com o senhor, disse que é importante. Aaron suspirou quando reconheceu a voz da recepcionista. Ele odiava que as fãs o perturbassem. - Eu avisei que não é pra me incomodar... - Mas senhor, ela insistiu, disse que era pra eu dizer que ela é amiga de Trish Peterson,

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isso faz algum sentido pro senhor? - Oh... – Aaron hesitou, lembrou da loirinha que viu nos noticiários chorando pela morte da amiga – Deixe-a subir. - Ok, senhor. Aaron desligou. Levantou-se da poltrona e foi até o quarto. Abriu a porta do guarda roupa e fitou-se no espelho médio, queria parecer mais bonito do que se achava para aquela garota. Deu um retoque com a mão no cabelo quase loiro atrapalhado e se fitou, estava treinando olhares. Percebeu que aquela camisa estava meio velha e a tirou. Abriu a outra porta do guarda roupa e tirou uma na cor vinho, a que o realçava seus músculos, em sua opinião. Não demorou muito para ele ouvir o barulho da porta. Ele deu um grito que estava atendendo, estava terminando de se arrumar, deixou o perfume por ultimo. Quando abriu a porta, fitou Ginger a sua frente. Ela parecia mal, estava com o

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cabelo preso num rabo de cavalo e com olheiras, provavelmente de tanto chorar. Ela estava com uma roupa que destacava suas curvas e isso deixou Aaron pasmado. - Posso entrar? – Ela pediu. - Claro – Ele disse, olhando para o corpo dela. Ginger entrou e logo fitou a imensa janela, que mais parecia uma parede. Deixou sua bolsa de pano encima da mesinha e colocou as duas mãos no bolso de trás da calça jeans. Ela olhava pra cidade, sentindo falta da amiga, não conseguia pensar em outra coisa. Aaron fechou a porta e olhou para ela, se perguntando o que ela podia querer com ele. - Desculpe chegar assim... Você provavelmente não lembra de mim... – Ela sussurrou. - Não, não. Lembro sim. Ginger deu um grande suspiro e virou-se para Aaron.

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- Vim aqui hoje e há essa hora pra te mostrar uma coisa. - O quê? – Aaron pensou besteira, mas tentou disfarçar. - Põe no canal treze. Aaron não entendeu muito bem, mas decidiu fazer o que Ginger dissera. Pegou o controle remeto que estava na poltrona e apertou o numero do canal, apontando pra TV. No canal treze, estava passando uma reportagem sobre os assassinatos cometidos até então. As imagens estavam claras, algumas fotos de Trish apareciam enquanto uma moça falava. -... Uma nova pista foi dada a policia. Dentro do corpo de Patlicha Peterson havia um

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pen drive enrolado num saco plástico contendo vídeos e fotos da vítima com o escritor e ator Aaron Estwood, provando assim que antes da fama, ele teve um caso com a vítima. Mas as surpresas não pararam por aí, ainda no mesmo pen drive, a foto de um bebê recém nascido foi encontrada, contendo em sua legenda o nome “Kevin Marshall”, o mesmo sobrenome do casal assassinado ano passado. A policia não quis mais se pronunciar sobre as descobertas, mas estão trabalhando na hipótese dos assassinatos do ano passado terem alguma relação com os de atualmente. Agora vamos falar ao vivo com... Aaron, naquele momento, parou de prestar atenção na TV. Ele olhou para Ginger com o rosto perplexo, ele não acreditava que alguém estava tentando incriminá-lo. - Se você veio aqui me acusar de ter matado a sua amiga... – Ele gritou. - Relaxa, eu sei que não foi você. – Ginger o fitava, séria – Tem alguém querendo usar o

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seu nome e o pequeno caso que teve com a minha amiga pros assassinatos terem uma maior repercussão. - Por que fariam isso? - Porque querem matar você também. Naquele momento o telefone tocou. Ginger olhou para ele e logo depois trocou um olhar de desconfiança com Aaron. Ele não queria atender, estava com medo. Ginger percebeu isso e decidiu tomar a iniciativa. - Eu atendo – Ela correu até o telefone e o tirou do gancho – Alô? - O que sua amiga diria se não estivesse tão mutilada e soubesse que sua melhor amiga está no quarto de hotel com seu ex-namorado? – Disse a voz medonha do assassino, do outro lado da linha. - Vai se danar! – Gritou Ginger - Como você vai conseguir dormir sabendo que pode ser a próxima? E que encontrou um cadáver embaixo da cama

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de Aaron? - O que ele disse? – Perguntou Aaron, quando viu o rosto assustado de Ginger. Ginger jogou o telefone no chão com todas as suas forças e correu pro quarto. Aaron foi atrás dela, pedindo uma explicação. Ela olhou pra cama e, já com o desespero no coração, puxou o colchão e o jogou pro lado. Quando olhou, percebeu o corpo do Sr. Van Der Lance no chão, com incontáveis facas cravadas dos pés a cabeça. Em seu peito um recado feito pela ponta de uma faca, “Eu odeio elenco jovem”. Ginger colocou as duas mãos na boca e começou a chorar. Aaron sentiu o desespero de começar a fazer parte dos assassinatos, se perguntando quando iria ser o próximo.

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[Livro] A Punhalada - Capítulo 5: A Morte Leva Quem Quer - Agora você acredita em mim, né? – Perguntou Josh a Kristen, sussurrando, mas ela ainda estava com medo que o senhor do fundo da lanchonete os ouvisse. Kristen olhou para todos os lados, o Vulcanical’s estava quase vazio, a não ser pelo idoso que contava moedas na ultima mesa, ele realmente tinha o rosto de quem parecia ser o assassino. Quando olhou de volta nos olhos de Josh, percebeu que estavam esbugalhados, ela tinha medo quando isso acontecia. Ele estava agitado, queria que alguém acreditasse na sua teoria de assassinatos. - Ta, Josh, ta legal... Eu acredito, mas... Não faz sentido, entenda. - O que não faz sentido? - As mortes. Por que alguém mataria Jake e Nick, assim, do nada? E depois mataria Trish que não tem nada haver com os dois?

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- Exatamente, você não está percebendo? – Ele aproximou-se do rosto de Kristen que estava do outro lado da mesa, teve que se levantar um pouco – Não existem mais regras! - Então, você quer dizer que as mortes são simplesmente aleatórias e que não existe um bom motivo para matar Jake, Nick e Trish a não ser a própria matança? – Kristen chupou seu suco de laranja pelo canudinho e isso pareceu uma cena de desprezo a Josh. - Não exatamente... – Josh sentou-se de volta – Quer dizer, a ordem das mortes está estranha...– Ele fez uma careta, como se estivesse tentando dividir trezentos e vinte e dois por treze. - Então... Não nego que alguém enlouqueceu e está querendo matar geral, mas isso não significa que os assassinatos tenham que fazer algum sentido porque isso aqui é um filme de terror... – Kristen deixou seu copo de suco seco encima da mesa e fitou Josh, que ainda pensava.

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- Bom... Jake e Nick foram “As mortes iniciais”, o recado deixado no corpo de Trish foi “A virgem”, e talvez tenha tido um pouco de humor negro. Se a gente ao menos soubesse qual o padrão que está fora do padrão... - Olha, para de pensar nisso. Ok? Somos os nerds, os excluídos, já fomos assassinados socialmente pela ira do destino que preferiu nos dar cérebro a uma boa aparência. Quase nunca estamos em filmes de terror, e quando estamos, somos os primeiros a morrer. Se ainda estamos aqui depois de três mortes, ninguém se daria ao trabalho de nos matar. - Eu sei não se senti vontade de te beijar ou de te esmurrar por ter acabado completamente com a gente em apenas uma frase... Kristen fez uma careta de deboche, que mais parecia um “nhenhenhe”. Josh sorriu pra ela, aquele seu olhar tenebroso e agoniado já havia saído, ele estava apenas com cara de

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nerd. Pegou uma bata frita de seu prato e colocou na boca. Ainda mastigando, ele voltou a falar. - Mas você sabe que também recebemos uma mensagem de texto... - Pelo amor de Deus. Todo o colégio recebeu! Aquilo foi um truque pra fazer as pessoas que se sentem ameaçadas sentirem que são as próximas. Quem em sã consciência mandaria uma mensagem dizendo... – Kristen preparou a voz para uma imitação mal feita de voz de homem - “Ei, você tem uma beleza incomparável, adoraria te matar na frente do espelho” – Quando parou, suspirou, sabia que tinha saído horrível. - Quem em sã consciência vestiria a fantasia do ghostface e mataria três pessoas? Kristen ficou calada, Josh finalmente havia lhe pego, não tinha como se livrar dessa a não ser dando um sorriso sem graça, que admitia sua derrota. - Vamos, está tarde... – Kristen levantou a

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mão para Amanda que estava trás do balcão. Amanda rapidamente foi até ela, apesar de ter tropeçado no balde antes de sair de trás do balcão. Enquanto ela estava chegando, Kristen e Josh tratavam de tirar seu dinheiro para pagar. - Vão precisar de troco? – Perguntou Amanda. - Não, pode ficar. Obrigada – Disse Kristen, com um sorriso e sai junto de Josh... - De nada... Aberração – Amanda falou baixo para eles não escutarem. Colocou os pratos de cima da mesa para sua bandeja e enquanto segurava com a mão esquerda, a direita limpava com um guardanapo branco as sujeiras que Josh fizera. Quando a mesa estava completamente limpa, Amanda dirigiu-se para trás do balcão novamente e colocou a bandeja sobre ele. Virou-se de frente e apoiou seu rosto em suas mãos fechadas em punhos, com os

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cotovelos no balcão. Ela observou o senhor da ultima mesa, perguntando-se quando ele sairia pra poder fechar. Ele estava com um chapéu cinza que cobria metade do rosto, Amanda não conseguia vê-lo direito. Com as mãos enrugadas, contava suas quase- infinitas moedas enquanto seu café esfriava ao lado, ele não havia tomado um só gole. Amanda suspirou, mas não foi de reclamação. Ela até estava gostando de ajudar Erin no Vulcanical’s, ela se sentia estranhamente especial por estar sendo garçonete por um dia. Atrás dela, Erin chegava com um prato em mãos, tinha um sanduíche nele. Amanda ouviu o barulho, mas não se virou, continuou a olhar pro senhor da ultima mesa. Erin deixou o prato na frente de Amanda, dizendo que preparou um lanche pra ela. - Obrigada, não estou com fome. Acho que vai ficar pra viagem... – Respondeu

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Amanda, sua voz mudou de tom, já que estava praticamente prendendo as bochechas naquela posição.

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- Tudo bem... – Erin ficou bem ao seu lado, só que com as mãos esticadas no balcão. Olhou também para o senhor da ultima mesa, ela o conhecia bem – Ele vem todo dia... Senta na ultima mesa, pede um café que nunca toma e fica contando suas moedas, de novo e de novo e de novo... - Coitado. Talvez a esposa tenha morrido tragicamente e ele não tem ninguém agora... - Ou talvez ele tenha desperdiçado seu grande amor na juventude e agora precisa encarar a si mesmo e a solidão pelo erro que cometeu... Amanda olhou para Erin, com um rosto duvidoso. Tinha achado linda a suposição da amiga, mas ainda não sabia como ela chegara a pensar nisso. Erin olhou para Amanda, não sabia o que a amiga estava olhando. Ficou desconcertada e acabou roubando um sorriso de Amanda. Quando os dentes perfeitos de Amanda apareceram, Erin não resistiu e também sorriu. Por algum motivo elas estavam

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achando aquilo engraçado, era como um código de amizade que só elas entendiam. Então, ouviram o sino da porta. Quando olharam, ela já havia fechado. Olharam pra ultima mesa e o senhor não estava mais ali. - Como ele...? – Começou Amanda, mas não sabia como terminar. - Saiu tão rápido? Ele é quase uma sombra. Mas esquece. Agora me ajude a fechar – Erin entrou para a cozinha, estava pensando em começar organizando as louças. Amanda suspirou, dessa vez, estava reclamando. Elas tinham que limpar as coisas, trancar tudo, e talvez limpar o banheiro caso algum caipira tivesse sido mal educado o suficiente para deixá-lo sujo. Mas, ela decidiu começar empilhando as grades de refrigerante nos fundos. Enquanto carregava, amaldiçoava a cortina transparente de plástico que ficava no

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meio do caminho, estava atrapalhando na passagem das pesadas grades que ela tinha que empilhar. Quando deixou a terceira, ouviu o sininho de entrada fazer barulho. Ela olhou para lá, mas não conseguia ver nada, estava muito longe. - Oi, estamos fechados! – Ela gritou, mas teve a impressão que alguém tinha entrado – Merda! – Reclamou e foi até lá – Oi, nós estamos... – Parou de falar quando não viu ninguém. O sininho ainda balançava levemente na porta, mas a lanchonete estava vazia. Amanda olhou para todos os lados, mas realmente não tinha ninguém, e nenhum barulho podia ser ouvido. Ela olhou para a porta da cozinha e ouviu o barulho da torneira ligada. Seu rosto parecia desconfiado, ela duvidou se tinha ouvido ou não, mas se realmente aconteceu, Erin também teria ouvido já que a cozinha ficava mais perto do depósito. Andou até a cozinha e da porta fitou Erin, que estava lavando os pratos de costas para ela.

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- Erin, você ouviu o sininho da porta tocar? – Perguntou, mas não obteve resposta – Erin? Você ouviu o sininho da porta tocar? – Novamente, Erin não respondeu.

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Amanda se estressou e foi até a amiga. Pegou com força em seu braço e falou seu nome num tom grave. Erin olhou pra ela, assustada, e tirou os fones de seu ouvido. - O que foi? – Ela perguntou. Amanda tinha entendido. Erin não conseguiria ouvir nada já que estava com seus fones de ouvido. Assim, sentiu-se uma idiota, com certeza era coisa de sua cabeça. - Nada não, só queria perguntar qual dos banheiros eu lavo... – Disfarçou. - Qualquer um, na verdade se não quiser lavar... - Não, eu ajudo. Melhor que não ter o que fazer, mas... Só se eu puder fazer isso pelada – Amanda sorriu maliciosamente, para Erin, que também não agüentou a piada da amiga. - Amanda! – Repreendeu com um sorriso. - Eu não vim de sutiã mesmo – Gritou

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Amanda, já da porta da cozinha. Erin olhou para os pratos que lavava e rindo, balançou a cabeça negativamente, não acreditava que Amanda podia ser tão engraçada. Quando deu a volta no balcão, Amanda olhou pra porta. Ela sentiu uma tensão bater, mas logo chegou à conclusão que seria impossível alguém ter entrado e não ter sido visto. Mas, por precaução, decidiu trancar a porta. Andou até lá e olhou pra rua, completamente deserta, apenas o latido de alguns cachorros se ouvia de longe. Com a mão já no trinco, ela olhou pra lua cheia pela vidraça da porta, parecia estar mais perto que de costume. Girou o trinco do meio, depois o de cima e depois o de baixo, a porta estava completamente trancada, ninguém mais passaria por ali. Puxou o fio para a cortina descer e tapar a vidraça, mesmo sabendo que ela sempre fica aberta. Deu meia volta e foi até o armário onde estavam os produtos de limpeza. Pegou o

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balde com o esfregão e, quando saiu, fechou a porta com os pés. O banheiro ficava quase na frente do armário e foram necessários apenas alguns passos para chegar até ele. Quando abriu a porta, tomou um susto. Megan estava lá dentro, com um pedaço de espelho quebrado nas pernas. No espelho, obviamente aquilo branco era pó, que Megan cheirava com um corpo de caneta vazio. O susto foi grande, Megan deu um pulo e jogou tudo no chão, enquanto Amanda apenas se afastou um pouco com o grito dela. - Que diabos você está fazendo aqui? – Perguntou Amanda, num tom acusador. - Ai meu Deus! Vocês todos querem me matar? - Sim... - Vou considerar isso como uma ameaça oficial... – Megan tirou seu batom vermelho de sua bolsa e com um olhar de desprezo, começo a passar pelos seus lábios enquanto se olhava no espelho do banheiro.

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- Cai fora daqui, estamos fechados! - Me desculpe – Megan sussurrou, não conseguia falar direito enquanto tinha que deixar seu lábio inferior parado para não borrar o batom – Talvez eu tenha pegado no sono. Eu não sei. Só me lembro de estar me divertindo quando você abriu a porta. - Megan... - Já estou saindo, mas que coisa, querem ser processados? – Megan guardou seu batom na bolsa e de lá tirou um saco de droga – Te dou um desses se não contar pra ninguém o que viu. - Fora daqui! – Gritou Amanda. - Ta bom, ta bom, to saindo – Megan correu, seus saltos não a deixavam dar passos muito longos. Amanda entrou no banheiro, não estava mais agüentando Megan por perto, logo ficou de mau humor. Jogou o sabão no chão e quando pegou o esfregão, o telefone da lanchonete tocou.

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- Droga! – Reclamou e jogou o esfregão no chão. Saiu do banheiro e foi direto pro balcão. Chegando lá, encontrou Megan tentando forçar a porta, mas ela estava obviamente trancada. Megan virou-se para Amanda, com um rosto emburrado. - Você precisa abrir pra eu sair. - Espera aí, vou apenas tratar mal quem quer que esteja ligando há essa hora pra cá e, já, já cuido de você – Amanda atendeu o telefone – Alô? - Alô... - Quem é? - Eu poderia ser quem você quisesse, mas hoje à noite, sou a ultima pessoa com quem deveria estar falando... – Uma risadinha foi solta pela voz macabra do outro lado da linha, deixando Amanda pensar que era uma brincadeira sem graça. - Se você não tem mais o que fazer, não perca tempo passando trote pros outros,

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masturbação funciona muito bem pro tipo de mentalidade infantil e desocupada que você demonstra ter. - Uh, ela é boa – Comentou Megan, com seu rosto surpreso. - Se eu fosse você escolheria melhor as palavras, ou então eu posso não ser tão piedoso quando colocar seu corpo mutilado na mesa de jantar dos seus pais. - Merda! – Amanda gritou, ela estava pela primeira vez realmente apavorada. Colocou o telefone de volta no gancho, querendo poder fazer outra ligação e avisar a policia, mas o

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telefone tocou mais rápido do que esperava. - O que está acontecendo? Ai meu Deus! – Gritou Megan. Amanda colocou a mão no telefone de novo, os toques pareciam ficar mais altos com o medo dela aumentando. Naquele momento, Erin voltou da cozinha, enxugando suas mãos num guardanapo. - O que está acontecendo? O que você está fazendo aqui? Amanda colocou o telefone em seu ouvido rapidamente, e cuspiu as palavras: “Vai se ferrar” para o assassino, que riu daquilo. - Você está com medo Amanda? A rainha do baile de primavera finalmente recebeu sua primeira ligação, você deve estar se sentindo muito especial, como sempre. Aqui vai uma pergunta: Sente-se mais segura com a porta trancada ou de saber que já estou dentro? - Vai se danar, seu merda! – Amanda

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gritou – Dane-se você e esse seu mundinho limitado que te fez ficar doente e começar a matar as pessoas só pra chamar atenção! Ghostface não perdoou, sem ao menos encerrar a ligação, arrombou a porta do final da lanchonete que guardava coisas velhas e fez as três soltarem gritos de pavor. Erin rapidamente entrou na cozinha e trancou a porta, mesmo vendo que o assassino não estava indo atrás dela, ele estava indo atrás de Amanda e Megan que correram juntas pro depósito. Quando entraram, Megan correu até as caixas de suprimentos enquanto Amanda estava mais preocupava em fechar a porta. Ela conseguiu, mas logo o assassino enfiou a faca por ela. Isso não assustou Amanda, ela não sairia daquela porta por nada. - Megan! Me ajuda aqui! – Gritou. Megan correu, quase caindo com por causa dos seus saltos altos, mas se escorou na porta, impedindo a entrada do assassino, que batia nela com uma

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mão e com a outra enfiava a faca brilhante que carregava - Precisamos sair daqui! – Megan gritou. - As escadas! – Amanda fez força, estava cada vez mais difícil de segurar a porta. Megan e ela correram pras escadas a sua frente, que dava no segundo andar ainda em construção, onde o dono pretende morar. Amanda subiu na frente, e ajudou Megan quando já estava no topo. Juntas, correram entre as madeiras quase soltas e os pisos quase cedendo, o medo de cair era enorme. Ghostface conseguiu quebrar a porta e olhou em volta. Percebeu que elas não estavam mais lá. Subiu correndo a escada e viu as duas se equilibrando pra não caírem, já no final do cômodo. Ele foi atrás delas, que quando viram, soltaram mais gritos.

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Amanda abriu a porta a sua frente e Megan entrou primeiro. Ela fechou quando entrou e logo notou onde estava. Aquela parte estava pronta, era a parte principal, que tinha uma saída direta para frente da lanchonete. Com rapidez moveu-se até a porta onde sabia que tinha uma escada, mas não conseguiu abri-la. - Ele está vindo! – Gritou Megan e isso a deixou mais nervosa. Amanda segurava na maçaneta da porta e balançava loucamente, tentando abri-la de todos os jeitos, mas ela aprecia estar grudada ali. Quando desistiu da porta, olhou ao seu redor e percebeu um pequeno espaço no meio da parede do outro lado. Correu até lá e deu graças a Deus daquilo ser um elevador de carga. Megan abriu a porta por onde entraram e deu outro grito, o assassino estava mais perto. Amanda pensou, não daria tempo dela e Megan saírem dali pelo elevador de carga, só cabia uma delas, e enquanto uma

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descia, a outra poderia ser assassinada já que daria tempo suficiente pro assassino chegar. Amanda abriu a porta do elevador de carga e mandou Megan entrar. - Mas e você? - Vou pular a janela! Agora vai! – Gritou Amanda. Megan encolheu-se para entrar no elevador de cargas e puxou a corda para descer. Quando já estava fora da vista de Amanda, ghostface entrou pela porta e correu direto para Amanda, que pegou uma das madeiras deixadas no canto do cômodo e acertou em cheio o assassino na cabeça. Ele caiu, mas antes que Amanda pudesse acertá-lo mais uma vez, ele deu uma rasteira e ela caiu. Ela arrastou-se para pegar a faca dele que havia caído pro lado, mas ele segurou sua perna. Amanda tentava se soltar, mas parecia estar presa firmemente ao assassino, até que ela se virou e o esmurrou com seu

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punho direito. Ele soltou sua perna e ela levantou, mas num movimento rápido, a empurrou contra a parede e ela acabou machucando seu nariz. Caiu no chão, e a primeira coisa que fez foi pegar em seu nariz que estava escorrendo. O assassino a puxou pelo cabelo e a jogou contra a outra parede, mas ela colocou as mãos na frente, não se machucou tanto. Correu pra porta ao seu lado e voltou para o lugar onde as tábuas pareciam meio soltas. Ghostface a seguiu, mas tomava mais cuidado que ela. Amanda acabou pisando numa tábua mole e caiu, sua perna varou completamente pro compartimento de baixo da lanchonete, que era protegido por um forro. - Socorro! – Ela gritou, enquanto tentava tirar sua perna presa dali. No andar de baixo, Erin abriu a porta da cozinha e correu pro telefone, estava ligando pra policia. Foi aí que Megan

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apareceu, gritando. - Amanda está lá encima! Amanda está lá encima! Ele vai pegar ela, temos que sair daqui!

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- Alô, emergência, no que posso ajudar? – Disse uma moça simpática ao telefone. - Por favor, ele vai nos matar! Estamos no Vulcanical’s na rua dezesseis entre Bill Marshall e Theodore, ele está com minha amiga no andar de cima, ela vai matá-la! – Gritou Erin ao telefone. - Isso é uma brincadeira? - Não é brincadeira, ele está aqui! Por favor, depressa! Megan correu pra porta, tentando abri-la de todos os jeitos. Erin desligou o telefone e foi até lá abrir a porta para elas fugirem, rezando para que Amanda conseguisse se safar. No andar de cima, ghostface caminhava lentamente aos arredores de Amanda, que estava quase conseguindo libertar sua perna. Quando conseguiu, escapou de uma punhalada quase certeira que levaria nas costas e correu pro lado, mas o assassino era mais rápido. A ultima cartada, foi

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pegar Amanda com as duas mãos pelos ombros e jogá-la entre as tábuas velhas que formavam uma parede. Amanda atravessou as tábuas podres e deu o que pensou ser seu ultimo grito, mas acabou caindo milagrosamente de costas no enorme toldo vermelho da Vulcanical’s. Do buraco em que se abriu, ghostface olhou para ela, não era agora que iria morrer mesmo. No toldo, Amanda estava desmaiada. Quase não se machucou com a queda, mas o susto fora enorme. Mal abriu os olhos e já começou a se debater, pensando que o assassino estava perto dela. Demorou mais alguns segundos até ela perceber onde estava. Sua cabeça doía, assim como sua perna, ela parecia ter sido nocauteada, e de certa forma, fora. Lágrimas escorriam dos olhos, que se misturavam com sangue. Foi quando ouviu as sirenes de carros da policia. Ela fitava a lua cheia, completamente cansada, não conseguia nem se mexer. Abriu seus braços e viu as

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luzes piscando na parede ao lado, ela estava viva, afinal, mas nunca havia ficado tão perto da morte, e isso era perturbador.

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Amanda observava Megan dando seu depoimento a um detetive, pela famosa janela de vidro da prisão. Megan parecia estar tendo um ataque, ela fazia gestos e sua boca abria mais do que o normal e isso deixava claro que ela estava gritando. O detetive Lionel observava Amanda ao seu lado, machucada, com um cobertor roxo em volta de si. Completamente parada. Ali, ele não via mais uma menina fútil, ele via a garota mais corajosa e mais sortuda do mundo e não sabia o que falar pra ela se sentir melhor. Os olhos de Amanda observavam Megan, mas em sua mente, as imagens da horrível noite que passou davam voltas e mais voltas. Ela sabia que demoraria tempo demais para esquecer a imagem daquela

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máscara com cara de fantasma. Lembrava também do depoimento que tinha acabado de dar a policia, não sabia como podia lembrar de cada detalhe do que havia acontecido, e ao mesmo tempo não queria.

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Na sala de espera, Erin chorava sem parar. Sentia-se tão culpada por ter se trancado na cozinha e deixado a amiga quase morrer, que isso era o bastante para achar que não tinha mais coragem de olhar na cara de Amanda. Os policias que estavam lá perto, trocavam olhares com Erin, não sabiam como ela estava conseguindo chorar tanto daquele jeito. Então, Brandon entrou na delegacia. Logo avistou Erin sentada no banco e correu até lá. Quando Erin o viu, o choro piorou, mas dessa vez era de alegria. Levantou-se do banco e lhe deu um abraço, que foi retribuído por Brandon da forma mais carinhosa possível. As lágrimas de Erin caiam no ombro de Brandon, ela não conseguia parar. - Você está bem? – Perguntou ele. - Sim, nada aconteceu comigo... - Onde está Amanda? - Com o detetive... – A voz de choro de Erin

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saiu rouca. - Só falarei com ela quando você me afirmar que está bem... - Não! – Erin o largou e começou a limpar as lágrimas – Vá falar com ela, ela precisa mais que eu. Brandon fitou Erin com pena, ele sabia o que tinha acontecido e também sabia que Erin estava se sentindo culpada. - Meus pais estão quase chegando, vou falar com ela quando eles chegarem. Enquanto isso, eu ficarei aqui... Erin se emocionou com o que Brandon falou. Ela não via garoto mais perfeito e altruísta que ele, e o melhor era que ele se importava com ela. Sem nem pensar, lhe deu outro abraço, mas dessa vez chorou com a cabeça encostada em seu peito, sentindo-se protegida pelo rapaz que gostava. A porta da sala abriu-se. Lá de dentro, Megan saiu tagarelando um monte de coisas enquanto o detetive demonstrava claramente que já estava cheio dela.

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- Obrigado Senhorita Bower... - Eu quase morri! Eu quase morri! Erin olhou para ela, que já estava chamando atenção, como sempre. Brandon também não deixou de notar os gritos, parecia que outra pessoa estava prestes a ser assassinada com tanto escândalo. - Tem centenas de repórteres ai na frente... – Comentou Brandon. - Megan vai gostar... – Murmurou Erin – Agora ela é uma das vítimas... - Eu só quero segurança! Passar bem, Detetive Random – Megan saiu da delegacia com pressa, subindo e descendo pela falta de um dos seus saltos.

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Lá na frente, os repórteres a atacaram, mas pela primeira vez, Megan não queria saber daquilo. Ela estava gritando com quem se aproximava, queria apenas sair dali, ir pra casa e tomar um banho com pétalas de rosas. Entrou em seu carro e deu a partida, ignorando as fotos e as perguntas gritantes que os jornalistas faziam. Seu carro mal saiu e o carro dos Senhores Rush chegou. Lá de dentro, a Sra. Rush correu desesperada para dentro da delegacia e, até ela, foi atacada pelos jornalistas. Eles queriam saber o que ela achava de sua filha ter sido quase estripada pelo serial killer de New Britain, como se isso fosse ajudá-la em alguma coisa. Ela correu pela delegacia, procurando pela filha, até que a viu saindo de uma sala com o detetive Lionel. Amanda olhou para ela, sem sentimentos no rosto, nem conseguia estar feliz pela mãe estar ali. A Sra. Rush correu até a filha e a abraçou, chorando, estava sentindo pena do que a pessoa que

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mais ama na vida teve que passar esta noite. Amanda nem se moveu, nem correspondeu ao abraço da mãe, mas ela sabia que queria aquilo, sabia que tinha um nome para o jeito em que estava, era estado de choque, ainda não havia caído a ficha de tudo o que acontecera.

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Em todos os canais, a mesma noticia. Canais internacionais falavam sobre as tragédias em New Britain e em como isso estava afetando o mundo. Pessoas eram entrevistadas, estavam sendo perguntadas como reagiriam se um louco tentando imitar o assassino da franquia Pânico quisesse lhes matar. Todos estavam em frente à suas televisões, vendo o que aconteceu. Ginger, sentada em sua poltrona vermelha, encarava a TV com seus olhos vermelhos de tanto chorar, estavam falando de Amanda. No mesmo canal, Aaron assistia de seu novo quarto de hotel, estava

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pasmado com tudo. Também em suas casa, Samantha e Sarah ficaram horrorizadas, estavam chorando, não sabiam como reagir àquilo. Da tela de um barzinho, Daniel acompanhava as noticias, mas estava bêbado demais para pensar em ir ajudar Amanda. E por fim, Josh estava frenético em frente à TV, seus olhos esbugalhados mostravam que ele estava certo, mais pessoas iriam morrer. Kristen ao seu lado estava começando a concordar com tudo, criando suas próprias teorias para todas as mortes. - A comunidade de New Britain está mais uma vez em choque. Hoje à noite, as adolescentes Amanda Rush, Erin Delaware e Megan Bower foram atacadas pelo mais novo serial killer, recém apelidado de “Demônio do Grito”. Tudo aconteceu na lanchonete “Vulcanical’s” há uma hora, onde um serviço comum e rotineiro tornou-se o pior pesadelo para três inocentes garotas. Por sorte, não houve vítimas fatais. Amanda Rush foi levada ao hospital com ferimentos leves e logo após

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a delegacia, para prestar seu depoimento. Como se não bastasse, três horas atrás a policia foi acionada urgentemente para o hotel onde o escritor Aaron Estwood estava hospedado. Ele e a jovem Ginger Bolton encontraram o corpo do professor Elias Van Der Lance embaixo da cama de Aaron, com quarenta e quatro facas cravadas por todo o seu corpo. A policia afirma que... E as noticias continuam...

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Ao chegar em casa, a primeira coisa que Amanda fez foi entrar debaixo do chuveiro e tomar uma ducha quente. Ela passou a maior parte do tempo parada, sentindo a água cair por seu corpo enquanto ele relaxava. Saiu do chuveiro e olhou-se no espelho, ela estava com um arranhão no rosto, um no nariz e dois no pescoço, mas eles já tinham parado de arder. Pegou em um deles com a mão direita. Com seu toque, sentiu uma leve ardência, que logo parou quando tirou a mão. Suspirou e saiu do banheiro, tentando não se achar a vítima da vez. Vestiu seu pijama cinza listrado, apertado e curto. Fazia tempo que não colocava. Procurou mexer no computador, queria qualquer coisa que a fizesse esquecer da vontade de chorar, mas não estava funcionando. Ela sentia que era a vítima,

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sentia como se tudo girasse ao seu redor, e não conseguia acreditar que assim como Ginger, ela era uma sobrevivente. Levantou-se da cadeira do computador e andou até o quarto de Brandon. Decidiu entrar sem bater. Ela o viu sentado em sua cama, apoiando em sua perna um dos livros da série True Blood. Ele olhou para ela e imediatamente fechou o livro. Com a mão ainda na maçaneta, Amanda o fitava. - Você ta legal? – Perguntou Brandon. Amanda não respondeu com palavras, apenas deixou suas lágrimas falarem por si. Brandon levantou-se da cama e foi até ela, lhe deu um enorme abraço que logo a fez sentir-se protegida, mas nem aquela proteção conseguia fazê-la se sentir melhor... Ou com menos medo de morrer do que estava. [Livro] A Punhalada - Capítulo 6: Não Confie Nele O telefone de Aaron tocava. O toque era

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semelhante ao telefone de seu antigo quarto hotel e ele só conseguia lembrar daquilo. Fitava o aparelho tocando, imaginando se poderia ser alguma emergência, ou simplesmente o doente que sai por aí matando as pessoas querendo mandar um recado. Poderia também ser Ginger querendo falar com ele, marcar um encontro pra uma séria conversa sobre os fatos que estavam ocorrendo. Mas do outro lado da linha, Amanda estava com o celular na orelha esquerda, que era segurado por sua cabeça em seu ombro, já que estava com as mãos ocupadas demais tirando leite da geladeira. Mais uma vez, caiu na secretária eletrônica. Amanda colocou a caixa de leite encima da mesa da cozinha e suspirou quando ouviu a mensagem que Aaron deixara em sua secretária. - Oi, Aaron, é a Amanda. É a quarta vez que ligo pra você hoje, me liga assim que atender? Tchau – Amanda desligou o celular e o colocou ao lado do copo

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encima da mesa. Encheu-o de leite e tomou um gole, fazendo uma careta quando seus dentes

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doeram por estar muito gelado. Seu celular tocou, olhou no visor e leu o nome de Daniel. Pegou o celular e enquanto andava pra sala, atendeu. - Eu estou completamente exausta, se ficar perto de Brandon não me fizesse bem, juro que dormiria por cinco dias seguidos... - Não quer vir aqui em casa? Meus pais

viajaram, a casa ficaria só pra gente.

Amanda andou até a janela da sala e

devagar afastou a cortina para olhar pra

rua.

- Não, valeu, me sinto mais segura aqui em casa mesmo. Fica pra próxima – Amanda notou uma luz ao lado, era o carro de seu pai chegando à garagem. - Que barulho é esse? – Perguntou Daniel,

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ao ouvir o som do motor. - Meu pai acabou de chegar, estou tão feliz por isso... – Ela fez uma careta, além de deixar bem clara a ironia em sua voz. - Brandon está aí? - Foi ao banheiro... – Amanda fechou a cortina – Vamos ver um filme de comédia, só pra... Você sabe, tirar a tensão – Ela andou até o sofá da sala e sentou-se. - Tem certeza que não quer vir? Estou sentindo que você precisa de companhia, mas está se fazendo de forte porque você é Amanda Rush, uma lenda no New Britain High. Amanda hesitou por alguns segundos, prestou mais atenção no que Daniel dissera. Foi muito parecido com o que o assassino disse ontem à noite para ela pelo telefone no Vulcanical’s. Mas logo pensou que era coincidência, não estava mentalmente pronta para desconfiar do próprio namorado. - Não. Estou legal, os repórteres já saíram

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daqui da porta e eu vou aproveitar os cinco minutos de silencio que Brandon deixou pra mim agora. A não ser que... Você tenha algo pra mim quando eu chegar ai... – Amanda mordeu o lábio, tinha gostado da própria provocação. - Você não muda mesmo hein – Daniel riu – Vou acreditar em você. Amanhã passo na sua casa. Eu te amo. - Eu também te amo... – Ela desligou. Do outro lado da linha, Daniel ouviu os bips de fim de ligação e guardou o celular no bolso. Ele estava rodeado de gente no que parecia ser uma festa, mas o som estava desligado e todos estavam calados. De repente, ele levantou os braços e gritou: - Ela não vem! Yeah! O resto da festa deu gritos histéricos de alegria, eles estavam louvando Daniel. Seus

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amigos logo entregaram um copo de cerveja pra ele, enquanto o DJ liberou o som. Era uma festa na casa de um dos seus amigos milionários, a mansão estava completamente lotada. Pessoas bêbadas comemoravam a fortuna que tinham enquanto Daniel apenas ficava ao lado deles, como agregado, já que sua família não é daquelas que possui muitos recursos. Ele correu pra pista junto com os amigos para fazer alguns passos de dance break e impressionar a multidão, mas lembrava de Amanda e do que tinha passado na noite de ontem, mas sua consciência estava limpa já que foi ela quem recusou o convite. Voltando a casa dos Rush, Amanda discou o numero de Erin e ela entendeu. - Erin, ele ainda está na festa? – Perguntou. Erin olhou pro lado e viu Daniel ainda dançando com os amigos. - Está sim, dançando. Não se preocupe,

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se ele pegar alguma vadia ligo pra você imediatamente. - Obrigada, querida – Amanda desligou. Jogou o celular pro lado e começou a pensar em várias formas de se vingar de Daniel. Quando ouviu um barulho atrás de si, virou a cabeça e viu Brandon chegando. - Demorou... – Reclamou ela. - Desculpa. – Ele sentou-se ao lado dela no sofá – Já fez a pipoca? Amanda tentou disfarçar, mas não tinha jeito, ela havia esquecido completamente de ligar o microondas. Deitou sua cabeça no sofá e gemeu, estava com tanta preguiça de fazer que Brandon preferiu ele mesmo ir até a cozinha e preparar.

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Samantha acabou derrubando o espelho. Ela estava bêbada e, possivelmente drogada, enquanto fazia sexo no banheiro

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da casa da líder de torcida Adrianna McCoy, com um desconhecido. Do lado de fora, a festa rolava solta. Samantha mal conseguia ouvir seus próprios gemidos enquanto o cara se aproveitava da situação. Era uma coisa rápida, os dois mal tinham colocado tudo pra fora e já estavam transando. Samantha ainda estava com a parte de cima da roupa intacta, assim como ele ainda estava com sua camisa. Ele estava lúcido, sabia que aquele banheiro estava prestes a explodir com os movimentos selvagens de Samantha, mas a bebida a fez achar que só tinham eles dois ali. Quando terminaram, apenas levantaram a calça e abriram a porta. Ele saiu primeiro, sem nem olhar para Samantha e se despedir, aquilo era completamente casual. Samantha escorou-se na porta do banheiro aberta e fitou o corrimão do segundo andar, não conseguia ver o que estava rolando no Hall, a não ser, belos balões coloridos. Enxugou o suor do seu pescoço e depois

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passou a mão no rosto, já estava querendo dormir, mas a festa tinha acabado de começar. Ela andou até o corrimão e com seus

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olhos pesados de cansaço fitou o Hall abaixo de si, não conseguia reconhecer ninguém. Apoiou-se no corrimão com as duas mãos e seu corpo na perna direita. - Oi, e aí, beleza? – Disse o carinha baixo do segundo ano para ela. Ele estava com uma garrafa de cerveja em mãos e bebia um gole de dez em dez segundos. - Se manda – Disse Samantha, curta e grossa. - Mas eu... - Cai fora! – Ela gritou, estava cansada demais e já tinha batido a cota de sexo com desconhecidos pela noite. Tomando outro gole de sua cerveja, o garoto se mandou. Sussurrou que Samantha era uma vadia, mas ela fez questão de não ouvir. Saiu do corredor onde estava e andou pra esquerda até encontrar a primeira porta branca. Dois homens haviam saído de lá, eles estavam de mãos dadas. - Gays do caralho... – Ela reclamou, mas

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tinha certeza que isso não era preconceito, era apenas a reação da bebida que a fazia odiar tudo e todos. Entrou no quarto e olhou pela janela, lá fora não tinha ninguém, estava apenas o vizinho de Adrianna em sua varanda, fumando seu charuto noturno com seu pijama listrado dos anos cinqüenta. Fechou a cortina e deu dois passos pra se jogar na cama e só acordar depois de três dias. E foi isso mesmo que fez. Com aquela cama macia e confortável, seria difícil de acordar. No andar de baixo, Sarah estava entrando na casa, com aquele olhar de “eu não pertenço a este lugar”. Quando percebeu o jeito como a festa estava, tratou de colocar logo seu casaco que já estava quase sendo tirado. Luzes batiam em seu rosto e ela fazia uma careta, e um balão gigante da cor vermelha chegou a acertar sua cabeça. Ela andava entre as pessoas que estavam dançando loucamente, tentando abrir caminho pra encontrar alguém conhecido e perguntar sobre a sua

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irmã. Chegando ao meio do Hall, viu cabelos pretos tão grandes e tão lindos quanto o de Amanda e andou até lá, pensou que fosse ela. Tocou em seu ombro, pedindo licença. A garota virou-se, ainda rindo do que o grupo de amigas na frente dela disse. Assim que Sarah notou o erro que cometeu, fez uma cara de desgosto. - Desculpa... – Pediu. - Hey, você é Sarah Richards, não é? - Sim... - Ai meu Deus! Eu sabia! Uma das gêmeas Richards! – Gritou a garota, alegre – Eu acesso o seu blog tipo assim, todos os dias! - Sério? – Sarah sorriu – Você gosta?

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- Ai meu Deus! Você ta brincando? Adoro suas críticas! Pena que sua irmã não participa, seria genial um blog de gêmeas! - Seria é? - Ah! – A garota gritou, correu e deu um abraço em Sarah – Não acredito que é você! - É sempre bom conhecer uma fã... Mesmo que estava bêbada. Falar nisso, você viu minha irmã? - Ah, vi sim, eu confundi ela com você e quase apanhei – Disse a garota, rindo – Ela estava transando com um garoto naquele banheiro ainda a pouco – Ela apontou pra porta do banheiro aberta do andar de cima, Sarah olhou. - Certo. Obrigada. - Tchauzinho! Sarah mais uma vez começou a desviar das pessoas para passar, até chegar à escada. Subiu olhando para o banheiro. Logo

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percebeu que Samantha não estava lá. Andou pelo corredor, queria procurá-la, mas todas as portas do lado esquerdo estavam abertas, Samantha não estava lá. Quando abriu a primeira porta da direita, viu a irmã jogada na cama, encima de uma coxa de casal vinho. A cama parecia estar estranhamente arrumada. - Droga – Sarah suspirou, já estava cansada de buscar a irmã completamente desacordada nas festas. Aproximou-se da cama e tocou no pé da irmã – Acorda Samantha. Samantha estava ali quase roncando. Sentiu o toque da irmã e ouviu sua voz, mas não quis levantar. Isso custou outro suspiro de Sarah. - Manthy, acorda! – Ela balançou a irmã, mas também não obteve resultados – Manthy! Acorda! - Vai se foder gêmea genérica – Sussurrou Samantha. Sarah virou o corpo de Samantha pra sua frente, mas Samantha virou-se de volta,

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não queria sair dali de jeito nenhum. - Me deixa em paz! - Papai e mamãe pediram pra eu vir te buscar! Anda! Eles estão esperando! - Fodam-se eles também! – Samantha pegou a coxa e cobriu sua cabeça, fazendo Sarah perder ainda mais a paciência. - Ou você vem comigo, ou você vai ficar aí até aprender o caminho de casa, sozinha! - Adeus!

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Sarah não acreditou que a irmã tinha escolhido a opção mais difícil. Com passos furiosos, caminhou para fora do quarto e bateu a porta com todas as forças que pôde. Na cama, Samantha já estava se sentindo culpada, mas o cansaço era maior, tinha certeza que estaria de bem com sua irmã assim que olhe pedisse desculpas ou lhe fizesse algum favor, era sempre assim.

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- Foi um bom filme – Disse Brandon, enquanto tomava os últimos goles de sua coca. - Você chama isso de bom? – Amanda olhou pra ele, com repulsa – Sandra Bullock é uma das piores imitadoras de mulher durona que existe, por isso ficou tão maravilhosa como Miss Simpatia. O filme não tem pé, nem cabeça, quem iria querer estragar o concurso só por que envelheceu?

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- Mas ela é gata – Contra-atacou Brandon, com um sorriso, sabia que o que disse deixaria a irmã mais perplexa. - Ta vendo? É apenas isso que os homens vêem nela, ela é gata, mas história pro filme? Não senhor, isso não tem! - Mandy... - Nem venha! – Amanda levantou-se do sofá com os copos de cima da mesinha e foi direto pra cozinha. Brandon, ainda no sofá, soltou uma risada, só ele sabia o quanto Amanda não gostava de ser contrariada. Na cozinha, seu celular tocou, era Erin. Mal colocou os copos encima da mesa e já atendeu. - O que aconteceu? – Perguntou ela, crente de que iria receber a noticia que estava sendo traída. - Ele desapareceu. Perdi ele de vista. - Como assim perdeu ele de vista?

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- Eu não sei! Num segundo ele estava ali, dançando. Eu me virei por um minuto pra pegar Ponche e quando olhei, ele havia sumido! - Erin! – Repreendeu Amanda – Você deveria ter ficado de olho nele! - Eu sei, desculpa... - Ok, ok. Ele deve ter ido pra casa, só não sei se com alguma vagabunda. Vou ter que ir até lá, te ligo depois – Amanda desligou. Deixou o celular encima da mesa da cozinha e correu pra porta.

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- Onde você vai com tanta pressa? – Perguntou Brandon - Papai disse que não era seguro sair... - Talvez – Amanda colocou o primeiro braço em sua jaqueta preta – Mas preciso resolver um assunto, não vou demorar, prometo... – Colocou o outro braço e depois se aproximou de Brandon. Deu-lhe um beijo na testa e se despediu. Antes que Brandon pudesse dizer qualquer coisa, ela havia saído.

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A mente de Samantha não parava de trabalhar. Ela não estava conseguindo descansar só de pensar em ter destratado a irmã. Sarah era a melhor irmã que ela podia ter, e ao contrário de seus pais, sabia como conviver com ela, já que conviveu a vida inteira. Com certeza não merecia aquilo. Mas Samantha ainda se achava melhor. Era do grupinho favorito de Amanda e de

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acordo com sua líder, não deveria receber ordens, e sim dá-las, coisa que toda irmã mais velha tem que fazer. Levantou-se da cama, amaldiçoando a si mesma pela culpa que estava sentindo. Sentou- se na cama, apoiando-se na mesma com os dois braços. O sono não passava. Muito menos o cansaço. Sua barriga estava embrulhando. Quando seu celular tocou, ela tossiu. A musica das Spice Girls parecia insuportável vindo daquele celular, devia ser sua dor de cabeça. Tirou do bolso e sentiu-o vibrando em sua mão. Não olhou para o visor, apenas atendeu. - Alô? - Olá Samantha. Qual o seu filme de terror favorito? – Disse a voz rouca no telefone, num tom misterioso. Samantha deu uma gargalhada. - Ai meu Deus... Isso é muito original, Sarah. Sério, eu já estava indo agora mesmo pra casa pedir desculpas, não

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precisa mais se vingar. - Você quer ser a minha namorada sangrenta, Samantha? - Sarah, isso já é de outro filme, você não pode mandar um trote e confundir as franquias. Isso foi burrice, onde você está? - Abra a porta e você vai descobrir... Samantha olhou pra porta branca do banheiro ao seu lado, estava entreaberta. Estranhou, já que ouviu Sarah sair e não se lembrava de tê-la ouvido entrar. Então pensou que era outra pessoa fazendo uma brincadeira. Afinal, quem iria matá-la ali mesmo? A casa estava cheia de gente e todos ouviriam seus gritos. Levantou-se da cama, com um ar de risos e devagar tocou na maçaneta da porta, só para

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fazer um suspense para si mesma e entrar na brincadeira. Puxou a porta com tudo, e viu que dentro do banheiro não tinha ninguém. Deu meia volta e fitou a cama, achando graça. - Sarah, você não sabe nem brincar. - Porta errada! – O assassino saiu de dentro do armário ao lado da cama e com sua faca foi na direção de Samantha. O grito de Samantha foi estrondoso, mas ninguém naquela casa podia ouvir, a musica estava alta demais. Ela correu pra dentro do banheiro e tentou fechar a porta, mas o assassino conseguiu empurrá-la. Samantha caiu no chão do banheiro, sentada, mas logo foi puxada pela perna direita e arrastada de volta até o quarto. Gritos e mais gritos saíram, e suas unhas estavam prestes a quebrar de tanto que ela arranhava o chão para não ser puxada. Samantha acabou dando um chute em ghostface com a outra perna e conseguiu se livrar. Rapidamente se levantou e foi até

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a penteadeira a sua frente, jogou tudo o que via encima dele, que apenas se protegia com as mãos. Correu pra varanda do lado, mas quase que ao mesmo tempo em que o assassino. Quando fitou o chão, ficou com medo de pular, e foi a única coisa em que conseguiu pensar. Quando deu por si, já estava nas mãos do assassino que a jogou com força varanda abaixo. Mal tinha desmaiado e Samantha abriu os olhos. Não sabe quanto tempo ficara ali, mas pareceu ser bem pouco, coisa de segundos. Suas costas e sua perna doíam. Sua cabeça e seu estômago latejavam e só conseguia lembrar de ter sido atacada e jogada ali embaixo. Virou-se de bruços e olhou pra frente, viu o lado da casa vizinha. Olhou pro lado direito e viu a cerca que separava os dois, ela não podia voltar pra casa de onde veio, tinha que pedir ajuda ali mesmo. Devagar, levantou-se do chão e correu mancando, segurando na perna esquerda. Quando

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chegou à porta e bateu, logo gritou por ajuda, mas parou quando a viu entreaberta. Sua batida acabou fazendo a porta ir se abrindo devagar. Ela olhou pro Hall da casa, estava cheio de coisas quebradas, papeis espalhados, como se algum ladrão tivesse feito uma limpa. Sem pensar, colocou os pés dentro da casa e andou na direção do pequeno rádio velho que estava encima da mesinha ao lado da escada. Quanto mais se aproximava, mais podia distinguir a musica que tocava. Era conhecida, aquela que ouviu num filme que não se lembrava. A letra dizia: “Tem alguém andando atrás de você, vire-se, olhe para mim”. Samantha estava tão perto de tocar no rádio e tão ocupada ouvindo a musiquinha macabra, que notou tarde demais que o assassino estava parado atrás dela. Ela gritou, no momento em que ele esfaqueou suas costas. Com um gemido de dor, ela caiu de joelhos no chão, mas ele a imprensou na parede da escada, segurando-a pelo pescoço. Samantha levou

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outra facada, dessa vez no peito, e seu sangue escorreu pela boca, caindo assim nas mãos do assassino. Ela olhava pra ele, se perguntando por que ela tinha que morrer, mas o assassino apenas a fitava e a via morrer devagar.

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Quando o coração e os pulmões de Samantha pararam, seus olhos se fecharam, mas o sangue ainda escorria de sua boca. Num puxão violento, o assassino tirou a faca de seu peito e a soltou. Seu corpo caiu no chão, de lado, e ficou lá formando uma poça de sangue em volta dele. Ghostface olhou para a porta aberta, a luz de um carro passava, mas nem ligava que o vissem, já tinha feito o que queria.

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A rádio estava uma droga. Amanda apertava o botão para mudar sem parar, e ainda soltava um palavrão quando ouvia uma musica gospel tocando, aquilo era o cumulo para ela. E parecia que estava mais preocupada em colocar uma musica boa do que prestar atenção na direção. As ruas ainda estavam claras, postes acesos, luzes de casas iluminando o caminho e pessoas transitando sem parar.

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Ela sabia que tinha que voltar pra casa antes das nove, por causa do toque de recolher, mas a sede de dar uma bronca em Daniel era maior. Ela só parou de mudar de estação quando ouviu a musica “Highway to Hell” tocar. - Uhu! Agora sim – Comemorou, enquanto curtia a musica com a cabeça e aumentava o volume. Ainda sabia a letra, decidiu acompanhar, achando que de alguma forma sua voz estava parecida com a do cantor. Mas foi só chegar à porta da casa de Daniel que a diversão parou. Desligou o motor do carro e com um rosto furioso saiu. Bateu a porta com força e andou até a casa, sem nem tomar cuidado em subir as escadinhas da varanda na entrada. Seus saltos faziam barulho no chão de madeira da varanda, mas ela nem ligava. Abriu a porta da casa tentando não fazer barulho e a fechou com o mesmo cuidado. Tirou os saltos na entrada e, na ponta dos pés, subiu as escadas. Parou no sétimo degrau e olhou

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pro andar de cima, queria tentar ouvir se Daniel fazia algum barulho, mas o silencio era a única coisa que estava presente ali. Subiu até o segundo andar, ainda tomando cuidado e andou para a esquerda até o corredor do quarto de Daniel, que estava completamente arrumado e vazio. - Droga... – Reclamou, mas não se sentiu culpada por ter ficado paranóica. Escorou-se na porta e olhou pra coxa azul escura da cama de Daniel. Lembrou dos bons momentos dos dois ali e deu um sorriso, seguido de uma mordida de lábio óbvia. Ela olhou pela janela o quintal de Daniel, e foi aí que teve uma idéia. Não era propriamente uma idéia, mas ela sentia desejo de tomar banho na piscina dos Clark. Rapidamente desceu as escadas e saiu pra piscina pela porta dos fundos, mal conseguia ver um palmo a sua frente de tão escuro que estava. Andou pela parede do lado, colocando a mão na frente pra encontrar o interruptor, e sem pressa o apertou quando sentiu em sua mão. Mas foi só olhar pra piscina que teve uma

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surpresa. Samantha estava boiando nela, completamente morta, e a água já estava vermelha de tanto sangue que saiu de seu corpo. Amanda colocou a mão na boca, o choque do que

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havia visto ainda não a tinha deixado sair correndo dali. No topo da piscina, uma mensagem escrita com sangue: “A bêbada”. Andando pra trás, Amanda não conseguiu tirar as mãos da boca e muito menos virar o seu olhar. Uma de suas melhores amigas estava morta, só estava tentando processar a idéia de que ela morreu... E de que as mortes não pararam. Saiu correndo assim que pensou em chamar a policia. Pro seu azar, o assassino só a estava esperando atrás da porta. Ela correu gritante para a porta, mas a força que fazia na maçaneta acabou quebrando, o assassino já tinha planejado. Só restava Amanda subir as escadas rápido, já que o assassino já estava a sua espreita. Já no andar de cima, Amanda correu pro primeiro quarto que viu e trancou-se. Olhou para a porta, não se passaram dois segundos e ouviu o assassino batendo nela. Deu um grito de desespero com o

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susto e afastou-se. - Vai embora! – Gritou, já estava chorando. Mas o assassino não foi, continuou batendo na porta e cravando sua faca nela, mas aquela porta era de um material diferente, e possivelmente, mais resistente. Amanda encolheu-se devagar no canto do quarto e tapou os ouvidos, não queria ouvir o assassino batendo na porta, aquilo era perturbador demais. - Para! – Ela deu mais um grito, que saiu com sua voz de choro. Mas o assassino continuou, e assim ela percebeu que só iria parar quando completasse o serviço que não havia conseguido. Ele só iria parar quando Amanda estivesse morta. Ela levantou-se do chão e olhou pela janela de vidro, havia uma pequena escada ao lado, que ela poderia usar para sair. Com força, levantou a janela e colocou sua perna direita para fora primeiro, e logo depois saiu completamente. O

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telhado estava escorregadio, mas ela agüentava. Andou até a escada e começou a descer, com medo dela quebrar por causa dos estalos que dava. Chegando ao fim, ela acabou caindo, mas não se machucou. Levantou-se e correu para a primeira direção em que viu e quando deu de encontro com Daniel, soltou um grito. Ele pediu calma, mas ela estava desesperada demais pra isso. Só notou que era ele quando se acalmou e olhou bem, suas lágrimas não embaçavam mais sua vista. - Samantha morreu! Ele a matou! – Amanda gritava – Ele matou! Ela está na piscina! - Calma, relaxa! Eu já chamei a policia... - Você não entende! Você não entende! – Amanda parou de gritar e olhou bem para Daniel. Ele estava sujo de sangue nas mãos e nos sapatos, sem falar na mancha enorme em sua camisa – Por que... Por que tem sangue em você? - O que? – Daniel olhou para si mesmo, e

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depois de volta para Amanda – O que? Não é meu! Eu encontrei Samantha e o recado na piscina!

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Amanda começou a dar passos lentos para trás, enquanto digeria que Daniel era o assassino, mesmo ele falando que não era. -Amanda! Ta pensando que sou eu? - Fique longe de mim! – Ela gritou. - Amanda! Amanda preparou suas pernas para correr, mas ao invés disso, deu outro grito quando viu ghostface apunhalando Daniel pelas costas. - Não! – Ela gritou, a culpa a consumia. O sangue de Daniel escorria pela boca, a faca podia até quase ser vista em seu peito. Ele se contorcia de dor, enquanto suas mãos sangrentas apontavam para Amanda, que só fazia chorar vendo aquela cena. Ghostface retirou a faca das costas de Daniel e o jogou no chão. Ele fitou Amanda, que agora sim já podia correr. Ela deu a volta na casa e saiu na ponta da

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piscina, tentando ignorar Samantha morta logo ali. Subiu na grade que separa a casa de Daniel com a casa vizinha e pulou. Saiu correndo para a rua, gritando por socorro, e meteu-se na frente do primeiro carro que passou. O motorista parou e ela deu a volta para entrar no banco do passageiro. Entrou e fechou a porta com força, pedindo pra ele levá-la até a policia. - Garota, o que aconteceu? – O motorista perguntou, ele estava assustando. - Alguém está tentando me matar – Disse ela, olhando para todos os lados pra checar se o assassino estava perto – Ele matou meu namorado e agora quer me matar! Me leva pra policia! – Gritou. - Ta, tudo bem – Quando ia pisar no acelerador, o assassino quebrou a janela do carro e o agarrou pelo pescoço. Amanda deu um grito e observou a cena, mas o motorista foi mais esperto. Pisou no

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acelerador assim mesmo e o carro arrancou com tudo. Ghostface foi obrigado a soltá-lo, mas caiu no asfalto com o impacto. O motorista olhou pra trás e o viu no chão, comemorou que ele não conseguiu pegá-lo. Amanda fazia o mesmo no banco ao lado, e viu perfeitamente quando o assassino levantou-se do chão e desapareceu no meio das árvores. [Livro] A Punhalada - Capítulo 7: Autógrafos

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- Quer dizer então que enquanto Amanda estava privada de sair de casa, Daniel estava se divertindo com os amigos ricos? – Perguntou Sarah, estava comendo quase todo pacote de batata frita de uma só vez de tanta ansiedade. - É. Mais ou menos isso – Respondeu Erin, olhando para sua mão. Ela estava sentada na mesa da cozinha, com as mãos esticadas enquanto Sarah estava em pé do outro lado da mesa, olhando para ela. - Você acha que ele a trai? - Daniel? Até poucos dias não achava, mas depois do que o vi fazendo naquela festa, estou desconfiando de muita coisa. - Como, por exemplo? - Sei lá... – Erin deu de ombros – Já notei ele chegando com a roupa amassada ou com outro tipo de perfume vez ou outra... Mas sei que isso não quer dizer nada... Estranho foi no dia que eu peguei o laptop dele sem

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querer, pensando que era o meu... Ele parecia muito nervoso quando percebeu a troca, acho que tem alguma coisa naquele laptop. - Tipo... Pedofilia? – A idéia na mente de Sarah quando diziam que alguém tinha um segredo, sempre era pedofilia, mesmo se a pessoa tivesse idade suficiente pra sofrer um assédio. - O que? Não. Ele é o abusado, ou se por ventura não considerarem abuso já que ele não faz parte do sexo frágil. - Olha... – Sarah sentou-se na cadeira, e com a boca ainda cheia de batatas, continuou – Uma vez vi uma reportagem sobre um garoto que era aparentemente normal, estava no ultimo ano da faculdade e iria se casar meses depois, mas quando vasculharam seu porão, encontraram bebês semi-desenvolvidos em vidros com água e embaixo da Terra. Corpo de mulheres jovens. Ele as seduzia, engravidava, depois matava e retirava seu filho pra sua coleção. Assustador, não? –

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Sarah sorriu e colocou outra batata na boca. - Isso faz sentido, ele seria perfeito demais pra não ser um psicopata. Todos têm um defeito que os estraga... - Exceto por... – Sarah se interrompeu, e com um sorriso malicioso fitou Erin. - Se você falar Brandon, juro que te mato. Sarah gargalhou, sabia que Erin reagiria assim. Apenas duas coisas faziam Erin reagir daquela maneira, falar sobre Brandon, ou falar sobre sexo. - Qual é? Vai dizer que não está rolando nada entre vocês? - Ainda não, mas... Ai – Erin fez uma careta – Você acha antiético demais namorar o irmão mais novo da nossa melhor amiga?

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- Fala sério, Brandon é um gatinho, fofo, inteligente, tímido, ai meu Deus, por que ainda não peguei ele? - Para, boba! –Erin bateu na mão da amiga, de leve. Sarah sorriu, adorava brincar com Erin, ela era sempre tão conservadora que por qualquer coisinha já ficava vermelha. Mas no meio da brincadeira, o telefone tocou. Sarah lançou um olhar de medo para Erin. Ambas sabiam que o significava quando o telefone tocava, pelo menos na cidade de New Britain. - Vai atender – Incentivou Erin – A casa é sua. Sarah levantou-se da cadeira sem dizer uma só palavra e dirigiu-se até o telefone de parede ao lado da geladeira. - Alô? Erin observava Sarah, atenta para qualquer coisa. Sarah, no começo, não demonstrava nada, mas depois de um tempo de ligação seu rosto mudou.

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- Ai meu Deus! – Ela disse, já lagrimando. Erin se desesperou, deu um pulo da mesa e foi até onde a amiga estava. - O que aconteceu? – Perguntou – É ele, não é? Quando Sarah desligou, a primeira coisa que fez foi abraçar Erin com todas as forças. Ela estava chorando, atordoada. Erin nem sabia o que fazer, mas decidiu começar retribuindo o abraço da amiga. O que quer que tenha acontecido, Erin estava ali por ela. - Sarah... - Samantha está morta... – Sarah disse, numa voz de choro – Ele pegou ela...

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O letreiro era claro. Nele informava a toda a população de New Britain que nesta noite, Aaron Estwood estaria na livraria “Spence’s”, dando autógrafos as pessoas que compraram seu livro.

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Logo de cara, podia se ver a aglomeração de pessoas. Jornalistas de todos os tipos foram obrigados a ficar do lado de fora, filmando e fotografando apenas pela grande vidraça da livraria. As pessoas que se achavam sortudas por serem “as selecionadas” para estar lá, mal viam a hora de ficar cara a cara com Aaron Estwood. Algumas porque gostavam realmente de seu trabalho e outras simplesmente porque ele era lindo demais pra não chegar perto. Aaron estava sentado numa mesa sozinho, com dois policiais atrás, que estavam protegendo-o aquela noite. A fila já estava formada, a maioria garotas, que esperavam ansiosamente pela assinatura de seu escritor favorito. Ao lado dele, tinha uma versão de

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papelão gigantesca e brega da capa de seu livro e bem em frente, uma pilha de exemplares que não tinha fim. - Oi, meu nome é Hope – Disse a garota a sua frente, logo após entregar seu livro a ele. - Oi Hope – Ele disse, simpático. - Pode escrever “com amor, carinho e afeto, Hope” – A garota sorriu, nervosa, estava alisando suas mãos geladas de tanto nervoso. - Tudo bem... – Aaron abriu o livro. - Eu sou sua grande fã, gostava de você desde quando o via jogando futebol no Down Slowly, de verdade – Dizia a garota, enquanto Aaron assinava seu nome na contracapa do livro. - Prontinho Hope, próximo – Ele entregou o livro nas mãos dela, que com outro agradecimento saiu da fila, feliz da vida. Lá na frente, Megan fazia de tudo para

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entrar, mas mal conseguia olhar o que estava acontecendo ali dentro. Precisa ficar na ponta dos pés, pois os repórteres a sua frente não escutavam seus insultos, portanto, não saíam da frente. Ela chegou até o segurança da livraria, que estava em frente à porta. Tentou entrar, mas ele tapou seu caminho com o próprio corpo. - Desculpe senhorita, não posso deixá-la entrar. - Você sabe quem eu sou? Eu sou Megan Bower – Disse ela, tentando fazer rosto de diva - Atriz, cantora, compositora, modelo e baby-sitter nos fins de semana. Pra mais quantas pessoas vou ter que repetir isso? Agora saia da minha frente – Megan tentou entrar de novo, mas foi barrada. - Desculpe senhorita, simplesmente não posso. Megan olhou para ele com desprezo, tentando disfarçar a raiva que estava sentindo. Virou-se de costas e começou a andar, pensando num jeito de entrar.

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Lembrou que todos os lugares possuem porta dos fundos, e com seus saltos altíssimos, que deixavam seu andar engraçado, deu a volta na livraria até entrar num beco. Viu a porta dos fundos que procurava, no alto de uma escada. Não precisou nem pensar duas vezes parar subir correndo e colocar a mão na maçaneta, que apenas girava, mas não abria. Estava realmente trancada. Megan forçou de novo, mas viu que não teve jeito. Abriu sua bolsa amarela e de lá tirou um cartão de crédito. - Abre, vadia – Sussurrava ela, enquanto passava o cartão na fechadura. A insistência foi tanta que a porta acabou abrindo – O que Megan Bower quer, Megan Bower consegue – Ela fez uma pose, respirou fundo e entrou rebolando. Naquela altura, Aaron já havia autografado muitos livros. Quando imaginou este dia, pensou em fazer uma contagem de pra quantas pessoas

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escrevera seu nome, mas já

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havia perdido a conta. A livraria estava completamente cheia, e isso o lembrou de dar uma bronca em seu assessor de imprensa que não estava lá. - Oi, meu nome é Ginny. Ginny Field – A garota loira de olhos azuis entregou sua cópia do livro para Aaron. -- Oi Ginny, o que você quer que eu escreva? - Ah, pode ser “Para minha maior fã, Ginny” – A garota deu outro sorriso, que combinou com seu jeito inocente e com o uniforme de colégio que ela estava. - Muito bem... – Aaron começou a escrever. - Sinto muito pelo seu carro... E pelo pen drive... – Disse a garota, provocando uma tensão em Aaron – Eu sei que não foi você, não tem como. Aaron olhou para ela, sem saber o que dizer. Ele notou que a garota estava sem graça por tocar naquele assunto, mas que ela era uma boa pessoa, não tinha feito

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por mal. - Bom Ginny – Ele lhe entregou o livro – É sempre bom saber que alguém acredita na gente. - Obrigada – Ela se retirou. No andar de cima da livraria, Megan apareceu. Ela estava tentando parecer natural, mas acabou ficando estranha demais. Ela olhou para o andar de baixo e viu Aaron autografando os livros das pessoas. Seu coração disparou, ela era simplesmente a maior fã de Aaron que New Britain já conhecera. Colecionava pôsteres dele e os grudava em seu quarto, usava dois a cada semana, e quando ficavam repetitivos sempre tinham outros para vir no lugar. Megan se debruçou no corrimão, mas logo tratou de ir comprar uma cópia para si. Desceu até o caixa e pediu uma, usando uma nota de cinqüenta. Sua agonia era tanta que deixou a moça ficar com o troco. Conseguiu furar a fila, na frente da magrelinha de óculos, que era tão mosca

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morta que nem reclamou. Agora só faltava a garota da frente sair pra ela poder falar com Aaron. Estava ansiosa demais, carregando o livro em seu peito, batendo nele com suas unhas postiças roxas e cantarolando uma musica de fundo bem baixinho só pra passar o tempo. Quando sua vez chegou, correu até ele e jogou seu livro na mesa com força. - Aaron Estwood, precisamos conversar! - E você é...? – Perguntou ele, não a reconheceu. - Megan Bower, uma das sobreviventes, eu estava na lanchonete quando jogaram a rainha do baile encima do toldo. - Nossa, interessante. Quer que eu autografe o seu livro?

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- Quero conversar, tenho assuntos importantes com você!- Megan chegou mais perto, isso fez Aaron se afastar. - Não está vendo onde eu estou? Isso aqui é um evento, não posso sair desse jeito, e eu mal te conheço – Sussurrou Aaron, queria disfarçar pros outros que estava tudo bem. - É sobre Amanda Rush, vai interessar a você – Megan cruzou os braços e esperou uma resposta positiva de Aaron, com seu rosto confiante, já que sabia que Amanda o interessava. - Droga! – Reclamou ele consigo mesmo, baixinho – Você pode esperar eu terminar aqui? Não vai demorar muito, odeio isso. - Tudo bem, eu espero. Agora assina aí no meu livro “Para minha futura esposa, Megan Bower Perfeccionista”.

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- Eu disse tudo o que eu sei! – Disse Amanda, ainda chorando. O delegado a sua frente parecia não se convencer com isso, ele queria respostas, ele queria um motivo para alguém estar matando os adolescentes de sua cidade e a deixando marcada como a capital dos assassinatos do país. Bem a frente de Amanda, ele caminhava de um lado para o outro, fazendo inúmeras perguntas. Amanda já estava cansada, só queria voltar pra casa, mas o delegado desconfiava dela, afinal, por que ela sempre sobrevivia enquanto os outros eram mortos brutalmente? Sentando ao seu lado, Brandon apertou a mão dela, numa forma de consolo. Ela sentiu isso e apertou de volta, eles estavam juntos nessa. - A senhorita podia me dizer como Daniel Clark foi assassinado? - Eu já disse! Ele estava cheio de sangue

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na minha frente, eu pensei que ele era o culpado, mas daí o assassino veio por trás dele e o esfaqueou nas costas! - Então me diga – O delegado fitou Amanda, bem de perto, apoiando os dois braços na mesa cinza ao meio da sala – Por que ele tem marcas de esfaqueamento no peito? Por que estava escrito num bilhete cheio de sangue em seu bolso “O namorado suspeito”? E ele é seu namorado. - Eu não sei! – Gritou Amanda, e fungou com o choro – Ele deve ter sido esfaqueado depois que eu corri, eu não sei! - Eu quero respostas, senhorita. - Ei, ela já disse tudo o que sabe, não foi ela – Defendeu Brandon, ao lado.

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- Não disse que foi ela, disse que quero respostas. - Nesse caso eu sinto muito, pois ela já disse tudo o que sabia! O policial fitou Brandon, com raiva. Ele ainda queria suas repostas, queria explicações, mas Brandon tinha razão, a garota a sua frente não tinha o que ele precisava. Tudo o que queria saber já havia sido contado e já que ela não era suspeita, precisava ser liberada. - Vocês estão liberados – Disse o delegado, e logo se virou pra parede só pra não demonstrar a raiva que estava por ter sido contrariado. Brandon ajudou Amanda a se levantar e, devagar, saíram da sala, batendo a porta. O delegado lá dentro jogou seu chapéu longe, estava mais que furioso, estava com vontade de agarrar o miserável que estava matando os outros e fazer o mesmo com ele. A porta da delegacia estava cheia. Os

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repórteres lotaram praticamente a rua inteira, querendo apenas uma coisa: Uma entrevista oficial com a sobrevivente Amanda, que havia sido atacada mais uma vez. Com um cobertor cobrindo o rosto da irmã, Brandon a levou até o carro, sendo respaldado por dois policiais, que não deixavam os repórteres se aproximarem muito. Eles entraram no carro e partiram, rumo a sua casa.

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De longe, Megan observava Aaron falando ao celular. A fila havia terminado, não tinha mais ninguém. Era o fim do evento. Lixando as unhas, Megan tentava disfarçar para si mesma o ciúme que sentia por Aaron estar falando com outra pessoa ao celular. Quando terminou de falar, andou até Megan enquanto guardava o celular no bolso. - Era a Ginger.

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- Nem me importo – Disfarçou Megan, ainda lixando as unhas. - Ela vai encontrar a gente aqui, está chegando. Depois vamos pro meu hotel, conversar, os três. - Tudo bem, eu aceito, mas não tente nada – Megan guardou sua lixa na bolsa e com desprezo saiu andando, deixando Aaron de boca aberta, ele não acreditava que alguém com aquele jeito poderia existir e continuar assim após quase ter sido morta. Ele foi atrás dela, que já abria a porta da livraria. Fitou o segurança que a havia barrado antes com desprezo, e ele sorriu, achando-a completamente louca. Quando saíram pra rua, viram Ginger descer de um ônibus do outro lado. Seus cabelos loiros balançavam com o vento, e ela parecia ainda não ter visto Aaron e Megan. - Ginger! – Ele acenou e ela olhou. Esperou o carro vermelho passar e

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atravessou a rua, correndo, segurando seu casaco vermelho listrado para não abrir com o vento. Chegou perto de Aaron e Megan e disse

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“oi”. - Oi – respondeu Aaron – Pensei que demoraria mais. - Não, eu estava perto – Ela olhou para Megan, estranhou ela estar ali – Megan Bower? - Você me conhece? – Ela fez cara de surpresa – Aaron, eu gostei dela. - Nem preciso apresentá-las... Entrem no carro – Aaron abriu a porta de seu carro preto alugado bem à frente e Ginger entrou. Megan fez uma careta por ter ficado no banco de trás, mas decidiu não reclamar por isso. Quando Aaron entrou, deu a partida e depois meia volta, pra poder chegar a seu hotel. Megan, hiperativa, ligou o rádio da frente numa estação onde tocava musicas românticas. Ginger parecia nem ligar pra isso, estava ocupada demais olhando as ruas pela janela, as luzes e as pessoas. Aaron parecia não gostar da musica, agüentou o quanto pôde e depois deixou

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numa estação onde tocava rap. - Deixe lá! Eu estava ouvindo! – Reclamou Megan. - Desculpe, o carro é meu, você vai pro meu quarto de hotel, eu decido tudo. - E você não acha justo me deixar escolher a musica já que vai ser o mandachuva de tudo? – Megan trocou de estação novamente, deixou na mesma em que estava – A falta de cavalheirismo impera em New Britain – Ela se encostou no banco de trás e cruzou o braço. Tirou um chiclete da bolsa e começou a mastigar. - Você viu o noticiário? – Perguntou Ginger. - Não – Aaron e Megan responderam ao mesmo tempo. - Samantha Richards e Daniel Clark estão mortos. Deixaram mais um recado. “A Bêbada” e o “O Namorado Suspeito”. Isso tem que fazer algum sentido. - Esperem aí! – Começou Megan – Como

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assim namorado suspeito? Ele é namorado apenas da Amanda, quer dizer que ele quer matar a Amanda? Ginger pensou por um minuto, Megan tinha razão. Daniel era namorado apenas de Amanda, não teria porque escrever este recado se as coisas não tivessem haver com Amanda. - Faz sentido, Ginger... – Disse Aaron, tentando olhar para ela e para a estrada ao mesmo tempo – Mas, então... Isso significa que ela é a próxima? - Não – Respondeu Ginger, de imediato – Significa que é tudo por casa dela.

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Uma maca passou na frente de Erin. Sempre que ela chegava com alguém e voltava

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vazia, sentia um arrepio pelo corpo. Olhava em seu relógio de vinte em vinte segundos, perguntando-se quando Sarah sairia dali, se estava bem, e se aquela dor no peito e falta de ar que sentiu já melhoraram. Olhou em seu relógio mais uma vez, eram nove e meia da noite, já tinha que estar em casa, não iria querer ser ela quando ligasse seu celular e visse as, no mínimo, quarenta e duas chamadas de seu pai. A porta a esquerda de Erin se abriu e ela olhou. Josh e Kristen estavam saindo, lado a lado. Ele estava de cabeça levantada, com um pano cheio de sangue, que parecia servir pra estancar o que saia do nariz. Quando viu Erin, disse “oi”. Kristen aproveitou a situação para fazer perguntas. - Eu vi o noticiário, Amanda foi perseguida de novo, já falou com ela? - Ainda não, mas vou ligar pra ela depois... - Sinto muito pelos seus amigos... Espero

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que fique bem. – Kristen ficou triste, apesar deles não terem sido os mais simpáticos com ela, não achava que deveriam morrer. - Obrigada – Erin abaixou a cabeça, pensando nas palavras de Kristen, e logo depois levantou. Olhou para ela, que parecia estar realmente sentindo muito – Só vou ficar bem quando tudo isso acabar... - Vai demorar... Vamos Josh – No momento em que Kristen deu meia volta, Erin pegou em seu braço. - O que você quis dizer com “vai demorar”? - Nada... Só falei a verdade. - Kristen, vamos logo, meu nariz está doendo – Disse Josh, sua voz afinou por estar prendendo o nariz. - Que verdade? - Sobre os assassinatos... Você não sabe? - E o que você acha que sabe? – Erin preferiu ser grossa de uma vez do que ficar dando voltas com meias palavras.

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- Bom, - Kristen sorriu, estava preparada para dizer as teorias que criou – Primeiro, os dois jogadores de futebol são assassinados e como recado deixaram escrito “As Mortes Iniciais”. Depois a garota que todos deram atenção foi massacrada e rotulada como “A Virgem”. Depois vieram o “Eu odeio elenco jovem” e agora sabe-se lá Deus o que colocaram nos corpos. Se você não consegue perceber o que está acontecendo, precisa pensar mais... - O que está acontecendo?

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- Ele está fazendo seu próprio filme, Erin. Quebrando as regras. Virgens não morrem no começo, são sempre as protagonistas. Homens não participam das mortes iniciais, apenas loiras burras e bonitas. Ele quer despistar a gente, fazer a gente acreditar que a vadia morre logo e a virgem sobrevive, para nos chocar depois. Ele quer que a gente pense que seu real alvo e a pessoa que está por trás de seus motivos não se sintam importante. - E o que isso quer dizer? - Que qualquer um pode morrer... – Kristen lançou um olhar tenso para Erin, que ficou assustada com o que ela disse – Vamos Josh – Ela segurou Josh pela cintura e saiu dali, com cuidado. Erin pensou mais na teoria de Kristen, e tudo até que fazia sentido. As mortes, os recados, a ordem, parecia um filme de terror ao contrário, onde o assassino brincava e os enganava, como se fossem meros piões que ele teria que massacrar antes de chegar à rainha.

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Mas então, Erin se perguntou, quem era a rainha? [Livro] A Punhalada - Capítulo 8: Sua Vez de Morrer - Megan, isso não faz o menor sentido – Disse Aaron, indignado. - Por que não? - Porque você simplesmente foi atacada porque estava com a Amanda, entendeu? Ginger, diga pra ela. - Ele tem razão, Megan – Ginger olhou para ela, que estava de braços cruzados, e emburrada, no banco de trás – Vamos trabalhar na teoria de que Amanda é o alvo principal. - Por que tem que ser ela? - Ela foi atacada duas vezes e não morreu, enquanto os outros foram esfaqueados até a morte na primeira tentativa. Não tem como você ser o alvo principal, como você quer. Na verdade, você é bem

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suspeita. A adolescente louca pela fama que saiu por aí matando todos só pra ficar como sobrevivente no final. - Haha! – Megan gargalhou – Primeiro que essa idéia já foi usada, eu não sou plagiadora. Segundo que eu sou uma vítima, tenho cara de vítima, corpo de vítima, jeito de vítima e fui atacada, como vítima! - Seria um bom jeito de despistar – Disse Aaron, olhando Megan pelo retrovisor – Mandando seu parceiro te atacar só pra ninguém desconfiar de você.

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- Antes de eu ser a assassina, meu filho, tem você, que ficaria muito mais famoso matando essas pessoas e saindo como vítima. Pronto, falei. - Gente! Vamos parar? – Pediu Ginger – Sei que isso é só implicância, mas temos que confiar uns nos outros, certo? – Ela olhou pros dois, mas nenhum respondeu – Eu disse que precisamos confiar uns nos outros, certo? - Certo... – Responderam Megan e Aaron ao mesmo tempo, de má vontade. - Chegamos – Aaron disse. Ginger e Megan olharam pela janela do carro e encararam o grande hotel de Aaron, era um dos melhores. Megan ficou maravilhada com a visão, enquanto Ginger encarava apenas como uma pessoa normal. Entraram no estacionamento, tinha uma fila de carros pra entrar também. Seguiram

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para o P2, era lá que ficava a vaga reservada de Aaron. O ambiente foi ficando cada vez mais escuro. Megan sentiu um calafrio por causa daquilo. Quando Aaron estacionou e estava quase desligando o motor, seu celular tocou. Ele parou pra pegar o celular, poderia ser importante. - Aaron, destrava a porta – Pediu Megan. - Alô? – Ele disse ao atender. - Olá, Aaron, o que você acha de fazermos um joguinho? – A voz era do assassino, mas Aaron preferiu acreditar que era uma brincadeira sem graça. - Quem é? É alguma brincadeira?

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Ginger e Megan se fitaram, tensas, estavam imaginando a mesma coisa. - Aaron, destrava a porta – Pediu Ginger. - Vejo que você trouxe suas amiguinhas com você... – Aaron olhou pros lados, mas não tirou o telefone do ouvido, o assassino ainda estava falando – Qual delas você quer que morra primeiro? - Vai se ferrar, miserável! – Aaron gritou. - Aaron, abre a porcaria da porta! – Disse Ginger, que já estava ficando nervosa. - Abre a porta, Aaron – Gritou Megan, lá atrás, estava forçando a porta. - Antes de você morrer, pode dar um recado meu a Amanda? – Perguntou a voz

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rouca, num tom debochado – Diga que da próxima vez eu vou fazer com ela o mesmo que fiz com sua namoradinha, vou cortá-la até o osso! De repente, um corpo foi lançado no vidro do carro. Era o segurança do estacionamento,

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estava cheio de marcas de facadas na barriga. Os gritos das meninas quase não deixaram Aaron pensar. Ele destravou as portas enquanto elas gritavam desesperadamente. Os três saíram, Aaron correu numa direção enquanto Ginger e Megan correram na outra, juntas. As duas abriram a porta para a escada e subiram correndo, sentiam que o assassino estava atrás delas. Só o que queriam era ver alguém e pedir ajuda, mas o primeiro andar daquele hotel parecia vazio. Megan esmurrou a primeira porta que viu e gritou por socorro, estava desesperada. Ginger forçou a maçaneta da porta da frente, queria simplesmente ver se abria pra ter um lugar para se esconder, mas não conseguiu. A porta que dava para as escadas se abriu, e de lá, ghostface saiu, pronto para matar. Ele escolheu Megan como seu primeiro alvo, pois estava mais perto. Tentou acertá-la, mas ela foi rápida e desviou. Ao lado de Ginger, correram

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pelo corredor, esperando que seus gritos histéricos chamassem atenção. Elas dobraram no corredor, o assassino estava bem atrás delas. Acabaram tropeçando no carrinho de camareira. Ginger caiu, e Megan estendeu a mão para ajudá-la. Com a bagunça, o assassino acabou se atrapalhando e também caiu, dando tempo de Ginger levantar e as duas fugirem. Entraram no elevador, já que não tinha mais escadas. Ginger apertou o primeiro botão que viu e torceu pro assassino não chegar a tempo da porta fechar, mas elas não viram nem sinal dele. Megan escorou-se no canto do elevador, já estava suada, estava achando que realmente não servia para aquilo. Foi aí que o elevador parou. A luz começou a piscar e ele tremeu. Ginger segurou-se nas paredes, pensava que ele iria cair. Sentiu um incômodo nas costas e virou-se. Era uma folha de papel presa na parede que dizia “Com defeito”. Ela arrancou e mostrou a Megan.

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- O que? Ai meu Deus! – gritou Megan – A gente precisa sair daqui! - Como? Megan olhou pra cima e viu a pequena porta do elevador, era a saída de emergência. - Você consegue? – Perguntou Ginger. - Me segure – Megan levantou-se do chão e pisou encima das duas mãos que Ginger havia colocado como apoio. Megan bateu na porta, mas nada acontecia, parecia emperrada. Ginger já estava começando a sentir o peso dela nas mãos, já viu a hora de desabar. Até que Megan viu que estava travada por um gancho, que mudou de posição. A porta abriu e Megan pode sair, com dificuldade. Ela gemia, e seus gemidos faziam ecos estranhos naquela parte. Quando conseguiu, jogou-se no chão e respirou fundo, tinha feito muita força para subir ali, assim como Ginger. Megan olhou para Ginger dentro do

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elevador pelo orifício que se formou com a saída de emergência aberta. Ginger estava massageando as mãos, quando ouvi Megan gritando.

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- Me dá sua mão! – Megan estendeu a mão para Ginger, que não pensou duas vezes e agarrou. Megan tentou suportar o peso de Ginger, mas parecia que não conseguia. Ginger, por outro lado, não tinha aonde pisar para se sustentar até uma altura que fosse possível ir para cima do elevador. - Eu não consigo! – Gritou Ginger, chorando, queria sair dali mais que tudo. - Vem! Você consegue. De novo! – Gritou Megan, que estendeu mais uma vez a mão. Naquele momento ouviu-se um barulho estranho. As cordas do elevador, perto da Megan, estalaram. Ela olhou pra cima, morrendo de medo. - Ai meu Deus, o que é isso? - Megan, ta tudo bem? O elevador começou a se mexer novamente, estava subindo. Ginger caiu e Megan começou a gritar, pensou que iria morrer ali mesmo. Quando o elevador

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parou de novo, ela olhou para Ginger, que já estava recuperada do susto. - Você está bem? – Perguntou Megan. - Sim... - Ta, agora me dê a sua mão – Megan estendeu novamente a mão. A porta do elevador se abriu, e como um fantasma ghostface entrou, já esfaqueando Ginger. - Ai meu Deus! Meu Deus! – Megan gritava. Ele imprensou Ginger contra a parede e a esfaqueou, em seguida, na barriga, queria chegar até seus órgãos. Megan não podia ajudá-la, só o que podia fazer era gritar. O assassino jogou Ginger no chão e, com as mãos, pegou um de seus intestinos, arrancou com toda a força que tinha. Logo depois, tentou tirar seus ossos, mas eram duros demais, ele apenas quebrou seu tórax e tirou um pedaço do osso. Ele queria chegar até o coração, e mostrar

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para Megan lá encima, para ela se horrorizar e saber como iria morrer. Ghostface terminou com Ginger e tentou subir onde Megan estava, que aos gritos, tentou fechar a porta da saída de emergência. Ele colocava as mãos pra fora, impedindo que ela fechasse, mas, foi só bater seus dedos com a porta, que ele desistiu. Megan a trancou por fora e se escorou no canto, estava chocada demais para pensar em sair dali, mas ela sabia que era o certo. Sua sobrevivência dependia apenas de si, e tudo o que ela queria era não acabar como Ginger. O elevador se mexeu de novo e ela caiu pro lado, dessa vez estava subindo de verdade,

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parece que ele finalmente obedeceu ao numero que Ginger pressionou. Quando ele parou de novo, ela abriu a pequena porta devagar, só pra constar que ghostface não estava lá e que podia sair tranqüila. Ele não estava. Lá só tinha o corpo mutilado de Ginger. Megan meteu a cabeça dentro do elevador e olhou direito, ele podia estar ali perto, apenas esperando a primeira burrice de Megan. Mesmo assim, ela desceu. Caiu quase sentada no chão do elevador, acabou se sujando com o sangue de Ginger. Levantou-se e saiu, olhou para os dois lados do corredor, não tinha ninguém, até então. Ghostface saiu de dentro de uma porta e correu atrás dela. Ela estava certa, era uma armadilha pra ela descer. Rápida com as pernas, Megan correu até onde ficava o tubo de lixo. Nem pensou duas vezes, jogou-se lá dentro e escorregou até a lixeira do hotel, dando gritos de pavor.

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[Livro] A Punhalada - Capítulo 9: Me Ajude a Esquecer Policiais e jornalistas eram o que não faltavam na frente do hotel Empire. Aaron era uma celebridade, se estava em perigo, logo multidões de pessoas vinham para ajudar. Não foi diferente. Ele conseguira escapar do estacionamento e foi direto pedir ajudar, não faz idéia do que acontecera com Ginger e Megan. Na frente do carro, um policial anotava seu testemunho, era o mais curto possível, já que ele escapara rápido. Olhou para trás e viu os paramédicos trazendo uma maca com o corpo de alguém dentro de um saco preto. Seria Ginger ou Megan? Ele estava em duvida. Correu até lá para checar. Sem nem pedir autorização, foi abrindo o saco preto. Só num puxão, o zíper abriu quase todo e ele viu o corpo de Ginger, ou, o que restou dele. Sua primeira reação foi pelo estômago, que

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embrulho. Virou pro lado e vomitou, estava com nojo demais do corpo mutilado de Ginger, foi a segunda vez que viu alguém morto, e não conseguiu melhorar com o tempo, foi bem pior agora. - O senhor está bem? – Perguntou uma paramédica. - Sim... – Aaron tossiu – Sim, estou bem. Me diga, não acharam mais nenhum corpo? - A não ser o da garota e o do segurança, não senhor. - Então, onde está Megan? - Estou aqui! – Megan gritou, lá atrás. Ela correu até Aaron e lançou um olhar para a paramédica se retirar.

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Megan estava completamente imunda. Desde suas roupas até seus sapatos, e tinha cheiro de pizza vencida. Seu rosto estava sujo de algo marrom que parecia chocolate e tinha uma folha de alface em seu cabelo. Fora isso, havia uma marca de sangue em seus lábios, provavelmente tinha machucado. - Ai meu Deus, Megan! O que aconteceu com você? – Perguntou Aaron, sem saber se ria ou não ria. - Tive um contratempo. Caí na lixeira do prédio, mas sobrevivi. Estou aqui – Sua voz era cansada, estava exausta. - Vamos sair daqui, pra outro hotel, você precisa tomar banho. - Você acha? – Megan fez uma pose, tentando ser sexy, mas o cheiro que Aaron estava inalando apenas deixou a cena macabra.

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- Estamos aqui hoje, reunidos... – Começou o Padre, com o mesmo discurso de sempre que fazia quando alguém morria. Amanda estava em frente ao caixão de Samantha, sentindo-se cansada por estar mais uma vez no enterro de alguém. Daniel havia sido enterrado no mesmo dia, mas não teve coragem de velar seu corpo, ainda se sentia culpada demais pra encarar Daniel e sua família. Ela olhava para Samantha numa foto encima do caixão, estava sorridente. Superior, como sempre. Passavam-se muitas coisas em sua cabeça, mas a primeira sempre foi que nunca havia imaginado estar no enterro dela. Samantha parecia tão imortal que Amanda acabou esquecendo que ela também poderia ser uma vítima. Mais culpa sentiu, enquanto as lágrimas caiam de seu rosto. Estava com duas orquídeas nas mãos, que molharam quando os pingos de lágrimas caíram.

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Erin fitava Sarah do outro lado, que estava chorando sem parar, como se estivesse enterrando uma parte dela. E realmente estava. Erin não conseguia nem imaginar a dor que Sarah e seus pais estavam sentindo, sabendo que sua filha se foi, e de um jeito tão cruel como todos os outros. E o pior era que as mortes não iriam parar, não se Kristen estava certa. Ao lado de Erin, Brandon fitava Amanda que estava bem de frente para ele do outro lado do caixão. Ela chorava em silencio, ele podia ver que ela prendia a avalanche de lágrimas que queria soltar, mas algumas escapavam mesmo assim. Quando decidiu prestar atenção no que o Padre dizia, Amanda sentiu uma revolta em seu peito. Achava hipocrisia ele falar de Deus quando os acontecimentos mostravam que Deus não estava nem aí. Olhou para o Padre, com rancor. E gritou: - Cala a boca!

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Todos olharam para ela, paralisados. Ninguém esperava aquela reação, e muitos não sabiam o porquê daquilo. - Como você tem coragem de falar de Deus numa hora dessas? Você é cego ou o que? Está vendo algum Deus aqui? Está? Porque se estiver, me diga, pois eu só vejo aqui o caixão de uma das minhas melhores amigas que está prestes a ser enterrada! Eu nunca mais vou vê-la! Onde estava Deus enquanto ela estava sendo esfaqueada? Os gritos de Amanda chamaram mais atenção. O padre arregalou os olhos, mas entendeu sua reação. As pessoas próximas a ela estavam morrendo, uma por uma, era natural que ela ficasse desse jeito. Brandon deu a volta no caixão quando achou que deveria parar Amanda, que já tinha berrado o suficiente. - Dane-se isso! – Ela gritou – Danem-se todos você hipócritas, que só vêm aqui pra

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bisbilhotar! Vocês não davam a mínima pra ela! Ou para Daniel, ou para Ginger! Todos vocês são uns nojentos! Brandon segurou o braço da irmã, que soltou com força. - Vamos Amanda, já chega... - Vão pro inferno! Todos vocês! Brandon puxou Amanda, que já achava que havia dito tudo o que queria. Pelo braço, a retirou dali, não estava acreditando que a irmã tinha acabado de fazer isso no enterro da amiga. Eles pararam embaixo de uma árvore, que fazia sombra naquele calor. - Amanda, acho melhor a gente ir pra casa... - Eu não quero ir, não tem nada de bom lá... – Ela cruzou os braços. Virou-se de costas para ele, estava com vergonha de chorar, de demonstrar fraqueza perto do irmão mais novo, o qual deveria sempre dar o exemplo e ser forte. - Você precisa dormir...

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- Já disse que não quero. - Amanda... - Brandon! – Ela gritou e olhou para ele – Vocês precisam aprender a me deixar em paz! Mas que droga! – Amanda correu, e Brandon nem tentou impedi-la, apenas suspirou com a derrota. Ao mesmo tempo em que queria dar uma bronca na irmã, entendia o que ela estava passando.

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Aaron abriu a cortina. O sol bateu no rosto de Megan, que logo acordou. Quando abriu os olhos, percebeu onde estava. Tinha passado a noite no quarto de hotel de Aaron, logo após tomar um banho e tomar a liberdade de vestir uma de suas camisas. Levantou-se para sentar na cama, quase deu um pulo, estava eufórica. Olhou o quarto inteiro, era tudo muito chique, coisa de rico mesmo. Quando olhou pra porta do banheiro entreaberta, notou um barulho de chuveiro, Aaron tinha acabado de entrar para tomar banho. - Ai meu Deus! Aaron Estwood está tomando banho a metros de mim... – Ela pegou no coração, como se fosse ter um ataque. Levantou-se da cama e na ponta dos pés andou até a porta do banheiro. Afastou um pouco e olhou, não tinha nada demais, ele estava com a porta do chuveiro fechada, Megan só conseguia ver o que parecia ser

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sua sombra. Ela foi até o guarda roupa e fitou suas camisas. Como se não bastasse, tirou a camisa azul escura do cabide e cheirou, era delicioso, Megan quase teve outro infarto. Abriu as gavetas de baixo e encontrou as cuecas, estavam completamente arrumadas, por cor. Seus olhos brilharam, e a fizeram imaginar Aaron usando uma daquelas em uma de suas noites. O chuveiro parou de fazer barulho. Megan olhou para a porta e percebeu que Aaron estava quase saindo. Fechou rapidamente as gavetas e depois a porta do guarda roupa. Como se fosse se jogar de uma ponte, jogou-se na cama novamente e fingiu que estava dormindo. Os passos molhados de Aaron fizeram barulho, Megan sorriu na cama, estava imaginando se ele sairia pelado de lá. - Megan, eu sei que você está acordada, para de fingir... - Você é esperto – Megan olhou para ele, e

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abriu a boca quando o viu de toalha – Muito, muito... Esperto – Quase não conseguia falar, estava contemplando a vista. - Você precisa ir... – Ele andou até as janelas e abriu a cortina da outra, o quarto iluminou-se ainda mais. - Ir? Pra onde? - Pra casa. - Mas depois da noite que tivemos? – Megan mordeu os lábios. - Megan! – Ele disse, num tom repreensivo – A gente ficou a noite toda jogando xadrez! - Pra você foi só uma noite? Só isso? – Ela parecia surpresa e chateada. - Certo, você está brincando, né? Você não pode ser... Você o tempo todo! - Mas... – Ela ficou de joelhos na casa e com os olhos suplicantes o fitou – Não posso

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ficar aqui nem mais um pouquinho? Eu quase morri ontem à noite, de novo. Aaron pensou um pouco, ela não estava totalmente errada, não podia simplesmente mandá-la embora e fingir que eles dois quase não foram mortos na noite passada. Sem falar que ela viu uma pessoa morrer, deveria estar em pânico, mas mesmo assim, ainda tinha seu bom humor e seu jeito maluca que acabava contagiando as pessoas. E por outro lado, o que Aaron mais queria era ficar sozinho, apesar de assim aumentar suas chances de não sobreviver, de novo. Afinal, quantas perseguições alguém pode sofrer antes de ser realmente assassinado. - Meg... – Ele disse, num tom uniforme – Agradeço sua preocupação, você ter acreditado em mim, você ser minha fã... - Mas... – Completou Megan, já sabia o que aquilo significava.

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- Mas... Eu quero ficar sozinho agora. Pensar, dormir, assistir um filme de comédia no sofá e tomar sorvete até explodir. Não que eu não queira fazer tudo isso com você, mesmo que eu não esteja com vontade de fazer isso com você, só quero um tempo pra mim, agora... E prometo que vou te recompensar. - Comece agora, eu escolho o filme – Ela levantou-se – E você faz a pipoca, hoje vai ser o “Dia da alegria de Megan e Aaron”. Vou vestir uma roupa – Ela andou até a sala. Aaron desistiu, tinha usado suas melhores táticas para conseguir enganar Megan, mas ela foi mais esperta, ou mais burra do que esperava e acabou ganhando. Ele riu, e talvez até tenha aceitado que teria uma boa tarde com Megan, isso se ela não ficasse o tempo todo tentando levá-lo pra cama.

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A noite chegou. Brandon tinha acabado de deixar Erin e Sarah na casa de Erin, elas iriam dormir juntas. Quando saíram do carro, Erin levou Sarah pra dentro, queria cuidar da amiga, foi isso que prometera aos pais dela. Sarah ainda estava chorando, seu rosto estava todo vermelho e seus olhos estavam roxos de inchaço, Erin chegou até a pensar que ela precisava de um hospital de novo. Devagar, subiram as escadinhas da varanda e passaram pela cadeira de balanço. Erin abriu a porta e entrou junto de Sarah, que logo se jogou no sofá. - Quer alguma coisa? – Ofereceu Erin. - Não, obrigada... - Você precisa comer... - Eu como quando quiser viver de novo... Erin olhou pro lado, não queria repreender o desejo de morte da amiga, não queria ser mais cruel com ela do que o destino já foi.

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- Isso é... Tudo culpada minha... Se eu não tivesse ido embora e deixado ela lá naquela festa... - Ei, não! – Erin sentou-se à sua frente, encima da mesinha da sala – Isso não é culpa sua! Não pense nisso... - Eu deveria ter sido uma irmã melhor... - Mas você foi a melhor que pôde! Não se culpe mais, Sarah, só vai piorar a dor. Olha, vou te fazer um chá pra você dormir. Depois vou ligar pros seus pais e dizer que chegamos bem, pra eles não se preocuparem. Meu pai está aqui e estamos juntas, nada vai acontecer com a gente. Eu prometo. Ta? - Ta bom... Erin deu um beijo na testa de Sarah e foi até a cozinha. Tirou os ingredientes para o chá do armário e depois encheu uma panela com água. Ligou o fogo e colocou as folhas de chá lá dentro. Foi para a sala de novo, viu Sarah ainda jogada no sofá, com a mão na cabeça, com certeza dormiu sem

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perceber. Erin subiu pro segundo andar, entrou em seu quarto e pegou o celular que havia deixado lá. Viu o celular encima da cama e sentou-se nela para pegá-lo. Ligou para os Richards, mas apenas a secretária atendia. Nem esperou para ouvir toda a mensagem de saudação deles, desligou e tentou de novo. Não conseguiu, decidiu deixar uma mensagem já que presumiu que eles não estavam em casa. - Ei, Senhor e Senhora Richards, é a Erin. Liguei pra dizer que chegamos bem, Sarah está dormindo agora, vou ficar a noite toda com ela, não se preocupem. Meu pai está aqui, então... Estamos protegidas. Liguem assim que ouvirem a mensagem. Beijos, tchau. Erin jogou o celular de volta na cama e continuou sentada, não queria descer as escadas mais uma vez. Deu uma olhada no seu quarto, os pôsteres das The Veronicas dominavam as paredes, ela adorava as duas. Olhou pro seu laptop encima da

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cama, ele estava diferente. Não estava mais com o adesivo da Cinderela que havia colocado na parte de trás, nem havia mais a marca de que o adesivo já esteve ali. Com cautela, aproximou-se do laptop e o abriu. Não era o dela, era o de Daniel, e não fazia idéia de como eles haviam trocado de novo. Abriu os documentos e vasculhou a pasta, estava tentando achar alguma coisa. Até que encontrou a pasta “vídeos”. Ela abriu e clicou no primeiro vídeo, era ele e Amanda fazendo sexo. Logo fechou e abriu o segundo vídeo, era a mesma coisa. Estava quase desistindo de abrir os outros, já que não queria ver de novo a cena de Amanda e ele transando. Mas teve uma surpresa quando abriu o terceiro vídeo. Não era a Amanda ali transando com Daniel, e sim outra pessoa, que fez Erin ficar em choque e não acreditar naquelas imagens.

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As lágrimas de Amanda eram visíveis apenas para ela, ninguém daquela boate

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estava se

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importando ou vendo-a chorar. E ela também não queria que vissem, dançava loucamente entre as pessoas suadas, queria esquecer os problemas, mas só o que vinha em sua cabeça era Daniel morrendo. Não conseguia esquecer o que fizera com ele, nem a bebida e nem a dança fazia isso por ela. A musica terminou, e junto de todos, Amanda parou. Olhou para o nada e devagar saiu da pista, abrindo caminho entre as pessoas. Chegou à saída da boate e virou-se para olhá-la uma ultima vez antes de ir embora, desejando conseguir se divertir novamente. Saiu de lá, sem saber pra onde ir. Virou para a direta, lembrou que estacionou seu carro pra lá. Entrou e travou a porta. Viu os primeiros pingos de chuva acertarem a vidraça do carro, e, com todas as suas forças, soltou gritos histéricos. Ela batia no volante e gritava, queria ver se os gritos tiravam tudo aquilo de dentro dela, mas eles apenas aliviavam enquanto ela gritava.

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Deu partida no carro, com outra idéia na cabeça. No hotel, Aaron aproveitava para limpar os cacos de vidro do vaso que Megan quebrara, enquanto ela não chegava com a pizza que prometera. Juntou com uma pá e os jogou no lixo, não era importante mesmo, não precisava que ele ficasse de luto por um vaso de três mil dólares. Amanda bateu em sua porta, e ele, sem saber, mandou esperar, estava lavando as mãos da “sujeira” que havia tocado. Abriu a porta e viu Amanda parada em sua frente, toda molhada. - Amanda? – Perguntou, incrédulo – O que você...? Amanda o interrompeu agarrando-o pelo pescoço e lhe dando um beijo. Ele ficou confuso, mas correspondeu mesmo assim. Com a perna, ela fechou a porta e eles andaram grudados até o lado do sofá, Amanda não queria parar de beijá-lo.

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- O que foi isso? – Perguntou ele, como se não estivesse gostando. - Cala a boca e faça – Amanda arrebentou sua blusa, os botões pularam. Seu sutiã vermelho ficou a mostra para Aaron, que aquela altura já estava indo a loucura. Ela o beijou novamente e o jogou no sofá. Montou encima dele, tirando sua blusa. Jogou pro lado, enquanto ele tratava de desabotoar os botões de sua camisa social. Amanda beijou-o novamente, suas línguas estavam em sincronia, eles sabiam ao certo o que fazer. Aaron passava a mão em seu corpo, não via à hora de chegar à parte onde eles ficavam sem roupa. Amanda parou. Ficou de joelhos no sofá, deixando Aaron embaixo de si. Olhou pra ele sem nenhum sentimento no rosto e desabotoou o sutiã atrás. Ele caiu encima de Aaron, que não tirava os olhos de seus seios, que sempre julgou perfeitos. Ele lembrou de Megan, mas só porque ele iria

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matá-la se ela chegasse naquele momento, que ele esperou desde que chegara a New Britain. Amanda o beijou novamente, mas dessa vez, o beijava e desabotoava sua camisa, até

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não sobrar mais nenhum botão. Ele a jogou pro lado e puxou Amanda pela cintura, que já estava começando a gostar daquela tática para esquecer um pouco as coisas que aconteceram. Com a mão esquerda, segurava na nuca de Aaron, sem tirar seus lábios dos dele e com a mão direita, abria o cinto dele, que já estava praticamente se abrindo sozinho. Não demorou muitos para ficarem completamente pelados, apenas tocando suas peles enquanto o suor descia de seus rostos e os gemidos saíam de suas bocas. Os cabelos de Amanda estavam grudando na pele molhada de Aaron, mas ele não via, fechava os olhos e sentia o corpo dela no seu, se pudesse fazer aquilo para sempre com ela, ele faria. Amanda começou a lamber suas orelhas, podia ouvir muito bem os gemidos de Aaron em seu ouvido, enquanto a mão dele ia e voltava em suas costas nuas. Era só o que ela precisava. Esquecer de tudo, não queria nem lembrar que ainda existia.

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Aaron ainda estava jogado no sofá, sentia que mal tinha forças para levantar. Amanda estava bem a sua frente, colocando as ultimas peças de roupa que faltavam. Aaron a observava com um sorriso, estava pensando em como ela conseguira melhorar desde a ultima vez. Mas Amanda não estava nada feliz. Fitava a parede, atrás da TV, estava morrendo de medo que a sensação de antes voltasse. - Essa foi a melhor... – Disse Aaron. - Concordo – Respondeu Amanda, sem olhar para ele. Aaron levantou-se e começou a vestir sua roupa, pensou que Megan poderia chegar a qualquer momento. Vestiu primeiro sua cueca, e quase caiu quando foi colocar sua calça jeans. De repente, Megan abriu a porta e entrou. Ela estava com uma pizza enorme nas mãos e com refrigerante na outra.

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Observou a cena, Amanda e Aaron estavam se vestindo e logo fez uma cara de espantada. - Mais. O que. Está. Acontecendo. Aqui? – Ela separou bem as palavras, queria mostrar perplexidade pros dois. Amanda olhou para ela, estava colocando sua jaqueta. Aaron, ainda sem camisa, já estava esperando um escândalo. - Megan, eu e ela... - Desde quando existe um você e Amanda? – gritou Megan. O celular de Amanda tocou. Ela decidiu não ligar para os chiliques de Megan e atendeu. Aaron vestiu a camisa e andou até Megan, sabia que não tinha que explicar nada, mas

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mesmo assim queria explicar. - Olá, Amanda. Lembra de mim? – Disse o assassino ao telefone. Amanda parou, seu coração gelou e, querendo ou não, já estava sentindo a mesma sensação de antes. Ela sentia que podia morrer a qualquer momento. - O que você quer? - Eu quero você, quero você morta. - Então vem me pegar, idiota! – Gritou Amanda, e isso chamou a atenção de Aaron e Megan. Ele gargalhou. - Pensa que vai ser rápido assim? Eu quero que você sofra antes, quero que você morra devagar, quero matar você e te fazer pagar por tudo... - Tudo o que? - Amanda, é ele? – Perguntou Aaron. - Abra o note book do seu amante

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celebridade, tenho uma surpresa pra você – Ele desligou. - Ai meu Deus, é ele? – Perguntou Megan. - Desgraçado! – Gritou Amanda – Aaron, onde está seu note book? - Encima da minha cama, por quê? O que ele disse? Amanda correu pro quarto dele. Aaron ficou com medo que houvesse mais alguém morto em seu quarto e correu atrás dela, sendo seguido por Megan. Quando chegaram ao quarto, Amanda já tinha aberto o note book. Ela leu no canto da tela que havia uma nova mensagem para Aaron Estwood. Clicou no aviso e a mensagem se abriu, tinha um vídeo anexado nela. Amanda abriu, Brandon aparecia no vídeo amarrado numa cadeira, com um pano na boca. Quando Amanda viu essa cena, não resistiu e chorou novamente. Colocou a mão na boca, não acreditava naquilo. Seu irmão era o único que não podia morrer. Qualquer um podia, menos ele.

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No fim do vídeo, tinha uma mensagem: “Venha pegá-lo”. Amanda voltou o vídeo e notou uma faixa das lideres de torcida nele. Brandon estava no colégio, com certeza. Ela fechou no note book e deu um pulo da cama. Correu porta afora, sendo seguida por Aaron e Megan. - Aonde você vai? – Perguntou ele. - Buscar o meu irmão. Não posso deixá-lo morrer! - Então eu vou junto!

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- Não! – Gritou Amanda – Ninguém mais pode morrer. Você não entende? - Você que não entende que eu não vou deixar mais ninguém morrer! Vamos salvar o seu irmão, juntos! E vamos acabar com isso hoje mesmo! Amanda fitava Aaron, boquiaberta. Não acredita que aquela sub-celebridade estava pela primeira vez se importando com alguém. - E eu também vou! – Gritou Megan, ao lado. - Vamos! – Disse Amanda e abriu a porta. Os três desceram até o carro de Amanda, encararam a chuva a forte, parecia que o céu estava prestes a despencar encima deles. Amanda entrou no banco do motorista e Aaron bem ao seu lado. Dessa vez, Megan nem ligou de ficar no banco de trás, estava ansiosa demais para pensar naquilo. Ela realmente queria salvar o irmão de

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Amanda e dar um fim nos assassinatos, foi a primeira vez que se sentiu humana em toda a sua vida. [Livro] A Punhalada - Capítulo 10: Chovendo Sangue - Kristen! – Chamou Josh, só pra saber se ela sairia do possível transe que estava. Kristen espantou-se com o grito do amigo, não estava prestando atenção nele ou no livro a sua frente. A capa do livro dizia “Química”, a matéria preferida de Kristen, mas ela estava preferindo pensar em suas teorias, tentando encontrar algum erro, estava quase obcecada com aquilo. - Desculpa – Ela pediu – O que você disse? – Ela ajeitou o óculos. - Eu disse um milhão de coisas! - Que novidade... – Ela virou a página, mas nem estava prestando atenção no que

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estava escrito no livro. As luzes começaram a piscar. Kristen olhou para a lâmpada de seu quarto, amaldiçoou de novo a companhia de luz, isso vivia acontecendo. Josh, parecia apavorado. Olhou pela janela onde o vento batia nas cortinas e a faziam se mexer. O legal da casa de Kristen, era que estava perto da floresta. Seria legal se ela pudesse cortar caminho por lá e ir pro colégio, isso se sua mãe não tivesse tanto medo que ela se perdesse, ou que fosse brutalmente esfaqueada. Da janela de seu quarto, a vista era

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linda. Podia se ver a cidade, as luzes, a lua,

parecia até que ela morava numa

montanha. Kristen olhou para Josh,

percebeu que ele estava com medo.

- Você não está com medo, né? – Perguntou, toda irônica. - Medo? Eu? Haha! Ta bom! – Josh deu de ombros, negando que por dentro estava apavorado que pudesse ser o próximo – Aliás, quarto bonito, adorei os detalhes rosas. - Nem vem. Foi minha tia que escolheu, ninguém deixou eu pintar de preto e desenhar uma caveira – Kristen deu de ombros. Folheou seu livro mais uma vez e começou a ler. Uma panela caiu no andar de baixo, e Josh tomou um susto. Deu um pulo do chão e gritou, dizendo que tinha alguém lá embaixo.

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- Cara, relaxa – Pediu Kristen – É o meu pai, ele apenas acabou de chegar. Eles ouviram outro barulho, dessa vez, de uma porta se abrindo. Kristen tinha a certeza de que era seu pai voltando do trabalho, ainda confiava na sua teoria de que eles não iriam morrer. - Você tem certeza? – Perguntou Josh, espantado. - Aff, Josh – Ela revirou os olhos – Você tem que ser tão medroso assim o tempo todo? - Sim! - Ok, ok, vou te provar que foi meu pai quem chegou. Vem comigo – Ela levantou-se e caminhou em direção da porta, mas parou e olhou pra trás quando percebeu que Josh não estava indo atrás dela – Anda logo! - Kristen... - Vem, Josh! Caramba! Que coisa! – Ela se estressou e andou até a escada, que ficava de frente para o seu quarto.

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Josh andou apenas até a porta, de onde ficava olhando para Kristen. Ela debruçou-se no corrimão do segundo andar e olhou pro primeiro andar. - Pai? Você chegou? – Ela gritou, mas ninguém respondeu. - Viu só? Não é ele! - Cala a boca. Pai? Você ta aí? Não tiveram resposta. Josh estava apavorado, enquanto Kristen já estava começando a temer o pior. - Josh, pega o taco de golfe do papai no meu quarto, vamos descer! - O que?

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- Agora! – Ela ordenou. Josh correu até o taco que estava ao lado da cama. Ele correu até Kristen e entregou a ela, que pegou com firmeza, estava decidida a descer as escadas. Cinqüenta por cento dela estava com medo que descesse essa escada e encontrasse a morte, como quase todas as garotas burras de filmes de terror, mas os outros cinqüenta por cento, lhe davam coragem de descer porque sabia que iria encontrar seu pai na cozinha assaltando a geladeira, que estaria ocupado demais fazendo seu lanche que nem se deu ao trabalho de responder aos gritos da filha. Devagar, Kristen desceu as escadas, Josh sempre dois degraus atrás dela. Ela colocou o taco a sua frente, pronta para qualquer coisa. Os dois entraram na cozinha, mas não viram o pai dela lá, a cozinha estava exatamente como eles deixaram vinte minutos antes quando fizeram o lanche. Aproximaram-se devagar da porta

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transparente da cozinha, que dava para o quintal da casa de Kristen. Josh aproveitou e pegou uma frigideira, colocou-a na mesma posição de ataque em que o taco de Kristen estava. O silencio estava estranho demais, tudo o que fica completamente silencioso, é perigoso. Nem os passos deles dois eles conseguiam ouvir, nenhum ruído, nada que provasse que estavam seguros ou em perigo. Foi aí que o cachorro do pai de Kristen apareceu na porta e começou a latir. Seus latidos foram tão altos, que os dois se assustaram. Josh ainda estava com medo do cachorro, mas sabia que entre eles havia a porta da cozinha, pela qual ele tentava passar enquanto latia que nem louco. - Por Deus, Kristen – Disse Josh – Eu quase morri de susto. Kristen sorriu, não acreditava que havia se assustado com o Rutherford, isso quase nunca acontecia.

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- Esse cachorro é louco, manda ele parar! - Own, tadinho do meu Rutherford – Disse Kristen, numa voz fofa, ela estava tentando mimar o cachorro – Vou prender ele, espera. - Ta bom. Kristen abriu a porta da cozinha, com cuidado para Rutherford não sair. Mesmo com a chuva, foi pro seu quintal. Rutherford latiu pra ela, estava feliz porque ela estava ali. Abaixou-se e fez carinho na cabeça dele, que abanava o rabo de felicidade. Levantou-se e deu dois passos até a parede pra pegar a coleira vermelha dele. Quando prendeu, ele fez sons de choro. - Own, não meu bebê, é pra ninguém roubar você – Ela explicou ao cachorro. Puxou ele pela coleira e andou para a esquerda, até onde ficava a casinha dele e dos outros três cachorros. Prendeu a coleira dele no enorme ferro pregado na parede e logo olhou pro lado, pra ver

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como estavam os outros cachorros. Colocou a mão no chão e agaixou-se para a casinha de sua cadela Prótons, chamando pelo nome dela.

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Mas o que viu, preferia nunca ter visto. Sua cadela estava lá dentro, seu estômago completamente para fora e sangue espalhado por todos os lados. Kristen olhou para sua mão, também estava com sangue. - Ai meu Deus... – Sussurrou para si mesma. Ghostface estava atrás da casinha, apenas esperando por Kristen. Quando ela o viu, soltou um grito estrondoso que chamou a atenção de Josh na cozinha. - Kristen! – Ele gritou, assustado e olhou para a porta. Kristen correu, mas o assassino foi mais rápido. Quando chega chegou na porta, ele a apunhalou pelas costas e seu sangue espirrou nela. Kristen bateu de frente com a porta e foi escorregando pro chão enquanto perdia as forças nas pernas, estava bem próxima da morte. O cachorro latia, mas nada podia fazer. Josh saiu correndo, e quando olhou para trás, percebeu o assassino correndo atrás

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dele. Abriu a porta da casa de Trish e correu, queria chegar na estrada o mais rápido possível, mesmo sabendo que naquela chuva seria difícil alguém querer parar. Na estrada, Amanda dirigia em alta velocidade, já estava perto do colégio, mal podia esperar seu irmão pra salvar seu irmão, mesmo que isso custasse sua própria morte. Ela foi obrigada a freiar o carro quando Josh apareceu do nada em sua frente. Ele deu a volta e entrou pela parte do banco de trás, ao lado de Megan, que já estava assustada com aquilo. - Kristen! Ele matou Kristen! – Ele gaguejava, Amanda, Aaron e Megan não entenderam muito bem. Foi aí que ouviram um estrondo e sentiram o carro se mexer. Megan deu um grito, ninguém sabia o que estava acontecendo. De repente, o mesmo barulho, o carro mexeu- se de novo, ele parecia ter caído mais para o lado da direita. Amanda olhou pela janela e viu um pneu furado.

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- Merda! Ele ta furou os pneus! – Ela gritou, quase ao mesmo momento em que o assassino quebrou a janela de trás do carro e agarrou Josh. Os três abriram a porta do carro quase que imediatamente, correram floresta a dentro na mesma direção. O assassino estava ocupado demais esfaqueando Josh no peito, inúmeras vezes. O sangue dele escorria com a chuva, saindo de seus orifícios e das inúmeras facadas que recebeu. Seu corpo ficou na estrada, estirado, esperando o primeiro a passar para perceber o que havia acontecido. Os três não sabiam se o assassino tinha ido atrás deles ou não, mas corriam como balas, pulando de galhos quebrados e poças d’água pela floresta. A chuva e a escuridão da noite dificultavam tudo, Amanda mal conseguia ver a direção em que estava indo. Olhou para o lado e viu Megan e Aaron juntos, correndo quase que lado a lado. Sem prestar atenção, acabou caindo numa descida perigosa. Seu grito

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avisou Megan e Aaron que pararam. Amanda acabou batendo-se nas pedras do caminho, seu corpo rolava pela descida de um jeito que ela não conseguia parar, era quase um penhasco.

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- Espera, espera! – Pediu Megan – Onde está Amanda? - Amanda! – Gritou Aaron, mas Amanda não podia ouvir. Ela estava no fim da descida, quase desmaiada, a única coisa que a despertou foi a chuva caindo em seu rosto sem parar. Abriu os olhos, mas logo foi obrigada a fechá-los, se não a chuva cairia dentro deles. Não podia ouvir os gritos de Aaron e Megan. Ela sentou-se no chão onde estava e percebeu seu corpo cheio de lama, ela estava imunda. Levantou-se do chão e correu na direção reta, assim pensou que não teria como se perder. Entre um arbusto e outro, Amanda deu de cara com os fundos de seu colégio. Ela podia ver o campo dali, e as janelas do refeitório. A primeira coisa que pensou foi em Brandon. Correu para a porta dos fundos que já estava aberta, logo pensou que o assassino estaria esperando por ela

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lá dentro, mas era a vida de Brandon que estava em jogo. Entrou correndo, logo num dos corredores. - Brandon! – Ela gritou – Brandon! – Correu para o outro corredor, queria encontrar Brandon de qualquer maneira. Só parou de correr quando seu celular tocou. Ele estava na pequena bolsa que carregava nos ombros. Tirou lá de dentro e atendeu. - Olá Amanda – Disse o assassino – Vejo que você conseguiu chegar a tempo antes que eu decapitasse seu irmão... - Onde ele está? – Ela gritou. - Primeiro, vamos jogar alguma coisa. - Onde. Ele. Está? – A voz de Amanda furiosa não intimidou o assassino, ele estava com a faca e o queijo nas mãos. - Vamos fazer desse jeito? Se você acertar minhas perguntas, ele sobrevive. Se não, adeus amor fraternal.

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- Seu miserável! Eu vou te matar! - Vamos começar... Qual o nome do assassino Jigsaw em “Jogos Mortais”? - John Krammer – Murmurou Amanda, estava cansada até para falar, o frio da chuva a consumia por dentro. - Resposta certa, viu? Você é uma garota esperta. Próxima pergunta... Qual o nome da primeira protagonista de “A hora do pesadelo”? - Nancy... Nancy Thompson... – Amanda prendeu o choro, não queria dar ao assassino o gostinho de ouvi-la sofrendo.

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- Muito bem, você está de parabéns. Provou que é uma verdadeira fã de filmes de terror... Agora, ultima pergunta, valendo todas... Em qual armário eu estou? – Amanda não entendeu a pergunta, até olhar para o corredor a sua frente e perceber que ele estava cheio de armários escolares. Seu coração acelerou só de pensar que o assassino estava tão perto assim. Ela olhou pro lado e viu um machado de incêndio preso numa caixa vermelha e com um vidro tapando-o. Com o cotovelo, quebrou o vidro e puxou o machado. Agora vem, seu desgraçado! Ela gritava em sua mente. Fitava os armários, com raiva, certa de que em um deles estaria o assassino. Foi abrindo os que estavam ao seu alcance, mas não tinha lada lá dentro a não ser pilhas de livros. Foi abrindo de dois em dois e pulando dois a cada turno, sempre abrindo com determinação e força. O ultimo armário do corredor estava

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entreaberto. Mesmo assim, Amanda não podia ver nada. Chegou a conclusão de que o assassino estava lá. Devagar colocou a mão na fechadura e deu apenas um puxão, mas não tinha nada lá, nem livros. - Você não está em nenhum dos armários – Disse Amanda com a voz firme, ao telefone. - Quem disse que era um armário escolar? Amanda virou-se para trás e fitou a porta do armário de limpeza, bem na hora em que o assassino saia de lá. Ele tentou esfaqueá-la, mas acertou um dos armários. Amanda não perdeu tempo, lançou o machado em sua direção, mas também acertou o armário. Pela primeira vez, ghostface era quem fugia de alguém. Amanda tentou acertá-lo de novo, mas passou direto, ele era rápido demais. Ela tentou outra machadada, mas ele segurou o machado assim que ele bateu na parede e deu um chute na barriga de Amanda. Ela caiu no chão, segurando a barriga que começara a doer. Mas não havia tempo pra isso. Levantou-se e saiu correndo. O assassino jogou o machado longe e correu

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atrás dela, apenas com a faca. Amanda precisava ter equilíbrio ou então iria cair, já que estava toda molhada e isso não ajudava com chão escorregadio do colégio. Subiu correndo as escadas, gritando, mas sabia que ninguém iria ajudá-la. Trancou-se na primeira porta que viu, era a biblioteca. Ao redor de Amanda, estavam mesas vazias, fileiras de estantes cheias de livros que parecia que nunca iriam acabar. Mas outra coisa lhe chamou mais atenção, o corpo nu do pai de Trish pendurado no lustre central, amarrado com uma corda em seu pescoço. Ele tinha marcas de facadas por todo o corpo, e sangrava muito, mas nada se comparava ao fato dele ter sido completamente castrado. No seu peito nu, estava escrito “O Pedófilo”. Amanda não entendeu, mas ficou chocada do mesmo jeito. Colocou a mão na boca, as lágrimas desciam por ela e caíam no chão, ela não via a hora de tudo aquilo parar. Com a biblioteca enorme, Amanda pensou

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logo num jeito de se esconder, já que não tinha como fugir. Deu a volta na mesa onde estava o corpo do Senhor Peterson e andou até o fim das estantes com livros, sempre olhando para todos os lados. Quando chegou na penúltima, dobrou para a esquerda, iria seguir outra direção. Escorou-se numa das estantes, queria ficar quieta e parada, só não conseguia parar sua respiração ofegante. Olhou o celular em sua mão e o guardou no bolso, iria precisar dele depois para chamar ajuda, e esperava que até lá ele não tivesse quebrado, ou completamente estragado de tanto que foi molhado.

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Ghostface arrombou a porta. Amanda ouviu o barulho, já tinha certeza que ele estava dentro. Andou para o Aldo, encostada na estante e foi para outro corredor. Não podia ter a certeza sobre onde o assassino estava, ele poderia estar até ao seu lado, mas ela não perceberia, ele era esperto demais. Sem fazer barulho, o assassino meteu a mão pela estante de livros do outro lado e puxou o cabelo de Amanda. Ela gritou e tentou se afastar, mas ele estava com grande parte de seu cabelo nas mãos, era quase impossível. Ela colocou o peso de todo o seu corpo para trás e seus pés na estante da frente. A força fez com que a estante atrás de si caísse, provocando assim o efeito dominó em todas as outras. Com seu cabelo livre, ela correu dali, desejando que as estantes esmagassem o assassino. Correu até as janelas de vidro do final da biblioteca. Olhou por elas, o telhado da sala de ginástica era logo ali, se Amanda pulasse, seria como se pulasse a

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janela do primeiro andar para o chão. Destrancou a janela e colocou primeiro sua perna para fora, e depois a outra, mas demorou demais, o assassino já tinha saído pela pequena brecha que as estantes deixaram no chão e correu até ela. Ela segurou o braço dele e evitou uma punhalada, estava medindo forças com ele, até que ele decidiu simplesmente jogá-la. A empurrou com força e ela se segurou com a outra mão, mas viu que seria melhor segurar na roupa dele. Com o impulso, caíram juntos. O assassino levantou-e do chão e foi atrás de Amanda que estava quase se levantando. Ela lhe deu um chute na barriga, acertou em cheio. Ele recuou, mas não demorou cinco segundos para atacá-la de novo. Pelo cabelo a pegou e jogou telhado abaixo, direto na grama do pátio. Amanda caiu de cabeça no chão, e desmaiou logo em seguida. O assassino ficou observando ela caída, sabia que não tinha morrido só nisso, ainda faltava muito

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para matá-la. Amanda abriu os olhos rapidamente, desejando que o assassino não estivesse mais olhando. Era fingimento, ela não havia desmaiado, mas estava com uma ponte de vontade que ele pensasse que ela já havia até morrido. Levantou-se do chão e fitou a parede de vidro da sala de ginástica, nenhum sinal do assassino. Ela quebrou a janela da sala, ao lado, com os cotovelos e entrou. Tirou o celular do bolso e discou o numero da emergência. - Emergência, como posso ajudar? - Por favor – Ela gritou, os dentes dela trincavam de tanto frio. Quando percebeu que gritar chamaria a atenção, começou a sussurrar ao celular, numa voz falecida – Estou no New Britain High, o assassino está aqui, ele pegou meu irmão e agora quer me matar! - Espere senhorita, o que foi que disse? - Ele pegou meu irmão, ele quer me matar, tragam alguém depressa!

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- Onde a senhorita está? - No New Britain High, meu Deus, ele vai me matar... – O choro de Amanda tornou-se incontrolável, mal sabia o que estava dizendo.

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- Acalme-se senhorita, por favor, nós mandaremos uma viatura assim que possível. - Por favor, depressa! – Amanda desligou. Andou pela sala, esquivando-se dos aparelhos de exercícios. De um lado pro outro caminhava, pensando, chorando, querendo que Brandon estivesse bem, era a única coisa que importava. Mas sabia que sem sua atitude, o irmão não conseguiria. Ele deveria estar morrendo agora mesmo, já que o assassino não conseguiu matá-la, uma vingança justa pelo lado dele. E se matou Brandon, Amanda não tinha outra escolha a não ser caçá-lo até no inferno e matá-lo. Ela saiu correndo da sala, sem se preocupar em fazer barulho ou não. Era tudo ou nada, ou ela morria, ou ela matava. Correu até o corredor onde acontecera a aparição do assino e viu o machado ainda lá, jogado. Ela o pegou e caminhou pelo colégio, entrando de sala em sala para ver se encontrava o

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irmão. Quando chegou ao segundo andar, lembrou que ainda não tinha ido procurá-lo no refeitório. Correu para lá, com seu machado em posição de ataque. Viu o corrimão que ficava perto da escada onde descia para o refeitório. Segurou nele e olhou pra baixo. As mesas de lá estavam todas mudadas de lugar, empilhadas, deixando uma grande roda no meio. Bem no meio onde viu Brandon. Ele estava com a mesma roupa de antes, com um olho roxo e um machucado na boca que sangrava. - Brandon! – Amanda gritou. - Amanda! – Ele repetiu quando olhou para ela. Mas, ghostface tinha visto ele primeiro, chegou silenciosamente por trás dele. - Brandon, atrás de você! – Gritou Amanda. Antes que Brandon pudesse se virar, o assassino lhe cravou uma faca nas costas, quase igual ao que fez a Daniel. Brandon

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se contorceu, e num só puxão o assassino retirou a faca. - Não! – Amanda gritou, desesperada, não podia aceitar que seu irmão morresse. Ela desceu as escadas correndo, pensando em cortar o assassino em pedacinhos. Ele ficou lá, parado, ao lado de Brandon, apenas esperando pela chegada de Amanda. - Seu filho da puta, matou meu irmão! – Ela gritou, furiosa e preparou-se para lhe dar uma machadada, mas parou quando viu o assassino sacar uma arma. Ela olhou pra ele, paralisada, não acreditava que iria morrer naquele momento, que não iria vingar a morte do irmão e dos amigos. Por fim, percebeu que era um novo roteiro, de fato, onde o assassino se dá bem, mata todo mundo e no final sai ileso. Se aquele era o seu fim, ela teria que aceitar, teria que abaixar a cabeça e deixar a bala entrar, era o que achava que merecia por sempre ter sido a pior pessoa do mundo.

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Mas ao invés de sua morte, outra coisa aconteceu. O assassino finalmente tirou sua

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máscara na frente dela e revelou o que ela queria saber desde o começo. Sarah estava bem a sua frente, com um rosto doentio, vestindo a roupa do assassino e carregando a máscara numa mão, já que a outra estava com uma arma apontada para Amanda. - Olá, Amanda. Surpresa? – Ela perguntou, seu rosto estava com uma expressão fria e calculista. - O que? Sarah? - Vou entender isso como um sim. Na verdade, você foi tão idiota por não ter desconfiado de nada... – Sarah soltou uma risada, mas durou apenas dois segundos, era um deboche – Quer dizer, quem iria desconfiar da gêmea séria e estudiosa? A “ótima filha”? – Sarah abriu o fechecler de sua fantasia de ghostface e a jogou pro lado. - Sarah? Mas... – Amanda tentou controlar o nervosismo, mas mal conseguia falar – Por que?

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- Por que? – Repetiu Sarah – Você está me perguntando por que? – Sarah deu um grito – Mas antes, quero que você jogue esse machado longe. - Mas... Sarah deu apertou o gatilho e deu um tiro pro lado, para demonstrar a Amanda que não estava de brincadeira. E com a arma apontada de volta para Amanda, disse: - Agora. Amanda engoliu mais o choro, e aceitou a derrota. Jogou seu machado bem longe. Ele caiu embaixo de uma das mesas que estavam juntas atrás dela. - Muito bem. Eu sempre soube que você sabia jogar. Agora... – Sarah andou até uma das mesas, ainda com a arma apontada para Amanda. Debaixo de uma, tirou Erin, que estava acocada lá, amarrada e com a boca selada cheia de super Bond. Sarah a levava para perto de Amanda segurando-a pelos cabelos, ela adorava fazer isso. Amanda

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observava aquilo com mais dor ainda, não sabia o que fazer para parar aquilo. - Olha só – Começou Sarah e apontou a arma para a boca de Erin – Eu vi isso em “A casa de cera”, sempre quis selar a boca de alguém com uma super cola – Ela jogou Erin no chão, que mal conseguia se mexer de tão amarrada que estava – E sabe, o pior era que eu nem iria matá-la, queria sair do clichê e deixar a melhor amiga viva, mas ela acabou descobrindo demais... - O que? - Não foi, Erin? Ela encontrou meu vídeo com o seu namoradinho... Que deveria ser o meu namorado! – Sarah apontou a arma para si mesmo quando pronunciou as palavras

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“meu namorado”, ela estava completamente louca – Sabe, eu estava bem do jeito que estava. Ele vindo me ver de vez em quando, mentindo pra você, mas aí ele simplesmente descobriu que te amava e não podia mais te trair. E como eu fiquei? Ele pensou em mim? Pensou nos meus sentimentos? – Sarah gritava cada vez mais, olhava nos olhos de Amanda, queria intimidá-la... - Tudo isso... Por causa do Daniel? - Hahahaha! – Sarah gargalhou, e nem notou que Erin estava conseguindo se desamarrar – Quem me dera... Um coração partido não é tão motivador a assassinatos. Se você soubesse como é crescer com alguém completamente idêntica a você e ter que ouvir todos os dias que apesar das semelhanças, ela é melhor, isso fode com a sua cabeça, Amanda – Ela apontou a arma para a própria cabeça. Amanda viu que Erin estava quase conseguindo, faltava pouco para ela se

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libertar, o jeito era continuar enrolando Sarah, fazendo-a falar mais, só que não foi preciso instigá- la, Sarah continuou por si mesma. - Foi por isso que eu queria sentir o prazer de esfaquear Samantha, ela me devia isso, eu merecia isso! Naquele momento, Erin conseguiu se desamarrar e a primeira coisa que fez foi avançar em Amanda e lhe dar um soco. A arma caiu no chão. Amanda tentou pegar, mas Sarah já havia levantando, deu um murro no rosto de Erin, mas levou um chute de Amanda. Erin virou-se para o lado, bem em frente ao corpo de Brandon. Ele levantou-se e com a faca que tinha em suas mãos, esfaqueou o estômago de Erin. - E é assim que você morre... – Ele sussurrou, enquanto Erin o observava com um olhar suplicante, que por si só perguntava os motivos para Brandon fazer aquilo.

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Erin caiu de joelhos, ainda olhando nos olhos de Brandon que agora pareciam sem vida, ele a estava matando sem dó. Retirou a faca de seu estômago e com um corte horizontal, degolou Erin, que imediatamente caiu para trás, pegando em sua própria garganta, molhando-se de com seu próprio sangue. Amanda esqueceu de Sarah por um momento e fitou Brandon, incrédula. Ele olhava para o corpo de Erin, com frieza, Amanda não estava reconhecendo seu irmão ali. E era uma dor insuportável. Não, Amanda não estava mais com medo de morrer, também não estava mais sentindo culpa pela morte de Daniel. Ali, diante de si, estava seu irmão com uma faca em mãos que tinha acabado de apunhalar a sua melhor amiga, e isso doía mais que a morte para ela. Brandon encontrou o olhar de Amanda e a fitou. Com seu olhar malicioso dirigido a ela, lambeu o sangue de Erin da faca e disse:

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- Olá maninha.

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[Livro] A Punhalada - Capítulo 11: Punhalada Final Os olhos de Amanda não saiam do irmão. Ela nem reparou que Sarah já havia pegado a arma e que já estava apontando para ela. Agora sim, não tinha como prender o choro, ele vinha tão naturalmente que quando tentava pará-lo, só conseguia fazer vir mais. Os olhos maliciosos de Brandon também não saiam de Amanda, era um jogo, uma troca de olhares com revelações, e Amanda preferia que Sarah tivesse atirado nela a ver isso. - Isso é surpresa o bastante pra você, Amanda? – Perguntou Brandon, num tom debochado – Ou você preferia o clichê do namorado suspeito? Amanda nem conseguia falar, ainda não estava acreditando, afinal, como ela poderia acreditar que o assassino era a pessoa que mais amava no mundo? - Bom, sem querer me achar, mas eu fui

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um ótimo ator... Enganei todo mundo. Ninguém, ninguém desconfiou de mim... O irmão mais novo, tão inocente e protetor. Você deve estar em choque agora. - Olha pra ela... – Disse Sarah – Nem consegue falar, ela já deve estar morta por dentro, só falta a parte de fora, que terei o prazer de despedaçar. - Nada disso – Repreendeu Brandon – Lembre-se do trato, você mata sua irmã e eu mato a minha, esse prazer vai ser todo meu... – Brandon mordeu o lábio, e lançou mais um olhar malicioso para a irmã. Deu dois passos na direção de Sarah, ainda olhando para Amanda – Se você quiser chorar, chore. Eu no seu lugar já estaria pedindo para morrer... Amanda olhou para Sarah, que mantinha a arma apontada para ela. Sarah estava completamente fria, nem o rosto de má ela tinha, era uma completa psicopata. Depois olhou para Brandon, que mantinha aquele olhar malicioso e

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maléfico, como se ele estivesse sedento pelo sangue sexy de Amanda. Ela suspirou, não estava mais agüentando aquilo, tudo o que ela acreditava havia passado dos limites. - Você... – Ela disse, para Brandon – Por quê? - Você chegou ao ponto certo, Amanda – Brandon aproximou-se dela com a faca, e com passos longos para trás, Amanda se afastou até bater de costas em mais uma pilha de mesas, dali ela não passava. Brandon chegou bem perto dela, que já sentia nojo do irmão. Ele chegou tão perto que ela podia sentir seu hálito. Ela virou seu rosto, não queria ficar de frente para ele. - Os motivos para se tornar um assassino, Amanda, são tão... Como posso dizer? Aleatórios? Você pode matar dez pessoas de uma vez se causar uma colisão de carros por estar distraído na estrada... – Ele colocou a faca no rosto de Amanda, e foi passando-a devagar pelo rosto dela,

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enquanto seu corpo tremia com o toque gelado da faca – Ou, você pode colocar uma fantasia, matar dez pessoas e colocar a culpa nos

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filmes, mortes são tão relativas que já virou clichê tentar culpar alguém... Amanda olhou nos olhos dele, pela primeira vez, demonstrava a insanidade que tinha. Isso doeu mais ainda em Amanda. - Mas! – Ele gritou e apontou a faca para trás. Sarah andou até ele e pegou a faca de sua mão. Depois, lhe entregou a arma, que ele apontou para o peito de Amanda, para continuar a falar: - Se você não tiver motivos pra um massacre, você simplesmente é chamado de louco. Então... - O que? – Perguntou Amanda, com medo de levar um tiro no coração a qualquer momento. - Você sabia que descobrir que seus pais não são seus pais de verdade, pode foder com a sua cabeça? - O que? – Amanda perguntou, incrédula,

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aquilo não fazia o menor sentido. Brandon se afastou dela, finalmente conseguia respirar melhor. Deu as costas pra ela por alguns segundos, mas virou-se de volta. - Amanda, por que você acha que sempre foi a preferida? Hã? Porque você acha que eu sempre fiquei pro lado, recebendo as sobras da rainha, recebendo apenas o que Amanda não queria? Tudo era você, tudo só pra você. Eu era apenas o irmão mais novo da rainha do colégio, eu nunca fui a porra do Brandon Rush! – Ele gritou, e Amanda se assustou – Quando encontrei meus papéis de adoção, tive várias respostas pras minhas incontáveis perguntas. Eu era apenas um lixo, um garoto abandonado pelos pais biológicos porque eles simplesmente não queriam um filho homem. E o que eu fiz? Matei os desgraçados! Matei os dois! E matei as duas filhas, pena que nunca encontraram o corpo delas, trágico – Brandon coçou o nariz, estava pouco ligando para o corpo de suas irmãs

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biológicas – Você me entende, Amanda? Era pra eu ser a porra do Kevin Marshall! Eu! – Ele grita, apontando a arma pro próprio peito – Mas só o que eu ganhei foi um segundo lugar em tudo, porque tudo era pra rainha... - E quer saber mais, Amanda? – gritou Sarah, ali atrás, ela estava agachada em frente ao corpo de Erin – Não ganhar a devida atenção dos pais é uma droga, você se esforça, e você se esforça, e você se esforça mais... – Sarah esfaqueava o corpo de Erin no chão a cada palavra que dizia, ela estava com ódio, gritando suas idéias com a mesma raiva que esfaqueava Erin – E o que você ganha? Nada! – Ela esfaqueou o corpo de Erin mais uma vez, dessa vez na cabeça. Retirou a faca e levantou-se. Amanda olhou para ela, sem saber o que fazer. Ela se aproximava de Brandon, mas fitava Amanda, ela era seu alvo. - Imagine sofrer tudo isso em casa e ver sua

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única esperança de ser feliz ser roubada por uma vadia, maléfica e oferecida como você. Eu tenho nojo de você, Amanda! Nojo! – Sarah cuspiu no chão, perto ao pé de Amanda.

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- Vocês estão loucos... – Sussurrou Amanda, com medo. - Loucos? – Perguntou Brandon – Você não ouviu tudo o que acabamos de falar? A preferência, a adoção, as tentativas de agradar, mas nunca superar a irmã mais velha. Depois disso aqui, vamos ter toda a atenção que quisermos, do mundo inteiro, já que vamos ser os únicos sobreviventes do massacre que Amanda Rush e Erin Delaware iniciaram. Vamos sair em jornais, revistas, ficar famosos... - Vocês não queriam sair do clichê? Esse motivo já foi usado no último pânico. - Mas diferente do filme, isso aqui vai render. Usamos Aaron Estwood pros assassinatos ganharem repercussão, temos tudo do nosso lado, nada vai dar de errado, esse vai ser o nosso filme, Amanda... Pense nisso, você será a imortal assassina da vida real... Enquanto eu e Sarah, os únicos sobreviventes. Isso até soa legal... - Brandon, nossos pais te ama, você sabe

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disso... - Eles não são a porra dos meus pais! – Brandon gritou – E você não é minha irmã... – Brandon aproximou-se dela novamente, do mesmo jeito de antes, tão perto que ela conseguia sentir sua respiração... – E eu até gostei disso, em parte, sabe... Foi um alivio para mim, descobrir depois de anos que a minha irmã que eu queria que fosse minha mulher, não era de fato minha irmã... Já não me senti mais culpado por querer te tocar, te beijar, te lamber... – Brandon se aproximou do rosto de Amanda e lhe deu uma lambida, desde o queixo, até a testa. Com nojo, Amanda recuou, estava completamente enojada com aquela loucura. Como Brandon pôde fazer aquilo com ela? - Entendeu agora, maninha? Não? Sarah! Trás o laptop! Sarah correu até debaixo de uma das mesas de tirou de lá um laptop preto.

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Colocou encima da mesa que Amanda estava escorada, para ela observar. No laptop, passava um vídeo de Brandon subindo encima de Amanda na cama, ela estava completamente desacordada. Ele a beijava na boca e pegava em seu corpo. Amanda ficou mais horrorizada ainda. - Viu só? – Disse Brandon – Você já foi minha há muito tempo. Claro, eu tinha que te dopar antes. Vi isso em um filme e, desculpe, eu tive que tentar. Amanda não conseguia tirar os olhos do vídeo. Foi a pior coisa que já vira na vida, nunca pensou que algo tão repugnante pudesse acontecer com ela. Quando Brandon começou a tirar a roupa dela no vídeo, Amanda fechou os olhos e virou-se para ele, ele tinha conseguido destruir toda sua vida. - Não chore, Mandy – Pediu ele – Quando você morrer, toda essa dor vai acabar. Amanda olhou por cima dos ombros de Brandon e viu Aaron e Megan atrás dele. Eles

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estavam com um taco de baseball, andando devagar para acertarem Brandon, mas Sarah virou-se rapidamente e gritou:

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- Brandon, atrás de você! Brandon virou-se e atirou, o tiro passou de raspão no ombro de Aaron. Ele e Megan correram pela porta. - Droga, eles ouviram a gente! – Reclamou Sarah. - Cuide deles, eu fico aqui com Amanda – Ele sorriu para Amanda. Sarah correu pela porta, com a faca em suas mãos pronta para matar. Quando saiu do refeitório, olhou pelo corredor, Aaron e Megan já estavam dobrando para outro corredor. Sarah correu com todas as forças atrás deles. Quando ia dobrando o corredor, foi acertada no rosto pelo salto alto de Megan. Logo abriu um ferimento na testa dela, que caiu no chão. Aaron puxou Megan, que ainda jogou seu salto no peito de Sarah. Sarah pegou em sua testa, estava saindo sangue, ela ficou com mais raiva ainda e prometeu para si mesma que iria matar os dois. Levantou-se do chão e correu atrás deles.

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Dobrou em outro corredor, onde viu uma porta aberta e outra fechada, uma de frente para a outra. Ela pensou em qual eles poderiam ter entrado, e escolheu a porta aberta, era o laboratório de ciências. Megan e Aaron estavam escondidos embaixo da segunda mesa de lá, torcendo para Sarah ter entrado pela porta fechada. Sarah andava pela sala, procurando pelos dois. Lambeu o próprio sangue que escorria da testa e caia sobre sua boca. Ficou de costas para a mesa onde estavam Megan e Aaron, no exato momento em que Megan tirou o outro salto e golpeou a cabeça dela. Sarah virou-se para ela e, com fúria, foi em sua direção, mas Aaron colocou seus pés. Sarah tropeçou e caiu, mas esfaqueou a perna de Aaron. Com um vidro que continha uma barata gigante dentro, Megan tentou acertar Sarah, mas ela desviou. Aaron levantou-se, gemendo de dores na sua perna.

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Sarah levantou-se e socou o rosto de Aaron, bem no meio. Megan deu um grito e tentou socar Sarah, que desviou facilmente. Ela era fraca demais para brigar, Sarah riu de seus movimentos. Deu-lhe apenas um tapa, Megan caiu pro lado.

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Ainda no refeitório, Brandon tentava deixar Amanda ainda mais desconfortável. Começou a falar com detalhes o que sentia por ela, mas que infelizmente ela tinha que morrer, assim como todos os outros. - Brandon, por favor... – Pediu Amanda. - Você está implorando? Pensei que só desse ordens. - Você... Você tem idéia de como me magoou agora? - Na verdade, tenho sim – Ele sorriu – Era essa a idéia, saciar meus desejos quase

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fraternais e depois matar você por ter roubado meu lugar. Meu roteiro é simples. Pensei que já tivesse entendido. - Então o que está esperando para me matar? Me ama demais pra isso? - Há! – Ele riu – Não me provoque, maninha. - Então por que não atira logo em mim? Se quer me matar, é isso que precisa fazer... - Amanda... - Me mate, Brandon – Provocou Amanda – Não era seu grand finale? – Amanda pegou na arma que estava apontada para o seu coração e a colocou em sua testa. Ao mesmo tempo em que torcia pela apelação ao amor de Brandon por ela funcionar, uma parte sua queria que ele simplesmente apertasse o gatilho e acabasse com aquele sofrimento. Ela sentiu a ponta da arma gelada em sua testa, enquanto todos os centímetros de seu corpo se preparavam para um possível disparo.

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Brandon olhava para Amanda, finalmente sua expressão tinha mudado de psicopata malicioso para doente surpreso. Não acreditava que Amanda havia feito aquilo, pensou que ela iria implorar pela sua vida e morrer como uma vadia de verdade, que era o que ela era. Mas Brandon, não conseguia atirar. Ele estava decidido e com a arma apontada para a cabeça dela, mas de alguma forma não conseguia matá-la. - Se você não consegue me matar... Pra que essa arma? – Amanda deu um chute no meio das pernas de Brandon. Brandon sentiu uma dor incrível. Caiu de joelhos e recebeu um murro de Amanda. Ele caiu pro lado, e soltou a arma. Amanda correu para pegar, mas levou uma rasteira dele e caiu de boca no chão, por sorte não havia quebrado nenhum dente. Ela virou-se para ele e acertou mais um soco no rosto. Levantou-se e correu até a arma. Quando pegou e virou de costas, Brandon já estava de pé. Ela descarregou a arma em seu peito, até puxar o gatilho e não sair mais

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nada. Brandon caiu no chão, todo baleado. Amanda jogou a arma encima dele e disse: - Toma essa, irmãozinho. Amanda ficou olhando para ele no chão, sentindo pena dele e de si mesma. Como ela ainda conseguia sentir pena dele? Como, depois de tudo o que ele fez? Ela deu meia volta e andou na direção da porta de vidro. Não ouviu quando Brandon se levantou do chão. Ele correu atrás dela, que só percebeu sua chegada na hora do impacto, que foi tão grande, que os fez atravessar a porta de vidro com tudo e esbarrar na parede do corredor.

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No laboratório, Sarah observava Megan e Aaron jogados no chão. Alvos tão fáceis que tinha pena de matar ali mesmo. Lembrou-se da irmã, tão cretina e manipuladora, parecia

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um rato correndo de um lado pro outro, mesmo sabendo que não havia como fugir do gato. Sarah abaixou-se, ficou de joelhos na frente de Aaron, que olhava para ela suplicando. Ele segurava na perna com a mão direita, estava saindo muito sangue. - Hora de morrer – Ela preparou a punhalada, mas foi atingida com o spray de pimenta de Megan. Sarah deu um grito, seus olhos estavam sendo queimados vivos. Levantou-se e andou de costas, estava com as mãos nos olhos vermelhos, que pareciam que iam pular. Megan andou até ela e espirrou mais, queria esvaziar o vidro nos olhos da assassina. Fechou sua mão num punho e esmurrou Sarah. O soco pegou em cheio, Sarah caiu no chão, atordoada. Ainda pegava em seus olhos, que queimavam. - Megan! A faca! – Gritou Aaron. Megan olhou a faca estava jogada perto

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dele, havia caído das mãos de Sarah quando recebeu o spray de pimenta nos olhos. Megan correu até lá e pegou a faca. Depois andou até onde Sarah estava jogada. Sarah balançava a cabeça, estava chorando, seus olhos estavam em carne viva. Megan abaixou-se e olhou pra ela, com superioridade. - Diga olá pra sua irmã no inferno, vadia! – Megan levantou a faca, preparada para matá-la. - Hahaha! – Sarah riu – Eu irei. Megan enfiou a faca em sua boca, com todas as forças, ela sentiu a faca chegando até o chão. Ela olhou para Aaron lá atrás, foi logo ajudá-lo.

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Enquanto uma assassina já tinha morrido, o outro não dava nem sinais. Amanda levantou-se do chão, cortando sua mão nos cacos de vidro ao seu redor, a pancada havia sido forte. Do seu lado, desmaiado, estava Brandon. Ela olhou para os furos das

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balas em seu peito, não havia sangue nenhum, não entendia como ele não tinha morrido. Levantou-se do chão, ela sabia que ele não havia morrido, eles nunca morrem facilmente. Pensou logo no machado que havia jogado, assim poderia matar Brandon. Andou até lá, mancando, sua perna estava machucada. Foi só chegar perto pra sentir outro puxão. Brandon virou-a de frente para ele e a empurrou na maquina de chocolate. O vidro da máquina quebrou, e as costas de Amanda pareciam estar quase quebradas. Ele a enforcou, estava fitando seu rosto bem de perto. - Colete a prova de balas, maninha – Ele disse – Todos assassino deveria ter um. Amanda estava desesperada, os dedos de Brandon estavam cravados em seu pescoço, e ela mal podia respirar. Pegava em seu braço, mas não tinha forças suficientes para pará- lo, estava à beira da morte. E no desespero, acabou enfiando seu dedo

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dentro do olho dele. Brandon não fechou a tempo, e o dedo de Amanda acabou perfurando seu olho, de

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verdade. Ele a largou no mesmo momento, começou a gritar. - Sua vadia maluca! Você furou meu olho! Desgraçada! Eu vou te matar! Amanda caiu no chão, segurou na garganta e tossiu, se tivesse demorado mais um pouco ela teria morrido. Ela fitou Brandon, se debatendo igual um louco, segurando seu olho que sangrava. Amanda olhou pro lado e viu o machado embaixo da mesa. Não pensou duas vezes e o pegou. Fitou brandon, que já havia visto ela de novo. Seu olho estava um estrago, o sangue escorria de seu rosto e caia em sua boca, de onde saíam insultos. - Eu vou te matar, desgraçada! – Ele correu na direção de Amanda, que deu um grito e levantou o machado. Ela o golpeou no pescoço. A cabeça de Brandon já estava fora de seu corpo, caiu bem ao lado de Amanda. Ela olhou para o corpo do irmão, sem cabeça, sangrando no chão e sentiu aquela dor

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imensa, que fez suas pernas perderem as forças. Ela caiu de joelhos no chão, chorando, gritando, agradecendo e se culpando. Ela podia sentir tudo naquele momento. Só queria seu irmão de volta. Queria acordar naquele momento e descobrir que tudo foi um sonho horrível, que Brandon iria aparecer na porta de seu quarto, preocupado, perguntando se estava bem. Queria deitar na perna de Brandon e ouvi-lo levantando seu astral, fazendo ela se sentir a melhor pessoa do mundo. Queria ver Brandon sorrir, dizendo que a ama, levantando as mãos pro céu e dizendo que tinha a melhor irmã do mundo, mesmo não sendo verdade, mas nada disso iria mais acontecer. Brandon estava morto, porque era o assassino. Matou todo mundo, e no final teve o que merecia. Amanda colocou sua cabeça no chão, as lágrimas caíam e formavam uma poça, ela só sabia que não agüentava aquela dor. A maior parte de si queria estar morta, tudo era melhor que aquilo.

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Megan e Aaron entraram no refeitório e viram o que tinha acontecido. - Ai meu Deus... – Sussurrou Megan. Aaron, mancando, correu atrás de Amanda. Ela chegou até ela que estava no chão e pegou em suas costas, sem dizer nada. Nenhuma palavra iria mudar o que tinha acontecido. Amanda levantou a cabeça do chão e abraçou Aaron, com todas as forças. - Eu matei ele! Eu matei ele! – Ela dizia. Lágrimas começaram a rolar dos olhos de Megan, ela não estava agüentando ver Amanda daquele jeito. - Calma, tudo bem – Pedia Aaron – Você fez bem, já passou, já passou... - Ele batia nas costas de Amanda, como se quisesse niná-la. Megan virou de costas quando os olhos de Aaron bateram nela, não queria que ele a visse chorar. Limpou as lágrimas e olhou pelas janelas do refeitório, logo quando um barulho de policia começou a

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surgir. Ela se espantou, mas não falou nada, não queria atrapalhar Aaron e Amanda.

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A porta do colégio estava lotada. Mais uma vez, repórteres e policiais ocupavam o espaço, todos queriam saber sobre como tudo terminou. Após Amanda e Aaron falarem com a policia, a noticia se espalhou. Cada jornalista ali presente sabia de toda a história, e estavam transmitindo tudo ao vivo. Todos os canais estavam lá. O mundo estava completamente em choque, mas feliz por tudo ter passado. - Finalmente a história dos assassinatos que aterrorizaram os moradores de New Britain chegou ao fim. De acordo com nossas fontes, Amanda Rush, Aaron Estwood e Megan Bower enfrentaram sozinhos a ira dos assassinos. Ao que tudo indica, o irmão de Amanda Rush, Brandon Rush, enlouqueceu quando descobriu que era adotado e, junto de Sarah Richards, iniciou um massacre baseado nos filmes “Pânico” que resultou em dez mortes. As vítimas já foram interrogadas, Amanda foi

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levada ao hospital com ferimentos leves, enquanto Aaron já foi liberado. Megan olhava de longe para os repórteres, desejando ser uma deles. Ela não via a hora de ficar em frente a uma câmera, falando sobre as notícias do dia, mas sabia que não conseguiria tão fácil. Escorada em um carro policial, Megan olhava para Aaron, que estava começando a ser atacados por repórteres. Ele parecia tão cansado, física e mentalmente, que não estava nem um pouco interessado em dar entrevistas. Megan, por outro lado, ainda queria aquilo. Ela já sabia que fama e dinheiro já não importavam tanto como o milagre de ter sobrevivido, mas ainda era seu sonho. Só que com tudo que aconteceu, já estava conformada. Ela nunca seria famosa, nunca seria repórter, e sempre seria esquecida. Abaixou a cabeça quando Aaron olhou para ela, estava envergonhada. Foi então, que ele teve uma idéia. - Vocês querem uma matéria? Aqui vai

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uma. Estão vendo aquela garota? – Ele apontou para Megan, que olhou para ele, confusa – Ela salvou a minha vida! Devo tudo a ela! – Aaron andou rapidamente até Megan, segurou com as duas mãos em seu rosto e a beijou. Megan ficou paralisada com o beijo, aquilo era totalmente inesperado, e completamente bom. Os repórteres seguiram Aaron, todos estavam filmando o seu beijo com Megan. Quando parou, olhou nos olhos dela, sentindo aquelas borboletas no estômago que não sentia há anos. O beijo foi tão bom para ele, que começou a se perguntar por que não havia feito antes, enquanto os olhos de Megan brilhavam. - O que foi isso? – Ela perguntou. - Eu não sei... – Disse ele, com a respiração ofegante – Mas foi irado. Megan sorriu e eles se beijaram de novo. O beijo foi quente e molhado, e isso deixou os repórteres frenéticos, gritando por mais

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noticia, querendo mais alguma coisa para suas matérias.

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Amanda descansava na cama do hospital, estava se sentindo muito mal. Tentava não lembrar de Brandon, mas era impossível. Para qualquer lugar que olhava, ele lhe vinha à cabeça. O médico entrou na sala, lendo uns papeis. Posicionou-se em frente ao leito de Amanda, que olhava pra ele, com medo. - Bom, Amanda, você vai sair logo, logo daqui – Ele disse, ainda olhando para os papéis. Virou uma das páginas e olhou para ela – Você teve muita sorte, sabia? - Sorte... – Amanda repetiu – O que eu tive foi tudo, menos sorte... - Bom, você receberá alta amanhã. Só quero que permaneça aqui esta noite, só para ficarmos de olho em você. - Tudo bem... – Amanda olhou para suas mãos encima de sua barriga, aquele aparelho preso ao seu dedo estava incomodando. - Tente dormir, agora, ok? Sei que não é a melhor hora para falar disso, mas...

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Sinto muito, pelo seu irmão... - Eu sei... – Amanda olhou pra ele, agradecendo a compaixão, era disso que precisava no momento. - Ah, sim, pelo menos não aconteceu nada com o bebê... - O que? Que bebê? - Você não sabia, Amanda? – O doutor a fitou, sério – Você está grávida. O coração de Amanda disparou mais uma vez, e seu ar faltou. Se ela já quis morrer alguma vez na vida e não teve certeza, teve naquele momento, onde ela não sabia mais como sua vida podia piorar... FIM