A Que Ponto Chegamos

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Política

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A que ponto chegamosResenha da Internet Tera, 22/9/98A que ponto chegamosJornais ocultam dos leitores ato pblico e lanamento de revistaque faz balano crtico do governo FHCA imprensa tornou-se incapaz de conviver com a diferena e por isso publicaes como Praga a incomodam. A face totalitria do sistema sempre surge, quando se pretende construir uma crtica global e uma alternativa concreta ao neoliberalismo.Se voc vive em So Paulo, vale a pena perder 30 segundos e anotar na agenda agora. Um conjunto de intelectuais que no ficou de costas para o Brasil promove na prxima quinta-feira (dia 24), a partir das 18h30, um debate sobre quatro anos de governo FHC. Marcado para o anfiteatro do Instituto de Histria da USP (na Cidade Universitria), o evento tem alguns ingredientes das manifestaes que a oposio ao regime militar costumava promover no final dos anos 70, quando um outro milagre estava chegando ao fim. Ser feito o lanamento de uma publicao instigante (a edio nmero 6 da revista Praga). Estaro presentes figuras de destaque (o filsofo Paulo Arantes e a sociloga Maria Vitria Benevides so certeza; Tarso Genro, Emir Sader e Francisco de Oliveira so aguardados). E haver espao para a arte no-comercial (O grupo Lata de lixo, dos alunos da Filosofia da USP far a leitura dramtica de um texto). Ao contrrio do que ocorria h vinte anos, porm, voc no ficar sabendo do debate por seu jornal dirio. Embora informado, o prprio caderno Mais! (Folha de S.Paulo), que pretende passar por independente, recusou-se a noticiar o fato. uma pena, mas sintomtico. Lanada em 96, sempre profunda e quase nunca hermtica, Praga reservou a edio que ser lanada quinta-feira para um balano do governo FHC. Reuniu um time de articulistas que inclui Alfredo Bosi, Carlos Nelson Coutinho, Fernando Novais, Francisco de Oliveira, Joo Manuel Cardoso de Mello, Joo Sayad, Marilena Chau, Maria da Conceio Tavares, Maria Victoria Benevides e Paulo Arantes. Foi capaz de abordar quase todos os temas da agenda nacional: do choque de projetos estratgicos revoluo no ensino; do avano do capital financeiro crise da Previdncia; da reforma agrria ao embrutecimento das periferias e ameaa de autoritarismo. provvel que o pecado de Praga resida nesse esforo de tornar pblicos os impasses brasileiros e de mostrar que para todo problema social h sempre mais que uma nica alternativa. Quem leu os jornais de domingo dificilmente deixou de reparar que, diante do fracasso evidente da poltica econmica que apoiaram ao longo de quatro anos, eles j preparam uma nova ofensiva desinformadora. Trata-se, agora, de justificar as j inegveis negociaes entre o governo e o FMI, de apresentar como ajuda o pacote de medidas durssimas que sero impostas populao e, em especial, de alegar que no resta ao pas outra alternativa.Tal imprensa tornou-se incapaz de conviver com a diferena, e por isso publicaes como Praga a incomodam. Isolados, boa parte dos articulistas da revista tm algum espao nos jornais dirios, que precisam aparecer como democrticos. Mas as portas se fecham quando se pretende construir uma crtica global uma alternativa concreta ao neoliberalismo. Nessa hora, surge a face totalitria do sistema e se percebe que oposio boa a... que no pode mudar nada. Em homenagem ousadia de Praga, a Resenha da Internet reproduzir em duas partes (amanh e depois) um de seus artigos brilhantes. Pesquisadores consagrados em suas reas, o economista Joo Manuel Cardoso de Mello e o historiador Fernando Novais escreveram, juntos, o texto A que ponto chegamos, uma anlise original sobre a nova crise brasileira. Para eles, tanto a industrializao iniciada pelo getulismo quanto a globalizao de Collor e FHC fracassaram porque faltou ao pas revolver em profundidade sua estrutura social retrgrada e ultra-desigual, herdada basicamente do escravismo.Num dos artigos brilhantes da revista, o economista Joo Manuel Cardoso de Mello e o historiador Fernando Novais propem, juntos, uma hiptese original para a nova crise brasileira.Durante as longas dcadas da fase iniciada por Getlio, dizem Joo Manuel e Novais, ainda houve, por certo, uma poltica ativa de desenvolvimento econmico posta em prtica pelo Estado brasileiro sado da Revoluo de 30. O pas se beneficiou, alm disso, de um momento verdadeiramente excepcional da histria do capitalismo. Escaldadas pelos horrores da guerras e do nazi-facismo (que os autores apontam, corajosamente, como os efeitos do capitalismo sem freios), as sociedades haviam compreendido que era necessrio domesticar o sistema, neutralizar seus efeitos destrutivos, abrindo caminho, nos pases desenvolvidos, para polticas de reforma social, e, na perifieria, para a industrializao.Este capitalismo menos selvagem entrou em crise, a partir do incio dos anos 70. Os problemas apareceram com dureza no Brasil uma dcada depois, sob forma de uma crise da dvida externa. Como o poder poltico e o econmico continuaram concentrados nas mos dos donos do dinheiro (a plutocracia), a sada foi quebrar o Estado (...) e promover um ajuste externo que significou estagnao econmica e alta inflao, (...) para salvar o setor privado nacional, as empresas produtivas e os bancos. A reao popular foi a campanha das Diretas-J. Joo Manuel e Novais sabem que quase todos os que saram s ruas bradavam por muito mais do que eleies diretas para presidente: desejavam outro modelo econmico e social, que supunha um Estado verdadeiramente democratizado. O movimento fracassou, como se sabe, e a estratgia dos ricos e poderosos (mudar o regime para conservar o poder) acabaria desembocando no neoliberalismo. A novidade do texto publicado em Praga est em mostrar que a opo neoliberal mais um episdio na seqncia de fugas adotadas pelas elites desde o incio dos anos 70, quando ficou claro que o capitalismo no seria cordial para sempre. Diante da crise do petrleo (74), o governo Geisel optou por um endividamento externo brutal. Acossada pela crise das dvidas (82), a plutocracia socializou os prejuzos. Sob a ameaa da hiperinflao (94), FHC recorreu ao nosso milagre mais recente: entrada macia de recursos externos de curto prazo, abertura da economia, multiplicao das importaes e fim da inflao. Aps a crise do Real, qual ser a modernizao conservadora da moda? Choque fiscal contra os pobres e volta dos subsdios ao grande capital exportador, a pretexto de disputar de forma agressiva o mercado mundial?O resultado , em essncia, uma sociedade cada vez mais desigual e menos solidria. Os autores lembram que tanto a poltica de ajustamento dos anos 80, quanto o Plano Real, serviram de instrumento para a proteo e acumulao da riqueza privada. Mas frisam que a infmia sobrevive porque para garantir a dominao, [as elites] ajudaram a transformar a poltica tambm num negcio. Seu verdadeiro meio de fazer poltica no so os partidos, mas a grande imprensa e os meios de comunicao de massas. J as eleies, transformam-se num espetculo de TV, comandado por marqueteiros sempre competentes em mobilizar emoes. H sadas? A publicao de Praga um sinal de que sim. O debate na USP, tambm. Transformado em ato pblico, ele vai demonstrar que h gente disposta a dedicar algumas horas busca de alternativas que no rendem nem dinheiro, nem espao nos jornais mas podem nos tornar mais humanos. V, se voc puder. Manifeste sua solidariedade por email, se for impossvel estar presente (escreva para a professora Isabel Loureiro, uma das editoras da revista, em [email protected]). Pea Praga Editora Hucitec (HYPERLINK mailto:[email protected]) [email protected] ou 011-530.4532). Voc sabe que no ser possvel transformar o Brasil sem enfrentar a hegemonia cultural da plutocracia. Ao participar do ato, e ao ler a revista, voc ver que isso pode ser, alm de tudo, um prazer.