A questão da dimensão ética na analítica existencial de Heidegger

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    No entanto, no dessa tica que trataremos aqui, por umanica razo: Heidegger nunca aescreveu nem mesmo, ao que parece,

    pretendeu escrev-la algum dia. Das poucas vezes que tocou no as-

    sunto, tornou-se famosa uma passagem da carta Sobre o Humanismo(1947) onde narra que algum lhe pergunta, aps a publicao de Sere Tempo (1927): Quando escrever o senhor uma tica?2SegundoBenedito Nunes, a nica resposta pronta que Heidegger poderia terdado ao seu interlocutor era que a tica exigida j estava escrita aolongo do desenvolvimento da questo do ser ...3. Por qu? o pr-

    prio Heidegger quem nos diz ao evocar o sentido primordial de ethoscomo morada, lugar de habitao, estada, tal como falava

    Herclito. Para o filsofo do ser, mais importante que qualquer fi-xao de regras o homem encontrar o caminho para morar na verda-de do ser4.

    Pensar o carter primordial da tica a partir do ethoscomomorada , nas palavras de Bruce Foltz, o bastante para o desenvol-vimento de uma dimenso tica nopensamento heideggeriano5. ZeljkoLoparic vai mais fundo e aposta que, em Heidegger,... a problemti-ca da tica ocupa um lugar to central como a do ser ...6. Nosso

    propsito, portanto, neste trabalho, elucidar em que sentido pode-mos encontrar em Heidegger uma tica originria.

    1 O carter originrio de uma tica em Heidegger

    Na carta Sobre o Humanismo, Heidegger afirma que o ...pensar que pensa a verdade do ser como o elemento primordial do

    homem enquanto algum que ec-siste j em si uma tica originria7

    .Que significa isso? Que o pensamento do ser deve ser prioritrio emrelao ao pensamento conceitual ou organizao de saberes,como a tica, a Lgica, a Fsica e outras disciplinas. Heidegger chegaa afirmar que, antes da Academia platnica, no se conhecia disciplinafilosfica chamada tica, Lgica ou Fsica e nem por isso o pensamen-to daquela poca era imoral ou ilgico. Ele exemplifica dizendo que a

    physis, em relao Fsica posterior, nunca foi to genuinamente pensa-

    da e que as lies de Aristteles sobre ticano carregam o ethosdemodo mais originrio do que aquilo que se encontra oculto nas trag-

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    dias de Sfocles. ...os nomes como Lgica, tica, Fsica, ape-nas surgem quando o pensar originrio chega ao fim. Em sua gloriosaera os gregos pensavam sem tais ttulos8.

    Pensar a verdade do ser significa, para Heidegger, o mesmoque pensar a humanitasdo homohumanus, no entanto, sem o senti-do metafsico de humanismo, o que pressupe: longe de preocupa-es ticas que, munidas de instrues prticas, giram na rbita devalores, isto , no mbito da metafsica da subjetividade, do pensa-mento que representa, que objetiva9. Para o filsofo do ser, o va-lor ou o valorar est ligado a uma subjetivao; o ato de valorarde modoalgum deixa que o ente seja, mas leva em conta apenas o

    ente como objeto de seu operar10. O que entra em jogo na valorao simplesmente o que um objeto para um sujeito11, isto , o que ele em sua presena-constante. por esse motivo, considera Heidegger,que o pensar atravs de valores a maior blasfmia que se pode

    pensar em face do ser12. Isso, entretanto, no deve ser entendidocomo uma proclamao niilista de que o ente sem importncia, deque nada tem valor (a cultura, a arte, a cincia, a dignidade do homem,Deus etc.), mas, pondera Heidegger, significa levar para diante do

    pensar a clareira da verdade do ser contra a subjetivao do ente emsimples objeto13.

    Podemos, ento, com isso, pressupor a razo de o autor deSer e Tempono ter empreendido um estudo especfico sobre tica:

    porque tendo suas razes no alicerce da metafsica, ela desobriga opensar de considerar aquilo que principalmente deve ser pensa-do14.E ainda: o apelo a uma tica, para Heidegger, provm da com-

    pleta desorientao do homem atual, revelando-se como algo quevem indicar o caminho mais seguro ou mais adequado a seguir,como ele afirma em sua carta Sobre o Humanismo15.Nessa perspec-tiva, mais do que esperado que o filsofo do ser se esquive de umatal tica ou de qualquer esforo de conduzir a essncia do homem aesquemas explicativos do domnio da subjetividade.

    Segundo Andr Duarte, a atitude de Heidegger, ao se afas-tar de teorizaes ticas, nada mais do que o cumprimento da ...

    prpria condio para se investigar mais a fundo o que est em jogo naatual desorientao humana .... Continua ele: Recusar-se a escrever

    http://0.0.0.0/http://0.0.0.0/
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    a doutrina tica exigida pelos homens do presente recusar-se a es-crever com as tintas da metafsica, evitando comprometer o pensa-mento com as prprias causas de nosso dilema16.

    No artigoLa Question de lthique aprs Heidegger, AlainRenault e Luc Ferry afirmam que nos textos heideggerianos, parado-xalmente, a dimenso tica no est de modo algum ausente17. Eleschegam a sugerir que h uma espcie de denegao na medida emque o Filsofo, posicionando-se contra a tica, faz uso de termosimbudos de conotaes ticas: decadncia, culpa, conscincia,dever, autenticidade, inautenticidade, vigilncia, coragem,declnio, a idia de tarefa a realizar etc. Segundo eles, o objetivo

    desta prtica da denegao, conseqentemente, muito claro: expul-sar todas as conotaes moralizantes incompatveis com a viso de umempreendimento que se esfora de pensar o fim do homem como su-

    jeito. Todo o problema , entretanto, o de compreender por que estasconotaes so introduzidas: por que dar ao propsito uma coloraotica to marcada? ...18.

    Osongo-Lukadi outro autor que se dedicou a mostrar adimenso tica nos textos de Heidegger. Para ele, em Ser e Tempo, osexistenciais, ou seja, modos de existir como ser-no-mundo, no ape-nas se delineiam como maneiras de ser (Seinsweisen), mas, simulta-neamente, como maneiras de agir (Handlungweisen). Sem preten-der elaborar uma filosofia prtica ou uma tica no sentido clssicoa partir da ontologia fundamental, nem tampouco desfazer o projetoinicial de Heidegger, Lukadi defende que h a presena quase essen-cial ou original de um agir no mago do projeto existencial doDasein

    do homem19

    . Baseando-se em comentadores como Volpi e Taminiaux,que investigam uma possvel reapropriao heideggeriana da filosofiaprtica aristotlica, Lukadi quer mostrar que a preeminncia ontolgicada anlise do ser-a, guiada pela ticaaristotlica. No entanto, noiremos nos aprofundar nessa linha de pesquisa do autor, visto queextrapola os limites de nosso artigo.

    Importa-nos perguntar: que tica esta?Em Ser e Tempo, em tom de interrogao, Heidegger diz:

    Mas no h, na base de toda interpretao que nstemos feito daexistncia doDasein, certa concepo ntica da existncia prpria,

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    um ideal factcio doDasein? Tal o caso20. Ele mostraque a suaanaltica existencial uma anlise ontolgica, mas tambm, ao mesmotempo, uma anlise ntica da existncia do ser-a, afinal, ele compre-

    endido ontologicamente no modo de ser da cotidianidade, tal como antes de tudo e na maioria das vezes21. o que afirma Heidegger.Vejamos:

    Quanto analtica existencial, sua ltima raiz no menos existenciria, isto , ntica. Somente quandoo questionamento inerente investigao filosfica,tal que o Dasein sempre existente na possibilidadede seu ser, seja apreendido existenciariamente, ha-

    ver a possibilidade de uma captao daexistencialidade da existncia e pela mesma possibi-lidade, se possa colocar uma problemtica ontolgicaassegurada em suas bases22.

    No entanto, preciso que se faa a distino entre a pesqui-sa ntico-emprica e a pesquisa ontolgico-transcendental. precisoque estejamos atentos ao ponto de partida(ao mtodo) da investiga-

    o de Ser e Tempo.O que importa para Heidegger, como ressaltaLivio Osvaldo Aranhart, em seu estudo sobreExistncia e Culpabili-dade, no so os contedos vivenciais da existncia, os contedosqididativos, mas sim a descrio fenomenolgica da forma,do modode ser, do como do existir humano23. Segundo o autor de Ser eTempo, na cotidianidade, no so estruturas ocasionais mas, ao con-trrio, estruturas essenciais que sero postas em evidncia, as que emtodo o gnero de ser doDaseinexistindo factivamente mantm- se

    como aquelas que o determinam em seu ser24.Portanto, no se trata de uma anlise objetiva da existncia

    de um ente, mas , antes, uma analtica da existencialidade da existn-cia, uma hermenutica, neste caso, destituda de qualquer referncia subjetividade, a umsubstratumantropolgico. Em outras palavras,a existncia concebida pelo filsofo do ser no se refere a deter-minada idia de existncia, a qididades fixas, estticas, isto , no temo mesmo sentido tomado pelos escolsticos para os quais existentialiteralmente significa o ser subsistente25, tampouco significa o esfor-o existencial, por exemplo, moral, do homem preocupado com sua

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    identidade, baseada na constituio psicofsica26. Heidegger empregaa palavra existncia(Existenz)exclusivamente para designar os mo-dos de ser do ser-a, os existenciais, para distingui-los doscategoriais,

    os modos de ser dos entes no-humanos, os entes chamados por elede entes simplesmente dados.Assim, as indicaes de uma tica na hermenutica

    heideggeriana do existir humano esto intimamente relacionadas existencialidade do ser-a.

    2 O ter-que-sercomo conceito ontolgico dodever

    impossvel ao ente simplesmente dadoguardar uma pro-ximidade com o seu prprio ser. Para Heidegger, ... ele de tal ma-neira que o seu ser no pode ser para ele nem indiferente nem no-indiferente27. Fechado em si, o ente simplesmente dadono sabe oque , nem lhe dado o encontrocom outros entes. S o ser-a ec-

    siste, isto , s ele capaz de sair de si, de ultrapassar a si mesmo, deser o que eleprojeta ser, de ser o seupoder-ser. Somente oDaseincapaz de assumir a responsabilidade pelo ser que sempre seu.

    por esse carter deJemeinigkeit, o ser-sempre-meu, que o ser-apode dizer eu sou sempre eu mesmo28, e dizer eu sou, dizer queo ser-a a sua possibilidade existencial, isto , ele est sempre impli-cado com o seu poder-ser. Nesse caso, no se trata de um mera-mente terico-constatativo (ser subsistente), mas de um no sentido

    prtico-auto-referencial de algum que, ao dizer-se que (existncia),compreende-se como situado, lanado em determinadas possibilida-

    des (facticidade) das quais ele no pode esquivar-se, e entregue responsabilidade intransfervel de assumir o ser que seu, assumir oseu ter-que-ser29. Assim, ao ter-que-ser, inseparavelmente, est liga-do um outro conceito, o de responsabilidade. Mas no uma respon-sabilidade vinculada a um dever moral ou obedincia a leis, regras/normas ou a causas supremas (Deus, por exemplo). Ao contrrio, tra-ta-se de uma responsabilidade originria30de um deverradicadono ser do ser-a31, como j veremos, um dever de cuidar de seu

    ser, dos outros e dos entes intramundanos.

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    Nesse sentido, estamos falando de um modo de existir de umente a quem exigida a tarefa de realizar o seu ser ou, em outras

    palavras, de um ente cuja essncia consiste em ter-que-ser (Zu-sein-

    haben)32

    si-mesmo. , pois, base do conceito de ter-que-serque,conforme Loparic, a traduo existencial-ontolgica do conceitometafsico do dever33, que podemos compreender a noo de umatica marcadamente finita na analtica existencial.

    Mas como acedemos ao nosso ter-que-ser? SegundoHeidegger, pela aberturaprimordial dadisposio34(Befindlichkeit):o modo de ser que marca a situao em que o ser-a desde sempre seencontra, como ser-no-mundo. Diz de uma certa tonalidade afetiva

    (Stimmung) que o coloca diante de sua existncia, diantedo fato deseu a que se lhe impe sem explicao possvel35. esse estado dehumorque abreo ser-a para a sua existncia, revelando-a como um

    peso que ele tem que suportar. Nunca imune a uma disposio denimo, que o faz sentir-se sempre deste ou daquele modo, o ser-a,aberto aosere estar-lanado, levado aofato de ser e ter-que-ser36

    e entregue ao seu dever-ser responsvel pelo seu ser. O ter-que-ser algo colocado diante de ns pelo nosso prprio ser.

    Portanto, ter-que-ser, antes de tudo, significa ter-que-ser-a-no-mundo, habitar, morar, estar familiarizado a; o instituir, olegitimar, o abrir e projetar o mundo; portanto, ser-junto-das-coisas e ser-com-outros ou, de outro modo, um ter-que-se-ocu-

    par do ente intramundano e um ter-que-se-preocupar-com-outros37.Fundado na disposio, o ter-que-ser pode ser dado de duas

    maneiras: uma, no modo imprprio que se caracteriza pela fuga da

    responsabilidade na convivncia cotidiana; e a outra, no modo pr-prio, que se caracteriza pela escuta da voz da conscinciaresponsabilizadora do si-mesmo prprio. As modalidades de ser pr-

    pria ou impropriamente, preciso lembrar, no devem ser tomadas nosentido moral ou antropolgico, mas so determinaes ontolgicasda existncia.

    Antes de avanarmos na questo de saber como acedemos voz da conscincia que possibilita ao ser-a a apropriao de seu si-

    mesmo prprio, devemos examinar quem oDasein, como ele serelaciona consigo mesmo, com os entes semelhantes a ele (tambm

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    Dasein) e com os entes intramundanos. Em outras palavras, quemque assume o ser enquanto convivncia cotidiana?38

    3 O quem da convivncia cotidiana

    ODaseinexiste como ente que tem que ser, tal que epode ser39. O ser-a se compreende a partir de seu poder-ser, dizHeidegger, no modo de ser fundamental de ser-no-mundo. E mun-do sempre aqueleque partilho com os outros40.

    Isso significa que, em sua compreenso de ser, o ser-a factidicamente um j-ser-junto-ao-mundo, um ser-com os outros no

    mbito da cotidianidade, no modo de ser da decadncia41. Que querdizer isso? Que o ser-a , de incio e na maioria das vezes, a partir doque se ocupa, no mundo do impessoal, conduzido pelo falatrio,

    pela curiosidade, pela ambigidade. E este o seu modo de ser maisprprio: relacionar-se com o ente que est mais prximo, naquiloqueele empreende, usa, espera, impede42,junto-com-outros, no mundocircundante. a partir da impessoalidade na qual o ser-a sente-sefamiliarizado que ele encontra a si-mesmo. Nesse sentido, Heideggerdeclara que onticamente, o ser-a o que est mais prximo de simesmo; ontologicamente, o que est mais distante; pr-ontologicamente,

    porm, o ser-a no estranho para si mesmo43. assim que, no Quarto Captulo da Primeira Seo de Ser e

    Tempo, Heidegger vai dizer que o ser-prprio do ser-a, o quemda convivncia cotidiana , na maioria das vezes, o neutro, isto , oimpessoal44. Diz de um modo especial de ser-no-mundo em que

    totalmenteabsorvido pelo mundo45

    , entregue s aparncias, aoser-como-todo-mundo, ao eu-tambm; estando mergulhado numser-cotidiano-com-os-outros, aderindo s opinies dos outros so-

    bre o que fazer, o que falar, o que interrogar, do que se informar, o queproduzir, como enfim,ser. Para Heidegger, trata-se de uma tendnciaessencial(bem entendida: ontolgica)de nivelamento de todas as

    possibilidades de ser46em que o ser-a foge de si mesmo, caindo nacotidianidade, entregando-se superficialidadee facilitaopr-

    prias do modo de ser da impessoalidade, dispensando-se da respon-sabilidade de ser, j que cada um o outro,e ningum si pr-

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    prio47. A impropriedade a escolha da no-escolha, a disperso, oanonimato que retira do ser-a as possibilidades mais prprias de sersi-mesmo. O modo de ser prprio-impessoal d- se na ausncia total

    de surpresa e de constatao: Quanto mais este modo de ser nocausar surpresa para o prprio ser-a cotidiano, mais persistente e ori-ginria ser sua ao e influncia48. Ou, em outras palavras, quantomais visivelmente gesticula o impessoal, mais difcil perceb-lo eapreend-lo e menos ele se torna um nada. (...) o impessoal se revelacomo o sujeito mais real da cotidianidade49.

    No entanto, o impessoal no uma espcie de sujeito uni-versal que paira sobre vrios outros50. O que Heidegger quer fazer

    notar que o si-mesmo prprio ou imprprio, doDaseinbem comodos outros em sua co-existncia, no se d isoladamente, como v-rios sujeitos dispersos no mundo ao lado de outras coisas51, mas o

    Daseinno mundo compartilhadodas preocupaes ocupadas nocotidiano. Ou ainda: ele s enquanto ser-com, mesmo convivendonos modos de deficincia eestranheza, modos de preocupao ca-ractersticos e mais freqentes da convivncia cotidiana, (...) quandocada Dasein de fato no se volta para os outros, quando acredita no

    precisar deles ou quando os dispensa, ele ainda no modo de ser-com52. Isso no significa que os outros sejam para oDaseincomohomens-coisa, com quais se ocupa como instrumentos que esto -mo, mas, como entes que igualmente possuem uma compreenso

    prvia do ser, mantm com eles uma relao ontolgica de ser-no-mundo; co-existem.

    Nesse sentido, como defende Duarte, o solipsismo existen-

    cial de Ser e Tempono implica a aniquilao do campo em que sepodem travar as relaes ticas ..., como muitos pensam53. Para esseautor, a analtica existencial, a esta altura, se revelar num percurso

    profundamente tico, pois indicar a possibilidade de que oDaseinvenha a encontrar a si e ao outro em sua propriedade ...54. Continuaele: O carter tico da analtica transparece ao mostrar como a rela-o doDaseinpara consigo mesmo deve abrir o outro como outro55. o momento de examinarmos a condio ontolgico-existencial de

    possibilidade de ser livre para as possibilidades propriamenteexistencirias56.

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    5 Angstia: aberturaprivilegiada ao poder-ser prprio

    Para Heidegger, a angstia uma das possibilidades da aber-

    tura mais abrangentes e mais originrias, a abertura privilegiadaque retira do ser-a a possibilidade de se compreender a partir de seupoder-ser imediato e factual, ou seja, a partir da interpretao pblicana qual, na maioria das vezes, est mergulhado enquanto uma das

    possibilidades de ser-no-mundo das ocupaes e ser-com os outros. o rudo da ambigidade mltipla e variada do falatrio, omodo de ser-como-todo-mundo, a aderncia ao eu-tambm quedevem ser rompidos.

    A angstia rompe a familiaridade cotidiana, fazendo desabara proteo e a tranqilidade que o si-mesmo imprprio despojava naimpessoalidade. Como afirma Paul Ricoeur, o ser do si supe a tota-lidade de um mundo que o horizonte de seu pensamento, de seufazer, de seu sentir - em suma, de sua preocupao57. E este quadrode referncia que a totalidade de seu mundo que emudece, re-velando-se sem fundamento, ou melhor, revelando-se um nada defundamento. O ser-a sente-se fora de casa, estranho; pelo menostemporariamente, os entes intramundanos parecem perder a suasignificncia, a co-existncia dos outros j no lhe diz muita coisa. As-sim, a angstia libera o ser-a para

    ... oser-livreparaa liberdade de se assumir e esco-lher a si mesmo. A angstia pe o Dasein diante deseu ser-livre para...(propensio in...), a propriedadede seu ser enquanto possibilidade de ser aquilo quesempre . Mas este ser ao mesmo tempo aqueleao qual o Dasein enquanto ser-no-mundo est entre-gue58.

    Nesse sentido, isto o que a angstia faz: singulariza o ser-acomo ser-no-mundo, como solus ipse, possibilitando a modifica-o existenciria em que o si torna-se capaz de retratar-se sobre o

    anonimato do se (on)59

    , ao recuperar a escolha da escolha. osi que interpelado e que afetado de modo a torn-lo singular. Mas,como o si se separa do se?60. Ao ouvir o apelo da voz da cons-

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    cincia da culpa na angstia silenciosa, ao ouvir o seuser-culpado.Que escolha o si escolhe? Escolhe a responsabilidade pelo seuter-que-ser luz de no-mais-poder-ser si-mesmo. Escolhe, portan-

    to, a possibilidade de se compreender em seu poder-ser mais prprio,em sua finitude constitutiva. Implicado com suaspossibilidades mun-danas, o ser-a um projeto finito, umfundamento nulo, porquemarcado pela possibilidade de no-mais-ser-a.

    Dito de outra maneira, ao escolher ouvir o apelo da consci-ncia, o ser-a convocado a antecipar-se em seu poder-ser finito,colocando entre as suas possibilidades uma possibilidade intransponvel,irrevogvel, a mais prpria e a mais certa: a de ser-para-a-morte61.

    No se trata da morte enquanto evento, ou no dizer de Heidegger,de algosimplesmente dado, que mais cedo ou mais tarde nos levardeste mundo. Como assinala Michel Haar, o ser-para-a-morte no a abertura a uma morte annima e universal, (...) mas a descobertaatravs dessa possibilidade nica, insubstituvel e absolutamente certa,de minha temporalidade prpria62. O que entra em jogo aqui o fe-nmeno originrio da temporalidade do ser-a orientada sempre parao seu futuro, de maneira que ele pode, exposto s suas possibilidadesexistenciais, escolher ou deixar passar. Sendo uma possibilidade, terque escolher deixar outras para trs. Como Jacques Taminiaux afirma, o ser-para-a-morte que determina a totalidade do ser doDasein,isto , a totalidade do Cuidado(Sorge); na relao autntica com amorte que o Cuidado revela o que h de mais prprio ou autntico;enfim revela que a temporalidade [a finitude] o sentido ontolgico doCuidado63.

    A morte a possibilidade da impossibilidade quedesrealiza todo o nosso poder-ser, escancarando nossa finitude di-ante de ns; ela recai sobre a vida do homem como uma dvida(Schuld) que tem que ser assumida ...64.

    6 O ser-culpadocomo constituio ontolgica

    A culpa65(Schuld) surge como um chamado, uma voz

    ou apelo. Um apelo silencioso que vem de surpresa e que vem doprprioDasein.

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    o prprioDaseinque, desde sempre abertoa uma com-preenso de si, deve conceder a si mesmo a possibilidade de um ou-vir que o interrompa66e se deixe convocar pelo seu querer-ter-cons-

    cincia da culpa. Quando, porm, Heidegger fala de Schuld, o acento no eu sou. Quem est em dvida sou eu com o meu prprio ser-a. Com esta noo de ontologia da dvida, Heidegger quer separaro ser em dvida doDasein67da noo metafsica de dvida e deresponsabilidade ligada a um sujeito que deve, outro que credor,um algum que responsvel por a dvida de outro, enfim, que o

    ser, um com o outro, seja pblico.Para Ricoeur, precisamente aqui,podemos dizer que A ontologia vela sobre o limiar da tica68. Veja-

    mos o que o prprio Heidegger nos diz a respeito de uma tal dvidaontolgica:

    Um ente cujo ser cuidado no pode apenas assu-mir um dbito, ao contrrio, ele est, no fundo de seuser, em falta. Este ser em falta oferece toda a condi-o ontolgica de possibilidade para que o Daseinao existir possa tornar-se factivamente devedor. Esse

    ser em dbito essencial co-originariamente a con-dio existencial da possibilidade do bem e do mal nosentido moral, ou seja, da moralidade em geral e desuas possveis configuraes factuais. No pelamoralidade que o ser em falta originria pode se de-terminar porque ela prpria o pressupe69.

    Assim fica claro que, para Heidegger, existe a moralidade, a

    distino entre o bem e o mal, no entanto, ele coloca a moralidade numplano ontolgico. Ao fazer isso, o ser-culpado que constituiontologicamente o ser-a torna-se a condio de toda ao moral. EmSer e Tempo, o agir um agir acometido pela culpa de no-ser, por-tanto, o agir precede qualquer norma social, qualquer prescrio mo-ral que tenta fornecer garantias e segurana para o que verdadeira-mente bom ou justo.

    Nesse caso, a culpa, para o autor de Ser e Tempo, no tem

    causa externa, e por isso no pode ser expiada70; a culpa algo que prprio do ser-a. o ser-a finito que est em falta. Da mesma forma,

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    o perdo tambm no tem sentido, muito menos a salvao71, uma vezque a falta, o pecado intrnseco ao modo de ser do ser-a. Isso fazRicoeur, muito pertinentemente, afirmar um trao ontolgico previs-

    vel a toda tica. (...) Infelizmente, diz ele, Heidegger no nos mostracomo poderamos percorrer o caminho inverso: da ontologia para atica72.

    Nessa perspectiva, na analtica existencial, a conscincia(Gewissen) uma constituio ontolgica do ser-a, um fenmenooriginrio que antecede toda descrio psicolgica, biolgica ou teo-lgica73. Aqui, tambm, oser-culpado(Schuldigsein), no sentidoheideggeriano, est livre de conotao moral ou religiosa que oferece

    instrues sobre o certo e o errado. Ricoeur d nfase ao senti-do primordial deGewissencomo atestao (Bezeugung) antes dequalquer referncia que possa fazer capacidade de distinguir o beme o mal e de responder a essa capacidade pela distino entre boa em conscincia74.

    A conscincia to somente atesta para a condio de finitudedo ser-a, para a ciso que o constitui enquanto ente finito: de um lado,esto as possibilidades mundanas (nticas) de seu prprio ser-a-no-mundo e, de outro, a possibilidade extramundana (ontolgica)de no-poder-mais-ser-a. No h escapatria. No h como superaressa ciso ontolgica. Nesse sentido, o ser-a chamado a existircomo fissura75. Essa a sina que ele est fadado a carregar. Ento,que fazer?

    Escolher por escutar o clamor da conscincia da culpa, ouescolher por deixar-se guiar pelo seu poder-ser imprprio, pelo tem-

    po inautntico da publicidade, recusando-se a assumir a sua finitudedando ouvidos ditadura do se: se faz, se pensa, se traba-lha, se brinca, se diverte ... como todo mundo o faz76. assimque, para Heidegger, querer-ter-conscincia significa, estar aberto compreenso de seuser e estar em dbito mais prprio, ter cuida-do com o seu ser, antecipando-se morte77.

    Nessa perspectiva, a voz da conscinciada compreenderao ser-a que ele e est em dbito, isto , que, enquanto lanado e

    decadente, estranho a si mesmo, envolvido na curiosidade, na tagare-lice, na ambigidade de seu ser-impessoal, ele tem-que assumir o seu

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    ser-para-a-morte, antecipar-se morte, responsabilizar-se por suaexistncia e pela existncia dos outros, na medida em que, livre paraassumir o seu poder-ser mais prprio, ele ajuda o outro a ficar

    transparente para si mesmo78

    . O querer-ter-conscincia d-se comouma mudana no modo de existir. somente assim, ouvindo a vozda conscincia que responsabiliza, resoluto, decidido por ser si-mesmo, que o ser-a capaz de relaes autnticas com outrem,capaz de solicitude que antecipa e liberta o outro dele prprio79. isso o que pensa Heidegger: do ser si-mesmo propriamente (...)que nasce a prpria convivncia e no de arranjos equvocos e inve-

    josos nem das alianas tagarelas do impessoal e nem ainda de qual-

    quer coisa que, impessoalmente, se queira empreender80.

    Consideraes finais

    Podemos dizer que a tica acenada em Ser e Tempo umatica da finitude, ligada a uma hermenutica do ser-a, portanto, radi-calmente distinta da noo comum da tica tradicional a respeito dosvalores, da natureza, da boa vida, dos princpios de juzo e da deriva-o dos imperativos morais81. Destituda de fundamentos ltimos, os

    principais deveres do ser-a, como ressalta Loparic, consiste em es-tar-aberto, em assumir o seu ter-que-ser como modo de ser maisoriginrio do que qualquer norma categrica ou dever absoluto acumprir. A tica que o horizonte terico de Ser e Tempovislumbra noest preocupada em estabelecer critrios racionais e morais para oagir e para o pensar. Trata-se de uma tica originria, uma tica do

    habitarno mundo-projeto, o que quer dizer: reconhecer e assumir afinitude constitutiva do prprio ser-a. E isso s possvel quando oser-a se dispe a ouvir o apelo silencioso e angustiado de seu ser-culpado. A, sim, ele poder agir livremente, responsavelmente.

    Entretanto, no estamos, com isso, sugerindo uma tica al-ternativa, no sentido de propor um modo melhor de viver. A ticada qual falamos no d solues para os sofrimentos, para os malesdo mundo. Se esse fosse o caso, ela estaria, podemos dizer, concor-

    rendo com as ticas metafsicas e, diga-se de passagem, sua con-corrncia no seria l muito forte. Estamos acostumados a obter res-

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    postas rpidas, sempre presentes, e o que queremos, luz de umarazo suficiente, buscar diminuir nossas dores e prolongar nossos

    prazeres. Estamos na poca da urgncia (Not) absoluta da suficin-

    cia (Notlosigkeit)82

    .No entanto, em nenhum momento, Heidegger se colocou con-tra a observncia de ticas. Ele no to louco quanto possa parecer.

    No podemos conviver sem tica; claro que necessitamos de nor-mas83sejam elas ligadas f ou razo. O que no podemos, e isso

    para Heidegger primordial, eleger a razo comonicosentido pos-svel de ser dos entes, ou seja, h de se manter um espao em quea objetividade inevitvel no se torne para ns ontologicamente

    inevitvel84. H de se cuidar de ser; h de se cuidar do sentido doser: tal o sentido essencial, ontolgico da responsabilidade humana.

    Notas

    1 Mestra em Filosofia pela UFPE2 HEIDEGGER, Martin. Sobre o humanismo. Trad. e notas de Ernildo Stein.

    So Paulo: Abril Cultural, 1973a. p. 367.3

    NUNES, Benedito. Crivo de papel. 2. ed. So Paulo: tica, 1998. p. 194.4 HEIDEGGER, 1973a, p. 371.5 FOLTZ, Bruce V.Habitar a terra: Heidegger, tica ambiental e a metafsica da

    natureza. Trad. de Jorge Seixas e Sousa. Lisboa: Piaget, 2000. p. 200.6 LOPARIC, Z. Sobre a tica em Heidegger e Wittgenstein.Natureza Humana

    -Revista Internacional de Filosofia e Prticas Psicoterpicas.v. 2. Ano 1,2000a. p. 129.

    7 HEIDEGGER, 1973a, p. 369.8 Iibid.p. 348.9

    Cf. FERRY, L. ; RENAULT, A. La question de lthique aprs Heidegger.In:______. Systme et critique: essais sur la critique de la raison dans laphilosophie contemporaine. 2. ed. Bruxelles: Ousia, 1992. p. 77 e 78.

    10 Cf. HEIDEGGER, 1973a, p. 365.11 Cf. FERRY, ; RENAULT, 1992, p. 77.12 HEIDEGGER, 1973a, p. 365.13 Ibid.p. 365.14 Ibid.p. 367.15 "A aspirao por uma tica urge com tanto mais pressa por uma realizao,

    quanto mais a perplexidade manifesta do homem e, no menos, a oculta, seexacerba para alm de toda medida. Deve dedicar-se todo cuidado possibi-lidade de criar uma tica de carter obrigatrio, uma vez que o homem da

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    tcnica entregue aos meios de comunicao de massa somente pode serlevado a uma estabilidade segura atravs de um recolhimento e ordenaode seu planejar e agir como um todo, correspondente tcnica (Ibid.p.367).

    16 DUARTE, Andr. Por uma tica da precariedade: sobre o trao tico em Sere Tempo. In:.Natureza Humana-Revista Internacional de Filosofia e Pr-ticas Psicoterpicas. v. 2. Ano 1, 2000. p. 77.

    17 Cf. FERRY, ; RENAULT, 1992, p. 86.18 Neste trabalho, que retoma uma comunicao apresentada em um Colquio

    organizado pelo Centre Culturel International de Cerisy-la-Salle em julho de1980, Renault e Ferryvo na direo de mostrar que estes traos marcantesde uma tica em Heidegger so relacionados a uma dificuldade especfica: dificuldade de dizer o ser que no seja por uma linguagem metafsica.

    Heidegger emprega os mesmos nomes utilizados na metafsica, mas os des-titui dos sentidos propriamente metafsicos, passando a serem entendidosanalogicamente ou metaforicamente. Da o uso to freqente de aspas, itli-cos, maisculos, e de todas as maneiras, de marcar sem poder verdadeira-mente dizer a diferena entre isto que significa os termos empregados e oquer fazer significar(Cf.Ibid.p. 86 a 89).

    19 Cf. OSONGO-LUKADI, Antoine-Dover.La philosophie pratique lpoquede lontologie fondamentele:le dialogue de Heidegger avec Kant. Paris:LHarmattan, 2001. p. 256.

    20

    HEIDEGGER, M.tre et temps. Traduit de lallemand par Franois Vezin.Paris: Gallimard, 1986.p. 370.21 Ibid.p. 42.22 Ibid.p. 38.23 ARENHART, Livio Osvaldo. Existncia e Culpabilidade: um estudo do par-

    grafo 58 de Ser e Tempo, de Martin Heidegger. Revista Veritas PUCRS.Porto Alegre, v. 43, n. 1, marc. 1998, p. 11.

    24 HEIDEGGER, 1986, p. 42.25 Ibid.,p. 73 e 75.26

    HEIDEGGER, M. Sobre a essncia da verdade. 5. ed. Trad. e notas de ErnildoStein. So Paulo: Abril Cultural, 1973b. p. 336.27 HEIDEGGER, 1986, p. 74.28 Cf.Ibid.p. 86.29 Cf.Ibid.,p. 180. e ainda: ARENHART, 1998, p. 13.30 Para uma leitura mais aprofundada sobre responsabilidade originria em

    Ser e Tempo, recomendamos o trabalho de LOPARIC, Z. Origem e sentido daresponsabilidade em Heidegger. Revista Veritas - PUCRS. Porto Alegre, v.44. n. 1. mar., 1999, p. 201-220.

    31 Cf. ARENHART, 1998, p. 13.32 HEIDEGGER, 1986, p. 73.

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    33 LOPARIC. tica e finitude. So Paulo: EDUC, 1995, p. 58 e tambm do mesmoautor: ______. tica da Finitude. In: OLIVEIRA, Manfredo de A:(Org.).Correntes fundamentais da tica contempornea. Petrpolis: Vozes,2000b. p. 68.

    34 No estado de humor, o Dasein sempre j descoberto segundo uma dispo-sio dada como este ente ao qual oDasein se entregou em seu ser como oser que existindo tem de ser (HEIDEGGER, 1986, p. 179).

    35 Ibid.p. 181.36 Ibid.p. 179.37 LOPARIC, 1995, p. 58 e 59.38 HEIDEGGER, 1986, p. 168.39 Cf.Ibid.p. 333.40 Ibid.p. 160.41

    importante deixar claro que a tendncia decadncia uma determinaoexistencial do ser-a. Ela no um estgio em que o ser-a fica aderido e,posteriormente, se desliga ao alcanar um nvel de desenvolvimento maisavanado ou puro. A cotidianidade dever ser interpretada ontologicamente,longe de interpretaes moralizantes e culturais.

    42 HEIDEGGER, 1986, p. 161.43 Ibid.p. 41.44 "O quem no este ou aquele, nem o prprio do imprprio, nem alguns e

    muito menos a soma de todos. O quem o neutro, o impessoal (Ibid.p.

    179).45 Ibid.p. 223.46 Cf.Ibid.p. 170.47 Cf.Ibid.p. 170 e 171.48 Ibid.p. 169.49 Ibid.p. 171.50 Ibid.p. 172.51 Cf. HEIDEGGER, 1986, p. 166.52 Ibid.p. 166.53

    Cf. DUARTE, 2000, p. 75.54 Ibid.p. 86.55 Ibid.p. 86.56 Cf. HEIDEGGER, 1986, p. 243.57 RICOEUR, Paul. O si-mesmo como um outro. Trad. de Lucy Moreira Cesar.

    Campinas: Papirus, 1991. p. 363.58 HEIDEGGER, 1986, p. 237.59 Cf. RICOEUR, 1991, p. 398.60 Cf.Ibid.,p. 398.61 Cf. LOPARIC, Zeljko.Heidegger ru: um ensaio da periculosidade da filoso-

    fia. Campinas: Papirus, 1990. p. 184.

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    62 HAAR, M.La fracture de la histoire. essais sur Heidegger. 2. ed. Grenoble:Jrme Millon, 1995. p. 107.

    63 TAMINIAUX, Jacques.Lectures de lontologie fondamentale:essais surHeidegger. 2. ed. Grenoble: Jrme Millon, 1995. p. 234.

    64 LOPARIC, 1995, p. 21.65 Na lngua alem, Schuld, que em Portugus significa culpa, pode signifi-car tanto culpa como dvida. Em Ser e Tempo, Schulddesigna sempreesses dois fenmenos. Cf ARENHART, 1998, p. 8.

    66 HEIDEGGER. 1986, p.327.67 "Para esclarecer o fenmeno da dvida, que no est ligada necessariamente

    ao endividamento e violao do direito, preciso que a questo sejaconduzida fundamentalmente ao ser-em-dvida do Dasein, isto , que a idiade em dvida seja compreendida a partir do ser do Dasein (Ibid. p. 340).

    68

    Cf. RICOEUR, 1991, p. 406.69 HEIDEGGER. 1986, p. 343 e 344.70 GMEINER, Conceio Neves.A morada do ser:uma abordagem filosfica

    da linguagem na leitura da Martin Heidegger. So Paulo: Loyola, 1998. p. 2071 Ibid.,p. 21.72 RICOEUR, 1991, p. 407.73 Cf. HEIDEGGER, 1986, p. 325.74 Cf. RICOEUR, 1991, p. 361 e ainda: HEIDEGGER, 1986, p. 287.75 Cf. LOPARIC, 1990, p. 184.76 Em sua Preleo de 1929, Heidegger fala da finitude em termos de sua relao

    com a angstia e o nada. Ao afirmar que a experincia da angstia originria rara, ele justifica: ... o nada nos primeiramente e o mais das vezes dissi-mulado em sua originariedade. E por qu? Pelo fato de nos perdermos, dedeterminada maneira, absolutamente junto ao ente. Quanto mais nos volta-mos para o ente em nossas ocupaes, tanto menos ns o deixamos enquan-to tal, e tanto mais nos afastamos do nada. E tanto mais seguramente nos

    jogamos na pblica superfcie do ser-a. HEIDEGGER, M.Que Metafsica?.Trad. e notas de Ernildo Stein. So Paulo: Abril Cultural, 1973c. p. 239.

    77 "A morte uma possibilidade que o prprio Dasein tem de assumir (...). Essapossibilidade mais prpria e irremissvel , ao mesmo tempo, a extrema (...). Amorte a possibilidade da pura e simples impossibilidade doDasein(Cf.HEIDEGGER, 1986, p. 305).

    78 LOPARIC, 1995, p.66.79 HAAR, 1994, M.Heidegger e a essncia do homem. Trad. de Ana Cristina

    Alves. Lisboa: Piaget, 1997. p. 58.80 HEIDEGGER, 1986, p. 357.81 Cf. HODGE, Joanna.Heidegger e a tica. Trad. de Gonalo Couceiro Feio.

    Lisboa: Instituto Piaget, 1998. p. 43.82 LOPARIC, 1995, p. 94.83 Ibid. p. 101.84 Cf.Ibid.p. 72.

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    Referncias

    ARENHART, Livio Osvaldo. Existncia e culpabilidade: um estudo

    do pargrafo 58 de Ser e Tempo, de Martin Heidegger.RevistaVeritas- PUCRS. Porto Alegre, v. 43. n. 1. mar.1998.

    DUARTE, Andr. Por uma tica da precariedade: sobre o trao ticoem Ser e Tempo.Natureza Humana - Revista Internacional de Fi-losofia e Prticas Psicoterpicas. So Paulo, v. 2. n. 1. Ano 1, 2000.

    FOLTZ, Bruce V.Habitar a terra: Heidegger, tica ambiental e ametafsica da natureza. Trad. de Jorge Seixas e Sousa. Lisboa: Piaget,

    2000.FERRY, Luc ; RENAULT, Alain. La question de lthique aprsHeidegger.In: ______. Systme et critique: essais sur la critique dela raison dans la philosophie contemporaine. 2. ed. Bruxelles: Ousia,1992.

    GMEINER, Conceio Neves. A morada do ser: uma abordagemfilosfica da linguagem na leitura da Martin Heidegger. So Paulo:

    Loyola, 1998.

    HEIDEGGER, Martin.tre et temps. Traduit de lallemand parFranois Vezin. Paris: Gallimard, 1986.

    ______.Sobre o humanismo. Trad. e notas de Ernildo Stein. SoPaulo: Abril Cultural, 1973. (Coleo os Pensadores).

    ______. Sobre a essncia da verdade. 5. ed. Trad. e notas de Ernildo

    Stein. So Paulo: Abril Cultural, 1973. (Coleo os Pensadores).______. Que metafsica?. Trad. e notas de Ernildo Stein. So Pau-lo: Abril Cultural, 1973. (Coleo os Pensadores).

    HAAR, Michel.La fracture de la hstoire:douze essais sur Heidegger.Grenoble: ditions Jrme Millon, 1994.

    ______.Heidegger e a essncia do homem. Trad. de Ana CristinaAlves. Lisboa: Instituto Piaget, 1997.

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    HODGE, Joanna.Heidegger e a tica. Trad. de Gonalo CouceiroFeio. Lisboa: Instituto Piaget, 1998.

    LOPARIC, Zeljko.tica e finitude. So Paulo: EDUC, 1995.

    ______. Sobre a tica em Heidegger e Wittgenstein.Natureza Hu-mana - Revista Internacional de Filosofia e Prticas Psicoterpicas.v. 2. Ano 1, 2000.

    ______. tica da finitude.In:OLIVEIRA. Manfredo de A. (Org.).Correntes fundamentais da tica contempornea.Petrpolis: Vo-zes, 2000.

    ______. Origem e sentido da responsabilidade em Heidegger.Revis-ta Veritas - PUCRS. Porto Alegre, v. 44. n. 1. mar. 1999.

    ______.Heidegger ru: um ensaio da periculosidade da filosofia.Campinas: Papirus, 1990.

    NUNES, Benedito. Crivo de papel. 2. ed. So Paulo: tica, 1998.

    OSONGO-LUKADI, Antoine-Dover.La philosophie pratique lpoque de lontologie fondamentele:le dialogue de Heidegger avec

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    RICOEUR, Paul. O si-mesmo como um outro.Trad. de Lucy MoreiraCesar. Campinas: Papirus, 1991.

    TAMINIAUX, Jacques.Lectures de l ontologie fondamentale:essaissur Heidegger. 2. ed. Grenoble: Jrme Millon, 1995.

    Endereo da Autora:Av. Beira Rio, 55/902Madalena Recife PECEP 50610 100E-mail: [email protected]