A QUESTÃO DO SANEAMENTO ENQUANTO PARÂMETRO …tede.mackenzie.br/jspui/bitstream/tede/2643/2/Renata...
Transcript of A QUESTÃO DO SANEAMENTO ENQUANTO PARÂMETRO …tede.mackenzie.br/jspui/bitstream/tede/2643/2/Renata...
60
Capítulo II
A QUESTÃO DO SANEAMENTO ENQUANTO
PARÂMETRO URBANÍSTICO
2.1 - As cidades e a peste
O saneamento sempre esteve presente na
história da humanidade. Segundo Glaucia Müller (2002,
p.18), na China e Egito, por exemplo, já podiam ser
encontradas grandes obras de infra-estrutura como as
de adução de águas para irrigação de terras cultiváveis.
Já na Grécia, as cidades eram abastecidas de água
através de diques e canais.
No entanto, com o desenvolvimento acelerado
das cidades na Idade Média, os investimentos
relacionados a questões sanitárias não acompanharam
o aumento da população, sendo um dos fatores para o
surgimento de constantes epidemias.
61
Práticas sanitárias eram adotadas pelas
autoridades para conter a penetração da peste em
algumas regiões. O cordão sanitário, por exemplo,
estendia-se de um quarteirão às fronteiras nacionais. A
vigilância e o controle, quase sempre eram garantidos
pela força militar (Figura 34).
(...) o cordão sanitário, enquanto estratégia de
confinamento fazia de cada moradia uma prisão, a
prisão domiciliar. A eficácia, muitas vezes aparente do
cordão ou da quarentena – práticas sempre
associadas – faz com que até hoje, elas sejam
acionadas pelos serviços sanitários no caso de uma
ameaça epidêmica. De qualquer modo, o cordão
sanitário, como outras medidas de controle de
epidemias, reafirmava o poder do governo da cidade,
que a peste ameaçava aniquilar, tal qual fazia com um
número crescente de seus habitantes (ANDRADE,
1992, p.11).
Outras técnicas eram usadas para afastar a
indesejável peste da cidade, como quarentena,
fogueiras aromáticas, lavagens de cal branca, rituais nas
igrejas, entre outros. No entanto o recurso mais usado
pelos moradores era a fuga para outras cidades ou para
Figura 34 - Quadro “Death’s Dispensary” pintado por George John Pinwell. Publicado em uma revista inglesa durante a epidemia de cólera, em 1866. Fonte: WOOTTON, 2006, p. 197
62
propriedades rurais. Muitas vezes esses fugitivos não
eram aceitos em outras cidades, fazendo com que
perambulassem em busca de algum abrigo.
A violência do mal era tal que não se sabia mais o que
fazer e perdia-se todo o respeito pelo que é divino e
respeitável. (...) Ninguém era contido nem pela crença
dos deuses nem pelas leis humanas; (...) antes de
sofrer, valia mais aproveitar da vida alguma alegria
(CANNETTI, 1996, p.289 apud ANDRADE, 1992,
p.13).
A medicina pouco sabia como lidar com as
epidemias, pois apesar de serem contagiantes, nem
todos que tinham contato com as pessoas infectadas
ficavam doentes. A ação da moléstia não possuía regras
e aparecia de maneira imprevisível. Algumas pessoas
infectadas conseguiam se curar, outras faleciam em
pouco tempo.
(...) a peste é urbana por excelência. Não apenas
porque dissemina-se pelo contágio promovido pelas
aglomerações urbanas, mas também porque segue as
trilhas da circulação dos homens, apoiando-se em
63
redes de cidades, atravessando fronteiras,
desembarcando em portos. Mas ao afirmar sua
natureza urbana, a peste também a nega, por negar
toda e qualquer forma de sociabilidade (ANDRADE,
1992, p.15).
Entretanto, as constantes epidemias fizeram
com que médicos e autoridades municipais se
preocupassem com as condições de vida da população,
tentando criar uma cidade mais salubre. O autor
Andrade (1992, p.15) acredita ter sido o século XIX, o
século da higiene para o mundo europeu, pois diversas
ações médicas se desenvolveram, fomentando estudos
sobre a ressonância do meio sobre as pessoas, o
chamado higienismo.
[sobre as ações médicas] alterou hábitos arraigados,
redesenhando radicalmente a cidade e construindo
uma nova cultura técnica, a difusão do higienismo
implicou em enormes rupturas nas formas de
sociabilidade urbana que vigoravam até a Revolução
Francesa. Assim o movimento higienista do século XIX
foi, sobretudo, um movimento de reforma da vida
cotidiana (ANDRADE, 1992, p. 17).
64
As ações higienistas baseavam-se na “teoria
dos meios”, criada por Hipócrates, em ar, águas e
lugares (ANDRADE, 1992, p. 19), onde “traçou os
contornos da higiene pública em relação à escolha dos
lugares e ao planejamento das cidades” (TOMÁS, Eliane
D, 1996, p.10 apud MÜLLER, 2002, p.19).
Hipócrates releva o caráter holístico de sua teoria,
ressaltando a importância da astronomia para a
medicina e indicando que as condições mesólogicas
devem, ao determinar as especificidades de uma certa
localidade, levar em conta a totalidade de seus
aspectos, dos mais próximos, como o clima e o solo
locais, ao mais abrangentes, como os astronômicos
(ANDRADE, 1992, p.19).
A “teoria dos meios”, que passou a ser
denominada assim somente no século XIX, estabelecia
uma relação com características do meio físico sobre as
condições de saúde, os aspectos físicos e os costumes
dos habitantes de certa localidade. Outra concepção da
teoria foi tratada pelo arquiteto romano Marco Lucio
Vitruvio, em sua obra “Os Dez Livros de Arquitetura”, em
que ele afirma:
65
a medicina é necessária ao arquiteto para conhecer
quais são os aspectos do céu, que os gregos chamam
“clima”, as condições do ar em cada lugar; que
paragens são nocivas, e quais são saudáveis, e que
propriedade têm suas águas, porque sem o
conhecimento dessas circunstâncias não é possível
construir edifícios sãos (ANDRADE, 1992, p. 20 apud
VITRUVIO, 1986, p.17).
No capítulo III da sua principal obra, Vitruvio
expõe critérios de escolha de locais saudáveis e
aconselha a evitar cidades edificadas nos pântanos se
possuírem águas dormentes que não tem saída nem por
rios nem por canais, pois ficam estagnadas,
corrompendo e infectando o ar.
Outro discurso que influenciou a ação dos
higienistas na modificação do espaço urbano foi a
“teoria dos fluidos”, ou dos miasmas. Os estudiosos da
Europa do século XIX acreditavam que as febres e
outras doenças tinham origem nas emanações dos
gases produzidos pela matéria animal e vegetal em
putrefação e pelas águas estagnadas (MÜLLER, 2002,
p.20). Para os higienistas as águas das cidades
66
deveriam fluir através de canalizações, impediam,
assim, sua ação destrutiva no caso de enchentes.
O movimento higienista, desde seu início, no fim
do século XVIII, “insistirá sobre os males advindos da
estagnação de todo o tipo – de água, lixo e homens -
desse modo fará da circulação a palavra de ordem que
formará a engenharia sanitária” (ANDRADE, 1992,
p.26).
Se a água deve circular de maneira salubre que faça
desaparecer suas qualidades mórbidas. É preciso
ordenar seu curso por canais e esgotos. Se o ar, cuja
qualidade também depende da boa circulação,
encontra-se bloqueado na cidade por acidentes
naturais e artificiais, tornando-se então veículo de
moléstias, é necessário não só destruir morros e matas
que impeçam a ventilação e sanear pântanos
produtores de miasmas, como também expulsar do
centro da cidade matadouros, fábricas e hospitais, e
impedir o sepultamento no interior das igrejas (BRITO,
1943, vol XXII, p. 43).
67
O ideário sanitarista acarretava uma
reordenação total dos espaços e um processo de
“embelezamento da cidade”. A Intendência Municipal,
mais particularmente os Intendentes da Higiene,
propunham intervenções ditando nova estética e
racionalidade urbana. Os focos principais de ação dos
“homens da ciência” (LIMA, 2000, p. 69): médicos,
engenheiros e arquitetos que, baseados nas teorias
científicas da época, eram principalmente áreas críticas,
como os lixões e charco, que se localizavam em locais
nobres e centrais das cidades.
No Brasil, como pequeno atraso em relação aos
países europeus, um dos mais importantes
colaboradores da questão urbana, da “higienização”,
visando saúde e bem estar da população, foi Francisco
Saturnino de Brito. O trabalho do engenheiro foi pioneiro
no país, levando em conta as características específicas
de cada localidade e marcado pela racionalidade,
técnica e economia, buscando sempre modernizar e
embelezar as cidades brasileiras herdadas do período
colonial e imperial.
68
Preconizando um urbanismo de cunho sanitarista, mas
sem desconsiderar a dimensão estética da cidade,
Brito foi, talvez, o principal responsável pela introdução
e difusão urbanística, enquanto uma disciplina
autônoma, no Brasil (ANDRADE, 1992, p.4).
Saturnino de Brito, na condição de Chefe do
Distrito da Comissão Sanitária do Estado de São Paulo,
fará propostas inovadoras sobre as redes de esgoto,
distribuição de água potável e a limpeza das áreas
públicas, no final do século XIX, afastando as ameaças
de epidemia, além de melhorar o bem estar da
população campineira.
69
2.2 - A epidemia de febre amarela em
Campinas
Em meados do século XIX em Campinas, a
região passou por um processo intenso de
modernização com a consolidação do complexo
cafeeiro, abrangendo o transporte, serviços, comércio e
inúmeras atividades correlatas. Porém, as condições de
higiene eram precárias, agravando a disseminação de
surtos epidêmicos (Figura 35).
A salubridade nas ruas e praças, no período
imperial em Campinas, era angustiante. Carroças
removiam, diariamente, os lixos e dejetos dos bairros,
sem o menor cuidado. O mau cheiro era constante,
principalmente na época de calor. As autoridades
municipais impuseram diversas normas a todos os
moradores, que deviam ser observadas nos colégios,
nas casas de banho, nos hotéis, nas prisões, nos
quartéis, nas habitações coletivas, asilos, estalagens,
nos cortiços, entre outros.
Figura 35 - Vista parcial de Campinas, 1880. Fotógrafo: Nickelsen Julius Fonte: Acervo MIS
70
As novas noções de medicina e higiene iam
contra as tradições que remontavam à Idade Média e
que perdura até hoje em alguns países. O banho, por
exemplo, foi aconselhado pelo Dr. Blach, “um dos mais
distinctos médicos de Londres” a ser tomado uma vez
por semana. Segundo ele “os banhos devem ter a
mesma temperatura do corpo. O banho abre os poros e
faz com que se desprendem matérias inúteis e gastos”
(LAPA, 1996, p.187).
As plantas das casas passaram a ter um
compartimento específico para as latrinas e um local
separado para o banho, que aos poucos foram
admitidos como prática cotidiana. Os banheiros, que
conhecemos atualmente, são incorporados às
residências juntamente com a instalação dos serviços
de água e esgoto na cidade.
Começa-se a valorizar, ou melhor, utilizar devidamente
o toilette, pouco a pouco, mais uma vez, das classes
mais ricas às mais pobres; a latrina, a casinha, privada,
antes localizadas nos fundos dos quintais, começam a
se aproximar da residência, acoplando-se às cozinhas,
compondo uma única área que deve possuir tubulação
71
de esgotos, pisos e paredes laváveis e abastecimento
de água localizado (BATTISTONI FILHO, 2002, p.37).
A população apresentava-se relutante à nova
ordem social que se implantava. Era necessário
“mudança de costumes seculares, gastos permanentes
e interação entre o público e o privado” (LAPA, 1996,
p.184).
A imprensa colocou-se a serviço da higienização
da cidade, vigiando irregularidades e também
denunciando quem desrespeitasse as normas (Figura
36). Anúncios como este eram freqüentes:
Pedimos encarecidamente a todas as pessoas que se
interessam pela saúde pública, a trazer ao nosso
conhecimento nesta redação qualquer falta de asseio
de quem quer que seja, e qualquer violação das
medidas e disposições higiênicas por parte das
pessoas menos escrupulosas. Rogamos mais que não
façam comunicações anônimas como temos recebido
(MENDES, J. C., “Historia de Campinas”, Correio
Popular, Campinas 31.10.1968, Suplemento – apud de
LAPA, 1996, p.184).
Figura 36 - Charge sobre a febre amarela, São Paulo, SP, 1896 Reprodução da Revista Bohemia. Fonte: Lapa, 1996, p.264
72
Entretanto, em 1870, a intendência municipal
precisou tomar medidas emergenciais devido a uma
grave manifestação de varíola. A arquiteta Siomara
Lima, explica que
A deficiência da limpeza pública era apontada como
uma das principais fontes de moléstias, sendo o
primeiro problema a ser enfrentado pelas autoridades.
Resoluções da Câmara Municipal e orientações do
Código de Posturas obrigavam a população a manter
limpas as ruas e remover o lixo para os locais
determinados (LIMA, 2000, p. 10).
O Código de Posturas de 1872 determinou que
os moradores levassem os lixos para pontos localizados
em áreas muito próximas do centro da cidade, porém a
prefeitura não conseguia recolher todo lixo e essas
áreas ficavam abandonadas, contribuindo para o
alastramento de doença e incomodando a população
que residia próxima a essas áreas.
Outro fator importante para as questões
sanitárias era o abastecimento de água através dos
córregos e nascentes da cidade. Após indicação da
73
Câmara Municipal, 1873, foram colocados três
chafarizes, nos Largos do Teatro, Rosário (Figura 37) e
Matriz Velha e mais duas torneiras em pontos da região
central. Essa medida colaborou para o saneamento e
drenagem das regiões alagadiças, pois os chafarizes
aproveitavam as águas nascentes no Bairro Alto, no
largo do Tanquinho, e desciam por canaletas de pedra
na Rua Direita (atual Rua Barão de Jaguara) até o
principal ponto central da cidade, o Largo da Matriz
Velha.
No entanto, a deficiência na limpeza pública e
do abastecimento de água, propiciou que epidemias de
febre amarela se alastrassem sobre a cidade a partir de
1889 e por toda a década de 90, interrompendo o
processo de modernização. E foram ao todo três
grandes surtos consecutivos da epidemia, dizimando a
população e produzindo um êxodo da cidade para o
campo ou regiões próximas.
Esta (a epidemia de febre amarela) grassou em
Campinas devido ao mosquito transmissor o Stegonia
fasciata. A cidade, na ocasião da epidemia, em 1889,
contava com 22.000 habitantes e depois de sete anos
Figura 37 – Chafariz no Largo do Rosário. Fonte: RIBEIRO, 2006, p.127
74
de epidemia, ficou reduzida a 5.000. O pânico tomou
conta de todos, muitos fugiram para outras localidades
(BATTISTONI FILHO, 2004, p.46).
A atuação da Intendência Municipal eliminou as
cocheiras da área central da cidade e a Cia Campineira
de Águas e Esgotos, fundada em 1887, passou a
fornecer, em 1891, água tratada captada nos riachos
Iguatemi e Bom Jardim, na Vila da Rocinha (atual cidade
de Vinhedo, a 18 quilômetros da cidade).
No antigo prédio do Mercado Grande foi
instalado o Desinfetório Central (Figura 38), com
estufas, incineradores, secção de profilaxia,
departamento de medicamento, baias para animais de
serviço, depósitos de carros de médicos e de transporte
de funcionários, doentes e cadáveres. Posteriormente
foi feito “o saneamento global abrangendo drenagem
para o centro histórico da cidade, reforço de capitação
de água dos riachos de Vinhedo, racionalização da
distribuição de água tratada com a introdução da técnica
dos hidrômetros, e finalmente, um intenso programa
público de pavimentação em granito do antigo rossio”
(SANTOS, 2002, p.185).
Figura 38 - Desinfetório Central. Campinas, entre 1896 e 1906, Julio Nickelsen Fonte: RIBEIRO, 2006, p. 34
75
A lei no 43 de 1895 constituiu o primeiro código
da cidade do município, estabelecendo normas para as
edificações no perímetro urbano, evitando o
agravamento das condições de insalubridade.
Definiu dimensões mínimas para os recuos, áreas de
iluminação e ventilação, cômodos e janelas e altura
dos pavimentos e dos pisos assoalhados. Definiu
também a espessura das paredes e determinou seus
revestimentos. Proibiu ainda a construção em terrenos
alagadiços e pantanosos. Exigiu ligação de esgotos e
captação de águas pluviais, mantendo normas
anteriores que determinavam a aprovação prévia de
todas as plantas pelo engenheiro municipal (BADARÓ,
1996, p.80).
Equipes médicas vindas de São Paulo e Rio de
Janeiro tentaram socorrer os vitimados, mas a situação
só melhorou em 1896, com a criação da Comissão de
Saneamento do Estado, que, através da Intendência de
Obras Municipais, definiu a construção de um conjunto
de obras de drenagem e saneamento básico. A
comissão era composta por estado e município e tinha
como chefes do distrito Saturnino de Brito e o também
76
engenheiro Alfredo Lisboa. Entre os anos de 1896 e
1897, o município executou um conjunto de obras
anteriormente projetadas, entre elas a canalização em
três cursos d’água, a criação de parques lineares ao
longo de avenidas, a recomendação de uso de
hidrômetros, entre outras.
Francisco Saturnino de Brito nasceu em
Campos dos Goytacases, no estado do Rio de Janeiro,
em 1864. Formou-se em engenharia civil em 1886 pela
escola Politécnica do Rio de Janeiro e, no ano seguinte,
iniciou a elaboração do traçado e construção de
ferrovias (Estrada de Ferro Tamandaré e Estrada de
Ferro Baturité), o que o ajudou na familiarização com
levantamentos topográficos. Em 1893, a pedido do
Presidente da Câmara Municipal de Piracicaba, Sr. Luiz
de Moraes Barros, fez o levantamento da cidade,
visando o estudo da rede de esgoto, iniciando, assim,
seus trabalhos como engenheiro sanitarista.
O engenheiro aplicou suas idéias de
saneamento e embelezamento em 53 cidades
brasileiras, como mostra o quadro ao lado, em uma
época em que no país “não existiam linhas comerciais
DATA LOCAL ATIVIDADE 1887 -92 Minas Gerais, Pernambuco e Ceará Traçado e construção de ferrovias 1893 Piracicaba – SP Levantamento planta topográfica da cidade 1894 Distrito Federal e Rio de Janeiro Elaboração de Carta Cadastral 1894 -95 Belo Horizonte - MG Chefe da Seção de abastecimento d´água na
Comissão Construtora da Capital
1896 Vitória – ES Projeto de arruamento, saneamento e melhoramentos do “Novo Arrabalde”
1896 -97 Campinas, Ribeirão Preto, Limeira, Sorocaba, Amparo – SP
Proj. de saneamento como Engenheiro – Chefe na Comissão de Saneamento do estado de São Paulo
1898 Petrópolis – RJ Projeto de Saneamento 1899 Paraíba do Sul - RJ Projeto de Saneamento 1900 Itaocara - RJ Projeto de Saneamento 1902 -03 Campos – RJ Projeto de Saneamento 1905 São Paulo – SP Estudos para abastecimentos d`água 1905 Niterói - RJ Parecer sobre plano de execução de esgotos 1905 -09 Santos –SP Plano de extensão e de saneamento 1909 Rio Grande – RS Projeto de Saneamento 1909 São João da Boa Vista – SP Parecer sobre sistema de esgoto 1909 -15 Recife – PE Projeto de Saneamento 1913 São Paulo Parecer sobre abastecimento d´água
1913 João Pessoa - PB Projeto de Saneamento 1913 Pelotas – RS; Belém - PA Parecer sobre sistema de esgoto 1915 Juiz de Fora – MG Estudos preliminares para o saneamento 1918 Santa Maria – RS Projeto de Saneamento 1919 Cachoeira, Cruz Alta, Passo Fundo,
Rosário - RS Projeto de Saneamento
1920 Santana do Livramento - RS Projeto de Saneamento 1920 Iraí – RS Parecer de Saneamento 1921 Curitiba - PR Projeto de Saneamento 1921 Distrito Federal e Rio de Janeiro Projeto de proteção da Praia de Copacaba 1922 São Leopoldo – RS; Uberaba – MG;
Lagoa Rodrigues de Freitas - RJ Projeto de Saneamento
1923 Uruguaiana e São Gabriel - RS; Aracaju - SE
Projeto de Saneamento
1924 Paraíba do Norte Projeto ampliação do abastecimento d´água 1924 Iraí – RS Projeto de Saneamento 1924 -25 São Paulo Projeto de Melhoramento do Rio Tietê 1924 -29 Campos – RJ Projeto de defesa contra inundações 1926 -28 Pelotas – RS Projeto de Saneamento 1927 Teófilo Otoni – MG; Alegrete – RS Projeto de Saneamento 1927 Manguinhos – RJ Parecer sobre melhoramentos da Baixada 1927 Rio Trapicheiro - RJ Parecer sobre canalização 1928 Poços de Caldas – MG Projeto de Saneamento 1928 Salvador – BA Projeto de abastecimento d´água
Fonte: ANDRADE, 1992, p.103
77
de aviões e as comunicações eram difíceis. Seus
esforços foram imensos para dar cabo a todos os seus
trabalhos” (LEME, 1999, p.455). Além de atividades
práticas, o engenheiro publicou diversos trabalhos que
são usados como referência até os dias de hoje.
Faleceu em março de 1929.
Em Campinas, os moradores ainda se
recuperavam dos surtos consecutivos de febre amarela,
quando o engenheiro foi chamado para fazer o parecer
das condições das redes de esgoto, distribuição de água
potável e a limpeza das áreas públicas. Brito ingressou
na recém criada Comissão de Saneamento do Estado
de São Paulo, em 1896, sendo nomeado chefe do 2º
Distrito, cuja sede era a própria cidade.
Será na cidade de Campinas, entre os anos de
1896 e 1898, que o engenheiro alcança seu
amadurecimento profissional, que culminará com as
obras que realiza para a cidade de Santos, entre 1904 e
1910 (ANDRADE, 2002, p. 11).
78
2.2.1 – A presença de Saturnino de Brito na cidade
de Campinas
A situação de insalubridade da cidade de
Campinas acarretou devida a vários surtos consecutivos
de febre amarela, em 1890, 1892 e 1896, dizimando boa
parte dos moradores e produzindo uma migração da
população para o campo ou cidades vizinhas.
O engenheiro Saturnino de Brito (Figura 398), na
época chefe do 2º Distrito da Comissão de Saneamento
do Estado de São Paulo, foi chamado para fazer um
parecer da situação do sistema de saneamento da
cidade. A comissão instalou-se em Campinas a 6 de
agosto de 1896, em prédio cedido pela municipalidade,
o antigo Mercado Grande que foi adaptado para
Desinfetório Municipal
Logo que chegou a cidade, Brito iniciou uma
análise minuciosa de obras, projetos e orçamentos que
estavam em andamento. Verificou, também, as
condições das redes de esgoto, distribuição de água
potável e a limpeza e aspectos das ruas e praças.
Figura 39 – Saturnino de Brito Fonte: www.istitutohistoriador.blogspot.br
79
Seus melhoramentos concentraram-se mais
especificamente nas obras de saneamento, tendo
apenas a correção que faz no projeto de drenagem
que já vinha sendo executado, implicando em
modificação significativa da paisagem urbana
(ANDRADE, 2002, p.13)
O engenheiro propôs modificações nas obras de
drenagem dos ribeirões e córregos, nas canalizações e
construções de galerias de águas pluviais que estavam
em andamento. Propôs também a revisão de contratos
com empreiteiros, alterando custos e prazos.
Uma de suas intervenções foi a de reforçar a
captação d’água dos Ribeirões Iguatemi e Bom Jardim,
elevando a cota do ponto de captação, chegando até a
cabeceira do São Bento, melhorando assim a qualidade
da água e aproveitando a capacidade da adutora
existente, sempre tendo em vista “a impossibilidade de
despesas extraordinárias”.
A elevação da captação, de maneira a reunir as águas
à cota 140m, além do inestimável proveito de colhê-Ias
incomparavelmente mais puras e frescas que as que
80
abastecem presentemente a cidade, traz a ponderosa
vantagem de melhor se aproveitar a capacidade da
atual linha adutora (...) (BRITO, 1943, vol IV, p. 151).
Sugeriu a formação de novas represas cercadas
e arborizadas em uma faixa de 50 a 100 metros. Propôs
a implantação de caixa de decantação; saneamento dos
cursos nos trechos embrejados empregando manilha; a
criação de novos reservatórios permitindo lavagens
freqüentes e a desapropriação de área com intuito de
proteger os mananciais.
Sobre a rede de distribuição de água da época,
o engenheiro citou que havia “consideráveis perdas
pelas fugas e pelos lastimáveis abusos de deixar
abertas as torneiras, o que sempre tem lugar quando o
consumidor não é interessado na economia da água”.
Para sanar o desperdício Brito propôs reformar as bases
de fornecimento e introduzir os hidrômetros. Cobrar um
preço mínimo pelo fornecimento de água, de acordo
com o número aproximado de moradores, e elevar o
preço conforme o valor da propriedade.
81
Pensou, também, no caso da população
aumentar consideravelmente, sendo necessário
estabelecer as bases para o desenvolvimento do
abastecimento. Atualmente, o processo de expansão das
cidades não considera a fragilidade do ecossistema,
evidenciando seu caráter predominantemente quantitativo,
em detrimento do aspecto qualidade (ROGERS, 2001).
Com relação ao esgoto, Saturnino de Brito fez o
seguinte parecer, reiterando sua preocupação com as
futuras avenidas que provavelmente margeariam os
ribeirões canalizados da cidade:
Desconhece esta Comissão os detalhes da atual rede
de esgotos e não pode portanto avaliar a sua
suficiência nem sugerir proveitosos melhoramentos.
Atendendo a forte declividade de que se dispõem em
geral é de supor que tenha havido sempre um
funcionamento regular dos esgotos observando
apenas que alguns tampões tem saltado por ocasião
de fortes chuvas. No entanto havendo a Comissão
Sanitária mui judiciosamente determinado a
cimentação das áreas ou pátios em torno das torneiras
e debaixo das goteiras dos telhados obrigando mesmo
a cimentar completamente os pequenos pátios onde os
raios do sol dificilmente penetram e provindo daí maior
82
contribuição para os esgotos e talvez com o tempo a
insuficiência de vazão do atual coletor principal que é
de ferro; tornar-se-ia assim necessária a construção de
novo coletor, o qual poderia ser projetado sob as
avenidas que em futuro próximo provavelmente mar-
gearão os ribeirões canalizados (BRITO, 1943, vol IV,
p. 151).
Brito fez uma análise sobre o lixo dizendo que a
municipalidade gastava muito com a remoção do lixo, e
que este permanece em grande número de casos,
depositado durante quatro a cinco dias em áreas
reduzidas e úmidas. Em sua opinião, o lixo deveria ser
incinerado em um crematório e que se deveria procurar
utilizar industrialmente este serviço, ou “entrega-o à
lavoura, o que seria mais simples e econômico”.
O sanitarista propõe a alteração do projeto que
anteriormente estava sendo executado, deixando
descoberto o trecho do Ribeirão Anhumas, entre o
Ribeirão Tanquinho e o Córrego do Serafim (Figura 40).
83
Figura 40 – Circulada em vermelho a localização da proposta de Saturnino de Brito no mapa de hidrografia feito pela arquiteta Mirtes Maria Luciani Lopez e na foto aérea. A cima a área, inserida no perímetro urbano de Campinas. Fonte: LOPEZ, 2004, p.106, www.campinas.sp.gov.br e imagem gerada pelo programa Google Earth
84
Nos trechos em que os ribeirões banhavam os
fundos de quintais é mantida, por medida de higiene, a
galeria coberta. Nas áreas a céu aberto, o engenheiro
propõe avenidas arborizadas, “medida esta que
somente à municipalidade compete tornar em
realidade”.
(...) O lançamento destes canais e destas galerias
sugiro, porém, a idéia de fazê-los seguir de a avenidas
e ruas, abrindo-se assim para a cidade espaçosas vias
de comunicação, que ao mesmo tempo, possam
trazer-lhes os predicados estéticos de esplendidos
passeios a par de vantagens higiênicas que
desnecessário é fazer realçar aqui (BRITO, 1897 vol
IV, p. 151).
As avenidas marginais ficaram conhecidas como
Avenida do Saneamento (atuais avenidas Anchieta e
Orozimbo Maia) (Figura 41 e 42) e formariam um novo
eixo de circulação, “adicionando qualidades estéticas á
uma nova área da cidade, para onde estava se
estendendo um bairro residencial” (LIMA, 2000, p.91). O
projeto ao mesmo tempo em que era técnico com a
Figura 41- Foto do canal de saneamento na atual Avenida Orozimbo Maia (sem data) Fonte: ANDRADE, 2002, p.11
85
contenção dos taludes laterais e a drenagem das
margens úmidas, possuía a preocupação estética do
embelezamento das vias públicas.
A articulação urbanística proposta, por meio de bem
definidas regras de desenho e perspectiva,
consolidaria a construção panorâmica de uma solução
de townscape.
O canal de drenagem a céu aberto operaria muito além
do simples fluxo das águas, porque, através de uma
articulação das ruas existentes com a avenida
projetada faria circular a cultura urbana de sua época.
Uma paisagem assim desenhada por obras públicas
de saneamento básico organizaria, através da
maquinaria higienista adotada, relações novas entre a
vida privada do espaço da casa e a dimensão pública
do espaço urbano.
Esta obra pioneira de Saturnino de Brito delineia sua
primeira experiência concreta de uma townscape
dentro da melhor tradição pitoresca do jardim inglês,
da avenida-parque anglo-americana e do boulevard
francês. (SANTOS, 2002, p.186).
Figura 42 – Desenho do engenheiro Saturnino de Brito da do cruzamento da Avenida Orozimbo Maia com a Rua Dona Libania. Arquivo Histórico do CONDEPACC Fonte: SANTOS, 2004, p.120
86
A autora Siomara Lima (2000, p.91) defende que
os boulervards projetados por Saturnino, demonstram a
preocupação com o bem estar do pedestre, por utilizar a
água como elemento paisagístico, possibilitando um
percurso agradável pela cidade (Figura 43).
A maior parte de nossos parques públicos, praças e
ruas são um legado dos séculos anteriores. Nesta era
moderna da democracia, poderíamos esperara
acréscimos mais importantes ao âmbito público, mas,
de fato, nossa contribuição surge como um elemento
de destruição destes espaços, realizada pelo tráfego e
pela ambição pessoal. (ROGERS, 2001, p.71)
Por outro lado o autor Carlos Andrade defende
que as implantação das avenidas marginais aos cursos
d’água serem do ponto de vista paisagístico uma
solução de cunho modernizador, o boulevard sanitarista
de Brito promoveu um aproveitamento ecologicamente
prejudicial ao fundo de vale, sacrificando matas ciliares
e várzeas alagadiças em uma artificalização da
paisagem (ANDRADE,2002, p.20). Figura 43 - Foto do canal retificado do córrego Serafim, transformando-se no início do século XX em ponto de lazer da população da cidade (sem data). Fonte: ANDRADE, 2002, p.11
87
Figura 44 – Foto aérea da Avenida Orozimbo Maia, onde poucos trechos aparecem ajardinados como sugerido por Saturnino de Brito. No mapa menor, em vermelho destaca a Av. Orozimbo Maia. Fonte: www.campinas.sp.gov.br e imagem gerada pelo programa Google Earth.
88
Atualmente a Avenida Orozimbo Maia possui
grandes valetas cimentadas, pouquíssimos trechos
arborizados e sem a preocupação com o bem estar do
pedestre. O cenário atual é muito diferente do idealizado
por Saturnino de Brito (Figura 44).
Brito também propõe alteração no projeto de
uma grande lavanderia pública, proposto anteriormente
por uma Comissão no triangulo formado pelas ruas
Santa Cruz e D. Libânia e pelo rio Anhumas. O edifício é
descrito pelo relatório de Lisboa:
O edifício seria levantado sobre colunas de ferro
apoiadas nos encontros e sobre muros construídos
alem da crista dos taludes; e teria um só pavimento
sobre abobadilhas de tijolo, repousando em vigas
metálicas; as fachadas principais enfrentariam
pequenas praças ajardinadas de forma triangular
(BRITO, 1943, vol IV, p. 160).
Infelizmente, não foram encontramos os
desenhos referentes à lavanderia pública e sua
construção nos parece inconcebível nos dias atuais.
89
Segundo Andrade, engenheiros, como Francisco
de Paula Souza, também formularam, em 1880, projetos
de abastecimentos de água e esgotos para a cidade,
que só foram concretizados onze anos depois através
da Companhia Campineira de Abastecimento de Águas
e Esgotos. Nesse projeto não eram previstos
hidrômetros e diversos chafarizes públicos forneciam
água para a população.
É apenas com as obras de Brito que uma rede
enquanto sistema irá estrutura o traçado urbano,
anunciando a universalização de um serviço que
progressivamente assumirá a forma mercadoria e será
incorporado pelo Estado (ANDRADE, 2002, p.15).
O engenheiro Saturnino de Brito realizou obras
de drenagem e canalização do córrego Anhumas, a
construção de uma perimetral ao centro histórico da
cidade de Campinas. Esta transposição se tornou
fundamental para o futuro acesso em direção aos
bairros mais próximos.
90
As definições do programa de engenharia
sanitária a serem implementadas na cidade de
Campinas, propostas de Brito para Campinas, foi com
base na teoria dos meios. O autor Lapa explica que o
parecer do sanitarista faz analogia entre a cidade com o
meio natural que está inserida.
Percebe -se inclusive uma concepção organicista, que
de resto ocorre no urbanismo ocidental, que é o de
identificar a funcionalidade da cidade com a do corpo
humano. Como também é marcada a “teoria dos meios”
adequando Campinas ao meio natural em que foi
implantado, recuperando o que responde às suas
necessidades e rejeitando o que lhe é nocivo. Nesse
sentido, o Plano de Saturnino de Brito, fiel defensor
daquela teoria, procura justamente essa interação entre
a cidade de Campinas e o meio natural onde está
localizado o seu sítio. A aereação e a purificação do ar
correspondem com o dessecamento de pântanos
miasmáticos e a arborização. O tratamento e das águas,
com a proteção dos mananciais, retificação e
canalização dos córregos, como foi a construção do
Canal de Saneamento, na atual Av. Orozimbo Maia.
(LAPA, 1992, 48).
91
O controle técnico claramente encontrado nas
propostas de Brito aparece relacionado com qualidades
estéticas, como cita o autor Andrade.
As obras de saneamento que o Engenheiro Saturnino
de Brito projeta para a cidade de Campinas, em um
momento crítico de sua história econômica e social, ao
serem realizados, não apenas redefinirão radicalmente
as condições de salubridade urbana, afastando a
ameaça das epidemias, mas também introduzirão uma
nova concepção de cidade, na qual a funcionalidade e,
portanto, sua dimensão técnica, é valorizada em
detrimento das outras características, em especial de
sua forma, isto é, sua dimensão estética, que passa a
ser determinada pelas soluções técnicas de
saneamento (ANDRADE, 2002, p.20).
Apesar das limitações da época, o plano
proposto por Francisco Saturnino de Brito, foi a primeira
experiência em pensar a cidade de Campinas na sua
totalidade, prevendo os futuros problemas e propondo
soluções.
92
Os surtos epidêmicos, que se manifestavam
quase que uma vez por ano, na década de 90, só foram
desaparecer com as ações promovidas pela Comissão
de Saneamento. O plano contribuiu para o início da
reforma da cidade de final de século, adequando-a para
sua futura remodelação na década de trinta. Tratava-se
de um projeto urbanístico, elaborado em 1934, pelo
engenheiro arquiteto Francisco Prestes Maia com a
colaboração de engenheiros campineiros, na primeira
administração Miguel Vicente Cury (1948-1952).
93
Capítulo III
A QUESTÃO DO URBANISMO NA
MODERNIZAÇÃO DE CAMPINAS
3.1 - As cidades e o urbanismo
A palavra urbanismo, segundo a autora
Françoise Choay, é de formação recente. Seus
equivalentes em inglês, “city planning”, e alemão,
“Stadtebau”, são citados nos dicionários a partir do
século XX. Nas línguas latinas, o termo foi mencionado
pelo engenheiro espanhol Idelfonso Cerda (1816 –
1876), na obra Teoría General de la Urbanización,onde
indica que, a partir da raiz “urbs”, a palavra nova terá o
estatuto de uma “verdadeira ciência” (CHOAY, 1992,
p.18)
O urbanismo pode ser definido pela prática
social que, após a Revolução Industrial, procura
construir uma ordem espacial urbana, para uma nova
94
sociedade econômica e tecnológica. È uma prática
específica no processo de organização do espaço
urbano.
O autor Lucio Costa, na carta dirigida, em 1958,
ao engenheiro Israel Pinheiro, então presidente da
Novacap e transcita no “Correio da Manhã”, define
Urbanismo – o que se refere a urbs, não o “continental
ou o interplanetário” – é precisamente isto: empreender
desde logo as obras fundamentais, concebidas em
função do futuro e de tal modo que a ordenação clara e
harmônica do partido adotado se revele, de fato, uma
decorrência delas (COSTA, 2007, p.287).
A organização morfológica das cidades, até o
primeiro Renascimento, na Itália, e até o final do século
XVI em outros países da Europa, eram formas de
aglomerações reguladas por discursos religiosos,
jurídicos ou políticos. Porém, a concentração
demográfica e a transformação dos meios de produção,
impulsionarm surgimento do urbanismo.
95
(...) os romanos preparavam uma cidade não hesitando
em se submeter aos rigores e aos riscos de uma
previsão. Mais do que riscos, essa sabedoria lhes
fornecia certezas, elementos positivos de urbanismo, o
meio de colocar os moradores em condições favoráveis
(LE CORBUSIER, 2008, p.55)
O arquiteto Lucio Costa (2007, p.347) explica
no depoimento prestado ao jornalista Cláudius
Ceccon,em 1961, sobre a construção de Brasília, que “o
urbanista deve limitar-se a criticar condições para o
desenvolvimento regional e urbano se processe
organicamente, e a guiá-lo para que o crescimento
natural ocorra no melhor sentido, de acordo com as
necessidades de vida e as circunstâncias”.
Já o arquiteto Le Corbusier (2008, p.14), em
seu livro “Planejamento Urbano” faz uma comparação
entre o urbanista e o arquiteto. Trata-se de uma
premissa antiquada, pois acreditava que a cidade
deveria ser pensada e planejada funcionalmente como
uma edificação. Desconsiderando, assim, que as
atividades pudessem conviver harmoniosamente no
espaço urbano.
96
Urbanista nada mais que o arquiteto. O primeiro
organiza os espaços arquiteturais, fixa o lugar e a
destinação dos continentes construídos, liga todas as
coisas no tempo e no espaço por meio de uma rede de
circulações. E o outro, o arquiteto, ainda que interessado
em numa simples habitação e nesta habitação, numa
mera cozinha, também constrói continentes, cria
espaços, decide sobre circulações. No plano do ato
criativo, são um só o arquiteto e o urbanista
(CORBUSIER, 2008, p. 14)
A autora Choay (1992, p.18), defende que o
discurso urbanístico deriva de duas fontes distintas que
revelam suas diferentes tendências. Por um lado, o
urbanismo regularizador, que tem em Haussmann seu
mais importante expoente e, por outro lado, o urbanismo
tanto progressista como culturalista, definido pela autora
como pré-urbanistas, que descendem dos discursos
utopistas dos reformadores sociais do século XIX, como
Owen, Fourier, Morris. Este discurso pré-urbanista
provocou apenas aplicações pontuais e sem
conseqüências sócio-econômicas.
Hausmann transformou Paris em uma nova
cidade, melhorando os parques e criando outros,
97
construindo vários edifícios públicos, como a L’Opéra.
Em sua obra, motivo de inspiração para outras cidades
da Europa, Estados Unidos e inclusive Brasil, o
engenheiro arquiteto apresenta três redes de circulação:
dos homens, de ar e de circulação de fluídos
(abastecimento de água e eliminação de dejetos).
No Brasil, o papel do urbanista foi mais
difundido com a construção de Brasília, em 1957, porém
com as limitações impostas por um país em
desenvolvimento, de rápida urbanização e poucos
recursos, a profissão não teve o reconhecimento
merecido.
(...) Brasília contribuiu para a divulgação da existência
do planejador, do urbanista. O desenvolvimento de um
município não pode prescindir do urbanista, para
disciplinar-lhe o crescimento e prever soluções para
problemas que ainda surgiram, mas que virão com
certeza. Quanto ao urbanista em si, quem sabe deixará
de rodeios e de fazer da profissão um bicho-de-sete-
cabeças, tornando-se mais simples, direto e objetivo
(COSTA, 2007, p.287).
98
Campinas contou com o renomado urbanista
Francisco Prestes Maia, em 1934, fazer propostas
urbanísticas com o intuito de ordenar o crescimento
acelerado da cidade.
99
3.2 – O Plano Prestes Maia para Campinas
As rigorosas medidas de higiene e a execução
de importantes obras de saneamento, principalmente
após as medidas conseqüentes das epidemias de febre
amarela no final do século XIX, unidos ao desejo de
progresso, a crescente industrialização e o contato com
exemplos de urbanização norte americanos e europeus,
tornaram a população de Campinas mais consciente da
necessidade de contratação do plano de urbanismo.
Os novos loteamentos projetados por
companhias imobiliárias, em inúmeras vezes, não
respeitavam a um planejamento geral, surgindo, assim,
problemas de ligação viária entre os bairros e com
centro da cidade. O sistema de abastecimento de água
estava obsoleto e era necessário uma rede eficaz de
esgoto, obras viárias, pavimentação e transporte. Era,
portanto, fundamental a formulação de um plano que
ordenasse o crescimento da cidade (Figura 45).
100
Figura 45 – Mapa de Campinas com os loteamentos até 1900 (em vermelho) e de 1925 até 1929 (em laranja). Desenho do Arquiteto Ricardo de Souza Campos Badaró sobre base de 1929 elaborado para servir de base para os estudos urbanísticos do Plano de Melhoramentos Urbanos. Fonte: Fonte: FERREIRA, 2007, p. 16
101
Outros fatores que influenciaram a contratação
de plano de urbanismo, segundo o autor Badaró (1996,
p.38), foram de significação cultural: o orgulho da
cidade, o bairrismo; e o nível intelectual da elite
dominante. Fatores herdados do período cafeeiro,
quando a cidade era considerada por muitos a capital
agrícola do estado.
O sentimento bairrista, profundamente ofendido com a
destruição e a estagnação conseqüentes da epidemia,
associado às questões concretas que então se
colocavam, traduziu-se no empenho das autoridades
municipais em fazer de Campinas a cidade mais limpa
e salubre do país.
Por outro lado o urbanismo, uma disciplina nova,
dedicada à ciência e à arte da organização espacial
urbana, não era desconhecido da elite dominante que
não raro contava entre seus membros pessoas que
haviam estudado e se formado em países mais
adiantados.
Quando a recuperação econômica e o
desenvolvimento industrial impuseram à cidade um
novo ritmo de crescimento, prosperou a idéia de um
plano de urbanismo. (BADARÓ, 1996, p.38)
102
O prefeito Orozimbo Maia, em ofício dirigido a
Câmara Municipal em 1929, comprovou a necessidade
de se elaborar um plano de urbanismo e sua
preocupação com a expansão da cidade.
(...) Poderá parecer a muitos ser uma temeridade
cogitar-se deste assumpto em occasião de tamanhas
aperturas, de uma crise mundial, sem precedentes.
Não há tal, porém. Campinas por sua administração,
não pode descurar de um assumpto de tamanha
relevância.
Eu não penso positivamente em realizar tão grande e
indispensável empreendimento. É cousa para levar
dezenas de annos, ou séculos mesmo. O que eu
desejo; Exmos. Snrs. Vereadores, é organizar um
plano para ir, tendo execução paulatina, de accôrdo
com os recursos da occasião.
É claro, é evidente que Campinas progride, com
tendência a ser uma grande cidade, talhada a ser um
centro industrial privilegiado pela sua situação e vias
de comunicação. Desde que seja concluído o grande
reforço do abastecimento de águas em vias de
execução, isso se evidenciará de modo positivo.
Assim sendo, Ella não pode permanecer com suas
ruas estreitas, sem os indispensáveis logradouros
públicos e outros melhoramentos de que se
recentemente actualmente (Relatório Municipal, 1929,
p. 5).
103
No mesmo ano, foi enviado, pelo engenheiro
Anhaia Mello, o relatório com considerações gerais da
situação encontrada naquele momento sobre o
urbanismo e sobre a elaboração de um master plan para
Campinas. Segundo o autor Badaró a continuidade da
elaboração do master plan foi prejudicada pela
Revolução de 1930 e pelos seus desdobramentos na
esfera municipal.
Somente quatro anos depois, na administração
do engenheiro Perseu de Leite de Barros, foi dado
continuidade no desejo e necessidade de elaborar o
plano de urbanismo para Campinas.
Uma palestra proferida pelo engenheiro Carlos
William Stevenson, em 1933, na época membro do
Conselho Consultivo da cidade mostrou o anseio da
população de transformar Campinas, novamente em
uma grande cidade. A palestra foi o impulso
fundamental para a contratação do renomado urbanista
Francisco Prestes Maia, que havia desenvolvido o Plano
de Avenidas para a cidade de São Paulo.
104
E todos nós, campineiros natos e de adoção,
queremos ver esboçado o plano de uma nova cidade,
a Campinas de Amanhã, que possa abrir aos visitantes
os solares de hospitalidade, pelas portas largas de
bem traçadas avenidas, cheias de ar, de luz, de
elegantes prédios e bons edifícios públicos
(STEVENSON, 1933, p.6)
O Dr. Stevenson apresentou em sua palestra a
importância do urbanista em “saber preparar as cidades
de hoje para um tão dilatado amanhã” (STEVENSON,
1933, p.6). Apontou os principais problemas
encontrados como “ruas deselegantes; estreitas, mal
edificadas, cortadas de incômodas sarjetas” (idem,
1933, p.10) e também citou a necessidade de
contratação de um urbanista.
O contrato de um urbanista a fim de colher e coordenar
os dados e elementos necessários e orientar o traço da
cidade é medida que por si mesma se justifica, como
prudente e sensata, devendo ser talvez o primeiro
passo objetivo, no caminho que urge trilhar
(STEVENSON, 1933, p.9).
105
Atendendo aos conselhos do Dr. Stevenson, em
1934, o engenheiro e arquiteto Prestes Maia foi
contratado para realizar o plano urbanístico da cidade. O
plano apenas foi aprovado em 1938 e, segundo Badaró
(1996, p.50), a proposta se destacou por ser
“abrangente, técnico, prático e objetivar um período de
tempo dilatado”.
Francisco Prestes Maia possuía grande
prestígio, pois foi Engenheiro-Arquiteto da Diretoria de
Obras Públicas de Campinas, a partir de 1928. Foi
convidado para assessorar estudos sobre a circulação
de veículo no centro da cidade de São Paulo. E no
período de 1938 a 1945 foi prefeito da cidade de São
Paulo, quando executou o de “Plano de Avenidas”. Este
plano reformulava parte do centro da cidade, propunha a
construção de viadutos e túnel e alargamento de
avenidas (Figura 46).
O engenheiro apresentou uma exposição
preliminar sobre os estudos e serviços que iria
desenvolver (Anexo 2). Iniciou seu documento dizendo:
Figura 46 – Francisco Prestes Maia expondo sua proposta para São Paulo. Fonte: www.promemoriadecampinas.com.br
106
Na antiguidade a fundação duma cidade era uma
solenidade religiosa e não se realizava antes de
afirmarem os augures que os Deuses eram propícios.
Podemos fazer um paralelo: hoje é a inauguração dos
estudos urbanísticos que pode ser considerada
solenidade cívica, porque marca o inicio da vida
urbana consciente e perfeitamente organizada (MAIA,
1934, p. 89).
Ele cita, também, que o plano deve ser
compreensivo, isto é abranger todos os principais
aspectos gerais da vida da população e estender-se a
todo o município, embora dando o especial destaque á
cidade e aos aspectos materiais. Demonstrando a
preocupação em harmonizar as necessidades humanas.
Atualmente as cidades que ao serem planejadas
possuem “ampla compreensão das relações entre
cidadãos, serviços, políticas de transporte e geração de
energia, bem como seu impacto total no meio ambiente
local e numa esfera geográfica mais ampla” (ROGERS,
2001, p.32) são consideradas cidades auto-sustentáveis
e devem ser seguidas como exemplo.
107
A primeira medida tomada por Prestes Maia foi
organização de quadros técnicos convenientes com os
serviços que o engenheiro pretendia realizar. Foram
contatados profissionais para servirem à Diretoria de
Obras e Viação e Diretoria de Águas e Esgotos.
Prestes Maia, na apresentação do plano ao
prefeito, Sr. José Pires Netto e ao Conselho Consultivo
da cidade, que substituía a Câmara Municipal extinta
pela Revolução de 1930, explica que “o Plano De
Urbanismo [de Campinas] está longe de resumir-se a
um plano de ruas, pois todos os fatos e aspectos
urbanos e municipais se entrelaçam, deve ainda,
enquadrar-se num plano – embora muito sumário”
(BADARÓ, 1996, p.50).
Outro aspecto apontado pelo autor Badaró é a
praticidade como um requisito fundamental do plano,
levando em consideração aspectos econômico do
município e as necessidades e aspirações da
população, sem o “clamor por coisa grandiosa” (MAIA,
1934, p. 90).
108
O caráter técnico e científico do plano opõe-se ao
palpite ou ao sentimento e tem nas estatísticas e
investigações importantes auxiliares, que embora sem
determinar estreitamente as soluções, são
componentes importantes para a exata definição e
equacionamento dos problemas urbanos e de especial
utilidade para comparações futuras, nas revisões que
se fizerem necessárias (BADARÓ, 1996, p.50).
O engenheiro salientou que o plano atingiria de
20 a 50 anos, impondo diretrizes a serem cumpridas em
etapas em um extenso prazo. O plano não deveria ser
imediatista e nem se prender a problemas pontuais, mas
com o objetivo principal de antecipar problemas
decorrentes do crescimento urbano.
Maior ainda que a utilidade imediata será a sua
utilidade futura, como elemento comparativo, quando
se proceder á revisão do plano, - coisa necessária a
grandes intervalos para atender tanto á evolução
natural da idéias como á experiência local (MAIA,
1936, p.90).
109
Prestes Maia definiu as seguintes etapas de
trabalho:
a. Coleta de dados;
b. Inquérito cívico e técnicos (survey);
c. Elaboração e crítica dos resultados
anteriores;
d. Esboços preliminares;
e. Concursos auxiliares;
f. Plano propriamente dito;
g. Exposição de recursos;
h. Exposição geral ou relatório;
i. Propaganda; e
j. Estudos complementares e
eventuais questões gerais tais como
governo municipal e organização técnica
e administrativa, detalhes mais
importantes, adaptações, etc.).
Foi criada uma comissão, denominada
Comissão de Urbanismo, que tinha como foco principal
“zelar pelo interesse coletivo, levando à equipe técnica
as condições e aspirações gerais da comunidade, além
de estabelecer a comunicação desta com a prefeitura e
110
outras entidades interessadas na organização do plano”
(BADARÓ, 1996, p.53).
Os integrantes da comissão eram indicados e
representavam diferentes profissões da área de
economia, imprensa e entidades ligadas ao serviço
público. A comunidade era representada apenas por
indivíduos mais notáveis, escolhidos, principalmente
para fazer propaganda do plano junto à população.
A comissão era encarregada, após a aprovação
do plano, de levar ao conhecimento da população,
através de exposições, palestras e jornais os inúmeros
desenhos, perspectivas e a maquete da área central.
Prestes Maia trabalhou com valores universais
no Plano de Melhoramentos Urbanos: a higiene e a
saúde; o cultivo do corpo e espírito; a eficiência e o
rendimento – sobretudo do sistema viário. A antiga
cidade cafeicultora passou a ser pensada sob o aspecto
funcional, dividida em quatro funções: habitação,
recreação, trabalho e circulação.
111
O Plano de Melhoramentos Urbano, como já foi
mencionado anteriormente, abrangeria um período de
tempo situado entre 25 e 50 anos, imaginando que a
cidade atingiria cerca de 280 mil habitantes. A
preocupação com o crescimento em ritmo acelerado
também foi considerada pelo engenheiro Saturnino de
Brito ao fazer seu parecer sobre o sistema de
abastecimento de água e esgoto em 1896.
O projeto viário propunha uma extensa lista de
obras de alargamento e prolongamentos de ruas. Para
isso, vários edifícios foram demolidos, entre eles, a
igreja do Rosário (Figura 47). O plano constituía,
basicamente, de radiais e perimetrais, que circundavam
a cidade. De acordo com Badaró, as vias eram
concêntricas, contornando, assim, sucessivamente, o
centro histórico, o perímetro já construído, a nova
periferia em expansão, de modo a articular as radiais e
conectar as diversas porções da área urbana.
Perimetrais externas tinham funções
paisagísticas e de lazer, permitindo o passeio de
automóvel através de avenidas arborizadas,
tangenciando ou mesmo penetrando em belos parques
Figura 47 - Igreja do Rosário na Praça Visconde de Indaiatuba e quando foi demolida. Autor e data das fotos desconhecidos. Fonte: www.campinas.sp.gov.br/portal_2003_sites/conheca_campinas.htm
112
urbanos, os chamados “park-ways”. O engenheiro
Saturnino de Brito teve o mesmo cuidado ao projetar as
Avenidas do Saneamento (atuais avenidas Anchieta e
Orozimbo Maia), formando um novo eixo de circulação
com áreas verdes. As duas propostas, além de técnicas,
demonstram a preocupação com o bem estar do
pedestre e do motorista.
Foram propostas duas avenidas ortogonais, com
o reticulado retangular da área central, de tal maneira a
fazer conexão entre o centro principal e o centro
secundário.
Uma torre de 27 metros de altura foi projetada
em 1938 pelo urbanista no bairro Castelo. Inaugurada
dois anos depois, foi, além de um reservatório de 250
mil litros de água, o marco de triangulação geodésica do
município (ponto de referência para levantamentos
geográficos com elevada precisão) (Figura 48).
O urbanista sugeriu a criação de bairros que
fossem unidades habitacionais completas ou chamadas
de “self-sustaining”, garantido aos moradores à
proximidade ao comércio de primeiras necessidades, da
escola e da área de lazer.
113
Figura 48 – Fotos aérea da torre no bairro Castelo. Fonte:. www.campinas.sp.gov.br/portal_2003_sites/conheca_campinas.htm e imagem gerada pelo programa Google Earth.
114
As quadras residenciais seriam alongadas e
estreitas e as casas voltadas para vias mais espaçadas
e com pouco trânsito. As ruas transversais poderiam,
em alguns momentos, serem interrompidas por cul-de-
sacs e o trânsito principal concentrado nas vias de
contorno. Era proposto, também, espaço para play-
grounds internos que formariam faixas ajardinadas nos
fundo dos lotes, exclusiva para os pedestres e
interligando os diversos jardins do bairro.
A aplicação concreta destas concepções á zona de
expansão de Campinas seria uma das coisas mais
notáveis do urbanismo nacional. Temos vistos planos
de cidades nossas em que esta questão, de maior
alcance social, higiênico, estético, econômico e ao
mesmo tempo barato, no estrangeiro posto quase
sempre em primeiro plano, não era se quer lembrada,
as praças e pontos monumentais caríssimos figuravam
com estardalhaço (MAIA, 1935, p. 84).
A proposta, além de evitar a segregação
socioeconômica no espaço urbano, permite segundo
Maia, um zoneamento permanente e lógico.
Permanente por dispensar freqüentes alterações na
115
estrutura proposta e lógico por minimizar incertezas
sobre o crescimento futuro da cidade.
As unidades residenciais apresentadas sãos
semelhantes às cidades-jardins inglesas. Diferem
apenas “zona residencial no centro e comercial no
perímetro, ao passo que nas cidades-jardim verifica-se o
inverso” (MAIA, 1935, 83).
O autor Richard Rogers acredita que cidades em
que há proximidade com habitantes, espaços públicos,
paisagem natural e exploração de novas tecnologias
urbanas, as denominadas por ele de “cidade compacta”,
seria o habitat ideal para a sociedade.
As cidades devem estar próximas de seus habitantes,
propiciando o contato olho no olho, dispostas a agirem
como o fermento da atividade humana, da geração e
da expressão de uma cultura local. (ROGERS, 2001,
p.40).
116
A preocupação com as áreas verdes da cidade
também estava presente no Plano de Melhoramentos
Urbanos. Prestes Maia discordava dos índices de
correlação proporcional entre área verde e número de
habitantes, pois em Campinas era obtido o índice de 3
m²/habitante, enquanto urbanistas e higienistas
recomendavam de 30 a 60 m²/ habitante. Para aumentar
a relação de área verde o urbanista dotou a cidade de
amplos parques, com vegetação abundante e áreas
para prática de atividades físicas.
Ele acreditava que a “necessidade de parques é
pouco conhecida entre nós devido a hábitos viciosos e
idéias falsas. (...) O hábito vicioso é a relativa inércia e
má educação da raça em matéria positiva e de recreio.
(...) As idéias falsas versam, sobretudo sobre o
abandono dos parques existentes, argumentos contra os
novos (MAIA, 1934, p. 74).
Defendia também que os parques nas cidades
do interior são muito mais dignos de apreço,
comparados com os da capital.
117
Pessoalmente acho mesmo que as nossas cidades do
interior podem se notabilizar muito mais pelos seus
parques e por certas outras instituições que por suas
avenidas, praças e edifícios centrais, campo em que
nunca poderão lutar com a grandiosidade das grandes
capitais (MAIA, 1934, p.81).
A arquiteta Siomara Lima explica, no trecho a
seguir, que espaços abertos urbanos deveriam ser
projetados da mesma maneira que o sistema de
circulação.
O “sistema de recreio” deveria ser considerado da
mesma maneira que o sistema de ruas, de distribuição
de água, de transportes coletivos, etc., isto é, deveria
haver ‘um plano lógico, ordenado, de distribuição, uso
e ligação dessas áreas’. Para que o sistema
cumprisse seu papel demandaria diferentes tipos de
área verdes, com diferentes dimensões e
características, buscando abranger toda a cidade, os
quais ele define como: playgrounds, play-lot ou
kindergarten, para crianças até 5 anos de idade;
neighbrhood playground ou área de brinquedo distrital,
para crianças de até 12 anos ou 14 anos de idade,
playfield ou área de jogos organizados, para idades
superiores a 14 anos; margens de rios e lagos ou
118
praias; campos de golfe; campo de atletismo;
acampamentos municipais; piscina de vários tipos;
clubes; teatros ao ar livre e outros; ovais, triângulos,
círculos e mais ‘jardinetes centrais’; parques urbanos;
grandes parques de periferia; parques exteriores e
reservas florestais, estaduais e nacionais; áreas de
paisagem dominante, mais de fim educativos: jardins
botânicos e zoológicos; e por fim, área de ligação
dessas unidades: parkway e pleasuredrives. (LIMA,
2002, p.112).
No Plano de Melhoramentos Urbanos aponta,
também, a criação de edifícios públicos, como a nova
sede do Paço Municipal, Fórum (Figura 49) e
Repartições Estaduais; Correios e telégrafos; hotel e
centro comunitário (biblioteca pública, sala de
conferências, museus, instalações esportivas, etc.).
O urbanista também propôs a formação de
bairros industriais, tendo como referência os eixos de
transporte ferroviário. O principal dele, situado a
Noroeste, localizado no entroncamento das três
ferrovias, permitindo fácil acesso ferroviário. O segundo
bairro servido pela antiga Estrada de Ferro Funilense e
o terceiro na extremidade sul da linha de Ferro Paulista.
119
Figura 49 – Perspectiva do Plano de Melhoramentos Urbanos - detalhe da Praça de Indaiatuba com o primeiro desenho do Palácio da Justiça ao fundo. Fonte : FERREIRA, 2007, p. 33
120
Segundo o engenheiro as ferrovias,
normalmente, oferecem “oportunidades por vezes de
grandes e úteis metamorfoses, transformações radicais
e razoáveis, pois desde a implantação desse meio de
transporte, tudo mudou e cresceu espantosamente”
(MAIA, 1934, p.106). Porém, em Campinas, não havia
perspectiva favoráveis para transformações radicais no
sistema de ferrovias, pois a Mogiana atravessa zonas de
caráter residencial e a Sorocabana apresenta problemas
para realinhamento, exigindo altos investimentos. Já a
Estrada de Ferro Paulista dificilmente poderá ser
alterada no seu espigão obrigatório.
As avenidas de fundo de vale recomendadas por
Saturnino de Brito, em 1896, foram criticadas por
Prestes Maia. As “thalweggs” seriam empregadas
apenas se houvesse coincidência entre a geografia e as
ruas demandas de tráfego. Caso contrário, seriam feitas
simplesmente ruas comuns.
Pregou-o entre nós Saturnino de Brito. Alguns
discípulos exageram, porém, quando pedem
“avenidas” em todos os vales. Na realidade os
“thalweggs” aconselham simplesmente ruas. Se não
121
coincidirem com necessidades muito fortes de
circulação e possibilidades de traçados de viação, far-
se-ão simplesmente ruas, o que será o caso normal
(MAIA, 1934, p. 109).
O engenheiro finaliza seu relatório explicando
que obras secundárias, de interesse local ou com custo
elevado, deveriam ceder o lugar ás de interesse mais
geral. E que a proposta, dentro das limitações
financeiras da cidade, possui os preceitos urbanísticos
mais modernos encontrados naquele momento.
(...) as condições do país não permitem ainda que as
nossas cidades, mesmo as mais progressistas, consigam
todas as perfeições que o urbanismo e o progresso
moderno têm inventado (avenidas, edifícios públicos
perfeitos, parques grandes e bem instalados, ferrovias não
incomodas, aeroportos, ótimo calçamento, assistência
perfeita, etc.) (MAIA, 1934, 126)
O Plano de Melhoramentos Urbanos não
deveria, em momento algum, ser considerado um
conjunto de determinações fechadas e acabadas. A
comunidade local, representada pela Comissão de
122
Urbanismo, deveria constantemente implementar ou
complementar as proposições ao longo de toda a fase
de implantação .
Explanando em grandes linhas o “plano tipo”,
destinado mais a guiar e unificar idéias que a constituir
proposta propriamente dita, cabe agora á Comissão a
sua máxima responsabilidades, que é manifestar em
primeira entrância, as “aspirações gerais da
comunidade”. No caso presente, em que, para facilitar,
está apresentado um “plano preliminar” ou “tipo”, essa
manifestação poderia ter lugar dizendo se reputa o
“plano preliminar” excessivo, deficiente ou justo
(programa), se a orientação geral satisfaz ou não, se
as diferentes necessidades da cidade forma ai
equilibradas consideradas, se a força econômica e o
futuro foi ou não superestimado (MAIA, 1934, p.126)
O Plano de Melhoramentos Urbanos foi
instituído pelo Ato Municipal número 118 de 23 de abril
de 1938 para execução gradativa, sem estipulação de
prazo para início e conclusão. Foi apresentada a cidade,
através de palestras e exposições, o que existia de mais
moderno, na nova disciplina chamada urbanismo (Figura
50).
123
Figura 50 – Mapa de Campinas com o ato número 118 – Desenho do arquiteto Ricardo Souza Badaró Fonte : FERREIRA, 2007, p. 28
124
Prestes Maia, utilizou os preceitos dos CIAMs –
Congresso Internacional de Arquitetura Moderna- de
planejamento da cidade, dividindo-a em quatro funções:
habitação, recreação, trabalho e circulação. A habitação
aparece na criação de unidade de vizinhança completa;
a recreação, na criação de jardins, play-grounds e
centro comunitário próximo às habitações; o trabalho, na
criação de distritos industriais e; circulação, na criação
de um novo sistema viário adequado aos meios
modernos de transporte motorizado.
De acordo com o autor Ricardo Badaró, na
proposta do urbanista, são encontradas identidades
metodológicas seguindo as orientações da carta dos
CIAMs.
As identidades metodológicas são encontradas,
principalmente, em 3 aspectos: na abrangência do
plano (que deveria incluir cidade e campo,
enquadrando-se no contexto regional); no seu caráter
técnico (que o levou a ser precedido de amplo inquérito
sobre fatores naturais, sociais, econômicos e culturais,
bem como ser atribuídos a especialistas e, se valido de
técnicas modernas) e no seu desdobramento em
etapas, ao longo do tempo e espaço (BADARO, 1996,
p.148).
125
Capítulo IV
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O saneamento e o urbanismo foram temas
freqüentes de programas políticos na cidade de
Campinas, principalmente após a epidemia de febre
amarela do final do século XIX e os inúmeros problemas
causados pelo desenvolvimento em ritmo acelerado,
sem planejamento prévio e políticas de contenção
Francisco Saturnino de Brito e Francisco Prestes
Maia foram contratados pela Prefeitura, nos anos de
1896 e 1934 respectivamente, para desenvolverem
propostas urbanísticas que viabilizassem o
desenvolvimento da cidade.
O engenheiro sanitarista Saturnino de Brito
ingressou na recém criada Comissão de Saneamento do
Estado, que, através da Intendência de Obras
Municipais, propôs um conjunto de obras de drenagem e
saneamento básico. O engenheiro Prestes Maia
também ingressou na recém criada Comissão de
126
Urbanismo. Nos dois casos, os profissionais fizeram
apenas propostas e não acompanharam diretamente a
execução delas. Tanto a Intendência de Obras
Municipais como a Comissão de Urbanismo eram
experiências pioneiras no município, acarretando,
provavelmente, insatisfação de alguns moradores e
políticos mais conservadores.
Os dois profissionais, cautelosamente,
constataram que a população iria crescer
consideravelmente nos anos seguintes. Saturnino de
Brito, por exemplo, propôs que o diâmetro das
tubulações fossem um pouco maior do que o
necessário. Já Prestes Maia impôs diretrizes a serem
cumpridas em etapas em um extenso prazo.
Tanto Saturnino de Brito, como Prestes Maia
fizeram propostas que ao mesmo tempo que eram
técnicas, possuíam preocupação estética do
embelezamento das vias públicas. O primeiro projetou
avenidas arborizadas nas áreas que os ribeirões
banhavam os fundos dos quintais a céu aberto. Já o
Plano de Melhoramentos Urbanos contava com
perimetrais externas que tinham funções paisagísticas e
127
de lazer, permitindo o passeio de automóvel através de
avenidas arborizadas, tangenciando ou mesmo
penetrando em belos parques urbanos.
Os dois profissionais sugeriram importantes
aberturas de vias, formando novos eixos de circulação e
impulsionando a expansão da cidade. Brito propôs as
avenidas marginais ficaram conhecidas como Avenida
do Saneamento (atuais avenidas Anchieta e Orozimbo
Maia). Enquanto Prestes Maia projetou duas avenidas
ortogonais, com o reticulado retangular da área central,
de tal maneira a fazer conexão entre o centro principal e
o centro secundário.
As intervenções propostas têm uma clara
intenção de ordenar a cidade seguindo a idéia de
modernidade: funcionalidade, largas avenidas, praças,
parques compondo uma nova linguagem urbana.
Prestes Maia, ao contrário de Saturnino de Brito,
demonstrou a preocupação em ouvir os anseios da
população. Foi criada a Comissão de Urbanismo com o
objetivo de ser elo entre a Prefeitura e a comunidade.
128
O autor Rogers (2001, p.20) enfatiza que os
cidadãos querem interferir na conformação de suas
cidades. “A participação popular aliada a um efetivo
compromisso do poder publico ordem transformar a
estrutura social e física de nossas cidades”.
Após a implantação do Plano de
Melhoramentos, foi elaborado entre o ano 1969 e 1970,
o PPDI, Plano Preliminar de Desenvolvimento Integrado
de Campinas, que foi exigido por legislação federal, para
se credenciarem aos financiamentos estatais. O PPDI
foi elaborado por um consórcio formado por várias
empresas especializadas em planejamento.
O trabalho abandonava a tradicional
metodologia utilizada até aquele momento e
apresentava propostas definitivas sem a participação
local nas decisões. No entanto, o plano teve duração
curta, pois com a crise do petróleo e a recessão
econômica, os investimentos se tornaram escassos.
No ano de 1983 um programa setorial, a Rede
Básica de Transportes, com objetivo de otimização do
sistema viário, sem desapropriação, priorizando ônibus
129
e valorizando o pedestre. O programa, desvinculado de
qualquer proposta mais abrangente, foi parcialmente
implantado, refletindo uma administração imediatista e
subdividida em diversos setores sem coordenação com
objetivos individuais.
No entanto, em 19 de junho de 2000 foi criada a
Região Metropolitana de Campinas (RMC), unindo
dezenove municípios com diferentes graus de
urbanização e industrialização, localizados através de
eixos rodoviários. A população é de mais de 2,5 milhões
de habitantes (dados de 2005) representando cerca de
6,5 % do Estado (Figura 51).
130
Figura 51 – Divisão da região metropolitana de Campinas. Fonte: www.campinas.sp.gov.br/seplama
131
A criação da região metropolitana trouxe uma
nova realidade política, econômica e social para os
dezenove municípios. Os inúmeros problemas
encontrados nas áreas de saúde, educação, habitação,
ambiental, saneamento básico e segurança pública, que
afligem os habitantes devem ser discutidos para toda a
região, dando uma maior legitimidade e continuidade às
ações necessárias para sanar as irregularidades, porém
respeitando as singularidades de cada município. Trata-
se, também de formação de cidadania regional, o
morador de determinado município é também um
cidadão metropolitano, com direitos e deveres iguais aos
dos outros habitantes dos 19 municípios.
Em 27 de dezembro de 2006 foi aprovada a Lei
Complementar nº. 15, lei do plano Diretor, com o intuito
de diagnosticar os principais entraves para o
crescimento da cidade e dar diretrizes.
Umas das exigências do Plano foi elaboração de
Planos Locais de Gestão (PLG), com a finalidade de
adequar os parâmetros de parcelamento, uso e
ocupação do solo; detalhar as políticas setoriais e definir
as diretrizes viárias e de preservação e recuperação
ambiental.
132
No parágrafo único do Artigo 16 é garantida a
participação popular na elaboração e alteração dos
PLG. E no artigo seguinte cita que será necessária a
criação de conselhos gestores específicos, com
representação popular, de entidades de classe e do
governo
Parágrafo único. A elaboração e alteração dos Planos
Locais de Gestão ficarão sob responsabilidade do
órgão executivo municipal de planejamento, garantida
a participação popular.
Art. 17. Conselhos gestores específicos deverão
acompanhar a implementação dos Planos Locais de
Gestão, podendo avaliar e recomendar medidas para
seu efetivo cumprimento.
Parágrafo único. Os conselhos de que trata o caput
deste artigo terão constituição tripartite, com
representação de entidades de classe, da população
da região e do Poder Executivo (CAMPINAS, 2006,
Seção II, p.6).
Em cada macrozona serão definidas as normas
urbanísticas levando em consideração a competência de
todos os órgãos da administração municipal e de outras
133
esferas de governo, tentando proporcionar uma melhor
articulação entre os setores e integração dos programas
e projetos
Desde a aprovação do Plano Diretor, no final de
2006, apenas em três macrozonas foram feitos os
diagnósticos e diretrizes. Apenas tivemos acesso ao
relatório da macrozona 5.
A macrozona 5 é caracterizada por uma região
isolada e desarticulada do restante da cidade e mesmo
do seu entorno imediato. A região é carente de obras de
infra-estrutura, serviços e transporte público. Não possui
centro de locais de comércio e serviços e de referenciais
urbanos significativos.
A principal diretriz para a região é a remoção de
moradias em áreas de preservação permanentes com
posterior recomposição vegetal na forma de parque
linear, remontando as propostas de Saturnino de Brito e
Prestes Maia para Campinas. Além de promover o
embelezamento paisagístico da região, valorizam o
entorno e incrementam a economia local.
134
Foram propostos também a abertura de vias,
dando continuidade na malha viária existente, melhoria
no sistema de transporte público, colocação de
equipamentos de uso comunitário, entre outros.
Atualmente a metrópole campineira possui
contradições resultantes da falta de planejamento e do
crescimento desordenado. Por um lado a região é
conhecida nacional e internacionalmente pelo seu
desenvolvimento industrial, suas universidades e
centros de tecnologia. Por outro lado possui inúmeros
moradores vivendo em condições precárias, violência e
criminalidade, desemprego e meio ambiente poluído.
Na realidade, as administrações municipais que
sucederam ao Plano de Melhoramentos Urbanos, pouco
se concentraram em propostas integradas que dessem
diretrizes para o desenvolvimento da cidade. A
população pouco ou quase não participou de forma justa
na organização do espaço urbano. È necessário pensar
na cidade coletivamente, mediando os diversos
interesses da sociedade com os das administrações
públicas.
135
Esperamos que o Plano Diretor vigente seja
aplicado, dentro das possibilidades financeiras do
município, levando em consideração as reais
necessidades da população. Almejamos, também, que
ações propostas no passado tenham continuidade na
administração pública atual.
O Plano de Saneamento e o de Melhoramentos
Urbanos nos mostrou que ações que foram feitas no
passado podem e devem ser resgatadas, melhoradas e
utilizando tecnologia e o conhecimento modernos e
servirem de inspirações para ações futuras.
Aprendemos, também, com este trabalho a
importância do planejamento urbano e constatamos que
a cidade de Campinas, como ocorreu em outras cidades
brasileiras, foi prejudicada na sua formação e
desenvolvimento pela falta de projetos abrangentes.
Os planos dos engenheiros Saturnino de Brito e
Prestes Maia são sem dúvida, marcos históricos na
cidade de Campinas, dentro das limitações de cada
proposta, por tentarem resolver os problemas
encontrados na cidade e preverem soluções para os
problemas que ainda surgiriam.
ANEXO A
Relatório de 1897 da Comissão de Saneamento do E. de S. Paulo,
encaminhado ao intendente municipal Joaquim Ulysses Sarmento,
Campinas: Arquivo Câmara Municipal, 1897.
SANEAMENTO DE CAMPINAS
No Relatório de 1897 da Comissão de Saneamento do E. de S. Paulo,
apresentado ao Secretário da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, o
Engenheiro Alfredo Lisboa, assim se exprimiu:
Este distrito tem por sede a cidade de Campinas e compreende
mais as cidades de Limeira e Rio Claro; em ativo andamento estiveram
em todas elas os trabalhos empreendidos, sendo hábil e
desveladamente dirigidos pelo engenheiro chefe de secção F. Saturnino
Rodrigues de Brito.
A elevação da captação, de maneira a reunir as águas à cota
140m, além do inestimável proveito de colhê-Ias incomparavelmente
mais puras e frescas que as que abastecem presentemente a cidade,
traz a ponderosa vantagem de melhor se aproveitar a capacidade da
atual linha adutora, a qual seria mantida, apesar dos defeitos já
anteriormente assinalados quanto ao traçado da gradiente; considerando
com efeito o ponto critico, situado entre o 11.0 e 12.0km, obtém-se pela
fórmula de Darcy o dispêndio de 80 litros por segundo, equivalente ao
aprovisionamento à cidade na razão de 276 litros por habitante.
Sobre estas bases o Chefe do Distrito, o ·talentoso engenheiro
Saturnino de Brito, calcou o novo plano do abastecimento, que em
seguida vai descrito com as suas próprias palavras:
A) MANANCIAIS - Desapropriar uma faixa de 50 a 100m a
montante das novas represas; circunvalar esta faixa e fechá-la por
uma cerca, ficando entre a vala e a cerca um caminho de serviço.
Arborizar este terreno. Sanear os cursos nos trechos embrejados,
empregando, por exemplo, manilhas nesses trechos.
B) REPRESAS - Fazer novas represas; as cabeceiras do
São' Bento serão reunidas em uma pequena caixa, que lhes fique
próxima, por meio de aquedutos ou de manilhas de barro,
trabalhando como conduto forçado até a carga de segurança, que a
experiência garantir. Desta caixa seguirão as águas para a caixa de
reunião, situada proximamente na cota 140, no espigão que fica
fronteira às obras atuais, entre o Iguatemí e o Bom Jardim; esta
caixa será também de dimensões limitadas; a ela virão ter as águas
captadas nos outros mananciais. Da caixa de reunião passarão as
águas à caixa de decantação que obedecerá ao tipo da que projetei
para Rio Claro, aumentando-se as dimensões; daí passarão à caixa
de junção, projetada com as dimensões restritas para a regular ali-
mentação do conduto forçado que dela parte para a cidade.
C) LINHA ADUTORA - Tornando-se impossíveis, na época
atual, despesas extraordinárias, conservar-se-á a linha adutora
existente, melhorando-a, para ser duplicada em ocasião oportuna.
Como já mostrei ela pode fornecer, elevando-se a sua cabeceira, o
dispêndio de 80L; logo, na estação epidêmica, que coincide aliás
com a das chuvas, a população pode ser socorrida com 276L por
pessoa, ou mais 48L do que atualmente; na estiagem terá 245 litros
por habitante.
D) RESERVATÓRIO - Sendo o reservatório atual
constante de uma só caixa, convém fazer uma outra para permitir
freqüentes lavagens.
E) DISTRIBUIÇÃO - Desconhecendo os detalhes da rede
137
de distribuição atual, formarei a melhor hipótese, reputando-a boa.
Contudo é preciso não esquecer que na parte baixa a carga estática
é de cerca de 75m, o que dá lugar a consideráveis perdas pelas
fugas e pelos lastimáveis abusos de deixar abertas as torneiras, o
que sempre tem lugar quando o consumidor não é interessado na
economia da água. Convinha reformar as bases do fornecimento e
introduzir os hidrômetros, cobrando-se a preço mínimo a água
estipulada necessária para os usos domésticos das casas, de
acordo com o número aproximado de moradores; desta base por
diante, elevar os preços conforme o valor da propriedade e usos
industriais da água, não esquecendo a utilização na irrigação de
jardins e hortas, para o que se podia estabelecer na falta de
hidrômetros, preços por unidade de área cultivada. Para abastecer
o bairro da "Fonte-Preta" que fica em altitude superior à da Caixa
atual, bastaria montar um regulador de pressão na linha adutora e
fazer a distribuição, quer diretamente, quer indiretamente por
intermédio de um pequeno reservatório de ferro, com elevação
suficiente, ao qual viria ter o ramal de derivação; assim atender-se-
ia a uma necessidade que é de cara ter inadiável, devido à
invasão epidêmica nesse bairro notando-se que a Companhia não
tendo, talvez encontrado solução para satisfazê-Ia, julga-se
também desligada de levar até lá a rede de esgotos, conforme já o
exigiu a Comissão Sanitária.
F) AUMENTO DE APROVISIONAMENTO - Desde que o
novo plano abandona um bom volume das águas que chegam às
atuais represas deve-se cuidar de estabelecer as bases para o
desenvolvimento do abastecimento, a fim de acudir a um notável e
possível acréscimo da população. Parece-me que neste caso
convirá dividir a distribuição em duas zonas: - a da parte alta e a
da parte baixa da cidade.
Alimentada a primeira pelo atual reservatório e seu par. a
construir a zona inferior sê-lo-á por uma caixa de menores
dimensões divididas porem, em dois compartimentos e situada na
praça S. Benedito ou em local que porventura seja julgada mais
conveniente; as sobras da distribuição superior viriam ter a esta
caixa regulando-se o seu dispêndio por acertadas manobras. Alem
desta contribuição alimentadora receberia a caixa inferior o
subsídio de mananciais circunvizinhos à cidade e que por sua
escassa altitude não puderam ser aproveitadas para a alimentação
do reservatório atual; entre estes mananciais citarei o Proença:
que já forneceu água de uma de suas cabeceiras para a cidade
conforme referiu-me o criterioso e inteligente Snr. Francisco
Camargo Penteado; citarei ainda o Tanquinho, no interior da
cidade melhorando e protegendo a captação das águas que, aliás,
já abastecem vários chafarizes e são muito procuradas quando as
da Companhia estão turvas. Incidentemente observarei que esta
divisão em duas zonas trará a vantagem de reduzir a carga
estática, em proveito da economia do abastecimento.
ESGOTOS E lNCINERAÇÃO DO LIXO – Desconhece esta
Comissão os detalhes da atual rede de esgotos e não pode portanto
avaliar a sua suficiência nem sugerir proveitosos melhoramentos.
Atendendo a forte declividade de que se dispõem em geral é de supor
que tenha havido sempre um funcionamento regular dos esgotos
observando apenas que alguns tampões têm saltado por ocasião de
fortes chuvas. No entanto havendo a Comissão Sanitária mui
judiciosamente determinado a cimentação das áreas ou pátios em torno
das torneiras e debaixo das goteiras dos telhados obrigando mesmo a
cimentar completamente os pequenos pátios onde os raios do sol
138
dificilmente penetram e provindo daí maior contribuição para os esgotos
e talvez com o tempo a insuficiência de vazão do atual coletor principal
que é de ferro; tornar-se-ia assim necessária a construção de novo
coletor, o qual poderia ser projetado sob as avenidas que em futuro
próximo provavelmente margearão os ribeirões canalizados.
A municipalidade entretém um dispendioso serviço de
remoção do lixo, que deixa, contudo a desejar, porquanto verifica-
se que o lixo permanece em grande número de casos, depositado
durante 4 ou 5 dias em ,áreas reduzidas e muito úmidas. Conviria,
pois que este serviço fosse melhorado a bem da higiene e que se
desse o devido consumo ao lixo incinerando-o em um crematório e
procurando utilizar industrialmente este serviço ou entregando-o à
lavoura o que é mais simples e econômico. Por informações dadas
pelo engenheiro da Intendência Municipal acham-se empregadas
na remoção do lixo 30 carroças, cada uma da capacidade de um
metro cúbico e que fariam 3 viagens por: dia donde resultaria pois
um volume diário de 90m.c. de lixo, o que parece por demais
exagerado comparando-o com outras cidades da mesma
população. Para o caso de Santos, por exemplo, que é cidade mais
movimentada e comercial que Campinas, a produção diária de lixo
regula segundo já me referi por 65m3.
CANAL E GALERIAS DE DRENAGEM - Em fins de 1896,
tendo terminado o prazo para a conclusão das obras, relativas a canali-
zação de ribeirões e construção de galerias de drenagem contratadas
com os cidadãos Tito MartiIls Ferreira, José Correia de Morais e João
Nogueira Ferraz, vosso digno antecessor aceitou o alvitre que eu
apresentara de proceder-se à medição final dos trabalhos já
executados e de inovar-se o contrato mediante revisão da tabela de
preços sem contudo interromper os trabalhos que achavam-se em
ativo andamento. Em 31 de dezembro do mesmo ano teve lugar a
medição final de acordo com a decisão tomada; e sucederam-lhe as
negociações para o acordo sobre as modificações a fazer-se na
tabela no sentido de minorar alguns dos preços que eram exage-
rados, mormente em relação às escavações para a feitura do canal.
Entretanto dilatadas delongas, adrede provocadas pelos emprei-
teiros com o fim de aproveitarem-se das vantagens da antiga tabela
me obrigaram a suspender em julho os trabalhos até que fosse
assinado o novo contrato. Realizou-se finalmente este ato em 2 de
setembro de 1897, desaparecendo então a divisão em trabalhos em
três trechos e estabelecendo-se nova tabela com vantagens para o
Estado. Ora havendo progredido as obras de um modo notável
desde fins de 1896 tornara-se necessária nova medição final que foi
efetuada a 30 de agosto de 1897.
A avaliação final das obras baseada sobre as notas e
desenhos remetidos pelo escritório do 2.° Distrito e verificada pela
secção da contabilidade dá o seguinte resultado:
1.° trecho - empreiteiro Tito M. Ferreira............ 485:526$378
2.° “ - “ J. Correia de Morais ............ 290:667$ 320
3.° “ - “ J. Nogueira Feraz ............ 285:492$ 237
Ou um total de.................................................................... 1.061:685$935
que comparado às últimas medições mensais feitas em julho dá um
saldo de 68: 776$678 a favor dos empreiteiros.
Estavam então construídos 150,8m da galeria sobre o
Tanquinho; 54,6m de galeria no cruzamento da rua D. Libânia e
401,2m de canal no Anhumas, e mais a montante abaixo e acima
da confluência do Serafim havia prontos 154,7m de galeria;
finalmente sobre o Serafim estavam as obras quase concluídas
havendo 720m de galeria já construída.
139
Em setembro prosseguiram as obras em sua segunda
fase, desenvolvendo o empreiteiro grande atividade; sendo que ao
findar-se o ano aprontaram, as obras relativas ao Serafim até o
sopé da barragem do açude e o trecho do canal de 252,7m que
restava completar no Anhumas e a galeria sobre este ribeirão até a
praça Correia de MeIo, enquanto que prosseguira a construção da ga-
leria sobre o Tanquinho até a rua Major Solon aumentando-se-lhe a
declividade de 0,009 para 0,012, além de alguns degraus e
economizando-se ao mesmo tempo de modo notável nas escavações e
nas alvenarias sobre o que estivera até então estabelecido.
Os trabalhos executados durante o ano passado consistiram
na primeira fase no seguinte:
Terraplenagem: 50790,229 m3
Alvenaria de pedra seca: 1535,241 m3
Alvenaria de pedra argamassada: 5053,655 m3
Alvenaria de tijolo: 1551,127 m3
Escoramentos: 9560,380 m2
Revestimento de leivas:12401,200 m2
Revestimento de argamassa:2617,022 m3
Rejuntamento: 144,321 m2
Destocamento:480,000 m2
Assentamento de manilhas: 859,700 m
Ferro: 251,500 kg
Importando os trabalhos na quantia de 421:763$183.
Na segunda fase:
Terraplenagem: 5344,495 m3
Alvenaria de pedra seca: 544,918 m3
Alvenaria de pedra argamassada: 1589,273 m3
Alvenaria de tijolo: 796,922 m3
Escoramentos: 1633,440 m2
Revestimento de argamassa: 1147,393 m2
Roçado em capoeira fina: 2000,000 m2
Assentamento de manilhas: 112,000 m
Assentamento de cerca de arame: 2000,000 m
Importando na quantia de 215:864$854.
Durante o ano findo elevaram-se, pois as despesas de
construção à soma de 637: 728$037.
As obras estão todas bem construídas e nada têm sofrido;
apenas longos trechos em canal não dispensam uma constante
conservação (os empreiteiros são obrigados na parte que lhes toca
à conservação durante seis meses, depois do recebimento definitivo
dos trabalhos); para isto será necessário manter permanentemente
uma turma de conserva, depois que as margens do canal forem
protegidas por uma cerca de arame em toda a extensão, trabalho
este que está em andamento.
Prossegue o relatório de Lisboa
Ao passo que a execução das obras nada deixa a desejar,
outro tanto não acontece quanto à vazão dada aos cursos d’água
de maneira a satisfazer plenamente em tod0s os pontos. Desde
outubro de 1896 já O engenheiro Saturnino de Brito se
pronunciara contra a insuficiência de secção de vazão das
galerias indicadas no projeto que estava em execução quando se
organizou a atual comissão do Saneamento do Estado; e
atendendo às concludentes razões apresentadas é que concordei
em não ser coberto o trecho do ribeirão do Anhumas, situado a
jusante de sua confluência com o Tanquinho, construindo-se aí
uma testa dupla; e· em substituir a galeria do tipo n. 2, designada
140
para o mesmo ribeirão acima dessa confluência por outra de
maior vazão; alem disto pela mesma razão e por considerações
de economia adotou-se francamente o canal a céu aberto em
longo trecho do mesmo curso d’água ate quase à confluência do
Serafim.
Quanto ao Tanquinho, que era considerado inferior em
descarga ao Anhumas, mas que tem provado ser-lhe equivalente,
havia um pequeno lanço já construído de galeria do tipo n. 3, e
por muito tempo permaneceram paradas as obras, até que fosse
resolvido qual o tipo de construção a empregar-se. As condições
locais relativas a este riacho eram diferentes dos do Anhumas,
banhando as suas águas fundos de quintais em grande extensão,
e portanto sujeitas a receber imundícies de toda natureza; motivos
de higiene eram por isto alegados em prol da galeria coberta, e
com muita razão, da rua Major Solon em diante ate a praça Carlos
Gomes. Neste comenos o chefe do distrito lembrara a
conveniência de serem abertas avenidas arborizadas ao longo
das margens do canal, medida esta que somente à
municipalidade compete tornar em realidade; e estendendo este
plano ao trabalho por fazer no Tanquinho opinava resolutamente
pejo canal aberto em vez da galeria projetada. Em meu relatório
anterior me exprimi também neste sentido; e em anexo transcrevo
a exposição, que aquele distinto engenheiro dirigiu à Câmara
Municipal de Campinas em relação aos projetos complementares
dos trabalhos em via de execução, que eram de competência dela
iniciar e levar a efeito.
Como a Municipalidade tardasse em manifestar-se sobre
o assunto e era necessário agir para não deixar o empreiteiro sem
trabalho, prevaleceram às considerações de higiene, e foi
reencenada a construção da galeria do tipo n. 3, com a precaução
apenas de aumentar-lhe a declividade, alem de reforçar o berço
para prevenir o caso de entrar a galeria por momentos em carga
com alguma enchente extraordinária e brusca; contava também
poder desviar para as bacias de Anhumas e Proença uma parte
das águas pluviais que contribuem para o caudal do Tanquinho,
segundo o que já foi lembrado em meu precedente relatório. Cabe
aqui, aliás, observar que os cálculos geralmente feitos para o
escoamento das águas das chuvas em uma dada superfície, e
tendo em vista as observações pluviométricas da localidade, são
baseados em hipótese aceita de que a duração do escoamento
corresponde ao triplo do tempo que gasta uma chuva copiosa a
cair. É evidente, pois que um coletor, cuja vazão foi determinada
para satisfazer a essa condição, não comportará o volume d’água
que possa despender muito menos tempo a afluir e juntar-se, do
que o cálculo, em conseqüência de estarem calçadas as áreas e
as ruas e estas munidas de sarjetas e possuírem boa declividade;
foi isto que sucedeu em Campinas,
A chuva torrencial caída no dia· 1 de janeiro deste ano
veio demonstrar peremptoriamente a insuficiência de vazão da
galeria do Tanquinho, pelo transbordamento das suas águas que
operou-se na travessia da rua Major Solon, ao passo que a galeria
de Anhumas, sob a rua D. Libânia não foi assoberbada pela cheia;
a obra ficou porem intacta, apesar de ser de recente construção,
atestando assim as suas excelentes condições de execução;
acresce que ainda não se havia feito o aterro, destinado a cobrir a
obra, não provindo, portanto prejuízos materiais, também por este
fato.
Antes de prosseguir na construção da galeria acima da rua
141
Major Solon, se deverá prover para remediar o mal. Apresentam-se por
isso três soluções; a saber: a) a demolição do berço da galeria do
Tanquinho e reversão ao projeto em construção aberto, solução a mais
econômica; b) a construção de uma galeria paralela a primeira e de igual
extensão, solução esta a mais racional, porem a mais dispendiosa, e c)
deixar intacta a galeria construída e adotar uma disposição que permita
a descarga de todo o volume d’água excedente da capacidade da
galeria, em linha reta para o Anhumas canalizado; esta solução tem o
defeito de preparar-se um canal que se achará seco durante o ano todo,
excetuando-se os raros dias de chuvas torrenciais extraordinárias; o seu
custo seria intermediário aos das outras soluções.
Na continuação das obras sobre o Tanquinho acima da rua
Major Solon é indispensável adotar-se a galeria do tipo n. 1 até a rua 14
de dezembro, onde começa um trecho já canalizado, se bem que de um
modo irregular, sendo que o leito do canal apresenta largura variável e
os paredões que o limitam são de alturas diferentes; o melhoramento
radical deste trecho poderá ser adiado, mediante alguns reparos que
facilitem o escoamento desimpedido das águas até que fique decidido se
a Câmara Municipal levará ou não por diante a abertura de uma avenida,
até a praça Carlos Gomes; depois disto e só então convirá converter
este trecho canalizado em galeria coberta, aproveitando quanto possível
o material dos paredões e a obra feita.
Sobre o Anhumas nada mais haverá a fazer, convindo apenas
remover, da praça Correia de MeIo os tanques de lavagem de roupa,
quando for construída a lavanderia pública, projetada no cruzamento da
rua de Santa Cruz, e quanto ao Serafim convirá como complemento
indispensável do plano de saneamento esgotar sem demora açude aí
existente e drenar a superfície em direção à galeria já construída; esta
medida é tanto mais urgente que não oferece grande segurança a
barragem da terra, que represa as águas, podendo acontecer que, com
a queda de alguma manga d´água nas cabeceiras, as águas do açude
sobrelevem a barragem, aluindo-a e levando por diante a destruição às
benfeitorias particulares, como à parte canalizada do Anhumas.
Conclui o Relatório Lisboa:
Outro complemento das obras do saneamento seria a
construção de uma grande lavanderia; esta comissão encontrou-a pro-
jetada no triângulo formado pelas ruas Santa Cruz e D: Libânia e pelo rio
Anhumas, e orçada em 90:000$000. Modificando este projeto o chefe do
Distrito adaptou-o de maneira a encobrir um trecho de 42 metros cio
canal, situado abaixo da confluência do Anhumas e Tanquinho, e no
qual foram em 1896 construídos os encontros, que deveriam receber o
berço da galeria então projetada: este trecho ficara, como se vê, com
disposição diferente do tipo do canal empregado. O edifício seria
levantado sobre colunas de ferro apoiadas nos encontros e sobre muros
construídos alem da crista dos taludes; e teria um só pavimento sobre
abobadilhas de tijolo, repousando em vigas metálicas; as fachadas
principais enfrentariam pequenas praças ajardinadas de forma triangular.
Para o aprovisionamento da água necessária ao serviço da lavanderia
seriam captadas e canalizadas as nascentes do Anhumas e do Serafim,
e poderiam ser-lhe acrescidas as sobras do Tanquinho, depois de
abastecidos os chafarizes a que servem atualmente.
Os trabalhos relativos à canalização dos riachos e à construção
das galerias de drenagem e dos drenas foram ativamente fiscalizadas
pelo ajudante de 1a classe José Pimenta com grande proveito para a
solidez das obras e economia na estrutura, segundo refere o engenheiro
F. Saturnino Rodrigues de Brito, seu chefe imediato.
142
ANEXO B
Relatório sobre o caráter e o programa do Plano de Urbanismo de
Campinas. In: Relatório dos trabalhos realizados pela Prefeitura
Municipal de Campinas durante o exercício de 1934. Campinas:
Linotypia da Casa Genoud, 1936
Ilmo. Snr. Prefeito.
1. Na antiguidade a fundação duma cidade era uma solenidade
religiosa e nãos e realizava antes de afirmarem os augures que os
deuses eram propícios. Podemos fazer um paralelo: hoje é a
inauguração dos estudos urbanísticos que pode ser considerada
solenidade cívica, porque marca o inicio da vida urbana consciente e
perfeitamente organizada.
2. Aproveito esta oportunidade, quando se iniciam os nossos
trabalhos; - dos primeiros e mais promissores no gênero, que se fazem
no país – para saudar nas pessoas de V.S. e dos membros do Conselho
Consultivo a cidade de Campinas.
3. Passo a propor o caráter e o programa do plano da cidade,
premissa essencial para o andamento dos estudos. (os programas para
planos urbanísticos estão mais ou menos standardisados nos países
mais adiantados. Seguiremos mais de perto o de Lanchester, que pode
ser considerado clássico). Conheço por amor ao método, pelas idéias
gerais e intuitivas.
4. Caracteres.
1º- O plano deve ser compreensivo, isto é abranger todos os principais
aspectos gerais da vida da população e estender-se a todo o município,
embora dando o especial destaque á cidade e aos aspectos materiais.
Hoje a tendência é para conceber o “urbanismo” no sentido lato.
Ele está longe de resumir-se a um plano de ruas: todos os fatos e
aspectos municipais se entrelaçam.
Como o desenvolvimento duma cidade é determinado pelas
condições e possibilidades (principalmente econômicas) do município e
da região, resulta que um plano de urbanismo bem pensado deve
enquadrar-se num plano – embora muito sumário – regional. No nosso
caso diremos “municipal”, para não complicar.
2º- O plano deve ser técnico. Poderíamos dizer “científico”, isto é:
a) Estribado em estatísticas e investigações mais ou menos
minuciosas;
b) Baseado em critérios precisos;
c) Orientado pela experiência estrangeira no que for cabível.
Importa acentuar esse caráter “técnico” em contraposição ao
“sentimental” ou de “palpite” a que não escapam habitualmente os
leigos. E mesmo alguns profissionais... Embora o inquérito (survey)
cívico e técnico não determine estreitamente o plano, é sempre uma
referência valiosa para precisar e esclarecer as questões. Maior ainda
que a utilidade imediata será a sua utilidade futura, como elemento
comparativo, quando se proceder á revisão do plano, coisa necessária a
grandes intervalos para atender tanto á evolução natural da idéias como
á experiência local.
A experiência estrangeira é evidentemente útil, desde que o bom
senso saiba pensar-lhe o valor. Dos exemplos coloco em primeiro lugar
o americano e o alemão.
É preciso principalmente não confundir um “plano geral de
urbanismo” com simples exposições preliminares de idéias ou com
meras coleções de aquarelas, como tem sucedido no país.
143
3º- O plano deve ser prático, isto é, atender:
a) Ás possibilidades econômicas;
b) A exeqüibilidade financeira;
c) Á exeqüibilidade legal;
d) Ás necessidades reais;
e) Aos desideratos razoáveis da população;
f) Á experiência alheia;
g) O clamor por coisa grandiosa, mas impraticáveis pelo
custeio e geralmente desproporcionadas ás necessidades, traz quase
tanto embaraço como a visão estreita, que não atenta ao lapso de tempo
visado nem á larga distribuição dos encargos.
Notas: (b) e (c) dependerão muito da nova legislação que vamos
receber, em especial da extensão dos poderes que, em matéria de
desapropriação e taxação, forem concedidos ás municipalidades. (a)
Liga-se intimamente á prosperidade do município.
4º- O plano deve visar um espaço de tempo dilatado que costuma variar,
conforme os casos, de 20 a 50 anos.
Esta condição, a que o leigo não está habituado, muda muito a
perspectiva das coisas. A execução gradual de muitas obras e um
critério “plano de ação” acabarão por convencer os mais tímidos.
5º- O trabalho compreenderá:
a) Coleta de dados;
b) Inquérito cívico e técnico;
c) Elaboração e crítica dos resultados anteriores;
d) Esboços preliminares;
e) Concursos auxiliares;
f) Plano propriamente dito;
g) Exposição de recursos;
h) Exposição geral ou relatório;
i) Propaganda;
j) Estudos complementares e eventuais (questões gerais tais
como governo municipal e organização técnica e
administrativa, detalhes mais importantes, adaptações,
etc.)
Notas: (a) visa obter maior número de dados possível, já elaborados,
sobre a cidade, seu desenvolvimento, suas riquezas, suas
necessidades.
(b) é também uma coleta, porém ativa e organizada; parte pode
ser feita por meio de funcionários municipais, parte por consulta a
pessoas, instituições e repartições competentes ou interessadas.
Campinas conta, dentre seus filhos e moradores, uma plêiade de
técnicos distintíssimos, cujo concurso será inapreciável.
(c) é a apreciação e síntese dos dados anteriores e síntese dos
dados anteriores: tabelas, gráficos, comparação, conclusão, etc.
(d) são tentativas para fixar idéias, partindo de preferência das
grandes linhas. A marcha inversa, que parte de detalhes para conseguir
efeitos imediatos, é condenável. Essas tentativas devem ser numerosas
em Campinas, onde o problema parece-me menos determinado e mais
difícil que em outras cidades que tenho examinado. Os concursos (e)
são admissíveis em urbanismo em certos casos e desde convenientes
propostos. Não podem desempenhar o mesmo papel que em
arquitetura.
(g) a exposição de recursos trata das leis de expropriações, das
leis de regulamentação, dos recursos fiscais, do plano de ação.
(i) a propaganda far-se-á por meio de artigos, palestras
inquéritos populares pela imprensa, publicação do relatório, etc.
Durante os trabalhos as conclusões devem ser consideradas
144
provisórias até a última fase do plano. Realmente, dada a múltipla
conexão dos assuntos, modificações podem se tornar necessárias até o
ultimo momento, para a harmonia geral.
6º - O plano será elaborado sob a responsabilidade do urbanista, que
ouvirá a Prefeitura, a Comissão do Plano ou outro órgão a quem
incumba cuidar da iniciativa, a fim de apreender aos desideratos gerais.
Conservará, porém uma liberdade técnica. A cidade, por seus poderes,
aprovará integralmente ou não o plano, ou utilizá-lo-a como julgar mais
acertado. Assim permite-se maior liberdade tanto á Prefeitura como ao
urbanista, evitam-se embaraço e delongas, e resultará maior unidade de
trabalho.
O plano (f) compreenderá:
1) Plano sumário do município (organização, estradas,
reservas, florestais, etc.)
2) Plano da cidade (organização, zonas, rede arterial,
arruamentos, sistema de parques, etc.)
3) Plano da cidade (leis e regulamentos de construções, de
zonas, de arruamentos, de circulação, etc.)
7º - Baseado nas idéias anteriores damos o programa do survey para a
primeira parte do plano: o plano municipal, moldura e em parte
determinante do plano urbano.
A) História da cidade e do município em linhas gerais. Seu
desenvolvimento e suas causas. Planta e fotografia velhas. Estudos e
monografias sobre o assunto.
B) Geografia do município. Mapa da Com. Geol. e
Geografia (C.G.G.). Cadastro rural (estatística imobiliária, Prefeitura,
Secr. da Agric.). Vazão dos rios principais. Riqueza florestal. Espécies
vegetais locais.
C) Geologia – Mapa da C.G.G.– Referências, Geologia
agrícola (Instit. Agron.). Sondagens, lençol d´água superficial e profundo.
Águas gerais minerais. Minas. Jazidas. Pedreiras. Turfeiras. Xistos
betuminosos. Areia e pedregulho. Barro para olarias. Erosão.
D) Meteorologia (C.G.G., I.A.).
a) Organização do serviço local. Estações, localização,
instrumentos e processos.
b) Ventos dominantes, freqüência, intensidade.
Variações diurna, anual, etc.. Efeitos.
c) Chuva. Número de dias por ano e sem. Alturas
separadas e integradas. Variações locais, mensais e
anuais.
d) Temperatura. Médias; extremas; variações;
e) Pressão;
f) Nebulosidade;
g) Higrometria.
E) Estradas de ferro: I- passagem de nível no município,
suas condições, número de passagens de trens e de veículos,
estatísticas dos desastres especificadamente, custeio de guarda, etc. II –
Estações: movimento em passageiros e mercadoria; crescimento.
F) Estradas de rodagem: rede estadual, municipal e
privada. Condições técnicas (largura, curvas, raios mínimos, declividade,
sobre elevação, secção, alargamentos, abaulamento, visibilidade,
revestimentos, valetas, bueiro típicos, etc.) regulamentares. Movimento;
estatística. Veículos: número por hora, dia, ano, espécie, peso,
velocidade, gabarito, etc.. Regulamentação: regras, sinalização.
Conservação especificada, custos. Cruzamentos, visibilidade. Trechos
novos desejáveis, remodelações desejáveis. Polícia: instruções, pontos,
pessoal. Cargas (para pontes).
145
G) Aeroportos: locais aproveitáveis para tal: solo, ocupação
atual, umidade, declive, área, planta, distância, acessibilidade, nevoeiro,
custo, custo de melhoramentos indispensáveis (drenagem, etc.).
H) Reservas florestais: principais ou mais interessantes
matas existentes, características (área, destino, relevo, custo,
localização). Cabeceiras protegidas. Locais ou beleza naturais notáveis
(cachoeira, penhas, árvores, etc.).
I) Recursos hidráulicos: para alimentação e para força.
Queda, vazão regime, extensão. Recursos minerais.
J) Recursos vegetais e agrícolas: cadastro agrícola; mata,
campo, capoeira, cafezais, lavras, etc.. Recursos animais (gado, pesca,
etc.).
K) Escolas fora da cidade. Localização em planta, tipo,
número de alunos, distância das casas destes, condições, aluguel,
higiene, freqüência, residência do professor.
L) Instalações de serviço público. Rede e adutores; água,
eletricidade, telefone, etc.
M) Aglomerações no município. Subdivisões deste.
Estações, vilas, fábricas, núcleos, colônias, fazenda. Repartição da
população. Recenseamentos federais. Higiene Rural, condições
sanitárias atuais, habitação: tipo, despejo, alimentação, assistência.
N) Recursos econômicos. Monografias sobre as riquezas e
possibilidades do município. Culturas. Safras. Possibilidades industriais.
Possibilidades comerciais; centro distribuidor; alfândega interna.
Relatórios de estrada de ferro, bancos, grande estabelecimentos, de
empresas de serviço público.
O) Recursos financeiros. Impostos municipais, estaduais e
federais desde antes da grande guerra. Arrecadação anual, taxas,
critério de lançamentos. Explicação dos saldos eventuais observáveis.
P) Organização municipal: administrativa e técnica. Quadro
dos serviços e pessoal (não nominal). Leis e regulamentos
concernentes.
Q) Coleção de relatórios municipais.
R) Organização sanitária: municipal e estadual. Relações.
Estatísticas demográficas de diversos anos. Mortalidade, natalidade,
moléstias especificadas, localização dos fatos, referencia ás condições
sanitárias, etc.etc.etc..
8º- Dos documentos anteriores, devem ser colhidos os que
forem possíveis, sem preocupação por enquanto, de harmonizá-los ou
reduzir a critérios idênticos ou comparáveis.
9º- para ganhar tempo convém adiantar alguma documentação
referente á cidade propriamente. Por exemplo:
- Linhas de bonde: sua marcação separada em planta (p. ex.
uma cor para cada percurso). Horário ou freqüência, passageiros
transportados por linha e hora. Relatório da empresa. Contrato. Idem de
ônibus. Regulamento. Concessões.
- Coleções de leis e regulamentos municipais, em especial:
padrão de construções, lei de arruamento de tráfego, etc..
- Planta das redes de água, esgoto, pluvial, gás, etc. Diâmetro
e profundidades principais. Relatório Saturnino de Brito.
- Bombeiros. Sede, organização, postos de sinal, material,
pessoal. Estatística de incêndio (localização, hora, espécie, resultado,
causa, etc.).
- Lixo. Condições. Taxas. Retirada. Destino. Organização.
Análise. Etc..
146
ANEXO C
Relatório da exposição preliminar. In: Relatório dos trabalhos realizados
pela Prefeitura Municipal de Campinas durante o exercício de 1935.
Campinas: Linotypia da Casa Genoud, 1934, p. 69 – 128.
Relatório do Dr. Francisco Prestes Maia
Rascunho de Exposição Preliminar
I
O plano de urbanismo de Campinas refere-se a aspectos
expostos em exposições anteriores e enumerados em esquema já
distribuído.
Vamos agora encarar concretamente uma parte do plano,
aquele que temos chamado de “plano material”, limitando-nos ainda, por
necessidade de clareza, aos pontos principais e as grandes linhas.
É importante relembrar que esta exposição não tem caráter de
projeto nem proposta formal. Conforme idéias já expendidas sobre a
verdadeira função das diferentes entidades que concorrem no estudo da
cidade, o papel no plano preliminar abaixo é apenas o de constituir guia
e referencia para melhor coordenação daquelas “manifestações das
aspirações coletivas”, que cabem á Comissão de Urbanismo.
Observar que este plano é um tanto esquemático, que os
traçados na planta estão simplificados e, nos detalhes, fora de escala
precisa. Observar ainda que alguns traçados figuram simultaneamente
com as variantes, embora na realidade trate-se de uma alternativa.
Deixaram-se de lado os fatos que podem ser tratados parte e os
detalhes e questões secundárias.
II
ENTRADA DA CIDADE
Começamos a exposição pelo primeiro aspecto que vai se
oferecer ao visitante rodoviário.
O trecho rodovia S. Paulo - Campinas, mais próximo a cidade
deverá ser tratado mais como alameda ou avenida bem como rodovia.
Isto poderá começar perto de Valinhos e acentuar-se perto de
Campinas. O plano da estrada basear-se-á neste critério:
A- Procurar aspecto agradável e, se possível, mesmo um pouco
monumental, por se tratar da “entrada” da cidade,
B- Aplicar o mais possível as conclusões modernas sobre rodovias
principais, que visam a não interferência do movimento da
travessia com o puramente, - conclusão que tem culminado,
onde as circunstancias justificam, nas auto-estradas.
a) Previsão de alargamento para no mínimo 4 vias (4 filas de
veículos, passeio).
b) Previsão de passeio.
c) Previsão de arborização.
d) Motivo inicial ou de demarcação que poderá ser constituído
por portal, pylones, etc.. Em rigor ficaria mais interessante e
simbólico na divida do município.
e) Pracinha e motivo na entrada da cidade propriamente dito.
f) Recuo das casas.
g) Alargamento parciais nos pontos comerciais, de modo a
deixar livres as 4 vias para a grande circulação.
h) Retificação e melhoramento dos alinhamentos e “grades”
nos pontos menos satisfatórios, de modo a permitir grande
velocidade.
147
i) Máximo espaçamento das transversais, evitando o mais
possível desenvolvimento do movimento local sobre a faixa
de interesse geral. Previsão da passagem em desnível onde
for fácil.
j) Maximo descobrimento das vias nos cruzamentos
indispensáveis.
k) Prever o desenvolvimento futuro da faixa sem vazão direta e
continua sobre a estrada, mas antes lateralmente e com
ligações menos freqüentes.
Vê-se que há aqui (como em geral em todas as rodovias, mas
especialmente nas vizinhas ás cidades) uma conciliação a fazer entre as
2 funções muito diversas do trafego geral e do local. É um erro enorme e
ainda corrente entre nós permitir que as rodovias sejam tratadas pelos
lindeiros como ruas comuns. Resulta que, ao cabo de anos, tornam-se
ruas estreitas e de trafego difícil, quando seu fim é principalmente o
trafego grande, veloz e de grade distâncias. O direito de aproximar as
construções e fechos, abrir portas, porteiras e comunicações sobre a
estrada, manter estacionamentos em frente ás casas e dentro das faixas
carroçáveis, são tudo abusos a coibir ou corrigir. As rodovias em geral
receberão assim no município, uma regulamentação especial que
devera ter partido do Estado, mas que este, aliás, dificilmente o
conseguiria plenamente, em vista da enorme diversidade de condições
em todo o seu território. E, porém na estrada principal, a de entrada, e
em menos grau nas outras principais, que tal regulamentação e
melhoramento devem ser aplicados. As grandes rodovias devem imitar
segundo idéias modernas, os metropolitanos e as ferrovias, que
possuem leitos próprios e cruzamentos em desnível. Como a imitação
completa é impraticável, deve haver uma conciliação, mas nunca deixar
que as grandes vias tornem-se ruas absolutamente comuns. Na era do
automóvel são consideradas defeituosas as estradas que não permitam
a estes a máxima velocidade. Nas ruas comuns a transigência é
inevitável porque estas têm por objetivo não só o trafego geral, como
particular e, sobretudo, o acesso das casas. Nas estradas e
principalmente, nas grandes estradas, o primeiro objetivo é o importante,
o segundo é secundário. O ideal seria mesmo manter uma estrada
central (longo percurso) e das duas laterais, para serviço local,
comunicado com a central de longe em longe.
Esta é, resumidamente, a concepção a aplicar as grandes
estradas do município (de acordo com o Estado, se possível) e máxime
á de estrada.
A pracinha de entrada da cidade será pouco aquém de Villa
Marietta, num alto donde podem partir com relativa facilidade, tanto á
direita como á esquerda, os 2 ramos da grande avenida ou rodovia
perimetral externa de Campinas.
III
PERIMETRAL EXTERNA
As perimetrais têm um fim triplo, ou mesmo quádruplo:
a) Libertar do trafego de travessia o centro mias estreito e
congestionado;
b) Facilitar a este a passagem das cidades ou
aglomerações e permitir-lhe manter grande velocidade;
c) Ligar melhor os arrabaldes entre si;
d) Servir para passeio, máxime quando são tratados como
“park-ways”. São fins ao mesmo tempo econômicos, estéticos,
higiênicos, de trafego e de segurança.
O fim (a e b) é tão procurado hoje que os traçados das grandes
148
estradas de rodagem já desviam sistematicamente das aglomerações,
que são servidas por derivações ou ramais.
O objetivo (c) é importante em Campinas, onde vêem muitos
bairros e arruamentos, lado a lado, porém mal ligados entre si, sem
grandes vias de conexão, continuas e amplas. Na Capital do estado o
mesmo se verifica.
A perimetral externa campineira passará á direita pelo alto do
Fundão, aproveitará um corte da E.F.Paulista para uma passagem
superior da artéria urbana, e alcançará o Córrego do Novaes. Um ramo,
tratado como “park-way” (avenida-parque, larga, bem arborizada e
mesmo ajardinada, aproveitando a inferioridade dos terrenos baixos para
construção) acompanhará o “thalwegg”. Outro procurará em curvas,
subir o morro, cruzar a estrada de Souzas e seguir pelo alto ou meia
encosta.
Do lado esquerdo da entrada da Cidade a perimetral externa
descerá á estrada de Itu, que atravessará, dividindo-se em 2 ramos: um
passa próximo ou através dos terreno municipais de Villa Industrial,
outro envolve S. Bernardo. Ambos acabarão por atravessar a Paulista,
atingir a estrada de Limeira e prolongar-se pelo alto do Chapadão.
É desejável que esta perimetral seja sempre ampla, com boas
rampas e grandes raios de curvatura. É inútil, porém fixar-lhe secção
uniforme, desde que satisfaça certo mínimo nos trechos piores (4 vias
arborizados), procurando 6 vias ou faixas gramadas e arborizadas
(futuras) nos trechos melhores. A questão das rampas é mais difícil,
porque percorre faixa acidentada: convém tolerar alguns pequenos
excessos em vista da importância predominante da diretriz e admitir
alguns cortes e aterros pesados. A economia em terraplenagem deve
ser regra nos arruamentos secundários (enchimento das malhas), mas
não no caso das artérias principais.
A perimetral, que estamos seguindo, prossegue pelo espigão do
Chapadão, para perto da Fazenda Santa Eliza, passa atrás da Escola
Profissional (em um ou dois ramos) pelo vale do Taquaral e fecha o
circuito dos terrenos dos filtros do Saneamento. Ela liga bem todas as
estradas radiais e todos os bairros afastados, constituindo belíssimo
passeio. Não é obra sumptuaria porque é obra que terá de ser feita mais
tarde, em qualquer tempo, e porque, prevista agora, permite preservar-
lhe a faixa necessária. O traçado exato não é possível no momento por
faltar a planta cotada da cidade alguns setores. Isto será, porém fácil
completar. A Comissão poderá sugerir complemento topográfico.
IV
PARQUES
Antes de prosseguir podemos deixar logo assentado este ponto
importante do urbanismo, que a Perimetral externa traz á baila. A
necessidade de parques é pouco conhecida entre nós devido a hábitos
viciosos e idéias falsas. O hábito vicioso é a relativa inércia e má
educação da raça em matéria positiva e de recreio. Esportes impróprios
para o clima ou para as idades, instalações nulas ou precárias,
embaraços de freqüência, falta de incentivos e de exemplos, ausência
de todos os atrativos conexos, preconceitos – tal é nosso balanço. As
idéias falsas versam, sobretudo sobre o abandono dos parques
existentes, argumentos contra os novos. Entretanto a realidade é que
desconhecemos o que sejam parques completos. Reduzidos a jardins
públicos pequenos e sem graça, sem vegetação abundante, sem
instalações (que devem ser não apenas boas, mas ótimas e completas),
sem as separações naturais, sem comodidades, sem atrativos, é natural
que nossas populações prefiram permanecer em casa ou freqüentar
cinemas asfixiantes.
149
Sempre, porém, que nós temos aproximado da orientação certa,
verificou-se o sucesso. Outra coisa não representa o frequentadíssimo
“play-ground” da Várzea do Carmo, em S. Paulo, assim como modernas
instalações de muitos Clubes Esportivos, como o Germânia e outros. O
rush semanal para as praias demonstra que a população não falta
desejo de recreio. Por outro lado é errôneo crer que meias medidas
satisfaçam: instalar parques, clubes, etc., é verdadeira arte e exige
mesmo, além do grande conhecimento de psicologia popular, certa
educação gradual das massas. O recreio ativo é um derivativo, hoje
mais que nunca, indispensável ás populações. Outra objeção aos
parques entre nós refere-se ao seu coeficiente quantitativo, que se
reputa poder ser inferior aos estrangeiros, devido a menos densidade
demográfica.
Isto é verdade comparativamente a certas cidades européias
velhas e muito compactas. Já não é comparativamente a muitas cidades
e bairros novos, assim como ás cidades americanas, que não obstantes,
procuram altos coeficientes de parques. Vê-se que o coeficiente
campineiro não chega a 3 metros quadrados de espaço livre por
habitante, ao passo que as cidades alemãs apresentam correntemente
coeficientes que vão de 11 a 22, e as americanas de 20 a 40. Porém a
cifra referencia não se deve buscar entre as existentes somente, mas
ainda e principalmente entre as aconselhadas por higienistas, urbanistas
e autoridades municipais. Ora, estas cifras, são ainda muito superiores.
Se a cidade americana normal conta 20ms2/hab., plano de remodelação
buenayrense de 1925 aconselha 30 e Lay indica 60. Aliás, algumas
cidades, entre elas Washington (com parques externos) já excederam
este coeficiente, mais de 20 vezes o campineiro. Não queremos dizer
que muitíssimas boas cidades não tenham inferior ao de Campinas. A
própria Capital paulista (atual 1m2/hab., com Ibirapuera e Água Funda
8m2/hab.) teve até pouco, coeficiente inferior e está arriscada a voltar a
ele, se os 2 grandes parques já iniciados (1.700.00 e 6.300.00 ms2)
forem abandonados, como no momento é de temer. Em qualquer caso é
evidente a necessidade de argumentar o coeficiente campineiro. Isto far-
se-á por 3 meios:
1 – “Play-ground” de quarteirão, no meio das habitações
coletivas, etc. São espaços livres eficazes, mas com cuja soma não se
pode contar muito. A animar nas leis de construção e de arruamentos.
2 – Jardins médios das unidades residenciais. A serem exigidos
em todos os futuros arruamentos, que de maneira oportuna se tratará. É
uma área, por ex. 10 a 25 % do total, conforme as circunstâncias.
Infelizmente grandes áreas já estão arruadas sem ter sido preservada
esta porcentagem e quando ficou preservada, nem sempre foi nas
melhores condições. Serão, todavia ótimas reservas porque próximas de
cada seção habitada.
3 - Grandes parques. A serem criados pelo poder público.
Satisfazem a outras necessidades que não os “play-grounds” infantis e
jardins médios. Destinam-se a grandes instalações, jogos coletivos,
adultos, folgas semanais, passeios de automóvel, escola de débeis, etc..
Em Campinas proporíamos dois parques deste tipo: um em Vila
industrial, outro no Taquaral. Jequitibás (pelo preço ficaria sua ampliação
e pela dificuldade de receber esportes sem prejuízo de bela vegetação,
aproximar-se-á mais do tipo médio. A área dos filtros do Saneamento
poderia constituir um terceiro, por assim dizer de 2ª classe, por motivos
óbvios, mas não menos útil. O parque da Vila Industrial aproveitaria
terrenos inferiores para construção, mas pitorescos. Com pequena
permuta entre o córrego e a rua Salles de Oliveira, para ampliá-lo deste
lado, ficará com o perímetro satisfatório. Embora bastante grande sou
contrário a qualquer venda parcial para fim lucrativo. As receitas públicas
150
normais são os impostos, taxas e rendas industriais ou patrimoniais e
não a venda de bens, que só fornecem dinheiro uma vez. Este parque
teria duas entradas principais: na rua João Jorge (a principal, a ser
tratada com certa monumentalidade) e na rua Salles de Oliveira
(travessa curva que vai ao Curtume e, mais além, frente ao túnel de
pedestre da E.F.Paulista). Um pequeno represamento do córrego daria
lugar a um laguinho atraente. O matadouro, depois a transferir para
jusante, perto do aterro da Sorocabana, serviria ainda uns tempos como
abrigo e ginásio provisório. Este parque, como o do Taquaral, teria
caráter de bosque e não de jardim. Mais fácil, portanto de executar e
mais pitoresco. Essencial é preservar-lhe parte da margem direita, para
criar uma cortina verde que oculte os fundos da rua Salles de Oliveira.
Próximo a fábricas e bairros populosos em desenvolvimento, terá
futuramente grande valor. A maior objeção que levanta é de ordem
técnica: a ruindade do terreno. Delimitando em área glacial, de
composição arenítica conhecida por sua pouca fertilidade e mais
propicia a campo-barba-de-bode, apresenta de fato essa dificuldade.
Esta, porém nada tem de grave pelos seguintes motivos:
a) A vegetação a criar será apenas parcial, devido á necessidade
de reservar área para esportes, instalações, etc.; o que reduz
proporcionalmente a dificuldade.
b) A própria vegetação pode em grande parte inspirar-se na flora
dos campos e em espécies pouco exigentes.
c) Há água abundante no pequeno vale.
d) Pode-se fazer irrigação permanente por caneletas e drenos.
e) O lixo municipal poderá auxiliar poderosamente a fertilização.
f) Para árvores isoladas maiores, boas cavas em terra fértil
resolvem o problema.
A constituição do parque resolverá ao mesmo tempo o problema das
boçorocas locais. Ao fazer os estudos preliminares de Campinas dei
especial atenção a muitos aspectos secundários, que a primeira vista
nada tinha como urbanismo, em especial aos solos e a vegetação
regional. É baseado nisso e mais na prática e na observação de 20 anos
de jardinagem em S. Paulo (parques da Avenida Independência, bosque
do Museu, mata da Água Funda, etc.) que julgo praticável a constituição
do bosque na área em questão.
O parque do Taquaral difere do anterior em ter por motivo
principal o lago central, que poderá atingir de 1 kilometros de extensão,
ótimo para recreio e esporte. A represa obter-se-á pela construção dum
dique de terra na estrada de Mogy. Em redor do lago bastará reflorestar
uma faixa para receber a cortina verde isolante, instalações e alamedas.
Tanto neste como no anterior convirá abrir canaletas de contorno para
desvio das enxurradas que poderiam assorear as represas. São, porém
detalhes secundários. A vizinhança da mata da fazenda Santa Eliza
pode sugerir ainda efeitos de realce e de aproveitamento mutuo.
Observa-se que ambos os grandes parques acham-se pertíssimo, em
plena área urbana, acessíveis, á pé, um de cada lado da cidade. Ocorre
agora perguntar se a porcentagem de parque não ficaria exagerada, o
que é fácil contestar. Realmente podemos admitir atualmente uma área
de 216.054 ms2 de parques (exclusive ruas de contorno) e uma
população de cerca de 70.000 almas ou mesmo mais, se levarmos em
conta que grandes parques têm interesse mais do que local e urbano,
motivo porque autoridades mandam também incluir parte da população
regional. Dentro dos prazos habituais dos planos de urbanismo essa
população poderá estar quase quadruplicada. Não discutiremos no
momento esta questão, que depende essencialmente, aliás, de um fator
a ser seriamente estudado em Campinas: o desenvolvimento industrial.
151
Observaremos, contudo que, se as cidades comuns do nosso interior
item limites mais ou menos certos e estreitos de crescimento (função da
importância econômica da zona de influência do município respectivo),
esses limites podem dilatar-se consideravelmente no caso de cidades de
interesse regional, cidades de entroncamento (tanto ferro – como
rodoviário) e quando dotadas de possibilidades industriais. Não duvido
das possibilidades no que respeito a Campinas, por motivos que noutra
ocasião desenvolveremos e, se elas forem animadas sistematicamente,
como pode ser previsto em um plano de urbanístico lato sensu, resultará
para a cidade mais um fator de desenvolvimento, que será rápido e
quase sem limites. A asfixia tributaria que servia na Capital e tende a
estender-se por sobre Santo Amaro, São Caetano, São Bernardo, etc.
afugentando as indústrias e até o comércio, trabalha nesse sentido,
como também outros fatores, que também podem ser acrescentados na
balança. Conclui-se que a população de Campinas, ainda dentro dos
prazos comuns previstos nos planos gerais (25 a 50 anos), poderá ser
assaz elevada. Basta mencionar que S. Paulo (cujo crescimento, aliás,
nada tem de milagroso e excepcional possui numerosos semelhantes
não só nas duas Américas como na Europa e até nos outros
continentes) cresceu durante 10 anos a razão de 55% por decênio, isto
é, mais que duplicou em 20 anos. Nada demais, portanto, que uma
cidade menos (as menores crescem geralmente mais depressa) cresça
quase tão rapidamente sob condições favoráveis. Mesmo dando
desconto as cifras acima e supondo uma população urbana apenas de
200.000, a que poderíamos acrescentar 10% da população rural
próxima, vê-se que, a razão de um coeficiente medíocre de jardins
(pouco mais da metade do normal americano, de um terço do
recomendado buenayrense, de um sexto do apontado por Lay), a área
livre total desejável devia ser pelo menos 220.000x13 ms2 = 2.600.000
ms2. Desejamos as áreas livres e esperar nessa época, a começar pelos
jardins médios e pequenos arrabaldes. Como a área urbana atual
arruada (27kms2) comporta quase 3 vezes a população, resulta que,
restringindo o desenvolvimento irregular e prematuro, a população
quádrupla exigiria mais 1/3 da área atual ou 9 kms2. Destes a lei
municipal arrancaria uma fração para parques. A área a exigir para esse
fim (parque de todos os tamanhos) gratuitamente tem variado de 2 a
25% na maioria das cidades. Geralmente a lei pede de 10 a 20%. Como,
porém, para parques médios e pequenos, só uma parte dessa
porcentagem se tira; como, ainda, os pequenos arruamentos não podem
fornecer as mesmas porcentagens; como finalmente, há imprevistos, e
nem sempre as áreas possíveis de tirar ao proprietário são as melhores;
é necessário reduzir bastante aquele coeficiente e a não contar apenas
com 5 a 10% para médios e pequenos espaços livres, seja por ex. 7%.
Teremos então a área livre:
Existente, a conservar: 216.000 ms2
Áreas médias e pequenas dos novos
arruamentos: 7% de 9.000.000ms2: 630.000 ms2
846.000 ms2
Área desejada (coef. 20 ms2/hab.):220.000x13ms2= 2.600.000ms2
Diferenças a obter por meio de grandes parques:
2.600.000ms2 - 846.000ms2= 2.014.000 ms2, em números redondos:
2.000.000
Como seriam obtidos? Por exemplo, assim:
Parque Vila Industrial: 1.200.000 ms2
Parque do Taquaral: 700.000 ms2
Parque do Saneamento (parcial): 100.000 ms2
2.000.000 ms2
152
Vê-se que os grandes parques nada teriam de excessivos
conduzindo o coeficiente geral a cifra não só aceitável (13 ms2 / hab.)
como até muito inferior aos exemplos considerados mais
recomendáveis. É verdade que no computo dos 2.014.000 ms2
supusemos arruados apenas 4/3 da área atual, ao passo que a
proporção atual (3:1) apontara um múltiplo 12:3 ou 4:1. Isso, porém se
explica e justifica por diversos motivos:
1º) A tendência do urbanismo é para cercear o crescimento
excessivo ou prematuro, e para concentrar até certo ponto a cidade.
2º) Os parques valem mais quanto mais próximos. Convém por
isso evitar no computo as áreas absolutamente baldias e afastadas,
arruadas por pura especulação.
3º) Um parque na realidade exige 10, 20 e mais anos para ser
formado e alcançar o aspecto previsto, o que equivale a prolongar
consideravelmente o prazo dos desenvolvimentos urbanísticos.
4º) As previsões referentes a parques devem se entender mais
para reserva de área e para plantação, que como construção completa.
Nas condições expostas vê-se que a previsão de dois grandes
parques nada tem de excessiva. Pessoalmente acho mesmo que as
nossas cidades do interior podem se notabilizar muito mais pelos seus
parques e por certas outras instituições que por suas avenidas, praças e
edifícios centrais, campo em que nunca poderão lutar com a
grandiosidade das grandes capitais.
V
GRANDES RADIAES
São as radiais que servem as direções principais de trafego
urbano. Elas são indicadas naturalmente pelas estradas principais que
afluem ou se apartam da cidade. Primitivamente não se fazia grande
distinção entre as grandes radiais e as ruas comuns. Hoje há duas
distinções essenciais:
1º) São artérias principais e por isso diferenciam-se das
secundarias. As ruas duma cidade separam-se claramente em ruas de
grande transito e ruas de interesse local, como são em maioria das
residências. É o principio da especialização das funções. Daí decorre o
estreitamento e curvamento das ruas secundárias (que não só não
pretendem atrair trafego como mesmo desejam afastá-lo ou desanimá-
lo) e o alargamento e melhoria de todas as condições técnicas das
artérias principais (grande largura, curvatura insensíveis, “grades”
suaves, bom calçamento, etc.).
2º) Além de artérias principais, são artérias que se devem
aproximar o quanto possível das condições de trafego rápido, ao menos
na zona suburbana. (As ruas centrais são também principais, mas não
têm o segundo característico aqui mencionado, por terem movimento
local próprio muito forte). Isto conduz a novo melhoramento de
condições técnicas (poucos cruzamentos, separação dos tráfegos e de
travessia em vias paralelas, sinalização preferencial, etc.).
As radiais geralmente devem deitar entre si 600 a 1.000ms.,
esgalhando sub-radiais ou afluentes quando o espaçamento se torna
excessivo. Em Campinas as grandes radiais já existentes e a melhorar
são as estradas de Valinhos, S. Paulo, Itu, Viracopos, Roseira, Limeira,
Cosmópolis, Mogi, Anhumas, Pedreira, Souzas.
A estrela radial, porém, oferecendo setores em que o
espaçamento é excessivo, exige intercalações a prever, embora nos
momentos pouco ou nenhum tráfego exista nessas direções. Novas
radiais aparecerão assim, p. ex., no Chapadão em direções á fazenda, e
na encosta além do córrego do Novaes. A Av. Andrades Neves, a rua
Benjamin Constant, etc., receberão assim prolongamento futuros. Sobre
153
as condições técnicas das grandes radiais já falamos ao tratar da
principal (estrada da S. Paulo) e podem ser atenuadas conforme as
circunstancias e as proporções variáveis do tráfego de travessia e do
local.
VI
UNIDADES RESIDENCIAIS
Em oposição orais anteriores insisti sobre a concepção nova que
é a unidade residencial (“neig-bourhood” = unit). Assim denominam-se
porções da cidade que, ao menos para as atividades do bairro,
funcionam como unidades “self-sustaining” ou completas. Enchem o vão
da grande malha formada pelo reticulado das radiais e perimetrais. Elas
resolvem os seguintes problemas do urbanismo:
1º) Permitir um zoneamento permanente, isto é, que não
necessite alternar-se continuamente com o desenvolvimento da cidade.
Esta cresce por constituição de novas unidades e não por transformação
continua dum dado local e por expansão continua das zonas comerciais
ou mais densas. A permanência garante no tempo as vantagens, p. ex.,
da “amenity” nos bairros residenciais,
2º) Permite um zoneamento lógico proporcionando as áreas aos
usos, que geralmente se dispões em proximidade mútua, evitando a
dispersão do comércio local, colocando-o a mão dos residentes,
dispondo as escolas nos centros de gravidade dos freqüentadores, etc..
3º) Permite e concorda perfeitamente com o princípio da
especialização das ruas, evitando o tráfego perigoso e incomodo nas
áreas residenciais, tudo sem impedir o da travessia ou rápido, que as
grandes radiais e perimetrais satisfazem.
4º) Elimina a maior parte das dificuldades que se originavam nas
incertezas sobre o crescimento futuro da cidade. As previsões de
crescimento podem errar consideravelmente, sem que a estrutura
proposta á cidade tenha de variar. A repercussão manifestar-se-á
apenas no maior ou menor prazo em que as “unidades” se encherão. As
unidades residenciais apresentam dois aspectos interessantes.
a) Podem assemelhar-se a jardins invertidos. A diferença
consiste em terem zona residencial no centro e comercial no perímetro,
ao passo que nas cidades-jardim verifica-se o inverso.
b) Os arruamentos e disposições interiores estão
assumindo ultimamente aspecto muito curioso devido ao alongamento
dos quarteirões, ligação ou antiguidade dos “play-grounds” e jardins de
bairro, uso dos “cul-de-sacs” e inversão do plano das casas.
Expliquemos mais por miúdo.
As quadras clássicas, sobre uniformes tanto nas zonas
residenciais como industriais, aproximam-se dos quadrados. A
diferenciação (maiores e mais regulares para indústrias, menores e
irregulares ou curvas para residências) deu-se logo. A forma quadrada
ou pouco alongada, porém persistiu. Depois, reconhecendo que há
direções melhores para casas, que as transversais então só atuam como
ligações, que estas ligações constituem suplementos caros (calçamento,
área de terreno, etc.) que o trafego transversal de pedestres pode
satisfazer-se com vielas e que o motorizado tolera espaçamento maior
das travessas e maiores voltas, - os urbanistas estreitaram e alongaram
as quadras, que vão as vezes até 600ms., apenas cortadas por vielas de
espaço a espaço. Em segundo lugar adotaram os “play-grounds”
posteriores e os jardins de bairros, e lembrara-se de ligá-los ou pô-los
em contigüidade, chegando a constituir grandes faixas ajardinadas.
Notando, porém, que estas áreas ajardinadas e plantadas eram mais
aprazíveis que as ruas barulhentas, acabaram por consumar a revolução
154
virando traseiro das casas para a rua e a sua frente para o jardim. Estes
permitem também acesso aos pedestres. Quantos ás ruas (falo sempre
de ruas apenas de interesse local) perderam seu prestígio, tornaram-se
até certo ponto ruas de serviço (automóvel que entra para a garagem,
carrinhos de pão e fornecedores, entrada de cozinheiros, etc.). Por outro
lado esta concepção anima os “cul-de-sacs”, muito econômicos sob o
ponto de vista das desprezas de viação por metro de testada. É preciso
não ocultar que esta economia é toda ou quase, gasta nos jardins, mas
vê-se que a troca é vantajosa. A revolução acima parece-nos um pouco
inadaptável. Não tenho a menor dúvida sobre o contrário e alguns
brasileiros que já estiveram em Radburn, uma das ultimas palavras no
assunto, voltaram encantados. A aplicação concreta destas concepções
á zona de expansão de Campinas seria uma das coisas mais notáveis
do urbanismo nacional. Temos visto planos recentes de cidades nossas
em que esta questão, do maior alcance social, higiênico, econômico, e
ao mesmo tempo barata, no estrangeiro posto quase sempre em
primeiro plano, não era se quer lembrada, mas em que praças e pontos
monumentais e caríssimas figuravam com estardalhaço. A aplicação far-
se-á simplesmente determinando que os grandes vãos da malha radial-
perimetral fossem tratados nos projetos de arruamentos, daqui por
diante, segundo o princípio das “unidades residenciais”. A facilidade
cresce com o fato de serem quase todas estas áreas de expansão,
propriedade de fazendeiros ricos e adiantados, e de não estarem ainda
parceladas. A Prefeitura estabelecerá a grande malha e os proprietários
farão o arruamento interno sob a orientação do princípio exposto,
incluindo zoneamento simultâneo. É natural que alguma experiência e
tateação sejam necessárias no início, mas versará apenas sobre
detalhes e precisões numéricas (proporções de áreas residenciais, de
fronteira comerciais, etc.). Estas proporções baser-se-ão em primeira
aproximação em estatísticas de bairros existentes, como a Prefeitura já
tem realizado a meu pedido. Para ilustrar o que tenho dito figuram no
esboço do plano suas “unidades residenciais” esquematicamente
traçadas, uma no Chapadão, outra na encosta do Novaes. As áreas
quadriculadas significam áreas zoneadas como comerciais (comércio
mais ou menos bairro) as hachuradas ou tracejadas significam
zoneamento para apartamentos ou casas compactas, não grandes
prédios, mas os pequenos do tipo, p. ex., há pouco construído na Capital
na rua Augusta, intermediário entre a casa individual e a “maison de
rapport” típica. Diríamos talvez melhor: zona residencial semi-intensiva.
VII
PLANO ESCOLAR
O assunto anterior conduz imediatamente ao plano escolar,
parte do plano urbanismo. Neste aspecto é importante e já tem
probabilidade de ser bem compreendido e acolhido, depois que a
Diretoria de Ensino enveredou recentemente (embora ainda um pouco
incerta) em bom caminho. Em Campinas procuramos a princípio
estabelecer um plano escolar; infelizmente a estatística escolar e
demográfica recente não fora publicada e não permitida assim base
alguma exata. No caso da cidade nova, porém a estatística é
indispensável porque a unidade residencial, tendo “zoning” e planos
precisos, sabe-se de antemão a população total e, por porcentagem a
população escolar. Em geral considera-se conveniente um grupo escolar
de 600 a 1.000 alunos (900 fixam alguns) e a este número
corresponderá justamente a unidade. Colocado no centro desta evita a
criança a travessia das grandes artérias perigosas. Ás vezes os jardins e
vielas são de tal modo dispostos, e de tal modo é aproveitado o relevo
do terreno, que muitas crianças podem ir a escola sem atravessar
155
nenhuma rua. Ao lado da escola mesmo como parte dela há por vezes
instalações para conferências, concertos, ginásio, banhos leitura, etc.,
que nas horas vagas e dias feriados franqueiam-se ao povo. Nos
Estados Unidos, onde, aliás, a instrução é organizada e dirigida um
pouco diferentemente (por meio de “boards” em que tomam parte pode
alguns alunos eleitos), o sucesso da idéia é grande e formam-se
verdadeiros centros de comunidade. Certas instalações que as escolas
comuns não justificam, tem então cabimento porque serão usadas muito
mais eficientemente. Esboço neste momento em São Paulo o futuro e
modelar Ginásio do Estado, baseado nesta concepção.
È evidente que tudo isso exige no projetista uma unidade de
concepção extraordinária e no administrador e político, absoluta
ausência de preconceito ou idéias feitas. Mas, isto á parte, é forçoso
reconhecer nas concepções urbanísticas modernas uma grande
harmonia. Há outras questões, tanto escolar como de urbanismo em
geral, ainda a tratar. Fal-o-emos toda via depois, adstringindo-nos, agora
ás questões principais e conexas á cidade.
VIII
RADIAIS EXTERNAS
Sob este título referimo-nos ás radial nos trechos interiores e
mais próximos do perímetro externo.
a) A radial mais interessante é à entrada da estrada da
cidade de São Paulo. Acho que deve ser tratado com largura até a Av.
São Jorge. Como um dos maiores males de Campinas é a estreiteza de
suas ruas convém contrabalançá-lo e neutralizar a má impressão que
elas produzem pela largura de algumas das principais novas ruas. O
trecho em questão, quase paralelo á rua General Carneiro presta-se
bem a tal tratamento. Proporíamos ali uma largura mínima de 25 ms.
A intersecção com a Av. João Jorge deve ter um pracinha ou “round-
point”, donde sairão outras rodovias e onde será a estrada principal do
bosque Villa Industrial.
b) A estrada de S. Paulo deve, porém ter outros
escoadouros de modo a poder encaminhar o tráfego facilmente sem
concentrá-lo sobre uma única rua. Uma fácil ligação será assim
necessária, a que corte as ruas José Paulino (ou Avenida da Saudade,
que é sem prolongamento)e aruá da Abolição, que conduz á passagem
sobre a Paulista. Esta ligação pode ser a própria rua Álvaro Ribeiro ou
outra mais ao Sul, nos terrenos do Isolamento (r. Victoriano do Anjos).
Trata-se apenas de melhorar ou completar as ruas existentes.
c) O leque de entrada poderia ter uma terceira palheta
destinada a conduzir (por sobre a Paulista no cruzamento desta com a
rua Dr. Quirino) á rua Irmã Serafina, cujo alargamento então viria até a
rua Proença. Tratando-se, porém do trecho mais caro, será posto de
lado certamente no projeto final.
d) Prolongamento da Av. Andrade Neves – já aprovado pela
Prefeitura, inclui-se no plano geral. A praça terminal no Chapadão
receberá um motivo central que poderá ser o reservatório tratado como
torre ou templete. A artéria prolongar-se-á além, nos terrenos da
Fazenda, com deflexão. Estes trechos afastados terão o tratamento de
avenidas sem rápidas, isto é, com largura ou faixas suficientes, para
separação dos tráfegos lento e rápido (pelo menos 6 faixas, sendo 4 em
movimento). Inicialmente contentar-se-iam com 2 ou 3 faixas centrais,
em uma só via.
e) Prolongamento da Av. Itapura (lado do Colégio).
Pequeno prolongamento de modo a conduzir além do colégio, ao futuro
parque do Taquaral e a perimetral externa que passa neste vale.
f) Rua Benjamim Constant. Conduz a um setor externo, que
156
ainda não tem acesso conveniente (entre a estrada de Souzas e o
córrego do Saneamento), prolongará numa rua central que será
elaborada.
g) Prolongamento da Av. Itapura, ao lado da Estação. A
avenida bate hoje no pátio da E.F.Sorocabana. Ao tratarmos das
ferrovias veremos como a remoção desta etação é desejável. Isto
permitiria prolongar a Av. Itapura e ligá-la facilmente com a estrada de
Limeira e com a Pereira Lima.
h) Deixamos de enumerar outras radiais, que a planta
mostra claramente, como Joaquim Villac, etc., não novas, a melhorar
mediante previsão de alargamento (recuos) onde não permitir 4 vias.
IX
PERIMETRAL MÉDIA
Já lembrada pelo Dr. Stevenson, está em grande parte já
constituída por boas artérias existentes: Andrade Neves, Itapura, Santa
Cruz, Mesquita. Faltam as fáceis ligações Santa Cruz-Mesquita e um
lado (Estação-Mesquita).
Este lado pode ser composto pela Avenida que chamamos
Paulista, ao longo da E.F. Paulista. Esta artéria tem as seguintes
vantagens:
a) É fácil de abrir porque apanha quase só quintais,
triângulos baldios, e cantos ou cotovelos de ruas, pracinhas hoje sem
utilidade. Será, porém mais caro o trecho inicial.
b) Constituirá boa rua diagonal, facilitando e abreviando na
razão o percurso á estrada.
c) Resolve o problema coletivo da primeira impressão da
cidade ao viajante que vem da Capital pela estrada de ferro. Hoje, como
em inúmeras cidades, só se vêm os quintais, fundos de casas e trecho
pobres de rua. Isso será transformado numa boa e útil artéria. Esta
transformação seria desejável ao longo de todas as estradas. Isto
porém, é impossível na maioria dos casos, por questão de custo ou para
não impedir desvios e arruagens. No trecho em questão, porém, este
obstáculo não existe. Além disso, por ser entrada da cidade e o lado em
que pode haver panorama, é aquele em que a estética deve ser mais
exigente. A ligação Av. Paulista-Mesquita é a mais difícil. O ideal seria
prolongar a Av. Mesquita deste lado (quer em reta, quer mediante
deflexão na pracinha triangular do cruzamento Cônego Cipião x Ant.
Cesarino), fazê-la seguir pela rua Ant. Cesarino até o bosque dos
Jequitibás e atravessar este. Repugna-me um pouco cortar e destruir
parte de tão lindo íntimo bosque com uma artéria. É, todavia a solução
mais fácil e que conduz á rua Proença. Contornar o bosque é
impossível, mas depende de estudo topográfico local mais minucioso.
Solução da Alameda Santos (em São Paulo) através do bosque da Av.
Paulista mantendo-se a ligação das duas partes deste por uma ponte
exemplifica uma solução parecida.
O preferível parece ser a travessia com caráter de rua do próprio
parque, só para automóveis de passageiros, e com obras
complementares para conservar o pitoresco local e a segurança dos
passeantes. A ligação Santa Cruz-Mesquita será fácil pela travessa
Irmãos Bierrembach. Não se trata de nenhum alargamento urgente. Em
todos estes projetos é indispensável observar que um plano geral da
cidade é obra para 25 a 50 anos e que a maior parte das propostas
referem-se a simples medidas de previsão, a serem efetivadas
oportunamente.
157
X
CENTRO DA CIDADE
Neste ponto da nossa exposição convém chamar atenção para
um ponto interessante. A cidade de Campinas oferece especiais
dificuldades a uma solução perfeita e elegante, mais que muitas cidades
maiores e comparavelmente mais defeituosas. Os problemas de
Campinas são indeterminados que alhure. A planta é reticulado mais ou
menos uniforme de ruas todas estreitas e com poucos pontos notáveis.
Não há diretrizes absolutamente obrigatórias, nem a topografia indica ou
facilita grandes possibilidades. A gravidade dos problemas é assaz
grande para requerer melhoramentos, mas, por outro lado, assaz
pequena para admitir soluções muito caras e decisivas. A importância da
cidade é média, justamente nessa espécie de ponto-morto, que não
aconselha a deixar tudo como está (como nas cidades estacionárias do
interior), mas que também levantará resistência do contribuinte, ás
sugestões mais ousadas. Certas circunstâncias urbanas criam
problemas difíceis e cuja dificuldade argumenta com o número. Há, pois
assim dizer, uma imperfeição leve, mas muito espalhada, que não pode,
com um ou alguns poucos golpes elegantes, resolver de uma vez. Há
muitos retoques parciais e prever, e os projetos parciais são sempre a
assombração dos urbanistas. Resolvem poucos golpes elegantes,
resolver de uma vez. Há muitos retoques parciais a prever, e os projetos
parciais são sempre a assombração dos urbanistas. Resolvem pouco e,
somados, arruínam as finanças municipais. São Paulo no plano que lhe
estudamos em 1930, era susceptível de soluções absolutamente
interessantes, originais, decisivas e, sobretudo, perfeitamente concordes
com a topografia. Grandes obras indispensáveis ou indesejáveis
indicavam naturalmente as soluções, criavam-lhes as oportunidades,
auxiliavam sua execução. O vulto dos problemas e a riqueza da cidade
já permitiam certas ousadias. A canalização dos rios, a perfuração das
colinas, a previsão do metropolitano, o aproveitamento dos vales, a
remoção das estradas de ferro e supressão dos cruzamentos de nível, a
travessia dos vales centrais, tudo concorria para constituir um conjnto de
obras absolutamente original, típico, notável, grandioso e, tudo não
obstante, razoável. Em Recife, que há 5 anos discute seu caso, a cidade
prestava-se também soluções interessantíssimas. Só os mangues, rios e
a cidade velha abriam crédito imenso ás possibilidades urbanísticas. Em
Campinas o problema é muito diferente, mais impreciso e indeterminado
em suas soluções.
PARQUES E JARDINS DE CAMPINAS (Cifras aproximativas)
Luiz de Camões: 77 x 77 = 5.929
Corrêa de Mello: 77 x 88 = 6.776
Praça do Pará: 175 x 66 = 11.550
Praça Pedro II: 168 x 66 = 16.800
Praça Carlos Gomes: 210 x 80 = 16.800
Praça 15 de Novembro: (120 x 50) + (25 x 50) = 7.250
Praça Andorinhas: 20 x 30 = 600
Praça Corrêa de Lemos: 80 x 50 = 4.000
Pr. Ramos de Azevedo: 30 x 45 = 1.350
Pr. Impr. Fluminense: 143 x 90 = 12.870
Triângulo da Av. Itapura: ½ 40 x 25 = 500
Triângulo da rua Antonio Cesarino: ½ 45 x 40 = 900
Praça Bento Quirino: 110 x 22 = 2.420
Bosque Jequitibás: (280 x 225) + (½ 55 x 95) + (½ 270 x 140) +
(½ 125 x 23) = 94.349
Mercado: (150 x 24) + (100 x 20) = 5.600
158
Jardim Chapadão: 155 x 84 = 13.020
Jardim em S. Bernardo *: 110 x 95 =10.450
Jardim na r. Joaquim Villac*(arruamento novo): 3.840
Vila Marietta *: ½ 60 x 35 = 1.050
TOTAL: 216.054 ms2
*) Na realidade estão apenas reservados os terrenos.
ÁREAS LIVRES -
ESTATÍSTICA DE ALGUMAS CIDADES
A – Barmen: 14.5 m2 / hab.
Bonn: 16.0
Breslau: 10.8
Cassel: 14.3
Görlitz: 12.2
Magdeburg: 22.3
Düsseldorf : 17.0
B – A cidade americana considerada
Normal: 20.0
A cidade ideal (Lay): 60.0
Boston (com parques externos): 90.0
Boston (sem parques externos): 20.0
Washington: 40.0
Indianópolis: 28.0
C – Viena: 25.0
Paris: 7.3
Buenos Aires (plano): 30.0
D – São Paulo, 1911: 0.7
São Paulo, 1935 (com Ibirapuera e Água Branca): 8.0
Campinas atual: 3.0
Campinas proposto: 13.0
A questão da circulação em Campinas não apresenta o aspecto
econômico de que se reveste nas grandes metrópoles. Nestas é
freqüente que as perdas anuais em tempo, combustível, guardas, etc.,
capitalizados, justifiquem grandes obras de viação. Na realidade estes
casos não são comuns e outras conseqüências, que são as valorizações
imobiliárias, os motivos estéticos, também devem pesar na balança. Em
São Paulo houve época em que o “congestionamento” era um “leit-motif”
e não poucos desapontaram quando Dabrymple, técnico inglês afamado,
declarou que aqui não só havia congestionamento, como não havia
coisa que se quer de longe parecesse com isso. Em Campinas, com
mais forte razão, não existe nenhum problema de congestionamento.
Raros pontos em excepcionais instantes acusam 3 veículos por minuto,
em toda a extensão da rua principal da cidade (rua 13) raramente se
vêem mais de 3 veículos em movimento ao mesmo tempo. As distâncias
sendo pequenas alcançam-se ainda os arrabaldes mais afastados em
pouco mais de 5 minutos de bonde ou 3 de automóvel. Nas passagens
em nível das ferrovias nunca se verifica um verdadeiro engarrafamento.
As distâncias sendo pequeno, o regime dos escritórios centrais sendo
pouco desenvolvido, o centro sendo assaz dilatado relativamente ao
tamanho da cidade, e o automóvel sendo menos útil nos serviços
quotidianos, resulta que também o problema do estacionamento também
se impõe.
O problema não é assim de congestionamento, atual, máxime de
congestionamento com perdas econômicas graves. É apenas
comodidade e de estética, e a ser encarado, sobretudo sob o ponto de
vista do desenvolvimento futuro da urbs. Considero necessário o
159
parêntese acima para ficar clara a minha opinião sobre a importância
relativa dos diversos problemas urbanísticos em Campinas. Realmente é
corrente entre nós exagerar-se a importância das questões centrais e
reduzir e pôr de lado as questões residenciais e de expansão, já não
falando dos aspectos colaterais do urbanismo. Feita a restrição acima
passo ao problema, que se apresenta assim: melhorar e impedir que se
agravem as condições duma cidade cujas ruas mais centrais são todas
muito estreitas e, por conseguinte, desagradáveis e de circulação
incomoda. A solução parece-me que, em resumo, pode-se enunciar
assim:
a) Ampliar com relativa urgência 2 ou 3 logradouros que se
tornarão os logradouros principais. Estes alargamentos obedecerão á
concepção que chamaremos das “avenidas centrais’, embora o título
seja um pouco pomposo demais para a coisa.
b) Prever e facilitar alargamento gradual e futuro de mais
algumas ruas, obedecendo agora á concepção dita “perimetral”.
c) Melhorara isoladamente alguns trechos de conexão mais
importantes.
d) Limitar-se a medidas secundárias nas ruas centrais
(restrições de construções, cantos cortados, regulamentação do tráfego,
etc.).
Hesitei (e com o Dr. Stevenson já sucedeu o mesmo) ao
escolher a solução inicial. Neste assunto há duas escolas opostas: a do
“sventramento” ou das avenidas centrais e a do anel ou das avenidas
perimetrais. A primeira ataca de frente os centros acanhados e
congestionados; adapta-se quando há saneamento a fazer, exemplo a
dar, quando as valorizações não são excessivas, quando a dilatação
comercial não é de esperar tão cedo. A segunda contorna o núcleo
central, respeita-lhe os monumentos e aspectos tradicionais, evita as
expropriações em áreas valorizadíssimas, aproveita espaços baldios
próximos, ás vezes esquecidos. Distribui o tráfego por fora e não por
dentro. Alarga o centro em vez de consagrar centros insanáveis. É
mesmo intuitiva, mas freqüentemente mais interessante e inteligente.
Originou-se na Europa, do aproveitamento de certas muralhas ou
circunvalações medievais, que o progresso condenara á demolição. Deu
tão bom resultado que se estendeu ás cidades mão muradas e até as
americanas. Não me deterei nestas considerações, que os membros da
Comissão encontrarão mais desenvolvidas no meu memorial sobre as
“Avenidas de São Paulo”, de que há um exemplar na Prefeitura de
Campinas. Direi apenas que na Capital do Estado às concepções
brigaram longamente as eras priscas do nosso urbanismo, lá por 1910.
Victor Freire, que então se dedicava a tais assuntos, preconizou e fez
certamente vencer a solução perimetral. Postas de lado as avenidas que
deviam rasgar o triângulo, praças das estrelas sem propósito, diagonais
que rasgavam brutalmente quarteirões inteiros, tudo o que custaria
caríssimo, adotou-se uma solução que não só desviava o tráfego do
triângulo tradicional como correspondia a uma dilatação desta: o anel
Badaró-Benjamin Constant-Bom Vista. A etapa seguinte do urbanismo
paulistano seguiu, graças a Ulhôa Cintra, a mesma diretriz e propôs
francamente o grande perímetro de irradiação que aprovei e inclui em
meu plano de 1930. Esta concepção está hoje um tanto esquecida e,
como o momento decisivo está passando, todo o futuro e a procurar
permanentemente sem plano mediante despesas continuas e fortes,
soluções parciais, dispersas e medíocres. As condições paulistas
justificaram o anel: topografia, centro demais concentrado, valorização
excessivas, existências de ruições desvalorizadas separando setores
bons, etc..
As condições campineiras são diferentes: o centro é mais
160
espalhado, a topografia é mais uniforme, não há setores próximos
isolados entre si, não há espaços baldios anulares que facilitem as
perimetrais, não há salto tão brusco de preços entre o centro e a zona
média, não há monumentos ou aspectos tradicionais centrais a
conservar, não há praça comercial para encher e construir
condignamente, dentro do prazo curto, mais de uma ou de duas
avenidas.
Assim sendo parece preferível em Campinas a solução das
“avenidas centrais”, desde que bem ponderada, deixando para fase
muito posterior o complemento perimetral. As duas concepções não se
contrariam forçosamente. Se por metro linear a obra é mais cara, em
compensação a extensão total será menor e a satisfação será mais
rápida. Quantas e quais seriam estas primeiras grandes artérias? Duas
parecem mais suficientes: uma em cada sentido principal da cidade, que
é reticulado retangular. A avenida principal deve satisfazer
evidentemente a direção principal do tráfego, que liga o centro principal
(Praça Indaiatuba e zona entre o Teatro e a Praça Bento Quirino) ao
centro secundário (Estação). A faixa em que se deve ser traçada
delimita-se pelas ruas Ferreira Penteado e General Osório. Deve ainda
satisfazer outra condição: ligar-se bem ás praças extremas. Procuremos
dentro dessa faixa a diretriz exata.
Refiro-me sempre ao centro e não á zona média e á afastada,
onde as coisas apresentam-se diversamente.
a) A solução ideal seria como já tem pensado muitas
cidades entusiastas, arrasar os quarteirões entre 13 de Maio e Costa
Aguiar. Fora o custo elevadíssimo restariam 2 problemas conexos: como
dar passagem junto á Catedral e ao Teatro, como rematar a avenida no
seu topo inferior. O primeiro exigiria alargamento ou arcadas laterais ao
longo daquele edifício público nos fundos do Teatro. Este arremate
sofreria ainda um defeito que a topografia central de Campinas provoca:
o remate focal na extremidade inferior das ruas ou avenidas em vez de
na superior. É mesmo que também se verifica relativamente á Escola
Normal.
b) A solução pela rua Ferreira Penteado seria um pouco
lateral demais.
c) A solução pela General Osório padecia do mesmo mal
(do outro lado) e afetaria uma rua regularmente valorizada. Ligação
difícil com a Estação, salvo pela Av. Andrade Neves, o que seria
absolutamente forçado.
d) A solução pela rua 13 seria boa mas não perfeita: a de
custo talvez mais elevado, encontrando o mesmo defeito do
estreitamento ao lado do Teatro e da Catedral. Além disto, ás ruas
centrais comerciais as soluções de continuidade por edifícios públicos e
praças, são prejudiciais.
e) A solução por Costa Aguiar, mais barata (por ser rua
menos valorizada, mais mal construída e já demais a larga) teria o
mesmo inconveniente relativo aos dois edifícios. A ligação á praça da
Estação exigiria o prolongamento até a Costa Aguiar do alinhamento da
parte larga da praça (hotel). Isto daria uma entrada mais franca á rua
Costa Aguiar, e será aliás um melhoramento sempre útil, embora não
indispensável,e desviaria para esta rua parte do tráfego da rua 13. Seu
custo, por “assessment” seria pago quase todos pelos proprietários
desta rua. Na realidade a distribuição do tráfego ai sempre exigiria uma
combinação com a rua 13, atuando ambas como um binário.
f) A solução pela rua Campos Salles parece levar alguma
vantagem ás outras. Acha-se bem na faixa central, sem coincidir,
entretanto com as ruas mais valorizadas (ruas 13 e Gen. Osório).
Apresenta grede ligeiramente melhor. Afeta prédios em geral
161
insignificantes. Conduz diretamente ao coração da cidade (o que, aliás,
não é essencial, se considerarmos a segunda avenida, a transversal, de
que logo trataremos). Sua maior dificuldade é a ligação com a Estação,
que deve ser direta e não por meio duma volta por Andrade Neves. Esta
ligação poderia ser por um trecho largo, normal á Estação, centrado
sobre a torre ou corpo principal da futura estação, e o quanto possível no
centro da praça. A ligação com a av. Campos Salles seria por um
“round-point” de bom diâmetro capaz de receber um motivo central.Esta
ligação sofreria dum mal irremediável: grede excessivo. A ligação com a
praça Indaiatuba trás a discussão a remodelação desta e é problema
fácil, como se verá adiante.
g) A solução por uma rua paralela e cortando o centro dos
quarteirões entre 13 de Maio e Campos Salles, é interessante, mas
criaria quarteirões muito estreitos, embora os quarteirões a contar sejam
dos mais largos da cidade. Não eliminaria o problema dos remates, ante
criaria 2 (um em cada extremidade) em vez de um. Surgiria um terceiro
problema, aliás, não grave, dos lotes estreitos remanescentes.
h) A solução por uma obliqua (Estação-Indaiatuba)
resolveria bem a questão dos gredes, resolveria mediocremente a dos
remates, e induziria um problema dificílimo, o da obliqüidade dos lotes e
ruas cortadas.
Passemos á segunda avenida.
A primeira avenida, de que acabamos de falar, seria o principal.
Porém a cidade, pela topografia, não é longitudinal (como Amparo, São
Bernardo, etc.) e tem uma segunda direção perfeitamente caracterizada,
dotada de tráfego e que satisfaz as ligações rodoviárias importantes
(S.Paulo, Mogi). Não só para o tráfego, como, sobretudo para
alargamento do centro e por estética e para disposição de edifícios
públicos, a a transversal é desejável. Reduzir uma cidade á rua de
acesso é mais ou menos reduzir uma casa ao corredor.
A segunda avenida seria também o “living-room”. A topografia da
cidade requer que ela conduza ao perímetro de ambos os lados, mas
como isto pode ser feito por ruas auxiliares ou alargamentos menores, o
trecho principal poderia ser limitado em extensão.
Se quisermos aproveitá-la para disposição de edifícios públicos
para extensão limitada é favorável. Aliás, as ruas campineiras já pecam
pela extensão, uniformidade, monotonia e, sobretudo pela falta de
remates. Se quiséssemos invocar regrinhas de algibeira podíamos
apontar a de Stübleu, que procurou estabelecer a relação máxima
comprimento / largura das ruas.
A avenida transversal deve dispor na faixa de vai da rua
Luzitana á rua José Paulino. A rua barão de Jaguara é muito valorizada
e é ensinamento do urbanismo evitar ruas assim, procurando alguma
paralela próxima. No caso parece-nos melhor a Francisco Glicério, pelos
seguintes motivos: a) corta bem ao centro a faixa central, b) liga as duas
praças mais centrais (Indaiatuba e Catedral), c) econômico alargamento
não só nestes trechos como ainda, adiante, na praça Pará, d) em acesso
direto ao S. pela ponte sobre a ferrovia Paulista, ponte que futuramente,
poder-se-á centrar exatamente sobre a rua; e) ao N. conduz facilmente á
av. do Saneamento, onde a distribuição do tráfego é fácil. Hesita-se, a
princípio, se convém realizar aqui uma avenida, quando está em
alargamento a José Paulino, ou por outra, se convirá manter o
alargamento desta. Os motivos da afirmativa são os seguintes: a) A
segunda rua é indicada não tanto pela boa situação da diretriz, como
pelo fato de já ser uma passagem a que os alargamentos e as
facilidades extremas de acesso conduzem certo tráfego. b) O
alargamento da José Paulino, para 14 ms. apenas, não basta para erigi-
la em grande artéria. c) O melhoramento da rua Glicério influirá
162
beneficamente, em um trecho morto da cidade, próximo á praça Bento
Quirino. d) A rua José Paulino será mais cara, lenta, e de aspecto não
monumental. Intimamente ligada ás 2 avenidas está a questão da praça
Indaiatuba.
A solução que a Comissão indicar ou aprovar para ela tem a
maior importância porque será o melhor padrão e escala para aferição
do “pensamento e do animo local” no que diz respeito ao urbanismo.
Até agora o urbanismo tem andado neste campo (opinião
pública autorizada, aspiração geral concreta) inteiramente ás cegas.
Salvo uma ou duas opiniões valiosíssimas, mas individuais, isoladas e
mesmo sobre aspectos parciais, e salvo reclamações muitas vezes
sobre pontos particulares, o urbanista ignora ainda a escala da
remodelação desejada. Pessoalmente ela acha que os planos aqui
expostos representam um “maximum”. É, porém uma opinião que não
deve prevalecer sem a manifestação da maioria da Comissão.
A solução ideal para a Praça Indaiatuba consiste em ampliá-la,
demolir a Igreja, colocar um edifício público numa face. Esta seria na rua
Regente Feijó, onde existem uns prédios pouco importantes, ou na
própria área da praça atual, o que inverteria a praça. Uma solução
intermédia, mais barata seria colocar o edifício principal na praça e um
segundo no local apontado da rua Feijó. O edifício principal por sua vez
poderia ocupar quer a área do atual quarteirão da Igreja, quer o da atual
praça, realizando a dita inversão.
Esta inversão seria lógica para combinar com a avenida Campos
Sales, caso esta fosse adotada. Evitaria que a rua de acesso principal
chegasse á praça principal da cidade pelos fundos, como hoje
curiosamente sucede relativamente a diversos edifícios (p. ex. Teatro,
Catedral, Igreja da praça Indaiatuba).
Estas transformações chocam á primeira vista, mas são lógicas.
MELHORAMENTOS CENTRAIS SUPLEMENTARES
As 2 avenidas e a praça central são o fulcro da remodelação.
Mas não esgotam o assunto, devido aquele mal já apontado da cidade:
que os defeitos acham-se nela muito espalhados e não podem ser
elegantemente resolvidos por uma ou por poucas obras.
Haveria assim mais alguns pequenos melhoramentos, quase
todos graduais, a prever, para não chegar a soma inaccessíveis.
Seria por exemplo:
a) Constituição de arcadas em trecho da praça Indaiatuba
para resolver a questão do alinhamento dos passeios, sem quebra
relativamente ás ruas de acesso. As arcadas (melhor diremos galeria,
porque hoje adotam-se vãos retangulares e não arcos) são muito
aconselháveis entre nós, por estética, clima, comodidade e economia.
Até em Nova York, de clima frio, tem sido aconselhada. Elas ocupam
mais ou menos 0.50 de passeio, 1.00 de coluna, 4.00 a 5.00 de passeio.
Facilitam as esferas para bondes. Estas arcadas devem ser adotadas
sem receio nos pontos em que possam auxiliar ou substituir os
alargamentos completos.
b) Pequeno alargamento (p. ex 13 a 15 ms.) da Ra
Regente Feijó, entre a Catedral e a futura Praça.
c) Idem da rua Conceição até a Jaguara.
d) Idem da rua Gen. Osório, entre José Paulino e Praça
Carlos Gomes.
e) Idem da rua Thomaz Alves até Glicério.
f) Idem de Benjamim Constant desde Andrade Neves até
Praça Corrêa de Mello. (Sobre o trecho Corrêa de Mello-Andrade Neves,
ver adiante).
163
g) Poderíamos estender a lista, sem necessidade. Os
planos de urbanismo devem em regra reduzir o número de
melhoramentos ao mínimo e procurar aqueles que satisfaçam melhor ás
necessidades gerais. Quando se alarga uma rua é quase sempre para
evitar bulir nas vizinhaça. É por isso que colocamos nesta série de
lembranças em plano secundário o prolongamento da rua Barão além da
rua Barreto Leme. Desde que a rua Barão é já rua a que não convém
atrair mais tráfego, desde que para desafogá-la já se alargaram
paralelas (Irmã Serafina, J. Paulino, quiçá Glicério), seria um pouco
pleonástico prolongá-la, tanto mais que Glicério (mesmo sem
alargamento) conduzirá otimamente á várzea do Saneamento.
h) Ligação Benj. Constant ao setor O ou NO. Pode ser pelo
seu alargamento até Andrade Neves (a partir da praça do Mercado) ou
pelo prolongamento do Culto á Ciência até esta praça, em reta. Dado,
porém as demolições este prolongamento, que seria a solução ideal,
deve ser posto de lado. Na realidade não há nenhum problema urgente
de tráfego ou de congestionamento, que justifiquem tais despesas. Na
maioria dos casos um bom calçamento e uma sinalização preferencial
(mais ou menos nos moldes das “through-streets”) resolverão a questão.
Prefiro Benjamim Constant á Bernardino de Campos, por já muito
próxima de campos Salles.
i) Cantos cortados. Prosseguir a exigência dos chanfros. É
questão, porém de detalhe, que não cabe discutir agora.
XII
EDIFÍCIOS PÙBLICOS E SEMI-PUBLICOS
Sua previsão deve ser parte de qualquer plano. Precisa primeiro
estabelecer a lista dos prédios mais necessários, não hoje, mas dentro
de 25 a 50 anos. Os edifícios públicos não devem ser tratados como
prédios particulares, alinhados á margem das ruas. Eles devem sempre
que possível ocupar pontos focais, eixos, praças, pontos dominantes.
Considero a prever:
a) Paço Municipal.
b) Fórum e repartições estaduais.
c) Correios e telégrafos.
d) Hotel.
e) Centro de comunidade (biblioteca pública, sala de
conferências, reuniões, esportes. ginásio, piscina, odeons, pequeno
museu, etc.).
f) Igreja do Rosário, a remover.
g) Matadouro
h) Mercado.
Deixamos de lado no momento (g) e (h); o primeiro será
removido futuramente para jusante do vale em que está; o ultimo, está a
decidir se daqui a 25 anos convirá mantê-lo onde está, ou se convirá
fazer aqui uma bela praça, duplicando-o ou afastando-o p. ex. para
jusante do canal do Saneamento e para Vila Industrial. Restam os 5
outros, a alojar no centro dentro dum círculo de 300 a 400 ms. de raio.
São lugares aconselháveis:
1- Praça Indaiatuba (na praça, no caso da solução
intermediária).
2- Praça Indaiatuba, na face da rua R. Feijó.
3 e 4- Nos topos da avenida transversal, próximo ás ruas
Cônego Cipião (futura perimetral interna)e Benjamim Constant ou
Barreto Leme).
5- No terreno triangular da rua Cesar Bierrenbach, com
frente para o jardim Carlos Gomes.
164
A necessidade desses edifícios, se, por um lado complica, por
outro ajuda a composição arquitetônica da urbs. Eles auxiliarão
sobretudo a rematar ou dar fundos ao centro, e em particular a av.
transversal. Pode-se perguntar se nesta avenida tal remate não
embaraçará o tráfego. A resposta é negativa por diversos motivos: a) o
tráfego poderá contorná-los; b) poderá atravessá-lo por baixo, como p.
ex. do Paço Municipal de Nova York e de recentes projetos em rosário,
onde o mesmo problema se apresentava. c) Poder-se-á, em ultimo caso,
recorrer a dois edifícios laterais, em vez dum focal.
È inegável que a reserva de terrenos para estes edifícios e
pracinhas adjacentes será dispendiosa, motivo porque se pode prever
que, no plano final, muito destes planos parciais não serão incluídos,
substituindo só os principais. Penso que o “edifício da comunidade”
ficaria otimamente no terreno da Praça Carlos Gomes, (com terraços
sobre este), ou no topo N. da av. Transversal, dando vista para a
baixada, ou mesmo no lugar da tual escola Correa de Melo, se o
Mercado tivesse de ser futuramente removido.
O paço e o edifício estadual ficariam bem na Praça Indaiatuba
ou nos topos da av. Transversal. O Hotel ficaria bem na praça (r. Feijó)
ou na praça Carlos Gomes, máxime se houvesse para cá uma galeria,
como a planta indica em pontilhado, aliás obra secundária. O correio
ficaria p. ex. na r. Regente Feijó, se na frente se elevasse outro maior
(Paço). O croquis anexo exemplifica diversas disposições. Convém
examiná-lo sem o preconceito das disposições usuais.
XIII
PERIMETRAL INTERNA
Vimos que as 2 avenidas centrais e obras suplementares são o
máximo que se pode aspirar em prazo curto. Em compensação a
perimetral interior pode ser prevista a longo prazo, exigindo apenas,
desde o início, o recuo obrigatório das reconstruções. Este recuo seria
com jardim provisório na frente, para evitar as reentrâncias e cantos
mortos, durante todo o tempo. Haveria certa dificuldade, mas não
intransferível, no caso de terrenos de pouco fundos, p. ex. nas esquinas.
Neste caso seria forçoso ora transigir (casas térreas, puchados, etc.),
ora compensar (permissões especiais de alturas) ou mesmo indenizar. A
perimetral interna tem uma rua já iniciada: Irmã Serafina. Convém
prosseguir o alargamento até a praça Pedro II. Conviria ir mesmo além,
até a rua Proença, donde há muito terreno baldio (p. ex. o recreio do
diocesano) se houvesse probabilidade de ligação direta com a radial
externa (estrada de S. Paulo) como noutro capítulo se viu, o que será
aliás pouco provável. A outra rua componente de perimetral interna será
Cônego Cipião, Moraes Salles ou Duque de Caxias.
O Dr. Stevenson preferiu a segunda, por conduzir diretamente á
passagem da av. João Jorge e á subida para Souzas. Acho que Cônego
Cipião é equivalente por ter também vantagens: a) é menos valorizada;
b) é um pouco mais curta; c) aproveita 2 trechos largos sem
expropriações ( Praça Pedro II); d) poderia também ter uma tampa
própria á ponte da Paulista (que ficaria então em T em vez de L). O
traçado pela rua Duque de Caxias teria vantagens semelhantes, sendo
porém mais afastada só conviria se a perimetral média pela av. Paulista
e rua Proença não fosse aprovada, porque a substituiria, podendo
conduzir também diretamente aos Jequitibás.
165
O 3º lado da perimetral interna poderia ser a rua Benjamin
Constant. O quarto lado seria a própria José Paulino, a que se poderia
acrescentar Alvares Machado, Senador Saraiva, ou mesmo Saldanha
Marinho, que conduzem a pontos relativamente importantes (rua Culto á
ciência, fácil, de levar até o prolongamento Av. Andrade Neves, largo do
Mercado, etc.).
XIV
ESTRADAS DE FERRO
Não temos até agora tocado no assunto das estradas, para
evitar dificuldades que entravariam o plano. Agora podemos já fazê-lo.
Tenho notado que em muitas cidades pode-se atacar o estudo das
remodelações gerais pelo das ferrovias. Elas oferecem oportunidades
por vezes de grandes e úteis metamorfoses, transformações até radicais
e razoáveis, pois desde a implantação desse meio de transporte, tudo
mudou e cresceu espantosamente. Assim sucedeu em São Paulo onde
a remoção das estradas para a baqueta dos rios criaria aspectos e
transformações originalíssimos, e da maior repercussão em todo o
plano. Assim também em recife, com eliminação da estrada Norte e a
unificação das estações em Cinco Pontas. Idem no Rio com Agache e
em Paris com vencedores do concurso de ante-projeto. Em campinas as
coisas sãs mais difíceis e diferentes. A E.F. Paulista dificilmente poderá
ser tocada no seu espigão obrigatório, e ligada como está ao seu grande
pátio. O traçado da Mogiana é mais nocivo ainda que o da Paulista, pelo
fato de cortar zonas residenciais, mas a solução é quase tão difícil pelo
preço. O caso da Sorocabana é apenas em parte mais fácil. Deixando
de lado a Paulista, o ideal seria deslocar ligeiramente a Mogiana, no
Chapadão, para fazê-la passar em corte e sob as ruas transversais, e,
mais além deslocá-la francamente para o vale do Taquaral (margem
esquerda), de modo a libertar as vizinhanças de Guanabara, Taquaral e
Cambuí.
A Sorocabana acompanha-la-ia e Guanabara á Vila Nova,
transferindo-se a mais sua estação para junto da Paulista ou, em ultimo
caso, para Guanabara. A localização da estação Sorocabana no ponto
onde está parece-me exemplificar uma questão de plano e interesse
geral resolvido ao sabor de interesses particulares ou de momento. O
fato é sua remoção deve ser aconselhado, o que libertaria esse ponto da
cidade e permitiria a av. Itapura vir até o Campo de Corridas e ligar-se
perfeitamente a estrada de Limeira e á rua Pereira Lima. O Campo de
Corridas, um pouco difícil de tratar pela sua altitude, poderia transformar-
se em praça ampla (o desafogo, ao menos para a vista, é tão desejável
em campinas), em parte em terreno para as ferrovias, para compensá-
las da tomada da estação Sorocabana. A estudar a chegada da Mogiana
e da Sorocabana por esta faixa, paralela a Paulista, até a estação Geral.
O estudo desta questão exige uma planta com as cotas e detalhes dos
terrenos e linhas ferroviárias, cujo levantamento sugiro á Comissão, pois
a planta cadastral da Cidade é aqui deficiente e a complexidade da
matéria proíbe soluções á olho. A terra dos cortes e regularizações aqui
necessários destinar-se-iam ao dique do lago do Taquaral e alguns
aterros da perimetral externa, p. ex. nas vizinhanças do Cortume.
Infelizmente a importância da cidade e do tráfego não permitindo
grandes esperanças de remodelação ferroviária, mesmo resumida á
Sorocabana, convém desde já encarar sua permanência e atenuar pelos
únicos remédios possíveis: a) exigir que as casas e lotes á beira da linha
tenham tratamento posterior, isto é, tenham fachada e jardim para a via-
férrea como se fosse esta uma rua comum. Salvo casos de armazéns e
desvios industriais; é tempo de melhorar entre nós a primeira impressão
que produzem as cidades, onde se entra pela cozinha. b) assentar
166
desde já as poucas passagens em desnível possíveis, fazer convergir
para ela os arruamentos vizinhos. c) Corrigir da melhor maneira que
ainda for possível em cada caso (por ‘cul-de-sacs”, passagens de
pedestres, etc.) as ruas realmente obstruídas. Nos estados Unidos,
cujos programas de eliminação de cruzamentos tem sido enorme, os
gastos distribuem-se entre a cidade, o “country” ( condado, entidade
administrativa de que não temos correspondente)e a cidade. As
porcentagens variam mas duma maneira grosseira pode-se dizer que
são em média respectivamente 50, 25 e 25%. As estradas escriptuaram-
na naturalmente em sua conta de capital e, ás vezes, lucram a dispensa
de guardas e sinalizações caras. A despesa é por vezes pesada,
máxime em vista da atual situação precária das ferrovias, mas tem sido
realizadas porque o problema não é daquele cuja gravidade se atenue
com o tempo, antes pelo contrário.
Ao menos para efeito de registro a justificação posterior das
soluções creio necessário mandar efetuar uma estatística das
passagens existentes no município ou pelo menos na cidade (passagens
de veículos, pedestre, trens, despesas de custeio, desastres ou
acidentes, tempo de interrupção do tráfego, etc.). As estradas devem
possuir já os elementos necessários.
XV
Para não complicar a concepção do plano geral da cidade e
permitir aos membros leigos, concentrar a atenção sobre o que é
essencial e geral nesse plano, sem desviá-la para os problemas
acessórios e de detalhes, acho preferível não considerar por enquanto,
outras questões, mesmo importantes, mas cuja adaptação, conciliação
ou inclusão no plano, far-se-á depois (problema sanitário, zoneamento,
indústria, etc.).
Convém, entretanto chamar mais uma vez a atenção que hoje a
tendência é para estender o domínio da racionalização a outros
domínios que não o puramente físico ou material, e que a parte culta da
população receberia com muito agrado o esboço dum plano geral que
além das medidas mais sumptuárias e urbanas, também recomende
medidas políticas e administrativas úteis e de alcance.
ASSUNTOS DIVERSOS
A) BAIRROS INDUSTRIAIS – O principal será localizado na
faixa da Paulista, além do Armazém Regulador, donde serão facilmente
servidos pelas 3 Estradas e pela rodovia. Distam pouco da cidade e,
pela situação em relação aos ventos não enviarão suas fumaças sobre a
cidade. Distando pouco de Vila Industrial, São Bernardo, etc., o
recrutamento da mão de obra será fácil. A boa distância da Estação
Central convirá reservar lugar para futura estaçãozinha suburbana (ou
melhorara a existente), o que será útil quando a zona e principalmente a
faixa ferroviária do município, estiverem suficientemente industrializadas
e povoadas da população operária, dispersão esta, que, bem dirigida
desde início, será conveniente. Ao fixar tal zoneamento industrial será
preciso reservar simultaneamente passagens em desnível nos pontos
favoráveis.
Segunda zona industrial, menos importante, será perto de Vila
Nova, servida pelas 2 estradas de bitola estreita.
Terceira poderá ser prevista a SE da cidade servida pela
Paulista, pela estrada de Valinhos, e mesmo do outro, por futuras
rodovias. Será zona bem mais dispersa e afastada, por serem
desfavoráveis os ventos dominantes. Diversas faixas planas próximas á
Paulista devem ser zoneadas com preferência industrial, para garantir
amplamente o futuro industrial do município. Isto evitará ou pelo menos
167
dificultará que loteamentos residências prematuros e fáceis de localizar
noutros pontos, venham ocupar desnecessariamente áreas mais
indicadas para outros fins.
Nada impede ainda outras áreas, convenientemente
regulamentadas, para indústrias não incomodas. Não é essencial que
todas sejam servidas pelas ferrovias, pois os caminhões exercem hoje
grande papel nas indústrias leves. No total as áreas industriais não
ocupam grande porcentagem em relação á área urbana e, se entre nós,
é preciso conceder-lhe certo excesso, é devido ao regime de
propriedade, que não é o mesmo caso duma cidade construída de novo
e de “tontes pièces”, e pertencente a uma única empresa. A imposição
do “zoning” industrial, a detalhar depois, levantará algumas questões de
direito.
B) ARTERIAS DE THALWEGG – São traçados
naturalmente indicados. Pregou-o entre nós Saturnino de Brito. Alguns
discípulos exageram, porém, quando pedem “avenidas” em todos os
vales. Na realidade os “thalweggs” aconselham simplesmente ruas. Se
não coincidirem com necessidades muito fortes de circulação e
possibilidades de traçados de viação, far-seão simplesmente ruas, o que
será o caso normal. Se percorrerem gargantas apertadas, valorizadas ou
difíceis, poder-se-á admitir meras vielas. Estas, porém, sempre que
possível bem visíveis e fiscalizáveis. Parece comportar artéria de certa
importância o “thalwegg” entre rua Villac e o Asilo de Inválidos, que
permitiria talvez passagem sob a paulista.
O “thalwegg” entre Villac e rua Salles de Oliveira permitiria
artéria semelhante se não houvesse em cima (junto aos depósitos de
combustíveis) o problema da remodelação das linhas de bitola estreita,
que convém prever para permitir a supressão da estação Sorocabana
atual.
O “thalwegg” que ladeia a rua Proença e que, subindo, atravessa
a Paulista, já não comporta grande artéria por terminar num quase poço,
onde se vêem muitos eucaliptos.
O “thalwegg” do Saneamento receberá o prolongamento da
avenida existente e seu complemento na margem direita, que aliás pode
ser mais estreito que a rua da margem esquerda.
O “thalwegg” do Proença será tratado como “park-way”, como já
foi dito.
C) LARGURA DAS AVENIDAS CENTRAIS – Para a av.
Estação-centro: Mínimo: 2
Estreitando os passeios daria para 5 vias.
Máximo: 2 passeios x 4.50 = 9.00
2 filas estac. X 2.00 = 4.00
3 filas em movim. X 3.00 = 9.00
22.00 ms
Para passeios arborizados 4.00 é um mínimo. Como geral os
comerciantes, os pedestres e a própria administração não gostam de
árvores centrais, a artéria poderá deixar de ser arborizada, exigindo,
porém iluminação mais decorativa e regulamentação mais severa das
fachadas, principalmente sob o ponto de vista da continuidade das
linhas. OS argumentos a favor da largura mínima são:
1) Necessidade da economia em vista do grande vulto da
remodelação total, que, para ser exeqüível, exigirá cortes impiedosos de
todas as demasias.
2) Volume reduzido do tráfego, como se pode verificar
mesmo nas paralelas mais movimentadas. Possibilidade de remover o
tráfego pesado, os bondes, etc., para as paralelas, a serem dotadas de
sentido único.
168
3) Ruas demasiado largas destoarão longamente da cidade
e exigem prédios proporcionais. Os argumentos a favor da largura maior
são:
1) A terceira fila (central) aumenta notavelmente a
vazão.
2) O alargamento total que a 3ª fila em movimento
exige é proporcionalmente muito mais barato. Por outra: a dificuldade é
obter 19.00; passar é fácil.
3) O aumento da largura torna mais visível a
arborização sempre desejável em clima tão quente. Há um verdadeiro
equilíbrio de argumentos. Para a avenida Glicério (trecho que
pretensiosamente chamaremos “monumental” a largura mínima é:
2 passeios x 5.25 = 10.50 (arborizados)
2 filas est. x 2.25 = 4.50
3 filas x 3.00 = 9.00
24.00
E a máxima: 2 passeios x 4.75 = 9.50 (arborizados)
2 filas est. x 2.00 = 4.00
2 filas em mov. x 2.75 = 5.50
2 filas em mov. x 3.00 = 6.00
26.20 ms.
Há quase uma coincidência de medidas. O centro de rua deve
ser aqui maior para permitir a vista dos monumentos extremos.
A título comparativo damos aqui as seguintes referências:
- Av. Rio Branco (Rio) – A largura reside sobretudo nos
passeios: 33.00
- Av. de Mayo (Buenos Aires), tipo semelhante ao nosso Glicério
de 26 ms.: 30.00
- Boulevards parisiense: 30.00 a 35.00
- Avenidas de Nova York: 30.00
- Ruas transversais de Nova York: 18.00
- Rua Libero Badaró (passeios de 2.40): 18.00
- Ruas de Vila Buarque e em geral as típicas de São Paulo
(passeios de 3.20): 16.00
- Ruas de Santa Efigênia (média): 13.00
- Ruas de S. Bento: 8.00
- Ruas médias de Campinas: 8.00 a 10.00
- Alargamento de José Paulino (Catedral): 14.00
- Avenida Independência (S. Paulo): 45.00
- Rua Xavier de Toledo (S. Paulo): 25.00
Não há necessidade de serem regulares os alinhamentos tanto
das casas como das guias. Os esboços mostram sugestões, onde as
reentrâncias criam pitoresco e possibilidade de bares ao ar livre que dão
tanta vida aos boulevard e á Av. Rio Branco e, isso sem exigir
alargamento excessivo em toda a extensão. O trecho inicial ou de
ligação da Av. Campos Sales pode ter 26.20ms., como Glicério.
4) Convém evitar, nesta fase do estudo,
considerações de detalhe, para só fixar as grandes linhas. Não obstante,
só para exemplificar, citarei alguns:
a) O largo da Catedral, que intercepta a rua
Regente Feijó, desaparecerá mais tarde, assim como as pequenas
laterais, da rua 13. Será fácil deslocar a escada principal para dentro.
Inúmeros templos possuem entrada de nível, o que é até mais lógico,
por ser passagem de multidões.
b) A escada externa da Catedral, que
intercepta a rua Regente Feijó, desaparecerá mais tarde, assim como as
pequenas laterais, da rua 13. Será fácil deslocar a escada principal para
169
dentro. Inúmeros templos possuem entrada de nível, o que é até mais
lógico, por serem passagens de multidões.
c) Já se discutiu há tempos, a
inconveniência da demolição da praça Indaiatuba, por motivos de
tradição e de valor artístico. Tradição (aliás, secundária) creio que só
possua a antiga. Valor artístico especial, nenhum: arquitetonicamente
uma banalidade pelo menos externamente. É verdade que seria
preferível poupá-la; infelizmente seria assim dificílimo compor
condignamente a única praça que poderá ser centro cívico da cidade. É
também por esse caráter cívico, que acho inconveniente reconstruí-la na
mesma praça, como edifício dominante. Esse papel deve caber a um
edifício público principal, p. ex. Paço ou Fórum (com outras repartições
estaduais), sobre o eixo da praça.
d) Proponho introduzir em Campinas uma
coisa interessante e útil, barata e original (aos cofres municipais seria
mesmo gratuita): uma passagem coberta ou abrigada desde a praça da
Estação até o Centro da Cidade. Isto será facilmente obtido apenas pela
exigência e regulamentação de marquises em uma das ruas nessa
direção: Costa Aguiar, 13 de Maio ou na própria Campos Sales. Pelo
menos em um lado. Pode-se combinar diversas ruas assim, incluir
arcadas ou galerias. Se esta novidade obtivesse sucesso seria fácil fazer
ligações sobre ruas transversais e, teoricamente, até passagem
subterrâneas sob a praça da Estação. Pode-se-ia atravessar a cidade
inteiramente ao abrigo do sol e da chuva.
e) A estação paulista será com o tempo
reconstruída. Nessa ocasião uma torre ou portal ficaria no eixo da
ligação Estação-Campos Salles.
f) Campo de Corrida. Segundo
informações, não é justificável sua permanência. Para aeroporto é muito
exíguo, cercado de linhas e prédios que o tornam perigoso. Será assim
aproveitado para modificações das ferrovias, para armazéns e
quarteirões, e para alguns logradouros amplos. O ideal seria reservar a
área fronteira ao prolongamento da Av. Itapura para o futuro estádio
municipal.
ORÇAMENTO E CUSTO
A avenida Campos Salles está orçada aproximadamente (talvez
com otimismo) em 4.000 contos, já feita a dedução da taxa de melhoria.
É base, e base pouco tranqüilizadora, pois faz prever um custo total
excessivo, que exigirá cortes no plano, oq eu alas era esperado. A
Diretoria de Obras vai orçar outras obras. Tais orçamentos exigem
atenção especial nisto:
a) Alijar todos os acessórios não essenciais, que pelo
número pesariam muitíssimo. Por isso não considerei os
prolongamentos da rua Barão de Jaguara e da Campos Salles, que
aliás, no meu parecer, são pouco úteis e até, sob certo ponto de vista,
contra-indicados. Em todas as cidades repete-se o combate entre os
urbanistas e a opinião comum, sobre prolongamentos, sobra a
necessidade e beleza de ruas compridas, sobre certa regularidade que o
povo julga essenciais e, sobre o preconceito urbanístico curiosos.
Quando os urbanistas encontram ou podem dispor uma praça ou
monumento importante no topo duma rua importante, como conclusão,
escopo e remate desta, geralmente exultam por haverem encontrado
uma solução lógica e agradável. O leigo, pelo contrário, que forçar
atravessar e prolongar, monótona e indefinidamente as ruas ou, pelo
menos, até um remate menos lógico ou menos importante. Mais
interessante e pitoresco seria, nessa diretriz (Campos Salles), uma
simples galeria para pedestres, que conduzisse até o centro da
170
Comunidade, edifício que, como vimos, poderia elevar-se no quarteirão
triangular entre a rua Cesar Bierrembach e a Praça Carlos Gomes, com
terraços sobre estas, em belíssima posição.
b) Não confundir orçamentos de obras re remodelação
(mais urgentes) com os de obras novas ordinárias relativas ao
desenvolvimento normal da cidade. A soma de tudo seria cifra
assustadora, mas sem significação. É como se somássemos todas as
obras públicas desde João Ramalho até hoje. Por exemplo, as
perimetrais externas serão futuramente obra normal da cidade: “fazer
duma certa maneira o que teria de ser feito de qualquer maneira”.
Também excluir do custo da remodelação propriamente dita
melhoramentos que deviam ser normais (melhorar jardins existentes,
calçamentos, etc.). Naturalmente para ação administrativa o orçamento
total incluiria tudo. A cifra importante é a das obras imediatas novas, as
de substituição ou remodelação, todas referidas aos prazos respectivos.
c) No nosso caso admitimos em primeira hipótese, para
plano de execução das obras onerosas:
Obras imediatas (6 anos):
- Av. Campos Salles: 4.000 contos
- Av. Glicério (trecho principal): 4.000 contos
- Parque da Vila Industrial (início): 400 contos
- Entrada da Cidade: 400 contos
- Canalização do Proença: 1.000 contos
Alargamento de trechos mais velhos e necessários de Benjamim
Constant, Bernardino de Campos.
- Casa da comunidade (1ª parte) ou outro edifício: 1.500 contos
- Escolas rurais, edifícios: 200 contos
- Melhoramentos diversos e eventuais: 1.100 contos
Total: 13.000 contos
Melhoramentos a executar á medida que se impuserem (demolição e
construções novas).
- Alargamento da José Paulino, terreno e composição: 2.000 x 6
= 12 m2 x 50$ = +/- 600 contos
- Alargamento de Glicério (restante): 1.000 x 20 = 20.000 x 50$ =
1.000 contos
- Alargamento da r. Conceição (até Carlos Gomes) e Ge. Osório
(entre José Paulino e Carlos Gomes): (400 + 400)5 = 4.000 x
100$ = 400 contos
- Mesquita, ligação com a rua Santa Cruz:
(300 x 20) + (300 x 10) =9.000 x 55$ +/- 500 contos
- Alargam., no Chapadão (+/- r. Germania ou paralela) e outras
perimetrais: 3.000 x 10 = 30.000ms2 x 20$ = 600 contos
- Conclusão do edifício da Comunidade, ou outro: 1.000 contos
- Paço: 2.500 contos
- Terrenos para o Fórum e Correio (já concluídos atrás)
- Melhoramentos no Jequitibás: 300 contos
- Melhoramentos na Vila Industrial: 500 contos
- Serviços ferroviários (a fazer p/ estradas): 1.600 contos
- Aterros de perimetrais, passagens de nível, etc.: 1.000 contos
- Av. Paulista 1.500 x 20 = 30.000 x 33$ +ou-: 1.000 contos
- Campo de aviação: 600 contos
- Monumentos, portões, etc.:1.000 contos
- Parkway: 1.200 contos
- Av. do Saneamento, prolongamento: 400 contos
- Diversos (terreno matadouro, mercado, trechos a adquirir
das perimetrais, auxilio ao hotel, etc.): 2.800
TOTAL: 17.000 contos
171
A prever e regulamentar:
- Av. cônego Cipião (recuo)
- Av. Irmã Serafina (recuo)
- Perimetrais e radiais (faixa a preservar)
- Ruas de Thalwegg
- Conclusão de Parques
- Verba a reservar para frações inadiáveis destes serviços:
1.000 contos
A desistir:
- Mudanças de estradas no Taquaral
- Parque do Taquaral
- Parque do Saneamento
- Aeroporto bom
- Etc., etc.
Total: imediato (6 ½ anos): 13.000 contos
gradual: 17.000 contos
eventuais 1.000 contos
31.000 contos
Prazo: 35 anos.
Por ano = cerca de 1.000 contos
É verdade que a receita argumentará todo ano, mas também
argumentarão os custos de terrenos e obras, e aparecerão
necessidades novas. Para considerar estas variações não temos
estatísticas perfeitas. Como os orçamentos públicos crescem per capita
com o tempo, em valor absoluto, (embora este crescimento seja muito
menos do que o cambio e outros fatores aparentam) conclui-se que
relativamente a situação não tenderá a piorar, pelo contrário. O
orçamento próximo apresentará uma arrecadação de quase 7.00 contos,
mas esta inclui os distritos extra-urbanos, que naturalmente desejam
melhoramentos próprios e nãos e conformarão com o pagamento das
“obras sumptuárias da metrópole” na mesma base dos urbanistas. Logo
a renda exterior é a de reduzir pelo menos a 1/2, seja uma redução de p.
ex. 2/3 1.000 = 600 contos. Por outro lado as rendas industriais, se bem
que no único meio de fazer participar toda população no custeio do
urbanismo, não poderão sofrer argumentação de tributação na mesma
proporção. Segue-se outra dedução de p. ex. ½ 2.000 = 1.000 contos.
Receita restante destinada a sofrer argumento: 7.000 – (600 +1.000) =
5.400.
Em relação a ela os 1.000 contos anuais para o urbanismo são
cerca 20%. Sobre quem recairá? Sobre todos, um pouco mais aos
diretamente beneficiados, (em especial, taxa de melhoria), um pouco
menos aos já sobrecarregados ultimamente pela mudança de regime
fiscal nacional, um pouco mais aos aliviados pela mesma reforma,
alguma coisa a novas fontes a criar. Não se deve esperar muito das
taxas de melhoria, cuja fama é maior que o poder. Na realidade serão os
contribuintes gerais os mais atingidos. Ao critério exposto acrescentar o
de ordem geral: procurar o mais habilitado e o mais fácil. A renda é o
melhor critério de habilitação, mas só pode ser justa e plenamente
aplicado, pela entidade máxima (governo nacional), podendo, todavia
servir de fonte subsidiária da informação. A facilidade indica mais os
imóveis e menos o comércio, que pode mudar, se for muito
sobrecarregado. A política econômica do município, a cujo futuro
convém o desenvolvimento industrial, aconselha também não
sobrecarregar as indústrias, antes atrair as novas.
172
PLANO NÃO MATERIAL
Dissemos por ocasião das primeiras palestras que a tendência
do urbanismo moderno é para extensividade (abranger todos os campos
da vida municipal e até regional) e para a racionalização (melhor
organização de todos os serviços). Assim os planos de urbanismo
constituem oportunidade para novas medidas, além das estritamente
materiais (avenidas, parques, etc.), e estas, incluídas dentre as
recomendações do plano, serão por vezes boa recomendação para este
aos espíritos mais positivos e menos amantes da estética ou da
“amenities” urbanas. Não é nosso fim no momento atacar esse assunto.
Para dar idéia completa, porém, do plano, citarei como exemplo alguns
pontos que deveriam ser simultaneamente apresentados:
A) Criação da Secção Agrícola Municipal.
É um serviço cuja necessidade está há muito reconhecida. Nos
programas de urbanismo preconizei-o já em 1923. Recentemente foi
oficializada pela secretaria da Agricultura. Já em 1930, no secretariado
Queiroz Telles, fora proposto. Creio que já está estabelecido em Jundiaí.
Acho que nãos e deve resumir a um só funcionário nem ser inicialmente
organizada como coisa definitiva. A forma proposta em 1930
(agrônomos regionais) era mais viável em certas zonas, por pesarem
menos nas finanças municipais e pela falta de profissionais não só
habilitados como dotados do temperamento especial requerido. Na
realidade a nova secção deve contar ainda com um veterinário, com um
serviço meteorológico suplementar (com a colaboração particular dos
fazendeiros mais adiantados), uma sub-secção de cooperativismo, e
outra de propaganda escolar (colaboração coma Secretaria da
educação). Toda a secção deve ter conexão com a Secretaria da
Agricultura, em particular com o Fomento e com o Instituto Agronômico.
Pela proximidade deste Instituto, pelo caráter agrícola da zona, pela sua
tendência á pequena propriedade, pelas possibilidades industriais (que
por sua vez requerem horticultura próxima), etc., o município de
Campinas é o melhor que se presta no estado, para a introdução e
experiência da nova instituição. É sabido que o fomento Estadual
dificilmente pode prestar assistência imediata a todos. Ao agrônomo
municipal caberá tal incumbência. Seu alcance econômico é
considerável; basta passar os olhos sobre os resultados da seleção de
sementes, da genética, etc., que elevam a agricultura moderna á
categoria de verdadeira ciência. Os estudos meteorológicos
completariam as atuais, muito resumidos e localizados.
Fora o interesse aeronáutico e cientifico teria este outro para
permitir base ao “seguro”. Nos estados Unidos há seguro contra o tempo
até para empresas ao ar livre, por ex. feiras. Acresce a circunstâncias de
que não necessitaria de anos. O interesse da Secção Agrícola avulta
devido ao momento, que é de transição (desmembramento das terras
montanhosas e pedregosas, etc.) A sub-secção de cooperativismo
orientará os pequenos lavradores num campo em que os bancos não
resolvem a situação, como sucede com o comércio; o crédito mercantil
significa especulação, prazo curto, juro alto e garantias reais; o crédito
agrícola de significar assistência e racionalização, prazo de colheita, juro
baixo e garantias pessoais. O Departamento Estadual de
Cooperativismo daria as instruções centrais. O cooperativismo entre nós
está apenas ingressando na via certa e é preciso ir-he ao encontro. Não
é panacéia, mas prestará sempre serviço, máxime na animação das
zonas velhas. As vizinhanças da Capital e de Bragança ilustram-no. A
fruticultura, possível na região de Campinas, não só na faixa
sedimentária, como na arqueana e até mesmo (com espécies mais
difíceis) nos pontos altos, poderá receber na indústria das frutas em
173
calda e cristalizadas um complemento natural. A assistência municipal
poderia indicar e preparar este campo. Ao lado da Secção Agrícola
Municipal outras medidas podem beneficiar a pequena lavoura: estradas
e instrução adequada.
Vemos que há aqui uma série enorme de coisas do maior
interesse econômico, que evitariam ao urbanismo a pecha de só cuidar
das superfluidades das cidades.
B) Comissões Civis
É uma recomendação de ordem política (política no sentido
elevado de governo e alta administração). Análogas á atual Comissão de
Urbanismo, porém mais reduzidas e destinadas a colaborar, com caráter
mais consultivo e técnico, nos assuntos principais do município: vida
industrial, educação e cultura, urbanismo, agricultura, assistência, etc..
Apolíticas, utilizam capacidades, que doutro modo ficariam perdidas ou
acabariam por exercer nocivamente. Semelhante aos conselhos
técnicos, que a ultima reorganização nacional introduziu, ainda serão, no
parecer de alguns, o melhor elemento de salvação das democracias.
Impraticáveis em muitas cidades pequenas poderão funcionar
perfeitamente em cidades progressistas e cultas, como Campinas. Toda
a dificuldade reside em saber organizá-las e regulamentá-las. Os
municípios são, conforme frase consagrada, a escola do cidadão. Para
que isto se efetive, as comissões civis são o meio justo e legítimo. Pouco
tempo em matéria de organização da consciência e da colaboração
política (elevada) e administrativa geral. Até há pouco isto era mau, mas
passava. Com os perigos de dissolução, que só agora muitos
perceberam a mesma situação não pode perdurar. Dissolução não é
evitável por meio de política e de decretos: a única barreira possível será
a consciência geral. Uma das comissões, a de “serviço civil”, já funciona
na Capital, embora introduzida defeituosamente a meu ver. Ela cuida
das promoções e provimento das funções públicas, descarregando os
administradores de uma tarefa penosa.
Nos Estados Unidos quaisquer que tenham sido os insucessos e
as críticas, o saldo, nos casos de boa vontade, tem sido incontestável.
Nas Comissões há “sub-comissões de contato” composta por ex. de 2
membros, cuja missão é manter contato imediato com os chefes das
repartições, de modo a obterem informações e sugestões valiosas, mas
cuja exteriorização os regulamentos ou as praxes ordinariamente
impedem. Elas concorrem ás vezes para mudanças benéficas de
atitudes e opiniões. Ainda há tempos pediu coisa semelhante para sua
repartição, o Diretor do serviço Meteorológico Federal, Dr. Sampaio
Ferraz, cansado de aturar as intervenções da política e da alta
administração, mal informadas. As comissões de recursos fiscais já
funcionavam no estado e na Estatística Imobiliária. Estas, porém são um
pouco diversas. Os rotarys, os “amigos da cidade”, as associações
técnica, ou mesmo de interesse, etc., constituem por vezes um passo no
mesmo sentido. Estão, porém muito longe de alcançarem os fins
colimados, que exigem uma certa responsabilidade não só moral como
efetiva, atitudes sistemáticas e não acidentais, funcionamento regular,
contatos imediatos, etc.. Podem ser, não obstante, viveiros de membros
para as comissões.
C) Juiz Municipal
Assim chamamos uma espécie de juiz de 1ª instância, para
pequenas questões, reclamações contra repartições e funcionários,
infrações de posturas, acidentes de tráfego, erros fiscais, etc.. Nos
Estados Unidos, onde a instituição tem desenvolvimento muito maior,
são-lhe atribuídos muitos casos da vida particular, a ponto de ser
considerada, (sob o ponto de vida particular, a ponto de vista do número
de pessoas interessadas e da impressão que produz na mente popular)
174
da mais alta importância social. Entre nós a questão das relações do
povo e das repartições, principalmente fiscais, é de maior importância. O
serviço público, mesmo nas repartições mais idortizadas, é entrave
irritante á atividade da população. Tudo o que o poder lubrificar estes
contatos é recomendável, pelo menos a título experimental. Embora no
interior os males da burocracia sejam menos sensíveis, elas existem em
certo grau. A “secção judicial”, ligada a uma secção de orientação e
informação para o público, seria (além da racionalização interna) o único
meio de arrancar nossas administrações do estado medieval em que,
sob tal aspecto, ainda se encontram.
D) Racionalização administrativa e técnica
O assunto é tão vasto que não nos deterá no momento. O
próprio urbanismo não é senão um exemplo de racionalização de toda a
cidade. Apontaremos um detalhe, pelo qual se avaliarão outros:
As repartições devem em certos ramos corresponder-se com os
interessados, evitando-lhes pernadas inúteis. Por exemplo, os
lançamentos, os pagamentos, as reclamações, tudo em grande parte,
poderia ser feito pelo correio. Isto já é inteligentemente feito, em parte,
pelo serviço federal do imposto de renda. Na maioria dos casos, porém,
as relações do público com as repartições, feitas nos “guichês” no meio
de confusão, são absolutamente da era da pedra lascada. Haverá
naturalmente, muitos casos de atrapalhação. Uma organização bem
feita, porém, reduzi-lo-á e dar-lhe-á expediente. O suplemento de custo
seria gostosamente pago pelos interessados por meio duma taxa.
E) Remodelação da Secção de Estatística
A secção campineira pouco pode produzir até agora por ser uma
recém nascida. Além disso, os administradores geralmente as
consideram supérfluas. São, entretanto, da máxima importância, e
sabem-nos os urbanistas mais que ninguém, por experiência própria. As
estatísticas são o termômetro da vida da comunidade, e sem termômetro
os médicos não diagnosticam nem tratam. Exigem, porém extremo
cuidado e conhecimentos múltiplos, que só pelo contato com secções
especializadas podem alcançar. É onde a racionalização mais se fará
sentir, para que as cifras possam apresentar significação precisa e ser
comparáveis. As estatísticas feitas em 99% das nossas repartições são
totalmente inúteis. Uma articulação geral, nacional e mesmo
internacional, seria necessária; enquanto isto não é possível, ao mesmo
uma estadual é desejável.
O Departamento de Administração Municipal daria o critério
diretor. Uma secção de estatística estadual, funcionando como “clearing-
house” de informações administrativas técnicas e municipais, seria dum
enorme valor para instrução e emulação dos municípios. Ele também
teria, finalmente, função divulgadora e popular, por meio de gráficos e
artigos sugestivos. Nos Estados unidos, o Departamento Federal do
comércio exerce uma função desse gênero, que não envolve, aliás,
nenhuma intervenção nos interesses particulares dos municípios.
F) Escolas Rurais
Deixando de lado a questão do ensino no município há um
aspecto que seria interessante fazer participar do “plano de urbanismo”:
a construção de algumas escolas rurais, uma ou duas do tipo modelo e
meia dúzia do tipo normal. Como as municipalidades devem
obrigatoriamente consagrar uma porcentagem de suas receitas á
educação, nada demais representa esta proposta. Uma escola rural
modelo comportará um pequeno alojamento para o mestre, certo
material necessário ao ensino, um terraço ou galpãozinho, chuveiros e
instalações sanitárias para inculcar hábitos higiênicos ás crianças,
armário para serviço médico e dentário periódico, ambiente rural e
aspecto rústico.
175
Outros aspectos da questão escolar não cabem no momento.
Adiantarei apenas que seria interessante atrair para o município uma
colônia de férias, um instituto disciplinar (de cuja mudança hoje se cogita
em São Paulo) e uma “universidade secundária”. Por tal entendo uma
referente apenas ao ensino secundário comercial, normal e profissional,
para qual apresentaria vantagens a cidade de Campinas, tradicional por
sua cultura e seus colégios, dotada de todos os recursos da civilização,
com menos perigos que as grandes capitais, de fácil acesso, e, hoje,
muito preferida para residência. Uma universidade secundária, se não
tem vantagem das superiores e para investigações originais, apresenta
vantagens para estudo, esportes e instalações gerais.
A zona destinada seria p. ex o Taquaral, em torno do lago,
englobando o parque e o atual Colégio, que tem fácil acesso pela
Avenida Itapura. A proximidade da fazenda Santa Eliza, dos campos da
estrada de Cosmópolis, do mato de Capão Fresco, etc., oferecem
possibilidades de notáveis complementos recreativos. O mais
interessante seria distribuir a colônia de férias, o instituto disciplinar, etc.,
nesta zona, cujo acesso ferroviário também é facílimo.
G) Outras iniciativas municipais, apenas a enumerar, no momento:
HOTEL: necessidade de bom hotel, embora pequeno. Poderá
funcionar em prédio maior, com possibilidade de ampliações. Deve
concorrer para decoração urbana. Pelas idéias antigas este não seria
campo para ação municipal. Pelo principio do intervencionismo, porém, o
poder público deve intervir nas questões de interesse geral onde a
iniciativa particular houver falhado. O que se exige é cautela, porque o
desinteresse privado revela ás vezes a importunidade ou risco das
iniciativas.
BIBLIOTECA: gênero moderno, com serviços de bairro ou
mesmo ambulante, com correspondência com as congêneres da capital.
Com serviço de informações e fichário em colaboração com os colégios
e instituições locais. Poderia fazer parte do “edifício da comunidade”,
dotando este de instalações esportivas, recreativas, salas e terraços de
descanso, salas de reunião, pequena pinacoteca, etc.. toda a dificuldade
deste edifício reside na organização de modo a satisfazer a muitos sem
incomodo mutuo. Nalgumas cidades alugam-se salas para sede e
sociedades culturais, que assim têm á mão salões para reunião,
conferência, festas, etc..
ASSISTÊNCIA: a assistência social e, sobretudo médica e
higiênica total é ainda uma utopia e apresentaria dificuldades e custos
enormes. Porém, uma assistência, especialmente rural, limitada, seria
interessantíssima, não só pelo objetivo utilitário e humanitário, como
pelas conveniências de um serviço estatístico e de fiscalização,
articulado com o serviço sanitário estadual e com a assistência urbana,
privada e municipal. Uma agência municipal de empregos (sub-secção
de informações) poderia filiar-se a “assistência social”.
FUNÇÃO DA COMISSÃO
1) Explanando em grandes linhas o “plano tipo”, destinado
mais a guiar e unificar idéias que a constituir proposta propriamente dita,
cabe agora á Comissão a sua máxima responsabilidades, que é
manifestar em primeira entrância, as “aspirações gerais da comunidade”.
No caso presente, em que, para facilitar, está apresentado um “plano
preliminar” ou “tipo”, essa manifestação poderia ter lugar dizendo se
reputa o “plano preliminar” excessivo, deficiente ou justo (programa), se
a orientação geral satisfaz ou não, se as diferentes necessidades da
cidade forma ai equilibradas consideradas, se a força econômica e o
futuro foi ou não superestimado. É importante notar que ao interessa,
176
nesta fase, o aspecto geral, o vulto total do empreendimento ou de suas
grandes secções.
2) Sob o ponto de vista financeiro a exposição anterior
enunciou uma base grosseiramente aproximada, mas suficiente concreta
para uma primeira apreciação. O empreendimento exigiria cerca de 20
% na tributação geral. Não é cifra exata (as cifras parciais escrevi-as em
Santos, sem os dados mais exatos á mão), mas dá a ordem de
grandeza.
Pessoalmente já disse que reputo esse plano a um máximo.
Isto traduz-se desta maneira: as condições do pais não permitem
ainda que as nossas cidades , mesmo as mais progressistas, consigam
todas as perfeições que o urbanismo e o progresso moderno têm
inventado (avenidas, edifícios públicos perfeitos, parques grandes e bem
instalados, ferrovias não incomodas, aeroportos, ótimo calçamento,
assistência perfeita, etc.) No plano preliminar diversas destas questões
formas já postas de lado e, entretanto, alcançou-se a uma cifra ainda
elevadíssima. Conclusão prática: a) plano completo e perfeito deve ser
reduzido; b) as obras secundárias, de interesse muito local e que pelo
número possam pesar na balança, devem ceder lugar ás de interesse
mais geral, o esforço deve ser menos disperso, mais concentrado em
menos coisas para que sejam exeqüíveis; muitas obras devem entrar
para a categoria das obras a prever (mediante recuos, mediante
expropriações apenas á medida das reconstruções, mediante opções,
mediante aquisições sem demolição imediata, etc.), cuja possibilidade
futura se precaverá. Assim pensando dou o exemplo deixando total ou
quase totalmente projetos tais como: alteração de estradas de ferro;
grande parque do Taquaral; parque de saneamento; cidade satélites
industriais. Deixando para plano posterior secundário e etapas muito
posteriores projetos como: estádio municipal; remoção do mercado;
remoção do matadouro; avenidas perimetrais; radiais externas
(excetuada parcialmente a entrada da cidade); modificações de bondes,
etc.
A própria avenida Glicério poderia em grande parte ficar para 2ª
fase, executando na primeira apenas o trecho Catedral-Indaiatuba e (se
quiser garantir ou “comprometer” o prosseguimento) o inicio dos
prolongamentos. Alonguei o prazo da fase imediata (Av. Campos Salles)
para 6 0u 7 anos, de modo a evitar empréstimo inicial excessivo e
conseqüentes juros capazes de absorver todo o suplemento pedido da
receita.
3) Chamo a atenção também da Comissão sobre a
repercussão externa dum programa muito elevado de despesas, máxime
num pouco meio pouco a par do urbanismo e das condições peculiares a
Campinas; sobre a atitude dos contribuintes, alguns ainda recentemente
sobrecarregados; e, finalmente, sobre o risco duma desautoração pela
futura Câmara.
4) Em segundo lugar a comissão poderá opinar sobre
algumas das obras imediatas ou mais importantes, em particular a av.
Campos Salles, a ampliação de Indaiatuba e a av. Glicério.
Sobre a canalização do Proença, a entrada da Cidade, as
escolas rurais, o prolongamento da Andrade Neves, etc. a D.O.V.
apresentará breve os preços da E.I., de modo a permitir mais fundada
opinião.
5) Convém, por outro lado, não incluir no plano de
despesas que, embora necessárias, lhe são estranhas (melhoramentos
de certos calçamentos, estradas, concertos de prédios, etc.,
conservação de jardins, etc.) que devem correr por verbas e recursos
ordinários.
177
6) Reduzido assim, o plano, aprovadas (em primeira
discussão, provisoriamente, porque a aprovação definitiva só caberá
após revisão diante do plano completo) as linhas gerais e o modo de
financiamento e prazos, estará o assunto já passado pelo primeiro crivo
(este estritamente cívico, local e bem representativo) e poderá ser
explanado claramente de modo sugestivo, com alguns croquis e
desenhos, e então levado ao público em primeira apresentação.
7) Nada impede que, nesse ínterim, as partes iniciais sejam
levadas ao Conselho Consultivo ou Câmara Municipal e aprovadas de
modo que a inauguração, seja dos serviços, seja de uma primeira parte
já realizada, possa ter lugar por ocasião das festas a Carlos Gomes.
178
ANEXO D
Ato no 118 de 24/03/1938 – Aprova o Plano de Urbanismo de Campinas.
In: Atos promulgados no exercício de 1938. Campinas: Linotypia da
Casa Genoud, 1938
ATO N. 118 - Aprova o plano de Melhoramentos Urbanos da cidade de
Campinas e dá outras providencias.
O DR. JOÃO ALVES DOS SANTOS, Prefeito Municipal de Campinas,
usando dos poderes que a lei lhe confere, e
Considerando que o Ato municipal no 115, de 18 de Março deste ano,
tomando no devido apreço o disposto no art. 117 da Lei Orgânica dos
Municípios, restabeleceu a atividade da Comissão de melhoramentos
Urbanos que havia sido criada pela lei municipal no 490 de 23 de
Novembro de 1936; e
Considerando que a referida Comissão, desobrigando-se de sua elevada
incumbência e superiormente orientada pelo consagrado urbanista Dr. F.
Prestes Maia, apresentou ao estudo da extinta Câmara Municipal um
plano de urbanismo que mereceu um parecer favorável das comissões
permanentes da mesma Câmara e que realmente digno da Cidade de
Campinas; e
Considerando que o referido parecer reconheceu “Campinas necessita
da aprovação imediata de um plano de urbanismo, a fim de serem
corrigidos os defeitos da cidade e preparar esta ultima para o progresso
futuro, dentro das normas de beleza, estética e bem estar da
população”; e
Considerando mais que o plano proposto pela Comissão de
Melhoramentos Urbanos, sobre ser completo e grandioso, e o fruto dos
estudos acurados que ela fez com a mais absoluta liberdade,
inteiramente livre da influencia da Prefeitura e do funcionalismo
municipal, não acarreta, no momento, despesas para o município, nem
demolições precipitadas, por isso deverá ser executado gradativamente,
e
Considerando, que o plano proposto pela Comissão de Melhoramentos
Urbanos merece o inteiro apoio desta Prefeitura, e que a sua aprovação
se impõe desde logo por ser necessário habilitar as Diretorias de Obras
e de Viação e de Águas e Esgotos a resolverem, dentro da lei, diversos
casos de construções e reconstruções dependentes de solução e que
não podem ser protelados;
Considerando, ainda, que tratando-se de um plano de melhoramentos
para execução paulatina, a sua adoção imediata, mesmo que se tratasse
de uma resolução imperfeita, não irá criar nenhum transtorno ou
situação irremediável, uma vê que durante o longo prazo de sua
execução poderá ele sofrer as alterações que forem determinadas por
circunstancias supervenientes, resolve baixar o seguinte
ATO N. 118
Art. 1.o – Ficam determinados os seguintes melhoramentos urbanos da
cidade de Campinas, de acordo com o plano de urbanismo apresentado
pela Comissão de Melhoramentos Urbanos:
I – Serão construídas as seguintes Avenidas Centrais, com a
largura de 22 metros cada uma:
179
a) A “Avenida Francisco Glicério”, na rua do mesmo nome,
que passará a ser denominada “Avenida” com o alargamento do lado
impar entre as ruas Marechal Deodoro e Cônego Cipião, tendo
pequenas praças nos cruzamentos com essas ruas;
b) A “Avenida Campos Salles”, na rua do mesmo nome,
que passará a ser denominada “Avenida” com o alargamento do lado
impar entre as ruas Francisco Glicério e 11 de Agosto.
II – Será construída uma “Avenida de Ligação”, com a largura de
26 metros, entre a Praça Marechal Floriano Peixoto e a rua 11 de
Agosto, partindo de uma praça no cruzamento desta ultima com a
Avenida Campos Salles.
III – Será construída uma segunda “Avenida de Ligação”, com 22
metros de largura, entre a praça circular e o ponto de cruzamento da rua
General Osório com a Av. Andrade Neves, simetricamente com a
primeira.
IV – ficam aprovados mais os seguintes melhoramentos:
1 – Alargamento bi-lateral para 16 metros, da rua Francisco
Glicério, entre a rua Marechal Deodoro e o Canal de Saneamento.
2- Alargamento bi-lateral para 16 metros, da mesma rua, entre
as ruas Cônego Cipião e Duque de Caxias.
3 – Alargamento do lado par, para 16 metros, da mesma rua,
entre as ruas Duque de Caxias e a Linha Férrea.
4 – Alargamento da Rua general Osório, para 14 metros, do lado
par, entre a rua José Paulino e Avenida Anchieta.
5 – Alargamento da rua Conceição, para 14 metros, do lado
para, entre Francisco Glicério e Irmã Serafina.
6 – Prolongamento da Avenida Dr. Thomaz Alves, com a largura
atual, até Francisco Glicério pela rua Bernardino de Campos.
7 – Alargamento da rua Benjamin Constant para 14 metros,
entre a Luzitana e a rua D. Ernesto Kuhlmann.
8 – Prolongamento da rua Culto á Ciência, com a largura atual,
entre Marechal Deodoro e Benjamin Constant e entre a Avenida Barão
de Itapura e o futuro prolongamento da Andrade Neves.
9 – Prolongamento da rua Hercules Florence, com a largura de
12 metros, entre Saldanha Marinho e Dr. Mascarenhas, sendo alargada
do lado impar, para 12 metros, entre Saldanha Marinho e Barão Geraldo
de Rezende, e prolongada até encontrar a rua Álvaro Miller.
10 – Prolongamento da rua Delfino Cintra, em sua extremidades
até a Avenida Andrade e até a rua Francisco Glicério, com a largura de
14 metros e com alargamento bi-lateral no trecho José Paulino –
Hercules Florence.
11- Alargamento da rua Irmã Serafina para 14 metros entre
Cônego Cipião, do lado par.
12- Alargamento da rua Cônego Cipião do lado par, para 16
metros, da Linha Férrea até Barão de Jaguara; bi-lateral até Dr. Quirino
e do lado impar até encontrar a rua Itu onde se ligará com a praça inicial
da Av. Julio de Mesquita.
13- Prolongamento da Avenida Julio de mesquita, mantendo a
largura atual, até a rua Moraes Salles, alargando-se do lado impar, entre
Benjamim Constant e Ferreira Penteado.
14 - Construção de uma praça de remate da Avenida Julio de
Mesquita e da concordância das ruas Cônego Cipião e Itu.
15 – Alargamento da travessa Irmãos Bierrenbach do lado impar,
para 20 metros.
16- Prolongamento da Avenida Brasil, até a rua Major Solon nas
proximidades do cruzamento desta com a travessa Irmãos Bierrenbach.
17 – Construção de uma avenida ao longo da linha férrea, com
15 metros de largura, entre as praças 9 de Julho e Proença.
180
18 – Prolongamento da rua Antonio Cesarino até a rua
Uruguaiana, com caráter paisagístico e através do Bosque dos
Jequitibás.
19 – Prolongamento da Avenida Barão de Itapura do lado do
Liceu, em direção á estrada de Mogi – Mirim, abrindo-se uma praça de
distribuição de trafego, entre as cotas de nível 675 e 680, de acordo com
diretrizes a serem exigidas de novos arruamentos no local.
20 – Prolongamento da Avenida Cel. Silva Teles a partir da
extremidade oeste e obedecendo ás diretrizes que serão dadas por
ocasião dos arruamentos dos terrenos que atravessar.
21 – Alargamento da rua Abolição do lado para, para 16 metros,
entre a rua Álvaro Ribeiro e a Linha Férrea, visando à concordância de
alinhamento com a avenida Francisco Glicério.
22 – Alargamento da rua Proença do lado par, para 14 metros,
até a rua Padre Vieira.
23 – Alargamento da rua Padre Vieira, do dois lados, para 14
metros, entre a Uruguaiana e Proença.
24 – Alargamento da rua Álvaro Ribeiro, do lado impar, para 16
metros, entre a Abolição e a estrada de São Paulo.
25 – Alargamento da rua José Paulino, para 14 metros, do lado
impar, entre a linha férrea da Cia. Paulista e a rua General Osório e com
o mesmo alargamento, do lado par, entre Campos Salles e o Canal de
Saneamento.
26- Construção de uma avenida, com 14 metros de largura, na
faixa marginal direita do Canal do Saneamento.
27 – Construção de uma praça de remate da Avenida João
Jorge, com frente para o Quartel da Policia, já projetado.
28 – Construção de uma avenida de entrada da cidade, partindo
da praça João Jorge, ao lado do quartel e terminando na estrada de São
Paulo. Esta Avenida obedecerá ás diretrizes que serão dadas por
ocasião da aprovação dos arruamentos futuros nesse local.
29 - Prolongamento da Avenida Andrade Neves, com a largura
atual, até a praça circular do jardim Chapadão.
30 – Alargamento da rua Major Solon, do lado impar, para 15
metros, entre a travessa Irmãos Bierrembach e a Av. Anchieta.
Art. 2.o - Ficará reservada uma faixa entre a via Férrea Paulista, a futura
avenida ao longo dessa via e ruas Cônego Cipião e Senador saraiva,
para oportuna ligação com o pontilhão da Avenida João Jorge.
Art. 3.o – Nenhum prédio poderá ser construído ou reconstruído na rua
Conceição entre Boaventura do Amaral e Antonio Cesarino, sem que
medeie entre a frente da construção e o alinhamento da rua,
respectivamente, 5 metros e 4 metros dos lados impar e par.
Art. 4.o – Nos cruzamentos das vias publicas dos dois alinhamentos das
ruas mencionadas neste Plano serão concordados por um terceiro
normal á bissetriz do ângulo e do comprimento variável entre 4,50 e 5,00
metros.
Art. 5.o – Todos os melhoramentos urbanos indicados deverão obedecer
ás plantas apresentadas com o plano de Urbanismo, pela Comissão de
Melhoramentos Urbanos e que constam do processo referente a este
Ato.
Art. 6.o – Ficam declaradas de utilidade publica, para serem adquiridas
por compra, permuta, doação ou desapropriação, as faixas de terrenos
necessárias para os melhoramentos determinados por esse Ato.
181
Art. 7.o – Os referidos melhoramentos serão executados gradativamente,
de acordo com o disposto neste Ato e com as disposições que
ulteriormente determinar o Poder Competente.
Art. 8.o – Em todos os prédios e terrenos alcançados por este plano,
nãos era permitidas reformas, reconstruções e construções que
contribuam para aumentar a durabilidade desses imóveis, excetuadas as
pequenas reformas necessárias á conservação pura e simples dos
mesmos imóveis.
Art. 9.o – Desde que duas terças partes de uma mesma quadra tenham
sido alargadas, a Prefeitura, imediatamente providenciará a
desapropriação da terça parte restante, completando o serviço de
acordo com o plano aprovado.
Art. 10.o – Quando a Prefeitura determinar a execução de qualquer
melhoramento urbano, tais como calçamento, alargamento, etc. deverá
publicar editais convocando os proprietários dos terrenos marginais a
requerem colocação de pontos de água e a tomarem todas as medidas
necessárias para que, uma vez concluído o melhoramento, não seja
necessário abrir a rua para dar passagem a encanamentos que se
destinam aos prédios que se construírem.
Art. 11.o – Enquanto não fizer o alargamento completo da quadra, o
terreno ficar para dentro do alinhamento, na frente do prédio recuado,
será imediatamente desapropriado pela Prefeitura, podendo ser fechado,
com gradil, conforme for estabelecido oportunamente para cada caso,
sendo a obra de fecho retirada logo que se complete o alargamento.
Art. 12.o – As faixas de terreno que passarem para o patrimônio
municipal serão indenizadas imediatamente, por meio de resolução
previa, e os terrenos que forem ocupados pelas construções que
avançarem sobre a via pública, serão pagos pelos proprietários que os
quiserem adquirir, na base da valorização do momento.
Art. 13.o – Quando, das desapropriações para alargamento, retificação
ou formação de novas ruas, resultarem sobras de terrenos em que não
se possa edificar, a Prefeitura desapropriará o imóvel todo que for
prejudicado.
Art. 14.o – ficam aprovados para execução remota e oportuna, os
melhoramentos abaixo indicados:
A – Radiais externas:
1- Rodovia para Mogi – Mirim pelo prolongamento da
Avenida Barão de Itapura e Jardim Campinas, até encontrar a estrada
atual na futura barragem da represa Taquaral.
2- Rodovia Anhumas – Pedreira
3- Rodovia para fazenda B. Parapanema, visando à futura
ligação com o Bairro Industrial da C.A.I.C..
4- Rodovia para Valinhos, São Paulo, Itu e Indaiatuba,
Viracopos, Roseira, Asilo, Limeira, Amarais (Campo de Aviação) e
Cosmópolis. Fica estabelecido o recuo obrigatório de 6 metros para as
construções nos trechos dessas vias com alinhamento já definido, desde
que o afastamento das fachadas em relação ao eixo da via não seja
inferior a 13 metros, cabendo a Prefeitura fixar oportunamente as
larguras dos trechos sem alinhamento aprovado.
B - Perimetral externa: (Canal do Proença, Vila Industrial, Alto do
182
Chapadão e Vale do Taquaral).
1- Avenida e Canal do Proença (Park-way) entre o
Saneamento e a praça circular, no cruzamento das ruas Abolição e Dr.
Ângelo Simões, com passagem superior na linha Paulista.
2- Prossegue em direção a 1ª rua de São Bernardo com
passagem superior nas travessias das estradas de rodagem de São
Paulo e Itu.
3- Prossegue pela rua de São Bernardo até a estrada do
Piçarrão, deflete á esquerda e segue rumo á praça de Vila Teixeira.
4- Prossegue em direção á rua Joaquim Villac, por esta,
pela rua Dr. Alberto Sarmento em direção á praça circular situada na
extremidade da Av. Andrade Neves, continuando pela Av. do Espigão do
Jardim Chapadão até encontrar a rua Maria Lins, na Vila Nova.
5- Prossegue pela rua Maria Lins, atravessa a estrada
Sorocabana e estrada de rodagem de José Paulino, desenvolvendo-se
ao longo da margem direita da futura represa do Taquaral, corta a
estrada Mogi – Mirim e descrendo uma curva vai fechar a perimetral na
Avenida Proença, junto ao futuro Parque das Instalações de Águas e
Esgotos. Fica estabelecido o recuo obrigatório de 6 metros para as
construções ao longo do perímetro acima descrito nos trechos com
alinhamento já definido, cabendo a Prefeitura fixar oportunamente a
largura dos trechos de ligação.
C – Melhoramentos complementares:
1- Abertura de uma Avenida com 16 metros de largura
através de terrenos municipais a partir da futura Praça João Jorge, até a
perimetral externa, acompanhando o córrego Piçarrão.
2- Prolongamento da rua Lopes Trovão, com 20 metros,
nas duas extremidades, de forma a ligar diretamente a Av. Proença, com
o prolongamento da Av. Itapura, passando na extremidade leste junto ao
parque do Saneamento.
3- Alargamento das partes carroçáveis aproveitando
espaços livres das praças:
a) Carlos Gomes – ruas Conceição, Irmã Serafina e
Boaventura do Amaral;
b) Pará – ruas Francisco Glicério e Duque de
Caxias;
c) D. Pedro II – ruas Cônego Cipião, Irmã Serafina
e Boaventura do Amaral;
d) Imprensa Fluminense – rua Conceição e
Avenida Julio de mesquita;
e) Luiz de Camões – rua Marechal Deodoro e
Saldanha Marinho.
D – Parques:
1- Será construído um Parque na Vila Industrial,
abrangendo todos os terrenos municipais da antiga chácara Frias e
pastos do Matadouro, tendo acesso pela Av. João Jorge e pelas ruas
Prudente de Moraes e São Carlos.
2- Será Formado o Parque do Saneamento, aproveitando-
se os terrenos pertencentes ao município.
3- Será inteiramente reformado e modernizado o Bosque
dos Jequitibás.
4- Será formado o Parque do Taquaral, no cruzamento da
estrada de Mogi-Mirim com o prolongamento da Avenida Barão de
Itapura, a margem do lago existente, cujo nível será elevado de 8
metros.
183
5- Será aproveitada parte do terreno em que está
localizado o Hipódromo, no prolongamento da Av. Barão de Itapura, para
uma praça.
E – Bairros industriais: Serão facilitadas as formações dos
bairros industriais:
1- Ao longo da estrada de Ferro Paulista, além dos
Armazéns Reguladores.
2- Ao longo da Paulista, além do Cemitério.
3- Na vila Nova e Taquaral.
F - Edifícios públicos:
1- Serão reservados depois de estudos convenientes,
lugares para a construção futura do paço Municipal, Matadouro, Estádio
e instalações esportivas populares, Mercado, Hotel Municipal e Escolas
§ 1º - Na aprovação de projetos de arruamentos, loteamentos,
construções, etc., a que se refere este artigo, a Prefeitura providenciará
para que fique assegurada a exeqüibilidade dos melhoramentos
referidos.
Art. 15.o – A prefeitura providenciará o zoneamento sistemático e
gradual da cidade.
§ 1º - Nos novos arruamentos na periferia da cidade poderá ser
exigida obediência de unidade residencial.
Art. 16.o – A prefeitura só aprovará na Praça Visconde de Indaiatuba e
seus aumentos futuros até a rua José Paulino, projetos para construções
com 6 pavimentos.
§ 1º - Será tolerada, a juízo da Prefeitura, a execução parcial do
prédio até o mínimo de 3 pavimentos.
§ 2º - As construções de mais de 6 pavimentos deverão
obedecer ao tipo torreão, com recuos nas faces aparentes.
Art. 17.o – A Prefeitura exigirá harmonização das linhas principais das
fachadas, sendo que os prédios construídos em lotes de 7 ou menos de
frente deverão se subordinar ás linhas arquitetônicas de um dos prédios
contíguos, desde que um destes já tenha sido construído de acordo com
as exigências do artigo anterior.
Art. 18.o – Para a execução do plano aprovado por este Ato, a Prefeitura
pedirá ao poder competente a concessão dos créditos necessários.
§ Único – Anualmente a Prefeitura incluirá na lei orçamentária
uma verba no mínimo de 5 por cento da receita municipal para ser
aplicada em desapropriações.
Art. 19.o – O presente Ato entrará em vigor 30 dias após sua publicação,
revogadas as disposições em contrario e ficando expressamente
mantidos os decretos, leis e atos que não contrariem os seus
dispositivos, especialmente os Decretos 83 e 160, aquele de 1934 e este
de 1936, bem como o código de Construção baixado com o Decreto n.o
76, de 16 de Março de 1934.
Campinas, 23 de Abril de 1938.
João Alves dos Santos
Publicado na Diretoria do Expediente da Prefeitura,
em 23 de Abril de 1938.
O diretor
F. Campos Abreu
BIBLIOGRAFIA ESPECÍFICA:
• ANDRADE, Carlos Roberto Monteiro de. A peste e o
plano: o urbanismo sanitarista do Engenheiro Saturnino
de Brito. Dissertação (mestrado em estruturas
ambientais e urbanas) – Universidade de São Paulo,
São Paulo, 1992.
• ______. Projetos e Obras de Saturnino de Brito para
Campinas em fins do século XIX. Óculum ensaio-
Revista de Arquitetura e Urbanismo, número 2, FAU
PUC-Campinas, 2002.
• BADARÓ, Ricardo. Campinas, o Despontar da
Modernidade. Campinas: editora Unicamp, 1996;
• BRITO, Francisco Saturnino de. Obras Completas de
Saturnino de Brito. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do
Livro, 1943/1944, volumes XXII e IV;
• ______.Exposição dos projetos complementares dos
trabalhos em via de execução. Relatório encaminhado
ao intendente municipal Joaquim Ulysses sarmento,
Campinas: Arquivo Câmara Municipal, 1897.
185
• CAMPINAS (SP). Ato no 115 de 18 de março de 1938.
Cria a Comissão de Melhoramentos Urbanos. In: Atos
promulgados no exercício de 1938. Campinas: Linotypia
da Casa Genoud, 1938
• ______. Ato no 118 de 24 de abril de 1938. Aprova o
Plano de Melhoramentos Urbanos. In: Atos promulgados
no exercício de 1938. Campinas: Linotypia da Casa
Genoud, 1938;
• ______. Decreto no 11 de 19 de fevereiro de 1932. Cria
a Comissão de Urbanismo.
• ______. Lei complementar nº 15 de 27 de dezembro
de 2006. Aprova o Plano Diretor do Município de
Campinas;
• MAIA, Francisco Prestes. Relatório sobre o caráter e o
programa do Plano de Urbanismo de Campinas. In:
Relatório dos trabalhos realizados pela Prefeitura
Municipal de Campinas durante o exercício de 1934.
Campinas: Linotypia da Casa Genoud, 1936
• ______. Relatório da exposição preliminar. In: Relatório
dos trabalhos realizados pela Prefeitura Municipal de
Campinas durante o exercício de 1935. Campinas:
Linotypia da Casa Genoud, 1934, p. 69 – 128.
186
• SANTOS FILHO, L. de Castro. Febre amarela em
Campinas 1889-1900. Editora Unicamp. Campinas.
1996.
• SANTOS, João Manuel Verde dos. O Saneamento de
Campinas e a modernização da cidade: a
Implementação dos sistemas de água e Esgotos (1840 –
1923). Dissertação de mestrado (Faculdade de
Arquitetura) – Pontifícia Universidade Católica de
Campinas, Campinas, 2004;
BIBLIOGRAFIA
• A EVOLUÇÃO DE CAMPINAS, jornal Correio Popular,
Campinas, 13 de julho de 1980. Disponível em:
http://libdigi.unicamp.br/document/?code=CMUHE00748;
• AMARAL, Leopoldo. Campinas. Almanach de
Campinas: Literário e Estatístico. Campinas: Typ.
Cardona, 1892;
• ANANIAS, Mauricéia. As escolas para o povo em
Campinas: 1860-1889. Origens, Ideário e Contexto.
Dissertação de mestrado (Faculdade de Educação) -
Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2000;
• BATTISTONI FILHO, D.: Alguns aspectos da
arquitetura urbana em Campinas. Campinas: editora
Komedi, 2002;
187
• ______. Campinas: uma visão histórica: Campinas –
S.P., 2004;
• BICALHO, Marcos Pimentel; RODRIGUES, Marly:
Trilhos e Linhas – História do Transporte Urbano em
Campinas. Campinas: EMDEC, 2004;
• CARVALHO, Maria Cristina Wolf. Ramos de Azevedo.
Campinas: Editora da Universidade de São Paulo, 2000;
• CASTRO, Noêmia Bierrembach de. O centenário de
uma indústria Campineira. Revista do Centro de
Ciências, Letras e Artes, (64), 1956-1957;
• CHOAY, F. O urbanismo: utopias e realidades, uma
analogia. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 1992.
• COSTA, Lucio. Lucio Costa: sôbre arquitetura;
Organizado por Alberto Xavier. Porto Alegre, Editora
UniRitter, 2007
• COSTA, Maria Teresa. Prédio foi erguido no final do
século 19. Correio Popular, Campinas, 13 de outubro de
2002. Disponível em
http://libdigi.unicamp.br/document/?code=CMUHE04142;
• CORRÊA, Roberto Lobato – O espaço urbano. São
Paulo: Editora Ática, 1999;
• FERREIRA, Caio de Souza – O processo de
verticalização na cidade de Campinas: da Gênesis à Lei
640 de 1951 –Dissertação de mestrado (Faculdade de
188
Arquitetura e Urbanismo) – Pontifícia Universidade
Católica de Campinas, Campinas, 2007
• GONÇALVES, J. Roberto. Espaço, tempo e memória,
recompondo a trajetória das vilas populares em
Campinas; o exemplo da Vila Castelo Branco.
Dissertação de mestrado (Multimeios do Instituto de
Artes) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas,
2002;
• GUIMARÃES, A. M. - Campinas – dados históricos e
estatísticos. Campinas: livraria Brasil, 1953;
• LAMAS, José M.R.G.: Morfologia Urbana e Desenho
da Cidade. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,
1992;
• LAPA, José Roberto do Amaral. A Cidade: os cantos e
antros: Campinas 1850-1900. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 1996;
• LE CORBUSIER. Planejamento Urbano. São Paulo.
Perspectiva. 2008.
• LEME, Maria Cristina da Silva. Urbanismo no Brasil –
1895-1965. São Paulo: Ed. Studio Nobel, 1999;
• LEMOS, Carlos A.C. A pinacoteca do estado. São
Paulo: Banco Safra, 1993;
• ______. Casa Paulista. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 1999;
189
• ______. Ramos de Azevedo e seu escritório. São
Paulo: Pini, 1993.
• LIMA, Siomara Barbosa de. Os jardins de Campinas: o
surgimento de uma nova cidade (1850 – 1935).
Dissertação de mestrado (Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo) – Pontifícia Universidade Católica de
Campinas, Campinas, 2000;
• ______. “As Áreas Verdes no Plano de Melhoramentos
de Campinas”. In: Oculum Ensaios – Revista de
Arquitetura e Urbanismo . Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da PUC Campinas. Número 2, janeiro 2002.
• LISBOA, José Maria (org.). Almanack de Campinas
para 1873. Campinas, Typ. De Gazeta de campinas,
1872;
• LOPEZ, Mirtes Maria Luciani. Um olhar sobre os rios
campineiros. Dissertação de mestrado (Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo) – Pontifícia Universidade
Católica de Campinas, Campinas, 2004;
• MARIANO, Julio. Da Freguesia à Rica cidade-Princesa.
Jornal Correio Popular. Campinas, 14 de julho de 1974;
• MAROTTA, Antonio Carlos. Campinas – riquezas do
passado. Editora Komedi, 2007.
• MATOS, Odilon N. Café e ferrovias. 4ª Ed. Campinas:
Pontes, 1990;
190
• MATOS, Odilon N. Campinas: visões de sua história.
In: Campinas. De freguesia à metrópole. Um Breve
roteiro para sua história. Campinas: editora Átomo,
2006;
• ______; RICCI, Maria Lúcia de S. R. Um pouco da
história de Campinas. Campinas: Departamento de
História da Pontifícia Universidade Católica de
Campinas. 1985;
• MONTEIRO, Ana Maria Reis de Góes. Ramos de
Azevedo e seu projeto de posturas para uma nova
Campinas. Óculum ensaio- Revista de Arquitetura e
Urbanismo, número 2, FAU PUC-Campinas, 2002.
• MÜLLER, Glaucia Regina Ramos. A influência do
urbanismo sanitarista na transformação do espaço
urbano em Florianópolis. Dissertação de mestrado
(Faculdade de Geografia) – Universidade Federal de
Santa Catarina. 2002
• PUPO, C. M. de M., 1983. Campinas, Município no
Império. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado S.A,
1983;
• RIBEIRO, Suzana B. Percurso do olhar: Campinas no
início do século XX. São Paulo: Annablume; Fapesp,
2006;
191
• ROGERS, Richard. Cidades para um pequeno.
Barcelona, GG, 2001.
• ROMERO, José Luis: América Latina: as cidades e as
idéias. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2004;
• SAINT-HILARE, Augusto de. Viagem à Província de
São Paulo. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1972;
• SANTOS, Antonio da Costa. Campinas, das origens
ao futuro. Campinas: Ed. Unicamp, 2002;
• STEVENSON, Carlos W. Conferência acerca do
urbanismo. Campinas: Rottary Club de Campinas:
Linotypia da Casa Genoud, 1934.
• WOOTTON, David. Bad Medice, Oxford: University
Press, 2006
• Site da Rede Internet de Computadores:
www.andrekenji.com.br/mapapaulista.jpg
www.campinas.sp.gov.br
www.campinas.sp.gov.br/portal_2003_sites/conheca_
campinas;
www.istitutohistoriador.blogspot.br
www.promemoriadecampinas.com.br
www.sanasa.com.br
www.usp.br