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Orações completivas no conjuntivo e (im)possibilidade de correferência de sujeitos Nesta comunicação será apresentada uma proposta de explicação semântica para a impossibi- lidade de em determinadas estruturas de complementação frásica os sujeitos da frase comple- tiva e da frase matriz serem correferentes (uma questão designada na literatura como “obvi a- ção (de sujeito)”. A questão Os dados relativos à obviação (de sujeito) estão bem descritos na literatura (cf., e.g., Quer 1998 ou Kempchinsky 2009): verifica-se obviação de sujeitos (i.e., o sujeito da oração encaixada não pode ser correferente com o da oração matriz) quando se verificam con- juntamente as seguintes três condições: (i) o verbo da oração completiva flexiona no conjun- tivo, (ii) o predicado da frase matriz pertence à classe dos volitivos (e.g. querer), diretivos (e.g. pedir) ou causativos (e.g. conseguir), (iii) a entidade referida pelo sujeito da frase matriz é o agente (ou controlador) da situação descrita pela oração encaixada. A conjunção destas três condições é observada em (1), uma frase que não permite a leitura de correferência dos sujeitos encaixado e matriz: (1) [a Ana] i {quis/pediu/conseguiu} que pro *i/j filmasse as baleias Se não se verificar a condição (i) e o complemento for uma estrutura infinitiva, emerge uma estrutura de controlo (i.e., há correferência de sujeitos): (2) [a Ana] i {quis / pediu para / conseguiu}pro i/*j filmar as baleias Com outros predicados regentes de conjuntivo, que não os indicados em (ii), o sujeito da ora- ção encaixada pode ser correferente com o da oração matriz: (3) [eu] i {duvido / espero / lamento} que pro i/j não chegue antes da Maria Se se verificarem as condições (i) e (ii), acima, mas não a condição (iii), a correferência de sujeitos é possível (como observado inicialmente por Ruwet 1984): (4) [a princesa] i {quis/pediu/conseguiu} que pro i/j fosse fotografada no jardim Propostas de explicação anteriores No quadro da Gramática Generativa, explorou-se a ideia de que a obviação de sujeitos decorre de deficiência temporal das orações com conjunti- vo em conjugação com o Princípio B da Teoria da Ligação (cf., e.g., Picallo 1985, Raposo 1985, entre outros): se a estrutura oracional com conjuntivo é defetiva no que respeita a traços de tempo, T encaixado tem de se ligar a T matriz, formando as duas orações um único domí- nio temporal; por consequência, o sujeito da oração encaixada não pode ser ligado ao da frase matriz, em conformidade com o Princípio B da Teoria da Ligação, já que os dois sujeitos ocorrem no mesmo domínio. Esta aproximação, embora elegante e apelativa, enfrenta várias objeções empíricas (cf., e.g., Kempchinsky 2009, Farkas 1992, Costantini 2011). Entre outros problemas, uma análise nessas linhas leva à previsão de que exista obviação em qualquer es- trutura de subordinação completiva com conjuntivo, o que não se verifica (cf. (3)); a ideia de que uma oração com conjuntivo é temporalmente deficitária é questionável (cf. Vogel 1997, Marques et al. 2015, e.o.); alguns predicados regentes de indicativo também impõem restri- ções temporais ao seu complemento, mas não são predicados obviativos, o que leva a questio- nar que exista uma relação entre obviação e dependência temporal. Uma outra explicação para a obviação é proposta por Kempchinsky 2009, que caracteriza como imperativas encaixadas as orações completivas finitas de predicados obviativos. A auto- ra propõe que estas estruturas sintáticas têm um operador quasi-imperativo que gera a inter- pretação ‘‘anyone other than the matrix subject’’ (enquanto orações imperativas não encaixa- das geram a interpretação ‘‘anyone other than the speaker’’). Este operador existiria em ora- ções completivas finitas dos predicados obviativos (volitivos, diretivos e causativos), mas não noutras orações com conjuntivo, em particular nas orações em que a presença do conjuntivo é justificada por elementos exteriores ao predicado matriz, como a negação (i.e., a autora assu- me a distinção entre “lexically selected subjunctive” e “polarity subjunctive”, defendendo que

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Orações completivas no conjuntivo e (im)possibilidade de correferência de sujeitos

Nesta comunicação será apresentada uma proposta de explicação semântica para a impossibi-

lidade de em determinadas estruturas de complementação frásica os sujeitos da frase comple-

tiva e da frase matriz serem correferentes (uma questão designada na literatura como “obvia-

ção (de sujeito)”.

A questão Os dados relativos à obviação (de sujeito) estão bem descritos na literatura (cf.,

e.g., Quer 1998 ou Kempchinsky 2009): verifica-se obviação de sujeitos (i.e., o sujeito da

oração encaixada não pode ser correferente com o da oração matriz) quando se verificam con-

juntamente as seguintes três condições: (i) o verbo da oração completiva flexiona no conjun-

tivo, (ii) o predicado da frase matriz pertence à classe dos volitivos (e.g. querer), diretivos

(e.g. pedir) ou causativos (e.g. conseguir), (iii) a entidade referida pelo sujeito da frase matriz

é o agente (ou controlador) da situação descrita pela oração encaixada. A conjunção destas

três condições é observada em (1), uma frase que não permite a leitura de correferência dos

sujeitos encaixado e matriz:

(1) [a Ana]i {quis/pediu/conseguiu} que pro*i/j filmasse as baleias

Se não se verificar a condição (i) e o complemento for uma estrutura infinitiva, emerge uma

estrutura de controlo (i.e., há correferência de sujeitos):

(2) [a Ana]i {quis / pediu para / conseguiu}proi/*j filmar as baleias

Com outros predicados regentes de conjuntivo, que não os indicados em (ii), o sujeito da ora-

ção encaixada pode ser correferente com o da oração matriz:

(3) [eu]i {duvido / espero / lamento} que proi/j não chegue antes da Maria

Se se verificarem as condições (i) e (ii), acima, mas não a condição (iii), a correferência de

sujeitos é possível (como observado inicialmente por Ruwet 1984):

(4) [a princesa]i {quis/pediu/conseguiu} que proi/j fosse fotografada no jardim

Propostas de explicação anteriores No quadro da Gramática Generativa, explorou-se a

ideia de que a obviação de sujeitos decorre de deficiência temporal das orações com conjunti-

vo em conjugação com o Princípio B da Teoria da Ligação (cf., e.g., Picallo 1985, Raposo

1985, entre outros): se a estrutura oracional com conjuntivo é defetiva no que respeita a traços

de tempo, T encaixado tem de se ligar a T matriz, formando as duas orações um único domí-

nio temporal; por consequência, o sujeito da oração encaixada não pode ser ligado ao da frase

matriz, em conformidade com o Princípio B da Teoria da Ligação, já que os dois sujeitos

ocorrem no mesmo domínio. Esta aproximação, embora elegante e apelativa, enfrenta várias

objeções empíricas (cf., e.g., Kempchinsky 2009, Farkas 1992, Costantini 2011). Entre outros

problemas, uma análise nessas linhas leva à previsão de que exista obviação em qualquer es-

trutura de subordinação completiva com conjuntivo, o que não se verifica (cf. (3)); a ideia de

que uma oração com conjuntivo é temporalmente deficitária é questionável (cf. Vogel 1997,

Marques et al. 2015, e.o.); alguns predicados regentes de indicativo também impõem restri-

ções temporais ao seu complemento, mas não são predicados obviativos, o que leva a questio-

nar que exista uma relação entre obviação e dependência temporal.

Uma outra explicação para a obviação é proposta por Kempchinsky 2009, que caracteriza

como imperativas encaixadas as orações completivas finitas de predicados obviativos. A auto-

ra propõe que estas estruturas sintáticas têm um operador quasi-imperativo que gera a inter-

pretação ‘‘anyone other than the matrix subject’’ (enquanto orações imperativas não encaixa-

das geram a interpretação ‘‘anyone other than the speaker’’). Este operador existiria em ora-

ções completivas finitas dos predicados obviativos (volitivos, diretivos e causativos), mas não

noutras orações com conjuntivo, em particular nas orações em que a presença do conjuntivo é

justificada por elementos exteriores ao predicado matriz, como a negação (i.e., a autora assu-

me a distinção entre “lexically selected subjunctive” e “polarity subjunctive”, defendendo que

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só no primeiro caso existirá o operador quasi-imperativo). Entre outros problemas, a proposta

de Kempchinsky não permite explicar porque é que a obviação não ocorre em todos os casos

de “lexically selected subjunctive” (cf. (3)), pelo que teria de se assumir que o operador quasi-

imperativo é seleccionado por alguns predicados regentes de conjuntivo, mas não por outros.

No entanto, além de suscitar outros problemas, isso não explicaria a correferência de sujeitos

quando o complemento dos mesmos predicados é uma oração infinitiva (cf. (2)).

Análise A proposta a apresentar nesta comunicação parte da assunção de que o conjuntivo

assinala a consideração de mundos não-p (i.e., mundos possíveis em que o estado de coisas

descrito pela proposição não se verifica). Por outras palavras, o conjuntivo dá a indicação para

se considerar a possibilidade de o evento descrito não se realizar (cf., e.g., Giannakidou

1998). Uma das razões possíveis para um evento não se realizar é o agente do mesmo não

querer ou não tentar realizá-lo (cf. a possibilidade de continuar, e.g., (3) com posso não que-

rer / posso nem tentar). Em suma, uma oração com conjuntivo denota um conjunto de mun-

dos possíveis que inclui mundos em que o agente do evento não pretende ou não tenta realizá-

lo. Assim, se em (1) os sujeitos encaixado e matriz forem correferentes, obtém-se a leitura

contraditória de que a mesma entidade quis / tentou e pode não ter querido / tentado realizar o

evento encaixado. Esquematicamente (sendo ev o evento descrito pela proposição encaixada):

1. ev [Semântica do conjuntivo]

(a denotação da oração encaixada inclui mundos não-p)

2. ev (AGENTE do ev QUERER/TENTAR ev)

(o conjunto de mundos não-p inclui mundos em que o agente do ev não quer/tenta ev)

3. (x é sujeito da atitude proposicional x é AGENTE do ev) [correferência de sujeitos]

4. [ (x QUER/TENTA ev)]] [1, 2, 3]

5. x QUER/TENTA ev [asserção de (1)]

6. (CONTRADIÇÃO) [x QUER/TENTA ev] [ (x QUER/TENTA ev)] [4, 5, conjunção]

Se o sujeito da atitude proposicional (a entidade referida pelo sujeito da frase matriz) e o

agente do evento encaixado forem entidades diferentes, como se verifica em (1) se os sujeitos

tiverem referência disjunta, mas também em (4), não é expressa qualquer contradição:

1. ev [Semântica do conjuntivo]

2. ev (AGENTE do ev QUER/TENTA ev)

3. x é sujeito da atitude proposicional y é AGENTE do ev [x y]

4. x QUER/TENTA ev [asserção]

5. [x QUER/TENTA ev] [ (y QUER/TENTA ev)]

Assim, a explicação proposta para a obviação é a mesma que se aplica ao contraste entre a

asserção feliz de ‘a Ana quer que [o Pedro]i saia, mas elei pode não o querer’ vs a anomalia de

‘#[a Ana]i quer sair, mas [pro]i pode não querer sair’, sendo que a análise tem em conta a con-

junção das condições (i)-(iii), acima, e parte de uma semântica fundamentada do conjuntivo.

Referências: Costantini, F.: 2011, “Subjunctive obviation in nonargument clauses”, Working papers in linguistics 21, 39-61. Univ. Veneza. * Farkas, D.: 1992, “On obviation”, in I.A. Sag & A. Szabolsci (orgs.),

Lexical Matters, Stanford, CSLI Publications, 85–109. * Giannakidou, A.: 1998, Polarity Sensitivity as (Non)veridical Dependency, John Benjamins. * Kempchinsky, P.: 2009, “What can the subjunctive disjoint

reference effect tell us about the subjunctive?”, Lingua, 119, 1788–1810. * Marques, R., P. Silvano, A.

Gonçalves & A. L. Santos: 2015, “Sequence of tenses in complementation structures: lexical restrictions

and effects on language acquisition”, in R. Klassen, J. M. Liceras & E. Valenzuela (orgs.), Hispanic Lin-

guistics at the Crossroads Theoretical linguistics, language acquisition and language contact, John Ben-

jamins, 69-88. * Picallo, C.: 1984, “The Infl Node and the Null Subject Parameter”, Linguistic Inquiry, 15,

75-101. * Quer, J.: 1998, Mood at the Interface, UiL OTS/Univ. Utrecht. * Raposo, E.: 1985, “Some

asymmetries in the Binding Theory in Romance”, The Linguistic Review, 5 (1), 75-110. * Ruwet, N.:

1984, “Je veux partir/*Je veux que je parte”, Cahiers de grammaire, 7, Toulouse: Le Mirail. *

Vogel, R.: 1997, Aspects of Tense, PhD diss., Holland Academic Graphics, The Hague.

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Este estudo visa descrever propriedades semântico-pragmáticas de duas construções

que envolvem o item eis no português europeu contemporâneo – eis SN e eis que p –,

convocando dados empíricos recolhidos no subcorpus oral do CRPC e no

CETEMPúblico.

Partindo da observação perspicaz de Óscar Lopes (1971), segundo o qual as

construções com “a partícula assertórico-categórico-demonstrativa eis” são orações

sem verbo, argumenta-se neste trabalho, através de testes sintático-semânticos, que a

construção eis SN configura, de facto, uma predicação completa, que convoca uma

dimensão de conteúdo dêitica, de natureza apresentativa (Levinson 2004), distinta das

tradicionais categorias da deixis pessoal, temporal e espacial. Tal dimensão

apresentativa pode ser de natureza exofórica ou endofórica, exibindo, neste último

caso, funcionamentos anafóricos e catafóricos. Em todos os casos, eis SN confere

saliência à informação expressa, inscrevendo o falante no enunciado.

Quanto à construção eis que p, em que eis parece selecionar uma oração completiva

finita, descrevem-se os seus contextos típicos de ocorrência e argumenta-se a favor

das afinidades entre a construção em apreço e as frases exclamativas (Gutiérrez-

Rexach & Andueza 2011). Destaca-se o valor particular da construção em textos

narrativos: projeção no passado do centro dêitico, com a consequente presentificação

dos eventos passados descritos.

Conclui-se que eis é um dêitico apresentativo, com um comportamento em larga

medida paralelo ao dos itens voici/voilà, em francês, e ecco, em italiano (Porhiel

2012, Zanuttini 2014, Kandel 2015): está ao serviço da função pragmática de

chamada de atenção do interlocutor para informação que o locutor apresenta como

saliente. As construções analisadas envolvem tipicamente a expressão do ponto de

vista do falante.

Referências

Gutiérrez-Rexach, J. & Andueza, P. (2011) Degree restrictions in Spanish

exclamatives. Ortiz-López, L. (ed.), Selected Proceedings of the 13th Hispanic

Linguistics Symposium, Somerville, MA: Cascadilla Proceedings Project.

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Kandel, M. (2015) Ecco-Location. The Italian presentative ecco and its spatial

interpretation.http://ling.yale.edu/sites/default/files/files/MaggieKandelSeniorEssay.p

df

Levinson, S. (2004) Deixis. In Horn & Ward (eds.) The Handbook of Pragmatics.

Oxford: Balckwell Publishing.

Lopes, Óscar (1971) Gramática simbólica do português. Lisboa: Fundação Calouste

Gulbenkian.

Porhiel, S. (2012) The presentative voici/voilà. Towards a pragmatic definition.

Journal of Prgmatics 44, 435-452.

Zanuttini, R. (2014) Here’s a puzzle: ecco. Acedido em

https://static1.squarespace.com/static/53f39bc8e4b0554a7ae9fb25/t/5476382ce4b0ee

b97de2a0c6/1417033772439/Ecco-+NYU.pdf

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Recordando o interesse que o estudo do operador “ou” à luz da Psicolinguística Genética suscitou no Professor Óscar Lopes

No dia 3 de fevereiro p.p., recebi da Comissão Organizadora do Colóquio Internacional de Homenagem ao Professor Óscar Lopes (COL 2017), destinado a assinalar o seu centésimo aniversário de nascimento, um convite nominal muito simpático e elegante para integrar a Comissão Científica do mesmo com a incumbência, naturalmente, de analisar alguns resumos. Aceitei o convite e, na volta do correio, para lá de me agradecerem a resposta afirmativa, lia-se que esperavam contar também com a minha presença. Ensinaram-me em casa que, quando se é convidado para estar presente num aniversário, se leva sempre uma lembrança que tem de ter a marca de quem a oferece. E o termo “lembrança” não podia ter sido mais bem escolhido. É que ele também funciona em resultado de um exercício de memória e foi esse o rumo que tive de tomar. Veio-me de tudo um pouco à mente, na qualidade de aluna do professor homenageado, no que penso tenha sido o seu primeiro ano de docente na FLUP, em 1974-1975. A turma não era numerosa. Era constituída por aqueles alunos que, depois do bacharelato, optaram por se inscrever unicamente em disciplinas de Linguística nos dois últimos anos do curso. Como se pode verificar, já então a Linguística não atraía multidões. A Literatura encarregou-se de abrigar a maioria. Apesar de sermos poucos, confesso que só me recordo do nome de quatro colegas, que não invoco aqui a fim de não correr o risco de ser indelicada relativamente aos restantes. Tudo aquilo de que me ia lembrando desses tempos, para poder ser portadora da tal lembrança, não se me afigurava ajustado à efeméride. A dado momento, contudo, um episódio mais científico atingiu um limiar de ativação mais baixo e pensei que esse conferiria seguramente ao avaliador deste resumo a hipótese de mostrar o seu nível de profissionalismo. A minha tese de doutoramento, que começou a ganhar forma nos fins dos anos setenta do século passado, contemplava, entre outros, o estudo da compreensão dos operadores de coordenação “e” e “ou” numa perspetiva psicolinguística genética, que foi a que eu escolhi para trabalhar a aquisição da linguagem na criança, sob a supervisão da Professora Hermina Sinclair da Escola de Genebra e com o acompanhamento do Professor Óscar Lopes, enquanto docente da minha instituição. Quem conhecia bem o homenageado (Lopes, 1972) não deve estranhar as vias que lhe iam sendo abertas quando eu lhe mostrava os resultados encontrados, sobretudo no atinente ao operador “ou”, numa população infantil, de dois meios socioeconómicos, desde a pré-primária até ao fim do primeiro ciclo de escolaridade e também, por interesse procedimental, num grupo de crianças ainda mais jovem. Dependendo do desenho do estudo, constituído por dois tipos de materiais (um teste e um material que obedecia ao método clínico revisto), era possível detetar o modo como estas crianças compreendiam, ora de modo inclusivo, ora de modo exclusivo, o “ou” e verificava-se concomitantemente “a influência do contexto situacional na descodificação da linguagem, o comportamento da criança congruente com um progressivo processo de descentração, a necessidade de um determinado desenvolvimento cognitivo (lógico) na resolução de tarefas linguísticas e as resistências que a linguagem muitas vezes oferece, revelando-se um “problem-solving” com características específicas e próprias de um sistema com leis internas que também devem ser respeitadas e conhecidas” (Pinto, 1988, p. 328). O Professor Óscar Lopes ficou de tal forma preso ao que lhe fui transmitindo que queria muito prosseguir este estudo de índole psicolinguística genética. Nem ele, nem eu, porém, o fizemos por razões certamente diversas. Fica, então, aqui o registo de um dos muitos assuntos que cativaram uma mente sempre recetiva às mais diversificados temáticas como era a do homenageado deste colóquio.

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Referências Lopes, O. 1972. Gramática simbólica do português. Lisboa: Instituto Gulbenkian de Ciência. Centro de Investigação Pedagógica. Pinto, M. da G. L. C. 1988. Abordagem a alguns aspetos da compreensão verbal na criança. Estudo psicolinguístico genético do Token Test e de matérias de metodologia complementar. Lisboa: Centro de Linguística da Universidade do Porto. Instituto Nacional de Investigação Científica.

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A definição de fronteiras temporais

nas expressões temporais com entre

As expressões temporais com entre identificam intervalos através da delimitação de duas

fronteiras, inferior e superior, e permitem localizar situações (representadas em orações-

matriz, por exemplo). Note-se que as fronteiras em causa podem ser marcadas por dois

complementos (COMPL) em sintagmas com a forma entre COMPL1 e COMPL2, podendo estes ser

de tipo estritamente temporal – como em (1a) – ou de tipo situacional como em (1b):

(1) a. O Paulo dormiu entre as duas e as cinco da tarde.

b. O jogador esteve lesionado entre o terceiro e o sétimo jogos do campeonato.

As frases com estas expressões colocam pelos menos duas questões linguísticas interessantes,

que tentarei discutir na presente comunicação.

(i) Quando os sintagmas com entre são combinados com descrições de situações não

pontuais, em particular atélicas (sem Aktionsart shift – cf. e.g. Moens 1984), são possíveis

leituras de localização durativa (isto é, em que entre COMPL1 e COMPL2 é parafraseável por de

COMPL1 até COMPL2) e de localização não durativa, e em que condições – semântico-

pragmáticas – são elas selecionadas?

(2) a. O Paulo trabalhou nas Finanças entre 1975 e 2010.

leitura preferencial durativa: “o Paulo trabalhou nas Finanças (continuamente) de

1975 até 2010”

b. Sabes se o Pedro trabalhou nesta empresa entre 2005 e 2010? Está a ser feita uma

auditoria às contas da empresa nesse período.

leitura não durativa facilmente acessível: “sabes se o Pedro trabalhou nesta

empresa algures entre 2005 e 2010?”

Note-se que as leituras não durativas (nomeadamente, inclusivas) são as únicas disponíveis

quando os sintagmas com entre se combinam com descrições de situações télicas pontuais – a

lei será promulgada entre o dia 5 e o dia 10 – e que o valor durativo está necessariamente

presente quando há combinação com um verbo como durar (cf. Móia 2015) – a paralisação

durará entre as 6h00 e as 20h00. Por outras palavras, os sintagmas com entre são, em

princípio, compatíveis com ambos os tipos de valores (durativos e não-durativos), sendo a

distribuição feita por uma combinação complexa de fatores, semântico-pragmáticos e

sintáticos, que aqui tentarei equacionar.

(ii) O intervalo denotado pelo sintagma com entre que é relevante para a localização temporal

inclui ou exclui os intervalos – potencialmente extensos – identificados pelos complementos

de entre (isto é, os que são utilizados para definir as suas fronteiras inferior e superior)?

(3) O homicídio foi cometido entre o dia 5 e o dia 10.

A frase é verdadeira (e pragmaticamente adequada) se o homicídio tiver sido

cometido no dia 5 ou no dia 10 “intervalo inclusivo das fronteiras”.

(4) Este país tornou-se independente entre a I e a II Guerras Mundais.

A frase é verdadeira (ou pragmaticamente adequada) se a independência do país

em causa tiver ocorrido dentro do período da I Guerra Mundial (1914-1918) ou da

II Guerra Mundial (1939-1945)? Parece antes ser mais natural considerar que

ocorreu entre o final da Primeira e o início da Segunda Guerra Mundial –

“intervalo exclusivo das fronteiras”.

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A questão em causa – com algumas subtilezas de natureza formal – obriga a considerar

diversos fatores semântico-pragmáticos, entre os quais se destacam: (i) a Aktionsart das

situações localizadas (nomeadamente valores de telicidade e de pontualidade); (ii) o tipo de

complemento de entre (estritamente temporal vs. situacional – cf. (1a) vs. (1b) acima);

(iii) a presença ou não de operadores desambiguadores, como inclusive ou algures (entre);

(iv) a distância entre as fronteiras temporais; (v) o valor do adjunto temporal (nomeadamente,

localização temporal estrita vs. delimitação temporal da quantificação – cf. e.g. Móia 2004).

As análises a realizar neste trabalho terão como enquadramento formal a Discourse

Representation Theory (cf. Kamp & Reyle 1993) e recorrerão a condições pragmáticas

assentes em princípios griceanos (Grice 1975). A fundamentação linguística das hipóteses

colocadas terá em conta dados de corpora eletrónicos, particularmente de registo jornalístico

(como o CETEMPúblico).

Referências

Grice, H. Paul (1975), Logic and conversation, in: Peter Cole/Jerry L. Morgan (edd.), Speech

Acts. New York, Academic Press, 41–58.

Kamp, Hans and Uwe Reyle: 1993, From Discourse to Logic. Introduction to Modeltheoretic

Semantics of Natural Language, Formal Logic and Discourse Representation Theory,

Kluwer, Dordrecht.

Moens, Marc: 1987, Tense, Aspect and Temporal Reference, Ph.D. thesis, University of

Edinburgh (reproduced by the Centre for Cognitive Science, University of Edinburgh).

Móia, Telmo: 2004, “Sobre a Delimitação Temporal da Quantificação”, Actas do XIX

Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística (Lisboa, 1, 2 e 3 de

Outubro de 2003), Lisboa: APL, pp. 581-593.

Móia, Telmo: 2015, “The Durative Verbs of Portuguese”, Diacrítica (Revista do Centro de

Estudos Humanísticos, Universidade do Minho) 29(1), pp. 27-59.

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Leituras estativas e eventivas de predicações com verbos de movimento Com o presente trabalho propomo-nos investigar algumas particularidades semânticas

suscitadas pela existência de alternâncias aspetuais sistemáticas que se podem observar no âmbito de determinados verbos de movimento. Assim, constatamos que são diversos os casos em que um mesmo verbo toma parte em leituras eventivas e estativas, tal como ilustrado em (1) e (2):

(1) A criança subiu até à aldeia. (evento) (2) A estrada sobe até à aldeia. (estado)

São múltiplos os problemas que uma alternância deste género nos coloca. Neste momento, procuraremos encontrar respostas para as seguintes questões: (i) quais são as subclasses de eventos e de estados envolvidas neste tipo de alternâncias? (ii) quais são os elementos linguísticos que favorecem uma interpretação eventiva ou estativa destes verbos? E, finalmente, (iii) qual será a melhor forma de descrever a alternância observada? Quais são, em última instância, os fatores que a condicionam?

Relativamente à primeira questão, podemos afirmar que, no que diz respeito a verbos de movimento, quase todos os tipos de evento (à exceção dos pontos) podem entrar em alternância com leituras estativas, como os seguintes pares de exemplos nos confirmam:

(3) Os pescadores atravessaram o rio Douro em cinco minutos. (processo culminado) (4) A ponte da Arrábida atravessa o rio Douro perto da foz. (estado) (5) A cobra serpenteou pelo mato. (processo) (6) O caminho serpenteia pela serra. (estado) (7) O comboio saiu às três da tarde. (culminação) (8) A A3 sai do Porto em direção a Braga. (estado)

É interessante observar que, de acordo com os critérios propostos por Cunha (2004), as versões estativas destes verbos correspondem preferencialmente a estados de natureza não faseável, como nos mostram os exemplos que se seguem:

(9) * A ponte da Arrábida está / começou a atravessar o rio Douro. (10) A ponte da Arrábida passou a atravessar o rio Douro. (11) * Quando a construíram, a Ponte da Arrábida atravessou o rio Douro. (12) ?? Os engenheiros construíram a ponte da Arrábida, ela atravessou o rio Douro

e o número de automóveis subiu exponencialmente. Quanto à segunda questão, e na sequência de propostas como as de Morimoto (2013),

realçamos a importância de fatores como os tempos gramaticais (nomeadamente o uso do Presente do Indicativo), os adverbiais temporais e, sobretudo, o papel temático atribuído ao argumento com função de sujeito para o licenciamento de leituras estativas a estruturas integrando certos verbos de movimento.

Note-se, em particular, que, ao contrário do que é comummente assumido na literatura, não será suficiente a consideração do traço [±Agentivo] atribuído ao sujeito das frases em questão para a consideração da alternância em causa. Na realidade, é fácil encontrar leituras eventivas de verbos de movimento com sujeitos [-Agentivos], tal como ilustrado nos exemplos que se seguem:

(13) A água da cheia cercou a aldeia. (evento) (14) O comboio saiu às oito da manhã. (evento)

Nesse sentido, teremos de considerar a relevância de um traço de cariz mais abstrato, possivelmente relacionado com deslocamento, para dar conta da relevância das propriedades semânticas do argumento que desempenha a função sintática de sujeito neste género de configurações.

Finalmente, e tendo em conta que (i) estão em causa situações com perfis aspetuais muito diferenciados, inclusivamente estados não faseáveis, por isso mesmo incapazes de sofrer

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alterações no interior da Rede Aspetual, tal como proposta por Moens (1987) e que (ii) a função semântica atribuída ao argumento Sujeito parece desempenhar um papel crucial na interpretação final deste tipo de estruturas, concluiremos que uma análise baseada na noção de comutação aspetual (cf. Moens, 1987; de Swart, 1998) se revela, nestes casos, completamente inadequada. Propomos, alternativamente, um tratamento que faz derivar as alternâncias observadas da indeterminação aspetual dos verbos de movimento em questão. Por outras palavras, verbos como cercar, sair, atravessar, entre muitos outros, são, ao nível lexical, indeterminados quanto ao traço [±dinâmico], sendo o seu valor fixado graças à interação de cada verbo com outros elementos linguísticos presentes na sua projeção sintática ou na construção final em que se inserem, com particular destaque para a função semântica desempenhada pelo argumento Sujeito.

Referências Cunha, Luís Filipe (2004) Semântica das Predicações Estativas: para uma Caracterização

Aspectual dos Estados. Dissertação de doutoramento, Universidade do Porto. De Swart, Henriètte (1998) “Aspect shift and coercion”. In Natural Language and Linguistic

Theory, Vol. 16, n.º2, pp. 347-385. Moens, Marc (1987) Tense, Aspect and temporal reference. Dissertação de Doutoramento,

Edinburgh University. Morimoto, Yuko (2013) “Cuando los estados se convierten en eventos y viceversa:

¿Recategorización o ambigüedad aspectual?” In Adrián Cabedo Nebot, Manuel José Aguilar Ruiz & Elena López-Navarro Vidal (eds.) Estudios de lingüística: investigaciones, propuestas y aplicaciones. Valência: Universitat de València, pp. 369-378.

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Um olhar sintático sobre os verbos de movimento no Português Europeu e na Língua

Gestual Portuguesa

Nas línguas naturais, orais e gestuais, grande parte da expressão das relações espaciais faz-se

por meio de verbos de movimento, do tipo ir, chegar, sair, correr, dançar e saltar. Os três

primeiros expressam uma trajetória, sendo tradicionalmente denominados verbos de

movimento direcional; os últimos três descrevem uma forma de movimento, sendo tidos

como verbos de modo de movimento (cf., e.o. Levin, 1993). No que se refere aos primeiros,

Demonte (2002), na linha de Levin & Rappaport-Hovav (1995) e num quadro léxico-

sintático, distingue dois tipos: verbos de direção inerente (ir e chegar) e verbos de direção

inerente e localização (sair e entrar). Várias têm sido as análises e classificações tipológicas,

porque os verbos de movimento têm ocupado desde há muito a atenção dos linguistas, em

diferentes quadros teóricos. Nesta comunicação, fixaremos a nossa atenção essencialmente

nos verbos de direção inerente, do tipo ir, vir e chegar, com sujeitos humanos, tentando uma

descrição comparativa entre duas línguas de modalidade diferente e, ao que parece,

tipologicamente distintas: o Português Europeu (PE) e a Língua Gestual Portuguesa (LGP).

De um modo geral, e como o PE é uma língua que tem preposições, os estudos realçam a

estreita ligação entre estes verbos e as preposições com as quais se podem combinar. Neste

trabalho, para além de descrevermos alguns aspetos do subgrupo de verbos já referido,

procuramos perceber de que modo as línguas gestuais e a LGP em particular, língua que, à

superfície, não realiza preposições, organizam as frases contendo verbos de movimento e de

que meios se servem para exprimir os mesmos sentidos que as preposições, combinadas com

os verbos de direção inerente, exprimem no PE.

Paara além das relações temáticas de Origem e Meta, Talmy (1985) inclui na análise noções

como Movimento, Figura, Fundo e Trajetória, o que o leva a distinguir línguas “verb-

framed” e línguas “satellite-framed”. As línguas germânicas são, em geral, línguas “satellite-

framed”: veja-se em Inglês to go out, em Alemão hinausgehen, em Neerlandês uitgann, em

Sueco gå ut, em que go, gehen, gaan, ga são equivalentes e out, hinaus, uit e ut são também

equivalentes, mostrando que a ideia de ‘sair’, nas línguas românicas expressa num verbo

simples, é aqui dada pelos constituintes verbo e partículas satélite. Pelo contrário, as línguas

românicas são em geral “verb-framed”: veja-se em Português e Espanhol entrar, sair /salir,

subir, baixar / bajar, em que o próprio verbo exprime o percurso (o que implica dizer que se

funde a ideia de movimento, trajetória e, em alguns casos, a localização), sendo que o modo

de movimento é, em geral, expresso por recursos exteriores ao verbo (entrar correndo, p.e.).

Embora nestes últimos anos esta separação radical tenha sido parcialmente posta em causa

com as evidências empíricas de que há línguas que partilham propriedades e estruturas

prototípicas dos dois tipos (cf. e.o. Beavers, Levin & Tham, 2009), aceitá-la-emos como

ponto de partida para a nossa discussão.

As línguas gestuais (LG) são, ao que parece, “verb-framed” (cf. Slobin & Hoiting, 1994),

porque não têm preposições ou partículas satélite. Coloca-se, então, a questão de saber como

estas línguas manuomotoras e visuoespaciais constroem a noção de movimento e em

particular a ideia de direção inerente e de deslocação de uma figura numa trajetória específica

nos verbos do tipo espacial de movimento, na tipologia de Padden (1990).

Numa LG, um verbo de direção de movimento inerente é executado com movimento

tridimensional da Mão Dominante (e do braço) no Espaço Sintático, respeitando regras de uso

e gestão do espaço e convenções próprias de cada língua. Enquanto uma LO como o

Português (e outras L. Românicas) usa preposições a encabeçar os sintagmas em que se

identificam os locais iniciais e/ou finais para/de onde a Figura (Sujeito ou Objeto) se desloca

ou é deslocada (Complemento Oblíquo), as LG usam outros recursos, nomeadamente o

movimento de trajetória, como é o caso de MOVEL1→L2

na ASL, em que a Figura se desloca,

numa trajetória contínua, do Locus 1 (L1) para o Locus 2 (L2) (cf. Liddell, 2003).

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Assim, se o movimento de trajetória é o de uma Figura humana, então a(s) mão(s) assume(m)

uma forma particular e desloca(m)-se no espaço sintático de um ponto inicial (Origem) para

outro ponto (Meta), previamente determinados no espaço ou já convencionalizados (p. e., o

Tronco do gestuante, a Mão não dominante, o lugar do Tu ou do ELE).

Supalla (1990) distingue os verbos de modo de movimento (andar, correr, saltar…) dos de

direção de movimento (ir, vir) e apenas considera, para a ASL, os segundos como ilustrativos

de “verb-framed”, pois os primeiros usam de forma complexa o corpo; os segundos fundem

em si a noção de movimento e de trajetória, sendo chamados de verbos-mão (“one-handed

verb”, em oposição aos “full-body verbs”, distinção feita por Supalla, 1990).

Frases como (1) a (3), em PE, com o verbo IR, distinguem-se por especificarem aspetos

diferentes no conjunto das componentes do evento e por questões semânticas veiculadas pelas

preposições: em (1) e (2) o foco apresenta-se na Meta para onde a Figura sujeito se desloca,

distinguindo-se semanticamente pelas diferentes noções envolvidas nas preposições a e para;

em (3) o foco é a trajetória que a Figura realiza da Origem até à Meta. (1) A menina vai a casa da avó. (2) No fim das aulas, vou para casa. (3) O meu pai vai do Porto para Lisboa.

Na LGP, os valores semânticos que as preposições encerram são transmitidos pela direção da

trajetória, ou seja, pela direção do movimento real que é executado no espaço sintático e pelos

pontos inicial e final desse movimento. Apresentamos, em (4) a (6), as frases em glosa

segundo a ordem pela qual seriam gestualizadas em LGP.

(4) MENINA FEMININO_AVÔ DELE CASA IR L1(lado do gestuante)→L2(espaço neutro frente ao gestuante)

__ls

(5) AULA FIM EU CASA IR L1(toque no corpo)→L2(espaço neutro frente ao gestuante)

___lp

(6) PAI MEU CARRO PORTOlado do gestuante (L1) IRL1→L2

LISBOAperto do recetor (L2)

Em todas as frases a trajetória realizada durante a realização do verbo IR parte de um ponto

inicial (L1) e termina num ponto final (L2), independentemente do foco da frase estar na Meta

(cf. 1 e 2) ou na Origem e na Meta (3), dada a natureza espacial destas línguas.

Neste sentido, o verbo, na LGP, parece concentrar grande parte da informação relativa às

estruturas eventiva e argumental, mas muito apoiado pelo movimento de trajetória real e pelo

uso que faz dos pontos inicial e final. Analisaremos, ainda, os recursos linguísticos utilizados

para transmitir as diferenças de sentido marcadas no PE pelas preposições a e para. Em conclusão, as LG e a LGP em particular, embora não sejam “satellite framed” no sentido restrito

de Talmy, têm propriedades que mostram que não são apenas os verbos a marcar o movimento. Referências:

Beavers, John, Levin, Beth & Tham, Shiao Wei (2009): The Typology of Motion Expressions Revisited. Journal of

Linguistics 46/3. Cambridge University Press, 1-47. 2009 Doi:10.1017/S0022226709990272.

https://www.wellesley.edu/sites/default/files/assets/departments/eall/files/beavers-levin-tham-2010.pdf

Demonte, Violeta (2002): “Preliminares de una clasificación léxico-sintáctica de los predicados verbales del español”. En:

Sybille Grosse / Axel Schönberger (eds.): Ex oriente lux: Festschrift für Eberhard Gärtner zu seinem 60. Geburtstag:

Frankfurt am Main: Valentia, 121-144. Consultado na On-line a 06/03/2017, em

http://www.lineas.cchs.csic.es/lycc/sites/lineas.cchs.csic.es.lycc/files/dem-verbmov.pdf.

Levin, Beth & Rappaport-Hovav, Malka (1995). Unaccusativity: At the Lexical Syntax-Semantics Interface, Cambridge

(Mass.): Massachusetts Institute of Technology Press.

Levin, Beth (1993): English Verb Classes and Alternations: A Preliminary Investigation. Chicago / London: The University

of Chicago Press.

Liddell, S. (2003). Grammar, gesture and meaning in American Sign Language. New York: Cambridge University Press.

Padden, C. (1990). The relation between space and grammar in ASL verb morphology. In Sign language research –

theoretical issues. New York: Garland, pp. 118-132.

Slobin, Dan I., and Hoiting, Nini (1994). Reference to movement in spoken and signed languages: Typological

considerations. Proceedings of the Twentieth Annual Meeting of the Berkeley Linguistics Society, pp. 487-505.

Supalla, Ted Roland (1990). Serial verbs of motion in ASL. In S. D. Fischer and P. Siple, eds., Theoretical Issues in Sign

Language Research, Vol. 1, Linguistics, pp. 127-152. Chicago: University of Chicago Press.

Talmy, Leonard (1985). Lexicalization patterns: semantic structure in lexical forms. In Timothy Shopen (ed.): Language

Typology and Syntactic Description, Grammatical Categories and the Lexicon. Vol. 3. Cambridge: Cambridge University

Press, 57-149.

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Interrogativas subordinadas parciais e relativas livres: uma análise sintática

As interrogativas subordinadas parciais e as orações relativas livres têm sido objeto de

análise em várias línguas devido às semelhanças mas também devido às diferenças que

exibem, tanto do ponto de vista sintático como semântico. Veja-se os exemplos (1) e

(2):

(1) Ignoro o que fizeste.

(2) Admiro o que fizeste.

Tanto em (1) como em (2) opera o movimento Wh que coloca numa posição inicial da

oração encaixada o constituinte o que, parecendo ambas casos de subordinação

argumental finita. O DT em vigor em Portugal nos Ensinos Básico e Secundário chega a

chamar às frases do tipo de (2) “subordinação substantiva”, para marcar a natureza

nominal da oração selecionada pelo V. (1) e (2) exibem, no entanto, várias diferenças,

que têm sido destacadas por vários autores; ver, para o Português, Brito (1991), Brito &

Duarte (2003), Móia (1996), Veloso (2013), Matos e Brito (2013). Todas as propostas

referidas destacam, entre outras, as seguintes diferenças:

(i) - a natureza lexical do predicado superior: um predicado de inquirição ou

desconhecimento em (1) e um predicado não de inquirição ou

deconhecimento em (2);

(ii) - a possível paráfrase por “se+oração (sem sintagma-Wh)” para (1) e sua

exclusão para (2);

(iii) - a dificuldade de substituição da oração por sintagma de natureza nominal

em (1), contrariamente a (2);

(iv) - a possibilidade de co-ocorrência de o que com é que em (1) versus a

impossibilidade de tal co-ocorrência em português padrão em (2);

(v) – a não existência de efeitos de subjacência / ilha quando há extração de um

constituinte a partir de (1) versus a existência de tais efeitos em (2).

Assim, alguns dos autores referidos têm proposto que em (1) o complemento

selecionado é CP, enquanto em (2) o complemento selecionado é um DP que contém o

CP, isto é, haverá uma camada nominal suplementar em (2), inexistente em (1). Tais

estruturas são descritas em (3) e em (4):

(3) … [CP o quei [C’[C +wh / +int] [IP … ti ….]]]]

(4) … [DP e [CP o quei [C’[C +wh/ - int] [IP … ti ….]]]]]

Embora análises deste tipo tenham sido propostas por vários autores para os dois tipos

de construção em estudo, há alguns fenómenos que motivam uma reflexão. Um desses

fenómenos é a possibilidade de movimento de um sintagma-Q “D-linked” em

interrogativas subordinadas parciais (cf. (5)) versus a impossibilidade desse tipo de

sintagmas Q em relativas livres (cf. (6)), que contrasta com a possibilidade de a relativa

apresentar um DP antecedente aparentemente em alternância com o sintagma-Q “D-

linked”, como em (7) (cf. Matos & Brito 2013):

(5) Eu ignoro que trabalho fizeste.

(6) * Eu admiro que trabalho fizeste.

(7) Eu admiro o trabalho que fizeste.

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Considerando casos como (8)-(10), Cecchetto & Donati (2010) apresentam uma análise

alternativa para a ambiguidade da expressão “what you read” como uma interrogativa

ou uma relativa e a interpretação não ambígua de (10) como uma relativa livre:

(8) I read what you read.

(9) I wonder what you read.

(10) I wonder what book you read.

Segundo estes autores, a distinção crucial entre (8)-(9) e (10) tem a ver com o facto de

“what” ser um núcleo e “what book” ser um sintagma”. Desenvolvendo Chomsky

(2008), propõem que o movimento de um núcleo dará sempre lugar a estruturas

ambíguas, que permitem reetiquetar a estrutura resultante de duas formas distintas,

enquanto o movimento de um sintagma não o permite. De acordo com esta análise, a

ambiguidade de (1) e (2) decorreria da natureza de núcleo de “o que”, por oposição à

natureza sintagmática de (5). Em (1) e (2), com estruturas do tipo de (3) e (4), o que

move-se para especificador de CP; a construção em que tal opera pode ser uma interrogativa

subordinada (CP) ou uma relativa livre (DP dominando um CP). O movimento de um

sintagma como que trabalho para a mesma posição, especificador de CP, só pode dar

origem a uma interrogativa subordinada, CP.

Colocam-se então as questões: as estruturas (3) e (4) precisarão de ser postuladas para

dar conta das diferenças estruturais entre interrogativas subordinadas parciais e relativas

livres ou poderão ser deduzidas de princípios muito gerais da gramática? Haverá

evidências independentes para atribuir a expressões como “o que” o estatuto de núcleo

em vez de sintagma? Apesar da importância do tratamento de Cecchetto & Donati

(2010), mostraremos na comunicação que, para além da natureza de núcleo / sintagma

no Movimento Wh, é crucial ter em conta a natureza do predicado superior e a natureza

semântica/ilocutória do núcleo C, por exemplo a existência de um traço [±int], pelo que

o tipo de tratamento sugerido em (3) e (4) continua a fazer sentido.

Referências:

Brito, A. M. (1991) A sintaxe das orações relativas em Português. Estrutura, mecanismos

interpretativos e condições sobre a distribuição dos morfemas relativos. Instituto Nacional de

Investigação Científica. Centro de Linguística da Universidade do Porto. Porto.

Brito, A. M. & Duarte, I. (2003) Orações relativas e construções aparentadas. In Mateus, M. H.

et al. (2003) Gramática da Língua Portuguesa, 6ª ed., Lisboa: Caminho, 675 – 684.

Chomsky, N. (2008). On phases. In Freidin, R., Otero, C. & Maria-Luisa Zubizaretta, M. L.

(eds.) Foundational Issues in Linguistic Theory, Cambridge, MA: MIT Press.

Matos, G. & Brito, A.M. (2013) The alternation between improper indirect questions and DPs

containing a restrictive relative. In Camacho-Aboada, V., Jimenéz-Fernández, A., Martín-

Gonzáles, J. & Reyes-Tejedor (eds.) Information Structure and Agreement, Amsterdam: John

Benjamins, pp. 83-116.

Cecchetto, C. & Donati, C. (2010) On labeling: Principle C and head movement, Syntax, 2010,

DOI: 10.1111/j.1467-9612.2010.00140.x

Móia, T. (1996) A sintaxe das orações relativas sem antecedente expresso do Português. In.

Gonçalves, A. & Colaço, M. & Miguel, M. & Móia, T. 1996. Quatro estudos em sintaxe do

Português. Uma abordagem segundo a teoria dos princípios e parâmetros. Lisboa: Edições

Colibri. 149-188.

Veloso, R. (2013). Subordinação relativa. In. Raposo, E.P. et al. 2013. Gramática do Português.

Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, Vol. II: 2061 – 2134

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Algumas peculiaridades do português: aspetos semânticos e textuais da ‘partícula e’ Na Gramática Simbólica do Português (Lopes 19722), encontramos uma descrição de ‘e’ que incide sobre os diferentes valores que esta forma pode assumir em português. A leitura de Óscar Lopes mostra de que modo ‘e’ evidencia uma variabilidade de interpretações que lhe podem estar associadas. Assim, para além dos valores esperados de marcação de operador de interseção e de reunião de conjuntos, exemplificados em sequências como ‘homens altos, magros e loiros’/ ‘os gatos e os cães são mamíferos’ (pp. 57 e 63), ‘e’ pode, de acordo com o autor, na mesma obra, assumir valores causais, em sequências como ‘ele morreu porque tomou veneno – ele tomou veneno e morreu’, ou substituir sequências em que está subjacente uma relativa, como por exemplo ‘comprei um chapéu, que me agradou / comprei um chapéu, e ele agradou-me’(p. 33 e p.113, respetivamente). Os valores descritos acima vão encontrar eco na literatura sobre o português, reforçando alguns dos caminhos apontados por Óscar Lopes. Assim, em Duarte 2003: 97-98, é feita a descrição dos valores de ‘e’ a partir de categorias próximas das propostas por Óscar Lopes: listagem enumerativa, listagem aditiva, confirmação, sequência temporal e inferência. Neste trabalho, assume-se, ainda que das conexões paratáticas podem resultar frases compostas e “unidades textuais superiores ao período”; que, neste último caso, as conexões articulam “períodos simples, compostos ou complexos e parágrafos com outros períodos e parágrafos”; e que as conexões em causa (de que resultam unidades textuais superiores ao período) “podem ser assinaladas por conectores adverbiais e preposicionais especializados na expressão de certos valores conectivos” (Duarte, 2003: 94; 99; 104). Tendo em conta os pressupostos referidos, propomo-nos neste trabalho discutir a operacionalidade dos valores elencados quando ’e’ ocorre em diferentes textos empíricos que integram o corpus G&T.com (em constituição). Da análise já efetuada poderemos antecipar algumas considerações: (i) ‘e’ assume predominantemente, no corpus analisado, os valores básicos (de operador de

interseção e de reunião de conjuntos ou de elementos de conjuntos – listagem enumerativa);

(ii) ocorre também como recurso para estabelecer conexões em termos textuais, evidenciando, mesmo quando apresenta valores idênticos, uma função de organização macroestrutural;

(iii) reforça, quando associado, por exemplo, a marcadores temporais (‘e agora’) ou inferenciais (‘e por isso’), o valor construído no segmento anterior.

A verificação destas diferentes possibilidades de valores permite-nos repensar a noção de ‘unidades textuais’, a partir do pressuposto de que uma unidade textual não se esgota nas noções ‘estabilizadas’ de período e de parágrafo, mas depende dos valores das formas e construções em ocorrência. Em nosso entender, a análise dos diferentes valores de ‘e’ contribui de forma significativa para a validação desta hipótese, permitindo-nos, simultaneamente, evidenciar a atualidade e a acuidade dos contributos de Óscar Lopes para a descrição de formas e construções do português. Referências bibliográficas Duarte,I.(2003).Aspectoslinguísticosdaorganizaçãotextual.InM.H.Mateus,A.Brito,I.Duarte,&I.Faria,GramáticadaLínguaPortuguesa(pp.85-123).Lisboa:Caminho.Lopes,Ó.(2005).AlgumaspeculiaridadessemânticasdoPortuguês.InF.Oliveira,&A.M.Brito(Edits.),Entreapalavraeodiscurso.EstudosdeLinguística1977-1993(pp.15-40).Porto:CampodasLetras.

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Lopes,Ó.(1972).GramáticaSimbólicadoPortiuguês.Lisboa:InstitutoGulbenkiandeCiência.

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Portanto e logo: conjunções coordenativas ou advérbios conetivos?

O estatuto dos itens que estabelecem a articulação nos contextos dos complexos

coordenados é, ainda hoje, objeto de uma certa indefinição. Apesar de uma tradição

gramatical que postula que as frases coordenadas são conectadas por intermédio de uma

conjunção ou de uma locução coordenativa, a investigação recente desenvolvida em

torno deste conjunto de termos contradiz esta tendência. De facto, embora as instâncias

de coordenação sindética copulativa permitam a identificação inequívoca da conjunção

coordenativa e e a determinação da estrutura sintática destes complexos se tenha vindo a

afirmar – em rutura com a tradição – como assimétrica, tendo como núcleo a conjunção

(Kayne (1994), Johannessen (1998) Zhang (2010) e Matos (2003)), há ainda um vasto

conjunto de frases coordenadas, com valores lógico-semânticos diversos, que levanta

algumas questões. Assim, tal como refere Pezzati (2000), a delimitação da classe das

conjunções é “uma das áreas menos precisas da gramática”, o que justifica a

necessidade de estabelecer critérios e desenvolver análises que, de algum modo,

contribuam para uma definição formalmente rigorosa e, se possível, consensual desta

categoria morfológica.

Neste sentido, é objetivo desta comunicação analisar o comportamento de dois

itens – logo e portanto – que ocorrem tipicamente em contextos de coordenação

conclusiva e que são classificados como conjunções conclusivas (Cunha e Cintra 1984),

como conetores conclusivos (Bechara 2009, Matos e Raposo 2013), como conjunção e

advérbio, respetivamente (Oliveira 2011), ou passíveis de uma classificação

indeterminada, que oscila entre conjunção, advérbio, conetor, operador argumentativo

ou marcador discursivo (Novaes e Pezatti 2015). Nesta medida, propomo-nos analisar o

comportamento sintático de cada um dos itens referidos, assumindo como critérios de

análise a consideração conjunta de cinco das seis propriedades elencadas na proposta de

Quirk et al. (1985: 920-927), que define um conjunto de seis características capazes de

determinar o estatuto da conjunção. Assim, analisamos frases coordenadas semelhantes,

nas quais cada um dos itens ocorre como sinalizador de orientação lógica conclusiva (do

género p logo q), no sentido de comprovar que duas das propriedades específicas das

conjunções – a incapacidade de deslocação no interior do membro articulado (veja-se

1b) versus (1d)) e a impossibilidade de coocorrência com outra conjunção (veja-se (2a)

versus (2b)) – não se verificam de forma idêntica no comportamento sintático de logo e

de portanto (Oliveira 2011: 78, 89, 91):

(1)(a) O narciso é uma flor, logo pertence ao reino vegetal.

(b) O * narciso é uma flor, pertence, logo, ao reino vegetal.

(c) As luzes do quarto estão acesas (…), portanto o Rui está em casa.

(d) As luzes do quarto estão acesas (…), o Rui está, portanto, em casa.

(2)(a) * O narciso é uma flor, e logo pertence ao reino vegetal.

(b) Nadal tem 24 anos, e portanto a sua margem de progresso é ainda

muito grande.

Esta análise permite, então, concluir que logo, pese embora as suas origens

adverbiais, terá finalizado o seu processo de gramaticalização e integra o elenco das

conjunções, contrariando a proposta de Matos e Raposo (2013), que o consideram um

dos elementos do conjunto de adjuntos adverbiais periféricos de natureza adverbial que

assinalam nexos de conclusão, entre os quais também se inclui portanto. Este item

apresenta, todavia, propriedades distintas de logo, o que inibe a sua classificação como

conjunção prototípica e nos leva a concluir que se encontra, presumivelmente, numa

fase de transição no continuum de gramaticalização de advérbio para conjunção.

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Estas conclusões conduzem a uma análise da estrutura das orações coordenadas

que integram cada um dos itens, compatível com a visão assimétrica da coordenação e

capaz de dar conta das diferenças sintáticas entre conjunções e outros itens de base

adverbial que ocorrem na coordenação. Simplificadamente, esta prevê uma articulação

assindética, no caso das frases coordenadas conclusivas com portanto, que funciona

nestas construções como um marcador da orientação lógica, de natureza adverbial, na

linha de Matos e Raposo (2013). Esta ideia está de acordo com as linhas mais recentes

da investigação sobre a coordenação, na medida em que assume que o núcleo da

estrutura coordenada é a conjunção, que pode ser nula no caso das construções com

portanto (ou com outros itens adverbiais de natureza lógico-semântica diferente), ou

preenchida pela conjunção prototípica e, que, dado o seu carácter semântico pouco

marcado, não contraria a direção conclusiva da segunda oração coordenada. Sendo logo

uma conjunção prototípica, ocupa a posição disponível na estrutura para esta categoria.

Assim, dado que a sintaxe reserva apenas um lugar disponível para a categoria

conjunção, o núcleo de toda a construção, isso explicaria a impossibilidade de

combinação com outras conjunções, como e.

Assim, esta comunicação comprova a necessidade de repensar a classe das

conjunções coordenativas, no sentido quer de perceber os critérios de análise dos itens

que ocorrem tipicamente nas estruturas coordenadas quer de descrever o seu

comportamento sintático, para que se torne possível desfazer a classificação imprecisa

deste conjunto.

Referências:

Bechara, E. (2009) Moderna gramática portuguesa. São Paulo: Nacional.

Cunha, C. F.; Cintra, L. (1984) Nova gramática do Português contemporâneo. Rio de

Janeiro: Nova Fronteira, p.565-567.

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O modal ‘poder’ como recurso de realização dos valores de obrigação e de

necessidade forte: uma análise juslinguística

No discurso jurídico, o recurso ponderado aos diferentes verbos modais tem como

resultado uma hierarquização da força necessária para a efetiva realização do Direito,

seja da sua função prescritiva – delimitando princípios de ação e critérios de sanção –,

seja da sua função organizatória – regulando as instituições necessárias à vigência da

ordem jurídica (Pinto Bronze, 2002: 52-53). Isto é especialmente verdade no âmbito dos

textos normativos, já que é através da lei que a ordem jurídica se manifesta nas suas

bases, processos e fins.

Ora, considerando os objetivos deste tipo de linguagem, uma perceção intuitiva poderia

levar-nos a defender a prevalência de certos modais representativos de obrigação ou

necessidade forte, como é o caso dos verbos ‘dever’ e ‘ter de’, em detrimento, por

exemplo, do modal ‘poder’. No entanto, através da análise de um corpus específico

(Juriscorpus criado especificamente para esta investigação na plataforma Corpógrafo),

foi possível verificar, não só que aqueles verbos possuem contagens bastante baixas em

termos relativos (1500 ocorrências para o verbo ‘dever’ e 37 para ‘ter de’, contra 3346

ocorrências registadas para ‘poder’), mas também que, nos textos legais, o verbo

‘poder’ realiza uma modalidade forte, frequentemente associada a uma interpretação de

necessidade, quando não mesmo de obrigação.

Relativamente a este último ponto, verificámos a existência de enunciados que, no

contexto legal, oferecem (impõem?) interpretações muito diferentes das que

realizaríamos na linguagem comum. É o que se passa, por exemplo, com:

(1) «Os órgãos da Administração Pública podem decidir sobre coisa diferente ou

mais ampla do que a pedida, quando o interesse público assim o exija.»1

(2) «O responsável pela direção do procedimento e os outros órgãos que participem

na instrução podem, mesmo que o procedimento seja instaurado por iniciativa

dos interessados, proceder a quaisquer diligências que se revelem adequadas e

necessárias à preparação de uma decisão legal e justa, ainda que respeitantes a

matérias não mencionadas nos requerimentos ou nas respostas dos

interessados.»2

A articulação do modal sublinhado com o conceito jurídico de ‘poder-dever’, bem como

o recurso ao elemento sistemático no momento de interpretação de toda e qualquer

norma jurídica levam-nos a concluir que o legislador (enunciador) se compromete com

uma leitura obrigatória correspondente a ‘ter de’. Na verdade, nestes casos – e noutros

que pretendemos explorar – a leitura de ‘poder’ como verbo de realização de uma mera

possibilidade ou de uma necessidade fraca, de alguma forma ligadas à

discricionariedade do agente, levaria a consequências graves como a nulidade da

decisão, a possibilidade de recurso anulatório ou mesmo sanções criminais.

1 Código do Procedimento Administrativo, Art.º 13.º, n.º 3

2 Código do Procedimento Administrativo, Art.º 58.º

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Partindo dos estudos de Kratzer (1991) sobre os verbos modais e considerando a

proposta de hierarquização dos valores modais no quadrado de três camadas de van der

Auwera (1986, apud Oliveira 2000: 179), procuraremos discutir as razões de existência

deste comportamento atípico do verbo modal 'poder' no contexto da linguagem jurídica,

em português europeu. Para tal, consideraremos ainda o conceito tipológico de texto

legal proposto por Wróbłewski (1988) e as tipologias da modalidade apresentadas por

Oliveira (2003).

Referências e bases bibliográficas:

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-Pinto Bronze, F. J. (2002). Lições de Introdução ao Direito, Coimbra Editora, (pp. 52-

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-Wróblewski, J. (1988). Les langages juridiques: une typologie. Droit et societé, 8, (pp.

15-30).

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Particularités du quantificateur universel portugais cada À première vue, le quantificateur universel portugais cada ressemble à son homologue français chaque. Kleiber (2012) compare chaque aux autres quantificateurs universels français tout et tous les et propose une analyse détaillée de leurs traits communs et distinctifs. La plupart des traits distinctifs de chaque identifiés par Kleiber s’appliquent également à cada. Néanmoins, une approche empirique par corpus révèle que la récurrence de cada est nettement supérieure à celle de chaque et que cette différence s’explique notamment par quelques particularités de cada par rapport à chaque : (1) cada peut opérer sur un N comptable pluriel précédé d’un numéral cardinal, comme l’a observé Leal (2006) ; (2) cada peut admettre une lecture progressive plutôt que distributive exhaustive dans certaines conditions définies par Leal (2012) ; (3) cada semble bien pouvoir acquérir un trait comparable au trait ‘libre choix’ de tout (Kleiber 2012) propre à d’autres quantificateurs universels (todo o, every) ou non (qualquer, any). Enfin, sur le plan phraséologique, cada présente une affinité incontestable avec le N vez confirmée par l’exploration de deux corpus volumineux (CETEMPúblico : sur 89.717 occurrences de cada, on compte pas moins de 26.376 occurrences du bloc lexical (lexical bundle de Biber et al.) cada vez, soit près de 30% des cas ; Europarl7 : 28.176 cada et 11.916 cada vez, soit plus de 42 % des cas)1. De par sa fréquence, ce bloc lexical est une ‘unité de construction préformée’ (UCP, Schmale 2013) de deux mots contigus qui peuvent contribuer à former des UCP de plus de deux mots contigus ou non (de cada vez, cada vez (…) mais ADJ/ADV, (de) cada vez que, etc.). Enfin, cada peut se combiner à um comme chacun, each (one) ou everyone, mais il peut aussi se combiner à qual (cada um / cada qual) comme l’évoque Lopes (1971 : 93). Le profil sémantique de cada sert ainsi de fondement à l’approche empirique de deux particularités phraséologiques : la récurrence du bloc lexical cada vez et la spécificité d’emploi de cada qual par rapport à cada um, d’autant plus difficile à cerner qu’un proverbe portugais attesté plusieurs fois dans le CTP la nie : « Cada um é como cada qual ». Dans le premier cas, l’étude de la diversité des combinaisons récurrentes comportant cada vez se fonde sur les UCP de trois ou quatre mots attestées au moins vingt fois sur un million de mots dans le CETEMPúblico (CTP), sachant que ces UCP peuvent se présenter sous forme de blocs lexicaux (séquences de mots contigus) comme dans l’exemple2 (1) ou de ‘co-occurrences’ (groupes de mots non contigus) (Granger et Paquot 2008), comme dans l’exemple (2) :

(1) Cada vez mais cidadãos queriam ir para Espanha. (2) Cada vez há mais pessoas a procuraram fazer desporto … Dans le deuxième cas, il s’agit d’apporter quelques réponses sur les conditions d’emploi de cada qual par rapport à cada um. Les 495 occurrences de cada qual dans le CTP sont analysées et classées selon le co-texte au sens large. Les 19.337 occurrences de cada um (et Cada um, cada uma, Cada uma) dans le CTP permettent de vérifier dans quelle mesure cada um peut être employé dans le même co-texte que cada qual. À titre d’exemple, on constate que cada um se combine plus facilement que cada qual à la préposition de suivie d’un N (ou d’un pronom) délimitant la classe sur laquelle opère le quantificateur universel (exemples 3 et 4) et qu’il est naturellement difficilement interchangeable avec cada um dans les UCP dont le degré de figement est extrêmement élevé comme dans le proverbe évoqué ci-dessus ou dans l’exemple (5), qui n’est pas attesté avec cada um dans le CTP : (3) ?…a palavra «eu» é multi-significativa, a mesma para cada qual de nós, …3 (4) Cada um de nós tem a sua vida, dedicando as horas de descanso à música.

1 Chaque présente également une affinité particulière avec le N au « statut particulier » fois (Theissen 2011), mais il s’agit ici de cada. 2 Tous les exemples sont empruntés au CTP 3 Cet exemple constitue un hapax et les quelques locuteurs natifs consultés trouvent cet emploi plutôt étrange.

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(5) Cada qual no seu ofício. Les résultats de cette étude confirment deux particularités de cada : la possibilité de perte du trait de distributivité et la possibilité d’activation du trait ‘libre choix’. Ils révèlent aussi la ‘productivité phraséologique’ de cada vez et permettent de lever timidement le voile sur les ‘affinités phraséologiques’ de cada qual. Ils peuvent également aider le traducteur et l’apprenant de portugais langue étrangère à relever les défis de décodage et d’encodage que lancent non seulement la diversité des possibilités combinatoires du bloc cada vez pour former des UCP plus longues constituant des unités de traduction, mais aussi l’étrangeté de la combinaison cada qual pour certains locuteurs non natifs. Mots-clés : quantification universelle ; cada vez ; cada qual ; profil sémantique ; productivité phraséologique ; affinités phraséologiques Bibliographie : Biber, D. ; Johansson, S. ; Leech, G. ; Conrad, S. ; Finegan, E. (1999). Longman Grammar of

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Do dialogal ao dialógico: construção de heterogeneidade enunciativa

keywords: heterogeneidade enunciativa; modalidade; formas e construções; dimensão;

dialógica da linguagem; formalização

Óscar Lopes, na Gramática Simbólica do Português (1971), expõe as suas intuições

referindo as instâncias da interação como «loquente» e «interlocutor». É a propósito da

modalização e daquela que afirma ser a sua natureza «lógico-linguística», que, em

particular no capítulo com o título «Modos linguísticos e modalidades lógicas; limites da

formalização», quando se refere às «orações causais modalizadas» (ibidem: 256),

distingue o que designa como «loquente primário» e «loquente secundário» (ibidem:

258), apontando, deste modo, para a operacionalidade formal da distinção entre uma

instância da enunciação (ou enunciador) e uma instância modal (ou locutor-modalizador).

Neste percurso reflexivo sobre a construção da categoria modal, Óscar Lopes transita, por

conseguinte, de uma concepção da alteridade dialogal, própria da interação, para uma

concepção da alteridade dialógica, que repousa sobre representações subjetivas abstratas.

A necessidade teórica de tal distinção fica em evidência em vários outros estudos,

alguns posteriores, do domínio da enunciação (Culioli 1982, 1993 ; e em Portugal,

Campos 1997, 2001), a partir do pressuposto teórico de que, subjacente à determinação

de qualquer enunciado, está a construção, a partir da origem (localizador absoluto da

cadeia de localizações), de um sistema de coordenadas enunciativas de caráter

simultaneamente «absoluto e ajustável» (Culioli 1983: 167).

É objetivo desta apresentação analisar algumas construções linguísticas cujo

funcionamento se explica em virtude de uma heterogeneidade enunciativa, formalizável,

portanto, tendo em conta uma forma de « disjunção abstrata » (Campos 1997), ou

alteridade intrasubjetiva ou derivada.

É o caso dos empregos de verbos de atitude proposicional, na primeira pessoa, em

enunciados com valor epistémico de não asserção estrita, cuja instância modal é definida

a partir do ponto de vista de um enunciador. No condicional e impessoal (dir-se-ia, crer-

se-ia), à construção de um localizador fictício, associa-se a construção de outra instância

enunciativa, de valor geral, estando, pois, em causa a heterogeneidade enunciativa ao

nível do parâmetro subjetivo (Guillemin-Flescher 2003 : 185). É ainda o caso de

enunciados em que se sinaliza uma surpresa, definível como uma « expectativa frustrada

» (Culioli 1985 : 66), que tem, portanto, subjacente a « não conformidade entre a relação

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predicativa e a expectativa do enunciador » (Celle, 2006 : 52) e, por conseguinte, uma

heterogeneidade enunciativa ao nível das representações do enunciador.

Consistindo num reenvio, teoricamente formalizado, a diversas instâncias abstratas

(enunciador, locutor-modalizador), quando se fala em heterogeneidade enunciativa

referem-se entidades que são uma exigência teórica que, por sua vez, são

metodologicamente “separáveis e não necessariamente separadas” (Culioli 1985: 61-62)).

Mesmo se a atividade da linguagem se funda numa alteridade que é, simultaneamente,

dialogal e dialógica, esta última dimensão, a dialógica, é devedora de uma conceção de

enunciador que se constrói necessariamente como intersubjetivo e heterogéneo.

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Atenção à língua falada, na obra de Óscar Lopes: “aquela alegria para sempre”

Muitas das leituras de textos literários feitas por Óscar Lopes cruzam a contextualização socio-histórica que os situa num enquadramento cultural preciso com a análise pormenorizada de cunho linguístico, em que o autor põe a sua acutilância e sensibilidade, bem como conhecimentos profundos sobre línguas, especificamente sobre a língua portuguesa, ao serviço da “busca do sentido”. Em parte significativa dos textos que escreveu sobre certos autores e obras, teceu considerações linguístico-discursivas de grande finura analítica, motivadoras de revisitações da obra desses autores, ou dos temas linguísticos que nelas, ou a partir delas, foi apontando. Óscar Lopes prestou particular atenção à variedade de “material discursivo” combinado em sequências heterogéneas, à plurivocidade que permite incorporar, nas obras em causa, a “vivacidade do oral repescado pela narrativa”. Dele poderíamos dizer o que escreveu sobre as narrativas de Cardoso Pires (1990: 291): “sentimo-lo todo ele ouvidos (ou memória auditiva involuntária) a vozes diversas, a recursos comunicativos que a velha ou a nova retórica e a linguística ainda estão por inventariar e por classificar”. Essas “frases de cunho vivo” serão um dos objetos da nossa análise, na medida em que contribuem para a heterogeneidade discursiva que nos propomos analisar nalgumas narrativas que foram estudadas por Óscar Lopes. Assim, a partir de um corpus composto por (i) narrativas de cinco autores portugueses (A Brasileira de Prazins de Camilo Castelo Branco, Os Maias de Eça de Queirós, Cinco Reis de Gente de Aquilino Ribeiro, o conto “Ladino” de Bichos de Miguel Torga e Balada da Praia dos Cães de José Cardoso Pires) e (ii) artigos de Óscar Lopes sobre obras desses prosadores, aprofundaremos algumas questões, a saber:

1. a heterogeneidade mostrada e a heterogeneidade constitutiva (Authier-Revuz, 1995, 1982) em todas as suas manifestações;

2. funcionamento discursivo e narrativo de diferentes marcas de heterogeneidade (Fonseca, 1992): registos sobretudo coloquiais, idiomatismos, fraseologias de diferentes tipos;

3. outras marcas de “vozeamento polifónico” no discurso: negação, implicaturas, marcadores discursivos.

Pretendemos, assim, ir completanto o programa inscrito nalguns artigos de Óscar Lopes, já que, embora reconhecendo, nas narrativas em apreço – neste caso concreto em O Primo Basílio -, o carácter estilizado de determinados usos “idiossincraticamente portugueses”, o autor afirma que essa estilização assenta “numa intuição linguística activa que daria assunto para longas e fecundas análises de pragmática linguística”. (Lopes, 1990: 59). Tomando o seu desafio como ponto de partida, procuraremos aprofundar e alargar a análise que começou, assim prolongando uma indagação que nunca acabará de se fazer. Iremos, portanto, inventariar e tentar classificar um conjunto de marcas de heterogeneidade discursiva no corpus acima referido. Palavras-chave: heterogeneidade discursiva, marcas oralizantes, marcadores, polifonia.

Referências: AUTHIER-REVUZ, Jacqueline (1995). Ces mots qui ne vont pas de soi. Boucles reflexives et non coïncidences du dire. Paris: Larousse. AUTHIER-REVUZ, Jacqueline (1982). “Hétérogénéitémontrée e hétérogénéiteconstitutive: élements pour une approche de l‟autre dans le discours”. In: DRLAV – Revue de Linguistique, n.26, pp.91-151. FONSECA, Joaquim (1992). “Heterogeneidade na Língua e no Discurso” in Linguística e Texto I Discurso. Lisboa: ME/ICALP, pp. 249-292

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LOPES, Óscar (1999). 5 Motivos de Meditação. Porto: Campo das Letras. LOPES, Óscar (1994). A Busca de Sentido: Questões de Literatura Portuguesa. Lisboa: Caminho LOPES, Óscar (1990). Cifras do Tempo. Lisboa: Caminho. LOPES, Óscar (1986). Os Sinais e os Sentidos: Literatura Portuguesa do Século XX. Lisboa: Editorial Caminho. LOPES, Óscar (1984). Album de Família: Ensaios sobre Autores Portugueses do Século XIX. Lisboa: Caminho. Corpus BRANCO, Camilo Castelo (1882). A Brasileira de Prazins. Lisboa: Edições Caixotim (2001). PIRES, José Cardoso (1982). Balada da Praia dos Cães. Lisboa: Publicações O Jornal. QUEIRÓS, Eça de (1888). Os Maias. Lisboa: Livros do Brasil, s/d. RIBEIRO, Aquilino (1948). Cinco Reis de Gente. Lisboa: Livraria Bertrand (2016). TORGA, Miguel (1940). “Ladino” in Bichos. Coimbra: edição do Autor.

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Competência oral nas aulas de Alemão e de Português Língua Estrangeira no nível

de iniciação: importância, motivações e constrangimentos na perspetiva dos

aprendentes

A presente comunicação teve origem na nossa prática letiva e na investigação que temos

vindo a desenvolver no domínio da Didática de Línguas e centra-se no estudo da

competência oral (CO), uma vez que esta se apresenta, por vezes, como uma competência

difícil de ativar, sobretudo em níveis iniciais (Baptista, 2016; Briz, 2008). O próprio

Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas (Conselho da Europa, 2001) é

muito parco nos descritores associados à produção oral, por exemplo, no tocante ao nível

A1, quando a língua-alvo é aprendida em contexto de imersão como é, no presente estudo,

o caso do Português aprendido em Portugal. Mesmo assim, este documento sublinha a

importância de capacitar o aprendente/utilizador de uma língua estrangeira (LE) para a

comunicação, o mais rápida e eficazmente possível, sem que lhe tenha de associar um

elevado grau de correção linguística, uma vez que considera o aprendente/utilizador como

como agente social (cf. ibidem, 54, 56).

Este trabalho destina-se a compreender melhor o que leva os estudantes a aprenderem

Alemão e Português Língua Estrangeira (ALE e PLE) no nível inicial na Faculdade de

Letras da Universidade do Porto (FLUP), assim como a importância por eles atribuída à

CO, não tendo como intuito, inicialmente comparar os dados recolhidos entre as duas LE.

Porém, o estudo debruça-se sobre o ALE e o PLE, uma vez que os primeiros dados

recolhidos isoladamente junto dos grupos das duas LE foram bastante próximos

(nomeadamente no que concerne às motivações para o estudo da respetiva LE, à

importância atribuída à CO e aos constrangimentos identificados pelos inquiridos no que

diz respeito ao desenvolvimento da expressão oral na sala de aula). Este facto levou as

investigadoras a encetar um estudo exploratório conjunto abarcando as duas LE para

verificar pontos de convergência e divergência dos resultados coletados, assumindo esse

projeto como um trabalho interdidático. Com este objetivo, lançou-se mão de um

questionário que foi aplicado junto de 95 estudantes que se encontravam a estudar ALE

(após concluírem o nível A1.1) e, numa versão adaptada, junto de 37 estudantes que se

encontravam a estudar PLE (durante a frequência do nível A1.2) nos anos letivos de

2015/2016 e de 2016/. Responderam 27,8% dos aprendentes no caso do ALE e 76% no

caso de PLE relativamente ao número total de estudantes a frequentar aulas de ALE e

PLE. Este questionário pretendeu genericamente traçar o perfil dos aprendentes de ALE

e PLE quanto aos seus dados sociodemográficos, ao seu contato com a língua-alvo e às

motivações para a sua aprendizagem, incidindo na CO. Dada a natureza da presente

comunicação, isolamos apenas alguns dos dados recolhidos para apresentar e discutir.

Os resultados, obtidos através da comparação dos estudantes de ALE e PLE, embora não

permitam proceder a generalizações e manifestando algumas divergências, também

devidas a especificidades como o contexto de aprendizagem - PLE em imersão ao

contrário do ALE - e o perfil linguístico dos aprendentes, revelaram importantes pontos

de contacto, o que reforça a importância de desenvolver estudos interdidáticos,

associando o ALE e o PLE, no domínio do ensino-aprendizagem das línguas estrangeiras

no ensino superior (Alarcão, 2008), ainda que o presente estudo represente apenas a fase

inicial de um estudo mais alargado.

Referências

Alarcão, I. 2008. Desafios atuais ao desenvolvimento da Didática das Línguas em

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ACENTO RÍTMICO, METRIFICAÇÃO E VERSO MUSICAL

EM PORTUGUÊS EUROPEU

O tema principal desta apresentação é o acento rítmico secundário (ARS) em português

europeu (PE), que procuraremos relacionar com o verso cantado. Procuraremos assim

entrecruzar vários objetos (proeminência silábica, ritmo da fala, da poesia e do canto) e várias

abordagens disciplinares (fonologia formal, métrica poética e métrica musical) para se tentar

explicar um fenómeno predominantemente linguístico: a proeminência prosódica. A nosso ver,

este tipo de abordagem, além de potenciar uma ampliação dos conhecimentos disponíveis,

coaduna-se com o perfil do homenageado deste congresso.

Na exploração das questões relacionadas com o ARS do PE, concentrar-nos-emos no

problema específico da dificuldade em identificar e caracterizar os correlatos desse acento, a

qual tem sustentado, na maior parte das descrições fonológicas desta língua, a recusa da

existência desta forma de proeminência prosódica no PE.

Com efeito, as descrições fonológicas do PE assumem, em geral, que esta língua não

possui ARS (Pereira 1999; Mateus & D’Andrade 2000; Mateus et al. 2003; Magalhães 2016).

Entre os argumentos que fundamentam esta posição, contam-se os seguintes: a identificação do

ARS não assenta em critérios formais estáveis e consensuais nem em correlatos fonéticos bem

identificados, baseando-se frequentemente em pistas subjetivas de natureza predominantemente

auditiva; a sua atribuição não parece regulada por padrões regulares e sistemáticos; o ARS não

parece estar condicionado ou associado, em PE, a quaisquer variáveis ou processos fonológicos

claramente identificados. Estes três argumentos, conjugados entre si, ilustram a principal

questão de que aqui nos ocuparemos: a falta de consenso quanto à identificação de correlatos

fonéticos e fonológicos sistemáticos e estáveis associados a um eventual ARS em PE.

Contrastando com esse considerável consenso entre as propostas descritivas,

encontram-se na literatura referências recorrentes às intuições dos falantes que atribuem

diferentes graus de proeminência às sílabas das palavras em português para além da distinção

puramente binária tónico/átono (p.ex.: Castelo 2004; Cunha & Miranda 2009).

A verificação destes indícios intuitivos concorda com interpretações que admitem

alguma forma de ARS em português, como sucede mais frequentemente com os autores que se

ocupam do português brasileiro (PB) (e.o.: Collischonn 1994; Bisol 1994; 2000; Wetzels

2007)1.

Entre todos estes autores, regista-se consenso na admissão de um padrão rítmico

minimamente regular regido pelo Princípio de Alternância Rítmica. De acordo com esse

padrão, o português evidenciaria um ARS presente a cada duas sílabas contadas da sílaba tónica

para a margem esquerda da palavra2 (e.g.: [σσσσσσ´]ω).

Diversas investigações têm-se concentrado na busca de correlatos deste tipo de

distribuição rítmica em diversos aspetos das realizações linguísticas: processos como a

truncação (oral/escrita) de palavras em PE e PB exemplificam-no (e.g. Chacon 2004; Tenani

2004; Cunha & Miranda 2009; Cunha 2012; Ferreira 2012; Pereira 2013; Chacon 2014; …).

Contudo, e mesmo junto dos autores que defendem a existência de um ARS em

português sujeito ao padrão rítmico geral acima referido, continua a subsistir uma grande

dificuldade na identificação de um correlato ou conjunto de correlatos estáveis dessa possível

proeminência prosódica da língua.

Neste estudo, examinaremos um outro tipo de indícios que poderiam eventualmente pôr

em evidência a distribuição rítmica de proeminências secundárias dentro da palavra prosódica

em PE: os padrões de metrificação respeitados pelo canto popular, que organizam cadeias

1 Entre os autores que aceitam a existência de ARS no PE, poderemos citar aqui Andrade & Laks (1992) e Brandão

de Carvalho (1992). 2 Brandão de Carvalho (1992) admite outos padrões de atribuição de ARS em PE e em PB, dependentes da posição

da sílaba na palavra, do peso silábico e da qualidade vocálica.

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fonéticas em melodias cantadas de acordo com grelhas regulares e explícitas de alternâncias

entre tempos fortes e fracos.

A nossa hipótese é que no verso musicado em português as sílabas portadoras de acento

primário ou secundário ocorram preferencialmente nos tempos fortes dos compassos musicais.

A confirmação de uma tal hipótese poderia conduzir-nos a argumentos suplementares

em defesa da representação quer do acento principal, quer do acento secundário nas intuições

fonológicas dos falantes do PE. Por outro lado, a um nível mais geral e teórico, resultados em

favor de tal hipótese poderiam vir a ser lidos como argumentos a favor da correlação entre uma

capacidade rítmica geral da cognição humana e a organização prosódica das línguas naturais,

tal como proposto, entre outros, pela fonologia natural (cf., p. ex., Auer 1988) e ainda pela

fonologia prosódica (Hayes 1985; 1995; Selkirk 1984).

O corpus que analisaremos no estudo será constituído pela recolha de Gallop (1950),

contemplando o verso tradicional português musicado. A partir desse corpus linguístico e

musical, analisaremos exaustivamente todas as composições em compasso quaternário,

procurando indícios de prevalência estatística, nos tempos fortes de tal compasso (2º e 4º), de

sílabas portadoras de acento principal ou ARS (calculado em função do padrão geral acima

referido). Através dessa via, procuraremos aproximar-nos de alguma resposta ao problema da

falta de correlatos estáveis do ARS em PE. REFERÊNCIAS

- Andrade, E.; Laks, B. 1992. Na crista da onda: o acento de palavra em português. Actas do VII Encontro Nacional

da Associação Portuguesa de Linguística. Lisboa: APL, 15-26.

- Auer, P. 1988. A note on prosody in natural phonology. In: J. M. Dosuma (Ed.). Naturalists at Krems: papers

from the Workshop on Natural Phonology and Natural Morphology.. Salamanca: Univ. de Salamanca, 11-22.

- Bisol, L. 1994. O acento e o pé binário. Letras de Hoje. 29(4): 25-36.

- Bisol, L. 2000. O troqueu silábico no sistema fonológico. DELTA. 16(2): 403-413.

- Brandão de Carvalho, J. 1992. Réduction vocalique, quantité et accentuation: pour une explication structurale de

la divergence entre portugais lusitanien et portugais brésilien. Boletim de Filologia. XXXII: 5-26.

- Castelo, A. 2004. Questões sobre acento(s) não-primário(s) no PE. Actas do XIX Encontro Nacional da

Associação Portuguesa de Linguística. Lisboa: APL, 363-374.

- Chacon, L. 2004. Constituintes prosódicos e letramento em segmentações prosódicas não-convencionais. Letras

de Hoje. 39(3): 223-232.

- Collischonn, G. 1994. Acento secundário em português brasileiro. Letras de Hoje. 29: 43-53.

- Cunha, A. P. 2012. As segmentações não convencionais da escrita inicial: um estudo sobre o troqueu silábico e

a sua relação com o ritmo linguístico do PB e do PE. Linguística. 7: 45-63.

- Cunha, A. P. N; Miranda, A. R. M. 2009. A hipo e a hipersegmentação nos dados de aquisição de escrita: a

influência da prosódia. Alfa. 53(1): 127-148.

- Ferreira, M. L. S. 2012. Contributos para uma definição de palavra fonológica. Dissertação de Mestrado.

Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

- Gallop, R. 1950. Cantares do Povo Português. Estudo Crítico, Recolha e Comentário. Lisboa: Instituto de Alta

Cultura.

- Hayes, B. 1985. Iambic and Trochaic Rhythm in Stress Rules. Proceedings of the Eleventh Annual Meeting of

the Berkeley Linguistics Society, 429-446.

- Hayes, B. 1995. Metrical Stress Theory. Principles and Case Studies. Chicago: The University of Chicago Press.

- Magalhães, J. 2016. Main Stress and Secondary Stress in Brazilian and European Portuguese. In: W. L. Wetzels

et al. (Eds.). The Handbook of Portuguese Linguistics.Oxford: Wiley/Blackwell, 107-124.

- Mateus, M. H. M. et al. 2003. Gramática da Língua Portuguesa. 5th ed. Lisboa: Caminho.

- Mateus, M. H.; Andrade, E. 2000. The Phonology of Portuguese. Oxford: Oxford University Press.

- Pereira, I. 1999. O acento de palavra em português. Uma análise métrica. Tese de doutoramento. Universidade

de Coimbra.

- Pereira, M. I. P. 2013. Processos de construção não concatenativa. In: G. Rio-Torto et al. Gramática Derivacional

do Português. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 463-491.

- Selkirk, E. 1984. Phonology and Syntax. The relation between sound and structure. Cambridge MA: The MIT

Press.

- Tenani, L. 2004. Segmentações não-convencionais e teorias fonológicas. Letras de Hoje. 39(3): 233-244.

- Wetzels, L. 2007. Primary Word Stress in Brazilian Portuguese and the Weight Parameter. Journal of Portuguese

Linguistics. 5/6: 9-58.

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SUPLETIVIDADE VERBAL DO PORTUGUÊS

PROPOSTA DE DESCRIÇÃO DECLARATIVA

A supletividade verbal, como todas as formas de alomorfia morfossintaticamente

motivadas, coloca aos modelos derivacionais da fonologia um problema clássico: como

relacionar, na passagem de um ciclo derivacional ao ciclo subsequente, formas com

especificações fonológicas muito distintas cujas alternâncias não podem ser atribuídas ao

contexto fonético? (Cf. Kiparsky 1982; Paster 2006; Inkelas 2014.)

A questão tem alimentado um debate produtivo em fonologia, bem como nos

domínios da interação da fonologia com a morfologia e com o léxico. Nesse debate é

possível identificar, entre outras, uma discussão importante em torno das explicações

possíveis, em fonologia, para acomodar as relações entre formas teóricas

fonologicamente muito distintas entre si (“opacas”, na aceção de Dressler 1985, e.o.).

Relativamente a esta questão, as principais respostas repartem-se por dois tipos

principais: as explicações estritamente lexicalistas, que tratam a supletividade como

informações incorporadas nas próprias entradas lexicais dos morfemas nos diversos

níveis do léxico da língua, conforme se encontra na maior parte das propostas emanadas

da fonologia lexical (Kiparsky 1982); as explicações estritamente “fonológicas”, que

procuram a todo o custo encontrar motivações de ordem estritamente fonético-fonológica

mesmo para as correspondências mais opacas entre representações diferentes da mesma

entrada lexical.

As explicações mais extremadas deste último tipo encontram um exemplo muito

ilustrativo nas chamadas regras de reajuste do modelo SPE (Chomsky & Halle 1968),

que consistem na substituição mais ou menos abrupta, convencional e ad hoc, a dado

ponto da derivação fonológica, de uma forma de um morfema por outra foneticamente

não aparentada.

Nesta comunicação, tentaremos mostrar como a supletividade pode ser

satisfatoriamente resolvida e explicada pelos modelos monoestratais não derivacionais da

fonologia. Estes, deixando de ter como objetivo a explicação da “passagem” de estruturas

fonológicas dotadas de uma especificação fonológica A a estruturas fonológicas dotadas

de uma especificação fonológica B no nível derivacional seguinte, eliminam logo à

partida a necessidade de incorporar na gramática conjuntos pesados de regras por vezes

pouco plausíveis cuja única utilidade consistia na postulação de alterações da mesma

estrutura teórica de base. Nestes modelos, formas alternantes do mesmo segmento

fonológico ou do mesmo morfema, independentemente do grau de opacidade entre elas,

correspondem a unidades e estruturas ontologicamente diferentes. Estas unidades

relacionam-se entre si por nuvens de correspondências de ocorrências atestáveis a partir

dos dados de superfície e agrupáveis através de relações lógicas de tipo disjuntivo ou

conjuntivo, competindo à observação fonológica a identificação exaustiva de todos os

contextos fonéticos e gramaticais associados a cada forma alternante.

O modelo escolhido para esta apresentação é o da fonologia declarativa, um modelo

inspirado nas linguagens declarativas de programação desenvolvidos sobretudo na década

de 1980 e que descreve e formaliza as relações entre as unidades linguísticas a partir das

relações lógicas (Scobbie et al., 1996; Angoujard, 2003; 2006). Pretende-se assim atingir

uma descrição simbólica robusta das relações entre representações fonéticas dos mesmos

morfemas a partir dos dados de superfície associados a variáveis rigorosamente isoladas

e identificadas, concebendo-as como redes computacionalmente plausíveis e suportadas

pela formalização lógica.

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Atendendo à robustez descritiva deste tipo de modelos para o estudo de grandes

quantidades de dados e à sua adequação para a explicação de fenómenos de opacidade

(Angoujard 2009) e considerando que, pela sua forte ancoragem na simbolização lógica,

estes mesmos modelos de descrição fonológica se aproximariam dos modelos propostos

pelo homenageado neste congresso para a descrição de outros aspetos da gramática do

português (Lopes 1972), proporemos a possibilidade de descrever as alternâncias de tipo

supletivo na flexão verbal do português à luz dos princípios da fonologia declarativa.

Serão assim propostas, entre outras, formalizações como a apresentada no final do resumo

para dar conta da (pseudo-)opacidade entre radicais supletivos supostamente existente no

subconjunto dos verbos sem homonímia entre as formas do futuro imperfeito do

conjuntivo e do infinitivo flexionado (aqui designados “verbos supletivos de Tipo I”).

.

REFERÊNCIAS: Angoujard, J.-P. 2003. Phonologie et diachronie. In: J.-P. Angoujard, S. Wauquier-Gravelines.

Eds. Phonologie: Champs et perspectives. Lyon: ENS Editions, 173-194.

Angoujard, J.-P. 2006. Phonologie déclarative. Paris: CNRS.

Angoujard, J.-P. 2009.Opacité et transparence prosodique. Linguística. 4: 3-23.

Chomsky, N.; Halle, M. 1968. The Sound Pattern of English. New York: Harper & Row.

Dressler, U. 1985. Suppletion in word-formation. In: J. Fisiak. Ed. Historical semantics,

historical word formation. Berlin: Mouton de Gruyter, 97–112.

Inkelas, S. The Interaction between Morphology and Phonology. In: J. A. Goldsmith et al. Eds.

The Handbook of Phonological Theory. 2nd ed. Oxford: Wiley/Blackwell, 68-102.

Kiparsky, P. 1982. From Cyclic to Lexical Phonology. In: H. van der Hulst, N. Smith. Eds. The

structure of phonological representations. Dordrecht: Foris Publications, I, 131–175.

Lopes, Ó. 1972. Gramática Simbólica do Português. 2ª ed. Lisboa: Fundação Calouste

Gulbenkian.

Paster, M. 2006. Phonological Conditions on Affixation. University of California, Berkeley.

Scobbie, J. M.; Coleman, J. S.; Bird, S. 1996. Key Aspects of Declarative Phonology. In: J.

Durand, B. Laks. Eds. Current Trends in Phonology: Models and Methods. Manchester:

ESRI/University of Salford, II, 685-709.

Radical1

Radical1Tempos1 Tempos1={PresInd, PresConj, Imperat,

Gerúndio, InfinitivoFlex, PretImperfInd,

FutImpInd, Cond}

Radical2 Radical2Tempos2 Tempos2={PretPerfSpInd, PretMQPSpInd,

FutImpConj, }

VerboSupl-I={caber, estar, dar, fazer, querer, dizer, trazer, saber, ter}

VerboSupl-I

SSS

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Revisitar as contrastivas em Português para repensar o ensino da gramática

A presente proposta de comunicação insere-se na área da Linguística Educacional, convocando

conhecimentos da Semântica e do Discurso que não podem ser ignorados em nenhum programa

de ensino da gramática. Num primeiro momento, apresenta-se brevemente um estado da arte

do conhecimento de estruturas contrastivas em Português europeu, que contrasta, num segundo

ponto, com a descrição destas estruturas nos programas de ensino em vigor. A consideração de

dados de escrita argumentativa em diferentes níveis de escolaridade permite refletir sobre a

necessidade de se terem em consideração não só os aspetos morfossintáticos, mas também

semânticos e discursivos de contrastivas, de forma que conhecimentos gramaticais possam ser

mobilizados para o desenvolvimento da escrita.

Num artigo de 1983, «Sobre as contrastivas em Português», Óscar Lopes descreve as

propriedades mais relevantes de concessivas e de adversativas, considerando (i) correlações e

diferenças, (ii) relações entre concessivas e adversativas e outras construções hipotáticas e

paratáticas e (iii) propriedades discursivas de concessivas (Lopes, 2005, pp. 177-191). Deste

artigo, bem como de outros trabalhos seus (Lopes, 1989, 1971), salienta-se a complexidade

estrutural e funcional de concessivas e adversativas, a cuja análise se dedicam igualmente

estudos posteriores (Costa, 2010; Lobo, 2003; Peres, 1997; Peres et al., 1999; Peres e

Mascarenhas, 2005, Prada, 2000, 2003; Rudolph, 1996; Varela, 2000).

Passados mais de 30 anos da publicação do mencionado artigo, pouca ou nenhuma transposição

didática do funcionamento de conectores contrastivos se pôde observar nos documentos

orientadores do ensino do Português, ainda que estudos em didática da língua, como Brito e

Lopes (2001) ou Costa (2010), destaquem a pertinência de se ensinarem paralelamente

propriedades de concessivas e de adversativas, seguindo a lição da Gramática Simbólica.

Nos atuais Programa e Metas (DGE, 2015), preserva-se uma visão espartilhada do ensino da

gramática, na qual explicativas e causais, adversativas e concessivas pertencem a

compartimentos diferentes, que se abrem em anos diferentes, sem uma vinculação explícita aos

textos orais e escritos que proporcionam a experiência dos seus usos. Em concreto, o atual

programa preconiza uma arrumação de conteúdos que deixa adversativas listadas no 7.º ano

(DGE, 2915, p. 31) e concessivas no 8.º ano (idem, p. 34). Contudo, a mobilização deste

conhecimento gramatical deveria amparar a estruturação de textos de opinião, os quais, segundo

o mesmo programa, se inicia no 5.º ano (idem, p. 22).

Partindo do exemplo dos conectores contrastivos, assume-se uma perspetiva oposta à do

Programa e Metas relativamente ao modo de organizar estes conteúdos gramaticais. Para se

fundamentar uma proposta de percurso de explicitação de conhecimentos sobre conectores

adversativos e concessivos, apresentam-se dados de produção de conectores adversativos em

escrita argumentativa precoce (textos do 2.º ano e textos do 4.º ano) e na escrita de adolescentes

e adultos (textos de 9.º ano e textos de adultos escolarizados). A mobilização de algumas

conjunções concessivas e de advérbios conectivos adversativos apenas na escrita de adultos

conduz à hipótese de que, apesar de os alunos aprenderem a classificar conjunções e valores

associados, não as usam nos seus textos. A gramática, ensinada com objetivos elementares de

identificação e de classificação, sem a explicitação de contiguidades semânticas e do

funcionamento discursivo, não parece poder cumprir a função de melhorar a escrita de textos

de opinião.

Entendendo que o conhecimento gramatical a ensinar na escola deve obedecer a uma

organização que tenha em consideração conhecimento linguístico atualizado, bem como o

conhecimento implícito dos alunos e a promoção da consciência desse conhecimento, propõem-

se atividades de sistematização metalinguística associadas ao desenvolvimento da escrita, que

respondam às necessidades identificadas nos textos analisados. Nestas propostas, a experiência

do processo de escrita, como atividade de resolução de problemas linguísticos e textuais, surge

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como um percurso promotor do conhecimento explícito da língua. A reflexão sobre possíveis

percursos para o ensino de contrastivas contribuirá para uma reflexão mais alargada sobre as

orientações curriculares para o ensino da gramática.

Referências bibliográficas

Brito, Ana Maria e Helena Couto Lopes (2001). Da linguística ao ensino: para uma reflexão

sobre a coordenação e a subordinação. In Fernanda Irene Fonseca et al. (orgs.). A Linguística

na Formação do Professor de Português. Porto: CLUP, pp. 49-63. Costa, Ana Luísa (2010). Estruturas contrastivas: desenvolvimento do conhecimento explícito e da competência de escrita. Dissertação de doutoramento, Universidade de Lisboa. Lobo, Maria (2003). Aspectos da Sintaxe das Orações Subordinadas Adverbiais do Português.

Dissertação de Doutoramento, Universidade Nova de Lisboa.

Lopes, Óscar (1971). Gramática Simbólica do Português (um Esboço). Lisboa: Fundação

Calouste Gulbenkian.

_____ (1983). Sobre as contrastivas em Português. Comunicação apresentada no 17ème

Congrès International de Linguistique et Philologie Romanes (Aix-en Provence) agora in

Oliveira, Fátima e Ana Maria Brito (coord.) (2005). Entre a Palavra e o Discurso. Estudos de

Linguística 1977-1993. Porto: Campo das Letras, pp. 177-191.

_____ (1989). Construções concessivas. Algumas reflexões formais lógico-pragmáticas.

Comunicação apresentada no XIX Congreso Internacional de Linguística e Filoloxia

Românicas (Santiago de Compostela) agora in Fátima Oliveira e Ana Maria Brito (coord.)

(2005). Entre a Palavra e o Discurso. Estudos de Linguística 1977-1993. Porto: Campo das

Letras, pp. 193-209.

Peres, João (1997). Sobre Conexões Proposicionais em Português. In Ana Maria Brito et al.

(orgs.). O Sentido que a Vida Faz. Estudos para Óscar Lopes. Porto: Campo das Letras, pp.

775-787.

Peres, João et al. (1999). Sobre a forma e o sentido da construções condicionais em português.

In Isabel Hub Faria (org.) Lindley Cintra. Homenagem ao Homem, ao Mestre e ao Cidadão.

Lisboa: Edições Cosmos, pp. 627-653.

Peres, João e Salvador Mascarenhas (2006). Notes on sentential connections (predominantly)

in Portuguese. João Peres (ed.) Journal of Portuguese Linguistics. vol. 5, n.º 1.

Prada, Edite (2000). Produção de Construções Adversativas no Português Europeu.

Dissertação de Mestrado Interdisciplinar em Estudos Portugueses apresentado à Universidade

Aberta.

_____ (2003). Produção de Contraste no Português Europeu. In Amália Mendes e Tiago Freitas

(orgs.). Actas do XVIII Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística. Lisboa:

APL, Colibri, pp. 663-675.

Rudolph, Elisabeth (1996). Contrast: Adversative and Concessive Relations and their

Expressions in English, German, Spanish, Portuguese on Sentence and Text Level. Berlim,

Nova Iorque: Walter de Gruyter.

Varela, Lina (2000). Para uma Semântica das Construções Concessivas e Adversativas do

Português. Dissertação de Mestrado em Linguística apresentada à Faculdade de Letras da

Universidade de Lisboa.

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DDoo ccoonnvveerrssaattiioonnaall iimmpplliiccaattuurreess eemmbbeedd??

IInn PPrraaggmmaattiiccss,, ccoonnvveerrssaattiioonnaall iimmpplliiccaattuurreess ((CCIIss)) aarree kknnoowwnn ttoo aarriissee ffrroomm iinnffeerreennttiiaall pprroocceesssseess

bbaasseedd oonn ttwwoo eelleemmeennttss::

-- TThhee ffaacctt tthhaatt ssoommee ssppeeaakkeerr SS uutttteerreedd ssoommee sseenntteennccee ss

-- TThhee ffaacctt tthhaatt SS,, iinn uutttteerriinngg ss,, iiss ccoommmmiitttteedd ttoo tthhee CCooooppeerraattiivvee PPrriinncciippllee ((CCPP)) aanndd tthhee

ccoonnvveerrssaattiioonnaall mmaaxxiimmss,, wwhhiicchh iinn ttuurrnn lleeggiittiimmaattiizzeess tthhee aassssuummppttiioonn tthhaatt hhiiss//hheerr uutttteerraannccee

ccoommpplliieess wwiitthh tthheemm.. OOnnee aarrgguuaabbllyy uunnaavvooiiddaabbllee ccoonnsseeqquueennccee ooff tthhiiss iiss wwhhaatt RReeccaannaattii ((22001155)) ccaallllss

gglloobbaalllliittyy:: CCIIss mmuusstt bbee gglloobbaall,, ii..ee.. ddeerriivveedd ffrroomm tthhee uutttteerraannccee ooff wwhhoollee sseenntteenncceess ((mmoosstt ttyyppiiccaallllyy,,

ffrroomm aaccttss ooff aasssseerrttiioonn)).. TThhiiss iinn ttuurrnn iiss ttaakkeenn ttoo eennttaaiill tthhaatt nnoo CCIIss ccaann bbee ddeerriivveedd ffrroomm nnoonn--uutttteerreedd

ssuubb--sseenntteennttiiaall mmaatteerriiaall.. HHeerree iiss RReeccaannaattii’’ss aarrgguummeenntt::

11.. CCoonnvveerrssaattiioonnaall iimmpplliiccaattuurreess aarree pprraaggmmaattiicc ccoonnsseeqquueenncceess ooff aann aacctt ooff ssaayyiinngg ssoommeetthhiinngg..

22.. AAnn aacctt ooff ssaayyiinngg ssoommeetthhiinngg ccaann bbee ppeerrffoorrmmeedd oonnllyy bbyy mmeeaannss ooff aa ccoommpplleettee uutttteerraannccee,, nnoott bbyy

mmeeaannss ooff aann uunnaasssseerrtteedd ccllaauussee ssuucchh aass aa ddiissjjuunncctt oorr tthhee aanntteecceeddeenntt ooff aa ccoonnddiittiioonnaall..

33.. HHeennccee,, nnoo CCII ccaann bbee ggeenneerraatteedd aatt tthhee ssuubb--llooccuuttiioonnaarryy lleevveell,, ii..ee.. aatt tthhee lleevveell ooff aann uunnaasssseerrtteedd

ccllaauussee ssuucchh aass aa ddiissjjuunncctt oorr tthhee aanntteecceeddeenntt ooff aa ccoonnddiittiioonnaall..

44.. TToo ssaayy tthhaatt aa CCII ffaallllss wwiitthhiinn tthhee ssccooppee ooff aa llooggiiccaall ooppeerraattoorr iiss ttoo ssaayy tthhaatt iitt iiss ggeenneerraatteedd aatt tthhee

ssuubb--llooccuuttiioonnaarryy lleevveell ((ii..ee.. aatt tthhee lleevveell ooff tthhee ccllaauussee oonn wwhhiicchh ssoommee llooggiiccaall ooppeerraattoorr ooppeerraatteess))..

55.. TThheerreeffoorree,, nnoo CCII ccaann ffaallll wwiitthhiinn tthhee ssccooppee ooff aa llooggiiccaall ooppeerraattoorr..

NNeevveerrtthheelleessss,, aa nnuummbbeerr ooff ccaasseess ttrraaddiittiioonnaallllyy ccllaassssiiffiieedd aass CCIIss ddoo nnoott ccoommppllyy wwiitthh tthhee gglloobbaalliittyy

ccoonnddiittiioonn iinn tthhaatt tthheeyy ccaann ooccccuurr iinn eemmbbeeddddeedd ccoonntteexxttss,, ssuucchh aass uunnddeerr tthhee ssccooppee ooff ddiissjjuunnccttiioonnss

aanndd ““iiff””,, aass iiss cclleeaarr iinn ((11’’)) aanndd ((22’’)) ((wwhhiicchh pprreesseerrvvee tthhee CCIIss ooff tthhee ddiissjjuunncctt aanndd ooff tthhee aanntteecceeddeenntt

ooff tthhee ccoonnddiittiioonnaall,, iinn ((11)) aanndd ((22)),, rreessppeeccttiivveellyy))::

((11)) SShhee ssaaww hhiimm aanndd ffaaiinntteedd

>>>> SShhee ssaaww hhiimm aanndd ffaaiinntteedd aafftteerr sseeeeiinngg hhiimm ((aanndd ppoossssiibbllyy aass aann eeffffeecctt ooff tthhaatt))

((11’’)) SShhee eeiitthheerr ssaaww hhiimm aanndd ffaaiinntteedd oorr tthhee ootthheerr wwaayy rroouunndd

>> She either saw him and fainted after seeing him or…

((22)) HHee kknnoowwss ssoommee mmiinniisstteerrss

>>>> HHee kknnoowwss ssoommee bbuutt nnoott aallll mmiinniisstteerrss

((22’’)) IIff hhee kknnoowwss ssoommee mmiinniisstteerrss,, tthhaatt mmiigghhtt nnoott ssoollvvee hhiiss pprroobblleemm;; hhee hhaass ttoo bbee aaccqquuaaiinntteedd

ssppeecciiffiiccaallllyy wwiitthh tthhee FFoorreeiiggnn MMiinniisstteerr..

>>>> IIff hhee kknnoowwss ssoommee bbuutt nnoott aallll mmiinniisstteerrss,, ……

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TThheessee aarree eexxaammpplleess ooff wwhhaatt GGrriiccee ((aanndd mmoosstt aauutthhoorrss ssiinnccee hhee ffiirrsstt ssyysstteemmaattiizzeedd tthhee nnoottiioonn)) ccaallllss

ggeenneerraalliizzeedd ccoonnvveerrssaattiioonnaall iimmpplliiccaattuurreess.. TThhee pprroobblleemm ppoosseedd bbyy tthheeiirr eemmbbeeddddaabbiilliittyy ((iiff tthheeyy aarree

ggeennuuiinnee CCIIss,, tthheeyy ccoouulldd iinn pprriinncciippllee nnoott eemmbbeedd,, aass sshhoowwnn iinn tthhee RReeccaannaattii aarrgguummeenntt aabboovvee)) hhaass

bbeeeenn tthhee oobbjjeecctt ooff ssoommee rreecceenntt ddiissccuussssiioonn iinn bbootthh tthhee sseemmaannttiiccss aanndd tthhee pprraaggmmaattiiccss lliitteerraattuurree..

AAuutthhoorrss lliikkee LLeevviinnssoonn aanndd CChhiieerrcchhiiaa,, ffoorr iinnssttaannccee,, hhaavvee aarrgguueedd ffoorr aa ccoonnvveennttiioonnaalliizzeedd vviieeww ooff

ssuucchh ggeenneerraalliizzeedd CCIIss.. LLeevviinnssoonn ssaayyss iinn hhiiss iinnfflluueennttiiaall ((22000000))::

““BBlluurrrriinngg tthhee ddiiffffeerreennccee [[bbeettwweeeenn CCIIss]] aanndd tthhoossee ““GGCCIIss”” tthhaatt aarree eemmbbeeddddaabbllee ((aanndd ssoo aarrgguuaabbllyy

nnoott ggeennuuiinnee CCIIss)) iiss ttaannttaammoouunntt ttoo ““uunnddeerreessttiimmaattee tthhee rreegguullaarriittyy,, rreeccuurrrreennccee aanndd ssyysstteemmaattiicciittyy ooff

mmaannyy kkiinnddss ooff pprraaggmmaattiicc iinnffeerreenncceess.. [[IItt oommiittss]] aa llaayyeerr ooff ssyysstteemmaattiicc pprraaggmmaattiicc iinnffeerreennccee bbaasseedd

nnoott oonn ddiirreecctt ccoommppuuttaattiioonnss aabboouutt ssppeeaakkeerr--iinntteennttiioonnss bbuutt rraatthheerr oonn ggeenneerraall eexxppeeccttaattiioonnss aabboouutt hhooww

llaanngguuaaggee iiss nnoorrmmaallllyy uusseedd”” ((LLeevviinnssoonn 22000000))..

TThhuuss tthhee ssttrraatteeggyy ((aallssoo cchhaammppiioonneedd bbyy CChhiieerrcchhiiaa)) ooff eexxppllaaiinniinngg aawwaayy tthheessee aappppaarreenntt pprroobblleemmaattiicc

eemmbbeeddddiinnggss aass iinnvvoollvviinngg qquuaassii--ccoonnvveennttiioonnaalliizzeedd CCIIss aanndd tthhuuss ((uunnlliikkee ““ggeennuuiinnee”” CCIIss)) aass ccaasseess ttoo

wwhhiicchh RReeccaannaattii’’ss aarrgguummeenntt ddooeess nnoott aappppllyy..

UUnnffoorrttuunnaatteellyy,, ppaarrttiiccuullaarriizzeedd CCIIss ccaann aallssoo ooccccuurr uunnddeerr tthhee ssccooppee ooff ooppeerraattoorrss,, aass sseeeenn iinn ((33))//((33’’))::

((33)) -- WWhhaatt’’ss tthhiiss nnooiissee ccoommiinngg ffrroomm tthhee rrooooff??

-- TThheerree’’ss aa nneesstt tthheerree..

>>>> TThheerree’’ss aa nneesstt wwiitthh bbiirrddss iinn iitt

((33’’)) IIff tthheerree’’ss aa nneesstt uupp oonn tthhee rrooooff,, wwee’’llll hhaavvee aa hhuuggee mmeessss ttoo cclleeaann uupp..

>>>> IIff tthheerree’’ss aa nneesstt wwiitthh bbiirrddss iinn iitt,, ……

CClleeaarrllyy,, ppaarrttiiccuullaarriizzeedd CCIIss aarree nnoott aammeennaabbllee ttoo ssuucchh aa kkiinndd ooff ssttrraatteeggyy ((ssiinnccee tthheeyy aarree,, bbyy

ddeeffiinniittiioonn,, CCIIss wwhhiicchh hheeaavviillyy rreellyy oonn ssppeecciiffiicc ccoonntteexxttuuaall iinnffoorrmmaattiioonn rraatthheerr tthhaann oonn

qquuaassii--ccoonnvveennttiioonnaall ccuueess)).. IInn tthhiiss ttaallkk,, II wwiillll bbee ddiissccuussssiinngg MMaannddyy SSiimmoonnss’’ ttaakkee oonn tthhiiss pprroobblleemm

((iinn SSiimmoonnss ((22001111)) aanndd ((22001144)))),, hheerr uussee ooff DDRRTT ttoo ttaacckkllee iitt iinn tteerrmmss ooff wwhhaatt sshhee ccaallllss ““ssttrruuccttuurreedd

mmeeaanniinnggss””,, aanndd aallssoo aasssseessssiinngg hhooww mmuucchh ooff aa ffoouunnddaattiioonnaall tthhrreeaatt tthhee eemmbbeeddddiinngg ooff CCIIss ccoouulldd

bbee ttoo tthhee vveerryy nnoottiioonn ooff ccoonnvveerrssaattiioonnaall iimmpplliiccaattuurree..

RReeffeerreenncceess

Levinson (2000) Presumptive Meanings. Cambridge, MA: MIT Press.

Recanati, F. (2015) “Local pragmatics: reply to Mandy Simons”. Inquiry, 1-18.

Simons, M. (2011) “Dynamic Pragmatics, or, Why we shouldn’t be afraid of embedded implicatures” In

Ashton, N., A. Chereches and D. Lutz, (eds.), Semantics and Linguistic Theory 21, 2011, 609-633.

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Infinitival clauses with nominative subjects in European Portuguese and Hungarian:

only pronouns?

The present paper focuses on the different types of overt nominative subject that can appear

within an infinitival clause in European Potuguese and Hungarian.

Szabolcsi (2006, 2009ab) discusses a pattern where a nominative subject appears within the

infinitive. Based on a number of diagnostics, among others the restriction on the position of

csak ‘only’-phrases in Hungarian, Szabolcsi concludes that the nominative subject must be the

subject of the infinitive: only-phrases occupy a focus position in the left periphery of the

clause and while postverbal focus exists in Hungarian, it is restricted to cases when there is

also a preverbal focus present in the clause. In sentence (1) such a preverbal focus is not

present, so the only-DP must indeed appear in the left periphery of the infinitive.

(1) Nem akar [csak ő men-ni busz-szal]

not want.3SG only he/she.NOM go-INF bus-with

‘He/She doesn’t want to be the only one to take the bus.’

For some native speakers of Hungarian the nominative subject of the infinitive is restricted to

be a pronoun, for others a lexical DP is also possible:

(2) Nem akar-nak [csak a fiúk büntetés-t kap-ni]

not want -3PL only the boys punishment-ACC get-INF

‘The boys do not want it to be the case that only they are punished.’

The question regarding the different grammars that account for this variation is particularly

interesting from a cross-linguistic perspective. The version in (1) with the infinitival control

subject surfacing in a pronominal form is widely attested among the null-subject languages,

while a lexical DP in the same position is ruled out. Barbosa (2016) discusses European

Portuguese data and derives the restriction on pronouns in sentences like (3) under

intrepretation (b) from the postverbal position of the DPs in the constructions in question, a

property shared by a number of Romance null-subject languages.

(3) Decidiu ir ao mercado só ele.

decided to.go to.the market only he

[a] ‘He is the only one who decided to go to the market’

[b] ‘He decided for it to be the case that only he goes to the market

Concerning the Hungarian data Barbosa states that the only difference between the Romance

null-subject languages and Hungarian is in the obligatory movement to the preverbal focus

position that only-phrases have to occupy in Hungarian, but the conclusions actually carry

over. While Barbosa’s proposal may offer an account of the Hungarian data with the same

restriction on pronouns, it is clear that we need a different account for the cases with lexical

DP subjects in the infinitival clause. My proposal is that the obligatory movement to the FocP

in the left periphery actually makes a difference. For Barbosa the exhaustivity interpretation

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of the postverbal DP follows from the predicative nature of the postverbal subject enforced by

the presence of D in T proposed for the consistent null-subject languages. In Hungarian it is

the FocP, which is identified to actually be a PredP in É. Kiss (2006), that leads to the

exhaustive reading of constituents that are not restricted to the subject. Importantly, our only-

DP subjects also end up in this position above T. I assume that it is this movement to the left

periphery that can lead to different grammars, one leading to the restriction on pronouns, the

other allowing for lexical DPs. I propose to exploit the articulate left periphery of Hungarian

infinitival clauses hosting projections including TopPs. While in the typical case the lower

copy of a DP in these constructions checks a focus feature within the infinitival, and a topic

(or a different) feature in the matrix left periphery, for some speakers both the topic and the

focus can be pronounced in the infinitival clause (potentially in the form of one single DP)

leading to the pronunciation of the full copy in the constructions under investigation in the

present paper.

The difference between the form of European Portuguese and Hungarian nominative

infinitival subjects boils down tothe difference in their position resulting from a difference in

the source of the exhaustive interpretation: post-verbal as opposed to left peripheral.

References:

• Barbosa, Pilar 2016. Overt subjects of raising and control infinitives and the mode of

composition of subjects in the consistent null subject languages,

http://ling.auf.net/lingbuzz/003077, 24 March 2017.

• É. Kiss, Katalin 2006. Focussing as Predication. In Valéria Molnár and Susanne Winkler

(eds.) The Architecture of Focus. Mouton de Gruyter, Berlin. 169-193.

• Szabolcsi, Anna 2006. Overt infinitival subjects (if that’s what they are). In Broekhuis et al.

(eds.) Organizing Grammar. De Gruyter. Berlin. 618–625.

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In Marcel den Dikken and Robert M. Vago (eds.) Approaches to Hungarian 11.

• Szabolcsi, Anna 2009b. Overt Nominative Subjects in Infinitival Complements: Data,

Diagnostics, and Preliminary Analyses. In NYU Working Papers in Linguistics,References

277 Vol. 2: Papers in Syntax, Patricia Irwin and Violeta Vasquéz Rojas Maldonado (eds.).

New York University.

• Tóth, Ildikó 2000. Inflected Infinitives in Hungarian. PhD dissertation. Tilburg University.

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Colóquio Internacional de Homenagem ao Professor Óscar Lopes – 6 e 7 de junho de 2017

1

Constituinte de frase - uma aprendizagem essencial desde o 1.º ciclo do ensino básico

O que se aprende nos primeiros anos de escolaridade é fundador das aprendizagens

subsequentes ao longo de um percurso escolar de 12 anos, abrangido pelo limite legal da

escolaridade obrigatória em Portugal, fixada nos 18 anos de idade. Esta assunção aplica-se,

naturalmente, a todas as aprendizagens. No presente artigo, destacar-se-ão as aprendizagens

relacionadas com o conhecimento da língua materna que a escola promove desde o 1.º ciclo

do ensino básico1, com especial incidência na consciência sintática.

O ensino e a aprendizagem escolar da gramática é uma área relevante na didática das

línguas. Destaca-se, a propósito, o trabalho pioneiro de Óscar Lopes em artigos da década de

50 como “Gramática escolar – reduto de um anacronismo”, com trabalho experimental com

alunos do liceu e reflexões produtivas no âmbito da didática da gramática. Esta reflexão foi

continuada por vários especialistas, organizando-se em torno de quatro questões primordiais:

(a) Por que razão é essencial o conhecimento explícito da língua na escolaridade obrigatória?

(b) Para que serve o ensino explícito da gramática, iniciado no 1.º ciclo? (c) O que ensinar e

em que ano de escolaridade ensinar, no campo do conhecimento explícito da língua? (d)

Como organizar as atividades letivas de modo a tornar efetivas as aprendizagens relacionadas

com o conhecimento explícito da língua? Não nos deteremos na explanação destas questões,

uma vez que são objeto de reflexão nos estudos que constituem a base do trabalho que

pretendemos apresentar. No entanto, será relevante indicar esses estudos.

A primeira questão é central em vários trabalhos, como, entre outros: Duarte 1986,

1992, 1993; Sim-Sim, 1995; Delgado-Martins & Duarte, 1993; Pinto, 2009; Silvano &

Rodrigues, 2010. Quanto à segunda questão, são numerosos os trabalhos que assumem a

premissa de que o conhecimento explícito da língua, desde o 1.º ciclo do ensino básico, é

essencial (Duarte 2008, Costa, 2009) para o desenvolvimento de competências como: a escrita

(Costa, A., 2008b), a oralidade (Costa, A. 2008a), a leitura (Costa, A., 2008a, 2008b), que

inclui naturalmente a compreensão e interpretação do texto literário (Fonseca 2000). O que

ensinar e em que ano de escolaridade ensinar tem sido ao longo das últimas décadas uma

questão central em reflexões e comunicações de especialistas como, entre outros, Fonseca, F.

I., 1989; Delgado-Martins, M. R., & Duarte, I., 1993; Sim-Sim 1995; Lopes, A. C. M. 1999;

Duarte, I., e Costa, A., 2004. Quanto ao modo como se organiza o ensino e a aprendizagem do

conhecimento explícito da língua, vários especialistas têm desenvolvido estudos que

clarificam a questão e a sua problemática (Castro, 1995; Costa, A L., 2010; Silvano e

Rodrigues 2010).

Esta comunicação é orientada por duas questões: (i) Quais as aprendizagens que os

especialistas em sintaxe referem como essenciais para o ensino básico e secundário? (ii) Que

vantagens estão associadas ao desenvolvimento da consciência sintática (Duarte 2008) em

geral e da conceção da frase enquanto formação baseada em constituintes, em particular?

Estas questões produziram um trabalho organizado do seguinte modo: expõe-se o

resultado de uma análise de trabalhos que relacionam sintaxe e ensino do Português no que se

refere ao desenvolvimento da consciência sintática, em particular no que respeita à análise de

frases simples, isto é, frases formadas por uma só oração; discutem-se as alterações ocorridas

nos documentos programáticos, entre 1991 e 2015, relativamente aos conteúdos associados à

unidade frase e os problemas associados ao modo como a análise tradicional da frase ocorre

em contexto escolar; apresenta-se uma atividade didática construída de modo a poder

exemplificar um modo de abordar determinados conteúdos relacionados com a frase simples,

que desenvolva um outro olhar sobre atividades que são habituais em sala de aula.

1 Não integramos, nesta comunicação, o conhecimento sobre a língua desenvolvido no ensino pré-escolar por,

nessa etapa da escolarização, o trabalho relacionado com a língua materna ser de natureza desenvolvimental e

não metalinguístico.

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Colóquio Internacional de Homenagem ao Professor Óscar Lopes – 6 e 7 de junho de 2017

2

A análise comparativa dos programas de Português do 1.º ciclo, com incidência na

sintaxe, com base nos documentos legais de 1991, 2009 e 2015, permitirá comparar o que tem

vindo a ser selecionado como relevante e interpretar os dados recolhidos para compreender

como tem evoluído a gramática escolar neste domínio. Pretende-se constatar a coexistência de

dois pontos de vista: um predominante, que é a análise tradicional da frase em sujeito e

predicado, e outro emergente, que é a análise da frase simples em constituintes aos quais são

atribuídas funções sintáticas. Propõe-se, nesta sequência, uma reflexão sobre os problemas

associados a uma análise tradicional e as vantagens em desenvolver a consciência da unidade

frásica. A sequência didática envolvendo a construção de textos com frases cada vez mais

sofisticadas serve para exemplificar uma atividade gramatical apropriada ao 1.º ciclo do

ensino básico, que é a base do conhecimento sintático a desenvolver ao longo da escolaridade

obrigatória.

Em conclusão, a explicitação dos fundamentos teóricos associados à abordagem da

frase a partir da análise dos seus constituintes, desde o 1.º ciclo do ensino básico, e a

exemplificação de atividades decorrentes dessa conceção de desenvolvimento de consciência

sintática e de conhecimento explícito gramatical constituem, na nossa perspetiva, um

contributo necessário para o debate em torno das aprendizagens essenciais na disciplina de

Português.

Referências bibliográficas Brito, A. M. (1997). Retomar e reinventar o ensino da gramática da Língua Materna. In Actas do II

Encontro Nacional da APP – Aprendendo a ensinar português.

Castro, Rui V. (1995). Para a análise do discurso pedagógico. Constituição e transmissão da

gramática escolar. ed. 1, 1 vol.. Braga: Universidade do Minho.

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Diversidade linguística na escola portuguesa. Lisboa: F. C. Gulbenkian, 265-270.

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(org). Actas da Conferência Internacional sobre o Ensino do Português. Lisboa: ME_DGDIC, 167-

182.

Costa, J. & Santos, A.L. (2003). A Falar como os Bebés. O Desenvolvimento Linguístico das

Crianças. Lisboa: Caminho.

Delgado-Martins, M. R., & Duarte, I. (1993). Brincar com a linguagem, conhecer a língua, fazer

gramática (pp. 9-16). In Fátima Sequeira (org.), Linguagem e desenvolvimento. Braga: Instituto de

Educação-Universidade do Minho.

Duarte, Inês (1992), Oficina gramatical: contextos de uso obrigatório do conjuntivo. In Delgado-

Martins et al. Para a Didáctica do Português. Seis estudos de Linguística. Lisboa: Edições Colibri,

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Barbeiro, Luís Filipe et al. (orgs), Ensino-Aprendizagem da Língua Portuguesa, Leiria, Escola

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Lopes, O. (1971). Gramática simbólica do Português. Lisboa: Instituto Gulbenkian de Ciência.

Pinto, M. G. C. (2009). A linguagem ao vivo. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

Acedido em http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/8218.pdf

Silvano, P. e Rodrigues, S. V. (2010). A pedagogia dos discursos e o laboratório gramatical no ensino

da gramática. Uma proposta de articulação. In Brito, A. M. (org) Gramática, História, Teorias e

Aplicações. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto e CLUP, 275-286.

Sim-Sim, I. et al. (1997). A Língua materna na Educação Básica – Competências Nucleares e Níveis

de Desempenho. Lisboa: ME-DEB.

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Identidade(s) em xeque: a mobilização de objetos de discurso como estratégia de

construção do “outro”

Partimos do entendimento de que as identidades são produzidas na ordem das práticas

discursivas, por isso, consideramos que não podem estar dissociadas das relações de poder e,

em função disso, sua produção ocorre no confronto entre posições políticas existentes em cada

sociedade. Dito de outro modo, toda identidade institui uma diferença constitutiva de seu

sentido, sendo, portanto, relacional e dependente de algo exterior a ela para existir, o que fica

bem ilustrado pelo famoso paradoxo sartreano “o inferno são os outros”. Nesse sentido,

entendemos que a construção da identidade acontece sempre por meio do confronto entre a

afirmação daquilo que um sujeito acredita ser em oposição àquilo que ele acredita não ser, ou

seja, ao se atribuir determinadas características performativas de sua identidade, esse sujeito o

faz em uma relação de dialética, negando todas as demais possibilidades. Ao assumir essa

posição, o “outro” sempre constituirá uma forma de coerção: ao mesmo tempo que impede a

“liberdade plena” do indivíduo, sendo uma fonte permanente de contingências, é essencial para

o reconhecimento daquilo que esse indivíduo é, a partir de uma relação de contraste entre um

“eu” e um “outro”, de algo que ele não é, mas sem o que ele não existiria.

Desse modo, a fim de observar como a questão identitária é retomada e problematizada

no discurso pronunciado por Xanana Gusmão no dia 13 de outubro de 1982, durante o período

em que Timor-Leste esteve sob jugo indonésio, propomo-nos a analisar, entre as estratégias

discursivas, os elementos linguísticos, em especial o processo de construção de objetos de

discurso, utilizado por Gusmão nas menções aos “outros”, considerados, nesse contexto, os

“inimigos” da nação. Entende-se que esse expediente linguístico-discursivo constitui um

procedimento retórico-argumentativo que visa à valorização das teses postuladas pelo orador –

ocupante de um lugar socialmente legitimado por aqueles que eram favoráveis à

autodeterminação do país, o de líder das Forças de Resistência, e ao enfraquecimento dos

discursos de oposição. Nesse sentido, a cadeia referencial por meio da qual o “outro” é

(re)construído em seu discurso contribui para a criação de um contexto que fortalece as ações

da guerrilha e, em simultâneo, reduz gradativamente a importância do inimigo, o qual se

transforma ao longo do discurso de “camarilha sanguinária” – agente – em “inimigo

impotente” – alvo das ações das forças de resistência. Reforça-se, desse modo, o fato de que,

considerando as expectativas de seu auditório, o orador, como um sujeito sociocognitivo,

edifica um discurso pathemizado – resultado de escolhas linguísticas –, o qual promove uma

(re)construção ideológica de seu objeto de discurso, o inimigo.

O referencial teórico para a análise do corpus apoia-se nos trabalhos desenvolvidos por

Koch (2002, 2004); Marcuschi (2002); Mondada e Dubois (1995); Perelman e Olbrechts-

Tyteca (1958), Charaudeau (2008), Hall (2006, 2000), Gunn (2001), Pinto (2015) e Moita

Lopes (2006).

Referências Bibliográficas

CHARAUDEAU, Patrick. Linguagem e discurso: modos de organização. Trad. Ângela M. S.

Corrêa e Ida Lúcia Machado. São Paulo: Contexto, 2008.

GUNN, Geoffrey. Língua e cultura na construção da identidade de Timor-Leste. Revista de

Letras e Culturas Lusófonas Camões. Timor Lorosa’e, n.14, Junho-Setembro 2001, p.14-25.

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HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Trad. Tomaz Tadeu da Silva e

Guacira Lopes Louro. 11 ed. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2006.

____. Quem precisa de identidade? In: SILVA, Tomas Tadeu da. (org.) Identidade e

diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Trad. Tomaz Tadeu da Silva. Petrópolis: Vozes,

2000. pp. 103-133.

KOCH, Ingedore G. Villaça. Introdução à linguística textual. São Paulo: Martins Fontes,

2004.

____. Linguagem e cognição: a construção e reconstrução de objetos-de-discurso. In: Veredas

– Revista de Estudos Linguísticos. v. 6, ano 1. Juiz de Fora: UFJF, 2002. pp. 29 a 42.

MARCUSCHI. Luiz Antônio. Do código para a cognição: o processo referencial como

atividade criativa In: Veredas – Revista de Estudos Linguísticos. v. 6, ano 1. Juiz de Fora:

UFJF, 2002. pp. 43 a 62.

MOITA LOPES, Luiz Paulo da (org). Discursos de identidades: discurso como espaço de

construção de gênero, sexualidade, raça, idade e profissão na escola e na família. Campinas,

SP: Mercado de Letras, 2006.

MONDADA, Lorenza; DUBOIS, Danièle. Construção dos objetos de discurso e categorização:

uma abordagem dos processos de referenciação [1995]. In: CAVALCANTE, Mônica

Magalhães et. al. Referenciação. São Paulo: Contexto, 2003.

PERELMAN, Chaïm; OLBRECHTS-TYTECA, Lucie. Tratado da argumentação. A Nova

Retórica. Trad. Maria Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 1958.

PINTO. Alexandra Guedes. A retórica do eu e do outro – The Othering. A gramática da

identidade no discurso político. In: Estudos do discurso: caminhos e tendências. São Paulo:

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O estatuto fonológico do rótico dorsal em português europeu

à luz dos dados de aquisição

Os róticos apresentam grande variação fonética nas línguas do mundo, o que impossibilita

a identificação de traços segmentais comuns a todos os segmentos que integram esta classe (Wiese,

2001, 2011). Em contraste com a variação fonética, apresentam homogeneidade em termos

fonológicos, nomeadamente no comportamento fonotático (Hall, 1997; Wiese, 2011).

Também em português, a caracterização de uma classe de róticos é problemática, pela

existência, pelo menos no nível fonético, de dois sons desta classe. Paralelamente, a variação

fonética que caracteriza os róticos das línguas do mundo está também presente no português. O

rótico dorsal (/ʀ/) é particularmente heterogéneo, podendo ser articulado, no português europeu

contemporâneo, como uma vibrante ([r] ou [ʀ]) ou como uma fricativa ([ʁ], [χ] ou [x]). Diversos

estudos têm confirmado que a articulação como fricativa uvular sonora ou surda é a realização

mais comum no PE atual (entre outros, Mateus & d’Andrade, 2000; Rennicke & Martins, 2012).

O principal objetivo deste trabalho é contribuir com dados empíricos para a discussão

sobre o estatuto fonológico do rótico dorsal em português europeu. Com base nos dados de uma

amostra de 80 crianças falantes nativas de dialetos setentrionais do PE de ambos os sexos e com

idades compreendidas entre os 3 anos e os 4 anos e 11 meses, são analisadas todas as produções

de róticos em ataque não ramificado (um total de 1398 tokens), de modo a identificar o padrão

de substituições a que são sujeito. A análise das produções alternativas da criança ao longo do

processo de aquisição é uma forma de aceder às representações dos sons que ouve e que são

contrastivos no sistema (Fikkert 2007, Fikkert e Levelt 2008).

Os dados revelam que as crianças utilizam estratégias diferentes na tentativa de produção

dos dois róticos em ataque não ramificado: o rótico coronal é preferencialmente apagado,

enquanto o dorsal é tendencialmente substituído por outro segmento. Analisados os padrões de

substituição dos dois róticos, verificou-se que o rótico dorsal é substituído preferencialmente

por uma obstruinte, principalmente oclusiva, enquanto as substituições do rótico coronal

privilegiam outra soante.

As diferenças encontradas no modo como as crianças que participaram no presente estudo

tratam o rótico dorsal sugere alguma instabilidade na representação deste segmento, já que, para

algumas crianças, é categorizado como obstruinte e, para outras, como aproximante. Esta

instabilidade poderá estar relacionada com as etapas de desenvolvimento fonológico em que se

encontram e / ou com uma eventual mudança em curso no PE.

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Movimento ascendente e descendente em Português Europeu: os casos dos verbos “subir” e “descer”

Neste trabalho, pretende-se descrever diversas interpretações que os verbos “subir” e

“descer” podem assumir em Português Europeu (PE) e relacionar essas interpretações com as preposições que podem coocorrer nas predicações em análise.

Deste modo, começaremos por apresentar os dados referentes à análise das ocorrências destes verbos em dois corpora escritos (ambos jornalísticos), evidenciando as diversas aceções que estes verbos podem assumir e contrastando com o que é habitualmente referido na literatura (e.g., Vilela, 1992).

Num segundo momento, concentrar-nos-emos nos casos em que os SPs são interpretados como Destino ou Alvo (em sentido lato), descrevendo-os e avançando com hipóteses explicativas. Destacamos aqui dois exemplos.

Ao contrário do que se verifica com os verbos de modo de movimento e os verbos de movimento direcionado “ir/vir” (cf. Leal & Oliveira, 2008; Leal, Oliveira & Silvano, no prelo), nem sempre se verificam alterações na interpretação aspetual das predicações quando se permuta “para” por “até” em predicações com “subir” e “descer”. Assim, aparentemente, quando o sintagma preposicional introduz um Destino que é um valor numa escala, “para” e “até” parecem ser equivalentes, no sentido em que denotam Destinos que são atingidos (nenhuma leitura meramente direcional com “para” neste caso, como acontece quando coocorre com os verbos “ir” e “vir”), pelo que ambas as preposições: (i) dão origem a leituras de medição do estado consequente, quando combinadas com o adverbial “durante x tempo” (cf. (1a)); e (ii) não dão origem a leituras não culminativas (cf. (1b)).

(1) A Mars Global Surveyor desceu {para/até} 420 quilómetros de altitude (1a) A Mars Global Surveyor desceu {para/até} 420 quilómetros de altitude durante 2

horas (= A Mars Global Surveyor esteve a 420 km de altitude durante 2 horas) (1b) * A Mars Global Surveyor desceu {para/até} 420 quilómetros de altitude, mas a meio

do caminho explodiu. Note-se, contudo, que as diferenças entre estas preposições não são completamente

anuladas, havendo casos em que a distinção entre elas se mantém: por exemplo, apenas “até” pode introduzir sintagmas de medição, como se vê em (2).

(2) A sonda pode descer até 420 km no interior do planeta / * A sonda pode descer para 420 km no interior do planeta

Um outro aspeto a explorar prende-se com o tipo de sintagma que pode ter a interpretação de Destino. De acordo com Bosque (2015), quando há movimento ascendente, o Espanhol pode apresentar três tipos distintos de Destinos: os de tipo “upper-place”, quando um movimento ascendente atinge uma posição situada em local elevado; os de tipo “onto”, quando um movimento ascendente termina sobre algo; os de tipo “end-of-path”, quando o movimento ascendente ocorre ao longo de um percurso que contém o seu ponto terminal.

Em PE, verifica-se também a ocorrência do verbo “subir” com SPs com a preposição “a” evidenciando estas três interpretações, tal como em Espanhol. Vejam-se (3-5).

(3) par=ext545317-soc-92b-1: Sou conhecidíssimo como claustrofóbico; nem uma manada de elefantes seria capaz de me fazer subir a um sótão

(4) par=ext668220-soc-93a-1: Nunca mais pode subir a um andaime, fica inutilizado para o mercado do trabalho

(5) par=ext690627-pol-93b-1: Aproveito o tempo livre para percorrer o recinto amuralhado do palácio de Diocleciano, passear pelas encantadoras vielas de Tragir, subir a um dos montes que domina a baía de Split

Contudo, há outras preposições que também indicam Destino em Português, mas que, contrariamente ao que acontece com a preposição “a”, não podem ocorrer como “end-of-

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path”. Assim, tanto em (5a) como em (5b), a troca da preposição “a” pelas preposições “para” e “até” leva a uma alteração do significado do SP original (em (5)), pelo que “para um dos montes…” e “até um dos montes…” são interpretados não como “end-of-path”, mas como “upper-place”.

(3a) ele subiu para o sótão (3b) ele subiu até ao sótão (4a) Nunca mais pode subir para um andaime (4b) Nunca mais pode subir até um andaime (5a) # Aproveito o tempo livre para subir para um dos montes que domina a baía de Split (5b) # Aproveito o tempo livre para subir até um dos montes que domina a baía de Split

Um outro aspeto referido em Bosque (2015) para o Espanhol e que também se verifica em PE (cf. Vilela, 1992) está relacionado com a possibilidade de alternância entre construções com SN objeto direto e construções com oblíquo introduzido por preposição, que está restringida aos casos em que o SP é interpretado como “end-of-path”. Assim, (5) e (5c) apresentam aproximadamente o mesmo significado, o que não se passa quando se comparam (3) com (3c) e (4) com (4c).

(3c) # ele subiu o sótão (4c) # Nunca mais pode subir um andaime (5c) Aproveito o tempo livre para subir um dos montes que domina a baía de Split

No entanto, os dados mostram que há diferenças no interior do conjunto das expressões que permitem este tipo de alternância. Por um lado, os SNs com interpretação de “end-of-path” podem alternar ainda com SPs introduzidos por “por”.

(6) subir por uma escada claustrofóbica / subir uma escada claustrofóbica (7) subir ao World Trade Center / subir o World Trade Center

Por outro lado, a possibilidade de coocorrência destas expressões é distinta, como ilustram os exemplos (8): podem-se combinar os dois SPs, mas apenas o SP-por se combina com o SN objeto direto.

(8a) par=ext516165-clt-93a-2: Pode-se entrar no metro imaginário, no táxi, subir por uma escada claustrofóbica ao World Trade Center

(8b) subir por uma escada claustrofóbica o World Trade Center (8c) * subir uma escada claustrofóbica ao World Trade Center

Uma análise preliminar dos dados aponta para o seguinte: quando estes verbos se combinam com “para” e “até”, o seu contributo lexical parece ser determinante para as propriedades aspetuais das predicações, pelo menos quando comparados com o que se passa com verbos como “ir” e “vir”, o que justifica, por exemplo, a aparente anulação das diferenças entre as preposições “para” e “até” em casos como (1). Mas, quando se combinam com preposições como “a”, esta parece ser mais relevante. Referências Bosque, I. (2015) Inner and outer prepositions with Spanish verbs of vertical movement. In

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Vilela, M (1992) Verbos de movimento: abordagem semântica e sintáctica. In Gramática de Valências: Teoria e Aplicação. Coimbra: Almedina, pp.185-200.

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Colóquio Internacional de Homenagem ao Professor Óscar Lopes | 6 e 7 de junho 2017

O verbo modal ter de na interface sintaxe-semântica-discurso

Num texto em que apresenta algumas peculiaridades semânticas do português, Óscar Lopes (2005 [1983]) destaca “o verbo ter como portador de aparentes ambiguidades modais” (Lopes, 2005: 32), identificando os valores deônticos resultantes da combinação de ter de com verbos inacusativos ou inergativos e a leitura ora deôntica, ora disposicional possível em construções transitivas. Está, desta forma, o autor a evidenciar a existência de “certas regularidades ou sub-rotinas fundamentais” (Lopes, 2005: 16) inscritas “no conjunto básico de paradigmas do discurso linguístico” (Lopes, 2005: 16), constatação que nos conduziu à tentativa de sistematizar, a partir de informações oriundas da investigação em semântica, sintaxe, pragmática e em linguística textual e discursiva, contributos para uma caracterização linguística do verbo ter de, no quadro dos semiauxiliares modais. Assim, propomo-nos explicitar algumas dessas características e, num segundo momento, direcioná-las para uma abordagem exploratória da relação entre leituras modais e tipos sintáticos de verbos, tal como sugerida por Óscar Lopes.

A polifuncionalidade a que aludimos acima é um dos traços mais marcantes dos verbos modais, que integram a categoria dos semiauxiliares (Gonçalves, 2002). A leitura destes verbos resulta da combinação de dois domínios – a possibilidade e a necessidade – com quatro tipos de modalidade: interna ao participante, externa ao participante, deôntica e epistémica (van der Auwera & Plungian, 1998). Essa leitura envolve “the lexical properties of individual modals, the syntactic structures they appear in, and the discourse context” (Kratzer, 2012: 68).

O semiauxiliar ter de, tal como dever, surge no domínio da necessidade, podendo ocorrer numa dimensão deôntica, epistémica, externa ao participante e, até, interna ao participante. A sua força modal resulta de uma restrição máxima de mundos possíveis (Kratzer, 1981; 2012), situando-se no polo positivo (certo/obrigatório) da escala dos verbos modais, que, em português, contempla dois outros verbos, poder e dever (Oliveira, 1988). A identificação dos subtipos modais implica, igualmente, a avaliação do modo como ter de combina com alguns valores aspetuais. Aqui, a possibilidade de controlo da situação pelo destinatário é um critério fundamental, tanto nas situações eventivas, como nas estativas (Campos, 1998; Johnen, 2010). Assim, quando combinado com o infinitivo composto ou com o progressivo, este verbo apenas admite a leitura epistémica com predicados não controláveis pelo sujeito (O cliente tem de ter sido atendido/estar a ser atendido.). Se se verificar uma estrutura com controlo do sujeito, a interpretação deôntica é preferencial perante o progressivo (O funcionário tem de estar a trabalhar a esta hora.) e também nas construções perfetivas, mas apenas se o modal surgir no imperfeito ou no condicional (cf. O funcionário tem de ter concluído a tarefa. / O funcionário tinha de ter concluído a tarefa., sendo preferencial a leitura epistémica no primeiro caso e a deôntica no segundo).

Consideradas as diferentes classes aspetuais de verbos, ter de ativa uma interpretação deôntica perante processos culminados, culminações e processos envolvendo agentividade, bem como perante estados episódicos (Tens de estar atento à explicação.) ou faseáveis, mas o mesmo não sucede com estados estáveis, em que as modalidades epistémica ou externa ao participante (Tens de ser alto para entrares na equipa de basquetebol.) serão preferenciais.

Por norma, a distinção entre valores não epistémicos depende de particularidades semânticas, mas também pragmáticas (Johnen, 2010). No domínio acional, quando um locutor utiliza dever ou ter de, não se limita a apontar alternativas, mas procura direcionar a escolha do interlocutor: usando dever, destaca uma de poucas possibilidades acionais, enquanto, com ter de, exclui a eleição de qualquer outra. No entanto, a leitura de obrigação forte prototípica associada a este último verbo pode ser atenuada em certos atos injuntivos de natureza não impositiva (Duarte, 2006), como se verifica em convites (Tens mesmo de vir à minha festa de anos) e pedidos (Tens de me ajudar a arrumar a casa).

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Este efeito de atenuação pode ser, igualmente, obtido em enunciados modalizados pelo princípio da delicadeza, que evidencia afinidades com a modalidade (Carreira, 2001). Um enunciado como Tens de provar este bolo. constitui o exemplo de como a cortesia inverte, tal como a negação (Oliveira & Mendes, 2013), a escalaridade modal, transformando uma obrigação forte numa sugestão, tal como Lakoff (1972) sugeriu para o inglês: se, habitualmente, ter de impõe ao alvo deôntico a obrigação de fazer algo que não lhe agrada, neste caso, o que lhe é proposto pelo locutor é algo que lhe dará prazer.

Assim, a análise da combinação entre ter de e diferentes tipos sintáticos de verbos pressupõe considerar a possibilidade de controlo da situação pelo sujeito, mas também a intencionalidade e o estatuto do locutor, que configuram diferentes atos discursivos. Em construções inergativas como Tens de andar rápido. / Tens de brincar com os teus amigos., a leitura deôntica mais forte parece mais facilmente ativada em brincar do que em andar, porque o alvo deôntico poderá controlar melhor a segunda situação do que a primeira. Pela mesma razão, em enunciados inacusativos como Tens de acordar cedo. / ?Tens de te magoar., a leitura deôntica é bloqueada com o verbo magoar-se, mas não em acordar, dependendo do estatuto dos interlocutores a maior ou menor intensidade do ato injuntivo.

Também o subtipo de verbo pode ser relevante nas leituras mais proeminentes de ter de. Os verbos inacusativos de mudança de estado por causa interna (Duarte, 2003; Brito, 2005), como empalidecer, não admitem a interpretação deôntica, favorecendo as modalidades interna ou externa ao participante. Nos verbos de alternância, como derreter, a construção inacusativa (O gelo tem de derreter) parece ativar, em primeira instância, a leitura externa ao participante, enquanto a estrutura transitiva admite uma leitura deôntica, dependente do grau de controlo pelo alvo deôntico (A cozinheira tem de derreter o chocolate).

Esta abordagem exploratória da combinação entre ter de e diferentes tipos sintáticos de verbos constitui mais um argumento a favor da ideia, que nesta comunicação pretendemos explorar, de que é da combinação entre informações aspetuais, tempos verbais, a dimensão agentiva dos predicados e o controlo pelo sujeito que resulta um espectro bastante variado de leituras do semiauxiliar modal ter de.

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Contributo para a história da deixis espacial do português

Óscar Lopes deu uma particular atenção ao tema da deixis espacial. Já em 1971,

na Gramática Simbólica do Português, dedicou um importante capítulo ─“Os

demonstrativos como expressão de vizinhanças topológicas”─ aos deíticos pronominais

e adverbiais não só nos seus valores na topologia do espaço em sentido restrito, mas

também, como virá a referir em texto posterior, “em várias topologias temporais, modais,

de ordem axiológica, de ordem discursiva, narrativa, inferencial, etc.” (Lopes,1986:114).

Neste texto, em que analisa “Algumas peculiaridades semânticas do português”, aponta

(seguindo a proposta de Teyssier, 1981) o início da fase da literatura clássica, no século

XVI, como período da estabilização da oposição ternária com os paradigmas das formas

modernas pronominais isto, isso, aquilo, e o paradigma das formas adverbiais aqui, aí,

ali, cá, lá e acolá.

O objetivo desta comunicação é de precisar a cronologia da evolução do sistema

dos deíticos espaciais do português, tentando precisar esse marco cronológico da

estabilização do sistema, a partir da análise de textos de diversas tradições discursivas, e

em diferentes sincronias. A análise terá também como objetivo relacionar a tipologia dos

textos com as inovações na configuração do sistema, tentando determinar em que tipo de

tradição discursiva se observa a progressiva diminuição da frequência das formas acó/aló,

e o aparecimento das formas aqui/ali e cá/ lá e a frequência crescente da sua utilização.

No período mais ou menos extenso de coexistência de formas, em que há sempre ajustes

lentos e graduais, será importante observar quando e em que tipo de textos ocorrem

pequenas fraturas e também a frequência com que se apresentam as formas mais

inovadoras ou mais conservadoras.

Para a tarefa de analisar textos das mesmas tradições em sincronias sucessivas é

necessário ter em atenção a periodização já reconhecidamente estabelecida da língua

portuguesa, e as fontes disponíveis para cada período.

A análise será feita em dois intervalos cronológicos, abarcando os séculos XIII/ XIV, e

XV/XVI. Tentarei uma concentração de textos das mesmas tradições discursivas nas

diferentes sincronias, tanto quanto possível com amostras quantitativamente comparáveis

e incluindo textos literários e não-literários. Há muitos textos literários nas fontes

disponíveis e estes têm sido utilizados em análises linguísticas históricas. Mas nessa

análise deve ser tida em conta a existência de gostos linguísticos específicos e de modelos

textuais que condicionam a produção discursiva. É muito importante, por exemplo, na

análise da língua do séc. XVI o estudo da obra de Gil Vicente, pela quantidade de dados,

pela cronologia da obra e pela presença de ‘estilos’ linguísticos diferentes. A obra

vicentina constitui mesmo o corpus quinhentista do interessante estudo de Paul Teyssier

sobre o sistema dos deíticos em português. (1981). O século XVI é um período

fundamental na diacronia do português, por ser um período de estandardização do idioma

em que a dinâmica da mudança se torna possivelmente mais lenta, mas ainda com

variação muito evidente. Tentarei utilizar um corpus de textos do séc. XVI alargado a

diferentes tipologias, porque é sempre produtivo reanalisar textos com novas

perspetivações metodológicas e teóricas, tentando evitar a subordinação da história da

língua ao estudo de grandes obras literárias (Company, 2014).

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A natureza homogénea do Pretérito Perfeito Composto em Português Europeu O Pretérito Perfeito Composto do Indicativo (PPC) é um tempo que apresenta certas

peculiaridades em Português Europeu (PE) que o distinguem inequivocamente de construções similares em outras línguas românicas (ver, por exemplo, Squartini & Bertinetto, 2000). De facto, enquanto, nas línguas românicas, esta construção veicula apenas uma eventualidade, em PE surge tipicamente uma leitura de repetição de eventualidades. Contudo, essa leitura não surge em todos os casos: sob certas condições (cf. Oliveira & Leal, 2012), o PPC pode ter uma leitura de eventualidade única. Veja-se (1), a título exemplificativo. A ligação anafórica entre a predicação e a sua nominalização mostra que, para este exemplo, está disponível a leitura de repetição de situações (1a), mas também a de eventualidade única (1b).

(1) Os deputados têm discutido a proposta. a. Estas discussões têm sido inúteis. b. Esta discussão tem sido inútil. Uma questão que parece não ter sido suficientemente abordada em trabalhos anteriores

sobre este tempo prende-se com o tipo de repetição de situações que está muitas vezes subjacente ao PPC. Levanta-se, pois, a hipótese de esta repetição se enquadrar no âmbito da iteração, da frequência ou mesmo da habitualidade.

De acordo com Cunha (2006), a iteração comporta-se como um operador aspetual que converte uma série de eventos de natureza limitada numa única situação de tipo processual. Por seu lado, a frequência pode ser entendida como mera quantificação sobre situações (com diferentes padrões de repetição) que não resulta em alterações significativas do ponto de vista aspetual e temporal das eventualidades básicas. Finalmente, a habitualidade está relacionada com uma repetição de situações que decorre em intervalos de tempo necessariamente longos e preferencialmente não delimitados, estabelecendo propriedades caracterizadoras das diversas entidades que predicam e criando predicados de indivíduo a partir de uma generalização sobre propriedades episódicas.

Tendo em conta as definições anteriores, o PPC em PE não se enquadra facilmente numa destas classificações, embora evidencie características de todas elas. Por um lado, o PPC não requer intervalos de tempo longos, nem parece corresponder a propriedades gerais das entidades que predica, pelo que não se enquadra nas estruturas de habitualidade (cf. (2)).

(2) O rapaz tem chegado tarde às aulas nesta semana, o que nem é hábito nele.

Por outro lado, o PPC, com certas predicações, nomeadamente alguns estados e

processos, não acarreta uma pluralização de situações, algo de todo contrário ao que se verifica com as construções de frequência. Veja-se o que foi dito acerca de (1b); vejam-se ainda os exemplos em (3), com leitura de eventualidade única, facto favorecido pela ocorrência (não obrigatória) do adverbial temporal.

(3) a. O João tem estado no jardim (na última meia hora). b. O João tem perseguido a sua vizinha (na última meia hora). Finalmente, o PPC pode ter um intervalo de ocorrência relativamente longo. Para além

disso, pode ter intervalos significativos entre os subeventos, pelo que não corresponde completamente à definição de iteração dada em Cunha (2006) (cf. (4)).

(4) As alterações climáticas têm causado épocas glaciares.

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Um dos objetivos desta apresentação é, pois, discutir a quantificação sobre situações que está subjacente ao PPC em PE à luz das noções de frequência, habitualidade e iteração. Numa primeira parte, e baseando-nos em dados de corpora e em exemplos construídos, procuraremos dar conta das diferentes leituras que este tempo gramatical permite, de forma a poder enquadrá-lo enquanto construção representativa de um destes conceitos teóricos. Defenderemos que o mais adequado é o de iteração, na medida em que o PPC converte um número não determinado de eventos básicos do mesmo tipo numa única eventualidade, da qual os eventos básicos são subfases. Dado que a iteração veiculada pelo PPC não exige um intervalo curto, nem a contiguidade dos eventos, assim como não exclui processos e estados, defenderemos ainda a necessidade de reformular parcialmente a definição de iteração dada em Cunha (2006).

Numa segunda parte da comunicação, apresentaremos uma análise aspetual do PPC que inclui tanto a leitura de eventualidade única como a leitura iterativa, no sentido de fornecer uma explicação unificada para as leituras apontadas em (1). Para isso, recorreremos à noção de homogeneidade tal como é definida em Landman & Rothstein (2012). Defenderemos que a propriedade da homogeneidade é uma propriedade aspetual central do PPC em PE e que a oposição entre homogeneidade segmental e homogeneidade incremental proposta por estes autores para os adverbiais do tipo de “for x time” permite explicar ambas as leituras deste tempo gramatical.

Referências Cunha, L.F. 2006. Iteração, Frequência e Habitualidade: Algumas Reflexões. Actas del VII

Congrés de Lingüística General. Barcelona: Universidad de Barcelona (CD-Rom). Landman, F. & Rothstein, S. 2012. The felicity of aspectual for-phrases, part 2: incremental

homogeneity. Language and Linguistic Compass. Oxford: Blackwell-Wiley, 97-112. Squartini, M.; Bertinetto, P.M. 2000. The Simple and Compound Past in Romance Languages.

Dahl, Ö. (ed.). Tense and Aspect in the Languages of Europe. Berlim: Mouton de Gruyter, 403-440.

Oliveira, F. & A. Leal 2012. Sobre a Iteração do Pretérito Perfeito Composto em Português Europeu. Linguística 7, 65-88.

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Relação entre débito elocucional e formalidade da situação discursiva Beatriz Fachada (1.º ano, Mestrado em Linguística, FLUP)

Este trabalho pretende averiguar a relação existente entre o débito elocucional e a

formalidade da situação discursiva. Partiu-se, assim, da possibilidade de se estabelecer uma relação entre a formalidade da situação discursiva e a quantidade de material linguístico, caraterizado no número de palavras, número de sílabas e número de segmentos; e ainda da possibilidade da formalidade da situação discursiva se relacionar com a frequência de apagamento de material fonético. Considerou-se como registo formal o discurso utilizado em situações protocolares, e que pressupõe a existência de um guião pré-elaborado e uma maior distância entre locutor e interlocutor. Como registo informal considerou-se o discurso em que não é utilizado um guião, sendo, por isso, um discurso espontâneo - este registo é utilizado em situações onde há uma maior intimidade e proximidade entre locutor e interlocutor. De modo a investigar o tema, foi constituída uma amostra que contempla oito discursos representativos de quatro graus de formalidade, sendo estes: discurso solene, noticiário radiofónico, entrevista radiofónica e entrevista espontânea. Foram selecionados cinco minutos de cada discurso, em que intervém apenas um falante; posteriormente, foi feita a transcrição ortográfica, permitindo, através desta, contabilizar-se o número de palavras e de sílabas teóricas; por fim, foi elaborada a transcrição fonética das cem primeiras palavras de cada discurso, sendo assim possível contabilizar o número de segmentos teóricos e eliminados, resultando assim no número de apagamentos fonéticos e na frequência do apagamento fonético de cada discurso representativo. Apresentar-se-ão todos os resultados obtidos, a discussão que esses resultados suscitam e as possíveis conclusões que se podem retirar desta investigação. Referências bibliográficas Delgado-Martins, Raquel & M. João Freitas (1993). Estruturação temporal da fala: análise acústica e reconhecimento perceptivo. In Actas do Encontro de Processamento da Língua Portuguesa Escrita e Falada. Lisboa: INESC, pp. 197-202. Delgado-Martins, Raquel & M. João Freitas (1992). Contributo para a identificação de elementos estruturadores da entoação na leitura. In Actas do VII Encontro Nacional da APL. Lisboa: APL, pp. 93-105. Delgado-Martins, Raquel & M. João Freitas (1991). Temporal structure of speech: reading news on TV. InProceedings of the ESCA Workshop on Phonetics and Phonology of Speaking Styles: Reduction and Elaboration in Speech. Barcelona: ESCA, pp. 19.1-19.5. Faria, Isabel, Armanda Costa, M. João Freitas & Luísa Figueira (1994). Processamento da informação na leitura oral em situação de stress: construção do desenho experimental e análise dos resultados. In Actas do IX Encontro Nacional da APL. Lisboa: APL, pp. 211-234. Ferreira Netto, W. (2007), O acento na língua portuguesa. In Gabriel Antunes de Araújo. (Org.). O acento em português: abordagens fonológicas. São Paulo: Parábola Editorial, p. 21-36. Ferreira Netto, W. (2008) Tradição oral e produção de narrativas. São Paulo: Paulistana. Ferreira Netto, W. (2008), A sílaba na língua portuguesa. In Luiz Carlos Cagliari (Org.).

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O Tempo e a Linguagem.. São Paulo: Cultura Acadêmica, p. 97-118. Ferreira Netto, W. ; Consolini, F. (2008), Estratégias prosódicas da leitura em voz alta e da fala espontânea. Alfa (ILCSE/UNESP), v. 52, p. 521-534. Freitas, M. João (1988). Elementos para um estudo do tempo real no discurso. In Actas do III Encontro Nacional da APL. Lisboa: APL, pp. 229-244. Joos, Martin (1968), The Isolation of Styles. In Fishman, Joshua (Eds.). Readings in the Sociology of Language. Mata, Ana Isabel; Moniz, Helena (2016). Prosódia, variação e processamento automático. In A. M. Martins, E. Carrilho (Eds.). Manual de Linguística Portuguesa. Berlin: De Gruyter, 116- 155. Pereira, Isabel & M. João Freitas (1990). Valores do silêncio: contributo para um estudo da pausa na delimitação do grupo entoacional em Português. In Actas do V Encontro Nacional da APL. Lisboa: APL, pp. 171-186.

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O LUSITANO NO PUZZLE INDO-EUROPEU Em busca dos substratos do Português

Carlos Sousa e Silva (2.º ano, LLC, FLUP)

Os substratos de Português deixaram, efetivamente, algumas marcas históricas que individualizam a nossa língua, das quais as mais conhecidas, como evoca Castro (2013), são a síncope das consoantes /l/ e /n/ intervocálicas e a convergência de grupos iniciais pl-, fl-, cl-, para uma consoante africada palatal. No entanto, ainda hoje é possível ver, sobretudo nos dialetos setentrionais, fenómenos fonéticos que têm uma clara motivação de substrato, como a palatalização e a fricatização de oclusivas sonoras. Todas estas marcas, sobretudo as primeiras duas, têm sido identificadas com a influência das línguas faladas na Gallaecia Magna (Piel, 1989 e Castro, 2013), subestimando-se o papel do substrato lusitano. Contudo, os relatos antigos e a investigação recente (Blazec, 2006) têm convergido na forte influência que o Lusitano terá tido na região hoje ocupada pela Galiza, por isso uma análise desta língua pode trazer dados bastante relevantes para a própria história da língua portuguesa.

Um começo que permitirá ter uma noção mais exata da influência deste substrato no Português será o estudo da sua datação e posição na família indo-europeia. Após uma análise crítica das propostas que a ligam ao ramo céltico (Fonseca, 1958 e Renfrew, 1998), pré-céltico (Witczak, 2005) e itálico (Villar, 1991 e Prósper, 2002) e a principal causa desta oscilação, isto é, a preservação de *p inicial, pretendemos, recorrendo investigação sobre o assunto, recolocar a língua no ‘puzzle’ indo-europeu, seguindo um novo modelo de Garrett (1999), corroborado por Chang et al. (2015) e Anthony & Ringe (2015). Este será, como diria Piel (1989), um primeiro passo para ressuscitar “todas estas vozes, sobreviventes de um grande naufrágio (…) de que mal reza a história” e que só a linguística pode reconstruir.

A comunicação terá a seguinte estrutura: (I) definição de substrato e apresentação geral da língua portuguesa numa perspetiva diacrónica, com especial atenção aos substratos galaico e lusitano, (II) discussão das diferentes propostas de enquadramento do Lusitano na família indo-europeia, contribuições desta língua para a construção do modelo do dialect continuum e inclusão dela neste último e (III) apresentação dos alguns fenómenos do português que têm motivação dos substratos galaico e lusitano. Referências Anthony, David & Ringe, Dom. (2015). The Indo- European homeland from linguistics and archaeological perspectives. Annual review of linguistics 1: 199-219. Beekes, Robert. (2011). Comparative Indo- European linguistics: an introduction. Amsterdam: John Benjamins Publishing. Blazek, Václav. (2006). Lusitanian Language. Studia Minora Facultatis Philosophicae Universitatis Brunensis 11: 5-18. Castro, Ivo. (2013). Formação da língua portuguesa, in Raposo, Eduardo et al. (orgs). Gramática do Português (vol. I). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. Chang, Will et al. (2015). Ancestry-constrained phylogenetic analysis supports the Indo-European steppe hypothesis. Language 91: 194-244. Clackson, James. (2007). Indo-European linguistics: an introduction. New York: Cambridge University Press. Fonseca, Fernado P. (1958). Noções de história da língua portuguesa. Lisboa: Livraria Clássica.

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Garrett, Andrew. (1999). A new model of indo-european subgrouping and dispersal. Berkeley: University of California. Jordán Cólera, Carlos (2007) Celtiberian. e-Keltoi 6: 749- 850. Lehmann, Winfred. (1980). Proto-Indo-European syntax. USA: University of Texas Press. Luján Martínez, Eugenio R. (2006) The Language(s) of the Callaeci. e-Keltoi 6: 715-748. Mallory, J. P. & Adams, D. Q. (2006). The Oxford introduction to proto-indo-european and the proto-indo-european world. Oxford: Oxford University Press. Martinet, André. (1994). Des steppes aux océans: l’ indo- européen et les «indo- européens». Paris: Éditions Payot & Rivages. Miguel, Ana Margarida. (2013). As epígrafes em língua lusitana: memórias escritas da língua e da religião indígena. Universidade do Porto (tese de mestrado). Paz, Ramón Mariño. (2008). Historia de la Lengua Gallega, EC: Lincom Europa. Piel, Joseph-Maria. (1989). Estudos de Linguística Histórica Galego-Portuguesa. Lisboa: INCM. Prósper, María B. (1999) The inscription of Cabeço das Fráguas revisited. Lusitanian and alteuropaisch populations in the west of the iberian peninsula. Transactions of the Philological Society 97: 151-183 ______________ (2002). Lenguas y religiones prerromanas del occidente de la Península Ibérica. Salamanca: Edicines Universidad de Salamanca. Quiles, Carlos & López-Menchero, Fernando. (2012). A grammar of modern Indo- European (3ª edição). Badajoz: Indo-European Language Association. Renfrew, Colin. (1998). Archaeology and language: the puzzle of Indo-European origins. London: Pimlico. Silva Neto, Serafim. (1988). História da língua portuguesa (5ª edição). Rio de Janeiro: Presença. Villar, Francisco. (1991). Los indoeuropeos y los origenes de Europa: Lenguaje e Historia. Madrid: Editorial Gredos. Witczak, Krzysztof Thomasz. (2005). Jezyk i religia luzytanow: studium historyczno-porównawcze. Lódz: Wydawictwo Uniwerytetu Lodzkiego.

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A OMISSÃO DAS PREPOSIÇÕES A E DE COM OS VERBOS GOSTAR, PREFERIR, OBRIGAR E PROIBIR: UM ESTUDO EMPÍRICO

Joana Vieira (1.º ano, CL, FLUP) A omissão de preposições regidas por verbos tem sido observada em alguns estudos em diversas construções, sejam frases simples ou frases complexas, nomeadamente, em estruturas de complementação ou relativas (cf. Peres & Móia, 1995; Mateus et al., 2003; Duarte, 2010; Valente, 2008; Raposo et al., 2013, entre outros).

Neste contexto, o objetivo deste trabalho consiste na análise da omissão das preposições “a” e “de”, com os verbos “gostar”, “preferir”, “obrigar” e “proibir”, em faixas etárias dos 11 anos aos 18 anos. Para atingir este objetivo, foi construído um teste de gramaticalidade, que foi resolvido por alunos das faixas etárias dos 11-12 anos, 14-15 anos e 17-18 anos. Cada exercício contém dezoito frases, organizadas aleatoriamente, das quais seis apresentam um grau de dificuldade baixo (1), outras seis apresentam um grau de dificuldade médio (2) e as restantes seis apresentam um grau de dificuldade elevado (3)-(4).

(1) O João prefere morangos a manga. (2) Eu prefiro cães a gatos, mas gosto mais de pássaros. (3) A professora obrigou-me a ir ao quadro. (4) A caneca de que gosto mais é a azul.

A análise dos resultados foi feita em quatro categorias diferentes: (I) média de frases

erradas por cada faixa etária; (II) média de frases erradas por género de cada faixa etária; (III) média de frases erradas por cada faixa etária consoante o grau de dificuldade de cada frase; (IV) frequência da omissão das preposições nas diferentes orações.

O estudo realizado revela que a omissão das preposições “a” e “de” com os verbos “gostar”, “preferir”, “obrigar” e “proibir” se comprova efetivamente, embora apenas nas estruturas linguísticas mais complexas em que a preposição não ocupa o lugar típico relativamente ao verbo que a rege e que, por isso, envolvem um processamento mais elaborado. Para além disso, foi possível verificar qual a frequência dessa omissão. Finalmente, confirmou-se que a idade dos falantes, em termos gerais, contribui para a omissão das preposições “a” e “de” com os referidos verbos.

A nossa comunicação terá a seguinte estrutura: (1) apresentação das questões de investigação; (2) Descrição da metodologia usada no estudo; (3) descrição e análise dos resultados; e (4) algumas considerações finais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Duarte, I. (2008). “Mudam-se os tempos, muda-se a gramática”. In Brito, A. M. (org.) Gramática: história, teorias, aplicações. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, pp. 11-28. Mateus, M. H. M.; Brito, A. M.; Duarte, I.; Faria, I.H.; Frota, S.; Matos, G.; Oliveira, F.; Vigário, M.; Villalva, A. (2003). Gramática da Língua Portuguesa . 5ª edição, Lisboa: Editorial Caminho – Colecção Universitária / Série LINGUÍSTICA. Peres, J. A.; Móia, T. (1995). Áreas críticas da Língua Portuguesa; 2ª edição. Lisboa: Editorial Caminho. Valente, P. (2008). Produção de frases relativas em alunos do terceiro ciclo do ensino básico e do ensino secundário. Dissertação de Mestrado. Lisboa: FLUL. Raposo, E. B. P.; Nascimento, M. F. B.; Mota, M. A.; Segura, L.; Mendes, A. (2013). Gramática do Português, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.