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1 A redescoberta das raízes das famílias de descendentes de imigrantes italianos, por meio do Círculo Italiano de Jundiaí Reinaldo Sudatti Neto 1 RESUMO No final dos anos 1980, a crise de aceleração temporal leva a um definhamento da memória, conduzindo à busca de memórias étnicas e sua preservação. Nesse contexto, tem-se a fundação do Circolo Italiano di Jundiaí que objetiva levar a cabo medidas que propiciassem o não desaparecimento das memórias das famílias de imigrantes. Dentre as medidas executadas pelo Círcolo Italiano di Jundiaí, para o não desaparecimento das memórias das famílias de descendentes de imigrantes italianos, estão as homenagens feitas, baseadas nas narrativas orais que são contadas pelas famílias homenageadas levando à preservação da memória e do estreitamento dos laços entre estas famílias e seus ancestrais. O objetivo da pesquisa será o estudo sobre o papel do Circolo Italiano di Jundiaí, na preservação da memória das famílias descendentes de imigrantes italianos analisando os tipos de memórias escolhidas por esta instituição e estratégias utilizadas na construção e preservação de uma memória imigrantista, italiana em Jundiaí. Palavras chaves: identidade, memória étnica, Jundiaí e Círculo Italiano 1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) Assis. E-mail: [email protected]

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A redescoberta das raízes das famílias de descendentes de

imigrantes italianos, por meio do Círculo Italiano de Jundiaí

Reinaldo Sudatti Neto1

RESUMO

No final dos anos 1980, a crise de aceleração temporal leva a um definhamento

da memória, conduzindo à busca de memórias étnicas e sua preservação. Nesse

contexto, tem-se a fundação do Circolo Italiano di Jundiaí que objetiva levar a cabo

medidas que propiciassem o não desaparecimento das memórias das famílias de

imigrantes.

Dentre as medidas executadas pelo Círcolo Italiano di Jundiaí, para o não

desaparecimento das memórias das famílias de descendentes de imigrantes italianos,

estão as homenagens feitas, baseadas nas narrativas orais que são contadas pelas

famílias homenageadas levando à preservação da memória e do estreitamento dos laços

entre estas famílias e seus ancestrais.

O objetivo da pesquisa será o estudo sobre o papel do Circolo Italiano di

Jundiaí, na preservação da memória das famílias descendentes de imigrantes italianos

analisando os tipos de memórias escolhidas por esta instituição e estratégias utilizadas

na construção e preservação de uma memória imigrantista, italiana em Jundiaí.

Palavras chaves: identidade, memória étnica, Jundiaí e Círculo Italiano

1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual Paulista Júlio de

Mesquita Filho (UNESP) – Assis. E-mail: [email protected]

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Introdução

Segundo Hartog , vivemos em uma época , que desde o final dos anos 80, tem

sido englobada por uma a crise de aceleração temporal , que repercute na questão da

da memória, a qual sofre um declínio, causando uma busca de reminiscências de

grupos culturais , assim como a sua preservação, que induz à “dilatação do tempo

presente, o qual se alimenta do passado e projeta o futuro no qual se espelha(

HARTOG,2013::238), originando um renascimento do interesse dos grupos étnicos

pela preservação e reconstrução da própria identidade”( FERRO,1996:204)..

A memória, segundo Nora, passa então a ser registrada e, guardada nos arquivos

do Estado, no qual se procura arquivar a maior parcela de tudo o que os mediadores

culturais julgam relevantes, e que deve ser lembrado, ocasionando o desaparecimento da

memória como meio transmissor das vivências humanas .(NORA,1991:7)

Segundo Nora, este processo dar-se-ia por causa do aumento da mídia que levaria

à mudança de percepção da história na qual os fatos se sucedem rapidamente,

ocasionando uma mudança de memória anteriormente , voltada para a herança de

grupo social, por uma memória mais efêmera, na forma como os fatos são mostrados

atualmente, desconectados e deslocados da reminiscência grupal, que passa a ser a da

memória registrada em papel ou em fitas magnéticas , guardadas nos arquivos,

refletindo, segundo Pierre Nora, a perda da forma tradicional de transmissão desta

memória e por consequência, estimulando a busca novos lugares para consagrar as

lembranças dos grupos em vias de desaparecimento, tendo-se o contexto para o

surgimento das instituições de memória, como no caso dos Circolo Italiano di Jundiaí (

NORA,1991:8).

Percebe-se, portanto, que a busca e preservação de identidades culturais se mostra

atual, remetendo este estudo ao questionamento relacionado ao processo que levou à

criação de lugares de memória, empenhados na guarda e preservação da memória de

grupos étnicos.

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O tema da preservação da memória, aliado ao ressurgimento do estudo das

identidades por parte de grupos étnicos, nos dias atuais, tornou-se importante, pois

encontra relação com o tema da pesquisa, direcionado para a forma como o Circolo

Italiano di Jundiaí tem lidado com a questão da seleção e preservação da memória dos

italianos e seus descendentes.

É neste contexto, acima descrito, que o Circolo Italiano di Jundiaí surge como um

lugar de memória, uma vez que a memória deste grupo estava em vias de se perder. Ao

se constituir como tal, o círculo italiano fez com que esta memória deixasse de

pertencer apenas a este grupo específico, passando a fazer parte de uma memória

institucionalizada de uma cidade como examina Nora ( NORA,1991:14,15).

A metodologia focará o papel do o Circolo Italiano di Jundiaí na preservação da

memória das famílias descendentes de imigrantes italianos, analisando os tipos de

registros memoriais escolhidos por esta instituição de memória e estratégias utilizadas

na construção e preservação de uma memória imigrantista, italiana em Jundiaí

A importância e objetivo desta pesquisa, portanto, encontra-se na redescoberta atual,

da busca da preservação e do papel dos círculos italianos, em particular, o de Jundiaí,

cuja atuação está ligada à questão da identificação e preservação da memória das

famílias de imigrantes italianos.

O Circolo Italiano di Jundiaí e a cidade

Os círculos italianos são instituições encontradas em cidades de grande

imigração italiana., como é o caso de Jundiaí , existindo igualmente , com origens e

objetivos semelhantes em São Paulo, em 1911;. Campinas, em 1881 ; Sorocaba, em

1918 e o de Araraquara, fundado em 1997, dentre outros encontrados pelo interior

paulista ou em estados de grande influência italiana

.Assim como em outras cidades do interior paulista , com histórico e imigração

italian, em Jundiaí há bairros, que possuem grande influência italiana como os do

Traviú e da Colônia, por terem sido fundados por colonos italianos, o que levou estas

duas localidades a serem homenageadas por meio de livros, sendo que no primeiro caso

se tratou de um livro lançado, em 1980, por Hilário Caniato ,em homenagem ao

primeiro centenário deste bairro( CANIATO,1980) E, no segundo caso, no bairro da

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Colônia, onde há uma festa anual com comida e tradições italianas, se lançou o livro

sobre os 20 anos da festa italiana de Jundiaí, que por sua vez é em homenagem aos 100

anos da chegada dos italianos em Jundiaí( PEZZATO,2007).

Nos bairros da Colônia e Traviú teremos uma maior conservação relacionada ás

identidade cultural, relativa aos imigrantes italianos se constituindo em regiões de

memória relacionada a este grupo que posteriormente será trabalhada pelo Circolo

Italiano di Jundiaí, que as integrará à memória identitária das demais famílias de

imigrantes da cidade.

Antes do ano da fundação Circolo Italiano em 1992 , a preocupação com a

preservação da memória imigrancista já havia se iniciado , porém sem uma instituição

de memória, que pudesse ser intitulada de Círculo Italiano , e essa reação, relacionada

com o interesse e necessidade de preservação da tradição dos imigrantes , foi pautada

em função de certas contingências como: o desinteresse das gerações mais novas; da

fragmentação das famílias, pelo grande número de seus membros e pelo falecimento

das pessoas mais velhos, originando-se assim, o interesse pela preservação destas

memórias dessas pessoas vindas para estes lugares, em fins do século XIX e início do

XX, o que pode ser notado pelo surgimento de formas de conservação e reativação das

tradições dos descendentes de imigrantes, como na Festa Italiana di Jundiaí.

(PEZZATO,2007).

Foi nesse contexto que o Circolo Italiano di Jundiaí surgiu como entidade civil e

sem fins lucrativos, no dia 27 de junho de 1992, em cerimônia realizada na Câmara

Municipal de Jundiaí, tendo como idealizador e incentivador o Padre Giuseppe

Bortolato, então pároco do bairro da Colônia, como é conhecido atualmente o bairro

onde muitos imigrantes italianos se fixaram no século passado formando uma colônia

italiana em Jundiaí (CIRCOLO ITALIANO DE JUNDIAÍ ,06/10/2011 )

A instituição teve sua primeira sede à Rua Conde do Parnaíba á altura do número

100, no centro da cidade de Jundiaí, entre os anos de 1992 até o ano de 2009, quando se

mudaram para uma antiga sede de um clube chamado Floresta, onde permanecem até

hoje.

Segundo os fundadores do Circolo, a intenção era a de integrar os italianos,

descendentes e simpatizantes, segundo eles próprios, portadores “de uma grande

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cultura ocidental” ( IBID), tendo as memórias coletivas trazidas pelas famílias italianas,

como foco de preservação e tendo como levar a cabo seus intentos , Circolo Italiano

di Jundiaí firmou , em 2007, parcerias o Jornal de Jundiaí e a Rádio Difusora de

Jundiaí; cursos de idiomas e seu clube como meio de se afirmar como instituição .

A ideia do Padre Giuseppe Bortolato era muito interessante e deixava claro os

objetivos do Circolo, pois o bairro da Colônia, em Jundiaí, é o que possui, bem como o

Traviú, uma grande concentração de famílias italianas, cujos traços mantiveram-se ao

longo dos anos.

O Circolo Italiano di Jundiaí , segundo Rolando Giarola tem trabalhado com as

pesquisas , sobre as famílias de descendentes de italianos , desde o ano de 2007, quando

teve início na lista telefônica da cidade, sendo mantido, posteriormente, contato com

elas, para explicar os motivos da pesquisa solicitando que elas procedessem o

levantamento de suas memórias guardadas em fotos, livros, certidões, testemunhos dos

membros mais antigos, objetos, cartas, que procura relacionar as memórias coletivas

dessas famílias à história da cidade2 através da qual se procura reconstruir a memória

coletiva destas por meio de levantamentos feitos por elas próprias, de suas memórias e

depois, em conjunto com o Circolo Italiano, marcou-se uma data para que esses

familiares estivessem na rádio para contarem as suas histórias e recebessem uma

homenagem no Círculo sob a forma de um certificado, pela ajuda que deram para a

construção da história da cidade 3

Nas homenagens mensais, que tem sido feitas até hoje, são realizadas reuniões

com as famílias homenageadas, nas quais é realizada uma descrição das suas origens,

por um representante do Circolo ou por um representante da família escolhida, narrando

a vida que tinham na Itália, descrevendo a região de onde vieram e porque resolveram

vir para o Brasil, além de relatarem os primeiros tempos no Brasil e em Jundiaí, bem

como as formas de transmissão de suas lembranças para as gerações seguintes,

mostrando o papel que estas famílias tiveram e sua contribuição para a história da

cidade, valorizando a memória e a herança italiana.

O processo de pesquisa sobre as famílias de descendentes de italianos teve início

2 Entrevista com Rolando Giarola em 24/10/2011, concedida nas dependências da Rádio Difusora de

Jundiaí 3 Ibid

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na lista telefônica da cidade, sendo mantido, posteriormente, contato com elas, para

explicar os motivos da pesquisa solicitando que elas procedessem às pesquisas,

levantando as suas memórias e depois, em conjunto com o Círculo Italiano, marcou-se

uma data para que esses familiares estivessem na rádio para contarem as suas histórias e

recebessem uma homenagem no Círculo sob a forma de um certificado, pela ajuda que

deram para a construção da história do município4

Resgatar a história dos antepassados e reencontrar parentes e a suas origens, fazem parte

do cenário das homenagens que tem a participação do Jornal de Jundiaí, a Rádio

Difusora de Jundiaí e do Circolo Italiano di Jundiaí.

Ainda com respeito às estratégias de preservação da memória italiana em Jundiaí,

a manutenção e o aprimoramento dos cursos de língua e cultura italiana, aliados à

criação de um novo veículo de comunicação e de integração com a comunidade italiana

que é o site do Circolo Italiano di Jundiaí, que hoje está entre os mais acessados no

Brasil, pela qualidade das informações prestadas aos pesquisadores do assunto5.

Nesta parte torna-se importante frisar que a memória trabalhada pelo Circolo

Italiano di Jundiaí, como toda a memória é alvo de uma interpretação e escolha e não

uma reposição integral do passado, como bem coloca Letícia Julião no artigo da revista

eletrônica Revista Museu intitulado Museu, memória e criatividade( JULIÃO,2013:1)

Entre outras formas de preservação da memória dos descendentes de italianos

estão:

na promoção de eventos socioculturais regulares destacando-se as reuniões

festivas nos jogos da Copa do Mundo onde mais de duas centenas de oriundi

(nomenclatura utilizada para designar os descendentes de italianos)

acompanharam as partidas na sede do Círculo; e a realização do Hopitália,

evento em comemoração ao Dia Nacional da Itália e Dia da Comunidade

Ítalo-Jundiaiense no Parque temático Hopi Hari, onde mais de 7000 pessoas

se fizeram presentes(CIRCOLO ITALIANO DE JUNDIAÍ)

Por todas estas ações, a entidade foi reconhecida como de utilidade pública pela

Lei Municipal n. 6.866 de 25 de julho de 2007 (IBID)6e, portanto, a escolha de Jundiaí e

do papel do Circolo Italiano na preservação da memória dos imigrantes italianos deveu-

se à grande influência desse grupo que houve na cidade. 4 Ibid 5 Ibid

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Há nas dependências do Circolo Italiano di Jundiaí uma piscina com até 2 metros de

profundidade para uso livre dos usuários. O local é equipado com vestiário masculino e

feminino e banheiros com duchas quentes

O Circulo Italiano di Jundiaí preparou um curso especial de italiano voltado para

crianças com idade entre 7 e 11 anos, cujo método é específico para a idade e

desenvolve a compreensão do idioma e o conhecimento cultural. Já para os adolescentes

com idade entre 12 e 14 anos, o objetivo é o desenvolvimento da compreensão do

idioma e a cultura contemporânea estimulando os jovens a conhecerem os hábitos da

Itália moderna, com professores qualificados.

O Circolo Italiano di Jundiaí também oferece outros serviços como o padroado italiano,

assim como outros serviços referentes às questões pertinentes à obtenção da cidadania

italiana e pensões

Aliado às atividades internas, o Círculo também programa eventos de turismo à

Itália, onde os descendentes de imigrantes podem conhecer os lugares de origem de

seus antepassados. Tudo com guias e com programação feita com cuidado.

Segundo os fundadores do Círculo, a intenção era a de tornar os italianos,

descendentes e simpatizantes, segundo eles próprios, parte “de uma grande cultura

ocidental7 tendo as memórias coletivas trazidas pelas famílias italianas, como foco de

preservação.

A seguir, podemos tomar conhecimento dessas homenagens a partir de alguns

exemplos escolhidos aleatoriamente. No Jornal de Jundiaí, em 1º de setembro de 2015,

foram homenageadas mais algumas famílias como Pompermayer, Accieri, Marin, Di

Pietro, dentro de uma iniciativa que já vem desde 2008. Como de costume, antes de

serem homenageadas pelo Círculo Italiano, a história dessas famílias é contada no

programa Canta Itália, dentro do programa da Difusora Acontece, que já homenageou

725 famílias desde a sua criação, num alcance além das expectativas de Giarola, que

iniciou esse projeto, graças ao apoio de Tobias Muzzael.

Para o presidente do Circolo Italiano di Jundiaí José Luiz Scarano a parceria

com a Rádio Difusora foi fundamental para reunir tantas histórias e lembranças e nas

palavras do próprio diretor do Círculo: ”Não mediremos esforços para que estes

7 Entrevista concedida por José Luis Scarano ,presidente do circolo Italiano di Jundiaí, em20/03/2016

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encontros continuem acontecendo. É um pedaço da Itália que está presente em cada

canto desta cidade8”

As homenagens abrem para as famílias uma oportunidade para se auto

conhecerem quando iniciam a busca pelas suas origens para o momento da homenagem

É uma redescoberta muito importante da sua trajetória e dos seus antepassados que, em

alguns casos, podem retroceder muitos séculos no tempo.

No caso da família Pompermayer, que à primeira vista pode parecer um

sobrenome mais germânico do que italiano, pode-se elucidar que na verdade é um nome

de origem italiana que significava Pontprimaj, que significa primeira ponte, a qual era

muito importante por ligar quatro vilarejos de um vale montanhoso chamado de Valle

dei Mochine, no ano de 1500 d. C, onde viveu seu primeiro habitante Giorgio

Pontprimaj.( JORNAL DE JUNDIAÍ,NOTÍCIAS:1º/09/2015)

Segundo o site Pompermeyer-Venturini blogspot de 2009, essa primeira ponte

ligava e ainda liga a vila de Fierozzo com o outro lado do vale, passando pelas águas

que formam o rio Fersina O nome da ponte foi se modificando com o tempo para

Ponteprimaio, Pontprimai, Pontpremai, Pompremai, Pompermai até se germanizar para

Pompermaier ou Pompermayer9

Deve-se lembrar que a Região de Trento chegou a pertencer ao Império Austro-

Húngaro até o final da Primeira Guerra, quando a região foi anexada pela Itália, ao que

se deve a germanização desse sobrenome.

Um de seus descendentes, Giácomo Pompermayer, já com 70 anos, chaga à

Jundiaí em 1883, vindo da província de Trento do Trentino Alto Adige desembarcando

no porto de Santos e indo, como contratado para a Fazenda sete Quedas. Mais tarde um

de suas descendentes, Andrea Pompermayer, se casou com uma descendente dos

Carbonari, Florinda Carbonari, comprando terras no bairro do Traviú e iniciando suas

plantações de pocãn, morango e desenvolvendo o cultivo da primeira uva sem sementes,

tornando-se muito conhecida na cidade por esta iniciativa. Tanto que Antonio, filho da

união destas duas famílias veio a receber o título de Comendador, que hoje nomeia o

8 Ibid 9 Disponível em http://221pompermayer-venturini.blogspot.com.br/2009_07_07_archive.html, acessado em 23.02.2016

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Parque Comendador Antonio Carbonari, em Jundiaí, popularmente conhecido como

Parque da Uva.

No caso abordado sobre a família Accieri, temos a questão da mudançade

nomenclatura, o que não era muito incomum na época da entrada das famílias italianas.

Quer por necessidade de mudar o nome por questões particulares, quer por dificuldade

dos atendentes em entender a pronúncia do nome e escrevê-lo adequadamente.

Com os Accieri, o nome foi modificado de Arcieri para Accieri, quando aportaram

no Brasil, por volta de 1901, devido aos problemas enfrentados na Itália.

Como é feito nas homenagens, é solicitado que a família busque por seus

antepassados mais longínquos, que no caso dessa família , teve início com seus

bisavós Santo e Preciosa Arcieri e o filho deles Nicola Arcieri que chagaram ao

Brasil no início do século passado , vindos da região dos Abruzzo .

Na fase dos antepassados dessa famílias, quando já estavam aportados no Brasil é

solicitado que a família trace a sua trajetória de desenvolvimento, por meio dos seus

documentos escritos: certidões de nascimento, batismo, casamento, óbitos, cartas,

atestados de entrada no Brasil e não escritos como objetos, histórias orais, fotos.

No caso dessa família em questão, conseguiram levantar mais ou menos a data de

entrada, por volta do início do século passado, e com mais acuidade o lugar para onde

foram logo após a sua chegada, em uma fazenda localizada em Itatiba de propriedade

de Manuel Leite, onde ficaram por vinte anos.

Conseguiram igualmente levantar o nome da esposa de Nicola, chamada Rosa

Bernardinelli com quem teve seis filhos. Mais tarde , já com algumas economias,

Nicola resolve vir para Jundiaí e comprar um sítio no bairro do Currupira. Este sítio

posteriormente foi vendido pelos irmãos, filhos de Nicola e Rosa e transformado num

loteamento que leva o nome da mãe deles Loteamento Santa Rosa

Outro exemplo de revisitação do passado ocorreu homenagem à Família Marin com a

rememoração das lembranças da região de origem deles, Toscana , assim como as

causas que os levaram a emigrar da Itália ao final da Segunda Guerra percebendo-se

com as outras famílias do início do século, dificuldades que os empurravam para a

saída da Itália em busca de uma vida nova.

Nessa rememoração houve o resgate do percurso dessa família composta por três

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membros Antonio e Jacinto ramos Marin e a esposa de Antonio, revendo a trajetória

até Atibaia, assim como os trabalhos no corte de eucaliptos para uma carvoaria e

depois a mudança para Jarinu, onde comprou um sítio como de modo geral os

imigrantes procediam quando já adquiriam uma certa economia, para se abastecerem

e desenvolverem o plantio de uva.

Esse rastreamento da história prosseguiu até a vinda da família para Jundiaí

onde se instalaram à Avenida São Paulo nos anos 50, assim como a vida e trabalhos

desenvolvidos pelos filhos para sobreviverem, assim como de Antonio na Duratex.

Em geral, a família homenageada é levada ao conhecimento do passado de

seus ancestrais. Seu lugar de origem, condições que os trouxeram para o Brasil e suas

trajetórias de consolidação econômica e social no novo país, reascendendo essa

memória e procurando perceber os elos de identidade que os ligam aos antepassados

Com a Família Di Pietro, vinda em 1884, na época da grande emigração da Itália,

temos a semelhança da formação familiar que geralmente caracterizava essas famílias.

O pai Nicola Di Pietro, a mãe Maria Luiza Mainardi e os filhos, Miguel e Estevam,

vindos de São Juliano de Puglia, da região de Campobasso . Conseguiu-se recuperar a

condição financeira da família à época da vinda. Eles possuíam algumas economias,

assim como o trajeto dela pelo Estado de São Paulo onde se estabelecem em Avaré.

Segundo as fontes familiares, compram um pedaço de terra para viverem e para

comercializarem sua produção( JORNAL DE JUNDIAÍ,CADERNO DE NOTÍCIAS

:1º/09/2015).

Se reconstituiu a trajetória de matrimônio de um dos filhos do casal que deu

origem à família e os nomes dos netos desse casal, com base nas informações de um dos

membros da família, no caso o neto desse casal, o qual geralmente guarda as memórias

orais e materiais. A questão dessa família foi o falecimento cedo do casal de origem, o

que acaba dificultando um pouco a passagem da história e memória aos netos que

poderiam ser repositórios dessas reminiscências, mas essa fator parece não ter afetado, a

organização da memória dessa família.

Nas palavras de Miguel, o neto desse casal de imigrantes, foi uma grande honra

reviver a história de seus antepassados.

O Circolo procura a preservação das memórias coletivas das famílias sobre, por

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exemplo, os costumes sobre o modo de educar os filhos; da culinária e dos valores do

trabalho que estas famílias transmitem aos filhos, mas que estavam em vias de se

perder, em alguns casos, por causa do crescimento da cidade, da interação das gerações

mais novas com outros valores, sobretudo pelo falecimento das primeiras gerações e

pelo desmembramento das famílias( IBID).

Dentre as estratégias de preservação da memória coletiva dos imigrantes italianos,

por intermédio do Circolo Italiano di Jundiaí, tem havido, desde sua fundação, as

homenagens às famílias de descendentes de italianos de Jundiaí, iniciativa feita em

conjunto com a Rádio Difusora de Jundiaí e o Jornal de Jundiaí, cujo intuito é preservar

as lembranças dessas famílias e da cidade que possui grande influência dos italianos.

Nas homenagens mensais, que tem sido feitas até hoje, são realizadas reuniões

com essas famílias, nas quais é realizada uma descrição das suas origens, por um

representante do Circolo ou por um representante da família homenageada, narrando a

vida que tinham na Itália. Há a descrição da região de onde vieram e porque resolveram

vir para o Brasil, além de relatarem os primeiros tempos no Brasil e em Jundiaí. É feita

a transmissão de suas histórias para as gerações seguintes, mostrando o papel que estas

famílias tiveram e sua contribuição para a história da cidade, valorizando a memória e a

herança italiana.

Ainda com respeito às estratégias de preservação da memória italiana em Jundiaí,

a manutenção e o aprimoramento dos cursos de língua e cultura italiana, aliados à

criação de um novo veículo de comunicação e de integração com a comunidade italiana

que é o site do Circolo Italiano di Jundiaí, que hoje está entre os mais acessados no

Brasil, pela qualidade das informações prestadas aos pesquisadores do assunto

(CIRCOLO ITALIANO DI JUNDIAÍ).

Entre outras formas de preservação da memória dos descendentes de italianos

estão:

na promoção de eventos socioculturais regulares destacando-se

as reuniões festivas nos jogos da Copa do Mundo onde mais de

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duas centenas de oriundi (nomenclatura utilizada para designar

os descendentes de italianos) acompanharam as partidas na

sede do Círculo; e a realização do Hopitália, evento em

comemoração ao Dia Nacional da Itália e Dia da Comunidade

Ítalo-Jundiaiense no Parque temático Hopi Hari, onde mais de

7000 pessoas se fizeram presentes . (IBID)

A ideia de se homenagear as famílias de descendentes de imigrantes italianos

surgiu desta forma, a partir do quadro 'Itália Canta', do programa 'Tobias e seus

convidados, tendo como idealizador do quadro, Rolando Giarola dentro de um quadro

com duração média de seis minutos onde se contava a história da família, trazendo o

depoimento de um dos membros e sendo encerrado com uma canção tipicamente

italiana( CIRCOLO ITALIANO DE JUNDIAÍ,10/10/ 2011).

A apresentação do programa era dividida com Rolando Giarolla que fazia e

ainda faz o trabalho de campo para pesquisar a saga das famílias. "Nosso objetivo é

fazer um resgate da memória italiana” (IBID).

Começou-se então a perceber, segundo o senhor Rolando Giarola, a necessidade

de reconstruir os costumes das famílias de imigrantes italianos e desta, iniciou-se pelas

mãos do senhor Tobias Muzael e do senhor Rolando Giallora, também membros do

Circolo Italiano, a pesquisa sobre as famílias de descendentes de italianos em Jundiaí,

fazendo o levantamento pela lista telefônica da cidade, chegando ao número de 300 que

seriam homenageadas pela rádio e depois pelo Circolo Italiano.

No início a ideia do dr. Tobias, segundo o senhor Rolando foi a de uma vez por

mês fazer a entrega dos diplomas a pelos menos 20 famílias, porém o número

encontrado de famílias foi tão grande que se precisou aumentar o número de famílias

homenageadas 10.

Segundo o presidente do Circolo, Edivaldo Bronzeri iniciativa mantém

preservada a cultura e a memória coletiva. "Cerca de 80% da população jundiaiense é

de descendência italiana. (JORNAL DE JUNDIAÍ . NOTÍCIAS : 18/03/08). Com o

mesmo objetivo, segundo Bronzeri “ há a intenção de se montar um museu na sede do

Círculo, onde as pessoas, poderiam doar objetos, fotografias e demais peças para

10 Entrevista com Rolando Giarola em 24/10/2011

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compor o acervo (IBID)11

O trecho acima traz uma informação que, a nosso ver o transforma em um lugar

de memória, reforçando a ideia de que as memórias destas famílias estariam sendo

perdidas pois como escreve Nora “ quando se fala em lugares de memória, é porque os

meios pelos quais ela se prolonga já não existem mais “ (NORA,1991:7).

Segundo o site do Circolo Italiano di Jundiaí] “O Círculo Italiano, da sua

criação há 19 anos até hoje tem sido responsável pela preservação da

cultura, culinária e língua italianas por meio de ações promovidas, como por

exemplo as homenagens feitas às famílias de descendentes de italianos

(CIRCOLO ITALIANO DE JUNDIAÍ,11/10/2011).

Nessas homenagens fica a cargo de um membro da família pesquisar os

documentos fotos, cartas que digam respeito à origem e trajetória de vida da família.

Geralmente são os descendentes do filho mais velho ou mais novo da prole inicial, pois

geralmente os pais quando envelheciam, iam morar nas casas desses filhos que ficavam

encarregados de cuidar dos pais e justamente com os pertences dos pais vinham os

documentos

Como objetivos futuros, o Circolo Italiano di Jundiaí já articulou com a TV de

Jundiaí, planos para a divulgação do seu papel frente á preservação da memória das

famílias de imigrantes italianos. Além disso, já está nos planos da instituição, uma

exposição no metrô Tatuapé em São Paulo, a ser divulgada, com painéis de fotos das

famílias de descendentes de imigrantes italianos. Igualmente, há previsão da vinda de

uma cantora italiana no mês de março de 2016 a se apresentar no Teatro Municipal da

cidade, o Politeama. A articulação com a Rádio Difusora foi suspensa por motivos de

interesses divergentes na questão das divulgações.

Por todas estas ações, a entidade foi reconhecida como de utilidade pública pela Lei

Municipal n. 6.866 de 25 de julho de 2007 (PEZZATO,2008:94)ie, portanto, a escolha

de Jundiaí e do papel do Círculo Italiano na preservação da memória dos imigrantes

italianos deveu-se à grande influência étnica que houve na cidade.

11 Ibid

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CANIATO, Hilário. O Bairro do Traviú no seu centenário. 1º ed. Jundiaí: S.C.P.

HARTOG, François. Regimes de Historicidade: Presentismo e experiências do

tempo. Coleção História e historiografia. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.

JULIÃO , Letícia Museu , Memória e Criatividade Revista Museu on line de 18

de maio de 2013 disponível em

vhttp://www.revistamuseu.com.br/18demaio/artigos.Acessado em 31.10.2015

FERRO, Marc. História das colonizações. Das conquistas à independência séculos XII

ao XX. Tradução Rosa Freire D’Aguiar. São Paulo: Cia das Letras, 1996

NORA Pierre.Entre a memória e a História: A problemática dos lugares.Projeto

História: revista do Programa de estudos pós-graduados do departamento de História

da PUC de São Paulo.Vol. 10, p. 7, São Paulo. 1991.

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www.circoloitalianodejundiai.com.br. Acesso em 06/10/2011.

www.circoloitalianodejundiai.com.br acessado em 10/10/2011

http://www.jj.com.br/noticias-19868-o-resgate-da-historia-da-italia, acessado em

23.02.2016

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PEZZATO, Alessandra. Festa Italiana di Jundiaí: 20 anos. Jundiaí: In House,20