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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Palhoça ‐ SC – 8 a 10/05/2014 1 A relação das hashtags com as palavras de ordem presentes nas Manifestações Brasileiras de 2013 1 Keren Franciane MOURA 2 Carolina Fernandes da Silva MANDAJI 3 Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, PR RESUMO Ao analisar a utilização das hashtags durante as manifestações brasileiras em 2013, o presente artigo propõe-se a estudar a convergência de linguagens que se deu entre as mídias sociais e as manifestações do mês de junho. A relação entre o símbolo utilizado no Twitter para a indexação de conteúdo foi relacionado a palavras de ordem empregadas em cartazes e no discurso dos manifestantes. Para Manuel Castells, essa intersecção de linguagens e conteúdos entre os espaços físicos e virtuais resulta no que ele chama de virtualidade real. Para definir os conceitos de ciberespaço e virtualidade, será utilizado Castells (2003) e Santaella (2007), a análise das tecnologias e mídias sociais se dará de acordo com os postulados de Santaella (2003). PALAVRAS-CHAVE: manifestações brasileiras; ciberespaço; mídias sociais; hashtags; palavras de ordem. Introdução No ano de 2013, parte da população brasileira tomou as ruas de várias cidades do país em protesto devido ao aumento nas tarifas de transporte público aplicado nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Natal e Salvador. Tais manifestações tomaram conta da mídia nacional e geraram considerável comoção e engajamento político no ambiente virtual. A princípio, a motivação principal dos protestos calcava-se no aumento da tarifa, mas, no decorrer dos acontecimentos, fatores como a corrupção no país, o superfaturamento das obras para a Copa da FIFA de 2014 e até mesmo posicionamentos tomados pelo deputado Marcos Feliciano à frente da Comissão dos Direitos Humanos, 1 Trabalho apresentado no IJ 6 – Interfaces Comunicacionais do XV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul, realizado de 8 a 10 de maio de 2014. 2 Estudante de Graduação do 4º. semestre do Curso de Tecnologia em Comunicação Institucional da UTFPR - Curitiba e aluna bolsista no Programa de Voluntariado em Iniciação Científica e Tecnológica, PVCIT/UTFPR/2013-2014, email: [email protected]. 3 Orientadora do trabalho. Vinculado ao projeto “Cidades rebeldes: Possibilidades investigativas na imagens visuais e audiovisuais”, PVCIT/UTFPR/2013-2014 e professora do Curso de Tecnologia em Comunicação Institucional da UTFPR - Curitiba, email: [email protected].

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A relação das hashtags com as palavras de ordem presentes nas Manifestações Brasileiras de 20131

Keren Franciane MOURA2 Carolina Fernandes da Silva MANDAJI3

Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, PR

RESUMO

Ao analisar a utilização das hashtags durante as manifestações brasileiras em 2013, o presente artigo propõe-se a estudar a convergência de linguagens que se deu entre as mídias sociais e as manifestações do mês de junho. A relação entre o símbolo utilizado no Twitter para a indexação de conteúdo foi relacionado a palavras de ordem empregadas em cartazes e no discurso dos manifestantes. Para Manuel Castells, essa intersecção de linguagens e conteúdos entre os espaços físicos e virtuais resulta no que ele chama de virtualidade real. Para definir os conceitos de ciberespaço e virtualidade, será utilizado Castells (2003) e Santaella (2007), a análise das tecnologias e mídias sociais se dará de acordo com os postulados de Santaella (2003). PALAVRAS-CHAVE: manifestações brasileiras; ciberespaço; mídias sociais; hashtags; palavras de ordem. Introdução No ano de 2013, parte da população brasileira tomou as ruas de várias cidades do país em

protesto devido ao aumento nas tarifas de transporte público aplicado nas cidades de São

Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Natal e Salvador. Tais manifestações

tomaram conta da mídia nacional e geraram considerável comoção e engajamento político

no ambiente virtual. A princípio, a motivação principal dos protestos calcava-se no

aumento da tarifa, mas, no decorrer dos acontecimentos, fatores como a corrupção no país,

o superfaturamento das obras para a Copa da FIFA de 2014 e até mesmo posicionamentos

tomados pelo deputado Marcos Feliciano à frente da Comissão dos Direitos Humanos,

                                                        1 Trabalho apresentado no IJ 6 – Interfaces Comunicacionais do XV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul, realizado de 8 a 10 de maio de 2014. 2 Estudante de Graduação do 4º. semestre do Curso de Tecnologia em Comunicação Institucional da UTFPR - Curitiba e aluna bolsista no Programa de Voluntariado em Iniciação Científica e Tecnológica, PVCIT/UTFPR/2013-2014, email: [email protected]. 3 Orientadora do trabalho. Vinculado ao projeto “Cidades rebeldes: Possibilidades investigativas na imagens visuais e audiovisuais”, PVCIT/UTFPR/2013-2014 e professora do Curso de Tecnologia em Comunicação Institucional da UTFPR - Curitiba, email: [email protected].

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tornaram-se temas discutidos e apontados como causas para uma possível reação da

população, que já não se restringia somente às cidades brasileiras, como também aos

brasileiros residentes em outros países, elevando esses protestos a uma cobertura mundial.

A população, em sua grande maioria composta por jovens, se expressava e organizava-se

virtualmente através das mídias sociais para tomar as ruas e reivindicar seus direitos. Já

não se falava somente no aumento da tarifa, pois o movimento que se formou no âmago de

uma sociedade que nas duas últimas décadas não havia se unido coletivamente e protestado

em favor dos seus direitos4.

O sociólogo espanhol Manuel Castells, considerado um dos maiores estudiosos

contemporâneos em movimentos sociais, define a internet como sendo muito mais que um

meio de comunicação, onde os indivíduos interagem, se organizam e suas identidades se

expressam. Para ele, o papel da internet está fundamentado no esgotamento do modelo

tradicional de representatividade, o que traz à tona um modelo democrático, no qual esses

movimentos encontram força justamente pela ausência de líderes definidos, onde qualquer

indivíduo tem voz e poder de ser ouvido. As redes sem tecnologia de rede de tipo eletrônico não podem lidar com a velocidade e a complexidade que requer o aumento da rede. Portanto, as redes tradicionais implicam velhas formas de organização social, elas fazem parte da história da humanidade. Não podiam antes conectar muitos indivíduos ou organizar a ação coletiva porque tinham limites físicos aonde queriam chegar. Hoje não há mais limites. As redes de internet não têm limites de tempo e espaço e podem se reconfigurar constantemente. A tecnologia não determina a ação social, mas permite um tipo de organização que sem a internet não existiria. (CASTELLS, 2013)

Assim, ele define um novo espaço público, que se articula nessa intersecção entre o físico e o virtual, ou seja, a virtualidade real, que diferentemente da realidade virtual defendida, é uma parte vital da sociedade atual, onde a vida dos indivíduos está tão conectada que a rede já se configura como seu modo de vida. Essa virtualidade é mais comum aos jovens, que já nasceram em um mundo conectado, dentro de uma cultura digital, onde cada um utiliza as Tecnologias de Informação e Comunicação, as TCIs, de acordo com seus interesses, valores, capacidades e experiências.

O espaço que as redes fizeram nascer - espaço virtual, global, pluridimensional, sustentado e acessado pelos computadores - passou a ser chamado de “ciberespaço”, termo criado por William Gibson, na sua novela Neuromancer, em 1984. Um espaço que não apenas traz, a qualquer indivíduo situado em um terminal de

                                                        4 As últimas manifestações de porte similar registradas anteriormente foram as manifestações que demandavam o impeachmeant do então presidente Fernando Collor de Mello, em 1992. Porém, a análise dos protestos de 2013 diferem de qualquer outra devido às transformações tecnológicas, sociais e comunicacionais pertinentes ao grande avanço das duas últimas décadas, revelando um cenário totalmente novo de estudo, onde a internet possui papel fundamental na articulação desses movimentos sociais.

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computador, fluxos ininterruptos e potencialmente infinitos de informação, mas também lhe permite comunicar-se com qualquer outro indivíduo em qualquer outro ponto da esfera terrestre. (SANTAELLA, 2007, p.177)

O ciberespaço, portanto, caracteriza-se como informacional, unido por conexões de

computadores que transcende o conceito de espaço geográfico, representando assim o

conceito de rede, onde, “qualquer lugar do mundo fica à distância de um clique”

(SANTAELLA, 2007, p.178), e é nele que a virtualidade se forma.

Em seu artigo “Mídia, rebeldia urbana e crise de representação”, o jornalista Venício A. de

Lima identifica essas características no perfil dos jovens, colocando as redes sociais como

o meio pelo qual eles se informam, se divertem e se expressam, não dependendo mais da

mídia tradicional para isso. Nesse sentido, as manifestações se caracterizaram também por

garantir visibilidade ao jovens diante dos olhos das gerações que os antecederam, que

ainda formam o público das mídias tradicionais. Para Lima, essa visibilidade se deu por

conta da cobertura midiática feita pela chamada velha mídia, ou seja, a televisão e os

jornais.

Cartazes dispersos nas manifestações revelaram que os jovens manifestantes se consideram ‘sem voz pública’, isto é, sem canais para se expressar e ter sua voz ouvida. Ou melhor, a voz deles não se expressa nem é ouvida publicamente. Vale dizer que as TICs (sobretudo as redes sociais virtuais acessadas via telefonia móvel) não garantem a inclusão dos jovens - nem de vários outros segmentos da população brasileira - no debate público cujo monopólio é exercido pela velha mídia. (LIMA, 2013, p. 90)

Sendo assim, os discursos que até então faziam parte do ambiente virtual, onde a maioria

dos jovens se informa e comunica, foram transportados para as ruas de vários lugares do

mundo, proporcionando visibilidade e dando voz grupos, que até então, poderiam não

possuir expressão social significativa. Por conta dessa virtualidade, ou seja, a intersecção

dos espaços físico e virtual, os protestos figuram construções discursivas que haviam sido

propagados no ciberespaço por meio da indexação de palavras e frases publicadas em

mídias virtuais, tais como Facebook, Twitter e Youtube, e tomaram o espaço físico por

intermédio de símbolos e palavras de ordem específicas utilizados virtualmente. Essa

convergência de discurso e linguagem pode ser atestada na análise do conteúdo dos

cartazes utilizados pelos manifestantes, cujas mensagens remetiam à enunciações virtuais e

suas características.

A legitimidade das manifestações foi discutida por conta de múltiplos discursos que se

formaram durante o processo. Ao ser questionado especificamente sobre esse

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desdobramento de agendas nas manifestações brasileiras5, Castells se posicionou da

seguinte forma: Essa é uma característica comum a todos os movimentos indignados em rede, em todos os países. São espontâneos, não dirigidos, começam por um fato insuportável, mas imediatamente surgem milhares de humilhações sofridas, cada dia por muitas pessoas, em particular os jovens, por causa das burocracias políticas. Como diziam os manifestantes de São Paulo em junho, “não são 20 centavos, são nossos direitos”. Como as instituições não processam realmente os problemas das pessoas, e sim se ocupam em satisfazer os políticos e seus aliados em primeiro lugar, quando há um canal de expressão na rua, aparecem coletivamente todas as demandas que cada um pode expressar individualmente. (CASTELLS, 2013)

Portanto, esse desdobramento revelou-se característico do contexto social influenciado

pelas interações que se dão no ciberespaço, definindo assim que a análise desses discursos

deve ser feita partindo dessa nova configuração social promovida pelas mídias sociais.

Essas relações e processos se dão como práticas sociais entre sujeitos e se configuram no

discurso, ou melhor, nos processos enunciativos, no caso desse artigo, referentes às

manifestações. Para tanto, o fenômeno a ser estudado é justamente a convergência de

linguagens na virtualidade real, a partir do momento que os discursos do movimento

saíram do ciberespaço e tomaram as ruas por meio da utilização das hashtags como

palavras de ordem durante os protestos.

O ciberespaço, a folksonomia e a organização nas mídias sociais

O ciberespaço, de acordo com Lúcia Santaella, é regido por algumas palavras de ordem

que definem como os processos comunicacionais se dão nesse contexto. O “disponibilizar”

define-se como a simples publicação de conteúdo no ciberespaço, tais como textos,

notícias, vídeos, imagens, onde “em configurações de linguagem que cada vez mais vão

encontrando a sua verdadeira natureza interativa hipermidiática” (SANTAELLA, 2007, p.

180). Após a disponibilização de conteúdo, acontece a “exposição” dos indivíduos por

meio da produção e divulgação realizada através de blogs e microblogs. Quando esses

indivíduos se expõem, assumem simultaneamente as funções de cliente e servidor, e assim,

“aumenta-se a capilaridade das redes, pois cada usuário torna-se ao mesmo tempo

fornecedor de informação.” (SANTAELLA, 2007, p. 182), determinando “trocar” como

outra palavra de ordem no ciberespaço. Finalmente, dentro desse espaço onde o conteúdo é

                                                        5 Entrevista concedida à Revista ÉPOCA, no dia 11 de outubro de 2013. Disponível em: <http://epoca.globo.com/ideias/noticia/2013/10/bmanuel-castellsb-mudanca-esta-na-cabeca-das-pessoas.html>

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disponibilizado, os indivíduos se expõem e trocam informações, o “colaborar” arremata o

conjunto de palavras de ordem que imperam esse espaço, caracterizando o desejo

incontrolável dos indivíduos em fazer parte das ações desse ambiente.

Essas palavras de ordem, as hashtags a que nos referimos, demonstram que, a cultura

criada dentro do ciberespaço, ou seja, a cibercultura, possui traços humanos “tanto quanto

quaisquer outros tipos de cultura, são criaturas humanas. Não há separação entre uma

forma de cultura e o ser humano. Somos essas culturas.” (SANTAELLA, 2003, p. 30). Ora, mídias são meios, e meios, como o próprio nome diz, são simplesmente meios, isto é, suportes materiais, canais físicos, nos quais as linguagens se corporificam e através dos quais transitam. Por isso mesmo, o veículo, meio ou mídia de comunicação é o componente mais superficial, no sentido de ser aquele que primeiro aparece no processo comunicativo. Não obstante sua relevância para o estudo desse processo, veículos são meros canais, tecnologias que estariam esvaziadas de sentido não fossem as mensagens que nelas se configuram. Consequentemente, processos comunicativos e formas de cultura que nelas se realizam devem pressupor tanto as diferentes linguagens e sistemas sígnicos que se configuram dentro dos veículos em consonância com o potencial e limites de cada veículo quando devem pressupor também as misturas entre linguagens que se realizam nos veículos híbridos de que a televisão e, muito mais, a hipermídia são exemplares. (SANTAELLA, 2003, p.25)

À vista disso, a cibercultura acaba por reproduzir características sociais próprias dos seres

humanos, tais como a linguagem e os sistemas de signos. Nesse contexto, é possível

realizar a análise do próprio processo evolutivo da internet, que se divide em Web 1.0 e 2.0.

Quando fala-se de Web 1.0, fala-se de uma internet onde o conteúdo do ciberespaço era

produzido e controlado por organizações e instituições. A Web 2.0 define a fase atual da

internet, caracterizando-a como uma plataforma onde a produção, controle e organização

de conteúdo está disponível a todos os seus usuários, que tem liberdade de interagir com o

conteúdo..

Por conta dessa nova característica da internet, onde a produção de conteúdo acontece

livremente, houve demanda no desenvolvimento de métodos e facilidades para o

armazenamento e organização de toda a informação contida no ciberespaço. Assim,

ferramentas colaborativas foram desenvolvidas, permitindo que além de armazenar e

publicar suas próprias informações, os indivíduos pudessem também classificá-las com

seus próprios termos. Assim, a tarefa de classificar essas informações já não pertence

somente às instituições, mas é compartilhada pela comunidade virtual, onde cada um

contribui com sua parte. A essa classificação atribui-se o termo indexação.

O termo Folksonomia está ligado à indexação de conteúdo, e é uma combinação das

palavras folk e “taxonomia”, tendo seu significado definido como “a taxonomia criada

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pelas pessoas”. Thomas Vander Wal, o arquiteto da informação a quem o termo é creditado,

define-o da seguinte forma: Folksonomia é o resultado da classificação pessoal de informação e objetos (quaisquer relacionados a um URL) passíveis de recuperação. A classificação é feita em um ambiente social (compartilhada e aberta a outros). O ato de classificar é feito pelo indivíduo ao utilizar seu próprio vocabulário e acrescentar significados explícitos, que podem ser originados no conhecimento inferido da informação ou objeto. As pessoas não somente categorizam como também fornecem meios para conectar items e dando seus próprios significados de acordo com seus conhecimentos. (VANDER WAL, 2007 apud PETERS, 2009, p.154, tradução livre do autor)6

Ou seja, a folksonomia é resultado da livre classificação de informação, realizada dentro de

um ambiente social, compartilhada e aberta aos demais usuários da rede. Ao realizar essa

classificação, os indivíduos não só categorizam, como também dão significado a esses

objetos de acordo com seu próprio entendimento.

Delineada nesse contexto, a folksonomia consiste na livre seleção de palavras-chave que

podem ser utilizadas para a classificação de qualquer fonte de informação. As palavras-

chave são conhecidas como tags, que no inglês significam etiquetas. Na folksonomia, o

indivíduo, que nesse caso é tanto o emissor quanto o receptor, se transforma naquele que

classifica, decidindo quais e quantas tags deseja distribuir sobre qualquer assunto, estando

irrestrito a qualquer diretriz. As tags permitem ao usuário visualizar suas próprias

marcações e compartilhá-las, além de visualizar as marcações feitas por outros usuários e

acessar informações relacionadas a essas tags na rede.

O Twitter, uma das principais mídias sociais, implantou em meados de 2008, o sistema de

indexação denominado trending topics, uma ferramenta que possibilita o agrupamento de

postagens por tópicos, articulando determinadas palavras, frases ou expressões precedidas

pelo símbolo sustenido “#”, chamado hashtag. Desde então, os usuários podem direcionar

ativamente tópicos específicos ou acompanhar passivamente o movimento de indexação

dessa mídia social. Todos os tópicos direcionados são instantaneamente indexados e

filtrados antes de tornarem-se visíveis na barra onde são agrupados os trending topics.

Contextualizadas no conceito de folksonomia, as hashtags classificam, agrupam e

direcionam as informações contidas na web sobre os mais variados temas e assuntos,

possibilitando maior participação e cooperação dos usuários, através da utilização de                                                         6 Folksonomy is the result of personal freetagging of information and objects (anything with a URL) for one’s own retrieval. The tagging is done in a social environment (shared and open to others). The act of tagging is done by the person using theis own vocabulary and adding explicit meaning, which may come from inferred undestanding of the information/object. The people are not so much categorizing as providing a means to connect items and to provide their meaning in their own understanding (VANDER WAL, 2007 apud PETERS, 2009, p.154).

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palavras-chave para organização.

O desenvolvimento e aprimoramento do processo de indexação, além de possibilitar a

organização do conteúdo, contribuiu também com a organização dos indivíduos das mídias

sociais. A indexação permitiu a formação de grupos por meio do compartilhamento de

ideias, onde as hashtags são utilizadas não somente para definir e delimitar o conteúdo das

informações, como também para exteriorizar ideais, sentimentos, preferências, indignações

e posicionamentos variados dos indivíduos que compõem o ciberespaço. Essas tecnologias de comunicação não são apenas ferramentas de descrição, mas sim de construção e reconstrução da realidade. Quando alguém atua através de uma dessas redes, não está simplesmente reportando, mas também inventando, articulando, mudando. Isto, aos poucos, altera também a maneira de se fazer política e as formas de social. (SAKAMOTO, 2013, p.95)

No caso das manifestações fomentadas dentro das mídias sociais, vemos o papel das

hashtags em agrupar esses atores virtuais por meio do compartilhamento dos mesmos

ideais. Isso revela que as novas formas de organizar e comunicar dentro do ciberespaço

tem o poder de maximizar o agrupamento social, onde grupos antes dispersos por espaços

geográficos e sociais, agora dispõem de ferramentas sociais que ampliam a coordenação e

o compartilhamento de ideais comuns, colocando essas ferramentas em uma posição ideal

para articulações políticas.

Hashtags e as palavras de ordem nos cartazes

Enquanto os meios de comunicação tradicionais faziam cobertura da movimentação por

conta do aumento tarifário, nas mídias sociais, os grupos começavam a se formar em

virtude de um sentimento de injustiça despertado pelo que as mídias tradicionais tratavam

simplesmente como tema isolado, no caso, as reivindicações do Movimento Passe Livre

sobre as tarifas de ônibus.

Além de aderir às causas defendidas pelo MPL, a população encontrou no espaço aberto

para discussão uma oportunidade para defender seus direitos no ciberespaço, no qual é

possível se informar e se fazer ouvir. Castells7 afirma que, quando organizados em rede,

esses movimentos sociais preenchem a lacuna de representação originada na crise

enfrentada pelas organizações tradicionais, ou seja, uma representação feita pelas mídias

                                                        7 Entrevista concedida à revista ISTOÉ Independente sobre as manifestações ocorridas no Brasil no dia 28 de junho. Disponível em: <http://www.istoe.com.br/assuntos/entrevista/detalhe/311021_DILMA+E+A+PRIMEIRA+LIDER+MUNDIAL+A+OUVIR+AS+RUAS+>

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tradicionais que, por não manterem-se alinhadas com as demandas sociais ao noticiarem os

fatos, acabam por afastar-se do público na defesa de suas próprias agendas, falhando na

representação da sociedade como um todo.

Assim, a internet torna-se fundamental para a organização desse tipo de manifestação,

permitindo que as pessoas se expressem e alcancem as demais mídias por meio do impacto

gerado sobre a opinião pública. Para Castells (2003, p.117), “Esses movimentos pretendem

conquistar poder sobre a mente, não sobre o Estado. Tal perspectiva define as

características pessoais dos discursos e seus elementos dentro do ciberespaço, onde, apesar

de ser um meio de multiplicação de códigos e linguagens, é resultado da ação humana no

que diz respeito a ideais e objetivos sociais. O que caracteriza prioritariamente o ciberespaço, espaço de virtualidades, feito de bytes e de luzes, é a habilidade para assimilar ambientes dentro dos quais os humanos podem interagir, aliás, que só funcionam como tal pelo agenciamento do visitante. O acesso ao ciberespaço se dá por meio de interfaces que nos permitem penetrar nos seus interiores e navegar a belprazer pela informação - consubstanciada em linguagens hipermidiáticas, linguagens mistas, híbridas, escorregadias, feitas de misturas de textos, linhas, sinais, gráficos, tabelas, imagens, ruídos, sons, músicas e vídeos - que esses interiores disponibilizam em arquiteturas de conteúdo organizados. (SANTAELLA, 2007, p.178)

Graças à ambientação no ciberespaço, as manifestações desenvolveram uma característica

híbrida, na qual é possível perceber a convergência de linguagens entre o espaço de

virtualidade real e o espaço físico, no caso, as ruas das cidades onde os protestos

aconteceram. Leonardo Sakamoto, jornalista e doutor em Ciências Políticas, pontua que,

“O chamado, feito via redes sociais, trouxe as próprias redes sociais para a rua. Quem

andou pela Avenida Paulista percebeu que boa parte dos cartazes eram comentários tirados

do Facebook e do Twitter” (SAKAMOTO, 2013, p.97), afirmando que a convergência

entre os signos próprios do ciberespaço e o chamado das ruas se materializaram

visualmente no discurso construído em cada cartaz levantado pelos manifestantes.

Ao representar esses símbolos do ciberespaço nos cartazes que pretendiam reivindicar seus

direitos, os manifestantes transferiram os discursos defendidos na virtualidade para as ruas.

A utilização desses símbolos tornou o espaço público um território seguro para a expressão

dos ideais sociais por eles defendidos, e assim como na internet, “Esse grupo sentiu-se à

vontade para agir em público exatamente da mesma forma que já fazia nas áreas de

comentários de blogs e nas redes sociais, mas sob anonimato” (SAKAMOTO, 2013, p.97).

O sentimento de segurança e confiança de ser ouvido em suas próprias individualidades se

deu, em grande parte, pela familiaridade de empunhar símbolos de discursos tão próximos

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a eles no ambiente virtual.

Imagem 1 - Manifestante exibe cartaz fazendo referência ao Facebook8.

A inexistência de fronteiras territoriais no ciberespaço caracteriza outro fenômeno

identificado nos protestos, uma vez que não existem limites de alcance para as mensagens

emitidas nesse meio. De acordo com Castells, Os movimentos culturais (no sentido de movimentos voltados para a defesa ou a proposta de modos específicos de vida e significado) formam-se em torno de sistemas de comunicação - essencialmente Internet e a mídia - porque é principalmente através deles que conseguem alcançar aqueles capazes de aderir a seus valores e, a partir daí, atingir a consciência da sociedade como um todo. (CASTELLS, 2003, p.116)

Viabilizados pelo poder de alcance da internet, movimentos específicos foram organizados

dentro das manifestações, e essa organização se deu utilizando as diferentes possibilidades

de indexação oferecidas pelas mídias sociais. A utilização da hashtag, já citada

anteriormente, foi a mais recorrente dentro do cenário de convergência proposto, no qual

classificou e categorizou os diversos discursos através da utilização de palavras de ordem,

tais como: #vemprarua, #ogiganteacordou, #mudabrasil, #changebrazil. Assim, a

                                                        8 Maíra Barillo, 2013. Disponível em: <http://www.conexaojornalismo.com.br/noticias/fotos-da-manifestacao-contra-o-aumento-das-tarifas-no-rio-1-11911> Acesso em: 25 mar. 2014.

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indexação promovida por esse símbolo na internet, não só organizou as construções

discursivas no ciberespaço, como também trouxe unidade aos grupos que foram às ruas,

através da atribuição de sentido às frases e símbolos escolhidos para representar os ideias

sociais defendidos.

Dentre essas construções apresentadas nos protestos, classificados através das hashtags,

destaca-se o caso específico do movimento #changebrazil. O movimento iniciou-se com a

divulgação de um vídeo, no dia 14 de junho, no canal changebrazil do Youtube, no qual

um homem sob o pseudônimo Thismr Maia, relata, em inglês, várias razões pelas quais o

Brasil precisa mudar. Temas como corrupção, superfaturamento das obras da Copa da

FIFA 2014, desvio de verbas federais destinadas à saúde e educação, foram utilizados para

realizar um apelo à comunidade internacional, para que esta participasse da mobilização e

ajudasse o país a mudar de alguma forma.

A começar pela utilização do idioma inglês, tanto na composição das palavras de ordem

que compunham a hashtag, quanto no vídeo divulgado no canal do Youtube, o movimento

foi posicionado e produzido para comunicar-se com a comunidade internacional. A escolha

do idioma, por si só, já definiu os interlocutores desse discurso, no caso, os brasileiros

residentes fora do país e aqueles que se relacionam a eles de alguma forma.

Imagem 2 - Brasileira residente em Miami - EUA, mostra seus braços pintados com uma das

hashtags dos protestos e o slogan do movimento Change Brazil9.

                                                        9 EFE, 2013. Disponível em: <http://www.elcomercio.com/mundo/Brasil-protestas-manifestaciones-SaoPaulo-Mexico Miami-Rousseff_5_940755918.html> Acesso em: 25 mar. 2014.

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No caso #changebrazil, é possível identificar o agrupamento físico gerado pela utilização

da hashtag, e além disso, identifica-se também o agrupamento de ideias, uma vez que

indivíduos, em diferentes países, levantavam cartazes que traziam a mesma mensagem,

unificada pelo discurso emitido no ciberespaço. O movimento #changebrazil acaba por

evidenciar de forma ainda mais abrangente a inexistência de barreiras territoriais para a

propagação dos discursos na internet.

Mesmo que fora do Brasil, esses brasileiros conheciam a realidade do país, quer fosse pelas

mídias tradicionais, quer fosse pelas mídias sociais, e assim, “Compraram um discurso

fácil que cabia em sua indignação. Sinto que eles querem sentir que poderão ser

protagonistas de seu país e de sua vida. E enxergam a classe política e as instituições

tradicionais como parte do problema.” (SAKAMOTO, p.98, 2013). Novamente a falha na

representatividade das mídias tradicionais acabou por contribuir para a mobilização de um

movimento social, já que essa indignação também diz respeito a essa lacuna.

Imagem 3 - Estudantes brasileiros em Portugal levantando cartazes com a hashtag #changebrazil10.

                                                        10 EPA/ João Relvas, 2013. Disponível em: <http://ansabrasil.com.br/brasil/noticias/fotos/brasil/2013/06/18/Estudantes-brasileiros-em-Portugal-demonstram-apoio-manifestacoes_7111970.html> Acesso em: 25 mar. 2014.

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Imagem 4 - Manifestante em Londres, exibindo cartaz contendo as hashtags

#ogiganteacordou, #vemprarua e #obrasilacordou11.

Imagem 5 - Cartazes reproduzindo frases contidas no vídeo do movimento Change Brazil12.

Imagem 6 - Brasileira exibe cartaz, em inglês, questionando a realização da Copa 201413.

Considerações finais

Ao disponibilizar um ambiente seguro para a exposição de diferentes discursos e garantir

visibilidade para eles, o ciberespaço configurou-se como o espaço social ideal para o

estabelecimento das manifestações populares de 2013. A falta de representatividade das

mídias tradicionais e a visibilidade promovida pelo ciberespaço são contrastantes, e ao                                                         11 Irina Birskis Barros, 2013. Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/album/2013/06/18/manifestacoes-pelo-mundo-em-solidariedade-ao-brasil.htm#fotoNav=49> Acesso em: 25 mar. 2014. 12 Today.it, 2013. Disponível em: <http://www.today.it/rassegna/blatter-proteste-mondiali-brasile.html> Acesso em: 25 mar. 2014. 13 AP/Polfoto/Jens Dresling, 2013. Disponível em: <http://www.sportsnet.ca/soccer/fifa-president-sepp-blatter-protesters-in-brazil-shouldnt-use-football-to-make-case-against-government/> Acesso em: 25 mar. 2014.

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mesmo tempo, definitivas quando se trata de causas políticas, onde é essencial que exista

democracia, onde o indivíduo tenha liberdade de se expressar e de ser ouvido. Para tanto,

as mídias sociais configuram-se como a plataforma ideal para promover essas articulações

políticas, especialmente por nelas imperar a democracia devida a cada indivíduo.

Além disso, a folksonomia vigente no ciberespaço não somente organiza as informações

ali presentes, como também, organiza os indivíduos que se relacionam e interagem com e

por meio desse espaço, através da virtualidade real. Essa característica das mídias sociais

acabou por promover a coordenação e o agrupamento dos indivíduos não só no

ciberespaço, como também nos espaços públicos das várias cidades onde as manifestações

ocorreram, ao uni-los em torno de discursos congêneres. A materialização, ou seja, a

convergência da linguagem virtual com a real, desse argumento encontra-se justamente na

utilização das hashtags nas palavras de ordem contidas nos cartazes levados à rua pelos

manifestantes.

… hoje vivemos uma verdadeira confraternização geral de todas as formas de comunicação e de cultura, em um caldeamento denso e híbrido: a comunicação oral que ainda persiste com força, a escrita, no design, por exemplo, a cultura de massas que também tem seus pontos positivos, a cultura das mídias, que é uma cultura do disponível, e a cibercultura, a cultura do acesso. Mas é a convergência das mídias, na coexistência com a cultura de massas e a cultura das mídias, estas últimas em plena atividade, que tem sido responsável pelo nível de exacerbação que a produção e circulação da informação atingiu nos nossos dias e que é uma das marcas registradas da cultura digital. (SANTAELLA, 2003, p. 28)

A cibercultura acaba por abranger e convergir em si as demais culturas, fazendo com que

os discursos circulem livremente e causem impactos sociais consideráveis. Por tratar-se de

uma cultura híbrida, torna-se comum a muitos, maximizando o alcance e agrupamento de

pessoas, que, independentemente da localização geográfica, podem mobilizar-se e atrair a

atenção da sociedade para causas que defendam. Esse fato é atestado pelas manifestações

que tomaram conta de várias cidades pelo mundo em favor de uma causa brasileira, que

atraíram a atenção das mídias tradicionais em torno dos discursos organizados e unificados

dentro do ciberespaço, demonstrando assim que esse espaço transcende os limites

territoriais e define sua cultura própria.

Portanto, a internet pode ser identificada como uma ferramenta de transformação social,

por viabilizar as interações ideológicas e ter o poder de agrupar e mobilizar indivíduos em

torno de um objetivo comum, permitindo que os discursos que circulam no ciberespaço

alcancem relevância que ultrapassa os limites da virtualidade, atingindo os espaços sociais

e políticos.

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REFERÊNCIAS

CASTELLS, Manuel. A Galáxia da Internet: reflexões sobre a Internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Zahar Editora, 2003. DJICK, José Van. The Culture of Connectivity: A Critical History of Social Media. New York: Oxford University Press, 2013. GIRON, Luíz Antonio. Manuel Castells: A mudança está na cabeça das pessoas. Revista Época, São Paulo, 11 out. 2013. Disponível em: <http://epoca.globo.com/ideias/noticia/2013/10/bmanuel-castellsb-mudanca-esta-na-cabeca-das-pessoas.html>. Acesso em: 25 mar. 2014.

LIMA, Venício A. de. Mídia, rebeldia urbana e crise de representação. In Cidades Rebeldes: passe livre e manifestações que tomaram as ruas do Brasil. São Paulo: Boitempo, 2013. MENDES, Daniela. Manuel Castells: Dilma é a primeira líder mundial a ouvir as ruas. ISTOÉ Independente, São Paulo, 28 jun. 2013. Disponível em: <http://www.istoe.com.br/assuntos/entrevista/detalhe/311021_DILMA+E+A+PRIMEIRA+LIDER+MUNDIAL+A+OUVIR+AS+RUAS+>. Acesso em: 01 out. 2013.

PETER, Isabella. Folksonomies: Indexing and Retrieval in Web 2.0. Berlim: De Gruyter Saur, 2009. SAKAMOTO, Leonardo. Em São Paulo, o Facebook e o Twitter foram às ruas. In Cidades Rebeldes: passe livre e manifestações que tomaram as ruas do Brasil. São Paulo: Boitempo, 2013. SANTAELLA, Lúcia. Da cultura das mídias à cibercultura: o advento do pós-humano. Revista FAMECOS. Porto Alegre, n˚22, dez. 2003. SANTAELLA, Lúcia. Linguagens líquidas na era da mobilidade. São Paulo: Paulus, 2007.