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PHELLIPE VASCONCELOS CAVALCANTI SIQUEIRA A RELAÇÃO DE AMIZADE NAS REDES SOCIAIS DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS DE NATALRN NATAL-RN 2011

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PHELLIPE VASCONCELOS CAVALCANTI SIQUEIRA

A RELAÇÃO DE AMIZADE NAS REDES SOCIAIS DE ESTUDANTES

UNIVERSITÁRIOS DE NATALRN

NATAL-RN

2011

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PHELLIPE VASCONCELOS CAVALCANTI SIQUEIRA

A RELAÇÃO DE AMIZADE NAS REDES SOCIAIS DE ESTUDANTES

UNIVERSITÁRIOS DE NATALRN

Dissertação apresentada à Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, para

Obtenção do título de Mestre em Psicobiologia.

Orientadora: Profª. Drª. Fívia de Araújo Lopes

NATAL-RN

2011

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Título: A RELAÇÃO DE AMIZADE NAS REDES SOCIAIS DE ESTUDANTES

UNIVERSITÁRIOS DE NATALRN

Autor: PHELLIPE VASCONCELOS CAVALCANTI SIQUEIRA

Data da defesa: 17 DE JUNHO DE 2011

Horário: 14h30hmin

Banca Examinadora:

_________________________________________________________

Dra. LUCIANA KARINE DE SOUZA

Universidade Federal de Minas Gerais

_________________________________________________________

Dr. WALLISEN TADASHI HATTORI

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_________________________________________________________

Dra. FÍVIA DE ARAÚJO LOPES

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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"A experiência sem teoria é cega, mas a teoria sem experiência é mera brincadeira intelectual"

Imannuel Kant

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Aos meus pais.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Robson Cavalcanti e Inês Vasconcelos, por tudo que sou. Pela

confiança e incentivo nas minhas realizações, a vocês mais esta conquista. À minha irmã,

Fabíola Vasconcelos, pelo companheirismo e amizade de sempre. À minha avó, Guiomar

Pereira, por tudo que representa na minha vida. Amo vocês.

À minha orientadora, professora Fívia de Araújo Lopes, pelos conhecimentos

científicos passados, orientação, disponibilidade, apoio na realização deste trabalho e pelas

muitas risadas.

À Jéssica, por todo companheirismo, dedicação, paciência, compreensão, e

incondicional apoio na realização das diversas etapas deste trabalho.

Aos amigos, em especial Alana Dantas e Sandresson Menezes, por mostrarem o exato

significado da palavra amizade.

À Wallisen Tadashi Hattori e Felipe Nalon Castro por todo auxílio estatístico,

paciência e disponibilidade.

À Luilia Suelly, Mayara Wenice, Thaiani Godoy pelas contribuições psicológicas.

Às instituições de ensino que abriram suas portas para a realização deste estudo e aos

mais de 500 voluntários anônimos que participaram desta pesquisa.

Ao Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia, à UFRN, à Capes pela bolsa de

estudos.

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SUMÁRIO

Banca examinadora............................................................................................................... iii

Epígrafe................................................................................................................................... iv

Dedicatória.............................................................................................................................. v

Agradecimentos...................................................................................................................... vi

Lista de ilustrações................................................................................................................. ix

Resumo..................................................................................................................................... x

Abstract................................................................................................................................... xi

1 - Introdução

1.1 - Apresentação.................................................................................................................. 02

1.2 - Introdução Geral........................................................................................................... 03

1.3 - Objetivos........................................................................................................................ 16

1.4 - Hipóteses e Predições..................................................................................................... 17

1.5 - Método Geral................................................................................................................ 19

2 - Estudo Experimentais

2.1 - Estudo Experimental 1................................................................................................. 23

2.2 - Resumo........................................................................................................................... 23

2.3 - Abstract.......................................................................................................................... 24

2.4 - Introdução..................................................................................................................... 24

2.5 - Método........................................................................................................................... 30

2.6 - Resultados..................................................................................................................... 33

2.7 - Discussão....................................................................................................................... 37

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2.8 - Considerações finais...................................................................................................... 41

2.9 - Referências..................................................................................................................... 42

2.1- Estudo experimental 2................................................................................................... 51

2.2 - Resumo .......................................................................................................................... 51

2.3 - Abstract ......................................................................................................................... 52

2.4 - Introdução...................................................................................................................... 52

2.5 - Método............................................................................................................................ 58

2.6 - Resultados...................................................................................................................... 61

2.7 - Discussão........................................................................................................................ 63

2.8 - Considerações finais..................................................................................................... 65

2.9 - Referências.................................................................................................................... 65

3 - Discussão Geral................................................................................................................ 72

4 - Conclusões........................................................................................................................ 77

5 - Referências Bibliográficas.............................................................................................. 79

6 - Anexos

6.1 - Anexo 1 - Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário

Onofre Lopes - UFRN.......................................................................................................... 91

6.2 - Anexo 2 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).......................... 92

6.3 - Anexo 3 - Questionário Sociodemográfico................................................................ 93

6.4 - Anexo 3 - Questionário “Caracterização do(a) Amigo(a) Ideal”............................ 94

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Estudo Experimental 1

Figura 1: Por ordem de preferência, médias e intervalo de confiança (95%) das características

avaliadas. Letras iguais indicam médias iguais. Médias estatisticamente diferentes são

representadas por letras diferentes (P<0,001).......................................................................... 34

Figura 2: Figura 2. Médias e intervalo de confiança (95%) das características avaliadas por

mulheres e homens para uma amiga ideal. *Investimento de pontos significativamente maios

por homens (P<0,001). ** Investimento de pontos significativamente maios por mulheres

(P<0,001).................................................................................................................................. 35

Figura 3: Figura 3. Médias e intervalo de confiança (95%) das características avaliadas por

mulheres e homens para um amigo ideal. ............................................................................... 36

Estudo Experimental 2

Tabela 1: Resultados das correlações de Spearman entre as características na auto-avaliação e

as mesmas características da amiga ideal conforme o sexo..................................................... 61

Tabela 2: Resultados das correlações de Spearman entre as características na auto-avaliação e

as mesmas características do amigo ideal conforme o sexo.................................................... 62

Figura 1: Média e intervalo de confiança (95%) da característica “Interesses Comuns”

conforme o sexo dos participantes e do(a) amigo(a) ideal.*P=0,001..................................... 63.

Discussão Geral

Quadro I: Resumo dos resultados e suas relações com as predições..................................... 76

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RESUMO

A base da sociabilidade na espécie humana é fundamentada na cooperação. A relação de

amizade, fundamental para o desenvolvimento social, emocional e cognitivo de um indivíduo,

pode ser compreendida como consequência da seleção para altruísmo recíproco em humanos.

O período da adultez é considerado muito propício e adequado para a investigação das

relações de amizade, porém a literatura brasileira sobre amizade em adultos ainda é incipiente.

Diante disso, o objetivo deste trabalho foi caracterizar a relação de amizade em estudantes

universitários. Participaram desta pesquisa 500 estudantes de instituições de ensino superior

do município de Natal-RN, Brasil, sendo 250 mulheres (idade média 24,1±7,66 anos) e 250

homens (idade média 26,77±9,64 anos). Dois questionários de caráter anônimo e individual

foram aplicados: um questionário sociodemográfico e outro com características desejadas em

amigos idealizados. No Estudo 1 avaliamos o grau de importância de características no

processo de escolha de um amigo do mesmo sexo e do sexo oposto ao do participante. No

estudo 2 investigamos a relação entre os padrões de idealização de amigos(as) e a

autoavaliação dos participantes. De maneira geral, houve preferência pelas características

“Companheirismo” e “Sinceridade” para amigos idealizados. Foi possível também constatar a

influência do sexo sobre as características atribuídas para uma amiga ideal, com ênfase

masculina para “Beleza/Boa aparência” e “Inteligência”, e feminina para “Companheirismo”

e “Sinceridade”. Por fim, observou-se uma correlação positiva entre a autoavaliação dos

participantes e as preferências para as características nos amigos(as) idealizados. Este trabalho

revelou elementos importantes para a compreensão da relação de amizades, mais

especificamente do processo de escolha de amigos. Os resultados encontrados reforçam a

relevância do estudo da relação de amizade para uma melhor compreensão do comportamento

social humano.

Palavras-chave: Amizade; Redes sociais; Reciprocidade; Psicologia Evolucionista.

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ABSTRACT

The basis of sociability in humans is based on cooperation. The relationship of friendship is

vital to the social, emotional and cognitive development of an individual and can be

understood as a consequence of selection for reciprocal altruism in humans. The period of

adulthood is considered very suitable and appropriate for the investigation of the relations of

friendship, but the Brazilian literature on friendship in adults is still nascent. Therefore, the

objective was to characterize the relationship of friendship among college students. The study

gathered 500 students from higher education institutions in the city of Natal-RN, Brazil, and

250 women (average age 24.1 ± 7.66 years) and 250 men (mean age 26.77 ± 9.64 years). Two

questionnaires anonymously and individual were applied: a sociodemographic questionnaire

and the other with the desired characteristics in idealized friends. Study 1 assessed the degree

of importance of characteristics in the process of choosing a friend of the same sex and

opposite sex of the participant. Study 2 investigated the relationship between patterns of

idealization of friends and self-assessment of participants. Overall, were the preferred

characteristics "Companionship" and "Sincerity" to idealized friends. We also found the

influence of sex on the characteristics attributed to an female ideal friend, with emphasis on

men for "Beauty/Good looks" and "Intelligence" and women to "Companionship" and

"Sincerity". Finally, we observed a positive correlation between participants' self-assessment

and preferences for the characteristics of the friends devised. This study revealed important

elements for understanding the relationship of friendship, specifically the process of choosing

friends. The results reinforce the importance of studying the relationship of friendship to a

better understanding of human social behavior.

Keywords: Friendship, Social Networks, Reciprocity, Evolutionary Psychology.

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INTRODUÇÃO

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1.1 APRESENTAÇÃO

Esta dissertação refere-se a um único projeto de pesquisa desenvolvido pelo autor

deste trabalho que, por incluir investigações de enfoques distintos, foi organizada em estudos

independentes, estando deste modo, organizada no formato de artigos científicos.

Inicialmente apresentamos uma Introdução Geral, que aborda os temas investigados

pelos diferentes estudos que a compõe. Nesta seção também serão apresentados o Objetivo

Geral do trabalho e os Objetivos Específicos, bem como as respectivas Hipóteses e Predições.

Como o procedimento de coleta foi o mesmo para todos os sujeitos, decidimos apresentá-lo

por completo no item Metodologia Geral.

Em seguida, serão expostos os manuscritos elaborados na seguinte ordem: Estudo

Experimental 1 - "O que procuramos em um amigo?” e Estudo Experimental 2 – “Amigo

espelho meu: O que as características idealizadas em amigos dizem a meu respeito?” A

formatação dos manuscritos segue as normas da American Psychological Association (APA),

visto que este é o padrão dos periódicos alvo para publicação.

Por fim, temos uma Discussão Geral e Conclusões, nas quais foram discutidos

conjuntamente os resultados dos estudos experimentais, as Referências Bibliográficas,

relativas às seções Introdução Geral, Método Geral e Discussão Geral, e os Anexos citados ao

longo dos manuscritos.

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1.2 INTRODUÇÃO GERAL

A sociabilidade humana

O gênero Homo surgiu na Terra há cerca de dois milhões de anos e a espécie Homo

sapiens propriamente dita apareceu aproximadamente entre 100 e 200 mil anos atrás (Haile-

Selassie, 2001; Lewin, 1999). No maior período de sua caminhada evolutiva, a humanidade

viveu em savanas, mais especificamente as do leste africano, onde sobrevivia de forma

nômade em um sistema caçador-coletor (Gaulin & McBurney, 2001). A sociedade humana

começou a transformar seu modo de vida quando passou a dominar técnicas de produção do

seu próprio alimento, através da agricultura, há cerca de dez mil anos (Smith, 1995). Já a

sociedade industrializada existe a cerca de 300 anos. Essa duração temporal não se configura

suficientemente significativa para que mudanças evolutivas consideráveis tenham ocorrido.

Assim, biologicamente ainda somos muito semelhantes a um humano de 100 mil anos atrás.

Nossos corpos e tendências comportamentais ainda estão, em parte, adaptados a solucionar os

desafios impostos no ambiente de seleção natural (Hagen, 2002) ou Ambiente de Adaptação

Evolutiva (AAE, do inglês Environment of Evolutionary Adaptadness [Bowlby, 1984]).

Segundo Hagen (2002) define, o AAE seria o conjunto de todas as pressões seletivas

enfrentadas pelos ancestrais de um organismo durante um tempo evolutivo recente. O AAE

refere-se, então, às condições do ambiente que permitiram aos indivíduos portadores da

mutação inicial ou de recombinações, e às gerações subsequentes, deixar mais descendentes,

até que toda a população apresentasse a mesma característica fenotípica (Izar, 2009).

Diferente da realidade atual, na qual temos alimentos em abundância, relativa

segurança em nossas casas e transportes para nos deslocarmos a grandes distâncias, o AAE se

caracterizava por ser um ambiente hostil no qual o ser humano tinha que caçar, coletar

alimentos, livrar-se de predadores e rivalizar com coalizões adversárias na disputa por

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recursos escassos (Gaulin & MacBurney, 2001). É possível que comportamentos que hoje

parecem deslocados, tenham tido grande utilidade nesse ambiente, o qual em nada se parece

com uma grande cidade atual (Wright, 1996). Desta forma é mais fácil lidar com pequenos

grupos de pessoas, do tamanho típico de bandos de caçadores-coletores, do que com

multidões; ou ainda, é mais fácil aprender a temer cobras do que tomadas elétricas. Os

organismos apresentam características funcionais porque essas características foram

selecionadas ao longo do passado evolutivo e podem, ou não, ser funcionais no ambiente

presente. Qualquer organismo pode apresentar, hoje, características que não mais conferem

função reprodutiva e podem até diminuir suas chances de sobrevivência e reprodução. Isso

pode acontecer quando o ambiente presente é muito distinto daquele ambiente de evolução

(Izar, 2009). É o que se observa para alguns comportamentos apresentados pelos seres

humanos. Alguns se mostram adaptativos, enquanto outros parecem mesmo desajustados ao

ambiente atual, devido a mudanças ambientais muito rápidas e recentes, às quais a nossa

espécie não teve tempo suficiente para se adaptar (Buss, 2005; Crawford & Krebs, 1998).

Em diversas espécies de animais, observa-se que nas situações de conflito o indivíduo

vitorioso geralmente é aquele com atributos físicos mais preponderantes (Ribeiro, Bussab &

Otta, 2009). Porém, entre os primatas nem sempre isso é verdadeiro, podendo as vitórias não

ser baseadas somente em seus atributos físicos avantajados, mas, além disso, em estratégias

sociais. Como pertencentes à ordem dos primatas, somos destituídos de atributos físicos

preponderantes para enfrentar predadores, como chifres, bicos ou garras. Dessa maneira, a

sobrevivência, bem como o sucesso reprodutivo dos nossos ancestrais, frequentemente

estiveram mais relacionados às estratégias sociais. Portanto, viver em grupo maximizou

nossas oportunidades de sobrevivência e reprodução, afinal, grupos são mais bem sucedidos

em encontrar recursos e defendê-los do que animais solitários. De forma similar, os membros

de um grupo podem ser menos vulneráveis a predadores porque existem muito mais olhos e

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ouvidos para prover um alarme precoce, e porque a ação coletiva dos membros do grupo pode

ser efetiva para repelir ao menos alguns tipos de predador (Gaulin & McBurney, 2001). Além

disso, a possibilidade da predação tende a diminuir como efeito direto da diluição do ataque

em meio ao número de indivíduos presentes no grupo ou mesmo em decorrência da confusão

que um número maior de indivíduos provoca no predador (Dunbar, 1996; Kappeler & van

Schaik, 2002; Ottoni, 2009; van Schaik, 1996). Como os custos do envolvimento em conflitos

são elevados, estar em grupo atenua os riscos e aumenta as possibilidades de êxito. Assim, ao

se agrupar em contextos específicos, vantagens adaptativas foram geradas fazendo com que

esse atributo se disseminasse para as gerações posteriores (Gaulin & MacBurney, 2001).

A base da sociabilidade, tão importante para assegurar recursos, na proteção contra

predadores, na busca por parceiros reprodutivos e moradia, é assentada na cooperação

(Crespi, 2001). Os indivíduos do grupo investem bastante tempo estabelecendo alianças e

observando os demais do grupo, de modo que um indivíduo fisicamente inferior pode triunfar

num conflito se tiver mais aliados presentes (Goodall, 1991). Consequentemente, os

indivíduos mais habilidosos no estabelecimento e manutenção de alianças obtêm maior

sucesso reprodutivo. Essa estratégia foi preponderante no caminho evolutivo seguido pelos

Homo sapiens e requer um cérebro bem desenvolvido, capaz de prever o comportamento dos

demais e evitar que seu próprio comportamento seja previsível (Pinker, 2004). Cérebros são

órgãos energeticamente caros do ponto de vista evolutivo por apresentarem apenas 2% do

peso corporal, mas por serem responsáveis pelo consumo de mais de 20% do metabolismo de

seres humanos (Aiello & Wheeler, 1995). Portanto, diante do contexto da evolução do

comportamento social primata, a compreensão do fenômeno do aumento no volume cerebral

se faz necessária.

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A Hipótese do Cérebro Social

Dentre as possíveis explicações para justificar a expansão cerebral dos hominídeos, a

Hipótese do Cérebro Social proposta por Dunbar (1993) merece destaque. Esta hipótese

pressupõe que o crescimento cerebral se deve ao aumento no número de indivíduos do grupo,

de forma que as relações sociais se tornaram mais complexas exigindo um cérebro com maior

capacidade de lidar com as informações sociais (Barton, 2006; Dunbar, 1997; 1998; 2003;

Foley, 1997; Ottoni, 2009). Diversos trabalhos demonstraram que a associação entre volume

do neocórtex e tamanho do grupo chega a prever o tamanho das redes sociais em uma ampla

variedade de espécies primatas (Dunbar, 1993; 1998; Dunbar & Bever, 1998; Hill & Dunbar,

2003; Kudo & Dunbar, 2001; Stiller & Dunbar, 2007; Zhou, Sornette, Hill, & Dunbar, 2005).

A coevolução entre volume do neocórtex e tamanho do grupo social também foi encontrada

em outras ordens de mamíferos como cetáceos, ungulados e carnívoros (Dunbar & Bever,

1998; Kudo & Dunbar, 2001; Shultz & Dunbar, 2006). Tais achados sugerem que esta

coevolução além de antiga em termos evolutivos, pode indicar uma adaptação ao modo de

vida em sociedade (Byrne & Corp, 2004).

Segundo a Hipótese do Cérebro Social, a catação social (social grooming), é um dos

mecanismos de formação e manutenção das relações sociais entre primatas não humanos

(Dunbar, 1993; 1996). A catação funciona como um mecanismo de vinculação, baseado na

liberação de endorfinas endógenas na região do hipotálamo. A ação dessas substâncias produz

no indivíduo catado sensações de conforto e “prazer” induzindo-os ao sono. Além disso,

reduzem a taxa de batimento cardíaco e os sinais visíveis de estresse. As endorfinas atuam,

também, na redução da dor física e na diminuição da tensão dentro do grupo (Dunbar, 1996).

A catação pode, inclusive, ser utilizada como medida de sociabilidade para se determinar o

tamanho dos grupos (Cords, 1997; Dunbar, 1993; 1998; 2001; 2007; Foley, 1997). O número

de indivíduos no grupo social vai determinar o tempo dedicado à catação social; como

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consequência, a coesão do grupo depende da força desses vínculos formados pela catação.

Quando o número de indivíduos ultrapassa um determinado limiar, um ponto ótimo,

inviabilizando o tempo destinado à catação, o cérebro já não é mais capaz de administrar um

número de relações sociais além daquele para o qual evoluiu (Dunbar, 1993). Um aumento

considerável no tamanho do grupo inviabiliza o tempo e o número de indivíduos que podem

se relacionar levando a conflitos constantes até a sua fissão em dois ou mais grupos menores

(Dunbar, 2003). Assim, parece haver um limite biológico ou um mecanismo psicológico que

restringe o número de indivíduos no grupo permitindo sua estabilidade (Dunbar, 1993).

Segundo Dunbar (2008), o cérebro grande evoluiu em nossa espécie porque permitiu

aos nossos ancestrais, manter um maior número de relações interpessoais em sua rede social.

Ele afirma que em determinado momento da evolução humana, a existência de grupos sociais

cada vez maiores favoreceu nossos ancestrais sobre outros hominídeos. A constatação de que

o tamanho do córtex está fortemente relacionado com o tamanho e a complexidade do grupo

social, no qual a espécie vive e presumivelmente evoluiu (Barton, 1996; Dunbar, 1993;

Sawaguchi, 1997) , sugere que o aumento no triplo do volume do cérebro de Australopithecus

afarensis à humanos foi impulsionado em grande parte pelo aumento da complexidade das

relações sociais dos hominídeos (Alexander, 1990; Humphrey, 1976). A dependência de tais

grupos numerosos criou as condições para a evolução de uma forma de

comunicação/interação mais adequada que sustentasse este aumento, e funcionasse como um

“transmissor” de informação social (Henzi, Hawker-Bond, Stiller, Dunbar Barret, 2007),

nesse caso a linguagem (Aiello & Dunbar, 1993; Dunbar, 1993; 2003; Silva Júnior, 2009).

Sob esta ótica, percebe-se que a linguagem apresentou implicações cruciais para a

sociabilidade humana, ao potencializar um maior número de relações interpessoais em menor

tempo, culminando com a evolução cerebral que possibilitou a administração dessas redes

sociais em progressão. A linguagem possui claras vantagens sobre a catação, como permitir a

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comunicação com mais de um indivíduo ao mesmo tempo e por permitir que informações

sobre terceiros possam ser obtidas sem contato direto com seu comportamento (Aiello &

Dunbar, 1993; Dunbar, 1993; 2003), fortalecendo assim as relações sociais tanto em termos

quantitativos como qualitativos.

Ao comparar o volume do neocórtex humano com o de outros primatas e cruzar essas

informações com dados sobre a organização social de cada uma das espécies ao longo do

tempo, as previsões para o tamanho das redes sociais em nossa espécie giram em torno de 150

indivíduos em média por pessoa (Dunbar, 1993; Hill & Dunbar, 2003; Zhou, Sornette, Hill, &

Dunbar, 2005). Isto é, acima desse número médio, teríamos dificuldades em manter vínculos

profundos com outros indivíduos, afinal a manutenção de nossas relações interpessoais está

diretamente ligada às limitações de nossa capacidade cognitiva. Isso pode ajudar a

compreender o porquê de não termos um número imenso de amigos próximos, visto que o

investimento cortical seria muito alto. Assim, os relacionamentos que extrapolam esse

número são inevitavelmente mais casuais. Naturalmente, as pessoas tendem a formar

conglomerados em torno de 150 pessoas, como foi encontrado em uma amostra de 15

sociedades de caçadores-coletores ao redor do mundo (Dunbar, 1993). Cento e cinquenta é o

tamanho médio dos grupos do período neolítico, dos clãs da sociedade pré-industrial, e até

hoje, de comunidades camponesas tradicionais como os Amish, que chegam a dividir uma

comunidade em duas quando ela ultrapassa 150 pessoas. Tais previsões para o tamanho das

redes sociais humanas também foram confirmadas em estudos empíricos, como por exemplo,

o trabalho de Hill e Dunbar (2003). Os autores se utilizando do costume dos cidadãos

europeus de enviar cartões na época do natal para pessoas que eles consideram parte de suas

redes sociais aproveitaram este período, para através do envio de tais cartões, investigarem

características dessas redes sociais. Os resultados revelaram uma média do tamanho das redes

sociais em torno de 153,5 pessoas. Porém esse número não é consensual. Silva Júnior (2009)

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ao realizar um estudo similar, com estudantes universitários, encontrou uma média de 52,53

contatos sociais. Segundo Silva Júnior (2009) estudos adicionais são necessários para

esclarecer as diferenças encontradas, bem como a influência de outras variáveis que possam

aumentar a compreensão das redes sociais.

Cooperar é preciso

Uma vez posta a importância da organização social na evolução dos primatas, fica

claro que a maximização do sucesso reprodutivo e sobrevivência dependiam da junção de

esforços para proteção contra os predadores e na caça e coleta dos alimentos. Afinal caçar

sozinho ou dormir fora do acampamento implicava em uma maior probabilidade de morrer.

Os indivíduos que adotaram práticas mais solitárias ficaram pelo meio do caminho evolutivo;

desta forma, nós descendemos daqueles que sabiam conviver com os outros. A linhagem da

espécie humana teria levado ao máximo desenvolvimento o padrão evolutivo dos primatas de

fazer alianças (Foley, 1998).

De acordo com Crespi (2001), tal como comentado anteriormente, a base da

sociabilidade é assentada na cooperação. A cooperação entre indivíduos aparentados, tão

presente no reino animal, pode ser compreendida através da Teoria da Seleção de Parentesco

ou aptidão abrangente proposta por Hamilton (1964). Um mecanismo através do qual um

indivíduo favorece seus parentes genéticos, considerando que as características dos indivíduos

reprodutores são passadas adiante através dos genes. Essa transmissão pode ocorrer de forma

direta, quando o investimento é na própria prole, ou indireta, quando o indivíduo não

reproduz, mas investe na sobrevivência e/ou reprodução da prole dos irmãos, primos e outros

parentes (Yamamoto, Alencar, & Lacerda, 2009). Os seres humanos possuem claramente as

adaptações provenientes da seleção de parentesco (Daly, Salmão, & Wilson, 1997; Daly &

Wilson, 1988). O nepotismo, que consiste no favorecimento de parentes, especialmente no

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que diz respeito à nomeação ou elevação de cargos, é um exemplo prático da seleção de

parentesco em humanos (Chagnon, 1975; Chagnon & Bugos, 1979; Patton, 2000). Porém,

diferente da maioria das outras espécies, os seres humanos também trabalham

cooperativamente e mantêm metas comuns com indivíduos não geneticamente aparentados

(Kurzban & Neuberg, 2005).

Os seres humanos são extremamente sociais e criam com facilidade arranjos

cooperativos que envolvem pagamentos futuros (Ridley, 2000). Trivers (1971) formulou uma

teoria para explicar quais os custos e benefícios evolutivos dessa cooperação entre não

parentes, conhecida por Teoria do Altruísmo Recíproco, que para ocorrer precisa de algumas

condições: (a) o favor precisa ter um custo pequeno para o doador, mas ser valioso para o

receptor, isto é, ter uma razão “custo para doador/benefício para recipiente” baixa; (b) os

indivíduos envolvidos precisam ter uma alta probabilidade de se reencontrar, para que o favor

possa ser retribuído. Isto em geral ocorre em espécies que têm longo tempo de vida; (c) uma

capacidade de memória é necessária, para que os indivíduos possam se lembrar a quem devem

e quem lhes deve favores, bem como reconhecer os trapaceiros, isto é, aqueles que não

retribuem os favores recebidos. Isto implica uma capacidade cognitiva relativamente bem

desenvolvida que só é encontrada em algumas espécies animais. A espécie humana

certamente atende a todas as condições para a ocorrência do altruísmo recíproco (Yamamoto

et al., 2009).

Amizade como expressão do altruísmo recíproco

Como discutido anteriormente, a reciprocidade atuaria organizando as relações sociais

humanas. Em seu trabalho inicial sobre reciprocidade, Trivers (1971) argumentou que a

amizade e uma ampla gama de sistemas emocionais que lhe dão suporte são o resultado da

seleção para altruísmo recíproco em humanos. Ele sugere que as emoções de gostar e

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desgostar evoluíram favorecendo a motivação para o altruísmo adaptativo e facilitou a

formação de parcerias somente entre indivíduos que retribuem favores. Uma vez que emoções

positivas como gostar estão abertas a exploração, nós estaríamos preparados para sentir-nos

moralmente indignados quando nosso altruísmo não for retribuído (Gaulin & McBurney,

2001). Desta forma, ao longo da evolução humana a reciprocidade foi um dos mecanismos

que possibilitaram a inibição da exploração daqueles indivíduos que não retribuem o

benefício recebido, bem como a sinalização daqueles sujeitos merecedores de confiança.

Trivers (1971) advoga que a evolução da capacidade de desenvolver relacionamentos

de longo prazo, como a amizade entre indivíduos não aparentados, é dependente de

mecanismos sociais e emocionais que mantém a reciprocidade na relação. Mais

fundamentalmente, Trivers argumentou que os amigos são amigos, porque sua relação é

mutuamente benéfica. Décadas de pesquisas empíricas sobre amizades com crianças,

adolescentes, e, mais recentemente, com adultos confirmam a posição de Trivers (Hartup &

Stevens, 1997; Youniss, 1986). Hartup e Stevens (1997) concluíram que as crianças e adultos

de todas as idades consideram que as relações de amizade são marcadas por reciprocidade, ou

seja, o dar e o receber (Geary, 1998).

Como argumentado por Trivers (1971), a amizade é uma relação presente na natureza

humana. Estudiosos da Psicologia Evolucionista levantam a hipótese de que este tipo de

relação pode ter sido em algum momento de nossa evolução um comportamento adaptativo.

De acordo com Kurzban e Neuberg (2005), os seres humanos evoluíram para cooperação,

apresentando habilidades para selecionar criteriosamente os sujeitos com quem irão interagir

procurando, assim, se associar com indivíduos que são mais prováveis de maximizar sua

aptidão. De acordo com Berscheid e Regan (2005), nós humanos, por vivermos em uma

complexa rede de relacionamentos interpessoais, já nascemos com dispositivos biológicos que

propiciam o desenvolvimento e manutenção de relacionamentos com outras pessoas, como o

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sistema de percepção de faces, a acuidade empática, a comunicação não verbal, a linguagem,

o sistema de apego e cuidado, a teoria da mente, que contribuem para formação de fortes

laços interpessoais (Baron Cohen, 1995; Brothers & Ring, 1992; Ekman, 1992; Leslie, 1987;

Moscovitch, Winocur, & Behrmann, 1997; Pinker, 1994; Premack & Woodruff, 1978;

Wellman, 1990). As amizades facilitam a tolerância a medos e ansiedades, ajudam a suportar

situações estressantes e proporcionam senso de identificação e exclusividade (Duarte &

Souza, 2010). Relacionamentos pessoais, como por exemplo, com familiares, amigos e

parceiros românticos, propiciam apoio emocional, diminuem a solidão, proporcionam bem

estar subjetivo, tendo, portanto, papel importante na felicidade pessoal e na promoção da

saúde (Argyle, 2001; Berscheid & Regan, 2005; Souza & Hutz, 2008; Rajaratnam, O’Campo,

Caughy, & Muntaner, 2007). Estudos epidemiológicos demonstram que indivíduos

socialmente integrados vivem mais (Fehr, 1996). Evidências em diversos estudos demonstram

que redes sociais de amizade fornecem mais ajuda emocional que os parentes consanguíneos

em estudos realizados na França, Canadá, China, Inglaterra e EUA (Grossetti, 2007,

Kossinets & Watts, 2006; Lee, Ruan & Lai, 2005; Phillips, Bernard, Phillipson, & Ogg, 2000;

Wu & Hart, 2002). A amizade seria, portanto, um relacionamento importante para o

desenvolvimento social, emocional e cognitivo (Souza & Hutz, 2008).

De acordo com Souza (2006), “O estudo científico, empírico e sistemático da amizade

iniciou-se na década de 1970, com o surgimento do campo de estudos sobre relacionamentos

sociais e pessoais” (p.9). No que tange à definição de amizade, não existe consenso entre

pesquisadores da área (Blieszner & Adams, 1992). Embora seja preferível uma definição de

amizade que se aplique a todo amigo, de qualquer cultura ou época, as concepções variam

conforme idade, sexo, estado civil, religião, status profissional, escolaridade, etnia (Fehr,

1996, Souza, 2006). Fehr (1996) examinou cinco definições de amizade disponíveis na

literatura e frequentemente utilizadas em pesquisas. Compilando-as, a autora conceitua

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amizade como “um relacionamento pessoal e voluntário, que propicia intimidade e ajuda, no

qual as duas partes gostam uma da outra e buscam a companhia uma da outra” (p.7). De

acordo com Rezende (2002), a amizade é uma relação pessoal, privada, afetiva e voluntária

pautada na sociabilidade, afinidade, confiança e abertura para compartilhar questões íntimas e

pessoais, valores semelhantes, reciprocidade, apoio mútuo, sinceridade, diálogo e

investimento de tempo. Para Kurzban e Neuberg (2005) as amizades são relações estáveis e

duradouras estabelecidas entre as pessoas que se identificam como membros da mesma

comunidade ou grupo, cujos hábitos, práticas culturais, vestuário, crenças e valores são

compartilhados e reconhecidos como essenciais para o funcionamento do grupo. Segundo

Souza (2006), “considera-se amizade um relacionamento que se desenvolve ao longo das

etapas da vida (infância, adolescência, adultez e velhice), influenciado por processos

biológicos, psicológicos e ambientais, passível de ser classificado em diferentes tipos, que

igualmente se modificam durante cada etapa da vida e de uma etapa para outra” (p.11). Nós

consideramos amizade como uma relação interpessoal de fundamental importância social

baseada em uma aliança recíproca de companheirismo, sinceridade e compartilhamento de

interesses, envolta por afetividade.

Amizade ao longo da vida

As pessoas buscam relacionamentos motivadas por necessidades e preocupações

vigentes em cada estágio da vida (Souza & Hutz, 2008). Isso também se reflete nas relações

de amizade. A amizade infantil caracteriza-se por afeto, divertimento e reciprocidades, mútua

consideração, cooperação, bom manejo de conflito, benefícios equivalentes em trocas sociais;

gostar um do outro, ou seja, desejar passar mais tempo na companhia prazerosa um do outro.

As amizades de crianças mais velhas e adolescentes incluem lealdade, confiança e intimidade,

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requerem interesses comuns e comprometimento, tanto para manter os amigos como para

formar novas amizades (Bukowski, Newcomb, & Hartup, 1996; Hartup, 1989).

Na adultez jovem, a amizade torna-se mais importante no contraste com o restante da

vida adulta, que a restringe com demandas profissionais, românticas e familiares (Fehr, 1996;

Rawlins, 1992). Amizades adultas caracterizam-se por homogeneidade de traços de

personalidade, interesses, sexo, idade, estado civil, religião, status ocupacional, etnia, renda,

escolaridade, gênero, número de amigos, duração da amizade e tipos (Bell, 1981; Blieszner &

Adams, 1992; Fehr, 1996). Com o avanço etário, sente-se nostalgia dos amigos da juventude,

como se a amizade transcendesse o tempo (Bell, 1981). Nesta etapa da vida, tem-se observado

que a interação com amigos é menos frequente, com encontros mais breves (Adams,

Blieszner, & deVries, 2000).

A maioria das pesquisas sobre amizade aborda adultos jovens, geralmente estudantes

universitários. Esta tendência não decorre apenas da facilidade para coletar dados nas

universidades, mas também do fato de que, nesta etapa, as amizades são mais evidentes (Fehr,

199; Souza, 2006). Segundo Carbery e Buhrmester (1998) argumentam em seu estudo, as

amizades atingem o pico funcional da rede de relacionamentos no começo da adultez jovem,

afinal, nesta fase geralmente o indivíduo é solteiro e não está comprometido com uma relação

conjugal ou filhos e sofre menor influência de interações familiares, como na adolescência,

por exemplo. Os amigos são preferidos ao proverem apoio social, companheirismo e

confidências. De acordo com Rawlins (1992), a entrada na universidade requer do indivíduo

um ajustamento emocional para construir um novo sistema de apoio social e renegociar

relacionamentos familiares e amizades pré-existentes. Este período é favorável a amizades

profundas e empolgantes. Portanto, a população de estudantes universitários é ideal para o

estudo das amizades (Carbery & Buhrmester, 1998; Koh, Mendelson, & Rhee, 2003; Rawlins,

1992).

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Outro aspecto importante a ser abordado é a diferença de gêneros nas relações de

amizade. Amizades entre homens e mulheres proporcionam a experiência ímpar de conhecer

como pensa, sente e age o indivíduo do sexo oposto (Monsour, 2002). Porém, poucos estudos

têm sido conduzidos abordando amizade com o sexo oposto, particularmente quando os

compara com amizade entre os do mesmo sexo (Sprecher & Regan, 2008).

Em virtude do período da adultez jovem ser muito propício e adequado para a

investigação das relações de amizade, somado ao fato da literatura brasileira sobre amizade

em adultos ainda ser incipiente (Souza & Hutz, 2008), e considerando-se também a carência

de estudos sobre amizades entre pessoas de sexo oposto tendo como referência tanto o sexo

do participante como o sexo do amigo, o presente trabalho demonstra-se relevante por se

propor a discorrer sobre esta temática crucial da amizade entre universitários, num país onde

ainda há muito por ser estudado para melhor compreensão da amizade nessa peculiar fase da

vida do ser humano, a fim de contribuir para uma melhor compreensão do comportamento

social humano.

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1.3 OBJETIVOS

Objetivo geral

• Caracterizar a percepção da amizade em estudantes universitários.

Objetivos específicos

• Identificar perfis de preferências por amigos(as) ideais dentre as características

selecionadas; (Estudo 1)

• Verificar a influência do sexo sobre as características atribuídas para amigos(as) ideais

em estudantes universitários; (Estudo 1)

• Analisar o efeito da autoavaliação sobre as preferências descritas para amigos(as)

ideais em estudantes universitários. (Estudo 2)

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1.4 HIPÓTESES E PREDIÇÕES

• Hipótese 1: Há diferenças quanto aos valores atribuídos às características idealizadas

para um(a) amigo(a). (Estudo 1)

Predição 1.1: Será atribuída maior importância para as características ligadas a

traços pessoais se comparadas dos demais traços para amigos(as) ideais.

• Hipótese 2: A idealização do amigo depende do sexo para características específicas.

(Estudo 1)

Predição 2.1: Homens atribuirão maior importância para Beleza/Boa aparência

do que as mulheres na idealização de amigas;

Predição 2.2: Mulheres atribuirão maior importância para Companheirismo do

que os homens na idealização de amigas;

Predição 2.3: Homens atribuirão maior importância para Companheirismo do que

as mulheres na idealização de amigos;

Predição 2.4: Mulheres atribuirão maior importância para Boa condição

financeira do que os homens na idealização de amigos;

Predição 2.5: Não há diferença na atribuição de importância das demais

características.

• Hipótese 3: A autoavaliação do indivíduo em relação ao seu valor enquanto amigo(a)

exerce influência sobre as preferências descritas para amigos(as) ideais. (Estudo 2)

Predição 3.1: Os indivíduos demonstram preferências por amigos(as) que

possuam características semelhantes às deles; assim, os valores atribuídos aos

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traços dos amigos(as) ideais são similares aos valores atribuídos a cada

característica na auto-avaliação.

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1.5 MÉTODO GERAL

Sujeitos

Participaram do estudo piloto desta pesquisa 110 estudantes universitários com idade

entre 18 e 59 anos da Universidade Federal do Rio Grande, Natal-RN. Sendo 55 homens com

média de idade de 22,85 anos (±2,74) e 55 mulheres com média de idade de 23,54 anos

(±3,49),

Já do experimento, participaram 526 estudantes universitários com idade entre 18 e 59

anos de idade de seis instituições de ensino superior da cidade de Natal/RN: Universidade

Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade Potiguar (UnP); Faculdade de

Excelência Educacional do Rio Grande do Norte (FATERN); Faculdade Maurício de Nassau;

Faculdade Natalense para o Desenvolvimento do RN (FARN) e Instituto Federal de Educação,

Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN). Destes, 500 foram incluídos nas

análises, sendo 250 mulheres, com média de idade de 24,1 anos (±7,66) e 250 homens com

média de idade 26,77 anos (±9,64). Os critérios utilizados para exclusão de vinte e seis

participantes foram: a não declaração do sexo ou da idade no questionário, bem como

indivíduos que se encontravam fora da faixa etária definida para esta pesquisa.

Material

O material necessário para o desenvolvimento da presente pesquisa envolveu um

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Anexo 1) e dois questionários de

caráter anônimo e individual, sendo um questionário sociodemográfico (Anexo 2) e um

segundo com características desejadas em amigos idealizados, denominado de

“Caracterização do(a) Amigo(a) Ideal” (Anexo 3).

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O primeiro questionário, o sociodemográfico, abordou questões de ordem pessoal,

relacionadas à: idade, sexo, orientação sexual, estado civil, religiosidade e questões

socioeconômicas.

Já o segundo questionário, “Caracterização do(a) Amigo(a) Ideal”, foi utilizado para

traçar o perfil das características requeridas em um amigo ideal do mesmo sexo e do sexo

oposto ao participante, assim como para uma autoavaliação do mesmo como amigo. Tal

instrumento é composto por uma escala do tipo Likert de nove pontos (sendo permitido o

investimento de no mínimo zero ponto, quando nada importante, até o máximo de nove

pontos, quando extremamente importante o traço avaliado é considerado). Em cada simulação

os sujeitos poderiam distribuir uma quantidade de pontos determinada previamente (36

pontos) dentre as seguintes características: “Beleza/Boa aparência”, “Boa Condição

Financeira”, “Bom Humor”, “Companheirismo”, “Determinação/Disposição para o trabalho”,

“Inteligência”, “Saúde”, “Sinceridade” e “Sociabilidade”. Além disso, uma característica foi

analisada em separado: “Interesses em Comum”. Esta foi avaliada através da marcação de um

ponto de referência em uma linha reta com 10 centímetros, na qual os pólos significam

extremos de interesses em comum (nada importante e extremamente importante). Em todas as

simulações os traços analisados foram os mesmos, contudo na auto-avaliação não havia

restrição quanto à quantidade de pontos a serem distribuídos, bem como não foi incluída a

avaliação da característica “Interesses em Comum”. Foi explicado aos participantes que um

maior investimento de pontos em uma característica indicaria maior expressão desta no

amigo(a) ideal ou nele próprio.

As características utilizadas foram previamente selecionadas a partir do levantamento

bibliográfico da literatura sobre a temática (Campbell et al., 2001; Castro, 2009; Cotrell et al.,

2007; Morry, 2005; Sprecher & Regan, 2002; Vigil, 2007) conjuntamente com as

características obtidas através do estudo piloto. Tais características selecionadas

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contemplaram três grandes conjuntos de traços importantes para diversos tipos de

relacionamentos: traços físicos (representados em nosso estudo pelas características

“Beleza/Boa aparência” e “Saúde”), pessoais (em nosso trabalho: “Bom humor”,

“Companheirismo”, “Inteligência”, “Sinceridade”, “Sociabilidade”), e relacionados aos

recursos (representados por “Boa Condição Financeira” e “Determinação/Disposição para o

trabalho”).

Procedimentos

As coletas tanto do estudo piloto quanto do experimento foram realizadas nas salas de

aula dos participantes. No caso do estudo piloto, o pesquisador pedia aos participantes para

escrever em uma folha de papel cinco características que eles julgavam importantes em um

amigo ideal e cinco características de uma amiga ideal. No experimento, inicialmente uma

breve explanação oral da pesquisa foi realizada pelo condutor da mesma aos potencias

participantes. Em seguida, duas vias do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

foram entregues para apreciação dos potencias participantes. Os estudantes que

voluntariamente concordaram em participar da pesquisa assinaram o TCLE, ficaram com uma

das cópias e devolveram a outra assinada. Após recolhimento dos TCLE, teve início a

aplicação dos questionários, seguindo a seguinte ordem: primeiro, o sociodemográfico, em

seguida, o questionário “Caracterização do(a) Amigo(a) Ideal”. A duração dessa aplicação foi

de, aproximadamente, 20 minutos.

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ESTUDOS EXPERIMENTAIS

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2.1 ESTUDO EXPERIMENTAL 1 - O QUE PROCURAMOS EM UM AMIGO?

PHELLIPE VASCONCELOS CAVALCANTI SIQUEIRA1 & FÍVIA DE ARAÚJO

LOPES1,2

1 Programa de Pós-graduação em Psicobiologia, UFRN, Brasil.

2 Departamento de Fisiologia, UFRN, Brasil.

RESUMO

Nós, seres humanos, somos essencialmente sociais. A base de nossa sociabilidade é

fundamentada na cooperação. Assim, a relação de amizade, se configura como resultado da

seleção para altruísmo recíproco em humanos. O período da adultez é considerado muito

propício e adequado para a investigação das relações de amizade. Diante disso, o objetivo

deste trabalho foi traçar o perfil das características requeridas em um amigo ideal do mesmo

sexo e do sexo oposto entre estudantes universitários. Participaram desta pesquisa 500

estudantes (250 mulheres e 250 homens) de instituições de ensino superior do município de

Natal-RN, Brasil. Dois questionários de caráter anônimo e individual foram aplicados, sendo

um questionário sociodemográfico e outro com características desejadas em amigos. De

maneira geral, as características “Companheirismo” e “Sinceridade” foram preferidas para

perfis de amigos(as) ideais. Ao idealizar uma amiga, os homens valorizam mais os traços

“Beleza/Boa aparência” e “Inteligência” do que as mulheres. Já as mulheres valorizam mais

as características “Companheirismo” e “Sinceridade” do que os homens. Não houve

diferenças entre os sexos ao caracterizar um amigo ideal. Tendo em vista a importância da

relação de amizade para o desenvolvimento social, emocional e cognitivo de um indivíduo,

nosso trabalho revelou aspectos importantes para a compreensão da relação de amizades, mais

especificamente do processo de escolha de amigos.

Palavras-chave: Amizade; Redes sociais; Reciprocidade; Psicologia Evolucionista.

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ABSTRACT

We, humans are essentially social. The basis of our sociality is based on cooperation. Thus,

the relationship of friendship is configured as a result of selection for reciprocal altruism in

humans. The period of adulthood is considered very suitable and appropriate for the

investigation of the relations of friendship. Therefore, the objective was to profile the

characteristics required in an ideal friend of the same sex and opposite sex among college

students. The study gathered 500 students (250 women and 250 men) of higher education

institutions in the city of Natal-RN, Brazil. Two questionnaires anonymous and individual

were applied, a sociodemographic questionnaire and the other with the desired characteristics

in friends. In general, the features "Companionship" and "Sincerity" were preferred to friends'

profiles ideals. In making up a female friend, more men value traits "Beauty / Good Look"

and "Intelligence" than women. Since women value more features "Companionship" and

"Sincerity" than men. No differences between sexes in characterizing an ideal male friend.

Given the importance of the relationship of friendship to the social, emotional and cognitive

development of an individual, our work has revealed important aspects for understanding the

relationship of friendship, specifically the process of choosing friends.

Keywords: Friendship, Social Networks, Reciprocity, Evolutionary Psychology.

1. INTRODUÇÃO

Os humanos são seres distintamente "ultra-sociais" (Campbell, 1983; Richerson &

Boyd, 1998). As interações sociais permeiam nossas vidas e foi a partir delas que nossos

ancestrais adquiriram certa autonomia em relação às demandas ambientais. O ponto chave que

explica a enorme capacidade que nossa espécie possui de modificar e adequar o ambiente no

qual vive às suas necessidades é a cooperação entre os indivíduos (Geary, 2005).

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Ao contrário da grande maioria das espécies, em humanos, indivíduos que não são

relacionados geneticamente interagem cooperativamente para atingir objetivos comuns

(Kurzban & Neuberg, 2005). A cooperação humana, portanto, envolve uma rede ampla de

indivíduos, que cruza os limites do parentesco, do sexo e da idade (Key & Ayello, 1999). Esta

cooperação se dá de diversas formas, incluindo desde as grandes caçadas do ambiente

ancestral (Hawkes, 1993; Lee & DeVore, 1968) aos atuais exercícios militares, nos quais

indivíduos até se sacrificam, beneficiando outros (Keegan, 1994). Tal natureza cooperativa

humana leva a supor que a formação de laços entre não parentes não é aleatória (Kurzban &

Neuberg, 2005) havendo uma seleção de indivíduos com os quais se coopera e se forma

vínculos sociais.

Trivers (1971) formulou uma teoria para explicar quais os benefícios evolutivos dessa

cooperação entre não parentes, conhecida por Teoria do Altruísmo Recíproco. Segundo essa

teoria, os participantes de uma relação podem obter vantagens mútuas se cooperarem. Para

tanto algumas condições se fazem necessárias: (a) o favor precisa ter um custo pequeno para o

doador, mas ser valioso para o receptor, isto é, ter uma razão “custo para doador/benefício

para recipiente” baixa; (b) os indivíduos envolvidos precisam ter uma alta probabilidade de se

reencontrar, para que o favor possa ser retribuído. Isto em geral ocorre em espécies que têm

longo tempo de vida; (c) uma capacidade de memória é necessária, para que os indivíduos

possam se lembrar a quem devem e quem lhes deve favores, bem como reconhecer os

trapaceiros, isto é, aqueles que não retribuem os favores recebidos. A espécie humana

certamente atende às condições necessárias para a ocorrência do altruísmo recíproco

(Yamamoto, Alencar, & Lacerda, 2009).

Trivers (1971) advoga ainda que a evolução da capacidade de desenvolver

relacionamentos de longo prazo, como a amizade entre indivíduos não aparentados, é

dependente de mecanismos sociais e emocionais que mantêm a reciprocidade na relação. Mais

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fundamentalmente, Trivers argumentou que os amigos são amigos, porque sua relação é

mutuamente benéfica. Décadas de pesquisas empíricas sobre amizades com crianças,

adolescentes, e, mais recentemente, com adultos confirmam a posição de Trivers (Hartup &

Stevens, 1997; Youniss, 1986). Hartup e Stevens (1997) concluíram que as crianças e adultos

de todas as idades consideram que as relaçoes de amizade são marcadas por reciprocidade, ou

seja, o dar e o receber (Geary, 1998). Trivers (1971) argumentou ainda, que as emoções de

gostar e desgostar evoluíram para motivar o altruísmo adaptativo e para facilitar a formação

de parcerias somente entre indivíduos que retribuem favores. Uma vez que emoções positivas

como gostar estão abertas a exploração, nós estaríamos preparados para sentir-nos

moralmente indignados quando nosso altruísmo não for retribuído (Gaulin & McBurney,

2001). Sendo assim, as emoções do senso moral poderiam evoluir quando as partes

interagissem repetitivamente e pudessem recompensar a cooperação presente com a

cooperação futura e punir a traição. Dessa forma, ao longo da evolução humana, a

reciprocidade atua inibindo a exploração daqueles indivíduos que não retribuem o benefício

recebido, bem como sinalizando aqueles sujeitos merecedores de confiança.

Como argumentado por Trivers (1971), a amizade é uma relação presente na natureza

humana. Estudiosos da Psicologia Evolucionista levantam a hipótese de que este tipo de

relação pode ter sido em algum momento de nossa evolução um comportamento adaptativo.

De acordo com Kurzban e Neuberg (2005), os seres humanos evoluíram para cooperação,

apresentando habilidades para selecionar criteriosamente os sujeitos com quem irão interagir

procurando, assim, se associar com indivíduos que são mais prováveis de maximizar sua

aptidão. De acordo com Berscheid e Regan (2005), nós humanos, por vivermos em uma

complexa rede de relacionamentos interpessoais, já nascemos com dispositivos biológicos que

propiciam o desenvolvimento e manutenção de relacionamentos com outras pessoas, como o

sistema de percepção de faces, a acuidade empática, a comunicação não verbal, a linguagem,

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o sistema de apego e cuidado, a teoria da mente, que contribuem para formação de fortes

laços interpessoais (Baron Cohen, 1995; Brothers & Ring, 1992; Ekman, 1992; Leslie, 1987;

Moscovitch, Winocur, & Behrmann, 1997; Pinker, 1994; Premack & Woodruff, 1978;

Wellman, 1990). As amizades facilitam a tolerância a medos e ansiedades, ajudam a suportar

situações estressantes e proporcionam senso de identificação e exclusividade (Duarte &

Souza, 2010). Relacionamentos pessoais, como por exemplo, com familiares, amigos e

parceiros românticos, propiciam apoio emocional, diminuem a solidão, proporcionam bem

estar subjetivo, tendo, portanto, papel importante na felicidade pessoal e na promoção da

saúde (Argyle, 2001; Berscheid & Regan, 2005; Rajaratnam, O’Campo, Caughy, &

Muntaner, 2007). Estudos epidemiológicos demonstram que indivíduos socialmente

integrados vivem mais (Fehr, 1996). Evidências em diversos estudos demonstram que redes

sociais de amizade fornecem mais ajuda emocional que os parentes consanguíneos em estudos

realizados na França, Canadá, China, Inglaterra e EUA (Grossetti, 2007, Kossinets & Watts,

2006; Lee, Ruan, & Lai, 2005; Phillips, Bernard, Phillipson, & Ogg, 2000; Wu & Hart, 2002).

A amizade seria, portanto, um relacionamento importante para o desenvolvimento social,

emocional e cognitivo (Souza & Hutz, 2008).

A diferença de gêneros nas relações de amizade é um aspecto importante a ser

abordado. Evidências sugerem que na comparação com amizades entre homens as amizades

entre mulheres são de melhor qualidade, mais íntimas, próximas e envolvendo maior

satisfação e trocas afetivas; já as amizades masculinas valorizam atividades conjuntas e são

mais instrumentais, com ênfase no tempo investido na amizade (Carbery & Buhrmester, 1998;

Jones, 1991; Souza, 2006; Wright, 1988; Wright & Scanlon, 1991). Souza (2006) conduziu

um trabalho sobre as diferenças de gênero na percepção da qualidade da amizade em adultos,

tendo verificado que mulheres percebem suas amizades, seja com amigas ou com amigos,

como mais provedoras de funções pertinentes a uma relação de amizade, como de ajuda,

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aliança confiável, autovalidação, companheirismo estimulante, intimidade e segurança

emocional. As mulheres também atribuíram mais sentimentos positivos às suas amizades do

que os homens. Por outro lado, para Wright (1988) as diferenças de sexo são supervalorizadas

e ofuscam semelhanças entre amizades femininas e masculinas, argumentando que as

diferenças são mais quantitativas do que qualitativas, ou seja, a importância é atribuída aos

mesmos aspectos, mas em grau distinto. Contudo, os resultados não são consensuais nas

pesquisas (Souza & Hutz, 2007). As amizades com o sexo oposto são relacionamentos

importantes à medida que fornecem apoio social, benefícios no ambiente de trabalho, no qual

homens e mulheres interagem cada vez mais, e proteção contra solidão (Souza & Hutz, 2008).

Além disso, as amizades entre homens e mulheres proporcionam a experiência ímpar de

conhecer como pensa, sente e age o indivíduo do sexo oposto (Monsour, 2002). Essas

experiências preparam para interações mais eficazes no ambiente de trabalho, em

relacionamentos românticos, familiares, enfim, em diferentes contextos de desenvolvimento

(Souza & Hutz, 2007). Para Mousour (2002), as amizades entre mulheres e homens, sem

envolvimento romântico, têm sido marginalizadas e consideradas relacionamentos de segunda

categoria no meio científico. Poucos estudos têm sido conduzidos abordando amizade com o

sexo oposto, particularmente quando os compara com amizade entre indivíduos do mesmo

sexo (Rawlins, 1993; Werking, 1997). Amizades com o sexo oposto têm sido descritas como

menos comuns e mais difíceis de serem mantidas do que amizades entre indivíduos do mesmo

sexo (Rose, 1985) e são vistas algumas vezes como um trampolim para relacionamentos

românticos, especialmente para solteiros, jovens adultos heterossexuais, os quais têm maior

probabilidade de ter amigos do sexo oposto do que adultos casados (Sprecher & Regan,

2002). Contudo, a amizade entre homens e mulheres é uma realidade presente, e o estudo das

amizades entre eles vem adquirindo crescente importância, de acordo com Souza e Hutz

(2007), em função de vários fatores, como: o surgimento da AIDS, a grande incidência de

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casos de gravidez na adolescência, o aumento da proporção de mulheres no mercado de

trabalho, a expansão das amizades virtuais nas redes sociais on-line, e o crescimento do

número de idosos que vivem sozinhos. De acordo com Greyn (2008), amizades com pessoas

do sexo oposto configuram-se como um novo fenômeno para adultos. À medida que mulheres

e homens alcançam maior paridade de salários, eles estão mais aptos para serem amigos, uma

vez que o equilíbrio gerado pela independência feminina vai além do campo profissional, se

estendendo ao respeito no dia a dia. Um século inteiro de transformações foram transpostos,

derrubando inúmeras barreiras sociais possibilitando homens e mulheres se tornarem amigos.

A amizade entre homem e mulher é um relacionamento com características próprias, que

merece maior atenção e investigação. Assim, considera-se relevante investigar amizades entre

pessoas de sexo oposto. No entanto é importante salientar que estudos sobre diferenças devem

considerar não apenas o sexo do participante, mas também o sexo dos indivíduos envolvidos

na relação de amizade (Souza & Hutz, 2007).

Em virtude do período da adultez jovem ser muito propício e adequado para a

investigação das relações de amizade, somado ao fato da literatura brasileira sobre amizade

em adultos ainda ser incipiente (Souza & Hutz, 2007), e considerando-se também a carência

de estudos sobre amizades entre pessoas de sexo oposto tendo como referência tanto o sexo

do participante como o sexo do amigo, o presente trabalho demonstra-se absolutamente

relevante por se propor a discorrer sobre esta temática crucial da amizade entre universitários,

a fim de contribuir para uma melhor compreensão do comportamento social humano.

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2. MÉTODO

Sujeitos

Participaram desta pesquisa 500 estudantes universitários com idade entre 18 e 59

anos, oriundos de cursos das três áreas do conhecimento (Biomédica, Exatas e Humanística),

de seis instituições de ensino superior da cidade de Natal/RN: Universidade Federal do Rio

Grande do Norte (UFRN), Universidade Potiguar (UnP); Faculdade de Excelência

Educacional do Rio Grande do Norte (FATERN); Faculdade Maurício de Nassau; Faculdade

Natalense para o Desenvolvimento do RN (FARN) e Instituto Federal de Educação, Ciência e

Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN). Sendo 250 mulheres, com média de idade de

24,1 anos (±7,66) e 250 homens com média de idade 26,77 anos (±9,64).

Material

O material necessário para o desenvolvimento da presente pesquisa envolveu um

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e dois questionários de caráter anônimo

e individual, sendo um questionário sociodemográfico e outro com características desejadas

em amigos idealizados, denominado de “Caracterização do(a) Amigo(a) Ideal”.

O primeiro questionário, o sociodemográfico, abordou questões de ordem pessoal,

relacionadas à: idade, sexo, orientação sexual, estado civil, religiosidade e questões

socioeconômicas.

Já o segundo questionário, “Caracterização do(a) Amigo(a) Ideal”, foi utilizado para

traçar o perfil das características requeridas em um amigo ideal do mesmo sexo e do sexo

oposto ao participante. Tal instrumento é composto por uma escala do tipo Likert de nove

pontos (sendo permitido o investimento de no mínimo zero ponto, quando nada importante,

até o máximo de nove pontos, quando extremamente importante um determinado traço). Em

cada simulação os sujeitos poderiam distribuir uma quantidade de pontos determinada

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previamente (36 pontos) dentre as seguintes características: “Beleza/Boa aparência”, “Boa

Condição Financeira”, “Bom humor”, “Companheirismo”, “Determinação/Disposição para o

trabalho”, “Inteligência”, “Saúde”, “Sinceridade” e “Sociabilidade”. Em todas as simulações

os traços analisados foram os mesmos. Foi explicado aos participantes que um maior

investimento de pontos em uma característica indicaria maior expressão desta no(a) amigo(a)

ideal.

As características utilizadas foram previamente selecionadas a partir do levantamento

bibliográfico sobre a temática (Argyle & Henderson, 1985; Bell, 1981; Bukowski, Newcomb

& Hartup, 1996; Campbell, Simpson, Kashy & Fletcher, 2001; Castro, 2009; Cole & Bradac,

1996; Cottrell, Neuberg, & Li, 2007; Davis & Todd, 1985; Fehr, 1996; Koh, Mendelson, &

Rhee, 2003; Maeda & Ritchie, 2003; Monsour, 1992; Morry, 2005; Parks & Floyd, 1996;

Sprecher & Regan, 2002; Tesch & Martin, 1983; Vigil, 2007) conjuntamente com as

características mais frequentemente citadas um estudo piloto previamente conduzido. Tais

características selecionadas contemplaram três grandes conjuntos de traços importantes para

diversos tipos de relacionamentos: traços físicos (representados em nosso estudo pelas

características “Beleza/Boa aparência” e “Saúde”), pessoais (em nosso trabalho: “Bom

humor”, “Companheirismo”, “Inteligência”, “Sinceridade”, “Sociabilidade”), e relacionados

aos recursos (representados por “Boa Condição Financeira” e “Determinação/Disposição para

o trabalho”).

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Procedimentos

As coletas de dados foram realizadas nas salas de aula dos participantes. Inicialmente

uma breve explanação oral da pesquisa foi realizada pelo condutor da mesma aos potencias

participantes. Em seguida, duas vias do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

foram entregues para apreciação dos potencias participantes. Os estudantes que

voluntariamente concordaram em participar da pesquisa assinaram o TCLE, ficando com uma

das cópias e devolvendo a outra assinada. Após recolhimento dos TCLE, teve início a

aplicação dos questionários, seguindo a seguinte ordem: primeiro, o sociodemográfico, em

seguida, o questionário “Caracterização do(a) Amigo(a) Ideal”. A duração dessa aplicação foi

de, aproximadamente, 20 minutos.

Análises Estatísticas

Para verificar a existência de diferenças quanto aos valores atribuídos às

características idealizadas para um(a) amigo(a) ideal foi utilizado o teste Modelo Linear Geral

(GLM) de medidas repetidas. Em seguida foi utilizado o teste Post-hoc de Bonferroni para

verificar dentre quais características ocorreram essas diferenças. Para realização do teste, a

quantidade de pontos atribuídos para cada característica (0 a 9 pontos) foi utilizada como

variável dependente, enquanto a variável característica (nove possíveis, tal como explicado

anteriormente) foi considerada como variável independente. O nível de significância utilizado

na análise foi 0,05.

Para investigar se as características idealizadas para um(a) amigo(a)

ideal sofrem influência do sexo, foi utilizado o teste GLM multivariado. Para realização do

teste, as características foram utilizadas como variáveis dependentes e a variável sexo

(masculino e feminino) como variável independente. Para verificar entre quais características

houve diferenças significativas foram utilizados GLM univariados. Para evitar erro do tipo I

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nas análises univariadas, foi aplicada a correção de Bonferroni, sendo assim, o nível de

significância foi dividido, sendo assim ajustado para 0,006 (0,05/9=0,006).

3. RESULTADOS

Avaliação das preferências das características

Após a análise geral, foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre

as características (F(8, 992) = 688,675; P<0,001). Foi possível estabelecer uma ordem de

valorização das mesmas a partir dos valores de interesse médio observados para cada uma:

“Companheirismo” (média=6,86) e “Sinceridade” (média=6,64) foram as características mais

preferidas, estatisticamente iguais entre si (P=0,999), bem como diferentes das demais

(P<0,001), seguidas na ordem de preferência pela característica “Bom-humor” (média=5,69),

que foi estatisticamente diferente das demais (P<0,001). Em seguida tivemos o trio formado

pelas características “Sociabilidade” (média=4,27), “Inteligência” (média=4,21) e

“Determinação/ Disposição para o trabalho” (média=3,98), que foram estatisticamente iguais

entre si (P=0,999) e distintas das demais (P<0,001). Estas foram sequenciadas pelas

características “Saúde” (média=1,82) e “Beleza/Boa aparência” (média=1,68) estatisticamente

iguais entre si (P=0,999) e diferentes das demais (P<0,001). Por fim, a característica “Boa

condição financeira” (média=1,03) foi a menos preferida e estatisticamente distinta de todas

(P<0,001). Tais resultados podem ser observados na Figura 1.

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Figura 1. Por ordem de preferência, médias e intervalo de confiança (95%) das características avaliadas. Letras

iguais indicam médias iguais. Médias estatisticamente diferentes são representadas por letras diferentes

(P<0,001).

Avaliação da influência do sexo

Após analisar como homens e mulheres avaliam uma amiga ideal, foi encontrada uma

interação significativa entre as características e o sexo (F(9, 490) = 9,355; P<0,001). Homens

e mulheres avaliaram de maneira diferente especificamente as seguintes características: os

homens avaliaram como significativamente mais importante em uma amiga as características

“Beleza / Boa aparência” (F(1, 498) = 59,72; P<0,001) e “Inteligência” (F(1, 498) = 11,21;

P<0,001). Já as mulheres consideraram significativamente mais importante em uma amiga o

“Companheirismo” (F(1, 498) = 12,89; P<0,001) e a “Sinceridade” (F(1, 498) = 11,62;

P<0,001). As demais características não apresentaram diferenças significativas quanto à sua

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preferência entre sujeitos masculinos e femininos (P>0,006), como pode ser verificado na

Figura 2.

Figura 2. Médias e intervalo de confiança (95%) das características avaliadas por mulheres e homens para uma

amiga ideal. *Investimento de pontos significativamente maios por homens (P<0,001). ** Investimento de

pontos significativamente maios por mulheres (P<0,001).

Após analisar como homens e mulheres avaliam um amigo ideal, foi encontrado uma

interação significativa entre as variáveis características e sexo (F(9, 490) = 3,478; P<0,001),

porém com uso da correção de Bonferroni, que é muito restritiva (P<0,006), as características

não mantiveram as diferenças significativas quanto à sua preferência entre os sexos, como

pode ser verificado na Figura 3.

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Figura 3. Médias e intervalo de confiança (95%) das características avaliadas por mulheres e homens para um

amigo ideal.

Caracterização do círculo de amizades

Dos 500 participantes deste estudo, 245 mulheres e 245 homens responderam o item

do questionário que perguntava a respeito da predominância do sexo do amigo na rede social

de amizade. Das 245 mulheres, 189 (77,14%) indicaram que sua rede social de amizade é

predominantemente formada por mulheres, enquanto 56 (22,86%) afirmaram que sua rede

social de amizade é predominantemente formada por homens. Dos 245 homens, 178 (72,65%)

indicaram que sua rede social de amizade é predominantemente formada por homens,

enquanto 67 (27,35%) afirmaram que sua rede social de amizade é predominantemente

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formada por mulheres. Tais percentuais indicam uma predominância para homens e mulheres

de indivíduos do seu próprio sexo nas relações de amizade.

4. DISCUSSÃO

Em nosso estudo buscamos investigar a idealização de amigos de mesmo sexo e do

sexo oposto em estudantes universitários de ambos os sexos a partir de um conjunto de

características previamente estabelecidos. Os resultados revelaram que as avaliações das

características variaram em função da própria natureza dessas em uma relação de amizade.

Em seguida, focando na influência do sexo na idealização de um(a) amigo(a) ideal, pudemos

observar que homens e mulheres diferiram em suas preferências pelas características em uma

amiga ideal, enquanto que para um amigo ideal não houve diferenças significativas entre os

sexos.

De acordo com os resultados da análise geral, focando nas características, a dupla

“Companheirismo” e “Sinceridade” foram as preferidas dentre todas, demonstrando um

grande interesse dos participantes em que seus amigos ideais possuíssem esses traços. A

preferência por tais características demonstra a importância destas para manutenção de um

relacionamento duradouro como a amizade, uma vez que são características que expressam

confiança e comprometimento, sendo cruciais para assegurar segurança emocional e

estabilidade do convívio (Sprecher & Regan, 2002).

Em sequência a “Companheirismo” e “Sinceridade” na ordem de preferência dos

participantes apareceu “Bom Humor”, e posteriormente o trio formado por “Sociabilidade”,

“Inteligência” e “Determinação/Disposição para o trabalho” que também ganharam destaque.

Essas quatro características estão diretamente envolvidas com a qualidade do relacionamento

que podem indicar capacidade cognitiva e habilidade social do amigo ideal, atributos

importantes para iniciar, manter e investir em um relacionamento (Stewart, Stinnett &

Rosenfeld, 2000).

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Já as características “Saúde”, “Beleza/Boa aparência” e “Boa Condição Financeira” se

configuram como as menos requeridas, em relação aos demais traços, pelos participantes em

seus amigos idealizados. Como já era de se esperar, por estarmos tratando de uma relação de

amizade, características como “Saúde”, “Beleza/Boa aparência” e “Boa Condição Financeira”

são preteridas em detrimento de outros traços mais pertinentes a este tipo de relacionamento.

Especialmente com relação a “Boa Condição Financeira”, um menor interesse por esta pode

ocorrer também em virtude da peculiaridade da amostra utilizada (estudantes universitários),

que apresentam perspectivas similares de ganhos financeiros futuros, somado ao fato de que

na condição de estudantes universitários, os sujeitos podem ser ainda integralmente ou

parcialmente sustentados pelos pais, responsáveis ou cônjuges (Castro, 2009).

O padrão de preferências encontrado neste estudo está em concordância com vários

estudos na literatura (Argyle, 2001; Asher, Parker, & Walker, 1996; Castro & Lopes, 2010;

Duarte & Souza, 2010; Fehr, 1996; Kipper, 2003; Mendelson & Aboud, 2003; Rezende,

2002; Souza, 2006; Souza & Hutz, 2007), mostrando-se em consonância com funções

primordiais de uma relação de amizade: a promoção do suporte necessário para o

desenvolvimento social, emocional e cognitivo dos indivíduos (Souza & Hutz, 2008), além de

demonstrar uma seleção criteriosa dos sujeitos com quem iremos interagir, ao procurarmos

associação com indivíduos que têm maior probabilidade de maximizar nossa aptidão

(Kurzban & Neuberg, 2005).

Os resultados da avaliação da amiga ideal demonstram que homens e mulheres

diferiram significativamente nas preferências por determinadas características, tendo os

homens valorizado mais os traços “Beleza/Boa aparência” e “Inteligência” do que as

mulheres em uma amiga ideal. Isso evidencia um importante aspecto levantando por Sprecher

e Regan (2002): sob o ponto de vista da perspectiva evolucionista, o relacionamento de

amizade com o sexo oposto pode ser visto algumas vezes como um trampolim para

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relacionamentos românticos, especialmente para indivíduos solteiros, jovens adultos

heterossexuais, como é o caso da maioria dos sujeitos da nossa amostra, os quais têm maior

probabilidade de ter amigos do sexo oposto do que adultos casados. A perspectiva evolutiva

argumenta que inconscientemente, reconhecemos a reprodução como possível em um amigo

do sexo oposto (Sprecher & Regan, 2002). Considerando que os homens possam estar

reconhecendo uma amiga como uma possível parceira para relacionamentos românticos, esta

maior valorização das características “Beleza/Boa aparência” e “Inteligência, está de acordo

com evidências na literatura de relacionamentos amorosos. Afinal, homens consideram

importante características físicas das mulheres, como “Beleza/Boa aparência”, nos

relacionamentos de curta e longa duração, uma vez que estas podem ser um bom indicativo de

qualidade genética e condição fisiológica da parceira, pois como sugerido por Thornhill e

Grammer (1999) a atratividade física da face e do corpo feminino pode sinalizar de forma

honesta pistas sobre a saúde hormonal e imunológica, além das condições nutricionais da

parceira em potencial, e essas pistas seriam importantes no julgamento de sua qualidade.

Assim como, para longo prazo, o interesse masculino aumenta para os traços pessoais, como

“Inteligência”, que pode ser um bom indicativo de habilidades sociais e capacidade cognitiva,

importante para manutenção de um relacionamento duradouro (Buss & Schmitt, 1993; Buunk,

Dijkstra, Fetchenhauer, & Kenrick, 2002; Castro, 2009; Fletcher, Tither, O'Loughlin, Friesen,

& Overall, 2004; Li & Kenrick, 2006; Regan, 1998; Sprecher & Regan, 2002; Stewart,

Stinnett, & Rosenfeld, 2000; Wiederman & Dubois, 1998).

Já as mulheres valorizaram mais as características “Companheirismo” e “Sinceridade”

do que os homens em uma amiga ideal. Estudos comparativos com grandes primatas não-

humanos (Foley, 1998), com sociedades caçadoras-coletoras (Murdock, 1981; Pasternak,

Ember, & Ember, 1997) e estudos de variabilidade genética (Seielstad, Minch & Cavalli-

Sforza, 1998, Wells et al., 2001) concluíram que a estrutura social dos nossos ancestrais era

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marcada por homens permanecendo no grupo natal, tendendo a formar coalizões, cooperando

mais ativamente na defesa do grupo contra invasores externos e apresentando hierarquia

disputada e bem definida, tornando-os assim mais habilidosos na manutenção do grupo,

enquanto as mulheres apresentavam uma maior migração, indo morar com seu parceiro e os

parentes deste (Koenig, 2002. Sterck, Watts & van Schaik, 1997; Lyons & Aitken, 2010; van

Hooff & van Schaik, 1994; Wranghan, 1980). Assim, de acordo com Geary (2002), este

padrão de estrutura social, levou as mulheres a desenvolveram acuradas habilidades na

construção do vínculo social ao longo da evolução da espécie humana, proporcionando um

estilo de amizade no qual não é encontrado um grande grupo coeso, como nos homens, e sim,

um grupo menor com formação mais visível de duplas ou trios de mulheres, com uma relação

muito íntima, na qual características pessoais, como “Companheirismo” e “Sinceridade”

configuram-se como essenciais, uma vez que expressam confiança e comprometimento, sendo

cruciais para assegurar segurança emocional e estabilidade do convívio (Sprecher & Regan,

2002).

Os resultados da avaliação do amigo ideal não apresentaram diferenças significativas

entre os sexos, confirmando o padrão geral de preferências pelas características. Sendo

“Companheirismo” e “Sinceridade” as preferidas dentre todas, reforçando assim a

importância dessas em relações de amizade.

Os resultados da predominância do sexo do(a) amigo(a) ideal demonstraram que tanto

os participantes mulheres quanto homens possuem sua rede social de amizade formada

predominantemente por amigos de mesmo sexo. Estes dados estão em concordância com a

literatura (Carbery & Buhrmester, 1998; Erbolato, 2001; Monsour, 2002; Peron, Guimarães,

& Souza, 2010; Souza & Hutz, 2007)

As preferências para relacionamentos de amizade, que encontram respaldo na Teoria

do Altruísmo Recíproco de Trivers (1971), teriam se originado, segundo a perspectiva

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evolucionista, em resposta às diferenças nas pressões seletivas exercidas sobre nossos

ancestrais, se manifestando atualmente como mecanismos psicológicos evoluídos, que seriam

adaptações direcionadas a resolução de problemas específicos relacionados ao contexto dos

relacionamentos interpessoais.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta deste estudo foi verificar o perfil de preferências para um amigo ideal

levando em consideração o sexo do participante bem como do amigo em questão. Para tanto,

utilizamos o autorrelato para acessar as preferências ideais dos participantes através de escalas

que possibilitam ao entrevistado expressar seu interesse por cada característica apresentada.

Vale salientar que muitas vezes as preferências ideais podem não se manifestar nos parceiros

reais, afinal, outros fatores devem ser levados em consideração, como a disponibilidade de

parceiros, a posse de características próprias ao sujeito que viabilize a conquista do parceiro

escolhido ou mesmo a inexistência de um parceiro ideal na população (Lundy, Tan, &

Cunningham, 1998; Regan, 1998). Contudo, investigações através da avaliação de perfis de

potenciais parceiros vêm sendo utilizadas a fim de verificar de forma indireta os julgamentos

dos participantes em diversos estudos (Li, Bailey, Kenrick, & Linsenmeier, 2002; Pillsworth,

2008; Wiederman & Dubois, 1998).

Quando conscientemente ou inconscientemente avaliamos alguém com quem vamos

nos relacionar, analisamos o que este tem a oferecer em termos de características sociais,

físicas, pessoais, sendo a preferência na escolha também direcionada pelo tipo de

relacionamento esperado (Fletcher et al., 2004; Li & Kenrick, 2006; Stewart, Stinnett, &

Rosenfeld, 2000; Woodward & Richards, 2004), assim, avaliamos de maneira distinta

vizinhos, colegas de trabalho, amigos do mesmo sexo, amigos do sexo oposto e parceiros

românticos (Brase, 2006; Cottrell, Neuberg, & Li, 2007; Lundy, Tan, & Cunningham, 1998;

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Sprecher & Regan, 2002). Entretanto, independente do tipo de relacionamento, procuramos

nos relacionar com indivíduos que apresentem os maiores indicativos possíveis de traços que

maximizem nossa aptidão, afinal, qualquer tipo de interação pessoal envolve trocas entre

diferentes parceiros e pode representar acesso a recursos importantes e até mesmo

fundamentais para o sucesso, seja no âmbito social, pessoal ou reprodutivo, portanto, o

sucesso de nossas interações interpessoais e do que podemos conseguir através destas

depende da correta avaliação dos parceiros com quem nos envolvemos.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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2.2 ESTUDO EXPERIMENTAL 2 - AMIGO, ESPELHO MEU: O QUE AS

CARACTERISTICAS IDEALIZADAS EM AMIGOS DIZEM A MEU RESPEITO?

PHELLIPE VASCONCELOS CAVALCANTI SIQUEIRA1 & FÍVIA DE ARAÚJO

LOPES1,2

1 Programa de Pós-graduação em Psicobiologia, UFRN, Brasil.

2 Departamento de Fisiologia, UFRN, Brasil.

RESUMO

O homem é um ser social por natureza. A base de nossa sociabilidade é fundamentada na

cooperação. Assim, a relação de amizade, se configura como resultado da seleção para

altruísmo recíproco em humanos. O período da adultez é considerado muito propício e

adequado para a investigação das relações de amizade. Diante disso, o objetivo deste trabalho

foi investigar se a percepção que as pessoas têm de seus atributos está relacionada às

preferências descritas para amigos(as) ideais em estudantes universitários brasileiros.

Participaram desta pesquisa 500 estudantes (250 mulheres e 250 homens) de instituições de

ensino superior do município de Natal-RN, Brasil. Dois questionários de caráter anônimo e

individual foram aplicados: um questionário sociodemográfico e outro com características

desejadas em amigos. Uma correlação positiva entre a autoavaliação dos participantes e as

preferências para as características nos amigos(as) ideais foi verificada. Além disso, ambos os

sexos demonstraram elevado interesse pela característica “Interesses Comuns” em amigos(as)

ideais. Dada a importância da relação de amizade para o desenvolvimento social, emocional e

cognitivo de um indivíduo, nosso trabalho revelou aspectos importantes para a compreensão

da relação de amizade, mais especificamente do processo de escolha de amigos, e do quanto

características próprias podem influenciar esse processo.

Palavras-chave: Amizade; Redes sociais; Reciprocidade; Psicologia Evolucionista.

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ABSTRACT

Man is by nature a social being. The basis of our sociality is based on cooperation. Thus, the

relationship of friendship is configured as a result of selection for reciprocal altruism in

humans. The period of adulthood is considered very suitable and appropriate for the

investigation of the relations of friendship. Therefore, the aim of this study was to investigate

if the perception people have of their attributes is related to preferences for ideal friends

described by Brazilian university students. The study gathered 500 students (250 women and

250 men) of higher education institutions in the city of Natal-RN, Brazil. Two questionnaires

anonymous and individual were applied: a sociodemographic questionnaire and the other with

the desired characteristics in friends. A positive correlation between self-assessment of

participants and the preferences for the characteristics of the ideal friends has been verified.

Additionally, we also observe that both sexes showed high interest in the feature "Common

Interests" ideal friends. Given the importance of the relationship of friendship to the social,

emotional and cognitive development of an individual, our work has revealed important

aspects for understanding the relationship of friendship, specifically the process of choosing

friends and how own characteristics can influence this process.

Keywords: Friendship, Social Networks, Reciprocity, Evolutionary Psychology.

1. INTRODUÇÃO

O homem é um ser social por natureza (Wallon, 1968), caracterizando-se por realizar

atividades que exigem ação coordenada. A base da nossa sociabilidade é assentada na

cooperação, que se configura como requisito fundamental na manutenção das relações sociais

(Alencar, 2008) e, ao contrário da grande maioria das espécies, em humanos, indivíduos que

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não são relacionados geneticamente trabalham cooperativamente para atingir objetivos

comuns (Kurzban & Neuberg, 2005).

A cooperação humana envolve uma rede ampla de indivíduos, que cruza os limites do

parentesco, do sexo e da idade (Key & Ayello, 1999). Tal natureza cooperativa humana leva a

supor que a formação de laços entre não parentes não é aleatória (Kurzban & Neuberg, 2005)

havendo uma seleção de indivíduos com os quais se coopera e se forma vínculos sociais.

Trivers (1971) formulou uma teoria para explicar quais os benefícios evolutivos dessa

cooperação entre não parentes, conhecida por Teoria do Altruísmo Recíproco. Segundo essa

teoria, os participantes de uma relação podem obter vantagens mútuas se cooperarem. Para

tanto algumas condições se fazem necessárias: (a) o favor precisa ter um custo pequeno para o

doador, mas ser valioso para o receptor, isto é, ter uma razão “custo para doador/benefício

para recipiente” baixa; (b) os indivíduos envolvidos precisam ter uma alta probabilidade de se

reencontrar, para que o favor possa ser retribuído. Isto em geral ocorre em espécies que têm

longo tempo de vida; (c) uma capacidade de memória é necessária, para que os indivíduos

possam se lembrar a quem devem e quem lhes deve favores, bem como reconhecer os

trapaceiros, isto é, aqueles que não retribuem os favores recebidos. A espécie humana

certamente atende às condições necessárias para a ocorrência do altruísmo recíproco

(Yamamoto, Alencar, & Lacerda, 2009).

Trivers (1971) advoga que a evolução da capacidade de desenvolver relacionamentos

de longo prazo, como a amizade entre indivíduos não aparentados, é dependente de

mecanismos sociais e emocionais que mantém a reciprocidade na relação. Mais

fundamentalmente, Trivers argumentou que os amigos são amigos, porque sua relação é

mutuamente benéfica. Décadas de pesquisas empíricas sobre amizades com crianças,

adolescentes, e, mais recentemente, com adultos confirmam a posição de Trivers (Hartup &

Stevens, 1997; Youniss, 1986). Hartup e Stevens (1997) concluíram que as crianças e adultos

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de todas as idades consideram que as relações de amizade são marcadas por reciprocidade, ou

seja, o dar e o receber (Geary, 1998). Trivers (1971) argumentou ainda, que as emoções de

gostar e desgostar evoluíram para motivar o altruísmo adaptativo e para facilitar a formação

de parcerias somente entre indivíduos que retribuem favores.

Uma vez que emoções positivas como gostar estão abertas a exploração, nós

estaríamos preparados para sentir-nos moralmente indignados quando nosso altruísmo não for

retribuído (Gaulin & McBurney, 2001). Sendo assim, as emoções do senso moral poderiam

evoluir quando as partes interagissem repetitivamente e pudessem recompensar a cooperação

presente com a cooperação futura e punir a traição. Desta forma, ao longo da evolução

humana, a reciprocidade atua inibindo a exploração daqueles indivíduos que não retribuem o

benefício recebido, bem como sinalizando aqueles sujeitos merecedores de confiança.

Como argumentado por Trivers (1971), a amizade é uma relação presente na natureza

humana. Estudos com seres humanos confirmam que as pessoas apresentam comportamentos

altruístas nos momentos de necessidade de seus amigos (Stewart-Williams, 2007; West,

Griffin, & Gardner, 2007; Williams, 2005). Estudiosos da Psicologia Evolucionista levantam

a hipótese de que este tipo de relação pode ter sido em algum momento de nossa evolução um

comportamento adaptativo. De acordo com Kurzban e Neuberg (2005), os seres humanos

evoluíram para cooperação, apresentando habilidades para selecionar criteriosamente os

sujeitos com quem irão interagir procurando, assim, se associar com indivíduos que são mais

prováveis de maximizar sua aptidão. De acordo com Berscheid e Regan (2005), nós humanos,

por vivermos em uma complexa rede de relacionamentos interpessoais, já nascemos com

dispositivos biológicos que propiciam o desenvolvimento e manutenção de relacionamentos

com outras pessoas, como o sistema de percepção de faces, a acuidade empática, a

comunicação não verbal, a linguagem, o sistema de apego e cuidado e a teoria da mente, que

contribuem para formação de fortes laços interpessoais (Baron Cohen, 1995; Brothers &

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Ring, 1992; Ekman, 1992; Leslie, 1987; Moscovitch, Winocur, & Behrmann 1997; Pinker,

1994; Premack & Woodruff, 1978; Wellman, 1990).

As amizades facilitam a tolerância a medos e ansiedades, ajudam a suportar situações

estressantes e proporcionam senso de identificação e exclusividade (Duarte & Souza, 2010).

Relacionamentos pessoais, como por exemplo, com familiares, amigos e parceiros

românticos, propiciam apoio emocional, diminuem a solidão, proporcionam bem estar

subjetivo, tendo, portanto, papel importante na felicidade pessoal e na promoção da saúde

(Argyle, 2001; Berscheid & Regan, 2005; Rajaratnam, O’Campo, Caughy, & Muntaner,

2007). Estudos epidemiológicos demonstram que indivíduos socialmente integrados vivem

mais (Fehr, 1996). Evidências demonstram que redes sociais de amizade fornecem mais ajuda

emocional que os parentes consanguíneos em estudos realizados na França, Canadá, China,

Inglaterra e EUA (Grossetti, 2007, Kossinets & Watts, 2006; Lee, Ruan, & Lai, 2005;

Phillips, Bernard, Phillipson, & Ogg 2000; Wu & Hart, 2002). A amizade seria, portanto, um

relacionamento importante para o desenvolvimento social, emocional e cognitivo em nossa

espécie (Souza & Hutz, 2008).

A maioria das pesquisas sobre amizade aborda adultos jovens, geralmente estudantes

universitários. Esta tendência não decorre apenas da facilidade para coletar dados nas

universidades, mas também do fato de que, nesta etapa, as amizades são mais evidentes (Fehr,

1996). Segundo Carbery e Buhrmester (1998), as amizades atingem o pico funcional da rede

de relacionamentos no começo da adultez, afinal, nesta fase geralmente o indivíduo é solteiro

e não está comprometido com uma relação conjugal ou filhos e sofre menor influência de

interações familiares, como na adolescência, por exemplo. Os amigos são preferidos ao

proverem apoio social, companheirismo e confidências. De acordo com Rawlins (1992), a

entrada na universidade requer do indivíduo um ajustamento emocional para construir um

novo sistema de apoio social e renegociar relacionamentos familiares e amizades

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preexistentes. Esse período é favorável a amizades profundas e empolgantes. Portanto, a

população de estudantes universitários é ideal para o estudo das amizades (Carbery &

Buhrmester, 1998; Koh, Mendelson, & Rhee, 2003; Rawlins, 1992).

Todo tipo de interação pessoal envolve trocas entre as partes, de tal forma que os

relacionamentos interpessoais podem possibilitar acesso a recursos importantes e até mesmo

fundamentais para o sucesso no âmbito social, pessoal ou reprodutivo. Desse modo, a seleção

de parceiros em nossas relações interpessoais se constitui como uma tarefa extremamente

delicada. Diversos fatores podem influenciar esta seleção, como por exemplo, o sexo, a idade,

o estado civil, a religião, o tipo de relacionamento esperado, o ambiente no qual os indivíduos

estão inseridos, além da autopercepção dos sujeitos.

Vários estudos têm argumentado que o critério de seleção das pessoas está

positivamente associado às percepções que as pessoas têm de si mesmas (Kenrick, Groth,

Trost, & Sadalla 1993; Lutz-Zois, Bradley, Mihalik, & Moorman-Eavers, 2006; Sprecher &

Regan, 2002), de tal modo que, as características que os indivíduos possuem podem

influenciar suas preferências e consequentemente, as exigências impostas aos parceiros em

potencial. Kenrick e colaboradores (1993), investigando os critérios de seleção, identificaram

que as características dos indivíduos estão positivamente associadas às suas exigências

quando buscam parceiros para relacionamento duradouro. Segundo Vigil (2007), ao

avaliarmos os atributos de um amigo, as preferências individuais funcionam de modo a

motivar as pessoas a formar parcerias com outras que sinalizem atributos em equilíbrio com

os seus. Consequentemente, indivíduos com qualidades muito abaixo das do avaliador

tornam-se menos interessantes, já que o potencial de retribuição durante a relação fica

diminuído, somado ainda ao risco da taxação social, ou seja, interagir com indivíduos de

menor status diminuiria sua própria reputação perante aos demais integrantes do meio que o

cerca (Bleske & Shackelford, 2001). Do mesmo modo, pessoas com atributos muito acima

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dos seus acabam sendo evitadas, pois o risco de rejeição e exploração é aumentado, além de

colocar o indivíduo em uma situação de baixa visibilidade social, já que este estaria à

“sombra” daquele com atributos maiores (Bleske et al., 2001). Para Morry (2005) quanto

mais satisfeitas com uma amizade, mais as pessoas percebem esse amigo como similar a si

mesma.

A busca por familiaridade e similaridades parece estar na base da psicologia humana,

e, de acordo com a perspectiva evolucionista, podem ter evoluído como um mecanismo

psicológico, no sentido proposto por Tooby e Cosmides (2005) por ter facilitado a formação

de redes sociais entre não parentes. Essas redes seriam formadas por meio da cooperação

recíproca objetivando defesa do território e proteção contra predadores e outros grupos

(Cords, 1997; Isbel & Young, 2002, Kappeler & van Schaik, 2002; Taylor et al., 2002). Como

consequência dessas predisposições psicológicas filogeneticamente herdadas, seres humanos

tendem a manter contato preferencialmente com pessoas similares a elas em comportamento,

etnia, estado civil, religião, características pessoais e sociais, dentre outras.

O presente estudo foi realizado com o intuito de investigar se a percepção que as

pessoas têm de seus atributos está relacionada às preferências descritas para amigos(as) ideais

em estudantes brasileiros, uma vez que a literatura nacional apresenta carência de estudos

dessa natureza. Utilizamos descrições de perfis para identificar se homens e mulheres desejam

amigos(as) ideais com atributos similares aos seus, a fim de contribuir para uma melhor

compreensão do comportamento social humano, em especial a relação de amizade entre

universitários.

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2. MÉTODO

Sujeitos

Participaram desta pesquisa 500 estudantes universitários com idade entre 18 e 59

anos, oriundos de cursos das três áreas do conhecimento (Biomédica, Exatas e Humanística),

de seis instituições de ensino superior da cidade de Natal/RN: Universidade Federal do Rio

Grande do Norte (UFRN), Universidade Potiguar (UnP); Faculdade de Excelência

Educacional do Rio Grande do Norte (FATERN); Faculdade Maurício de Nassau; Faculdade

Natalense para o Desenvolvimento do RN (FARN) e Instituto Federal de Educação, Ciência e

Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN). Sendo 250 mulheres, com média de idade de

24,1 anos (±7,66) e 250 homens com média de idade 26,77 anos (±9,64).

Material

O material necessário para o desenvolvimento da presente pesquisa envolveu um

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e dois questionários de caráter anônimo

e individual, sendo um questionário sociodemográfico e outro com características desejadas

em amigos idealizados, denominado de “Caracterização do(a) Amigo(a) Ideal”.

O primeiro questionário, o sociodemográfico, abordou questões de ordem pessoal,

relacionadas à: idade, sexo, orientação sexual, estado civil, religiosidade e questões

socioeconômicas.

Já o segundo questionário, “Caracterização do(a) Amigo(a) Ideal”, foi utilizado para

traçar o perfil das características requeridas em um amigo ideal do mesmo sexo e do sexo

oposto ao participante, assim como para uma auto-avaliação do mesmo como amigo. Tal

instrumento é composto por uma escala do tipo Likert de nove pontos (sendo permitido o

investimento de no mínimo zero ponto, quando nada importante, até o máximo de nove

pontos, quando extremamente importante o traço avaliado). Em cada simulação os sujeitos

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poderiam distribuir uma quantidade de pontos determinada previamente (36 pontos) dentre as

seguintes características: “Beleza/Boa aparência”, “Boa Condição Financeira”, “Bom humor”,

“Companheirismo”, “Determinação/Disposição para o trabalho”, “Inteligência”, “Saúde”,

“Sinceridade” e “Sociabilidade”. Além disso, uma característica foi analisada em separado:

“Interesses em Comum”. Esta foi avaliada através da marcação de um ponto de referência em

uma linha reta com 10 centímetros, na qual os pólos significam extremos de interesses em

comum (nada importante e extremamente importante). Em todas as simulações os traços

analisados foram os mesmos, contudo na autoavaliação não havia restrição quanto à

quantidade de pontos a serem distribuídos, bem como não foi incluída a avaliação da

característica “Interesses em Comum”. Foi explicado aos participantes que um maior

investimento de pontos em uma característica indicaria maior expressão desta no(a) amigo(a)

ideal ou nele próprio.

As características utilizadas foram previamente selecionadas a partir do levantamento

bibliográfico da literatura sobre a temática (Argyle & Henderson, 1985; Bell, 1981;

Bukowski, Newcomb, & Hartup, 1996; Campbell, Kashy, & Fletcher 2001; Castro, 2009;

Cole & Bradac, 1996; Cotrell, Neuberg, & Li 2007; Davis & Todd, 1985; Fehr, 1996; Koh,

Mendelson, & Rhee, 2003; Maeda & Ritchie, 2003; Monsour, 1992; Morry, 2005; Parks &

Floyd, 1996; Sprecher & Regan, 2002; Tesch & Martin, 1983; Vigil, 2007) conjuntamente

com as características mais frequentemente citadas um estudo piloto previamente conduzido.

Tais características selecionadas contemplaram três grandes conjuntos de traços importantes

para diversos tipos de relacionamentos: traços físicos (representados em nosso estudo pelas

características “Beleza/Boa aparência” e “Saúde”), pessoais (em nosso trabalho: “Bom

humor”, “Companheirismo”, “Inteligência”, “Sinceridade”, “Sociabilidade”), e relacionados

aos recursos (representados por “Boa Condição Financeira” e “Determinação/Disposição para

o trabalho”).

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Procedimentos

As coletas do experimento foram realizadas nas salas de aula dos participantes.

Inicialmente uma breve explanação oral da pesquisa foi realizada pelo condutor da mesma aos

potencias participantes. Em seguida, duas vias do Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (TCLE) foram entregues para apreciação dos potencias participantes. Os

estudantes que voluntariamente concordaram em participar da pesquisa assinaram o TCLE,

ficando com uma das cópias e devolvendo a outra assinada. Após recolhimento dos TCLE,

teve início a aplicação dos questionários, seguindo a seguinte ordem: primeiro, o

sociodemográfico, em seguida, o questionário “Caracterização do(a) Amigo(a) Ideal”. A

duração dessa aplicação foi de, aproximadamente, 20 minutos.

Análises Estatísticas

Para verificar possíveis relações entre as características do sujeito e os traços do(a)

amigo(a) ideal realizamos Correlações de Spearman para cada sexo, utilizando cada

característica auto-avaliada e a avaliação da mesma característica no(a) amigo(a) ideal.

Para verificar a existência de diferenças quanto aos valores atribuídos à característica

“Interesses Comuns” para um(a) amigo(a) ideal foi utilizado o teste GLM de medidas

repetidas, tendo o sexo do amigo como variável independente dentre grupos e o sexo do

participante como variável independente entre grupos. Em seguida foi aplicado teste t de

Student como Post-hoc com correção de Bonferroni para verificar entre quais características

ocorreram essas diferenças. Para evitar erro do tipo I, o nível de significância foi dividido,

sendo assim ajustado para 0,013 (0,05/4=0,013).

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3. RESULTADOS

Foi possível identificar uma correlação positiva e significante entre a auto-avaliação

dos participantes e a avaliação do(a) amigo(a) ideal para todas as características com exceção

do traço “Saúde” no(a) amigo(a) ideal especificamente do sexo oposto. As Tabelas 1 e 2

contêm os coeficientes de correlação de Spearman (ρ) e o valor da significância entre a

autoavaliação das características dos sujeitos e a avaliação das características do(a) amigo(a)

ideal conforme o sexo.

Tabela 1: Resultados das correlações de Spearman entre as características na autoavaliação e as

mesmas características da amiga ideal conforme o sexo.

Características Mulheres (n=250) Homens (n=250)ρ P ρ P

Beleza/Boa aparência 0,294 0,000** 0,408 0,000**Bom Humor 0,387 0,000** 0,364 0,000**Boa condição financeira 0,33 0,000** 0,282 0,000**Companheirismo 0,417 0,000** 0,321 0,000**Determinação/Disposição para o trabalho 0,283 0,000** 0,369 0,000**Inteligência 0,317 0,000** 0,346 0,000**Sociabilidade 0,335 0,000** 0,353 0,000**Saúde 0,163 0,010** 0,11 0,083Sinceridade 0,464 0,000** 0,357 0,000***Indica diferença significativa a 0,05. **Indica diferença significativa a 0,01.

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Tabela 2: Resultados das correlações de Spearman entre as características na autoavaliação e as

mesmas características do amigo ideal conforme o sexo.

Características Mulheres (n=250) Homens (n=250)ρ P ρ P

Beleza/Boa aparência 0,405 0,000** 0,246 0,000**Bom Humor 0,31 0,000** 0,389 0,000**Boa condição financeira 0,271 0,000** 0,293 0,000**Companheirismo 0,349 0,000** 0,431 0,000**Determinação/Disposição para o trabalho 0,253 0,000** 0,309 0,000**Inteligência 0,37 0,000** 0,304 0,000**Sociabilidade 0,318 0,000** 0,308 0,000**Saúde 0,111 0,080 0,141 0,026*Sinceridade 0,461 0,000** 0,323 0,000**

*Indica diferença significativa a 0,05. **Indica diferença significativa a 0,01.

A análise da característica “Interesses Comuns” conforme o sexo dos participantes e

do(a) amigo(a) ideal demonstrou uma interação significativa entre o sexo do(a) amigo(a)

ideal e o sexo do participante (F(1,442)=15,81; P<0,0001). O detalhamento da interação

focalizando o sexo do(a) amigo(a) ideal mostrou que a avaliação da característica

“Interesses Comuns” não apresentou diferenças significativas entre os sujeitos do sexo

feminino e masculino nem para amiga ideal (t(492)=0,42; P=0,675), nem para amigo ideal

(t(492)=-2,19; P=0,028).

Quando avaliamos separadamente cada um dos sexos, as mulheres avaliaram de

maneira diferente a característica “Interesses Comuns” entre amiga ideal e amigo ideal

(t(246)=3,27; P=0,001), havendo valorização significativamente maior da característica para

uma amiga ideal. Para os homens não foi observada uma diferença significativa da

característica “Interesses Comuns” entre amiga ideal e amigo ideal (t(246)=-2,19;P=0,018).

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Figura 1. Média e intervalo de confiança (95%) da característica “Interesses Comuns” conforme o

sexo dos participantes e do(a) amigo(a) ideal.*P=0,001.

4. DISCUSSÃO

Neste estudo foi possível verificar que percepção que as pessoas têm de seus atributos

está relacionada às preferências descritas para amigos(as) ideais tanto para homens quanto

para mulheres. Além disso, pudemos observar também que ambos os sexos demonstraram

elevado interesse pela característica “Interesses Comuns” em amigos(as) ideais.

Os resultados demonstraram correlações positivas e significantes entre as

características na autoavaliação e as mesmas características no(a) amigo(a) ideal, ou seja,

quanto maior foi a autoavaliação dos sujeitos em uma dada característica, maior foi a

avaliação desta mesma característica no(a) amigo(a) ideal. Assim como o contrário também

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ocorreu, ou seja, pessoas com baixa avaliação em um dado traço, requereram uma baixa

expressão deste traço no(a) amigo(a) ideal. Esse padrão de preferências encontra-se em

concordância com estudos da literatura (Kenrick, Groth, Trost, & Sadalla, 1993; Regan, 1998;

Sprecher & Regan, 2002). De acordo com Lutz-Zois e colaboradores (2006), para as

características consideradas importantes, a similaridade entre o sujeito e seu parceiro prediz

satisfação nos relacionamentos, contribuindo assim para a manutenção dos mesmos. A

exceção se deu especificamente para a característica “Saúde” no(a) amigo(a) ideal do sexo

oposto, ou seja, não foi encontrado correlação significativa para o traço “Saúde” entre a

autoavaliação deste nas mulheres e no amigo ideal, da mesma forma, uma falta de correlação

do traço “Saúde” entre a autoavaliação deste nos homens e na amiga ideal. Acreditamos que

isto possivelmente tenha se dado pelo fato de que atualmente nossa exposição a patógenos é

bastante reduzida quando comparada aos nossos ancestrais, assim, com essa menor pressão

seletiva, tal característica não tenha tanto peso quanto poderíamos esperar. De modo geral,

nossos resultados indicam uma equivalência entre a autopercepção dos indivíduos e suas

preferências ideais numa relação de amizade.

Os resultados da avaliação da característica “Interesses Comuns” revelaram uma

significativa interação entre o sexo do(a) amigo(a) ideal e o sexo do participante. Podemos

constatar que não houve diferenças entre homens e mulheres na avaliação de “Interesses

Comuns” nem em um amigo ideal nem em uma amiga ideal. Porém, particularmente entre as

mulheres foi possível identificar uma diferença significativa na avaliação da característica

“Interesses Comuns” entre amiga ideal e amigo ideal, tendo as mulheres expressado uma

maior relevância pela característica “Interesses Comuns” em uma amiga ideal do que em um

amigo ideal. Acreditamos que este resultado pode ser atribuído ao próprio perfil de amizade

das mulheres, que é marcado pela formação mais visível de uma relação muito íntima, na qual

características de afinidades, como “Interesses Comuns”, contribuem para satisfação e

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consequentemente manutenção do relacionamento, configurando-se, desta maneira, como

essenciais. Este padrão de grande importância dado a característica “Interesses Comuns”

encontrado em nosso trabalho está em consonância com vários estudos na literatura (Bell,

1981; Cole & Bradac, 1996; Duarte & Souza, 2010; Parks & Floyds, 1996; Rezende, 2002).

De acordo com Fehr (1996), as similaridades podem ser consideradas um ponto de

partida para o início de uma relação de amizade, bem como um requisito para tornar uma

amizade mais próxima. Portanto, a equivalência entre as características dos indivíduos, bem

como o compartilhamento de interesses, se somam atuando de forma a permitir e facilitar a

manutenção de uma relação de amizade.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta deste estudo foi verificar se as preferências por características em amigos

ideais se relacionam à autopercepção dos participantes, levando em consideração o sexo do

participante bem como do amigo em questão. Para tanto, utilizamos o autorrelato para acessar

as preferências do(a) amigo(a) ideal dos participantes através de escalas que possibilitam ao

entrevistado expressar seu interesse em cada característica apresentada. Desta forma, nosso

estudo acrescenta à literatura evidências empíricas aos padrões de preferência em uma relação

de amizade.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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DISCUSSÃO GERAL

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3.1. DISCUSSÃO GERAL

A partir dos dados obtidos nos dois estudos experimentais foi possível ter uma melhor

compreensão dos padrões de preferência envolvidos no processo de escolha de amigos(as) em

estudantes universitários.

No artigo experimental 1, identificamos o perfil de preferência para as características

requeridas em um amigo ideal do mesmo sexo e do sexo oposto ao participante. Uma análise

geral revelou que as características variaram entre si de acordo com sua própria natureza, e

ainda, foi possível observar uma influência sexual sobre as avaliações das características

especificamente para uma amiga ideal.

Mais especificamente, pudemos observar que as características pessoais se

sobrepuseram as demais na ordem de importância quando idealizamos um(a) amigo(a), tanto

para homens quanto para as mulheres. Acreditamos que estes resultados estão de acordo com

o que devemos esperar para um relacionamento duradouro como a amizade, no qual,

características que expressam confiança e comprometimento são cruciais para assegurar

segurança emocional e estabilidade do convívio. O padrão de preferências encontrado neste

estudo está em concordância com vários estudos na literatura (Argyle, 2001; Asher, Parker, &

Walker, 1996; Duarte & Souza, 2010; Fehr, 1996; Kipper, 2003; Mendelson, & Aboud, 2003;

Rezende, 2002; Souza, 2006; Souza & Hutz, 2007). Ainda, destacamos a constatação de que

os homens idealizaram amigas bonitas, de boa aparência. Provavelmente, eles estejam

vislumbrando a possibilidade de uma evolução desse relacionamento amigável para um

relacionamento amoroso. Afinal, a perspectiva evolucionista argumenta que, mesmo

inconscientemente, reconhecemos a reprodução como possível em um amigo do sexo oposto

(Sprecher & Regan, 2002).

Já a valorização das características “Companheirismo” e “Sinceridade” pelas mulheres

na idealização de amigas sugere outro cenário, baseado mais efetivamente na formação de

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uma aliança sólida com outra mulher. Essas preferências podem estar relacionadas ao padrão

de migração de cada um dos sexos no ambiente ancestral, no qual os machos permaneciam

em seu grupo natal e as fêmeas migravam indo morar com seu parceiro e os parentes deste

(Koenig, 2002, Sterck, Watts & van Schaik, 1997; Lyons & Aitken, 2010; van Hooff & van

Schaik, 1994; Wranghan, 1980). Dessa forma, o tipo de estrutura social pode ter levado as

mulheres a exigirem traços que possibilitem relações mais íntimas, que expressem confiança e

comprometimento para assegurar segurança emocional e estabilidade no convívio (Sprecher

& Regan, 2002).

No artigo experimental 2, encontramos que a percepção que as pessoas têm de seus

atributos está relacionada às preferências descritas para amigos(as) ideais tanto nos homens

quanto nas mulheres. A visão que as pessoas têm de si e dos indivíduos com que vão interagir

é fundamental para sua tomada de decisões. Observamos ainda, que ambos os sexos idealizam

amigos(as) ideais que compartilhem interesses em comuns com eles. Esses resultados

demonstram que a correspondência entre o que se tem a oferecer em uma amizade e o que se

espera pode ditar a satisfação com a relação, facilitando a manutenção do relacionamento.

Tais achados encontram-se em concordância com outros estudos que investigaram o mesmo

tema (Kenrick, Groth, Trost, & Sadalla, 1993; Regan, 1998; Sprecher & Regan, 2002).

Ao se utilizar estudantes universitários como sujeitos amostrais em estudos, algumas

ressalvas devem ser observadas, pois este tipo de amostra pode apresentar características

específicas dentro da população, como por exemplo, uma faixa etária mais restrita, um perfil

socioeconômico similar. Porém, tentamos minimizar tais efeitos ao coletarmos dados em

instituições de ensino tanto públicas quanto privadas, além de abarcamos uma ampla faixa

etária, com indivíduos desde os 18 até os 59 anos de idade, objetivando assim, tornar a

amostra mais heterogênea e representativa possível. Assim, acreditamos que as preferências

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encontradas entre os universitários podem corresponder às preferências para relações de

amizade na população em geral.

É fato também que preferências ideais nem sempre se manifestam nos parceiros reais,

já que outros fatores podem atuar nesse processo. Todavia, diversos estudos que abordam a

temática dos relacionamentos interpessoais vêm utizando esta metodologia (Li, Bailey,

Kenrick, & Linsenmeier, 2002; Pillsworth, 2008; Wiederman & Dubois, 1998), uma vez que

possibilita inferir de forma indireta os julgamentos dos participantes. Assim, acreditamos que

as preferências relatadas e que a percepção que as pessoas têm de si e de seus parceiros

podem indicar pistas muito importantes quanto à expressão dos comportamentos reais (Li, et

al., 2002; Pillsworth, 2008; Wiederman & Dubois, 1998).

Barkow e colaboradores (1992) argumentam que o cérebro humano é um órgão capaz

de gerar emoções, comportamento e processar informações, sendo essas atividades reguladas

de modo que se possa maximizar a aptidão, ou seja, garantir a sobrevivência e proporcionar a

reprodução. Assim, os mecanismos psicológicos indicam o comportamento mais apropriado

segundo as circunstâncias ambientais. De tal forma que nossas escolhas são direcionadas para

procuramos nos relacionar com indivíduos que apresentem os maiores indicativos possíveis

de traços que maximizem nossa aptidão, afinal, qualquer tipo de interação pessoal envolve

trocas entre as partes e pode representar acesso a recursos importantes e até mesmo

fundamentais para o sucesso, seja no âmbito social, pessoal ou reprodutivo. Portanto, o

sucesso de nossas interações interpessoais e do que podemos conseguir através destas

depende da correta avaliação dos parceiros com quem nos envolvemos.

Com o intuito de resumir os dados obtidos em nosso trabalho, o Quadro 1 apresenta as

hipóteses e predições investigadas junto com os resultados e conclusões encontrados. É

possível observar que das três hipóteses levantadas em nosso estudo, as hipóteses 1 e 3 se

confirmaram e a hipótese 2 foi parcialmente confirmada.

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Quadro I: Resumo dos resultados e suas relações com as predições.

Hipótese 1: Há diferenças quanto aos valores atribuídos às características idealizadas para um(a) amigo(a). (Estudo 1)

Predição Resultados Conclusão

Predição 1.1: Será atribuída maior importância para ascaracterísticas ligadas a traços pessoais se comparadas dosdemais traços para amigos(as) ideais.

As característcas pessoais “Companheirismo” e “Sinceridade” foramas mais preferidas, seguidas por “Bom-humor”. Corroborada

Hipótese 2: A idealização do amigo depende do sexo para características específicas. (Estudo 1)

Predição Resultados Conclusão

Predição 2.1: Homens atribuirão maior importância para "Beleza/Boaaparência" do que as mulheres na idealização de amigas.

Os homens valorizaram significativamente mais a característica "Beleza / Boa aparência" do que as mulheres em uma amiga ideal. Corroborada

Predição 2.2: Mulheres atribuirão maior importância para "Companheirismo" do que os homens na idealização de amigas.

As mulheres valorizaram significativamente mais a característica "Companheirismo" do que os homens em uma amiga ideal.

Corroborada

Predição 2.3: Homens atribuirão maior importância para "Companheirismo" do que as mulheres na idealização de amigos.

Homens e mulheres não apresentaram diferenças significativa quanto à importância da característica "Companheirismo" em um amigo ideal.

Não corroborada

Predição 2.4: Mulheres atribuirão maior importância para "Boa condição financeira" do que os homens na idealização de amigos.

Mulheres e homens não apresentaram diferenças significativa quanto à importância da característica "Boa condição financeira" em um amigo ideal.

Não corroborada

Predição 2.5: Não há diferença na atribuição de importância das demais características.

Homens e mulheres diferiram em suas preferências pelas características em uma amiga ideal.

Não corroborada

Hipótese 3: A auto-avaliação do indivíduo em relação ao seu valor enquanto amigo(a) exerce influência sobre as preferências descritas para amigos(as)

ideais.(Estudo 2)

Predição Resultados Conclusão

Predição 3.1: Os indivíduos demonstram preferências poramigos(as) que possuam características semelhantes às deles;assim, os valores atribuídos aos traços dos amigos(as) ideaissão similares aos valores atribuídos a cada característica na auto-avaliação.

A percepção que as pessoas têm de seus atributos está correlacionadapositivamente as preferências descritas para amigos(as) ideais.

Corroborada

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CONCLUSÕES

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4. CONCLUSÕES

A partir de nossos resultados podemos concluir que:

1. As características idealizadas em um(a) amigo(a) variam de acordo com a própria

natureza das mesmas;

2. Uma relação de amizade, mais especificamente, o processo de escolha de amigos é

influenciado pelo sexo do indivíduo e pelo sexo do amigo em questão;

3. A autopercepção quanto às características que se possui influenciam as características

desejadas em um(a) amigo(a).

Desse modo, nosso estudo acrescenta à literatura evidências empíricas aos padrões de

preferência em uma relação de amizade. Tendo em vista a multiplicidade de fatores que

podem atuar em uma relação dessa natureza, outras investigações são fundamentais para

abordar esta temática relevante, a fim de contribuir para uma melhor compreensão do

comportamento social humano.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXOS

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6. ANEXOS

6.1 Anexo 1 - Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Onofre

Lopes – UFRN

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6.2 Anexo 2 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE DEPARTAMENTO DE FISIOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOBIOLOGIA

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Este é um convite para você participar da pesquisa “A relação de amizade nas redes sociais de estudantes universitários de Natal/RN”, que é coordenada pelo mestrando Phellipe Vasconcelos C. Siqueira e pela professora Fívia de Araújo Lopes Cavalcanti. Sua participação é voluntária, o que significa que você poderá desistir a qualquer momento, retirando seu consentimento, sem que isso lhe traga nenhum prejuízo ou penalidade. Essa pesquisa procura investigar características que influenciam nas escolhas das amizades. Caso decida aceitar o convite, você será submetido(a) ao preenchimento de dois questionários, tarefa que, em princípio, não apresenta nenhum risco à integralidade física ou psíquica do participante. Para minimizar qualquer desconforto e manter sua privacidade, o questionário apresenta caráter anônimo e deve ser respondido individualmente, o que significa que todas as informações obtidas serão sigilosas e seu nome não será identificado em nenhum momento. Os dados serão guardados em local seguro e a divulgação dos resultados será feita de forma a não identificar os voluntários. A presente pesquisa não envolve nenhuma troca financeira. Você não terá nenhum tipo de despesa por participar dessa pesquisa, tampouco nada será pago por sua participação. Em qualquer momento, se você sofrer algum dano comprovadamente decorrente desta pesquisa, você terá direito a indenização. Você terá com os resultados da pesquisa, o benefício de obter mais informações a respeito da modulação dos critérios utilizados na escolha de amigos. Você ficará com uma cópia deste Termo e toda a dúvida que você tiver a respeito desta pesquisa, poderá perguntar diretamente para Phellipe Vasconcelos C. Siqueira, no endereço eletrônico [email protected] ou pelo telefone (84) 9106-5026. Dúvidas a respeito da ética dessa pesquisa poderão ser questionadas ao Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Onofre Lopes (CEP-HUOL), Av. Nilo Peçanha, 620 – Petrópolis, Natal/RN email: [email protected] Tel: 3202-3719 R-242.

Consentimento Livre e EsclarecidoDeclaro que compreendi os objetivos desta pesquisa, como ela será realizada, os riscos e benefícios envolvidos e concordo em participar voluntariamente do projeto “A relação de amizade nas redes sociais de estudantes universitários de Natal-RN”.

Participante da pesquisa:

Pesquisadores responsáveis:

Phellipe V. C. Siqueira _________________________________________________

Fívia de Araújo Lopes _________________________________________________

Natal, ____ de __________de _____.

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6.3 Anexo 3 – Questionário Sociodemográfico

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6.4 Anexo 4 – Questionário “Caracterização do(a) Amigo(a) Ideal”

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