A relação de amor entre Aurilene, Almir e a natureza

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Dona Aurilene Alves da Silva e seu Almir Batista Lima residem em Aroeiras, uma comunidade distante 20 quilômetros da sede do município de Orós, no Centro Sul do Ceará. Bem no meio do sertão, onde, com pouco mais de uma tarefa de terra, uma cacimba e uma cisterna, conseguem produzir uma alimentação saudável para a família e a vizinhança-, mantendo uma relação de amor com a natureza. O sítio deste casal fica a poucos metros da estrada que dá acesso a Orós, já bem próximo a Vila Guassussê, atraindo olhares e aguçando paladares, encantando e alimentando a natureza. “Daqui a gente come, vende para as pessoas que passam na estrada, aos vizinhos e ainda alimenta os pássaros”, conta Aurilene, se referindo à produção de frutíferas e hortaliças, que além de alimentar e ser a principal fonte de renda da família é também o sossego para os animais que ali descansam. E, tudo vira encanto, numa combinação perfeita de cores e cantos: o vermelho da terra, o verde da natureza, o azul da água, as melodias dos pássaros, que ora pousam, fazem seus ninhos e por ali entoam seu canto. Mas a história desse casal não é somente de encantos. Para chegar onde estão hoje, segundo contam, muitas águas rolaram e estradas foram percorridas. Primeiro foram a São Paulo, depois ao Pará, e posteriormente retornaram a São Paulo. O objetivo: em busca de melhorias. “A gente vem lutando muito para viver melhor”, disse Almir. A paixão pela produção agrícola começou bem antes de saírem do nordeste em busca de emprego. “A gente morava na vila, na casa tinha um quintalzinho, bem miudinho. Fiz um balcão no quintal, comecei a plantar coentro e cebolinha e saía vendendo com a minha filha mais velha. Em São Paulo também a gente plantava, só que a área de terra não era nossa”, conta Aurilene, ressaltando que o desejo de ter onde morar e plantar sempre foi um dos maiores objetivos da família, o que os levou a juntar um dinheirinho para adquirir um espaço. “Quando voltamos compramos uma casa na vila, depois surgiu essa aqui”, disse. E a luta de Aurilene e Almir se estende aos animais, A relação de amor entre Aurilene, Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano • nº1679 8 Orós Julho/2014 Almir e a Natureza

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Dona Aurilene Alves e seu Almir Batista Lima residem em Aroeiras, uma comunidade distante 20 quilômetros da sede do município de Orós, no Centro Sul do Ceará. Bem no meio do sertão, onde, com pouco mais de uma tarefa de terra, uma cacimba e uma cisterna, conseguem produzir uma alimentação saudável para a família e a vizinhança, mantendo uma relação de amor com a natureza.

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Dona Aurilene Alves da Silva e seu Almir Batista Lima residem em Aroeiras, uma comunidade distante 20 quilômetros da sede do município de Orós, no Centro Sul do Ceará. Bem no meio do sertão, onde, com pouco mais de uma tarefa de terra, uma cacimba e uma cisterna, conseguem produzir uma alimentação saudável para a família e a vizinhança-, mantendo uma relação de amor com a natureza.

O sítio deste casal fica a poucos metros da estrada que dá acesso a Orós, já bem próximo a Vila Guassussê, atraindo olhares e aguçando paladares, encantando e alimentando a natureza. “Daqui a gente come, vende para as pessoas que passam na estrada, aos vizinhos e ainda alimenta os pássaros”, conta Aurilene, se referindo à produção de frutíferas e hortaliças, que além de alimentar e ser a principal fonte de renda da família é também o sossego para os animais que ali descansam.

E, tudo vira encanto, numa combinação perfeita de cores e cantos: o vermelho da terra, o verde da natureza, o azul da água, as melodias dos pássaros, que ora pousam, fazem seus ninhos e por ali entoam seu canto.

Mas a história desse casal não é somente de encantos. Para chegar onde estão hoje, segundo contam, muitas águas rolaram e estradas foram percorridas. Primeiro foram a São Paulo, depois ao Pará, e posteriormente retornaram a São Paulo. O objetivo: em busca de melhorias. “A gente vem lutando muito para viver melhor”, disse Almir.

A paixão pela produção agrícola começou bem antes de saírem do nordeste em busca de emprego. “A gente morava na vila, na casa tinha um quintalzinho, bem miudinho. Fiz um balcão no quintal, comecei a plantar coentro e cebolinha e saía vendendo com a minha filha mais velha. Em São Paulo também a gente plantava, só que a área de terra não era nossa”, conta Aurilene, ressaltando que o desejo de ter onde morar e plantar sempre foi um dos maiores objetivos da família, o que os levou a juntar um dinheirinho para adquirir um espaço. “Quando voltamos compramos uma casa na vila, depois surgiu essa aqui”, disse.

E a luta de Aurilene e Almir se estende aos animais,

A relação de amor entre Aurilene,

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano • nº1679 8

Orós

Julho/2014

Almir e a Natureza

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que também fazem parte da família. Nessas andanças, além do casal mais os três filhos, tinha o gato e o cachorro, que sempre os acompanharam. Em uma das viagens, conforme evidencia Aurilene, o seu Almir teve que vir de avião, com o cachorro e ela de ônibus, com o gato. Não era fácil, pois a viagem exigia o Guia de Transporte Animal (GTA), além de comprovante de vacina e uma passagem para o mesmo, mas mesmo assim o traziam, pois o amor é tão grande que não tinham coragem de deixar-los. “Olha, a gente fazia o possível para levar e trazer. Se tivesse que vender a casa teria vendido para comprar a passagem deles”, disse Aurilene, deixando escapar a emoção da relação de amor que mantêm com os animais.

Produção e comercialização No quintal de Aurilene e Almir tem de tudo um pouco: mamão, banana, goiaba, manga, limão,

coco, siriguela, umbu cajá, acerola, cana-de-açúcar, entre outras frutíferas, além de verduras: coentro, cebolinha, alface, couve, pimentão, pimenta de cheiro, dentre outras, mas, é da produção de mamão e verduras que sai a sua renda.

Vende diariamente, quando tem, porque, segundo contam, no período de chuva a produção diminui um pouco. “Temos essa experiência que cheiro verde quando está assim tem que esperar, porque o tempo não é do homem, é de Deus”, constata Almir, deixando evidente que sua relação com a natureza vai muito além do cuidado com a terra e produção.Para a vila ele leva 50 maços de cheiro verde todos os dias e vende por um real cada, somando um total de 250 reais por semana e 1000 reais por mês. “Mas as pessoas também vêm comprar. Tem dia que a gente vende de vinte maços só aqui, as pessoas passam, param e compram. Um dia desses passou um carro aqui e parou para comprar, ele era de Solonópoles”, disse.

Somente enquanto a família compartilhava sua história, num intervalo de duas a três horas, chegaram três pessoas para comprar verduras. E o motivo, segundo os mesmos, é porque são bonitas, saudáveis e demoram a murchar. “É porque a gente não usa veneno, aí a verdura dura mais”, diz Aurilene.

Além de comercializar, compartilham com a vizinhança, que não os deixam sair de mãos vazias e sempre oferecem outro produto, como forma de agradecimento. “Às vezes eu levo banana e trago feijão, outras vezes levo mamão e trago arroz”, diz Almir.E com isto, a qualidade de vida desse casal mudou significativamente, como eles mesmos reconhecem. “Desde que me entendo por gente esta é a fase mais sossegada. Porque estou no que é meu, produzo e ainda comercializo. Aqui temos sossego, alegria... porque não é só para nós, mas também para os outros”, diz Almir.As dificuldades existem, e uma delas ainda é a falta de equilíbrio entre animais (insetos) e produção, outra é a ausência de mão de obra, pois somente o casal trabalha na plantação, tendo que acordar de

madrugada para dar de conta. Quando indagada sobre as perspectivas,

Aurilene pensou e respondeu: "nem sei explicar, pra mim tá bom. O que a gente pensa é em aumentar a produção e melhorar”, disse. Eles aguardam ansiosos a implementação de uma cisterna-enxurrada, do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), da parceria com a Fundação Banco do Brasil, executada pelo Instituto Elo Amigo, unidade gestora na região. Com a tecnologia vão implementar um sistema de irrigação simplificado, na tentativa de economizar a água e poder produzir mais.

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