A RELAÇÃO FAMÍLIA X ESCOLA, OS ENTRAVES, AS … · 2015-05-16 · dons de interpretar e a arte...
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
AVM FACULDADE INTEGRADA
A RELAÇÃO FAMÍLIA X ESCOLA, OS ENTRAVES, AS
CONTRIBUIÇÕES E SUAS CONSEQUÊNCIAS NO
DESENVOLVIMENTO DO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM
DE SEUS EDUCANDOS
MICHELE DANTAS SOARES
ORIENTADOR:
PROF. VILSON SÉRGIO DE CARVALHO
TAPAUÁ/AM
2014
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
AVM FACULDADE INTEGRADA
A RELAÇÃO FAMÍLIA X ESCOLA, OS ENTRAVES, AS
CONTRIBUIÇÕES E SUAS CONSEQUÊNCIAS NO
DESENVOLVIMENTO DO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM
DE SEUS EDUCANDOS.
MICHELE SOARES DANTAS
Trabalho monográfico apresentado como requisito parcial para obtenção do Grau de Especialista em Orientação Educacional.
Orientador: Prof. Vilson Sérgio de Carvalho.
TAPAUÁ/AM
2014
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus pela vida e pela saúde que Ele me deu no
decorrer da realização deste trabalho e por Ele continuar a
bombear o sangue que corre nas artérias do meu coração.
Pela sabedoria e graça para que hoje eu desenvolvesse os
dons de interpretar e a arte de aprender. Também a minha
Mãezinha que soube me compreender quando tive que
afastar-me de sua tão doce companhia para elaborar este
trabalho.
4
DEDICATÓRIA
Dedico ao meu Deus fiel e verdadeiro Amigo. A minha mãe
que me ensinou os primeiros passos na escola da vida, me
encheu de motivação e da convicção de que Deus é quem dar
asas aos nossos sonhos e nos ensina a voar mais alto que as
montanhas. Aos meus familiares, amigos e colegas
professores, que juntos desempenham comigo a preciosa
missão de lapidar e transformar vidas.
5
EPÍGRAFE
“Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo,
os homens se educam em comunhão, mediatizados
pelo mundo”. (FREIRE, 2005, p.78)
6
RESUMO
A presente monografia tem como objetivo principal investigar sobre a
importância da participação dos pais no processo educativo de seus filhos e
conhecer projetos e ações que podem ser realizados para conquistar a
participação efetiva da família no desenvolvimento do processo ensino-
aprendizagem de seus filhos. Nesta perspectiva, esta pesquisa revela ações e
estratégias proporcionadas através das análises e estudos teóricos de
renomados especialistas na área da pedagogia, psicologia e sociologia, as
quais de bem utilizadas pelos orientadores, pedagogos e equipe pedagógica da
escola serão capazes de efetivar a integração e parceria entre família x escola.
Neste trabalho também se enfatiza a relevância do Orientador Educacional
exercer sua função de orientador e mediador do processo, promovendo
encontros da escola com a família, orientando e fazendo a ponte para que este
relacionamento venha fluir de forma dialógica, democrática e participativa.
Logo, conclui-se que a relação família x escola deve se dá de forma
harmoniosa, para que em parceria e cumplicidade estas duas instituições tão
importantes possam promover ações e projetos que visem superar as barreiras
e viabilizem a participação das famílias no processo educacional de seus filhos.
E como resultado deste envolvimento e comprometimento da família x escola
os educandos sejam os maiores beneficiados com a concretização de uma
educação mais eficaz. Educação esta, que seja capaz de formar cidadãos
críticos e conscientes, capacitados para atuar ativamente na sociedade em que
vivem, usufruindo assim dos benefícios da educação como a tão sonhada
emancipação social e um futuro promissor que lhes permita o gozo da
realização pessoal e da convivência familiar.
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METODOLOGIA
A aplicação da Pesquisa Bibliográfica discorrerá sobre as análises e
contribuições teóricas de autores, pesquisadores e especialistas no assunto
como: Jean Piaget, Wallon, Vigostysky, Augusto Cury, Daniel Goleman, Gabriel
Chalita, Isabel Solé, Paulo Freire, Smith e Strick, entre outros.
Este estudo em questão está inserido na linha didática, seu método de
abordagem é qualitativa e enquadra-se numa Tendência Progressista Crítico-
Social dos Conteúdos no âmbito crítico-dialético, que defende a importância de
conhecer a realidade em sua concreticidade contextualizando-a historicamente,
compreendendo as interações entre os sujeitos em processos de ação-
reflexão-ação.
Logo, este trabalho apresentará pesquisas e análises teóricas que
discutem sobre a relevância da participação da família na escola e suas
contribuições para melhoria do processo ensino-aprendizagem dos educandos
e se preocupará em proporcionar sugestões de ações e projetos educativos
que poderão ser realizados nas escolas com o intuito de efetivar a conquista da
família como parceira da escola.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................................................................. 09
CAPÍTULO I – A RELEVANTE PRESENÇA DOS PAIS NA VIDA ESCOLAR DE
SEUS FILHOS E SEU PAPEL NA EDUCAÇÃO E DISCIPLINA DOS
MESMOS.......................................................................................................... 12
1.1- A indisciplina, a falta de limites e regras dos educandos como
consequência da ausência dos pais no processo educativo dos filhos............ 16
CAPÍTULO II - A REALIDADE SOCIAL E ECONÔMICA DAS FAMÍLIAS E SUA
INFLUÊNCIA NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM DE SEUS
FILHOS............................................................................................................. 28
CAPÍTULO III- A IMPORTÂNCIA DO AMOR E DA AFETIVIDADE DOS PAIS E
PROFESSORES PARA A FORMAÇÃO DE CRIANÇAS BEM RESOLVIDAS
EMOCIONALMENTE........................................................................................ 36
CAPÍTULO IV- O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL FRENTE ÀS
DUAS INSTITUIÇÕES SOCIAIS “ESCOLA E FAMÍLIA”, DESDE O
ACOLHIMENTO, AS ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS E VOCACIONAIS AO
PLANEJAMENTO............................................................................................. 44
CONCLUSÃO................................................................................................... 54
BIBLIOGRAFIA................................................................................................. 55
9
INTRODUÇÃO
O tema desta monografia é “A relação Família x Escola, os entraves,
as contribuições e suas consequências no desenvolvimento do processo
ensino-aprendizagem de seus educandos”. Nesta pesquisa enfatizamos a
questão da participação das famílias na escola, visto que, a ausência da família
na escola e na vida escolar de seus filhos é fator determinante do fracasso
escolar e da indisciplina na escola, principalmente nas escolas públicas
situadas em bairro de classe baixa e nas zonas periféricas.
E ao analisarmos o descaso de muitos pais no que diz respeito à
educação de seus filhos podemos afirmar que são inúmeros os prejuízos que
acarretam o processo ensino-aprendizagem dos mesmos. Entretanto, o que
nós orientadores educacionais junto à equipe pedagógica da escola podemos
fazer para conquistar a parceria dos pais e sensibilizá-los da importância da
participação dos mesmos neste processo? Sabendo que essa parceria é de
extrema relevância para o sucesso escolar de nossos alunos é que nos
propomos a conhecer melhor a temática e buscar subsídios teóricos, para que
munidos de conhecimentos venhamos promover ações e desenvolver projetos
educativos, visando conquistar a família como parceira no processo
educacional de nossos alunos.
E munidos de conhecimento desejamos realizar com competência a
nossa função como orientadora educacional, numa relação dialógica e
democrática com as famílias e com toda a comunidade escolar. Nessa
interação pretendemos definir estratégias e ações que venham garantir uma
aprendizagem significativa e de qualidade para os nossos educandos.
Deste modo, sonhamos com uma educação de qualidade, onde famílias
e escolas caminham juntas, que na busca de um bem comum trabalham unidas
no mesmo propósito, o de promover a formação de nossas crianças em
cidadãos de bem, ativos e atuantes na sociedade. Cidadãos capazes de
superar os desafios que o mundo contemporâneo oferece, transpondo
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barreiras, alcançando a realização pessoal e profissional e assumindo assim
seus papéis com sucesso no seio da sociedade.
Contudo, se um desses parceiros falha põe em risco sua grande
missão. Tiba (2002) define muito bem a importância desta parceria quando
afirma que:
A escola sozinha não é responsável pela formação da personalidade, mas tem papel complementar ao da família. Por mais que a escola propicie um clima familiar à criança, ainda assim é apenas uma escola. (TIBA, 2002, p.181).
São, portanto, objetivos desta pesquisa: Refletir sobre a importância
das famílias e de seus esforços em prol do sucesso da carreira escolar de seus
filhos; Detectar quais as dificuldades que os pais se deparam que os impedem
de acompanhar efetivamente a vida escolar de seus filhos; Conhecer projetos e
ações que visem garantir a participação efetiva da família na vida escolar de
seus filhos; Pesquisar projetos de intervenção que permitam que os pais
conheçam seus direitos e deveres diante da vida escolar de seus filhos,
auxiliando-os a tomarem atitudes e realizarem ações que possam contribuir
para que seus filhos recebam uma educação eficiente e de qualidade.
No primeiro capítulo, nos propomos a refletir sobre a relevante presença
dos pais na vida escolar de seus filhos e seu papel na educação e disciplina
dos mesmos. Levando em conta os novos modelos da família contemporânea
e suas diversas realidades sociais e culturais. Também analisamos a questão
da indisciplina no educando como consequência da ausência da família e os
prejuízos que refletem na vida escolar e social dos mesmos. Neste capítulo,
mergulhamos nos estudos de Piaget, Vygotsky, Smith & Strick, Augusto Cury,
Gabriel Chalita, Içami Tiba, Paulo Freire, entre outros.
No segundo capítulo, abordamos o tema: A realidade social e econômica
das famílias e sua influência no processo ensino-aprendizagem de seus filhos.
Pesquisamos sobre a realidade social e econômica das famílias e suas
implicações no processo educativo de seus filhos. Tomamos como
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embasamento os estudos de Papalia e Olds, Rute Caribé Drouet, Smith &
Strick, Paulo Freire, entre outros.
No terceiro capítulo, estudamos sobre “a importância do amor e da
afetividade dos pais e dos professores para a formação de crianças bem
resolvidas emocionalmente” capazes de superar os desafios da vida escolar e
social com fé, esperança e motivação. Neste capítulo, adotamos como
embasamento teórico as pesquisas de Wallon, Smith & Strick, Augusto Cury,
Daniel Goleman, entre outros.
No quarto capítulo explanamos sobre: O papel do orientador
educacional frente às duas instituições sociais, a escola e a família, desde o
acolhimento, as orientações educacionais e vocacionais, ao planejamento.
Neste enfoque nos embasamos nos estudos de Giacaglia e Penteado, Eulália
Basseadas et. al, Isabel Solé, entre outros.
Enfim, nestes estudos buscamos a compreensão desta relação tão
conflituosa que é a família x escola. Crentes de que a integração destas duas
instituições torna-se indispensável para a superação dos problemas que
surgem no espaço escolar e para o alcance do sucesso no processo educativo
de nossos discentes. E investigando o campo da pedagogia e psicologia,
almejamos conhecer ações educativas e projetos que visem estreitar o
relacionamento entre escola e família, para que em parceria e unidos num
mesmo propósito venhamos concretizar um ensino de qualidade capaz de
promover as transformações necessárias na realidade social de nossos
educandos.
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CAPÍTULO I
A RELEVANTE PRESENÇA DOS PAIS NA VIDA
ESCOLAR DE SEUS FILHOS E SEU PAPEL NA
EDUCAÇÃO E DISCIPLINA DOS MESMOS
A família é considerada por inúmeros sociólogos, psicólogos, teólogos,
e educadores como a base fundamental para uma sociedade feliz. Alguns até
enfatizam que se a família vai bem a sociedade também vai bem. Mas, se a
família sofre com a separação dos pais, a mesma fica desestruturada e os
membros da família ficam sem chão e sentem-se inseguros, sem estrutura
psicológica e emocional para enfrentar o mundo sem a sua base familiar.
Estudiosos até categorizam afirmando que o aumento da
marginalidade se dar por causa do aumento excessivo de divórcio e filhos
criados por lares completamente desestruturados que acabam falhando na
educação de suas crianças.
Educadores na grande maioria afirmam que educação começa no
berço. Se a família não exerce de fato seu papel na educação de seus filhos a
escola sozinha não é capaz de assumir um papel que por direito é da família. É
comum nos dias atuais os pais colocarem seus filhos bem cedo nas creches e
escolas e se esquecem de exercer sua paternidade e maternidade na criação e
educação de seus filhos, causando assim sérios prejuízos na vida social,
afetivo-emocional, física e cognitiva dos mesmos.
Conforme Aranha (1996), a família é o primeiro grupo social onde a
criança é introduzida e o lugar ideal para o seu desenvolvimento social,
psicológico, afetivo e biológico. A autora assevera que,
A educação dada pela família proporciona “o solo”, esta é o local ideal e privilegiado para o desenvolvimento humano, do ponto de vista biológico o homem é o mais frágil dos animais e
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não sobrevive sozinho, psicologicamente são importantes as relações afetivas para sua saúde mental, socialmente a presença de adultos de sua confiança e a atividade da autoridade garantem a solidariedade necessária para o convívio democrático. O homem não possui aparelhamento instintivo como o dos animais, e por isso precisa ser socializado para sobreviver o que é feito mediante a educação recebida das pessoas que o circundam, a partir dos modelos sociais do grupo a que pertence. “Desde que nasce o homem é submetido a um intenso processo de aprendizagem que não termina senão com a morte”. (ARANHA, 1996, p. 62).
Ao retratarmos o papel da família e sua importância na vida escolar e
aprendizagem educacional de seus filhos é importante compreendermos que hoje
na organização familiar existem inúmeras formas de estrutura familiar e seus
diversos contextos que influenciam significativamente na formação educativa e
disciplinar de seus filhos. Visto que, é na família que as crianças absorvem sua
cultura e aprendem as regras e os novos valores morais e a ética humana.
Neste âmbito, BOCK, (2008) apud Almeida & Scarso (2010, p.18) retrata essa
realidade:
Atualmente, é impossível não enxergar – vários estudos antropológicos e mesmo reportagens em revistas, jornais e TV mostram – que existem muitas e inúmeras formas de estrutura familiar: a família de pais separados que realizam novas uniões das quais resulta uma convivência entre os filhos dos casamentos anteriores de ambos e os novos filhos do casal; a família chefiada por mulher (em todas as classes sociais), a nuclear, a extensa, a homossexual, enfim, observa-se uma infinidade de tipos que a cultura e os novos padrões de relações humanas vão produzindo. (BOCK, 2008, p. 247 apud ALMEIDA & SCARSO, 2010, p.18).
Compreendendo que, neste século não existe mais a família composta
por pai, mãe e filhos, mas uma diversidade incrível de estrutura criada pela
necessidade da convivência e da vida em comunidade. Algumas vezes as
pessoas criam suas próprias conveniências, valores e regras familiares que
algumas vezes geram conflitos dentro da sociedade e respectivamente dentro
do contexto escolar. Para algumas pessoas gera estranheza e as mesmas
repudiam e condenam certos tipos de relacionamentos e famílias como as
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formadas por dois homens que ambos dizem serem dois pais e filhos adotivos
ou formados por duas mulheres que se dizem serem duas mães e seus filhos
gerados às vezes de outro relacionamento, e etc.
De acordo com Bock (2008) apud Almeida & Scarso (2010), as
diversas estruturas familiares que existem atualmente não estão de acordo
com os padrões de ordem natural ou divina, mas são produtos originados das
transformações e processos decorrentes da história da humanidade, ou seja,
essas famílias surgiram das adequações sociais que gradativamente trouxeram
todas essas mudanças.
A autora ainda explica que, a família monogâmica foi o ponto de partida
histórico sobre a estruturação da família, não obstante, devemos valorizar as
diversas formas anteriores de organização familiar com o objetivo de qualificar
e garantir a reprodução da sua espécie e sua sobrevivência. Quanto a essas
diversas formas de organização familiar de antigamente Bock (2008) apud
Almeida & Scarso, (2010) apresenta:
A família consanguínea – intercasamentos de irmãos e irmãs carnais e colaterais no interior de um grupo; a família punaluana – o casamento de várias irmãs, carnais e colaterais, com os maridos de cada uma das outras; e, os irmãos também se casavam com as esposas de cada um dos irmãos. Isto é, o grupo de homens era conjuntamente casado com o grupo de mulheres; a família sindiásmica ou de casal – o casamento existia enquanto ambos desejassem; a família patriarcal – o casamento de um só homem com diversas mulheres; e, finalmente, a família monogâmica, que se funda sobre o casamento de duas pessoas, com obrigação de coabitação exclusiva [...]. (BOCK, 2008, p.248 apud ALMEIDA & SCARSO, 2010, p.19).
Logo, todas essas diferenças culturais refletem na aprendizagem da
criança, na formação da personalidade e no comportamento, aumentando
assim a necessidade de um melhor acompanhamento da família na vida
escolar de seus filhos.
De acordo com a teoria sociointeracionista de Vygostsky o ser humano
se desenvolve a partir de sua relação social com o outro. Através da
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sociabilidade com os seus pares que a criança aprende a sua cultura, valores,
costumes e comportamentos, formando assim sua personalidade. Quanto a
esta sociabilidade da criança Vygotsky escreveu em 1932, conforme citado por
Ivic (2010):
É por meio de outros, por intermédio do adulto que a criança se envolve em suas atividades. Absolutamente, tudo no comportamento da criança está fundido, enraizado o social. [E prossegue:] Assim, as relações da criança com a realidade são desde o início, relações sociais. Neste sentido, poder-se-ia dizer que o bebê é um ser social no mais elevado grau. (Vygotsky, 1982-1984, v.IV, p.281apud Ivic, 2010, p.16).
Logo, assim como explica Ivic (2010) “a sociabilidade da criança é o
ponto de partida para suas interações sociais”, é própria da origem e da
natureza da criança a necessidade de interagir com os outros e nessa
interação com os adultos elas absorvem toda a cultura necessária para a sua
aceitação e participação social em seu grupo e comunidade.
O autor ainda ressalta que, conforme a teoria de Vygostsky essa
interação social desempenha um papel construtivo no desenvolvimento da
criança, significando que certas categorias de funções mentais superiores
como a atenção voluntária, memória lógica, pensamento verbal e conceptual,
emoções complexas e etc., não poderiam emergir e se constituir no processo
de desenvolvimento sem a contribuição construtiva das interações sociais.
Logo, se o desenvolvimento da criança e sua formação se dão a partir
desta interação social com o adulto podemos afirmar que os pais tem seu papel
principal na formação da personalidade e no aprendizado de seus filhos. E
assim consequentemente a linguagem e comportamento dos pais nesta
interação refletem também na linguagem e no comportamento de seus filhos. E
olhando por este viés, podemos afirmar que muito do comportamento e da
linguagem das crianças em sala de aula reflete aquilo que ela absorveu de sua
cultura em seu ambiente familiar.
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1.1- A indisciplina, a falta de limites e regras dos educandos
como consequência da ausência dos pais no processo
educativo dos filhos.
É na família que as crianças deveriam aprender os valores éticos e
regras morais baseados na solidariedade, respeito e afetividade, entretanto,
muitos lares tornam-se lugares perigosos e hostis, onde pais alcoólatras e
mães viciadas em drogas espancam seus filhos com violência e desprezo.
Muitos filhos convivem desde cedo com a dor e a tristeza do abandono e
rejeição. Atitudes como esta geram crianças carentes, deprimidas e agressivas,
e muitas delas apresentam desvios de conduta e indisciplina na escola e na
convivência com as demais crianças.
Chalita (2004) enfatiza que, ninguém pode substituir a função dos pais
na educação de seus filhos. É dever dos pais ensinar aos seus filhos, as regras
e os limites necessários para que os mesmo possam também desempenhar
seu papel com sucesso no seio da sociedade.
“Nada substitui esse carinho. A mãe que pega na mão do filho e, com o maior carinho, mas com a responsabilidade de quem precisa mostrar os limites, faz com que ele recolha os brinquedos que esparramou pela casa. O "cheirinho", o cobertor se arrastando pelo chão para deitar no meio dos pais. A vontade de ficar de mãos dadas com o papai ou a mamãe...”(Gabriel Chalita, 2004,p 28).
Chalita (2004) também assegura que, por mais que a escola se esforce
para educar seus alunos, crie meios e estratégia para motivá-lo em seu
desenvolvimento escolar. Sozinha ela não é capaz de proporcionar ao aluno o
cuidado e o carinho que ele precisa para sua formação global. Pois, toda
criança na fase de crescimento e desenvolvimento infantil precisa de afeto e
muita atenção tanto na escola quanto na família para se sentir valorizado,
protegido e amparado. Neste sentido o autor esclarece que:
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A família teve um local privilegiado nesse contexto. Um meio em que a convivência poderia ser exercida sem mascaras, sem medo de ser autentico, sincero. Um meio próprio para que a evolução aconteça pelo dialogo, pela conquista do espaço. A família se transformou em palco de batalha incessante em que as gerações diferentes vivem em conflitos terríveis. A falta do entendimento, a falta do dialogo, a falta de atenção. E preciso viver cada momento dos novos seres que estão surgindo, por melhor que seja a escola nunca conseguira substituir a família. Cada um tem seu espaço e sua responsabilidade. (Chalita 2004, p. 256).
A família é considerada o berço de todo o processo ensino
aprendizagem, pois a criança nasce no seio familiar e recebe os primeiros
ensinamentos especialmente da mãe que com muito carinho ensina a criança
desde os primeiros gestos, como as primeiras palavras, lhe segura na mão
sustentando o bebê e lhe dando todo apoio ao ensinar-lhe os primeiros
passinhos. Normalmente, também é papel dos pais ensinar a criança as regras
de convivência, como os primeiros “não”, não mexer nas coisas dos outros, não
bater e não morder os irmãos e as demais pessoas que lhe cercam, não
quebrar o brinquedo do coleguinha, e etc. Enfim, são os pais os primeiros
educadores de seus filhos e que devem ensinar-lhes os limites necessários
para uma vida em sociedade.
Porquanto, limite e disciplina devem ser aprendidos logo ao nascer, e
ninguém se encontra mais envolvido e mais próximo do bebê que os pais, logo,
cabem a eles assumir essa importante tarefa. Tiba (1996) apud Fonseca (2010)
afirma que:
A disciplina pode ser ensinada. Quem faz é o disciplinador; quem aprende, o disciplinado; e o conteúdo desse aprendizado é a disciplina. Usei propositadamente essas denominações para diferenciar professor e aluno, termos consagrados em qualquer contexto de aula. Ensina-se como e por que se comportar em sociedade, em reuniões sociais, em classe, em competições, etc. Isso faz parte da educação, a arte de viver bem. (TIBA, 1996, p. 176 apud Fonseca, 2010, p.25).
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De acordo com Tiba (1996) apud Fonseca (2010, p.25), é dentro de
casa, no cotidiano familiar, que os filhos aprendem a disciplina, aprendem as
regras para a convivência na sociedade. Se os pais falham na disciplina do
filho, deixando-o livre para fazer o que quer, o mesmo crescerá supermimado
acreditando que pode tudo. E mais tarde este filho dará muito trabalho para
seus pais, pois terá que enfrentar as regras e imposições da sociedade que ele
não conhecia e nem sabia que precisaria cumprir para poder usufruir da vida
em sociedade. Neste sentido, o autor adverte:
A violência e uma semente colocada na criança pela própria família, que, encontrando terreno fértil dentro de casa, se tornara uma planta rebelde na escola, expandindo-se depois em direção à sociedade. Quando os pais deixam o filho fazer tudo o que deseja, sem impor-lhe regras ou limites, ele acredita que suas vontades são leis que todos devem acatar. Então, se um dia alguém o contraria, esse filho pode tornar-se, num primeiro momento agressivo, mas depois partir para a violência, exigindo que se faça aquilo que ele quer. E o filho supermimado. (TIBA, 1996, p. 152, apud Fonseca, 2010, p.25).
É comum nas discussões levantadas sobre indisciplina na escola os
professores acusarem os pais por não cumprirem com seu papel educativo.
Diante dos conflitos e ocorrências que surgem na escola envolvendo o mau
comportamento de alunos, os professores culpam os pais que não impõem
limites aos filhos e reclamam de crianças que chegam à escola sem o mínimo
de educação, batem, chutam, mordem e xingam colegas e professores com
palavrões. Muitos professores ficam chocados com essa brusca realidade,
tendo que desempenhar na sala de aula um papel que não é seu e sem ajuda
dos pais a missão é dura e frustrante.
De acordo com Vasconcelos (2000) um dos grandes entraves para a
educação familiar das crianças se dá porque as famílias não dedicam tempo
para dialogar com seus filhos, famílias inteiras passam horas e horas em frente
à televisão sem dar nenhuma palavra. Segundo a autora para que as famílias
possam contribuir no combate a indisciplina na escola elas precisam dedicar
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tempo para transmitir as seus filhos as regras, os limites e os valores
necessário, dispor de tempo para participarem das reuniões escolares,
procurar conhecer os medos e as angústias de seus filhos, participando e
vibrando com suas conquistas. É através do diálogo e da comunicação que os
pais ajudamos seus filhos na compreensão de alguns assuntos como o namoro
e a sexualidade, entre outros assuntos, esclarecendo suas dúvidas e
ensinando-os a pensar certo e com criticidade. Quanto à educação dos filhos
Vasconcelos (2000) afirma que:
Ajudar os filhos a pensar sobre o sentido da vida: viver para que? Para ser “esperto”, levar vantagem em tudo? Para ser rico, para “subir na vida a qualquer custo”? Sem uma perspectiva, sem um conjunto de valores, sem um projeto de vida? Corre-se o risco de cair no “vale tudo”: oportunismo, violência, drogas e suicídio. Para muito pais a opção que se coloca diante dos filhos é a seguinte: ou o filho vais ser brilhante, o melhor, o primeiro, o mais esperto para conseguir se dar bem na vida, ou será um perdedor, um “Zé ninguém”, um eterno subalterno, desqualificado, explorado pelos outros, etc. (VASCONCELOS, 2000, p. 122, 123)
Segundo Smith & Strick (2001), a capacidade das crianças para julgar
o que é certo e o que é errado desenvolve-se em estágios e os pais que não
entendem o desenvolvimento moral da criança ás vezes erram colocando em
prática regras que estão além da compreensão de suas crianças. E como elas
não compreendem aquelas regras elas acabam descumprindo-as e os pais
aplicam punições às crianças porque acham que elas são más, quando na
verdade elas são inocentes.
As autoras explicam que crianças com menos de dois anos não têm
maturidade psicológica para entender o que é certo ou errado e que neste
estágio de desenvolvimento elas não são capazes de entender as regras.
Logo, punir crianças nessa fase porque fizeram coisas como tocar seus
genitais ou quebrar objetos frágeis é atitude inútil e cruel.
Smith & Strick (2001), também explicam que crianças com menos de
sete e oito anos não têm capacidade de raciocínio para entender por que um
determinado comportamento é certo ou errado. Assim sendo, para as crianças
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nesta fase seu código moral é aquele tomado pelos adultos, ou seja, elas
obedecem às regras porque querem agradar seus pais ou outra autoridade
pela qual elas tenham algum vínculo afetivo. Assim, nesta fase os adultos
devem orientá-las a não fazer por causa das consequências que lhe sobrevirão
caso ela não respeite aquela regra.
Neste sentido, as autoras aconselham que os pais nunca cometa o erro
de criticar ou humilhar suas crianças como criticas depreciativas como “Seu
garoto mau! Porque você é tão ruim!” As autoras explicam que atitudes como
estas podem assassinar o caráter da criança e deixar cicatrizes profundas.
Assim, as autoras recomendam que no caso da necessidade de disciplinar a
criança os pais devem deixar bem claro para criança que ela está sendo punida
pelo comportamento errado e não por um simples capricho dos pais.
As autoras, ainda sugerem que, os pais devem discutir com as crianças
situações problemas e dilemas éticos que levem as mesmas a refletir em
diferentes aspectos do problema e devem encorajá-las a tomarem suas
próprias decisões sempre que possível. Aproveitando cada oportunidade para
compartilhar com elas os valores éticos e humanos como a justiça, respeito,
lealdade, fraternidade, auxiliando-as a se responsabilizarem por suas ações.
Considerando sempre seu estágio e maturidade moral e não somente pela
idade, visto que as crianças com dificuldades de aprendizagem amadurecem
mais lentamente. Quanto ao julgamento moral das crianças nesta fase do
ensino fundamental Smith & Strick (2001) também explicam que,
Os pais devem notar, porém, que o julgamento moral das crianças ainda não está plenamente desenvolvido. O respeito de seus filhos adolescentes pela lei, por exemplo, é ainda baseado, em parte, no medo de serem descobertos e punidos; eles podem ser tentados a romper as regras, se o risco de ser pego for pequeno. Apenas no final da adolescência as crianças entendem completamente que as leis preservam a sociedade e que a obediência a elas é necessária para manter a ordem social (os jovens que se veem como vítimas pela ordem social estabelecida não serão motivados por tal consideração). Assim, os pais sensatos continuam oferecendo aos filhos adolescentes uma estrutura e ajudando-os a pensar em suas ações. Já que os deslizes tendem a gerar suas próprias consequências nessa idade (furtar pode levá-los à prisão; sexo
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inseguro pode resultar em doença ou em gravidez indesejada), ameaças de punição podem ser supérfluas. Quando os pais agem como conselheiros, ao invés de policiais, os adolescentes consideram mais fácil ver que o comportamento responsável vem em seu próprio interesse. (Smith & Strick, 2001, p. 224).
Os pais também precisam estar preparados para saber lidar com a
indisciplina dos filhos, alguns se sentem tão desesperados que acabam caindo
no erro do pessimismo ou na permissividade excessiva. Algumas vezes os pais
se encontram tão desorientados quanto os professores. E são nestas horas
que o orientador educacional é capaz de intervir com seus conhecimentos
teóricos e suas experiências, promovendo encontros e orientando nas
discussões coletivas para que pais e professores possam dialogar e juntos
elaborarem ações e estratégias para agirem de forma eficaz diante dessas
circunstancias.
A interação pais e filhos se dar num relacionamento muito intenso e
cheio de desafios como o de alimentar, vestir, calçar, cuidar da saúde, educar,
ensinar regras e limites. E o drama de muitos pais que trabalham fora o dia
todo e deixam a educação dos filhos por conta da Babá e tentam compensar
sua ausência enchendo a criança de presentes e realizando todos os seus
caprichos e acabam se excedendo, por que as crianças crescem achando que
podem tudo. Quanto aos pais permissivos demais, que dão aos filhos a
liberdade desenfreada Freire (2000) chama de “tirania da liberdade” quando o
mesmo tece sua critica:
A mim me dá pena e preocupação quando convivo com famílias que experimentam a “tirania da liberdade” em que as crianças podem tudo: gritam, riscam as paredes, ameaçam as visitas em face da autoridade complacente dos pais que se pensam ainda campeões da liberdade. (Freire, 2000, p. 29).
Pais permissivos demais tendem a enfrentar o repúdio e os
questionamentos da sociedade atual, que possui seus padrões, regras e
valores morais. As crianças que na escola não se adéquam as regras e valores
22
morais da comunidade escolar sofrem a rejeição e algumas vezes até o
abandono.
Os valores culturais da família tendem a refletir na criação e
comportamento dos filhos. Muitos pais costumam criar seus filhos do jeito que
foram criados e acham normal que as crianças passem o dia todo na rua e
ainda dizem que estão deixando seus filhos viverem sua infância, jogar bolinha
de gude, brincar de esconde-esconde, jogar futebol, soltar pipa, e com essa
desculpa não monitoram seus filhos e fecham os olhos para os perigos da rua.
Crianças que crescem na rua, a mercê de seu próprio destino costumam optar
pela marginalidade, violência e drogas. Sem falar nos abusos sexuais, vida
sexual ativa precocemente, gravidez na adolescência, doenças sexualmente
transmissíveis, entre outras.
As crianças criadas na rua, normalmente, não possuem interesse pelos
conteúdos e atividades da escola, pois para ela é muito melhor escolher o que
quer fazer na rua do que ter que encarar a rotina escolar que exige mais
disciplina, tempo e disposição para os estudos. Esse é um dos maiores
desafios que os professores de escolas públicas enfrentam. Como despertar o
interesse e a concentração de crianças que vivem essa realidade? Visto que,
para que ocorra a aprendizagem à criança precisa não só de disciplina
comportamental mais principalmente de disciplina intelectual.
De acordo com as pesquisas de Munari (2010, p. 44 e 45), para Piaget
a educação moral e comportamento disciplinar de uma criança se estabelecem
através das relações interindividuais da criança com o adulto ou entre ela e
seus semelhantes que a levarão a tomar consciência do seu dever e a colocar
acima de seu “eu” a realidade normativa na qual a moral consiste. Em outras
palavras Piaget explica que a criança aprende a respeitar as regras e normas
de comportamento a partir de seus relacionamentos sociais entre a criança e o
seu meio ambiente.
Desse modo, podemos compreender conforme a concepção de Piaget
quanto à educação e desenvolvimento moral da criança, que existem diversos
23
métodos e técnicas para se educar uma criança, entretanto, é necessário que o
educador conheça a psicologia infantil para se conhecer qual a disponibilidade
da criança e suas tendências afetivas e ativas para aprender. Visto que, a
criança precisa da sociabilidade para criar vínculos de afeição com seus pais e
educadores para poder então aprender a amar um ideal e adotar as mesmas
ideologias, normas e regras impostas pela sociedade em que vive.
Entretanto, a família não pode ser responsabilizada como a única
culpada pela indisciplina de seus filhos, pois muitas vezes o comportamento
indisciplinado de alguns alunos em sala de aula são protestos contra as regras
impostas, abusos e arrogância de alguns professores, que não sabem discernir
o que é autoridade e acabam adotando uma prática baseada no autoritarismo.
Impondo aos alunos o seu ensino como a única verdade e numa prática
tradicional e mecanicista não permitem que seus alunos exponham suas ideias
e conhecimento sobre o assunto em estudo. Estes professores na maioria das
vezes não se importam em preparar uma aula mais atraente e muito menos se
preocupam se sua prática de ensino agrada ou desagrada seu aluno.
Freire (2006) adverte que para se tornar um legítimo educador uma de
suas qualidades indispensável quanto a sua autoridade nas relações com seus
educandos deve ser permeada de liberdade e generosidade. O autor ainda
aconselha que,
Não há nada que mais inferiorize a tarefa formadora da autoridade do que a mesquinhez com que se comporte. A arrogância, farisaica, malvada, com que julga os outros e a indulgência macia com que se julga ou com que julga os seus. A arrogância que nega a generosidade nega também a humildade, que não é virtude dos que ofendem nem tampouco dos que se regozijam com sua humilhação. O clima de respeito que nasce de relações justas, sérias, humildes e generosas, em que a autoridade docente e as liberdades dos alunos se assumem eticamente, autentica o caráter formador do espaço pedagógico. (FREIRE, 2006, p. 92).
Conforme Freire (2006), a autoridade docente que o autor chama de
“mandonista e rígida” não permite que o educando revele sua criatividade e o
seu gosto de aventurar-se. O autor ainda explica que, o educador que assume
24
sua autoridade de forma democrática aposta na liberdade do educando e tem
certeza de que sua participação é indispensável na construção de um clima de
real disciplina. Esse educador jamais ver na rebeldia da liberdade do educando
“um sinal de deterioração da ordem”, mas acredita que o educando que
exercita sua liberdade está mais livre para exercer sua autonomia e eticamente
assumir as responsabilidades de suas ações.
Freire (2006), também afirma que a relação entre educador e educando
deve se dar de forma respeitosa e dialógica, respeitando assim a autonomia e
criticidade do educando, caso contrário o educador suscitará no educando um
espírito de timidez e rebeldia.
Não há diálogo no espontaneísmo como no todo-poderosismo do professor ou da professora. A relação dialógica, porém, não anula, como às vezes se pensa, a possibilidade do ato de ensinar. Pelo contrário, ela funda este ato, que se completa e se sela no outro, o de aprender, e ambos só se tornam verdadeiramente possíveis quando o pensamento crítico, inquieto, do educador ou da educadora não freia a capacidade de criticamente também pensar ou começar a pensar do educando. Pelo contrário, quando o pensamento crítico do educador ou da educadora se entrega à curiosidade do educando. Se o pensamento do educador ou da educadora anula, esmaga, dificulta o desenvolvimento do pensamento dos educandos, então o pensar do educador, autoritário, tende a gerar nos educandos sobre quem incide, um pensar tímido, inautêntico ou, às vezes puramente rebelde. (Freire, 2006, p. 118).
Assim, compreendemos que algumas práticas autoritárias dos
docentes e atitudes punitivas podem desencadear comportamentos agressivos
dos discentes que não aceitam esse tipo de tratamento aos quais os mesmos
são submetidos. Neste viés, podemos concluir que muitas situações de conflito
entre professores e alunos podem ser geradas devido à estupidez e
autoritarismo de certos professores que por não permitirem que o aluno exerça
sua liberdade e autonomia para participar ativamente de seu processo
educativo.
25
Entretanto, quando Freire (2006), afirma que a prática do ensino deve
se dar de forma dialógica e permeada pela liberdade do educando, ele não
quer dizer que o professor deve assumir uma “prática espontaneísta”, em que o
diálogo se torne um bate-papo entre educador e educando, onde educador e
educando vivam num “faz-de-conta pedagógico”, onde o aluno faz de conta
que aprende e o professor faz de conta que ensina. Pelo contrário, Freire
recomenda que o educador ajude o educando a criar uma rotina de estudo com
disciplina séria e honesta sem precisar adotar uma prática tradicionalista.
O autor, ainda incentiva aos educadores democratas e progressistas a
lutarem incessantemente em favor da democratização da escola, de um lado
da programação dos conteúdos, de outro, da programação de seu ensino.
“Quando criticamos, ao lado de outros educadores, o intelectualismo de nossa escola, não pretendemos defender a posição para a escola em que se diluíssem disciplinas de estudo e uma disciplina de estudar. Talvez nunca tenhamos tido em nossa história necessidade tão grande de ensinar, de estudar, de aprender mais do que hoje. De aprender a ler, a escrever, a contar. De estudar história, geografia. De compreender a situação ou as situações do país. O intelectualismo combatido é precisamente esse palavreado oco, vazio, sonoro, sem relação com a realidade circundante, em que nascemos e crescemos, e de que ainda hoje, em grande parte, nutrimos. Temos de nos resguardar deste tipo de intelectualismo como também de uma posição chamada antitradicionalista que reduz o trabalho escolar em meras experiências disso ou daquilo e a que falta o exercício duro, pesado do estudo sério, honesto, de que resulta uma disciplina intelectual”. (Freire, 2006, p. 114, 115).
Conforme, a doutora em Educação Sandra Mara Fulco Pirola, formada
em 2009 pela Universidade Metodista de Piracicaba-SP, em sua tese ela se
contrapõe à concepção tradicional de indisciplina como fenômeno inerente ao
aluno e sua família como afirma muitos professores. Ao contrário, em sua tese
ela considera a ideia de que a indisciplina na escola está atrelada às relações
entre as pessoas e interações estabelecidas nas práticas pedagógicas como as
relações estabelecidas no espaço escolar.
26
Para Pirola (2009), a indisciplina é um fenômeno relacional do contexto
social, curricular e pedagógico da escola e em seu estudo ela procura analisar
os processos interativos em uma escola de tempo integral, destacando o papel
das relações sociais (pedagógicas, funcionais e de civilidade) na constituição
de atitudes de indisciplina.
Nesta pesquisa, a autora relata que a ideia que os professores desta
escola em estudo possuíam eram ideias diferentes a respeito da indisciplina na
sala de aula, entre tantas, eles adotavam uma concepção de ensino e
aprendizagem ainda pautada em “homogeneísmos”, onde os mesmos
concebiam a disciplina enquanto condição indispensável em sala de aula.
Concepção bem diferente daquela defendida pela autora que vê a disciplina do
aluno como um elo na cadeia educacional existente entre o currículo e as
práticas pedagógicas tanto como objetivo quanto como algo inerente à
atividade acadêmica.
Em defesa de sua tese a Doutora Pirola (2009) relata que detectou na
prática dos professores muitas reclamações quanto à indisciplina de seus
alunos que não demonstravam interesse pelas atividades trabalhadas em sala
de aula. Entretanto, para estes professores a relação professor e aluno era
vista pela ótica de que os alunos eram os únicos culpados e cheios de
problemas, sendo que estes professores nunca questionavam se as atividades
oferecidas aos alunos eram atividades significativas e se permitiam a
participação e a valorização da produção dos mesmos e a consideração de sua
realidade cultural. Quanto a esta realidade Pirola (2009) afirma que:
É evidente que, para que a aprendizagem dos conteúdos escolares ocorra, é necessário o estabelecimento de parâmetros, regras e limites entre os professores e os alunos. Mas, isso não significa que o aluno deva ficar calado, estático, obediente e submisso. Ao contrário, a educação escolar e as diferentes ciências requerem a disciplina própria do ato de conhecer, como a curiosidade e a inquietação. O professor também não deve manter-se como uma figura autoritária e de poder em sala de aula, mas como aquele que mantém uma conduta dialógica com seus alunos, atuando sobre o desenvolvimento dos discentes através do processo de aprendizagem. (PIROLA, 2009, p. 82).
27
Pirola (2009), também relata a experiência vivida na escola em estudo
de professoras que estavam mais compromissadas com o objetivo de
conquistar a atenção daqueles alunos mais difíceis e considerados os
indisciplinados. Estas professoras que com muitas pesquisas e planejamentos
passaram a trabalhar com a metodologia de projetos com temas da atualidade
como: a importância da água e preservação do meio ambiente e envolviam os
alunos com novas estratégias de ensino, cheias de criatividade e dinamismo
como o teatro e atividades lúdicas que permitiam que os alunos interpretassem
os conteúdos com liberdade e criatividade, e através da linguagem oral podiam
dar sua opinião sobre o tema em estudo.
A autora, ainda menciona em seus relatos os resultados positivos como
as mudanças de comportamento e a participação ativa daqueles alunos que
antes eram considerados indisciplinados e desinteressados. E quanto às
experiências vividas, a autora enfatiza a importância do papel da comunicação
como mediadora nas interações das relações sociais vividas por estes atores e
da relevância do planejamento para o alcance dos objetivos almejados.
Portanto, conforme enfatizou a doutora Pirola (2009), esses relatos
evidenciam que muitas concepções acerca das crianças e seu
desenvolvimento precisam ser revistas. Especialmente, àquelas que carregam
expectativas prévias de que certos alunos nunca vão aprender. Enfim, o
professor também precisa reconhecer a importância que tem o outro
(professor, colegas, adultos) para o desenvolvimento potencial das crianças.
Destacando assim, as implicações das relações pedagógicas para o
envolvimento e comportamento dos alunos e a compreensão de que não se
trata de um problema que diz respeito ao aluno, mas de um problema de
natureza pedagógica.
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CAPÍTULO II
A REALIDADE SOCIAL E ECONÔMICA DAS FAMÍLIAS
E SUA INFLUÊNCIA NO PROCESSO ENSINO-
APRENDIZAGEM DE SEUS FILHOS
A família é o lugar mais propício para o desenvolvimento integral de
uma criança. E deveria ser um lugar seguro que lhe proporcionasse as
condições mínimas de sobrevivência, educação, proteção, conforto e bem
estar. Entretanto, algumas famílias não conseguem oferecer as suas crianças a
estrutura e as condições adequadas para seu crescimento e desenvolvimento
saudável devido as suas condições financeiras precárias em que vivem.
Conforme Drouet (2002), as causas socioeconômicas se originam no
meio social e econômico do indivíduo e podem se tornar um lugar propício ou
hostil para o desenvolvimento de suas capacidades e podem influenciar
significativamente em suas aprendizagens.
Assim como para os animais, o habitat natural pode ser propício ou hostil a eles, condicionando seu desenvolvimento, sua maior ou menor capacidade de adaptação e sua melhor ou pior condição de saúde, também o habitat dos seres humanos – o meio físico e social em que vivem – exerce sobre eles a mesma influência, podendo ser favorável ou desfavorável à sua subsistência e também às suas aprendizagens. (DROUET, 2002, p. 98).
Logo, as crianças advindas de classe baixa e que sobrevivem nas
condições mínimas de subsistência são crianças que sofrem com problemas de
desnutrição e saúde e não têm a mesma chance que as crianças de classe
média e alta de serem bem sucedidas no processo de ensino-aprendizagem.
Quanto a esta realidade Drouet (2002) enfatiza que,
A desnutrição, ou chamada fome de proteínas, é um problema muito comum dos países subdesenvolvidos e dos grupos
29
sociais de renda muito baixa. Todas as pesquisas feitas sobre o assunto comprovam sua ação extremamente negativa no processo de aprendizagem. Além de serem geralmente anêmicas, as crianças desnutridas apresentam as seguintes características: • Tem uma febre baixa constante (37ºc a 37,5c); • Não sente ânimo para nada; • Não se interessam pelas aulas, nem por atividades recíprocas; • São incapazes de ter atenção constante [...] Além disso, com a falta de proteínas o organismo perde capacidade imunológica e a criança fica muito vulnerável às gripes, às pneumonias, e etc. Este é um dos mais sérios problemas de aprendizagem, originado por causas orgânicas. (DROUET, 2002, p. 108- 109).
PAPALIA & OLDS (2000), também afirmam que os problemas das
crianças pobres começam antes do nascimento pelo fato de suas mães não
receberem o acompanhamento pré-natal adequado e ainda se alimentarem mal
sem os nutrientes necessários para uma gravidez saudável. Essas mães
geram crianças fracas que quando não morrem na hora do parto morrem após
o nascimento e àquelas que conseguem sobreviver crescem mais fracas e
suscetíveis a contrair doenças e a sofrerem mais de problemas de
comportamento, distúrbios psicológicos e dificuldades de aprendizagem.
“As crianças pobres muitas vezes não comem nem crescem adequadamente, tornando-se fracas e suscetíveis às doenças. Elas também têm alto risco de acidentes. Muitas famílias pobres vivem em habitações inadequadas e precárias, e as crianças podem carecer de supervisão adequada, principalmente quando os pais estão no trabalho. Elas têm mais chance de sofrerem envenenamentos por chumbo, perda de visão e audição, e anemia por deficiência de ferro, bem como doenças ligadas ao estresse, como asma, cefaléia, insônia e irritações intestinais. Elas também tendem a ter mais problemas de comportamento, distúrbios psicológicos e dificuldades de aprendizagem” (J.L. Brown, 1997; Egbuono & Starfield, 1982; Santer e Stocking, 1991 apud PAPALIA & OLDS, 2000, p. 191).
Smith & Strick (2001), explicam sobre a importância de uma boa
alimentação para a saúde das crianças sendo um fator crucial para um bom
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desempenho educacional das mesmas e para a superação das dificuldades de
aprendizagem. Visto que, os problemas de aprendizagem podem estar
relacionados ou associados às péssimas condições físicas e problemas de
saúde das crianças.
Crianças que saltam refeições sofrem de resfriados frequentes ou não obtêm horas de sono suficientes raramente dão o melhor de si na escola. O impacto de hábitos de saúde não saudáveis sobre crianças que também sofrem deficiências pode ser devastador. Refeições equilibradas, exercícios saudáveis, repouso adequado e cuidados médicos e dentários regulares são, assim, uma parte crucial para o tratamento bem- sucedido de dificuldades de aprendizagens. (Smith & Strick, 2001, p.99).
De acordo com a Declaração Universal dos Direitos da Criança-
UNICEF de 20 de novembro de 1959:
1º Princípio – Todas as crianças são credoras destes direitos, sem distinção de raça, cor, sexo, língua, religião, condição social ou nacionalidade, quer sua ou de sua família. 2º Princípio – A criança tem o direito de ser compreendida e protegida, e devem ter oportunidades para seu desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, de forma sadia e normal e em condições de liberdade e dignidade. As leis devem levar em conta os melhores interesses da criança. 3º Princípio – Toda criança tem direito a um nome e a uma nacionalidade. 4º Princípio – A criança tem direito a crescer e criar-se com saúde, alimentação, habitação, recreação e assistência médica adequadas, e à mãe devem ser proporcionados cuidados e proteção especiais, incluindo cuidados médicos antes e depois do parto. 5º Princípio - A criança incapacitada física ou mentalmente tem direito à educação e cuidados especiais. 6º Princípio – A criança tem direito ao amor e à compreensão, e deve crescer, sempre que possível, sob a proteção dos pais, num ambiente de afeto e de segurança moral e material para desenvolver a sua personalidade. A sociedade e as autoridades públicas devem propiciar cuidados especiais às crianças sem família e àquelas que carecem de meios adequados de subsistência. É desejável a prestação de ajuda oficial e de outra natureza em prol da manutenção dos filhos de famílias numerosas. 7º Princípio – A criança tem direito à educação, para desenvolver as suas aptidões, sua capacidade para emitir juízo, seus sentimentos, e seu senso de responsabilidade
31
moral e social. Os melhores interesses da criança serão a diretriz a nortear os responsáveis pela sua educação e orientação; esta responsabilidade cabe, em primeiro lugar, aos pais. A criança terá ampla oportunidade para brincar e divertir-se, visando os propósitos mesmos da sua educação; a sociedade e as autoridades públicas empenhar-se-ão em promover o gozo deste direito. 8º Princípio - A criança, em quaisquer circunstâncias, deve estar entre os primeiros a receber proteção e socorro. 9º Princípio – A criança gozará proteção contra quaisquer formas de negligência, abandono, crueldade e exploração. Não deve trabalhar quando isto atrapalhar a sua educação, o seu desenvolvimento e a sua saúde mental ou moral. 10 º Princípio – A criança deve ser criada num ambiente de compreensão, de tolerância, de amizade entre os povos, de paz e de fraternidade universal e em plena consciência que seu esforço e aptidão devem ser postos a serviço de seus semelhantes.
Desse modo, são direitos universais da criança a educação, saúde,
segurança, proteção, e todas as condições básicas para seu pleno
desenvolvimento, sendo dever dos pais, da sociedade e das autoridades
públicas garantir que esses direitos sejam respeitados e concretizados.
O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, Lei Nº 8.069 de 13 de
julho de 1990, também providencia os direitos necessários para o pleno
desenvolvimento da criança quando em suas entrelinhas garante que:
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Entretanto, diante de tantos direitos constituídos legalmente é
lamentável presenciarmos em nossa realidade social, inclusive, em nossas
32
escolas crianças maltrapilhas e doentes, que enfrentam em seu cotidiano o
desafio da sobrevivência. Estas crianças estão mais preocupadas com “o que
vão comer” do que “o que vão aprender”. É comum na sala de aula professores
serem abordados no meio de uma explicação com aquela pergunta insistente
de alguns alunos “professora que hora vai ser a merenda?”.
A fome nutricional é uma realidade comum nas escolas públicas e
torna-se um dos maiores desafios a ser enfrentado hoje pela escola. Pois,
como poderá uma criança desnutrida e anêmica concentrar-se o suficiente para
que ocorra o processo de aprendizagem? Sabemos que o governo tem
investido muito na merenda escolar pensando em amenizar a fome e a pobreza
destas crianças carentes. Entretanto, na realidade estes recursos ainda não
são o suficiente e para piorar nos municípios menores de nosso país os
administradores públicos não estão muito preocupados com essa realidade.
Diante do descaso de muitos governantes, as famílias das classes
populares percebendo que seus direitos são negados depositam toda sua
esperança de mudança na educação. Acreditando que a escola pode ser uma
válvula de escape capaz de ajudar seus filhos a superar a desigualdade social
e através dos estudos seus filhos poderão adquirir uma boa profissão e de
alguma forma sair da linha de pobreza e alcançar um melhor status e
emancipação social.
Freire (2006), em sua obra pedagogia da autonomia saberes
necessários à prática educativa, explica sobre a importância da educação
como forma de intervenção no mundo. O autor afirma que no ponto de vista
dos interesses da classe dominante a educação deve ser uma prática
“imobilizadora” e “ocultadora” de verdades, entretanto, para a classe dos
educadores e educadoras progressistas a educação deve ser utilizada em
defesa dos direitos humanos.
Freire (2006), critica a ideologia fatalista do discurso e política
neoliberal que desvaloriza os interesses humanos e defende os direitos do
mercado. Diante desta constatação, o autor registra em suas palavras toda a
33
sua indignação contra a classe dominante, que usa o avanço da ciência e
tecnologia e todos os seus benefícios a favor de um pequeno grupo de
dominadores contra a maioria das classes desfavorecidas. Uma vez que, uma
minoria do poder esbanja e goza enquanto uma maioria sofre calada com a
miséria, a fome e o desemprego e ainda acredita que é uma fatalidade do fim
do século.
Freire (2006), instiga os educadores a tomarem posição e lutarem em
favor da causa dos direitos humanos e jamais cruzar os braços e nem se calar
diante da opressão da classe dominante e capitalista. Nesta perspectiva Freire,
protesta:
Não posso ser professor se não percebo cada vez melhor que, por não poder ser neutra, minha prática exige de mim uma definição. Uma tomada de posição. Decisão. Ruptura. Exige de mim que escolha entre isto e aquilo. Não posso ser professor a favor de quem quer que seja e a favor de não importa o quê. Não posso ser professor a favor simplesmente do Homem ou da Humanidade, frase de uma vaguidade demasiado contrastante com a concretude da prática educativa. Sou professor a favor da decência contra o despudor, a favor da liberdade contra o autoritarismo, da autoridade contra a licenciosidade, da democracia contra a ditadura de direita ou de esquerda. Sou professor a favor da luta constante contra qualquer forma de discriminação, contra a dominação econômica dos indivíduos ou das classes sociais. Sou professor contra a ordem capitalista vigente que inventou esta aberração: a miséria na fartura. Sou professor a favor da esperança que me anima apesar de tudo. Sou professor contra o desengano que me consome e imobiliza. Sou professor a favor da boniteza da minha própria prática, boniteza que dela some se não cuido do saber que devo ensinar, se não brigo por este saber, se não luto pelas condições materiais necessárias sem as quais meu corpo, descuidado, corre o risco de se amofinar e de já não ser o testemunho que deve ser de lutador pertinaz, que cansa, mas não desiste.. Boniteza que se esvai de minha prática se, cheio de mim mesmo, arrogante e desdenhoso dos alunos, não canso de me admirar. (Freire, 2006, p. 102, 103).
Freire (2005), em sua obra: Pedagogia do Oprimido, também defende
uma concepção de uma pedagogia da educação humanista e libertadora que
instigue os homens a se libertarem desta sociedade opressora e na força de
34
sua luta incessante pela recuperação de sua humanidade possam libertar a si e
a seus opressores. Quanto a este processo de libertação Freire (2005), afirma:
A pedagogia do oprimido como pedagogia humanista e libertadora, terá dois momentos distintos. O primeiro em que os oprimidos vão desvelando o mundo da opressão e vão comprometendo-se, na práxis, com a sua transformação; o segundo, em que, transformada a realidade opressora, esta pedagogia deixa de ser do oprimido e passa a ser a pedagogia dos homens em processo de permanente libertação. (FREIRE, 2005, p 46).
Freire (2005), ao explicar a pedagogia do oprimido deixa bem claro, a
importância e a função da educação na vida dos trabalhadores das classes
menos favorecida, que é de conscientizar-se de seu estado de opressão e de
lutarem em favor de sua libertação e em favor da transformação dessa
realidade opressora. O autor chama de sadismo, essa tendência sadista dos
opressores em busca de poder e de bens materiais que os levam a ver as
pessoas como objeto de sua posse, estes opressores desenvolvem um amor
sádico que em vez de amar a vida, oferecem um amor às avessas “um amor de
morte, um amor que mata a vida”.
Freire, também esclarece que nessa ânsia pelo poder os opressores,
tomam posse da ciência e da tecnologia e usam como força indiscutível de
manutenção da ordem opressora com a qual eles manipulam e esmagam os
oprimidos. É diante de tanta opressão e falta de humanidade dos opressores
que ao vivenciar esta realidade social que Freire enxerga na educação um
poderoso instrumento de luta e transformação capaz de munir os homens com
o conhecimento necessário e sua força de conscientização e poder de
convencimento de que a classe oprimida precisa se unir e lutar
incessantemente pela sua libertação. E concebendo esta pedagogia da
educação libertadora que Freire (2005), afirma: “Ninguém liberta ninguém,
ninguém se liberta sozinho: os homens libertam-se em comunhão.” (FREIRE,
2005, p.58).
35
Logo, ao analisarmos a situação econômica das famílias brasileiras e
sua influência nos processos educativos de suas crianças apontamos a
educação e seu poder transformador de mentes e de vida como uma porta
aberta, como instrumento de luta em favor das classes populares e vemos
assim uma luz no final do túnel. Enfim, resta agora a escola através de sua
equipe de gestores, educadores, orientadores educacionais, pedagogos e
demais especialistas da educação tomarem posse desta arma e utilizá-la na
luta em favor dos oprimidos, em favor das crianças e suas famílias menos
favorecidas, na luta contra a desigualdade social e a favor do respeito pela
dignidade humana e sua cidadania.
36
CAPÍTULO III
A IMPORTÂNCIA DO AMOR E DA AFETIVIDADE
DOS PAIS E PROFESSORES PARA A FORMAÇÃO DE
CRIANÇAS BEM RESOLVIDAS EMOCIONALMENTE
O papel da família vai muito além de procriar e criar os filhos, somente
colocá-los no mundo não é o suficiente, sendo o casal responsável pela sua
cria, também é seu dever lhe dar as condições básicas para seu crescimento e
desenvolvimento integral. Incluindo assim, especialmente, o amor e o carinho,
que lhes proporcionarão a segurança psicológica necessária para o seu
desenvolvimento emocional e cognitivo, visto que ambos estão imbricados no
processo de crescimento e maturação do indivíduo. Sisto (2001, p. 100) apud
Casarin (2007, p. 23) afirma que:
[...] embora não exista uma concordância quanto ao papel desempenhado pelos afetos no processo de conhecer, é consenso o fato de que os estados afetivos interferem no cognitivo. Também parece haver uma certa concordância quanto ao fato de que as funções afetivas e cognitivas são de natureza distinta, embora indissociáveis, uma vez que não existe conduta afetiva sem elementos cognitivos nem tão pouco elementos cognitivos desvinculados do afeto. (Sisto, 2001, p. 100).
Conforme Smith & Strick (2001), o desenvolvimento social e emocional
é igualmente importante para o bom desenvolvimento da criança. E a família
tem muita influência nestes dois aspectos da vida de suas crianças, pois à
medida que as crianças crescem, crescem também as expectativas dos pais e
demais membros da família sobre suas crianças. E à medida que os pais
cercam essa criança de apoio e carinho, permitindo que as mesmas possam
interagir com outras crianças, elas se desenvolvem melhor e tornam-se
37
capazes de executar tarefas difíceis e enxergar suas próprias capacidades.
Neste sentido as autoras explicam que,
A qualidade dos relacionamentos de uma criança, nesse estágio, pode ter um impacto significativo sobre sua perspectiva emocional. Em geral, as crianças que tem relacionamentos seguros e estáveis com seus responsáveis adultos estão mais propensas a ser atentas, motivadas e a responder aos desafios. Mesmo aos três ou quatro anos, essas crianças afortunadas parecem ter expectativas otimistas e uma certa autoconfiança. As crianças que não têm cuidados e carinho suficientes de adultos, por outro lado, estão mais propensas a serem passivas, facilmente desencorajadas, retraídas e/ou temerosas de novas situações. As pesquisas indicam que essas atitudes precoces podem ser muito persistentes, persistindo durante todos os anos de escola e até mesmo na idade adulta. (SMITH & STRICK, 2001, p.197,198).
Assim sendo, o desenvolvimento social e emocional da criança deve
ser acompanhado desde muito cedo, e os pais e família da mesma precisam
ter esse conhecimento, para que possam contribuir de forma efetiva para o
desenvolvimento emocional saudável de seus filhos. Neste aspecto, o
orientador educacional pode orientar muito bem aos pais como podem auxiliar
seus filhos, de forma que os mesmos possam desenvolver a maturidade
psicológica e emocional necessária para viver os desafios da convivência com
as demais crianças e adultos na escola.
Smith & Strick (2001) também advertem que as crianças que entram no
ensino fundamental enfrentam inúmeras situações que se não tiverem o apoio
emocional e o carinho necessário da família elas podem gerar inúmeros
prejuízos na vida escolar destas crianças.
As autoras dão o exemplo das crianças que sofrem algum tipo de
dificuldade de aprendizagem na escola, como déficits de percepção visual, ou
déficits de atenção, elas podem ser tachadas pelas outras colegas de turma de
“burra”, “antipática” ou “esquisita”, entre outros termos. E estes apelidos
pejorativos podem causar uma depressão ou timidez na criança, gerando medo
e sentimentos de rejeição que se as mesmas não tiverem o apoio e a
orientação educacional adequada como o bom acompanhamento dos pais e de
38
seus professores estes estigmas podem lhes trazer muita dor e frustração, e
consequentemente, o fracasso escolar.
Na perspectiva psicogenética de Henri Wallon (1879-1962) apud La
Taille, et. al., 1992, inteligência e afetividade constroem-se mutuamente e estão
integradas: a evolução da afetividade depende das construções realizadas no
plano da inteligência, assim como a evolução da inteligência depende das
construções afetivas.
Para Wallon, a afetividade não é apenas uma das dimensões da
pessoa, ela é também uma fase do desenvolvimento, a mais arcaica. O ser
humano é desde a sua fecundação um ser biologicamente afetivo e foi a partir
desta afetividade que lentamente se desenvolveu a vida racional.
Assim, para Wallon, desde o início da vida, afetividade e inteligência
estão sincreticamente misturadas, com o predomínio da primeira. O autor ainda
explica que, a reciprocidade entre os dois desenvolvimentos se mantém de tal
forma que as aquisições de cada uma repercutem sobre a outra
permanentemente. E ao longo deste trajeto, elas alternam preponderâncias, e
a afetividade reflui para dar espaço à intensa atividade cognitiva assim que a
maturação põe em ação o equipamento sensório motor necessário à
exploração da realidade.
Henri Wallon (1879-1962) apud Gratiot-Alfandéry (2010, p.34-36),
apresenta sua teoria psicogenética o desenvolvimento da personalidade do ser
humano que integra afetividade e a inteligência se dá em cinco estágios:
• Estágio 1- Impulsivo (0 a 3 meses) e Emocional (3 meses a 1 ano):
O primeiro ano de vida da criança é predominantemente afetivo e é por meio
da afetividade que ela estabelece suas primeiras relações sociais e com o
ambiente. E gradualmente o bebê passa de sua desordem gestual às emoções
diferenciadas.
• Estágio 2- Sensório-motor (12 a 18 meses) e Projetivo (3 anos):
Esse estágio se estende até por volta dos 3 anos e tem predomínio das
relações exteriores e da inteligência e uma vez que os campos funcionais são
39
indissociáveis o pensamento via de regra se projeta em atos motores.
Destacam-se os aspectos discursivos que por meio da imitação a criança
desenvolve a sua linguagem.
• Estágio 3- Personalismo (3 a 6 anos) / Crise de oposição (3 a 4
anos) / Idade da graça (4 a 5 anos) e Imitação (5 a 6 anos): Nesse estágio o
predomínio da afetividade, estende-se até os seis anos de idade. Nesse
período a criança desenvolve a personalidade e a autoconsciência, muitas
vezes refletindo-se em oposições da criança em relação ao adulto, com
imitações motoras e posturas sociais.
• Estágio 4- Categorial (6 a 11 anos) – Nesse estágio também
predomina a inteligência e a exterioridade que se estende até por volta dos 11
anos, onde a criança passa a pensar conceitualmente desenvolvendo o
pensamento abstrato e raciocínio simbólico, favorecendo funções como a
memória voluntária, a atenção e o raciocínio associativo.
• Estágio 5- Adolescência (a partir dos 11 anos) – As transformações
físicas e psicológicas da adolescência acentuam o caráter afetivo desse
estágio. Devido os conflitos internos e externos fazem com que o indivíduo se
volte para si mesmo, para se autofirmar e poder lidar com as transformações
de sua sexualidade.
Wallon, ainda explica que, no desenvolvimento, pensado
dialeticamente, dependendo do estágio que a criança está passando ocorrem
momentos de “maior introspecção (etapas centrípetas)” e de “maior
extroversão (etapas centrífugas)” num constante movimento de internalização e
exteriorização, que permite que a criança cresça em direção da sua
“autonomização”. E que o processo de desenvolvimento não se encerra no
estágio da adolescência, mas permanece ao longo de toda a vida do indivíduo,
sendo que a afetividade e a cognição estarão, dialeticamente, sempre em
movimento e entrelaçados no decorrer de todos os estágios e em todos os
processos de aprendizagem que o indivíduo incorporará ao longo de toda sua
vida.
Neste aspecto, os estudos e pesquisas Daniel Goleman, Augusto Cury
e outros grandes psicólogos da atualidade também afirmam que, a cognição e
40
a afetividade estão entrelaçadas por um elo de inter-relação que ambas não
podem ser separadas, pois a evolução do desenvolvimento da cognição
depende das relações afetivas e das estruturas emocionais de cada indivíduo.
Daniel Golleman (2001), afirma que emoção x razão, afetividade x
racionalidade são indissociáveis. O autor explica em sua teoria sobre as
inteligências emocionais que a psicologia já está reconhecendo o papel
essencial do sentimento no pensamento, visto que, esta afirmação é pertinente,
sendo comprovada cientificamente e na prática do dia a dia em sala de aula.
O autor afirma que, as perturbações emocionais podem sim interferir
na vida mental e que alunos ansiosos, mal humorados ou deprimidos não
aprendem. Pois, as emoções negativas são muito fortes e eliminam a atenção
e a concentração, interferindo na realização das tarefas escolares. O autor,
ainda afirma que os filhos que estão vivenciando o divórcio conturbado dos
pais não conseguem se concentrar em suas tarefas escolares, porque a mente
deles fica estagnada.
Goleman, também explica que, aquelas crianças que passam por
momentos de depressão e sofrem com pensamentos de autopiedade e
desespero, desesperança, desamparo, não tem condições psicológicas e nem
cognitivas de concentrar-se em suas atividades escolares, pois os sentimentos
negativos se sobrepõem aos positivos.
Analisando esta realidade, Golleman (2001) afirma que, mente e
coração estão interligados e aconselha que as escolas precisam,
urgentemente, ensinar seus educandos a treinarem suas emoções. E
pensando nisso autor desenvolveu o projeto ideal de alfabetização emocional.
Conforme o autor, através de um Programa de Alfabetização
Emocional, a criança deve ser treinada desde cedo para aprender a lidar com
suas emoções. Através deste projeto a escola poderá preparar melhor seus
alunos e investir no desenvolvimento de suas inteligências emocionais. Pois,
segundo o autor as crianças que aprendem a lidar com suas emoções são
capazes de desempenhar melhor os seus papéis na vida e no futuro serão
41
melhores amigos, alunos, filhos e filhas e terão mais probabilidade de serem
melhores maridos e esposas, trabalhadores e chefes, pais e cidadãos.
(...) os programas de alfabetização melhoram as notas de aproveitamento acadêmico das crianças e o desempenho na escola. Isso não é uma constatação isolada; repete-se muitas vezes nesses estudos. Numa época em que um grande número de crianças não é capaz de lidar com suas perturbações, de ouvir ou de se concentrar, frear um impulso, sentir-se responsável por seu trabalho ou se ligar na aprendizagem, qualquer coisa que reforce essas aptidões ajudará na educação delas. Neste sentido, a alfabetização emocional aumenta a aptidão da escola para dar ensinamentos. Mesmo num tempo de retorno ao básico e cortes no orçamento, pode-se argumentar que esses programas ajudam a deter a maré de declínio educacional e dão suporte às escolas no cumprimento de sua missão principal e, portanto, o investimento vale a pena. Além dessas vantagens educacionais, os cursos parecem ajudar as crianças a melhor desempenhar seus papéis na vida, tornando-se melhores amigos, alunos, filhos e filhas – e no futuro têm mais probabilidade de serem melhores maridos e esposas, trabalhadores e chefes, pais e cidadãos. Embora todo garoto ou garota venha adquirir essas aptidões com igual êxito, na medida em que o fizerem estarão melhor por isso. - Uma enchente eleva todos os barcos – como diz Tim Shriver. – Não apenas os garotos com problemas, mas todos os garotos podem lucrar com essas aptidões; são uma vacinação para toda a vida. (Goleman, 2001, p. 299).
Augusto Cury (2003), renomado cientista e psiquiatra, também
evidencia em suas pesquisas, que coração e mente estão entrelaçados, são
indissociáveis, e assegura que, as escolas em todo mundo ensinam os alunos
a dirigir empresas e máquinas, mas não os preparam para serem diretores do
script dos seus pensamentos.
Segundo Cury (2003), o acesso aos computadores é livre. Porém,
para ter acesso à memória humana temos que ultrapassar as barreiras da
emoção. Pois, a memória não está disponível a hora que queremos. E quem
determina a abertura dos arquivos da memória é a energia emocional que
vivemos a cada momento. O autor também esclarece que existem algumas
implicações derivadas da emoção com a abertura da memória:
42
- A tranquilidade abre as janelas da memória e leva as pessoas a serem mais eficientes um concurso ou numa reunião de trabalho. - A ansiedade pode comprometer o desempenho intelectual. Alunos bem preparados podem ir pessimamente numa prova se estiverem nervosos. - Uma pessoa tensa ou ansiosa está apta para reagir instintivamente e não para aprender. - Para ajudar a corrigir uma pessoa tensa, devemos primeiro conquistar sua emoção para depois conquistar sua razão. (Cury, 2003, p. 112,113).
Desse modo, se desejamos que nossas educandos registrem nossos
ensinamentos de forma duradoura, precisamos conquistar suas emoções.
Transformando as experiências da sala de aula em momentos agradáveis, por
meio de uma relação afetuosa entre professor x aluno. Onde o educando sinta
confiança em seu mestre e num clima de amizade, respeito e admiração sinta-
se motivado a aprender. Dessa forma, o professor estará ensinando com
emoção e de forma privilegiada adentrando nos arquivos da memória de seus
educandos.
O autor afirma que, gerenciar pensamentos é a maior descoberta atual
da ciência de todos os tempos e que as escolas e faculdades de pedagogia e
psicologia em todo o mundo estão dormitando nesta área. Uma vez que, é
incontável a quantidade de pessoas que têm sucesso profissional, mas são
escravas de seus pensamentos, pois muitas pessoas possuem uma vida
emocional miserável, sabem enfrentar o mundo, porém, não sabem remover o
entulho de suas mentes e por isso são extremamente infelizes.
De que adianta aprender equacionar problemas de matemática se nossos jovens não aprenderem a resolver os problemas da vida, de que adianta aprender línguas se não souberem falar de si mesmos? Já é tempo de produzirmos autores e não vítimas da própria história. Já é tempo de prevenirmos doenças emocionais entre os jovens, em vez de esperar para tratá-las depois que elas afloram. Os jovens precisam de uma educação surpreendente. (Cury, 2003, p. 149, 150).
43
De acordo com Cury (2003): “Bons professores educam a inteligência
lógica, professores fascinantes educam a emoção”. O autor recomenda que, os
professores fascinantes devem ajudar seus alunos a se libertar do cárcere
intelectual, independente da matéria que ensinam devem separar pelo menos
um dia da semana, para lhes mostrar que eles podem e devem gerenciar seus
pensamentos.
Cury (2003), aconselha que os pais também precisam ensinar suas
crianças e adolescentes a criticar suas ideias negativas, a enfrentar seus
medos, suas mágoas e sua timidez.
Portanto, a escola com toda sua comunidade escolar e,
especialmente, as famílias precisam ser sensibilizadas e despertadas para a
importância de prepararmos nossos filhos emocionalmente, para que os
mesmos possam estar preparados para enfrentar a vida, prevenindo-os das
doenças psíquicas e emocionais, e proporcionando-lhes uma educação
surpreendente como a educação proposta por este renomado cientista e
psiquiatra, Dr. Cury. Enfim, tomamos como lema as palavras de Cury (2003,
p.150), “Já é tempo de produzirmos autores e não vítimas da própria história”.
44
CAPÍTULO IV
O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL FRENTE
ÀS DUAS INSTITUIÇÕES SOCIAIS “ESCOLA E
FAMÍLIA”, DESDE O ACOLHIMENTO, AS
ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS E VOCACIONAIS AO
PLANEJAMENTO.
O orientador educacional é um profissional que tem inúmeras funções
dentro da instituição de ensino. Entretanto, a presença deste profissional nas
escolas públicas nem sempre é encontrada. Sendo que, um dos motivos da
ausência deste profissional se dá devido os administradores das instituições
públicas de ensino não contratarem seus serviços por que querem economizar
recursos financeiros e por outro lado também por ainda não compreenderem os
benefícios que estes profissionais podem trazer para a escola, especialmente,
para o acompanhamento e sucesso escolar de seus alunos.
De acordo com Giacaglia & Penteado (2010) o acompanhamento de
um orientador educacional se faz necessário em todos os níveis de ensino, por
inúmeras questões e desafios que os alunos passam no decorrer de cada série
e que carecem de orientação profissionalizada. A ajuda deste profissional com
seus conhecimentos e utilização de técnicas e métodos pedagógicos e
psicológicos poderá ser de vital importância na prevenção, remediação e
solução de muitos conflitos e dificuldades que surgem no contexto escolar que
fazem parte do rol de responsabilidades que cabem à função do orientador
educacional resolver.
As autoras Giacaglia & Penteado (2010) citam as atribuições do
Orientador Educacional conforme assegurado e definido na Lei nº 5.564, de
21/12/1968, regulamentada pelo Decreto nº 72.846, de 26/9/1973, em âmbito
nacional, em seus artigos 8º e 9º:
45
“Art. 8º são atribuições privativas do Orientador Educacional: a) Planejar e coordenar a implantação e funcionamento do Serviço de Orientação Educacional em nível de: 1- Escola; 2- Comunidade. b) Planejar e coordenar a implantação e funcionamento do Serviço de Orientação Educacional dos órgãos do Serviço Público Federal, Estadual Municipal e Autárquico, das sociedades de Economia Mista, Empresas Estatais, Paraestatais e Privadas. c) Coordenar a orientação vocacional do educando, incorporando-o ao processo educativo global. d) Coordenar o processo de sondagem de interesses, aptidões e habilidades do educando. e) Coordenar o processo de informação educacional e profissional com vistas à orientação educacional e profissional com vistas à orientação vocacional. f) Sistematizar o processo de intercambio das informações necessárias ao conhecimento global do educando. g) Sistematizar o processo de acompanhamento dos alunos, encaminhando-os a outros especialistas aqueles que exigirem assistência especial. h) Coordenar o acompanhamento pós-escolar. i) Ministrar disciplinas de Teoria e Prática da Orientação Educacional, satisfeitas as exigências da legislação específica do ensino. j) Supervisionar estágios na área da Orientação Educacional. k) Emitir pareceres sobre matéria concernente à Orientação Educacional. Art. 9º Compete, ainda, ao Orientador Educacional as seguintes atribuições: a) Participar no processo de identificação das características básicas da comunidade; b) Participar no processo de caracterização da clientela escolar; c) Participar no processo de elaboração do currículo pleno da escola; d) Participar na composição, caracterização e acompanhamento de turmas e grupos; e) Participar do processo de avaliação e recuperação dos alunos; f) Participar no processo de encaminhamento dos alunos estagiários; g) Participar no processo de integração escola-família-comunidade; h) Realizar estudos e pesquisas na área da Orientação Educacional.” (GIACAGLIA & PENTEADO, 2010, p.66,67).
Apesar de, o orientador educacional, ainda ser um profissional pouco
reconhecido por muitos administradores públicos e secretários de educação, a
46
presença e o trabalho dos mesmos são de extrema necessidade nas
instituições escolares, especialmente, nas escolas públicas, onde está
concentrada a grande demanda de alunos oriundos da classe média e baixa
que superlotam as salas de aulas. Alunos estes, que chegam à escola,
carregados de traumas, medos, frustrações, estigmas e uma bagagem cultural
enorme permeada de crença, valores e diferentes culturas. E junto a essa
bagagem, ainda trazem consigo suas preocupações e conflitos, que muitas
vezes tiram o sono de gestores e professores que com a ajuda do Orientador
educacional poderão dividir essa carga para que se torne mais leve e menos
enfadonha.
Entretanto, Giacaglia & Penteado (2010), afirmam que a atuação do
orientador educacional deve ser muito bem planejada, através de um plano de
ação anual que sirva de instrumento norteador, com o intuito de evitar que o
trabalho de orientação se torne desordenado ou ditado pelas situações
emergenciais que costumam ocorrer com frequência nas escolas. E assim de
alguma forma essas emergências não venham prejudicar as ações prioritárias
e até preventivas essenciais para o bom desenvolvimento e desempenho do
trabalho do orientador educacional.
Conforme as autoras, o trabalho do orientador educacional deve se dar
em cooperação com os professores para o melhor rendimento dos alunos. E
quanto ao planejamento de ensino, mesmo não sendo tarefa do orientador
educacional, o mesmo deve participar contribuindo com orientações
educacionais de forma preventiva, como também na elaboração da proposta
curricular e do projeto político da escola através de sua participação conjunta e
na elaboração de estratégias e planos de ação que visem melhorar o
comportamento e rendimento dos alunos. Procurando sempre orientar e apoiar
sem nunca interferir indevidamente no trabalho dos professores e demais
membros da equipe pedagógica.
Conforme a legislação vigente, também é tarefa do Orientador
Educacional participar do processo de integração da escola x família x
comunidade, o mesmo deve manter um bom relacionamento com as famílias,
47
respeitando seus valores e conquistando sua colaboração e parceria,
objetivando sempre o bem estar e desenvolvimento integral do educando.
Quanto à importância deste acompanhamento familiar Giacaglia & Penteado
(2010), afirmam que,
Ao planejar o trabalho na Área de Orientação Familiar é necessário levantar um conjunto amplo de informações para caracterizar as famílias, seus valores e suas expectativas. Conhecidos os dados básicos, ter-se-á maior facilidade para manter um canal e um fluxo permanente de comunicação entre SOE e a família, e vice-versa, além de ter elementos para melhor compreender o comportamento do aluno. O conhecimento da família e uma comunicação efetiva entre ela e a escola, além de condições básicas para realização de uma Orientação Familiar eficiente, são essenciais para a busca de uma unidade de princípios e de atuação entre ambas as instituições. (GIACAGLIA & PENTEADO, 2010, p.150, 151).
Logo, o orientador educacional precisa estar muito bem preparado e
capacitado para receber as famílias e seus filhos na escola. Sabendo acolhê-
los com um caloroso bem-vindo, levando-os a sentirem-se desejados e
valorizados pela escola. Contudo, para o orientador obter êxito no acolhimento
e posteriormente no relacionamento com as famílias o mesmo precisa assumir
uma postura ética e democrática, conhecendo e respeitando sua diversidade
social, cultural e religiosa, compreendendo-as em sua complexidade e
heterogeneidade.
Atualmente, uma das dificuldades de muitos educadores é ter de lidar
com alunos filhos de pais separados, filhos de mães solteiras, filhos de casais
gays, entre outros tipos de formação familiar. Essas são realidades em que o
orientador se depara neste século e precisa aprender a lidar com cada família,
adequando suas orientações às necessidades educacionais de cada aluno sem
nunca ferir seus valores e sua cultura, para não cometer o crime de excluí-los
da escola, como também o cuidado com as famílias tradicionais para evitar
conflitos, visto que, algumas não aceitam que seus filhos estudem na mesma
escola que outras crianças com outro tipo de orientação sexual, valores e
regras diferentes das suas.
48
De acordo com BATTAGLIA (2002, p, 7) apud Reis (2010, p. 17), a
diversidade na estrutura familiar surge das adequações feitas por seus
membros com o intuito se suprir suas necessidades, neste sentido a autora
afirma:
Como construções sociais relativamente recentes, estas complexas reformulações familiares encontram-se sem modelo preestabelecido. Sendo assim, cada família necessita lidar com seus padrões e conceitos preestabelecidos para deles fazer emergir uma maneira original de constituir um grupo familiar com funções, direitos e deveres que atendam aos que dele participam. Nesta reformulação, as questões de gênero são inevitavelmente questionadas e pressionadas a transformarem-se. (BATTAGLIA, 2002, p. 7 apud REIS, 2010, p. 17).
De acordo Isabel Parolin (2005, p.37) apud Rossetto, Banas & Luccas
(2006, p. 35), cada família tem sua própria cultura, leis, regras, mitos, crenças
peculiares, ideais e comportamentos que influenciam na formação da
personalidade de cada membro daquele núcleo.
Entende-se família como um núcleo ímpar, criador de uma cultura própria e com leis, regras, mitos e crenças peculiares. Cada pessoa que compõe uma família, além de compartilhar desses mesmos ideais e comportamentos, tem suas próprias emoções e suas diferentes significações do cotidiano doméstico. Esses diferentes universos se entrelaçam e vão formando um jeito de viver e conviver que, ao mesmo tempo em que conta, omite seus dramas, suas dores e seus sabores. (PAROLIN, 2005, p.37).
Em virtude da heterogeneidade familiar torna-se indispensável que o
orientador educacional conheça bem as teorias de ensino nos campos da
pedagogia, sociologia e da psicologia educacional para saber lidar melhor com
todos os tipos de família sem agredir, discriminar ou excluir algumas crianças
pelo fato delas carregarem consigo todas essas diferenças.
Conforme explica Giacaglia & Penteado (2010), compreendendo que a
atuação da orientação educacional vai muito além dos aspectos de
aprendizagem e dos conteúdos escolares torna-se de extrema necessidade
49
que haja uma concordância de princípios e atuação entre a família e a escola,
para que não haja conflitos entre estas duas instituições. Pelo contrário, os pais
devem ser conscientizados quanto à importância de estar sempre em contato
com o Serviço de Orientação Educacional (SOE), comunicando o mesmo sobre
os eventos ocorridos na vida do aluno que podem acarretar danos prejudiciais
ao seu desenvolvimento escolar. Enfatizando este aspecto as autoras afirmam
que,
Desde o primeiro contato, os pais devem ser alertados sobre a importância de comunicarem ao SOE novos eventos na família que possam interferir o aproveitamento escolar e comportamento geral do aluno como: nascimento de irmão; ciúmes; brigas no lar; alcoolismo; separação ou divórcio dos pais; abandono do lar; mudanças; agressões às crianças; morte; assaltos; acidentes; doença prolongada ou grave; desemprego; despejos etc. Tais informações serão tratadas com a máxima discrição e sigilo. (GIACAGLIA & PENTEADO, 2010, p. 154, 155).
Por conseguinte, o intercâmbio entre a família e o orientador
educacional deve se dar de forma harmoniosa e ambos devem compreender a
importância da função e atuação de cada um no exercício de seus direitos e no
cumprimento de seus deveres. Lembrando sempre que, seja qual for à
circunstância, situação ou problema enfrentado deverá existir sempre, uma
cumplicidade entre ambos, uma cumplicidade permeada pela ética,
solidariedade e respeito mútuo.
Quanto à importância do compromisso ético do Orientador educacional,
citamos aqui a concepção de Isabel Solé (2001) onde a autora apresenta a
orientação e intervenção educacional vinculada à orientação e intervenção
psicopedagógica como recurso especializado a serviço das instituições
escolares. Conforme a autora, o psicopedagogo deve exercer sua conduta
baseado no código ético tendo suas raízes na Declaração Universal dos
Direitos Humanos, pautado nos princípios de respeito e tolerância pelo fato
deste profissional estar lidando com a dignidade humana das pessoas de um
50
determinado grupo que num momento de crise e fragilidade estão precisando
de uma orientação ou intervenção psicopedagógica.
A delicadeza, o cuidado e a prudência nunca são excessivos quando se referem à intervenção. E ater-se à ética exige não somente o respeito à situação do outro, à confidencialidade e à discrição; exige também a análise constante do psicopedagogo sobre suas possibilidades de intervir com razoáveis expectativas de êxito – ou seja, de otimizar pelo menos um pouco ou muito a situação; de não correr o risco de perturbá-la ainda mais. Exige ainda a avaliação contínua da própria atuação, que significa não só ser responsável pelos eventuais sucessos ou fracassos alcançados mas, também, assumir as responsabilidades que lhe caibam”. (Solé, 2001, p.30).
Para Giacaglia & Penteado (2010, p. 77), o compromisso ético do
orientador educacional é de extrema relevância porque é uma condição básica
para o estabelecimento de ajuda eficiente baseada na confiança, visto que, os
alunos e suas famílias poderão confidenciar a este profissional dados de
caráter confidencial e sigiloso de cunho pessoal e familiar. As autoras
aconselham que o orientador educacional realize suas tarefas baseados no
“Código de ética dos Orientadores Educacionais” redigido pela “Fenoe” e
publicado no diário oficial de 5/3/1979.
Conforme as autoras existem alguns tópicos que são tratados
rotineiramente pelo orientador educacional com as famílias, entre tantos os
mais comuns são: aproveitamento escolar, integração do aluno à escola,
desenvolvimento físico e emocional, educação religiosa, moral e cívica,
educação sexual e afetiva, e orientação vocacional. Todavia, são muitos
assuntos que poderão surgir no decorrer do ano letivo que poderão tornar-se
assuntos de maior relevância que poderão mudar o foco da atuação do
orientador educacional e precisará de mais estudos e competência profissional
para auxiliar as famílias na resolução dos problemas para a garantia do
aprendizado de seus educandos.
51
Entretanto, o mais importante é que este profissional compreenda que
sua orientação deve ser fundamentada numa concepção democrática e
participativa, onde os relacionamentos possam fluir num clima de cooperação e
corresponsabilização. E que cada integrante da equipe escolar entenda que
ninguém consegue superar os conflitos e problemas educativos de uma
instituição escolar sem a força da cooperação e muito menos sem a força da
parceria e do compromisso de todos.
Segundo Basseadas, et. al., 1996, escola e família são dois sistemas,
que ultimamente têm estado bastante afastados, apesar das atividades
escolares exigirem a frequente relação e interação de ambas as partes, como
nas reuniões da associação de pais, dos conselhos escolares e em níveis
individuais como na relação professor x família. Contudo, algumas vezes
nessas interações se estabelece um sentimento de resistências e rivalidades,
onde uns culpam os outros pelas dificuldades e fracassos de seus educandos,
comportamento esse que só dificulta esse relacionamento.
Os autores, também afirmam que a escola tem tomado para si, de
forma exagerada, o papel de educadora, sem considerar a função educativa da
família e a importância de sua colaboração para o alcance das melhorias e
superação das dificuldades do educando. Os autores também asseguram:
Para que a criança tenha uma boa adaptação na escola, sentindo-se cada vez mais segura e dando um sentido às atividades que realiza, é importante que a família tenha e mostre uma certa confiança na escola, sinta tranquilidade quando deixa o seu filho, demonstre interesse e curiosidade e valorize as suas aquisições e avanços. (Basseadas, et. al., 1996, p. 35).
Todavia, uma das realidades educacionais enfrentada pela grande
maioria das instituições escolares é a ausência dos pais na escola e
desinteresse pelo desenvolvimento escolar de seus filhos, é um fator que
dificulta o trabalho do orientador educacional e de toda equipe pedagógica. É
comum nas reuniões e encontro pedagógico o relato de professores que se
manifestam frustrados por não terem êxito com seus alunos por causa do
52
descaso de muitos pais que não assumem suas responsabilidades diante da
necessidade e dificuldades educacionais de seus filhos.
Quanto à importância da integração da família na escola e da
relevância desse acompanhamento para o sucesso educacional dos discentes
Giacaglia & Penteado (2010), recomendam ao orientador educacional que
levante uma pesquisa para detectar quais os fatores que impedem que os pais
estejam presentes nas reuniões quando convidados ou convocados. Como
também os fatores que estejam afastando os pais da escola como, por
exemplo, reuniões que não dizem respeito à vida escolar de seus filhos. Para
em seguida, o orientador educacional criar estratégias com o intuito de atrair a
presença dos pais na escola. As autoras ainda aconselham:
Além dos fatos relativos à vida escolar do aluno, outra maneira de atrair os responsáveis por ele à escola é a realização de eventos abertos ao público. Inserida na comunidade, a escola pode vir a ser um núcleo de irradiação socioeconômica e cultural. Por esse motivo, nela poderão se organizados cursos de pequena duração sobre diferentes temas. Há, nas comunidades, entidades que são voltadas para o atendimento de adultos e/ou para realização de cursos e com as quais o SOE poderia entrar em contato para oferecê-los na escola. Havendo condições, é possível, ainda, recorrer a festas, como as juninas, de primavera, de aniversário da escola ou outras de âmbito mais amplo, desde que não entrem em conflito com as comemorações já existentes e bem organizadas em outros locais da comunidade, caso em que a escola poderá, se conveniente, estudar sua participação nessas comemorações, para atrair a comunidade. (GIACAGLIA & PENTEADO, 2010, p. 161).
Entretanto, as autoras previnem que o orientador educacional deve ser
cauteloso, para não cair no erro de promover festas extras que não condizem
com sua função e atribuições educacionais do cargo que ocupa na escola. E
que embora as comemorações escolares e atividades extraclasses não sejam
uma responsabilidade sua, essas comemorações são excelentes
oportunidades para manter contato com os pais e a comunidade.
53
Portanto, para orientadores educacionais que desejam exercer sua
prática com qualidade e eficácia precisam concretizar a integração da escola e
família e estabelecer uma relação de parceria e cumplicidade. Uma relação
baseada nos princípios da ética e dos valores humanos e numa concepção
democrática e dialógica, onde cada uma assuma suas responsabilidades e
com seriedade, respeito e compromisso juntos possam contribuir de forma
ativa na solução dos conflitos e na superação dos desafios que surgem nos
contexto educativo de seus educandos.
Enfim, escola e família precisam se unir, e num clima de respeito e
confiança possam dialogar, planejar, tomar decisões e intervir com ações,
estratégias e projetos educativos para superação das dificuldades de
aprendizagem e promoção de um ensino eficaz capaz de formar educandos
críticos, dialógicos, competentes e capazes de transpor as barreiras e entraves
educacionais, e assim, alcançarem os benefícios da educação, como a tão
sonhada emancipação social com realização pessoal e profissional.
54
CONCLUSÃO
A elaboração deste trabalho monográfico nos permitiu comprovar a
relevância da participação e acompanhamento da família no processo
educacional de seus filhos como um requisito essencial para o sucesso do
processo educativo dos mesmos. Através das pesquisas e análise dos estudos
de especialistas da educação compreendemos que o apoio, motivação e o zelo
familiar são estímulos capazes de promover a superação dos desafios que os
educandos enfrentam no cotidiano escolar. Também evidenciamos que sem a
parceria da escola com as famílias estes educandos encontram-se em
desvantagem e fadados ao fracasso escolar.
Ao ponderarmos essa relação família x escola, apreendemos a
importância do orientador educacional e toda equipe pedagógica conhecer a
família de seus alunos, sua história, seus costumes, crenças, valores culturais
e religiosos, condições socioeconômicas e sua influência na vida escolar de
seus filhos. Visto que, para escola compreender seus educandos precisa
conhecer suas famílias em suas particularidades e especificidades. Analisando
suas condições sociais e investindo tempo neste relacionamento, com o intuito
de conquistar a confiança dos pais e paulatinamente trabalhar na
conscientização dos mesmos quanto à importância de assumirem suas reais
responsabilidades e ajudar seus filhos na realização de suas tarefas e na
superação de suas dificuldades.
Enfim, esta pesquisa apresenta estudos e pesquisas de psicólogos,
psiquiatras, pedagogos, psicopedagogos e mestres em educação que indicam
caminhos para superar os conflitos que surgem na prática educativa, como a
ausência da família e suas implicações, revelam estratégias que podem ser
utilizadas pelos orientadores educacionais e equipe pedagógica da escola na
busca da integração da parceria entre família x escola. E incitam a prática do
trabalho cooperativo e coletivo na comunidade escolar através de projetos
educacionais que efetivem a superação dos entraves educacionais, o alcance
das metas educacionais e a oferta de uma educação de qualidade.
55
BIBLIOGRAFIA E WEBGRAFIA
ALMEIDA, Mariângela Aparecida. SCARSO, Sheila. A importância da Família
na Aprendizagem da Criança. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao Curso de Pedagogia da FACECAP/CNEC Capivari, para Obtenção do título
de Pedagogo, sob a Orientação da Professora Ms. Andréa Baggio Amaral.
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