A Relevância Do Cinema Latino Americano
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A relevância do Cinema Latino Americano
Utilizamos a arte como um dos meios de caracterização e marca de tempo e história.
Desconsiderar os traços contidos em cada um delas é o maior erro que pode ser cometido contra
a expressão humana de vida e sentimento. O Cinema, como 7ª arte, engloba todas as outras,
fazendo com que seja um dos melhores meios de exposição de ideias. Em uma cena podemos
identificar a exposição de um artista plástico, um clássico musical, técnicas de fotografia,
citações de literatura, coreografias, releitura de peças teatrais e exposições arquitetônicas ou de
esculturas.
Levando-se em conta tudo isto, podemos começar a entender a importância do cinema
latino americano no desenvolvimento da arte em si. Isto porque ele tem como uma de suas
importantes características a grande semelhança entre a ficção e o real, costuma retratar com
grande proximidade a vida comum. O diretor boliviano, Jorge Sanjinés, em seu livro Teoría y
práctica de un cine junto al pueblo (1980), chega a definir o novo cinema latino americano como
“ao serviço dos interesses do povo, que se constitue em instrumento de denúncia e
esclarecimento, que evolui integrando a participação do povo e que se propõe a chegar a ele.”
Temos então uma ferramenta a ser usada, e é, para retratar.
O filme Machuca tem em sua composição elementos dignos de nota partindo do ponto
aqui estabelecido, o de retratação do real, como característica comum do cinema, mas em
especial o latino americano. Estreado em 2004 e dirigido por Andrés Wood, o longa-metragem
trata da história de dois garotos de classes sociais distintas e que, por causa de sua amizade,
passam a conhecer as realidades um do outro. Partindo da violenta e triste vida daqueles que são
oprimidos pelo governo militar da época no Chile, passando pela sensível demonstração da
vivência de adolescentes que se divertem à par do mundo e chegando à convictamente mais fácil
vida, mas não sem potenciais problemas, de famílias mais favorecidas por suas posições sociais,
Machuca consegue nos tocar de diversas maneiras, nos fazendo refletir logo após sua última
cena.
Sua história se passa numa época onde haviam constantes conflitos e manifestações da
parte de grupos socialistas e direito nacionalistas. De 1970 a 1973, Salvador Allende, político
marxista e socialista, governou o Chile, sendo deposto por um golpe de estado e o filme se passa
exatamente durante esse processo de mudança entre governos, conseguindo passar um pouco dos
dois lados da moeda de uma maneira ímpar. Traz um pouco do que cada um sofre enquanto tudo
acontece, o quanto são atingidos e como são favorecidos. É em um colégio chamado Saint
Patrick, o mais conceituado da cidade de Santiago, que o Padre McEnroe passa a receber alunos
de classe baixa. A partir dai temos reações que refletem a realidade do país naquele momento. Ao
fazer isto, Andrés nos leva a um Chile que tem uma separação clara entre classes e ideologias.
Retrata um tempo, um governo, um povo. Não é apenas a história de duas crianças de famílias
com condições financeiras diferentes, e é este o ponto em que quero chegar neste momento: o
que alguns filmes querem passar nunca são uma simples história. Jean-Luc Godard, embora
francês, merece ser citado como alguém que não fazia apenas filmes com histórias, mas obras de
arte tão completas em sua plenitude que em anos de estudo e análise ainda se encontram traços
inéditos em suas criações cinematográficas. São ideias expressas com objetivos, e isso não deve
ser deixado de lado.
O cinema na america latina nunca foi um forte mercado e por isso sempre foi mais
voltado ao próprio país, às vezes sendo exibido apenas em suas próprias regiões. Assim, os temas
sempre parecem muito cotidianos, como é o exemplo de La Nana, de 2009, que conta a história
de uma mulher que trabalha na casa de uma família há 23 anos e como é essa relação. Sebastián
Silva que é o diretor e escritor desse maravilhoso filme nos proporciona um drama bem contado
com uma comédia tão sutil que espanta ter-nos satisfeito tanto ao seu final. É bem trabalhado em
seu tempo e bem linear, mostrando passo a passo todo o desenrolar da história. É interessante
que mesmo ele tendo algumas repetições de ações, dando a ideia de cotidiano, ele consegue aos
poucos mostrar que aquela personagem merece a nossa atenção. É fácil nos identificarmos com a
ideia em geral da história, por que foi muito comum há poucos anos atrás, e talvez ainda hoje,
existir uma empregada doméstica em casas de famílias comuns. Mas Sebantián parece ter um
objetivo em especial ao produzir este filme com tal delicadeza. Seus tons pastéis no cenário em
quase 100% do tempo não nos chamam atenção quando precisamos depositá-la nas expressões
de Raquel, a empregada que depois de tanto se dedicar à família para a qual trabalha, começa a
precisar de ajuda, segundo seus patrões, para cuidar da casa. Isso não é aceito de bom grado pela
mesma, que provoca, maltrata e age de má fé com todas as candidatas que passam pela casa,
fazendo com que não consigam permanecer por muito tempo. Até a chegada de Lucy, uma
mulher que aparentemente não se abala com as provocações de Raquel, sempre respondendo de
forma educada e gentil. Essa relação nos faz enxergar melhor os motivos de tais comportamentos
ariscos da parte de Raquel e porque isto acaba sendo aceito por seus patrões. Sutilmente, o filme
nos traz, não como temática central, as diferenças entre classes sociais, que também é algo a se
considerar e refletir durante e após assisti-lo. Uma proposta tão simples e aparentemente “sem
graça” que nos surpreende a cada momento com seu silêncio que tanto nos diz. É um filme linear
em tempo e ritmo, o que para muitos pode se tornar entediante, mas Sebastián Silva trabalha em
sua direção com um tato que combinou perfeitamente com a linda atuação de Catalina Saadreva,
que dá vida à personagem Raquel, onde é baseado todo o foco da trama.
Assim disse Costa (1997) “el cine es lo que en una sociedad, en un determinado período
histórico, enuna determinada coyuntura políticocultural o en un cierto grupo social, se decide que
sea”. Em acordo com a ideia trazida durante o decorrer deste parecer, o cinema, tem imensa
importância enquanto construção e preservação do tempo. Não podemos discordar da merecida
posição de 7ª arte.
Bibliografia:
- Costa, A. Saber ver el cine. Barcelona: Paidós.(1997).
- Flores, S. Divergencias y convergencias teóricas del Nuevo Cine Latinoamericano.
<http://www.asaeca.org/aactas/flores_silvana.pdf>.
- Ovando, F.V. Ensayo Número 2 Cine Latinoamericano contemporáneo.
<http://pt.scribd.com/doc/98769641/Ensayo-cine-nuevo-cine-latinoamericano>.