A Relevância Dos Credos e Confissões

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A Relevância dos Credos e Confissões (*) por Heber Carlos de Campos Por que um artigo dessa natureza? Se o leitor for a uma livraria procurar algo a respeito do assunto em nossa língua, provavelmente não irá encontrar muita coisa. É incomum achar essa matéria na literatura evangélica, mesmo em inglês. Essa é, em parte, a razão deste artigo. Contudo, não é a única, como se poderá observar no decorrer destas notas. Em tempos de tanta confusão teológica por que passa a igreja cristã neste final do século XX, não é aconselhável professar o cristianismo sem afirmar com clareza aquilo em que se crê. A igreja de Cristo sempre foi uma igreja confessante, porque a genuinidade da nossa fé tem que ser evidenciada naquilo em que cremos e confessamos. Temos que ter a ousadia de afirmar clara e abertamente e, de preferência, de forma escrita, as coisas em que cremos. Reconheço que vivemos numa era que rejeita a noção credal ou confessional, mas esta posição tem que ser repensada. Tantas são as heresias e as tentativas de assalto à fé genuína que tornam-se necessárias a formulação e a confissão daquilo em que cremos, para que a igreja, na sua inteireza, não venha a ficar perdida, lançada de um lado para outro por quaisquer ventos de doutrina. Em todas as épocas os crentes foram chamados a expressar a sua fé de uma forma confessional. É importante nos lembrarmos de que não é necessária a adesão a um credo para que uma pessoa se torne cristã, mas, uma vez cristã, a pessoa tem que confessar a sua fé. Essa confissão é, em algum grau, um credo. I. A Definição de Credo e Confissão Philip Schaff diz que "um credo, regra de fé ou símbolo é uma confissão de fé para uso público, ou uma forma de palavras colocadas com autoridade... que são consideradas como necessárias para a salvação, ou, ao

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A Relevncia dos Credos e Confisses

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A Relevncia dos Credos e Confisses (*)por Heber Carlos de CamposPor que um artigo dessa natureza? Se o leitor for a uma livraria procurar algo a respeito do assunto em nossa lngua, provavelmente no ir encontrar muita coisa. incomum achar essa matria na literatura evanglica, mesmo em ingls. Essa , em parte, a razo deste artigo. Contudo, no a nica, como se poder observar no decorrer destas notas.Em tempos de tanta confuso teolgica por que passa a igreja crist neste final do sculo XX, no aconselhvel professar o cristianismo sem afirmar com clareza aquilo em que se cr. A igreja de Cristo sempre foi uma igreja confessante, porque a genuinidade da nossa f tem que ser evidenciada naquilo em que cremos e confessamos. Temos que ter a ousadia de afirmar clara e abertamente e, de preferncia, de forma escrita, as coisas em que cremos. Reconheo que vivemos numa era que rejeita a noo credal ou confessional, mas esta posio tem que ser repensada. Tantas so as heresias e as tentativas de assalto f genuna que tornam-se necessrias a formulao e a confisso daquilo em que cremos, para que a igreja, na sua inteireza, no venha a ficar perdida, lanada de um lado para outro por quaisquer ventos de doutrina. Em todas as pocas os crentes foram chamados a expressar a sua f de uma forma confessional. importante nos lembrarmos de que no necessria a adeso a um credo para que uma pessoa se torne crist, mas, uma vez crist, a pessoa tem que confessar a sua f. Essa confisso , em algum grau, um credo.I. A Definio de Credo e ConfissoPhilip Schaff diz que "um credo, regra de f ou smbolo uma confisso de f para uso pblico, ou uma forma de palavras colocadas com autoridade... que so consideradas como necessrias para a salvao, ou, ao menos, para o bem-estar da igreja crist. Esta definio parece contradizer a sentena do pargrafo anterior, mas obviamente devemos entender que Schaff est falando da necessidade de confisso antes que da necessidade da elaborao escrita de um credo. Um credo uma elaborao cientfica daquilo que cremos com base na Escritura Sagrada. "Um credo ou regra de f uma afirmao concisa daquilo que algum deve crer a fim de ser um cristo." Se algum se confessa cristo, tem que possuir um conjunto de verdades devidamente elaboradas em que professa crer. necessrio que o cristo confesse a sua f de forma que outros venham a saber em que ele cr. uma insensatez professar f em Cristo sem saber o contedo do que se confessa. Paul Wooley definiu credo como "uma srie de afirmaes conectadas que so cridas como verdadeiras e que so derivadas de fontes de informao tais como os registros dos acontecimentos na histria." A definio de uma confisso no difere basicamente da de um credo, seno na forma. Uma confisso contm mais ou menos os mesmos elementos de um credo, mas de forma bem mais elaborada, com detalhes que um credo no possui, por ser mais conciso. Uma confisso aborda mais assuntos do que um credo, e os apresenta de forma mais sistemtica. Um credo sempre comea como credo ou credemus ("eu creio" ou "ns cremos"), enquanto que as confisses geralmente no possuem essa caracterstica.

II. A Importncia da Historicidade da FOs credos so extremamente importantes para os cristos que vivem no limiar do terceiro milnio, porque estes no so essencialmente diferentes dos crentes que viveram nos primeiros sculos da era crist. Para os cristos da era patrstica, os credos foram absolutamente necessrios para a definio teolgica e para a vida crist prtica. A nossa f tem que possuir razes histricas, e os credos nos ajudam a entend-las. Por exemplo, o Credo Apostlico d-nos informaes sobre quem foi Jesus Cristo. Ali se diz que ele nasceu da virgem Maria, padeceu sob o poder de Pncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, ressurgindo dos mortos ao terceiro dia. Esses todos so dados histricos. Eles so uma afirmao de nossa f histrica. Se a redeno trazida por Cristo no um fato histrico, como alguns telogos contemporneos chegaram a afirmar, ento ns no somos realmente redimidos.Se a queda no den no foi um fato histrico, ento no existe corrupo nem culpa. Se negamos a historicidade do den haveremos de negar a historicidade da redeno em Cristo e a autoridade do prprio Cristo, que creu nas afirmaes do Gnesis. absolutamente essencial que levemos em conta as razes histricas de nossa f.Na mente de uma poro de telogos e de cristos individuais, as coisas mencionadas acima so meras idias, no fatos. Se o pecado humano uma mera idia, e no um fato, a salvao que se diz ter sido trazida por Cristo tambm o . Mas a escravido ao pecado algo to real que ningum pode negar, nem mesmo os homens mais mpios, e a redeno trazida por Cristo uma realidade histrica em nossa vida pessoal, e absolutamente inegvel. Que o digam os que foram alcanados por ela! Por essa razo, precisamos confess-la.Se a nossa f no tem razes histricas, ela perde o seu fundamento. Uma f sem essas razes doctica, isto , solta no espao, sem qualquer ligao com o real, e nada tem a ver conosco. Os credos e as confisses sempre nos situaram historicamente com respeito a pessoas e eventos, especialmente os relacionados com Jesus Cristo, o Senhor e Redentor. Deus, que eterno e a-histrico, fez com que seu Filho se tornasse um personagem da histria para poder ser um de ns, um membro de nossa raa, a fim de que pudesse realizar a obra da redeno em nosso favor. Por essa razo, a Escritura sempre nos situa no tempo e na histria (falando, por exemplo, de Belm no tempo de Herodes), e os credos fazem exatamente o mesmo.Portanto, os credos e confisses da igreja crist sempre nos reportam s origens e ao desenvolvimento histrico de nossa f. Como j vimos anteriormente, primeiro vieram os credos, expresses resumidas da f crist. Posteriormente, vieram as confisses, que foram expresses mais elaboradas, sendo ambos, credos e confisses, resultado direto das controvrsias vigentes na poca em que foram preparados. Nenhum de ns pode dizer, em s conscincia, da falta de importncia dos credos e confisses nos tempos modernos, embora o tempo presente nos convide a isso. um tempo de anti-dogmatismo e de averso a afirmaes confessionais. No entanto, os genunos cristos sempre se importaram com a historicidade da sua f. Nisso tambm no sejamos diferentes daqueles com quem queremos ser parecidos!III. A Origem Eclesistica dos Credos e ConfissesOs credos tiveram a sua origem nos primeiros sculos da igreja crist, especialmente quando das controvrsias dos sculos IV e V. O primeiro credo conhecido historicamente foi o chamado Credo Apostlico, que provavelmente tenha sido formulado no segundo sculo, mas sofreu algumas alteraes at o sculo VI, quando algumas coisas lhe foram acrescentadas. No conhecemos a sua verdadeira origem, nem quem foram os seus autores.H outros credos na histria da igreja dos quais sabemos bastante, embora o espao aqui no nos permita dizer muito sobre eles. No ano 325, cerca de 300 bispos formularam um credo no Conclio de Nicia, na sia Menor, que tratou das controvrsias cristolgicas relacionadas trindade e condenou as heresias de rio. Depois houve o Credo de Constantinopla (381), elaborado por 150 bispos, que popularmente conhecido como o "Credo Niceno" simplesmente por refletir o ensino de Nicia. Todavia, ele vai alm dos ensinos de Nicia, pois afirma a plena divindade do Esprito Santo. O Credo de Calcednia (451) trata especificamente das duas naturezas de Jesus Cristo, sobre as quais a igreja pouco acrescentou posteriormente, em virtude da preciso das suas idias. Alm desses primeiros credos, vrios outros apareceram posteriormente, expressando a f da igreja e dando-lhe um norte teolgico para fazer face s heresias.Somente bem mais tarde, na poca da Reforma, que apareceram as confisses de f, que trataram da doutrina crist de um modo bem mais elaborado que os credos. Inicialmente surgiu a Confisso de Augsburgo (1530), de tradio luterana. Depois vieram as de cunho calvinista: a Segunda Confisso Helvtica (1566), a Confisso Escocesa (1560) e a Confisso de F de Westminster (1646), que foi a ltima das grandes confisses e certamente a que veio a apresentar as definies mais precisas da doutrina reformada. Houve outras confisses de menor importncia histrica, alm dos catecismos que formaram a base doutrinria das igrejas, especialmente as de cunho luterano e calvinista.IV. A origem escriturstica dos Credos O cristianismo a nica grande religio do mundo que tem esboado o contedo de sua f na forma de credos. Um credo no a Palavra de Deus aos homens, mas composto de palavras de homens a respeito de Deus, uma resposta humana revelao divina. Uma afirmao credal a primeira elaborao de teologia feita pelos cristos. Todavia, os credos no precisam ser necessariamente escritos, pois nos comeos do cristianismo a f era expressa oralmente aos catecmenos ou professada por eles no batismo, muito antes de eles serem colocados em forma escrita.O comeo das formulaes confessionais est evidenciado nas afirmaes proto-credais das pginas do Novo Testamento. O eminente historiador Schaff disse que "os credos nunca precedem a f, mas a pressupem." A f elaborada pela igreja apenas uma exteriorizao daquilo que os cristos crem no corao. Se crem com o corao, disse Paulo, eles tm que confessar com a boca (Rm 10.9-10). Schaff diz ainda que os credos "emanam da vida interior da igreja, independentemente da ocasio externa... Em um certo sentido pode se dizer que a igreja crist nunca ficou sem um credo." Parece que as formulaes doutrinrias j eram comuns no tempo dos apstolos. O grmen dos credos est afirmado nos escritos apostlicos. Judas, por exemplo, faz referncia direta a algum tipo de formulao existente no seu tempo. Ele fala da "f que uma vez por todas foi entregue aos santos" (v. 3). Essa f o conjunto de verdades reveladas que estavam de alguma forma sistematizadas e eram aceitas pelos crentes de ento. No v. 20 Judas fala da edificao dos crentes na f santssima, o que pressupe a existncia de uma formulao pr-credal. Em contraste com as doutrinas errneas ensinadas no seu tempo (1 Tm 1.3; 6.3), Paulo fala a Timteo (e a Tito) a respeito da "s doutrina" (1 Tm 1.10; 4.6; 2 Tm 4.3; Tt 2.1), que ele devia ensinar (2 Tm 4.2-3) e pela qual deveria zelar (1 Tm 4.16; 6.1). A pregao da "palavra fiel" deve ser "segundo a doutrina" (Tt 1.9), e a doutrina deve ser "ornada" pelo proceder dos crentes (Tt 2.10). No perodo apostlico j havia algumas doutrinas elaboradas que o escritor aos Hebreus chama de "princpios elementares da doutrina de Cristo" (ver Hb 6.1-3). Ele tambm expressa a sua preocupao com a entrada de "doutrinas vrias e estranhas" no seio das igrejas (Hb 13.9), que exigiam a definio da verdadeira doutrina. Portanto, nos tempos do Novo Testamento j se via a grande importncia de se crer corretamente, isto , a importncia de permanecer na doutrina ensinada por Cristo (ver 2 Jo 8-11).Os escritores bblicos usam outros sinnimos para doutrina nos seus escritos: f (Gl 1.23; Fp 1.27; Cl 2.7; 1 Tm 1.19-20; Tt 1.13; Judas 3); tradio, significando a verdade passada adiante (1 Co 11.2,23; 15.3; 2 Ts 2.15); padro das ss palavras (2 Tm 1.13); bom depsito (1 Tm 6.20; 2 Tm 1.14); a palavra que vos foi evangelizada (1 Pe 1.25). Essas doutrinas j eram elaboradas, embora no exaustivamente e, de alguma forma, confessadas publicamente pelos crentes do Novo Testamento.Contudo, a essa altura, no se pode falar que havia credos formalmente elaborados na igreja do Novo Testamento, mas a idia de um credo j estava perfeitamente a caminho. Segundo Bruce Demarest, "Paulo em Rm 10.9-10 esboa trs elementos essenciais de uma confisso que salva: crena na divindade de Cristo, sua morte expiatria, e sua ressurreio." Mesmo no havendo uma elaborao propositada, podemos perceber os fragmentos de um credo em alguns escritos do Novo Testamento, especialmente os elementos relacionados com a obra redentora de Jesus Cristo:Antes de tudo vos entreguei o que tambm recebi:Que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras,Que foi sepultado,Que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras.E apareceu a Cefas,E, depois, aos doze. Depois foi visto por mais de quinhentos irmos de uma s vez....Depois foi visto por Tiago,E, ento, por todos os apstolos,E, finalmente, por mim... (1 Co 15.3-8)Parece-nos que este texto revela algum propsito de catequese ou pregao. Kelly justifica tal possibilidade dizendo que este sumrio "d a essncia da mensagem crist numa forma concentrada." (Ver outros exemplos similares em Rm 1.3-5; 8.34; 1 Co 8.6; 1 Tm 3.16; 1 Pe 3.18-22.)Um texto que fala de uma espcie de credo-confisso est patente em 1 Tm 6.13-14. Provavelmente essa confisso preparava as pessoas para o batismo. Um texto semelhante 2 Tm 4.1 (ver tambm Rm 4.24).Esses exemplos no devem ser considerados credos no sentido usual do termo, mas parecem indicar a presena dos elementos de um credo. Philip Schaff estava absolutamente certo quando afirmou que "num certo sentido, a Igreja Crist nunca existiu sem um credo." V. A Necessidade dos Credos e ConfissesAs Igrejas Reformadas sempre primaram pela elaborao de credos e confisses. caracterstica das mesmas serem confessionais. Com base nas afirmaes confessionais da Escritura, as Igrejas Reformadas viram a necessidade de possurem uma identidade teolgica. E h algumas razes que tornam necessria a formulao de um credo:A. A Natureza da Igreja A igreja de Cristo no simplesmente uma reunio de pessoas que coincidentemente pensam a mesma coisa. Elas devem pensar basicamente as mesmas coisas porque para elas existe um s padro de referncia que a Santa Escritura. A igreja de Cristo sempre foi confessante, porque a f do corao deve ser expressa em proposies, em termos lcidos, de forma que todos possam saber claramente em que a igreja cr.Um credo deve ser a expresso exterior daquilo que a igreja cr interiormente. Ele o produto da reflexo da igreja sobre a revelao divina. "Quanto mais rica for a reflexo da igreja, mais pleno e mais profundo torna-se o tom de sua confisso." Um credo ou confisso sempre deve expressar o labor da igreja sob a orientao do Esprito Santo.Todavia, houve uma outra razo para a elaborao dos credos e confisses na histria da igreja:B. O ataque de outras Tradies Religiosas Onde quer que a igreja professe abertamente a sua f, ela ir encontrar oposio. Quando mais definida em sua teologia, mais oposio a igreja receber. importante observar que foi nos perodos de maior confrontao que a igreja mais produziu em termos de credos e confisses. Qual a razo por que a igreja contempornea no tem sido perseguida e atacada? porque ela tem deixado de ser definida teologicamente. Historicamente, todas as vezes em que a igreja enfrentou oposio, ela se definiu. Certamente, a igreja contempornea haver de enfrentar discriminao quando tiver definido os seus rumos teolgicos de maneira inequvoca. Ser que a igreja contempornea est disposta a pagar esse preo?Os credos e as confisses mostram que a igreja tem definies a fazer e rumos a seguir. A verdadeira igreja de Cristo tem que possuir um norte teolgico a ser seguido; ela no pode permanecer neutra nas questes espirituais, ticas e morais. Ela tem que ser confessional para poder combater os inimigos teolgicos. Do contrrio, ficar desnorteada.Uma outra razo que torna necessria a existncia de credos e confisses na atualidade : C. O esprito do tempo presente Vivemos num tempo muito diferente do perodo da Reforma, quando as confisses foram formuladas. Havia ento muitos inimigos da f protestante, mas agora a situao absolutamente diferente. Os protestantes no so tratados da mesma forma, e ningum os tem atacado como aconteceu no passado. Contudo, essa situao no dispensa a necessidade de credos e confisses, pois exatamente num tempo como o de hoje, de indefinio teolgica, que se faz necessria a afirmao da verdade de forma objetiva. O ambiente teolgico atual o de um pluralismo onde as pessoas fogem de verdades objetivamente afirmadas.A Escritura tem sido abordada por ticas diferentes, que geralmente so chamadas de cosmovises. Ela tem sido interpretada por pessoas que possuem cosmovises muito diversas, que ocasionam entendimentos bastante diferentes dos mesmos textos. A f reformada uma tentativa justa e consistente de interpretar a Escritura de acordo com a prpria Escritura. Portanto, ao encerrar-se o sculo XX, as Igrejas Reformadas tm que fazer jus sua histria e reafirmar veementemente a f que uma vez por todas nos foi entregue, da forma em que est interpretada pelos smbolos reformados de f.Uma outra razo que torna absolutamente necessria a afirmao objetiva da nossa f :D. O experiencialismo vigente em nossos diasO subjetivismo de nossa gerao obriga a igreja a voltar aos padres confessionais. Muitos evanglicos esto embarcando num experiencialismo desenfreado, onde os sentimentos tm sido a medida de todas as coisas, assim como no Iluminismo a razo tornou-se a medida de todas as coisas. Muitos ministros tm desprezado a verdade da Escritura e preferido as experincias msticas, que tm se tornado a sua "regra de f." O resultado disso que a igreja evanglica no mundo tornou-se uma Babel teolgica, onde ningum consegue falar a mesma lngua, porque no existe padro objetivo de verdade em que se possa confiar.No cristianismo atual no h paradigmas confiveis. A nfase est na subjetividade das opinies que controlam todo o arcabouo teolgico de muitos lderes espirituais, os quais, com muita facilidade e maestria, controlam a mente e os sentimentos de "seus fiis." patente a necessidade dos credos nos dias de hoje, para que tenhamos um paradigma confivel baseado na totalidade da Palavra de Deus.H mais uma razo a evidenciar a necessidade da reafirmao dos credos e confisses. Trata-se de um problema especfico de nossa gerao:E. A influncia do pluralismo religiosoA presente gerao anda tateando s cegas, sem saber onde apoiar-se. Tem sido ensinado nas escolas e, o que mais desconcertante, em muitas igrejas da Europa, dos Estados Unidos e em algumas aqui do Brasil, que as religies no-crists so caminhos alternativos para Deus. Jesus no o nico modo de chegar-se a Deus. Alguns cristos admitem que Jesus at o melhor, mas no o nico. Por causa dessa filosofia religiosa, a verdade que foi pregada at o perodo pr-moderno no mais a nica. No existe uma verdade na qual as pessoas possam confiar, porque elas tm sido ensinadas que ningum possui a verdade, e sim que as verdades dependem do ponto de vista de cada um. H uma variedade de verdades, dependendo do gosto do fregus. E, como no possuem discernimento espiritual, as pessoas andam desnorteadas. Este tempo de grande urgncia para a igreja crist, que pode e deve assumir posies teolgicas e tico-morais a fim de poder ser uma bssola para as pessoas desorientadas. O tempo presente exige dos genunos cristos uma f seguramente formulada e confessada, a fim de que seja o nico caminho de salvao, um guia seguro para o cu, pois aponta a nica verdade que Jesus, e tudo o que ele disse e fez por pecadores perdidos.H uma ltima razo que torna necessria a reafirmao dos credos e confisses em nossos dias. Talvez esta seja a mais importante de todas, porque tem uma conotao positiva:F. A pureza da doutrinaEscrevendo igreja de Filipos, Paulo disse de maneira inequvoca que os irmos deviam "lutar juntos pela f evanglica" (Fp 1.27). Essa f mencionada por Paulo era o conjunto de verdades que os crentes haviam recebido dos apstolos e que deviam preservar at mesmo ao custo de suas prprias vidas. Esse esprito de unio na luta pela f deveria unir todos os cristos. Estes que deveriam preservar a pureza da doutrina. Se os cristos genunos no fizerem isto, eles pem a perder todo o seu fundamento teolgico.A mesma idia teve Judas, provavelmente o irmo do Senhor, quando escreveu aos seus leitores, exortando-os a batalharem "diligentemente pela f que uma vez por todas foi entregue aos santos" (v. 3). responsabilidade nossa defender a f, mas como defend-la se no a temos afirmada e confessada? A Escritura tem que ser entendida da maneira mais clara possvel e este entendimento tem que ser afirmado confessionalmente, a fim de mostrarmos ao mundo aquilo em que cremos, sendo homens e mulheres teologicamente definidos. Alm disso, Judas diz que essa batalha tem que ser diligente, mostrando todo o nosso esforo na preservao da pureza da doutrina. Na poca em que Judas escreveu, o Novo Testamento ainda no havia sido reunido cannicamente. As verdades eram conhecidas dos crentes de um modo verbal. S um pouco mais tarde que as cartas foram colecionadas. Judas, portanto, referia-se aos conceitos doutrinrios que os crentes haviam recebido dos apstolos e pelos quais deveriam batalhar diligentemente. Eles no deviam permitir que a f fosse deturpada, como alguns costumavam fazer (2 Pe 3.16). A pureza da doutrina uma questo prioritria e fundamental em todas as pocas, especialmente quando ela se encontra debaixo de tantos ataques.No h como preservar a pureza da doutrina de Deus se ela no for devidamente escrita e confessada.

VI. Os principais propsitos na formulao dos Credos Originalmente os credos foram elaborados para serem teis vida da igreja. Eles eram a confisso daquilo que estava no corao dos crentes; serviam para que os crentes se tornassem conhecidos na sociedade como seguidores de Jesus Cristo; e serviam tambm para conduzir outras pessoas a ele pela influncia do seu testemunho. Mas, poderamos dizer de forma mais elaborada que:A. Jesus sempre quis que os homens fizessem uma Confisso daquilo em que criam Sempre houve a necessidade de se confessar aquilo em que se cr (Mt 10.32-33; Rm 10.9-10). Segundo Mt 16.15, Jesus perguntou aos seus discpulos: "Mas vs quem dizeis que eu sou?" Ele queria que os seus discpulos afirmassem sua posio com relao sua pessoa. Todos ns temos que confessar Jesus, quem ele , o que ele fez. Talvez a primeira formulao de uma doutrina ou dogma cristo esteja relacionada com a resposta de Pedro: "Tu s o Cristo, o Filho do Deus vivo." Obviamente, esta confisso de Pedro foi, posteriormente, expandida e melhor articulada.A confisso um elemento essencial da f. Este princpio fundamental no pode ser negado, segundo o ensino do Novo Testamento. Melanchton, uma das mentes mais brilhantes do tempo da Reforma, disse: "Nenhuma f firme se no mostrada em confisso." No existe uma f em Cristo que no se expresse em uma formulao doutrinria ou dogmtica. "Uma f sem dogma, sem confisso, est continuamente em perigo de no mais saber o que realmente cr e, portanto, em perigo de cair ao nvel de uma mera religiosidade." B. Na Igreja Apostlica os crentes comearam a orar ao Senhor ExaltadoEste um fato que no pode ser ignorado. Mas qual a dificuldade, algum perguntaria. De forma correta, cria-se que as oraes deviam ser dirigidas somente a Deus. Se eles estavam orando a Jesus Cristo, eles teriam que comear a elaborar uma formulao doutrinria que justificasse aquela sua atitude de orao. Logo, a questo do relacionamento entre Deus e Jesus Cristo tinha que ser estabelecida. No havia outra forma de tratar o problema. Algum tempo mais tarde comearam as formulaes credais oriundas das controvrsias sobre a doutrina da trindade e dos problemas cristolgicos. Obviamente, as elaboraes mais sofisticadas foram posteriores, somente nos sculos IV e V, nos primeiros conclios ecumnicos. No de se estranhar, portanto, que os primeiros dogmas a serem formulados na igreja crist tenham sido o da trindade e o das duas naturezas de Cristo. Tambm no foi acidente que, logo em seguida, aparecessem problemas de antropologia, com as doutrinas do pecado e da graa sendo esclarecidas na igreja ocidental nas lutas que Agostinho teve com Pelgio.C. O Aparecimento de crenas estranhas levou necessria formulao dos Credos, para que a genuna F Crist fosse distinguida das heresias que apareciamCom freqncia os credos tinham que ser elaborados para explicar melhor a formulao doutrinria j existente na igreja. Em todos os tempos a formulao de doutrinas revelou uma preocupao sria da igreja com algum ponto fundamental da f. Todas as doutrinas apareceram para explicar problemas de importncia fundamental para a vida da igreja, tanto sobre o entendimento como sobre o contedo da f. Era a melhor maneira de educar e catequizar a igreja que estava em franco crescimento a respeito das verdades crists mais importantes.

VII. Os Credos e Confisses so o resultado de uma experimentao? Se considerarmos que tais documentos so formulados cientificamente, ento temos que admitir que revelam o resultado de uma experimentao. Neles os telogos trabalham arduamente para chegarem a uma concluso bem elaborada que reflita a interpretao correta das Escrituras, aps analisarem as vrias interpretaes disponveis no decurso da histria da igreja e na averiguao das interpretaes correntes.Qual deve ser a fonte ltima de pesquisas para os credos e confisses cristos? Obviamente, a Escritura Sagrada. Ela a fonte bsica para a formulao dos credos, assim como a natureza a fonte bsica para as outras formulaes cientficas. A Escritura deve ser a fonte de toda pesquisa porque ela uma revelao singular de Deus.Uma outra questo surge na mente das pessoas: os credos devem ter como fonte nica a Escritura, ou a experincia crist tambm deve contribuir para a formulao dos mesmos? Wooley diz que a experincia de fato lana luz sobre a Bblia, mas uma ou a outra deve ter a prioridade. Se a Bblia apenas um registro da experincia humana, ento a questo est resolvida. A fonte bsica a experincia. Mas se as reivindicaes da Bblia devem ser aceitas, ela um livro que contm um registro singular, totalmente distintivo, da verdade dada por Deus. Em outras palavras, no h nada mais igual a ela. Se isto verdade, a Bblia a fonte definitiva. Neste ponto, a escolha tem que ser feita. O cristo diz que ela tem que ser feita com a assistncia de Deus. Qual o significado da Bblia? O que a Bblia realmente quer dizer a ns? Os credos e confisses so uma tentativa de responder a estas perguntas de forma sistemtica, porque a Bblia no um compndio sistematizado de doutrinas. Quando da formulao de tais documentos, os estudiosos trabalham cientficamente para produzir aquilo que crem ser expresso da verdade de Deus, com base nas informaes que possuem. O investigador da Escrituracomea por tentar descobrir o que autor humano tinha em mente quando escreveu, o que ele estava tentando dizer. Mas o investigador no pode parar a se ele cr que a Bblia a revelao, ou mesmo um meio de revelao. O investigador tambm tenta descobrir o que Deus pretendeu que o texto significasse para o leitor de ento, e para o leitor de agora. Wooley diz ainda que os estudiosos da Escritura devem usar outras ferramentas que os ajudem na sua interpretao e que, conseqentemente, ajudem na formulao dos credos e confisses: Uma das ferramentas usadas na descoberta do significado da Escritura a histria daquilo que as pessoas pensaram sobre ela. A histria usa com um propsito didtico a evidncia do que aconteceu aos homens no passado. A histria de como os homens formularam os credos, por que assim o fizeram, qual a utilidade que os credos tm tido na prtica, e qual a sua real utilidade, de extrema importncia na avaliao de nossa situao presente. Portanto, quando estiverem reafirmando as verdades credais e confessionais, os cristos deste final de sculo devem levar em conta a fonte autorizada que a Escritura e as fontes secundrias de pesquisa, que esto na experincia dos homens verificada na histria da igreja.VIII. So os Credos uma imposio da Igreja sobre os seus membros?Muitos cristos de hoje no aceitam as formulaes doutrinrias estabelecidas pelo simples fato de pensarem que so uma imposio das autoridades da igreja sobre eles.De fato, dentro da Igreja Catlica Romana a idia de "dogma" tem alguma ligao com imposio. Todos os catlicos tm que aceitar as formulaes infalveis da igreja , sem qualquer possibilidade de questionamento ou posterior alterao. Roma reivindica infalibilidade para todos os pronunciamentos do magistrio da igreja. Cristo fundou a igreja e ordenou que ela deveria ser a guardi infalvel e intrprete da verdade... Inspirados pelo Esprito de Deus, os conclios da igreja no podem errar. Justiniano I (morto em 565) considerou os ensinos dos quatro conclios ecumnicos da igreja como Palavra de Deus e seus cnones como leis do imprio. Gregrio, o Grande (morto em 604), colocou os decretos dos primeiros quatro conclios em p de igualdade com os quatro evangelhos. O catolicismo medieval, na plenitude da sua exuberncia, elevou os credos acima da Bblia... Por esta razo, a perspectiva de Roma que as antigas formulaes dos credos contm verdades reveladas imediatamente por Deus e, assim, so dotadas de autoridade para todas as pocas. Os protestantes tm uma atitude diferente com relao aos credos e confisses. Embora eles considerem o Credo dos Apstolos e os decretos dos quatro conclios ecumnicos em consonncia com a Escritura, esta ltima a nica regra de f e prtica para a igreja. Os dogmas e as confisses sempre tm que estar sujeitos Escritura. Devem ser testados luz da Escritura e sua interpretao deve estar sempre em consonncia com a mesma. Quando isto acontece, ento pode-se dizer que as doutrinas dos credos e das confisses so uma expresso de um correto entendimento das Escrituras e devem ser aceitas pela igreja.Os protestantes sempre reconheceram conclios fiis e conclios infiis. Portanto, alguns expressaram-se corretamente e outros no, em matria de f. exatamente esse o pensamento da Confisso de F de Westminster.Todos os snodos e conclios, desde os tempos dos apstolos, quer gerais quer particulares, podem errar, e muitos tm errado; eles, portanto, no devem constituir regra de f e prtica, mas podem ser usados como auxlio em uma e outra coisa (Confisso de F de Westminster, XXXI, 3).Para que os cristos aceitem os credos e confisses, estes tm que refletir o pensamento da Escritura e tm que ser julgados pela prpria Escritura. Se isto acontecer, os credos nunca sero uma imposio da igreja, mas os crentes tero o dever de aceit-los.IX. A possibilidade de reviso dos CredosUm credo ou confisso, pelo menos dentro da teologia reformada, no um sistema de doutrina absolutamente fechado que no possa ser alterado com o desenvolvimento srio dos estudos sobre uma determinada matria. Wooley diz que "os credos existem para o propsito de aplicao e deveriam ser frutferos para experimentao e teste posteriores, e sujeitos a constante mudana e reviso." importante observar que a teologia reformada no um sistema hermeticamente fechado ou irreformvel. No possumos um credo sacrossanto, que nenhum conclio possa alterar. A teologia reformada sempre se desenvolveu, desde a Reforma Protestante do Sculo XVI. Quanto mais os telogos refletem sobre a revelao divina da Escritura, mais eles podem aprender com ela. A teologia reformada permite a reviso dos credos para que se melhore a formulao das doutrinas. Um padro de f no pode ser mudado sem um exame acuradssimo das Escrituras. Toda e qualquer alterao tem que possuir uma base escriturstica justificvel. A idia de reformar os credos e confisses no algo simples, nem deve ser tratada levianamente. "A reviso de uma confisso sempre possvel, mas tal reviso proveitosa somente se a prpria igreja estiver num plano espiritual elevado e for capaz de inteligentemente descobrir com preciso, nas Escrituras, as expresses da sua f." Embora a teologia reformada no seja irreformvel, por causa da sua solidez ela no tem sido alterada em sua histria. As geraes presentes tm que possuir um elo de ligao com as geraes passadas. Esses elos nunca podem ser quebrados. O que cremos hoje tem que refletir a f dos nossos antepassados. Devemos diferir deles naquilo em que eles no foram absolutamente justos com o ensino geral das Santas Escrituras, mas onde estiveram certos, devemos seguir com eles. O que foi verdade no passado, deve ser verdade para o povo de Deus no presente. A verdade de Deus conforme revelada na Escritura nunca muda. O entendimento da Escritura que pode ser melhorado. Nesse sentido, a f reformada se desenvolve.X. As razes para a depreciao dos Credos Vivemos numa poca anti-dogmtica e muitos crentes querem que a igreja viva sem um corpo de doutrinas. Eles dizem que somente a Bblia necessria. Eles querem saber somente de Jesus Cristo, e no de doutrinas, o que uma grande insensatez. Como pode haver amor a Cristo e sua Palavra sem haver amor pela s doutrina ensinada de maneira inequvoca na Escritura?Contudo, h algumas razes para esse comportamento da igreja contempornea: A. O subjetivismo radical do Iluminismo e do Ps-ModernismoUma razo para esse comportamento pode ser depreendida do fato de que desde o perodo do Iluminismo apareceu dentro da igreja um subjetivismo radical que levou a uma depreciao dos credos. No perodo ps-iluminista, com Schleiermacher, Kierkegaard e toda a tradio existencialista, creu-se que a realidade de Deus no podia ser objetivamente conceptualizada. A verdade tinha que ser alcanada pela explorao do carter intrnseco da existncia humana. O telogo catlico Karl Rahner insiste que "o contedo da f no visto como um nmero vasto e quase incalculvel de proposies que, coletiva e diversamente, esto garantidas pela autoridade formal de um Deus que se revela." Segundo Rahner, a verdade subjetiva, no objetiva.B. A aridez do Protestantismo EscolsticoA segunda razo para a depreciao dos credos e confisses pode ser vista na aridez do protestantismo escolstico dos sculos XVII e XVIII, com sua tonalidade racionalista, que enfatizava as formulaes confessionais esvaziadas de verdadeira piedade crist. Essa aridez resultou no aparecimento do Pietismo, que rejeitou quase todas as formulaes doutrinrias. Mais recentemente, como resultado da aridez ortodoxa dentro do catolicismo, comeou-se a enfatizar a ortopraxia ao invs da ortodoxia. Demarest diz que "os modernos catlicos progressistas tais como Schillebeeckx, Dulles and Kng insistem que o que vale no um credo cristo, mas os atos concretos dos cristos." Por causa da nfase extremada nos credos e confisses do protestantismo escolstico e da aridez com que ensinavam as doutrinas, sofremos ainda hoje algumas consequncias. Todas as igrejas que so confessionais levam sobre si o estigma de "ortodoxia morta." Num certo sentido isto tem sido verdadeiro. Vrias igrejas confessionais tm perdido historicamente o gosto pela evangelizao, pelo testemunho cristo e pela vibrao com o evangelho de Cristo. Por essa razo, o evangelicalismo moderno tem apelado mais para a religio prtica e para a experincia individual do que para confisses de f objetivamente afirmadas. Esse erro comportamental do passado no justificativa para abandonar-se os credos. perfeitamente possvel afirm-los e confess-los e ainda assim possuir ardor pela evangelizao, misses e comunho pessoal com Deus, pois eles prprios ensinam estas coisas.C. O relativismo culturalUma terceira razo para a depreciao dos credos e confisses est relacionada com o problema do relativismo cultural. O ps-modernismo foi o grande beneficiado com o relativismo cultural, mas nos seus resultados ele no foi diferente do Iluminismo. Apenas mudou a metodologia. Ele retirou a verdade afirmada objetivamente e colocou a verdade na subjetividade do indivduo. O ps-modernismo democratizou a verdade, fazendo com que ela fosse propriedade de cada indivduo, e no uma verdade afirmada objetivamente, como est na Escritura, por exemplo. A cosmoviso individual determina a verdade. Alguns crticos dizem que "as crenas e formulaes do passado so inevitavelmente condicionadas pela cultura da poca que as produziu." Os credos e confisses so sempre a expresso cultural de um povo, numa determinada poca. Portanto, aquilo que foi vlido para aquela poca, no o para a nossa presente gerao.Como consequncia, alguns pensamentos so vigentes na igreja moderna:a) Freqentemente se diz que algum pode ser um cristo bom e sincero sem ter suas doutrinas formuladas sistematicamente. Isto tem sido o produto de um pietismo que sempre procurou o seu cristianismo na vida prtica, sem a crena necessria em dogmas para ser cristo. Alguns ainda pensam que doutrinas so meras palavras, que no tm qualquer aplicao prtica.b) Tem-se dito que as doutrinas so o produto de uma poca particular com as suas caractersticas prprias, como o tempo da Reforma. Naquela poca as doutrinas eram necessrias por causa das controvrsias religiosas. Mas a situao daquele perodo no mais se repetiu. Ele foi singular.c) Tem-se dito que as doutrinas mudam quando comparadas com a Bblia. "Ns temos que ficar com o que no muda." Isso verdade quando as doutrinas no tem um fundamento correto. Por exemplo: os Reformadores alteraram aquilo que era crido no perodo medieval. Por qu? Porque algumas doutrinas medievais no expressavam o contedo geral das Escrituras. Foi exatamente o princpio da Sola Scriptura que alterou o que estava estabelecido. Mas as doutrinas no so algo que necessariamente se altera. A mutabilidade das mesmas est relacionada com a sua fidelidade ou no Escritura.XI. A autoridade dos Credos e ConfissesModernamente tem havido duas atitudes para com os credos e confisses: uma de divinizao e a outra de rejeio dos mesmos. Uma atitude sbia est em evitar esses dois extremos. Classicamente falando h duas posies com respeito aos credos e confisses, expressas em frases latinas: norma normata, que deve ser preferida a norma normans. A expresso norma normans ("uma regra que regula") reflete a posio catlica romana. Ela expressa a idia de que a autoridade dos antigos credos absoluta e infalvel. Os credos antigos eram considerados Palavra de Deus. A expresso norma normata ("uma regra que regulada") reflete a posio protestante. Observe-se que o credo uma regra, uma norma. Os credos sempre refletiram a conscincia doutrinria e religiosa das geraes da igreja crist. Eles so de uma importncia enorme para a igreja contempornea, pois expressam aquilo que os nossos antigos creram. E tem que haver uma identidade de f que nos une a todos, cristos de todas as pocas. Mas temos que observar tambm que o credo no somente uma norma, mas uma norma que regulada. Como o credo uma formulao humana, ele tem que estar submisso (regulado) Escritura, a regra infalvel e suprema de f e prtica. A Escritura, sim, norma normans, isto , ela divina e absoluta, e tem a finalidade de regular os credos, que so uma autoridade secundria e derivada. Em ltima anlise, os credos e confisses devem sempre ser testados e regulados pela Palavra de Deus.Os Padres de F de Westminster, por exemplo, no so norma normans, mas norma normata, no uma regra com norma intrnsica, mas uma regra derivada da f. Eles so um produto humano, totalmente subordinado Palavra de Deus. A Escritura possui uma autoridade intrnseca, e no a igreja ou os seus credos. Tanto a igreja como os seus padres de f devem ser julgados pela norma normans, que a Escritura. Vivemos num tempo de indefinio teolgica e doutrinria por causa do abandono dos credos e confisses. O retorno aos credos e confisses absolutamente necessrio para que essa indefinio termine. Contudo, a aceitao de proposies confessionais deve levar a uma vida prtica, sadia, cheia de amor pela Palavra de Deus e santo temor e reverncia pelo seu autor e inspirador.XII. A necessidade da volta aos Credos e Confisses Essa volta absolutamente necessria porque precisamos rejeitar a subjetividade daquilo que tem sido ensinado nas universidades e em alguns seminrios evanglicos. O retorno aos credos precisa incluir a rejeio do subjetivismo moderno que tem negligenciado a verdade como revelada objetivamente. Temos que afirmar as verdades de Deus que esto objetivamente reveladas nas Escrituras Sagradas.Essa volta aos credos deve ser uma resposta nfase exclusiva na ortopraxia. Demarest diz que "a nica garantia de uma ortopraxia bblica responsvel uma ortodoxia bblica autntica, tal como a f que temos enraizada nos credos. No h nenhuma integridade de vida parte de uma integridade de crena. Essa volta aos credos deve ser uma resposta idia do relativismo cultural. O que verdade espiritual uma vez, sempre o ser. A verdade no est condicionada a um tempo ou poca. A verdade de Deus para sempre. Aquilo que se considerou verdade numa poca e depois caiu, no expresso da verdade. Por essa razo os credos no so infalveis. Eles podem ser aperfeioados e melhorados.XIII. A importncia da subscrio dos Credos e ConfissesNos dias em que vivemos, por causa do baixo nvel tico de crentes e de ministros da Palavra que prometem verbalmente fidelidade aos padres doutrinrios mas logo se afastam deles por uma questo de convenincia teolgica, precisamos subscrever um conjunto de doutrinas que expressem a nossa f. Essa atitude significa nadar contra a correnteza. Por causa do pluralismo vigente em nossos dias, as pessoas tm reservas at mesmo quanto idia de subscrever uma formulao teolgica.Contudo, esta poca extremamente apropriada para que mostremos a nossa definio teolgica, assinando documentos de fidelidade ao que professamos crer. Segue abaixo uma sugesto do que os oficiais e ministros das igrejas confessionais deveriam assinar:Ns, abaixo assinados, sinceramente e de boa conscincia, declaramos que, por esta subscrio, estamos firmemente persuadidos de que todos os pontos contidos em nossos smbolos de f reformados, elaborados pelos nossos antepassados espirituais, refletem com fidelidade, por sua interpretao, os ensinos da Palavra de Deus.Prometemos, assim, ensinar com toda a diligncia as doutrinas afirmadas em nossos smbolos de f, sem que as contradigamos direta ou indiretamente, quer por pregao pblica ou pelos nossos escritos.Declaramos, alm disso, que no somente rejeitamos os erros que militam contra essas doutrinas, mas estamos dispostos a refutar e a contradizer os ataques s doutrina, para que a conservemos pura, e a igreja seja livre de cair em heresia.A subscrio de padres doutrinrios deveria ser exigida por seminrios e conclios da igreja, os subscritores ficando passveis de ser submetidos ao juzo das autoridades eclesisticas caso sigam um padro diferente daquilo que subscreveram. Contudo, uma pessoa no deve ficar para sempre presa ao que assinou, no caso de no mais concordar com o que subscreveu anteriormente. O subscritor tem o direito de ter as suas dificuldades doutrinrias, e pode querer o reexame das doutrinas afirmadas. Uma sada para essa situao est prevista na frmula de subscrio sugerida:Se, porventura, tivermos quaisquer dificuldades ou sentimentos diferentes com respeito ao que subscrevemos, prometemos no ensinar sobre eles nem pblica nem particularmente, seja por pregao ou por escritos, at que tenhamos primeiro revelado tais dificuldades aos conclios competentes, e sejam essas dificuldades e sentimentos devidamente examinados por eles, estando ns dispostos a aceitar o juzo desses conclios, ficando sob penalidade, em caso de recusa, de sermos suspensos de nosso ofcio. Creio firmemente que muitos oficiais das igrejas confessionais teriam dificuldade em assinar um documento como o sugerido acima, porque o tempo presente dificulta essa atitude. Infelizmente, a igreja sempre tem se defrontado com a falta de seriedade de alguns de seus ministros ordenados, numa atitude no condizente com a tica crist. Juram e no cumprem o juramento feito ao tempo da sua ordenao. Como agravante, as dificuldades individuais de ministros e professores de seminrios no tm feito com que esses problemas e sentimentos opostos aos padres confessionais cheguem aos conclios superiores. Eles preferem ignorar os problemas que vem e fecham os olhos aos padres doutrinrios violados por muitos colegas, em nome do "amor." Em nome desse mesmo "amor de coleguismo," permitem que a verdade de Deus seja sacrificada. uma pena que as coisas sejam assim.Todavia, eu conclamo os meus colegas de presbiterato, sejam eles docentes ou regentes, a assumirem uma postura de lealdade quilo que cremos ser uma exposio fiel das verdades da Escritura Sagrada. Somente assim, haveremos de livrar a igreja que amamos das ameaas teolgicas que a rodeiam. Que Deus assim nos ajude!English AbstractThe article argues for the present relevance of creeds and confessions. After showing the biblical origin and historical development of creedal and confessional statements, Campos emphasizes their great importance for the church at the end of the twentieth century. Then, he deals with the reasons why creeds and confessions are not appreciated by the contemporary church. Such reasons are historical, cultural, philosophic and theological. As a response to this undervaluation of the creeds and confessions, the author stresses their continuing validity and the consequent need for their reappropriation. He admits that creeds and confessions can be perfected, but always in accordance with the norma normans (Scripture), since they are not unchangeable like Roman Catholic dogmas. Additionally, Campos acknowledges that, in order for Christians not to fall in the error of post-modernist subjective truth, they should have creeds and confessions not only as norma normata (a rule that is ruled), but they also should meet the challenge of subscribing to them, so that everyone will know the truths they embrace.(*) Artigo publicado na Revista Teolgica Fides Reformata, vol.II, n 2, jul-dez/97 Philip Schaff, The Creeds of Christendom (Grand Rapids: Baker,1990 ), vol. 1, 3. (Minha traduo).

Bruce A. Demarest, "Christendoms Creeds: Their Relevance in the Modern Word," Journal of the Evangelical Theological Society 21 (December 1978), 345.

Paul Wooley, "What is a Creed For? Some Answers from History," em Scripture and Confession, ed. John H. Skilton (Phillipsburg, NJ: Presbyterian and Reformed Publishing Co., 1973), 96.

Schaff, The Creeds of Christendom, 5.

Ibid.

Demarest, "Christendoms Creeds," 345.

J. N. D. Kelly, Early Christian Creeds (New York: Longman, 1972), 17.

Philip Schaff, The Creeds of Christendom (New York, 1919), l.5.

Philip Hughes, ed. geral, The Encyclopedia of Christianity, "Confessions and Creeds" (Marshalton, Delaware: The National Foundation for Christian Education, 1972), vol. 3, 89.

Philip Melanchton, Apology of the Augsburg Confession, IV, 385, em Thedore G. Tappert, ed., The Book of Concord (Philadelphia: Fortress Press, 1959), 166.

Bernhard Lohse, A Short History of Christian Doctrine (Philadelphia: Fortress Press, 1989), 10.

Wooley, "What is a Creed For?," 97.

Ibid.

Ibid.

Obviamente, nos dias de hoje nem todos os catlicos, sejam eles telogos ou no, aceitam a infalibilidade dos dogmas como foi crido em tempos passados. Otto Karrer enfatizou que "os dogmas da Igreja Catlica Romana devem ser entendidos e apreciados com referncia ao perodo do desenvolvimento dos mesmos. Infalibilidade significa que uma certa explicao apropriada e livre de erro na sua resposta a certas questes condicionadas historicamente" (Lohse, Short History of Christian Doctrine, 13).

Demarest, "Christendoms Creeds," 347.

Ibid., 97

Hughes, The Encyclopedia of Christianity, "Confessions and Creeds," vol. 3, 90.

Karl Rahner, Belief Today (New York, 1967), 71.

Demarest, "Christendoms Creeds," 353.

Ibid.

Ibid.

Esta sugesto de frmula de subscrio parcialmente retirada daquela seguida pelos ministros da Igreja Crist Reformada dos Estados Unidos, que est inserida no Psalter Hymnal, 71.