A Representação de Um Ser Supremo Entre Os Povos Primitivos Da América Do Sul

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A REPRESENTAÇÃO DE UM SER SUPREMO ENTRE OS POVOS PRIMITIVOS DA AMÉRICA DO SUL Otto Zerries and Egon Schaden Revista de AntropologiaVol. 12, No. 1/2 (JUNHO E DEZEMBRO 1964), pp. 35-49 Published by: Revista de Antropologia Article Stable URL: http://www.jstor.org/stable/41615763 Otto Zerries (Staatliches Museum für Völkerkunde, Munique) A tradição de um autor do mundo e criador e mestre da humanidade é documentada em quase todas as populações tribais da América do Sul. Na maioria dos casos trata- se, porém, de uma personalidade puramente mítica, que não interfere na vida quotidiana do homem e que, portanto, não é tampouco objeto de qualquer espécie de culto. A distância e proeminência de uma divindade dessa natureza conduz às vêzes para a concepção de um ser supremo puramente espiritual não concebido como personalidade. Entretanto, é de natureza antes prática do que teórica a distinção entre um deus criador que, objeto de culto, faça parte de um sistema religioso e uma divindade que não seja senão figura mítica. Eis porque nos ocupamos aqui de ambas as categorias de fenômenos com o objetivo de dar uma ideia da multiplicidade de formas, como dos traços comuns. Com isto está também definido o problema que nos propomos discutir. A crença num "Ser Supremo" parece ter sido um dos mais importantes fundamentos da religião das tribos coletoras de caçadoras da Terra do Fogo, no extremo sul do subcontinente, como se depreende principalmente das pesquisas de campo realizadas por Martin Gusinde (1931, 1037) na primeira metade da segunda década deste século, ainda nas vésperas da extinção daqueles índios. Segundo esses trabalhos, as três tribos

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A tradição de um autor do mundo e criador e mestre da humanidade é documentada em quase todas as populações tribais da América do Sul. Na maioria dos casos trata-se, porém, de uma personalidade puramente mítica, que não interfere na vida quotidiana do homem e que, portanto, não é tampouco objeto de qualquer espécie de culto. A distância e proeminência de uma divindade dessa natureza conduz às vêzes para a concepção de um ser supremo puramente espiritual não concebido como personalidade.

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A REPRESENTAO DE UM SER SUPREMO ENTRE OS POVOS PRIMITIVOS DA AMRICA DO SUL

Otto Zerries and Egon SchadenRevista de AntropologiaVol. 12, No. 1/2 (JUNHO E DEZEMBRO 1964), pp. 35-49 Published by:Revista de Antropologia Article Stable URL:http://www.jstor.org/stable/41615763

Otto Zerries(Staatliches Museum fr Vlkerkunde, Munique)

A tradio de um autor do mundo e criador e mestre da humanidade documentada em quase todas as populaes tribais da Amrica do Sul. Na maioria dos casos trata-se, porm, de uma personalidade puramente mtica, que no interfere na vida quotidiana do homem e que, portanto, no tampouco objeto de qualquer espcie de culto. A distncia e proeminncia de uma divindade dessa natureza conduz s vzes para a concepo de um ser supremo puramente espiritual no concebido como personalidade.Entretanto, de natureza antes prtica do que terica a distino entre um deus criador que, objeto de culto, faa parte de um sistema religioso e uma divindade que no seja seno figura mtica. Eis porque nos ocupamos aqui de ambas as categorias de fenmenos com o objetivo de dar uma ideia da multiplicidade de formas, como dos traos comuns. Com isto est tambm definido o problema que nos propomos discutir. A crena num "Ser Supremo" parece ter sido um dos mais importantes fundamentos da religio das tribos coletoras de caadoras da Terra do Fogo, no extremo sul do subcontinente, como se depreende principalmente das pesquisas de campo realizadas por Martin Gusinde (1931, 1037) na primeira metade da segunda dcada deste sculo, ainda nas vsperas da extino daqueles ndios. Segundo esses trabalhos, as trs tribos fueguinas, tanto os Slknam (na) como os Yaman (Yghan) e os Alakluf, consideravam como divindade mxima a um esprito invisvel, onisciente e onipotente, que habita no cu, alm das estrelas. Incorpreo e imortal, no tem mulher nem filhos, nem quaisquer necessidades de ordem material (cf. Cooper, 1946a). Os Alaklud davam ao deus criador o nome de Zolas ou "Estrela". Apesar de sua distncia da terra, preocupa-se ele com a vida quotidiana dos homens. quem faz entrar uma alma no corpo do recm-nascido, a qual permanece ali at a morte do homem, quando volta para Xolas. Informa-se que os Alakluf se abstinham de toda espcie de culto ao Ser Supremo, cuja perfeio frustraria qualquer tentativa de influenciar-lhe a vontade (cf. Bird, 1946). Os Yghan ou Yaman do arquiplago fueguiano tinham uma crena pronunciada num Ser Supremo, a que chamavam de Watauine(i)wa, o "Velhssimo" ou "Eterno". Denominavam-no tambm de o "Poderoso", o "Supremo", e invocavam-no de preferncia com a expresso de "Meu Pai". verdade que no o concebiam como criador do mundo, mas no obstante como o seu senhor. Dominava sobre a vida e a morte dos homens. Tido embora como fundamentalmente bondoso e benevolente para com os homens, observava com ateno as aes humanas, castigando as transcries do cdigo moral e dos costumes com a morte pre coce do culpado e, no raro, de seus filhos. Individualmente, o Yghan se dirigia a Watauinewa por meio de numerosas, cerca de sessenta, frmulas fixas de preces, mas tambm com palavras prprias e espontneas adequadas situao, pedindo-lhe, como senhor das plantas alimentcias e da caa, os alimentos de que precisava, como, ainda, a sade do corpo em casa de enfermidade e, finalmente, proteo contra os elementos da natureza. Atendida a splica, muitas vezes se pronunciavam oraes de graas. Mas por ocasio de tempestade, doenas e outras desgraas tambm se acusava a Watauinewa, de chamava-se-lhe mesmo, quando algum morria, de "Assassino do Cu". Na vida comunitria dos Yghan, cabia a Watauinewa papel central no ritual de iniciao realizado conjuntamente para rapazes e moas. Por ocasio desse ritual, que tinha o nome de Chiexaus e representava o foco da vida religiosa, os novios eram doutrinados insistentemente por seus instrutores nas leis tribais e de comportamento moral impostas por Watauinewa, leis que, entre outras coisas, continham elevadas prescries ticas, como as do asprendimento, da diligncia e do amor paz. A instituio do Chiexaus remotava ao prprio Watauinewa; mas consta que a transgresso de alguma das leis ensinadas nesse ritual no era castigada apenas pelo Ser Supremo, mas tambm por Yataita, o mais importante dos maus espritos. No admira, por isso, que, segundo uma das verses, Watauinewa e Yetaia, as figuras dominantes do Chiexaus, sejam apresentadas como uma s pessoa. Convm mencionar, ainda, que, segundo o prprio testemunho de Gusinde (1937, pg. 1054), se designava a Watauinewa igualmente como Kespix, esprito, tal como se d com as almas dos homens e dos animais. Acresce que Watauinewa era o dono de todos os animais, especialmente dos grandes mamferos e das grandes avez, cedidos aos homens somente na medida em que deles precisassem para o seu sustento, ao passo que mat-los toa acarretava a vingana daquele. Por essa afirmao e pelo fato de ter Watauinewa criado nas eras primevas a maioria dos animais -- embora no se saiba muito bem de que maneira --, inclino-me a ver na figura desse Ser supremo um Senhor dos Animais, caracterstico da imagem do mundo das tribos caadoras. Sem com isso identificar a concepo de um Ser Supremo como a de um Senhor dos Animais, quero chamar a ateno para o fato de que no somente no Watauinewa dos Yaman, mas tambm em alguns outros personagens coincidem parcialmente as duas concepes de divindade, que, como j foi notado por Jensen (1951), se aproximam uma da outra por cento parentesco de ideias. Se acima nos referimos ao carter apenas mtico de uma parte dos Seres Supremos entre os povos primitivos da Amrica do Sul, tais quais encontramos hoje, cumpre agora precisar essa caracterizao. O termo "mtico" significa aqui to somente que a respectiva divindade se reduz a uma representao, a um fenmeno puramente mental, sem que haja, ao que saibamos, uma correspondente manifestao no domnio do culto. No significa que ao Ser Supremo se ligue um conjunto sobremodo elaborado de acontecimentos mticos; ao contrrio, a este respeito as representaes mais puras do Ser Supremo so positivamente amticas. Tambm no tinha Watauinewa nenhum papel na mitologia e no folclore dos Yamna, onde o lugar principal cabia ao ciclo da parelha de irmos Yoalox. Alm disso, porm, esse ciclo tinha ligao estreita com o Chiexaus, o ritual de iniciao pubertria, porquanto era comunicado somente aos iniciados como elemento importante da concepo de mundo. Os na ou Slknam da grande ilha da Terra do Fogo denominavam o Ser SupremoTemaukel (intraduzvel); evitavam, entretanto, pronunciar-lhe o nome, recorrendo perfrase "O que est l em cima do cu". Temaukel existiu desde sempre; se criou o cu ainda no estrelado e a terra amorfa cosia que no se sabe ao certo; sabe-se que conferiu a Kenos, o primeiro antepassado dos na, o encargo de dar ao csmos a sua forma definitiva e de instituir a lei tribal. Embora nbo se interesse pelos acontecimentos quotidianos na superfcie da terra, Temaukel tido como autor e guarda das leis da vida moral e social dos homens. Ao transgressor castiga com doena grave ou morte precoce. A alma do morto vai para junto de Temaukel, alm das estrelas, mas ali j no tem a temer nenhuma pena. Manifestavam os na profundo sentimento de respeito ao Ser Supremo. Entretanto, no havia nenhum ritual fixo, e muito menos um sacerdcio ligado a Temaukel. Os na rezavam para ele, sobretudo em caso de doena, mas muito mais raramente do que o que faziam os Yghan com relao a Watauinewa e sem o recurso s numerosas frmulas usadas por estes. Oraes de graas faltavam quase inteiramente. Numa refeio noturna costumavam, por outro lado, lanar para fora da cabana os primeiros pedaos de carne, dizendo: "Isto para o que est l em cima". Apesar dessa forma rudimentar de sacrifcio a Temaukel, o Ser Supremo dos Ygahn, Watauinewa, estava mais prximo dos homens do que o Ser Supremo Tamaukel dos Slknam. Parece que a qui, entre os na, a representao do primeiro antepassado Kenos, mais recente na opinio de Jensen e tambm de Gusinde, j fez recuar para o segundo plano a crena em Tamaukel, embora Kenos, por sua vez, no fosse objeto de nenhum culto. O fato de Kenos agir por ordem de Temaukel interpretado por Jensen (1951, pgs. 125 ss.) como vinculao secundria de duas representaes de divindades coexistentes e fundamentalmente diversas, das quais Kenos seria figura mais viva do ponto de vista mitolgico. De fato, Temaukel entra na mitologia dos Slknam somente em conexo com Kenos. A originalidade da crena num Ser Supremo entre os Yaman (Yaghan) tornou a ser defendida ainda recentemente por Wilheln Koppers (1960). Tambm Mtraux (1949, pg. 561) considera a religio dos fueguinos em sua essncia independente do Cristianismo em que pese a notria influncia da civilizao nessa rea por longo espao de tempo; por outro lado, reconhece que a concepo fueguiana do Ser Supremo se aproxima bastante da ideia crist de Deus. Observa que muitas particularidades e tradies referentes ao Ser Supremo entre os aborgenes da Terra do Fogo podem ter-se perdido no correr do tempo e que informaes colhidas ltima hora do a impresso de uma divindade concebida em termos mais acentuadamente filosficos e abstratos do que era a figura original.Entre os Araucanos do Chile, sobretudo entre os Mapache os Huilliche, pode-se remotar at muito pelo sculo XVIII adentro a representao de um Ser Supremo e um culto a ele dirigido. Costumavam esses ndios tratar o Ser Supremo por Ngenechen, "Senhor dos Homens", ou Negnemapun, "Senhor da Terra"; das muitas outras designinaes notvel principalmente certo nmero de nomes femininos, reveladores do carter bissexuado dessa figura (cf. Cooper, 1946b).Imaginava-se a Ngnenechen habitando no cu, em especial no sol. Era tido no somente como o criador do mundo e autor da vida e da fertilidade dos homens, dos animais e das plantas, mas dependia dele tambm diretamente o bem-estar da humanidade. Por outro lado, no tinha relao com a lei moral e, assim, o estado da alma numa vida futura independia de recompensa e castigo da parte de Ngenechen. Tampouco se pedia perdo ao Senhor dos Homens no caso de desobedincia s leis da tribo. O que se dava que o indivduo se dirigia a ele em situaes bem concretas de necessidade material por meio de oraes e sacrifcios sangrentos de animais ou ofertas de primcias da colheita. Em regra, ofereciam-se ao Ser Supremo animais ou um gole de bebida, e ao mesmo tempo se lhe pedia alimento tambm para o futuro. Sobre o ritual pblico dirigido a Ngenechen, o chamado Ngillatun, possumos um nmero considervel de relatods, em parte bem diversos entre si, indcios de variantes locais das cerimnias. Os traos principais do Ngillatun, que era dirigido por um mestre de cerinia, eram, em primeiro lugar, a erao do Rewe, grosso poste de madeira com entalhas escalonadas e guarnecido dos ramos de uma determinada rvore (Drimys Winteri) e de uma plataforma retangular como altar de sacrifcio, um e outro objetos centrais do cerimonial, em torno dos quais, no incio deste, se caminhava vrias vezes em forma de procisso. Alm disso, o sacrifcio de animais, de preferncia cordeiros, cujo sangue se oferecia ao Ser Supremo, e, por fim, preces do mestre de cerimnia e de outros participantes a Ngenechen para a obteno de alimentos e vida longa, bom tempo e boa colheita, bons resultados na criao dos animais, e assim por diante. Encerrava-se o ritual com uma refeio festiva e consumo de grande quantidade de chicha de milho, que antes havia servido para fins de libao. Ainda hoje os Araucanos executam o ritual do Ngillatun em honra do Ser Supremo, cabendo xam o papel de mestre de cerimnia.Os cronistas espanhis anteriores aos meados do sculo XVIII negam a concepo de um Ser Supremo entre os Araucanos ou ento declaram o deus do trovo Pillan a divindade suprema desses ndios. Uma das fontes dos fins daquele sculo, Juan Ignacio Molina, designa a Pillan diretamente como o "Ser Supremo", o "Autor de todas as Coisas", entre os Araucanos.Muitos dos traos relatados de Ngenechen indicam a sua origem autctone, o ter nascido no domnio mental indgina araucano, outros, por seu turno, traem influncia crist, de modo que ne, Cooper (1946b), nem Mtraux (1949, pg. 561) chegam a uma deciso clara com referncia classificao histrico-cultural do Ngenechen dos Araucanos. Ambos os autores propem compromisso, admitindo ter sido modificada a concepo de uma antiga divindade araucana pela influncia secular da civilizao ocidental. bem possvel, de fato, que Pillan, o deus do trovo, tenha sido o predecessor e modelo de Ngnechen.Nas tribos do Gran Chaco a nica personalidade metafsica que se aproxima do conceito de um Ser Supremo a me-comum Eschetewarha dos Txamakko (Baldus, 1931). a me de numerosos espritos da floresta, filhos que ela teve com um "Grande Esprito" Pohitschio ("muito cachorro"). Domina ela o seu esposo e tudo o que existe no mundo, e cuida em que sempre haja gua para a humanidade, pois tambm a me das aves Osasero, que representam as nuvens. Por isso, dirigem-se-lhe preces para pedir chuva e ela espera que todas as noites se lhe entoem cantos. Consta mesmo que castiga com a morte aos que negligenciam essa obrigao.O carter tpico da religio dos Botocudos do Brasil oriental , na opinio de Josef Haekel (1952, pgs. 972-973), a crena numa espcie de Ser Supremo no cu, tal como Curt Nimuendaj (1946, b) ainda a registrou entre alguns remanescentes da tribo. Seu nome Yeknkren Yirugn, isto , "Pai Cabea Branca", mas tambm "Homem Velho" ou "Grande Homem". o chefe dos espritos celestes, Mart, mas, ao contrrio destes, nunca desce terra. Cr-se que, invocados pelo xam, os espritos Mart, somente visveis a ele, descem a um poste de trs metros de altura, erigido no centro da aldeia e provido no alto de uma figura humana, de onde, aps a cerimnia, retornam s regies celestes. Mas ningum jamais viu o semblante de Yeknkren Yiurgn, afirmando-se, no obstante, que outrora algumas pessoas estiveram em ligao direta com ele. Pai Cabea Branca rodeado de grande nmero de animais mansos e tem, como os demais Mart, atitude benevolente para com os homens. Em caso de molstia ou penria, o curador dirige preces e canes a esse Ser Supremo, cabendo aos espritos celestes o papel de intermedirios. So estes tambm os que acompanham as almas dos mortos no cu. Alm disso, Yeknkre Yirugn castiga os mortes e manda a chuva e a tempestade. Para a maioria das tribos norte-ocidentais e centrais (caadores e lavradores) da grande famlia lingustica j do este brasileiro -- os Apinay, os Canelas e os Xernte -- Sol e Lua no so apenas figuras mticas, mas verdadeiras divindades, cabendo ao Sol indiscutivelmente a primazia. Ambas as personalidades so concebidas pelas trs tribos como companheiros masculinos, sem parentesco entre si, segundo testemunho igualmente dado por Nimuendaj (1939; 1942; 1946a). A posio predominante da divindade solar entre os Apinay (Nimuendaj, 1939, pg. 133) levou Jensen (1951, pgs. 156-159) concluso de que a o homem solar mtico se teria ligado secundariamente representao de um Ser supremo, proveniente, segundo ele, de outro ciclo de ideas religiosas. Como prova, Jensen (ibidem) menciona que somente para o Sol, como criador dos homens, se usa o tratamento "Meu Pai", as oraes a ele dirigidas e a narrao extremamente viva em que um chefe dos Apinay relata um encontro tido, por ocasio de uma caa, com o Pai-Sol, concebido como personagem de atributos humanos. Tambm Haekel (1952, pg. 988) de opinio de que a relao entre Sol e Lua entre as tribos j, mormente entre os Apinay, talvez derive da concepo de um Ser Supremo e seu companheiro (heri civilizador ou "trickster"). Em especial, os Apinay atribuem ao Sol a instituio da organizao dual e a localizao das duas metades em que se divide a tribo. Ademais, dirigem ao Pai-Sol preces informais em situaes penosas, por exemplo, em casos de doena. O mesmo se d antes do incio de trabalhos de lavoura: pede-se ao Sol que proteja os frutos da roa. No comeo da colheita dedica-se-lhe tambm uma festa de danas que se prolonga por quatro dias, ocasio em que os danadores ostentam pintura solar vermelha. Se bem que no haja dolos, consta que tanto a forma circular das aldeias apinay, como os pastis de carne redondos representam o Sol.Uma prece dos Canelas caa e dirigida ao Sol tem o seguinte teor: "Queira o Av proteger a todos os animais, afim de que cresam e possam ser comidos pelos homens". A seguir, o suplicante enumera uma longa srie de espcies de animais cuja prosteridade recomende ao Sol (Nimuendaj, 1946, pg. 71).Ao passo que entre os Apinay e os Canelas se narra das divindades astrais Sol e Lua como, lanando cabeas a um riacho, as transformaram nos primeiros homens (Apinay) ou como, pulando na gua, criaram a humanidade (Canelas), no possuem os Xarnte nenhuma tradio relativa origem dos homens. Ainda assim, chamam ao Sol de "Nosso Criador" e tratam o Pai-Sol com a mesma venerao profunda e verdadeiramente religiosa dos Apinay (Nimuendaj, 1942).O mais importante cerimonial dos Xernte a "grande festa" , originariamente realizada por ocasio de seca longa e grande, que se acreditava provir da ira do deus solar. O principal da festa a ereo de um posta, pelo qual se sobe para, no topo, orar para o Sol. No fim da solenidade o prprio mestre de cerimnia sobe pelo posta, recebendo, a mo estendida para o nascente, uma mensagem do Sol, que lhe vem por meio de uma estrela da constelao de Orion e que geralmente diz estar o Sol satisfeito com a festa, dispondo-a a mandar chuva contanto que se continue a observar os antigos costumes tribais. A. Mtraux (1949, pg. 560), a quem se pode considerar o melhor conehcedor das religies das tribos lavradoras pertencentes ao grande grupo lingustico tup-guaran, j chamou a ateno para elementos da concepo de um Ser Supremo nessas populaes. Descrevem com frequncia o criador como transformador; em regra o legislador e mestre da jovem humanidade. Depois de executar as suas tarefas, caminha para o poente at o fim do mundo, onde domina sobre as sombras dos falecidos. Na opinio de Mtraux (1948, pg. 131), os diferentes heris civilizadores dos Tupinamb (Monan, Maira-Monan, Maira potchy, Mairat, Sum) remotam todos a um s personagem, o do av mtico Tamoi. Quando ocorria um eclipse lunar ou solar, o que na crena dos Tupinamb podia indicar o fim do mundo, os homens entoavam um hino ao av mtico, enquanto as mulheres e crianas se lamentavam, lanando-se desesperadas ao cho. A essa escatologia ligam-se os vrios movimentos messinicos surgidos entre os Tupinamb pouco aps o incio da colonizao portuguesa, alguns dos quais deram origem a grandes migraes em procura da terra mtica de Tamoi, tida como paraso a cujos habitantes se atribua imortalidade e eterna juventude. O deus supremo dos Apapokva-Guaran o criador anderuvu, "Nosso Grande Pai", que se retirou para uma regio longnqua dominada por eternas trevas e iluminada apenas pela luz que emana do peito da divindade (Nimuendaj, 1914, pgs. 316 ss.). L esto tambm sob o seu poder os meios para a destruio do mundo, por ele retidos somente enquanto lhe aprouver. No se preocupa com os acontecimentos dirios na superfcie da terra. No h, tampouco, prova de um culto a anderuvu entre os Apapokva-Guaran. Sua mulher andec, "Nossa Me"; habita na "Terra sem Males", paraso que ora se julgava encontrar-se a este, ora a oeste e que ainda no ltimo sculo foi o destino de vrios movimentos migratrios de cunho messinico. Para andec vo tambm as almas dos mortos.Enquanto todas essas figuras se aproximam da concepo de um Ser Supremo trazem ainda manifestamente a marca da originalidade, j no se d o mesmo com Tup, o primitivo demnio do trovo entre as antigas tribos tup-guaran e que somente pelos missionrios europeus foi alado dignidade de um Ser Supremo identificado com o Deus dos cristos (Mtraux, 1949, pg. 564). Assim, Tup hoje a designao geral do Deus cristo em populaes de fala guaran no Brasil e no Paraguai; em alguns grupos Tup aparece igualmente como pretenso Ser Supremo aborgene, mas no h dvida de que se trata de influncia missionria. No somente entre as tribos tupi orientais, mais recentes do ponto de vista histrico-cultural, mas tambm entre os Tup centrais, mais antigos, existem formas incipientes de uma crena em um Ser Supremo. Tal concepo relatada mormente dos Munduruk por vrios informantes desde os fins do sculo dezenove. A figura que se destaca na mitologia Karusakaib, o "Pai dos Munduruk", como o denominou o franciscano Frei Albert Kruse (1952), cujos trabalhos, resultantes de longos anos de estudos, so os que melhor nos informam sobre essa figura. Karusakaib se apresenta hoje em grande parte com os traos de um heri civilizador; entretanto, Gusinde (1960, pg. 304), em recente e acerba crtica ao livro "Mudurucu Religion" (1958) de Murphy, insiste em que primitivamente Karusakaib~e era considerado como Ser Supremo pelos Munduruk, tendo-se transformado apenas secundariamente em heri civilizador. O que se conta de Karusakaib , em que resumo, o seguinte: Outrora Karasakaib vivia sobre a terra e criou as almas dos homens, o cu com as estrelas, os animais de caa, os peixes e as plantas de cultivo com o seus frutos (Kruse, 1951, pgs. 921 ss.; 1952, pgs. 1013 ss.). Karusakaib onisciente; ensinou aos Munduruk a arte da caa, o cultivo da terra, as tcnicas a ele ligadas e outras coisas mais, mas no o autor de toda a cultura da tribo. , alm disso, o legislador dos Munduruk e o autor de sua organizao dual. Embora casado, nunca teve relaes sexuais com mulher. A um filho (Kurumatau) concebeu-o sua esposa distncia pela palavra do esposo, a outro ele prprio talhou da madeira de uma rvore. Karusakaib imortal; atingido pelos maus tratos dos Munduruk, retirou-se afinal para a regio em que j no h cu, mas apenas nvoas. Diz-se dele tambm que se transformou no sol radiante da estiagem. Em consonncia, por certo, com o carter solar de Karusakaib, afirma-se que no fim do mundo queimar os homens. At ento cuidar do bem-estar dos Munduruk, seus filhos, pos tem em princpio boa ndole, ainda que os castigue quando lhe desrespeitam os mandamentos.Dirigem-lhe oraes de splica antes, e de graas depois da caa e da presca; invocam-no tambm em casos de doena. Outra fonte (Srmer, pgs. 145-146) informa tambm sobre uma festa da rvore entre os Maduruk: nessa ocasio, erige-se uma rvore no meio da habitao e o xam, fumando tabaco, implora para a maloca a proteo de Kurusakaib, enquanto os demais participantes de agrupam em torno dessa espcie de pste celestial.O ciclo dos mitos que se tece em torno da figura de Karusakaib sincretizado conscientemente pelos Munduruk com o Deus dos cristos. Assim Karusakaib torna a aparecer secundariamente como Ser Supremo, o que entretanto podemos eliminar, como influncia indubitavelmente moderna, da imagem primitiva dessa divindade indgena. Tambm entre os Karab das Guianas encontramos, com certa frequncia, comeos de uma posio de destaque de uma s divindade com relao a um grande nmero de espritos inferiores. tambm a Albert Kruse ()1955) que devemos um trabalho sobre os Pur, o Ser Supremo dos Arikna (1955), tribo karab da Guiana brasileira. O que se relata de Pur coincide, em pontos essenciais, com o que sabemos de Krusakaib. Provavelmente isto se explica sobretudo pela proximidade geogrfica entre os Arikna e os Munduruk e pelo parentesco notoriamente estreito entra a mitologia dos Karab e a dos Tup-Guaran, mas em parte talvez tambm pelo fato de nos serem transmitidos pelo mesmo autor os dados sobre uma e outra tribo.O trabalho de Kruse sobre a crena num Ser Supremo entre os Arikna foi tomado recentemente por Josef Haekel (1958) como ponto de partida para consideraes histrico-religiosas sobre tendncias monotestas entre tribos karab e outras populaes aborgenes das Guianas e de reas contguas. Segundo esse estudo, o nome Pur para um Ser Supremo no o possui alm dos Arekna nenhuma outra tribo karab, mas ocorre, de forma alterada, em algumas populaes mais antigas do ponto de vista histrico-cultural e localizadas mais para oeste. Outros dados relativos ao assunto foram extrados por Haekel da obra de C. H. Goeje (1943) que, apoitado nas pesquisas dos irmos Penard (1907-1908) em Paramaribo e em duas prprias investigaes, discute as ideias religiosas dos Karab da costa setentrional do Surinam, isto , dos Kalia ou Galib. Todavia, cumpre considerar com algumas reserva as informaes dos dois missionrios (Penard, 1907-1908) sobre a religio dos Karabe litorneos, de vez que nem sempre clara a distino entre o material autntico e a prpria interpretao. Prefiro, por isso, excluir aqui o trabalho de Goeje, mais no obstante re gistrar a ocorrncia indubitvel de uma forma elementar de monotesmo tambm na regio do delta do Orenoco, a saber, na tribo dos Warru, que falam um idioma isolado. Deles j se relatou em poca antiga a crena num Ser Supremo; mas somente em nossos dias Johannes Wilbert (1956, pgs. 239 ss.), tomando por base observaes pessoais, se ocupou mais detidamente com o fenmeno. O Ser Supremo Kanobo (Av), criador e vigia do mundo, mora no cu, cercado de uma corte de espritos em escala hierrquica. Ele e a maior parte desses espritos so poderosos e benevolentes protetores do homem, que castigado pela divindade somente quando lhe desobedece ou a desrespeita. Em geral, Kanobo representado apenas por imagens antropomorfas de madeira, pedra ou barro, ocasionalmente tambm por uma acha de pedra polida. Os Warru guardam o seu dolo num templo situado a alguma distncia das outras casas de construdo de forma um pouco diversa.De ano em ano os Warru realizam uma grande festa de sacrifcio (l. c., pg. 342). a poca em que Kanobo se levanta de seu trono, fazendo os rios sarem de seu leito, o que traz epidemias, molstias e morte, especialmente de crianas. No templo se acumulam farinha de buriti (moriche) e peixes em quantidade. Aps noites seguidas de cantos e danas, Kanobo comunica ao secerdote (wisiratu) ter abenoado as ddivas, deixando-as populao para o consumo. Dos ritos de jogos por ocasio da festa cabe mencionar em especial a dana executada em torno de um sagrado poste central e acompanhada de rezas a Kanobo pelas crianas Warru que se encontram em perigo.Outra divindade com indiscutvel carter de Ser Supremo Kuma, a grande deusa dos Yarro, que, vivendo predominantemente da coleta, habitam junto a uma alfuente ocidental, no mdio Orenoco. Kuma era por certo a princpio uma deusa lunar e esposa do Sol, a que cabia posio de menor relevo. Um informante de Petrullo, cujo trabalho, de 1939, continua sendo a nossa melhor fonte para o conhecimento da religio yarro, resumiu nas seguintes palavras a sua opinio sobre Kuma: "Tudo proveio de Kuma, e tudo o que os Yarro fazem foi assim por ela institudo -- as demais divindades e os heris civilizadores agem de acordo com a lei que ela deu". Kuma criou o mundo com auxlio de dois irmos, a cobra aqutica Puana e a ona Itciai. Estas, por seu turno, fizeram a terra e a gua. Os primeiros homens eram os Yarro; teriam sido criados pela prpria Kuma; o mestre da humanidade foi, porm, o filho de Kuma, Hatchawa, o heri-civilizador, do qual consta ter recebido o seu saber da cobra aqutica Puan. Quando os homens se desencaminharam para o mal, Kuma provocou uma grande inundao. Os sobrevivmentes dividiram a tribo dos Yarro nas metades exgamas matrilineares ainda hoje existentes e que se denominam segundo a cobra aqutica (Puan) e a ona (Itciai). Kuma reina no Alm, isto , na Terra da Ventura, que fica para o oeste e onde cada espcie de animal e vegeral tem o seu equivalente de gigantescas propores. Os nicos Yarro informados sobre Kuma so os xams. Depois de longos anos de preparao estes tem o dom de ver a terra de Kuma em sonho ou numa viso. Os primeiros cantos de uma sesso xamanstica descrevem a viagem da alma do xam para a terra de Kuma. No momento em que a alma chega ali, o xam sacode com violncia o marac. Neste se v gravad a figura de Kuma com os braos erguidos -- obra do xam, que assim representa as suas vises no Alm. Durante a sesso, o xam tem diante de si, alm disso, um poste, em torno do qual danam homens e mulheres em crculos separados.Tratemos por fim das concepes religiosas dos Uitto da regio Putumaio, ndios alis bastante diferenciados do ponto de vista cultural. Sobre o assunto possumos copioso material colhido por K. Th, Preuss (1921-1923). Na opinio deste autor, o pai primrio ou criador Moma (Pai) a divindade mxima ou at mesmo a nica di vindade propriamente dita dos Uitto. Do conjunto complexo da regio tribal Moma se destaca claramente, em sentido monotesta, como autor e conservador do mundo. Segundo o mito da criao dos Uitto, Moma se originou sem pai nem me, foi criado exclusivamente pelo "Verbo", isto , por meio de frmulas mgico-religiosas e de mitos portadores de foras sobrenaturais. De outro lado, prprio Moma era personificao desse "Verbo", por ele transmitido aos homens. Instituiu assim todas as cerimnias religiosas, nas quais, porm, ele no reverenciado diretamente; a sua significao religiosa repousa, ao contrrio, na crena dos Uitto de que sem Moma seriam ineficazes todos os cantos e ritos. A origem do mundo explicam-na dizendo que a terra e tudo oq ue h no mundo foi criado, pelo Pai Primrio, do respectivo "objeto aparente" (Naino), da "substncia sem ser", do "arqutipo" de cada ser. O prprio Moma tem neste contexto o nome de Nainuema, isto , "o que possui (ou representa) a coisa no existente, inexplicvel, uma imagem sem realidade" (Preuss, 1921, pg. 27). Num mito da criao do mundo orgnico refere-se que Moma tirou plantas e animais do seu prprio corpo. Ainda hoje continua presente sobretudo nas plantes teis, cuja frutificao por ele promovida. Quando as rvores j no trazem fruto na superfcie da terra, descem elas para o segundo, o inferior dos mundos subterrneos, para junto do Pai Primrio, que, alm de sua existncia como Lua no firmamento, ali reside desde que como primeiro ser sofreu a morte e que o senhor dos mortos. Nos frutos Moma sempre torna a ressuscitar.O prprio Preuss (1921, pg. 25) j chamou a ateno para o curioso paralelismo com a bblia, que se manifesta no fato de Moma se originar do "Verbo", em sua identidade com o "Verbo", em sua qualidade de senhor do "Verbo". (Sabem todos que o Evangelho de So Joo reza no cap. I, vers. 1.: "No princpio era o Verbo, e o Verbo era com Deus e o Verbo era Deus"). Para Preuss, entretanto, no h nisso nenhuma influncia crist; verificou (Preuss, 1921, pgs. 30-31) que, pelo contrrio, a doutrina crist influiu na figura da divindade urnica dos Uitto, Husiniamui, que os missionrios da Igreja ali escolheram para representar o Deus dos cristos. Preuss, verdade, interpreta o imortal Husiniamui como entesolar, ao passo que Jensen (1948, pgs. 108-118), que se ocupou detidamente com a figura de Moma e a concepo do mundo dos Uitto, no v em Husiniamui seno uma variante de Moma e precisamente o seu aspecto como astro lunar. Alm disso, Jensen considera o Pai Primrio dos Uitto antes de mais nada como certa forma de heri civilizador ou salvador, para o qual esse autor introduziu o conceito de divindade Dema, segundo um personagem prototpico da religio dos Marind-anim da Nova-Guin. Nesse sentido de importncia capital o aspecto de Moma como corporificao do mundo animal e vegetal que nele prprio teve sua origem. Jensen reconhece, porm, haver em Moma tambm certos traos de Ser Supremo, como os que, entre outros, se manifestamm em seu carter de Nainuema, acima explicado. Tal concepo abstrata de Moma encarada finalmente por Mtraux (1949) como obra de um indivduo nico, de esprito brilhante com tendncia metafsica, o que acena para uma especulao da parte de sacerdotes, tal como ocorre com frequncia somente no domnio de altas culturas. A meu ver, parece aqui uma influncia andina, observvel j nos exemplos precedentes dos Warru e dos Yarro, como nos Araucanos e nos Tup-Guaran, e que se revela nas formas incipientes de um culto com templos e dolos com panteo hierrquico e uma instituio especial de sacerdcio. A divindade mxima Viracocha dos antigos peruanos, em particular dos Quchua portadores do imprio incaico, corresponde por exemplo, a todos os requisitos que a cincia das religies exige do conceito de Ser Supremo. Quanto deusa-me Kuma dos Yarro, seu modelo, na opinio de Mtraux, a me-comum Gauteovan dos Kgaba da Colmbiam tribo chibcha descendente das antigas populaes de alta cultura da rea andina setentrional. Hebert Baldus (1931, pgs. 285 ss.) associa tambm a Gauteovan, do ponto de vista tipolgico, a me-comum Eschetewaraha dos Txamakko, por ele descoberta. Esses dois nicos personagens femininos -- se abstramos a natureza hermafrodita de Ngenechen dos Araucanos --, como os demais Seres Supremos,masculinos, se nos apresentam com carter de orientao predominantemente csmica, ou melhor, urnica, quer se trate de divindades celestes genricas, quer de personificao do sol, da lua e das estrelas ou de fenmenos atmosfricos deificados, como o trovo, o raio e a chuva. O poste central sagrado que, entre os Araucanos, os Botocudos, os Xernte, os Munduruk, os Warru e os Yarro se liga ao culto do Ser Supremo pode, neste contexto, se compreendido como a unio simblica entre o aqum terreno e o Alm celeste, como j disse Haekel (1955, pg. 240), que atribuiu esse objeto de culto a um primitivo estrato de caadores da Amrica do Sul.No raro, h uma associao dos aspectos urnicos com um criador, heri civilizador ou avoengo deificado, e verificam-se tambm relaes do Ser Supremo com a planta alimentcia preferida, como, ainda, com a fertilidade vegetal em seu conjunto. Casos h, por fim, em que ele o senhor dos grandes animais de caa, fato acima j mencionado. Dessa maneira, a pessoa dominante do Ser Supremo rene em si aspectos vrios que em outros casos cabem separadamente a umas quantas divindades menores. Se passarmos em revista, mais uma vez, as diferentes formas aqui discutidas de uma crena num Ser Supremo nas populaes primitivas da Amrica do Sul, no se pode inferir com segurana que ali essa crena com o respectivo culto tenha sido amais antigae, no estgio da coleta e caa, anicaforma de religio, como admitem os adeptos da teoria do monotesmo primitivo. Afora os exemplos marcantes dos caadores e coletores fueguianos, tantas vezes citados em abono dessa tese, deparamos a crena num Ser Supremo em todos os estratos histrico-culturais, que incluem igualmente partes da Bolvia oriental e o noroeste da Amrica do Sul, regies que no possvel discutir aqui, mas que, alis, tambm no oferecem pontos de vista novos ed maior importncia para o estudo do tema.

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