A república antecipada e o cel. Manoel Corrêa de Sousa ... · O inquérito policial, encontrado...

13
II JORNADA DISCENTE DO PPHPBC (CPDOC/FGV) INTELECTUAIS E PODER Simpósio 6 | Intelectuais e poder A república antecipada e o cel. Manoel Corrêa de Sousa Lima: um estudo sobre a auto narrativa e a proclamação da república em São José do Rio Pardo/SP em agosto de 1889 Liliane Faria Corrêa Pinto * Resumo: O cel. Manoel Corrêa de Sousa Lima participou de uma proclamação antecipada da república em São José do Rio Pardo/SP, em agosto de 1889. Levou cem homens de sua fazenda que, junto com outros cem homens de outro coronel local e mais alguns independentes, tomaram a cidade e proclamaram a república. O movimento foi debandado por policiais das cidades vizinhas em poucos dias e os mandantes foram processados. Nesse texto, propomos uma análise da contraposição de memórias dos depoimentos dos envolvidos no evento, encontrados no inquérito policial, em contrapartida aos relatos fornecidos pelo cel. Manoel Corrêa de Souza Lima, anos depois, em seu memorial de Nepomuceno/MG, sua terra natal, e em uma entrevista concedida ao Diário da Tarde, em janeiro de 1949. Palavras-chave: República – Coronelismo – Narrativa Auto Biográfica – Memória **** * Doutoranda em História, Política e Bens Culturais no CPDOC / FGV. Mestre em História Econômica pela USP.

Transcript of A república antecipada e o cel. Manoel Corrêa de Sousa ... · O inquérito policial, encontrado...

Page 1: A república antecipada e o cel. Manoel Corrêa de Sousa ... · O inquérito policial, encontrado no Arquivo Público do Estado de São Paulo, contém 221 páginas com depoimentos

 

 

 

II JORNADA DISCENTE DO PPHPBC (CPDOC/FGV) 

INTELECTUAIS E PODER 

 

Simpósio 6 | Intelectuais e poder 

A república antecipada e o cel. Manoel Corrêa de Sousa Lima:

um estudo sobre a auto narrativa e a proclamação da república em São

José do Rio Pardo/SP em agosto de 1889

Liliane Faria Corrêa Pinto*

Resumo:

O cel. Manoel Corrêa de Sousa Lima participou de uma proclamação antecipada da

república em São José do Rio Pardo/SP, em agosto de 1889. Levou cem homens de sua

fazenda que, junto com outros cem homens de outro coronel local e mais alguns

independentes, tomaram a cidade e proclamaram a república. O movimento foi debandado

por policiais das cidades vizinhas em poucos dias e os mandantes foram processados. Nesse

texto, propomos uma análise da contraposição de memórias dos depoimentos dos envolvidos

no evento, encontrados no inquérito policial, em contrapartida aos relatos fornecidos pelo cel.

Manoel Corrêa de Souza Lima, anos depois, em seu memorial de Nepomuceno/MG, sua terra

natal, e em uma entrevista concedida ao Diário da Tarde, em janeiro de 1949.

Palavras-chave: República – Coronelismo – Narrativa Auto Biográfica – Memória

****

                                                            * Doutoranda em História, Política e Bens Culturais no CPDOC / FGV. Mestre em História Econômica pela USP.

Page 2: A república antecipada e o cel. Manoel Corrêa de Sousa ... · O inquérito policial, encontrado no Arquivo Público do Estado de São Paulo, contém 221 páginas com depoimentos

 

A proposta do texto é contrapor os depoimentos de alguns envolvidos com o

episódio republicano de São Jose do Rio Pardo, escritos no inquérito, e a escrita de si do cel.

Manoel Corrêa de Souza Lima (cel. MCSL a partir de agora) em seu manuscrito

“Nepomuceno – o seu início” e em uma entrevista concedida ao Diário da Tarde quando fez

noventa anos. O inquérito policial, encontrado no Arquivo Público do Estado de São Paulo,

contém 221 páginas com depoimentos de testemunhas e participantes do dia onze de agosto

de 1889, dia da república antecipada de São José do Rio Pardo, até o dia 24 de agosto do

mesmo ano. Já as memórias do cel. MCSL começaram a ser escritas por ele em 1920 e foram

redigidas até o final dos anos de 1930. A reportagem no jornal Diário da Tarde foi realizada

em homenagem ao nonagésimo aniversário do cel. MCSL. Seu sobrinho neto o indicou a um

amigo jornalista para uma entrevista por ter completado idade tão avançada em 1949.

São José do Rio Pardo é uma cidade do oeste paulista fundada na primeira

metade do século XIX por fazendeiros, em sua maioria de origem mineira, que se instalaram

nas terras férteis das margens do rio Pardo. Suas fazendas se dedicavam à produção de café

que, a partir do terceiro quartel do século XIX, se intensificou na região e passou a ser o

principal produto da economia riopardense. Nos anos de 1880, os proprietários de escravos

de São José do Rio Pardo, antevendo a abolição, contrataram italianos para substituir os

cativos. Inúmeros italianos chegaram a São José por volta do ano de 1888 e 1889 e se

estabeleceram nas fazendas para o trabalho na lavoura. Alguns deles não se adaptaram às

atividades agrícolas e deixaram o campo para se dedicaram ao artesanato, à manufatura e ao

comércio no distrito sede, outros vieram da Itália e Suíça diretamente para as profissões

urbanas e não chegaram a viver nas colônias. Na cidade, formou-se, então, um conjunto

cultural com elementos brasileiros, italianos e africanos que se dividiram politicamente em

monarquistas e republicanos. Os monarquistas eram brasileiros, soldados da polícia e

militares de baixa patente que viviam na cidade, além de alguns fazendeiros e brasileiros de

famílias tradicionais. Os republicanos eram italianos e fazendeiros brasileiros que pertenciam

ou simpatizavam com o Partido Republicano Paulista.

Em julho de 1889, os italianos fizeram uma solenidade para a inauguração da

pedra fundamental da Sociedade Italiana XX de Setembro, uma mútua criada para auxiliar os

patrícios italianos que se estabeleceram na cidade e precisavam de apoio financeiro. Além das

festividades da mútua, os italianos fizeram uma manifestação em prol da república andando

pelas ruas do centro e cantando o hino francês da marselhesa (DEL GUERRA, 1999). Duas

versões descrevem a manifestação em dois jornais da época: “O Tiradentes” e o “Oeste de

Page 3: A república antecipada e o cel. Manoel Corrêa de Sousa ... · O inquérito policial, encontrado no Arquivo Público do Estado de São Paulo, contém 221 páginas com depoimentos

 

São Paulo”. Não tivemos acesso a nenhum deles, apenas ao folheto de Honório de Sylos, um

jornalista riopardense, que reproduz os dois textos.

Na primeira versão, Honório de Sylos resume o artigo do jornal “Oeste de São

Paulo”, da cidade de Casa Branca, datado de 30 de junho de 1889. Nessa reportagem, no dia

24 de junho daquele ano, teria havido um confronto entre republicanos e monarquistas

ocorrido por causa de um encontro ocasional do desfile de lançamento da pedra fundamental

da Sociedade Italiana que seguia com os italianos cantando a Marselhesa musicada pelos

instrumentos da banda Giuseppe Verdi com os monarquistas do Partido Liberal que saiam de

uma reunião e seguiam pelas ruas ao som do Hino Nacional sonorizado pela banda

Riopardense. As músicas das duas bandas se confundiram e a Giuseppe Verdi tocou mais

uma vez a Marselhesa. Por fim, o delegado mandou que a banda parasse de tocar e houve

gritos e xingamentos entre os dois grupos. No dia 25, os republicanos seguiram para a estação

ferroviária com a banda Giuseppe Verdi para vaiar o delegado e o Dr. Fortunato dos Santos

Moreira, de Pindamonhangaba, que era candidato a deputado provincial.

Na versão do jornal “O Tiradentes”, de São José do Pardo, cuja edição saiu em

sete de julho de 1889, o delegado Bittencourt, o Dr. Fortunato e alguns capangas teriam

atacado os republicanos no evento comemorativo da Sociedade Italiana, forçando-os a saudar

a monarquia. Como os republicanos não quiseram cumprir as ordens do delegado, os

soldados e capangas bateram em Ananias Barbosa, líder dos republicanos, mas foram

combatidos pelo povo. O grupo monarquista deixou o local e foi seguido pelos republicanos

que cantavam a Marselhesa e proferiam discursos.

Segundo José Murilo de Carvalho, a Marselhesa era o hino dos republicanos

brasileiros que a entoavam em todas as manifestações, como um símbolo da revolução e da

república (CARVALHO, 1990:122-123). Em São José do Rio Pardo, foi cantada pelas ruas

da cidade com o mesmo intuito de representar a liberdade, a revolução e a república. Para os

italianos estabelecidos naquela cidade, poderia representar mais que a simples adesão ao ideal

republicano, mas o sentido da união dos imigrantes contra os maus tratos de patrões que,

muitas vezes, tratavam os estrangeiros como escravos. Nesse sentido, o cantar a Marselhesa,

mais que um ideal republicano, era um símbolo da força da união perante as más condições

das colônias e da vida dos imigrantes na cidade.

O confronto entre republicanos e monarquistas de junho de 1889 indicava a

instabilidade entre os dois grupos em São José do Rio Pardo. Quarenta e sete dias depois, os

ânimos entre monarquistas e republicanos ainda estavam exaltados e o partido republicano

Page 4: A república antecipada e o cel. Manoel Corrêa de Sousa ... · O inquérito policial, encontrado no Arquivo Público do Estado de São Paulo, contém 221 páginas com depoimentos

 

local organizou uma visita de Francisco Glicério. A chegada do político aqueceu novamente

as divergências. Os republicanos foram à estação de São José do Rio Pardo para receber o

visitante que foi saudado com vivas à república. Foram para o Hotel Brasil onde jantaram e,

em meio ao jantar, ocorreram os embates. Soldados da força policial atiraram pedras e paus

no prédio, invadindo o hotel e quebrando móveis, louças, portas e janelas. Em represália ao

ataque monarquista, a cidade foi tomada pelos republicanos e no dia seguinte, onze de agosto,

eles abriram o inquérito contra o cap. Saturnino Barbosa, preso como autor e mandante da

invasão. Nesse dia, deram os primeiros depoimentos três testemunhas. Com a chegada dos

policiais de Casa Branca, os monarquistas dominaram as forças republicanas e continuaram o

inquérito, mas inverteram a “culpa”. Fizeram autos de corpo de delito em dois policiais e o

laudo do prédio de hotel. Tomaram os depoimentos de várias testemunhas até o dia vinte e

quatro de agosto.

A partir desse momento, nossa tarefa de contrapor os relatos se inicia. Temos

os depoimentos do inquérito cujos fatos se alteram de acordo com a tendência do depoente e

a versão do cel. MCSL que não se manifestou durante o inquérito, mas deixou escrita sua

história em seu manuscrito “Nepomuceno – o seu início” e deu uma entrevista para o jornal

em 1949.

O manuscrito do cel. MCSL teve início em 1920, em Nepomuceno – MG, e

sua proposta era escrever a história da sua cidade natal e sua família. No final dos anos de

1930, ele já estava com problemas nos olhos e sua neta terminou de redigir o que ele ditava.

O suporte do texto são dois cadernos de contabilidade cortados ao meio, aproveitando as

pautas e deixando de lado as colunas. Ele tem a capa dura marmorizada, já envelhecida, um

nas cores marrom escuro e branco e, outro, em preto e cinza. As lombadas foram feitas por

um tecido grosso, engomados por cola, na cor preta e outro azul. No centro do primeiro

caderno, cuja cor é marrom, há uma etiqueta com a as palavras: “Registro de movimento das

estampilhas para vendas mercantis da casa comercial de...”. O texto foi escrito à mão com

caneta nanquim ou bico-de-pena pelo autor até metade do segundo caderno quando sua neta,

Eurídice Corrêa Lima, passou a redigir as palavras ditadas por ele. A letra do coronel era

bonita, firme e bem traçada, indicando alguém com costume de escrever. A de sua neta era

mais arredondada, mas também tinha firmeza e indicava regularidade de escrita. Ela era

estudante da escola normal e se tornou, em seguida, professora primária. O suporte do texto é

uma importante pista para a análise da escrita de si e da própria fonte primária (MAUAD &

MUAZE, 2004). Nesse caso, os cadernos utilizados sugerem que o texto era uma primeira

Page 5: A república antecipada e o cel. Manoel Corrêa de Sousa ... · O inquérito policial, encontrado no Arquivo Público do Estado de São Paulo, contém 221 páginas com depoimentos

 

versão, ainda um rascunho, mas acreditamos que como os olhos do cel. MCSL o traíram, ele

apenas terminou o texto, deixando algumas rasuras, palavras faltando ou erradas e, ainda

algumas informações em branco, como datas e nomes.

O cel. MCSL escreveu sobre a chegada dos bandeirantes a São João

Nepomuceno de Lavras do Funil (hoje, Nepomuceno – MG) e a colonização da localidade.

Para isso, contou a história da família, discriminando toda a sua ascendência desde seu

bisavô, cap. Manoel Joaquim da Costa, proprietário de terras naquelas paragens até as

gerações posteriores, chegando a falar de seus netos. Quando escreve sobre seus avós, pais,

irmãos e esposa, faz uma escrita de si, com referências a sua vida, convicções e

personalidade.

O cel. MCSL era um dos fazendeiros que vivia em São José. Era patrão de

italianos e proprietário de duas fazendas de café – as fazendas Pião e Limoeiro. Nasceu em

São João Nepomuceno de Lavras do Funil (hoje, Nepomuceno) em 1859. Estudou as

primeiras letras em Três Pontas e continuou parte dos estudos no Seminário de Mariana.

Casou-se em 1872 com a prima, Anna Augusta de Lima, e acreditamos que recebeu as terras

riopardenses como dote. Mudou-se para São José do Rio Pardo e, segundo sua neta, Eurídice

Corrêa Lima, assim que tomou posse das propriedades, alforriou seus escravos. Eles não

quiseram permanecer nas fazendas e o cel. MCSL contratou os italianos que chegaram ao

final dos anos de 1880 (LIMA, 2010). Em seu texto “Nepomuceno – o seu início”, cel.

MCSL descreve o que ele chama de “revolução” ao falar de si no trecho dedicado a sua

esposa, subterfúgio utilizado para abrir um precedente para sua escrita de si.

No tempo do império, seu marido republicano fervoroso, crente que a

forma republicana vinha trazer a felicidade e a grandeza do Brasil e

havendo vários incidentes entre republicanos e monarquistas deu-se

uma revolução na qual seu marido era parte ativa, tendo sido presas

as autoridades administrativas, políticas e policiais, inclusive um

destacamento de 30 praças, o que causando grande indignação a

estas autoridades e ao Governo imperial, foram processados os

cabeças da revolução, dos quais seu marido fazia parte, isto deu-se

no dia 11 de agosto de 1889, ia ser condenado seu marido a pena de

exílio e D. Anna Augusta de Lima, nenhuma queixa, nem reclamação

Page 6: A república antecipada e o cel. Manoel Corrêa de Sousa ... · O inquérito policial, encontrado no Arquivo Público do Estado de São Paulo, contém 221 páginas com depoimentos

 

articulava, apenas procurava saber se a mulher e filhos do exilado

era permitido acompanhá-lo. (LIMA, 1920-38: 29)

Esse seria um resumo da república antecipada de São José do Rio Pardo,

descrito pelo Cel. MCSL em seu manuscrito. Ele foi mais detalhista na entrevista para o

jornal Diário da Tarde, concedida ao fazer noventa anos.

Na reportagem, ele descreve o processo de qualificação dos eleitores e afirma

que a maioria riopardense era republicana e que os republicanos fizeram um acordo com os

liberais, mas foram traídos. Após esse fato, ele conta como foi o primeiro embate entre

liberais e republicanos.

Certa ocasião chegou à cidade uma caravana para uma conferência do Partido

Liberal. Houve passeata pelas ruas, comícios e vivas aos liberais. Quando

passavam pela “Sociedade Italiana 20 de Setembro”, em cujo recinto se festejava

um acontecimento qualquer, um orador liberal invadiu a sede e subiu à tribuna,

concitando a colônia italiana a ser liberal, a exemplo de Garibaldi. Em seguida, o

Sr. Cândido Prado, pai do Dr. Cartéia Prado, conhecido médico de Belo

Horizonte, corajosamente pediu a palavra, e, apesar da maioria de liberais

retrucou o orador, pregando a causa republicana. Um fazendeiro liberal, bastante

corpulento com muita dose de atrevimento, arrancou Cândido Prado da tribuna,

envolvendo-o num manto. (TAVARES, 1949)

Assim que Cândido Prado foi agredido, Ananias Barbosa soube da violência e

resolveu revidar, dando bengaladas nos monarquistas que estavam na caravana. Ele debandou

os liberais que se submeteram aos republicanos, sujeitando-se a aceitar sua bandeira e hino.

Esse teria sido o primeiro confronto sério entre monarquistas e republicanos e coincide com a

versão de Honório de Sylos que teria saído no jornal “Oeste de São Paulo”. Por outro lado,

esse encontro não é mencionado no inquérito policial e, segundo o cel. MCSL, foi um

momento incisivo para a disputa entre monarquistas e republicanos em São José do Rio

Pardo.

Em dez de agosto, Francisco Glicério chegou a São José do Rio Pardo e

hospedou-se no Hotel Brasil, de propriedade de Ananias Barbosa, onde foi servido um jantar

em sua homenagem. À noite, um destacamento de trinta praças, comandado por um tenente,

invadiu e depredou o hotel. Os republicanos, reunidos com Glicério e com a ajuda deste,

prenderam as autoridades locais como o presidente da Câmara, o cap. Saturnino Flaustino

Page 7: A república antecipada e o cel. Manoel Corrêa de Sousa ... · O inquérito policial, encontrado no Arquivo Público do Estado de São Paulo, contém 221 páginas com depoimentos

 

Barbosa, o subdelegado e o oficial de justiça. Segundo o cel. MCSL, “Somente eu

comandava cem homens. Procuramos os liberais, alguns escondidos debaixo da cama...”

Prenderam os soldados, desarmando-os. Um deles resistiu, “atirando sobre o povo. A massa

popular reagiu à bala.” (TAVARES, 1949). Por fim, a bandeira republicana foi hasteada nos

prédios públicos e a cidade foi declarada republicana. Na tarde do dia onze, o chefe de polícia

da Província de São Paulo chegou com cem praças e retomou a cidade. No mesmo dia,

iniciou um processo contra os líderes do movimento, entre eles, o cel. MCSL.

Para contrapor ao relato do cel. MCSL, temos a versão dos depoimentos do

inquérito policial. Nesse documento, no dia onze de agosto, depuseram o cap. Saturnino

Franzinho Barbosa, que consta como preso, o comerciante Izidoro Vannucci, o Doutor

Antônio Munniz de Souza e uma testemunha que falou em nome do cel. MCSL que esteve

presente no início dos depoimentos, mas saiu em meio a eles.

O primeiro depoimento foi dado por Izidoro Vannucci, um comerciante na

cidade. Ele estava em sua casa na manhã do dia onze quando o cap. Saturnino Barbosa,

liberal, entrou sendo perseguido por um negro com uma espingarda. Vannucci retirou o

homem armado para conversar com o capitão, enquanto o povo se aglomerava do lado de

fora. Saturnino Barbosa pediu que mandasse chamar o cel. MCSL que estava junto ao povo

para acalmar os ânimos gerais. Em seguida, o Dr. Munniz entrou para conversar com o

capitão e o retirou-o da casa rendido. Ele foi levado para o sobrado de Honório Dias onde

estava o QG republicano. Vannucci afirmou também que “a polícia neste lugar tem andado

em desordem, tanto que no Hotel Brasil houveram desacato entre a polícia, proprietário e

hóspedes do hotel” e, segundo ele, “o subdelegado José Honório acompanhava a essa gente”.

(SÃO PAULO: 1889).

Após o depoimento de Vannucci, o Dr. Antônio Munniz de Souza contou sua

história. Segundo ele, estavam na estação ferroviária esperando Francisco Glicério para

recebê-lo com uma banda de música. O trem atrasou e a estação estava muito cheia. Por isso,

advertiu aos republicanos que estavam com ele a espera de Glicério que “a manifestação não

passasse de vivas à república e a Francisco Glicério”. A comitiva chegou e se dirigiu ao Hotel

Brasil, onde se reuniram. Os companheiros mais amigos ficaram para o jantar que, segundo o

Dr. Munniz, foi sem brindes. Após a refeição, ele voltou para casa porque se sentia

adoentado. Depois de se deitar, ele ouviu os sinos badalarem, mas achou que era um incêndio

e, como sua esposa o advertiu que não deveria sair, optou por ficar em casa e adormeceu.

Durante a noite, nada viu, mas de manhã sua esposa comentou que não pode dormir por causa

Page 8: A república antecipada e o cel. Manoel Corrêa de Sousa ... · O inquérito policial, encontrado no Arquivo Público do Estado de São Paulo, contém 221 páginas com depoimentos

 

da algazarra que havia na cidade. Foram a casa dele e arrancaram as bandeiras e assim

fizeram com outras residências. As praças de polícia, comandadas pelo subdelegado José

Honório, assaltaram o Hotel Brasil. Enfim, pela manhã, após serem relatados todos os fatos a

ele, o Dr. Munniz telegrafou às autoridades e, chegando a casa do Sr. Honório Dias, verificou

que lá estavam presos o subdelegado e o oficial de justiça. Foi, então, a casa de Izidoro

Vannucci buscar o cap. Saturnino Barbosa que estava escondido e sob ameaça de ser preso

pelo povo para levá-lo ao sobre de Honório Dias. De lá o preso foi transferido para o prédio

da câmara após o desarmamento e prisão dos praças criminosos.

Em seguida, afirmou que

(...) atribuem o capitão Saturnino responsabilidade nos sucessos, pelo fato de ser

ele um chefe liberal que não se conforma com o crescimento do partido

republicano no lugar, com o qual partido e respectivo pessoal anda em luta

irreconciliável; que mais correram boatos, aliás hoje confirmados, bem ou mal, por

todas as praças do destacamento, que se acham presas, de que o Capitão Saturnino

consertara ontem a agressão aos republicanos; que ele depoente acha tão brutal

semelhante meio de combater os adversários, que o seu espírito repugna acreditar

em tão nefanda maquinação. Respondeu a requerimento da parte, que quando

chegou a casa de Vannucci, a voz de prisão já havia sido dada, estavam

glomerados em frente ao edifício e adjacências muitos trabalhadores de roça

armados, que haviam sido requisitados para garantir a população contra a polícia,

nacionais e estrangeiros e bem assim pessoas como não há mais dignas nesta Vila

pertencentes a diversos credos políticos. (SÃO PAULO: 1889)

Após seu depoimento, a testemunha que substituiu o cel. MCSL, o Dr.

Geraldino da Silva Campista, deu seu testemunho. Ele ouviu o alarme de incêndio por volta

das dez horas da noite e soube o que era pelo cap. Saturnino Barbosa que gritava para

acudirem o Hotel Brasil. Com medo de sua casa ser agredida, como ouviu que aconteceria

por pessoa do povo, levou sua família para o sobrado de Honório Luís Dias em

(...) companhia do cidadão Francisco Glicério, Doutor Mercado e outros trataram

de providenciar meios de defesa chamando seus correligionários que residem nas

fazendas assim como o pessoal que pudessem dispor. Enquanto esperavam os

companheiros dirigiu-se ao hotel Brazil para diviso presenciar os atos de

vandalismo praticados pelos soldados; estando nesse hotel ai apareceu o

subdelegado José Honório dizendo que não podia conter a força e pedia que se

Page 9: A república antecipada e o cel. Manoel Corrêa de Sousa ... · O inquérito policial, encontrado no Arquivo Público do Estado de São Paulo, contém 221 páginas com depoimentos

 

dispersassem os que ai estavam neste momento um grupo de pessoas vindo do hotel

pessoas sérias e de todo conceito afirmaram que senhor José Honório tinha

dirigido os primeiros ataques contra o hotel aos gritos de mata, mata, e quiseram

tirar sem desforço contra o dito subdelegado ao que se opôs o depoente trazendo o

mesmo debaixo de sua responsabilidade até a casa do cidadão Honório Dias onde

estava reunido o partido republicano e ai resolver-se que fosse o mesmo detido

para a garantia de todos. (SÃO PAULO: 1889)

Segundo a testemunha, o subdelegado foi mantido na residência de Honório

Dias sob a proteção de Francisco Glicério, Dr. Mercado, ele próprio e outros que contiveram

“o povo que a todo transe procurava reagir contra as autoridades policiais.” (SÃO PAULO:

1889). No dia onze, o Dr. Geraldino viu um grupo que corria para prender o cap. Saturnino

sob a acusação de que ele pretendia fugir para Casa Branca. Ele estava na casa de Izidoro

Vannucci e havia sido preso “por pessoas capazes, trabalhadores estrangeiros e nacionais e

outras pessoas qualificadas.” (SÃO PAULO: 1889). O cap. Saturnino pediu para ser levado

em segurança e foi tranqüilizado pelo Dr. Geraldino de que ele não corria risco. Foi levado

pelo Dr. Muniz, Dr. Mercado e “outras pessoas distintas” para a casa de Honório Dias.

No dia seguinte, a cidade já estava novamente sob o controle monarquista e o

delegado fez o laudo do prédio do Hotel Brasil e o auto de corpo delito no soldado que

apanhou dos republicanos. Honório Luís Dias foi o depoente do laudo e afirmou,

respondendo as perguntas, que o hotel foi depredado e sofreu danos nas portas, janelas e

paredes que foram furadas e quebradas com pedras, armas, rifles e tiros. No interior do

prédio, louças, espelhos, vidros e diversos objetos foram quebrados e o laudo final calculou o

prejuízo causado ao patrimônio do hotel no valor de 150 mil réis e três contos de réis de

danos morais. Após o laudo, o soldado Ignacio de Morais e o cabo Francisco da Silva Rego

responderam aos quesitos do auto de corpo delito. O primeiro foi ferido nos embates da noite

do dia dez de agosto e o segundo foi agredido por Ananias Barbosa, ambos com algum

instrumento pontudo, mas os ferimentos foram lesões leves cujos danos foram avaliados em

50 mil réis, para o primeiro, e 30 mil réis, para o segundo. Em seguida, há os depoimentos de

várias testemunhas, cerca de vinte depoentes, entre praças e cidadãos que estavam no hotel ou

viram os movimentos da noite do dia dez.

Para nosso trabalho, vamos resumir os relatos dos depoentes dos dias

subseqüentes ao dia onze, cujos depoimentos já foram descritos. No inquérito, os praças

afirmavam que o cabo Rego estava de ronda e, quando passou em frente ao Hotel Brasil, foi

Page 10: A república antecipada e o cel. Manoel Corrêa de Sousa ... · O inquérito policial, encontrado no Arquivo Público do Estado de São Paulo, contém 221 páginas com depoimentos

10 

 

agredido por Ananias Barbosa, republicano e proprietário do estabelecimento. O motivo que

eles alegavam para esse comportamento foi que o cabo Rego havia prendido o irmão de

Ananias Barbosa alguns dias antes. Ananias e o Dr. Cavalcanti levaram o cabo Rego até a

cadeia, onde foi deixado. Os praças tocaram o sino da cadeia e foram ao Hotel Brasil para

buscar os agressores do cabo e seu boné que havia ficado no local da agressão. Eles foram

recebidos a bala pelos republicanos que estavam ali. Voltaram para a cadeia e prepararam

outro ataque ao hotel, sob o comando do subdelegado. Os republicanos reuniram muitos

homens armados e, sob o comando de Honório Dias, Elisiário Dias, cel. MCSL e outros,

tomaram a cadeia, prenderam o subdelegado e o cap. Saturnino. Alguns praças foram a Casa

Branca para buscar reforço e voltaram para retomar a cidade. O segundo conjunto de

depoimentos é composto pelas testemunhas não envolvidas e os republicanos. Seu resumo

inicia o episódio com a descoberta do cabo Rego no quintal da casa de Ananias Barbosa. Ele

teria sido encontrado e se fingiu de bêbado. Ele foi levado à cadeia e, quando chegou ao

local, mandou tocar os sinos para reunir as praças e retornar ao hotel para prender o

proprietário. Vendo a represália dos praças, os republicanos reunidos para o jantar de Glicério

organizaram-se e mandaram chamar os homens e fazendeiros das fazendas para auxiliar no

enfrentamento. Por fim, tomaram a cidade e prenderam o subdelegado e o cap. Saturnino.

Foram líderes mencionados Honório Luís Dias, Manoel Corrêa de Souza Lima, Major Lima,

entre outros, reconhecidos pelos praças e cuja autoridade foi observada pelo cap. Saturnino,

em seu segundo depoimento, quando afirmou:

Disse mais o depoente, que uma hora pouco mais ou menos depois de sua prisão na

sala da Câmara ele e seus companheiros de prisão ouviram os indivíduos que os

guardavam, dizerem entre si, pertencerem um a Manoel Corrêa de Souza Lima,

outros a Honório Dias e seus irmãos e outros ao Capitão Antônio Corrêa, podendo

ele e seus companheiros de prisão observar este fato. (SÃO PAULO: 1889)

Nos testemunhos não há uma especificação de que tenha sido realizada uma

revolta republicana, em especial, nos depoimentos dos pracinhas. Algumas questões podem

ser ressaltadas dessa ausência de menção. Para os pracinhas, era melhor que não tivesse

ocorrido uma república antecipada porque isso denegria a imagem deles enquanto liberais e

soldados. Agregamos a isso o fato de que para eles, realmente, não aconteceu nenhuma

revolta republicana, eles estavam, apenas, defendendo o companheiro de tropa que havia sido

agredido. Por outro lado, os chefes dos pracinhas eram liberais e contrários aos republicanos

Page 11: A república antecipada e o cel. Manoel Corrêa de Sousa ... · O inquérito policial, encontrado no Arquivo Público do Estado de São Paulo, contém 221 páginas com depoimentos

11 

 

na política local e uma represália diante da agressão de Ananias Barbosa para com o cabo

Rego era uma boa oportunidade de vingar os acontecimentos de quarenta e sete dias antes.

Temos, assim, as duas possibilidades convivendo simultaneamente nos depoimentos dos

praças, mas devemos nos ater, especialmente, na construção dos relatos que delineavam o que

eles queriam para o momento.

Já pelo lado dos republicanos, a versão deles sugere que eles foram agredidos

pelos liberais que estavam insatisfeitos com a presença de Glicério. Alguns relatos afirmaram

que, no momento do ataque ao Hotel Brasil, os pracinhas gritavam “morram os

republicanos”. Outros descreveram que durante a concentração dos soldados diante da cadeia,

antes de atacarem o hotel, eles gritaram “viva a monarquia, fora Francisco Glicério e morra a

república!” Em relação a presença do cabo no quintal da casa do Hotel Brasil Acreditamos

que a ação de Ananias Barbosa foi, inicialmente, desvinculada de qualquer questão política

porque, segundo os depoimentos, ele estava apenas tirando o cabo que entrou no quintal de

sua casa. E em um dos relatos, o cabo tentava ouvir conversas da casa de Ananias Barbosa a

mando do subdelegado de polícia quando foi visto no quintal e preso pelo proprietário e

levado para a cadeia. Ele se fingia de bêbado e, quando chegou a cadeia, se desvencilhou dos

seus condutores e entrou para o quartel, tocando o sino em seguida. A partir daí, os

confrontos começaram. E os relatos coincidem.

Quando contrapomos a versão do cel. MCSL com os diferentes relatos do

inquérito temos dados coincidentes entre o relato dele e os depoimentos dos republicanos. A

escrita de si do cel. MCSL sugere a existência de uma “revolução” republicana que aconteceu

por acaso, em seus termos: “deu-se”. Quando imaginamos o momento e como as coisas

aconteceram podemos perceber que havia, realmente, uma insatisfação entre republicanos e

liberais, configurado, possivelmente, pela chamada “traição” dos liberais com os

republicanos na formação da Câmara de São José do Rio Pardo. As festividades da

inauguração da pedra fundamental da sociedade italiana que se encontraram com a reunião do

Partido Liberal foi outro elemento que acreditamos tenha influenciado o aquecimento dos

ânimos entre os dois grupos rivais. O encontro do cabo Rego no quintal da casa de Ananias

Barbosa foi, então a gota d’água para o confronto propriamente dito. O cel. MCSL não

menciona esse “detalhe” que teria desencadeado as ações dos praças e dos republicanos. Em

contrapartida, se o depoimento de Ananias Barbosa for verdadeiro, o cabo estava dentro do

terreno para ouvir as conversas da casa que recebia o republicano Francisco Glicério. Aí, a

Page 12: A república antecipada e o cel. Manoel Corrêa de Sousa ... · O inquérito policial, encontrado no Arquivo Público do Estado de São Paulo, contém 221 páginas com depoimentos

12 

 

presença do praça na casa era uma provocação e uma continuação das manifestações de dias

antes.

Como nossa proposta é analisar a escrita de si do cel. MCSL quando ele

menciona a república antecipada de São José do Rio Pardo, precisamos compreender em que

medida a escrita de si é construída. Uma escrita de si pressupõe uma pessoa que escreve

sobre si mesmo – sobre sua vida, suas experiências, sua intimidade, enfim, sobre aspectos do

indivíduo moderno que entendemos como fragmentado. Essa escrita expressa a

“subjetividade de seu autor como dimensão integrante de sua linguagem, construindo sobre

ela a ‘sua’ verdade.” (GOMES, 2004) E, ao mesmo tempo que o autor tenta reafirmar a

verdade a partir de sua experiência pessoal, ele constrói o texto como sua representação e se

recria como uma invenção do próprio texto. Nesse sentido, o cel. MCSL tenta se construir e

salientar momentos de sua vida que reafirmam a verdade, mas também a recria e recria o

autor das palavras e dono das memórias.

A escrita de si do cel. MCSL constrói para ele próprio a memória de um

momento heróico, de grande importância para a nação, cujos feitos seriam punidos com o

exílio para exemplificar aqueles adeptos da república que insurgiram contra o imperador. O

ideal republicano aparece como um símbolo da liberdade. Ele disse: “A cidade rejubilou-se e

a bandeira republicana foi hasteada nos edifícios públicos.” Essa consideração dá um aspecto

de que os riopardenses estavam felicíssimos com a tomada da cidade e que a república era

esperada e bem vinda. Provavelmente, isso era o que o cel. MCSL e os republicanos que

oportunamente tomaram a cidade e hastearam suas bandeiras nos prédios públicos queriam.

O cel. MCSL, em sua escrita de si, exalta os aspectos que lhe são caros na construção de sua

memória e de sua história. Ele opta por escolher as versões e o olhar que enfatizam o que ele

pretende guardar de si e preservar para expor aos outros. Sua auto narrativa deu à república

antecipada de São José do Rio Pardo um caráter mais revolucionário que ela teve. Ele

desprezou as nuances que a fizeram um evento ocasional e deu a ela o empenho e o fervor da

opção política que ele tinha e que, possivelmente, seus correligionários compartilhavam.

Por fim, a contraposição dos relatos do inquérito e da narrativa do cel. MCSL

trouxe uma reflexão acerca das fontes, como elas foram escritas e como elas podem ser lidas.

A república antecipada de São José do Rio Pardo ficou eternizada a partir das memórias dos

que nela se envolveram como uma “revolução” republicana e, em contrapartida, foi

enfatizada pelos praças que nela se envolveram contrários ao republicanos em seu aspecto

ocasional e de revanche.

Page 13: A república antecipada e o cel. Manoel Corrêa de Sousa ... · O inquérito policial, encontrado no Arquivo Público do Estado de São Paulo, contém 221 páginas com depoimentos

13 

 

Bibliografia

CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas: o imaginário da república no

Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 1990.

DEL GUERRA, Rodolpho José. A São José, Nostra Nuova Storia. São Paulo: Grass, 1999.

_________________________. No ventre da terra mãe (São José do Rio Pardo). São José

do Rio Pardo, SP: Graf-Center, 2001.

DUMONT. Louis. Homo aequalis: gênese e plenitude da ideologia econômica. Bauru, SP:

EDUCS, 2000.

GOMES, Ângela de Castro. “Escrita de si, escrita da história: a título de prólogo”. In:

GOMES, Ângela de Castro (org.). Escrita de si, escrita da história. Rio de Janeiro: Editora

FGV, 2004.

LIMA, Eurídice Corrêa. Entrevista concedida a Liliane Faria Corrêa Pinto em Nepomuceno,

em setembro de 2010.

LIMA, Manoel Corrêa de Souza. Nepomuceno, seu início. Manuscritos. Nepomuceno, 1920-

38.

MAUAD, Ana Maria; MUAZE, Mariane. “A escrita da intimidade: diário da viscondessa do

Arcozelo”. In: GOMES, Ângela de Castro (org.). Escrita de si, escrita da história. Rio de

Janeiro: Editora FGV, 2004.

SÃO PAULO. T.I. Processos Policiais. Cx. 18, Ordem 3219. Arquivo permanente do

Arquivo Estadual de São Paulo.

TAVARES, Marcelo Coimbra. Proclamaram a república três meses antes do 15 de

novembro. Diário da Tarde, Belo Horizonte, 24 fevereiro, 1949, p. 1 e 5.