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265 HISTÓRIA TERCEIRÃO – 7 Terceirão – Caderno 7 – Código: 830376713 Já sabemos que as oligarquias controlaram a política brasileira entre 1894 e 1930. No entanto, as condi- ções em que se exerceu esse domínio variaram ao longo desses 36 anos. Então, para facilitar o estudo, vamos dividir o período em que as oligarquias estiveram no poder em três etapas, assim denominadas: 1 a ) etapa de domínio das oligarquias (1894-1909); 2 a ) etapa dos primeiros abalos do regime oligárquico (1909-1919); 3 a ) etapa de declínio das oligarquias (1919-1930). Nesta aula, vamos estudar a etapa de domínio das oligarquias. Damos essa denominação ao período que vai da posse de Prudente de Morais na Presidência da República, em 1894, até a campanha eleitoral de 1909, visando à eleição presidencial ocorrida no início de 1910. Nessa etapa, as oligarquias assumiram o poder federal e o estadual e o exerceram praticamente sem oposição. Foi também nessa época que surgiram os principais mecanismos de domí- nio oligárquico – políticos e econômicos – que já estudamos nas aulas anteriores: coronelismo, política dos governa- dores, política do “café com leite”, valorização do café. Em resumo, foram os anos de máximo poder das oligarquias, exercido por meio de quatro presidentes: Prudente de Morais, Campos Sales, Rodrigues Alves e Afonso Pena. A REPÚBLICA VELHA (1889-1930): O DOMÍNIO DAS OLIGARQUIAS (1894-1909) Professor: Aula 70 AD TM TC (pág. 298) Aula 71 AD TM TC (pág. 302) Aula 72 AD TM TC (pág. 309) Aula 73 AD TM TC (pág. 309) Aula 74 AD TM TC (pág. 315) Aula 75 AD TM TC (pág. 321) Aula 64 AD TM TC (pág. 265) Aula 65 AD TM TC (pág. 272) Aula 66 AD TM TC (pág. 279) Aula 67 AD TM TC (pág. 285) Aula 68 AD TM TC (pág. 289) Aula 69 AD TM TC (pág. 293) ÍNDICE-CONTROLE DE ESTUDO

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Já sabemos que as oligarquias controlaram a política brasileira entre 1894 e 1930. No entanto, as condi-

ções em que se exerceu esse domínio variaram ao longo desses 36 anos. Então, para facilitar o estudo, vamos

dividir o período em que as oligarquias estiveram no poder em três etapas, assim denominadas:

1a) etapa de domínio das oligarquias (1894-1909);

2a) etapa dos primeiros abalos do regime oligárquico (1909-1919);

3a) etapa de declínio das oligarquias (1919-1930).

Nesta aula, vamos estudar a etapa de domínio das oligarquias. Damos essa denominação ao período que vai

da posse de Prudente de Morais na Presidência da República, em 1894, até a campanha eleitoral de 1909, visando à

eleição presidencial ocorrida no início de 1910. Nessa etapa, as oligarquias assumiram o poder federal e o estadual e

o exerceram praticamente sem oposição. Foi também nessa época que surgiram os principais mecanismos de domí-

nio oligárquico – políticos e econômicos – que já estudamos nas aulas anteriores: coronelismo, política dos governa-

dores, política do “café com leite”, valorização do café. Em resumo, foram os anos de máximo poder das oligarquias,

exercido por meio de quatro presidentes: Prudente de Morais, Campos Sales, Rodrigues Alves e Afonso Pena.

A REPÚBLICA VELHA (1889-1930):O DOMÍNIO DAS OLIGARQUIAS (1894-1909)

Professor:

Aula 70 AD

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ÍNDICE-CONTROLE DE ESTUDO

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1 A presidência de Prudente de Morais (1894-1898)

Prudente de Morais fez um governo de transição,

agindo sempre de modo calmo e cuidadoso. Assim,

abandonou uma a uma as medidas inovadoras de

Floriano, retornando à antiga política do Império:

agricultura e sólidas relações com os grupos finan-

ceiros internacionais.

O principal problema político enfrentado por Pru-

dente de Morais foi uma rebelião popular no sertão da

Bahia, entre 1896 e 1897: a Guerra de Canudos.

As causas dessa guerra despontaram já na época

da colonização do Brasil, quando o sistema econômi-

co latifundiário e monocultor voltava-se para o aten-

dimento de interesses externos, o que gerou no País

o incrível contraste entre uma elite – rica, próspera e

culta – e uma massa popular – pobre, faminta e anal-

fabeta. E entre todas as regiões do Brasil, no sertão

nordestino esse contraste era mais acentuado.

Essa situação de extrema pobreza contribuiu para

desenvolver entre a população do sertão uma pro-

funda religiosidade, tendendo mesmo ao misticismo.

Em outras palavras, o sertanejo procurava atenuar a

miséria concentrando-se em aspectos espirituais.

Por isso, surgiram no Nordeste muitos líderes de

caráter religioso, alguns deles com grande influência

sobre a população local.

Os presidentes que governaram entre 1894 e 1909 eram típicos representantes das oligarquias agrárias, particularmen-te a do café. Prudente de Morais era paulista, intimamente ligado aos grandes fazendeiros do oeste do estado e irmão de um cafeicultor. Campos Sales e Rodrigues Alves diferenciavam-se em uma coisa: o nome. Um chamava-se Manuel, e o outro, Francisco. No resto, ambos eram paulistas, ex-governadores de São Paulo, fazendeiros e cafeicultores. Quanto a Afonso Pena, era mineiro e não tinha sido governador de São Paulo. Mas fora vice-presidente de Rodrigues Alves e foi eleito presidente pelos cafeicultores para pôr em prática a política de valorização do café.

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1894-1898Prudente de Morais.

1902-1906Rodrigues Alves.

1898-1902Campos Sales.

1906-1909Afonso Pena.

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267HISTÓRIA TERCEIRÃO – 7

O mais notável deles foi Antônio Mendes Maciel, apelidado de Antônio Conselheiro, que, desde o fim da

década de 1870, vinha percorrendo o sertão, pregando aos pobres e desamparados, dando-lhes consolo e

prometendo-lhes, com base nos Evangelhos, um mundo melhor.

Desgostoso com a proclamação da República, com a separação entre Igreja e Estado e após vários desen-

tendimentos com autoridades republicanas, Conselheiro decidiu retirar-se para um local isolado.

Em 1893, acompanhado de aproximadamente 200 pessoas, fixou-se em uma fazenda abandonada, em

Canudos, às margens do rio Vaza-Barris, no sertão baiano. Enquanto seus seguidores construíam uma igre-

ja, ele continuava sua pregação, sempre prometendo um mundo novo e mais justo. A força de suas palavras

foi tanta que, em pouco tempo, em torno da igreja, surgiram cerca de 2.500 casas de paredes de barro e te-

lhado de palha, com uma população de mais de 10 mil pessoas. Era o Arraial de Canudos ou Belo Monte,

como lhe chamavam seus moradores.

O crescimento de Canudos alarmou os fazendeiros do interior baiano, a Igreja e as autoridades estaduais,

que resolveram enviar uma força armada contra o Arraial. Iniciou-se assim a Guerra de Canudos, que se

estendeu de novembro de 1896 a outubro de 1897 e envolveu quatro expedições militares.

As três primeiras expedições – cada uma maior que a anterior – foram completamente derrotadas.

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Canudos localizava-se no nordeste da Bahia, em uma região bastante cas-tigada pelas secas. O fato de o Arraial ficar às margens do rio Vaza-Barris atenuava o problema da falta de água, mas não o resolvia, pois, fora da época das chuvas, o rio chegava a ficar completamente seco. Apesar disso, a economia de Canudos, baseada na agropecuária e no comércio com as povoações vizinhas, era próspera e garantia aos canudenses um padrão de vida muito superior à média do sertão baiano.

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Foi então enviada a quarta expedição, a maior força militar montada no Brasil desde a Guerra do Para-

guai, que, incluindo os reforços recebidos, somou 14 mil soldados. Durante os quatro meses em que Canu-

dos foi cercado, ocorreram combates terríveis, e os sertanejos conseguiram repelir sucessivos ataques.

Mas, por fi m, a capacidade de resistência dos habitantes de Belo Monte esgotou-se. No fi m de setembro

de 1897, as tropas conseguiram espalhar querosene entre as casas do Arraial, incendiando-o. No dia 5 de

outubro, os últimos quatro resistentes, entrincheirados nas ruínas da igreja, foram mortos. Acabara-se a

guerra sertaneja de Canudos. Acabara também a população do Arraial, pois as forças governamentais dego-

laram a maioria dos prisioneiros. O cadáver de Antônio Conselheiro, que morrera alguns dias antes da

queda do Arraial, foi desenterrado e decapitado, e sua cabeça levada para Salvador.

Nas palavras de Euclides da Cunha, “Ca-nudos não se rendeu. Exemplo único na História, resistiu até o esgotamento com-pleto”. No decorrer dessa incrível resis-tência, quase toda a população foi morta, e o Arraial arrasado. A foto abaixo foi ti-rada nos últimos dias da guerra. Grande parte das casas já tinha sido destruída e, no canto superior esquerdo, aparece a igreja nova (Bom Jesus), arruinada pela artilharia. Terminada a luta, nem mesmo as ruínas permaneceram, pois o Exército dinamitou-as.

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Claro que a destruição de Canudos não eliminou as causas do problema – a miséria, o desemprego, a

exploração desumana –, mas serviu para que Prudente de Morais se livrasse do único grupo que ainda po-

deria se opor às oligarquias: os fl orianistas.

A ingenuidade política dos fl orianistas levou-os a cavar a própria sepultura. Quando as primeiras expedi-

ções contra Canudos fracassaram, eles acusaram o governo de fraco e incompetente, transformando a elimi-

nação de Conselheiro e de seus seguidores em verdadeira “necessidade nacional”. Com a destruição do

Arraial, Prudente de Morais fortaleceu sua posição, podendo reduzir ao silêncio a ala civil do fl orianismo. A ala

militar, responsabilizada pela demora da vitória governamental, foi acusada de se dedicar demais à política,

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269HISTÓRIA TERCEIRÃO – 7

esquecendo-se, assim, de suas obrigações profissio-

nais. Traumatizados pela ineficiência demonstrada

pelo Exército na campanha de Canudos, os militares

afastaram-se da política. Era justamente isso que Pru-

dente e as oligarquias desejavam.

2 A presidência de Campos Sales (1898-1902)

Com a oposição reduzida a proporções insignifi-

cantes, Prudente de Morais não teve qualquer difi-

culdade em eleger como sucessor seu ex-ministro

da Fazenda: Manuel Ferraz de Campos Sales, pau-

lista, fazendeiro, cafeicultor e ex-governador de São

Paulo. Pela segunda vez consecutiva, um membro

da oligarquia cafeeira ocupava a Presidência da Re-

pública.

Campos Sales representava tipicamente os ideais

políticos das oligarquias. Frio e autoritário, afirmava

publicamente que a política era um privilégio exclu-

sivo da elite e que no governo só poderia haver pes-

soas de famílias tradicionais, ricas e cultas.

Seu governo representou a consolidação do do-

mínio oligárquico, com a oficialização do coronelis-

mo, a introdução da política dos governadores e a do

“café com leite”. Além disso, sua política financeira,

particularmente o funding-loan e a valorização do

mil-réis, era de inteiro agrado dos grandes banquei-

ros ingleses, que, a partir daí, voltaram a fornecer

empréstimos ao Brasil.

Ora, esse apoio financeiro era indispensável para

a defesa dos interesses dos grupos agrário-exporta-

dores. Criavam-se, assim, as condições básicas para

que, nos anos seguintes, fosse montado o esquema

de valorização do café.

3 A presidência de Rodrigues Alves (1902-1906)

O sucessor de Campos Sales foi Rodrigues Alves.

O “currículo” do novo presidente era praticamente

igual ao do anterior: paulista, fazendeiro, cafeicultor,

ex-governador de São Paulo.

Muitos autores consideram seu governo o me-

lhor de toda a República Velha: finanças equilibra-

das, inflação sob controle e economia retomando seu

ritmo de crescimento. Até a indústria, antes tão aba-

lada, voltou a crescer. Além disso, Rodrigues Alves

saneou o Rio de Janeiro, acabando com a febre ama-

rela e a varíola; modernizou a capital, com a abertura

de largas avenidas e a construção de diversas obras

públicas; equipou modernamente os principais por-

tos brasileiros e ainda incorporou ao Brasil o atual

estado do Acre, que até então pertencia à Bolívia.

Todas essas realizações foram possíveis graças a

dois fatores principais: o equilíbrio financeiro herda-

do do governo anterior e os recursos fornecidos

pela exportação de borracha, cujo pico ocorreu jus-

tamente nessa época (o surto da borracha, na região

amazônica, deu-se entre 1880 e 1920).

A Revolta da Vacina

A melhora da situação econômica, ocorrida na

época de Rodrigues Alves, não alterou as condições

de vida das camadas populares, que continuaram a

viver tão miseravelmente quanto antes, ou de forma

até pior, como no caso da capital do País.

No Rio de Janeiro, a demolição de grande número

de prédios velhos e de cortiços, para a construção de

novas avenidas, desabrigou milhares de famílias.

Aumentando a procura de moradias, elevou-se o pre-

ço dos aluguéis a níveis altíssimos, o que obrigou a

população mais pobre a morar em lugares distantes

de seus pontos de trabalho. Portanto, diante de todos

esses fatores, a população pobre e a baixa classe mé-

dia ficaram numa situação quase insuportável.

Em cortiços como o da foto, morava grande parte da população pobre do Rio de Janeiro. O governo demoliu essas habitações coletivas e em seu lu-gar construiu modernas avenidas, como parte de um projeto urbanístico em que tudo fora pensado: a largura das vias públicas, os cruzamentos, o tamanho das calçadas, o ajardinamento, a iluminação, a rede de esgotos, a captação da água das chuvas. A única coisa em que as autoridades não pensaram foi em onde instalar as dezenas de milhares de pessoas que moravam nos cortiços demolidos.

Nesse ambiente de grande descontentamento,

Oswaldo Cruz, diretor da Saúde Pública, iniciou os

trabalhos de saneamento do Rio de Janeiro, feitos de

maneira autoritária e sem esclarecimento ao povo.

Entre as medidas adotadas, incluía-se a visita às re-

sidências para exterminar ratos e mosquitos, o que

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270TERCEIRÃO – 7 HISTÓRIA

gerou o descontentamento popular estimulado pela

oposição. Quando foi decretada a obrigatoriedade

de vacina antivariólica, a revolta estourou e, durante

quatro dias, o povo mais humilde foi o dono das

ruas, espancando policiais, destruindo delegacias,

invadindo quartéis, saqueando, incendiando bondes

da Light – empresa anglo-canadense que era a maior

concessionária de serviços de transporte urbano e

de geração e distribuição de energia elétrica no Bra-

sil. Foi a chamada Revolta da Vacina, em que os po-

pulares contaram com o apoio de líderes operários,

anarquistas, socialistas, políticos de oposição e mili-

tares florianistas.

Porém, após alguns dias, o governo conseguiu re-

tomar o controle da cidade e sufocar a revolta. Então,

a violência desordenada do povo foi substituída pela

violência organizada do Estado: prisões em massa,

espancamentos, assassinatos, centenas de pessoas

deportadas para distantes regiões amazônicas, es-

trangeiros expulsos do País.

A incorporação do Acre

Até o início do século XX, o território do atual es-

tado do Acre pertencia à Bolívia, que, no entanto, ja-

mais o ocupara. Durante o surto da borracha, a região

foi ocupada por seringalistas brasileiros, criando-se,

assim, um sério problema: o território era boliviano,

mas a população era predominantemente brasileira.

Ao perceber a gravidade da situação, as autorida-

des de La Paz enviaram tropas para a região, mas era

tarde. Estas foram derrotadas pelos residentes brasi-

leiros, e Rodrigues Alves mandou o Exército ocupar o

território.

Sem forças para resistir, a Bolívia assinou então

o Tratado de Petrópolis (1903), pelo qual entregava

o Acre ao Brasil, em troca de 2 milhões de libras e

da construção, pelo Brasil, da estrada de ferro Ma-

deira-Mamoré, que permitiria aos bolivianos atingir

o rio Amazonas e exportar mercadorias por Belém

do Pará.

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Território brasileiro cedidoà Bolívia

Ferrovia Madeira-Mamoré

Nova fronteira da Bolívia como Brasil e o Peru após 1903

A incorporação do Acre (1903)

A questão do Acre custou à Bolívia quase 200 mil km2, a maior parte entregue ao Brasil, que, por sua vez, cedeu aos bolivianos uma faixa de terras com 3 mil km2 e, em 1909, pelo Tratado do Rio de Janeiro, entregou ao Peru uma pequena parte do antigo território boliviano. Quanto à Madeira-Mamoré – conhecida como “ferrovia do diabo” –, foi uma verdadeira campeã de absurdos. Com apenas 360 km, levou cinco anos para ser construída, custou uma fortuna, causou a morte de 30 mil trabalhadores, vítimas da malária e da febre amarela, e, quando ficou pronta, o ciclo da borracha chegara ao fim e não havia mais o que transportar. Em tempo: para a construção, foram importados da Austrália 90 mil dormentes de madeira.

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271HISTÓRIA TERCEIRÃO – 7

4 A presidência de Afonso Pena (1906-1909)

Afonso Pena era mineiro e foi vice-presidente de

Rodrigues Alves. Sua escolha enquadrava-se perfei-

tamente na política do “café com leite”, sendo eleito

pelos cafeicultores com a missão principal de pôr em

prática a valorização do café, definida pelo Convênio

de Taubaté.

E foi o que ele fez, criando a Caixa de Conversão

e transferindo para o governo federal a responsabi-

lidade pela compra e pela estocagem dos excedentes

de café.

Em 1909, quando começava a encaminhar a suces-

são presidencial – as eleições seriam em março do ano

seguinte –, Afonso Pena morreu, assumindo, para

completar o mandato, o vice-presidente Nilo Peçanha.

5 A presidência de Nilo Peçanha (1909-1910)

Os acontecimentos políticos verificados durante

o curto governo de Nilo Peçanha marcaram o fim do

período em que o domínio das oligarquias foi exer-

cido sem oposição e sem choques entre as várias

facções oligárquicas.

O primeiro choque foi a sucessão presidencial. As

oligarquias dos pequenos estados, sob a liderança

de Pinheiro Machado, que era presidente do Sena-

do, lançaram a candidatura do marechal Hermes da

Fonseca, que recebeu em seguida o apoio de Per-

nambuco, do Rio Grande do Sul, do Exército e do

governo federal.

Ocorreu, então, o primeiro racha na política do

“café com leite”: São Paulo se recusou a apoiar a

candidatura do marechal, enquanto Minas Gerais

apoiou-a firmemente.

Para enfrentar a poderosa campanha de Hermes

da Fonseca, São Paulo e Bahia lançaram a candida-

tura de Rui Barbosa, então senador, que iniciou a

Campanha Civilista, opondo-se ao candidato mili-

tar e defendendo reformas políticas, judiciárias e

educacionais.

A Campanha Civilista fez um sucesso enorme,

apesar das múltiplas pressões do governo e do Exér-

cito (chegou-se a mandar tropas federais para São

Paulo). O eleitorado urbano, mais politizado e ansio-

so por reformas, votou em Rui Barbosa. No interior,

porém, a situação foi outra, pois os “currais” eleito-

rais funcionaram a contento, e os “coronéis” sertane-

jos despejaram os seus votos na candidatura de

Hermes, utilizando largamente todo o arsenal coro-

nelístico de fraudes eleitorais.

Feita a eleição, ambos os lados proclamaram a

sua vitória. Na Comissão de Verificação de Poderes,

os debates eram intensos, embora houvesse a pres-

são do governo e dos militares para que se reconhe-

cesse a vitória do marechal. Finalmente, em julho de

1910, o Congresso declarou a vitória de Hermes da

Fonseca, com 403 800 votos contra os 222 800 de Rui

Barbosa. Na época foi um resultado surpreendente,

pois o normal era que o candidato oposicionista re-

cebesse apenas de 20 a 30 mil votos.

De qualquer modo, o sistema de domínio oligár-

quico sofrera um abalo, cujos efeitos se fariam sentir

nos anos seguintes.

Chegada de Rui Barbosa em Campinas, dezembro de 1909. O sucesso da Cam-panha Civilista não se limitou às maio-res capitais, como Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador. Também nas cidades de porte médio, os comícios do candi-dato oposicionista despertaram uma atenção nunca antes vista. Foi o caso de Campinas, no interior de São Paulo, onde mais de 10 mil pessoas – um nú-mero enorme para a época – foram às ruas aclamar Rui Barbosa.A

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272TERCEIRÃO – 7 HISTÓRIA

1. (Enem)

Charge na capa da revista O Malho, de 1904.

Extraído de: <http://1.bp.blogspot.com>.

A imagem representa as manifestações nas ruas da cida-de do Rio de Janeiro, na primeira década do século XX, que integraram a Revolta da Vacina. Considerando o contexto político-social da época, essa revolta revela:

➜ a) a insatisfação da população com os benefícios de uma modernização urbana autoritária.

b) a consciência da população pobre sobre a necessidade de vacinação para a erradicação das epidemias.

c) a garantia do processo democrático instaurado com a República, através da defesa da liberdade de expressão da população.

d) o planejamento do governo republicano na área de saúde, que abrangia a população em geral.

e) o apoio ao governo republicano pela atitude de vaci-nar toda a população em vez de privilegiar a elite.

2. Assinale a alternativa INCORRETA.

a) A chamada República das oligarquias teve início com a eleição de Prudente de Morais, mas na verdade conso-lidou-se com a política dos governadores criada por Campos Sales, que praticamente anulou as oposições.

b) No chamado período de domínio das oligarquias, a elite agrária não só se manteve no poder como tam-bém governou praticamente sem sofrer oposição.

➜ c) As expedições organizadas contra Canudos represen-taram a decisão do governo republicano de esmagar uma rebelião que se destinava a lutar pela volta da Monarquia.

d) A reforma urbana realizada no Rio de Janeiro, durante o governo Rodrigues Alves, não levou em considera-ção os interesses e as necessidades das camadas mais pobres da população.

e) O rompimento entre São Paulo e Minas Gerais, na cam-panha sucessória de 1909-1910, foi o primeiro abalo importante sofrido pelo sistema político oligárquico.

TAREFA MÍNIMA

Caderno de Exercícios

• Faça os exercícios 1 a 5.

TAREFA COMPLEMENTAR

• Leia o texto da aula.

Caderno de Exercícios

• Faça os exercícios 6 a 12.

A cisão entre São Paulo e Minas Gerais, com a con-

sequente Campanha Civilista e a eleição de Hermes da

Fonseca, estremeceu o sistema de dominação política

das oligarquias. Mas como, logo em seguida, paulistas e

mineiros trataram de se reconciliar, recompondo a anti-

ga aliança, poderia-se pensar que aquele estremeci-

mento fora coisa passageira, sem maiores consequências.

No entanto, não foi o que ocorreu. Os acontecimen-

tos de 1909-1910 tinham introduzido alguns elementos

novos na política brasileira, que iriam provocar diver-

sos problemas nos anos seguintes.

Os militares, afastados do poder desde Floriano,

encontraram uma via legal – a candidatura do marechal

Hermes – para voltar à política recebendo o apoio de

parte das camadas urbanas e de oligarquias estaduais

dissidentes. Lentamente, uma parcela dos ofi ciais, so-

bretudo os de baixa patente, começou a contestar a

política dominante, desejando uma maior abertura

nesse setor.

As oligarquias dissidentes eram grupos políticos

estaduais que, embora oligárquicos, estavam na opo-

sição e precisavam do apoio do governo federal para

poder tomar o poder em seus respectivos estados.

Portanto, no período compreendido entre 1910 até

o fi m da Primeira Guerra Mundial, as lutas entre fac-

ções oligárquicas e o surgimento de grupos de oposi-

ção dentro do Exército causaram a derrubada de

numerosas oligarquias estaduais, ocasionando os pri-

meiros abalos do regime oligárquico.

A REPÚBLICA VELHA (1889-1930): PRIMEIROSABALOS DO REGIME OLIGÁRQUICO (1909-1919)

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273HISTÓRIA TERCEIRÃO – 7

1 A presidência de Hermes da Fonseca (1910-1914)

O governo de Hermes da Fonseca foi um dos mais agitados de toda a República Velha. Seu ministério foi

extremamente instável, pois quase todos os ministros desejavam esse cargo apenas para usá-lo em favor de suas

ambições políticas em seus respectivos estados.

Além disso, o senador Pinheiro Machado, então no auge de seu prestígio, percebeu que os militares ligados

ao marechal desejavam obter importantes posições, para assim controlar as políticas federal e estadual. Para

impedir que isso acontecesse, Pinheiro Machado criou um partido de âmbito nacional, congregando as bancadas

de todos os estados que apoiavam o presidente da República: o Partido Republicano Conservador (PRC), que

tinha curiosa função: apoiar o presidente Hermes da Fonseca, mas isolando-o de seus simpatizantes militares.

Dessa forma, Pinheiro Machado poderia aumentar seu poder e sua influência.

Como se vê, a situação era complicada. Nos estados, governo e oposição disputavam o poder, geralmente de forma

violenta, enquanto o governo federal se dividia: os ministros apoiavam as oposições estaduais, e Pinheiro Machado e

o PRC apoiavam os governadores. O resultado dessa confusão toda foi a chamada política das “salvações”.

A política das “salvações”

Na República Velha, ocorria, às vezes, um tipo de acontecimento político que seria inimaginável nos dias atuais:

em alguns estados, a oposição, apoiada por jagunços de “coronéis” e pela Polícia Militar, fazia uma revolta armada

e depunha o governador. Nesses casos, o governo federal normalmente não interferia, deixando que as facções

envolvidas na briga resolvessem o problema entre si. Tais revoltas estaduais eram chamadas de “salvações”.

Pois bem, o que ocorreu na época de Hermes é que as próprias autoridades federais passaram a estimu-

lar e apoiar as “salvações” em alguns estados, visando tirar do poder uma facção da oligarquia local e

substituí-la por outra. Essa atuação do governo Hermes ficou conhecida como política das “salvações” e

desenvolveu-se em duas etapas.

1a) De 1910 a 1912: com o apoio de Hermes da Fonseca, foram derrubadas as facções oligárquicas que

governavam Pernambuco, Bahia, Ceará e Alagoas, todas aliadas de Pinheiro Machado. Com isso, o Par-

tido Republicano Conservador perdeu a maioria no Congresso Nacional.

2a) De 1913 a 1914: ocorreu a reação pinheirista. Por meio de uma série de medidas, Pinheiro Machado

conseguiu restabelecer a maioria do PRC no Congresso, afastar os chefes militares que mais abertamen-

te defendiam a intervenção do Exército na política e recolocar no poder seus aliados que haviam sido

derrubados em Alagoas e no Ceará.

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Hermes da FonsecaPinheiroMachado

Pinheiro Machado era senador, líder da bancada gaúcha no Congresso Nacional, “dono” da Comissão Verificadora de Poderes, presidente do PRC e representante das oligarquias dos estados menos pode-rosos diante do governo federal. Hermes da Fonseca era marechal, tinha grande prestígio no Exército e era presidente da República. Esses dois homens extremamente poderosos tinham, no entanto, um ponto fraco em comum: não eram nem paulistas nem mineiros. E, na República Velha, essa fraqueza era fatal. Por isso, apesar de o regime oligárquico já sofrer seus primeiros abalos, Pinheiro não conse-guiu ser candidato à Presidência da República nem Hermes conseguiu indicar seu sucessor.

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274TERCEIRÃO – 7 HISTÓRIA

Apesar do êxito da reação pinheirista, o grande

sonho de Pinheiro Machado – chegar à Presidência

da República – não se concretizou. São Paulo e Mi-

nas Gerais reativaram o “café com leite” e o mineiro

Wenceslau Brás foi lançado como candidato único,

sendo tranquilamente eleito em março de 1914.

A Revolta da Chibata

As “salvações” foram o principal elemento gera-

dor de violência no governo Hermes, mas não o

único. Além delas, ocorreram diversos episódios

isolados, entre os quais se destaca a Revolta da Chi-

bata, no Rio de Janeiro, em 1910.

Naquela época, a Marinha de Guerra brasileira

apresentava alguns contrastes que, no fundo, refle-

tiam as contradições da sociedade do País. Recente-

mente reformada, a Armada possuía navios muito

modernos, incluindo dois couraçados – o Minas Ge-

rais e o São Paulo – que se colocavam entre os mais

poderosos navios de guerra do mundo.

No entanto, essas moderníssimas máquinas de guer-

ra eram tripuladas por marinheiros que recebiam trata-

mento ainda regulamentado por códigos do século XIX

e até do século XVIII. O trabalho era duro e excessivo; a

alimentação, deficiente; os maus-tratos eram constantes

e, para completar, quando um marinheiro cometia um

ato de indisciplina, era punido a chicotadas. Essa, aliás,

foi a causa imediata da revolta: alguns dias antes, um

marinheiro fora chicoteado 250 vezes, ao som de tambo-

res e diante da tripulação reunida no convés. Por isso, os

rebeldes, liderados pelo marinheiro João Cândido, exi-

giam a suspensão do castigo da chibata, ameaçando

bombardear a cidade se não fossem atendidos.

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Os “coronéis” sertanejos, em algumas ocasiões, conseguiam formar verda-deiros exércitos, que davam trabalho aos governadores, chegando muitas vezes a derrotar as polícias militares estaduais.A foto mostra as tropas do “coronel” Generoso Ponce ocupando Cuiabá. Ponce, no início do século XX, comba-teu e derrotou a oligarquia que gover-nava Mato Grosso e apoderou-se do governo do estado.

Artilharia de proa do couraçado São Paulo. João Cândido.

Em um primeiro momento, as autoridades não ficaram muito preocupadas com a revolta da esquadra. Afinal, pensaram elas, nenhum oficial aderira ao movimento; os rebeldes eram simples marujos, liderados por um tal de João Cândido, um negro que ninguém sabia bem de onde viera. “Aquela gente” não ia saber manobrar enormes e modernos navios de guerra, como o couraçado São Paulo. Mas, para surpresa geral, João Cândido e os demais marinheiros manobraram a esquadra com perfeição e, apontando a poderosa artilharia dos couraçados contra as fortalezas e instalações governamentais, fizeram as autoridades mudarem o tom da conversa: não era mais “aquela gente”; eram “os dignos marujos da Armada”. E foi assim que João Cândido ganhou o apelido com que ficou conhecido: almirante negro.

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275HISTÓRIA TERCEIRÃO – 7

Sem condições de enfrentar os marinheiros re-

voltados – os oficiais estavam em terra e a artilharia

dos navios era mais poderosa do que a do Exército –,

o governo cedeu: aboliu o castigo da chibata e anis-

tiou os rebeldes. Porém, 15 dias depois, aproveitan-

do-se da decretação do estado de sítio, descumpriu

a anistia concedida, ordenando a expulsão de 2 mil

marinheiros e a prisão de outros 600. Quanto aos lí-

deres, a maior parte foi pura e simplesmente assas-

sinada na prisão.

2 A presidência de Wenceslau Brás (1914-1918)

Wenceslau Brás governou em um período que

coincidiu com a Primeira Guerra Mundial, e é claro

que esta nos afetou, positivamente em alguns casos,

negativamente em outros.

Nos primeiros meses, Wenceslau preocupou-se,

sobretudo, em manter uma posição de equilíbrio em

relação a Pinheiro Machado, mas em 1915, com o

assassinato de Pinheiro, terminou não só o “pinhei-

rismo” como também o PRC, cuja única força era a

liderança do senador gaúcho. Com isso, a dualidade

de poderes – o presidente de um lado e Pinheiro

Machado do outro – desapareceu, fortalecendo-se a

Presidência da República.

Mas o que realmente marcou seu governo foi a

Guerra do Contestado, no sul do País, e os efeitos

econômicos da Primeira Guerra Mundial.

A Guerra do Contestado

Na fronteira do Paraná com Santa Catarina, situa-

va-se uma área disputada pelos dois estados: a re-

gião do Contestado, com 48 mil quilômetros

quadrados. Devido ao fato de não estar definido a

qual dos dois estados pertencia a região, a presença

de autoridades no local, tanto catarinenses quanto

paranaenses, era muito limitada. Boa parte do terri-

tório era coberta por mata virgem, rica em madeiras

de lei, e a única atividade econômica significativa, a

produção de erva-mate, era exercida por alguns

grandes latifundiários.

Na primeira década do século XX, porém, a re-

gião teve um súbito e tumultuado aumento de popu-

lação. A causa disso foi o fato de ter o governo

federal concedido à companhia norte-americana

Brazil Railway uma faixa de terra com 30 quilôme-

tros de largura, que se estendia de São Paulo ao Rio

Grande do Sul, para a construção de uma ferrovia.

As pessoas que moravam nessa faixa de terra, serta-

nejos pobres, que viviam da agricultura de subsis-

tência, foram expulsas e viram, em seguida, a

companhia vender essas mesmas terras a colonos

poloneses e alemães. Injustiçados e famintos, esses

sertanejos dirigiram-se para o Contestado, tentando

encontrar terras para se estabelecer.

Quando a Brazil Railway terminou a construção da

estrada de ferro, despediu 8 mil trabalhadores, quase

todos vindos de outras regiões do Brasil. Esses ho-

mens, sem condições de retornar a sua terra natal,

dirigiram-se para o Contestado, e sua súbita chegada

rompeu o equilíbrio da sociedade local.

Ao mesmo tempo, a Southern Brazil Lumber and

Colonization Company (subsidiária da Brazil Railway)

adquiriu 180 mil hectares de terras na região e com

um corpo de segurança armado expulsou centenas de

famílias e iniciou a exploração das riquíssimas reser-

vas de madeira existentes ali.

A partir de 1910, perambulavam pelo Contestado

milhares de desempregados das companhias estran-

geiras e milhares de camponeses cujas terras foram

confiscadas pelo governo. A miséria e o desemprego

geraram inevitáveis consequências: surgiram o bandi-

tismo, as emboscadas nas estradas e o roubo de gado.

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A serraria instalada pela Lumber Company em Três Barras (Santa Ca-tarina) era a maior do Brasil e quase toda a madeira ali beneficiada foi ex-portada. Quando a madeira rareou – a exploração era feita de forma predatória – a Lumber “concordou” em ser encampada pelo governo fe-deral e transferiu seus capitais para outro país. Resumo da ópera: eles fi-caram com a madeira e com o lucro e nós, com a área devastada.

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276TERCEIRÃO – 7 HISTÓRIA

Surgiram também curandeiros e “monges” falando em nome de Deus, prometendo cura e amparo aos miserá-veis. Um deles, conhecido como José Maria, dizia-se herdeiro espiritual do “monge” João Maria, que vivera na região alguns anos antes. Em torno de José Maria, reuniram-se os sertanejos que, vítimas da exploração dos latifundiários do mate e das companhias estrangei-ras, eram ainda tratados como animais pelo governo – o que os levou a finalmente se revoltarem em 1912.

É importante lembrar que não foram apenas o sen-timento religioso e a pobreza que ocasionaram a revol-ta dos sertanejos. Contribuíram também, e muito, as manobras políticas de “coronéis” e de autoridades pa-ranaenses e catarinenses, que estimularam a rebelião. Os “coronéis” pretendiam enfraquecer seus adversá-rios políticos, e as autoridades tentavam fortalecer a posição de seus respectivos estados na disputa pela posse do Contestado.

Pátio com toras de pinho. A gigantesca serraria da Lumber produzia 110 mil metros cúbicos de madeira beneficiada por ano. Não há mesmo flo-resta que resista!

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Faixa de 30 km de largura, cedida pelo governo à Brazil Railway

Reduto (povoações) dos revoltosos

Guerra do Contestado (1912-1916)

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Os caboclos revoltados estabeleciam-se em povoações que eles chamavam de redutos (o maior deles, denominado Santa Maria, chegou a ter 6 mil habitantes). Observando o mapa – os limites dos estados são os atuais – verifica-se, pela localização dos redutos, que o conflito abrangeu pouco menos de metade da área do Contestado, concentrando-se em terras que hoje pertencem à Santa Catarina.

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277HISTÓRIA TERCEIRÃO – 7

As primeiras expedições militares enviadas contra os revoltosos foram completamente derrotadas. Em 1914, porém, sob o comando do general Setembrino de Carvalho, organizou-se uma poderosa força, forma-da por 7 mil soldados do Exército e que possuía até aviões. Após dois anos de luta, derrotaram os rebeldes, estabelecendo-se no Contestado uma terrível repressão: degolamentos, chacina de civis indefesos, fuzila-mentos, assassinatos, perseguições, etc. O número exato de mortos jamais foi levantado, mas pode ter se aproximado de 20 mil.

De qualquer modo, sob o ponto de vis-ta das autoridades, estava tudo resolvido. Não havia mais rebeldes, a fronteira entre Paraná e Santa Catarina foi fixada e a Lum-ber Company pôde extrair e exportar tran-quilamente a madeira da região.

Os efeitos da Primeira Guerra Mundial

A guerra de 1914 a 1918 afetou de várias maneiras a economia brasileira. Entre os efeitos negativos, destacaram-se: aumento do custo de vida, desemprego, baixa dos salários reais. Tanto que, em 1917, ocor-reram greves operárias em quase todos os estados brasileiros, mas principalmente em São Paulo, onde uma greve geral, que durou mais de uma semana e terminou a cacetadas, foi reprimida pela cavalaria da Força Pública paulista, como então se chamava a Polícia Militar.

A Greve de 1917 é geralmente considerada como o marco inicial do movimento operário brasileiro. Mas é claro que este não surgiu naquele ano, do dia para a noite. Desde o início do século, o operariado vinha tentando se organizar. A forte presença de trabalhadores estrangeiros – principalmente imigrantes italianos – fez com que o nascente movimento operário brasileiro sofresse a influência de doutrinas polí-ticas europeias, particularmente do anarquismo, que entre outras coisas pregava:

•o repúdio a qualquer forma de poder ou autoridade estabelecida (Estado, Igreja, partidos, pa-tronato);

•negação da propriedade privada;

•economia baseada na autogestão;

•ação direta dos trabalhadores por meio de greves.

As principais reivindicações dos trabalhadores eram o aumento salarial e a redução da jornada de tra-balho para oito horas. Em 1906, operárias paulistas lançaram um manifesto que merece meditação: “É necessário que recusemos trabalhar também de noite, porque isso é vergonhoso e desumano. […] Como se pode estudar ou simplesmente ler um livro, quando se vai para o trabalho às 7 da manhã e se volta para casa às 11 da noite?”.

No entanto, a guerra de 1914 a 1918 teve também efeitos positivos para o Brasil: o mais importante foi a ocorrência de um surto industrial. As operações militares na Europa e a guerra submarina no Atlântico reduziram bastante a importação brasileira, dando aos industriais a oportunidade de produzir no próprio País uma série de produtos antes importados. A partir daí, embora a indústria ainda fosse um setor secun-dário de nossa economia, já era suficientemente importante para não ser mais ignorada pelo governo, como acontecia até então.

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Tropas de ocupação na região do Contestado. Encerrada a guerra e já dizimados os revoltosos – que foram sempre con-siderados pelas autoridades como “fanáticos” e “bandidos” –, o governo federal determinou a permanência de tropas de ocupação, tanto do Exército como da Polícia Militar parana-ense e catarinense. Essas tropas participaram da terrível re-pressão que se estendeu até o início de 1918.

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278TERCEIRÃO – 7 HISTÓRIA

Em 1917, simultaneamente às greves já citadas, o

Brasil declarou guerra à Alemanha, enviando à Eu-

ropa uma divisão naval com oito navios de guerra e

um corpo de saúde.

Bahia, cruzador moderníssimo, capitânia da divisão naval enviada pelo Brasil à Europa. Foi incorporado à Marinha brasileira em 1910 pelo pro-grama de modernização da esquadra.

A Missão Médica brasileira despedindo-se de Wenceslau Brás ao partir para a França em agosto de 1918. Formada por 155 pessoas, incluindo o pessoal de apoio, a Missão, que deveria trabalhar em Paris, atendendo aos feridos evacuados da frente de combate, acabou sendo enviada ao interior do país para ajudar a combater a devastadora epidemia de gripe que assolava a França. Essa epidemia – a gripe espanhola – originada nos campos de batalha, causou milhões de vítimas pelo mundo afora e, no Brasil, matou dezenas de milhares de pessoas entre outubro e dezembro de 1918.

A sucessão presidencial

A sucessão de Wenceslau Brás obedeceu ao es-

quema da política do “café com leite”, escolhendo-se

como candidato a presidente o paulista Rodrigues

Alves (o único político da República Velha eleito duas

vezes para a Presidência da República) e a vice, o mi-

neiro Delfi m Moreira. Feita a eleição, a chapa ofi cial

obteve, como sempre, uma vitória tranquila. No en-

tanto, Rodrigues Alves, atingido pela gripe espanho-

la, morreu sem tomar posse. Em seu lugar assumiu o

vice-presidente, que governou de novembro de 1918

a julho de 1919, tempo que se levou para escolher,

eleger e empossar um novo presidente que concluís-

se o quadriênio de Rodrigues Alves.

1. (Enem)

A serraria construía ramais ferroviários que aden-

travam as grandes matas, onde grandes locomotivas

com guindastes e correntes gigantescas de mais de

100 metros arrastavam, para as composições de

trem, as toras que jaziam abatidas por equipes de

trabalhadores que anteriormente passavam pelo lo-

cal. Quando o guindaste arrastava as grandes toras

em direção à composição de trem, os ervais nativos

que existiam em meio às matas eram destruídos por

este deslocamento.MACHADO, Paulo Pinheiro. Lideranças do Contestado.

Campinas: Unicamp, 2004. Adaptado.

No início do século XX, uma série de empreendimentos

capitalistas chegou à região do meio-oeste de Santa

Catarina – ferrovias, serrarias e projetos de colonização.

Os impactos sociais gerados por esse processo estão na

origem da chamada Guerra do Contestado. Entre tais

impactos, encontrava-se:

a) a absorção dos trabalhadores rurais como trabalha-

dores da serraria, resultando em um processo de

êxodo rural.

b) o desemprego gerado pela introdução das novas

máquinas, que diminuíam a necessidade de mão de

obra.

➜ c) a desorganização da economia tradicional, que sus-

tentava os posseiros e os trabalhadores rurais da

região.

d) a diminuição do poder dos grandes “coronéis“ da re-

gião, que passavam a disputar o poder político com

os novos agentes.

e) o crescimento dos confl itos entre os operários em-

pregados nesses empreendimentos e os seus pro-

prietários, ligados ao capital internacional.

2. Nas afi rmativas seguintes, assinale verdadeiro (V) ou fal-

so (F).

( V ) A Campanha Civilista, comandada por Rui Barbosa,

ocasionou uma cisão entre as oligarquias.

( F ) Embora se acentuasse durante o governo de Her-

mes da Fonseca, a política das “salvações” já se ve-

rifi cava desde o início do período republicano.

( V ) A Revolta da Chibata, ocorrida no Rio de Janeiro,

envolvendo a Marinha brasileira, foi a primeira con-

turbação política do governo Hermes de Fonseca.

( V ) Além das causas religiosas, contribuíram também

para a revolta do Contestado a ação de companhias

estrangeiras e as manobras políticas de autoridades

catarinenses e paranaenses.

( F ) A greve geral de 1917, apesar de não contar com o

apoio dos anarquistas, confi rmou o elevado grau de

organização do movimento operário brasileiro no

começo do século XX.

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279HISTÓRIA TERCEIRÃO – 7

TAREFA MÍNIMA

Caderno de Exercícios

• Faça os exercícios 1 a 5.

TAREFA COMPLEMENTAR

• Leia o texto da aula.

• Tenha um cuidado especial com os itens sobre a política das “salvações” e os efeitos da Primeira Guerra Mundial.

Caderno de Exercícios

• Faça os exercícios 6 a 10.

1 O enfraquecimento do sistema político oligárquico

As transformações socioeconômicas ocorridas

ao longo da República Velha acabaram criando uma

situação que pode ser assim resumida: enquan-

to a economia e a sociedade brasileiras transforma-

vam-se, o sistema de governo permanecia imutável,

incapaz de acompanhar as mudanças ocorridas no

País. Para quaisquer problemas, sociais ou políti-

cos, a resposta das oligarquias era sempre a mes-

ma: violência. Aliás, a esse respeito, é emblemática

a frase de Washington Luís, presidente da Repúbli-

ca entre 1926 e 1930: “A questão social é caso de

polícia”.

Com essa mentalidade, o governo oligárquico

foi fazendo inimigos em praticamente todos os gru-

pos sociais e isolando-se cada vez mais até encon-

trar-se sozinho. Quando estourou a Revolução de

1930, ninguém fi cou do lado do governo.

Essa incapacidade em se adaptar aos novos tem-

pos foi a causa principal do crescimento da oposi-

ção ao regime. Vamos agora examinar como se

realizou essa oposição, estudando os dois princi-

pais movimentos oposicionistas da década de 1920:

o Tenentismo e a dissidência oligárquica.

O movimento tenentista

O Tenentismo foi um movimento surgido no

Exército, entre ofi ciais jovens – e portanto de baixa

patente – durante a década de 1910.

Inicialmente, os tenentistas protestavam apenas

contra a desorganização e o abandono em que se

encontrava o Exército. Com o passar do tempo, po-

rém, perceberam que o problema não era apenas

militar, mas político. Começaram então a pressionar

o governo para que realizasse uma série de reformas

políticas e sociais. Como o governo nada fez, os te-

nentes voltaram-se frontalmente contra ele, tentan-

do derrubá-lo por meio de revoltas militares.

No entanto, o Tenentismo esbarrou em uma série

de limitações. Foi apenas um movimento, não um

partido político; não teve liderança organizada nem

ideologia defi nida; seu programa de ação era super-

fi cial, baseado na adoção do voto secreto e na colo-

cação de homens honestos no governo; a maioria

dos militares tenentistas acreditava pouco ou nada

na democracia política e eles se julgavam verdadei-

ros salvadores da pátria – ideal bem adequado ao

sentimento de “salvação nacional” que caracterizava

os militares. Além disso, os tenentistas representa-

ram sempre uma facção pequena da ofi cialidade, e

as revoltas que promoveram não foram feitas pelo

Exército, mas apesar do Exército.

Mesmo assim, o movimento tenentista contribuiu

signifi cativamente para a derrubada das oligarquias,

pelas inúmeras revoltas que promoveu contra o go-

verno, pela agitação que provocou entre a classe

média e por ter dado ao movimento oposicionista

um importante componente militar.

Quanto à liderança, os chefes tenentistas mais

importantes foram o major Miguel Costa, o capitão

Luiz Carlos Prestes e os tenentes Siqueira Campos,

Juarez Távora, Eduardo Gomes e Cordeiro de Farias.

A REPÚBLICA VELHA (1889-1930):DECLÍNIO E QUEDA DAS OLIGARQUIAS (1919-1930)

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280TERCEIRÃO – 7 HISTÓRIA

A pressão tenentista

O primeiro levante armado tenentista foi a Revolta do Forte de Copacabana (Os 18 do Forte, no Rio

de Janeiro), em 1922, tentando impedir a posse de Artur Bernardes na Presidência da República. Derro-

tados, voltaram à carga em 1924, conseguindo dominar a cidade de São Paulo por duas semanas. Cerca-

dos pelas tropas governistas, formaram a Coluna Paulista, com 6 mil homens, comandada pelo general

Isidoro Dias Lopes e pelo major Miguel Costa. Sempre combatendo, os revoltosos se retiraram até a re-

gião de Foz do Iguaçu, no Paraná, onde, no ano seguinte, organizaram o mais famoso movimento tenen-

tista: a Coluna Prestes.

Liderada por Miguel Costa e pelo capitão Luiz Carlos Prestes, a Coluna percorreu 25 mil quilômetros a

pé pelo interior do Brasil. E, embora perseguida pelo Exército, por polícias militares de 11 estados, por

bandos de cangaceiros armados pelo governo e por tropas organizadas pelos “coronéis” sertanejos, a

Coluna Prestes jamais foi vencida.

Desses perseguidores, os mais persistentes foram as tropas coronelísticas. Aparentemente os “coro-

néis” perceberam, melhor que ninguém, a ameaça que o Tenentismo representava para o sistema oligár-

quico. O Exército foi usado com certa cautela, pois as autoridades temiam o contágio das ideias tenentistas.

O mapa a seguir, com a divisão estadual da época, mostra o percurso da Coluna Paulista e da Coluna

Prestes.

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PB

SP

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PARAGUAI

ARGENTINA

CHILE

URUGUAI

AMPA

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MG

PR

SC

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RJ

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BA

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ALSE

BOLÍVIA

PERU

COLÔMBIAGUIANAS

VENEZUELA

OCEANO

PACÍFICO

OCEANO

ATLÂNTICO

OCEANO

ATLÂNTICO

N

350

km

0

Coluna Paulista

Coluna Rio-Grandense

Coluna Prestes

Rota de volta

Rota de ida

Fevereiro de 1927: refúgio na Bolívia

Abril de 1925: início da marcha no Paraná

Formação e marcha da Coluna Prestes

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281HISTÓRIA TERCEIRÃO – 7

As oligarquias dissidentes

Você deve lembrar-se (estudamos isso na Aula

63) de que Campos Sales, ao estabelecer a política

dos governadores e a política do “café com leite”,

entregou o governo de cada estado a uma oligarquia

e o controle do governo federal às oligarquias de

São Paulo e Minas Gerais. Com isso, tanto a política

federal como a estadual, tremendamente agitadas,

sofreram uma relativa pacificação.

Mas, conforme foi terminando a década de 1920,

a situação complicou-se, ficando cada vez mais difícil

a acomodação entre as diversas facções oligárqui-

cas. Nos estados, apesar do autoritarismo e da vio-

lência dos governadores, as oposições – elas mesmas

oligárquicas – começavam a se manifestar e até a

formar partidos políticos. O melhor exemplo é o Par-

tido Democrático (PD), fundado em São Paulo, em

1926. Entravam em ação as oligarquias dissiden-

tes, muitas vezes aliadas a outras classes sociais.

Entre 1926 e 1928, os dissidentes formaram parti-

dos de oposição em diversos estados. Passando a

atuar em nível nacional, as oligarquias dissidentes

tiveram um grande fortalecimento, representando, a

partir daquele momento, uma séria ameaça ao siste-

ma político da República Velha.

Propaganda eleitoral do Partido Democrático, com crítica ao “voto de ca-bresto”. A mensagem destinava-se a lembrar aos eleitores que o PD con-denava o sistema eleitoral vigente e defendia a adoção do voto secreto.

2 Os anos de 1920: capítulo final da República Oligárquica

A presidência de Epitácio Pessoa (1919-1922)

Epitácio Pessoa foi eleito para completar o mandato

de Rodrigues Alves, que morrera sem tomar posse.

Em termos econômicos, o destaque desse período foi

a obtenção de um grande empréstimo externo, feito por

bancos norte-americanos, marcando o início da trans-

formação dos Estados Unidos em nosso principal par-

ceiro comercial e financeiro, suplantando a Inglaterra.

Na área político-militar, acumularam-se os sinais de

novos tempos, ou seja, do declínio do sistema político

oligárquico.

Em 1922, ocorreu no Teatro Municipal de São Paulo

a Semana de Arte Moderna, promovida por jovens

intelectuais modernistas, em sua maioria pertencen-

tes à pequena burguesia. Embora tenha durado ape-

nas três dias, a Semana sacudiu a velha cultura.

Outro sintoma dos novos tempos foi a fundação do

Partido Comunista do Brasil (PCB), em 1922, marcando

uma nova etapa na história da esquerda brasileira.

A sucessão presidencial

São Paulo e Minas Gerais indicaram o mineiro

Artur Bernardes como candidato às eleições presi-

denciais de março de 1922. Os estados intermediá-

rios (Rio Grande do Sul, Pernambuco, Bahia, Rio de

Janeiro), formando a Reação Republicana, indica-

ram Nilo Peçanha como candidato da oposição.

Episódios violentos pontilharam a campanha

eleitoral, principalmente depois que a imprensa pu-

blicou uma série de cartas, atribuídas a Bernardes,

que continham referências ofensivas aos militares,

em geral, e ao Exército em particular. Foi o chamado

episódio das cartas falsas, que aguçou a tal ponto a

oposição dos tenentistas, que o Clube Militar protes-

tou contra Epitácio e Bernardes.

Apesar disso, Artur Bernardes foi eleito; afinal,

como costumava acontecer no Brasil, o governo

ganhava as eleições sempre, de uma maneira ou

de outra.

Ocorreu então, no Rio de Janeiro, em julho de

1922, a primeira ação militar tenentista: a revolta da

fortaleza de Copacabana – Revolta dos 18 do Forte –,

esmagada pelo governo em poucas horas.

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Catálogo da exposição da Se-mana de Arte Moderna. A maior parte dos brasileiros sequer ficou sabendo que a Semana tinha acontecido. Mesmo assim, a ex-posição modernista foi um acon-tecimento importante, mostran-do que, na pequena parcela da população que determinava os rumos da política nacional, novos grupos e novas ideias estavam surgindo.

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282TERCEIRÃO – 7 HISTÓRIA

Embora fracassada, a Revolta do Forte de Copacabana deu ao Tenentismo uma publicidade e uma popu-

laridade de fundamental importância para a continuação da luta contra o regime oligárquico.

A presidência de Artur Bernardes (1922-1926)

O governo de Artur Bernardes foi provavelmente o mais agitado de toda a República Velha. De um lado, os

tenentistas e dissidentes constantemente revoltando-se; do outro, o governo executando uma repressão política

e policial violenta e generalizada. O mandato presidencial durou 48 meses, 44 deles sob estado de sítio.

O estado de sítio suspende as garantias e liberdades constitucionais, dando amplos poderes ao gover-

no. Pela Constituição de 1891, o estado de sítio era decretado pelo Congresso Nacional, por iniciativa dos

congressistas ou atendendo pedido do presidente da República. Como Bernardes tinha ampla maioria no

Congresso, pediu e obteve esses poderes excepcinais durante quase todo seu governo.

Por falar no domínio de Bernardes sobre a Câmara e o Senado, dê uma olhada na charge da questão

10, Aula 66, no Caderno de Exercícios.

Além disso, elaborou-se uma reforma da

Constituição, ampliando os poderes do gover-

no, de modo a facilitar a intervenção federal

nos estados. Também foi aprovada uma Lei de

Imprensa, determinando que os jornais fos-

sem mantidos sob severa censura.

Durante o governo de Bernardes, ocorre-

ram os dois maiores movimentos armados te-

nentistas: a Revolta Paulista de 1924 e a Coluna

Prestes (1925-1927).

A presidência de Washington Luís (1926-1930)

Empossado em 15 de novembro de 1926, Washington Luís, logo nos primeiros meses de seu governo,

deixou claras duas tendências contraditórias na área política: a de repressão e a de apaziguamento. Demons-

trou a primeira dessas tendências ao recusar-se a aprovar uma anistia política; como consequência, entre

abril de 1927 e maio de 1929, grande número de processos foram movidos contra ex-revoltosos. Simultane-

amente, iniciava-se uma tática repressiva que fez longa carreira no Brasil: o anticomunismo. Em 1927 foi

aprovado um projeto de Aníbal Toledo, apelidado de Lei Celerada: a pretexto da luta contra o comunismo,

a nova lei restringia a liberdade de pensamento e expressão.

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A Revolta do Forte de Copacabana marcou o início da ação militar dos tenentistas. Esta foto, bastante conhecida, mostra os 18 do Forte – que na realidade eram 19 (18 militares e um civil que se uniu ao gru-po) – avançando pela avenida Atlântica. Dos cinco revoltosos que aparecem na primeira fila, apenas o último da esquerda sobreviveu. Trata-se do tenente Eduardo Gomes, que, mais tarde, chegou a briga-deiro e teve importante atuação político-militar nas décadas de 1950 e 1960.

O alto-comando da Coluna Prestes, em Porto Nacional, interior de Goiás (hoje Tocantins), em 1925. Entre os que aparecem sentados, es-tão militares que, em diversos momentos das quatro décadas seguin-tes, tiveram ativa participação em importantes acontecimentos da História brasileira, num espectro político que ia da extrema esquerda à extrema direita: Miguel Costa (1), Luiz Carlos Prestes (2), Juarez Tá-vora (3), Siqueira Campos (4) e Cordeiro de Farias (5).

54 2 31

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283HISTÓRIA TERCEIRÃO – 7

No Brasil – e de modo geral em toda a América

Latina – existiu, durante quase todo o século XX, uma

verdadeira “indústria do anticomunismo”, usada pe-

los grupos conservadores para se manter no poder.

O esquema era muito simples: todos aqueles que

pusessem em risco o domínio das elites eram generi-

camente tachados de comunistas e, como tais, perse-

guidos e, normalmente, eliminados.

Ao mesmo tempo em que mantinha a repressão, o

governo adotava medidas apaziguadoras: libertação

dos presos políticos; extinção do presídio político da ilha

de Trindade e dos campos de concentração de Clevelân-

dia (Paraná) e do Oiapoque (Amapá). Além disso, ate-

nuou a censura à imprensa e, em março de 1927,

suspendeu o estado de sítio.

Assim, Washington Luís tentava um velho jogo políti-

co: de um lado, a concessão de algumas medidas liberais

e, de outro, a continuação do esquema repressivo, embo-

ra atenuado ou, se quiserem, mais discreto. Como resul-

tado, cresceu o descontentamento contra o governo.

A beleza selvagem da ilha de Trindade faria as delícias de um editor de fôlderes turísticos. O governo Bernardes, porém, não havia se interessado pela beleza, mas, sim, pelo selvagem e instalara na ilha um dos vários campos de concentração para onde eram enviados os inimigos do regi-me. O presídio de Trindade foi um dos que Washington Luís extinguiu.

Os anos finais da República Oligárquica

Durante o governo de Washington Luís, o regime

oligárquico sofreu dois abalos irremediáveis: um de

caráter econômico e outro de caráter político.

O choque econômico começou quando, em outu-

bro de 1929, a quebra da Bolsa de Nova York desen-

cadeou a crise de 1929. Iniciada nos Estados

Unidos, a crise espalhou-se pelo mundo como fogo

na palha. O preço do café desabou; as vendas para-

lisaram-se e os banqueiros estrangeiros pediram de

volta empréstimos feitos ao Brasil.

Quanto ao abalo político, foi ocasionado pela su-

cessão presidencial. Como Washington Luís era pau-

lista, de acordo com a política do café com leite seu

sucessor deveria ser um político mineiro. Por isso,

desde 1928, o governador de Minas Gerais, Antônio

Carlos de Andrada, já tinha como líquido e certo que

ele seria o próximo presidente da República. Porém,

Washington Luís rompeu a política tradicional, indi-

cando como candidato oficial, em 1929, o governador

de São Paulo, Júlio Prestes. Diante disso, as oligar-

quias de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba,

em agosto de 1929, fundaram a Aliança Liberal, que

apresentou uma chapa de oposição às eleições presi-

denciais: Getúlio Vargas, governador do Rio Grande

do Sul, era o candidato a presidente; João Pessoa,

governador da Paraíba, era o candidato a vice. Em

março de 1930, foi realizada a eleição e, como sempre

acontecia naquela época, o candidato oficial, Júlio

Prestes, ganhou. Ganhou mas não levou.

Primeiro, porque Washington Luís cometeu o erro

de iniciar perseguições pós-eleitorais contra os venci-

dos, “degolando” sistematicamente os deputados e

senadores mineiros e paraibanos ligados a Antônio

Carlos e João Pessoa. Colocadas contra a parede, as

oligarquias desses estados começaram a pensar em

uma revolta armada. Segundo, as classes médias ur-

banas e os tenentistas passaram a constituir um ele-

mento de pressão a favor de uma solução por meio da

força das armas. No entanto, a declaração de Luiz

Carlos Prestes – aderindo ao comunismo e colocan-

do-se contra a aliança entre os tenentistas e as oligar-

quias dissidentes – bem como a posição

extremamente cautelosa de Vargas e Antônio Carlos,

fizeram esfriar um pouco o impulso revolucionário.

Nesse ambiente, ocorreu o assassinato de João

Pessoa em julho de 1930. Embora questões pessoais

e da política interna da Paraíba tenham sido a causa

do crime, sua repercussão em meio à opinião pública

nacional foi enorme, atribuindo-se a culpa ao gover-

no federal. Depois disso seria impossível os aliancis-

tas conviverem com o governo de Júlio Prestes:

começaram então a preparar uma revolta em grande

escala. Não havia mais segredo: o governo e o povo,

já informados e até saturados de um boato que não

se concretizava, começavam a duvidar de que a re-

volta ocorresse.

Mas ela ocorreu e foi fulminante. Iniciada por Getú-

lio Vargas a 3 de outubro, em Porto Alegre, em 20 dias

os revolucionários já controlavam quase todo o País.

Percebendo a impossibilidade de resistir, os mi-

nistros militares depuseram Washington Luís e for-

maram uma Junta Militar. A Junta ainda teve

pretensões de permanecer no poder, mas em vão,

pois foi obrigada a entregá-lo a Vargas, que chegou

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284TERCEIRÃO – 7 HISTÓRIA

ao Rio de Janeiro em 31 de outubro e,

em 3 de novembro, tomou posse co-

mo presidente provisório do Brasil.

Terminava vitoriosamente a Revolu-

ção de 1930. O domínio absoluto das

oligarquias era coisa do passado. En-

cerrava-se a República Velha.

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Multidão aplaudindo Getúlio quando as tropas revolu-cionárias passaram por São Paulo. A festiva recepção que Vargas recebeu em São Paulo mostra bem que o sistema oligárquico já tinha poucos simpatizantes, mesmo no estado mais benefi ciado pelos mecanismos políticos da República Velha.

1. (Enem)

São Paulo, 18 de agosto de 1929.Carlos [Drummond de Andrade],Achei graça e gozei com o seu entusiasmo pela

candidatura Getúlio Vargas-João Pessoa. É. Mas veja como estamos... trocados. Esse entusiasmo devia ser meu e sou eu que conservo o ceticismo que deveria ser de você. [...].

Eu... eu contemplo numa torcida apenas simpática a candidatura Getúlio Vargas, que antes desejara tanto. Mas pra mim, presentemente, essa candidatura (única aceitável, está claro) fi ca manchada por essas pazes fragí-limas de governistas mineiros, gaúchos, paraibanos [...], com democráticos paulistas (que pararam de atacar o Bernardes) e oposicionistas cariocas e gaúchos. Tudo isso não me entristece. Continuo reconhecendo a existência de males necessários, porém me afasta do meu país e da candidatura Getúlio Vargas. Repito: única aceitável.

Mário [de Andrade]LEMOS, Renato. Bem traçadas linhas: a História do Brasil em

cartas pessoais. Rio de Janeiro: Bom Texto, 2004. p. 305.

Acerca da crise política ocorrida em fi ns da Primeira Re-

pública, a carta do paulista Mário de Andrade ao mineiro

Carlos Drummond de Andrade revela:

➜ a) a simpatia de Drummond pela candidatura Vargas e o

desencanto de Mário de Andrade com as composi-

ções políticas sustentadas por Vargas.

b) a veneração de Drummond e Mário de Andrade ao

gaúcho Getúlio Vargas, que se aliou à oligarquia cafeei-

ra de São Paulo.

c) a concordância entre Mário de Andrade e Drummond

quanto ao caráter inovador de Vargas, que fez uma

ampla aliança para derrotar a oligarquia mineira.

d) a discordância entre Mário de Andrade e Drummond

sobre a importância da aliança entre Vargas e o pau-

lista Júlio Prestes nas eleições presidenciais.

e) o otimismo de Mário de Andrade em relação a Getú-

lio Vargas, que se recusara a fazer alianças políticas

para vencer as eleições.

2. (FGV-SP) A década de 1920 foi marcada por uma intensa

movimentação político-cultural com desdobramentos

decisivos para a História brasileira. Diversos são os exem-

plos dessa movimentação, EXCETO:

a) a chamada “reação republicana”, que aglutinou repre-

sentantes das oligarquias do Rio Grande do Sul, da

Bahia, de Pernambuco e do Rio de Janeiro e lançou

Nilo Peçanha candidato à presidência em 1922.

b) o chamado “Tenentismo”, que reuniu militares nacio-

nalistas e reformistas aglutinados na Coluna Prestes-

-Miguel Costa e que percorreu grande parte do

território brasileiro até 1927.

c) a fundação do Partido Comunista do Brasil em 1922

por militantes oriundos do anarquismo, entusiasma-

dos com as notícias sobre o sucesso da Revolução

Bolchevique na Rússia.

d) o movimento modernista que teve na Semana de

Arte Moderna de 1922 um dos principais momentos

da expressão da chamada “antropofagia cultural” que

o caracterizava.

➜ e) a ampliação do eleitorado brasileiro com a concessão

do direito de voto às mulheres e aos analfabetos, o

que permitiu a emergência de líderes carismáticos

nos principais centros urbanos.

TAREFA MÍNIMA

Caderno de Exercícios

• Faça os exercícios 1 a 6.

TAREFA COMPLEMENTAR

• Leia o texto da aula.

Caderno de Exercícios

• Faça os exercícios 7 a 12.

H-11

H-23

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285HISTÓRIA TERCEIRÃO – 7

1 Origens

A Itália após a Primeira Guerra Mundial

A participação italiana na Primeira Guerra Mun-

dial trouxe muito mais perdas do que ganhos para

o país. Apesar da anexação de territórios do extinto

Império Austro-Húngaro, a Itália saiu do confl ito

com sua economia debilitada com a destruição ma-

terial no norte do país, endividamento externo,

desorganização econômica, infl ação e, sobretudo,

com um vasto contingente populacional debilitado

pela guerra (mutilados, desempregados, viúvas de

guerra). A inexistência de redes de proteção social,

como as criadas, ainda que debilmente, na França e

Inglaterra após o confl ito, tornava a situação parti-

cularmente grave.

O clima generalizado de insatisfação levou ao

esfacelamento do sistema político anterior ao con-

fl ito, com a própria Monarquia sendo questionada.

Grupos de esquerda, infl uenciados pelo sucesso da

Revolução Russa e pela eclosão de movimentos se-

melhantes na Alemanha e Hungria, tomavam as

ruas das grandes cidades, sobretudo no norte do

país. Outros grupos políticos, às vezes de alcance

regional, multiplicavam-se pelo país, como forma

de dar voz à insatisfação generalizada.

Um desses grupos foi o Fasci Italiani di Combatti-

mento (“Feixes” ou Grupos Italianos de Combate),

fundado em 1919 na cidade de Milão por Benito Mus-

solini, ex-jornalista e político socialista. Reunindo ve-

teranos de guerra, como o próprio Mussolini, e

dotado de uma organização militarizada e práticas

violentas, o grupo (que mais tarde passou a ser cha-

mado simplesmente de Partido Nacional Fascista) ra-

pidamente expandiu sua atuação no território do país

e já nas eleições de 1921 conseguiu eleger um número

signifi cativo de deputados. Em seu manifesto, repu-

diava tanto a esquerda quanto a direita, incorporando

ideias do Modernismo italiano (o Futurismo) ao pre-

gar, ainda que vagamente, a necessidade de criação

de um “Novo Homem”.

Em outubro de 1922, dezenas de milhares de

membros e simpatizantes do Partido Fascista realiza-

ram a Marcha sobre Roma, com a ocupação das ruas

da cidade, exigindo do rei da Itália, Vítor Emanuel III,

a entrega do poder aos fascistas. Encabeçada pelo

próprio Mussolini, a Marcha foi uma verdadeira

ameaça de golpe, à qual o rei cedeu, convidando

Mussolini para a chefi a do governo. Por essa época,

grupos conservadores, inclusive burgueses e da

Igreja, simpatizavam com Mussolini, vendo cada vez

mais no direitista Partido Fascista uma segurança

contra grupos de esquerda que ameaçavam o Estado

liberal italiano.

O regime fascista

Em pouco tempo, Mussolini transformou o país

em uma ditadura, ainda que preservasse o regime

monárquico de Vítor Emanuel III. Progressivamen-

te, o Partido Fascista passou a controlar o Estado

italiano, com a nomeação de juízes e comandantes

militares, além da criação de uma violenta polícia

política, a Ovra (Organização de Vigilância e Re-

pressão ao Antifascismo). Por meio da fraude elei-

toral e da perseguição violenta aos seus inimigos

políticos – incluindo assassinatos não investigados

–, consolidou-se uma base de sustentação política

formal cada vez mais ampla ao Partido Fascista,

abrindo caminho para a extinção dos demais parti-

dos e para a lei que permitia ao Executivo – ou seja,

Mussolini – legislar.

Ao mesmo tempo em que “fechava” o regime,

Mussolini criava um amplo repertório de leis traba-

lhistas, consolidado na Carta del Lavoro de 1927 e

elevando a legislação trabalhista italiana ao nível de

outros países europeus, como França, Inglaterra e

Alemanha. Os sindicatos, porém, passaram a estar

atrelados ao Estado e tornaram-se instrumentos do

regime.

A partir da década de 1930, acelerou-se o milita-

rismo fascista, com projetos bélicos cada vez mais

ambiciosos e uma política externa cada vez mais

agressiva. Em 1935, a Itália invadiu a Etiópia, pratica-

mente o último território africano não submetido ao

imperialismo europeu. Em 1936, Mussolini assinou

com a Alemanha nazista de Adolf Hitler um acordo

de amizade que resultou na formação de um bloco,

logo conhecido como Eixo Berlim-Roma. No mesmo

ano, os dois países passaram a apoiar agressivamen-

te o bloco fascista na Guerra Civil Espanhola.

O FASCISMO NA ITÁLIA

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286TERCEIRÃO – 7 HISTÓRIA

Mussolini, o Duce, discursando na Itália diante de multidão.

2 A ideologia fascista

A partir da ascensão de Mussolini ao poder, pro-

gressivamente foi se consolidando na Itália um tipo

de regime político que passou a ser caracterizado

como de extrema direita. Apesar de propor um ca-

minho alternativo entre capitalismo e socialismo,

tais regimes encontraram amplo apoio em setores

burgueses e preservaram o regime de propriedade

privada, podendo ser considerados uma vertente

política do capitalismo. Convém observar que sua

rápida ascensão ocorreu a partir do momento em

que o sistema capitalista entrou em violenta crise

econômica em 1929.

O fascismo na Itália foi precursor desses movi-

mentos de extrema direita, que se manifestaram em

vários países, como a Alemanha (nazismo), Espanha

(franquismo), Portugal (salazarismo) e Brasil (integra-

lismo), com diversos graus de sucesso político. Algu-

mas das características comuns aos regimes e

movimentos fascistas do mundo inteiro encontraram

sua primeira expressão na Itália. Examinando seus

elementos, pode-se identificar uma ideologia fascista,

cujos principais elementos são apresentados a seguir.

Autoritarismo

O fascismo rejeitava a democracia, caracterizada

como o governo dos fracos. Partia do princípio de

que há uma desigualdade entre as pessoas: existe

uma minoria de “fortes” e uma maioria de “fracos”, e

a democracia liberal, ao dar a todos o mesmo direito

(de voto), igualava os indivíduos. O resultado era o

surgimento de governos da maioria, portanto, go-

vernos considerados “fracos” pelos fascistas. Em seu

lugar, o fascismo propunha o governo de um líder

inspirador, o mais forte dentre os fortes, que pudes-

se conduzir a nação. Na Itália, o papel foi assumido

por Mussolini, que passou a ser chamado de o Duce

dos italianos, da mesma forma que, mais tarde, Hi-

tler seria chamado de Führer dos alemães, com as

duas palavras significando “condutor” ou “guia”.

A concentração do poder nas mãos de um único

líder tirava a autonomia dos poderes Legislativo e

Executivo, resultando em ditaduras que não hesita-

vam em usar a força para se preservar no poder.

“Crer, obedecer e combater” era um slogan fascista,

e a educação era parte importante da imposição da

disciplina e formação de valores na sociedade.

Nacionalismo

O líder deveria encabeçar a comunidade nacional,

que era exaltada em oposição ao internacional, ao

estrangeiro, e o resultado era a xenofobia e o racismo.

Uma das formas mais explícitas de racismo era o an-

tissemitismo: a oposição e perseguição aos judeus,

vistos como um grupo “internacional”, na medida em

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287HISTÓRIA TERCEIRÃO – 7

que se encontravam espalhados por vários países e

que, portanto, maculavam a suposta pureza da comu-

nidade nacional. No fascismo, adotavam-se práticas

antissemitas, que iam de legislação específica até ex-

pulsão, confinamento e, no caso da Alemanha nazista,

prática do extermínio ( já durante a Segunda Guerra

Mundial).

O nacionalismo fascista incluía a concepção de que

as nações são rivais entre si e que suas diferenças são

resolvidas através da guerra, em claro impulso para o

militarismo.

Anticomunismo

Dentro da ideologia fascista, o comunismo era

combatido por ser visto como um movimento de

caráter claramente internacional, portanto, contrário

aos interesses da comunidade nacional. Além disso,

a proposta comunista de uma igualdade radical, in-

clusive econômica, era contrária ao princípio de de-

sigualdade que fundamentava o fascismo. Além dos

aspectos ideológicos, o anticomunismo era evidente

expressão dos interesses burgueses que se encon-

travam por trás de regimes fascistas.

Militarismo

O militarismo fascista se manifestava em dois aspec-

tos. Em primeiro lugar, por meio da incorporação, pela

sociedade civil, de valores característicos das organiza-

ções militares, como o respeito à disciplina e à hierar-

quia. Uma sociedade fascista não apenas é hierarquizada,

como se fundamenta no princípio de obediência aos lí-

deres. A obediência inquestionável a quem estava acima

tinha como contrapartida a prática de autoridade sobre

quem estava abaixo na hierarquia.

Em segundo lugar, o militarismo fascista se mani-

festava na valorização pura e simples da guerra, enca-

rada como forma de “depurar” a nação. A guerra era

vista como um momento sublime, em que as desigual-

dades de nascimento, educação ou classe social eram

apagadas, em nome da coragem e da força, fundado-

ras de nova hierarquia.

Romantismo

A valorização da intuição e da emoção ganhou des-

taque, em detrimento do racionalismo. Em busca de

apoio, o fascismo pretendia seduzir as massas em vez

de convencê-las. A sedução deveria partir do líder ca-

rismático, que não hesitava em praticar o culto à perso-

nalidade por meio da manipulação dos meios de

comunicação de massa.

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Comício do Partido Nazista na década de 1930. Observe o aspecto ceno-gráfico do conjunto.

Além do líder, o próprio movimento deveria ser

sedutor, o que seria obtido pela estetização da política:

passeatas organizadas, comícios precisamente encena-

dos, manifestações carregadas de símbolos grandiosos

e da exibição da disciplina dos corpos; tudo contribuía

para dar beleza ao movimento. Promovendo a mobili-

zação das massas, o fascismo as disciplinava e as exi-

bia, para deleite das próprias massas. Nesse mesmo

contexto, praticava-se o culto à

beleza individual e à forma física,

além da eutanásia: em 1939, na

Alemanha nazista, foram criadas

leis que condenavam à morte ou à

esterilização pessoas com deficiên-

cias físicas ou mentais como forma

de “aperfeiçoar a raça”.

Simbolismo

Como parte da estetização, os

fascistas cercavam-se de símbolos,

sobretudo visuais, que ajudavam a

dar identidade ao movimento. Por

exemplo, as cores exibidas em uni-

formes que identificavam camisas

negras (fascistas italianos), cami-

sas pardas (nazismo) ou camisas

verdes (integralismo); os símbolos

como o fascio (Itália), a suástica

(nazista) ou o sigma (integralista).

O fascio, símbolo do fascismo.

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288TERCEIRÃO – 7 HISTÓRIA

Corporativismo

No caso específi co da Itália, uma característica

marcante do fascismo foi o corporativismo, enquan-

to política de controle dos trabalhadores através de

sindicatos dominados pelo Estado. No discurso ofi -

cial fascista, tratava-se de superar a luta de classes

por meio da cooperação, valorizando o trabalho co-

mo elemento unifi cador da sociedade e destacando-

-se a atuação do Estado como árbitro de confrontos.

A criação de leis trabalhistas reforçava o discurso,

embora, na prática, o resultado fosse apenas um

maior controle dos trabalhadores (sobretudo os ope-

rários) por um Estado que mantinha a estrutura

econômica capitalista inalterada. Exemplo desse

controle foi a proibição de greves, vigente durante

quase todo o governo de Mussolini.

1. (Mack-SP)

O fascismo não é apenas fundador de instituições. É também educador. Pretende reconstruir o homem, seu caráter, sua fé. Para atingir esse objetivo, o fascismo conta com a autoridade e disciplina capazes de pene-trar no espírito das pessoas e aí reinar completamente.

MUSSOLINI, Benito.

O governo fascista italiano empenhou-se em fazer da

educação pública um instrumento capaz de impor sua

doutrina para toda a sociedade. O ideal básico da doutri-

na fascista era:

➜ a) submeter o indivíduo à total obediência ao Estado,

começando com a educação infantil e com a militari-

zação da vida escolar.

b) promover, para os jovens, competições esportivas e

desfi les paramilitares, visando exaltar a capacidade inte-

lectual dos indivíduos.

c) a transformação das instituições educacionais, voltadas

para a excelência do conhecimento acadêmico e inte-

lectual.

d) propagar a educação física e a preparação militar, capa-

zes de dotar o indivíduo de uma mente analítica.

e) exaltar a inteligência crítica e o bom desempenho aca-

dêmico dos indivíduos, futuros construtores da nação.

2. Entre as vanguardas europeias do século XX, encontra-se o

Futurismo, movimento artístico e literário que infl uenciou e,

de certa forma, antecipou o fascismo. Leia o documento

abaixo (manifesto inaugural do Futurismo em 1909) e apon-

te elementos que se identifi cam com as ideias fascistas.

Manifesto futurista (trechos)

1. Nós queremos cantar o amor ao perigo, o há-bito da energia e da temeridade.

2. A coragem, a audácia, a rebelião serão ele-mentos essenciais de nossa poesia.

3. A literatura exaltou até hoje a imobilidade pensativa, o êxtase, o sono. Nós queremos exaltar o movimento agressivo, a insônia febril, o passo de corrida, o salto mortal, o bofetão e o soco.

4. Nós afi rmamos que a magnifi cência do mun-do enriqueceu-se de uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um automóvel de corrida com seu cofre enfeitado com tubos grossos, semelhantes a serpen-tes de hálito explosivo... um automóvel rugidor, que corre sobre a metralha, é mais bonito que a Vitória de Samotrácia.

5. Nós queremos entoar hinos ao homem que segura o volante, cuja haste ideal atravessa a Terra, lançada também numa corrida sobre o circuito da sua órbita [...]

7. Não há mais beleza, a não ser na luta. Nenhu-ma obra que não tenha um caráter agressivo pode ser uma obra-prima. A poesia deve ser concebida como um violento assalto contra as forças desconhe-cidas, para obrigá-las a prostar-se diante do homem.

8. Nós estamos no promontório extremo dos sécu-los!... Por que haveríamos de olhar para trás, se que-remos arrombar as misteriosas portas do impossível? O tempo e o espaço morreram ontem. Nós já estamos vivendo no absoluto, pois já criamos a eterna veloci-dade onipresente.

9. Nós queremos glorifi car a guerra – única higie-ne do mundo – o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos libertários, as belas ideias pelas quais se morre e o desprezo pela mulher.

10. Nós queremos destruir os museus, as biblio-tecas, as academias de toda natureza, e combater o moralismo, o feminismo e toda vileza oportunista e utilitária.

11. Nós cantaremos as grandes multidões agita-das pelo trabalho, pelo prazer ou pela sublevação; cantaremos as marés multicores e polifônicas das revoluções nas capitais modernas; cantaremos o vi-brante fervor noturno dos arsenais e dos estaleiros incendiados por violentas luas elétricas; as estações esganadas, devoradoras de serpentes que fumam; as ofi cinas penduradas às nuvens pelos fi os contorcidos de suas fumaças; as pontes, semelhantes a ginastas gigantes que cavalgam os rios, faiscantes ao sol com um luzir de facas; os navios aventurosos que farejam o horizonte, as locomotivas de largo peito, que pa-teiam sobre os trilhos, como enormes cavalos de aço enleados de carros; e o voo rasante dos aviões, cuja hélice freme ao vento, como uma bandeira, e parece aplaudir como uma multidão entusiasta.

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289HISTÓRIA TERCEIRÃO – 7

12. É da Itália, que nós lançamos pelo mundo este nosso manifesto de violência arrebatadora e incendiária, com o qual fundamos hoje o "Futurismo", porque queremos libertar este país de sua fétida gangrena de profes-sores, de arqueólogos, de cicerones e de antiquários [...]

20. E venham, pois, os alegres in-cendiários de dedos carbonizados! Ei--los! Ei-los!... Vamos! Ateiem fogo às estantes das bibliotecas!... Desviem o curso dos canais, para inundar os museus!... Oh! a alegria de ver boiar à deriva, laceradas e desbotadas sobre aquelas águas, as velhas telas glorio-sas!... Empunhem as picaretas, os ma-chados, os martelos e destruam sem piedade as cidades veneradas!

Filippo Marinetti (1909)

TAREFA MÍNIMA

Caderno de Exercícios

• Faça os exercícios 1 a 3.

TAREFA COMPLEMENTAR

• Leia o texto da aula.

Caderno de Exercícios

• Faça os exercícios 4 a 7.

O NAZISMO NA ALEMANHA

1 A República de Weimar (1919-1933)

Crise permanente

Ao fi nal da Primeira Guerra Mundial, o Império

Alemão foi abolido, o imperador exilado e a Repúbli-

ca proclamada. A República de Weimar foi assim

chamada em referência ao nome da cidade onde foi

promulgada sua Constituição. Lembremos que, nos

primeiros anos da nova República, a Alemanha mer-

gulhou na guerra civil, com uma tentativa de revolu-

ção fracassada e o colapso da ordem pública.

A partir de 1919, a guerra civil foi encerrada, em-

bora a tensão política permanecesse, ao mesmo tem-

po em que as condições econômicas deterioravam.

As cláusulas econômicas do Tratado de Versalhes,

que estipulavam o pagamento de volumosas repara-

ções de guerra para os países aliados, compromete-

ram a economia da Alemanha. Assim, as riquezas

produzidas pelo país (cujo grande parque industrial

permaneceu intacto durante a guerra) eram remeti-

das ao exterior, ao mesmo tempo em que o clima de

insegurança permanecia. O resultado foi o início de

um processo infl acionário em larga escala.

A hiperinfl ação passou a corroer drasticamente o

valor dos salários, gerando o empobrecimento ace-

lerado da população. Além disso, vagavam pelas

ruas os veteranos de guerra, desempregados, muitas

vezes mutilados e reduzidos à mendicância. Em

1923, os preços dobravam a cada dois dias e, no fi nal

do ano, o valor da maior nota em circulação era de

100 trilhões de marcos.

Mussolini em 1932, ao volante de um carro de corri-da Alfa-Romeo. Ao seu lado, dentre outros, o piloto Tazio Nuvolari e o engenheiro Enzo Ferrari. h

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290TERCEIRÃO – 7 HISTÓRIA

O artista alemão Georg Grosz deixou uma série de caricatu-ras que mostram, em tom de denúncia social, aspectos da vida cotidiana da República de Weimar. Na imagem aci-ma, os burgueses e grandes financistas (não atingidos pela inflação) permanecem jogando com o seu dinheiro, enquanto nas ruas trabalha-dores empobrecidos, men-digos e veteranos de guerra permanecem desocupados, sob a vigilância de soldados.

O Partido Nazista

Em meio à situação de crise quase permanente, o

clima era de insatisfação generalizada. A reorganiza-

ção político-partidária da República foi feita em meio

a grande ceticismo em relação à capacidade de ve-

lhas lideranças conduzirem o país em crise. A humi-

lhação decorrente da derrota e do Tratado de

Versalhes abrira espaço para ascensão de líderes

radicais e nacionalistas, sendo o mais conhecido de-

les o jovem Adolf Hitler.

Austríaco de nascimento, Hitler participou da

Primeira Guerra Mundial como soldado do exército

alemão. Ao final do conflito, tendo retornado à cida-

de de Munique (onde residira antes da guerra), Hi-

tler passou a se dedicar à política, ajudando a

articular e logo se tornando líder do pequeno Parti-

do Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães.

Apesar de se dizer “revolucionário”, o Partido Na-

zista assumiu uma postura anticomunista e violenta,

combatendo grupos de esquerda em geral. Com o

apoio de grupos conservadores, Hitler tentou assumir

o poder em 1923, iniciando um golpe em Munique com

o objetivo de mobilizar grupos conservadores por toda

a Alemanha. O episódio, conhecido como o Putsch

(golpe) da Cervejaria, fracassou, e Hitler foi detido.

Na prisão, Hitler redigiu o Mein Kampf, livro que

acabou se tornando a principal obra de referência

sobre os objetivos e a ideologia dos nazistas. Em

grande parte, seguem-se as linhas gerais do fascis-

mo em outros países, com a exaltação nacionalista e

militarista, bem como o autoritarismo e acentuado

antissemitismo. Havia também certas particularida-

des alemãs, como a denúncia à “traição” dos políti-

cos na assinatura do Tratado de Versalhes e as linhas

gerais de uma futura política de expansão territorial

voltada para o leste, isto é, a Rússia.

A partir de 1925 e da libertação de Hitler da prisão,

o Partido Nazista foi refundado, passando a ter uma

organização nacional e a sede em Berlim. Apesar do

fraco desempenho eleitoral, o Partido Nazista tinha

uma presença significativa na política e no cotidiano

das grandes cidades alemãs. Isso era devido, em pri-

meiro lugar, à hábil propaganda realizada pelo parti-

do. Hitler e um de seus principais assessores, Joseph

Goebbels – no futuro, ministro da Propaganda do re-

gime nazista – idealizaram novas técnicas de propa-

ganda, utilizando ao máximo os novos meios de

comunicação de massa, como rádio, cinema e im-

prensa diária. Além disso, o Partido Nazista mantinha

uma organização chamada SA (Sturm Abteilungen –

em português, Grupos de Assalto), tropas do partido

que abusavam do emprego da violência, enfrentavam

seus inimigos em verdadeiras batalhas campais.

Hitler, em 1932, observando um desfile de tropas da SA.

A tomada do poder

A partir de 1924, mudanças na política monetária

e a renegociação da dívida estipulada em Versalhes

(Plano Dawes) acabaram resultando em uma estabi-

lização, ainda que temporária, da economia alemã e

em sua lenta recuperação. Porém, a partir de 1929, a

Alemanha sentiu os efeitos da grande crise econômi-

ca mundial que se iniciava. O clima de frustração era

generalizado e, mais uma vez, grupos de esquerda se

fortaleciam, propondo a superação do capitalismo

que parecia definitivamente falido.

Nesse contexto, o Partido Nazista passou a ser

visto por muitos como uma alternativa possível para

o país, uma vez que nada mais dava certo. Ao mesmo

tempo, grupos burgueses começaram a ver no anti-

comunismo nazista uma segurança diante do recru-

descimento da “ameaça vermelha”, passando a

financiar Hitler e seu partido.

Os sucessos eleitorais logo se seguiram. Em no-

vembro de 1932, o Partido Nazista obteve 33% dos

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291HISTÓRIA TERCEIRÃO – 7

votos nas eleições, tornando-se o partido com maior

número de deputados no Reichstag (o Parlamento

alemão). Nas negociações políticas que se seguiram,

o presidente Hindenburg acabou convidando Hitler

para assumir o cargo de chanceler, isto é, primeiro-

-ministro. Sua posse ocorreu em janeiro de 1933.

Em pouco tempo, Hitler transformou a Alemanha

em uma ditadura. Já em fevereiro, um grande incên-

dio no Reichstag foi atribuído, ainda que sem provas

significativas, aos comunistas, o que precipitou a

adoção de uma série de leis de exceção e, na prática,

suspendeu os direitos civis. Em 1934, Hitler aboliu o

pluripartidarismo, permanecendo o Partido Nazista

como única agremiação política alemã.

2 O Terceiro Reich (1933-1945)

Os primeiros anos

Um dos principais slogans da Alemanha nazista di-

zia: “Ein Reich, ein Volk, ein Führer” (“um império, um

povo, um líder”). Hitler proclamou o nascimento do

Terceiro Reich, o “terceiro império” alemão, sucessor do

Império Germânico da Idade Média e da Alemanha im-

perial após a unificação de 1871. O novo império deveria

ser o lar do povo alemão e Hitler afirmava a necessidade

de fronteiras alargadas para incluir minorias alemãs

residentes em outros países. Além disso, o “vigor” do

povo alemão – identificado por Hitler como arianos, de

“raça superior” – resultaria na necessidade de expansão

no futuro. Assim, no Reich de “mil anos”, os alemães

deveriam ocupar o seu Lebensraum, ou espaço vital,

que incluiria a Rússia europeia, e transformariam a Ale-

manha em uma potência de dimensões continentais.

A proposta de reerguimento nacional e o desejo

de vingança das humilhações impostas pelo Tratado

de Versalhes foram acompanhados de medidas prá-

ticas visando à superação da crise econômica. Aqui

se encontra um dos aspectos mais surpreendentes

do novo regime: seu sucesso econômico.

Promovendo uma política de intervencionismo

econômico, Hitler acabou transferindo recursos pa-

ra a economia, repetindo o receituário keynesiano

adotado em outros países. Todavia, a origem dessa

política era militarista: boa parte dos investimentos

estatais estava ligada ao rearmamento, o que acabou

resultando na transferência de recursos para setores

como siderurgia, mecânica pesada e construção na-

val, além de grandes obras de engenharia civil con-

sideradas estratégicas (como rodovias e fortificações).

Seja como for, a recuperação da economia deu pres-

tígio ao novo regime e, até certo ponto, explica sua

aceitação pela população.

Logo após a ascensão ao poder, o regime nazista

criou leis antissemitas, e a população judaica começou

a ser separada do restante da sociedade, com o estabe-

lecimento dos primeiros campos de concentração.

Mais tarde, já durante a Segunda Guerra Mundial, os

campos de concentração seriam complementados pe-

los campos de extermínio, dando-se início ao Holo-

causto, o massacre da população judaica europeia.

3 Totalitarismo

Por alguns de seus aspectos, o nazifascismo pode

ser caracterizado como totalitário. Dentre as carate-

rísticas do totalitarismo, pode-se citar:

• Identificação entre Estado e partido, com a partici-

pação em cargos estatais subordinada à filiação

ao partido único. O partido político é visto como

instituição que encarna objetivos coletivos nacio-

nais, e toda a ação do Estado deve ser orientada

nessa direção. Dessa forma, o partido deve con-

trolar todos os aspectos da vida da sociedade,

sendo a política apenas um deles. Nas palavras de

Mussolini: “Tudo no Estado, nada fora do Estado,

nada contra o Estado”.

•Legitimação através da História. A legitimação do

regime se faz a partir de uma certa interpretação

da História nacional, à qual o partido dá continui-

dade por meio de sua ação. Nesse sentido, Hitler

falava de um “terceiro império” alemão, e Musso-

lini fazia constantes referências ao passado impe-

rial romano, inclusive pela incorporação de sím-

bolos como o fascio.

•Ditadura política, exercida pessoalmente pelo líder

único para o Estado e o partido. Ao mesmo tempo

autoritário e carismático, o líder empregava os

meios de comunicação de massa para exaltar sua

imagem, caracterizando a prática do culto à perso-

nalidade. A ditadura política enfatizava a educação,

pautada na disciplina e obediência praticadas em

nome dos interesses da coletividade.

•Controle total sobre a vida da população, incluindo

a prática da vigilância em larga escala. A sociedade

totalitária é vigiada, e o partido/Estado mantém

gigantescas organizações de espionagem e repres-

são aos opositores do regime, sejam reais ou imagi-

nados, incluindo a prática institucionalizada da

tortura. Como exemplo, a Ovra (Polícia Política Ita-

liana) e, na Alemanha, a Gestapo (a Polícia Secreta

do Estado). O estímulo à delação fazia parte do co-

tidiano nos regimes totalitários, levando a vigilân-

cia e a repressão a fazerem parte das práticas mais

simples da vida cotidiana.

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292TERCEIRÃO – 7 HISTÓRIA

Observe que o regime stalinista em vigor na União

Soviética na mesma época fundava-se em caracterís-

ticas semelhantes. Nesse sentido, pode-se diferenciar

o totalitarismo de direita (o nazifascismo, praticado

em países capitalistas) e o totalitarismo de esquerda

(stalinismo, praticado em países comunistas).

Em 1948, o escritor inglês George Orwell publicou um romance que descrevia a sociedade futura, submetida à constante vigilância e ao poder ditatorial do “Grande Irmão”. O livro foi intitulado 1984 e foi fortemente inspirado na ascensão dos regimes totalitários na época. Na obra, Orwell leva o exercício do poder totalitário até o controle da língua falada e escrita, que passaria a ser simplifi cada, com a proibição do uso de certos termos e a criação de palavras no-vas. A sociedade descrita por Orwell foi considerada um modelo de distopia, isto é, o inverso da utopia: uma sociedade aparentemente perfeita torna-se um verdadeiro inferno.

1. (Unifesp)

Nós queremos, um dia, não mais ver classes nem

castas; portanto comecem já a erradicar isso em vocês

mesmos. Nós queremos, um dia, ver no Reich uma só

peça, e vocês devem já se educar nesse sentido. Nós

queremos que esse povo seja, um dia, obediente, e vo-

cês devem treinar essa obediência. Nós queremos que

esse povo seja, um dia, pacífi co, mas valoroso, e vocês

devem ser pacífi cos. HITLER, Adolf. Congresso Nazista de Nuremberg, 1934. In:

O triunfo da vontade. Direção de Leni Riefenstahl. Alemanha, 1936.

O trecho identifi ca algumas das características do proje-to nazista, que governou a Alemanha entre 1933 e 1945. Entre elas, a:

a) defesa da adoção do comunismo, expressa na ideia de supressão de classes.

b) recusa do uso da violência, expressa na ideia de povo pacífi co.

➜ c) submissão total da sociedade ao Estado, expressa na ideia de obediência.

d) ampliação do acesso ao ensino básico, expressa na ideia de autoeducação.

e) eliminação das divisões nacionais, expressa na ideia de Reich (império).

2. (FGV-SP)

Homens e mulheres aprenderam a ver a realidade

através de lentes de câmeras. Pois embora aumentasse

a circulação da palavra impressa [...], esta perdeu ter-

reno para o cinema. A Era da Catástrofe foi a era da tela

grande do cinema. [...] Na verdade, à medida que se

aprofundava a Depressão e o mundo era varrido pela

guerra, a frequência nos cinemas do ocidente atingia o

mais alto pico de todos os tempos. [...]

A imprensa atraía os alfabetizados, embora em paí-

ses de escolaridade de massa fi zesse o melhor possível

para satisfazer os semialfabetizados com ilustrações e

histórias em quadrinhos [...]. O cinema, por outro lado,

fazia poucas exigências à alfabetização [...].

Ao contrário do cinema, ou mesmo da nova im-

prensa de massa, o rádio não transformou de nenhum

modo profundo a maneira humana de perceber a re-

alidade. [...] Mas sua capacidade de falar simultanea-

mente a incontáveis milhões [...] transformava-o numa

ferramenta inconcebivelmente poderosa de informa-

ção de massa, como governantes e vendedores logo

perceberam, para a propaganda política e publicidade.HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX.

São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

É inegável a infl uência que os meios de comunicação exercem sobre as sociedades. De acordo com a análise do historiador, o status adquirido pelo cinema durante a Era da Catástrofe (1914-1945) pode ser explicado pelo fato de que esse meio:

a) pouco modifi cou a maneira de as pessoas compreen-derem o mundo, comparado ao rádio.

b) fez diminuir a circulação de jornais impressos diante dos efeitos da crise econômica.

➜ c) atraía muitas pessoas, permitindo que se distraíssem na época da guerra.

d) tornou-se o mais poderoso instrumento de propa-ganda devido à transmissão simultânea.

e) atingia principalmente a população alfabetizada, as-sim como a imprensa escrita.

TAREFA MÍNIMA

Caderno de Exercícios

• Faça os exercícios 1 a 3.

TAREFA COMPLEMENTAR

• Leia o texto da aula.

Caderno de Exercícios

• Faça os exercícios 4 a 7.

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1 Antecedentes

As causas do confl ito

É costume dizer que a Segunda Guerra Mundial é uma continuação da Primeira e, ao considerarmos os países adversários envolvidos no início do con-fl ito – em setembro de 1939, basicamente Alema-nha contra França e Inglaterra –, percebe-se a repetição da relação de forças da guerra anterior. De fato, a derrota alemã na Primeira Guerra Mun-dial e, sobretudo, as duras condições do Tratado de Versalhes impostas aos alemães pela França, com respaldo inglês, acabaram por gerar um forte sen-timento de revanchismo. Para a Alemanha, princi-palmente após a ascensão do nazismo, foi se tornando inevitável a correção de “injustiças”, bem como a vingança pura e simples em relação a esses países.

Além disso, a Primeira Guerra Mundial criou uma situação internacional em que os privilégios das antigas potências, Inglaterra e França, foram preservados, pesando-se também a ascensão dos Estados Unidos e o seu papel de liderança na eco-nomia capitalista mundial. Para jovens potências ambiciosas, como era o caso da Alemanha (aliás, desde 1914) e cada vez mais o Japão, era necessária uma redefi nição dos espaços econômicos interna-cionais. Até mesmo a Itália, embalada pelo milita-rismo fascista, tinha lá suas ambições. A crise de 1929 e seus prolongados efeitos na década de 1930 acirraram as disputas econômicas entre as diversas potências.

Como vimos, a superação dos efeitos da crise se deu através do intervencionismo estatal. Por todo o mundo, e principalmente nos países fascistas, esse intervencionismo signifi cou aumento nos gastos militares, políticas armamentistas e, em caso extre-mo, a realização de guerras. Dessa forma, a Alema-nha passou a se rearmar, desrespeitando o tratado de Versalhes e chegando a iniciar uma política ex-pansionista, com a anexação (em alemão, Anschluss) da Áustria em 1938. A Itália, em 1935, empreendeu uma guerra de conquista contra a Etiópia, e o Japão iniciou uma prolongada guerra contra a China em 1931. O agravamento da situação internacional a partir dessas políticas apenas tornou evidente a ino-perância da Liga das Nações.

Finalmente, as crescentes rivalidades entre os regimes de extrema direita e extrema esquerda – ambos em ascensão durante a década de 1930 – acabaram gerando uma situação de intranquilidade política generalizada, bem como de rivalidade entre as nações. Na época, a maior manifestação dessa verdadeira polarização ideológica foi a guerra civil na Espanha.

Guerra Civil Espanhola (1936-1939)

Em 1936, foi eleito o governo de Frente Popular na Espanha, a partir de uma ampla coalizão de par-tidos e tendências de esquerda. O novo regime se-quer teve tempo de colocar em prática algum tipo de medida esquerdista ou socializante: dois meses após a posse, setores conservadores das Forças Armadas desfecharam um golpe. O país se dividiu. De um lado, o bloco Republicano que, em defesa do governo democraticamente eleito, organizou um exército com grande participação popular, so-bretudo partindo de setores urbanos. Do outro, o bloco Nacionalista, escorado na Falange Nacional (partido de tendências fascistas), na Igreja e em boa parte das Forças Armadas, contando ainda com a participação de setores populares, sobretu-do camponeses, e tendo à frente o general Francis-co Franco.

A guerra ganhou uma violência inédita e rapi-damente atraiu a interferência estrangeira. Os Re-publicanos receberam apoio da União Soviética (talvez o único país do mundo que se engajasse de fato na defesa de um governo socialista), além de um expressivo número de voluntários de todo o mundo, que formaram as Brigadas Internacionais. Já os Nacionalistas receberam apoio do bloco na-zifascista, que não se limitou a dar apoio material, chegando a enviar tropas regulares “disfarçadas” de voluntários.

Chama atenção o papel da aviação alemã, em pleno desenvolvimento desde a chegada de Hitler ao poder. Modernos aviões alemães, pilotados por alemães, não apenas deram importante apoio às tropas em terra, mas cometeram atrocidades contra a população civil. Nesse contexto, ganhou fama mundial o episódio de Guernica, em 1937, quando essa cidade espanhola, então sob o controle repu-blicano, sofreu um ataque aéreo devastador.

A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

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294TERCEIRÃO – 7 HISTÓRIA

O fim da guerra, em 1939, deu-se com a queda dos últimos redutos republicanos na Catalunha, e foi segui-do da implantação da ditadura fascista, encabeçada pelo general Franco. O regime franquista teve longa duração, entrando em crise somente com a morte do

caudillo em 1975 quando se iniciou a redemocratização da Espanha.

Expansionismo alemão

Também durante a década de 1930, Hitler conduziu a Alemanha a uma política expansionista. No mesmo ano de 1938, em que ocorreu a anexação da Áustria, Hitler exigiu do governo da Tchecoslováquia concessões terri-toriais, sobretudo a entrega ao Reich alemão do territó-rio fronteiriço dos Sudetos, sob o argumento de que lá existia grande população de origem alemã. O governo tcheco, pressionado pelo alemão e temendo uma agres-são militar, pediu apoio aos Aliados vencedores da Pri-meira Guerra Mundial, França e Inglaterra que, em última análise, eram os responsáveis pela manutenção das fronteiras estabelecidas ao final daquele conflito.

Em setembro de 1938, realizou-se a Conferência de Munique, com a presença dos primeiros-ministros da Inglaterra, Neville Chamberlain, e França, Édouard Daladier, além de Hitler pela Alemanha. Na Conferên-cia, os representantes Aliados acabaram cedendo às exigências de Hitler em troca do compromisso de en-cerramento da expansão territorial alemã.

A Conferência de Munique representa o apogeu da “política do apaziguamento” adotada pelas democra-

cias liberais, que consistia basicamente em tolerar o rearmamento e o expansionismo alemão, mesmo que desrespeitando as determinações do Tratado de Versa-lhes. Por trás do apaziguamento, havia o receio da ex-pansão soviética: intocada pela Grande Depressão, a economia da União Soviética crescia de forma acelera-da – no embalo dos planos quinquenais e da industria-lização maciça – gerando o temor do socialismo nos países capitalistas. Dessa forma, os governos liberais da França e Inglaterra passaram a ver cada vez mais na Alemanha (fortalecida e rearmada) uma barreira con-tra qualquer expansão soviética.

Em 1939, o governo alemão exigiu do governo po-lonês a devolução de territórios alemães, entregues àquele país nos termos do Tratado de Versalhes. Dian-te do desrespeito flagrante ao acordo de Munique do ano anterior, os Aliados assumiram uma posição mais firme contra a Alemanha, ameaçando-a com a guerra caso alguma medida mais drástica fosse adotada pelos alemães contra a Polônia. Nesse momento, Hitler di-vulgou o recém-assinado Pacto Germano-Soviético, um acordo de cooperação entre os dois países que in-cluía o compromisso de não agressão entre eles, bem como a promessa de neutralidade russa no caso de um confronto entre Alemanha e Aliados. Em suas cláusu-las secretas, o pacto previa a partilha da Polônia entre Alemanha e União Soviética.

Protegida pelo pacto, a Alemanha invadiu a Polô-nia em setembro de 1939, provocando a reação mili-tar da França e da Inglaterra e iniciando a Segunda Guerra Mundial.

Guernica, de Pablo Picasso, 1937.Guernica é o nome do painel pintado pelo artista espanhol Pablo Picasso (1881-1973), logo após o episódio do bombardeio dessa cidade pela aviação nacio-nalista. A tela, exposta em Paris já no mesmo ano, ganhou notoriedade, servindo para chamar atenção do mundo para as atrocidades cometidas pelos fascis-tas. Até hoje é considerada um verdadeiro manifesto pacifista, e uma denúncia aos excessos e, em última análise, à inutilidade de todas as guerras.

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295HISTÓRIA TERCEIRÃO – 7

2 Etapas

Vitórias do Eixo (1939-1941)

Chama a atenção, no início da guerra, as espetacu-lares vitórias militares alemãs, fruto do emprego de um novo conjunto de táticas militares, a Blitzkrieg (“guerra relâmpago”), que privilegiava o emprego de tropas mecanizadas, tanques de guerra e aviação mili-tar. Em pouco tempo, os alemães conquistaram a Po-lônia e, já em 1940, a Dinamarca e a Noruega. Seguiu-se a invasão da Bélgica, Holanda e da França, que foi derrotada em pouco mais de um mês. Musso-lini apressou-se a entrar na guerra ao lado da Alema-nha, em junho de 1940, empolgado pelas impressio- nantes vitórias alemãs e, no fim daquele mês, a Ingla-terra via-se praticamente isolada diante do Eixo, bloco formado pela Alemanha e Itália, e que controlava grande parte do território europeu.

Tentando fragilizar a Inglaterra, Hitler ordenou uma série de ataques aéreos àquele país, iniciando a Batalha da Inglaterra, que devastou muitas cidades inglesas e promoveu grandes baixas na população civil. Todavia, a Inglaterra, liderada pelo primeiro--ministro Winston Churchill, permaneceu no confli-to apesar da inferioridade esmagadora em que vivia naquele momento.

Em 1941, após a rápida conquista da península Balcânica, a Alemanha desencadeou a invasão da União Soviética, inaugurando o front russo, o mais violento do conflito. Após tomarem um amplo terri-tório e chegarem até as portas de Moscou, os ale-mães, esgotados, acabaram por interromper tem- porariamente sua ofensiva em função da chegada do rigoroso inverno russo e diante da crescente resis-tência soviética.

Enquanto isso, no leste asiático, o Japão aprovei-tou-se da neutralização das principais potências colo-nizadoras europeias para desencadear uma violenta ofensiva contra suas possessões, incluindo os territó-rios norte-americanos na Ásia. O ponto de partida foi o ataque de surpresa à base norte-americana de Pearl Harbor, no Havaí, na tentativa de destruir a frota dos Estados Unidos no Pacífico. Seguiu-se a conquista de vastos territórios, incluindo Filipinas, Índias Orien-tais Holandesas (atual Indonésia), Malásia, Cingapura e Birmânia, com o novo império japonês se estenden-do da Índia até as ilhas do Pacífico, passando pela Austrália.

A entrada dos Estados Unidos na guerra deu um novo alento ao bloco dos Aliados (Inglaterra, União Soviética e, agora, Estados Unidos), ao mesmo tem-po em que consolidava o bloco do Eixo (Alemanha, Itália e Japão).

UNIÃO SOVIÉTICA

TURQUIA

BULGÁRIA

GRÉCIA

ALBÂNIA

ITÁLIA

ROMÊNIA

ESPANHA

NORUEGA

DINAMARCA

PORTUGAL

SUÉCIA

ALEMANHA

SUÍÇAFRANÇA

ÁUSTRIA

IUGOSLÁVIA

HUNGRIA

TCHECOSLOVÁQUIA

POLÔNIA

ESTÔNIA

LETÔNIA

LITUÂNIAINGLATERRA

OCEANOATLÂNTICO

Mar Mediterrâneo

Mar Negro

Londres

Gibraltar

Berlim

Paris

Vichy

TUNÍSIA

LÍBIAEGITO

Moscou

Stalingrado

MALTA

1943

1942

1942-1943

1944

Roma

Alexandria

Leningrado

N

245

km

0

Territórios controlados pelo Eixo(fim de 1942)

Territórios controlados pelosAliados

Países neutros com governode orientação fascista

Ofensivas dos Aliados

O domínio do Eixo na Europa

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296TERCEIRÃO – 7 HISTÓRIA

Equilíbrio (1942)

Já em 1942, a guerra entra em uma situação de

equilíbrio. Novas ofensivas do Eixo foram equilibra-

das por uma reação cada vez mais intensa dos Alia-

dos e, no final daquele ano, parecia que a iniciativa

da guerra havia passado definitivamente para as

mãos dos Aliados. Um marco nessa verdadeira “vi-

rada” foi a batalha de Stalingrado, na União Soviéti-

ca, entre o fim de 1942 e o início de 1943, quando um

grande exército alemão foi cercado naquela cidade e

forçado à rendição, desestruturando todo o aparato

militar alemão no front russo.

O equilíbrio atingido em 1942 abriu caminho para

as vitórias dos Aliados, quase que ininterruptas a

partir do ano seguinte. Deve-se observar como cau-

sa dessa mudança o verdadeiro gigantismo do bloco

dos Aliados, que passou a incluir, a partir do fim de

1941, os Estados Unidos, maior potência industrial

do mundo, e a União Soviética, segunda maior po-

tência industrial do mundo. Além do aspecto econô-

mico, destaca-se o poderio humano dos países

Aliados, cuja população em muito superava a dos

países do Eixo. Em outras palavras, foi apenas uma

questão de tempo para que os Aliados tivessem mais

armas para equipar mais soldados que o Eixo.

Os ataques aéreos cada vez mais devastadores

realizados pelos Aliados, sobretudo contra Alemanha

e Japão, bem como a resistência da população à ocu-

pação militar fascista (em movimentos guerrilheiros,

como os partisans), também colaboraram para o des-

gaste do Eixo e sua derrota.

Vitória dos Aliados (1943-1945)

A partir de 1943, inicia-se a conquista da Europa

pelos Aliados. Enquanto o exército soviético progressi-

vamente ia expulsando os alemães de seus territórios,

ingleses e norte-americanos desembarcaram na Itália,

transformando a península em campo de batalha e

desestabilizando o poder de Mussolini. Em junho de

1944, ocorreu o impressionante “Dia D”, o desembar-

que dos Aliados nas praias da Normandia, norte da

França, ocupada pelos alemães. A partir dessa data, a

guerra tornou-se basicamente uma “corrida” entre so-

viéticos a leste e norte-americanos a oeste, com o obje-

tivo de chegar até Berlim e ocupar toda a Alemanha.

Os soviéticos cercaram Berlim em abril de 1945 e,

na batalha que se seguiu, Hitler suicidou-se no abrigo

subterrâneo sob as ruínas da Chanceleria, seu antigo

palácio de governo. Dias antes, Mussolini havia sido

assassinado na Itália: o bloco do Eixo se esfacelava na

Europa e, após a ocupação de todo seu território, a

Alemanha se rendeu em maio de 1945.

Enquanto isso, os norte-americanos realizavam a

conquista das ilhas do Pacífico, aproximando-se cada

vez mais do Japão e multiplicando seus ataques aéreos.

O ponto culminante dessa ofensiva aérea foi o ataque

nuclear a Hiroshima e Nagasaki, antecipando a rendi-

ção do Japão em agosto de 1945.

3 Consequências

Em fevereiro de 1945, realizou-se a Conferência de

Yalta, um encontro entre os “três grandes”, ou seja, os

Os sargentos Yegorov e Kantaria erguem a bandeira soviética sobre as ruínas do edifício do Reichstag (Parlamento), em Berlim.

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297HISTÓRIA TERCEIRÃO – 7

líderes dos Estados Unidos (Roosevelt), União Soviéti-

ca (Stálin) e Inglaterra (Churchill). O objetivo era apon-

tar os rumos para o futuro da Europa diante da

iminente derrota do Eixo. Em linhas gerais, os acordos

fi rmados em Yalta defi niram a divisão da Europa em

duas áreas de infl uência, uma soviética (Europa orien-

tal) e outra norte-americana (Europa ocidental). Em

julho do mesmo ano, já após a rendição alemã, a Con-

ferência de Potsdam efetivou a divisão da Alemanha

em quatro zonas de ocupação militar: soviética, norte-

-americana, inglesa e francesa. Mais tarde, em 1949, a

zona de ocupação soviética daria origem a um estado

independente, a República Democrática Alemã, ou

Alemanha Oriental, socialista. No mesmo ano, as três

zonas de ocupação aliadas seriam reunidas para for-

mar a República Federal da Alemanha, ou Alemanha

Ocidental. Uma divisão semelhante foi realizada na ci-

dade de Berlim.

Chama atenção o fato de que as conferências que

marcam o fi nal da guerra e determinam os rumos do

pós-guerra não tenham contado com a participação

dos países derrotados. Em outras palavras, não foi

feito nenhum acordo com os países derrotados, que

simplesmente foram obrigados a acatar as decisões

dos vencedores. Isso se deve à determinação norte-

-americana de aceitar somente a “rendição incondi-

cional” de Alemanha e Japão, sem qualquer tipo de

negociação.

Finalmente, ainda em 1945, realizou-se a Confe-

rência de São Francisco, que deu origem à Organiza-

ção das Nações Unidas. A ONU, como é conhecida,

foi uma proposta de Roosevelt e veio a substituir a

malfadada Liga das Nações que existiu no período

do entreguerras.

A Segunda Guerra Mundial trouxe uma devasta-

ção sem precedentes, em escala verdadeiramente

mundial. O número de mortos ultrapassou de longe

o que foi atingido em qualquer outro confl ito huma-

no. Acelerou-se o declínio da Europa, já iniciado na

grande guerra anterior; Estados Unidos e União

Soviética saíram tremendamente fortalecidos ao fi -

nal do confl ito e dominaram a política internacional

nos cinquenta anos seguintes, período que fi cou co-

nhecido como Guerra Fria.

1. (Mack-SP) A respeito do período anterior ao início da

Segunda Guerra Mundial (1939-1945), é correto afi rmar

que:

a) o fracasso do pacto de não agressão entre a URSS e a

Alemanha precipitou a ofensiva germânica, que inva-

diu a Polônia, dando início à guerra.

b) a política de apaziguamento, adotada pela Inglaterra

e pela URSS, foi uma calculada manobra a fi m de pro-

telar o começo do confl ito e aumentar o arsenal béli-

co daqueles países.

c) com a intervenção militar da Itália e da Alemanha na

Guerra Civil Espanhola, apoiando Franco, as nações

europeias romperam relações diplomáticas com es-

ses países.

d) o Anschluss, ocorrido em 1938, sob a alegação de ne-

cessidade de formação de uma única nação ariana,

acarretou a expulsão da Alemanha da Liga das Nações.

➜ e) diante da política expansionista alemã, Inglaterra e Fran-

ça acreditavam que a política de apaziguamento seria a

única saída para impedir o avanço do socialismo.

2. A rosa de Hiroshima

Pensem nas crianças

Mudas telepáticas

Pensem nas meninas

Cegas inexatas

Pensem nas mulheres

Rotas alteradas

Pensem nas feridas

Como rosas cálidas

Mas oh! não se esqueçam

Da rosa da rosa

Da rosa de Hiroshima

A rosa hereditária

A rosa radioativa

Estúpida e inválida

A rosa com cirrose

A antirrosa atômica

Sem cor sem perfume

Sem rosa sem nada.

MORAES, Vinicius de. A rosa de Hiroshima. In: Antologia poética. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

“A rosa de Hiroshima” foi composta pelo poeta Vinicius de

Moraes (1913-1980) após o fi m da Segunda Guerra Mun-

dial. Compare-a com outras poesias que abordam a guer-

ra, como a “Carta a Stalingrado” de Carlos Drummond de

Andrade.

TAREFA MÍNIMA

Caderno de Exercícios

• Faça os exercícios 1 a 4.

TAREFA COMPLEMENTAR

• Leia o texto da aula.

Caderno de Exercícios

• Faça os exercícios 5 a 8.

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298TERCEIRÃO – 7 HISTÓRIA

1 Tempos de mudança

A Revolução de 1930 marcou o início de uma nova etapa da República brasileira, que se estendeu até o golpe político-militar de 1964. Entre as várias denomi-nações que já se deu a essa nova etapa – República Nova, Segunda República, República Populista – adotaremos a de República Populista, pois o populis-mo foi um elemento fundamental do processo histórico brasileiro entre 1930 e 1964.

Você já deve ter reparado que, nos noticiários de TV e nos jornais, bem como nas declarações de muitos políticos, empresários e economistas, a palavra popu-

lismo é usada com um sentido pejorativo, como sinô-nimo de demagogia ou de irresponsabilidade. Chamar alguém de populista, hoje em dia, é quase uma ofensa.

Em termos históricos, porém, a expressão po-

pulismo tem um signifi cado completamente dife-rente: é o nome que se dá a uma prática política em que um setor da elite assume a chefi a do movimen-to de reivindicações populares, de tal modo que as concessões feitas ao povo não prejudiquem os inte-resses fundamentais da elite.

No Brasil, o populismo foi uma constante, entre 1930 e 1964, tanto nos períodos democráticos quan-to nos ditatoriais. E, como qualquer outro fenôme-no histórico, teve aspectos positivos e negativos. Entre os aspectos positivos, podemos citar uma considerável modernização socioeconômica, um acelerado crescimento econômico, alguma melhora na distribuição de renda e uma signifi cativa eleva-ção do padrão de vida da população urbana.

Durante a República Populista, ocorreram no Brasil algumas importantes transformações, que podem ser assim resumidas:

•Transformações econômicas

– O setor da economia voltado para o mercado interno passou a ser mais importante do que o setor exportador.

– A indústria transformou-se na principal ativida-de econômica do País.

– À medida que os anos passavam, o Estado pas-sou a intervir cada vez mais na economia.

– A partir de 1945 (fi m da Segunda Guerra Mun-dial), o capital estrangeiro passou a exercer infl uên-cia crescente na economia e na política brasileiras.

•Transformações socioeconômicas

– A burguesia industrial transformou-se no gru-po social mais rico do País.

– A classe média fortaleceu-se e o operariado ur-bano cresceu rapidamente.

– Acelerou-se o processo de urbanização, princi-palmente no Sudeste e no Sul.

•Transformações políticas

– Consolidou-se o Estado nacional e cresceu o poder do governo federal.

– Diminuiu o poder político das oligarquias regio-nais e dos governos estaduais.

Esse conjunto de modifi cações, que foram se acen-tuando ano após ano, produziu uma considerável mo-dernização da economia e da sociedade, gerando, a partir da década de 1950, uma aguda discussão sobre qual seria o melhor caminho para que o Brasil se trans-formasse em um país desenvolvido. Essa discussão – que envolveu partidos políticos, sindicatos, Forças Armadas, imprensa, etc. – terminou subitamente, quando uma das partes envolvidas abandonou o jogo democrático e impôs suas ideias pela força, por meio do golpe político militar de 1964. Com ele, encerrou-se a República Populista.

2 A Era Vargas (1930-1945)

Chamamos de Época de Vargas – ou Era Vargas – os 15 anos consecutivos (1930-1945) em que Getúlio Vargas permaneceu no poder: primeiro como dita-dor; depois como presidente constitucional e, por fi m, novamente como ditador. Os acontecimentos históricos desse período foram tão importantes que hoje, decorridos mais de 60 anos, ainda é comum a imprensa e as autoridades governamentais afi rma-rem que estamos abandonando ou modifi cando o “modelo varguista” de crescimento econômico.

Ora, se o desempenho econômico do País, no fi m do século XX e início do XXI, variou entre medíocre e ruim e as pessoas ainda se referem ao “modelo” da Época de Vargas como um modelo de crescimento, já dá para você desconfi ar do seguinte: mesmo que o tal modelo não seja mais viável, parece que não se encon-trou outro que faça a economia brasileira voltar a cres-cer rapidamente.

Evidentemente, os excelentes resultados econômicos obtidos durante a Era Vargas não ocorreram porque Getúlio fosse um gênio, ou coisa assim. Embora ele tives-

A REPÚBLICA POPULISTA (1930-1964): A POLÍTICA ECONÔMICA DA ERA VARGAS

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299HISTÓRIA TERCEIRÃO – 7

se grande habilidade e visão política, estas só puderam ser postas em prática graças às novas condições nacio-nais e internacionais geradas pela Revolução de 1930 e pela crise de 1929, as quais vamos estudar em seguida.

Feita essa ressalva, vamos então analisar o período 1930-1945, verificando inicialmente suas características econômicas e depois as políticas.

O processo de industrialização

É importante que se diferencie surto industrial de processo de industrialização. Surto industrial não passa da criação de certo número de indústrias, duran-te algum tempo, sem alterar as bases do sistema eco-nômico do País. Foi o que ocorreu, por exemplo, durante a Primeira Guerra Mundial.

Já o processo de industrialização é um conjunto de mudanças dotado de certa continuidade e de sentido. No caso brasileiro, significou a transformação global de uma economia de base agrário-exportadora em um sis-tema baseado na produção industrial destinada ao mer-cado interno. Assim, a industrialização foi acompanhada por um conjunto de mudanças econômicas, sociais, políticas e culturais, caracterizando a formação do capi-talismo contemporâneo no Brasil. Em países subdesen-volvidos, a industrialização, normalmente, só é viável em uma situação de crise do sistema econômico ante-rior a ela. No caso específico do Brasil, a crise de 1929 abalou profundamente nosso sistema agrário-exporta-dor fundamentado na cafeicultura. As reservas-ouro praticamente desapareceram, a moeda desvalorizou-se, o preço da saca de café caiu de quatro libras para uma libra, as exportações reduziram-se à metade. Como o Brasil dependia do setor cafeeiro, com a crise, era de se esperar uma situação gravíssima. No entanto, não foi o que aconteceu. Pelo contrário, já em 1933, a economia nacional voltava a crescer rapidamente, impulsionada pelo crescimento intensivo da indústria. Portanto, a cri-se do sistema agrário-exportador desencadeou a indus-trialização basicamente por dois fatores:

•a política adotada pelo governo Vargas para combater os efeitos da crise;

•a existência no Brasil, na época, de um parque industrial que, embora ocupando posição se-cundária no sistema econômico, já apresentava certo porte e diversificação.

Vamos então analisar separadamente esses dois fatores.

A nova política de defesa do café

Embora a Revolução de 1930 tivesse derrubado do poder a oligarquia cafeeira, a cafeicultura conti-

nuava sendo o principal setor da nossa economia; assim, diante dos efeitos da crise de 1929, o governo Vargas teve de adotar medidas para a defesa do café. Como havia enormes excedentes de produção, que baixavam cada vez mais o preço do produto, resol-veu-se que o governo federal compraria os exceden-tes invendáveis de café.

“Ora”, dirá você, “mas isso já era feito desde o Con-vênio de Taubaté em 1906!” Realmente, só que agora o sistema adotado apresentava algumas diferenças fun-damentais. Anteriormente, o governo pedia dinheiro emprestado no exterior, comprava a mercadoria e a estocava. Agora, diante da retração do crédito interna-cional devido à crise, não era mais possível obter em-préstimos. Então, o governo emitia dinheiro, comprava o café e, em seguida, queimava o produto. Entre 1930 e 1937, quase 100 milhões de sacas de café foram des-truídos; assim, eliminando-se o excedente de produ-ção, evitava-se a queda dos preços.

Queima de café, nas proximidades de Santos, na primeira metade da década de 1930. De 1931 a 1934, o governo comprou quase 100 milhões de sacas, das quais grande parte foi queimada. Os trens carregados de café desciam de São Paulo para Santos e, nos manguezais da Baixada Santista, o produto era joga-do na beira da linha e queimado. Essa medida, aparentemente maluca, foi na realidade o primeiro passo para a rápida recuperação econômica do País.

O objetivo básico dessa política de queima do café era defender a cafeicultura. Os resultados alcan-çados, porém, foram bem mais amplos, acabando por defender a economia como um todo e permitin-do que o Brasil fosse um dos primeiros países do mundo a superar os efeitos da Grande Depressão.

E como foi que conseguimos esse excelente resulta-do? Milagre? Claro que não. Veja bem, no Brasil, devi-do à grande importância da cafeicultura na economia nacional, qualquer aumento ou diminuição da produ-ção de café repercutia sobre toda a economia do País. Suponha então que em vez de comprar o café e em seguida queimá-lo – o que parece ser uma enorme maluquice – o governo tivesse adotado – em relação ao café – a atitude aparentemente racional de obrigar os

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300TERCEIRÃO – 7 HISTÓRIA

cafeicultores a diminuir a produção, equiparando-a ao

consumo do mercado. Isso significaria reduzir a pro-

dução praticamente à metade, despedindo grande

parte dos empregados nas fazendas e cortando drasti-

camente os gastos.

Haveria um efeito em cascata, transferindo a crise

do setor cafeeiro para outros setores da economia liga-

dos ao café: comércio interno, indústria de ferramentas

e sacaria, companhias de armazéns (estocagem), ferro-

vias, portos, navegação, bancos, casas exportadoras,

etc. Em todas essas áreas haveria demissão generaliza-

da de empregados, e o desemprego cresceria, reduzin-

do ainda mais o consumo interno.

Mas, ao comprar e destruir o excedente invendá-

vel de café, o governo manteve a cafeicultura prati-

camente em seu nível normal de atividade; assim, os

demais setores dependentes do café continuaram

também a funcionar sem abalos muito sérios. “Ora”,

dirá você, “então para o Brasil não houve crise?”

Houve – só que bem menos grave do que a de outros

países na mesma época. Inconscientemente, o go-

verno federal pusera em prática a mais eficiente po-

lítica de combate à crise que se poderia imaginar. E

dizemos inconscientemente porque naquela época a

ciência econômica ainda não havia desenvolvido

uma teoria que, usada conscientemente, resolvesse

os problemas práticos impostos pela crise de 1929.

“Quer dizer então que o Brasil superou a crise por

acaso?” Bem, não foi exatamente por acaso. A mudan-

ça dos grupos no poder, devido à Revolução de 1930,

influiu muitíssimo. Se as antigas oligarquias ainda con-

trolassem o governo, a crise provavelmente seria en-

frentada ou pelos métodos utilizados desde os tempos

do Convênio de Taubaté ou pela receita recomendada

pela “melhor” teoria econômica então existente.

A primeira solução – desvalorização da moeda, ob-

tenção de empréstimos no exterior e estocagem do

café – resultaria num fracasso completo, pois o mil-réis

já estava desvalorizado, o crédito internacional estava

paralisado e os estoques de café já eram tão grandes

que sua simples existência forçava a queda do preço do

produto.

A segunda solução – recomendada pelo liberalis-

mo, a “melhor” teoria econômica da época – seria o

governo não intervir na economia, deixando que o

mercado se encarregasse de equilibrar a oferta e a

procura de café. Para isso, a cafeicultura precisaria

reduzir a produção à metade, com as consequências

que você já conhece.

Em vários momentos históricos, determinadas

teorias econômicas são apresentadas como as “me-

lhores”, até porque foram elaboradas em países de-

senvolvidos – ou ricos, como se dizia antigamente –,

possuidores de notáveis instituições de pesquisa

econômica. Utilizando a expressão hoje usual, são

“teorias de Primeiro Mundo”. Como tais teorias ba-

seiam-se na realidade e nos interesses desses países,

ao serem transplantadas para nações não desenvolvi-

das causam, na maioria das vezes, efeitos negativos.

Os grupos que chegaram ao poder em 1930, com

interesses ligados mais ao mercado interno do que à

exportação, trataram de defender esse mercado in-

terno, mesmo correndo o risco de abandonar méto-

dos e teorias tidos como “corretos” e “modernos”.

Portanto, o fato de o Brasil ter superado rapida-

mente a crise não foi casual. Pode-se até dizer que os

governantes tiveram sorte, mas o fundamental foi,

internamente, a nova composição de forças no po-

der e, externamente, o fato de nossos tradicionais

aliados, principalmente ingleses e norte-americanos,

estarem muito ocupados enfrentando a Grande De-

pressão. Isso nos deu maior liberdade de movimen-

tos, permitindo a adoção de políticas econômicas

mais favoráveis aos interesses brasileiros.

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Navios esperando vaga para atracar no porto de Santos em meados da década de 1930. A eficiente política de defesa da economia permitiu a rápida recuperação das atividades comerciais, industriais e de navegação, fazendo com que o Brasil fosse um dos primeiros países do mundo a superar a crise de 1929. Por isso, numa época em que os principais portos internacionais ainda estavam com movimento reduzido, em Santos ocorria o contrário: toda a extensão do cais estava tomada por navios e havia numerosas embarcações espe-rando lugar para atracar.

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301HISTÓRIA TERCEIRÃO – 7

A industrialização por substituição de importações

Em consequência da crise de 1929, as exporta-

ções brasileiras caíram sensivelmente, reduzindo-se

também nossa capacidade de importar. No entanto,

a política de defesa do café permitiu à economia na-

cional recuperar-se rapidamente, e, já por volta de

1932-1933, o poder de compra do nosso mercado

consumidor interno estava restabelecido. Como tra-

dicionalmente esse mercado era abastecido com

manufaturas importadas, surgiu então uma situa-

ção contraditória:

•o mercado interno tinha condições de consumir

uma quantidade de manufaturas relativamente

alta;

•a redução da capacidade de importação, porém,

não permitia que o mercado fosse abastecido.

Em outras palavras, a procura de produtos indus-

triais era maior do que a oferta. A consequência mais

lógica seria a elevação dos preços (infl ação); em vez

disso ocorreu o início de nosso processo de industria-

lização. Isso porque a indústria nacional, até então de-

samparada pelo governo e sujeita à concorrência

estrangeira, trabalhava com uma grande capacidade

ociosa, ou seja, as fábricas estavam produzindo abai-

xo de sua capacidade de produção. Mas diante do es-

tímulo provocado pela redução das importações de

manufaturas e pela manutenção da procura, os indus-

triais brasileiros trataram de aumentar sua produção.

Mas e o capital para isso? Onde – em plena época

de crise – os industriais arrumaram dinheiro para

ampliar suas fábricas e aumentar a produção? Em um

primeiro momento, não foi preciso ampliar as fábri-

cas. Os industriais já tinham as máquinas, os equipa-

mentos e as instalações necessárias, só que, devido à

capacidade ociosa, tudo estava sendo subutilizado.

Então, bastava utilizar normalmente a capacidade

instalada, e as indústrias aumentariam sensivelmente

sua produção. Assim, iniciamos no Brasil um proces-

so de industrialização por substituição de im-

portações.

O processo de industrialização por substituição

de importações funciona do seguinte modo: o

mercado consumidor de determinados produtos,

inicialmente, é atendido pela importação de mer-

cadorias estrangeiras, até que, a partir de um

certo momento, o produto importado passa a ser

substituído por similares fabricados dentro do

próprio país.

A substituição de importações permite que a in-

dustrialização cresça muito rapidamente. Por outro

lado, acaba-se chegando a um ponto em que todos

os produtos de fabricação relativamente fácil sejam

produzidos no país, e aqueles que ainda não o são

exijam um capital e uma tecnologia que o país nor-

malmente ainda não possui. Assim, o ritmo da in-

dustrialização diminui, gerando, na maioria dos

casos, uma situação de crise. No Brasil, tal ponto foi

atingido no início da década de 1960.

Durante boa parte da década de 1930, a indústria

cresceu devido ao aproveitamento de sua capacida-

de ociosa. Quando essa capacidade foi totalmente

aproveitada, o setor industrial pôde continuar cres-

cendo, graças a três fatores principais:

1o) a burguesia industrial já tinha acumulado lucros

sufi cientes para poder investir na ampliação das

fábricas;

2o) o fechamento de grande número de indústrias

nos Estados Unidos, devido à Grande Depressão,

permitia a importação de máquinas seminovas a

preços muito baixos;

3o) a política seguida pelo governo brasileiro incen-

tivava e protegia o setor industrial.

E, assim, a industrialização passou a ser um pro-

cesso irreversível.

1. (Enem)

A industrialização do Brasil é fenômeno recente e se

processou de maneira bastante diversa daquela verifi ca-

da nos Estados Unidos e na Inglaterra, sendo notáveis,

entre outras características, a concentração industrial em

São Paulo e a forte desigualdade de renda mantida ao

longo do tempo.

Outra característica da industrialização brasileira foi:

a) a fraca intervenção estatal, dando-se preferência às

forças de mercado, que defi nem os produtos e as

técnicas por sua conta.

b) a presença de políticas públicas voltadas para a su-

pressão das desigualdades sociais e regionais, e des-

concentração técnica.

c) o uso de técnicas produtivas intensivas em mão de

obra qualifi cada e produção limpa em relação aos

países com indústria pesada.

d) a presença constante de inovações tecnológicas re-

sultantes dos gastos das empresas privadas em pes-

quisa e em desenvolvimento de novos produtos.

➜ e) a substituição de importações e a introdução de ca-

deias complexas para a produção de matérias-primas

e de bens intermediários.

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302TERCEIRÃO – 7 HISTÓRIA

2. (FGV-SP) Atingida pela crise de 1929, a capacidade da economia brasileira para importação de bens de capital não se recuperou nos anos 1930; em 1935, as importa-ções de bens de capital alcançaram apenas 50% do nível de 1929. Mas a produção industrial para o consumo do mercado interno (particularmente dos tecidos) e a pro-dução dos próprios bens de capital aumentaram visivel-mente nos anos 1930. Isso se explica:

a) pelo aumento da procura externa de bens industriais de consumo, reforçada pelo grande crescimento da renda proveniente das exportações.

b) pelo grande aumento da rentabilidade da economia cafeeira, cujos novos capitais eram reinvestidos na indústria de bens de consumo destinado ao mercado interno.

c) pela grande rentabilidade e capacidade de reinversão das indústrias metalúrgicas e siderúrgicas que rece-biam pesados investimentos públicos nacionais e externos, em programas de recuperação econômica após a crise.

➜ d) pela grande rentabilidade e capacidade de reinversão das indústrias, que se voltaram para a crescente de-manda interna e, para atendê-la, aproveitavam inten-

samente sua capacidade ociosa, além de recorrer à aquisição, a preços muito baixos, de equipamentos de segunda mão no exterior.

e) pela preponderância do setor externo – particular-mente a produção de algodão para exportação – no processo de formação de capital, o que permitiu à economia brasileira passar pela crise sem recorrer à expansão do mercado interno.

TAREFA MÍNIMA

Caderno de Exercícios

• Faça os exercícios 1 a 5.

TAREFA COMPLEMENTAR

• Leia o texto da aula.

• Verifi que se os conceitos econômicos envolvidos nesta aula fi caram claros para você.

Caderno de Exercícios

• Faça os exercícios 6 a 10.

1 Da ditadura à democracia

O Governo Provisório de Vargas (1930-1934)

Em 3 de novembro de 1930, Getúlio Vargas assu-

miu a presidência, na chefi a de um Governo Provisó-

rio e munido de amplos poderes: suspendeu a

Constituição de 1891, fechou o Congresso Nacional

e as assembleias estaduais e substituiu os governa-

dores por interventores federais, nomeados por ele

próprio (a maioria membros do movimento tenentis-

ta). Instaurou, assim, a ditadura, prometendo, ao

mesmo tempo, a futura eleição de uma Assembleia

Constituinte.

As novas forças que participam do poder

A composição do Governo Provisório refl etia tan-

to os compromissos de Vargas com os grupos que o

haviam apoiado durante a revolução como também

as promessas de uma política social e econômica

mais ativa, que constavam do programa da Aliança

Liberal. Por isso, foram criados dois novos ministé-

rios – o da Educação e Saúde e o do Trabalho, Indús-

tria e Comércio – e havia, entre os ministros, a

predominância de gaúchos, mineiros e paraibanos.

De modo geral, os políticos que a revolução levou

ao poder representavam elementos marginalizados

durante a República Velha, particularmente:

•a burguesia industrial e fi nanceira;

•as classes médias urbanas;

•a elite agrária gaúcha.

Além desses elementos, a situação criada pela

vitória da revolução abria espaço para a participação

política – direta ou indireta – de outros grupos socio-

econômicos, como as antigas oligarquias dissidentes

e os trabalhadores urbanos. A própria elite cafeeira,

que perdeu o domínio do poder, pôde, depois de

algum tempo, pelo menos participar do mesmo. Fi-

nalmente, as Forças Armadas, que, como instituição,

estavam afastadas do centro de decisões políticas

desde o fi nal da presidência de Floriano Peixoto,

ganharam infl uência política, infl uência, aliás, que

não parou de crescer nas décadas seguintes.

A REPÚBLICA POPULISTA (1930-1964) – A ERA VARGAS: A DEMOCRACIA VEM... E SE VAI

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303HISTÓRIA TERCEIRÃO – 7

Portanto, diversos grupos partilhavam o poder, mas nenhum deles tinha força suficiente para se impor aos

demais. Habilidosamente, Vargas, aproveitando-se desse equilíbrio de forças, transformou-se no árbitro da situ-

ação política, reforçando cada vez mais sua posição.

O populismo

As mudanças introduzidas a partir da Revolução de 1930 não se restringiram apenas à área econômica.

Houve também importantes modificações no campo político. A industrialização e a urbanização criaram novas

pressões sociais que, na República Velha, teriam levado o governo a colocar as tropas na rua.

Mas a situação agora era outra. Vargas e os novos grupos dominantes, conscientes de que não poderiam

mais considerar a questão social um “caso de polícia”, como dizia o ex-presidente Washington Luís, adotaram

uma linha política que perduraria até o golpe político-militar de 1964: o populismo. E esse você já sabe como

funciona: diante das crescentes reivindicações populares a favor de reformas sociais e políticas, uma facção da

elite assume a defesa dessas reivindicações e passa a chefiar o movimento popular. Desse modo, as concessões

feitas ao povo restringem-se apenas aos limites aceitáveis para a elite.

O populismo brasileiro dos anos 1930 teve três características fundamentais:

•a concessão de direitos previdenciários e trabalhistas às massas urbanas;

•o culto a Getúlio;

•a adoção de medidas econômicas e administrativas que contribuíram significativamente para a melho-

ria das condições de vida da população e para o crescimento econômico.

Oficializou-se a Previdência Social, os sindicatos foram legalizados e concederam-se inúmeros direitos

trabalhistas: salário-mínimo, aposentadoria, jornada de trabalho de oito horas por dia, férias pagas, indeni-

zação por demissão sem justa causa, proteção ao trabalho de mulheres e crianças, etc. Lembre-se, porém, de

que tais medidas não foram uma simples criação de Vargas, pois os trabalhadores já lutavam por elas desde

o começo do século. Por outro lado, os direitos trabalhistas foram concedidos apenas aos trabalhadores

urbanos, deixando de lado a enorme massa rural.

Apesar dessas limitações, o populismo foi um fenômeno político de extraordinária importância, pois incorpo-

rou parte das massas populares ao processo capitalista brasileiro, melhorou as condições de vida dos trabalha-

dores urbanos e garantiu ao Brasil, entre 1930 e 1964, seu melhor desempenho econômico em todo o século XX.

Fenômeno tipicamente urbano, o populismo refletia o rápido processo de urbanização ocorrido no Brasil a partir de 1930. O crescimento e a verticalização das maiores cidades do País podem ser avaliados comparando-se estas duas fotos da área central da cidade de São Paulo. Acima, em 1929, com um úni-co arranha-céu, o edifício Martinelli, ainda em construção. Na foto ao lado, a mesma área, no início do século XXI. Você há de concordar que sem o destaque seria difícil localizar o Martinelli.

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304TERCEIRÃO – 7 HISTÓRIA

Em relação ao populismo, é importante lembrar que:

1o) não foi um fenômeno exclusivamente brasileiro, tendo ocorrido em diversos países latino-americanos

ao longo do século XX. Os exemplos mais conhecidos são os dos governos de Lázaro Cárdenas, no

México (1934-1940), e de Juan Domingo Perón, na Argentina (1946-1955);

2o) ocorreu tanto em regimes democráticos como ditatoriais e apresenta, entre suas características, o fato

de que as concessões feitas às massas populares, embora contidas nos limites aceitos pela elite, são

bastante amplas, contribuindo significativamente para a melhoria das condições de vida da população

e estimulando o crescimento econômico;

3o) não se deve confundir populismo com demagogia. A demagogia é composta por práticas políticas

habilidosas, com as quais se procura obter – em geral com objetivos pouco honestos – o apoio das

camadas populares. O exemplo típico é o do candidato que, durante a campanha eleitoral, visando

ganhar votos, faz promessas que ele sabe que não vai poder cumprir, caso seja eleito.

Portanto, pode haver populismo com ou sem demagogia. E a demagogia também poderá estar presen-

te, ou ausente, em regimes não populistas.

A redemocratização

Durante o Governo Provisório, embora vivêssemos em uma ditadura, havia a esperança – e a promessa

formal do governo – de que o regime democrático seria restaurado em breve. E isso acabou realmente ocor-

rendo, apesar da revolta paulista ocorrida de julho a outubro de 1932, que poderia ter sido usada por Vargas

como desculpa para prolongar o período autoritário.

A elite paulista, que organizou a revolta de 1932, afirmou lutar pela reconstitucionalização do País e por

isso deu ao movimento o nome de Revolução Constitucionalista. Mas, na realidade, tratava-se de uma con-

trarrevolução, tentando restabelecer, pelo menos parcialmente, a situação existente antes de 1930.

Santos

Igarapava

RIO DEJANEIRO

Rio Paranapanema

Rio Tietê

Rio Grande

Rio

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MINASGERAIS

MATOGROSSO

Mococa

Campinas

Mogi Mirim

São Paulo

Curitiba

Itararé

Rio deJaneiro

Capão Bonito

SÃO PAULO

CruzeiroAvaré

PARANÁ

Rio Paraíba do Sul

OCEANOATLÂNTICO N

72

km

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Linhas de ataque dastropas federais

Bloqueio naval

Zonas de combate

Operações militares em 1932

Em 1932, os revoltosos paulistas ficaram sozinhos, já que o resto do Brasil não tinha motivos para apoiá-los. Isolados, os rebeldes foram atacados a partir do Rio de Janeiro, de Minas Gerais e do Paraná e foram também bloqueados por mar.

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305HISTÓRIA TERCEIRÃO – 7

Ao enfrentar a rebelião de São Paulo, Getúlio utili-

zou sua conhecida tática de “tapas e beijos”: derrotou

os rebeldes, concedeu à elite paulista participação no

poder e cumpriu o calendário eleitoral que já fora esta-

belecido antes do início da revolta: eleição, em 1933, de

uma Assembleia Constituinte para elaborar uma nova

Constituição brasileira.

Comparada com as eleições da República Velha,

esta foi bem mais democrática, porque pela primeira

vez no Brasil tivemos voto secreto, voto feminino e

uma Justiça Eleitoral para organizar e fiscalizar as elei-

ções. Por isso, a Assembleia eleita era bem mais repre-

sentativa do que qualquer outra anterior, pois, embora

as oligarquias tenham conseguido eleger um grande

número de deputados, outras categorias sociais – co-

mo a burguesia, a classe média e o operariado – con-

quistaram também uma expressiva representação.

Carlota de Queirós, deputada da Assembleia Constituinte, assinando a Constituição de 1934. Embora fosse a única mulher eleita para a Assem-bleia, sua presença indicava uma importante mudança no universo socio-político brasileiro. Afinal de contas, até então, as mulheres não podiam sequer votar – e ainda menos serem eleitas –, apesar de representarem metade da população do País.

A Assembleia era formada por 214 deputados

eleitos por sufrágio universal e por 40 represen-

tantes de sindicatos: 18 de sindicatos de trabalha-

dores, 17 de associações de empregadores, três de

profissionais liberais e dois representantes do

funcionalismo público.

Por esses motivos, a Constituição promulgada em

16 de julho de 1934 – a terceira do Brasil – foi sem

dúvida a mais democrática que já tivéramos até en-

tão. Seus aspectos básicos eram os seguintes:

•sistema presidencialista;

•presidente eleito por quatro anos, por voto po-

pular direto;

•Câmara de Deputados eleita por quatro anos,

cabendo a cada estado eleger um número de

deputados proporcional à sua população;

•Senado Federal eleito por oito anos, com dois

senadores por estado;

•sistema federativo, mantendo-se a autonomia

dos estados;

•garantia das liberdades e direitos individuais.

Como você vê, até aqui havia poucas novidades,

mantendo-se o arcabouço da Constituição de 1891.

Mas os novos grupos representados na Assembleia

fizeram valer sua influência, e então surgiram as

inovações:

•voto secreto;

•voto feminino;

• legislação trabalhista (Previdência Social, oito

horas de trabalho diário, salário-mínimo, férias,

aposentadoria, etc.);

•autonomia dos sindicatos e representação pro-

fissional;

•criação do Mandato de Segurança para defender

o cidadão contra eventual prepotência do Estado;

•medidas nacionalistas defendendo as riquezas

naturais do País;

•obrigação de as empresas manterem, no míni-

mo, dois terços de empregados brasileiros;

•criação da Justiça Eleitoral;

•representação classista – os sindicatos e as as-

sociações patronais elegeriam seus represen-

tantes à Câmara de Deputados (este item da

Constituição acabou não sendo cumprido).

Podia não ser uma maravilha, mas era mais do

que o Brasil jamais tivera. A 16 de julho de 1934, foi

promulgada a Constituição. No dia seguinte, por

maioria dos votos, a Assembleia elegeu o novo pre-

sidente da República, para o período de 1934 a 1938:

Getúlio Vargas (de acordo com as Disposições Tran-

sitórias da Constituição, o primeiro presidente seria

eleito indiretamente). Estava encerrado o Governo

Provisório.

2 Da democracia à ditadura

A presidência constitucional de Vargas (1934-1937)

Getúlio assumiu a presidência constitucional do

País em 1934, para permanecer no governo até 1938.

Em novembro de 1937, um ano antes do término de

seu mandato, Vargas, por meio de um golpe de

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306TERCEIRÃO – 7 HISTÓRIA

Estado, estabeleceu a ditadura e permaneceu no po-

der por mais oito anos. Por quê? O que aconteceu

para justificar uma brusca interrupção da legalidade

constitucional apenas três anos após a aprovação da

nova Constituição?

Ocorre que a situação da época favorecia ampla-

mente o fortalecimento do Estado, não só porque ele

tinha grande liberdade de manobrar os vários seto-

res da sociedade, mas também porque a elite era

favorável a esse fortalecimento, por motivos econô-

micos (apoio ao café e à indústria) e por razões polí-

ticas (receio da ação do operariado e da classe

média). Vargas, percebendo essa situação, agiu ha-

bilmente, procurando aumentar seu poder pessoal e,

portanto, o do governo e o do próprio Estado. A ra-

dicalização dos setores operários e da classe média

(tanto os grupos direitistas como os esquerdistas),

ocorrida principalmente a partir de 1934, acabou

auxiliando Vargas em sua política. Portanto, fortale-

cido, o presidente pôde chegar ao golpe e à ditadura.

Os choques entre a esquerda e a direita

Em meados da década de 1930, a esquerda e a

extrema direita tiveram uma ativa participação na

política brasileira e, evidentemente, chocaram-se

com violência.

A extrema direita era representada pela Ação

Integralista Brasileira (AIB), fundada em 1932

por Plínio Salgado e fortemente influenciada pelo

fascismo italiano.

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Plínio Salgado, aqui visto com o uniforme integralista, inspirava-se claramente no nazifascismo.

Como reação ao integralismo, foi formada, em

março de 1935, uma “frente ampla” de esquerda, a

Aliança Nacional Libertadora (ANL). Do novo

movimento, participavam comunistas, socialistas,

uma facção do Tenentismo, líderes trabalhistas e

sindicais e muitos elementos da classe média que,

mesmo não sendo socialistas, eram contrários ao

fascismo e consideravam-se de esquerda.

Luiz Carlos Prestes, já então ligado ao Partido

Comunista, não era o líder efetivo da Aliança Nacio-

nal Libertadora, mas seu “presidente de honra”. A

razão disso é que, embora Prestes fosse o mais fa-

moso integrante da esquerda brasileira, os comunis-

tas eram minoritários na ANL, cuja presidência era

ocupada pelo comandante Hercolino Cascardo, um

oficial da Marinha ligado ao Partido Socialista.

O fato de a Aliança crescer rapidamente assustou

os grupos conservadores, que tinham uma folgada

maioria na Câmara de Deputados. Aproveitando-se

dessa situação, Vargas conseguiu que a Câmara

aprovasse, em abril de 1935, uma Lei de Segurança

Nacional, cujo texto era suficientemente vago para

que qualquer pessoa ou atitude pudesse ser enqua-

drada em um de seus numerosos artigos. Três meses

depois, com base nessa lei, a ANL foi fechada pelo

governo.

Ao fechar a Aliança Nacional Libertadora, Vargas

mais uma vez demonstrava sua incrível habilidade para

manobras políticas. Funcionando na clandestinidade, o

que sobrou da ANL rapidamente ficou sob o controle

dos comunistas, os únicos aliancistas com experiência

de ação política clandestina. Vargas contava com isso. O

Partido Comunista, influenciado principalmente por

militares originários do Tenentismo, imediatamente

planejou um levante armado, que seria realizado por

algumas unidades, esperando com isso que o povo

apoiasse o movimento, dentro de uma tática tipicamen-

te tenentista. Vargas contava com isso também. Afinal,

criara uma bem informada polícia política – a Polícia

Especial (PE) – com agentes infiltrados em toda parte.

As previsões do governo estavam corretas. Em

novembro de 1935 ocorreu o levante militar aliancista,

conhecido sob o nome de Intentona Comunista.

Sublevaram-se somente quatro guarnições militares:

uma em Natal, outra em Recife e duas no Rio de Ja-

neiro, a Escola de Aviação e o 3o Regimento de Infan-

taria (3o RI). As forças rebeldes foram derrotadas em

poucos dias, e Vargas e os elementos que o apoiavam

no plano de instalar uma ditadura tiraram do episódio

as maiores vantagens possíveis.

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307HISTÓRIA TERCEIRÃO – 7

Inicialmente apavoraram a elite e a classe média com o espantalho do “perigo comunista”, conseguindo

que o Congresso decretasse não apenas o estado de sítio, mas também um incrível “estado de guerra” (em-

bora o Brasil não estivesse em guerra com ninguém). Posteriormente, com esses poderes excepcionais e com

a Lei de Segurança Nacional, o Tribunal de Segurança e a Comissão de Repressão ao Comunismo passaram

a prender não só os comunistas, mas todo e qualquer elemento que pudesse oferecer resistência a um even-

tual golpe de Getúlio.

O golpe de 1937: voltamos à ditadura

Como as eleições para presidente da República estavam marcadas para janeiro de 1938, desde janeiro de

1937 vinha se desenvolvendo a campanha eleitoral. Plínio Salgado lançou-se candidato, embora já soubesse

do golpe que se preparava. Os partidos que se opunham a Getúlio apresentaram como candidato o ex-go-

vernador de São Paulo, Armando de Salles Oliveira. Para disfarçar suas intenções continuístas, o governo

lançou como candidato oficial o ex-ministro José Américo de Almeida, embora fosse quase certo que, se

houvesse eleições, o vencedor seria Armando de Salles. Mas Vargas não estava preocupado. A repressão

policial – exercida principalmente pela Polícia Especial (PE) – era tão intensa, que se tornava impossível uma

campanha eleitoral normal e pacífica; além disso, como ele sabia que não se realizariam as eleições, apenas

esperava a melhor oportunidade para desfechar o golpe e estabelecer a ditadura.

Entre os muitos crimes da Polícia Especial ocorridos nessa época, incluiu-se a prisão da mulher de Prestes,

Olga Benário Prestes. Grávida, Olga foi presa, torturada e, como era alemã, judia e comunista foi entregue à

Gestapo. Prisioneira no campo de concentração nazista de Revensbruck, foi morta na câmara de gás em 1942.

As condições para o golpe já estavam criadas – a opinião pública assustada, os militares de tendência

democrática colocados em funções sem importância, os esquerdistas e liberais, na cadeia. Os generais Góis

Monteiro, chefe do Estado-Maior, e Gaspar Dutra, ministro da Guerra, apoiavam firmemente a instauração

da ditadura.

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Os revoltosos do 3o RI quando, já derrotados, abandonam o quartel para se entregar às tropas governistas (o oficial assinalado é o capitão Agildo Barata, chefe da revolta). O pequeno número de militares e o ar alegre com que se dirigem à prisão ajudam a entender o que Vargas e os grupos conservadores realmente temiam em relação à ala esquerda da antiga ANL: não era a quantidade de militantes, mas, sim, a convicção com que lutavam por suas ideias políticas.

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308TERCEIRÃO – 7 HISTÓRIA

Os generais Dutra (à esquerda) e Góis Monteiro (à direita) foram os dois mais importantes chefes militares brasileiros entre 1935 e 1945, sendo os principais articuladores do apoio das Forças Armadas ao golpe de 1937 e à ditadura varguista, que se estendeu pelos oito anos seguintes.

A essa altura, esperava-se apenas o pretexto fi nal

para o golpe e, em setembro de 1937, o pretexto sur-

giu. No dia 30 desse mês, os jornais anunciaram que

o Estado-Maior do Exército descobrira um plano co-

munista para a tomada do poder. Atribuído ao Ko-

mintern (Central Comunista Internacional) e assinado

por alguém de sobrenome judeu: Cohen. Era o famo-

so Plano Cohen, um pseudoplano comunista de

“greves”, “massacre de líderes políticos”, “desrespeito

aos lares”, “incêndio de igrejas”. Como se vê, era real-

mente de encomenda. Seu verdadeiro autor? Um

militar integralista que servia no Estado-Maior, o ca-

pitão Olímpio Mourão Filho, que, 27 anos mais tarde,

já então general, sublevou a guarnição de Belo Hori-

zonte, dando início ao golpe político-militar de 1964.

Vargas e os militares golpistas que o apoiavam

não iam perder essa oportunidade de ouro: alegando

que o País estava à beira de ser controlado pelos

comunistas, conseguiram que o Congresso decre-

tasse novamente “estado de guerra”, e, em 10 de

novembro de 1937, Getúlio desfechou o golpe. Sem

tiros, sem mortes, sem resistência, estabeleceu-se a

ditadura, que já tinha até nome: Estado Novo.

E porque não houve resistência ao golpe? O motivo

mais geral foi o caráter autoritário da sociedade brasilei-

ra, com a consequente fragilidade das instituições de-

mocráticas. E entre os motivos imediatos, dois se

destacam. Primeiro, porque os golpistas controlavam as

Forças Armadas. Segundo, porque a mentirosa alega-

ção da existência do Plano Cohen – amplamente divul-

gada pela imprensa da época – reforçou a ideia de que

se instaurava a ditadura para salvar a democracia e evi-

tar o “desrespeito aos lares” e o “incêndio de igrejas”.

Como em tantas outras ocasiões, se não fosse

trágico, seria cômico.

1. (Enem)

Os generais abaixo-assinados, de pleno acordo

com o ministro da Guerra, declaram-se dispostos a

promover uma ação enérgica junto ao governo no

sentido de contrapor medidas decisivas aos planos

comunistas e seus pregadores e adeptos, independen-

temente da esfera social a que pertençam. Assim pro-

cedem no exclusivo propósito de salvarem o Brasil e

suas instituições políticas e sociais da hecatombe que

se mostra prestes a explodir.Ata de reunião no Ministério da Guerra, 28/9/1937. BONAVIDES,

Paulo; AMARAL, Roberto. Textos políticos da História do Brasil, v. 5. Brasília: Senado Federal, 2002. Adaptado.

Levando em conta o contexto político-institucional dos

anos 1930 no Brasil, pode-se considerar o texto como

uma tentativa de justifi car a ação militar que iria:

a) debelar a chamada Intentona Comunista, acabando

com a possibilidade da tomada do poder pelo PCB.

b) reprimir a Aliança Nacional Libertadora, fechando to-

dos os seus núcleos e prendendo os seus líderes.

c) desafi ar a Ação Integralista Brasileira, afastando o pe-

rigo de uma guinada autoritária para o fascismo.

➜ d) instituir a ditadura do Estado Novo, cancelando as elei-

ções de 1938 e reescrevendo a Constituição do País.

e) combater a Revolução Constitucionalista, evitando

que os fazendeiros paulistas retomassem o poder

perdido em 1930.

2. (UFSC – Adaptada) Entre 1930 e 1940, o Brasil conheceu

diferentes movimentos que promoveram transforma-

ções políticas, econômicas e sociais consideráveis. Assi-

nale a(s) proposição(ões) correta(s), nas suas referências,

a acontecimentos da década mencionada.

(01) Entre as causas da Revolução de 1930, destacam-se as

fraudes eleitorais que perpetuavam as vitórias dos re-

presentantes das oligarquias nas eleições presidenciais.

(02) A denominada Revolução Constitucionalista de

1932 representou essencialmente a reação das oli-

garquias que haviam perdido o controle administra-

tivo da República em 1930.

(04) Em 1934 foi promulgada a nova Constituição Republi-

cana, cujo conteúdo privilegiou os ideais nacionalistas,

tratou de direitos trabalhistas e do voto feminino.

(08) Em 1935 ocorreu um levante simultâneo em Natal,

Recife e Rio de Janeiro, organizado pelos comunis-

tas que manifestavam seu descontentamento com

o governo Vargas.

(16) Em 1937, Getúlio Vargas fechou o Congresso Nacio-

nal e outorgou uma nova Constituição para o Brasil,

inaugurando o período conhecido historicamente

como Estado Novo.

(32) A adoção do populismo permitiu que os sindicatos

de trabalhadores assumissem a chefi a do movimen-

to de reivindicações populares.

01 + 02 + 04 + 08 + 16 = 31

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309HISTÓRIA TERCEIRÃO – 7

TAREFA MÍNIMA

Caderno de Exercícios

• Faça os exercícios 1 a 6.

TAREFA COMPLEMENTAR

• Leia o texto da aula.

• Tenha cuidado especial com os subitens As novas forças

que participam do poder e O populismo.

• Verifi que se fi caram bem claros para você os fatores que permitiram o fortalecimento do Estado e do governo e criaram as condições para o golpe de 1937.

Caderno de Exercícios

• Faça os exercícios 7 a 12.

1 Introdução

Com o golpe de 1937, Getúlio Vargas e as forças

civis e militares que o apoiavam estabeleceram uma

ditadura, que se estendeu até 1945. Foi o segundo

mais longo período ditatorial no Brasil do século XX,

superado apenas pelo Regime Militar, que durou 21

anos, de 1964 a 1985.

O novo regime, batizado logo no primeiro dia por

seu fundador, chamou-se Estado Novo. Esse nome

na realidade foi copiado do regime fascista que Sala-

zar instalara em Portugal em 1933.

Então, o Estado Novo brasileiro era fascista tam-

bém? A resposta é problemática, porque, das princi-

pais características do fascismo, algumas estão

presentes no Estado Novo, e outras, não. A partir

daí, dependendo da importância que cada um atri-

bui a essas características, poderá concluir que o

regime varguista era ou não fascista.

O Estado Novo era autoritário, nacionalista, anti-

liberal e antidemocrático. Mas não era imperialista,

corporativista, chauvinista, racista, etc. Pode-se con-

cluir, portanto, que o regime instalado por Vargas,

em 1937, tinha vários aspectos fascistas, mas não se

caracterizava essencialmente como tal. Era, digamos

assim, “fascistoide”.

Para que isso fi que mais claro, vamos examinar as

características políticas do Estado Novo.

2 O sistema político do Estado Novo

Antes de 1937, o Brasil republicano já passara por

dois períodos ditatoriais, que foram os governos provi-

sórios de Deodoro da Fonseca (1889-1891) e de Getúlio

Vargas (1930-1934). Em nenhum deles havia uma

Constituição. O poder do ditador era quase absoluto e

ele governava por decreto.

Nesse aspecto, o Estado Novo foi realmente inova-

dor, pois a ditadura baseava-se numa Constituição.

Assim, o poder do ditador baseava-se na lei, que dava

a ele poder quase absoluto.

A Constituição outorgada por Vargas em 1937, ape-

lidada de “Polaca”, vigorou até o fi m do Estado Novo

em 1945.

Em discurso transmitido pelo rádio, Getúlio anunciou o estabelecimento do Estado Novo e a outorga da “Polaca”. A opinião pública aceitou o estabelecimento da ditadura sem resistência e até com cer-ta simpatia. O que não é de se estranhar, pois o público fora preparado para isso, não só pela propaganda do gover-no, mas também pelos meios de comunicação: a maioria das rádios e dos grandes jor-nais apresentaram o Plano Cohen como verdade indis-cutível, chamaram de demo-crático o regime ditatorial recém-instalado e afi rmaram que a nova Constituição era promulgada.

A REPÚBLICA POPULISTA (1930-1964) –A ERA VARGAS: A DITADURA DO ESTADO NOVO

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310TERCEIRÃO – 7 HISTÓRIA

Getúlio estabeleceu a ditadura e, no mesmo dia, baixou um decreto outorgando a “Polaca”. Essa incrível rapi-

dez – ela tinha 187 artigos – tem explicação: a nova Constituição já estava pronta há vários meses, apenas espe-

rando o momento do golpe. Seu principal autor foi Francisco Campos, famoso por sua habilidade em transformar

atos arbitrários em fórmulas legais. Foi o mesmo Francisco Campos que elaborou, mais tarde, o Ato Institucional

no 1 (AI-1), legalizando o golpe político-militar de 1964. A “Polaca”, é claro, concedia ao governo poderes extre-

mamente amplos.

Em termos práticos, o governo do Estado Novo funcionou da seguinte maneira:

•O poder político concentrava-se nas mãos do presidente da República.

•O Congresso Nacional, as assembleias estaduais e as câmaras municipais foram fechadas.

•O sistema judiciário ficou subordinado ao Poder Executivo.

•Os estados eram governados por interventores nomeados por Vargas, os quais, por sua vez, nomeavam

os prefeitos municipais.

•A Polícia Especial (PE) e as polícias estaduais adquiriram total liberdade de ação, prendendo, torturan-

do e assassinando qualquer pessoa suspeita de se opor ao governo.

•O governo usou largamente a propaganda pelos jornais e pelo rádio, por meio do Departamento da

Imprensa e Propaganda (DIP).

Quanto aos partidos políticos, foram todos fechados, inclusive o Integralista, que passou a funcionar com

a inocente denominação de Associação Brasileira de Cultura. Em 1938, porém, os integralistas tentaram um

golpe de Estado, conhecido por Intentona Integralista. O governo sufocou-a em algumas horas, prenden-

do seus principais líderes (Plínio Salgado foi para um cômodo exílio em Portugal). O movimento integralista

praticamente desaparecia.

Nesse meio tempo, o DIP e a PE prosseguiam em seu trabalho. Chefiado por Lourival Fontes, o DIP era

incansável, tanto na propaganda quanto na censura. A propaganda voltava-se para todos os setores da socie-

dade – operários, estudantes, classe média, crianças, militares – e abrangia os assuntos mais diversos: desde

siderurgia até carnaval e futebol. Tentava-se assim formar uma ideologia estado-novista que fosse aceita pelas

diversas camadas sociais, bem como por grupos profissionais e intelectuais. Cabia também ao DIP o preparo

das gigantescas manifestações operárias, particularmente no 1o de Maio, quando os trabalhadores, além de

comemorarem o Dia do Trabalho, prestavam uma homenagem a Vargas, apelidado de “pai dos pobres”.

Seguindo uma política tipicamente populista, Vargas, de um lado, eliminava qualquer liderança operária

que tentasse uma atuação autônoma em relação ao governo, acusando-a de “comunista”, enquanto, por

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O Departamento de Imprensa e Propaganda e a Polícia Especial tinham funções complementares. O DIP tratava de convencer as pessoas de que o Estado Novo era ótimo e de que elas participavam do regime (foto à esquerda). E os que não ficassem convencidos teriam uma “conversinha” com a PE, que dispunha desde instrumentos de tortura até carros blindados fortemente armados (foto à direita).

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311HISTÓRIA TERCEIRÃO – 7

outro lado, concedia frequentes benefícios trabalhis-tas ao operariado, inclusive o salário-mínimo e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Desse modo, com uma inteligente mistura de propaganda, repressão e concessões, Vargas pôde dar a seu go-verno uma configuração dualista: nos porões do re-gime, desenvolvia-se uma bárbara repressão; nos campos administrativo e econômico, o progresso era evidente, beneficiando não apenas as elites, mas também a classe média e os trabalhadores urbanos, o que permitiu que Getúlio, apesar da ditadura que exercia, ampliasse cada vez mais sua popularidade.

3 A ação administrativa e econômica do Estado Novo

Em termos administrativos e econômicos, a ação do Estado Novo desenvolveu-se em duas etapas: na primeira, procurou-se organizar e aperfeiçoar o que já existia. Na segunda, tratou-se de criar e desenvol-ver atividades novas. Vamos então estudar cada uma dessas etapas.

A modernização do Estado: centralização política

e reforma administrativa

Na primeira fase, entre 1937 e 1940, consolidou-se o poder do Estado, sendo que a maioria das refor-mas políticas e administrativas visavam solucionar problemas e consolidar tendências existentes desde 1930. Por meio dos interventores, o governo federal passou a controlar a política dos estados. Paralela-mente, porém, foi criado em cada estado um Depar-

tamento Administrativo (DA), diretamente subordinado ao Ministério da Justiça e cujos mem-bros eram nomeados pelo presidente da República. Cada DA estudava e aprovava as leis decretadas pelo interventor, fiscalizava seus atos, os orçamentos, empréstimos, etc., subordinando desse modo os programas estaduais ao governo federal. Além dis-so, pela composição dos membros desses DAs – téc-nicos em agricultura, advogados, engenheiros, estatísticos –, criava-se um novo e importante ele-mento dentro do Estado: o tecnocrata, ou seja, o burocrata de formação técnica.

Na área federal, criou-se o Departamento Admi-

nistrativo do Serviço Público (Dasp), que centrali-zava a reforma administrativa, tinha poderes para elaborar o orçamento dos órgãos públicos e controlar a sua execução orçamentária. Com a criação do Dasp e de vários órgãos técnicos ligados a assuntos econômi-co-financeiros, não só a atuação administrativa e eco-

nômica do governo passou a ser mais eficiente como também aumentou-se consideravelmente o poder do Estado e do presidente da República, agora diretamen-te envolvido na solução das questões econômicas mais importantes do País.

Com essas medidas, o governo conseguiu solu-cionar satisfatoriamente os principais problemas econômicos da época. A cafeicultura foi convenien-temente defendida, a exportação agrícola diversifi-cou-se, a dívida externa foi congelada (suspensão por tempo indeterminado do pagamento de juros e amortização), a indústria cresceu rapidamente, a mi-neração de ferro e carvão expandiu-se, a legislação trabalhista consolidou-se. Com isso, as elites se enri-queciam, a classe média melhorava seu padrão de vida, o operariado urbano ganhava a proteção pela qual lutara durante tantos anos.

A intervenção do Estado na economia

Na fase anterior, a ação econômica do Estado objetivara racionalizar e incentivar atividades econô-micas já existentes no Brasil. Porém, a partir de 1940, com a instalação de grandes empresas estatais, o Estado alterou seu papel, passando a ser o principal investidor do setor industrial, particularmente no campo da indústria pesada, isto é, os investimentos estatais concentravam-se na metalurgia, siderurgia, mineração de ferro, geração de energia hidrelétrica, etc. Eram setores que exigiam grandes capitais, cujo retorno só se daria a longo prazo e nos quais a bur-guesia nacional não estava interessada. A solução era apelar para o capital estrangeiro ou para o inves-timento estatal; Vargas optou pela segunda solução. O êxito da instalação da indústria pesada no Brasil deveu-se assim à decidida participação do Estado, ao interesse de um pequeno grupo de industriais de maior visão empresarial e ao apoio dos militares, que associavam a indústria de base à produção de armamentos, considerando-a assim assunto de se-gurança nacional.

As principais empresas estatais criadas nessa época – várias das quais ainda existem, embora pri-vatizadas – eram todas ligadas a atividades que são fundamentais para a existência da indústria pesada:

•Companhia Siderúrgica Nacional (siderurgia);

•Companhia Vale do Rio Doce (mineração);

•Companhia Nacional de Álcalis (indústria quí-mica);

•Fábrica Nacional de Motores (mecânica pesada);

•Companhia Hidrelétrica do São Francisco (energia elétrica).

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312TERCEIRÃO – 7 HISTÓRIA

Usina siderúrgica de Volta Redonda. Em meados do século XX, a side-rurgia era o ponto de partida para o surgimento e a consolidação da in-dústria de base. Daí a importância da Companhia Siderúrgica Nacional, criada por Vargas no final do Estado Novo.

Desse modo, apesar da desaceleração do cresci-

mento industrial, ocasionado pela Segunda Guerra

Mundial devido à dificuldade de importar equipa-

mentos e matérias-primas, quando o Estado Novo se

encerrou, em 1945, a industrialização estava plena-

mente consolidada no Brasil.

4 Enfraquecimento e queda do Estado Novo

A Segunda Guerra Mundial trouxe consequências

diversas para o Brasil. Em primeiro lugar, permitiu a

Vargas uma habilidosa neutralidade, oscilando, às

vezes, em direção aos Aliados, às vezes em direção ao

Eixo. Jogando dessa maneira, o governo conseguiu

que os Estados Unidos financiassem a construção da

Usina de Volta Redonda e fornecessem material béli-

co, ao mesmo tempo em que comprava armamentos

dos alemães.

Getúlio, como sempre, não se definia, esperando

que o desenrolar da guerra mostrasse o provável lado

vencedor. Dentro do governo, por sua vez, havia dois

grupos claramente definidos: Osvaldo Aranha (Rela-

ções Exteriores) era favorável aos Estados Unidos;

Gaspar Dutra e Góis Monteiro, francamente favorá-

veis aos nazistas (Dutra chegou a sugerir que o Brasil

declarasse guerra à Inglaterra). No entanto, a entrada

dos Estados Unidos no conflito, em fins de 1941, e o

torpedeamento pelos alemães de vários navios mer-

cantes brasileiros fizeram com que a opinião pública

começasse a se manifestar a favor de que o Brasil

declarasse guerra ao Eixo, o que acabou ocorrendo

em 1942. No ano de 1944, as tropas da Força Expedi-

cionária Brasileira (FEB) desembarcaram na Itália,

iniciando nossa participação no conflito.

Muito mais do que os efeitos militares, a guerra

foi importante por suas consequências sobre a

política interna brasileira. O Estado Novo não

mais podia manter seu aspecto ditatorial, enquan-

to nossas tropas combatiam o fascismo na Euro-

pa. As próprias manifestações de rua, favoráveis à

entrada do Brasil na guerra, começaram a pôr em

xeque o rígido esquema repressivo montado por

Vargas. Uma parte da elite, que até então tinha

apoiado a ditadura, retirou publicamente esse

apoio, por meio do Manifesto dos mineiros, publi-

cado em outubro de 1943. Leia um trecho desse

manifesto.

Se lutamos contra o fascismo, ao lado das Nações

Unidas, para que a liberdade e a democracia sejam

restituídas a todos os povos, certamente não pedimos

demais reclamando para nós mesmos os direitos e as

garantias que os caracterizam. [...]

Manifesto dos mineiros, 1943.

Durante todo o ano de 1944, multiplicaram-se as

manifestações favoráveis à redemocratização, apesar

da repressão policial. Pressionado, Vargas assinou em

fevereiro de 1945 um Ato Adicional, convocando elei-

ções presidenciais para o fim do ano. Formaram-se

então vários partidos políticos: UDN (União Democrá-

tica Nacional), PSD (Partido Social Democrático), PTB

(Partido Trabalhista Brasileiro), além de vários partidos

menores. Foi também legalizado o PCB (Partido Co-

munista Brasileiro). O PSD e o PTB, mais próximos a

Vargas, lançaram como candidato a presidente o gene-

ral Gaspar Dutra, ex-ministro da Guerra do Estado

Novo. A UDN, antigetulista, indicou o brigadeiro Edu-

ardo Gomes. (Lembra-se do tenente Eduardo Gomes,

na revolta tenentista dos 18 do Forte, em 1922? Pois é o

próprio.) E o PCB lançou o nome de Yedo Fiúza.

Decretada a anistia aos presos políticos e concedida

a liberdade de imprensa, a campanha eleitoral cami-

nhava a todo o vapor. Muitos, porém, desconfiavam

que Vargas pretendia continuar no poder, principal-

mente depois que grupos esquerdistas e nacionalistas

lançaram uma campanha favorável a que o processo

de redemocratização fosse feito com a permanência de

Getúlio Vargas no governo. Tal movimento ficou co-

nhecido como Queremismo, devido a seu slogan:

“Queremos Getúlio”.

Naquele momento, porém, as forças políticas mais

poderosas do País, tanto civis como militares, posicio-

naram-se contra Getúlio, apenas esperando uma opor-

tunidade para derrubá-lo. A oportunidade surgiu em

29 de outubro de 1945, quando ele nomeou seu irmão

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313HISTÓRIA TERCEIRÃO – 7

Benjamim Vargas e João Alberto, respectivamente, para os cargos de chefe de polícia e prefeito do Rio de Janeiro. Nesse mesmo dia, os generais Gaspar Dutra e Góis Monteiro ordenaram que forças blindadas cer-cassem o Palácio Guanabara. Diante disso, Getúlio Vargas renunciou ao cargo e retirou-se para sua estân-cia em São Borja no Rio Grande do Sul. Terminava o Estado Novo. Trinta e cinco dias depois, a 2 de dezem-bro, realizaram-se as eleições que elegeram o general Dutra presidente, com 3 250 000 votos (55% do total).

5 Os limites da redemocratização

Se você ficou animado com a queda da ditadura e pensou “ótimo, as forças democráticas estão reagin-do!”, calma lá! Essas tais forças democráticas não eram tão democráticas assim. Ou, pelo menos, al-guns de seus componentes não eram. Por exemplo: Vargas foi deposto pelos generais Dutra e Góis Mon-teiro, os mesmos que antes o haviam ajudado a ins-talar o Estado Novo e que depois tinham apoiado todas as violências da ditadura durante oito longos anos, inclusive sugerido que entrássemos na guerra ao lado dos nazistas! E agora, subitamente, surgiam como campeões da liberdade e da democracia. Você há de concordar que esses líderes democráticos eram um tanto suspeitos.

Como se explica, então, essa súbita mudança? É que Vargas, ao iniciar sua abertura política em 1945, começou a se inclinar para o lado dos nacionalistas, aproximando-se das esquerdas e contrariando os inte-resses das grandes empresas estrangeiras e de seus aliados dentro do Brasil. Isso apavorou aqueles setores da sociedade que, tendo apoiado a ditadura, desejavam agora a liberalização política do regime, mas sem qual-quer mudança econômica que pusesse em risco os in-teresses da elite interna (principalmente dos latifundiários, dos banqueiros e dos importadores) e do capital estrangeiro. Diante do perigo representado pelas novas tendências de Vargas, tais grupos não he-sitaram: derrubaram-no.

Assim, tivemos no Brasil uma contradição que seria cômica se não fosse trágica: a liberalização po-lítica foi chefiada pelos elementos mais conservado-res que haviam apoiado a ditadura. E o que é pior: como a redemocratização era um desejo de boa parte da população, ao derrubar Vargas, tais ele-mentos assumiram perante a opinião pública o papel de salvadores da pátria e defensores da democracia. No entanto, é evidente que uma democracia liderada por grupos desse tipo não poderia ter um futuro muito brilhante. Por isso, 19 anos mais tarde, a de-mocracia liberal brasileira desmoronou, mergulhan-do o País numa nova e longa ditadura.

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Comício queremista. É claro que Getúlio simpatizava com os queremistas e é provável que, discretamente, incenti-vasse o movimento. Nada indi-ca, porém, que Vargas preten-desse permanecer no poder à força, mesmo porque, naquele momento, não tinha apoio mi-litar e civil suficiente para isso.

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314TERCEIRÃO – 7 HISTÓRIA

É comum, no Enem, o mesmo assunto ser questionado de maneiras diferentes. Você pode verificar isso, nas questões a seguir, sobre a Era Vargas.A resposta da primeira não se baseia no conhecimento sobre a Era Vargas, mas, sim, no entendimento do papel da História na análise dos acontecimentos. A segunda exige principalmente interpretação de texto, enquanto a terceira cobra conhecimento sobre a ação sociopolítica de Vargas durante o Estado Novo.

1. (Enem - Adaptada) A figura de Getúlio Vargas, como personagem histórica, é bastante polêmica, devido à complexidade e à magnitude de suas ações como presidente do Brasil durante um longo período de quinze anos (1930-1945). Foram anos de grandes e importantes mudanças para o País e para o mundo. Pode-se perceber o destaque dado a Getúlio Vargas pelo simples fato de este período ser conhecido no Brasil como a “Era Vargas”.Entretanto, Vargas não é visto de forma favorável por todos. Se muitos o consideram como um fervoroso nacionalista, um progressista ativo e o “pai dos pobres”, existem outros tantos que o definem como ditador oportunista, um intervencionista e amigo das elites.Provavelmente você percebeu que as duas opiniões sobre Vargas são opostas, defendendo valores praticamente antagôni-cos. As diferentes interpretações do papel de uma personalidade histórica podem ser explicadas, conforme uma das opções a seguir. Assinale-a.

a) Um dos grupos está totalmente errado, uma vez que a permanência no poder depende de ideias coerentes e de uma política contínua.

b) O grupo que acusa Vargas de ser ditador está totalmente errado. Ele nunca teve uma orientação ideológica favorá-vel aos regimes politicamente fechados e só tomou medidas duras forçado pelas circunstâncias.

c) Os dois grupos estão certos. Cada um mostra Vargas da forma que serve melhor aos seus interesses, pois ele foi um governante apático e fraco – um verdadeiro marionete nas mãos das elites da época.

d) O grupo que defende Vargas como um autêntico nacionalista está totalmente enganado. Poucas medidas naciona-lizantes foram tomadas para iludir os brasileiros, devido à política populista do varguismo, e ele fazia tudo para agradar aos grupos estrangeiros.

➜ e) Os dois grupos estão errados, por assumirem características parciais, e às vezes conjunturais, como sendo posturas definitivas e absolutas.

2. (Enem)

O autor da Constituição de 1937, Francisco Campos, afirma no seu livro, O Estado Nacional, que o eleitor seria apático; a democracia de partidos conduziria à desordem; a independência do Poder Judiciário acabaria em injusti-ça e ineficiência; e que apenas o Poder Executivo, centralizado em Getúlio Vargas, seria capaz de dar racionalidade imparcial ao Estado, pois Vargas teria providencial intuição do bem e da verdade, além de ser um gênio político.

CAMPOS, Francisco. O Estado nacional. Rio de Janeiro: José Olympio, 1940. Adaptado.

Segundo as ideias de Francisco Campos:

a) os eleitores, políticos e juízes seriam mal-intencionados.b) o governo Vargas seria um mal necessário, mas transitório.c) Vargas seria o homem adequado para implantar a democracia de partidos.d) a Constituição de 1937 seria a preparação para uma futura democracia liberal. ➜ e) Vargas seria o homem capaz de exercer o poder de modo inteligente e correto.

3. (Enem)

A partir de 1942 e estendendo-se até o final do Estado Novo, o ministro do Trabalho, Indústria e Comércio de Getúlio Vargas falou aos ouvintes da Rádio Nacional semanalmente, por dez minutos, no programa “Hora do Brasil”. O objetivo declarado do governo era esclarecer os trabalhadores acerca das inovações na legisla-ção de proteção ao trabalho.

GOMES, Ângela de Castro. A invenção do trabalhismo. Rio de Janeiro: Iuperj / Vértice. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1988. Adaptado.

Os programas “Hora do Brasil” contribuíram para:

a) conscientizar os trabalhadores de que os direitos sociais foram conquistados por seu esforço, após anos de lutas sindicais.b) promover a autonomia dos grupos sociais, por meio de uma linguagem simples e de fácil entendimento.c) estimular os movimentos grevistas, que reivindicavam um aprofundamento dos direitos trabalhistas. ➜ d) consolidar a imagem de Vargas como um governante protetor das massas.e) aumentar os grupos de discussão política dos trabalhadores, estimulados pelas palavras do ministro.

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315HISTÓRIA TERCEIRÃO – 7

1. Assinale a alternativa INCORRETA.

a) O Estado Novo tinha várias características que se asse-melhavam às dos regimes fascistas existentes na Eu-ropa nessa mesma época.

➜ b) A Constituição outorgada em 1937, além de ampliar extraordinariamente os poderes do governo federal, consolidou o sistema federativo, na medida em que manteve a autonomia estadual.

c) Sob certo aspecto, as ações do DIP e da PE eram com-plementares, já que o primeiro se incumbia de criar uma opinião pública favorável ao regime, enquanto o segundo se encarregava de eliminar aqueles que não partilhassem dessa opinião.

d) A criação do Dasp, dos Departamentos Administrati-vos Estaduais e de órgãos técnicos de economia e fi -nanças, permitiu ao Estado Novo manter uma política econômica coerente e objetiva, conseguindo, assim, elevados índices de crescimento econômico.

e) Com exceção dos trabalhadores rurais, os demais se-tores da sociedade brasileira foram benefi ciados pela política econômica do Estado Novo.

2. (UFPR) Com relação ao Estado Novo, de 1937 a 1945, é correto afi rmar:

a) Foi um período de desenvolvimento do liberalismo democrático no País, permitindo com isso a consoli-dação da liderança política de Getúlio Vargas.

b) Ampliou os confl itos oligárquicos e a pressão do capital internacional, culminando com o suicídio de Vargas.

c) A política desenvolvimentista de abertura ao capital estrangeiro permitiu o crescimento das alianças polí-ticas e comerciais entre Brasil e Estados Unidos.

d) A proximidade política de Vargas com os regimes totalitários nazifascistas levou o Brasil a apoiar mili-tarmente os países do Eixo na Segunda Guerra Mundial.

➜ e) Foi marcado pela crítica à democracia liberal e pela organização de um Estado autoritário, encarregado de promover o progresso dentro da ordem.

TAREFA MÍNIMA

Caderno de Exercícios

• Tanto para a Aula 72 como para a Aula 73, o professor dará orientação sobre quais exercícios do Caderno de Exercícios deverão ser feitos.

TAREFA COMPLEMENTAR

• Tanto para a Aula 72 como para a Aula 73, o professor dará orientação sobre:

– quais itens do texto da aula deverão ser lidos;

– quais exercícios do Caderno de Exercícios deverão ser feitos.

1 O surgimento da bipolarização mundial (1945-1953)

Primeiros anos

A Guerra Fria é o período que corresponde ao do-

mínio e à rivalidade dos Estados Unidos e da União

Soviética nas relações internacionais, caracterizando a

bipolarização mundial. Após a Segunda Guerra Mun-

dial, o poder desses dois países, se comparado aos

demais, era tão grande que foi necessário criar uma

nova palavra para defi ni-los: as “superpotências”, que

passaram a disputar a hegemonia planetária.

O pensador francês Raymond Aron defi niu a Guer-

ra Fria como uma situação em que “a paz é impossível,

e a guerra improvável”. De fato, a rivalidade entre Esta-

dos Unidos e União Soviética derivava do fato de que

seus sistemas socioeconômicos (capitalismo e socialis-

mo) eram incompatíveis. Ao mesmo tempo, sua rivali-

dade jamais se tornaria uma guerra declarada, uma vez

que as duas superpotências contavam com arsenais

nucleares: os Estados Unidos desde 1945, e a União

Soviética já a partir de 1949. O crescimento acelerado

desses arsenais deixou claro, por volta do início da dé-

cada de 1960, que um confl ito entre norte-americanos e

soviéticos resultaria na “destruição mútua assegurada”,

isto é, na devastação de todo o planeta, com o risco da

própria extinção da espécie humana.

Desde a Conferência de Yalta em 1945, surgiu uma

situação marcada pela divisão de áreas de infl uência

entre as superpotências, inicialmente na Europa, e

mais tarde estendida para o resto do mundo. No caso

europeu, desde o fi m da Segunda Guerra Mundial, os

Estados Unidos tomaram iniciativas visando estreitar

GUERRA FRIA: A BIPOLARIZAÇÃO MUNDIAL

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316TERCEIRÃO – 7 HISTÓRIA

suas relações com a Europa ocidental. Em 1947, foi lançado o Plano Marshall, visando à reconstrução dos países devastados pela guerra. O projeto acabou estrei-tando os laços econômicos dos Estados Unidos com o bloco capitalista europeu e foi seguido, em 1949, pelo surgimento da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), uma aliança militar composta pelos principais países capitalistas da Europa ocidental, pelo Canadá e liderada pelos Estados Unidos.

Ao mesmo tempo, na Europa oriental, em territó-rios libertados do domínio nazista pela União Soviética, foi criado o Comecon (Conselho de Assistência Econô-mica Mútua), visando integrar a economia desses paí-ses, agora em regime socialista. Em 1955, foi criado também, equivalente à Otan na Europa oriental, o Pacto de Varsóvia, encabeçado pela União Soviética.

O surgimento de dois blocos antagônicos na Euro-pa, bem como a intransponível separação geográfica,

militar e ideológica que os caracterizava, gerou o sur-gimento do termo “Cortina de Ferro” para caracterizar essa divisão da Europa. A criação dos dois blocos mili-tares rivais levou não só ao rearmamento da Europa como à manutenção de fortes contingentes militares dos Estados Unidos e União Soviética no continente. Uma terceira guerra mundial parecia inevitável, na medida em que as relações entre Estados Unidos e União Soviética se deterioravam rapidamente.

A guerra, porém, sempre foi evitada, e o “equilíbrio do medo” prevaleceu. Em que pese a intensa militari-zação, a Europa viveu, durante a Guerra Fria, um pro-longado período de paz. Por outro lado, a disputa entre as superpotências pela hegemonia mundial foi transfe-rida para outras regiões do planeta, e os países da Ásia, África e América Latina passaram a ser palco de dispu-tas violentas e mesmo da intervenção militar direta de Estados Unidos e União Soviética.

ISLÂNDIA

PAÍSESBAIXOS

MALTA

Mar Negro

Mar Mediterrâneo

OCEANOATLÂNTICO

ALEMANHAORIENTAL

GRÃ-BRETANHA

HUNGRIAROMÊNIA

FINLÂNDIA

IRLANDA

DINAMARCA

BÉLGICA ALEMANHAOCIDENTAL

NORUEGA

SUÉCIA

TCHECOSLOVÁQUIA

POLÔNIA

FRANÇA

ESPANHA

PORTUGAL

ITÁLIA

SUÍÇA

ALBÂNIA

GRÉCIA

ARÁBIASAUDITA

UNIÃO SOVIÉTICA

ÁUSTRIA

IUGOSLÁVIABULGÁRIA

TURQUIA

CHIPREMARROCOS

ARGÉLIA

LÍBIA

TUNÍSIA

EGITO

SÍRIA

LÍBANO

ISRAELJORDÂNIA

IRAQUE

N

380

km

0

Países da Otan

Países do Pacto de Varsóvia

Países neutros

Europa durante a Guerra Fria

* Em 1982, a Espanha ingressou na Otan

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317HISTÓRIA TERCEIRÃO – 7

A crescente tensão

O ataque nuclear dos Estados Unidos ao Japão em

1945 já antecipava a rivalidade com a União Soviética.

Com esse ataque, o governo norte-americano preten-

dia, ao precipitar a rendição japonesa, evitar maiores

avanços soviéticos no leste asiático, notadamente na

China, Coreia, além do próprio arquipélago japonês. A

rendição do Japão aos Estados Unidos garantiu que

esse país fosse ocupado exclusivamente por norte-

-americanos e sua economia permanecesse capitalista,

com um governo influenciado pelos Estados Unidos.

Além disso, o ataque nuclear pode ser considerado

uma demonstração de força dos Estados Unidos, em

um período marcado por intensas negociações diplo-

máticas e rearranjos territoriais.

A Doutrina Truman, de 1947, costuma ser conside-

rada um marco no início da Guerra Fria. Trata-se da

doutrina de política externa elaborada pelo presidente

Harry Truman, que conduziu a diplomacia norte-ame-

ricana durante a Guerra Fria. Propunha o intervencio-

nismo norte-americano em escala mundial, visando

conter qualquer avanço do bloco socialista.

A Doutrina Truman

Um sistema de vida é baseado na vontade da maio-

ria e é caracterizado por instituições livres, governo

representativo, eleições livres, garantia das liberdades

individuais, liberdade de expressão e religião e ausên-

cia de opressão política. O segundo sistema de vida

baseia-se na vontade de uma minoria imposta à força

sobre a maioria. Depende do terror e da opressão, do

controle da imprensa e rádio, eleições controladas e

da supressão das liberdades individuais. Eu acredito

que deve ser a política dos Estados Unidos apoiar po-

vos livres que estão resistindo às tentativas de domi-

nação por minorias armadas ou por pressões externas. Discurso pronunciado pelo presidente Harry S. Truman ao

Congresso norte-americano em março de 1947.

O complexo industrial-militar

Os dois lados viram-se assim comprometidos com

uma insana corrida armamentista para a mútua des-

truição, e com o tipo de generais e intelectuais nucle-

ares cuja profissão exigia que não percebessem essa

insanidade. Os dois também se viram comprome-

tidos com o que o presidente, em fim de mandato,

Eisenhower, militar modelado na velha escola que se

via presidindo essa descida à loucura sem ser exata-

mente contaminado por ela, chamou de “complexo

industrial-militar”, ou seja, o crescimento cada vez

maior de homens e recursos que viviam da prepara-

ção para a guerra. Mais do que nunca, esse era um

interesse estabelecido em tempos de paz estável entre

as potências. Como era de se esperar, os dois com-

plexos industrial-militares eram estimulados por seus

governos a usar sua capacidade excedente para atrair

e armar aliados e clientes e, ao mesmo tempo, con-

quistar lucrativos mercados de exportação, enquanto

reservavam apenas para si os armamentos mais atua-

lizados e, claro, suas armas nucleares.HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos (1914-1991).

São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 233.

Como vimos, no mesmo ano, foi lançado o Plano

Marshall, de reconstrução da Europa, assim batiza-

do em referência ao secretário de Estado norte-

-americano George C. Marshall (1880-1959). Consistia

em investimentos em larga escala com os quais se

promoveu a recuperação econômica da Europa oci-

dental e sua integração com a economia dos Estados

Unidos. Os países do leste foram convidados a parti-

cipar, mas a União Soviética rejeitou a proposta,

considerando que poderia abrir espaço à influência

norte-americana dentro do bloco socialista que se

formava.

Tanto a Doutrina Truman como o Plano Marshall

foram políticas decisivas para o desenvolvimento da

economia norte-americana no pós-guerra. Em 1945,

depois de anos de intensa mobilização econômica,

os Estados Unidos respondiam por mais de 50% da

produção industrial mundial. O fim da guerra e das

volumosas encomendas militares governamentais

gerou o temor de uma grande retração econômica

ou de uma situação de desequilíbrio semelhante à do

primeiro pós-guerra. Este resultado foi evitado com

a adoção da Doutrina Truman, que garantiu a manu-

tenção de gastos militares elevados por parte do

governo, e do Plano Marshall, pois a reconstrução

da Europa aumentaria a demanda por produtos

norte-americanos.

A prosperidade econômica após a Segunda Guer-

ra Mundial foi, de fato, espetacular. O país passou a

alavancar a economia capitalista mundial, não só em

seu centro dinâmico, mas também em alguns países

considerados “periféricos” (por exemplo, o Brasil),

que passaram por um verdadeiro surto desenvolvi-

mentista. O historiador inglês Eric Hobsbawm deno-

minou o período de “os 30 anos gloriosos do

capitalismo”1, que se estenderam até as crises do

H-7

1 HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX. São

Paulo: Companhia das Letras, 1995.

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318TERCEIRÃO – 7 HISTÓRIA

petróleo na década de 1970. Foi também nessa época que se generalizou, nos países capitalistas mais avan-çados, o Estado do bem-estar social, com grandes investimentos sociais (vistos, inclusive, como forma de combater a propagação das ideias socialistas).

Inicialmente fora do Plano Marshall, o Japão só receberia recursos norte-americanos para a recuperação econômica a partir de 1950, como parte do Plano Colombo de auxílio econômico para a Ásia. O país passou por uma acelerada reconstrução, tornando-se a segunda maior economia mundial na década de 1980.

Em meio à reconstrução da Alemanha, ocorreu a primeira questão diplomática mais séria entre Estados Unidos e União Soviética, acerca da cidade de Berlim. De acordo com o estabelecido na Conferên-cia de Potsdam, a cidade foi dividida em quatro zonas de ocupação militar (soviética, norte-americana, ingle-sa e francesa), ficando todo o conjunto encravado em território a partir de então pertencente à Alemanha Oriental. A progressiva consolidação de uma economia capitalista na parte ocidental da cidade, sob ocupa-ção dos países capitalistas, foi a causa dos atritos com a União Soviética, que não queria aceitar uma “ilha” de capitalismo no meio do socialismo.

Em junho de 1948, os soviéticos cortaram os acessos terrestres que ligavam Berlim ao ocidente, dando início ao Bloqueio de Berlim. A ligação de Berlim Ocidental com a Alemanha Ocidental passou a ser feita somente através de aviões (incluindo todo abastecimento da cidade). A “ponte aérea” durou até o ano seguin-te, quando a União Soviética suspendeu o bloqueio.

Mais tarde, em 1961, o regime socialista da Alemanha Oriental acabaria por construir um muro isolando Berlim Ocidental de seu entorno socialista, embora mantivesse aberta a ligação terrestre (rodoviária e ferro-viária) com a Alemanha Ocidental. O Muro de Berlim passou a ser considerado um símbolo da Guerra Fria e da bipolarização mundial.

Em 1949, a explosão da bomba soviética e o triunfo da Revolução Chinesa significaram uma grande vitória socialista na guerra de propaganda entre os dois blocos, tão típica da Guerra Fria. Nos Estados Unidos, o temor da esquerda em geral acabou levando ao pânico anticomunista, expresso na adoção do macartismo, ou política de “caça às bruxas”. Esta política foi marcada pela atuação do senador Joseph McCarthy, responsável pelo Co-mitê do Congresso encarregado de investigar atividades “antiamericanas”. Utilizando métodos nem sempre le-gais, o macartismo chegou a restringir direitos civis, criando nos Estados Unidos um clima de insegurança,

ALEMANHAORIENTAL

Berlim

Oriental

SETOR SOVIÉTICO

Potsdam

SETOR AMERICANO

SETORFRANCÊS

SETOR BRITÂNICO

Schönefeld

Tempelhof

Gatow

Tegel

Berlim

Ocidental

ALEMANHAOCIDENTAL

Rio

Havel

Rio Spree

N

5

km

0Aeroporto

A divisão de Berlim em 1948

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319HISTÓRIA TERCEIRÃO – 7

medo e estímulo à espionagem e

delação, bastante intenso até mea-

dos da década de 1950.

No ano de 1950, explodiu o

primeiro grande conflito locali-

zado da Guerra Fria, envolvendo

a participação direta de tropas

de uma das superpotências: a

Guerra da Coreia.

A Guerra da Coreia (1950-1953)

A derrota japonesa na Segun-

da Guerra Mundial encerrou 35

anos de dominação sobre a Co-

reia. Um acordo firmado por Es-

tados Unidos e União Soviética

em 1945 determinou a divisão da

península em duas partes, tendo

como referência o paralelo 38° N,

com cada parte submetida à in-

fluência de uma das superpotên-

cias. A divisão acabou dando

origem a dois países: a Coreia do

Sul, capitalista, e a Coreia do

Norte, socialista. Realizada de

forma arbitrária e sem consulta à

população coreana, a divisão do

país foi mal recebida, e os dois

regimes rivais passaram a plane-

jar a reunificação.

Em junho de 1950, a Coreia do

Norte, com apoio soviético e chi-

nês, invadiu a Coreia do Sul. Após

rápidos avanços norte-coreanos,

os Estados Unidos colocaram em

prática – pela primeira vez em

larga escala – a Doutrina Truman,

enviando tropas para combater

em defesa do regime sul-coreano.

Em plena escalada militar, a Chi-

na, liderada por Mao Tsé-tung do

recém-instalado governo socialis-

ta, também enviou tropas, e o

conflito localizado pela unificação

das Coreias ganhou uma dimen-

são desproporcional.

A guerra durou três anos e resultou não apenas em grande destruição material, mas em uma mortalidade

em larga escala, com as estimativas se aproximando da casa de um milhão, sobretudo de chineses e coreanos.

Em julho de 1953, em pleno impasse militar e após prolongado desgaste, os dois lados assinaram um

cessar fogo, conhecido como a Paz de Pan Mun Jon. As duas Coreias permaneceram divididas, e a fron-

teira continuou tendo como referência o paralelo 38° N.

COREIADO

NORTE

COREIADOSUL

CHINA

Pyongyang

Seul

Pusan

Inchon

Sinuiju

Mar do Japão

38° N

Mar Amarelo

OCEANOPACÍFICO

COREIA

CHINA

URSS

JAPÃ

O

Linha de demarcaçãode 1953

N

65

km

0

A península coreana

Nat

o/G

ett

y Im

age

s

Mulher observa o Muro de Berlim logo após sua construção em 1961. Por essa época, o Muro ainda tinha um aspecto precário; nos anos seguintes, em meio a sucessivas reconstruções, tornou-se um obstáculo formidável.

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320TERCEIRÃO – 7 HISTÓRIA

O cessar fogo de 1953 permanece em vigor, não tendo sido assinado nenhum tratado de paz permanente desde então. O resultado foi a manutenção não só da divisão do país – mesmo após o fi m da Guerra Fria – como também de uma grande tensão entre os dois países. A militarização da península permanece, com a manutenção de tropas norte-americanas na Coreia do Sul. O fechamento do regime norte-coreano e a manutenção de um regime totalitário contribuíram para difi culdades de resolução da questão coreana. Os sucessivos ditadores do Norte – Kim Il-sung (1948--1994), seu fi lho Kim Jong-il (1994-2011) e o fi lho deste, Kim Jong-un (desde 2011) – mantêm a militarização da Coreia do Norte e, em meio a uma economia arruinada, concentram seus escassos recursos econômicos em um ambicioso programa armamentista, que inclui armas nucleares e tecnologia de foguetes. Em 2006 o governo norte-coreano declarou ter testado com sucesso seu primeiro artefato nuclear, e uma segunda experiência foi realizada em 2009.

A Organização das Nações Unidas

Criada em 1945, a ONU teve um papel importante durante os anos da Guerra Fria, embora nem sempre tendo sucesso no sentido de evitar confl itos ou resolvê-los pacifi camente. Todos os Estados membros da ONU mantêm representantes na Assembleia Geral, sediada em Nova York, com a liderança da entidade cabendo a seu secretá-rio-geral, que deve colocar em prática as decisões do Conselho de Segurança.

Os 15 membros do Conselho de Segurança são divididos entre 10 membros temporários (eleitos para períodos de dois anos) e 5 membros permanentes, que representam os principais países vencedores da Segunda Guerra Mundial: Estados Unidos, União Soviética, China, Inglaterra e França. Os membros permanentes têm poder de veto sobre as decisões do Conselho de Segurança e, por extensão, de toda a ONU. Durante os anos da Guerra Fria, o exercício desse poder de veto, seja por países capitalistas ou socialistas, resultava na possibilidade de virtual paralisação da ONU.

Chama atenção que, atualmente, após grandes mudanças no cenário internacional, a estrutura da ONU permanece inalterada, o que implica na posição secundária tanto de países como Alemanha e Japão (que apesar de sua infl uência econômica e política foram os derrotados na Segunda Guerra Mundial) quanto dos países da África, América Latina e do sul da Ásia (Índia), regiões cuja importância tem sido crescente nos últimos anos.

Segundo Lorde Ismay, primeiro secretário-geral da Otan em 1952, o objetivo da Organização do Tratado do

Atlântico Norte era “manter os russos por fora, os americanos por dentro e os alemães por baixo”.JUDT, Tony. Pós-guerra: uma História da Europa desde 1945.

Rio de Janeiro: Objetiva, 2008.

De acordo com o texto, os objetivos da Otan incluíam:

a) evitar a participação da União Soviética na Aliança, manter tropas norte-americanas operando no hemisfério norte e tropas alemãs no hemisfério sul.

b) evitar a infl uência soviética nos Estados Unidos, garantir a implantação do Plano Marshall e unifi car a Alemanha, ainda que em posição de inferioridade.

c) dividir o mundo em esferas de infl uência: Europa e Oriente Médio para os Estados Unidos, Ásia para a União Soviética, com a não participação da Alemanha nessa divisão.

d) manter como únicas tropas de ocupação na Alemanha as norte-americanas (na Alemanha Ocidental) e as soviéticas (na Alemanha Oriental).

➜ e) enfrentar a União Soviética, garantir a presença norte-americana na Europa e manter a Alemanha enfraquecida.

TAREFA MÍNIMA

Caderno de Exercícios

• Faça os exercícios 1 a 3.

TAREFA COMPLEMENTAR

• Leia o texto da aula.

Caderno de Exercícios

• Faça os exercícios 4 a 7.

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321HISTÓRIA TERCEIRÃO – 7

1 A coexistência pacífi ca

Ascensão de Nikita Khruschev

O fi m da Guerra da Coreia em 1953, bem como a

morte de Stálin no mesmo ano, diminuiu a tensão in-

ternacional, e essa distensão acentuou-se com a as-

censão do novo líder soviético, Nikita Khruschev. Em

1956, durante o XX Congresso do Partido Comunista

da União Soviética, o novo líder denunciou os crimes

cometidos por Stálin enquanto esteve no poder e con-

denou práticas stalinistas como culto à personalidade.

Iniciava-se a desestalinização na União Soviética.

Além de libertar presos políticos, Khruschev deslo-

cou as prioridades da economia soviética, da indústria

pesada para a produção de bens de consumo, elevan-

do o padrão de vida da população. Procurou conter a

corrida armamentista entre as superpotências, reco-

nhecendo que um enfrentamento direto seria inviável

na era nuclear e que, portanto, a relação entre Estados

Unidos e União Soviética deveria ser marcada pela

coexistência pacífi ca. Khruschev foi o primeiro líder

soviético a visitar os Estados Unidos (1959), buscando

estabelecer relações cordiais e propondo até incre-

mento no comércio entre os dois países.

A coexistência pacífi ca

Pode ser que vosso vizinho vos seja simpático, ou

não. Não tendes a obrigação de ser seu amigo ou de

visitá-lo. Porém, viveis lado a lado, e que fazer se nem

vós nem ele se dispõem a deixar o lugar a que estão

habituados, para se fi xar em outra cidade? Com muito

maior razão, o mesmo ocorre nas relações entre os Es-

tados [...] Há apenas duas possibilidades: ou a guerra,

e deve-se dizer que a guerra, no século dos mísseis e

das bombas nucleares e de hidrogênio, é plena das mais

graves consequências para todos os povos, ou a coexis-

tência pacífi ca. Quer vosso vizinho vos agrade ou não,

não há outra coisa a fazer senão encontrar um terreno

de entendimento com ele, pois nós temos apenas um só

planeta [...].Khruschev, 1959.

Diversas foram as reações ao programa reformista

de Khruschev. Por todo o mundo, partidos comunistas

se dividiram, com facções aceitando ou rejeitando a

desestalinização proposta. O governo chinês, encabe-

çado por Mao Tsé-tung, rejeitou as mudanças, o que

levou a China a romper relações com a União Soviética

em 1959. Na Europa oriental, alguns dos regimes so-

cialistas tutelados pela União Soviética tentaram apro-

fundar as reformas, notadamente na Hungria. Em

1956, explodiu no país um movimento popular, sob a

liderança de Imre Nagy, que exigia a retirada das tro-

pas soviéticas do país e reformas democratizantes. A

invasão da Hungria e a brutal repressão empreendida

pelos soviéticos acabaram com o movimento.

O episódio húngaro de 1956 demonstra os limites

das reformas de Khruschev. Mesmo com as mudanças,

o regime soviético permaneceu uma ditadura de parti-

do único, e apesar do discurso da coexistência pacífi ca,

a União Soviética continuou a adotar práticas interven-

cionistas em casos de crise. A ascensão de Fidel Castro

em Cuba, em 1959, e as crises decorrentes de sua apro-

ximação com a União Soviética deixariam bem claros

esses limites, aumentando a tensão internacional.

Dentro da União Soviética, o clima era de otimismo.

A recuperação econômica do pós-guerra e a melhoria

geral do nível de vida da população contribuíam para

a crença generalizada na superioridade do socialismo

e na possibilidade de, nas palavras de Khruschev, “al-

cançar e ultrapassar” os Estados Unidos. Os sucessos

do programa espacial soviético (lançamento do Sput-

nik, primeiro satélite artifi cial, 1957; voo de Yuri Gaga-

rin, primeiro homem no espaço, 1961) contribuíram

para essa visão.

Pôster exaltando os grandes feitos so-viéticos na corrida espacial: “Glória ao primeiro cosmonau-ta, Yuri A. Gagarin”. Observe o aspecto ao mesmo tempo futurista e grandio-so da imagem.

GUERRA FRIA: A COEXISTÊNCIA PACÍFICA

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322TERCEIRÃO – 7 HISTÓRIA

A guerra de propaganda

Uma vez que a possibilidade de um conflito direto

entre as superpotências parecia afastada, o confronto

entre Estados Unidos e União Soviética foi assumindo

cada vez mais o aspecto de uma verdadeira guerra de

propaganda. A rápida recuperação econômica dos

países da Europa ocidental, graças aos dólares do Pla-

no Marshall – e ainda mais se comparado com a lenta

recuperação da Europa oriental – funcionava como

poderosa propaganda, trazendo a promessa de que a

amizade com os Estados Unidos resultaria em acesso

a recursos econômicos aparentemente infinitos.

Já a corrida espacial, fruto direto do desenvolvi-

mento bélico da tecnologia de foguetes guiados, pare-

cia ser uma demonstração de que o socialismo se

encontrava na vanguarda tecnológica mundial. Toda-

via, o objetivo final da corrida espacial (uma missão

tripulada na superfície lunar) acabou sendo atingido

pelos Estados Unidos em 1969, com a missão Apolo 11.

Finalmente, em uma época em que ocorria a am-

pliação em larga escala dos meios de comunicação de

massa, as superpotências reconheceram o papel de-

sempenhado pelas competições esportivas internacio-

nais, como as Olimpíadas, que passaram a ser palco de

intensa rivalidade. A politização das Olimpíadas não

tardaria: em 1980, os Estados Unidos lideraram o boi-

cote aos Jogos Olímpicos de Moscou, em represália à

invasão do Afeganistão pela União Soviética no ano

anterior. Nos jogos seguintes, realizados em Los Ange-

les (1984), foi a vez do boicote por parte do bloco socia-

lista, tendo como argumento a falta de segurança na

grande cidade norte-americana.

2 A tensão Leste × Oeste na década de 1960

Crise dos Mísseis

Em 1959, liderando um movimento guerrilheiro,

Fidel Castro assumiu o poder em Cuba, adotando

logo em seguida um conjunto de medidas nacionalis-

tas. Privilégios norte-americanos na ilha foram aboli-

dos, e os interesses do país, atingidos por medidas

como a nacionalização de empresas estrangeiras e o

confisco de terras pertencentes a empresas agrícolas

norte-americanas.

A reação dos Estados Unidos foi agressiva, uma vez

que o país jamais aceitaria um questionamento da sua

autoridade em território latino-americano, sua tradi-

cional área de domínio. A agressividade norte-ameri-

cana acabou aproximando cada vez mais o novo

regime cubano com a União Soviética, e logo o Caribe

seria palco dos confrontos da Guerra Fria.

Foto de espionagem norte--americana, tirada em 1962 em voo ilegal sobre Cuba. Na foto, os equipamentos – iden-tificados como de procedência soviética – incluem transporta-dores de mísseis e de seus pro-pelentes. A Crise dos Mísseis, iniciada em seguida, foi o mais grave confronto entre Esta-dos Unidos e União Soviética, durante toda a Guerra Fria, e levou o planeta à iminência de uma guerra nuclear.La

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http://www.youtube.com/watch?v=DFB1s6t5Osc revolução cubana
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Nota
http://www.youtube.com/watch?v=D7e9DdjU9R0&list=PL885FAADBA6F6AA2F OS TREZE DIAS QUE ABALARAM O MUNDO ATÉ 3:22
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323HISTÓRIA TERCEIRÃO – 7

Em abril de 1961, mercenários cubanos a mando

dos Estados Unidos desembarcaram na Baía dos Por-

cos, tentando derrubar à força o regime de Fidel Cas-

tro. A invasão fracassou, diante da reação militar

cubana escorada em ampla mobilização popular. Em

fevereiro do ano seguinte, os Estados Unidos iniciaram

o embargo econômico a Cuba, dificultando o comércio

internacional do país, fortemente dependente das ex-

portações agrícolas, como açúcar e tabaco.

Finalmente, em outubro de 1962, ocorreu a Crise

dos Mísseis, o episódio de maior tensão entre as super-

potências durante toda a Guerra Fria e que quase gerou

um confronto nuclear generalizado. Após missões de

espionagem aérea norte-americana terem identificado

a instalação de mísseis nucleares de médio alcance em

Cuba, capazes de atingir rapidamente as maiores cida-

des dos Estados Unidos, o presidente John F. Kennedy

exigiu a retirada imediata dos mísseis da ilha. Além

disso, como forma de pressão, ordenou o bloqueio na-

val da ilha, ou seja, a proibição da entrada e saída de

qualquer navio até que a situação fosse resolvida.

Inicialmente, a União Soviética rejeitou a exigência

norte-americana e denunciou o bloqueio naval como

ato de guerra contra um país amigo, Cuba. Seguiram-

-se intensas negociações diplomáticas, em meio à mo-

bilização militar e aos preparativos para a guerra:

enquanto os Estados Unidos ameaçavam invadir Cuba,

a União Soviética comprometia-se publicamente em

defendê-la. Finalmente, um acordo foi obtido com os

soviéticos, que aceitaram a retirada dos mísseis desde

que os norte-americanos adotassem medida equivalen-

te em relação a seus mísseis instalados na Turquia.

Na União Soviética, o episódio foi encarado por

muitos como um recuo diplomático e uma derrota na

guerra de propaganda, o que acabou fragilizando a

posição de Khruschev diante do grupo conservador

formado pela alta burocracia partidária e pelos coman-

dantes militares. Em 1964, em grande parte devido à

desmoralização decorrente da Crise dos Mísseis,

Khruschev foi afastado do poder e substituído por

Leonid Brezhnev, que iria liderar a União Soviética até

sua morte em 1982.

Líderes* soviéticos durante a Guerra Fria

•Josef Stálin (1922-1953)

•Nikita Khruschev (1953-1964)

•Leonid Brezhnev (1964-1982)

•Yuri Andropov (1982-1984)

•Konstantin Tchernenko (1984-1985)

•Mikhail Gorbachev (1985-1991)

O “debate da cozinha”

Em 1959, no contexto do “degelo” nas relações

entre Estados Unidos e União Soviética, foi realiza-

da uma exposição norte-americana em Moscou.

Diante de uma reprodução de uma típica cozinha

doméstica dos Estados Unidos, com seus muitos

eletrodomésticos, ocorreu o seguinte diálogo entre

o líder soviético, Nikita Kruschev, e o vice-presi-

dente norte-americano Richard Nixon.

Nixon: Eu gostaria de mostrar-lhe esta cozinha. É como aquelas de nossas casas na Califórnia. [Nixon aponta para uma máquina de lavar pratos].

Khruschev: Nós temos essas coisas.

Nixon: Este é o nosso mais novo modelo. É do tipo que produzimos aos milhares para instalação direta nas casas. Na América, tornamos a vida mais fácil para as mulheres.

Khruschev: Sua atitude capitalista em relação às mulheres não ocorre no Comunismo.

Nixon: Acredito que essa atitude em relação às mu-lheres é universal. O que queremos é tornar a vida mais fácil para nossas donas de casa [...] Essa casa pode ser comprada por 14 mil dólares, e a maior parte dos ame-ricanos pode comprar uma casa na faixa de 10 a 15 mil dólares. Deixe-me dar um exemplo para que você avalie [...] Qualquer operário poderia comprar esta casa. Eles ganham 3 dólares por hora. Esta casa custa 100 dólares por mês, em um contrato de 25 ou 30 anos.

Khruschev: Nós temos operários e camponeses que poderiam pagar 14 mil dólares por uma casa. Suas casas são feitas para durar apenas 20 anos, para que os constru-tores possam sempre vender novas casas. Nós construí-mos com solidez. Construímos para nossos filhos e netos.

Nixon: As casas americanas duram mais de 20 anos, mas mesmo assim, depois de 20 anos, muitos americanos querem comprar uma nova casa ou uma nova cozinha. A cozinha fica obsoleta depois desse tempo. O sistema americano é planejado parar tirar vantagem de novas in-venções e novas técnicas.

Khruschev: Essa teoria não se sustenta. Algumas coi-sas nunca ficam ultrapassadas, casas, por exemplo, mó-veis talvez, mas casas não. Eu já li muito sobre a América e as casas americanas e o que você me diz não me parece muito preciso [...] Os americanos criaram a sua própria imagem do homem soviético, mas ele não é como vo-cês pensam. Vocês imaginam que o povo russo ficará impressionado em ver essas coisas, mas o fato é que as novas casas russas têm esse equipamento atualmente.

Nixon: Sim, mas...

H-20

* Secretários-gerais do Partido Comunista da União Soviética (PCUS).

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324TERCEIRÃO – 7 HISTÓRIA

Khruschev: Na Rússia, tudo o que você precisa para

ter uma casa é ter nascido na União Soviética. Você tem

o direito de possuir uma casa. Na América, se você não

tem dólares, você tem o direito de escolher dormir no

chão. E vocês ainda dizem que somos escravos do co-

munismo.

Nixon: Admiro que o senhor seja tão articulado e

enérgico.

Disponível em: <http://teachingamericanhistory.org/library/index.asp? document=176>. Acesso em: 7 maio 2013. Traduzido e adaptado.

A Guerra do Vietnã

Também nos Estados Unidos, a situação política

tornava-se tensa, com o assassinato do presidente

Kennedy em 1963 e o crescente envolvimento dos

Estados Unidos na Guerra do Vietnã.

O Vietnã havia sido colônia francesa desde o sécu-

lo XIX e foi ocupado pelo Japão durante a Segunda

Guerra Mundial. Ao final do conflito, o retorno dos

colonizadores gerou uma forte oposição popular, que

acabou se refletindo no fortalecimento do movimento

Viet Minh (Liga para a Independência do Vietnã) que

logo iniciou uma guerra de guerrilhas contra as tropas

francesas. Após a surpreendente vitória na batalha de

Dien Bien Phu em 1953, os vietnamitas conquistaram

sua Independência. A Conferência de Genebra, em

1954, oficializou a Independência e estabeleceu a divi-

são do novo país em duas partes: o Vietnã do Norte

(socialista) e o Vietnã do Sul (capitalista), em um arran-

jo típico do contexto da Guerra Fria.

Ho Chi Minh, o carismático líder do Vietnã do Nor-

te e responsável pela liderança nacional na guerra de

Independência contra a França, tinha amplo apoio

popular em todo país, o que dificultava a legitimação

do regime do sul, onde ganhava importância cada vez

maior o movimento clandestino Viet Cong (Frente de

Libertação Nacional), com seu projeto de unificação

sob liderança do norte socialista.

A partir de 1964, o governo norte-americano pas-

sou a enviar tropas para o Vietnã do Sul, visando

sustentar o regime. A escalada de violência resultou

em uma nova guerra de guerrilhas em larga escala,

envolvendo tropas do movimento Viet Cong e forças

de combate norte-americanas que, em 1968, chega-

ram a, aproximadamente, 500 mil soldados. A devas-

tação do país foi brutal, incluindo a guerra aérea em

larga escala tanto nas áreas do sul hostis ao controle

norte-americano, quanto em alvos no Vietnã do Nor-

te, que apoiava o movimento guerrilheiro do sul.

No fim da década, a impossibilidade cada vez mais

evidente de uma vitória militar, provocou a progressi-

va retirada dos Estados Unidos do Sudeste Asiático,

até que, em 1975, forças conjuntas da guerrilha Viet

Cong e do exército norte-vietnamita entraram em

Saigon, capital do Vietnã do Sul, encerrando o confli-

to e unificando o país sob regime socialista.

Mesmo com muitos soldados e uma força bélica superior, os Estados Uni-dos tiveram de se retirar do Vietnã após anos de conflito. Na foto, tropa de soldados norte-americanos no sul do Vietnã em 1968.

3 A distensão na década de 1970

Apesar do apogeu das guerras no Oriente Médio

entre árabes e israelenses (Guerra dos Seis Dias em

1967; Guerra do Yom Kippur em 1973), a nova déca-

da se iniciou sob o impacto da diminuição da tensão

internacional, caracterizando a época da détente ou

“distensão”.

Já em 1972, Estados Unidos e União Soviética

haviam concordado em limitar seus arsenais nuclea-

res, com a assinatura do acordo SALT, o Tratado de

Limitação de Armas Estratégicas. Porém, a manu-

tenção da détente relacionou-se, sobretudo, com a

relativa “timidez” da política externa norte-america-

na no período, fruto de uma tripla crise: militar, com

a derrota no Vietnã desestimulando novas aventuras

intervencionistas; econômica, a partir de 1973, com a

primeira crise do petróleo gerando inflação e estag-

nação econômica; política, fruto do escândalo

Watergate em 1972, que envolveu o presidente

Richard Nixon em acusações de espionagem a opo-

sitores e suborno de investigadores, resultando em

sua renúncia dois anos depois.

A eleição de Jimmy Carter à presidência fortale-

ceu a détente graças à adoção da política dos direitos

humanos como novo princípio a orientar a política

externa norte-americana. Tradicionalmente os Esta-

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http://www.youtube.com/watch?v=pPi8EQzJ2Bg PLATOON
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http://www.youtube.com/watch?v=2TpEJrHW1fQ escândalo de watergate
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325HISTÓRIA TERCEIRÃO – 7

dos Unidos davam apoio a qualquer regime político defensor de seus interesses, incluindo ditaduras. Durante os anos da Guerra Fria, regimes autoritários anticomunistas podiam estar seguros do apoio nor-te-americano. Durante o governo Carter, o critério passou a ser outro: um regime autoritário seria jul-gado como tal, e qualquer engajamento mais sério dos Estados Unidos em defesa desse regime estaria condicionado a um compromisso mínimo de respei-to aos direitos humanos. É nessa época, por exem-plo, que estremecem as relações entre os Estados Unidos e o Regime Militar então existente no Brasil.

Essa política, no entanto, fez com que os Estados Unidos amargassem derrotas na arena internacio-nal. Em 1979, o ditador da Nicarágua, Anastásio So-moza – que durante anos havia contado com apoio norte-americano – foi derrubado pela Revolução Sandinista que deu lugar à implantação de um regi-me socialista no país. No mesmo ano, o xá (impera-dor) do Irã, Reza Pahlevi, foi derrubado por uma revolução popular que transformou o país em uma República Islâmica, dominada pelos clérigos e en-cerrando o domínio norte-americano no país.

A invasão soviética do Afeganistão, ainda em 1979, fortaleceu a posição da superpotência socialis-ta no Oriente Médio e acabou por levar Carter a uma revisão de sua política externa, já no fi nal do manda-to. Os reveses internacionais e a oposição interna ao governo Carter resultaram em sua derrota nas elei-ções presidenciais de 1980 para o conservador polí-tico republicano e ex-ator de cinema Ronald Reagan, que iria promover o retorno à política de enfrenta-mento com a União Soviética e pôr fi m à détente.

Presidentes norte-americanos durante a

Guerra Fria

•Harry S. Truman (1945-1953)

•Dwight Eisenhower (1953-1961)

•John F. Kennedy (1961-1963)

•Lyndon B. Johnson (1963-1969)

•Richard Nixon (1969-1974)

•Gerald Ford (1974-1977)

•Jimmy Carter (1977-1981)

•Ronald Reagan (1981-1989)

(UFTM)

Observe a charge, datada de 1962, que representa, à es-

querda, Nikita Kruschev, secretário-geral do Partido Co-

munista da então União Soviética e, à direita, John

Kennedy, presidente dos Estados Unidos.

A imagem refere-se:

a) à disputa pela hegemonia sobre as colônias do conti-

nente africano, importante fonte de matérias-primas.

➜ b) ao risco de confronto entre os EUA e a URSS, motiva-

do pela tentativa dos russos de instalar em Cuba ar-

mas nucleares.

c) à política de enfrentamento de Kennedy, que desgos-

tou os grupos americanos conservadores.

d) ao enfraquecimento da União Soviética, cuja situação

econômica impedia a produção de armas no ritmo

dos americanos.

e) às disputas em torno do projeto americano, que pre-

via a construção de escudos antiaéreos em torno do

planeta.

TAREFA MÍNIMA

Caderno de Exercícios

• Faça os exercícios 1 a 4.

TAREFA COMPLEMENTAR

• Leia o texto da aula.

Caderno de Exercícios

• Faça os exercícios 5 a 8.

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http://www.youtube.com/watch?v=3spV7ZJQGbs QUEDA DO XÁ DO IRÃ INDICAÇÃO: FILME ARGO
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http://www.youtube.com/watch?v=56w7u2YiaTk INVASÃO AFEGANISTÃO - 1979
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