A resume of Glaucon's argument

7
Glaucon I. 357a-358d: A divisão dos bens. (a) Aqueles que são escolhidos não por suas consequências mas sim por si mesmos; p. ex. os prazeres que não causam dano nem nenhuma outra consequência diferente do próprio prazer. (b) Aqueles que são escolhidos tanto pelo prazer que proporcionam quanto por suas consequências; p. ex. a compreensão, a visão e a saúde. (c) Aqueles que são trabalhosos e penosos porém benéficos, e que são escolhidos apenas por conta de suas consequências; p. ex. ser curado, ganhar dinheiro, etc.. Tais “bens”, está subentendido, não seriam escolhidos caso houvesse um caminho alternativo menos trabalhoso ou penoso que levasse o agente às mesmas consequências. Em qual das três classes se deve colocar a justiça? Segundo Sócrates, em (b). Mas a multidão e Trasímaco, é claro, acham que é em (c), que a injustiça é mais desejável que a justiça e que a vida do homem perfeitamente injusto é melhor do que a vida do homem perfeitamente justo. Glaucon se propõe então a renovar o argumento de Trasímaco, fazendo o elogio da injustiça, com o explícito objetivo de dar a Sócrates a oportunidade de refutá-lo e mostrar porque a justiça deve ser colocada em (b) e não em (c). Após essa refutação e essa explicação, teremos não só uma nova classificação da justiça mas também uma re-valoração da justiça em relação a injustiça. No entanto, eis como Glaucon formula o mesmo pedido: a. “O que eu quero ouvir é o que cada uma delas [a justiça e a injustiça] é e que potencia e efeito elas tem em si mesmas e por si mesmas (auto kath’auto) na alma, deixando de lado suas recompensas (misthos) e suas consequências (ta gignomena)” (358b). b. “O que eu quero ouvir é um elogio da justiça em si mesma e por si mesma (auto kath’auto)” (358d). II. 358e-359b: A origem da justiça. 1. Por natureza, cometer injustiças é bom e sofrer é ruim; 1

description

Teaching Aid.

Transcript of A resume of Glaucon's argument

Glaucon

I. 357a-358d: A diviso dos bens. (a) Aqueles que so escolhidos no por suas consequncias mas sim por si mesmos; p. ex. os prazeres que no causam dano nem nenhuma outra consequncia diferente do prprio prazer.(b) Aqueles que so escolhidos tanto pelo prazer que proporcionam quanto por suas consequncias; p. ex. a compreenso, a viso e a sade.(c) Aqueles que so trabalhosos e penosos porm benficos, e que so escolhidos apenas por conta de suas consequncias; p. ex. ser curado, ganhar dinheiro, etc.. Tais bens, est subentendido, no seriam escolhidos caso houvesse um caminho alternativo menos trabalhoso ou penoso que levasse o agente s mesmas consequncias.Em qual das trs classes se deve colocar a justia? Segundo Scrates, em (b). Mas a multido e Trasmaco, claro, acham que em (c), que a injustia mais desejvel que a justia e que a vida do homem perfeitamente injusto melhor do que a vida do homem perfeitamente justo. Glaucon se prope ento a renovar o argumento de Trasmaco, fazendo o elogio da injustia, com o explcito objetivo de dar a Scrates a oportunidade de refut-lo e mostrar porque a justia deve ser colocada em (b) e no em (c). Aps essa refutao e essa explicao, teremos no s uma nova classificao da justia mas tambm uma re-valorao da justia em relao a injustia. No entanto, eis como Glaucon formula o mesmo pedido:a. O que eu quero ouvir o que cada uma delas [a justia e a injustia] e que potencia e efeito elas tem em si mesmas e por si mesmas (auto kathauto) na alma, deixando de lado suas recompensas (misthos) e suas consequncias (ta gignomena) (358b).b. O que eu quero ouvir um elogio da justia em si mesma e por si mesma (auto kathauto) (358d).

II. 358e-359b: A origem da justia.1. Por natureza, cometer injustias bom e sofrer ruim;2. O mal que sofre quem injustiado maior do que o eventual bem que se pode auferir ao se cometer injustias;3. De tanto injustiar e ser injustiados, aqueles que no tem poder para injustiar sem serem injustiados determinam ser til fazerem um pacto mtuo no sentido de absterem-se de injustias;3.1 Assim nascem as leis (nomous) e os contratos (synthekai) entre os homens;3.2 Os homens chamam o que as leis e os contratos mandam de legal (nominon) e justo (dikaion), e essa a natureza da justia;3.3 A justia um meio termo entre o melhor dos mundos cometer injustias sem sofr-las e o pior dos mundos sofrer injustias sem poder comet-las;

III. 359b-359d: A justia em (c).(...) no que diz respeito ao segundo ponto, que aqueles que praticam a justia o fazem involuntariamente (akontes) e por falta de poder para cometer a injustia (...). 359b.4. Se dermos ao justo e ao injusto a liberdade para agir como bem entenderem e observarmos aonde os desejos (epithymia) de cada um o leva, veremos que o justo assim como o injusto sero conduzidos para a pleonexia.

[ I. [select] the character and conduct of a , greediness, grasping, assumption, arrogance, Hdt., Thuc., etc. II. [select] gain, advantage, Xen., etc.; with a view to one's own advantage, Thuc., Xen; 2. [select] c. gen. pers. advantage over, Xen; 3. [select] c. gen. rei, a larger share of a thing, Arist.; gain made from a thing, Dem.]

[ = 1. one who has or claims more than his due, greedy, grasping, arrogant, Thuc., etc.:as adj., . Hdt.; Sup. , Xen. 2. making gain from their losses, id=Xen.]

5. Isso se d porque por natureza todas as criaturas perseguem o [prprio] bem enquanto que o nomos os desvia desse caminho os forando [atravs da ameaa de punio] a honrar a igualdade;

IV. 359d-360d: O anel de Gyges punio, visibilidade e publicidade.6. Tendo a certeza da impunidade, o homem justo e o homem injusto se comportaro de forma injusta e pleontica, satisfazendo seus desejos e tomando mais do que lhes devido sempre que possvel;7. Aquele que no o fizesse seria visto como o mais burro (anoetotatos) e digno de pena (athliotatos) por todos o que notassem o seu comportamento; 8. Esses mesmos homens o elogiaram na presena uns dos outros por medo de sofrerem injustias;9. H mais vantagem na injustia do que na justia;

V. 360e-361d: As duas formas de vida e o valor relativo da justia e da injustia.10. Para escolher entre as duas formas de vida devemos medir a felicidade do mais injusto e do mais justo dos homens possveis;11. O mais injusto aquela que parece justo sendo injusto;12. Ao parecer justo, o mais injusto no somente evita a punio mas tambm ganha todas as recompensas acarretadas pela justia;[12.1 As recompensas acarretadas pela justia podem ser asseguradas atravs da mera aparncia de justia]13. O mais justo aquele que deseja a justia por si mesma e no pelas recompensas advindas do parecer justo;14. O mais justo persevera no caminho da justia mesmo quando isso o leva a ser a reputado como o mais injusto dentre os homens; 15. O mais injusto, portanto, leva a vida de injustias e obtm todas as recompensas da justia, enquanto que o mais justo leva a vida de acordo com a justia mas s obtm as penas e os castigos destinados ao homem injusto por conta de sua fama de injusto;

[16. Tanto o homem injusto quando o homem justo desejam ser de uma certa forma, mas no aparecer dessa mesma forma; 17. O homem injusto deseja e busca aparecer como o seu oposto, pois se ele fosse e aparecesse da forma como ento a sua vida no valeria a pena; 18. O homem justo deseja e busca aparecer tal como ele mas, ao contrrio do homem injusto, pensa que a sua vida vale a pena mesmo que ele no consiga aparecer tal como ele .]

Concluso: Dizem que, nessas circunstncias, o justo ser vergastado, torturado e amarrado; queimar-lhe-o os olhos e, por ltimo, depois de passar por todos esses tormentos, ser empalado, para compreender, facilmente, que o que importa no ser, porm parecer justo (361e-362a).

Adimanto

O que disseste de nada adianta; ouve mais o seguinte: necessrio desenvolver tambm a tese contrria, a dos que exaltam a justia e censuram a injustia, para que ressalte ainda mais o que, a meu ver, Glauco quis dizer (362e).

(...) todos os que vos apresentais como paladinos da justia, desde os heris da antiguidade, cujos escritos nos foram transmitidos, at os homens de nossos dias, ningum condenou at hoje a injustia ou fez elogio da justia a no ser por causa da reputao, das honrarias e dos benefcios dela decorrentes. Mas, a maneira por que atua a justia ou a injustia na alma em que se encontrem, graas virtude prpria, sem que os deuses e os homens o saibam, ningum ainda, nem em verso nem em prosa, fez a demonstrao convincente de que uma o maior mal que a alma possa ter em si mesma, e a outra, a justia, o maior bem. Se assim nos tivsseis falado do comeo, e procurado desde a infncia convencer-nos de semelhante verdade, no teramos preciso de nos vigiarmos reciprocamente para no cometermos injustia, pois cada um seria o melhor guarda de si mesmo, por medo de, com a prtica de alguma maldade, agasalhar o maior mal. Tudo isso, Scrates, e muito mais ainda, certamente, Trasmaco e outros poderiam dizer a respeito da justia e da injustia, modificando, a meu parecer, por maneira imprpria, a natureza de ambas. Eu, porm, no vejo a necessidade de ocultar-te ter sido apenas o desejo de ouvir-te responder a tese contrria que me levou a expressar-me com toda essa veemncia (366d-367ab).

I. 362d-363e: Recompensas e punies.19. Aqueles que exaltam a justia no a elogiam em si mesma mas sim por conta do bom nome/reputao que ela proporciona;20. Tanto os homens quanto os deuses recompensam aqueles que tem um bom nome;21. As recompensas: a terra frtil, os animais produtivos os banquetes no Hades no pressuposto de que a mais bela recompensa da virtude uma bebedeira sem fim (363d) e eventuais benesses at mesmo para os descendentes;22. As punies: condenados a descer ao Hades, carregar gua num crivo e ser submetidos a todas as penas atribudas por Glaucon ao homem mais perfeitamente justo;

II. 363e-365a. (...) um outro tipo discurso sobre a justia e a injustia, muito do gosto dos poetas e das pessoas do povo (363e-364a).23. Dizem que a justia e a temperana so belas mas penosas e difceis, enquanto que a intemperana e a injustia so doces e de fcil acesso;24. Apenas a lei e a opinio consideram a intemperana e a injustia censurveis; [Que opinio? A opinio de quem? A opinio geral? A opinio pblica?]25. A injustia muito mais vantajosa do que a justia;26. Os maus, se forem ricos, so admirados e acatados em pblico, enquanto que os pobres, mesmo quando bons, so esquecidos e desprezados;27. Para muitos homens de bens os Deuses aprestam uma vida de dissabores e misrias, enquanto para os que no o so eles concedem venturas;28. Adivinhos e charlates se dizem capazes de, com sacrifcios e rituais, redimir/expiar as faltas que os homens e seus antepassados, ou at mesmo cidades inteiras, cometeram para com os deuses;29. Atravs destes mesmos sacrifcios e rituais, acrescidos de uma remunerao insignificante, seria possvel ainda causar dano por meio do favor divino qualquer desafeto, seja ele um homem bom ou mau;

III. 365a-367d. (...) que impresso imaginamos possam [esses discursos sobre a justia e a injustia] deixar na alma dos jovens que os escutam? Refiro-me aos bem dotados e capazes, por assim dizer, de apanhar, do que ouvem, de passagem e como num vo, a concluso de como devem ser e qual o caminho a percorrer para atravessarem a vida do melhor modo possvel (365a-b).30. A justia s nos ocasionar trabalhos e dissabores caso somente sejamos justos sem parecer justos;31. Se aparentarmos justia sendo injustos teremos uma vida comparvel somente dos deuses;[32. Mesmo o homem que se convencer de que deve aparentar ser justo para ser feliz concordar que o melhor ser injusto do que ser justo pois a injustia mais prazerosa e mais fcil do que a justia]33. A aparncia manda na verdade e dirige a felicidade;

Scrates

I. O fato que no sei como sair em socorro da justia, pois no me considero altura de semelhante misso. E a prova que no vos satisfez, conforme me pareceu, o que eu disse a Trasmaco para demonstrar que a justia era superior injustia. Por outro lado, no me possvel deixar de defend-la; receio que seja impiedade desanimar quando a atacam na minha presena e no sair em sua defesa enquanto dispuser de algum alento e estiver em condies de falar. O melhor partido, portanto, ser socorr-la como me for possvel (368b-c).

II. Glauco e os demais circunstantes insistiram comigo que a defendesse de qualquer jeito e no deixasse morrer a discusso, porm estudasse ambas, a justia e a injustia, em sua essncia (ti te estin), e dissesse o que h de verdade a respeito das vantagens de uma e de outra (368c).

III. E ento? Perguntei: no caso de acompanharmos em pensamento a formao de uma cidade, no assistiremos, no mesmo passo, ao processo do nascimento da justia e da injustia? possvel, respondeu. E, uma vez nesse ponto, no haver probabilidade de encontrarmos facilmente o que estamos procurando? Muito mais facilmente, respondeu. E achas de bom aviso tentar a experincia? Parece-me que o trabalho no vai ser pequeno. Reflete bem. J refleti, disse Adimanto; no mudes de resoluo (369a-b).

1