A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

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A Revelação Anunciada como nos Dias Apostólicos III

Este é um trabalho de tradução e adaptação

feito pelo Pr Silvio Dutra, de obras publicadas

nos séculos XVI a XIX, por um processo de

eximia seleção de arquivos em domínio

público de homens santos de Deus que

tiveram uma vida piedosa e real, que é tão

raramente vista em nossos dias. Estas

mensagens estão sendo traduzidas

pioneiramente para a língua portuguesa,

dando assim oportunidade de serem lidas e

conhecidas em países da citada língua.

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Sumário

O Conhecimento do Bem e do

Mal..................................................................

04

O Contentamento do Amor...............

33

O Cristão e a Política..............................

58

O Deleite Espiritual dos Santos........

75

O Engano do Coração............................

115

O Espírito de Amor, de Poder e de

Moderação..................................................

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O Conhecimento do Bem e do Mal

Título original: The Knowledge of Good and Evil

Por J. C. Philpot (1802-1869)

Traduzido, Adaptado e

Editado por Silvio Dutra

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"Pois não faço o bem que quero, mas o

mal que não quero, esse faço." (Romanos

7:19)

Às vezes, as dúvidas irão atravessar a mente

quanto à verdade e à inspiração das Escrituras;

mas as dúvidas cruzarão mais frequentemente a mente quanto à verdade e à realidade de nossa

própria experiência. Agora, há certas

considerações que são calculadas para atender

a essas dúvidas, se elas surgem da infidelidade, ou se elas brotam da incredulidade. Por

exemplo, se descobrimos que vários filhos de

Deus em lugares distintos e em circunstâncias

diferentes, todos dão testemunho dos mesmos sentimentos, e se encontramos nos nossos

corações os mesmos sentimentos, temos até

agora uma evidência de que as Escrituras são

genuínas. Assim, se acharmos a experiência dessas pessoas e nossa experiência, semelhante

à delas, registrada na Palavra de Deus, é uma

confirmação, não apenas da verdade da

Escritura, mas também a da nossa experiência.

Vou ilustrar isso pelo que me ocorreu desde que estive em Londres. Pouco tempo atrás, fui ver

uma pobre mulher que ficou acamada há mais

de quatro anos, e durante esse espaço de tempo quase nunca esteve livre de dor por um quarto

de hora. Agora, ela me disse que todas as dores

corporais que ela sofreu foram como nada em

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comparação com o conflito interno produzido

por um corpo de pecado e morte lutando contra

a vida de Deus em sua alma. Posso dizer o

mesmo. Eu tive minhas provações; provas de corpo, provas de circunstâncias, provações de

mente, provações de diferentes tipos; mas

nunca encontrei nenhuma provação igual ao conflito interno causado por um corpo de

pecado e morte. Pouco tempo depois, fui ver

outra mulher acamada, que estava confinada a

um leito de dor no mesmo espaço de tempo. Falando de seus sofrimentos corporais, sem que

eu mencionasse o que sentira, ela disse: "toda

essa dor e languidez não é nada em comparação

com a dor que sinto pela ação do pecado na minha mente carnal". Havia a mesma evidência

independente distinta, e a mesma resposta em

meu peito.

Quando vejo a Palavra de Deus, vejo o apóstolo Paulo expressando exatamente os mesmos sentimentos: "Ó homem miserável que eu sou,

quem me livrará do corpo dessa morte?"

Quando ele estava sofrendo sob perseguição,

não houve nenhum grito tão lamentável. Quando as pedras vieram grandes e rápidas em

direção à sua cabeça, nós não lemos de tal

gemido lamentável. Sim, ele nos diz, que "tinha

prazer em fraquezas, em perseguições, em angústias por amor de Cristo". Isto não arrancou

nenhum grito de seu peito. Na prisão de Filipos,

com as costas doloridas de feridas, e os seus pés

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amarrados no tronco, ele e seu companheiro de

prisão cantavam louvores a Deus (Atos 16:25).

Mas a ação do pecado na sua mente carnal, a

oposição da sua natureza depravada à graça de Deus - foi isso, e só isso, que o fez sentir-se

verdadeiramente um "homem miserável".

Agora não é esta uma confirmação dos dois pontos a que aludi? Não é, primeiro, um

impressionante testemunho da verdade da

Escritura, quando encontramos nela nossa

própria experiência traçada? E não é, em segundo lugar, uma confirmação da verdade e

genuinidade da nossa experiência, quando a

encontramos consistente, não só com a

Escritura, mas também com a experiência daqueles em quem vemos distintamente a graça

de Deus?

E isso, creio eu, é a grande bênção que a igreja retira do sétimo capítulo da Epístola aos

Romanos. Deus, tendo inspirado seu santo

Apóstolo para escrever sua própria experiência

pessoal, e retratar em cores vivas a obra interior da lei e a pressão do corpo do pecado e da morte,

encontrou um tal eco e encontrou tal resposta

no seio da família de Deus, como para provar-

lhes uma e outra vez uma rica mina de conforto e força.

Ao considerar as palavras do texto, procurarei falar sobre elas de acordo com as duas frases,

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como estão diante de nós: "Pois não faço o bem

que quero, mas o mal que não quero, esse faço."

I. "Pois não faço o bem que quero." Quando o

homem caiu, caiu completamente. Ele não caiu no meio do caminho, mas caiu completamente.

E, de fato, uma criatura que cai completamente

da justiça nunca pode cair de outra maneira que senão completamente. Quando os anjos caíram,

caíram até a extensão da natureza angélica; e

quando o homem caiu, ele caiu ao mais

profundo da natureza humana. A queda dos demônios e a queda do homem só diferiram

nisto - que um caiu em toda a extensão da

natureza angélica, e o outro em toda a extensão

da natureza humana. Porque não há meio, nem compromisso, nem meio caminho; mas o

homem em queda, caiu para o ponto mais

profundo ao qual a natureza humana poderia

cair.

Quando o Senhor se alegra, por uma obra da graça no coração, para levar seu povo ao

conhecimento de si mesmo, ele concede a eles

o que é comunicável de sua própria natureza, como lemos "participantes da natureza divina".

Agora, quando o Senhor comunica à alma esta

nova natureza, dá-lhe um novo entendimento;

uma nova consciência, uma nova vontade e novas afeições. A compreensão do coração do

homem por natureza é escura, depravada,

obscurecida e aborrecida; portanto, necessita

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de um novo entendimento, de um novo

entendimento espiritual, para perceber as

coisas espirituais; pois "o homem natural não

percebe as coisas do Espírito de Deus". Nenhuma compreensão natural, por mais

elevada ou refinada que seja, pode jamais

receber, conhecer ou apreciar coisas espirituais. Tendo "Os olhos de seu

entendimento sendo iluminados." Isso é

chamado na Escritura de, "a abertura dos olhos".

Mas, além disso, a consciência do homem, por natureza, é cauterizada; não pode distinguir

entre o bem e o mal; é incapaz de sentir a

espiritualidade da lei de Deus, ou de distinguir

coisas que diferem; é incapaz de acreditar que o que Deus ordenou deve ser obedecido, e o que

Deus tem ameaçado deve ser realizado.

Mas, ainda mais; a vontade do homem por natureza é tão depravada quanto sua

compreensão e sua consciência. Este homem

carnal escolherá e se deleitará no mal, e não tem

nenhum desejo exceto na gratificação do ego e na indulgência de suas concupiscências. O

homem, portanto, precisa de uma nova vontade,

para que sua nova vontade possa escolher o que

Deus aprova, e se afastar daquilo que ele proíbe; que sua nova vontade possa ser alistada do lado

de Deus e da verdade, para amar as coisas que

ele ama e odiar as coisas que ele odeia.

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As afeições do homem também, por natureza, são terrenas, carnais e sensuais, totalmente

voltadas para a gratificação do eu. Ele precisa,

pois, da comunicação de afeições novas, santas e espirituais, segundo as quais a sua vontade não

apenas escolhe o que é bom, mas também as

afeições, as ternas afeições do coração fluindo para isto, desejando-o e centrando-se nisto.

Ora, esta nova natureza que o Senhor cria assim na alma, constituída por este novo

entendimento, nova consciência, nova vontade

e novas afeições, é sempre alistada do lado de Deus e da verdade. Ela deve sempre aprovar o

que Deus aprova; e sempre deve abominar o que

ele odeia. Mas, enquanto estivermos neste

tabernáculo, teremos nosso velho entendimento, nossa velha consciência, nossa

velha vontade e nossos velhos afetos. E sendo

estes não suscetíveis de melhoria, não sofrerão

qualquer processo pelo qual eles são refinados, purificados e melhorados, sempre estarão

inclinados para o mal em que caíram quando

nosso primeiro progenitor caiu da pureza

original. Nossa compreensão natural será sempre escurecida, nossa consciência natural

sempre será dura, nossa vontade natural

sempre será para o mal, e nossas afeições

naturais sempre se ligam ao mundo e à carne. (Nota do tradutor: Não há qualquer exagero da

parte do autor em afirmar que em tudo em nós

se inclina para o mal, pois o que se enfoca aqui

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não é meramente o bem moral ou natural, do

qual se encontram resquícios mesmo em nossa

natureza caída, mas a referência é àquela vida

espiritual e sobrenatural que existe em Deus e que dele procede, da qual estamos natural e

completamente destituídos, e podemos

começar a recobrar somente por nossa associação com Jesus Cristo. Então é correto

afirmar que somos inteiramente inclinados

para o mal, pois de nós mesmos não podemos

topar com o bem que procede da natureza de Deus, quando não a temos em nós por um novo

nascimento espiritual.)

Daí nasce o conflito. Minha compreensão iluminada e minha compreensão escurecida; minha nova consciência e minha velha

consciência; minha vontade renovada e minha

vontade não regenerada; meus afetos celestiais

e minhas afeições terrenas, sempre lutarão um contra o outro - "porque a carne luta contra o

Espírito e o Espírito contra a carne, e estes são

contrários um ao outro, de modo que não

possais fazer o que seja de vosso querer."

O Apóstolo sentiu o conflito que brota do funcionamento interior destes dois princípios

distintos no seu seio, quando disse: "Pois não

faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço." Se você observar, ele fala da vontade

como alistada ao lado de Deus; seu coração, seu

novo coração, estava inclinado para Deus -

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sincera, fervorosa e espiritualmente, desejando

conhecer a vontade de Deus e fazê-la. Havia seu

novo coração, sua compreensão iluminada, sua

consciência espiritual e seus afetos celestiais todos alistados ao lado de Deus; e ainda assim,

pela depravação de sua natureza caída, ele foi

continuamente desviado do caminho pelo qual caminharia alegremente, e continuamente

desviado para aquele caminho tortuoso no qual

ele sempre temia cair.

Mas vamos, com um pouco mais de clareza e distinção, traçar alguns dos detalhes em que "o

bem que quero não faço."

1. ADORAMOS a Deus em espírito e em verdade. Isso é uma coisa boa. É um dos bons dons que descem do Pai das luzes; é o que todo homem

regenerado deseja sentir e seguir; é o que toda

alma vivificada ama executar. Mas, quando

desejássemos adorar a Deus em espírito e em verdade, quando desejássemos que seu olho

estivesse sobre nós, quando derramássemos

nosso coração diante dele em simplicidade e

sinceridade santa, quando oferecêssemos sacrifícios espirituais e fizéssemos adoração

aceitável, "O bem que queremos não fazemos."

Algo baixo, carnal, sujo, ou autojustiça brota de

nossa natureza depravada que nos torna totalmente incapazes de fazer as coisas que nós

desejamos. Não podemos adorar a Deus como

queremos em espírito e em verdade. É uma

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misericórdia ser capaz de oferecer o culto

espiritual por cinco minutos - sim, devo limitá-

lo ainda mais? - um minuto! Uma verdadeira

adoração espiritual, um sensível sentimento de presença de Deus, uma prostração sincera do

espírito diante dele, o derramamento de nossa

alma, simples e espiritualmente, em seu seio - um minuto de adoração espiritual desta

natureza vale a pena um dia inteiro de oração

sem isto. Mas não podemos fazer isso; é

somente até onde o Senhor opera em nós a vontade e o efetuar de seu próprio prazer que

podemos oferecer esses sacrifícios espirituais.

2. Nós ACREDITAMOS no Senhor da vida e da glória. Nós o recebemos em nosso coração como nosso Senhor e nosso Deus. Vivemos de seu

sangue expiatório como nosso único sacrifício.

Confiamos em sua propiciação pelo pecado,

como nosso único perdão e paz. Nós olhamos para a sua gloriosa justiça, como a única túnica

em que podemos ser aceitos diante de Deus.

Mas ,não podemos fazê-lo. Assim que o desejo

de fazê-lo brotar no coração; tão logo não mais existe a simplicidade infantil de uma alma

crente, que olha, confia e se apoia unicamente

no seio do Senhor da vida e da glória, e brotam

alguns ímpios, incrédulos, blasfemos, obscenos, ousados, presunçosos pensamentos

vis que atravessam nossa mente, e somos

absolutamente incapazes de olhar para o

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Senhor Jesus e adorá-lo da maneira que

espiritualmente desejamos.

3. Teríamos um só olho para a glória de Deus em

tudo o que fazemos. Consultaríamos sua vontade. Agiríamos simplesmente como o

Senhor ordenou em sua palavra. Teríamos

motivos puros, espirituais e ternos. Teríamos tal sinceridade e honestidade da alma de Deus, que

tudo o que dissermos, tudo o que pensarmos, e

tudo o que fizermos, brotará da unicidade dos

olhos voltados para a glória de Deus. Este é um bem no qual a nossa alma às vezes está

empenhada. Mas, "o bem que nós queremos não

fazemos". Um motivo sensual, algum

pensamento vago e vanglorioso, algum desejo orgulhoso, algum desejo secreto de si mesmo,

por sua própria exaltação, brota. Nosso olho se

obscurece; a glória de Deus é posta fora de vista;

e não podemos fazer as coisas, não podemos falar santamente, não podemos viver nem agir

para a glória de Deus como gostaríamos.

4. Nós faríamos da Palavra de Deus o nosso governo e guia em todas as coisas. Nós a colocamos como um padrão ao qual nossas

vidas devem ser conformadas; desejamos

obedecer aos seus preceitos e seguir

implicitamente seus mandamentos com fé infantil. É uma coisa que desejamos fazer; uma

conquista pela qual aspiramos nos movimentos

de nossa alma para Deus. Mas, a vontade própria

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muitas vezes cruza a santa Palavra de Deus; a

vontade própria luta contra o motivo puro que

funciona na mente espiritual, desejando que a

vontade de Deus seja nossa vontade. A tentativa é derrotada; a flor é esmagada no botão antes

que desabroche.

5. Nós sentiríamos a presença do Senhor em nossa alma. Teríamos dado o testemunho de

que somos do Senhor. Teríamos sorrisos e

beijos do Senhor da vida e da glória. Teríamos

sinais de que estamos interessados em seu precioso amor e sangue. Isto é uma coisa boa. É

bom que o coração seja assim estabelecido com

graça. Mas, não podemos fazer as coisas que

gostaríamos; não podemos adquirir esses sorrisos de amor, beijos de amor e testemunhos

de amor. Às vezes, nosso coração é tão duro,

nossa mente tão escura, e nossas afeições tão

afastadas do Senhor, que nem sequer temos o desejo de sentir em nossas almas a presença

daquele cujo amor é o céu iniciado aqui

embaixo.

6. Desejamos ter a mente e a semelhança de Jesus estampada em nossa alma. Desejamos ser

levados a uma comunhão com seus

sofrimentos, e sermos conformados à sua

morte. Teríamos em nós a sua santa imagem. Seríamos revestidos de humildade segundo seu

padrão. Caminharíamos em seus passos - que

era manso e humilde de coração. Mas não

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podemos fazer o bem que gostaríamos. Não

podemos, como gostaríamos de fazer, ter

impresso em nossa mente a semelhança e a

imagem de Jesus; e se o temos por alguns instantes, carimbado em nossos corações, é

como uma criança escrevendo seu nome na

areia junto à praia; a primeira onda que vem apaga o nome, e não deixa um traço sequer para

trás. Assim, se por alguns momentos nos

sentimos gentis, humildes, quietos, mansos de

coração, e temos comunhão com o Senhor da vida e glória nos seus sofrimentos; se uma

lágrima escorrendo às vezes destila do olho

chorando; se houver alguma sensação de

quebrantamento em relação ao sofrimento, do cordeiro sangrante de Deus – tão logo tenha o

Espírito traçado a escrita em nosso coração,

uma onda de corrupção vem sobre as marcas de

seus dedos graciosos, de modo que mal podemos ler a impressão que seu toque deixou.

"O bem que queremos não fazemos."

7. Para viver em todos os aspectos agradáveis ao evangelho; de modo que, quando injuriado, não

devolver a injúria sofrida; quando ferido em uma face, oferecer a outra; viver uma vida de

comunhão com Deus, de separação do mundo,

morrer para as coisas do tempo e do sentido, de

olhar e viver verdadeiramente para o Senhor da vida e da glória, de modo a viver uma vida de fé

e de oração operada pelo poder do Espírito no

coração - isto é uma coisa boa; gostaríamos de

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fazê-lo; gostaríamos de senti-lo; nós desejamos

que isto fosse realizado em nossa vida e

conversa. Mas, infelizmente! Disso também

devemos dizer: "O bem que quero não faço".

8. Que nossas palavras pudessem ser tais que fossem consistentes com nossa profissão; que

nossas ações não devessem ser tais que os inimigos do evangelho, e até mesmo os amigos

do evangelho, pudessem justamente apontar

como impróprias – isto é um bem que às vezes

desejamos; especialmente quando temos sido perfurados pela picada de culpa, ou quando

tivemos algumas visões do Senhor da vida e da

glória, e tínhamos alguns ardores de coração

para que pudéssemos conhecê-lo, e o poder de sua ressurreição. "Mas o bem que queremos não

fazemos." Ego, orgulho, vanglória, pecado,

corrupção em várias formas, se entrelaçam com

cada pensamento, falam em cada palavra e correm como em um fluxo através de cada ação.

Comparei às vezes o pecado ao fio que marca a corda dos navios em serviço de Sua Majestade.

Cada corda e cada vela tem um fio vermelho correndo através dele; você pode cortar a corda

ou cortar a vela em mil partes, ainda há o fio

vermelho para servir como uma marca para

detectá-lo caso seja saqueado. Assim é espiritualmente. Corte seu coração em pedaços,

rasgue-o em fios, mutilando-o em mil

fragmentos - o fio do pecado permanece

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entrelaçando-se e misturando-se com cada

pensamento, cada desejo e cada imaginação. Lá

está; você pode cortar o coração em pedaços,

mas você não pode colocar esse fio para fora.

Agora é isso que torna o povo do Senhor um povo tão sobrecarregado; que os torna tão

oprimidos em suas almas que clamam diariamente, e às vezes de hora em hora, que são

o que são; que eles seriam espirituais, ainda que

carnais; que eles seriam santos, mas são ímpios;

que eles creem no Senhor, mas muitas vezes são incapazes de levantar qualquer fé em seu nome;

que teriam comunhão doce com Jesus

ressuscitado, e ainda assim teriam tal união

sensual com as coisas do tempo e do sentido; que eles seriam cristãos em todas as partes, em

palavras, pensamentos e ações, mas, apesar de

tudo, sentem sua mente carnal, sua miserável

depravação entrelaçando, jorrando, contaminando com seu fluxo poluído tudo no

exterior e interior, de modo a fazê-los suspirar,

gemer, e chorar sendo sobrecarregados. "Que

homem miserável eu sou, quem me livrará deste corpo de morte?" (Romanos 7:24)

II. "Mas o mal que eu não quero, esse faço." Mas há outra parte nessa imagem. Podemos virá-la, e

olhar para o outro lado do quadro. "O mal que eu não quero, esse eu faço." Pode ser esta a

experiência de um cristão? Isso pode ser um

filho de Deus? O Espírito Santo pode habitar em

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tal coração? Isso está sendo conformado à

imagem de Cristo? É este ser um peregrino

viajando pelo deserto? Esta é uma ovelha do

rebanho de Cristo? É este um membro do corpo de Cristo? Esta é a Esposa do santo Cordeiro de

Deus? Bem, os homens podem dizer que o

Apóstolo não descreveu sua própria experiência, se eles não sentiam nada do

mesmo tipo em suas próprias almas. Se eles

nunca gemiam, como Paulo, estando

sobrecarregados, não me admiro que eles digam que "esta foi a sua experiência antes de se

converter".

Certamente, tal descrição como esta - "O bem que eu quero, eu não faço, e o mal que não

quero, esse eu faço" – “certamente essas palavras não são as palavras de um cristão, de

um Apóstolo, de quem esteve no terceiro céu,

que conheceu a Jesus, e o poder de sua

ressurreição, seguramente esta devia ter sido a inclinação de sua mente antes de ser vivificado

pela graça divina." Assim argumenta o livre-

arbítrio e a santidade da carne no coração de um

fariseu. Mas, que misericórdia é para você e para mim, que conhecemos a praga do nosso

coração, que suspira e geme cotidianamente

sendo carregado por um corpo de pecado e

morte, e às vezes nos sentimos como o mais sujo dos sujos, o mais vil dos vis e culpado dos

culpados - que misericórdia é para esses pobres

vermes contaminados, tais répteis rastejantes,

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tais pecadores autocondenados, descobrirem

que o Apóstolo Paulo tinha esse conflito no seu

seio e foi comissionado pelo Pai das Luzes para

escrevê-lo, para que você e eu possamos sugar neste peito de consolação, tendo-o aberto na

experiência da nossa alma.

"O mal que eu não quero, esse eu faço." Se você observar, a vontade é alistada do lado de Deus; e

esta é a diferença entre um morto no pecado, e

aquele que tem a vida de Deus em sua alma. "O

teu povo estará disposto no dia do teu poder". Um povo disposto! A vontade para o bem, a

vontade para com Deus, a vontade para com as

coisas que Deus ama; e tudo o que pode

acontecer a um filho de Deus, porém o pecado habita nele, essa vontade permanece inalterada.

Se for levado ao pecado, é atraído contra a sua

vontade. Se ele não faz o que ele deseja fazer,

ainda assim sua vontade é fazê-lo; sua vontade permanece inalterada. Ele pode cair no pântano

mais profundo do pecado; mas ainda a vontade

de sua nova natureza é Deus, embora ele possa

ser mergulhado na lama.

Vamos, então, como tentamos descrever "o bem que faríamos, e não o faremos", agora inverta-o

e olhe para o outro lado, "o mal que nós não faríamos, e que fazemos".

1. Estar continuamente descrente e duvidar da verdade da palavra de Deus, e da obra da graça

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sobre a alma; para ficar cheio de infidelidade e

incredulidade - isso não é um mal? Não é isto

como algum mal quase contínuo? Não é sentido

como uma lepra, uma mancha de praga no coração de muitos da família vivificada de Deus?

Agora, por nossa vontade não faríamos isso.

Aqui está a diferença entre o piedoso e o ímpio; o verdadeiro infiel, e o filho de Deus que carrega

a infidelidade em seu seio. O incrédulo real

gosta de descrer; ele não tem vontade de

acreditar na verdade. O ímpio duvida e adora duvidar; ele nunca quer conhecer a verdade; ele

nunca quer se livrar de suas blasfêmias, mas

sim busca coisas para confirmá-las; qualquer

argumento, qualquer livro, qualquer pessoa que fortaleça sua infidelidade e confirme sua

incredulidade, mas ele não tem nenhum desejo

para vencê-lo, destruí-lo e removê-lo.

Agora, o filho de Deus tem um conflito de infidelidade trabalhando em sua mente. Ele sente a incredulidade e a infidelidade lutando

em seu coração; mas busca as coisas para

fortalecê-las ou superá-las? Ele procura

argumentos para confirmar sua fé, ou suas suspeitas e descrenças? Esta é a diferença entre

um incrédulo morto e (devo usar a expressão?)

Um incrédulo vivo. Ter um princípio em sua

carne que se apega à incredulidade é um mal, e é considerado um mal. Os filhos de Deus não se

gloriam e se regozijam de suas corrupções; eles

não alimentam a sua incredulidade, ou a

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acariciam como um bebê nos braços de sua

mãe; eles não se orgulham disto, e pensam que

a incredulidade é maior quanto cristãos mais

amadurecidos eles sejam. O que é atribuído a eles por seus inimigos é uma calúnia, pois é a

sua tristeza e sua angústia tal condição; tire esse

corpo de morte deles e você conferiria a eles uma bênção.

2. Ser de mente carnal, e incapaz de levantar nossas afeições para as coisas celestiais, mas,

pelo contrário, ir rastejando aqui embaixo, enterrado sob um monte de estrume de

carnalidade e sujeira, é um "mal".

Os filhos de Deus sabem por experiência dolorosa que ser carnal é a morte; que isto traz trevas em suas mentes, esterilidade em suas

almas, dureza em sua consciência, dor em seus

corações. Mas, eles são carnais de espírito,

apesar de todos os seus desejos de serem espirituais. Eles sentem a carnalidade como um

mal que lhes aflige diariamente. Compare os

momentos em que estamos espiritualmente

ocupados com os momentos em que somos carnais; pese-os em uma balança; quantos são os

momentos durante o dia em que somos carnais?

Como cada inclinação da natureza; como tudo

sobre nós; cada visão que temos; cada som que ouvimos; cada objeto que tocamos; o mundo

inteiro com o qual estamos cercados; como

todos alimentam nossas mentes carnais! Eu não

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posso ir para a rua, sem alimentar a minha

mente carnal; eu mal consigo ouvir um som,

sem alimentar minha mente carnal; eu mal

consigo abrir meus olhos, sem alimentar minha mente carnal; não posso entrar numa loja, nem

pegar um livro, não posso falar, ou ouvir os

outros falarem, sem que mais ou menos alimente minha mente carnal. E, no entanto,

estou continuamente atormentado, aflito e

perturbado por isto. "O mal que não quero, esse

faço."

3. Que devemos buscar a exaltação do ego é um mal, um mal amargo, conhecido por ser assim

para o povo de Deus. Em nossas mentes

corretas, pisaríamos o ego sob os pés; teríamos Cristo exaltado em nossos próprios corações;

não faríamos coisas religiosas para agradar a

nós mesmos; eu, como um pregador, para

exaltar a mim mesmo; você como um ouvinte, para gratificar a si mesmo. Acima de tudo, que

um ministro nas mesmas coisas que são ditas

serem para a glória de Deus, deve fazer essas

mesmas coisas para a glória de si mesmo; que este insaciável redemoinho deveria sugar tudo

de bom; que este redemoinho deveria engolir

em sua gargalhada tudo que é gracioso; que este

vórtice no fundo do coração deveria estar bebendo em autoexaltação, em detrimento de

tudo o que ele ama - faz uso de um Deus santo,

de um Cristo santo, de uma santa Bíblia - tudo o

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que é divino e sagrado para alimentar o maldito

ego – isto não é um mal?

Às vezes, quando tenho pregado a uma grande congregação, como costumo fazer em Londres,

longe de ser levado em meus sentimentos ao ver tantas pessoas reunidas, tive que enterrar a

cabeça na almofada do púlpito com vergonha e

aborrecendo a mim mesmo, porque o eu egoísta tão intruso apresentou sua cabeça amaldiçoada,

e eu não poderia ser sincero e espiritual - não

poderia sentir um desejo real pela glória de

Deus - mas o sujo e contaminado ego queria ter sua porção. Este miserável deve ter sua parte, e

muitas vezes se apossa das verdades sagradas de

Deus, buscando um bocado para satisfazer a si

mesmo, o diabo e o orgulho. E quando voltei para casa depois de pregar, em vez de ficar

satisfeito com a popularidade, rompi num

dilúvio de lágrimas, porque meu coração era tão

vil, que procurava sua própria graça amaldiçoada em detrimento de tudo o que

minha mente espiritual considerava sagrado e

querido. Essa autoexaltação e gratificação na

religião é um mal que não faríamos; e no entanto é um que se intromete diariamente.

Corte isto em pedaços por um ministério

espiritual – o ego vai invadir sua cabeça odiosa

no próprio santuário de Deus. Não há lugar, nem tempo, nem postura livre de sua intrusão. Mas é

uma misericórdia odiá-lo, embora não

possamos mantê-lo fora.

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4. A indulgência para com o pecado em nosso coração carnal é um mal, um mal horrível - e, no

entanto, quem se atreve a encarar Deus na face

e dizer que é um mal que nunca praticou? Não estou aqui aludindo à prática externa do mal.

Não estou falando agora de um homem que cai

na embriaguez, no adultério ou em pecados que até os olhos naturalmente iluminados

consideram inconsistentes com a vontade e a

palavra de Deus; mas falo de um homem que

deseja e se deleita no pecado imaginário interior. Quem pode dizer que ele é puro aqui?

Quem pode dizer que ele purificou seu coração

desses males? É um mal; sentimos que é um

mal, a chafurdar em uma imaginação perversa, para alimentar-se do lixo mais vil. Mas, houve

algum pecado que não tivesse uma

contrapartida em nosso coração carnal? Vemos

o carvalho, o carvalho nobre na floresta. Esse carvalho não veio de uma bolota (semente)?

Quantas bolotas de pecado temos em nosso

coração carnal, que se tornaram carvalhos, se é

permitido chegarem à maturidade? A bolota está no coração, e se tivesse sido permitido a ela

crescer, logo teria surgido, expandido seus

braços, e florescido no alto em todas as suas

formas gigantescas.

5. Falta de amor e afeição ao povo de Deus, apontando suas falhas, vendo suas imperfeições

e magnificando-as, e não observando as nossas

próprias - esquecendo a trave em nosso próprio

Page 26: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

26

olho, e olhando para o cisco no dos outros - não

é isto um mal? Que conflito brota disso? Que

confusão na igreja de Deus? Cada homem vendo

tão claramente os ciscos nos olhos de outros homens, mas tão imperfeitamente olhando a

trave no seu próprio.

6. Como é difícil em todos os momentos e em todos os lugares falar a verdade! Como é difícil

representar uma coisa exatamente como ela é!

Como é difícil não dar uma sombra de cor; não

aumentar, nem diminuir, nem aparar um canto aqui, nem colocar uma proeminência acolá!

Quão difícil é falar com aquela simplicidade,

honestidade, retidão e ternura de consciência

que nos tornam filhos de Deus; e quantas vezes temos que lamentar, que com todos os nossos

desejos de falar a verdade por amor dela, "o mal

que não queremos, esse fazemos."

Agora, aqui está a diferença entre uma alma viva sob o ensino divino, e uma totalmente morta no

pecado - que a alma vivente sabe o que é bom

como revelado na Palavra de Deus; seu

entendimento é iluminado para percebê-lo; sua consciência é tocada para senti-lo; sua vontade

está inclinada a persegui-lo; e suas afeições

fluem para isto. Este é o estado e a condição de

um homem sob ensinamento divino - ele o faria, mas não pode fazê-lo. Há um obstáculo, há

aquilo que cruza todos os esforços, que faz fugir

cada tentativa, que espalha armadilhas no

Page 27: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

27

caminho, enlaça os pés e o joga para baixo, por

mais ansioso que esteja inclinado para correr

com paciência a corrida que lhe está proposta.

Ele não estaria enredado nessas armadilhas por dez mil mundos; ele odeia os males de seu

coração e lamenta as corrupções de sua

natureza. Eles fazem cair a lágrima de seus olhos, e o soluço escapar de seu peito; fazem

dele um homem miserável, e o enchem dia após

dia de tristeza, amargura e angústia; ainda assim

ele faz, e não pode mais abster-se de fazer o mal que ele não faria, do que ele pode fazer o bem

que ele faria.

Agora, marque isto - não estou falando aqui de um homem que vive no pecado; não estou

falando de um homem caído em profunda e aberta iniquidade; tal como traz desgraça sobre

a causa e aflige durante sua vida a sua própria

alma; mas estou falando do funcionamento

interior dos males interiores. "O coração é enganoso acima de todas as coisas, e

desesperadamente perverso." Ora, estas coisas

estão ocultas aos olhos dos outros, embora

estejam acontecendo diariamente nas câmaras do nosso próprio coração. Os homens podem

olhar para nós; e eles podem ver, ou não podem

ver, que há um conflito. Eles podem ver pouco

em nossa vida para encontrar falha; contudo todo o tempo o sofrimento interior e a tristeza

de nossa alma serão, o bem que quero, não faço,

e o mal que não quero, esse faço.

Page 28: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

28

Agora, você não acha que isso acontece assim? Basta olhar para estes dois pontos. Você tem o

seu entendimento sendo iluminado para ver o

que é bom, e você acredita que a vontade de Deus revelada na Palavra é a única regra do

bem? Você já viu uma beleza e glória no que é do

bem? Você tem visto que este bem é a coisa que toda alma vivente deseja seguir, embora

cortando a carne, embora contrário ao ego,

embora opondo-se à tendência natural de nossa

mente? Será que sua vontade abraçará isto? A sua consciência cairá sob o poder disto? Será

que os seus afetos, algumas vezes, fluirão para

isto, e se estabelecerão sobre isto? Se assim for,

Deus lhe tem renovado no espírito de sua mente (Ef 4.23).

Por natureza, não podemos ver o que é bom, não podemos sentir o que é bom, não podemos

escolher o que é bom, não podemos amar o que

é bom. Que possamos ter o que é bom de nós mesmos – algum padrão próprio – alguma

moralidade própria aprovada por Deus – a nossa

própria virtude moral ou nossa própria religião,

que esteja conformada com a sua verdade divina. Mas, aquilo que é celeste, espiritual,

santo e divino – assim como a mente renovada,

que a vontade renovada abraça, e uma

consciência renovada aprova, as afeições renovadas abraçam - ninguém, senão as almas

que vivem podem ter isto, e sentir o deleite que

disto provém.

Page 29: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

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Por outro lado, ninguém, senão uma alma vivificada, sob o ensino divino, pode ver o que é

o mal, e chorar e suspirar sob a depravação, a

corrupção, a incredulidade, a carnalidade, a maldade e a sedução do seu coração maligno

desnudado. Os homens não regenerados

poderão ver o princípio do trabalho do mal no coração dos outros. Homens como Lord

Chesterfield, e outros, que têm estudado a

humanidade, podem ver o funcionamento do

egoísmo e - outros males no coração, e mesmo assim nunca se lamentar, gemer e chorar

debaixo deles.

Homens de observação aguçada podem ver o que é o bem natural, e o que é o mal natural; e podem dizer à distância, o que é um bom

homem e o que é um homem mau - quão

honorável e reto aquele homem é, e quão mau e

depravado é este. Mas, quanto a qualquer íntima convicção interior, sentimento e sensação de

pecado, qualquer luto e gemido sob isto,

qualquer senso de um conflito interno e pesado

fardo, de modo a levá-lo a dizer no fundo de sua alma "Oh que homem miserável eu sou" – para

expor assim a amargura de um coração ferido,

só pode ser produzido por ensinamento divino.

Um homem pode subir ao mais alto pináculo da profissão religiosa, e ainda assim nunca

conhecer o próprio mal do seu coração. Um

homem pode deleitar-se com os pecados mais

Page 30: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

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vis, e ainda assim nada saber da corrupção

interior da natureza humana.

Mas, no filho de Deus, há estes princípios - luz para ver, e vida para sentir o bem e o mal, a

vontade de escolher o bem e rejeitar o mal, uma

vontade de escolher o bem e rejeitar o mal, e afetos que fluem para abraçar aquilo que Deus

ama e comanda. Portanto, este conflito interior,

este agravo dolorido, esta carga interna, que

todos na família de Deus estão aflitos com ela, é uma marca e a prova que a vida e graça de Deus

estão em seu seio. Isso vai acabar bem. Os aflitos,

contritos e sobrecarregados filhos de Deus

serão mais do que vencedores, porque o poder se aperfeiçoa na sua fraqueza. Ele está olhando

para o Senhor da vida e glória. Ele sabe que é um

pecador arruinado. Portanto, ele olha e se

inclina sobre o Senhor Jesus Cristo.

Mas, um professante cristão morto negligencia as advertências de uma consciência culpada, os

movimentos de um coração mau, o funcionamento da depravação interior, e todo o

mistério da iniquidade interno. Mas, um dia

será lançado fora para sua confusão. Ele é algo

como uma pessoa que varre toda a sujeira da sala para o canto, onde se encontra oculta e

encoberta; mas, aos poucos isto será arrastado

para fora do esconderijo, para a sua vergonha.

Page 31: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

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Enquanto o hipócrita pode manter o exterior limpo, ele é como quem varre toda a sujeira e

lixo da sala para um quarto, em vez de varrê-lo

para a rua, e assim manter a casa arrumada.

Mas, o Senhor virá e procurará Jerusalém com lanternas, e descobrirá o orgulho e hipocrisia, e

depravação que estão escondidos nos cantos do coração. Aqueles, que nunca têm visto e

conhecido esta corrupção interior – que nunca

se entristecem, gemem, lamentam e choram

por causa deste corpo de pecado e de morte- que têm negligenciado, menosprezado e esquecido

tudo isto - que nunca sentiu a necessidade de

uma implementação do sangue expiatório - que

nunca sentiu a necessidade do ensino interior e do testemunho do Espírito Santo, nem a

realidade da presença interior de Deus, estão

descendo nessa cova, e limpando-a - mas estão

lavando meramente o copo da profissão religiosa no seu exterior - eles não são um mero

sepulcro caiado, que está no seu interior cheio

de ossos de homens mortos e impurezas?

Mas, uma alma que vive, que sabe que é um infeliz, um monstro de depravação, tão cheio de

tudo o que Deus odeia, mas que não deseja

entrar em hipocrisia, ter nenhuma profissão

caiada, nenhum envernizamento de duplicidade, que busca ser honesto e sincero,

que vem diante de Deus, e lhe diz aquilo que ele

é, e diz: "Senhor, eu sou vil – e coloco a minha

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boca no pó, eu sou um pecador, purifica-me, e

me ajude, limpa-me, e faça de mim o que o

Senhor quiser.” Ninguém, senão um filho de

Deus pode usar sinceramente tal linguagem como esta; ninguém senão aquele que pode

sentir a lepra do pecado, e a ação da iniquidade

em seus próprios órgãos vitais, e ainda experimentar as operações do Espírito de Deus.

Assim, enquanto um vive e morre como um hipócrita envernizado, com nada senão uma

profissão externa, o ano de lucro nada fora ocupação, o outro, um pobre coitado

desanimado, talvez com a maior parte de seus

dias vivendo duvidando, temendo, angustiado, e

gemendo, suspirando, olhando para cima para, pedir e lutar com o Senhor do mais profundo do

seu coração, será tomado como Lázaro, no seio

de Jesus enquanto aquele que se vestia de

púrpura e linho fino, e se regalava esplendidamente todos os dias, desprezando o

pobre mendigo leproso no seu portão, será

conduzido em última análise para uma perdição

merecida e interminável.

Desejo deixá-los com estas palavras. Raramente sou levado a começar com introdução e,

também raramente, acabar com sermões de

despedida. Portanto, como eu comecei sem introdução, assim eu termino sem uma

despedida. Mas, eu sei isto, que as palavras que

eu tenho dito vão produzir bastante bem todos

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os dias que vivermos. Teremos, mais ou menos,

desse conflito interno, contanto que estamos na

carne. Será nossa experiência, mais ou menos,

de dia para dia. E quanto mais estamos familiarizados com a nossa própria depravação

e corrupção mais devemos desejar, na

simplicidade e sinceridade de Deus, conhecer o Senhor da vida e glória. E assim, iremos viver

tranquilamente todos os dias da nossa vida, na

amargura da nossa alma; embora ainda sejamos

habilitados para alegrar-nos, por vezes, no Senhor Jesus Cristo, a quem "Deus fez para nós

sabedoria, justiça, santificação e redenção."

Page 34: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

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O Contentamento do Amor

Título original: The contentment of love

Extaído de: Christian Love,or the Influence of

Religion upon Temper

Por John Angell James (1785-1859)

Traduzido, Adaptado e

Editado por Silvio Dutra

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"O amor não é invejoso."

A inveja é aquela paixão que nos faz sentir

intranquilidade na visão das posses ou

felicidade de outro - e que nos faz desagradá-lo por isso. De todas as paixões baixas, esta é a mais

vil. Trata-se de uma malignidade não mesclada,

a pior e mais amarga confusão da depravação

humana - a mais direta contradição do amor.

A inveja é geral ou especial em seus objetos. A

inveja "geral" muitas vezes existe na mente a tal

ponto que seus súditos parecem quase instintivamente opostos à excelência e à

felicidade, onde quer que as vejam, ou onde

quer que as ouçam. Eles não podem considerar

os indivíduos em quem seu olhar invejoso é fixado à luz dos concorrentes ou rivais; eles

podem não ter nada a esperar de seu

rebaixamento - nada a temer de sua elevação;

mas é suficiente para despertar o seu desconforto e antipatia para saber que eles são

em alguns aspectos superiores. Eles não podem

suportar ver a excelência ou a felicidade em

ninguém, ou mesmo ouvir a linguagem de louvor ou elogio. Eles iriam mendigar o

universo para enriquecer-se e monopolizar

todas as posses e toda a admiração; eles

estariam sozinhos no mundo, como os únicos ocupantes de tudo que é valioso, e não podem

suportar nem um superior nem um igual. Isto,

deve-se admitir, é uma altura à qual a inveja

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raramente atinge, em comparação com suas

operações mais especiais e limitadas.

Seria apropriado, antes de delinear longamente

os traços malignos e a deformidade geral desta horrenda paixão, declarar os motivos mais

prevalecentes e as ocasiões de seu exercício. E é

uma prova notável de sua natureza maligna, que raramente é concedida em referência à

santidade ou à virtude. Quase nunca acontece

que alguém é invejado por excelência moral

superior, como tal - muitos são odiados por sua virtude; mas a inveja, enquanto inclui o ódio,

combina com ele um desejo de possuir a coisa

que ocasiona a inquietação. Pode, de fato,

cobiçar indiretamente a virtude de outro - mas isso é apenas por causa da estima, da influência

ou do deleite que ela obtém, e não por causa da

própria virtude; portanto, Satanás, depois de sua

queda, é representado por nosso grande poeta como invejando nossos primeiros pais, não por

causa de sua perfeita retidão - mas de sua

felicidade e de sua herança e honras perdidas.

Essa horrível disposição de inveja é demasiado satânica, demasiado infernal, muito distante de

toda retidão moral, para perceber as belezas da

santidade, ou cobiçá-las por sua própria conta.

O objeto final e o verdadeiro motivo da inveja me parecem ser felicidade ou admiração pública - e

todas as outras coisas são consideradas como

acessórias a estes. Basta que alguém seja mais

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feliz ou mais geralmente notado e estimado

pelos outros - e ele certamente será considerado

com inveja.

E quais são as coisas que em geral adquirem

para seus possuidores prazer ou aplauso, e que são, portanto, ocasiões de inveja?

1. REALIZAÇÕES - tais como gênio, aprendizado, eloquência, ciência, coragem, habilidade - ou

qualquer uma dessas artes que atraem a atenção do mundo.

2. BELEZA física. Quantas vezes a beleza da forma ou das feições - um dom que, em valor,

deve ser classificado como inferior a qualquer

outro que a mão do Criador nos concedeu - foi visto com olhos rancorosos e por alguns

concorrentes menos adornados para admiração

- convertido em uma ocasião de ódio e

inquietação.

3. Superioridade em POSIÇÃO e FORTUNA é uma ocasião muito comum para este vício

detestável da inveja. Daí a má vontade que os

pobres muitas vezes têm para com os ricos,

como absorvendo para si todos os confortos da vida. Daí o mau-olhado com que as pessoas de

nível inferior escrutinam aqueles que estão

acima deles em posição.

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4. SUCESSO superior na busca de objetos mundanos de qualquer tipo causa inquietação e

antipatia por rivais menos afortunados. Que um

cientista seja mais bem sucedido na carreira em descoberta científica - ou um estudioso na da

literatura - ou um guerreiro no campo da glória

- ou um comerciante na acumulação de riqueza - ou um mecânico nos trabalhos da indústria - e

não faltarão aqueles que cobiçam suas

recompensas - e que se desagradam delas por

causa de mais felizes fortunas.

Mas, enquanto estes são os fundamentos gerais da inveja, existem alguns objetos especiais aos quais é comumente dirigida, como por exemplo

os seguintes.

Pessoas que estão quase em nosso próprio nível. Indivíduos que estão muito acima de nós, ou

muito abaixo de nós - não são tão propensos a

excitar inquietação ou antipatia como aqueles que são de nossa própria posição na sociedade.

O comerciante não tem inveja do nobre, mas de

algum outro comerciante; os louros e a fama do

herói não são invejados pelo soldado comum - mas por algum oficial de seu próprio escalão.

Aqueles que, embora muito acima de nós, ocupem uma posição da qual fomos derrubados,

são susceptíveis de serem considerados por nós

com um mau olho, e atrairem a nossa aversão.

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Aqueles que obtiveram uma honra, um lugar, ou uma estima pela qual nós uma vez aspiramos,

são quase certamente invejados por nós; e

também qualquer rival em particular, que mais do que todos os outros nos eclipse, ou seja

susceptível de fazê-lo.

Pode não ser errado especificar aqui, aqueles que estão mais em perigo de cometer o pecado

da inveja -

1. O entristecido. A tristeza é egoísta - ela

concentra as afeições em nossos próprios interesses. Isto pode nos ensinar a simpatizar

com os sofrimentos dos outros - mas que outros

sofram é algo como uma consolação para os que

sofrem e aqueles que simpatizariam com os outros em suas tristezas e chorariam com os que

choram, desprezam o maior dever de se alegrar

com os que se alegram. A tristeza não pode simpatizar com a felicidade - e, por conseguinte,

o céu não pode admitir a tristeza - pois a inveja

entraria com ela. A felicidade não será somente

o fruto de santidade em outro mundo - mas a perfeição dele, desde que isto é o assento nativo

somente no qual a alma atinge o pleno

desenvolvimento de seus afetos, de modo a

tomar parte, sem uma fibra agitada, na harmonia universal.

Que os infelizes estejam em grande guarda, pois eles estão eminentemente em perigo de invejar

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aqueles a quem a Providência concedeu um

bem mais feliz do que a si mesmos.

2. As pessoas que descem na vida, e o sofrimento

sob aqueles dolorosos revezes que os rebaixaram da afluência e da publicidade

comparativas, à obscuridade e à pobreza, estão

expostos à tentação de olhar com má vontade e aflição para os prósperos e felizes. O infortúnio,

onde não é santificado pela graça de Deus, é

muito propício para produzir uma disposição

ciumenta, e para gerar inveja no seio dos infortunados. É mesmo difícil, à medida que nos

afundamos na sombra, ver a elevação de

indivíduos mais favorecidos que se elevam ao

sol. Uma pessoa invejosa terá sentimentos de ciúme e antipatia em relação àqueles que estão

tendo sucesso.

3. Os candidatos à fama e aos aplausos populares estão mais frequentemente do que todos os outros - sujeitos a essa paixão da inveja! Pudesse

ser retirado o véu que esconde o coração,

quanto dessa operação de depravação humana

seria detectado! Quanto ódio, inveja, malícia e falta de caridade, algumas vezes se encontram

no escritor. A inveja é também o pecado do

orador. A vaidade, ou a sede por aplausos, é a

mais invejosa das paixões - a avareza em si não é exceção. A razão disto é clara. A propriedade é

uma espécie de bem, que pode ser mais

facilmente alcançada.

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A parte do tempo e da atenção que a humanidade está disposta a dispensar a suas

pretensões e prazeres, para se dedicar à

"admiração mútua", é tão pequena, que todo candidato vencedor é considerado como tendo

prejudicado o hábito comum. O sucesso de um é

o desapontamento das multidões, pois embora existam muitos ricos, muitos virtuosos, muitos

sábios - a fama deve necessariamente ser a

porção de poucos, e por isso todo homem vão,

considerando seu competidor como seu rival, é fortemente tentado a se alegrar em seu

infortúnio, e a invejar o seu sucesso.

4. Os prósperos, aqueles que ganharam muito, ou quase tudo o que procuram, são capazes de

sentir uma má vontade peculiar por qualquer

um que possa estar acima deles . Um homem

que nos mantém na mais alta posição, no principal lugar, é mais provável que seja odiado,

do que todos os outros que realmente nos

feriram! Quão insaciável é a inveja - esse desejo

maligno - como se aplica a procurar por mais, em todas as coisas.

A natureza humana nunca está satisfeita com o bem terreno. Creio que muitos dos que são inconcebivelmente mais miseráveis, e mais

cheios de ódio, estão entre aqueles têm vastas

posses - do que outros que quase nada têm.

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Por outro lado, não há qualquer tipo de superioridade, por mais baixa que seja sua

natureza ou obscurecida sua situação, que não

seja suficiente para provocar a má vontade e o ódio de algum espectador inferior ou

decepcionado. Crianças e adultos, assim como

filósofos, guerreiros e príncipes, estão sujeitos à sua influência. Como a aranha venenosa, a

inveja tece sua teia, e dirige seu olhar mortal,

nas casas da pobreza, nas mansões da riqueza e

nos salões da ciência. A inveja é a epidemia da raça humana, a operação mais comum da

depravação humana. O apóstolo parece

considerá-la como uma descrição geral da

natureza humana, enquanto não renovada pela graça divina - "vivendo em malícia e inveja,

odiosos, e odiando uns aos outros". Todo o

mundo gentio, antes da vinda de Cristo, é

descrito como tendo sido "cheio de inveja". A inveja ocupa um lugar alto entre as obras da

carne; e nas igrejas dos crentes, não havia

nenhum mal de que a proibição fosse mais

frequente ou mais seriamente recomendada do que isso - e o apóstolo Tiago nos diz, que ainda é

parcialmente inerente a cada homem - "o

espírito que opera em nós desejos de inveja".

Esta disposição execrável muitas vezes existe, onde, através do engano do coração humano, não é de todo suspeita! Às vezes é sentida em

referência a um indivíduo que temos sido

acostumados a considerar um inferior, e digno

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apenas do nosso desprezo. Mas, esse mesmo

desprezo é muitas vezes uma operação de inveja

- o nosso olho descobriu, quase sem estarmos

conscientes do fato, alguma superioridade imaginada ou real, e para escondê-la, decidimos

tratá-lo como sendo merecedor de nosso

desprezo. O nosso riso zombeteiro destina-se a esconder a paixão que se esconde no nosso seio

e para depreciar ou destruir na nossa própria

estima e na dos outros, a excelência ou

felicidade que a produz. A inveja, como o diabo, seu pai, tem um riso, bem como um carranca

sob seu comando!

A inveja é frequentemente encontrada em pessoas que são em geral consideradas muito

amigáveis, e realmente são assim, na maioria das coisas. Mesmo as pessoas de caracteres

opostos tais como Caim, Saul e Acabe – mas

pessoas que não têm apenas muita suavidade na

fala - mas muita bondade de disposição – não estão livres do funcionamento desta disposição

em segredo e são por vezes culpados de tais

exposições da mesma, que recai como uma

sombra escura em cima de suas muitas e distintas virtudes. Sim, lamentamos dizer,

tomar emprestado o verdadeiro e justo

sarcasmo de um escritor já citado, "um vício

muito respeitável e ortodoxo, um pecado regular da igreja, que muitas vezes se veste

como virtude e fala como ela. Tem um grande

zelo pela religião, um senso de justiça pública, e

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fica muito chocado com as inconsistências das

boas pessoas, exulta quando um hipócrita é

desmascarado e diz: "Sempre suspeitei dele!" É

também muito benevolente, e quando a adversidade atinge um irmão, ora para que seja

o meio de promover sua humildade e outras

graças cristãs ".

Ah! Quanta inveja há mesmo - mesmo na igreja de Deus. Quanto dessa censura e destruição que

é concedida sob pretexto de lamentar as

loucuras de outros, deve ser rastreado até esta fonte maligna! Quantas vezes é uma "pequena

fraqueza" acossada e deplorada, sem outro

motivo senão o de desacreditar e depreciar

aquela excelência com a qual ela está associada - a "mancha" é apontada e ampliada, talvez com

um olhar de tristeza, e um tom de lamentação –

mas, apenas para atrair a atenção pública para o

brilho que é admirado e invejado! A inveja tem mil dispositivos para praticar contra seu objeto -

sob o véu do respeito enganoso!

Existe algum pecado para o qual mesmo os ministros do evangelho estão mais expostos do que este? Existe algum pecado que cometam

mais frequentemente? Quanta graça se requer

em qualquer homem para ver a popularidade, e

ouvir sobre a utilidade dos outros - e se ver esquecido e negligenciado - sem ser invejoso!

Talvez os indivíduos aplaudidos sejam seus

filhos mais novos em idade, e seus inferiores na

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literatura, e gosto, e ciência - e contudo quando

se encontrar imperceptível - são varridos ao

longo de seu curso com os vendavais cheios dos

aplausos populares. Quão poucos, até mesmo daqueles cujo negócio é pregar o

contentamento, a humildade e o amor, podem

dizer com sinceridade: "Estou bastante satisfeito de que a honra seja negada a mim - e repouse

sobre a cabeça dos outros; e dizer sem um

murmúrio, ele deve aumentar - mas devo

diminuir. "

Esta é, de fato, a virtude do céu - ver os outros ocupando uma esfera mais elevada do que a

nossa, mais acariciados, mais admirados e mais

seguidos - e não sentir nenhuma inquietação

em nosso próprio seio, nem qualquer coisa de má vontade para com eles. Esta virtude é

raramente encontrada na terra. Pois, pelo

contrário, que aflição e aversão são produzidas

em algumas mentes, pelos talentos e pelo sucesso dos colegas ministros, que são apenas

um pouco mais estimados que eles mesmos!

Não há artes de destruição empregadas, para

diminuir, se não sua popularidade, ainda suas reivindicações para a cobiçada palma? Sem

insinuações contra seus motivos? Não procurar

por vícios de estilo, erros de gosto, defeitos de

aprendizagem? Ó, quando a inveja, aquela filha do inferno, será expulsa da igreja de Deus?

Quando é que não mais vai rastejar no banco ou

subir no púlpito?

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Richard Baxter tem algumas observações muito

marcantes sobre este assunto. "Que jamais se

fale de ministros piedosos, que eles estão tão

presos ao aplauso popular e de se sentarem elevados na estima dos homens, que invejam as

habilidades e notoriedade de seus irmãos que

são preferidos antes deles - como se todos dependessem de seus louvores que são dados

aos outros, e como se Deus lhes tivesse dado

seus dons para serem os meros ornamentos de

seu povo, para que eles possam andar como homens de reputação no mundo! Ser um

pregador para Cristo - e ainda invejar alguém

que tem a imagem de Cristo - e amaldiçoar seus

dons para que ele deva ter a glória - e tudo porque eles parecem impedir a nossa glória?

Não é todo cristão verdadeiro um membro do

corpo, e, portanto, participa das bênçãos do

todo, e de cada membro particular? E não deve cada homem dar graças a Deus pelos dons de

seus irmãos - não só como tendo ele mesmo

uma parte neles, como o pé tem o benefício da

orientação do olho - mas também porque os seus próprios fins podem ser obtidos pelos dons

de seus irmãos, bem como pelos seus próprios?

Pois, se a glória de Deus e a felicidade da igreja

não forem seu fim, ele não é um cristão. Será que qualquer outro trabalhador é maligno

porque ele o ajuda a fazer o trabalho de seu

Mestre? No entanto, infelizmente, quão comum

é este crime hediondo de inveja, entre homens de habilidade e eminência na igreja! Eles podem

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secretamente manchar a reputação daqueles de

maior eminência do que eles mesmos. E o que

eles não podem fazer por vergonha de fazer em

termos claros e abertos, para que não sejam provados mentirosos e caluniadores palpáveis -

eles farão em insinuações maliciosas -

levantando suspeitas onde eles não podem fazer acusações. E até agora estão alguns indo neste

vício satânico, que é sua prática comum, e uma

parte considerável de seus negócios, para

manter a estima daqueles de quem não gostam, e difamar os outros da maneira mais sábia e

mais plausível! E alguns vão tão longe que não

estão dispostos a que qualquer um que é mais

viável do que eles devam entrar em seus púlpitos, para que não sejam aplaudidos acima

de si mesmos! É uma coisa terrível, que

qualquer homem que tem o menor temor de

Deus, deva invejar os dons de Deus e preferir que seus ouvintes carnais permaneçam não

convertidos e não despertados do sono - do que

o que deveria ser feito por outro, que pode ser

preferido antes deles! Sim, até agora este vício amaldiçoado prevalece, que em grandes

congregações - que precisam da ajuda de muitos

professores, dificilmente podemos conseguir

dois pastores em igualdade, vivendo juntos em amor e quietude, e unânimes para continuar o

trabalho de Deus! Mas, a não ser que um deles

fique muito abaixo do outro em habilidades e se

contente em ser menos estimado e governado pelo outro - eles estão lutando por honra

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superior - e invejando uns aos outros - e

andando com indiferença e ciúme um para com

o outro - vergonha da profissão - e o grande erro

da congregação! Tenho vergonha de pensar nisso, que quando eu tenho me esforçado com

ministros para promover uma boa obra, para

convencê-los da necessidade de mais ministros em grandes congregações, eles me dizem que

nunca concordarão juntos. Espero que a objeção

não esteja fundada quanto ao se ter mais

ministros - mas é um triste caso que tantos ministros invejem uns aos outros! Não, alguns

homens estão tão longe em orgulho, que

quando eles poderiam ter um assistente de

habilidades iguais, para promover a obra de Deus - eles preferem levar todo o fardo sobre si

mesmos - embora mais do que eles possam

suportar – do que qualquer um deva

compartilhar com eles na honra - e por medo de que eles possam diminuir a sua estima com o

povo!

Eu confesso que muitas vezes me perguntei que

este pecado de inveja, o mais hediondo, deveria ser feito tão leve e tão coerente com um santo

quadro de coração e vida - quando muitos

menores pecados são por nós mesmos

proclamados para serem tão condenáveis em nosso povo .

Irmãos, sei que esta é uma triste e dura confissão, mas que tudo isso deveria ser assim

entre nós, ministros, é mais doloroso e deve ser

Page 49: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

49

assim para nós do que para os outros. Mas,

infelizmente, há esta "inveja ministerial" é há

muito tempo aberta aos olhos do mundo - nós

nos desonramos ao idolatrar nossa própria honra - imprimimos nossa vergonha, e

pregamos a nossa vergonha, e digo isso a todos.”

(Richard Baxter, em "O Pastor Reformado". Este é um tratado que, se devidamente lido por todos

os ministros da verdadeira religião, como

deveria ser, seria um sinal de bênção para nós!)

E não são os corpos religiosos às vezes culpados deste pecado? Não tem existência no seio de

professos cristãos de diferentes denominações?

Não há inveja em dissidentes em relação à Igreja da Inglaterra - ou da Igreja da Inglaterra para os

dissidentes? Dos Batistas para os Pedobatistas -

ou destes para os Batistas? Dos Metodistas em

relação aos Congregacionalistas - e destes para os Metodistas? Por que essa disposição de

suspeitar e de se acusar mutuamente - o que é

muito comum entre todas as divisões da igreja

cristã? Se uma denominação prosperar, não são todos os demais aptos a olhar com olhos

invejosos, porque a deles é provável que seja

eclipsada ou diminuída? Não são todas as

pequenas artes da destruição mais empregadas, e cem línguas se tornaram volúveis para

paralisar o progresso, e limitar a prosperidade,

da denominação em ascensão?

Page 50: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

50

E quanto desse espírito invejoso é frequentemente visto na conduta de

congregações crescentes das mesmas

denominações! Que má vontade é muitas vezes acarinhada pelos membros da causa em

declínio, para com aqueles que estão

prosperando - e só porque eles são prósperos! Eles nunca podem ouvir o sucesso de sua igreja

irmã, sem sentir e parecer inseguros e

desagradados - como se uma lesão fosse feita a

eles; eles professam ser céticos do fato; eles sugerem que é mais para mostrar o exterior, do

que a realidade; eles não têm escrúpulos em

mencionar desvantagens nos talentos, ou talvez

inconsistências, desse ministro; detração, sim, até a calúnia é empregada contra alguns dos

membros desta igreja próspera. Tal coisa,

mesmo nas igrejas cristãs, ou melhor, na mente

de alguns de seus membros, são operações de inveja.

Sua influência também não é excluída das instituições religiosas. Não há santuário tão

sagrado, em que esta paixão diabólica da inveja

não viole - nenhum asilo consagrado à piedade ou à humanidade, em que não se intrometerá.

As Sociedades Bíblicas, as Sociedades

Missionárias, com outras instituições afins, não

estão seguras contra a entrada, operação e malícia da inveja! Sim, quanto mais elevada e

mais santa a terra - mais ambiciosa é a inveja

para ocupá-la! Nascida no céu, embora logo

Page 51: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

51

lançado para o inferno, para o céu ela iria subir

novamente se pudesse. A inveja é um vício que,

embora não despreze o lugar mais baixo da

terra, nem despreze aquele que é mais baixo entre os homens - é ambiciosa para se

aproximar o mais possível do templo celestial -

cujas portas se abririam se pudesse - e agitaria e envenenaria a mente do segundo serafim em

glória com má vontade em relação ao primeiro,

e o faria odiar o Deus eterno, porque ele, sua

criatura, não poderia ser mais elevado que o Altíssimo!

Que um homem - ou um corpo de homens - seja notório por suas ações de amor e zelo na causa

do Senhor - que suas ações saiam para os confins do mundo, e seus louvores sejam soados

através da igreja do Deus vivo, e Satanás,

alarmado com o seu sucesso passado e com as

suas vitórias em perspectiva, logo encontrará alguns seios que ele ocupará com sua própria

arte e sua própria inveja - e da qual ele sairá com

todo o engano, e espalhafatosa oposição! E, oh,

de quantos casos nos foi dito que fazer a vontade, buscar a glória e cumprir os propósitos

do Senhor - de fato nada era senão a operação

dessa inveja - que para a sua malignidade,

acrescenta a sutileza da velha serpente!

A inveja, com toda a sua vontade e poder para fazer mal, não é apenas um engano, mas um

vício covarde! Não há nenhum ser tão elevado

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que ela não vá atacar! Não há lugar tão

fortalecido que não assalte! Não há nenhuma

companhia tão santa em que não se esgueire!

Há ao mesmo tempo vergonha e medo de ser visto como ele realmente é.

O orgulho e a vingança, a embriaguez e a gula, e muitos outros vícios - confessam com audácia seus nomes e lugares de morada e propósitos -

não usam máscaras - não colocam nenhum

manto de disfarce - muito menos vestem-se eles

mesmos no manto da justiça, e falam a linguagem de um santo. Mas, a inveja faz tudo

isso, consciente de que é uma disposição

antinatural, inadequada à constituição humana,

e participando mais do rancor de um demônio do que do temperamento de um homem; é

universalmente odiosa, marcada pelo

consentimento comum da humanidade com

um estigma profundo e imundo - renuncia a seu nome, esconde sua natureza, faz com que seu

professante negue sua morada em seu seio e

obriga-o a chamá-la de "um senso de equidade”,

“um poder de discernimento", "uma preocupação com o bem-estar público", "um

inimigo da ostentação", e como tão longe vão

sua falsidade e impiedade, que ela professa em alguns casos ser "um zelo pela glória de Deus!"

Mas, agora, contemplemos a NATUREZA ODIOSA da inveja.

Page 53: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

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A inveja é um vício da maior deformidade e aborrecimento. Sentir intranquilidade na

felicidade ou excelência de outro, e não gostar

dele por isso, é um pecado que não precisa de nenhuma análise para provar sua natureza

mortal; nenhuma dissecação para expor sua

corrupção; ela apresenta de imediato, para o observador mais superficial, uma aparência

assustadora e nojenta - uma espécie de

superfície leprosa. Ela se opõe diretamente à

natureza de Deus, cujo amor se deleita em excelência e em felicidade, e cuja graça produz

ambos; e por quem este pecado deve ser

considerado com aversão infinita.

A inveja é um segredo murmurando contra as nomeações do céu - uma discussão incessante

com a Providência - uma acusação contra a

sabedoria, a equidade e a bondade da

administração divina. Como é diferente de Deus - assim é a imagem de Satanás - sendo a

disposição, unida ao orgulho, que derruba os

anjos apóstatas de seus assentos no céu, e que

enche e queima seus seios no abismo. A inveja é um espelho do estado do inferno e

incessantemente manifesta as paixões dos

demônios que desesperam por si mesmos e

invejam a felicidade dos homens e dos anjos, mas não podem se alegrar nem no bem nem no

mal que testemunham, embora procurem

impedir o bem, e promover o mal, com toda a

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inquietação da malícia, e os dispositivos de sua

poderosa astúcia.

A inveja é um "crime de pai", e sua progênie é tão maliciosa e deformada quanto ela mesma - pois

a malícia, o ódio, a falsidade, a calúnia são sua

prole; e não raramente o assassinato - pois,

quando levada ao excesso, dificilmente há uma lesão dentro de seu alcance que não infligirá ao

seu objeto!

A inveja não pode mesmo oferecer as desculpas

para muitos vícios que traz às vezes para a frente. A ira reclama a provocação que recebeu, mas a

inveja não recebeu nenhuma ofensa, exceto o

bem-estar de outro como sendo um insulto. A

luxúria e a intemperança alegam a gratificação que seus objetos produzem, e o roubo sustenta o

seu ganho; mas a inveja não ganha senão a

miséria e converte a felicidade de que é testemunha, em absinto e fel de seu próprio

cálice, e transfere o mel do conforto de outros

homens para o veneno de áspide do seu próprio

seio! A inveja é uma fonte de eterna aflição - um instrumento de autotormento - uma podridão

nos ossos - uma ulceração ardente da alma - um

crime, que participa da culpa, e participa em

grande parte da miséria do inferno. (Jeremy Taylor)

Tal é a inveja! Mas, quem pode descrevê-la com precisão, ou fazer justiça? Se a buscarmos como

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encarnada em caracteres vivos, vamos

encontrá-la em Caim, o primeiro assassino, que

matou seu irmão por instigação deste vício da

inveja. Vamos encontrá-la no espírito sombrio e vingativo de Saul, que, sob a influência da inveja,

conspirou durante anos para matar Davi. Achá-

la-emos no rei Acabe, quando ele cobiçou a vinha de Nabote, e derramou seu sangue para

obtê-la. Sim, foi a inveja que perpetrou aquele

crime mais atroz já planejado no inferno, ou

executado na terra, sobre o qual o sol se recusou a olhar, e em que a natureza deu sinais de

aversão pelo rasgo das rochas; refiro-me à

crucificação de Cristo - pois o evangelista nos diz

que, por inveja, os judeus entregaram nosso Senhor. (Mateus 27:18, Marcos 15:10)

Como é odioso, então, este crime; e embora não possamos estar em perigo de levá-lo ao excesso,

no entanto, devemos sempre lutar contra o seu menor grau. Os meios de oposição e

mortificação são muitos.

Meditemos muito seriamente sobre sua natureza perversa. Uma constante contemplação de sua deformidade e seu

semblante demoníaco é calculada para excitar o

desgosto e produzir horror. Muitos males, e este

entre os demais, são demasiado indulgentes, porque são muito pouco contemplados. Quanto

mais meditarmos sobre a abominação da inveja,

mais nos convenceremos de que o

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temperamento tão mau como este sendo o

habitante do seio de um cristão - é como um

demônio que habita no templo do Senhor.

Devemos então formar uma resolução deliberada para a sua mortificação - devemos

estar preparados para suportar as maiores dores, manter os esforços mais decididos, para

que o nosso coração se afaste de uma disposição

tão odiosa.

Consideremos, a seguir, que as circunstâncias que excitam nossa inveja estão entre os arranjos

de uma Providência sábia; e que não gostar de

outro por causa de sua excelência ou felicidade, é um crime de não menor magnitude do que um

desejo de se opor e subverter as dispensações do

céu. Lembremos que, se os outros têm mais do

que nós mesmos - temos infinitamente mais do que merecemos. Uma deliberada e frequente

consideração de nossos pecados numerosos e

agravados, com a libertação de suas

consequências, juntamente com um exame de nossas misericórdias e esperanças como

cristãos, nos ajudaria muito poderosamente no

grande negócio de mortificar a inveja. Porque a

principal diferença entre homem e homem, quanto à felicidade real, reside nas distinções

espirituais; e se temos estas, a ausência de

qualquer outra coisa é de pouca importância.

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Pode não ser errado também considerar quão comparativamente pequena é a quantidade de

felicidade derivada pelo objeto de nossa inveja,

daquelas possessões com base nas quais nos desagradamos do seu possuidor - imaginando

como em breve, poderíamos transferi-las para

nós mesmos, e elas não cessariam de nos dar qualquer gratificação forte. Nós sempre agimos

sob uma ilusão, quando nos entregamos a essa

paixão odiosa - seus objetos são vistos através de

um meio magnífico de muito poder. As circunstâncias que excitam nossa inveja têm

seus males associados - males que, embora

escondidos da observação geral, são bem

conhecidos pelo possuidor deles.

Devemos trabalhar para nos contentarmos com as coisas que temos - o contentamento é o

segredo da felicidade, quer tenhamos muito ou

pouco. O homem que faz a sua mente desfrutar o que ele tem, é tão feliz quanto aquele que é

possuidor de duas vezes mais.

Mas, ainda assim a grande coisa é esforçar-se, pela ajuda graciosa de Deus, para aumentar em AMOR. Nossa inveja diminuirá então

certamente, como a escuridão se afasta diante

da entrada da luz, ou o frio diante do poder do

calor. Amor e inveja são os opostos um do outro. O amor se deleita na felicidade dos outros. A

inveja é tornada miserável pela felicidade dos

outros. Procuremos cultivar esta disposição de

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58

amor e deleitar-nos em testemunhar e difundir

a bem-aventurança. Isto é o que o Apóstolo quis

dizer, quando disse: "Alegrai-vos com os que se

alegram". Que temperamento beatificante e até sublime é o que leva seu possuidor a encontrar

consolo - mesmo em meio a suas próprias

provações, privações e dificuldades - ao contemplar as posses e os confortos dos que o

rodeiam! Que alívio teria essa virtude elevada

para o pranteador, quando pudesse transformar

sua própria órbita escurecida em direção à iluminação da prosperidade de seu próximo!

Feliz é o homem que pode assim tomar emprestado as alegrias dos outros, quando ele

tem nenhuma, ou poucas; e, a partir do deserto

de sua própria situação, desfrutar da bela cena do pátio e casa bem decorados do seu amigo.

Difícil e raro, como tal temperamento, é o

daquele do sujeito da descrição do apóstolo no

capítulo que estamos considerando, e que é dever de todo cristão cultivar. Difícil, na

verdade, é o ditado, e poucos são os que podem

suportá-lo - mas é seguramente a lição que

Cristo ensina aos discípulos, e que todos esses discípulos devem tentar aprender. Muito pode

ser feito pelo esforço. Determinemos, com a

ajuda de Deus, a adquiri-lo, façamos a tentativa

e perseveremos, apesar de muitas derrotas e muitos desânimos - e é surpreendente o que

pode ser feito. Mas, esta casta não vai sair, senão

pelo jejum e oração.

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O amor não pode ser cultivado, nem a inveja destruída em nossos corações, senão pelo poder

do Espírito Santo. Assim como não podemos

puxar pelas raízes o carvalho de um século de crescimento, ou derrubar uma montanha por

nossa própria força, assim também não

podemos erradicar o vício da inveja de nossos corações, sem a ajuda do próprio Espírito de

Deus – essa ajuda é prometida à fervorosa e

perseverante oração - e se não a temos, a culpa é

nossa.

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O Cristão e a Política

Título original: The Christian and POLITICS

Por John Angell James (1785-1859)

Traduzido, Adaptado e

Editado por Silvio Dutra

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Ao tentar resolver a difícil questão de até que

ponto um cristão pode levar sua preocupação

ativa nos assuntos do governo civil, ou o que é

tecnicamente chamado de "política", duas coisas

devem ser levadas em conta:

Primeiro, que o governo civil e o cristianismo,

embora completamente distintos em sua

natureza e desígnio, não se opõem um ao outro.

Este último nos familiariza com nossos deveres

religiosos, ou em outras palavras, como

podemos servir a Deus aqui, e obter a salvação

eterna além do túmulo; enquanto o governo

civil, apesar de sancionado quanto ao seu

princípio geral pelo Novo Testamento, é

totalmente, quanto a seus arranjos específicos,

uma provisão de habilidade humana, para

garantir tranquilidade e liberdade, durante a

nossa continuação na vida presente. "Entre

instituições", diz o Sr. Hall, "tão diferentes em

sua natureza e objeto, está claro que nenhuma

oposição real pode subsistir, e se elas são

sempre representadas nesta luz, ou

consideradas inconsistentes uma em relação à

outra, isto deve proceder de uma ignorância de

suas respectivas funções." É manifesto, então,

que não há nada na política como tal, que seja

incompatível com a profissão mais rigorosa do

cristianismo.

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Em segundo lugar, é importante lembrar a

natureza peculiar desse sistema de governo civil

sob o qual nossa porção é lançada, e que é de

natureza composta, incluindo uma mistura

muito grande e influência do envolvimento do

povo. O povo, assim como o Monarca e os seus

súditos, são os depositários do poder político e

têm uma participação no governo do país. Eles,

por seus representantes na Câmara dos

Comuns (equivalente ao Parlamento brasileiro),

ajudam a fazer as leis pelas quais o reino é

governado. Eles têm, portanto, um direito legal

de se envolver, e um direito, que na verdade é na

visão da Constituição, imprescindível. Seu

envolvimento, quando constitucionalmente

exercido, não é sair de sua parte, nenhuma

usurpação, nenhuma invasão dos direitos e

prerrogativas dos governantes.

As coisas eram diferentes quando as epístolas

de Paulo e de Pedro foram escritas. Havia

apenas a sombra da influência popular deixada

no governo romano, o poder tinha passado

longe do povo, e eles tinham pouca ou nenhuma

oportunidade de interferir nos assuntos do

governo, exceto no modo de insurreição e

motim, que, claramente, o cristianismo proibiu,

e ordenou aos que receberam o evangelho, uma

submissão aos poderes que estavam

constituídos. Suas injunções sobre este assunto

são estritas e explícitas, como pode ser visto

consultando Romanos 13 e 1 Pedro 2. Mas,

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certamente, essas passagens nunca podem ser

justamente aplicadas, em um país livre, e sob

um governo que admite o envolvimento

popular, proibir o exercício dos direitos com que

o sujeito é investido pela constituição. Mesmo

admitindo que a obediência passiva e a

submissão irresistível fossem o dever dos

habitantes de um país que está sob um governo

despótico, não se pode provar que aqueles que

estão em posse legal dos direitos populares

devem renunciá-los e abandonar toda a

preocupação ativa em assuntos civis.

Por mais difícil que seja saber em que medida

seria lícito aos habitantes cristãos da Áustria ou

da Rússia se esforçarem para obter um governo

livre, tornando assim a política uma questão de

solicitude prática; não pode haver tal

dificuldade quanto ao envolvimento lícito e

legal tanto na visão do cristianismo como na

constituição, dos habitantes cristãos da Grã-

Bretanha, pois lhes pertence esse direito.

Mas, talvez se diga, a questão não é sobre o

direito do envolvimento de um inglês, pois isso

é permitido por todos, mas a conveniência de

um cristão se preocupar com essas questões.

Parece-me que, até certo ponto, os direitos

populares são deveres populares. Toda pessoa

emancipada é, por seu representante, não

apenas o sujeito da lei, mas o autor da lei; e não

é apenas seu privilégio, mas seu dever, buscar,

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constitucionalmente, a revogação de leis ruins,

o aperfeiçoamento das defeituosas e a

elaboração de boas. Como somos assim

governados por leis, e não apenas por homens, é

de imensa consequência que leis sejam

promulgadas; e o país, ou seja, todas as gerações

presentes e futuras, têm um reivindicação

sobre cada cidadão, pois sua influência na

formulação de nosso código legislativo pode ser

tão favorável quanto pode conduzir ao bem-

estar da nação.

Não é nada para um cristão, não deveria ser

nada, que tipo de leis são feitas? A legislação

toma conhecimento de todos os interesses que

ele tem no mundo e, a menos que ele não desista

de tudo o que diz respeito aos seus direitos

individuais e sociais, aos seus confortos

domésticos e ao seu comércio, deveria prestar

alguma atenção aos assuntos do governo civil.

Ele não deixa de ser cidadão, quando se torna

cristão; nem sai do mundo, quando entra na

igreja. A religião, quando se trata de seu coração

em poder e autoridade, encontra-o como um

membro da sociedade, desfrutando de muitos

privilégios civis, e desempenhando muitos

deveres, e para os quais ele não está agora

desqualificado, nem dos quais é libertado pela

nova e maior obrigação sagrada que se

comprometeu a cumprir.

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Se pudéssemos conceber que os assuntos civis

em geral, são demasiado terrenos para a

natureza espiritual que ele agora assumiu para

atender, há pelo menos uma visão deles de

transcendente importância para ele, mesmo

como um cristão; quero dizer sua conexão com

o grande assunto da liberdade civil e religiosa.

Agora, mesmo admitindo que a liberdade civil

seja um assunto demasiado terreno e excitante,

levando muitas vezes à arena, e desfigurando

nossa piedade demais com o pó da controvérsia

política; um assunto que nos leva muito a

partidos muito distantes da influência da

religião; o que diremos da liberdade religiosa,

uma bênção tão importante para o confortável

cumprimento dos deveres de nossa santa

vocação, e também para o lazer e oportunidade

necessários para a promulgação da religião?

Esta é uma bênção que vale infinitamente mais

para nós do que todas as nossas colônias

insulares ou continentais nas Índias Orientais

ou Ocidentais, na África ou na América. Este

depósito precioso, comprado pelo sangue do

mártir e digno até mesmo do preço que milhões

assim pagaram por ele, está em nossa guarda

sob Deus, e devemos nós não vê-lo bem? Nós

somos depositários deste benefício para todas

as gerações futuras. Mas, podemos mantê-lo na

ausência de liberdade civil? É para ser

abandonado, então por aqueles mesmos

homens que mais precisam da bênção, e são

mais dependentes dela, para o seu gozo e

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66

segurança? Enquanto, portanto, um

professante cristão está sob solenes obrigações

de ser um sujeito leal, ou submeter-se ao rei, e

honrá-lo como o ramo executivo da

constituição; ele também é obrigado a ser um

membro patriótico do corpo social, dando seu

apoio prático ao ramo legislativo. Ele deve ser

obediente às leis que são feitas, mas também

deve dar sua ajuda em fazê-las. É seu dever dar o

seu voto consciente para a eleição de seus

representantes em seu próprio ramo da

legislatura; pode se juntar a seus companheiros

para pedir a reparação de queixas civis ou

eclesiásticas; e, na medida de sua influência,

suave e corretamente exercida, sem prejudicar

sua piedade e caridade, ou ferir

desnecessariamente os sentimentos e excitar as

paixões dos outros, ele pode se esforçar para

direcionar a opinião pública em favor do que é

justo e benéfico.

O exercício calmo, desapaixonado, caridoso e

consciencioso dos seus direitos políticos, sem

amargura sectária e animosidade partidária, na

medida em que não interfira com a sua própria

religião pessoal e de tal maneira que não

prejudique injustamente os sentimentos

daqueles que são opostos a você; que não o

afastem de sua família e sua loja; se de fato você

pode exercer seus direitos, isto é bastante

legítimo para você sendo um professante

cristão. Essas regras e restrições, entretanto,

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devem ser impostas; pois, sem elas, o objeto vai

lhe fazer mal. Um cristão deve levar sua religião

em tudo, e santificar tudo o que faz por ela.

"Tudo o que ele fizer, deve fazer para a glória de

Deus." Tudo deve ser feito religiosamente, feito

de tal maneira que ninguém diga com justiça

que, "isto é contrário à sua profissão". Sua

política não deve ser uma exceção a isso. Mesmo

nesta, ele deve ser guiado pela consciência e sua

consciência pela Palavra de Deus. Ele deve olhar

bem para seus motivos, e ser capaz de apelar

para o Buscador de corações para a sua pureza.

Se a sua atenção nestes assuntos, for tal que

rebaixa seu próprio espírito devocional, e o tira

de seus deveres religiosos, ou diminui

seriamente o poder da piedade e o vigor da fé; se

enche sua imaginação, o torna inquieto e

ansioso, perturbando a calma de sua paz

religiosa e conforto, se interferir mais com seu

negócio do que é bom para sua prosperidade

terrena, ou com sua família mais do que é

consistente com suas obrigações para instruí-

los e beneficiá-los; se ferir sua caridade, e enche

seu peito de má vontade e ódio por aqueles que

diferem de suas opiniões políticas; se o leva a

associações políticas e o coloca em comitês;

fazendo-lhe parecer um líder e um campeão de

um Partido; se faz com que seus amigos

piedosos sacudam a cabeça e digam: "Gostaria

que ele não fosse tão político", podemos ter

certeza, e você também pode estar certo de que,

embora não seja fácil fixar com precisão o limite

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68

que separa o certo do errado neste assunto, você

ultrapassou a linha, e está em terreno perigoso

e ilegal.

É nosso dever e interesse permanente, observar

os sinais dos tempos e as características da

época, a fim de aprender os erros particulares

aos quais, em consequência dessas coisas,

estamos mais peculiarmente expostos. Agora,

não se pode duvidar que os perigos dos

professantes na atualidade não sejam pelo fato

de serem muito pouco envolvidos na política,

mas por serem muito envolvidos na política. O

espírito partidário raramente correu tão alto, e a

disputa de facções opostas quase nunca foi mais

feroz, exceto em tempos de agitação interna, do

que é agora. Em tal período, os cristãos de todas

as denominações na religião, e todos os partidos

na política, estão no perigo de serem demasiado

envolvidos pelas perguntas absorventes, que

são os assuntos da agitação nacional. Em tal

momento, e em meio a tais circunstâncias,

todos corremos o risco de sermos arrastados

para o redemoinho, ou varridos pela torrente de

questões partidárias, e tendo nossas paixões

demasiado empenhadas na colisão de facções

opostas.

Estes assuntos políticos, ao lado do comércio,

são susceptíveis de se tornarem o grande

negócio da vida, o tema de todos os círculos, e

todos os lugares. Não poucas pessoas foram tão

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69

absorvidas por eles, que negligenciaram seus

negócios e foram arruinadas para a vida, e ainda

mais, perderam sua religião em seu fervor

político, e na miséria de um estado rebelde ou

apóstata amaldiçoaram a hora em que

negligenciaram as preocupações da eternidade,

para as lutas políticas dos tempos.

Seus pensamentos e afeições estavam tão

cheios dessas coisas, que não podiam nem falar

nem pensar em outra coisa; tornaram-se

membros de clubes políticos; mergulhados no

conflito de uma eleição contestada; se tornaram

membros do comitê de um dos concorrentes; e

usaram de todos os tipos de expedientes em tais

ocasiões para garantir o retorno de seu

candidato favorito; foram encontrados em todos

os jantares ou reuniões políticas, e entre os mais

avançados e mais zelosos, em suma, a política

era o elemento em que viviam, se moviam e

tinham seu ser.

Quem pode pensar no resultado? Quem se

surpreende ao ser informado de que tais

homens se tornaram falidos e que seus credores

tiveram que pagar pelo tempo dedicado a esse

assunto sem lucro. Que religião pode viver em

tal estado de espírito como este? O jornal

suplanta a Bíblia; os discursos e escritos de

políticos têm muito mais interesse para tais

pessoas do que os sermões do pregador; e as

atrações da reunião política dominam muito do

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serviço devocional; a conversa espiritual não é

apreciada nem encorajada, e nada é permitido,

ou, pelo menos, bem-vindo, senão somente o

que se relaciona à política! Mesmo o dia do

Senhor não está isento da profanação de tais

tópicos; se não leem os próprios jornais,

perguntam aos que o fazem, ou conversam com

aqueles que estão tão profundamente

absorvidos quanto eles próprios pelo tema. Nada

de piedade permanece senão o nome, e até

mesmo isso foi, em alguns casos, abandonado.

Tais são as rochas entre as quais muitos de todos

os partidos, na igreja, se dividiram, e eu aplico

essas observações a todos.

E se não é digno nem mesmo para um cristão

estar tão profundamente imerso na política

partidária, quanto mais para um ministro da

religião, e é impossível negar que muitas das

denominações foram tiradas de suas ocupações

sagradas, muito mais do que era apropriado, por

este tópico enervante. Estou perfeitamente

ciente de que há épocas em que a nação parece

estar na própria crise de seu destino e quando,

portanto, até mesmo o servo do Senhor, pode

sentir que seu país apela ao seu patriotismo e

pede-lhe sua ajuda, e quando ele pode mal

pensar que ele é livre para permanecer calado e

inativo, mas essas temporadas raramente

ocorrem na realidade. É muito raro, porém, que

o púlpito e a política sejam compatíveis um com

o outro, e que o ministro do evangelho

acrescente alguma coisa à sua dignidade ou

Page 71: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

71

utilidade, pelo pó que recolhe da arena da luta

política. A arenga da reunião pública dá pouca

ênfase ao sermão, ou mal prepara aqueles que o

ouviram, para ouvir temas muito mais solenes

dos mesmos lábios no santuário.

O ministro do evangelho não deve excitar

nenhum preconceito desnecessário em

qualquer mente, o que ele certamente fará ao se

tornar um partidário político agressivo. A

maioria dos homens de todos os partidos tem

bom senso para ver que o clero está muito mais

em seu lugar junto ao leito dos moribundos, nas

cenas de ignorância, miséria e vício, com o

propósito de dispensar conhecimento,

santidade e bem-aventurança do que na

multidão e clamor, nas paixões e disputas de

uma reunião política. O tempo que é consumido

e, assim, tirado das almas comprometidas com

os seus cuidados, é, talvez, o menor mal

resultante de tais perseguições; o prejuízo mais

sério é a influência de seu exemplo sobre os

outros e a diminuição do respeito público tanto

para o cargo como para o objeto do caráter

ministerial.

Espero que, de qualquer coisa que eu tenha dito,

não possa ser deduzido ou imaginado que desejo

afastar o grande corpo de cristãos de toda a

atenção aos assuntos da nação, ou cooperação

com aqueles que estão se esforçando para lhes

dar uma direção correta. Meu objetivo, nestas

Page 72: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

72

observações, não é neutralizar o sentimento

patriótico em absoluta indiferença, nem

paralisar esforços saudáveis e bem dirigidos

para o bem do país; mas simplesmente impedir

que o primeiro se tornasse maligno ou

excessivo, e este último degenerasse na ação

violenta do partidarismo político. A conquista do

mundo que a fé é chamada a realizar não é para

arrancar o patriotismo, essa flor fina da

humanidade, pelas raízes, mas para impedir que

ela alcance uma postura luxuriante tão

selvagem que tiraria todo o vigor do solo de

outras plantas ainda mais importantes, ou iriam

secá-las pela fria influência de sua sombra

demasiada.

Não pergunto, não quero que os cristãos

entreguem o mundo nas mãos dos ímpios, mas

apenas para permitir que seu envolvimento seja

o dos homens piedosos, um patriotismo sereno

e o mais eficaz, por causa de sua moderação e

firmeza, sua consciência e santidade. A opinião

de cada homem deve ser feita, firmemente

realizada, publicamente conhecida, e

consistentemente agida, sem ocultação ou

aparências. A neutralidade não é a glória do

homem, quando grandes interesses estão em

perigo e grandes questões sobre eles estão em

discussão. O cristianismo, o mais precioso

interesse para o coração de cada filho de Deus,

é, em certo sentido, independente de todas as

questões da política partidária e, em outro, é, e

Page 73: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

73

em certa medida, e, portanto, exige a atenção de

seus súditos para os assuntos das nações, e

apenas, como é compatível com a suprema

consideração de suas próprias leis puras,

espírito benigno e objeto celeste. Como a

política, portanto, não é pecaminosa em si

mesma, mas somente naqueles excessos de

atenção que toma demais o tempo de um

homem de seus negócios, embrutece seu

coração em relação ao seu próximo que difere

dele no sentimento político ou diminui seu

sentimento religioso; todos devem ter o cuidado

de observar a moderação que o cristianismo

prescreve neste e em todos os outros assuntos

que apelam aos nossos apetites e paixões. Isso é

mau para nós, aquilo que, em espécie ou em

grau, é mau para nossa religião.

Os professantes cristãos então devem estar

cientes de seu perigo, e observar e orar para que

não entrem em tentação. Que nunca se

esqueçam de que pertencem a um reino que

não é deste mundo; que a sua cidadania está no

céu, e que, portanto, devem viver como

estranhos sobre a terra. Como peregrinos,

permanecendo durante um curto período de

tempo em uma cidade estranha, eles devem

estar dispostos a promover o seu bem-estar

durante sua permanência temporária, mas

ainda com seus olhos, e esperança e coração, na

terra de sua herança. Um sentido profundo da

infinita importância da salvação eterna e das

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74

realidades invisíveis; uma boa impressão da

brevidade do tempo e da incerteza da vida;

juntamente com uma consideração inteligente

do grande fim de Deus ao nos enviar para este

mundo; reprimirá todo fervor político indevido

e nos ensinará a agir como parte de um patriota,

sem negligenciar o de um cristão; e fazer-nos

sentir que não éramos apenas os habitantes de

um país, ou cidadãos do mundo, mas sujeitos do

universo, e que todo interesse inferior deveria

ser perseguido com uma consideração

adequada à verdadeira religião.

Nisto devemos sempre estar atentos como

nosso trabalho diário, como o único que pode

nos preparar para o céu; de modo que se nos

perguntassem a qualquer momento, o que

estávamos almejando ou o que estávamos

fazendo, poderíamos dar esta verdadeira

resposta: "Estamos nos preparando para a

eternidade". Nenhum pretexto, por mais

ilusório que seja, seja relativo à nossa família ou

ao nosso país, pode ser uma desculpa legítima

para negligenciar este processo preparatório da

imortalidade.

Nada pode ser concebido de modo mais oposto

ao temperamento do céu, a disposição dos

abençoados acima, que é o amor santo não

misturado, do que o espírito político, que

quando visto como é agora visto com demasiada

frequência, na sua forma mais virulenta, é o fel

Page 75: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

75

da amargura, e a essência da malignidade. Se a

caridade é a coroação da excelência da piedade,

quão contrário a esta virtude divina está o

espírito presente dos partidos, que, como um

vulcão em chamas, derramam-se

perpetuamente de sua cratera, as erupções

ardentes da inveja, da malícia e de toda falta de

caridade. Melhor, muito melhor, que o

professante cristão, nunca veja um jornal, nem

saiba um único fato político, nem pronuncie

uma sílaba de política, do que entrar no assunto

se ele deve produzir em você tal temperamento

como este! Mas, não precisa produzi-lo. Pode

haver moderação nesta e em qualquer outra

coisa. Um homem pode ser um patriota piedoso,

sem degenerar em um partidário maligno.

Nota do Tradutor: Quanto a este assunto, no que

se refere à forma de governo da igreja, deve ser

dito que nosso Senhor Jesus Cristo afirmou

claramente que os princípios que devem reger a

Igreja são o oposto daqueles que são

empregados pelo mundo.

Veja, como isto está plenamente subentendido

nas seguintes palavras de nosso Senhor Jesus

Cristo quando advertiu os apóstolos, quando

estes pensavam não no modo de como deveriam

dirigir a Igreja, mas quanto ao sentimento de

supremacia, domínio e hierarquia mundana

que eles tinham em mente:

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“24 Suscitaram também entre si uma discussão

sobre qual deles parecia ser o maior.

25 Mas Jesus lhes disse: Os reis dos povos

dominam sobre eles, e os que exercem

autoridade são chamados benfeitores.

26 Mas vós não sois assim; pelo contrário, o

maior entre vós seja como o menor; e aquele

que dirige seja como o que serve.” (Lc 22.24-26)

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Deleite Espiritual dos Santos

"Mas o seu prazer está na lei do Senhor." (Salmo 1.2)

Título Original: The Saint”s Spiritual Delight

Por Thomas Watson (1620-1686)

Traduzido, Adaptado e Editado

por Silvio Dutra

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CAPÍTULO I

Mostrando que a Bondade Negativa é Apenas um Título Fajuto para o Céu

Como o livro de Cantares é chamado de Cântico

dos Cânticos por um hebraísmo, por ser o mais

excelente; de igual modo o Salmo 1 pode ser

chamado de Salmo dos Salmos, pois contém em si a própria medula e quinta-essência do

cristianismo.

“1 Bem-aventurado o homem que não anda

segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na

roda dos escarnecedores;

2 antes tem seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e noite.

3 Pois será como a árvore plantada junto às

correntes de águas, a qual dá o seu fruto na estação própria, e cuja folha não cai; e tudo

quanto fizer prosperará.

4 Não são assim os ímpios, mas são semelhantes

à moinha que o vento espalha.

5 Pelo que os ímpios não subsistirão no juízo,

nem os pecadores na congregação dos justos;

6 porque o Senhor conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios conduz à

ruína.” (Salmo 1)

O que Hierom diz das epístolas de Paulo, o mesmo pode ser dito deste salmo; é curto em

sua composição, mas cheio de conteúdo e força

em seu assunto. Este salmo carrega a bem-

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aventurança no frontispício; ele começa onde

todos esperamos terminar: ele pode muito bem

ser chamado de Guia de um cristão, porque ele

descobre as areias movediças, onde os ímpios afundam até a perdição, verso 1, e o solo firme

em que os santos pisam rumo à glória, verso 2.

O texto é um resumo e breviário da religião,

"mas o seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite." Cada palavra tem

sua ênfase; Eu começo com a primeira palavra:

“mas”.

Este “mas” é cheio de vinho espiritual, vamos abordar isso e provar um pouco, então

prosseguiremos.

“Mas”. É uma conjunção adversativa que

carrega o significado de oposição. O santo é descrito:

I. Por meio da negação, em três aspectos. (1.) “Ele

não anda segundo o conselho dos ímpios;” ele

não segue o seu conselho; e não dá maus conselhos. (2.) "Ele não se detém no caminho dos

pecadores." Ele não vai ficar entre aqueles que

não serão capazes de ficar de pé no juízo - verso

5. (3.) "Ele não se assenta na roda dos escarnecedores.” Ainda que isto seja uma

cadeira de Estado, ele não vai sentar-se nela,

pois sabe que será muito desconfortável no

final. A palavra “assenta” implica,

1. Um hábito em pecado. Salmo 50. 20 – “Tu te

sentas a falar contra teu irmão; difamas o filho

de tua mãe.”

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2. Sentar implica familiaridade com os

pecadores, Salmo 26.4. - “Eu não tenho

assentado com homens falsos;” ou seja, eu não

ando na sua companhia. O homem de Deus sacode toda a intimidade com os ímpios. Ele

pode trafegar com eles, sem se associar às suas

más obras; ele pode ser civil para com eles, como vizinhos, mas não se misturar à

iniquidade.

II. O homem de Deus é descrito neste Salmo por

meio de posição ou melhor, de oposição, "Mas o

seu prazer está na lei do Senhor. “ A partir desta

palavra, observa-se que a bondade negativa não é suficiente para nos dar direito ao céu. Não ser

escarnecedor, é bom, mas não é suficiente. Há

alguns no mundo cuja religião consiste

somente em aspectos negativos; eles não são alcoólatras, eles não são perjuros, e por isso eles

abençoam a si mesmos. Veja os ares de orgulho

liberados pelo fariseu em Lucas 18.11. "Deus,

graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos, adúlteros," etc.

Infelizmente, não ser escandaloso não vai fazer

um bom cristão mais do que uma cifra vai fazer

uma soma. O homem de Deus vai mais longe, "ele não se assenta no banco do escarnecedor,

mas o seu prazer está na lei do Senhor.” Nós não

estamos prontos somente para cessar de

praticar o mal, como também para fazer o bem. “Aparta-te do mal, e faze o bem: busca a paz, e

segue-a (Salmo 34.14). Será isto uma apelação

pobre, afinal - Senhor, me guardei de ser

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manchado com pecados graves. Eu não fiz

qualquer dano; mas que bem há em ti? Não é

suficiente para o servo da vinha não fazer

qualquer dano contra ela, que ele não quebre as árvores, ou destrua as sebes; pois se não

trabalhar na vinha, ele perde o seu pagamento;

e assim não é o suficiente para nós dizer, no último dia, que não fizemos nenhum mal, que

temos vivido sem qualquer pecado grave; mas

que bem que temos feito na vinha? onde está a

graça que temos obtido? se não podemos mostrar isso, vamos perder o nosso pagamento,

e perder a salvação.

Aplicação: Não se contente com a parte negativa

da religião; aquela que nega simplesmente

determinados atos pecaminosos, porque muitos constroem suas esperanças para o céu sobre

este fundamento rachado, eles não são dados a

qualquer vício, ninguém pode acusá-los de

quaisquer erros e faltas, e estas são as suas cartas credenciais para serem exibidas; a essas

pessoas eu digo três coisas:

1. Você pode não ser exteriormente ruim, e

ainda não ser interiormente bom. Você pode

estar tão longe da graça como do vício; embora ninguém possa dizer, seu olho é negro, mas sua

alma pode ser tingida de preto. Embora suas

mãos não estejam trabalhando em iniquidade, a

cabeça pode estar tramando-a. Embora você não saia para curtir o seu arbusto, você pode

secretamente estar vendendo a sua mercadoria:

uma árvore pode estar cheia de vermes, mas as

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folhas sadias podem cobri-los para que eles não

sejam vistos; e assim as folhas justas de

civilidade podem escondê-los dos olhos do

homem, mas Deus vê os vermes de orgulho, incredulidade, e cobiça em seu coração: “Vós

sois os, “diz Cristo”, “que vos justificais a vós

mesmos diante dos homens, mas Deus conhece os vossos corações; porque o que entre os

homens é elevado, perante Deus é abominação."

(Lucas 16.15). Um homem pode não ser

moralmente mau, e ainda não ser espiritualmente bom. Ele pode estar livre da

enormidade grosseira, mas cheio de inimizade

secreta contra Deus; como a serpente, que

apesar de ser de uma cor muito boa, ainda tem seu aguilhão.

2. Se vocês são bons somente no sentido

negativo, Deus não faz cômputo de vocês;

porque são como dígitos na aritmética de Deus,

e ele não anota dígitos no livro da vida. Pegue um pedaço de bronze, embora não seja um metal

tão ruim como chumbo ou ferro, ainda não é tão

bom como a prata ou o ouro, e como há pouco

cômputo nele, ele não vai servir de lastro para a moeda corrente; e assim, embora você não seja

profano, ainda que seja um bom metal,

querendo o carimbo da santidade sobre você,

não pode ser de uso para Deus e ele lhe despreza, porque você é senão um cristão de

bronze.

3. Um homem pode muito bem ir para o inferno

por não fazer o bem, como por fazer o mal;

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aquele que não dá bom fruto é um bom

combustível para o inferno, tanto quanto aquele

que dá frutos maus. "E já está posto o machado à

raiz das árvores; toda árvore, pois que não produz bom fruto, é cortada e lançada no fogo.”

(Mt 3.10). Pode-se muito bem morrer por não

comer alimentos, como com veneno, um terreno pode muito bem ser estragado por falta

de boa semente como por ter joio semeado no

mesmo; os que não estavam ativos em obras de

caridade, foram infelizmente condenados: "Então dirá também aos que estiverem à sua

esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o

fogo eterno, preparado para o Diabo e seus

anjos; porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber;" (Mt

25. 41,42). Não é dito: pegue comida comigo, mas

“não me destes de comer.” Por que foram as

virgens loucas caladas? Elas não tinham feito nenhum dano, não tinham quebrado as suas

lâmpadas, mas elas "não levaram azeite em suas

lâmpadas,“(Mt 25.3). Elas tinham falta de azeite,

foi a acusação: Portanto, que nenhum homem construa a sua esperança para o céu em cima de

negativas. Isto é construir sobre a areia; a areia é

ruim para construir; ela não vai cimentar; mas

suponha que um homem deve terminar uma casa em cima dela, qual é o problema? A

inundação vem - a perseguição - e a força dessa

inundação vai afastar a areia e fazer a casa cair;

e o vento sopra, o sopro do Senhor, como um vento veemente e vai explodir um edifício tão

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arenoso no inferno; tenha temor, então, para

descansar na parte positiva da religião, lance

sua luz e seja eminentemente santo. Então eu

venho para as próximas palavras, mas "o seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita

de dia e de noite."

CAPÍTULO II

O Que se Quer dizer com a Lei de Deus, o Que é

se Deleitar na Lei, e Qual é a Proposição Resultante

As palavras dão uma dupla descrição de um

homem piedoso.

Em primeiro lugar, tem prazer na lei de Deus.

Em segundo lugar, Ele medita na lei de Deus.

Eu começo com a primeira, "Seu prazer está na

lei do Senhor:" O grande Deus tem afeto e

carinho por cada criatura; isto tem, pelo instinto da natureza, algo para agradar a si mesmo nisso.

Agora o verdadeiro santo, não por intuição, mas

por inspiração divina faz com que a lei de Deus

seja o seu prazer.

Este é o emblema de um cristão, "Seu prazer está na lei do Senhor.“ Um homem pode trabalhar

em seu comércio, e não deliciar-se com ele,

quer no que diz respeito à dificuldade do

trabalho, ou à pequenez da renda; mas um homem piedoso serve a Deus com prazer; pois é

a sua comida e bebida fazer a Sua vontade.

Para a explicação das palavras, isto deve ser

analisado:

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85

1. O que se entende por "a lei do Senhor. “ Esta

palavra, Lei, pode ser tomada de forma mais

estrita ou mais ampla. (1) Mais estritamente,

para o Decálogo ou Dez Mandamentos. (2.) Mais amplamente: [1] Para toda a palavra escrita de

Deus. [2] Para aquelas verdades que são

deduzidas a partir da palavra, e que se concentram nela. [3] Para todo o assunto da

religião que é a contrapartida da lei de Deus, e

concorda com ela assim como a transcrição

com o original. A Palavra é um fundamento, algo estabelecido, e a religião é uma mostra, uma

exibição da prática da lei de Deus. Vou

aproveitar esta palavra em toda a sua latitude e

extensão.

2. O que se entende por prazer na lei de Deus. Tanto o original Hebraico quanto a Septuaginta

trazem: “sua vontade está na lei do Senhor; e

aquilo que é voluntário é deleitoso; um coração

misericordioso serve a Deus a partir de um princípio de inocência; ele faz da lei de Deus não

somente a sua tarefa, mas a sua recreação.

Doutrina: Que um filho de Deus, embora ele não

possa servir ao Senhor perfeitamente, mas ele lhe serve de bom grado; sua vontade está na lei

do Senhor; ele não é um soldado pressionado,

mas um voluntário; pelo bater deste pulso

podemos julgar se há vida espiritual em nós, ou não. Davi professou que a lei de Deus era o seu

prazer (Salmo 119,77), ele teve sua coroa para

deleitar-se, teve sua música para animá-lo, mas

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o amor que ele tinha à lei de Deus fez afogar

todos os outros deleites.

“Tenho prazer na lei de Deus”, diz Paulo, "no

homem interior." (Rom 7,22), a palavra no

original grego é, eu tenho o prazer; a lei de Deus é a minha recreação, e foi um prazer no coração,

isto é, no homem interior. Um homem ímpio

pode ter alegria no rosto ( 2 Cor. 5.12), como o mel de orvalho, que molha a folha; mas o vinho

do Espírito de Deus alegra o coração. Paulo se

encantou na lei no homem interior.

(Nota do tradutor: Deus criou o homem para que

se deleitasse nas coisas criadas mas sobretudo na maior fonte de deleites que é Ele próprio.

Mas o homem não pode ter a devida apreciação

de todo este deleite caso não ande em

conformidade com o caráter de Deus, o qual é revelado na Sua Lei, e daí nos ser ordenado e

indicado não raras vezes nas próprias Escrituras

sobre a necessidade de amarmos e praticarmos

os mandamentos de Deus porque sem isto é impossível agradá-lo, e se Ele não se agradar de

nós, como poderemos, por nosso turno achar

qualquer prazer nEle, ou até mesmo desfrutar

tudo o mais que criou para o nosso aprazimento, com comedimento, sabedoria e com um

coração reto, para um verdadeiro desfrute?

Pode uma má consciência desfrutar a paz? Pode

um viver na imundície conhecer e desfrutar o prazer que há na pureza? E assim por diante,

nada é de real valor e deleite se não houver este

prazer na lei de Deus no coração.

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A justificação pela graça mediante a fé em Jesus

Cristo pode nos garantir o ingresso no céu, mas

para termos o deleite espiritual aqui referido a

justificação e regeneração que são obtidas na conversão não serão suficientes para termos

este deleite no Senhor, caso não sejam

acompanhadas pela santificação diária, pela qual somos capacitados pelo Espírito Santo a

também amar e guardar os mandamentos de

Deus.)

CAPÍTULO III

De Onde Brota o Deleite Espiritual do Santo?

O deleite do santo procede da lei de Deus.

1. A partir de solidez de julgamento. A mente

apreende uma beleza na lei de Deus; Agora, o

julgamento chama as afeições. "A lei de Deus é

perfeita" (Salmo 19.7). A palavra hebraica para perfeito, parece aludir a um corpo completo,

corpo inteiro, que não tem falta de qualquer

membro ou detalhes. A Lei de Deus deve

necessariamente ser perfeita, pois é capaz de nos fazer sábios para a salvação (2 Tim. 3. 15).

A Septuaginta – versão grega do Velho

Testamento - diz que a lei do Senhor é pura,

como a beleza que não tem mancha, ou o vinho

que é clarificado e refinado. A alma que olha para essa lei, vendo tanto brilho e perfeição não

pode deixar de deliciar-se com ela; a lâmpada do

meio do santuário que era acendida com o fogo

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do altar, acendia todas as demais luzes do

candelabro de sete hastes. Assim, o julgamento

tendo sido iluminado pela Palavra, começa a

arder em seus afetos por ter sido incendiado pela Palavra.

2. Este santo deleite nasce da predominância da graça. Quando a graça vem com autoridade e

majestade sobre o coração, ela o preenche com

prazer; naturalmente, não temos prazer em Deus; "Eles dizem a Deus afaste-se de nós, pois

não desejamos ter conhecimento dos teus

caminhos“; ou melhor, não há apenas uma

antipatia, mas a antipatia; pois pecadores são chamados de aborrecedores de Deus (Rom.

1.30), mas quando a graça entra no coração, que

grande mudança acontece nele! A graça

prepondera, e lança fora a rebelião da vontade, faz um homem ser de outro espírito. Ela

transforma a ferocidade leonina em uma

doçura igual à da pomba, ela muda o ódio em

prazer; a graça coloca um novo viés na vontade, ela opera uma espontaneidade e alegria no

serviço de Deus. “O teu povo será um povo

disposto no dia do teu poder” (Salmo 110,8).

3. Este prazer santo em religião é derivado da

doçura do fim. Bem podemos com alegria lançar

a rede do nosso esforço quando temos um tão excelente projeto. O céu no final do dever traz

consigo o deleite no caminho do dever.

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CAPÍTULO IV

Mostrando uma Diferença Característica entre

um Filho de Deus e um Hipócrita

Aplicação 1. Isto nos mostra uma diferença

entre um filho de Deus e um hipócrita, o que

serve a Deus a partir de um princípio de prazer,

e outro que não o faz, mas finge que o possui, e por isso dizemos hipócrita, não em sentido

ofensivo, mas em relação a tentar mostrar algo

que não se possui de fato.

"Melhor é para mim a lei da tua boca do que milhares de ouro e prata.“ ( Salmo 119.72).

(Nota do tradutor: além de ter uma aplicação

geral, isto se aplica especialmente aos falsos

pastores e mestres da religião que são enganadores e que fazem um comércio para

explorar os incautos. Estes são lobos em peles de

ovelhas, e nada possuem da verdadeira

santidade. De maneira que o deleite que propõe aos seguidores não é e nem pode ser aquele que

decorre da guarda genuína dos mandamentos

de Deus, senão das vantagens que são

fundamentadas no tráfico de promessas que não são espirituais, celestiais e divinas, mas

todas de caráter mundano e relativas aos

interesses desta vida, conforme são buscadas e

agradam aqueles que vivem e andam na carne e não no Espirito.)

Com que deleite um avarento fala sobre os seus

milhares? Ah, mas a lei de Deus era melhor do

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que os milhares de Davi; um filho de Deus olha

para o serviço de Deus, não só como seu dever,

mas como o seu privilégio. Um coração gentil

ama cada coisa que tem o selo de Deus sobre ela. A Palavra é o seu prazer. "Acharam-se as tuas

palavras, e eu as comi; e as tuas palavras eram

para mim o gozo e alegria do meu coração; pois levo o teu nome, ó Senhor Deus dos exércitos.”

(Jer 15.16). O dia do Senhor, o Sabath, é o seu

prazer. "Se desviares do sábado o teu pé, e

deixares de prosseguir nas tuas empresas no meu santo dia; se ao sábado chamares deleitoso,

ao santo dia do Senhor, digno de honra; se o

honrares, não seguindo os teus caminhos, nem

te ocupando nas tuas empresas, nem falando palavras vãs; então te deleitarás no Senhor, e eu

te farei cavalgar sobre as alturas da terra, e te

sustentarei com a herança de teu pai Jacó;

porque a boca do Senhor o disse.” (Isa. 58.13,14).

A oração é o seu prazer – “sim, a esses os levarei

ao meu santo monte, e os alegrarei na minha casa de oração (Isa 56.7). A audição da Palavra é

o seu prazer - "Quem são estes que voam como

pombas para as suas janelas?“ (Isa 60.8). A alma

gentil voa como uma pomba para uma ordenança, sobre as asas do deleite. O

sacramento é o seu prazer – “E o Senhor dos

exércitos dará neste monte a todos os povos um

banquete de coisas gordurosas, banquete de vinhos puros, de coisas gordurosas feitas de

tutanos, e de vinhos puros, bem purificados.”

(Isa. 25.6). Um dia de santa ceia é um dia de alma

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festiva; aqui Cristo toma a alma em sua casa de

banquete, e exibe a bandeira do amor (Cant 2.4).

Aqui estão as iguarias celestiais que nos são

dadas. Cristo nos dá seu corpo e sangue. Este é o pão dos anjos, este é o néctar celestial, aqui está

um copo perfumado com a natureza divina; aqui

está o vinho aromático com o amor de Deus. Os judeus em suas festas derramam bálsamo sobre

seus hóspedes, e os beijam; aqui Cristo derrama

o óleo da alegria para o coração, e nos beija com

os beijos de seus lábios. Este é o banho do rei onde somos lavados e purificados da nossa

lepra: a alma seca, após o recebimento desta

Santíssima Eucaristia, tem sido como um jardim

regado, frutífero e florescente, ou como os campos do Egito, após o transbordamento do

Nilo; e você quer saber como um filho de Deus

se deleita nas coisas santas? Ele precisa ser

voluntário na religião.

Mas não é assim com um hipócrita; ele pode ser forçado a fazer o que é bom, mas não querer o

que é bom; ele não vai servir a Deus com alegria.

"Deleitar-se-á no Todo-Poderoso?” ((Jó 27.10).

Aquele que não tem nada desta complacência e deleite, aparece, assim, porque ele serve a Deus

de má vontade; ele traz o seu sacrifício com uma

mente perversa (Prov. 21.27).

Assim se deu com Caim: foi muito antes de ele

trazer a sua oferta, que não era as primícias; e quando o fez trouxe-a a contragosto; não foi uma

oferta voluntária (Deut 16. 10). É provável que era

o costume da família de seu pai sacrificar; e

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92

talvez a sua consciência possa tê-lo confrontado

por tolerar por tanto tempo, e por fim, quando a

oferta foi trazida, veio como uma tarefa em vez

de um dever; como um imposto ou multa em vez de um sacrifício apresentado com amor.

Caim trouxe a sua oferta, mas não a si mesmo. O

que Sêneca diz de um presente, posso dizer de um sacrifício; não é ouro e prata que faz um

presente, senão uma mente disposta. Por isso,

não é a oração e a audição da Palavra que faz um

sacrifício aceitável a Deus, mas é um espírito voluntário. Caim não era uma oferta, mas um

imposto, não uma adoração, mas uma

penitência.

CAPÍTULO V

Dois Casos de Consciência Resolvidos

Mas aqui estão dois casos a serem colocados.

Caso 1. Se uma pessoa regenerada pode servir a

Deus com cansaço.

Resposta. Sim; mas 1. Este prazer em Deus não é totalmente extinto. Esta lassidão e cansaço em

um filho de Deus pode surgir, da corrupção

interior, Rom. 7.24. Isto não provém da graça que

há nele, mas do pecado; como o afundamento de Pedro sobre a água não foi decorrente de sua fé,

mas de seu medo; ainda eu digo que a vontade

de uma pessoa regenerada é para Deus, Rom.

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7.15. Paulo encontrou, por vezes, uma

indisposição para o bem, Rom. 7,23; mas, ao

mesmo tempo, ele professa uma complacência

em Deus, verso 22. “tenho prazer na lei de Deus, no homem interior.”

Uma pessoa pode deleitar-se com música, ou

qualquer recreação, ainda que com cansaço do

corpo, e estando indisposta; um cristão pode amar a lei de Deus, embora às vezes a obstrução

da carne pese para baixo, e ele encontra seu

antigo vigor e agilidade abalados.

Resposta 2. Respondo que esta fraqueza e

cansaço em uma pessoa regenerada não é habitual; não é o seu temperamento constante;

quando a água do mar flui pode ser maré baixa,

mas logo depois de um tempo será maré alta de

novo; de igual modo na vida do cristão há um tempo de maré baixa, ele encontra uma

indisposição para o que é bom, mas dentro de

um tempo há uma maré alta de afeto, e a alma é

levada a cumprir com disposição e alegria os deveres sagrados; dá-se com um cristão o

mesmo que acontece com um homem que está

enfermo, ele não tem prazer em sua comida

como antigamente; ou melhor, por vezes, a simples visão dela o ofende, mas quando ele está

bem, ele volta a comer novamente com prazer e

apetite; por isso, quando a alma é destemperada

através de tristeza e melancolia, não acha deleite na palavra e oração como

anteriormente; mas quando ele retorna ao seu

temperamento saudável novamente, agora ele

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tem o mesmo deleite e alegria no serviço de

Deus como antes.

Resposta 3. Respondo que esse cansaço em uma

pessoa regenerada é involuntário; ela está preocupada com isso; e não vai abraçar a sua

doença, mas lamentá-la. Ele está cansado de seu

cansaço. Quando ele encontra um peso no

dever, ele vai pesadamente sob aquele peso; e então ora, chora, luta, usa de todos os meios

para recuperar seu entusiasmo no serviço de

Deus como ele estava acostumado a ter. Davi,

quando as rodas de sua carruagem eram quebradas, ele colocava mais peso na religião,

quantas vezes ele orou por vivificação da graça?

(Salmo 119).

Quando os santos encontram seus corações

desmaiados, suas afeições enfraquecendo, e um estranho tipo de letargia apreensiva sobre eles,

eles nunca estão em repouso até que tenham se

recuperado, e cheguem àquela liberdade e prazer em Deus como experimentavam antes.

Caso 2. O segundo caso é, se um hipócrita não

pode servir a Deus com alegria? Eu respondo,

ele pode; Herodes ouviu João Batista de bom

grado (Mt 6.20). e aqueles que jejuaram para contendas e debates, “tinham prazer em saber o

caminho de Deus,” (Isa, 58.2). O hipócrita pode,

por algumas esperanças chamativas do céu,

mostrar um deleite na bondade; mas ainda não é um deleite como é encontrado no regenerado,

porque o seu deleite é prazer carnal. Um homem

pode ser carnal, enquanto ele está fazendo as

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coisas espirituais: não é na santidade e rigor na

religião que o hipócrita se deleita, mas em outra

coisa; ele se deleita em orar, mas isto é senão

uma exibição de dons, do que o exercício da graça. Ele tem prazer em ouvir a palavra, mas

não é na espiritualidade da palavra que ele se

deleita; não no sabor do conhecimento e da prática, mas no brilho. Quando ele vai ouvir a

palavra pregada, é para que ele possa celebrar a

sua fantasia e não para melhorar o seu coração;

como se um homem devesse ir à farmácia por uma pílula, só para ver o douramento da

mesma, não para a virtude operativa.

O hipócrita vai para a palavra para ver o que há

de dourado em um sermão, e que possa

encantar o intelecto. Os hipócritas vêm para a palavra como quem entra em um jardim para

arrancar e cheirar alguma fina flor; e não como

uma criança que vem ao peito por alimento. Isto

é mais curiosidade do que a piedade. Tais eram os que são citados em Ez 33.32: “E eis que tu és

para eles como uma canção de amores, canção

de quem tem voz suave, e que bem tange;

porque ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra." O profeta sendo eloquente, e

fazendo uma entrega da Palavra de Deus, lhes

era muito doce e agradável, ele soava para eles

como uma música, mas não era da espiritualidade do assunto que eles gostavam,

senão da tonalidade da voz.

Esta foi uma repreensão afiada, ainda aplicável à

nossa época, de Crisóstomo aos seus ouvintes:

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“Isso é o que”, diz ele, “afunda as suas almas,

vocês ouvem seus ministros como muitos

menestréis, para agradar ao ouvido, e não para

ferir as suas consciências.“ Você vê que o deleite de um hipócrita na religião é carnal; isto não é o

que está sendo criado com as palavras da fé,

senão a eloquência do discurso, a vividez da fantasia, a suavidade do estilo: ele se esforça

apenas para arrancar o conhecimento da árvore

do conhecimento. Ai, pobre é aquele que pode

ter a luz da estrela do conhecimentos e, no entanto, pode ser noite em sua alma.

CAPÍTULO VI

Provação do Deleite de um Cristão em Deus

Aplicação 2. Provação. Deixe que isto seja colocado sob um escrutínio santo, se temos este

deleite na religião? Responder isto é como uma

questão de vida ou de morte.

Questão. Como pode este deleite espiritual ser

conhecido?

Resposta 1. Aquele que se deleita na lei de Deus, está frequentemente pensando nisto; que um

homem se deleita em seus pensamentos que

ainda estão em execução; aquele que se deleita

em dinheiro, sua mente está ocupada com isso; portanto, do avarento é dito que só pensa nas

coisas terrenas (Fp 3.19). assim, se há um prazer

nas coisas de Deus, a mente estará ainda

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meditando sobre elas. Que tesouro raro é a

Palavra de Deus! Ela é o campo onde a pérola de

alto valor está escondida; quão preciosas são as

promessas? Elas são o canal que contém a água da vida; elas são como aqueles dois ramos de

oliveira - "Segunda vez falei-lhe, perguntando:

Que são aqueles dois ramos de oliveira, que estão junto aos dois tubos de ouro, e que vertem

de si azeite dourado?” (Zac 4.12). Estas selam

perdão, adoção, e glória: “Ó Senhor por estas

coisas vivem os homens,” (Isa 38.16). Onde há um prazer na lei de Deus, a mente está

totalmente ocupada sobre ela.

2. Se nos deleitarmos com a religião, não há nada

que possa nos afastar disso, mas vamos estar

familiarizados com a palavra, a oração, e os sacramentos. Aquele que ama o ouro vai

negociar por ele. O mercador irá cruzar terra e

mar para ganhar dinheiro.

Se há um deleite em coisas santas, não vamos ser detidos por uma ordenança, pois não

estamos traficando para a salvação. Se um

homem estiver com fome, ele não deixará de ir

ao mercado por causa de uma dor em seu dedo. As ordenanças são um mercado evangélico, não

se afastarão por causa de qualquer provação

leve.

(Nota do tradutor: o fardo de Jesus é leve, ou seja,

o seu serviço, e o seu jugo é suave, ou seja, o dever que temos de guardar os seus

mandamentos em obediência à direção do

Espírito Santo que nos guia. Guardar os

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mandamentos não é, portanto, conforme dizer

do apóstolo João, algo que seja penoso. Não é um

peso mas um prazer para o crente guardar a Lei

de Deus. E quanto às provações da fé que temos neste mundo, elas não podem ser comparadas

em sua leveza momentânea, com o eterno peso

de glória que aguarda por todos aqueles que têm a Cristo como seu Salvador e Senhor.)

“Alegrei-me, quando me disseram, vamos à

casa do Senhor“ (Salmo 122,1). Você que fica feliz

quando o diabo lhe ajuda com uma desculpa

para se ausentar da casa do Senhor, está muito longe deste santo deleite.

3. Aqueles que se deleitam com a religião vão

muitas vezes falar dela; "Então aqueles que

temiam ao Senhor falaram uns aos outros:” (Mal

3.16). Onde há graça infundida, ela será efusiva. “As palavras da boca do sábio são cheias de

graça," (Ecl 12.10). Davi deleitando-se com os

testemunhos de Deus, “iria falar deles diante dos reis,” (Salmo 119,46). A esposa deleitando-se

com seu amado, não conseguia esconder o seu

amor, mas irrompe em expressões não menos

elegantes: "O meu amado é branco e rosado, o primeiro entre dez mil, a cabeça é como o ouro

mais refinado“ etc.

Os discípulos cujos corações estavam sobre

Cristo, fizeram dEle todo o seu assunto quando

eles estavam indo para Emaús (Lucas 24.19). Os cristãos primitivos que foram alimentados com

o amor a Deus, falavam tanto do céu, e do reino

preparado por Cristo para eles, que o imperador

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suspeitava que pretendiam tomar o seu reino

dele. As palavras são o espelho da mente, elas

revelam o que está no coração. Onde há deleite

espiritual, como o vinho novo, ele exalará o seu aroma; a graça se derramou em seus lábios

(Salmo 45.2). Um homem que é da terra fala da

terra (João 3.,31). Ele pode falar, senão com dificuldade, três palavras, mas duas delas são

sobre a terra. Sua boca, como a do peixe no

evangelho, está cheia de ouro. (Mt 17.27). Então,

onde há um prazer em Deus, “a nossa língua será como a pena de um escritor habilidoso”.

(Salmo 45). Esta é uma escritura que é uma

pedra de toque para provar os corações dos

homens. Infelizmente, revela quão pouco eles se deleitam em Deus, porque são possuídos por

um demônio mudo; eles não falam a língua de

Canaã.

4. Aquele que se deleita em Deus, vai dar-lhe o

melhor em cada serviço. Aquele a quem amamos melhor, terá o melhor. A cônjuge

deleitando-se com Cristo, lhe dará de seus

frutos excelentes (Cant 7,13), e se ela tem um

copo de vinho aromático, e cheio do suco da romã, ele deve beber disto (Cant 8.2).

Aquele que se deleita em Deus dá-lhe a força de

suas afeições, a nata das suas funções; se ele tem

qualquer coisa melhor do que outra, Deus a terá.

Os hipócritas não se importam com isso, pois oferecem a Deus aquilo que jogariam fora ou o

que nada lhes custe. Oferecem orações que não

lhes custam lágrimas ou o derramar da alma. (1

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Sam 1). Eles não colocam qualquer custo em

seus serviços. Caim trouxe do fruto da terra

(Gên 4.8).

É observável, que o Espírito Santo não menciona qualquer coisa que possa elogiar, ou detalhar o

sacrifício de Caim. Quando ele fala de Abel, ele

coloca uma ênfase sobre isso, "Abel trouxe dos

primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura", versículo 4, mas quando fala de Caim,

somente diz, "ele trouxe do fruto da terra."

Alguma coisa talvez tirada de uma vala; mas

Deus, que é o melhor, será servido com o melhor. Domiciano não teria a sua estátua

esculpida em madeira ou ferro, mas em ouro.

Deus terá o melhor das nossas melhores coisas,

serviços de ouro. Aquele que se deleita em Deus, dá-lhe a gordura da oferta; o mais puro do seu

amor, o mais quente do seu zelo; e quando ele

fez tudo, lamenta que ele não pôde fazer mais, e

vê uma desproporção infinita entre a Divindade e o dever.

5. O que se deleita em Deus, não encontra mais

deleite em qualquer outra coisa. O mundo

parece estar em um eclipse; Paulo deleitava-se na lei de Deus, no homem interior, e como ele

foi crucificado para o mundo? (Gal. 6.14). Não é

absolutamente ilegal deleitar-se com as coisas

do mundo, (Deut 26.11). “Te alegrarás por todo o bem que o Senhor teu Deus te deu. "

Mas ninguém pode usufruir melhor e ter o

conforto dessas coisas que os crentes têm; pois

eles têm um melhor direito a elas, e têm o

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orvalho de uma bênção destilada, “Pegue dois

talentos, disse Naamã a Geazi,”(2 Reis 5.23).

Assim diz Deus a um crente, tome dois talentos,

para teus confortos exteriores, e toma o meu amor com eles; mas os filhos de Deus, embora

sejam gratos por misericórdias exteriores,

todavia, eles não se ocupam muito com essas coisas; eles apenas as usam como uma

conveniência, para a sua peregrinação, mas

sabem que quando se assentarem no reino dos

céus, e eles próprios descansarem, eles não terão qualquer uso pessoal destas coisas de Jacó.

Crentes não oram muito por essas coisas que

ainda estão passando. Seu prazer está

principalmente em Deus e na sua lei; e isto é assim? Temos esta baixa opinião de todos os

confortos sob a lua?

Disse o astrônomo, que se um homem fosse

levantado tão alto quanto a Lua, a Terra

pareceria para ele, senão como um pequeno ponto. Se pudéssemos ser levantados para o céu

em nossas afeições, todos os prazeres terrestres

pareceriam ser nada; quando a mulher de

Samaria havia se encontrado com Cristo, para baixo foi o cântaro, ela o deixou para trás; aquele

que se deleita em Deus, como tendo provado a

doçura nele, também deixa o cântaro, e o

mundo para trás.

6. O verdadeiro deleite é constante. Hipócritas têm suas dores de desejo, e flashes de alegria,

que são breves. Os judeus se regozijaram na luz

de João Batista por uma temporada (Jo 5,35).

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Corações doentios podem ter prazer na lei do

Senhor por uma temporada; mas, eles vão

mudar rapidamente a sua nota: "Que canseira é

servir o Senhor!"

O crisólito (pedra de ouro), que é de uma cor

dourada, na parte da manhã é muito brilhante para se olhar, mas ao meio-dia ele fica sem

brilho, e tem perdido o seu esplendor; tais são os

brilhos de hipócritas. O verdadeiro deleite,

como o fogo do altar, nunca apaga; e a aflição não pode extirpá-lo. "Tribulação e angústia se

apoderam de mim, mas os teus mandamentos

são o meu prazer." (Salmo 119,145)

CAPÍTULO VII

Uma Persuasão para Este Deleite Santo em

Religião

Aplicação 1. Exortação. Deixe-me persuadir os

cristãos a trabalharem para este prazer santo;

comentando o texto "Deixe seu prazer estar na

lei do Senhor:" E para que eu possa cumprir melhor a exortação, vou colocar diante de você

várias considerações de peso.

1. Há aquilo que na lei de Deus, pode causar prazer; como aparece em duas coisas. Há nela:

1. Verdade.

2. Bondade.

1. Verdade. A lei de Deus é uma série de verdades

(Sl 119.160). "A tua palavra é a verdade desde o

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início." Os dois Testamentos são os dois lábios

pelos quais o Deus da verdade tem falado para

nós. Aqui está uma base firme para a fé.

2. Bondade. “Desceste sobre o monte Sinai, do

céu falaste com eles, e lhes deste juízos retos e

leis verdadeiras, bons estatutos e andamentos;” (Ne 9.13).

Aqui está a Verdade e a Bondade; uma adequada para a compreensão, e a outra para a vontade.

Agora, esta bondade e excelência da lei de Deus

resplandece em nove indicações.

1. A presente lei abençoada de Deus é uma carta

enviada a nós do céu, ditada pelo Espírito Santo, e selada com o sangue de Cristo; veja algumas

passagens da carta: Isa. 62.5 "Pois como o

mancebo se casa com a donzela, assim teus

filhos se casarão contigo; e, como o noivo se alegra da noiva, assim se alegrará de ti o teu

Deus “ e Oséias 2.19: “Desposar-te-ei comigo

para sempre em justiça e em benignidade, e em

misericórdias.” Não é agradável a leitura desta carta de amor?

2. A lei de Deus é uma luz "que brilha em lugar escuro“ (2 Pe 1.19). É a nossa estrela polar para

guiar-nos para o céu; foi a lâmpada e a luz para o

caminhar de Davi (Sl 119,105). Agora a luz é doce

(Ec 11.7). É triste a falta dessa luz nos pagãos que não têm o conhecimento da lei de Deus, e que

em sua necessidade tropeçam para o inferno no

escuro.

3. A lei de Deus é um espelho espiritual para

vestir nossas almas. Davi olhou-se neste

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espelho, e teve muita sabedoria, Salmo 119,104 -

“Pelos teus preceitos alcanço entendimento. "

A lei de Deus é um espelho para nos mostrar

nossos rostos, e uma pia para nos lavarmos.

4. Esta lei de Deus contém em si as nossas evidências para o céu; saberíamos se somos

herdeiros da promessa, se os nossos nomes

estão escritos no céu? devemos encontrá-lo neste livro da lei. 2 Tessalonicenses. 2.13 - "Mas

nós devemos sempre dar graças a Deus por vós,

irmãos, amados do Senhor, porque Deus vos

escolheu desde o princípio para a santificação do espírito e a fé na verdade”. 1 João 2.14 - "Nós

sabemos que já passamos da morte para a vida,

porque amamos os irmãos;“ e não é confortável

esta leitura sobre as nossas evidências?

5. A lei de Deus é um lugar de munição, a qual

devemos buscar para nossa artilharia espiritual

para lutar contra Satanás. Pode ser comparada com a “torre de Davi, edificada para sala de

armas; no qual pendem mil broquéis, todos

escudos de guerreiros valentes. “ (Cant. 4.4). Ela

é chamada de "espada do Espírito” (Ef. 6.16). É observável, que quando o diabo tentou nosso

Salvador, ele correu para as Escrituras para

armar-se, “está escrito”; três vezes feriu Cristo a serpente com esta espada, (Mt 4,4). É bom ter a

nossa armadura sobre nós quando o inimigo

está no campo.

6. A lei de Deus é o nosso livro físico espiritual,

ou um livro de receitas. Basílio compara a

palavra de Deus à loja de um boticário que tem

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todos as receitas para qualquer doença que

estiver crescendo na alma. Se nos encontramos

mortos no dever, aqui está uma receita, Salmo

119.50. “A tua palavra me vivifica”; "se nossos corações estão frios, aqui está uma receita," Não

é a minha palavra como fogo?” (Jer 23.29).

Isto é capaz de derreter a rocha em ternura. Se

ficar orgulhoso, aqui está uma receita, 1 Pe 5.5 - "Deus resiste aos soberbos”; se há alguma culpa,

temos aqui um remédio soberano para tomar, Jo

17.17. "santifica-os na tua verdade.“ A lei de Deus

é como um jardim de um médico, onde se pode caminhar e recolher qualquer erva medicinal

para expelir o veneno do pecado.

7. A lei de Deus é um tesouro divino para nos

enriquecer; aqui estão as riquezas do

conhecimento, e as riquezas da segurança que deve ser encontrada, Col. 2.2. Nesta lei de Deus

estão espalhadas muitas verdades como

diamantes preciosos para adornar o homem oculto do coração. Davi tomou a lei de Deus

como sua herança, Salmo 119,111. Nesta mina

abençoada está escondida a verdadeira pérola;

aqui nós cavamos até encontrarmos o céu.

8. A lei de Deus é o nosso conforto em tempos difíceis; e é um forte consolo, Heb. 6.18. "Para

que possamos ter uma forte consolação." Elas

são consolações fortes certamente que podem

adoçar a aflição, que podem transformar água em vinho, que podem resistir contra a provação

ardente. “Este é o meu conforto na aflição,

porque a tua palavra me vivifica,” (Salmo 119.50).

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Os confortos do mundo são consolações fracas;

o homem tem conforto na saúde, mas deixe a

doença vir, onde está o seu conforto, então? Ele

tem conforto em uma propriedade, mas deixe a pobreza vir, onde está o seu conforto, então?

Estas são consolações fracas, eles não podem

suportar problemas; mas o conforto da palavra são consolações fortes, elas podem adoçar as

águas de Mara. Deixe a doença vir, o conforto da

palavra pode acalmar e "o habitante da terra não

deve dizer que está doente,“ (Isa 33,24). Deixe a morte vir, e um cristão pode dizer com coragem:

"Ó morte, onde está o teu aguilhão?” (1 Cor.

15,55). E não é confortável ter tal poder para

expelir o veneno da morte?

(Nota do tradutor: O consolo de Deus nos vem pela Palavra, mas não devemos esquecer que é o

próprio poder emanado da pessoa de Deus Pai,

de Jesus e do Espírito Santo, que com Sua

presença fortalece o coração do crente abatido, quando este coloca a sua confiança na Palavra

de Deus e anda segundo os Seus mandamentos.)

9. A lei de Deus é o maná; um maná celestial que

se adapta ao paladar de todos os cristãos. Qual é o desejo da alma? vivificação? fortalecimento?

ela pode encontrar tudo neste maná.

2. Deleite-se com as coroas da religião e todos os

nossos serviços. Portanto, Davi aconselha seu

filho Salomão, não somente a servir a Deus, mas a servi-lo "com um espírito voluntário“ (1 Cron

28.9). Deleitar-se com o dever é melhor do que o

próprio dever; como é pior para um homem ter

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prazer em pecado do que cometê-lo, porque não

há mais a vontade em pecar; assim o prazer no

dever é para ser preferido: “Oh quanto amo a tua

lei,” (Salmo 119.97). Não é o quanto fazemos, mas quanto nós amamos; hipócritas podem

obedecer à lei de Deus, mas os santos amam sua

lei; isso leva embora a guirlanda.

3. Deleite-se com as coisas espirituais evidenciadas pela graça; é um sinal de que

recebemos o espírito de adoção. Uma criança

inocente deleita-se em obedecer seu pai; aquele

que é nascido de Deus é enobrecido pela graça, e age a partir de um princípio de inocência; a

graça altera o viés do coração, e faz com que seja

mudado de relutante, para disposto. O espírito

da graça é chamado de espírito voluntário (Salmo 51). não só porque ele funciona

livremente, mas porque torna o coração livre e

alegre em obediência; um coração

misericordioso, que não age por constrangimento somente, mas por livre

consentimento.

4. Deleitar-se na religião vai fazer o assunto da

religião se tornar mais fácil para nós. O deleite

faz cada coisa fácil; não há nada difícil para quem é de espírito voluntário; o deleite transforma a

religião em recreação; é como o fogo para o

sacrifício, como o óleo para as rodas, como o

vento para as velas do navio, ele nos leva ao cumprimento completo do dever; aquele que se

deleita no caminho de Deus, nunca vai reclamar

da aridez do caminho; uma criança que vai à

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casa de seu pai, não vai se queixar de um mau

caminho.

Um cristão está indo para o céu no caminho do

dever; cada oração, cada sacramento, é um

passo mais próximo da casa de seu Pai; a certeza

de que ele está tão cheio de alegria e que ele está indo para casa, fará com que não reclame do

mau caminho. Obtenha então este prazer santo.

Amados, não temos muitos quilômetros para

percorrer, a morte vai encurtar nosso caminho, vamos então nos deleitar docemente nisto.

5. Todos os deveres em religião são para o nosso bem. Teremos o benefício; "Se tu és sábio, serás

sábio para ti mesmo“ (Prov 9.12).

Deus tem misturado a glória e o nosso bem juntos. "Eu dei-lhes os meus estatutos, que se

um homem fizer, ele viverá por eles," (Ez. 20.11).

Não há nada que o Senhor exija que não tenda à

autopreservação. Deus nos convida a ler a sua palavra, e por quê? esta palavra é a sua vontade

e testamento em que ele faz com que mais de

uma propriedade equitativa seja fixada sobre

nós, (Col. 1.12; 1 João 2.25). "E esta é a promessa que ele nos fez, a vida eterna;" ele nos manda

orar, e este dever transporta alimento em sua

boca, 1 João 5.14. "Esta é a confiança que temos nele, que se pedirmos alguma coisa segundo a

sua vontade, ele nos ouve." Peça o que você

deseja, ele vai assinar suas petições.

Se você tivesse um amigo que lhe dissesse:

Venha a mim quando precisar, que eu vou

fornecer-lhe com dinheiro, você não se

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deleitaria em visitar esse amigo? Deus lhe dará

mais da metade do reino, e não devemos

deleitar-nos com a oração? Deus nos manda

crer, e há um favo de mel para ser encontrado neste preceito: "Creia e você será salvo." A

salvação é a coroa que está na cabeça da fé. Bem

pode o apóstolo dizer, “os seus mandamentos não são pesados. "Oh então, se a religião é tão

benéfica, e se há tal ouro para ser escavado desta

mina, isto pode fazer-nos ter deleite nos

caminhos de Deus.

6. Como Cristo se deleita com a obra da nossa

redenção? "Eis-me aqui, tenho prazer em fazer a tua vontade, ó meu Deus,“ (Salmo 40.7,8). Nisto

concordam os expositores quando falam

misticamente de Cristo; quando ele veio ao

mundo para sacrificar sua vida por nós, que foi por oferta de uma vontade livre. "Eu tenho um

batismo para ser batizado com ele" (Lucas 12.50).

Cristo deveria ser, e assim foi, por assim dizer,

batizado em seu próprio sangue, e como ele desejava que isto se cumprisse. Cristo deleitou-

se com a obra da nossa redenção, e não vamos

nos deleitar com o seu serviço? Ele sofreu de

bom grado, e oraremos de má vontade? Ele entregou a sua vida por nós tão alegremente, e

não vamos desistir de nossas vidas por ele?

Certamente, se qualquer coisa pudesse fazer

Cristo se arrepender de derramar seu sangue, seria isso, ver os cristãos se saírem tão mal no

dever, fazendo-o antes como uma penitência do

que um sacrifício.

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7. Deleitar-se no serviço de Deus nos faz

semelhantes aos anjos no céu. Eles servem a

Deus com alegria; assim que Deus fala a palavra,

eles ficam ambiciosos para obedecer. Como eles são enchidos com prazer, enquanto eles estão

louvando a Deus! No céu, seremos como os

anjos; o deleite espiritual deveria nos fazer como eles aqui; porque servir a Deus por

constrangimento, é ser como o diabo; todos os

demônios do inferno obedecem a Deus, mas é

contra a sua vontade, eles aceitam uma obediência passiva; mas o serviço que sai com

prazer é angelical: isto é porque oramos para

que a vontade de Deus seja feita na terra como

no céu; e esta não é feita com prazer lá?

8. Seu prazer na lei de Deus não produzirá

excesso. As coisas carnais muitas vezes causam aversão e náusea; logo se cansam de nossos

deleites; por isso é que mudam de um sentido

para outro. Prazer demasiado é uma dor; mas as

coisas espirituais não enfastiam ou cansam a alma; pois quanto mais estudamos na lei de

Deus, mais prazer encontramos. E a este

respeito Davi podia dizer que as palavras da boca

de Deus eram "mais doces ao seu paladar do que o mel “(Salmo 119.103). porque alguém pode em

breve se enjoar do mel, mas ele nunca pode se

enjoar com a palavra de Deus. Aquele que tem

uma vez, como Jeremias, “encontrado a palavra e a comido" (Jer 15.16). não ficará enjoado com

ela; há um sabor e aroma na palavra, que fazem

um cristão clamar: “Senhor, sempre me dê

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deste pão.” Há aquela doce comunhão com

Deus, que faz a alma dizer: "Oh que eu possa

estar sempre assim; Oh que eu sinta sempre o

que eu sinto agora!" Aquele que se deleita em Deus, não vai se queixar que tem muito de Deus,

mas muito pouco: ele abre e espalha as velas do

barco da sua alma para ter mais dessas tempestades celestiais, ele anseia por aquele

tempo em que ele estará sempre se deleitando

na visão doce e abençoada de Deus.

9. Sem este prazer santo nós nos cansamos, e cansamos a Deus também, Isa. 7.13. " Então disse

Isaías: Ouvi agora, ó casa de Davi: Pouco vos é

afadigardes os homens, que ainda afadigareis

também ao meu Deus?”. O nosso prazer em Deus faria com que ele se agradasse de nós; mas

quando começamos a dizer que estamos

cansados de servir ao Senhor (Mal 1.13), Deus

fica tão cansado como nós ficamos. Quando os deveres são um fardo para nós, eles são um

fardo para Deus, e o que devemos fazer com

eles? quando um homem está cansado de um

ardo, ele vai lançá-lo fora. Vamos todos ter este prazer vivo no serviço de Deus.

CAPÍTULO VIII

Mostrando Como um Cristão Pode Chegar a Esse Deleite na Lei de Deus

Aplicação 4. Para atingir este deleite abençoado

na lei de Deus, três coisas são necessárias.

Page 112: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

112

Direção 1. Tenha uma alta estima pela Palavra; o

que preza ao julgamento, as afeições abraça;

aquele que valoriza o ouro, irá deleitar-se com

ele; estamos aptos, por meio de um princípio de ateísmo, para entreter ligeiros pensamentos da

religião, portanto, nossas afeições são tão

pequenas. Davi valorizava os estatutos de Deus numa taxa elevada; "Mais desejáveis são do que

o ouro, sim, do que muito ouro fino“ (Salmo

19.10), e, portanto, cresceu nele esse amor

inflamado por eles; “Terei prazer nos teus estatutos" (Salmo 119,16).

2. Ore por um coração espiritual; um coração

mundano não irá se deleitar com os mistérios

espirituais; a terra apaga o fogo. O mundanismo

destrói a alegria santa; obtenha um paladar espiritual, para que você possa saborear a

doçura da Palavra. Aquele que conhece a doçura

do mel, vai se deliciar com ele. "Se é que já

provastes que o Senhor é bom“ (1 Ped 2.3). Não é o suficiente ouvir um sermão, mas você tem que

provar o sermão; não é suficiente ler uma

promessa, mas você tem que provar a promessa;

quando tiver chegado a este paladar espiritual, então a Palavra de Deus estará com você "o gozo

e alegria do seu coração" (Jer 15.16).

3. Se você deseja ter deleite na lei de Deus, lance

fora a alegria pelo pecado; porque o pecado envenenará este deleite espiritual: Se você

deseja ter a doçura da lei de Deus, não deixe que

“o mal lhe seja doce na boca” (Jó 20.12). Quando

Page 113: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

113

o pecado for o seu fardo, Cristo será o seu

deleite.

CAPÍTULO IX

O Deleite Santo Deve Causar Gratidão

Aplicação 5. Gratidão.

Que motivo têm para serem gratos aqueles que podem encontrar este deleite espiritual em

Deus? Como Davi bendisse a Deus que moveu os

corações das pessoas para ofertarem tão alegremente para a construção do templo; "Mas

quem sou eu, e quem é o meu povo, para que

pudéssemos fazer ofertas tão voluntariamente?

Porque tudo vem de ti, e do que é teu to damos.”

(1 Cron 29.14). A sua vontade era mais do que a

sua oferta; por isso um cristão deve dizer:

Senhor, quando há tantos soldados servindo,

quem sou eu, que eu deveria ofertar tão voluntariamente? Quem sou eu que deveria ter

teu espírito livre, e servir-te com um coração

voluntário! É uma grande bênção ter esta

prontidão e presteza no serviço de Deus.

O deleite anima o espirito para o dever; agora

nós agimos de acordo com o propósito da

religião. Os cristãos nunca são descritos de forma tão poderosa e docemente, como quando

a cadeia de deleite é presa ao seu coração. Sem

isso tudo está perdido; nossa oração e audição

Page 114: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

114

da Palavra é como a água derramada no chão.

Isto perdeu sua beleza e recompensa; então,

bendiga a Deus, cristão, que ungiu as rodas da

tua alma com prazer, e agora tu podes “correr e não se cansar”. Porque teu conforto está

assegurado e não terás falta de qualquer coisa

que teu coração possa desejar - Salmo 37.4: "Deleita-te também no Senhor, e ele te

concederá o que deseja o teu coração."

Page 115: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

115

O Engano do Coração

Título original: The deceitfulness of the heart

Extraído de: The Christian Father's Present to

His Children

Por John Angell James (1785-1859)

Traduzido, Adaptado e

Editado por Silvio Dutra

Page 116: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

116

"O coração humano é enganoso acima de

todas as coisas, e desesperadamente

perverso! Quem realmente sabe o quão

ruim é?" (Jeremias 17: 9)

A detecção do engano, se não é uma coisa

agradável, todavia é certamente uma rentável. O

homem que almeja o bem da sociedade deve se

colocar em guarda contra um impostor

perigoso. O meu objetivo é expor o maior

enganador do mundo, cujo desígnio é lhe

enganar, meus queridos filhos, não em sua

propriedade, nem em sua liberdade, nem em

sua vida, mas no que é infinitamente mais caro

que tudo isto, a salvação de sua alma imortal!

Seu sucesso foi espantoso, além da descrição. A

terra está cheia de suas ciladas, o inferno de

seus despojos. Milhões de almas perdidas

choram pelo sucesso desse inimigo, no abismo,

e a fumaça de seu tormento ascende para

sempre e sempre. Quem é esse impostor, e qual

é o seu nome? É o falso profeta de Meca? Não! O

espírito do paganismo? Não! As manobras da

infidelidade? Não! É o coração humano! É a isso

que a descrição do profeta se refere, "O coração

humano é muito enganoso e desesperadamente

perverso! Quem realmente sabe o quão ruim é?"

Você perceberá que está exposto às ciladas

deste enganador. Deixe-me, então, pedir sua

atenção muito séria, enquanto eu estou abrindo

Page 117: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

117

para você alguns de seus dispositivos profundos

e maquinações sem fim.

Pelo engano do coração, devemos entender a

facilidade de nosso julgamento para ser

enganado pela depravação de nossa natureza. E

as seguintes são as provas do fato:

1. Uma prova do engano do coração é a

ignorância surpreendente em que muitas

pessoas permanecem, de seu caráter e motivos.

É com a mente que cada um parece conhecê-lo

melhor como sendo seu possuidor. Agora, isso

não é algo singular? Com o poder da

introspecção, com acesso a nossos corações a

cada momento, não é notável que alguém deve

permanecer na ignorância de si mesmo? No

entanto, não é o caso de miríades? Quantas

vezes ouvimos pessoas condenando os outros

por essas mesmas faltas, das quais todos

percebem que eles mesmos são culpados!

Temos um exemplo notável disso em Davi,

quando o profeta relatou a parábola da ovelha.

É surpreendente com que destreza algumas

pessoas vão afastar as flechas de convicção que

são destinadas a seus corações, e dar-lhes uma

direção para os outros. Quando na pregação ou

na conversação um orador está se esforçando,

de forma secreta, para fazê-los sentir que eles

são destinados como os objetos de sua censura,

Page 118: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

118

eles estão mais ocupados em direcionar suas

palavras sobre os outros, e prontos a admirar a

habilidade e a aplaudir a gravidade com as quais

é administrado. E quando finalmente for

necessário despojar-se do disfarce, e declarar-

lhes: "Você é o homem!" É muito divertido ver

que surpresa e incredulidade eles vão

manifestar e como vão sorrir da sua ignorância,

ou franzir a testa na malícia, que poderia

imputar-lhes falhas, de que, por mais culpados

que possam ser em outros aspectos, nesse eles

se consideram totalmente inocentes!

Esse autoengano prevalece, de forma

alarmante, no assunto da piedade pessoal. O

caminho da destruição está cheio de viajantes

que, em vão, supõem que estão caminhando no

caminho da vida, e cujos "sonhos de felicidade"

nada irá perturbar, senão a terrível realidade da

miséria eterna! Como pode esse erro surgir? A

Escritura afirma mais explicitamente a

diferença entre um homem salvo e um ímpio, a

linha de distinção entre conversão e

impenitência é ampla, profunda e clara. Este

autoengano só pode ser explicado na base do

engano do coração.

Então, quando a convicção se impõe à mente, e

o caráter real começa a aparecer, com que grau

de evidência será resistido, e em que meras

sombras de prova os homens chegarão a uma

conclusão em seu próprio favor. Como eles

Page 119: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

119

confundem motivos que são aparentes para

cada espectador; e, em alguns casos, até mesmo

se recomendam para virtudes, quando os vícios

correspondentes são abundantes em seus seios!

2. Outra prova do engano do coração reside nos

disfarces que lança sobre os seus vícios.

Chama o mal de bem, e o bem de mal. Quão

comum é que os homens mudem os nomes de

suas faltas e procurem se reconciliar com

pecados que, sob suas próprias designações,

seriam considerados sujeitos a condenação.

Assim, a intemperança e o excesso são

chamados de disposição social e boa comunhão;

o orgulho é chamado de dignidade da mente; a

vingança é chamada de coragem; a pompa vã, o

luxo e a extravagância são chamados de gosto,

elegância e refinamento; a cobiça é chamada de

prudência; a leviandade, a loucura e a

vulgaridade são chamadas de alegria inocente e

bom humor. Mas, será que um novo nome altera

a natureza de um vício? Não! Pode-se vestir um

porco em púrpura e ouro, e vestir um demônio

nas vestes de um anjo de luz, e o primeiro

continua sendo um animal, e o outro um

demônio ainda!

A mesma operação de engano tiraria do vício a

sua deformidade, e roubaria da santidade a sua

beleza. A sensibilidade da consciência é

chamada de precisão ridícula; o zelo contra o

Page 120: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

120

pecado é chamado de morosidade e má

natureza; a seriedade da mente é chamada de

melancolia repulsiva; a santidade superior é

chamada de hipocrisia repugnante. Em suma,

toda a religião espiritual é chamada de chatice

nauseante e de entusiasmo selvagem. É, no

entanto, o clímax deste engano, quando o vício é

cometido sob a noção de que é uma virtude; e

isso tem sido feito em inúmeros casos. Saulo de

Tarso pensou que ele estava fazendo o serviço

de Deus enquanto ele estava destruindo a igreja.

Os intolerantes de Roma persuadiram-se de que

estavam fazendo o bem enquanto derramavam

o sangue dos santos. Oh! A profundidade do

engano no coração humano!

3. Que propensão há, na maioria das pessoas,

para arrumar desculpas para seus pecados; e

por quantos pretextos superficiais eles são

muitas vezes levados a cometer iniquidade.

Desde aquele momento fatal em que nossos

primeiros pais se esforçaram para transferir a

culpa de seu crime um para o outro e sobre a

serpente, a disposição de fazer desculpas para o

pecado, em vez de confessá-lo, foi a doença

hereditária de sua prole. Descobre-se cedo no

caráter humano; e é realmente visto quanta

habilidade é manifestada por crianças muito

jovens em desculpar suas falhas; e esta

disposição aumenta e se fortalece com o seu

crescimento.

Page 121: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

121

Alguns desculpam seus pecados com base no

costume; outros pleiteiam a pequenez de seus

pecados; outros tentam persuadir-se de que a

força da tentação será admitida como

justificativa de sua conduta; enquanto alguns

alegam o poder do mau exemplo. É a primeira

ofensa, dizem alguns; é a força do hábito,

exclamam outros. Alguns tentam encontrar

desculpa para seus pecados reais na depravação

inerente à sua natureza; outros na peculiaridade

de seu temperamento e constituição; alguns

chegam a lançar todos os seus pecados sobre o

Autor de sua natureza. Estas são apenas algumas

das muitas desculpas pelas quais os homens são

conduzidos primeiro ao pecado; e com as quais

se defendem depois das acusações da

consciência, e que demonstram da forma mais

convincente o profundo engano do coração

humano.

4. O engano do coração, também é provado pela

maneira gradual e quase insensível com que

leva os homens para a prática do pecado.

Nenhum homem se torna perverso de uma só

vez. O caminho de um pecador em sua carreira

foi comparado ao curso de uma pedra por uma

colina íngreme, cuja velocidade é acelerada por

cada revolução. O coração não se ofende e se

choca muito com julgamento solicitado no

início; esconde o fim da carreira, e deixa apenas

para ser visto conforme é exigido para a ocasião

Page 122: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

122

imediata. Quando o profeta do Senhor revelou a

Hazael suas futuras perversidades, ele

exclamou: "Seu servo é um cão, para que ele faça

isso?" A exclamação era totalmente honesta.

Naquela época, sem dúvida, ele era incapaz de

tal perversidade, e foi uma repulsa sincera da

natureza que provocou a expressão de seu

aborrecimento. Mas ele não conhecia seu

coração. Pouco a pouco, foi levado adiante no

curso da iniquidade, e, finalmente, ultrapassou

por sua maldade a predição do profeta.

O hábito torna todas as coisas fáceis, e ele não

excetua os crimes mais atrozes. Os homens

muitas vezes fizeram isso sem relutância ou

remorso, que, em um período de suas vidas, eles

teriam estremecido por sequer contemplar!

Muitos cometem perversidades, das quais não

puderam ser persuadidos por argumentos, nem

induzidos por nenhum motivo para não as

praticarem, que teriam, provavelmente alguns

anos ou meses antes, tremido com a simples

ideia de que seriam capazes de fazê-lo. "Quando

o coração do homem é ligado pela graça de

Deus, e amarrado nas faixas de ouro da religião

verdadeira, e vigiado por anjos, e cuidado por

ministros, aqueles enfermeiros da alma, isto

não é fácil para um homem e o mal do seu

coração é vigiado como a ferocidade dos filhotes

de leões. Mas, quando ele quebrou uma vez a

cerca, e entrou na força da juventude, e na

licenciosidade da idade adulta ingovernada, é

Page 123: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

123

espantoso observar que uma grande inundação

de mal, num curto espaço de tempo,

transbordará todas as margens da razão e da

piedade. O vício é primeiro agradável, depois

fica fácil, e depois é delicioso, depois é frequente

e habitual, e sendo depois confirmado, o

homem fica viciado e obstinado, e então resolve

nunca se arrepender, depois ele morre, e é

condenado!" (Sermões de Jeremy Taylor).

Tenho lido em algum lugar de um dos primeiros

cristãos, que, ao ser solicitado por um amigo

para acompanhá-lo ao anfiteatro, para

testemunhar os combates de gladiadores com

animais selvagens, expressou sua maior

repugnância ao esporte, e se recusou a

testemunhar uma cena condenável tanto pela

humanidade como pelo cristianismo.

Ultrapassado, por fim, pelas súplicas insistentes

e contínuas de seu amigo, a quem não desejava

ofender, consentiu em ir, mas determinou que

fecharia os olhos assim que se sentasse e os

manteria fechados durante todo o tempo que

ele estivesse no anfiteatro. Em alguma

demonstração particular de força e habilidade,

por um dos combatentes, um grito de aplausos

foi levantado pelos espectadores, quando o

cristão quase involuntariamente abriu os olhos;

sendo aberto, achou difícil fechá-los

novamente; ele se interessou pelo destino do

gladiador, que então estava envolvido com um

leão. Ele voltou para casa, professando não

Page 124: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

124

gostar, como seus princípios exigiam que ele

fizesse, desses jogos cruéis, mas ainda assim sua

imaginação revertia para as cenas que ele havia

testemunhado sem querer. Ele foi novamente

solicitado por seu amigo, que percebeu a

conquista que tinha sido feita, para ver o

esporte. Ele encontrou menos dificuldade agora

do que antes em consentir. Ele foi, sentou com

os olhos abertos, e apreciou o espetáculo

sangrento. De novo e de novo, sentou-se com a

multidão pagã, até que finalmente se tornou um

assistente constante no anfiteatro, abandonou

seus princípios cristãos, recaiu na idolatria,

morreu um pagão e deixou uma prova fatal do

engano do pecado!

Quando um jovem que recebeu uma piedosa

educação, começa a ser solicitado a romper as

restrições impostas pela consciência, só pode

aventurar-se em pecados menores; ele talvez só

vá ver uma peça, ou se junte a uma revelação à

meia-noite, mas mesmo isso não é feito com

facilidade; ele ouve a voz de um monitor interno,

se assusta e hesita, mas obedece. Um remorso

pequeno se segue, mas logo desaparece. Na

próxima vez que a tentação se apresenta, sua

relutância é diminuída, e ele repete a ofensa

com menos hesitação quanto à anterior, e

menos compunção subsequente. O que ele fez

uma vez, ele agora sem escrúpulos faz

frequentemente. Sua coragem está

aumentando tanto, e seu medo do pecado está

Page 125: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

125

tão distante e abatido, que ele logo se encoraja a

cometer um pecado maior, e a taverna e a

corrida de cavalos são frequentados com tão

pouca relutância como o teatro. A consciência,

de vez em quando, protesta, mas ele adquiriu a

capacidade de desconsiderar suas advertências,

senão para silenciá-las. Com o passar do tempo,

evita a sociedade de todos os que fazem

pretensões à piedade, como problemática e

angustiante, e o jovem despreocupado junta-se

a companheiros perversos mais adequados ao

seu gosto. Agora seus pecados crescem com

vigor sob a influência do fomento da companhia

ímpia, assim como as árvores que são colocadas

em um jardim.

Por esta altura a Bíblia é colocada fora de vista,

toda oração é negligenciada, e o dia do Senhor é

constantemente profanado. Por fim, ele sente a

"força do costume" e se torna escravizado pelo

"hábito arraigado". As advertências de um pai, e

as lágrimas de uma mãe piedosa, não produzem

impressões, senão que são como a "nuvem da

manhã, ou orvalho precoce, que logo passa". Ele

retorna à sociedade de seus maus compnheiros,

onde as advertências dos pais são convertidas

em matéria de brincadeira maligna. O pecador

está assentado agora em um mau caminho; e o

"rebento da iniquidade" fixou as suas raízes

profundamente no solo da depravação. A voz da

consciência é agora, senão raramente ouvida, e

Page 126: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

126

mesmo então apenas no fraco sussurro de um

amigo moribundo.

Seu próximo estágio é perder a sensação de

vergonha. Ele não usa mais uma máscara, ou

procura a sombra, mas peca abertamente, e sem

disfarce. A consciência agora está silenciada; e

ele persegue sem um autoexame, a carreira de

pecado. Ele pode encontrar um santo sem um

rubor, e ouvir a voz de advertência com um

desdém. Você acreditaria nisso? Ele se gloria na

sua vergonha, e tenta justificar sua conduta. Não

contente com ser mau, ele tenta fazer outros tão

ruins quanto ele mesmo, atribui ao caráter de

um apóstolo o de Satanás, e, como seu maligno

mestre, anda como um leão rugindo,

procurando a quem possa devorar.

Como ele é condenado em todos os seus

caminhos pela Bíblia, ele se esforça para se

livrar deste juiz incômodo, e persuade-se que o

cristianismo é uma fraude. Com princípios

infiéis e práticas imorais, ele agora se apressa à

destruição, poluído e poluindo. Seus pais, cujos

cabelos grisalhos ele trouxe em tristeza ao

túmulo, entraram em seu descanso, e em

misericórdia não é permitido viverem para

testemunharem sua vergonha. Seus vícios o

levam à extravagância; sua extravagância está

além de seus recursos, e em uma hora má, sob a

pressão de reivindicações que ele é incapaz de

Page 127: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

127

cumprir, comete um ato em que perde a vida.

Ele é preso, julgado, condenado, e executado!

Esta não é uma ilustração imaginária; muitas

vezes ocorreu. Meus queridos filhos, vejam o

engano do pecado. Medite, e trema, e ore. Esteja

alarmado com pequenos pecados, pois eles

levam a grandes. Esteja alarmado com atos de

pecado, pois eles tendem a hábitos. Esteja

alarmado com os pecados comuns, pois eles vão

para aqueles que são hediondos. Tenho lido

sobre um servo que entrou em um quarto, com

a intenção de apenas satisfazer seu paladar com

alguns doces, mas percebendo alguns artigos de

prata, ele abandonou a presa menor para estes,

e roubando-os, tornou-se um ladrão

confirmado e morreu na forca! Muitas

prostitutas, que pereceram em um sótão em

cima de palha, começaram seu curso miserável

e repugnante com um mero amor a um vestido.

O pecado é como um fogo, que deve ser

extinguido na primeira faísca, pois se for

deixado a si mesmo, em breve irá se transformar

num incêndio!

5. A última prova do engano do coração que eu

vou mostrar são as perspectivas ilusórias que

apresenta ao julgamento.

Às vezes, elas pleiteiam a comissão do pecado

com base no prazer que ele proporciona. Mas,

enquanto fala do mel da gratificação, elas

Page 128: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

128

também falam do veneno da reflexão e do

castigo?

Em outras ocasiões, o engano do coração sugere

que o recuo é fácil na carreira do pecado, e pode

ser usado se seu progresso for inconveniente. É

assim? O contrário é verdadeiro. Cada passo que

avançamos torna cada vez mais difícil voltar.

Então o engano do coração nos encoraja adiante

com a ideia ilusória de que há tempo suficiente

para se arrepender na velhice. Mas, diz, o que

realmente é verdade, que para qualquer coisa

que você conhece, você pode morrer amanhã?

Não! E aqui está o seu engano.

Ele habita na misericórdia de Deus, mas está em

silêncio sobre o assunto de sua justiça.

O que você pensa agora do coração humano?

Você pode questionar o seu engano, ou que é

enganoso acima de todas as coisas? Como então

você vai tratá-lo?

Seguramente, diante de um quadro assim, você

não falará da dignidade moral da natureza

humana; porque isso seria falar da dignidade da

mentira e do engano.

Procure renová-la pelo Espírito Santo. É um

primeiro princípio da religião verdadeira, que o

coração deve ser renovado, e aqui você vê a

Page 129: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

129

necessidade disso. Não é só a conduta que é má,

mas o coração, e portanto não é apenas

necessário que a conduta seja reformada, mas a

própria natureza deve ser regenerada. É o

coração que impõe o julgamento, e é o

julgamento que engana a conduta; e portanto a

raiz do mal não é tocada até que a disposição seja

mudada.

Suspeite do coração e examine-o. Trate-o como

se fosse um homem que o enganaria de todas as

maneiras possíveis e, em inúmeros casos,

provaria ser falso. Suspeite continuamente.

Sempre atue sob a suposição de que está

escondendo algo que está errado. Examine-o

perpetuamente. Entre na casa dentro de você;

abra todas as portas; entre em cada cômodo;

procure cada canto; varra cada quarto. Leve

consigo a lâmpada da Escritura e lance luz sobre

cada esconderijo.

Observe o coração com toda a diligência,

sabendo que é a fonte de tudo o que você faz.

Você observaria cuidadosamente cada atitude,

cada movimento, cada olhar de um impostor

que fixou seu olho em seus bens. Assim, trate

seu coração. Que cada pensamento, cada

imaginação, cada desejo, sejam colocados sob a

mais vigilante e incessante inspeção!

Coloque seu coração na mão de Deus para

guardá-lo. "Meu filho, me dê seu coração", é sua

Page 130: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

130

própria demanda. Dê a Ele para que ele possa ser

cheio do seu amor e mantido pelo Seu poder.

Que seja a sua oração diária: "Senhor, levanta-

me e serei levantado, guarde-me pelo seu poder,

pela fé, para a salvação".

Nota do Tradutor: Considerando as abundantes

citações que John Angell James faz em seus

escritos de partes do pensamento de Jeremy

Taylor, conforme é o caso no presente livro,

estamos apresentando a seguir a parte inicial de

um sermão de Jeremy Taylor sobre o mesmo

tema e sob o mesmo título, para a apreciação do

leitor da sabedoria que nele havia. (Como em

todas as nossas demais traduções, esta também

se refere a material antigo em domínio público,

vertido e publicado pela primeira vez em língua

portuguesa.)

“O coração é enganoso acima de todas as coisas,

e desesperadamente corrupto; quem pode

conhecê-lo?” (Jeremias 12. 9)

A loucura e a sutileza dividem a maior parte

da humanidade; e não há outra diferença senão

esta; que alguns são astuciosos o suficiente para

enganar, e outros são tolos o suficiente para

serem enganados e abusados: e ainda a balança

também desequilibra; pois aqueles que são mais

espertos para convencer os outros, são os tolos

mais verídicos e, sobretudo, abusaram de si

Page 131: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

131

mesmos. Roubam ao seu próximo o seu

dinheiro e perdem a própria inocência;

perturbam seu descanso, e vexam sua própria

consciência; eles o lançam na prisão, e eles

mesmos no inferno; eles fazem da pobreza a

porção de seu irmão, e a sua a da condenação. O

homem entrou no início sozinho no mundo;

mas tão logo que ele recebeu uma companhia,

ele teve três para enganá-lo: a serpente, Eva e ele

próprio – todos estavam unidos para torná-lo

um tolo, e para enganá-lo, e então fazê-lo

miserável.

Mas, ele primeiro enganou a si mesmo, “dando

crédito a uma mentira"; e, desejando ouvir os

sussurros de um espírito tentador, pecou antes

de cair; isto é, ele tinha dentro dele uma

compreensão falsa e uma vontade depravada: e

estes foram os pais de sua desobediência, e este

foi o pai de sua infelicidade, e uma grande

ocasião para a nossa própria.

E então ele entrou, tanto para si quanto para a

sua posteridade, na condição de um ignorante,

crédulo, superficial, obstinado, apaixonado e

impotente; apto a ser abusado, e tão amoroso

para sê-lo assim, que se ninguém mais vai

abusar dele, ele vai se certificar de abusar de si

mesmo, por ignorância e princípios malignos

abertos a um inimigo, e pela obstinação e

sensualidade fazendo a si mesmo as injúrias

mais imperdoáveis em todo o mundo. De modo

Page 132: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

132

que a condição do homem, nas rudezas e nas

primeiras linhas de seu rosto, parece muito

miserável, deformado e amaldiçoado.

Porque um homem é impotente e vão; de uma

condição tão exposta à calamidade, que um

inseto peçonhento é capaz de matá-lo; qualquer

soldado do exército egípcio, uma mosca pode

fazê-lo, quando ele vai na missão de Deus; o mais

desprezível acidente pode destruí-lo, a menor

chance dele, toda contingência futura, quando

considerada como possível, pode surpreendê-

lo; e ele é cercado de inimigos potentes e

maliciosos, sutis e implacáveis: e o que esta

pobre e indefesa criatura fará? Acreditar em

Deus? Ele o tem ofendido e teme-o como um

inimigo e, Deus sabe, se olharmos apenas em

nós mesmos e em nossos próprios deméritos,

temos razão demais para fazê-lo. Ele deve contar

com os príncipes?

Deus ajuda reis pobres; eles dependem de seus

súditos, eles lutam com suas espadas, tributam

forças com o dinheiro deles! Aconselham-se

ouvindo com os ouvidos deles, e são fortes,

somente com a sua união, e muitas vezes usam

todas estas coisas contra eles; mas, embora, eles

nada possam fazer sem eles enquanto vivem, e

no entanto, se alguma vez eles podem morrer,

eles não devem ser confiáveis. Ora, reis e

príncipes morrem tão triste e notoriamente,

Page 133: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

133

que foram usados para um provérbio na Sagrada

Escritura:

"Vós morrereis como os homens e caireis como

um dos príncipes".

Em quem devemos confiar? Em nosso amigo?

Pobre homem! Ele pode te ajudar em uma coisa,

e te necessita em dez; ele pode puxar-lhe para

fora da vala, e seu pé pode escorregar e fazer cair

nela ele mesmo; ele te dá conselho para

escolher uma esposa, e ele próprio deve

procurar escolher prudentemente a sua

religião; ele lhe aconselha a se abster de um

duelo e, no entanto, mata a sua própria alma

com a bebida; como uma pessoa vazia de toda a

compreensão, ele está disposto a preservar o teu

interesse e é muito descuidado dos seus;

despreza muito trair ou ser falso a você, e no

meio do tempo não é seu próprio amigo, e é falso

a Deus; e então sua amizade pode ser útil a você

em algumas circunstâncias de fortuna, mas de

nenhuma segurança para a tua condição. Mas, o

que fazer então? Devemos confiar em nosso

patrão, como os clientes romanos, que

esperavam cada hora em suas pessoas, e

diariamente em suas cestas, e todas as noites

em suas concupiscências, e se aliançaram com

suas amizades, e contraíram também o seu ódio

e discussões? Esta é uma confiança que nos

enganará. Pois eles podem nos estabelecer,

justa ou injustamente; eles podem se cansar de

Page 134: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

134

fazer benefícios, ou suas fortunas podem

mudar; ou eles podem ser caridosos em seus

dons, e pesados em seus ofícios; capazes de

alimentá-lo, mas incapazes de aconselhá-lo; ou

o que você precisa pode ser mais longo do que as

suas gentilezas, estar em tal condição em que

eles não podem dar-lhe nenhuma ajuda e, na

verdade, geralmente é assim, as situações de

fraquezas dos homens.

Temos um amigo que é sábio; mas eu não

preciso de seu conselho, mas de sua comida: ou

meu patrono é generoso ao extremo; mas estou

perturbado com um espírito triste; e o dinheiro

e os presentes não me fazem mais confortável

do que os perfumes fazem com uma urna

quebrada. Buscamos a vida e saúde em um

médico que está morrendo, e que não pode

curar sua própria respiração ou gota; e assim se

tornam vãs as nossas imaginações, abusadas em

nossas esperanças, inquietas em nossas

paixões, impacientes em nossa calamidade, sem

apoio em nossa necessidade - inimigos

expostos, errantes e selvagens, sem conselho e

sem remédio. Afinal, depois de amarrar o laço e

enganar todas as nossas confidências, não

temos nada que nos deixe senão voltar para casa

e morar dentro de nós mesmos: temos um

estoque suficiente de amor próprio, se

pudermos confiar em nossas próprias afeições,

podemos confiar em nós mesmos com certeza;

para que aquilo que nos falta em habilidade nós

Page 135: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

135

compensaremos em diligência, e nossa

indústria suprirá a falta de outras

circunstâncias: e nenhum homem compreende

meu próprio caso tão bem como eu mesmo, e

nenhum homem julgará tão fielmente como

farei para mim mesmo; pois estou muito

preocupado em não abusar de mim mesmo; e se

eu fizer, eu serei o perdedor, e, portanto, posso

melhor confiar em mim mesmo. Infelizmente! E

Deus nos ajude! Nós acharemos que não há tal

coisa: porque não nos amamos bem, nem

entendemos nosso próprio caso; somos parciais

em nossas próprias perguntas, enganados em

nossas frases, descuidados de nossos

interesses, e as mais falsas e pérfidas criaturas

para nós mesmos em todo o mundo; até mesmo

porque o "coração de um homem, é enganoso

acima de todas as coisas, e desesperadamente

perverso, quem pode conhecê-lo?” E quem pode

escolher corretamente se não conhecer isto?

E não há maior argumento do engano de nossos

corações do que este, que nenhum homem pode

conhecê-lo totalmente; ele nos trai no próprio

número de seus enganos. Mas, ainda podemos

reduzir tudo a dois pontos principais. Dizemos, a

respeito de um homem falso: não confie nele,

pois ele vai enganá-lo; e dizemos a respeito de

uma equipe fraca e quebrada: não se apoiem

sobre ela, pois isso também lhes enganará. O

homem engana porque é falso, e o bastão

porque é fraco; e o coração porque é ambos. De

Page 136: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

136

modo que é "enganoso acima de todas as coisas";

isto é, fracassado e incapacitado para nos

sustentar em muitas coisas, mas em outras

coisas, onde pode, é falso e "desesperadamente

corrupto". O primeiro tipo de engano é a sua

calamidade, e o segundo é a sua iniquidade; e

que é a pior calamidade dos dois.

1. O coração é enganoso em sua força; e quando

temos o crescimento de um homem, temos as

fraquezas de uma criança: mais ainda, e é uma

consideração triste, quanto mais avançamos na

idade, mais fracos somos em nossa coragem.

Aparece nas carreiras e em avanços de novos

convertidos, que são como as grandes emissões

de relâmpagos, ou como enormes incêndios,

que queimam sem medida, mesmo tudo que

eles podem; até que das chamas eles descem

para fogueiras, de lá para fumaça, de fumaça

para brasas, e de lá para cinzas; frios e pálidos,

como fantasmas, ou as fantásticas imagens da

morte. E a Igreja Primitiva era zelosa em sua

religião até o grau de querubins, e correria

avidamente à espada do carrasco, para morrer

pela causa de Deus, como fazemos agora com a

maior alegria e entretenimento de um espírito

cristão - até ao receber do santo sacramento. Um

homem acharia razoável que a primeira

infância do cristianismo fosse, segundo a

natureza dos primórdios, negligente, gentil e

inativa; e a experiência cotidiana, e conforme o

Page 137: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

137

objeto ou evidência da fé cresceu, o qual em

todas as épocas tem um grande grau de

argumentação superado à sua confirmação,

assim deve suceder também ao hábito e à graça;

pois quanto mais tempo dura, e quanto mais

objeções ela atravessa, ainda deve mostrar uma

luz mais brilhante e mais certa para descobrir a

divindade de seu princípio; e que, depois de

mais exemplos, de novos acidentes e

estranhezas da providência, de multidões de

milagres, ainda o cristão se tornaria mais certo

na sua fé, mais refrigerado em sua esperança e

fervoroso em seu amor; com a própria natureza

destas graças crescendo e inchando sobre a

própria nutrição da experiência, e a

multiplicação de seus próprios atos. E ainda,

porque o coração do homem é falso, sofre os

incêndios do altar, e as chamas diminuem pela

multidão de combustível. Mas, na verdade, é

porque colocamos fogo estranho e apagamos o

fogo em nossas lareiras, deixando entrar um

raio de sol, o fogo da luxúria ou o calor de um

espírito de raiva, para apagar o fogo de Deus e

suprimir a doce nuvem de incenso. O coração do

homem não tem força suficiente para pensar

um bom pensamento de si mesmo; não pode

dirigir suas próprias atenções a uma oração de

dez linhas de comprimento, mas, antes de seu

fim, vagará depois de algo que não serve para

nada; e não admira, então, que ele se canse de

uma santa religião, que consiste em tantas

partes como fazer o negócio de uma vida inteira.

Page 138: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

138

E não há maior argumento no mundo de nossa

fraqueza espiritual e da falsidade de nossos

corações em matéria de religião do que o atraso

que a maioria dos homens tem sempre, e todos

os homens às vezes têm de dizer suas orações;

tão cansados de seu comprimento, tão alegres

quando as terminam, tão espirituosos para

desculpar e frustrar uma oportunidade; e ainda

não há nenhuma maneira de problema no

dever, nenhum cansaço dos ossos, nenhum

trabalho violento; nada além de implorar uma

bênção e recebê-la; nada mais do que fazer a nós

mesmos a maior honra de falar à maior Pessoa e

maior Rei do mundo, e que não devemos fazer

isso, tão incapazes de continuar nele, tão

atrasados para voltar a ele; não pode haver

motivo visível na natureza da coisa, mas algo

dentro de nós, uma doença estranha no coração,

uma náusea espiritual ou repugnância do maná,

algo que não tem nome; mas temos a certeza de

que ela vem de um coração fraco e falso.

E, no entanto, este coração fraco é forte em

paixões violentas, em desejos irresistíveis em

seus apetites, impaciente em sua luxúria,

furioso em raiva: aqui estão forças suficientes,

deve-se pensar. Mas, eu vi um homem com

febre, doente e mal-humorado, incapaz de

andar, menos capaz de falar com sentido, ou de

fazer um ato de conselho; e, no entanto, quando

a febre tinha chegado a um delírio, era forte o

suficiente para espancar seu enfermeiro e seu

Page 139: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

139

médico também, e resistir à violência amorosa

de todos os seus amigos, que o vinculariam à

razão e à sua cama. E ainda assim dizemos: Ele

está fraco e enfermo até a morte. Pois essas

forças da loucura não são saúde, mas fúria e

doença. É a fraqueza de outra maneira."

E assim são as forças do coração de um homem:

elas são grilhões e algemas; fortes, mas são a

corda da prisão; tão fortes, que o coração não é

capaz de se mover. E, no entanto, não pode

deixar de ser uma tristeza enorme, que o

coração deve perseguir um interesse temporal

com inteligência e diligência, e uma indústria

incansável; e não terá força suficiente, em uma

questão que diz respeito ao seu interesse eterno,

para responder a uma objeção, para resistir a

um ataque, para derrotar uma arte do diabo;

mas cairá certamente e infalivelmente, sempre

que for tentado a um prazer.

Isto, se for examinado, provará ser um engano,

na verdade uma pretensão, em vez de

verdadeiro sobre uma causa justa: isto é, não é

uma fraqueza natural, mas uma moral e viciosa.

Podemos expor isto em um ou dois casos

familiares. Uma das grandes forças, deveria eu

chamar isto? Ou fraqueza de coração é – aquilo

que é forte, violento e apaixonado em luxúrias

doentias, e fraco e enganoso para resistir a

qualquer fala à pessoa tentada, que se ela agir

conforme a sua luxúria, desonra seu corpo, e se

faz um servo da loucura, e que se faz uma só

Page 140: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

140

carne com uma meretriz; que ele "profanou o

templo de Deus, e aquele que profanou o

templo" Deus o destruirá. Mas eles não têm

poder para resistir à tentação, e muito menos

para dominá-la; seu coração lhes falha quando

encontram sua amante; e são levados como

tolos aos troncos da execução, ou como um

touro ao matadouro. E, no entanto, o seu

coração os engana; não porque não possam

resistir à tentação, mas porque não irão fugir

dela; porque é certo que o coração pode, caso se

incline a isto. Pois, se um menino entra no teu

quarto, e descobre a tua loucura, a tua luxúria se

desfaz, e a tua vergonha a esconde; pois não o

atreveria a fazê-lo diante de um estranho; e, no

entanto, ousas fazê-lo perante os olhos do Deus

que tudo vê; isto é impudência e loucura, e uma

grande convicção da vaidade de tua pretensão e

da falsidade de seu coração.

Faça com que sua castidade e temperança sejam

tão fáceis, que um homem pode ser trazido a

ambas como sendo instrumentos tão prontos e

fáceis; não deixemos que o nosso coração nos

engane pela fraqueza de seus pretextos e pela

força de seus desejos; quanto à impossibilidade

de alcançá-las, porque nós fazemos mais por um

menino do que por Deus, e por vinte libras do

que pelo próprio céu.

Mas, assim é em tudo o mais; tome um herege,

um rebelde, uma pessoa que tem um mal para

Page 141: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

141

gerenciar; o que quer que seja, na força da sua

razão, ele deve fazê-lo com diligência e uma

pessoa que tem a noção do que é direito está ao

seu lado, é fria, diligente, preguiçosa e inativa,

confiando que a bondade de seu uso vai fazê-lo

sozinho. Porém, tão erradas pretensões,

enquanto as pessoas perversas são zelosas na

matéria doentia, e outras são negligentes em

boa vontade, a mesma pessoa será sempre

industriosa, quando tiver as menores razões.

Esse é o primeiro particular, o coração

enganoso no manejo de suas forças naturais; é

natural e fisicamente perseverante, mas

moralmente fraco e impotente.

2. O coração do homem é enganoso ao julgar os

seus próprios atos. Não sabe quando é satisfeito

ou desagradado; é irritadiço e insignificante; e é

em muitos casos impossível saber se o coração

de um homem deseja determinada coisa ou não.

Ambrósio tem um estranho provérbio: "É mais

fácil encontrar um homem que viveu

inocentemente, do que aquele que realmente se

arrependeu", com uma dor e cuidado grande de

acordo com o tamanho de seus pecados.

Suponha agora que um homem que passou os

seus anos mais jovens na vaidade e na loucura, e

pela graça de Deus, ficando apreensivo disto,

pensa em voltar a conselhos sóbrios; este

homem encontrará seu coração tão falso, tão

sutil e fugitivo, tão secreto e não discernível, que

Page 142: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

142

será muito difícil discernir se ele se arrependeu

ou não.

Pois, se ele considera que odeia o pecado e,

portanto, se arrepende; ai! Ele odeia tanto, que

não se atreve, se é sábio, tentar-se com a

oportunidade de agir; porque no meio do que

chama de ódio, ele tem tanto amor pelo pecado

deixado, que se este pecado vier de novo, ele se

considera justo, e ele fica perdido novamente,

ele beija o fogo, e morre em seus abraços.

E por que outra razão seria necessário que

orássemos, para que "não sejamos induzidos à

tentação", senão porque odiamos o pecado e

ainda o amamos muito; amaldiçoamo-lo, e o

seguimos; estamos com raiva de nós mesmos, e

no entanto não podemos ficar sem ele; sabemos

que isso nos destrói, mas achamos agradável. E

quando tivermos de enfrentar a ira feroz do

Senhor sobre nossos pecados, ainda assim

somos bondosos, e poupamos este Agague, o

pecado reinante, a esplêndida tentação.

Estes são apenas sinais desta fraqueza. Como

saberei, por algum sinal infalível, que eu sou um

verdadeiro penitente? E se eu chorasse por

meus pecados você não iria então me dar

licença para concluir que meu coração está na

luz com Deus, e em inimizade com o pecado?

Page 143: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

143

Pode ser assim. Mas, há alguns amigos que

choram ao se despedirem; e não é o seu choro

uma tristeza de afeto. É uma coisa triste separar-

se do nosso companheiro. Ou, talvez, você

chore, porque acha que teria assim um sinal

para lhe convencer; porque alguns homens

estão mais desejosos de ter um sinal do que a

coisa significada; farão algo para mostrar o seu

arrependimento, para que eles mesmos possam

crer em si mesmos que são penitentes, sem

razão, entretanto de acreditar assim. E eu vi

algumas pessoas chorarem de coração pela

perda de seis pences, ou por quebrar um copo,

ou em algum acidente insignificante; e os que o

fazem, não podem fingir ter suas lágrimas

valorizadas a um ritmo maior do que quando

chorarem ao confessarem o seu pecado.

De modo que um homem não pode avaliar o seu

próprio coração por suas lágrimas, ou a verdade

de seu arrependimento por essas rajadas de

tristeza. Como então? Suponhamos que um

homem ore contra seu pecado? Assim fez

Agostinho; quando, na sua juventude, foi

tentado à concupiscência e à impureza, e orou

contra elas, e secretamente desejou que Deus

não o ouvisse; porque aqui o coração é esperto

para enganar a si mesmo. Pois, nenhum homem

orou de todo o coração contra o seu pecado em

meio a uma tentação, se em qualquer sentido ou

grau ouviu a tentação. Orar contra um pecado, é

ter desejos contrários a ele, e isto não pode

Page 144: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

144

consistir em qualquer amor ou bondade para

com ele. Oramos contra ele, e ainda assim o

praticamos; e depois oramos novamente, e o

praticamos novamente: e nós desejamos, e

ainda oramos contra os desejos; e isto é quase

uma contradição.

Agora, porque pode ser suposto que nenhum

homem deseja contra a sua própria vontade, ou

escolha contra os seus próprios desejos; está

claro que não podemos saber se queremos dizer

o que dizemos quando oramos contra o pecado,

mas se nunca o praticamos, nunca o

entretemos, sempre lhe resistimos, e lutamos

contra ele, então finalmente prevaleceremos; e

enfim, podemos julgar nosso próprio coração

como tendo sido honesto naquele particular.

Não, nosso coração é tão enganador nesta

questão de arrependimento, que os senhores da

vida espiritual estão dispostos a inventar artes

de suplemento e estratagemas para garantir o

dever. E nós somos aconselhados a chorar,

porque não choramos, para ficarmos tristes,

porque não ficamos tristes. Agora, se ficarmos

tristes na primeira fase, como acontece que nós

não o conhecemos? Nosso coração é tão secreto

para nós mesmos? Mas, se não estivermos

tristes no primeiro período, como estaremos

nós, ou saberemos no segundo período? Pois

bem podemos duvidar da sinceridade do

segundo, ou do ato reflexo de tristeza. E, por

Page 145: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

145

conseguinte, também podemos estar tristes

pela terceira vez, por falta da medida justa ou do

significado cordial da segunda tristeza, como

nos entristecemos pela segunda vez, por falta de

verdadeira tristeza na primeira; e assim por

diante até o infinito. E nunca estaremos seguros

neste artifício, se não estivermos certos de

nossa paixão natural e calorosa em nossas

primeiras apreensões diretas.

Assim, muitas pessoas pensam estar em uma

boa condição, e não se questionam de sua

salvação, sendo confiantes apenas porque eles

estão confiantes; e eles são assim, porque eles

pensam ser assim; e no entanto eles não estão

confiantes em tudo, mas extremamente

temerosos. Quantas pessoas existem no mundo,

que dizem que estão seguras da sua salvação, e

ainda assim não ousam morrer? E, se algum

homem fingir que agora está certo de que será

salvo e que não pode cair da graça; não há

melhor maneira de confundi-lo, do que

aconselhando-o a mandar buscar o cirurgião e

sangrar até a morte. Pois o que o impediria; não

o pecado; pois não pode tirá-lo do favor de Deus:

não a mudança de sua condição; porque ele diz,

que está certo de que irá para uma condição

melhor. A razão é claramente essa, eles dizem

que estão confiantes, e ainda são extremamente

temerosos; eles professam crer nessa doutrina,

e ainda assim não ousam confiar nela; não, eles

pensam que acreditam, mas não o fazem; tão

Page 146: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

146

falso é o coração de um homem, tão enganador

em seus próprios atos, tão estranho para a sua

própria sentença e opiniões.

3. O coração é enganoso em suas próprias

resoluções e propósitos. Por muitas vezes os

homens fazem a sua resolução apenas na sua

compreensão, não na sua vontade; eles

resolvem que é apropriado para ser feito, mas

não decretam que eles vão fazê-lo; e em vez de

começarem a ser reconciliados com Deus pelos

renovados e calorosos propósitos da vida santa,

eles são avançados até agora apenas para serem

convencidos e aptos a serem condenados por

sua própria sentença.

Mas, suponha que nossas resoluções

avançaram mais além, e que nossa vontade e

escolhas também são determinadas; veja como

nossos corações nos enganam.

1. Resolvemos contra os pecados que não nos

agradam, ou onde a tentação não está presente,

e pensamos, por um zelo superestimado contra

alguns pecados, dando indulgência a outros. Há

algumas pessoas que serão bêbadas; na

companhia ou no discurso, ou no prazer da

loucura, ou com uma natureza superficial e uma

alma sedenta, algo errado, que não pode ser

ajudado: mas eles fazem remendos, e no dia

seguinte oram muito. Ou, pode ser, que eles

devem satisfazer uma luxúria bestial; mas eles

Page 147: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

147

não serão de todo tragados pelo mundo; e

esperam, por sua temperança, comutarem isto

por sua falta de castidade. Mas, não atendem ao

ofício de seu inimigo secreto - seu coração;

porque não é amor à virtude; se fosse, amariam

a virtude em todos os casos; porque a castidade

é tanto uma virtude quanto a temperança, e

Deus odeia a luxúria tanto quanto odeia a

embriaguez. Mas, este pecado é contra a minha

saúde, ou, isto pode ser, é contra a minha cobiça,

pois me faz impotente, impaciente; cheio de

desejo, e vazio de força. Ou então faço um ato de

oração, para que minha consciência não fique

inquieta, enquanto ela não está satisfeita, ou

enganada com alguns intervalos de religião.

Eu me considerarei um maldito se eu não fizer

nada para minha alma; mas se o fizer, chamarei

o único pecado que permanece, nada além de

minha fraqueza; e, portanto, é minha desculpa;

e minha oração não é minha religião, mas

minha paz, minha pretensão e minha falácia.

2. Nós resolvemos contra o nosso pecado, ou

seja, não vamos agir nessas circunstâncias

como antigamente. Não serei bêbado nas ruas;

mas eu posso dormir até que eu seja

recuperado, e depois saio sóbrio; ou, se eu for

passar dos limites, será em companhia civil e

gentil. Ou pode não ser tanto; vou deixar minha

intemperança e minha luxúria também, mas

vou lembrar com prazer; eu vou girar a ação do

Page 148: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

148

passado em minha mente, e entreter a minha

fantasia com um deleite moroso nele, e, por

uma ficção de imaginação, e assim ficarei

satisfeito com um pouco de prazer imaginário

fantástico. Amados, não façam sofrer seus

corações para lhes convencer; como se

qualquer homem pode ser fiel no muito, quando

é infiel no pouco.

Page 149: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

149

O Espírito de Amor, de Poder e de Moderação

Título original: The Spirit of Power, of Love, and of a Sound Mind

Por J. C. Philpot (1802-1869)

Traduzido, Adaptado e

Editado por Silvio Dutra

Page 150: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

150

"Porque Deus não nos deu o espírito de temor,

mas de poder, de amor e de moderação". (2

Timóteo 1: 7)

Todo cristão que está familiarizado com seu

próprio coração está consciente de possuir dois

conjuntos distintos de sentimentos. Ele sente,

por exemplo, que nele habitam a ira, o orgulho,

a justiça própria, a carnalidade, a mentalidade

mundana, com uma série de outros males; e que

estes não estão nem morrendo nem mortos,

mas estão vivos para sua tristeza, pois ele tem

cotidianamente, mais ou menos razão para

gemer sob seu fardo, e sentir seu poder e

influência miseráveis.

Por outro lado, na medida em que a luz e a vida

lhe são dadas para ver e sentir, ele não pode

deixar de estar consciente de que possui outro

conjunto de sentimentos bem distintos; como a

fé, a esperança, o amor, a paciência, a

humildade, o arrependimento , tristeza piedosa

pelo pecado, oração e espiritualidade de mente,

com afetos celestiais que muitas vezes levam

sua alma a se elevar para Deus. E, embora esses

sentimentos graciosos e divinos possam ser

obscurecidos e enterrados por um tempo em

nuvens e escuridão, ainda assim eles são

revividos e trazidos à luz. Agora, como ele está

consciente de que possui esses dois conjuntos

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151

distintos de sentimentos em sua alma, então

tem pouca dificuldade em decidir de que

natureza esses sentimentos são e de onde eles

tomam sua ascensão. Ele sabe que um conjunto

deles é completamente mau, e o outro é

completamente bom; que um conjunto procede

inteiramente do pecado e do eu, e o outro

totalmente e exclusivamente da graça e poder

de Deus.

Mas, há certos sentimentos em sua alma de que

ele é duvidoso quanto a qual seja a sua fonte, a

que influência são atribuídos e em que conta ele

deve colocá-los. Por exemplo, tais sentimentos

como culpa de consciência, angústia de alma,

escravidão de espírito, medo servil,

perplexidade e escuridão, com muitos

exercícios que surgem na mente por tentação e

provação; o que dirá deles? Que nome lhes dará?

Eles são maus ou são bons? Eles vêm do céu ou

do inferno? Eles brotam da graça ou estão

enraizados na natureza? Como pode chamá-los

de mal, quando não os tinha em estado de

natureza, e quando parecem, se não a graça,

pelo menos acompanhar a graça? Ele deve

chegar a esta conclusão, pois que se não tivesse

religião, não teria tais provas.

Por outro lado, como pode dizer que eles são

bons? Não são fé, nem esperança, nem amor,

nem nada semelhante a estas graças celestiais.

Page 152: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

152

Eles não comunicam prazer presente à sua

alma, nem parecem trazer alguma glória a Deus.

Então não sabe o que fazer deles, nem onde

colocá-los. Ele os chamará de bons ou maus? Ele

os colocará na carne, ou os atribuirá ao Espírito?

Ele está pendurado na incerteza de onde os

colocará e o que pensará deles; e ainda mais, o

que pensará de si mesmo como sob seu poder e

influência.

Acho que as palavras diante de nós podem

contribuir, com a ajuda de Deus e Sua bênção,

para lançar um pouco de luz sobre esses pontos

desconcertantes.

O apóstolo declara, da maneira mais clara e

positiva - "Deus não nos deu o espírito de medo".

Aqui ele estabelece com autoridade divina, que

um certo espírito, que chama de "espírito de

temor", Deus não nos deu; e estabelece a seu

lado certas bênçãos que ele diz, com a mesma

autoridade decisiva, que Deus nos deu.

Agora, que diremos de algo no coração, que

Deus não nos deu? Podemos dizer que é bom,

espiritual, celestial, salvador ou divino? Não

podemos dizer isso, pois se “toda a boa dádiva e

o dom perfeito vem de Deus", então o que Deus

não nos deu não é nem bom, nem perfeito. Por

outro lado, o que diremos das coisas que Deus

nos deu, como "um espírito de poder, e de amor,

Page 153: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

153

e de moderação?" Devemos dizer que essas são,

na verdade, bênçãos; dons escolhidos do Deus

de toda graça.

Tentarei, com a bênção de Deus, abrir as

palavras do nosso texto, para lançar um pouco

de luz, como o Senhor possa me permitir, sobre

aqueles sentimentos de que tenho falado tão

intrigante e desconcertantemente para os filhos

de Deus, e esforçar-me-ei por traçar a sua fonte,

como eles surgem, e para o que tendem; por que

são permitidos, que bem eles trazem; e como,

embora não de Deus, eles são feitos ainda para

trabalhar para o bem da alma. Isso formará com

a bênção de Deus, o primeiro ramo do meu

discurso.

Em segundo lugar, como o Senhor me

capacitará, passarei a mostrar o que Deus

realmente deu pela sua graça aos que temem o

seu nome, onde eu encontro o apóstolo

estabelecendo sob três divisões distintas: "Um

espírito de poder, de amor, e de moderação."

I. O que Deus não nos deu. O medo, tal como é

falado na Escritura, e sentido na experiência dos

santos de Deus, é duplo: há um temor santo e

piedoso; e um medo servil e carnal. De gracioso

temor, lemos assim "Porei o meu temor em seus

corações, para que eles não se apartem de mim".

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154

Que é "uma fonte de vida, para se afastar das

armadilhas da morte", e "o princípio da

sabedoria". Na verdade é, como um velho santo

o chamou, "uma graça da maior importação",

pois contém em seu seio todas as outras graças;

e é desta natureza peculiar, que quanto mais

florescem as outras graças do Espírito, mais esta

graça floresce igualmente. Vive na mais

próxima união com a fé, prospera com uma

esperança crescente, e floresce com um amor

crescente.

Quanto mais o Senhor aparece em sua graça,

mais o temor filial (pois esse é seu melhor e mais

verdadeiro nome) floresce e abunda na alma;

mais fundo afunda no coração a raiz mais firme

que carrega, e quanto mais firme for a raiz, o

tronco mais nobremente se levanta, os ramos

maiores mais se espalham, e mais férteis para

todos os lados. Não é, portanto deste santo, esse

temor filial que o Espírito Santo fala pela pena de

Paulo, quando declara que Deus não no-lo deu,

porque o Senhor nos dá esse espírito de piedoso

temor - é uma de suas graças mais elegantes; é

eminentemente bom para Ele dar e receber,

como sendo essa a graça pela qual somos

preservados de nos afastarmos dEle.

Mas, há um temor que não vem da mesma

maneira de Deus, que não é uma nova graça da

aliança, e ainda está no coração daqueles que

Page 155: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

155

temem a Deus. Onde pois, esse medo, tem

origem? Porque brota de um sentimento de

culpa, e é encontrado para existir onde a graça

de Deus não está. Vemos isso em Adão

imediatamente após a queda. Quando Adão

estava em sua condição não caída, ele poderia

encontrar seu Criador alegremente, andar e

conversar com Ele como um homem conversa

com seu amigo. Mas, quando Adão pecou e caiu,

o temor e o medo servil tornaram-se

imediatamente manifestos, ele se escondeu da

presença do Senhor entre as árvores do jardim.

E por que fez isso, senão porque temia encontrá-

lo?

Quando Caim matou seu irmão, este temor caiu

sobre ele, porque temia que todo aquele que o

encontrasse, o matasse. Assim aconteceu com

Saul, quando "caiu imediatamente sobre a terra,

e teve grande medo por causa das palavras da

pitonisa". Assim aconteceu com Acabe; com

Herodes, com Judas; e assim será até o fim do

mundo para a maioria dos homens; a morte é o

rei dos terrores. E o que é isso, senão um medo

servil? Deus não tem dado um temor que tem

tormento, mas tal é sempre a marca desse

espírito servil de medo.

Mas, não somente há pessoas, como eu aludi,

com este medo servil, mas os santos de Deus

também estão muito sob a sua influência, pois

Page 156: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

156

como muitas vezes estão sob a influência da

incredulidade, também estão frequentemente

sob a influência de seu amigo e parceiro.

1. Mas de onde brota, qual é a origem desse tipo

de medo? Evidentemente, surge da culpa da

consciência. Se a consciência não fosse culpada,

não haveria lugar para esse medo no coração. A

consciência culpada é produzida pela lei,

portanto a lei tanto gera como alimenta esse

medo servil. A lei sempre nos diz para "fazer e

viver"; e quando ela nos propôs uma tarefa que

nunca poderíamos executar, então começa a

nos amaldiçoar por não fazer tudo o que ela

exige, dizendo sempre "Maldito todo aquele que

não continua em todas as coisas que estão

escritas no livro da lei para fazê-las."

Não sendo capazes então, de cumprir o que a lei

exige, caímos sob a ira que a lei revela, sob a

maldição que a lei imputa e, assim, caímos em

escravidão, escuridão e medo servil diante de

Deus.

2. Mais uma vez, este espírito de medo servil que

Deus não nos deu está muito misturado com

incredulidade, como de fato está muito

fundamentado nela. Diante de nossos olhos e

em nossas mãos está o Evangelho; há Jesus

Cristo em seu sangue e justiça; e todas as

promessas cheias de misericórdia, graça e

Page 157: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

157

verdade. Aqui está tudo isso na mesa, por assim

dizer, espalhado com iguarias e luxos. Por que

não vem e come? Por que não se aproximar e

banquetear-se com o banquete do evangelho?

Por que não sentar à sombra de Jesus com

grande prazer e achar seu fruto doce ao seu

gosto?

A incredulidade proíbe. A incredulidade faz a

alma retroceder. A incredulidade diz "Não se

difunde por vós, não vos interessa este precioso

sangue, é verdade que "purifica todo o pecado",

mas não vos purifica dos vossos pecados, nem

tendes parte nem sorte no assunto. Portanto,

embora você possa ver a justiça de Jesus

revelada na palavra da verdade, você não pode

ficar debaixo dela; embora veja o sangue

expiatório, você não pode sentir sua aplicação à

sua consciência; embora veja a misericórdia e a

graça brilhando na gloriosa pessoa de Cristo,

contudo não pode trazer essa misericórdia e

graça com poder divino em sua própria alma; e

enquanto não pode obter perdão e paz, você

sente sua mente cheia de incredulidade. Agora

onde quer que haja a presença e o poder da

incredulidade, haverá um espírito de medo,

deste medo escravo e culpado, que mantém a

alma em escravidão, escuridão e morte.

3. Mas, esse espírito de medo muitas vezes está

muito ligado ao retrocesso e ao afastamento dos

Page 158: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

158

caminhos corretos do Senhor. Não há um

indivíduo sob a influência da graça que não

retroceda mais ou menos no coração, nos lábios

ou na vida; na verdade, cada passo que não der

para a frente, nós realmente rumamos para trás,

e a cada momento que não estamos desfrutando

a doce presença de Deus, estamos vivendo para

o pecado e o ego. Porque fazer isso é apostatar.

Sempre que deixamos de chegar à Fonte das

águas vivas e começamos a cavar por nós

mesmos "cisternas quebradas, que não podem

conter água" - isto é retroceder. Podemos não

ser entregues a grandes, dolorosas, e abertas

apostasias; o Senhor pode e geralmente guarda

os pés de seus santos, e os preserva da comissão

de pecados que podem ferir gravemente seu

caráter, ferir a causa e trazer muita aflição sobre

suas próprias almas. Mas, além disso, todos

fazem mais ou menos vagar ou retroceder em

seus sentimentos de Deus. Esse sentimento

produz culpa de consciência, e dessa culpa vem

o medo servil.

4. Mais uma vez, o mundanismo da mente,

ocupada demais nos negócios, ou levada

indevidamente pelos cuidados e ansiedades da

vida, produz uma negligência em buscar o rosto

do Senhor, invocar seu nome, e obter como

consequência necessária um rio sem vida;

estado estúpido da alma, quando toda a vida e

Page 159: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

159

poder da piedade parecem por um tempo

enterrado e perdido - todas estas coisas

produzem culpa de consciência, de modo que

abrem a porta para este espírito de medo servil.

Nesse estado há pouco ou nenhum acesso a

Deus; a Bíblia é um livro selado, a companhia

dos santos de Deus pouco procurada, o próprio

Senhor muito abandonado, sua presença

raramente sentida e seu amor raramente ou

escassamente derramado no exterior. Muitos

dos santos de Deus parecem continuar por

grande parte de suas vidas sob a contínua

influência deste espírito de medo, e raramente

sentem qualquer gozo das coisas de Deus. E

assim, continuam às vezes ano após ano sem

qualquer liberdade, doçura ou consolo

espiritual; pressionado e mantido pelo medo

servil que neles opera e produz frutos para a

morte.

Agora, Deus não nos deu este espírito de medo.

Não procede de sua graça. Não é o fruto do

Espírito. Ele não é operado por sua própria mão

divina na alma. No entanto, embora não seja

uma graça ou um dom, o Senhor de uma

maneira maravilhosa o anula e faz com que ele

funcione para o bem espiritual. É o mesmo com

este, como com alguns outros sentimentos

afins. Quem pode dizer que não tirou proveito da

culpa da consciência? O que fez você primeiro

Page 160: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

160

orar, buscar o rosto do Senhor e clamar por

misericórdia através do sangue de um Salvador?

Culpa de consciência.

O que fez você primeiro vir para ouvir o

evangelho, ou pelo menos receber a verdade

contida nele como adequado para seus desejos e

aflições? O que fez você lamentar e suspirar em

segredo, e pendurar sua cabeça esmagada pela

tristeza e aborrecimento? O que fez da vida um

fardo para você, que despojou o mundo de todos

os seus encantos imaginados, dissolveu toda sua

magia e mostrou-lhe em suas cores verdadeiras

o que essa cena era, e que felicidade poderia

dar? Culpa de consciência.

O que impedia você de descansar sobre um

nome para viver, numa profissão vazia, em um

simples conhecimento doutrinário com a

verdade? O que fez você desejar algo que nunca

sentiu, experimentou, testou ou conheceu? O

que fez você se sentir insatisfeito com sua

própria experiência e tudo com que os outros

pareciam estar tão bem satisfeitos? Por que

havia em sua mente uma condenação secreta de

toda a sua religião; no início e no fim? Por que,

às vezes, você estava com medo de ser um

hipócrita que tinha enganado os outros, ou a si

mesmo? E por que se sentiu miserável, de modo

que pensou que ninguém poderia ser

Page 161: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

161

sobrecarregado como você? Culpa de

consciência.

O que também, lhes fez dar ao Senhor nenhum

descanso até que ele começasse a aparecer com

amor e misericórdia para com sua alma, e o que

o levou a vir ao trono da graça, com suas

próprias promessas, com fervorosos desejos,

para mostrar misericórdia para você? Culpa de

consciência.

Então você vê que a culpa da consciência,

embora seja o pai deste medo servil, ainda

produz nas mãos de Deus bons efeitos; e você

teve a evidência disto em seu próprio coração.

Da mesma forma, o temor servil, embora torne

um homem que está sob sua influência muito

miserável, lhe dispensa muito conforto e paz, e

rouba-o de muito daquilo que outros cristãos

parecem desfrutar, mas esse guardião da falsa

liberdade tem este bom efeito. Há uma grande

liberdade presunçosa em nossos dias - uma

liberdade que Deus nunca deu e jamais dará -

uma liberdade da carne, decorrente de um

mero conhecimento teórico e doutrinário da

verdade de Deus. Ora, o temor servil, embora

produza escravidão e escuridão dominará o

homem que está sob a sua influência, tomando

esta liberdade presunçosa, porque a falsa

liberdade e o medo servil nunca podem reinar e

Page 162: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

162

governar juntos no coração. A liberdade

presunçosa lançará o medo servil para fora da

casa, ou o medo servil será a morte da liberdade

presunçosa. Não podem ambos viver como

amigos e irmãos no mesmo coração; eles não

podem ser mestres. Se você está sob a influência

do medo servil, não pode estar sob a influência

da liberdade presunçosa. Se a liberdade

presunçosa governar e reinar em seu coração,

ela nunca tolerará a presença e o poder do medo

servil. De modo que se você foi mantido na

liberdade presuntuosa, pode ter sido em boa

medida, devido a esse miserável medo que

trabalhou tal escravidão, escuridão e morte em

sua alma.

No entanto, o apóstolo nos diz: "Deus não nos

deu o espírito de medo". Então, como podemos

ver o espírito do medo como um benfeitor ou

amigo se ele não vem de Deus? Bem, você acha

que Deus lhe deu incredulidade? Deus lhe deu

tentações? Deus lhe deu infidelidade? Deus lhe

deu a escuridão da mente? Deus lhe deu

escravidão de espírito?

Nenhuma dessas coisas Deus lhe deu; e ainda,

no modo misterioso de Deus, essas coisas são

continuamente dominadas por sua graça e

feitas para trabalhar grandes benefícios na

alma. Quem enviou a Jó suas tentações? Foi

Deus? Foi realmente com a permissão de Deus,

Page 163: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

163

mas elas não foram enviados diretamente ou

imediatamente de sua mão. Elas vieram de

Satanás, como encontramos nos capítulos 1 e 2.

E ainda assim, elas foram feitas uma grande

bênção a Jó. Assim, um espírito de medo - a

escravidão servil sob a qual sua alma pode talvez

estar agora - os medos da morte com os quais

você pode estar sendo aterrorizado - os terrores

e apreensões da ira eterna - o seu temor de que

seja um hipócrita nas coisas de Deus, pois Ele

não revelou estas coisas como misericórdias e

bênçãos que fluem de seu evangelho, nem o seu

Espírito operou em vocês pela sua graça. Mas

elas estão ali, o Senhor operará por meio delas,

e deste mal produzirá o bem, como faz de mil

outras coisas.

Aqui está a terrível rebelião na Índia. No

momento tudo está escuro. A tempestade ainda

está rugindo, e não podemos ver claramente

através da tempestade, mas depois que ele

faleceu, podemos ver grande bem sair dela.

Podemos ver o poder da Inglaterra estabelecido

lá como nunca foi antes. Podemos ver a idolatria

derrubada numa extensão surpreendente e o

diabo derrotado. Eu não digo que será assim.

Não podemos profetizar em assuntos desta

natureza. Mas, se não podemos profetizar no

que diz respeito às coisas temporais, podemos,

no que diz respeito às espirituais. Você pode ter

Page 164: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

164

tido um pouco de Índia em seu próprio coração.

Guerra, incêndio e massacre podem ter

acontecido lá; e você pode ter pensado "Que bem

pode sair de toda esta cena de confusão e

problemas?" No entanto, o bem já o tem feito,

você poderia vê-lo sair dele, e um bem ainda

maior sairá, pois a prerrogativa de Deus é tirar o

bem do mal. Por isso, embora Deus não lhes

tenha dado pelo seu Espírito e graça, o temor

servil de que fala o texto, contudo existe e Deus

pode e trabalha por ele, tirando proveito dele.

É chamado, posso apenas observar, "o espírito

de medo", porque é tão sutil, tão enérgico, e tão

penetrante em todos os cantos do coração;

sendo isso o caráter do espírito em oposição à

carne. A carne é rude e pesada, não se move

facilmente, mas o espírito, como o vento, termo

pelo qual é chamado, age e se move em toda

parte. Assim, o espírito de medo é usado para

denotar essa energia sutil e aquela atividade

penetrante que o medo servil exerce em um

homem, possuindo-o, por assim dizer, e

penetrando em todos os recantos secretos,

trazendo-o sob sua influência direta e poderosa,

como o vento age sobre as velas de um navio.

II. Mas passo a considerar o que propus a falar

em segundo lugar - O que Deus nos deu. Três

coisas são faladas em nosso texto, todas são

significadas pelo apóstolo para estarem em

Page 165: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

165

oposição ao espírito de medo. As três bênçãos

que Deus nos deu, que são opostos diretos ao

espírito de medo que temos considerado, são:

poder, amor, e moderação. Estes vamos ver

separadamente.

A. "PODER" é a grande característica distintiva

do evangelho da graça de Deus. Portanto, é

declarado ser "o poder de Deus para a salvação

de todo aquele que crê"; e do reino de Deus, que

é o reino de Cristo administrado aqui embaixo

no e pelo evangelho. É dito "não em palavra, mas

em poder". "Eu sei", diz o apóstolo, "não o

discurso daqueles que estão inchados, mas em

poder". O apóstolo era muito zeloso quanto a sua

própria pregação, como ele nos diz que estava

com os coríntios "em fraqueza, e em temor, e em

muito tremor"; e isso era uma parte de seu zelo

piedoso, para que sua fé pudesse "permanecer

no poder de Deus".

Mas, você vai perguntar: "O que é poder?" Para

responder a esta pergunta, podemos colocar

outra - O que é poder, como geralmente

entendemos o termo? É algum movimento,

força ou influência, colocado por um agente,

qualquer que seja esse agente. Falamos, por

exemplo, do "poder da água". Correr no vale é o

fluxo de água; mas quando se aproxima da

cidade é encerrado, e uma roda é colocada em

certa direção para atender à corrente. A água

Page 166: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

166

agora age sobre a roda que gira; e chamamos a

causa móvel de "poder aquático". Ou, vemos

uma locomotiva se mover sobre a ferrovia.

Nossos pais teriam olhado com assombro por

ver um trem se movendo, por assim dizer, de si

mesmo. Eles pensariam nisso como pouco mais

que um milagre. Nós sabemos a causa. Sabemos

que o vapor foi controlado e colocado sob a

direção do homem para exercer certo poder,

que se manifesta ao arrastar um peso enorme a

uma velocidade enorme. Isso chamamos de

"poder do vapor". Agora, se a água nunca girou a

roda - se o vapor nunca moveu a locomotiva,

como poderíamos dizer que havia poder na água

ou no vapor?

Tome a ideia em relação à graça. Aqui diante de

nossos olhos e em nossas mãos está a Escritura,

a pura Palavra de Deus. Ora, se a Palavra de Deus

não age sobre o coração de um homem como a

água age sobre a roda, ou o vapor sobre a

locomotiva, não há nada feito. Esse é o caso de

centenas e milhares. Eles leem ou ouvem a

Escritura, mas nada é feito, pelo menos no que

diz respeito à salvação. Não há poder divino

posto adiante; e nenhum poder sendo

apresentado, nada é produzido de uma natureza

divina. Mas, Deus age por sua Palavra sobre os

corações de seus santos, e age com poder, pois

seu trabalho é uma obra poderosa, que produz

Page 167: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

167

efeitos poderosos e leva a resultados poderosos.

Isto, então, é o que Deus disse aqui ter nos dado

- "o espírito de poder".

Agora, com a bênção de Deus, examinaremos

um pouco mais de perto como esse poder atua,

pois é o poder do Espírito de Deus - a operação

de sua graça, ou para falar mais corretamente, é

o poder de Deus sobre o coração do homem.

Pois, como a água atua sobre a roda, como o

vapor age sobre a locomotiva, assim também

Deus, por meio da palavra de sua graça, age

sobre a alma do homem. "De sua própria vontade

nos gerou pela palavra da verdade." "A palavra de

Deus é viva e poderosa". "A voz do Senhor é

poderosa, a voz do Senhor é cheia de majestade".

Vamos aplicar isso.

1. Aqui está um pobre pecador culpado, em seus

próprios sentimentos, justamente condenado a

morrer. Atormentado pela culpa, ele está sob a

influência desse medo escravo do qual eu tenho

falado, pois você deve tomar os dois em oposição

um ao outro como o apóstolo os coloca; poder e

medo. Ele não pode crer no Senhor Jesus Cristo,

ou em seu próprio interesse salvador nele.

Embora Ele o faça com prazer, ele não pode

levantar-se ou sair desse estado afundado em

que foi lançado por culpa de consciência. Ele

treme com a ira vindoura, teme a morte e o

Page 168: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

168

inferno, mas não pode livrar-se dos medos que

trabalham em sua consciência culpada.

Agora, o que esse homem precisa? Ele é

impotente e quase sem esperança, portanto,

precisa do Senhor para apresentar um poder em

sua alma que ele não pode exercer; e quando o

Senhor se alegra com a palavra da sua graça para

pôr em prática este poder e suscitar uma fé viva

no coração desse homem, então ele pode crer.

Nem pode acreditar em nenhum propósito

eficaz até que o Senhor dê poder, porque se a sua

fé é genuína, deve "permanecer no poder de

Deus", pois não pode estar no poder de Deus, a

menos que se esteja primeiro em Deus. Deus dá

a essa alma o poder de acreditar, e então ela crê;

e isso é poder.

2. Mas, os seus temores servis quase o

impediram de esperar que as coisas seriam

assim um dia com ele; de ter esperança na graça

de Deus. Nem pode, enquanto estiver no medo

servil, levantar "uma boa esperança através da

graça" em sua alma; porque se ela vem pela

graça, e ele não tem nenhuma comunicação

sensível da graça, não pode ter uma boa

esperança. Ele pode ter uma esperança, mas

dificilmente se pode dizer que tenha uma boa

esperança; assim enquanto sob a influência do

medo servil, muitas vezes ele não se atreve a

esperar. Embora não esteja desesperado, está

Page 169: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

169

desanimado; de modo que não pode ir além de

uma esperança escura e distante de que sua

alma possa ser salva. Mas, quando o Senhor dá

poder aplicando uma promessa à sua alma, ou

dando-lhe forças para crer no Senhor Jesus, ele

levanta uma boa esperança para a graça, isto é, o

livre favor de Deus entra em seu coração, e ele

tem poder de esperança no Senhor da vida e da

glória. Ele agora é capaz de afrouxar a âncora do

navio e lançá-lo em terra firme. A âncora estava

lá antes, mas ele não tinha poder para deixá-lo

ir; e assim não poderia segurar as feridas de

Jesus ou entrar dentro do véu.

3. Nem tinha o poder de amar. Ele adoraria, mas

não podia. Não podemos amar o Senhor até que

saibamos que o Senhor nos ama; nem podemos

amá-lo com todo o nosso coração e alma até que

ele nos diga que nos ama. Quando ele diz: "Eu

amei você com um amor eterno", e derrama seu

amor na alma, isso dá poder para amá-lo.

Quando ele também se coloca diante de nossos

olhos, em sua beleza divina e bem-aventurança,

isso nos faz cair no amor por ele, porque a beleza

acende o amor. Isso ocorre tanto em relação ao

amor natural, como em relação ao amor

espiritual e divino.

4. Nem podemos nos submeter à vontade de

Deus, se a nossa colidir com a dele. Muitos

santos queridos de Deus seriam reconciliados

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170

com a vontade de seu Pai Celestial, mas não

podem, porque eles sentem um coração

rebelde; e enquanto seu coração está cheio de

rebelião, não há poder para se submeter. Esse

poder deve ser dado por Deus; e às vezes o

Senhor o dá em rica e terna misericórdia. Ele

tem apenas que falar e é feito; apenas tocar o

coração, que ele amolece; só tem que aparecer e

a alma se derrete ao vê-lo. Assim é o poder dado

para se submeter à vontade de Deus, em

oposição à nossa.

Assim, eu poderia percorrer toda a lista de

graças divinas, com um espírito de oração e

súplica, espiritualidade da mente e celestial de

afeições, lutando contra o pecado e Satanás,

crucificando os desejos da carne, removendo o

velho, colocando o novo, e com ele toda a

armadura de Deus, permanecendo fiel até o fim,

porém não temos habilidade para fazer

nenhuma dessas coisas, a não ser que Deus nos

dê o poder interior; e esta força ele aperfeiçoa

em nossa fraqueza.

Quando chegamos ao fim do nosso próprio

poder, chegamos ao princípio do de Deus.

Quando vemos o fim da nossa própria perfeição,

somente então começamos a ver o início da

beleza e glória de Cristo. E quando toda a beleza

da criatura e toda a bondade natural se

desvanecem e se tornam em nada, então a

Page 171: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

171

beleza e a bem-aventurança da Pessoa, do

trabalho, do amor e do sangue de Jesus

começam a abrir-se para a nossa visão

admiradora.

B. Mas, passo a mostrar a segunda coisa que o

apóstolo nos diz que Deus nos deu em oposição

ao Espírito do medo; e esse é o espírito do

AMOR. Ora, o amor é uma graça que pode ser

falsificada, como todas as outras graças, mas dar

um verdadeiro espírito de amor e carinho divino

está tão além do poder de Satanás como está

além de sua vontade.

1. Não há nenhuma marca mais doce ou mais

segura de estar interessado salvificamente no

sangue de Jesus do que amá-lo fervorosamente

com um coração puro, pois certamente nunca

poderemos verdadeira e espiritualmente amá-

lo, a menos que ele nos tenha amado primeiro.

Esta é a declaração expressa do Espírito Santo -

"Nós o amamos porque Ele nos amou primeiro"

(1 João 4:19). Isto fez Paulo dizer "Quem me amou

e se entregou por mim".

Tampouco nossas afeições fluirão para sua

gloriosa pessoa, sangue e trabalho, até que

tenhamos tido alguma descoberta divina dessas

bênçãos para nosso coração e nossa

consciência.

Page 172: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

172

Podemos tentar amá-lo; podemos pensar que é

nosso dever fazê-lo, e pode exercer

perplexidade em nossa mente por esta falta.

Podemos estar secretamente envergonhados de

nossa frieza miserável e lamentar nossa

esterilidade nessa graça abençoada, mas

nenhum poder nosso pode suscitar o verdadeiro

amor a Jesus e ao que ele é em si mesmo. O

espírito de amor e afeição ao Senhor vem do

poder de Deus gerado imediatamente das

comunicações de sua graça, especialmente das

visitas de Cristo à alma. Ele sempre vem com

amor em seu coração e em suas mãos, e nunca

parte sem que deixe seu amor de onde partiu.

Lemos: "Por causa do aroma dos vossos bons

unguentos, o vosso nome é como o unguento

derramado, por isso as virgens vos amam". Uma

vez que o unguento é derramado, a caixa que o

prendia pode ser retirada, mas o cheiro do

unguento ainda permanece, como foi no caso da

mulher que ungiu os pés do Redentor, quando a

casa estava cheia do aroma do unguento. Assim,

onde quer que Jesus tenha vindo em seu Espírito

e graça, quando parte ainda deixa para trás o

aroma de sua presença, como o unguento

derramado. Se, portanto, as virgens o amam

porque seu nome é "como unguento

derramado", quando ele as visita com sua

presença, elas o amam não menos pela doçura

que deixa para trás quando parte.

Page 173: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

173

2. Nem podemos amar os filhos de Deus, a

menos que o Senhor os coloque em nossas

afeições. Nossos corações são por natureza frios

e egoístas; não temos conhecimento de quem

são os santos de Deus, nem temos simpatia por

eles, nenhum prazer em sua companhia,

qualquer sentimento para com eles em sua

angústia, ou qualquer união em sua alegria.

Devemos amar primeiro aquele que os gerou, e

então amaremos aqueles que são gerados por

Ele. Nós amamos o Mestre e então amamos o

servo; nós amamos a cabeça e então amamos os

membros; nós amamos Jesus e então amamos

aqueles a quem Jesus ama e que o amam.

Assim, amar é pela graça, o dom especial de

Deus como o texto declara; por isso como uma

prova segura "sabemos que passamos da morte

para a vida, porque amamos os irmãos." “O que

não ama seu irmão, permanece na morte".

Você pode pensar que é um grande cristão; pode

gabar-se de sua profunda experiência, mas se

não ama os santos de Deus, não há marcas

presentes da graça de Deus estar em seu

coração. E, se você ama os santos de Deus,

manifestá-lo-á em suas palavras e ações, bem

como demonstrará que os ama manifestando

essa afeição fraterna, ternura, tolerância e

simpatia, sem a qual o amor cristão é apenas um

nome.

Page 174: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

174

3. Nem pode amar a Palavra de Deus, a não ser

que ela seja preciosa para sua alma. Você não

pode amar a pregação do evangelho, a menos

que seja recomendada à sua consciência, a

menos que esteja cheia de doçura e unção, e

caia como o orvalho sobre seu coração. Se a

pregação do evangelho traz paz à sua alma,

enche seu coração de sentimentos doces e

abençoados, derrete seu espírito em humildade

e amor, faz Cristo precioso, dissipa suas dúvidas,

remove seus medos e derrama um pequeno céu

dentro de você, então o amará porque o poder de

Deus faz tudo isso por você. Caso contrário, você

será frio e indiferente a ele. Será para você como

para centenas; um mero som de palavras que

não santifica nem salva.

Da mesma forma na leitura das Escrituras. Se

você ama a Escritura, estará lendo-a; se ama as

promessas estará procurando como pode

encontrar mais e mais poder, doçura e vida

nelas. Se você ama a oração, estará orando

muito; se ama a meditação e a comunhão

secreta com o Senhor, escapará de tudo o mais

para que possa desfrutar cada vez mais dela.

Você pode conhecer um homem por seus

amigos; um homem manterá a companhia que

ama. E assim, você pode conhecer um santo de

Deus pela companhia que mantém, pelos livros

que lê, pelas pessoas que ama e pelos frutos da

Page 175: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

175

justiça que só são encontrados no ramo do

evangelho.

C. A última coisa mencionada em nosso texto

como o dom especial de Deus, é o espírito de

"moderação". Que misericórdia é naturalmente

ter moderação! É uma das maiores bênçãos

temporais que Deus pode conceder a um

homem. É muito melhor do que o intelecto, a

imaginação, o dom poético ou o poder de

raciocínio. E quão miserável é ter uma mente

errada! Uma mente no mínimo grau doente,

excêntrica, ou de qualquer forma manchada

com essas fantasias ilusórias que mancham

todo conforto, e muitas vezes levam à pior das

consequências.

"Uma moderação em um corpo sadio", os

pagãos costumavam considerar, em um de seus

provérbios, as maiores bênçãos que seus deuses

podiam dar. Por maior que seja a bênção de um

corpo saudável, uma mente saudável o excede

tanto em valor, como é superior a ele na

natureza.

Como você vê homens arruinando-se todos os

dias por falta de moderação! Que extravagância,

que insensatez estão cometendo diariamente!

Que desordem trazem sobre suas famílias, suas

propriedades, e sobre outros também; que

estragos e ruína por ser enlouquecido com

Page 176: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

176

alguma ilusão ou fantasia selvagem! Mas o

apóstolo não está falando aqui de uma

moderação em coisas naturais, porque embora

este seja um dom temporal muito valioso, não é

graça espiritual - é uma moderação nas coisas

de Deus que ele une com poder e amor. E devo

dizer que vejo este dom do céu como uma

misericórdia inestimável para a igreja de Deus.

Muitas vezes somos reprovados por sermos

fanáticos, entusiastas e pessoas de uma

imaginação selvagem levadas por voos aéreos,

sem qualquer sobriedade de juízos ou de

firmeza mental. Considero que nenhum

encargo fosse cada vez mais falso ou mal

dirigido. Eu considero que aqueles de nós que

conhecem a verdade de Deus pelo ensinamento

divino são eminentemente pessoas de uma

moderação eminente, livre de superstição,

fanatismo, entusiasmo, ou imaginações

selvagens e fantasias ilusórias. Eu nunca tive

uma mente mais sensata na minha vida do que

tenho neste momento, e estou certo de que

minha religião não fez minha mente pior. Isso

fez com que minha mente funcionasse tanto

naturalmente quanto espiritualmente, pois me

curou de mil fantasias e desejos ambiciosos e

selvagens, e me deu sobriedade nas coisas

naturais e espirituais.

A pergunta que nos devemos fazer é: até que

ponto somos participantes desta religião divina?

Page 177: A revelação anunciada como nos dias apostólicos III

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Podemos ter medo servil, culpa, escravidão,

escuridão e morte; porém, embora sejam

sentidos por muitos filhos de Deus e por todos

durante diferentes períodos de sua vida

espiritual, contudo não são evidências de que

somos participantes da graça? Temos "o espírito

de poder, de amor e de moderação?" Temos

alguma razão para crer que Deus, pela sua graça

tem feito alguma coisa em nossos corações de

natureza salvadora? Se tivermos, será provado

como tal. Nós teremos o prazer aqui, e a ele será

prestado aqui e no futuro, todo o louvor, honra e

glória devido ao seu glorioso e bendito nome.