A revelação anunciada como nos dias apostólicos IV - livro

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A Revelação Anunciada como nos Dias Apostólicos I

Este é um trabalho de tradução e adaptação

feito pelo Pr Silvio Dutra, de obras publicadas

nos séculos XVI a XIX, por um processo de

eximia seleção de arquivos em domínio

público de homens santos de Deus que

tiveram uma vida piedosa e real, que é tão

raramente vista em nossos dias. Estas

mensagens estão sendo traduzidas

pioneiramente para a língua portuguesa,

dando assim oportunidade de serem lidas e

conhecidas em países da citada língua.

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Sumário

O Incenso da Oração.............................. 04

O Pão Nosso de Cada Dia.....................

26

O Último Dia do Crente, Seu

Melhor Dia..................................................

49

Aos Companheiros e os Livros.........

95

Pacificação..................................................

115

Paz, Tribulação e Vitória......................

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O Incenso da Oração

Título original: The incense of prayer

Por Octavius Winslow (1808-1878)

Traduzido, Adaptado e

Editado por Silvio Dutra

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"Suba a minha oração, como incenso,

diante de ti, e seja o levantar das minhas

mãos como o sacrifício da tarde!" (Salmo

141: 2).

Deus tem um templo fora do céu. Nem todo

o culto, nem todos os adoradores estão

confinados a esse mundo feliz, onde ele

habita imediatamente. Ele tem outro

santuário na terra - outros adoradores e

outros serviços, onde, com quem, e com os

feixes de sua presença estão estritamente

comprometidos e tão verdadeiramente

brilhantes como na assembleia geral da

igreja reunida em torno dele na glória. Não é

a magnífica estrutura feita por mãos, com

seu esplêndido ritual e seu pesado

cerimonial lisonjeador para o orgulho a fim

de cativar o sentido do homem, mas um

templo e um serviço do templo muito mais

bonito aos olhos de Deus é sobre o qual nós

falaremos. "Assim diz o Senhor: O céu é o

meu trono, e a terra o escabelo dos meus

pés; que casa me edificaríeis vós? E qual

seria o lugar do meu descanso? Porque a

minha mão fez todas essas coisas, e assim

todas elas vieram a existir, diz o Senhor; mas

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para esse olharei, para o humilde e contrito

de espírito, que treme da minha palavra.”

(Isa 66.1,2).

" Porque assim diz o Alto e o Sublime, que

habita na eternidade, e cujo nome é Santo:

Num alto e santo lugar habito; como

também com o contrito e abatido de espírito,

para vivificar o espírito dos abatidos, e para

vivificar o coração dos contritos" (Isaías

57.15).

Este é o templo de Deus na terra, este é o seu

adorador, e este é o seu culto. A estrutura

material não é nada, o serviço magnífico não

é nada, o adorador formal não é nada "mas

eis para quem olharei: para o humilde e

contrito de espírito, que treme da minha

palavra.” Oh, mais solene verdade! Oh mais

que preciosas palavras! "Senhor, grava-as no

meu coração pelo teu bendito Espírito, seja o

meu corpo o teu templo, o meu coração o

teu santuário, a tua presença a minha vida, a

minha vida o teu serviço".

(Nota do tradutor: Antes de selecionar e

iniciar a tradução deste texto, eu havia

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meditado sobre o modo como os antigos se

referiam ao cristianismo como sendo a

religião verdadeira, e que este uso da palavra

religião nada tinha a ver segundo o ponto de

vista deles com a noção presente de rituais e

cerimônias pesados e prescritos por forma

tradicional, que de tal modo são observados

que chegam a ocupar o lugar da verdadeira

piedade e santidade. Então, em todos os seus

escritos, ao se referirem à religião

verdadeira apontavam para a vida espiritual

em comunhão com Cristo e com os irmãos

da fé, no cultivo das virtudes relativas aos

atributos divinos pelo poder do Espírito e

aplicação da Palavra de Deus à vida. Não

admira que tantos não se sintam movidos a

congregarem em templos cristãos onde

pouco se vê desta operação vital da piedade

nos corações dos crentes, porém muito de

formas, ritos e cerimônias que chegam até

mesmo a espantar os espíritos mais

sensíveis e temerosos.)

O crente em Jesus é um sacerdote real,

ordenado para oferecer sacrifícios

espirituais a Deus. Ele é chamado e

consagrado, vestido e ungido, para um

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serviço elevado e santo. Seu chamado é

divino, sua consagração é santa, suas roupas

são valiosas, sua unção é perfumada. Antes

da postura, da glória e do serviço de um dos

sacerdotes reais, toda a pompa e

magnificência do sacerdócio de Aarão se

desvanecem em nada. Chamado de acordo

com o propósito de Deus, consagrado e

separado pela graça soberana, investido

com a justiça de Cristo, ungido com o

Espírito Santo e oferecendo o sacrifício

espiritual de um "coração quebrantado e

contrito", é surpreendente que Deus olhe

com um deleite inefável a tais adoradores?

Mas, apenas de um único desses muitos

pontos interessantes devemos nos permitir

falar no momento. Referimo-nos ao incenso

que cada verdadeiro crente em Jesus, em

seu caráter de sacerdote real, oferece ao

Senhor.

O assunto apresenta à nossa visão, o cristão

em seu mais santo e solene traço, que se

aproxima de Deus e apresenta diante do

altar de sua graça o incenso da oração. A

referência típica a isto é

surpreendentemente bela.

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"1 Farás um altar para queimar o incenso; de

madeira de acácia o farás.

2 O seu comprimento será de um côvado, e a sua largura de um côvado; será quadrado; e

de dois côvados será a sua altura; as suas

pontas formarão uma só peça com ele.

3 De ouro puro o cobrirás, tanto a face superior como as suas paredes ao redor, e as

suas pontas; e lhe farás uma moldura de

ouro ao redor.

4 Também lhe farás duas argolas de ouro debaixo da sua moldura; nos dois cantos de

ambos os lados as farás; e elas servirão de

lugares para os varais com que o altar será

levado.

5 Farás também os varais de madeira de

acácia e os cobrirás de ouro.

6 E porás o altar diante do véu que está junto

à arca do testemunho, diante do propiciatório, que se acha sobre o

testemunho, onde eu virei a ti.

7 E Arão queimará sobre ele o incenso das

especiarias; cada manhã, quando puser em ordem as lâmpadas, o queimará.

8 Também quando acender as lâmpadas à

tardinha, o queimará; este será incenso

perpétuo perante o Senhor pelas vossas gerações.

9 Não oferecereis sobre ele incenso

estranho, nem holocausto, nem oferta de

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cereais; nem tampouco derramareis sobre

ele ofertas de libação.” (Êxodo 30.1-9)

Que este incenso era típico da oração,

apareceria em Lucas 1:10, "e toda a multidão

do povo orava da parte de fora, à hora do

incenso."

Davi, embora morando na época mais

sombria da igreja, interpreta correta e

lindamente este tipo: "Que a minha oração

seja posta diante de vós como incenso". É

uma figura apropriada e impressionante.

E agradecidos, querido leitor, devemos nos

aproveitar de tudo o que na Palavra Divina

tende a nos ensinar a natureza, a ilustrar a

bem-aventurança, a aprofundar a

solenidade e a envolver nossos esforços no

santo dever e no doce privilégio da ORAÇÃO.

Interessante e importante, assim como os

tópicos sobre os quais nos dirigimos

anteriormente, todos devem ceder ao interesse e à importância disto. A oração é o

sopro vital da alma vivente; a oração é o

modo de nossa aproximação a Deus; a oração

é o canal designado de toda a bênção. A

ocasião contemplada ao longo deste

pequeno volume é especialmente a época

em que a oração é encontrada como a mais

calmante e santificante.

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Todas as preciosas bênçãos que nos

esforçamos para trazer diante de seu

coração sofrido, calculadas para consolá-lo e

curá-lo, são transmitidas a você através

deste único modo: a comunhão com Deus.

Uma vez que possamos convencê-lo a

derramar seu coração para ele - assim,

separando-o de todos os outros recursos de

conforto, e focando-o exclusivamente para a

oração; em outras palavras, fazendo com

que você foque exclusivamente em Deus,

sentimos que nós o conduzimos através das

ondas de sua dor para a rocha que é mais alta

do que você. Que o Espírito Eterno seja nosso

Mestre e Consolador, enquanto brevemente

falamos do INCENSO DA ORAÇÃO.

O incensário do crente - o que é? De onde

surge o incenso da oração subindo ao trono

do Eterno? Oh, é o coração. O coração

renovado e santificado do crente é o

incensário de onde sobe a nuvem

perfumada. Ah crente; há falsos, há

censuradores espúrios acenando diante do

trono da graça. Não há precioso incenso

neles, nem fogo, nem nuvem. Deus não

cheira um aroma doce em sua oferta. A

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verdadeira oração é o incenso de um

coração quebrantado pelo pecado,

humilhado pela sua iniquidade, lamentando

sua praga, tocado, curado e confortado com

o sangue expiatório do grande sacrifício de

Deus. Este é o verdadeiro incensário; isso é o

que Deus olha. Não podemos citar

novamente suas palavras, tão expressivas,

tão solenes, tão preciosas? "A este homem

eu olharei, aquele que é pobre e de um

espírito CONTRITO, e que TREME da minha

palavra."

Este é o próprio incensário escolhido por

Deus. Isso, e somente isso, ele considerará.

Oh! Quem pode descrever o valor, a beleza e

a aceitação desse incensário para aquele

cujos "olhos se movem de um lado para

outro por toda a terra, para mostrar-se forte

em favor daqueles cujo coração é perfeito

para com ele?"

A este, Deus olha. "Porque o Senhor não vê o

que o homem vê, porque o homem olha para

o exterior, mas o Senhor olha para o coração"

(1 Sam 16.7). Precioso incensário! Moldado,

formado, embelezado por Deus.

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Não existe na terra uma coisa mais vil e

desagradável, do ponto de vista do

verdadeiro crente, do que seu próprio

coração. De qualquer outro olho humano

cujo seio é profundamente, e

impenetravelmente velado; tudo o que está

dentro é conhecido apenas por si mesmo. O

que essas câmaras de abominação são, Deus

não permitirá que outra criatura saiba. Mas,

oh, quão escuro, quão repugnante, quão

impiedoso para aquele "que conhece a praga

de seu próprio coração!" E ainda assim; oh

graça maravilhosa!

Deus, por seu Espírito renovador fez desse

coração um incensário caro e precioso, cuja

nuvem ascende e enche todos os céus com

sua fragrância. Com todo seu mal interior e

autoaversão, Deus vê suas lutas, observa seu

conflito e marca sua sinceridade. Ele tem

seu dedo em seu pulso; ele sente cada batida,

registra cada vibração. Nem um sentimento

o emociona, nem uma emoção o agita, nem

uma tristeza o obscurece, nem um pecado o

fere, nem um pensamento passa por ele do

qual não está ciente. Crente! Jesus ama esse

seu coração, pois comprou com o sangue, as

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agonias e as lágrimas de Seu próprio

coração. Ele habita em você pelo seu

Espírito, e o ama. Você é Seu templo, Sua

casa, Seu incensário, e nunca poderia

aproximá-lo em oração, mas está preparado

para aceitar tanto o incensário como o

incenso com uma complacência e deleite,

que encontra a melhor expressão na

linguagem de sua própria palavra, "Eu vou

aceitar você com seu doce aroma."

E, o que é o incenso que flui como uma

nuvem deste precioso incensário? Oh, é o

incenso da oração! O mais precioso e

perfumado incenso que jamais chegou ao

céu através de um mero coração humano.

Como descreveremos o preço deste

incenso? Os seus materiais, como aqueles

que Arão lançou no incensário, que os

sacerdotes queimavam diante do Senhor,

cuja oferta era chamada de "incenso de

especiarias", são mais caros ainda. São

materiais divinos lançados nele pelo próprio

Deus; a convicção do coração sobre o

pecado, o seu sentimento de autoaversão, a

sua doce contrição, a sua santa tristeza, o seu

arrependimento sincero, a sua sincera

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confissão, a sua plenitude livre e sem

reservas derramando-se diante de Deus. E

de fato, deve ser muito daquilo que o Espírito

Santo de Deus inspirou, porque ele é a brasa

viva que queima o incenso.

E o que diremos da fragrância deste

incenso? Oh, quanto ainda temos de

aprender sobre a doçura intrínseca da

oração real! Só podemos conceber

imperfeitamente a fragrância que deve

haver para Deus na respiração do Espírito

Divino, no coração de um pobre pecador. É

talvez um gemido, um suspiro, uma lágrima,

um olhar, mas é a pronunciação do coração,

e Deus pode ouvir a voz do nosso choro, e

interpretar a linguagem de nossos desejos,

quando os lábios não proferem uma palavra,

tão perfumado para ele é o incenso da

oração. E quando a oração surge de um

coração tocado pelo Espírito de adoção,

sendo a respiração do amor de um filho, a

confiança e forte desejo de buscar o seio de

Deus; oh quão rico o incenso é então!

E é o incenso de um coração de oração

carregado por tristeza, ferido e murchado

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como erva, menos perfumado para Deus?

Não, cristão de luto, a oração é o alívio dado

por Deus para o seu triste coração. Dai-vos,

porém à oração, agora na hora da vossa

tristeza e solidão, e os vossos sopros

enviados ao céu com trêmulos acenos,

retornarão ao vosso coração desconsolado e

desolado, todos ricos e cheios de

consolações do céu. As respirações santas

que sobem do coração de um crente, se

acumulam nos céus superiores, e quando a

maioria precisa de refrigério descem

novamente nas bênçãos da aliança sobre sua

alma. Nenhuma oração de fé real é perdida,

assim como a umidade exalada da Terra

nunca é perdida. Aquele vapor fino, quase

invisível, que o sol da manhã apanhou,

retorna novamente destilando em suaves

orvalhos, ou caindo em abundante chuva,

regando a terra e fazendo-a produzir e

brotar. Esse desejo fraco, aquela respiração

fraca da alma à busca de Deus, de Jesus, de

santidade, e de céu, nunca perecerá.

Era, talvez, tão fraco e trêmulo, tão

misturado com tristeza e dor, tão carregado

de queixas e pecado, que você mal podia

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discerni-la como verdadeira oração; e ainda,

amado, ascendendo de um coração habitado

pelo Espírito Santo de Deus, e tocado pelo

amor de Deus, ela se levantou como a nuvem

de incenso diante do trono do Eterno e foi

misturada com a fragrância do céu. Ao redor

daquele trono orações estão se reunindo,

como uma aglomeração de anjos, e embora

a visão possa demorar, contudo esperando

na fé humilde o tempo de Deus, aquelas

orações voltarão carregadas com as mais

ricas bênçãos da aliança eterna - "as fiéis

misericórdias de Davi". Deus concederá os

desejos de seu coração. Jesus se manifestará

à sua alma. Para nada mais, nosso Pai

Celestial se comprometeu mais forte e

solenemente do que com a resposta da

oração da fé. "Chamarás, e eu responderei."

Mas, há ainda um aspecto de nosso assunto

indescritivelmente glorioso, indizivelmente

precioso. De onde o incenso da oração deriva

sua verdadeira fragrância, poder e aceitação

com Deus?

Ah, amado! A resposta está próxima. De

onde, senão do incenso do mérito expiatório

de nosso Grande Sumo Sacerdote oferecido

na terra, e pela incessante intercessão

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apresentada no céu? A abertura do sétimo

selo, na visão apocalíptica revelou esta

gloriosa verdade ao olho maravilhado do

evangelista. "Veio outro anjo, e pôs-se junto

ao altar, tendo um incensário de ouro; e foi-

lhe dado muito incenso, para que o

oferecesse com as orações de todos os

santos sobre o altar de ouro que está diante do trono. E da mão do anjo subiu diante de

Deus a fumaça do incenso com as orações

dos santos." (Apocalipse 8: 3, 4).

Este anjo não é outro senão o Anjo da

aliança, Jesus, nosso Grande Sumo

Sacerdote que está diante do altar de ouro no

céu, apresentando o incenso doce de seus

méritos divinos e morte sacrificial; a nuvem

que sobe diante de Deus "com as orações dos

santos".

Oh, é o mérito do nosso Emanuel, "que se

entregou a si mesmo por nós como uma

oferta e um sacrifício a Deus, por um cheiro

suave", que dá virtude, prevalência e

aceitação ao incenso da oração ascendente

do coração dos filhos de Deus. Cada petição,

cada desejo, cada gemido, cada suspiro, cada

olhar, surge diante de Deus com a "fumaça

do incenso" que sobe da cruz de Jesus e do

"altar de ouro que está diante do trono". Toda

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a imperfeição e impureza que se misturam

com nossas devoções aqui, é separada de

cada petição pela expiação de nosso

Mediador, que a apresenta como doce

incenso a Deus.

Veja seu Grande Sumo Sacerdote diante do

trono! Veja-o movendo o incensário de ouro

de um lado para outro! Veja como a nuvem

de incenso sobe e envolve o trono! Veja

como o céu está cheio de sua fragrância e

sua glória!

Crente em Jesus, sobre o coração do sumo

sacerdote oficiante o teu nome está escrito;

na fumaça do incenso que subiu do

incensário movido, suas orações são

apresentadas. O sangue de Jesus purifica-as;

o mérito de Emanuel as perfuma, e nosso

glorioso Sumo Sacerdote assim apresenta

tanto a nossa pessoa como o nosso sacrifício

a seu Pai e nosso Pai, ao seu Deus e nosso

Deus. Oh maravilhoso incentivo à oração!

Quem, com tanta certeza de que suas

petições fracas, quebradas e manchadas,

mas sinceras, acharão aceitação com Deus,

não se dirigiriam em oração no trono da

graça?

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Vá, em nome de Jesus; vá, lançando-se sobre

o mérito que enche o céu com sua

fragrância; vá e derrame seu pesar, revele

sua tristeza, confesse seu pecado, pleiteie o

seu perdão, revele suas necessidades,

contemplando o Anjo que está no "altar de

ouro que está diante do trono". O incenso

que respira de seu coração oprimido e ferido

"subirá diante de Deus da mão do Anjo",

como uma nuvem, rica, perfumada e aceita.

Ó, dá-te à oração! Não diga que seu

incensário não tem nada a oferecer. Que não

contém especiarias doces, nem fogo, nem

incenso. Apresente-o como ele está, todo

vazio e frio, ao Grande Sumo Sacerdote, e

enquanto olha com fé para aquele que é o

Altar, o Cordeiro morto e o Sacerdote,

meditando assim sobre este espetáculo

maravilhoso de Jesus, sacrificado por você,

o seu Espírito lançará as doces especiarias

da graça e as brasas de amor no seu coração

vazio e frio, e haverá uma nuvem de incenso

precioso, que ascenderá com o "muito

incenso" dos méritos do Salvador, como

"uma oferta e um sacrifício a Deus de um

cheiro suave e doce."

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Lembre-se, que Jesus oferece com "muito

incenso" a oração de "todos os santos". Nesse

número, você amado, está incluído. Os

santos provados, os santos doentes, os

santos sofridos, os santos tentados, os santos

enlutados, os santos fracos e enfermos, os

santos errantes e restaurados; sim, "as

orações de todos os santos" são "oferecidas

sobre o altar de ouro que está diante do

trono".

Nem esqueça que há incenso da noite, bem

como incenso da manhã. "Quando Aarão

acender as lâmpadas à tarde, queimará

incenso." E assim, quando o dia da época de

sua prosperidade e alegria é passado, e a

noite de adversidade, tristeza e solidão

desenha suas sombrias cortinas em torno de

você, então tome o seu incensário e agite-o

diante do Senhor. Ah! Penso naquela hora de

solidão solene e triste, naquela hora em que

a tristeza vem, e visões de outros dias

dançam diante dos olhos, como sombras na

parede, naquela hora em que falha todo o

apoio e simpatia humana; é então que o mais

doce incenso da oração sobe diante de Deus.

Sim, não há oração tão verdadeira, tão

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poderosa, tão perfumada como a que a

tristeza pressiona no coração. Ó, crente que

sofre, entrega-te a ti mesmo à oração.

Você é um peregrino, e solitário?

Longe da casa que uma vez chamou de sua

própria?

Do peito fiel e da amizade arrebatado,

Em mãos estranhas seus confortos

investidos,

Sua vida um dia invernal triste,

Afastado pela luz do sol! - Levante-se e ore!

Sorriu em você uma vez a felicidade da terra,

E alegrias vorazes de valor transitório?

Você adorou em algum santuário de ídolos,

Ou quanto dobrou teus joelhos?

Desapareceu aquelas criaturas de um dia,

O que você deixou? Levante-se e ore!

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Com lágrimas, com agonia mais amarga,

O Salvador lutou, ó alma, para ti!

Antes que ele pudesse triunfar

Para defender o sacrifício aceito:

Então, até que o mundo passe,

Ficam firmes as suas palavras: Levantai-vos

e orai!

Traga, pois o seu incensário, sacerdote

pesaroso do Senhor! Reabasteça-o no altar

do Calvário, e depois acene com uma mão

forte diante de Deus até que a tua pessoa, as

tuas dores e a tua culpa sejam todos

envolvidos e perdidos na nuvem de incenso

doce que se eleva diante do trono e

misturado com a nuvem ascendente da

preciosa intercessão do Redentor.

A oração o acalmará, a oração aliviará seu

coração, a oração removerá ou mitigará sua

dor, a oração curará sua doença ou tornará

sua doença agradável de suportar, a oração

expulsará o mau temperamento, a oração

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trará Jesus sensivelmente perto para tua

alma, a oração levará o teu coração ao céu e

trará o céu ao teu coração.

"Senhor, clamo a vós; apressai-vos, escutai a

minha voz quando clamo, que a minha

oração seja apresentada diante de vós como

incenso, e o levantamento das minhas mãos

como sacrifício da tarde". "Eu me entrego à

oração."

As orações que faço serão então doces,

Se Tu, oh Espírito, me dás pelo que orar;

Meu coração sem ajuda é argila estéril,

Aquele que de seu eu natural não pode

alimentar nada:

Das obras boas e piedosas Tu és a semente

Só há vivificação quando Tu o fazes:

Sempre que Tu nos mostras o teu

verdadeiro caminho,

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Nenhum homem pode encontrá-lo: Pai! Só

Você pode ordenar.

Oh, então, respire esses pensamentos em

minha mente

Porque tal virtude pode em mim ser

produzida,

Que em Seus passos santos eu possa pisar;

Os grilhões da minha língua você desatará,

Que eu possa ter o poder de cantar a Ti,

E entoar louvores ao Teu nome

eternamente.

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O Pão Nosso de Cada Dia – Não se

Preocupe

Título original: Our Daily Bread - Don't Worry!

Por J. R. Miller (1840-192)

Traduzido, Adaptado e

Editado por Silvio Dutra

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"O pão nosso de cada dia nos dai hoje."

(Mateus 6:11)

Estamos a meio caminho através da Oração do Senhor, e chegamos agora à primeira petição de algo para nós mesmos. Nós aprendemos que

Deus deve ser sempre colocado em primeiro

lugar; a honra do seu nome, que venha o seu

reino, e se faça a sua vontade devem sempre ser pensados e procurados antes de qualquer coisa

de nosso próprio e particular interesse.

No entanto, é um grande conforto saber que podemos trazer nossas necessidades físicas a

Deus em oração. Ao longo das Escrituras, somos

ensinados que nada que diz respeito à nossa vida, de alguma forma é muito pequeno para ser

de interesse para o nosso Pai celestial. Enquanto

a oração específica aqui, é para o pão, todas as

nossas necessidades físicas estão incluídas. Em uma passagem excelente no mesmo sermão de

Jesus, somos ensinados que nosso Pai celestial

cuida das aves provendo para elas, bem como da

roupagem das flores em sua beleza deslumbrante que dura apenas um dia. Em

seguida, somos ensinados, que o mesmo amor

que provê, portanto, para os pássaros e os lírios

vai cuidar muito mais de nós! Nada necessário para a nossa vida é muito pequeno ou muito

terreno para ser posto no coração por uma

oração.

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Esta petição para o pão de cada dia, como todos os ditos de Cristo, é cheia de significado

profundo. Cada palavra tem sugestões ricas.

"O pão nosso de cada dia nos dai hoje." Pedimos a Deus para nos dar o pão. Reconhecemos assim,

a nossa dependência dele para isso. É difícil oferecer esta petição com significado real,

quando temos abundância em nossas mãos,

sem temer qualquer necessidade. Podemos

conceber os muito pobres, sem pão, à beira de morrer de fome, proferindo a oração e

colocando todo o seu coração nisto. O

sentimento amargo da necessidade faz o clamor

ser real para eles. Mas, para aqueles que nunca sentiram uma pontada de fome real, não é fácil

perceber o sentido de dependência, que a

petição implica. Esta é uma das palavras de

Cristo, cujo pleno significado, somente a experiência pode ensinar.

No entanto, é verdade que qualquer que seja a abundância que possamos ter, na verdade, dependemos de Deus para o pão de cada dia! A

história do milagre do maná, nos quarenta anos

no deserto, não é senão uma parábola de um

outro milagre incomensuravelmente maior; o fornecimento de pão para bilhões de pessoas em

toda terra, para todos os dias, de todos os

séculos!

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O que nós chamamos de leis da natureza são apenas maneiras comuns de nosso Pai

trabalhar. A regularidade dessas leis é senão a

prova da fidelidade divina. Suponha que, para um único ano, ou, até mesmo por uma semana

o milagre do pão provido por Deus cessasse em

toda a terra; quais seriam as consequências?

A continuidade ininterrupta da misericórdia de Deus em fornecer alimento dificulta a nossa

apreciação da sua grandeza, e sua necessidade

para nós.

"O pão nosso de cada dia nos dai hoje." Esta oração implica também, que todo o pão do

mundo é de Deus! "A terra é do Senhor, e a sua

plenitude." O pão pertence a ele, e o que precisamos pode se tornar nosso, somente

através de seu dom para nós. Podemos ter isto e

usá-lo, sem pedir a ele, mas, se assim o fizermos, vamos pegar aquilo a que não temos direito. Até

mesmo o alimento que está na nossa mesa,

pronto para ser comido ainda não é nosso até

que o peçamos a Deus, porque, na verdade, pertence a ele.

No entanto, aqueles que não oram, nem sequer pensam em Deus parecem estar alimentados,

tanto quanto o justo, e às vezes, mais abundantemente. Deus "faz nascer o seu sol

sobre maus e bons, e faz chover sobre os justos

e os injustos".

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Mas há uma diferença. Aqueles que pedem a Deus o seu pão, o obtêm como seu dom e com a

sua bênção sobre ele; enquanto que aqueles que

o tomam sem pedir e sem agradecer por ele, o obtêm, e podem ser alimentados, mas perdem

a bênção de Deus que enriquece e dá valor a

tudo o que temos. Isto sugere o verdadeiro significado e o acerto do costume cristão de

pedir uma bênção, ou "dar graças" antes de uma

refeição.

"O pão nosso de cada dia nos dai hoje." A forma da oração ensina a lição da abnegação. Não é

"Dê-me", mas "Dê-nos." Nós não podemos chegar

a Deus para nós mesmos. Devemos pedir pão

para os outros, para todos, até mesmo para os nossos inimigos, se temos inimigos.

Especialmente devemos pensar nos

necessitados, nos destituídos, pedindo a Deus

para dar-lhes pão. Se formos sinceros devemos estar prontos também, até onde tenhamos

oportunidade, e tanto quanto somos capazes,

para ajudar, oferecendo a nossa oração para os

outros, compartilhando a nossa abundância com aqueles que nada têm. "Quem tiver bens do

mundo, e, vendo o seu irmão em necessidade, e

fechar o seu coração para ele, como é que o

amor de Deus pode permanecer nele?"

Um dos mais belos comentários sobre este ensinamento está na forma como o povo da

Igreja Primitiva vivia tendo tudo em comum.

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Após o dia de Pentecostes, no brilho do recém-

nascido amor dos discípulos, aqueles que

tinham abundância, davam para aqueles que

eram pobres, de modo que havia igualdade e ninguém tinha falta. Só assim pode qualquer

seguidor de Cristo cumprir o ensinamento do

Mestre. Devemos estar prontos para partilhar nosso pão com nosso irmão que não o tem.

"O pão nosso de cada dia nos dai hoje." Há uma limitação nesta petição. Na outra forma desta

oração, em Lucas, as palavras variam um pouco, "Dá-nos dia a dia o nosso pão de cada dia." Em

Mateus, é uma oração apenas para um dia sem

pensar no amanhã. Em Lucas, a oração abrange

outros dias, mas apenas como eles vêm, um dia de cada vez. Em ambas as formas, somos

ensinados a orar apenas para o pão de um dia.

Há uma lição profunda neste ensinamento. A vida não nos é dada para o ano ou para o mês, mas para dias individuais. A noite é o horizonte

que limita nossa visão; nós não vemos o dia

seguinte, e confinamos o nosso pensamento e

preocupação, ao pouco espaço entre o nascer e o pôr-do-sol. Isto não proíbe o planejamento,

pois a Bíblia incentiva o cuidado sábio e bom

para o futuro. Mas todos nós somos ordenados a

pedir a Deus para nos dar o que é suficiente para os dias atuais. Mesmo à noite, quando a última

migalha é comida e não há nada na loja para

amanhã, não precisamos ter medo, nem pensar

32

que Deus se esqueceu de nós. Quando o amanhã

chegar, podemos pedir a Deus o nosso pão de

cada dia e saber que Deus vai nos ouvir e

responder a nossa oração do modo certo.

Aqui, novamente, nos é ensinada a lição maravilhosa de viver um dia de cada vez; uma

lição que percorre toda a Bíblia. Isto nos

libertaria de uma imensa quantidade de

preocupação e ansiedade se pudéssemos realmente aprender esta lição.

Tentar levar a carga de amanhã, juntamente com os fardos de hoje coloca as pessoas para

baixo! Qualquer um pode fazer tarefas de um dia

em um único dia, ou suportar a luta de um dia; mas isso é o suficiente para qualquer um! Isso é

tudo que Deus pretende para qualquer um

carregar: apenas a carga de um dia.

"O pão nosso de cada dia nos dai hoje." Há uma sugestão especial na palavra NOSSO. “Dê-nos o

nosso pão.”

Primeiro, ele se torna nosso somente através de um dom de Deus para nós. Mas, há algo mais

também implicado; o pão deve ser conquistado

por nós antes que seja adequadamente nosso. É

evidente que é ensinado nas Escrituras que todos devem trabalhar para o seu próprio pão.

Esta foi a lei do estado não caído no Jardim do

Éden, e não é menos lei no reino da redenção.

33

Claro que isto não se aplica à crianças que são

demasiado jovens para o trabalho; ou para os

velhos que são demasiado fracos; ou para os

doentes que estão incapacitados para o trabalho; todos esses estão sob o cuidado

especial de Deus e não serão esquecidos. Mas

todos os que são capazes de trabalhar devem fazê-lo, ou o pão que eles comem não é

legitimamente seu. "Se alguém não trabalhar",

diz o apóstolo Paulo, "também não coma!"

O pão deve ser obtido também, de forma que tenham a aprovação divina. Se um homem

rouba seu pão de cada dia, este não é seu, ele

tem roubado a Deus e a seu semelhante, e há

uma maldição sobre o que ele come! O dinheiro obtido nas transações fraudulentas, ou por

quaisquer meios desonestos, não foi justamente

merecido, e a bênção de Deus não pode ser

invocada sobre ele por qualquer forma de oração.

Imagine o preguiçoso, por exemplo, vivendo com os frutos do seu pecado, pedindo a Deus para dar-lhe, como uma bênção, o pão na sua

mesa! Imagine um dono de bar, que ganhou seu

pão com a venda de bebida forte, trazendo ruína

sobre vidas e casas, pedindo a Deus para abençoar o seu pão de cada dia! O pão de Deus

pode se tornar nosso com uma bênção, somente

quando é ganho de forma honesta. Enquanto

34

trabalhamos para ganhar o pão, devemos nos

guardar da corrupção do mundo.

"O pão nosso de cada dia nos dai hoje." Existe ainda uma outra limitação na petição, na

palavra “diariamente”, que significa “procurado para o dia - a provisão diária”.

Não é, portanto uma oração para uma grande oferta. Nós não somos autorizados a pedir luxos.

Não precisamos inferir que é errado para nós

termos mais do que nossa real necessidade que o dia requer, mas o "pão de cada dia" é tudo o que

é prometido.

Paulo diz: "O meu Deus, deve satisfazer todas as vossas necessidades, segundo as suas riquezas

na glória." Isto nos assegura uma disposição

muito abundante. Nosso Pai faz tudo generosamente. Ele nunca é mesquinho em

cuidar de seus filhos. Com frequência ele

fornece suas provisões mais abundantemente,

dando-lhes muito mais do que precisam. Mas, nós somos ensinados a pedir apenas o "pão de

cada dia", o suficiente; e não podemos

reivindicar a promessa de mais.

(Nota do tradutor: Com esta oração pelo pão diário somos ensinados a não sermos cobiçosos, vivendo com a ganância e avareza em nosso

coração. Portanto, a oração diária é um

lembrete de que devemos estar satisfeitos com

35

o que tivermos, seja pouco ou muito, pois a

nossa satisfação não deve depender do quanto

possuímos de bens deste mundo, mas da nossa

comunhão real com Deus.)

Esta oração parece proibir a extravagância. O pão de Deus nunca deve ser desperdiçado! Há

uma história de Carlyle, que um dia foi visto indo para o meio da rua pegar um pedaço de pão

que viu no chão. Pegando-o com sua mão

suavemente, como se fosse algo muito valioso,

ele limpou a sujeira e, em seguida, levou-o até o meio-fio e colocou-o sobre ele, dizendo: "Eu fui

ensinado por minha mãe a nunca desperdiçar

nada, muito menos pão, o mais precioso de

todos os dons de Deus. Este pedaço de pão pode alimentar um cão com fome ou um pequeno

pardal."

Nosso Senhor ensinou a mesma lição, quando, depois de operar seu grande milagre dos pães,

alimentando milhares, ele ordenou que todas as

migalhas fossem ajuntadas, para que nada fosse

desperdiçado. O pão que temos como dom de Deus é sagrado e não deve ser desperdiçado,

seja de forma imprudente ou em extravagância

inútil!

Somos ensinados a limitar nossos desejos, e pedir com confiança para todos que possam

necessitar a cada dia. Os dias diferem; alguns

trazem suas cargas pesadas, suas grandes

36

necessidades, sua tristeza aguda, suas cruzes;

outros dias têm menos necessidades. Deus

conhece os nossos dias, e ele é mais capaz do

que somos, para medir nossas necessidades reais para cada dia. Por isso, podemos pedir

quotidianamente o pão, com segurança, e deixá-

lo escolher o que deve nos dar. Ele nunca vai dar muito pouco!

É certamente, um grande conforto saber que neste mundo cada cristão é pensado e cuidado

por nosso Pai Celestial, que nos ama com um amor infinito e eterno! Ele não pensa de nós

apenas como uma vasta família de indivíduos,

mas como indivíduos. Ele sabe e alimenta todas

as aves e nenhuma delas pode cair no chão sem a permissão da sua vontade.

Mais seguramente e com maior pensamento de amor, ele conhece seus próprios filhos! Ele conhece os nossos nomes. Cada um de nós é

pessoalmente caro para ele. Os cabelos da nossa

cabeça estão todos contados. Nenhum de nós é

esquecido por Deus, por um só momento. Não podemos estar em quaisquer condições ou

circunstâncias que não sejam bem conhecidas

por Deus. "O vosso Pai sabe o que você precisa,

antes de pedir a ele."

Este ensinamento faz com que a lei da vida seja muito simples. Não estamos vivendo para obter

comida, mas vivemos para Deus. Não temos

37

nada a ver diretamente com a provisão de

nossas próprias necessidades, porque isto é

assunto de Deus, e não nosso. Há apenas duas

coisas com que precisamos nos preocupar; em primeiro lugar, devemos fazer nosso dever - a

vontade de Deus, como é dada a conhecer a nós

dia após dia. Então, devemos confiar em Deus para a provisão do nosso corpo e das nossas

necessidades temporais.

Aqueles que aprenderam a viver assim, têm encontrado o caminho da paz. A preocupação é

pecado. Ela desonra a Deus, pois é criada a partir

de duvidarmos de sua sabedoria e bondade para

com seus filhos! Causa dor à nossa própria vida, impedindo nosso crescimento espiritual,

estraga a beleza de nosso caráter, e embaça

nosso testemunho de Deus aos outros. Se

fielmente fizermos a vontade de Deus, como revelada a nós, e então confiarmos em Deus

perfeitamente, a paz de Deus guardará nossos

corações e pensamentos em Cristo Jesus!

Não se preocupe!

Quando você está inclinado a se preocupar;

não o faça! Essa é a primeira coisa. Não importa

quanta razão pareça haver para se preocupar,

ainda há a regra. Não a quebre, não se preocupe!

O problema pode ser muito confuso, tão

38

confuso que você não conegue ver como ele

pode ser endireitado; ainda assim, não se

preocupe!

Os problemas podem ser muito reais e muito

dolorosos, e pode não aparecer uma fenda nas

nuvens; no entanto, não se preocupe!

Você diz que a regra é demasiado elevada para

ser observada, que o ser humano mortal não

pode cumpri-la, ou que deve haver algumas

exceções à mesma, pois que há circunstâncias

peculiares em que não podemos deixar de nos

preocupar. Mas espere um momento. O que o

Mestre ensina? "Eu digo a você, não se preocupe

com a sua vida, quanto ao que comer ou beber;

ou sobre o seu corpo, quanto ao que vestir." Ele

disse isto sem exceções.

O que Paulo ensinou? "Não se preocupe com

nada!" Ele não disse uma palavra sobre exceções

à regra, mas entregou-a sem reservas e

absoluta.

Um pouco de boa prática sábia e caseira, e bom

senso, dizem que existem duas classes de coisas

com as quais não devemos nos preocupar:

coisas que podemos resolver, e coisas que não podemos resolver.

Males que podemos resolver; devemos resolver.

Se o telhado vazou, devemos consertá-lo; se o

aquecedor não está funcionando e o quarto está

frio, devemos colocar mais combustível; se a

39

cerca está caindo e o gado do nosso vizinho pode

entrar em nosso campo de trigo, é melhor

consertar a cerca do que sentar-se e preocupar-

se com os problemas que as vacas possam

causar; se temos dispepsia que nos faz sentir

mal, é melhor cuidar da nossa dieta. Ou seja,

somos muito tolos em nos preocupar com

coisas que podem ser resolvidas. Resolva-as!

Essa é a sabedoria celestial para esse tipo de

males ou cuidados, que é o caminho para se

lançar esse tipo de fardo sobre o Senhor.

Mas há coisas que não podemos resolver.

"Algum de vocês pode acrescentar um só côvado

à sua altura por se preocupar?"

Que loucura, então, que um homem se

preocupe porque não é alto, ou qualquer um que

se preocupe por causa de qualquer

peculiaridade física que ele possa ter.

Estes são os tipos de um grande número de

coisas na vida das pessoas, que nenhum poder

humano pode mudar. Por que se preocupar com

isso? Preocupar-se produz alguma coisa boa?

Não!

Então, chegamos ao mesmo resultado aplicando

esta regra de senso comum. Coisas que

podemos fazer melhor, devemos fazer melhor, e

não nos preocuparmos com elas! Coisas que não

podemos resolver ou mudar, deveríamos

40

aceitar como a vontade de Deus para nós, e não

fazer qualquer reclamação sobre elas. Este

princípio muito simples, fielmente aplicado,

eliminaria toda a preocupação de nossas vidas!

Como filhos de nosso Pai Celestial, podemos ir

um passo mais longe. Se este mundo fosse

governado pelo acaso, nenhuma quantidade,

quer de filosofia ou de senso comum poderia

nos impedir de nos preocupar, mas sabemos

que nosso Pai está cuidando de nós! Nenhuma

criança pequena na melhor e mais carinhosa

casa, jamais foi assistida com tanto cuidado ou

segurança no amor dos pais terrenos, como é o

menor dos pequeninos de Deus, no coração do

Pai celestial!

"Portanto, não se preocupem, dizendo: Que vamos comer? Ou que vamos beber? Ou que

vamos vestir? Pois os pagãos é que correm atrás

dessas coisas; mas o Pai celestial sabe que vocês

precisam delas!" Mateus 6: 31-32.

As coisas que não podemos resolver ou mudar

estão na Sua mão divina, e pertencem a "todas as

coisas" que, temos a certeza, que "trabalham em

conjunto para o bem daqueles que amam a Deus."

No meio de toda a grande corrida de eventos e

circunstâncias, em que podemos não ver

qualquer ordem ou desígnio, faríamos bem em

41

saber que cada crente em Cristo está tão seguro,

como qualquer criança pequena nos braços da

mãe mais amorosa!

Não é a mera fé cega que nós tentamos nutrir

em nossos corações, à medida que procuramos

aprender a nos aquietarmos e a confiarmos em

meio de todas as provas e desilusões da vida:

esta é uma fé que repousa sobre o caráter e a

bondade infinita de Deus, a fé de uma criança

pequena, em um Pai cujo nome é "Amor", e cujo

poder se estende a todas as partes do seu

universo. Então, aqui encontramos a rocha

sólida sobre a qual se apoiar, e uma boa razão

para a nossa lição de que nunca devemos nos

preocupar. Nosso Pai está cuidando de nós!

Mas, se nunca devemos nos preocupar; o que

devemos fazer com as coisas que nos inclinam

para a preocupação?

Há muitas coisas na vida, mesmo dos mais

confortavelmente abrigados. Há decepções que

deixam as mãos vazias, depois de dias e anos de

esperança e trabalho. Há frustrações

irresistíveis de planos e propósitos feitos com

carinho. Há lutos que parecem varrer toda a

alegria terrena. Há perplexidades através das

quais nenhuma sabedoria humana pode se

manter de pé. Há experiências em cada vida,

cujo efeito natural é a de inquietar o espírito e

produzir ansiedade profunda e dolorosa.

42

Se nunca devemos nos preocupar, o que

devemos fazer com essas coisas que

naturalmente tendem a causar a preocupação?

A resposta é fácil; devemos colocar todas essas

coisas perturbadoras nas mãos do nosso Pai!

Claro que se continuarmos a carregá-las, não

podemos deixar de nos preocupar com elas!

Mas não devemos carregá-las; pois não

poderemos se o fizermos! É na medida de nossa

sabedoria e capacidade que devemos calcular

nossas vidas, e moldar nossas circunstâncias. O

que as pessoas, às vezes chamam de confiança,

na verdade é indolência; temos que enfrentar a

vida heroicamente.

Não podemos deter a onda que o mar atira em

cima da praia; não podemos controlar os ventos

e as nuvens, e as outras forças da natureza; não

podemos manter-nos longe das geadas que

ameaçam destruir nossas frutas de verão; não

podemos manter fora das nossas portas a

doença que traz dor e sofrimento, ou a tristeza

que deixa a sua angústia pungente!

Nós não podemos impedir a infelicidade que

vem através de outros, ou através de calamidade

pública. Na presença de toda essa classe de

males somos totalmente impotentes; eles são

irremediáveis para qualquer sabedoria ou força

nossa! Por que, então, devemos nos esforçar

43

para carregá-los, apenas para nos maltratarmos

em vão com eles?

Além disso, não há nenhuma razão pela qual

devemos sequer tentar carregá-los! Seria uma

criança pequena muito tola, numa casa de

abundância e amor, se preocupar com a sua

comida e roupa, ou sobre os negócios de seu pai,

e ficar ao mesmo tempo, num estado de

ansiedade e angústia sobre a sua própria

segurança e conforto. A criança não tem nada a

ver com estas questões! Seu pai e sua mãe estão

cuidando delas.

Ou imagine um grande navio no oceano e o filho

do capitão do navio a bordo. A criança fica

ansiosa no navio a respeito de cada movimento,

e preocupada com que algo possa dar errado;

que os motores possam falhar ou que os

marinheiros não façam o seu dever. O que tem o

filho do capitão a ver com qualquer uma dessas

coisas?

O pai da criança deve cuidar delas! Nós somos filhos de Deus, vivendo no mundo de nosso Pai,

e não temos nada mais a ver com os assuntos do

mundo, como o filho do comandante não tem a

ver com a gestão e os cuidados do grande navio no meio do oceano.

Temos apenas que permanecer em nosso lugar,

e atender aos nossos pequenos deveres

pessoais, sem ter qualquer sombra de ansiedade

44

sobre qualquer outra coisa! Isso é o que

devemos fazer, em vez de nos preocupar quando

encontrarmos coisas que naturalmente nos

deixam perplexos. Devemos apenas colocá-las nas mãos de Deus, a quem elas pertencem, para

que ele possa cuidar delas, enquanto nós

permanecemos em paz, tranquilos, continuando com nossas pequenas tarefas

diárias.

Temos uma alta autoridade bíblica para isso. É o

que Paulo ensina em sua carta da prisão,

quando diz: "Não se preocupe com nada, mas em tudo, pela oração e súplica com ações de graças,

sejam as vossas petições conhecidas diante de

Deus. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e as

vossas mentes em Cristo Jesus!" Os pontos aqui

brilham de forma muito clara. Não devemos nos

preocupar com coisa alguma! Em nenhuma circunstância possível, devemos nos preocupar!

Em vez de nos preocupar, devemos levar tudo a

Deus em oração. O resultado será a paz: "E a paz

de Deus, que excede todo entendimento, guardará os vossos corações e as vossas mentes

em Cristo Jesus."

O conselho de Pedro é semelhante, embora

mais condensado. "Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de

vós!" 1 Pedro 5: 7.

Na versão revisada seu significado é mais claro:

"Lançando toda a vossa ansiedade sobre ele,

porque ele cuida de vós!" Deus está cuidando de

45

você; não se concentre na menor coisa que você

tenha, mas lance todas as suas preocupações e

ansiedades sobre ele e, em seguida, esteja em

paz. Ele está tentando levar nossas

preocupações, que produzem ansiedade!

Nosso dever é lançá-las todas em Cristo,

cabendo-nos apenas pensar sobre o nosso

dever. Este é o segredo de uma vida pacífica.

Há uma sugestão prática que pode ser útil para

aprender esta lição. O coração pressionado de

cuidados ou dor, não pode assim, permanecer

em quietude, pois estará partido. Seu impulso

natural é dar expressão à sua emoção, em gritos

de dor ou irritações, e murmúrios descontentes.

Será um grande alívio para o coração

sobrecarregado, se no momento de dor ou

provação, possa ser dado algum refrigério para

os sentimentos reprimidos, do que expressões

de preocupação ou ansiedade. É mais sugestivo,

portanto, que nas palavras de Paulo, já citadas,

quando ele diz que devemos levar todas as

nossas ansiedades a Deus em oração, ele

acrescenta "com ações de graças."

As canções de agradecimento devem carregar

consigo a dor reprimida do coração e dar-lhe

alívio. É melhor sempre colocar a dor em

melodia do que em lamentos. É melhor para o

próprio coração, pois isto é um alívio mais doce.

46

Não há asas como as da música e louvor para

afastar os fardos da vida!

É também melhor para os outros, que possamos

começar a cantar uma canção do que soltar um

grito de angústia.

Lembramo-nos de nosso Senhor Jesus Cristo,

quando foi pregado na cruz, onde seus

sofrimentos devem ter sido insuportáveis; em

vez de um grito de angústia, ele transformou a

aflição do seu coração em uma oração de

intercessão por seus assassinos!

Paulo, também em sua prisão, de costas

rasgadas pelo flagelo e seus pés no tronco, não

proferiu qualquer palavra de reclamação e

nenhum grito de dor, mas deu vazão ao seu

grande sofrimento nos hinos de louvor da meia-

noite que ecoaram por toda a prisão.

Estas ilustrações sugerem um segredo

maravilhoso do coração; paz no tempo de

angústia, de qualquer causa. Temos de

encontrar alguma saída para nossas emoções

reprimidas; o silêncio é insuportável. Nós não

podemos reclamar nem dar expressão a

sentimentos de ansiedade, mas podemos virar

as ondas de destruição para os canais de louvor

e oração!

Podemos também encontrar alívio, no serviço

de amor para com os outros. Na verdade, não há

47

segredo mais maravilhoso de resistência alegre

da provação, do que este! Se o coração pode

colocar a sua dor ou o medo em ajudar e

confortar aqueles que estão em necessidade e

apuros, logo se esquece de seu próprio cuidado!

Se toda a história interior de vidas fosse

conhecida, seria descoberto que muitos

daqueles que têm feito o máximo para confortar

a tristeza do mundo, atar suas feridas, e ajudá-lo

em sua necessidade, têm sido homens e

mulheres cujos corações encontraram a saída

para suas dores, cuidados ou tristezas nos

serviços para os outros em nome de Cristo.

Assim, eles encontraram bênção para si

mesmos na paz que governou suas vidas, e se

tornaram bênçãos para o mundo, dando-lhe

canções, em vez de lágrimas, e um serviço útil,

em vez de uma carga de descontentamento e

reclamação!

Se um pássaro tem que estar em uma gaiola, é

melhor ocupar seu lugar de prisão com uma

canção feliz, do que sentar gemendo dentro das

paredes de arame, em tristeza inconsolável.

Se nós temos que ter cuidados e provas, é

melhor que fôssemos cristãos se regozijando,

iluminando a própria escuridão do nosso meio

ambiente com a luz brilhante da fé cristã, do que

sucumbirmos aos nossos problemas e nada

48

ganharmos, senão nos preocuparmos com

nossa vida, e não dar nada para o mundo, senão

murmurações e a memória do nosso miserável

descontentamento!

49

O Último Dia do Crente, Seu Melhor Dia

Por Thomas Brooks (1608-1680)

Traduzido e Adaptado por Silvio Dutra

50

Sermão pregado no funeral da Sra Martha

Randall, na Igreja de Cristo, Londres, 28 de

junho de 1651, por Thomas Brooks, ministro do

Evangelho.

"Tu me guias com o teu conselho, e depois me receberás na glória." Salmo 73:24

"A luz é derramada sobre os justos e alegria para

os retos de coração." Salmo 97:11

Dedicatória da epístola

Aos meus amigos dignos e amados, Sr e Sra John

Russell, e ao Sr Thomas Randall; toda a

felicidade neste mundo, e no que está por vir. O

sermão que se segue foi pregado em cima de sua importunação, e impresso também sobre a

mesma conta. Vocês sabem que nada iria

satisfazer o seu espírito, mas a impressão do que

finalmente me fez involuntariamente disposto a responder a seus desejos; não que eu tivesse

prazer de negar seus desejos, nem porque eu o

valorizava, mas porque achei que não é bom o

suficiente para vocês, nem digno daquele peso que vocês colocaram sobre ele, a saber, senão o

fruto de algumas meditações curtas e

quebradas. Eu já publiquei estas notas, que com

todo o amor eu apresento a vocês. Elas estiveram uma vez em seus ouvidos, e estão

agora em seus olhos - que o Senhor possa

mantê-las sempre em seus corações! Se existe

51

alguma coisa de valor nesse sermão, não é

minha, mas do Senhor, através da graça.

Queridos amigos, vocês sabem que todos nós

devemos morrer no deserto deste mundo, ser reunidos a nossos pais, deixar esta terra, e não

ser mais vistos. Abraão e Sara devem partir, Jacó

e Raquel devem ser separados, Davi e seu filho

devem ser cortados. Nossos dias estão contados, o nosso período de tempo está designado, e não

podemos ultrapassar os nossos limites. "Toda a

carne é como a erva, e sua glória como a flor do

campo," Salmo 103: 15; portanto, não chorem como as pessoas "sem esperança", nem sejam

como Raquel, que "não queria ser consolada."

Para o efeito de atender a este conselho.

1. Em primeiro lugar, foquem mais tempo sobre

o doce comportamento dos outros, sob a perda de seus parentes próximos e queridos. Quando

Deus tinha passado a sentença de morte sobre o

filho de Davi, " Então Davi se levantou da terra, e se lavou, e se ungiu, e mudou de roupas, e

entrou na casa do Senhor, e adorou. Então foi à

sua casa, e pediu pão; e lhe puseram pão, e

comeu." 2 Samuel 12:20. Quando seus servos questionaram esta ação, ele respondeu: " Porém,

agora que está morta, por que jejuaria eu?

Poderei eu fazê-la voltar? Eu irei a ela, porém ela

não voltará para mim?" verso 23.

Da mesma forma, quando os filhos de Arão foram destruídos pelo fogo porque a sua oferta

era fogo estranho, Lev. 10: 22-23, Arão se calou;

ele freou suas paixões, e se submeteu doce e

52

silenciosamente à justiça divina. Da mesma

forma, quando foi dito a Anaxágoras que ambos

seus filhos, que eram tudo o que tinha, foram

mortos, não ficando aterrorizado com a triste notícia, ele respondeu: "Eu sabia que gerei

criaturas mortais!" As pessoas em Thrace,

enterram seus filhos com grande alegria, mas lamentam seu nascimento gravemente, no que

diz respeito às misérias que eles terão enquanto

viverem.

2. Em segundo lugar, no tempo de cruzes,

perdas, e misérias - isto é a sabedoria de crentes

- olharem mais para o alto do que para a cruz; demorarem mais sobre a glória do que sobre a

miséria; e olharem mais a serpente de bronze

que se levantou do que a serpente de fogo que

mordeu e picou. (2 Cor. 4: 16-18; Heb. 10:34, 11: 24-26, 35 e 12: 1-3). Basílio fala de alguns mártires

que foram expulsos durante toda a noite nus em

um tempo frígido, e foram conduzidos para

serem queimados no dia seguinte, e como eles se consolaram desta maneira: "o inverno é

nítido, mas o paraíso é doce; aqui nós trememos

de frio, mas o seio de Abraão vai fazer as pazes

para todos." Galeno escreve de um peixe chamado Uranoscopos, que tem um só olho e

ainda olha continuamente para o céu. Um

cristão sob a cruz deve sempre ter um olho que

olha para o céu, para que a sua alma não possa desmaiar, e ele possa dar glória a Deus no dia da

visitação. Está registrado de Lázaro, que depois

de sua ressurreição dentre os mortos, ele nunca

53

foi visto rindo; seus pensamentos e afetos

ficaram muito fixados no céu, embora o seu

corpo estivesse na terra, que ele não podia

deixar em pequenas coisas temporais o seu coração enquanto focava nas coisas eternas.

(Que o céu seja o objetivo e um homem da terra

seja o seu objeto.) "Um homem", diz Crisóstomo, "que habitasse na contemplação do céu, ficaria

relutante em sair dela." "Nada disso”, diz

Agostinho, "um homem pode envelhecer na

contemplação do céu e, mais cedo envelhecer do que ficar cansado."

3. Em terceiro lugar, Compare suas

misericórdias e suas perdas juntamente, e você

deve achar que suas misericórdias

maravilhosamente superam suas perdas. Você perdeu uma misericórdia, você desfrutou de

muitas misericórdias. Qual é a perda de uma

esposa, um filho, ou qualquer outra

misericórdia temporal, em comparação com o gozo de uma alma sob o favor de Deus, o perdão

do pecado, a paz de consciência, as esperanças

do céu, etc? Além disso, você desfruta de muitas

misericórdias temporais, que faltam a muitos dos preciosos filhos de Sião, etc.

4. Em quarto lugar, considere seriamente as

razões de Deus tirando do seu povo os seus mais

próximos e suas misericórdias queridas. São estas:

[1] Para uma avaliação da força e poder de suas

graças. Não são todas as cruzes, nem todas as

perdas, que provam a força das graças de um

54

cristão. Jó resistiu bravamente em face de

muitas aflições por um tempo, mas quando ele

foi completamente aflito em seu corpo, então

ele agiu como um homem falto de graça, em vez de um homem que havia excedido todos os

demais na graça. (Deus provou a força da fé de

Abraão, e a força da paciência de Jó, e a força de mansidão de Moisés, e a força de zelo de Davi, e

a força de coragem de Paulo - ao máximo. Deus

não somente irá provar a verdade - mas ele

também vai, mais cedo ou mais tarde, provar a força de toda a graça que está em um crente. Êx

12:27, 30-31.)

Quando Deus queima os galpões - mas deixa o

palácio em pé; quando ele tira o servo - mas

deixa o filho; quando ele apanha aqui uma flor e há uma flor nos jardins dos homens - mas deixa

as flores que são o deleite de seus olhos e a

alegria de seus corações; eles suportam isto com

paciência e doçura. Mas quando ele queima o palácio, e tira o filho e recolhe a flor mais bela de

nosso jardim, então nós geralmente nos

mostramos ser homens fracos, e

apaixonadamente gritamos: "Meu filho Absalão, meu filho, meu filho, Absalão! Quem me dera

que eu morrera por ti, Absalão, meu filho, meu

filho! " 2 Sam. 18:33.

[2] Deus passa a sentença de morte sobre as

misericórdias mais queridas dos homens, para que ele próprio possa ser mais temido, e que

seus servos preciosos e seus advogados possam

ser de melhor espírito e consideração. Os

55

egípcios não tremeram sob vários juízos, nem

com o que Moisés e Arão disseram, até que Deus

feriu seus primogênitos e, então, eles

tremeram, e, em seguida, os servos do Senhor e seu conselho encontraram uma melhor

recepção da parte deles do que anteriormente

haviam feito. Ah, amigos! o Senhor feriu o seu primogênito, assim como eu digo? Então, olhe

para isto, assim como você deseja honrar a

Deus, para o avanço do evangelho, a paz de suas

próprias consciências, para fechar a boca dos ímpios, e para a alegria daqueles corações que

Deus não teria entristecido, para que Deus seja

mais temido, e que seus servos e seus serviços

sejam mais apropriadamente, amados e considerados.

O povo de Deus, e as ordenanças de Deus – são de Deus, como o seu primogênito; e aqueles que

fazem a luz para o primogênito de Deus, Deus

fará como a luz do seu primogênito. Estes

egípcios haviam matado Israel, o primogênito de Deus, e, portanto, Deus feriu seus

primogênitos. Meu desejo e oração será que

Deus removendo e tirando o seu primogênito,

como posso dizer, possa abrir mais espaço em seus seios para Deus, para Cristo, os santos, e

preceitos, de modo que sua grande perda possa

ser transformada no maior ganho. E,

certamente, se este remédio, esta poção que é dada a você por uma mão estendida do céu não

funcione assim - a próxima poção será muito

mais amarga! João 5:14.

56

[3] Deus passa a sentença de morte sobre

misericórdias mais próximas e queridas dos

homens, para que possa ganhá-los a uma

dependência mais completa e total sob o Seu abençoado ser. O homem é uma criatura apta

para se pendurar e repousar sobre a própria

criatura. "Olhei para a minha direita, e vi”, diz o salmista, “mas não havia quem me conhecesse.

Refúgio me faltou; ninguém cuidou da minha

alma. " Salmo 142: 4. Bem, o que ele faz, agora que

todos os suportes falharam com ele? Por que, agora ele docemente pende para Deus: versículo

5: "clamo a ti, Senhor”, ele diz – “Tu és o meu

refúgio, e a minha porção na terra dos viventes."

Cynaegeirus, um capitão ateniense, agiu com

grande valor na guerra persa, perseguindo os seus inimigos que estavam carregados com os

ricos despojos de seu país, e estavam prontos

para zarpar; ele segurou o navio com a mão

direita, e quando essa foi cortada, ele segurou com a esquerda, que também sendo cortada, ele

segurou com os tocos, até que seus braços

foram cortados, e então ele segurou com os seus

dentes até que sua cabeça foi cortada. Isto é o próprio temperamento da maioria dos homens

e mulheres do mundo, eles vão segurar um

suporte, e se Deus cortá-lo, então eles vão se

agarrar em outro, etc, até que Deus corte todos os seus apoios, e então eles virão descansar em

Deus, e dizer: "Todas as minhas fontes estão em

ti!" Salmo 87: 7.

57

[4] Deus retira do seu povo as suas

misericórdias queridas, para que Ele possa

trabalhar seus corações para uma pesquisa mais

rigorosa e diligente ao examinarem seus próprios corações e comportamento, para que

possam dizer com a igreja: "Esquadrinhemos os

nossos caminhos, e provemo-los, e voltemos para o Senhor", Lam. 3: 40. Quando a mão de

Deus, quando a vara de Deus está sobre nossas

costas, as mãos devem estar em nossos

corações, e devemos clamar, "Que mal fizemos nós, que mal fizemos nós!"

Sêneca fala de Sexto, que deveria a cada noite

fazer a si mesmo três perguntas:

(1.) Que mal você curou hoje?

(2.) A qual vício você foi contra este dia?

(3) Em que parte você agiu melhor neste dia?

Quando a tempestade bate forte sobre você,

você precisaria ver qual “Jonas” está dormindo

na parte inferior de suas almas, de modo que,

ele sendo descoberto e lançado ao mar, suas almas possam ficar seguras, pois no afogamento

de seus pecados, encontra-se a segurança de

sua alma.

[5.] Deus retira do seu povo as suas mais queridas misericórdias exteriores, para que

possam ser mais compassivos para com aqueles

que estão, ou estarão, na mesma condição como

a deles. Os judeus no dia de hoje, nos seus banquetes de muita alegria nupcial, quebram

um copo com vinho em memória de Jerusalém,

dizendo: quando o jogam para baixo, "Assim foi

58

Jerusalém quebrada!" O que eles derramam do

vinho, eles se enchem de lágrimas. Não é uma

vergonha ter o mesmo nome, a mesma fé, o

mesmo Cristo, a mesma profissão, etc, e pedir sempre para pisar rosas? Não é uma vergonha

estar embarcado neste grande navio do

cristianismo com tantos bravos espíritos e se esconder sob escotilhas? Os santos devem ser

como as duas cordas do alaúde que estão

sintonizadas mutuamente; tão logo uma é

tocada a outra vibra.

[6] Deus retira do seu povo as suas

misericórdias exteriores mais próximas e queridas, para que possam ter maior galardão e

melhor sabor espiritual e misericórdias.

Diógenes observou a loucura dos homens de

seu tempo - que subavaliavam as melhores coisas - mas supervalorizavam as piores. Ah, que

isso não fosse o pecado e vergonha de mestres

do evangelho nestes dias! Às vezes Deus retira

do seu povo as suas misericórdias exteriores mais próximas e queridas - para que possam ter

um galardão maior e um melhor sabor, das

misericórdias espirituais e celestes. Deus tira

riquezas incertas – para que seu povo possa ter as riquezas seguras! Deus tira a força natural –

para que seu povo possa ter mais força

espiritual! Deus tira a criatura – para que seu

povo se glorie mais em seu Salvador. As coisas espirituais e celestes podem por si só satisfazer

a alma. A linguagem de um homem de Deus é

esta: "Ah, Senhor as coisas boas que tenho de Ti,

59

que elas possam me refrigerar! Contudo não

podem me satisfazer sem Ti!" "Quem tenho eu

no céu senão a ti? e na terra não há quem eu

deseje além de ti. A minha carne e o meu coração desfalecem; mas Deus é a fortaleza do

meu coração, e a minha porção para sempre."

Salmo 73: 25-26

5. A quinta e última palavra de conselho que vou

dar é esta, considere séria e frequentemente, que o alvo de Deus tirar ou remover uma

misericórdia é, senão abrir caminho para outra,

e, geralmente, para uma melhor misericórdia.

Deus tomou de Davi uma Mical - e lhe deu uma sábia Abigail. Deus tomou de Davi um Absalão e

lhe deu um sábio Salomão. "Todavia digo-vos a

verdade, que vos convém que eu vá; porque, se

eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, quando eu for, vo-lo enviarei." João 16: 7. Deus

tirou a presença corporal de Cristo de seus

discípulos, mas deu-lhes mais abundantemente

da sua presença espiritual, que era uma mais escolhida e doce misericórdia. Deus sempre usa

essa boa palavra, "Eu não vos deixarei órfãos", ou

como está no original grego em João 14:18: "Eu

não deixarei órfãos ou filhos órfãos." Não! Eu virei, e o confortarei de todas as formas e vou

atender a todas as suas necessidades, e serei

melhor para você do que todas as suas

misericórdias: "Por cobre trarei ouro, e por ferro trarei prata, e por madeira, bronze, e por pedras,

ferro; e farei pacíficos os teus oficiais e justos os

teus exatores." Isaías 60:17.

60

Para ilustrar isto: "Pela sua própria malícia é

lançado fora o perverso, mas o justo até na

morte se mantém confiante." Provérbios 14:32.

Deveríamos lamentar pelo homem morto ou pela mulher morta que partiram para o inferno,

a quem o diabo devora, e a quem atormenta a

justiça divina! Mas deixe-me regozijar por aqueles crentes que partiram para o seio de

Cristo, para os quais toda a corte do céu se

manifesta para acolher! "Que eu morra a morte

dos justos, e possa ter o meu fim como o deles!" Números 23:10. "Preciosa é aos olhos do Senhor

a morte dos seus santos!" Salmo 116: 15.

Eu desejo que você e todos os outros que devem

ler o que está escrito aqui, ignorem os erros da

impressora, se você encontrar algum, pois eu

não tive tempo para esperar a impressão para corrigir o que pode ser encontrado de errado. A

leitura e aceitação do que eu aqui apresento

com amor, eu deixarei a seus julgamentos.

No amor e serviço de nosso Senhor querido.

Thomas Brooks

Último dia de um crente, seu melhor dia

"Para mim, o viver é Cristo e o morrer é lucro!"

Filipenses 1:21

Amados, estou aqui neste momento para falar

uma palavra aos vivos, meu negócio não é falar

61

alguma coisa aos mortos. Lancem por favor seu

olhar sobre Eclesiastes 7: 1: "Melhor é a boa fama

do que o melhor unguento, e o dia da morte do

que o dia do nascimento de alguém." Vou discorrer sobre a última parte deste versículo

neste momento: "O dia da morte é melhor do

que o dia do nascimento."

Os gregos dizem: "que o dia de nascimento de

um homem é o início de sua miséria."

Jó 14: 1, "O homem que é nascido de uma mulher

nasce para a tribulação e tristeza.” A palavra que é aqui referida "nascido", significa também

gerado ou concebido; observamos que o homem

é infeliz, logo que deixando o calor do ventre

materno; chega chorando ao mundo. Antes mesmo de a criança falar, ele profetiza por suas

lágrimas - de suas dores que se seguirão.

E isso fez Salomão ao preferir seu caixão antes

que sua coroa, o dia da sua dissolução antes do

dia da sua coroação. Mas para não entretê-lo por

mais tempo do que o necessário, principalmente, a observação que eu falarei

neste momento é esta – que o último dia do

crente é o seu melhor dia! O dia da sua morte é

um dia melhor do que o do seu aniversário! Este será um ponto muito doce e útil para todos os

crentes.

1. Eu devo primeiro demonstrar a verdade, que o

último dia do crente é o seu melhor dia!

A morte é uma mudança de lugar. Quando um

crente morre, ele faz, senão mudar de lugar. Ele

muda da terra para o céu, de um deserto para

62

uma Canaã, de um Egito para uma terra de

Gosen, de um monturo para um palácio: como é

dito de Judas, que "ele foi para o seu lugar", Atos

1:25. Um incrédulo ainda não está em seu lugar - o inferno é o seu lugar. Da mesma forma,

quando um crente morre, ele vai para o seu

lugar. O céu, no seio de Cristo, é o seu lugar. E isto afirma a verdade do que falamos, que o dia

da morte de um crente é o seu melhor dia.

"Mas temos confiança e desejamos antes deixar

este corpo, para habitar com o Senhor." 2

Coríntios 5: 8. Um crente não está no presente, em seu lugar. Sua alma ainda está trabalhando e

em guerra, e ele não pode descansar até que

venha a estar no seio de Cristo. Isto Paulo bem

compreendeu quando disse: "Eu desejo partir e estar com Cristo, o que é muito melhor!" Fp 1:23.

Eu ficaria feliz em levantar âncora, e hastear as

velas e partir. E sobre esta conta essas almas

preciosas gemem por libertação, "E por isso também gememos, desejando ser revestidos da

nossa habitação, que é do céu;" 2 Coríntios 5: 2.

Por que isso? "Por isso estamos sempre de bom

ânimo, sabendo que, enquanto estamos no corpo, vivemos ausentes do Senhor", v. 6. Nós

não estamos em nosso lugar e, portanto, nós

gememos para estar em casa, isto é, estar no

céu, estar no seio de Cristo, que é o nosso lugar, nossa casa mais desejável.

2. A morte é uma mudança de COMPANHIA.

Neste mundo, o homem mais piedoso deve viver

com os ímpios, e conversar com os ímpios, etc.;

63

e esta é uma parte de sua miséria; é o seu inferno

neste lado do céu. Isto é visto no espírito de Davi:

Salmos 120: 5: "Ai de mim que habito em

Meseque, que eu vivo entre as tendas de Kedar." (Eu li de uma mulher de Deus, que, estando

perto da morte, gritou: "Ó Senhor, não me deixe

ir para o inferno, onde os ímpios estão, porque você sabe que eu nunca amei sua companhia,

enquanto nesta vida!") E de igual modo lemos

em Jer 9: 2: "Oh! se tivesse no deserto uma

estalagem de caminhantes! Então deixaria o meu povo, e me apartaria dele, porque todos

eles são adúlteros, um bando de aleivosos." E

isso foi que que fez angustiar e desgastar a alma

justa de Ló: 2 Pedro 2: 7-8, "E livrou o justo Ló, enfadado da vida dissoluta dos homens

abomináveis (Porque este justo, habitando

entre eles, afligia todos os dias a sua alma justa,

por isso via e ouvia sobre as suas obras injustas)" Oh, mas a morte é uma mudança de companhia.

um homem de Deus faz, senão mudar a

companhia de pessoas profanas, de pessoas vis,

etc., para a companhia de anjos; e da companhia de cristãos fracos para a companhia de justos

aperfeiçoados. Esse é um lugar notável, "Mas

chegastes ao monte Sião, e à cidade do Deus

vivo, à Jerusalém celestial, e aos muitos milhares de anjos; à universal assembleia e

igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos

céus, e a Deus, o juiz de todos, e aos espíritos dos

justos aperfeiçoados; e a Jesus, o Mediador de uma nova aliança, e ao sangue da aspersão, que

64

fala melhor do que o de Abel. "Hebreus 12: 22-24.

Aqui está uma mudança de fato – a morte é uma

mudança de companhia, bem como uma

mudança de lugar. E se isso é senão um fardo leve, deve ser considerado que o dia da morte de

um crente é melhor do que seu aniversário.

3. A morte é uma mudança de emprego. A alma

crente quando morre, muda seu trabalho e

emprego. Eu o defino assim: O trabalho de um crente neste mundo, encontra-se em orar,

gemer, suspirar, se entristecer, lutar, etc. E nós

vemos em toda a Escritura que os santos mais

escolhidos, que tiveram as maiores visões de Deus, têm impulsionado este comércio; eles

gastaram seu tempo em oração, gemendo,

lamentando, e combatendo: Ef. 6:12: "Porque não

temos que lutar contra a carne e o sangue, mas contra os principados, contra as potestades,

contra os príncipes das trevas deste mundo,

contra as hostes espirituais da maldade nas

regiões celestes." (O lema de Probus, um valente imperador romano era: "Sem luta não há

pagamento!" Da mesma forma, eu digo: "Sem

luta não há coroa! Sem luta não há céu!") A

verdade é - a própria vida de um crente é uma guerra contínua. Os crentes têm de lidar com

inimigos sutis, inimigos maliciosos, inimigos

vigilantes, e inimigos incansáveis. Eles têm de

lidar com tais inimigos como os que derrubaram Adão no paraíso, o homem mais

inocente do mundo, e que derrubaram Moisés,

o homem mais manso do mundo, e Jó, o homem

65

mais paciente no mundo, e Josué, o homem

mais corajoso do mundo, e Paulo, o melhor

apóstolo no mundo, etc.

A vida de um cristão é uma guerra. Jó diz, "Todos os dias de meu combate esperaria, até que

viesse a minha mudança." Jó 14:14. "Eu ainda

luto", diz Jó, "com concupiscências e corrupções

por dentro, e com demônios e os homens no exterior!" "Durante todo o tempo da minha

guerra eu vou esperar até que viesse a minha

mudança." Da mesma forma, em 2 Tim. 4: 8:

"Combati o bom combate da fé", etc.

A morte é uma mudança de emprego. Ela muda

o nosso duro serviço, o nosso trabalho que está

cheio de tristezas, e com regozijo e aleluias ao

Todo-Poderoso cantamos! Não mais orações -mas louvores! Não mais lutas e perseguições,

mas dança e triunfo! Pode uma alma crente

olhar para esta mudança gloriosa, e não dizer:

"melhor é o dia da morte de um crente do que o dia do seu nascimento"? A mortalha de morte

enxuga todas as lágrimas dos olhos do crente!

Apo 7: 9.

4. A morte é uma mudança de diversão, assim como uma mudança de empregos. Vou

expressar isso em três coisas consideráveis:

(1.) A morte é uma mudança de nosso desfrute

mais escuro e obscuro de Deus, para uma apreciação mais clara e doce de Deus. Eu digo, o

melhor crente que respira neste mundo, que vê

e aprecia mais de Deus, e as visões da sua glória,

66

mas ele não desfruta de Deus tão claramente,

senão que ele está muito no escuro.

O apóstolo Paulo foi um homem que foi alto em

seus desfrutes de Deus e ainda, enquanto esteve

aqui na carne, ele diz que via senão como através de um vidro escuro. "Agora vemos apenas um

reflexo obscuro, como em espelho; então,

veremos face a face Agora, conheço em parte; Então, conhecerei plenamente, como também

sou conhecido" 1 Coríntios 13:12.

Deus disse a Moisés que ele não podia ver seu

rosto e viver. A verdade é que somos capazes de

suportar, senão pouco das descobertas de Deus, havendo uma majestade e glória poderosa tal

em todas as descobertas espirituais de Deus.

Nós somos fracos, e capazes de tomar apenas

um pouco de Deus. Temos, senão apreensões escuras de Deus. Testemunham as nossas

lágrimas, suspiros, gemidos e queixas, por ir

para a frente e para trás. Nós olhamos à direita e

à esquerda, como fala Jó 23: 8-9, e Deus se esconde para não podermos vê-lo. Plutarco fala

de Eudoxus, que ele estaria disposto a ser

queimado pelo sol, se ele pudesse ser admitido

para chegar tão perto dele como para aprender a natureza do mesmo. Isto está sobre o coração

dos crentes, "Senhor, vamos ser queimados -

para que possamos vê-lo mais em todas as suas

manifestações gloriosas; sejamos pobres, sejamos qualquer coisa, apenas para que

possamos ser tomados de um mais claro gozo de

ti mesmo ". (Crisóstomo professa que a falta do

67

gozo de Deus seria um muito maior inferno para

ele, que o sentimento de qualquer punição.)

Pergunte àqueles que vivem mais alto no gozo

de Deus, "Qual é a sua maior carga?" Eles vão dizer: "Este é o nosso maior fardo: que as nossas

apreensões de Deus não sejam mais claras, que

não possamos vê-lo a quem nossas almas adorariam, face a face!" Oh, mas agora no santo

céu deve haver uma visão clara de Deus! Não há

nuvens ou névoa no céu!

(2.) A morte é uma mudança de nossos prazeres

imperfeitos e incompletos em relação a Deus, para uma apreciação mais completa e perfeita

dele. Como nenhum crente tem uma visão clara

de Deus aqui, de forma que nenhum crente tem

também uma visão completa e perfeita da Sua vontade aqui. Em Jó 26:14, quão pouco se ouviu

falar dele, falar de Deus e de que se ouve, ah

quão pouco é entendido! É uma excelente

expressão que Agostinho tem: "As coisas gloriosas do céu são tantas que excedem em

número, tão preciosas - que ultrapassam

estimativas; tão grandes – que excedem

medidas!" Bernardo diz: "Porque Cristo estar com Paulo era a maior segurança, mas para

Paulo estar com Cristo era a principal

felicidade!” Crisóstomo diz: "Se fosse possível

que todos os sofrimentos dos santos fossem colocados sobre um homem, isto não poderia

ser comparado a uma só hora no céu!" Tal é a

grandeza e plenitude da glória acima. O lema

68

dos santos é, "Vamos embora daqui! Vamos

embora daqui!”

Assim, em 1 Cor. 13:12: "Agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face.

Agora, conheço em parte, mas então conhecerei

como também sou conhecido."

Se você dissesse: "Almas, por que esperam em

Deus no presente, em seus decretos, leis e

ordenanças?" eles vão responder: "Para que possamos desfrutar de Deus mais plenamente.

Oh, que eu possa ser preenchido com a

plenitude de Deus!"

Não há queixas no céu, porque não existem

necessidades. Oh, quando a morte deve dar o

golpe fatal, haverá uma troca de terra para céu –

de alegrias imperfeitas para prazeres perfeitos de Deus; e então a alma deve ser tomada com

um pleno gozo de Deus; e nenhum canto da

alma será deixado vazio, mas tudo deve ser

preenchido com a plenitude de Deus. Aqui neste mundo, recebemos graça, mas no céu, devemos

receber a glória. Deus mantém o melhor vinho

por último; o melhor de Deus, de Cristo, e do

céu, está além deste mundo presente. Aqui temos, senão alguns goles, alguns gostos de

Deus; a plenitude é reservada para o estado

glorioso. Aquele que vê a maior parte de Deus

aqui na terra, vê senão suas partes traseiras; seu rosto é uma joia cujo esplendor e glória,

nenhum olho pode ver, senão um olho

glorificado.

69

O melhor dos cristãos é capaz de tomar, senão

pouco de Deus; seus corações são como os vasos

da viúva, que poderiam receber, senão um

pouco de azeite. O pecado, o mundo e as criaturas ocupam muito espaço nos melhores

corações, que Deus dá-se pouco a pouco, como

pais dão doces a seus filhos. Mas no céu Deus irá comunicar-se totalmente de uma vez para a

alma! A graça será então absorvida pela glória!

(3.) A morte é uma mudança de uma apreciação

mais inconstante e transitória de Deus, para

uma apreciação mais constante e permanente de Deus. Aqui na terra, o desfrute de Deus pelos

santos é inconstante. Um dia eles desfrutam de

Deus, e em outro dia a alma se senta e se queixa

na angústia de espírito. Aquele que deveria "confortar minha alma está longe;" meu cálice

está vazio, o meu sol está definhando, e o que

pode se fazer com a falta deste sol? Como todas

as luzes de velas e de tochas não podem compensar a falta da luz do sol; assim, quando o

Sol da justiça esconde o rosto, isto não é para

todas as criaturas - confortos que podem se

tornar a falta de seu rosto.

(Pela morte, os santos chegam a uma eternidade

fixa e invariável. Qual será esta vida - ou melhor,

o que não vai ser - uma vez que todo o bem estará

nesta vida – luz que nenhum lugar pode limitar, música que o tempo não pode apagar,

fragrâncias que nunca são dissipadas, uma festa

que nunca termina, uma bênção que a

70

eternidade dá – uma eternidade que nunca verá

fim.)

Davi, por vezes, poderia dizer que "Deus era a sua

porção, a sua salvação, e sua torre forte," e, no

entanto, clama: "Por que estás abatida, ó minha

alma? Por que te perturbas dentro de mim?" Em um lugar ele diz: "Eu nunca serei abalado",

Salmo 30: 6; e ainda hoje segue-se: "Você

escondeu o seu rosto de mim, e eu fiquei turbado," v. 7. E este é o estado de um crente

neste mundo. Mas no céu há ausência de

nuvens que poderiam surgir entre o Senhor e

um coração crente. Deus não tem um sorriso num dia, e uma carranca em outro dia; um dia

toma uma alma em seus braços, e no outro dia

estava a alma aos seus pés. Esta é a sua

negociação com o seu povo aqui. Mas no céu não há nada além de beijos e abraços, nada além de

uma apreciação perpétua de Deus. Quando uma

vez que Deus toma a alma para si mesmo, ele

nunca será noite com mais nada, nunca escuro com aquela alma etc.; todas as lágrimas serão

então enxugadas. Essa é uma palavra doce em 1

Ts. 4: 17-18, "Depois nós, os que ficarmos vivos,

seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim

estaremos sempre com o Senhor. Portanto,

consolai-vos uns aos outros com estas palavras."

Há anjos e arcanjos no céu. Sim, mas eles não fazem o céu; Cristo é o diamante mais brilhante

no anel de glória! É o céu e felicidade o

suficiente ver a Cristo, e estar para sempre com

71

Cristo. Agora, oh que gloriosa mudança é isso!

Parece-me que estas coisas devem nos fazer

aguardar pelo dia da nossa morte, e considerar

esta vida senão como uma morte lenta.

5. A morte é uma mudança que coloca um fim a todas as alterações. O que é toda a vida de um

homem, senão uma vida de mudanças? A morte

é uma mudança que põe fim a todas as mudanças externas. Aqui na terra, muitas vezes

você muda a sua alegria para a tristeza, a sua

saúde para a doença, a sua força para a fraqueza,

a sua honra para a desonra, a sua abundância para a pobreza, a sua beleza para a deformidade,

os seus amigos para inimigos, a sua prata para o

bronze, e seu ouro para o cobre. Agora os

confortos de um homem estão sorrindo, na próxima hora eles estão morrendo, etc. Todos os

temporais são tão transitórios como uma

torrente rápida, um navio, um pássaro, uma

flecha, um corredor que passa. O próprio principal desses confortos exteriores - o que ele

é, senão um nada? O sonho de um sonho, uma

sombra, uma bolha, um flash, uma explosão.

Agora, a morte põe fim a todas as mudanças externas: não haverá mais doença, nem mais

queixas, nem mais necessidades, etc.

E então a morte também coloca um fim a todas

as mudanças internas. Ora, o Senhor sorri para

a alma, e em outro momento, ele franze a testa sobre a alma. Agora Deus dá assistência para

vencer o pecado, em pouco tempo o homem é

levado em cativeiro por seu pecado; agora ele se

72

fortalece contra a tentação, em pouco tempo ele

cai diante da tentação, etc. Jó foi heroico no meio

das tempestades, e fala como um anjo, mas

quando seu corpo foi atingido, e as flechas do Todo-Poderoso o atingiram, e seu dia se

transformou em noite, e sua alegria em tristeza,

etc., então alguém poderia ter pensado dele como um demônio encarnado, por sua

maldição. Mas a morte põe fim a mudanças

internas, bem como mudanças externas. Ora, a

alma nunca mais será tentada, não pecará mais, não mais se frustrará. Agora você pode julgar

por tudo isto, que o dia da morte de um cristão é

seu melhor dia.

A morte é outro Moisés: ela livra os crentes da

escravidão e da fabricação de tijolos no Egito. É um dia ou ano do jubileu para um espírito - o

gracioso ano em que ele sai livre de todos

aqueles capatazes cruéis sob os quais tinha

longamente gemido. Os deuses pagãos afirmam que a morte é summum bonum do homem, seu

bem maior; portanto, quando um deles tinha

construído e dedicado o templo de Delphos, ele

perguntou a Apollo qual seria a sua recompensa: a única coisa que era melhor para

o homem, e o oráculo lhe disse que ele deveria

ir para casa, e dentro de três dias, ele o teria, e no

tempo aprazado ele morreu. Assim, os próprios pagãos têm concordado com esta verdade, que o

dia da morte de um homem é o seu melhor dia.

6. A morte é uma mudança, que traz a alma para

um descanso eterno. A morte é a propositura da

73

alma para a cama - a um estado de repouso

eterno. (A morte é um descanso do trabalho de

nossos trabalhos, um descanso de aflições, de

perseguições, de tentação, de deserção, um descanso do pecado, e um descanso de tristezas,

Gn. 8: 8).Essa é a última manifestação do ponto,

que o dia da morte de um crente é o seu melhor dia. Agora, enquanto estamos aqui neste

mundo, a alma está em uma agitação perpétua.

O homem mais piedoso no mundo de quem é

mais elevado e mais claro o seu desfrute de Deus – encontra-se muitas vezes como a pomba de

Noé, que não achou repouso: ou ele não tem

alguma misericórdia temporal ou espiritual,

será assim até que sua alma seja tomada nos prazeres eternos de Deus! A morte traz um

homem a um descanso imutável!

Apo 14:13, "E ouvi uma voz do céu, que me dizia:

Escreve: Bem-aventurados os mortos que desde

agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, e as

suas obras os seguem." Oh, diz ele, anote isso

como uma coisa de valor e peso, "Bem-

aventurados os mortos que morrem no Senhor de agora em diante. Eles vão descansar de seu

trabalho." A morte traz a alma para um descanso

imutável. (nota do tradutor: este descanso não

deve ser entendido como sono eterno, mas como livramento de todos os trabalhos, cargas,

opressões, pecados e tudo o mais que angustiava

a alma neste mundo.)

74

"Perece o justo, e não há quem considere isso

em seu coração, e os homens compassivos são

recolhidos, sem que alguém considere que o

justo é levado antes do mal. Entrará em paz; descansarão nas suas camas, os que houverem

andado na sua retidão." Isaías 57: 1-2

Oh, a morte é uma mudança que traz uma alma

a um descanso imutável; ela traz uma alma para a cama. Era isto que Paulo desejava "morrer para

estar com Cristo"; e os coríntios gemiam por

libertação. (Laurence Saunders beijando a

estaca, disse: Bem-vindo a cruz de Cristo, acolha a vida eterna. Faninus, o mártir italiano, beijou

quem lhe trouxe a notícia de sua execução. Foi

um dito notável do abençoado Cooper, "Por

muitos dias eu tenho buscado a morte com lágrimas, não por impaciência ou

desconfiança", diz ele, "mas porque eu estou

cansado do pecado, e com medo de cair nele."

Você sabe como os mártires abraçaram a cruz, e se congratularam com cada mensageiro da

morte que veio a eles, e bateram palmas no meio

das chamas.

A morte é a coroação-dia de um crente, é o dia do seu casamento. É um descanso do pecado,

um descanso de tristezas, de aflições e

tentações, etc. Morte para um crente é uma

entrada para o seio de Abraão, para o paraíso, para a "Nova Jerusalém", no gozo do seu Senhor.

E, portanto, muito mais para a parte doutrinária,

você vê que é evidente, por estas seis coisas, que

o dia da morte de um crente é o seu melhor dia,

75

e que o dia de sua morte é melhor do que o dia

do seu nascimento.

Aplicação

Eu poderia por muitos outros argumentos

demonstrar essa verdade para você, mas

deixemos que estes sejam suficientes; porque

eu não estaria disposto a mantê-lo mais tempo porque faz-se necessária a aplicação prática, e

esta é a vida de todo o ensino.

1. Nunca lamente imoderadamente a morte de

qualquer crente, sejam eles os mais excelentes e úteis que já viveram. A morte não é a morte do

homem, mas a morte de seu pecado. A morte é

para eles o maior ganho; e ela revela muito do

egoísmo em nós que deve ser mais absorvido com o ganho e benefício que vem contribuir

para nós por suas vidas, do que com a felicidade

e a glória que redunda deles por suas mortes.

Nos tempos primitivos, quando Deus tinha passado a sentença de morte sobre seus

confortos mais queridos, os cristãos se

comportavam de uma forma mais elevada, doce

e nobre do que costumam fazer hoje em dia.

Lembre-se disso – a morte faz aquilo que nem

graças, nem deveres, nem quaisquer

ordenanças poderiam fazer por um homem

durante toda a sua vida! A morte liberta o homem dessas doenças, corrupções, tentações,

etc., que nenhum dever, nem graças, nem

ordenanças poderiam fazer. Quando Abraão

76

veio lamentar por sua falecida Sara, ele

lamentou moderadamente por ela, porque o dia

da sua morte era o seu melhor dia. Quando

Lutero, o famoso instrumento de Deus, enterrou sua filha, ele não foi visto derramando

uma lágrima. Da mesma forma, o Sr. Whately,

que era famoso em seu tempo, onde, como ele havia pregado no sermão fúnebre de seu

próprio filho sobre este assunto, disse, "A

vontade do Senhor seja feita", ele e sua mulher

colocaram seu próprio filho na sepultura.

(As pessoas em Thrace choram e lamentam muito, o nascimento de seus filhos, por causa

das dores e problemas que são nascidos com

eles; e eles se alegram e se regozijam muito com

a morte de seus filhos, porque a morte é o funeral de todas as suas dores. A morte não é,

como alguns querem pintá-la. Foi a palavra de

um homem pagão, que toda a vida de um

homem deve ser outra coisa senão uma meditação sobre a morte. Veja Deut 32:29.

Alexandre, o Grande perguntou a um filósofo

indiano quanto tempo um homem deve viver; e

ele respondeu, Até que ele ache que é melhor morrer do que viver.) Essa é a primeira

aplicação: não vamos lamentar

imoderadamente a morte de qualquer crente.

2. Não tema a morte. Componha o seu espírito; e

não diga da morte como aquele rei ímpio disse ao profeta: "Você me encontrou, ó meu

inimigo?" 1 Reis 21: 20 - mas procure muito por

isto, mas não para não ser livrar de problemas,

77

senão para que a alma possa ser tomada até uma

apreciação mais clara e completa de Deus. O dia

da sua morte é o seu melhor dia. O bom Jacó

morreu com um doce espírito composto; ele chamou seus filhos, e os abençoou e beijou, e

recolheu os seus pés na cama, e morreu.

Moisés, naquela manhã que o mensageiro veio a ele, e disse que ele morreria, foi até a colina,

viu a terra de Canaã, a uma distância, e morreu.

José construiu sua sepultura em seu próprio

jardim.

E alguns filósofos tiveram suas sepulturas sempre abertas diante de seus portões, para que

os que passavam pudessem sempre pensar na

morte, pois na vida eles encontraram confortos

raros, cruzes frequentes, prazeres momentâneos, e dores permanentes. O dia da

morte de crentes é o seu melhor dia. Oh, então,

não tenha medo da morte, e que você não pense

que isto se trata de uma pequena questão, como alguns o fazem, porque não estão dispostos a

morrer. Há muito opróbrio lançado sobre Deus,

por crentes não estarem dispostos a morrer.

Você fala muito de Deus, do céu, da glória, etc. e ainda quando deve ir e compartilhar essa glória,

você dá de ombros e diz: "Poupe-me um pouco!"

Não é isto uma vergonha para o Deus da glória?

Mas que este conselho possa ficar sobre você, e lembre-se destas cinco coisas:

[1] A morte de Cristo é uma morte meritória.

Pode um crente pensar sobre a morte de Cristo

como merecendo paz com Deus, perdão do

78

pecado, a justificação, glorificação e ainda ter

medo de morrer? O que! é a morte de Cristo,

portanto, meritória, e deveríamos ainda estar

indispostos para partir?

[2] não é a morte uma espada na mão do seu pai? É verdade que uma espada na mão de um louco,

ou na mão de um inimigo, possa causar tremor,

mas quando a espada está nas mãos de um pai de amor, o filho não teme. Fazer com que a

morte seja uma espada e ainda por que o medo

do filho quando ela está na mão, e sabe que o pai

terá a certeza de lidar com isso de forma que ele não deve ser ferido ou prejudicado.

[3] Lembre-se que a morte de Cristo é uma

morte que venceu a morte. O medo da morte é

pior do que os grilhões da morte, porque o medo

da morte nos mata, muitas vezes, ao passo que a própria morte pode fazê-lo apenas uma vez.

"Deixe temer a morte aquele que é relutante em

ir a Cristo", disse Cipriano. "Eu não temo

morrer, mas eu tenho medo de ser condenado", disse outro. Lutero, falando do sangue de Cristo,

diz: "Que uma pequena gota é de mais valor do

que o céu e a terra." Se as almas sob o altar

clamam: Até quando, Senhor? Se elas solicitam o dia do juízo, por que não eu para o dia da morte,

desde que a hora da morte é apenas a véspera do

dia de Deus? Zeno disse, eu não tenho medo,

senão de velhice. Cristo tirou o aguilhão da morte para que ele não possa feri-lo. Sua morte

é uma morte santa e uma morte doce. Ele tem

adoçado e santificado a morte para nós.

79

A morte é uma queda que veio por uma queda.

Morrer é não ser mais infeliz, se considerarmos

corretamente a morte. "Oh", diz alguém, "que eu

possa ver a morte, não como era, mas como tu, Senhor, já fez isso!" A morte é o maior monarca

e o antigo maior rei maior do mundo. "A morte

reinou desde Adão até Moisés" (Rm 5.14), diz Paulo. Oh! mas o Senhor Jesus tem, por assim

dizer, desarmado a morte, e triunfado sobre a

morte. Ele levou seu aguilhão, de modo que não

pode picar-nos, e nós podemos lidar com ele, e colocá-lo em nosso peito, como podemos fazer

com uma serpente cujo veneno é removido. O

apóstolo, sobre esta consideração, desafia a

morte, "Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?

Ora, o aguilhão da morte é o pecado, e a força do

pecado é a lei. Mas graças a Deus que nos dá a

vitória por nosso Senhor Jesus Cristo." 1 Coríntios 15: 55-57

[4] Cristo não deixou voluntariamente o seio de seu Pai por sua causa? Será que ele não teve

vontade de morrer por você? Será que Cristo

pleiteou deste modo: estas vestes são demasiado

boas para mim para abandoná-las, esta coroa é muito gloriosa para mim para deixá-la de lado,

estou muito disposto para sofrer por essas

pessoas? Não! Ele prontamente deixou o seio de

seu pai, a sua coroa, e suas vestes, e sofreu uma morte maldita, cruel e ignominiosa. Ah, alma,

você deve raciocinar assim: "Cristo morreu por

mim para que eu possa viver com ele? Eu não

80

vou, portanto, desejar viver por muito tempo

longe dele." Todos os homens vão de boa

vontade ver a quem amam; e devo estar disposto

a morrer, para que eu possa ver Aquele a quem ama a minha alma? Deve Cristo deixar de lado

toda a sua glória e pompa, e casar com uma

pobre alma que não tinha nem porção nem formosura; devendo esta alma não estar

disposta a ir para casa para um marido? Oh

pensem sobre isso, vocês almas que não estão

dispostas a morrer!

A vida presente não é a vida, mas o caminho da vida; porque quando deixarmos de ser homens,

começamos a ser como anjos. Eles são apenas

criaturas da natureza inferior que estão

satisfeitos com o presente. O homem é uma criatura futura. O olho de sua alma olha para a

frente. O trabalhador corre de seu trabalho para

a cama, o marinheiro trabalha duro para

alcançar o porto, o viajante fica feliz quando ele está perto de sua pousada; assim se dá com os

santos quando eles estão perto da morte, porque

então eles estão perto do céu, eles estão perto de

sua casa eterna!

[5.] Não está o cristão completo em Cristo? ("Cristo será para você em vez de todas as outras

coisas, porque nele estão todas as coisas boas

para serem encontradas." Agostinho) Por que

um crente teria medo de morrer, já que está completo perante Deus, na justiça do Senhor

Jesus? Se nós devêssemos comparecer em

nossa própria justiça, em nossos próprios

81

deveres, seria terrível pensar em morrer, mas

um crente está completo nele, etc. "Você está

completo nele," Col. 2:10. Em Apocalipse 14: 4-5,

lê-se "irrepreensíveis diante do trono de Deus"; e em Cant 4: 7 "Tu és toda formosa, meu amor, e

em ti não há mancha."

Um crente, quando morre, aparece diante de

Deus na justiça de Cristo. Todos os pontos e manchas de sua alma são cobertos com a justiça

de Cristo, que é uma incomparável, impecável,

inigualável justiça, A esposa de Cristo tem a

perfeição da beleza; ela é todo "gloriosa por dentro" e ela é impecável e irrepreensível, ela é

a mais formosa entre as mulheres, para que

possa ser uma companheira idônea para aquele

que é o mais justo de todos os filhos dos homens, Salmo 45: 2. Os santos são como a árvore do

paraíso, Gn 3 – boa de ser vista e agradável ao seu

paladar. Os santos são como Absalão, em quem

não havia nenhum defeito da cabeça aos pés. Pense nestas coisas para adoçar suas últimas

provações e para torná-lo ansioso para estar no

seio de Cristo.

[6] Em sexto lugar, considere que o dia da morte

dos santos é para eles o dia do pagamento do Senhor. Toda oração terá então sua resposta;

todos os clamores serão satisfeitos; cada

suspiro, gemido, e lágrima que caiu dos olhos

dos santos deve então ser recompensado. (Isso não é a morte, mas a vida, que reúne o

moribundo a Cristo! Isso não é vida, senão a

morte, o que separa o homem de Cristo.) Em

82

seguida, eles serão pagos e recompensados por

todo o serviço público, e todo o serviço familiar,

e todos os demais serviços que fizeram. Em

seguida, uma coroa é fixada sobre as suas cabeças, e vestes gloriosas colocadas sobre as

costas, e cetros dourados colocados em suas

mãos; é o dia de pagamento do Senhor, e os que eram moribundos devem ouvir o Senhor lhes

dizendo: "Bem está, servo bom e fiel. Sobre o

pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra

no gozo do teu senhor." Mt 25:21.

Naquele dia eles devem achar que Deus não é como Antíoco, que prometeu muitas vezes, mas

raramente cumpriu. Não! Então, Deus vai fazer

boas todas essas promessas douradas e

gloriosas que ele tem feito para eles, especialmente estas que estão aqui citadas. (Apo

2:10, 3: 4, 12, 22 e 7: 16-17) Agora, Deus lhes dará

ouro pelo bronze, a prata pelo ferro, a felicidade

pela miséria, muito para a pobreza, a honra para a desonra, a liberdade para a servidão, o céu pela

terra, uma coroa imortal pela coroa mortal!

[7] Em sétimo lugar, Considere isto - o caminho

para a glória é pela miséria; o caminho da vida é

a morte. Neste mundo somos todos Benonis - os filhos da tristeza. O caminho para o céu é por

cruzes e lágrimas, a paixão de Cristo foi antes de

sua ascensão; ninguém passa para o paraíso,

senão pela queima de serafins; não podemos sair do Egito, senão através do Mar Vermelho; os

filhos de Israel, vieram a Jerusalém pelo vale de

lágrimas, e atravessaram o rio Jordão antes de

83

chegarem às águas doces de Siloé. (Um homem

facilmente engole uma pílula amarga para obter

saúde. O médico nos ajuda com dolorosos

remédios e ainda o recompensamos por isso.) Não há passagem para o paraíso, senão sob a

espada flamejante deste anjo da morte! Não há

como chegar a essa gloriosa cidade acima, senão através desta difícil e escura pista, suja da

morte. Sem enxugar todas as lágrimas de seus

olhos - mas com o seu sudário, você deve

receber a morte, não como um inimigo, mas como um amigo; não como um estranho, mas

como um convidado que você há muito tempo

procurava, e a morte será bem-vinda como mais

abençoada do que seu nascimento. (A morte para um crente é a porta dos céus; é a porta da

vida. Ela nos transporta para fora do deserto em

Canaã, de um mar problemático para um oásis

de tranquilidade, João 14: 1-3.) Todo homem está disposto a ir à sua casa, embora o caminho que

leve a ela seja sempre tão escuro, sujo ou

perigoso; e não deveriam os crentes estarem

dispostos a ir para suas casas, porque eles devem passar por uma estrada escura que leva

até mansões gloriosas, luminosas e eternas que

Cristo tem preparado para eles?

[8] Em oitavo lugar, considere que, enquanto

estamos neste mundo, os nossos corpos fracos e

imperfeitos e doentes lançam correntes e grilhões, restrições, obstáculos e impedimentos

na alma, que a alma fica impedida de muitos

atos nobres e elevados. No céu, a alma funciona

84

mais claramente, e entende melhor, e discorre

mais sabiamente, e alegra-se muito mais, e ama

de forma mais nobre, e tem desejos mais puros,

do que possa fazer aqui. A alma está agora aprisionada em um corpo, e enquanto estiver

neste corpo de barro, não pode agir por si

mesma. É como um pássaro engaiolado, cuja natureza é voar alto para o lugar de onde ela

veio. Quando a alma está agitando suas asas para

o céu, o corpo como um pedaço de chumbo

puxa-a para a terra, etc.

Aqui neste mundo, a alma não pode olhar com os olhos, mas pode ser infectada por eles, nem

ouvir pelos ouvidos, mas pode ser distraída pelo

que ouvimos, nem cheirar nas narinas, e ser

contaminada, sentir o gosto pela língua, mas ser seduzida, e tocar com a mão, mas ser

contaminada. Todos os sentidos e membros

estão demasiado prontos em toda ocasião e

tentação, para trair a alma; que deve fazer-nos dispostos a morrer e esperar por muito tempo

por aquele dia em que nossos corpos serão

glorificados. (Os gregos chamam o corpo de

cadeia da alma, de sepulcro da alma.)

Ah, os crentes! Eles devem ser ágeis, prontos, hábeis e rápidos em seus movimentos, mas não

sem antes de serem agora como uma imagem

fora do enquadramento, ou uma casa em

reparação, que estão agora deformados e doentes, etc. Para maior clareza e brilho serão

como o corpo de Cristo quando foi

transfigurado, Mt 17: 2; eles serão muito

85

amáveis e bonitos, imutáveis e imortais. Aqui os

nossos corpos ainda estão morrendo. É mais

adequado perguntar quando vamos fazer da

morte um fim, do que perguntar quando vamos morrer. A morte é um verme que está sempre se

alimentando na raiz de nossas vidas, o que

deveria tornar a morte mais desejável do que a vida.

[9] Em nono lugar, foquem bastante na

preparação e vontade de outros santos para

morrer. O bom e velho Simeão após ter colocado

Cristo em seu coração, e, em seguida, levando-o em seus braços, ele canta: "Senhor, agora deixe

partir em paz o teu servo, pois os meus olhos

viram a tua salvação!" Lucas 2: 28-30. Eu vivi o

suficiente, agora tenho a minha vida – anelei o suficiente, e agora tenho meu amor - já vi o

suficiente, agora tenho minha vista - tenho

servido o suficiente, agora tenho a minha

recompensa – tenho me entristecido bastante-agora tenho a minha alegria.

Da mesma forma, acreditavam os coríntios, 2

Cor. 5: 4, 8, que gemiam intensamente para

serem vestidos com sua habitação do céu, para

que o mortal fosse absorvido pela vida, e "para poder estar ausente do corpo e presente com o

Senhor." Da mesma forma, Paulo deseja

intensamente " partir e estar com Cristo, que é o

melhor de tudo," Fp 1:23. Do mesmo modo, aqueles em Pedro que procuram apressar a

vinda do dia do Senhor, 2 Pe 3:12. Deles é dito

para apressarem o dia do Senhor, em relação a

86

seus desejos sinceros por ele, e em relação aos

seus preparativos para ele. Da mesma forma, as

almas que clamam sob o altar: "Até quando,

Senhor, até quando?" etc, Apo 6: 9-10.

Então Paula, essa senhora nobre, quando se leu

para ela Cant. 2:11, "O inverno já passou, e o

canto dos pássaros chegou;" "Sim", ela

respondeu, "o canto dos pássaros chegou", e então ela foi cantar no céu. Da mesma forma, o

sr. Jewel disse: "Agora, Senhor, deixe teu servo

partir em paz; quebrando todos os atrasos;

Senhor, recebe o meu espírito." Além disso, ele disse: "Eu não tenho vivido de modo que tenha

vergonha de viver mais tempo; nem tenho medo

de morrer, porque temos um Senhor

misericordioso A coroa da justiça está guardada para mim; Cristo é minha justiça."

Assim outra, estando em um desmaio, como

seus amigos pensavam, um pouco antes de seu

final, eles disseram: dê-lhe um abraço, mas ela recusou dizendo: "Eu tenho um abraço que

vocês não conhecem". Assim, o Sr. Pearing, um

pouco antes de sua morte, disse: "Eu encontrei e

sinto muita alegria interior e conforto em minha alma, que se fosse colocado à minha

escolha se deveria morrer ou viver, gostaria de

mil vezes escolher a morte do que a vida, se isso

pudesse corresponder à santa vontade de Deus."

(Agostinho, "deixe que demônios incontáveis me perturbem, deixe a tormenta me cercar,

deixe a fome macerar meu corpo, deixe as dores

oprimirem minha mente, deixe as dores

87

consumirem a minha carne, deixe a vigilância

me cansar, ou o calor me queimar, ou o frio me

congelar, deixe tudo isso e tudo o mais que possa

vir a me acontecer - apenas para que eu possa desfrutar de meu Salvador.)

Assim, o Sr. Bolton, deitado em seu leito de

morte, disse: "Eu sou pelas maravilhosas

misericórdias de Deus, como cheias de conforto assim como o meu coração pode suportar, e não

sentir nada na minha alma senão Cristo, com

quem eu sinceramente desejo estar."

Ah, cristãos! Se a vontade superior dos santos

para morrer não vai fazer você disposto a morrer, o que será?

[10.] Em décimo lugar e, por último, considere

isto - que o Senhor não vai deixá-lo, mas estar

com você naquela hora de morrer. "Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não

temeria mal algum, porque tu estás comigo; a

tua vara e o teu cajado me consolam", diz o

salmista, no Salmo 23: 4. Da mesma forma, o apóstolo, em Heb 13: 5, "Mantenham as suas

vidas livres do amor ao dinheiro e se contentem

com o que vocês têm, porque Deus disse - Nunca

te deixarei, nunca te desampararei." Há cinco negativas no texto original grego, para

assegurar o povo de Deus que ele nunca vai

abandoná-los; cinco vezes na Escritura é esta

preciosa promessa renovada, para que possamos pressioná-lo até que tenhamos

pressionado a doçura para fora. Embora Deus

possa parecer deixá-lo, você pode ter certeza de

88

que ele nunca te abandonará. Por que esse

homem tem medo da morte, se pode estar

sempre confiante na presença do Senhor da

vida? (O imperador Maximiliano ficava tão encantado com a frase: "Se Deus está conosco,

quem será contra nós?" que ele mandou que isto

fosse escrito na maioria das paredes das salas do seu palácio.)

3. A aplicação seguinte será para lhe mover

totalmente para se preparar para o dia da sua

morte. Ah, cristãos! o que é toda a sua vida,

senão um dia para se ajustar para a hora da morte? Qual é o seu grande negócio neste

mundo, senão se preparar e estar apto para o

mundo eterno? Foi um discurso triste de César

Bórgia, que estava no seu leito de morte e disse: "Quando eu vivi, eu fiz provisão para tudo, mas

não para a morte! Agora eu tenho de morrer, e

estou desprovido para morrer." Ah, cristãos!

vocês precisam orar todos os dias como Moisés: "Senhor, ensina-nos a contar os nossos dias,

para que possamos aplicar nossos corações à

sabedoria", Salmo 90:12; e seguir o conselho do

profeta Jeremias, "Dai glória ao Senhor vosso Deus, antes que venha a escuridão e antes que

tropecem vossos pés nos montes tenebrosos;

antes que, esperando vós luz, ele a mude em

sombra de morte, e a reduza à escuridão." Jer 13:16.

A velhice é a montanha escura que faz um

caminho largo estreito, e um caminho simples

escarpado. É um ponto de sabedoria celestial

89

elevada considerar o nosso fim: "Quem dera eles

fossem sábios! Que isto entendessem, e

atentassem para o seu fim!" Deut 32:29.

Jerusalém pagou caro por ter esquecido do seu fim. A imundícia de Jerusalém estava nas suas

fraldas, porque ela não se lembrava do seu fim,

pois ela estava terrivelmente derrubada.

Para provocar-lhe a se preparar e estar apto para o dia da morte, considere seriamente estas

seguintes coisas:

(1.) Aquele que não se prepara para o dia da sua

morte, corre o perigo de perder a sua alma

imortal. Embora o verdadeiro arrependimento nunca seja tardio - contudo o arrependimento

atrasado é raramente verdadeiro. "Aquele que

não está pronto para se arrepender hoje, estará

menos pronto amanhã; o seu entendimento será mais escuro, seu coração mais duro, sua

vontade mais torta, seus afetos mais

destemperados, sua consciência mais

entorpecida" etc. Bede conta uma história de um certo grande homem que foi advertido na sua

doença para se arrepender, que respondeu: "que

ele não se arrependeria agora, pois se ele se

recuperasse, seus companheiros ririam dele;" mas, ficando cada vez mais doente, então ele

disse que era tarde demais para se arrepender -

"Por enquanto", disse ele, "eu estou julgado e

condenado." É a maior sabedoria do mundo fazer isso todos os dias, o que um homem faria

no dia da sua morte, e ter medo de viver em tal

estado, como um homem teria medo de morrer.

90

Ah, almas! vocês têm medo de morrer em tais e

tais pecados; e você não vai ter medo de viver

nesses pecados?

(2) Uma vez mais, a certeza da morte, deve fazer

com que você se prepare para a morte. Quando

se afirma qualquer coisa para ser infalivelmente verdade, dizemos: "Tão certo como a morte."

"Está ordenado", diz o apóstolo, "aos homens

morrerem uma única vez, vindo depois disso o juízo!" Heb. 9:27. (Salmo 89:48; Jó 30:23; Ec 12: 5).

O “uma única vez” do texto implica duas coisas:

[1] Uma certeza - será;

[2] A singularidade - será apenas uma vez.

"Qual homem vive, que não veja a morte?" diz o

salmista; ou seja, nenhum homem vive e não veja a morte. Em Jó a sepultura é chamada de "a

casa ordenada para toda a vida." O douto chamou

a morte de "a nossa longa casa", onde os homens

devem seguir por um longo tempo, até a ressurreição. Viver sem temor da morte, é viver

morrendo! Trabalhar para não morrer é

trabalhar em vão. A morte tem como lema: "Eu

não cedo a nenhum!" - está decretado que todos devem morrer. Para cada homem o dia da morte

é o dia da destruição.

Os judeus têm um ditado: "No cemitério podem

ser vistos crânios de todos os tamanhos;" isto é,

a morte chega sobre os jovens, bem como sobre

os velhos; a sorte caiu sobre todos, e, portanto, todos devem morrer. Todos os homens são

feitos de um molde e matéria, "Tu és pó, e ao pó

tornarás", Gn. 3:19. "Todos pecaram, e estão

91

aquém da glória de Deus" Romanos 3:23; e,

portanto, a morte deve passar por cima de tudo.

(3.) A incerteza da hora da morte, deveria lhe

deixar com a boca aberta para estar em uma

constante prontidão e preparação para a morte.

Nenhum homem sabe quando ele morrerá, nem de que tipo de morte, ele morrerá - se de

morte natural ou violenta. Augusto morreu em

um elogio, Tibério morreu em um engano, Galba morreu com uma frase, Vespasiano

morreu com uma brincadeira! Zeuxes morreu

de rir para a imagem de uma mulher velha, que

ele desenhou com sua própria mão! Sófocles foi sufocado com o bagaço de uma uva! Diodoro o

lógico morreu de vergonha porque ele não

poderia responder a uma pergunta boba

proposta na mesa de jantar! Joannes Masius pregando sobre a elevação da mulher do filho de

Naomi dos mortos, no prazo de três horas após,

morreu! Felix, conde de Wurtemburgh,

sentado à ceia com muitos de seus amigos, caiu num discurso sobre Lutero e as pessoas em

geral que seguiam a sua doutrina, sobre os quais

o conde jurou de forma solene, "que, antes de

morrer, ele andaria até à altura de suas esporas no sangue dos luteranos"; mas na mesma noite

Deus estendeu a sua mão contra ele, e ele

morreu engasgado com seu próprio sangue!

Bibulus, um general romano, ao montar em triunfo em toda a sua glória: uma telha caiu de

uma casa na rua, e espalhou para fora seu

cérebro!

92

(4.) Considere-se, em último lugar, que é uma

coisa solene morrer. A morte é uma separação

solene de dois amigos próximos, alma e corpo.

Lembre-se, todas as outras preparações são sem propósito, se um homem não está preparado

para morrer. O que vai aproveitar a um homem

se preparar isto e aquilo para os seus filhos, parentes, ou amigos, etc, quando ele não fez

qualquer preparação para a sua alma, em

relação ao seu bem-estar eterno? Assim que a

morte lhe alcança – segue-se o julgamento. À medida que o julgamento o encontrar, assim a

eternidade o manterá! Se a morte leva-o antes

que você espere por ela, e sem estar preparado

para ela, será mais terrível para você; ela fará com que o seu semblante seja mudado, seus

pensamentos sejam incomodados, seus joelhos

trôpegos, batendo um contra o outro. (Aquele

que prepara para seu corpo e amigos, mas negligencia a sua alma, é como aquele, que se

prepara para seu escravo, mas negligencia sua

esposa.) Oh, o inferno de horrores e terrores que

assistem a essas almas que têm a sua maior obra para fazer quando eles vieram a morrer!

Portanto, como você ama a sua alma e como

você ficaria feliz em morrer - e eternamente ser

abençoado após a morte – prepare-se então para a morte!

Veja que você construiu em cima de nada abaixo de Cristo! Veja que você tem um interesse real

em Cristo; veja que você morre diariamente

para o pecado, para o mundo, e para a sua

93

própria justiça. Veja que a consciência está

sempre acordada. Veja que Cristo seja o seu

Senhor e Mestre. Veja que você é frutífero, fiel e

vigilante e, então o dia da sua morte será como o dia da colheita para o agricultor, como o dia da

libertação do prisioneiro, como o dia da

coroação do rei e, como o dia do casamento para a noiva. O dia da sua morte será um dia de

triunfo e exaltação, um dia de liberdade e de

consolo, um dia de satisfação e descanso! Em

seguida, o Senhor Jesus será como o mel na boca, pomada nas narinas, música no ouvido, e

um jubileu no coração.

4. A última aplicação é esta - Se o último dia do

crente é o seu melhor dia, então, pela regra do

contrário – o último dia de um homem ímpio

deve ser o seu pior dia, pois ele deve enfrentar o julgamento com todos os pecados da sua vida.

(Um grande homem escreveu, assim, um pouco

antes de sua morte: "A esperança e a fortuna da

despedida".) A morte põe termo a todos os benefícios e confortos que agora você desfruta.

Agora você deve dizer: "Honras, amigos,

prazeres, riquezas, créditos, etc, adeus para

sempre! Nunca mais terei um momento mais feliz! Nunca vou ser feliz de novo! Meu sol se

põe, meu copo está quebrado, minhas

esperanças falharam, o meu coração falhou,

todas as ofertas de graça são passado, o Espírito nunca mais se esforçará comigo, a livre graça

nunca mais me moverá, a serpente de bronze

nunca mais será levantada, e a morte será uma

94

entrada para o julgamento, sim! Uma

eternidade de miséria! (O imperador Sigismund

e Luiz XI da França ameaçavam todos os seus

servos que eles não deveriam se atrever a nomear essa palavra amarga "morte" quando os

vissem doentes, tão terrível era o próprio

pensamento de morte para eles.)

O que a voz de Deus foi para Adão após comer o fruto proibido; o que a vinda do dilúvio foi para

os homens profanos do velho mundo; o que as

águas do Mar Vermelho foram para Faraó e seu

exército; o que o fogo do céu foi para os capitães que vieram contra Elias; o que o forno foi para os

que lançaram Hananias - o mesmo será o dia da

morte de profanas almas perversas.

Ah, pecadores! minha oração por vocês é que o Senhor lhes acordasse, e derramasse luz em

suas almas, para que possam ver onde estão e o

que são; que ele lhes concedesse romper com

seus pecados pelo arrependimento, e dar-lhes um interesse em pouparem a si mesmos; de

modo que "para vocês viver seja Cristo, e morrer

seja ganho," Fp 1:21; que a vida e morte de Cristo

possam ser vantajosas para vocês; e que a morte possa ser o funeral de todos os seus pecados e

tristezas, e uma entrada para toda aquela

alegria e prazer, aquela bem-aventurança e

felicidade - que está à mão direita de Deus!

95

Os Companheiros e

os Livros

Título original: On Companions and Books

Por George Everard (1828-1901)

Traduzido, Adaptado e

Editado por Silvio Dutra

96

Nenhuma verdade é mais importante para

o jovem cristão se lembrar, do que nos

tornamos como aqueles com quem nos

associamos.

Ganhamos cada vez mais semelhança com aqueles com quem somos íntimos.

Insensivelmente capturamos seu espírito e

seu tom de mente. Está escrito:

"Quem anda com sábios será sábio, mas um companheiro de tolos será destruído",

Provérbios 13:20.

"Não se deixe enganar: a má companhia

corrompe o bom caráter!", 1 Coríntios 15:33

Roboão toma conselho com os moços e

aceitando seus conselhos perde grande parte de seu reino.

Josafá faz uma aliança com o rei Acabe, e o desastre e a derrota se seguem, e Deus

envia-lhe a solene repreensão: "Deverias

ajudar os ímpios e amar aqueles que odeiam

o Senhor?"

Por outro lado, Rute junta-se a Naomi e ao

povo de Deus, e ganha uma bênção rica.

97

Natanael junta-se a Filipe, e encontra um Salvador.

A lição é simples. Tenha cuidado na escolha dos amigos! Não entre no caminho dos

ímpios. Assim, tanto quanto tenha

oportunidade faça seus amigos com amor e temor a Deus. Este era o espírito do homem

segundo o próprio coração de Deus:

"Não porei coisa má diante dos meus olhos. Odeio a obra daqueles que se desviam; não

se me pegará a mim. Um coração perverso se

apartará de mim; não conhecerei o homem mau. Aquele que murmura do seu próximo

às escondidas, eu o destruirei; aquele que

tem olhar altivo e coração soberbo, não

suportarei. Os meus olhos estarão sobre os

fiéis da terra, para que se assentem comigo;

o que anda num caminho reto, esse me

servirá." (Salmo 101: 3-6.) "Afastai-vos de

mim, malfeitores, guardarei os

mandamentos do meu Deus, sou companheiro de todos os que te temem e

dos que guardam os teus preceitos." (Salmo

119: 115, 63).

Mas lado a lado com esta lição podemos aprender outra. Podemos aplicar esta

verdade aos LIVROS que deveríamos ler.

98

Onde encontramos os pensamentos mais

sábios, dos homens mais sábios? Onde

encontramos a nata desse poder intelectual

ou espiritual que um homem pode possuir?

Não está em seus escritos?

Tenha em sua estante o trabalho de algum homem piedoso que viveu há um século.

Você não faz dele imediatamente seu

companheiro, por ele estar já há muito

tempo descansando no túmulo?

Tome uma revista edificante e leia um artigo

escrito por algum servo de Cristo que pode estar vivendo a centenas de milhas de

distância, e você nunca espera vê-lo face a

face; ele não é em algum sentido, contado

entre os amigos que você valoriza ?

Você pode não ser capaz de encontrar como seu amigo e conselheiro diário alguém que

seja verdadeiro, sábio e útil como você

deseja, mas não pode ler bons livros, e

alcançar em alguma medida o seu objetivo?

Você não pode encontrar sempre, se procurar, um livro que vai ensiná-lo e

fortalecer suas mãos?

99

E há outra vantagem nesses companheiros. Podemos ter sua sociedade quando

quisermos. Há amigos que vêm e conversam

conosco quando preferimos ficar sozinhos,

ou sentimos que devemos estar ocupados

em nosso trabalho. Em outros momentos

desejamos sua presença, mas eles estão

longe, porém podemos sempre escolher nosso tempo para conversar com o nosso

amigo da estante.

O tempo que temos em sua companhia não precisa nem ser muito longo ou muito curto.

Consideremos então que tipo de

companheiros é bom escolher e, em

seguida, aplicar isso aos livros que lemos.

Em primeiro lugar podemos ter certeza

disto; que é sábio escolher como

companheiros, apenas os que são de mente pura, princípios saudáveis, cuja conversa

não prejudica aqueles que a escutam.

Alguns companheiros são muito inteligentes, muito fascinantes, brilhantes

de espírito e vida, e ainda podem até possuir

bondade natural, mas ainda assim sua

influência é contra todo sentimento correto

e santidade cristã.

100

É difícil resistir a seus encantos ou recusar um convite deles, mas ainda assim uma voz

interior nos diz que é perigoso estar com

eles ; sua influência está toda na direção

errada. Está longe da pureza, do amor de

Deus, do caminho da obediência fiel à

vontade divina.

Suas páginas podem ser de seda, mas são as páginas de Dalila, pois ligam a alma à sua

ruína! Sua voz pode ser doce, mas é a voz da

sereia n que o atrairia para a ilha fatal, onde

a fuga é quase impossível.

Caro leitor, este é um perigo ao qual você está exposto? Você tem um amigo que

ilumina as coisas espirituais, cujas palavras

deixam muitas manchas do mal em sua

alma? O que você deve fazer?

Você deveria considerar mais a Cristo, ou a seu amigo?

Se você deseja ser leal ao Grande Capitão de sua salvação, então tome uma posição

ousada. Não deixe as coisas insensivelmente

tomar seu curso, até que uma por uma você

desista de suas próprias convicções

decididas.

101

Aja com cortesia, aja bondosamente e consideravelmente, mas atue com firmeza.

Fale ousadamente quando qualquer coisa é dita para a desonra do nome de Cristo.

Escreva uma carta para seu amigo e diga o

quanto sofreu. Não se atreva a ser amigo de

alguém que fala contra o Nome que você

ama. Implore fervorosamente ao seu amigo

para que se volte imediatamente para o

Senhor, e você se regozijará em se ajudarem

mutuamente no caminho de Sião.

Não importe a dor que isto possa lhe causar

ao escrever a carta ou falar a palavra fiel;

com Cristo ao seu lado, você é mais forte do que qualquer companheiro ímpio que possa

ser muito mais velho ou mais inteligente do

que você.

Talvez sua coragem e fidelidade possam ganhar uma alma para Cristo. Talvez ele

possa desfazer a amizade, e seu amigo já não

se preocupará mais com sua companhia. Em

ambos os casos, isso te fará bem e glorificará

a Deus, e você terá um novo testemunho em

seu próprio coração sobre a realidade de sua

fé em Cristo.

102

O que é verdadeiro sobre companheiros, é igualmente de livros.

Muito do que é escrito é muito divertido, muito atraente, mas é muito perigoso. Pode

agradar à imaginação, mas polui e excita a

mente. Isto tende a destruir não só a religião vital, mas até mesmo a moralidade comum,

pois discorre sobre os vícios mais mortais

com nomes justos, e paliativos que são

males sociais que arruínam totalmente a paz

das famílias, degradam e corrompem as

nações.

Tenho muitas vezes pensado no sonho de John Gutenberg, o inventor da imprensa.

Ele estava prestes a apresentar sua invenção da imprensa, e parecia-lhe como se um anjo

tivesse vindo e falado com ele:

"John Gutenberg, você fez o seu nome imortal, mas a que custo! Pense bem o que

você está fazendo. Os ímpios são muito mais

do que os piedosos, seu trabalho será apenas

para multiplicar suas blasfêmias e mentiras

Você descobriu o abismo sem fundo. E, um

enxame de espíritos sedutores, de agora em

diante, virá e transformará a terra no

inferno ... Pense em milhões de almas

103

corrompidas por sua realização. Veja o

veneno dos demônios destilado nas almas

dos meninos e meninas, tornando-os velhos

na experiência do pecado! Veja aquela mãe

chorando sobre seu filho depravado, e esse

pai de cabelos grisalhos escondendo o rosto

da vergonha de sua filha ... Destrua sua

imprensa, pois será a blasfémia e a luxúria! ... Destrua-a e esqueça! Evite multiplicar os

recursos dos ímpios, por fazer-se através de

todas as épocas, participante de seus

crimes!"

Gutenberg estava prestes a destruir sua

invenção, mas refletiu que seus dons, embora perigosos, nunca são ruins, e que

ele poderia estar ajudando o intelecto e a

sabedoria que Deus tinha dado ao homem

para obter ajuda e oportunidade para o bem.

Então ele continuou com sua obra, e o

primeiro livro que saiu de sua imprensa foi

uma porção das Sagradas Escrituras.

Mas, infelizmente, o sonho se tornou muito verdadeiro! Dezenas de milhares de

publicações pequenas e grandes estão

saindo da imprensa espalhando o contágio

do mal de todos os lados. Muitos alunos

perderam irremediavelmente o tom e a

pureza de sua mente por tal leitura. Muitas

104

garotas leram secretamente esse tipo de

livro, que deixou sua mancha sobre ela para

toda a vida; seu vestido pode ser justo e

branco, mas a mancha no manto interior de

pureza permanece.

No meio da grande quantidade de material impresso emitido diariamente, é de se

temer que o mal infelizmente exceda o bem.

Ninguém pode dizer como as mentes das

multidões são corrompidas pelas

publicações que examinam. Portanto, meu

amigo, tenha cuidado com o que você lê!

É verdade que "como um homem pensa em seu coração, assim ele é". Mas não é menos

verdade que como um homem lê, assim ele

vai pensar muito.

Mente, memória, consciência, imaginação, vontade, afeto; tudo será influenciado por

aquilo que você lê.

O romance questionável, com sua representação das piores paixões da alma,

como é muitas vezes o caso, não deve ser

devorado como se não deixasse nenhuma

má impressão para trás. Eu sei muito bem

que todos nós precisamos de recreação, mas

não é recreação genuína passar hora após

105

hora derramando-se sobre o que é inútil,

sem sentido, e ruim, pois isto só vai impedi-

lo para qualquer coisa mais elevada e santa.

Uma grande responsabilidade recai sobre os pais com relação a este assunto. Você teria

muito cuidado para nunca deixar o veneno

ser tão exposto em sua casa, a ponto de seus

filhos ficarem por acaso susceptíveis em

tocá-lo.

Mas há veneno pior do que o que põe em

perigo a vida? Você deve tomar cuidado para

que nenhum desses livros esteja em sua casa, logo que possa provar ser susceptível

de prejudicar a alma de seus filhos.

E se, querido leitor, você tivesse formado o hábito de ler tais livros e publicações

superficiais e prejudiciais, não é sábio que

de uma só vez você os descarte?

Pode ser difícil para você em primeiro lugar substituí-lo por outra leitura, mas no final

será abundantemente recompensado pelo

esforço, pelo lucro real e pela satisfação

sólida proporcionada pela leitura de obras

de caráter mais elevado.

106

Se os livros a que me referi estiverem em sua casa, siga o exemplo dos Efésios. Eles

queimaram seus livros ruins publicamente,

embora o preço deles fosse cinquenta mil

peças de prata. (Atos 19:19)

Um bom companheiro é um espírito pensativo, que tem a mente bem guardada

com informações úteis. Um amigo como

este é inestimável. Se você deseja pensar em

assuntos de importância que ocorrem em

torno de você, ou assuntos que sente uma

dificuldade em compreender, você vai achar

que meia hora de conversa com tal

companheiro irá ajudá-lo muitas vezes. Isto pode ser como uma pedra que rola por

muito tempo até encontrar seu lugar de

repouso. Pode sugerir uma nova visão de

alguma verdade que pode lhe dar assunto

para o pensamento por semanas ou anos, ou

pode dar-lhe uma chave para desbloquear

algum problema difícil que muitas vezes o

tem deixado perplexo.

Ocorre o mesmo com a leitura de livros que contêm pensamentos reais, ou que lhe

deem informações confiáveis.

Tais livros valem a pena serem lidos, pois

trazem benefícios duradouros. Eles te

107

ajudam em qualquer época da vida. Eles se

encaixam para uma maior utilidade em sua

própria casa, e na Igreja de Deus. Eles

ganham para você a amizade daqueles que

acham que você pode ajudá-los, assim como

eles também podem ajudá-lo.

Eles mantêm a mente fresca e viva, impedem que você esteja absorvido com

pequenos cuidados e deveres que, de outra

forma, abaixariam todo o nível de sua mente.

É bom cultivar o gosto por este tipo de leitura, a tensão que a mente exige é uma

disciplina muito saudável.

Muitas horas são desperdiçadas com livros de ficção, ou com cada item no jornal diário

que poderiam ser muito melhor gastas. Se os

homens vivessem de algumas iguarias leves

e nunca tivessem um bom alimento

nutritivo, que saúde poderiam esperar

desfrutar?

E se a sua leitura é meramente de um personagem sem objetivo, que poder mental

ou intelectual você pode adquirir?

O melhor companheiro é aquele que é um

amante de Deus e da Sua verdade. Um amigo

108

cristão vale ouro; sim, é um diamante

precioso. Se ele tem falhas, lembre-se que

você tem muitas também, suporte as dele

com a graça do Senhor. "Um diamante com

uma falha é melhor do que um seixo sem

qualquer falha."

Quanto Davi foi fortalecido pela amizade de Jonatas!

Lemos que nos dias de Malaquias, aqueles

que temiam o Senhor falavam muitas vezes

uns com os outros, e o Senhor ouviu.

Os dois amigos na estrada de Emaús falavam

juntos do seu Mestre, quando Ele se uniu a eles e fez arder seus corações.

Essa amizade cristã é um dos mais doces privilégios que um seguidor de Cristo pode

desfrutar na terra e deve ser cultivada com o

máximo cuidado.

Aqui nós descobrimos o tipo de leitura que é o mais desejável de todos, pois nós

precisamos de ajuda para o céu. Ao nosso

redor encontramos tentações e armadilhas

que desviam nossos passos do caminho

estreito como, por exemplo, o negócio

daqueles com os quais nos misturamos na

109

sociedade, e nossos próprios corações

traiçoeiros; tudo isso tem uma tendência

descendente. Mas Deus fornece muita ajuda

à nossa fé, entre elas os livros cristãos têm

um lugar importante.

Muitas vezes a leitura de alguns desses livros tem sido o ponto de retorno para o

bem na vida de um jovem. Muitas vezes

ouvimos falar das genealogias de homens

bons, mas é interessante traçar a genealogia

de um bom livro.

Richard Sibbes, autor de "Bruised Reed" (Cana Quebrada) foi o meio usado por Deus

para a conversão de Richard Baxter.

Richard Baxter, por sua vez, escreveu o livro "O Descanso dos Santos", cuja leitura levou à

conversão do Dr. Doddridge.

Dr. Doddridge escreveu "A ascensão e o

progresso da religião na alma", que se

tornou uma bênção para William Wilberforce.

William Wilberforce escreveu "The Practical View of Christianity", que tocou o

coração de Legh Richmond.

110

Legh Richmond escreveu "Os Anais dos Pobres", que tem sido um dos livros mais

úteis já escritos para os jovens.

Daí vemos como um bom livro se tornou,

não apenas um instrumento de bem para

muitos leitores, mas um pai de obras sucessivas, que nas gerações seguintes

trouxeram bênçãos a um grande número de

leitores.

Posso mencionar também um fato

interessante que ultimamente veio a meu

conhecimento, pelo qual agradeço a Deus que pode usar as agências mais simples e os

instrumentos mais fracos para a Sua própria

glória e o bem das almas.

Cerca de doze anos atrás um jovem hindu de doze anos de idade deixou uma vila em

Tinnevelly, perto de Palamcottah, e foi

procurar uma vida em Ceilão. Como suas perspectivas não eram muito promissoras,

ele foi para vários lugares e, finalmente foi

encurralado por uma quadrilha que o levou

para Penang, na China, e o escravizou por

dois anos. Enquanto lá, ele acidentalmente

viu um pequeno livro, "Not Your Own"

traduzido para o Tamil pelo Rev. E. Sargent.

Ele o comprou e o leu, e tendo sido batizado

111

pelo Espírito Santo, trazido ao Senhor Jesus,

se tornou um dos seus filhos fiéis.

Ele voltou para sua aldeia natal e o pastor nativo tem se alegrado grandemente com o

exemplo piedoso e santo que ele está dando

diante de todos. E se, às vezes, como neste

caso, vemos Deus usando um pequeno livro

para despertar e converter uma alma para Si mesmo, mais frequentemente Ele usa uma

instrumentalidade semelhante para guiar

aqueles que o estão buscando, e para

fortalecer e confirmar os crentes fracos Na

fé.

Cerca de vinte e sete anos atrás, um jovem amigo me deu um exemplar de "Vem a

Jesus", e pela forma clara e bíblica com que

Cristo é apresentado como a única

esperança do pecador, achei mais ajuda para dissipar a dúvida e o medo.

Nas biografias de cristãos sinceros, especialmente dos que trabalharam duro no

campo missionário, ou em esferas de grande

dificuldade em casa, muitas vezes temos

uma agência de primeira importância para

levantar novos trabalhadores no campo de

colheita do Senhor.

112

As vidas de David Brainerd, Henry Martyn, e em anos posteriores as vidas do nobre

Duncan Matheson e a história da Igreja

mártir de Madagascar têm sido

eminentemente úteis para acelerar o zelo

dos cristãos na obra do Senhor.

Que dívida de gratidão também muitos inválidos devem aos livros que tomam o

lugar do Evangelho pregado e desdobram as

inescrutáveis riquezas de Cristo nos leitos

de dor.

Mas nunca deve qualquer livro, por mais

excelente que seja, tomar o lugar da própria Palavra de Deus, ou ocupar o tempo que

deveria ser dado ao seu estudo. Todos os

outros livros de ensinamento cristão são

valiosos, apenas quando nos conduzem a

esta fonte principal.

Faça do Livro de Deus o seu companheiro

principal e mais íntimo. Familiarize-se com cada parte deste rico tesouro de sabedoria e

consolo, porque será sua salvaguarda contra

o erro na mão direita e na esquerda.

Quando você entra plenamente em seu espírito, e pode ver suas várias doutrinas

reveladas em todas as suas páginas, você irá

113

instintivamente recolher em seu íntimo o

ensino que delas flui. Isto será a sua

salvaguarda contra a infidelidade, seja qual

for a forma em que ela se apresente.

Uma Bíblia amada e bem estudada brilha

como o sol, pela sua própria luz. O conforto e ajuda que ela oferece é uma evidência de sua

origem Divina que não pode ser desmentida.

E, lembre-se, quando todas as outras leituras tiverem perdido sua atração, quando a

tristeza do coração ou a morte próxima

lançarem na sombra todo o conhecimento

humano, esta lâmpada brilhante do Senhor iluminará a escuridão e dará um antegozo da

alegria daquela casa da qual o próprio

Senhor é a luz eterna.

Mais uma palavra. Não seja egoísta no gozo desse privilégio da leitura. Pense nos outros,

pense naqueles que são pobres demais para

obterem essa ajuda, pense em hospitais, cadeias e casas de necessitados.

Dê ou empreste livros ou periódicos que possam ser susceptíveis de fazer o bem.

Pense também naqueles que estão vivendo

na mesma condição de vida que você.

Empreste de sua própria biblioteca de vez

114

em quando um livro a um vizinho doente, ou

a alguém cuja mente esteja aberta a

impressões sérias.

Deixe que presentes de Natal, Ano Novo, Aniversário ou Casamento tomem a forma

de um livro realmente valioso. Pense

especialmente nos jovens. Muito daquilo

que é muito perigoso é lançado em seu

caminho.

Faça o seu melhor para neutralizar isso por algo que irá ajudá-los. Que grande número

de jovens está em dívida com o "Caminho de

Segurança", por causa de uma grande

assistência que tiveram em seu caminho posterior; e quantos jovens encontraram

nos "Anais dos Pobres" de Richmond, uma

luz para guiá-los ao Salvador.

Semeie diligentemente dessa maneira a boa semente, e ore para que o Espírito de Deus a

regue com o orvalho de Sua bênção.

"Lança o teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias o acharás."

(Eclesiastes 11. 1)

115

Pacificação

Título original: Peaceableness

Extraído de The Christians Reasonable Service

Por Wilhelmus à Brakel (1635-1711)

Traduzido, Adaptado e Editado

por Silvio Dutra

116

Introdução

O amor ao próximo, a humildade e a mansidão

gerarão paz. Onde quer que os três primeiros

sejam encontrados, a última também será encontrada. É essa virtude que agora desejamos

considerar. Em hebraico isso é expressado pela

palavra menuchah, que significa descanso ou

quietude. Um pacificador está quieto e em paz no interior e exterior - pessoalmente, bem como

na presença dos outros. Há também a palavra

shalom, que é uma derivada de shalam. Esta

significa: ser próspero, ter paz, ser completo. Um pacificador tem paz, é próspero, e completa

sua tarefa com tranquilidade. Em grego temos

as palavras eirenikos e sua derivada

eirenopoios. Esta palavra é derivada de uma raiz que significa "unir", pois a paz une os corações e

une as pessoas. O apóstolo, portanto, fala do

"vínculo da paz" (Efésios 4: 3).

A pacificação é a disposição silenciosa e

contente de um crente, inclinando-o para a

ação, mantendo uma relação com o próximo

caracterizada pela doce unidade, fazendo-o no caminho da verdade e da piedade.

O tema da pacificação é a alma do crente, sendo

esta a residência exclusiva desta virtude.

Mesmo que os irregenerados possam abster-se de conflitos e discórdias, eles não têm essa

disposição pacífica de coração. "E o caminho da

paz eles não conheceram" (Romanos 3:17). Em

117

vez disso, este é o ornamento dos possuidores da

graça, os cristãos que foram reconciliados pelo

sangue de Cristo, que é a sua paz (Col 1:20, Ef

2:14). Eles, tendo recebido o Senhor Jesus pela fé para o perdão dos pecados, são justificados e,

portanto, têm paz com Deus (Rm 5,1), cuja paz

ultrapassa todo o entendimento, e mantém seus corações e mentes em Cristo Jesus (Fil 4: 7).

Enquanto desfrutam da paz com Deus em sua

consciência, é como se tudo o que está no

mundo estivesse em paz com eles, eles estão em aliança com as pedras do campo, e os animais do

campo estão em paz com eles (Jó 5:23). São assim

dispostos quando interagem com as pessoas.

Seu coração sai adiante deles e seu coração pacífico não deseja nada além de harmonia,

mesmo quando estão sozinhos. Tal disposição

só pode ser encontrada nos que são nascidos de

novo, sendo a fé o meio pelo qual essa disposição pacífica é engendrada (Romanos 5: 1). Uma vez

que a paz é um fruto do Espírito (Gálatas 5:22),

ninguém possui isto a não ser aqueles que

participam do Espírito Santo.

O objeto desta virtude é o nosso próximo - todos

os homens. Um pacificador está continuamente em guerra com o diabo, o mundo e sua carne

corrupta - com eles ele não deseja nem busca

estar em paz. Quanto mais ele odeia e se opõe a

estes inimigos espirituais, melhor ele se agrada. No entanto, para os homens como homens -

como seus próximos - ele tem um coração

pacífico e com eles se esforça para viver em paz.

118

Em primeiro lugar, o pacificador vive em paz

com os santos. Ele tem um relacionamento

espiritual e muito íntimo com eles por meio do

qual seus corações estão unidos em Cristo, tendo o mesmo Espírito e a mesma natureza

regenerada. "Tendo paz uns com os outros"

(Marcos 9:50). Entretanto, isto não deve se limitar aos santos.

Em vez disso, a pacificação se estende a todos os homens, como de seu lado o pacificador não dá

qualquer razão para a discórdia, e mesmo se ele tem uma causa justa, ele vai ignorá-la, e não

permitirá que perturbe a paz. Esta é a essência

da exortação do apóstolo: "Se é possível (isto é, se

as pessoas puderem ser persuadidas a estarem em paz, e se a paz puder ser preservada), tanto

quanto esteja em vocês (isto é, que não sejam

culpados por seu lado, senão que se esforcem

para isto com todo o seu poder), vivam pacificamente com todos os homens "(Rm 12:18).

A essência desta virtude consiste em uma inclinação, partindo da quietude e do

contentamento interior, para viver em harmonia com o próximo. Um pacificador,

vivendo no gozo da paz com Deus, tem um

coração livre de contendas, que, em relação ao

seu próximo, está contente e em paz. Ele não tem pensamentos de ter sido injustiçado pelo

seu próximo, por inveja ou por qualquer

descontentamento. Em vez disso, ele está em

119

paz interior - calmo, tranquilo e satisfeito.

Quando pensa em seu próximo, seu coração

deseja estar em harmonia com ele, e ele

interage com ele de uma maneira muito agradável. "Seus caminhos são caminhos

agradáveis, e todos os seus caminhos são paz"

(Pv 3:17). Assim, a essência da paz consiste em corações sendo unidos. É, portanto, referido

como um vínculo: "Esforçando-se para manter a

unidade do Espírito no vínculo da paz" (Efésios 4:

3). Ele é de um só coração com os outros: "Para que sejais perfeitamente unidos na mesma

mente" (1 Cor 1, 10). Isso ocorreu na Igreja

Primitiva: "E a multidão dos que creram era de

um só coração e de uma só alma" (Atos 4:32).

Um Fruto da Regeneração

Tal disposição pacífica não emana da natureza

do homem, pois um homem é como um lobo para o outro. Deus muda esse coração cruel e

selvagem, entretanto, e concede a Seus filhos

estarem em paz com Ele em Cristo; isso, por sua

vez, gera um coração pacífico para com o próximo. "O lobo também habitará com o

cordeiro, e o leopardo se deitará com o cabrito;

... não se fará mal nem dano algum em todo o

meu santo monte" (Is 11: 6,9). O Senhor transformaria os pagãos bárbaros em tais

pessoas e, assim, o apóstolo enumera a paz

como um dos frutos do Espírito Santo.

120

"Mas o fruto do Espírito é ... a paz" (Gálatas 5:22). O apóstolo, portanto, deseja a paz de Deus sobre

a congregação. "Ora, o próprio Senhor da paz vos

dê a paz sempre em todas as circunstâncias" (2 Tes 3:16). Assim Ele é frequentemente chamado

de Deus de paz, porque Ele dá paz e se deleita

com aqueles que são pacificadores (Romanos 15:33; 2 Cor 13:11).

O efeito ou fruto da paz é um esforço para interagir com o nosso próximo em harmonia

doce. Não nos servirá imaginar que temos um coração pacífico se não estivermos apaixonados

por tal disposição. Lutar por uma relação

pacífica com o nosso próximo sem um coração

pacífico é apenas o fruto da natureza ou da hipocrisia. Imaginar que temos um coração

pacífico e ainda não lutar por uma relação

pacífica é apenas um engano em si mesmo. Um

coração pacífico não pode deixar de manifestar pacificidade, e nossa busca de harmonia por

meio de uma relação amável será proporcional

à força dessa virtude interior. É assim que

seremos capazes de tolerar aqueles que não são pacíficos e constrangê-los a serem pacíficos por

meio de uma manifestação firme do nosso amor

pela paz. Devemos, portanto, convencer todos

que buscamos a paz, e que, de nosso lado, essa paz não pode ser perturbada, mesmo que

alguém de seu lado possa fazê-lo. "Vivam em paz"

(2 Cor 13:11).

121

(1) A palavra viver implica atividade. Permanecer em quietude em comunhão com

as pessoas; sem dizer o bem ou o mal sobre

ninguém; ser capaz de aceitar que todo mundo prospera; e nem brigar, lutar, ou ficar com raiva

- tudo o que não constitua viver em paz. Viver em

paz implica ter comunhão com as pessoas de uma maneira agradável e harmoniosa.

(2) A palavra viver implica firmeza contínua. Ocasionalmente, conduzir-nos pacificamente

não é o mesmo que viver pacificamente.

Em vez disso, isso exige uma atividade contínua e uma perseverança nesse sentido.

(3) A palavra viver implica "encontrar prazer". Um pacificador está em seu elemento quando

está em paz; ele é então como um peixe na água.

Quando ele pode estar em um relacionamento

pacífico com as pessoas, ele está alegre - assim como uma pessoa saudável se deleita e é de um

espírito de alegria. "Segui a paz com todos os

homens" (Hb 12:14); "Buscai a paz e persegui-a"

(Sl 34:14). É fácil manter a paz quando alguém nos encontra de uma maneira agradável e

pacífica, e trata-nos de acordo com nossos

desejos. Não é assim que as coisas são; as

pessoas são motivadas pelo amor-próprio e elas nos fazem mal tanto na palavra como na ação.

Em um momento podemos encontrar alguém

que é uma cruz, e, em seguida, outra que está

122

com raiva, agitando a nossa natureza corrupta

para responder ao nosso próximo da mesma

maneira. O pacificador negligencia isso,

contudo, responde de uma maneira bondosa, e cede - mesmo que isso seja para seu próprio

prejuízo e faça com que ele perca a estima do

mundo. Como alguém que caça a vida selvagem, então ele vai buscar a paz e persegui-la; e uma

vez que ele a alcança, ele se considera vitorioso.

A Prática da Pacificação

Por mais agradável e desejável que seja a paz,

devemos, no entanto, estar em guarda para que

não a persigamos e a mantenhamos à custa da

verdade e da piedade. Em nossa definição acrescentamos, portanto, a seguinte limitação:

"no caminho da verdade e da piedade". Há

pessoas que têm medo de experimentar o

desagrado e a oposição de outra pessoa e, portanto, por mais que elas sejam colocadas em

seus caminhos e se protejam, por assim dizer,

com uma faca em suas mãos, no entanto cedem

com facilidade ao que não lhes pertence, mas que foi confiado por Deus à sua custódia, isto é,

a verdade e a piedade - mesmo que isso

signifique a perda de tudo, ainda que seja a sua

própria vida. Essas pessoas então se esconderão atrás da frase "paz, paz". Esta é uma prova clara

de que eles não pertencem aos pacificadores em

Israel, nem realmente têm um coração pacífico.

123

Eles não buscam a paz, mas sua própria

conveniência.

E, portanto, eles dizem: "Paz, paz", mesmo que isso signifique paz com o diabo e o mundo e que

eles teriam eternamente de perder a paz com

Deus. Se novos erros se manifestam, tais

pessoas insistem que devem estar em silêncio e ceder, pois senão haveria agitação; a paz é o

melhor. Se há um pecador que precisa ser

convertido do erro de seus caminhos por meio

de exortação e repreensão, é preciso abster-se disso; ele poderia ficar com raiva e nos causar

problemas. Se o mundo insiste em que, ao invés

de manifestar a piedade, devemos escondê-la,

conformando-nos com o mundo, tais pessoas estarão preparadas novamente para fazê-lo, pois

não desejam agitação e, portanto, dizem

novamente: Paz, paz. Entretanto, a paz e a

verdade, a paz e a piedade, devem andar de mãos dadas. Se se ferir a uma delas, não devemos

deixar de lado nosso coração pacífico, nem nos

abster de buscar a paz por nosso lado; mas,

devemos nos opor ao erro e proteger a verdade.

Portanto, devemos nos opor à impiedade e aderirmos à piedade. Se os outros não podem

suportar isso; se isso lhes desagrada e causa problemas e cria dificuldades - então isso é por

conta deles. Um pacificador, contudo, irá aderir

à verdade e à piedade, pois Deus quer que estas

124

sejam unidas. "Portanto, amem a verdade e a

paz" (Zc 8:19).

Atanásio preferiria perder sua posição do que

afastar-se de uma epístola da verdade. Lutero estava acostumado a dizer: "Eu preferiria que os

céus caíssem, do que um pedaço da verdade

perecesse." "Segui a paz com todos os homens e a santidade" (Hb 12:14); "A justiça e paz se

beijaram" (Sl 85:10). O ímpio Jeú respondeu

muito bem à pergunta de Jorão: "Há paz, Jeú?” E

ele respondeu: “Que paz, enquanto as prostituições de tua mãe Jezabel e as suas

bruxarias são tantas?" (2 Reis 9:22). "Mas a

sabedoria que vem de cima é primeiramente

pura, depois pacífica, gentil e fácil de ser suplicada, cheia de misericórdia e de bons

frutos, sem parcialidade e sem hipocrisia"

(Tiago 3:17).

Esta é a virtude que é tão incisivamente ordenada e insistida em toda parte na Palavra de

Deus: "Bem-aventurados os pacificadores,

porque eles serão chamados filhos de Deus"

(Mateus 5: 9); "Seguimos, pois, as coisas que promovem a paz" (Rm 14, 19); "Estejam em paz

entre vós mesmos" (1 Tessalonicenses 5:13).

125

Somos nós Pacificadores?

Eis aqui um espelho claro, no qual poderão

contemplar não somente a sua obrigação para a

pacificação, mas também examinar a sua própria disposição e as suas ações. A paz com

Deus, com base na satisfação do Senhor Jesus,

sua porção – você tem recebido isso pela fé para a justificação, e sua fluência pacífica daquela

fonte? Você conhece a distinção entre os

piedosos e aqueles que estão sem a graça? Sua

alma é uma com os santos em Cristo, e seu exercício de paz procede desta unidade? Você

mantém uma disposição pacífica de seu lado e

ainda se esforça para estar em paz quando o

homem natural vem contra você com muito mal? Seu coração está em repouso e satisfeito

quanto ao seu próximo quando você pensa nele

em reclusão - ou se você o vê ou fala com ele?

Ou, há movimentos estranhos, antagônicos, irritados, invejosos e descontentes dentro de

você? Você se esforça para manifestar seu

coração pacífico em ações - mesmo quando os

outros estão zangados com você e cometem o mal contra você? Você ama a verdade e a

piedade tanto que não deseja afastar-se dela

nem um grão, mesmo que o mundo inteiro lhe

assalte - e mantém, no entanto, uma disposição pacífica de coração, procurando manifestar por

suas obras a paz, por seu lado? Como sua alma

responde a isso na presença de Deus? Você

126

pertence aos pacificadores? Você realmente

possui isso por princípio, e você observa sua

deficiência com tristeza?

Ou você está convencido de que está realmente

destituído dessa disposição e de suas ações resultantes? Quão feliz você estaria se estivesse

convencido disso e fosse permanecer sob tal

convicção até que desejasse buscar fervorosamente o Senhor Jesus, alcançar a paz

com Deus e ser pacificamente inclinado para o

seu próximo! Para esse fim, reflita por um

momento sobre a convicção deste pecado e considere imediatamente como Deus o vê e os

julgamentos que virão sobre você. Estou me

dirigindo a vocês que, quando estão acuados,

são como lobos e tigres cruéis; que são como um mar turbulento que não pode estar em repouso;

cujo coração está cheio de pensamentos e

movimentos odiosos, zangados, invejosos e

briguentos. Estou dirigindo-me a vocês que são cada vez mais provocados quando veem a quem

consideram que lhes tenha ofendido e que

explodem como pólvora assim que alguém fala

mal de vocês ou os prejudicam. Estou dirigindo-me a vocês que não só vivem pessoalmente em

discordância dentro e fora da igreja, mas

também causam discórdia entre os outros, e

repetidamente aumentam cada vez mais o fogo da dissensão; e a vocês que têm paz em sua boca,

mas discórdia em seu coração. Jeremias fala de

tais coisas: "A pessoa fala com o seu próximo

127

com a sua boca, mas no seu coração arma-lhe

ciladas" (Jeremias 9: 8). Ouça agora o que Deus

diz a respeito de vocês.

Ameaças Contra o Não Pacificador

Primeiro, você está sem a graça de Deus, pois

você nega tudo o que se denomina cristão. Deus,

a quem você chama de seu Pai, é um Deus de

paz, e você está vazio da mesma. Cristo, a quem

você chama de seu Salvador, é o Príncipe da Paz, e você vive em contínua discórdia. O Espírito

Santo, de quem você diz ser um participante,

trabalha a paz, e você vive em desacordo com

Ele. O evangelho pelo qual você afirma ter sido regenerado é um evangelho de paz, e ainda

assim você vive em ódio, raiva, inveja e

discórdia. Você se considera um filho de Deus;

entretanto, os tais são pacíficos e você não o é. Você participa da Ceia do Senhor através da qual

os corações dos santos são unidos, enquanto

que seu coração está dividido contra todos. Você

perceberá assim que não tem nenhuma parte em todas estas coisas de que está se

vangloriando.

Em segundo lugar, você carrega a imagem do diabo e seus filhos. Seu coração e seu semblante

são a imagem expressa de Satanás, o assassino

dos homens. Você é o que os ímpios são

128

descritos como sendo. O primeiro mundo estava

cheio de violência (Gn 6:12), e você também.

Ismael era um homem selvagem; a sua mão era

contra todo homem, e a mão de cada um era contra ele (Gn 6:12); tal é a sua condição. O Israel

hipócrita e ímpio serviu a Deus num sentido

externo; entretanto, eles viveram em conflitos e debates, e em lutas e contendas (Isa 58: 4); tal é

verdade em relação a você.

Em terceiro lugar, Deus lhe abomina e vai

vingar-se: "Estas seis coisas odeia o Senhor; sim,

e a sétima é uma abominação para ele: ... falso

testemunho e aquele que fala mentiras, e aquele que semeia discórdia entre irmãos" (Pv 6: 16,19);

"uma flecha mortífera é a língua deles; fala

engano; com a sua boca fala cada um de paz com o seu próximo, mas no coração arma-lhe ciladas.

“Não hei de castigá-los por estas coisas? diz o Senhor; ou não me vingarei de uma nação tal

como esta?” (Jer 9: 8-9).

Visto que discórdia, dissensão e discussão são evidências de um coração maligno e assassino,

cheio de raiva, inveja e vingança; já que não

herdarão o reino dos céus, os que são dessa disposição, mas terão a sua porção no lago que

arde com fogo e enxofre, você não pode esperar

outra coisa. Você que vive em discórdia com os

homens, tenha medo de si mesmo e da ira de Deus. Deus também vive em discórdia com você

e Ele prevalecerá sobre você – e isto Ele fará você

experimentar.

129

Um Pacificador Deficiente

E você, que verdadeiramente - e em princípio -

tem um coração pacífico (com tão pouca evidência disso), o precedente também se

destina a ser um espelho para você. Quão pouco

você se assemelha a essa disposição e à vida de

um pacificador! Quantos pensamentos discordantes você tem, e quão afiadas e

mordazes são suas palavras! Quão prontamente

você briga e entretém animosidade dentro de

seu coração! Como isto deveria lhe entristecer! Lamente sobre isso e procure sinceramente

banir toda a discórdia, lutando para ter um

coração pacífico e para viver pacificamente,

pois:

Primeiro, a ausência de paz no coração e nos

atos impedirá você em todos os exercícios religiosos e os contaminará.

(1) Seu coração perderá sua disposição para se aproximar de Deus, orar e ter comunhão com

Ele. "... para que as vossas orações não sejam

impedidas" (1 Pe 3: 7). Portanto, Paulo diz: "Quero, pois, que os homens orem em todo

lugar, levantando mãos santas, sem ira nem

contenda." (1 Tm 2: 8).

(2) Todos ficarão perturbados quando ouvirem uma discussão de uma pessoa santa, pois todos

130

estão plenamente convencidos de que tal é

contrário à natureza dos santos e não os

identifica como filhos de Deus. O que o Senhor

Jesus disse sobre aquele que causa escândalos? "Era melhor para ele que uma pedra de moinho

fosse pendurada em seu pescoço, e que ele fosse

afogado no fundo do mar" (Mt 18: 6). Vocês, que são santos, não deveriam cessar com as

discórdias?

(3) Você assim se torna incapaz de ser benéfico para os outros, enquanto usa toda a sua energia

para causar discórdia na igreja. "Porque, onde há

inveja e contenda, há confusão e toda obra perversa" (Tiago 3:16).

Em segundo lugar, tudo o que está relacionado com a igreja aconselha você a ser pacífico.

(1) Você nasceu na igreja e foi recebido como seu membro. No entanto, a igreja é chamada de

sulamita, ou seja, a pacífica (Cant 6:13). Será,

então, seu negócio viver em discórdia e desarmonia? Não lhe pertence viver em paz?

(2) Deus, que, ainda sendo Seus inimigos, lhes reconciliou consigo, é o Deus da paz (Romanos

16:20). Ele deseja a paz e encontra prazer

naqueles que são pacíficos. Visto que este Deus é o seu Pai e vocês de dirigem a Ele como "Abba,

Pai!", Então como ousam ir a Ele com um

coração sem paz e uma língua briguenta? Como

131

você pode ter comunhão com Ele enquanto está

em tal disposição?

(3) O Senhor Jesus, seu Esposo, que encarna todo o seu conforto, prazer e amor, é o Príncipe da Paz

(Isa 9: 6), e reconciliou-o com Deus com o sangue de Sua cruz (Cl 1:20). Ele ordena:

"Tenham paz uns com os outros" (Marcos 9:50);

portanto, "Estejam em paz" (1 Tessalonicenses

5:13).

(4) O Espírito Santo, que habita em vocês, lhes regenerou, lhes ensina e guia, e forma um

coração pacífico dentro de vocês (Gálatas 5:22).

Ele os adverte contra a discórdia, e

continuamente os move para estarem em paz. Você não deve segui-Lo? Você deve lamentar

diante dAquele que o chama para estar em paz?

(1 Cor 7:15)

(5) O evangelho, que é a semente da regeneração e seu alimento espiritual, é o

evangelho da paz (Efésios 6:15). Como, portanto, convém (em harmonia com este evangelho)

viver em paz!

(6) Os membros da igreja com quem você interage como membros da família - a quem

você ama, e em cuja presença você se alegra - são pacíficos; seu coração tem uma disposição

pacífica, e seu objetivo e atividade são a busca da

paz. Você não os ofenderia e afligiria por seu

132

comportamento discordante? Você deve

corrompê-los para serem briguentos também?

(7) O Senhor Jesus o denomina como Sua pomba e ovelha (João 10:27). Eles estão entre os mais

pacíficos dos animais; uma ovelha assumiria a

natureza de um lobo? Você deveria então estar

presente entre as ovelhas como se fosse um urso?

(8) Os sacramentos não são apenas selos da sua paz com Deus, mas também promovem a união

mútua - não apenas como irmãos e irmãs, mas como membros de um só corpo que vivem de

um só e mesmo Espírito. "Porque em um só

Espírito fomos todos batizados em um só corpo

... e a todos nós foi dado bebermos de um só Espírito" (1 Cor 12, 13); "Porque nós, sendo

muitos, somos um só pão e um só corpo; porque

todos somos participantes do mesmo pão" (1 Coríntios 10:17). Como então você se atreve a

entreter um pensamento discordante; como

você se atreve a abrir a boca para brigar e

mostrar um rosto hostil a alguém?

A Pacificação Adorna o Cristão

Em terceiro lugar, considere ainda a glória

desta virtude. É um ornamento extraordinário

para um cristão.

133

(1) Ela é a manifestação de um espírito manso e quieto, sendo um ornamento incorruptível "que

é de grande valor aos olhos de Deus" (1 Pe 3: 4).

(2) Ela exibe uma negação de si mesmo por meio da qual negligenciamos as falhas do nosso próximo e ignoramos o mal feito a nós.

"É a sua glória passar por uma transgressão" (Provérbios 19:11).

(3) Aqui se manifesta a sabedoria celestial; brigar é obra de tolos. "Os lábios de um tolo

entram em disputa" (Pv 18: 6). No entanto, ser

pacífico é a obra dos sábios: "Mas a sabedoria que vem de cima é ... pacífica" (Tiago 3:17);

"Porque a sabedoria é melhor que os rubis" (Pv

8:11); "Quanto melhor é obter sabedoria do que

ouro!" (Pv 16:16); "Sabedoria é melhor do que força" (Ec 9:16). A sabedoria faz com que o

semblante do homem seja radiante: "A

sabedoria do homem faz resplandecer o seu

rosto" (Ec 8: 1). No entanto, todas estas coisas deleitáveis são abrangidas pela pacificidade.

(4) Quando a igreja se manifesta como adornada com o ornamento da paz, ela é um objeto

encantador e deleitável para todos que a

observam. "Eis quão bom e quão agradável é para os irmãos viverem juntos em unidade!" (Sl

133: 1). Portanto, resplandeça na igreja com o

eminente ornamento da paz.

134

Em quarto lugar, a pacificação tem recompensas muito eminentes.

(1) Um pacificador é alegre: "Para os conselheiros da paz há alegria" (Pv 12:20).

(2) Os pacificadores estão aptos a participarem

de todos os exercícios espirituais para com Deus e com o homem. O seu coração não os condena

e, portanto, confiam em Deus (1 João 3:21). Todas

as suas palavras e ações são agradáveis, pois procedem de um coração que está em liberdade.

São temperados com sal, isto é, com sabedoria;

sal e paz são, portanto, unidos (Marcos 9:50).

(3) O Senhor habita com os pacificadores em Seu amor e favor. "Vivam em paz; e o Deus de amor e paz estará com vocês" (2 Cor 13, 11). Desfrutar a

presença de Deus na manifestação de Seu amor

para conosco, é tudo. Se Deus é por nós, quem

será contra nós? Se Ele conceder tranquilidade, quem causará turbulência?

(4) As bênçãos de Deus estão sobre os pacificadores: "Lá o Senhor ordena a bênção, e a

vida para sempre" (Sl 133: 3). Portanto, que viva

em paz, aquele que deseja receber todo o tipo de bênçãos do Senhor.

(5) Em resumo, Deus declara que eles são Seus filhos e herdeiros da salvação: "Bem-

aventurados os pacificadores, porque eles serão

135

chamados filhos de Deus" (Mateus 5: 9). Mais

não podemos desejar; portanto, seja diligente

para viver em paz.

Meios para cultivar a paz

Se você está desejoso de viver em paz:

(1) Crucifique seu desejo de dinheiro, honra e amor; é impossível ter e manter um coração pacífico sem abnegação. Ou então você mesmo

será a causa de outros brigando com você, já que

você está procurando o que eles perseguem.

Pode ser facilmente que você os encontre enquanto estiver em tal disposição, e sua paz

interior será assim perturbada. O que quer que

se mexa no coração logo se derramará para fora

de nossas bocas. A cobiça é um disjuntor da paz. "Aquele que é avarento de ganho perturba a sua

própria casa" (Pv 15:27). A ambição gera

conflitos: "Aquele que é de coração orgulhoso

levanta revolta" (Provérbios 28:25). Onde quer que haja inveja em relação à honra, ao ganho e

ao amor que os outros desfrutam, o coração não

pode deixar de ficar inquieto, e isto rapidamente

explodirá de um modo ou de outro. A inveja e a contenda são, portanto, unidas, pois juntos são

uma fonte de confusão e toda obra má (Tiago

3:16).

136

(2) Guarde a si mesmo e deixe que outros governem seus próprios assuntos. Não se

nomeie como um detetive e juiz sobre as ações

dos outros; feche seus ouvidos para mexeriqueiros. Não ouça o que está sendo dito

sobre você. "Um sussurro separa os melhores

amigos" (Pv 16:28); "Onde não há portador de fatos, a luta cessará" (Pv 26:20).

Salomão, consequentemente, sabiamente aconselhou: "Também não preste atenção a

todas as palavras que são faladas; para que não

ouças o teu servo lhe amaldiçoar" (Ec 7:21). E em

relação a você, fique em silêncio, a fim de que não fale mal do seu próximo, pois isso

continuamente traz-lhe em apuros e

frequentemente levanta discórdia. "O que

guarda a sua boca preserva a sua vida; mas o que muito abre os seus lábios traz sobre si a ruína."

(Provérbios 13: 3). Se você ouvir outras pessoas

discutindo, cuide para que não se envolva nessa

briga. Não nomeie a si mesmo como juiz e, em seguida, execute imediatamente a sua

sentença, prestando assistência a uma das

partes. É uma questão completamente diferente

quando você aconselha os outros a estar em paz. "O que, passando, se mete em questão alheia é

como aquele que toma um cão pelas orelhas."

(Pv 26:17). Tal pessoa (que se ocupa dos assuntos

dos outros) está assim em perigo de ser mordida. "Mas que nenhum de vós sofra ... como

alguém ocupado nos assuntos de outros

homens" (1Pe 4:15).

137

(3) Seja sempre o menor - tanto a seus próprios

olhos como em sua conduta para com os outros.

“Suportando-vos e perdoando-vos uns aos

outros, se alguém tiver queixa contra outro; assim como o Senhor vos perdoou, assim fazei

vós também.” (Col 3:13). Em tudo ceda à vontade

dos outros, na medida em que isto não seja contrário à vontade de Deus, seguindo o

exemplo de Abraão: "Ora, não haja contenda

entre mim e ti, e entre os meus pastores e os

teus pastores, porque somos irmãos. Porventura não está toda a terra diante de ti? Rogo-te que te

apartes de mim. Se tu escolheres a esquerda,

irei para a direita; e se a direita escolheres, irei

eu para a esquerda." (Gn 13: 8-9). Ao render-se, em certa medida, obter-se-á a paz e um coração

pacífico, que é mais precioso do que o ouro, os

rubis e o poder. "Busca a paz, e segue-a." (Sl

34:14).

(4) Se alguém o encontrar de uma maneira

desagradável, ou se você detectar a primeira

agitação de desagrado, arme-se de uma só vez e resista à contenda desde o início; fique

completamente silencioso. Pois, se você não

estiver de guarda, a disputa aumentará mão

sobre mão e você não será capaz de segurá-la. "O princípio da contenda é como o soltar de águas

represadas; deixa por isso a porfia, antes que

haja rixas." (Pv 17:14).

138

Paz, Tribulação e Vitória

Título original: Peace, Tribulation, Victory

Por J. C. Philpot (1802-1869)

Traduzido, Adaptado e

Editado por Silvio Dutra

Nov/2016

139

Introdução

“Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom

ânimo, eu venci o mundo.” (João 16.33)

Há uma característica nos discursos do

Senhor com seus discípulos aflitos (como registrado em João 14-16), que atingiu minha

mente; a qual talvez eu possa caracterizar

melhor por uma frase curta - a total ausência do

eu. Consideremos, por alguns momentos, as circunstâncias em que esses discursos caíram

dos lábios do Senhor. Foi naquela noite sombria

em que ele foi traído nas mãos de homens

pecadores, na véspera daqueles horrores de alma que ele deveria suportar no jardim do

Getsêmani e imediatamente precedendo

aquelas agonias de corpo e alma combinadas

que ele deveria sofrer na cruz. Não deveríamos esperar que sua alma estivesse tão ocupada com

o que estava diante dele, que não poderia ter

pensado em outro assunto? Mas, encontramos

o bendito Senhor nesses discursos com seus seguidores de luto, deixando de lado, por assim

dizer, toda consideração de si mesmo e do que

ele estava prestes a suportar, e dedicando todos

os seus pensamentos e palavras - e, posso acrescentar, todos o seu coração, para confortá-

los e encorajá-los; como ele fala, "De agora em

diante eu não falarei muito com vocês" (João

140

14:30); como se dissesse: "Agora me dedico

inteiramente a vocês; agora eu abro mão de

todos os pensamentos de mim mesmo para que

eu possa falar de todo meu coração para vocês!” Mas quando isso é feito, outro trabalho está

diante de mim.

Agora, depois que o Senhor havia colocado diante de seus discípulos o que ele achava

conveniente em sua própria mente infinita e sábia como adequado para seu encorajamento e

consolo; e não somente o deles, mas de toda a

igreja de Deus em todo o tempo futuro, ele

concentra, por assim dizer, o todo nas palavras do nosso texto, como se isso fosse a substância

de tudo o que ele dissera: “Tenho-vos dito isto,

para que em mim tenhais paz; no mundo tereis

aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o

mundo.”

Três divisões do nosso texto parecem ocorrer

em minha mente, correspondendo às suas três

frases; e estas podemos brevemente

caracterizar como paz, tribulação e vitória - paz em Jesus, tribulação no mundo e vitória por

meio de Jesus sobre o mundo.

I. PAZ em Jesus

"Estas coisas vos tenho dito, para que em mim

tenhais paz."

141

O que são “essas coisas”? Não são elas o que ele

acabou de colocar diante deles? Cada palavra,

então, contida no capítulo anterior, posso dizer, é compreendida na expressão "essas coisas". Não

podemos, de fato, recapitular tudo o que o

Senhor lhes falou nesses três capítulos (14 a 16).

Seria necessário não um sermão, mas uma longa série de sermões para entrar, senão um

pouco naqueles temas sagrados de consolação

divina. E, no entanto, devemos olhar para alguns deles; ou não podemos entrar no significado e

plenitude do nosso texto. Devemos, portanto,

com a bênção de Deus, esforçarmo-nos para dar

uma olhada rápida em algumas das coisas que o Senhor falou em seus ouvidos, que recebendo-

as em seu coração, e desfrutando das doces

consolações que deveriam destilar de lá em suas

almas, "nEle pudessem ter paz". Ao fazê-lo, não seguirei a ordem exata em que o Senhor os

falou; mas vou tomá-los como eles ocorrem na

minha mente, mas preservando, como o Senhor

possa me capacitar, algum fio de conexão.

1. Uma coisa que o Senhor colocou diante deles foi que "nele poderiam ter paz", foi, a doutrina ou

a verdade, em vez disso (eu prefiro a última palavra) de sua união com ele - sua união eterna,

indissolúvel com sua Pessoa divina, conforme

estabelecido naquela parábola: "Eu sou a videira,

vós sois os ramos" (João 15: 5).

142

Agora, desta eterna união com Cristo flui cada

bênção. Somente na medida em que temos uma

eterna união com Jesus temos alguma união

viva, ou qualquer comunhão espiritual com ele. Somente na medida em que temos uma posição

em Cristo diante de todo o mundo temos

qualquer interesse na salvação, ou qualquer benefício do seu sangue expiatório, justificação

pela Sua justiça, toda a graça suficiente, a Sua

presença, o amor derramado comunicando

favor. Não recebemos nada, não podemos receber nada de natureza espiritual, exceto em

virtude de uma eterna união com o Senhor da

vida e da glória. Pois como os ramos só recebem

a seiva do tronco em virtude de sua união com o caule; assim também podemos receber bênçãos

de Cristo somente em virtude da união com ele.

Agora, esta verdade divina não é

abençoadamente adaptada para trazer paz e

conforto à alma? Se de alguma maneira

pudermos realizar uma união com Cristo; se tivermos fé para crer no seu nome e por meio da

fé "receber da sua plenitude e graça sobre

graça", e encontrá-lo de vez em quando

suprindo as nossas necessidades e comunicando a sua presença, misericórdia e

amor para nossas almas - é, deve ser, o

fundamento de toda a verdadeira paz espiritual

e conforto.

143

2. Mas o Senhor também disse aos seus amados

discípulos que os havia escolhido em si mesmo.

Ele diz: "Vocês não me escolheram, mas eu

escolhi vocês" (João 15:16). Ele lhes assegura nessas palavras a sua eterna eleição nele; que os

tinha amado antes da fundação do mundo, e os

tinha escolhido para que fossem participantes da sua graça aqui, e ver a sua glória face a face

no futuro. Agora, quando podemos crer (Deus

deve nos dar essa fé) que fomos escolhidos em

Cristo antes da criação do mundo, o que poderia trazer consolo mais doce para a alma? O que

pode destilar alegria e paz mais sólidas no

coração?

3. Além disso, Ele assegurou-lhes que daria sua

vida por eles. Ele diz: "Ninguém tem maior amor do que este, que alguém dê a sua vida por seus

amigos, e vós sois meus amigos, se fizerdes o

que eu vos ordeno" (João 15:13, 14). Nessas

palavras, ele lhes assegura que estava prestes a dar a sua preciosa vida por eles; que o seu amor

por suas almas era tão grande que não se

recusou a derramar o seu próprio sangue, para

que fossem lavados naquela fonte santa e libertados de toda culpa, imundície e vergonha

do pecado e da iniquidade.

4. Ele assegurou ainda que eles não eram

"servos", senão "amigos" (João 15:15); que o laço entre eles já não era, como tinha sido, de mestre

e servo; mas muito mais próximo, muito mais

caro, de uma relação muito mais íntima - a de

144

amigo; que, portanto, como um amigo abre os

conselhos de seu coração para seu irmão amigo,

e eles são assim unidos pela relação mais íntima

e mais terna; assim como para os seus amigos, ele abriria os próprios segredos de seu coração.

Ele foi, portanto, para eles, não um mestre

severo exigindo obediência como de servos, e marcando cada transgressão para puni-la; mas

um amigo bondoso e terno, que podia suportar

suas fraquezas; sim, um amigo que ficaria mais

perto do que qualquer irmão terreno.

5. Ainda, ele lhes diz que ele era "o Caminho"

pelo qual era feito o acesso a Deus; "a Verdade", para que, seguindo-o, estivessem totalmente

livres de todo erro; "e a Vida", para que, ao crer

em seu nome, a vida pudesse fluir em suas

almas, e reavivá-las em cada hora de queda e escravidão. Ele assegurou-lhes, também, que

não havia outro meio de acesso a Deus, porque

ninguém poderia vir ao Pai senão por ele (João

14: 6).

6. Ele também lhes disse que não os deixaria sem conforto (João 14:18); mas que enviaria o

Consolador, que consolaria, pelas suas sagradas

influências e unções, os seus corações doloridos

e de luto; que este Consolador os guiaria a toda a verdade, tomaria das coisas que eram suas e as

revelaria às suas almas; deveria guiá-los

também, e estar com eles até o fim (João 16:13,

14).

145

7. Ele também lhes diz que, por causa dele

viveriam também (João 14:19); que eles nunca

estariam naquele estado de alma caído, do qual

ele não poderia ou não iria reavivá-los por

aquela vida que eles viveram nele.

8. Ele lhes assegurou ainda que ia adiante deles

preparar mansões para eles, e voltaria e os

levaria consigo mesmo, para que onde estivesse

pudessem estar também. (João 14: 2, 3)

Estas são, de fato, apenas algumas colheitas da abundante safra de consolação que é

armazenada nestes capítulos abençoados. Mas o

Senhor, tendo posto diante de si estes temas

doces e encorajadores, diz-lhes para qual propósito ele tinha falado estas coisas para eles:

"Estas coisas vos tenho dito, para que em mim

tenhais paz".

Mas, o simples fato de falar dessas coisas trará

paz? Quantas vezes temos lido estes capítulos, e

ainda não encontramos a paz fluindo deles! Mas quando o próprio Senhor, cujas palavras são

espírito e vida (João 6:63) - quando o próprio

Senhor se alegra de falar qualquer dessas promessas graciosas com poder ao coração,

então suas palavras trazem consigo paz.

E que legado mais abençoado, que herança mais

doce ou mais adequada o Senhor poderia deixar

para trás para sua família afligida do que a paz?

146

Paz com Deus através do grande Sacrifício

expiatório; a paz no tribunal de consciência por

meio da aplicação do sangue do Cordeiro; santa

calma, tranquilidade divina, produzida pela abençoada Pomba, pousando suas asas

celestiais sobre a alma. Até que ponto a paz

ultrapassa a alma sentindo todas as outras bênçãos! O filho de Deus não está procurando

por êxtases, visões, sonhos ou descobertas

maravilhosas para o olho corporal ou ouvido

corporal. Tais coisas como estas, visionárias, entusiastas e fanáticas selvagens fazem a sua

jactância na alma. Mas ter a paz caindo na alma

da boca do Senhor; ter a paz proclamada na

consciência pelo sangue que fala melhor do que o sangue de Abel; sentir aquela serenidade em

sua alma, por meio da qual ela pode descansar

sobre o seio de Jesus, e quando encontrar

cuidados ansiosos e pensamentos conturbados, todos enlutados dentro de si - ele pode desejar e

desfrutar de um legado mais celestial, uma

porção mais rica do que isso?

Mas, o Senhor diz: "Estas coisas vos tenho dito,

para que em mim tenhais paz". Aqui reside a força do todo. Paz em si mesmo! Isso nunca pode

ser encontrado. Paz no mundo! Isso nunca pode

ser tido. Paz no pecado! Deus não permita que

um de seus filhos deva sonhar com a paz ali por um momento. Paz nas coisas do tempo e do

senso! Não são todos poluídos - todos não são

brinquedos, sombras passageiras, fumaça da

147

chaminé, palha sobre a eira no verão? Pode uma

alma provada - alguém tentado, abatido com as

dificuldades do caminho - encontrar alguma paz

nessas coisas? Sua mente carnal pode, para sua vergonha, ser dominada por um tempo; suas

concupiscências e paixões perversas podem ser

enredadas nelas; sua natureza decaída pode cair nesses pobres e perniciosos sonhos. Mas paz!

Não há paz nessas coisas; porque Deus disse:

"Não há paz para os ímpios". E enquanto nossos

corações ímpios estiverem saindo à procura de coisas perversas, se a consciência não estiver

realmente sensível e viva no temor de Deus, não

haverá paz verdadeira e sólida dentro de nós.

Mas, quantas vezes são as almas do povo do

Senhor como o mar agitado, que lança lama e

sujeira! Quantas vezes eles estão longe da paz!

Quantos pensamentos ansiosos, suspeitas dolorosas, dúvidas tentadoras e medos,

assaltam e assediam suas almas! Nessas

tentações encontram paz? O Senhor quer dizer

que eles devem encontrar paz nelas? Estas coisas não pretendem ser para eles o que as

carcaças flutuantes foram para a pomba de Noé

- para levá-la de volta para a arca? O corvo,

aquela asquerosa ave de rapina, podia descansar e engordar nas carcaças flutuantes, e nunca

mais voltou à arca; mas a pomba pura, aquela

ave limpa, não podia encontrar descanso para a

planta de seu pé, senão dentro da arca.

148

Assim, enquanto professantes carnais podem

encontrar paz em si mesmos, nas coisas de

tempo e sentido, em noções vazias, em uma

profissão sem a graça, em doutrinas secas, em um nome para viver enquanto morto - há no

coração de um filho de Deus algo como a pomba,

que não pode encontrar nenhum descanso sólido - exceto na arca - o Senhor Jesus Cristo;

como ele diz, "Em mim você terá paz".

Mas qual é a importância das palavras "em

mim?" Não apontam, primeiramente, para a

verdade da eterna união com Cristo? Pois desta

eterna união fluem todas as bênçãos no tempo. As palavras também não apontam para a fé em

Cristo? Porque somente pela fé em Cristo

podemos ter paz nele; como fala a Escritura, "paz e alegria em crer". Mas não é daí o ponto

culminante de "em mim", que a paz sólida flui,

na comunhão com Cristo? Não apenas a união

eterna, não apenas a união viva, mas a comunhão divina sob as sagradas influências e

operações do bem-aventurado Consolador.

Agora o Senhor projeta que toda a sua querida

família deve ter paz nele; ele os expulsa de todo refúgio de mentiras para que não encontrem

paz em si mesmos. Ele os faz sair do mundo, para

que não encontrem paz ali. Ele os caça do

pecado, para que não encontrem paz ali. Ele também julga conveniente exercitar suas

mentes e prová-las repetidas vezes, para que não

encontrem paz em nada mais, e para que

149

possam vir como pobres pecadores de coração

partido para o escabelo da misericórdia, olhar

para Jesus, confiar em seu nome e encontrar a

paz em crer nele.

II. TRIBULAÇÃO no mundo.

E, portanto, é que a paz e a tribulação estão tão

intimamente ligadas. "No mundo tereis

aflições." O Senhor sabe o que são nossos corações. Ele sabe o quão estreita é a afinidade

entre nossa natureza e um mundo tentador e

sedutor. E ele sabe que cada um carrega um

pequeno mundo em seu próprio seio. Ele declara, portanto, que "no mundo teremos

tribulação"; uma promessa tão certa quanto a

que "nele teremos paz". Como ficamos felizes em

separar essas duas coisas! Quão felizes devemos ser de não ter tribulação no mundo, e ainda ter

paz em Cristo? Como nossa carne covarde

encolhe diante da tribulação! O próprio

pensamento dela às vezes nos faz tremer. No entanto, o Senhor uniu tão bem estas duas

coisas: a paz em si mesmo e a tribulação no

mundo, que nunca poderão ser separadas; e tão

longe da possibilidade de serem cortadas, podemos acrescentar, elas carregam uma à

outra, em relação a outra mais próxima, e assim

sucessivamente.

150

O Senhor, então, prometeu que "no mundo teremos tribulação". Mas como isso estonteia

um filho de Deus! Ele pode entender, ou parece

entender, o que é ter paz em Cristo; mas que seu caminho deve ser atravessado pela tribulação

no mundo, como isto parece cortar profundo,

por assim dizer, as próprias fibras de seu coração! E, no entanto, quão necessário e

indispensável é ter tribulação no mundo;

porque quão estreitamente ligado está o nosso

coração ao mundo. Quanto nosso coração carnal está colado e amarrado às coisas do

tempo e do sentido! Que propensão, possui a

toda hora para ir atrás de ídolos; para divertir

nossa mente vã com mostras passageiras; para se interessar pelas pequenas bagatelas que nos

rodeiam; e assim abandonar a Fonte das águas

vivas, e cavar para nós cisternas quebradas, que

não guardam água.

Que véu de encantamento, também, está muitas vezes sobre os nossos olhos; e, portanto, que

série de problemas - que dias, semanas, meses e

anos de provações levam para nos convencer de

que o mundo não é nosso lar, não é nosso repouso, e não é nossa habitação duradoura.

Vivemos em um mundo caído; e, portanto, neste

mundo caído, tribulação de algum tipo ou outro

deve ser nossa sorte. Nascemos num mundo pecaminoso e carregamos conosco uma

natureza pecaminosa, que está intimamente

ligada ao mundo e, portanto, todos os males que

151

estão envolvidos em um mundo pecaminoso

são impelidos sobre nós por herança legítima. A

ira de Deus repousa sobre o mundo, porque ele

se funda no que é ímpio; e, portanto, como peregrinos neste vale de lágrimas, vimos a estar

sob a sua mão de castigo.

Mas, o Senhor misericordiosa e graciosamente

faz uso da tribulação, em várias formas, para nos

tirar do mundo, para que não possamos ser condenados com ele, nem torná-lo nosso

descanso e casa. Assim, ele nos atrai para os

seus abençoados pés, para que nele

encontremos a paz que nunca encontramos e que nunca encontraremos em nenhum outro

lugar.

Mas, que várias fontes de tribulação existem! Se você e eu pudéssemos colocar nossos corações

nus um para o outro; se pudéssemos comparar

nossas várias fontes de tribulação - quão

diferentes elas poderiam ser; cada um tem seu próprio caminho de sofrimento; e cada um

talvez julgasse que sua tribulação fosse a mais

difícil de suportar. Por exemplo,

1. Nossa própria conexão com o mundo nos

conduzirá com toda a certeza a nos envolvermos

com a tribulação. Se um homem tem um

negócio no mundo, o próprio chamado pelo qual ele vive será conectado com a tribulação.

Haverá preocupações angustiantes, esperanças

decepcionantes, dívidas incobráveis e mil

152

circunstâncias dolorosas, tão ligadas ao próprio

negócio que ele segue, tão intimamente

misturado com o chamado mundano pelo qual

ganha seu pão diário, que não pode escapar da tribulação da própria fonte de sua subsistência

natural.

2. Como, também, os laços familiares mais

próximos se provam fontes de tribulação! Se temos filhos amados, eles podem ser levados na

morte, ou crescerem para nos entristecer. Se

temos parceiros amorosos, eles podem ser

arrebatados de nosso peito afeiçoado. Nossos mais afiados sofrimentos podem surgir de

nossos mais queridos e mais próximos laços

sociais. E destas coisas não há escapatória.

Nenhuma sabedoria ou artifício nosso pode impedi-los. Eles são assim fixados pelo Senhor,

eles são colocados em nosso caminho, eles

estão presos ao redor do nosso pescoço, eles são

uma parte da porção que nos é reservada, que não podemos escapar deles.

3. Ainda; enquanto no mundo estamos

continuamente enredados em algum mal. Bem

perto de cada olhar há um meio de conceber o

pecado no coração. Dificilmente podemos abrir nossos ouvidos sem ouvir algo para contaminar

e poluir a imaginação. Mal podemos pensar sem

que esse pensamento seja pecaminoso.

Dificilmente podemos falar sem algo pecaminoso, mundano ou egoísta se misturar

com o assunto. E destas tribulações vem a

aflição. O pecado do olho, o pecado do ouvido, o

153

pecado do coração, ou o pecado da língua - cada

um traz tribulação em seu bojo, pois com um

filho de Deus a tristeza sempre segue o pecado,

como a sombra segue o sol. 4. Ainda. Se somos fiéis seguidores do Cordeiro,

certamente sofreremos perseguição. Pode não

vir nas formas que prevaleceram em tempos antigos. A lei nas nações tem extinguido o fogo;

mas "o flagelo da língua", calúnia e detração, não

são silenciados; e podemos sofrer o martírio

interior do flagelo da língua, como os mártires abençoados suportaram o martírio exterior

quando suas costas foram flageladas com

chicotes, ou seus corpos queimados na fogueira.

5. Mas, ainda - nossos laços muito íntimos com a igreja de Cristo - se nós saímos do mundo, como

estamos obrigados a fazer, e estamos em estreita ligação com a família de Deus - esta

união com o povo de Deus pode ser também

uma fonte de tribulação. Se pertencemos a uma igreja, pode haver divisões nela, e aquilo que é

de uma natureza muito dolorosa. Se tivermos

amigos não espirituais, deles surgirão alguns de

nossos maiores sofrimentos. Se andarmos em estreita e íntima união, mesmo com o povo de

Deus, podem surgir circunstâncias que nos

separem deles, e podemos lamentar o dia em

que nos familiarizamos com eles.

Assim, de cada lado, fora e dentro, há fontes de

tribulação.

154

6. Ainda, os próprios corpos em que nossas

almas estão alojadas, quantas coisas pequenas

podem fazer desses tabernáculos terrenos a

fonte de tribulação mais afiada! Uma dor de cabeça aguda - que fonte de tribulação pode ser

para um homem toda a sua vida! Como o Senhor

também plantou as sementes da doença e da morte nos próprios tabernáculos de barro que

carregamos conosco! De modo que, de fora e de

dentro, da igreja e do mundo, do corpo e da

alma, do amigo e do inimigo, do pecador e do santo - de todas as fontes, os problemas e

tribulações estão todos em vigilância sobre os

filhos de Deus. Assim, cada um tem sua parte

designada; tanto quanto ele pode suportar; o suficiente para fazê-lo viver uma vida de tristeza

e ansiedade - o suficiente para afetá-lo

pesadamente e convencê-lo de que no mundo

ele nunca pode ter, senão tribulação e provação.

Mas, não é tudo isso para fins sábios? Atrevemo-nos a dizer que ousamos pensar que o Senhor é

imprudente ou indelicado ao ordenar essas

tribulações? Não foi a vontade de Deus que seu

querido Filho sofresse diante de nós? Será que ele não bebeu o cálice da tristeza até o fim? Ele

não foi batizado com um batismo de

sofrimento? E não era ele o precursor, para que

em todas as coisas ele tivesse a preeminência? Se, então, andarmos nos seus passos, e para

sermos conformados à sua imagem, não

devemos sofrer com ele? A palavra de Deus

155

declara que devemos sofrer com ele, para que

também possamos ser glorificados juntamente

com ele. Portanto, é necessário,

indispensavelmente necessário, que também passemos pela tribulação; pois se estamos fora

do caminho da tribulação, certamente estamos

fora do caminho de Deus.

Mas, qual é o efeito misericordioso, desses

problemas? Não há uma voz com eles? Quando

o ouvido é aberto, a tribulação fala. Não há mais

frutos benéficos e efeitos que fluem da tribulação? Por exemplo: não é nosso coração

por natureza muito colado ao mundo? Não o

amamos naturalmente e nos apegamos a ele?

Enquanto observamos os movimentos variados de nossos corações, não estamos

perpetuamente saindo em busca de algo

idólatra - algo para gratificar e divertir, para

interessar, ocupar e agradar a nossa mente carnal? Podemos caminhar o comprimento da

rua sem a mente carnal sair à procura de algum

alimento? É, portanto, necessário cortar esta

união, fazer-nos sair do mundo e fazer-nos sentir que não é o nosso lugar permanente, e

que não há felicidade nele, que o Senhor vê ser

necessário estabelecer a tribulação sobre nós; e

a tribulação dessa natureza peculiar que nos

separará genuinamente do mundo.

Quando estamos passando pela tribulação, que

pobre coisa vã o mundo nos parece! Precisamos

156

de consolo interior; o mundo não pode dar.

Precisamos de bálsamo para a nossa

consciência; o mundo, em vez de derramar

aquele bálsamo, rasga a ferida em pedaços. Precisamos de uma garantia do amor de Deus

para nossas almas; o mundo, tão longe de ajudar

a encaminhar a essa certeza, interpõe-se para barrar a manifesta bondade de Deus.

Precisamos de uma paz sagrada e interior,

falada às nossas almas pela voz do sangue da

aspersão; o mundo se intromete entre esse sangue e nós. De modo que precisamos - e às

vezes sentimos que precisamos, de tribulação

sobre tribulação, provação sobre provação,

aflição sobre aflição, golpe sobre golpe, dor sobre dor, tristeza sobre tristeza, para cortar a

estreita união que há entre nós e o mundo, e

para nos convencer em nosso coração e

consciência que não há descanso, paz, felicidade, consolo em nada que o mundo

apresenta.

Agora, quando somos assim exercitados com

tribulações em várias formas, o Senhor muitas

vezes tem prazer em nos conduzir a si mesmo e, de vez em quando, para nos trazer com

fervorosos desejos e respirações em que ele

falaria aquela paz para nossas almas, que o

mundo não pode dar nem tirar. Somos, por exemplo, feitos para sentir que vivemos em um

mundo moribundo. Vemos homens caindo

diante de nossos olhos de todos os lados. Vemos

157

a foice da morte cortando milhares e dezenas de

milhares; e tememos, talvez, para que não

carreguemos as sementes da morte em nosso

próprio corpo. Agora, sob essas circunstâncias, olhamos em volta. Não vemos nada no mundo

que possa nos dar um momento de paz; tudo é

manchado, poluído, contaminado; nada há que nossos olhos vejam, ou que nossos ouvidos

ouçam, que possa trazer um momento de paz

sólida para os nossos corações.

Mas, quando contemplamos, como o Senhor se alegra em nos dar uma visão pela fé, quem Jesus

é, e o que Jesus faz, e suas palavras começam a

cair com uma dose de doçura e poder na alma, e

podemos acreditar no que ele diz ser verdade inalterável; e quando nos pomos de pé, e nos

lançarmos diante dele, se ele tiver o prazer de

aplicar sua preciosa palavra ao nosso coração,

então haverá paz e paz nele, ainda que haja

tribulação no mundo.

Mas, essas duas coisas nunca vão juntas.

Diretamente, somos livrados da tribulação,

diretamente, da aflição e da provação - o que se espera de nós? Vamos voltar ao mundo!

Nenhuma pedra solta rolou mais depressa para

baixo do lado de uma montanha do que nós

corremos para o mundo. Tal é a tendência de nossos corações, tal a corrupção de nossa

natureza caída - pecado, terrível pecado - mal,

horrendo mal, sendo seu próprio alimento, seu

158

próprio alento, sua própria vida. Nossas mentes

carnais são completamente uma massa de

pecado - no momento, portanto, que Deus deixa

de nos restringir, nossa mente carnal se precipita às coisas do tempo e do sentido. Lá se

desmorona, ali se enterra, ali procura deitar-se

e chafurdar como o porco na lama.

Mas, isso nunca pode ser. Há aquela ternura de

consciência no filho de Deus, aquele temor

divino de seu nome sagrado, esse ansioso desejo

de agir certo, aquele medo tremendo de estar errado; há aquele vazio doloroso, aquilo que

clama e suspira pelo Deus vivo; e misturado com

tudo isso, essa insatisfação com o eu, que

embora a mente carnal possa por um tempo ser divertida e interessante, há agindo em seu seio

aquele que fala uma língua diferente e conta um

conto diferente.

A primeira respiração, portanto, de tribulação - o primeiro golpe da ira divina, o primeiro fio do

açoite (porque "a vara é feita para as costas do

tolo") - faz com que ele se sinta culpado por ter

cobiçado os potes de carne do Egito, ao mergulhar suas afeições no mundo, por estar

tão absorvido por seus negócios e ansiedades.

Ele é assim preparado para sentir o que um

infeliz apóstata, ou idólatra tem sido, em permitir que o mundo obtenha tão rápido uma

conquista de seus afetos. Ele vem, pois, cheio de

culpa e vergonha, mais uma vez ao escabelo da

159

misericórdia, implorando ao Senhor para

revelar-se à sua alma, falar de paz à sua

consciência, selar o seu amor de perdão e

sangue expiatório, e assim dar-lhe aquela paz que ultrapassa todo entendimento.

Assim, descobrimos que há uma relação tão

íntima entre a tribulação e a paz, que nunca podem ser separadas. Estou certo de que

deveríamos ir, não sei para onde, se não fosse

pela tribulação. Alguns de nós iríamos de cabeça

para o mundo e seríamos engolidos em seus cuidados e ansiedades; alguns se precipitariam

de cabeça para os desejos e prazeres que em

toda parte os cercam; alguns ficariam satisfeitos

com uma profissão vazia, sem a graça, ou uma forma de doutrinas não sólidas na cabeça;

alguns tomariam a cadeira do escarnecedor, e

seriam enchidos com o orgulho e justiça

própria. Mas, as provações, as circunstâncias, os problemas, os sofrimentos, em uma palavra, as

"tribulações", em várias formas e de várias

espécies, nos levam para casa e nos trazem nas

mãos do Senhor para aquele único lugar seguro - os pés de Jesus, o escabelo da misericórdia, o

trono da graça, para que possamos encontrar e

sentir aquela paz que só o seu sangue pode

transmitir.

Mas, o Senhor disse a seus discípulos: "Estas coisas vos tenho falado, para que em mim

tenhais paz". É, então, por acreditar "nessas

coisas", recebendo "essas coisas" em nossos

160

corações, e sentindo o poder abençoado "dessas

coisas" em nossa alma, que a paz é comunicada.

Se posso crer que sou um ramo da videira viva;

que sou amigo de Jesus; que ele derramou seu precioso sangue para minha redenção; que me

deu o seu bendito Espírito para me guiar em

toda a verdade; que por Ele viver, eu também viverei; que ele virá e se manifestará a mim; que

ele é "o caminho, a verdade e a vida", e que por

meio dele encontro acesso ao Pai; que ele foi

antes para preparar uma mansão para mim, e virá novamente e me receberá para si mesmo -

se eu posso acreditar "nessas coisas", e sentir os

frutos doces da fé fluindo para fora, não devo, eu

ter paz nele?

Mas, quantas vezes estamos em uma espécie de estado médio! Nenhuma paz no mundo, e pouca

paz em Cristo! O mundo é vazio, pouco mais que

tribulação e tristeza fora e dentro de si; por meio

da fraqueza de nossa fé, da carnalidade de nossa mente, das tentações de Satanás, de várias

sugestões internas, da esterilidade e da

escuridão da alma, embora cheguemos a Jesus,

chamemos pelo seu nome, esforcemo-nos por acreditar no que revelou em sua Palavra,

contudo não encontramos aquela paz que ele

prometeu. Mas, o Senhor não nos ensina assim,

que ele mesmo deve criar paz em nossas consciências por si mesmo falando de paz para

nossas almas e misericordiosa e graciosamente

derramando seu amor em nossos corações?

161

De uma coisa estou muito certo; se alguma vez

encontrei um momento de paz, foi "nele". Pode

ter sido muito transitório, muito fugaz; mas

enquanto durou, foi paz, e que a paz estava "nele"; não em si mesma, não em pecado, não no

mundo, mas "nele" - por união com ele, pela

comunhão com ele, por receber da graça sobre graça por sua plenitude; e através de alguma

manifestação de sua misericórdia, bondade e

amor.

Mas, quando comparamos estas duas coisas juntas, quanto tempo são as épocas da

tribulação! Quão curtas são as épocas da paz! Como suportar a aflição, sendo transitória a

alegria! Quantas ondas de tribulação! Quão

poucos momentos de verdadeira solidão, calma

duradoura! Contudo, o suficiente para nos mostrar que a paz não pode ser encontrada em

outra parte senão em Jesus, o suficiente para

dar-nos algo de antecipação da paz eterna, e

fazer-nos desejar recebê-la mais substancial e plenamente, com mais sentimento, de forma

que nossos corações possam ser inteiramente

banhados com ela, e nossa paz, de acordo com

sua promessa graciosa, possa fluir como um rio.

III. VITÓRIA através de Jesus sobre o

mundo.

Mas o Senhor acrescenta: "Tenha bom ânimo,

eu venci o mundo". Isso não mostra que o

162

mundo é inimigo do Senhor e do povo do

Senhor? E nunca um inimigo, é para ser tão

temido, como quando vem no disfarce de um

amigo. Quando rouba em seu coração, absorve seus pensamentos; ganha suas afeições, afasta

sua mente de Deus - então ele deve ser temido.

Quando podemos ver o mundo em suas cores verdadeiras; quando podemos atravessar o

mundo como estando nele, mas não sendo dele;

quando podemos levantar com doçura nossos

corações para o Senhor, meditando sobre sua Palavra, ou suspirando e clamando por ele - não

há muito medo então do mundo obter a vitória.

Mas, quando nossos olhos começam a beber do

mundo; quando nossos ouvidos começam a ouvir a sua voz; quando nossos corações se

enredam em suas fascinações; quando nossas

mentes se enchem de ansiedades; quando

nossas afeições se afastam do Senhor e se apegam às coisas do tempo e do sentido, então o

mundo deve ser temido. Quando nos ferir como

um inimigo, seus golpes não devem ser temidos

- é quando ele sorri para nós como um amigo que ele é mais perigoso e deve ser temido. Mas,

o Senhor disse: "Eu venci o mundo".

Você pode estar muito enredado nos cuidados dos negócios; a própria vocação necessária, pela

qual você ganha seu pão diário, pode ocupar muitos de seus pensamentos; mas o Senhor

disse para você: “Eu venci o mundo”. As

ansiedades dos negócios, os cuidados desta

163

vida, não serão seu mestre, se você é do Senhor

- ele tem vencido o mundo para você. Mas você

terá tribulação no negócio, terá cuidados e

ansiedades na própria vocação por meio da qual você vive, para que não os idolatre, nem fique

com suas afeições totalmente apegadas a eles.

Você não terá um caminho de muita prosperidade; porque isto não convém a você;

pois abraçaria o mundo com ambos os braços, e

suas afeições se afastariam do Deus vivo.

Portanto, embora o Senhor lhe dê o suficiente para lhe prover do pão que perece, haverá

misturas com tantas ansiedades e cuidados,

tantos pensamentos perturbadores, tantos

problemas de cada lado, que você não idolatrará, mas o verá em suas cores

verdadeiras, como o meio de sustentar esta vida

– e nada mais. Você verá que não deve descansar

nele, e não adorá-lo, mas usá-lo felizmente para o curto período de tempo que você está neste

vale de lágrimas.

Assim, também, com todos os nossos laços

domésticos. Nós somos tão tristes idólatras, e

esses laços tão domésticos roubam tanto em

nossos corações, que o Senhor pode permitir que eles sejam fontes de dor, e de tal dor que

nossas afeições não podem ser retiradas dEle, e

serem totalmente fixadas sobre as coisas que

naturalmente amamos.

164

E assim, também com os que são chamados

prazeres do mundo - "os desejos da carne e o

orgulho da vida" - aquelas coisas que estão

continuamente nos seduzindo e nos atraindo. Mas, o Senhor diz: "Eu venci o mundo" - não lhe

vencerá. Podemos estar emaranhados,

podemos sair à procura das coisas mais vis e abomináveis; mas teremos tantos sentimentos

dolorosos, tantas convicções cortantes, tantas

sensações angustiantes, que diremos com

Efraim: "O que tenho mais a ver com ídolos?" (Oseias 14: 8). Haverá um retorno ao Senhor,

com pleno propósito de coração. Podemos ter

que sofrer muita oposição e perseguição, ou

estar sob o poder de senhores e superiores, e temer a sua carranca. No entanto, o Senhor

disse: "Tenha bom ânimo, eu venci o mundo".

Ele o tem subjugado por sua cruz. O mundo

nunca se tornará o conquistador ou mestre de

seus discípulos.

Olhe para estas palavras. Não são as palavras da

verdade? E não achamos, em certa medida, que

existe nelas uma realidade divina? Qual foi o seu

caminho? Não foi este o seu caminho, mais ou menos, já que o Senhor primeiro se agradou de

virar os seus pés para o caminho estreito? A

tribulação no mundo - às vezes a oposição e

perseguição de homens ímpios - às vezes problemas relacionados às nossas várias épocas

da vida - às vezes o flagelo da língua - e muito

mais frequentemente os sofrimentos internos

165

produzidos por um coração enganoso acima de

todas as coisas e desesperadamente perverso.

As fontes da tribulação podem ter sido muito

diversas, muito diferentes, muito multiplicadas - contudo, nenhum filho de Deus presente aqui

esteve livre de tribulação no mundo - nem será

livre enquanto viver nele.

Mas, vamos passar adiante. Encontramos,

alguma vez paz em Jesus? Desejamos encontrar

paz nele? Procuramos a paz, esperamos

desfrutar da paz, de qualquer outro lugar? Atrevemo-nos a pensar, por um só instante, em

paz no mundo ou paz no pecado? O nosso

coração está tão fixado em Jesus, os nossos olhos

tão elevados para ele, os desejos da nossa alma, pelas manifestações de sua misericórdia e

amor, que temos certeza de que não há paz digna

deste nome, exceto a que se encontra nele?

Nossas temporadas de paz podem não ter sido longas - elas podem ter sido passageiras, muito

transitórias - mas doces enquanto duraram,

suficientes para mostrar o que é a verdadeira

paz, suficiente para nos dar anseios por uma manifestação mais clara dela, e nos fazer desejar

um prazer mais completo da mesma. E, no

entanto, o Senhor vence tudo com a solene e

abençoada declaração de que, embora nosso caminho designado, nosso caminho alocado,

seja um de tribulação no mundo, mas ele o

venceu - o pecado não será nosso mestre - o

166

mundo não será o nosso vencedor - as coisas do

tempo e do sentido não ganharão uma vitória

sobre nós. Que ele nos dê uma doce certeza de

que ele vai lutar nossas batalhas, e nos fazer

mais do que vencedores!