A revista para quem pensa a agricultura. - anipla.com · talvez o maior invento da humanidade,...

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1 www.anipla.com A revista para quem pensa a agricultura. Edição nº8 julho 2018 S Fito_Entrevista: Pedro Matos Soares Investigador No final do século Portugal enfrentará três a quatro anos de seca por cada década Fito_Tema: Campanha “Considere os factos”

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A revista para quem pensa a agricultura.

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Fito_Entrevista:Pedro Matos SoaresInvestigador

No final do século Portugal enfrentará três a quatro anos de seca por cada década

Fito_Tema: Campanha“Considere os factos”

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FitoSíntese // A revista para quem pensa a agricultura.

Ficha técnica

Propriedade: ANIPLA- Associação Nacional da Indústria para a Protecção das PlantasRua General Ferreira Martins Nº 10 – 6ºA 1495-137 Algés . PortugalTel.: +351 214 139 213 . e-mail: [email protected]

Diretor: António Lopes Dias

Coordenação Editorial: Mónica Onofre e Nélia Silva

Projeto Gráfico e Paginação: Musse Ecodesign

Estatuto EditorialColaboraram nesta edição: Comissão de Agricultura Sustentável; Comissão Técnica de Homologação.A FitoSíntese é uma publicação que visa divulgar a atividade da ANIPLA, as suas opiniões e posicionamento face a questões relevantes do sector fitofarmacêutico e da Agricultura em geral. A FitoSíntese pretende ainda dar a voz a entidades e/ou personalidades que tal como a ANIPLA Pensam a Agricultura como um sector de futuro.

A reprodução total ou parcial dos conteúdos publicados é expressamente proibida sem a autorização escrita da ANIPLA.

www.anipla.com

nº8

Fito_Notícias

Fito_EntrevistaPedro Matos Soares

Investigador

Fito_TemaComapanha“Considereos factos”

In_AniplaJornadas de homologação

de produtosfitofarmacêuticos

Fito_GlobalCampanha eurpeia combate

PF ilegais

Fito_Agenda

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As Nações Unidas estimam que haja aproximadamente 10 mil milhões de pessoas habitando o nosso planeta até 2050. Como é que todas essas pessoas podem ser alimentadas, quando sabemos que a quantidade de terras agrícolas disponíveis per capita está diminuindo, e aproximadamente 800 milhões de pessoas já são afetadas pela fome hoje em dia? Esta é uma das mais impressionantes questões do nosso tempo. No entanto, no “nosso mundo” industrializado/desenvolvido, muitos são os que muito pouco sabem de agricultura. Perderam o interesse em saber de onde os alimentos vêm e de como são produzidos. Há muito que dão como certo que estes existem em abundância (em qualquer supermercado, pois claro), o que não é o caso em grande parte do mundo.

E aqui surge algo que nos parece tão fácil, mas que é extremamente difícil: COMUNICAR. Neste jogo emissor/receptor teremos que encontrar a sintonia adequada, e ainda assim perceber se quem ouve, efetivamente escuta. Captar a atenção, envolver e fazer todos participantes, é uma gigantesca tarefa, mas fundamental para um futuro que queremos equilibrado.

A agricultura afinal nunca foi entendida, como talvez o maior invento da humanidade, maior mesmo que a roda ou o fogo (em referência a J.M.Mullet). Foi a agricultura que permitiu fixar populações, e disponibilizar tempo aos homens para pensar e inventar a referida roda ou o fogo. Aos artistas para produzir obras de arte ou composições musicais. A nós para brincar com os nossos filhos.

Para a agricultura de amanhã, precisamos de no-vas abordagens, de um novo estilo de debate. Para isso, primeiro precisamos objetivamente analisar os desafios que a agricultura enfrenta no futuro, e partilhá-los com o público tantas vezes ausente.

Editorial

E esta foi a génese do Fórum Smart Farm – Agri-cultura na 1ª Pessoa, promovido pela Anipla e rea-lizado no enquadramento rural da Companhia da Lezirias. Este evento pretendeu revelar que a sustentabilidade na agricultura assenta no uso de ferramentas e recursos tecnológicos e inovado-res, que permitem otimizar e proteger os recursos naturais essenciais para uma atividade agrícola ambientalmente responsável.

Os desafios que a agricultura enfrenta Pensemos nalgumas das problemáticas condicio-nantes : Alterações Climáticas (não as estaremos já a sentir? Leia o que nos diz Pedro Matos Soares na Fito_Entrevista); Crescente infertilidade de so-los com diversidade de espécies ameaçadas (pas-toreio excessivo, desflorestação); Desperdicios alimentares (desde a produção, armazenagem, transformação, distribuição, consumidores, onde na EU 13% dos alimentos comprados vão parar ao lixo); Produtividade agrícola dependendo de pequenos agricultores que produzirão 50% do ali-mento no mundo em que a tecnologia fará toda a diferença; População mundial em crescimento e concentração urbana de 2/3 desta população. Que fazer? Estaremos nós no caminho para uma crise alimentar?

Criar um futuro sustentávelAgricultura precisa de inovação: os desafios do amanhã não podem ser resolvidos com os méto-dos de ontem. Investimento em pesquisa e desen-volvimento é mais importante do que nunca, a fim de tornar a agricultura mais eficiente e também mais sustentável ao mesmo tempo. Soluções di-gitais, proteção das culturas, métodos modernos de biotecnologia terão um papel importante nesse processo, assim como o apoio tecnológico direcio-nado aos pequenos produtores.

Luís AntunesDiretor da ANIPLA

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FitoSíntese // A revista para quem pensa a agricultura.

7%

Fito_Factos

apenas 7% dos portugueses sabe que a produção alimentar global deve aumen-tar 60% até 2050, por forma a atender às necessidades da população mundial em crescimento (segundo a FAO). 1

dos portugueses desconhece que 40% das culturas agrícolas mundiais são perdidas todos os anos devido a pragas, doenças e infestantes. 182%

€€500milhõescorte proposto pela Comissão Europeia no orçamento da PAC 2021-2027 para Portugal

7,5% da população ativa da UE trabalha no setor agrícola ou agroindustrial 2

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Fonte:1 Resultado de um inquérito realizado pela Universidade Católica Portuguesa, em Março de 2018.2 EU 2017 annual agri-food trade report

€€138mil milhões

exportações agroalimentares da UE em 2017 2

€€117mil milhõesimportações agroalimentares da UE em 2017 2

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Fórum Smart Farm – Agricultura na 1ª PessoaA Smart Farm, a quinta inteligente de demonstração da ANIPLA, instalada na Companhia das Lezírias, recebeu a primeira edição do Fórum Smart Farm, a 6 de Julho. O encontro reuniu 5 conhecidos ele-mentos do setor num debate sobre Agricultura Sustentável, moderado pela jornalista Ana Bravo, a voz do Fito-Minuto, um programa quinzenal da TSF sobre a agricultura. Assistiram ao Fórum Smart Farm agricultores, técnicos agrícolas, representantes da agro-indústria, das entidades oficiais e da indústria fitofarmacêutica.

Através da sua emissão em Direto no Facebook da Anipla, o evento teve um alcance de mais de 20 mil pessoas.

Fito_Notícias

O Fórum Smart Farm reuniu 5 conhecidos elementos do setor num debate sobre Agricultura Sustentável, moderado pela jornalista Ana Bravo.

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Fito_Notícias

Agricultores usam tecnologias seguras para alimentar o mundo

Questionados sobre a necessidade de a produção alimentar aumentar 60% até 2050 para atender às necessidades da população mundial em crescimen-to, facto que 93% dos portugueses desconhecem, os oradores foram unânimes em assumir que a Agri-cultura está preparada para responder a este desa-fio. «Sem dúvida que estamos preparados para usar mais tecnologia e inovação que nos permita aumen-tar a produção de alimentos de forma segura e am-bientalmente sustentável», afirmou Domingos San-tos, agricultor na região Oeste, acrescentando, que «hoje, na Europa, cumprimos padrões de qualidade e segurança alimentar que são únicos no mundo». João Mendes, agricultor no Ribatejo, reiterou a ideia de que «os cidadãos da UE não têm que temer pela segurança alimentar, devem confiar nos agriculto-res europeus, que estão a gerir os recursos naturais e os fatores de produção da melhor forma, até por uma questão económica». Luís Antunes, membro da direção da ANIPLA, aler-tou para a necessidade de integrar vários tipos de agricultura e sistemas de produção, onde a «biotec-nologia não pode ser escamoteada», para conseguir produzir mais alimentos num contexto de crescen-tes alterações climáticas e com apenas 3% da área global do Planeta disponível para a agricultura.

Alterações climáticas, pragas e preço dos alimentos

«As alterações climáticas trazem-nos desafios bru-tais em termos de pressão de pragas e doenças, que são uma ameaça crescente ao sucesso das culturas agrícolas», reconheceu Domingos Santos, explican-do que os agricultores têm à disposição ferramen-tas de luta química e biológica, que usam de forma integrada e aplicando apenas as doses estritamente necessárias para controlo das pragas e doenças. O aumento dos custos com os fatores de produção e com a mão-de-obra, devido à sua escassez, são fatores de pressão no aumento do preço dos alimen-tos, que tem sido amortecido pela Política Agríco-la Comum (PAC). «A agricultura é muito apoiada e não podia ser de outra forma, devido ao aumento dos custos de produção», afirmou Jaime Ferreira, presidente da Agrobio, para quem a agricultura con-

vencional vai tender a aproximar-se da agricultura em Modo de Produção Biológico. Na sua opinião, a resposta às alterações climáticas passa por usar variedades tradicionais de espécies vegetais: «de-pois de melhoradas, as variedades que os nossos antepassados usaram poderão ser as plantas mais adaptadas para resistir às alterações climáticas». Luís Antunes, não desvalorizando o papel das varie-dades tradicionais, recordou que «só a evolução das variedades (com o uso de híbridos) permitiu chegar ao nível de produtividade que atingimos na agricul-tura moderna, do qual não podemos abdicar se que-remos alimentar uma população mundial cada vez mais numerosa».

O Fórum decorreu na Companhia das Lezírias

Felisbela Campos, presidente da ANIPLA, inaugurou o Fórum

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Ana Bravo, jornalista da TSF, e Domingos Santos, agricultor no Oeste

José Diogo Albuquerque, CEO do Agroportal, e João Mendes, agricultor no Ribatejo

Domingos Santos, agricultor no Oeste, e Luís Antunes, membro da direção da ANIPLA

Jaime Ferreira, presidente da Agrobio, e Ana Bravo, jornalista da TSF

Aproximar o consumidor da Agricultura

Aproximar o consumidor da agricultura é fundamental para gerar confiança e desfazer alguns mitos e desco-nhecimento da população urbana sobre o meio rural e agrícola. Que estratégias adotar?José Diogo Albuquerque, CEO do Agroportal e ex-secretário de Estado da Agricultura, sugeriu que se «adotem vários níveis de ação, organizada e em parceria, para aproximar agricultores e consumidores»: abrir as explo-rações agrícolas aos consumidores (agroturismo); articulação entre Turismo e Agricultura, usando imagens do mundo rural e agrícola nos spots promocionais do Turismo de Portugal; aproximar os nutricionistas da agricul-tura e veicular através desta classe profissional informação sobre os alimentos e a forma como são produzidos; as associações representativas dos agricultores devem tomar posição e levar para o debate público informação sobre tecnologia agrícola, incluindo sobre produtos fitofarmacêuticos; usar cada vez mais os canais digitais na comunicação do setor agrícola.

Jaime Ferreira, por seu turno, defendeu que é nas escolas, desde o nível de ensino pré-escolar, que deve come-çar a formação sobre agricultura: «o agricultor tem de passar a ir à escola, como outros profissionais vão, para falar da sua profissão, valorizá-la, e informar como se faz um alimento e quanto custa produzi-lo».

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Fito_Notícias

Agricultura urbana e peri-urbana

Outra linha de ação que pode contribuir para aproximar a população urbana da agricultura é a agricultura urbana (hortas urbana, agricultura vertical), uma realidade que «cresce 25% ao ano no mundo ocidental e que tem um poder brutal de comunicação e sensibilização», disse Luís Antunes. Na opinião de Jaime Ferreira, a agricultura peri-urbana ou desenvolvida na periferia das cidades, é uma tendência de futuro, sobretudo no que respeita à produção de frutas e legumes, devido à crescente valorização de alimentos com baixa pegada de carbono e adquiridos em cadeias curtas de abastecimento.

O debate entre os oradores terminou com uma conclusão de Jaime Ferreira aplaudida por todos: «a agricul-tura tem um enorme futuro, a profissão de agricultor é provavelmente a mais estável de todas e vai ser cada vez mais uma profissão de prestígio».

Visita à SMART FARM

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FitoSíntese // A revista para quem pensa a agricultura.

O Fórum Smart Farm terminou com uma visita às instalações da Smart Farm, a quinta inteligente de demons-tração da ANIPLA. Os participantes, divididos em 2 grupos, passaram por 4 estações de demonstração de Boas Práticas na utilização de produtos fitofarmacêuticos:

• Armazenamento seguro de produtos fitofarmacêuticos e boas práticas para a correta gestão de embalagens vazias.

• Mesa de demonstração de diferentes tipos de bicos usados nos pulverizadores, com vista à aplicação segura para o operador e eficaz para a cultura agrícola, reduzindo a deriva e potencial contaminação do solo e dos cursos de água.

• Sistemas de tratamento de efluentes fitossanitários - Héliosec e Phytobac – para adequada eliminação dos restos de caldas que permanecem no depósito do pulverizador após um tratamento.

• Sistema de transferência fechada (STF) de produtos fitofarmacêuticos, da embalagem para o depósito do pulverizador, visando a redução do risco de contaminação do operador. Nesta estação também foi demons-trada a forma adequada de esgotamento da calda, através da tripla lavagem das embalagens ou por lava-gem de fluxo contínuo com o STF.

O Fórum Smart Farm foi realizado no âmbito da Comissão de Agricultura Sustentável da ANIPLA.

Sistema de tratamento de efluentes fitossanitá-rios Héliosec

Sistema de tratamento de efluentes fitossanitá-rios Phytobac

Armazenamento de retoma de embalagens vazias Sistema de transferência fechada (STF) de produ-tos fitofarmacêuticos

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Fito_Entrevista

Pedro Matos Soares, Doutorado em Física das Nuvens e investigador do Instituto Dom Luís, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, responde a esta questão central para a Agricultura e a Alimentação. O seu grupo de trabalho dedica-se ao estudo de modelos físico-matemáticos de previsão do clima para a Europa e África, realizando simulações regionais de alta resolução (a 9 km).

Pedro Matos SoaresInvestigador do Instituto Dom Luís, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

«No final do século Portugal enfrentará três a quatro anos de seca por cada década»

Como será o nosso clima

2100?em

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FitoSíntese // A revista para quem pensa a agricultura.

Como será o clima em Portugal até final do século XXI? Um estudo recente, publicado na revista PNAS, in-dica que se hoje em dia tivéssemos o clima que se projeta como mais provável para o ano 2080, per-deríamos anualmente mais de 1% do PIB no Sul da Europa. A Bacia do Mediterrâneo é considerada um hot spot pela sua vulnerabilidade às alterações climáticas e os impactos para a Agricultura e a Floresta são eminentemente negativos. Portugal está num processo contínuo e acelerado de au-mento da temperatura, desde os anos 90 do século passado. As nossas projeções para final do século XXI indicam perdas médias de 20% na precipitação e um aumento de 15% a 20% da evaporação. Vis-tos estes números de forma simplista, no final do século poderemos ter metade da disponibilidade de água nos nossos solos. Neste cenário, grande parte da nossa agricultura de regadio estará com-prometida.

Que variação se antevê nas temperaturas máximas e mínimas até final do século XXI?As projeções de temperatura máxima para final do século, no cenário mais provável (RCP8.5), indicam um aquecimento médio de 3ºC no Inverno. Na Pri-mavera, a temperatura sobe 3ºC (no litoral) a 5ºC (no sudeste, zona de Barrancos e da Amareleja) e, no Verão, o aumento da temperatura máxima pre-visto é de 7ºC no nordeste transmontano. No Outo-no, os termómetros sobem 4,5ºC na média do país, à exceção das regiões do litoral cujo aumento fica abaixo dos 4ºC. As projeções de aumento da tem-peratura mínima ficam abaixo dos 4ºC (no sudeste) na Primavera, vão até aos 5ºC a 6ºC (no nordeste) no Verão, e quase 5ºC na zona raiana, no Outono.

É previsível o aumento da frequência e duração das ondas de calor?No que se refere ao stresse associado ao calor, as projeções são ainda mais dramáticas, tanto do ponto de vista da resistência das plantas, como das pessoas e da sua capacidade de arrefecer. No clima presente, Portugal tem em média 0,6 a 0,7 ondas de calor por ano, ou seja, dias em que a tem-peratura máxima está acima do percentil 90 (cerca de 5 dias acima dos 35ºC). No final do século as projeções dos nossos modelos apontam para que a metade interior do país terá em média seis ondas

de calor por ano, e a metade litoral duas a quatro ondas de calor. A duração média das ondas de ca-lor no clima presente é de seis a sete dias, mas em 2100 podem durar 10 a 21 dias. O cenário mais dramático é projetado para o nordeste, onde as on-das de calor podem chegar a durações máximas de mais de 40 dias. Esta realidade de fim de século ainda não a vimos, mas repare que o ano passa-do tivemos três ondas de calor em Portugal, com impactos dramáticos devido aos incêndios. Foi um ano raro do ponto de vista climatológico.

E quanto à precipitação, que alterações se pre-veem até 2100?Em média, na região sul haverá perdas de precipi-tação de - 15% a - 20%, podendo chegar aos - 30% no Algarve. Em termos sazonais, no Inverno, as alterações na precipitação serão pouco significati-vas, à exceção do Algarve com perdas entre - 10% e - 20%, o que é muito grave para gestão das ba-cias hidrográficas da região. Atualmente há mui-tas superfícies frontais que passam no território português, originando a precipitação, mas estas tempestades, de acordo com as projeções futuras, tendem a passar cada vez mais a Norte do Atlânti-co, e cada vez menos sobre a Península Ibérica. Na Primavera e no Outono, estações do ano em que a chuva é vital para a Agricultura e a Floresta, o ce-nário é muito mais preocupante. Temos omnipre-sentes perdas entre -10% e -30% de precipitação, na Primavera, e entre -20% e -30%, no Outono, em quase todo o território. Haverá também uma diminuição dos dias de precipitação baixa a mo-derada, aquela que se infiltra nos solos e é muito importante para a Agricultura e Floresta, e um au-mento do número de dias com precipitação intensa (acima dos 20 mm), e que pode provocar cheias e danos. Todos estes elementos conjugados são um fator de preocupação do ponto de vista do teor de água nos solos.

Os períodos de seca vão ser mais frequentes?Todos os cenários apontam para um aumento significativo do número de anos de seca no futu-ro. Atualmente, em média por cada década há um ano de seca, no final do século são projetadas três a quatro anos de seca por cada década. A gestão corrente dos setores agrícola e florestal vai ter que mudar bastante de paradigma para acomodar es-tes fatores.

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Fito_Entrevista

Que mudanças serão necessárias para manter a competitividade da Agricultura e Floresta nestes cenários?Os setores agrícola e florestal deviam ter a capa-cidade de depender o menos possível da água, que vai ser um bem essencial sob muita pressão. Por outro lado, deverão optar por culturas muito resi-lientes a extremos de temperatura. Os solos vão estar sujeitos a enorme pressão hídrica, por eva-poração da água causada pelo calor e pelos efeitos de lavagem das chuvas extremas. Neste cenário de alterações climáticas, as monoculturas intensivas florestais têm que ser repensadas, caso contrário poderemos ter consequências dramáticas. A polí-tica de ordenamento do território tem que ser cla-ramente diferente.

ANOMALIAS DE TEMPERATURAMÁXIMA PARA O CLIMA FUTURO

2071- 2100RCP8.5 (cenário)

Inverno Primavera

Verão Outono2071- 2100menos1971-2000

Cardoso et al. (2018)

É uma boa política investir em grandes reservató-rios de água para a Agricultura, atendendo às alte-rações do clima?A resposta é complicada. Como Físico terei todo o gosto em quantificar o impacto desses grandes reservatórios no ciclo da água, através de modelos físico-matemáticos. Se não houver uma inflexão tremenda dos cenários de projeção climática, es-ses reservatórios vão estar sob um stress hídrico muito superior, a meio e no final do século XXI, do que hoje em dia.

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FitoSíntese // A revista para quem pensa a agricultura.

Mas do ponto de vista da Agricultura de regadio as barragens são fundamentais para manter a ativi-dade…O problema é que a evaporação da água no solo vai ser muito mais intensa do que é atualmente e teremos que regar mais. Do ponto de vista do ba-lanço hídrico estaremos a criar mais dificuldades à gestão da água. Por outro lado, em algumas re-giões onde se prevê um maior aumento da tempe-ratura, podemos chegar a níveis de saturação, em que as plantas podem deixar de ser as adequadas ao clima local. Toda esta multiplicidade de fatores necessita de modelos preditivos. É imperativa uma aproximação dos decisores das políticas públicas à Ciência, numa perspetiva interdisciplinar, para que possamos perceber em conjunto como é que

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Soares PMM Climate Change Portugal 2018 v4A.pdf 1 30/07/2018 18:00PRECIPITAÇÃOANOMALIAS SAZONAIS RELATIVAS

Inverno Primavera

Verão Outono(2071-2100 menos1971-2000) / 1971-2000

Soares et al. (2017)

o setor agrícola pode ser mais eficiente e em última análise sobreviver.

Além dos impactos nos recursos hídricos e no solo, prevê-se o aumento da pressão de pragas e doenças nas culturas agrícolas?Estudos mais focados em África, em países com se-cas recorrentes, indicam um aumento substancial da pressão das pragas, com perdas de um terço da pro-dução em algumas culturas agrícolas. Estes estudos não foram ainda feitos para Portugal, mas deveriam ser, pois com um clima que se assemelhará ao cli-ma do Norte de África, a biodiversidade e a pressão de pragas e de vetores de doenças será certamente diferente da atual.

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Fito_Entrevista

Que medidas públicas de mitigação/adaptação devem ser adotadas por Portugal para manter a competiti-vidade da agricultura?Precisamos de políticas de longo prazo que sejam conscientes destes cenários de projeção climática. Te-mos que diversificar o setor agrícola e regressar à nossa riqueza florestal mais autóctone e menos inten-siva, que requer pessoas no território. A política de repovoamento florestal deve basear-se em espécies preparadas para um clima semiárido, com pouca disponibilidade de água, que não dependam da irrigação. Quando tivermos menos água disponível o abastecimento público será prioritário.

O último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas), de 2013, confirma que a temperatura média na Terra subiu 0,85 Cº em relação à era pré-industrial. Está agora a ser avaliado o impacto de uma subida de 1,5Cº. O que espera ver neste próximo relatório a divulgar em Setembro de 2018?

No Acordo do Clima de Paris COP21 os governos tomaram a decisão de traçar um cenário de emissões de gases com efeito de estufa de modo a que a temperatura média global não suba acima do limiar de 1,5ºC até final do século. O esforço científico está agora concentrado em perceber como será o mundo se a tem-peratura média global não ultrapassar este limiar político. O problema é que já estamos muito perto disso, a temperatura já subiu 1ºC. Um estudo recente publicado na revista Nature diz que se hoje parássemos todas as emissões mundiais de CO2, no final do século o aumento da temperatura seria de 1,4ºC, devido à inércia do sistema climático. Ou seja, o limiar de 1,5ºC até 2100 é na minha opinião uma ilusão total; este vai ser atingido muito antes do final do século, pois estamos ainda num processo crescente de emissões de gases com efeitos de estufa. Quanto maior for a mitigação (prevenção) do aquecimento global, melhor preparamos o futuro para as gerações vindouras.

«As decisões que tomamos hoje para a Agricultura e a Floresta têm que ter subjacente informação sobre as projeções do clima para as próximas décadas»

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FitoSíntese // A revista para quem pensa a agricultura.

Fito_temaCampanha “Considere os Factos”

Depois de uma primeira edição, em 2017, a campanha “Considere os Factos” volta a promover o diálogo entre consumidores e produtores, convidando à reflexão pública sobre a alimentação e a agricultura.

Para compreender o nível de conhecimento que os portugueses têm da realidade agrícola foi realizado, em março deste ano, um estudo à população, em parceria com o Centro de Estudos Aplicados da Universidade Católica Portuguesa. Os resultados obtidos revelam o desconhecimento geral dos portugueses sobre alguns dos principais desafios colocados à atividade agrícola e reforçam a necessidade de dar continuidade à Campanha.

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A iniciativa da ANIPLA tem como objetivo contribuir para desfazer mitos sobre o uso de produtos fitofárma-cos e inovações tecnológicas na agricultura, temas que muitas vezes geram medo e insegurança às famí-lias portuguesas. A ANIPLA acredita que só com a disseminação de conhecimento e o incentivo ao contacto direto com os agricultores será possível reforçar a ligação entre quem produz e quem consome.Até dezembro, a campanha está visível não só através das suas plataformas digitais, rádio e publicidade em imprensa, mas também na promoção de debates e ações de sensibilização de rua, nas principais cidades portuguesas. A campanha conta, mais uma vez, com o apoio da Associação Europeia de Proteção das Plan-tas (ECPA) e com a colaboração de diversas associações de produtores nacionais.

Na Feira Nacional de Agricultura, Phil Hogan, Comissário Europeu da Agricultura, o Primeiro-Ministro, An-tónio Costa, e outros membros do Governo tiveram contacto direto com a campanha “Considere os Factos”

A campanha esteve na Ovibeja

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FitoSíntese // A revista para quem pensa a agricultura.

Em ações de rua, no centro urbano de Coimbra e Évora, os promotores explicam de forma prática e exemplifica-tiva as mensagens-chave da campanha

FitoM nutoO que sabem os portugueses sobre a produção agrícola?Descubra num minuto.

A rádio TSF dá voz à campanha “Con-sidere os Factos” com a rúbrica Fito Minuto, emitida de 15 em 15 dias, às 7h50. A jornalista Ana Bravo escuta o setor agrícola e a sociedade civil, par-tilhando com os ouvintes as histórias, desmistificando alguns mitos e pro-movendo um debate franco e cons-trutivo para um sector indispensável à nossa alimentação. Escute AQUI as emissões.

FitoM nutoO que sabem os portugueses sobre a produção agrícola?Descubra num minuto.

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Fito_Tema

FitoM nutoO que sabem os portugueses sobre a produção agrícola?Descubra num minuto.

António Lopes Dias, Diretor Executivo da ANIPLA, apresentou a campanha “Considere os Factos” na Edição da Manhã da SIC Notícias, a 8 de Maio. Veja AQUI a entrevista.

A opinião dos consumidores e de profissionais do setor agrícola

Ouvidos pela ANIPLA, os consumidores e os profissionais do setor agrícola falam de Agricultura, Alimentação e da perceção pública sobre estes temas. A divulgação é feita no Facebook e no blog FitoSintese da ANIPLA.

«A agricultura é vista como uma atividade pouco interessante e mal remunerada. Por isso, deviam ser tomadas iniciativas de sensibili-zação que demonstrassem não só a importância da agricultura, mas, acima de tudo, a evolução tecnológica que esta sofreu», Paulo Godinho, 22 anos, estudante universitário de Jornalismo

«Os consumidores sabem pouco sobre os agricultores e aquilo que fazem. A informação deveria ser passada nas escolas e em campa-nhas públicas», Constança Matos, Estudante de Enfermagem

«Mais do que os agricultores, as organizações que os representam e os organismos governativos deveriam levar a cabo campa-nhas de sensibilização dirigidas à população em geral sobre Agricul-tura», Teresa Zacarias, engenheira agrónoma, assessora técnica da Casa do Azeite

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FitoSíntese // A revista para quem pensa a agricultura.

93%não sabe

que a produção alimentarmundial precisa de

aumentar 60% até 2050

População portuguesa vê nos produtos fitofarmacêuticos um aliado da produção agrícolaUm estudo realizado pelo Centro de Estudos Aplicados (CEA) da Universidade Católica Portuguesa, em parceria com a ANIPLA, conclui que a maioria dos portugueses (85% dos inquiridos) sabe que os produtos fitofarmacêuticos são concebidos com o objetivo de proteger as plantas das influências prejudiciais, incluindo insetos nocivos, infestantes, fungos e outros parasitas. Ao mesmo tempo, 61% concorda que, para manter os seus alimentos acessíveis, os agricultores devem ser capazes de combater infestantes, pragas e doenças recorrendo aos produtos fitofarmacêuticos.

O inquérito, realizado em Março de 2018, teve como principal objetivo aferir o conhecimento da população adulta sobre as realidades da produção agrícola. Em evidência fica o facto de este estudo revelar que grande parte da população portuguesa desconhece quais os desafios da produção alimentar mundiale a ligação existente entre a produtividade e o preço dos alimentos.

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Portugueses desconhecem que a produção alimentar mundial precisa de aumentar 60% até 2050

Os dados divulgados pelo Parlamento Europeu re-ferem que 40% das culturas agrícolas mundiais são perdidas todos os anos devido a pragas, doenças e in-festantes. O estudo revelou que 82% dos portugueses desconhece essa percentagem.

Relativamente ao tema da produção global de alimen-tos, a FAO (Food & Agriculture Organization of the Uni-ted Nations ) indica que a produção alimentar global devia aumentar 60% até 2050, por forma a atender às necessidades da população mundial em crescimento – número que apenas 7% dos inquiridos deste estudo estimou acertadamente.

Portugueses apontam alterações climáticas e falta de terras aráveis como os fatores com maior impacto no aumento do custo dos alimentos

A maioria dos inquiridos concorda que perturbações à produção têm impacto no preço dos produtos, com

98% dos respondentes a revelar que o preço dos pro-dutos alimentares deve permanecer acessível para garantir que as famílias têm acesso a alimentos sau-dáveis e frescos.

Quando questionados sobre quais os fatores que mais influenciam o aumento do custo dos alimentos no mundo, a falta de alimentos devido às alterações climáticas foi a seleção de 86% dos inquiridos, se-guido da falta de terra adequada ao cultivo, por 60% dos inquiridos.

Perante a questão sobre o papel dos produtos fitofar-macêuticos e o seu impacto no custo dos alimentos, ficou evidente que mais de metade dos portugueses (61%) está de acordo que, para manter os seus ali-mentos acessíveis, os agricultores devem ser capa-zes de combater infestantes, pragas e doenças re-correndo aos produtos fitofarmacêuticos.

Fatores como a “Procura dos consumidores por pro-dutos fora de época ou sem considerar a sua origem” e a “Alteração dos hábitos de consumo dos consu-midores (ex: a procura de frutas e legumes de agri-cultura biológica, opções de alimentos sem glúten, alternativas...)” foram os menos selecionados, com apenas 32% e 33%, respetivamente.

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FitoSíntese // A revista para quem pensa a agricultura.

Destaque ainda para o facto de que, aproximadamen-te, 38% da população portuguesa vê no crescimento populacional um fator com impacto no incremento dos preços dos alimentos.

População portuguesa vê nos produtos fitofarmacêuticos um aliado da produção agrícola

No que concerne ao conhecimento dos portugueses sobre o papel dos produtos fitofarmacêuticos, o es-tudo elucidou que 85% dos indagados reconhece que estes produtos químicos são concebidos com o objeti-vo de proteger as plantas das influências prejudiciais, incluindo insetos nocivos, infestantes, fungos e outros parasitas.

De forma inequívoca, esta amostra da população por-tuguesa concordou, na sua maioria (68% das respos-tas), que sem o uso de produtos fitofarmacêuticos mais de metade das culturas mundiais podem ser perdidas anualmente, devido a pragas e doenças das culturas.

85%reconhece

Portugueses revelam preferir alimentos biológicos, mas desconhecem a forma como são produzidos

No que diz respeito aos hábitos alimentares dos portu-gueses, o estudo da Universidade Católica evidenciou que 65% dos inquiridos tem preferência por consumir apenas alimentos biológicos. Contudo, apesar de a maioria dos respondentes preferir alimentos produzi-dos em agricultura biológica, muitos destes revelaram desconhecer algumas das realidades da sua produção. Destaque para o facto de que 60% dos inquiridos não sabe ou discorda totalmente do facto de a agricultura biológica utilizar produtos fitofarmacêuticos químicos na sua produção.

Número em oposição a apenas 19% da população es-tudada, que revelou conhecer que esta forma de pro-dução agrícola faz uso destes produtos fitofarmacêu-ticos.

Metodologia: O tamanho total da amostra foi de 961 participantes adultos, representantes da população portuguesa. O estudo online foi reali-zado junto dos participantes inscritos no Painel de Estudos Online (PEO) da Católica-Lisbon. Os dados foram recolhidos entre 8 e 17 de março de 2018 e foram pesados de maneira a garantir a representatividade de toda a população (maiores de 18 anos) de Portugal.

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In_AniplaJornadas de homologação de produtos fitofarmacêuticos

Os agricultores e a ANIPLA estão contra a progres-siva diminuição de soluções disponíveis no merca-do para a proteção de culturas, argumentando que é a competitividade do setor agrícola que está em risco. Defendem maior celeridade na avaliação e aprovação das substâncias ativas e uma legislação mais flexível e pragmática. Nas Jornadas de Ho-mologação de Produtos Fitofarmacêuticos, organi-

Comissão Técnica de Homologação

Os agricultores e a indústria de produtos fitofarmacêuticos estão contra a progressiva retirada de substâncias ativas da UE para combate de pragas e doenças e defendem uma legislação mais flexível e pragmática, assim como a simplificação de procedimentos.

zadas pela ANIPLA, a 1 de Março, no auditório da DGAV (Direção Geral de Alimentação e Veterinária) em Oeiras, também a DGAV partilhou da preocupa-ção da indústria e dos agricultores. «A maior restri-ção de produtos não está a ser acompanhada com a introdução de novas técnicas ou meios de luta al-ternativos», afirmou Ana Paula Carvalho, subdire-tora geral da DGAV, revelando que no ano passado

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FitoSíntese // A revista para quem pensa a agricultura.

na UE, cerca de 493 substâncias ativas foram aprovadas e 827 foram não aprovadas e/ou retiradas do mercado.

Esta responsável avança que existem culturas agríco-las com importância económica em Portugal que têm ao dispor poucas soluções para controlo de pragas e doenças, referindo como exemplo a cultura do arroz. Isto apesar de o número e a severidade das pragas e doenças estarem a aumentar no território comunitário, como consequência das alterações climáticas. As ins-peções fitossanitárias de controlo têm reportado cada vez mais casos de interceções de organismos nocivos em plantas e outros materiais vegetais importados de países extracomunitários. Só em 2016, foram reporta-das à UE mais de 7700 interceções, o que representa um aumento de 15% face ao ano anterior e «é alarmante». Na regulamentação fitossanitária europeia estão lista-das cerca de 250 pragas e doenças de quarentena e, só em 2016, foram notificadas por Portugal à UE sete novas doenças detetadas no território nacional.

Produtores pedem maior celeridade nos registros

«Qualquer dia tenho que vender os pulverizadores, por-que já quase não são usados». Quem o afirma é João Coimbra, produtor de milho de referência e líder de opi-nião no setor, que expressa a preocupação e frustração comum a outros produtores face à redução acentuada de soluções disponíveis no mercado. «Neste momento, já só utilizo herbicidas. Os inseticidas disponíveis são tão pouco eficazes que quase não vale a pena aplicá-los. É rezar e esperar que não surjam problemas», lamenta.A principal crítica feita ao quadro legal pelo Centro de Competências para o Tomate de Indústria (CCTI) pren-de-se com a demora das autorizações. As autorizações de emergência, atribuídas pela DGAV, «têm que ser mais rápidas, assim como o reconhecimento mútuo de um produto autorizado em Espanha ou Itália», defendeu João Santos Silva, diretor do CCTI. E justificou: «a trans-posição de um produto não pode demorar dois anos, porque isso é uma enorme desvantagem competitiva. São ferramentas que produtores espanhóis ou italianos têm ao seu dispor e os portugueses não».

Paulo Lourenço, diretor da ANIPLA e coordenador da Comissão de Homologação da ANIPLA, confirma que «há um grande atraso quer do Estado-membro re-lator na avaliação de uma substância ativa, como dos

João Coimbra, agricultor

Paulo Lourenço, direção da Anipla

Ana Paula Carvalho, sub -diretora DGAV

Anabela Nave, Associação para o Desenvolvi-mento da Viticultura Duriense

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In_Anipla

Estados-membros interessados em transpor para a legislação nacional a avaliação feita (…) é quase utópico fazer uma submissão de um produto que ao fim de 18 meses esteja aprovada por um Estado--membro relator, e ao final de mais 4 meses essa mesma substância esteja disponível no mercado (estes são os prazo estipulados pela legislação)».

Já o diretor executivo da ANIPLA, António Lopes Dias, refere que estas limitações têm impacto na indústria que desenvolve, produz e comercializa produtos fitofarmacêuticos, pelo que já são várias empresas do setor que estão a desinvestir na Euro-pa e a apostar noutros continentes. «É mais caro e demora mais tempo lançar um produto na Europa». Quanto a valores, revela que em 10 anos os custos de uma empresa para introduzir um produto no mercado passaram de 152 milhões de euros para os 300 milhões, com a principal fatia a ser alocada ao desenvolvimento dos produtos. Ainda de acordo com António Lopes Dias, na década de 80, cerca de 41% das substâncias ativas lançadas no mercado mundial eram desenvolvidas na Europa e hoje são apenas 16%.

Maior pragmatismo e flexibilidade na legislação

João Coimbra defende que os legisladores têm de mudar de estratégia e ser «mais flexíveis e prag-máticos». E justifica: «não se podem orientar por matrizes, porque isso não é assim no campo, como demonstram as alterações climáticas. O que fun-ciona para uma cultura num local, pode não funcio-nar noutro». Também os produtores devem encarar a agricultura de precisão como uma ferramenta

«imprescindível» que os ajude a ser mais eficientes na gestão das suas explorações, nomeadamente, na aplicação de produtos fitofarmacêuticos.

Para António Lopes Dias é preciso eliminar o tem-po perdido com questões administrativas, visto que todos os anos são repetidas as autorizações aos mesmos produtos. E exemplifica: «não vale a pena estar a avaliar novamente um determinado produto só porque deixou de ser fabricado em Espanha e passou a ser feito noutro local».

Na perspetiva da indústria, a dinâmica das autori-zações de Usos Menores «é para manter», elogian-do-se o trabalho feito pela DGAV neste particular, já que Portugal é um dos países da UE com melhores resultados nesta figura legislativa.

Para Anabela Nave da ADVID-Associação para o De-senvolvimento da Viticultura Duriense, que repre-senta cerca 6.000 hectares de vinha, o caminho deve passar pela disponibilização, por parte da DGAV, de listas claras das soluções disponíveis para cada cul-tura, clarificar as regras de utilização dos produtos, sobretudo as quantidades, assim como elucidar so-bre substâncias base. Ao mesmo tempo, argumenta ser necessário conhecer os resultados da aplicação do Plano de Ação Nacional para o Uso Sustentável dos Produtos Fitofarmacêuticos e adaptar as re-gras em função de cada região. «No Douro, a vinha já está a entrar em atividade, e não podemos espe-rar até 1 de março para aplicar herbicida. Tem que se ter em conta que o país é diverso, com culturas distintas e que estas se comportam de forma dife-rente», justifica.

João Silva, Centro de competênciaspara o tomate de indústria

Bárbara Oliveira, DGAV Felisbela Campos, Presidente da Anipla

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FitoSíntese // A revista para quem pensa a agricultura.

Participação ativa na tomada de decisões

Indústria e produtores defendem que é necessário um trabalho conjunto entre todos os interessados para se fazerem ouvir. «Tem de existir maior comu-nicação entre todos. Os produtores têm que se jun-tar à indústria, porque são eles que têm mais força», afirmou António Lopes Dias, dando como exemplo de cooperação estas jornadas. O diretor executivo da ANIPLA apelou ainda a que os agricultores «lu-tem pela homologação de substâncias ativas novas, novas moléculas e, sobretudo, novas misturas». Paulo Lourenço, da direção da ANIPLA, apelou tam-bém a que indústria, agricultores e autoridades competentes «participem ativamente na discussão de alternativas apresentadas pela Comissão Euro-peia, porque precisamos dessas substâncias, caso contrário não sobrevivemos» e concluiu: «temos o dever moral de entregar às gerações vindouras a dieta mediterrânica, reconhecida como património mundial da UNESCO, ou qualquer dia temos dieta mediterrânica made in China».

ANIPLA inquiriu portugueses

«Saber comunicar é crucial, para garantir a viabili-dade do setor agrícola, principalmente, na Europa, porque muitas vezes o acesso a novas tecnologias não é entendido pela sociedade como um avanço, o que dificulta a sua introdução no mercado» ga-rante a presidente da ANIPLA, Felisbela Campos. Daí que para informar a opinião pública acerca das problemáticas da agricultura moderna, a ANIPLA realizou, conjuntamente com a Universidade Cató-lica, um inquérito à população portuguesa para sa-ber o que esta pensa da agricultura, da utilização de produtos fitofarmacêuticos e da competitividade do setor agrícola com e sem a aplicação destes produ-tos. Para João Coimbra esta deve ser a mensagem a difundir: «os fitofármacos são como os antibióticos, só são utilizados em último recurso e têm um pre-ço. Por isso, os produtores não têm interesse em aplicar muitos produtos. As nossas margens estão cada vez menores, e temos consciência ambiental», sustenta.

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Fito_GlobalCampanha europeia combate produtos fitofarmacêuticos ilegais

A indústria europeia de proteção das plantas, representada pela ECPA-European Crop Protection Association, tem em marcha uma campanha com o objetivo de combater a venda e o uso de produtos fitofarmacêuticos ilegais ou contrafeitos na União Europeia.

Trata-se de produtos perigosos, que não são testados nem aprovados para os fins para que são usados. A sua utilização põe em causa a Segurança Alimentar, a Indústria e a viabilidade comercial dos Agricultores e Distribuidores.

Cerca de 10% dos produtos fitofarmacêuticos co-mercializados no espaço comunitário são contrafei-tos ou ilegais e destes 80% a 90% têm origem na China, de acordo com dados da Comissão Europeia (DG Santé, Março 2015).

A campanha liderada pela ECPA está em curso em diversos países da UE, incluindo Portugal, onde é implementada pela ANIPLA e pela GROQUIFAR. Têm sido realizadas ações de sensibilização em conferências e encontros, divulgação nos meios de comunicação e redes sociais; ações de formação com autoridades oficiais, polícias, distribuidores e agricultores, bem como um trabalho de lobby junto das autoridades europeias com vista a assegurar o cumprimento da legislação em vigor relativa à pre-venção e punição das ações de contrafação.

NÃO AUTORIZADOSNÃO TESTADOS FORNECEDORES

Sem testes de segurança

Risco desconhecido

Possíveis danos (sem beneficio)

Não regulados

Não revistos

Criminosos

Desconhecidos para as autoridades

Sem acompanhamento

Suporte a outras atividades ilegais

AUTORIZADOSTESTADOS FORNECEDORES

>100 testes específicos

Riscos compreendidos e controlados

Benefícios documentados

Comissão europeia e EFSA

Estados membrose agências

Revistos a cada 4 anos

Comprometidos na entrega de produtos seguros e de alta qualidade

Cooperam com as autoridades

Providenciam suporte e acompanhamento

PRODUTOS FITOFARMACÊUTICOSAUTORIZADOS

GLOBAL

O CRIME ÉALTAMENTE LUCRATIVO

Produtos fitofarmacêuticos ilegais e contrafeitos na Europa

PF legais testados e aprovados são usados com responsabilidade como parte essencial da agricultura. Os PF controlam pragas, doenças e infestantes que atacam as nossas culturas. Sem a proteção das plantas, incluindo PF legais, as perdas globais de culturas podem ascender a 80%. 1

O comércio de PF ilegais e contrafeitos cresceu, aumentando as quantidades produzidas, comercializadas e vendidas por redes de crime organizado, representando riscos reais para a saúde do agricultor, ambiente e economia.

P E N S E N I S S O . . .

Dois mundos diferentes

1OECD/FAO (2012), OECD-FAO Agricultural Outlook 2012, OECD Publishing, Paris, http://dx.doi.org/10.1787/agr_outlook-2012-en.

2 According to the Eurropean Commission - around 10% “Ad-hoc study on the trade of illegal and counterfeit pesticides in the EU”

3According to EUIPO - 13,8 % “The economic cost of IPR infringement in the pesticides sector”https://euipo.europa.eu/tunnel-web/secure/webdav/guest/document_library/observatory/resources/research-and-studies/ip_infringement/study10/pesticides_sector_en.pdf

4Institute for the Control of Agrochemicals (ICAMA), Ministry of Agriculture, China http://www.chinapesticide.org.cn/ywb/index.jhtml

EUROPA

PF ilegais e contrafeitos representam

#WithOrWithout

Os PF ilegais e contrafeitos podem criar

O

4O MAIORNEGÓCIO

N A I N D Ú S T R I A

do mercadoeuropeu de PF 2-3

Q U A S E

14%

Na operação da Europol aSilver Axe em 2015 e 2017

MAIS DE

300 toneladasDE PF ILEGAIS

OU CONTRAFEITOS

foram apreendidas

PRODUTOS FITOFARMACÊUTICOSILEGAIS E CONTRAFEITOS

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FitoSíntese // A revista para quem pensa a agricultura.

11.459 tonprodutos apreendidos antes da entrada na UE, em 2017

293 nº de notificações às autoridades europeias, em 2017

PERTO DE

100,000 AGRICULTORES

PERTO DE

9,000DISTRIBUIDORES

2016 E 2017 A ECPA E OS SEUS MEMBROS FORMARAM:

POR TODAA EUROPAEM

Europol faz maior apreensão de sempre na Europa

A EUROPOL comunicou aquela que é considerada a maior apreensão de produtos fitofarmacêuticos ilegais ou contrafeitos de que tem registo. O Ser-viço Europeu de Polícia reporta a quantidade de 60 toneladas destes produtos apreendidos na opera-ção que é conhecida pelo nome «SILVER AXE» e que contou também com o apoio do Organismo Eu-ropeu de Luta Antifraude (OLAF), e a colaboração de diferentes organizações europeias e internacio-nais, como a Associação Europeia para a Proteção das Plantas (ECPA) a CropLife Internacional e, para algumas operações em Portugal, o apoio da Associação Nacional da Indústria para a Proteção das Plantas (ANIPLA).

Para António Lopes Dias, diretor executivo da ANI-PLA, «Congratulo os resultados alcançados e fica-mos orgulhosos pela quota parte que o nosso país, através do envolvimento da ANIPLA, contribuiu para o sucesso da operação. Recordo que Portu-gal é uma das portas de entrada para a Europa, facto que foi tomado em consideração pelas auto-ridades. É muito importante para a segurança das pessoas e ambiente, sobretudo, que se continue a lutar contra a contrafacção. Destaco ainda o nos-so envolvimento com as autoridades no sentido da punição das utilizações ilegais – produtos não ho-mologados e produtos vindos de Espanha – com resultados alguns já públicos e outros que sabe-mos que virão a ser comunicados em breve.»

29

Fito_Global

Já para Wil van Gemert, vice-diretor executivo de operações da Europol, «Por meio de uma opera-ção deste tipo, a polícia em toda a Europa e em outros países está a combater fortemente os pro-dutos fitofarmacêuticos falsificados. O volume re-corde de substâncias perigosas apreendidas este ano é um passo importante para impedir o fluxo de produtos potencialmente letais para o merca-do da UE. A complexidade e a escala desta fraude significam que a cooperação tem que acontecer para além das fronteiras com uma abordagem de múltiplas agências, trabalhando lado a lado com o setor privado».

A operação, liderada pela Holanda e coliderada pela Itália, durou 20 dias e integrou a realização de buscas nos principais portos marítimos, aeropor-tos e fronteiras terrestres, incluindo instalações de produção e embalagem em 27 países, onde se inclui Portugal. Tratando-se de produtos altamen-te regulamentados, a sua utilização e comercia-lização tem sempre que ser autorizada pelas au-toridades europeias. Esta operação estava focada

na investigação em torno da venda e colocação no mercado de produtos fitofarmacêuticos, incidindo sobre produtos ilegais ou contrafeitos que violam os direitos de propriedade intelectual de marcas e patentes.

Durante a investigação os peritos da Europol troca-ram e analisaram dados de vários países, em es-treita ligação com as partes de interessadas de 43 empresas ligadas à produção e comércio de produ-tos do sector da proteção das plantas. O Organismo Europeu de Luta Antifraude disponibilizou informa-ção sobre 180 transferências ligadas a fitofárma-cos, onde recaiam suspeitas.

Esta é já a terceira realização de uma emblemática operação da Coligação Coordenada para a Proprie-dade Intelectual (IPC3), organizada na Europol e fi-nanciada pelo instituto da Propriedade Intelectual da União Europeia (EUIPO). Desde 2015 que o nú-mero de participantes nesta operação SILVER AXE cresce, numa clara reflecção do crescente compro-misso para enfrentar essa questão.

360 de produtos fitofarmacêuticos ilegais

Com

ton.

48.000Podem ser tratados

km2

(quase o tamanho do Reino Unido)

30

Fito_Global

Fito_Agenda

17>18 set.Global Food Forum 2018Mezzana Bigli, ItáliaSaber mais

23 >25 out.Fruit AttractionIFEMA, MadridSaber mais

17 > 26 ago.Frutos 2018 - Feira Nacional de HortofruticulturaParque D. Carlos I, Caldas da RainhaSaber mais

12>13 set.Potato EuropeFeira de Tecnologia para a Cultura da BatataRittergut Bockerode, Springe, AlemanhaSaber mais

15 >17 nov.InterpomaFeira Internacional de FruticulturaBolzano, ItáliaSaber mais

8>10 ago.PrognosfruitConferência Internacional sobre Maçã e PeraVarsóvia, PolóniaSaber mais

5 > 7 set.AgroglobalValada do RibatejoSaber mais

30 ago. > 2 set.AgrosemanaVila do CondeSaber mais

29 >30 nov.IV Simpósio Nacional de FruticulturaUniversidade do Algarve, FaroSaber mais

27 nov.Simpósio AniplaAgricultura Inteligente para o equilíbrio ambiental, económico e social do setor.Local a definir

Sabia que

93%dos portugueses desconhece que a produção agrícola precisa de aumentar 60% até 2050 para alimentar

toda a população mundial?

Fonte: Estudo ao consumidor . Universidade Católica Portuguesa . Abril 2018

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Considere os factos!

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