A revolta dos posseiros no sudoeste do Paraná Brasil, 1957 ... · nós também o pode ser para...
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Romance histórico e direitos humanos:
A revolta dos posseiros no sudoeste do Paraná – Brasil, 1957
Claércio Ivan Schneider (UNIOESTE)1
Resumo: Este estudo tem como objetivo problematizar as relações da história com a literatura
na construção do romance histórico Os dias do demônio, de Roberto Gomes. Busca-se
compreender o romance histórico construído por Gomes como literatura que se constitui em
denúncia contra a violação dos direitos humanos por um lado e, por outro, como instrumento
de conscientização e de humanização. A partir do romance podemos perceber como o
romancista, ao narrar violações do direito ao acesso à terra como direito humano, reconstrói as
violências cometidas por jagunços contratados por dirigentes de empresas colonizadoras contra
colonos e posseiros no sudoeste do Paraná na década de 1950. Concluímos enfatizando a
potencialidade da literatura construída por Gomes para a investigação e sensibilização
histórica, em especial no campo dos direitos humanos no Brasil. Seu romance, construído a
partir de pesquisa histórica, auxilia no desvelamento de histórias sensíveis, emotivas, subjetivas
que podem auxiliar na redefinição de vários estudos, em especial em torno dos marginalizados
da história: os posseiros.
Palavras-chave: direitos humanos; romance histórico; Os dias do demônio; revolta dos
posseiros; Paraná-Brasil.
1. Introdução
Antonio Candido estabelece debate crucial em torno da literatura e dos direitos
humanos. Para além dos bens fundamentais – tais como alimentação, moradia, instrução, saúde
etc. –, a luta e o respeito aos direitos humanos também passam pelo acesso que a população
deveria ter aos diferentes níveis de cultura.
A luta pelos direitos humanos abrange a luta por um estado de coisas em que
todos possam ter acesso aos diferentes níveis da cultura. A distinção entre
cultura popular e cultura erudita não deve servir para justificar e manter uma
separação iníqua, como se do ponto de vista cultural a sociedade fosse dividia
em esferas incomunicáveis, dando lugar a dois tipos incomunicáveis de
fruidores. Uma sociedade justa pressupõe o respeito dos direitos humanos, e
a fruição da arte e da literatura em todas as modalidades e em todos os níveis
é um direito inalienável (CANDIDO, 2011, p.193).
A literatura se constitui em um destes níveis e ela é capaz, segundo Candido, de
possibilitar a humanização da população, independentemente de sua posição no campo social.
1 Doutor em História. Professor do Colegiado de História da UNIOESTE, Campus de Marechal Cândido Rondon
e do Programa de Pós-Graduação em História da UNICENTRO, Campus de Irati – Paraná/Brasil. E-mail:
Humanização no sentido de compreender que o que pode ser considerado indispensável para
nós também o pode ser para outros, tanto na perspectiva individual como social. Candido
mostra no texto a relevância que a literatura, ao tematizar e revelar as contradições sociais,
pode exercer na formação de uma consciência humanizada, transformando-se em um bem
cultural para todos. Humanização entendida por Candido como:
O processo que confirma no homem aqueles traços que reputamos essenciais,
como o exercício da reflexão, da aquisição do saber, a boa disposição para o
com próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos
problemas da vida, o senso da beleza, a percepção da complexidade do mundo
e dos seres, o cultivo do humor. A literatura desenvolve em nós a quota de
humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para
a natureza, a sociedade, o semelhante (Candido, 2011: 182).
A obra Os dias do demônio, de Roberto Gomes, publicado em 1995, constitui-se numa
modalidade de literatura denominada romance histórico que sintetiza estes traços apontados
por Candido, que possibilitam os leitores o exercício da reflexão e a formação de uma
consciência humanizada. Enquanto tal, a preocupação em ficcionalizar conteúdo histórico já
produzido ou conhecido, de forma oral ou escrita, e que, em grande medida, faz parte do
imaginário coletivo de determinada comunidade, é a forma que Gomes encontrou para trazer à
tona um dos episódios mais marcantes da história recente que configurou a colonização de
partes do sudoeste do Paraná. Segundo o próprio autor, em entrevista para o jornal da Biblioteca
Pública do Paraná:
O romance histórico quando bem sucedido, apresenta a história viva – não
dados, informações, episódios, questões de vínculos entre causas e efeitos
históricos, relatos jornalísticos, etc. – mas pessoas viventes, inteiras, com seus
sentimentos, sofrimentos, angústias e esperanças de uma determinada época.
Por isso, nos colocam no centro da cena tal como aquelas pessoas do passado
viveram seus dramas. Não é informação, não é conhecimento teórico (Gomes,
s/d).
Gomes2 argumenta em torno das especificidades que singularizam o romance histórico
modelar, diferenciando-o, por exemplo, de informação histórica. Sua preocupação está na
dramatização das histórias de pessoas viventes, por todas as suas contradições. O foco está nos
sentimentos, nas emoções e nas subjetividades de personagens construídos para representarem
determinada época ou situação.
2 Roberto Gomes é formado em Filosofia. Autor de diversas obras, entre romances, crônicas e contos. Já
conquistou diversos prêmios, em especial o Prêmio José Geraldo Vieira com o romance Alegres memórias de um
cadáver em 1979 e o prêmio Jabuti, em 1982, com a obra infanto-juvenil O menino que descobriu o sol. Escreveu
outros romances, como Antes que o teto desabe (1981), Terceiro Tempo de Jogo (1985) e Os Dias do
Demônio (1995) e Todas as casas, em 2004. Em 2008 publicou o romance Júlia e, em 2011, o romance O
conhecimento de Anatol Kraft.
O romance histórico a que nos referimos tem como contexto histórico a Revolta de
1957, ocorrida no sudoeste do Estado do Paraná. Esta revolta foi protagonizada por mais de
seis mil colonos e posseiros contra companhias de terras e os governos federal e estadual. Os
colonos denunciaram os problemas de grilagens de terras e a presença de jagunços que
promoviam todo o tipo de violências – estupros, assassinatos, incêndios, roubos, depredações
etc. – a favor dos donos das companhias de terras, em especial da CITLA – Clevelândia
Industrial e Territorial Ltda3.
Em Os dias do demônio Gomes apresenta inúmeros personagens que aparecem
submetidos a uma trama de violências motivadas pela titularidade da terra. As representações
que constrói em torno desta revolta, em especial o registro dramático das condições de vida de
colonos, posseiros e jagunços, seus conflitos, angústias e atitudes, possibilitam estudos como
este, focado na análise da compreensão dos direitos humanos, de suas violações.
Algumas questões norteiam este estudo: Como Roberto Gomes registra a violação dos
direitos humanos nos episódios que narra enquanto constituintes da revolta? Quais direitos são
violados nesta revolta? Que memórias e angústias são protagonizadas? Quais personagens
marginalizados são construídos? Quais as contradições que o romance faz pensar? Qual o valor
humanitário desta obra?
O que se convencionou chamar “direitos humanos”, são exatamente os direitos
correspondentes à dignidade dos seres humanos. São direitos que possuímos não porque o
Estado assim decidiu, através de suas leis, ou porque nós mesmos assim o fizemos, por
intermédio dos nossos acordos. Direitos humanos, por mais pleonástico que isso possa parecer,
são direitos que possuímos pelo simples fato de que somos humanos (RABENHORST, 2014).
A expressão “direitos humanos” é uma forma abreviada de mencionar os direitos
fundamentais da pessoa humana. Sem esses direitos a pessoa não consegue existir ou não é
capaz de se desenvolver e de participar plenamente da vida. Todo ser humano deve ter
assegurado, desde o nascimento, as condições mínimas necessárias para se tornarem úteis à
3 Sobre a Revolta dos Posseiros no sudoeste do Paraná existe significativa historiografia já composta. Entre os
trabalhos já existentes indicamos para leitura: BONAMIGO, Carlos Antônio; SCHNEIDER, Claídes Rejane
(Orgs.). Revisitando a história: a revolta dos posseiros de 1957 no Sudoeste do Paraná. Francisco Beltrão:
Grafisul, 2007; COLNAGHI, Maria Cristina. Colonos e poder: a luta pela terra no Sudoeste do Paraná. Curitiba:
1984. Dissertação, Mestrado, Universidade Federal do Paraná; GOMES, Iria Zanoni. 1957: a revolta dos
posseiros. Curitiba: Criar Edições, 2005. LAZIER, Hermógenes. Análise histórica da posse de terra no Sudoeste
paranaense. Curitiba: SECE/BPP, 1986; PEGORARO, É. Dizeres em confronto: A Revolta dos Posseiros de 1957
na Imprensa Paranaense. Dissertação (Mestrado em História Social). Universidade Federal Fluminense. Niterói,
2007.
humanidade, como também devem ter a possibilidade de receber os benefícios que a vida em
sociedade pode proporcionar. É a esse conjunto que se dá o nome de direitos humanos. Assim
os direitos humanos correspondem a necessidades essenciais da pessoa humana, para que a
pessoa possa viver com dignidade, pois a vida é um direito humano fundamental. E para
preservar a vida todos tem que ter direito à alimentação, a saúde, a moradia, a educação, e
tantas outras coisas. (LEY, s/d).
2. Aproximações da História com a Literatura
Ao se utilizar a fonte literária entende-se que novos ângulos, sentidos e sensibilidades
de interpretação da História podem ser lançados. Ao trazer a Literatura para os domínios da
História, se contribui para o levantamento de novas fontes e abordagens para o estudo de
diferentes aspectos da vida cotidiana, em diferentes temporalidades. As abordagens nesse
campo necessitam de apoio em perspectivas diferenciadas. Nesse sentido, com o intuito de nos
instrumentalizar para o trabalho de interpretação crítica das fontes, as leituras teóricas da
chamada Nova História Cultural auxiliaram na compreensão da possibilidade de se utilizar o
discurso literário como fonte para a História.
O diálogo da História com a Literatura sintetiza, na atualidade, um campo de estudos já
solidificado por inúmeros pesquisadores. A literatura se transforma em fonte para os
historiadores na medida em que auxilia na compreensão de problemas sensíveis, subjetivos e
emotivos que, em grande medida, outros registros documentais buscam esconder. A
pesquisadora brasileira Sandra Jatahy Pesavento, afirma que a literatura serve aos historiadores
segundo os problemas que levantam, em especial no campo das sensibilidades de uma época.
[...] a Literatura é fonte para a História dependendo dos problemas ou
questões formuladas. Se o historiador estiver preocupado com datas, fatos,
nomes de um acontecido, ou se buscar a confirmação dos acontecimentos do
passado, a literatura não será a melhor fonte a ser usada... Mas, se o
historiador estiver interessado em resgatar as sensibilidades de uma época, os
valores, razões e sentimentos que moviam as sociabilidades e davam o clima
de um momento dado no passado, ou em ver como os homens representavam
a si próprios e ao mundo, a Literatura se toma uma fonte muito especial para
o seu trabalho. (PESAVENTO, 2003, p. 39).
A literatura pode ser utilizada como fonte pelo historiador que tem a preocupação de
resgatar as representações do passado, trazendo as razões e sensibilidades de outras épocas,
buscando entender o que motivou os sujeitos a agir e como eles representavam a si próprios e
ao mundo. Compreender o autor e obra dentro de um contexto específico passa a ser, então,
significativo ao considerar que, de certo modo, a Literatura pode ser entendida como um
reflexo de sua época, carregando em si as representações que o autor tem de seu tempo. Desse
modo, a Literatura, em suas múltiplas vertentes, pode ser compreendida como um depoimento
histórico. Os historiadores, segundo Pesavento, também se utilizam do processo imaginário
para comporem suas tramas, se aproximando da ficção literária.
[...] a História uma quase Literatura: historiadores fazem ficção, pois não
recolhem simplesmente o passado dos arquivos. Eles constroem uma
experiência do vivido, reconstituem uma temporalidade que só pode existir
pelo esforço da imaginação, e transpõem esta representação do passado para
uma narrativa. (PESAVENTO, 2003, p.37).
A partir do fragmento, se pode considerar que nunca houve separação da História com a
Literatura, ainda mais por se tratar de discursos, nos quais, de certo modo, se apresentam em
um sistema de significação que atribui sentido ao passado, e ainda “[...] as fronteiras que
delimitam o gênero histórico e o literário tornam-se mais permeáveis, no momento em que a
história passou a ser vista, por muitos estudiosos, como um discurso de ficcionalização da
realidade” (LAVORATI e TEIXEIRA, 2010, p.4). Porém, os dois campos que se entrelaçam
também se distanciam, cada um com sua especificidade. Embora inseparáveis, as áreas se
distinguem. O afastamento da estreita relação se dá, em suma, na “[...] oposição entre o real e
a ficção ou a do debate entre o verdadeiro e o falso [...] Em outras palavras, há uma distinção
entre os compromissos de cada narrativa com a realidade” (PESAVENTO, 2003, p.33). Há,
portanto, a diferenciação no discurso, entre aquele que se preocupa com todo o universo de
acontecimentos que envolvem o homem isolado e em sociedade e aquele que procura
representar o mundo pela livre imaginação criadora do autor, reconstruindo, também, o
passado.
O historiador, de qualquer forma, encarrega-se, com um compromisso incomensurável,
de resgatar o passado a partir de indícios deixados pelas gerações anteriores, assim, possui um
comprometimento com o testemunho do acontecido e com a busca de provas históricas. Ele,
portanto, narra um passado que realmente aconteceu e é incumbido de apresentar a verdade dos
fatos, “[...] sabendo que não chegará jamais à verdade do acontecido, ele é animado por esta
busca de verdade, por este esforço de construção de uma versão plausível, possível [...]”
(PESAVENTO, 2003, p.36-37).
Cabe ao historiador, de certo modo, formular um mundo que, embora tenha sido, não é
mais. Aquele mundo composto por representações que já deixaram de ser. Assim, o historiador,
que não inventa, está preso a algo que tenha realmente acontecido e, também, que tenha deixado
seus traços, pois é com as fontes, marcas do já ocorrido recapituladas no presente, que ele
representa o passado. Evidências que são as responsáveis pela recriação de um passado
possível. Esse conhecimento histórico pode ser entendido, deste modo, como uma narrativa de
um passado composto por representações, bem como toda fonte documental para a produção
desse conhecimento, pois, o já ocorrido é narrado na perspectiva do historiador que representa
o passado através de fontes, as quais também são compostas pelas representações do mundo de
quem as deixou. Então, a História, uma narrativa do passado, nas palavras de Pesavento:
[...] liga-se ao conceito da representação, que encarna a idéia de uma
substituição, ou ainda da presentificação de uma ausência. Assim, no sistema
de representações sociais construídas pelos homens para atribuir significado
ao mundo, ao que se dá o nome de imaginário, a Literatura e a História teriam
o seu lugar, como formas ou modalidades discursivas que tem sempre como
referência o real, mesmo que seja para negá-lo, ultrapassá-lo ou transfigurá-
lo. (PESAVENTO, 2003, p.33).
Então, também partindo do real, a Literatura, como apresenta Pesavento (2003), é
responsável por discursar o que compõe o imaginário de uma determinada época, onde se
constrói a realidade a partir das percepções humanas. A Literatura, segundo ela, registra aquilo
que é invisível e que não se pode perceber no mundo sensível, ultrapassando os dados concretos
do que se é entendido como real, dizendo sobre a realidade, com suas alegorias na escrita, algo
que vai além dela mesma.
Ora, o que se pode compreender é que, de qualquer modo, a Literatura, que ultrapassa o
caráter de um movimento estético, deve ser entendida como uma manifestação cultural, assim
sendo uma possível forma de registrar o movimento que as contemporaneidades humanas
foram capazes de realizar em sua historicidade. O gênero romance histórico, segundo Zuffo e
Fleck (s/d, p.12), pode ser entendido como uma expressão literária das mais complexas,
especialmente ao ser utilizada como fonte, sobretudo em razão de suas técnicas narrativas entre
a realidade e ficção, onde seus enredos são construídos “[...] a partir da incorporação de
elementos do contexto histórico, de circunstâncias reais relacionadas [...]”, onde o leitor é capaz
de se identificar a cada instante. Impulsionado por uma estrutura alicerçada, o autor transmite
informações verossímeis, capazes de satisfazer as expectativas do leitor, onde, segundo
Lavaroti e Teixeira (2010) se abre o espaço para a construção de múltiplos sentidos, apoiando
os detalhes minuciosos e a humanização dos personagens.
A Literatura, em suas múltiplas vertentes, pode ser compreendida como um depoimento
histórico que representa profundamente um período histórico e pode ser significativa para o
entendimento da História. A reflexão que o estudo de um romance traz pode, além disso, pode
servir de orientação para ressignificar o ensino de História, promovendo, também, como no
caso de Os dias de demônio, novas interpretações sobre a história paranaense e seus espaços
regionais, sendo capaz de sensibilizar os sujeitos a partir dessa nova percepção sensível que se
pode desenvolver ao se apoiar no campo literário.
3. Disputa pela terra e direitos humanos em Os dias de demônio
Nesta parte buscamos analisar, a partir do romance histórico Os dias do demônio, como
Gomes representa a violação do direito ao acesso à terra, como direito humano, e as violências
cometidas por jagunços contra colonos e posseiros no sudoeste do Paraná. Na década de 1950,
o sudoeste do Paraná, tomado pela tragicidade em um contexto de luta pela terra, é palco de
um evento deveras singular. Muitos colonos do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, ludibriados
pela imagem vendida de um paraíso, buscando terra e financiamento fácil, passam a habitar o
sudoeste do Paraná. No paraíso, o conflito com as companhias de terras, onde os colonos
estavam submetidos as atrocidades dos jagunços, resultou em um evento raro na história do
Brasil. Foi o único episódio em que uma revolução armada de colonos foi bem sucedida.
Levante que ficou caracterizado como a Revolta dos Posseiros de 1957.
E é nesse cenário, baseado nos fatos verídicos, que o romance Os dias do demônio, de
Roberto Gomes, é escrito. A originalidade em Os dias do demônio está no ineditismo e no
modo de tratar os temas que caracteriza o levante. Tal qual o mundo e sua natureza caótica e
desordenada, a trama ficcional e seus eventos são estruturados de maneira não linear, além de
ter como personagem principal não somente um grande herói, mas um herói coletivo no
sudoeste do Paraná: os colonos. A conjuntura se constrói a partir da interação entre políticos
da época, onde há o interesse de Companhias de terra contra os colonos e posseiros, os quais
residem na trama como personagens da história na defesa de suas terras contra as ameaças dos
jagunços.
A história de Os dias do demônio não se constrói em um amplo período de tempo. Se
restringe ao ano de 1957, porém há uma certa extensão na temporalidade quando o autor
apresenta o passado de alguns personagens.
A região onde os conflitos ocorrem é claramente especificada: Pato Branco, Francisco
Beltrão, Clevelândia, Barracão. Isso no sudoeste do Paraná. A capital do Estado do Paraná,
aparece na trama distante e omissa dos fatos constituintes do confronto entre colonos e
companhias. Além de que alguns dos colonos se deslocaram do Rio Grande do Sul e de Santa
Catarina. Alguns jagunços, onde seus próprios apelidos denunciam, como o Paraíba, Mato
Grosso e Sergipe, estão distantes de seus respectivos lugares. Além disso, o norte do Paraná,
de onde também vem alguns jagunços, e a Argentina, entendida como região de fuga e
segurança, entram e ampliam o espaço romanesco.
Entre os personagens do vasto painel representado por Roberto Gomes, aparecem um
governador, um chefe de polícia, deputados, um vereador, um médico, jagunços, farrapos e
colonos. O romance apresenta muitos personagens que tem a vida entrelaçada conforme avança
o texto, alguns conjuntos ou grupos formados por esses personagens são distinguíveis: num
primeiro plano, os colonos e suas famílias, profissionais e pequenos comerciantes; na
sequência, se constitui de funcionários da Clevelândia Industrial e Territorial Ltda (CITLA) e
da Companhia Comercial Agrícola (Comercial), que são as companhias, com seus corretores,
advogados e, especialmente, os jagunços; por último, aparecem as instituições políticas.
As personalidades políticas citadas têm papel fundamental para o desenvolvimento da
trama, pois é pelo descaso e pela omissão que se tem o levante. Como o governador Moyses
Lupión que tem o nome introduzido aos poucos na trama, mas permanece distante, na capital,
mas que, segundo Pocai Filho (2013), compactuava com os crimes cometidos contra os
posseiros em função do aproveitamento pessoal. Em suma, o governador pode ser entendido,
adiante na história, como a autoridade rejeitada publicamente pelos habitantes do sudoeste,
pois, como aponta Myskiw (2002, p.74), junto de um grupo de empresários, o governador, na
década de 1950, foram os responsáveis por constituírem as Companhias de terras. Dessa forma,
o grupo que se constitui pelas instituições políticas, não somente na trama, pende para o lado
das companhias, logo se pode resumir, ou dividir, o massivo enumerado de personagens entre
os colonos e as companhias. As companhias imobiliárias e de terras utilizam meios específicos
para a “negociação” (ameaças, violência física, roubo, tortura, danos ao patrimônio,
assassinato, etc.) para submeter todos os que reagem, de algum modo, contra. Mesmo
argumentando os direitos adquiridos, com tentativas de utilizar instrumentos dentro da lei e da
organização política, o enfrentamento com uso de violência, a pressão política e a tomada de
poder, que dá suporte para as negociações, é a solução encontrada pelos colonos. E assim, o
romance vai até o momento em que os colonos vencem o conflito. E nesse embate central, entre
colonos e as companhias, variados confrontos se configuram, com carga dramática e, até
mesmo, com final trágico.
A dimensão demonológica, que dá nome ao livro Os dias do demônio, está presente
nisso: o cortejo do mal dos jagunços-demônios contra aqueles que se colocam em
contraposição às companhias. O trágico e o dramático tomam conta do romance, como é
perceptível e bem representado logo no início, onde se pode sintetizar todo o inferno na velha
que teve seus familiares mortos por jagunços. Tendo eles levado uma de suas netas,
prometeram que se ela enterrasse os corpos matariam a menina. Diante disso, a velha, não
podendo os enterrar e buscando preservar os corpos dos familiares, dramaticamente passa a
espantar os urubus que vem cercando os corpos.
Além disso, no romance, os avanços e recuos no tempo, as variações no espaço, são
artifícios responsáveis por introduzir muitos personagens e situações. A história é exposta de
modo incompleto e vai se corrigindo e se completando. Os personagens são consistentes e
fortes na narrativa. Pelo tom demasiadamente humano que os personagens ecoam, sobretudo
através do resgate de suas origens, permitem se apegar e também lembrar do universo concreto.
Alguns personagens, como os destacados na sequência são memoráveis e essenciais para o
desenvolvimento da história, além disso a trama se estrutura de forma a fugir de uma
linearidade cronológica, que também pode ser percebida ao desenvolver alguns pontos.
Ao longo de seu desenvolvimento, o texto demonstra e ajuda a compreender as razões
e sensibilidades de cada personagem, se entende o que motiva os sujeitos a agir, como
representam a si mesmos e ao mundo, tanto na relação paradisíaca e afetiva que os colonos têm
com a terra, quanto nas intenções dos que possuem poder e se utilizam do modo de vida
específico de um grupo central da trama, os jagunços. Portanto, é valido apontar alguns
aspectos desenvolvidos que representam e auxiliam na compreensão das motivações de alguns
personagens.
O personagem que abre o romance é Pedrinho Barbeiro, que é o responsável por
desencadear as ações efetivas dos colonos contra as companhias. Ele liderava os colonos e, na
tentativa de solucionar os problemas, reuniu uma lista de mais de três mil assinaturas, no
entanto morreu às vésperas de encaminhá-la. Foi assassinado por um jagunço diante da mulher
e dos filhos pequenos: “A última coisa que Pedrinho Barbeiro viu em vida foi a capa preta do
jagunço explodindo numa labareda” (GOMES, 1995, p.15)
Conforme a trama se desenvolve, novos personagens são representados, sempre com
contextos singulares. Como Laura e o marido Elpídio Bello, recém-chegados do Rio Grande
do Sul, deslocando-se para as terras do irmão Eleutério Bello, também morto por jagunços.
Vemos, com um retorno ao passado e a região de origem, Laura e Elpídio, lutando contra
problemas inesperados, a tragédia da perda de uma filha, a desvalorização das pequenas
propriedades, e lutando contra a ideia de abandonar tudo e aceitar o convite do irmão. A
imagem que Eleutério apresentava era mesmo a de um paraíso, o que aos poucos, como se
percebe no trecho, fez com que Elpídio mudasse de ideia.
Quando Eleutério viera para o sudoeste, Elpídio, o cabeça dura, achou
loucura, uma aventura besta, outra daquelas invencionices do irmão
destramelado, farrista e gaiteiro. Ainda tinham a terra, dizia, ainda podiam
lutar com ela e viver. Não iria meter a família numa viagem daquelas, já não
tinha idade para aventuras, arriscar a vida em lugar desconhecido. De nada
adiantaram os argumentos de Eleutério, seu desejo de dividir a colônia com o
irmão. Com o tempo, porém, Elpídio foi mudando de idéia. Não tanto pelas
boas notícias que o irmão lhe mandava. – a terra era boa, o comércio
funcionava, tinham assistência da colonizadora do governo, viesse,
trabalhariam juntos. Nada disso foi decisivo. Elpídio foi mudando porque,
mesmo para a sua cabeça dura, a vida estava ficando difícil demais no Rio
Grande. Ainda mais quando outros parentes partiram também. E Elpídio
Bello foi cedendo – mas a seu modo. Não falava no assunto, repetia entre
resmungos que um homem nasceu para lutar com a terra e não para fugir
como um cigano. Só Laura entendia alguma coisa, caindo depois num
isolamento carrancudo, era sinal de que suas razões estavam enfraquecendo.
Só esperava um bom pretexto para admitir que mudara de idéia. O que ele
não sabia é que este pretexto ia lhe custar um pedaço da alma. (GOMES,
1995, p.18).
Novos personagens que também são importantes para a trama e a situação coletiva são
estruturados quando um advogado da companhia de terras propõe a legalização da propriedade
de Joanin, Cidália e do amigo Nego Berto. Nessa visita é visível as propostas fraudulentas das
companhias, pretendendo vender para o colono as terras que já são dele. Sem sucesso, os
representantes das companhias, junto de jagunços, prometem voltar para prosseguir a
negociação. Para Joanin, “Era mesmo o paraíso. Só faltava trabalhar, plantar, e eles iriam
progredir na terra. Pela primeira vez, sentia uma alegria por completo, por dentro, pensando
que a vida duraria para sempre” (GOMES, 1995, p.65), mas, diante da pressão e da queda do
paraíso, ele e sua família decidem partir para a Argentina, como forma de refúgio: “Ia para as
terras dos gringos, não sabia direito o que aconteceria por lá – e não esperava encontrar nenhum
paraíso” (GOMES, 1995, p.198).
Na obra, a colonização do sudoeste está configurada, sobretudo, no papel de Monteiro,
engenheiro encarregado pelo governador para transformar a riqueza natural da região em
riqueza monetária. “E era capaz de ver claramente a grande fábrica de celulose em
funcionamento, transformando aquele fim de mundo numa terra de riqueza e fazendo, daqueles
analfabetos, uma gente capaz de olhar nos olhos dos outros sem sentir cagaço” (GOMES, 1995,
p.96).
Os jagunços que, não somente aparecem como demônios e simples peças de um jogo
de poder das companhias, são representados diante do desapego com a terra, porém, também
possuem suas motivações, mesmo que monetárias. O fato é que o autor permite o apego às
motivações e sensibilidades a partir da representação de seu vasto painel de personagens, como
no caso do jagunço assassino de Pedrinho, Índio. O envolvimento do personagem contra os
colonos se dá a partir do drama particular para possuir Isabel, mulher do demônio principal,
representado por Zé Lara, que é “[...] o diabo em forma de gente [...] não pensa que ele gosta
do enfeite que tu colocou na cabeça dele. Ele te pega. Ele tá esperando. Ele sabe fazer a morte
do jeito dele” (GOMES, 1995, p.137).
Além disso, Pedro Santin, o farrapo responsável por liderar e organizar a investida
contra os jagunços, viu a família de sua irmã ser morta por eles: “Os jagunços, como sempre,
surgiram de uma hora para outra, destruíram a casa, violentaram a irmã de Santin, bateram nas
crianças, castraram o cunhado e, depois, o deixaram sangrando feito porco, atado num toco”
(GOMES, 1995, p.175). Foi ele quem ajudou a mudar o rumo do levante dos posseiros, pois
ensinava como acabar com os inimigos, “Com jagunço, dizia, a gente faz assim: põe na alça de
mira e fica dormindo, na espera, sem pressa. Mira bem no meio do miolo. [...] Não carece de
dar chance a jagunço, que é bicho do demônio” (GOMES, 1995, p. 176).
Também se tem em Os dias do demônio a relação configuradora do épico. O confronto
final, a Revolta dos Posseiros, a guerra violenta desencadeada por uma série de fatores, como
o incidente que muda a atitude dos colonos: as crianças violentadas pelos jagunços, acolhidas
pelo dono do hotel Otto Germer, “Tinham os olhos abertos, respiravam pela boca, aos arrancos,
e olhavam para ele com a expressão de medo, dor, fome. Só então descobriu que abrira as
portas do inferno” (GOMES, 1995, p.256). A formação de uma Junta Revolucionária, uma
revolta armada, com a morte dos jagunços, tomada do poder diante do personagem central, o
Sudoeste, e tentativa de negociação, caracterizará o levante dos posseiros, trazendo,
novamente, o equilíbrio àquelas terras. O qual é bem representado no arremate final, no
combate entre Zé Lara e Índio, no cumprimento da mágica: o fim do embate particular e do
levante no Sudoeste: “Índio se deitou de costas e agora sim o mundo era azul, cinza, amarelo.
O sinal. Era isso? perguntou Índio, vendo o azul mover-se, juntar-se ao amarelo, ao verde, ao
vermelho e formar o rosto de Isabel, logo ali onde o mar agitava a copa das árvores. Como
seriam as ondas do mar? Sorriu”. (GOMES, 1995, p.309)
Os dias do demônio relata a história romantizada da Revolta dos Posseiros, ocorrida na
década de 1950, contra as ações abusivas das companhias colonizadoras, que, possuindo
proteção política, pretendiam receber pelas terras que já estavam em posse dos colonos,
cedendo, também, às mesmas companhias toda a madeira de lei das propriedades, que tem alto
valor e interessa aos detentores do poder. A partir disso, se tem o empasse entre os colonos e
suas relações afetivas com a terra paradisíaca e as colonizadoras e os jagunços, que fazem
daquela região o inferno.
O romance também é significativo por representar a literatura em seu papel de
humanização, onde expõe a potencialização da desumanização pela perspectiva de progresso.
Pode-se perceber, ao ler a obra, o descaso com a vida em função de benefícios particulares,
configurado a partir da crueldade dos jagunços. Esse espírito demoníaco que invade a região é
vencido pela relação afetiva e sensível dos colonos em relação à terra e às pessoas próximas.
Ao se deparar com o vasto detalhamento, nas datas, nas localizações, e em qualquer
informação geral, que aproximam a narrativa ficcional da realidade, vemos no romance
histórico Os dias do demônio o desenrolar das ações humanas de alguns grupos unidos por
motivos específicos, como a vingança, pela família ou pela amizade, com variados objetivos,
buscando a felicidade, a paz ou o direito pela terra e pela liberdade. Assim, diante dos diferentes
episódios, o romance é organizado em uma situação coletiva, não tendo, portanto, um herói
problemático ou algo do gênero. Dessa forma, se percebe no romance de Roberto Gomes, de
certo modo, a crítica ao mundo de valores corrompidos, onde o herói coletivo utiliza meios não
autênticos para fins legítimos.
4. Considerações finais
Concluímos apontando para a potencialidade da fonte literária construída por Gomes
para a investigação no campo dos direitos humanos. O romance investe na representação de
histórias sensíveis, emotivas, subjetivas que auxiliam na redefinição de vários estudos, em
especial em torno dos marginalizados da história: os posseiros. A exemplo do que disse
Antonio Candido, a literatura se constitui em instrumento para formação de uma consciência
humanizada, na medida que revela as contradições e provoca o pensamento crítico, em especial
– no caso do romance de Gomes – em torno das causas sociais.
Como visto, Gomes registra inúmeras formas de violências que colocaram em cheque
os direitos humanos dos sujeitos que reivindicavam a posse da terra. Assassinatos, torturas,
estupros e outras formas de violência, como a psicológica, submeteram parcela da população
do sudoeste do Paraná aos mandos e desmandos de dirigentes colonizadores com o apoio
político e a ação de jagunços. O direito ao acesso à terra, à propriedade legítima, é o que
caracteriza o levante dos colonos contra as autoridades. Para tanto, Gomes constrói
personagens, como visto no texto, que, por suas angústias, sofrimentos e desencantos, auxiliam
na denúncia da violação dos direitos humanos. Tudo isso corrobora com a desmistificação de
um espaço paradisíaco, propagandeado pelos dirigentes, e cultuado até hoje por muitos
políticos que prezam pela história positivista. O romance revela histórias contraditórias às
histórias oficiais, focando, pela contramão, os marginalizados e excluídos e suas histórias. Por
isso, do valor humanitário da obra, de sua contribuição para a reflexão em torno das violências
e das exclusões cometidas contra uma parcela da população desatendida e marginalizada por
políticos corruptos e dirigentes ambiciosos.
Portanto, a literatura de Roberto Gomes tem o poder de denúncia da violação dos
direitos humanos que caracterizou a Revolta de 1957. Inúmeros personagens representados por
colonos e posseiros, homens e mulheres, crianças e idosos, aparecem submetidos às atrocidades
e crimes e o impedimento ao seu direito à terra. Mas, com Candido, a arte literária constitui-se
enquanto instrumento humanizador. Nesse sentido, o romance histórico de Gomes – mesmo
permanecendo desconhecido para a maioria dos leitores brasileiros – ajuda a desenvolver em
nós, pela compreensão que provoca, a cota de humanidade. E isso é um direito universal.
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