A SABEDORIA ANGÉLICA

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A SABEDORIA ANGÉLICA sobre o Divino Amor e a Divina Sabedoria Emanuel Swedenborg

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Obra do sueco Emanuel Swedenborg.

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A SABEDORIA ANGÉLICAsobre

o Divino Amor e a Divina Sabedoria

Emanuel Swedenborg

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PRIMEIRA PARTE: DE DEUS

O Amor é a Vida do homem

1 – O homem sabe que o amor existe, mas ignora o que é o amor; que o amor existe, ele o sabe pela linguagem comum, por exemplo, por se dizer: Um tal me ama; o Rei ama seus súditos; e os súditos amam seu Rei; o marido ama sua esposa, e a mãe seus filhos, e reciprocamente; e também: Tal ou tal ama a pátria, os concidadãos, o próximo; do mesmo modo para as causas, abstração feita da pessoa, por exemplo: Ele ama tal ou tal causa. Mas, ainda que na linguagem se trate tão universalmente do amor, a verdade é que há apenas alguns que sabem o que é o amor; quando o homem medita sobre o amor, como não pode formar dele idéia alguma no pensamento, diz ou que não é cousa alguma, ou que é unicamente alguma cousa que influi da vista, do ouvido, do tato e da frequentação, e assim comove; ignora absolutamente que é sua vida mesma, não somente a vida comum de todo seu corpo, e a vida comum de todos os seus pensamentos, mas mesmo a vida de todos os singulares do corpo e dos pensamentos; é o que pode perceber o sábio, quando se diz: Se afastas a afeição que pertence ao amor, podes tu pensar alguma cousa, e podes tu fazer alguma cousaP o pensamento, a palavra e a ação não esfriam conforme esfria a afeição que pertence ao amor, e não esquentam conforme se esquenta esta afeição mas o sábio o percebe, não pelo conhecimento de que o amor é a vida do homem, mas pela experiência de que isso assim acontece,.

2 – Ninguém sabe e que é a vida do homem, a não ser coque saiba o que é o amor; se não se sabe isso, um pode crer que a vida do homem, é unicamente sentir e agir; outro, que é pensar; quando entretanto o pensamento é o primeiro efeito da vida, e a sensação e a ação o segundo efeito da vida. Diz-se que o pensamento é o primeiro efeito da vida, mas há um pensamento interior e um mais interior, e também um pensamento exterior e um mais exterior; o pensamento íntimo, que é a percepção dos fins, é na realidade o primeiro efeito da vida; mas se falará disso abaixo, quando se tratar dos graus da vida.

3 – Pelo calor do sol no mundo, pode-se ter alguma idéia de que o amor é a vida do homem; que êstc calor seja como que a vida comum de todas as vegetações da terra, isso é sabido; pois por ele, quando começa a se fazer sentir, o que acontece na estação da primavera, as vegetações de todo gênero saem da terra, se amam de folhas, depois de flores, e por fim de frutos, e assim são como vivas; mas quando o calor se retira, o que acontece nas estações do outono e do inverno, despem-se destes sinais de sua vida, e fenecem. Dá-se o mesmo com o amor no homem, pois o amor e o calor se correspondem mutuamente; é por isso que o amor também é quente.

Deus só, assim o Senhor, é o Amor mesmo, porque é a Vida mesma; e os anjos e os homens são os recipientes da vida

4 – este assunto será ilustrado por um grande número de explicações nos Tratados sobre A DIVINA PROVIDENCIA e sobre A VIDA; aqui se dirá somente que o Senhor, que é o Deus do Universo, é Iniciado e Infinito, mas que o homem e o anjo são criados e finitos; e como o Senhor é Inquirido e Infinito, é o Ser mesmo, que é chamado Jehovah, e é a Vida mesma ou a Vida em si; ninguém pode ser criado imediatamente do Inquirido, do Infinito, do Ser mesmo, nem da Vida mesma, porque o Divino é um e não divisível, mas é preciso que cada um o seja de cousas criadas e finitas, de tal modo formadas que o Divino possa estar nelas; como tais são os homens e os anjos, eles são recipientes da vida; é por isso que se um homem pelo pensamento se deixa arrastar ao ponto de crer que não é um recipiente da vida, mas que é a vida, não pode ser afastado do pensamento de que é Deus; se o homem sente como se ele fosse a vida, e se por isso crê que é a vida, é por uma ilusão; pois na causa instrumental a causa principal não é percebida senão como sendo uma com ela. Que o Senhor seja a Vida em si, Ele mesmo o ensina em João: “Como o Pai tem a Vida em Si mesmo, assim deu também ao Filho ter a vida em Si mesmo” (João 5.º, 26) ; ensina também que é a Vida mesma (João 11.º, 25; 14.º, 6). Ora, pois que a Vida e o amor são um, como

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é evidente pelo que acaba de ser dito, ns. 1 e 2, segue-se que o Senhor, porque é a Vida mesma, é o Amor mesmo.

5 – Mas para que isto caia no entendimento, é preciso absolutamente que se saiba que o Senhor, porque é o Amor em sua essência mesma, isto é o Divino Amor, aparece diante dos Anjos no Céu como Sol, e que deste Sol procede um Calor e uma Luz; que o Calor que dele procede é em sua essência o amor; que a Luz que dele procede é em.sua essência a sabedoria; e que, quanto mais os anjos são recipientes deste calor espiritual e desta luz espiritual, tanto mais são amores e sabedoria, não amores e sabedorias por eles mesmos, mas pelo Senhor. Este calor espiritual e esta luz espiritual não somente influi nos anjos e os afeta, mas também influi nos homens e os afeta, absolutamente conforme êles se tornam recipientes; e êles se tornam recipientes segundo seu amor para com o Senhor e seu amor para com o próximo. Este Sol mesmo, ou o Divino Amor, não pode por seu calor e sua luz criar al-guém imediatamente de si, pois assim êle seria o Amor em sua essên-cia, que é o Senhor Mesmo; mas pode criá-la com substâncias e ma-térias de tal modo formadas que possam receber o calor mesmo e a luz mesma, por comparação como o Sol do mundo não pode pelo calor e a luz produzir imediatamente germinações na terra, mas as produz com matérias do humo, nas quais êle pode estar pelo calor e a luz, e dar a vegetação. Que o Divino Amor do Senhor aparece como Sol no mundo espiritual, e que dêste Sol procedem um calor espiritual e uma luz espiritual, pelos quais os Anjos têm o amor e a sabedoria, vê-se no Tratado DO CRU E DO INFERNO, ns. 116 a 140.

6 – Pois que o homem não é a vida, mas é um recipiente d,a vida, segue-se que a concepção do homem pelo pai não é a concepção da vida, mas é ìinicamente a concepção da primeira e da mais pura forma que pode receber a vida, forma a que como a um esbôço ou a um comêço, se juntam sucessivamente no útero substâncias e matérias adap-tadas em formas para a recepção da vida em sua ordem e em seu grau.

O Divino não está no espaço

7 – Que o Divino não esteja no espaço, embora seja Onipresente, e em cada homem no mundo, e em cada anjo no Céu, e em cada es-pírito sob o Céu, isso não pode ser apreendido pela idéia puramente natural, mas o pode ser pela idéia espiritual; se isso não pode ser apreen-dido pela idéia natural, é porque nela há o espaço; pois foi formada com causas que são do mundo, e o espaço está em tôdas e cada uma das cousas que são vistas com os olhos; aí, tudo o que é grande e tudo o que é pequeno pertence ao espaço; tudo o que é comprido, largo e;

alto pertence ao espaço; em uma palavra, tôda medida, figura e forma pertence ao espaço; é por isso que foi dito que pela idéia puramente natural não se pode apreender que o Divino não esteja no espaço, quando se diz que êle está por tôda parte. Não obstante o homem pode apreendê-lo pelo pensamento natural, desde que nêle admita alguma causa da luz espiritual; por isso, será dito primeiro alguma cousa sôbre a idéia espiritual, e em seguida sôbre o pensamento espiritual. A idéia espi-ritual nada tira do espaço, mas tudo tira do estado; o estado se diz do amor, da vida, da sabedoria, das afeições, das alegrias que delas pro-vêm, em geral do bem e do vero; a idéia verdaàeiramente espiritual sôbre estas causas nada tem de comum com o espaço, ela é superior, e encara as idéias de espaço sob ela como o céu encara a terra. Mas como os anjos e os espíritos vêem pelos olhos do mesmo modo que os homens no mundo, e como os objetos não podem ser vistos senão no espaço, é por isso que no mundo espiritual, onde estão os espíritos e os anjos, aparecem espaços semelhantes aos espaços da terra, mas não obs-tante não são espaços, são aparencias, pois não são nem fixos nem de-terminados como na terra; com efeito, podem ser alongados ou encur-tados, podem ser mudados e variados; e como assim não podem ser de-terminados pela medida, não podem ser apreendidos lá por idéia na-tural alguma, o são unicamente pela idéia espiritual, que sôbre as dis-tâncias do espaço não é senão como as distâncias do bem ou como as distâncias do vero, que são afinidades e semelhanças segundo seus estados.

8 – De acôrdo com isso pode-se ver que o homem, por uma idéia puramente natural, não pode apreender que o Divino esteja por tôda parte e entretanto não esteja no espaço; e que os anjos e os espíritos

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o apreendam claramente; que por consequência o homem também pode apreendê-la, desde que em seu pensamento admita alguma cousa àa. luz espiritual; se o homem pode apreendê-la, é porque não é seu corpo que pensa, mas seu espírito, assim não seu natural, mas seu espiritual.

9 – Se muitos não o apreendem, é porque amam o natural, e que por isso mesmo não querem elevar na luz espiritual acima do natural os pensamentos de seu entendimento e os que não o querem não po-dem pensar senão pelo espaço, mesmo em Deus; e pensar em Deus segundo o espaço, é pensar segundo a extensão da natureza. Isto é dado como preliminar, porque sem a ciência e sem alguma percepção de que o Divino não está no espaço, nada se pode compreender sôbre a Vida Divina, que é o Amor e a Sabedoria, de que se trata aqui; o que por conseguinte compreende-se pouco, se é que se compreende alguma cousa, sôbre a Divina Providência, a Onisciência, a Onipotência, a Infinidade e a Eternidade, de que se tratará em série.

10 – Foi dito que no Mundo espiritual aparecem espaços conio no Mundo natural, por consequência também distâncias, mas que são aparências segundo as afinidades espirituais que pertencem ao amor e à sabedoria, ou ao bem e ao vero; daí vem que o Senhor, ainda que esteja nos céus entre os anjos por tôda parte, aparece não obstante no alto, acima dêles, como Sol; e como a recepção do amor e da sabedoria faz a afinidade com Ele, é por isso que os Céus, onde os anjos estão segundo a recepção em uma afinidade mais próxima, aparecem mais perto d’Rle que aquêles onde os anjos estão em uma afinidade mais afastada; daí vem também que os Céus, que são três, foram distingui-dos entre si, semelhantemente as Sociedades de cada Céu; e que os Infernos sob os Céus são afastados segundo a rejeição do amor e da sabedoria. Dá-se o mesmo com os homens, nos quais e entre os quais o Senhor está presente sôbre tôda a terra, e isso pela íínica razão de que o Senhor não está no espaço.

Deus é o Homem Mesmo

11 – Em todos os Céus não há outra idéia de Deus senão a idéia de um Homem; isto provém de que o Céu no todo e na parte está na forma como um Homem, e de que o Divino, que está nos anjos, faz o Céu; ora o pensamento se estende segundo a forma do Céu; é por isso que pensar de Deus de outro modo é impossível aos anjos; vem daí que no mundo todos os que foram conjuntos ao Céu pensam semelhan-temente de Deus, quando pensam interiormente em si ou em seu es-pírito. Porque Deus é Homem, todos os anjos e todos os espíritos são homens em uma forma perfeita; o que faz isso, é a forma do Céu, a qual nos muito grandes e nos muito pequenos é semelhante a si mesma; que o Céu no todo e na parte seja na forma como um homem, pode-ise ver no Tratado DO CRU E DO INFERNO, ns. 59 a 87; e que os pensamentos se estendam segundo a forma do Céu, vê-se nos ns. 203, 204. Que os homens tenham sido criados à imagem e à semelhança de Deus, isso é notório segundo a Gênese, 1.º, 26, 27; sabe-se também que Deus foi visto como Homem por Abraão e por outros. Os An-tigos, desde os sábios até os simples, não pensaram de Deus de ou-tro modo senão como de um Homem, e por fim quando começaram a adorar vários deuses, como em Atenas e em Roma, os adoraram a todos como homens. Isto pode ser ilustrado por esta passagem extraída do um Opúsculo publicado ultimamente: “As nações, sobretudo os Africa-nos, que reconhecem e adoram um único Deus Criador do Universo, têm de Deus a idéia de um Homem; dizem que ninguém pode ter de Deus uma outra idéia; quando ouvem dizer que muitos formam de Deus uma idéia como de uma pequena Nuvem em um meio, perguntam onde estão êsses; e quando se lhes diz que estão entre os Cristãos, negam que isso seja possível; mas responde-se-lhes que uma tal idéia lhes vem de que Deus na Palavra é chamado Espírito, e não pensam de um espírito senão como de uma partícula de nuvem, não sabendo que todo espírito e todo anjo é homem; entretanto foi examinado se sua idéia espiritual é semelhante à sua idéia natural, e foi descoberto que não é semelhante naqueles que reconhecem interiormente o Senhor como Deus do Céu e da terra. Ouvi um Padre entre os Cristãos, que dizia que ninguém pode ter uma idéia do Divino Humano; e eu o vi transpor-tado para diferentes Nações, sucessivamente, cada vez mais interiores, e também para os Céus, e por fim para o Céu Cristão, e por tôda parte lhe foi dada comunicação de sua percepção interior sôbre Deus, e êle notou que nêles não havia outra idéia de Deus senão a de um Ho-mem, que é a mesma que a idéia do Divino Humano”.

l2 – No Cristianismo a idéia popular de Deus é como a de um Homem, porque Deus é chamado Pessoa na Doutrina da Trindade Ata-nasiana; entretanto aquêles que se crêem mais sábios que o povo de-

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claram Deus invisível; e isso, porque não podem apreender como Deus, como Homem, teria podido criar o Céu e a Terra, e encher o universo com a sua presença, nem apreender várias outras causas que não po-dem caber no entendimento, enquanto se ignora que o Divino não está no espaço. Mas os que se dirigem ao Senhor só concebem o Divino Humano, assim Deus como Homem.

13 – Quão importante é ter uma justa idéia de Deus, pode-se ver no fato de que a idéia de Deus faz o íntimo do pensamento naqueles que têm religião, pois tôdas as cousas da religião e tôdas as do culto se referem a Deus; e como Deus está universalmente e singularmente em tôdas as cousas da religião e do culto, resulta daí que se não há uma justa idéia de Deus, não pode haver comunicação com os Céus; é por isso que ca.d,a Nação no Mundo espiritual obtém um lugar segundo a idéia de Deus como Homem, pois nesta idèia, e não em ¿m,a. ou.tr¿, há a idéia do Senhor. Que o estado da vida do homem depois da morte seja segundo a idéia de Deus confirmada nêle, vê-se claramente por seu oposto, em que a negação de Dnos, e no Cristianismo a negação da Divindade do Senhor, faz o inferno.

O Ser e o Existir :¿o Deus-Homem são distintamente um

14 – Onde está o Ser, aí está o Existir; um não é sem o outro; pois o Ser R pelo Existir, e não sem êle. O Racional apreende isso, quando pensa se pode haver algum Ser que não Exista, e se pode haver um Existir senão por um Ser; e pois que um é dado com o outro e não sem o outro, segue-se que êles são um, mas distintamente um. São dis-tintamente um como o Amor e a Sabedoria; o Amor é também o Ser, e a Sabedoria é o Existir, pois não há Amor senão na Sabedoria, e não há Sabedoria senão pelo Amor, é por isso que quando o Amor está na Sabedoria, então êle Existe; êstes dois são de tal modo um, que podem, é verdade, ser distinguidos pelo pensamento, mas não de fato; e como podem ser distinguidos pelo pensamento e não de fato, eis porque se diz: Distintamente um. O Ser e o Existir em Deus-Homem são também distintamente um como a Alma e o Corpo; não há Alma sem seu Corpo, nem Corpo sem sua Alma; é a Alma Divina de Deus-Homem que é entendida pelo Divino Ser, e é o Corpo Divino que é entendido pelo Divino Existir. Que a alma sem o corpo possa existir, e possa pensar e ser sábia, é um êrro que provém de ilusões; pois tôda alma de homem está em um corpo espiritual, depois que rejeitou os despojos materiais que carregava em tôrno de si no mundo.

15 – Que o Ser não seja o Ser a menos que Exista, é porque an-tes não está em uma forma; e se não está em uma forma, não tem qualidade; e o que não tem qualidade não é alguma cousa. O que Existe pelo Ser faz um com o Ser porque vem do Ser, é por isso que há união em um, e é por isso que um pertence ao outro mutuamente e vice-versa, e que um é tudo em tôdas as cousas do outro como em si.

16 – Por estas explicações, pode-se ver que Deus é Homem e que por isso Ele é Deus Existente, Existente não por Si mas em Si; Aquêle que existe em Si é Deus de Quem procedem tôdas as causas.

Em Deus-Homem os infinitos são distintamente um

17 – Sabe-se que Deus é Infinito; com efeito, Ele é chamado o infinito; mas é chamado o Infinito, porque é Infinito; é Infinito, não unicamente porque é o Ser mesmo e o Existir mesmo em si, mas por-que os Infinitos estão n’Rle; o Infinito sem os Infinitos em Si não é o Infinito senão quanto ao nome apenas. Os Infinitos n’Rle não se pode dizer que sejam infinitamente numerosos, nem infinitamente todos, por causa da idéia natural ligada às expressões numerosos e todos, pois a idéia natural de infinitamente numerosos é limitada, e a de infinita-mente todos é, na verdade, ilimitada mas se atém às causas limitadas do universo; é por isso que o homem, porque está na idéia natural, não pode por sublimação, nem por aproximação vir à percepção dos Infi-nitos em Deus; mas o Anjo, porque está na idéia espiritual, pode por sublimação e por aproximação vir acima do grau do homem, não entre-tanto até a esta percepção.

18 – Que os Infinitos estejam em Deus, é aquilo de que pode en-contrar a prova em si todo aquêle que crê que Deus é Homem. Pois que Deus é Homem, Ele tem um corpo, e tudo que pertence ao corpo;

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assim, tem uma Face, um Peito, um Ventre, Lombos, Pés, pois sem estas partes Ele não seria Homem; e pois que tem estas partes, tem também Olhos, Ouvidos, Narinas, uma Bôca, uma Língua; além disso as partes que estão interiormente no Homem, como o coração e o Pul-mão, e as que dêles dependem, que tomadas tôdas em conjunto fazem com que o homem seja homem; no homem criado estas partes são em grande número, e consideradas em sua contextura são inumeráveis; mas em Deus-Homem elas são infinitas, nada lhe falta, daí a infinita per-feição n’Rle. Se se faz uma comparação do Homem Incriado, que é Deus, com o homem criado, é porque Deus é Homem, e porque foi dito por Êle, que o homem do mundo foi criado à Sua imagem e se-gundo Sua semelhança, Ginesis 1.º, 26, 27.

19 – Que os infinitos estejam em Deus, é o que é bem mais evi-dente para os Anjos pelos Céus em que estão: O Céu inteiro, que con-siste em miríades de miríades de Anjos, é em sua forma universal como um Homem; caàa sociedade do Céu, tanto grande como pequena, seme-lhantemente; por isso também o Anjo é homem, pois o Anjo é o Céu na menor forma; que assim seja, pode-se ver no Tratado DO Cf.U E DO INFERNO, ns. 51 a 87. O Céu no todo, na parte e no indivíduo, está em uma tal forma pelo Divino que os Anjos recebem, pois tanto mais o Anjo recebe do Divino, tanto mais é homem em uma forma perfeita; é por isso que se diz que os Anjos estão em Deus, e cpe Deus está nêles, e também que Deus é seu tudo. E’ impossível descrever a mul-tidão de cousas que há no Céu; e como o Divino faz o Céu e como por conseqiiência esta multidão inexprimível de causas procede do Di-vino, torna-se bem evidente que os Infinitos estão no Homem Mesmo que é Deus.

20 – Pode-se pelo Universo criado tirar uma semelhante indução quando se o considera pelos usos e por suas correspondências; mas an-tes que isso possa ser compreendido, é preciso que preliminares o ilustrem.

21 – Pois que em Deus-Homem, há os Infinitos, que, no Céu, no Anjo e no Homem, aparecem como em um espelho, e pois cpe Deus-Homem não está no espaço, como foi mostrado acima, ns. 7, 8, 9, 10, pode-se de algum modo ver e apreender como Deus pode ser Oni-presente, Onisciente e Oniprevidente, e como pôde como Homem criar tôdas as cousas, e pode como Homem manter eternamente em sua ordem tôdas as causas criadas por Ele.

22 – Que os Infinitos sejam distintamente um em Deus-Homem, pode-se ainda vê-lo como em um espelho pelo homem: Yo homem há partes em grande quantidade e inumeráveis, como já foi dito, mas não obstante o homem as sente como um; pelo sentido ile nada sabe de seus Cérebros, de seu Coração, de seu Pulmão, de seu Fígado, de seu baço, de seu Pâncreas; nem causa alguma das partes inumeráveis que estão nos Olhos, nos Ouvidos, na Língua, no Estômago, nos Membros da geração, e em tôdas as outras causas que o constituem; e como pelo sentido nada sabe disso, êle é para si mesmo como um. A causa disso, que tôdas estas cousas estão em uma tal forma, que não pode faltar uma s6; pois é uma forma recipiente da vida que procede de Deus-Homem, como foi demonstrado acima, ns. 4, 5, 6; pela ordem e a conexão de tôdas estas cousas em uma tal forma se apresenta o sentido e por conseguinte a idéia, como se elas fôssem não em grande quantidade e inumeráveis, mas um. Daí pode-se concluir que estas partes em grande quantidade e inumeráveis que fazem como um no homem, são distintamente e mesmo muito distintamente um no Homem Mesmo que Deus.

Há um só Deus-Homem de Quem procedem tôdas as cousas

23 – Tudo o que pertence à Razão humana se reúne e por assim dizer se concentra nisto, que há um único Deus Criador do Universo; é por isso que o homem que tem razão não pensa e não pode pensar de outro modo pelo comum de seu entendimento. Diz a alguém que goze de uma razão sã, que há dois Criadores do universo, e descobrirás de sua parte uma repugnância contra ti, e talvez só pelo som da lin-guagem em seu ouvido; é portanto evidente que tudo que pertence à Razão humana se reúne e se concentra nisto, que há um único Deus; que seja assim, há para isso duas causas: a Primeira, é que a faculdade mesma de pensar racionalmente, considerada em si mesma, pertence não ao homem, mas a Deus no homem; desta faculdade depende a Razão humana no comum, e o comum faz com que o homem veja isso como por si mesmo. A Segunda, é que o homem, por esta faculdade, ou está na luz do Céu, ou

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tira dela o comum de seu pensamento; e o universal da luz do Céu é que há um único Deus. E’ diferente se o homem, por esta faculdade, perverteu os inferiores do entendimento, êste, é verdade, goza desta faculdade, mas pela torsão dos inferiores voltou-se para um outro sentido, daí a Razão deixa de ser sã,

24 – Todo homem, sem que êle o saiba, pensa de uma Assembléia de homens como de um único homem, é mesmo por isso que percebe imediatamente, quando se diz que um Rei é a Cabeça, e os suditos o Corpo, e tamb”;m quando se diz que tal ou tal está no Corpo comum, isto é, no Reino. Dá-se com o Corpo Espiritual o mesmo que com o Corpo Civil; o Corpo Espiritual é a Igreja, sua Cabeça é Deus-Homem; por isso vê se claramente como nesta percepção a Igreja aparece como Homem, se não se pensasse em um único Deus Criador e Conservador, mas se em lugar de pensar em um S6 se pensasse em Vários; nesta percepção ela apareceria como um único Corpo sôbre o qual haveriam várias Cabeças, assim não como um Homem mas como um Monstro. Se se dissesse que estas Cabeças têm uma única Essência, e que por isso fazem juntas uma íínica Cabeça, daí não poderia resultar outra idéia senão que uma Cabeça tem várias faces, ou que várias Cabeças têm uma única face, assim a Igreja nesta percepção se apresentaria disforme; e entretanto um único Deus é a Cabeça, e a Igreja é o Corpo, que age pela Cabeça, e não por si, como acontece também no homem. Daí vem também que em um Reino, não há senão um Rei; pois vários o des-pedaçariam, mas um s6 pode mantê-la.

25 – Dá-se o mesmo na Igreja espalhada sôbre todo o Globo, a qual é chamada Comunhão, porque é como um íínico Corpo, sob uma unica Cabeça; sabe-se que a Cabeça dirige à sua vontade o Corpo que está sob ela, pois na Cabeça residem o entendimento e a vontade, e o corpo é pôsto em ação pelo entendimento e pela vontade, a tal ponto que o Corpo é sòmente uma obediência; o corpo nada pode fazer se-não pelo entendimento e pela vontade, que estão na Cabeça; do mesmo modo o homem da Igreja nada pode fazer senão por Deus; parece que o corpo age por si mesmo, por exemplo, que as mãos e os pés agindo se movem por si mesmos, e que a bôca e a língua falando se movi-mentam por si mesmas, entretanto nada fazem por si mesmos, mas agem pela afeição da vontade e por conseguinte pelo pensamento do enten-dimento, que estão na Cabeça. Pensa agora: Se sôbre um corpo hou-vesse várias cabeças, e cada cabeça fôsse independente quanto a seu entendimento e a sua vontade, êste corpo poderia subsistirP entre elas não haveria o unânime tal como o que pertence a uma s6 cabeça. Como acontece com a Igreja, do mesmo modo acontece no Céu, que se compõe de miríades de miríades de Anjos; se todos e cada um dêles não elevasse seus olhos para um único Deus, êles cairiam um pelo ou-tro e o Céu seria dissipado; é por isso que desde que um anjo do Céu pensa unicamente em vários deuses, êle é imediatamente separado, pois é lançado nos últimos confins dos Céus, e cai.

26 – Como todo o Céu e tôdas as cousas do Céu se referem a um único Deus, é por isso que a linguagem angélica é tal, que por um certo acôrdo decorrente do acôrdo do Céu, se termina em um; ín-dice de que é impossível aos anjos pensar de outro modo que não seja em.um único Deus, pois a linguagem procede do pensamento.

27 – Que homem, cuja razão é sã, não deve perceber que o Di-vino é indivisível, e que não há vários Infinitos, nem vários Incriados, nem vários Onipotentes, nem vários Deuses! Se algum outro, privado da razão, dissesse que vários Infinitos, vários Incriados, vários Oni-potentes, e vários Deuses são possíveis, desde que tenham uma mesma; essência, e que assim é um único Infinito, um único Incriado, um único Onipotente e um único Deus; acontece que uma mesma essência não é uma mesma causal e uma mesma cousa pode estar em váriosP Se se disser que um procede do outro, então aquêle que procede de um ou-tro não é Deus em si, e entretanto Deus em si é Deus de Quem pro-cedem t8das as cousas, veja acima, n. 16.

A Divina Essência mesma é o Amor e a Sabedora

28 – Se reunires tôdas as cousas que conheces, e as colocares sob a intuição de tua mente, e com uma certa elevação de espírito pro-curares o que é o universal de tôdas as causas, não poderás deixar de concluir que é o Amor e a Sabedoria; pois estão aí os dois essenciais de t8das as cousas da vida do homem; todo o seu Civil, todo seu Mo-ral e todo seu Espiritual dependem dêstes dois, e sem êstes dois

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nada são; do mesmo modo tôdas as causas do Homem composto, que é, como já foi dito, uma Sociedade, grande ou pequena, um Reino e um Império, a Igreja, e também o Céu angélico. Tira o amor e a sabedoria e pensa então se são alguma cousa, e descobrirás que sem o amor e a sabedo-ria, como (princípios) de que dependem, nada são.

29 – Que em Deus haja o Amor e ao mesmo tempo a Sabedoria em sua essência mesma, ninguém pode negá-lo, pois pelo Amor em Si Deus ama todos os homens, e pela Sabedoria em Si conduz a todos. O Universo criado, considerado segundo a Ordem, está mesmo de tal modo cheio da Sabedoria procedente do Amor, que se diria que tôdas as cousas no complexo são a sabedoria mesma; pois elas aí estão in-definidas em uma tal ordem, sucessiva e simultâneamente, que toma-das em conjunto fazem um; é por isso, e não por outra causa, que podem ser contidas e ser perpètuamente conservadas.

30 – Pelo fato da Divina Essência mesma ser o Amor e a Sabe-doria, resulta que no homem há duas Faculdades da vida, por uma das quais êle tem o Entendimento, e pela outra a Vontade; a íaculdade pela qual tem o Entendimento, tira tudo que lhe pertence do influxo da Sabedoria procedente de Deus, e a faculdade, pela qual tem a Von-tade, tira tudo que lhe pertence do influxo do Amor procedente de Deus; pelo fato do homem não ser sábio e não amar, como o deveria, isso não suprime as faculdades, mas unicamente as fecha, e enquanto estão fechadas, o entendimento, é verdade, é chamado entendimento, e a von'tade é chamada vontade, mas acontece que essencialmente não é o entendimento nem a vontade; é porque, se estas faculdades fôssem ti-radas, então todo humano pereceria, o qual consiste em pensar, e pelo pensamento falar, e também em querer e pelo querer agir. Daí é evi-dente que o Divino no homem reside nestas duas faculdades, que são a faculdade de ser sábio e a faculdade de amar, quer dizer que o homem pode. Que poder ser sábio e poder amar estejam no homem, ainda que êle não seja sábio e que não ame como o pode, é o que veio ao meu conhecimento por numerosas experiências, que se verá em ou-tros lugares com abundância.

31 – Do fato da Divina Essência mesma ser o Amor e a Sabe-doria, resulta que tôdas as causas no Universo se referem ao Bem e ao Vero; pois tudo que procede do Amor é chamado bem, e tudo que procede da Sabedoria é chamado Vero; mas abaixo serão dados maio-res detalhes sôbre êste assunto.

32 – Pelo fato da Divina Essência mesma ser o Amor e a Sabedo-ria, resulta que o Universo e tôdas as causas que encerra, tanto vivas como nado v¿vas, subsistem pelo Calor e a Luz; pois o Calor corres-ponde ao Amor, e a Luz corresponde à Sabedoria; é mesmo por isso que o Calor espiritual é o Amor, e a Luz espiritual é a Sabedoria; mas sôbre êste assunto serão dados abaixo maiores detalhes.

33 – Do Divino Amor e da Divina Sabedoria, os quais fazem a Essência mesma que é Deus, tiram sua origem tôdas as afeições e todos os pensamentos do homem, do Divino Amor as afeições, e da Divina Sabedoria os pensamentos; e tôdas e cada uma das causas do homem não são senão afeições e pensamentos, êstes dois são como as fontes de tôdas as cousas da vida; àa afeição e do pensamento provêm todos os prazeres e todos os encantos da vida, da afeição do seu amor os prazeres, e do pensamento desta afeição os encantos. Agora, como o homem foi criado para ser recipiente, e êle é recipiente tanto quanto ama a Deus, e pelo amor para com Deus tem a sabedoria, isto é, tanto quanto tem afeição pelas cousas que procedem de Deus, e tanto quanto pensa por esta afeição, segue-se que a Divina Essência, que é Criadora, é o Divino Amor e a Divina Sabedoria.

O Divino Amor pertence à Divina Sabedoria, e a Divina Sabedoria pertence ao Divino Amor

34 – Que o Divino Ser e o Divino Existir em Deus-Homem sejam distintamente um, vê-se acima, ns. 14 a 16; e como o Divino Ser é o pivino Amor, e o Divino Existir é a Divina Sabedoria, é por isso que o Divino Amor e a Divina Sabedoria são também distintamente um. Diz-se que são distintamente um, porque o Amor e a Sabedoria são duas cousas distintas, mas de tal modo unidas, que o Amor pertence à Sabedoria, e a Sabedoria ao Amor; pois o Amor E’ na Sabedoria, e a Sabedoria Existe no Amor; e como a Sabedoria tira seu Existir do Amor, assim como foi dito acima, n. 15, resulta daí que a Divina Sabedora é

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também o Ser; segue-se daí que o Amor e a Sabedoria tomados jun-tos são o Divino Ser; mas que, tomados distintamente, o Amor é cha-mado Divino Ser, e a Sabedoria Divino Existir. Tal é a idéia angé-lica s8bre o Divino Amor e a Divina Sabedoria.

35 – Pois que tal é a União do Amor com a Sabedoria, e da Sabedoria com o Amor em Deus-Homem, a Divina Essência é uma; pois a Divina Essência é o Divino Amor porque êste Amor pertence à Di-vina Sabedoria, e é a Divina Sabedoria porque esta Sabedoria pertence ao Divino Amor; e pois que tal é sua união, é também por isso que a Divina Vida é uma; a Vida é a Divina Essência. Se o Divino Amor e a Divina Sabedoria são um, é porque a União é recíproca, e a união recíproca faz a unidade. Mas será dito mais em outro lugar sôbre a união recíproca.

3ô – A união do Amor e da Sabedoria está também em tôda Obra Divina; desta união vem a perpetuidade e mesmo a eternidade da obra. Se houvesse mais do Divino Amor que da Divina Sabedoria, ou mais da Divina Sabedoria que do Divino Amor em qualquer obra criada, ela não subsistiria senão enquanto houvesse tanto de um como do ou-tro, o que há de mais passa.

37 – A Divina Providência na ação de reformar, regenerar e sal-var os homens participa igualmente do Divino Amor e da Divina Sa-bedoria; com mais do Divino Amor que da Divina Sabedoria, ou mais da Divina Sabedoria que do Divino Amor, o homem não pode ser re-formado, nem regenerado nem salvo; o Divino Amor quer salvar todos os homens, mas não pode salvar senão pela Divina Sabedoria e à Di-vina Sabedoria pertencem tôdas as leis pelas quais se faz a salvação, e o Amor não pode transgredir estas leis, pois que o Divino Amor e a Divina Sabedoria fazem um, e agem em união.

38 – O Divino Amor e a Div!na Sabedoria na Palavra são enten-didos pela Justiça e o Julgamento, o Divino Amor pela Justiça, e a Divina Sabedoria pelo Julgamento; é por isso que na Palavra se diz Jus-tiça e Julgamento, falando de Deus; por exemplo, em Davi: "A Justiça e o Julgamento (são) o sustentáculo de teu Trono”, Salmo 89, 15. No mesmo: “Jehovah fará sair como a luz tua Justiça e teu Julgamento como o meio dia”, Salmo 37, 6. Em Oséias: “Eu me casarei contigo para a eternidade em Justiça e Julgamento”, 2.º, 19. Em Jeremias: “Susci-tarei a Davi um gérmen justo, que reinará Rei; e êle fará Julgamen-to e Justiça na terra”, 23.º, 5. Em Isaías: "Ele estará assentado sê-bre o trono de Davi e sôbre seu reino para firmá-lo em Julgamento e Justiça”, 9.º, 6. No mesmo: “Exaltado será Jehovah porque encheu Sião de Julgamento e Justiça”, 33.º, 5. Em Davi: “Quando eu tiver aprendido os Julgamentos de tua Justiça: sete vêzes no dia eu te louvo pelos Julgamentos de tua Justiça”, Salmo 119.º, 7, 164. A mesma cousa é entendida pela Vida e pela Luz em João: “N’Ela a Vida estava, e a Vida era a luz dos homens”, l.º, 4; aí, pela Vida é entendido o Di-vino Amor do Senhor, e pela Luz sua Divina Sabedoria. A mesma causa ' é ainda entendida pela Vida e pelo Espírito cm João: “Jesus disse: As palavras que Eu vos pronuncio são Espírito e são Vida”, 6.º, 63.

39 – No homem, o amor e a sabedoria aparecem como duas cau-sas separadas, mas não obstante em si mesmos são distintamente um, porque no homem a sabedoria é tal qual é o amor, e o amor é tal qual é a sabedoria; a sabedoria que não faz um com seu amor, aparece como se fôsse a sabedoria, e entretanto não o é; e o amor que não faz um ‘ com sua sabedoria, aparece como se fôsse o amor da sabedoria, ainda que não o seja, pois um deve tirar do outro a sua essência e a sua vida recìprocamente. Se a sabedoria e o amor no homem aparecem como ' duas cousas separadas, é porque a faculdade de compreender nêle é suscetível de ser elevada à luz do Céu, mas não a faculdade de amar, a não ser tanto quanto o homem faz do mesmo modo que compreende; ' é por isso que a cousa da sabedoria aparente, que não faz um com o amor da sabedoria, recai no amor que faz um, o qual pode ser o amor da não-sabedoria, e mesmo o amor da loucura; pois o homem pode pela sabedoria saber que é preciso fazer tal ou tal causa, e en-tretanto não a faz, porque não a ama; mas tanto quanto pelo amor êle faz o que pertence ì sabedoria, tanto é êle a imagem de Deus.

O Divino Amor e a Divina Sabedoria são uma Substância e uma Forma

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40 – A idéia que os homens vulgares têm do Amor e da Sabedo-ria, é como de alguma causa de volátil e de fluido no ar sutil ou éter,, ou como de uma exalação de qualquer causa semelhante; e há apenas' alguns que pensam que êste Amor e esta Sabedoria são na realidade e efetivamente uma Substância e uma Forma. Aquêles que vêem que . é uma substância e uma forma, percebem entretanto o amor e a sa-bedoria fora de uma pessoa como fluindo dela, e o que percebem fora de uma pessoa como Buindo dela, ainda que como volátil e fluido, êles o chamam ainda assim de substância e forma, não sabendo que o amor e a sabedoria são a pessoa mesma, e que aquilo que é percebido fora dessa pessoa como volátil e fluido, é unicamente a aparência do estado,, da pessoa em si mesma. Se isto não foi visto até ao presente, há vá-rias razões para isto; entre outras, é que as aparências são as primeiras causas de que a Mente humana forma seu entendimento, e que não as pode dissipar senão pela pesquisa da causa; e se a causa está pro-fundamente escondida, êle não a pode encontrar, a não ser que mantenha o entendimento por longo tempo na luz espiritual, na qual não; e mantê-la por muito tempo por causa da luz natural que contìnuamente o retira. Não obstante, a verdade é que o amor e a sabedoria são uma substância e uma forma reais e efetivas, que constituem a pessoa mesma.

41 – Mas como esta verdade é contra a aparência, pode ser considerada como não merecendo confiança, a menos que seja demonstrada, e ela não pode ser demonstrada senão por causas que o homem pode perceber pelos sentidos de seu corpo; por isso ela vai ser demonstrada por estas cousas. Há no homem cinco sentidos externos que se chamam o tato, o paladar, o olfato, o ouvido e a vista. O sujeito do Tato é a Pele, com que o homem é envolvido; a substância mesma e a forma mesma da pele faz com que êle sinta as causas que aí são aplicadas; o sentido do tato não está nas cousas que são aplicadas, mas está na substância e na forma da pele, as quais são o sujeito; êste sentido é unicamente a afeiçâo do sujeito produzida pelas cousas que foram aplicadas. Dá-se o mesmo com o Paladar; êste sentido é unicamente a afeição da substkncia e da forma que pertencem à língua, a língua é o sujeito. Dá-se o mesmo com o Olfato; sabe-se que o odor afeta as narinas, que está nas narinas, e que é a afeição das narinas segundo as cousas odoríferas .que as tocam. Dá-se o mesmo com o Ouvido; parece que o ouvidoestá no lugar onde o som começa, mas o ouvido está na orelha, e é aafeição da substância e da forma da orelha; que o ouvido esteja àdistkncia da orelha, está aí uma aparência. Dá-se o mesmo com a vista;quando o homem vê os objetos a uma distância, parece que a vista es-teja lá, mas não obstante ela está no ôlho que é o sujeito, e semelhan-ente ela é a afeição do sujeito; a distância vem unicamente do jul-ento que conclui sôbre o espaço pelos intermediários, ou pela di-minuição e por conseguinte pelo obscurecimento do objeto, cuja ima-gem se apresenta interiormente no ôlho segundo o ângulo de incidên-cia; por isso é evidente que a vista não sai do ôlho para o objeto, mase a imagem do objeto entra no ôlho e lhe afeta a substância e aa; com efeito, dá-se com a vista como com o ouvido; o ouvido nãosaí tampouco da orelha para apreender o som, mas o som entra na ore-is, e a afeta. Por estas explicações, pode-se ver que a afeição da subs-ia e da forma, que faz os sentidos, não é alguma cousa separadaho sujeito, mas que faz nêle unicamente uma mudança, ficando entãoo sujeito como antes e depois; segue-se daí que a vista, o ouvido, o,chato, o paladar e o tato, não são alguma causa de volátil efluindo deseus 6rgãos, mas que são os órgãos considerados em sua substância e@n sua forma; quando a substância e a forma são afetadas, a sensaçãose produz.

C – Dá-se o mesmo com o Amor e a Sabedoria, com a única di-ferença que as substâncias e as formas, que são o amor e a sabedoria, aparecem diante dos olhos, como os 6rgãos dos sentidos externos; mas não obstante, ninguém pode negar que as causas do amor e da sabedoria, que são chamadas pensamentos, percepções e afeições, se-jam substâncias e formas, e não sêres (entia) voláteis que fluem do nada, ou abstrações sem substância nem forma reais e efetivas, subs-tância e forma que são os sujeitos; com efeito, há no cérebro inúmeras substâncias e inúmeras formas, nas quais reside todo sentido interior que se refere ao entendimento e à vontade. Que tôdas as afeições, as percepções e os pensamentos não sejam sopros exalados destas subs-tâncias e destas formas, mas que sejam na atualidade e na realidade sujeitos que nada emitem dêles mesmos, mas que unicamente sofrem mudanças segundo os afluentes que aìetam, é o que se pode ver pelo que acaba de ser dito dos sentidos externos. Abaixo será dito mais sôbre os afluentes que afetam.

43 – Por estas explicações pode-se a princípio ver que o Divino Amor em si e a Divina Sabedoria em si são uma Substância e uma Forma, pois são o Ser mesmo e o Existir mesmo; e se um tal Ser e um tal Existir não fôssem, como o são, uma substância e uma forma, êles não seriam senão um ser de razão, que em si nada é.

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O Divino Amor e a Divina Sabedoria são a Substância em si e a Forma em si, assim o Zu Mesmo e único

44 – Que o Divino Amor e a Divina Sabedoria sejam uma subs-tância e uma Forma, é o que acaba de ser confirmado; e que o Di-vino Ser e o Divino Existir sejam o Ser e o Existir em si, é também o que foi dito acima. Não pode ser dito que é o Ser e o Existir por si, porque isso envolve um comêço, e mesmo por alguém nêle que é o ser e o existir em si; mas o Ser mesmo e o Existir mesmo em si é de tôda eternidade (ab eterno) ; o Ser mesmo e o Existir mesmo em si é também incriado e o que foi criado, é também finito, e o finito não pode tampouco existir senão pelo infinito.

45 – Aquèle que, por algum pensamento, pode conceber e apreen-der o Ser e o Existir em si, conceberá e apreenderá plenamente o que é o Eu Mesmo e Irónico; é chamado o Eu Mesmo o que só E’, e o único Aquêle de quem procede qualquer outro. Ora, como o Eu Mesmo e o único é uma Substância e uma Forma, segue-se daí que é a Subs-tância mesma e única e a Forma mesma e única; e como esta Subs-tância mesma e esta Forma mesma é o Divino Amor e a Divina Sabe-doria, segue-se daí que é o Amor mesmo e único e a Sabedoria mesma e única, que por conseqiiência é a Essência mesma e única, e também a Vida mesma e única, pois o Amor e a Sabedoria são a Vida.;

46 – Por isso, pode-se ver quanto pensam sensualmente, isto é, se-gundo os sentidos do corpo, e segundo as trevas dêstes sentidos nascousas espirituais, aquêles que dizem que a Natureza é por si mesma;pensam segundo o ôlho, e não podem pensar segundo o entendimento;o pensamento segundo o ôlho fecha o entendimento, mas o pensamentosegundo o entendimento abre o ôlho; aquêles não podem pensar algumacausa sôbre o Ser e o Existir em si, nem pensar que é o Eterno, oIncriado e o Infinito; não podem ’.ampouco pensar alguma causa sôbrea Vida, senão como uma causa volviÌ que cai no nada, nem de outromodo sôbre o Amor e a Sabedoria; não pensam absolutamente que éde um e de outro que procedem tôdas as causas da natureza. Quet8das as causas da natureza procedem do amor e da sabedoria, nãose pode tampouco ver, a não ser que a natureza seja considerada se-ndo os Usos em sua série e em sua ordem, e não segundo algumase suas formas, que são os objetos do ôlho só; pois os usos não pro-vêm senão da vida, e sua série e sua ordem não provêm senão da sa-bedoria e do amor, mas as formas são os continentes dos usos; se por-tanto não se considera senão as formas, não se pode ver na naturezaalguma causa da vida, nem com mais forte razão alguma cousa do amore da sabedoria, nem por conseqiiência alguma causa de Deus.

O Divino Amor e a Divina Sabedoria não podem senão ser e existir em outros criados por êles

47 – O eu-mesmo do amor não é amar-se, mas é amar os outros e ser conjunto a êles por amor; o eu-mesmo do amor é também ser amado pelos outros, pois assim é conjunto; a essência de todo amor consiste na conjunção; além disso, na conjunção consiste sua vida que se chama prazer, encanto, delícia, doçura, beatitude, contentamento e felicidade. O amor consiste nisso, que o seu seja para um outro, e que sinta o prazer do outro como um prazer em si, é isso amar; mas sentir seu prazer em um outro, e não o prazer do outro em si, não é amar; pois isto é amar-se a si mesmo, mas aquilo é amar o pr6ximo; estes dois gêneros de amor são diametralmente opostos; um e outro gênero conjuntam, é verdade, e não parece que amar o seu, isto é, eu-mesmo em um outro, desuna, quando entretanto isso desune ao ponto que tanto mais alguém ama assim um outro, tanto mais em seguida o tem em 6dio; pois esta conjunção é dissolvida por si sucessivamente, e então o amor se torna em ódio no mesmo grau.

48 – Como aquêle que pode considerar a essència do amor, pode não ver issoP o que é, com efeito, amar a si só, e não fora de si al-guém de quem se seja amado em recompensaP não é antes uma disso-ciação que uma conjunçãoP a conjunção do amor existe pelo recíproco, e não há recíproco em si só; se se acredita que isso acontece, é por um recíproco imaginário nos outros. Por estas explicações, é evidente : que o Divino Amor não pode senão ser e existir nos outros, que êle ama e de quem seja amado; pois visto que isso está em todo amor, deve estar principalmente, isto é, ìnfinitamente, no Amor Mesmo.

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4S – Quanto ao que concerne Deus, amar e ser recìprocamente amado : não pode ter lugar em outros, nos quais houvesse alguma causa do in-finito, ou alguma cousa da essência e da vida do amor em si, ou al-guma cousa do Divino; pois se alguma cousa do infinito, ou da essên-cia e da vida do amor em si, istos, alguma causa do Divino, estivesse nêles, então êle não seria amado por outros, mas se amaria a Si mesmo; pois o Infinito ou o Divino é único; se estivesse nos outros, seria o Eu-Mesmo, e seria o amor mesmo de si, do qual não pode haver a mínima cousa em Deus; pois é abso1utarncnte o oposto da Essência Divina; por esta razão isso deve ter lugar em outros nns quais nada há do Divino em si; que isso aconteça em sêres criados pelo Divino, ver-se-á mais abaixo. Mas para que isso aconteça, é preciso que haja a Sabedoria Infinita que faça um com o Amor Infinito, isto é, é preciso que haja o Divino Amor da Divina Sabedoria e a Divina Sabedoria do Divino Amor, de que se tratou acima, ns. 34 a 39.

50 – Da percepção e do corihecimento clè.ste Arcano dependem a percepção e o conhecimento de tôdas as cousas da Existência ou da Criação, além de tôdas as da Subsistência ou da Conservação por Deus, isto é, de tôdas as obras de Deus no Universo criado, das quais se tratará em seguida.

51 – Mas, eu te peço, não mistures tuas idéias nem com o Tempo nem com o Espaço; com efeito, tanto quanto há tempo e espaço nas idéias quando leres o que segue, tanto não o compreenderás, pois o Divino não está no tempo nem no espaço; ver-se-á isso claramente na continuação desta Obra, especialmente a respeito da Eternidade, da In-finidade e da Onipresença.

í"ôdas as cousas do Uni< erso foram criadas pelo Divino Amor e pela Divina Sabed,oria de Deus-Homem

52 – O Universo nos muito grandes e nos muito pequenos, nos primeiros e nos últimos, está de tal modo cheio do Divino Amor e da Divina Sabedoria, que se pode dizer que êle é o Divino Amor e a Divina Sabedoria em imagem; que assim seja, vê-se manifestamente pela correspondência de tôdas as cousas do Universo com tôdas as do Ho-mem: Tôdas e cada uma das cousas que existem no Universo criado têm uma tal correspondência com tôdas e cada uma das causas do ho-mem, que se pode dizer que o homem também é um universo; há correspondência de suas afeições c de seus pensamentos com tôdas as cousas do Reino animal, de sua vontade e de seu entendimento com têdas as cousas do Reino vegetal, e de sua vida Vitima com tôdas as causas do Reino mineral. Que haja uma tal correspondência, ninguém o vê no Mundo natural, mas isso é visível no Mundo espiritual para quem quer que aí preste atenção; nesse mundo há tôdas as causas que existem nos três Reinos do Mundo natural, e elas são correspondências das afeiçôes e dos pensamentos, das afeições oriundas da vontade e dos pensamentos oriundos do entendimento, e também das últimas cau-sas da vida dos que aí estão; e umas e outras aparecem em tôrno dêles em um aspecto tal qual é o do Universo criado, com esta diferença que é em uma pequenina efígie. Por isso é bem evidente para os anjos que o Universo criado é a Imagem representativa de Deus-Homem, e que é seu Amor e sua Sabedoria que se apresentam em imagem no Universo, não que o Universo criado seja Deus-Homem, mas porque vem d’Rle; pois causa alguma no Universo criado é substância e forma em si, nem a vida em si, nem amor e sabedoria em si; e mesmo o homem tam-pouco é homem em si; mas tudo vem de Deus, que é o Homem, a Sabedoria e o Amor, a Forma e a Substância em si; o que é em si, é Incriado e Infinito; mas o que vem de Deus, isso, não tendo em si nada que seja em si, foi criado e finito, e isso representa a imagem daquele Mesmo por Quem isso é, e existe.

53 – O Ser e o Existir, além disso a substância e a forma, como também a vida, e mesmo o amor e a sabedoria, podem se dizer dos obje-tos criados, mas tôdas estas cousas são criadas e finitas; se podem se dizer dêsses objetos, não é que algum Divino esteja nelas, mas é que elas estão no Divino e o Divino está nelas; com efeito, tudo o que íoi criado é em si inanimado e morto, mas é animado e vivificação por-que o Divino está nas cousas criadas e finitas, e que elas estão no Divino.

54 – O Divino não está em um sujeito diferentemente do que está em outro, mas um sujeito criado é diferente de um outro, pois não há dois que sejam o mesmo, e por conseguinte cada continente difere de um outro; daí resulta que o Divino em sua imagem se apre-senta variado. Em seguida, se falará da presença do Divino nos opostos.

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Tôdas m cons' no Universo criado são recipientes do Divino Amor e da Divina Sabedoria de Deus-Homem

55 – E’ sabido que tôdas e cada uma das causas do Universo fo-ram criadas por Deus; o Universo por conseqiiência, com tôdas e cada uma das cousas que contém é chamado, na Palavra, a Obra das mãos de Jehovah. Diz-se que o Mundo no seu complexo foi criado do nada, e se conserva do nada a idéia de um nada absoluto, quando entretanto de um nada absoluto nada se faz, nem causa alguma pode ser feita; isso é uma verdade constante; é por isso que o Universo, que é a ima-gem de Deus, e por conseguinte cheio de Deus, não pôde ser criado. : senão em Deus por Deus; pois Deus é o Ser mesmo, e do Ser deve vir o que é; do nada que não é absolutamente, criar o que é, isso é absolutamente contraditório. Mas não obstante o que foi criado em Deus por Deus não é absolutamente uma continuidade de Deus, pois Deus é o Ser em si, e nos objetos criados não há cousa alguma do ser em si; se nos objetos criados houvesse alguma cousa do Ser em si, isto seria uma continuidade de Deus, e uma continuidade de Deus é Deus. A idéia angélica sôbre êste assunto é, que o que foi criado em Deus por Deus, é como a cousa criada no homem, que o homem tirou de sua vida, mas da qual a vida foi extraída, cousa que é tal, que é conveniente à vida do homem, mas não obstante não é absolu-tamente a sua vida; os Anjos confirmam isso por várias cousas que exis-tem em seu Céu, onde dizem que estão em Deus e que Deus está nêles, e que entretanto êles não têm em seu ser causa alguma de Deus que seja Deus; no que segue serão referidas várias outras razões, pelas quais confirmam isso; que o que se diz aqui seja sòmente para ciência.

56 – Tudo o que foi criado proveniente desta origem é tal em sua natureza, que é um recipiente de Deus, não por continuidade mas por contigiiidade; é pelo contíguo e não pelo contínuo que êle é sus-cetível de ser conjunto, pois êle é conveniente porque foi criado em Deus por Deus; e porque foi criado assim, é um análogo, e por esta, conjunção é como a imagem de Deus em um espelho.

57 – Daí vem que os Anjos não são Anjos por êles mesmos, mas ¿ são Anjos por esta conjunção com Deus-Homem, e esta conjunção é se- : gundo a recepção do Divino Bem e do Divino Vero, que são Deus, e,' parecem proceder de Deus, embora estejam em Deus; e a recepção é ' conforme êles aplicam as leis da ordem, que são as Divinas Verdades, a êles mesmos, pela liberdade de pensar e de querer segundo a razão, faculdades que têm do Senhor como se lhes pertencessem; por isto há para êles recepção do Divino Bem e do Divino Vero como por êles mesmos, e por isso há o recíproco do amor; pois, como já foi dito, o amor não existe se não é recíproco. Dá-se o mesmo com os homens na terra. Pelo que acaba de ser dito, pode-se ver primeiro que tôdas as cousas do Universo criado são recipientes do Divino Amor e da Di-vina Sabedoria de Deus-Homem.

58 – Que tôdas as causas do Universo, que não são nem como os Anjos, nem como os homens, sejam também recipientes do Divino Amor e da Divina Sabedoria de Delis-Homem, assim as que estão abaixo dos homens no Reino animal, as que estão abaixo dos animais no Reino vegetal, e as que estão abaixo dos vegetais no Reino mineral, é o que ainda não pode ser exposto diante do entendimento, pois hi antes vá-rias explicações a dar sôbre os graus da vida, e sôbre os graus dos re-cipientes da vida. A conjunção com estas causas é segundo seus usos; pois todos os usos bons não têm sua origem senão em uma conjunção semelhante com Deus, mas dessemelhante segundo os graus, conjunção que sucessivamente na descida se torna tal não há nestas cousas, causa alguma da liberdade, porque nada há da razão, e por conseguinte nada da aparência da vida, mas não obstante são recipientes, são também reagentes, são continentes. Quanto à conjunção com os usos que não sao bons, falar-se-á dela depois que a origem do mal fôr mostrada.

59 – Por estas explicações pode-se ver que o Divino está em tôdas e cada uma das cousas do Universo criado, e que,por conseqiiência o Universo criado é a Obra das mãos de Jehovah, como se diz na Pala-vra, isto é, a Obra do Divino Amor e da Divina Sabedoria, pois êste Amor e esta Sabedoria são entendidos pelas mãos de Jehovah; e ainda que o Divino esteja em tôdas e cada uma das causas do Universo criado, entretanto nada há do Divino em si em seu ser, pois o Universo criado não é Deus absolutamente, mas é por Deus; e porque não é J3eus, há nêle a imagem de Deus, como há a imagem do

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homem em um espelho, no qual o homem aparece, é verdade, mas não obstante nesta imagem nada há do homem.

60 – Ouvi no Mundo espiritual vários espíritos que falavam em tôrno de mim, dizendo, é verdade, que queriam reconhecer que em t8das e cada uma das cousas do Universo há o Divino, porque viam nelas cousas maravilhosas de Deus, e tanto mais maravilhosas quanto mais interiormente são vistas; mas não obstante quando souberam que em tôdas e cada uma das causas do Universo criado há efetivamente o Divino, ficaram indignados, índice de que diziam isso, é verdade, mas não o acreditavam. Por isso lhes foi perguntado se não o podiam ver sòmente pela admirável faculdade que há em tôda semente de produ-zir seu vegetal em uma ordem admirável até a novas sementes; e pelo fato de que em uma semente qualquer há a idéia do infinito e do eterno, pois nas sementes há a tendência para se multiplicar e fruti-ficar ao inBnito e eternamente; além disso, pelos animais, mesmo os menores, no fato de que há nêles órgãos dos sentidos, cérebros, cora-ções, pulmões, e outras vísceras, com artérias, veias, fibras, músculos, e os atos que dêles resultam, além de causas maravilhosas que apre-senta seu caráter sôbre o qual Livros inteiros foram escritos. Tôdas estas maravilhas vêm de Deus, mas as formas de que foram revestidas provêm das matérias da terra; destas matérias provêm os vegetais, e em sua ordem os homens; é por isso que se diz do homem, que foi criado do humus, e que é pó da terra, e que uma alma de vidas foi soprada em suas narinas, Gênesis 2.º, 7; donde é evidente que o Di-vino não é o homem, mas que êste lhe foi adjunto;

Tôdas as cousas que foram criadas representam o homem em uma espécie d,e imagem

61 – Pode-se ver isso por tôdas e cada uma das cousas do Reino animal, e por tôdas e cada uma das causas do Reino vegetal, e por tôdas e cada uma das causas do Reino mineral. A relação com o So-mem em tôdas e cada uma das cousas do Rc’ino animal se manifesta nisto: Os Animais de todo gênero têm membros pelos quais se movem, 6rgãas pelos quais sentem, e vísceras pelas quais fazem as operações que lhes são comuns com o homem; têm também apetites e afeições seme-lhantes aos apetites e às afeições dos !iomens; e tèm ciências inatas (connatae), correspondentes às suas afeições; em algumas dessas ciên-cias vê-se como um espiritual, que se mostra mais ou menos diante dos alhos nas bêstas da terra, nos pássaros do céu, nas abelhas, os bichos da sêda, as formigas etc. ; é por isso que os homens puramente natu-rais fazem os sêres animados dêste Reino semelhantes a êles, fora a linguagem. A relação com o homem para tôd,aa e cada uma das cousm do Reino tiegetal se manifesta nisto: Os vegetais tiram sua existència de ' uma semente, e depois progridem sucessivamente em suas idades; há nêles alguma cousa que se assemelha ao casamento, e depois disso a proliiicação; sua alma vcgetativa é o uso, de que são as formas; sem fm,lar de várias outras cousas, que têm relação com os homens, rela-ção que foi mesmo descrita por vários autores. A relação com o h.omem para tôdas e cada uma dos cousas do Reino mineral se mostra sòmente na tendência a produzir formas que representam, as quais são, como foi dito, tôdas e cada uma das cousas do Reino vegetal, e por conse-qiiência a desempenhar usos; com efeito, desde que a semente cai no seio da terra, a terra a aquece, e lhe dá de si mesma de tôda parte meios para que germine, e se mostre em uma forma representativa ao homem; que haja também uma semelhante tendência nos objetos secos ' dêste reino, v¿-se claramente pelos corais no fundo dos mares, e pelas eflorescências nas minas, aí pelos minerais, e também pelos metais. O esfôrço para se tornar vegetal, e assim para desempenhar usos, é o úl-timo que procede do Divino nas causas criadas.

62 – Como há nos minerais da terra um esfôrço para se torna-rem vegetais, do mesmo modo há nos vegetais um esfôrço para se vi-vificar; daí os insetos de diversos gêneros que correspondem às exa-lações odoríferas dos vegetais; que isto provenha não do calor do sol do mundo, mas da vida por êste calor segundo os recipientes, ver-se-á em seguida.

63 – Que haja uma relação de tôdas as cousas do Universo criado com o homem, pode-se saber, é verdade, pelo que acaba de ser exposto, mas só se pode vê-lo obscuramente, enquanto que no Mundo espiritual se vê claramente; lá estão também tôdas as causas dos tres Reinos, no meio das quais está o Anjo; êle as vê em tôrno de si, e sabe também que elas são suas representações; mais ainda, quando o íntimo de seu entendimento é aberto, êle se conhece, e vê sua imagem nelas, pouco mais ou menos como em um espelho.

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64 – Por estas relações e por várias outras concordâncias que não tenho tempo de expor aqui, pode-se saber com certeza que Deus é Homem, e que o Universo criado é a imagem de Deus; pois há uma relação comum de tôdas as causas com Ele, do mesmo modo que há uma relação particular com o homem.

Os Usos de tôdas as cousas que foram criadas sobem por graus desde os últimos até ao homem e pelo homem até Deus Criador, a puo

(de Quem tudo procede)

65 – Os "íÍltimo,s são, como já foi dito, tôdas e cada uma das cousas do Reino mineral; estas causas são as matérias de diversos gêneros, pro-venientes de substância pedregosa, salina, carbonífera, mineral, metá-lica, envolvida com um humus consistindo em detritos de vegetais e de animais recluzidos a poeira muito miúda; nestas matérias está escon-dido o fim e também o princípio de todos os usos que procedem da vida; o fim cìe tòdos os usos é o esfôrço para os produzir, e o prin-cípio é a fôrça que age segundo êste esfôrço; isto é para o Reino mineral. Os Méd.";os são tôdas e cada uma das cousas do Reino vegetal; estas cousas são as gramas e as ervas de todo gênero, as plantas e os arbustos do todo gênero, e as árvores de todo gênero; os seus usos são para todos e para cada um dos sêres do Reino animal, tanto imper-feitos como perfeitos; êles os alimentam, os deleitam e os vivificam; alimentam seus corpos pelas matérias, deleitam seus sentidos pelo sa-bor, o odor, a beber.a, e vivificam suas afeições; o esfôrço para isso está nêles também pela vida. Os Primeiros são tôdas e cada uma das cou-sas do Reino animal; os ínfimos dêsse Reino são chamados vermes e insetos; os médios, pássaros e bêstas; e os supremos, homens; pois em todo Reino há os ínfimos, os médios e os supremos; os ínfimos para o uso dos médios, e os médios para o uso dos supremos; os usos de tô-das as causas que foram criadas sobem assim em ordem desde os úl-timos até ao homem, que é o primeiro na ordem.

E-9 – EIá três graus de ascensãv no Mundo natural, e há três graus de ascensão no Mundo espiritual; todos os animais são recipientes da vida; os animais mais perfeitos são recipientes da vida dos três graus do Mundo natural, os coque são menos perfeitos são recipientes da vida de dois graus deste Mundo, e os imperfeitos são recipientes da vida de um único grau; mas só o homem é recipiente da vida dos três graus; não sòmente do Mundo natural, mas também dos três graus do Mundo espiritual; daí vem que o homem pode ser elevado acima da natureza, diferindo nisso de todo animal; êle pode pensar analítica e racional-mente sôbre as cousas civis e morais que estão dentro da natureza, e o pode também sôbre as causas espirituais e celestes que estão acima da natureza; pode mesmo ser elevado na sabedoria até ao ponto de ver Deus. Mas em um artigo especial, se tratará dos seis Graus, pelos quais os usos de tôctas as causas que foram criadas, sobem, em sua ordem, até a Deus Criador. Por esta exposição sumária, pode-se ver que, de tôdas as causas que foram criadas, há ascensão para o Pri-meiro, que sòmente é a Vida, e que os usos de tôdas as causas são os recipientes mesmos da vida, e que daí vêm as formas dos usos.

67 – Dir-se-á também, em poucas palavras, como o homem sobe, isto é, é elevado, do último grau ao primeiro. O homem nasce no ííl-timo grau do mundo natural; é em seguida elevado pelas ciincias ao segundo grau, e conforme pelas ciências aperfeiçoa seu entendimento, é elevado ao terceiro grau, e então se torna racional; os três graus de ascensão no Mundo espiritual estão no homem acima dos três graus naturais, e não se mostram antes que êle tenha se despojado do corpo tc-rrestre; depois que se despojou dêle, o primeiro grau espiritual lhe é aberto, em seguida o segundo, e por fim o terceiro, mas êste sòmente naqueles que se tornam Anjos do terceiro Céu, são êles que vêem Deus; aquèles em quem o segundo e o terceiro grau podem ser abertos se tornam Anjos do segundo e do último Céu; todo grau espiritual no homem é aberto segundo a recepção do Divino Amor e da Divina Sabe-doria, procedendo do Senhor; os que os recebem pouco chegam ao primeiro ou último grau espiritual; os que os recebem mais, chegam ao segundo ou médio grau espiritual; e os que os recebem muito che-gam ao terceiro ou supremo grau; mas os que nada recebem dêles per-manecem nos graus naturais, e não tiram dos graus espirituais senão o que é indispensável para que possam pensar e por conseguinte falar, e querer e por conseguinte agir, mas não com inteligência.

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68 – Sôbre a elevação dos interiores do homem que pertencem à sua mente, é preciso que se saiba ainda isto: Em tudo o que foi criado por Deus há uma reação; só à Vida pertence a ação, e a reação é excitada pela ação da Vida; esta reação parece pertencer à cousa criada pelo fato de que existe quando a cousa é acionada; assim no homem ela parece lhe pertencer, pois que é absolutamente como se a vida lhe pertencesse, quando entretanto o homem é unicamente um re-cipiente da vida. Desta causa resulta que o homem por seu mal here-ditário reaje contra Deus; mas quanto mais êle crê que tôda sua vida vem de Deus, e que todo bem da vida vem da ação de Deus, e todo mal da vida, da reação do homem, tanto mais a reação se torna ação, e o homem age com Deus como por si mesmo. O equilíbrio de tôdas as cousas vem da ação e ao mesmo tempo da reação, e é preciso que tudo esteja no equilíbrio. Isto foi dito, a fim de que o homem não creia que é por si mesmo que sobe para Deus, mas que creia que é ,pelo Senhor.

O Divino enche todos os espaços do Universo sem espaço

69 – Há dois próprios da Natureza, o Espaço e o Tempo; por êles o homem no Mundo natural forma as idéias de seu pensamento, e por conseguinte seu entendimento; se permanece nessas idéias, e nâo eleva sua mente acima, não pode jamais perceber cousa alguma de espiritual nem de Divino, pois envolve o espiritual e o Divino com idéias que se detêm ao espaço e ao tempo, e enquanto faz isso, a luz de seu enten-dimento se torna puramente natural; pensar segundo o espaço e o tempo raciocinando sôbre os espirituais e sôbre os Divinos, é como pen-sar pela obscuridade da noite sôbre os objetos que aparecem sòmente na luz do dia; daí vem o naturalismo. Mas aquêle que sabe elevar sua mente acima das idéias do pensamento, que se atêm ao espaço e ao tempo, passa da obscuridade para a luz, e saboreia os espirituais e os Divinos, e vê enfim as causas que estão nêles e que procedem dêles; e então por esta luz dissipa a obscuridade da luminosidade natural, e relega as ilusões do meio para os lados. Todo homem que é dotado .de entendimento, pode pensar, e pensa então efetivamente, acima dês-tes pr6prios da natureza, e então afirma e vê que o Divino porque é Onipresente, não está no espaço; e pode também afirmar e vez as cou-sas que foram expostas acima; mas se nega a Divina Onipresença, e atribui tôdas as causas à Natureza, então não quer ser elevado, ainda que o possa.

70 – Todos os que morrem e se tornam Anjos se despojam dêstes dois pr6prios da Natureza, que, como foi dito, são o espaço e o tempo; pois entram então na luz espiritual, na qual os objetos do pensamento são os veros, e os objetos da vista são semelhantes aos do Mundo na-tural, mas correspondentes a seus pensamentos. Os objetos de seu pen-samento, que, como foi dito, são os veros, nada tiram absolutamente do espaço nem do tempo; quanto aos objetos de sua vista, aparecem, é verdade, como no espaço e no tempo; e isso porque, os espaços e os tempos aí não são fixos como no Mundo natural, mis variam segundo os estados de sua vida; por conseguinte nas idéias de seu pensamento, em lugar dos espaços e dos tempos, há a dos estados da vida; em lu-gar dos espaços, as cousas que se referem aos estados do amor; e em lugar dos tempos, as cousas que se referem aos estados de sua sabe-doria; daí vem que o pensamento espiritual e por conseguinte a lin-'guagem espiritual diferem de tal modo do pensamento e da linguagem naturais, que nada tem de comum, senão quanto aos interiores das cau-sas; interiores que são todos espirituais; serão dados em outro lugar maiores detalhes sôbre esta diferença. Ora, como os pensamentos Dos Anjos nada tiram do espaço nem do tempo, mas tiram tudo dos esta-dos da vida, é evidente que os Anjos não compreendem, quando se diz que o Divino enche os espaços, pois não sabem o que vêm a ser os espaços, mas compreendem claramente quando, sem a idéia de es-paço algum, se diz que o Divino enche tôdas as cousas.

71 – Para que seja bem evidente que o homem puramente na-tural pensa segundo o espaço nos espirituais e nos Divinos, e que o homem espiritual pensa nisso sem espaço, seja isto como ilustração: O homem puramente natural pensa pelas idéias que adquiriu pelos ob-jetos da vista, que têm todos uma figura possuindo comprimento, lar-gura e altura, e terminados segundo a forma por estas dimensões, a qual é ou angular ou circular; estas figuras e estas formas estão evi-dentemente nas idéias de seu pensamento sôbre os objetos visíveis na terra, e estão também nas idéias de seu pensamento sôbre as cousas não visíveis, tais como as causas civis e as cousas morais; êle não vê estas, é verdade, ma.s não obstante aí estão como continuidades dos objetos visíveis. Isso é diferente no homem espiritual, e principalmente no Anjo do Céu; o seu pensamento nada tem de comum com a figura e a forma tendo alguma cousa de comprido, da largo e de alto no espaço, mas é sôbre o estado da cousa segundo o estado da vida; por conseqiiência em lugar do comprimento do espaço êle pensa no bem da causa segundo o bem

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da vida; em lugar da largura do espaço, no vero da causa segundo o vero da vida; e em lugar da altura, nos graus do bem e do vero; assim, pensa pela correspondência que existe entre os espirituais e os naturais; é por esta correspondência que, na Palavra, o comprimento significa o bem da cousa, a largura o vero da causa, e a altura os graus do bem e do vero. Por isso é evidente que o Anjo do Céu, quando pensa na Onipresençn Divina, não pode se-não pensar que o Divino enche tôdas as causas sem espaço; o que o Anjo pensa. é o vero, porque a Luz que ilumina seu entendimento é a Divina Sabedoria.

72 – E’ êste o pensamento fundamental sôbre Deus, pois sem êle as causas que serão ditas sôbre a criação do Universo por Deus-Homem, sôbre Sua Providência, sua Onipotência, Sua Onipresença e sua Onis-ciência, podem, é verdade, ser compreendidas, mas não obstante não podem ser retidas, porque o homem puramente natural, quando as compreende, recai sempre no amor de sua vida, o qual pertence à sua vontade, e êste amor as dissipa, e mergulha o pensamento no espaço, em que está a sua luminosidade, que êle chama o racional, não sa-bendo que quanto mais as nega tanto mais é irracional. Que assim seja, pode-se confirmar pela idéia dêste vero, Que Deus é Homem; peço-te que leias com atenção o que foi dito acima, ns. 11 a 13, e o que foi escrito em seguida, então compreenderás que assim é; mas repõe teu pensamento na luminosidade natural que se atém ao espaço, não verás tu estas causas como paradoxos; e se tu aí o repões muito, não as rejeitarás tuP E’ por esta razão que se diz que o Divino enche todos os espaços do Universo, e que não se diz que Deus-Homem os enche, pois se isto fôsse dito, a Iuminosidade puramente natural absolutamente não aquiesceria a isto; mas se se diz que o Divino os enche, ela aquiesce a isto, porque isto concorda com esta fórmula da linguagem dos Teólogos, que Deus é Onipresente, e que ouve e sabe tudo. Ver sôbre êste assunto o que foi dito com mais detalhes acima, ns. 7 a 10.

O Divino está em todo tempo sem tempo

73 – Do mesmo modo que o Divino está em todo espaço sem es-paço, assim também está em todo tempo sem tempo; com efeito, ne-nhum próprio da natureza pode-se dizer do Divino, e os pr6prios da natureza são o e-paço e o tempo. O espaço na natureza é mensurável, dá-se o mesmo com o tempo; o tempo é medido pelos dias, as se-manas, os meses, os anos e os séculos; o dia pelas horas, a semana e o mês pelos dias, o ano pelas quatro estações, e os séculos pelos anos. A Natureza tira esta medida do movimento aparente de rotação e de circunvolução do Sol do mundo. Mas é diferente no Mundo espiritual; lá, as progressões cìa vida aparecem semelhantemente no tempo, pois os habitantes vivem aí entre si como os homens no mundo entre si, o que não é possível sem a aparência do tempo; mas o tempo lá não é distinguido em tempos como no mundo, pois seu Sol está constante-mente em seu oriente, jamais deslocado, pois que é o Divino Amor do Senhor que lhes aparece como Sol; assim não há para ê1es dias, sema-nas, meses, anos, séculos, mas em seu lugar há estados da vida, pelos quais se faz a distinção, que não pode ser chamada distinção em tempo, mas pode ser chamada distinção em estados; daí vem que os Anjos não sabem o que é o tempo, e que quando o mencionam, em seu lugar percebem o estado; e quando o estado determina o tempo, o tempo é unicamente uma aparência, pois o prazer do estado faz com que o tempo pareça curto, e o cìesprazer faz com que o tempo pareça longo; por isso é evidente que o tempo não é absolutamente lá senâo a qua-lidade do estado. E’ por isso que, na Palavra, pelas horas, os dias, as semanas, os meses e os anos, são significados os estados e as progres-sões dos estados na série e no complexo; e que, quando os tempos se dizem da Igreja, pela manhã é entendido o seu primeiro estado, pelo meio dia seu pleno, pela tarde seu declínio, e pela noite seu fim; cau-sas semelhantes são entendidas pelas quatro estações do ano, que são a primavera, o verão, o outono e o inverno.

74 – Por estas explicações pode-se ver que o Tempo faz um com o pensamento procedente da afeição, pois a qualidade do estado do homem provém daí. Que a distância nas progressões pelos espaços no Mundo espiritual façam um com as progressões dos tempos, é o que pode ser ilustrado por várias observações, pois lá os camin!ios são na realidade abreviados segundo os desejos que pertencem ao pensamento procedente da afeição, e são vice-versa prolongados; é por isso que se diz também espaços de tempo. Em semelhantes circunstâncias, quando o pensamento não se conjuga com a afeição própria do homem, o tempo n,io aparece; por exemplo, no sono.

75 – Ora, como os tempos, que são próprios da natureza no mundo, são puros estados no Mundo espiritual, que lá aparecem progressivos, porque os Anjos e os Espíritos são finitos, pode-se ver que em

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Deus êles não são progressivos, porque Ele é Infinito, e os Infinitos n’Rle são um, segundo o que foi demonstrada acima, ns. 17 a 22; daí resulta que o Divino está em todo tempo sem tempo.

'76 – Aquêle que não sabe e não pode, por alguma percepção, pensar em Deus sem o tempo, não pode absolutamente perceber a Eternidade senão como uma eternidade de tempo, e então não pode senão extravagar em seu pensamento sôbre Deus de tôda eternidade, pois pensa segundo um comêço e o comêço pertence unicamente ao tempo; seu delírio consiste em pensar que Deus existiu por si, de onde cai fàci]mente na origem da natureza por si; não pode ser afastado desta idéia senão pela idéia espiritual ou angélica sôbre a eternidade, idéia que é sem o tempo; e quando a idéia é sem o tempo, a Eterni-dade e o Divino são uma mesma causa; o Divino é o Divino em si, e não por si; os Anjos dizem que podem, é verdade, perceber um Deus de tôda eternidade, mas de maneira alguma uma natureza de tôda eternidade, ainda menos uma natureza por si, e de modo algum uma natureza que fôsse a natureza em si; pois o que é em si é o Ser mesmo, de quem tôdas as causas procedem, e o Ser em si é a vida mesma, que é o Divino Amor da Divina Sabedoria e a Divina Sabe-doria do Divino Amor. E’ isto para os Anjos a Eternidade, assim ela é abstrata do tempo, como o Incriado é abstrato do criado, ou como o Infinito é abstrato do finito, entre os quais não há mesmo relação.

O Divino é o mesmo nos muito grandes e nos muito pequenos

77 – Isto resulta de dois artigos que precedem, a saber: O Divino está em todo espaço sem espaço, e o Divino está em todo tempo sem tempo, ora há maiores e muito grandes espaços, e menores e muito pequenos espaços; e como os espaços e os tempos fazem um, como foi dito acima, dá-se o mesmo com os tempos. Se nêles o Divino é o mesmo, é porque o Divino não é variável nem mutável, como o é tudo que pertence ao espaço e ao tempo, ou tudo que pertence à natureza, mas é invariável e imutável, por conseqiiência é por tôda parte e sem-pre o mesmo.

78 – Parece que o Divino não é em um homem o mesmo que em um outro, assim parece que seja outro no sábio que no simples, e ou-tro no velho que no menino; mas é uma ilusão proveniente da aparên-cia, o homem é outro, mas o Divino não é outro nêle; o homem é um recipiente, e o recipiente ou receptáculo é diferente; o homem sábio é um recipiente do Divino Amor e da Divina Sabedoria de uma ma-neira mais adequada, assim mais plenamente que o homem simples; e o velho, assim mais plenamente que a criancinha e a criança; mas não obstante o Divino é o mesmo em um e em outro. Semelhante-mente, é uma ilusão segundo a aparência se se acredita que o Divino é diferente nos Anjos do Céu e nos homens da terra, porque os Anjos do Céu estão em uma sabedoria inefável, e não do mesmo modo os homens; mas a diferença aparente está nos sujeitos segundo a quali-dade da recepção do Divino e não no Senhor.

79 – Que o Divino seja o mesmo nos muito grandes e nos muito pequenos, isso pode ser ilustrado pelo Céu e o Anjo do Céu; o Divino no Céu inteiro e o Divino em um Anjo é o mesmo; é por isso tam-bém que o Céu inteiro pode aparecer como um único Anjo. Acontece o mesmo com a Igreja e com um homem da Igreja; o muito grande no qual está o Divino é o Céu inteiro e ao mesmo tempo a Igreja in-teira; o muito pequeno, é um Anjo do Céu e um homem da Igreja. Algumas vêzes me apareceu uma sociedade inteira do Céu como um homem anjo; e me foi dito que ela podia aparecer como um homem grande, tal como um gigante, e como um homem pequeno tal como um menino; e isto porque o Divino é o mesmo nos muito grandes e nos muito pequenos.

80 – O Divino é também o mesmo nos muito grandes e nos muito pequenos de tôdas as cousas que foram criadas e não vivem; pois está em todo bem de seu uso; se elas não vivem, é porque são, não formas da vida, mas formas dos usos. Mas como o Divino está nelas, é o que será dito em seguida quando se tratar da Criação.

Sl – Faz abstração do espaço, e nega absolutamente o vácuo, e então pensa do Divino Amor e da Divina Sabedoria que êles são a Essência mesma abstração feita do espaço e do vácuo negado; pensa em

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seguida segundo o espaço, e perceberás que o Divino é o mesmo nos muito grandes e nos muito pequenos do espaço; pois na Essência, abstrata do espaço, há não o grande e o pequeno, mas o mesmo.

82 – Dir-se-á ac¿ui alguma causa sôbre o Vácuoº, Um dia. ouvi Anjos conversando com Ncwton sôbre o Vácuo; èles diziam cpie não suportavam a idéia do vácuo como nada, porque em seu Mundo, que é espiritual, e dentro ou acima dos espaços e dos tempos do i%hmdo natural, têm igualmente a sensação, o pensamento, a afeição, o amor, a vontade, a respiração e mesmo a palavra e a ação, tôdas estas cou-sas absolutamente impossíveis no vácuo como nada, porque o nada nada é, e que não se pode dizer alguma causa do nada. Newton lhes disse que sabia que o Divino que E’ enche tudo, e que êle mesmo era to-mado de horror à idéia do nada a propósito do vácuo, porque esta idéia é destrutiva de tudo, exortando os que falavam com êle sôbre o Vácuo a se guardarem da idéia do nada, chamando esta idéia um desfaleci-mento, porque no nada não há atualidade alguma da mente.

SEGUNDA PARTE

DO SOL ESPIRITUAL

O Díeíno Amor e a Divina Sabedoria aparecem no Mundo e,spiritual como Sol

83 – Há dois Mundos, o Espiritual e o Natural; e o Mundo es-piritual nada tira do Mundo natural, nem o Mundo natural nada tira do Mundo espiritual; èles são inteiramente distintos; comunicam-se uni-camente pelas Correspondências, cuja qualidade foi mostrada em vários lugares; para ilustrar êste assunto, seja êste exemplo: O Calor no Mundo natural corresponde ao bem da caridade no Mundo espiritual, e a Luz no Mundo natural corresponde ao vero da fé no Mundo espiritual; quem é que não vê que o calor e o bem da caridade, e que a luz e o vero da fé são absolutamente distintosP à primeira inspeção aparecem tão distintos como duas cousas absolutamente diferentes; aparecem assim quando se pensa: O que é que o bem da caridade tem de comum com o calor, e o que é que o vero da fé tem de comum com a luzP E en-tretanto o Calor espiritual é êste bem, e a Luz espiritual é êste vero. Ainda que estas causas sejam assim distintas em si mesmas, fazem 'não obstante um pela correspondência; í'azem de tal modo um, que quando o homem, na Palavra, lê o Calor e a Luz, os Espíritos e os Anjos que estão no homem, em lugar do calor percebem a caridade, e em lugar da luz a fé. Este exemplo foi referido, a fim de que se saiba que os dois Mundos, o Espiritual e o Natural, são de tal modo distintos, que nada têm de comum entre si, mas não obstante criados de tal modo, que se comunic.am e mesmo sâo conjuntos pelas correspondências.

84 – Pois que êstes dois Mundos são assim distintos, pode-se ver claramente que o Mundo espiritual está sob um outro Sol que o Mundo natural, pois no Mundo espiritual há Calor e Luz como no Mundo natural; mas o calor lá é Espiritual, e a luz igualmente; e o calor Espi-ritual é o bem da caridade, e a luz Espiritual é o vero da fé. Ora,

como o calor e a luz não podem ter sua origem senão em um Sol, é evidente que no Mundo Espiritual há um outro Sol que não o do Mundo natural; além disso também, que o Sol do mundo espiritual é tal, em sua essência, que por êle o calor e a luz espirituais podem existir, e que o Sol do mundo natural é tal, em sua essência, que por èle o calor e a luz naturais podem existir; todo Espiritual, que se refere ao bem e ao vero, não pode vir de outra parte senão do Divino Amor e da Divina Sabedori;i, pois todo bem pertence ao amor, e todo vero pertence à sabedoria; que não vem de outra parte, todo homem sábio

pO(3C VA-JO.

85 – Que haja um outro Sol além do Sol do nnmdo natural, é o que se ignorou até ao presente; e isso, porque o Espiritual do homem passou de tal modo para seu natural, que não se sabia o que é o es-piritual, nem por conseqiiência cpie há um Mundo espiritual, no qual esmo os Espíritos e os Anjos, diferente do mundo natural. Como o Mundo espiritual ficou tanto tempo escondido para os que estão no

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Mundo natural, aprouve ao Senhor abrir a vista de meu espírito a fim de que eu visse as causas que estão nesse Mundo como vejo as que estão no Mundo natural, e em seguida desse uma descrição, o que foi feito no Tratado Do Céu e do inferno, onde, em um Artigo especial, também se falou do Sol dêsse Mnndo; com efeito, eu o vi, e êle me apareceu em uma grandeza semelhante à do Sol do mundo natural, e também semelhantemente como ígneo, mas mais brilhante; e me foi dado saber que o Céu angélico inteiro está sob êste Sol; e que os Anjas do Terceiro Céu o vêem contìnuamente, os Anjos do Segundo Céu muito freqiientemente, e os Anjos do Primeiro ou Cltimo Céu algumas vêzes. Que todo Calor e tôda Luz des Anjos, e também tôdas as causas que aparecem nesse Mundo, provêm dêsse Sol, ver-se-á em seguida.

86 –. Este Sol não é o Senhor Mesmo, mas procede do Senhor; é o Divino Amor e a Divina Sabedoria procedentes, que aparecem como Sol nesse Mundo; e como o Amor e a Sabedoria no Senhor são um, como foi mostrado na Primeira Parte, se diz que êste Sol é o Divino Amor; com efeito, a Divina Sabedoria pertence ao Divino Amor, por conseqiiência ela é também o Amor.

87 – Se êste Sol aparece diante dos olhos dos Anjos como ígneo, é porque o Amor e o Fogo se correspondem; pois com seus olhos êles não podem ver o Amor, mas em lugar do amor vêem o que lhe corres-ponde; com efeito, os Anjos têm como os homens um interno e um ex-terno; é seu interno que pensa e é sábio, e que quer e ama, e é seu externo que sente, vê, fala e age; e todos os seus externos são corres-pondência dos internos, mas correspondências espirituais. O Divino Amor também é sentido como um Fogo pelos Espirituais; vem dai que o Fogo, quando é mencionado na Palavra, significa o amor; o fogo sagrado na Igreja Israelita o significava; daí vem que nas preces que se dirige a Deus se emprega esta fórmula ordinária: Que o fogo celeste, isto é, que o Divino Amor abrace o coração!

88 – Pois que há u!na tal diferença entre o Espiritual e o Na-tural, como foi mostrado acima, n. 83, não pode por conseqiiência pas-sar para o Mundo espiritual causa alguma do que procede do Sol do Mundo natural, isto é, causa alguma de sua luz e de seu calor, ou cousa alguma de qualquer objeto da terra; a luz do mundo natural lá é obscuridade, e sen calor Iá é a port”; mas não obstante o calor do mundo pode ser vivificado pelo influxo do calor do céu, e a luz do mundo pode ser ilustrada pelo influxo da luz do céu; o influxo se faz pelas correspondèncias e não pode se fazer pelo contínuo.

Do Sol, que existe pelo Divino Amor e a D.'eina Sabedoria,

procedem um C:olor e uma Lu

89 – No %i'iunclo espírita;;l, onde estão os Anjos e os Espíritos, há também um Calor e uma Luz, como no Mundo natural, onde estão os homens; e 1;í o Calor também é sentido como calor, e a Luz é vista como luz scmeihantemente; mas não obstante o Calor e a Luz do Mundo espiritual e os do Mundo natural diferem de tal modo, que nada têm de comum, corno foi dito acima; difc;rem entre si como o vivo e o morto; o Calor do Mundo esp;;itual é er.i si vivo, sem"1hantemente a Luz, e o Calor do Mundo natural é em si morto, semelhantemente a Luz; pois o Calor e a Luz do Mundo espiritual procedem do Sol coque é puro Amor, e o Calor c a Luz do Mundo na(ural procedem do Sol que á puro fogo; ora, o Amor é, vivo, e o Divino Amor é a Vida mesma; c o Fogo é morto, e o fogo Solar é a morte mesma; pode ser chamado assim, porque nêlc n.”,o há abso!utamente cousa alguma da vida.

90 – Os Anjos, pazc¿ue s;io cspirituais, não podem viver em um outro calor nem em uma outra luz senão no calor e na luz espirituais, e os Homens não podem viver em um outro ca!or nem cm uma outra in.z senão no calor e na luz naturais, pois o Espiritual convém ao Es-piritual, e o Natural convém ao Y,aturaJ; s o Anjo passe a menor parcela do calor e da ¿a.¿z naturais, ile pereceria, pois isso não convém òe modo algum à sua vida. Cada homem, quanto aos interiores de sua mente, é um Espírito; quando o -icmem morre sai inteiramente do Mundo natural e cìeixa tudo o que pertence à natureza, e entra etn um 31undo onde nada há da natureza; e nesse Mundo vive de tal modo separado da n"tureza, que não existe comunicaç'o alguma pelo contínuo, isto é, como entre um mais puro e um mais grosseiro, mas há uma comunicação como entre um anterior e um posterior, com¿!uicação Cpi' SÓ tem lugar pelas correspondências. Por isso pode-se ver que o Calor Espiritual não é um calor natural mais puro, e que ;i

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Luz Espiritual não é uma luz espiritual mais pura, mas que são absolutamente de uma outra essência, pois o calor e a Inz espirituais tiram sua essência do Sol que é puro Amor, o qual é a Vida mesma, enquanto que o calor e a luz naturais tiram sua essencia do Sol que c. puro Fogo, no (pial não há absolutamente cousa alguma da vida, como foi dito acima.

91 – Pois que há uma tal diferença entre o calor e a luz de mn Mundo e os do outro Mundo, vê-se bem claramcnt<. porr¿ue os que estão em um Mundo não podem ver os cpe estão no outro; pois os olhos do homem cpie vê pela luz natural s..o ¿la s¿it>stân¿ia cio seu Mundo, e os olhos do Anjo são da substância do seu Mundo, assim formados de um Lido e de outro para reccbervm ele urna maneira ade-quada a sua luz. Por isso pode-se ver com que profunda ignorância pensam os que não admitem em sua fé que os anjos c or espíritos se-jam homens porque n,¿o os vêem com seus olhos.

02 – Até ao presente ignorou-se que os Anjos e os Espíritos estão em uma luz inteiramente diferente e cm um calor inteiramente dife-rente dos dos homens, e mesmo ignorou-se que há uma outra luz e um outro calor; com efeito, o homem não pvnetrou por seii pensamento mais profundamente que nos interiores da natureza, ou nas cousas mais puras da natureza; é mesmo por isso que muitos homcns figuraram a morada dos anjos e dos espíritos no éter, e alguns nas estrêlas, assim dentro da natuier.a, e não acima ou fora da natureza; e entretanto os Anjos e os Espíritos estão absolutamente acima ou fora da natureza, c em seu Mundo coque está sob um outro Sol; e como naquele iXlundo os espaços são aparências, como foi demonstrado acima, não se pode por conseqiiknc:ia dizer que iles estão no éter, nem coque estão nas es-trêlas; com efeito, èles estão ao mesmo tempo com o homem, conjun-tos à afeição e ao pensamento de seu Espírito; pois o homem é Espírito, é pelo espírito que êle pensa e quer; o Mundo espiritual está onde está o homem, e de modo algum distante dèle; em uma palavra, todo homem rpianto aos interiores de sua mente está no Mundo espiritual no meio dos Espíritos e dos Anjos que aí estão, c pensa pela lar. dèsse mundo, e ama pelo calor dêsse Mundo.

f.',ste Sol não é Deus, mas é o procedente do Divino Amor e da Divina Sabedoria de Deus-Homem; dá-se o mesmo

com o Calor e a, Luz procedentes disse Sol

93 – Por êste Sol visível para os Anjos, pelo qual êles tèm o Calor e a Luz, não é entendido o Senhor Mesmo, mas é entendido o primeiro procedente do Senhor, isto é, o mais alto grau (summum) do calor espiritual; o mais alto grau do calor espiritual é o fogo espiritual, que é o Iìivino Amor e a Divina Sabedoria em sua primeira corres-pondência; é por isso cpi' êste Sol aparece ígneo, e que também êle 6 ígneo para os Anjos, mas não para os homens; o fogo que é fogo para os homens não é espiritual, mas é natural; entre o fogo espiritual e o fogo natural há a mesma diferença que entre o vivo e o morto; é por isso que o Sol espiritual pelo calor vivifica os sêres espirituais e renova as cousas espiritiiais; o Sol natural age do mesmo modo, é verdade, s8bre os sêres naturais e sôbre as cousas naturais, mas não é por êle mesmo, é pelo influxo do calor espiritual, ao qual dá um auxílio secundário.

94 – Este Fogo espiritual, no qual está também a Luz em sua origem, torna-se um calor e uma luz espirituais, que decrescem pro-cedendo, e o decrescimento se faz por graus, de que se falará em se-guida. E’ o que os Antigos representaram por Círculos brilhantes de fogo e resplandecentes de luz em tôrno da Cabeça de Deus; esta re-presentação é ainda comum hoje, quando nos cpiadros se apresenta Deus como Homem.

95 – Que o Amor produz o calor, e a sabedoria a luz, vê-se mani-festamente pela experiência mesma; quando o homem ama êle se torna ardente, e quando pensa pela sabedoria vê as causas como na luz; daí é evidente que o primeiro procedente do amor é o calor, e que o pri-meiro procedente da sabedoria é a luz. Que sejam também correspon-dências, isso é evidente, pois o calor não existe no amor mesmo, mas pelo amor existe na vontade e por conseguinte no corpo; e a luz não existe na sabedoria, mas existe no pensamento do entendimento e por conseguinte na linguagem. O amor e a sabedoria são portanto a

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essên-cia e a vida do calor e da luz, o calor e a luz são procedentes, e como são procedentes, são també.m correspondências.

96 – Que a Luz espiritual seja absolutamente distinta da Luz natural, cada um pode sabê-]o, se presta atenção aos pensamentos de sua mente; com efeito, quando a mente pensa, vê seus objetos na luz, e os que pensam espiritualmente vêem os veros, e isso no meio da noite tão bem como de dia; é mesmo por isso que a luz se diz do entendimento, e cpie se diz que o entendimento vê, pois quando alguém fala sôbre um assunto, por vêzes um outro diz que vê que a cousa é assim, isto é, que compreende; o entendimento sendo espiritual, não pode assim ver pela luz natural, pois a luz natural não é inerente, mas se vai com o sol; é portanto evidente que o entendimento goza de uma luz diferente da que se junta ao ôlho; e que esta luz é de uma ou-tra origem.

97 – Que as pessoas se guardem de pensar que o Sol do Mundo espiritual seja Deus Mesmo; Deus Mesmo é Homem; o primeiro pro-cedente de seu Amor e de sua Sabedoria é o Egneo Espiritual que apa-rece diante dos Anjos como Sol; é por isso que, quando o Senhor se manifesta aos anjos em Pessoa, se manifesta como I3omcm, e isso, às vêzes, no Sol, outras vêzes fora do Sol.

98 – E’ por esta correspondência que o Senlior, na Palavra, não sòmente é chamado Sol, mas também Fogo e Luz; e pe!o Sol é enten-dida o Senhor quanto ao Divino Amor e à Divina Sabedoria juntos; pelo Fogo, o Senhor quanto ao Divino Amor; e pela Luz, o Senhor quanto à Divina Sabedoria.

O Calor espiritual e a Luz espiritual procedendo do Senhor como Svl fazem um, como seu Divino Amor e

sua Divina Sabedoria fazem um

99 – Na Primeira Parte, foi dito como o Divino Amor e a Divina Sabedoria do Senhor fazem um; o Calor e a Luz são semelhantemente um, porque procedem d’Rle, e as causas que procedem d’P.le fazem um pela correspondència; com efeito, o calor corresponde ao Amor, e a Luz à Sabedoria. Segue-se que assim como o Divino Amor é o Divino Ser, e a Divina Sab daria o Divino Existir, como se vê acima, ns. 14 a 16, assim também o Calor espiritual é o Divino procedente do Di-vino Ser, e a Luz espiritual o Divino procedente do Divino Existir; é por isso que, do mesmo modo que por esta união o Divino Amor per-tence à Divina Sabedoria, e a Divina Sabedoria ao Divino Amor, como se vê acima, ns. 34 a 39, assim também o Calor espiritual pertence à Luz espiritual e a Luz espiritual ao Calor espiritual; e porque tal é a união, segue-se que o Calor e a Luz, procedendo do Senhor como Sol são um. Mas, no que segue, se verá que não são recebidos como um pelos anjos nem pelos homens.

100 – O Calor e a Luz que procedem do Senhor como Sol, são o que é eminentemente chamado o Espiritual, e são chamados o Espiritual no singular, porque são um; é por isso que, no que segue, quando se diz o Espiritual, entende-se um e outro juntos. E’ por causa dêste Es-piritual que todo êste Mundo é chamado Espiritual, tôdas as cousas dêsse Mundo tiram dêste Espiritual a sua origem, e por conseguinte também a sua denominação. Se êste Calor e esta Luz são chamados o Espiritual, é pon¿ue Deus é chamado Espírito, e Deus como Espí-rito é êste Procedente; Deus por sua Essência é chamado Jehovah; mas por êste Procedente Ele vivifica e ilustra os Anjos do Céu e os homens da Igreja; é mesmo por isso que se diz que a vivificação e a ilustra-ção são feitas pelo Espírito de Jehovah.

101 – Que o Calor e a Luz, isto é, o Espiritual procedente do Senhor como Sol, façam um, é o que pode ser ilustrado pelo calor e a luz que procedem do Sol do Mundo natural; êstes dois também fazem um saindo do Sol; se não fazem um na terra, isso provém não dêste Sol, mas da Terra; pois, esta gira cada dia cm tôrno de seu eixo, e é transportada cada ano segundo a Eclítica; daí vem a aparência de que o Calor e a Luz não fazem um, pois no meio do verão há mais calor do que luz, e no meio do inverno há mais luz do que calor; dá-se o mesmo no Mundo espiritual; lá en'.retanto a terra não tem nem movi-mento de rotação nem movimento de translação, mas os Anjos se vol-viam mais ou menos para o Senhor, e os que se

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voltam mais recebem mais calor e menos 1v.z, e os que se voltam menos para o Senhor rec' bem mais luz e menos calor; daí vem que os Céus, que se compõem de Anjos, foram distinguidos em dois Reinos, dos quais um é chamado Celeste, e o outro Espiritual; os Anjos celestes recebem mais calor, e os Anjos espirituais mais luz. E’ também segundo a recepção do calor e da luz por êles que aparecem as terras sòbre as quais !habitam. A correspondência é completa, desde que em lugar Bo movimento da terra se tome a mudança de estados dos a.njos.

102 – Que consideradros em si mesmos todos os espirituais que têm sua origem no calor e na luz de seu sol, façam também semelhante-mente um, mas que considerados como procedentes das afeições dos Anjos, não façam absolutamente um, é o que se verá em seguida; quando o calor e a luz fazem um nos Céus, é como a estação da primavera entre os Anjos, mas quando não fazem um, é como um tempo de verão, ou como um tempo de inverno, não como um tempo de inverno nas zonas frias, mas como um tempo de inverno nas zonas quentes; pois a re-cepção do amor e da sabedoria por igual quantidade, é o angélico mes-mo; é por isso que o anjo é anjo do Céu segundo a união do amor e da sabedoria nêlc. Dá-se o mesmo com o homem da Igreja, se nile o amor e a sabedoria, ou a caridacle e a fé, fazem um.

O Sol do mtmdo espiritua.l aparece, a uma altura média, distante dos anjos, como o Sol do mundo natural aparece dístante dos homens

103 – A maior parte dos homens levam consigo do Mundo a idéia de que Deus está acima da cabeça no aíto, e <pôde o Senhor está no Céu entre os Anjos. Se levam a idéia de que Deus está acima da ca-beça no alto, é porque Deus na Palavra é chamado o Altíssimo, e se diz que Ele habita no alto; é por isso que, quando suplicam e adoram, elevam os olhos e as mãos para o alto, não sabendo que pelo Altíssimo é significado o íntimo. Se levam a idéia de que o Senhor está no Céu entre os Anjos, é porque não pensam dele senão como de um outro homem, e alguns que é como um Anjo, não sabendo que o Senhor é o Deus Mesmo e Único que governa o Universo; se estivesse entre os

Anjos no Céu, não poderia ter o Universo sob saia intuição, nem sob .seu auspício e sob seu gm i‘,mo; e sc não hrilh.";ase como Sol diante dos que estão no Mundo espiritual, os Anjos não poderiam ter nenhuma Jux; pois os Anjos são espirituais, e por ccnseguinte nenhuma luz se-mão a hpz espiritual convém à sua essência; <põe nos Céus haja uma hpz que ultrapassa imensamente a luiz na terra, é o que se verá abaixo quando .;e tratar dos graus.

104 – Quarteto ao que concern ao Sol pelo qual os Anjos tèm a luz e o calor, êle aparece acima das terras sôbre as c¿uais habitam os Anjos, a uma elevaçãa de cêrca de quarenta e cinco graus, que é a altura média; c além disso èìe aparece distante dos Anjos como o Sol do Mundo aparece distante dos homens. Este Sol aparece constante-mente a esta altura e a esta distância, e não se desloca; daí vem que os Anjos não têm tempos distintos em dias e em anos, nem progressão alguma do dia inclo da marihã pelo meio dia para a tarde na noite, nem progressão do ano indo da primavera pelo verão para o outono no inverno; mas há urna luz perpétua e uma perpétua primavera; é por isso que em lugar de tempos há estados, como já foi dito.

105 – Se o Sol do Mundo espiritual aparece a uma altura média, há para isso as razões seguintes, principalmente: A Primeira, é que assim o Calor e a Luz, que procedem dèsse Sol, estão em seu grau médio, e daí em sua igualdade, e por conseqiiência em sua temperatura justa; pois se o Sol aparecesse acima da altura média, seria percebido mais calor do cp¿e luz, e se aparecesse chaixo, seria percebida mais luz do que calor, como acontece na terra quando o Sol está acima ou abaixo do meio do Céu, c¿uando está acima o calor ultrapassa a luz, e quando está abaixado a luz ultrapassa o calor; pois a luz permanece a mesma na estação ào verão e na do inverno, mas o calor aumenta ou diminui se-gundo os graus de altura do Sol. A Segunda razão pela casual o Sol do Mundo espiritual aparece a uma altura média acima do Céu angé-lico, é porque assim há nos Céus angélicos uma primavera perpétua, pela qual os Anjos estão em um estado de paz, pois èste estado corres-ponde à estação da primavera na terra. A Terceira razão, é que assim às Anjos podem voltar contìnuamente suas faces para o Senhor, e O ver com os olhos, pois para qualquer lado <pôde os Anjos voltem seus corpos, têm diante de suas faces o Oriente,

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assim o Senhor; isso é par-ticular a êsse Mundo, e isso não aconteceria se o Sol dêsse Mundo apa-recesse acima ou abaixo do meio, nem com mais forte razão se apa-recesse acima da cabeça no zv.nite.

106 – Se o Sol do Mundo espiritual não aparecesse distante dos Anjos, como o Sol do Mundo natural aparece distante dos homens, todo o Géu angélico, e sob êIc o inferno, e sob um e outro o nosso globo terráqueo, não estariam sob a intuição, o auspício, a Onipresença, a Onis-ciência, a OnipotPncia e a Providência do Senhor; é por comparação como o Sol de nosso Mundo, se êste Sol não estivesse a esta distância da terra, onde aparece, êle não poderia estar presente nem ser pos-sante pelo calor ;. a hpz sôbre tôda a tc;rra, assim não poderia fornecer um auxílio secundário ao Sol do Mundo espiritual.

107 – E’ muito necessário que se saiba que há dois Sóis, um Es-piritual e outro Natural; o Sol espiritual para os que estão no Mundo espiritual, e o Sol natural para os cpie estão no Mundo natural; se não se sabe, nada se pode saber com justeza sôbre a Criação nem sôbre o Homem, assuntos de que se tratará abaixo; pode-se, é verdade, ver os efeitos, mas se as causas dos efeitos não são vistas ao mesmo tempo, os efeitos só podem aparecer como de noite.

A distrincía entre o Sol e os Anjos no Mundo espíritual é uma aparincia segundo a recepção do Divino Amor e da Divina Sabedoria por êles

108 – Tôdas as ilusões, que reinam nos maus e nos simples, têm sua origem em aparências confirmadas; enquanto as aparências perma-necem aparências, elas são verdades aparentes, segundo as quais cada um pode pensar e falar, mas quando são recebidas como verdades mes-mas, o que acontece c¿uando são confirmadas, então as verdades apa-rentes se tornam falsidades e ilusões. Por exemplo, é uma aparência, que o Sol gira cada dia em tôrno da terra, e avança cada ano se-gundo a Eclítica; enquanto isso nã.s é confirmado, é uma verdade apa-rente, segnndo a (¿ual cada um pode pensar e falar; pois pode-se dizer que o Sol se levanta e se deita, e que por isso se faz a manhã, o meio dia, a tarde e a noite; e também que o Sol está agora em tal ou tal grau da Eclítica ou de sua altura, e coque por isso se faz a primavera, o verão, o outono e o inverno; mas quando se confirma que esta apa-rência é a verdade mesma, então aquêle que o confirma pensa e diz uma falsidade segundo uma ilusão. Dá-se o mesmo com outras apa-rências, que são inúmeras, não sòmente nas cousas naturais, civis e mo-rais, mas também nas cousas espirituais.

109 – Dá-se o mesmo com a distância do Sol do Mundo espiri-tual, sol que é o primeiro procedente do Divino Amor e da Divina Sabedoria do Senhor; a verdade é que não há distância alguma, mas que a distância é uma aparência segundo a recepção do Divino Amor e da Divina Sabedoria em seus graus pelos Anjos; copie as distâncias no Mundo espiritual sejam aparências, pode-se ver pelo que foi demons-trado acima, por exemplo, ns. 7 a 9, que o Divino não está no espaço; e ns. 69 a 72, que o Dieino enche todos o.s espaços sem espaço; ora

se não há espaços, não há tampouco distâncias, ou, o que é a mesma cousa, se os espaços são aparências, as distâncias são também apan’ncias, pois as distâncias pertencem aos espaços.

110 – Se o Sol do Mundo espiritual aparece a uma distância dos anios, é porque o Divino Amor e a Divina Sabedoria são recebidos por êles em um grau adequado de calor e de luz; pois o Anjo, porque é criado e finito, não pode receber o Senhor no primeiro grau de calor e de luz, tal como está no Sol, pois então o Anjo seria inteira-mente consumido; é por isso coque o Senhor é recebido por êles em um grau de calor e de luz correspondente a seu amor e a sua sabedoria. E’ o que pode ser ilustrado por isto: Um Anjo do último C ’u não pode subir para os A.njos do terceiro Céu, pois se sobe e entra em seu Céu, cai como que em desfalecimento, e sua vida fica em uma luta como com a morte; e isso, porque o amor e a sabedoria estão nêle em um grau menor, e o calor de seu "mor e a luz de sua sabedoria estão nesse mesmo grau; coque seria então se um Anjo subisse até ao Sol e entrasse em seu fog<)P As diferenças de recepção do Senhor pelos An-jos fazem também com que os Céus apareçam distintos entre si; o Céu supremo, que é chamado Terceiro Céu, aparece acima do Segundo, e êste acima do Primeiro; não é q¿ie os Céus sejam distantes um do outro, mas é que parecem ser disiantcs; pois o S<;nhor está presente naqueles que estão

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no Último Céu, como o está nos que estão nn Ter-ceiro; o que faz a aparência da distAncia está nos sujeitos, cgt( são os Anjos, e náo no Senhor.

111 – Que assim seja, c o coque não pode ser fàcilrnente apreendido pela idéia natural, porque nela há o espaço, mas isso pode ser apreen-dido pela idéia espiritual, porque nela não há o espaço; nesta idéia estão todos os Anjos. Não obstante, pode-se apreender pela ideia na-tural que o Amor e a Sabedoria, ou, o que dá no mesmo, que o Senhor que é o Divino Amor e a Divina Sabedoria, não pode avançar pelos espaços, mas que está em cada um segundo a recepção. Que a Senhor esteja em todos, Ele Ii4esmo o ensina em Kfateus, 2S.º, 20; e que faça sua morada nos que O amam, Ele o ensina cm João, 14.º, 23.

112 – Mas isso tendo sido confirmado pelos Cais e pelos Anjos, pode ser considerado como de uma sabedoria superior; entretanto a mesma cousa está nos homens; os homens, quanto aos interiores de sua mente, são ac¿ueciclos e ilustrados por êste mesmo Sol, por seu calor são ac¿uecidos, e per sua luz são ilustracìos, tanto quanto recebem do Senhor o amor e a sabedoria; a diferença entre os Anjos e os homens, é que os Anjos estão unicamente sob èste Sol, enquanto que os homens estão não sòmente .'oh èste Sol, m".s também sob o Sol do l4fundo; pois os corpos dos homens, se não estão sob um e outro Sol, não podem existir nem subsistir; é diferente com os corpos dos Anjos que são cor-pos espirituais.

Os Anjos estão no Senhor, e o Senhor está nêles; e como os Anjos são recipientes, o Senhor Só é o Céu

113 – O Céu é chamado o Habitáculo de Deus, e também o Trono de Deus, e por isso se crê que Deus aí está, como um Rei está em seu Reino; mas Deus, quer dizer, o Senhor está no Sol acima dos Céus, e por sua presença no Calor e na Luz está nos Céus, como foi mos-trado nos dois Artigos precedentes, e ainda cpie o Senhor esteja desta maneira no Céu, Ele aí está cnmo em si; pois, assim como acaba de ser demonstrado, ns. 108 a 112, a distância entre o Sol e o Céu não é uma distância, mas é uma aparência de distância; uma vez que esta distância não é senão uma aparência, segue-se que o Senhor Mesmo está no Céu, pois está no Amor e na Sabedoria dos Anjos do Céu; e pois que está no Amor e na Sabedoria de todos os Anjos, e que os An-jos constituem o Céu, Ele está em todo o Céu.

114 – Que o Senhor não sòmente esteja no Céu, mas que seja também o Céu mesmo, é porque o amor e a sabedoria fazem o Anjo, e estas duas cousas pertencem ao Senhor nos Anjos; segue-se daí que o Senhor é o Céu. Com efeito, os Anjos não são Anjos pelo seu pró-prio, o seu próprio é absolutamente como o do homem, próprio que é o mal; que seja êsse o próprio dos Anjos, é porque todos os Anjos foram homens, e êsse próprio lhes é inerente por nascimento; é sòmente afastado, e tanto quanto é afastado, tanto recebem o amor e a sabe-doria, isto é, o Senhor nêles. Cada um pode ver, por pouco que eleve seu entendimento, que o Senhor não pode habitar nos Anjos senão na-quilo que lhe pertence, isto é, em seu próprio, que é o Amor e a Sa-bedoria, e de modo algum no próprio dos Anjos, que é o mal; daí vem que tanto quanto o mal é afastado, tanto o Senhor está nêles, e tanto eles são anjos; o angélico mesmo do Céu é o Divino Amor e a Divina Sabedoria; êste Divino é chamado Angélico tanto quanto está nos An jos; daí é de nôvo evidente que os Anjos são Anjos pelo Serk< r, e não por êles mesmos; por conseqiiência também o Céu.

115 – Mas não se pode apreender como o Senhor está no Anjo, e o Anjo no Senhor, se não se sabe qual é a conjunção; há conjunção do Senhor com o Anjo e do Anjo com o Senhor, a conjunção é portanto recíproca; da parte do Anjo ela é como segue: O Anjo não percebe ou-tra causa senão que está no amor e na sabedoria por si mesmo, seme-lhantemente como o homem, e por conseqiiência como se o amor e a sabedoria lhe pertencessem, ou fôssem seus; se não percebessem assim, não haveria conjunção alguma, assim o Senhor não estaria nêle, nem

êle no Senhor; e não é possível que o Senhor esteja em algum Anjo ou em algum homem, a não ser cpie aquile em c¿ucm Êle está com o amor e a sabedoria, perceba e sinta isso como seu; por isso o Serkor nâo sòmente é recebido, mas ainda após ter sido recebido é retido, e além disso é amado

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recìprocamente; é por isso também que o Anjo é sábio, e permanece sábio; <¿uem pode querer amar o Senhor e o pró-ximo, e quem pode querer ser sábio, se não sente e não percebe como seu o que êle ama, apreende e haure‘? quem de outro modo pode re-ter isso em siP se não fôsse assim, o amor e a sabedoria que influem não teriam assento algum, pois se espalhariam por fora e não o afeta-riam; assim o Anjo não seria Anjo, o homem não seria homem, e não seria mesmo senão ccmo alguma causa inanimada. Por estas explica-ções, pode-se ver que para que haja conjunção é preciso que haja o recíproco.

116 – Mas como acontece que o Anjo perceba e sínt' isso como seu, e assim receba e retenha, quando entretanto isso não lhe pertence, pois foi dito acima cpie o Anjo é Anjo não pelo que lhe pertence, mas pelas causas que nêle vêm do SenhorP é o que vai ser dito agora; eis o que é a causa em si mesma: Há em cada Anjo uma Liberdade e uma Racionalidade; estas duas cousas estão nêle a fim de que êle seja sus-cetível de receber o amor e a sabecloria que provêm do Senhor; mas uma e outra, tanto a Liberdade como a Racionalidade, pertencem não a êle, mas ao Senhor nêle; entretanto como estas duas causas foram ìutimamente conjuntas à sua vida, e tão ìntimamente que se pode dizer juntas na vicìa (in/ticta vitae), é por isso que capar:.cem como suas pró-prias; por elas êle pode pensar e querer, falar e agir, e aquilo que por elas pensa e quer, diz e faz, aparece como se fôsse por êle mesmo; é isto que faz o recíproco, pelo qual há conjunção. Mas não obstante tanto quanto o Anjo crê que o amor e a sabedoria estão nêle, e assim se lhes atribui como seus, tanto o Angélico não está nêle, e tanto por conse-guinte não há conjunção dêle com o Senhor, pois não está na verdade; e como a verdade faz um com a luz do Céu, tanto êle não pods estar no Céu; pois por isso nega que vive pelo Senhor, e crê que vive por êle mesmo, por conseqiiência que a Divina Essência é dêle; é nestas duas causas, a Liberdade e a Bacionalidade, que consiste a vida que é chamada angélica e hurriana. Por estas explicações pode:-se ver que o Anjo tem o recíproco para a conjunção com o Senhor, mas que o recíproco considerado em sua faculdade, pertence não a êle mas ao Senhor; daí vem que se êle abusa dêsse recíproco, pelo qual perceba e sente como seu o que é do Senhor, o que acontece quando se lho apro-pria, então decai do angélico. Que a conjunção seja recíproca, o Senhor o ensina em João 14.º, 20 a 24 e 15.º, 4, 5, 6; e que a conjunção do Senhor com o homem, e do a'omem com o Senhor, seja nas cousas que pertencem ao Senhor, as quais são chamadas suas palavras, vê-se em João, 15.º, 7.

117 – Há os coque crus:cm c¿,¿c A.dão v,stive im urr¿a tal Liberdade ou em um tal Livre Arbítrio, que pôde por si mesmo amar Deus i ser sábio, e que êste Livre Arbítrio foi inteiramente perdido em su; descendência; mas isto é um êrro; pois o homem não é a vida, veì acima, ns. 4 a 6, 55 a 60; c anu<":le que é o recipiente da vida não pode amar nem ser sábio por alguma cousa de seu; assim êle mesa quando quis amar e ser sábio pelo que era seu, decaiu da sabedoria e do amor, e foi expulso do Paraíso.

118 – O que acaba de ser dito do Anjo deve igualmente ser dita do Céu que se compõe de Anjos, pois que o Divino é o mesmo nos muito grandes e nos muito pequenos, como foi demonstrado acima, ns. 77 a 82. O que foi dito do Anjo e do Céu deve igualmente ser dito do Homem e da Igreja, pois o Anjo do Céu e o homem da Igreja fazem um pela conjunção; e além disso o homem da Igreja, quanto aos inferiores que pertencem à sua mente, é um Anjo; mas pelo homem da Igreja entende-se o homem em que há a Igreja.

No Mundo espiritual o Oriente está onde aparece o Senhor como Sol, e daí dependem as outras Plagia

119 – Tratou-se do Sol do Mundo espiritual e de sua essência, de seu Calor e de sua Luz, e da Presença do Senhor proveniente daí; agora se tratará também das Plagas dêsse Mundo. Se se tratou dêsse Sol e dêsse Mundo, é porque se tratou de Deus, e do Amor e da Sa-bedoria; ora, tratar dêstes assuntos de outro modo que não seja se-gundo a origem mesma, seria tratar dêles segundo os efeitos e não segundo as causas; e entretanto os efeitos não ensinam senão os efei-tos, e examiná-los sós êles não põem em evidência causa alguma; mas as causas põem em evidência os efeitos; e saber os efeitos pelas cau-sas é ser sábio; ao contrário, procurar as causas pelos efeitos, não é ser sábio, porque então se apresentam ilusões, que aquêle que faz as pesquisas chama causas, e isso é tornar a sabedoria insensata; com efeito, as causas são os anteriores, e os efeitos são os posteriores; e pelos pos-teriores não se pode ver os anteriores, mas pe!os anteriores pode-se ver os posteriores; é isto a ordem. Eis a razão pela qual aqui tratou-se primeiro do

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Mundo espiritual, pois lá estão tôdas as causas; e, mais tarde, do Mundo natural, onde tôdas as causas que aparecem são efeitos.

120 – Aqui portanto se falará das Plagas no Mundo espiritual: Lá há semelhantemente Plagas como no Mundo natural; mas as Plagas do Mundo espiritual como o Mundo mesmo são Espirituais, e as PIagas do Mundo natural como o Mundo mesmo são naturais, por isso são elas tão diferentes, que nada têm de comum. Em um e outro Mundo há quatro Plagas, que são chamadas Oriente, Ocidente, Sul e Setentrião; estas quatro Plagas no Mundo natural são constantes, determinadas pelo »al ao Sul, defronte está o Setentrião, sôbre um dos lados o Oriente, sôbre o outro o Ocidente; estas plagas são determinadas pelo meio-dia de cada lugar, pois a posição do Sol ao meio-dia é sempre a mesma por tôda pacote, e por conseqiiência fixa. E’ diferente no Mundo espi-ritual; lá, as Plagas são determinadas pelo Sol, que aparece constante-mente no seu lugar; e onde êle aparece, é o Oriente; é por isso que a determinação das plagas nesse mundo não é pelo Sul como no Mundo natural, mas é pelo Oriente; detrás está o Ocidente, sôbre um dos lados o Sul, sôbre o outro o Setcntrião. Mas que estas Plagas provenham não do Sol do Mundo espiritual, mas dos habitantes dêsse Mundo, que são os Anjos e os Espíritos, é o que se verá em seguida.

121 – Pois que estas Plagas por sua origem, que é o Senhor como Sol, são Espirituais, as Habitações dos Anjos e dos Espíritos, que são tôdas segundo estas Pingas, são também Espirituais, porque os anjos e os espíritos habitam segundo as recepções do amor e da sabedoria procedentes do Senhor; no Oriente habitam os que estão em um grau superior do Amor, no Ocidente os que estão em um grau inferior do Amor, no Sul os que estão em um grau superior da Sabedoria, e no Setentrião os que estão em um grau inferior da Sabedoria. Daí vem que, na Palavra, pelo Oriente entende-se no sentido supremo o Senhor, e no sentido respectivo o amor para com Ele, pelo Ocidente o amor para com Rle em decrescimento, pelo Sul a sabedoria na luz, e pelo Setentrião a sabedoria na sombra; ou, cousas semelhantes respectiva-mente ao estado daqueles de que se trata.

122 – Como é pelo Oriente que tôdas as Plagas no Mundo espi-ritu-1 são determinadas, e que pelo Oriente no sentido supremo é ea-tendido o Senhor, e também o Divino Amor, é evidente que é do Se-nhor e do amor para com Ele que procedem tôdas as causas, e que, tanto quanto alguém não está nesse amor, tanto está afastado do Se-nhor, e habita quer no ocidente, quer no sul, quer no setentrião, a dis-tâncias segundo a recepção do amor.

1A – E' porque o Senhor como Sol está constantemente no Oriente, cpie os Anjos, em quem tôdas as cousas do culto eram representativas dos espirituais, voltavam as faces para o oriente em suas adorações; e que, para fazer a mesma cousa em todo culto, voltavam também seus Templos para êsse lado; daí vem que os Templos hoje são também construídos segundo a mesma direção.

As Plagas no Mundo espiritual provêm, não do Senhor como Sol, mas dos Anjos segundo a recepção

124 – Foi dito que os Anjos habitam distintamente entre si, uns na Plaga oriental, outros na ocidental, outros na meridional, e outros na setentrional; e que os que habitam na Plaga oriental estão .em um grau superior do amor, os da Plaga ocidental em um grau inferior do amor, os da Plaga meridional na luz da sabedoria, e os da Plaga se-tentrional na sombra da sabedoria, Esta diversidade de habitações pa-rece provir do Senhor como Sol, quando entretanto provém dos Anjos; o Senhor não está em um grau maior ou menor de amor e de sabedoria, ou, Rle Mesmo como Sol não está em um maior ou menor grau de calor e de luz em um do que em outro, pois é por tôda parte o mesmo; mas não é recebido por um e por outro em um mesmo grau; e isso faz com que apareçam entre si mais ou menos distantes e diferente-mente também segundo as plagas; segue-se daí que as plagas no Mundo espiritual não são outra causa mais que as recepções diferentes do amor e da sabedoria, e por conseqiiência do calor e da luz que procedem do Senhor como Sol; que assim seja vê-se claramente pelo que foi demons-trado acima, ns. 108 a 112, que as Distâncias no Mundo espiritual são aparências.

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125 – Pois que as Plagas são as Recepções diferentes do amor eda sabedoria pelos anjos, falar-se-á da diferença pela qual esta apa-rência existe. O Senhor está no anjo e o anjo está no Senhor, comofoi mostrado no Artigo precedente; mas como parece que o Senhor comoSol está fora do anjo, parece também que o Senhor o vê do Sol, eque êle vê o Senhor no Sol, o que é pouco mais ou menos como aimagem que se apresenta no espelho; é por isso que, se é preciso falarsegundo esta aparência, tal é então a cousa: O Senhor vê e encara acada um em face, mas não é recìprocamente assim para os Anjos emrelação ao Senhor; aquêles que estão pelo Senhor no amor para como Senhor O vêem diretamente, também estão êles no Oriente e noOcidente; mas aqueles que estão mais na sabedoria vêem o Senhor oblì-uamente à direita, e ac¿uêles que estão menos na sabedoria O vêemo liquamente à esquerda, é por isso que êstes estão no Setentrião eaquêles no Su!. Se estão em um aspecto oblíquo, é porque o amore a sabecìoria procedem como um do Senhor, mas não são recebidoscomo um pelos Anjos, como também foi dito acima, e porque a sabe-doria que existe em maior abundância do que o amor aparece, é ver-dade, como sabedoria, mas não obst"nte não é sabedoria, porque nasabedoria superabundante não há a vida procedente do amor. Por es-tas explicações vê-se claramente donde vem a diferença de recepção,de conformidade com a qual as habitações dos anjos aparecem segundoas Plagas no Mundo espiritual.

126 – Que a recepção diferente do amor e da sabedoria faça a plaga no Mundo espiritual, pode-se vê-lo pelo fato do Anjo mudar de plaga segundo o acrescimento e ¿ decrescimento do amor nêle, donde é evidente que a plaga provém não do Senhor como Sol, mas do Anjo segundo a recepção. Dá-se o mesmo com o homem quanto a seu espírito, êle está quanto ao espírito em uma das plagas do Mundo es-piritual, qualquer que seja a plaga do Mundo natural em que está; pois como foi dito acima, as plagas do Mundo espiritual nada têm de comum com as plagas do Mundo natural; o homem está nestas quanto ao corpo, e naquelas quanto ao espírito.

127 – Para que o amor e a sabedoria f,içam um no anjo c no homem, tudo é por pares em tôdas as cousas de seu corpo; há dois olhos, dois ouvidos e duas narinas; há duas mãos, duas pernas e dois pés, o cérebro foi dividido em dois hemisférios, o coração em duas câmaras, o pulmão em àois lóbulos, semelhantemente tôdas as outras causas; assim no anjo e no homem há uma direita e uma esquerda; e tôdas as partes àireitas se referem ao amor donde procede a sabedo-ria, e tôdas as partes esquerdas à sabedoria procedente do amor, ou, o que é a mesma causa, tôdas as partes direitas sc referem ao bem donde procede o vero, e tôdas as partes esquerdas ao vero procedente do bem. Estas partes estão no anjo e no homem, para que o amor e a sabedoria, ou o bem e o vero, façam um, e para que olhem como um para o Senhor; mas, no que segue, se dirá mais sôbre êste assunto.

128 – Por isto pode-se ver em coque ilusão e por consegiiinte em que falsidade estão aquêles que crêem que o Senhor dá a seu bel-prazer o céu, ou que dá a seu bel-prazer a um ser mais sábio e amar mais que um outro; quando entretanto o Senhor quer igualmente que um como outro seja sábio e seja salvo; pois provê os meios para todos; cada um conforme recebe êstes meios e com êles conforma sua vida é sábio e é salvo, pois o Senhor é o mesmo em um e outro; mas os re-cipientes, que são os anjos e os homens, são diferentes por uma recepção diferente e uma vida diferente. Que assim seja, pode-se v<”:-lo pelo que acaba de ser dito sôbre as plagas e as habitações dos anjos segundo as plagas, a saber, que esta diferença provém não do Senhor mas dos que recebem.

Os Anjos soltam contìnuamente a face para o Senhor corno Sol, e têm assim o sul à direita, o setentrião à esquerda, e o ocidente atrás dêles :

129 – Tôdas as cousas que são ditas aqui dos Anjos e de sua con-versão para o Senhor como Sol, devem também ser entendidas a res-peito dos homens quanto a seu espírito, pois o homem quanto à sua : mente é um espírito, e se está no amor e na sabedoria é um anjo; h também por isso que depois da morte, quando se despojou de seus ex-ternos que tinha tirado do mundo natural, torna-se espírito ou anjo; e como os anjos voltam contìnuamente a face para o Oriente do sol, assim para o Senhor, se diz também que o homem, que está pelo Senhor no amor e na sabedoria, vê Deus, volta os olhos para Deus, tem Deus diante dos olhos, expressôes pelas quais entende-se que èle vive como um Anjo; exprime-se assim no mundo, tanto porque estas causas existem efeti-vamente no céu, como porque existem efetivamente no espírito do

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ho-mem; quem é que não vê Deus diante de si quando ora, qualquer que seja a plaga para a qual volta a faceP

130 – Se os Anjos voltam contìnuamente a face para o Senhorcomo Sol, é porque os Anjos estão no Senhor e o Senhor está nêles, eporque o Senhor conduz interiorm"nte suas afeições e seus pensamen-tos, e os volta contìnuamente para Ele; assim não podem fazer outracousa senão olhar para o Oriente, onde aparece o Senhor como Sol;daí é evidente que os Anjos não se voltam para o Senhor, mas queo Senhor os volta para Lle; com efeito, quando os Anjos pens'm in-teriormente no Senhor, não pensam n’Rle de outro modo senão comondo niles, o pensamento interior mesmo não faz a distância, maso pensamento exterior, que faz um com a vista dos olhos, produz adistância; e isto, porque o pensamento exterior está no espaço, mas não' o interior, e onde não está no espaço, como no Mundo espiritual, estáaio obstante na aparência do espaço. Mas estas cousas não podemaer fàcilmente compreendidas pelo homem que pensa em Deus segundoo espaço, pois Deus está em tôda parte, e entretanto não está noço, assim Rle está tanto no interior como fora do Anjo, e por con-inte o anjo pode ver Deus, isto é, o Senhor, dentro de si e forade si; dentro de si quando pensa segundo o amor e a sabedoria, forak si quando pensa no amor e na sabedoria. Mas falar-se-á especial-mente dêste assunto nos tratados sôbre a Onipresença, a Onisciência ea Otupotência do Senhor. Que cada um se guarde bem de cair nestaheresia execrável, de que Deus se infundiu nos homens e que está nêles,e não está mais em Si, quando entretanto Deus está por tôda partetanto dentro como fora do homem, pois Ele está em todo espaço semespaço, como foi mostrado acima, ns. 7 a 10, e 69 a 72; pois se esti-vesse no homem seria não sòmente divisível mas ainda estaria en-cerrado no espaço; mais ainda, o homem poderia então pensar que éQeus; esta heresia é tão abomináv=l, que no mundo espiritual ela fedecomo um cadaver.I

131 – A conversão dos Anjos para o Senhor é tal, que em tôdaeonversâo do seu corpo, êles mantêm seus olhares para o Senhor comoSel diante dêles; o Anjo pode se voltar para todos os lados, e ver assimos diferentes objetos que estâo em tôrno dêle, mas não obstante o Se-nhor como Sol aparece constantemente diante de sua face. Isto podeparecer surpreendente, mas entretanto isso é a verdade; também me foi.dado ver assim o Senhor como Sol; diante de minha face eu O vejo,durante vários anos, para qual<pier plaga do mundo que me tenhavoltado, eu o vejo igualmente.

132 – Pois que o Senhor como Sol, e "ssim o Oriente, está diante das faces de todos os Anjos, segue-se que para êles à direita está o . sul, à esquerda o setentrião, e por trás o ocidente, por conseqiiência ' também em tôdas as conversões de seus corpos; pois, como já foi dito, tôdas as plagas no Mundo espiritual foram determinadas pelo Oriente; : é por isso que aquéles para quem o Oriente está diante de seus olhos, ." estão nas plagas mesmas, mais ainda, eles mesmos são as determina-ções delas; pois como foi mostrado acima, ns. 124 a 128, as plagas provêm não do Senhor cor;io Sol, mas dos anjos segundo a recepção.

133 – Ora, como o Cíu se compõe de Anjos, e os Anjos são tais, segue-se que o Céu inteiro se volta para o Senhor, e por esta conver-são o Céu é governado como um só Homem pelo Senhor, do mesmo modo o Céu também está sob o olhar do Senhor. Que o Céu sob o olhar do Senhor seja como um ííuico l-Iomem, vê-se no í”ratado do Céu e do Inferno, ns. 59 a 87; daí provêm também as Plagas do Céu.

134 – Pois cpie as Pingas estão assim como cpie inscritas no Anjo : e também no Cá;u inteiro, é por isso <adue o Anjo conhvce sua casa e sua habitação, em qualquer lugar cpie êle vá, diferentemente do homem ’ no Mundo; se o homem não conhece nem a casa nem a habitação pela plaga em si, é porque êle pensa segundo o espaço, assim segundo as, plagas do mundo natural, que nada trem de comum com as plagas do ¿j¿ Mundo espiritual. Mas não obstante entre os pássaros e entre os ani- i mais há uma ciência semelhante, pois foi inspirado nêles conhecer suas ',, casas e suas habitações por êlcs mesmos, como é sabido por um grande,' número de experiências; índice de coque há alpima cousa semelhante :,‘ no Mundo espiritual; pois tôdas as cousas que existem no mundo na- :: turai são efeitos, c tôctas as que existem no mundo espiritual sÃo causas dêstes efeitv,s; não exist( natural coque não tenha sua causa no espiritual.

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Todo,aa os intc¿iores tanto da mente corno do carp<.i dos AnJos fora.m voltado,s para o Scnh,r:r como Sol

135 – Os Anjos tem um ni‘.;ndimento e uma vontade, tem uma f;:ce e; um corpo, e tèm também os interiores do entendimento e da vontade, e os intcriores da face e do corpo. Os interiorcs do enten-dimento e d;i vontade são as causas que pertencem a suas afeições e a seu.s pense.mentos interiores; os interiorcs da face são os cérebros, e os interiores cìo corpo são as vísce.'as, as princ.ipais das quais são o coração e o pnlm o; em uma palavra, há nos Anjos tôdas e cada uma das causas que estão nos homens sôbre a terra; é por estas causas que os Anjos são homens; não é a forma externa sem êstes internos que faz com que êles sejam homens, mas é a forma externa junto a êstes inte;¿es, ou antes proveniente destes internos; de outro modo êles seriam unicamente imagens de homens, nas quais não haveria a vida, porque dentro não haveria a forma da vida.

136 – Sabe-se que a vontade e o entendimento governam o corpo à sua vontade, pois o que o entendimento pensa a bôca o pronuncia, e o que a vontade quer o corpo o faz; é portanto evidente que o corpo é a forma correspondente ao entendimento e à vontade, e como a forma se diz também do entendimento e da vontade, é do mesmo mocto evi-dente que a forma do corpo corresponde à forma do entendimento e da vontade; mas qual é uma e outra forma, não é aqui o lugar para as descrever; há mesmo causas inumeráveis em uma e outra, e estas causas inumeráveis de uma parte c de outra fazem um, porque se corres-pondem mutuamente; daí vem cpie a Mente, ou a vontade e o en-tendimento, governa o corpo à sua vontade, assim absolutamente como êle se governa a si mesmo. Segue-se que os interiores da Mente fazem um com os interiores do corpo, e que os exteriores da Mente fazem um com os exteriores do corpo. Mais adiante se falará dos interiores da mente, após se ter tratado dos graus da vida, e então se falará semelhantemente dos interiores do corpo.

137 – Pois que os interiores da mente fazem um com os interiores do corpo, segue-se que quando cs interiores da mente s’ voltam para o Senhor como Sol, os interiores do corpo também fazem o mesmo; e pois que os exteriores de um e de outro, tanto da mente como do corpo, dependem de seus interiores, resulta que êles também fazem o mesmo; com efeito, o que o externo faz, êle o faz pelos internos, pois o comum tira o seu todo dos particulares de que se compôe. Por isto é evidente que, pois que o Anjo volta a face e o corpo para o Senhor como Sol, todos os interiores de sua mente e de seu corpo foram tam-bém voltados para o Senhor. Dá-se o mesmo com o homem, se tem contìnuamente o Senhor diante dos olhos, o que acontece se está no amor e na sabedoria, então não sòmente êle O encara com os olhos e com a face, mas também com tôda sua mente e com todo seu co-ração, isto é, com tôdas as cousas da vontade e do entendimento, e ao mesmo tempo com tôdas as do corpo.

l38 – Esta conversâo para o Senhor é uma conversão efetiva, 6 uma certa elevação; com efeito, se é elevado no calor e na luz do Céu, o que se faz porque os interiores são abertos; quando êles são abertos, o amor e a sabedoria influem nos interiores da mente, e o calor e a luz do Céu influem nos interiores do corpo, daí a elevação, que é como se se passasse de uma nuvem espêssa para o ar, ou do ar para o éter; e o amor e a sabedoria com seu calor e sua luz são no homem, o Senhor que, como já foi dito, o volta para Ele. E’ o contrário naqueles que não estão no amor e na sabedoria, e ainda mais naqueles que são con-tra o amor e a sabedoria, seus interiores, tanto da mente como do corpo, foram fechados, e quando foram fechados, os exteriores reagem contra o Senhor, pois uma tal natureza está nêles; daí vem que êles voltam o cìorso ao Senhor, e voltar o dorso ao Senhor, é se voltar para o inferno.

139 – Esta conversão efectiva para o Senhor provém do amor e ao mesmo tempo da sabedoria, não do amor só, nem da sabedoria s6; o amor só é como o ser sem o seu existir, pois o amor existe na sabedo-dia; e a sabedoria sem o amor é como o existir sem o ser, pois a sabeàoria existe pelo amor. Há, é verdade, um amor sem a sabedoria, mas êste amor pertence ao homem e não ao Senhor; e há também uma sabedoria sem o amor, esta sabedoria vem, é verdade do Senhor, mas ' não tem o Senhor em si, pois é como a luz do inverno que vem, é ” verd"de, do sol, mas a essência do sol, que está no calor, não está nela.

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Cada Espírito qualquer que c',Le seja se solta semelhantemente para seu amor dominante

140 – Dir-se-á em primeiro lugar o que é um espírito, e o que h um anjo: Todo homem, depois da morte, entra primeiro no Mundo dos Espíritos, que fica no meio entre o Céu e o Inferno; e aí êle completa : seus tempos ou seus estados, e segundo sua vida é preparado ou para ‘ o Céu ou para o Inferno; enquanto permanece nesse Mundo é chamado :. espírito; aquêle que dêsse Mundo é elevado ao Céu é chamado Anjo, e aquêle que é precipitado no Inferno é chamado satanás ou diabo; ." enquanto os mesmos estão no Mundo dos espíritos, a<¿uêle que é pre-parado para o Céu é chamado Espírito angélico, e aquêle que é prepa-rado para o Inferno Espírito infernal; durante esta preparação o Es-, pírito angélico é conjunto com o Céu, e o Espírito infernal com o In- :: terno. Todos os Espíritos que estão no Mundo dos Espíritos, são ad- ‘ juntos a homens, porque os homens quanto aos interiores de suas men-tes estão igualmente entre o Céu e o Inferno, e por êstes Espíritos co- ‘,. municam com o Céu ou com o Inferno, segundo a vida. E’ preciso . que se saiba que uma cousa é o Mundo dos Espíritos e outra cousa é o Munda Espiritual; o Mundo dos espíritos é aquêle de que se acaba de falar; mas o Mundo espiritual é no complexo êste Mundo dos es- ' píritos e o Céu e o !nferno.

141 – Dir-se-á também alguma cousa dos Amôres, pois que se : trata da conversão dos anjos e dos espíritos por seus amôres para seus: amôres. O Céu inteiro foi distinguido em Sociedades segundo tôdas al,' difnenças dos amôres; semelhantemente o Inferno; e semelhantemente: o Mundo dos espíritos; mas o Céa foi distinguido em Sociedades se';. gundo as diferenças dos amôres celestes, o inferno segundo as diferem" ças dos amôres internais, e o Mundo dos espíritos segundo as diferenças dos amôres, tanto celestes como infernais. Há dois Amôres, que são as Cabeças de todos os outros, ou aos quais se referem todos os outros amôres: o Amor que é a Cabeça, ou ao qual se referem todos os amôres celestes, é o Amor para com o Senhor; e o Amor que é a Cabeça, ou ao qual se referem todos os amôres infernais, é o Amor de Dominar pelo amor de si; êstes dois amôres são diametralmente opostos um ao outro.

142 – Pois que estes dois Amôres, o Amor para com o Senhor e u Amor de dominar pelo amor de si, são inteiramente opostos um ao outro; e que todos os que estâo no Amor para com o Senhor se voltam para o Senhor como Sol, como foi mostrado no Artigo precedente, pode-se ver que todos os coque estão no Amor de dominar pelo amor de si voltam o dorso ao Senhor; voltam-se assim em um sentido oposto por-que os que estão no amor para com o Senhor s6 gostam de ser con-duzidos pelo Senhor e querem que o Senhor só domine, enquanto que os que estão no amor de dominar pelo amor de si, s6 gostam de ser conduzidos por êles mesmos, e querem dominar s6s. Diz-se dominar pelo amor de si, porque há o amor de dominar pelo amor de fazer usos, amor que, porque faz um com o amor em relação ao pr6ximo, é e amor espiritual; todavia, êste amor não pode ser chamado amor de dominar, mas deve ser chamado amor de fazer usos.

143 – Que cada espírito, qualquer que êle seja, se volta para seu amor domin.:nte, é porque o amor é a vida de cada um, como foi mos-trado na Primeira Parte, ns. 1, 2, 3; e a vida volta seus receptáculos, que são chamados membros, órgãos e vísceras, assim o homem inteiro, para esta sociedade que está com êle em um amor semelhante, assim para onde está seu amor.

144 – Como o amor de dominar pelo amor de si é inteiramente oposto ao amor para com o Senhor, é por isso que os espíritos, que estão neste amor de dominar voltam a face para trás do Senhor, e por con-seguinte dirigem os olhos para o Ocidente dêsse Mundo; e porque assim estão quanto ao corpo em senticìo contrário, têm atrás de si o Oriente, à direita o Setentrião, e à esquerda o Sul; têm atrás de si o Oriento porque ode.'am o Senhor, à direita o Setentrião porque amam as ilu-sões e por conseguinte as falsidades, e à esquerda o Sul porque des-prezam a luz da sabedoria, Podem se voltar em todos os sentidos, mas tôdas as cousas que vêem em tôrno dêles aparecem semelhantes a seu amor. Todos êsses são naturais-sensuais, e alguns são tais, que acre-ditam que só êles vivem, e que consideram todos os outros como ima-gens; acreditam-se sábios acima de todos, embora sejam insensatos.

145 – No Mundo dos espíritos, aparecem caminhos, traçados como es caminhos no Mundo natural, alguns conduzem ao Céu, e outros ao Inferno; mas os caminhos que conduzem ao Inferno não

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aparecem aos que vão para o Céu, e os caminhos que conduzem ao Céu não aparecem aos que vão para o Inferno; êstes caminhos são inumeráveis, pois há dêles para cada sociedade do Céu, e para cada sociedade do Inferno; cada espírito entra no caminho que conduz à sociedade de seu amor, e não vc; os camina!os que tendem para outro lugar; daí vem que cada espírito caminha assim para frente, à medida que se volta para seu amor dominante.

O Divino Amor e a Divina Sabedoria, que procedem do Senhor como Sol, e fazem o calor e a luz no Céu, são o Divino

Procedente que é o Espírito Santo

146 – Na Doutrina da Nova Jerusalém sôbre o Senhor, foi mos-trado que Deus é um em Pessoa e em Essência, no qual está a Trindade, e que êste Deus é o Senhor; e também que a Trindade do Senhor é chamada Pai, Filho e Espírito Santo, e que o Divino a Qoo (de que tudo procede) é chamado Pai, o Divino Humano Filho, e o Divino Procedente Espírito Santo. Diz-se o Divino procedente, e não obstante ninguém sabe porque se diz Procedente; se não se sabe, é porque até ao presente ignorou-se que o Senhor diante dos Anjos aparece como Sol, e que dêste Sol procede um Calor que em sua essência é o Divino Amor, e uma Luz que em sua essência é a Divina Sabedoria; enquanto isso foi ignorado não se pôde saber outra causa senão que o Divino pro-cedente era Divino por si, é por isso também que na Doutrina Atanasiana da Trindade, se diz que uma é a Pessoa do Pai, outra a do Filho e outra a do Espírito Santo; ora agora quando se sabe que o Senhor aparece como Sol, pode-se ter uma justa idéia do Divino procedente, que é chamado Espírito Santo, a saber, que é um com o Sensor, mas que procede d’Rle, como o Calor e a Luz procedem do Sol; é mesmo por isso que, tanto quanto os Anjos estão no amor e na sabedoria, tanto estão no Divino Calor e na Divina Luz. Sem o conhecimento de que o Senhor no Mundo espiritual aparece como Sol, e cpie seu Divino pro-cede assim, não se pode jamais saber o que é entendido por proceder, por exemplo, se é unicamente comunicar as cousas que pertencem ao Pai e ao Filho, ou sòmente ilustrar e ensinar; mas a verdade é que assim não é de uma razão ilustrada reconhecer o Divino Procedente como Divino por si, e chamá-lo Deus, e distingui-lo, quando também é sabido que Deus é um, e que é Oniprescnte.

147 – Foi mostrado acima que Deus não está no espaço, e que por isso mesmo é Onipresente; e também que o Divino é o mesmo por tôda parte, mas que sua aparência diferente nos anjos e nos homens vem de uma recepção diferente; agora, pois que o Divino Procedente do Senhor como Sol está na Luz e no Calor, e que a luz e o calor influem primeiro nos recipientes universais, que no Mundo são chama-das atmosferas, e que estas são os recipientes das nuvens, pode-se ver que, do mesmo modo que os interiores que pertencem ao entendimento no homem ou no anjo foram envolvidos de tais nuvens, do mesmo modo o é o receptáculo do Divino procedente; pelas nuvens são entendidas as nuvens espirituais, que são os pensamentos, os quais estão em con-cordância com a Divina Sabedoria se elas vêm dos veros, e estão em discordância se vêm dos falsos; é mesmo por isso que os pensamen-tos segundo os veros no Mundo espiritual, quando se apresentam à vista aparecem como nuvens brancas, e os pensamentos segundo os falsos como nuvens negras. Por estas explicações pode-se ver que o Divino procedente está, na verdade, em todo homem, mas é diferente-mente ve.lado em cada um.

148 – Como o Divino mesmo está presente no anjo e no homem pelo calor e a luz espirituais, é por isso ql.e se diz daqueles que estão nos veros da Divina Sabedoria e nos bens do Divino Amor, quanda são afetados por êles e pela afeição pensam sôbre êstes veros e nestes bens, gue estão abrasados de Deus, o que acontece mesmo às vêzes até à percepção e à sensação, como quando um Pregador fala com zêlo; se diz também dos mesmos que são iluminados de Deus, porque o Senhor por Seu Divino procedente não sòmente abrasa a vontade pelo Calor espiritual, mas também ilumina o entendimento pela Luz es-piritual.

149 – Que o Espírito Santo ;eja o mesmo que o Senhor, e que seja a Verdade mesma pela qual há para o homem ilustração, isto é evidente por estas passagens da Palavra: “Jesus disse: Quando vier o Espírito da Verdade, êle vos conduzirá a tôda Verdade; êle não falará por si mesmo, mas tudo que tiver ouvido pronunciará” (João 16.º, 13) . “Ele me glorificará, porque de mim receberá, e vô-la anunciará” (João 16.º, 14, 15) . “Ele morará nos Discípulos, e estará nêles” (João 14,º, 17; 15.º, 26). “Jesus disse: As

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palavras que vos pronuncio são Espírito e são Vida” (João 6.º, 63) ; por estas passagens é evidente que a Ver-dade mesma, que procede do Senhor, é chamada Espírito Santo; e como está na luz, ilustra.

150 – A ilustração, que é atribuída ao Espírito Santo, está, na verdade, no homem pelo Senhor, não obstante ela se faz por meio dos espíritos e dos anjos; mas qual é esta mediação, é o que não pode ainda ser descrito; dir-se-á unicamente que os anjos e os espíritos não podem de modo algum ilustrar o homèm por êles mesmos, pois êles são ilustrados do mesmo modo que o homem pelo Senhor; e como são semelhantemente ilustrados, segue-se que tôda ilustração vem do Se-nhor s6; se se faz por meio dos anjos e dos espíritos, é porque o homem, que está na ilustração, é então colocado no meio de certos an-jos e de certos espíritos, cpie recebem do Senhor só a ilustração mais que os outros.

O Senhor criou o Universo e tôdas as cousas do Universo por meio do Sol, que é o primeiro procedente do

Divino Amor e da Divina Sabedoria

151 – Pelo Senhor é entendida Deus de tôda eternidade ou Jehovah, que é chamado Pai e Criador, porque o Senhor é um com Ele, como foi mostrado na Doutrina da Nova Jerusalém sôbre o Senhor; é por isso que, no que segue, onde se trata também da Criação, Rle é chamado r! Senhor.

152 – Que tôdas as causas do Universo tenham sido criadas pelo lìivino Amor e pela Divina Sabedoria, é o que foi plenamente mostrado na Primeira Parte, especialmente nos ns. 52, 53; aqui agora se mos-trará que foi por meio do Sol, que é o Primeiro procedente do Divino Amor e da Divina Sabedoria. Quem quer que possa ver os efeitos pelas causas, e em seguida ver pelas causas os efeitos em sua ordem e em sua série, não pode negar que o Sol seja o primeiro da criação, pois por êle subsistem tôdas as cousas que estão em seu Mundo, e como subsistem por êle, existiram também por êle, um conclui e atesta o outro; com efeito, elas estão tôdas sob seu aspecto, porque êle as co-locou para que aí estejam; e tê-ias sob êle, é colocá-ias contìnuamente; é por isso também que se diz que a subsistência é uma perpétua exis-tência; se alguma causa fôsse mesmo subtraída inteiramente ao influxo do sol pelas atmosferas, isso seria imediatamente dissolvido; pois as ;atmosferas, coque são de mais puras em mais puras, e postas ativamente cm potência pelo sol, contêm cada causa em seu lugar; ora, pois que a subsistência do universo e de tôdas as cousas do universo vem do Sol, é evidente que o Sol é o primeiro da criação a Quo (do qual tudo procede) . Foi clito do Sol, mas é entendida do Senhor pelo sol, pois o sol também foi criado pelo Senhor.

153 – Há dois Sóis, pelos quais tôdas as causas foram criadas pelo Senhor, o Sol do Mundo espiritual e o Sol do Mundo natural; tôdas as cousas criadas vêm do Senhor pelo Sol do Mundo espiritual; pois o Sol n,".tural está muito abaixo do Sol espiritual; está a torna meia distância, acima dêle está o Mundo espiritual, e abaixo dêle está o Mundo natural; e o Sol do Mundo natural foi criado para dar um auxílio secundário; no que segue se falará dêsse auxílio.

154 – Se o Universo e tôdas as causas do Universo foram criadas pelo Senhor por meio do Sol do Muncìo espiritual, é porque êste Sol é o primeiro procedente do Divino Amor e da Divina Sabedoria, e tôdas as cousas vêm do Divino Amor e da Divina Sabedoria, como foi mostrado acima, ns. 52 a 82. Em todo objeto criado, tanto no maior como no menor, há três cousas: o Fim, a Causa e o Efeito; não há objeto criado no qual estas três não estejam; no Maior ou no Universo êstes Três existem nesta ordem: No Sol, que é o Primeiro procedente do Divino Amor e da Divina Sabedoria, está o Fim de tôdas as causas; ao Mundo espiritual estão as Causas de tôdas as cousas; e no Mundo natural estão os efeitos de tôdas as causas; mas como êstes três estão nos Primeiros e nos Ú1timos, é o que será dito no que segue. Ora, pois que não há objeto criado, no quaÌ não estejam êstes três, segue-se que o Senhor criou o Universo e tôdas as cousas do Universo pelo Sol onde está o fim de tôcìas as causas.

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155 – A Criação mesma não pode ser posta ao alcance da con-cepção, se o espaço e o tempo não forem afastados do pensamento; mas se forem afastados ela pode ser apreendida. Afasta-os, se o podes, eu tanto quanto podes, e mantém a mente em uma idéia separada do espaço e do tempo, e perceberás que o muito grande do espaço e o muito pequeno do espaço em nada diferem, e então não poderás ter da Criação do universo senão uma idéia semelhante à da Criação dos singulares no Universo, e verás que a diversidade nos objetos criados vem de que os Infinitos estão em Deus-Homem, e por conseqiiência as indefinidos no Sol, que é o primeiro procedente de Deus, e de gue êstes indefinidos existem como que em uma imagem no Universo criado; provém daí que não possa haver em lugar algum uma causa que seja a mesma que uma outra; daí vem a variedade de t6das as cousas, va-riedade que se apresenta diante dos olhos com o espaço no Mundo natural, e na aparência de espaço no Mundo espiritual; e a variedade concerne aos comuns e concerne aos singulares. Estão aí causas que foram demonstradas na Primeira Parte; por exemplo, que em Deus-Homem os Infinitos são distintamente um, ns. 17 a 22; que tôdas as cousas do Universo foram criadas pelo Divino Amor e pela Divina Sabedoria de Deus-Homem, ns. 52, 53; que tôdas as causas do Uni-verso são recipientes do Divino Amor e da Divina Sabedoria de Deus-Homem, ns. 55 a 60; que o Divino não está no espaço, ns. 7 a 10; que o Divino enche todos os espaços sem espaço, ns. 69 a 72; que o 13ivino é o mesmo nos muito grandes e nos muito pequenos, ns. 77 a 82.

156 – Não se pode dizer que a criação do Universo e de tôdas as eousas do Universo tenha sido feita de um espaço e um espaço e de um tempo a um tempo, assim progressivamente e sucessivamente, mas deve-se dizer que tenham sido feitas do Eterno e do Infinito, não do Eterno do tempo, pois que nêle não o ¿aá, mas do Eterno do mão-tempo, pois é a mesma cousa que o Divino, nem do Infinito do espaço, pois que nêle não o há tampouco, mas do Infinito do não-espaço, o que é tamb"rn a mesma cousa que o Divino. Sei que isso ultrapassa as idéias <ìos pensamentos cpie estão na luz natural, mas isso não ultrapassa as idéias dos pensamentos que estão na luz espiritual, pois nestes nada há do espaço nem do tempo, e mesmo isso não ultrapassa tampouco absolutamente as idéias dos pensamentos na luz natural, pois quando se diz que não há infinito do espaço, cada um o afirma segundo a ra-zão; dá-se o mesmo com o eterno, pois é o infinito do tempo; se se diz eternamente (in aeternum), isso é apreendido segundo o tempo; mas de tôda eternidade (ab aeterno), não é apre"ndido a não ser <adue o tempo seja afastado.

O Sol do Mundo natural é puro fogo, e por consequência morto; e como a Neturexa tem sua origem neste Sol, ela é morta

157 – A Criação mesma não pode em cousa alguma ser atribuída ao Sol do 5fundo natural, mas o deve ser inteiramente ao Sol do Mundo espiritual, pois que o Sol do Mundo natural é inteiramente morto, en-quanto que o Sol do Mundo espiritual é vivo, pois é o primeiro Proce-dente do Divino Amor e da Divina Sabedoria, e pois que o que é morto não age por si mesmo, mas é pôsto em ação; é por isso que atribuir-lhe alguma causa da criação, será como se se atribuísse a um instru-mento, pôsto em aç;io pelas mãos de um operário, a obra que o ope-rário faz. O Sol do Mundo natural é um puro Fogo do qual foi se-parado tudo que pertence à vida; mas o Sol do Mundo espiritual é um Fogo no qual está a Vida Divina. A ides:ia Angélica sôhre o fogo do Sol do Mundo natural, e sôbre o Fogo do Sol do Mundo espiritual, é que a Vida Divina está interiormente no Fogo do Sol do Mundo espiritual, e exteriormente no Fogo do Sol do Mundo natural. Por aí pode-se ver que a atividade do Sol natural vem não dêle, mas da fôrça viva procedente do Sol do Mundo espiritual; se portanto a fôrça viva dêste Sol fôsse retirada ou suprimida, o Sol natural cairia. Daí vem que o culto do Sol é o mais baixo de todos os cultos de Deus, pois é um culto absolutamente morto, como o Sol mesmo; é por isso que na Palavra êste culto é chamado uma abominação.

158 – Pois que o Sol do Mundo natural é puro fogo, e que por conseqiiência é morto, o Calor que dêle procede é portanto morto tam-bém; do mesmo modo é morta a Luz que dêle procede; do mesmo modo são mortas as Atmosferas, que são chamadas éter e ar, e que recebem em seu seio e transportam o calor e a luz dêste Sol. Pois que tucto isso é morto, tôdas e cada uma das cousas do globo terrestre, que estão abaixo e são chamadas terras, são mortas também; mas náo obs-tante tôdas estas cousas, em geral e em particular foram envolvidas por espirituais que procedem e prof luem do Sol do Mundo espiritual; se não tivessem sido assim envolvidas, as terras não poderiam ser postas em ação, nem produzir formas de usos que são os vegetais, e formas da vida que são os animais, nem fornecer os materiais pelos quais o homem existe e subsiste.

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159 – Ora, como a Natureza começa por i,ste Sol, e como tudo que existe e subsiste por êle é chamado Natural, segue-se que a Na-tureza, com tôdas e cada uma das cousas que a compõem, é morta. Se a Natureza aparece no homem e no animal como viva, é pela Vida que a acompanha e a põe em ação.

1% – Pois que os ínfimos da Natureza que constituem as terras são mortos, e não são nem mutáveis nem variáveis segundo os es-tados das afeições e dos pensamentos, como no Mundo espiritual, mas são imutáveis e fixos, é por isso que na Natureza há espaços e dis-tâncias de espaços; há tais cousas porque a criação acaba aí, e aí sub-siste em seu repouso. Por isso é evidente que os espaços são próprios da natureza; e pois que os espaços aí não são aparências de espaços segundo os estados da vida, comn no Mundo espiritual, êles também podem ser chamados mortos.

161 – Como os tempos são igualmente fixos e constantes, êles tam-bém são próprios da natureza, pois o tempo do dia é constantemente de vinte e quatro horas, e o tempo do ano é constantemente de tre-zentos e sessenta c cinco dias e um quarto; os estados mesmos da luz e da sombra, do calor e do frio, que variam êstes tempos, voltam tam-bém constante.mente; os estados cpie voltam cada dia são a manhã, o meio-dia, a tarde e a noite, e os cpie voltam cada ano são a primavera, o verão, o outono e o inverno; os estados do ano variam, constante-mente também os estados dos dias; todos êstes estados, não sendo es-tados da vida, como no Mundo espiritual, são mortos também; pois no Mundo espiritual há uma Luz contínua e um Calor contínuo, e a Luz corresponde ao estado da sabedoria, e o Calor ao estado do mior dos anjos, o que torna vivos os snis estados.

162 – Por isso pode-se ver a loucura daqueles que atribuem tôdas as cousas à Natureza; os que se confirmaram pela Natureza introdu-ziram em si êste estado, pelo qual não querem mais elevar a mente acima da natureza, por isso a soa Mente é fechada por cima e aberta por baixo, e assim o homem se torna natural-sensual, isto é, espiritual-mente morto; e como então não pensa senão pelas causas que hauriu pelos sentidos do corpo, ou no mundo por êstes sentidos, êle nega a Deus também de coração. Então tôda conjunção com o Céu estando rom-pida, se faz uma conjunção com o Inferno, restando sòmente as facul-dades de pensar e de querer, a faculdade de pensar pela racionalidade, e a faculàade de querer pela liberdade, faculdades que estão pelo Senhor em cada homem, e não são retiradas; estas duas faculdades es-tão nos diabos como nos anjos, mas os diabos as aplicam em extra-vagar e em mal-fazer, e os anjos em ser sábios e em bem-fazer.

Sem estes dois Sóis, um eivo e outro morto, não há absolutamente criação

163 – O Universo em geral foi distinguido em dois Mundos, um Espiritual e outro Natural; no Mundo espiritual estão os Anjos e os Es-píritos, no Mundo natural estão os Homens; êstes dois Mundos são absolutamente semelhantes quanto à face externa, e de tal modo seme-lhantes que não podem ser distinguidos, mas quanto à face interna sâo absolutamente diferentes; os homens mesmos que estão no hfundo es-piritual, os quais, como foi dito, são chamados Anjos e Espíritos, são espirituais; e porque são espirituais, pensam espiritualmer.te e falam espiritualmente; mas os homens que estão no Mundo natural são na-turais, e por conseqiiência pensam naturalmente e falam naturalmente, e o pensamento espiritual e a linguagem espiritual nada tèm de co-mum com o pensamento natural e a linguagem natural. Daí é evi-dente que êstes dois Mundos, o espiritual c o natural, são absoluta-mente distintos entre si, ao ponto de não poderem de maneira al-guma estar juntos.

164 – Ora, pois que èstes dois Mundos são assim distintos, é nc;-cessário que haja dois Sóis, um de que procedem todos os espirituais, e o outro de que procedem todos os naturais; e como todos os espi-rituais em sua origem são vivos, e todos os naturais por sua origem são mortos, e como os Sóis são as Origens, segue-se que um dos Sóis é vivo e que o outro é morto, e também que n Sol morto mesmo foi criado pelo Senhor por meio do Sol vivo.

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165 – Se o Sol morto foi criado, foi a fim de que nos últimos tôdas as causas sejam fixas, determinadas e constantes, e que por isso existam as cousas que devem se perpehuar e durar longamente; assim e não de outro modo está fundada a Criação; o Globo terráqueo, no qual, sôbre o qual e em tôrno do casual estão essas cousas, é como a base e a consolidação, pois é a última obra na qual tudo se termina, e sôbre a qual tudo se repousa; que êle seja também como uma %ma-triz, pela qual os efeitos, que são os fins da Criação, são produzidos, é o que será dito no coque segue.

166 – Que o Senhor tenha criado tòdas as cousas pelo Sot vivo, e nada tenha criado pelo Sol morto, é o que se pode ver pelo fato de que o vivo dispõe o morto sob sua dependência, e o form" para seus usos, que são seus fins, mas não recìprocamente. Só um homem privado da razão pode pensar que tôdas as causas vêm da natureza, c que a vida vem dela também, êste não sabe o que é a vida; a natu-reza não pode dispor a vida seja para o que fôr, pois a natureza é em si mesma absolutamente inerte; que o morto aja no vivo, ou a fôrça morta na fôrça viva, ou, o que é a mesma cousa, o natural no espiritual, é absolutamente contra,z ordem, e por conseqiiência pensar isso é contra a luz da sã razão. E’ verdade que o morto ou o natural pode ser desmoronado ou mudado de várias maneiras por acidentes ex-ternos, entretanto jamais pode êle agir sôbre a vida, mas a vida age nêle segundo a mudança de forma introduzida; dá-se com isso como com o influxo físico nas operações espirituais da alma; sabe-se que êste influxo não existe, porque não é possível.

Noz últimos existe o fim da criação que é, que tôdas as c,ou.svz,v retornem ao Criador, e ga.e haja conjunção

167 – Primeiro dir-se-á alguma causa dos Fins: Há três dêles que se seguem em ordem, os quais sãos: chamados Fim primeiro, Fim mé-dio e Fim ííltimo; são chamados Fim, Causa e Efeito; êstes três devem estar juntos em todo sujeito para cpie êle seja alguma causa, pois não há Fim primeiro sem um Fim médio, e ao mesmo tempo sem um Fim último, ou, o que é a mesma cousa, não há Fim s6 sem uma causa e sem um efeito; semelhantemente não há Causa só sem um fim de que ela provém, e sen um efeito cm que cia esteja; semelhantemente não há Efeito só, ou Efeito sem causa e sem fim. Que assim seja, pode-se apreender se se pensar que o Fim sem efeito, ou separado do efeito não é alguma cousa que exista, também não é senão uma palavra; pois o Fim, para que efetivamente seja um fim, deve ter si<Io terminado, e êle é terminado no efeito, no qual o primeiro é chamado Fim porque é o Fim; parece que o agente ou eficiente existe por si, mas isso é' uma aparência proveniente de estar êle em um efeito, mas se fôr se-parado do efeito, no mesmo instante desaparece. Por estas explicações é evidente que êstes três, o Fim, a Causa e o Efeito, devem estar em todo sujeito para que êIe seja alguma cousa.

168 – Além disso, é preciso que se saiba que o Fim é t:udu na Causa, e também tudo no Efeito; é por isso que o Fim, a Causa e o Efeito, são chamados Fim primeiro, Fim médio e Fim ííltimo. Mas para que o Fim seja tudo na causa, é preciso que haja alguma cousa pelo fim, no qual êJe estará; e para que seja tudo no efeito, é preciso que haja alguma causa pelo fim por meio da causa, na qual êle es-tará; pois o fim não pode estar em si só, mas deve estar em alguma causa existente por si, na qual quanto a seu todo possa estar e ser efi-ciente agindo, até que subsista; aquilo em que êle subsiste é o Fim último, que é chamado Efeito.

169 – No Universo criado, tanto nos seus muito grandes como :nos seus muito pecpienos, há êstes três, a saber, o fim, a causa e o efeito; se êstes três estão nos muito grandes e nos muito pequenos do Universo criado, é porque em Deus Criador, que é o Senhor de tôda a eternidade, há êstes três; mas como Lle é infinito, e como os infi-nitos no Infinito são distintamente um, como foi demonstrado acima, ns. 17 a 22, é por isso também cpe êstes três no Senhor e em seus infinitos, são distintamente um; daí vem que o Universo, que foi criado pelo Ser do Senhor, e que, considerado quanto aos usos, é a imagem do Senhor, obteve êstes três em tôdas e cada uma de siias cousas.

170 – O fim universat ou de tôdas as cousas da criação, é cpie haja uma conjunção eterna cìo Criador com o Universo criado; e esta conjunção não é possível, a não ser educ haja sujeitos nos quais o Divino do Criador possa estar como em si, assim nos quais possa ha-bitar e permanecer; êstes sujeitos,

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para cpie sejam seus habitáculos e moradas, devem ser recipientes de seu Amor e de sua Sabedoria como por êles mesmos, assim devem como por êles mesmos se elevar para o Griador, e se conjuntar com Ele; sem êste recíproco não há conjun-ção. Estes sujeitos são os Eiomens, que podem como por êles se elevar e se conjuntar; que os homens sejam tais sujeitos, e que sejam reci-pientes do Divino roma por êles mesmos, isso foi demonstrado acima várias vêzes. Por esta conjunção o Senhor está presente em tôda obra criada por Ele, pois todo objc;to criado é finalmente para o homem; é por isso que os usos de tôdas as cousas <adue foram criadas sobem por graus desde os últimos até ao homem, e pelo homem até a Deus Criador a Quo (de quem tu<Io procede), como foi mostrado acima, níí-meros 65 a 68.

171 – A criação tende contìnuamente para êste último fim por estes três, que são o fim, a causa e o efeito, porcpie êstes três estão no 5enhor Criador como acaba civ ser dito; e como o Divino está em todo espaço sem espaço, ns. 69 a 72; e é o mesmo nos muito grandes e nos muito pec¿uenos, os. 77 a 82; daí é evidente que em sua progressão comum para o fim último o universo criado é o fim médio respectiva-mente; pois as formas dos usos em sua ordem são contìnuamente ele-vadas da terra pelo Senhor Criador até ao homem que, quanto a seu corpo, vem também da terra; o homem é elevado em seguida pelo Se-nhor por meio da recepção do amor e da sabedoria; e para que êle receba o amor e a sabedoria, os meios foram todos providos; e isso é feito de tal m;.neira que êle pode receber desde que o queira. Pelo que acaba de ser dito, pode-se ver, ainda que não o seja senão de uma maneira comum, que nos últimos existe o fim da criação, que é, que tôdas as cousas retornem ao Criador, e que haja conjunção.

172 – Que êstes três, o Fim, a Causa e o Efeito, estejam em tôdas e cada uma das cousas que foram criadas. pode-se ainda vê-la em que todos os efeitos, que são chamados fins últimos, tornam-se de nôvo fins primeiros em uma série contínua a partir do Primeiro, que é o Senhor Criador, até ao último, que é a conjunção do homem com Ele. Que todos os fins últimos se tornam de nôvo fins primeiros, isso ó evidente em que não existe uma causa de tal modo inerte e morta que nada tenha de eficiente em si; mesmo de um grão de areia sai uma exalação que ajuda a produzir alguma cousa, por conseqiiência a ser efi-ciente em alguma causa.

TERCEIRA PARTE

DOS GRAUS

No Mundo espiritual há Atmosferas, Águas e Terras, como no Mundo

Natural; porém elas são espirituais, enquanto

que no Mundo natural sã.o naturais

173 – Que o Mundo espiritual e o Mundo natural sejam seme-lhantes, com a única diferença que tôdas e cada uma das cousas do Mundo espiritual são espirituais, e tôdas e cada uma das cousas do Mundo natural são naturais, isso foi dito no que precede, e mostrado no Tratado do Céu e do Inferno. Pois que êstes dois Mundos são se-melhantes, há por conseqiiência em um e outro Atmosferas, Águas e Terras, que são os comuns pelos quais tôdas e cada uma das causas existem com uma variedade infinita.

174 – Quanto às Atmosferas que são chamadas Rteres e Ares, elas

são semelhantes em um e outro Mundo, o Espiritual e o Natural, com

esta diferença, que no Mundo espiritual elas são espirituais, e no Mundo

natural são naturais; são espirituais, porque existem pelo Sol que é o

primeiro procedente do Divino Amor e da Divina Sabedoria do Senhor,

e porque d’f.le recebem em si o Divino Fogo que é o Amor, e a Divina

luz que é a Sabedoria, e transportam um e outra para os Céus onde

estão os Anjos, e aí fazem a presença dêste Sol nos muito grandes e

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ou formas muito pequenas, que trem sua origem no Sol; e como recebem

particularmente o Sol, resulta daí que o fogo do Sol, dividido em tantas

substâncias ou formas, e quase envolvido por elas, e temperado pelos

inv61ucros, torna-se um Calor adequado enfim ao amor dos Anjos no

C4u e dos espíritos sob o Céu; dá-se o mesmo com a luz do Sol. As

Atmosferas naturais são semelhantes às Atmosferas espirituais, pelo fato

de serem também substâncias discretas e formas muito pequenas, que

têm sua origem no Sol do Mundo natural, as quais também recebem particularmente o Sol, encerram seu fogo em si, o temperam e o trans-portam como calor para a terra onde estâo os homens; e dá-se o mesmo com a luz.

175 – A diferença entre as Atmosferas espirituais e as Atmosferas naturais, é que as Atmosferas espirituais são os receptáculos do Divino Fogo e da Divina Luz, assim do Amor e da Sabedoria, pois os contêm interiormente nelas, enquanto que as Atmosferas naturais são os recep-táculos, não do Divino Fogo nem da Divina Luz, mas do fogo e da luz do seu Sol, que em si é morto, como foi mostrado acima; é por isso que não há interiormente nelas causa alguma do Sol do Mundo espiritual, mas não obstante são envolvidas pelas Atmosferas espirituais que procedem do Sol espiritual. Que haja esta diferença entre as Atmos-feras espirituais e as Atmosferas naturais, é um assunto da Sabedoria Angélica,

176 – Que haja Atmosferas no Mundo espiritual, como no Mundo natural, pode-se vc;-la no fato de que os Anjos e os Espíritos, respiram, falam e ouvem como os homens no Mundo natural, e a respiração se faz pela última atmosfera, que é chamada Ar, semelhantemente a lin-guagem e a audição; além disso, pelo fato ele que os Anjos e os Espí-ritos viem como os homens no Mundo natural, e a vista não é possível senão por uma atmosfera mais pura que o ar; além disso, pelo fato de que os Anjos e os Espíritos pensam e são afetados como os homens no Mundo natural, e o pensamento e a afeição não são possíveis senão por meio de atmosferas ainda mais puras; e enfim, pelo fato de que tôdas as causas do corpo dos anjos e dos espíritos, tanto as que são externas como as que são internas são conticlas em um vínculo, as ex-ternas por atmosferas aéreas, e as internas por atmosferas etéreas; é evidente que sem a pressão que estas atmosferas exercem em todos os sentidos, e sem sua ação, as formas interiores e exteriores do corpo se espalhariam de um lado e de outro. Pois que os Anjos são espirituais, e que tôdas e cada uma das causas de seus corpos são contidas por um vínculo, em uma forma e em uma ordem pelas Atmosferas, segue-se que estas Atmosferas são espirituais; são espirituais por que têm sua origem no Sol espiritual, que é o primeiro procedente do Divino Amor e da Divina Sabedoria do Senhor.

177 – Que no Mundo espiritual haja também Águas e Terras como no Mundo natural, com esta diferença que as águas e as terras do Mundo espiritual são espirituais, é o que foi dito acima, e mostrado no Tratado do Céu e do Inferno; e como são espirituais, são postas em ação e mo-dificadas pelo calor e a luz do Sol espiritual por meio das atmosferas que dêle provêm, absolutamente como as águas e as terras no Mundo

natural o são pelo calor e a luz do Sol de seu Mundo por meio das atmosferas dêsse mundo.

178 – Fala-se aqui das atmosferas, das águas e das terras, porque estas três são os comuns pelos quais e segundo os quais tôdas e cada uma das cousas existem com uma variedade infinita; as atmosferas são as fôrças ativas, as águas são as fôrças médias, e as terras são as fôrç¿ passivas, pelas quais existem todos os efeitos; que estas três,sejam tais fôrças em sua série, é ììnicamente pela Vida que procede do Senhor como Sol, e que faz com que sejam ativas.

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FIá Graus do amor e da sabedoria e por conseguinte há Graus do calor e da luz, além dos,Graus das atmosferas

179 – Se não se sabe que há Graus, nem o que são, nem quais são, o que se segue não pode ser compreendido, pois há graus em tôdas as cousas criadas, assim em tôda forma; é por isto que. nesta Parte da Sabedoria Angélica, tratar-se-á dos Graus. Que haja Graus do amor e da sabedoria pode-se ver claramente pelos Anjos dos três céus; os Anjos do Terceiro Céu ultrapassam em amor e em sabedoria os Anjos do Se-gundo Céu, e êstes os Anjos do Vitimo Céu, ao ponto que não poàem estar juntos; os graus de amor e de sabedoria os distinguem e os se-param; daí vem que os Anjos dos Céus inferiores não podem subir para os Anjos dos Céus superiores; e se lhes é permitido subir, êles não os vêem, nem cousa alguma que está com êles; o que faz com que não os vejam, é que o amor e a sabedoria dos anjos dos Céus superiores estão em um grau superior que ultrapassa a percepção dos anjos dos Céus inferiores; com efeito, cada anjo é seu amor e sua sabedoria, e o amor unido com a sabedoria é o homem em sua forma, porque Deus, que é o Amor mesmo e,a Sabedoria mesma, é Homem. Foi-me dado ver algumas vêzes que Anjos do CJItimo Céu subiam para Anjos do Terceiro Céu; e quando eram elevacìos com esfôrço, eu os ouvia se queixarem de que não viam pessoa alguma, e nâo obstante estavam no meio dêles; e em seguida eram instruídos que êstes anjos não tinham sido visíveis porque o amor e a sabedoria dêstes não era perceptível por êles, e que o amor e a sabedoria fazem o Anjo aparecer como homem.

180 – Que haja Graus de amor e de sabedoria, vê-se ainda mais manifestamente pelo amor e a sabedoria dos Anjos respectivamente ao amor e a sabedoria dos homens; que a sabedoria dos Anjos seja res-pectivamente inefável, isso é sabido; que seja mesmo incompreensível para os homens, quando estâo em um amor natural, ver-se-á no que segue; se parece inefável e incompreensível, é porque está em um grau superior.

181 – Pois que há Graus de amor e de sabedoria, há também graus de calor e de luz; pelo calor e a luz são entendidos o calor e a luz espi' rituais, tal,como estão entre os anjos nos Céus, e tal como estão nos homens quanto aos interiores que pertencem à sua Mente, pois nos homens ha um calor do amor e uma luz da sabedoria, semelhantes aòh que estão nos Anjos. Nos Céus a causa se passa assim: Tal e tão grande é o amor nos Anjos, tal e tão grande é nêles o calor; semelhantemente a luz quanto à sabedoria; isto provém de que nêles o amor está no calor, e a sabedoria na luz, como foi mostrado acima; dá-se o,mesmo na terra entre os homens, entretanto com esta diferença, que os anjos sentem êste calor e vêem esta luz, enquanto que não é assim com os homens; e isto porque os homens estão no calor e na luz naturais, e enquanto aí estão, não sentem o calor espiritual senão por uma espé-cie de prazer do amor, e não vêem a luz espiritual senão pela percepção do,vero. Ora, como o home,m, enquanto está no calor e na luz na-turais, nada sabe do calor e da luz espirituais nêle, e como isso não pode ser sabido senão pela experiència no Mundo espiritual, por esta razão, vai se falar aqui principalmente do calor e da luz em que estão os Anjos e seus Céus; é do Mundo espiritual, e não de outra parte, que há ilustração sôbre êste assunto.

182 – Todavia, os graus do calor espiritual não podem ser descri-tos segundo a experiência, porque o amor ao qual corresponde o calor espiritual não cai assim sob as idéias do pensamento, mas os graus da luz espiritual podem ser descritos, porque a luz aí cai, pois pertence ao pensamento; entretanto pelos graus da luz pode-se compreender os graus do calor espiritual, pois estão em um grau semelhante. Ora, quanto ao que concerne à Luz espiritual em que estão os Anjos, foi-me dado vê-la com meus olhos; a Luz entre os Anjos dos Céus superiores é de uma brancura tão resplandecente que não pode ser descrita, nem mesmo pela brancura da neve, e além disso tão brilhante que não pode tam-pouco ser descrita pelo brilho do Sol do mundo; em uma palavra, esta Luz ultrapassa milhares de vêzes a luz do meio-dia na terra. Mas a Luz entre os Anjos dos Céus inferiores pode de alguma forma ser des-crita por comparações, não obstante ela ultrapassar a luz mais forte de nosso mundo. Se a Luz dos Anjos dos C’us superiores não pode ser descrita, é porque sua Luz faz um com sua sabedoria, e como sua sabedoria relativamente à sabedoria dos homens é inefável, daí resulta que a luz o é também. Por estas poucas explicações, pode-se ver que há graus da luz, e pois que o amor e sabedoria estão em um grau se-melhante, segue-se que há seme!¿aantes graus de calor.

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l83 – Pois que as Atmosferas são os receptáculos e os continentes do calor e da hpz, segue-se que há tantos graus de atmosferas como há graus do calor e da luz, e que há dêles também como há graus do amor e da sabedoria. Que haja várias Atmosferas, e que elas sejam dis-

tinguidas entre si por graus, é o que vi claramente por um grande nú-mero de experiências no Mundo espiritual, sobretudo por esta, que os Anjos dos céus inferiores não podem respirar na região dos Anjos su-periores, e que parecem ofegantes como o ficam ordinàriamente os sêres viventes que são elevados do ar ao éter, ou como os sêres que vi-vem nas águas quando são expostos ao ar; os Espíritos abaixo dos céus aparecem mesmò como em um nevoeiro espêsso. Que haja várias atmosferas, e que elas sejam distinguidas entre si por graus, vê-se acima, número 176.

tlá Graus de dois gêneros, Graus de altura e Graus de largura

184 – A ciência dos graus é como uma chave para se abrir as causas da cousa, e para ai entrar; sem esta ciência pode-se saber apenas alguma cousa da causa, pois sem ela os objetos e os sujeitos de um e outro Mundo aparecem unívocos, como se não houvesse nêles senão o 'que o ôlho aí vê, quando entretanto isso não é, relativamente às cousas que estão interiormente escondidas, senão como um é para milhares, e %esmo para miríades. Os interiores que não se manifestam, jamais po-dem ser descobertos, se não se conhece os graus; pois os exteriores vão para os interiores e por êstes p.”,ra os íntimos por graus, não por graus contfnuos, mas por graus discretos. São chamados Graus contínuos os decrèseimentos ou as diminuições do mais espêsso ao mais delgado, ou 40 atutis denso ao mais rarefeito, eu antes os acréscimos ou aumentos dò Wais delgado ao mais espêsso, ou do mais rarefeito ao mais denso, absolutamente como da luz à sombra ou do calor ao frio. Mas os Graus discretos são inteiramente diferentes; são como os anteriores, os poste-riores 8 'os últimos, ou como o fim, a causa e o efeito; êstes graus são chamados discretos, porque o anterior é por si, o posterior por si, e o último por si, mas não obstante tomados em conjunto, fazem um. As ,Atmosferas, chamadas éter e ar, desde o alto até em baixo, ou desde o Sol até à terra, são distinguidas em tais graus; e são como as causas simples, as reuniõ"s destas cousas, e as reuniões destas reuniões, que tomadas em conjunto são chamadas um composto; êstes Graus são dis-cretos porque existem distintamente, e são entendidos por Graus de al-tura; mas os outros Graus são contínuos, porque crescem contìnuamente, e são entendidos por Graus de largura.

185 – Tôdas e cada uma das causas que existem no Mundo es-piritual, e das que existem no Mundo natural, coexistem segundo os graus discretos e ao mesmo tempo segundo os graus contínuos, ou pelos graus de altura e os graus de largura; esta dimensão que consiste em 'paus discretos é chamada altura, e esta que consiste em graus contínuos e chamada largura; a sua posição relativamente à vista do ôlho não muda a denominação. Sem o conhecimento dêstes Graus, nada se pode

saber da diferença entre os três Céus, nem da diíerença entre o amor e a sabedoria dos Anjos dêstes Céus, nem da diferença entre o calor e a luz em que êles estão, nem da diferença entre as atmosferas que os cercam e os contêm. Sem o conhecimento dêstes Graus, não se pode tampouco saber cousa alguma da diferença das faculdades dos inte-riores que pertencem à Mente dos homens, nem por conseqiiência de seus estados quanto à reforma e à regeneração; nem da diferença das faculdades dos exteriores que pertencem ao corpo, tanto nos anjos como nos homens; nem absolutamente causa alguma da diferença entre o espiritual e o natural, nem por conseguinte nada da correspondència; nem causa alguma de qualquer diferença da vida entre os homens e as bêstas, nem da diferença entre as bêstas mais perfeitas e as bèstas menos perfeitas; nem da diferença entre as formas do Reino vegetal e as matérias do Reino mineral. Por isso, é evidente que os que ignoram êstes Graus não podem, por julgamento algum, ver as causas; vèem unicamente os efeitos, e julgam as causas por êstes efeitos, o que se faz mais freqiientcmente por uma indução contínua de efeitos, quando entretanto as causas produzem os efeitos não pelo contínuo, mas pelo discreto; pois uma causa é a causa, e outra cousa é o efeito; há uma diferença como entre o anterior e o posterior, ou como entre o que forma e o que é formado.

186 – Para que se apreenda melhor o que são os Graus discretos, quais são êles, e que diferença há entre êles e os Graus contínuos, se-jam para exemplo os Céus Angélicos: Há três Céus e êles foram dis-

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tinguidos pelos Graus de altura; é por isso que êstes Céus estão um abaixo do outro; e não se comunicam entre si senão pelo influxo que vem do Senhor pelos Céus em sua ordem até em baixo, e não recìpro-cameute. bfas cada Céu por si mesmo foi distinguido não pelos graus de altura, mas pelos graus de largura; os que estão no meio õú no centro estão na luz da sabedoria, mas os que estão nas periferias até aos limites estão na sombra da sabedoria; assim a sabedoria decresce até à ignorância como a luz decresce até à sombra, o que se faz pelo contínuo. Dá-se o mesmo com os homens; os interiores que pertencem à sua Mente foram distinguidos em tantos Graus como o são os Céus Angélicos, e êstes Graus estão um acima do outro; é por isso que os interiores dos homens, que pertencem à sua Mente, foram distingui-dos pelos graus discretos ou de altura; daí vem que o homem pode estar no grau ínfimo, depois no superior, e também no supremo se-gundo o grau de sua sabedoria; e que quando está unicamente no grau ínfimo, o grau superior foi fechado, e que êste grau é aberto con-forme o homem recebe do Senhor a sabedoria. Há também no ho-mem, como no Céu, graus contínuos ou de largura. Se o homem é semelhante aos Céus, é porque, quanto aos interiores de sua Mente, êle é um Céu na menor íorma, tanto quanto está pelo Senhor no amor

e na sabedoria; que o homem quanto aos interiores de sua Mente seia o Céu na menor forma, vê-se no Tratado do Céu e do Inferno, ns. 51 a 58.

187 – Por estas poucas explicações pode-se ver que aquêle que nada sabe dos Graus discretos ou de altura não pode tampouco saber causa alguma do estado do homem quanto à sua reforma e à sua re-generação, que se fazem pela recepção do amor e da sabedoria proc"-dentes do Senhor, e pela abertura então dos graus interiores de sua mente em sua ordem; não pode tampouco saber causa alguma do in-fluxo procedente do Senhor pelos Céus, nem cousa alguma da ordem em que foi criado; pois se alguém pensa nestas cousas, não segundo os graus discretos ou de altura, mas segundo os graus contínuos ou de largura, não pode ver seja o que fôr senão segundo os efeitos, e nada vê segundo as causas; ora, ver segundo os efeitos sós, é ver se-gundo ilusões; daí erros, um após outro, que por induções podem ser multiplicados a um tal ponto, que por fim enormes falsidades sejam chamadas verdades.

188 – Que eu saiba, até ao presente não se teve qualquer conhe-cimento dos Graus discretos ou de altura, mas se conhece unicamente os graus contínuos ou de largura; e entretanto cousa alguma do que concerne à causa pode se mostrar em sua verdade sem o conhecimento dos graus de um e outro gênero; é por isso que se tratará dêles em t6da esta terceira Parte; pois o fim dêste Opúsculo é, que tôdas as causas sejam desvendadas, e que por elas se vejam os efeitos, e que assim sejam dissipadas as trevas em que está o homem da Igreja a respeito de Deus e do Senhor, e em geral a respeito dos Divinos quo são chamados Espirituais. Posso relatar isto, que os Anjos estão tris-tes por causa das trevas que estão sôbre a terra; êles dizem que aqui vêem apenas em alguma parte a luz, e que os liomens apreendem àvi-damente as ilusões e as confirmam, e por isso amontoam falsidades sôbre falsidades, e que para as confirmar procuram, por meio de ra-ciocínios tirados de falsos e de verdades falsificadas, paradoxos que não podem ser dissipados em razão das trevas sôbre as causas e da ignorância sôbre as verdades; queixam-se principalmente das confirma-ções sôbre a fé separada da caridade, e sôbre a justificação por esta fé; e também das idéias sôbre Delis, sôbre os Anjos e sôbre os Espí-ritos, e da ignorância sôbre o que é o amor e a sabedoria.

Os Graus de altura são homogêneos, e derivados um do outro em série como o fim, a causa e o efeito

189 – Pois que os Graus de largura ou contínuos são como os

da Luz à sombra, do quente ao frio, do duro ao mole, do denso ao

rarefeito, do espêsso ao tênue, e assim por diante, e pois que êstes graus

são conhecidos pela experiência dos sentidos e dos olhos, enquanto que " não se dá o mesmo com os Graus de altura ou discretos, é principal-mente dêstes que se tratará nesta Parte, pois sem o conhecimento des-tes Graus não se pode ver as causas. Sabe-se, é verdade, que o fim, a causa e o efeito seguem-se em ordem, como o anterior, o posterior e o último, e que o fim produz a causa, e pela causa o

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efeito, para que o fim exista, e sabe-se também várias outras causas sôbre êste assunto, entretanto s'bê-ias, e não as ver por aplicações sôbre o que existe, é saber unicamente causas abstratas, que não permanecem senão tanto tempo quanto no pensamento !iá cousas analíticas tiradas da Metafísica; daí vem que, embora o fim, a causa e o efeito andem por Graus dis-cretos, entretanto no Mundo sabe-se pouca causa sôbre êstes Graus, se é que se sabe alguma causa; pois o conhecimento íínico das causas abstra,tas é como uma espécie de objeto aéreo que desaparece, ma se as cous.",s abstractas são aplicadas a cousas que estÃ.o no Mundo, elas são como um objeto <pôde se vê com os olhos sôbre a terra, e que per-manec.e na memória.

.190 – Tidas as causas que existem no Mundo, às quais se apli-cam as três dimensões, ou coque chamamos compostas, consistem em Graus de altura ou discretos; mas exemplos vão ilustrar êste assunto: Sabe-se pela experiência ocular que cada Músculo no corpo humano consiste em fibras muito pequenas, e que estas compostas em feixes apresc'ntam fibras maiores, que são chamadas motrizes, e que pelos f i-xes destas fibras motrizes existe um composto, que é chamado Míope- ' culo. Dá-se o mesmo com os Nervos; nos nervos, fibras muito peque-nas formam outras maiores, que se apresentam como filamentos, e da re;união dêstes se forma o Nervo. Dá-se o mesmo com todos os outros conjuntos, feixes e reuniões, de que se compõem os 6rgãos e as Vís-ceras, pois os órgãos e as vísceras são composições de fibras e de vasos diversamente conformados por semelhantes graus. Dá-se o mesmo tam-bém com tôdas as cansas do Reino vegetal e tôdas as causas do Reino m',nn.al, em geral e em particular; nas madeiras, são conjuntos de fila-mentos em uma ordem tríplice; nos metais e nas pedras são grupos de partes também cm uma ordem tríplice. Por aí vê-se claramente o que são os Graus cìiscretos, a saber, coque de uma causa vem uma outra, e desta uma terceira, que é chamada um composto; e educ cada Grau foi separado de um outro Grau.

191 – Dêstes objetos visíveis pode-se concluir a respeito dos que não se mostram diante dos olhos, porque é a mesma causa para êles; por exemplo, para as substâncias orgânicas que são os receptáculos e os habitáculos dos pensamentos e das afeições nos Cérebros; para as Atmosferas; para o Calor e a Luz; e para o Amor e a Sabedoria. Com efeito, as Atmosferas são os receptáculos do Calor e da Luz; e o Calor e a Luz são os receptáculos do Amor e da Sabedoria; é por isso que,

pois que há graus de Atmosferas, há também Graus semelhantes de Calor e de Luz, e Graus semelhantes de Amor e de Sabedoria; pois não há entre êstes uma outra relação que entre aquêles.

192 – Que êstes Graus sejam homogêneos, isto é, do mesmo ca-ráter e da mesma natureza, vê-se pelo que acaba de ser dito: as fi-bras motrizes dos músculos, as muito pequenas, as grandes e as muito grandes, são homogêneas; as fibras nervosas, as muito pequenas, as grandes e as muito grandes são homogêneas; os filamentos lenhosos, desde os menores até seu composto são homogêneos; as partes pedre-gosas e metálicas de cada gênero, igualmente; as substâncias organicas, que são os receptáculos e os habitáculos dos pensamentos e das afei-ções, desde as mais simples até à sua reunião comum, que é o Cérebro, são homogêneas; as Atmosferas desde o puro éter ate ao ar são ho-mogêneas; os Graus do calor e da luz na série segundo os Graus das Atmosferas são homogêneos; e por conseguinte também os Graus do Amor e da Sabedoria são homog¿'n os. As cousas que não são do mesmo caráter nem da mesma natureza são heterogêneas, e não concordam com as homogêncas; assim, não podem apresentar com elas Graus discre-tos; porém elas não podem apresentá-los senão com as suas, que são do mesmo caráter e da mesma natureza, com as quais são homogeneas.

193 – Que estas causas estejam em sua ordem, como os fins, as causas e os efeitos, isso é evidente; pois o primeiro, que é o menor, faz sua causa pelo médio, e seu efeito pelo último.

194 – E’ preciso v¿ue se saiba que cada Grau foi distinguido de um outro pelos invólucros próprios, e que todos os Graus juntos foram distinguidos por um Invólucro comum; e que o Invólucro comum co-munica com os interiores e com os íntimos em sua ordem; daí vem a conjunção de todos e a ação unânime.

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O primeiro Grau é tudo em tôdas as cousas dos Graus seguintes

195 – Isto provém de que os Graus de cada sujeito e de cada cousa são homogêncos; e são homogêneos porque foram produzidos pelo primeiro grau; com efeito, sua formação é tal, que o primeiro por fei-xes ou grupos, em uma palavra, por meio de reuniões produz o se-gundo, e por êste o terceiro; e separa um do outro por um invólucro que o cerca; daí, é evidente que o primeiro grau é o principal e o que reina unicamente nos seguintes; que assim o primeiro grau é tudo em tôdas as cousas dos graus seguintes.

196 – Foi dito que tais são os Graus entre si, mas deve ser enten-dida que tais são as substâncias em seus graus; a locução pelos -Graus

é uma locução abstrata, que é universal, por conseqiiência aplicável a cada sujeito ou a cada cousa, que está nos Graus desta espécie.

197 – A aplicação pode ser feita a tôdas as cousas de que se falou no Artigo precedente; assim, aos Músculos, aos Nervos, às Matérias e às Partes dos Reinos vegetal e mineral, às Substâncias orgânicas que são os sujeitos dos pensamentos e das afeições no homem, às Atmosferas, ao Calor e à Luz, e ao Amor e à Sabedoria; em tôdas há um primeiro que reina unicamente nos seguintes, e é mesmo único nêles. Que assim seja, é ainda o que se vê claramente pelo que é sabido, a saber, que o fim é tudo da causa, e que pela causa é tudo no efeito; e eis porque o fim, a causa e o efeito são chamados fim primeiro, fim médio, e fim último; além disso vê-se que a camisa da causa é também a causa do resultado da causa (causatum) ; e que nas causas nada há de essen-cial senão o fim, e no movimento nada de essencial senão o esfôrço; e enfim que há uma substância única, que é a substância nn si.

198 – Por isso pode-se ver claramente que o Divino, cpie é a subs-tância em si, ou a única e só substância, é a substância de que pro-cedem tôdas e cada uma das cousas que foram criadas, que assim Deus é tudo em tôdas as causas do Universo, conforme foi demons-trado na Primeira Parte; a saber, que o Divino Amor e a Divina Sabe-doria são uma substància e uma forma, ns. 40 a 43; que o Divino Amor e a Divina Sabedoria são a substância em si e a forma em si, assim o Eu mesmo e o único, ns. 44 a 46; que tôdas as causas do Universo foram criadas pelo Divino Amor e a Divina Sabedoria, ns. 52 a 60; que por conseguinte todo o universo criado é a imagem do Senhor, ns. 61 a 63; e que o Senhor só é o Céu, onde estão os Anjos, ns. 113 a 118.

Tôdas as perfeições crescem e sobem com os Graus e segundo os Graus

199 – Foi mostrado acima, ns. 184 a 188, que há graus de doi¿ gêneros, graus de largura e graus de altura; e que os graus de largura são como os da luz que declina para a sombra, ou como os da sabe doria que declina para a ignorância, enquanto que os graus de altura são como o fim, a causa e o efeito, ou como o anterior, o posterior ( o último; dêstes graus se diz que sobem ou descem, pois pertencem 3 altura; mas daqueles se diz que crescem ou decrescem, porque perten cem à largura. Uns diferem de tal modo dos outros, que nada têm de comum, assim devem ser distintamente percebidos e de modo al gum confundidos.

200 – Se tôdas as perfeiçóes crescem e sobem com os graus ( segundo os graus, é porque todos os atributos seguem seus sujeitos, <

porque a perfeição e a imperfeição são atributos comuns; pois se di-zem da vida, das fôrças e das formas. A perfeição da sida é a perfeição do Amor e da Sabedoria; e como a vontade e o entendimento são seus receptáculos, a perfeição da vida é também a perfeição da vontade e do entendimento, e por conseguinte a das afeições e dos pensamentos; e como o calor espiritual é o continente do Amor, e a luz espiritual é o continente da Sabedoria, a sua perfeição também pode ser referida à perfeição da vida. A

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perfeição das fôrças é a perfeição de tôdas as causas que são postas em ação e em movimento pela vida, nas quais entretanto não há a vida; as atmosferas quanto a suas ações (actualitates) são tais fôrças; as substâncias orgânicas interiores e exteriores no ho-mem, e também nos animais de todo gênero, são também tais fôrças; tôdas as causas, no Mundo natural, que obtêm imediatamente e media-tamente atividades pelo sol dêste mundo, são ainda tais fôrças. A per-feição das formas e a perfeição das fôrças fazem um, pois tais são as fôrças, tais são as formas, com a única diferença que as formas são substâncias, enquanto que as fôrças são as suas atividades, é por isso que há para umas e outras semelaantes graus de perfeição; as formas que não são ao mesmo tempo fôrças são perfeitas também segundo os graus.

201 – Não se falará aqui das perfeições da vida, das fôrças e das formas, que crescem ou decrescem segundo os graus de largura ou con-tínuos, porque êsses graus são conhecidos no Mundo; mas falar-se-á das perfeições da vida, das fôrças e das formas, que sobem ou descem segundo os graus de altura ou discretos, porque êstes graus não são conhecidos no Mundo. Ora, de que maneira sobem e descem as per-feições segundo êstes graus, isso pode ser conhecido um pouco pelas causas visíveis no Mundo natural, mas claramente pelas cousas visí-veis no Mundo espiritual; pelas cousas visíveis no Mundo natural, des-cobre-se unicamente que quanto mais as consideramos interiormente, tanto mais maravilhas encontramos nelas; como, por exemplo, nos olhos, nos ouvidos, na língua, nos músculos, no coração, no pulmão, no fí-gado, no pâncreas, nos rins, e em tôdas as outras vísceras; além disso, nas sementes, nas flôres e nos frutos; e também nos metais, nos mine-rais e nas pedras; que em todos êstes objetos se encontram tanto mais maravilhas, quanto mais os consideramos interiormente, isso é notório; mas por esta inspeção pouco vem ao conhecimento que sejam interior-mente mais perfeitos segundo os graus de altura ou discretos, a igno-rância dêsses graus mantém isso oculto. Mas como êstes mesmos graus no Mundo espiritual se apresentam manifestamente, pois todo êsse Mundo, desde o supremo até ao ínfimo, é distintamente dividido nesses graus, resulta daí que lá se pode haurir seu conhecimento; em seguida por êstes graus pode-se concluir sôbre as perfeições das fôrças e das formas, que estão em graus semelhantes no Mundo natural.

202 – No Mundo espiritual, há três Céus dispostos em ordem se-F’- ndo os Graus de altura; no Céu supremo os Anjos estão em tôda per-eição em comparação com os Anjos que estão no Céu médio, e no Céu médio os Anjos estão em tôda perfeição em comparação com os Anjos do Céu ínfimo. Os graus de perfeições são tais, que os Anjos do Céu ínfimo não podem subir até ao primeiro limiar das perfeições dos Anjos do Céu médio, nem êstes até ao primeiro limiar das perfei-ções dos Anjos do Céu supremo; isto parece um paradoxo, mas entre-tanto é a verdade; a razão disso, é que foram consociados segundo os graus discretos, e não segundo os graus contínuos. Foi-me dado co-nhecer por experiência, que entre os Anjos dos Céus superiores e os Anjos dos Céus inferiores, há uma tal diferença de afeições e de pen-samentos, e por conseqiiência de linguagem, que nada têm de convim, e que as comunicações se fazem iìnicamente por correspondências, que existem pelo influxo imediato do Senlior em todos os Céus, e pelo in-fluxo mediato pelo Céu supremo no Céu ínfimo. Como essas diferen-ças são assim, não podem ser expressas por uma linguagem natural, nem por conseqiiência ser descritas, pois os pensamentos dos Anjos não caem nas idéias naturais, pois que êstes pensamentos são espirituais; podem ser expressos unicamente e descritos por êles mesmos em sua língua, suas palavras e sua escrita, e não pelas línguas, as palavras e as escritas dos homens; daí vem que se diga que nos Céus se ouve e se vê causas inefáveis. Estas diferenças podem ser apreendidas um pouco por isto, que os pensamentos dos Anjos do Céu supremo ou ter-ceiro Céu são pensamentos dos fin;; os pensamentos dos Anjos do Céu médio ou segundo Céu, os pensamentos das causas; e os pensamentos dos Anjos do Céu ínfimo ou primeiro Céu, os pensamentos dos efeitos. E’ preciso que se saiba que, uma cousa é o pensar pelos fins, e outra causa pensar pelas causas, e outra cousa pensar pelos efeitos, e outra cousa pensar sôbre os efeitos; os Anjos dos Céus inferiores pensam sê-bre as causas e sôbre os fins, mas os Anjos dos Céus superiores pen-sam pelas Causas e pelos fins, e pensar pelas causas e pelos fins per-tence à sabedoria superior, enquanto que pensar sôbre as causas e sê-bre os fins pertence à sabedoria inferior. Pensar pelos fins, é a sabe-doria; pensar pelas causas, é a int' ligência; e pensar pelos efeitos, é a ciência. Por estas explicações, é evidente que tôda perfeição sobe e desce com os graus e segundo os graus.

203 – Como os interiores do homem, que pertencem à sua von-tade e ao seu entendimento, são semelhantes aos Céus quanto aos graus, pois o homem quanto aos interiores que pertencem à sua Mente é o Céu na menor forma, é por isso que suas perfeições também são se-melhantes; mas estas perfeições não se manifestam a homem algum enquanto vive no Mundo, pois então êle está no grau ínfimo, e pelo grau

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ínfimo, os graus superiores não podem ser conhecidos; mas de-pois da morte são conhecidos, pois então o homem entra no grau que

corresponde a seu amor e à sua sabedoria, pois que então se torna Anjo, e pensa e diz causas que eram inefáveis para seu homem natural; com efeito, há então elevação de tôdas as cousas de sua mente não em razão simples, mas em razão tríplice; em razão tríplice estão os graus de altura, e em razão simples os graus de largura. Mas aos graus de altura não sobem e não são elevados senão aquêles que, no Mundo, estiveram nos veros e os aplicaram à sua vida.

204 – Parece que os Anteriores são menos perfeitos que os Pos-teriores, ou que os simples são menos perfeitos que os compostos; mas não obstante os anteriores de onde provêm os posteriores, ou os sim-ples de onde provêm os compostos, são mais perfeitos; e isso porque os anteriores ou os simples são mais nus, e menos velados por substan-cias e por matérias privadas de vida; e são como mais Divinos, estão também mais perto do Sol espiritual, onde está o Senhor; pois a per-feição mesma está no Senhor, e por conseqiiência no Sol, que é o pri-meiro Procedente do Divino Amor e da Divina Sabedoria do Senhor; e daí, nas cousas que se seguem de mais perto, e assim em ordem até aos ínfimos, que são mais imperfeitos segundo suas distâncias. Se nos anteriores e nos simples não houvesse esta eminente perfeição, nem o homem, nem animal algum, teria podido existir por uma semente, nem em seguida subsistir; e as sementes das árvores e dos arbustos não te-riam podido vegetar nem proliferar; pois todo anterior é tanto mais isento de dano quanto mais interior é, e todo simples é tanto mais isento disso quanto mais simples é, porque são mais perfeitos.

Na Ordem necessita o primeiro Grau faz o supremo, e o terceiro o ínfimo; mas na Ordem simultânea o primeiro Grau

faz o íntimo, e o terceiro o extimo

205 – Há uma Ordem sucessiva, e uma Ordem simultânea; a Or-dem sucessiva dêstes graus é desde o supremo até ao ínfimo, ou desde o alto até em baixo; nesta Ordem estão os Céus angélicos, o terceiro Céu é nela o supremo, o segundo o médio, e o terceiro o ínfimo; tal é entre êles a sua situação; em uma Ordem sucessiva semelhante aí estão os estados do amor e da sabedoria nos Anjos, além disso os do calor e da luz, como também os das atmosferas espirituais; em uma semelhante Ordem aí estão tôdas as perfeições das formas e das fôr-ças. Pois que os Graus de altura ou discretos estão em uma Ordem sucessiva, podem então ser comparados a uma Coluna dividida em três degraus para subir e descer, no estágio superior da qual há cousas muito perfeitas e muito belas; no do meio, causas menos perfeitas e menos belas; e no mais baixo, cousas ainda menos perfeitas e menos belas. Mas a Ordem simultânea, que consiste em graus semelhantes, tem uma outra aparência; nesta, os supremos da Ordem sucessiva, que são como

foi dito, muito perfeitos e muito belos estão no íntimo, os inferiores no meio, e os ínfimos no contôrno; estão como em um sólido consistindo nestes três graus, no meio ou no centro do qual estão as partes mais sutis, em tôrno dêste centro as partes menos sutis, e nos extremos que fazem o contôrno as partes compostas daquelas e por conseguinte mais grosseiras; é como esta coluna, de que se acaba de falar, se achatando sôbre um plano, da qual o supremo faz o íntimo, o médio faz o meio e o ínfimo faz o extremo.

206 – Como o supremo da Ordem sucessiva se torna o íntimo da ordem simultânea, e o ínfimo se torna o extimo (ou externo), é por isso que na Palavra pelo superior é significado o interior, e pelo in-ferior o exterior; do mesmo modo pelo alto e o baixo, e também pelo elevado e pelo profundo.

207 – Em todo último há os graus discretos em ordem simultânea: as fibras motrizes em todo músculo, as fibras em todo nervo, além disso as fibras e os pequenos vasos em tôda víscera e em todo 6rgão, estão em uma tal ordem; ìntimamente há nêles as partes mais simples que são as mais perfeitas, o

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extimo (externo) é o composto delas. Há uma Ordem semelhante dêstes graus em tôda semente e em todo fruto, além disso também em todo metal e em tôda pedra; tais são suas par-tes de que resulta o todo; os íntimos, os médios e os extimos das partes estão nestes graus; pois são sucessivas composições, ou sucessivas reu-niões e gn.ipos provenientes dos simples, que são suas primeiras subs-tâncias ou matérias.

208 – Em uma palavra, há tais graus em todo ííltimo, assim em todo efeito; pois todo último se compõe de anteriores, e êstes se com-põem de seus primeiros; e todo efeito se compõe da causa, e esta do fim, e o fim é tudo na causa, e a causa é tudo no efeito, como foi de-monstrado acima, e o fim faz o íntimo, a causa o médio, e o efeito o último. Que se dê o mesmo com os graus do amor e da sabedoria, do calor e da luz, e também com as formas orgânicas das afeições e dos pensamentos nos homens, ver-se-á no que segue. Tratou-se também da série dêstes graus na Ordem sucessiva e na Ordem simultânea, na Doutrina da Nova Jerusalém sôbre a Escritura Santa, n. 38, e em ou-tros lugares; foi mostrado que há semelhantes graus em tôdas e em cada uma das causas da Palavra.

O último Grau é o complexo, o continente e a base dos graus anteriores

209 – A Doutrina dos Graus, que é dada nesta Parte, foi ilustrada até ao presente por diferentes causas que existem em um e outro

Mundo; as;im, pelos graus dos Céus onde estão os Anjos, pelos graus do ca!or e da luz entre os Anjos, pelos graus das atmosferas, e por diferentes causas no corpo humano, e também no Reino animal e no Reino mineral. Mas esta doutrina é de uma extensão mais ampla; es-tende-se não sòmente às causas Naturais, mas também às cousas Civis, Morais e Espirituais, e a tudo que as concerne tanto em geral como em particular. Iiá duas razões pelas quais a doutrina dos graus se es-tende também a estas cousas; a Primeira, é que em tudo de que se pode falar há um trino, que é chamado fim, causa e efeito, e que estas três cousas estão entre si segundo os graus de altura. A Segunda razão, é que todo Civil, todo Moral e todo Espiritual, não é uma abstração, mas é uma substância, pois do mesmo modo que o amor e a sabedo-ria não são causas abstr'tas, mas uma substância, como foi mostrado acima, ns. 40 a 43, do mesmo modo também tôdas as cousas que são chamadas civis, morais e espirituais; pode-se, é verdade, pensar nelas fazendo abstração das substâncias, mas contudo em si mesmas elas não são abstrações; assim, por exemplo, a afeição e o pensamento, a cari-dade e a fé, a vontade e o entendimento; com efeito, acontece com estas cõusas como com o amor e a sabedoria, quer dizer que elas não existem fora dos sujeitos, que são substâncias, mas que são os estados dos sujeitos ou substâncias; que sejam suas mudanças que manifestam as variações, ver-se-á no que segue. Por substância entende-se também a forma, pois não há substância sem forma.

210 – Pelo fato de se ter podido pensar e de se ter pensado sôbre a vontade e o entendimento, sôbre a afeição e o pensamento, e sôbre a caridade e a fé, fazendo abstração das substâncias que são os seus sujeitos, aconteceu que se perdeu a justa idéia destas cousas, a saber, que elas são os estados das substâncias e das formas; absolutamente como são as sensações e as ações, que não são tampouco causas abstratas dos órgãos sensoria e motoria; abstratas ou separadas dêstes órgãos, elas não são mais que sêres de razão; pois são como a vista sem o ôlho, a audição sem o ouvido, como o gôsto sem a língua, e assim por diante.

211 – Pois que tôdas as causas civis, morais e espirituais fazem sua progressão por graus, como as causas naturais, não sòmente por graus contínuos, mis também por graus discretos, e que as progressões dos graus discretos são como as progressões dos fins para as causas, e das causas p.;ra os efeitos, quis que a proposição presente, que é, que o último Gr"u í o complexo, o continente e a base dos graus anteriores, fôsse ilustrada e confirmada pelas cousas descritas acima, a saber, pelas que pertencem ao amor e à sabedoria, à vontade e ao entendimento, à afeição e ao pensamento, à caridade e à fé.

212 – Que o último Grau seja o complexo, o continente e a base dos graus "nteriores, vê-se claramente pela progressão dos fins e das

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causas para os efeitos; a razão ilustrada pode apreender que o efeito é o complexo, o continente e a base das causas e dos fins, mas não pode apreender também claramente que o fim com tudo que lhe per-tence, e a causa com tudo que ]he pertence, estão efetivamente no efeito, e que o efeito é o seu pleno complexo. Que a cousa assim seja, pode-se ver pelas proposições já apresentadas nesta Parte, sobre-tudo por esta, que um procede do outro em uma série tríplice; e que o efeito não é outra cousa senão o fim em seu último; e como o último é complexo, segue-se que o último é o continente, e também a base.

213 – Quanto ao que concerne ao Amor e à Sabedoria, o Amor é o fim, a Sabedoria é a causa per quam (pela qual) o Amor age, e o Uso é o efeito; e o Uso é o complexo, o continente e a base da sa-bedoria e do amor; ora, o uso é um tal complexo e um tal continente, de modo que há nêle efetivamente tôdas as causas do amor e tôdas as da sabedoria, é o simultâneo delas. Mas é preciso que se saiba bem que tôdas as cousas do amor e da sabedoria, que são homogêneas e concordantes, estão no uso, conforme o que foi dito e mostrado acima, ns. 189 a 194.

214 – Em uma série de graus semelhantes estão também a Afeição, o Pensamento e a Ação, porque tôda afeição se refere ao amor, todo pensamento à sabedoria e tôda ação ao uso. Em uma série de graus semelhantes estão a caridade, a fé e a boa obra, pois a caridade per-tence à afeição, a fé ao pensamento, e a boa obra à ação. Em uma série de graus semelhantes estão também a vontade, o entendimento e o exercício, pois a vontade pertence ao amor, e por conseguinte à afei-ção, o entendimento à sabedoria e por conseguinte à fé, e o exercício ao uso e por conseguinte à obra, Assim como no uso há tôdas as cousas da sabedoria e do amor, assim também na aço há tôdas as cousas do pensamento e da afeição, na boa obra tôdas as cousas da fé e da caridade, e assim por diante; mas tôdas as causas homogêneas, isto é, concordantes.

215 – Que o último de cada série, que é o uso, a obra e o exer-cício, seja o complexo e o continente de todos os anteriores, é o que ainda não tinha sido conhecido; parece que no uso, na ação, na obra e no exercício, nada mais há que o que está no movimento, mas entre-tanto há na realidade nêles todos os anteriores, e tão plenamente que nada falta dêles; êles aí estão encerrados como o vinho em seu tonel, e como os móveis em uma casa. Se êstes anteriores não aparecem, é porque são considerados exteriormente, e considerados exteriormente são unicamente atividades e movimentos; é como quando o braço e as mãos se movem, e que se ignora que mil fibras motrizes concorrem para cada um de seus movimentos, e que a estas mil fibras motrizes corres-pondem milhares de cousas pertencentes ao pensamento e à afeição,

que excitam as fibras motrizes; e como agem ìntimamente, não apa-recem diante de nenhum sentido do corpo; isso é notório, que nada é pôsto em açâo no corpo ou pelo corpo senão segundo a vontade pelo pensamento, e como uma e outro agem, não é possível que tôdas e cada uma das cousas da vontade e do pensamento deixem de estar na ação; não podem ser separadas; daí vem que é segundo os fatos ou as obras que se julga o pensamento da vontade do homem, que se chama intenção. Tornou-se notório para mim, que os Anjos por um único fato ou uma única obra do homem percebem e vêem tôda a vontade e o pensamento daquele que age; os anjos do terceiro Céu percebem e vêem segundo a vontade o fim propter quem (pelo qual se age) e os anjos do segundo Céu a causa pela qual o fim age. Vem daí que, na Palavra, as obras e os fatos sejam tantas vêzes mandados, e que se diga que o homem é conhecido pelas obras e pelos fatos.

216 – E’ um ponto da sabedoria angélica, que se a vontade e o entendimento, ou a afeição e o pensamento, e também a caridade e a fé, não se cobrem e não se envolvem com obras ou fatos, quando é possível, elas não são senão como sopros que passam, ou como ima-gens no ar que se perdem; e que não permanecem no homem e não se tornam cousas da vida, senão quando o homem opera e faz; a razão disso, é que o último é o complexo, o continente e a base dos anterio-res. Um tal sôpro e uma tal imagem, é a fé separada das boas obras, e é também a fé e a caridade sem seus exercícios, com a única dife-rença de que aquêles que admitem a fé e a caridade sabem e podem querer fazer os bens, mas não aquêles que estão na fé separada da caridade.

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Os Graus de altura em seu último estão no pleno e na potência

217 – No Artigo precedente mostrou-se que o último Grau é o complexo e o continente dos graus anteriores; segue-se daí que no último os Graus anteriores estão no pleno; pois estão em seu efeito, e todo efeito é o pleno das causas.

218 – Que êstes Graus ascendentes e descendentes, que são tam-bém chamados anteriores e posteriores, e também Graus de altura e discretos, estejam em sua potência em seu último, é o que pode ser confirmado por tudo que foi referido nos Artigos precedentes segundo as cousas sensíveis e perceptíveis por confirmações; mas aqui quero sòmente confirmá-lo pelos Esforços, as Fôrças e os Movimentos nos su-jeitos mortos e nos sujeitos vivos. Sabe-se que o esfôrço nada faz por si mesmo, mas que age por fôrças correspondentes a êle, e que por elas manifesta o movimento; e que resulta daí que o esfôrço é tudo

nas forças, e pelas fôrças no movimento; e que, como o movimento é o último grau do esfôrço, é por c;le que o esfôrço põe em ação sua potência; o esfôrço, a fôrça e o movim nto não são ccn¿untos senão de acôrdo com os graus de altura, cuja conjunção existe não pelo contínuo, pois que são discretos, mas pelas correspondências; pois o esfôrço não é a fôrça e a fôrça n,¿o é o movimento, mas a fôrça é produzida pelo esfôrço, pois que a fôrça é o esfôrço excitado, e o movimento é pro-duzido pela fôrça; é por isso que não há potência alguma no esfôrço só, nem na fôrça só, mas a potência está no movimento coque é seu pro-duto. Que assim seja, é o que ainda parece duvidoso, porque isso não foi ilustrado por aplicações às causas sensíveis e perceptíveis na natureza, mas não obstante tal é sua progressão para a potência.

219 – Mas seja uma aplicação disto ao esfôrço vivo, à fôrça viva e ao movimento vivo: O esfòrço vivo no homem que é um sujeito vivo, é sua vontade unida a seu entendimento; as fôrças vivas no homem são as partes que por dentro constituem seu corpo, em tôdas estas partes há fibras motrizes entrelaçadas de diversas maneiras; e o movimento vivo no homem é a ação, que é pioduzida por estas fôrças segundo a vontade unida ao entendimento; pois os interiores que pertencem à von-tade e ao entendimento fazem o primeiro grau, os interiores que per-tencem ao corpo fazem o segundo, e todo o corpo coque é o seu com-plexo faz o terceiro grau; que os interiores que pertencem à mente não estejam em potência alguma senão pelas fôrças no corpo, e que as fôrças não estejam tampouco em potência alguma senão pela ação do corpo mesmo, isso é notório. Estes três agem não pelo contínuo, mas pelo discreto, e agir pelo discreto, é agir pelas correspondèncias; os interiores que pertencem à mente correspondem aos interiores do corpo, e os interiores do corpo correspondem a seus exteriores, pelos quais existem as ações; é por isso que os dois anteriores estão na po-tência pelos exteriores do corpo. Pode parecer que os esforços e as fôrças no homem estejam em alguma potência, ainda que não haja ação, como no sono e nos estados de repouso, mas então não obstante as de-terminações dos esforços e das fôrças estão nos motoria comuns do corpo, que são o Coração e o Pulmão; entretanto a ação do coração e do pulmão cessando, as fôrças cessam também, e com as fôrças os

CSf OTgOS.

220 – Como o todo ou o corpo determinou suas potências prin-cipalmente nos braços e nas mãos, que são os últimos, é por isso que pelos braços e as mãos, na Palavra, é significada a potència, e pela mão direita uma potência superior. O desdobramento e o desenvol-vimento dos graus para a potência sendo tal, eis porque por uma única ação, que é feita pelas mãos, os Anjos que estão no homem e na cor-respondência de tôdas as causas do homem, conhecem qual èle é quanto ao entendimento. e à vontade, e também quanto à caridade e à fé, assim

quanto à vida interna que pertence à sua mente, e quanto à vida ex-terna que por aquela está no corpo. Que coaja nos anjos um tal conhe-cimento por uma única ação do corpo pelas mãos, é o que me admirou muitas vêzes, mas acontece que isso me foi mostrado algumas vêzes por viva experiência, e me foi dito que é por isso que as inaugurações no ministério se fazem pela imposição das mãos, e que pelo

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toque com as mãos é significado comunicar, além de várias outras cousas seme-lhantes. Daí foi tirada esta conclusão que o todo da caridade e da fé está nas obras, e que a caridade e a fé sem as obras são como em tôrno do Sol os arco-íris que desaparecem e são dissipados por uma nuvem; é por isso que, na Palavra, tão freqúentemente se fala das obras, e que se diz para fazer, e que a salvação do homem depende disso; e por isso mesmo aquêle que faz é chamado sábio, e aquêle que não faz é chamado insensato. Mas é preciso saber que pelas obras aqui são entendidos os usos, que são feitos efetivamente; pois nesses usos e segundo êsses usos está o todo da caridade e da fé; com os usos há esta ccrrespondência, porque esta correspondència é espiritual, mas se faz pelas substâncias e as matérias, que são os sujeitos.

221 – Aqui podem ser revelados dois Arcanos, que entram no entendimento pelas explicações dadas acima: O Primeiro Arcano é, que a Palavra, no sentido da letra, está em seu pleno e em sua potência; com efeito, na Palavra há três sentidos segundo os três graus, o sen-tido celeste, o sentido espiritual e o sentido natural; como êstes sen-tidos segundo os três graus de altura estão na Palavra, e como sua con-junção se faz pelas correspondências, é por isso que o último sentido, que é o natural e é chamado sentido da letra, não sòmente é o com-plexo, o continente e a base dos sentidos interiores correspondentes, mas também í a Palavra no último sentido no seu pleno e na sua potência. Que assim seja, isso foi mostrado e confirmado em vários lugares na Doutrina da Nota Igrej,c,sôbrc a Rscr!twra Santa, ns. 27 a 36, 37 a 49, 50 a 61, 62 a 69. O Segundo Arcano é, que o Senhor veio ao difundo c tomou o EIumano, p¿ra se pôr em pot<”.ncia de subjugar os infernos, e de restabelecer tôdas as cousas na ordem, tanto nos Céus como sôhre a Terra. Com êste IIumano Ele sobrevestiu Seu Humano Anterior; o Hum no, com que se sobrevestiu no Mundo, era como o Humano do homem no Mundo, um e outro entretanto Divinos, e por conseguinte infinitamente acima dos Humanos finitos dos anjos e dos homens; e como f:le plenamente glorificou o Humano Natural até em seus últimos, eis porque lle ressuscitou com todo o Corpo, de modo diferente do que todo homem ressuscita; pelo fato de tomar êste Inu-mano, Ele se revestiu na Onipotência Divina não sòmente de subjugar os Infernos e de restabelecer os Céus na ordem, mas ainda de manter os Infernos eternamente subjugados, e de salvar os homens. Esta Po-tência é entendida por estar assentado à direita da potência e da vir-tude de Deus, Como o Senhor tomando o humano natural se fêz o

Divino Vero nos últimos, é por isso mesmo chamado a Palavra, e se disse que a Palavra se fêz Carne, e o Divino Vero nos últimos é a Palavra quanto ao sentido da letra; Ele se fêz o Divino Vero cumprindo tôdas as cousas da Palavra ditas dele em Moisés e nos Profetas. Com efeito, todo homem é seu bem e seu vero; o homem não é homem por outro motivo; mas o Senhor, porque tomou o humano natural, é o Divino Bem Mesmo e o Divino Vero Mesmo, ou, o que é a mesma causa, é o Divino Amor Mesmo e a Divina Sabedoria Mesma, tanto nos Primeiros como nos Últimos; daí vem que desde Seu advento ao Mundo Ele aparece nos Céus Angélicos como Sol com um brilho mais vivo e um maior esplendor do que antes de Seu advento. E’ isto um Arcano que, pela Doutrina dos graus pode cair sob o entendimento. No que segue se falará da Onipotência do Senhor antes de Seu ad-vento no Mundo.

Os Graus de um e outro gênero estão nos muito grandes e nos muito pequenos de tôdas as cousas que foram criadas

222 – Que os muito grandes como os muito pequenos de tòdas as causas consistem em graus discretos e contínuos, ou de altura e de largura, isso não pode ser ilustrado por exemplos tomados das cousas visíveis, porque os muito pequenos não se apresentam diante dos olhos e os muito grandes que se apresentam não se mostram distinguidos em graus; êste assunto não pode portanto ser demonstrado senão por uni-versais; e como os Anjos estão na sabedoria pelos universais, e por con-seguinte na ciência sôbre os singulares, vou referir o que êles dizem a respeito.

223 – O que dizem os Anjos sôbre i.ste assunto, é que não há um muito pequeno de tal modo que não haja nêle graus de um e outro gênero; assim não há um muito pequeno em animal algum, nem um muito pequeno em vegetal algum, nem um muito pequeno em mineral algum, nem um muito pequeno no éter e no ar; e como o éter e o ar são os receptáculos do calor e da luz, não há um muito pequeno do calor e da luz; e como o calor espiritual e a luz espiritual são os receptáculos do amor e da sabedoria, não há tampouco um muito pe-queno do amor e da sabedoria, em que não haja os graus de um e outro gênero. Do

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que dizem os Anjos resulta também, que o muito pequeno de uma afeição, e o muito pequeno de um pensamento, e mesmo o muito pequeno de uma idéia do pensamento, consiste em graus de um e outro gênero, e que o muito pequeno que não consiste nestes graus nada é, pois não tem forma, e por conseqiiência não tem qualidade, nem estado algum que possa ser mudado e variado, e por isso existir. Os Anjos confirmam isso por êste vero, que os Infinitos no Deus Criador, que é o Senhor de tôda eternidade, são distintamente

um, e que há infinitos em seus infinitos, e que nos infinitamente in-finitos há graus de um e outro gênero, que também são distintamente um n’Rle; e como estão nele, e como tôdas as cousas que foram cria-das por Ele, e como as cousas que foram criadas apresentam em uma sorte de imagem as que estão nele, segue-se que não há um muito pequeno infinito no qual não haja tais graus. Se êstes graus estão nos muito pequenos como nos muito grandes, é porque o Divino é o mesmo nos muito grandes e nos muito pequenos. Que em Deus-Homem os irSinitos sejam distintamente um, vê-se acima, ns. 17 a 22; e que o Divino seja o mesmo nos muito grandes e nos muito pequenos, vê-se nos as. 77 a 82, o que foi ainda ilustrado nos ns. 155, 169, 171.

224 – Se não há um muito pequeno do amor e da sabedoria, nem um muito pequeno da afeição e do pensamento, nem mesmo um muito pequeno da idéia de um pensamento, em que não haja os graus de um e outro gênero, é porque o amor e a sabedoria são uma substância e uma forma, como foi mostrado acima, ns. 40 a 43, semelhantemente a afeição e o pensamento; e como não há forma, em que não estejam êstes graus, como foi mostrado acima, segue-se que há semelhantes graus nestas cousas, pois separar de uma substância em uma forma o amor e a sabedoria, depois a afeição e o pensamento, é aniquilá-los, porque estas cousas não existem fora de seus sujeitos, pois o cpie as fixa, são seus estados percebidos pelo homem na variação.

225 – Os muito grandes nos quais estão os graus de um e outro gênero, são o Universo em todo seu complexo, o Mundo natural em seu complexo e o Mundo espiritual no seu; cada Império e cada Reino em seu complexo; todo o seu civil, todo seu moral e todo seu espiritual, em seu complexo; todo o Reino animal, todo o Reino vegetal e todo Reino mineral, cada um em seu complexo; são tôdas as Atmosferas de um e outro Mundo, tomadas em conjunto, além disso seus calores e suas luzes. Semelhantemente os menos comuns; como o homem em seu complexo, todo animal no seu, tôda árvore e todo arbusto no seu, além disso tôda pedra e todo metal no seu. As formas destas cousas são semelhantes no fato de consistirem em graus de um e outro gênero; a razão disso é que o Divino, pelo qual foram criadas, é o mesmo nos muito grandes e nos muito pequenos, como foi demonstrado acima, ns. 77 a 82. Os singulares e os muito singulares de tôdas estas cousas são semelhantes aos comuns e aos muito comuns, nisto, que são for-mas dos graus de um e outro gênero.

226 – Pelo fato dos muito grandes e os muito pequenos serem formas dos graus de um e outro gênero, há entre êles uma conexão desde os primeiros até aos últimos, pois a semelhança os conjunta. Mas entretanto não há nenhum muito pequeno que seja o mesmo que um outro, por isto existe a distinção de todos os singulares e de todos os

muito singulares. Se não há nenhum muito pequeno em alguma forma, ou entre algumas formas, que seja o mesmo que um outro, é porque nos muito grandes há semelhantes graus, e porque os muito grandes con-sistem em muito pequenos; pois que tais graus estão nos muito gran-des, e que segundo êstes graus há diferenças perpétuas desde o alto até em baixo, e desde o centro até às periferias, segue-se que não ¿aá em nenhum de seus menores nem de seus muito pequenos, nos quais estão semelhantes graus, cpie seja o mesmo que um outro.

227 – E’ ainda um ponto da sabedoria angélica, c¿ue a perfeição do universo criado vem da semelhança dos comuns e dos particvlares, ou dos muito grandes e dos muito pequenos, qu"nto a êstes graus, pois então um encara o outro como seu semelhante, com o qual pode ser conjunto para todo uso, e fixar todo fim no efeito.

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228 – Mas estas proposições podem parecer como paradoxos. por-que não são demonstradas por aplicações a causas visíveis; entretanto, acontece que as proposições abstratas, sendo universais, sâo ordinària-mente apreendidas melhor do que as proposições aplicaàas, pois estas são de uma variedade perpétua, e a variedade obscurece.

229 – Alguns prtendem que há uma substância tão simples. que não tem forma vindo de formas menore.s, e que desta substância resul-tam por amontoamcnto os substanciados ou compostos, e por fim as substâncias que são chamadas matérias; mas entretanto tais substâncias simplíssimas não existem; pois o que é uma substância sem uma forma? é alguma cousa de que nada se pode dizer; e de um ser de razão de que nada se pode dizer, não pode ser composta alguma cousa por amon-toamentos. Que haja causas inumeráveis nas primeiras substâncias cria-das de tôdas as cousas, que são muito pequenas e muito simples, ver-se-á no que segue, quando se tratar das formas.

Os três Graus de altura são infinitos e incriados no Senhor, e êstes trcs graus são criados e finito,s no homem

230 – Que no Senhor os tris graus de altura sejam infinitos e incriados, é porque o Senhor é o Amor Mesmo e a Sabedoria Mesma, como foi precedentemente demonstrado; e pois que o Senhor é o Amor Mesmo e a Sabedoria Mesma, é por conseqiiência o Uso Mesmo; pois o Amor tem por fim o Uso, que êle produz pela Sabedoria; com efeito, o amor e a sabedoria sem o uso, não têm objetivo ou fim, ou não têm domicílio; é por isso que não se poda dizer que sejam ou existam, a não ser que haja o uso in Quo (no qual estão e existem). Pstes très constituem os três graus de altura nos sujeitos da vida; êstes três são como o fim primeiro, o fim médio que é chamado causa, e o fim

último que é chamado efeito; que o fim, a causa e o efeito constitucen os três graus de altura, é o que foi mostrado acima e confirmado vá-rias vêzes.

231 – Que êstes três graus estejam no homem, pode-se vê-ice pela elevação de sua mente até aos graus do amor e da sabedoria, em que estão os Anjos do segundo e do terceiro Céu, pois todos os Anjos nas-ceram homens, e o homem quanto aos interiores que pertencem à sua mente é o Céu na menor forma; portanto há tantos Céus quo.ntos graus de altura nos homens por criação; o homem é também a imagem e a semelhança de Deus, porque estes três graus foram gravados no homem por estarem no Deus-Engomem, isto é, no Senhor. Que êstes três Graus no Senhor sejam infinitos e incriados, e que no homem sejam fi-nitos e criados, pode-se ver pelo que foi demonstrado na Primeira Parte, por exemplo, por estas proposições, cpie o Sen-ior é o Amor em Si e a Sabedoria em Si; e que o homem é o recipiente do Amor e da Sabedoria do Senhor; depois também, que do Senhor nada se pode dizer senão o Infinito, e do homem nada que não seja finito.

232 – Estes três graus nos Anjos são chamados Celeste, Espiritual e Natural; e para êles o Grau celeste é o Grau do amor, o Grau es-piritual é o Grau da sabedoria, e o Grau natural é o Grau dos usos. Se êstes Graus são assim chamados, é porque os Céus foram distin-guidos em dois Reinos, um chamado Reino celeste, e o outro Reino espiritual, aos quais é adjunto um terceiro Reino, em que estão os homens no Mundo, é o Reino natural. E mesmo os Anjos de que se compõe o Reino celeste estão no amor, e os Anjos de que se compõe o Reino espiritual estão na sabedoria; mas os homens no Mundo estão nos usos; e é por isso que êstes Reinos foram conjuntos. Na parte se-guinte, se dirá como é preciso entender que os homens estão nos usos.

233 – Disseram-me do Céu que no Senhor de tôda a eternidade, que é Jehovah, antes de ter tomado o Humano no Mundo, havia os dois Graus anteriores na realidade, e o terceiro Grau em potência, tal como estão também nos Anjos, mas que depois de ter tomado o Hu-mano no Mundo, Ele se sobrevestiu também com o terceiro Grau, que é chamado Natural, e que por isso foi feito Homem semellnnte o um

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homem no Mundo, com esta diferença entretanto, que êste Grau, como os Graus anteriores, é Infinito e Incriado, enquanto que êstes graus no Anjo e no homem são finitos e criados. Com efeito, o Divino que ha-via enchido todos os espaços sem espaço, ns. 69 a 72, penetrou tam-bém até aos últimos da natureza; mas antes que Ele tivesse tomado o Humano havia no grau natural um influxo Divino mediato pelos Céus angélicos, enquanto que depois que tomou o Humano há um influxo

i mediato vindo d’Rle; é por esta razão que tôdas as Igrejas no Mundo antes de Seu advento tinham sido representativas dos espirituais e do celestes, mas depois do Seu advento elas foram feitas naturais-espirituai, e naturais-celestes, e o culto representativo foi abolido; foi também po esta razão que o Sol do Céu angélico, que é, como já foi dito, o pri meiro procedente de Seu Divino Amor e de Sua Divina Sabedoria, bri Ihou com um brilho mais vivo e com um maior esplendor depois que Ele tomou o Humano do que antes de o ter tomado; é também o qu( é cntendido por estas palavras em Isaías: “Nesse dia será a luz da Lua como a Juz do Sol, e a luz do Sol será sé.tupla como a luz de sete dias” (30.º, 20) ; estas palavras foram ditas do estado do Céu e da Igreja após o advento do Senhior no Mundo; e no Apocalipse: “A face do Filho do homem foi vista da mesma maneira que o sol brilha em sua potência” (1.º, 16) ; e em outros lugares, por exemplo, Isaías 60.º, 20; II Sam. 23.º, 3, 4; Mat. 17.º, 1, 2. A ilustração mediata dos ho-mens pelo Céu Angélico, ilustração que existia antes do advento do Senhor, pode ser comparada à luz 3a Lua, que é a luz mediata do Sol; e como depois do advento do Senhor a ilustração se tornou imediata, se diz em Lsaías cpie a luz da Lua será como a luz do Sol; e em Davi: “Em Seu dia florescerá o justo, e muita paz, até que não haja mais Lua” (Sa1mo, 72.º, 7) ; isso foi dito também do Sen¿aor.

234 – Se o Senhor de tôda a eternidade, ou Jehovah, sobrevestiu-s(. dêste terceiro grau tomando o Humano no Mundo, é porque não podia entrar no Mundo senão por uma natureza semelhante à natureza humana, assim não podia aí entrar senão sendo concebido de seu Di-vino, e nascendo de uma virgem; pois desta maneira Ele pôde se des-pojar da natureza, que em si mesma é morte, e não obstante um re-ceptáculo do Divino, e revestir o Divino. Isto é entendido pelos dois estados do Senhor no Mundo, que são chamados estado de Exinanição e estado de Glorificação, de que se tratou na Doutrina da Nova Jern-,vclém sôbre o Senhor.

235 – Estas cousas que concernem à tríplice ascensão dos Graus de aitura foram ditas em geral, mas como êstes Graus estão nos muito grandes e nos muito pequenos, como acaba de ser mostrado no Artigo precedente, nada se pode dizer disso aqui em particular; exceto isto, que há tais Graus em tôdas e cada uma das causas do Amor, e por conseqiiência há tais Graus em tôdas e cada uma das causas da Sabe-doria, e por êstes há tais Graus em tôdas e cada uma das cousas dos usos; mas que no Senhor todos êstes graus são Infinitos, enquanto que no Anjo e no homem êles são finitos. Mas como êstes Graus estão no amor, na sabedoria e nos usos, isso não pode ser descrito e desen-volvido senão em série.

. Estes três Graus de altura estão em cada homem desde o nascimento; podem sucessir.amente ser abertos e conforme são abertos,

o homem está no Senhor, e o Senhor está no homem

236 – Que os três Graus de altura estejam em cada homem, é o que se ignorou até ao presente; e isto, porque êstes Graus não eram conhecidos, e porque enquanto êstes Graus estão escondidos não se pode conhecer outros Graus senão os Graus contínuos. Mas é preciso que se saiba que em cada homem desde o nascimento há os três Graus de altura ou discretos, um acima ou dentro do outro, e que cada Grau de altura ou discreto tem também Graus de largura ou contínuos, se-gundo os quais cresce pelo contínuo, pois os Graus de um e outro gê-nero estão nos muito grandes e nos muito pequenos de tôdas as cousas, como foi mostrado acima, ns. 222 a 229; com efeito, não pode haver Graus de um gênero sem os Graus do outro gênero.

237 – estes três Graus de altura são chamados Natural, Espiritual e Celeste, como já foi dito, n. 232; quando o homem nasce, entra pri-meiro no Grau natural, e êste Grau cresce nêle pelo contínuo segundo as ciências, e segundo o entendimento adquirido por elas, até ao mais alto ponto do

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entendimento, que é chamado racional; mas entretanto por isso não é aberto o segundo Grau, que é chamado Espiritual, êste é aberto pelo amor dos usos segundo os intelectuais, mas pelo amor espiritual dos usos, amor que é o amor para com o próximo; êste Grau pode igualmente crescer pelo contínuo do Grau até a seu mais alto ponto, e cresce pelos conhecimentos do vero e do bem, ou pelas verdades espirituais. Todavia por estas verdades não é aberto o terceiro Grau, que é chamacìo celeste, mas êste é aberto pelo amor celeste do uso, amor que é o amor para com o Senhor; e o amor para com o Senhor não é outra causa senão aplicar à vida os preceitos da Palavra, que em suma consistem em fugir dos males porque são infernais e diab61i-cos, e em fazer os bens porque são celestes e Divinos. Estes três graus são assim abertos sucessivamente no homem.

238 – Enquanto o homem vive no Mundo, êle nada sabe da aber-tura dêstes Graus nêle; e isso, porque então êle está no Grau natural, que é o último, e porque é por êste Grau que então êle pensa, quer, fala e age; ora, o Grau espiritual, que é interior, comunica com o Grau natural não pelo contínuo mas pelas correspondências, e a comu-nicação pelas correspondências não é sentida. Mas entretanto, quando o homem se despoja do Grau natural, o que acontece quando êle morre, entra então naquele Grau que nêle foi aberto no Mundo, no Grau es-piritual aquêle em quem foi aberto o Grau espiritual, no Grau celeste aquêle em que foi aberto o Grau celeste; aquêle que entra depois da morte no Grau espiritual pensa, fala e age espiritualmente, e não mais naturalmente; e aquêle que entra no Grau celeste pensa, quer, fala e

age segundo seu grau; e como a comunicação dos três Graus entre si não existe senão pelas correspondências, é por isso que as diferenças do amor, da sab.",daria e do uso, quanto a êstes Graus, são tais, que eles não têm entre si nada de comum por contínuo algum. Por estas ex-plicações é evidente que os três Graus de altura estão nn homem, e que podem scr abertos sucessivamente.

239 – Pois cp¿e há no homem três Graus de amor, três graus da sabedoria e por conseguinte três graus do uso, segue-se que há nêle três graus da Vontade, três graus do Entendimento e por conseguinte três graus do Conr.lusum, e por conseqiiência três gra.us da Deten»i-nação ao uso; pois a Vontade é o receptáculo do amor, o Entendimento é o receptáculo da sabedoria, e o Conclusum pertence ao uso que pro-vém do amor e da sabedoria; é portanto evidente que em c,".da homem há uma vontade e um entendimento naturais, uma vontade e um en-tendimento espirituais, uma vontade e um entendimeinto celestes, em potência desde o nascimento, e em ato quando são abertos. Em uma palavra, a Mente do homem que se compõe da vontade e do enten-dimento, é de três graus segundo z criação, e por conseguinte de nas-cimento, de sorte que no homem há uma Mente natural, uma Mente espiritual e uma Mente celeste, e cpie o homem por isso pode ser ele-vado à sabedoria angélica, e a possuir quando vive no Mundo, mas en-tretanto não entra nela senão depois da morte, se se torna Anjo, e então diz causas inefáveis e incompreensíveis, para o homem natural. Conheci um homem medìocremente sábio no Mundo, e depois da morte eu o tenho visto e conversado com êle no Céu, e percebi claramente que êle falava como um Anjo, e que as cousas que dizia não eram perceptíveis pelo homem natural; isto provinha de que, no Mundo èle tinha aplicado à vida os preceitos da Palavra, e adorado o Senhor. e em conseqiiência havia sido elevado pelo Senhor ao terceiro grau do amor e da sabedoria. E’ indispensável que esta elevação da mente hu-mana seja conhecida, pois o entendimento do que segue depende disso.

240 – Há no homem pelo Senhor duas faculdades, pelas cpiais o homem é distinguido das bêstas; por uma destas faculdades êle pode compreender o que é vero e o que é bem, esta faculdade é chamada Bacionalidade, e é a faculdade de seu entendimento; pela outra fa-culdade êle pode fazer o vero e o bem, esta faculdade é chamada Li-berdade, e é a faculdade de sua vontade; com efeito, o !iomem pode pela sua racionalidade pensar o que lhe agrada, tanto por Deus como contra Deus, e tanto pelo próximo como contra o próximo, e também pode querer e fazer o que pensa, mas quando quer o mal e teme a punição, pode pela liberdade se abster de fazer. O homem por estas duas faculdades é homem e é distinguido das bêstas. Estas duas fa-culdades no homem procedem do Senhor, e procedem contìnuamente, e não lhe podem ser tiradas, pois se fôssem tiradas, seu humann pere-

ceria. Nestas duas faculdades o Senhor está em todo o homem, não sòmente no bom, mas também no mau, elas são a morada do Senhor no Género Elumano; vem daí que todo homem, seja bom, seja mau, vive eternamente. Mas a morada do Senhor no homem torna-se mais próxima conforme o homem por

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meio destas faculdades abre os graus superiores; pois por sua abertura êle entra nos graus superiores do amor e da sabedoria, assim fica mais perto do Senhor. Por estas explicações pode-se ver que conforme êstes graus são abertos, o homem está no Senhor, e o Senhor está no homem.

241 – Foi dito acima que os três graus de altura são como o fim, a causa e o efeito, e que segundo êsses graus sucedem-se o amor, a sabedoria e o uso, por isso aqui se dirá em poucas palavras que o amor é o fim; a sabedoria é a causa; e o uso é o efeito. Quem quer que consulte sua razão quando ela está na luz, pode ver que o amor do homem é o fim de tôdas as causas que estão nêie, pois o que êle ama, êle o pensa, o conclui e o faz, por conseqiiência o tem por fim; o ho-mem por sua razão também pode ver que a sabedoria é a causa, pois êle, ou seu amor que é o fim, procura no entendimento os meios pelos quais pode chegar a seu fim, assim consulta sua sabedoria, e êstes meios fazem a causa per quam (pela qual chega) ; que o uso seja o efeito, vê-se claramente sem explicação. Mas o amor em um homem não é o mesmo que em um outro, semelhantemente a sabedoria em um ho-mem não é a mesma que em um outro, nem por conseqúência o uso; e como êstes três são homogêneos, como se mostrou acima, ns. 189 a 194, segue-se que tal é o amor do laomem, tal é nêle a sabedoria e tal é o uso. Diz-se a sabedoria, mas entende-se o que pertence a seu entendimento.

A Luz espiritual influi pelos três Graus no homem, mas não o Calor esp."ritual, a não ser tanto quanto o homem foge dos males

como pecados, e se volta para o Senhor

242 – Pelo que foi demon,';tr..do acima, vê-se que do Sol do Céu, que é o primeiro procedente do Divino Amor e da Divina Sabedoria, de que se tratou na Seguncla Parte, procedem a Luz e o Calor; de Sua Sabedoria, a Luz; e de Seu Amor, o Calor; que a Luz é o recep-táculo da Sabedoria, e o Calor o receptáculo do Amuar; que tanto quanto o homem entra na Sabedoria, tanto êle entra nesta Luz Divina, e tanto quanto entra no amor, tanto entra neste Calor Divino. Pelo que acaba de ser demonstrado acima, vê-se ainda que há três graus da luz e três graus do calor, ou três graus da sabedoria e tris graus do amor, e que êstes graus foram formados no homem, a fim de que o homem fôsse o receptáculo cìo Divino Amor e da Divina Sabedoria, assim o receptáculo do Senhor. Aqui agora é preciso demonstrar que a Luz

Espiritual influi por êstes três graus no homem, mas nâo o Calor Espi-ritual, a não ser tanto quanto o homem foge dos males como pecados, e se volta para o Senhor; ou, o que é a mesma cousa, que o homem pode receber a sabedoria até ao terceiro grau, mas não o amor, a não ser que fuja dos males como pecados, e se volte para o Senhor; ou, o que é ainda a mesma cousa, que o entendimento do homem pode ser elevado na sabedoria, mas não sua vontade, a não ser que fuja dos males como pecados.

243 – Que o entendimento possa ser elevado à luz do Céu, ou à sabedoria angélica, e que a vontade não possa ser elevada ao calor do Céu ou ao amor angélico se o homem não foge dos males como pe-cados e não se volta para o Senhor, é o que se tornou para mim bem evidente pela experiência no Mundo espiritual; vi e percebi muitas vê-zes que os Espíritos simples que souberam sòmente que há um Deus, e que o Senhor nasceu homem, sem ter sabido mais outra causa, com-preenderam plenamente os arcanos da sabedoria angélica, quase como os Anjos; e não sòmente êles, mas mesmo muitos da turba diabólica; todavia êles compreendiam quando os ouviam pronunciar, mas não quando pensavam com êles mesmos, pois quando os ouviam, a luz entrava pelo alto, mas quando pensavam com "les mesmos, não podia entrar outra luz senão a que correspondia a seu calor ou a seu amor; é por isso tam-bém que ap6s ter ouvido pronunciar êstes arcanos e os haver percebido, logo que afastavam os ouvidos, nada retinham dêles; mais ainda, os que eram da turba diabólica os rejeitavam então e os negavam intei-ramente; e isso, porque o fogo de seu amor e sua luz, que eram qui-méricos, introduziam trevas, pelas quais era extinta a Luz celeste que entrava por cima.

244 – A mesma cousa acontece no Mundo; quando o homem que não é completamente estíípido, e que não confirmou os falsos nêle pelo fasto da pr6pria inteligência, ouve vs que discorrem sôbre assuntos ele-vados, ou quando lê causas semelhantes, se está em alguma afeição de saber, então os

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compreende, e mesmo os retém, e depois pode confirmá-los; o mau o pode tão bem como o bom; e mesmo o mau, ainda que negue de coração os Divinos que pertencem à Igreja, pode não obstante compreendê-los, e também falar dèles e pregá-los, e mesmo confirmá-los em escritos eruditos; mas quando pensa entregue a si mesmo, pensa contra êles segundo seu amor infernal, e os nega; é portanto evidente que o entendimento pode estar na luz espiritual, embora a vontade não esteja no calor espiritual. Daí resulta também que o entendimento não conduz a vontade, ou que a sabedoria não produz o amor, mas unica-mente ensina e mostra o caminho, ensina como o homem deve viver, e mostra que caminho deve seguir. Daí resulta ainda que a vontade conduz o entendimento, e faz com que êle aja como um com ela; e que o amor, que pertence à vontade, chama sabedoria no entendimento o

que concorda com êle. No que segue ver-se-á que a vontade riada. fàz por ela mesma sem o entendimento, mas que tudo o que faz o faz em conjunção com o entendimento; e que a vontade faz vir o entendi-mento em sociedade com ela pelo influxo, mas não recìprocamente.

245 – Agora dir-se-á qual é o influxo da luz nos três graus da vida que pertence à Mente, no homem: As formas, que são os receptá-culos do calor e da luz ou do amor e da sabedoria nêIe, e que estão, como foi dito, em uma ordem tríplice ou de três graus, são diáfanas desde o nascimento, e transmitem a luz espiritual como o cristal transmite a luz natural; daí vem que o homem pode, quanto à sabedoria, ser ele-vado até ao terceiro grau. Todavia estas formas não são abertas senão quando o calor espiritual se conjun‘;a à luz espiritual, ou o amor à sabe-doria; por esta conjunção estas formas diáfanas são abertas segundo os Graus. Dá-se o mesmo com a luz e o calor do Sol do Mundo quanto aos vegetais sôbre a terra; a luz do inverno, que é tão brilhante como a luz do verão, nada abre na semente ou na árvore, mas abre quando o calor da primavera se conjunta 5 luz; a causa é semelhante, pois a Luz espiritual corresponde à Iuz natural, e o Calor espiritual corres-ponde ao calor natural.

246 – este Calor espiritual não é adquirido senão fugindo dos males como pecados, e então voltando-se para o Senhor; pois enquanto o ho-mem está nos males, está também no amor dêsses males, pois que está em uma concupiscência por êles, e o amor do mal e a concupiscência estão no amor oposto ao amor e à afeição espirituais; ora, êste amor ou esta concupiscência não pode ser afastado senão fugindo dos ma-les como pecados, e como o homem não pode fugir dêles por si mesmo, mas foge dêles pelo Senhor, deve para isso voltar-se para o Senhor; quando portanto foge dêIes pelo Senhor, o amor do mal e seu calor são afas-tados, e em seu lugar são introduzidos o amor do bem e seu calor, pelo qual o Grau superior é aberto, e então conjunta o amor ou o calor espiritual à sabedoria ou à luz espiritual, como a árvore na es-tação da primavera.

247 – Pelo influxo da luz espiritual nos três Graus da Mente, o homem é distinguido das bêstas, e o homem pode, – o que não podem as bêstas, – pensar analìticamente, ver os veros, não sòmente os na-turais, mas também os espirituais; e quando os vê, pode reconhecê-los e assim ser reformado e regenerado. A faculdade de receber a luz es-piritual, é a que se deve entender pela Racionalidade, de que se falou acima, que está pelo Senhor em cada homem, e que não lhe é tirada, porque se lhe fôsse tirada, êle não poderia ser reformado; é por esta faculdade, que é chamada Racionalidade, que o homem pode não sò-mente pensar, mas falar segundo o pensamento, diferente nisso das bês-tas; e em seguida pela sua outra faculdade, que é chamada Liberdade,.

de que também se falou acima, pode fazer o que pensa segundo o entendimento. Como se tratou acima, n. 240, destas duas faculdades, a Bacionalidade e a Liberdade que são próprias do homem, não se f:¿la.ré m" is delas aqui.

O homem torna-se natural e setwucl, se nele o Grau superior, gue é o espiritual, não é aberto

248 – Foi mostrado acima que há três Graus da Mente humana, que são chamados natural, espiritual e celeste, e cpie èstes Graus no homv.m podem sucessivamente se abrir; além disso, foi mostrado que o grau natural í aberto primeiro, e em seguida o grau espiritual, se êle foge dos males como

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pecados e se volta para o Senhor, e enfim o grau celeste. Como êsses graus sâo sucessivamente abertos segundo a vida do homem, segue-se que os dois graus superiores podem também não ser abertos, e então o homem permanece no grau natural, que é o úl-timo. Sabe-se também no Mundo que há o homem natural e o homem espiritual, ou o homem externo e o homem interno, mas nâo se sabe que o homem natural se torna espiritual pela abertura de um grau su-perior nêle, e que a abertura se íaz pela vida espiritual, que é a vida segundo os preceitos Divinos, e que sem a vida segundo êstes pre-ceitos o homem permanece natural.

249 – FIá três espécies de homens naturais; a primeira espécie se compõe (3aqueles que nada sabem dos preceitos Divinoos; a segunda, daqueles que sabem <pôde há preceitos Divinos, mas que nada sabem da vida segundo êstes preceitos; e a terceira, daqueles que os despre-zam e os negam. Quanto ao que concerne à Prime!ra Espécie, composta dos que nada sabem dos preceitos Divinos, não podem deixar de per-manecer naturais, porque não podem ser instruídos por êles mesmos; todo homem é instruído sôbre os preceitos Divinos por outros que os co,"ihecem pela religião, e não é instruído por meio de revelações ime-diatas; ver sôbre êste assunto, na Doutrina da Nova Jerusalém sôbre a Zscritura Santa, os ns. 114 a 118. Os da Segunda Espécie, que sabem que há preceitos Divinos, mas que nada pensam da vida segundo êstes preceitos, permanecem naturais também, e só se ocupam do que con-cerne ao mundo e ao corpo; depois da morte tornam-se domesticidades e servidões, segundo os usos que podem desempenhar junto dos que são espirituais; pois o ¿iiomem natural é doméstico e servidor, e o ho-mem espiritual é chefe e senhor. Os da Terceira Espécie, que despre-zam e negam os preceitos Divinos, permanecem não sòmente naturais, mas se tom,",m mesmo sensuais conforme o dcsprêzo e a negação; os sensuais são os naturais mais baixos, que não podem pensar acima das aparências e das ilusões dos sentidos e do corpo; êstes depois da morte vão para o inferno.

250 – Como no Mundo se ignora o que é o homem Espiritual e o que é o homem Natural, e como a maior'' parte chama espiritual aquêle que é inteiramente natural e vice-versa, é preciso por conseguinte di-zer de uma maneira distinta: I. O que é o homem natural, e o que é o homem espiritual. II. Qual é o homem natural em quem o Grau espiritual foi aberto. III. Qual é o homem natural em quem o Grau espiritual não foi aberto, mas entretanto não foi fechado. IV. Qual é o hcmem natural em quem o Grau espiritual foi inteiramente fechado. V. Enfim, que diferença há entre a vida do homem absolutamente na-tural e a vida da bêsta.

251 – I. O que é o homem natural, e o que é o homem espiritual. O homem é homem, não pela face e o corpo, mas pelo entendimento e a vontade; é por isso que pelo homem natural e pelo homem espi-ritual, é entendida que o entendimento e a vontade do homem são ou naturais ou espirituais. O homem natural quanto ao seu entendimento e à sua vontade é como o Mundo natural, e pode também ser chamado Mundo ou microcosmo; e o homem espiritual quanto ao seu entendi-mento e à sua vontade é como o Mundo espiritual, e pode também ser èhamado Mundo espiritual ou Céu. Por isso, é evidente que o homem natural, estando em uma espécie de imagem do Mundo natural, ama as cousas que são do Mundo natural; e que o homem espiritual, es-tando em uma espécie de imagem do Mundo espiritual, ama as cousas que são do Mundo espiritual ou do Céu; o homem espiritual, é verdade, áma também o Mundo natural, mas não de modo diferente daquele pelo qual um chefe ama seu doméstico, porque êle desempenha usos; segundo os usos o homem natural se torna como espiritual, o que acon-tece quando o homem natural sente o prazer do uso pelo espiritual; ôste homem natural pode ser chamado natural-espiritual. O homem espiri-tual ama os veros espirituais, ama não sòmente sabê-los e compreendê-1cs, mas ainda os quer, enquanto que o homem natural gosta de falar dêstes veros, e também de fazê-los; fazer os veros, é desempenhar usos. Esta subordinação vem da conjunção do Mundo espiritual e do Mundo natural; pois tudo o que aparece e se faz no Mundo natural tem sua causa no Mundo espiritual. Por estas explicações, pode-se ver que o homem espiritual é absolutamente distinto do homem natural, e que não há entre êles outra comunicação que como entre a causa e o efeito.

252 – II. Qual é o homem natural em quem o Grau espiritual foi aberto. Pode-se vê-lo claramente pelo que acaba de ser dito; é preciso acrescentar a isso, que o homem natural é um homem completo, quando o Grau espiritual nêle foi aberto; porque então está consociado aos An-jos no Céu, e ao mesmo tempo consociado aos homens no Mundo, e quanto a uma e outra consociação vive sob os

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auspícios do Senhor; pois o homem espiritual haure os conhecimentos na Palavra pelo Senhor, e os executa pelo homem natural. O homem natural cujo grau espiritual

f,oi aberto não sabe que êle pensa e age por seu homem espiritual, pois lhe parece pensar por êle mesmo, quando entretanto não é por êle mes-mo, mas é pelo Senhor. O homem natural em quem o grau espiritual foi aberto não sabe tampouco que por seu homem espiritual êle está po Céu, quando entretanto seu homem espiritual está no meio dos Anjos do Céu; às vêzes mesmo êle aparece aos Anjos, mas porcpie se retira para seu homem natural, desaparece daí em pouco tempo. O homem natural em quem o grau espiritual foi aberto não sabe tampouco que sua mente espiritual está cheia com milhares de arcanos da sabedoria, e com milhares de prazeres do amor procedentes do Senhor, e que depois da morte êle entra nesses arcanos e nesses prazeres, quando se torna anjo. Se o homem natural não sabe isso, é porque a comunicação entre o homem natural e o homem espiritual se faz pelas correspondên-cias, e a comunicação pelas corresporidências não é percebida no en-tendimento se não nisto que os vnos são vistos na luz, e não é per-cebida na vontade senão nisto, que os usos são preenchidos com afeição.

!

253 – III. Qual é o homem natural em quem o Grau espiritual não é aberto, mas entretanto não foi fechado. O Grau espiritual não foi aberto, mas entretanto não foi fechado naqueles que levaram uma es-pécie de vida da caridade e contudo sabiam pouca cousa do vero real; isto vem de que êste Grau é aberto pela conjunção do amor e da sa-bedoria, ou do calor com a luz, o amor só ou o calor espiritual só não o abre, nem a sabedoria só ou a luz espiritual só, mas um e outro em conjunção o abrem; é por isso que, se os veros reais, de que provém a sabedoria ou a luz, não são conhecidos, o amor não pode abrir êste Grau, mas sòmente o mantém em potência para poder ser aberto; o que é entendida por “não foi fechado”. Dá-se o mesmo que no Reino vegetal; não é o calor só que dá a vegetação às sementes e às árvores, mas é o calor em conjunção com a luz que opera isso. E’ preciso que se saiba que todos os veros pertencem à luz espiritual, e todos os bens ao calor espiritual; e que o bem abre pelos veros o grau espiritual, pois o bem opera o uso pelos veros, e os usos são os bens do amor, que ti-ram sua essência da conjunção do bem e do vero. A sorte daquele em quem o grau espiritual não foi aberto, e entretanto não foi fechado, consiste depois da morte, em que, como são sempre naturais e não es-pirituais, estão nos ínfimos do Céu, onde por vêzes sofrem cousas du-x'as, ou então estão em um dos Céus superiores sôbre os limites, onde estão como que em uma luz da tarde; pois, como foi dito acima, no Céu e em cada sociedade do Céu a luz decresce desde o meio até aos limites, e no meio estão aquêles que, mais que todos os outros, estão nos Divinos veros, e sôbre os limites aquêles que estão em poucos ve-ros; e em poucos veros estão os que, pela religião, sabem unicamente que há um Deus, que o Senhor soàreu por êles, e que a caridade e a fé são os essenciais da Igreja, e não se apressam em saber o que é a fé e o que é a caridade; entretanto a fé é em sua essência a ver-

dade, e a verdade é múltipla, e a caridade é tôda obra de função, que o homem faz pelo Senhor; a faz pelo Senhor, quando foge dos males como pecados. E’ absolutamente, como já foi dito, porque o fim é o tudo da causa, e o efeito o tudo do fim pela causa; o fim é a cari-dade ou o bem, a causa é a fé ou o vero, e o efeito, são as boas,obras ou o uso; daí é evidente que não pode ser pôsto mais da caridade nas obras, senão tanto quanto a caridade está conjunta aos veros que são chamados veros da fé; por êles a caridade entra nas obras e as qualifica.

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254 – IV. Qual é o homem natural em quem o Grau espiritual foi inteiramente fechado. O Grau espiritual é fechado naqueles que estão nos males quanto à vida, e ainda mais naqueles que, pelos males, es-tão nos falsos; dá-se com isso como com a fibrila de um nervo que se contrai ao menor toque de um corpo heterogêneo; semelhantemente se contrai tôda fibra motriz de um músculo, mais ainda o músculo mesmo, e também todo o corpo ao toque de um objeto duro ou frio; do mesmo modo também as substâncias ou as formas do Grau espiritual no homem à aproximação dos males e dos falsos provenientes do mal, porque são heterogêneos; pois o grau espiritual, estando na forma do Céu, não ad-mite senão os bens e os veros que provêm do bem; os bens e os veros lhe sâo homogêneos; mas os males e os falsos que pertencem ao mal lhe são heterogêneos. Este grau se contrai, e pela contração é fechado principalmente naqueles que no Mundo estão pelo amor de si no amor de dominar, porc¿ue êste amor é oposto ao amor para com o Senhor; é fechado também naqueles que estão pelo amor do mundo na cobiça desenfreada de poss@ir os bens dos outros, mas não é tão fechado; se êstes amôres fecham o grau espiritual, é porque são as origens dos ma-les, A contração ou o fechamento dêste grau é como a retorção de uma espiral em sentido oposto; é por isto que êste grau depois que foi fechado, repele a luz do Céu; desde então em lugar da luz do Céu, há a obscuridade; por conseqiiência a verdade, que está na luz do Céu, excita o desgôsto. Nestes é fechado não sòmente o grau mesmo, mas também a região superior do grau natural, que é chamada região racio-nal, ao ponto que por fim não há aberta senão a região mais baixa do grau natural, que é chamada região sensual, pois esta é a mais próxima do mundo e dos sentidos externos do corpo, pelos quais o homem em seguida pensa, fala e raciocina. O homem natural, que se tornou sen-sual pelos males e pelos falsos do mal, aparece no Mundo espiritual, na luz do Céu, nâo como um homem, mas como um monstro, e mesmo com o nariz retraído; se aparece com o nariz retraído, é porque o nariz corresponde à percepção do vero; êsse não suporta nem mesmo um raio da luz do Céu; êles não têm em suas cavernas outra luz senão a que se assemelha ao clarão de carvões em brasa. Por estas explicações, vê-se claramente quem são e quais são aquêles em quem o grau espiritual foi fechado.

255 – V. Que diferença há entre a vida do homem natural e e r,ida da bêsta. Falar-se-á especialmente desta diferença no que segue, quando se tratar da Vida; aqui, se dirá unicamente que esta diferenp consiste em que no homem há três graus da Mente, ou três graus do Entendimento e da Vontade; que êstes três graus podem ser sucessi-vamente abertos; e, que, como são diáfanos, o homem quanto ao En-tendimento pode ser elevado à luz do Céu, e ver os veros, não sòmente os veros civis e morais, mas mesmo os veros espirituais, e de vários: veros vistos conchiir veros em ordem, e assim aperfeiçoar eternamente. o entendimento. Mas nas bêstas não há os dois Graus superiores, há-sòrnente os Graus naturais, que, sem os graus superiores, não dão fa- : culdade alguma de pens..r sôbre seja o c,ue for de civil, de moral e (te espiritual; e como seus graus naturais não são suscetíveis de ser aber-tos, nem por conseqi.iència de ser elevados a uma luz superior, elas nãa podem pensar em uma ordem sucessiva, mas pensam na ordem simul-tânea, o que não é pensar, m,”.s agir segundo uma ciência que corres-.¿ por.de a seu amor; e como não podem pensar analìticamente, nem vet.‘¿ o pensamento inferior por algum pensamento superior, elas não podem] por conseqiiência falar, mas podem produzir sons de uma maneira con-¿, forme à ciência de seu amor. Mas acontece coque o homem sensual, que’ é natural da última categoria, não difere da bêsta senão porque pode j encher sua memória de científicos, e segundo êles pensar e falar, o l que lhe vem da faculdade pr6pria a cada homem, consistindo em poder ’ compreender o vero, se quiser; é esta faculdade que faz a distinção; mas’, entretanto muitos pelo abuso desta fanildade se tornaram inferiores às!

bêstas.

O Gra,u natural da mente humana, co>liderado em si mesmo, é continuo;. mas pela correspondência com os dois Graus superiores

quando é elevado, se mostra divcretv

256 – Embora isto possa difìcilmente ser apreendido pelos que não estão ainda na ciència dos graus de altura, é preciso entretanto revelá-1c, porque, isto pertence à Sabedoria Angélica; e ainda que o homem não possa pensar sôbre esta Sabedoria da mesma maneira que os An-jos, pode entretanto apreendê-la pelo entendimento, quando o enten-dimento é elevado até ao grau da luz em coque estão os Anjos, pois o entendimento pode ser elevado até lá, e ser ilustrado segundo a ele-vação. Todavia, a

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ilustração da Mente natural não sobe pelos graus discretos, mas se acresce pelo grau contínuo; então à medida que cresce, é ilustrada pelo interior pela luz dos dois graus superiores. Como isso se faz, pode-se apreender pela percepção dos graus de altura, em que um está acima do outro, e que o grau natural, que é o último, é como o invólucro comum dos dois graus superiores; então à medida que o Gran natural é elevado para o Grau do superior, o superior age pelo

interior no exterior natural e o esclarece; a iluminação, é verdade, se faz pelo interior pela luz dos graus superiores; mas o grau natural, que envolve e que cerca, a recebe pelo contínuo, assim mais claramente e mais puramente conforme a ascensão; quer dizer que o grau natural é ilustrado pelo interior, pela luz dos graus superiores, de uma maneira discreta, mas em si de uma maneira contínua. Por isso é evidente que o homem, enquanto vive no Mundo, e está por isso no grau natural, não pode ser elevado à sabedoria mesma tal como está nos Anjos, mas pode sòmente ser elevado à luz superior até aos Anjos, e receber a ilustraçâo por sua luz, que influi e ilumina pelo interior. Mas isto não pode ainda. ser descrito mais claramente; os efeitos podem fazer apreen-der melhor, pois os efeitos põem em si mesmos as causas na luz, e assim ilustram, desde que prèviamente se conheça um pouco as causas.

257 – Os efeitos são êstes: 1.º A Mente natural pode ser elevada até à luz do Céu, em que estão os Anjos, e perceber naturalmente o que os Anjos percebem espiritualmente, assim não tão plenamente como os Anjos; mas não obstante a mente natural do homem não pode ser elevada à luz Angélica mesma. 2.º Por sua mente natural elevada à luz do Céu, o homem pode pensar com os Anjos, e mesmo falar com êles, mas então o pensamento e a linguagem dos Anjos influi no pen-samento e na linguagem naturais do homem, e não recìprocamente, é por isso que os Anjos falam com o homem em uma língua natural, que é a língua própria do homem. 3.º Isto se faz pelo influxo espiri-tual no natural, e não por algum influxo natural no espiritual. 4.º A sabedoria humana, que é natural, enquanto o homem vive no Mundo natural não pode de maneira algumá ser elevada à Sabedoria Angé-lica, mas o pode ser a uma espécie de imagem desta sabedoria; e isso porque a elevaçâo da mente natural se faz pelo contínuo, como desde a sombra até à luz, ou desde o mais espêsso até ao mais puro. Mas acon-tece que o homem em quem o grau espiritual foi aberto entra nesta sabedoria, quando morre, e pode também aí entrar pelo entorpecimento das sensações da corpo, e então pelo influxo vindo do superior aos es-pirituais dessa mente. 5.º A mente natural do homem é composta de substâncias espirituais e ao mesmo tempo de substâncias naturais; o pensamento se faz pelas substâncias espirituais, e não pelas substâncias naturais; estas substâncias se afastam auando o homem morre, mas não as substâncias espirituais; é por isso que esta mesma mente depois da morte, quando o homem se torna espírito ou anjo, permanece em uma forma semelhante àquela em que êle estava no mundo. 6.º As subs-tâncias naturais desta mente que se afastam pela morte, como acaba r3e ser dito, fazem o invólucro cutâneo do corpo espiritual, em que estão os espíritos e os anjos. Por um tal invólucro, que foi tirado do mundo natural, subsistem seus corpos espirituais, pois o natural é o último con-tinente; vem daí que não reaja um único espírito nem um único anjo, que não tenha nascido homem. Rstes arcanos da Sabedoria Angélica

são referidos aqui, a fim de que se saiba qual é no homem a Mente natural, de que se tratará ainda mais nos Artigos seguintes.

258 – Todo homem nasce na faculdade de compreender os vera' até ao grau íntimo em que estão os Anjos do terceiro Céu; pois o ea-' tendimento humano se elevando pelo contínuo em tôrno dos dois graus: superiores recebe a luz da Sabedoria dêstes graus, da maneira de que se falou acima, n. 256; vem daí que o homem possa se tornar racional’ segundo a elevação; se é elevado ao terceiro grau, torna-se racional do‘ terceiro grau; se é elevado ao segundo grau, torna-se racional do se gundo grau; e se não é elevado, é racional no primeiro grau; diz-se que êle se torna racional dêstes gr,".us, porque o grau natural é o receptá-culo comum de sua luz. Se o homem não se torna racional até ao: mais alto ponto, como pode se tornar, é porque o amor, que pertence à vontade, não pode ser elevado da mesma maneira que a sabedoria que' pertence ao entendimento; o amor que pertence à vontade é elevado’ sòmente por se fugir dos males como pecados, e então pelos bens da caridade, que são os usos, que o homem pelo Senhor desempenha em seguida; se portanto o amor que pertence à vontade, não é elevado ao mesmo tempo, a sabedoria <põe pertence ao entendimento, embora tenha, subido, recai até seu amor; daí vem que o homem, se seu amor não h elevado ao mesmo tempo ao grau espiritual, continua não sendo ra-cional senão no último grau. Por estas explicações pode-se ver que o, racional do homem é em aparência como

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de très graus: racional se-gundo o celeste, racional segundo o espiritual, e racional segundo o. natural; e que a racionalidade, que é a faculdade de poder ser elevado, está sempre no homem, quer êle se eleve ou quer não se eleve.

259 – Foi dito que todo homem nasce nesta faculdade ou na : racionalidade, mas entende-se todo hcmem em quem os externos não foram lesados por algum acidente, seja no útero, seja após o nasci-: mento por uma moléstia, ou por um ferimento na cabeça, ou por utn, amor desenfreado que explode e afrouxa os freios; nestes o racional não pode ser elevado; pois nestes a vida, que pertence à vontade e ao entendimento, não tem limites em que se termine, por conseqiiência dispostos para que possa segundo a ordem operar os atas finais, pois ' opera segundo as últimas determinações, e não por elas; que a racio- ¿ nalidado não possa tampouco ser e!evada nas criancinhas, nem nas crian- ‘,’ ças, vê-se mais abaixo, n. 266 no fim.

A Mente na.tural, sendo o invólucro e o continente dos graus superiorea da Mente huma.na, é reagente e se os graus superiores não são

abertos age contra êles, mas se são abertos, age com êles

260 – No Artigo precedente mostrou-se que a Mente natural, sendo o último grau, envolve e encerra a Mente espiritual e a Mente celeste,

que são superiores quanto aos graus; aqui agora é preciso demonstrai que a Mente natural reage contra as Mentes superiores ou interiores. O que faz com que ela reaja, é que ela as envolve, as encerra e as contém e isso não se pode fazer sem reação, pois se não reagisse, os interiores ou as causas encerradas se relaxariam, e se lançariam fora, e assim se espalhariam de um lado e de outro; seria como se as Tú-nicas em tôrno do Corpo humano não estivessem em reação; as vísceras que são os inferiores do corpo se escapariam, e assim se espalhariam por lá e por cá; e seria como se a Membrana que envolve as fibras motrizes de um Músculo não reagissem contra as fôrças dessas fibras nas ações; não sòmente a ação cessaria, mas ainda todos os tecidos in-teriores se dissolveriam. Dá-se o mesmo com todo último grau dos graus de altura, como conseqiiência da Mente natural respectivamente aos graus superiores; pois assim como já foi dito, há três graus da Mente humana, o natural, o espiritual e o celeste, e a Mente natural está no último grau. Se a Mente natural reage contra a Mente espiritual, é também porque a Mente natural é composta não sòmente de substân-cias do Mundo espiritual, mas ainda de substâncias do Mundo natural, como foi dito acima, n. 257, e que por sua natureza as substâncias do Mundo natural reagem contra as substâncias do Mundo espiritual, pois as substâncias do Mundo natural são em si mesmas mortas, e são postas em ação externamente pelas substâncias do Mundo espiritual, e as subs-tâncias que são mortas, e postas em ação externamente, resistem se-gundo sua naturza, e assim reagem segundo sua natureza. Por isto pode-se ver que o homem natural reage contra o homem espiritual, e que há combate; é a mesma cousa dizer o homem natural e o homem es-piritual, ou dizer a Mente natural e a Mente espiritual.

261 – Pode-se ver por estas explicações que se a Mente espiritual foi fechada, a Mente natural age contìnuamente contra o que pertence à Mente espiritual, e teme que dela influa alguma cousa que perturbe seus estados; tudo o que influi pela Mente espiritual vem do Céu, pois a mente espiritual na forma é o Céu; e tudo que influi na Mente na-tural vem do Mundo, pois a Mente natural na forma é o Mundo; donde se segue que a Mente natural, quando a Mente espiritual foi fechada, reage contra tôdas as cousas do Céu, e não as admite em si senão tanto quanto servem de meios para adquirir e possuir as cousas que pertencem ao mundo; e quando as causas que pertencem ao Céu ser-vem de meios à mente natural para seus fins, então êstes meios, em-bora apareçam celestes, tornam-se iiâo obstante naturais; com efeito, o fim as qualifica, pois se tornam como os científicos do homem natural nas quais interiormente nada há da vida. Mas como os Celestes não podem ser conjuntos aos naturais d.e m ;neira que façam um, êles sc separam por conseqiiência, e os celestes nos homens inteiramente na-turais se colocam por fora no circuito em tôrno dos naturais que estão por dentro; daí vem que o homem inteir;imente natural pode falar dos

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celestes e os pregar, e mesmo os fingir por atas, embora interiormente pense contra êles; age desta maneira quando está só, e da outra quando .está em uma assembléia. Mas no que segue se dirá mais sòbre êste assunto.

262 – A 'iilente natural ou o homem natural, pela reação nascida com êle (connata), age contra as causas que pertencem à Mente es- ', piritual ou ao homem espiritual, quando se ama e ama ao mundo acima de tôdas as cousas; então sente também prazer nos males de todo o ' gêner‘o, tais como os adultérios, as fraudes, as vinganças, as blasfêmias, e outros semelhantes; e então êle reconhece mesmo a natureza como a criadora do Universo; e confirma tôdas as cousas por seu racional; e, ap6s as confirmações, os perverte, ou sufoca, ou repele os bens e os veros da Igreja e do Céu, e enfim ou foge dêles, ou os têm em aver-são, ou os odeia; e isso, em seu espírito, e mesmo em seu corpo tanto quanto segundo seu espírito ousa falar com os outros sem temer a perda òe sua reputação de que tira honra e proveito. Quando o homem é tal, fecha sucessivamente e cada vez mais estreitamente a Mente espiritual; as confirmações do mal pelos falsos o fecham principalmente; vem daí ‘ que o mal e o falso confirmados não podem ser extirpados depois da ’ morte, são extirpados sòmente no Mundo pelo arrependimento.

263 – Mas inteiramente diferente é o estado da Mente natural, ' quando a Mente espiritual foi aberta; então a Mente natural está dis-posta a obedecer à Mente espiritual, e é subordinada, pois a Mente espiritual age pelo superior ou interior na Mente natural, e afasta as cousas que aí reagem; e se adapta às que agem da mesma maneira ': com ela, por isso é sucessivamente retirada a reação superabundante. E’ preciso que se saiba que nos muito grandes e nos muito pequenos ’ do Universo, tanto vivos como mortos, há ação e reação, daí o equi-líbrio .de tôdas as cousas; êste equilíbrio é retirado quando a ação ultra-passa a reação, e recìprocamente; dá-se o mesmo com a Mente na-tural e a Mente espiritual; quando a Mente natural age pelos prazeres de seu amor e os encantos de seu pensamento, que em si mesmos são males e falsos, a reação da Mente natural repele as causas que per- '¿ tencem à Mente espiritual, fecha as portas, a fim de que não entrem, e faz cam que a ação se opere pelas causas que concordam com sua ! reação; assim se fazem a ação e z reação da Mente natural, que são opostas,à ação.e à reação da Mente espiritual, daí a Mente espiritual se fechar como quando uma espiral se retorce. Ao contrário, se a Mente espiritual está aberta, então a ação e a reação da Mente natural são cm sentido inverso; pois a Mente espiritual age pelos superiores ou interiores, ç ao mesmo tempo pelas cousas que, na Mente natural, fo-ram dispostas para obedecer pelos interiores ou exteriores, e retorce a espiral na qual.há a ação e a reação da Mente natural; pois esta Mente natu‘ral, como se sabe, é por nascimento oposta às cousas que perten-

cem à Mente espiritual; ela tem isso dos pais pelo hereditário. Tal ó ,a mud‘ança de estado que é chamada reìorma e regeneração; o estado da Mente natural antes da reforma pode ser comparado a uma espiral que se torce ou se volta para baixo; mas após a reforma pode ser com-'parada a uma espiral que se torce ou se volta para cima; é por isso que o homem antes da reforma olha para baixo, para o inferno, mas depois da reforma olha para cima, para o Cíu.

A Orígem do mal vem do abuso das faculdades, pr6prias do homem, e são chamadas Raciona(idade e Liberdade

264 – Pela Racionalidade é entendida a faculdade de compreen-der os veros e por conseguinte os falsos, e os bens e por conseguinte os males; e pela Liberdade é entendida a faculdade de livremente os pensar, os querer e os fazer. Pelo que precede pode-se ver, e pelo que vai seguir poder-se-á ver melhor ainda, que estas duas faculdades estão em cada homem por criação e assim de nascença; que elas vêm 'do Senhor; que não são retiradas; que por elas há a aparência de' que o homem pensa, fala, quer e age como por si mesmo; que o Senhor habita nessas faculdades em cada homem; que o homem por esta con-junção vive eternamente; que por elas, e não sem elas, o Somem pode ser reformado e regenerado; e que por elas o homem é distinguido das

bêstas.

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265 – Que a origem do mal vem do abuso destas faculdades, é o que vai ser mostrado nesta ordem: I. O homem mau goza destas duas íaculdades como o homem bom. II. O homem mau ahusa delas para confirmar os males e os falsos, e o homem bom as usa para confirmar os bens e os veros. III. Os males e os falsos confirmados no homem 'permanecem e se tornam causas de seu amor e por consequência de sua vida. IV. As cousas que se tornaram cousas do amor e da vida são transmitidas aos descendentes. V. Todos os males, tanto òs males transmitidos pelos pais como os males acrescentados, residem na mente natural.

" 266 – I. O homem mau goza destas duas faculdades como o ho-mem bom. Que a Mente natural possa, quanto ao entendimento ser ;élevada até à luz em que estão os Anjos do terceiro Céu, e ver os veros, reconhecê-los, e em seguida falar dêles, é o que foi mostrado no Artigo precedente; é portanto evidente que, pois que a Mente na-tural pode ser assim elevada, o homem mau goza, como o homem bom, desta faculdade que é chamada Racionalidade; e pois que a Mente natural pode ser elevada tão alto, segue-se que o mau pode também .pensar os veros e falar dêles. Mas que êle possa querê-los e fazê-los, 'áirida que não os queira e não os faça, é o que atestam a razão e

a experiência; a Razão: Quem é qiie não pode querer e fazer as cou-.sas que pensa‘? Se não quer e não faz, é porque não ama querê-Ias e fazê-ias; que possa querer e fazer, é a Liberdade, que é dada pelo Se-nhor a todo homem; mas que não queira e não faça o bem, quando o pode, isso vem do amor do mal que se opõe, ao qual entretanto êle ‘pode resistir, e muitos resistem mesmo. A Experiência: Isto, no Mundo espiritual, foi por vêzes confirmado; ouvi espíritos maus, que interior-mente eram diabos, e que no Mundo haviam rejeitado os veros do Céu e da Igreja; tanto quanto a afeição de saber, na qual está todo homem desde a infância, era excitada nêles pela glória que cerca cada amor como um esplendor de fogo, êles percebiam os arcanos da Sabe-doria Angélica tão bem como os espíritos bons que interiormente eram anjos; e mesmo êstes espíritos diabólicos diziam, que na verdade podiam querer e fazer segundo os veros, mas que não queriam absolutamente; quando sc lhes dizia que se quer os veros, desde que se fuja dos ma-les como pecados, respondiam que podiam isso também, mas que não queriam; por isso vi claramente que a faculdade, que é chamada Liber-dade, está nos maus como nos bons; que cada um se consulte, e des-cobrirá que assim é; se o homem pode querer, é porque o Senhor, de quem vem esta faculdade, Ihe dá contìnuamente êsse poder; pois, como ìoi dito acima, o Senhor habita em cada homem nestas duas faculdades, assim na faculdade ou na potência de poder querer. Quanto ao que concerne à Faculdade de compreender, que é chamada Racionalidade, ela não existe no homem antes <põe sua mente tenha chegado à sua idade; antes dêsse tempo é como uma semente em um fruto que náo está maduro, a qual não pode se abrir na terra, nem crescer em haste; esta faculdade não existe tampouco naqueles de que se falou acima, nú-mero P.59.

267 – II. O homem mau abusa destas faculdades para confirmar os males e os falsos, e o homem bom as usa para confirmar os bens e os veros. E’ pela faculdade intelectual, que é chamada Racionalidade, e pela faculdade voluntária, que é chamada Liberdade, que o homem tem o prender de confirmar tudo o que quer; com efeito, o homem na-tural pode elevar seu entendimento para uma luz superior até onde de-seja, mas aquêle que está nos males e por conseguinte nos falsos não o eleva além da região mais alta de sua mente natural, e raramente para a região da mente espiritual; e isso, porque está nos prazeres do amor de sua mente natural, e que se o eleva acima desta mente, o prazer de seu amor perece; se o eleva mais alto, e vê os veros opostos aos prazeres àe sua vida, ou aos princípios de sua própria inteligência, então ou falsifica êsses veros, ou passa adiante e os abandona com des-prêzo, ou os retém em sua mem6ria para que sirvam de meios ao amor de sua vida, ou ao fasto de sua pr6pria inteligência. Que o homem natural possa confirmar tudo o que quer, é o que se vê bem claramente

por tantas heresias no Mundo Cristão, heresias de que cada uma é confirmada por seus sectários. Quem não sabe que os males e os falsos de todo gênero podem ser confirmados' Pode-se confirmar, e os maus o consumam em si, que não há Deus; que a natureza é tudo, e que ela se criou a si mesma; que a religião é unicamente um meio para manter es simples contidos; que a prudência humana faz tudo, e que a Divina Providência não faz senão manter o Universo na ordem em que foi criado; que os assassinatos, os adultérios, os roubos, as fraudes e as vinganças são permitidos segundo iMaquiavel e seus partidários. O ho-.mem natural pode confirmar estas proposições e várias outras semelhan-tes, pode mesmo encher livros coni confirmações, e quando êstes falsos foram confirmados êles se apresentam em sua luz

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fantástica, e os veros em uma tal sombra que não podem ser vistos senão como fantasmas de noite; em uma palavra, toma o que há de mais falso, estabelece-o em proposição, e diz a um homem engenhoso: Confirma isso; e êle e confirmará até A completa extinção da luz do vero; mas põe de parte as confirmações, reentra em ti, e considera a mesma proposição segundo a tua racionalidade, e verás os seus falsos em tôda a sua hediondez. Por isto, torna-se evidente que o homem pode abusar destas duas fa-culdades, que lhe vêm do Senhor, para confirmar os males e os falsos de todo gênero. E’ o que nenhuma bêsta pode fazer, porque nâo goza destas faculdades; é por isso que a bêsta, ao contrário do homem, nasce em tôda a ordem de sua vida, e em tôda a ciência de seu amor natural.

268 – III. Os males e os falsos confirmados no homem permane-cem e se tornam cousas de sesc amor e de sua vida. As confirmações do mal e do falso não são absolutamente senão cousas que afastam o bem e o vero, e que os rejeitam se se acrescem, pois o mal afasta e rejeita o bem, e o falso afasta e rejeita o vero; daí também as con-firmações do mal e do falso fecham o Céu, pois todo bem e todo vero influem do Senhor pelo Céu; e quando o Céu foi fechado, o homem está no inferno, e aí está em sua sociedade em que reinam um seme-lhante mal e um semelhante falso, de que depois não pode ser liber-tado. Foi-me permitido conversar com espíritos que haviam confirmado nêles, há séculos, os falsos de sua religião, e vi que permaneciam nos mesmos falsos em que haviam estado no Mundo; e isso, porque tôdas as cousas que o homem confirma nêle se tornam cousas de seu amor e de sua vida; tornam-se causas de seu amor, porque se tornam cousas da vontade e do entendimento, e a vontade e o entendimento fazem a vida de cada um; e quando se tornam cousas da vida do homem, tor-nam-se cousas não sòmente de tôda sua mente, mas também de todo seu corpo; daí é evidente que o homem que se confirmou nos males e nos falsos é tal desde a cabeça até aos pés, e quando todo inteiro lle é tal, não pode nenhuma inversão ou retorção, ser levado ao estado oposto, nem por conseqiiência ser retirado do inferno. Por estas expli-

cações e as cp¿e precedern neste Artigo, pode-se ver donde vem a Ori-gem do mal.

269 – IV. As cousas que se tornaram cousas do amor e por cooe-qiiência da vida são transmítidas aos elescendentes. Sabe-se que o ho-mem nasce no mal, e que tem isso de seus pais como herança; e al-guns acreditam coque não é de seus pais, mas de Adâo por seus pais, todavia isso é um êrro; êle o tem de seu pai, de quem lhe vem a alma, e a alma é revestida do corpo na mãe; com efeito, a semente que vem do pai, é o primeiro receptáculo da vida, mas receptáculo tal qual estava no pai, pois está na forma do "mor do pai, e o amor de cada um é semelhante a si mesmo nos muito grandes e nos muito pe- : buenos, :e há nêle um esfôrço para a forma humana, para a qual vai ; mesmo sucessivamente; segue-se que os amôres, que s.io ch-inaclus 'i:re-ditários, vêm dos pais, assim dos avós e dos antepassados, e foram su-cessivamente transmitidos aos descendentes. E’ mesmo o que ensina a ' experiência; com efeito, há, quanto às afeições semelhança das nações com seu primeiro pai, e ainda mais semelhança das famílias, e mais ainda semelhanças das casas; e mesmo tal semelhança, que as gerações são distinguidas não sòmente pelos caracteres (animi), mas também pelas faces. Mas, no que segue, quando se tratar da correspondência da mente, ou da vontade e do entendimento, com o corpo e com m membros e os órgãos do corpo, se dirá ainda mais sôbre esta transmissáo do amor do mal dos pais aos descendentes; o pouco que é referido aqui é unicamente para que se saiba que os males são derivados sucessi-vamente dos pais, e que se acrescem pelas acumulações de um após ‘' outro, ao ponto que o homem de nascença não é senão mal, e que a malignidade do mal aumenta segundo o grau em que a Mente espiri-tual está fechada, pois assim a Mente natural é fechada também por cima; e que não há restabelecimento nos descendentes, senão quando pelo Senhor êles fogem dos males como pecados; assim e não de ou-tra forma, é aberta a Mente espiritual, e por ela a Mente natural é reconduzida à forma correspondente.

270 – V. Todos os males e por conseguinte todos os falsos, tanto os males tr.arwmitidos pelos pais como os males acrescentados, reride0 na mente natural. Se os males e por conseguinte os falsos residem na Mente natural, é porque esta Mente é na forma, ou em imagem, o Mundo, enquanto que a Mente espiritual é na forma, ou em imagem, o Céu, e por-que o mal não pode ser alojado no Céu; é por isso que a Mente espiritual não é aberta desde o nascimento, mas o é sòmente em potência, a fim de que possa sèr aberta; a Mente natural tira também em parte a sua forma das substâncias do Mundo natural, mas a Mente espiritual tira sòmente' dàs substâncias do Mundo espiritual a sua forma, que é con-servada em sua integridade pelo Senhor, a fim de que o homem possa se -tornar homem; pois êle nasce animal, e se torna homem. A Mente

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natural, com tudo que Ihe pertence, foi disposta em curvas (gyri) da direita para a esquerda, e, a Kfente espiritual, em curvas da esquerda para a direita; assim estas Mentes estão em sentido contrário uma em r.elação à outra; índice de que o mal reside na Mente natural, e que por si mesma a¿¿'." contra a Mente espiritual; a circungiração da di-reita para a esquerda se dirige para baixo, assim para o inferno, mas a circungiração da esquerda para a direita se dirige para cima, assim para o Céu; que isso assim seja, é o que vi claramente por esta expe-riência: Um mau espírito não pode fazer voltar seu corpo da escpierda para a direita, mas pode fazê-lo voltar da direita para a esquerda, en-quanto que um bom espírito pode fazer voltar difìciImente seu corpo da direita para a esquerda, mas fàcilmente da esquerda para a direita; a circungiração segue o fluxo dos interiores que pertencem à Mente.

Os males e os fabos em todo oposto sr?o contra os bens e os eeros, porque os males e os fab' sento diabólicos e infernal, e os bera

e os veros siio Divinos e Celestes

271 – Que o mal e o bem sejam opostos, e também os falsos do mal e os veros do bem, cada um o reconhece desde que o ouve dizer; mas como os que estão no mal não sentem e por conseguinte não per-cebem de outro modo senão que o mal é o bem, pois o mal agrada a seus sentidos, sobretudo a vista e o ouvido, e por conseguinte alegra também os pensamentos e por conseqiiência as percepções, resulta que reconhecem, é verdade, que o mal e o bem são opostos, mas como estão no mal, o prazer do mil faz com que digam que o mal é o bem, e que o bem é o mal. Seja êste exemplo: Aquêle que abusa de sua liberdade para pensar e fazer o mal, chama isso liberdade, e seu oposto, que é pensar o bem, que em si é o bem, denomina escravidão, ainda que entretanto esta seja verdadeiramente a liberdade, e aquela a escra-vidão. Aquêle que ama os adultérios chama liberdade a ação de co-meter adultério, e a proibição de cometê-la chama isso de escravidão, pois sente na lascívia um prazer e na castidade um desprazer. Aquêle que pelo amor de si está no amor de dominar, sente neste amor um prazer da vida, que está acima dos outros prazeres de todo gênero, por conseguinte chama bem tudo o que pertence a êste amor, e pro-clama mal tudo o que o contraria, ainda que entretanto seja tudo o oposto. Dá-sc o mesmo com todo outro mal; assim,.inda que cada um reconheça que o mal e o bem são opostos, não obstante aquêles que estão nos males têm desta oposição uma idéia contrária, e só aquêles que estão nos bens têm dela uma idéia justa; quem quer que seja, en-quanto está no mal não pode ver o bem, mas o que está no bem pode ver o mal; o mal está em baixo como que em uma caverna, o bem está em cima como sôbre uma montanha.

272 – Ora, como muitos ignoram o que é o mal, e que êle é abso-lutamente oposto ao bem, e como entretanto importa que se o saiba, êste assunto vai ser examinado na seguinte ordem: I. A Mente natural, que está nos males e, por conseguinte, nos falsos, é ;¿ forma e a ima-gem do inferno. II. A Mente natural, que é a form’. e a imagem do iníerno, desce pelos três graus. III. Os três graus da Mente natural, que é a forma e a imagem do inferno, são opostos aos três graus da Mente espiritual, que é a forma e a imagem do Céu. IV. A Mente natural que é o inferno está em todo oposto contra a Mente espiritual que é o Céu.

273 – I. A Mente natural, gue está nos males e por conseguinte nos falsos, é a forma e a imagem do inferno. Não pode ser descrito aqui o que é a Mente natural em sua forma substancial no homem, ou o que é ela em sua forma tecida de substâncias de um e outro Mundo nos Cérebros, onde reside a Mente em seus primeiros; será dada uma idéia universal desta forma no que segue, quando se tratar da corres-pondència da Mente e do Corpo. Aqui, se dirá sòmente alguma cousa de sua forma quanto aos estados e às suas mudanças, pelas quais se apresentam as percepções, os pensamentos, as intenções, as vontades, e as causas que lhes pertencem; pois a Mente natural, que está nos males e por conseguinte nos falsos, é quanto a estas causas a forma e a imagem do inferno; esta forma supõe uma forma substancial como sujeito, pois as mudanças de estado não podem existir sem uma forma substancial que seja o sujeito, absolutamente da mesma forma que a vista não pode existir sem o ôlho, nem a audição sem o ouvido. Assim, quanto ao que concerne à forma ou à imagem pela cpial a Mente se assemelha ao inferno, tal é esta forma e esta imagem: O amor reinante, com suas concupiscências, que é o estado universal desta Mente, é como no inferno o diabo, e os pensamentos do falso que tem sua ori-gem neste amor reinante são como a tropa do diabo; pelo diabo e sua tropa não é tampouco entendida outra causa na Palavra. E’

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também a mesma cousa, pois no inferno o Amor de dominar pelo amor de si é o Amor reinante; lá, êste amor é chamado o diabo, e as afeições do falso com os pensamentos que têm sua origem neste amor, são cha-mados a tropa do diabo; dá-se o mesmo em cada sociedade do in-ferno com diferenças tais como são as diferenças específicas de cada gênero. Em uma semelhante forma está também a Mente natural que está nos males e por conseguinte nos falsos; é por isso também que o homem natural, que é tal, entra depois da morte para uma sociedade do inferno semelhante a êle, e faz um então com ela em tôdas e cada uma das causas, pois entra em sua forma, isto é, nos estados de sua mente. Há também um outro Amor, que é chamado Satanás, subordi-nado ao primeiro amor que é chamado Diabo; êste amor é o amor de possuir os bens dos outros por um artifício qualquer; as malícias en-

genhosas e a astúcia são a sua tropa. Os que estão neste inferno são em geral chamados Satanases, e os que estão no primeiro são chamados Diabos, e lá os que não agem clandestinamente não rejeitam seu nome; é daí que os infernos no composto são chamados Diabo e Satanás. Se os dois infernos foram distinguidos em geral segundo êstes dois am6res, é porque todos os Céus foram distinguidos em dois Reinos, o Celeste e o Espiritual, segundo os dois amôres, e que por oposição o Inferno diabólico corresponde ao Reino Celeste, e o Inferno satânico ao Reino espiritual; que os Céus tenham sido distinguidos em dois Reinos, o Ce-leste e o Espiritual, vê-se no Tratado do Céu e do Inferno, ns. 20 a 28. Se a Mente natural, que é tal, está na forma do Inferno, é porque tôda forma espiritual nos muito grandes e nos muito pequenos é semelhante a ela mesma, donde resulta que cada Anjo é o Céu na menor forma, como foi mostrado também no Tratado do Céu e do Inferno, ns. 51 a 58; daí resulta ainda que todo homem ou todo espírito, que é um diabo ou um satanás, é o inferno na menor forma.

274 – II. A Mente natural, que é a forma e a imagem do inferno, desce pelos três graus. Que nos muito grandes e nos muito pequenos de tôdas as causas hajam os Graus dos dois gêneros, que são chamados graus de altura e graus de largura, vê-se acima, ns. 222 a 229; assim a Mente natural tem também êstes graus em seus muito grandes e em seus muito pequenos; aqui são entendidos os graus de altura. A Mente natural, por suas duas faculdades, que são chamadas a Racionalidade e a Liberdade, está neste estado, em que pode subir pelos três graus, e descer pelos três graus; sobe pelos bens e os veros, e desce pelos males e os falsos; e quando sobe, o graus inferiores que tendem para o inferno são fechados, e guando desce, os graus superiores que ten-dem para o Céu são fechados; e isso, porque estão em reação. estes três graus superiores e inferiores não estão nem abertos nem fechados no homem recém-nascido; pois êle está então na ignorância do bem e do vero e também do mal e do falso; mas conforme êle se entrega a uns e a outros, os graus são abertos ou fechados ou de um lado ou de outro. Quando são abertos do lado do inferno, o amor reinante que pertence à vontade obtém o lugar supremo ou íntimo, o pensamento do falso que pertence ao entendimento segundo êste amor obtém o segundo lugar ou plano médio, e o conclusum (resultado) do amor pelo pensamento, ou da vontade pelo entendimento, obtém o lugar ínfimo. Dá-se aqui ainda o mesmo que nos graus de altura, de que se falou precedentemente, no fato de estarem em ordem como o fim, a causa e o efeito, ou como o fim primeiro, o fim médio e o fim último. A descida dêstes graus é para o corpo, por consequência na descida êles se adensam, e se tornam materiais e corporais. Se veros tirados da Palavra são admitidos no segundo grau para o formar, então pelo pri-meiro grau, que é o amor do mal, êstes veros são falsificados e se

tornam domésticos e escravos; daí pode-se ver cpie se tornam os veros, da Igreja tirados da Palavra naqueles que estão no amor do mal, ou cuja Mente natural é na forma o inferno, no fato de que, porque ser-vem ao diabo de meios, são profanados; pois o amor do mal reinante ’ na Mente natural, que é o inferno, é o diabo, como foi dito acima.

275 – III. Os três graus da Mente natural, que é a forma e a ima-gem do inferno, são opostos aos três graus da Mente espiritual que es' na forma e na imagem do Céu. Que haja três graus da Mente, que são chamados natural, espiritual e celeste, e que a Mente humana cones-: tindo nestes três graus olha e se volta para o Céu, é o que foi mos-” trado acima; por isso pode-se ver que a Mente natural quando olhá. para baixo e se volta para o inferno, consiste semel!iantemente em três graus, e que cada um desses graus é oposto a um grau da mente què" é o Céu. Que assim seja, é o que se tornou bem evidente para aum pelo que vi no Mundo espiritual, a saber, que há três Céus, que fo ‘ ram distinguidos segundo os três graus de altura; que há três infernos,‘ que são distinguidos também segundo os três graus de altura oit de,: profundidade; que em tôdas e cada uma das cousas os infernos são opos tos aos Céus; e que o inferno mais

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baixo é oposto ao Céu supremo, o.: inferno médio ao Céu médio, e o inferno mais elevado ao último Céu.,:. Dá-se o mesmo com a hfente natural que está na forma do inferno;.“: pois as formas espirituais são semelhantes a elas mesmas nos muita' grandes e nos muito pequenos. Se os Céus e os Infernos são assita; opostos, é ponpie os seus amôres são do mesmo modo opostos. amor para com o Senhor, e por conseguinte o amor em relação ao pró'’ ximo, fazem o grau íntimo dos Céus, enquanto que o amor de si ¿,-’ o amor do mundo fazem o grau ínfimo dos infernos; a sabedoria e aj:, inteligência segundo seus amôres fazem o grau médio dos Céus, en¿: quanto que a loucura e a tolice, que se apresentam como sabedoria O inteligência, fazem segundo seus amôres o grau médio dos infernos; os conclua (resultados) de seus dois graus, que são, ou postos na me' mória como ciências, ou fixados em atas no corpo, fazem o ííltimo grau dos Céus; os concluía de seus dois graus, cpie se tornam ou ciênciaa,, nu atas, fazem o grau extimo (externo) dos infernos. Como os bena e os veros do Céu são mudados nos infernos em males e em falsos, e assim no oposto, pode-se ver por esta experiência: Soube que um Vera Divino tinha descido do Céu até ao inferno, e soube que êste vero no trajeto descendente tinha sido por graus mudado em falso, assim no inferno ínfimo, no que é absolutamente oposto; por aí vi claramente qua os infernos segundo os graus estão no oposto em relação aos Céus quantq a todos os bens e a todos os veros, e que os bens e os veros aí se tor-nam males e falsos pelo influxo nas formas torcidas em sentido con-trário; pois sabe-se que tudo que influi é percebido e sentido segundo as formas que recebem, e segundo seus estados. Que os bens e os veros' sejam mudados em opostos, é ainda o que se tornou evidente para mim

por esta experiência: Foi-me concedido ver os Infernos em sua situa-ção respectivamente aos Céus, e aquêles que aí estavam apareciam in-vertidos, com a cabeça em baixo e os pés em cima; mas me foi dito que não obstante, entre êles, se viam direitos sôbre seus pés; o que pode ser comparado aos antípodas. Por êstes ensinamentos da expe-riência, pode-se ver que os três graus da Mente natural, que na forma e na imagem é o inferno, são opostos aos três graus da Mente espi-ritual que na forma e na imagem é o Céu.

276 – .A Mente natural que é o inferno, está em tudo oposto contra a Mente espiritual que é o Céu. Quando os amôres são opostos, tôdas as causas que pertencem à percepção sc tornam opostas; pois do amor, que faz a vida mesma do homem, decorrem tôdas as outras cousas, como regatos de sua fonte; as cousas que dêle não provêm se separam, na Mente natural das que dêle provêm; as que provêm de seu Amor reinante estão no meio, e tôdas as outras sôbre os lados; se estas são veros da Igreja hauridos na Palavra, são relegadas para longe do meio sôbre os lados, e são por fim expulsas, e então o homem ou a Mente natural percebe o mal como bem, e vê os falsos como veros, e recì-procamente; vem daí que êle tome a malícia pela sabedoria, a loucura pela inteligência, a astúcia pela prudência, os artifícios pelo gênio; e então também não faz caso algum dos Divinos e dos celestes que per-tecem à Igreja e ao culto, e estima muito os corporais e os mundanos; assim inverte o estado de sua vida, de sorte que o que pertence à cabeça o põe na planta dos pés e o pisa, e o que pertence à planta dos pés o põe na cabeça; por conseqiiência de vivo o homem se torna morto; é chamado vivo aquêle cuja mente é o Céu, e morto aquêle cuja mente é o inferno.

Tôdas as cousas que pertencem aos três graus da mente natural foram encerradas nas obras que se fazem pelos atos do corpo

277 – Pela ciência dos graus, que foi exposta nesta Parte, é des-coberto êste Arcano, que tôdas as cousas da Mente, ou da vontade e do entendimento, do homem, estão, em seus atas ou em suas obras, encerrados quase como na semente, no fruto ou no ôvo as cousas que caem sob a vista e as cousas que nela não caem; os atos mesmos ou as obras não parecem senão como aquelas nos externos, mas não obs-tante nos internos há causas inumeráveis, pois há as fôrças das fibras motrizes de todo o corpo que concorrem, e há tôdas as cousas da mente que excitam e cTeterminam estas fôrças, as quais são de três graus, como foi mostrado mais acima; e como há tôdas as causas da mente, há tôdas as da vontade ou t6das as afeições do amor do ho-mem, que constituem o primeiro grau; há tôdas as do entendimento, ou todos os pensamentos de sua percepção, que fazem o segundo grau;

e há tôdas as da mem6ria ou tôdas as idéias do pensamento, que estão mais próximas da linguagem, donde foram tomadas, as quais apresen-tam o terceiro grau; por tôdas estas cousas,

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determinadas em ato, existem as obras, nas quais, vistas na forma externa, não aparecem os anteriores que entretanto aí estão na realidade. Que os últimos sejam o complexo, o continente e a base dos anteriores, vê-se acima, ns. 209 a 216; e que os graus de altura no seu último estejam no pleno, vê-se nos ns. 217 a 221.

278 – Se os atos do corpo, considerados pelo ôlho, se apresentam assim simples e uniformes como na forma externa as sementes, os bu-tos, os ovos, e como as nozes e as amêndoas na casca, e entretanto contêm nelas todos os anteriores de que provêm, é porque todo último está envolvido, e por isso distinto dos anteriores; cada grau está tam-bém coberto com um invólucro, e por isso distinto de um outro grau; é por isso que as cousas que são do primeiro grau não são conhecidas ' pelo segundo grau, e as que estão neste grau não são conhecidas pelo terceiro; seja êste exemplo: O amor da vontade, que é o primeiro grau ; da mente, não é conhecido na sabedoria do entendimento, que é o segundo grau da mente, senão por uma sorte de prazer do pensamento da cousa; o primeiro grau que, como foi dito, é o amor da vontade, : não é conhecido na ciência da memória, que é o terceiro grau, senão . por uma sorte de encanto de saber e de falar. Segue-se daí que a '' obra, que é o ato do corpo, encerra tôdas estas causas, ainda que na forma externa se mostre simples como um.

279 – Isto é confirmado por êste fato, que os Anjos, que estão no -, homem, percebem uma a uma as cousas que pela Mente estão no ato; os Anjos espirituais, as que aí estão pelo entendimento, e os Anjos celestes as que aí estão pela vontade; isto se apresenta como um para-doxo, mas não obstante é a verdade. Todavia, é preciso que se saiba „:: que as cousas da mente que pertencem ao objeto proposto ou presente : estão no meio, e as outras em tôrno segundo as afinidades. Os Anjos : dizem que conforme cada obra o homem é percebido tal qual é, mas em uma semelhança de seu amor, a qual vana segundo as determina-ções dêste amor nas afeições e por conseguinte nos pensamentos. Em uma palavra, todo ato ou tôda obra do homem espiritual diante dos anjos é como um fruto saboroso, útil e belo, que aberto e comido dá sabor, uso e delícia. Que tal seja para os anjos a percepção dos atas ; e das obras dos homens, vê-se também acima, n. 220.

280 – Dá-se o mesmo com a linguagem do homem, os Anjos pelo som da linguagem conhecem o amor do homem, pela articulação do som a sua sabedoria; e além disso dizem que estas três causas estãn em cada palavra, porque a palavra é como o conclusum, pois nela hi o som, a articulação e o sentido. Foi-me dito pelos Anjos ào terceiro .‘

Céu, que conforme cada palavra de um homem que fala em série, pei cebem o estado comum de seu espírito (animi), e mesmo alguns es tados particulares. Que em cada vocábulo da Palavra haja um espi ritual que pertence à Divina Sabedoria, e um celeste que pertence ai Divino Amor, e que êste espiritual e êste celeste sejam percebidos pelo, Anjos, quando a palavra é lida santamente pelo homem, isso foi mos trado em vários lugares na Doutrina da Nova Jerusalém sôbre a Rseri tura Santa.

281 – Do que procede é tirada esta conclusão, que nas obras da homem, cuja Mente natural desce pelos três graus ao inferno, há to-dos os seus males e todos os seus falsos do mal; e que nas obras do homem, cuja Mente natural sobe para o Céu, há todos os seus bens e todos os seus veros; e que todos êstes bens e êstes veros, e todos êstes males e êstes falsos, são percebidos pelos Anjos por uma única palavra e uma única ação do homem. Daí vem que, na Palavra, que o homem será julgado segundo suas obras, e prestará compitas de tôdas as suas palavras.

Quarta PARTE

DA CRIAÇÃO DO UNIVERSO

O Senhor de tôda eternidade, que é Jehovah, criou de Si Mesmo, e não do nada, o Universo e tôdas as cousas do Universo

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282 – Sabe-se sôbre todo o Globo, e, pela percepção interior, todo homem sábio o reconhece, que há um único Deus, que é o Criador do Universo; e, pela Palavra, sabe-se que Deus Criador do Universo é chamado Jehovah da palavra Ser, porque Só Rle E’; que o Senhor de tôda eternidade seja êste Jehovah, é o que foi demonstrado em vários lugares, pela Palavra, na Doutrina da Nova Jerusalém sôbre o Senhor. Jehovah é chamado o Senhor de tôda eternidade, porque Jehovah se revestiu do Humano para salvar do Inferno os homens; e então or-denou a Seus discípulos que o chamassem Senhor; é por isso que Jehovah é chamado o Senhor no Nôvo Testamento; como se pode ver por esta passagem: “Amarás Jehovah teu Deus de todo teu coração e de tôda tua alma” (Deuter. 6.º, 5) ; e no Nôvo Testamento: “Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração e de tôda tua alma” (Mateus 2Lº, 37) ; semelhantemente em outras passagens tiradas do Antigo Tes-tamento pelos Evangelistas.

283 – Todo homem que pensa por uma razão sã, vê que o Uni-verso não foi criado do nada, porque vê que do nada não pode ser

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é contraditório, e o que é contraditório é contra a luz do vero, que procede da Divina Sabedoria; e tudo que não vem da Divina Sabe-doria não vem tampouco da Divina Onipotência. Quem quer que pense por uma razão sã, vê também que tôdas as cousas foram criadas de uma Substância, que é a Substância em si; pois esta é o Ser mesmo, pelo qual tôdas as causas que são podem existir; e como Deus s6 é a Substância em si, e por conseguinte o Ser mesmo, é evidente que a

existência de tôdas as cousas não vem de outra parte. Muitos viram isso, pois a razão o faz ver, mas não ousaram confirmá-la, temendo que assim talvez lhes viesse ao pensamento que o Universo criado é Deus, porque viria de Deus. ou que a natureza é por si mesma, e que assim o íntimo da natureza é o que se chama Deus; daí vem que, embora muitos tenham visto que a existência de tôdas as cousas não procede de outra parte senão de Deus, e do Ser de Deus, não ousaram entre-tanto ir além do primeiro pensamento sôbre êste assunto, para não empenhar seu entendimento em um n6 g6rdio, como se diz, de que não poderiam depois se desprender; não teriam podido desembaraçar seu entendimento porque pensavam de Deus, e da criação do Univrso por Deus, pelo tempo e o espaço, que são próprios da natureza, e ninguém pode, pela natureza, perceber Deus nem a criação do Universo; mas todo homem, cujo entendimento está em alguma luz interior, pode perceber a natureza e a criação da natureza por Deus, porque Deus não está nem no tempo nem no espaço. Procedentemente. vimos que o Divino não está no espaço, ns. 7 a 10; que o Divino enche todos os espaços do universo sem espaço, ns. 69 a 72; e que o Divino está em todo tempo sem tempo, ns. 73 a 76. No que segue, ver-se-á que, embora Deus tenha criado de Si Mesmo o Universo e tudo que êle contém, não obstante não há no Universo criado a menor causa que seja Deus; além de várias outras proposições que põem êste assunto em tôda sua luz.

284 – Na Primeira Parte desta Obra, tratou-se de Deus, a saber, que é o Divino Amor e a Divina Sabedoria, e que é a Vida; além disso, é também a Substância e a Forma que é o Ser mesmo e único. Na Segunda Parte, tratou-se do Sol espiritual e de seu mundo, do Sol natural e de seu mundo; e que o Universo, com tudo que contém, foi criado por Deus por meio de um e outro Sol. Na Terceira Parte, tratou-se dos graus em que estão tôdas e cada uma das causas que foram criadas. Agora, nesta Quarta Parte vai se tratar da Criação do Universo por Deus. Se se tratou dêstes diversos assuntos, foi porque os Anjos se lamentaram diante do Senhor, de que, quando dirigem seus olhos para o Mundo, não vêem senão trevas, e não encontram nos homens a respeito de Deus, do Céu e da Criação da natureza, causa alguma da ciência sôbre a qual se ap6ia sua sabedoria.

O Senhor de tôda a eternidade, ou Jehovah, não teria podido criar o Universo, e tôdas as cousas do Universo, se não fôsse Homem

285 – Aquêles que têm de Deus como Homem uma idéia natural-corporal, não podem de modo algum apreender como Deus, como Ho-mem, pôde criar o Universo e tôdas as cousas do Universo; pois pen-sam com êles mesmos: Como Deus, :gomo Homem, pode percorrer

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o Universo de espaço em espaço e criarP ou: Como pode Ele, do lugar onde está, dizer uma palavra, e como por uma palavra dita tôdas as cousas tenham sido criadasP Eis, quando se diz que Deus é Homem, o que cai nas idéias daqueles que pensam de Deus-Homem como de um homem dêste Mundo, e que pensam de Deus segundo a natureza e segundo os próprios da natureza, que são os tempos e os espaços; mas os que pensam de Deus-Homem, não segundo o homem dêste Mundo, e não segundo a natureza, nem segundo o espaço e o tempo da natureza, percebem claramente que o Universo não podia ser criado, a não ser que Deus fôsse Homem. Põe o teu pensamento nesta idéia angélica sôbre Deus, que Ele é Homem, e afasta tanto quanto podes a idéia de espaço, e pelo pensamento tu te aproximarás da verdade. Alguns Eruditos, também, percebem que os espíritos e os anjos não estão no espaço; pois é como o pensamento, embora esteja no homem, contudo o homem pode por êle estar como presente não importa em que lugar, mesmo o mais afastado. Tal é o estado dos espíritos e dos Anjos, que são homens, mesmo quanto a seus corpos; aparecem no lugar em que está seu pensamento, porque os espaços e as distân-cias no Mundo espiritual são aparências, e fazem um com o pensa-mento proveniente de sua afeição. Por isso pode-se ver que não se deve pelo espaço pensar em Deus, que aparece como Sol distante acima do Mundo espiritual, e em quem não pode estar nenhuma aparência de espaço; e então pode ser apreendido que Ele criou o Universo, não do nada mas de Si Mesmo; além disso também que Seu Corpo Hu-mano não pode ser imaginado grande ou pequeno, ou de uma estatura qualquer, pois isto também é do espaço; que assim Ele é o mesmo nos primeiros e nos filtimos, nos muito grandes e nos muito pequenos; e que além disso o Humano é o íntimo em todo objeto criado, mas sem espaço. Que o Divino seja o mesmo nos muito grandes e nos muito pequenos, vê-se acima, ns. 77 a 82; e que o Divino enche todos os espaços sem espaço, vê-se nos ns. 69 a 72; e pois que o Divino não está no espaço, não é tampouco contínuo, como é o íntimo da natureza.

286 – Que Deus não teria podido criar o Universo, e tôdas as cousas do Universo, se não fôsse Homem, é o que um homem inte-ligente pode muito claramente apreender, porque em si mesmo não pode negar que haja em Deus o Amor e a Sabedoria, que haja a Miseric6rdia e a Clemência, que haja o Bem mesmo e o Vero mesmo, pois que tudo isso procede de Deus; e como não o pode negar, não pode negar tampouco que Deus seja Homem; pois nenhuma dessas causas podem existir separadas do homem, pois que o homem é seu sujeito; e separá-I"s de seu sujeito, é dizer que elas não são absoluta-mente. Pensa na S."bedoria, e põe-na fora do homem, é isto alguma cousaP Pensas concebê-la como uma sorte de éter ou como uma sorte de chamaP Tu não o podes, a menos que talvez tu a ponhas nesse éter

e nessa chama, e se aí a colocas, será a Sabedoria em uma forma, tal como ela é para o homem, aí não pode faltar uma única cousa, para que a Sabedoria aí esteja; em uma palavra, a forma da Sabedoria é o homem; e pois que o homem é a forma da sabedoria, é também a forma do amor, da misericórdia, da clemência, do bem e do vero, por-que estas causas fazem um com a Sabedoria. Que o Amor e a Sabe-doria não possam existir senão em uma forma, vêse acima, ns. 40 a 43,

287 – Que o amor e a sabedoria sejam homem, pode-se ver tam-bém pelos Anjos do Céu, que, tanto estão pelo Senhor no amor e por conseguinte na sabedoria, tanto em beleza são homens. Pode-se ver a mesma cousa pelo que na Palavra se diz de Adão, que foi criado segundo a semelhança e à imagem de Deus (Gênesis 1.º, 26), por-que foi criado segundo a forma do amor e da sabedoria. Todo homem de uma terra nasce segundo a forma humana quanto ao corpo; e isso, porque seu espírito, que também é cliamado alma, é homem; e êste espírito é homem, porque é suscetível de receber do Senhor o amor e a sabedoria, e tanto quanto o espírito ou a alma do homem recebe, tanto se torna homem após a morte do corpo material, que o envolve; e tanto quanto não recebe, tanto se torna um monstro, que tem alguma cousa do homem por causa da faculdade de receber.

288 – Pelo fato de Deus ser Homem, todo o Céu angélico no complexo representa um único Homem; e êste Céu foi distinguido em Regiões e em Províncias segundo os Membros, as Vísceras e os ûrgãos do homem; com efeito, há sociedades do Céu que constituem as Pro-víncias de tôdas as partes do Cérebro, e de todos os 6rgãos da amace, e também de tôdas as Vísceras do corpo; e estas Províncias entre si são distinguidas absolutamente como estas partes no homem; os Anjos sabem mesmo em que Província do Homem estão. O Céu inteiro está nesta efígie, porque Deus é Homem; e Deus é o Céu, porque os

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Anjos, que constituem o Céu, são os recipientes do amor e da sabe-doria procedentes do Senhor, e os recipientes são imagens. Que o Céu esteja na forma de tôdas as partes do homem, é o que foi mostrado nos Abanos Celestes no fim de vários Capítulos.

289 – Por estas explicações, pode-se ver o vazio das idéias naqueles que pensam de Deus diferentemente de um Homem, e dos Atributos Divinos diferentemente de que êles estão em Deus como Homem, por-que separados do Homem são puros sêres de razão. Que Deus seja o Homem Mesmo, pelo qual todo homem é homem conforme a recepção do amor e da sabedoria, vê-se acima, ns. 11, 12 e 13; a mesma causa é cõnfirmada aqui em vista do que segue, a fim de que se perceba a criação do Universo por Deus porque Ele é Homem.

O Senhor de tôda eternidade, ou Jehovah, produziu de Si Mesmo o Sol do Mundo Espiritual, e por êste Sol criou o Uníverso e tôdas as causas do Universo

290 – Na Segunda Parte desta Obra, tratou-se do Sol do Mundo espiritual, e aí mostrou-se o que segue: Que o Divino Amor e a Divina Sabedoria aparecem no Mundo espiritual como Sol, ns. 83 a 88; que dêste Sol procedem o calor espiritual e a luz espiritual, ns. 89 a 92; que êste Sol não é Deus, mas é o Procedente do Divino Amor e da Divina Sabedoria de Deus-Homem; e que dá-se o mesmo com o Calor e a Luz procedentes dêste Sol, ns. S3 a 98; que o Sol do Mundo es-piritual está a uma meia altura, e aparece distante dos Anjos, como o Sol do Mundo natural aparece diante dos homens, ns. 103 a 107; que no Mundo espiritual o Oriente está onde aparece o Senhor como Sol, e que daí dependem as outras plagas, ns. 119 a 123, 124 a 128; que os Anjos voltam contìnuamente a face para o Senhor como Sol, ns. 129 a 134, 135 a 139; que o Senhor criou o Universo e tôdas as cousas do Universo por meio dêste Sol, que é o primeiro procedente do Divino Amor e da Divina Sabedoria, ns. 151 a 156; que o Sol do Mundo natural é puro fogo, e que assim a natureza que tem nêle a sua origem é morta; e que o Sol do Mundo natural foi criado, para que a obra da criação pudesse ser acabada e ultimada, ns. 157 a 162; que sem dois S6is, um vivo e o outro morto, não há criação, ns. 163 a 166.

291 – Entre as cousas que foram mostradas na Segunda Parte, há também esta, que o Sol não é o Senhor, mas é o Procedente do Di-vino Amor e da Divina Sabedoria do Senhor. Diz-se Procedente, por-que êste Sol foi produzido do Divino Amor e da Divina Sabedoria, que em si mesmos são a substância e a forma, e que o Divino procede por isso. Mas como a Razão humana é tal, que não dá a sua aquiescên-cia, a menos que veja a cousa pela causa, assim a menos que perceba também como, aqui como foi produzido o Sol do Mundo espiritual, que não é o Senhor, mas que procede do Senhor, é preciso por con-seqiiência dizer sôbre isso alguma cousa; conversei muito com os An-jos sôbre êste assunto; êles me disseram que percebem isso claramente em sua luz espiritual, mas que não o podem apresentar fàcilmente diante do homem na sua luz natural, porque há uma tal diferença entre uma e outra luz e por conseqiiência entre os pensamentos; disseram-me en-tretanto que isso é semelhante à esfera das afeições e dos pensamen-tos, que envolve cada anjo, pela qual seu pensamento é manifestado aos que estão perto e aos que estão longe; e que esta esfera ambiente não é o Anjo mesmo, mas procede de tôdas e cada uma das cousas de seu corpo, de que emanam contìnuamente substâncias como um rio, e as que emanam se comprimem em tôrno dêle; e que estas subs-tâncias contíguas a seu corpo, contìnuamente postas em ação pelas duas fontes do movimento de sua vida, o coração e o pulmão, excitam as

atmosferas em suas atividades, e por isso manifestam uma percepção como de sua presença nos outros; e que assim não há uma outra es-fera das afeições e dos pensamentos, embora a chamem assim, que sai e seja continuada, porque as afeições são puros estados das for-mas da mente nêle. Disseram-me além disso que há uma tal esfera em tôrno de cada Anjo, porque há uma em tôrno do Senhor, e que esta esfera em tôrno do Senhor vem igualmente d’Rle, e é ela que é seu Sol, ou o Sol do Mundo espiritual.

2.92 – Foi-me dado perceber muito frequentemente que há uma tal esfera em tôrno do Anjo e do espírito, e também uma esfera comum em tôrno de muitos em uma sociedade, e além disso me foi dado vê-la sob diversas aparências, às vèzes no Céu sob a aparência de uma chama tênue; no inferno sob a aparência de um fogo espêsso; e por vêzes no céu sob a aparência de uma nuvem leve e branca, e no in-

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ferno sob a aparc;ncia de uma nuvem espêssa e negra; e me foi dado perceber também estas esferas sob diversas aparências de odores ou agradáveis ou infectos; por isso fui confirmado que cada um no Céu, e cada um no inferno, está cercado de uma esfera consistindo em subs-tâncias desprendidas e separadas de seu corpo.

293 – Percebi também que uma esfera emana, não sòmente dos Anjos e dos espíritos, mas também de tôdas e cada uma das cousas que aparecem naquele Mundo, como das árvores e de seus frutos, dos arbustos e de suas flôres, das plantas e das ervas, e mesmo das terras e de tôdas as suas partes; por isso vi claramente que, tanto no que é vivo como no que é morto há êste Universal, que cada objeto é cercado de alguma cousa de semelhante ao que e'stá interiormente nêle, e que isso emana contìnuamente dêle. Que assim seja também no Mundo natural, isso é conhecido pela experiência de um grande número de eruditos; por exemplo, que ondas de eflúvios emanam sem cessar do liomem, e de todo animal, e também da árvore, do fruto, do arbusto, da flor, e mesmo do metal e da pedra; o Mundo natural tem isso do Mundo espiritual, e o Mundo espiritual o tem do Divino.

294 – Como as cousas, que constituem o Sol do Mundo espiri-tual, procedem do Senhor, e não são o Senhor, elas não são por con-seqiiência a vida em si, mas são privadas da vida em si, do mesmo modo que as causas que emanam do anjo e do homem, e fazem as esferas em tôrno dêles, não são nem o anjo nem o homem, mas pro-vêm dêles, privadas da vida que está nêles; não fazem um com o anjo ou o homem, a não ser pelo fato de que concordam, porque foram tiradas das formas de seu corpo, as quais eram nêles as formas de sua vida. E’ isto um arcano, que os anjos, por meio de suas idéias espi-rituais, podem ver pelo pensamento e mesmo exprimir pela linguagem,

l

mas os homens não o podem por meio de suas idéias naturais, por-que mil idéias espirituaís fazem uma única idéia natural, e uma idéia natural não pode ser resolvida pelo homem em uma idéia espiritual, nem com mais forte razão em um tão grande número; isto vem de que as idéias diferem segundo os graus de altura, de que se tratou na Terceira Parte.

295 – Que haja uma tal diferença entre os pensamentos dos anjos e os dos homens, é aquilo de que tive conhecimento por esta expe-riência: Foi dito a anjos que pensassem espiritualmente sôbre algum assunto, e que me dissessem em seguida o que tinham pensado; quando isto foi feito, e êles me quiseram dizê-la, não o puderam, confessando que não podiam enunciá-la; dava-se o mesmo com a sua linguagem espiritual, e o mesmo com sua escrita espiritual; não havia palavra alguma da linguagem espiritual que fôsse semelhante a uma palavra da linguagem natural, nem cousa alguma da escrita espiritual que fôsse semelhante à escrita natural, exceto as letras, das quais cada uma con-tém um sentido inteiro. Mas, o que é admirável, êles me disseram que lhes parecia pensar, falar e escrever no estado espiritual de uma se-melhante maneira que o homem no estado natural, enquanto que en-tretanto nacìa há de semelhante; por isso vi claramente que o natu-ral e o espiritual diferem segundo os graus de altura, e que não se comunicam entre si senão pelas correspondências.

No Senhor hd trcs causas que são o Senhor, o Divino do Amor, o Divino da Sabedoria, e o Divino do Uso, e êstes trê.s se apresentam em aparência fora do Sol espiritual; o Divino do Amor pelo

Calor, o Divino da Sabedoria pela Luz, e o D¿oino do Uso

pcb Atmosfera, que é o continente

296 – Que do Sol do Mundo espiritual procedem um Calor e uma Luz, e que o Calor procecìe do Divino Amor do Senhor, e a Luz de Sua Divina Sabedoria, vê-se acima, ns. 89 a 92, 99 a 102, 146 a 150. Aqui, agora, se dirá que a Terceira cousa, que procede dêste So1, é uma Atmosfera., que é o continente do calor e da luz, e que esta Atmosfera procede do Divino do Senhor, Divino que é chamado Uso.

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297 – Quem quer que pense com alguma ilustração pode ver que o amor tem por f'm e por intenção o uso, e que êle produz o uso pela sabedoria; pois o amor não pode por si mesmo produzir uso al-gum, m s o produz por meio da S.ihedoria; e mesmo, o que é o amor, se não há alguma causa que seja amada? esta alguma causa é o uso; e pois que o uso é aquilo que é amado, e que é, produzido pela sa-bedoria, segue-se que o Uso é o continente da Sabedoria e do Amor. Que estas três cousas, o Amor, a Sabedoria e o Uso, seguem-se em

ordem segundo os graus de altura, e que o último grau seja o com-plexo, o continente e a base dos graus anteriores, é o que foi mos-trado, ns. 209 a 216, e em outros lugares. Por isto, pode-se ver que estas três causas, o Divino do Amor, o Divino da Sabedoria, e o Di-vino do Uso, estão no Senhor, e que em essência elas são o Sen!nor.

298 – Que o homem, considerado quanto a seus exteriores e quanto a seus interiores, seja uma forma de todos os usos, e que todos os usos no Universo Criado correspondem aos usos do homem, isso será plena-mente demonstrado no que segue; aqui, é necessário unicamente fazer menção disso, a fim de que se saiba que Deus como Homem é a forma mesma de todos os usos, da qual todos os usos no Universo criado tiram sua origem; e que assim o Universo criado, considerado quanto aos usos, é a imagem de Deus-Homem. São chamados Usos as causas que, procedendo de Deus-Homem, isto é, do Senhor, estão por criação na ordem; mas não são chamadas usos aquelas que são do próprio do homem, pois êste próprio é o inferno, e estas cousas são contra a ordem.

299 – Ora, pois que êstes três, a saber, o Amor, a Sabedoria e o Uso, estão no Senhor, e são o Senhor, e que o Senhor está em tôda parte, pois Ele é onipresente; e pois que o Senhor não pode se mos-trar presente tal qual é em Si Mesmo, nem tal qual é em Seu Sol, a anjo algum nem a homem algum, é por isso que Ele se manifesta por cousas que possam ser recebidas, e que se manifesta quanto ao Amor pelo Calor, quanto à Sabedoria pela Luz, e quanto ao Uso pela Atmos-fera. Se o Senhor quanto ao Uso se manifesta pela Atmosfera, é por-que a Atmosfera é o continente do calor e da luz, do mesmo modo que o uso é o continente do amor e da sabedoria; pois a luz e o calor que procedem do Divino Sol, não podem proceder no nada, nem por con-seqiiência no vazio, mas procedem em um continente que é o sujeito; e este continente, n6s o chamamos Atmosfera; esta Atmosfera cerca o Sol, o recebe em seu seio, e o transporta para o Céu onde estão os Anjos, e daí para o Mundo onde estão os homens, e assim manifesta por tôda parte a presença do Senhor.

300 – Que no Mundo espiritual haja Atmosferas como no Mundo natural, isso foi mostrado acima, ns. 173 a 178, 179 a 183; e foi dito que as Atmosferas do Mundo espiritual são espirituais, e que as Atmos-feras do Mundo natural são naturais; agora, pela origem da Atmosfera espiritual que cerca de mais perto o Sol espiritual, pode-se ver que cada uma de suas partes é, em sua essência, tal qual é o Sol na sua. Que isto seja assim, os Anjos por suas idéias espirituais, que são sem espaço, o declaram por isto, que há uma substância única, da qual vêm tôdas as cousas, e que o Sol do Mundo espiritual é esta substância; e que, como o Divino não está no espaço, e é o mesmo nos muito grandes e nos muito pequenos, dá-se o mesmo com êste Sol, que é o primeiro

procedente de Deus-Homem; e, além disso, que esta única substância, que é o Sol, procedendo segundo os graus contínuos ou de largura, e ao mesmo tempo segundo os graus discretos ou de altura, por meio das Atmosferas, apresenta as variedades de tôdas as causas no Universo criado. Os Anjos me disseram que isto não pode de modo algum ser apreendido, a menos que os espaços sejam afastados das idéias, e que se não são afastados, é impossível que as aparências não induzam as ilusões; entretanto não se pode ser induzido a isso, quando se pensa que Deus é o Ser mesmo de que procedem tôdas as causas.

301 – Pelas idéias Angélicas, que são sem espaço, é além disso bem evidente que, no Universo criado, nada vive senão pelo único Deus-Homem, isto é, o Senhor; que causa alguma tenha movimento senão pela vida vinda d’Rle; e que nada existe senão pelo Sol proce-dente d’Rle; que assim é uma verdade, que em Deus nós vivemos, nós nos movemos e nós somos.

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As Atmosferas, que são três em um e outro Mundo, o Espiritual e o Natural, terminam-se nos seus últimos em substâncias e

matérias, taís como estão nas terras

302 – Que em um e outro Mundo, o Espiritual e o Natural, haja três Atmosferas, que foram distinguidas entre si segundo os graus de altura, e que decrescem segundo os graus de largura avançando para os inferiores, isso foi mostrado na Terceira Parte, ns. 173 a 176; e, pois que as atmosferas decrescem avançando para os inferiores, segue-se que elas se tornam contìnuamente mais densas e mais inertes, e por fim de tal modo densas e inertes nos últimos, que não são mais atmosferas, mas são substâncias de repouso, e, no Mundo natural, subs-tâncias fixas, tais como estão nas terras, e são chamadas matérias. Desta origem das substâncias e das matérias resulta: 1.º Que estas subs-tâncias e estas matérias são também de três graus; 2.º que são con-tidas em um vínculo entre si pelas atmosferas ambientes; 3.º que foram acomodadas para produzir todos os usos em suas formas.

303 – Que as substâncias ou matérias, tais como estão nas terras, tenham sido produzidas pelo Sol por meio de suas Atmosferas, isto não é afirmado por quem quer que pense que há perpétuas mediações desde o Primeiro até aos Últimos, e que nada pode existir senão por um anterior a si, e enfim por um Primeiro? e êste Primeiro é o Sol do Mundo espiritual, e o Primeiro dêste Sol é Deus-Homem ou o Se-nhor. Ora, como as Atmosferas são êstes anteriores, pelos quais êste Sol se apresenta nos últimos, e como êstes anteriores decrescem contì-nuamente em atividade e em expansão até aos últimos, segue-se que, quando sua atividade e sua expansão cessam nos últimos, se tornam

substâncias e matérias, tais como estão nas terras; estas substâncias e estas matérias retêm em si, pelas atmosferas às quais devem sua origem, um esfôrço e uma tendência a produzir usos. Aquêles que não esta-belecem a criação do Universo, e de tôdas as causas do Universo, por contínuas mediações a partir do Primeiro, não podem senão construir hipóteses sem coerência e sem vínculos com suas causas, as quais hipó-teses, quando são examinadas por uma Mente que considera as cousas interiormente, aparecem não como uma casa, mas como um amontoado de escombros.

304 – Desta origem universal de tôdas as cousas no Universo criado, cada uma tem igualmente de avançar desde seu primeiro até seus úl-timos, que estão respectivamente em um estado de repouso, a fim de se terminarem e de subsistirem; assim vão, no Corpo humano, as fibras desde suas primeiras formas até que se tornem tendões; também as fibras com seus pequenos vasos desde seus primeiros até que se tor-nem cartilagens e ossos; sôbre êles repousam e subsistem. Como há, no homem, uma tal progressão das fibras e dos vasos desde os pri-meiros até aos últimos, há por conseqiiência uma semelhante progressão de seus estados; seus estados são as sensações, os pensamentos e as afeições; estas também vão desde seus primeiros, onde estão na luz, até seus últimos, onde estão na sombra; ou, desde seus primeiros, onde estão no calor, até seus últimos onde não estão no calor; e como tal é sua progressão tal é também a progressão do amor e de tôdas as cau-sas do amor, e também da sabedoria e de tôdas as cousas da sabedo-ria; em uma palavra, tal é a progressão de tôdas as causas no Uni-verso criado; há identidade entre isto e o que foi demonstrado acima, ns. 222 a 229, a saber, que os graus de um e outro gênero estão nos muito grandes e nos muito pequenos de tôdas as cousas que foram criadas. Se os graus de um e outro gênero estão também nos muito pequenos de tôdas as cousas, é porque o Sol espiritual é a única subs-tância de onde provêm tôdas as cousas, segundo as idéias espirituais dos Anjos, n. 300.

Nas substâncias e nas matérias, de onde provêm as terras, nada há do Divino em si, mas não obstante elas procedem do Dioino em si

305 – Pela origem das terras, de que se tratou no Artigo prece-dente, pode-se ver que em suas substâncias e em suas matérias nada há do Divino em si, mas que foram privadas de todo Divino em si; pois são, como foi dito, os fins e as terminações das Atmosferas, cujo calor se terminou em frio, a luz em obscuridade, e a atividade em inér-cia; mas não obstante por continuação levaram da substância do Sol

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espiritual o que aí vinha do Divino, que, como foi dito acima, ns. 291 a 298, era a esfera cercando o Deus-Homem ou o Senhor, da qual

esfera por continuação desde o Sol, por meio das Atmosferas, procede-ram as substâncias e as matérias de que as terras são formadas.

306 – A origem das terras pelo Sol espiritual, por meio das Atmos-feras, não pode ser descrita de outro modo por palavras que decorrem das idéias naturais, mas podem ser de outro modo por palavras que decorrem das idéias espirituais, porque estas idéias são sem espaço; e como são sem espaço, não cabem em nenhuma das palavras da lin-guagem natural. Que os pensamentos, as linguagens e as escritas espi-rituais diferem de tal modo dos pensamentos, das linguagens e das escritas naturais, que nada têm de comum entre elas, e que não co-mi!niquem senão pelas correspondências, vê-se acima, n. 295; é sufi-ciente portanto que a origem das terras seja, de alguma maneira, per-cebida naturalmente.

Todos os usos, que são os fins da criação estão em formar; e é das substâncias e das matérias tais como

estão nas terras, que recebem as formas

307 – Tôdas as causas de que se falou até ao presente, por exem-plo, as concernentes ao Sol, às Atmosferas e às Terras, são unicamente meios para os fins; os fins da criação são as cousas que são produtos das terras pelo Senhor como Sol por meio das Atmosferas, e êstes fins são chamados Usos; e são em sua extensão tôdas as cousas do Reino vegetal, e tôdas as causas do Reino animal, e por fim o Gênero Humano, e por êle o Céu Angélico. Estas causas chamadas Usos, porque são os recipientes do Divino Amor e da Divina Sabedoria, e tambem porque elas se voltam para Deus Criador a quo (de quem tudo procede), e por isso O conjuntam à sua grande Obra, e pela conjunção fazem que por Rle elas subsistam do mesmo modo que por Ele vieram a existir; se diz que elas se voltam para Deus Criador a quo, e O con-juntam à sua grande Obra, mas isso foi dito segundo a aparência; to-davia, entende-se que Deus Criador faz com que elas se voltem e se conjuntem como por elas mesmas; mas como se voltam e por isso se conjuntam, isso será dito no que segue. Precedentemente foi dito al-guma causa a respeito em diversos lugares, por exemplo, foi dito que o Divino Amor e a Divina Sabedoria não podem deixar de ser e exis-tir em outros, criados por êles, ns. 47 a 51; que tôdas as causas no Universo criado são recipientes do Divino Amor e da Divina Sabedo-ria, ns. 55 a 60; que os Usos de tôdas as cousas que foram criadas sabem por graus até ao homem, e pelo homem até Deus Criador a quo (de quem tudo procede), ns. 65 a 68.

308 – Que os fins da Criação sejam os usos, há um homem que não o veja claramente, quando pensa que por Deus Criador nâo pode

existir, nem por conseqiiência ser criado, outra cousa senão o uso; e que a fim de que isso seja um uso, deve ser para os outros, pois o uso para si, é estar em estado de ser útil aos outros? aquêle que pensa isto, pode também pensar que o uso, que é uso, não pode existir pelo homem, mas que existe no homem por Aquêle pelo qual tudo o que existe é uso, assim pelo Senhor.

309 – Mas como se trata aqui das formas dos usos, falar-se-á disso nesta ordem: I. Nas terras há um esfôrço para produzir os usos em formas, ou as formas dos usos. II. Em tôdas as formas dos usos há alguma imagem da criação do universo. III. Em tôdas as formas dos usos há alguma imagem do homem. IV. Em tôdas as formas dos usos há alguma imagem do Infinito e do Eterno.

310 – I. Nas terra há um esfôrço para produzir os usos em for-mas, ou as formas dos usos. Que nas terras haja êste esfôrço, vê-se por sua origem, em que as substâncias e as matérias, donde provêm as terras, são os fins e as terminações das Atmosferas, que procedem do Sol espiritual como usos, ver acima, ns. 305, 306; e pois que as subs-tâncias e as matérias, de que provêm as terras, têm esta origem, e que suas

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reuniões são contidas em um vínculo pela pressão das atmosferas, segue-se que daí lhes vem um esfôrço perpétuo para produzir formas de usos; esta qualidade àe poder produzir, elas a têm de sua origem, a saber, de que são os últimos das atmosferas, com as cpiais por con-sequência elas concordam. Diz-se que êste esfôrço e esta qualidade es-tão nas terras, mas entende-se que estão nas substâncias e nas ma-térias de que provêm as terras, quer estejam nas terras, quer, exaladas das terras, estejam nas atmosferas; que as atmosferas estejam cheias des-tas substâncias e destas matérias, isso é not6rio. Que haja um tal esfôrço e uma tal qualidade nas substâncias e nas matérias das terras, vê-se claramente em que as sementes de todo gênero, abertas por meio do calor até seu íntimo, são impregnadas de substâncias muito sutis, que não podem ser senão de uma origem espiritual, e por isso em po-tência de se conjuntar ao uso, donde resulta seu prolífico, e então pela conjunção com as matérias de origem natural, produzir formas de usos, fazê-ias sair em seguida como de um útero, a fim de que venham tam-bém à luz, e assim brotem e cresçam. Este esfôrço é em seguida con-tinuado pelas terras por meio da raiz até aos últimos, e dos últimos aos primeiros nos quais o uso mesmo está em sua origem; é assim que os usos passam para as formas; e as formas participam do uso, que é como a alma, de modo que, na progressão dos primeiros aos últimos e dos últimos aos primeiros, tôdas e cada uma de suas partes sejam de algum uso; foi dito que o uso é como a .alma, porque a forma do uso é como o corpo. Que haja um esfôrço ainda mais interior, que é o esfôrço para produzir usos por germinações para o Reino animal, é também o que se segue, pois os animais de todo gênero se alimentam disso. Que

haja também nelas um esfôrço íntimo, que é o esfôrço para desempenhar usos para o gênero humano, é ainda o que se segue; tudo isso resulta: 1.º De que elas são os últimos, e que nos últimos estão reunidos em sua ordem todos os anteriores, segundo o que várias vêzes foi mos-trado acima. 2.º De que os graus de um e outro gênero estão nos muito grandes e nos muito pequenos de tôdas as cousas, como foi mostrado acima, ns. 222 a 229, semelhantemente neste esfôrço. 3.º De que to-dos os usos são produzidos pelo Senhor pelos últimos; é por isso que nos últimos deve estar um esfôrço para os usos.

311 – Mas não obstante todos êstes esforços não são vivos, pois são os esforços das fôrças últimas da vida, fôrças nas quais, pela vida de que provêm, há enfim pelos m ios oferecidos uma tendência a vol-tar à sua origem; as atmosferas nos últimos se tornam tais fôrças, pelas quais as substâncias c as matérias, tais como estão nas terras, são pos-tas cm ação nas formas, e sâo contidas nas formas tanto por dentro como por fora. Não é o momento de demonstrar êste assunto por maio-res desenvolvimentos porque é de uma vasta extensão.

312 – A primeira produção saída destas terras, quando eram ainda recentes e estavam ainda em sua simplicidade, foi a produção de se-mentes; o primeiro esfôrço nelas não podia ser outro.

313 – II. Em tôdas a,s Formas dos usos há alguma imagem da criação. As Formas dos usos são de três gêneros: A Formas dos usos do Reino mineral; as Formas dos usos do Reino vegetal, e as Formas dos usos do Reino animal. As Formas dos usos do Reino mineral não podem ser descritas, porque não se mostram à vista; as primeiras formas são as substâncias e as matérias, donde provêm as terras, nos seus muito pequenos; as segundas formas são as reuniões delas, que são de uma variedade infinita; as terceiras formas provêm dos vegetais desfeitos em p6 e dos animais mortos, de suas evaporações e de suas exalações con-tínuas, que se juntam às terras, e fazem seu humus. Estas formas dos três graus do Reino mineral representam em imagem a criação, nisto que, postas em ação pelo Sol por meio das atmosferas, e por meio do calor e da luz,das atmosferas, produzem nas formas os usos, que fo-ram os fins da criação; esta imagem da criação repousa escondida em seus esforços, de que se acaba de falar, n. 310.

314 – Nas formas dos usos do Reino vegetal, a imagem àa criação se mostra em que elas procedem de seus primeiros para seus últimos e de seus ííltimos para seus primeiros; seus primeiros são as sementes, e seus últimos são os caules recobertos de casca; e pela casca que é o último dos caules, elas tendem às sementes, que, como foi dito, são seus primeiros. Os caules recobertos de cascas assemelham-se ao Globo recoberto de terras pelas quais existem a criação e a formação de todos

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os usos. Que as vegetações se façam pelas cascas, pelos phQyres e pelas túnicas, fazendo esfôrço pelos invólucros das raízes, continuados em tôrno dos caules e dos ramos, para os começos dos frutos, e semelhantemente pelos frutos para as sementes, isto é conhecido de muitas pessoas. A imagem da criação nas formas dos usos se manifesta nas progressões de sua formação dos primeiros para os últimos, e dos ííltimos para os primeiros, além disso em que em tôda progressão há o fim de produzir os frutos e as sementes, que são os usos. Pelo que precede, é evidente que a progressão da criação do universo foi de seu Primeiro, que é o Senhor cercado do Sol, para os últimos, que são as terras, e destas pelos usos para o Primeiro ou o Senhor; e que os fins de tôda criação foram

OS USOS.

315 – E’ preciso que se saiba que o calor, a luz e as atmosferas do Mundo natural, nada fazem absolutamente para esta imagem da cria-ção, mas são sòmente o calor, a luz e as atmosferas do Sol do Mundo espiritual, estas levam com elas esta imagem, e a introduzem nas for-mas dos usos do Reino vegetal. O calor, a luz e as atmosferas do Mundo natural abrem unicamente as sementes, mantêm as produções destas sementes na expansão, e introduzem as matérias que as fixam; não to-davia pelas fôrças provenientes de seu Sol, as quais, consideradas em si mesmas, são nulas, mas pelas fôrças procedentes do Sol espiritual, pelas quais elas são perpètuamente impelidas para elas; mas não con-tribuem de modo algum para lhes dar a imagem da criação; com efeito, a imagem da criação é espiritual, mas para que apareça e faça o uso no Mundo natural, e para que seja fixada e durável, deve ser junta à inatéria (materiata), quer dizer guarnecida de matéria dêste Mundo.

316 – Nas formas dos usos do Reino animal há uma semelhante imagem da criação, por exemplo, nisto que da semente, depositada no útero ou no 6vo é formado o corpo, que é o seu último, e este quando completou seu crescimento, produz novas sementes. Esta progressão é semelhante à progressão das formas dos usos do Reino vegetal; as se-mentes são os começos (inchoamenta), o útero ou o ôvo é como a terra, o estado antes do nascimento é como o estado da semente na terra quando se enraíza, o estado depois do nascimento até à prolifi-cação é como a germinação da árvore até seu estado de frutificação. Por êste paralelismo é evidente que, como há uma semelhança da cria-ção nas formas dos vegetais, há também uma nas formas dos animais, a saber, que há uma progressão dos primeiros para os últimos, e dos últimos para os primeiros. Há uma semelhante imagem da criação em cada uma das causas que estão no homem, pois há uma semelhante progressão do amor pela sabedoria para os usos, por consequência uma semelhante progressão da vontade pelo entendimento para os atas, e uma semelhante progressão da caridade pela fé para as obras; a von-tade e o entendimento, e também a caridade e a fé são os primeiros

ex quibus, os atas e as obras são os últimos; dêstes pelos prazeres do5 usos se faz o retôrno para os p'Ameiros, que, como foi dito, são a von-tade e o entendimento, ou a caridade e a fé; que o retôrno se faça pelos prazeres dos usos, vê-se manifestamente pelos prazeres percebidos nos atos e nas obras, que pertencem a cada amor, no fato dêles re-Ruírem para os primeiros do amor a quo (de que procedem), e por isso haver conjunção; os prazeres dos atas e das obras são os prazeres que se chamam Usos. Uma semelhante progressão dos primeiros para os últimos, e dos últimos para os primeiros, existe nas formas mais puramente orgânicas das afeições e dos pensamentos no homem; em seus cérebros estas formas são como estreladas, são chamadas substân-cias cinzentas; destas substâncias saem fibras para a substância medu-lar através do pescoço no corpo, as quais aí vão até aos últimos, e dos últimos retornam para seus primeiros; o retôrno das fibras para seus primeiros se faz pelos vasos sanguíneos. Há uma semelhante progressão de tôdas as afeições e de todos os pensamentos, que são as mudanças ,e as variações de estado destas formas e destas substâncias; pois as fibras, saindo destas formas ou destas substâncias, são por comparação como as atmosferas procedendo do Sol espiritual, que são os continen-tes do calor e da luz; e os atos procedentes do corpo são como as cou-sas produzidas nas terras pelas atmosferas, e cujos prazeres dos usos retornam para sua origem. Mas que haja uma semelhante progressão destas cousas, e que nesta progressão haja uma imagem da criação, é-o que não pode ser fàcilmente apreendido por um pleno entendimento, e isso, porque milhares e miríades de fôrças, que operam no ato, aya--recem como uma, e porque os prazeres dos usos não apresentam ideias. no pensamento, mas afetam unicamente sem uma percepção distinta.

Ver sôbre êste assunto o que foi dito e mostrado precedentemente, por :exemplo, que os usos de tôdas as cousas que foram criadas sobem pe-los graus de altura até ao homem, e pelo homem até Deus Criador a quo (de quem tudo procede), ns. 65 a 68; e que nos últimos existe o fim da criação, que é, que

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tôdas as causas voltem ao Criador, e que haja conjunção, ns. 167 a 172. Mas isso se apresentará em uma luz ainda mais clara na parte seguinte, onde se tratará da correspon-dência da vontade e do entendimento com o coração e o pulmão.

-517 – III. Em t6das as formas dos usos hd alguma imagem do homem. Isso foi mostrado acima, ns. 61 a 64. Que todos os usos desde os primeiros até aos últimos, e depois dos últimos aos primeiros, te-nham uma relação com tôdas as causas do homem, e uma correspon-dência com elas, e que por conseguinte o homem seja em uma certa imagem um universo, e que recìprocamente o universo considerado quanto aos usos seja em imagem um homem ver-se-á no Artigo seguinte.

318 – IV. Em tôdas as formas dos usos há alguma imagem do Infínito e do Eterno. A imagem do Infinito nestas formas se manifesta

claramente pelo esfôrço e a potência de encher os espaços de toda o globo, e também de vários globos, ao infinito; pois de uma ímica semente é produzida uma árvore, um arbusto, ou uma planta, que en-che seu espaço; de cada árvore, de cada arbusto, ou de cada planta são produzidas sementes, de algumas até milhares, que, semeadas e crescendo, enchem seus espaços; e se de cada uma de suas sementes saíssem outras tantas novas produções se reproduzindo de nôvo e do nôvo, ap6s um certo número de anos o globo inteiro estaria cheio delas, e se as produções fôssem ainda continuadas, um grande número de globos ficariam cheios delas, e isso ao infinito; conta de uma única se-mente milhares de sementes, e miiltiplica os milhares pelos milhares, e assim por diante dez vêzes, vinte vêzes, cem vêzes, e tu verás. A imagem do Eterno semelhantemente está também nestas formas; as sementes se propagam de ano em ano, e as propagações não cessam jamais; não cessaram desde a criação do mundo até ao presente, e não cessarão durante a eternidade. Estas duas causas são índices eminen-tes e sinais certos de que tudo no universo foi criado por um Deus Infinito e Eterno. Além destas imagens do Infinito e do Eterno, há ainda uma imagem do Infinito e do Eterno nas variedades, pelo fato de que não é jamais possível que no universo criado haja uma subs-tância, um estado ou um objeto que seja o mesmo que um outro, ou idêntico a um outro; nem nas atmosferas, nem nas terras, nem nas íormas que têm nelas a sua origem, nem por conseqiiência entre todos os objetos que enchem o universo, não pode ser produzido durante a eternidade uma cousa que seja a mesma que uma outra; vê-se isso cla-ramente na variedade das faces de todos os homens, no fato de que não há uma em todo o globo, e que durante a eternidade não pode aí haver uma, que seja a mesma que uma outra, nem por consequên-cia uma mente (animus), de que a face é o tipo, que seja a mesma que uma outra.

Tôdas as couros do Universo criado, consideradas segundo os usos, representam em imagem o homem; e isso atesta que Deus é homem

319 – O homem foi chamado Microcosmo pelos Antigos, porque representa o Macrocosmo, que é o Universo em todo o complexo; mas hoje não se sabe porque o homem foi assim denominado pelos Antigos; pois tudo o que se manifesta do Universo ou do Macrocosmo nêle, é ìinicamente que do Reino animal e do Reino vegetal do universo êle se alimenta e vive quanto ao corpo, que por seu calor é mantido em estado de viver, que por sua luz êle vê, e que por suas atmosferas ouve e respira; mas isso não faz com que o homem seja um Microcosmo, do mesmo modo que o Universo com tudo que o constitui é o Macro-cosmo. Se os Antigos chamaram o homem de Microcosmo ou pequenc Universo, tiraram isso da ciência das correspondências em que tinham

estado os Antiqiiíssimos, e na comunicação com os Anjos do Céu; pois, pelos objetos visíveis que os cercam, os Anjos do Céu sabem que todas as cousas do Universo consideradas quanto aos usos, representam em imagem o homem.

320 – Mas que o homem seja um Microcosmo ou pequeno Uni-verso, por isso que o universo criado, considerado quanto aos usos, é em imagem o Homem, é o que não pode vir ao pensamento, nem por conseguinte à ciência de quem quer que seja pela idéia do Universo considerado no Mundo espiritual;

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isto portanto não pode ser confirmado senão pelo Anjo que está no Mundo espiritual, ou por alguém a quem tenha sido dado estar nesse Mundo, e ver as cousas que aí estão; como isso me foi dado, posso revelar êsse arcano segundo o que vi lá.

321 – E’ preciso que se saiba que o Mundo espiritual na aparên-cia externa é absolutamente semelhante ao Mundo natural; aí apare-cem terras, montanhas, colinas, vales, planícies, campos, lagos, rios, fon-tes, como no Mundo natural; assim, todas as cousas que são cio Reino mineral; aí aparecem também paraísos, jardins, bosques, florestas, nas quais há árvores e arbustos de todo gênero com frutos e sementes, e também plantas, flôres, ervas e gramas; assim tôdas as cousas que são do Reino vegetal; aí aparecem animais, voláteis, e peixes de todo gê-nero; assim, tôdas as causas que são do Reino animal; o homem aí é Anjo e Espírito. Isto é dito de antemão, a fim de que se saiba que o universo do Mundo espiritual é absolutamente semelhante ao universo do Mundo natural, com a única diferença de que as causas que estão lá não são nem fixas nem estacionárias como as que estão no Mundo natural, porque lá nada é natural, mas tudo é espiritual.

322 – Quc o universo do Mundo espiritual representa em imagem o homem, pode-se ver claramente em que tôdas as cousas de que se acaba de falar, n. 321, aparecem ao vivo e existem em tôrno do anjo e em tôrno das sociedades angélicas, como produtos ou criadas por êles; ficam em tôrno dêles e não se afastam; que sejam como produ-zidas ou criadas por êles pode-se ver pelo fato de que quando o Anjo se retira, ou quando a sociedade passa para outro lugar, Elas não apa-recem mais; além disso pelo fato de que quando outros anjos vêm para seu lugar, a face de tôdas as cousas em tôrno dêles é mudada; os jar-dins paradisíacos são mudados quanto às árvores e aos frutos, aos can-teiros, quanto às rosas e às sementes; as planícies, quanto às ervas e às gramas; e também as espécies de animais e de voláteis são muda-das. Se tais cousas existem e sâo assim mudadas, é porque tôdas estas causas existem segundo as afeições dos anjos e segundo seus pensa-mentos provenientes das afeições, pois são correspondências; e como as cousas que correspondem fazem um com aquilo a que correspondem, é por isso que elas são sua imagem representativa. A imagem mesma

não aparece quando tôdas as cousas são consideradas em suas formas, mas aparecem quando são consideradas nos usos. Foi-me dado ver que os Anjos, quando seus olhos estavam abertos pelo Senhor, e viam estas cousas segundo a correspondência dos usos, se reconheciam e se viam a êles mesmos nelas.

323 – Ora, pois que as causas que existem em tôrno dos anjos segundo suas afeições e seus pensamentos, representam uma sorte de universo, em que elas são terras, vegetais e animais, e além disso fa-zem uma imagem representativa do Anjo, vê-se claramente porque os Antigos chamavam o homem de Microcosmo.

324 – Que assim seja, isso foi confirmado em vários lugares nos Arcanos Celestes e também no Tratado do Céu e do inferno, e mesmo aqui e ali no que precede, quando se tratava das correspondências; também foi mostrado que nada há no Universo criado, que não tenha uma correspondência com alguma causa do homem, não sòmente com suas afeições e por conseguinte com seus pensamentos, mas também com os 6rgãos e as vísceras de seu corpo, não com êles como subs-tâncias, mas com êles como usos. Daí vem que na Palavra, quando se trata da Igreja e do homem da Igreja, tão freqiientemente se faz men-ção de árvores, tais como a oliveira, a vinha e o cedro, e de jardins, de bosques e de florestas, como também de animais da terra, de pás-saros do céu e de peixes do mar; aí se faz menção destas cousas, por-que elas correspondem, e fazem um por correspondência, como foi dito; é mesmo por isso que, quando estas cousas são lidas na Palavra pelo homem, os Anjos não as percebem, mas em seu lugar percebem a Igreja, ou os homens da Igreja quanto a seus estados.

325 – Como tôdas estas cousas do universo representam em ima-gem o homem, Adão é descrito quanto à sabedoria e à inteligência pelo Jardim do éden, onde estavam árvores de tôda espécie, e também rios, a pedra preciosa e o ouro, além de animais, aos quais deu nome; por t8das estas causas são entendidas as que estavam nêle, e faziam o que é chamado o homem. Em Ezequiel 31.º, 3 a 9, cousas

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quase seme-lhantes são ditas de Aschur, por quem é significada a Igreja quanto à inteligência; e de Tiro, por quem é significada a Igreja quanto aos conhecimentos do bem e do vero (Ezequiel 33.º, 12, 13) .

326 – Por estas explicações, pode-se ver que tôdas as causas do Universo, consideradas segundo os usos, representam em imagem o homem, e que isso atesta que Deus é Homem; pois estas cousas, de que acaba de se fazer menção, existem em t8rno do homem-anjo, náo pelo Anjo, mas provenientes do Senhor pelo Anjo; com efeito, existem pelo influxo do Divino Amor e da Divina Sabedoria do Senhor no Anjo;

que é recipiente, e diante de seus olhos se produz como uma criação do Universo; por isso os Anjos reconhecem que Deus é Homem, e que o Universo criado, considerado cpianto aos usos, é a imagem de Deus.

Tôdas as cousas que foram criadas pelo Senhor são usos; e são usos na ordem, no grou e na relação, onde se referem ao

homem e pelo ho%em ao Senhor a puo

327 – Foi dito acima sôbre êste assunto, que por Deus-Criador não pode existir outra causa senão o uso, n. 308; que os usos de tô-das as causas que foram criadas sobem por graus desde os últimos até ao homem, e pelo homem até a Deus-Criador a quo (de quem tudo procede), ns. 65 a 68; que nos últimos existe o fim da criação, que é, que tôdas as causas retornem a Deus-Criador, e que haja conjunção, ns. 167 a 172; que as causas são usos tanto quanto se voltam para o Criador, n. 307; que o Divino não pode senão ser e existir em outros criados por Ele, ns. 47 a 51; que tôdas as cousas do Universo são recipientes segundo os usos, e isso segundo os graus, n, 58; que o universo, considerado segundo os usos, é a imagem de Deus, n. 59; além de várias outras cousas; daí resulta evidentemente estas verdades que tôdas as causas, que foram criadas pelo Senhor, são usos, e que são usos na ordem, no grau e na relação, onde se referem ao homem, e pelo homem ao Senhor c quo. Resta dizer alguma cousa em parti-cular sôbre os usos.

328 – Pelo homem a quem os usos se referem, é entendido não sòmente um homem, mas também uma reunião de homens, uma so-ciedade pequena, e uma sociedade grande, como uma república, um reino, um império, e também a sociedade maior que é todo o mundo, pois êste e aquêles são um homem; dá-se o mesmo nos Céus; todo o Céu angélico diante do Senhor é como um único Homem, semelhan-temente cada Sociedade do Céu, daí vem que cada Anjo é homem; que assim seja, vi-se no Tratado do Céu e do Inferno, ns. 68 a 103. Por isto, vê-se claramente o que é entendida no que segue pelo homem.

329 – Pelo fim da Criação do Universo pode-se ver o que são os usos: O fim da Criação do Universo é que o Céu angélico exista; e como o Céu angélico é o fim, o Homem ou o Gênero Humano o é também, pois que dêle é composto o Céu; segue-se daí que tôdas as cousas que foram criadas são fins médios, e que êstes fins são usos na ordem, no grau e na relação, onde se referem ao homem, pelo ho-mem ao Senhor.

330 – Pois que o fim da Criação é o Céu angélico proveniente do Gênero Humano, os fins médios são por con,seqiiência tôdas as

outras cousas que foram criadas; as quais, porque se referem ao homem, relacionam-se a estas três causas do homem, seu Corpo, seu Racional e seu Espiritual para a conjunção com o Senhor; com efeito, o homem não pode ser conjunto ao Senhor, se não é espiritual; e não pode ser espiritual se não é racional; e não pode ser racional, se o corpo não está em um estado de saúde; estas causas são como uma Casa, o Corpo é como a fundação, o Racional é como a casa construída em cima, o Espiritual é como as cousas que estão na casa, e a conjunção com o Senhor é como a habitação. Vê-se por isso em que ordem, em que grau, e em que relação os usos, que são os fins médios da Criação, se referem ao homem, a saber, para sustentar seu Corpo, para aperfei-çoar seu Racional, e para receber do Senhor o Espiritual.

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331 – Os usos para sustentar o Corpo se referem à Alimentação, a seu Vestuário, a sua Habitação, a seu Descanço e a seu Divertimento, a sua Defesa, e à Conservação do estado. Os usos, criados para a Alimentação do corpo, são tôdas as cousas do Reino vegetal que con-cernem ao comer e ao beber, como frutas, uvas, sementes, legumes e ervas; e tôdas as do Reino animal, que são comíveis, como bois, vacas, novilhos, cervos, ovelhas, cabritos, cabras, cordeiros, e o leite que pro-vém dos animais; além disso, também as aves e os peixes de um grande número de espécies. Os usos criados para o vestuário do corpo são também várias cousas tiradas dêstes dois Reinos; semelhantemente os usos para a Habitação, e também para o Descanso, o Divertimento, a Defesa e a Conservação do estado; estas causas não serâo enumeradas, porque são conhecidas, e porque só o seu recenseamento encheria pá-ginas. Há, é verdade, muitas causas que são úteis ao homem; todavia as cousas supérfluas não suprimem o uso, do mesmo modo que a fal-sificação do vero não suprime o vero, a não ser naqueles cpie fazem a falsificação.

332 – Os usos para aperfeiçoar o Racional são tòdas as cousas que ensinam aquilo de que acaba de se falar, e que são chamadas ciências e estudos, os quais se referem às cousas Naturais, Econômicas, Civis e Morais, que hauridas quer pelos pais e os mestres, quer nos livros, quer no comércio com os outros, quer em si mesmo pelas re-flexões. Estas cousas aperfeiçoam o Racional, tanto quanto são usos em um grau superior, e permanecem quando são aplicadas à vida. Enu-merar essas cousas seria inútil, tanto por causa do seu grande níímero, como por causa de sua relação variada com os bens comuns.

333 – Os usos para receber do Senhor o espiritual são tôdas as causas que pertencem à Religião, e por conseguinte ao Culto, assim aquelas que ensinam o reconhecimento e o conhecimento de Deus, o conhecimento e o reconhecimento do bem e do vero, e assim a vida eterna; estas cousas, do mesmo modo que as instruções, são hauridas

dos pais, dos mestres, nas pregaçôes e nos livros, e principalmente, pela aplicação em conformar com elas a sua vida; no Mundo Cristão, pelas Doutrinas e as pregações segundo a Palavra, e pela Palavra segundo o Senhor. Estes usos, em sua extensão, podem ser descritos pelas mes-mas causas pelas cp>aís os usos do corpo o foram; assim, pela alimen-tação, o vestuário, a habitação, o descanço e o divertimento, a defesa e a conservação do estado, desde que sejam aplicadas à alma, a ali-mentação aos bens do amor, o vestuário aos veros da sabedoria, a habi-tação ao Céu, o d,escanso e o divertimento à felicidade da vida e à alegria celeste, a defesa aos males que infestam, e a conservação do estado à vida eterna. Tôdas estas causas são dadas pelo Senhor, con-forme se reconhece que tôdas as que pertencem ao corpo são dadas também pelo Senhor, e que o homem é sòmente como um servidor e um ministro ecônomo estabelecido sôbre os bens de seu Senhor.

334 – Que estas causas tenham sido dadas ao homem para que tenha o usufruto delas, e que sejam dons gratuitos, vê-se claramente pelo estado dos Anjos nos Céus; os Anjos têm um Corpo, um Racional e um Espiritual, como os homens na terra; são alimentados gratuita-mente, pois cada dia lhes é dado o alimento; são vestidos gratuitamente, pois lhes são dadas vestimentas; são alojados gratuitamente, pois lhes são dadas casas; e não têm preocupação alguma por estas causas, e tanto quanto são racionais-espirituais, tanto há para êles divertimentos, defesa e conservação do estado. A diferença é que os Anjos vêem que estas causas vèm, do Senhor, porque são criadas segundo o estado de seu amor e ele sua sabedoria, como foi mostrado no Artigo precedente, n. 322, e coque os homens não o vèem, porque elas voltam cada ano, e existem n o segundo o estado do seu amor e de sua sabedoria, mas segundo seus cuidados.

33' – Ainda cpie se diga que elas são usos, porque pelo homem se referem ao Senhor, não obstante não se pode dizer que os usos vêm do homem para o Senhor, mas vêm do Senhor para o homem, porque todos os usos são infinitamente um no Senhor, e não há nenhum no homem a não ser pelo Senhor; pois o homem não pode fazer o bem por êle mesmo, mas o faz pelo Senhor; o bem é o cpie é cliamado uso. A essência do amor espiritual é fazer bem aos outros, não para si, mas para êles; infinitamente mais a Essência do Divino Amor. Isto é semelhante ao amor dos pais para com as crianças, em que pelo amor lhes fazem bem, não para êles mesmos mas para seus filhos; isto se manifesta claramente no amor de uma

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mãe pelos seus filhos. Acredita-se que o Senhor, porque deve-se adorá-lo, lhe prestar culto e glorificá-lo, ama a adoração, o culto e a glória para Ele mesmo; mas Ele os ama para o homem, porc¿ue o homem por isso entra em um estado em que o Divino pode influir e ser percebido, pois por isso o homem afasta o próprio que impede o influxo e a recepção; com efeito, o próprio, que

é o amor de si, endurece o coração e o fecha; isto é afastado pelo reconhecimento de que por si mesmo êle nada faz senão o mal, e que pelo Senhor nada é feito senão o bem; dai o enternecimento do cora-ção e a humilhação, de que decorrem a adoração e o culto. Segue-se que os usos que o Senhor desempenha para Ele Mesmo pelo homem, é a fim de que o homem por amor possa fazer o bem, e como é isso o amor do Senhor, a recepção é o prazer de seu amor. Que não se creia portanto que o Senhor esteja sòmente naqueles que O adoram, mas que se creia que Ele está naqueles que fazem Seus mandamen-

• tos, por conseqiiência os usos; Ele faz sua morada nestes, mas não naqueles. Ver também o que foi dito sôbre êste assunto, acima., nú-meros 47, 48 e 49.

Os maus usos não foram criados pelo Senhor, mas nascerom com o inferno

336 – Todos os bens que existem em ato são chamados Usos, e todos os males que existem em ato são também chamados Usos, mas êstes são chamados maus usos, e aquêles bons usos. Ora, pois que todos os bens vêm do Senhor, e que todos os males vêm do inferno, segue-se que só os bons usos foram criados pelo Senhor, e que os maus usos nasceram do inferno. Pelos usos, de que se trata especial-mente neste Artigo, são entendidas tôdas as cousas que aparecem s8bre a terra, como os animais de todo gênero e os vegetais de todo gênero; os animais e os vegetais que preenchem um uso para o homem vêm do Senhor, e aquêles que causam dano ao homem vêm do Inferno. Se-melhantemente pelos usos que vêm do Senhor são entendidas tôdas as cousas que aperfeiçoam o Racional do homem, e que fazem com que o homem receba o Senhor; mas pelos maus usos são entendidas tôdas aquelas que destroem o Racional, e fazem com que o homem não possa se tornar Espiritual. Se as cousas que causam dano ao ho-mem são chamadas usos, é porque são úteis aos maus para mal fazer e contribuem mesmo para absorver as malignidades, por conseqiiência, também como remédios; se diz uso em um e outro sentido, do mesmo modo que se diz amor, como amor bom e amor mau; e o amor chama uso tudo o que é feito por êle.

337 – Que os bons Usos vêm do Senhor, e que os maus Usos vèm do Inferno, isso será demonstrado nesta ordem: I. O que é entendido pelos maus usos sôbre a terra. II. Tôdas as causas que são usos maus são do inferno, e tôdas as cousas que são usos bons são do Céu. III. Há um influxo contínuo do Mundo espiritual no Mundo natural. IV. O infhixo do inferno opera as cousas que são usos maus nos lugares onde estão as cousas que correspondem a êstes usos. V. O último Espiritual separado de seu superior opera isso. VI. Há duas formas nas quais

se faz a operação pelo influxo, a forma vegetal e a forma animal, VII. Uma e outra forma recebe a faculdade de propagar sua espécie, e os meios de propagação.

338 – I. O que é entendido pelos maus usos sôbre a terra. Pelos maus usos sôbre a terra são entendidas tôdas as cousas prejudiciais em um e outro Reino, o Animal e o Vegetal, e também as cousas preju-diciais no Reino mineral. E’ inútil fazer enumeração de tôdas as cau-sas prejudiciais nestes Reinos, pois seria amontoar nomes, e amontoar nomes, sem indicar o dano que cada espécie produz não preencheria o uso que esta Obra tem por fim. E’ suficiente, para a ciência, mencio-nar aqui algumas delas. Tais sâo no Reino animal, as Serpentes vene-nosas, os Escorpiões, os Crocodilos, os Dragões, as Corujas, os Mochos, os Ratos, os Gafanhotos, as Rãs, as Aranhas; e também as Môscas, os Zangões, as Traças, os Piolhos, os A.caros, em uma palavra, os in-setas que consomem as ervas, as fôlhas, os frutos, as sementes, os ali-mentos e as bebidas, e prejudicam aos animais e aos homens. No Reino vegetal, são tôdas as ervas más, virulentas e envenenadas; e os Legu-mes e Arbustos que têm estas más qualidades. iVo Reino mineral, são tôdas as Terras venenosas. Por estas poucas citações pode-se ver o que é entendido pelos maus usos sôbre a terra; com efeito, os maus usos são tôdas as cousas que são opostas aos bons usos, de que se falou no Artigo precedente.

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339 – Tôdas as coas' que são usos maus são do inferno, e tôku as que são usos bons são do Céu. Antes que se possa ver que todos os usos maus que existem sôbre a terra vêm, não do Senhor, mas do Inferno, é preciso dizer primeiro alguma causa do Céu e do Inferno; sem êste conhecimento prévio, poder-se-ia atribuir ao Senhor os maus usos como os bons, e crer que estão juntos de criação, ou os atribuir à natureza, e crer que sua origem vem de seu Sol; o homem não pode ser afastado dêstes dois erros, se não sabe que no Mundo natural nada existe que não tenha sua causa no Mundo espiritual, e por conseguinte que não tenha sua origem nesse Mundo, e que do Senhor vem o bem, e do diabo, isto é, do inferno, o mal. Pelo Mundo espiritual é enten-dida o Céu e o Inferno. No Céu aparecem tôdas as causas que são os bons usos, de que se falou no Artigo precedente; e no Inferno apa-recem tôdas as causas coque são' os maus usos, de que se acaba de tra-tar, n. 338, onde se fèz uma enumeração dêles; são as bêstas ferozes de todo gênero, como serpentes, escorpiões, dragões, crocodilos, tigres, lôbos, rapôsas, porcos, mochos, corujas, bufos, morcegos, ratos peque-nos e grandes, rãs, gafanhotos, aranhas, e insetos nocivos de vários gê-neros; aí aparecem também venenos e cicutas de todo gênero, e aconi-tos tanto nas ervas como nas tenas; cm uma palavra, tôdas as cousas que causam dano e matam os homens; estas causas aparecem nos in-fernos de uma maneira tão chocante (ad riuum), como se apresentam

sôbre as terras e nas terras. Diz-se que elas aí aparecem, mas não obstante elas aí não estão como estão nas terras, pois são puras corres-pondências das cobiças que jorram dos maus amôres dos infernais, e que se apresentam em tais formas diante dos outros. Como há tais causas nos Infernos, é por isso mesmo que êles estão repletos de odores infectos, por exemplo, odores de cadáveres, de estrume, de urina, de podridão, com os quais os espíritos diabólicos se deleitam, como fazem os animais nos quais está um vírus. Por estas explicações pode-se ver que as cousas semelhantes no Mundo natural não têm sua origem no Senhor, que não foram criadas desde o comêço, e que não têm origem na natureza por seu Sol, mas que vêm do Inferno; que elas não vêm da natureza por seu Sol, pode-se ver claramente pelo fato de que o espiritual influi no natural, e não vice-versa; e que elas não vêm do Senhor vê-se bem claramente em que d’P.le não vem o Inferno, nem por conseqiiência nada do que no Inferno corresponde aos males dos infernais.

340 – III. EIá um influxo contínuo do difundo espiritual 110 iUtltlClO natural. Aquêle cpie não sabe que há um mundo espiritual, e que èste Mundo e o Mundo natural são distintos como o anterior e o poste-rior, ou como a causa e o que a causa produz, nada pode saber dèste influxo; é por isso cpie os que e.screveram sôbre a origem dos vegetais e dos animais, não puderam fazer outra causa senão deduzi-la da na-tureza; e se a deduzem de Deus, é dizendo que Deus desde o comèço pôs na natureza a fôrça de produzir tais causas; assim, não sabem que Ele não pôs fôrça alguma na natureza; pois em si mesma a natureza é morta, e não contribui mais para produzir estas causas, do que no trabalho do operário o instrumento que, para que aja, deve ser contì-nuamente pôsto em movimento; o espiritual que tem sua origem no Sol onde está o Senhor, e se estende até aos últimos da natureza, é o que produz as formas dos vegetais e dos animais, e que manifesta as maravilhas existentes em uns e em outros, e enche estas formas de ma-térias tomadas da terra, para que sejam fixas e constantes. Agora, pois que é sabido que!iá um Mundo espiritual; que o espiritual vem do Sol onde está o Senhor e que procede do Senhor; que êste espiritual leva o natural a agir, como o vivo move o morto; e que há no Mundo es-piritual as mesmas causas cpie no Mundo natural, pode-se ver que os vegetais e os animais não tiraram sua existência senão do Senhor pelo Mundo espiritual, e que existem contìnuamente por èste Mundo; e que assim há um influxo contínuo do Mundo espiritual no Mundo na-tural. Que assim seja será confirmado por vários detalhes no Artigo seguinte. Se as causas nocivas são produzidas sôbre a terra pelo in-fluxo cio inferno, é pela mesma lei de permissão, pela qual os males mesmos influem do inferno no homem; falar-se-á desta lei na Sabedora Angélica sôbre a Díeina Procidcncia.

341 – IV. O influxo do inferno opera as cousas que são usos maus nos lugares onde estão as cou.sas que correspondem a êsses usos. As cousas que correspondem aos maus usos, isto é, às ervas más e aos animais nocivos, são as matérias cadaverosas, pobres, excrementiciais e estercorárias, rançosas, urinosas; é por isso que nos lugares onde estão estas matérias, aí existem estas ervas e êstes animais de que se fêz menção acima, e nas zonas tórridas, semelhantes animais maiores, como serpentes, basiliscos, crocodilos, escorpiões, ratos e outros. Todos sabem que os pântanos, os charcos, as estrumeiras, as terras podres, estão cheios de semelhantes cousas; que volíteis nocivos enchem como nu-vens a atmosfera; e

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coque vermes destruidores cobrem como exércitos a terra, e consomem as ervas até às raízes. Uma vez, em meu jardim, notei que, no espaço de uma alna, quase tôda a poeira tinha se mu-dado em pequeníssimos voláteis, pois tendo remexido-a com um bas-tão, êles se elevaram como nuvens. Que as matérias cadaverosas e mal c!cheirosas se acordem com ê.stes animais nocivos e inúteis, e lhes se-jam homogêneas, é o que só a experiência prova; pode-se ver clara-mente pela causa, que é, coque semelhantes fedores e infecçõcs estão nos Infernos, onde tais animálculos aparecem também; é por isso que êsses Infernos tiraram daí seus nomes, e são chamados, uns cadave-rcsos, outros excrementiciais, alguns urinários, e assim por diante; mas todos êsses infernos são recobertos, a fim de que estas exalações não saiam dêles; pois logo que são um pouco abertos, o que acontece quando aí entram diabos noviços, elas excitam vômitos e fazem pesar a ca-beça, e aquelas que são ao mesmo tempo venenosas causam desfale-cimentos; a poeira mesma aí é também assim, é por isso que é cha-mada poeira danada; por isto, é evidente que onde há tais fedores, há tais cousas nocivas, porque se correspondem.

342 – Estes animálculos tiram sua existência de ovos transporta-dos para lá, quer pelo ar, ou pelas chuvas, ou por correntes de água, ou antes a tiram das humidades mesmas e dos fedores mesmos que lá estãoP é o que vai agora ser submetido ao exame: Que êstes animál-culos e êstes insetos nocivos, de que se fêz menção acima saem de ovos levados para lá ou encerrados de todo lado nas terras desde a criação, é uma opinião a que tôcìa a experiência não é favorável, pois que existem vermes nas menores sementes, nos caroços, nas madeiras, nos caules, e mesmo depois nas fôlhas; além disso sôbre as ervas e nas ervas há piolhos e traças que se acomodam com elas; além disso pelas môscas que, nas casas, nos campos e nas florestas durante o verâo, não parecem sair, em tão grande quantidade de nenhuma maté-ria oviforme; semelhantemente êstes animálculos que corroem os prados e os lugares de verdura, e que em certos lugares quentes enchem o ar e incomodam; além dos que nas águas fétidas, nos vinhos azedos e em um ar pestilencial, nadam e voam invisìvelmente; estas experiências são em favor dos que dizem que os odores mesmos, as fedores e as ex'

lações que saem das ervas, das terras e dos pântanos, dão também origem a tais insetos. Que em seguida, depois que são produzidos, se propagam quer por ovos, quer por óvulos, isso não contradiz de modo algum suas origens imediatas, pois que todo animal recebe também com as vísceras os órgãos da geração, e os meios de propagação; sôbre êste assunto, ver adiante, n. 347. A estas observações se junta a expe-riência, não conhecida precedentemente, de que há semelhantes ani-málculos no Inferno.

343 – Que os Inìernos, acima mencionados, tenham não sòmente comunicação mas também conjunção com tais causas nas terras, pode-se concluir de que os Infernos não estão afastados dos homens, mas que estão em tôrno dêles, e mesmo naqueles que são maus, que assim são contíguos às terras; com efeito, o homem quanto a suas afeições e a suas cobiças, e por conseguinte quanto a seus pensamentos, e por uns e outros quanto a seus atas, que são bons ou maus usos, está ou no meio dos anjos do Céu, ou no meio dos espíritos do inferno; e como as cousas que estão sôbre as terras estão também nos Céus e nos in-fernos, segue-se que o influxo que vem daí produz imediatamente tais causas quando a temperatura é favorável; pois tôdas as cousas que apa-recem no Mundo espiritual, tanto no Céu como no inferno, são corres-pondências de afeições e de cobiças, pois lá existna segundo estas cor-respondências; quando portanto as afeições e as cobiças, que em si mes-mas são espirituais, encontram homogêneos ou correspondentes nas ter-ras, o espiritual que dá a alma e a matéria que dá o corpo estão pre-sentes; há também em todo espiritual um esfôrço para se revestir de um corpo. Que os infernos estejam em tôrno do homem, e por conse-guinte contíguos às terras, é porque o Mundo espiritual não está no espaço, mas está onde se encontra a afeição correspondente.

344 – Ouvi dois Presidentes da Sociedade Anglicana, Sloane e Folkes, no Mundo espiritual, falar entre si sôbre sementcs e ovos, e sôbre as produções que dêles resultam nas terras; o primeiro as atri-buía à natureza, e dizia que por criação havia siào pôsto nela o poder e a fôrça de produzir tais causas por meio do calor do sol; o segundo dizia que esta fôrça vinha contìnuamente de Deus Criador para a natureza; para que esta contestação fôsse esvasiada, um belo Pássaro foi visto por Sloane, e lhe foi dito que examinasse se êste pássaro di-feria na menor cousa de um semel!iante pássaro sôbre a terra; êle o tomou em sua mão, o examinou e disse que não havia diferença al-guma; èle sabia, com efeito, que êste pássaro não era outra causa se-não a afeição de um Anjo, representada fora dèle mesmo como pás-saro, e que se dissiparia ou cessaria de ser com a afeição dèste Anjo; o que aconteceu mesmo. Sloane, por esta experiência, foi

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convencido de que a natureza não contribui absolutamente em nada para as pro-duções dos vegetais e dos animais, r@as unicamente o cpie influi do

Mundo espiritual no Mundo natural; dizia que se êste pássaro em suas mínimas partes fôsse enchido de matérias correspondentes tiradas da terra, e assim fixado, seria um pássaro durável, como são os pás-saros sôbre a terra; e que se dá o mesmo com as cousas que vêm do inferno. Disse além disso que se tivesse sabido o que sabia agora do Mundo espiritual, não teria atribuído à natureza senão o que deve ser-vir ao espiritual, que vem de Deus, para fixar as causas que influem contìnuamente na natureza.

345 – V. O último espiritual .separado de seu superior opera isso. Ya Terceira Parte, foi mostrado que o Espiritual decorre de seu Sol até aos últimos da natureza por três graus, e que êstes graus são chama-dos Celeste, Espiritual e Natural; que êstes três graus estão no homem por criação, e por conseguinte de nascença, e que êles são abertos se-gundo sua vida; que se o grau celeste, que é o supremo e o íntimo, é aberto, o homem se torna celeste; que se o grau espiritual, que é o médio, é aberto, o homem se torna espiritual; e que se ûnicamente o grau natural, que é o ínfimo e o extremo, é aberto, o homem se torna natural; que se êle se torna unicamente natural, não ama senão as cousas que pertencem ao corpo e ao mundo; e que, tanto quanto ama estas causas, tanto não ama nem os celestes nem os espirituais, nem se volta para Deus, e se torna mau; por esta explicação, é evidente que o último espiritual, coque é chamado espiritual-natural, pode ser separado de seus superiores, e que é separado nos homens de que se compõe o inferno; o último espiritual não pode ser separado de seus superiores, nem nas bêstas, nem nas terras, nem se voltar para o inferno, a não ser no homem unicamente. Segue-se daí que o último espiritual, sepa-rado de seu superior, tal como é naqueles que estão no inferno, opera sôbre a terra seus maus usos, de que se falou acima. Que as causas nocivas sôbre a terra têm sua origem no homem, e assim no inferno, é o que pode ser confirmado pelo estado da terra de Canaã; diz-se dêsse estado, na Palavra, que quando os filhos de Israel viviam segundo os preceitos, as terras davam seu produto, que acontecia o mesmo com o gado miúdo e o gado graúdo; e que, quando viviam contra os pre-ceitos, as terras eram estéreis, e, como foi dito, malditas; que em lu-gar de colheitas davam espinhos e sarças; que o gado miúdo e o gado graúdo abortava, e que as bêstas ferozes faziam irrupção. Uma semelhante confirmação pode ser tirada dos gafanhotos, das rãs e dos piolhos no Egito.

346 – VI. Há duas formas nas quais se faz a operação pelo in-fluxo, a forma r,egetal e a forma animal. Sabe-se, pelos dois Reinos da natureza, que são chamados Reino animal e Reino vegetal, que não há senão duas formas universais que sejam produzidas da terra; e que todos os sujeitos dé um Reino têm muitas cousas comuns; que assim, para o Reino animal, há em seus sujeitos os 6rgãos dos sentidos e os

órgãos dos movimentos, além dos membros e das vísceras, que são pos-tos em atividade pelos cérebros, pelos corações e pelos pulmões; e que, para o Reino vegetal, seus sujeitos, lançam uma raiz na terra, pro-duzem um caule, ramos, fòlhas, flôres, frutos, sementes. Um e outro Reino, tanto o animal como o vegetal, quanto às produções em suas formas, têm sua origem no influxo e na operação espiritual proveniente do Sol do Céu, onde está o Senhor, e não do influxo nem da operação da natureza provenientes de seu Sol, exceto sua fixação, como foi dito acima. Todos os animais, grandes e pequenos, tem sua origem no es-piritual no último grau, que é chamado natural, só o homem tem a sua em todos os graus, que são tr¿s, e são chamados celeste, espiritual e natural. Pois que cada grau de altura ou discreto decresce desde seu perfeito até seu imperfeito, como a luz decresce até à sombra, por con-tinuidade, dá-se o mesmo também com os animais; é por isso que en-tre êles há perfeitos, menos perfeitos e imperfeitos: os Animais perfei-tos são os Elefantes, os Camelos, os Cavalos, os hfulos, os Bois, as Ove-lhas, as Cabras, e todos os outros que pertencem quer ao gado miúdo crer ao gado graúdo; os menos perfeitos são os voláteis; e os imper-feitos são os peixes, os moluscos, que, sendo os ínfimos dêste grau, es-tão como na sombra, enquanto que os outros estão na luz. Entretanto, como os animais vivem sòmente pelo último grau espiritual, que é cha-mado natural, êles não podem olhar para outra parte que não seja a terra, para a pastagem que aí se encontra, e para seus semelhantes para a propagação; a alma de todos êstes animais é uma afeição natural e um apetite. Dá-se o mesmo com os sujeitos do Reino vegetal, nisto, que há perfeitos, menos perfeitos e imperfeitos; os perfeitos são as árvores frutíferas, os menos perfeitos são as cepas de vinha e os ar-bustos, e os imperfeitos são as ervas; mas os vegetais têm do espiritual de que procedem, o serem usos; e os animais têm do espiritual, de que procedem, o serem afeições e apetites, como foi dito.

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347 – VII. Uma e outra forma, quando existe, recebe os meios de propagação. Que em tôdas as cousas produzidas da terra, as quais, como foi dito, pertencem quer ao Reino vegetal quer ao Reino animal, haja alguma imagem da criação, e alguma imagem do homem, e tam-bém alguma imagem do Infinito e do Eterno, é o que foi mostrado acima, ns. 313 a 318; foi mostrado também que a imagem do Infinito e do eterno, aparece com brilho no fato de que elas podem ser pro-pagadas infinita e eternamente; é por isso que tôdas as cousas rece-bem meios de propagação, os sujeitos do Reino animal por sementes em um ôvo ou em um útero, ou por desova; e os sujeitos do Reino ve-getal, por sementes nas terras. Por isso, pode-se ver que, ainda que os animais e os vegetais mais imperfeitos e nocivos tenham sua origem no inferno por um influxo imediato, entretanto, em seguida

são pro-pagados mediatamente por sementes, por ovos ou por estacas; é por – isso

que admissão de um dèsses dois modos não contradiz o outro.

348 – Que todos os usos, tanto bons como maus, sejam de origem espiritual, por conseqiiência procedam do Sol onde está o Senhor, é o que pode ser ilustrado por esta experiência: Soube que bens e veros tinham sido enviados pelo Senhor através dos Céus para os Infernos; e que êstes mesmos bens e êstes mesmos veros recebidos por graus até ao profundo, tinham sido mudados lá em males e falsos opostos aos bens e veros enviados; se isto assim aconteceu, é porque os sujeitos recipientes mudam tôdas as cousas que influem em cousas que convêm às suas formas, exatamente como a luz brilhante do Sol é mudada em côres sombrias e em negro nos objetos cujas substâncias estão interior-mente em uma tal forma, que abafam e extinguem a luz; e como as águas estagnadas, as estrumeiras e os cadáveres mudam o calor do sol em maus cheiros. Por isso, pode-se ver que os maus usos vêm também do Sol espiritual, mas nisto, que os bons usos são mudados em maus usos no inferno. Daí, é evidente que o Senhor não criou e não cria senão bons usos, mas que o inferno produz os maus.

As causas vi¿íceis do Universo criado atestam que a Natureza nada produzi¿i e nada produz, mas que o Divino produziu e produz

tôdas as cousas dele mesmo e pelo Mundo espiritual

349 – A maior parte dos homens no Mundo diz, segundo a aparència, que o Sol pelo calor e a luz produz o que se vê nos cam-pos, nos prados, nos jardins e nas florestas; e que por seu calor o Sol faz sair dos ovos os vermes, que êle faz proliferar as bêstas da terra e as aves do céu, e mesmo que êle vivifica o homem; os que falam assim unicamente segundo a aparência, podem falar assim, mas acon-tece entretanto que não atribuem êstes efeitos à natureza, pois não pensam nisso; é como aquêles que dizem do Sol que êle se levanta e se deita, que faz os dias e os anos, e que está neste momento a tal ou tal altura, êstes falam semelhantemente segundo as aparências, e podem falar assim, e entretanto não atribuem êstes efeitos ao Sol, pois não pensam no estado estacionário do Sol nem no movimento circular da terra. Mas aquêles que se confirmam sôbre êste ponto, que o Sol pelo calor e a luz produz as cousas que aparecem sôbre a terra, atri-buem por fim tôdas as causas à natureza, e mesmo a criação do Uni-verso, e se tornam naturalistas e em último lugar ateus; êstes, é verdade, podem em seguida dizer que Deus criou a natureza, e pôs nela o po-der de produzir estas causas; mas dizem isso pelo temor de perder sua reputação; e não obstante por Deus Criador entendem a natureza, e alguns o íntimo da natureza, e então não fazem caso algum dos Di-vinos que a Igreja ensina.

350 – E’ verdade que alguns são desculpáveis de ter atribuído à natureza, certas cousas visíveis, e isso por duas razões: a Primeira, é

que nada souberam do Sol do Céu, onde está o Senhor, nem do in-fluxo que dêle procede, nem do Mundo espiritual nem de seu estado, nem mesmo cousa alguma de sua presença no homem; e que por con-seqiiência, não puderam senão pensar que o espiritual era um natural mais puro; que assim os Anjos estavam ou no éter ou nas estrêlas; rpie a respeito do diabo, era ou o mal do homem, ou que se existia efeti-vamente, estava ou no ar ou nos lugares profundos; que as almas dos homens, depois da morte, estavam ou no íntimo da terra, ou em não se sabe onde, até ao dia do julgamento; e outras cousas

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semelhantes que a fantasia produziu por ignorância do Mundo espiritual e de seu Sol. A Segunda razão que os torna desculpáveis é que não puderam saber como o Divino produziu tôdas as cousas que aparecem sôbre a Terra, onde há tantas más como boas, temendo confirmar isto nêles, com receio de atribuir também as más a Deus, de conceber de Deus uma idéia material, e de fazer Deus e a natureza um, e assim os con-fundir. São estas duas razões que tornam desculpáveis arpiêles que acre-ditaram que a natureza produz as causas visíveis por um ínsito desde a criação; mas acontece entretanto que aquêles que, por confirmações pela Natureza, se fizeram ateus não são desculpaveis, porque podiam se confirmar pelo Divino; a ignorância excusa, é verdade, mas não retira o falso confirmado, pois êste falso é coerente com o mal, assim como o inferno; é por isso que os mesmos homens cpie se confirmaram pela natureza até separar o Divino dela, não reputam seja o que fôr como pecado, porque todo pecado é contra o Divino que èles separa-ram e por consequência rejeitaram; e aquêles que em espírito não repu-tam causa alguma como pecado, depois da morte, quando se tornam espíritos, estando ligados ao inferno, se precipitam no crime segundo as cobiças a que afrouxaram as rédeas.

351 – Aquèles que crêem na Divina operaçâo em cada cousa da natureza, podem, por um grande número de fatos que vèem na natu-reza, se confirmar pelo Divino, tanto e mesmo mais do que aquèles que se confirmam pela natureza; èstes, com efeito, que se confirmam pelo Divino prestam atenção às maravilhas que se percebe tanto nas produções dos vegetais como na dos animais. Nas produções dos vege-tais; no fato de que de uma muito pequena semente lançada na terra sai uma raiz, pela raiz um caule, e sucessivamente ramos, fôlhas, flòres, frutos, até novas sementes, absolutamente como se a semente soubesse a ordem de sucessão, ou o processo pelo qual deve se renovar; pode um homem racional pensar que o Sol, que é puro fogo, saiba isso, e que possa insinuar seu calor e a sua luz para fazerem isso, e que possa aí formar estas maravilhas, e ter em vista o usoP Quando o ho-mem, cujo Racional foi elevado, vê estas maravilhas e as examina, não pode fazer outra causa senão pensar que elas vêm d’Aquêle cuja Sabe-doria é infinita, por conseqiiência de Deus; os que reconhecem o Di-vino vêem também isso e o pensam, mas os que não o reconhecem,

não o vêem e não o pensam, porque não o querem; e assim mergulham seu racional no sensual, que tira tôdas as suas idéias da luminosidade em que estão os sentidos do corpo, e confirmam as ilusões dos senti-dos, dizendo: Não se vê o Sol operar estas causas por seu calor e por sua luzP O que não se vê, o que vem a serP é alguma cousaP Os que se confirmam pelo Divino prestam atenção às maravilhas que vêem nas Produções dos animais; e para não falar aqui senão nas que estão nos Ovos, êles aí vêem o filhote escondido em seu germe ou comêço com tudo o que é necessário até à eclosão, e também com tudo o que concerne ao crescimento depois da eclosão até que se torne pássaro ou volátil na forma daquele que o engendrou; e se presta atenção à forma ela é tal, que não se pode, se pensar profundamente, deixar de ser tomado de surprêsa, descobrindo que nos menores dêstes voláteis como nos maiores, nos que são invisíveis como nos que são visíveis, há os 6rgãos dos sentidos, que são a vista, o ouvido, o olfato, o paladar e o tato; e os 6rgãos do movimento, que são os músculos, pois eles voam e andam; como também as vísceras em tôrno do coração e do pulmão, que são postas em atividade por seus cérebros; que vis insetos gozem também destas cousas, isto é sabido por sua anatomia, descrita por vá-rios sábios, sobretudo por SwammercTam em suas Bíblias da natureza. Os que atribuem tudo à natureza vêem, é verdade, tais cousas, mas pensam unicamente que elas são, e dizem que a natureza as produziu; e dizem isso porque afastaram sua mente de todo pensamento sôbre o Divino; e aquêles que se afastaram de todo pensamento s8bre o Di-vino, quando vêem as maravilhas da natureza, não podem pensar nelas racionalmente nem com mais forte razão espiritualmente, mas pensam nelas sensualmente e materialmente, e então pensam na natureza pela natureza, e não acima da natureza, da mesma maneira daqueles que estão no inferno, diferindo das bêstas unicamente pelo fato de gozarem da racionalidade, isto é, porque podem compreender, e assim pensar de outro modo se quiserem.

352 – Quando aquêles que se afastaram de todo pensamento s8-bre o Divino, e por isso se tornaram sensuais, vêem maravilhas na na-tureza, não pensam que a vista do ôlho é tão grosseira, que vê vários pequenos insetos como uma única causa obscura, e que entretanto cada Pqueno inseto foi organizado para sentir e para se mover e que assim aí dotado de fibras e de vasos, e também de pequenos corações, de canais pulmonares, de pequenas vísceras e de cérebros, e que êstes 6r-gãos foram tecidos com as mais puras substâncias que há na natureza, e que êsses tecidos correspondem a alguma causa da vida, pela qual as suas partes mais delicadas são distintamente postas em ação. Pois que a vista do ôlho é tão grosseira, que um grande número dêsses in-setas, com as partes inumeraveis que cada um encerra,

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aparecem como um pequeno ponto obscuro, e que entretanto os que são sensuais pen-sam e julgam segundo esta vista, vê-se claramente quanto sua mente

se tornou espêssa, e por conseguinte em que obscuridade êles estão sôbre as cousas espirituais.

353 – Cada um pelas cousas visíveis na natureza pode-se confir-mar pelo Divino, se quiser; e também se confirma aquêle cpie pensa em Deus segundo sua vida; por exemplo, quando vê os voláteis do céu; cada espécie conhece seus alimentos e sabe onde estão, conhece seus semelhantes pelo som e pela vista, e entre os outros, os que são amigos e os que são inimigos; formam casamentos, conhecem o lugar do acasa-lamento, constroem ninhos com arte, aí depositam seus ovos, os chocam, sabem o tempo da incubação; quando êste se escoa, fazem sair seu.¿ filhotes, que amam com ternura; os aquecem sob suas asas, lhes pre-param alimentos, e lhes dão o biscato, e isso, até que estejam em es-tado de agir por êles mesmos, e que possam fazer como êles e pro-criar uma família para perpetuar sua raça. Quem quer que queira pensar no influxo Divino vindo pelo mundo espiritual ao mundo na-tural, pode ver êste influxo nestas ciências; pode também, se quiser, dizer em seu coração: O Sol não pode dar tal ciência a êstes voláteis pelos raios de sua luz, pois o Sol, de que a natureza tira sua origem e sua essência, é um puro fogo, e por conseguinte os raios de sua luz são absolutamente mortos; e assim pode-se concluir que tais cousas vêm do influxo da Divina Sabedoria nos últimos da natureza.

354 – Cada um pelas cousas visíveis na natureza pode-se confir-mar pelo Divino, quando vê os vermes, que, pelo prazer de um certo amor, são levados e aspiram a mudar seu estado terrestre em um es-tado que é análogo ao estado celeste, e para isso se arrastam para lu-gares convenientes, e se põem como em um f;útero a fim de renascer, e se tornar crisálidas, aurélios, lagartas, ninfas, e por fim borboletas; e quando sofreram esta metamorfose e, segundo sua espécie, foram decorados com asas magníficas, voam no ar como em seu céu, brincam alegremente, formam casamentos, põem ovos, e provêm à sua poste-ridade; e durante êsse tempo se alimentam com um alimento agradável e doce que tiram das flôres. Entre os que se confirmam pelo Divino pelas causas visíveis da natureza, há alguém que não veja nestes seres, como vermes, uma sorte de imagem do estado terrestre do homem, e nestes mesmos sêres, como borboletas, uma sorte de imagem do es-tado celeste? aquêles, ao contrário, que se confirmam pela natureza vêem, é verdade, estas maravilhas; mas, como rejeitaram para longe dèles o estado celeste do homem, os chamam de puros instintos da natureza.

355 – Cada um pelas causas visíveis na natureza pode-se confir-mar pelo Divino, quando presta atenção a tudo que se conhece das Abelhas. Elas sabem das plantas e das flôres recolher a cêra, sugar-lhes o mel, construir células como pequenas casas, e as dispor em forma de cidades, com praças pelas quais entram e pelas quais saem; sentem

de longe o cheiro das flôres e das plantas, de que recolhem a cêra para a casa e o mel para a alimentação; e, quando estão carregadas àisso, revoam segundo a plaga para sua colmeia; assim provêm à sua alimentação e à sua habitação para o inverno seguinte, como se o pre-vissem e tivessem conhecimento dêle; põem também à sua testa como rainha uma soberana, pela qual a posteridade deve ser propagada, o para a qual constroem uma espécie de palácio acima de suas células, colocando guardas em tôrno; quando chega o tempo da postura, a rai-nha, acompanhada da guarda, vai de célula em célula e põe ovos, que a tropa que a segue cerca com um indumento, para que não sejam alterados pelo ar; daí para elas uma raça nova; mais tarde, quando esta geração chegou à idade necessária para poder fazer os mesmos tra-balhos, é expulsa da colmeia; o enxame expulso se reúne primeiro, de-pois se forma em massa, a fim de que a consociação não se rompa, e voa para procurar um domicílio; no outono os zangões inúteis são tam-bém expulsos, e são privados das asas, para que não voltem e não consumam os alimentos, para cujo aprovisionamento em nada contri-buíram; sem falar de vários outros fatos notáveis; por isto, pode-se ver que é em razão do uso prestado por elas ao Gênero Humano, que recebem do influxo pelo Mundo espiritual uma forma de govêrno, tal como existe entre os homens nas terras, e mesmo entre os anjos nos céus. Qual é o homem, provido de uma razão sã, que não vê que tais. causas nestes insetos não vèm do Mundo naturalP O que é que o SoI, donde provém a natureza, tem de comum com um govêrno semelhante e análogo ao govêrno celesteP Por estas observações e outras semelhan-tes entre as bêstas brutas, aquêle que reconhece e adora a natureza. se confirma pela natureza, enquanto que aquêle que

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reconhece e adora a Deus se confirma por Deus; pois o homem espiritual aí vê causas espirituais, e o homem natural aí vê causas naturais, assim cada um de acôrdo com o que êle mesmo é. Quanto ao que me concerne, tais. observações foram para mim testemunhos do espiritual no natural, ou do Mundo espiritual no Mundo natural, assim procedendo da Divina Sabedoria do Senhor. Que se examine ainda se, a respeito de alguma forma de govêrno, ou de qualquer lei civil, ou de qualquer virtude mo-ral, ou de qualquer verdade espiritual, é possível pensar analìticamente, a não ser que o Divino, pela sua Sabedoria influa pelo Mundo espi-ritual; quanto a mim, isso me foi e me é impossível; com efeito, notei êste influxo de uma maneira perceptível e sensível há dezenove anos contìnuamente; falo dêle portanto segundo uma prova certa.

356 – Será que alguma causa natural pode ter por fim o uso, e dispor os usos em ordens e em formasP Só o Sábio o pode; e só Deus, em quem a Sabedoria é infinita, é que pode assim ordenar e formar o universo; que outro ou que outra cousa pode prever para os homens tudo o que é necessário à alimentação e ao vestuário, e prover a isso; à alimentação, pelos frutos da terra e pelos animais, e aos vestuários

por êstes mesmos vegetais e animais'? Não está no número das mara-vilhas que êstes vis insetos, que são chamados bichos-da-sêda, forne-çam vestimentas e decorem com magnificência as mulheres e os ho-mens, desde as rainhas e os reis até as criadas e os criados; e que êstes vis insetos, que são chamados abelhas, forneçam a cêra para a luz que enche de esplendor os Templos e os Palácios? Estas cousas e vá-rias outras são provas existentes de que o Senhor opera de Si Mesmo pelo Mundo espiritual tôdas as cousas que existem na Natureza.

357 – A isto devo acrescentar que no Mundo espiritual vi aquêles que, pelas causas visíveis no Mundo, se tinham confirmado pela na-tureza até se tornarem ateus; e que seu Entendimento na luz espiritual me apareceu aberto por baixo, mas fechado por cima; e isso, porque pelo pensamento olhavam para baixo para a terra, e não para cima para o Céu; acima do sensual, que é o ínfimo do entendimento, apa-recia como um véu, em alguns brilhante pelo fogo infernal, em outros negro como a fuligem, e em outros lívido como um cadáver. Que cada um se guarde portanto das confirmações pela natureza; que se confirme pelo Divino; os meios nas.c faltam.

Quinta PARTE

DA CRIAÇÃO DO HOMEM

O Senhor criou e formoic no homem dois receptáculos e habitáculoe

d'Zle mesmo, chamados a, Vontade e o Entendimento, a Vontade para seu 1ìirino Amor, e o Entendimento para Sua Divina Sabedoria

358 – Tratou-se do Divino Amor e da Divina Sabedoria de Deus Criador, que é o Senhor de tôda a eternidade, e da Criação do Universo; agora se dir;í alguma causa da Criação do homem. Diz-se que o ho-mem foi criado à imagem de Deus segundo a semelhança de Deus (Gênesis 1.º, 26) ; aí, pela imagem de Deus é entendida a Divina Sa-bedoria, e pela semelhança de Deus o Divino Amor, pois a Sabedoria não é outra cousa senão a imagem do Amor; com efeito, o amor se faz ver e conhecer pela sabedoria, e pois que é visto e conhecido, a sabedoria é sua imagem; o amor também é o Ser da vida, e a sabe-doria é o Existir da vida pelo Ser; a semelhança e a imagem de Deus se fazem ver claramente nos Anjos, pois brilha do interior em sua face, e a sabedoria em sua beleza, e a beleza é a forma de seu amor; eu a vi e conheci.

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359 – O homem não pode ser a imagem de Deus segundo a se-melhança de Deus, se Deus não está no homem, e não é a vida do homem pelo íntimo; que Deus esteja no homem, e que pelo íntimo seja a vida do homem, isto resulta do que foi demonstrado acima, ns. 4 a 6, que Deus só é a vida, e que os homens e os anjos são os recipientes da vida procedente dele. E’ sabido também pela Pa-lavra que Deus está no homem, e faz sua morada nêle; e como isto é sabido pela Palavra, é comum os pregadores dizerem a seus ouvin-tes que se preparem para receber Deus, para que Ele entre nêles, para que esteja em seus corações, para que habite nêles; do mesmo modo fala o homem piedoso em suas preces; alguns mais abertamente falam

assim ào Espírito Santo, que crêem estar nêles, quando estão em um santo zêlo, e que por êste zêlo pensam, falam e pregam; que o Espírito Santo seja o Senhor, e não algum Deus constituindo por si mesmo uma pessoa, isso foi mostrado na Doutrina da Nor,a Jerusalém sôbre o Senhor, ns. 51, 52, 53; com efeito, o Senhor disse: “Yiaquele dia conhecereis que estais em Mim e Eu eu vós” (João l4.º, 20) ; semelhantemente, Cap. 15.º, 4, 5; 17.º, 23.

360 – Ora, pois que o Senhor é o Divino Amor e a Divina Sabe-doria, e que estas duas cousas são essencialmente Ele Mesmo, é abso-lutamente necessário, para que Be habite no homem, e de a vida ao homem, que Ele tenha criado e formado no homem receptáculos e ha-bitáculos d’Rle Mesmo, um para o Amor e outro para a Sabedoria. Estes receptáculos e habitáculos são chamados Vontade e Entendimento; o receptáculo e habitáculo do Amor, vontade; e o receptáculo e habi-táculo da Sabedoria, Entendimento. Que estas duas causas pertencem ao Senhor no homem, e que seja por estas duas causas que tôda vida está no homem, ver-se-á no que segue.

361 – Que cada homem tenha estas duas causas, Vontade e En-tendimento, e que elas sejam distintas entre si como o amor e a sabe-doria entre êles, sabe-se no Mundo e não se sabe; sabe-se pela per-cepção comum, e não se sabe pelo pensamento, nem com mais forte razão pelo pensamento na descrição; com efeito, quem não sabe pela percepção comum que a vontade e o entendimento são duas cou-sas distintas no homem? pois cada um o percebe quando ouve dizer, e pode também dizer a outro: “Fulano quer bem, mas não compreende bem; e fulano compreende bem, mas não quer bem; amo aquèle que compreende bem e quer bem, mas não amo aquìle que compreende bem e quer mal”. Mas quando se pensa na vontade e no entendi-mento, não se faz duas causas, e não se distingue-as, mas se confunde-as; e isso, porque o pensamento comunica com a vista do corpo; apreende-se ainda menos que a vontade e o entendimento são duas cousas dis-tintas, quando se escreve; e isso, porque então o pensamento comunica com o sensual, que é o próprio do homem; daí vem cpic alguns podem pensar bem e falar bem, mas não podem entretanto escrever bem; isto é comum no sexo feminino. Dá-se o mesmo com muitas outras causas. Quem não sabe, pela percepção comum, que o homem que vive bem é salvo, e que o que vive mal é condenado; além disso, que o homem que vive bem vai para o meio dos anjos, e cpie aí vê, ouve e fala como um homem; como também, aquêle que faz o justo pelo justo, e o direito pelo direito, tem consciènciaP Mas se a pessoa se afasta da percepção comum, e submete estas cousas ao pensamento, então não sabe o que é a consciência, nem que a alma pode ver, ouvir e falar como um homem, nem que há um bem da vida senão o que consiste em dar aos pobres; e se segundo o pensamento tu escreves estas

cousas, tu as confirmas por aparèncias e ilusões, e por palavras sonoras e desprovidas de sentido; daí vem que muitos eruditos, que muito pen-saram, e mais ainda os que escreveram, enfraqueceram e obscureceram e mesmo destruíram a percepção comum nêles; e que os simples vejam o que é o bem e o vero mais claramente do que os que se crêem mais sábios do que êles. Esta percepção comum vem do influxo do Céu, e cai no pensamento até à vista, mas o pensamento separado da percepção comum cai na imaginação, segundo a vista e segundo o próprio. Para te assegurares de que isto é assim, faz esta experiência: Diz algum vero a um homem que está na percepção comum, e êle o verá; diz-lhe que nós somos, vivemos e nos movemos por Deus e em Deus, e êle o verá; diz-lhe que Deus habita no amor e na sabedoria no homem, e êle o verá; diz-lhe, além disso, que a vontade é o receptáculo do amor, e o entendimento o receptáculo da sabedoria, e dá-lhe algumas explicações, e êle o verá; diz-lhe que Deus é o Amor Mesmo e a Sabe-doria Mesma, e êle o verá; pergunta-lhe o o que é a consciência, e êle o dirá; mas diz as mesmas causas a um Erudito que pensou, não pela percepção comum, mas pelos princípios ou as idéias tomadas pela vista proveniente do Mundo, e èle não as verá. Julga em seguida qual dos dois é o mais sábio.

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A Vontade e o Entendimento, que são os receptáculos do Amor e da Sabedoria, estão nos Cérebros no seu todo e em cada uma de suas partes, e em conseqiiência no corpo

em seu todo e em cada uma de suas partes

362 – Isto vai ser demonstrado nesta ordem; I. O Amor e a Sabe-doria, e por conseguinte a Vontade e o Entendimento fazem a vida mesma do homem. II. A vida do homem está em seus princípios nos cérebros, e nos seus principiados, no corpo. III. Tal é a vida nos prin-cípios, tal é ela no todo e em cada parte. IV. A vida por êstes prin-cípios está por meio de cada parte no todo, e pelo todo em cada parte. V. Tal é o amor, tal é a sabedoria, e por conseguinte tal é o homem.

363 – I. O Amor e a Sabedoria, e por conseguinte a Vontade e o Entendímento, fazem a vida mesma do homem. Mal sabe alguém o que é a vida; cpiando se pensa na vida, parece que é alguma causa volátil, de que não se faz idéia; isso parece assim, porque se ignora que Deus só é a vida, e que a vida de Deus é o Divino Amor e a Divina Sabedoria; daí é evidente que a vida no homem não é outra cousa, e que segundo o grau em que recebe há nêle a vida. Sabe-se que do Sol procedem o calor e a luz, e que tôdas as cousas do universo são reci-pientes, e que se aquecem e brilham segundo o grau em que recebem; dá-se o mesmo com o Sol onde está o Senhor, o calor que dêle procede é o Amor, e a luz que dêle procede é a Sabedoria, como foi mostrado

na Segunda Pa>te. A vida vem portanto do Amor e da Sabedoria que proceàem do Senhor como Sol. Que o Amor e a Sabedoria procedentes do Senhor sejam a vida, pode-se ver também pelo fato de que o homem se torna inerte quando o amor se retira dêle, e estúpido quando a sabe-doria se retira, e se se retirassem um e outro inteiramente, êle seria aniquilado. Há várias cousas do amor que receberam outros nomes, porque são derivações, como as afeições, os desejos, os apetites, suas volúpias e seus divertimentos; e há também várias causas da sabedoria, como a percepção, a reflexão, a lembrança, o pensamento, a atenção; e mesmo várias causas de um e de outro, tanto do amor como da sabe-doria, como o consentimento, a conclusão, a determinação ao ato, sem falar de outras; tôdas estas cousas, é verdade, pertencem ao amor e à sabedoria, mas recebem seu nome daquele dos dois que tem mais poder e está mais próximo. Dêstes dois são derivadas em filtimo lugar as sensações que pertencem à vista, ao ouvido, ao olfato, ao paladar e ao tato, com seus prazeres e seus encantos; pela aparência é o ôlho que vê, mas é o entendimento que vê pelo ôlho, é mesmo por isso que ver se diz do entendimento; há a aparência de que o ouvido ouve, mas é o entendimento que ouve pelo ouvido, é por isso que ouvir se diz da atenção e da ação de escutar, que pertencem ao entendimento; há a aparência de que as narinas cheiram e a língua saboreia, mas é por sua percepção o entendimento que sente o cheiro e que também saboreia, é ainda por isso que cheirar e saborear se dizem da perceççáo; e assim por diante. As fontes de tôdas estas causas e de tôdas aquelas são o amor e a sabedoria; por isto, pode-se ver que o amor e a sabe-doria fazem a vida do homem.

364 – Que o entendimento seja o receptáculo da sabedoria cada um o vê, mas que a vontade seja o receptáculo do amor, há poucos que o vêem; e isso, porque a vontade nada faz por si mesma, mas age pelo entendimento; e também porque quando o amor da vontade passa na sabedoria do entendimento, vai primeiro à afeição, e passa assim, e a afeição, não é percebida senão por um certo prazer de pensar, de falar e de fazer, ao qual não se presta atenção; que isso entretanto venha daí, vê-se claramente em que cada um quer o que ama, e não quer o que não ama.

365 – II. A vida do homem está em seus princípios nos Cérebros, e em seus principados no Corpo. Nos princípios ela está em seus pri-meiros; e nos principiados está nas cousas produzidas e formadas pelos primeiros; e pela vida nos princípios é entendida a vontade e o enten-dimento. São estas cousas que estão em seus princípios nos Cérebros, e nos seus principiados no Corpo. Que os princípios ou os primeiros da vida estejam nos Cérebros, vê-se: 1.º Pelo sentimento mesmo, nisto que, quando o homem aplica sua mente e pensa, percebe que pensa

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no cérebro; retira por assim dizer a vista do ôIho e mantém a fronte tensa, e percebe que interiormente há uma contemplação, sobretudo den-tro da fronte, e alguma causa mais alta. 2.º Pela formação do homem no útero, nisto que o Cérebro, ou a cabeça, é o primeiro, e que por muito tempo depois o cérebro é maior do que o corpo. 3.º Nisto que a cabeça está acima do corpo; e é segundo a ordem que os superiores ajam nos inferiores, e não vice-versa. 4.º Nisto que se o cérebro é le-sado ou no útero, ou por ferimento, ou por molestia, ou por uma ten-são demasiado forte, o pensamento se torna fraco, e por vêzes a mente delira. 5.º Nisto que todos os sentidos externos do corpo, que são a vista, o ouvido, o olfato, o paladar, com o sentido universal que é o tato, além disso também a linguagem, estão na parte anterior da cabeça, que é chamada face, comunicam .'mediatamente pelas fibras com os cérebros, e dêles tiram sua vida sensitiva e ativa. 6.º Vem daí que as afeições que pertericem ao amor apareçam em uma sorte de efígie na face, e que os pensamentos que pertencem à sabedoria apareçam em uma sorte de luz nos olhos. 7.º Sabe-se pela anatomia que tôdas as fibras descem dos cérebros pelo pescoço ao corpo, e que não há fibra alguma que suba do corpo pelo pescoço para os cérebros; e onde es-tãó as fibras em seus princípios e em seus primeiros, aí está a vida em seus princípios e em seus primeiros; quem é que pode negar que a origem da vida esteja onde está a origem das fibrasP 8.º Diz a al-guém que esteja na percepção comum: Onde está o pensamentoP Ou então: Onde pensas tuP e êle responderá que é na cabeça; mas diz em seguida a alguém que assinalou para sede da alma ou uma certa glândula, ou o coração, ou um outro lugar: Onde a afeição e conse-qiientemente o pensamento estãe em seu primeiroP será no cérebroP e êle responderá que não, ou que não o sabe. Ver acima, n. 361, a causa Resta ignorância.

366 – III. Tal é a vida nos princípios, tal é ela no todo e em cada uma das partes. Para que isto seja percebido é preciso dizer onde es-tão os princípios nos cérebros, e como são derivados. Onde estão êstes princípios nos cérebros, a Anatomia o mostra claramente; por ela sabe-se que há dois Cérebros, e que êles são continuados da Cabeça à es-pinha do dorso; que êles consistem em duas substâncias, que são cha-madas substância cortical e substância medular; e que a substância cor-tical consiste em inumeráveis quase-glândulas, e a substância medular em inúmeras quase-fibras; ora, como estas glândulas são as cabeças das fibrilas, são também os seus princípios; pois as fibras têm nelas os seus começos, depois elas se estendem, e sucessivamente se reúnem em nervos, e reunidas, ou tornadas nervos, descem para os 6rgãos dos sentidos na face, e para os órgãos do movimento no corpo, e os formam; consulta uma pessoa hábil na ciência anatômica, e seras confirmado. Esta subs-tância cortical ou glandular faz a superfície do cérebro, e também a superfície dos corpos estriados de que se compõe a Medula alongada,

e faz o centro do Cerebelo, e também o centro da Medula espinhal; quanto à substância medular ou fibrilosa ela tem seus começos por tôda parte, depois se estende e constitui os nervos de que são compos-tas tôdas as cousas do corpo; que assim seja, a autópsia o ensina. Aquêles que sabem estas cousas quer pela ciência anatômica, quer pela confir-mação daqueles que possuem esta ciência, podem ver que os princípios da vida não estão em outra parte senão aí onde estão os começos das fibras, e que as fibras não podem se estender por si mesmas, mas que se estendem segundo estes princípios. Rstes princípios ou começos, que se apresentam como glândulas, são quase inumeráveis; sua multidão pode ser comparada à multidão das estrèlas no universo; e a multidão das fibrilas que delas saem pode ser comparada à multidão dos raios que saem das estrêlas, e levam seu calor e sua luz às terras. A multidão destas glândulas pode também ser comparada à multidão das socie-dades angélicas nos céus, as quais também são inumeráveis, e estão em uma ordem semelhante, como me foi dito; e a multidão das fibrilas que saem destas glândulas podem ser comparadas aos veros e aos bens espirituais, que semelhantemente decorrem destas sociedades como raios. Vem daí que o homem seja como o universo, c como o Céu na menor forma, como já foi dito e mostrado aqui e ali. Por estas explicações, pode-se ver que, tal é a vida nos princípios, tal c ela nos principiados; ou que, tal é a vida nos seus primeiros nos Cérebros, tal é ela nas causas que dêle derivam no Corpo.

367 – IV. A vida por estes princípios está por meio de cada parte no todo, e pelo todo em cada parte. E’ por que o todo, que é o cé-rebro e ao mesmo tempo o corpo, não consiste originàriamente senão cm fibras que procedem de seus princípios nos cérebros; não há outra origem, como se pode ver claramente pelo cpie acaba de ser mostrado acima, n. 366; daí, conforme cada parte é o todo; que a vida por êstes princípios esteja também pelo todo em cada parte, é porque o todo fornece a cada parte sua tarefa e seu necessário, e faz por isso que a parte esteja no todo; em uma palavra, o todo existe pelas partes, e as partes subsistem pelo todo; que haja uma tal comunhão recíproca e por ela conjunção, ve-se por um grande número de causas no corpo. Com efeito, o que aí se passa é semelhante ao que, se passa em uma

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cidade, em uma república e em um reino, nisto coque o comum existe pelos homens que são as partes, e que as partes ou os homens subsis-tem pelo comum. Dá-se o mesmo com tôdas as cousas coque estão em uma forma qualquer; sobretudo no homem.

368 – V. Tal é o amor, tal é a sabedoria, e por conseqiicncia tal é o homem. Com efeito, tais são o amor e a sabedoria, tais são a von-tade e o entendimento, pois a vontade é o receptáculo do amor, e o entendimento é o receptáculo da sabedoria, como foi mostrado acima,

e estas duas causas fazem o homem e a qualidade do homem. O amor é múltiplo, e de tal modo mííltiplo, que suas variedades são indefini-das, como se pode ver pelo Genero Humano sôbre a terra e nos Céus; não há um único homem, nem um único anjo, de tal modo semelhante a um outro, que não haja distinção alguma; é o amor que distingue, pois cada um é seu amor; imagina-se que a sabedoria distingue, mas a sabedoria vem do amor, ela é a sua forma; pois o amor é o ser da vida, e a sabedoria é o existir da vida segundo êste ser. Crê-se no Mundo, que o entendimento faz o homem; mas crê-se nisso, porque o entendimento pode ser elevado à luz do Céu, como foi mostrado acima, e porque assim o homem pode se mostrar como sábio; mas não obs-tante esta cousa do entendimento que passa além, isto é, cpie não per-tence ao amor, parece cpie pertence ao homem, que assim o homem seja tal, mas é uma aparência; com efeito, esta cousa do entendimento que passa além pertence, é verdade, ao amor de saber e de ser sá-bio, mas não pertence ao mesmo tempo ao amor de aplicar à vida aquilo que se sabe e aquilo que parece sábio; é por isso que esta causa no Mundo se retira com o tempo, ou fica como caduca nas extremidades fora das causas da memória; também, depois da morte, é ela separada; e não resta senão aquilo que concorda com o próprio amor do espí-rito. Como o amor faz a vida do homem, e assim o homem mesmo, é por isso que tôdas as sociedades do Céu, e todos os anjos nas so-ciedades, são dispostos em ordem segundo as afeições que pertencem ao amor, e que sociedade alguma, e em uma sociedade, anjo algum, é disposto em ordem segundo alguma cousa do entendimento separado de seu amor; dá-se o mesmo nos infernos e em suas sociedades, mas segundo os amôres opostos aos amôres celestes. Por estas explicações pode-se ver que, tal í o amor, tal é a sabedoria, e que por conse-guinte tal é o homem.

369 – Reconhece-se, é verdade, que o homem é tal qual é o seu amor reinante, mas unicamente tal quanto à mente e ao caráter (anímus), e não quanto ao corpo, assim não inteiramente; mas, por várias expe-riências no Mundo espiritual, pude conhecer que o homem desde a cabeça até aos pés, ou desde os primeiros até aos últimos de seu corpo, é tal qual é seu amor; com efeito, no Mundo espiritual, todos são tor-mas de seu amor, os anjos formas do amor celeste, e os diabos formas do amor infernal, êstcs s.io meclonlios de face e de corpo, e aquêles são belos de face e de corpo; e quando seu amor é atacado, suas faces mudam, e se é atacado fortemente, êles desaparecem inteiramente; isso é particular a êsse Mundo; e assim acontece porque, seus corpos fa-zem um com suas mentes. A causa é evidente pelo que foi dito acima, que tôdas as cousas do corpo são principiados, isto é, foram tecidas por fibras provenientes dos princípios, coque sâo os receptáculos do amor e da sabedoria; e quando os princípios são tais, os principiados não podem ser outros, é por isso que onde vão os princípios, os principiados

os seguem, êles não podem ser separados. Vem daí que aquêle que eleva sua Mente para o Senhor, é elevado todo inteiro para o Senhor; e que aquêle que abaixa sua Mente para o inferno, é todo inteiro abai-xado para o inferno; eis porque o homem vai todo inteiro segundo o amor de sua vida ou para o Céu ou para o inferno. E’ um ponto da Sabedoria Angélica, que a Mente do homem é o homem, porque Deus é Homem; e porque o corpo é o externo da mente que sente e age, e que assim êles são um e não dois.

370 – E’ preciso observar que as formas mesmas dos membros, dos órgãos e das vísceras do homem, quanto à contextura mesma, vêm de fibras que têm sua origem em seus princípios nos cérebros, mas que estas formas são fixadas por substâncias e matérias tais como estão nas terras, e, pelas terras no ar e no éter, o que se faz por meio do san-gue; é por isso que, a fim de que tôdas as cousas do corpo subsistam em sua formação, e assim permaneçam em suas funções o homem deve ser alimentado com um alimento natural, e deve ser contìnuamente renovado.

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Há corre,spondência da Vontade com o Coração e do Entendimento com o Pulmão

371 – Isto vai ser demonstrado nesta série: I. Tôdas as causas da Mente se referem à Vontade e ao Entendimento, e tôdas as cou-sas do corpo se referem ao Coração e ao Pulmão. II. Há correspon-dència da vontade e do entendimento com o coração e o pulmão, e por conseqiiência correspondência de tôdas as cousas da mente com tôdas as do corpo. III. A vontade corresponde ao coração. IV. O entendimento corresponde ao pulmão. V. Por esta correspondência po-dem ser descobertos muitos arcanos sôbre a vontade e o entendimento, por conseqiiência sôbre o amor e a sabedoria. VI. A Mente do homem é o Espírito do homem, e o espírito é o homem, e o corpo é o ex-terno pelo qual a mente ou o espírito sente e age no Mundo. VII. Há conjunção do espírito do homem com o corpo pela correspondència de sua vontade e de seu entendimento com seu coração e seu pulmão, e há disjunção pela não correspondència.

372 – I. Tôdas as cousas <la 3fente se referem à vontade e ao en-tendimento, e tôdas as do corpo,se referem ao coração e ao pulmão. Pela mente não é entendida outra cousa senão a vontade e o enten-dimento, os quais em seu complexo, são tôdas as cousas que afetam o homem, e tôdas as que o homem pensa, assim tôdas as que perten-cem à afeição e ao pensamento do homem; as que afetam o homem pertencem à sua vontade, e as <adue o homem pensa pertencem ao seu entendimento. Que tôdas as causas do pensamento do homem per-

tencem a seu Entendimento, sabe-se, pois que o homem pensa pelo Entendimento; mas que tôdas as cousas da afeição do homem perten-cem à sua vontade, não se sabe do mesmo modo; se não se sabe do mesmo modo, é porque, quando a homem pensa, êle presta atenção não à afeição, mas unicamente às cousas que pensa; por exemplo, quando ouve falar, presta atenção não ao som, mas à linguagem mesma, quando entretanto a afeição está no pensamento absolutamente como o som está na linguagem. Que a afeição pertence à vontade, é porque tôda afeição pertence ao amor, e o receptáculo do amor é a vontade, como foi mostrado acima. Aquêle que não sabe que a afeição pertence à vontade confunde a afeição com o entendimento, pois diz que ela é um com o pensamento, contudo não são um, mas agem como um. Que são confundidos, isso é evidente pela linguagem comum, quando se diz: Penso fazer isso, quer dizer, quero fazer isso; que entretanto sejam dois, isso é ainda evidente pela linguagem ordinária, quando se diz: Quero pensar nesta causa; e quando se pensa nisso, a afeição da vontade está no pensamento do entendimento, como o som está na lin-guagem, como já foi dito. Que tôdas as causas do corpo se referem ao coração e ao pulmão, isso é sabido; mas que haja correspondência do coração e do pulmão com a vontade e o entendimento, isso não é sabido; por isso vai-se tratar disto no que segue.

373 – Por que a vontade e o entendimento são os receptáculos do amor e da sabedoria, são por conseqiiência as duas formas orgânicas, ou formas organizadas com as mais puras substâncias; pois para que sejam receptáculos, devem ser tais; põuco importa que sua organização não se manifeste diante do ôlho, ela é para o interior da vista do ôlho, mesmo quando a vista é ajudada por fortes microscópios; para o in-terior da vista são também os pequeníssimos insetos, nos quais há tam-bém os órgãos dos sentidos e do movimento, pois êles sentem, andam e voam; que tenham também em si cérebros, corações, canais pulmo-nares, vísceras, é o coque hábeis anatomistas descobriram com o auxílio de microscópios; pois que êstes pequenos insetos não se manifestam diante da vista, nem com mais forte razão, as pequenas vísceras de que são compostos, e pois que não se nega que estas pequenas vísce-ras, até a cada uma das cousas que as compõem, sejam organizadas, como então pode-se dizer que os dois receptáculos do amor e da sabe-doria, que são chamados vontade e entendimento, não são formas or-ganizadas? Como o amor e a sabedoria, que são a vida procedente do Senhor, podem agir em um não-sujeito, ou em alguma causa que não existe substancialmente' Como o pensamento pode ser inerente de ou-tro modo, e como alguém pode falar por um pensamento que não é inerente? O cérebro, onde o pensamento existe, não é cheio, e tudo o coque êle contém não é organizadora As formas orgânicas mesmas aí apa-recem mesmo diante de um ôlho nu, e de uma maneira saliente na

substância cortical os receptáculos da vontade e do entendimento em seus princípios, onde são vistos como pequenas glândulas; sôbre êste assunto, ver acima, n. 366. Não pensa, eu te peço, sôbre estas cousas, segundo a idéia do vácuo, o vácuo é o nada; e no nada, nada se faz; e nada existe pelo nada; sôbre a idéia do vácuo, ver acima, n. 82.

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374 – II. Há correspondência da vontade e do entendimento com o coração e o pulmão, e por consequência, correspondência de tôdas as cousas da mente como as do corpo. Isto é nôvo, pois até ao presente, não é conhecido, pela razão de que se ignorou o que é o espiritual, e em que difere do natural, e que por conseguinte não se soube o que é a correspondência, pois há correspondência dos espirituais com os natu-rais, e por esta correspondência se faz sua conjunção. Diz-se que até ao presente se ignorou o que é o espiritual, e qual é sua correspondèn-cia com o natural, e por conseqiiência o que é a correspondència; mas entretanto ter-se-ia podido conhecer um e outro. Quem não sabe que a afeição e o pensamento são espirituais, e que por conseguinte tôdas as causas da afeição e do pensamento são espirituaisP Quem não sabe que a ação e a linguagem são naturais e que por conseguinte tôdas as cousas que pertencem à ação e à linguagem são naturais'? Quem não sabe que a afeição e o pensamento, que são espirituais, fazem com que o homem aja e faleP Quem por conseguinte não pode saber o que é a correspondência dos espirituais com os naturais? O pensamento não faz com que a língua fale; e a afeição, unida ao pensamento, não faz com que o corpo aja'? São duas causas distintas; eu posso pensar e não falar, e posso querer e não agir; e sabe-se que o corpo não pensa e não quer, mas que o pensamento cai na linguagem, e a vontade na ação. A afeição não brilha também sôbre a face, e não apresenta aí um tipo dela mesma? Todos sabem isso. A afeição considerada em si mesma, não é espiritual, e as mudanças da face, cpie não chamadas ex-, pressões fisionômicas, não são naturais? Quem não pode concluir daí que há correspondência, e que por conseguinte há correspondência de tôdas as causas da mente com tôdas as causas do corpo; e como tòdas as cousas da mente se referem à afeição e ao pensamento, ou o que dá no mesmo, à vontade e ao entendimento, e tôdas as cousas do corpo ao coração e ao pulmão, há correspondência da vontade com o coração, e do entendimento com o pulmão? Se tais causas não tingiam sido ainda conhecidas, embora o tivessem podido ser, é porque o homem se tor-nou de tal modo externo, que nada quis reconhecer senão o natural; era êsse o prazer de seu amor, e por conseguinte era o prazer de seu entendimento; é por isso que elevar o pensamento acima do natural para algum espiritual separado do natural era um desprazer para i,le; é por isso que, por seu amor natural e o prazer dêste amor, <.‘le não pôàe pensar senão que o espiritual é um natural mais puro, e que a cor-respondência era alguma cousa que influía por continuidade; e mesmo,

o homem inteiramente natural não pode pensar em alguma causa se-parada do natural; isto para êle é como nada. Se estas cousas não foram vistas e por conseguinte não foram conhecidas até ao presente, é também porque tôdas as cousas da religião, que são chamadas espi-rituais, foram afastadas das vistas do homem, por êste dogma admitido em todo o Mundo Cristão, que é preciso crer cegamente nos teoló-gicos, que são os espirituais que os Concílios e alguns Chefes estabe-leceram, porque, como se diz, êles ultrapassam o entendimento; vem daí que alguns tenham crido que o espiritual é como um pássaro que voa acima do ar no éter, onde a vista do ôlho não alcança, quando entre-tanto o espiritual é como um Pássaro do paraíso, que voa perto do ôlho, toca a pupila com suas belas asas, e quer ser visto; pela vista do ôlho é entendida a vista intelectual.

375 – A correspondência da vontade e do entendimento com o coração e o pulmão não pode ser confirmada nuamente, isto é, sòmente pelos racionais, mas o pode ser pelos efeitos; dá-se com isto como com as causas das cousas; estas causas, é verdade, podem ser vistas racio-nalmente, mas não claramente, a não ser pelos efeitos, pois as causas estão nos efeitos, e por vêzes elas se fazem ver; a mente tampouco não se confirma primeiro sôbre as causas; os efeitos desta correspondência serão apresentados no que segue. Mas para que não se caia a respeito desta Correspondência nas idéias tiradas das hipóteses sôbre a alma, que se releia antes com atenção o que foi mostrado no Artigo prece-dente, a saber: que o Amor e a Sabedoria, e por conseguinte a Vontade e o Entendimento, fazem a vida mesma do homem, n. 363; que tal é a. vida nos princípios, tal ela é no todo e em cada parte, n. 366; que a vida por êstes princípios está por meio de cada parte n¿ todo, e pelo todo em cada parte, n. 367; que tal é o amor, tal é a sabedoria, e por conseguinte tal é o homem, n. 368.

376 – Aqui, para confirmação, vou relatar uma representação da correspondência da vontade e do entendimento com o coração e o pul-mão, que vi no Céu entre os anjos: Estes, por um admirável e inexpli¿ sável escoamento em curvas (fluxionem m giros), formavam uma se-melhança de coração e uma semelhanç i de pulmão, com tôdas as con-texturas interiores que nêles estão, e então seguiam o fluxo do Céu; pois o Céu está em esfôrço para tais form.':s pelo influxo do amor e da sa-bedoria que procedem do

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Senhor; e assim representavam a conjunção do coração e do pulmão, e ao mesmo tempo sua correspondência com o amor da vontade e com a sabedoria do entendimento; chamavam casa-mento ce!este esta correspondência e esta união; dizendo que dá-se o mesmo em todo o corpo, e em cada um de seus membros, de seus 6r-gãos e de suas vísceras, com as cousas que lá pertencem ao coração e ao pu!mão; e que por tôda parte onde o coração e o pulmão não agem, e onde cada um dêles não tem suas alternativas, não pode haver

movimento algum de vida por um princípio voluntário qualquer, nem sentido algum de vida por um princípio intelectual qualquer.

377 – Como, no que vai seguir-se, se traia da Correspondincia do Coração e do Pulmão com a Vontade e o Entendimento, e que sôbre esta Correspondência está fundada a de tôdas as causas do corpo, que se chamam membros do todo, órgãos dos sentidos e vísceras do corpo, e como a correspondência dos naturais com os espirituais não foi co-nhecida até ao presente, e que não obstante ela foi amplamente posta em evidência em duas Obras, das quais uma trata do Céu e do Inferno, e a outra do Sentido espiritual da Palavra na Gênesis e no êxodo, sob o título de Arcanos Celestes, vou indicar aqui o que foi escrito e mos-trado sôbre a Correspondência nessas duas Obras. Na Obra Do Céu e do Inferno: Da Correspondência de tôdas as cousas do Céu com tô-das as do homem, ns. 87 a 102. Da Correspondência de tôdas as cousas do Céu com tôdas as da terra, ns. 103 a 115. Na Obra sôbre o Sentido espiritual da Palas' na Gênesis e no êxodo, sob o título de Arcanos Celestes: Da Correspondêncin da face e de suas fisionomias com as afei-ções da mente, ns. 1568, 2988, 2989, 3631, 4796, 4797, 4800, 5165, 5168, 5695, 9306. Da Correspondência do Corpo quanto a seus gestos e a suas ações, com os intelectuais e os voluntários, ns. 2988, 3632, 4215. Da Correspondência dos sentidos no comum, ns. 4318 a 4330. Da Cor-respondência dos olhos e de sua vista, ns. 4403 a 4420. Da Correspon-dência das @crinas e do odor, ns. 4624 a 4634. Da Correspondência dos ouvidos e da audição, ns. 4652 a 4660. Da Correspondência da língua e do paladar, ns. 4791 a 4805. Da Correspondência das mãos, dos bra-ços, das espáduas e dos pés, ns. 4931 a 4953. Da Correspondência dos lombos e dos órgãos da geração, ns. 5050 a 5062. Da Correspondência das vísceras interiores do corpo, especialmente do estômago, do timo, da cisterna e dos condutos do guilo, do mesentério, ns. 5171 a 5180, 5181. Da Correspondência do baço, n. 9698. Da Correspondência do peritô-nio, dos rins e da vesícula, ns. 5377 a 5396. Da Correspondência do fí-gado, e dos condutos hepáticos, císticos, e pancreáticos, ns. 5183 a 5185. Da Correspondência dos intestinos, ns. 5392 a 5395, 5379. Da Corres-pondência da pele, ns. 5552 a 5573. Da Correspondência do Céu com o homem, ns. 911, 1900, 1982, 2996, 2998, 3624 a 3649, 3741 a 3745, 3884, 4051, 4279, 4423, 4524, 4525, 6013, 6057, 9279, 9632. Que tôdaa as cousas que estão no Mundo natural e nos seus três Reinos, corres-pondem a tôdas as causas que aparecem no Mundo espiritual, ns. 1632, 1881, 2758, 2990 a 2993, 2997 a 3003, 3213 a 3227, 3483, 3624 a 3649, 4044, 4053, 4116, 4366, 4939, 5116, 5377, 5428, 5477, 8211, 9280. Que fôdas as cousas que aparecem nos Céus são Correspondências, ns. 1521, 1532, 1619 a 1625, 1807, 1808, 1971, 1974, 1977, 1980, 1981, 2299, 2601, 3213 a 3226, 3349, 3350, 3475, 3485, 3748, 9481, 9570, 9576, 9577. Da Correspondência do sentido da letra da Palavra e do sen sentido espi-ritual; fala-se disso por tôda parte nesta Obra; ver também sôbre esta

Correspondência na Doutrina da Nova Jerusalém sôbre a Escritura Santa, ns. 5a26,27a69.

378 – III. A Vontade corresponde ao Coração. Não se pode vê-lo a não ser de uma maneira tão clara como quando a vontade foi exami-nada nos efeitos, assim como foi dito acima; a não ser que se possa vê-lo, nisto que tôdas as afeições cpe pertencem ao amor introduzem no coração mudanças quanto a seus batimentos, como é evidente pela pulsação das artérias que agem de uma maneira sincrônica com o co-ração; as mudanças e os batimentos do coração segundo as afeições do amor são inumeráveis; os que são sentidos pelo dedo consistem unica-mente nisto, que o coração bate lentamente ou vivamente, alto ou fracamente, molemente ou duramente, igualmente ou desigualmente, etc. ; assim, na alegria de outro modo que na tristeza, na tranqiiilidade de outro modo que na cólera, na intrepidez de outro modo que no mêdo, nas moléstias <poentes de outro modo que nas moléstias frias, etc. Como os movimentos do coração, que são chamados sístole e diástole, mudam e variam assim segundo as afeições de cada amor, é por isso que vá-rios dos antigos, e de acôrdo com êstes alguns modernos, atribuíram as afeições ao coração, e também fixaram aí a sua sede; daí vieram para a linguagem ordinária estas expressões: Coração magnânimo e Coração tímido, Coração alegre e Coração triste, Coração mole e Coração duro, Coração

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grande e Coração pusilânime, Coração íntegro e Coração par-tido, Coração de carne e Coração de pedra; pesado, mole, doce de Co-ração; empenhar o Coraçâo para fazer, dar um mesmo Coração, dar um Coração nôvo, confiar de Coração, receber de Coração, não lhe vem ao Coração, obstinar-se de Coração, amigo de Coração; daí os têr-mos de Conc6rdia, Discórdia, Vecordia (tibieza de coração), e vários outros semelhantes que pertencem ao amor e às afeições do amor. A Palavra se exprime da mesma maneira; e isso, porque a Palavra foi es-crita por Correspondëncias. Quer se diga o amor ou a vontade, é a mesma causa, pois que o receptáculo do amor é a vontade, como foi dito acima.

379 – Sabe-se que no homem e em cada animal há um Calor vital, mas qual é a sua origem, não se sabe; cada um fala por conjectura; aquêles portanto que nada souberam da Correspondência dos naturais com os espirituais, atribuíram-lhe a origem ao calor do sol, alguns à atividade das partes, outros à vida mesma, mas como ignoram o que é a vida, dizendo isso não penetram mais adiante. Ao contrário, aquêle que sabe que há uma correspondência do amor e das afeições do amor com o coração e as derivações do coração, pode saber que o amor é a origem do calor vital; com efeito, o Amor procede, como Calor, do Sol espiritual onde está o Senhor, e é também sentido como Calor pelos anjos; êste CaIor espiritual, que em sua essência é o amor, é o que influi por correspondência no Coração e em seu sangue, e aí in-

troduz o calor, e ao mesmo tempo o vivifica; sabe-se que o homem, segundo seu amor e o grau do amor, se aquece e por assim dizer se abrasa, e que segundo o decrescimento do amor se entorpece e esfria; pois sente-se isso e sc vê, sente-se pelo calor de todo o corpo, e vê-se pelo enrubecimento da face; e se ao contrário há extinção, sente-se pelo frio do corpo, e se vê pela palidez da face. Como o Amor é a vida do homem, o coração é por isso mesmo o primeiro e o último da vida do homem; e pois que o Amor é a vida do homem, e que a alma dirige sua vida no corpo pelo sangue, é por isso que o sangue na Palavra é chamado alma (Gên. 9.º, 4; Levít. 17.º, 14). No que segue se dirá o que é entendida pela alma em diversos sentidos.

380 – Se o sangue é vermelho, é também pela correspondencia do coração e do sangue com o amor e as afeições do amor; com efeito, no Mundo espiritual, há côres de tôda espécie; as côres vermelha e branca são as côres fundamentais, e tôdas as outras tiram suas varie-dades destas duas côres e das côres opostas, que são o ruço e o prêto; a côr vermelha corresponde ao amor, e a côr branca à sabedoria. Se a côr vermelha corresponde ao amor, é porque tem sua origem no fogo do Sol espiritual, e se a côr branca corresponde à sabedoria, é porque tem sua origem na luz dêsse Sol; e como há correspondência do amor com o coração, segue-se que o sangue não pode deixar de ser verme-lho, e indicar a sua origem. Daí vem que nos Céus onde o amor para com o Senhor reina, a luz é inflamada, e aí os anjos estão vestidos com vestimentas de púrpura; e que nos Céus onde a sabedoria reina, a luz é de uma brancura brilhante, e aí os anjos são vestidos de ves-timentas de fino linho branco.

38I – OS Céus são distinguidos em dois Reinos, dos quais um é chamado Celeste, e o outro Espiritual; no Reino celeste reina o amor para com o S"nhor, e no Reino espiritual reina a sabedoria procedente dêste amor; o Reino onde reina o amor é chamado o Cardíaco do Céu, e o Pieino onde reina a sabedoria é c';mamado o Pulmonar do Céu. E’ preciso que se saiba coque todo o Céu angélico em seu complexo repre-senta um único Eiomern, e que diante do Senhor aparece como um único homem; é por isso que seu Coração constitui um Reino, e seu Pulmão constitui outro; pois há um Movimento cardíaco e um Mo-vimento pulmonar em comum em todo o Céu, e em conseqiiência em particular em cada anjo; e os movimentos comuns, cardíaco e pulmo-nar, vêm do Senhor Sé, porque d’f.le Só vi,m o amor e a sabedoria; com efeito, no Sol onde está o Senhor, e que procede do Senhor, há êstes dois movimentos, e em conseqiiência êles estão no Ccu angélico,' e no universo; faz abstração dos espaços e pensa na Onipresença, e serás confirmado que isso é assim. Que os Céus tenham sido distin-guidos em dois Reinos, o Celeste e o Espiritual, vê-se no Tratado do

Céu e do Inferno, ns. 20, 27, 28; e que método o Céu angélico no com-pl'..n ".cprcscnt.": um só Homem, véu-se no mesmo Tratado, ns. 59 a 87.

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382 – IV. O Entendimento corresponde ao pulmão. E’ uma seqiiên-cia do que foi dito da correspondência da vontade com o coração; pois há duas causas que reinam no homem espiritual ou na Mente, é a Vontade e o entendimnito, e duas que reinam no homem nat;:rol no Corpo, são o Coração e o PuImão; e há uma correspondência de tôdas as causas da Mente com tôdas as do Corpo, como acaba de ser dito; daí resulta que, pois que a Vontade corresponde ao Coração, o En-tendimento corresponde ao Pulmão. Cada um pode também notar em si mesmo que o Entendimento corresponde ao PuImão, nâo unicamente por seu pensamento, mas também por sua Iinguagem; Pelo pensamento: Seja quem fôr nâo pode pensar sem o concurso e sem o acôrdo do sôpro pulmonar; é por isso que se pensa tàcitamente, respira-se tàcitamente; se se pensa profundamente, respira-se profundamente; retrai-se e relaxa-se, comprime-se e se eleva o pulmão segundo o pensamento, assim segundo o influxo da afeição pelo amor, Jentamente, ràpidamente, viva-mente, docemente, atentamente; e mesmo se se contém inteiramente o fôlego, não se pode pensar, senão em seu espírito pela respiração do espírito, o que não é percebido de uma maneira manifesta. Pela lin-guagem: Com efeito, não sai da bôca a menor palavra sem o concurso do pulmão, pois o som, que é articuIado em palavras vem inteiramente do pulmão pela traquéia e pela epiglote, é por isso que, conforme o enchimento cìêste fole e a abertura de sua passagem, a Iinguagem se eieva até ao grito, e segundo a contração diminui; e se a passagem é fechada, a lingu,".gem cessa com o pensamento.

383 – Pois que o Entendimento corresponde ao Pulmão, e que por conseguinte o Pensamento corresponde à respiração do Pulmão, é por isso que na Palavra pela Alma e o Espírito é significado o Entendi-mento; assim, se diz: “Amarás o Senhor teu Deus de todo teu Coração e de tôda tua Alma” (Mat. 22.", 37) . “Deus dará um nôvo Coração e um nôvo Espírito” (Ezeq. 36.º, 26; Salmo 51.º, l2, 13) ; que o Goração significa o amor da vontade, isso acaba de ser mostrado; assim, pela alma e pelo espírito, é significada a sabedoria do entendimento. Que pelo Espírito de Deus, que é também chamado Espírito Santo, seja entendida a Divina Sabedoria, e por conseguinte a Divina Verdade, pela qual se faz a ilustração no homem, vê-se na Doutrina da Nova Jeru-salém sôbre o Senhor, ns. 50, 51. E’ por isso que “o Senhor soprou sôbre os discípulos, e disse: Recebei um Espírito Santo” (João 20.º, 22) ; é também por isso que se diz, "que Jehovah Deus soprou nas narinas de Adão uma alma de vidas, e que êle foi feito alMa vivento” (Gên. 2.º, 7) ; e que foi dito ao profeta: “Profetiza sôbre o espírito, e diz ao vento: Dos quatro ventos vem espírito, e sopra nestes mortos, a fim de que vivam” (Ezeq. 37.", 9) ; semelhantemente em outros lugares; vem daí

que o Senhar seja chamado Espírito das Narinas, e também, Sôpro de sida. Como a respiração passa pelas narinas, é por isso que elas significam a percepção, e que se diga do inteligente que êle tem o nariz fino, e do não-inteligente que êle é obesoe naris (que tem o nariz fechado). Daí vem também que na Língua Hebraica, e em al-gumas outras línguas, o espírito e o vento são uma mesma palavra; com efeito, a palavra espírito tem sua origem na animação; é por isso que quando o homem morre, se diz também que êle entregou a alma. Daí vem ainda que o homem crê que o espírito é um vento ou qualquer causa aérea, tal como é o sôpro expirado do pulmão, e que dá-se o mesmo com a alma. Por isso, pode-se ver que por amar Deus de todo coração e de tôda a alma, é entendida amar com todo amor e com todo o entendimento; e que por dar um nôvo coração e um nôvo espí-rito, é entendido dar uma nova vontade e um nôvo entendimento, eis porque se diz de Besaleel, que êle foi cheio do espírito de sabedoria de inteligência e de ciência (êxodo, 31.º, 3) ; e de Josué que êle foi en-chido com o e,syírito de sabedoria (Deut. 34.º, 9) ; e de Daniel por Nabucodonosor, que êle tinha em si um espírito excelente de ciência, de inteligência e de sabedoria (Dan. 5.º, 11, 12, 14) ; e em Isaías: “Que aguêlea cujo espírito e,stá errado conheçam a inteligência” (29.º, 24). Semelhantemente em muitos outros lugares.

384 – Como tôdas as causas da mente se referem à Vontade e ao Entendimento, e tôdas as do Corpo ao Coração e ao Pulm ío, é por isso que na Cabeça há dois Cérebros, e que êles são distintos entre si como o são entre si a vontade e o entendimento; o Cerebelo é 'prinj-cipalmente para a Vontade, e o Cérebro principalmente para o Enten-dimento; semelhantemente o Coração e o Pulmão no Corpo são distintos das outras partes que aí se encontram; são distinguidos pelo diafragma, e são cercados de um invólucro pr6prio, que é chamado pleura, e cons-tituem esta parte do corpo que se chama Peito. Nas outras partes do corpo que são chamadas Membros, Orgãos, Vísceras, êstes dois são con-juntos, é por isso também que estas partes são por pares, por exem-plo, os braços e as mãos, os lombos e os pés, os olhos, ps narinas; no Corpo os rins, os ureteres, os testículos; e as vísceras <pe não são aos pares são divididas em direita e esquerda; além disso, o Cérebro mesmo é dividido em dois hemisférios, o Coração mesmo em

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dois ventrículos, e o Pulmão mesmo em dois lóbulos; a sua direita se refere ao bem do j vero, e sua esquerda ao vero do bem; ou, o que é a mesma causa, a direita se refere ao bem do Amor donde procede o vero da sabedoria, e a esquerda ao vero da sabedoria procedente do bem do amor; e como a conjunção do bem e do vero é recíproca, e que esta conjunção faz que sejam como um só, é por isso também que no homem êstes pares agem juntos e conjuntamente nas funções, nos movimentos e nos sentidos.

385 – V. Por esta correspondência podem ser descobertos muitoa arcanos sôbre a vontade e o entendimento, por conseqiiência também sô-bre o amor e a sabedoria. No Mundo sabe-se apenas o que é a vontade e o que é o amor, porque o homem não pode por êle mesmo amar e pelo amor querer, do mesmo modo que pode como por si mesmo com-preender e pensar; semelhantemente não pode por si mesmo forçar seu coração a mover-se, do mesmo modo que pode forçar seu pulmão a respirar; ora, pois que no Mundo sabe-se apenas o que é a vontade e o amor, e que entretanto sabe-se o que é o coração e o pulmão, pois êstes se apresentam diante dos olhos e podem ser examinados, e fo-ram mesmo examinados e descritos pelos anatomistas, enquanto que a vontade e o entendimento não se apresentam diante dos olhos e não podem ser examinados, eis porque, quando se diz que êles correspon-dem, e que pela correspondência agem como um, pode-se descobrir sô-hre a vontade e o entendimento muitos arcanos que, de outro modo não podem ser descobertos; por exemplo, sôbre a conjunção da vontade com o entendimento, e sôhre a conjunção recíproca do entendimento com a vontade; ou sôbre a conjunção do amor com a sabedoria, e sôbre a conjunção recíproca da sabedoria com o amor; depois, a derivação do amor nas afeições e sôbre as consociações das afeições, e sôbre seu influxo nas percepções e nos pensamentos, e enfim segundo a corres-pondência nos atos e nos sentidos do corpo. estes arcanos e muitos outros podem ser não sòmente descobertos, mas mesmo demonstrados pela conjunção do coração e do pulmão, e pelo influxo do sangue que vai do coração ao pulmão, e recìprocamente do pulmão ao coração, e daí pelas artérias a todos os membros, a todos os órgãos e a tôdas as vísceras do corpo.

386 – VI. A mente do homem é o espírito do homem, e o corpo é o externo pelo qual a mente ou o espírito sentem e agem no mundo. Que a Mente do homem seja o espírito do homem, e que o espírito seja o homem, é o que não podem receber fàcilmente pela fé aquêles que pensam que o espírito é um vento, e que a alma é como alguma cousa de etérea, tal como é o sôpro exalado pelo pulmão, pois dizem: Como o espírito pode ser o homem, pois que é o espíritoP e como a alma pode ser o homem, pois que é a almaP exprimem-se da mesma maneira a respeito de Deus, porque é chamado EspíritoP Esta idéia sôbre o espírito e sôbre a alma, êles a tiraram de que em algumas lín-guas o espírito e o vento são uma mesma palavra; depois também de que, quando o homem morre, se diz que entregou o espírito ou a alma, e que a vida revém quando o espírito ou a alma (sôpro) do pulmão revém aos que foram sufocados ou que caíram em desfalecimento; e como então não percebem senão ventõ e ar, julgam pelo ôlho e o sen-tido do corpo que o espírito e a alma do homem, depois da morte, não é o homem. Dêste julgamento corporal sôbre o espírito e sôbre a alma resultaram diversas hipóteses, e daí nasceu a fé que o homem não se

torna homem senão no dia do Julgamento final, e que até êsse mo-mento permanece em algum lugar, e espera a reunião, conforme o que foi dito na Continuação sôbre o Julgamento Final, ns. 32 a 38. Como a Mente do homem é o espírito do homem, é por isso que os anjos, que também são espíritos, são chamados Mentes.

387 – Que a Mente do homem seja o espírito do homem, e que o espírito seja o homem, é porque pela Mente são entendidas tôdas as cousas da vontade e do entendimento do homem, e que estas cousas estão nos princípios nos Cérebros, e nos principiados no Corpo, por conseqiiência são tôdas as cousas do homem, quanto a suas formas; e como é assim, eis porque a Mente, isto é, a Vontade e o Entendimento, põe em ação a seu gôsto o corpo e tôdas as partes do corpo; não faz o corpo tudo o que a Mente pensa e quer‘? a mente dirige o ouvido para ouvir e dispõe o ôlho para ver, a mente move a língua e os lá-bios para falar, põe em movimento as mãos e os dedos para fazer o que lhe agrada, e os pés para andar onde quer; o corpo é assim outra cousa senão uma obediência à sua mente? pode o corpo ser tal, se a mente não está nos princípios no corpo? é conforme a razão pensar que o corpo age por obediência porque a mente assim quer? desta ma-neira êles seriam dois, um em cima e o outro em baixo, um ordenaria e o outro obedeceria'? isto não estando absolutamente conforme com a razão, segue-se que a vida do homem está nos princípios nos cére-bros, e nos principiados no corpo, segundo o que foi dito acima, n. 365; e também que, tal é a vida nos princípios, tal é ela no todo e em cada parte, n. 366; e que a vida por êstes princípios

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está por meio de cada parte no todo, e pelo todo em cada parte, n. 367. Que tôdas as cousas da Mente se referem à Vontade e ao Entendimento, e que a Vontade e o Entendimento sejam os receptáculos do amor e da sabedoria pro-cedentes do Senhor, e que êstes dois façam a vida do homem, é o que foi mostrado nos Artigos precedentes.

388 Pelo que acaba àe ser dito, pode-se ainda ver que a adente do homem é o homem mesmo; pois os primeiros rudimentos da forma humana, ou a forma humana mesma com tôdas e cada uma de suas partes vem dos princípios continuados do cérebro através dos nervos, conforme o que também foi mostrado acima. Esta forma é aquela em que o homem entra depois da morte, e é êle então chamado espírito e anjo, e é homem em tôàa perfeição, mas homem espiritual; a forma material que foi adjunta e revestida neste Mundo, não é uma forma humana por si mesma, mas o é por aquela; ela foi adjunta e reves-tida, a fim de que o homem pudesse fazer usos no mundo natural e também levar com êle, para continente dos espirituais, alguma cousa de fixo tirada das substâncias mais puras do mundo, e assim continuar e perpetuar a vida. E’ um ponto da sabedoria angélica, que a mente

do homem, não sòmente no comum, mas ainda em todo particular, está em um perpétuo esfôrço para a forma humana, por<pie Deus é Homem.

389 – Para que um homem seja homem, não lhe deve faltar, nem a Cabeça, nem o Corpo, nenhuma das partes que existem em um ho-mem perfeito, pois nada há aí que não entre nesta forma e não ;i constitua; com efeito, é a forma do amor e da sabedoria, forma que, considerada em si mesma, é Divina; há nela tôdas as determinações do Amor e da Sabedoria, que sâo infinitas no Deus-Homem, mas finitas em sua imagem, que é o homem, o anjo e o espírito; se faltasse alguma das partes cpie existem no homem, faltaria, correspondendo a essa parte, alguma cousa de uma determinação proveniente do amor e da sabedo-ria, pela qual o Senhor pudesse no homem estar dos primeiros nos últimos, e por seu Divino Amor por sua Divina Sabedoria prover aos usos no Mundo criado.

390 – VII. FIá conjunção do espírito do homem com o corpo pela .correspondência de sua vontade e de seu entendimento com seu coração e seu pulmã.o, e há disjunção pela não correspondência. Pois que até ao presente se ignorou que a Mente do homem, pela qual é enten-dida a vontade e o entendimento, é o espírito do homem, e que o es-pírito é o homem, e que se ignorou que o espírito do homem tem uma pulsação e uma respiração como o corpo, não se pôde saber que a pulsação e a respiração do espírito no homem influem na pulsaçáo e na respiração de seu corpo, e as produzem. Portanto pois que o es-pírito do homem goza de uma pulsação e de uma respiração como o corpo, segue-se que há uma semelhante correspondência da pulsação e da respiração do espírito do homem com a pulsação e a respiração de seu corpo, pois a mente, como foi dito, é o espírito do homem; í por isso que quando a correspondência dêstes dois movimentos cessa, faz-se uma separação, que é a morte. A separação ou a morte acon-tece, quando o corpo por alguma moléstia ou algum acidente entra nesse estado, em que não pode agir como um com seu espírito, pois assim perece a correspondência, e com a correspondência a conjunção; não quando cessa a respiração só, mas quando cessa a pulsação do co-ração; pois enquanto o coração bate, o amor com seu calor vital perma-nece e conserva a vida, como é isso evidente pelos desfalecimentos e as sufocações, e também pelo estado da vida do embrião no útero. Em uma palavra, a vida do corpo do homem depende da correspondência de sua pulsação e ele sua respiração com a pulsação e a respiração pe seu espírito, e quando esta correspondência cessa, a vida do corpo cessa, e seu espírito se vai, e continua no Mundo espiritual sua vida, que í de tal modo semelhante à sua vida no Mundo natural, que êle não sabe que deixou êste mundo. A maior parte se encontra no Mundo

espiritual dois dias após ter deixado o corpo; pois conversei com alguns dois dias depois.

391 – Que o espírito goza da pulsação e da respiração como o homem do mundo no corpo, é o que não pode ser confirmado senão pelos espíritos mesmos e pelos anjos, quando é dada permissão de con-versar com êles; esta permissão me foi dada; é por isso que, tendo-os interrogado sôbre êste assunto, êles me disseram que são homens como os homens no mundo; que possuem igualmente um corpo, mas espiri-tual, e que sentem as pulsações do coração no peito, e a das artérias no pulso, como os que são homens no

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mundo natural; interroguei um grande número sôbre isso, e êles me disseram a mesma causa. Que o espírito do homem respira em seu corpo, me foi dado saber por mi-nha pr6pria experiência: Um dia foi dada permissão aos Anjos de di-rigir a minha respiração, e de a diminuir à sua vontade, e por fim de a retirar até que não restasse senão a respiração de meu espírito só, que eu percebi então pelo sentido; que a mesma causa me tenha acontecido, quando me foi dado conhecer o estado dos agonizantes, ve-se no Tratado do Céu e do Inferno, n. 449. Por vêzes,'também fui re-duzido só à respiração de meu espírito, que eu enth¿o percebi pelo sentido ser concordante com a espiração comum do Céu; várias vêzes ainda estive em um estado semelhante com os anjos, e fui também ele-vado para êles no Céu, e então no espírito fora do corpo, e falei com êles respirando como no Mundo. Por estas experiências e outras ins-truções impressionantes, vi claramente que o espírito do homem res-pira não sòmente no corpo, mas também depois que deixou o corpo; e que a respiração do espírito é tão tácita, que não é percebida pelo homem; e que ela influi na respiração manifesta do corpo, pouco mais ou menos como a causa no efeito, e como o pensamento no pulmão e pelo pulmão na linguagem. Por isso, é ainda evidente coque há conjun-ção do espírito e do corpo no homem pela correspondència do movi-mento cardíaco e do movimento pulmonar de um e de outro.

392 – Se êstes dois movimentos, o cardíaco e o pulmonar, existem e persistem, é porque todo o Céu Angélico, tanto no comum como no particular, está nestes dois movimentos da vida; que todo o Céu An-gélico esteja nestes dois movimentos, é porque o Senhor pelo Sol, onde Rle Mesmo está, e que procede d’Êle, aí os introduziu; pois èste Sol opera pelo Senhor êstes dois movimentos; e como tôdas as causas do Céu e do Mundo espiritual dependem do Sen¿aor por êste Sol, em um semelhante vínculo, segundo sua forma, do mesmo modo coque uma obra encadeada desde o primeiro até aos últimos, e como a vida do amor e da sabedoria procede do Senhor, e que tôdas as fôrças do universo vêm da vida, é evidente que a origem não vem de outra parte. Segue-se daí que sua variação é segundo a recepção do amor e da sabedoria.

393 – Em seguida se dirá mais sôbre a Correspondência dêstes movimentos; por exemplo, qual é esta correspondência naqueles que respiram com o Céu, e qual ela é naqueles que respiram com o inferno; e também qual ela é naqueles que falam com o Céu e 'pensam com o inferno, assim nos hipócritas, nos bajuladores, nos velhacos e outros,

Pela Correspondência do C:oração com a Vontade e do Entendimento com o Pulmão pode-se saber tôdas as cousas que podem ser sabidas sôbre a Vontade e o Entendimento, ou sôbre o

Amor e a Sabedoria, assim sôbre a alma do homem

394 – No Mundo erudito, há muitos que se esforçaram na pes-quisa da Alma; mas como nada sabiam do mundo espiritual, nem do estado do homem depois da morte, nada puderam senão construir hipó-teses, não sôbre o que é a alma, mas sôbre a operação da alma no corpo; sôbre o que é a alma não puderam ter outra idéia senão a que têm de alguma causa muito pura no éter, e, sôbre o continente da alma, senão a idéia que têm do é:ter; sôbre êste assunto entretanto não ou-saram publicar senão poucas causas, com receio de atribuir à Alma aJgum natural, sabendo coque a Alma é espiritual. Ora, como conce-beram a Alma assim, e como entretanto lhes era conhecido que a Alma opera no Corpo, e aí produz tôdas as cousas que se referem aos sen-tidos e ao movimento, eis porque, como foi dito, se esforçaram na pes-quisa da operação da Alma no corpo, que dizem ter lugar, uns por in-fluxo, outros por harmonia; mas como desta maneira nada foi desco-berto a que pudesse aquiescer uma Mente que quer ver se a cousa é assim, me foi dado em conseqiiência conversar com os Anjos, e ser ilustrado sôbre êste assunto por sua sabedoria; por esta sabedoria, soube que a Alma do homem, que vive depois da morte, pertence ao espí-rito do homem, que êste espírito é homem em uma forma perfe,ita, que a alma do espírito é a vontade e o entendimento, que a alma da vontade e do entendimento é o Amor e a Sabedoria que procedem do Senhor, que é êste amor e esta sabedoria que fazem a vida do ho-mem, a casual vem do Senhor só, e que o Senhor, a fim de que seja recebido pelo homem, fêz com que a vida aparecesse como perten-cendo ao homem; mas receando que o homem se atribuísse a vida como sua, e assim se privasse da recepção do Senhor, o Senhor também ensinou que tudo o que pertence ao amor, cpie se chama bem, e tudo o que pertence à sabedoria, que se chama vero, procedem dele, e que causa alguma do bem nem do vero vem do homem; e que, como êstes dois são a vida, tudo o que pertence à vida, que é vida, pro-cede d’$'le.

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395 – Como a Alma, quanto a seu ser mesmo, é o amor e a sa-bedoria, e como êstes dois que procedem do Senhor estão no homem,

é por isso que foram criados no homem dois receptáculos, que são tam-bém os habitáculos do Senhor no homem, um para o amor, e o outro para a sabedoria; o que é para o amor é chamado Vontade, e o que é para a sabedoria é chamaclo Entendimento; ora, pois que o Amor e a Sabedoria são distintamente um, ns. 17 a 22; e cpe o Divino Amor do Senhor pertence à Sua Divina Sabedoria, e a Sua Divina Sabedoria a Seu Divino Amor, ns. 34 a 39; e pois que êles procedem semelhan-temente de Deus-Homem, isto é, do Senhor, é por isso que no homem êstes dois receptáculos e habitáculos, que são chamados Vontade e En-tendimento, foram criados pelo Senhor, de maneira que sejam distinta-mente dois, mas que não obstante façam como um em tôda operação e em tòda sensação; com efeito, a vontade e o entendimento não po-dem ser separados nem na operação nem na sensação. Mas que o aromem possa se tornar receptáculo e habitáculo, foi preciso estabelecer, pela necessidade do fim, que o Entendimento do homem poderia ser elevado acima do próprio amor do homem a alguma luz da sabedoria, em cujo amor não está, e por isso ver e aprender como deve viver, a fim de entrar também nesse amor, e gozar assim da beatitude pela eternidade. Ora, como o homem abusou àa faculdade Re elevar o en-tendimento acima de seu próprio amor, destruiu o.ssim nêle o que po-dia ser receptáculo e habitáculo do Senhor, isto é, do amor e da sa-bedoria procedente do Senhor, fazendo a vontade habitáculo do amor de si e do amor do mundo, e o entendimento habitáculo das confir-mações dêstes amôres. Vem daí que èstes dois habitáculos, a vontade e o entendimento, tenham se torna.do habitáculos do amor infernal, e por confirmações por êste amor, os habitáculos do pensamcnto iníer-nal, que é reputado como sabedoria no inferno.

396 – Se o amor de si e o amor do mundo são amôre:, internais, e se o homem pôde entrar nestes dois amôres, e assim destruir a von-tade e o entendimento nêle, é porque o amor de si e o amor do mundo ' são celestes por criação, pois são os amores do !aromem natural, que servem aos amôres espirituais, como as fundações servem às casas; com efeito, pelo amor de si e o amor do mundo o homem quer bem a seu corpo, quer ser alimentado, ser vestido, ser alojado, prover à sua ‘ casa, procurar empregos em vista dos usos, e mesmo ser honrado con-forme a dignidade da função que desempenha, por causa da obediência; quer também pelos prazeres do mundo se divertir c recrear; mas quer :: tôdas estas causas para um fim, que deve ser o uso; pois por elas fica .,” em estado de servir o Senhor e de servir o próximo; mas quando o amor de servir o Senhor e de servir o próximo é nulo, e que não hl senão o amor de servir a si mesmo pelo mundo, então de celeste o amor se torna infernal, pois íaz com que o homem mergulhe sua mente e seu animus (mente inferior) em seu próprio, que em si é todo mal.

397 – Ora, a fim de que o homem não esteja pelo entendimento no Céu, como o pode, e pela vontade no inferno, e a fim de que não tenha assim uma mente dividida, tôdas as causas do seu entendimento, que estão acima de seu próprio amor, são em conseqiiência afastadas depois da morte; daí resulta que a vontade e o entendimento em to-dos agem por fim como um; naqueles que estão no Céu a vontade ama o bem e o entendimento pensa o vero, mas naqueles que estão no inferno a vontade ama o mal e o entendimento pensa o falso. O homem faz o mesmo no i%fundo quando pensa por seu espírito, o que acontece quando está só, ainda que haja muitos que pensem diferentemente quando estão no corpo, o que acontece quando não estão sós; se pensam então de outro modo, é porque elevam seu entendimento acima do pr6prio de sua vontade ou acima do amor de seu espírito. Estes detalhes foram dados, a fim de que se saiba que a Vontade e o Entendimento são duas cousas distintas, e que entretanto foram criados para agirem como um, e que são levados a agir como um, se não antes, ao menos de-pois da morte.

398 – Ora, pois que o Amor e a Sabedoria, e por conseguinte a Vontade e o Entendimento, são o que é chamado a Alma, e que no que segue é preciso dizer como a AJma age no Corpo, e aí opera tudo, e pois que isso pode ser conhecido pela correspondência cio Coração com a Vontade e do Pulmão com o Entendimento, eis por conseqiiên-cia o que esta correspondência revela: I. O Amor ou a Vontade é a Vida mesmo do homem. II. O Amor ou a Vontade está contìnua-mente no esfôrço para a forma Humana e para tudo que pertence à forma Humana. III. O Amor ou a Vontade não pode por sua forma humana fazer alguma cousa, sem um casamento com a Sabedoria ou o Entendimento. IV. O Amor ou a Vontade prepara a casa ou o leito nupcial para sua futura espôsa, que é a Sabedoria e o Entendimento. V. O Amor ou a

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Vontade prepara também tudo em sua forma hu-mana, a fim de poder agir conjuntamente com a Sabedoria ou o Enten-dimento. VI. Quando as núpcias foram feitas, a primeira conjunçãn existe pela afeição de saber, donde resulta a afeição do vero. VII. A segunda conjunção existe pela afeição de compreender, de que resulta a percepção do vero. VIII. A terceira conjunção existe pela afeição de ver o vero, de que resulta o pens.”mento. IX. O Amor nu a Vontado por estas três conjunções está na vida sensitiva e na vida ativa. X. O Amor ou a Vont: de introduz a Sabedoria ou o Entendimento em tôdas as partes de sua casa. XI. O Amor ou a Vontade nada faz senão era eon]unqão cem a S:bedoria ou o Entendimento. XII. O Amor ou a Vontade se conjunta à Sabedoria ou ao Entendimento, e faz com que a Sabedoria ou o Entendimento seia recìprocamente conjunto. XIII. A Sabedoria ou o Entendimento, pelo poder que lhe dá o Amor ou a Vontade, pode ser elevado, e receber as causas quo são da luz proce-

dendo do Céu, e as perceber. XIV. O Amor ou a Vontade pode igual-mente ser elevado e perceber as causas que são do calor procedendo do Céu, se ama a Sabedoria, sua espôsa, nesse grau. XV. De outro modo o Amor ou a Vontade retira de sua elevação a Sabedoria ou o Entendimento, para que aja como um com êle. XVI. O Amor ou a Vontade é purificado pela sabedoria no entendimento, se são elevados juntos. XVII. O Amor ou a Vontade é enodoado no entendimento e pelo entendimento, se não são elevados juntos. XVIII. O Amor puri-ficado pela sabedoria no entendimento torna-se espiritual e celeste. XIX. O Amor manchado no entendimento e pelo entendimento torna-se natural e sensual. XX. Não obstante resta a faculdade de compreen-der, que é chamada Racionalidade, e a faculdade de agir que é cha-mada Liberdade. XXI. O Amor espiritual e celeste é o Amor em re-lação ao pr6ximo e o amor para com o Senhor; e o amor natural e sensual é o amor do mundo e o amor de si. XXII. Dá-se com a cari-dade e a fé, e com sua conjunção, como com a vontade e o entendi-mento, e com a sua conjunção.

399 – I. O Amor ou a Vontade é a sida mesma do homem. E’ uma conseqiiência da correspondência do coração com a vontade, ver acima, ns. 378 a 381; pois assim como o coração age no corpo, assim a vontade age na mente; e assim como tôdas as cousas do corpo de-pendem do coração quanto à existência e quanto ao movimento, assim também tôdas as cousas da mente dependem da vontade quanto à existência e quanto à vida; se diz da vontade, mas entende-se do amor, pois a vontade é o receptáculo do amor, e o amor é a vida mesma, ver acima, ns. 1, 2, 3; e o amor que é a vida mesma vem do Senhor só. Que pelo coração e sua expansão no corpo pelas artérias e as veias, possa-se saber que o amor ou a vontade é a vida do homem, é por-que as causas que se correspondem agem da mesma maneira, com esta diferença que uma é natural e a outra espiritual. Como o Coração age no corpo, vê-se claramente pela anatomia, por exemplo, nisto, que tudo vive, ou é submetido à vida, aí onde o coração age pelos vasos que saem dêle, e que nada vive aí onde o coração não age por seus vasos; e, além disso, o coração é o primeiro e o último que age no corpo, que seja o primeiro, vê-se pelos embriões; que seja o último, vê-se pelos agonizantes; e que êle aja sem a cooperação do pulmão, vê-se pelos que,estão sufocados e por aquêles que estão em desfalecimento. Por isso é evidente que, como a vida ào corpo, vida secundária (succentutiata), depende do coração s6, assim também a vida da mente depende da vontade s6, e que a vontade vive quando o pensamento cessou, do mesmo modo que o coração vive quando a rèspiraçâo cessou, assun como se vê ainda claramente pelos embriões, os agonizantes, os sufo-, cadas, e os que estão em desfalecimento. De tudo isso resulta que o, amor ou a vontade é a vida mesma do homem.

' 400 – II. O amor ou a vontade está contìnuamente no esfòrço para a forma humana, e para tudo que pertence à forma humana. Isso é evidente pela correspondência do coração com a vontade; com efeito, sabe-se que tôdas as causas do corpo são formadas no útero, e que são formadas por fibras partindo do cérebro, e por vasos sangiiíneos par-tindo do coração, e que as contexturas de todos os órgãos e de todas as vísceras são feitas por estas fibras e por êstes vasos; por isso é evi-dente que tôdas as causas do homem tirem da vida da vontade, que é o amor, sua existência segundo seus princípios procedentes dos cé-rebros pelas fibras e que tôdas as do corpo tiram do coração sua exis-tência pelas artérias e pelas veias. Por isto vê-se bem claramente que a vida, que é o amor e por conseguinte a vontade, está contìnuamento no esfôrço para a forma humana; o como a forma humana se compõe de tôdas estas causas, que estão no homem, segue-se que o amor ou a vontade está em um contínuo esfôrço e uma contínua tendência para formar tôdas estas cousas; se o esfôrço e a tendência são para a forma humana, é porque Deus é Homem, e que o Divino Amor e a Divina Sabedoria sâo a Sua Vida, donde procede tudo o que pertence à vida. Cada um pode ver que se a Vida, que é o Homem Mesmo, não agisse naquilo que não é a vida, não teria podido ser formada alguma cousa tal como o que está no homem, no qual há milhares de milhares de partes que fazem um, e tendem unânimemente para a imagem da Vida de que procedem, a fim de que o homem

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possa tornar-se seu receptá-culo e habitáculo. Por isso pode-se ver que o Amor, e pelo amor a Vontade, e pela vontade o Coração, estão contìnuamente no esfôrço para a forma humana.

401 – III. O Amor ou a Vontade não pode por sua forma humana fazer cousa alguma, sem um casamento com a Sabedoria ou o Enten-dimento. Isto também é evidente pela correspondência do coração com a vontade. O homem embrião vive pelo coração, mas não pelo pul-mão; porque então o sangue nâo corre do coração para o pulmão, e não dá ao pulmão a faculdade de respirar, mas corre por uma abertura para o ventrículo esquerdo do coração; é por isso que o embrião não pode então mover parte alguma do corpo, pois está como que enfai-xado, e nada pode sentir, pois os órgãos dos sentidos estão fechados. Dá-se o mesmo com o amor ou a vontade, pelo qual entretanto êle vive, mas no obscuro, isto é, sem a sensaçâo e sem ação; mas desde que o Pulmão é aberto, o que se faz pelo nascimento, então começa a sentir e a agir, e igualmente a querer e a pensar. Por isso pode-se ver que o Amor ou a Vontade não pode por sua forma humana fazer causa alguma, sem um casamento com a Sabedoria ou o Entendimento.

402 – IV. O Amor ou a Vontade prepara a casa ou o leito nupcial

para sua futura esposa, que é a Sabedoria ou o Entendimento.

No Universo criado e em cada uma de suas partes há o casamento. do bem

c do vero, e isso vem de que o bem pertence ao amor e o vero à gabe. doria, e de que o amor e a sabedoria estão no Senhor, e que pelo Senhor tôdas as causas foram criadas. A maneira pela qual êste casa-mento existe no homem pode ser vista, como em um espelho, na con-junção do coração com o pulmão, pois o coração corresponde ao amor ou ao bem, e o pulmão é sabedoria ou ao vero, como acima, ns. 378 a 381, 382 a 384. Por esta conjunção pode-se ver como o amor ou a vontad,e noiva com a sabedoria ou o entendimento, e como em seguida a desposa ou faz como um casamento com ela; noiva com ela nisto que prepara para ela a casa ou o leito nupcial, e a desposa nisto que se conjunta com ela nesta casa. Que assim seja, é o que não pode ser plenamente descrito senão pela língua espiritual, porque o amor e a sa-bedoria, e por conseguinte a vontade e o entendimento, são cousas es-pirituais, que podem, é verdade, ser expressas pela linguagem natural, mas ì¿n.'camente até a uma percepção que será obscura, porque se ignora o educ 6 o amor, o que é a sabedoria, e também o que são as afeições do bem, c o que são as aìeições da sabedoria que são as afeiçôes do vero. Mas não obstante pode-se ver quais são os esponsais e qual é o cas;unento do amor com a sabedoria, ou da vontade com o enten-climcnto, pc:io paralelismo que é dado por sua correspondência com o cor.’ç;:o c o pulmão; pois dá-se com êstes o mesmo que com aquêles, e de tal modo o mesmo, que não há absolutamente diferença alguma, exceto coque uns são espirituais e os outros naturais. Pelo Coração e o Pulmão, vi-se cpie o Coração primeiro forma o pulmão, e em seguida se conjunta com êle; forma o pulmão no embrião, e se conjunta com êle depois do nascimento; o coração faz isso em sua casa, que é cha-mada Peito, onde está seu quarto nupcial separado das outras partes do corpo por um septo que e chamado diafragma, e por um involucro coque é chamado pleura. Dá-se o mesmo com o amor e a sabedoria, ou com a vontade e o entendimento.

403 – V. O Amor ou a Vontade prepara também tudo na forma humrina, o fim de poder agir conjuntamente com a Sabedorin ou o En-tendimento. Diz-se a Vontade e o Entendimento, mas é preciso que ¿e saiba bem ¿¿ue a Vontade é o homem inteiro, pois a vontade com n entendimento está nos princípios nos Cérebros, e nos principiados n;; Corpo, e por conseguinte no todo e em cada parte, como foi mos-trará.o acima, ns. 365, 366, 367; por isso pode-se ver que a Vontade é o homem inteiro quanto à forma mesma, t unto a forma comum como a forma de cada uma das partes, e que o Entendimento é seu compa-nheiro como o Pulmão o é do Coração. Guardem-se de fazer da Von-tade uma idéia como de uma cousa separada da forma humana, pois é a mesma cousa que esta forma. Por isso pode-se ver não sòmente c «rrio a Vontade prepara o leito conjugal para o entendimento, mas t ’mbém como prepara tudo na casa, que é o Corpo inteiro, a fim de poder agir conjuntamente com o Entendimento; faz êstes preparativos

de maneira que tôdas e cada uma das partes do corpo sejam conjun-tas ao entendimento como o são com a Vontade, ou que tôdas e cada uma das partes do corpo estejam sob a dependência do Entendimento como estão sob a dependência da Vontade. Como tôdas e cada uma das partes do corpo foram preparadas para a conjunção com o Enten-dimento do mesmo modo que com a Vontade, não se

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pode ver senão como em um espelho ou em uma imagem pela ciência anatômica no corpo; por ela sabe-se como tôdas as causas no Corpo estão reunidas em conjunto, de sorte que, quando o Pulmão respira, tôdas e cada uma são postas em movimento em todo o Corpo pela Respiração do Pulmão, quando o são também pela pulsação do coração; pela Anatomia sabe-se que o Coração está conjunto ao Pulmão pelas aurículas, e que estas prolongam-se nos interiores dos pulmões; e também, que tôdas as vís-ceras do corpo estão conjuntas por ligamentos com a Câmara do peito, e de tal modo conjuntas que cpiando o Pulmão respira, tôdas e cada uma, no comum e na parte, recebem alguma causa do movimento res-piratório; com efeito, quando o Pulmão se enche, as costelas estendem o tórax, a pleura se dilata, e o diafragma se estende; e com êles tôdas as partes inferiores do corpo, que estão reunidas em conjunto pelos li-gamentos provenientes dêles, recebem alguma ação pelas ações pulmo-nares; não direi mais do que isso, com receio de que aquêleg que não são versados na ciência anatômica caiam na obscuridade sôbre êste assunto pela ignorância dos têrmos desta ciência; consulta unicamente anatomistas instruídos e hábeis; pergunta-lhes se tôdas as partes no corpo inteiro descle o peito até à parte mais baixa não foram de tal modo ligadas em conjunto, que, quando o pulmão se enche pela res-piração tôdas e cada uma são compelidas a uma ação sincrônica com a ação pulmonar. Por aí vê-se portanto claramente que conjunção do Entendimento foi preparada pela Vontade com tôdas e cada uma das partes da forma humana; procura unicamente com cuidado os enlaça-mentos, examina-os com ôlho anatômico, e em seguida conforme os en-laçamentos considera sua cooperação com o Pulmão respirando e com o Coração, e por fim em lugar do Pulmão supõe o Entendimento, e em lugar do Coração a Vontade, e tu verás.

404 – VI. Quando as núpcias foram feitas, a primeira conjunção existe pela afeição de saber, donde resulta a afeição do vero. Pelas núpcias é entendido o estado do homem depois do nascimento, desde o estado de ignorância até ao estado de inteligência, e desde êste até ao estado de sabedoria; o primeiro estado que é de pura ignorância, não é entendido aqui pelas núpcias, porque então não existe pensa-mento algum do entendimento, mas há unicamente uma afeição obscura que pertence ao amor ou à vontade, êste estado é uma iniciação para as núpcias; que no segundo estado que é o do homem na segunda idade da infância (pueritia), haja a afeição de saber, isso é sabido; por esta afeição a criança da segunda idade aprende a falar, e aprende a ]er,

e em seguida aprende sucessivamente causas que pertencem ao e:nten-dimento. Que o Amor que pertence à vontade opera isso, é o que não pode ser pôsto em dúvida; pois se o amor ou a vontade não operasse, isso não seria feito. Que em cada !aromem depois ão nascimento haja a afeição de saber, e que por ela aprende causas, pelas cpiais gradati-vamente o entendimento se forma, cresce e se aperfeiçoa, todos o r;-conhecem, desde que segundo sua razão consulte a experiência. Que seja daí que vem a afeição do vero, isso é ainda,evidente; pois qu,".ndo o homem pela afeição de saber se tornou inteligente, êle não é levado pela afeição a saber, tanto quanto o é pela afeição a raciocinar e a concluir cousas que pertencem a seu amor, quer sejam econômicas, ou civis, ou morais; quando esta afeição é elevada até às cousas espiri-tuais, se torna afeição do vero espiritual; cpie seu primeiro ou seu co-mêço tenha sido a afeição de saber, pode-se vc-la nisto dic ;< ..feiç,'.o èo vero é uma afeição elevada de saber; pois ser afetado pelos veros, é por afeição querer sabê-los, e quando são encontrados colhk-los no prazer da afeiçâo. – VII. A segunda conjunção existe pela afeição de compreender, donde resulta a percepção do vero. Isto é evidente para quem quer que queira examiná-lo segundo uma intuição racional. Pela intuição racional é evidente que a afeição do vero e a percepção do vero são duas faculdades do entendimento, que em alguns se reúnem em um, e em outros não; reúnem-se em um naqueles que querem pelo entendimento perceber os veros, e não se reúnem em um naqueles que querem sòmente saber os veros; é evidente também, cpie cada um está tanto na percepção do vero, quanto está na afeição de compreender; pois tira a afeie,ão de compreender o vero, e não have,rá percepção al-guma do vero; mas dá a afeição de compreender o vero, e haverá per-cepçío do vero segundo o grau da afeição do vero; pois jamais a per-cepção do vero falta ao homem cuja razão é íntegra, desde que haja afeição de compreender o vero; que em cada homem haja a faculdade de compreender o vero, que é chamada racionalidade, isso foi mostrado acima. – VIII. A terceira conjunção existe peLa afeição de ver o vero, de que resulta o pensamento. Que uma seja a afeição de saber, outra a afeição de compreender, e outra a afeição de ver o que se sabe e compreende; ou que uma seja a afeição do vero, outra a percepção do vero, e outro o pensamento, isto só é visto obscuramente por aquêles que não podem perceber distintamente as operações da mente, é por-que estas operações estão juntas nr> pensamento daqueles que estão na afeição do vero e na percepção do vero, e quando estão juntas, não podem ser distinguidas; o homem está em um pensamento manifesto, quando seu espírito pensa no corpo, o que acontece principalmente quando está em companhia de outros; mas quando está na afeição de compreender, e por ela vem à percepção do vero, está então no pen-samento de seu espírito, que é a

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meditação, a qual, é verdade, cai no pensamento do corpo, mas no pensamento tácito, pois está acima dêste,

e considera como abaixo de si as cousas que pertencem ao pensamenta provenicntc da memóri;:, pois por estas cousas ou concluí ou confirma; mas a afeição mesma do vero não é percebida senão como um esfôrço da vontade por uma sorte de encanto, que está interiormente na medi-tação como sua vida, a que se presta pouca atenção. Por estas expli-cações, pode-se agora ver que estas três causas, a afeição do vero, a percepção do vero e o pensamento, seguem-se em ordem c;onformc o amor, e que não existem em outra parte senão no entendimento; com efeito, quando o amor entra no entendimento, o que acontece quando a conjunção foi feita, êle produz primeiro a afeição do vero, em seguida a afeição de compreender o que 'e sab", e por fim a afeição de ver no pensamento do coiyo o que se compreende, pois o pensamento não é outra causa senado a vista intern,",; o pensamcnto, é verdade, existe em primeiro lugar, porcpie pertence à mente natural, mas o pensamento se-gundo a percepção do vero, que procede da afeição do vero, existe em último lugar; êste pensamento é o pensamento da sabedoria, mas aquêle é o pensamcnto vindo da memória pe!a vista de mente natural. Tôdes as operações do amor ou da vontade fora do entendimento se referem, não às afeiç<>es do vero, mas às afeições do bem.

405 – Que estas tres cousas, procedentes do amor que pertence à vontade, seguem-se em ordem no entendimento, isso pode, é verdade, ser apreendido pelo liomem r cional, mas não entretanto ser visto cla-ramente, nem por conseqiiência confirmado até à plena crença; ora, como o amor que pertence à vontade age por correspondência como um com o coração, c a sabedoria que pertence ao entendimento age como um

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de sn dito, n. 404, sôhre a afeição do vero, sôbre a percepção do vero e sôbre o pensamento não pode ser visto e confirmado mais claramente em outra parte do que no pulm.".o e na sua estrutura, esta vai portanto ser descrita em poucas palavra. Após o nascimento, o Coração c;avia de seu ventrículo direito o sangue ao Pulmão; e após a passagem o faz sair dê!e para seu ventrículo esquerdo, assim êle abre o pulm o; o coração faz isso pelas artérias e a.s veias pulmonarcs; há no Pulmão brânquias que se r”mificam e por fim terminam em vesículas nas quais o Pulmão admìte o ar, e assim respira; em tôrno dos brônquios e de su;".s ramific’.ções há também artérias e veias, que se chamam bronquiais, p=r(indo de .”ízigos ou da vei cava e cia aorta; esta", artérias e c.¿tas veias são distintas das artérias e das veias pulmonare"; por isso í; evi-dente juv o sangue influi no Pulmão por dois caminhos, e que d,"”,le eflui por dois c"minhos; daí vem que o Pulmão pode respirar de uma maneira n.”o sincrôn’.ca com o coração; que os movimentos alternativos do pulmão não agem com um, isso é sabido. Ora, pois que hA 'coxres-pondin ia do coroação e do pulmão com a vontade e o entendimento, ccmo foi mosto"do, e como a conjunção pela co".respondência é tal que, do modo porc;ue um,",ge, do mesmo modo,".ge o outro, pode-se ver

pelo influxo do sangue do coração no pulmão, com<i a vontade influi no entendimento, e produz o que acaba de ser dito, n. 404, sôbre a afeição e a percepção do vero, e sôbre o pensamento; o. correspondência me descobriu isso, e ainda sôbre êste assunto várias cousas que não podem ser descritas em poucas palavras. Pois coque o amor ou a vontade corresponde ao coração, e que a sabedoria ou o entendim nto corres-ponde ao pulmão, segue-se que os vasos sangiiíneos do coração no Pul-mão correspondem às afeições do vero, e que as ramificações dos brôn-quios do pulmão correspondem às percepções e aos pensamentos des-tas afeições; aquêle que examina com cuidado tôdas as texturas do pul-mãn segundo suas origens, e faz um paralelismo com o amor cìa von-tade e com a sabedoria do entendimento, pode ve.r como em uma sorte de imagem o que foi dito acima, n. 404, e assim ser confirmado até à plena crença. Mas como o que concerne à ciência anatômica do 'Co-ração e do Pulmão é conhecido de poucas pessoas, e que confinar um assunto por causas desconhecidas, é lançar na obscuridade, eu me abs-tenho de demonstrar mais o paralelismo.

406 – IX. O Amor ou a Vont,ade por e,stas três conjunções está, em sua cid.a sensitiva e em sua r,ida atira. Que o amor sem o entendi-mento, ou a afeição cpie pertence ao amor sem o pensamento que per-tence ao entendimento, não possa no corpo nem sentir nem agir, é porque o amor sem o entendimento é como cego, ou pague a afeição sem o pensamento está como na obscuridade, pois o entendimento é a luz

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pela qual o amor vê; a sabedoria e o entendimento vèm também da luz que procede do Senhor como Sol; pois coque portanto, o amor da vontade, sem a luz do entendimento, nada vê e é cega, segue-se que sem a luz cio entendimento os sentidos do corpo estariam também na cegueira e na obscuridade, não sòmente o ôlho, mas também os outros sentidos; os outros sentidos estariam assim também, porque tôda per-cepção do vero é do amor no entendimento, como foi mostrado acima, e todos os sentidos do corpo tiram sua percepção da percepção de sua mente. Dá-se o mesmo com todo ato do corpo; com efeito, o ato pelo amor sem o entendimento é como o ato do homem na noite, pois então o homem não sabe o que faz; não !haveria portanto no ato inteligência nem sabedoria; êste ato não pode ser chamado ato vivo; o ato também tira do amor o seu ser, e da inteligência sua qualidade. Além disso tôda potência do bem é pelo vero, é por isso que o bem está no vero e assim age pelo vero, e o bem pertence ao amor, e o vero pertence ao entendi-mento. Por estas explicações pode-se ver que o amor ou a vontade por estas três conjunções, de que se falou, n. 404, está em sua vida sensi-tiva e em sua vida ativa.

407 – Que assim seja, isso pode ser confirmado ao vivo (ad r.imm)

pela conjunção do coração com o pulmão, pois entre a vontade e o

coração, e entre o entendimento e o pulmão, há uma tal correspondên-

cia, c¿ue, do modo porque o amor age com o entendimento espiritual-mente, do mesmo modo o coração age com o pulmão naturalmente; por isto o que foi dito acima pode ser visto como em uma imagem ofe-recida ao ôlho. Que o homem não esteja em vida alguma sensitiva, nem em vida alguma ativa, quando o coração e o pulmão não agem juntos, pode-se ver pelo estado do embrião ou da criança no útero, e por seu estado depois do nascimento; enquanto o homem é embrião ou está no útero, os pulmões estão fechados; assim para êle não há sentido algum, nem ato algum, os órgãos dos sentidos estão fechados, as mãos ligadas, igualmente os pés; mas após o nascimento os pulmões são abertos, e à medida que são abertos, o homem sente e age; os pulmões são abertos pelo sangue que envia o coração. Que o homem não esteja em vida alguma sensitiva, nem em vida alguma ativa, sem a cooperação do coração e do pulmão, vê-se claramente também pelos que estão em desfalecimento, nêles o coração sòmente age e não o pulmâo, pois então a respiração foi suprimida; que nêles não haja sen-sação alguma nem açâo alguma, isso é notório. Dá-se o mesmo com o homem que está asfixiado, quer seja pela água, ou por alguma cousa que obstruí o laringe, e fecha o caminho para a respiração do pulmão; sabe-se que então o homem parece morto, nada sente e não age abso-lutamente, e entretanto êle vive pelo coração, pois volta a uma e ou-tra vida, a sensitiva e a ativa, desde que as causas de inação do pulmão sejam afastadas. Durante a asfixia, é verdade, o sangue circula através do pulmão, mas pelas artérias e as veias pulmonares, e não pelas ar-térias e as veias bronquiais, e são estas que dão ao homem a faculdade de respirar. Dá-se o mesmo com o influxo do amor no entendimento.

408 – X. O amor ou a vontade introduz a sabedoria ou o enten-dimento em todas as partes de sua ema. Pela casa do amor ou da von-tade, entende-se todo o homem cpianto a tôdas as cousas que perten-cem à sua mente; e como estas causas correspondem a tôdas as do corpo, como foi mostrado acima, pela casa é também entendido todo o homem quanto a tôdas as causas que pertencem a seu corpo, as quais sâo chamadas membros, órgãos e vísceras; que o pulmão seja introduzido em tôdas estas cousas, do mesmo modo que o entendimento em tôdas as da mente, pode-se ver pelo que foi mostrado acima, por exemplo, que o Amor ou a Vontade prepara a casa ou o leito nupcial para sua futura espôsa, que é a sabedoria ou o entendimento, n. 402; e, que o amor ou a vontade prepara tudo em sua forma humana, ou em sua casa, a fim de poder agir conjuntamente com a sabedoria ou o entendi-mento, n. 403; pelo que foi dito aí, é evidente cpie em todo o corpo tôdas e cada urìia das causas foram de tal modo unidas pelos liga-mentos que partem das costelas, das vértebras, do esterno, do diafragma, do peritônio que dêle depende, que, quando o pulmão respira, elas são arrastadas e levadas a atos semelhantemente alternativos. Que os al-

ternativos da respiração entrem também nas vísceras mesmas até seus íntimos refolhos íntimos, pode-se ver pela anatomia, pois os ligamentos acima mencionados são coerentes com os invólucros das vísceras, e os inv61ucros entram por exserções (filamentos) até seus íntimos, como fazem também as artérias e as veias pelas ramificações; por isso pode-se ver que a respiração do pulmão está em conjunção perfeita com o coração em tôdas e cada uma das causas do corpo; e a fim de que haja conjunção de tôda

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maneira, o coração mesmo está também no movi-mento pulmonar, pois repousa no seio do pulmão, lhe é coerente pelas aurículas, e está deitado sôbre o diafragma, pelo que suas artérias par-ticipam também do movimento pulmonar. Além disso, o Estômago está em uma semelhante conjunção pela coerência de seu Esôfago com a traquéia. Estes detalhes anatômicos foram referidos, a fim de que se veja qual é a conjunção cio amor ou da vontade cem a sab’doria ou o entendimento, e de todos os dois em acôrdo, com tôd,.s as cousas da mente, pois cia í semelhante.

409 – XI. O Amor ou a Vontade nada fa” senão em conjunção com a sab”doria ou o er.t"nd.”'mento. Com efeito, pois que o amor não tem vida alguma sensitiva nem vida alguma ativ,", sem o entendimento; e pais v,ue o amor introduz o entendimento em tôdas as causas da mente, corno foi mostrado acima, ns. 407, 408, segue-se c¿uc o,",mor ou a von-t,”.c¿e nada faz senão em conjunção com o entenciimento; cem efeito, o que é agir pelo amor sem o entendimentoP isso não pode ser chamado senão de irracional, pois o cntendimnito ensina o coque deve ser feito, e como eleve ser feito, o amor sem o entendimento não o sabe absolu-t :.mente; é por isso c,ue entre o amor e o entendimento há um tal ca-samento, que, embora sejam dois, não obstante agem como um. Há um semelhante casamento entre o bem e o vero, pois o bem pertence ao amor, e o vero pertence ao entendimento. Um tal casamento existe em tôdas as cousas do universo, que foram criadas pelo Senhor, seu uso se refere ao bem, e a forma do uso se refere ao vero. E’ devido a êste casamento cp¿e em tôdas e cada uma das causas do corpo há uma direita e uma esquerda, e que a direita se refere ao bem de que pro-cede o vero, e a escpierda ao vero procedente do bem, assim à con-junção; vem d.:.í que as causas no homem sejam pares; há dois Cére-bros; há dois hemisférios do cérebro, há dois ventrículos do coração, há dois Lóbulos do pulm,"o, há dois Olhos, dois Oiividos, duas vari-nas, dois Braços, duas Mãos, dois Lombos, dois Pés, dois Rins, dois Testículos, etc., e qu,".ndo não são pares, há uma direita e uma es-querda; tudo isso é assim, porque o bem olha para o vero a fim de que exista, e o vero olha para o bem a fim de cpie seja. Dá-se o mesmo nos Céus angélicos, e em cada uma de suas sociedades. Sôbre êste assunto, ver maiores detalhes acima, n. 401, ancore foi mnstrado que o Amor ou a Vontade não pode por sua forma humana fazer cousa alguma, sem um casamento com a sabedoria ou o entendimento. Em outro lugar se falará da conjunção do mal e do falso, que é oposta à conjunção cio bem e do vero.

410 – XII. O Amor ou a Vontade se conjunta à Sabedoria ou ao Entendimento, e faz com que a sabedoria ou o entendimento seja recì-procamente conjunto. Que o Amor ou a Vontade se conjunta à Sabe-doria ou ao Entendimento, isto é evidente por sua correspondência com o Coração e o Pulmão. A experiência anatômica ensina que o Coração está no movimento de sua vida quando o Pulmão ainda não está nêle; a experiência o ensina por aquêles que estão em desfalecimento e por aquêles que estão sufocados; e também pelos embriões nos úteros, e os pintos nos ovos. A experiência anatômica ensina ainda que o co-ração, enquanto age só, forma o pulmão, e o dispõe a fim de aí poder operar a respiração, e que êle forma também as outras vísceras e os outros órgãos, a fim de aí poder fazer diversos usos, os 6rgãos da face a fim de poder sentir, os órgãos do movimento a fim de poder agir, e as outras causas do corpo a fim de poder produzir usos corres-pondentes às afeições do amor. Por isto, vi-se primeiro que, do modo porque o coração produz estas cousas em vista das diversas funções quo tem a desempenhar no corpo do ¿esmo modo o amor produz causas semelhantes no seu receptáculo, que se chama vontade, em vista das diversas afeições que fazem sua forma, a qual, como já foi mostrado, é a forma humana. Ora, como as primeiras e as mais próximas afeições do amor são a afeição de saber, a afeição de compreender e a afeição de ver o que se sabe e compreende, segue-se que o amor forma o en-tendimento para estas afeições, e que êle entra efetivamente nelas, desde que começa a sentir e a agir, e quando começa a pensar. Que o en-tendimento não contribui em nada para isso, vê-se pelo paralelismo do coração e do pulmão, de que se falou acima. Por isto, pode-se ver que o amor ou a vontade se conjunta à sabedoria ou ao entendimento, e que não é a sabedoria ou o entendimento que se conjunta ao amor ou à vontade; e por isto vê-se também que a ciência, que o amor adquire pela afeição de saber, e a percepção do vero, que adquire pela afeição de compreender, e o pensamento cpie adquire pela afeição de ver o que sabe e compreende, pertencem não ao entendimento mas ao amor. Os pensamcntos, as percepções e por conseguinte as ciênci;:.s influem, é ver-dade, do Mundo espiritual, mas são sempre recebidas, não pelo en-tendimento, mis pelo amor segundo suas afeir,ões no entendimento. Parece que é o entendimento que ;!s recebe, e não o amor ou a von-tade, mas é uma ilusão; parece t.ìmbém que é o entenàimento que se conjunta ao amor ou à vontade, mas ainda é uma ilusão; o amor ou a vontade se conjunta ao entendimento, e faz com que seja recìproca-mente conjunto; se é recìprocamente conjunto, é devido ao casamento do amor com a sabedoria, daí se faz uma conjunção como recíproca pela vida e por conseguinte pelo poder do amor. Dá-se o mesmo com o casamento do bem e do vero, pois o bem pcrte.nce ao amor, e o verc, pertence ao entendimento; o

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bem faz tudo, e recebe o vero em sua casa, e se conjunta com êle desde que êle concorde; o bem pode mesmo admitir os veros que não concordam, mas o faz pela afeição de saber, de compreender e de pensar cousas suas, enquanto ainda não se de-terminou por usos coque são seus fins, e são chamados seus bens. A conjunção recíproca, ou do vero com o bem, é absolutamente nula; se o vero é recìprocamente conjunto, é pela vida do bem. Daí vem que todo homem, todo espírito e todo anjo, é considerado pelo Senhor se-gundo seu amor ou seu bem, e que ninguém é considerado segundo seu entendimento ou segundo o vero separado do amor ou do bem; com efeito, a vida do homem é seu amor, como foi mostrado acima, e sua vida é conforme êle elevou suas afeições pelos veros, isto é, conforme pela sabedoria êle aperfeiçoou as afeições; pois as afeições do amor são elevadas e aperfeiçoadas pelos veros, assim pela sabedoria; e então o amor age conjuntamente com ela como por ela, mas êle age por si por ela, como por sua própria forma, que nada tira do entendimento abso-lutamente, mas tira tudo de uma determinação do amor, a qual é cha-mada afeição.

411 – Tôdas as cousas que favorecem o amor, o amor as chama bens, e tôdas as cousas que, como meios conduzem aos bens, êle os chama veros; e como são meios, são amadas e se tornam causas de sua afeição, e assim se tornam afeições em uma forma; é por isso que o vero não é outra causa senão a forma da afeição que pertence ao amor; a forma humana não é outra cousa senão a forma de tôdas as afeições do amor; a beleza é sua inteligência, que êIe adquire pelos veros que recebe ou pela vista ou pelo ouvido externo e interno; são estas causas que o amor dispõe nas formas de suas afeições, formas que são de uma grande variedade, mas tôdas têm uma semelhança com sua forma comum, que é a forma humana; tôdas estas formas são para êle belas e amáveis, mas tôdas as outras são para êle feias e não amáveis. Por isto, vê-se ainda que o amor se conjunta ao entendimento, e não vice-versa, e que a conjunção recíproca vem também do amor; é isto que é entendida por estas palavras: “O Amor ou a Vontade faz com que a sabedoria ou o entendimento seja recìprocamente conjunto”.

412 – O que acaba de ser dito pode, em uma sorte de imagem, ser visto e assim confirmado pela correspondência do coração com o amor e do pulmão com o entendimento, pois uma vez que o coração corresponde ao amor, as cousas q!ie dêle deriv<im, isto é, as artérias e as veias, correspondem às afeições, e no pulmão às afeições do vero; e como no pulmão há também outros vasos, que são chamados aeríferos, pelos quais se faz a respiração, êstes vasos por conseqiiência corres-pondem às percepções. E’ preciso que se saiba bem que as artérias e as veias no pulmão não são afeições, e cp¿e as respirações não são nem percepções nem pensamentos, mas são correspondcncias, pois agem de ìima maneira correspondente ou sincrônica; do mesmo modo para o coração e o pulmão, êles não são nem o amor nem o entendimento, mas são correspondências; e pois que são correspondências, um pode ser visto no outro; se aquêle que conhece pela anatomia a estrutura do pulmão a compara com o entendimento, pode claramente ver que o entendimento nada faz por si mesmo, não percebe e não pensa cousa alguma por si mesmo, mas cpie tudo faz pelas afeições que pertencem ao amor, as quais no entendimento são chamadas afeição de saber, afei-ção de compreender e afeição de ver o que se sabe e se compreende, afeições de que se tratou acima; com efeito, todos os estados do pul-mão dependem do sangue que vem do coração, da veia cava e da aorta, e as respirações que se fazem nas ramificações bronquiais existem se-gundo o estado destas ramificações, pois o influxo do sangue cessando, a respiração cessa. Pode-se ainda descobrir muitas cousas pela estru-tura do pulmão comparada com o Entendimento ao qual corresponde; mas como a ciência anatômica não é conhecida senão por poucas pes-soas, e como demonstrar ou confirmar um assunto por cousas desco-nhecidas, é pòr o assunto na obscuridade, não se dirá inais sôbre êste ponto. O conhecimento que tenho da estrutura do pulmão convenceu-me plenamente que o amor por suas afeições se conjunta ao entendi-mento, e que o entendimento não se conjunta a afeição alguma do amor, mas que é conjunto recìprocamente pelo amor, a fim de que o amor tenha uma vida sensível e uma vida ativa. Mas é preciso abso-lutamente saber que o homem tem uma dupla respiração, uma do espírito, e outra do corpo, e que a respiração do espírito depende de fibras que partem dos cérebros, e a respiraçâo do corpo dos vasos san-giiíneos que partem do coração, da veia cava e da aorta. Além disso, é evidente que o pensamento produz a respiração, e é ainda evidente que a afeição que pertence ao amor produz o pensamento, pois o pen-samento sem a afeição é absolutamente como a respiração sem o co-ração, a qual não é possível; por aí vê-se claramente que a afeição que pertence ao amor se conjunta ao pensamento que pertence ao enten-dimento, como foi dito acima; semelhantemente como o coração com o pulmão.

413 – XIII. A Sabedor."a ou o entendimento, pelo puder que lhe dá o Amor ou a Vontade, pode ser elevado, e receber as cousas que são da luz procedente do Céu, e as perceber. Que o homem possa

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per-ceber os arcanos da sabedoria quando ouve falar dêles, é o que foi demonstrado aqui e ali; esta faculdade do homem é a que é chamada Racionalidade; está em cada homem por criação; por esta faculdade que é a faculdade de compreender interiormente as cousas, e de concluir sôbre o justo e o equitativo e sôbre o bem e o vero, o homem é dis-tinguido das bêstas; é portanto isso o que é entendido por estas palavras: “O Entendimento pode ser elevado, e receber as causas que es-tão na luz procedente do Céu, e as perceber”. Que isto assim seja, pode-se ver ainda em uma sorte de imagem no Pulmão, porque o Pul-mão corrcsponcle ao Entendimento; pode-se ver no Pulmão por sua subs-tância celulosa, que consiste em brônquios contínuos até aos folículos menores, que são os recipientes do ar nas respirações; estão aí as cousas com as quais os pensamentos agem como um por correspondência; esta substância folicular é tal, que pode ser dilatada e contraída em um aluplo estado, em um est"do com o coração, e em outro estado quase que separada do coração; no estado com o coração pelas artérias e as veias pulmonares que vem do coração só; no estado quase separado do coração, pelas artérias e as veias bronquiais que vêm da veia cava e da aorta; estes vasos estão fora do coração; isto se opera no Pulmão, porque o Entendimento pode ser levado acim:.'. do prí;p!io "nor c,v.c corresponde ao coração, e receber a luz procedente do Céu; mas não obstante quando o Entendimento é elev"do acima do próprio amor, não sc afasta dêle, mas tira dêle o que é chamado a afeição de saber e de compreender em vista de alguma cansa correspondente à honra, à glória ou ao proveito no Mundo; esta alguma cousa é aderente a cada amor como uma superfície, mas nos sábios é diáfana. f.stes detalhes sôbre o pulmão foram referidos, a fim de que seja confirmado que o Enten-dimento pode ser elevado, e receber as cousas que pertencem à luz do Céu, e as p rceber, pois há uma completa correspondência; ver pela correspondência, é ver pelo Entendimento o pulmão, e pelo Pulmão o entendimento, e assim pelos dois juntos a confirmação.

414 – XlV. O Amor ou a Vontade pode igualmente ser elevado, e receber as cousas que estão no calor proceclente do Cén, se amo a sabe-doria, sua espôsa, nesse grau. Que o entendimento possa ser elevado à hpz do Céu, e haurir a sabedoria nessa luz, é o que foi mostrado no Artigo precedente, e aqui e ali mais acima; foi mostrado também aqui e ali coque o Amor ou a Vontade pode igualmente ser elevado, se ama as cousas que pertencem à sabedoria; mas o amor ou a vontade é ele-v"do não por algllma cousa da honra, da glória ou do proveito como fim, mas pelo,".mor do uso, "ssim não em vista de si mesmo, mas em vista do próximo; e como êste amor não é dado senão do Ccu pelo Senhor, e é dado pelo Senlior quando o homem foge dos males como pecados, resulta daí que por istes meios o ".mor ou a vontade pode tombem ser elevado, e não o pode sem êstes meios; todavia o amor ou a vontade é elev.":do ao calor do Céu, mas o entendimento à luz do Céu, e se um e outro é elevado, se faz aí um casamento entre êles, que é chamado casamento celeste, porque é o casamento do amor celeste e da sabe-doria; c por isso que se diz que o amor é elevado também se ama a sabedoria, sua espôsa, nesse grau; o amor em relação ao próximo pro-cedente do Senhor é o amor da sabedoria, ou o amor real do Entendimento humano. Isso se compara à luz c ao calor no Mundo, há a luz sem o calor, e há a luz com o calor, sem o calor na estação do in-verno, e com o calor na estação do verão, e quando o calor está com a luz, tudo floresce; no homem a luz que corresponde à luz do in-verno é a sabedoria sem o amor, e no homem a luz que corresponde à hpz do verão é a sabedoria com o amor.

415 – Esta conjunção e esta disjunção da sabedoria e do amor podem ser vistas como efígie na conjunção do pulmão com o coração; pois o coração pode ser conjunto às vesículas racemiformes dos brônquios pelo sangue que aí envia, e o pode pelo sangue que sai não dêle mas da veia cava e da aorta; por isso, a respiração do corpo pode ser sepa-rada da respiração do espírito; mas quando o sangue age sòmente pelo coração, as respirações não podem ser separadas; ora, como os pensa-mentos agem como um com as respira.ções por correspondência, é até evidente, pelo duplo estado do pulmão q0anto à respiração, que o ho-mem pode pensar e pelo pensamento falar e agir de uma maneira quando está cm companhia com outros, e pensar e pelo pensamento falar e agir de uma outra maneira quando não está em companhia, <quer d!zer, quando não teme de modo algum perder sua reputação; pois então pode pensar e faiar contra Deus, contra o próximo, contra as camisas espirituais da Igreja, e contra as cousas morais e civis, e tam-bém agir contra elas, roubando, vingando-se, blasfemando, e cometendo adultério, e.nquanto que em companhias em que teme perder sua repu-tação, êle pode falar, pregar e agir absolutamente como um homem es-piritual, mor'1 e civil. Por isso, pode-se ver que o amor ou a vont.".de pode, do mesmo modo que o entendimento, ser elevado e receber as causas que pertencem ao calor ou ao amor do Céu, desde que ame a sabedoria nesse grau; e que, se não a ama, pode então ser separado.

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416 – XV. De outro modo o a.mor ou a vontade refira de sua ele-vação a sabedoria ou o entend.'mento, para que aja como um com êle. Há um amor natural e há um .amor espiritual; o !aromem que está no amor n"tural e ao mesmo tempo no amor espiritual, é homem racional; entretanto, aqu<":le que está só no amor natural pode pensar racional-mente ex-t,"mente como o homem espiritual, mas não ob.;t,¿nte, não é de modo alq.im homem racional; com efeito, êle eleva seu entendimento até à luz do Céu, assim,",té 'i. s-bedoria, mas to¿!,"¿v¿¿ as cous.¿s que são da sabedoria ou da luz do Céu não são de modo algum do seu amor; seu : mor eleva o entcn",imento, é verdade, n¿s é pela afeiç;io da honra, cia glóri'a e do proveito; ora, quando percebe que não recebe desta elev."ção nada disso, o que acontece quando pensa cm si mesmo segundo seu amor natural, então não ama as causas que são àa luz do Céu ou da sabedoria, por isso retira então de sua elevação o enten-dimento para que aja como um com êle; por exemplo, quando o entendimcnto pela elevação está na sabedoria, o amor então vê o que é a justiça, o que é a sinceridade, o que é a castidade, e mesmo o que é o clamor real; o amor natural pode ver isso pela sua faculdade dc com-preender e de examinar as causas na luz do Céu, pode mesmo falar delas, pregá-ias e as descrever como virtudes morais c ao mesmo tempo espirituais; mas quando o entendimento não está na elevação, o amor, se é inteiramente natural, não vê estas virtudes, mas em lugar da jus-tiça vê a injustiça, em lugar da sinceridade as fraudes, em lugar da castidade a lascívia, e assim por diante; se então pensa nas cousas de que falav,’a quando seu entendimento estava na elevação, pode rir-se, e pensar s6mente que estas cousas lhe servem para cativar os espíritos (animi). Por estas experiências, pode-se ver como é preciso entender que se o amor não ama a sabedoria, sua espôsa, nesse grau, êle a re-tira de sua elevação para que aja como um com êle; que o amor possa ser elevado se ama a sabedoria nesse grau, vê-se acima, n. 414.

417 – Ora, pois que o amor corresponde ao coração e o enten-dimento ao pulmão, o coque acaba de ser dito pode ser confirmado por sua correspondência, assim como o entendimento pode ser elevado acima do próprio amor até à sabedoria, depois como o entendimento é reti-rado de sua elevaçâo por êste amor, se este é inteiramente natural. O homem tem uma dupla respiração, uma do corpo e outra do espírito; estas duas respirações podem ser separadas e podem também ser con-juntas; nos homens inteiramente naturais, sobretudo nos hipócritas, elas são separadas; mas nos homens espirituais e sinceros elas o são rara-mente; é por isso que o homem inteiramente natural e hipócrita em quem o entendimento foi elevado, e em quem por conseguinte muitas causas pertencentes à. sabedoria permanecem na memória, pode em so-ciedade falar sàbiamente pelo pensamento proveniente da mcm6ria; mas quando não está em sociedade, pensa, não por sua memória, mas por seu espírito, assim por seu amor; respira também da mesma forma pois que o pensamento e a respiração agem de uma maneira correspondente, Que a estrutura do pulmão seja tal, que pode respirar pelo sangue que vem do coração, e pelo sangue fora do coração, é o que foi mostra-do acima.

418 – A opinião comum é que a sabedoria faz o homem, é por isso que quando se ouve alguém falar ou ensinar com sabedoria, acre-dita-se que êle é sábio; mais a.inda, êle mesmo o crè então, porque quando em sociedade fala e ensina, pensa pela memória, e se é inteiramente natural, pensa pela superfície de seu amor, que é a afeição da honra, da glória e do proveito; mas quando está só, pensa pelo amor interior de seu espírito, e então não como sábio mias por vêzes como insensato. Por isto, que cada um deve ser julgado não por uma linguagem sábia, mas por sua vida, isto é, não por uma linguagem sábia separada da vida, mas por uma linguagem sábia conjunta com a vida; pela vida entende-se o amor; que o amor seja a vida, isso foi demonstrado acima.

419 – XVI. O Amor ou a Vontade é purificado no Entendimento, sc são elevados juntos. O homem por nascimento não ama senão a si mesmo c .'ao mundo, pois nenhuma outra causa se apresenta a seus olhos, e por conseguinte não se ocupa de nenhuma outra cousa, e êste amor é natural corporal, e pode ser chamado material; e, além disso, êsse amor se tornou impuro pela separação do mamar celeste dêle em seus pais. f.ste amor não pode ser separado de sua impureza, se o homem não tem a faculdade de elevar o entendimento na luz do Céu, e de ver como deve viver, a fim de coque seu amor poss@, com o en-tendimento, ser c;levado à sabedoria; pelo entendimento o amor vê, isto é, o homem vê quais são os males uue maculam e corrompem o amor, e vê também cpie se foge e detesta êstes males como pecados, ama ias causas que são apostas a êstes males, e que são tôdas celestes; depois vê também os meios pelos quais pode fugir dê.stes males e detestá-los corno pecados; o amor, isto í, o homem, vê isso pelo uso da faculdade ele elevar seu entendimento à luz do Céu, donde lhe vem a sabedoria; v,ntão quanto mais o amor põe o Céu em primeiro lugar e o mundo em segundo, c ao mesmo tempo o Senhor em primeiro lugar e êle mesmo e.m segundo, tanto mais o amor é depuração de sujas impurezas e é puri-ficado, isto é, tanto mais é

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elevado no calor do Céu, e conjunto à luz do Céu, em que está o entendimento, e então se faz o casamento que é chamado casamento do bem e do vero, isto é, do amor e da sabe-doria. Cada um pode apreender pelo entendimento e ver racionalmente c¿ue, quanto mais se evita e se detesta os roubos e as fraudes, tanto m,".is se ama a sinceridade, a eqiiidade e a justiça; que quanto mais sc, evita e se detesta as vinganças e os 6dios, tanto mais se ama o pró-ximo; que quanto mais se evita e se detesta os adultérios, tanto mais se 'ma a castidade, e assim por diante. E também apenas alguém co-nhece o rpie há do Céu e o que há do Senhor na sinceridade, na eqiii; dade, na justiça, no amor em relação ao próximo, na castidade e em tôdas ;rs nutras afeições do amor celeste, antes de ter afastado o que é oposto a estas afeições; quando afastou o que é oposto, está então nelas, e por elas as conhece e as vê; antes disto, há como um vé.u in-terposto, que transmite, é verdade, a luz do Céu ao amor, mas como o amor não ama a sabedoria, sua espôsa, nesse grau, não a recebe, e mesmo pnr vêzes a repreende e a condena, até que volte de sua ele-vação, mas não obstante êle a lisonjeia porque a sabedoria de seu en-tenclimento pode servir de meio para a honra, a glória ou o ganho; mas então se coloca e ao mundo em primeiro lugar; e põe o Senhor e o Céu em segundo lugar; e o que é pôsto em segundo lugar não é amado senão tanto qu;;nto é achado útil, e se não é útil é abandonado e re-jeit,¿ào, senão antes, pelo menos depois da morte. Daí resulta portanto esta verdade que o amor ou a vontade é purificado no entci!cìimento, se são elevados juntos.

420 – A mesma cousa é executada no Pulmão, cujas artérias c; veias correspondem às afeições que pertencem "o amor, e cujas respira-ções correspondem às percepções e aos pensamentos que pertencem ao entendimento, como já foi c!ito. Que o sangue do coração no pulmão se purifica das cousas indigestos, e que também pelo ar aspirado êle se alimenta de causas que lhe convém, vê-se por num"rosas experiên-cias: Que o sangue se purifica das cousas indigestas no pulmão, vê-se não sòmente pelo sangue que aí flui, o cpial é venoso, e por conseguinte cl.cio daquilo proveniente dos alimentos e das bebidas, mas ainda pelas expirações que são í¿midas, e pelas que chocam o olfato des litros, como também pela menor quantidade de sangue que ref lui no ventrículo es-querdo do coração. Que o sangue pelo ar a,sp".'rado se alimento rlc c.¿n-sas que lhe convém, vê-se pela imensa quantidade de odores e de exa-lações cp¿e ef lêem contìnuamente dos pracìos, cìos canteiros e des ver-géis, e pela imensa quantidade de sais de diferentes espécies que, com as águas, saem das terras, dos rios e dos lagos, e pela imen.¿.". quan;i-dade de vapôres e de eflúvios provenientes dos homens e dos animais, e de que o ar é impregnado; que estas cous.¿.s se introduzem no pulmão com o ar aspirado, é o que não se pode negar; e pois que não se pode negá-la, n;aio se pode negar tampouco que o sangue aspira dentre elas as que llie convém, e as que lhe convém são as que correspondem às afeições de seu amor; daí vem qiie nas vesícul,",s ou nos íntimos do pulmão há, em grancte quantidade, pequenas veias com pecpienas bôcas, <põe absorvem estas cousas; e também que o sangue refluindo ao ven-trículo esquerdo do coração, está mudado em sangue arterial, e se torna rutilantc; tudo isso confirma que o sangue se purifica cìas partes hcie-rogêneas, e se alimenta das homogêneas. Não se sabe ainda que o sangue no pulmão se purifica e se alimento de uma maneir;¿ corres-pondente às afeições do espírito (animus), mas isto é muito conhe-cido no Mundo espiritual; com efeito, os anjos que estão nos Céus se deleitam unicamente com odores que correspondem ao amor de sua sabedoria, enquanto que os espíritos no Inferno se deleitam unicamente com odores coque correspondem ao amor oposto à sabedoria; êstcs últi-mos odores são infecções, mas os odores precedentes S'10 CX31RgÕ"s odo-ríferas. Que os homens no Mundo impregnam seu sangue etc causas semelhantes segundo a correspond"'ncia de seu amor, isso é uma con-seqiiência, pois o que o espírito do homem ama, o sangue segundo a correspondência o deseja ardentemente, o pela respiração o aspira, Desta correspondência resulta que, quanto a seu amor, o homem é purificado se ama a sabedoria, e é maculado se não a ama; e mesmo tôda puri-ficação do homem se faz pelos veros que pertencem à sabedoria, e tôda maculação do homem se faz pelos falsos opostos aos veros da sabedoria.

421 – XV1I. O Amor ou a Vontade é maculado no entendimento e pelo entendimento, se não são elevados juntos. E’ porque se o amor não é elevado, permanece impuro, como acaba de ser dito, ns. 419, 420; e quando permanece impuro, ama as causas impuras, tais como as vinganças, os ódios, as fraudes, as blasfêmias, os adultérios, pois en-tão estão aí as suas afeições, que se chamam cobiças, e rejeita as cou-sas que pertencem à caridade, à justiça, à sincerid,".de, à verdade e à castidade. Diz-se que o amor é maculado no entendimento e pelo en-tendimento; no entendimen,to, enquanto o amor é afetado por estas causas impuras; pelo entendimento, enquanto o amor faz com que as co >ses que pertencem,”'¿ sabedoria se tornem suas escravas, e mais ainda quando as perverte, as falsifica e as adultera. Sôbre o estado do co-ração ou de seu sangue no pulmão, correspondente a estas causas, não é necessário dizer mais do que aquilo que foi dito acima, n. 420; sò-mente, em lugar da purificação do sangue se faz a sua corrupção; e

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em lugar da alimentação do sangue por exalações odoríferas, se faz uma alimentação por infecções, a¿hsolutamente como acontece no Céu c no Inferno.

422 – XVIII. O Amor pnrificndo pela sabedoria no Entendimento torna-se espiritual e celeste. O homem nasce natural, mas conforme o entendimento é elevado à luz do Céu, e o amor é elevado ao calor do Céu, êle se torna espiritual e celeste; torna-se então como o jardim do éden, que está na luz da primavera e ao mesmo tempo no calor da primavera. Não é o entendimento que se torna espiritual e celeste, ma,s é o amor, e quando o amor assim se torna, torna também espiri-tual e celeste o entendimento, sua espôsa. O amor se torna espirìtual e celeste pela vida segundo os veros da sabedoria que o entendimento ensina e mostra; o amor haure êstes veros pelo entendimento, e não por si mesmo; pois o amor não pode se elevar, se não sabe os ver.os, e não os pode saber senão pelo entendimento elevado e ilustrado, e então tanto quanto ama os veros e os faz, tanto é elevado; pois uma cousa é compreender, e outra cousa é querer, ou uma cousa é falar, e outra cousa é fazer; lerá os que compreendem e enunciam veros da sabe-doria, mas não obstante não os querem e não os fazem; quando por-tanto o amor faz os veros da luz que compreende e enuncia, entâo é elevado. Que assim seja, o homem pode ver pela razão só; pois o que í o homem que compreende e enuncia os veros da sabedoria, enquanto que vive contra èstes veros, isto é, enquanto que contra êles quer e fazP Se o amor puri.’icado pela sabedoria se torna espiritual e celeste, é porc¿ue há no homem três graus da vida, que são chamados natural, espiritual e celeste, de que se tratou na Terceira Parte desta Obra, e porque o homem pode ser elevado de um dêsses graus ao outro; mas é elevado não pela sabedoria só, mas pela vida segundo a sabedoria, pois a vida c'io homem é o amor do homem; portanto tanto quanto vive segundo a sabedoria, tanto ama a sabedoria; e vive segundo a sabe-doria tanto quanto se purifica das impurezas cpie são os pecados; e tanto quanto faz isso, tanto ama a sabedoria.

-í23 – Que o amor purificado pela sabedoria no entendimento se torna espiritual e celeste, não se pode ver do mesmo modo pela corres-pondência com o Coração e o Pulmão porque ninguém pode ver qual é o sangue, pelo qual o Pulmão é mantido no estado de sua respiração; o sa.ngu¿e pode estar cheio de impurezas, e não obstante êste sangue não é distinguido do sangue puro; e a respiração do homem inteira-mente natural aparece do mesmo modo semelhante à respiração do ho-mem espiritual; mas no Céu a distinção é perfeitamente feita, pois lá cada um respira segundo o casamento do amor e da sabedoria; é por isso que, como os anjos são conhecidos por êste casamento, são conhe-cidos t.":mbém pela respiração, o que faz com que, quando algum coque mão está neste casamento entra no Céu, é tomado de uma opressão do peito, e o sôpro de sua respiração luta como naqueles que estão na agonia da morte; então tais espíritos se lançam com precipitação para fora do Céu, e não têm repouso senão quando estão com acpiêles que têm uma respiração semelhante, pois então por correspondência estão em uma semelhante afeição e por conseguinte em um semelhante pen-samento. Por isto, pode-se ver que naquele que é espiritual, seu san-gue mais puro, cp.ie alguns chamam espírito animal, é o sangue que foi purificado, e coque tanto quanto o homem está no casamento cio amor e da sabedoria, tanto êste sangue foi purificado; é êste sangue mais puro que corresponde de mais perto a êste casamento, e como êle in-flui no sangue do corpo, segue-se que êste também é purificado por êle; dá-sc o contrário nacpieles em quem o amor foi maculado no en-te-ndimento. Mas, como já foi dito, ninguém pode por experiència ex-plorar isso pelo sangue, entretanto se pode pelas afeições do amor, pois coque estas afeições correspondem ao sangue.

424 – X1X. O amor macul¿rd.o no entendimento e pelo entendi-mento se torna natural, sensrial e corporal. O amor natural separado do amor espiritual é oposto ao amor espiritual; isto vem de que o amor riatural é o amor de si e o amor do mundo, e que o amor espiritual é o amor do Senhor e o amor do próximo; ora, o amor de si e do mundo olha para baixo e para fora, e o amor do Senhor olha para cima e para dentro; quando portanto o amor natural foi separado do amor espiritual, não pode ser elevado para fora do próprio do homem, mas aí permanece mergulhado, e tanto c¿uanto ama êste próprio, tanto é aí aglutinado; e então se o entendimento sobe, e vê pela luz do Céu as cousas que pertencem à sabedoria, êste amor o retira e o conjunta com êle em seu próprio, e aí rejeita as cousas que pertencem à sabe-doria, ou as falsifica, ou as põe em tôrno de si, a fim de falar delas tendo em vista a reputação. Do modo pelo qual o Amor natural pods por graus subir e se tornar espiritual e celeste, do mesmo modo tam-bém pode por graus descer e se tornar sensual e corporal; e quanto mais ama a dominação não por um amor do uso, mas unicamente pelo amor de si, tanto mais êle desce; é êste amor que é chamado o diabo. Aquêles que estão neste amor podem falar e agir da mesma maneira que os que estão no amor espiritual; mas então é ou pela mem6ria, ou pelo entendimento elevado por si mesmo à luz do Céu; não obstante as cousas que dizem e

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fazem são, por comparação, como frutos pare-cendo belos pela superfície, que estão inteiramente podres por dentro; ou como amêndoas que pela casca parecem sãs, mas em cujo interior estão inteiramente carcomidas pelos vermes; èstes exteriores, no mundo es-piritual, são chamados de fantasias, pelas quais as mulheres depravadas, que são chamadas Sereias, se revestem de beleza e se amam com ves-tidos decentes, mas não obstante aparecem como espectros desde que a fantasia foi repelida; são como os diabos cpie se fazem anjos de luz; com efeito, quando êste amor corporal retira seu entendimento da ele-vação, o que acontece quando está só e pensa por seu amor, então pensa contra Deus pela natureza, contra ú Ceu pelo mundo, e contra os ve-ros e os bens da Igreja pelos falsos e os males do inferno, assim contra a sabedoria. Por estas explicações pode-se ver quais são os que são chamados homens corporais; pois não são corporais quanto ao enten-dimento, mas são corporais c¿uanto ao amor, isto é, não são corporais quanto ao entendimento quando falam em sociedade, mas o são quando falam com ages mesmos em espírito; e como são tais em espírito, é por isso que depois da morte se tornam, quanto ao amor e quanto ao en-tendimento, espíritos cpic s ìo chamados espíritos corporais; então aquê-les que no mundo estiveram em um muito grande amor de dominar pelo amor de si, e ao mesmo tempo na elevação do entendimento acima dos outros, aparecem como múmias egípcias quanto ao corpo, e gros-seiros e loucos quanto à mente. Quem sabe no Mundo que tal é em si êste amorP Entretanto há um amor de dominar pelo amor do uso, mas pelo amor do uso não para si mas para o bem comum; o homem não pode fàcilmente distinguir um do outro, mas há entretanto entre êles uma diferença como entre o Céu e o inferno. Quanto às diferen-ças entre êstes dois amôres de dominar, ver no Tratado do Céu e do Inferno, os ns. 551 a 565.

425 – XX. Não obstante permanece a faculdade de compreender, que é chamada Racionalidade, e a faculdade de agir, que é chamada Liberdade. Tratou-se, acima, ns. 264 a 267, destas duas faculdades que o homem possui. O homem tem estas duas faculdades, para que possa de natural tornar-se espiritual, o que é ser regenerado; pois, como já foi dito, é o amor do homem que se tonta espiritual e é regenerado, e êste amor não pode se tornar espiritual ou ser regenerado, se não sabe por seu entendimento o que é o mal e o que é o bem, e por conseguinte o que é o vero, e o al .”. C.' (l falso; cpiando o sabe pode esco-lher um ou outro; e se escol!ie o bem, pode por seu entendimento ser informado dos meios pelos quais pode vir ao bem; todos os meios pelos quais o homem pode vir ao bem sÃo p ovidos; saber e cnmprecnder istes meios vem da Racionalicìade, querê-los e í'azê-los vem da Liber-dade; a liberdade, é também de cp¿ercr sabè-los, compreendê-los e pen-sar nêles. Cousa alguma destas duas Faculdades, que são chamadas Racionalidade e Liberdade, é conhecida daqueles que crêem, pela dou-trina da Igreja, que os Espirituais e os Teo16gicos estão acima do en-tendimento, e que por consec¿iiência é preciso crer nêles sem o entendi-mento; êstes não podem deixar de negar a faculdade que é chamada Racionalidade; e aquêles que crêem, pela doutrina da Igreja, que nin-guém pode fazer o bem por si mesmo, e que por conscqiic;ncia o bem não deve ser feito por alguma vontade tendo <:m vista a salvação, não podem deixar de negar por princípio de religião estas duas faculdades que o homem possui; é também por isso <adue acpiles cpc se confirmaram nestes princípios são, depois da morte, segundo sua fé, privados de uma e de outra faculdade; e coque estão na Liberdade infernal cpi;indo teriam podido estar na Liberdade celeste, e na Loucura infernal quando teriam podido estar pela Racionalidade na Sabedoria angélica; e, o que é surpreendente, êles reconhecem que estas duas faculdades exis-tem, quando se fazem os males e quando se pensa os falsos, não sa-bendo que a liberdade fazendo os males é a escravidão, e que a ra-cionalidade pensando os falsos é a irracionalidade. Mas é preciso que se saiba bem que estas duas faculdades, a Liberdade e a Racionali-dade, pertencem não ao homem, mas ao Senhor no homem, e que não podem ser apropriadas ao homem como sendo dêle, nem ser dadas como sendo dêle, mas que pertencem contìnuamente ao Senhor nêle, e que entretanto não são jamais retiradas do homem, e isso, porque sem elas o homem não pode ser salvo, pois sem elas não pode ser regenerado, como já foi dito; é por isso que o homem da Igreja é informado de que não pode pensar o vero por si mesmo, nem fazer o bem por si mesmo. Mas como o homem não percebe outra causa, senão que pensa o vero por si mesmo, e faz o bem por si mesma, é muito evidente que deve crer que pensa o vero como por si mesmo, e que faz o bem como por si mesmo; pois se não cn": isso, então ou não pensa o vero e não faz o bem, e assim não tem religião alguma, ou pensa o vero e faz o bem por si mesmo, e então se atribui o que é Divino. Que o homem deve pensar o vero e fazer o bem como por si mesmo, vê-se na Doutrina de Vid,a para a Nova Jerusalém, desde o comèço até ao fim.

426 – XXI. O Amor Espiritual e celeste é o Amor em relação ao pó-ximo e o amor para com o Senhor; c o amor natural e sensual é o amor do mundo e o amor de si. Pelo amor em relação ao pr6ximo, entende-se o amor dos usos, e pelo amor para com o Senhor entende-se o amor de fazer os usos, como foi mostrado acima. Se èstes amôres são es-

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pirituais e celestes, é porque amar os usos, e fazer os usos pelo amor dos usos, é separado do amor do próprio do homem; pois aquc,le que ama espiritualmente os usos não olha para si mesmo, mas olha os ou-tros fora dêle, de cujo bem é afetado; a èstes amôres são opostos os amôres de si e do mundo, pois êstes olham os usos, não tendo em vista os outros, mas tendo em vista a êles mesmos, e os que fazem isso invertem a ordem Divina, e se colocam no lugar elo Senhor, e co-locam o mundo no lugar do Céu; resulta daí que olham para trás do Senhor e do Céu, e el%ar para trás do Senhor e do Cá;u, é olhar para o inferno; ver maiores detalhes sôbre êstes amôrcs, acima, n. 424. Mas o homem não sente e não percebe o amor ele fazer os usos tendo em vista os usos, como o amor de fazer usos tendo cm vista a ì’le mesmo; daí vem que ignora, quando faz usos, se os faz tendo em vista os usos ou tendo em vista a êle mesmo; que ì;le saiba, porém, cnic tanto «manto foge dos males, tanto faz os usos tendo em vista os 1'5'.li, pois ianto quanto foge dos males, tanto faz usos não por si mesmo, mas pelo Senhor; com efeito, o mal e o bem são opostos, portanto tanto c¿uanto alguém não faz o mal, tanto está no bem; ninguém pode estar ao mesmo tempo no mal e no bem, porque ninguém pode servir,".o mesmo tempo a dois senhores. Isto foi dito, a fim de cpie se saiba <pôde, embora o homem não perceba sensìveImente se os usos que faz são em vista dos usos, ou se são em vista dêle mesmo, isto é, se os usos são espirituais, ou se são simplesmente naturais, contudo pode sabê-la desta m¿neira: Pensa êle que os males são pecados, ou pensa êle que não são peca-dosP. Se pensa que são pecados, e que por isso mesmo não os í'az, então os usos que faz são esgirituais; e quando por aversão foge dos pecados, então começa tambem a perceber sensìveImente o amor dos usos tendo em vista os usos, e isso pelo prazer espiritual puc está nêles,

427 – XXII. Dá-se com a caridade e a fé, e com a oea conjun-ção, o mesmo que com a vontade e com o entendimento, e com ma conjunção. Há dois amôres segundo os quais os Céus são distinguidos, o Amor celeste e o Amor espiritual; o Amor celeste é o amor para com o Senhor, e o Amor espiritual é o amor em relação ao pr6ximo; êstes Amôres são distinguidos por isto que o Amor celeste é o amor do bem, e que o Amor espiritual é o amor do vero, pois os que estão no amor celeste fazem os usos pelo amor do bem, e os que estão no Amor es> piritual fazem os usos pelo amor do vero; o casamento do Amor ce-leste é com a sabedoria, e o casamento do Amor espiritual é com a inteligência, pois é da sabedoria fazer o bem pelo bem, e é da inte-ligência fazer o bem pelo vero; é por isso que o Amor celeste faz o bem, e o Amor espiritual faz o vero. A diferença entre êstes dois amô-res não pode ser descrita senão por estas distinções: os que estão no Amor celeste têm a sabedoria inscrita em sua vida e não na mem6ria, o que faz com que não falem dos Divinos veros, mas que os façam; ao contrário, os que estão no Amor espiritual têm a sabedoria inscrita em sua memória; por isso êles falam dos Divinos veros, e os fazem se-gunclu (os princípios da memória. Como anu<';les coque estão no Amor tèm a sabedoria inscrita em sua vida, tudo o cpie ouvem, êles percebem imediatamente se isso é vero ou não é vero, e <peando se lhes pergunta se isso é vero, re.;pvnc1c.m sòrnente: Isso é; ou: Isso não é; são èles que suo entendidos por estas palavras do Senhor: “Que vosso discurso seja: Sim, sim; não, não” (Mat. 5., 37) ; e porque são tais, nada c¿uerem ouvir da fc, dizendo: O que é a fés Não é a sabedoria? E o que é a caridade‘? Não é fazerP E quando alguém lhes diz que a fé consiste em crer o que não se compreende, êles se afastam, dizendo: Está em delírio. São eles que estão no Terceiro Céu, e cpe são os mais sábios de' todos. Assim se tornaram a<¿uèles que, no Mundo, aplicaram imedia-tamente à sua vida os Divinos que ouviram, detestando os males como irifernais, e adorando o Senhor só. Estes, como são inocentes, aparecem aos outros como crianças; e como não falam absolutamente dos veros da sabedoria, e como em sua linguagem nada há de faustoso, aparecem também como simples; mas não obstante quando ouvem alguém falar, percebem pelo som tôdas as causas de seu amor, e pelas palavras tô-das as causas de sua inteligència. São êles que estão pelo Senhor no Casamento do amor e da sabedoria, e cpie representam o Cardíaco do Céu de que se ìalou acima.

428 – Mas aquêles cpe estão no Amor espiritual, inv é o amor cm re!ação ao próximo, não tèm a sabed. ;¿.¿. inscrita em si!a vid.i, mas t"”m a inteligência, pois é da sabedoria fazer o bem pela afeição do bem, mas é da inteligência fazer o bem pela afeição do vero, como jA foi dito; êstes não sabem também o que é a fé; se se menciona a fé, êles entendeni a verdade; e quando se menciona a caridade, cntendem fazer a verdade; e quando se 1!res diz que é preciso crer, dizem que issd é uma locução vã, e acrescentam: Quem não crê o vero'? exprimem-se assim, porque vêem o vero aa luz de seu Céu; crer também no que não se vê, cliainam isso de simplicidade ou de estupidez. São èles que fazem o Pulmonar do Céu, de que também se falou acima.

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429 – Quanto àqueles que estão no Amor natural-espiritual, êles não têm inscritas em sua vida nem a sabedoria nem a inteligência, mas têm alguma cousa da fé pela Palavra, tanto quanto isso está con-junto à caridade. Como èstes não sabem o que é a caridade, nem que a fé é a verdade, não podem estar nos Céus entre aquèles que estão na sabedoria e na inteligência, mas podem estar entre aquèIes que estão na ciência s6. Todavia, aquêles que fugiram dos males como pecados estão no último Céu, e aí em uma luz semelhante à luz noturna da lua. Mas aquêles que não se confirmaram na fé do desconhecido, e que estiveram ao mesmo tempo em alguma afeição do vero, êstes, de-pois de terem sido instruídos pelos anjos segundo a recepção das verdades e a vida conforme a essas verdades, daqueles r>ue estão no amor espiritual e por tornam-se espirituais, os outros permanecem les, ao contrario que viveram na fé separaàa e relegados para desertos, por<pie não esmo conseqiiêneia em casamento algum do bem todos os que estão nos Céus.

são elevados à sociedade conseguinte à inteligência; naturais-espirituais. Aquê-da caridade são afastados.-

e do vero, em que estão

430 – Tudo o que, nesta Parte, foi dito do Amor e da Sabedoria, pode ser dito da Caridade e da Fé, desde que em lugar da Caridade se cntenda o Amor espiritual, e em lugar da Fé se entenda a Verdade pela qual existe a inteligência; é a mesma causa dizer a Vontade e o Entendimento, ou dizer o Amor e a Inteligência, pois que a Vontade é o receptáculo do amor, e o Entendimento é o receptáculo da inteligência.

431 – Ao que precede ajuntarei èste mnnorável: Fio Céu todos os que fazem os usos pela afeição dos usos tiram cìa comunhão, em que estão, o fato de serem rnai:, sábios e mais feiizes do que os outros; e aí, para êles, fazer usos, é agir com sinceridade, retidão, justiça e fidelidade na obra cpie pertence a sem ofício; chamam a isto caridade; as adorações que são do c:oito, as chamam sinais da caridade; e tôdas as outras causas, as chamam dívidas e benefícios; dizem cpie quando alguém faz com sinceridade, retidão, justiça e fidelidade, a obra que pertence a seu ofício, o Comum subsiste e persiste cm seu be!a, e que .é isto estar no Senhor, pois cpie tudo o que influi do Senhor é uso, e influi das partes no comum, e cio comum para as partes; lá, as partes são os anjos, c o comum é sua sociedade.

pial d o comigo do homem a partir da concepção

432 – Qual é o comêço ou o primitivo do homem no útero após a concepção, ninguém o pode sabei, porque isto não pode ser visto; e também porque isto vem de uma substância espiritual, que não cai sob a vista pela luz natural. Ora, como alguns homens no Mundo sío de uma tal natureza, coque levam suas investigações mesmo ao Primitivo do homem, primitivo que é a semente do pai, pela qual se faz a con-cepção; e como vários dentre êles caíram neste èrro, que o !iomem está em seu pleno desde seu primeiro, que é sua inco.”.ção, e que em se-guida se aperfeiçoa crescendo, í'oi-me descoberto qual é em sua forma esta incoação ou êste primeiro; isto me foi descoberto pelos anjos a quem o Senhor o havia revelado; êstes tendo feito disto um ponto de sua sabedoria, e o prazer de sua ;abecloria sendo comunicar aos ou-tros o que sabem, apresentaram por permissão diante de meus olhos, na luz do Céu, a forma inicial do homem em um t!po; eis qual era esta forma: Foi vista como uma pequeníssima imagem do cérebro com uma ligeira delineaç,¿o de uma cs¿iécie de face pela frente, sem apêndice. Rste primitivo, na parte superior protuberante, era um agregado de glóbulos ou de pequenos v.sferas contíguas, e cada pecpiena esfera era composta de esferas ainda menores, e cada uma destas era igualmente composta de esferas exc ssivamente pequenas; assim era de três graus; mais para diante, na parte chata, em lugar de face aparecia alguma causa esboçada (elelinetum quid) . A parte convexa era cercada por uma tenuíssima membrana ou mcníngea, que era transparente; a parte pro-tuberante, coque era o tipo do cérebro nos muito pequenos, era também dividida em dois leitos, do mesmo modo que o cérebro nos muito gran-des é dividiclo em dois hemisférios; e me foi dito que o leito direito era o recept;ículo do amor, e o leito esquerdo o receptáculo da sabe-dori;¿, c que por admiráveis enlaçamentos eram como associados e com-panheiros. Além disso, na luz do Céu, que brilha, me foi mostrado que o agregado dêste pequeníssimo cérebro estava interiormente, quanto ao sítio e à fluxão, na ordem e na forma do Céu, e que seu agregado ex-terior estava em oposição

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com esta ordem e esta forma. Depois que vi e examinei estas causas, os Anjos me disseram que os dois graus in-teriores que estavam na ordem e na forma do Céu, eram os receptá-culos do amor e da sabedoria procedendo do Senhor; e que o grau ex-terior que estava cm oposiç;io com a ordem e a forma do Céu, era o receptáculo do amor infernal e da loucura infernal; e isto, porque o homem, pela mancha hereditária, nasce nos males de todo gênero, e que ê¿ies males residem aí nos extremos; e que esta mancha não é afastada, a não ser que sejam abertos os graus superiores que, como foi dito, são os receptáculos do amor e da sabedoria procedentes do Senhor; e corno o Amor e a Sabedoria, são o homem mesmo – pois o Amor e a Sabedoria em sua essc‘ncia, são o Senhor – e que êste pri-mitivo do homem é um receptáculo, resulta daí que por conseguinte há neste primitivo um csfôrço contínuo para a forma humana que êle re-veste mesmo sucessivamente.

Fim'

ÍNDICE ALFABÉTICO E ANALÍTICO

Observação: Os números referem-se aos parágrafos e não às páginas. Sign. é a ab”eviatura de significa ou significam.

A

ABELHAS, 61. Seus trabalhas maravilhosos, 355, 356.

ABUSO da liberdade e da racionalidade, 267. Abuso da faculdade de elevar o entendimento acima do amor, 395. Abuso dos usos; não retira o uso, 331.

ANÃO E RVAÇÃO. Ã vida só é a ação, 68. A reação é excitada pela ação da vida, 68. Nos muito grandes e nos muito pequenos do universo, tanto vivos como mortos, há ação e reação, 63. Sem a reação, a ação cessaria, 260. Da açao e da reação vem o equilíbrio de tôdas as ccusas, 68, 263.

ÁCAROS. De onde tiram sua origem, 338, cfr. 339.

ACONlTOS. De onde tiraram sua origem, 339.

ADÃO, 287, 325. F.rros a resp¿ito de Adão, 117, 269.

ADORAgÃO (A) decorre da humilhação, 35.

AFEIÇÃO (A) é uma determinação do amor, 410. Ela pertence à vontade, qoroue pertence ao amor, 372. Tem sua origem no Divino Amor, 33. A afeição não é possível senão por meio de atm,osferas mais puras do que o ar, 176. Da afeicão de saber resulta a afeição do vero; da afeição de compreender resulta a percepção do vero; e da afeição de v<:r a causa, resulta o pensamento, 404. A afeicão está no pensamento como o som está na linguagem, 372. A afeição não é percebida senão por um certo prazer de pensar, de falar e de fazer, 364. A .efem:¿c., o pensam nto e a ação estão em orclem segundo os graus discretos, 214. As afeições que pertencem ao amor aparecem em uma sorte de efígie na face, e os pensamentos que pertencem à sabedoria, aparecem, em uma sorte de luz nos olhns, 365. As afeições são substâncias e formas reais e efetivas, e nao abstra-çÃes sem substância nem forma, 12, 224, 346; elas não existem fora dos su-jeitos, 209, 224, 291. Tôdas as operaçoes do amor ou da vontade, fora do en-

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t.'ndimento, se referem, não às afeições do vero, mas às afeições do bem, 404. As afeições do amor correspondem ao sangue, 423. Ver PENSAMENTO.

ÁGUAS (As) são fôrças médias, 378. No Mundo espiritual há águas como ;¿o Vlundo natural, mas são espirituais, 173 a 178.

ALMA (A) quanto a seu ser mesmo, é o amor e a sabedoria procedentes do Senhor, e por conseguinte a vontade e o entenciime:;to. 395. 398. Nâo há alma sem seu corpo, ne;u co-po ."m ¿ ia urna, 14. Tábua a!r,:a do h-:¿-,-,-i em um corpo espiritual, depois de ter rejeitado os despojos materiais que tinha em tôrno de si no mundo, 14. Pesq'.isas infrutífera,s dos sábios sôbre a oper-ç;¿o da alma no corpo, 394. Como a alma age no corpo e aí opera tudo, 398 a 431. Alm,a das bêstas, 346. Na Palavra a alma sign. o entendimento, 383; e tam-bém a sabedoria do entendimento, 383.

AI.MA DIVINA (Pela) de Deus-Homem, é entendido o Divino Ser, 14.

ALTÍSSIMO (O), sign. o íntimo, 103.

ALTURA (A) na Palavra sign. os graus do bem e do vero, 71. No i%1undo espiritual, o sol aparece em uma altura média; por quê?, 105.

AMAR. E’ seritir o prazer de outrem ccmo um prazer em si; mas sentir seu prazer em um, outro, e não o prazer do outro em si, não é amar, 47.

AMOR (0) é a vida mesma, 1 a 3, 399, 406. E’ o ser da vida do hon.em, 14, 358, 368. A essência de todo amor consiste na conjunção, 47. A conjunção do amor existe pelo recíproco, 48. O amor consiste nisto, que o seu seja para um outro, e que êle sente o prazer do outro como um prazer em si, 47. O amor tem por fim e por intenção o uso, e produz o uso pela sabedoria, 297. O amor sem a sabedoria é como o ser sem o existir, 13. O amor e a sabedoria são uma substância e uma forma reais e efetivas, que constituem o sujeito mesmo, 40, 224; não são abstrações, não existem fora de seu sujeito, mas são os estados do sujeito, 209, 224. O amor celeste é o amor para com o Senhor ou o amor do bem, 426, 427. Os que estão neste am,or têm a sabedoria inscrita em sua vida, 427, 428. O amor para com o Senhor não é outra cousa senão aplicar à vida os preceitos da Palavra, que em suma consistem em fugir dos males como peca-dos, 237. Por êste amor é entendida o amor de fazer usos, 426, ver tamhém i4;, 342, 407. O amor espiritual é o amor em relação ao próximo, ou o amor do vero, 426, 427. Gs @”e e¿:.“. neste amor têm a inteligência inscrita em sua vida, 427, 428. O amor em relação ao próximo é o a-ar espiritual dos usos, 237. Por êste ardor é entendida o a¿or dos usos, 426. O amor natural, por oposição ao amor espiritual, é o amor de si e do mundo, 424, 416. O amor natural se-parado do amor espiritual se torna sensual e corporal, 424. O amor de si e o amor do mundo são amôres infernais, 396; mas são celestes por criação, pois são os amôres do homem natural, que servem aos amôres espirituais como os fundamentos servem às casas, 396. Am,or natural-espiritual, 429. Amor natural-corporal, 419. Amor corporal, 424. Amor de dominar pelo amor de si. 14', 424. Amor de dominar pelo amor do uso, 142, 124. Ver também fndice Geral, Quinta Parte.

ANATOMIA. Provas e confirmações tiradas da anatomia dos cérebros, 366: do coração, 399; do embrião, 401; sôbre a formação do pulmão pelo coração, 402; sôbre a conjunção do coração e do pulmão, 403, 408; sôbre a estrutura do pul-mão, 405, 412; sôbre a respiração do pulmão, 408; sôbre as operações do co-ração, 410; sôbre as artérias, as veias e os vasos aeríferos, 412; sôbre a purifi-cação e a alimentação do sangue, 420. Ver também, 365, 373.

ANGÉLICO (0) consiste na recepção do amor e da sabedoria em igual quan-tidade, 102. O angélico mesmo do Céu é o Divino Amor e a Divina Sabe-doria, 114.

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ANIMAIS. De onde tiram sua origem, e como são produzidos, 340, 351, 346. Há nêles os graus de um e outro gênero, 225. Maravilhas que apresenta seu c,¿rátei, 60, ()l. Cic;vicia c’.cs an!mi-ia il'Si‘i;(JÁ nêles, 134. Onda de eflíív!os emanam dêles sem cessar, 293. Os animais que aparecem no Mundo espiritual são puras correspondências, 339,

ANIMAL ( R "ino) . Form,"..', de usos cl¿sie Reino, 3 l 6. Relação com o ho-mem em tôdas e cada uma das cousas do reino animal, 64.

ANIMÁLCULOS nocivos. Sua origem, 341, 342, 343.

ANJO. O amo", e a sabedoria faz”m o anjo, c ês(es dois pertencem ao Senhor, por isso os anjcs são anjcs ¿. la Scr,hor, e não por êles mesmns, 114. Os. anjos têm corno os homens um interno e um externo, 87. Fies respiram, falam e ouvem no mundo espiritual como os homens no mundo natural, 176. Há nêles tôdas e cada uma das causas que estão nos homens na terra, 135. Aparecem no lugar em que está seu pensamento. 285. Tudo que aparece em tôrno é como produzir!o e criado por êles, 322. O anjo do Céu e o homem da Igreja fazem um por correspondência, 118. Quando os anjos falam com o homem, é em uma língua natural, que é a língua própria do homem, 257. O prazer da sabedoria dos anjos é comunicar aos outros o que êles sabem, 432. Ver também fndice Geral, Segunda Parte.

ANOS (Os) na Palavra sign. estados, 73.

ANTEPASSADOS E AVÓS. Os males hereditários vêm dos p’is, dos ante-passados e dos avós, 269.

ANTERJORES (Os) se compôem de seus primeiros, 208. Êles são mais perfeitos do que os posteriores, 204. Pelos anteriores pode-se ver os posteriores, mas pelos posteriores não se pode ver os anteriores, 119.

ANTfPODAS. Comparação com os antípodas, 275.

AORTA, 405, 412, 413, 415.

APARÊNCIAS (As) são as primeiras causas de que a mente humana forma

entendimento, e não pode dissipá-ias senão pela pesquisa das causas, 40.

Enquanto as aparências permanecem aparências, elas são verdades aparentes; mas

quando são confirmadas, se tornam falsidades e ilusões, 108. Falar pelas apa-

rências, 349. Ver também 7, 10, 73, 109, 110, 113, 125, 363.

APETITES (Os) são derivações do amor ou da vontade, 363.

AR. E’ a ííltima das três atmosferas, 176. Sua pressão e sua ação sôbre os corpos, 176.

ARANHAS. Sua origem, 339.

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ARCANOS. Concernentes ao Senhor, 221, 223; à Palavra, 221; à mente na-tural do homem, 257; ao sol do Mundo espiritual, 294.

ART&RIAS. Pulsação das artérias nos espíritos e nos anjos, 391, 399, 400, 405, 408. Artérias bronquiais, 405, 407, 413. Artérias pulmonares, 405, 407, 413, 420. As artérias correspondem às afeições; e no pulmão às afeições do vero,. 412, 420.

ÃRVORES E ARBUSTOS, Como são produzidos, 346. Há nêles os graus de .um e outro gênero, 225. Ondas de eflíívios emanam sem cessar das árvores e dos arbustos, 293.

ASCENSÃO (Tríplice) dos graus de altura, 235. Há seis graus de ascenção; .a saber, três no mundo natural, e três no mundo espiritual, 66, 67.

ASFIXIADOS (Estado dos), 407.

ASS1RIA ou Aschur, na Palavra sig. a Igreja quanto à inteligência, 325.

ATENÇÃO (A) é uma derivação da sabedoria ou do entendimento, 363.

ATEUS. Os que se tornam ateus, 349. Sua posição no mundo espiritual, 337.

ATMOSFERA (A) é o receptáculo e o continente do calor e da luz, 183, 191, 296, 299. Há três atmosferas no mundo espiritual, e três atmpsferas no mundo natural; elas são semelhantes, mas aquelas são espirituais e estas são naturais, 173 a 178. Umas e outras são substâncias discretas ou formas muito pequenas, 174. Diferença entre as atmosferas espirituais e as atmosferas naturais, 175. As atmosferas em um e outro mundo, terminam em seus últimos em subs-tâncias e em matérias, tais como as que estão nas terras, 302 a 304. A respi-ração, a linguagem e audição, se fazem pela última atmosfera, que é chamada ar; a vista não é possível senão por uma atmosfera m.ais pura do que o ar; o pensamrento e a afeição não são possíveis senão por meio de atmosferas ainda mais puras, 176. Tôdas as causas dos corpos, dos espíritos e dos anjos são conti-das em um vínculo, as cousas externas pel,”. atm,osfera aérea, e as internas por .atmosferas etéreas, 176, cfr. 152. As atmosferas são fnrças ativas, 178. Há .nelas os graus de um e outro gênero, 225. Ver também, 147, 158, 184, 300, 310.

ATRIBUTOS (Todos os) seguem seus sujeitos, 200.

AUDIÇÃO (A) se faz pela última atmosfera, que é chamada ar, 176.

AURÍCULAS, 403, 408. ÁZIGOS, 405.

B

BAgO. Pelos sentidos o hon>em na<la sabe de seu baço, ‘22. BASILiSCOS. De onde tiraram sua origem, 341, cfr. 339. BELEZA (A) dos anjos é a forma de seu amor, 358, 411.

BEM. Tudo que procede do amor é chamado bem, 31. Tocto bem pertence

.ao amor, 84, 402, 406; ou ao calor espiritual, 253. O homem não pode fazer

o hem por êle mesmo, mas o faz pelo Senho,, 355. Todo bem procede do Senhor,

c nada do bem vem do homem, 394. Todos os bens que existem em ato são

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chamados usos, 336. Tôda potência do bem ;e exerce pelo vero, 406. O bem

está no vero e age pelo vero, 406.

BÊSTAS. Porque elas nâo poclem falar, ‘255. O homem .ien¿ual n;io difere .da bêsta senão porque pode encher s!ia memória de cientificw, e por êles pen-sar e falar, 255. Ver também 345.

BOCA de Deus, 18.

BORBOLETAS. Metamorfose dos vermes em borboletas, 351.

BRAÇOS (Os) na Palavra sign. a potência ou poder, 220. O braço di-reito se refere ao bem do vero, e o braço esquerdo ao vero do bem, 384, 409.

BRANCO (0) corresponde à sabedoria, 380.

BRûNQUIOS DO PULMÃO, 405, 413, 415.

RUFOS; de onde tiraram sua origem, 339.

C

CABE(A (A) dirige o corpo a seu bel-prazer, pois na cabeça reside o en-tendimento e a vontade, 25. Cabeça para baixo e pés para cima, 275. Três cabeças sôbre um único corpo, 24.

CALOR (0) que procede do sol espiritual é em sua essência o amor, 5, 32,

363, O primeiro procedente do amor é o calor, 95. Há um calor contínuo no

mundo espiritual, 161. O calor do mundo espiritual é em si vivo, e o calor

do mundo natural é em si morto, 89. O calor do mundo pode ser vivificado

pelo iníluxo do calor do Céu, 88. O calor não existe no amor mesmo, mas

pelo amor existe na vontade, e por conseguinte no corpo, 95. O calor espiritual

o bem da caridade, 83, 84. Não é adquirido senão fugindo dos males como

pecados, 246. O calor corresponde ao amor, 32. Ver também índice Geral, Se-

gunda Parte.

CAMINHOS no mundo espiritual, 145.

CANAL. O estado desta terra conforme o estado dos filhos de Israel, 345.

CANAIS pulmonares. Sua existência nos insetos microscópicos, 373.

CARD1ACO do Céu (0) é o Reino onde reina o amor, 381, Lá estão os que estão no amor para com o Senhor, 427. Ver também 391, 392.

Page 121: A SABEDORIA ANGÉLICA

CARIDADE (A) é tôda obra da f¿!nç5o que o homem faz pelo Senhor, 253. A caridade e a ié são os essenciais da Igreja, 253. A caridade e a fé são t:ma substância e uma forma, e não ahstrações; não existem fora dos sujeitos, que são substâncias, elas porém são os estados dos sujeitos, 209, cfr. 42. A caridade, a fé e a boa obra, estão em ordem segundo os graus discretos, 214. A caridade consiste, para os anjos, em agir com sinceridade, com retidão, jus-tiça e fidelidade na obra que pertence a seu ofício, 431.

CARTlLAGE%iS. Donde vêm, 401.

CASA (Pela) é entendida o homem todo, 408.

CASCAS. Como as vegetações se fazem pelas cascas, que são os últimos dos caules, 314.

CAULES (Os) nas formas do reino vegetal são os últimos, e as cascas são os últimos dos caules, 314. Os caules recobertos de cascas assemelham se ao globo recoberto pelas terras, 314.

C:AUSA. Não há causa só sem um fim de que ela provém, e sem um efeito no qual ela esteja, 167. Na causa instrumental a causa principal não é percebida senão como sendo um com ela., 4. Nada do que concerne a causa pode se mostrar na verdade, sem o conhecimento dos graus de um e de outro gên-ro, 188. Tôdas as causas estão no mundo espiritnal, 119. Nas causas nada há de essencial senão o fim, 197. As causas produzem os efeitos, não pelo con-tínno, mas pelo discreto, 185. As causas põem em evidência os efeitos, L19. Saber os efeitos pelas causas é ser s;íbio; ao contrário procurar as causas pelos efeitos não é ser sábio, 119. As causas podem ser vistas racionalmente, é verdade, mas não claram,ente, a nâo ser pelos efeitos, 375. Ver Fim e Efeito.

CELULOSA (Substância) do pulmão. Em que consiste, 413.

CEREBELO (0) é,principalmente para a vontade, 484.

CÉREBRO. Sua organização, 366, 373, 432. Lesão cio cérehro, 365. Os dois cérebros continuados da cabeça à espinha do dorso, 366. A vida do homem est.”í em seus princípios nos cérebros, e nos principiados no corpo, 365. No cé-reb. o há inumeráveis substâncias e inumeráveis formas nas quais reside todo sentido interior que se refere ao entendimento e à vontade, 4?. O cérebro propria-mente cìito é principalmente para o entendimento, 384. Ver tamlbém, 367, 370, 409, 432.

C&U (Todo o) e tôdas as cousas do Céu se referem a um só lìeus. ZS, 26. Todo o Céu no complexo representa um único homem, 288, 381. O Céu foi dis-tinguido em regiões e em províncias segundo os membros, as vísceras e os órgãos do homiem, 288. Há três Céus dispostos em ordem segundo os graus de altura, 20”, 275. Os Céus sáo distinguidos em dois reinos, o celeste e o espiritual, 381.

CHEIRAR se diz da percepção, 363.

ClCUTAS. Donde tiraram sua origem, 339.

CIÊNCIA DOS GRAUS (A) é como uma chave para abrìr as causas das causas, e para aí entrar, 184.

Page 122: A SABEDORIA ANGÉLICA

CIBNCLAS (As) são usos para aperfeiçoar o racional, 332. As ciências in-fluem do mundo espitit"a!, e são recebidas, não pelo entendimento, mas pelo amor ou a vontade segundo as afeições do entendimento, 410.

CINZENTA (Substância) do cérebro. Em que consiste, 316.

CIRCUNGIRAgÃO (A) segue o fluxo dos interiores que pertencem h mente, 270. Circungiração da direita para a esq ierda, e da esquerda para a direita, 270.

CIV1L. Tôdas as causas que são chamadas civis, são substâncias não abs'raçôes; não exi,;tem fora aos sujeitos, que são subst5ncias, elas porém são estados dos sujeitos, 209.

COMPOSTOS (Todos os) consistem em graus de altura ou discretos, 184, 190.

COMPRIMENTO (0) na Palavra sign. o bem da causa, 71.

COMUM (0) existe pelas partes, e as partes subsistem pelo comum, 367. O comum tira seu todo dos particulares de que se compõe, 137.

CO%1UNICAC'ÁO (A) entre os tris Céus se faz por correspondências, 202; dn .."."mo n;o¿o a ccmunicacão entre o homem natural e o homem espiritual, 252, cfr. 90. A comunicacno pehs co: respondências não é sentida, 238. Não é percebida no entendimento sen.’io quanclo os veros são vistos na luz, e não é perceb!.da na vontade senão quando os usos ;õo preenchidos por afeiç;io, 252.

COiNCEPí.ÃO (A) do homem pelo pai não í a conceoção da vida, 6.

CONCLUSÃO (A) é uma derivação do amor e da sabedoria, ou da von-tade e do entendimento, 363.

CONEXÃO desde os primeiros até aos ííltirnos; donde ela vem, 226.

CúNFIRMAgOES para o Divino pelas maravilhas da natureza, 351 a 356. Confirmações para a natureza; que cada um se guarde de1as, 357. As confir-mações do mal e do falso fecham o Céu no homem, 268.

CONFlRMAR. O homem natural pod¿ confirmar tudo que quiser, 267. Os males e os falsos de todo género podem ser confirmados, 267. Quando são con-firmados no homem, permanecem e se tornam cousas de seu amor e de sua vida, 268.

CONJVNgÃO. Para que haja conjunção. é preciso que haja o recíproco, 115, 48, 4i0. Conjunção do Senhor e do anjo, 115; do espírita do homem e do corpo, 390; da vontade e do entendimento; da caridade e da fé; do amor e da sabe-do.ia, 371 a 431. A conjunçâo do amor e da sabedoria pode ser vista como efígie na conjunção do pulmão com o coração, 415. A conjunção pela corres-pondên;ia é tal, que do modo como u.:i age do mesmo modo age o outro, 40'.

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CONSENTIMENTO (0) é uma derivação do antr e da sabedoria, ou da vontade e do entendimento, 363.

CONTEXTURA dos membros, dos órgãos e das vísceras do homem, 370.

CONTíGUO. E’ pelo contíguo e n ìo pole contínuo que há conjunção com Deus, 56.

CONTÍNUO. O influxo não pode se fazer pelo contínuo, se faz pelas cor-responòéncias, 88. O Divino não estando no espaço, não é tampouco coniínuo, como é o íntimo da natureza, 285.

CONTRAgÃO (A) do grau espiritual é como a retorçCio de uma espiritual em sentido oposto, 254.

CORADO (0) e o pulrqão são as duas fontes do movimento da vida, 291. Enquanto o coração bate, o amor com seu calor vital permanece e conserva a vida, 390. Quanto mais o coração é considerado interiormente, m,ais aí se des-cobrem maravilhas, e perfeições, segundo os graus discretos, 201. O coração corresponde à vontade, 378; e também ao amor ou ao bem, 402. Coração de Deus, 18. O coraçâo na Palavra sign. o amor da vontade, 383.

CÔRES. Há côres de tôda espécie no mundo espiritual, 380. As côres ver-melha e branca são as côres fundamentais, e tôdas as outras tiram sua variedade destas duas côres e das côres apostas, que sGn o ruco e o nr¿to, 380. Ver tam-.bém 348.

CORPO (0) do homem é o externo pelo qual a mente ou o espírito sente e age no mundo, 386, 369. Tôdas as causas do corpo são principiados, isto é, foram tecidas por fibras provenientes dos princípios que são os receptáculos do amor e da sabedoria, 369. Tôdas as causas do covpo se referem ao coração e ao pulmão, 372. A vida do corpo depende da correspondência de sua pulsação e de sua respiração com a pulsação e a respiração do espírito, 390. A forma do corpo corresponde à forma da vontade e do entendimento, 136. Formação do corpo no útero, 400. Os corpos dos homens, se não estão sob um e outro sol, não podem existir nem subsistir, 112. Corpo espiritual; quais são as sabs-tâncias que fazem seu invólucro cutâneo, 257 cfr. 388.

CORPO DIVINO (Pelo) de Deus-Homem, é entendida o Divino Existir, !4.

CORPORAL. Homens corporais; espíritos corporais; quais são êles, 424.

CORRESPONDÊNCIA. Há correspondência dos espirituais com os naturais. e por esta correspondência se faz sua conjunção, 374. Não há causa alguma no Universo, que não tenha uma correspondência com alguma cousa do homem, não sdmente coro suas afeições e seus pensamentos, mas também com os 6rgãos e as vísceras de seu corpo, não com êles como substâncias, mas com êles como usos, 324. As cousas que se correspondem agem da mesma maneira, com esta diferença que uma é natural e a outra espiritual, 399. Sôbre as principais corre@»ndências dos naturais com os espirituais, ver 377. Ver também fndice Geral, Quinta Parte.

CORTICAL (Substância) do cérebro; em que ela consiste, 366, 373.

CORUJA. Donde tiram sua origem, 339.

Page 124: A SABEDORIA ANGÉLICA

COSTELAS; sua relação com o pulmão, 403, 408.

CRER no que nao se compreende não é a fé, 427. Crer cegamente na-quilo que os Concílios e os chefes da Igreja estabeleceram, é afastar de suas vistas tôdas as causas da religião, que são chaaiadas espirituais, 374.

CRIAÇA,O DO HOMEM, 35S. Ver fndice Geral, Quinta Parte.

CRIADO DO UNIVERSO, 52 a 60, 151 a 156, 163 a 172. Não foi feita de um espaço a um espaço, nem de um tempo a um outro, 156. Pode ¿ apreen-dida, se o tempo e o espaço forem afastados do pensamento, 155. O fim da criação é que tôdas as cousas voltem ao Criador, e que haja conjunção, 167, 172. O fim da criação do universo é o Céu angélico com o gênero hunmno, 329. Em tôdas as formas dos usos há alguma imagem da criação, 313 a 316. Ver também índice Geral, Quarta Parte; e 151 a 166.

CRIAR. Todo objeto criado é finalmente para o homem, 170. Em todo objeto criado há três cousas, o fim, a causa e o efeito, 154. Ser criado se-gundo a imagem e semelhança de Deus, é ser criado segundo a forma do amor e da sabedoria, 287, 358.

CROCODILOS; donde tiraram sua origem, 339, 341.

CULTO íO) decorre da humalhação, 3'35. O culto do sol é o mais baixo de todos os cultos de Deus, 157.

DECRESCiMENTO (0) do calor e da luz espirituais se faz pelos graus de largura, 94, 186. No Céu e em cada sociedade do Céu, há decrescicnento da luz desde o meio até aos limites, 2S3.

DESEJOS (Os) são derivações do amor ou da vontade, 363.

DESFAI EC1MENTO. Estado dos que caem em desfalecimento, 407.

DEUS é o Amor mesmo, porque é a Vida mesma, 4 a 6. Nao está no-espaço, 7 a 10, 21. E’ o Homem Mesmo; ] I a 13, 16, 97; existindo não por si, mas em si, ]6. Tôdas as cousas do universo criado, consideradas segundo os usos, representam em imagem o homem, e isso atesta que Deus é Homem, 319 a 326. Deus em sua essência mesma, é chamado Jeová, 100. Deus s6 é a substância em si, e por conseguinte o Ser mesmo, 283. Em Deus nós vivemos, nos movemos e somos, 301. Ver Jehovah e Senhor; ver também fndice Geral. Primeira Parte.

DIABO. O amor de dominar pelo amor de si é chamado o diabo, e as afeições do falso com os pensamentos que têm sua origem neste amor, são cha-madas a tropa do diabo, 273, 424. Ver Satanás.

DIÁFANAS (Formas) da mente desde o nascimento, 245. Elas transmitem a luz espiritual como o cristal transmite a luz natural, 245.

DIAFRAGMA. Suas relações com o pulmão, 384, 402, 403, 408.

Page 125: A SABEDORIA ANGÉLICA

DIAS (Os) na Palavra sign. estados, 73.

DIÁSTOLE. Ver Sístole.

DIFERENÇA entre diversas causas, 185; entre o calor e a luz do mundo espiritual e o calor e a luz do mundo natural, 89; entre os anjos e os homens, 112; entre por si e em si, 76; entre as atmosferas espirituais e as atmosferas naturais, 175; entre os três Céus, 202; entre a vida do homem natural e a vida da bêsta, 255; entre o natural e o espiritual, 294, 295; entre os pensamentos doa anjos e os dos homens, 294, 295; entre o amor celeste e o amor espiritual, 427; entre a linguagem espiritual e a linguagem natural, 70, 295.

DIREITA (A) na Palavra sign. uma potência superior, 220. Estar sentado à direita da potência e da virtude de Deus sign. ter a Onipotência, 224. No ajo e no homem as partes direitas se referem, ao amor donde procede a sabedoria, ou ao bem donde procede o vero, 127, 384, 409.

DISCRETO. Agir pelo discreto, é agir pelas correspondências, 219.

DISI'ÂNCIA. O pensamento exterior, que faz um com a vista dos olhos, produz a distância, 130. As distâncias, no mundo espiritual são aparências, 108 a 112, 113, 124; são aparências segundo as afinidades espirituais que pertencem ao amor e à sabedoria, ou ao bem e ao vero, 10, 7.

DISTANTE (0) vem sòmente do julgamento que conclui sôbre os espaços pelos intermediários, 41.

DISTINTAMENTE UM. Em Deus-Homem ou no Senhor, o Ser e o Exis-tir são distintamente um, 14 a 16, 34; igualmente os infinitos, 17 a 22; igual-mente o fim, a causa e o efeito, 169. Porque se diz: Distintamente um, 14.

DIVERSIDADE (A) nos objetas criados vem de que os infinitos estão em Deus-Horror, e os indefinidos no sol espiritual, 155.

DIVINA ESSÊNCIA (A) que é criadora, é o Divino Amor e a Divina S.-hedoria, 33. Ela é una, 35.

DIVINA VIDA (A) é a Divina Essência; ela é una, 35.

DIVINO (0) é um e não divisível, 4. Enche todos os espaços do univer;.i sem espaço, 69 a 72. Está em todo tempo sem tempo, 73 a 76. E' o mesmo nos muito grandes e nos muito pequenos, 77 a 82. Está efetivamente em tôdas e em cada uma das cousas do universo criado, 59, 60. Não está em, um su-jeito de modo diferente do que em outro, mas um sujeito criado é diferente de um outro, 54. E’ invariável e imutável, por conseqiiência por tôda parte e .sempre o mesmo, 77. Ver Deus.

DIVINO AMOR (0) e a DIVINA SABEDORlA. Ver índice Geral, Primeira c Segunda Partes.

DIVINO HUMANO (O), 11, 12, 233. Na Divina Trindade é chamado Fi-.lho, 146.

Page 126: A SABEDORIA ANGÉLICA

DIVINO MESMO OU “A Quo”. Na Divina Trindade é chamado Pai, 146.

DIVINO PROCEDENTE. Na Divina Trindade é chamado Espírito Santo, 346. O que é o Divino Procedente ou Espírito Santo, 146 a 150.

DIVINO SER e DIVINO EXISTIR. O Amor e Sabedoria tomados juntos são o Divino Ser; mas tomados distintamente o Amor é chamado Divino Ser, e a Sabedoria é chamada Divino Existir, 34.

DIVINO VERO. O Senhor se fêz Divino Vero nos últimos cumprindo tôdas as cousas da Palavras ditas d’Êle em Moisés e nos Profetas, 221.

E

ÉDEN (O jardim do) representa o homem quanto à sabedoria e à inteligên-cia, 325, 422.

EFEITO. Não há efeito só, ou efeito sem causa e sem fim, 167. O efeito k o complexo, o continente e a base das causas e dos fins, 212. Todo efeito é o pleno das causas, 217. Os efeitos não ensinam senão os efeitos, e examiinados sós não põem em evidência causa alguma, 119. Os efeitos não podem aparecer senão como na noite, se as causas dos efeitos não são vistas ao mesmo tempo, 107. Saber os efeitos pelas causas é ser sábio; procurar as causas pelos efeitos, c não ser sábio, 119. Ver pelos efeitos sós, é ver por ilusões, 187. Todos os efeitos são chamados fins últimos, tornam-se de nôvo fins primeiros em uma série contínua, etc., 172. Ver também 168, 255, 257.

EFLGVIOS. Ondas de eflúvios emanam sem cessar de todos os objetos da natureza, 293. Ações que produzem no sangue, 420.

ELEVA<AO do homem no calor e na luz do Céu, 138, 256, 258, 422.

EViBRIAO (Estado do) ou da criança no útero, 399, 401, 402, 407, 410.

ENCANTOS (Os) da vic!a do ì¿cmem provêm do pensamento da afeição do seu amor, 33.

ENTENDIME5!10 (0) é o rec.","..té u!a da sabedcria, 360; e da inteligência, 430. E’ uma forma organizada com subst,"”,.ceias muito puras, 373. E’ a luz pela qual o amor vê, 406, cfr. 9õ. Po<!e es'. na luz espiritual, ainda que a von-tade não -steja no calor espirit.¿al, 244. Ele não conduz a vontade, mas unica-mente ensina e mo'tra o caminho, 244. i.’:i;. s" coo;unta à vontade, mas a von-tade se conjunta a êle, 410. Correspcnde ;,n pulmão, 382 a 384. Ver Vontade e Ven.lamento.

ENTORPEC!MEI4TO das sensações do corpo, 257.

EPIGLOTE, 382.

F.QUILÍBRIO (0) de t(”)c! BS ilS CCUSBS I?.Ill cia ação e ao mesmo tempo da reaç;;c, 58, 263. L" preciso q ;e t.!:!o esteja no equilíbrio, 68. O equilíbrio é suprimido quando a acão ultrapassa a re.",ção, e recìprocamente, 263.

Page 127: A SABEDORIA ANGÉLICA

EkVAS MÁS. Donde tiram sua origem, 338, cfr. 339, 341.

ESCORPIÕES-:S. Donde tir;!m sua origem, 339, 341.

ESCREVER. B;í os que podem pensar bem e falar bem, mas que, não obs-tante, não podem escrever bem; por qi!ê'?, 361.

ESCRITA. Nada há da escrita espiritual que seja semelhante à escrita na-tural, exceto as letras, cada uma das quais contém um, sentido inteiro, 295. Est;is duas escritas não se comunicam senso pelas correspondências, 306.

f=SFERA ambiente, 29l. Caàa um, no mundo espiritual, é cercado por uma

esfera con;istindo em substên”ias desp.endidas e separadas de seu corpo, 292.

F.n;:.na taml:ém ¿.m.a es!'era de tôdas as coesas que aparecem naquele m,undo, 293.

A esfera atas afeições e dos pensamentos, que cerca cada anjo, manifesta sua

presença ans que estão perto, e aos que est ìo longe, 291.

ESFÕRC'O (0) nada faz por si m=smo, mas age por fôrças corresponden-tes a éle, e por elas manifesta o movimento, 218. &te é tudo nas fôrças, e pelas fòrças no movimento, 218. Nas terras hií um esforço para produzir usos em formas, 310 a 3i2. Há em todo espiritual um esfôrço para se revestir com um corpo, 343. O amor ou a vontade e tá contìnuamente em esíôrço para a forma !,in.i.;ia, 4‘.)0. O es,"ôrço vivo no homem c a vontade do homem unida a seu en-tendimento, 218. Ver Fûrça e Movimento.

ESÔFAGO, 408.

ESPAgO (O) é um próprio da natureza, 69 a 72. O espaço está em tôdas e cada uma das causas que são vistas pelos olhos, 7. No mundo espiritual apa-recem espaços, mas são unicamente aparências, 7. Não são fixos, como no mundo natural, mas variam segundo os estados da vida, 70. O espaço está na idéia natural, mas nâo na idéia espiritual, 7, 111 . Pensar em D us segundo o es-

paço, é pensar segundo a extensão na natureza, 9. O Senhor não pode avançar pelos espaços, mas está em cada um segundo a recepção, 1 1 1. Ver Tempo.

ESPIRAL. A contração do grau espiritual é como a retorção de uma es-piral em sentido oposto, 263.

ESPÍRITO. O homem depois da morte, durante o estado de preparação, é chamado espírito; espírito angélico, se é preparado para o Céu; espírito infer-nal se é preparado para o inferno, 140. Todos os espíritos estão adjuntos a homens, 140. Na Palavra, o espírito sign. o entendimento, 383. Espíritos cor-porais, 424.

ESPÍRITO ANIMAL. O que é, 423.

ESPÍRITO SANTO (0) é o Divino Procedente do Sennor, 146. E’ o Se-nhor, e nao qualquer Deus constituindo por si mesmo uma pessoa, 359. Na Palavra, o Espírito Santo e o Espírito de Deus sign. a

Page 128: A SABEDORIA ANGÉLICA

Divina Sabedoria, e por conseguinte a Divina Verdade, pela qual a ilustração se faz no homem, 383, cfr. 149.

ESPIRITUAL (0) procedendo do Senhor como Sol, é o calor e a luz reu-nidos, 100. O espiritual decorre de seu sol até aos últimos da natureza pelos três graus, 345. O último espiritual, que é chamado espiritual-natural, pode ser separado de seus superiores, 345. O último espiritual separado de seu superior opera as causas que são usos maus, 345. O espiritual leva o natural a agir, como o vivo move o Morto, 340. Produz as formas dos vegetais e dos animais, c enche essas formas de m,atérias tomadas da terra, para que sejam, fixas e cons-tantes, 340. O espiritual dá a alma, e o material dá o corpo, 34'3. O que é o homem natural e o que é o homem. espiritual, 250, 251. Tôdas as causas chamadas espirituais sao substâncias e não abstrações; não existem fora dos su-jeitos, que são substâncias, e elas são o estado dos sujeitos ou substâncias, 209.

ESPONSAIS do amor ou da vontade com a sabedoria ou o entendimento, 4(1'.

ESQUERDA. No anjo e no homero, as partes esquerdas se referem à sahe-doria procedente do amor ou do vero procedente do bem, 409.

ESSÊNCIA (A) de todo amor con=iste na conjunção, 47. A essência do amor espiritual é fazer bem aos outros, não para si, mas para êles, 335.

ESTAÇOES (As) do ano na Palavra sign. os estados da Igreja, 73.

ESTADO (0) se diz do amor, da vida, da sabedoria, das afeições, das alegrias que delas provêm, em geral, do bem e do vero, 7. Nas idéias dos pen-samentos dos anjos, em lugar dos espaços dos ternipos, há os estados da vida; em lugar dos espaços, as causas que se referem aos estados do amor; em lugar dos tempos, as cousas que se reíerem aos estados da sabedoria, 70. O estado de paz corresponde h primavera na terra, 105. Estacìos vivos; estados mortos. 161.

ESTERCO. Sua relação com o pulmão, 408.

ESTOMAGO. Pelos sentidos o homem nada sabe das partes inumerávei¿ que compõem seu estômago, 22. Como o estôm" go está. em conjunção com o pul-mão, 408.

ESTRIADOS (Corpos), 366.

ESTRUTURA do pulmão, 405, 412, 417. ÉTER, 176, 183, 223, 374. Ver Atmosfera.

ETERNIDADE. Como os anjos concebem a eternidade, 76. A eternidade de tôda obra Divina vem da união do amor e da sabedoria nela, 36.

EU-MESMO (E’ chamado o) Aquêle que só E’, 45. O Eu-Mesmo é a subs-tância mesma e única e a forma mesma e única; é o amer mesmo e único, e a sabedoria mesma e única; é a vida mesma e única, 45.

EXALAgûES. Ação que elas produzem no sangue, 420.

Page 129: A SABEDORIA ANGÉLICA

EXINANIQÃO (Estado de) do Senhor, 234.

EXISTIR (0) está onde está o Ser, um não é sem o outro, 14. O que existe pelo Ser faz um com o Ser, 15.

EXTERIORES (Os) da mente fazem um com os exteriores do corpo, 136.

EXTERNOS (Todos os) dos anjos são correspondências dos internos, mas correspondências espirituais, e não naturais, 87.

EXTIMO (0) da ordem simultânea é o ínfimo da ordem sucessiva, 206.

F

FACES. Sua variedade ao infinito, 318. Faces dos anjos voltados para o Oriente, ]29. Face de Deus, l8.

FACULDADES. Há no homem duas faculdades da vida, de onde resulta o entendimento e a vontade, 30. A racionalidade e a liberdade são duas facul-dades próprias do homem, e que o distinguem das bêstas, 240, 264. Os usos e abusos destas duas faculdades, 267. Estas faculdades jamais são tiradas, e estão no homem mau como no homem bom, J62, 240, 247, 266, 425.

FALSO. Ver Ma1.

FANTASIA. O que é, 424.

FASTO da própria inteligência, 244.

FÉ (A) é em sua essência a verdacle, 253, 429. Pertence ao pensamento, 214. Ver Caridade.

FIBRAS. Onde está a origem das fibras, aí está a origem da vida, 365. Ação das fibras, 366. Ver também 207, 25', 367, 369, 370, 400, 410. Fibras mo-trizes, 190, 192, 207, 2!S, 254, 277. Fibras nervosas, 190, 192.

FIBRILAS. Sua multidão comparada aos raios que saem de uma estrêla, 366.

FJBRILOSA (Sul;stância) do cérebro; sua ação, 366,

FÍGADO. Pelos sentidos o homem nada sabe de seu fígado, 22. Quanto mais se considera o fígado interiormente, mais se descobrem nêle maravilhas e perfeições segundo os graus discretos, 201.

FILIRES. Como os vegetais se fazem pelos filires, 314.

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FIM. Não há fim só, sem uma causa e sem um efeito, 167. O fim produz a causa e pc1a causa o efeito, 189, 241. O fim é tudo na causa, e também é tudo no efeito, 168, 197. Há fim primeiro, fim médio e fim último, ou fim, causa e efeito, 167, 197. Os fins últimos tornam-se de nôvo fins primeiros em uma série contínua, 172. O fim da criação é que tôdas as cousas retornem ao Criador, e que haja conjunçãc, 167 a 172, 329, 330. Os fins de tôda criação são os usos, 314. O fim qualifica os meios, 261.

FINíTO (0) não pode existir senão pelo Infinito, 44.

FLÔRES. Ouanto mais são consideradas interiormente, nazis se desìobrem nelas maravilhas e perfeições segundo os graus discreto, 201. Ondas de eflúvios emanam sem cessar das flôres, 293.

FOGO (0) é morto, e o fogo solar é a rryorte mesma, 89. Entre o fogo espiritual, que é o Divino Amor, e o fogo natural, h;í a mesma diferença que entre o vivo e o morto, 93. O fogo e o arar se correspondem, 87. Como o fogo do sol espiritual se torna una calor adequado ao amor dos anjos, e o fogo do sol natural um calor conveniente para os hom.ens, 174. O fogo, na Palavra, sign. o amor, 87; e mesmo o Sentior quanto ao Divino Amor, 98.

FOLICULAllA (Substância). Seu duplo estado de extensão e c!e contra-ção, 413.

FOLKLS (O presidente), 344.

FONTES (As) de tôdas as cous"s da vida do homem sho o Di;ino amor e a Divina sabe!!cri,¿, 33.

FÔRgA (A) é o esfcrço excit-do; é produzida pelo esfôrço, e produz o movimento, 218. As fôrças vivas no homem são as partes que por dentro cons-tituem seu ce;po, 219. E’ contra a orclem que a fôrça morta aja na fôrça viva, 166. Nas fôrças ííltimas da vida há urna tendência a vo!tar à sua origem, 311. Não fni p:;sta fôºça algi!ma na natureza para produzir, é o espiritual que pro-duz, 340, ‘344. Perfeição das fôrças, 200. Fôrças ativas, médias, passivas, 178. 1'ôdas a'¿ forças il<i universo v”m da vida, 392. Ver ìsfôrço e Movimento.

FORMA (A) em si é a Divina Sabedoria, 44 a 46. A forma humana não é outra coi!sa sen;;o a forma de tôdas as afeições do amor, 411. Forma subs-tancial da mente natural, 273. Forma inicial do homem, 432. Forma material do homem, 388. Forma da vontade, 410. Formas dos vegetais e dos animais; o que as prnduz, 340. Donde vêm as formas quanto à contextura mesma, 370. As formas espirituais são semelhan'.es a ela. mesmas nos muito grandes e nos muito pequeno,, 275, 273. Porque as formas no mundo natural são fixas e cons-tantes, 340. As formas são os continentes òos usos, 46. Formas dos usos, 307 .a 318. A forma é diferente conforme a bondade do uso, 80. O que n n tem forma não tem qualidade, 223. Não há substância sem forma, 209, 2'29. Subs-tância e forma, 41.

FORMAgÃO cio corpo no útero, 400.

FRONTE. Seu estado quando o homem medita profundamente, 365.

FRUTOS; quanto mais são considerados interiormente, mais sc descobrem nêles maravilhas e perfeições segundo os graus discretos, 201 . Ondas de eflú-vios emanam sem cessar dos frutos, 293.

G

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GAFANHOTOS. Donde tiraram sua crieem, 339, 345.

GLANDULAR (Substância) do cérebro. Em que consiste, 366.

GLÂNDULAS do cérebro. Sua m.iltidào comparada à multidão das estrê-I'as, 366, 373.

CiLOBO TERRÁQUEO (0) é como a base e a conso1iciaç ìo da criação, 106, 165.

CLÓRIA (A) cerca cada amor co;no umas esplendor de fogo, 26'. O Se-nhor quer o culto do homem não para sua própria glória, mas par.. a salvação do honvm, 335.

GLORIFICAgÃO (Estado de) do Senhor, 234.

GRANDES (Nos muito) e nos muito pequenos o Divino é o r.; ".;mo, 72 a 82. Muito grancles nos quais estão os graus de um e outro gêneros, 22S.

GRATUITOS (Dons) . Nos Céus tôdas as necessidades da vida são dadas gratuitamente, 334.

GRAUS. Há • graus de dois gêneros, graus de altura ou discretos, e graus de largura ou contínuos, 184 a 188. São chan;ados graus contínuos cs decres-cimentos ou diminuições do mais espêsso ao mais leve, ou antes o". a.=resc.'mentos ou aumentações do mais !eve ao mais espêssn; os graus discretos são inteiramente diferentes; são como o fim, a causa e o efeito, 184. Ver Índic" Gr-al, Terceira Parte, e também 65 a 68.

HABITAgOES (As) dos anjos e dos espíritos estão de acôrdo com as re-

cepções do amor e da sabedoria, i21. O anjo conhece sua habiiação, em qual-

quer lugar para onde vá, inteiramente ao contrário do homem, no mundo, 134.

HABITÁCULOS do Senhor, 170; no homem, 395.

HEMISFÉRIOS do cérebro. Porque há dois, 384, 409. O hemisfério di-

reito é o receptáculo do amor, e o esquerdo o receptáculo da sabedoria, 432.

O direito se refere ao bem do vero, e o esquerdo ao vero do bem, 384, 409, 127.

HEREDITA,RIOS (Os males) vêm dos pais, assim dos avós e dos antepas-sados, e foram sucessivamente derivados nos descendentes, 269. ìViancha here-ditária, 432.

HERESIA abominável, 130. Cada her-sia é confirmada por seus seciários, 267.

HOMEM (0) é um recipiente da vida, 4, 68. A concepçáo do homem pdo pai n, o é a conccpç;io da vicia; é sòmcnte a concepção da primeira e da mais pura forma que pode receber a vida, 6. Comêço do homem no útero após a concepção, 432. O homem é homem, não pela face e o corpo, mas pelo enten-dimento e a vontade, 251. O homem nasce animal e se torna homem, 270. Cada homem, quanto aos interiores de sua mente, é um espírito, e está no mundo espiritual no meio dos espíritos e dos anjos, 90,

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92. O espírito do homem é homem, porque é suscetível de receber do Senhor o amor e a sabedoria, 287. Há em cada homem os graus de um e outro gênero, 225, 236. Os três graus de altura, que são infinitos e incriados no Senhor, são finitos e criados no ho-mem, 230 a 235. Ondas de eflúvios emannm sem cessar do homem, 293. O homero é a forma de todos os usos, e todos os usos no universo criado corres-pondem aos usos do homem, 298. Homem natural; homem espiritual; homem natural-espiritual, 250 a 255. O homem espiritual é absolutamente distinto do homem natural; não hl entre êles outra comunicação senão como entre a causa e o efeito, 251. O homem natural é domiéstico e servidor, e o homem espi-ritual é patrão e senhor, 249. O homem. da Igreja é o homem em quem, há a Igreja. Por que o homem é distinguido das bêstas, 247. Ver Indice Geral, Terceira e Quinta Partes,

HORAS (As) na Palavra sign. os estados, 73.

HUMANO (0) é o íntimo em todo objeto criado, 285.

HUMILHAgÃO (Da) decorre a adoração e o culto, 335.

HUMUS. Formação do humus das terras, 65, 313.

ID&IA ESPIRITUAL; idéia natural, 7, 294, 306. A idéia espiritual nada tira do espaço, mas tira tudo do estado, 7, Na idéia natural há o espaço porque é fornada segundo as causas que estão no mundo, 7. As idéias diferem segundo os graus de altura, 294. No Céu nao há outra idéia de Deus senao a idéia de um Homem, a qual é a :w.;ma que a iJéi,¿ do Divino Humano, 11. Cada nação, no mundo espiritual, obtém um legar de acôrdo com a sua idéia de Deus como Homem, 13. Idéias do pensamento, 1, 69, 71, 223, 224. O homem no mundo natural forma as idéias do seu pensamento, e por conseguinte seu entendimento, pelos espaços e os tempos, 69.

1GNEO ESPIRITUAL (0) que aparece diante dos anjos como Sol, é o primeiro procedente do amor e da sabedoria de Deus, 97.

IGNORÁNCIA do homem da Igreja sôbre o que é o amor, e a sabedoria, ISS.

IGREJA. Diferença entre as Igrejas antes do advento do Senhor e as Igre-jas após êste advento, 233. Pelo homem da Igreja, é entendida o homem em quem há a Igreja, 118. Na Palavra, pelos tempos do dia, e pelas estações do ano, são significados os estados da Igreja, 73.

ILUSÕES (As) que reinan¿ nos maus e nos simples têm sua origem nas aparências confirmadas, 108.

ILUSTRACÃO (Tôda) vem do Senhor só, 150. A ilustração se faz no ho-mem pela Divina Verdade, 383, Diz-se que ela é feita pelo espírito de Jeová;

por quê?, 100. A ilustração da mente natural não sobe pelos graus discretos, mas cresce pelos graus contínuos, 256. Antes do advento do Senhor a ilustração era mediata, depois dêste advento, tornou-se imediata, 233.

IMAGEM. O universo criado, considerado quanto aos usos, é a imagem de Deus, 64, 298. As cousas criadas apresentam em uma sorte de imagem as que estão no Senhor, 223. Em tôdas as formas dos usos há algum,a imagem da cria-ção, 313; e alguma imagem do homem, 317; e alguma imagem do

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infinito e do eterno, 318. Tôdas as causas do universo criado, consideradas segundo os usos, representam em imagem o homem, 319. A mente natural, que está nos males e por conseguinte nos falsos, é a forma e a imagem do inferno, 273. Na Gênesis, a imagem de Deus sign. a Divina Sabedoria, 358.

IMPOSIgAO DAS MÃOS nas inaugurações, 220.

INDEFINIDOS (Os) estão no Sol espiritual, e existem como em uma ima-gem no universo criado, 155.

INFERIORES (Os) na Palavra sign. os exteriores, 206.

INFERNOS. Há três infernos, e êles são distinguidos segundo os três graus de altura ou de profundidade, em oposição com os três Céus, 275. Os infernos não são afastados dos homens, mas estão em tôrno dêles, e mesmo naqueles que são maus, 343. Ver também 339, 341.

1NFJMO (0) da ordem sucessiva torna-se o extimo da ordem simultânea, 206. Em cada reino da natureza, os ínfimos são para uso dos meios, e os meios para uso dos supremos, 65.

INFINITO. Deus é infinito, não sòmenle porque é o Ser mesmo e o Existir mesmo em si, mas porque os infinitos estão n’&le, 17. O Infinito, sem os infinitos nêle, não é infinito senão quanto ao nome só, 17. Os infinitos que estão em Deus-Homem aparecem, como em um espelho, no Céu, no anjo e no homem, 21, 19. Em Deus-Homem os infinitos são distintam,ente um, 17 a 22.

INFLUIR. Tudo o que influi pela mente espiritual vem do Céu, e tudo que influi na mente natural vem do mundo, 261. Tudo que influi é percebido e sentido segundo as formas que recebem, e segundo seus estados, 275.

INFLUXO (0) se faz pelas correspondências, e não pode se fazer pelo con-tínuo, 88. Há um influxo contínuo do mundo espiritual no mundo natural, 340. Não há influxo físico nas operações espirituais da alma, 166. Há duas formas nas quais se faz a operação pelo influ:-o, a forma vegetal e a forma animal, 346. Influxo da luz nos três graus da vida que pertencem à mente no homem, 245. Influxo mediato e influxo imediato, 233.

INSENSATO (E’ chamado) na Palavra aquêle que não faz as obras, 220.

INSETOS, 62, 341, 342. Insetos nocivos, donde tiraram e tiram sua ori-gem, 339, 342. Maravilhas que apresentam os pequeninos insetos, 220.

INTELIGÊNCIA. E’ da inteligência fazer o bem pela afeição do vero, 428, 427. Os que estão no amar espiritual têm a inteligência inscrita em sua vida, 428. Pensar segundo as causas, é da inteligência, 202.

INTENÇÃO. O pensamento da vontade do homem é chamado intenção, 215.

INTERIORES (Os) do corpo correspondem a seus exteriores, pelos quais existem as ações, 219. Os interiores que não se manitestRlil JdIlmis pouem ser descobertos, se não se conhece os graus, i84. Intendia".es abertos, interiores fe-chados, 138.

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INTERNOS. Ver Externos.

ÍNTIMO (0) da ordem sim,ultânea é o supremo da ordem sucessiva, 06.

INVERNO (0) na Palavra sign. o fim da Igreja, 73.

INVÓLUCRO. Cada grau discreto é di tinguiclo de um outro por invólucros próprios, e todos os graus juntos são distinguidos por um invólucro comum, que comunica com os interiores e com os íntimos 194. Invólucro cutâneo do corpo espiritual; o que o cornpõe, 257, cfr, "¿88.

J

JEHOVAH é o Ser mesmo incriado e infinito, 4. Dn!s C;ioc!or cio universo é chamado lehovah, da palavra Ser, porque só Ele E', 282, 100, 151. No Nôvo Tes-tamento Jehovah é chamado o Senhor, 282.

JULGAMENTO (Pelo) na Palavra é enlenc!'iCÌ:l ;I vivi!¿a Sabe¿'ori,t, 38.

JULGAMENTO FliVAL. Enos concernentes a ésse juigameato, 386.

JULGAR. Porque se diz na Palavra que o homem será julgado segundo suas obras, 281.

JUSTIÇA (Pela) na Palavra é entendida o Divino Amor, 38.

L

LAGARTAS. Sua metamorfose em borboletas, 354.

LARGURA (A) na Palavra sig. o vero da causa, 71.

LARINGE, 407.

LEITO NUPCIAL do amor e da sabedoria, 402, 403, 408.

LEMBRANÇA (A) é uma derivação ela sabedoria e do entendimento, 363.

LIBERDADi (A) í a faculdade de pensar, ele querer e de fazer o vero ou o falso, o bem ou o mal; é a faculdade da vontaòe, 24(l, 264, 425. Está em cada homem por c-iação, e assim de nascença; e, junta à racionalidade, ela o distingue das l:êstas, 240, 264. Pertence, não ao homem, mas ao Senhor no homem, 116, 425. lamais é tirada, e esta no homem,i mau como no homem bom, 162, 240, 247, 266. 425. A liberdade, fazendo o mal, é a escravidão, 426. Li-berdade celeste; !iberdade infernal, 425.

LIGAMENTOS, 403, 408.

LINGUA. Há a aparência de que a língua sabcreia; n -s per sua pe”.-cepçâo, é o entendimento que saboreia, 363. Pelos sentidos o homem nada sabe

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das partes inum”ráveis que estão em sua língua, 22. Quanto mais é ela consi-derada interiormente, mais aí se descobrem maravilhas e perfeições segundo os. graus discretcs, 201. Língua de Dei!s, 18.

L1VGUAGEM (A) procede do pensamento, 26. Ela se faz pela ííltima atmos-fera, que é chamada ar, 176. A linguagem espiritual nada tem de comum com a linguagem natur"1, J63. Não hA palavra alguma da linguagem espiritual, que seja semelhante a uma palavra da linguagem natural, 295. Estas duas linguagens só se conmnicam pela corresocndència, 306. Linguagem angélica, 26, 295.

LÔBOS. De onde tiraram sua o:igem, 3ê9.

LÓBULOS do nu)mão. Porque há clois, 384, 409. O da direita se refere ao bem do vero, e o da esquerda ao vero èo bem, 384, 409, 127.

LOCUÇÃO pelos graus; o que é?, 156.

LOM3OS. Porque há dois, 384, 409.

LUA. O que é entendido por “a luz da lua será como a luz cto so'1”, 233.

LU7 (A) que procede do sol espiritual é em sua essência a sabedoria, 5, 32, 363. O primeiro procedente cia sabedoria é a luz, 95. Há uma luz contínua no mundo espiritual, 161. A luz do mundo espiritual é em si viva, e a luz da mundo natural é em si morta, 89. A luz do mundo pode ser ilustrada pelo in-fiuxo da luz do céu, 88. A luz n,".o existe na sabedoria, nms existe no pensa-mento do entendimento, e por conseguiote na linguagem, 95. A luz espiritual in-Qui pelos três graus no homem, 242 a 247. A luz corresponde à sabedoria, 32. E' o vero da fé, 83, 84. Na Palavra, a 1cz sign. a Divina Sabedoria do Senhor, 38, 98. Ver também fncìice Geral, Segunda Parte.

MÁCULA da vontade no entendim.nto. 424. Tôda mácula no homem se faz pelas falsos opostos aos veros da sabedoria, 420.

MADEIRA. Sua composiçÃo, 190, 192.

MAL (A origem do) vem do abuso da racionalidade e da liberdade do homem, 264 a 270. Os males e os falsos confirmados no homem permanecem e se tornam causas de seu amor e de sua vida, 268. Todos os males e por conseguinte todos os falsos, tanto os males transrr¿itidos pelos pais como os males acrescentados, residem na mente natural, 270. Os males e os falsos em todo oposto são contra os bens e os veros, 271. Ver Hereditários.

MALIGNIDADE (A) do mal aumenta segundo o grau em que a mente espiritual está fechada, 269.

MANCHA HEREDITÁRIA (A) não é afastada, a não ser que sejam abertos os graus interiores que são os receptáculos do amor e da sabedoria, 432.

MANHÃ (A) na Palavra sign. o primeiro estado da Igreja, 73.

Page 136: A SABEDORIA ANGÉLICA

MÃOS. Nz Pahvra, as mãos sign. a potência, e a mão direita uma pû-tência superior, 220; a mão direita se refere ao bem do vero, e a mão esquerda

ao vero do bens, 384, 409, 127. A obra das mãos de Jeová sign. a obra do Divino Amor e da Divina Sabedoria, 59.

MAQUIAVEL. Seu sistema confirmado por seus partidários, 267.

MARAVILHAS (Pelas) que vê na natureza cada um pode se confirmar pelo Divino, se quiser, 351 a 356. Maravilhas que apresenta o caráter dos animais, 60.

MAT&RIAS. Sua origem, 302, 158, 311, 340. Nas matérias de que pro-vêm as terras, nada há do Divino em si, mas não obstante elas procedem do Divino em si, 305.

MATRIMONIO ou casamento entre o amor e a sabedoria, entre a vontad e o entendimiento, entre o bem e o vero, 402, 410, 419; entre o amor celeste e a sabedoria, entre o amor espiritual e a inteligência, 414, 423, 427.

MEDIAÇOES. Há perpétuas mediações desde o primeiro até aos últimos; e aada pode existir senão por um anterior a si, e enfim por um primeiro, 3û3.

MEDIDA do tempo. Donde vem, 73.

MEDITAÇO. O que é a meditação, 404.

MEDULA ALONGADA; sua composição, 336. Medula espinhal, 366.

MEDULAR (Substância) do cérebro, 366.

ME10-DIA na Palavra sign. o pleno da Igreja, 73. Sign. também a sabe-doria na luz, 121. No mundo espiritual os que estão em um grau superior da sabedoria habitam no meio-dia (sul), 121.

MEIOS (Todos os) pelos quais o homem pode vir ao bem são providos, 425, cfr. 171. O fim qualifica os meios, 261. Tôdas e cada uma das causas do reino vegetal são meios, 65. Ver Primeiros e Ultimos.

MEMBROS, 370, 376, 377, 3S4, 385, 408; da geração, 22.

MENINGE, 432.

MENTE (A) do homem se conWpõe da vontade e do entendimento, 239, 372, 387. Os interiores do homem, que pertencem à sua mente, foram distinguidos pelos graus discretos, 186, 203. Assim há uma mente natural, uma mente espi-ritual e uma miente celeste, 239, 260. A mente natural é composta de

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substân-cias espirituais e ao mesmo tempo de substâncias naturais, 257, 260, 270, 273. Ela envolve e encerra a mente espiritual e a mente celeste, 260. Reside etn seus primeiros no cérebro, 273. Põe em ação à sua vontade o corpo e tôdas as causas do corpo, 387. Está na forma ou na imagem do mundo; e a mente espiritual está na forma ou na imagem do Céu, 270. A mente espiritual não tira sua forma senão das substâncias do mundo espiritual, 270. A mente natural foi torcida em curvas da direita para a esquerda, e a mente espiritual, em curvas da esquerda para a direita, 270. Ver o índice Geral, Terceira e Quinta Partes.

METAFíS1CA, 189.

METAIS. Sua composição, 190, 192, 207. Há nêles os graus de um e outro gênero, 225. Quanto mais são considerados interiormente, mais se descobrem nêlea

maravilhas e perfeições segundo os graus discretos, 201. Ondas de eflúvios ema-nar."., -’;n cessar dos m"tais, 293.

MICROCOSMO. O homem quanto a seu entendimento e à sua vontade é um microcosmo o.i pequeno mundo, 251. Foi chamado assim pelos antigos, 323; mas hoje não se sabe porque o chamavam assim, 319.

341NERAIS. Quanto mais são considerados interiormente, mais nêles se des-cobrem maravilhas e perfeições segundo os graus discretos, 201.

MINERAL (Reino). Formas dos usos dêste reino, 313. Relação com o homem de tôdas e cada uma das cousas do reina mineral, 61.

MONADAS. A existência das manadas é inadmissível, 229.

MONSTRO, 24, 254, 287.

MORADAS do Senhor, 170; dos anjos e dos espíritos, 92.

MORAL. Tôdas as causas que são chamadas morais são substâncias e não abstraçõeg; não existem fora dos sujeitos, que sâo substâncias; mas sãos os estados dos sujeitos ou substâncias, 209.

MORCEGOS. Donde tiraram sua origem, 339.

MORTE. Tudo que tem sua origem no sol do mundo natural é morto, 157 a 162. O que é morto não age por si mesmo, mas é pôsto em ação, 157. E’ chamado morto o homem cuja mente í o inferno, 276.

MORTE DO CORPO. Quando se dá, 390. O que se torna o homem quando morre, 90.

MÓSCAS. Donde tiram sua origem, 338, cfr. 339.

Page 138: A SABEDORIA ANGÉLICA

MOVIMENTO (0) é produzido pela fôrça, e é o último grau do esfôrço; pelo movimento a esfôrço põe em ação sua potência., 218. No movimento nada há de essencial senão o esfôrço, 197. O movimento vivo no homem é a ação, que é produzida pelas fôrças vivas da vontade unida ao entendimento, 219. O esfôrço, a fôrça e o movimento são conjuntos segundo os graus discretos, e a conjunção existe não pelo contínuo, mas pelas correspondências, 218. Ver Es-fôrço e Fôrça. Movimento cardíaco; pulmonar, 381, 391, 392.

MUDANÇAS DE ESTADO (As) não podem existir sem uma forma subs-tancial que seja o sujeito, do mesmo modo que a vista não pode existir sem o ólho, 273.

MÚMIA, 424.

MUNDO. Há dois mundos, o espiritual e o natural, 83, 163. Semelhantes quanto à face externa, são absolutamente diferentes quanto à face interna, 163. 173. São de tal modo distintos que nada tí‘m de comum entre si; comunicam-se unicamente por correspondências, 83. No mundo espiritual há tôdas as cousas que existem nos três reinos do mundo natural, 52, 321. Tôdas as cousas são correspondências, e existem segundo as afeições dos "nios e c'os espíritos, e se-gunào seus pensamentos provenientes das afeições, 322. O mundo espiritual está

onde está o homem, e não é de modo algum dist;;n',= dêle, 92. Todo homem quanto aos interiorcs de sua mente, está no mundo espiritual no meio dns espí-ritos e dos anjos, 92. Pelo mundo espiritual é entendido o Céu e o inferno, 339; aí compreendido o mundo dos espíritos, 140.

MUNDO DOS ESPÍRITOS (0) fica no meio entre o Céu e o inferno. 140. Todo homem depois da morte entra nesse mundo, que fnrma uma parte do mundo espiritual, 140.

MCJSCULO. Sua composi::<>o, 190, 192, 197. Qv.anto mais é co!zs!derado interiormente, mais se descobrem nêle maravilhas e perfeições segundo os graus discretos, 201.

NAÇÃO (Cada) no mundo espiritual, ohtém u;n lugar segi;nèlo a iJí-ia que tem de Deus como Homem, 13.

NADA (Do) fazer alguma causa é contraditcírin, 55, 383. O universo nãc foi criado do nada, 283. No nada não há atualidade alguma da mente, 82.

NEGACÃO (A) de Deus e, ao cristi;inisn.o. a negação òa Divindade do Senhor, faz o inferno, 13.

NARINAS. Há a aparência de que as narinas cheiram, m,as é por sua per-cepção o entendimento que cheira, 363. As narinas, na Palas;a, sign. a percep-ção, 383. A narina direita se refere ao bem do vero, e a narina esquerda ao vero do bem, 384, 409, 127. Narinas de Deus, 18.

NARIZ (0) corresponde à percepção do vero, 254. Nariz retraído, '254.

NASCIMENTO. O estado do homem antes do nascimento é como o estado

da semente na terra, quando se enraíza; o estado depois do nascimento atk à

prolificação é como a germinação da árvore até seu estado de frutificação, '316.

Page 139: A SABEDORIA ANGÉLICA

NATURAL. Tudo que existe e subsiste pelo sol do niundo é chamado na-tural, 159. Não há natural que não tenha sua causa no espiritual, 134. Ho-mem natural, 251. Homem natural-espiritual, 429. Homem natural-sensual, 144, 162, 254. Como o homem natural se torna espiritual, 248.

NATURALISMO. Donde vem, 69.

NATURALISTAS, 46, 349. Sua loucura, 162. Seu estado no mundo espi-ritual, 357.

NATUREZA (A) em si mesma é absolutamente inerte, 166. E’ completa-mente morta, 159, 340. Se no homem e no animal aparece como viva, é pela vida que a acompanha e a põe em ação, 159. Tôdas as causas da natureza pro-cedem do amor e da sabedoria, 46. A n"tureza não contribui em causa al-guma absolutamente para as produções dos vegetais e dos animais, 344. Ela nada produziu e nada produz, mas o Divino produziu e produz tôdas as causas de si mesmo e pelo mundo espiritual, 349 a 357. Não se deve atribuir à natu-reza senão o que deve servir ao espiritual para fixar as causas que influem con-tìnuamente, 344. Loucura dos que atribuem tudo à natureza, 162, 166. Alguns são desculpáveis, 350.

NERVOS, 197, 388. Sua composição, 190, 192, 366. NEWTON. Sua opinião sôbre o nada a propósito da vida, 82. NOITE (A) na Palavra sign. o fim da Igreja, 73.

NCJPCIAS. O que é entendido pelas níípcias do amor e da sabedoria, ou da vontade e do entendimento, 404.

NUVENS (Pelas) são entendidas as nuvens espirituais, que são os pensa-mentos, 147. No mundo espiritual os pensamentos pelos veros aparecem como nuvens brancas, e os pensamentos pelos f Isos como nuvens negras, 147.

O

OBJETIVO DESTA OBRA (0) é desvendar as causas a fim ele que por elas se vejam os efeitos, 188.

OBJETO (Cada) é cercado de alguma cousa semelhante ao que está inte-riormente nêle, e isto emana contìnuamente dele, 293. Na luz espiritual, os obje-tos do pensamento são os veros, e os objetos da vista são semelhantes aos do mundo natural, mas correspondentes aos pensamentos, 70.

OBRA DIVINA (Em tôda) há a união do amor e da sabedoria, 36.

OBRAS. Tudo o que pertence aos três graus da mente natural está encer-rado nas obras, 277 a 281. Pelas obras do homem julga-se do pensamento de sua vontade, 215. O todo da caridade e da fé está nas obras, 214, 215, 220. Eis porque as obras são prescritas tantas vêzes na Palavra, 215, 220.

OCIDENTE (0) na Palavra sign. o amor para com o Senhor em decres-cimento, 121. No mundo espiritual, os que estão em um grau inferior do amor, estão no ocidente, 21.

Page 140: A SABEDORIA ANGÉLICA

ODORES. Acão que produzern no sangue, 420. Odores infectos no inferno, 339, 341, 420. Odores nos Céu!s, 420.

OLFATO (0) está nas narinas, e é a afeição das narinas pelas causas odo-ríferas que as tocam. al . O olfacto n;io é alguma cousa volátil efluindo de seu órgão, mas é o órgão considerauo em s;ta substância e em sua forma, 41. O sentido cio olfato comunica irne.l!atameote pelas fibras com os cérebros, e daí tira sua vida sensitiva e ativa, 365. Ver Sentic!os.

OLHAR para baixo e p;:ra fora; para cima e para dent,o, 424.

ÓLHO. Pela aparência é o ôlho que vê, mas é o entendimento que vê pelo ôlho, 363. Ver Olhos.

OLHOS. Pelos sentidos o homem nada sabe das partes inumeráveis que es-tão em seus olhos, 22. Quanto mais os olhos são considerados interiormente, mais se descobrem nêles maravilhas e perfeições, segundo os graus discretos, 201. Os olhos do homem e os olhos dos anjos são formados de uma parte e de outra para receberem de uma maneira adequada a sua luz, 91. O ôlho direito se re-fere ao bem do vero, e e ôlho esquerdo ao vero do bem, 384, 409, 127. Olhos de Deus, 18. Ver Ôlho.

ONIPOTÉNCIA, 9, 72, 221.

ONIPRESENQA E ONIPRESENTE, /, 9, 21, 69, 71, 72. Deus é onipre-sente pelo fato mesmo de que não está no espaço, 147.

ONIPREVIDENTE, 21.

ONISCIRNCIA E ONJSCIENTE, 9, 21, 72.

OPERADO pelo influxo na forma vegetal e na forma animal, 346. ORDEM SUCESSIVA dos graus; ordem sirw)ltânea. 205 a 208. ORGÂNICA (Substância), 191, 192, 197, 200. Formas orgânicas, 208. ORGANIZADO da vontade e do ntendimento, 373.

ARGUTOS, 207, 370, 376, 377, 384, 385, 400, 40!, 408. 410. Sua compo-sição, 190. brgãos dos sentidos, 366, 407. 6rgãos do movimento, 366.

ORIENTE (0) no mundo espiritual, é onde aparece o Senhor como Sol, e daí dependem as outras plagas, 119 a 123. De qualquer maneira que os an-jos voltem seus corpos, têm o oriente di;.nte de suas faces, 105. Na Palavra o oriente sign. no sentido supremo o Ser,hor, e no sentido respectivo o amor para com o Senhor, 121, 122. No mundo espiritual, os que estão em um grau superior de amor, estão no oriente, 121.

ORIGEM do homem, 346; das afeições e dos pensamentos, 33; do mal, 264 a 270; do calor vital, 379; dos animais e dos vegetais, 339, 340, 346; dos ani-málculos e dos insetos nocivos, 342; das substâncias e das matérias, 302; das terras, 302 a 306.

OSSOS. Donde vêm, 304.

OUTONO (0) na Palavra, sign. o declínio da Igreja, 73.

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OUVIDO (0) está na orelha e não no lugar onde o som começa, e é a afeição da substância e da forma da orelha, 41. O ouvido não sai da orelha para apreender o som, mas o som entra na orelha e o afeta, 41. O ouvido não é alguma causa volátil efluindo de seu órgão, mas é o órgão considerado em sua substância e em sua forma, 41. O sentida do ouvido comunica imediatamente pelas fibras com os cérebros, e tira daí sua vida sensitiva e ativa, 365. Ver Sen-tidos. Há a aparência de que o ouvido ouve, mas é o entendimento que ouve pele ouvido, 363. Pelos sentidos o homem nada sabe elas partes inumeráveis que estão em seus ouvidos, 22. Quanto mais o;. ouvidos são considerados interior-mente mais se descobrem nêJes maravilhas e perfeições segundo os graus dis-cretos, 201. O ouvido direito se refere ao tem do vero, e o ouvido e querdo ao vero do bem, 384, 409, 127. Ouvidos de Deus, I8.

OUVIR se diz da atenção e da acao de escutar, que pertence ao enten-dimento, 363.

OVOS. Propagação pelas semente' nos ovos, 342, 347, 351. O ôvo é para a galinha o que a terra é para a semente vegetal, 316.

PALADAR (0) é a afeição da sul stáncia e da forma que pertence à língua, e a língua é o sujeito, 41. O paladar nãc é alguma causa volátil efluindo de seu órgão, mas é o órgão considerado em sua substância e em sua forma, 41. O sentido do paladar comunica imediatamente pelas fibras com os cérebros, e tira daí sua vida sensitiva e ativa, 365. Ver Sentidos.

PALAVRA. Por que o Senhor é chamado a Palavra?, 221. Na Palavra há três sentidos segundo os três graus, o celeste, o espiritual e o natural, 221.

PALAVRA (Vocábulo) em cada palavra da linguagem há o som, a arti-culação e o sentido, 280. Em cada palavra (vocábulo) da Palavra há um espi-ritual que pertence à Divina Sabedoria, e um celeste que pertence ao Divino-Amor, 280.

PÂNCREAS. Pelos sentidos o homem nada sabe de seu pâncreas, 22. Quanto mais o pâncreas é considerado interiormente, mais se descobrem nêle maravilhas. e perfeições segundo os graus discretos, 201.

PARALELISMO entre a vegetação da árvore e a vivificação do homem, 316; entre os espirituais e os naturais, 333.

PARES. Porque no homem tudo é por pares em tôdas as causas de seu corpo, 127, 384, 409.

PÁSSARO (Ave) representando a afeição de um anjo, 344. O espiritual comparado a uma ave do paraíso, 374. Ciência dos pássaros insitada nêles, 134.

PAZ (Estado de) corresponde à estação da primavera, 105.

PEDRAS. Sua composição, 190, 192, 207. Há nelas os graus de um e outro gênero, 225. Quanto mais elas são consideradas interiormente, mais se desco-brem nelas maravilhas e perfeições segundo os graus discretos, 201. Ondas de eflúvios emanam das pedras sem cessar, 293.

PEITO, 384, 402, 403. Peito de Deus, 18.

Page 142: A SABEDORIA ANGÉLICA

PELE (A) com que o homem é envolvido é o sujeito do tato, 41. A subs-tância mesma e a forma da pele fazem com que o homem sinta as cousas que aí são aplicadas, 41.

PENSAMENTO (0) pensamento não é possível senão por meio de atmos-feras mais puras do que o ar, 176. Não é outra causa senão a vida interna, 404. E’ uma derivação da sabedoria e do entendimento, 363. O pensamento íntimo, que é a percepção dos fins, é o primeiro efeito da vida, 2. Todos os pensa-mentos no homem têm sua origem na Divina Sabedoria, 33. As afeições e os pensamentos são substâncias e formas, e não abstrações sem substância nem forma reais, 42, 316. O pensamento espiritual nada tem de comum com o pensamento natural, 163. O pensamento pelo ôlho fecha o entendimento, mas o pensamento pelo entendimento abre o ôlho, 46. O per,samento é produzido pela afeição, e êle produz a respiração, 412. O pensamento influi no pulmão, e pelo pulmao na linguagem, 391. O pensamento corresponde à respiração do pulmão, 382, 383. Ver Afeição.

PENSAR pelas causas e pelos fins pertence à sabedoria superior, enquanto que pensar sôbre as causas e sôbre os f!ne pertence à sabedoria inferior, 202. Pensar sensualmente e materialmente, é per.sar na natureza e pela natureza, e não acima da natureza, 351.

PEQUENOS (Muito) . Não há um único muito pequer.o em que não ajam os graus de um e outro gênero, 223. Ver Muito Grandes.

PERCEBER como set! o que é do Senhor, 115, 116. de tôda eternidade, 76.

Perceber um Deus

PERCEPÇÃO (A) é uma derivaç;io da sabedo:ia, 363. P"rc"pção comum, 361, 365; ela vem do influxo do C=u, 361. Porque v'rios eruditos destruíram a percepção comum nêles, 36. A percepção do vero resulta da afeicão de com-preender, 404. Jamais a percepção cio vero fa!ta ao holll¿ill CUj¿ razão está in-tegra, desde que tenha a afeição de compreender, 404. As pev=epções não são abstrações sem substância nem forma, 42. As percepções influem do mundo es-piritual e são recebidas não pelo entendimento, mas pelo amor ou a vontade segundo as afeições no entendimento, 410. Ver Afeições e Pensanìento.

PERFEIÇÃO (A) mesma está no Senhor, e por conseguint no Sol espi-ritual, 204. Tòdas as perìeiçòes cresce,m e sobem com os graus e segundo os graus, 199 a 204. A perfeição da viua í a perfeição da vontade e do enten-dimento, 200. A perfeição das fôrças é a perfeição de tôdas ;.s cousas que são postas em movimento pela vida, nas quais entretanto não h;í a vida, 200. A perfeição das formas faz um com a p"et'- i,-ão <ias fôrça,¿, 200. Perfeiçõo do uni-verso; donde vem, 227.

PERIFERIAS, 186.

PERITÔNIO. Sua relação com o pulmão, 408.

PERPETUIDADE (A) de tânia c':! a Divina vem da uni..o ;Io amor e da sabedoria, 36.

P&S. O pé direito s' re(e;e ao I e n do vero, e o pé esq.ierilo ao vero do bem, 384, 409, 127. Pís de Deus, 18.

PESCO<O. Tôdas as fibr;!s descem cios cérebros pelo pe.-coço ao corpo, e nenhuma sobe pelo pescoço,",os cérebros, 365.

Page 143: A SABEDORIA ANGÉLICA

PIOLHOS. Donde tiram sua origem, 338. cfr. 339, 342, 345.

PI AGAS (As) no mundo espiritual, 119 a 1 8. A d terminacão das plagas aí não é pelo sul, como no n<undo natural, mas o é pelo oriente, 120, 132. Elas provêm nâo do sol cìo mundo espi;itual, mas <ìos habitanles, 120; segundo a recepção, 121 a 128, 132. A percep-ão diferente do amor e .Ia sabedoria faz .a plaga no mundo espiritv.al, 126. O homem está, quanto a seu e¿pírito, em uma das plagas do mundo espiritual, qualquer aue seja a plaga do mundo espiri-,tual em que está, 126.

PLENO (Estar no) . O ql.e é'?, 217, ’Z2l.

PLEURA. Suas relacões com o pulmão, 384, 402, 403.

PLURALIDADE de deuses; impossível, 2i. POEIRA DANADA. O que é, 341.

PORCOS. Donde tiraram sua origem. 339. POSTERIORES. Ver Anteriores.

PRAZERES (Os) da vida do homem provêm da afeição de seu amor, 33. Os praze¿es dos atas e das obras são os prazeres chamados usos, 316.

PREGADOR, 148.

PRESENÇA do Senhor; como é por tôda parte, 299. Presença dos anjos, como se dá, 291. O homem pode, por seu pensamento, estar como presente al-gures, não importa em que lugar, mesmo o mais afastado, 285.

PRIMAVERA (A) na Palavra, sign. o primeiro estado da Igreja, 73. Pri-mavera pe".pétua nos céus angélicos, 105; correspondendo ao estado de paz, 105.

PRIMEIROS (Os) da vida do homem estão nos cérebros, 365. Tôdas e cada uma das causas do reino animal são primeiros, 65. Os primeiros do homem são a vontade e o entendimento, 365. Ver Meios e Últimos.

PRlMlT1VO (0) do homem é a semente vinda do pai, pela qual se faz a concepção, 432. Qual é êle no útero depois da concepcão, 432.

PRINCIPIADOS. Tôdas as cousas 3o corpo são principiados, isto é, foram tecidas por fibras provenientes dos princípios, que são os receptáculos do a¿r e da sabedoria, 369. A vontade e o entendimento estão nos principiados do corpo, 362, 365, 387, 403. Aonde vão os princípios, os principiados os seguem; êles não podem ser separados, 369.

PRINCíPIOS (Os) da vida do homem são os receptáculos do amor e da sabedoria, 369. A vida nos princípios, é a vontade e o entendimento, 365. A von-tade e o entendimento estâo nos princípir>s nos cérebros, 362, 365, 387, 403. Tal é a vida nos princípios, tal é ela no todo e em cada parte, 366. A vida por êstes princípics está por meio de cada parte no todo, e pelo todo em cada parte, 367. Onde est5o êstes princípios nos cérebros?, 369.

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PROCEDENTE. O primeiro procedcate do amor e da sabedoria do Senhor é o ígneo espiritual, que aparece diante dos anjos como sol, 97, 152, 290, 300. Ver Div.ano Procedente.

PRODUÇÃO (A) produção das sementes foi a primeira produção saída das terras, 312.

PROGRESSÃO de cada cousa do universo de seus primeiros para seus úl-timos, e de seus últimos para seus primeiros, 304, 314, 316.

PROL1FICO das sementes; donde vem, 310.

PROPAGAgÃO dos sujeitos do reino ammal e do reino vegetal, 347.

PROPOSIgOES ABSTRATAS (As) sendo universais são ordinàriamente apreen-didas melhor do que as proposições aplicadas, 228.

PRÓPRIO (0) do homem e do anjo é o naal, 114. O próprio. que é o

amor de si, impede o influxo e a recepção do Senhor; endurece o coração e o

fecha, 335. Os dois próprios da natureza são o espaço e o tempo, 69 a 72, 160, 161.

PROVíNCIAS do Céu (As) são distinguidas entre si segundo o' membros, as vísceras e os órgãos do homem, 288.

PULMÃO (Ao) corresponde o entendimento, 382, 383, 402. Detalhes sô-bre o pulmão, 413. Quanto mais o pulmão é considerado interiornvnte, mais se descobrem nêle maravilhas e perfeiçôes segundo os graus discretos, '01. Pul-mão de Deus, 18. Ver Coração, Estrutura.

PULMONAR do Céu (0) é o reino onde reina a sabedoria, 381. Aí estão aquêles que estão no amor do próximo, 428. Ver também 391, 392.

PULSO, 378. O espírito do homem tem um pulso como o corpo, e êste pulso influi no pulso do corpo, e o procluz., 390, 391. Há correspondência entre êLes, 390.

PURIFICADO do amor no entendimento; com,o se opera, 419, 4"0. Tôda purificação do homem se faz pelos veros que pertencem ii sabedori;:, 420. Pu-rificação do sangue, 420, 423.

Q

Qualidade. O que não está em uma forma nao tem qualid-de, e o que não tem qualidade,"e não í alguma cousa. 15, 2'23.

QlilLO, 420.

R

RACIONAL (0) é o mais alto ponto do entendimento, "37, 254. O rar:ional do homem é na aparência como de três graus, 258. O homem racional é o que está no amor natural e ao mesmo tempo no

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amor espiritual, 416. O homem pode se tornar racional, conforme a elevação aié ao terceiro grau, 258. Como o ra-cional é aperfeiçoado, 332.

RACIONAL1DADE (A) é faculdade dc compreender o que é vero e o que é bem; é a faculdade do entendimento, 240, 264, 413, 425. Está em cada homem cìe criacão, e 'ssim de nascenca, e junta à liberdade, o distingue das bêstas, 240, 264, 413. Está no homem mau como no homem bom. 266. Vião é tirada do homem, ¿47, 258. Não existe no homem antes que sua n:=nte na-tural tenha atingido a sua idade, 266; nem no homem cujos externo¿ foram le-sados por algum acidente, 259. A racionalidade pensando o falso. é a irracio-nalidade, 425.

RAMIFICAgÃO dos brânquias do pulrr¿ão, 405, 408, 412. Co.-respondem às percepções e aos pensamentos provenientes das afeições do vero, 40'.

RAPÔSAS. Donde tiraram sua origem, 339.

RÃS. Donde tiram sua origem, 339, 345.

RATOS. Donde tiraram sua origem, 339, 341.

RAZÃO. Tudo o que pertence à razão humana sc reúne e se concentra nisto, que há um único Deus, 23. A razão humana não dá sua aquiescên-ia. a não

ser que veja a causa segundo a causa, 291. Razão humana na comum; de que depende, 23; Razão sã, razão insana, 23.

REACÇÃO. Em tudo o que foi criado pnr Deus há uma reação, 68, cfr. 260. A reação vem da ação da vida, 67. V=r Ação.

RECEBER mais o calor que a luz, e vice-versa, 101. O homem pode re-ceber a sabedoria até ao terceiro grau, mas não o amor, a não ser que fuja aos males como pecados, e se volte para o Senhor, 242.

RECEPÇÃO (Há) do Divino hem e do Divino vero, conforme se aplica as leis da ordem, que são as Divinas verdades, 57.

RECEPTÁCULOS, 191, 223. O Senhor criou e formou no homem dois re-ceptáculos d’Êle naesmo, que são a vonta4e e o entendimento; a vontade para seu Divino Amor, e o entendimento para sua Divina Sabedoria, 358 a 361, 393, 410, 242.

RECIPIENTES DA VIDA: são os anjos e os homens, 4 a 6. O nomem é recipiente tanto quanto tem afeição pelas causas que procedem de Deus, e tanto quanto pensa segundo esta afeição, 33. Tôdas as causas no universo criado são recipientes do Divino Amor e da Divina Sabedoria, de Deus-Homem, SS a 60.

R,“CíPROC:O (0) é indispensável par:i aue haja conjunção, 115, 170. O que !',”.z o rec!p:oco, pc-la aual há conjunçáo com o Senhor?, 116. Conjunção re-CÍpl'OC’à C'.!? Sá’:.!”Clíìi I,". CO,";"t O àmo.", cìo entendimento CQIB a vontade; do vero com O ¿.-I'.!, 3 05, 410; C' lilS COIlJLlllzÕC!i i CìíD."CC'il¿ VCIìl do am.or, da vontade e do ",Cítl, .” Í .

Page 146: A SABEDORIA ANGÉLICA

RE.FLL.XÃO (A) c uma derivaç,",o da sabedoria e do entendimento, 363.

RËFORMA OU REF'OR51AgÃO (A) e a regeneração se fazem pela re-c“pção do amor e da sabedoria procedentes do Senhor, e pela abertura então dos graus interiores da mente era sua ordem, 1S7, cfr. 263.

REGF.NERAgÃO. Ver Reforma. Ser regenerado, é <’c natural tornar-se es-

piritual, 425.

REGIÃO (A) superic; cìa mente natural é chamada região racional, e a região mais baixa é chamada região sena:.tal, 254.

REINO MINERAL, VEGF.TAL, ANIMAL, 61, 65, 313, 314, 316.

REINOS (Dois) do Senhor nos Céus; reino celeste e reino espiritual, 101, 232, 381. O reino celeste é chamado o cardíaco do Céu; e o reino espiritual o pulmonar do céu, 381. A êstes dois reinos é adjunto um terceiro reino, onde estão os homens; é o reino natural, 232.

RELAÇÃO (Há uma) comum de tôdas as cousas com Deus, do mesma modo que há uma relaç;io particular com o homem, 64. Relação com o homem em e por tôdas as cousas e cada uma das causas dos reinos animal, vegetal e mine-ral, 61.

RELlGIÃO. Aquêles que confirmaram os falsos de sua religião permane-cem nesses mesmos falsos, depois de sua vida no mundo, 268.

Rí-.PRESENTAgÃO angélica da correspondência da vontade e do entendi-mento com o coração e o pulmão, 376.

RESPlRAgÃO. Como se faz, 176, 412. O homem tem uma dupla respi-ração, uma do espírito e outra do corpo; cìc que dependem uma e outra, 412, 417. A respiração do espírito influi na respiração do corpo, e a produz, 390, 391; e há correspondência entre elas, 390. Estas duas respirações podem ser sepa-radas, e podem também ser conjugadas, 415, 417. O pensamento produz a res-piração, 412. Os anjos e os espíritos respiram como os homens, 176, 391. As respirações do pulmão correspondem às percepções e aos pensamentos que per-tencem ao entenòimento, 420.

RESSURREIÇÃO do Senhor com to<!o o corpo, ‘221.

REVELAÇÕES. Todo homem é inst;uíu'o sôhre os preceitos Divinos por ou-trcs que os conheceram pela religião, e nÃo í instruído por meio de revelações imedi,atas. 249.

R1NS. Porque !¿;í deis, 384, 409. O da ciireita se refere ao bem do v ro, e o da esquerda ao vero do bem, 384, 409. Quanto mais os rins são consi-derados interiormente, mais se descobrem neles maravilhas e perfeicões, segundo os graus discretos, 201.

Page 147: A SABEDORIA ANGÉLICA

SAiìEDORIA (A) é o existir da vida s."gundo o Ser, 14, 35S, 36à: não é outra cousa senão a imagem cìo amor, pois o amor se faz ver e r conhecer na sabedoria, '358. Ela vem do amor e é sua forma, 368. E’ a causa de ql.e o amor é o fim e de que o uso é o efeito, 241. Não produz o amor, mas unica-mente ensina como o homem c!e>e viver, e mostra o caminho que deve seguir, 244. A sabedoria sem o amor é como o existir sem o ser; é como a luz do inverno, 139. E’ da sabedoria fazer o bem pela afeição do bem, 428, Ver também Amor.

SÁBIO (E’ chamado) na Palavra,".quêle que faz as obras, 2'20. O homem deve ser julgado não por uma linguagens' s,”.bis, m;¿s por sua vida, 418.

SABOREAR se diz da percepção, 363.

SANGUE, 370, 380, 401, 405. O san" ue corresponde às afeições do amor, 423. O sangue no pulmão se purifica e s" alimenta de uma rnan'ira correspon-dente às afeições, 420. O que o espírito iic homem ama, o sangue segundo a correspondência o desc,!a ardentemente e pel,. respiração o atrai, 4’0. O sangue na Palavra é chamado alma; porquê, 379. Sangue arterial, 4‘20.

SATANÁS. O amor de possuir os bens dos outros por um artifício qual-quer é chamado Satanás, 273. As malícias engenhosas e a astúcia :.io ;honradas a tropa de Satanás, 273. Ver Di,".bo.

SEMANAS (As) na Palavra sign. os est;;c!os, 73.

SEMELHANÇA dos comuns e dos particulares, ou dos muito grandes e dos muito pequenos, 227; das nações com seu primeiro pai, 269. Na Gênesis a se-melhança de Deus sign. o Divino Amor, 358.

SEMENTE (A) que vem do pai é o primeiro receptáculo da vida, mas re-ceptáculo tal como estava no pai, 269. A produção das semjentes foi a primeira produção saída das terras, quando eram ainda recentes, 312. Em! tôda semente há uma tendência para se multiplicar ao infinito e eternamente, 60. Quanto mais as sementes são consideradas interiormente, mais se descobrem, nelas ttmravilhas e perfeições, segundo os graus discretos, 201.

SENHOR (0) é o Amor Mesmo porque é a Vida Mesmia, 4 a 6. E’ o Homem Mesmo, 11 a 13, 285. E’ o Deus Mesmo e Único que governa o uni-verso, 103. Ele só é o Céu, 113 a 118. Ressuscitou com todo corpo, cliíJeren-temcnte do que ressuscita todo homem, 221. Quando o Senhor se manifesta aos anjos em Pessoa, Ple se manifesta como Homem, e isso, às vêzes, no sol espi-ritual, às vêzes fora dêsse sol, 97. O Senhor está presente em todos, mas está em cada um de acôrdo com a recepção, 111, 124. Estar no Senhor, é fazer com sinceridade, correção, justiça e fidelidade, a obra que pertence ao ofício que se exerce, 431. Ver também Deus e Jehovah.

SENSAÇÕES (As) são substâncias e não abstrações; não sâo cousas abstra-tas dos órgãos sensoria, mas são os estados disses 6rgãos, que são substâncias, 210. As sensações que pertencem aos sentidos do corpo são derivadas, em último lugar, do amor e da sabedoria, 363.

SENSUAIS (Os homens) são os homens naturais mais baixos, que não po-dem pensar acima das aparências e das ilusôes dos sentidos do corpo, 219.

SENTIDO (0) se faz quando a substância e a forma do órgão são afetadas, 41. A afeição da substância e da forma, que: faz o sentido não é alguma causa separada do sujeito, mas faz unicamente nêle uma mudança, o sujeito permane-cendo sujeito então como antes e após, 41. Os sentidos externos do corpo

Page 148: A SABEDORIA ANGÉLICA

co-municam imediatamente pelas fibras com o.", cérebros, e dêles tiram sua vida sensitiva e ativa, 365. Todos os sentidos do corpo tiram sua percepçào da per-cepção da mente, 406.

SEN1'IR como seu o que é do Senhor, 115, 116. A comunicação pelas cor-respondências não é sentida, 238, cfr. 252.

SER (0) é uma substância, e o Existir é a forma desta substância, 43. O ser não í o ser, a não ser que exista, 15.

SER DE RAZÃO, 43, 210.

SEREIAS. Sua beleza fantástica, 424.

SÉRIE. Um procede do outro cm uma série tríplice, 212. O último de cada sér!e é o complexo e o continente de todos os anteriores, 215. A série e a ordem dos usos não provêm senão da sabedoria e do amor, 46.

SERPENTES; donde tiram sua origem, 339, 341.

SETENTRIÃO (0) na Palavra sign. a sabedoria na sombra, 121. No mundo espiritual os que estão em um grau inferior da sabedoria estãc no setentrião, 121.

SEXO FEMININO (No) é comum pocier pensar bem e falar bem, mas não obstante não poder escrever bem, 361.

SIMPLES (Os) são mais perfeitos que os compostos, porque estão mais nus, e menos velados de substâncias e de matérias privadas de vida, 201. Todo sim-ples é tanto mais isento de dano quanto é mais simples; e isso, porque é mhis perfeito, 201. Se nos simples não houvesse uma eminente perfeição, homem al-gum, nem animal algum teria podido existir por uma semiente, nem em seguida, subsistir; e as sementes das árvores e dos arbustos não teriam podido nem ve-getar, nem proliferar, 201. Os homens simples vêem o que é o bem. e o vero mpis claramente do que os que se crêem mais sábios do que êles, 361.

SINGULARES (Os) e os muito singulares são semelhantes aos comuns e aos muito comuns, nisto que são form,as dos graus de um e outro gênero, 225, 222. Distinção dos singulares e dos muito singulares; donde vêm, '226.

S1STOLE. Os movimentos do coração, chamados sístole e diástole, mudam e variam segundo as afeições de cada amor, 378.

SLOANE (O presidente), 344.

SOCIEDADES (As) no mundo espiritual foram distinguidas segundo tôdas as afeições dos amôres, 141. As sociedades angélicas são inumeráveis, e em uma ordem semelhante à das glândulas do cérebro, 366.

Page 149: A SABEDORIA ANGÉLICA

SOL. Há dois sóis pelos quais tôdas as cousas foram criadas pelo Senhor, o sol do mundo espiritual, e o sol do mundo natural, 153. O sol espiritual não é o Senhor, mas é o priWeiro procedente do Divino Amor e da Divina Sabedoria, 86, 93, 97, 290, 291, 151 a 156. O sol do mundo natural é um puro fogo, de que foi separado tudo o que pertence à vida; mas o sol espiritual é um fogo, no qual está a Vida Divina, 157. O sol espiritual é a substância única da qual vêm tôdas as causas, 300. Aparece no Céu a uma altura média, 103 a 107. Na Palavra o sol sign. o Senhor quanto ao Divino Amor e à Divina Sabedoria, jun-tos, 98. Ver índice Geral, Segunda Parte.

SOLAR (O fogo) é a morte asma, 89.

SOM <0) que é articulado em palavras ve¿ inteiramente do pulmão pela traquéia-artéria e pela epiglote, 382. Os anjos conhecem pelo som da lingua-gem o amor do homem, pela articulação do som sua sabedoria e pelo sentido das palavras sua ciência, 280. As bêstas produzem sons de uma maneira con-forme com a ciência de seus a¿ôres, 255.

SONO (No) o tempo não aparece, 74. Onde estão os esforços e as fôrças do homem durante o sono?, 219.

SÔPRO. O homem crê que a alma ou espírito é como um sôpro expirado do pulmão; por quê?, 283. O Senhor é chanmdo sôpro de vida, 383.

SORTE daqueles em quem o grau espiritual não foi aberto, e não obstante não foi fechado, 253.

SUBSISTE,NCIA (A) do universo e dc tôdas as cousas do universo vem do sol espiritual, 152, 153. A subsistência é uma perpétua existência, 152.

SUBSTÂNCIA (Há uma) íínica que é a substância em si, 197, 300. A substância em si é o Divina Amor, 14 a 16. Tôdas as causas foram criadas

de uma substância que é a substância em si, 283. Substâncias espirituais ou de repouso, e substâncias fixas ou materiais, 302. Substâncias donde provêm, as terras, 305, 306, 310. Substâncias espirituais e substâncias naturais de que é composta a mente, 257, cfr. 388. Substâncias orgânicas que são os receptáculos e os habitáculos dos pensamentos e das afeições nos cérebros, 191, 192, 197. Não há substância sem forma, 209, 229. Substância e forma, 41.

SUBSTANCIADOS (Os) ou compo>tos não resultam do amontoamento de uma substância tão simples que não teria form¿a vindo de formas menores; uma tal substância não existe, 229. Ver Mônada.

SUJEITO (Um) é alguma cousa que existe substancialmente, 373. Todo su-jeito é um recipiente, 170. Os sujeitos que devem ser recipientes do Divino como por eles mesmos são os homens, 170. O que é percebido fora de um, sujeito como volátil e flutuante é ìmicamente a aparência do estado do sujeito em si mesmo, 40, 41.

SUPERIOR (0) na Palavra sign. o interior, 206. Está na ordem que os superiores ajam pelos inferiores, e não vice-versa, 365.

SUPREMO (0) da ordem sucessiva torna-se o íntimo da ordem simultâ-nea, 206.

Page 150: A SABEDORIA ANGÉLICA

SWAM'iirfERDAM, 351.

SWEDENBORG. Abertura da sas que estão no mundo espiritual, o Senhor como Sol, 131; e uma anjo, 79. Admitido a conversar com

vista de seu espírito, para que visse as cou-e desse uma descrição delas, 85, 355. Ele viu socied;!de inteira do Céu comio um homem. os anjos, em, espírito, fora do corpo, 391, 394.

T

TARDE (A) na Palavra sign. o declínio da Igreja, 73.

TAl O (O sentido do) não está nas causas que são aplicadas, pneus está na substáncia e na forma da pele, as quais são o sujeito, 41. late sentido é uni-camente a afeição do sujeito produzida pelas cousas que foram aplicadas, 41. O sentido do tato comunica imediatamente pelas fibras com os cérebros, e dêles tira sua vida sensitiv.", e ativa, 365. Ver Sentidos.

TEMPO (0) é um próprio da natureza, 69, 73, 161. Medida do tempo, 73. No mundo espiritual as progressões da vida aparecem no tempo; mas o estado aí determina o tempo, o tempo é ìmicamente uma aparência, 73. Os tempos no munào espiritual não são fixos como no mundo natural, mas variam segundo os estados cìa vida, 70. Aos tempos se referem os estados da sabedoria, 70. O tempo íé n;io é absolutamente senão " qu lidade do estado, 73. Faz um com o pensa¿.cnto procedente da afeição, 74. Ver Espaço.

TENDÕES. Donde vêm, 304.

TERRA (A) no mundo espiritual não tem nem m,ovimento de rotação, nem movimen'.o ele translação, 101.

TERRAS (As) são fôrças passivas peias quais existem todos os efeitos, 178. Em tôdas as terras há um esfôrço para produzir os usos nas formas, ou as

formas dos usos, 310 a 312. A primeira produção saída das terras, quando eram ainda recentes, foi a produção de sement- s, 312. Origem das terras, 302 a 306. No mundo espiritual há terras, porém elas são espirituais, 173 a 178.

TESTÍCULOS; porque há dois, 384, 409. O da direita se refe:¿ ao bem do vero, e o da esquerda ao vero do bem, 384, 409.

TEXTURAS do pulmão, 405.

TIGRES. Donde tiram sua origem, 339.

TIRO na Palavra sign. a Igreja quanto aos conhecimentos do b=ro e do vero, 325.

TOCAR com as mãos sign. comunicar, 220.

Page 151: A SABEDORIA ANGÉLICA

TODO (0) existe pelas partes, e as partes subsistem pelo todo, '367.

TóRAX, 403.

TRAgAS. Donde tiram sua origem, 338, cfr. 339.

TRANSMISSÃO do amor do mal dos pais aos seus descendentes. "59.

TRAQUÉIA-ART&RIA, 382, 408.

TRINDADE (A) do Senhor é chamada Pai, Filho e Espírito Sa:,".c; o Di-vino Mesmo é chamado Pai, o Divino Humano Filho, e o Divino P.-ocedente Espírito Santo, 146.

TRINO. Em tudo de que se pode falar há um trino, que é ch-:--ado fim, causa e efeito, 209, cfr. 151, 167 a 172, 296 a 301.

TCJNICAS. Com,o as vegetações se fazem pelas túnicas, 314.

ÚLTIMO (0) de cada série, que é o uso, a ação, a obra e o =exercício, é o complexo e o continente de todos os anteriores, 215. Todo último ¿’ compõe dos anteriores, e êstes se comjpõem de s os primeiros, 208. Todo último é en-volvido, e por isso distinto dos anteriores, ‘278. Em todo último há os graus discretos em ordem simultânea, 207, 208. Os graus de altura em seu último estão do pleno e na potência, 217 a 221. O último espiritual separado de seu superior opera as causas que são os maus usos, 345. Tôdas e cad.i uma das causas do reino mineral são últimos, 65, Ver Primeiros c Médios.

UM. O am,or e a sabedoria proced".m como um do Senhor, ma não são recebidos como um pelos anjos, 125. O calai e a luz procedendo do S nhor são um, 99. Ver Distintamente um.

UNIÃO em um, donde ve.m, 15. União do amor com a sabedoria e 3a sa-bedoria com; o amor, 35 a 37; do calor espiritual com a luz espiritual, e vice-versa, 99. A união recíproca faz a unidade, 35.

VNICO. E’ chapado o Ctnico aquêle de que procedem todos os outros, 45. Em tôdas as cousas há um primeiro que reina unicamente nos seguintes, e é mesmo único nelas e o tudo nelas, 197.

UNIDADE. A união recíproca faz a unidade, 35.

UNIVERSAL (0) de tôdas as cousas é o amor e a sabedoria, 28.

UNIVERSO (0) em geral foi distinguido em dois mundos, um espiritual e outro natural, 163. O universo considerado quanto aos usos é a imagem, de Deus, 64, 169. Tôdas as cousas no universo são recipientes do Divino Amor e da Di-vina Sabedoria de Deus-Homem, 55. Tôdas as cousas que existem no universo têm uma correspondência com tôdas as cousas do homem, 52. Ver fndice Geral, Quarta Parte.

URETERES. Porque há dois, 384. O da direita se refere ao bem do vero, e o da esquerda ao vero do bem, 384.

Page 152: A SABEDORIA ANGÉLICA

USOS. São chamadas usos as causas que, procedendo do Senhor, estão por criação na ordem, 298, cfr. 307, 316, 335, 336. Todos os usos, que são os fins da criação, estão em formas, 307. O uso é como a alma, e a forma do uso é como o corpo, 310. O uso se refere ao bem, e a forma do uso se refere ao vero, 409. Todos os usos são produzidos pelo Senhor pelos últimos, 310. Todos os usos no universo criado correspondem aos usos do homem, 298. Os maus usos não foram criados pelo Senhor, mas nasceraml do inferno, 336 a 348. Tôdas as cousas que são usos maus estão no ir,ferno, e tôdas as que são usos bons estão no Céu, 339. Todos os bens que existem em ato são chamados bons usos, e todos os males que existem em ato são chamados maus usos, 336. Como o homem pode saber se os usos que faz .¿ão espirituais ou se são puramente na-turais, 426. Fazer usos é agir com since;idade, retidão e fidelidade na obra que pertence ao ofício que se exerce, 431. Fazer os usos tendo em vista os usos, e fazê-los tendo em vista a si mesmo; no .primeiro caso os usos são espirituais, no segundo caso são simplesmente naturais, 4’6. Ver Indice Geral, Quarta Parte, e ns. 65 a 68.

ÚTERO. Formação do homem no útero, 6, 365, 400. Estado da criança no útero, 407, 410. O útero é para a criança o que a terra é para a semente ve-getal. 316.

V

VÁCUO í 0) é o nada, 373, 299. Conversa de anjos com Nesvton sôbre o vácuo, 82.

VAPÔRES. Ação que produzem no sangue, 420.

VARIEDADE. Donde vêm as variedades de tôdas as causas no universo cria-do, 300, 155. A variedade concerne aos comuns e concerne aos singulares, 155. As variedades do amor são indefinidas, 368. As variedades oferecem uma ima-gem do infinito e do eterno, 318. A variedade obscurecida, 228.

VASOS DO CORDÃO, 207, 399, 40ú, 412. Os vasos sangiiíneos do co-ração no pulmão correspondem às afeições do vero, 405. Os vasos aeríferos do pulmão correspondem às percepções, 412.

VEGETAÇÃO. Como se faz, 314.

VEGETAIS; donde tiram sua origem e como são produzidos, 340, 346, 351. Há nêles os graus de uma e outro gênero, 225. Maravilhas que apresentam as produções, 60, 61, 340. Ondas de eflúvios enganam sem cessar dos vegetais, 293. Os vegetais que aparecem no mundo espiritual são puras correspondências, 339.

VEGETAL (Reino) . Formas dos usos dêste reino, 314. Relação com o homem de tôdas e cada uma das cousas do reino vegetal, 61.

VEIAS, 399, 400, 408, 420. Veia cava, 405, 412, 415. Veias bronquiais, 405, 407, 413. Veias pulmonares, 405, 407, 412 413, 420. As veias correspondem às afeições; e no pulmão às afeições do vero, 412, 420.

VENENOS. Donde tiram sua origem, 339.

VENTO. Porque o homem crê que a alma ou espírito é um vento ou al-guma cousa aérea, tal como o sôpro expirado do pulmão, 383.

Page 153: A SABEDORIA ANGÉLICA

VENTRE de Deus, 18.

VENTRfCULOS DO CORADO. Porque há dois, 384, 409. O da direita se refere ao bem cìo vero, e o da esquerda ao vero do bem, 384. Ventrículo direito, 40S. Ventrículo esquerdo, 401, 405, 420.

VER Deus dentro de si, e vê-la fora d si, 130. Ver o bem quando se está no mal, ninguém o pode; mas aquêle que está no bem pode ver o mal, 271. Quando o homemi pensa segundo a sabedoria, vê as causas como na luz, 95. Os que estão em um mundo, não podem ver os que estão no outro nmndo; por quê?, 91. Ver pelos efeitos sós, é ver por ilusões, 187. Ver se diz do en-tendimento, 363.

VERÃO (0) na Palavra sign. o pleno da Igreja, 73.

VERDADES APARENTES (As) são aparências segundo as quais cada um pode pensar e falar; mas quando soo recebidas como verdades mesmas, se tor-nam falsidades e ilusões, 108.

VERMEI.HO (0) corresponde ao amor, 380.

VERMES destruidores. Donde tiram sua origem, 341, 342, cfr. 339. Trans-formações maravilhosas dos vermes, 354.

VERO. Tudo o que procede da sabedoria é chamado vero, 31. O vero não

é outra causa senâo a forma da afeição que pertence ao amor, 411. O vero per-

tence ao entendimento, 406, 4]0. Todos os veros pertencem à luz espiritual, 253.

VÉRTEBRAS, 408.

VFSfCUI.AS do pulmão, 405, 415, 420.

VIDA (A) mesma, ou a Vida em si, é o Ser mesmo ou Jeová, 4 cfr. 76.

A Vida é a Divina Essência, 35. Deus só é a Vida, e a Vida de Deus é o

Divino Amor e a Divina Sabedoria, 363. A vida do homem é o amor, e por

conseguinte a vontade, 2, 3, 399, 400. O amor e a sabedoria, e por conseguinte, a vontade e o entendimento, fazem a vida do homem, 363. A vida do homem está em seus princípios nos cérebros, e nos principiados no corpo, 365. Tal é a vida nos princípios, tal é ela no todo, e em cada parte, 366. A vida por êstes princípios está por meio de cada parte no todo, e por meio do todo em cada parte, 367. A vida age no natural segundo a mudança de forma introduzida, 166. O homem não é a vida, mas é ur' recipiente da vida, 4. A vida espiritual é a vida segundo os preceitos Divinos, 248. Na Palavra a vida sign. o Divino Amor do Senhor, 38.

VÍSCERAS, 207, 370, 373, 376, 377, 384, 385, 400, 401, 408, 410. Sua composição, 190. Quanto mais as vísceras são consideradas interiormente mais se descobrem nelas maravilhas e perfeições segundo os graus discretos, 201.

Page 154: A SABEDORIA ANGÉLICA

VISíY'E1S (As cousas) no universo criado atestam que a natureza nada pro-duziu e nada produz, mas que o Divino produziu e produz tôdas as causas de si mesmo, e pelo mundo espiritual, 349 a 357.

VISTA (A) não é possível senão por uma atmosfera mais pura que o ar, 176. A vista está no ôlho que é o sijeito, e não no lugar onde estão os obje-tos que o homem vê; ela é a afeição do sujeito, 41. A vista não sai do ôlho para o objeto, mas a imagem do objeto entra no ôlho, e afeta a sua substância e forma, 41. A vista não é alguma causa volátil efluindo do seu órgão, mas é o órgão considerado em sua substância e em sua formia, 41. O sentido da vista comunica imediatamente pelas fibras com os cérebros, e tira dêles sua vida sensi-tiva e ativa, 365. Quão grosseira é a vista do ô]ho, 352. Ver Sentidos.

VIVE'iiTE (0) dispõe o morto sob sua dependência, e o forma para os usos, que .¿ão os fins, mas não recìprocamente, 166. E’ chamado vivente o ho-mem cuja mente está no Céu, 276.

VIVER. Todo homem, quer mau, quer bom, vive eternamente; por quê?, 240. Viver, mover-se e estar em Deus, 301.

VIVIFICAÇÃO (A) se diz ser feita pelo Espírito de Jeová; por quê?, 200.

VOL.ÁTEiS. Maravilhas que apresentam os vcláteis, 353.

VOLTA de tôdas as causas ao Criador, 167 a 172.

VOLTAR. Os anjos voltam contìnuamente as faces para o Senhor, 129 a 134. Todos os seus interiores, tánto da mente como do corpo, estão voltados para o Senhor como Sol, 135 a 139. Cada espírito, qualquer que seja, se volta para seu ;r.sor dominante, 140 a 145.

VONTADE (A) é o receptáculo do amor, 360. Ela é todo o homem, mesmo quanto à iorma, 403. A vontade e o entendimento são distintos entre si como o amor e a sabedoria, 361. São uma substância e uma forma, e não abstrações; não existem fora dos sujeitos, que são substâncias, mas são os estados dos su-jeitos, 209, cìr. 42. São formas orgânicas ou formas organizadas com substân-cias muito pc!ras, 373. Foram criados de maneira que sejam distintamente dois, mas não ct¿tante facam como um em tôda operação e em tôda sensação, 395

a 397. A vontade conduz o entendimento e faz com que êle aja coma um com ela, 244. A vontade corresponde ao coração, 378. Ver índice Geral, Quinta Parte.

Z

ZANGÕES. Donde tiram sua origem, 338, cfr. 339.

ZÉNITE. Por que no mundo espiritual o Sol não aparece jamais no zê-nite, 105.

ÍNDICE GERAL

PRIMEIRA PARTE

Page 155: A SABEDORIA ANGÉLICA

De Deus

Ifens

O Amor é a Vida do homem

Deus só, as<lm o Senhor, é o Amor mesmo, porque é a Vida mesma; e

os Anjos e os homens são os recipientes da vida 4

O Divino cão está no espaço..........................................7 7

Deus é o Homem Mesmo.................................................................................11

O Ser e o Existir em Deus-Homem são distintamente um............................14

14

Em Deus-Homem os Infinitos são distintamente um...................................17

17

Há um só Deus-Homem de Quem procedem tôdas as causas.....................23

23

A Divina Essência mesma é o Amor e a Sabedoria....................................28

28

O Divino Amor pertence à Divina Sabedoria e a Divina Sabedoria per-

tence ao Divino Amor ........................................ 34

O Divino Amor e a Divina Sabedoria são uma Substância e uma Forma................ 40

O Divino Amor e a Divina Sabedoria são a Substância em si e a Forma em si, .ssim o Eu Mesmo e o Único......................................................44

O Divino Amor e a Divina Sabedoria não podem senão ser e existir nos outros, criados por êles..........................................................................47

Tôdas as cousas do Universo foram criadas pelo Divino Amor e pela

Divina Sabedoria de Deus-Homem............................................52

4g

47

Page 156: A SABEDORIA ANGÉLICA

52

Tôdas as causas do Universo são recipientes do Divino Amor e da Divina

Sabedoria de Deus-Homem ...................................... 55

Tôdas as cousas que foram criadas representam o homem em uma espécie de imagem ........................................................................ 61

61

Os Usos de tôdas as cousas que foram criadas sobem por graus d:sde

os últimos até ao homem, e pelo homem até Deus Criador, a quo.............. 65

O Divino enche todos os espaços sem espaço.............................................69

69

O Divino está em todo tempo sem tempo...................................................73

73

O Divino é o mesmo nos muito grandes e nos muito pequenos...............77

77

SEGUNDA PARTE

Do Sol Espiritual

O Divino Amor e a Divina Sabedorin aparecem no Mundo Espiritual como Sol ..................................................... 83

Do Sol, que existe pelo Divino Amor e a Divina Sabedoria, procedem um

Calor e uma Luz ............................................ 89

Êste Sol não é Deus, mas é o procedente do Divino Amor e da Divina Sabedoria de Deus-Homem; dá-se o mesmo com o Calor e a Luz pro-cedentes dêste Sol ............................................. 93

O Calor Espiritual e a Luz Espiritual procedendo do Senhor como Sol fazem um, como seu Divino Amor e sua Divina Sabedoria fazem um .................99

O Sol do Mundo espiritual aparece, a uma altura média, distante dos An':oi,

como o Sol do Mundo nat;iral aparece distante dos homens ........ 103

A distância entre o Sol e os Anjos no Mundo espiritual é uma apl! 'n."ia segundo a rºcepção do Divino Amor e da Divina Sabedoria po: êies ................108

Page 157: A SABEDORIA ANGÉLICA

Os Anjos estão no Senhor, e o Senhor está nêles; e como os An,'os aio recipientes, o Senhor Só é o Céu ................................ 113

No Mundo espiritual o Oriente é onde aparece o Senhor como Sol, e «.aí dependem as outras plagas .................................... 119

As Plagas no Mundo espiritual provêm, não do Senhor como Sol, mas dos.............................................................124

Anjos segundo a recepção

1¿p

Os Anjos voltam contìnuamente as faces para o Senhor como Sol, e témassim o sul à direita, o setentrião à esquerda, e o ocidente atrás deles.................................................................129

Todos os interiores tanto da mente como o do corpo dos Anjos estão voltados para o Senhor como Sol.................135

Cada Espírito, qualquer que seja, se volta igualmente para seu dominante.......................................................140

O Divino Amor e a Divina Sabedoria, que procedem do Senhor como Sol, e fazem o calor e a luz no Céu, são o Divino procedente, qu-: é o Espírito Santo.............................................146

O Senhor criou o Universo e tôdas as cousas do Universo por meio do Sol,

que é o primeiro procedente do Divino Amor e da Divina Sabedoria ...........151

O Sol do Mundo natural é puro fogo, e por consequência morto: e como a Natureza tem a sua origem nesse Sol, ela é morta.................................157

Sem dois Sóis, um vivo e outro morto não há criação..................................163

Nos últimos existe o fim da criação, que é, que tôdas as causas voltem ao Criador, e que haja conjunção..............................................167

TERCEIRA PARTE

Dos Graus

No Mundo espiritual há atmosferas, Águas e Terras, como no Mundo na-

tural; mas são espirituais, enquanto que no Mundo natural são naturais .........173

Page 158: A SABEDORIA ANGÉLICA

Há Graus do Amor e da Sabedoria, e por conseguinte há Graus do c@lar e da luz, além dos Graus das atmosferas......................................179

H;í Gra.is de dois gêneros, Graus de altura e Graus de largura.................184

Os Graus de altura são homogêneos, e derivados um do outro em série,

como o fim, a caus' e o efeito ................................ 189

O primeiro Grau é tudo em tôdas as causas dos Graus seguintes..............195

Tôdas as perfeições cresce!¿ e sobem com os Graus e segunclo al Graus .. 199

Na Ordem sucessiva o primeiro Grau faz o supremo, e o terceiro o ínfimo;

mas na Ordem simultânea o primeiro Grau faz o íntimo, e o terceiro

o extimo ...................................................... 205

O último Grau é o complexo, o continente e a base dos graus anteriores....... 209

Os Graus de a!tura em seu Último estão no pleno e na potência...........217

Os Graus de um e outro gênero estão nos muito grandes e nos muito pe-quenos de tôdas as causas que foram criadas.................................................222

Os três Graus de altura são infinitos e incriados no Senhor, e êstes três

Graus são criados e finitos no homem.................230

Estes três Graus de altura estão em cada homem desde o nascimento; po-dem sucessivamente ser abertos, e conforme são abertos, o homem está no Senhor, e o Senhor está no homem................................236

A Luz espiritual influi pelos três Graus no homem, mas não o Calor espiritual, a não ser tanto quanto o homem foge dos males como pecados, e se volta para o Senhor............................................................................242

O homem torna-se natural e sensual, se nêle o Grau superior, que é o espiritual, não é aberto........................................................................248

O que é o homem natural, e o que é o homem espiritual ................251

Page 159: A SABEDORIA ANGÉLICA

Qual é o homem natural em quem o grau espiritual foi aberto............252

Qual é o homem natural em quem o Grau espiritual não é aberto,

mas entretanto não foi fechado ................................ 253

Qual é o homem natural em quem: o Grau espiritual foi inteiramente fechado ...................................................... 254

Que diferença há entre a vida do homem natural e a vida da bêsta......255

O Grau natural da Mente humana, considerado em si mesmo, é contínuo; mas pela correspondência com os dois Graus superiores, quando é elevado, se mostra discreto.....................................................................256

A Mente natural, sendo o invólucro e o continente dos Graus superiores da Mente humana, é reagente, e se os Graus superiores não são aber-tos, ela age contra êles, mas se são abertos age com êles...........................260

A Origem do mal vem do abuso das faculdades, próprias do ho-mem, e são chamadas Racionalidade e Liberdade...............................................264

O homem mau goza destas duas faculdades como o homem bom............266

O homem mau abusa destas faculdades para confirmar os males e os falsos, e o homem bom as usa para confirmar os bens e os veros.........................267

Os males e os falsos confirmados no homem permanecem e se tornam cousas c!e seu amor e de sua vida....................................................................268

As cousas que se tornaram causas do amor e por cons"qi.iincia da vida

são transmitidas aos descendentes .............................. 269

Todos os males e por conseguinte todos os falsos, tanto os mal s trar.smiti-

dos pelos pais como os males acrescentados, residem na Mente natural ........270

Os males e os falsos em todo oposto são contra os bens e os veros, pcrque os males e os falsos são diabólicos e infernais, e os bens e os veros são Divinos e Celestes.............................................270

¿71

A Mente natural, que está nos males e por conseguinte nos falsos, é a forma

Page 160: A SABEDORIA ANGÉLICA

e a imagem do inferno .......................................... '273

A Mente natural, que é a forma e a imagem do inferno, desce pelos três

graus ........................................................ 274

Os três graus da Mente natural, que é a forma e a imagem do inferno,

são opostos aos três graus da Mente espiritual que está na forma e na

imagem do Céu .............................................. 275

A Mente natural, que é o inferno, está em tudo aposta contra a Mente espiritual que é o Céu ........................................ '276

Tôdas as causas que pertencem aos três Graus da Mente natural foram en-cerradas nas obras que se fazem pelos atos do corpo ................277

Quarta PARTE

Da criação do Universo

O Senhor de tôda eternidade, que é Jehovah, criou de Si-Mesmo, e não

do nada, o Universo e tôdas as causas do Universo ................ 282

O Senhor de tôda eternidade, ou Jehovah, não teria podido criar o Universo

e tôdas as cousas do Universo, se não fôsse Homem ................ 285

O Senhor de tôda eternidade, ou Jehovah, produziu de Si-Mesmo o Sol do Mundo espiritual, e por êste Sol criou o Universo e tôdas as cousas do Universo..................................................................................290

No Senhor, há três causas que são o Senhor: O Divino do Amor, o Divino

da Sabedoria e o Divino do Uso; e êstes três se apresentam em apa-

rência fora do Sol do Mundo espiritual; o Divino do Amor pelo Ca-

lor, o Divino da Sabedoria pela Luz, e o Divino do Uso pelas Atmos-

feras, que são o continente .................................... 296

As Atmosferas, que são três em um e outro Mundo, o Espiritual e o Na-tura], terminam em seus ííltimos em substâncias e em matérias, tais como estão nas terras....................................................................302

Nas substâncias e nas matérias, de onde provêm as terras, nada há do Divino em si, mas não obstante procedem do Divino em si.............................305

Page 161: A SABEDORIA ANGÉLICA

Todos os usos, que são os fins da criação, estão nas formas; e é das subs-tâncias e das matérias, tais como estão nas terras, que recebem as formas.........307

Nas terras há um esfôrço para produzir os usos nas formas, ou as formas

dos usos ...................................................... 310

Em tôdas as formas dos usos há alguma imagem da criação...................313

Em tôdas as formas dos usos há alguma imagem do homem...................317

Em tôdas as formas dos usos há alguma imagem do Infinito e do Eterno.... 318

Tôdas as cousas do Universo criado, consideradas pelos usos, representam em imagem o homem; e isso atesta que Deus é Homem............................319

Tôdas as causas que foram criadas pelo Senhor são usos; e são usos na ordem, no grau e na relação em que se referem ao homem, e pelo homem ao Senhor a quo ........... 327

Os maus usos não foram criados pelo Senhor, mas nasceram com o inferno ................336

O que é entendida pelos maus usos na terra............................................338

Tôdas as causas que são usos maus são do inferno, e tôdas as que são usos bons são do Céu..........................................339

Há um influxo contínuo do Mundo espiritual no Mundo natural.............340

O influxo do inferno opera as cousas que são usos maus nos lugares onde estão as causas que correspondem a êsses usos.................................341

O último do espiritual separado de seu superior opera isso 345

Há duas formas pelas quais se faz a operação pelo influxo, a forma vege-

tal e a forma animal ........................................ 346

Uma ou outra forma, quando existe, recebe os meios de propagação .... 347

Page 162: A SABEDORIA ANGÉLICA

As cousas visíveis no Universo criado atestam que a Natureza nada pro-duziu e nada produz, mas que o Divino produziu e produz tôdas as cousas de Si-Mesmo, e pelo Mundo espiritual........................................................349

Quinta PARTE

lìa Criação do Homem

O Senhor criou e formou no homem dois receptáculos e habitáculos de

Si-Mesmo, chamados a Vontade e o Entendimento, a Vontade para seu

Divino Amor, e o Entendimento para sua Divina Sabedoria ....,... 358

A Vontade e o Entendimento, que são os receptáculos do Amor e da Sa-

bedoria, estão nos Cérebros em seu todo e em cada uma de suas partes,

e por conseguinte no corpo em seu todo e em cada uma de suas partes ......362

O Amor e a Sabedoria, e por conseguinte a Vontade e o Entendimento, fa-

zem a vida do homem ........................................ 363

A vida do homem está em seus princípios nos Cérebros, e nos principiados

no corpo ...................................................... 365

Tal é a vida nos princípios, tal é no todo e em cada parte...................366

A vida por êstes princípios está por meio de cada parte no todo, e pelo todo em cada parte........................................367

Tal é o Amor, tal é a Sabedoria, e por conseguinte tal é o homem.......368

Há correspondência da Vontade com o Coraçao e do Entendimento com

o Pulmão ..................................................... 371

Tôdas as causas da Mente se referem à Vontade e ao Entendimento, e

tôdas as do Corpo se referem ao Coração e ao Pulmão ................ 372

Há correspondência da Vontade e do Entendimento com o coração e o pulmão, e por conseguinte correspondência de tôdas as causas da Mente, com tôdas as do corpo............................374

Page 163: A SABEDORIA ANGÉLICA

A Vontade corresponde ao Coração..............................................378

O Entendimento correspcmde ao Pulmão..........................................382

Por esta correspondência podem ser descobertos muitos arcanos sôbre a Vontade e o Entendimento, por conseqiiência também sôbre o Amor e a Sabedoria................................................385

A Mente do homem é o espírito do homem, e o espírito é o homem, e o

corpo é o externo pelo qual a mente ou o espírito sente e age no mundo .........................386

Há conjunção do espírito do homem com o corpo pela correspondência

de sua vontade e de seu Entendimento com seu coração e seu pulmão,

e há disjunção pela não correspondência .......................... 390

Pela correspondência do Coração com a Vontade e do Entendimento com o Pulmão, podem-se saber tôdas as cousas que podem ser sabidas sôbre a Vontade e o Entendimento, ou sôbre o Amor e a Sabedoria, assim sôbre a Alma do homem......................................................394

O Amor ou a Vontade é a vida mesma do homem.........399

O Amor ou a Vontade está contìnuamente no esfôrço para a forma hu-mana, e para tudo que pertence à forma humana.......................400

O Amor ou a Vontade não pode por sua forma humana fazer cousa alguma,

sem um casamento com a Sabedoria ou o Entendimento ............ 401

O Amor ou a Vontade prepara a casa ou o leito nupcial para sua futura espôsa, que é a Sabedoria ou o Entendimento.................402

O Amor ou a Vontade prepara também tudo em sua forma humana, a fim de poder agir conjuntamente com a Sabedoria ou o Entendimento...............................................................403

Quando as núpcias são feitas, a primeira conjunção existe pela afeição de saber, donde resulta a afeição do vero..........................404

A segunda conjunção existe pela afeição de compreender, donde resulta a percepção do vero.................404

Page 164: A SABEDORIA ANGÉLICA

A terceira conjunção existe pela afeição de ver o vero, donde resulta o pensamento.........................404

O Amor ou a Vontade por estas três conjunções está na sua vida sensitiva e na sua vida ativa.............................406

O Amor ou a Vontade introduz a Sabedoria ou o Entendimento em tôdas

as partes de sua casa .......................................... 408

O Amor ou a Vontade nada faz senão em conjunção com a Sabedoria ou o Entendimento...................................................409

O Amor ou a Vontade se conjunta com a Sabedoria ou o Entendimento, e faz com que a Sabedoria ou o Entendimento seja recìprocamente con-junto.......................................410

A Sabedoria ou o Entendimento, pela potência que lhe dá o Amor ou a Vontade, pode ser elevado, e receber as causas que são da luz proce-dente do Céu, e as perceber................................413

O Amor ou a Vontade pode igualmente ser elevado, e receber as cousas

que são do calor procedente do Céu, se ama a Sabedoria, sua espô-

sa, nesse grau ................................................ 414

De outra forma o Amor ou a Vontade retira de sua elevação a Sabedoria

ou o Entendimento, para que haja como um com êle .............. 416

O Amor ou a Vontade é purificado no Entendimento, se são elevados juntos .......419

O Amor ou a Vontade é maculado no Entendimento, e pelo entendimento,

se não são elevados juntos ...................................... 421

O Amor purificado pela Sabedoria no Entendimento torna-se espiritual e celeste ....................................................... 422

O Amor maculado no Entendimento e pelo Entendimento torna-se natural, sensual e corporal .............................................. 424

Não obstante, resta a faculdade de compreender, que é chamada Raciona-lidade, e a faculdade de agir, que é chamada Liberdade...........................425

4' 5

O Amor espiritual e celeste é o Amor em relação ao próximo e o Amor

Page 165: A SABEDORIA ANGÉLICA

para com o Senhor; e o amor natural e sensual é o amor do mundo

e o amor de si .............................................. 426

Dá-se com a Caridade e a Pé, e com sua conjunção, como com a Vontade

e o Entendimento e com sua conjunção ....................,..... 427

Qual é o comêço do homem a partir da concepção.......................432

OBRAS DE EMMANUEL SWEDENBORG

onde se encontram as

DOUTRINAS CELESTES DA NOVA JERUSALÉM

A) Por êle publicadas: Datas

1 – Arcanos Celestes .................................................................1747/53

2 – Terras no Universo.......................................................................1758

3 – Céu e Inferno.........................................................1758

4 – Julgamento Final.....................................................1758

5 – Doutrina Celeste.........................................................1758

6 – O Cavalo Branco do Apocalipse..................................1758

7 – Doutrina do Senhor....................................................1763

8 – Doutrina da Sagrada Esoritura.....................................1763

9 – Doutrina de Vida...........................................................1763

10 – Doutrina da Fé...............................................................1763

11 – Continuação do Julgamento Final....................................1763

Page 166: A SABEDORIA ANGÉLICA

12 – Divino Amor e Divina Sabedoria.........................................1763

13 – Divina Providência...............................................................1763

14 – Apocalipse Revelado............................................................1766

15 – Amor Conjugal.....................................................................1767

16 – Breve Exposição da Doutrina da Nova Igreja.........................1769

17 – Intercâmbio entre a Alma e o Corpo.......................................1769

18 – A Verdadeira Religião Cristã.....................................................1771

B) Obras póstumas:

1 – A Palavra Explicada................................................................1745/47

2 – índice da Bíblia...........................................1747/53

3 – Diário Espiritual...................1757/59

4 – Apocalipse Explicado..........1759

5 – Doutrina da Caridade...........1759

6 – Sôbre o Senhor.....................1759

7 – O Cânon da Nova Igreja.......1759

8 – O Credo de Atanásio...........1760

9 – Sentido Interno dos Profetas e Salmos .....1761

10-A Palavra Segundo a Esperiência..........1762–11-Sôbre o Julgamento Final...............................1762

12 – Várias Cousas sôbre o Mundo Espiritual ...1762 13 – O Divino Amor e a Divina Sabedoria ....1762/63 14 – Cinco Narrações Memoráveis..................1766

15 – Confirmações da Escritura.......................1769

16 – Apêndice à Verdadeira Religião Cristã ...1770 17 –

Page 167: A SABEDORIA ANGÉLICA

Nove Questões sôbre a Trindade..............1771

18 – Convite à Nova Igreja...............................1771

Nota – Estas Obras podem ser consultadas na Biblioteca da Sociedade da Nova lerusalém, no seu Templo, à Rua das Graças n, 45, Rio de Janeiro.

Destas Obras estão traduzidas em portuguès as seguintes :

a) Céu e Inferno;

b) A Doutrina Celeste da Nova Igreja;

c) A Doutrina de Vida;

d) O Amor Conjugal;

e) A Verdadeira Religião Cristã;

f) Sabedoria Angélica sôbre o Divino Amor e a Divina Sabedoria;

as quais podem ser adquiridas no Templo da Rua das Graças n. 45, Rio de Janeiro.